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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA
CENTRO DE CIEcircNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLAacuteSSICAS E VERNAacuteCULAS
LICENCIATURA EM LIacuteNGUA PORTUGUESA
JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO
DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO
Joatildeo Pessoa ndash PB 2018
JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO
DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO
Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo
Orientador Profordf Drordf Alyere Silva Farias
Joatildeo Pessoa ndash PB
2018
Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo
Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo
J95g Junior Jose Pereira da Silva
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E
O ENSINO DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO Jose Pereira da
Silva Junior - Joatildeo Pessoa 2018
47 f
Orientaccedilatildeo Profordf Drordf Alyere Silva Farias Farias
TCC (Especializaccedilatildeo) - UFPBCCHLA
1 EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias I Farias
Profordf Drordf Alyere Silva Farias II Tiacutetulo
UFPBCCHLA
JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO
DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO
Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo
Aprovado em ______de____________ de _______
Banca Examinadora
____________________________________________
Profordf Drordf Orientadora
___________________________________________ Prof
Examinador UFPB
__________________________________________ Prof
Examinador UFPB
Joatildeo Pessoa 2018
DEDICATOacuteRIA
Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me
incentivou e ajudou a superar as dificuldades
aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram
a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de
estudos e trabalho
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em
especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres
Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo
em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o
conhecimento
A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da
coordenaccedilatildeo
Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e
dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram
com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana
Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho
RESUMO
Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias
ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
10
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
13
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
15
Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
16
casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
17
livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
18
Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
19
Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
20
modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
30
uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
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MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO
DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO
Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo
Orientador Profordf Drordf Alyere Silva Farias
Joatildeo Pessoa ndash PB
2018
Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo
Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo
J95g Junior Jose Pereira da Silva
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E
O ENSINO DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO Jose Pereira da
Silva Junior - Joatildeo Pessoa 2018
47 f
Orientaccedilatildeo Profordf Drordf Alyere Silva Farias Farias
TCC (Especializaccedilatildeo) - UFPBCCHLA
1 EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias I Farias
Profordf Drordf Alyere Silva Farias II Tiacutetulo
UFPBCCHLA
JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO
DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO
Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo
Aprovado em ______de____________ de _______
Banca Examinadora
____________________________________________
Profordf Drordf Orientadora
___________________________________________ Prof
Examinador UFPB
__________________________________________ Prof
Examinador UFPB
Joatildeo Pessoa 2018
DEDICATOacuteRIA
Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me
incentivou e ajudou a superar as dificuldades
aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram
a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de
estudos e trabalho
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em
especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres
Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo
em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o
conhecimento
A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da
coordenaccedilatildeo
Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e
dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram
com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana
Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho
RESUMO
Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias
ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
10
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
13
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
15
Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
29
poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
30
uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
34
Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo
Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo
J95g Junior Jose Pereira da Silva
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E
O ENSINO DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO Jose Pereira da
Silva Junior - Joatildeo Pessoa 2018
47 f
Orientaccedilatildeo Profordf Drordf Alyere Silva Farias Farias
TCC (Especializaccedilatildeo) - UFPBCCHLA
1 EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias I Farias
Profordf Drordf Alyere Silva Farias II Tiacutetulo
UFPBCCHLA
JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO
DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO
Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo
Aprovado em ______de____________ de _______
Banca Examinadora
____________________________________________
Profordf Drordf Orientadora
___________________________________________ Prof
Examinador UFPB
__________________________________________ Prof
Examinador UFPB
Joatildeo Pessoa 2018
DEDICATOacuteRIA
Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me
incentivou e ajudou a superar as dificuldades
aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram
a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de
estudos e trabalho
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em
especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres
Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo
em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o
conhecimento
A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da
coordenaccedilatildeo
Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e
dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram
com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana
Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho
RESUMO
Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias
ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
10
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
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2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
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O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR
GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A
TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO
DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO
Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo
Aprovado em ______de____________ de _______
Banca Examinadora
____________________________________________
Profordf Drordf Orientadora
___________________________________________ Prof
Examinador UFPB
__________________________________________ Prof
Examinador UFPB
Joatildeo Pessoa 2018
DEDICATOacuteRIA
Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me
incentivou e ajudou a superar as dificuldades
aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram
a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de
estudos e trabalho
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em
especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres
Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo
em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o
conhecimento
A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da
coordenaccedilatildeo
Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e
dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram
com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana
Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho
RESUMO
Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias
ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
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1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
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pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
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pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
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2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
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Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
34
Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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DEDICATOacuteRIA
Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me
incentivou e ajudou a superar as dificuldades
aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram
a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de
estudos e trabalho
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em
especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres
Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo
em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o
conhecimento
A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da
coordenaccedilatildeo
Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e
dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram
com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana
Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho
RESUMO
Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias
ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
10
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
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pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
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pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
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2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
20
modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em
especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres
Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo
em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o
conhecimento
A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da
coordenaccedilatildeo
Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e
dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram
com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana
Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho
RESUMO
Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias
ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
10
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
13
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
15
Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
16
casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
29
poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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RESUMO
Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias
ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
10
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
13
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
29
poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
10
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
13
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
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O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
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Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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46
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SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 10
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13
21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20
22 DESAFIOS DA EJA 22
23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28
31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29
32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA
ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37
MOacuteDULO 1 5 AULAS 39
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40
MOacuteDULO 2 5 AULAS 41
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45
10
1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
13
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
29
poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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1 INTRODUCcedilAtildeO
O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura
atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino
que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo
natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma
segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova
oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de
ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor
ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo
dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano
utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem
contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras
incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em
outros ambientes de interaccedilatildeo social
O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos
com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado
ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar
uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de
novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os
questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em
produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional
(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia
expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do
leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma
participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a
interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano
A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises
dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso
em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra
e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo
1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os
diferentes textos
11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
13
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
15
Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
29
poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
34
Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
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11
pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja
vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus
Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e
adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da
disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem
como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo
Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os
poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais
pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos
povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do
patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio
Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos
que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do
educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que
prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento
adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no
ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que
pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas
respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A
leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita
aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura
Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui
nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou
procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de
ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para
promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que
se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque
identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das
aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis
da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na
ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso
projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da
primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas
12
pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
13
2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
15
Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
16
casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
17
livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
18
Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
19
Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
20
modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
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O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
30
uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
34
Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
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pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico
e sobretudo da vida pessoal do poeta
Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na
confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de
literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo
diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo
Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade
de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida
como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave
educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves
poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto
literaacuterio nestas salas de aula
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2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
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Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS
Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma
grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que
negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de
recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de
instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom
funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia
primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo
Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de
avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato
importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo
imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo
ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e
gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e
HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o
entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma
pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes
que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro
social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres
sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever
Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo
Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta
Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da
repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do
tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um
processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do
seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com
a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o
fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na
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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
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Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
34
Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
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MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
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14
rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da
sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem
elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das
necessidades da populaccedilatildeo
Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e
adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos
de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como
educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por
parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz
de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados
como analfabetos2
Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da
histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com
letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e
escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao
longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o
principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4
pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono
de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para
escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de
preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de
exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo
funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no
seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome
ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal
classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um
modo de preconceito de acordo com elas
2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que
natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade
4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do
analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
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O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
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Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
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MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)
Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e
mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos
desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e
relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de
conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em
sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados
referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade
Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)
Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem
de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da
histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo
assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de
milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados
tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram
utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram
eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes
datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a
identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como
MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de
6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de
uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e
adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
20
modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
25
circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
34
Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio
na idade regular agraves salas de aula
Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo
de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da
educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de
trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos
muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens
aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de
discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo
continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior
Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo
aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo
com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo
interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o
desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de
praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida
com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e
reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado
para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que
Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)
Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na
modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das
aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas
a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas
leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
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Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
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As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
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23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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46
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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura
de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas
turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes
poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa
perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees
de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas
diferenciadas de leituras de acordo com ele
Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)
Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal
finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado
que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma
construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do
educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica
capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras
linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no
acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma
sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico
facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia
movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e
variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a
direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua
portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma
A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
20
modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
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MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA
a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma
aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da
literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do
aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita
informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma
accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa
da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da
decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a
descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR
1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas
formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um
horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento
contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise
completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma
leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo
sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros
literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas
Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que
A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui
A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de
suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo
do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para
qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo
desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo
oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade
de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo
para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma
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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
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Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
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O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
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problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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19
Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)
Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do
qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas
possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo
na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas
que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA
enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a
fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos
de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o
aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo
excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre
esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema
da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino
regular
Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional
Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O
nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com
letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a
20
modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
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20
modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a
elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do
educador e do educando
21 Os direitos do educando da EJA
Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo
mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em
combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que
estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse
problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a
desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual
educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo
agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo
com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)
Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)
Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do
educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e
adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe
salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da
educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB
Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia
os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as
prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os
direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos
IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)
21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
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23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
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O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
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Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
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Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
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Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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21
Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola
Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as
etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar
oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves
escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees
especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes
alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos
reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino
ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo
um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual
aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos
dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia
dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de
domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB
preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um
direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para
garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1
e 2 da LDB(2017 p 31)
Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si
A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os
jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo
noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da
22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
29
poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
30
uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
34
Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
37
4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
38
rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
39
MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
40
separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
41
Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
42
Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
43
reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
44
5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
45
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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22
realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida
em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo
razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que
nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os
jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de
estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados
outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente
com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que
natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos
22 Desafios da EJA
No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem
ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e
uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA
nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo
secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no
ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto
o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de
ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash
1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO
HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos
com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica
educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)
teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem
financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)
Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade
23
As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a
EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a
poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos
programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de
Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei
11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de
Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que
seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento
em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de
atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como
heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com
pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute
muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de
recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo
Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber
continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis
relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para
supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento
Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam
O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB
aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo
de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce
entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de
construccedilatildeo de novos saberes
24
23 O que prescrevem os documentos oficiais
A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo
baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino
fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que
servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para
ensino fundamental e meacutedio
O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel
da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de
promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto
interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os
usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em
cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura
Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo
Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do
ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica
elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura
reflexiva criacuteticas da realidade
Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma
base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo
atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das
palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o
desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo
educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos
literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um
contanto com a literatura De acordo com o documento
Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)
Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno
leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as
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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo
apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do
processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato
que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade
Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee
Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador
Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada
pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura
e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da
linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da
accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa
por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve
fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento
experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em
um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica
reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o
documento
26
O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)
Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo
curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco
direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores
competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da
escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com
textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do
conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto
eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela
Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)
Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais
especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o
Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos
conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a
disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a
escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental
exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo
de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos
literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho
Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos
do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma
relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance
poesia contos De acordo com o documento
Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)
27
O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante
propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na
mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees
humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o
mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do
conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos
Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada
Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras
inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade
formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano
Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia
que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o
educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento
Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade
EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar
vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave
parceria da muacutesica e poesia
28
3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA
A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de
literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas
consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela
sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo
dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo
gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama
provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as
aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento
receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos
educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito
importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como
algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO
2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM
Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)
Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de
mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho
didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo
voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura
literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa
contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio
consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta
independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia
contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa
parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros
didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se
deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da
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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos
significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um
verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das
pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM
asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho
que
Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)
Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades
dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente
atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta
e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses
dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um
maior campo de conhecimento no aprendizado
31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem
Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo
de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo
tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas
praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se
concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e
demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o
homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse
comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz
uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem
em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e
castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um
acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura
transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir
30
uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido
acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura
como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo
Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a
sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos
do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que
afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua
humanizaccedilatildeo da seguinte maneira
Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)
Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA
respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem
dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham
novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor
mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio
exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode
passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de
ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de
apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a
sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma
Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo
31
Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria
jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma
uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo
elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como
exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo
Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura
de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar
um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a
poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos
indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de
leitura literaacuteria
Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de
lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador
mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um
papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a
poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa
o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor
como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como
formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma
experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo
vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto
poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que
Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido
Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o
educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional
sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como
elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas
inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e
32
o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de
questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um
cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta
forma Freire (1997 17) avalia que
A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica
Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca
o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da
comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica
social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe
atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos
acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade
32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na
Escola Pedro Aniacutesio
O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo
delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes
pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia
diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor
estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade
de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato
constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo
comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode
gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar
antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio
deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da
leitura literaacuteria
33
Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao
que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa
dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de
todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado
O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de
informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de
muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas
com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento
coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de
um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000
p 210)
Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo
Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute
(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de
trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade
de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas
Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma
leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e
ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com
a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante
Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e
consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem
abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um
parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada
Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da
humanidade e nos explica que
34
Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)
Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode
trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que
exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para
identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute
ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha
atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas
e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do
senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante
observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura
literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da
muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos
encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi
(2014 p61)
[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor
Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador
preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula
que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O
procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de
um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de
poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens
conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao
contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em
35
voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com
as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)
Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto
Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma
poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho
consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que
provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma
atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz
alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para
a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios
O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa
O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos
ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer
um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as
mulheres
Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea
esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo
pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico
todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas
inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro
passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de
forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro
fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os
alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma
O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais
demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um
refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para
os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os
8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos
alunos
36
problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover
mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus
direitos de cidadatildeos
Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do
periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees
vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do
estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a
imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou
considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa
questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de
superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos
Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo
No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica
direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de
textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma
maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa
visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua
composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a
necessidade dos educandos da EJA
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4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA
As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue
o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que
trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios
prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo
a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado
para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e
relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico
rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros
didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para
propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino
Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio
O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de
aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com
diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em
sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto
ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de
levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do
aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos
causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras
leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute
adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos
neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro
inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da
escola e da comunidade
A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser
relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo
do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os
alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia
de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras
quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser
usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de
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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos
do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam
os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a
serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do
mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do
Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma
oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de
leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um
momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido
mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta
etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise
sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior
grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a
turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no
desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na
leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta
etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma
consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo
com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para
novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as
decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma
proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento
didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando
em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais
de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da
estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica
A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo
Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)
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MOacuteDULO 1 5 AULAS
DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o
Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema
comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem
do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o
romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas
temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo
indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal
poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das
informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos
sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as
proacuteximas aulas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do
romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que
inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica
Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo
(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua
vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos
alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma
declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os
sentimentos de pertencimento
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de
que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema
Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos
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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras
o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno
com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um
olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de
amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas
naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma
reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos
cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre
questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento
com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada
regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de
paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA
2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade
discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no
poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois
com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho
e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de
patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os
alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da
sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto
na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde
vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo
como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas
sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma
indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)
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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes
orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados
de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas
reformas e disputas poliacuteticas
MOacuteDULO 2 5 AULAS
DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias
sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a
imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono
das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa
os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma
expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos
indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de
Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas
ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos
povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da
violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua
relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura
Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO
2018)
RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um
debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave
temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior
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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula
apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo
professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica
o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar
qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi
desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo
QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos
para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees
do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval
em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo
uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial
ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para
produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida
dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus
problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da
muacutesica vistos como heroacutei
AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos
pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo
perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na
sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar
com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de
um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos
indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao
Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos
indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser
que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na
formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das
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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do
modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura
Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a
leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)
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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos
pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo
de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os
educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo
exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica
por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos
direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais
reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser
relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo
da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para
expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto
de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos
pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios
Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu
cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por
uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que
vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por
intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias
situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e
de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas
famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos
obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato
de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de
acesso agrave educaccedilatildeo
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
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