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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

PATRÍCIA KELLY JALES DINIZ

Anteprojeto de um Centro de Convívio para a pessoa idosa ativa em Natal/RN

Natal, 2018.

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PATRÍCIA KELLY JALES DINIZ

Anteprojeto de um Centro de Convívio para a pessoa idosa ativa em Natal/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao

Curso de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

para obtenção do grau de Arquiteta e

Urbanista.

Orientadora: Prof. Dra. Glauce Lilian Alves de

Albuquerque.

Natal, 2018.

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Diniz, Patrícia Kelly Jales. Anteprojeto de um centro de convívio para a pessoa idosaativa em Natal/RN / Patrícia Kelly Jales Diniz. - Natal, 2018. 92f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grandedo Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura eUrbanismo. Orientadora: Glauce Lilian Alves de Albuquerque.

1. Projeto arquitetônico - Monografia. 2. Centro de convívio- Monografia. 3. Terceira idade - Monografia. 4. Arquiteturaflexível - Monografia. I. Albuquerque, Glauce Lilian Alves de.II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 72.012.1

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - ­CT

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344

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PATRÍCIA KELLY JALES DINIZ

Anteprojeto de um Centro de Convívio para a pessoa idosa ativa em Natal/RN

Trabalho Final de Graduação apresentado ao

Curso de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

para obtenção do grau de Arquiteta e

Urbanista.

Orientadoras: Prof. Dra. Glauce Lilian Alves de

Albuquerque.

Aprovação em 05 de dezembro de 2018.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Profª Drª Glauce Lilian Alves de Albuquerque

Professora Orientadora – UFRN

____________________________________________

Profº. Dr. Renato de Medeiros

Examinador Interno – UFRN

____________________________________________

Mara Lorena Lopes

Examinador Externo - Arquiteto Convidado

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À memória do meu avô, José Jales Sobrinho.

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AGRADECIMENTOS

Momentos muito bons e muito tristes me aconteceram ao longo desses últimos

cinco anos de graduação e agradeço imensamente a cada um que pôde compartilhá-los

comigo, em especial:

A Deus, parafraseando a Oração da Serenidade, por me conceder serenidade

necessária para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as que eu

posso e sabedoria para saber a diferença.

Ao meu avô, “Zé” Jales, por ser o primeiro apoiador dessa minha batalha mesmo

quando poucos o fizeram, por me ensinar a ser um pouco arquiteta ainda que sem nunca

ter cursado arquitetura, por também quase se formar arquiteto junto comigo diante de

tanta conversa sobre o assunto, por me mostrar que idade não é capaz de limitar ninguém

a alcançar seus sonhos, por se revelar paciente e perseverante em todas as suas conquistas

e por me fazer perceber a família como o bem mais precioso que existe.

À minha avó, “Dona” Socorro, por se fazer sempre presente, por manter a fé, por

me proporcionar os melhores recursos e a melhor educação que eu poderia ter e por

tentar me agradar mesmo que do seu jeito e a despeito da nossa relação contraditória.

À minha outra avó, “Dona” Zélia, por manter a perseverança e o sorriso no rosto

em nossos encontros de sábado ou domingo à tarde.

Ao meu pai, Roberto, pelo carinho sempre transparente, seja numa conversa ao

telefone ou num abraço apertado, pelo apoio e crença incontestáveis e por me ensinar

que o simples pode significar muito.

À minha mãe, ao meu padrasto e à minha irmã, respectivamente, Edilene, Edvan

e Lorena, por estarem dispostos a me ajudar e por compartilharem comigo instantes de

sossego em meio às atribulações do dia a dia.

À minha prima, Julianne, por dividir e me fazer dividir momentos de lágrimas e

de alegria, não obstante suas piadas que ninguém entende.

À Gabriel, pelas lutas constantes e por me fazer perceber que amigos são

indispensáveis e que a vida não se resume a trabalho e estudo.

À Flávio, por compartir comigo seu carinho e companheirismo e me mostrar

diariamente que nada vale a vida sem amor.

Aos colegas que fiz durante o curso e, sobretudo, o grupo das QU4TRO, com

Débora, Isadora e Lara, por tornar o ambiente da universidade mais agradável, desde as

noites viradas fazendo trabalho até as Feijoarqs.

Sem vocês eu não teria chegado até aqui.

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RESUMO

É fato que o recente aumento da expectativa de vida da população brasileira e o

conseguinte incremento do número de idosos residindo no país provocou mudanças

significativas na pirâmide etária local, demandando iniciativas coerentes as quais possam

propiciar uma longevidade com melhores condições de vida. Diante desse contexto, e

levando em consideração que os estabelecimentos destinados a esse fim funcionam

comumente em locais adaptados e não os contempla de maneira satisfatória, propõe-se

desenvolver o anteprojeto de um Centro de Convívio para a pessoa idosa ativa em Natal,

no Rio Grande do Norte, explorando elementos da arquitetura flexível. Tal abordagem

foi agregada como condicionante da proposta em virtude da multiplicidade de usos que

um mesmo ambiente pode abrigar nesse tipo de instituição e posteriormente

complementada pela utilização de membrana tensionada como solução estrutural. Para

alcançar o objetivo proposto, foram realizadas pesquisas teóricas concernentes às

especificidades dos longevos e aos aspectos da arquitetura flexível, incluindo as

tensoestruturas, bem como estudos de referência e observações práticas relativas aos

condicionantes do terreno e seu entorno. A proposta final, por meio de uma cobertura

independente tensionada a qual possibilita a flexibilização dos ambientes internos,

viabiliza um espaço passível de receber atividades físicas, culturais e sociais para os

cidadãos idosos, de modo a contribuir positivamente para sua qualidade de vida, com

espaços pensados para atendê-los de modo adequado.

Palavras-Chave: Centro de Convívio; Terceira Idade; Arquitetura Flexível.

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ABSTRACT

It is a fact that has increased the life expectancy of the Brazilian population and the

consequent raise in the number of elderly residents in the country have caused significant

changes in the local age pyramid, demanding coherent initiatives that can provide

longevity with the best living conditions. In this context, and considering that

establishments for this purpose operate commonly in adapted places and do not

satisfactorily contemplate them, it is proposed to develop a proposal of an Active Elderly

Living Center in Natal, Rio Grande do Norte exploring elements of flexible architecture.

This approach was added as a conditioning of the proposal due to the multiplicity of uses

that the same environment can house in this type of institution and complemented by the

use of the tensioned membrane as a structural solution. In order to reach the proposed

objective, theoretical researches were carried out concerning the specificities of the

longevity and the aspects of the flexible architecture, including the tensostructures, as well

as reference studies and practical observations regarding the conditions of the terrain and

its environment. The final proposal, through a tensioned independent coverage that

allows the flexibility of the internal environments, consents a space that can receive

physical, cultural and social activities for the elderly citizens, in order to contribute

positively to their quality of life, with spaces designed to serve them properly.

Keywords: Conviviality’s Center; Trird Age; Flexible Architecture.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Estádio Olímpico, Munique, Alemanha (1972) ......................... 30

Figura 02 – Centro Cultural Tjapukai ........................................................... 31

Figura 03 – Vierpunktsegel, Kassel, 1955 ..................................................... 32

Figura 04 – Classificação das tendas quanto ao tipo e posição dos apoios ... 33

Figura 05 – Classificação das tendas quanto à curvatura ............................... 34

Figura 06 – Tensoestrutura paraboloide hiperbólico e cônica ....................... 34

Figura 07 – Tensoestrutura sustentada por cabos .......................................... 34

Figura 08 – Tensoestrutura plissadas ou onduladas ....................................... 35

Figura 09 – Esquema de transmissão, absorção e irradiação de energia ......... 38

Figura 10 – Exterior do Espaço Marias .......................................................... 42

Figura 11 – Fachadas do Espaço Marias ......................................................... 42

Figura 12 – Configuração espacial do Espaço Marias ..................................... 43

Figura 13 – Universidade Potiguar – Unidade Roberto Freire ........................ 44

Figura 14 – Atividades desenvolvidas no momento da visita ......................... 45

Figura 15 – Centro de Integração da Terceira Idade ...................................... 46

Figura 16 – Perspectiva do Centro de Integração da Terceira Idade............... 47

Figura 17 – Plantas Baixas esquemáticas do Centro de Integração da Terceira

Idade ........................................................................................................... 48

Figura 18 – Vistas da Vila COP22 .................................................................. 49

Figura 19 – Implantação da Vila COP22 ...................................................... 50

Figura 20 – Vista do Anfiteatro da Igreja Batista Central de Fortaleza ........... 51

Figura 21 – Projeto do Anfiteatro da Igreja Batista Central de Fortaleza ........ 51

Figura 22 – Localização do Centro de Convívio para a pessoa idosa ativa .... 53

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Figura 23 – Mapa de uso do solo do entorno do terreno ............................. 54

Figura 24 – Mapa de gabarito do entorno do terreno .................................. 54

Figura 25 – Mapa de indicação dos bairros vizinhos ..................................... 55

Figura 26 – Condicionantes físicas do terreno ............................................... 59

Figura 27 – Condicionantes Ambientais – Direção dos Ventos ..................... 60

Figura 28 – Condicionantes físicos e ambientais ............................................ 61

Figura 29 – Evolução da forma – Primeiros croquis ...................................... 67

Figura 30 – Evolução da forma – Croqui com novas ideias ........................... 68

Figura 31 – Evolução da forma – Maquete física ........................................... 68

Figura 32 – Evolução da forma – Maquete eletrônica inicial ......................... 69

Figura 33 – Evolução da forma – Maquete eletrônica final ........................... 69

Figura 34 – Evolução da proposta – Primeiros croquis ................................. 70

Figura 35 – Evolução da proposta – Novos croquis de zoneamento ............. 71

Figura 36 – Evolução da proposta – Solução final ......................................... 72

Figura 37 – Implantação............................................................................... 75

Figura 38 – Planta Baixa ............................................................................... 76

Figura 39 – Escada submersa ........................................................................ 78

Figura 40 – Estrutura tensionada como elemento marcante na proposta ...... 79

Figura 41 – Perspectiva explodida do sistema construtivo ............................ 80

Figura 42 – Divisórias móveis das salas multiuso ........................................... 81

Figura 43 – Membrana tensionada sustentada por pilares metálicos ............. 82

Figura 44 – Detalhe dos cabos de aço embutidos na borda da membrana .... 83

Figura 45 – Análise da ventilação no interior da edificação........................... 84

Figura 46 – Vista da abertura zenital ............................................................ 84

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LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 01 – Efeito da luz do sol .................................................................... 37

Tabela 02 – Mapa de indicação dos bairros vizinhos .................................... 56

Tabela 03 – Programa de necessidades e pré-dimensionamento ................... 63

Quadro 01 – Relação da função física em pessoas idosas categorizadas de acordo

com a funcionalidade nas Atividades da Vida Diária e Atividades Instrumentais

da Vida Diária .............................................................................................. 22

Quadro 02 –Materiais utilizados na construção das estruturas têxteis ............ 36

Quadro 03 – Materiais e desempenho.......................................................... 37

Quadro 04 – Áreas e Prescrições Urbanísticas ............................................... 74

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 15

2 DO BIOLÓGICO AO CONSTRUTIVO:

CONTEXTO PARA UMA LONGEVIDADE MAIS FAVORÁVEL ..................... 19

2.1 ASPECTOS LIMITANTES (OU NÃO) DO ENVELHECIMENTO ................ 19

2.2 O PERFIL ATUAL DO IDOSO ................................................................. 21

2.3 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DE ESPAÇOS VOLTADOS

PARA IDOSOS ............................................................................................. 24

3 ARQUITETURA SOB OS PRECEITOS DA FLEXIBILIDADE ......................... 28

3.1 ARQUITETURA FLEXÍVEL ...................................................................... 28

3.2 ESTRUTURAS TENSIONADAS ............................................................... 30

4 ESTUDOS DE REFERÊNCIA ....................................................................... 41

4.1 ESTUDOS DE REFERÊNCIA DIRETOS ..................................................... 41

4.1.1 Espaço Marias ............................................................................ 41

4.1.2 Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI – UNP) .............. 44

4.2 ESTUDO DE REFERÊNCIA INDIRETO .................................................... 46

4.2.1 Centro de Integração da Terceira Idade ..................................... 46

4.3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA FORMAIS .................................................... 49

4.3.1 Vila COP22 ............................................................................... 49

4.3.2 Anfiteatro da Igreja Batista Central de Fortaleza ...................... 50

5 CONDICIONANTES PROJETUAIS ............................................................ 53

5.1 O TERRENO E SEU ENTORNO .............................................................. 53

5.2 CONDICIONANTES LEGAIS .................................................................. 55

5.2.1 Plano Diretor de Natal .............................................................. 55

5.2.2 Código de Obras de Natal ........................................................ 57

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5.2.3 Código de Seg. e Prev. Contra Incêndio e Pânico do RN .......... 57

5.2.4 NBR 9050/2015 ....................................................................... 57

5.2.5 RDC 216/2004 ......................................................................... 58

5.3 CONDICIONANTES FÍSICAS .................................................................. 59

5.4 CONDICIONANTES AMBIENTAIS ........................................................ 60

5.5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ............. 61

6 CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA ............................ 66

6.1 CONCEITO E PARTIDO ......................................................................... 66

6.2 ESTUDOS PRELIMINARES ...................................................................... 66

6.2.1 Evolução da proposta .......................................................................... 66

6.2.1 Evolução da forma ............................................................................. 70

7 MEMORIAL DESCRITIVO ......................................................................... 74

7.1 INSERÇÃO URBANÍSTICA ...................................................................... 74

7.2 SOLUÇÕES FUNCIONAIS ...................................................................... 75

7.3 ACESSIBILIDADE .................................................................................... 77

7.4 ESTRATÉGIAS DE FLEXIBILIDADE .......................................................... 79

7.5 SISTEMA CONSTRUTIVO E MATERIAIS ............................................... 80

7.6 SOLUÇÕES DE CONFORTO .................................................................. 83

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 86

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 87

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15

1 Outros autores sugerem diferentes classificações, inclusive considerando o fator idade, as quais serão

retratadas no Capítulo 02.

1 INTRODUÇÃO

Ao longo das últimas décadas, avanços no campo da medicina e da tecnologia,

bem como a sua aplicação às políticas de saúde pública, favoreceram o aumento da

expectativa de vida da população brasileira, de modo a provocar mudanças significativas

na pirâmide etária do país. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), o número de idosos residindo no Brasil cresceu em 50% somente nos

últimos dez anos: eles eram 17,4 milhões em 2007 e chegaram ao marco de 26 milhões

em 2017. Diante desse panorama, o representativo percentual de longevos dentro do

contexto social e a contínua melhoria da sua qualidade de vida têm se tornado uma

preocupação coletiva.

Embora a velhice, com frequência, esteja associada a fatores negativos, ideia

acentuada pelos diversos processos degenerativos que ocorrem nesse estágio da vida, cabe

aqui distinguir esse grande contingente populacional em pelo menos dois subgrupos, os

quais FRAIMAN (2004, p.16) denomina de jovens-velhos e de velhos-velhos ¹. Para a

autora, os primeiros encontram-se numa fase de transição, onde já cumpriram vários de

seus papeis familiares e sociais e agora vivem o impasse de abdicar das atividades exercidas

até então ou lutar pelo seu direito pessoal e intransferível de permanecer ativos. Os

demais, por sua vez, não podem mais exercer o papel de membros produtivos da

sociedade por razões especialmente biológicas.

A despeito de discerni-los de maneira generalista, essa classificação permite

identificar as diferentes dinâmicas, demandas e recursos de cada grupo e,

consequentemente, direcionar medidas administrativas a serem tomadas e executadas.

Enquanto os velhos-velhos carecem de ações relativas aos cuidados paliativos com a

saúde, os jovens-velhos requerem ações que propiciem uma longevidade com melhores

condições de vida. Levando em consideração que a realidade de chegar a uma idade

avançada com saúde não é privilégio de todos, MAYONAL (1996 apud MAGALHÃES,

2004, p. 91) destaca que “é cada vez maior o número de pessoas que buscam por um

envelhecimento saudável”. Destaca-se, portanto, que o público alvo do presente trabalho

é composto pelos denominados jovens-velhos, ou ainda pelos idosos ativos.

Com o intuito de promover a saúde e o bem-estar na velhice, o Plano de Ação

Internacional para o Envelhecimento, publicado em 2003 pela Secretaria Especial de

Direitos Humanos e pautado no plano homônimo da Organização das Nações Unidas

(ONU) de 2002, apresenta direcionamentos que priorizam as necessidades dos longevos.

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Dentre eles, ressalta-se: promover a participação de idosos em atividades cívicas e culturais

como estratégia de luta contra o isolamento social, e facilitar sua capacitação; e estimular

os idosos a manter ou adotar modos de vida ativos e saudáveis que incluam atividades

físicas e esportivas. Em paralelo a isso, o Ministério da Previdência e Assistência Social

(MPAS), por meio da Portaria nº 73/2001, prevê Centros de Convivência para atender às

demandas citadas, definindo essa modalidade de projeto como voltada para o

“fortalecimento de atividades associativas, produtivas e promocionais, contribuindo para

autonomia, envelhecimento ativo e saudável, prevenção do isolamento social,

socialização e aumento da renda própria”.

No município de Natal/RN, no entanto, instituições destinadas aos idosos são

raras, principalmente no que se refere ao seu envelhecimento saudável, sendo encontradas

apenas algumas associações e estabelecimentos de iniciativa privada. O quadro atual das

associações voltadas para essa parcela da população na localidade já propõe algumas

atividades interativas e principalmente festivas, mas os locais de funcionamento dessas

organizações requerem atenção. A maioria delas sobrevive em casas reformadas as quais

não contemplam requisitos mínimos de acessibilidade e não suprem as suas necessidades

de maneira satisfatória.

Diante dos aspectos mencionados, o objeto de estudo deste Trabalho Final de

Graduação configura-se como um anteprojeto de um Centro de Convívio para a pessoa

idosa ativa em Natal, no Rio Grande do Norte.

O interesse em propor um projeto com esse viés surgiu à princípio a partir de

questões pessoais: uma estreita relação entre a autora e seus avós desde a infância e a

consciência das diversas dificuldades que os mesmos enfrentaram nessa fase da vida. A

perda de relações e de entes queridos, o afastamento de suas ocupações, as mudanças na

conjuntura familiar e até mesmo a intolerância da população são capazes de abalá-los de

maneira significativa. Com isso, espaços cujo propósito principal seja promover interações

físicas e sociais, contribuindo para uma melhor qualidade de vida, são imensamente

importantes e configuram-se como uma demanda factual do município.

Uma vez estabelecida essa abordagem, outro tema agora relacionados ao estudo

da arquitetura foi incorporado ao objetivo: flexibilidade, a qual foi implementada como

uma solução projetual em virtude da multiplicidade de usos que um mesmo ambiente

pode abrigar nesse tipo de instituição. Um único salão, por exemplo, pode acomodar

uma aula de yoga no período da manhã, uma roda de conversa pela tarde e um jantar

durante a noite. Com isso, a arquitetura flexível é considerada no sentido de possibilitar

configurações espaciais diversas e adaptar os ambientes aos usos necessários em cada

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momento. A ideia inicial é que uma grande estrutura de cobertura possa envolver

ambientes internos os quais têm a possibilidade de reconfigurar-se de maneiras diferentes

em conformidade com as exigências específicas de cada ocasião. Dentro dessa perspectiva,

com a intenção de materializar a aplicação da flexibilidade, viabilizar a concepção

projetual e direcionar a forma da edificação, o estudo das tensoestruturas têxteis também

foi agregado ao presente trabalho.

Objetiva-se, portanto, desenvolver o anteprojeto de um Centro de Convívio para

a pessoa idosa ativa em Natal, no Rio Grande do Norte, explorando elementos da

arquitetura flexível. De modo específico, pretende-se ainda compreender o perfil do

idoso, nos âmbitos nacional e local, bem como suas principais necessidades e dificuldades

no ambiente construído; identificar problemas e potencialidades em ambientes voltados

para a convivência principalmente entre idosos ativos; e apresentar aspectos da

arquitetura flexível. Dessa maneira, almeja-se viabilizar um ambiente passível de receber

atividades físicas, culturais e sociais para os cidadãos idosos, de modo a contribuir

positivamente para suas condições de vida, com espaços pensados para atendê-los da

maneira mais adequada possível.

Para alcançar os objetivos propostos, foram realizados: pesquisas bibliográficas por

meio de coleta de dados em livros, dissertações, teses e normas; estudos de referência

diretos, com foco no programa de necessidades, indiretos, na configuração espacial, e

formais, nas estruturas tensionadas, mediante observação e análise de aspectos relevantes

para o projeto em sites, fotografias e in loco; e ainda análise do terreno e seu entorno

utilizando também técnicas de observação in loco e fotografias, além das ferramentas do

Google Street View e Google Maps, com o propósito principal de observar os

condicionantes legais, ambientais e físicas.

Baseando nesses dados, foi possível obter uma maior percepção acerca das

diretrizes a serem seguidas no projeto, incorporando ao mesmo um programa de

necessidades, conceito e partido norteadores do projeto e zoneamento geral, utilizando

principalmente croquis e maquetes esquemáticas e levando em consideração estratégias

de conforto, estruturais e espaciais, bem como aspectos da arquitetura flexível. Por fim,

em posse das soluções ideais para a proposta, os desenhos técnicos e a volumetria

eletrônica foram desenvolvidas nos softwares AutoCAD e SketchUP, assim como estudos

posteriores foram realizados no Flow Design.

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19

2 DO BIOLÓGICO AO CONSTRUTIVO: CONTEXTO PARA UMA LONGEVIDADE MAIS

FAVORÁVEL

O envelhecimento populacional é considerado uma das maiores conquistas das

últimas décadas, uma vez que os aperfeiçoamentos tecnológicos e medicinais

proporcionaram um aumento da longevidade, não sendo raro que as pessoas consigam

alcançar idades avançadas. Esse fato desencadeou uma série de pesquisas relacionadas ao

entendimento de seu processo, implicações e necessidades, de modo a apontar suas

principais demandas dentro da conjuntura atual da sociedade. Compreender o processo

de envelhecimento, bem como definir o perfil do idoso, torna-se elementar na busca por

alternativas adequadas que possam contribuir para a qualidade de vida desse grupo, sendo

aqui explorado com a intenção de direcionar para o anteprojeto arquitetônico proposto.

2.1 ASPECTOS LIMITANTES (OU NÃO) DO ENVELHECIMENTO

Conforme indica a Organização Mundial de Saúde (OMS), pessoas acima de 60

anos residindo em países em desenvolvimento e acima de 65 anos em países

desenvolvidos são consideradas idosas. No Brasil, o Estatuto do Idoso reforça essa

definição ao regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a

sessenta anos. A idade cronológica é ainda considerada por Spirduso (1995 apud

MATOVANI, s.d., p. 2) quando classifica o envelhecimento em quatro estágios:

Idoso-jovem: entre 65 e 74 anos;

Idoso: entre 75 e 84 anos;

Idoso-idoso: de 85 a 99 anos;

Idoso-velho: acima de 100 anos de idade.

No entanto, embora faça parte do senso comum acreditar que o tempo vivido é

o responsável pelas alterações que configuram a velhice, essa descrição da pessoa idosa

com base exclusivamente na idade cronológica não compreende o contexto amplo que

acompanha o processo de envelhecimento. De acordo com a World Health Organization

(2005, p. 7), “existem variações significativas relacionadas ao estado de saúde,

participação e níveis de independência mesmo entre pessoas mais velhas que possuem a

mesma idade”. Em paralelo a isso, Oliveira (1999, p. 39) aponta que “não somente o

número de aniversários deve ser considerado, mas outras variáveis, como o aspecto físico,

os fatores sociais, econômicos e psicológicos, também são relevantes”. A combinação

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entre todos esses fatores, portanto, é o que caracteriza a forma como uma determinada

pessoa envelhece, podendo resultar em atributos particulares a cada indivíduo.

Do ponto de vista da biologia, o processo de envelhecimento está associado à

“suscetibilidade às enfermidades ou funções limitantes da vida relacionados à

sobrevivência” (OLIVEIRA, 1999, p. 45). Esse cenário vulnerável, contudo, é capaz de ser

atenuado ou acentuado a depender dos hábitos de vida de cada pessoa.

“A influência da genética no desenvolvimento de problemas crônicos

[...] varia bastante entre os indivíduos. Para muitos indivíduos,

comportamentos como não fumar, capacidade de enfrentar problemas

e uma rede de amigos e parentes próximos pode modificar efetivamente

a influência da hereditariedade no declínio funcional e no aparecimento

da doença. (OMS, 2005, apud HALLACK, 2017, p. 17).

Aliado a esses condicionantes, a alimentação e a prática de atividades físicas são

os fatores centrais prováveis de contribuir para a saúde e qualidade de vida dos indivíduos.

Silva et al. (2012, p.3), ao relacionar os níveis de atividade física e qualidade de vida de

idosos sedentários e fisicamente ativos, observou que a atividade física regular e

sistematizada ou exercícios físicos regulares “têm demonstrado serem capazes de

minimizar os efeitos deletérios do envelhecimento, como a redução na massa muscular,

colaborando para a manutenção da capacidade física e autonomia do idoso”. Por sua vez,

Matovani (s. d., p. 3) indica que “um padrão alimentar equilibrado proporciona melhor

condição de saúde e contribui diretamente na prevenção e controle das principais doenças

que acometem os idosos”.

Quanto ao aspecto social, o contexto atual econômico, onde valoriza-se

essencialmente o que é passível de gerar lucro, além da cultura de enaltecimento do novo,

proporcionam ao idoso condutas de preconceito e discriminação.

“Nossa sociedade precisa urgentemente compreender que se tornar

velho não significa ser senil, enfermiço e assexuado. A aproximação da

velhice não reduz drasticamente qualquer faculdade do indivíduo que o

impeça de continuar ativo e útil ao grupo social a que pertence”.

(OLIVEIRA, 1999, p.63)

Scortegagna (2012, p. 10), diante disso, sugere o processo educativo como

alternativa à socialização, visto que amplia o contexto social no qual o idoso está inserido,

incrementando suas relações pessoais, desmistificando medos e percebendo todo o espaço

que pode conhecer e vivenciar.

No tocante aos fatores psicológicos que caracterizam essa fase da vida, Oliveira

(1999, p. 90) destaca que “ocorrem mudanças no sistema nervoso central, na capacidade

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sensorial e percentual e na habilidade de organizar e utilizar informações”. Contudo, tais

condições podem ser intensificadas ou amenizadas a partir de influências externas capazes

de alterar o comportamento dos idosos.

“A psicologia aponta que o declínio nas funções cognitivas que

costumam acompanhar o avanço na idade se dá principalmente pela

falta de prática de atividades que envolvam essas funções, por fatores

comportamentais (como tabagismo, sedentarismo), por aspectos

psicológicos (como a capacidade de solucionar problemas, nível

autoconfiança e motivação) e por fatores sociais (como o isolamento);

mais do que por doenças ou causas naturais” (OMS, 2005, apud

HALLACK, p. 18)

Diante da perspectiva de que a velhice engloba aspectos desde a idade cronológica

até os fatores sociais, econômicos e psicológicos, compreende-se que, a partir de condutas

e apoio adequados, é possível proporcionar aos longevos uma qualidade de vida mais

digna. Conforme reforça Oliveira (1999, p. 68), “os idosos encontram-se potencialmente

em risco não apenas porque estão velhos, mas porque estão vulneráveis à incapacidade a

partir de suas próprias mentes, seus corpos e seu meio físico e social”. Assim, a

preocupação indicativa de um envelhecer mais saudável, independente, ativo e com

qualidade é indispensável no compromisso de Centros de Convívio para idosos.

Além de apreender como se configura o processo de envelhecimento, é também

essencial identificar o perfil dos idosos no contexto atual da sociedade para compreender

suas necessidades diante da edificação proposta.

2.2 O PERFIL ATUAL DO IDOSO

De maneira genérica, o longevo é estereotipado com um ser de cabelos brancos,

rugas, andar lento, postura encurvada e baixa capacidade auditiva e visual,

comportamento preconceituoso o qual desencadeia problemas sociais desprezíveis, como

já tratado anteriormente. Todavia, entende-se que generalizá-los desse modo não

possibilita conhecer a universalidade do grupo, que apresenta grandes variações de perfis.

Com a intenção de categorizar essa população conforme a funcionalidade em Atividades

da Vida Diária e Atividades Instrumentais da Vida Diária, Spirduso (1995 apud

MATOVANI, s.d., p. 6):

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Quadro 01 - Relação da função física em pessoas idosas categorizadas de acordo com a

funcionalidade nas Atividades da Vida Diária e Atividades Instrumentais da Vida Diária

Nível I

Fisicamente incapazes: totalmente dependentes.

Fisicamente dependentes: realizam algumas atividades básicas da vida diária e são

dependentes.

Nível II

Fisicamente frágeis: realizam tarefas domésticas leves, preparam refeições, fazem compras.

Conseguem fazer algumas atividades intermediárias e todas as Atividades Básicas da Vida

Diária, que incluem as atividades de autocuidado.

Nível III

Fisicamente independentes: conseguem realizar todas as atividades intermediárias da vida

diária, incluem os idosos com estilo de vida ativo, mas que não realizam atividades físicas

de forma regular.

Nível IV

Fisicamente aptos ou ativos: realizam trabalho físico moderado, esportes de resistência e

jogos. São capazes de realizar atividades avançadas da vida diária e a maioria das atividades

preferidas.

Nível V

Atleta: Realizam atividades competitivas, podendo disputar no âmbito internacional e

praticar esportes de alto risco.

Fonte: Spirduso (1995 apud MATOVANI, s.d., p. 6).

Uma vez que não é o foco do presente Centro de Convívio disponibilizar

profissionais da área de saúde exclusivamente para atender às demandas individuais dos

idosos fisicamente frágeis ou dependentes, diferente do que acontece em Instituições de

Longa Permanência para Idosos, infere-se que os principais usuários da edificação proposta

são definidos com funcionalidade classificada dos níveis II ao V.

Ainda com a intenção de traçar o perfil da população idosa, outro aspecto

característico desse grupo é a prevalência de mulheres, configurando uma feminização da

velhice. De acordo com o Censo de 2010 do IBGE, a expectativa de vida do público

feminino é, em média, sete anos superior à do masculino. Além disso, Góis (2012, p. 59)

acrescenta que “mulheres idosas experimentam maior probabilidade de ficarem viúvas e

em situação socioeconômica desvantajosa”, fato que aumenta a probabilidade de

aderirem a grupos de convivência. Gonçalves, Dias e Liz (1999, apud CAPORICCI e

OLIVEIRA NETO, 2011, p. 6) também reforçam essa ideia ao confirmarem a prevalência

do gênero feminino em grupos de convivência ou grupos da terceira idade, verificando

que a participação masculina raramente ultrapassa 20%. Com isso, cabe centralizar as

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atenções do Centro de Convívio para as mulheres, mas não esquecendo que faz-se

necessária uma maior intervenção e incentivo das políticas públicas, dos profissionais de

saúde e da família para inserir os homens nestes programas.

Em estudo realizado por Borges (et al.) na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais,

é possível identificar ainda com maior precisão o perfil dos idosos frequentadores de

grupos de convivência:

Os resultados indicam que os grupos de convivência de idosos na cidade

de Belo Horizonte são frequentados principalmente por mulheres,

viúvas e de baixa escolaridade. Embora a maioria dos idosos

entrevistados nesses locais tenha relatado pelo menos uma co-

morbidade, uso de drogas e consultas médicas frequentes, os mesmos

consideraram sua saúde boa. A incontinência urinária foi a síndrome

geriátrica mais frequente, a ocorrência de quedas só foi citada por cerca

de um terço dos participantes, sendo que a maioria deles não apresentou

sinais sugestivos de depressão. Os idosos que participam de grupos de

convivência de idosos são de baixa renda, independentes para

deambulação e para as atividades da vida diária e atividades

instrumentais do dia-a-dia, e relatam satisfação com seus

relacionamentos sociais. (BORGES et al., 2008, p. 9)

Embora a pesquisa tenha se concentrado apenas numa cidade do Brasil, pode-se

inferir que esse quadro contempla a realidade da maioria das cidades brasileiras, incluindo

Natal, Rio Grande do Norte. A partir dessa perspectiva, portanto, entende-se que os

usuários do Centro de Convívio proposto podem ser caracterizados como pessoas idosas

ativas, desde atletas até aqueles que realizam apenas atividades básicas (contanto que

apresentem autonomia e independência), sendo a maioria do grupo formado por

mulheres e podendo apresentar algumas co-morbidades, como a incontinência urinária,

importante aspecto a ser considerado na distribuição dos banheiros.

Diante disso, o espaço físico, assim como é capaz de influenciar no

comportamento dos idosos, também requer exigências específicas de acordo com o

usuário.

2.3 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DE ESPAÇOS VOLTADOS PARA IDOSOS

Com o propósito de que o idoso desfrute do ambiente construído de maneira

adequada, deve ser levada em consideração uma série de particularidades, não com o

objetivo de conceber um projeto exclusivo para idosos, mas que pondere a inclusão de

suas necessidades. A respeito disso, o primeiro aspecto a ser ponderado refere-se ao tema

de acessibilidade espacial e é descrito por Góis (2012, p. 79) como “a possibilidade de

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plena integração entre as pessoas e os ambientes, sem segregá-las e permitindo que as

atividades sejam realizadas com êxito, por todos os diferentes usuários”. Esse ponto

aproxima-se dos direcionamentos ancorados pela NBR 9050, a qual aborda a

acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.

De maneira sucinta, Bins Ely e Dischinger (2004, apud GÓIS, 2012, p. 79-80)

especificam que os quatro componentes exigidos para que os espaços sejam considerados

a acessíveis são Orientação e Informação, Deslocamento, Uso e Comunicação.

“Orientação e informação estão relacionadas com a compreensão dos

ambientes, permitindo que um indivíduo possa situar-se e deslocar-se a

partir das informações dadas pelo ambiente, sejam elas visuais, sonoras,

arquitetônicas, entre outras. Por exemplo, quando não se consegue

identificar todo um ambiente a partir de seus diferentes pontos, a

presença de mapas e placas informativas contribui para a orientação do

usuário.

Deslocamento corresponde às condições de movimento e livre fluxo que

devem ser garantidas pelas características das áreas de circulações, tanto

no sentido vertical como no horizontal. A implantação de pisos regulares

e antiderrapantes, a presença de corrimãos e patamares em escadas e

rampas, presença de faixa de mobiliário fora das áreas de circulação etc.,

são exemplos de características que contribuem com este componente.

O uso é o componente que está relacionado com a participação em

atividades e utilização dos equipamentos, mobiliários e objetos dos

ambientes, e é garantido a partir de características ergonômicas

adequadas aos usuários e de uma configuração espacial que permita ao

usuário sua aproximação e presença, como no caso de mesas para jogos

com espaço para cadeiras de rodas.

Comunicação corresponde à facilidade de interação entre os usuários

com o ambiente, e pode ser garantido a partir de configurações espaciais

de mobiliários de estar ou de tecnologias assistivas, como terminais de

informação computadorizados, para o caso de pessoas com problemas

auditivos e de produção linguística”. Bins Ely e Dischinger (2004, apud

GÓIS, 2012, p. 79-80)

O segundo tema a ser considerado ao tratar de ambientes para idosos é o Desenho

Universal, o qual é designado como “o desenho de produtos e ambientes para serem

utilizados por todas as pessoas o maior tempo possível, sem a necessidade de adaptação

ou desenho especial” (THE CENTER FOR UNIVERSAL DESIGN, 1977, apud GÓIS, 2012,

p. 116), baseando-se em sete princípios:

Princípio 1 - Uso Equitativo. O desenho é utilizável e comercializável

para pessoas com diversas capacidades/incapacidades.

Princípio 2 - Flexibilidade de Uso. O desenho acomoda uma larga faixa

de preferências e habilidades individuais.

Princípio 3 - Uso simples e intuitivo. O uso do desenho é facilmente

compreendido, não importando a experiência do usuário, o seu

conhecimento, suas aptidões linguísticas ou nível de concentração.

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Princípio 4 - Informação Perceptível. O desenho dá a necessária

informação ao usuário, não importando as condições do ambiente ou

as habilidades sensoriais do usuário.

Princípio 5 - Tolerância de Erro. O desenho minimiza os perigos e as

consequências adversas de ações não intencionais ou acidentais.

Princípio 6 - Pouco Esforço Físico. O desenho pode ser usado de forma

eficiente e confortável com um mínimo de fadiga.

Princípio 7 - Tamanho e Espaço Para Aproximação e Uso. Prevê

tamanho e espaço apropriado para aproximação, a busca, a

manipulação e o uso, não importando a altura, postura ou mobilidade

do usuário.

Contribuições relativas a ambientes voltados para idosos também são

disponibilizadas pelo arquiteto Perkins Eastman (2016), por meio de uma pesquisa que

visa melhorar o bem-estar desses indivíduos através de centros de vida saudável. Dentre

os aspectos mencionados por ele, estão: focar em educação e prevenção ao invés de

apenas o tratamento, de modo que espacialmente os ambientes devem ser convidativos,

com fácil orientação e muita luz natural; proporcionar circulações com escadas ou rampas

acessíveis e atraentes incentivando usuários a se deslocarem de um pavimento a outro

sem depender dos elevadores; e flexibilizar o projeto, com vistas à sustentabilidade a

longo prazo permitir a adaptação às necessidades das novas gerações a envelhecer para o

grupo de usuários. Este último ponto, tomado como um dos princípios norteadores da

proposta para o Centro de Convívio para idosos, será abordado de maneira mais

aprofundada no capítulo seguinte.

Cabe ainda dispor alguns conceitos concernentes aos equipamentos de lazer, uma

vez que se trata de um Centro de Convívio voltado principalmente para essa atividade.

Macedo (2003, p. 37), embora compreenda o âmbito público, diferencia o lazer ativo

do lazer passivo ou contemplativo. Segundo a autora, o primeiro é caracterizado pelo

esforço físico, andar, caminhar, correr, brincar, praticar esportes; o segundo, por outro

lado, não demanda movimento ou esforço físico, concentrando-se nas atividades de:

conversar, descansar, apreciar o movimento de outrem, apreciar paisagens, refletir,

lanchar, ler, esperar. Também nesse sentido, conforme acrescenta Dumazedier (1976,

apud GÓIS, 2012, p. 155) o lazer possui três diferentes funções:

1. Descanso: atividade a que o indivíduo se propõe no sentido de que se

restabeleça do cansaço físico ou mental advindo de suas tarefas laborais.

2. Recreação, Divertimento, Entretenimento: atividades que buscam

eliminar o tédio e a monotonia da rotina diária.

3. Desenvolvimento Pessoal: atividades que possibilitam a interação

social e a aprendizagem, desde que voluntária, visando a um

desenvolvimento da personalidade.

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O autor ainda lista cinco áreas de interesse:

1. Artístico: atividades de conteúdo estético, ligadas ao belo, ao

sentimento, à emoção.

2. Intelectuais: atividades de conteúdo cognitivo, que visam ao

desenvolvimento pessoal, seja pela busca da informação, conhecimento

ou aprendizagem.

3. Manuais: atividades desenvolvidas com as mãos, onde uma matéria

prima é transformada.

4. Físicas: atividades relacionadas às práticas esportivas e à exploração

de novos lugares, passeios, caminhadas etc.

5. Sociais e Associativas: atividades de interação entre pessoas e grupos

e os relacionamentos humanos. Igrejas, clubes etc. DUMAZEDIER (1976,

apud GÓIS, 2012, p. 155)

Com base no exposto, infere-se que o ambiente voltado para a pessoa idosa deve

contemplar os aspectos da acessibilidade espacial e os princípios do Desenho Universal,

levando também em consideração o uso de elementos atrativos, principalmente com o

propósito de incentivar o deslocamento ativo, e o uso da luz natural, fator que contribui

para a saúde e o bem-estar dos indivíduos. Ademais, diante das diferentes formas de

abordar o lazer, é possível construir fundamentos para a elaboração de um programa de

necessidades mais consistente e objetivo, além de contribuir para a um zoneamento mais

eficiente do edifício.

Como já referido, além desses aspectos, a flexibilidade também foi tomada como

fundamento norteador da proposta de Centro de Convívio para idosos, englobando

ainda as membranas tensionadas. A seguir, portanto, são abordados conceitos

importantes acerca desses pontos.

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3 ARQUITETURA SOB OS PRECEITOS DA FLEXIBILIDADE

3.1 ARQUITETURA FLEXÍVEL

A sociedade hoje vive, mais do que nunca, um momento de constante

transformação, em consequência principalmente do modo de vida acelerado da era

capitalista. A partir desse panorama, no âmbito da arquitetura, o tema da flexibilidade

manifesta-se como ferramenta capaz para proporcionar aos ambientes construídos a

possibilidade de adequação a potenciais novas demandas, de modo a evitar grandes

modificações na edificação. Embora cada autor a defina à sua maneira, o que propicia

diversas interpretações, como expõe Digiacomo (2004, apud BRANDÃO e HEINECK,

2007, p. 11), o mais importante “é que todas buscam classificar a qualidade do espaço

físico de se adaptar com facilidade às necessidades e desejos dos seus ocupantes”. Esteves

(2013, apud SILVA, 2016, p. 37), por sua vez, enfatiza que a flexibilidade nos espaços,

através da funcionalidade, durabilidade, sustentabilidade e dinamismo dos processos e

dos usos, opõe-se à visão de edifícios como objetos estáticos no tempo.

Diante da multiplicidade de conceitos agregados a esse conteúdo, cabe diferenciar

a flexibilidade quanto ao campo temporal em dois níveis: inicial ou contínua/permanente.

A primeira é conceituada por Paiva (2002, apud BARROS, 2017, p. 46) como aquela

referente “à fase de projeto e de construção, que corresponde à concepção técnica e

arquitetônica de soluções flexíveis", onde ocorre antes mesmo do uso por meio das

variadas possibilidades de ocupação do espaço. A segunda, por sua vez, sofre a influência

direta do usuário, sendo definida por estratégias que permitem a flexibilidade durante o

uso (BRANDÃO e HEINECK, 2007, p. 11), podendo ser ainda compreendida em:

mobilidade, evolução e elasticidade.

Para Esteves (2013, apud BARROS, 2017, p. 46), “mobilidade é a rápida

modificação dos espaços, conforme as atividades, através de elementos fáceis de correr,

encolher ou deslocar", enquanto a evolução “implica a modificação do espaço a longo

prazo, segundo as transformações dos moradores, adaptando-se à evolução do agregado

familiar, adicionando ou removendo compartimentos”; e a elasticidade corresponde à

“modificação da estrutura e pode ser realizável de diversos modos", tais como a criação

de marquises.

Outro aspecto que requer clareza é a diferenciação entre os termos flexibilidade e

adaptabilidade, os quais são geralmente confundidos, de acordo com Barros (2017, p.

47). Ainda conforme a autora, neste “não há mudança na estrutura física, há mudança de

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uso, o que Hertzberger chamava de ‘polivalência’”; enquanto “na flexibilidade há

mudança na configuração do espaço para que este se adapte à nova função”.

Os componentes básicos de um esquema flexível são, segundo Rabeneck et al.

(1974, apud BRANDÂO, 1997, p. 2):

Divisórias internas não portantes e removíveis;

Ausência de colunas ou preferencialmente grandes vãos entre elementos

estruturais;

Instalações, tubulações e acessórios desvinculados da obra, evitando

embuti-los na alvenaria;

Marginalização da área úmida em relação à seca;

Utilização de formas geométricas simples;

Não utilização, na medida do possível, da locação central dos aparelhos

de iluminação e outras restrições semelhantes.

De maneira complementar, Guedes (2016, p. 23) refere-se à arquitetura flexível,

como o tipo de arquitetura cujos elementos se transformam, permitindo usos diferentes

do mesmo espaço, podendo estas transformações serem feitas através de elementos

móveis, tais como painéis deslizantes, portas de correr, elementos giratórios ou do próprio

mobiliário, que através de operações simples, ajudam a definir espaços distintos.

A modulação também se configura como mais uma estratégia amplamente

utilizada pela arquitetura flexível, com vistas a racionalizar o processo construtivo, bem

como otimizar o uso de matéria-prima e o tempo. Em síntese, conforme Greven (2000,

apud SILVA, 2016, p. 37), esse recurso sucede “através da repetição de um elemento base,

o módulo, o qual estabelece uma medida de referência a ser multiplicada, auxiliando a

compatibilidade dos diversos elementos do projeto e simplificando as etapas de

concepção e execução”. Um sistema modular, portanto, é capaz de agilizar o andamento

do projeto e proporcionar uma redução das perdas e, por conseguinte, dos custos gerais

da obra.

Por fim, até mesmo a definição do tipo de sistema construtivo a ser implementado

reflete de maneira significativa na questão da flexibilidade. Desse modo, embora as

estruturas tensionadas configurem-se como um tema incorporado ao trabalho apenas a

posteriori, quando da definição do conceito e da busca pela leveza, é imprescindível um

maior aprofundamento sobre o assunto, posto que foi ponderado como um dos

elementos norteadores da proposta arquitetônica. A seguir, portanto, estão dispostos os

preceitos referentes às tensoestruturas têxteis especificamente.

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3.2 TENSOESTRUTURAS TÊXTEIS

As tensoestruturas, de maneira geral, são qualificadas a partir do seu

comportamento estrutural particular, caracterizando-se como elementos de membrana

delgada e flexível submetidos unicamente aos esforços de tração. No cenário atual da

construção civil, em razão de sua leveza e da possibilidade de assinalar formas diversas,

são empregadas em especial em coberturas de grandes dimensões com a intenção de

alcançar amplos vãos livres. Apesar do elevado grau de complexidade projetual, sua

aplicabilidade é reconhecida, sobretudo, em estádios, áreas de lazer, pavilhões de

exposições, silos, garagens, barragens e aeroportos.

Para Oliveira (2003, p. 4), esse tipo de sistema pode ser classificado em dois

grandes grupos: o primeiro corresponde às tensoestruturas formadas por malhas de cabos

ou fios de aço, como sucede no Estádio Olímpico de Munique (Figura 01), onde a trama

suporta painéis translúcidos de acrílico; enquanto o segundo é formado por membranas,

geralmente compostas por tecido costurado (Figura 02). Estas, por sua vez, são ainda

categorizadas pelo autor em dois outros grupos: as estruturas pneumáticas, quando a

sustentação é feita através do ar comprimido, e as tensoestruturas têxteis, as quais

constituem o objeto de estudo do presente tópico. Ainda que não se arranje por meio de

uma malha, como ocorre no primeiro caso, as tensoestruturas têxteis, também conhecidas

como tendas, são compostas pela interação entre cabos e o tecido, ambos tracionados.

Figura 01 – Estádio Olímpico, Munique, Alemanha (1972).

A: Vista superior. B: Vista interna.

Fonte: LMC, 2018.

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Figura 02 – Centro Cultural Tjapukai.

Fonte: Oliveira, 2003, p. 7.

Ao longo do tempo, essa conformação de estrutura foi materializada a partir de

diferentes contextos, tendo sua origem remontada desde os povos primitivos e

conceituando-se como o tipo de moraria mais antigo do homem, depois das cavernas.

Conforme aponta Oliveira (2003, p. 9), uma vez que o nomadismo constituía o modo

de vida da população nesse período, a facilidade de desmonte e transporte das peças

favoreceu o desenvolvimento da técnica.

“Foram encontradas, na Ucrânia, evidências de que o homem, há mais

de 40.000 anos, usava ossos e presas de mamutes para sustentar peles

de animais; enquanto os índios da América do Norte) e asiáticos usavam

tendas cônicas para se proteger das intempéries.” (OLIVEIRA, 2003,

p. 8)

Como consequência da sua origem nômade e ainda em virtude da baixa qualidade

dos materiais empregados, a princípio as tensoestruturas apresentavam funcionalidade

transitória ou até mesmo temporária. Albuquerque (2013, p. 71), por sua vez, destaca que

os recentes avanços tecnológicos, bem como o aperfeiçoamento dos estudos nessa área,

permitiram uma melhoria na durabilidade dos materiais e na própria técnica construtiva,

fato que admitiu seu uso em caráter permanente.

O arquiteto e engenheiro alemão Frei Otto, vencedor do prêmio Pritzker no ano

de 2015, teve participação fundamental nesse progresso, visto que desenvolveu “os

primeiros experimentos científicos e as primeiras obras de coberturas usando elementos

tensionados junto a membranas” (PEREIRA, 2018). Ainda que, de acordo com Oliveira

(2003, p. 9), a popularização dos circos nos Estados Unidos, no século XIX, tenha

contribuído empiricamente para as práticas de fabricação das tensoestruturas, Otto é

considerado o pioneiro nesse campo. A partir da década de 1950, conforme complementa

Pereira (2018), o mesmo passou a explorar modelos físicos em escala reduzida e concebeu

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o primeiro projeto de grande escala apropriando-se do sistema: a cobertura de um palco,

em 1955, sendo considerada um marco na utilização das tensoestruturas têxteis modernas

(Figura 03). Além disso, em 1957 fundou o Centro de Desenvolvimento de Construções

Leves em Berlim e, sete anos depois, em 1964, criou o Instituto de Estruturas Leves em

Berlim na Universidade de Stuttgart, na Alemanha.

Figura 03 – Vierpunktsegel, Kassel, 1955.

Fonte: Oliveira, 2003, p. 10.

Apesar do desenvolvimento das novas técnicas e materiais, impulsionado diante

dos estudos do sistema, a legislação que regula esse tipo de estrutura ainda é modesta.

No Brasil, não existe nenhuma norma que regulamente a aplicação das

coberturas tensionadas. Apenas nos Estados Unidos pode-se encontrar a

norma International Building Code, cujo capítulo 31 é sobre a

construção de estruturas de membranas tensionadas. Outra norma é

a International Fire Code, que disciplina a utilização das várias

membranas em função do tipo de ocupação da edificação. O European

Design Guide for Tensile Surface Structures é um guia geral válido para

os países da Europa, onde, para cálculo estrutural, existem as

normas Minimum Design Loads for Buildings and Other

Structures e Structural Applications of Steel Cables for Buildings. Na

Alemanha, a regulamentação em vigor é a DIN 4134, que também vale

para os países da Comunidade Europeia. (ARCOLINI e BARRADAS,

2018)

O comportamento estrutural das tensoestruturas têxteis é considerado a partir de

quatro elementos: a membrana, os cabos de aço, as estruturas de suporte e os elementos

de ancoragem e fundação. Em decorrência da flexibilidade da membrana, como já

exposto anteriormente, a natureza dos esforços internos desenvolvidos não permite

esforços de compressão, devendo as ações exteriores ser equilibradas por meio de esforços

de tração. Ainda “devido às propriedades resistentes do tecido, quando esta é tensionada

consegue-se atingir grandes vãos, assim é possível conceber diversas formas que apenas

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necessitam de uma quantidade mínima de elementos de apoio ‘rígidos’”. (SANTOS, 2013,

p. 19)

De maneira geral, como aponta Nóbrega (2015, p. 40), a plasticidade das tendas

pode ser assumida a partir de variadas composições por efeito de seus apoios e da tração

a qual ela esteja submetida. Classifica-as, portanto, quanto ao tipo e a posição dos apoios

em: apoios externos; apoios internos; apoios externos e internos; apoios em arcos ou em

vigas de borda; suspensa por cabos (Figura 04).

No sistema de apoios externos à tenda, a superfície assume a forma de

sela simples, havendo a possibilidade da aplicação de um número

variável de barras de compressão. Quando se tem os apoios internos à

tenda, a sua superfície assume uma forma particular na região dos

apoios. É possível ainda se fazer uma estrutura com apoios nas duas

situações, externos e internos à tenda, o que inclusive possibilita uma

versatilidade nas formas projetuais. Nos sistemas com apoios em arcos

ou em vigas de borda, destacam-se os arcos de concreto. As tendas

podem ainda ser ancorados em vigas (circulares ou não), as quais são

comumente apoiadas em pilares. Por fim, a tenda pode ser suspensa por

um sistema de cabos, não possuindo contato direto com os pilares. Estes,

por sua vez, vinculam-se a pilares, vigas ou arcos. (NÓBREGA, 2015,

p. 40)

Figura 04 – Classificação das tendas quanto ao tipo e a posição dos apoios.

A: Apoios externos. B Apoios internos. C: Apoios em arcos. D: Suspensa por cabos.

Fonte: Nóbrega, 2015, p. 40-41.

Classificações ainda concernentes a sua curvatura e a geometria também são

instituídas. A empresa Technica (apud ALBUQUERQUE, 2013, p. 76) reconhece que as

tensoestruturas em dupla curvatura podem ser diferenciadas em sinclásticas e anticlásticas.

Como se observa por meio da Figura 05, as curvaturas da primeira apresentam o mesmo

sinal, enquanto as demais possuem sinais contrários.

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Figura 05 – Classificação das tendas quanto à curvatura.

A: Sinclásticas. B Anticlásticas.

Fonte: Ferreira, 2010, p. 38.

Já a classificação quanto à geometria aproxima-se daquela proposta por Nóbrega,

sendo categorizadas em: Parabolóides hiperbólicos, Tendas cônicas ou multicônicas,

Suportadas por arcos e Onduladas ou plissadas (TECHNICA apud ALBUQUERQUE, 2013,

p. 76). As duas primeiras podem ser visualizadas a partir da Figura 06, na qual se apresenta

uma tensoestrutura de composta por duas coberturas laterais em forma de cone e uma

central paraboloide hiperbólico. Os outros dois tipos, por sua vez, são exemplificados nas

Figuras 07 e 08.

Figura 06 – Tensoestrutura paraboloide hiperbólico e cônica.

Fonte: http://www.estruturas.arq.br/projetos.html.

Figura 07 – Tensoestrutura sustentada por arcos.

Fonte: https://tensitex.com.br/lonas-tensionadas/.

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Figura 08 – Tensoestrutura plissadas ou onduladas.

Fonte: Albuquerque, 2013, p. 78.

Têm-se, por fim, a arquitetura têxtil classificada em três outros grupos: de caráter

permanente, temporárias e conversíveis ou retráteis (NUNES, 2008, apud

ALBUQUERQUE, 2013, p. 73). As primeiras geralmente associam a construção

convencional a elementos das tensoestruturas, ao passo que as segundas são projetadas

para serem remontadas e transportadas a depender o interesse e as últimas associam o

caráter temporário e o caráter permanente em sua configuração espacial, através de

aberturas ou fechamentos.

Além dos aspectos morfológicos, cabe destacar também os principais tipos de

materiais utilizados, a despeito da combinação de peles de animais com fibras vegetais

utilizadas durante centenas de anos pelos povos primitivos. Em síntese, como expõe

Oliveira (2003, p. 23), as membranas são compostas, em geral, por fibras e uma matriz,

embora hajam diversas composições. Dentre os tipos de fibra, o autor aponta as quatro

mais utilizadas: nylon, poliéster, aramida e fibra de vidro, a qual apresenta vantagens

quanto à resistência à tração, módulo de elasticidade elevado e resistência aos raios

ultravioleta. Já no tocante aos materiais empregados na matriz, o mesmo ressalta as

seguintes alternativas:

Policloreto de Vinila (Policloroetileno ou PVC ) – Resistente à

luz ultravioleta, usado com nylon e polyester;

Politetrafluoretileno (PTFE ou Teflon) – Usado com fibras de

vidro. Quimicamente inerte, resistente à umidade,

microorganismos e a chamas. O têxtil resultante tem alta

resistência à tração e alto módulo de elasticidade, sendo mais

caro que o tecido com matriz de PVC;

Silicone – Também usado com fibras de vidro e tem

características muito próximas as do PTFE com fibra de vidro.

(OLIVEIRA, 2003, p. 25)

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A Birdair, empresa norte-americana especializada em coberturas e membranas

tensionadas fundada por Walter Bird – mais um expoente nessa área, também revela os

materiais utilizados na construção das estruturas têxteis por meio de seu endereço

eletrônico. Os mesmos estão substanciados no Quadro 02.

Quadro 02 - Materiais utilizados na construção das estruturas têxteis

PTFE – Fibra de vidro

O PTFE, ou politetrafluoroetileno, é uma membrana de fibra de vidro revestida com Teflon,

extremamente durável, resistente a intempéries e um material de construção altamente

sustentável para aplicações em telhados. Podem ser instaladas em climas que vão do ártico

ao calor escaldante do deserto, com uma vida útil em alguns casos superior a 30 anos.

ETFE (Etileno Tetrafluoroetileno)

O ETFE (Etileno Tetrafluoroetileno) pode ser aplicado de várias maneiras, como em

aplicações de arquitetura de tração em camadas simples, dupla ou tripla. O material é

durável, altamente transparente e muito leve em comparação com estruturas de vidro.

PVC

O PVC, ou cloreto de polivinilo, está disponível como material tecido ou não tecido. Toldos

de tecido de membrana de PVC são uma alternativa econômica para os sistemas tradicionais

de telhado ou fachada e podem ser produzidos em uma infinidade de cores para coordenar

com as necessidades individuais de projeto de construção.

Membrana Tensionada Isolada (PTFE Acústico)

O Tensotherm é um sistema composto combinado de uma camada externa de membrana

de fibra de vidro de PTFE, uma fina camada de isolamento translúcido embutida com

aerogel e um revestimento interno acústico ou de barreira de vapor mais fino e mais leve.

ePTFE (PTFE translúcido) (BIRDAIR.COM)

A membrana de tecido revestido com PTFE de alta translucidez (ePTFE) é um material de

tração dinâmica inigualável por sua estética e durabilidade, que é um material não

inflamável que usa 100 por cento de revestimento de fluoropolímero e pode oferecer até

40 por cento de transmissão de luz (versus 13 por cento com PVC), eliminando o brilho

para permitir uma iluminação ampla em todo o espaço interior.

Fonte: Birdair (Tradução livre).

Nóbrega (2015, p. 42), por sua vez, salienta outros aspectos a serem observados

a partir do material adotado: “grau de translucidez e opacidade, a segurança contra

incêndio (se o material é auto extinguível), a resistência aos ataques químicos e

ultravioletas (para inibir o desbotamento das cores ao longo do tempo), o desempenho

lumínico, o desempenho acústico, a ação fungicida (para inibir a formação de bolores e

manchas provocadas por fungos), a ação antioxidante (para inibir o surgimento de

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manchas ferruginosas), a resistência ao dobramento e a autolimpeza”. O autor relaciona

tais atributos respectivos aos materiais mais utilizados, como se observa no Quadro 03.

Quadro 03 - Materiais e desempenho.

Ótimo | Bom | Regular

PVC/PVDF (Poliester em

PVC e camada de Teflon)

PTFE (Fibra de vidro com

Teflon)

Durabilidade Média (em anos) 12-15 20-25

Resistencia ao envelhecimento

Autolimpeza

Translucidez

Resistencia a fungos

Custo de fabricação Médio Elevado

Fonte: Nóbrega, 2015, p. 42 (Adaptado).

Diante dessa variedade de formas e de materiais, as características das

tensoestruturas mais significativas são elencadas por Oliveira (2003, p. 14):

Beleza estética da forma arquitetônica;

Leveza da estrutura espacial;

Facilidade de transporte das peças e montagem no local;

Boa resistência ao fogo dos tecidos mais modernos;

Boa iluminação natural com a utilização de tecidos

translúcidos;

Isolamento acústico produzido por coberturas de membrana

dupla;

Durabilidade dos tecidos;

Custo competitivo para coberturas grande porte.

A questão da absorção de energia solar pelo material também é um ponto

importante a ser considerado: paradoxalmente, ao mesmo tempo em que permite o

aproveitamento da iluminação natural, evita que a insolação aqueça o ambiente. Esse fato

pode ser explicado pelo alto índice de reflexão contrapondo-se ao baixo grau de absorção

de energia, como posto na Tabela 01 e no esquema da Figura 09.

Tabela 01 – Efeito da luz do sol.

Cobertura

Convencional PVC PTFE Silicone

Reflexão 10-50% 30-75% 65-75% 60-65%

Absorção 50-90% 13-78% 13-19% 12-20%

Transmissão 0 2-12% 6-22% 15-28%

Fonte: Oliveira, 2003, p. 34.

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Figura 09 – Esquema de transmissão, absorção, reflexão e irradiação de energia.

Fonte: Oliveira, 2003, p. 34.

Uma última particularidade das coberturas de membrana têxtil concerne ao seu

processo projetual, uma vez que apresenta relativas disparidades em relação às

construções tradicionais. Comumente, a forma da arquitetura convencional é definida a

partir de parâmetros estéticos e da espacialização dos ambientes internos, contemplando

apenas poucos aspectos estruturais, sem muito rigor. Para as tensoestruturas, no entanto,

ocorre a inversão dessas prioridades: os atributos arquitetônicos delineiam as linhas gerais

da forma, mas a concepção final depende demasiado da precisão estrutural. Com isso,

uma boa conciliação entre o desejado formalmente e o possível estruturalmente deve ser

considerada ainda na fase de projeto para evitar contratempos futuros.

De modo a contribuir com esse processo, são utilizados alguns instrumentos

projetuais, dentre os quais se destacam os modelos físicos, que permitem “experimentar

variadas possibilidades das membranas tensionadas, além de facilitarem a visualização

tridimensional da cobertura” (OLIVEIRA, 2003, p. 58). Por meio desse recurso, é viável

observar o comportamento estrutural do objeto, mesmo que em menor escala,

favorecendo a indicação dos pontos de tensão. Devido aos sofisticados cálculos

computacionais exigidos para a definição final da tensoestrutura, o método possibilita

ainda a confirmação desses futuros cálculos para obter o equilíbrio.

Oliveira (2003, p.) defende ainda que o projeto estrutural engloba três

circunstâncias geralmente inexistentes na concepção convencional: a definição da forma

espacial final com colaboração entre arquiteto e engenheiro; a definição dos padrões ou

moldes de corte, associada às requisições do fabricante; e a remontagem dos pedaços de

tecido planos na estrutura espacial tensionada. Todas essas etapas interferem de maneira

significativa na forma final da cobertura e, portanto, devem ser acompanhadas pelos

profissionais envolvidos.

Diante das condicionantes expostas, conclui-se que as estruturas tensionadas

apresentam atributos formais e projetuais particulares quando comparada aos sistemas

convencionais. Apesar de conferir certo grau de complexidade, considerações quanto à

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concepção, plasticidade, durabilidade, resistência, desempenho térmico e acústico e

facilidade de transporte e montagem destacam-se como as suas principais vantagens. Com

vistas a ampliar os conhecimentos acerca do assunto, também os estudos de referência,

objeto do próximo capítulo, englobam as estruturas tensionadas.

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4 ESTUDOS DE REFERÊNCIA

Os estudos de referência apresentados a seguir foram realizados de maneira direta,

por meio de visitas in loco, e indireta, através de pesquisas em páginas eletrônicas, sendo

incluídas também referências formais com foco nas tensoestruturas. As referências diretas

foram exploradas com foco principal no programa de necessidades, na espacialização dos

ambientes e no porte da instituição, tendo sido visitadas duas localidades: o Espaço Marias

em julho de 2018 e o espaço destinado aos idosos (Universidade Aberta à Terceira Idade)

da UNP Unidade Roberto Freire em agosto do mesmo ano, ambas situadas em Natal. O

projeto de referência indireto, por sua vez, compreende o Espaço Social da Terceira Idade,

em Buenos Aires, o qual foi analisado com ênfase na configuração espacial, humanização

e flexibilidade. Por fim, foram utilizadas a Vila COP22, em Marrocos, e o anfiteatro da

Igreja Batista de Central de Fortaleza, no Ceará, como referência formal em virtude do

uso de membranas tensionadas.

4.1 ESTUDOS DE REFERÊNCIA DIRETOS

4.1.1 Espaço Marias

O Espaço Marias, entidade de cunho privado situada no bairro do Tirol, na Região

Administrativa Leste de Natal, surgiu com o propósito de atender ao público acima de 50

anos, tendo como bases o conhecimento, a arte, a socialização e a prática de exercícios

físicos. À princípio, a ideia central era atuar como um day-use, onde os associados

poderiam delongar-se durante todo o dia entre atividades variadas, englobando inclusive

as refeições. No entanto, de acordo com Patrícia Vasconcelos, sócia-administradora do

estabelecimento, esse modelo torna-se cansativo para os idosos por passarem muito

tempo longe de seus domicílios, além de demandar maiores esforços por parte da própria

organização. Por conseguinte, hoje o espaço funciona prioritariamente no período

vespertino, com uma programação diversificada que inclui aulas de dança, de yoga e de

pilates, palestras, cursos diversos, atividades manuais, lanches da tarde, rotinas de beleza,

entre outros.

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Figura 10 – Exterior do Espaço Marias.

Fonte: Lorena Jales (2018).

O local acolhe por volta de 15 mulheres de segunda a sexta-feira e funciona numa

charmosa residência térrea de aproximadamente 850 m² marcada pelos arcos abatidos

das esquadrias e da varanda e pela cobertura em telha colonial. O empreendimento busca

transmitir às associadas à ambiência aconchegante de um lar e assim evitar que o espaço

seja encarado a partir de uma atmosfera institucional. Embora adaptações tenham sido

realizadas para receber as atividades propostas e atender às demandas de acessibilidade,

esse propósito permitiu que o ambiente permanecesse com “cara de casa” e fosse visto

pelas idosas como uma extensão de suas próprias moradias. A preservação dos principais

elementos arquitetônicos que compõem a estrutura formal da edificação, como é possível

notar na Figura 11, contribuiu de maneira significativa para a conservação da ambiência

pretendida.

Figura 11 – Fachadas do Espaço Marias.

A: Fachada frontal. B: Varanda com espaço de convivência.

Fonte: Lorena Jales (2018).

No tocante à configuração espacial, o edifício é zoneado, em síntese, em cinco

setores: o Setor Administrativo, o menor de todos, compreendendo apenas recepção, sala

da administração e lavabo; o Setor de Espaços Multiuso, o qual abriga lanches da tarde,

aulas diversas e cuidados ao ar livre; o Setor de Atividades Específicas, onde ocorrem rodas

de conversa com recursos multimídia, aulas de pilates e oficinas de maquiagem; o Setor

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de Atividades Manuais, que, embora já possua mobiliário adequado, ainda não foi

efetivamente implementado; e o Setor de Serviços, englobando cozinha, área de serviço,

banheiros e depósitos. Ressalta-se ainda que o espaço contempla também uma piscina na

área externa, no entanto, por não apresentar as adaptações de acessibilidade adequadas

e também não possuir sistema de aquecimento da água, não é utilizada para os fins da

atual proposta da edificação.

Figura 12 – Configuração espacial do Espaço Marias.

Fonte: Elaboração própria (2018).

Durante a visita, foram observadas as seguintes atividades destinadas aos idosos:

roda de conversa com assuntos específicos, serviço de cuidados com as mãos e os pés,

lanche da tarde e aula de dança, ações realizadas principalmente nos ambientes de

multiuso. Uma vez questionada sobre a adaptabilidade dos espaços, a referida sócio

administradora destacou que o funcionamento da organização poderia facilmente ser

resumido a esses locais, acentuando a ideia de flexibilidade aplicada nesse tipo de

proposta.

Outro considerável fator atrai as atividades para esses ambientes em especial: o

conforto proporcionado pelo adequado aproveitamento da ventilação e da iluminação

naturais. Um amplo pátio aberto e sombreado no período vespertino, o qual funciona

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como uma grande varanda, permite às usuárias utilizar o local com tranquilidade e frescor,

o que contribui para o seu bem-estar.

4.1.2 Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI – UNP)

A Universidade Aberta à Terceira Idade é um programa de dedicação ao idoso

aplicado em diversas instituições educativas do Brasil com o intuito de oferecer uma ação

multiprofissional e interdisciplinar àqueles que buscam uma melhor qualidade de vida na

longevidade. Nessa perspectiva, a Universidade Potiguar abre suas portas aos indivíduos

acima de 40 anos em suas unidades Roberto Freire, Floriano Peixoto e Salgado Filho, a

depender do curso disponibilizado, sendo todas situadas no município de Natal.

Conforme aponta Silva (2015, p. 33), o objetivo é integrar os participantes à comunidade

favorecendo a troca de informações, desenvolvendo habilidades, construindo novos

projetos de vida e estabelecendo novos relacionamentos sociais e afetivos.

Os cursos compreendem atividades direcionadas ao conhecimento, lazer e bem-

estar, distribuindo-se nas três unidades: Informática - Interatividade com o Celular,

Hidroginástica, Ginástica com Consciência Corporal, Oficina da Memória, Canto Coral,

Desenho Artístico, Pintura em Tela, Língua Inglesa (Básico e Avançado) e Língua Espanhola

(Básico e Avançado). Para a realização do presente estudo direto, foi visitada a unidade

da Avenida Engenheiro Roberto Freire, de modo que foram analisadas a distribuição

espacial dos ambientes voltados a essas atividades, a acessibilidade, a mobilidade e ainda

aspectos referentes ao conforto ambiental.

Figura 13 – Universidade Potiguar – Unidade Roberto Freire.

Fonte: Google Street View (2018).

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A edificação, além do funcionamento da UnATI, também abriga os cursos de

graduação e de pós-graduação ofertados pela Universidade Potiguar, o que gera alguns

conflitos quanto a espacialização dos ambientes. Por se tratarem principalmente de idosos,

os quais podem apresentar certas dificuldades de orientação, o ideal seria a fácil

localização dos espaços com a intenção de simplificar o uso e o deslocamento. No

entanto, o que se observa na instituição é a má-distribuição dos ambientes proporcionada

pelo distanciamento entre o setor administrativo e o setor pedagógico: a recepção e a

coordenação do programa situam-se no primeiro pavimento, enquanto as salas de aula

localizam-se no terceiro pavimento, integrando-se às demais cursos da entidade. Embora

existam escadas e elevadores disponíveis, mesmo que incompatíveis com as normas de

acessibilidade, o senso de orientação ainda é comprometido pela ineficiente disposição

das salas.

Durante a visita, as seguintes atividades estavam sendo propiciadas: Pintura em

Tela e Desenho Artístico. Em ambas, percebe-se que os espaços possuíam outro uso

anteriormente e foram adaptados para receber esse novo tipo de ocupação. O mobiliário

aglomerado, em especial na aula de Pintura em Tela, dificulta a locomoção no ambiente,

a iluminação artificial ofuscante também não condiz com o a atividade e a reverberação

do som gera ruídos além do limite do conforto. Foi verificado ainda que a iluminação e

a ventilação natural não são utilizadas como ponto favorável no projeto.

Figura 14 – Atividades desenvolvidas no momento da visita

A: Pintura em Tela. B: Desenho Artístico.

Fonte: Lorena Jales (2018).

Apesar dos problemas elencados, o estudo direto realizado nessa edificação

contribuiu para a elaboração do programa de necessidades e do pré-dimensionamento da

proposta do Centro de Convívio.

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4.2 ESTUDO DE REFERÊNCIA INDIRETO

4.2.1 Centro de Integração da Terceira Idade

O Centro de Integração da Terceira Idade é uma proposta de transformação da

Plaza Federico Froebel, localizada no bairro de Caballito da Cidade Autônoma de Buenos

Aires, em um espaço público de intercâmbio entre gerações com o propósito de priorizar

os hábitos e as necessidades da população idosa. O projeto faz parte do Concurso Ibero-

americano Estudantes de Arquitetura UFLO, organizado pela Universidade de Flores,

destacando-se como a proposição vencedora, a qual foi desenvolvida pelos estudantes

Federico Burstein, Agustin Camicha, Gaston Camicha e pelos colaboradores Martin

Larrañaga e Ignacio Molinari da Universidade de Buenos Aires O espaço verde

circundante da praça, portanto, foi reconfigurado – no campo das ideias – para receber,

em caráter permanente, atividades voltadas para os usuários da terceira idade.

Figura 15 – Centro de Integração da Terceira Idade.

Fonte: Agustin Camicha apud Archdaily (2017).

A solução concebida pelos autores resultou numa cobertura leve e permeável, que,

embora seja composta por uma trama vazada, proporciona o sombreamento prolongado

do local por meio da sua integração com a vegetação preexistente. Ademais, a estrutura

ainda tem a função de unificar todo o programa da proposta, de modo a garantir a

conotação de uniformidade pretendida pelo projeto. A partir da perspectiva explodida

da Figura 16, é possível observar a disposição dos espaços, bem como a malha de

cobertura incorporada ao entorno natural estendendo-se por toda a praça.

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Figura 16 – Perspectiva explodida do Centro de Integração da Terceira Idade.

Fonte: Agustin Camicha apud Archdaily (2017).

Além dos pontos citados, os criadores (apud DEJTIAR, 2017) também ponderam

que “os usuários nem sempre têm a mesma energia ou possibilidade de realizar as

diferentes atividades, já que nem todos têm as mesmas capacidades”. Em decorrência

disso, os espaços foram zoneados considerando uma franja ativa e outra passiva: a

primeira acomoda o programa com mais movimentos como danças, exposições, eventos,

oficinas e atividades físicas, como ioga; e a segunda. por outro lado, concentra-se

nos jogos de mesa, xadrez, cartas, leitura, relaxamento e descanso. Articulando-se ainda

a essas duas franjas, três espaços verdes atuam como pátios. As plantas baixas abaixo

(Figura 17) contemplam o programa esquemático da proposta.

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Figura 17 – Plantas Baixas esquemáticas do Centro de Integração da Terceira Idade.

Fonte: Agustin Camicha apud Archdaily (2017).

O Centro de Integração da Terceira Idade, diante do exposto, contribui para o

projeto do Centro de Convívio por levar em consideração os elementos preexistentes,

expressar a ideia de unidade entre os espaços através de uma grande cobertura e ainda

por meio do programa e da distribuição dos espaços apresentados.

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4.3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA FORMAIS

4.3.1 Vila COP22

A Conferência das Partes consiste no encontro anual de representantes de

inúmeros países com o propósito de discutir questões a respeito do futuro do planeta de

modo a direcionar soluções para os problemas ambientais e negociar acordos. A

conferência do ano de 2016 – COP22 – foi realizada na cidade de Marrakesh, no

Marrocos, sendo delegado ao escritório OUALALOU + CHOI a responsabilidade de

projetar os espaços expositivos destinados ao evento. Embora a proposta compreenda

diversos edifícios, para o presente estudo de referência formal, foi observado meramente

o eixo compreendido pela membrana tensionada exposta na Figura 18.

Figura 18 – Vistas da Vila COP22

A: Vista interna da Vila COP22. B: Vista externa da Vila COP22

Fonte: Luc Boegly apud Archdaily (2017).

A estrutura localiza-se em frente à muralha histórica da cidade e conecta as

edificações aos dois dos principais caminhos da cidade, enfatizando o papel da arquitetura

na criação do território urbano. Ainda que muito recorrente na fração oriental do globo,

a superfície sob tração é apresentada como solução projetual pelos arquitetos em

decorrência da finalidade temporária do evento, visto que o mesmo delonga-se por

apenas poucos dias. A sua característica de instalação totalmente desmontável, aliada ao

conceito de sustentabilidade propagado pela própria conferência, possibilita a reutilização

de todo o equipamento ao término da convenção e evita a sua curta vida útil.

Ao todo, a coluna vertebral central desdobra-se por uma extensão de 680 metros

de comprimento por 18 metros de largura e funciona como uma grande circulação

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protegida a qual articula os diferentes pavilhões, como pode ser visualizado a partir da

implantação apresentada na Figura 19.

Figura 19 – Implantação da Vila COP22

Fonte: Luc Boegly apud Archdaily (2017).

Destaca-se ainda que a geometria irregular e a composição dos tecidos, bem o seu

efeito translúcido enquanto permanece impermeável – devido à aplicação de laminado

de PVC semitransparente, proporcionam uma estética interessante ao projeto.

4.3.2 Anfiteatro da Igreja Batista Central de Fortaleza

O anfiteatro da Igreja Batista Central de Fortaleza, no Ceará, também tomado

como referência em virtude do uso de estrutura tracionada, localiza-se às margens da

rodovia BR 116, nos arredores da capital. Conforme o Portal Metálica (2018), a membrana

é considerada uma das maiores tensoestruturas contínuas do país e foi confeccionada em

material de alta resistência, na cor branca, semitranslúcida, e engloba uma área de 3.500

m². Foi projetada para abrigar aproximadamente 2.500 pessoas sentadas, e conta ainda

com um palco cênico de 20 metros.

O mesmo portal ainda assinala a sua composição estrutural:

- Tecido estrutural com acabamento em PVDF e superfície em PVC;

- 02 mastros metálicos centrais equidistantes principais com altura de 21 metros e

respectivas bases em concreto;

- 07 mastros secundários com alturas de 4,0 e 6,0 metros, em perfis tubulares

duplos, montados na forma de “V” invertidos, localizados nos vértices inferiores

periféricos e respectivas bases;

- 07 blocos de ancoragem para fixação dos cabos esticadores principais.

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Figura 20 – Vista aérea do Anfiteatro da Igreja Batista Central de Fortaleza

Fonte: Portal Metalica (2018).

O projeto do ano de 2003 também ganhou notória importância no cenário da

engenharia civil devido ao uso de processos computacionais altamente complexos e

interativos, o que minimizou a possibilidade de erros. O método foi empregado desde a

concepção arquitetônica inicial, passando pela determinação da forma, cálculo das

tensões, padronização dos cortes e soldagem molecular do tecido, até o detalhamento

final das interfaces, das peças metálicas e assessórios, todos os desenhos e informações do

comportamento estrutural (PORTAL METALICA, 2018).

Figura 21 – Projeto do Anfiteatro da Igreja Batista Central de Fortaleza

A: Planta de Cobertura. B: Planta Baixa.

Fonte: Luc Boegly apud Archdaily (2017).

Propor essa obra como referência também tem a intenção de pontuar o uso desse

tipo de solução na Região Nordeste, onde as temperaturas mais altas prevalecem. Com

isso, observa-se que, no tocante ao conforto térmico, a estrutura tensionada mostra-se

como uma alternativa também possível de ser aplicada.

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5 CONDICIONANTES PROJETUAIS

A proposta arquitetônica do Centro de Convívio para a pessoa idosa ativa levou

em consideração, além das proposições teóricas e dos estudos de referência já tratados

anteriormente, os condicionantes referentes à área de intervenção e ao tipo de construção

proposto. Portanto, a seguir estão elencadas as análises do terreno e do entorno,

envolvendo questões físicas, ambientais e legais a respeito do presente projeto, bem como

o programa de necessidades com o devido pré-dimensionamento dos ambientes, os quais

atuaram como ponto de partida para a concepção do presente projeto.

5.1 O TERRENO E SEU ENTORNO

A definição da localização do Centro de Convívio considerou a representatividade

do público-alvo em cada Zona Administrativa de Natal e também o entorno do possível

espaço, com vistas a privilegiar o acesso por parte do idoso, bem como a ambiência de

tranquilidade, considerada necessária nesse tipo de projeto. Conforme dados da Secretaria

Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB) baseados nos Censos Demográficos

de 2000 e 2010 e na contagem populacional do ano de 2007 realizados pelo IBGE, as

Zonas Administrativas Leste e Sul apresentam o maior número de idosos da cidade.

Tomando como base essas informações, o terreno situa-se à Rua dos Tororós, no bairro

de Lagoa Nova, em Natal, Rio Grande do Norte, como representado na Figura 22.

Figura 22 – Localização do Centro de Convívio para a pessoa idosa ativa

Fonte: SEMBURB, 2007 (adaptado pela autora).

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Essa localidade é favorecida pelo seu entorno, o qual se constitui prioritariamente

por tipologias residenciais e pelo baixo fluxo de veículos, contribuindo para os baixos

níveis de ruídos e configurando numa atmosfera mais intimista. A região é também

circundada por estabelecimentos de serviço e comércio no perímetro das Av. Antônio

Basílio e Av. Bernardo Vieira, as quais são bem atendidas por transporte público e de fácil

acesso de qualquer ponto da cidade. Destaca-se ainda que a área é ocupada, de modo

geral, por edificações térreas ou de até três pavimentos, salvo poucas exceções. Os mapas

de uso do solo e de gabarito dispostos a seguir comprovam essas considerações.

Figura 23 – Mapa de uso do solo do entorno do terreno.

Fonte: SEMBURB, 2007 (adaptado pela autora).

Figura 24 – Mapa de gabarito do entorno do terreno.

Fonte: SEMBURB, 2007 (adaptado pela autora).

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55

Além disso, outro fator que incrementou a escolha por esse terreno foi a

proximidade como o bairro do Alecrim, grande aglutinador de pessoas idosas, em razão

de integrar a consolidação inicial da cidade, e ainda o bairro vizinho Dix-Sept Rosado

(Figura 25). Cabe também ressaltar que o espaço compreende a antiga área de lazer da

extinta Escola Estadual Professor Acrísio Freire e pertence hoje ao Grupamento de Busca

e Salvamento do Corpo de Bombeiros Militar, encontrando-se atualmente subutilizado,

uma vez que as atividades da instituição localizam-se apenas na região frontal do terreno.

Figura 25 – Mapa de indicação dos bairros vizinhos.

Fonte: SEMBURB, 2007 (adaptado pela autora).

5.2 CONDICIONANTES LEGAIS

Quanto aos condicionantes legais, foram observadas as recomendações e as

restrições aplicadas a esse tipo de projeto de acordo com legislação vigente,

compreendendo as normas apontadas a seguir: Plano Diretor de Natal, Código de Obras

de Natal, Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do RN, NBR

9050/2015 e RDC 2016/2004.

5.2.1 Plano Diretor de Natal

O Plano Diretor de Natal, por meio da Lei Complementar nº 082, de 21 de junho

de 2007, define o bairro de Lagoa Nova, onde está inserido o terreno da proposta, como

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uma zona adensável, considerando, desse modo, que o local apresenta “condições do

meio físico, disponibilidade de infraestrutura e necessidade de diversificação de uso,

possibilitarem um adensamento maior do que aquele correspondente aos parâmetros

básicos de coeficiente de aproveitamento” (NATAL, 2007). Além disso, a área encontra-

se no perímetro estabelecido como concentração de vilas e nas proximidades das favelas

Coqueiros e Coréia do Nilo, as quais integram a Mancha de Interesse Social, onde há o

predomínio da renda de até 03 salários mínimos. Ainda conforme a referida norma, o

bairro de Lagoa Nova não é especificado como controle de gabarito, não possui nenhuma

das Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) em suas imediações, não é área de Operação

Urbana, não é Zona Especial de Interesse Histórico e também não é Zona Especial de

Interesse Turístico.

Por fim, também são estabelecidas prescrições quanto aos recuos, gabarito,

coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação e permeabilidade para o local, estando

todos eles congregados na Tabela 02.

Tabela 02 – Mapa de indicação dos bairros vizinhos.

Recuos

Recuos Térreo Até 2º

Pavimento

Acima 2º

Pavimento

Frontal

Não

obrigatório

3,0 3,0 + H/10

Lateral

Não

obrigatório

1,5 em um dos

lados 1,5 + H/10

Fundos

Não

obrigatório

Não

obrigatório

1,5 + H/10

Limite de

Gabarito

90 metros

Coeficiente de

Aproveitamento 3,0

Taxa de

Ocupação Máx.

Até o 2º pav.: 80%

Taxa de

Permeabilidade Mín.

20%

Onde:

1. H – distância entre a laje de piso do 2º pavimento e a laje de piso do último pavimento

útil.

2. 2º pavimento – primeiro pavimento elevado.

3. Considerem-se todas as medidas em metros.

Fonte: Natal, 2007 (adaptado pela autora).

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5.2.2 Código de Obras de Natal

O Código de Obras de Natal, em vigor a partir da Lei Complementar nº 055, de

27 de janeiro de 2004, define parâmetros com relação a aspectos que interferem na

insolação, iluminação e ventilação, bem como a respeito dos acessos e estacionamentos

para a edificação, dentre outras recomendações. Tais diretrizes são atribuídas com o

intuito de garantir o mínimo de conforto para o projeto, em diversos âmbitos, e torna-lo

capaz de atender às demandas urbanas, de tráfego e de acessibilidade.

De acordo com a legislação citada, todos os compartimentos devem possuir

aberturas diretas para logradouro, pátio ou recuo, devendo as superfícies voltadas para o

exterior apresentar ao menos 1/6 da área de ambiente de uso prolongado e de 1/8 da

área de ambientes de uso transitório. Quanto aos acessos, os direcionamentos atuam no

sentido de não criar ou agravar problemas de tráfego nas vias decorrente da entrada e

saída de veículos. Já os estacionamentos devem possuir dimensão mínima de 2,40m por

4,50m e apresentar número de vagas segundo a classificação da via de acesso: uma vez

que a Rua dos Tororós é definida como coletora e levando em consideração que o uso

do edifício compreende prioritariamente serviços de educação em geral, será necessária

01 vaga a cada 50 m², além de casa de lixo e espaço para embarque e desembarque.

5.2.3 Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do RN

Em conformidade com o Código de Segurança e Prevenção Contra Incêndio e

Pânico do Estado do Rio Grande do Norte , a proposta do Centro de Convívio para idoso

é especificada como ocupação Reunião Pública e de Risco II. Diante dessa classificação, a

norma indica exigências de dispositivos de proteção contra incêndio a depender da área

construída e da altura da edificação. Portanto, uma vez que a proposta designa-se com

altura entre seis e quinze metros e área construída superior a 750 m², deve considerar a

instalação de: prevenção fixa (hidrantes); prevenção móvel (extintores de incêndio);

chuveiros automáticos (sprinkler) nas circulações e área comuns; iluminação de

emergência; sinalização; escada convencional; e hidrante público.

5.2.4 NBR 9050/2015

A Norma Brasileira de acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e

equipamentos urbanos, publicada em sua terceira edição no ano de 2015, estabelece

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critérios e parâmetros visando a utilização segura dos espaços por toda e qualquer pessoa.

Dentre as recomendações, destacam-se adiante as mais significativas para o projeto

proposto:

Quanto à informação e sinalização: deve ser autoexplicativa, perceptível e legível,

com textos complementados por símbolos; classifica-se como informativa,

direcional ou de emergência e também como sonora, visual ou tátil;

Quando aos acessos e circulação: o projeto deve considerar pelo menos uma rota

acessível, a qual é definida como trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que

conecte os ambientes externos ou internos de espaços e edificações, e que possa

ser utilizado de forma autônoma e segura por todas as pessoas; a circulação pode

ser horizontal ou vertical, podendo esta ser realizada por meio de escadas, rampas

ou equipamentos eletromecânicos e sendo considerada acessível quando atender

no mínimo a duas formas de deslocamento vertical; os corredores de uso público

devem apresentar no mínimo 1,50 m; as portas devem possuir vão livre de pelo

menos 80 cm; os estacionamentos devem prever vagas para veículos que

conduzam ou sejam conduzidos por idosos ou pessoas com deficiência, as quais

devem ser posicionadas próximas das entradas, garantindo o menor percurso de

deslocamento;

Quanto aos sanitários, banheiros e vestiários: a localização dos dispositivos

acessíveis deve ser dada em rotas acessíveis, próximas ou integradas aos demais,

estando devidamente sinalizados; a distância máxima a ser percorrida de qualquer

ponto da edificação até o sanitário ou banheiro acessível deve ser de até 50 m; o

número de instalações acessíveis considerar no mínimo 5% do total de cada peça

sanitária, com no mínimo um para cada sexo em cada pavimento, onde houver

sanitários, com entrada independente; o boxe sanitário acessível deve possuir área

necessária para garantir a transferência lateral, perpendicular e diagonal para a

bacia sanitária;

Quanto ao mobiliário: todo o mobiliário interno deve ser acessível e atender aos

princípios do desenho universal.

5.2.5 RDC 216/2004

A Resolução-RDC n° 216, de 15 de setembro de 2004, estabelece recomendações

considerando a necessidade de constante aperfeiçoamento das ações de controle sanitário

na área de alimentos visando a proteção à saúde da população. Embora não se trate de

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uma edificação com foco alimentício, a norma foi congregada ao estudo dos

condicionantes legais para o projeto em virtude da possibilidade de ser incorporada uma

cozinha didática para desfrute dos idosos. Logo, seguem-se as principais diretrizes que

podem ser aplicadas à proposta:

Piso, parede e teto com revestimento liso, impermeável e lavável;

Telas milimetradas nas janelas e no sistema de exaustão;

Ralos sifonados e grelhas que permitam o seu fechamento;

Iluminação apropriada e protegida contra explosão e quebras acidentais;

Garantir a renovação do ar;

Lavatórios exclusivos para higiene das mãos;

Superfícies dos equipamentos, móveis e utensílios devem ser lisas, impermeáveis,

laváveis e estar isentas de rugosidades, frestas e outras imperfeições.

5.3 CONDICIONANTES FÍSICAS

Com aproximadamente 7.000 m² de área total, o terreno onde será implantado

o Centro do Convívio para idosos dispõe de um único acesso – a partir da Rua dos

Tororós, e apresenta topografia plana, de modo a favorecer a questão da acessibilidade.

Sua forma é trapezoidal, com testada frontal de 69m, enquanto as dimensões laterais são

de 98.50m e 104.3m, tornando inclinada a fachada posterior, a qual possui 69.25m.

Quanto à vegetação existente, o local conta com alguns arbustos e uma árvore de grande

porte, a única a ser considerada nas decisões projetuais. Tais aspectos podem ser

conferidos no esquema e na vista aérea da Figura 26.

Figura 26 – Condicionantes físicas do terreno.

A: Vista aérea do terreno. B: Esquema das condicionantes.

Fonte: Google Street View/Elaboração própria.

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60

5.4 CONDICIONANTES AMBIENTAIS

No tocante aos condicionantes ambientais, a NBR 15220-3/2003 foi ponderada

como elemento norteador, visto que apresenta recomendações quanto ao desempenho

térmico de edificações em fase de projeto de acordo com a localidade. Em decorrência

do seu clima quente e úmido, a referida norma insere o município de Natal na Zona

Bioclimática 8 e, com vistas a favorecer o conforto no interior do edifício, sugere o uso

de ventilação cruzada permanente, grandes aberturas sombreadas e paredes e cobertura

leves e refletoras. Tais diretrizes, por conseguinte, fomentaram a análise da direção dos

ventos para o melhor aproveitamento da corrente de ar natural e o percurso solar com o

intuito de proporcionar um sombreamento efetivo, em especial durante as horas mais

quentes do dia.

A ventilação natural do terreno, portanto, é apreendida por meio da Rosa dos

Ventos da cidade de Natal expressa a partir da Figura 27, na qual se observa uma maior

incidência na direção Sudeste, embora apresente oscilações nos sentidos Leste e Sul. Logo,

a ventilação cruzada na edificação deverá ser canalizada mediante grandes aberturas

sombreadas na fachada frontal do edifício, onde os ventos são predominantes. Destaca-

se também que a árvore existente na região frontal do terreno funciona como barreira,

mas ainda permite a passagem da corrente de ar pelo seu envolto.

Figura 27 – Condicionantes Ambientais – Direção dos Ventos.

A: Rosa dos Ventos para Natal. B: Direção dos ventos no terreno.

Fonte: INPE-CRN, 2009 (A). Elaboração própria (B).

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A trajetória solar e sua interferência nas decisões de projeto, por sua vez, são

indicadas, via de regra, pelas testadas que recebem maior insolação do nascente e do

poente, sendo as mais difíceis de sombrear. Desse modo, como é possível perceber na

Figura 28, o terreno proposto recebe maior incidência do sol principalmente nas fachadas

posterior e frontal, as quais merecem um tratamento adequado. Essa disposição pode

implicar também nas configurações de planta baixa e de implantação, uma vez que

direciona a localização das áreas molhadas, da piscina e da vegetação com a intenção de

proporcionar sombreamento.

Figura 28 – Condicionantes físicos e ambientais.

Fonte: Elaboração própria.

Destaca-se ainda que, embora na vizinhança do terreno hajam duas torres

residenciais com 15 pavimentos e altura aproximada de 45 metros, as edificações não

proporcionam sombreamento do terreno da proposta.

5.5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

O programa de necessidades para atender a presente proposta foi elaborado com

base nas recomendações da Portaria nº 73/2001 do Ministério da Previdência e Assistência

Social (MPAS), a qual regula os serviços de atenção ao idoso no Brasil, e ainda levando

em consideração os estudos de referência realizados em ambientes voltados para a terceira

idade, já expostos no capítulo anterior. As diretrizes de ambos os objetos também foram

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tomadas como parâmetro para a definição do pré-dimensionamento, além de ponderar

ainda os padrões sugeridos por Neufert (2013), em A arte de projetar em arquitetura.

Conforme trata a Portaria nº 73/01, os centros de convivência para idosos podem

incluir as seguintes atividades:

artística ou cultural (folclore, teatro, oficinas, música, dança, coral, modelagem,

pintura, artesanato, etc.);

educativa: palestras, seminários ciclos de debates (saúde física e mental na velhice,

AIDS, consumo de drogas, alcoolismo, relação intergeracional, assistência social,

justiça, direitos humanos, religiosidade, lazer, cultura, ecologia) filmes e vídeos,

cursos em diversos níveis, incluindo alfabetização;

sociabilidade: comemorações ou calendário festivo;

políticas públicas; físicas: hidroginástica, ginástica, caminhadas, alongamento,

atividades esportivas etc.;

viagens, excursões, passeios;

jardinagem e horticultura;

vocacionais/produtivas: treinamento vocacional, formação de cooperativas de

produção.

No campo da gestão, a norma ainda sugere: um coordenador e um corpo técnico

que pode ser idealmente composto por assistente social, psicólogo, terapeuta

ocupacional, professor de educação física, entre outros.

Diante desses dados, a presente proposta considerou o programa de necessidades

prévio da edificação a partir do seguinte zoneamento: Setor I – Administrativo/Atenção

ao Idoso; Setor II – Aprendizado; Setor III – Sociabilidade; Setor IV – Serviço; e Setor V –

Atividades Externas. Na tabela 03, portanto, estão elencados os ambientes, considerando

atividade, quantidade, capacidade e área pré-dimensionada.

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Tabela 03 – Programa de necessidades e pré-dimensionamento dos ambientes

AMBIENTE QUANT. ATIVIDADE CAPAC. PRÉ-DIMENS. A

DM

IN

IST

RA

ÇÃ

O/A

TEN

ÇÃ

O A

O ID

OSO

Recepção 01

Recepção, espera e

atendimento ao

público em geral.

- 40 m²

Coordenação 01

Coordenação geral

das atividades,

realização de

pequenas reuniões e

atendimento ao

público.

01 estação de

trabalho. 12 m²

Secretaria 01

Atividades

administrativas em

geral, arquivo de

documentos e

atendimento ao

público em geral.

04 estações

de trabalho. 25 m²

Reunião 01

Reunião de

professores,

coordenadores,

orientadores e outros

responsáveis.

- 20 m²

Almoxarifado 01

Guarda de materiais

administrativos,

pedagógicos e

outros.

- 12 m²

Acolhimento 01

Acolhimento ao

público em geral,

principalmente em

situações de risco.

01 estação de

trabalho. 12 m²

Assist. Social 01

Acolhimento ao

público em geral,

principalmente com

serviços de assistência

social.

01 estação de

trabalho. 12 m²

Psicologia 01

Atendimento

psicológico aos

usuários.

01 estação de

trabalho. 12 m²

Nutrição 01

Atendimento

nutricional aos

usuários.

01 estação de

trabalho. 12 m²

Primeiros Socorros 01

Atendimento de

primeiros socorros

aos usuários.

Espaço para

maca. 12 m²

APR

EN

DIZ

AD

O Mini auditório 01

Cursos, palestras,

apresentações e

reuniões coletivas

gerais.

50 usuários. 60 m²

Cozinha didática 01

Atividades coletivas

gerais relacionadas

ao cozinhar.

10 usuários. 60 m²

Espaço literário 01

Empréstimo, troca e

leitura ocasional de

obras literárias.

20 usuários. 40 m²

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Sala Multiuso 03

Atividades coletivas,

que requerem maior

espaço ou interação

entre grupos.

20 usuários. 40 m²

Laboratório de

informática 01

Atividades de

informática e das

ciências da tecnologia

de comunicação e

informação.

20 usuários. 40 m²

Sala de dança 01

Atividades coletiva e

exercícios físicos

relacionados à dança.

20 usuários. 40 m²

Sala de Pilates 01

Exercícios físicos

relacionados à

prática do Pilates.

15 usuários. 40 m²

SO

CIA

BILID

AD

E

Salão multiuso

com palco

01

Realização de

atividades coletivas

de socialização e

aprendizado.

250 usuários. 200 m²

Lanchonete/Café 01

Venda e a

distribuição de

lanches e refeições.

- 30 m²

SER

VIÇ

O

Refeitório de

funcionários 01

Preparação de

alimentos rápidos e

alimentação.

- 30 m²

Depósito de Mat.

de Limpeza 01

Armazenamento de

utensílios e materiais

de limpeza.

- 20 m²

Vestiário de

funcionários 02

Espaços destinados à

higiene dos

funcionários.

- 30 m²

Estacionamento 01 Estacionamento de

veículos. 44 vagas 600 m²

ÁR

EA

EX

TER

NA

Área de jogos 01

Atividades gerais,

podendo envolver

jogos principalmente

de tabuleiro.

- 40 m²

Academia

descoberta 01

Prática de atividades

de educação física

com mobiliário de

academia.

- 40 m²

Piscina 01

Prática de atividades

de educação física,

hidroginástica e

outros esportes

aquáticos.

- 160 m²

HIG

IEN

E

Sanitários 02 Espaços destinados à

higiene dos usuários. - 30 m²

Vestiários 02 Espaços destinados à

higiene dos usuários. - 30 m²

Circulação - - 10% da área. 192,50 m²

ÁREA TOTAL PREVISTA 2.117,50 m²

Fonte: Elaboração própria (2018).

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6 CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA

Uma vez delineado o referencial teórico, assim como as referências projetuais, e

conhecidos os devidos condicionantes, sucedeu-se então o efetivo desenvolvimento da

proposta. Os parâmetros iniciais que direcionaram a concepção do anteprojeto do Centro

de Convívio para idosos, a serem apresentados na sequência, compreendem o conceito,

o partido e os estudos preliminares, agregando a evolução da forma e os primeiros

zoneamentos.

6.1 CONCEITO E PARTIDO

O conceito da proposta arquitetônica incorpora as características principais as

quais se pretendee alcançar a partir da edificação: leveza, fluidez, continuidade e

permeabilidade, tanto visual quanto em relação ao conforto. Para transmitir esse perfil,

portanto, a pipa foi designada como elemento norteador da ideia inicial, uma vez que é

definida como um elemento estruturado por varetas e um fino papel que se sustenta por

uma linha e flutua no ar, o que evidencia principalmente o aspecto da leveza almejado.

Destaca-se, nesse ponto, que a busca por essa conjuntura direcionou também a definição

do sistema estrutural: a lona tensionada, já explicitada no capítulo 3.

O partido formal, por sua vez, baseia-se na perspectiva de que uma grande

estrutura independente de cobertura possa envolver os ambientes internos os quais teriam

a possibilidade de ajustar-se às exigências específicas de cada ocasião. Tal princípio

desponta da marcante multiplicidade de uso dos espaços que ocorre nesse tipo de projeto

e culmina no emprego dos preceitos da flexibilidade e na utilização da membrana sob

esforços de tração.

6.2 ESTUDOS PRELIMINARES

Com base no conceito e no partido definidos, decorreu-se a proposta, sendo

exposto na sequência o processo de criação da forma e do zoneamento.

6.2.1 Evolução da forma

Como tratado anteriormente, a forma da edificação é baseada na ideia da grande

cobertura independente a qual envolve os ambientes internos. Desse modo, a solução

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empreendida concretiza-se a partir de uma membrana tensionada, adotada em virtude da

leveza almejada e ainda da possibilidade de alcançar grandes vãos, o que permite uma

configuração espacial mais livre. Embora os espaços inferiores também integrem a forma

projeto, os mesmos são estruturados em decorrência da disposição da planta baixa, cujo

desenvolvimento será descrito no item seguinte. Com isso, o presente tópico é dedicado

apenas ao processo de concepção da cobertura.

Os primeiros pensamentos formais foram transmitidos para o papel por meio de

desenhos à mão, como se observa na Figura 29, e permearam no sentido de perceber

como o tecido poderia se comportar diante da organização dos pilares. Assim, num

primeiro momento, testou-se a lona totalmente suspensa por mastros (A); em seguida,

totalmente fixa no solo com estrutura em forma de arco (B); e, por fim, intercalada com

parte fixa em mastros e parte no solo. A última solução então foi admitida por direcionar

os usuários a uma entrada principal e por conotar um efeito de movimento, mesmo que

essa característica tenha sido descartada a posteriori em favor da continuidade e leveza

estabelecidas no conceito.

Figura 29 – Evolução da forma – Primeiros croquis.

Fonte: Acervo próprio.

Outro ponto significativo considerado para a solução formal foi a fragilidade do

próprio material em ser danificado ou até mesmo rasgado e queimado, recomendando-

se o seu afastamento do solo e evitando um livre acesso para o público em geral. Logo,

para manter a percepção das diferentes alturas entre os pontos de apoio da lona, adotou-

se a sua fixação em pilares com dimensões distintas. A Figura 30 apresenta um novo croqui

onde são rebatidas as novas ideias esquematizadas: menos movimento e distanciamento

do tecido do solo, bem como a introdução de estruturas de sustentação em forma de “V”

invertido.

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Figura 30 – Evolução da forma – Croqui com novas ideias.

Fonte: Acervo próprio.

Além dos desenhos à mão, também se utilizou a maquete física com o propósito

de observar, na prática, os principais pontos de tensão, bem como perceber a viabilidade

da construção. Como já exposto, essa técnica é utilizada com frequência no processo de

concepção de uma membrana tensionada, posto que os softwares computacionais e o

próprio papel não representam fielmente os efeitos da gravidade sobre a estrutura.

Por meio desse recurso, portanto, foi adotada uma malha com um total de doze

pilares em “V” invertido, alinhados de maneira sequencial, como é possível notar a partir

da Figura 31. A modulação, método amplamente contemplado pelos preceitos da

flexibilidade, acontece também na altura dos mesmos, os quais apresentam dimensão, a

princípio e para efeito de estudo da forma, de 4, 8 e 12 metros. A região mais alta

configura-se como a entrada principal da edificação.

Figura 31 – Evolução da forma – Maquete física.

Fonte: Acervo próprio.

Após a elaboração da maquete física e diante da confirmação da viabilidade do

projeto, no entanto, tencionou-se efetuar outros testes com a intenção de acentuar a ideia

de movimento, agora por meio da ferramenta eletrônica do SketchUP. Com isso, ocorreu

o desalinhamento dos pilares mediante a sua torção uns em relação aos outros (sem

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modificar o ponto de tração) e ainda se intensificou as diferenças de suas alturas, além de

admitir uma nova forma de cone no centro da edificação (Figura 32).

Figura 32 – Evolução da forma – Maquete eletrônica inicial.

Fonte: Acervo próprio.

Essa ideia, contudo, apresentada na ocasião da avaliação da pré-banca, não

transmitiu de maneira fidedigna o conceito estabelecido no início da concepção, uma vez

que se configurou como uma forma ainda um tanto quanto irregular, pesada e

conturbada. Por conseguinte, efetuaram-se novas modificações que culminaram no

resultado final da proposta: cone central acentuando o delineado do edifício com

abertura superior funcionando também como saída do ar quente, maior constância entre

os pilares e menos movimentação entre os pontos de apoio da lona. A solução

apresentada também considera a indicação dos cortes no tecido membranoso, o que

também proporciona um efeito estético interessante. Logo, conforme se observa na Figura

33, tais atributos contemplam os aspectos principalmente de continuidade, fluidez e

leveza almejados.

Figura 33 – Evolução da forma – Maquete eletrônica final.

Fonte: Modelagem pela autora/ Render por Ricardo Cortez.

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6.2.2 Evolução da proposta

Assim como aconteceu com a evolução formal, até alcançar a efetiva proposta de

configuração espacial da edificação, permeou-se por diversos ensaios no sentido de buscar

a melhor adequação ao programa de necessidades e pré-dimensionamento já instituídos.

O croqui foi o instrumento utilizado para materializar a concepção do zoneamento,

enquanto o uso de papeis recortados direcionaram o desenvolvimento da planta baixa

propriamente dita. Nesse ponto, portanto, serão apresentadas as etapas sequenciais que

sucederam o resultado final, ressaltando as estratégicas que fomentaram cada uma das

proposições.

Destaca-se, inicialmente, que a primeira questão considerada para elaboração das

propostas foi a definição do número de pavimentos do projeto, posto que implica

diretamente na temática da acessibilidade. Por se tratar de um espaço voltado em especial

para a Terceira Idade, o uso de circulação vertical, por si só, pode ser encarado como um

obstáculo. Em decorrência disso e também com a intenção de priorizar a fluidez no

interior do edifício, resolveu-se que uma solução térrea é capaz de melhor atender ao

público especificado.

Os zoneamentos iniciais buscaram localizar os setores da edificação em razão da

trajetória solar, como pode-se notar na Figura 34. Com essa conformação quase linear, a

implantação sugere a disposição do edifício de maneira diagonal ao terreno, de modo

que o Setor de Serviços e o Setor Administrativo e de Atenção funcionariam como

proteção para os demais dedicados ao público idoso. Todavia, essa proposta desvaloriza

uma adequada integração entre os setores, bem como desconsidera a localização ideal

para a piscina para oeste, onde estaria favorecida por receber o sol do período vespertino.

Diante disso, foi descartada antes mesmo de serem observadas as suas implicações quanto

à volumetria.

Figura 34 – Evolução da proposta – Primeiros croquis.

Fonte: Acervo próprio.

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Para as concepções seguintes, perpetuou-se apenas a compreensão de proteger os

ambientes voltados para os longevos dos impactos da insolação nos horários mais críticos.

Além desse preceito, a nova proposta também se embasou na ideia de facilitar o acesso e

a orientação, uma vez que se trata de um espaço prioritariamente com usuários da

Terceira Idade. Dessa forma, para melhor direcionar o público ao adentrar na edificação,

a estratégia foi integrar todos os setores à recepção ou ao salão principal, à exceção do

Setor de Serviços. Assim, ao chegarem, através do Setor de Administração e Atenção, os

idosos poderiam ser prontamente dirigidos aos setores de seu interesse, estando a área de

aprendizado centralizada e a área de sociabilidade localizada à direita, como pode ser

visualizado no zoneamento da Figura 35. Essa configuração, no entanto, ao serem

observadas as questões volumétricas e a própria disposição definitiva de planta baixa,

sofreu alguns ajustes até culminar na última proposta.

Figura 35 – Evolução da proposta – Novos croquis de zoneamento.

Fonte: Acervo próprio.

O resultado final, por conseguinte, congrega ambas as ideias centrais das

proposições anteriores: conforto térmico proveniente do adequado zoneamento dos

setores da edificação e facilidade de acesso e orientação. A piscina posiciona-se de maneira

a receber o sol da tarde, bem como o Setor de Serviços busca proteger os demais da

insolação vespertina, e uma entrada principal direciona os usuários aos seus três setores

de interesse. Além disso, o Setor de Sociabilidade, uma vez abraçado pelo Setor de

Aprendizado, funciona ainda como um grande pátio coberto de integração social quando

não estiver sendo efetivamente utilizado em outras atividades. A Figura 36 expressa a

solução resultante do zoneamento proposto.

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Figura 36 – Evolução da proposta – Solução final.

Fonte: Acervo próprio.

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7 MEMORIAL DESCRITIVO

Em conformidade com os preceitos adotados pelo projeto e com as

condicionantes já observadas, o memorial descritivo pontua as soluções finais

empregadas, com ênfase no tocante às configurações funcionais e às estratégias de

conforto, estruturais e de flexibilidade.

7.1 INSERÇÃO URBANÍSTICA

A proposta arquitetônica do Centro de Convívio para o Idoso, embora proponha

um tipo de estrutura completamente diferente do que confere as edificações do seu

entorno, busca dialogar com o mesmo a partir do gabarito. O único pavimento que

contempla o seu programa de necessidades contíguo à cobertura de lona tensionada não

ultrapassa a altura de 15 metros, assim como a maioria das construções da proximidade.

Além disso, destaca-se ainda a observância às prescrições urbanísticas relativas tanto à

cidade de Natal quanto ao bairro de Lagoa Nova, como colocado no Quadro 04.

Quadro 04 – Áreas e prescrições urbanísticas

Área do terreno 6.998,33 m²

Área construída 2012,00 m²

Área permeável 21,27 %

Taxa de ocupação 28,75 %

Fonte: Elaboração próprio.

O projeto contempla três acessos, todos a partir da Rua dos Tororós (única via

com ligação direta ao terreno). O primeiro deles conduz ao estacionamento de veículos,

o segundo controla a entrada e saída de pedestres e o terceiro refere-se ao acesso de

serviço, com espaço para carga e descarga de materiais e equipamentos. Por meio deste,

é possível ainda dar acesso, em ocasiões excepcionais, a pessoas com mobilidade em

situações mais críticas, aos equipamentos situados na região posterior do terreno.

A disposição dos demais elementos que compõem a implantação, como pode ser

conferido na Figura 37, soluciona-se da forma que se segue, percorrendo o terreno desde

a região frontal até a posterior: 1. Pátio descoberto junto à árvore pré-existente; 2.

Paraciclo com 20 vagas para bicicletas; 3. Estacionamento de veículos com 45 vagas,

sendo 04 delas para deficientes físicos e 08 para idosos (foi adotado um percentual

numeroso acima do exigido por tratar-se de um estabelecimento voltado para a Terceira

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Idade); 4. Edificação com cobertura em membrana tensionada; 5. Piscina; 6. Deck com

academia ao ar livre; 7. Pátio descoberto para atividades ao ar livre; 8. Castelo d’água.

Figura 37 – Implantação.

1. Pátio descoberto; 5. Piscina;

2. Paraciclo; 6. Deck com academia ao ar livre;

3. Estacionamento de veículos; 7. Pátio descoberto para atividades ao ar livre;

4. Edificação com cobertura tensionada; 8. Castelo d’água.

Fonte: Acervo próprio.

7.2 SOLUÇÕES FUNCIONAIS

Como já abordado, a distribuição dos ambientes em planta baixa considerou o

zoneamento a partir de condicionantes que levassem ao fácil acesso e orientação por

parte dos indivíduos, além de outros fatores. Com isso, a Figura 38 aponta o espaço da

recepção como ponto de conexão entre os três principais setores da edificação: ao

adentrar, o usuário pode se direcionar à esquerda caso necessite ir ao Setor Administrativo

e de Atenção ao Idoso, seguir em frente para atividades de sociabilidade ou até mesmo

alcançar os equipamentos localizados na parte posterior do terreno, ou orientar-se à

direita para o Setor de Aprendizado.

1

2

3

4

5

6

7

8

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Figura 38 – Planta Baixa.

ADMINISTRATIVO/

ATENÇ. AO IDOSO

APRENDIZADO

SOCIALIBIDADE

SERVIÇO

HIGIENE

1. Recepção 1. Sala Multiuso 1. Pátio frontal 1. Refeitório 1. Banheiro

2. Pronto Socorro 2. Coz. didática 2. Pátio principal 2. Vestiário 2. Vestiário

3. Coordenação 3. Miniauditório 3. Palco 3. DML

4. Sala de Reuniões 4. Sala de Pilates 4. Pátio posterior

5. Secretaria 5. Sala de dança 5. Lanchonete

6. Almoxarifado 6. Sala de Infor.

7. A. Social 7. Esp. literário

8. Acolhimento

9. Psicologia

10. Nutrição

Fonte: Acervo próprio.

O primeiro deles, o Setor Administrativo e de Atenção ao Idoso, é caracterizado

pelo aspecto compacto, uma vez que os ambientes que o compõem apresentam menores

dimensões, e pelo seu caráter relativamente reservado, onde não há fluxo intenso de

pessoas e pode funcionar também para acolher idosos em situação de vulnerabilidade. O

Setor de Sociabilidade, por sua vez, além de comportar eventos, abrigando um palco e

um jardim interno, atua ainda como um grande pátio aberto integrando todos os demais

ambientes e afirmando o preceito da flexibilidade. Deste espaço, é possível ter visão para

todos os ambientes internos de acesso dos idosos. Já o Setor de Aprendizado abarca salas

mais amplas, com a intenção de proporcionar maior conforto e abrigar uma quantidade

1

2 3

4

5 6 7 8 9 10

1

1

1

2

2 3

4

5

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2

1

3

4 5

2 1 2

3

1 2 2

1 1

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considerável de idosos. O aspecto flexível e a multiplicidade de uso dos ambientes são

características inerentes a este setor, posto que algumas de suas salas podem abrigar usos

diversos e também se integram umas às outras, sendo separadas apenas por uma divisória

móvel.

Configurando-se como um espaço mais restrito, o Setor de Serviço congrega as

demandas dos funcionários, comportando vestiários e refeitório, além de um Depósito de

Material de Limpeza. Possui ligação com o exterior, pela entrada de serviço, e também

com um dos pátios internos, que dá acesso ao interior da edificação.

Cabe destacar também que a distribuição dos espaços de higiene pela proposta

considerou as limitações e as patologias tocantes à Terceira Idade. Dessa forma, um grande

banheiro centralizado no pátio coberto principal atende aos usuários que ocupam os

ambientes internos da instituição, enquanto um vestiário com dimensões consideráveis,

atende aos indivíduos que compreendem a parte posterior do terreno, incluindo a piscina.

Ambos são providos de cabines acessíveis. Além disso, uma vez que o número de idosas

que costumam frequentar esse tipo de instituição é generosamente maior do que o de

idosos, o banheiro feminino apresenta dimensões também maiores.

Dois pátios cobertos localizados exteriormente ao edifício complementam as

necessidades do Centro de Convívio para Idosos: na parte frontal, o espaço com mesas e

cadeiras funciona como uma grande varanda para atividades contemplativas, de interação

e lúdicas; na porção posterior, o espaço contempla ainda uma lanchonete e funciona

como apoio à piscina e à academia ao ar livre.

7.3 ACESSIBILIDADE

Quanto aos aspectos de acessibilidade, algumas estratégias foram utilizadas de

modo a ampliar as condições de conforto, segurança e autonomia, principalmente, em

virtude de se tratar de uma edificação voltada para indivíduos longevos. Desde a escolha

do local de implantação até a aplicação de parâmetros mais técnicos provenientes da NBR

9050/2015, foram ponderadas especificidades que atendessem de forma particular ao

público-alvo. Na sequência, portanto, tais soluções serão elencadas.

A definição do terreno, para além da facilidade de acesso no âmbito municipal,

buscou se concentrar na topografia plana, com o propósito de evitar grandes

movimentações de terra e desníveis dispensáveis no interior da instituição. Nessa mesma

perspectiva, a preferência por uma solução térrea isentou a proposta de circulação

vertical, com escadas, rampas e equipamentos mecânicos que podem tornar o espaço

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moroso para o grupo de frequentadores. Ademais, a fácil orientação e identificação dos

setores foi tomada como um dos elementos norteadores do projeto, preceito também

permeado pela norma de acessibilidade e pelos princípios do desenho universal.

Ainda em conformidade com a legislação, o palco, a piscina e os banheiros

configuram ambientes que extraíram maior aplicabilidade das diretrizes recomendadas. O

palco, único espaço que se encontra em um nível diferenciado dos demais, conta com

rampa e escada com inclinações, dimensões e dispositivos de segurança coerentes com a

norma. A piscina, do mesmo modo, confere corrimãos, guarda-corpos e degraus

submersos para acesso, este consoante com a Figura 39. Os banheiros e vestiários, por sua

vez, contam com cabines independentes acessíveis com área necessária para transferência

lateral, perpendicular e diagonal para a bacia sanitária, assim como para os chuveiros.

Figura 39 – Escada submersa.

Fonte: NBR 9050 (p. 148, 2015).

O estacionamento também recebeu atenção especial em decorrência de seus

frequentadores: uma vez que os longevos compreendem um percentual numeroso de

usuários do local, foi-lhes reservada uma quantidade de vagas além da taxa mínima

determinada pela legislação. Embora seja requerido apenas 5 % do total de vagas para

idosos, o que somaria 03 das 45 vagas, foram designadas 08 vagas ao todo, ou seja,

aproximadamente 18 %. De modo paralelo, o mesmo aconteceu com as vagas destinadas

aos deficientes físicos: são exigidos 2 % do total de vagas, mas foram conferidas 04, isto

é, 9 %.

Na entrada de serviço, ainda uma baia adicional que permita o embarque e

desembarque por pessoas com mobilidade comprometida, em situações pontuais, foi

implementada com o objetivo de favorecer o acesso aos equipamentos localizados na

região posterior à construção.

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7.4 ESTRATÉGIAS DE FLEXIBILIDADE

No que concerne à abordagem da arquitetura flexível, adotada como um dos

aspectos norteadores da proposta desde o princípio em decorrência da multiplicidade de

usos que os espaços de convívio podem desempenhar, também alguns pontos foram

considerados. A começar pela definição dos conceito e partido assumidos para o projeto,

até a escolha do sistema estrutural determinado como solução, é possível observar a

aplicação do tema. Dessa forma, a seguir estão especificadas as principais estratégias

colocadas a partir dessa compreensão.

A ideia de conceber um espaço coberto por uma estrutura independente a qual

possibilitasse a assimilação de grandes vãos e um ambiente interno mutável de acordo

com a necessidade de uso, configura-se como a resolução central da proposta. Por meio

dela, diversas outras decisões puderam ser deliberadas para a aplicação da flexibilidade,

como a utilização da tensoestrutura como alternativa construtiva. Esse fato assinalou uma

das características mais marcantes do projeto, tanto pelo apelo estético quanto pela

funcionalidade, como pode ser visualizado na Figura 40.

Figura 40 – Estrutura tensionada como elemento marcante na proposta.

Fonte: Modelagem pela autora/ Render por Ricardo Cortez.

Outro aspecto que ressalta a questão da flexibilidade diz respeito aos espaços

multiuso que ocupam o Setor de Aprendizado, posto que os mesmos têm a possibilidade

de integrar-se entre si, sendo separados apenas por divisórias móveis. Iguais divisórias

também são utilizadas como fechamento em seu limite com o pátio central interno,

havendo ainda a possibilidade de uma conexão entre tais ambientes. Desse modo, a

depender da necessidade da atividade a ser desenvolvida, é viável a utilização de uma

única sala ou de várias salas em um mesmo momento por meio desse recurso, inclusive

podendo abrir-se para o pátio central.

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Nessa mesma perspectiva, o uso unicamente de mobiliário como delimitação do

espaço literário, situado junto à grande área de sociabilidade, também concorda com os

preceitos da arquitetura flexível. Tal estratégia favorece possíveis mudanças futuras de

configuração interna e contribui com a permeabilidade entre ambientes.

Além disso, a concentração das áreas molhadas em apenas duas localidades, bem

como o uso de formas geométricas simples (à despeito da cobertura), também visam

enfatizar a flexibilidade do edifício.

7.5 SISTEMA CONSTRUTIVO E MATERIAIS

Com a intenção de melhor elucidar o sistema construtivo e os materiais

empregados, cabe diferenciar a edificação em três blocos: o Bloco A delimitado pelo Setor

Administrativo e de Atenção ao Idoso e pelo Setor de Serviços, ambos localizados à

margem esquerda do terreno; o Bloco B compreendendo o Setor de Aprendizado, situado

à margem oposta; e o Bloco C contemplando a cobertura tensionada. Cada um desses

fragmentos apresenta características estruturais e materiais diferentes entre si, as quais

serão apresentadas na sequência. Para favorecer a sua visualização, segue a Figura 41

representando uma perspectiva explodida dos volumes.

Figura 41 – Perspectiva explodida do sistema construtivo.

Fonte: Acervo próprio.

Bloco A

Bloco C

Bloco B

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No Bloco A, com uma configuração de linhas geométricas simplificadas e espaços

mais compactos, o sistema é composto por pilares e vigas em concreto armado moldado

in loco, assim como a laje, e alvenaria convencional com o devido chapisco, emboço e

reboco pintado na cor branca para vedação dos ambientes.

O Bloco B, por sua vez, visto que apresenta vãos e ambientes de maior dimensão,

chegando a aproximadamente 7m de extensão, é constituído por um sistema de pórticos

em estrutura metálica de perfil quadrangular, sendo o fechamento das extremidades

materializado por alvenaria em tijolo solo-cimento, também conhecido como tijolo

ecológico, e a laje em “steel deck”. A intenção dessa combinação é criar um efeito estético

a partir dos perfis metálicos pintados na cor branca contrapondo com o tijolo aparente.

Além disso, as grandes esquadrias de PVC e vidro das fachadas frontal e posterior, que se

entende do peitoril de 1,10m à extremidade inferior da viga (3,00m), também assinalam

a estética desse volume.

Ainda no tocante a esse bloco, destacam-se as divisórias móveis das salas multiuso,

já abordadas no tópico referente à flexibilidade, as quais podem desempenhar o papel de

vedação quando fechadas ou possibilitar a integração entre os ambientes se abertas. Como

demonstrado na Figura 42, disponibilizada pela empresa fornecedora Hufcor, são

compostas por perfis de aço revestidos por material acusticamente tratado e funcionam

como painéis emparelhados que deslizam sobre um trilho superior. Por não apresentar

grelhas ou nenhum outro empecilho no chão, esse tipo de divisória favorece inclusive o

aspecto da acessibilidade.

Figura 42 – Divisórias móveis das salas multiuso.

Fonte: Hufcor, 2018.

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Já o Bloco C, por meio de sua estrutura tensionada, é o mais marcante da proposta

arquitetônica, combinando leveza e ao mesmo tempo imponência para reforçar o seu

caráter flexível (Figura 43). A composição da membrana concilia fibra de vidro com

revestimento em politetrafluoretileno (PTFE) e é reforçada com proteção térmica e

tratamento acústico. Embora apresente um custo mais elevado dentre os possíveis

materiais, é favorecido pelas características de maior durabilidade, autolimpeza,

translucidez e resistência ao envelhecimento e a microrganismos.

Figura 43 – Membrana tensionada sustentada por pilares metálicos.

Fonte: Acervo próprio.

Como ainda representa a Figura 43, uma malha de pilares metálicos de perfil

tubular em forma de “V” estabilizados por tirantes, além de um mastro central é disposta

no entorno da edificação para tracionar a cobertura, totalizando nove pontos de apoio

internos e externos. Nas fachadas frontal e posterior, localizam-se os pilares de 04 apoios,

com dois tirantes de estabilização e uma altura de 9 m; nos quatro vértices das

extremidades, situam-se os de 03 apoios, com um tirante e altura de 6 m; nas laterais,

encontram-se os de 02 apoios, também com um tirante e 6 m de altura; e ao centro, um

mastro de 15 m interno ao edifício modela o desenho final da membrana com sua forma

cônica anticlástica. O apelo estético proporcionado pela combinação dos pilares e a forma

da estrutura, assim como a translucidez e os moldes de corte do material, também marcam

o aspecto pouco convencional da proposta.

Além disso, para favorecer a estabilidade da estrutura suspensa, cabos de aço ainda

contornam todo o perímetro da membrana embutidos na borda, como detalhado na

Figura 44.

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Figura 44 – Detalhe dos cabos de aço embutidos na borda da membrana.

Fonte: Acervo próprio.

No entanto, apesar de terem sido considerados diversos aspectos estruturais na

concepção da proposta arquitetônica, ressalta-se, nesse ponto, que, por se tratar de uma

estrutura em membrana tensionada, a definição da sua forma final depende ainda de

cálculos computacionais precisos e sofisticados por parte de engenheiros estruturais de

modo a confirmar o seu equilíbrio, como já abordado anteriormente.

7.5 SOLUÇÕES DE CONFORTO

No que se refere aos aspectos de conforto, tanto térmico quanto lumínico e

acústico, também algumas estratégias foram ponderadas durante o desenvolvimento da

proposta visando minimizar os efeitos externos desfavoráveis. Assim, soluções que

consideram desde a orientação solar até as propriedades dos materiais a serem utilizados

buscam privilegiar o bem-estar dos usuários no interior da edificação. Na sequência,

portanto, estão destacados os recursos empregados e como eles contribuem de maneira

positiva para o conforto.

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Com a intenção de proporcionar uma maior renovação de ar nos espaços internos,

principalmente, no perímetro compreendido pelo pátio central, buscou-se admitir a maior

altura possível entre a cobertura tensionada e a laje dos ambientes para que a ventilação

pudesse alcançar o centro do volume. Por meio de testes realizados na ferramenta do

Flow Design, concluiu-se que a dimensão apropriada dessa abertura, na tentativa de

conciliar também com a altura limite da edificação, seria de aproximadamente 3 metros.

Os estudos realizados consideraram as alturas de 1, 2 e 3 metros, sendo a última mais

satisfatória, sem impacto significativo a configuração da fachada (Figura 45).

Figura 45 – Análise da ventilação no interior da edificação.

Fonte: Acervo próprio.

Ainda no tocante à estrutura sob tração, uma abertura zenital em sua extremidade

mais alta foi adicionada com o propósito de favorecer a saída do ar quente, conforme a

vista da Figura 46. Sem ela, o ar reservado no cume da cobertura aqueceria o ambiente

interno, podendo provocar desconforto térmico. Além disso, o próprio material da

membrana foi ponderado para propiciar o resfriamento.

Figura 46 – Vista da abertura zenital.

Fonte: Acervo próprio.

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Outras estratégias admitidas para assegurar o conforto térmico foram: a

configuração espacial em concordância com a trajetória solar, dispondo as áreas molhadas

onde a insolação é mais crítica em favorecimento dos ambientes de uso do idoso nos

locais menos castigados pelo sol vespertino; e o jardim interno situado no pátio interno

central, resguardando o ambiente de tornar-se um tanto quanto árido e pouco dinâmico.

Já a respeito do conforto acústico, os recursos implementados foram:

sombreamento e uso de cobograma no estacionamento, os quais, além de favorecer o

resfriamento, também funcionam como elementos de barreira e absorção ao ruído

externo; e recomendação de tratamento acústico na membrana tensionada e nas divisórias

presentes nas salas multiuso.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da perspectiva de que a sociedade longeva se alarga a cada ano frente ao

incremento da expectativa de vida e com grande possibilidade de ainda se manter em

atividade, desponta o Centro de Convívio para a pessoa idosa ativa em Natal, no Rio

Grande do Norte, desenvolvido sob a ótica da arquitetura flexível. Motivada ainda pela

próxima relação da autora com seus avós e pela crítica situação das associações voltadas

para esse público no município, a proposta visou acomodar um ambiente receptivo a

atividades diversas, principalmente considerando a melhoria da qualidade de vida e

favorecendo o exercício físico e intelectual, assim como a interação social. Desse modo, a

solução ponderou desde as necessidades biológicas relativas aos cidadãos idosos até as

especificidades construtivas, de modo a agregar o tema da flexibilidade, o qual constitui

o principal direcionamento formal do projeto.

Por meio de uma estrutura de cobertura tensionada independente, o que permite

uma liberdade quanto à configuração espacial dos ambientes em concordância com a

necessidade de uso, desenvolveu-se a ideia central da proposta. Com isso, uma edificação

leve, permeável e que transpassa a compreensão de fluidez e continuidade, fugindo à

arquitetura convencional reproduzida em seu entorno, é capaz de proporcionar aos seus

usuários experiências positivas aprendizado e convivência. Além disso, estratégias tocantes

aos aspectos de acessibilidade e de conforto ambiental também foram consideradas com

o propósito de maximizar a comodidade dos longevos.

Destaca-se que, embora a solução apresentada ainda demande o complemento de

cálculos complexos desenvolvidos parte da engenharia civil, os quais podem por ventura

requerer ajustes na forma, os aspectos estruturais no âmbito da proposta arquitetônica

foram aplicados e reduzem a possibilidade de tais adaptações.

Por fim, almeja-se que o presente trabalho, ao ressaltar as carências desse grupo

tão desfavorecido, possa estimular o interesse e conscientizar a população em geral sobre

o assunto, contribuindo ainda para outros estudos na área.

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