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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PESCA JEFFERSON OLIVEIRA FREITAS PROCESSO DE HIPOFISAÇÃO DE COLOSSOMA MACROPOMUM, NO CENTRO DE PESQUISAS ICTIOLÓGICAS RODOLPHO VON IHERING/DNOCS, PENTECOSTE/CE FORTALEZA 2018

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS … · 2020. 1. 28. · 3. Reprodução Artificial. I. Título. CDD 639.2. JEFFERSON OLIVEIRA FREITAS PROCESSO DE HIPOFISAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PESCA

JEFFERSON OLIVEIRA FREITAS

PROCESSO DE HIPOFISAÇÃO DE COLOSSOMA MACROPOMUM, NO CENTRO

DE PESQUISAS ICTIOLÓGICAS RODOLPHO VON IHERING/DNOCS,

PENTECOSTE/CE

FORTALEZA

2018

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JEFFERSON OLIVEIRA FREITAS

PROCESSO DE HIPOFISAÇÃO DE COLOSSOMA MACROPOMUM, NO CENTRO DE

PESQUISAS ICTIOLÓGICAS RODOLPHO VON IHERING/DNOCS, PENTECOSTE/CE

Relatório de Estagio Supervisionado apresentado ao Curso de Engenharia de Pesca do Departamento de Engenharia de Pesca, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do Título de Engenheiro de Pesca.

Orientador: Prof. Dr. Aldeney Andrade Soares Filho. Coorientador: Prof.a Dr.a Kelma Maria dos Santos Pires Cavalcante. Orientador técnico: M.e Maria Socorro Chacon de Mesquita.

FORTALEZA

2018

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca UniversitáriaGerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

F936p Freitas, Jefferson Oliveira. Processo de hipofisação de Colossoma Macropomum, no centro de pesquisa ictiológicas Rodolpho VonIhering/DNOCS, Pentecoste/Ce / Jefferson Oliveira Freitas. – 2018. 30 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de CiênciasAgrárias, Curso de Engenharia de Pesca, Fortaleza, 2018. Orientação: Prof. Dr. Aldeney Andrade Soares Filho. Coorientação: Profa. Dra. Kelma Maria dos Santos Pires Cavalcante.

1. Tambaqui. 2. Reofilicos. 3. Reprodução Artificial. I. Título. CDD 639.2

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JEFFERSON OLIVEIRA FREITAS

PROCESSO DE HIPOFISAÇÃO DE COLOSSOMA MACROPOMUM, NO CENTRO DE

PESQUISAS ICTIOLÓGICAS RODOLPHO VON IHERING/DNOCS, PENTECOSTE/CE

Relatório de Estagio Supervisionado apresentado ao Curso de Engenharia de Pesca do Departamento de Engenharia de Pesca, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do Título de Engenheiro de Pesca.

Aprovada em: _03_/_12__/_2018_.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Dr. Aldeney Andrade Soares Filho (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof.a Dr.a Elenise Gonçalves de Oliveira

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Dr. Rossi Lélis Muniz Souza

Universidade Estadual do Ceará (UECE)

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A Deus.

A minha avó Januária Abreu de Freitas.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por todos os momentos bons da minha vida em que graças a Ele sou

verdadeiramente feliz.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela

concessão de bolsa durante a graduação e, ao Departamento Nacional de Obras Contra as

Secas (DNOCS), pela bolsa para realização desse trabalho.

Ao Prof. Dr. Aldeney Andrade Soares Filho, pela orientação, confiança,

dedicação, seriedade e paciência.

A Prof.a Dr.a Kelma Maria dos Santos Pires Cavalcante, pela amizade, dedicação,

apoio e principalmente pela paciência.

Aos membros da Banca Examinadora, Prof.a Dr.a Elenise Gonçalves de Oliveira e

Prof. Dr. Rossi Lelís Muniz Souza, pelas sugestões que contribuíram para o enriquecimento

deste trabalho.

A M.e Maria do Socorro Chacon de Mesquita e ao M.e Pedro Eymar pela

oportunidade e atenção durante o estágio.

Aos funcionários do Centro de Pesquisas Ictiológicas Rodolpho von Ihering, pela

paciência, atenção e ensinamentos práticos durante os dias de trabalho.

Aos meus pais, José de Arimateia Abreu de Freitas e Solange Maria de Oliveira

Freitas e, aos meus irmãos Jessica Oliveira Freitas e Ary Oliveira Freitas, pelo amor, apoio

incentivo e por estarem sempre comigo nos momentos mais felizes da minha vida e

principalmente nos mais difíceis.

A minha grande amiga Rayssa Mendes Bezerra, pela amizade, ajuda e

companheirismo nos últimos anos, tanto nos momentos felizes quanto nas horas de

dificuldade.

Aos meus amigos Daniel Barroso de Alencar e Rebeca Larangeira de Lima que

conviveram comigo boa parte da minha vida acadêmica e que contribuíram de forma

significativa para a minha formação profissional. E por suas amizades que levarei para o resto

da minha vida.

A Raylanne Ohana Nogueira Lima, por sempre estar ao meu lado dividindo as

tristezas e multiplicando as alegrias não me deixando abater nos momentos de dificuldade.

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“Lembre-se de olhar para as estrelas e não

para baixo em seus pés. Tente identificar o

sentido do que você vê e se pergunte sobre o

que faz o universo existir. Seja curioso. E no

entanto, por mais que a vida possa parecer

difícil, há sempre algo que você pode fazer e

ter sucesso. É importante você não desistir

simplesmente.”

(Prof. Stephen Hawking)

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RESUMO

A aquicultura atualmente representa mais da metade da produção de peixes destinados à

alimentação humana, permitindo o aumento do consumo per capita de peixes, que atingiu um

novo máximo histórico de 20 kg, em 2014. A produção em cativeiro de peixes nativos

brasileiros, ainda não é tão influente como a produção de peixes exóticos, devido à falta de

pacotes tecnológicos que viabilizem a sua produção. Porém, a produção da espécie nativa

tambaqui, Colossoma macropomum (Cuvier, 1816) vem ganhando uma atenção especial nos

últimos anos devido as suas características zootécnicas. Um dos maiores problemas

enfrentados na produção do tambaqui é a sua difícil reprodução em cativeiro. Por ser um

peixe reofilíco, necessita subir o rio, nadando contra a correnteza para que ocorra a maturação

das gônadas. Em cativeiro é difícil a simulação da corrente, sendo necessário a utilização de

hormônios hipofisários para permitir o pleno desenvolvimento gonadal e, consequentemente,

a produção em larga escala de alevinos. Assim, o estágio teve como objetivo acompanhar o

processo de hipofisação para obtenção de juvenis de tambaqui. Foram observadas as diversas

etapas do processo, desde a seleção das matrizes, o transporte das mesmas, o processo de

biópsia ovariana, a aplicação da primeira e da segunda dose do hormônio hipofisário, bem

como a contagem da hora-grau, acompanhamento do processo de extrusão e fertilização, além

da incubação dos ovos e eclosão da larva e a estocagem em viveiros. Dessa forma, conhecer

as etapas de hipofisação do tambaqui adotada pelo Centro de Pesquisas Ictiológicas Rodolpho

von Ihering do DNOCS, foram de grande importância para o enriquecimento profissional e

individual, pois mesclou os conhecimentos teóricos, obtidas durante o curso, com aqueles

praticados no sistema de cultivo.

Palavras-chave: Tambaqui. Reofilícos. Reprodução Artificial.

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ABSTRACT

Aquaculture currently accounts for more than half of fish production for human consumption,

allowing for an increase in per capita fish consumption, which reached a new record high of

20 kg by 2014. The captive production of Brazilian native fish has not yet is as influential as

the production of exotic fish because of the lack of technological packages that make it viable.

However, the production of the native species tambaqui, Colossoma macropomum (Cuvier,

1816) has been gaining special attention in recent years due to its zootechnical characteristics.

One of the major problems faced in the production of tambaqui is its difficult reproduction in

captivity. Because it is a rheophilic fish, it needs to rise the river, swimming against the

current for the maturation of the gonads to occur. In captivity it is difficult to simulate the

current, requiring the use of hypophyseal hormones to allow full gonadal development and,

consequently, large-scale production of fingerlings. Thus, the aim of the stage was to follow

the process of hypophysation to obtain tambaqui juveniles. The different stages of the process,

from the selection of matrices, the transport of the matrices, the ovarian biopsy process, the

application of the first and second doses of the hypohyseal hormone, as well as the time-

degree count, follow-up of the extrusion and fertilization, as well as egg hatching and larval

hatching and storage in ponds. In this way, to know the stages of hypophysation of tambaqui

adopted by the Rodolpho von Ihering Ichthyology Research Center of the DNOCS, were of

great importance for the professional and individual enrichment, because it merged the

theoretical knowledge obtained during the course with those of the practice of the system of

culture.

Keywords: Tambaqui. Rheophilic. Artificial Reproduction

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Imagem de satélite do Centro de Pesquisas Ictiológicas Rodolpho Von Ihering. ..... 14

Figura 2 - Captura das matrizes. ............................................................................................... 17

Figura 3- Seleção das fêmeas por visualização do ventre abaulado e da papila urogenital. .... 17

Figura 4 - Chip utilizado para marcação dos reprodutores. ...................................................... 18

Figura 5 - Trator utilizado para transporte das matrizes. .......................................................... 19

Figura 6 - Bolsa de contenção das matrizes. ............................................................................ 20

Figura 7 - Adição de solução serra para uma melhor visualização das células. ....................... 20

Figura 8 - Observação do núcleo das células. .......................................................................... 21

Figura 9 - Aplicação da primeira dose ...................................................................................... 23

Figura 10 - Sutura feita para evitar a perda de ovos. ................................................................ 25

Figura 11- Extrusão por massagem abdominal. ....................................................................... 26

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Peso e percentual de núcleos centralizados das fêmeas .......................................... 21

Tabela 2 –Quantidade de hipófises utilizadas nas doses hormonais em machos e fêmeas. ..... 23

Tabela 3 - Valores da Hora-Grau e tempo aproximado para ocorrência da ovulação após

aplicação da segunda dose. ....................................................................................................... 24

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 12

2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO ............................................................. 14

3 ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO DE HIPOFISAÇÃO .......................................... 16

3.1 Seleção dos peixes .............................................................................................................. 16

3.2 Transporte das matrizes ...................................................................................................... 18

3.3 Biópsia ovariana ................................................................................................................. 19

3.4 Administração das doses hormonais ................................................................................... 21

3.5 Hora-grau ............................................................................................................................ 24

3.6 Extrusão e fertilização ........................................................................................................ 25

3.7 Incubação e eclosão ............................................................................................................ 27

3.8 Estocagem das pós-larvas ................................................................................................... 27

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 29

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 30

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1 INTRODUÇÃO

Segundo a FAO (2018), o crescimento da aquicultura nos últimos anos vem

permitindo o aumento do consumo per capita de peixes, que atingiu um novo máximo

histórico de 20,5 kg em 2017. O incremento na ingestão desse tipo de proteína animal pode

ser explicado pelo desenvolvimento da aquicultura, que atualmente responde por mais da

metade de todos os peixes destinados a alimentação humana. O interesse pelo pescado vem

aumentando devido ao seu valor nutricional que se destaca por possuir grandes quantidades de

vitaminas lipossolúveis A e D, minerais como o cálcio, fósforo, ferro, cobre e selênio e pela

divulgação de estudos que associam o seu consumo com melhorias para a saúde, como a

redução do risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC), Mal de Alzheimer, morte por doenças

cardíacas e de depressão (SARTORI; AMANCIO, 2012).

A piscicultura continental é a área da aquicultura com a maior influência no

Brasil, devido às condições naturais do país, a grande disponibilidade hídrica e seus diversos

microclimas. A produção em cativeiro de peixes nativos brasileiros, ainda não é tão influente

como a produção de peixes exóticos, devido à falta de pacotes tecnológicos que viabilizem a

sua produção. Porém, a produção do peixe nativo tambaqui (Colossoma macropomum) vem

ganhando uma atenção especial nos últimos anos devido as suas características zootécnicas

como: facilidade na produção de alevinos, alta taxa de crescimento em cativeiro, rusticidade,

resistência a elevadas temperaturas na água de cultivo e a eventuais quedas de oxigênio

dissolvido na água, além de elevado valor comercial. Todos esses fatores favorecem a sua

produção em cativeiro, motivando pesquisas em todas as áreas de conhecimento das espécies,

assim, o tambaqui é o peixe nativo mais produzido no Brasil (BARÇANTE; SOUS, 2015).

O tambaqui é uma espécie originária da América do Sul, das Bacias dos rios

Amazonas e Orinoco, e considerado por muitos como o segundo maior peixe de escamas de

água doce da América do Sul, atrás apenas do pirarucu, Arapaima gigas. Devido a sua

importância econômica, o mesmo é cultivado em diversas regiões do Brasil e do continente

Sul-americano. Porém, estudos mostraram que, apesar dessa distribuição da espécie, é baixa

ou moderada a diferenciação (distância genética) entre os indivíduos. É um peixe tropical, que

vive em locais com temperaturas médias entre 25 e 34 °C. Além disso, é capaz de resistir a

baixas concentrações de oxigênio dissolvido na água, devido a uma adaptação morfológica,

que é o aumento do lábio inferior e o comportamento de nadar próximo a superfície para

captar mais oxigênio. Essas simples estratégias podem contribuir para melhorar em até 30% o

teor de oxigênio captado e distribuído por meio do sangue (FRACALOSSI; CYRINO, 2016).

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Em seu habitat natural o tambaqui realiza a piracema, processo em que os peixes

migram rio a cima, em grandes cardumes ou em pares, quando o rio começa a encher e,

desovam em condições ideais, sendo, portanto, um peixe reofílico (WOYNAROVICH;

HORVATH, 1983). A sua reprodução acontece geralmente no período chuvoso e sua desova é

influenciada por fatores ambientais como: temperatura, pH, fotoperiodo, pressão da massa de

água, entre outros. Para que ocorra o sucesso da produção do tambaqui é importante à

obtenção de uma grande quantidade de alevinos, pois a reprodução passa a ter um papel

crucial para a manutenção de uma produção escalonada. Para superar esse problema na

produção de peixes reofílicos criados em cativeiro, empregam-se os seguintes meios: o uso do

hCG (gonadotrofina coriônica humana), GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina),

antidopaminérgicos (antagonista de dopamina) ou associação de GnRH com antidopamínicos

(STREIT JR et al., 2002).

No Brasil, a hipofisação utilizando o extrato hipofisário da carpa comum,

Cyprinus carpio é a técnica de indução hormonal mais utilizada para a reprodução de

reofílicos, cerca de 40 espécies com grande valor econômico e ecológico para o Brasil são

induzidos por essa técnica. Esse procedimento permite que machos e fêmeas completem seu

ciclo reprodutivo em condições desejadas e controladas (AMARAL JÚNIOR, 2017). Segundo

Pedroza Filho, Rodrigues e Rezende (2016), a produção de tambaqui em 2014 foi de 139 mil

toneladas apresentando um crescimento de 57% em relação ao volume produzido em 2013.

Esse aumento na produção se dá principalmente pela facilidade de obtenção de

juvenis produzidos pela hipofisação, já que a produção de tambaqui pela pesca comercial tem

sofrido considerável redução em toda a Amazônia, devido ao grande esforço de pesca que

vem diminuindo a abundância dessa espécie no ambiente natural (MORAIS; SULLIVAN,

2017).

Portanto, este trabalho visou acompanhar o processo de hipofisação de tambaqui,

Colossoma macropomum (Cuvier, 1816) cultivado no Centro de Pesquisas Ictiológicas

Rodolpho von Ihering do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS),

observando-se desde a seleção de matrizes até a estocagem dos alevinos em viveiros.

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2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO

O estágio supervisionado foi realizado no período de setembro e outubro de 2018

no Centro de Pesquisas Ictiológicas Rodolpho von Ihering (03º48’3.10”S; 039º16’6.01”W),

de propriedade do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), localizado no

município de Pentecoste-CE, distante aproximadamente 95 km de Fortaleza (Figura 1).

Figura 1- Imagem de satélite do Centro de Pesquisas Ictiológicas Rodolpho Von Ihering.

Fonte: Google (2018).

O Centro de Pesquisas Ictiológicas Rodolpho von Ihering foi inaugurado em 11 de

fevereiro de 1985 pelo Engenheiro Agrônomo Raimundo Ademar Braga com o intuito de

pesquisar e difundir conhecimentos na atividade de extensão nas áreas de aquicultura,

tecnologia do pescado, hipofisação e nutrição, além do papel principal de desenvolvimento e

distribuição de alevinos. O campus conta com uma extensão de 11,37 hectares, destinando-se

ao manejo de reprodutores e alevinos de diferentes espécies como tilápia, Oreochromis

niloticus, carpas, Cyprimus carpio, tambaqui, Colossoma macropomum, pirapitinga,

Piaractus brachypomus, pacu-aranha, Piaractus mesopotamicus, pirarucu, Arapaima gigas e

alguns híbridos como o tambacu.

O mesmo conta com 26 tanques de alvenaria destinados ao descanso de

reprodutores, sendo dois tanques com capacidade de 66 m3 e 24 tanques com capacidade de

33 m3 e 48 viveiros destinados à reprodução de tilápia em hapas, cultivo de tambaqui, pacu,

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tilápia, pirarucu e outras espécies. Além de uma área administrativa com laboratórios de

limnologia, aquicultura, genética molecular, tecnologia do pescado, salas do setor

administrativo, auditório, restaurante, alojamento e fábrica de ração. A água de abastecimento

é proveniente do acude Pereira de Miranda.

O açude Pereira de Miranda pode armazenar 360,00 hm3 de água, mas

atualmente conta com apenas 5,43% da capacidade de armazenamento (19,55 hm3) devido à

seca que castiga o Nordeste a seis anos, considerada a pior seca dos últimos cem anos.

Segundo a FUNCEME (CEARÁ, 2018), em 2009 o município de Pentecoste apresentou uma

quantidade de chuva anual de 1267 mm, quantidade 83% superior ao esperado para o mesmo

ano, período em que o açude Pentecoste chegou a apresentar 100% da sua capacidade de

armazenamento. Enquanto que em dezembro de 2017 apresentou 1,49% da sua capacidade de

armazenamento com um volume de 5,36 hm3.

Atualmente o Centro de Pesquisa atua em situação de manutenção utilizando uma

quantidade menor de viveiros e uma produção menor quando comparada a alguns anos atrás,

devido à pouca quantidade de água que pode ser utilizada e a má qualidade da água, o que

impossibilita o aumento da produção.

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3 ACOMPANHAMENTO DO PROCESSO DE HIPOFISAÇÃO

3.1 Seleção dos peixes

O Centro de Pesquisa possui dois planteis de tambaqui um mais velho com peixes

entre 10 a 12 anos, com pesos variando entre 11 e 15 kg. Pela idade e manuseio constantes,

esses peixes já estão com suas curvas de crescimento, atingindo a estabilidade. Já o plantel

mais novo com pesos de 7 a 8 kg e idades variando de 6 a 7 anos são os mais adequados para

o manuseio, e o mais utilizados para as pesquisas. Segundo Streit Jr et al. (2012), quanto

maior o tamanho do reprodutor maior serão as dificuldades durante a captura, a manipulação

dos peixes em laboratório e a quantidade de hormônio utilizada. Além disso, peixes com

pesos menores que 6 kg apresentam a quantidade de ovócitos em torno de 12% do peso vivo,

enquanto que peixes maiores apresentam de 4 a 5% do peso do animal.

Machos e fêmeas são mantidos separadamente, em viveiros escavados de 2.500

m2, com dimensões de 25 x 100 m, localizados paralelamente. A densidade de estocagem é

aproximadamente um peixe/42 m2 devido à baixa qualidade da água de cultivo. Além do

tambaqui são mantidos nos mesmos viveiros peixes, como pacú-caranha e pirapitinga. Na

literatura existem relatos de planteis de matrizes com o peso superior a 3 kg, mantidos com

uma densidade de estocagem de um peixe/10 m2, sendo essa superior a utilizada no DNOCS

(STREIT JR et al., 2002).

Os peixes são alimentados com ração com 22% de proteína bruta sendo ofertado

1% da biomassa dividido em dois tratos por dia.

Para a captura das matrizes é utilizada uma rede de arrasto com dimensões de 50 x

3m, com abertura de malha de 4 cm, manuseada por três funcionários, os quais se posicionara

em cada uma das duas extremidades e no meio da rede, permitindo, assim, a maior controle

dos peixes (Figura 2).

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Figura 2 - Captura das matrizes.

Fonte: o Autor.

Após a captura de machos e fêmeas, os mesmos são selecionados com base na

observação das características morfológicas que mostram os animais propícios ao

procedimento de hipofisação. Nas fêmeas foram observadas características subjetivas como

papila urogenital avermelhada e ventre abaulado, conforme se observa na Figura 3.

Segundo Woynarovich e Horvath (1983) o ventre das fêmeas torna-se macio e

abaulado somente um pouco antes da desova.

Figura 3- Seleção das fêmeas por visualização do ventre abaulado e da papila urogenital.

Fonte: o Autor.

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Figura 4 - Chip utilizado para marcação dos reprodutores.

Fonte: o Autor.

Após a captura, os peixes que apresentam um bom desenvolvimento gonadal são

transportados até o laboratório de manejo reprodutivo. No Centro de Pesquisa em média são

selecionados cinco peixes para posteriormente ser feita a seleção definitiva pela biopsia

ovariana. Todas as fêmeas possuem chips (Figura 4) para um maior controle e evitar que as

mesmas passassem pelo processo de hipofisação de forma descontrolada, pois é necessário

um período de repouso para que as fêmeas possam ter condições de se preparar para outra

desova. No geral uma fêmea pode passar por esse procedimento duas vezes ao ano no período

chuvoso (janeiro a julho).

Quanto à seleção dos machos são observadas as seguintes características: animais

saudáveis; não apresentar deformação ou ferimentos no corpo e; com uma leve pressão no

abdômen, observar se ocorre à liberação de sémen. São capturados quatro machos, com essas

características. Vale salientar que o importante neste procedimento, é que o mesmo seja

realizado nas primeiras horas do dia, pois é necessário que os peixes fiquem em repouso por

um período de 4 a 6 horas, antes da aplicação da primeira dose.

3.2 Transporte das matrizes

Após a seleção, os indivíduos são transportados por um trator com uma carroceria

acoplada contendo uma caixa de fibra de vidro com água (Figura 5), onde os peixes são

colocados durante o transporte. Em seguida, são separados de acordo com o sexo e colocados

em tanques de manuseio feitos de alvenaria com dimensões de 4 x 1,30 m, revertidos de

azulejos com renovação de água constante, com a finalidade de minimizar o stress. Segundo

Melo (2013), a seleção e o transporte dos reprodutores apresentam uma influência muito

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importante no resultado da hipofisação, devendo o manuseio ser realizado de forma a causar o

menor estresse possível as matrizes, e assim, evitando que o hipotálamo estimule a produção

de dopamina que causa a interrupção da maturação.

Figura 5 - Trator utilizado para transporte das matrizes.

Fonte: o Autor.

3.3 Biópsia ovariana

A biópsia ovariana é realizada 6 horas após o transporte, o que permiti um tempo

de descanso para as matrizes. Para a realização desse procedimento as fêmeas são retiradas

dos tanques utilizando uma bolsa de contenção (Figura 6), e devidamente pesadas. No dia do

acompanhamento as fêmeas capturadas apresentaram os seguintes pesos 8234. 7,5 kg, 8806.

11,5 kg, 0407. 7 kg, 8254. 7 kg e 8237. 5 kg. Posteriormente é realizada a coleta dos ovócitos

para análise. Dentre as cinco fêmeas selecionadas somente a fêmea II pertencia ao plantel

mais velho, as demais eram do plantel mais novo.

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Figura 6 - Bolsa de contenção das matrizes.

Fonte: o Autor.

Para a retirada dos ovócitos é utilizada uma seringa de 10 mL com uma mangueira

de silicone acoplada um tipo de escalpe n°4, sendo esta introduzida no oviduto da fêmea.

Após a retirada, os óvulos são colocados em placas de Petri e adicionada solução de Serra

(Figura 7) para se obter uma melhor visualização das estruturas como o núcleo. O mesmo

procedimento é realizado com todas as fêmeas para escolher dentre as cinco, apenas duas.

Figura 7 - Adição de solução serra para uma melhor visualização das células.

Fonte: o Autor.

Utilizando uma lupa, observa-se a posição do núcleo das células e as fêmeas que

apresentassem a maior porcentagem de núcleo centralizado (Figura 8) são selecionadas para a

indução. Os percentuais de núcleos centralizados obtidos na biopsia ovariana das fêmeas

capturadas foram de 8234. 30; 8806. 15; 0407. 75; 8254. 80 e 8237. 30% (Tabela 1). Após ser

realizada a biopsia ovariana foi constatado que as fêmeas 0407 e 8254 apresentavam as

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melhores características para a realização da indução hormonal, devolvendo-se as demais ao

viveiro.

Figura 8 - Observação do núcleo das células.

Fonte: o Autor.

Tabela 1 - Peso e percentual de núcleos centralizados das fêmeas

FÊMEA CHIP N° PESO (KG) NÚCLEO CENTRALIZADO (%)

I 8234 7,5 30

II 8806 11,5 15

III 0407 7 75

IV 8254 7 80

V 8237 5 30

Fonte: o Autor.

3.4 Administração das doses hormonais

Com base nos pesos obtidos são calculadas as quantidades de extrato de hipófise a

serem utilizadas na preparação do soro hipofisário. O cálculo é baseado no peso da fêmea

vezes a quantidade de miligrama de hipófise para cada quilograma (5,5 mg) dividido por 1,5

que é o peso das hipófises utilizadas no procedimento. O cálculo do número de glândulas

hipofisárias para as duas fêmeas é calculado da seguinte forma:

Fêmea III:

7,0 x 5,5 = 38,5 mg / 1,5 mg = 26 hipófise (1)

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Fêmea IV:

7,0 x 5,5 = 38,5 mg / 1,5 mg = 26 hipófise (2)

Para a primeira aplicação é ministrada apenas 10% da quantidade total de

hipófise, o número de três hipófises para cada fêmea. O mesmo procedimento foi

recomendado por Streit Jr et al. (2012). Já a segunda aplicação do soro hipofisário nas fêmeas

é ministrada 15 horas após a primeira aplicação, utilizando o restante das hipófises totais

(90%), 23 hipófises para cada fêmea. A primeira aplicação nas fêmeas selecionadas foi

realizada as 16:20 enquanto que a segunda ocorreu as 7:20.

Segundo Zaniboni Filho e Weingartner (2007), a primeira dose nas fêmeas serve

para estimular a migração da vesícula germinal e a segunda dose para induzir a quebra da

vesícula germinal, ovulação e desova.

Os machos recebem uma dose única do hormônio, aplicado junto com a segunda

dose nas fêmeas. Para o cálculo da quantidade de hipófise utilizada no soro hipofisário dos

machos, é utilizado o peso dos peixes (6 kg) vezes a quantidade de peixes (quatro unidades)

vezes quantidade de hipófise por kg (2 mg/kg), dividido por 1,5 que é o peso de cada hipófise.

O cálculo do número de glândulas hipofisárias para os quatro machos é calculado utilizando a

seguinte relação.

4 x 6,0 x 2,0 = 48 mg / 1,5 mg = 32 hipófise (3)

Para a aplicação da dose única nos machos foram utilizados 32 hipófise em 4 mL

de soro fisiológico, sendo ministrada 1 mL em cada macho.

Na formulação do soro é necessário registrar o número de glândulas hipofisárias,

as quais são maceradas utilizando um pistilo e gral e diluídas em 0,5 mL de soro

fisiológico/kg de peso vivo dos peixes (0,75% de NaCl).

O extrato de hipófise é aplicado na base da nadadeira peitoral, com a agulha

introduzida no sentido da cabeça para a cauda e com o peixe de lado (Figura 9). A agulha não

deve ser muito longa e nem muito fina, para não lesionar algum órgão interno. Após as

aplicações as fêmeas são colocadas em tanques diferentes e adicionados dois machos em cada

tanque. Esse procedimento é realizado como uma forma de estimular a desova tanto dos

machos como das fêmeas.

Antes da aplicação da segunda dose realiza-se nas fêmeas, uma sutura no orifício

urogenital com a finalidade de evitar a perda dos ovos e a desova aconteça apenas no

momento desejado (DALMASS et al., 2016).

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Figura 9 - Aplicação da primeira dose

Fonte: o Autor.

A quantidade de hipófise utilizada na aplicação da primeira e segunda doses das

matrizes pode ser observada na Tabela 2.

Tabela 2 –Quantidade de hipófises utilizadas nas doses hormonais em machos e fêmeas.

Hipófise ( n°)

1° DOSE 2° DOSE TOTAL

FÊMEA III 3 23 26

FÊMEA IV 3 23 26

MACHO I a IV 8 32

Fonte: o Autor.

A partir do momento em que as matrizes são colocadas nos tanques de manuseio

de reprodutores, a temperatura da água foi medida de hora em hora até que o somatório das

temperaturas estivessem entre 240 e 270 horas-grau.

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3.5 Hora-grau

Após a aplicação da segunda dose existe um tempo necessário para que ocorra a

desova, esse tempo vai depender da temperatura em que os peixes estão sendo mantidos. A

temperatura tem influência inversamente proporcional na maturação dos gametas, assim,

quanto maior a temperatura menor será o tempo necessário para ocorrer à desova

(FAUSTINO et al. 2007).

A hora-grau consiste basicamente no somatório das temperaturas (°C) mensurada

a cada hora na água dos tanques de reprodução, esse tempo é necessário para indicar o

momento aproximado da ovulação das matrizes e extrusão do material genético.

A Tabela 3 mostra aos valores da hora-grau e tempo aproximado para ocorrência

da ovulação após indução hormonal do tambaqui.

Tabela 3 - Valores da Hora-Grau e tempo aproximado para ocorrência da ovulação após aplicação da segunda dose.

HORA TEMPERATURA (°C) HORA GRAU 8:20 28,0 28 9:20 28,0 56 10:20 28,0 84 11:20 28,0 112 12:20 28,0 140 13:20 28,0 168 14:20 28,0 196 15:20 29,0 225 16:20 29,0 254 Média 28,2 -

Fonte: o Autor.

No Centro de Pesquisa o tempo necessário entre a segunda dose e a ovulação foi

de 9 horas, com a aplicação da segunda dose as 7:20 da manhã e a extrusão as 16:20 da tarde

com a hora-grau em torno de 254. Leite (2013) trabalhando na determinação de doses

inseminantes e embriogeneses na fertilização artificial de tambaqui obteve o mesmo intervalo

de tempo entre a segunda dose e a ovulação e a quantidade de hora-grau de 243.

Quanto à temperatura média das águas dos tanques, esta foi de 28,2 °C (Tabela 3).

Segundo Streit Jr et al. (2012) para o tambaqui a média é de 215 horas-grau/temperatura

podendo variar de 200 a 300 horas-grau dependendo da qualidade dos reprodutores, com

temperatura média de 28,05, valor próximo ao encontrado no presente trabalho.

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Uma hora antes da ovulação é possível observar algumas características

comportamentais como: a fêmea mais agitada na presença dos machos e os machos

perseguindo as fêmeas.

3.6 Extrusão e fertilização

A extrusão das matrizes foi realizada 9 horas após a aplicação da primeira dose,

com 254 horas- grau. As fêmeas devem ser retiradas dos tanques e colocadas em uma espécie

de colchão, nesse momento é retirada a sutura realizada para evitar a perda dos ovos, havendo

a liberação de urina pela matriz (Figura 10). Concomitantemente, os recipientes utilizados

para a coleta de ovos e o sêmen é retirado de perto da matriz evitando o contato da urina com

o recipiente. Antes da extrusão a região ventral da fêmea deve ser seca com toalha macia para

não ocorre à hidratação dos ovos.

Figura 10 - Sutura feita para evitar a perda de ovos.

Fonte: o Autor.

Os ovos são extrusados suavemente, por meio de uma massagem abdominal, ao

qual foi possível a retirada de uma massa de ovos de 1067 g e 586g, representando cerca de

aproximadamente 15% e 8% do peso vivo das fêmeas 0407 e 8254, respectivamente (Figura

11). Em seguida os machos são retirados dos tanques e feita uma massagem abdominal para a

retirada de sêmen. Com o sêmen e os ovos no recipiente é realizada a fertilização a partir do

método de extrusão a seco, o qual consiste em reunir os óvulos e o sêmen em um recipiente e

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misturá-los delicadamente utilizando uma colher de plástico para que o sêmen tenha o maior

contato possível com os óvulos, adicionando-se a água logo em seguida.

Figura 11- Extrusão por massagem abdominal.

Fonte: o Autor.

Devido ao comportamento dos gametas a fertilização a seco é a melhor

alternativa, pois amplia o tempo para o manejo dos gametas e aumenta a taxa de fecundação,

por isso então a necessidade de secar o reprodutor antes da extrusão, para que seja evitado o

contato dos óvulos e do sêmen com a água (ZANIBONI FILHO; WEINGARTNER, 2007).

Segundo Zaniboni Filho e Weingartner (2007), quanto ao comportamento dos

gametas, as células espermáticas são imóveis no testículos devido a elevada concentração de

potássio presente nas células, assim, quando entra em contato com a água o potássio é diluído

e o esperma ativado. Já os óvulos depois de ser hidratados iniciam o fechamento da micrópila,

que é o ponto de entrada do espermatozoide no óvulo. Tanto a mobilidade do sêmen com a

abertura da micrópila do ovulo, permanecem por volta de um minuto após o contato com a

água.

A água utilizada para a hidratação dos gametas era coletada da chuva, segundo o

responsável pelo processo de hipofisação antes se utilizava a água das incubadoras, porém a

taxa de fecundidade era baixa. Com a utilização da água da chuva ocorreu um aumento

significativo na taxa de fecundidade.

Logo depois desse processo os ovos são transferidos para as incubadoras onde

ocorre todo o desenvolvimento embrionário e o nascimento das larvas.

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3.7 Incubação e eclosão

Após a fecundação os ovos são distribuídos igualmente em quatro incubadoras de

200 L, previamente limpas, teladas e com vazão de 5 a 10 L/min, com a densidade de 2 g de

ovos/L (Figura 12). Em média a fêmea de tambaqui libera uma concentração de 1.500

ovócitos/g (LEITE et al., 2013). As incubadoras utilizadas no Centro de Pesquisa são feitas de

fibra de vidro, com o formato de funil, a entrada da água pela parte inferior e a saída pela

parte superior, dessa forma, movimentando os ovos que não saiam pela parte superior devido

a tela. Além disso, esse sistema realizava renovação da água gerando uma oxigenação de 5

mg/L suficiente para a sobrevivência dos indivíduos. É necessária o monitoramento da

temperatura e do oxigênio dissolvido da água nas incubadoras para que não haja problemas na

eclosão dos ovos.

De acordo com Dalmass et al. (2016), a incubação tem como objetivo garantir o

desenvolvimento embrionário e a eclosão, e o sucesso dessa parte do procedimento depende

exclusivamente da qualidade da água que deve apresentar parâmetros físicos e quimicos

ideais a espécie de cultivo, como: temperatura ideal a espécie; pH entre 7 e 8; dureza e

alcalinidade acima de 30 mg/L e oxigênio dissolvido acima de 5 mg/L. Os autores citam,

ainda, que a vazão e a aeração dos ovos permitem a constante movimentação dos mesmos,

impedindo que eles fiquem parados no fundo ou aderidos na borda da incubadora, assim,

evitando que os ovos não fecundados se fixem aos fecundados. Ovos não fecundados

apresentam rápido crescimento de fungos e bactérias, fatores prejudiciais ao ovos fecundados.

Durante está pesquisa, a eclosão dos ovos demorou de 12 a 18 horas

aproximadamente, período inversamente proporcional a temperatura da água, assim, quanto

maior a temperatura da água menor será o tempo de eclosão das larvas. Após a eclosão as

larvas ainda passaram dois dias nas incubadoras, somando assim um tempo total de 72 horas

de incubação, podendo ser alimentadas com gema de ovo até o 3° ou 4° dia na própria

incubadora para dar mais resistência às larvas, nesse período às larvas já estão bem

desenvolvidas, com a boca aberta e sistema digestório completo.

3.8 Estocagem das pós-larvas

Antes do povoamento dos viveiros é necessário fazer a preparação do mesmo. Um

dos primeiros procedimentos a ser realizado é a secagem do viveiro deixando todo o fundo do

mesmo exposto ao sol para a decomposição da matéria orgânica. Posteriormente é feita a

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calagem utilizando cal virgem na quantidade de 200 kg/ ha, que além de ser responsável pela

assepsia do viveiro e manutenção do pH, permite uma maior disponibilidade de nutrientes e

fornecimento de cálcio para o zoôplancton, que é a alimentação natural nos primeiros dias de

vida (FARIA et al, 2013).

Em seguida é feita a adubação por dois dias com esterco bovino na proporção de

2000 kg/ha e só depois é adicionado água no viveiro, esse período de preparação do viveiro

leva em torno de 7 dias, sempre observando a transparência da água utilizando um disco de

Secchi, assim, quando a transparência estiver na faixa de 30 a 60 cm, as pós-larvas podem ser

adicionadas no viveiro, pois a água estará rica em alimento natural como rotíferos e

cladóceros (FARIA et al, 2013)

A transferência das pós-larvas é realizada 3 dias após a eclosão, por sifonamento,

retirando-se a parte da mangueira acoplada na torneira e, deixando-se acoplada a parte

inferior, sendo a mesma colocada em um recipiente com uma tela, não permitindo a saída das

larvas desse recipiente. Após a retirada total da água, abria-se a torneira fazendo uma limpeza

nas incubadoras, retirando as pós-larvas que por ventura tenham ficadas aderidas na parede da

incubadora. É importante ter cuidado para não ocorre a comatação da malha e danificação das

pós-larvas. Em seguida as larvas são colocadas em um saco e transportadas para os viveiros

previamente preparados, onde passam entorno de 30 dias para serem liberados para a venda.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de hipofisação é uma técnica que permite a reprodução de peixes

reofilícos, espécies que necessitam de estímulos naturais, como subir o rio para ocorrer a

maturação das gônadas, e que em ambientes de cativeiro necessitam de outros meios como a

utilização de hormônios. Esse processo possibilitou o crescimento de 57% na produção do

tambaqui no ano de 2014 quando comparado com 2013, esse aumento na produção se deu

principalmente pela facilidade de obtenção de juvenis produzidos pelo método de hipofisação.

A técnica apresentou uma grande influência na produção do tambaqui nos

sistemas de cultivos, deixando a espécie na primeira posição do peixe nativo mais consumido

no Brasil, uma vez que a produção da pesca comercial apresentou um grande declínio no

Estado do Amazonas, principal produtor, devido ao aumento do esforço de pesca.

Portanto, os conhecimentos adquiridos sobre a técnica de hipofisação adotada no

Centro de Pesquisas Ictiológicas Rodolpho von Ihering do DNOCS, foram de grande

importância para o enriquecimento profissional e individual, pois mesclou a parte teórica,

obtida durante o curso, com a prática do sistema de cultivo.

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REFERÊNCIAS

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