urbanismo e habitao social-doc

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  • 8/12/2019 Urbanismo e Habitao Social-doc

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    Universidade Da Beira Inteiror

    Ana Carvalho, 22328

    Andreia Rodrigues, 21676

    Bruno Matos, 22540

    Urbanismo e Habitao socialCasos estudo

    Bairro Operrio do Rodrigo

    Edifcios do Fundo Fomento de Habitao

    2010/2011

    Sociologia, IV/ 1Docente J. Neves

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    Urbanismo e Habitao Social| Sociologia, IV /1

    1

    ndice

    Introduo ......................................................................................................... 3

    Urbanismo ......................................................................................................... 5

    Problemticas da cidade ps-liberal ........................................................... 8

    A resposta aos problemas ........................................................................... 9

    Cidade, arquitectura e sociedade .............................................................. 10

    Pensamentos sobre as cidades .............................................................. 10

    Inveno planeamento urbano moderno ......................................................12

    Modelo Cidade- jardim ................................................................................ 13

    Unidade Habitacional ................................................................................. 14

    O funcionalismo .............................................................................................. 15

    LE CORBUSIER ............................................................................................ 16

    O planeamento burocrtico ....................................................................... 18

    Da cidade moderna ao novo urbanismo ....................................................... 18

    A critca de Jane Jacobs .............................................................................. 19

    ......................................................................................................................... 20

    A crise econmica ........................................................................................... 20

    Urbanismo em Portugal ..................................................................................21

    Caracterizao da habitao social em Portugal .......................................... 23

    Contexto histrico ...................................................................................... 23

    Dados estatsticos da Habitao Social Em Portugal.................................... 27

    A excluso social ............................................................................................. 31

    Casos de estudo .............................................................................................. 35

    O bairro do Rodrigo ........................................................................................ 36

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    Caixa sindical de previdncia ...................................................................... 39

    A arquitectura ............................................................................................. 39

    Em conversa com o povo .......................................................................... 44

    Fundo Fomento de Habitao ...................................................................... 46

    Em conversa com o povo .......................................................................... 49

    A arquitectura ............................................................................................. 52

    Anexos ............................................................................................................. 61

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    Introduo

    Portugal foi fundado em 1143 e desde ento temos evoludo atravs dos

    nossos feitos e legados at ao sculo XXI. J em finais do sculo XIX o pas vinha a

    enfrentar uma srie de desgostos, medida que perdia as antigas colnias e

    comeava a enfrentar srios problemas econmicos. Com o regime do Estado

    Novo gera-se uma nova realidade. A partir dos novos valores defendidos, gerou-

    se um enorme centralismo no pas que culminou com o crescimento de diversas

    cidades nacionais. Lisboa era o centro de toda a nao que reflectiu no

    esquecimento de todas as outras regies nacionais. O nacionalismo que se

    impunha estabelecia limites de igualdade em todo o territrio nacional, as obras

    construdas respeitavam a coerncia dos valores da poca. A certa altura as

    cidades comearam a tornarem-se semelhantes, pois possuiam elementos

    comuns de norte a sul, sempre em vista a uma unidade total da nao. Lisboa

    assistiu ao rasgar de enormes avenidas e edificao de grandes obras tipcas

    deste regime, enquanto o resto do pas mergulhava no esquecimento.Com a revoluo de 1974 e com a descoberta de uma nova liberdade as

    prprias cidades comeavam a respirar uma liberdade criativa, uma vez que

    grande parte dos valores locais havia sido castrada e desenvolve-se assim a ideia

    que se pode construir qualquer coisa em qualquer stio. nesta altura que o pas

    associa os valores do modernismo apenas a um sector da sociedade.

    Numa poca ps-urbana, que se estende at aos nossos dias, a evoluo

    dos centros urbanos e do modelo de ocupao terrritorial encontra o declnio.Durante dcadas usufruu-se de todo espao com toda a liberdade possvel,

    abusando-se mesmo do bom senso da ocupao e construo. O resultado de

    tal ordem visvel, e a cidade da Covilh grande exemplo de tal premissa. A nossa

    demanda de evoluo para acompanhar s evoluo europeia to desesperada

    que apenas nos distancia cada vez mais do objectivo.

    O urbanismo feito por interesses. Os planos democrticos baseiam-se

    nos melhores modelos urbanos, contudo se necessrio mudar ou ignorar tais

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    planos para responder aos interesses de algum no h hesitaes. O resultado

    est vista. Com tantos interesses, com tantas oportunidades e com tamanhas

    ocasies as nossas cidades do hoje difusas e muitas vezes desenquadradas

    territorialmente. As atenes focam-se agora para os centros histricos, abrindoespao para o descontrolo das periferias, onde quase tudo possvel fazer.

    medida em que as cidades se afastam dos seus centros histricos os

    valores e preocupaes mudam, transformando a malha citadina, que inicalmente

    detinha todos os valores das suas tradies, sobretudo medievais, numa

    diversidade de estilos e organizaes. O urbanismo constri-se a partir de

    oportunidades e interesses maioritariamente privados, gerando conflitos e

    impantando-se de forma altrusta perante o territrio nacional.

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    UrbanismoCuriosidades

    O estudo da cidade, e/ou de aglomeraes urbanas um tema extenso e

    difuso que pode ser visto sob vrios pontos de vista, segundo Fernando Chueca

    Goitia existem cinco temas fundamentais, nomeadamente, o ponto de vista

    histrico, geogrfico, econmico, politico ou arquitectnico.

    Assim, no mbito da vertente histrica, infere-se o ponto de vista universal

    histrico das cidades. O conhecimento histrico essencial para compreender o que

    uma cidade j foi e as possibilidades do que pode ser no futuro, assim a histria da

    arquitectura pode ser considerada histria do ambiente construdo.

    Existem quatro fases principais da historia arquitectnica directamente

    associadas ao desenvolvimento das cidades e aglomerados urbanos,

    nomeadamente, a passagem da colecta a cultivo de alimentos que permitiu o

    assentamento estvel e integrado das aldeias neolticas; a formao de grupos

    dirigentes como guerreiros, sacerdotes, escribas ou artesos especializados que do

    origem cidade e vida urbana; a revoluo comercial devido ao melhoramento da

    produo agrcola e artesanal bem como a organizao do trabalho no servil

    marcou mais uma etapa importante da evoluo da cidade cerca de 800 anos; e

    mais recentemente, cerca de 200 anos, a revoluo industrial atravs do

    desenvolvimento ilimitado de produo e consumo possveis graas revoluo

    tecnolgica e cientifica. Estas fases de evoluo correspondem a grandes mudanasdos mtodos de produo e respectivamente a grandes saltos de crescimento

    demogrfico.

    A cidade do presente fortemente marcada pela influncia da revoluo

    industrial que recebeu do passado, e actualmente recebe uma serie de

    transformaes e influncias caracteristicamente rpidas da nossa poca.

    Pode-se assim considerar duas fases principais quando procedemos ao

    estudo das cidades e da sua evoluo, a cidade pr-industrial e a cidade ps-

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    industrial. A cidade pr-industrial definida pelas cidades do passado, anteriores

    revoluo industrial, bem como a cidades do presente que no sofreram alteraes

    pelos efeitos da revoluo industrial. Assim, na cidade pr-industrial perdem relevo

    as fases anteriores e ganha importncia as caractersticas comuns, nomeadamente acontraposio entre cidade e campo; o factor tempo-transformao

    caracteristicamente mais rpido no meio urbano e mais lento no meio rural; a clara

    desproporo entre ambiente urbano e rural; criao de uma relao estvel entre

    todos os indivduos e grupos comunitrios da cidade o que justifica a sua criao

    como sede social.

    Por sua vez, a cidade ps-industrial diferencia-se da cidade pr-industrial

    pelas seguintes caractersticas: acelerao crescente dos movimentos de

    transformaes, o ambiente deixa de ser uma referncia estvel para os indivduos,

    existe uma contnua adaptao das pessoas ao espao construdo; grande aumento

    do nmero de habitantes, casas, acessos, variedade de bens e servios, bem como

    da mobilidade onde o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicao

    reduzem radicalmente as distncias; a relao entre cidade e campo est

    lentamente de modificando, a cidade cresce com mais rapidez que o campo e a

    populao urbana que antes constituda uma pequena minoria, actualmente tem

    maior concentrao de habitantes que o meio rural. Existem actualmente 3.3 bilies

    de habitantes nos meios urbanos, pouco mais que metade da populao mundial;

    por fim, na cidade ps-industrial as vantagens e desvantagens esto acessveis a

    todos, pois apesar de distribudas desigualmente aplicam-se a toda a populao.

    Estas caractersticas remetem para um problema de controlo poltico, onde

    os mtodos tradicionais de gesto da cidade pr-industrial tornam-se insuficientes e

    ineficazes (tema desenvolvido mais a frente).

    Actualmente, a cidade contempornea, procura modos alternativos de

    organizao do ambiente construdo para melhor uso do territrio e da cidade.

    Por outro lado, a geografia trabalha sobre a organizao que o homem d ao

    espao construdo em funo do local e do espao natural em funo das suasnecessidades, desejos e aspiraes. A cidade forma-se numa parte de territrio

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    geogrfico natural e nela que se implanta e se desenvolve. Quando se criam

    habitaes, quer essas habitaes sejam em srie, pr-fabricadas ou de outro tipo,

    elas implantam-se no territrio de forma nica, essa singularidade que permite

    distinguir os conjuntos de construo habitacionais de outros de tipo tcnico ouindustrial.

    A abordagem econmica visvel pelo seu impacto no desenvolvimento das

    cidades e aglomeraes urbanas, o desenvolvimento est directamente relacionado

    com a situao econmica, comrcio e indstria.

    Quando se aborda a vertente poltica fala-se sobre a sociolgia pois

    influencia relaes sociais da populao.

    A evoluo do modelo ps-industrial criou vrios problemas de gesto

    poltica, assim, existiu necessidade de adoptar novos mtodos de controlo e

    administrao poltica, estes mesmos mtodos definiram diversas fases da histria

    da cidade ps-industrial. O desenvolvimento industrial expandiu-se na Europa

    Central, Inglaterra e Estados Unidos da Amrica, logo foi aqui que se desenvolveu

    principio polticos de ocupao urbana das indstrias.

    Na primeira fase de desenvolvimento da cidade ps-industrial a teoria e

    prtica poltica opem-se aos instrumentos de gesto da cidade pr-industrial, da

    mesma forma que outras prticas sociais e econmicas so consideradas obstculos.

    A lei de livre mercado no significa livre acesso a todas as classes, mas pelo

    contrrio, admite ao capital imobilirio a mesma oportunidade que o capital

    empresarial usa para o seu desenvolvimento. Este modelo cria desordem, congesto

    e contaminao do territrio posto que no existe interveno das autoridades

    pblicas.

    Posterior ao modelo do livre mercado surge a cidade ps-industrial liberal,

    posta a crise econmica agravada surgem duas solues opostas: radicais e

    socialistas. Os radicais opem-se ao desuso das velhas leis e regulamentos e opem-

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    se introduo de novas; por sua vez, os socialistas propem o contrario, a

    introduo de novas leis e regulamentos fundamentadas na gesto planeada.

    uma cidade um certo nmero de cidados, pelo que

    devemos considerar que h que chamar cidado e quem o

    cidado

    Aristteles, Politica, Livro III, Cap. I

    chamamos pois cidado de uma cidade aquele que

    possu a capacidade de intervir nas funes deliberativa e

    judicial da mesma

    Lei 6, Titulo XXXIII, Partida 7

    A arquitectura trabalha essencialmente a qualidade dos ambientes e suas

    relaes, nomeadamente as relaes entre espao pblico e privado, dentrode

    portas e fora de portas. Edificam-se casas para nelas habitar e criam-se cidades

    para sair das casas, reunir-se e socializar com outros cidados, desenvolve-se assim a

    vida citadina.

    Cada uma destas vertentes fornece informaes importantes para o

    conhecimento da cidade e dos agregados urbanos.

    Problemticas da cidade ps-liberal

    A cidade tornou-se demasiado densa, a tendncia foi aumentar a construo

    em relao ao valor dos terrenos, sendo estes mais caros no centro dos meios

    urbanos e mais baratos nas periferias.

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    O congestionameno: pobre em servios primrios, a construo de edifcios

    aumenta mas arruamentos, estradas e outras instalaes raramente se altera,

    tornando-se insuficientes para o contexto que servem; pobre em servios

    secundrios, ou seja, o desenvolvimento tecnolgico impe a criao de maisfunes administrativas e outras relacionadas desvalorizando a criao de servios

    secundrios como por exemplo: hospitais, escolas, mercados, etc.

    Poucas moradias econmicas para as classes mais desfavorecidas, o valor das

    habitaes tende a subir mais que a procura excluindo quase por completo a

    possibilidade de habitaes econmicas.

    Aos poucos criam-se classes subalternas em torno das periferias que aos

    poucos so ocupadas pela expanso das cidades.

    A resposta aos problemas

    A densidade pode ser regulamentada fixando-se uma taxa de explorao

    admissvel dos terrenos, edifcios, espao pblico ou privado. Compensar a excessiva

    densidade urbana com grandes espaos pblicos e espaos verdes.

    Aumento populacional ou congesto, garantir viabilidade de acessos e redes

    de transportes bem como o funcionamento de instalaes.

    Corrigir a falta de servios secundrios dando capacidade de aquisio de

    terrenos e realizao de obras s administraes baixando os valores de mercado.

    Criao de condies s habitaes econmicas oferecendo casas construdas

    ou financiadas pelos governos e administraes pblicas.

    Criao de planos para a organizao racional das industrias e grandes

    instalaes na cidade, opondo-se a hierarquizao radiocntrica e propondo uma

    hierarquizao de funes. Assim, podem-se criar zonas industriais num sector da

    coroa externa das cidades bem servido de acessibilidades rodovirias e ferrovirias.

    Promover a parcial conservao dos centros histricos dado o seu carcter de

    identidade, monumental e decorativo.

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    Cidade, arquitectura e sociedade

    A diviso de espao urbano e territrio geogrfico tem administrao

    pblica e privados. A administrao pblica possui menor quantidade de terreno,

    que por sua vez utilizado para assegurar a criao de vias de comunicao,

    instalaes e servios. Posto isto, a administrao pblica ainda responsvel por

    moderar e regulamentar por meio de leis o uso e transformaes dos terrenos de

    proprietrios privados.

    Existe uma herana cultural lingustica de vrios estilos histricos egeogrficos ligados e pocas e vnculos histricos. A utilizao desta linguagem

    tem um valor organizativo pois, de acordo com esta possvel reler os seus

    traados e tradio passada dando um carcter de herana cultural ao ambiente

    construdo. Por outro lado, se rejeitarmos este carcter organizativo, podemos

    considerar que estas referncias histricas fornecem-nos conhecimentos que

    permitem estabelecer uma ligao com pocas passadas permitindo o seu

    conhecimento histrico e projectual.

    Existe a diviso do trabalho em dois tipos, tcnico e artstico, e cada um

    tem uma abordagem distinta sobre a construo do ambiente, o tcnico

    definindo a estrutura e o artstico definindo a forma final da construo. Contudo

    aps a Primeira Guerra Mundial cria-se uma nova alternativa a abordagem

    tradicional de tcnico e artstico. Existe uma extenso da cincia ao campo

    arquitectnico, e uma recusa ao modelo tradicional, criando uma nova ideologia

    que combina o mtodo tcnico e artstico como um s para a criao

    arquitectnica e edificao do meio construdo.

    Pensamentos sobre as cidades

    Cantillion no sc. XVIII pensava a origem da cidade da seguinte maneira:

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    se um prncipe ou senhor fixa a sua residncia num local

    agradvel, e se outros senhores ai ocorrerem para se verem e

    conviverem em agradvel sociedade, este lugar converter-se-

    numa cidade.

    Este o conceito de cidade Barroca de carcter senhoral.

    J Ortega y Gasset baseia a sua definio de cidade numa diferenciao

    radical entre ambiente construdo e natural, considerando assim a cidade como

    criao artificial do Homem:

    a cidade uma tentativa de sucesso feita pelo homem

    para viver fora e frente ao cosmos, do qual aproveita as pores

    escolhidas e delimitadas.

    Para Fernando Cheuca Goitia

    cidade uma aglomerao urbana fundada num solo

    convertido em ptria, cujas estruturas internas e externas se

    constituem e desenvolvem por obra da histria, para satisfazer

    e exprimir as aspiraes da vida colectiva, no s as que nela

    decorre, mas tambm s da humanidade em geral.

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    Inveno planeamento urbano modernoDiferentes tipos de palneamento urbano

    Nas primeiras trs dcadas do sculo XX reuniram-se um nmero de ideias,

    mtodos e procedimentos com o objectivo de melhorar a qualidade de vida no meio

    urbano. A esse documento deu-se o nome de Planeamento da Cidade que foi

    provavelmente inventado por Raymond Unwin, autor de O Planeamento da Cidade

    na Prtica,publicado em 1909. O planeamento da cidade era idealizado de duas

    maneiras radicais, pela reconstruo radical ou pela criao de novas cidades-jardim.

    Rapidamente tornou-se claro que estas utopias s poderiam ser postas em prticanuma escala limitada, pois, apesar de fortemente ideolgicas eram incompatveis

    com a realidade. Ideologias que surgiram contra a industrializao e as suas

    problemticas, tinham o objectivo de fazer as cidades funcionarem to

    eficientemente como as fabricas contudo foram responsveis pelas grandes

    desigualdades sociais desenvolvidas a partir dessa poca.

    nesta fase que surgem os primeiros regulamentos para controlar as prticas

    de construo que incidiam especialmente sobre incndios, higiene e segurana. No

    inicio, estes regulamentos, definiam a largura de vias, entradas, vos e altura de

    edifcios. As normativas ao mesmo tempo que melhoraram a construo

    habitacional da poca incentivaram tambm a construo montona de bairros

    residenciais constitudos por habitaes idnticas.

    A necessidade de fornecer habitaes e condies de vida a toda a populao

    foi um dos principais problemas que o sculo XX trouxe ao arquitecto e ao urbanista.

    O urbanismo moderno desde o seu incio, um urbanismo habitacional. Alojamento

    e rea habitacional so os temas que do origem inveno das novas tipologias, do

    bloco, da torre, do conjunto.

    Segundo Leonardo Benevolo, existem trs factores fundamentais na

    concepo projectual da cidade moderna:

    A investigao sobre o alojamento e a sua organizao estrutural e

    agrupamento em edifcios;

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    A pesquisa sobre o bairro e o seu valor como unidade urbana e base vida

    social e comunitria da populao;

    A investigao sobre as dimenses mximas da cidade, assim como

    funcionamento e organizao.

    A forma urbana passa a ser gerada em funo das solues habitacionais

    desenvolvidas, o alojamento a unidade base do planeamento e desenvolvimento

    urbano. As vias servem apenas para circulao e servios, a implantao dos edifcios

    serve os melhores interesses habitacionais, a cidade cria-se e existe em funo das

    necessidades habitacionais. O espao entre edifcios torna-se espao residual, torna-

    se sobras da implantao dos edifcios, deixa de ser assim objecto de desenho

    urbano.

    Modelo Cidade- jardim

    O autor desta ideologia foi Ebenezer Howard, contudo, a ideia original

    provavelmente no sua, provem de um lema originrio de Chicago, Cidade no

    Jardim. A ideologia cidade-jardim de origens Vitorianas, desenvolve a ideia que o

    meio urbano necessita de contacto com a Natureza.

    O modelo cidade-jardim desenvolve a combinao do meio urbano e natural

    para melhorar a qualidade de vida ao mesmo tempo que torna os aglomerados

    urbanos auto-suficientes. Este modelo idealiza avenidas largas e arborizadas que

    conduzem a parques centrais e edifcios de carcter pblico, por sua vez, as ruas

    residenciais so tambm arborizadas e as casas desenvolvem-se diversificadamente

    e recuadas da rua.

    Uma cidade tal como uma flor, ou uma rvore, ou um animal, deve, em cada

    estdio do seu desenvolvimento, possuir unidade, simetria, plenitude.

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    Unidade Habitacional

    O mtodo da unidade de vizinhana ou unidade habitacional um princpio

    que consiste na diviso do meio urbano por proximidade de vizinhana baseando-se

    nas relaes sociais e comunitrias entre vizinhos semelhana do que existia nos

    bairros antigos e contraria a tendncia verificada nos novos bairros habitacionais e

    grandes cidades.

    Assim, este mtodo prope um controle das unidades habitacionais, do seu

    nmero de habitantes e extenso territorial de modo que seja possvel um eficaz

    planeamento e localizao dos equipamentos e servios visando que predisponha o

    relacionamento social e comunitrio da populao.

    Este modelo de planeamento foi um dos principais instrumentos da

    planificao da cidade moderna. Assim, este processo um processo claramente

    sociolgico, o desenho urbano feito em funo das vivencia social da populao.

    Princpios das unidades de vizinhana:

    Ilustrao 1_ Letchworth: cidade-jardim. Arquitecto Louis Soissons, 1909

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    Tamanho determinado de acordo com o nmero de habitaes necessrias

    para servir uma escola (aproximadamente 5000 habitantes divididos por

    casas e apartamentos);

    Fronteiras definidas por vias que orientam a circulao viria em torno davizinhana;

    Os espaos livres devem constituir 10% da rea ocupada;

    As escolas e outras instituies pblicas devem ser centrais;

    O comrcio deve se situar na periferia das unidades de vizinhana, em

    especial em cruzamentos;

    Vias e acessos devem ser de traado variado e de largura suficiente.

    O funcionalismo

    A lgica do funcionalismo existe desde Vitrvio ou Paladino natural que

    exera grande influncia na arquitectura e planeamento das cidades e aglomerados

    urbanos da modernidade. O funcionalismo no urbanismo preocupa-se

    principalmente com o bom ordenamento e distribuio do territrio. Assim, o bom

    funcionamento da cidade o objectivo do planeamento urbano.

    Contempornea do mtodo da unidade de vizinhana, este mtodo

    desenvolve uma ideologia de diviso das cidades e aglomerados urbanos por zonas e

    funes. Atravs deste modelo cria-se uma automatizao fsica dos vrios

    Ilustrao 2_Lake Meadows, Chicago, Arquitectos S.O.M.

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    elementos estruturais da cidade. Existem assim sistemas independentes, o sistema

    virio, plano de equipamentos, planos habitacionais, planos desportivos e lazer,

    entre outros. Cada um destes sistemas e planos funcionam com desenhos

    independentes.Este modelo foi primeiro desenvolvido na Alemanha para impedir a

    instalao de matadouros na proximidade de reas residenciais e depois na

    Califrnia para limitar a implantao de Lavandarias Chinesas. Posteriormente, em

    Los Angels, os regulamentos passaram a ser aplicados como forma de diferenciar

    bairros habitacionais de bairros industriais. J em Nova Iorque o zoneamento serviu

    essencialmente para controlar a proliferao dos arranha-cus, bem como, a

    separao de reas comerciais e residenciais.

    Assim, as cidades foram divididas por zonas, consoante as actividades

    permitidas e outras restries como por exemplo a altura dos edifcios. O

    zoneamento promoveu a estabilidade do valor dos terrenos atravs do mapeamento

    coerente. A aplicao desta poltica promoveu a qualidade do ambiente construdo

    salvaguardando o direito ao ar e luz solar, por outro lado, o zoneamento tambm

    pode ser usado para impedir a segregao social e das paisagens.

    Contudo, este mtodo de planeamento urbano tambm tem as suas

    problemticas, deixou de haver uma mistura de funes dentro do mesmo bairro, e,

    por sua vez, a distribuio e complexidade formal da cidade antiga deu lugar a

    monotonia e falta de relao de espaos.

    O zoneamento nunca definitivo, est sempre apto a ser reordenado e

    reorganizado para o melhor funcionamento das cidades e aglomerados urbanos.

    LE CORBUSIERA un id ade de ha bi tao . La vi lle rad ieuse

    O Corbusier tem um papel de grande destaque no movimento moderno, a

    sua influncia passa desde a obra construda at as ideologias desenvolvidas.

    importante ter em mente que, o arquitecto e o urbanista so pessoas distintas

    apesar de que muitas vezes difceis de distinguir.

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    Dos muitos planos de Corbusier, o primeiro Cidade Contempornea para

    Trs Milhes de Habitantes. Este plano explorava o funcionamento do centro da

    cidade, desde os edifcios pblicos aos habitacionais e de escritrios, so estas as

    trs tipologias exploradas neste plano.Plan Voisin elaborado sobre a histrica cidade de Paris e proponha uma

    demolio radical do tecido urbano excepo dos edifcios histricos criando vazios

    e espaos verdes entre estes. O terreno fica livre permitindo criar acessibilidades,

    habitao e escritrios.

    La ville radieuse esboa os princpios organizacionais e de planeamento

    urbano de Corbusier: a libertao do solo para a circulao de pees prolongado os

    espaos verdes para debaixo das construes; a disposio dos edifcios de acordo

    com um modelo heliotrmico e mono funcional; e as unidades habitacionais devem

    incluir equipamentos elementares.

    O mesmo ttulo, la ville radieuse, serve de ttulo a futuros projectos todos

    baseados em nas mesmas ideologias mas com abordagens diferentes.

    As unidades habitacionais trabalhadas por Corbusier consistem na

    supresso do quarteiro e do centro histrico como o elemento de organizao da

    cidade. A implantao do edifcio transforma o espao pblico e a sua orientao

    deixa de depender da estrutura urbana e passa a depender da orientao solar. Por

    outro lado, a organizao interior dos edifcios mais tradicional, nos pisos trreos

    alberga comercio e equipamentos, e os pisos superiores habitao.

    La ville radieuse desenvolve-se sobre um extenso espao verde

    interceptado por vias e do qual emergem as construes de habitaes, servios e

    equipamentos. A unidade de habitao a base para o desenvolvimento,

    organizao, planeamento e composio da cidade radiosa.

    Ilustrao 3_ Le Corbusier, capa La ville radiouse, obra e esquios do autor

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    O planeamento burocrtico

    Postas as condicionantes econmico-sociais surge um modelo de

    planeamento flexvel, que considera que a forma projectual nunca definitiva mas

    est sujeita a mudanas de carcter administrativo. Mais claramente, o planeamento

    das vias permite vrias disposies de edifcios e vice-versa, a implantao de um

    edifcio pode ser desviada pois irrelevante para o traado virio.

    Este sistema permite um planeamento urbano operacional e flexvel, no

    est condicionada nem pelo espao nem pela arquitectura, no um desenho

    rigoroso mas espontneo, as relaes entre espaos e edificaes nascem de

    condies recprocas.

    Uma mudana de situao, nova necessidade ou o aparecimento de um

    problema o suficiente para modificar situaes especficas pois os planos nunca

    esto completos, concludos ou executados na sua totalidade. A ausncia de

    desenho rigoroso um convite a alteraes e especulaes fundirias e imobilirias.

    Este sistema permite o movimento constante do planeamento e realizao da obra

    pode ser considerado uma necessidade de aperfeioamento operacional.

    Da cidade moderna ao novo urbanismo

    Na decada de setenta surgem as primeiras reaoes contra o urbanismo

    moderno baseadas em estudos sobre os ambientes urbanos e a variedade dos

    bairros antigos, em especial as antigas aldeiras italianas. Surge uma recusa da cidade

    moderna e a cidade antiga tomada referncia para resolver as problematicas da

    cidade moderna.

    Surge uma necessidade de encontrar novas estrategias para o desenho da

    cidade que se oponha construo em altura e vise a construo de conjuntos

    habitacionais em baixa altura ao mesmo tempo o aumento do perimetro das

    construes causou um aumento da densidade.

    Os planos directores so desvalorizados em funo dos ambientes e espaos

    urbanos e o desenho do espao publico. A populao em geral encontrava-se

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    insatisfeita com a pobreza dos espaos pblicos e das suas qualidades estticas e

    criatvias. Assim, da-se grande importancia qualidade visual da imagem e do espao

    urbano, pois, as formas dos bairros e aglomerados urbanos tm implicaes

    profundas na cida social e comunitria dos habitantes.Gordon Cullen valoriza as sequencias espaciais, pequena escala e seus

    promenores, por outro lado Kevin Lynch apela ao desenho urbano como forma de

    melhorar a sua imagem, a imagem da cidade. Reaparece a procura do bem estar

    social e intelectual da populaao. E o interese sobre a imagem da cidade est

    directamente ligado ao carcter historico da cidade e ao seu valor de patrimonio

    pblico.

    Este movimento que posteriormente deu-se o nome de ps-modernismo,

    dedicou-se recuperao do valor sensorial da arquitectura e do espao urbano. A

    critica cidade moderna faz-se atravs da recuperao de valores passados que com

    o movimento moderno foram desvalorizados e postos em desuso, como por

    exemplo a complexidade da forma urbana, simetria, dissonncia, entre outros.

    A critca de Jane JacobsA mort e e a vid a nas gr andes Ci da des

    Jane Jacobs uma referncia crtica urbanistica clssica, explorando a

    supresso da rua tradicional limitada por habitaes, comercio de rua, bares e

    restaurantes que so os locais priveligiados de contacto sociais e comunitarios.

    Contradiz a ideologia da cidade-jardim as suas baixas densidades com

    espaos verdes, para Jane Jacobs os espalos verdes no meio urbanos sao espaos

    nocivos da mesma maneira que os centros sociais estragam as relaoes sociais.

    A principal necessidade dos grandes centros urbanos reside na mistura de

    funoes, a integrao de vrias funes escala da rua, do bairro, da cidade e da

    metropole formam organismos sociais e economicos. Contudo as propostas de Jane

    Jacobs no tm tanto valor quanto as suas crtcas, mas o reconhecimento das

    problematicas do urbanismo moderno o primeiro passo para a sua resoluo.

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    A crise econmicaA decada de setenta foi tambm marcada por uma forte crise econmica e

    energtica, o fraco crescimento econmico condicionou os programas urbanisticos e

    tambm questionou a existncia de grandes centros urbanos.

    Os programas urbanisticos dependem do crescimento econmico,

    demogrfico, necessidades habitacionais e investimentos pblicos e privados.

    Resumindo, a situao econmica e demogrfica impossibilita a expano urbana oque faz com que urbanistas e arquitectos se concentrem na resoluo de problemas,

    reabilitao e acabamento de espaos vazios no interior das cidades visando a sua

    qualificao.

    A situao econmica afecta a construo em si, bem como, a manuteno

    dos grandes espaos pblicos subutilizados tambm posta em causa.

    O espao divide-se entre espao pblico e privado, na cidade tradicional o

    espao pblico percentualmente mais pequeno que o espao privado, contudo,

    uma das principais reivendicaes do urbanismo moderno foi a reduo do espao

    privado em valorizao do espao pblico, aumentando assim as despesas de

    construo e manuteno do mesmo, tornando-o economicamente insustentavel.

    Ilustrao 4_ Jane Jacobs, Morte e vida das grandes cidades, obra da autora

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    Urbanismo em PortugalO novo urbanismo

    Actualmente existe uma inverso face ao desenho e planeamento modernos.

    A aceitao da forma urbana e do desendo da cidade bem como aos seus ambientes,

    construes e planeamento.

    Ao analisarmos a implantao das novas polticas urbanisticas em Portugal,

    importante fazer uma sntese analtica situao urbanistica actual, assim,

    consideremos a situao urbanistica catica. Em Portugal a execuo de planos e

    obras definida pelo preo ou custo, no pela sua viabilidade, em especial no que

    toca aos planos urbanisticos. Verifica-se ainda falta de registos e publicaes sobre o

    pratrimnio construdo.

    A implantao dos ideais modernos entrou em atraso em Portugal e no

    houve grandes programas de implantao dessas doutrinas, algo tambm

    relacionado com a influncia do regime Salazarista em vigor na poca.

    Nos anos setenta os planos e obras pblicas sao influnciadas pelas correntes

    emergentes da Europa. ainda nesta poca que as urbanizaes privadas

    expandiram-se.

    Com a queda do Governo de Marcelo Caetano o estado ficou enfraquecido

    bem como a sua capacidade economica para a realizao de obras pblicas,

    planeamento e ordenamento do territrio.

    Aps a revoluo de 25 de Abril de 1974 as antees sao viradas para as

    questes habitacionais e criam-se programas de interveno urbana e habitacional.Em cidades como Lisboa ou Porto este programa incidui sobre partes do interior das

    cidades fragmentadas e marginalizadas, aqui surgem os primeiros bairros sociais

    portugueses.

    Passados dez anos aps o incio destes planos a maior parte dos conjuntos

    esto inacabados e/ou apresentam graves problemticas. A maior parte destes

    planos integra simultaneamente programas de integrao habitacional, de servios e

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    socio-econmica. Todos estes planos de integrao forma um megaprojecto de

    planeamento e desenho urbano.

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    Caracterizao da habitao social emPortugal

    Contexto histrico

    A arquitectura sempre furmulou a casa como um dos seus princpios

    primordiais, transformando lugares, evidenciando culturas e caracterizando a

    funo de habitar. Assim, habitar a gnese da arquitectura, caracterizando a

    habitao no como um mero refgio mas como um espao que permite a

    permanncia de vida.

    Ao longo dos anos a habitao urbana foi pouco aprofundada pelos

    arquitectos, dado que muitas vezes no era considerada arquitectura pois era

    construda como resultado da resposta imediata a necessidades sociais. No sculo

    XX, a casa ganha relevo para os arquitectos, com o surgimento da temtica

    protagonizada pelo movimento moderno enquanto resposta a problemas sociais,

    sobretudo com a revoluo industrial. Como a revoluo industrial potencializou a

    afluncia dos grandes centros urbanos e industriais, geraram-se assim problemasao nivel do funcionamento das cidades e da sua estrutura, pois estas no eram

    projectadas para tamanho fluxo. Perante este facto as cidads deixaram de poder

    oferecer as qualidades de vida que at agora as carcaterizava, e com isto surgem

    as formas de sobre-ocupao dos espaos urbanos para que estas podessem

    albergar a crescente imigrao. aqui que se iniciou um movimento de

    arquitectos capazes de reflectir e propor novos modelos de habitao social.

    Assim, a cas deixou de ser um mero lugar de refgio ou abrigo ps-trabalho, para

    passar a ser um local de convivncia familiar, isto a casa passou a ser um lar, um

    espao de encontro privado contrastando com as ruas e praas que tomam agora

    um carcter cada vez mais colectivo.

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    Ilustrao 5_ Mulhouse, perspectiva de habitao social 1887

    Ilustrao 6_ Mulhouse habitao operria, 1887

    Em Portugal os efeitos da revoluo Industrial s se fizeram sentir em

    meados do sculo XIX e nicios do sculo XX. Tal como nos outros pases erupeus

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    tambm aqui se deu um elevado xodo rural e uma crescente procura de

    habitao no meio urbano, que at ento era apenas habitada pela classe

    burguesa. Esta procura levou a uma sobre-ocupao das cidades que, no

    respondendo procura de todos os habitantes, conduziram a formas deocupao ilegal dos espaos quarteires, formando como que ilhas. Estas

    surgiam normalmente em interiores de logradouros privados ou em terrenos das

    indstrias, de forma a permitir uma permanncia mnima de operrios em redor

    da fbrica, para que estes se localizasem perto do local de trabalho. Este facto

    tornou-se de tal forma fenmeno urbano e social que ainda hoje possivel

    encontr-los e inclusiv alguns deles ainda funcionam.

    No inicio do sculo XX este tipo de ocupao comea a ter peso nas

    polticas das principais cidades industriais da poca. At ento no havia qualquer

    tipo de preocupao de o qu e como deveria ser a habitao para operrios ou

    se deveria existir uma habitao para tal. As indstrias texteis so as qua

    primeiramente se comearam a preocupar com esta situao, e comearam elas

    prprias a construir habitaes para sua comunidade fabril. A nvel

    governamental apenas foram tomadas medidas quando as precrias condies

    higinicas das cidades se tornaram propcias propagao de epidemias. S com

    a devastao da populao por consequentes epidemias que se tornou

    imperativo uma aco perante as condies de vida dos operrios fabris de forma

    a proteger a sociedade. Como a higiene era permissa primordial na construo de

    novas reas de habitao, foram pensadas maioritariamente casas individuais

    onde as famlias podessem viver de forma isolada e sem contacto directo com os

    vizinhos, de forma a controlar epdemias e contgios. de salientar ainda que

    este tipo de habitao, de casa isolada, alm de higienizar as condies de

    habitao operria evitava a promiscuidade fsica e socialmente perigosa,

    tornando-se assim propcia ao reforo da ordem social pelo acesso propriedade

    e consolidao da instituio familiar, proposio bse das polticas de Salazar. A

    partir da dcada de 30 que as polticas Salazaristas instituem um modelo de casa

    operria de acordo com os valores fascistas e de salvaguarda dos valores

    nacionalistas e familiares.

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    O desenvolvimento do ps guerra nas dcadas de 50 a 70 levaram a uma

    expluso de habitao social pela generalidade do continente europeu, contudo

    esta no atingiu Portugal e s a partir de 1969, com a criao do fundo fomento

    da habitao, que a interveno do estado se tornou mais evidente, visandouma resposta aos problemas de marginalidade que os grandes centros urbanos

    vinham a registar, particularmente Lisboa com a rpida espanso de habitao em

    barracas clandestinas.

    A maioria das habitaes socias limitava-se a dar respostas pontuais aos

    problemas que cada cidade apresentava, desarticulando-se de uma viso global

    dos problemas. A execpo de Duarte Pacheco, que encarava a habitao como

    poltica importante do fomento industrial que marcava as paisagens urbanas da

    poca. Contudo os centros urbanos continuaram a crescer e no foram

    acompanhados por politicas de habitao e, aps o 25 de Abril, deu-se mesmo um

    agravamento nas condies quantitativas e qualitativas da habitao, fruto das

    medidas impostas pela recuperao econmica.

    A promoo da habitao pelo sector pblico no foi muito significativa,

    contudo, o primeiro Governo Constitucional, que tinha como primeiro ministro

    Mrio Soares, deu um passo significativo ao criar servios municipais de

    habitao, que absorvia os poderes praticados pela administrao central e os

    geria de forma a que este correspondesse mais adequadamente ao meio em que

    se inseriam, alm de que tratava da conservao e da distribuio das habitaes.

    Em 1981 d-se um recuo da interveno estatal na promoo do

    alojamento, e os preos da maioria das habitaes construdas era insuportavel

    para as famlias de baixos recursos econmicos o que leva a um aumento da

    procura da habitao social.

    A partir de 1988, com a falncia da gesto do parque habitacional do

    estado, os municipios procederam venda do patrimnio, maioritariamente aos

    prprios inquilinos.

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    Dados estatsticos da Habitao Social EmPortugal

    Nota: os dados seguintes apresentados so referentes ao estudo pblicado

    pelo Instituto Nacional de Estatstica em 2009.

    A nvel nacional existiam em 2009 cerca de 919 fogos de habitao social

    de propriedade municial por 100 mil habitantes. Estes distribuiam-se por 246

    muncipios, constituidos por 97 mil fogos em 22 mil edifcios, em que cada edficio

    possuia em mdia 4,4 fogos.

    Ilustrao 7_N de fogos por 100 mil habitantes, 2009

    Em mdia, por cada 1 000 fogos existentes no territrio nacional 17 so de

    habitao social propriedade municipal, exptuando Lisboa, 29,3 e Norte, 20,3. As

    regies do centro e Alentejo possuem apenas 4,9 e 8,8 fogos de habitao social

    por cada 1 000 fogos residenciais.

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    Ilustrao 8_ N de fogos de habitao social por cada 1 000 fogos residenciais, 2009

    Ilustrao 9_ Nmero de edifcios e fogos de habitao social, 2009

    Durante esta data os mnicipios executaram obras de conservao em

    10,2% e procederam reabilitao de 6,8%, contudo nenhum dos casos foi

    verificado na rea em anlise, edficos de carcter social do Fundo Fomento de

    Habitao e do Bairro operrio do Rodrigo, ambos na Covilh. Os mnicipios de

    Lisboa e Porto detinhama 36 % dos fogos de habitao Nacional.

    Este patrimnio municipal gerou uma receita mdia por fogo de 706 euros,

    contabilizando as rendas cobradas e fogos vendidos. Por sua vez a despesa mdia

    por fogo ficou em 676 euros.

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    Ilustrao 10_ Receita mdia de habitao social municipal, 2009

    Ilustrao 11_ Despesa mdia de habitao social municipal, 2009

    A maior parte dos edifcios de habitao social de propriedade municipal

    foi construda depois de 1980, 12 173 edifcios, apenas 4 816 foram construdos

    aps 2000 e 1 626 so anteriores a 1946. Contrariamente ao territrio nacional a

    regio autnoma dos aores possui a maioria dos edifcios conm data de

    construo posterior ao ano de 2000.

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    Ilustrao 12_ N de edfcios po poca de construo, 2009

    de salientar que 80% destes fogos possuem tipologias T2 e T3. A tipologia

    T4 possui maior relevncia na regio autnoma dos aores, com 16,8%. A maioria

    de fogos de tipologia reduzida, como o T0 e T1 encontram-se em Lisboa, 13,9% do

    total nacional.

    Ilustrao 13_ N de fogos por tipologia, 2009

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    A excluso social

    A utilizao do conceito de excluso social pode ser entendido como uma

    expresso recente, sendo a sua abordagem dificultada pelos meios politicos e

    sociais. A excluso surge com enaltecimento das desigualdades. A excluso

    resulta de uma desarticulao entre as diferentes partes da sociedade e os

    individuos e podem ser diferenciados como desemprego, marginalidade,

    discriminao, pobreza, etc.

    Sociologicamente um produto do dfice de coeso social, no se

    reduzindo a fenmenos individuais nem a agregaes de situaes, (Lamarque,

    1995). A sociologia contemporanea tende a priveligiar a compreenso dos

    mecanismos da excluso social, ou seja, atribui-se prioridade ao estudo da ruptura

    e no da coeso.

    Nas sociedades modernas e ocidentais a pobreza e a excluso surgem

    muitas vezes, ou quase sempre associadas. fcil perceber porqu que so

    normalmente associadas, visto que a excluso do mercado de trabalho gerapobreza e esta impede o acesso a bens e servios socialmente relevantes,

    (habitao, sade e lazer). Um excludo aquele que no consegue configurar

    uma identidade social no trabalho, famlia ou na comunidade. Este torna-se

    excluido das relaes sociais e do mundo das representaes a elas associadas.

    os excludos no constituem uma ordem, uma classe

    ou um corpo. Eles indicam antes uma falta, uma falha do tecido

    social.

    Rosanvallon, 1995 :204

    Este processo cria uma ruptura dos laos de um individuo com a

    sociedade, propiciando uma quebra na prpria unidade social. A pobreza e a

    excluso surgem assim facilmente associadas ao aparecimento de classes

    marginais, que poem em causa a estabilidade e a normalidade social.

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    O espao suburbano afectad0 por crescentes problemas sociais que pela

    sua proximidade ao meio urbano apresenta contornos semelhantes s

    problemticas vividas neste, como trfico de droga, prostituio, delinquncia,

    etc. Muitas vezes a habitao social surge como contorno soluo desteproblema. A aglomerao de comunidades com baixo nivel econmico,

    desempregadas, com elevado nmero de filhos e com condies deficientes de

    educao so fcilmente associadas e geradoras de conflitos de desorganizao

    social. Este tipo de aglomerao em habitao social e deslocad dos centros

    urbanos no resolve o problema, apenas o desloca par outro local, podendo

    mesmo agravar a situao com a crescente aglomerao.

    A habitao de cariz social no deve ser rotulada por comunidades ou

    indivduos conflituosos, pois quem faz a habitao a sua gente e os seus

    costumes. Existe todo o tipo de populao em bairros sociais, podem muitas

    vezes ser rotulados pela criminalidade devido comunidade em que nele reside

    ser facilmente associada a conflitos. Contudo no se deve tomar o todo pela

    parte.

    O caso em estudo, na covilh, sugere mesmo uma soluo deste tipo. Dois

    conjuntos de habitaes multifamiliares de cariz social e um bairro social so

    normalmente caracterizados como possuidores de individuos de baixo nvel

    econmico, com baixa escolaridade, e inclusiv individuos conflituos0s. Nos

    edifcios, situado na rua Avenida Cidade do Fundo e na Rua Mateus Fernandes, as

    suas gentes referem que facilmente a sua habitao assim intitulada, pois a

    constante rotao de inquilinos, a presena de gentes de outras tnias e com

    outros costumes leva a que a sociedade em redor os exclua sobretudo ao nvel

    social. A procura de emprego no afectada por esta alnea, contudo existem

    casos a nvel nacional, sobretudo nas grandes cidades nacionais onde at a

    procura de emprego pode estar dificultada por este factor.

    Contrastando com este surge o bairro do rodrigo, onde at gente com

    elevado nvel de escolariedade, para a poca em que foi construdo, mora aqui,

    professores, tcnicos, e outros so fceis de encontrar. A gente deste bairro

    aparentemente de classe mdia a mdia alta, quase todos adquiriram a suahabitao e muitos estranham at que este seja intulado como bairro social, pois

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    afirmam facilmente que no so como os outros bairros. A populao aqui age

    com excluso social at para quem nele provoque qualquer tipo de disturbio ou

    no aparente os mesmos cuidados com a sua habitao como a maioria faz. Falou-

    se at de um abaixo assinado dirigido entidade responsvel pelo albergue denovos inquilinos, no caso a camar da Covilh, pela situao de um inquilino ser

    descuidado com a habitao, por no cuidar correctamente do jardim, por no

    possuir luz elctrica e gua canalizada.

    As gentes que habitam so diferentes, por exemplo quanto s obras que

    so muitas vezes necesrias executar, nos edifcios do fundo fomento a primeira

    opo sempre ir pedir camara para as fazer, enquanto que no bairro do

    rodrigo aqueles que ainda so inquilinos j executaram obras na mesma por conta

    prpria e agiram com estranhesa questo de pedirem ao senhorio para as

    executar, demontrando mesmo que nunca lhes tinha passado tal ideia.

    facil perceber que o que torna um conjunto habitacional social rotulado

    como posuidor de gente conflituosa a prpria gente que nele habita. Tal como a

    afirmao popular refere: O hbito faz o monge.

    A anlise das categorias sociasi desfavorecidadas est relacionada com os

    conceitos de pobreza e excluso social. Um conjunto de factores aumenta a

    vulnerabilidade da comunidade que nele habita, a excluso do mercado de

    trabalho ou a precaridade de insero no mesmo, baixos nveis de rendimentos,

    carncias habitacionais, baixa escolarizao e reduzidas qualificaes, fraca

    participao social e poltica, etc, possuem preponderncia para a excluso social.

    possivel identificar novas categorias vulnerveis excluso social, devido

    exposio diferenciada dos factores em cima enumerados. As categorias sociais

    desfavorecidas so consituidas por: ( segundo CIES/CESO I&D, 1998)

    Populao idosa com baixos recursos monetrios, derivados s baixas

    penses, solitrios e desintegrados do meio familiar;

    Camponeses pobres;

    Assalariados com poucas habilitaes e baixas remuneraes;

    Por sua vez as novas categorias de excluso social so: (segundo

    CIES/CESO I&D, 1998)

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    Desempregados de longa durao, com dificuldades de reisero no

    mercado de trabalho sobretudo pela baixa qualificao;

    Grupos tnicos e culturais minoritrios cuja vivncia

    frequentemente associada a precrias condies de vida.

    Familias monoparentais com privao de recursos econmicos;

    Pessoas portadoras de deficincia ou doena prolongada, marcadas

    por uma baixa capacidade de emprego, com dependncia social e

    familiar;

    Jovens em risco, toxicodependentes e ex-toxicodependentes, detidos

    e ex-reclusos, excludos das principais instituies sociais;

    Sem-abrigo;

    Trabalhadores que desenvolvem actividade sob a forma dee

    emprego precrio;

    Importa relembrar que as diversas categorias sociais desfavorecidas

    apresentam diferentes factores e diferentes graus de dasfavorecimento, que

    condicionam a sua vulnerabilidade e contribuem para a produo e reproduo de

    uma identidade heterognea.

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    Casos de estudo

    Para o presente trablho estudou-se o Bairro operrio do Rodrigo,

    construdo em 1947 na Cidade da Covilh, com fundos da Caixa Sindical de

    Previdncia, da federao nacional dos Industriais dos Lanifcios, e o complexo de

    habitao social construdo em 1981 pelo Fundo Fomento de Habitao, nas ruas:

    Mateus Fernandes e Avenida Cidade do Fundo, ambas na Covilh.

    Ilustrao 14_ Localizao

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    O bairro do Rodrigo

    No sentido de atenuar algumas carncias o estado Novo promoveu aproliferao de programas e regimes destinados a promoo de bairros de renda

    limitada e econmica. A poltica de habitao neste perodo visou basicamente

    objectivos polticos e ideolgicos, como a normalizao social e familiar.

    A crise habitacional e as carncias a este nivel acentuaram-se a partir dos

    anos 60, associadas intensificao dos processos de urbanizao e

    industrializao. Assim, a emergente transformao social e econmica exigiu a

    execuo de polticas habitacionais orientadas para a melhoria das condies de

    reproduo da fora de trabalho. Assim consolidou-se um mercado de habitao

    dual, de um lado habitao de luxo, qual cerca de 70% da populao no poderia

    aceder, e do outro um sector clandestino respondendo s necessidades

    econmicas da populao.

    A crescente emancipao da indstria textil na Covilh, tornando-a

    importante no sector textil a nivel europeu, levou a que as indstrias de lanifcios

    demonstrassem um apresso aos seus operrios que muitas vezes se situavam a

    larga distncia do local de trabalho, alm deste factor preocupava-lhes a ausncia

    demorada de operrios na fbrica e para aumentarem as cargas horrias e os

    respectivos nmeros de turnos convilha-lhes que os operrios se situassem perto

    do local de emprego. Para tal os vrios dirigentes das indstrias de lanificios

    esforaram-se para criar um conjunto habitaes que albergasse um nmero

    mnimo de operrios capazes de manter a indstria em funcionamento. Como o

    regime em vigor na poca tinha como dogmas o patriotismo, a familia, a educao

    e a religio o bairro operrio do rodrigo respeita todos esses valores.

    A habitao unifamiliar era pilar na defesa dos valores familiares, pois

    permitia um maior convivio familiar sem o contacto directo com vizinhos que

    poderia levar promiscuidade social, assim notrio a presena de habitaes

    unifamiliares com quintal prprio. A educao est presente com a criao de

    uma escola, a qual a maioria dos habitantes que ainda hoje nele residefrequentou. A religio, alicerce do regime Salazarista, encontra-se presente e

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    tambm esta frequentada ainda hoje pela comunidade residente, para muitos

    desde que se conhecem como gente. o patriotismo est latente nos nomes das

    ruas, pois a todas as ruas foram dados nomes de industriais de lanifcios: Joo

    Baptista Roseta, Joaquim Pereira Espiga, Fernando Henriques da Cruz, JooMendes Alada de Paiva, Gregrio Baltazar, Francisco da Silva Ranito e Francisco

    Rodrigues Taborda.

    Os valores familiares no eram esquecidos e na memria descritiva os

    quartos so enumerados com a capacidade de filhos que podem existir, assim um

    simples quarto no enunciado como quarto apenas para uma pessoa

    apresentado como um quarto com capacidade para dois filhos.

    O bairro operrio do rodrigo foi inaugurado oficialmente no dia 25 de

    Fevereiro de 1951. No acto da entrega estiveram presentes membros do Governo,

    o Governador Civil, Deputados Membros da Assembleia Nacional, o Presidente da

    Federao Nacional dos Industriais de Lanifcios, o Presidente da Direco da

    Caixa Sindical de Previdncia do Pessoal da Indstria de Lanifcios e o Presidente

    da Cmara Municipal da Covilh.

    Ilustrao 15_ Bairro do Rodrigo e dedifcios existentes na poca, 1947

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    As 126 moradias de renda econmica, que variavam entre agrupamentos

    de habitaes de duas, quatro e seis habitaes, foram construdas em regime de

    empreitada pela Cmara Municipal. Os fundos para a sua construo provieram daCaixa Sindical da Previdncia do Pessoal da Indstria de Lanifcios e tiveram

    tambm uma comparticipao financeira da Federao Nacional dos Industriais

    de Lanifcios, de acordo com o contrato celebrado em 1947.

    Ilustrao 16_ Palacrd com histria do bairro, simbolismo patritico

    Ilustrao 17_ Vista do Bairro Operrio do Rodrigo

    Ilustrao 18_Vista do Bairro Operrio do Rodrigo

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    Ilustrao 19_Vista do Bairro Operrio do Rodrigo

    Caixa sindical de previdncia

    Dos funcionrios da Indstria de Lanifcios

    um apoio financeiro que abrange os operrios das indstrias de lanifcios. Este

    apoio pertence Segurana Social.

    O Fundo garante quatro tipos de apoio: Subsdio complementar de aleitao. Para ajudar as famlias com os

    encargos pelo nascimento de um filho.

    Subsdio Complementar de Tuberculose. Quando o beneficirio est

    doente com Tuberculose.

    Subsdio de Renda de Casa. Para compensar as despesas com a renda

    da casa.

    Subsdio Escolar. Para ajudar as famlias na educao dos filhos.

    A arquitectura

    No inicio do sculo XX procurava-se criar uma arquitecura genuinamente

    portuguesa, o resultado foi a criao de um estilo que utilizava as caracteristicas

    modernistas da engenharia, disfaradas por uma mistura de elementos estticos

    exteriores retirados da arquitectura portuguesa dos sculos XVII e XVIII.

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    Durante o estado novo iniciou-se uma poltica de obras pblicas em larga

    escala, na maioria deste prevaleceu o estilo modernista, com elementos

    monumentalizados pela ArtDeco. A partir de 1940 comeou-se a priveligiar o

    estilo nacionalista, usado, sobretudo nas escolas, tribunais, hospitais, cmarasmunicipais, etc.

    Apesar de ser atacado por muitos por ser um estilo pouco criativo,

    retrogrado e tradicional este continou a ser empregue e a ganhar cada vez mais

    adeptos incluindo o sector privado. A introduo de novas e modernas tcnicas

    de engenharia, como a estrutura laje-pilar-viga veio revolucionar a maneira de

    construir e pensar a habitao. Anteriormente os edifcios eram, normalmente,

    concebidos por mestres de obras no qualificados e a inovao da construo

    levou a que as novas construes fossem concebidas por tcnicos especializados.

    As escolas primrias desta poca inseriam-se num projecto de Rogrio de

    Azevedo, que elaborou um plano tipo onde descrevia a forma de construir o

    estabelecimento de ensino. As escolas a sul eram caracterizadas pelos ercos e

    paredes caiadas e a norte pelos alpendres e utilizao de granito.

    Com a crescente emencipao industrial, impulsionador do xodo rural

    havia cada vez mais gente nas cidades e como tal havia a necessidade de alojar

    toda esta gente. As habitaes durante este periodo dividiam-se em trs tipos,

    prdios de rendimento, moradias unifamiliares ou geminadas e bairros sociais.

    Os prdios de rendimento eram volumes simtricos pouco salientes e com

    fachadas lisas, onde se emnpregava o uso de materiais tradicionais. As moradias

    unifamiliares eram tipicamente construdas por uma ampla cobertura em telha

    com beiral, com fachadas pintadas a branco ou cor clara, utilizavam pedra nas

    molduras do vo, um alpendre coberto com cobertura em telha, era comum

    encontrarem-se alguns trabalhos em cermica com motivos tradicionais. Os

    bairros sociais eram grandes aglomerados de habitao constitudos por moradias

    unifamiliares. Estes eram erguidos em zonas mais desqualificadas da cidade.

    Ao passearmos pelo bairro do rodrigo consegue-se identificar elementos

    tpicos da arquitecura tradicional portuguesa do estado novo, as habitaes

    possuem todas um pequeno alpendre com cobertura em pedra, ostentamelementos em granito, beirais e as esquinas das habitaes. O adorno das

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    habitaes com elementos em pedra granitca era muito comum nesta poca e

    notrio na arquitectura do bairro do Rodrigo.

    Este conjunto habitacional detinha dois tipos de tipologia, T3 e T4, ambos

    detinham despensas, cosinha, sala e casa de banho, algo que na poca a maioriada populao no detinha. As 126 moradias de renda econmica possuiam todas

    as condies de higiene que para a poca eram incomuns, como saneamento, luz

    elctrica e gua canalizada. Possuia todas as condies impostas pelo governo

    como arruamentos, edifcio escolar e igreja.

    Ilustrao 20_ Escola bsica do 1 Ciclo do bairro do Rodrigo

    A Escola Bsica do 1 ciclo do Rodrigo iniciou a sua actividade em Maro

    de 1951. Surgiu devido necessidade que se criou ao construir o Bairro de

    Rodrigo, um bairro de trabalhadores da indstria txtil.

    O edifcio, que ainda continua a ser o mesmo, estava de incio dividido a

    meio por um muro, funcionando no lado direito a escola feminina e no lado

    esquerdo a escola masculina. No comeo leccionavam dois professores nas

    turmas masculinas e duas professoras nas turmas femininas. Cada turma era,

    ento, constituda por 45 a 50 alunos.

    A Igreja do Rodrigo, tambm denominada Igreja de Santo Antnio, foimandada erguer por iniciativa do Padre Andrade, na dcada de 40 do sculo XX,

    aquando da construo do Bairro do Rodrigo. Na sua construo foram

    aproveitados materiais provenientes da, ento demolida, Igreja de Santa Marinha

    (a Igreja dos Cardadores).

    Nos anos 90 do sculo XX a Igreja sofreu obras de requalificao; o altar-mor

    pertencente Igreja de Santa Marinha foi removido e substitudo pelo actual.

    Atendendo s valncias que a Igreja foi promovendo, construiu-se um pequeno

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    anexo para reunies, catequese e uma pequena casa morturia, tornando o

    edifcio mais funcional.

    Ilustrao 21_ Igreja de santo Antnio, Bairro do Rodrigo

    Hoje em dia o bairro do Rodrigo j no o mesmo que ainda se observa

    nas plantas do arquivo camarrio. Quase todas as habitaes sofreram alteraes,

    a construo de anexos nas traseiras das mesmas um ponto comum. Alguns

    destes so garagens outros so mesmo novas divises da casa.

    As reduzidas dimenses dos quartos influenciaram a alterao da tipologia

    e muitas vezes de dois quartos fizeram-se um.

    Contudo tambm aqui, comparativamente situao dos edifcios do

    fundo fomento de habitao aqui analisados, as construes posteriores obra

    inicial foram crescendo sem aparente controlo pois cada um construi como quis e

    existe mesmo casos onde a construo foi demasiado excesiva estragando a

    tradicional frente do bairro. Como a maioria das obras aconteceu nas traseiras

    das habitaes, a populao que transita por aqui no se apercebe e a

    desorganizao muitas vezes presente nas traseiras.

    Ilustrao 22_ Exemplo de interveno

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    Ilustrao 23_ Exemplo de interveno

    Ilustrao 24_Exemplo de interveno

    Ilustrao 25_ Exemplo de interveno

    um bairro agradvel e muito sossegado, os preoblemas que apresenta

    so de ordem de gesto do espao a construo sem controlo danificou a

    arquitectura controlada e de valores to prprios que caracteriza o bairro, este

    problema devia ter sido previsto e a cmara, entidade reguladora do espao

    falhou na sua gesto.

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    Em conversa com o povo

    Na realizao do presente trabalho realizaram-se algumas entrevistas para

    se compreender o estilo de vida da gente que aqui habita assim como

    compreender um pouco mais da histria do conjunto habitacional.

    A populao deste bairro de classe mdia, todos os entrevistados

    referiram que no se intitulam como um bairro social, para eles morar aqui mais

    benfico do que morar em qualquer outra parte da cidade. A populao residente

    de classe activa e reformados, existem desempregados entre o agregado

    familiar mas em norma quando um desempregado o outro companheiro aindatrabalha. Os desempregados so frequentemente mulheres, com idades

    superiores aos 45 anos.

    A prpria populao afirma que as suas condies econmicas so

    estveis, at porque a maioria das casas j no se encontra sobre o regime de

    arrendamento, a maioria dos inquilinos adquiriu a prpria casa, e contam-se pelos

    dedos de uma mo os que ainda se encontram a pagar renda. Aqueles que ainda

    pagam renda so sobretudo reformados, idosos de idade avanada. A renda

    suficientemente baixa para as necessidades econmicas dos mesmos, havendo

    mesmo rendas com a mdica quantia de 0.75.

    Os ocupantes afirmam que as condies de vida do bairro so muito boas,

    qui a melhor zona da Covilh para morar. Referem que se encontram bem

    localizados, perto de tudo o que habitualmente necessitam e longe da confuso

    citadina. Demonstram orgulho na sua casa e no prprio conjunto habitacional, por

    sua vez entristecem-se quando algum no demonstra o mesmo cuidado com a

    habitao que estes detm.

    A presena de um jardim um motivo de agrado para a comunidade mais

    idosa.

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    Ilustrao 26_ Jardim do Bairro do Rodrigo

    A maioria da populao sempre conheceu esta habitao como a sua

    nica casa, herdando-a dos seus prprios pais. Transformaram-na de acordo com

    as suas necessidades, muitas vezes criando mais uma diviso numa parte do

    jardim que lhes foi inicalmente destinado. Contudo mesmo quando executam

    obras tm o cuidado de no ferir o estilo arquitectnico do bairro, introduzindo-

    lhes os mesmos elementos de adorno com pedra garanitca.

    No se afrirmam como uma comunidade. pergunta Considera que por

    morar em habitao social existe uma ligao mais prxima entre os vizinhos?

    todos respondem com algum discernimento, pois dizem que no se conhecem a

    todos, sabem quem so de vista mas no falam com relativa frequncia, contudo

    consideram que se precisassem de algo no hesitavam em pedir aos vizinhos.

    A populao que sempre residiu aqui estudou na escola que o bairro

    possui, frequentaram e continuam a frequentar a igreja. Usufruem do comrcioque se encontra prximo do bairro, tm gosto em chegar a p a tudo o que

    necessitam.

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    Fundo Fomento de HabitaoResidncias da Avenida Cidade do Fundo e Da Rua Mateus Fernandes

    Criado em 1969, pelo governo de Marcello Caetano, tinha como objectivo a

    execuo e coordenao da poltica habitacional do estado, detinha autonomia

    administrativa e financeira. criado para financiar os programas habitacionais do

    estado que tinham especialmente como populao jovens casais e populao com

    pouco rendimento econmico.

    Absorveu o patrimnio do Fundo das Casas Econmicas, criado em 1933,

    assim como parte financeira do Fundo de Desemprego e do Fundo Permanente

    da Caixa Nacional de Previdncia. Este organismo recebeu cerca de 35 000 fogos

    alm que passou a gerir o patrimnio que fora construdo, em regime de

    arrendamento ou de propriedade resolvel. Depois do 25 de Abril o seu papel foi

    estremamente importante no apio aos municipios, s associaes de moradores,

    s cooperativas e s empresas para promoo da habitao social. Por razes

    polticas e finaceiras foi extinto em 1982. Um ano antes deu-se o nico das obras

    dos empreendimensos de habitao social na Covilh. Dois conjuntos de edficos,

    um situado na avenida cidade do Fundo, composto por 6 conjuntos de edifcios

    com 4 pisos cada, com capacidade para 56 fogos, com tipologias compreendidas

    entre o T2, a T4. O outro complexo foi localizado na Rua Mateus Fernandes e

    composto por blocos Habitacionais com 4 pisos cada, com capacidade para 48

    fogos, com tipologias entre o T2 a T4. A entrega das habitaes aos condminos

    deu-se entre 1984 a 1985, em regime de arrendamento em renda social.

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    Ilustrao 27_ edifcios do Fundo Fomento de Hbaitao, e edifcios existentes na poca

    Entre 1978 e 1979 deu-se uma poltica de estabilizao econmica e

    financeira, onde se introduziu medidas para a reduo da promoo pblica da

    habitao, a quebra do financiamento s cooperativas e a reduo do

    investimento privado derivado ao aumento de preos dos materiais de custo

    necesssrios para o financiamento. Em 1980, ano de eleies, a estratgia do

    dinamismo habitacional foi retomada e o sector pblico cria 5 532 novos fogos,

    assim como foi desbloqueado o financiamento s cooperativas e criado um novo

    sistema de crdito, introduzindo o novo sistema de amortizao progressiva e o

    subsdio para famlias de baixos rendimentos. Contudo estas medidas no

    chegaram e a totalidade do investimento pblico foi retirado em 1981, obrigando

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    o Fundo Fomento de Habitao a recorrer ao crdito, conduzindo-o a uma

    situao de desiquilibrio financeiro que mais tarde culminou na sua extino. Em

    1984 foi criado o INH, entidade parabancria que assumiu o papel de apoio

    promoo indirecta e em 1987 surge o IGAPHE que geria e conservava opatrimnio habitacional do fundo fomento de habitao, com cerca de 42 500

    fogos.

    O agravamento da conjuntura econmica em 1983 introduziu a

    substituio de crdito casa prpria num regime de poupana habitao, assim

    como na transferncia de responsabilidades da habitao social para as cmaras

    municipais, que passavam agora a promover a habitao social. neste ano que

    se d tamm a extino do fundo fomento para a habitao e a criao do fundo

    de apoio ao investimento em habitao, destinado a financiar programas de

    interesse social.

    Este organismo foi um alicerce crucial na vida de muitos jovens

    arquitectos, sociologos, engenheiros, etc, que nele trabalharam e que

    desempenharam funes chave nos organismos pblicos vocacionados para a

    habitao, construo e urbanismo.

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    Em conversa com o povo

    As conversas estabelecidas com a populao que habita nestes dois

    aglomerados de habitao social do Fundo Fomento de Habitao, Avenida

    Cidade do Fundo e Rua Mateus Fernandes, demonstram distintas vivncias com

    o espao, comparando com a populao do bairro do Rodrigo.

    A maioria das habitaes ainda se encontra em regime de arrendamento,

    com rendas acessiveis e de acordo com as posses financeiras dos seus inquilinos e

    inclusiv possivel de alterar caso a situao financeira altere. Contudo a

    preocupao com o espao diferente, enquanto que no Bairro operrio doRodrigo a sua gente fala com apresso sobre o seu bairro aqui a populao fala

    com conformidade, no mostrando grande entusiasmo sobre o seu espao mas

    afirmando que tambm no est em desagrado. Para esta populao estas

    residncias no foram as nicas que conheceram, a maioria instalou-se aqui

    aquando da distribuio das fraces de habitao em 1985, foi para este uma

    melhoria das condies de vida, pois pela primeira vez tinham acesso a condies

    sanitrias, como a gua canalizada, luz elctrica, saneamento, casa de banho, etc.

    Aqui, as obras no se fizeram sentir ao longo dos tempos, a maioria da

    populao atribui as obras ao seu senhorio, neste caso a Cmara da Covilh.

    Enquanto que no Bairro do Rodrigo a populao demostrava estranheza em ser a

    cmara a efectuar as obras nas suas residncias aqui a populao nem sequer pe

    em questo serem estes a execut-las, preferindo viver anos e anos a pedir ao

    senhorio responsabilidade por infiltraes, preferindo at a conviver todos os

    anos com baldes para suportar as guas que atravessam o telhado sempre que

    chove. Existem prdios que possuem gesto por condomnios, tratando de

    problemas inertes vivncia em sociedade, como a limpeza. Contudo aqueles que

    no possuem e que remetem os problemas de gesto Camar municipal tm

    problemas com a degradao do espao, havendo falta de higiene, degradao de

    portas de entrada, sobreocupao do espao por parte de inqulinos, etc.

    Por sua vez aqui nota-se que se trata de uma comunidade mais unida, at

    porque se cruzam diariamente uns com os outros. Em resposta pergunta:

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    Considera que por morar em habitao social existe uma ligao mais prxima

    entre os vizinhos? no tendem em hesitar a dizer que sim, surgindo mesmo a

    afirmao Os meus vizinhos so a minha segunda famlia.

    Enquanto que no bairro do Rodrigo a populao descarta a associao ahabitao social aqui isso no existe, aqui afirmam inclusiv que por vezes

    existem conflitos, sobretudo devido constante rotao de inquilinos em certas

    fraces trazendo gente com todos os costumes e muitas vezes sem educao

    para habitao multifamiliar. Tambm existem prdios mais pacifcios neste

    conjunto, contudo mais facilmente se encontram relatos de conflitos do que no

    Bairro do Rodrigo.

    A principal desvantagem deste tipo de habitao, multifamiliar para os

    indivduos o facto de haver gente com tradies diferentes, com educao

    diferente e costumes diferentes, conferindo ao espao uma multiplicidade de

    viveres, visiveis a quando da visita s instalaes. Tendo em conta que se trata de

    habitao multifamiliar, e com acesso s habitaes por escadarias e corredores

    pblicos ao condomnio existem diversos tipos de sobre-ocupao do espao

    pblico, como o posicionamento de tanques de lavar a roupa, flores, estendais de

    roupa, retirando espao de circulao, animais, etc.

    Estes conjuntos habitacionais encontram-se bem localizados, permitindo

    aos utentos do espao a serventia do comrcio e servios que dispem em seu

    redor. Ambos os complexos possuem comrcio no rs-do cho, este serve os

    residentes e gentes de fora, funciona bem e tem inclusiv clientes do Bairro do

    Rodrigo. Os prprios inquilinos afirmam que se encontram bem localizados e que

    gostam do sitio onde moram.

    So complexos que albergam mais gente, possuem tambm mais

    diversificao de populao, inclusiv de etnias, tradies, culturas e raas.

    A populao que aqui habita , contrastando com o Bairro do Rodrigo que

    possuia gente de classe mdia e algumas com elevadas habilitaes literrias,

    assim como mo de obra qualificada, de baixa situao econmica, alguns mesmo

    em padecendo de situaes monetrias dificeis, existem desempregados, idosos,

    reformados, portadores do rendimento social de insero, portadores do

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    rendimento mnimo e classe activa, a maioria com empregos de baixo nivel de

    qualificao.

    Ilustrao 28_ Habitaes FFH na rua Mateus Fernandes

    Ilustrao 29_ Habitaes FFH Avenida Cidade do Fundo

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    Ilustrao 30_ Habitaes FFH Avenida Cidade do Fundo

    Ilustrao 31_ Habitaes FFH Avenida Cidade do Fundo

    A arquitectura

    A arquitecuta aqui empregue contempornea, datada de 1981. A sua

    construo foi rpida, 3 anos bastaram para que se finaliza-se a obra.

    As suas fachadas lisas so possiveis pela ausncia de varandas. Possui

    comrcio no rs do cho assim como excessico espao sem uso.

    As fachadas encontram-se degradadas e ho de continuar face ao

    problema econmico das Cmaras Municipais, sem excepo da Covilh.

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    Ilustrao 32_ Exemplo de fachadas degradadas

    Um dos principais problemas o abandono do espao, o proprietrio, a

    cmara da covilh no exerce qualquer tipo de gesto qualitativa do espao e o

    resultado est vista. Exitem inmeros problemas sinnimos de m gesto e

    cuidado com o espao. As portas da entrada encontram-se em mau estado,

    algumas mesmo sem fechadura ou com estas rebentadas, facilitando a entrada apessoas externas ao edifcio. Existem infiltraes, sujidade, zonas sem uso,

    espaos vazios proporcionados pela prpria arquitectura do espao,

    sobreocupao excessiva do espao, fruto da ausncia de varandas ou terraos

    protegidos e de uso exclusivo comunidade.

    Ilustrao 33_ Exemplo de problemas

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    Ilustrao 34_ Exemplo de excessivo espao sem uso

    Os problemas de arquitecura solucionaram-se como a populao quis, a

    cmara no se preocupou com a organizao e manuteno do mesmo, surgindo

    assim telheiros postos pelos particulares, alterando esteticamente a fachada do

    prdio, fachadas remetentes fraco da habitao tratadas de maneira

    diferente, no caso um particular pintou a sua fachada, alterou o cho de acesso

    sua habitao, provando que no existe qualquer controlo e que cada qual pode

    fazer o que bem lhe prover.

    Ilustrao 35_ Exemplo de interveno

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    Ilustrao 36_ Exemplo de interveno

    A sobreocupao do espao visivel e bastante compreensvel. So mais

    comuns nos edifcios de forma circular, devido aos apartamentos serem de

    dimenses mais reduzidas. Assim a necessidade de varanda ou marquises, como

    alguns dos apartamentos dos prdios centrais dispem, levou a que a populao

    ocupa-se o espao para satisfazer as suas prprias necessidades. Existem lugares

    prprios para secar a roupa, contudo estes no foram bem pensados pois no

    possuem qualquer tipo de abrigo chuva logo a soluo pasa por estende-la nos

    corredores comuns ou tapar os sitos destinados a este fim com plsticos.

    A arquitectura deve prever este tipo de situaes, sobretudo tratando-se

    de um bairro social que habita gente que muitas vezes no possui o bom senso

    necessrio h habitao em comunidade, usufruindo do espao que tanto seu

    como de todos.

    Ilustrao 37_ Exemplo de falha na arquitecura

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    Ilustrao 38_ Exemplo de sobreocupao do espao comum

    Eram habitaes com boa aparncia, de arquitectura contempornea, possuem

    parques de estacionamento privados, comrcio que funciona relativamente bem,

    encontram-se bem situados, contudo os problemass que apresentam e que lhes

    confere uma m visibilidade so fruto de m gesto do espao e so passveis de

    soluo basta inteno e fundos pra tal. Ainda possivel tornar este espao numespao mais digno, porque os problemas de arquitecura no so assim to graves

    e possuem solues bastante simples e pouco caras. Se a habitao corresponder

    s necessidades das suas gentes mais facilmente a sua comunidade usufrui com

    mais agrado da mesma e o gosto por uma manuteno do mesmo pode ocorrer

    apenas com um impulso, afinal toda a gente gosta de habitar num espao

    cuidado.

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    Concluso

    A problemtica da habitao social tem vindo ao longo dos anos a ser

    discutida, contudo as politicas que muitas vezes so aplicadas no so bem

    sucedidas e aceites por todos os intervenientes. Exemplo disso o bairro social

    dos penedos altos, que por ocupao prolongada da habitao os inquilinos

    adquiriam-na, enquanto que no bairro do Rodrigo tinham que a adquirir pelos

    seus prprios meios econmicos. Estas diferenas podem incutir conflitos entre

    bairros.

    Actualmente o arrendamento regista uma procura mais elevada que a

    aquisio de habitao, despoletada pelo contexto econmico nacional. Apesar

    da descida do juro as entidades financeiras no concedem facilmente o crdito

    para a sua aquisio. As populaes residentes no complexo de habitao social

    do fundo fomento para a habitao da covilh tiveram a opo de compra

    aquando da transferncia de responsabilidades da gesto quantitativa e

    qualitativa do espao em 2000, contudo a maioria da populao no optou pela

    sua aquisio, as situaes finaceiras instveis em que se encontravam nodespertou sequer o interesse por essa opo, mesmo que o preo das habitaes

    fosse reduzido. Aqueles que a adquiriram executaram as suas prprias obras sem

    aparente vistoria da gesto do complexo, resultando numa diversidade de

    elementos.

    A relao mtua, efectiva e afectiva entre o interior/ exterior residencial

    uma realidade vivida pelos seus ocupantes, a sobreocupao do espao pblico

    ou comunitrio critica o planeamento original do mesmo. Esta situao demontra

    o dfice de infrae-struturas para prevenir tal acontecimento, no caso, os prdios

    do fundo-fomento de habitao, no dispem de varandas, gente que

    anteriormente habitava em casas com pequenos jardins sentem a necessidade de

    um pequeno espao ao ar livre, para poder estender a roupa ou adornar com

    plantas. A sobreocupao do espao pblico pela resposta a necessidades

    privadas uma matria que marca as solues habitacionais sociais.

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    A aquando da construo do bairro do Rodrigo no existia patrimnio

    naquela zona, era uma rea agricola, com grandes quintas. O servio mais

    prximo era o tribunal. Hoje um local plenamente integrado na cidade, a

    expanso urbana deu-se, contudo no acompanhando a arquitectura de reduzidaaltura que caracterizava aquela zona. A expanso em altura tomou um relevo

    demasiado acentuado. Por sua vez os prdios do fundo fomento, construidos 30

    anos mais tarde, j se integravam ao nvel da construo em altura, ao seu redor j

    existiam prdios com elevado nmero de andares, como o bloco estrela. Contudo

    tambm naquele tempo nada era como agora, a Rua Mateus Fernandes ainda era

    despida de construo, a actual Avenida Cidade do Fundo, que na poca era Rua

    Vila do Fundo, encontrava-se rodeadas por quintas, contudo o liceu, actual

    escola frei Heitor Pinto, j existia. As habitaes socias foram sempre sendo

    construdas no exterior da malha urbana, contudo a futura expano citadina

    apanhou-os e integrou-os na cidade.

    As habitaes sociais ainda no se encontram desprovidadas de um

    controlo, existiram ao longo das dcadas bons casos de habitao social no

    trrritrio nacional. Contudo nem sempre os planos politicos correspondem s

    necessidades do territrio, muitas vezes a construo no respeita o local e a

    cultura do territrio onde inserido.

    Os problemas da habitao social so notrios no que respeita gesto

    qualitaiva e quantitavia do espao. Muitas vezes so esquecidos e deixados ao

    abando condenando-os