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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES (FCA)
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
ERICK LEANDRO SILVA FREITAS
CULTURA NERD E JORNALISMO CULTURAL: UMA ANÁLISE
SOBRE O SITE OMELETE
CUIABÁ-MT
2018
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES (FCA)
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
ERICK LEANDRO SILVA FREITAS
CULTURA NERD E JORNALISMO CULTURAL: UMA ANÁLISE
SOBRE O SITE OMELETE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada à
Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção
do título de bacharel em Comunicação Social,
habilitação em Jornalismo, sob orientação do Prof.
Ms. Thiago Cury Luiz.
CUIABÁ-MT
2018
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RESUMO
O trabalho tem como objetivo investigar o movimento cultural nerd no Brasil, além de
analisar a interação dos leitores do site Omelete através dos comentários publicados no site. A
metodologia utilizada é a quantitativa, analisando o conteúdo publicado no período de três
meses: junho, julho e agosto de 2018. Para isso, utilizamos o referencial teórico da
folkcomunicação, visando aprofundamento sobre a apropriação da cultura pela mídia, uma
leitura das sociedades tribais feita por Maffesoli, além de seguir a visão de jornalismo cultural
exposta por Daniel Piza. A análise chega à conclusão de que o público do site “Omelete” busca
por notícias internacionais, em sua maioria por aquelas que remetem ao tema extraordinário do
mundo dos super-heróis, e apesar de se denominar um site de entretenimento, o foco é voltado
para o público nerd.
Palavras-chave: Cultura Nerd; Jornalismo cultural; Site “Omelete”.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5
CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 8
O MUNDO NERD .................................................................................................................... 8
1.1 Origem da palavra “nerd” ................................................................................................. 8
1.2 O surgimento da cultura nerd nos Estados Unidos ........................................................... 9
1.3 A cultura nerd no Brasil cresce e passa a ser comercializada ......................................... 14
CAPÍTULO II ......................................................................................................................... 19
O CONTEXTO DA FOLKCOMUNICAÇÃO E DO JORNALISMO CULTURAL ...... 19
2.1 Reflexões sobre Folk ...................................................................................................... 19
2.2 Algumas considerações sobre jornalismo especializado ................................................ 23
2.3 Jornalismo cultural .......................................................................................................... 28
CAPÍTULO III ....................................................................................................................... 37
ANÁLISE DO SITE OMELETE .......................................................................................... 37
3.1 O site Omelete ................................................................................................................ 37
3.2 Análise de conteúdo do site Omelete .............................................................................. 38
3.2.1 1º dia: 4 de junho de 2018 ........................................................................................ 39
3.2.2 2º dia: 12 de junho de 2018 ...................................................................................... 40
3.2.3 3º dia: 20 de junho de 2018 ...................................................................................... 42
3.2.4 4º dia: 28 de junho de 2018 ...................................................................................... 44
3.2.5 5º dia: 6 de julho de 2018 ......................................................................................... 45
3.2.6 6º dia: 14 de julho de 2018 ....................................................................................... 46
3.2.7 7º dia: 22 de julho de 2018 ....................................................................................... 47
3.2.8 8º dia: 30 de julho de 2018 ....................................................................................... 48
3.2.9 9º dia: 7 de agosto de 2018 ....................................................................................... 49
3.2.10 10º dia: 15 de agosto de 2018 ................................................................................. 50
3.2.11 11º dia: 23 de agosto de 2018 ................................................................................. 52
3.2.12 12º dia: 31 de agosto de 2018 ................................................................................. 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 59
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INTRODUÇÃO
Esta pesquisa monográfica tem como objetivo analisar o conteúdo publicado no site de
entretenimento “Omelete”, observando as manchetes e comentários feitos por seus leitores. O
nosso problema de pesquisa é compreender se o público nerd do site tem influência direta sobre
os conteúdos publicados no site.
Entre os assuntos analisados, será observado se assuntos considerados de elite, como
notícias oriundas de países de primeiro mundo, são mais propensas a aparecerem no site. O
mesmo vale para pessoas consideradas de elite, que ocupam cargos importantes. E se as notícias
originadas dessa elite continuam a gerar conteúdo para o site.
A pesquisa também busca investigar o surgimento da cultura nerd e como ela chegou
ao Brasil, sendo uma cultura que teve grande crescimento nas últimas décadas. Além disso, será
feita uma análise de quais os tipos de notícias aparecem com maior frequência no site
“Omelete”, que é caracterizado por ser um site de entretenimento.
O tema é pertinente, pois o movimento nerd cresceu nos últimos anos no país,
adentrando diversos setores da economia e tornando-se algo que gera muito dinheiro, seja na
indústria do cinema, brinquedos, jogos e entretenimento de maneira geral. E isso não poderia
ser diferente com os sites de notícia, que cada vez mais abrigam o conteúdo em suas notícias,
tendo em vista que o assunto “nerd” acaba sendo rentável.
Para fazer dar continuidade ao trabalho monográfico, será feita uma análise de conteúdo
do site omelete, de maneira quantitativa, utilizando o método de semana construída. Três meses
do ano de 2018 foram escolhidos para essa análise, cada mês do ano corresponde a 4 dias, e
esses dias correspondem às semanas presentes no mês, fazendo com que tenhamos um mês
completo. Os três meses correspondem a 12 dias, gerando um total de 12 semanas de análise.
Para realizar a análise foi preciso, no primeiro momento, investigar a origem da cultura
nerd e como ela cresceu nos últimos anos no Brasil. Também, conhecer o movimento cultural
nerd, que atualmente possui representatividade expressiva nos meios do entretenimento e
comunicação. Além disso, foi preciso reconhecer quais os tipos de notícias aparecem com maior
frequência no site “Omelete” no período escolhido para a análise desta monografia.
Temos como hipótese para esse trabalho monográfico que notícias originárias de países
de primeiro mundo é mais significativa para o site, logo será observado se esse tipo de notícia
realmente possui maior expressividade se comparada a outros tipos de informações veiculadas
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no site. Ainda nesse aspecto, partimos do princípio de que notícias ligadas a pessoas
consideradas de elite, que possuem cargos ou papeis importantes, ganham mais visibilidade
despertando maior interesse do público e fazendo com que notícias desse aspecto tenham
chances maiores de serem publicadas. E, se por serem de elite, essas notícias possuem maior
possibilidade de continuidade do assunto difundido no site.
Tudo isso foi feito através de pesquisa bibliográfica, que serviu para conhecer melhor o
conteúdo apresentado ao longo do trabalho monográfico. O próximo passo foi a realização da
pesquisa empírica, em que foi escolhido o método de amostra para realizar a análise, pois se
encaixava melhor na proposta do trabalho, além de levar menos tempo e ter menor custo que
outro tipo de pesquisa. Com esse método foi possível delimitar qual o universo, a população e
qual elemento específico será tirado da amostra para a realização da análise. O universo é o site
“Omelete”, a população são os leitores e os elementos específicos são as notícias publicadas no
site durante um período de três meses.
O período escolhido para realizar a análise foram três meses do ano de 2018, sendo eles
junho, julho e agosto. Para isso foi preciso fazer o uso da semana construída, pegando um dia
de cada semana do mês, completando quatro semanas no total por mês, dando um total de 12
dias ou 12 semanas analisadas. Esse tipo de análise foi feito para facilitar a análise, tendo em o
número de informação publicada durante três meses em sites é vasto e dificultaria a análise.
Junho Dia 04 Dia 12 Dia 20 Dia 28
Julho Dia 06 Dia 14 Dia 22 Dia 30
Agosto Dia 07 Dia 15 Dia 23 Dia 31
O tipo de análise escolhida foi a análise de conteúdo. De todos os métodos possíveis,
essa é o que melhor se encaixa na proposta da pesquisa. Com esse método foi possível analisar
o conteúdo do site “Omelete”, que foi escolhido como objeto de estudo da monografia.
Para esse trabalho foi escolhida a análise quantitativa para realizar a coleta de dados,
que se baseia em números. Durante esses três meses de análise foram publicadas pelo site 434
notícias, todas essas notícias foram analisadas e foram utilizadas para apresentar os resultados
presentes na análise do site.
A partir dos dados coletados, foi feita a análise da manchete das notícias publicadas,
para identificar em qual categoria a notícia se encaixa, sendo essas categorias: filmes,
quadrinhos, música, livro/hq, para traçar a quantidade de vezes em que uma notícia era
publicada e quais apareciam com maior frequência. Os comentários deixados pelos leitores
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também foram analisados, de modo que a interação também fosse analisada, para observar se o
número de interação do público em determinada notícia influenciava com a sua frequência no
site. A análise também identifica quais dessas categorias possuem o maior número de interação
por parte do público, como também quais delas aparecem mais durante os três meses escolhidos
para a análise do site “Omelete”.
No primeiro capítulo, é resgatado o início da palavra “nerd” e consequentemente o
movimento nerd até chegar no Brasil. Para entender sobre o movimento cultural nerd,
utilizamos do sociólogo Michel Maffesoli, para aprofundarmos os nossos conhecimentos sobre
as sociedades tribais e a coletividade na sociedade de massa, em que o indivíduo cada vez mais
deixa de agir sozinho e procura se incluir nessas sociedades tribais. Os indivíduos preferem
passar a viver numa coletividade, ao invés da individualidade. É exposto ainda como o termo
“nerd” deixa de ser marginalizado pelas massas e passa a ter outro significado, transformando
a imagem do nerd em algo positivo. Como também em um negócio lucrativo que atualmente
movimenta milhões no Brasil.
No segundo capítulo são feitas breves reflexões sobre a folkcomunicação, como a
cultura se desenvolve através das pessoas e da troca de informações entre os indivíduos. E como
novas culturas se desenvolvem e passam por transformações dando origem a uma nova cultura,
recebendo influências de diversas culturas e criando novas, mas sem esquecê-las, apenas
atualizando-as conforme a sociedade vai mudando. Ainda no segundo capítulo, utilizamos a
visão de Daniel Piza sobre o jornalismo cultural. E fazemos considerações também sobre
jornalismo e especializado.
O último capítulo desse trabalho é dedicado à análise do site Omelete, mostrando os
resultados obtidos através do estudo feito durante os meses de junho, julho e agosto do ano de
2018.
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CAPÍTULO I
O MUNDO NERD
1.1 Origem da palavra “nerd”
O termo nerd, como conhecemos hoje, é muito famoso e bastante usado em todos os
meios. Os primeiros registros das palavras, segundo alguns autores, surgem a partir da década
de 50.
Numa das versões mais divulgadas, o termo teria surgido no Canadá, onde um
grupo de jovens cientistas não fazia outra coisa senão varar noites na divisão
de pesquisa e desenvolvimento (research and development, abreviado como
R&D, em inglês) da Northern Electric, então um atuante laboratório de
tecnologia. Mais conhecido pela sigla com suas iniciais, Nerd, o nome do tal
laboratório passou a ser sinônimo daqueles jovens branquelos de óculos
espessos, vidrados num computador e pouco afeitos ao ar livre. (PEREIRA,
2008, s/p).
Além dessa versão, outra constante entre os historiadores e, talvez, uma das mais
defendidas, é de que ‘nerd’ surgiu em 1950, a partir do livro de literatura infantil “If I Ranthe
Zoo”, do autor Theodor Seuss Geisel, mais conhecido como Dr. Seuss, que, em sua publicação
de história fantástica, um dos personagens era chamado de Nerd (ZIMMER, 2011).
Contudo, é difícil creditar a invenção da palavra “nerd” ao autor, pois, um ano mais
tarde, ela já era usada como gíria entre jovens americanos, e a rapidez com que ela se propagou
faz com que essa teoria, de que seu surgimento se derivou através de um livro infantil, torne-se
menos provável.
Para Jim Burrows, consultor de alta tecnologia de Maynard, Massachusetts, a linha do
tempo entre a publicação do livro e os registros de adolescentes usando a palavra é muito curta,
fazendo com que seu surgimento seja, muito provavelmente, de outra fonte. O consultor apoia
a teoria de que nerd vem do acrônimo Northem Electric Research and Development, já citado
anteriormente, formando a palavra “nerd”. Porém, o próprio consultor admite que não existe
evidência de que essa também seja a origem da palavra, pois o laboratório foi criado apenas no
final dos anos 50.
A origem da palavra continua um mistério. O que se pode ter certeza é que foi a partir
dos anos 50, em algum lugar dos Estados Unidos, que o nerd começou a surgir nos meios
sociais, por meio dos jovens. Zimmer diz:
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Talvez toda essa etimologia esteja além do ponto. Arnold Zwicky, lingüista
da Universidade de Stanford, diz que palavras extravagantes como nerd “não
têm necessariamente uma fonte histórica do tipo comum”, mas podem ser
invenções baseadas em “ecos distantes de uma variedade de palavras
existentes”. Mortimer Snerd aqui, um pouco nerts! lá, talvez até uma sopa de
Seuss, e voilà! Um nerd nasceu. (ZIMMER, 2011, s/p).1
Ou seja, a palavra nerd pode ter sua origem por diversas fontes, e que talvez o termo
tenha surgido a partir da fusão de uma série de eventos e teorias, fazendo com que o nerd tenha
o significado que conhecemos no século XXI.
1.2 O surgimento da cultura nerd nos Estados Unidos
O nerd na cultura contemporânea sempre foi caracterizado por jovens que não se
encaixam em nenhuma tribo urbana e social. Jovens que não possuem interesses em comum
com a maioria das pessoas da mesma idade. Magrelos, estudiosos e com problema de visão.
Usando os característicos óculos, conhecido no Brasil como ‘óculos fundo de garrafa’. Também
eram taxados de antissociais, pois odiavam sair de casa. Mas isso acontecia em decorrência do
bullying e preconceitos que eram descarregados em cima desses indivíduos pela sociedade
(GALVÃO, 2009)
Uma das explicações para que o comportamento nerd seja descrito como antissocial,
tímido, é o fato de que os pais passaram a prender seus filhos dentro de casa, dando menos
liberdade, em decorrência do movimento Hippie na década de 60, nos Estados Unidos.
Movimento cultural que pregava “Peace and Love”, além de seguir um ideal naturalista, e
abominar a guerra do Vietnã. Muitos pais temiam que seus filhos seguissem o estilo de vida em
que era comum o naturalismo, como também o uso de drogas ilícitas, costume entre os membros
hippies na década de 60, além de não querer que eles fossem engajados em protestos contra
guerras, principalmente a do Vietnã. Segundo Galvão (2008, p.34-35), “esta atitude favoreceria
o estilo de vida enclausurada do nerd. A partir daí, nerd passou a ser usado em tom pejorativo,
e garotos que se enquadravam no estereótipo passaram a ser ridicularizados pela sociedade”.
Nessas condições, a ideia e o estereótipo do nerd já iam se formando, mas em menor
escala do que anos depois, a atingir um público maior e tirando essas pessoas da obscuridade.
Após o ‘descobrimento’ da palavra nerd e a influência que o movimento cultural hippie teve na
sociedade, outros meios da mídia começariam a espalhar essas ideias para uma porção maior
da sociedade.
1 Tradução nossa.
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Um dos responsáveis por popularizar essa imagem do nerd passa a ser o filme “Revenge
of the Nerds”(A vingança dos Nerds no Brasil), de 1984, quase 30 anos depois dos primeiros
relatos do surgimento da palavra. A imagem desse nerd se consolidou e passou a ser usada em
diversos outros meios, seja em filme ou na literatura. Pessoas com problemas de saúde e
tímidas, passaram a ser consideradas nerd.
No começo dos anos 90, o nerd começa a ganhar fama, pois houve um grande
enriquecimento de pessoas consideradas nerds, que investiram no ramo da computação e
empresas tecnológicas. Antes, o que era motivo de preconceito e discriminação, começa a
mudar, quando nomes como Steve Jobs e Bill Gates passaram a ganhar fama e reconhecimento.
Empresas envolvidas em pesquisas e construção de softwares passaram a ganhar dinheiro com
uma rapidez enorme, dando uma nova roupagem para os indivíduos classificados como nerd.
Hoje, quem tem informação, tem poder. Nessa sociedade, o desenvolvimento
tecnológico, atrelado ao capitalismo é um dos responsáveis pelo crescimento
econômico de um país. Portanto, os nerds, que antes eram mal vistos pelo
fascínio que tinham pela tecnologia, hoje estão cada vez mais dominando o
mercado de trabalho (GALVÃO, 2009, p. 35).
Ser nerd passou a ser sinônimo de dinheiro, e as distrações consideradas incomuns
passaram a ser levadas a sério, já que nos anos 90 os computadores começaram a ter grande
importância em empresas, com a ajuda da internet, devido à sua fácil e rápida comunicação
entre funcionários de uma empresa, como também fora dela. Além do mais, armazenavam um
número maior de dados (PALAZZO, SANTOS, 1998).
Uma mudança significativa – e talvez a maior até o momento – na imagem da pessoa
nerd se deu a partir de fatores socioeconômicos e depois atingiu a cultura de massas, em filmes
e séries de TV, que atualmente são grandes responsáveis por moldar a percepção das pessoas
de um modo geral do que é ser nerd. Toda a conotação negativa herdada ao longo dos anos
passa a mudar no fim do ano de 1990 e começo dos anos 2000.
O filme “A vingança dos Nerds”, apesar de ser um dos responsáveis pela popularização
da palavra para o público nos anos 80, não obteve o mesmo impacto que a série The Big Bang
Theory teve no fim dos anos 2000. A série, que acompanha quatro amigos nerds, mudou a
imagem de que ser nerd é algo negativo. Mesmo replicando estereótipos antigos do que é ser
nerd, a série de comédia americana da CBS consegue transformar a pessoa nerd em alguém
‘cool’, popularizando as características de personalidade dessas pessoas, principalmente através
do personagem Sheldon Cooper, que possui muitas peculiaridades, fazendo com que os traços
exibidos por ele sejam vistos de forma cômica e positiva.
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The Big Bang Theory conseguiu romper a barreira dos nerds e passou de um grupo
considerado underground, outsider, chegando até algo considerado mainstream. Não existe
restrição de público, apesar de ser um programa americano focado em piadas que fazem uso de
assuntos conhecidos por quem vive a cultura nerd. O humor consegue trazer assuntos da
atualidade, de conhecimento geral, e mesclar com a ‘nerdice’, sem fazer o programa perder a
proposta original, que é ser um seriado sobre indivíduos nerds.
Tamanha identificação do público americano acontece porque o diretor da série, Chuck
Lorre, tem experiências com séries no estilo de sitcom. Séries como Dois homens e meio e
Mom estão no currículo do diretor. Sitcom nada mais é que situações comuns vistas de maneira
humorísticas, situações sérias e até mesmo trágicas ganham um teor humorístico. Geralmente
cada episódio se desenvolve a partir de um problema que o personagem principal está
enfrentando, na maioria das vezes o problema é enfrentado após vários desencontros e
dificuldades. Contudo, sempre inserindo o humor nessas situações (FURQUIM, 1990).
Mais do que humor, é preciso que exista identificação com o público. The Big Bang
Theory conseguiu escapar de um círculo fechado, que é o meio nerd, e entrar de forma grande
e representativa na cultura americana.
A popularidade do nerd na TV americana pode ser medida através da audiência.
Segundo o site TV Line, voltado a notícias de programas de televisivos, a série possui o maior
número de telespectadores para uma atração dessa natureza em TV aberta. Na temporada
passada, em 2017, faltou apenas 1% para atingir 19 milhões de telespectadores por episódio,
perdendo apenas para programas em que o foco é o futebol americano, esporte número um dos
Estados Unidos. O sucesso dos nerds na TV americana é tanto, que a série está renovada até o
ano de 2019, completando mais de uma década de sucesso absoluto na TV aberta.
A televisão sempre foi um espelho que reflete a sociedade no momento em que ela se
encontra, como ela se comporta e principalmente os seus interesses. Seus programas
transmitem, ou tentam, em sua maioria, de forma ficcional, assuntos relevantes para o público.
Através das personagens e suas histórias, a TV tenta alcançar uma parcela da sociedade,
passando para as telas estruturas e aspectos da sociedade que causem similaridade com
determinado público (GALVÃO, 2009).
O sucesso da série é tamanho, que um spin off 2 dela, “Young Sheldon”, focado na vida
e infância de uns personagens principais de The Big Bang Theory, mas seguindo os moldes da
série original, estreou no ano de 2017 e continua a carregar o sucesso da série original, sendo
2 Spin off é o termo utilizado para designar aquilo que foi derivado de algo. No caso das séries o spin off utiliza
de personagens já existentes, criando histórias paralelas, mas que passam no mesmo universo.
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umas das maiores audiências do canal CBS. Segundo o site EW (Entertainment Weekly), a
estreia de Young Sheldon conseguiu a grande marca de 17,2 milhões de telespectadores,
tornando-se a estreia de um programa de comédia com maior audiência desde o ano de 2011.
Isso prova que os nerds, nessa última década, passaram a ter grande visibilidade e
consequentemente se tornaram aquilo que na década de 60 jamais imaginaram: se tornaram
figuras populares e influentes.
Produções televisivas na atualidade ganham mais força com o poder da internet, se antes
sua influência já era estrondosa, agora com os serviços de streaming e clips no youtube, onde
se pode assistir ou colocar pedaços de cada episódio, o público que ele alcança é maior, o
número de pessoas que se identificam. A sitcom por ter entre 20 e 30 minutos se encaixa
perfeitamente nos novos moldes de transmissão de conteúdo.
A sitcom pode, portanto, abranger desde os nerds assumidos até os que negam
a revanche da cultura nerd. Todos acabam assistindo por causa da
identificação, seja através dos elementos visuais e características, seja através
de sentimentos ou situações (GALVÃO, 2009, p. 40).
O público nerd cresce cada vez mais, desde sua aparição nos anos 50, quando ainda
eram reclusos e viviam como um grupo fechado, além de discriminado. Os filmes e programas
de TV, como também a internet, são responsáveis pelo crescimento da compreensão, de modo
geral, da ‘nerdice’ que conhecemos hoje.
Usando a concepção de tribo atribuída por Maffesoli (1998), para explicar a união do
público nerd e explicar sua expansão, apesar de solitários, é comum que as pessoas se unam
através de assuntos de interesses mútuos, formando pequenos grupos, conhecidos como tribos.
Assimilando suas preferências, podem ser musicais, religiosas, esportivas ou qualquer que seja
o seu interesse.
A criação de pequenos grupos, ou melhor, tribos, dá-se pela identificação, e, como disse
Maffesoli (1998), a pessoa pode viver solitária, contudo, é improvável que ela não procure um
grupo no qual se sinta confortável e aceito. O público nerd não podia ser diferente: indivíduos
que viviam escondidos por conta do preconceito e o bullying começam a se unir a partir dos
seus interesses em comum. Começando como uma micro-tribo, o público nerd conseguiu
expandir o seu número de membros, principalmente com o avanço da internet, onde a
conectividade faz com que um maior número de pessoas conheça determinadas culturas,
permitindo que escolham em qual tipo de tribo se adequa a sua preferência.
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Essas tribos nada mais são do que um lugar onde o individual se torna coletivo. Isso tem
influência da televisão, música, livro, e outros meios. Por isso, pessoas podem ter o mesmo tipo
de estilo e serem identificadas rapidamente. Claro que existem exceções, mas há um estereótipo
enraizado na sociedade. Por esse motivo, é comum que qualquer pessoa usando óculos acaba
sendo identificada como nerd, mesmo que suas preferências e sua tribo não tenham qualquer
relação com a tribo nerd. Mas, com o passar dos anos, essa última característica morre aos
poucos.
Continuando com o conceito de tribo de Maffesoli (1998), a característica dominante
dos participantes da tribo nerd é o apego emocional e, talvez, obsessão por determinado assunto.
Contudo, a cultura nerd atualmente é uma das mais amplas. Dentro dessa tribo é possível
identificar diversas ramificações. A cultura nerd vai muito além de gostar de estudar e apreciar
quadrinhos. Séries de televisão, quadrinhos, anime, mangá, filmes, englobam essa tribo,
fazendo com que ela possua mais diversidade de conteúdo. Então, a possibilidade de alcançar
e trazer um público maior para dentro dela acaba sendo consideravelmente mais provável.
Ser nerd deixou de ser algo negativo e passou a ser usado de forma positiva, qualquer
pessoa interessada e que tenha paixão sobre qualquer assunto passa a ser nerd. Com essas
mudanças no que é ser nerd, surge o termo “geek”, usado normalmente para pessoas que
possuem extrema paixão por tecnologia. “Geek” passou a ser considerado uma extensão do que
é ser nerd, pois essas pessoas incorporam essa cultura em suas vidas, sendo bem informadas
sobre computadores e diversos artigos tecnológicos.
O termo geek agora é usado cada vez mais como um adjetivo, em vez de um
mero esteriotipo. Por exemplo, “tech geek” é uma expressão comum usada
para descrever alguém cuja paixão pela tecnologia fez dele ou dela um
especialista em computação. Esta transformação mais positiva na palavra geek
ocorreu por dois motivos. Primeiro, muitas pessoas em nossa sociedade são
apaixonadas por computadores, por isso, ser visto como uma criança talentosa
especializada (geek) hoje é gratificante socialmente. Em segundo lugar,
porque muitos outros se esforçam para se tornar mais experientes
tecnologicamente, o especialista ou geek é visto como um ajudante, e em
muitos casos o termo geek até mesmo atribui uma qualidade de vanguarda a
esse indivíduo. (CROSS, 2005, p. 26-27).3
Os geeks são muito focados e, muitas vezes, se tornam experts naquilo que amam.
Imersos naquilo, há uma chance de desenvolverem uma habilidade maior que a de outras
pessoas. Por exemplo, em sua maioria, o geek é apaixonado e obcecado por tecnologia, então a
3 Tradução nossa
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14
chance de se aperfeiçoar nessa área é grande. E, como vimos antes, nos anos 90, a imagem do
nerd passou a mudar por conta do avanço tecnológico em computadores e como esse campo
gerava dinheiro. Não é surpresa que os geeks sofram o mesmo efeito positivo de duas décadas
atrás, visto que a paixão por tecnologia passou a gerar saldo positivo economicamente.
Se o nerd já se aprofunda naquilo que ele ama, pessoas que se consideram geeks vão um
pouco além. Seguindo a lógica de que o nerd pode ser considerado nerd por gostar de qualquer
tipo de coisa, de forma aprofundada, sem nenhuma restrição, tem como característica principal
o amor por aquilo que escolhe, sejam filmes, quadrinhos etc.
Como evidência dessa evolução no estereótipo, o termo geek também é
frequentemente usado de maneiras muito específicas, como ser um geek de
tecnologia ou um geek de arte, notícias ou clima. O que é interessante e digno
de observar sobre essas mudanças é sua semelhança com outra analogia: o
cisne emergindo de um patinho feio. Ser considerado um nerd quando criança
(um patinho feio) não tem a conotação negativa que uma vez fez. (CROSS,
2005, p. 27).4
Por serem especialistas, o termo geek não carrega o teor negativo e degradante de antes,
muito pelo contrário. Ser geek significa ser alguém que entende de algum assunto de forma
profunda, em qualquer área do conhecimento, indo muito além de jogos, quadrinhos e até
mesmo tecnologia. Ser geek na sociedade atual é algo que é valorizado, em um mundo
comandado por aqueles que se destacam em suas respectivas áreas, nerd/geek acabam se
sobressaindo. Enquanto o geek se foca em coisas materiais, como tecnologia e produção de
produtos de maneira geral, o nerd é conhecido por criar ideias e teorias sobre aquilo que
consomem. O tempo de humilhação e bullying acabou, a figura nerd se encontra presente em
todas as áreas, impondo respeito e causando admiração. Todos possuem um pouco de nerd
dentro de si, e admitir isso hoje não causa mais vergonha.
1.3 A cultura nerd no Brasil cresce e passa a ser comercializada
O reconhecimento do nerd no Brasil se dá, principalmente, pelo filme “A Vingança dos
Nerds” (1984), que, assim como nos Estados Unidos, foi um dos grandes responsáveis por
expor o estereótipo nerd. Mas, de igual modo, a figura do nerd também passou a ser respeitada
no Brasil. Filmes e séries dos anos 2000 são responsáveis por mudar a imagem negativa
atribuída ao nerd, transformando-a no que conhecemos hoje.
4 Tradução nossa
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Com a agilidade da internet, o Brasil foi capaz de caminhar lado a lado com os Estados
Unidos. Por termos uma cultura que sempre seguiu de perto as tendências americanas, tendo
como exemplos a sitcom desde “Friends”, série americana que fez um sucesso estrondoso, tanto
no exterior, como no Brasil.
A sitcom The Big Bang Theory, agora Big Bang: A Teoria, no Brasil é um grande
sucesso pelo canal fechado Warner. TBBT (Abreviação da série) teve sua estreia no Brasil
apenas dois meses após sua estreia nos Estados Unidos, em novembro de 2007. O carisma dos
amigos nerds conquistou o público brasileiro. Para um canal fechado (no Brasil), a série
consegue cativar um número grande de fãs.
Importante para a cultura contemporânea, o nerd ganhou o seu próprio dia para celebrar
quem são: o dia 25 de maio representa duas datas comemorativas, o Dia de Orgulho Nerd/Geek
e o Dia das toalhas, duas datas importantes que representam o orgulho de ser nerd.
O dia do Orgulho Nerd/Geek tem ligação com o livro “O guia do Mochileiro das
Galáxias”. Antes, era transmitido em um programa de rádio pela BBC Rádio, em 1978, e em
1979 viraria uma série de cinco livros. Nesse livro, Arthur Dent tem sua casa demolida, para
que seja feita uma construção no local. Na história, ele deveria ir à prefeitura para cancelar esse
acontecimento, mas o documento nunca foi entregue a ele, perdendo o prazo sua única opção
seria dormir na rua. Porém, isso não acontece, pois a terra é destruída por uma raça alienígena,
que também informa, caso a raça humana quisesse cancelar a construção feita na terra, ela
deveria ir a outra galáxia cancelar o pedido de construção. E, assim, a terra é destruída.
No livro, Arthur descobre que um de seus melhores amigos, Ford Prefect, é na verdade
um alienígena e que ele escrevia um livro, um guia, como se fosse um guia de viagens, no
entanto, viagens intergalácticas. Um dos itens citados como mais importante no guia criado por
Ford é uma toalha. Estranhamente, esse é o único item que Arthur consegue salvar antes da
destruição total da terra. Segundo seu amigo alienígena, uma toalha é um dos itens mais
complexos inventados e, consequentemente, mais importante que alguém poderia ter.
O livro foi marcante para toda uma geração, os programas de rádio eram um sucesso e
depois viraram uma série de livros, sendo traduzidos para mais de 30 línguas e depois virando
filme. Os livros são uma referência para a cultura pop/nerd. Seu impacto na vida de seus leitores
foi tão grande que, com a morte do autor da série Douglas Adams, em 2001, ao ter problemas
no coração, os fãs se organizaram para escolher um dia para celebrar a obra e a vida de Adams.
Em princípio, os fãs gostariam de homenageá-lo com algo que representasse o número
42, muito importante para a série, porém, por levar muito tempo, a data de comemoração acabou
acontecendo duas semanas após a morte do autor. A data não era tão significativa como os fãs
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desejam, mas aguardar 42 dias, ou 42 semanas para fazer o uso do número 42, que é importante
para os fãs, parecia muito tempo.
Cinco anos mais tarde, os fãs de Adams e os de Star Wars tiveram uma surpresa: a data
escolhida sem importância pelos fãs de “O guia do Mochileiro das Galáxias” coincidia com os
29 anos da estreia de outro marco para a cultura nerd, a estreia do primeiro filme da franquia
Stars Wars (Guerra nas Estrelas, no Brasil). Filme que também é responsável pelo aumento da
cultura nerd no Brasil, Guerra Nas Estrelas continua ganhando novas versões, quase 50 anos
após o lançamento do primeiro filme, provando sua importância e relevância para a cultura pop,
além de atrair um novo público para a franquia.
Por esse motivo, o dia 25 de maio é muito importante para os nerds/geeks. Dia da toalha
e Dia do Orgulho Nerd viraram sinônimos, duas obras importantes para o público nerd
coincidiram, inicialmente comemoradas por motivos diferentes. A data celebra não só duas
obras especificas, mas serve para que os nerds celebrem tudo aquilo que faz parte do seu
universo cultural.
Com o aumento na representatividade nerd, nos meios de comunicação e nas mídias de
maneira geral, pode-se dizer que elas influenciam, ou guiam, o público a viver certo estilo de
vida. Para Kellner (2001, p. 9), “o rádio, a televisão, o cinema e os outros produtos da indústria
cultural fornecem os modelos daquilo que significa ser homem ou mulher, bem-sucedido ou
fracassado, poderoso ou impotente”.
Devido ao crescimento do público nerd no Brasil, vários tipos de feiras voltadas a esse
público são realizados, em sua maioria, reunindo fãs de anime5 , mangá6 , jogos e kpop7 .
Produtos que não são naturalmente brasileiros, mas que viajam até o país através da internet,
televisão, e outros produtos que a mídia produz.
Além desses eventos culturais que acontecem em todos os cantos do país, em 2014
inaugurou-se a Comic Com Experience, ou como é conhecia, a CCXP Brasil. A Comic Com
brasileira segue os mesmos moldes das outras espalhadas pelo mundo. Estúdios de TV, cinema,
marcas conhecidas, como Disney, Warner, Netflix, Sony, Fox, entre outras, expõem suas
produções, além de trazer artistas, sendo atores, cartunistas, os criadores de séries e filmes e
pessoas que estejam envolvidas com o tipo de projeto que essas empresas organizam.
Lançamento de jogos também ocupa grande parte do evento. As empresas de jogos aproveitam
5 É o termo usado para se referir a animações que tem origem no Japão. 6 É como são chamadas as histórias quadrinhos produzidos no Japão. 7 Kpop(Korean pop) é o estilo musical que tem origem na Coréia do sul.
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o momento para lançar para o mundo as novidades que estarão disponíveis em suas plataformas
digitais, como também novos tipos de consoles para videogame.
O evento promete ir além de simplesmente mostrar filmes, séries e quadrinhos, ele
promete levar a experiência para o público. Através de diversas interações, o público tem a
oportunidade de escolher quais eventos da feira participar, muitos deles são painéis realizados
em grandes salões, seguindo geralmente um roteiro de apresentação, discussão e, por último,
perguntas liberadas para os fãs. Uma mediação é feita entre artista e fãs, criando uma
aproximação do fã com o produto oferecido pelo evento e seus colaboradores.
Desde sua inauguração no ano de 2014, a CCXP oferece um concurso de cosplay8
(costume + roleplay), em que qualquer fã pode participar dando espaço para que pessoas que
não são conhecidas possam expressar a sua arte através dos personagens que estão
caracterizando. Segundo o site oficial da Comic Com Experience, esse concurso é o maior
concurso de cosplayers do país. Nesse certame ocorre premiação, e no último evento, a
CCXP17, o ganhador do concurso de cosplay teve como prêmio um carro 0 km.
Outra conquista para a CCXP é que o Brasil, por conta do evento, possui o maior
shopping geek do mundo, de acordo com a organização do evento. Produtos relacionados à
cultura geek, indo de action figures a itens de colecionador, são vendidos a todo momento em
estandes promovidos, por diversas marcas, enquanto o evento acontece.
As conquistas da CCXP representam o crescimento do público nerd/geek no Brasil.
Atualmente, segundo o site Exame9, o evento é a maior Comic-Con do mundo, pelo menos em
números. Em 2017, o número de pessoas que participaram do evento ultrapassou 200 mil
pessoas, tornando-o a maior concentração de público interessado em cultura e artigos nerds do
mundo, superando até mesmo a grandiosa Comic-Con San Diego, que surgiu em 1970, até então
era a maior concentração de público nerd/geek do mundo. Em 5 anos de evento, a CCXP, que
segue os moldes das outras feiras mundiais, principalmente a de San Diego, desbancou a sua
precursora.
Tamanho é o crescimento do público nerd, que atualmente ele é responsável por
movimentar a área de entretenimento no Brasil, contando tanto consoles, como jogos online em
sites e mobile para celular. O mercado geek cresce a cada ano e, como vimos anteriormente, o
público nerd/geek passou a ser respeitado quando a sua ‘nerdice’ começou a gerar lucro. Com
8 É um termo inglês que usado para definir pessoas que se vestem como seus personagens favoritos, atualmente o termo é usado para qualquer caracterização feita por fã, mas originalmente o termo servia para aqueles que se
fantasiavam como personagens de histórias japonesas. 9 Disponível em: < https://exame.abril.com.br/negocios/os-numeros-impressionantes-da-comic-con-de-sp-a-
maior-do-mundo/> Acesso em: 05 de maio de 2018.
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os games acontece a mesma coisa: empresas de jogos têm esse público como alvo. “O setor de
games movimentou cerca de US$ 670 milhões no Brasil no ano passado. Em 2021, esse
montante deverá subir para US$ 1,441 bilhão, o que representa um crescimento anual médio de
16,6% – o maior entre os 14 segmentos mapeados pela pesquisa” (SACCHITIELLO, 2018,
s/p).
A cultura nerd/geek virou um produto. Com o aumento desse público, aumenta também
a demanda por produtos que os representam. Diversas lojas aproveitam esse nicho para lucrar
com o que está na moda agora, e com toda certeza os artigos nerds estão em alta. Ser nerd nunca
foi tão popular como é atualmente.
Das dez maiores bilheterias de 2016, seis eram de filmes de fantasia e ficção
científica, que foram replicados em produtos do universo nerd, como
almofadas, canecas, miniaturas e outros itens. Star Wars, Harry Potter, Game
of Thrones, Friends e Mulher Maravilha são alguns dos títulos que acumulam
fanáticos, que são facilmente reconhecidos nas ruas por conta dos acessórios
vendidos em lojas especializadas (MISSIAGGIA, 2017, s/p).
Filmes, séries, livros, games, entre outros. Produtos que derivam de franquias famosas
são vendidos a preços elevados. Mas quando esses produtos carregam o sentimento nerd, eles
passam a valer ainda mais, pois o público nerd é conhecido por ser mais engajado que o
consumidor comum. Esses produtos carregam valor sentimental.
Poder de consumo e, claro, a paixão por certas referências definem os geeks.
Histórias e personagens representam um público engajado que discute,
acompanha e compra fielmente tudo que envolve este nicho de mercado. De
acordo com a 4ª edição da pesquisa Geek Power, elaborada pelo Ibope Conecta
e o portal Omelete, com 26 mil pessoas, 68% dos geeks estão na faixa de 18 e 34
anos e 85% são homens. Ainda de acordo com o estudo, 65% têm ensino
superior. Outros 64% obtêm renda familiar entre dois e dez salários mínimos, e
admiram marcas como Netflix, Disney, Marvel e Lucasfilms (MISSIAGGIA,
2017, s/p).
Mesmo vendendo produtos que seriam considerados infantis pela maioria das pessoas,
o público nerd brasileiro gera bastante lucro para as empresas, visto que, em sua maioria, seus
consumidores são pessoas com empregos fixos que podem arcar com a ‘brincadeira’ que é
colecionar ou casualmente comprar produtos que estão inseridos na cultura nerd.
https://dcomercio.com.br/categoria/negocios/na-onda-da-cultura-geek-como-o-omelete-cresceuhttps://dcomercio.com.br/colunista/mariana-missiaggiahttps://dcomercio.com.br/colunista/mariana-missiaggia
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CAPÍTULO II
O CONTEXTO DA FOLKCOMUNICAÇÃO E DO JORNALISMO
CULTURAL
2.1 Reflexões sobre Folk
Umas das características marcantes da cultura brasileira é que para ela chegar onde
chegou hoje, ela absorveu, ou melhor, agregou diversas outras culturas para si mesma. Isso não
significa que as culturas trazidas ao Brasil tenham se mantido idênticas quando chegaram. Elas
foram adaptadas, e, por esse motivo, a cultura brasileira, mesmo sendo uma junção de muitas
outras, torna-se única.
A transformação na cultura brasileira acontece por diversas interferências. Temos a
cultura indígena que sempre esteve presente no país, misturando-se com a dos colonizadores
portugueses, como também a cultura africana. Dito isso, as transformações culturais também
são decorrentes a partir de imigração interna, de pessoas do próprio país, que se deslocam de
sua cidade de origem, levando, por exemplo, a cultura do sul ao nordeste ou vice-versa. E
grande parte da cultura também foi construída por meio da imigração de estrangeiros nas
últimas décadas do país, citando, por exemplo, a imigração alemã no Sul. Outro exemplo é a
imigração japonesa, que se concentra principalmente no estado de São Paulo. Esses são só dois
exemplos de imigrantes no Brasil, porém existem muitos outros povos que compartilharam a
sua cultura com o povo brasileiro.
Essa troca de experiências e valores, que são transmitidos por meios de comunicação de
massas e suas peculiaridades e diferenças são passadas à frente, torna possível a preservação
do passado (GOBBI, 2007). A partir dessas trocas entre pessoas, sociedades, é possível a
construção de novas culturas, tendo em vista que estão em constante mudança. Essas alterações
culturais dependem da sociedade e em que momento ela se encontra.
Segundo Marques de Melo e Lopes (2007 apud GOBBI 2007, p. 21),
A regionalização não é um obstáculo à globalização. Não são forças
excludentes. Ao contrário, aquela pôde ser vista como um processo por meio
do qual a globalização recria a nação, de modo a conformá-la à dinâmica da
economia e da cultura transnacional. É no âmbito do capitalismo global que
se desenvolvem subsistemas econômicos e culturais regionais que
redesenham e integram economias e culturas nacionais, recolocando-as nas
linhas de força da globalização.
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É impossível que a cultura não seja regionalizada, visto que, mesmo compartilhando
uma cultura massiva como povo brasileiro – pois cada canto do país apesar de compartilhar
características semelhantes de maneira geral –, cada local possui suas próprias diferenças, seja
em vestimenta, alimentação, linguagem falada ou até mesmo nos símbolos que são deixados
por elas. As diferenças contribuem para a interação entre pessoas. Do mesmo jeito que a cultura
brasileira é uma mistura de muitas outras, essas diferenças apresentadas por cada cidade, estado,
colaboram para a criação de novos modelos culturais, pois a sociedade está em constante
mudança, tendo como resultado transformações diretas na cultura.
A troca de informações e experiências tem como resultado a construção de uma cultura
de massa, Para Beltrão (1980), a troca de informações culturais não se dá apenas por grandes
jornais ou emissoras de televisão. O mesmo pode ser dito do século XXI. Como diz o próprio
nome da teoria, o “folk” em folkcomunicação vem da palavra “folclore”, e assim como as
histórias de folclores que são aprendidas e repassadas durante gerações, seja por parte de
familiares ou de desconhecidos, o folclore ainda possui grande influência na composição da
cultura. Conversas informais, do dia a dia, “fofocas”, são responsáveis também pela idealização
cultural de um povo.
O folclore pode vir a ser representado de uma mesma forma para a população geral,
como também pode aparecer de forma exclusiva para determinados grupos. Um exemplo disso
são os costumes executados por uma família específica, diferenciando-as das demais. Como o
folclore é um conjunto de lendas e costumes, é comum que cada família tenha suas
peculiaridades. Por exemplo, ao cozinhar um alimento, coisa simples para a maioria das
pessoas, é possível que o seu jeito de preparar um prato seja singular ao modo de preparo de
outras pessoas. Se uma mãe ensina a sua filha a preparar um frango de uma maneira, as chances
de ela ensinar a filha da mesma maneira são grandes. O modo de preparo faz parte do folclore
dessa família e ajuda a moldar a cultura interna presente em cada família, pois, cada pessoa,
antes de adentrar uma cultura de massa, possui a sua cultura interna, que foi aprendida por meio
do folclore familiar, passado pelas gerações anteriores e que possivelmente serão passadas para
as seguintes.
A folkcomunicação ultrapassa as informações tidas como jornalísticas, muito além das
pautas levantadas pelo jornalismo. A folkcomunicação faz uso dos outros aspectos da
informação, considerando a educação, o lazer e as outras atividades cotidianas vividas por
pessoas que exercem um papel e são pertencentes à sociedade. Geralmente, essas pessoas são
consideradas parte de uma cultura de massa excluída. Tem como característica também dar
atenção para os códigos emitidos pela sociedade de maneira geral. Essa análise de códigos nada
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mais é do que uma análise semiótica, englobando as culturas de massa e as mensagens emitidas
por elas (BELTRÃO, 1980).
Como a folkcomunicação estuda a sociedade através das pessoas e os fenômenos que se
desenvolvem a partir da interação dessas pessoas com o mundo e como elas se comunicam, é
possível afirmar, seguindo a teoria de Beltrão (1980), que essa analise só pode ser feita quando
se considera a sociedade como um todo, sem qualquer tipo de exclusão. Assim, cada detalhe é
importante. Pessoas, ações executadas diariamente por elas, símbolos onde quer que sejam
encontrados, podem ser usados de maneira que seja possível fazer um estudo mais fiel e
aprofundado sobre a sociedade que será estudada.
Segundo Beltrão (1980), a informação dá o seu primeiro suspiro no espírito dos
analfabetos e semianalfabetos, e a partir disso vai se espalhando através das manifestações
artísticas e, consequentemente, vira folclore. Então, tendo seu começo em áreas consideradas
periféricas da sociedade. Desse modo, o estudo e a falta de informações consideradas
‘importantes’ para o intelecto pessoal, adquiridas em escolas e faculdades, nascem a partir
dessas pessoas e se alastram para o restante da massa cultural, através das histórias, costumes,
dando início e continuidade ao folclore de uma sociedade.
Músicas, artes, artesanato, expressões corporais e expressões urbanas, como o grafite e
pichação, contribuem para que o reconhecimento dessas expressões culturais seja transmitido
para a massa da sociedade. A cultura popular reflete o folclore, as raízes de um povo que, muito
mais que conhecimento acadêmico, possui uma vivência rica, cheia de experiências, sejam elas
adquiridas através dos anos, através de família ou pela própria convivência com as pessoas que
vivem ao redor.
Com a globalização do mundo, a cultura, que já era compartilhada através da troca entre
pessoas de diferentes culturas e lugares, passa cada vez mais a se expandir para o público geral.
As manifestações populares (festas, danças, culinária, arte, artesanato, etc) já
não pertencem apenas aos seus protagonistas. As culturas tradicionais no
mundo globalizado são também do interesse dos grupos midiáticos, de
turismo, de entretenimento, das empresas de bebidas, de comidas e de tantas
outras organizações socais, culturais e econômicas. Temos como exemplo as
festas populares juninas no Nordeste, especialmente em Campina Grande, na
Paraíba, e Caruaru em Pernambuco; as Festas do Bumba-Meu-Boi em São
Luiz, no Maranhão; Boi-Bumbá na Amazônia, especialmente em Parintins;
Peão Boiadeiro em Barretos no Estado de São Paulo; a renovada literatura de
cordel com os temas atuais que se apropriam dos acontecimentos midiáticos
como a invasão do Iraque, o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos
da América, a arte popular e o artesanato, os restaurantes fast-food de comidas
típicas e tantas outras manifestações culturais populares, que agregam valores
da sociedade midiática de consumo para se quarem às demandas do mercado
global na venda de produtos culturais diferenciados (TRIGUEIRO, 2004, p.2).
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Apesar da globalização ser parte responsável pelo contato e exposição das culturas, o
ato de exibir essa cultura de maneira global vem de muito tempo. Segundo Trigueiro (2004),
isso acontece desde o uso das narrativas orais para exclamar contos populares e os famosos
teatros de rua, além de também ter sua influência nos cortejos de festas populares.
Outro resquício da espetacularização da cultura pode ser exemplificado através do
jornalismo, nos folhetins, que possuíam narrativas rápidas e tinham publicações parciais e
sequenciais, sejam em revistas ou jornais, sempre deixando um gancho para dar continuidade
às histórias. Histórias que podiam ser das coisas mais supérfluas às consideradas mais
importantes, partindo da vida cotidiana do cidadão ou acontecimentos políticos, fazendo uma
narração literária dos acontecimentos vividos por pessoas comuns.
Atualmente isso continua sendo reproduzido através dos filmes e, no Brasil,
principalmente nas novelas. Essas produções, mesmo tendo em sua composição elementos
literários e muitas vezes ficcionais, ainda se apropriam de elementos da vida real e adaptam-
lhes ao momento em que a sociedade se encontra. No Brasil, é possível ver que as novelas
absorvem assuntos debatidos na vida social e transportam-lhes para o seu roteiro. Após sua
exibição, vira assunto de discussão, seja em casa, com amigos ou colegas de trabalho.
É importante ter em mente que o espetáculo que é a TV e as novelas não cumpre somente
o papel de trazer partes da vida real para a ficção. Funciona também de maneira comercial:
produtos são vendidos a partir das cenas exibidas para milhares de brasileiros. Vende-se um
estilo de vida para a massa que senta no sofá todos os dias e acompanha os capítulos exibidos
(TRIGUEIRO, 2004).
Mas não é só produtos que as tramas novelísticas vendem. Bordões e gírias passam a
fazer parte da vida do brasileiro. É comum que com o sucesso de algumas novelas, várias frases
ou palavras passem a ser reproduzidas por todos, alcançando até quem não é telespectador ou
consumidor de novelas, adentrando à rotina da população. Na maioria das vezes essas frases
são originárias do local que a novela representa, fazendo com que a gíria regional passe a ser
do conhecimento de um público geral, através do fenômeno que é a comunicação de massa.
Trigueiro (2004, p. 4) diz que “hoje em dia a classe média consome mais os produtos
da cultura popular, a exemplo dos artefatos de decoração, nas festas populares, no consumo de
produtos naturais e a crescente preferência por restaurantes de comidas regionais”. Como dito
anteriormente, o popular tem suas origens e raízes entre pessoas menos privilegiadas, muitas
vezes analfabetas e sem estudo. Mas essa cultura ultrapassa a barreira econômica e social e vira
algo massivo.
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O folclore não é apenas algo para ser preservado e protegido. Ele faz parte da vida das
pessoas, seja qual for o tipo de folclore e cultura popular cultivada. Onde quer que ela esteja
localizada, essa cultura fará parte da vida cotidiana das pessoas que estão próximas a ela. Mas,
além de fazer parte da cultura dessas pessoas e de suas vidas cotidianas, a cultura e o folclore
passaram a ser produto. Citando o carnaval, por exemplo, esse evento, além de carregar todo o
teor histórico e cultural em seus desfiles, passa também a ser um produto da mídia; o evento,
todo ano, é televisionado. Além disso, existem muitas marcas e patrocinadores que querem ser
associados ao evento.
O carnaval continua fazendo parte da vida cotidiana das pessoas que participam do
evento. Durante todo o ano é feita uma preparação para que tudo seja realizado corretamente.
Mas o evento também faz parte da vida daqueles que não vivenciam a experiência de
preparação, muitas pessoas só aproveitam o resultado nos dias selecionados para celebrar o
carnaval.
Eventos festivos como o carnaval ou festas regionais ultrapassaram o espaço que antes
era limitado à sua região, com a comercialização e midiatização da cultura. O número de
pessoas que experimentam e vivenciam, mesmo que de forma indireta, essa cultura aumentou.
O contato não precisa ser direto. Televisão, jornais, rádios e agora a internet cumprem um papel
importante nessa apresentação de distintas culturas para os outros cantos do país e do mundo.
Mesmo não conhecendo a cultura diretamente, é possível ter uma amostra daquilo que se é
apresentado.
Festas populares, que antes eram realizadas espontaneamente por grupos locais, agora
são organizadas também pela mídia, com a participação dos meios de comunicação durante
essas celebrações. Isso abre portas para a entrada de diversas empresas que visam lucrar a partir
dessa cultura: empresas de bebidas, turismo, propaganda, grupos políticos e religiosos lucram
com a organização do evento. É como se duas festas fossem organizadas: uma a partir do olhar
das empresas e pessoas que planejam obter lucro em cima da festividade e outra proveniente da
própria comunidade, que interage através da comunicação entre indivíduos e se mobiliza para
a realização desses eventos (TRIGUEIRO,2004).
2.2 Algumas considerações sobre jornalismo especializado
O jornalismo procura atingir um certo público com as suas notícias. Cada vez mais se
encontram jornais e revistas especializados em assuntos diferenciados, tendo como objetivo
alcançar e manter um público fiel. Grandes empresas de comunicação tentam cativar o público
leitor através de conteúdo personalizado, a ideia de tentar alcançar a massa da sociedade perde
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um pouco a força. Esse fator tem como prioridade manter um público leal, que sempre irá
acompanhar e consumir os produtos, gerando capital para as empresas, ao público em geral,
que pode ou não consumir certos assuntos.
Vivemos num mundo globalizado, e as estratégias das grandes corporações que
batalham para sobreviver na economia do século XXI buscam a segmentação dos mercados,
por conta do aumento de um público considerado diferenciado (BIAHY, 2005). Isso não
poderia ser diferente para os grupos de comunicação. Com a globalização é improvável que
empresas continuem tentando atingir um público de massa. Considerando que cada vez mais o
público diferenciado busca por conteúdos diversificados, a melhor estratégia é apelar para os
segmentos que são formados a partir dessas pessoas, tendo como garantia um público
consumidor do seu conteúdo.
Garantir que o material produzido terá pessoas para consumi-lo é algo importante.
Atualmente, a informação está em todos os lugares: televisão, rádio, em diversos sites e blogs
da internet. Como também está presente em vários aplicativos que já fazem parte da instalação
padrão de diversos aparelhos de celulares.
Com o grande número de opções de notícia/informação disponível, de maneira jamais
vista antes, é importante que mesmo num mar de informações, o veículo de comunicação
consiga se destacar ao trazer um conteúdo diferente e interessante, que cative um público
definido. Ao invés de um veículo de comunicação que replica as mesmas notícias que outros,
destacam-se aqueles que trazem novidade para o segmento jornalístico, fazendo com que os
leitores continuem interessados e não migrem para outros milhares de escolhas disponíveis.
Um exemplo de fidelização nos meios de comunicação por parte dos consumidores da
informação é a própria televisão. Dificilmente uma família que assiste todos os dias à mesma
programação de TV irá trocá-la por outra emissora. É comum que, a partir do momento que
uma emissora é escolhida, o seu telespectador continuará acompanhando a programação
exibida. Canais como a Rede Globo conseguem manter o telespectador imerso à sua
programação desde o jornal da manhã, indo às telenovelas no período noturno. Segundo o site
de notícias rd110, a Globo, além de ser a maior emissora do Brasil, agora é também a segunda
maior emissora do mundo, ultrapassando a CBS e ficando atrás da emissora estadunidense
ABC.
10 Disponível em: Acesso em: 05 de junho de 2017.
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De acordo com Ortiz (1996 apud BIAHY, 2005), o que importa é a fabricação de
produtos especializados, e não a produção em massa. Isso pode ser visto nos grandes
conglomerados da comunicação. Tendo ainda como exemplo a Rede Globo, o maior
conglomerado de comunicação do Brasil, é possível ver que o grupo se expandiu para diversas
áreas, buscando variados públicos. Por exemplo, ele possui diversos sites destinados a públicos
específicos: sites de fofoca, como o extinto ego; globoesporte, voltado para esporta, entre
outros, além de trazer revistas especializadas em diversos segmentos: tecnologia, infantil,
fofocas, curiosidades, negócios, especializadas em artigos para casa e decoração etc.
Não é incomum que em um mundo globalizado e capitalista isso aconteça. A
comunicação é um negócio rentável. Além de agradar ao público que busca por segmentos
específicos, as empresas lucram a partir dessa procura do consumidor de notícia.
Com a especialização se tornando grande nos meios de comunicação, é claro que haverá
mudanças na profissão do comunicador jornalista. Durante os quatro anos de curso nas
faculdades do Brasil, o estudante de jornalismo aprende e exerce a escrita de textos sobre
diversos assuntos, sem focar um em específico. Ele escreve para as massas.
Mas com as novas exigências do público pela especialização, o profissional jornalista
se adapta à nova maneira de se fazer comunicação.
Nesse estágio em que as escolhas individuais prevalecem sobre o engajamento
com a coletividade, faz sentido que a informação procure atender às
especificidades ao se dirigir aos públicos diferenciados. É neste panorama que
o perfil do jornalista sofre alterações, as publicações passam a dedicar-se mais
à informação personalizada, portanto o jornalismo especializado tende a se
desenvolver cada vez mais (BIAHY, 2005, p. 5).
Seja em revistas ou na televisão, o conteúdo segmentado é uma realidade. Logo, existe
um aumento em jornalistas especializados. Mesmo assim, é comum encontrar pessoas que
escrevem sobre algum assunto específico sem necessariamente ser jornalista. Em cadernos de
jornais ou colunas de sites, é possível identificar textos de economia e política assinados por
pessoas que não são formadas na área jornalística, mas que exercem a mesma função por serem
especialistas no assunto. Isso impulsiona o jornalista a se especializar em alguma área, fazendo
com que o seu currículo melhore.
O jornalista, por meio de seu empregador ou de maneira pessoal, caso trabalhe de forma
independente, tenta alcançar um nicho de pessoas, muito mais do que tentar adequar seu
conteúdo às massas. Ele se adequa a uma ‘minoria’, que, na verdade, não é tão minoria assim,
a consumir a temática proposta pelo jornal, revista, site ou programas de televisão.
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Segundo Biahy (2005, p. 6), “os produtos culturais passam a organizar-se segundo a
ótica da diferenciação. Portanto, a produção informativa que atinge audiências segmentadas e
as publicações especializadas faz parte do contexto de desmassificação e de personalização”.
Isso acontece porque a sociedade busca cada vez mais sair de um modelo de massa, ansiando a
sua própria identidade. A busca por modelos que se assemelhem aos seus gostos e
particularidades acaba levando a certa padronização. Numa mesma sociedade, vários grupos
serão formados, e, para eles, diversas opções de consumo serão oferecidas.
Pessoas que se identificam e levam um estilo de vida diferente vão buscar por produtos
e conteúdos que lhes agradem. Grupos que estão inseridos em diversas tribos vão se juntar com
aqueles que compartilham do mesmo tipo de ideia.
Uma revista voltada para o público skatista, por exemplo, não tentará inserir conteúdo
que não seja voltado para essa tribo. Os assuntos tratados são aqueles que interessam ao grupo.
A revista se concentrará nesse público e produzirá artigos que representem esse grupo. Não
faria sentido uma revista voltada para esse público focar em outros assuntos. Citando também
como exemplo o agronegócio, são dois extremos, mas servem para mostrar a mudança entre
assunto e público. Enquanto o estilo de vida do skatista está direcionado para a cidade, não
existe motivo para esse público se interessar por agronegócio. O público que consome esse tipo
de produto é diferente.
Diante dessas exigências, é cada vez mais comum que o profissional jornalista tenha
outras formações, além da formação em jornalismo. De acordo com Sousa (1999 apud BIAHY,
2005, p. 8),
Se existe uma crescente especialização no campo jornalístico, quer ao nível
das competências técnicas, quer do conhecimento de uma área específica do
saber (economia, política, etc.), então as empresas jornalísticas pretendem
preferencialmente licenciados em jornalismo com especialização num
medium (televisão, rádio, etc.) e com uma pós-graduação numa dessas áreas
do saber ou, inversamente, licenciados nessas áreas do saber com pós-
graduações em jornalismo que contemplem uma área de especialização
mediática.
Grandes empresas optam por profissionais que tenham vasto conhecimento em
determinada área. O jornalista sempre foi conhecido por escrever de tudo um pouco, mas essa
realidade vai mudando aos poucos. Apesar de escrever sobre diversos assuntos, a especialização
em algum tema torna o seu trabalho mais valioso. Como dito anteriormente, é comum encontrar
profissionais não jornalistas escrevendo textos para jornais e revistas, isso porque eles são
especialistas no assunto que escrevem, tendo mais propriedade e ganhando a confiança do
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público e dos próprios patrões. E se esses profissionais dominam a língua portuguesa, é comum
que eles sejam a preferência desses veículos de comunicação. Fazendo com que o jornalista
taxado como ‘generalista’ perca um pouco de espaço.
A especialização ainda não fica muito clara na TV aberta, com exceções de algumas,
como a TV cultura, que, apesar de possuir diversos programas variados em sua programação,
apresenta um enfoque voltado para a cultura e educação. Boa parte dos programas transmitidos
segue esse ângulo. Mas em revistas e jornais, como também em sites, fica mais fácil delimitar
quais seguem esse modelo de especialização e quais não.
[...] a revista Sports Illustrated, na edição de Natal de 1999, produziu 50
diferentes capas, uma para cada Estado americano. Não se trata de edições
especiais. A revista Forbes, em março de 2000, colocou nas bancas quatro
diferentes capas para o mesmo número. Até que ponto isto demonstra apenas
esbanjamento de recursos ou de fato contribui para uma maior variedade na
escolha do leitor? Mesmo que a publicação em si seja idêntica no que se refere
às suas matérias, sabemos que o apelo da capa é um fator que conduz à
compra, ou seja, não se trata só de empacotamento, revela o interesse da
publicação em atingir públicos com referenciais diferenciados (BIAHY, 2005,
p. 13).
Dar diversas opções de capas de uma mesma revista ao leitor, é fazer com que ele tenha
o poder de escolha. Esse tipo de modelo é cada vez mais comum, a variedade de capa de uma
mesma revista apela diretamente para diferentes tipos de leitores. Levando em conta que a capa
de uma revista é a primeira coisa que chama atenção e causa impacto no leitor, não é estranho
que uma revista tenha múltiplas capas, mesmo possuindo o mesmo conteúdo.
O mercado busca tornar-se atraente para diferentes públicos utilizando esse método. Na
Ásia, por exemplo, muito mais do que no Brasil e em outro local do mundo, é comum que as
revistas lancem diversas capas de uma mesma revista, para apelar para o público. Mas isso não
se restringe apenas a revistas. A indústria musical japonesa também utiliza esse método. O
Japão segue firme com as vendas físicas, diferente do ocidente que começou a optar por
streaming. Por esse motivo, é comum que um mesmo artista lance um álbum que possua
diversas capas, fazendo com que o fã escolha qual capa o agrada mais.
O grupo musical AKB48, em seu último lançamento, já vendeu quase dois milhões de
cópias físicas em apenas seis dias, de acordo com o Oricon11, chart que monitora vendas físicas
no Japão. O álbum do grupo possui nove capas diferentes. Além do fã ter a chance de aderir
11 Disponível em: Acesso em: 07 de junho de 2018.
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àquela que mais lhe agrada, isso influencia para que essas pessoas colecionem as capas, dando
a opção de escolha do fã e gerando capital para o artista e empresas.
Por esse motivo não é incomum que o modelo também seja trazido para a comunicação,
tendo em conta que esse tipo de estratégia apela para o público, como também gera lucros para
as empresas comunicacionais. O público vai investir e consumir aquilo que satisfaz o seu gosto
pessoal.
2.3 Jornalismo cultural
O jornalismo cultural e o jornalismo de forma geral passaram por muitas mudanças ao
longo do século XXI. No próprio jornal impresso e nas revistas, o texto jornalístico também foi
se adaptando as novas mudanças que chegaram como avanço da tecnologia. Atualmente é
comum que textos jornalísticos sejam menores, é uma tendência que cada vez mais o texto
diminua, pois, o leitor espera que a informação seja dada de maneira curta e rápida, priorizando-
se a quantidade. E na internet isso é mais visível. Segundo Assis (2008, p.3),
O avanço das novas tecnologias da informação – principalmente da Internet –
gerou novas demandas para a produção jornalística e exigiu que antigos
modelos fossem adaptados para a realidade do final do século XX e do começo
do século XXI. O tradicional formato do jornalismo impresso, que outrora
valorizava textos extensos e detalhados, perdeu seu espaço. A ordem, agora,
é compilar em poucas linhas as informações necessárias para a compreensão
de determinado fato, e mesmo os conteúdos críticos não dispõem de grandes
espaços para serem desdobrados.
A mudança no cenário de notícias que envolve o jornalismo cultural voltado para
internet é uma realidade. Com a diminuição de texto nas notícias, é comum que os sites
complementem suas notícias, por meio de vídeos, podcasts, para dar profundidade aos assuntos,
sem deixar que o grande número de informações afaste os leitores. A solução encontrada por
esses novos jornais é a utilização de outros meios que possam ser usados para transmitir a
notícia, que não seja só a escrita. É muito mais fácil ouvir uma crítica de filme do que ler a
mesma crítica, com a agitação da sociedade moderna e sua necessidade das pessoas de serem
multitarefas fica evidente que um leitor iria optar por ouvir a mesma notícia enquanto faz uma
outra atividade, deixando de lado o texto escrito, que exigiria mais da sua atenção.
A internet é uma ferramenta que alterou a forma de realizar quase todas as ações do ser
humano. Bibliotecas, lojas de músicas, filmes, séries, roupas e até a compra de comida estão
disponíveis online, graças à conectividade com a internet. E naturalmente isso também
aconteceu com os meios de comunicação: a forma de fazer jornalismo passou por algumas
transformações, fugindo dos meios tradicionais, como o jornal impresso e a TV, que ainda
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possuem o seu espaço e possivelmente não vão perde-lo, e sim apenas adaptar-se ao longo do
tempo como sempre fez. Contudo ainda mantém alguns vícios trazidos da mídia tradicional.
E essas características que também migraram para os sites geram alguns problemas,
Segundo Daniel Piza (apud ASSIS 2008, p. 2)
Também não se pode negar que a prática dessa especialidade é algo que chama
a atenção de alguns jornalistas pela possibilidade de “unir o útil ao agradável”.
Ou seja, é uma forma de exercer a profissão, ao mesmo tempo em que se pode
visitar exposições, ouvir CDs, assistir a DVDs, ir ao cinema, ler livros,
entrevistar artistas e celebridades e, no final, receber uma remuneração.
Por esse motivo, o jornalista que escreve texto voltado para cultura muitas vezes pode
ser criticado, tanto por jornalistas de outras áreas, como também por seus leitores. E isso é um
problema, porque, por exemplo, a realidade na atualidade é que muitos jornais e sites que focam
a cultura funcionam através de parcerias entre empresas. Empresas que disponibilizam entrada
exclusiva para os eventos ou, em caso de filmes e peças, ter acesso antes que o público de
maneira geral, para que se possa avaliar o evento.
O jornalismo cultural sobrevive através da cultura, e os eventos sociais, culturais
acontecem muitas vezes através de produtoras de eventos, seja música, filme. Ele sobrevive a
partir dessas organizações sociais.
O jornalismo cultural é um exemplo da mudança sofrida pelo jornalismo de maneira
geral e, ao mesmo tempo, da continuidade do jeito ‘antigo’ de se fazer jornalismo. O conteúdo
cultural nas páginas da internet, assim como nas de jornais e TV, muitas vezes ainda é visto
como algo rentável, para gerar lucro, e não pelo interesse cultural que se pode ter do público.
Segundo Teixeira (2002, p. 2-3):
Uma rápida aplicação das teorias do agendamento e do enfoque nos permitem
dizer que muitas vezes o jornalismo cultural trabalha a cultura mais como
produto do que como processo cultural. Nesse sentido, vale lembrar que há
uma relação intrincada do jornalismo cultural com a própria indústria cultural
- a célebre teoria de Adorno e Horkheimer que lamenta a redução do produto
cultural à simples condição de mercadoria - em seus mais diversos níveis:
fonográfico, cinematográfico, editorial etc.
O que pode acontecer nesses casos é que o jornalista dê mais importância ao produto
em si do que ao impacto sociocultural que ele pode gerar nos leitores. A cultura passa a ser um
produto e o texto jornalístico pode aparecer só como divulgação. Não que isto esteja errado,
pois é uma das funções que o jornalismo cultural exerce. Porém, muitas vezes, esse tipo de
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notícia acaba sendo a única coisa encontrada nas páginas de jornal e da internet. Mais do que
divulgar a cultura, os textos acabam virando uma página de classificados.
Parte dessa comercialização do jornalismo cultural vem dos convites feitos por
organizações de eventos e produtoras. Assim, o jornalista pode ter acesso gratuito e alguns
casos até receber alguns produtos. Nada de errado, já que esses presentes também são uma
forma de divulgação. Mas, num mundo ideal, isso não precisaria ser feito. Por conta dessa
relação, alguns jornalistas se sentem na obrigação de falar bem do evento para o qual foram
convidados ou do produto recebido.
Além desses problemas, Assis (2008) diz que um dos grandes problemas do jornalismo
cultural é buscar dar um furo. Com isso, não apuram direito ou até mesmo podem acabar
publicando um evento cedo demais e acabar tendo que repetir o conteúdo em publicações
futuras. O site “Omelete”, em 2017, sentiu o efeito da falta de apuração: um suposto roteiro
vazado de uma série de TV ‘caiu’ na internet e a notícia foi publicada como verdadeira. Mais
tarde descobriu-se que houve um erro na tradução do texto do inglês para o português. No texto
original, não se afirmava que o roteiro era verdadeiro, mas foi assim que o site deu a notícia, e
isso gerou muita crítica por parte dos internautas.
Diferentemente dos meios impressos em que uma informação errada é corrigida durante
a próxima edição, os sites permitem a correção dessas informações em tempo real, isso é
possível através da atualização dos acontecimentos. Geralmente quando ocorre um furo, pouca
informação está disponível, porque ainda precisa ser feita uma apuração detalhada, conforme a
história se desenrole. Se o meio de comunicação fosse um jornal ou principalmente revistas, o
tempo de apuração seria maior, dependendo do fechamento da edição. Entretanto, os sites de
notícia não funcionam dessa maneira, a agilidade na entrega de notícias é constante, e quando
não se têm todos os fatos de um acontecimento, é comum que na mesma notícia ocorram
atualizações da informação. E no caso de informações erradas, elas podem ser atualizadas
imediatamente, fazendo com que essa informação seja lida pelo mínimo possível de leitores.
Outro impacto estaria na periodicidade: ao contrário dos suportes tradicionais
jornalísticos, o jornalismo on-line oferece um conteúdo que pode ser
atualizado continuamente. É a primeira vez na história da comunicação que o
texto impresso informativo alcança uma velocidade para o relato de situações
e fatos antes só possível via rádio e TV (hard news). Ao mesmo tempo, porém,
pode manter o caráter de interpretação e análise que marcou o conteúdo do
jornalismo impresso (soft news). Um projeto editorial para a internet pode
optar por qualquer um desses caminhos ou mesmo buscar uma combinação
dos dois (TEIXEIRA, 2002, p. 4).
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O imediatismo das notícias é uma das características do jornalismo online, isso
diferencia o meio digital do impresso, ao mesmo tempo que isso é positivo, pois a notícia chega
com maior rapidez ao leitor, essa velocidade pode prejudicar o site e principalmente o leitor
quando a informação é dada de maneira errada. A competitividade nos meios online é ainda
mais feroz que o meio impresso, pois qualquer pessoa pode desenvolver o seu site atualmente,
o número de sites de informações online é superior ao número de jornais e revistas impressas.
Apesar disso, o site Omelete por exemplo, é adepto de uma virtude apontada por Assis
(2008): traz o mesmo assunto depois de já ter dado a notícia, sem saturar o conteúdo e propondo
informações novas. É comum que filmes sejam anunciados antes de sua estreia, e quando o
filme é voltado para a cultura nerd, a chance de o site ter acesso antecipado a algumas coisas
relacionadas a esse filme é grande. O que eles fazem, neste caso, é sempre trazer o assunto do
filme de volta, só que com novas informações. Com isso, a interação do público também cresce,
pois é uma discussão que só acaba com a estreia do filme.
Mesmo com furos e ocasionalmente a divulgação de informações erradas, uma
característica dos sites voltados para a cultura, especialmente que abordam a cultura nerd, é que
como o tema já é pré-definido, os jornalistas que escrevem esses textos possuem um maior
aprofundamento no assunto, mesmo que muita coisa se englobe no conteúdo nerd, diferente do
profissional generalista. Por isso é comum que os jornalistas escrevam para áreas especificas,
assim como o jornalista que trabalha no meio impresso escreve sobre economia, política, saúde,
etc.
Mas as mudanças no jornalismo cultural feito na internet causou mudanças também em
como o leitor faz com que a informação chegue até ele.
Segundo Teixeira (2002, p. 4), “o leitor de jornalismo on-line pode programar seu
conteúdo para só receber aquelas notícias que lhe interessam – sem mencionar aqui na
programação de sites que lhe interessam”. Atualmente essa escolha por parte do leitor é ainda
maior: aplicativos foram criados para que o leitor selecione o tipo de notícia de sua preferência.
Em seu artigo, Teixeira (2002) cita que o leitor pode salvar nos favoritos do computador suas
páginas preferidas. Atualmente, essa ação não é necessária. Através do celular já é possível
receber notícias personalizadas de acordo com a preferência de cada um.
Além da mudança em como se recebe a informação, a maneira como o público leitor
reage as informações também mudou. Com a internet também veio a aproximação com o
público, que é muito maior. Os jornais recebem carta dos leitores, já na internet isso é feito
através dos comentários.
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Em tempo real, é possível saber a opinião e crítica sobre a notícia ou site. E, no caso do
jornalismo cultural, é comum que se tenham discussões sobre os assuntos publicados, fazendo
com que se tenha uma conversa on-line entre os usuários do site.
As mudanças que envolvem o jeito de fazer o jornalismo cultural na internet podem ser
tanto positivas como negativas. Apesar do feedback rápido por parte dos leitores e maior
participação por parte deles, a interação deixa de ser feita de forma presencial e passa a ser feito
pela internet. Mas a resposta do público ao conteúdo publicado é ainda mais rápida.
Por essa mudança rápida no cenário do jornalismo, é cada vez mais comum que jornais
e revistas tenham uma versão online digital. Até porque, nos últimos anos, houve uma
diminuição na circulação dos impressos e um grande crescimento de acessos diários de leitores
em sites de notícias.
Essas mudanças afetam também o lado econômico. Todos os sites continuam tendo seu
espaço de publicidade no impresso como também no online, e, com a rapidez de cliques por
segundos que a internet gera, isso acaba sendo uma forma dos jornais ganharem dinheiro
também no meio online.
Contudo, o jornalismo cultural possui outros problemas além dos citados anteriormente,
dessa vez não está ligado com o despreparo ou tem ligação com a agilidade que se é esperado
de um jornalismo feito para internet.
O jornalismo cultural contemporâneo, como dito previamente, sofre alterações de
acordo com o tempo e a sociedade na qual ele se encontra, e um dos grandes problemas
encontrados nos últimos anos é o rebaixamento da cultura. Ainda existe preconceito quando o
assunto é cultura popular, muitas vezes essa cultura é atribuída à periferia. Anchieta (2007, p.3)
afirma que
Assim, antes se entendia (e, por vezes, ainda se entende) que há uma Cultura
“alta” e uma Cultura “baixa”, esta de menor qualidade, compreendendo todas
as criações populares, massivas e mercantis como objetos que não mereceriam
reconhecimento e análise de sua importância nas práticas sociais. Ao contrário
disso, os artistas eruditos e as formas artísticas tradicionais eram (e são)
merecedores de um status e um tratamento crítico diferenciado. A designação
de “arte” seria conferida a poucos e eram esses os denominados artistas que
mereceriam tratamento mais crítico, interpretativo e analítico do jornalismo.
Ao contrário disso, os produtos