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Vinicius de Moraes: A Solidão e a Paixão do poeta no pacto solidário com o Modernismo, do transcendentalismo ao anarquismo formal.

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Page 1: Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes: A Solidão e a Paixão do poeta no pacto

solidário com o Modernismo, do transcendentalismo ao

anarquismo formal.

Page 2: Vinicius de Moraes

Introdução

Vinicius de Moraes (1913-1980)

Page 3: Vinicius de Moraes

Sumário

1.Conhecendo a pessoa de Vinicius1.1 O homem com a alma de duas faces1.2 A constante tristeza presente no poeta Vinicius de Moraes2. Uma vida Intensa2.1 As carreiras de um apaixonado2.2 Paixão e Mulheres: Fontes de Vitalidade2.3 Amores e Paixões: Apenas uma fuga do martírio da solidão2.4 A dor de um pai eternamente apaixonado2.5 Uma vida dividida: A salvação está nas mulheres3. Solidão4. Paixão5. A bipolaridade nas obras de Vinicius de Moraes

Page 4: Vinicius de Moraes

1. Conhecendo a pessoa de Vinicius

Eu assistia a tudo, e muita (sic) vez (sic) fui obrigada por Vinicius a dizer que ele não estava, pois a vê-las (as namoradas) preferiria eventualmente a compainha dos amigos, o papo literário que já

esboçava como os outros poetas e escritores, que principiavam a aceitá-lo como a um dos seus. (MORAES apud COUTINHO, 1985,

p. 42)

Page 5: Vinicius de Moraes

O fato de ser ele o autor das rupturas afetivas não o poupou, porém,

da depressão que a elas se seguia. Entre os casamentos, Vinicius afundava na melancolia e se perdia na busca frenética de um novo grande amor. (<bravonline.abril.com.br>, acessado em 07 de julho de 2009)

Page 6: Vinicius de Moraes

[...] eu e meus amigos da época “gozávamos” o modernismo. Só mais tarde, por meio das leituras, fui rever essa posição. Fui muito amigo dos dois Andrades, o Mário e o Oswaldo (sic). Foi a minha verdadeira iniciação literária. (“Conversando ‘na cama’ com Vinicius” apud CAMPOS,

COHN, 2007, p. 209)

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1.1 O homem com a alma de duas faces

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No poema O Escravo, Vinicius descreve: “Aqui vejo coisas que a mente humana jamais viu/Aqui

sofro frio que corpo humano jamais sentiu”.

Em O Outro, Vinicius afirma: “Eu sinto sobre o meu ser uma presença estranha que me

faz despertar angustiado”.

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De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive);Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

(“Soneto de Fidelidade” apud MOISÉIS, 2005, pp. 473-474)

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1.2 A constante tristeza presente no poeta Vinicius de Moraes

Escravo da paixão – que definiu como um amor que é “eterno enquanto dura” – quando sentia que ela esfriava, Vinicius não pensava duas vezes: rompia com a amada. Tomou a iniciativa de se separar de sete de suas nove mulheres, confirmando a idéia de uma delas, segundo a qual o poeta, mais que amar as mulheres, amava a condição de apaixonado. (CASTELLO, 2009, p. 2)

Page 11: Vinicius de Moraes

Em Portugal, a notícia da decretação do AI-5[1] pegou Vinicius nos

bastidores de um teatro. Atordoado, gritava pelos camarins: “Eu me mato! Eu me mato!”. Baden Powell, que o acompanhava no show, tentava acalma-lo. “Pode me prender, eu quebro as lentes dos óculos e corto os pulsos!”, o poeta insistia. Só um abraço longo do parceiro amansou sua fúria. (Ibidem).

[1] Ato Institucional 5.

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2. Uma vida intensa

“Viver cada segundo como nunca mais”

(“Tomara”, música de Vinicius de Moraes)

Page 13: Vinicius de Moraes

2.1 As carreiras de um apaixonado

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2.2 Paixão e Mulheres: Fontes de Vitalidade

Ah, poeta, quanta genialidade em teu ser mundeiro e errante, que não há porque te saudar: “Poeta, poetinha vagabundo! Poeta da pesada, do pagode e do perdão”.[1] A viver no fio da navalha, se cortando sempre. Sem jamais conhecer a chamada calma transcendental. Ferindo-se nos relacionamentos, pois as pessoas têm módulos muito diversos. E ainda assim, acreditava mais na vida do que na arte: “Viver plenamente, antes de ser artista”. (PECCI, 1994, p. 62)

[1] “Samba pra Vinicius”, música de Toquinho e Chico Buarque.

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2.3 Amores e Paixões: Apenas uma fuga do martírio

da solidão ..........................................................

Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo eSeja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem

Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, entãoNem se fala, que olhem com certa maldade inocente. [...]

...........................................................

(“Receita de mulher” apud COUTINHO, 1985, p. 284)

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Tati

Page 17: Vinicius de Moraes

Lila

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Maria Lúcia

Page 19: Vinicius de Moraes

Nelita

Page 20: Vinicius de Moraes

2.4 A dor de um pai eternamente apaixonado

[...] Por isso que eu chorei tantas lágrimas para que não precisasse chorar, sem saber que criava um mar de pranto em cujos vórtices te haverias também de perder. E amordacei minha boca para que não gritasses e ceguei meus olhos para que não visses; e quanto mais cego, mais vias. Porque a poesia foi para mim uma mulher em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei. E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar: Assim é o canto que te quero cantar, Pedro, meu filho... (COUTINHO, 1985, p. 453)

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2.5 Uma vida dividida: A salvação está nas mulheres

“Eu vivia uma espécie de double-life, uma vida dupla. Eu tinha o lado esotérico, dos mistérios do infinito, a briga com o infinito, sempre. E tinha também as minhas namoradas” (“Depoimento para o MIS” apud CAMPOS, COHN, 2007, p. 19).

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[...] E já nessa ocasião eu levava sempre essa vida dupla. Porque quando conheci meus primeiros amigos, moleques de praia depois que eu cresci, comecei com as primeiras namoradas em Copacabana. E freqüentava os prostíbulos da Lapa, da Rua Conde de Lage. E tudo isso era secreto. Eu ocultava algumas coisas do outro grupo (risos). Dos meus amigos moleques de rua também. (“Depoimento para o MIS” apud CAMPOS, COHN, 2007, p. 23-24)

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[...] eram as duas casas que eu freqüentava realmente em São Paulo, quando eu ia lá. Eles... eles... bom, naquele tempo não se podia falar mais que fossem inimigos assim, né, mas ainda não se falavam. De maneira que eu ocultava de um e de outro os encontros. Freqüentava hoje a casa de um, amanhã a do outro. Continuação da minha vida dupla, né? (risos) (Ibidem, p. 37)

Page 24: Vinicius de Moraes

[...] Sou uma pessoa muito complexa, muito dividida ainda hoje. Por todos os erros de minha formação, pelo tipo de atitude que tenho diante da vida, muito exposto, muito sem defesa, sabe? Sempre me jogando à fogueira. Mas, também isso é um troço de que não me arrependo de ter feito e continuar fazendo. Acho que o grande problema é viver integralmente e, puxa, se o cara não tentar isso, para que então ser poeta, não é mesmo? (“O apaixonado Vinicius de Moraes” apud CAMPOS, COHN, 2007, pp. 161-162)

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3. SolidãoDesesperança das desesperanças...

Última e triste luz de uma alma em treva...- A vida é um sonho vão que a vida leva

Cheio de dores tristemente mansas.- É mais belo o fulgor do céu que nevaQue os esplendores fortes das bonançasMais humano é o desejo que nos ceva

Que as gargalhadas claras das crianças.Eu sigo o meu caminho incompreendido

Sem crença e sem amor, como um perdidoNa certeza cruel que nada importa.

Às vezes vem cantando um passarinhoMas passa. E eu vou seguindo o meu caminho

Na tristeza sem fim de uma alma morta.

(“Solidão” apud COUTINHO, 1985, pp. 84-85)

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É curioso, a alegria não é um sentimento nem uma atmosfera de vida nada criadora. Eu só sei criar na dor e na tristeza, mesmo que as coisas que resultem sejam alegres. Não me considero uma pessoa negativa, quer dizer, eu não deprimo o ser humano. É por isso que acho que estou vivendo num momento de equilíbrio infecundo do qual estou tentando me libertar. O paradigma máximo para mim seria: a calma no seio da paixão. Mas realmente não sei se é um ideal humanamente atingível. (“Detesto tudo que oprime o homem, inclusive a gravata” apud CAMPOS, COHN, 2007, p. 89)

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Entendo o relacionamento do homem e da mulher como a união de dois a enfrentar o grande problema que é a vida, a união de duas solidões, porque a solidão é intrínseca ao ser humano, não é isso? A gente nasce, come, morre, faz tudo sozinho. De maneira que a luta do homem deve ser a de tornar sua solidão uma comunhão a dois, a três [...] (Ibidem, p. 160)

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4. PaixãoEste infinito amor de um ano fazQue é maior do que o tempo e do que tudoEste amor que é rela, e que, contudoEu já não cria que existisse mais.Este amor que surgiu insuspeitadoE que dentro do drama fez-se em pazEste amor que é o túmulo onde jazMeu corpo para sempre sepultado.Este amor meu é como um rio; um rioNoturno, interminável e tardioA deslizar macio pelo ermoE que em seu curso sideral me levaIluminado de paixão na trevaPara o espaço sem fim de um mar sem terno.

(“Soneto do amor como um rio” apud COUTINHO, 1985, p. 318)

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Eu só tive maiores amores, e eles vieram sempre crescendo à medida

que meu tronco se foi dilatando, minha copa se tornando mais frondosa e minhas raízes mais fundas. Sou um homem como uma árvore, cheio de parasitas e passarinhos, frutos podres e folhas novas, carunchado de uns lados, dando brotos de outros, escorrendo resina e absorvendo sempre seiva nova. Se um raio não me ferir, creio que viverei um século. E estou vivendo, aos 50 anos, o meu maior amor. (“A volta de Vinicius” apud CAMPOS, COHN, 2007, p. 78)

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Que eu amo o amor é verdade. Mas por esse amor eu compreendo a soma de todos os amores, ou seja, o amor de homem para mulher, de mulher para homem, o amor de mulher por mulher, o amor de homem para homem e o amor de ser humano pela comunidade de seus semelhantes. Eu amo esse amor, mas isso não quer dizer que eu não tenha amado as mulheres que tive. Tenho a impressão que, àquelas que amei realmente, me dei todo. (“Detesto tudo que oprime o homem, inclusive a gravata” apud CAMPOS, COHN, 2007, pp. 86-87)

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5. A bipolaridade nas obras de Vinicius de Moraes

Ela tem uma graça de panterano andar bem comportado de menina

no molejo em que vem sempre se esperaque de repente ela lhe salta em cima.

Mas súbito renega a bela e a feraprendeo o cabelo, vai para a cozinha

e de um ovo estrelado na panelaela com clara e gema faz o dia.

Ela é de Capricórnio, eu sou de Libraeu sou Oxalá velho, ela é Inhansã

a mim me enerva o ardor com que ela vibra.E que a motiva desde manhã.

- Como é que pode, digo-me com espantoa luz e a treva se quererem tanto...

(“Soneto de Luz e Treva” apud COUTINHO, 1985, p. 360)

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A vida de Vinicius foi um emaranhado de histórias que se conectam, se desmentem e se estranham. Personagens entram e saem, tornam-se protagonistas e logo depois se transformam em obscuras figurantes, num ritmo frenético. Mulheres se esbarram e disputam um mesmo coração. Parceiros se multiplicam, exercitando a arte do encontro e do desencontro. Amigos lhe emprestam bons pedaços de suas almas. Há cenas impagáveis, em que o humor se transforma na forma mais sofisticada da coragem. Há também muitos fracassos, situações extremas, golpes. Há um poeta dark, seduzido pela morte, desesperançado a lutar dentro de si contra o poeta do amor e da paixão. Há um poeta gótico, transtornado pela degradação e pela morbidez. Amor e morte se tornam, então, as duas faces de um mesmo mistério. Há um homem chamado Vinicius de Moraes, que não consegue viver sem um grande amor. (CASTELLO, 1994, pp. 20-21)

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Considerações Finais

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OBRIGADO!!!

Aluno: Ivan Lucas de OliveiraProf.ª Orientadora: Maria Aparecida Perina Francescato