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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES (FCA) DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ERICK LEANDRO SILVA FREITAS CULTURA NERD E JORNALISMO CULTURAL: UMA ANÁLISE SOBRE O SITE OMELETE CUIABÁ-MT 2018

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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

    FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES (FCA)

    DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

    ERICK LEANDRO SILVA FREITAS

    CULTURA NERD E JORNALISMO CULTURAL: UMA ANÁLISE

    SOBRE O SITE OMELETE

    CUIABÁ-MT

    2018

  • 2

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

    FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES (FCA)

    DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

    ERICK LEANDRO SILVA FREITAS

    CULTURA NERD E JORNALISMO CULTURAL: UMA ANÁLISE

    SOBRE O SITE OMELETE

    Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à

    Departamento de Comunicação Social da

    Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção

    do título de bacharel em Comunicação Social,

    habilitação em Jornalismo, sob orientação do Prof.

    Ms. Thiago Cury Luiz.

    CUIABÁ-MT

    2018

  • 3

    RESUMO

    O trabalho tem como objetivo investigar o movimento cultural nerd no Brasil, além de

    analisar a interação dos leitores do site Omelete através dos comentários publicados no site. A

    metodologia utilizada é a quantitativa, analisando o conteúdo publicado no período de três

    meses: junho, julho e agosto de 2018. Para isso, utilizamos o referencial teórico da

    folkcomunicação, visando aprofundamento sobre a apropriação da cultura pela mídia, uma

    leitura das sociedades tribais feita por Maffesoli, além de seguir a visão de jornalismo cultural

    exposta por Daniel Piza. A análise chega à conclusão de que o público do site “Omelete” busca

    por notícias internacionais, em sua maioria por aquelas que remetem ao tema extraordinário do

    mundo dos super-heróis, e apesar de se denominar um site de entretenimento, o foco é voltado

    para o público nerd.

    Palavras-chave: Cultura Nerd; Jornalismo cultural; Site “Omelete”.

  • 4

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5

    CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 8

    O MUNDO NERD .................................................................................................................... 8

    1.1 Origem da palavra “nerd” ................................................................................................. 8

    1.2 O surgimento da cultura nerd nos Estados Unidos ........................................................... 9

    1.3 A cultura nerd no Brasil cresce e passa a ser comercializada ......................................... 14

    CAPÍTULO II ......................................................................................................................... 19

    O CONTEXTO DA FOLKCOMUNICAÇÃO E DO JORNALISMO CULTURAL ...... 19

    2.1 Reflexões sobre Folk ...................................................................................................... 19

    2.2 Algumas considerações sobre jornalismo especializado ................................................ 23

    2.3 Jornalismo cultural .......................................................................................................... 28

    CAPÍTULO III ....................................................................................................................... 37

    ANÁLISE DO SITE OMELETE .......................................................................................... 37

    3.1 O site Omelete ................................................................................................................ 37

    3.2 Análise de conteúdo do site Omelete .............................................................................. 38

    3.2.1 1º dia: 4 de junho de 2018 ........................................................................................ 39

    3.2.2 2º dia: 12 de junho de 2018 ...................................................................................... 40

    3.2.3 3º dia: 20 de junho de 2018 ...................................................................................... 42

    3.2.4 4º dia: 28 de junho de 2018 ...................................................................................... 44

    3.2.5 5º dia: 6 de julho de 2018 ......................................................................................... 45

    3.2.6 6º dia: 14 de julho de 2018 ....................................................................................... 46

    3.2.7 7º dia: 22 de julho de 2018 ....................................................................................... 47

    3.2.8 8º dia: 30 de julho de 2018 ....................................................................................... 48

    3.2.9 9º dia: 7 de agosto de 2018 ....................................................................................... 49

    3.2.10 10º dia: 15 de agosto de 2018 ................................................................................. 50

    3.2.11 11º dia: 23 de agosto de 2018 ................................................................................. 52

    3.2.12 12º dia: 31 de agosto de 2018 ................................................................................. 53

    CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 57

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 59

  • 5

    INTRODUÇÃO

    Esta pesquisa monográfica tem como objetivo analisar o conteúdo publicado no site de

    entretenimento “Omelete”, observando as manchetes e comentários feitos por seus leitores. O

    nosso problema de pesquisa é compreender se o público nerd do site tem influência direta sobre

    os conteúdos publicados no site.

    Entre os assuntos analisados, será observado se assuntos considerados de elite, como

    notícias oriundas de países de primeiro mundo, são mais propensas a aparecerem no site. O

    mesmo vale para pessoas consideradas de elite, que ocupam cargos importantes. E se as notícias

    originadas dessa elite continuam a gerar conteúdo para o site.

    A pesquisa também busca investigar o surgimento da cultura nerd e como ela chegou

    ao Brasil, sendo uma cultura que teve grande crescimento nas últimas décadas. Além disso, será

    feita uma análise de quais os tipos de notícias aparecem com maior frequência no site

    “Omelete”, que é caracterizado por ser um site de entretenimento.

    O tema é pertinente, pois o movimento nerd cresceu nos últimos anos no país,

    adentrando diversos setores da economia e tornando-se algo que gera muito dinheiro, seja na

    indústria do cinema, brinquedos, jogos e entretenimento de maneira geral. E isso não poderia

    ser diferente com os sites de notícia, que cada vez mais abrigam o conteúdo em suas notícias,

    tendo em vista que o assunto “nerd” acaba sendo rentável.

    Para fazer dar continuidade ao trabalho monográfico, será feita uma análise de conteúdo

    do site omelete, de maneira quantitativa, utilizando o método de semana construída. Três meses

    do ano de 2018 foram escolhidos para essa análise, cada mês do ano corresponde a 4 dias, e

    esses dias correspondem às semanas presentes no mês, fazendo com que tenhamos um mês

    completo. Os três meses correspondem a 12 dias, gerando um total de 12 semanas de análise.

    Para realizar a análise foi preciso, no primeiro momento, investigar a origem da cultura

    nerd e como ela cresceu nos últimos anos no Brasil. Também, conhecer o movimento cultural

    nerd, que atualmente possui representatividade expressiva nos meios do entretenimento e

    comunicação. Além disso, foi preciso reconhecer quais os tipos de notícias aparecem com maior

    frequência no site “Omelete” no período escolhido para a análise desta monografia.

    Temos como hipótese para esse trabalho monográfico que notícias originárias de países

    de primeiro mundo é mais significativa para o site, logo será observado se esse tipo de notícia

    realmente possui maior expressividade se comparada a outros tipos de informações veiculadas

  • 6

    no site. Ainda nesse aspecto, partimos do princípio de que notícias ligadas a pessoas

    consideradas de elite, que possuem cargos ou papeis importantes, ganham mais visibilidade

    despertando maior interesse do público e fazendo com que notícias desse aspecto tenham

    chances maiores de serem publicadas. E, se por serem de elite, essas notícias possuem maior

    possibilidade de continuidade do assunto difundido no site.

    Tudo isso foi feito através de pesquisa bibliográfica, que serviu para conhecer melhor o

    conteúdo apresentado ao longo do trabalho monográfico. O próximo passo foi a realização da

    pesquisa empírica, em que foi escolhido o método de amostra para realizar a análise, pois se

    encaixava melhor na proposta do trabalho, além de levar menos tempo e ter menor custo que

    outro tipo de pesquisa. Com esse método foi possível delimitar qual o universo, a população e

    qual elemento específico será tirado da amostra para a realização da análise. O universo é o site

    “Omelete”, a população são os leitores e os elementos específicos são as notícias publicadas no

    site durante um período de três meses.

    O período escolhido para realizar a análise foram três meses do ano de 2018, sendo eles

    junho, julho e agosto. Para isso foi preciso fazer o uso da semana construída, pegando um dia

    de cada semana do mês, completando quatro semanas no total por mês, dando um total de 12

    dias ou 12 semanas analisadas. Esse tipo de análise foi feito para facilitar a análise, tendo em o

    número de informação publicada durante três meses em sites é vasto e dificultaria a análise.

    Junho Dia 04 Dia 12 Dia 20 Dia 28

    Julho Dia 06 Dia 14 Dia 22 Dia 30

    Agosto Dia 07 Dia 15 Dia 23 Dia 31

    O tipo de análise escolhida foi a análise de conteúdo. De todos os métodos possíveis,

    essa é o que melhor se encaixa na proposta da pesquisa. Com esse método foi possível analisar

    o conteúdo do site “Omelete”, que foi escolhido como objeto de estudo da monografia.

    Para esse trabalho foi escolhida a análise quantitativa para realizar a coleta de dados,

    que se baseia em números. Durante esses três meses de análise foram publicadas pelo site 434

    notícias, todas essas notícias foram analisadas e foram utilizadas para apresentar os resultados

    presentes na análise do site.

    A partir dos dados coletados, foi feita a análise da manchete das notícias publicadas,

    para identificar em qual categoria a notícia se encaixa, sendo essas categorias: filmes,

    quadrinhos, música, livro/hq, para traçar a quantidade de vezes em que uma notícia era

    publicada e quais apareciam com maior frequência. Os comentários deixados pelos leitores

  • 7

    também foram analisados, de modo que a interação também fosse analisada, para observar se o

    número de interação do público em determinada notícia influenciava com a sua frequência no

    site. A análise também identifica quais dessas categorias possuem o maior número de interação

    por parte do público, como também quais delas aparecem mais durante os três meses escolhidos

    para a análise do site “Omelete”.

    No primeiro capítulo, é resgatado o início da palavra “nerd” e consequentemente o

    movimento nerd até chegar no Brasil. Para entender sobre o movimento cultural nerd,

    utilizamos do sociólogo Michel Maffesoli, para aprofundarmos os nossos conhecimentos sobre

    as sociedades tribais e a coletividade na sociedade de massa, em que o indivíduo cada vez mais

    deixa de agir sozinho e procura se incluir nessas sociedades tribais. Os indivíduos preferem

    passar a viver numa coletividade, ao invés da individualidade. É exposto ainda como o termo

    “nerd” deixa de ser marginalizado pelas massas e passa a ter outro significado, transformando

    a imagem do nerd em algo positivo. Como também em um negócio lucrativo que atualmente

    movimenta milhões no Brasil.

    No segundo capítulo são feitas breves reflexões sobre a folkcomunicação, como a

    cultura se desenvolve através das pessoas e da troca de informações entre os indivíduos. E como

    novas culturas se desenvolvem e passam por transformações dando origem a uma nova cultura,

    recebendo influências de diversas culturas e criando novas, mas sem esquecê-las, apenas

    atualizando-as conforme a sociedade vai mudando. Ainda no segundo capítulo, utilizamos a

    visão de Daniel Piza sobre o jornalismo cultural. E fazemos considerações também sobre

    jornalismo e especializado.

    O último capítulo desse trabalho é dedicado à análise do site Omelete, mostrando os

    resultados obtidos através do estudo feito durante os meses de junho, julho e agosto do ano de

    2018.

  • 8

    CAPÍTULO I

    O MUNDO NERD

    1.1 Origem da palavra “nerd”

    O termo nerd, como conhecemos hoje, é muito famoso e bastante usado em todos os

    meios. Os primeiros registros das palavras, segundo alguns autores, surgem a partir da década

    de 50.

    Numa das versões mais divulgadas, o termo teria surgido no Canadá, onde um

    grupo de jovens cientistas não fazia outra coisa senão varar noites na divisão

    de pesquisa e desenvolvimento (research and development, abreviado como

    R&D, em inglês) da Northern Electric, então um atuante laboratório de

    tecnologia. Mais conhecido pela sigla com suas iniciais, Nerd, o nome do tal

    laboratório passou a ser sinônimo daqueles jovens branquelos de óculos

    espessos, vidrados num computador e pouco afeitos ao ar livre. (PEREIRA,

    2008, s/p).

    Além dessa versão, outra constante entre os historiadores e, talvez, uma das mais

    defendidas, é de que ‘nerd’ surgiu em 1950, a partir do livro de literatura infantil “If I Ranthe

    Zoo”, do autor Theodor Seuss Geisel, mais conhecido como Dr. Seuss, que, em sua publicação

    de história fantástica, um dos personagens era chamado de Nerd (ZIMMER, 2011).

    Contudo, é difícil creditar a invenção da palavra “nerd” ao autor, pois, um ano mais

    tarde, ela já era usada como gíria entre jovens americanos, e a rapidez com que ela se propagou

    faz com que essa teoria, de que seu surgimento se derivou através de um livro infantil, torne-se

    menos provável.

    Para Jim Burrows, consultor de alta tecnologia de Maynard, Massachusetts, a linha do

    tempo entre a publicação do livro e os registros de adolescentes usando a palavra é muito curta,

    fazendo com que seu surgimento seja, muito provavelmente, de outra fonte. O consultor apoia

    a teoria de que nerd vem do acrônimo Northem Electric Research and Development, já citado

    anteriormente, formando a palavra “nerd”. Porém, o próprio consultor admite que não existe

    evidência de que essa também seja a origem da palavra, pois o laboratório foi criado apenas no

    final dos anos 50.

    A origem da palavra continua um mistério. O que se pode ter certeza é que foi a partir

    dos anos 50, em algum lugar dos Estados Unidos, que o nerd começou a surgir nos meios

    sociais, por meio dos jovens. Zimmer diz:

  • 9

    Talvez toda essa etimologia esteja além do ponto. Arnold Zwicky, lingüista

    da Universidade de Stanford, diz que palavras extravagantes como nerd “não

    têm necessariamente uma fonte histórica do tipo comum”, mas podem ser

    invenções baseadas em “ecos distantes de uma variedade de palavras

    existentes”. Mortimer Snerd aqui, um pouco nerts! lá, talvez até uma sopa de

    Seuss, e voilà! Um nerd nasceu. (ZIMMER, 2011, s/p).1

    Ou seja, a palavra nerd pode ter sua origem por diversas fontes, e que talvez o termo

    tenha surgido a partir da fusão de uma série de eventos e teorias, fazendo com que o nerd tenha

    o significado que conhecemos no século XXI.

    1.2 O surgimento da cultura nerd nos Estados Unidos

    O nerd na cultura contemporânea sempre foi caracterizado por jovens que não se

    encaixam em nenhuma tribo urbana e social. Jovens que não possuem interesses em comum

    com a maioria das pessoas da mesma idade. Magrelos, estudiosos e com problema de visão.

    Usando os característicos óculos, conhecido no Brasil como ‘óculos fundo de garrafa’. Também

    eram taxados de antissociais, pois odiavam sair de casa. Mas isso acontecia em decorrência do

    bullying e preconceitos que eram descarregados em cima desses indivíduos pela sociedade

    (GALVÃO, 2009)

    Uma das explicações para que o comportamento nerd seja descrito como antissocial,

    tímido, é o fato de que os pais passaram a prender seus filhos dentro de casa, dando menos

    liberdade, em decorrência do movimento Hippie na década de 60, nos Estados Unidos.

    Movimento cultural que pregava “Peace and Love”, além de seguir um ideal naturalista, e

    abominar a guerra do Vietnã. Muitos pais temiam que seus filhos seguissem o estilo de vida em

    que era comum o naturalismo, como também o uso de drogas ilícitas, costume entre os membros

    hippies na década de 60, além de não querer que eles fossem engajados em protestos contra

    guerras, principalmente a do Vietnã. Segundo Galvão (2008, p.34-35), “esta atitude favoreceria

    o estilo de vida enclausurada do nerd. A partir daí, nerd passou a ser usado em tom pejorativo,

    e garotos que se enquadravam no estereótipo passaram a ser ridicularizados pela sociedade”.

    Nessas condições, a ideia e o estereótipo do nerd já iam se formando, mas em menor

    escala do que anos depois, a atingir um público maior e tirando essas pessoas da obscuridade.

    Após o ‘descobrimento’ da palavra nerd e a influência que o movimento cultural hippie teve na

    sociedade, outros meios da mídia começariam a espalhar essas ideias para uma porção maior

    da sociedade.

    1 Tradução nossa.

  • 10

    Um dos responsáveis por popularizar essa imagem do nerd passa a ser o filme “Revenge

    of the Nerds”(A vingança dos Nerds no Brasil), de 1984, quase 30 anos depois dos primeiros

    relatos do surgimento da palavra. A imagem desse nerd se consolidou e passou a ser usada em

    diversos outros meios, seja em filme ou na literatura. Pessoas com problemas de saúde e

    tímidas, passaram a ser consideradas nerd.

    No começo dos anos 90, o nerd começa a ganhar fama, pois houve um grande

    enriquecimento de pessoas consideradas nerds, que investiram no ramo da computação e

    empresas tecnológicas. Antes, o que era motivo de preconceito e discriminação, começa a

    mudar, quando nomes como Steve Jobs e Bill Gates passaram a ganhar fama e reconhecimento.

    Empresas envolvidas em pesquisas e construção de softwares passaram a ganhar dinheiro com

    uma rapidez enorme, dando uma nova roupagem para os indivíduos classificados como nerd.

    Hoje, quem tem informação, tem poder. Nessa sociedade, o desenvolvimento

    tecnológico, atrelado ao capitalismo é um dos responsáveis pelo crescimento

    econômico de um país. Portanto, os nerds, que antes eram mal vistos pelo

    fascínio que tinham pela tecnologia, hoje estão cada vez mais dominando o

    mercado de trabalho (GALVÃO, 2009, p. 35).

    Ser nerd passou a ser sinônimo de dinheiro, e as distrações consideradas incomuns

    passaram a ser levadas a sério, já que nos anos 90 os computadores começaram a ter grande

    importância em empresas, com a ajuda da internet, devido à sua fácil e rápida comunicação

    entre funcionários de uma empresa, como também fora dela. Além do mais, armazenavam um

    número maior de dados (PALAZZO, SANTOS, 1998).

    Uma mudança significativa – e talvez a maior até o momento – na imagem da pessoa

    nerd se deu a partir de fatores socioeconômicos e depois atingiu a cultura de massas, em filmes

    e séries de TV, que atualmente são grandes responsáveis por moldar a percepção das pessoas

    de um modo geral do que é ser nerd. Toda a conotação negativa herdada ao longo dos anos

    passa a mudar no fim do ano de 1990 e começo dos anos 2000.

    O filme “A vingança dos Nerds”, apesar de ser um dos responsáveis pela popularização

    da palavra para o público nos anos 80, não obteve o mesmo impacto que a série The Big Bang

    Theory teve no fim dos anos 2000. A série, que acompanha quatro amigos nerds, mudou a

    imagem de que ser nerd é algo negativo. Mesmo replicando estereótipos antigos do que é ser

    nerd, a série de comédia americana da CBS consegue transformar a pessoa nerd em alguém

    ‘cool’, popularizando as características de personalidade dessas pessoas, principalmente através

    do personagem Sheldon Cooper, que possui muitas peculiaridades, fazendo com que os traços

    exibidos por ele sejam vistos de forma cômica e positiva.

  • 11

    The Big Bang Theory conseguiu romper a barreira dos nerds e passou de um grupo

    considerado underground, outsider, chegando até algo considerado mainstream. Não existe

    restrição de público, apesar de ser um programa americano focado em piadas que fazem uso de

    assuntos conhecidos por quem vive a cultura nerd. O humor consegue trazer assuntos da

    atualidade, de conhecimento geral, e mesclar com a ‘nerdice’, sem fazer o programa perder a

    proposta original, que é ser um seriado sobre indivíduos nerds.

    Tamanha identificação do público americano acontece porque o diretor da série, Chuck

    Lorre, tem experiências com séries no estilo de sitcom. Séries como Dois homens e meio e

    Mom estão no currículo do diretor. Sitcom nada mais é que situações comuns vistas de maneira

    humorísticas, situações sérias e até mesmo trágicas ganham um teor humorístico. Geralmente

    cada episódio se desenvolve a partir de um problema que o personagem principal está

    enfrentando, na maioria das vezes o problema é enfrentado após vários desencontros e

    dificuldades. Contudo, sempre inserindo o humor nessas situações (FURQUIM, 1990).

    Mais do que humor, é preciso que exista identificação com o público. The Big Bang

    Theory conseguiu escapar de um círculo fechado, que é o meio nerd, e entrar de forma grande

    e representativa na cultura americana.

    A popularidade do nerd na TV americana pode ser medida através da audiência.

    Segundo o site TV Line, voltado a notícias de programas de televisivos, a série possui o maior

    número de telespectadores para uma atração dessa natureza em TV aberta. Na temporada

    passada, em 2017, faltou apenas 1% para atingir 19 milhões de telespectadores por episódio,

    perdendo apenas para programas em que o foco é o futebol americano, esporte número um dos

    Estados Unidos. O sucesso dos nerds na TV americana é tanto, que a série está renovada até o

    ano de 2019, completando mais de uma década de sucesso absoluto na TV aberta.

    A televisão sempre foi um espelho que reflete a sociedade no momento em que ela se

    encontra, como ela se comporta e principalmente os seus interesses. Seus programas

    transmitem, ou tentam, em sua maioria, de forma ficcional, assuntos relevantes para o público.

    Através das personagens e suas histórias, a TV tenta alcançar uma parcela da sociedade,

    passando para as telas estruturas e aspectos da sociedade que causem similaridade com

    determinado público (GALVÃO, 2009).

    O sucesso da série é tamanho, que um spin off 2 dela, “Young Sheldon”, focado na vida

    e infância de uns personagens principais de The Big Bang Theory, mas seguindo os moldes da

    série original, estreou no ano de 2017 e continua a carregar o sucesso da série original, sendo

    2 Spin off é o termo utilizado para designar aquilo que foi derivado de algo. No caso das séries o spin off utiliza

    de personagens já existentes, criando histórias paralelas, mas que passam no mesmo universo.

  • 12

    umas das maiores audiências do canal CBS. Segundo o site EW (Entertainment Weekly), a

    estreia de Young Sheldon conseguiu a grande marca de 17,2 milhões de telespectadores,

    tornando-se a estreia de um programa de comédia com maior audiência desde o ano de 2011.

    Isso prova que os nerds, nessa última década, passaram a ter grande visibilidade e

    consequentemente se tornaram aquilo que na década de 60 jamais imaginaram: se tornaram

    figuras populares e influentes.

    Produções televisivas na atualidade ganham mais força com o poder da internet, se antes

    sua influência já era estrondosa, agora com os serviços de streaming e clips no youtube, onde

    se pode assistir ou colocar pedaços de cada episódio, o público que ele alcança é maior, o

    número de pessoas que se identificam. A sitcom por ter entre 20 e 30 minutos se encaixa

    perfeitamente nos novos moldes de transmissão de conteúdo.

    A sitcom pode, portanto, abranger desde os nerds assumidos até os que negam

    a revanche da cultura nerd. Todos acabam assistindo por causa da

    identificação, seja através dos elementos visuais e características, seja através

    de sentimentos ou situações (GALVÃO, 2009, p. 40).

    O público nerd cresce cada vez mais, desde sua aparição nos anos 50, quando ainda

    eram reclusos e viviam como um grupo fechado, além de discriminado. Os filmes e programas

    de TV, como também a internet, são responsáveis pelo crescimento da compreensão, de modo

    geral, da ‘nerdice’ que conhecemos hoje.

    Usando a concepção de tribo atribuída por Maffesoli (1998), para explicar a união do

    público nerd e explicar sua expansão, apesar de solitários, é comum que as pessoas se unam

    através de assuntos de interesses mútuos, formando pequenos grupos, conhecidos como tribos.

    Assimilando suas preferências, podem ser musicais, religiosas, esportivas ou qualquer que seja

    o seu interesse.

    A criação de pequenos grupos, ou melhor, tribos, dá-se pela identificação, e, como disse

    Maffesoli (1998), a pessoa pode viver solitária, contudo, é improvável que ela não procure um

    grupo no qual se sinta confortável e aceito. O público nerd não podia ser diferente: indivíduos

    que viviam escondidos por conta do preconceito e o bullying começam a se unir a partir dos

    seus interesses em comum. Começando como uma micro-tribo, o público nerd conseguiu

    expandir o seu número de membros, principalmente com o avanço da internet, onde a

    conectividade faz com que um maior número de pessoas conheça determinadas culturas,

    permitindo que escolham em qual tipo de tribo se adequa a sua preferência.

  • 13

    Essas tribos nada mais são do que um lugar onde o individual se torna coletivo. Isso tem

    influência da televisão, música, livro, e outros meios. Por isso, pessoas podem ter o mesmo tipo

    de estilo e serem identificadas rapidamente. Claro que existem exceções, mas há um estereótipo

    enraizado na sociedade. Por esse motivo, é comum que qualquer pessoa usando óculos acaba

    sendo identificada como nerd, mesmo que suas preferências e sua tribo não tenham qualquer

    relação com a tribo nerd. Mas, com o passar dos anos, essa última característica morre aos

    poucos.

    Continuando com o conceito de tribo de Maffesoli (1998), a característica dominante

    dos participantes da tribo nerd é o apego emocional e, talvez, obsessão por determinado assunto.

    Contudo, a cultura nerd atualmente é uma das mais amplas. Dentro dessa tribo é possível

    identificar diversas ramificações. A cultura nerd vai muito além de gostar de estudar e apreciar

    quadrinhos. Séries de televisão, quadrinhos, anime, mangá, filmes, englobam essa tribo,

    fazendo com que ela possua mais diversidade de conteúdo. Então, a possibilidade de alcançar

    e trazer um público maior para dentro dela acaba sendo consideravelmente mais provável.

    Ser nerd deixou de ser algo negativo e passou a ser usado de forma positiva, qualquer

    pessoa interessada e que tenha paixão sobre qualquer assunto passa a ser nerd. Com essas

    mudanças no que é ser nerd, surge o termo “geek”, usado normalmente para pessoas que

    possuem extrema paixão por tecnologia. “Geek” passou a ser considerado uma extensão do que

    é ser nerd, pois essas pessoas incorporam essa cultura em suas vidas, sendo bem informadas

    sobre computadores e diversos artigos tecnológicos.

    O termo geek agora é usado cada vez mais como um adjetivo, em vez de um

    mero esteriotipo. Por exemplo, “tech geek” é uma expressão comum usada

    para descrever alguém cuja paixão pela tecnologia fez dele ou dela um

    especialista em computação. Esta transformação mais positiva na palavra geek

    ocorreu por dois motivos. Primeiro, muitas pessoas em nossa sociedade são

    apaixonadas por computadores, por isso, ser visto como uma criança talentosa

    especializada (geek) hoje é gratificante socialmente. Em segundo lugar,

    porque muitos outros se esforçam para se tornar mais experientes

    tecnologicamente, o especialista ou geek é visto como um ajudante, e em

    muitos casos o termo geek até mesmo atribui uma qualidade de vanguarda a

    esse indivíduo. (CROSS, 2005, p. 26-27).3

    Os geeks são muito focados e, muitas vezes, se tornam experts naquilo que amam.

    Imersos naquilo, há uma chance de desenvolverem uma habilidade maior que a de outras

    pessoas. Por exemplo, em sua maioria, o geek é apaixonado e obcecado por tecnologia, então a

    3 Tradução nossa

  • 14

    chance de se aperfeiçoar nessa área é grande. E, como vimos antes, nos anos 90, a imagem do

    nerd passou a mudar por conta do avanço tecnológico em computadores e como esse campo

    gerava dinheiro. Não é surpresa que os geeks sofram o mesmo efeito positivo de duas décadas

    atrás, visto que a paixão por tecnologia passou a gerar saldo positivo economicamente.

    Se o nerd já se aprofunda naquilo que ele ama, pessoas que se consideram geeks vão um

    pouco além. Seguindo a lógica de que o nerd pode ser considerado nerd por gostar de qualquer

    tipo de coisa, de forma aprofundada, sem nenhuma restrição, tem como característica principal

    o amor por aquilo que escolhe, sejam filmes, quadrinhos etc.

    Como evidência dessa evolução no estereótipo, o termo geek também é

    frequentemente usado de maneiras muito específicas, como ser um geek de

    tecnologia ou um geek de arte, notícias ou clima. O que é interessante e digno

    de observar sobre essas mudanças é sua semelhança com outra analogia: o

    cisne emergindo de um patinho feio. Ser considerado um nerd quando criança

    (um patinho feio) não tem a conotação negativa que uma vez fez. (CROSS,

    2005, p. 27).4

    Por serem especialistas, o termo geek não carrega o teor negativo e degradante de antes,

    muito pelo contrário. Ser geek significa ser alguém que entende de algum assunto de forma

    profunda, em qualquer área do conhecimento, indo muito além de jogos, quadrinhos e até

    mesmo tecnologia. Ser geek na sociedade atual é algo que é valorizado, em um mundo

    comandado por aqueles que se destacam em suas respectivas áreas, nerd/geek acabam se

    sobressaindo. Enquanto o geek se foca em coisas materiais, como tecnologia e produção de

    produtos de maneira geral, o nerd é conhecido por criar ideias e teorias sobre aquilo que

    consomem. O tempo de humilhação e bullying acabou, a figura nerd se encontra presente em

    todas as áreas, impondo respeito e causando admiração. Todos possuem um pouco de nerd

    dentro de si, e admitir isso hoje não causa mais vergonha.

    1.3 A cultura nerd no Brasil cresce e passa a ser comercializada

    O reconhecimento do nerd no Brasil se dá, principalmente, pelo filme “A Vingança dos

    Nerds” (1984), que, assim como nos Estados Unidos, foi um dos grandes responsáveis por

    expor o estereótipo nerd. Mas, de igual modo, a figura do nerd também passou a ser respeitada

    no Brasil. Filmes e séries dos anos 2000 são responsáveis por mudar a imagem negativa

    atribuída ao nerd, transformando-a no que conhecemos hoje.

    4 Tradução nossa

  • 15

    Com a agilidade da internet, o Brasil foi capaz de caminhar lado a lado com os Estados

    Unidos. Por termos uma cultura que sempre seguiu de perto as tendências americanas, tendo

    como exemplos a sitcom desde “Friends”, série americana que fez um sucesso estrondoso, tanto

    no exterior, como no Brasil.

    A sitcom The Big Bang Theory, agora Big Bang: A Teoria, no Brasil é um grande

    sucesso pelo canal fechado Warner. TBBT (Abreviação da série) teve sua estreia no Brasil

    apenas dois meses após sua estreia nos Estados Unidos, em novembro de 2007. O carisma dos

    amigos nerds conquistou o público brasileiro. Para um canal fechado (no Brasil), a série

    consegue cativar um número grande de fãs.

    Importante para a cultura contemporânea, o nerd ganhou o seu próprio dia para celebrar

    quem são: o dia 25 de maio representa duas datas comemorativas, o Dia de Orgulho Nerd/Geek

    e o Dia das toalhas, duas datas importantes que representam o orgulho de ser nerd.

    O dia do Orgulho Nerd/Geek tem ligação com o livro “O guia do Mochileiro das

    Galáxias”. Antes, era transmitido em um programa de rádio pela BBC Rádio, em 1978, e em

    1979 viraria uma série de cinco livros. Nesse livro, Arthur Dent tem sua casa demolida, para

    que seja feita uma construção no local. Na história, ele deveria ir à prefeitura para cancelar esse

    acontecimento, mas o documento nunca foi entregue a ele, perdendo o prazo sua única opção

    seria dormir na rua. Porém, isso não acontece, pois a terra é destruída por uma raça alienígena,

    que também informa, caso a raça humana quisesse cancelar a construção feita na terra, ela

    deveria ir a outra galáxia cancelar o pedido de construção. E, assim, a terra é destruída.

    No livro, Arthur descobre que um de seus melhores amigos, Ford Prefect, é na verdade

    um alienígena e que ele escrevia um livro, um guia, como se fosse um guia de viagens, no

    entanto, viagens intergalácticas. Um dos itens citados como mais importante no guia criado por

    Ford é uma toalha. Estranhamente, esse é o único item que Arthur consegue salvar antes da

    destruição total da terra. Segundo seu amigo alienígena, uma toalha é um dos itens mais

    complexos inventados e, consequentemente, mais importante que alguém poderia ter.

    O livro foi marcante para toda uma geração, os programas de rádio eram um sucesso e

    depois viraram uma série de livros, sendo traduzidos para mais de 30 línguas e depois virando

    filme. Os livros são uma referência para a cultura pop/nerd. Seu impacto na vida de seus leitores

    foi tão grande que, com a morte do autor da série Douglas Adams, em 2001, ao ter problemas

    no coração, os fãs se organizaram para escolher um dia para celebrar a obra e a vida de Adams.

    Em princípio, os fãs gostariam de homenageá-lo com algo que representasse o número

    42, muito importante para a série, porém, por levar muito tempo, a data de comemoração acabou

    acontecendo duas semanas após a morte do autor. A data não era tão significativa como os fãs

  • 16

    desejam, mas aguardar 42 dias, ou 42 semanas para fazer o uso do número 42, que é importante

    para os fãs, parecia muito tempo.

    Cinco anos mais tarde, os fãs de Adams e os de Star Wars tiveram uma surpresa: a data

    escolhida sem importância pelos fãs de “O guia do Mochileiro das Galáxias” coincidia com os

    29 anos da estreia de outro marco para a cultura nerd, a estreia do primeiro filme da franquia

    Stars Wars (Guerra nas Estrelas, no Brasil). Filme que também é responsável pelo aumento da

    cultura nerd no Brasil, Guerra Nas Estrelas continua ganhando novas versões, quase 50 anos

    após o lançamento do primeiro filme, provando sua importância e relevância para a cultura pop,

    além de atrair um novo público para a franquia.

    Por esse motivo, o dia 25 de maio é muito importante para os nerds/geeks. Dia da toalha

    e Dia do Orgulho Nerd viraram sinônimos, duas obras importantes para o público nerd

    coincidiram, inicialmente comemoradas por motivos diferentes. A data celebra não só duas

    obras especificas, mas serve para que os nerds celebrem tudo aquilo que faz parte do seu

    universo cultural.

    Com o aumento na representatividade nerd, nos meios de comunicação e nas mídias de

    maneira geral, pode-se dizer que elas influenciam, ou guiam, o público a viver certo estilo de

    vida. Para Kellner (2001, p. 9), “o rádio, a televisão, o cinema e os outros produtos da indústria

    cultural fornecem os modelos daquilo que significa ser homem ou mulher, bem-sucedido ou

    fracassado, poderoso ou impotente”.

    Devido ao crescimento do público nerd no Brasil, vários tipos de feiras voltadas a esse

    público são realizados, em sua maioria, reunindo fãs de anime5 , mangá6 , jogos e kpop7 .

    Produtos que não são naturalmente brasileiros, mas que viajam até o país através da internet,

    televisão, e outros produtos que a mídia produz.

    Além desses eventos culturais que acontecem em todos os cantos do país, em 2014

    inaugurou-se a Comic Com Experience, ou como é conhecia, a CCXP Brasil. A Comic Com

    brasileira segue os mesmos moldes das outras espalhadas pelo mundo. Estúdios de TV, cinema,

    marcas conhecidas, como Disney, Warner, Netflix, Sony, Fox, entre outras, expõem suas

    produções, além de trazer artistas, sendo atores, cartunistas, os criadores de séries e filmes e

    pessoas que estejam envolvidas com o tipo de projeto que essas empresas organizam.

    Lançamento de jogos também ocupa grande parte do evento. As empresas de jogos aproveitam

    5 É o termo usado para se referir a animações que tem origem no Japão. 6 É como são chamadas as histórias quadrinhos produzidos no Japão. 7 Kpop(Korean pop) é o estilo musical que tem origem na Coréia do sul.

  • 17

    o momento para lançar para o mundo as novidades que estarão disponíveis em suas plataformas

    digitais, como também novos tipos de consoles para videogame.

    O evento promete ir além de simplesmente mostrar filmes, séries e quadrinhos, ele

    promete levar a experiência para o público. Através de diversas interações, o público tem a

    oportunidade de escolher quais eventos da feira participar, muitos deles são painéis realizados

    em grandes salões, seguindo geralmente um roteiro de apresentação, discussão e, por último,

    perguntas liberadas para os fãs. Uma mediação é feita entre artista e fãs, criando uma

    aproximação do fã com o produto oferecido pelo evento e seus colaboradores.

    Desde sua inauguração no ano de 2014, a CCXP oferece um concurso de cosplay8

    (costume + roleplay), em que qualquer fã pode participar dando espaço para que pessoas que

    não são conhecidas possam expressar a sua arte através dos personagens que estão

    caracterizando. Segundo o site oficial da Comic Com Experience, esse concurso é o maior

    concurso de cosplayers do país. Nesse certame ocorre premiação, e no último evento, a

    CCXP17, o ganhador do concurso de cosplay teve como prêmio um carro 0 km.

    Outra conquista para a CCXP é que o Brasil, por conta do evento, possui o maior

    shopping geek do mundo, de acordo com a organização do evento. Produtos relacionados à

    cultura geek, indo de action figures a itens de colecionador, são vendidos a todo momento em

    estandes promovidos, por diversas marcas, enquanto o evento acontece.

    As conquistas da CCXP representam o crescimento do público nerd/geek no Brasil.

    Atualmente, segundo o site Exame9, o evento é a maior Comic-Con do mundo, pelo menos em

    números. Em 2017, o número de pessoas que participaram do evento ultrapassou 200 mil

    pessoas, tornando-o a maior concentração de público interessado em cultura e artigos nerds do

    mundo, superando até mesmo a grandiosa Comic-Con San Diego, que surgiu em 1970, até então

    era a maior concentração de público nerd/geek do mundo. Em 5 anos de evento, a CCXP, que

    segue os moldes das outras feiras mundiais, principalmente a de San Diego, desbancou a sua

    precursora.

    Tamanho é o crescimento do público nerd, que atualmente ele é responsável por

    movimentar a área de entretenimento no Brasil, contando tanto consoles, como jogos online em

    sites e mobile para celular. O mercado geek cresce a cada ano e, como vimos anteriormente, o

    público nerd/geek passou a ser respeitado quando a sua ‘nerdice’ começou a gerar lucro. Com

    8 É um termo inglês que usado para definir pessoas que se vestem como seus personagens favoritos, atualmente o termo é usado para qualquer caracterização feita por fã, mas originalmente o termo servia para aqueles que se

    fantasiavam como personagens de histórias japonesas. 9 Disponível em: < https://exame.abril.com.br/negocios/os-numeros-impressionantes-da-comic-con-de-sp-a-

    maior-do-mundo/> Acesso em: 05 de maio de 2018.

  • 18

    os games acontece a mesma coisa: empresas de jogos têm esse público como alvo. “O setor de

    games movimentou cerca de US$ 670 milhões no Brasil no ano passado. Em 2021, esse

    montante deverá subir para US$ 1,441 bilhão, o que representa um crescimento anual médio de

    16,6% – o maior entre os 14 segmentos mapeados pela pesquisa” (SACCHITIELLO, 2018,

    s/p).

    A cultura nerd/geek virou um produto. Com o aumento desse público, aumenta também

    a demanda por produtos que os representam. Diversas lojas aproveitam esse nicho para lucrar

    com o que está na moda agora, e com toda certeza os artigos nerds estão em alta. Ser nerd nunca

    foi tão popular como é atualmente.

    Das dez maiores bilheterias de 2016, seis eram de filmes de fantasia e ficção

    científica, que foram replicados em produtos do universo nerd, como

    almofadas, canecas, miniaturas e outros itens. Star Wars, Harry Potter, Game

    of Thrones, Friends e Mulher Maravilha são alguns dos títulos que acumulam

    fanáticos, que são facilmente reconhecidos nas ruas por conta dos acessórios

    vendidos em lojas especializadas (MISSIAGGIA, 2017, s/p).

    Filmes, séries, livros, games, entre outros. Produtos que derivam de franquias famosas

    são vendidos a preços elevados. Mas quando esses produtos carregam o sentimento nerd, eles

    passam a valer ainda mais, pois o público nerd é conhecido por ser mais engajado que o

    consumidor comum. Esses produtos carregam valor sentimental.

    Poder de consumo e, claro, a paixão por certas referências definem os geeks.

    Histórias e personagens representam um público engajado que discute,

    acompanha e compra fielmente tudo que envolve este nicho de mercado. De

    acordo com a 4ª edição da pesquisa Geek Power, elaborada pelo Ibope Conecta

    e o portal Omelete, com 26 mil pessoas, 68% dos geeks estão na faixa de 18 e 34

    anos e 85% são homens. Ainda de acordo com o estudo, 65% têm ensino

    superior. Outros 64% obtêm renda familiar entre dois e dez salários mínimos, e

    admiram marcas como Netflix, Disney, Marvel e Lucasfilms (MISSIAGGIA,

    2017, s/p).

    Mesmo vendendo produtos que seriam considerados infantis pela maioria das pessoas,

    o público nerd brasileiro gera bastante lucro para as empresas, visto que, em sua maioria, seus

    consumidores são pessoas com empregos fixos que podem arcar com a ‘brincadeira’ que é

    colecionar ou casualmente comprar produtos que estão inseridos na cultura nerd.

    https://dcomercio.com.br/categoria/negocios/na-onda-da-cultura-geek-como-o-omelete-cresceuhttps://dcomercio.com.br/colunista/mariana-missiaggiahttps://dcomercio.com.br/colunista/mariana-missiaggia

  • 19

    CAPÍTULO II

    O CONTEXTO DA FOLKCOMUNICAÇÃO E DO JORNALISMO

    CULTURAL

    2.1 Reflexões sobre Folk

    Umas das características marcantes da cultura brasileira é que para ela chegar onde

    chegou hoje, ela absorveu, ou melhor, agregou diversas outras culturas para si mesma. Isso não

    significa que as culturas trazidas ao Brasil tenham se mantido idênticas quando chegaram. Elas

    foram adaptadas, e, por esse motivo, a cultura brasileira, mesmo sendo uma junção de muitas

    outras, torna-se única.

    A transformação na cultura brasileira acontece por diversas interferências. Temos a

    cultura indígena que sempre esteve presente no país, misturando-se com a dos colonizadores

    portugueses, como também a cultura africana. Dito isso, as transformações culturais também

    são decorrentes a partir de imigração interna, de pessoas do próprio país, que se deslocam de

    sua cidade de origem, levando, por exemplo, a cultura do sul ao nordeste ou vice-versa. E

    grande parte da cultura também foi construída por meio da imigração de estrangeiros nas

    últimas décadas do país, citando, por exemplo, a imigração alemã no Sul. Outro exemplo é a

    imigração japonesa, que se concentra principalmente no estado de São Paulo. Esses são só dois

    exemplos de imigrantes no Brasil, porém existem muitos outros povos que compartilharam a

    sua cultura com o povo brasileiro.

    Essa troca de experiências e valores, que são transmitidos por meios de comunicação de

    massas e suas peculiaridades e diferenças são passadas à frente, torna possível a preservação

    do passado (GOBBI, 2007). A partir dessas trocas entre pessoas, sociedades, é possível a

    construção de novas culturas, tendo em vista que estão em constante mudança. Essas alterações

    culturais dependem da sociedade e em que momento ela se encontra.

    Segundo Marques de Melo e Lopes (2007 apud GOBBI 2007, p. 21),

    A regionalização não é um obstáculo à globalização. Não são forças

    excludentes. Ao contrário, aquela pôde ser vista como um processo por meio

    do qual a globalização recria a nação, de modo a conformá-la à dinâmica da

    economia e da cultura transnacional. É no âmbito do capitalismo global que

    se desenvolvem subsistemas econômicos e culturais regionais que

    redesenham e integram economias e culturas nacionais, recolocando-as nas

    linhas de força da globalização.

  • 20

    É impossível que a cultura não seja regionalizada, visto que, mesmo compartilhando

    uma cultura massiva como povo brasileiro – pois cada canto do país apesar de compartilhar

    características semelhantes de maneira geral –, cada local possui suas próprias diferenças, seja

    em vestimenta, alimentação, linguagem falada ou até mesmo nos símbolos que são deixados

    por elas. As diferenças contribuem para a interação entre pessoas. Do mesmo jeito que a cultura

    brasileira é uma mistura de muitas outras, essas diferenças apresentadas por cada cidade, estado,

    colaboram para a criação de novos modelos culturais, pois a sociedade está em constante

    mudança, tendo como resultado transformações diretas na cultura.

    A troca de informações e experiências tem como resultado a construção de uma cultura

    de massa, Para Beltrão (1980), a troca de informações culturais não se dá apenas por grandes

    jornais ou emissoras de televisão. O mesmo pode ser dito do século XXI. Como diz o próprio

    nome da teoria, o “folk” em folkcomunicação vem da palavra “folclore”, e assim como as

    histórias de folclores que são aprendidas e repassadas durante gerações, seja por parte de

    familiares ou de desconhecidos, o folclore ainda possui grande influência na composição da

    cultura. Conversas informais, do dia a dia, “fofocas”, são responsáveis também pela idealização

    cultural de um povo.

    O folclore pode vir a ser representado de uma mesma forma para a população geral,

    como também pode aparecer de forma exclusiva para determinados grupos. Um exemplo disso

    são os costumes executados por uma família específica, diferenciando-as das demais. Como o

    folclore é um conjunto de lendas e costumes, é comum que cada família tenha suas

    peculiaridades. Por exemplo, ao cozinhar um alimento, coisa simples para a maioria das

    pessoas, é possível que o seu jeito de preparar um prato seja singular ao modo de preparo de

    outras pessoas. Se uma mãe ensina a sua filha a preparar um frango de uma maneira, as chances

    de ela ensinar a filha da mesma maneira são grandes. O modo de preparo faz parte do folclore

    dessa família e ajuda a moldar a cultura interna presente em cada família, pois, cada pessoa,

    antes de adentrar uma cultura de massa, possui a sua cultura interna, que foi aprendida por meio

    do folclore familiar, passado pelas gerações anteriores e que possivelmente serão passadas para

    as seguintes.

    A folkcomunicação ultrapassa as informações tidas como jornalísticas, muito além das

    pautas levantadas pelo jornalismo. A folkcomunicação faz uso dos outros aspectos da

    informação, considerando a educação, o lazer e as outras atividades cotidianas vividas por

    pessoas que exercem um papel e são pertencentes à sociedade. Geralmente, essas pessoas são

    consideradas parte de uma cultura de massa excluída. Tem como característica também dar

    atenção para os códigos emitidos pela sociedade de maneira geral. Essa análise de códigos nada

  • 21

    mais é do que uma análise semiótica, englobando as culturas de massa e as mensagens emitidas

    por elas (BELTRÃO, 1980).

    Como a folkcomunicação estuda a sociedade através das pessoas e os fenômenos que se

    desenvolvem a partir da interação dessas pessoas com o mundo e como elas se comunicam, é

    possível afirmar, seguindo a teoria de Beltrão (1980), que essa analise só pode ser feita quando

    se considera a sociedade como um todo, sem qualquer tipo de exclusão. Assim, cada detalhe é

    importante. Pessoas, ações executadas diariamente por elas, símbolos onde quer que sejam

    encontrados, podem ser usados de maneira que seja possível fazer um estudo mais fiel e

    aprofundado sobre a sociedade que será estudada.

    Segundo Beltrão (1980), a informação dá o seu primeiro suspiro no espírito dos

    analfabetos e semianalfabetos, e a partir disso vai se espalhando através das manifestações

    artísticas e, consequentemente, vira folclore. Então, tendo seu começo em áreas consideradas

    periféricas da sociedade. Desse modo, o estudo e a falta de informações consideradas

    ‘importantes’ para o intelecto pessoal, adquiridas em escolas e faculdades, nascem a partir

    dessas pessoas e se alastram para o restante da massa cultural, através das histórias, costumes,

    dando início e continuidade ao folclore de uma sociedade.

    Músicas, artes, artesanato, expressões corporais e expressões urbanas, como o grafite e

    pichação, contribuem para que o reconhecimento dessas expressões culturais seja transmitido

    para a massa da sociedade. A cultura popular reflete o folclore, as raízes de um povo que, muito

    mais que conhecimento acadêmico, possui uma vivência rica, cheia de experiências, sejam elas

    adquiridas através dos anos, através de família ou pela própria convivência com as pessoas que

    vivem ao redor.

    Com a globalização do mundo, a cultura, que já era compartilhada através da troca entre

    pessoas de diferentes culturas e lugares, passa cada vez mais a se expandir para o público geral.

    As manifestações populares (festas, danças, culinária, arte, artesanato, etc) já

    não pertencem apenas aos seus protagonistas. As culturas tradicionais no

    mundo globalizado são também do interesse dos grupos midiáticos, de

    turismo, de entretenimento, das empresas de bebidas, de comidas e de tantas

    outras organizações socais, culturais e econômicas. Temos como exemplo as

    festas populares juninas no Nordeste, especialmente em Campina Grande, na

    Paraíba, e Caruaru em Pernambuco; as Festas do Bumba-Meu-Boi em São

    Luiz, no Maranhão; Boi-Bumbá na Amazônia, especialmente em Parintins;

    Peão Boiadeiro em Barretos no Estado de São Paulo; a renovada literatura de

    cordel com os temas atuais que se apropriam dos acontecimentos midiáticos

    como a invasão do Iraque, o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos

    da América, a arte popular e o artesanato, os restaurantes fast-food de comidas

    típicas e tantas outras manifestações culturais populares, que agregam valores

    da sociedade midiática de consumo para se quarem às demandas do mercado

    global na venda de produtos culturais diferenciados (TRIGUEIRO, 2004, p.2).

  • 22

    Apesar da globalização ser parte responsável pelo contato e exposição das culturas, o

    ato de exibir essa cultura de maneira global vem de muito tempo. Segundo Trigueiro (2004),

    isso acontece desde o uso das narrativas orais para exclamar contos populares e os famosos

    teatros de rua, além de também ter sua influência nos cortejos de festas populares.

    Outro resquício da espetacularização da cultura pode ser exemplificado através do

    jornalismo, nos folhetins, que possuíam narrativas rápidas e tinham publicações parciais e

    sequenciais, sejam em revistas ou jornais, sempre deixando um gancho para dar continuidade

    às histórias. Histórias que podiam ser das coisas mais supérfluas às consideradas mais

    importantes, partindo da vida cotidiana do cidadão ou acontecimentos políticos, fazendo uma

    narração literária dos acontecimentos vividos por pessoas comuns.

    Atualmente isso continua sendo reproduzido através dos filmes e, no Brasil,

    principalmente nas novelas. Essas produções, mesmo tendo em sua composição elementos

    literários e muitas vezes ficcionais, ainda se apropriam de elementos da vida real e adaptam-

    lhes ao momento em que a sociedade se encontra. No Brasil, é possível ver que as novelas

    absorvem assuntos debatidos na vida social e transportam-lhes para o seu roteiro. Após sua

    exibição, vira assunto de discussão, seja em casa, com amigos ou colegas de trabalho.

    É importante ter em mente que o espetáculo que é a TV e as novelas não cumpre somente

    o papel de trazer partes da vida real para a ficção. Funciona também de maneira comercial:

    produtos são vendidos a partir das cenas exibidas para milhares de brasileiros. Vende-se um

    estilo de vida para a massa que senta no sofá todos os dias e acompanha os capítulos exibidos

    (TRIGUEIRO, 2004).

    Mas não é só produtos que as tramas novelísticas vendem. Bordões e gírias passam a

    fazer parte da vida do brasileiro. É comum que com o sucesso de algumas novelas, várias frases

    ou palavras passem a ser reproduzidas por todos, alcançando até quem não é telespectador ou

    consumidor de novelas, adentrando à rotina da população. Na maioria das vezes essas frases

    são originárias do local que a novela representa, fazendo com que a gíria regional passe a ser

    do conhecimento de um público geral, através do fenômeno que é a comunicação de massa.

    Trigueiro (2004, p. 4) diz que “hoje em dia a classe média consome mais os produtos

    da cultura popular, a exemplo dos artefatos de decoração, nas festas populares, no consumo de

    produtos naturais e a crescente preferência por restaurantes de comidas regionais”. Como dito

    anteriormente, o popular tem suas origens e raízes entre pessoas menos privilegiadas, muitas

    vezes analfabetas e sem estudo. Mas essa cultura ultrapassa a barreira econômica e social e vira

    algo massivo.

  • 23

    O folclore não é apenas algo para ser preservado e protegido. Ele faz parte da vida das

    pessoas, seja qual for o tipo de folclore e cultura popular cultivada. Onde quer que ela esteja

    localizada, essa cultura fará parte da vida cotidiana das pessoas que estão próximas a ela. Mas,

    além de fazer parte da cultura dessas pessoas e de suas vidas cotidianas, a cultura e o folclore

    passaram a ser produto. Citando o carnaval, por exemplo, esse evento, além de carregar todo o

    teor histórico e cultural em seus desfiles, passa também a ser um produto da mídia; o evento,

    todo ano, é televisionado. Além disso, existem muitas marcas e patrocinadores que querem ser

    associados ao evento.

    O carnaval continua fazendo parte da vida cotidiana das pessoas que participam do

    evento. Durante todo o ano é feita uma preparação para que tudo seja realizado corretamente.

    Mas o evento também faz parte da vida daqueles que não vivenciam a experiência de

    preparação, muitas pessoas só aproveitam o resultado nos dias selecionados para celebrar o

    carnaval.

    Eventos festivos como o carnaval ou festas regionais ultrapassaram o espaço que antes

    era limitado à sua região, com a comercialização e midiatização da cultura. O número de

    pessoas que experimentam e vivenciam, mesmo que de forma indireta, essa cultura aumentou.

    O contato não precisa ser direto. Televisão, jornais, rádios e agora a internet cumprem um papel

    importante nessa apresentação de distintas culturas para os outros cantos do país e do mundo.

    Mesmo não conhecendo a cultura diretamente, é possível ter uma amostra daquilo que se é

    apresentado.

    Festas populares, que antes eram realizadas espontaneamente por grupos locais, agora

    são organizadas também pela mídia, com a participação dos meios de comunicação durante

    essas celebrações. Isso abre portas para a entrada de diversas empresas que visam lucrar a partir

    dessa cultura: empresas de bebidas, turismo, propaganda, grupos políticos e religiosos lucram

    com a organização do evento. É como se duas festas fossem organizadas: uma a partir do olhar

    das empresas e pessoas que planejam obter lucro em cima da festividade e outra proveniente da

    própria comunidade, que interage através da comunicação entre indivíduos e se mobiliza para

    a realização desses eventos (TRIGUEIRO,2004).

    2.2 Algumas considerações sobre jornalismo especializado

    O jornalismo procura atingir um certo público com as suas notícias. Cada vez mais se

    encontram jornais e revistas especializados em assuntos diferenciados, tendo como objetivo

    alcançar e manter um público fiel. Grandes empresas de comunicação tentam cativar o público

    leitor através de conteúdo personalizado, a ideia de tentar alcançar a massa da sociedade perde

  • 24

    um pouco a força. Esse fator tem como prioridade manter um público leal, que sempre irá

    acompanhar e consumir os produtos, gerando capital para as empresas, ao público em geral,

    que pode ou não consumir certos assuntos.

    Vivemos num mundo globalizado, e as estratégias das grandes corporações que

    batalham para sobreviver na economia do século XXI buscam a segmentação dos mercados,

    por conta do aumento de um público considerado diferenciado (BIAHY, 2005). Isso não

    poderia ser diferente para os grupos de comunicação. Com a globalização é improvável que

    empresas continuem tentando atingir um público de massa. Considerando que cada vez mais o

    público diferenciado busca por conteúdos diversificados, a melhor estratégia é apelar para os

    segmentos que são formados a partir dessas pessoas, tendo como garantia um público

    consumidor do seu conteúdo.

    Garantir que o material produzido terá pessoas para consumi-lo é algo importante.

    Atualmente, a informação está em todos os lugares: televisão, rádio, em diversos sites e blogs

    da internet. Como também está presente em vários aplicativos que já fazem parte da instalação

    padrão de diversos aparelhos de celulares.

    Com o grande número de opções de notícia/informação disponível, de maneira jamais

    vista antes, é importante que mesmo num mar de informações, o veículo de comunicação

    consiga se destacar ao trazer um conteúdo diferente e interessante, que cative um público

    definido. Ao invés de um veículo de comunicação que replica as mesmas notícias que outros,

    destacam-se aqueles que trazem novidade para o segmento jornalístico, fazendo com que os

    leitores continuem interessados e não migrem para outros milhares de escolhas disponíveis.

    Um exemplo de fidelização nos meios de comunicação por parte dos consumidores da

    informação é a própria televisão. Dificilmente uma família que assiste todos os dias à mesma

    programação de TV irá trocá-la por outra emissora. É comum que, a partir do momento que

    uma emissora é escolhida, o seu telespectador continuará acompanhando a programação

    exibida. Canais como a Rede Globo conseguem manter o telespectador imerso à sua

    programação desde o jornal da manhã, indo às telenovelas no período noturno. Segundo o site

    de notícias rd110, a Globo, além de ser a maior emissora do Brasil, agora é também a segunda

    maior emissora do mundo, ultrapassando a CBS e ficando atrás da emissora estadunidense

    ABC.

    10 Disponível em: Acesso em: 05 de junho de 2017.

  • 25

    De acordo com Ortiz (1996 apud BIAHY, 2005), o que importa é a fabricação de

    produtos especializados, e não a produção em massa. Isso pode ser visto nos grandes

    conglomerados da comunicação. Tendo ainda como exemplo a Rede Globo, o maior

    conglomerado de comunicação do Brasil, é possível ver que o grupo se expandiu para diversas

    áreas, buscando variados públicos. Por exemplo, ele possui diversos sites destinados a públicos

    específicos: sites de fofoca, como o extinto ego; globoesporte, voltado para esporta, entre

    outros, além de trazer revistas especializadas em diversos segmentos: tecnologia, infantil,

    fofocas, curiosidades, negócios, especializadas em artigos para casa e decoração etc.

    Não é incomum que em um mundo globalizado e capitalista isso aconteça. A

    comunicação é um negócio rentável. Além de agradar ao público que busca por segmentos

    específicos, as empresas lucram a partir dessa procura do consumidor de notícia.

    Com a especialização se tornando grande nos meios de comunicação, é claro que haverá

    mudanças na profissão do comunicador jornalista. Durante os quatro anos de curso nas

    faculdades do Brasil, o estudante de jornalismo aprende e exerce a escrita de textos sobre

    diversos assuntos, sem focar um em específico. Ele escreve para as massas.

    Mas com as novas exigências do público pela especialização, o profissional jornalista

    se adapta à nova maneira de se fazer comunicação.

    Nesse estágio em que as escolhas individuais prevalecem sobre o engajamento

    com a coletividade, faz sentido que a informação procure atender às

    especificidades ao se dirigir aos públicos diferenciados. É neste panorama que

    o perfil do jornalista sofre alterações, as publicações passam a dedicar-se mais

    à informação personalizada, portanto o jornalismo especializado tende a se

    desenvolver cada vez mais (BIAHY, 2005, p. 5).

    Seja em revistas ou na televisão, o conteúdo segmentado é uma realidade. Logo, existe

    um aumento em jornalistas especializados. Mesmo assim, é comum encontrar pessoas que

    escrevem sobre algum assunto específico sem necessariamente ser jornalista. Em cadernos de

    jornais ou colunas de sites, é possível identificar textos de economia e política assinados por

    pessoas que não são formadas na área jornalística, mas que exercem a mesma função por serem

    especialistas no assunto. Isso impulsiona o jornalista a se especializar em alguma área, fazendo

    com que o seu currículo melhore.

    O jornalista, por meio de seu empregador ou de maneira pessoal, caso trabalhe de forma

    independente, tenta alcançar um nicho de pessoas, muito mais do que tentar adequar seu

    conteúdo às massas. Ele se adequa a uma ‘minoria’, que, na verdade, não é tão minoria assim,

    a consumir a temática proposta pelo jornal, revista, site ou programas de televisão.

  • 26

    Segundo Biahy (2005, p. 6), “os produtos culturais passam a organizar-se segundo a

    ótica da diferenciação. Portanto, a produção informativa que atinge audiências segmentadas e

    as publicações especializadas faz parte do contexto de desmassificação e de personalização”.

    Isso acontece porque a sociedade busca cada vez mais sair de um modelo de massa, ansiando a

    sua própria identidade. A busca por modelos que se assemelhem aos seus gostos e

    particularidades acaba levando a certa padronização. Numa mesma sociedade, vários grupos

    serão formados, e, para eles, diversas opções de consumo serão oferecidas.

    Pessoas que se identificam e levam um estilo de vida diferente vão buscar por produtos

    e conteúdos que lhes agradem. Grupos que estão inseridos em diversas tribos vão se juntar com

    aqueles que compartilham do mesmo tipo de ideia.

    Uma revista voltada para o público skatista, por exemplo, não tentará inserir conteúdo

    que não seja voltado para essa tribo. Os assuntos tratados são aqueles que interessam ao grupo.

    A revista se concentrará nesse público e produzirá artigos que representem esse grupo. Não

    faria sentido uma revista voltada para esse público focar em outros assuntos. Citando também

    como exemplo o agronegócio, são dois extremos, mas servem para mostrar a mudança entre

    assunto e público. Enquanto o estilo de vida do skatista está direcionado para a cidade, não

    existe motivo para esse público se interessar por agronegócio. O público que consome esse tipo

    de produto é diferente.

    Diante dessas exigências, é cada vez mais comum que o profissional jornalista tenha

    outras formações, além da formação em jornalismo. De acordo com Sousa (1999 apud BIAHY,

    2005, p. 8),

    Se existe uma crescente especialização no campo jornalístico, quer ao nível

    das competências técnicas, quer do conhecimento de uma área específica do

    saber (economia, política, etc.), então as empresas jornalísticas pretendem

    preferencialmente licenciados em jornalismo com especialização num

    medium (televisão, rádio, etc.) e com uma pós-graduação numa dessas áreas

    do saber ou, inversamente, licenciados nessas áreas do saber com pós-

    graduações em jornalismo que contemplem uma área de especialização

    mediática.

    Grandes empresas optam por profissionais que tenham vasto conhecimento em

    determinada área. O jornalista sempre foi conhecido por escrever de tudo um pouco, mas essa

    realidade vai mudando aos poucos. Apesar de escrever sobre diversos assuntos, a especialização

    em algum tema torna o seu trabalho mais valioso. Como dito anteriormente, é comum encontrar

    profissionais não jornalistas escrevendo textos para jornais e revistas, isso porque eles são

    especialistas no assunto que escrevem, tendo mais propriedade e ganhando a confiança do

  • 27

    público e dos próprios patrões. E se esses profissionais dominam a língua portuguesa, é comum

    que eles sejam a preferência desses veículos de comunicação. Fazendo com que o jornalista

    taxado como ‘generalista’ perca um pouco de espaço.

    A especialização ainda não fica muito clara na TV aberta, com exceções de algumas,

    como a TV cultura, que, apesar de possuir diversos programas variados em sua programação,

    apresenta um enfoque voltado para a cultura e educação. Boa parte dos programas transmitidos

    segue esse ângulo. Mas em revistas e jornais, como também em sites, fica mais fácil delimitar

    quais seguem esse modelo de especialização e quais não.

    [...] a revista Sports Illustrated, na edição de Natal de 1999, produziu 50

    diferentes capas, uma para cada Estado americano. Não se trata de edições

    especiais. A revista Forbes, em março de 2000, colocou nas bancas quatro

    diferentes capas para o mesmo número. Até que ponto isto demonstra apenas

    esbanjamento de recursos ou de fato contribui para uma maior variedade na

    escolha do leitor? Mesmo que a publicação em si seja idêntica no que se refere

    às suas matérias, sabemos que o apelo da capa é um fator que conduz à

    compra, ou seja, não se trata só de empacotamento, revela o interesse da

    publicação em atingir públicos com referenciais diferenciados (BIAHY, 2005,

    p. 13).

    Dar diversas opções de capas de uma mesma revista ao leitor, é fazer com que ele tenha

    o poder de escolha. Esse tipo de modelo é cada vez mais comum, a variedade de capa de uma

    mesma revista apela diretamente para diferentes tipos de leitores. Levando em conta que a capa

    de uma revista é a primeira coisa que chama atenção e causa impacto no leitor, não é estranho

    que uma revista tenha múltiplas capas, mesmo possuindo o mesmo conteúdo.

    O mercado busca tornar-se atraente para diferentes públicos utilizando esse método. Na

    Ásia, por exemplo, muito mais do que no Brasil e em outro local do mundo, é comum que as

    revistas lancem diversas capas de uma mesma revista, para apelar para o público. Mas isso não

    se restringe apenas a revistas. A indústria musical japonesa também utiliza esse método. O

    Japão segue firme com as vendas físicas, diferente do ocidente que começou a optar por

    streaming. Por esse motivo, é comum que um mesmo artista lance um álbum que possua

    diversas capas, fazendo com que o fã escolha qual capa o agrada mais.

    O grupo musical AKB48, em seu último lançamento, já vendeu quase dois milhões de

    cópias físicas em apenas seis dias, de acordo com o Oricon11, chart que monitora vendas físicas

    no Japão. O álbum do grupo possui nove capas diferentes. Além do fã ter a chance de aderir

    11 Disponível em: Acesso em: 07 de junho de 2018.

  • 28

    àquela que mais lhe agrada, isso influencia para que essas pessoas colecionem as capas, dando

    a opção de escolha do fã e gerando capital para o artista e empresas.

    Por esse motivo não é incomum que o modelo também seja trazido para a comunicação,

    tendo em conta que esse tipo de estratégia apela para o público, como também gera lucros para

    as empresas comunicacionais. O público vai investir e consumir aquilo que satisfaz o seu gosto

    pessoal.

    2.3 Jornalismo cultural

    O jornalismo cultural e o jornalismo de forma geral passaram por muitas mudanças ao

    longo do século XXI. No próprio jornal impresso e nas revistas, o texto jornalístico também foi

    se adaptando as novas mudanças que chegaram como avanço da tecnologia. Atualmente é

    comum que textos jornalísticos sejam menores, é uma tendência que cada vez mais o texto

    diminua, pois, o leitor espera que a informação seja dada de maneira curta e rápida, priorizando-

    se a quantidade. E na internet isso é mais visível. Segundo Assis (2008, p.3),

    O avanço das novas tecnologias da informação – principalmente da Internet –

    gerou novas demandas para a produção jornalística e exigiu que antigos

    modelos fossem adaptados para a realidade do final do século XX e do começo

    do século XXI. O tradicional formato do jornalismo impresso, que outrora

    valorizava textos extensos e detalhados, perdeu seu espaço. A ordem, agora,

    é compilar em poucas linhas as informações necessárias para a compreensão

    de determinado fato, e mesmo os conteúdos críticos não dispõem de grandes

    espaços para serem desdobrados.

    A mudança no cenário de notícias que envolve o jornalismo cultural voltado para

    internet é uma realidade. Com a diminuição de texto nas notícias, é comum que os sites

    complementem suas notícias, por meio de vídeos, podcasts, para dar profundidade aos assuntos,

    sem deixar que o grande número de informações afaste os leitores. A solução encontrada por

    esses novos jornais é a utilização de outros meios que possam ser usados para transmitir a

    notícia, que não seja só a escrita. É muito mais fácil ouvir uma crítica de filme do que ler a

    mesma crítica, com a agitação da sociedade moderna e sua necessidade das pessoas de serem

    multitarefas fica evidente que um leitor iria optar por ouvir a mesma notícia enquanto faz uma

    outra atividade, deixando de lado o texto escrito, que exigiria mais da sua atenção.

    A internet é uma ferramenta que alterou a forma de realizar quase todas as ações do ser

    humano. Bibliotecas, lojas de músicas, filmes, séries, roupas e até a compra de comida estão

    disponíveis online, graças à conectividade com a internet. E naturalmente isso também

    aconteceu com os meios de comunicação: a forma de fazer jornalismo passou por algumas

    transformações, fugindo dos meios tradicionais, como o jornal impresso e a TV, que ainda

  • 29

    possuem o seu espaço e possivelmente não vão perde-lo, e sim apenas adaptar-se ao longo do

    tempo como sempre fez. Contudo ainda mantém alguns vícios trazidos da mídia tradicional.

    E essas características que também migraram para os sites geram alguns problemas,

    Segundo Daniel Piza (apud ASSIS 2008, p. 2)

    Também não se pode negar que a prática dessa especialidade é algo que chama

    a atenção de alguns jornalistas pela possibilidade de “unir o útil ao agradável”.

    Ou seja, é uma forma de exercer a profissão, ao mesmo tempo em que se pode

    visitar exposições, ouvir CDs, assistir a DVDs, ir ao cinema, ler livros,

    entrevistar artistas e celebridades e, no final, receber uma remuneração.

    Por esse motivo, o jornalista que escreve texto voltado para cultura muitas vezes pode

    ser criticado, tanto por jornalistas de outras áreas, como também por seus leitores. E isso é um

    problema, porque, por exemplo, a realidade na atualidade é que muitos jornais e sites que focam

    a cultura funcionam através de parcerias entre empresas. Empresas que disponibilizam entrada

    exclusiva para os eventos ou, em caso de filmes e peças, ter acesso antes que o público de

    maneira geral, para que se possa avaliar o evento.

    O jornalismo cultural sobrevive através da cultura, e os eventos sociais, culturais

    acontecem muitas vezes através de produtoras de eventos, seja música, filme. Ele sobrevive a

    partir dessas organizações sociais.

    O jornalismo cultural é um exemplo da mudança sofrida pelo jornalismo de maneira

    geral e, ao mesmo tempo, da continuidade do jeito ‘antigo’ de se fazer jornalismo. O conteúdo

    cultural nas páginas da internet, assim como nas de jornais e TV, muitas vezes ainda é visto

    como algo rentável, para gerar lucro, e não pelo interesse cultural que se pode ter do público.

    Segundo Teixeira (2002, p. 2-3):

    Uma rápida aplicação das teorias do agendamento e do enfoque nos permitem

    dizer que muitas vezes o jornalismo cultural trabalha a cultura mais como

    produto do que como processo cultural. Nesse sentido, vale lembrar que há

    uma relação intrincada do jornalismo cultural com a própria indústria cultural

    - a célebre teoria de Adorno e Horkheimer que lamenta a redução do produto

    cultural à simples condição de mercadoria - em seus mais diversos níveis:

    fonográfico, cinematográfico, editorial etc.

    O que pode acontecer nesses casos é que o jornalista dê mais importância ao produto

    em si do que ao impacto sociocultural que ele pode gerar nos leitores. A cultura passa a ser um

    produto e o texto jornalístico pode aparecer só como divulgação. Não que isto esteja errado,

    pois é uma das funções que o jornalismo cultural exerce. Porém, muitas vezes, esse tipo de

  • 30

    notícia acaba sendo a única coisa encontrada nas páginas de jornal e da internet. Mais do que

    divulgar a cultura, os textos acabam virando uma página de classificados.

    Parte dessa comercialização do jornalismo cultural vem dos convites feitos por

    organizações de eventos e produtoras. Assim, o jornalista pode ter acesso gratuito e alguns

    casos até receber alguns produtos. Nada de errado, já que esses presentes também são uma

    forma de divulgação. Mas, num mundo ideal, isso não precisaria ser feito. Por conta dessa

    relação, alguns jornalistas se sentem na obrigação de falar bem do evento para o qual foram

    convidados ou do produto recebido.

    Além desses problemas, Assis (2008) diz que um dos grandes problemas do jornalismo

    cultural é buscar dar um furo. Com isso, não apuram direito ou até mesmo podem acabar

    publicando um evento cedo demais e acabar tendo que repetir o conteúdo em publicações

    futuras. O site “Omelete”, em 2017, sentiu o efeito da falta de apuração: um suposto roteiro

    vazado de uma série de TV ‘caiu’ na internet e a notícia foi publicada como verdadeira. Mais

    tarde descobriu-se que houve um erro na tradução do texto do inglês para o português. No texto

    original, não se afirmava que o roteiro era verdadeiro, mas foi assim que o site deu a notícia, e

    isso gerou muita crítica por parte dos internautas.

    Diferentemente dos meios impressos em que uma informação errada é corrigida durante

    a próxima edição, os sites permitem a correção dessas informações em tempo real, isso é

    possível através da atualização dos acontecimentos. Geralmente quando ocorre um furo, pouca

    informação está disponível, porque ainda precisa ser feita uma apuração detalhada, conforme a

    história se desenrole. Se o meio de comunicação fosse um jornal ou principalmente revistas, o

    tempo de apuração seria maior, dependendo do fechamento da edição. Entretanto, os sites de

    notícia não funcionam dessa maneira, a agilidade na entrega de notícias é constante, e quando

    não se têm todos os fatos de um acontecimento, é comum que na mesma notícia ocorram

    atualizações da informação. E no caso de informações erradas, elas podem ser atualizadas

    imediatamente, fazendo com que essa informação seja lida pelo mínimo possível de leitores.

    Outro impacto estaria na periodicidade: ao contrário dos suportes tradicionais

    jornalísticos, o jornalismo on-line oferece um conteúdo que pode ser

    atualizado continuamente. É a primeira vez na história da comunicação que o

    texto impresso informativo alcança uma velocidade para o relato de situações

    e fatos antes só possível via rádio e TV (hard news). Ao mesmo tempo, porém,

    pode manter o caráter de interpretação e análise que marcou o conteúdo do

    jornalismo impresso (soft news). Um projeto editorial para a internet pode

    optar por qualquer um desses caminhos ou mesmo buscar uma combinação

    dos dois (TEIXEIRA, 2002, p. 4).

  • 31

    O imediatismo das notícias é uma das características do jornalismo online, isso

    diferencia o meio digital do impresso, ao mesmo tempo que isso é positivo, pois a notícia chega

    com maior rapidez ao leitor, essa velocidade pode prejudicar o site e principalmente o leitor

    quando a informação é dada de maneira errada. A competitividade nos meios online é ainda

    mais feroz que o meio impresso, pois qualquer pessoa pode desenvolver o seu site atualmente,

    o número de sites de informações online é superior ao número de jornais e revistas impressas.

    Apesar disso, o site Omelete por exemplo, é adepto de uma virtude apontada por Assis

    (2008): traz o mesmo assunto depois de já ter dado a notícia, sem saturar o conteúdo e propondo

    informações novas. É comum que filmes sejam anunciados antes de sua estreia, e quando o

    filme é voltado para a cultura nerd, a chance de o site ter acesso antecipado a algumas coisas

    relacionadas a esse filme é grande. O que eles fazem, neste caso, é sempre trazer o assunto do

    filme de volta, só que com novas informações. Com isso, a interação do público também cresce,

    pois é uma discussão que só acaba com a estreia do filme.

    Mesmo com furos e ocasionalmente a divulgação de informações erradas, uma

    característica dos sites voltados para a cultura, especialmente que abordam a cultura nerd, é que

    como o tema já é pré-definido, os jornalistas que escrevem esses textos possuem um maior

    aprofundamento no assunto, mesmo que muita coisa se englobe no conteúdo nerd, diferente do

    profissional generalista. Por isso é comum que os jornalistas escrevam para áreas especificas,

    assim como o jornalista que trabalha no meio impresso escreve sobre economia, política, saúde,

    etc.

    Mas as mudanças no jornalismo cultural feito na internet causou mudanças também em

    como o leitor faz com que a informação chegue até ele.

    Segundo Teixeira (2002, p. 4), “o leitor de jornalismo on-line pode programar seu

    conteúdo para só receber aquelas notícias que lhe interessam – sem mencionar aqui na

    programação de sites que lhe interessam”. Atualmente essa escolha por parte do leitor é ainda

    maior: aplicativos foram criados para que o leitor selecione o tipo de notícia de sua preferência.

    Em seu artigo, Teixeira (2002) cita que o leitor pode salvar nos favoritos do computador suas

    páginas preferidas. Atualmente, essa ação não é necessária. Através do celular já é possível

    receber notícias personalizadas de acordo com a preferência de cada um.

    Além da mudança em como se recebe a informação, a maneira como o público leitor

    reage as informações também mudou. Com a internet também veio a aproximação com o

    público, que é muito maior. Os jornais recebem carta dos leitores, já na internet isso é feito

    através dos comentários.

  • 32

    Em tempo real, é possível saber a opinião e crítica sobre a notícia ou site. E, no caso do

    jornalismo cultural, é comum que se tenham discussões sobre os assuntos publicados, fazendo

    com que se tenha uma conversa on-line entre os usuários do site.

    As mudanças que envolvem o jeito de fazer o jornalismo cultural na internet podem ser

    tanto positivas como negativas. Apesar do feedback rápido por parte dos leitores e maior

    participação por parte deles, a interação deixa de ser feita de forma presencial e passa a ser feito

    pela internet. Mas a resposta do público ao conteúdo publicado é ainda mais rápida.

    Por essa mudança rápida no cenário do jornalismo, é cada vez mais comum que jornais

    e revistas tenham uma versão online digital. Até porque, nos últimos anos, houve uma

    diminuição na circulação dos impressos e um grande crescimento de acessos diários de leitores

    em sites de notícias.

    Essas mudanças afetam também o lado econômico. Todos os sites continuam tendo seu

    espaço de publicidade no impresso como também no online, e, com a rapidez de cliques por

    segundos que a internet gera, isso acaba sendo uma forma dos jornais ganharem dinheiro

    também no meio online.

    Contudo, o jornalismo cultural possui outros problemas além dos citados anteriormente,

    dessa vez não está ligado com o despreparo ou tem ligação com a agilidade que se é esperado

    de um jornalismo feito para internet.

    O jornalismo cultural contemporâneo, como dito previamente, sofre alterações de

    acordo com o tempo e a sociedade na qual ele se encontra, e um dos grandes problemas

    encontrados nos últimos anos é o rebaixamento da cultura. Ainda existe preconceito quando o

    assunto é cultura popular, muitas vezes essa cultura é atribuída à periferia. Anchieta (2007, p.3)

    afirma que

    Assim, antes se entendia (e, por vezes, ainda se entende) que há uma Cultura

    “alta” e uma Cultura “baixa”, esta de menor qualidade, compreendendo todas

    as criações populares, massivas e mercantis como objetos que não mereceriam

    reconhecimento e análise de sua importância nas práticas sociais. Ao contrário

    disso, os artistas eruditos e as formas artísticas tradicionais eram (e são)

    merecedores de um status e um tratamento crítico diferenciado. A designação

    de “arte” seria conferida a poucos e eram esses os denominados artistas que

    mereceriam tratamento mais crítico, interpretativo e analítico do jornalismo.

    Ao contrário disso, os produtos