where alvaro me et s aldo neighbourhood 14nov … · rodrigo lobo, imagem / cameraman marco...

2
15 WHERE ALVARO MEETS ALDO NEIGHBOURHOOD 14NOV—11FEV GARAGEM SUL EXPOSIÇÕES ARQUITECTURA CCB 2017

Upload: doquynh

Post on 01-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

15

WHERE ALVAROMEETS ALDONEIGHBOURHOOD14NOV—11FEVGARAGEMSULEXPOSIÇÕESARQUITECTURACCB2017

WHEREALVAROMEETS

ALDONEIGHBOUR

HOOD

15

45Murano Burano, UNESCO Venice, Instituto Camões, the Por-tuguese Embassy in Italy, the Archive Drawing Matter in England,and Ordem dos Arquitectos, which were essential to this initiative.We also extend our appreciation to the authors who have contributedto the catalogue, with their important interpretative texts on thework of Siza and the places where it is inserted: Mirko Zardini,Alberto Ferlenga, Andrea Barina, Adri Duivesteijn, Brigitte Fleck,Alexandre Alves Costa and Vittorio Gregotti.

Our final word of thanks inevitably goes to Álvaro Siza, thenotable architect, world citizen and now a fellow neighbour onthe welcoming island of Giudecca.

n u n o g r a n d ero b e rt o c r e m a s co l i

Voyage through Europe Álvaro Siza

1. We arrived at the airport in Amsterdam and took the train toThe Hague.

A Dutchwoman sitting in front of us asked who we were,where we came from and where we were going.

Schilderswijk, we answered. Surprised, she warned us: Don’t go. It’s dangerous. We went anyway and spent a pleasant morning there.

2. 1984 –After becoming aware of the SAAL programme, AdriDuivesteijn came to Porto. He sought me out in order to visit theinterrupted Bouça project.

The SAAL programme had been cancelled as a result of the polit-ical developments in Portugal. The Bouça houses, still unfinished,had been occupied by the most deprived residents of the local “ilhas”[Porto’s popular quarters], as decided by the Residents Association.

A short time later, Duivesteijn contacted me asking if I wouldbe available for a project in The Hague.

3. Over the years, immigrants from Asia, the Americas, Africaand southern Europe had been concentrated in Schilderswijk.This concentration of immigrants reached 50% of the local popu-lation, with conflicts gradually arising among families of such di-verse origins. The city launched a rehabilitation and renovationprogramme and invited me to participate in the respective partialplan and project.

A team of technical planners and social workers ensured sup-port for the population and the design team. The project was de-veloped with this backup, which led to a growing consensus andto a reduction of conflict, creating the political will to make theproject a reality.

4. 20 years later, we revisited several apartments in Schilder-swijk, remembering our experience in the 1980s. Something hadchanged, both in The Hague as in much of Europe. The decisionto build housing for the most deprived people (immigrants ornot) through a participatory programme simply does not fit withtoday’s reality.

I realised in Schilderswijk that the residents’ distribution hadmoved towards the formation of communities of common origin,in relative isolation though without conflict. The number ofDutch households, however, had significantly dwindled or wasvirtually non-existent.

“They say we’re dangerous”, one of the immigrants explained. On our last visit we met a Dutch photographer. He loved liv-

ing there and scoffed at Schilderswijk’s bad “reputation”.

5. I returned to some of the sites where I have developed similarwork: Bouça, Berlin and Venice.

My travel companions – Nuno Grande, Roberto Cremascoli,Cândida Pinto, Rodrigo Lobo, Nicolò Galeazzi, Jordi Burch andValdemar Cruz – recorded what they saw and what they heard.

It was winter. The cold was the same everywhere. Almost.

ITINERÂNCIA / TRAVELLING EXHIBITION—Curadores / CuratorsNuno GrandeRoberto Cremascoli—Organizacão / OrganizationMinistério da Cultura de Portugal / Ministry of Culture of Portugal—Comissariado / CommissionerDireção-Geral das Artes / Directorate-General for the Arts—Desenho Expositivo /Exhibition designCOR Arquitectos (Cremascoli OkumuraRodrigues)Nuno Grande—

Design Gráfico / Graphic designIan Anderson (The Designers Republic™),Diretor Criativo / Creative directorMargarida Vilhena, Design Gráfico / Graphic designer—Instalações de Vídeo e Fotografia / Video and Photography Instalations Jordi BurchNicolò Galeazzi—Produção Multimédia /Multimedia productionCândida Pinto, Autoria / DirectorRodrigo Lobo,Imagem / CameramanMarco Carrasqueira,Edição / EditingAlexandre Ferrada, Design Visual /Graphic designerMadalena Durão, Produção / Production

Valdemar Cruz, Jornalista / ReporterJordi Burch, Fotógrafo /Photographer—Edição Vídeo de / Video editing of“Where Alvaro meets Aldo”Stefano Di Corato—Maquetes / ModelsAlvaro Negrello—Tradução / TranslationsCarla CorreiaKennisTranslations,S.A.—Transporte / TransportALPI Portugal, Lda.—Montagem / AssemblyJC SAMPAIO

GARAGEM SUL –EXPOSIÇÕES DE ARQUITETURA—Conselho de Adminis-tração da FundaçãoCentro Cultural deBelém / AdministrationBoard of FundaçãoCentro Cultural deBelémElísio Summavielle, Pres.Isabel CordeiroLuísa Taveira—Consultor / ConsultantAndré Tavares—Direção de Marketing e Desenvolvimento /Development andMarketing DirectorMadalena Reis—Direção de Edifícios eInstalações Técnicas /Buildings and TechnicalInstallations DirectorAntónio Ribeiro—

Coordenação Geral /General CoordinatorDiogo NunesInês MaurícioMargarida Ventosa—Coordenação de Montagem / AssemblyCoordinatorNuno Gamboa—Coordenação de Segurança / Security CoordinatorTito Bouças—Coordenação de Comunicação /ComunicationCoordinatorSofia Mântua—Design Gráfico / Graphic DesignAtelier Pedro Falcão—Audiovisuais / Audiovisual TechnologyCarlos MestrinhoRui Martins—

Serviço Educativo /Education DepartmentAna CustódioFilipe Araújo—Assistente / AssistantAna Arnaut—[email protected] 612 614/5—Apoios mecenáticos e patrocínios do CCB –Garagem Sul / Patrons and sponsorsof CCB – Garagem SulAmorim IsolamentosCanonIkeaInterescritórioUNICER

4344

Como resposta ao desafio lançado pelocurador geral da 15.ª Bienal de Arquite-tura de Veneza, Alejandro Aravena – Reporting from the Front –, Portugalapresentou, em 2016, um pavilhão site-specific construído numa frente urbanaem plena regeneração física e social, den-tro da cidade de Veneza, e mais especifi-camente da ilha de Giudecca. Na verdade,a ideia de instalar o pavilhão portuguêsin situ despoletou a conclusão do projetode regeneração do Campo di Marte, pro-posto pelo arquiteto Álvaro Siza, há maisde 30 anos. Após a “ocupação” deste localem construção, a exposição deu lugar aum novo habitat arquitetónico destinadoaos residentes da Giudecca.

Deste modo, e inversamente ao queocorre nos pavilhões de outros países, si-tuados nos Giardini da Bienal de Veneza,onde a arquitetura serve de suporte gené-rico a um novo display expositivo em cadaano, neste pavilhão temporário foi a pre-sença denunciante de um display exposi-tivosingular que motivou a decisãopolítica de terminar a arquitetura do con-junto, interrompida desde 2010 por fa-lência do construtor. A conclusão destaobra, por parte das autoridades italianas,a que se seguirá a atribuição das casas aos

habitantes do Campo di Marte, consti-tui por isso o resultado mais gratificantedesta aventura por nós partilhada comÁlvaro Siza.

A representação oficial portuguesa es-colheu como tema central o notável tra-balho de Siza no domínio da habitaçãosocial, abarcando os seus projetos em di-ferentes cidades – Campo di Marte (Veneza); Schlesisches Tor (Berlim);Schilderswijk (Haia); e Bairro da Bouça(Porto) –, e neles evidenciando a sua expe-riência de participação social, enquantoreflexo de uma compreensão democráticada cidade e da cidadania europeias. Essesdiferentes projetos geraram verdadeiroslugares de vizinhança, tema central naatual agenda política europeia, em prolde uma sociedade mais inclusiva e multi-cultural. Siza tem trabalhado estes con-ceitos em proximidade com, entre outras,a cultura arquitetónica italiana e, em par-ticular, com o legado conceptual e ideo-lógico de Aldo Rossi, cujo relevante ensaioA Arquitetura da Cidade perfez, precisa-mente, 50 anos em 2016. Nesse sentido,a exposição destacou esse estimulanteencontro entre Álvaro e Aldo; dois nomesmetafóricos, que podem também repre-sentar os vizinhos que se cruzam entre si,todos os dias, em todas as esquinas dosbairros de Siza.

A exposição foi instalada no edifícioprojetado por Siza, ainda inacabado. Esteedifício faz parte do referido plano deregeneração do Campo di Marte, de 1985,ganho pelo arquiteto português numconcurso realizado dois anos antes, e queacabou por incluir outros arquitetos eoutros bairros, como um conjunto de ha-bitação social projetado por Aldo Rossi.

No início de 2016, alguns meses antesda inauguração da Bienal de Veneza, Álvaro Siza regressou, a nosso convite, aosquatro bairros sociais que constituem o centro desta exposição. No Porto, emVeneza, em Haia e em Berlim, Siza visitoue conviveu com os diferentes residentes,entre antigos e novos vizinhos, perce-bendo a evolução dos seus habitats, mastambém as principais transformações sociais e urbanas ali ocorridas, e hojepartilhadas por muitas outras cidadeseuropeias: processos de imigração, gueti-zação, gentrificação e turistificação.

Essas visitas e esses vizinhos foram re-tratados em imagens de diferentes supor-tes, respetivamente mostradas no exteriore no interior do Pavilhão de Portugal.Tratam-se de verdadeiros documentos

NUNO GRANDEROBERTO CREMASCOLICuradoria

LUGARESDE

VIZINHANÇA

Places of Neighbourhood

As a response to the challenging theme of the 15th InternationalArchitecture Exhibition, proposed by the general curator AlejandroAravena – Reporting from the Front– Portugal presented asite-specific pavilion throughout 2016, occupying an urban front-line of physical and social regeneration on the island of Giudecca.In fact, the installation of the pavilion on-site triggered the comple-tion of an urban development project in Campo di Marte that hadbeen designed by the Portuguese architect Álvaro Siza more thanthirty years ago. Moreover, after “squatting” in Siza’s building site,the Portuguese Pavilion made way for a real habitat in the Giudeccacommunity. In this way, and in contrast to what happens in thepavilions of other countries, located in the Giardini of the VeniceBiennale, where the architecture serves as a generic support to anew exhibition display each year, in this temporary pavilion it wasthe denunciating presence of a singular exhibition display thatmotivated the political decision to complete the architecture of thecomplex, which was interrupted in 2010 by the bankruptcy of theconstructor. The conclusion of this work by the Italian authorities,which will be followed by the distribution of the houses to the inhab-itantsof Campo di Marte, is therefore the most rewarding resultof this adventure we have shared with Álvaro Siza.

The pavilion exhibited four notable works by Siza in the fieldof Social Housing – Campo di Marte (Venice); Schilderswijk (TheHague); Schlesisches Tor (Berlin); and Bairro da Bouça (Porto)– revealing his participatory experience as a unique understandingof the European city and citizenship. These projects have createdtrue “places of neighbourhood”, an important concern for today’sEuropean political agenda, as it seeks to move towards a moretolerant and multicultural society. Siza developed those conceptsin conjunction with Italian architectural culture, among otherconsiderations, drawing particularly upon the conceptual legacyof Aldo Rossi, whose major essay The Architecture of the Citywas published half a century ago. In fact, Siza’s plan for Giudecca,of 1985, incorporates one of Rossi’s last projects. The exhibitionunveiled common ground between Alvaro and Aldo, two namesthat may well represent, in metaphorical terms, all of the citizenswhose paths cross every day in every corner of those districts.

In early 2016, a few months before the opening of the Venice Biennale, we invited Álvaro Siza to travel to the four neighbour-hoods presented in the exhibition. In Venice, The Hague, Berlinand Porto, Siza visited and met several residents, those who hadbeen there from the start and newcomers alike, acknowledgingthe evolution of the habitat as well as the major social and urbanchanges that have taken place there, and which are now commonto many other European cities: processes like immigration, ghet-toization, gentrification and touristification. Those visits and thepeople encountered were depicted in several images and displays,presented on the outside and inside of the Portuguese Pavilion re-spectively. They became real documents of everyday life that wereonly made possible due to the residents’ goodwill.

Those visual documents were produced by a qualified multidis-ciplinaryteam, integrating Cândida Pinto and Rodrigo Lobo(exhibition videos, SIC Channel), Jordi Burch and Nicolò Galleazi(exhibition photographs), whom we would like to thank for theirthoughtful contributions and commitment. Numerous other ar-chitectural documents were provided by the Canadian Centrefor Architecture (CCA), one of the main institutional partners,together with ATER Venice, IUAV, the Municipality of Venice

3. Ao longo de anos, os emigrantesvindos do Oriente, das Américas, daÁfrica e do sul da Europa haviam sidoconcentrados em Schilderswijk. Essaconcentração chegou a 50% dos mora-dores, surgindo progressivamente osconflitos no relacionamento entre famí-lias tão diversificadas. A cidade lançouum programa de reabilitação e renovaçãoe convidou-me para o respectivo planoparcial e projecto.

Uma equipa de técnicos projectistas eassistentes sociais garantia o apoio à po-pulação e aos projectistas. O trabalhodesenvolveu-se e concretizou-se, susten-tado por esse apoio, conduzindo a umsignificativo entendimento, a uma pausanos conflitos que deram origem à von-tade política de o realizar.

4. Visitamos agora vários apartamen-tos em Schilderswijk, relembrando a ex-periência dos anos 80. Vinte anos depois.Alguma coisa mudara, em Haia comoem grande parte da Europa. A decisãode construir habitação para os mais ne-cessitados (emigrantes ou não), atravésde um programa participado, não cor-responde à realidade de hoje.

Apercebi-me no Schilderswijk de quea distribuição dos habitantes evoluíra nosentido da formação de comunidades deuma mesma origem, num relativo isola-mento, mas sem conflitos. Faltava, con-tudo, ou diminuíra significativamente, o número de famílias holandesas.

“Dizem que somos perigosos” explicou--me um dos emigrantes.

Numa última visita encontramos umfotógrafo holandês. Gostava de viver alie ria-se da má “fama” do Schilderswijk.

5. Voltei em seguida a alguns dos sítiosonde desenvolvi trabalho semelhante:Bouça, Berlim e Veneza.

Os companheiros de viagem –NunoGrande, Roberto Cremascoli, CândidaPinto, Rodrigo Lobo, Nicolò Galeazzi,Jordi Burch e ValdemarCruz – registaramo que viram e o que ouviram.

Era inverno. O frio era o mesmo emtoda a parte. Quase.

da vida quotidiana, só possíveis graças àboa vontade dos residentes. Esses registosforam produzidos por uma qualificadaequipa profissional e multidisciplinar,constituída por Cândida Pinto e RodrigoLobo (vídeos da exposição, Canal SIC),Jordi Burch e Nicolò Galleazi (fotografiasda exposição), a quem agradecemos o seuprofundo empenho. Acompanham inú-meros outros documentos cedidos peloCanadian Centre for Architecture (CCA),parceiro institucional, que, em conjuntocom o ATER Venezia, o IUAV, a Muni-cipalidade de Veneza Murano Burano, aUNESCO Venezia, o Instituto Camões,a Embaixada de Portugal emItália, o Ar-quivo Drawing Matter, em Inglaterra, e a Ordem dos Arquitectos, se revelaram essenciais para a concretização desta ini-ciativa. O nosso apreço estende-se aindaaos autores que contribuíram para o ca-tálogo, com os seus importantes textosinterpretativos da obra de Siza e dos lu-gares onde esta se insere: Mirko Zardini,Alberto Ferlenga, Andrea Barina,AdriDuivesteijn, Brigitte Fleck, AlexandreAlves Costa e Vittorio Gregotti.

O nosso último agradecimento vai natu-ralmente para Álvaro Siza, notável arqui-teto, cidadão do mundo e agora tambémda acolhedora ilha da Giudecca.

Viagem pela EuropaÁlvaro Siza

1. Chegados ao aeroporto de Amesterdãotomamos o comboio para Haia.

Uma holandesa, sentada em frente,perguntou quem éramos, de onde vínha-mos e para onde íamos.

Schilderswijk – dissemos. Atónita lançou um aviso: não vão.

É perigoso. Fomos e passamos uma manhã tran-

quila.

2. 1984 –Conhecedor do programaSAAL, Adri Duivesteijn deslocou-se aoPorto. Procurou-me para visitar o inter-rompido projecto da Bouça.

O programa SAAL havia sido cance-lado, em consequência da evolução polí-tica em Portugal. As casas da Bouça, aindainacabadas, foram ocupadas pelos maisnecessitados moradores das ilhas locais,conforme decidira a sua Associação.

Pouco tempo depois Duivesteijn con-tactou-me, perguntando-me se estariadisponível para um projecto em Haia.

Mecenas Parceiro Institucional Media