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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO RESIDÊNCIA UNIPROFISSIONAL EM MEDICINA VETERINÁRIA SETOR DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM HOSPITAL VETERINÁRIO/ CAMPUS CUIABÁ LUDMILA SILVA AZEVEDO HIPOPLASIA PULMONAR ASSOCIADA A HIDROPSIA FETAL EM FETO CANINO Cuiabá 2016

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

    RESIDÊNCIA UNIPROFISSIONAL EM MEDICINA VETERINÁRIA

    SETOR DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM

    HOSPITAL VETERINÁRIO/ CAMPUS CUIABÁ

    LUDMILA SILVA AZEVEDO

    HIPOPLASIA PULMONAR ASSOCIADA A HIDROPSIA FETAL EM FETO

    CANINO

    Cuiabá

    2016

  • LUDMILA SILVA AZEVEDO

    HIPOPLASIA PULMONAR ASSOCIADA A HIDROPSIA FETAL EM FETO

    CANINO

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação da Re-

    sidência Uniprofissional em Medicina Veterinária, como requisito

    obrigatório para obtenção do certificado de Especialista em Diagnós-

    tico por Imagem.

    Orientador: Professor Dr. Pedro Eduardo Brandini Néspoli

    Cuiabá

    2016

  • RESUMO

    Descrevem-se os aspectos ultrassonográficos e patológicos de um feto canino diagnosticado

    com hipoplasia pulmonar e hidropsia fetal em uma cadela sem raça definida, submetida a exame

    ultrassonográfico para avaliação gestacional no Hospital Veterinário da Universidade Federal

    de Mato Grosso. A ultrassonografia revelou feto de aproximadamente 58 dias com conteúdo

    fluido anecogênico ocupando toda a área pulmonar e discreta quantidade de conteúdo livre

    anecóico na cavidade abdominal. O feto natimorto encaminhado para necropsia apresentou

    fenda palatina, intenso inchaço e severo edema subcutâneo (anasarca), cavidade torácica pre-

    enchida por líquido avermelhado, pulmões com dimensões severamente reduzidas e discreta

    presença de líquido avermelhado em cavidade abdominal. O diagnóstico de hipoplasia pulmo-

    nar associada à hidropsia fetal não tem sido descrito em caninos e o padrão ultrassonográfico

    observado nesse caso pode ser útil para o diagnóstico dessas condições em fase intrauterina.

    Palavras-chave: Feto - hidropsia fetal - hipoplasia pulmonar - ultrassonografia.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Imagem ultrassonográfica e de necrópsia, UFMT, 2015.........................................14

  • SUMÁRIO

    RELATO DE CASO ................................................................................................................. 8

    REFERÊNCIAS ........................................................................ Erro! Indicador não definido.1

    NORMAS PARA PUBLICAÇÃO ........................................... Erro! Indicador não definido.3

  • 8

    HIPOPLASIA PULMONAR ASSOCIADA À HIDROPSIA FETAL EM FETO

    CANINO

    AZEVEDO, L.S.1, SIQUEIRA, A. R.1, ZENI, A. I.1, FURLAN, F. H.2, NÉSPOLI, P. B.2

    A hipoplasia pulmonar é uma condição raramente descrita em humanos (Swischuk et

    al., 1979; Demaret et al., 2009; Faruqi et al., 2011) e em animais (Windsor et al., 2006; Age-

    rholm & Arnbjerg, 2011; Lee et al., 2014). Sua origem pode ser primária, caracterizada pelo

    desenvolvimento incompleto do pulmão devido à diminuição do número de células e espaços

    alveolares (Laudi & Wladimiroff, 2000); ou secundária, quando ligada a uma anomalia congê-

    nita ou a complicações na gestação que inibem o desenvolvimento pulmonar (Lauria et al.,

    1995). Já a hidropsia fetal ocorre por condições congênitas variadas que resultam na falha da

    homeostase fetal (Lumbers et al., 2001), provocando excessivo edema subcutâneo com ou sem

    efusão peritoneal, pleural e pericárdica (Ladds et al., 1971; Saltzman et al., 1989). Na medicina

    veterinária, a ocorrência simultânea dessas patologias é rara e foi descrita em fetos bovinos

    como síndrome da Hipoplasia Pulmonar e Anasarca, com um padrão sugestivo de herança au-

    tossômica recessiva (Windsor et al., 2006; Agerholm & Arnbjerg, 2011).

    Nesse trabalho foram descritos os aspectos patológicos e ultrassonográficos de um feto

    canino diagnosticado com hipoplasia pulmonar e hidropsia fetal em uma cadela, sem raça defi-

    nida, de 10 anos de idade, submetida a exame ultrassonográfico de rotina para avaliação gesta-

    cional no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso. O exame ultrassono-

    gráfico revelou presença de duas estruturas fetais em avançado grau de mineralização. Uma

    delas mantinha sua organogênese preservada, frequência cardíaca média de 205 b.p.m. e diâ-

    metro biparietal médio de 2,52 cm. Durante varredura do segundo feto, identificou-se conteúdo

    fluido anecogênico (figura 1A) ocupando toda a área pulmonar, coração aparentemente dentro

    da normalidade anatômica, com atividade cardíaca média em 230 b.p.m. e discreta quantidade

    de conteúdo livre anecóico na cavidade abdominal. Demais estruturas abdominais apresenta-

    vam aspectos anatômicos normais. Com base no diâmetro biparietal médio de 2,54 cm, a idade

    fetal estimada foi de 58 dias (± 3 dias) de acordo com metodologia descrita por Mattoon &

    Nyland (1995). Após quatro dias decorridos do exame ultrassonográfico, os filhotes nasceram

    naturalmente, um dos fetos era natimorto e foi encaminhado para necropsia. O exame macros-

    1 Acadêmico de residência em medicina veterinária, HOVET-UFMT, Cuiabá, MT. 2 Professor Dr. UFMT, CLIMEV, FAMEVZ, Cuiabá-MT.

  • 9

    cópico revelou intenso inchaço e severo edema subcutâneo (anasarca), fenda palatina, hidrotó-

    rax, pulmão com dimensões severamente reduzidas, medindo 2,0 x 1,2 cm, de coloração pálida

    (figura 1B) ascite discreta. Diante de avaliação microscópica de pulmão, concluiu-se que havia

    moderada congestão e atelectasia generalizada. Os demais órgãos, não demonstraram alterações

    histopatológicas e descartaram-se inclusões virais ou outros organismos. As lesões encontradas

    foram consistentes com fenda palatina e hipoplasia pulmonar associada à hidropsia fetal (ana-

    sarca).

    A hidropsia fetal é uma condição descrita em diversas raças caninas, predominante-

    mente em Buldogues (Hopper et al., 2004), Bichon Frise (Allen et al., 1989) e Pequinês (Chew-

    Lim, 1976), e em bovinos (Windsor et al., 2006). Nos caninos é atribuída mais comumente a

    uma variedade de anomalias cardiovasculares em filhotes (Ladds et al., 1971), e nos bovinos

    tem caráter letal e é herdada de forma autossômica recessiva (Windsor et al., 2006). O aspecto

    ultrassonográfico descrito na literatura por Hopper et al. (2004) é similar ao observado nesse

    estudo e inclui a ocorrência de fluido anecóico subcutâneo, e quantidades variáveis de líquido

    pleural e peritoneal.

    A hipoplasia pulmonar produz sintomatologia variável, e em alguns casos pode ser as-

    sintomática, dependendo da intensidade de redução do volume pulmonar (Demaret et al., 2009).

    Segundo Boylan et al. (1977), Frey et al (1994) e Hamel (1995), os pulmões podem apresentar-

    se com aspecto grosseiramente anormal, acompanhado de redução no número de brônquios,

    bronquíolos e alvéolos; parcialmente formados devido a um atraso na maturação pulmonar, ou

    ainda, com aparência normal, mas com volume reduzido, semelhante ao encontrado neste tra-

    balho. Embora a ultrassonografia seja a modalidade de imagem mais utilizada para avaliação

    do feto humano, ela tem uso complementar no exame de casos de suspeita de hipoplasia pul-

    monar. Nestes casos, geralmente recorre-se à ressonância magnética, que permite mensurar o

    volume pulmonar fetal e compara-lo com o peso corporal do feto, estimado por meio de ultras-

    sonografia (Tanigaki et al., 2004). Os estudos demonstram que a ocorrência de hipoplasia pul-

    monar primária em humanos é incomum (Demaret et al., 2009) e que uma parcela ainda menor

    seja representada por aqueles diagnosticados com “horseshoe lung” (Lee et al., 2014), que con-

    siste em uma apresentação da hipoplasia pulmonar na qual o parênquima pulmonar se estende

    a partir da base do pulmão através da linha média e funde-se com a base do pulmão contralateral

    (Frank et al, 1986). Lee et al. (2014) descreve o caso de um cão de sete meses de idade diag-

    nosticado com “horseshoe lung” por meio de radiografia e tomografia computadorizada. Con-

    trastando com o relato de Lee et al. (2014), o cão acometido por hipoplasia pulmonar deste

  • 10

    trabalho estudo apresentou redução total e severa dos pulmões, notável quando comparada ao

    tamanho do coração e língua (Figura 1C) e manutenção das demais estruturas adjacentes.

    Bezerros Dexter e Galloway relatados respectivamente por Windsor et al. (2006) e Age-

    rholm & Arnbjerg (2011), acometidos por hipoplasia pulmonar e hidropsia fetal simultanea-

    mente, compartilham de características basicamente comuns às encontradas neste caso, volume

    pulmonar reduzido, anasarca e, também, palatosquise (Agerholm & Arnbjerg, 2011), embora

    a denominação adotada, síndrome da Hipoplasia Pulmonar e Anasarca, possa acrescentar apre-

    sentações fenotípicas mais discrepantes, tornando-os com aparência aberrante. Em bovinos é

    possível a constatação da síndrome por meio de testes genéticos, porém, neste caso, a ausência

    de informações moleculares impossibilitaram a confirmação do fundo genético. Contudo, con-

    forme apontado por Lauria et al. (1995), sugere-se que esse caso trata-se de uma hipoplasia

    pulmonar do tipo secundária, uma vez que anomalias congênitas ou as complicações na gesta-

    ção possam inibir o desenvolvimento dos pulmões.

    Apesar dos malformações informadas por Windsor et al. (2006), Agerholm & Arnbjerg

    (2011) e Lee et al. (2014) não terem sido diagnosticados com o emprego da ultrassonografia,

    esta modalidade de imagem, para além da radiografia, encontra-se como a mais acessível na

    medicina veterinária, e seu uso neste trabalho mostrou-se primordial para a identificação da

    enfermidade, corroborando com a possibilidade de seu reconhecimento em fetos humanos.

    Figura 1: A. Imagem ultrassonográfica longitudinal do tórax do feto. As câmaras cardíacas

    mantidas. Presença de conteúdo anecóico em área pulmonar. UFMT, 2015 B. Imagem de ne-

  • 11

    crópsia. Presença de líquido em cavidade torácica, UFMT, 2015. C. Imagem de necropsia. Pul-

    mão (3) substancialmente diminuído em relação à língua (1) e coração (2) e de coloração pálida,

    UFMT, 2015.

  • 12

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