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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA MARIANA ANDRIOTTI GAMA CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E LITOGEOQUÍMICA DAS ROCHAS METACARBONÁTICAS E CALCISSILICÁTICAS DO VALE DO RIO JACURICI, BAHIA Salvador 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOLOGIA

MARIANA ANDRIOTTI GAMA

CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E LITOGEOQUÍMICA DAS

ROCHAS METACARBONÁTICAS E CALCISSILICÁTICAS DO

VALE DO RIO JACURICI, BAHIA

Salvador 2014

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MARIANA ANDRIOTTI GAMA

CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E LITOGEOQUÍMICA DAS

ROCHAS METACARBONÁTICAS E CALCISSILICÁTICAS DO

VALE DO RIO JACURICI, BAHIA

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia.

Orientador: Prof. Dr. JOSÉ HAROLDO DA SILVA SÁ

Salvador 2014

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TERMO DE APROVAÇÃO

Local, Dia de Mês de Ano

MARIANA ANDRIOTTI GAMA

Salvador, 31 de janeiro de 2014

CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E LITOGEOQUÍMICA DAS

ROCHAS METACARBONÁTICAS E CALCISSILICÁTICAS DO

VALE DO RIO JACURICI, BAHIA

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em

Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

JOSÉ HAROLDO DA SILVA SÁ - Orientador Pós-doutorado nas universidades de LEICESTER-UK E CARDIFF-UK UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ANGELA BEATRIZ DE MENEZES LEAL Doutorado na UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA GEÓLOGO WALDEMIR QUEIROZ CHEFE DA DIVISÃO DE PROSP. E PESQUISA MINERAL DA COMPANHIA DE FERRO LIGAS DA BAHIA (FERBASA)

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“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às

margens que o comprimem.” Bertolt Brecht

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família. À minha mãe pela dedicação e

apoio integral durante todos estes anos. Ao meu pai, colega de profissão, pela força

e suporte dados com relação aos demais aspectos da vida. Aos meus irmãos, por

sempre cuidarem de mim.

Agradeço ao orientador do presente trabalho, Prof. Haroldo Sá, pela

oportunidade, paciência e conhecimento oferecidos. À FERBASA (Companhia Ferro-

Ligas da Bahia), que possibilitou a realização deste trabalho e aos geólogos da

mesma: Waldemir Queiroz, Eraldo Bulhões, André Luiz, Francisco Xavier e Jaime

Souza Junior, pela assistência.

Aos mestres que ao longo de cinco anos me auxiliaram a chegar até aqui:

professores Ósmário, Simone Cruz, Telésforo, Débora Rios, Haroldo Sá, Angêla,

Hailton, Johildo, Holz, Iracema, Rosa, Geraldo, Felix, Maria José, Pedro Maciel,

César, Jailma, Reinaldo, Amalvina. Aos parceiros do Student Chapter João Paulo,

Júlio, Kim, Michele, Eduardo, Luis, Luan e Peo. Ao apoio da SBG (Núcleo BA-SE),

em nome da Prof.a Simone, pelas oportunidades oferecidas a nós.

Aos colegas de 2009, a quem torço muito pelo sucesso. E por fim, um

agradecimento especial aos demais parceiros (as) de rocha: Rebeca, Carol Simões,

Mari Fraga, Carol Almeida, Vivi Machado e Oliveira, Ramena, Clara, Ravena, Laura,

Nai, Laila, Linda, Jú, Deia, Nati, e às demais.

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RESUMO

As rochas metacarbonáticas e calcissilicáticas do presente estudo estão

localizadas no vale do rio Jacurici, o qual está inserido no Cinturão Orogênico

Salvador-Curaçá, gerado durante a colisão paleoproterozoica dos Blocos Gavião,

Jequié, Itabuna-Salvador-Curaçá e Serrinha, constituintes do cráton do São

Francisco. Compreende uma sequência metassedimentar que representa uma das

principais encaixantes do corpo máfico-ultramáfico mineralizado em cromo, cujos

direitos minerários pertencem à companhia FERBASA. A partir do estudo

petrográfico foi possível observar que estas litologias correspondem a intercalações

de serpentina mármores, que são essencialmente calcíticos, diopsiditos, granada-

biotita-hiperstênio-diopsídio granulito, metacherts e, no topo da sequência,

metarcóseos. Os dados litogeoquímicos associados ao estudo petrográfico

auxiliaram a compreensão da distribuição dos elementos maiores e menores nos

minerais, o que possibilitou indicar a composição de alguns destes, como a

presença de diopsídio-hedenbergita e augita nos diopsiditos, e biotita títanífera nos

granulitos, característica de contribuição pelítica em rochas de alto grau

metamórfico. As concentrações de elementos traços conferem com as de rochas de

origem sedimentar, como altos valores de Ba, Sr, enriquecimento de metálicos na

porção de maior contribuição de argilominerais (Co, Cu, V), isto é, nos granulitos e

baixos valores de Ni e Zr. Aliados ao forte enriquecimento em ETRL, das anomalias

positivas de Ce e ligeiramente positivas de Eu em relação a composição de ETR’s

da água do mar, estes dados sugerem que os protólitos dessas rochas possuem

diferentes contribuições de material siliciclástico, carbonático e pelítico em um

ambiente marinho raso com contribuição de fluidos continentais, possivelmente de

ambiente estuarino.

Palavras-chave: vale do Rio Jacurici; metacarbonáticas; calssicilicáticas;

petrografia; litogeoquímica.

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ABSTRACT

The metacarbonate and calcissilicatic rocks in study are located in the Rio

Jacurici valley, that is inserted in the Orogenic Belt of Salvador-Curaçá generated

during the Paleoproterozoic collision of the Blocks of Gavião, Jequie, Itabuna-

Salvador-Curaçá and Serrinha, which constitute the San Francisco craton.It

comprises a metasedimentary sequence that represents one of the major mafic-

ultramafic chrome mineralized body host rocks, whose mining rights belong to

FERBASA company. Through the petrographic study was possible to observe that

these lithologies are intercalations of serpentine marbles, which are mainly calcitic,

diopsidites, garnet-biotite-hypersthene-diopside granulite, metacherts and, at the top

of the sequence, metarcoses.The lithogeochemical data in association with the

petrographic study enabled the understanding of major and minor elements

distribution in minerals, which indicated some minerals composition, such as the

presence of diopside and augite-hedenbergite in diopsidites and titaniferous biotite in

granulites, featuring pelitic contribution in high metamorphic grade rocks. The trace

elements values confer with rocks of sedimentary origin, such as high values of Ba,

Sr, metal enrichment in the portion of greater clay minerals contribution (Co, Cu, V),

as in granulites, and low values of Ni. Allied to the strong enrichment in LREE,

positive Ce anomalies and slightly positive Eu relative to REE composition of

seawater, these data suggest that the protoliths of these rocks have different

contributions of siliciclastic, pelitic and carbonate materials in a shallow marine

environment with contribution of continental fluids, possibly from estuarine

environment.

Keywords: Rio Jacurici valley; metacarbonate; calcissilicatic; petrography;

lithogeochemistry.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Mapa de localização e principais vias de acesso para a área da

FERBASA no vale do Rio Jacurici, Bahia. 18

Figura 2.1: Sistema CaO-MgO-SiO2 -CO2 -H2O, com os componentes CO2 e H2O. A

área sombreada de verde representa a composição comum em calcários e

dolomitos. A metade do triângulo à esquerda, de cor violeta, representa a área de

interesse para metacarbonatos. Já a metade do triângulo à direita, representa a área

das rochas ultramáficas carbonáticas. 24

Figura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-

MgO-SiO2-H2O-CO2. 26

Figura 3.1: Porção continental da Placa Sul-Americana, com as áreas estáveis

(Plataforma Sul-Americana), áreas instáveis e extensão do Brasil com destaque para

os crátons. (I) Guianas; (II) Brasil Central; e (III) Atlântico. 27

Figura 3.2: Delimitação do Cráton do São Francisco e suas faixas móveis segundo

Almeida (1977). 29

Figura 3.3: Mapa simplificado do Estado da Bahia exibindo os domínios tectônicos-

geocronológicos arqueanos e paleoproterozoicos. 33

Figura 3.4: Posições postuladas dos blocos arqueanos e início da colisão

paleoproterozoica. 33

Figura 3.5: Perfis geotectônicos E-W no NNE do estado da Bahia, destacando

somente rochas de idade paleoproterozoica. (a) Estágio colisional intermediário no

Paleoproterozoico com formação dos Greenstone Belts. As intrusões máfico-

ultramáficas de Caraíba e Medrado (vale do Jacurici) e de granitos sin-tectônicos

estão relacionadas a este estágio. (b) Estágio final da orogênese com a colocação

de sienitos e granitos. Atualmente nas porções oeste e leste podem ser observados

terrenos granulíticos sobrepostos a terrenos anfibolíticos e xisto-verdes. Diagramas

PxT localizados na lateral superior direita das seções. O sentido horário da trajetória

metamórfica atesta o contexto colisional. GB = Greenstone Belt. 36

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Figura 3.6: Mapa geológico do Cinturão Salvador-Curaçá destacando as unidades

granulíticas mesoarqueanas (Complexo Caraíba, Tanque Novo-Ipirá e Suíte São

José do Jacuípe) e granitoides paleoproterozoicos. Simplificado e atualizado de

Barbosa e Dominguez (1996), Kosin et al. (2003) e Oliveira et al. (2010). 37

Figura 4.1: Seção 15 interpretada, referente aos furo amostrados M2E-83-68°W e

M2E-82-68°W. 48

Figura 4.2: Seção 16-C interpretada, referente ao furo amostrado M2E-77-50°W 48

Figura 4.3: Seção 31 interpretada, referente ao furo amostrado IG293-1337-70°W. 49

Figura 4.4: Seção 3450 (não interpretada), referente ao furo amostrado PD08-90°. 49

Figura 4.5: Coluna estratigráfica do sill máfico-ultramáfico do vale do Jacurici

proposta por Barbosa de Deus e Viana (1982). 58

Figura 4.6: Imagem de satélite destacando a Serra de Itiúba (à leste). 60

Figura 5.1: Composição modal das amostras de serpentina mármore. 69

Figura 5.2: Diagrama de classificação para rochas metacarbonáticas, calcissilicáticas

e afins. C, carbonatos: calcita, dolomita e aragonita. CS, minerais calcissilicáticos; S,

todos os demais silicatos. Em vermelho estão as amostras de mármores e em azul

de diopsiditos. 71

Figura 5.3: Composição modal das amostras de granulitos paraderivados. 76

Figura 6.1: Sistema CMS-HC (CaO-MgO-SiO2-H2O-CO2). As zonas 1a, 1b e 1c

representam os Mármores Dolomíticos à Calcítico-dolomíticos; as 2a e 2b

representam os Mármores Calcissilicáticos . 80

Figura 6.2: Distribuição dos óxidos dos elementos maiores nos serpentina mármores

a) SiO2; b) CaO; c) MgO; d) Fe2O3 e, e) Al2O3. 81

Figura 6.3: Relações entre óxidos de elementos maiores nos mármores: a) CaO x

MgO; b) CaO x SiO2; c) Fe2O3 x SiO2; d) Al2O3 x SiO2; e e) Al2O3 x Fe2O3. 83

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Figura 6.4: Distribuição dos óxidos dos elementos maiores nos diopsiditos a) SiO2; b)

CaO; c) MgO; d) Fe2O3. e, e) Al2O3. 84

Figura 6.5: Relações entre óxidos de elementos maiores nos diopsiditos a) Al2O3 x

Fe2O3; b) Fe2O3 x Na2O; c) Na2O x CaO; e d) Al2O3 x CaO; 86

Figura 6.6: Valores de SiO2/Al2O3, K2O/Na2O e MgO/CaO dos granulitos

paraderivados no diagrama de discriminação de protólito (amostras em azul e preto).

87

Figura 6.7: Relação K2O/Na2O x SiO2/Al2O3 nos granulitos paraderivados. 88

Figura 6.8: Distribuição dos óxidos dos elementos maiores nos granulitos a) SiO2; b)

CaO; c) MgO; d) Fe2O3.; e) Al2O3; f) Na2O; g) K2O e h) TiO2. 89

Figura 6.9: Relações entre óxidos de elementos maiores nos granulitos

paraderivados: a) CaO x SiO2; b) MgO x SiO2; c) Fe2O3 x SiO2; d) Na2O x SiO2; e e)

Fe2O3 x TiO2. 91

Figura 6.10: Padrão dos ETR das rochas supracrustais do vale do Jacurici

normalizadas ao folhelho NASC (HASKIN e FREY, 1966 apud RICHARD, 1985). 98

Figura 6.11: Padrão dos ETR das rochas supracrustais do vale do Jacurici

normalizadas à água do mar (RICHARD, 1995). 98

Figura 6.12: Padrão dos ETRs dos mármores dolomíticos da sequência

metavulcano-sedimentar de Acarape, CE, normalizados ao folhelho NASC. 102

Figura 6.13: Padrão dos ETRs dos mármores dolomíticos da sequência

metavulcano-sedimentar de Acarape, CE, normalizados em relação à água do mar.

102

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LISTA DE FOTOS

Foto 4.2 - Diopsidito com granada, amostra MM-05, da região de Medrado, furo

M2E-82- 68° W (Seção 15). 51

Foto 4.1: Diopsidito intercalado com granulito (“micro-gabro”), amostra MI-05, da

região de Ipueira, furo IG293-1337-70°W (Seção 31). 51

Foto 4.3 – Serpentina mármore típico, apresentando olivinas serpentinizadas desde

de milimétricas à alguns centímetros. Foto meramente ilustrativa (não amostrada). 52

Foto 4.4 – Contato entre o diopsidito com o serpentina mármore, amostra MM-14, da

região de Medrado, furo M2E-77-50°W (Seção 16-C). 53

Foto 4.5 - Metachert impuro exibindo bandamento entre níveis puramente

quartzosos e níveis ricos em diopsídio e/ou anfibólio, amostra MM-18, região de

Medrado, furo M2E-77-50°W (Seção 16-C). 53

Foto 4.6 - Metarcóseo, amostra MM-01.1, região de Medrado, furo M2E-83-68° W

(Seção 15). 54

Foto 4.7: Granulito (“micro-gabro”) típico, amostra MM-03, da região de Medrado,

furo M2E-82-68° W (Seção 15). 56

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LISTA DE FOTOMICROGRAFIAS

Fotomicrografia 5.1: Serpentina mármore, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis

cruzados. A foto mostra um cristal de serpentina com cerca de 1mm, apresentando

ainda núcleos de olivina muito fina. A calcita, cuja geminação polissintética é

evidente, forma a matriz ao redor da serpentina. Amostra MPD_02. Aumento de 10x.

67

Fotomicrografia 5.2: Serpentina mármore, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis

cruzados. A foto mostra um cristal de serpentina, apresentando ainda núcleos de

olivina e cristais idioblásticos à subdioblásticos de granada em meio à matriz

calcítica. Amostra MPD_02. Aumento de 10x. 68

Fotomicrografia 5.3: Serpentina mármore, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis

cruzados. A foto mostra cristais de serpentina e muscovita em meio à matriz

calcítica. É possível ainda observar preenchimentos de calcita nos grãos de

serpentina. Amostra MM_19. Aumento de 10x. 68

Fotomicrografia 5.4: Diopsidito, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A

foto mostra cristais de clinopiroxênio que formam uma textura granoblástica

decussada a poligonal. É possível observar os diversos contatos entre os grãos e a

presença de uma vênula de carbonato que corta a amostra. Amostra MM_17.

Aumento de 02x. 71

Fotomicrografia 5.5: Granulito paraderivado, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis

cruzados. A foto mostra cristais de clinopiroxênio, ortopiroxênio, biotita e plagioclásio

e k-felspato, os quais formam uma textura granoblástica decussada. É possível

observar os diversos contatos entre os grãos. Amostra MM_04. Aumento de 02x. 74

Fotomicrografia 5.6: Granulito paraderivado, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis

cruzados. A foto mostra cristais de clinopiroxênio, ortopiroxênio, biotita e

plagioclásio, anfibólio e minerais opacos. Amostra MI_05. Aumento de 10x. 75

Fotomicrografia 5.7: Granulito paraderivado, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis

cruzados. A foto mostra cristais de plagioclásio, mesopertitas, quartzo e biotita.

Amostra MM_01. Aumento de 01x. 75

Fotomicrografia 5.8: Metarcóseo, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A

foto mostra cristais xenoblásticos de quartzo, plagioclásio, biotita e k-feldpatos

dispostos em uma textura granoblástica decussada a granular. Amostra MM_01_1.

Aumento de 02x. 77

Fotomicrografia 5.9: Metarcóseo, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A

foto mostra cristais xenoblásticos de quartzo, plagioclásio, mesopertita e k-feldpatos

dispostos em uma textura granoblástica decussada a granular. É possível observar

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intercrescimento mimequítico no plagioclásio, quando em contato com o felspato

alcalino. Amostra MM_01_1. Aumento de 10x. 77

Fotomicrografia 5.10: Metarchert, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A

foto mostra cristais xenoblásticos de quartzo que formam um mosaico com textura

granoblástica granular. Amostra MM_09. Aumento de 10x. 78

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1: Relação dos furos e suas respectivas seções e coordenadas (UTM). 47

Tabela 6.1: Concentrações dos principais elementos traços nos serpentina

mármores. 93

Tabela 6.2: Concentrações dos principais elementos traços nos diopsiditos. 94

Tabela 6.3: Concentrações dos principais elementos traços nos granulitos

paraderivados. 94

Tabela 6.4: Abundância dos elementos em alguns tipos de rochas. X = 1 – 9 %. 94

Tabela 6.5: Valores de ETR’s nos diopsiditos. 96

Tabela 6.6: Valores de ETR’s nos mármores. 97

Tabela 6.7: Valores de ETR’s nos granulitos. 97

Tabela 6.8: Valores padrão de ETR’s para o folhelho NASC. 97

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SUMÁRIO

1 CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO ........................................................................... 17

1.1 LOCALIZAÇÃO E ACESSOS ..................................................................... 18

1.2 OBJETIVOS ................................................................................................ 19

1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 19

1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 19

1.3 MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................... 19

2 CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................ 22

2.1 METAMORFISMO DE MÁRMORES E ROCHAS CALCISSILICÁTICAS ... 22

2.1.1 Metamorfismo de Calcários Puros e Calcários Silicosos ....................... 23

2.1.2 Metamorfismo de Dolomitos e Calcários Impuros ................................. 23

3 CAPÍTULO III – GEOLOGIA REGIONAL .......................................................... 27

3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 27

3.2 COMPARTIMENTAÇÃO GEOLÓGICA DO CRÁTON DO SÃO

FRANCISCO .......................................................................................................... 28

3.2.1 Cinturão Salvador-Curaçá .................................................................. 34

3.2.1.1 Estruturação, evolução geotectônica e gênese............................... 34

3.2.1.2 Unidades Litoestratigráficas ............................................................ 36

3.2.1.2.1 Suite São José do Jacuípe ...................................................... 38

3.2.1.2.2 Complexo Caraíba ................................................................... 39

3.2.1.2.3 Complexo Tanque Novo-Ipirá ................................................. 41

3.2.1.2.4 Rochas Máfico-Ultramáficas Intrusivas ................................. 42

3.2.1.2.5 Granitoides Paleoproterozoicos ............................................. 44

4 CAPÍTULO IV - GEOLOGIA LOCAL ................................................................. 46

4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 46

4.2 UNIDADES LITOLÓGICAS DO VALE DO RIO JACURICI ......................... 46

4.2.1 Sequência Supracrustal Metamorfizada ............................................ 47

4.2.2 Sill Diferenciado Máfico-Ultramáfico ................................................. 56

4.2.3 Ortognaisses G1 .................................................................................. 58

4.2.4 Diques Máficos .................................................................................... 58

4.2.5 Ortognaisses G2 .................................................................................. 59

4.2.6 Granitoides G3 ..................................................................................... 59

4.2.7 Rochas Pegmatíticas ........................................................................... 60

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4.2.8 Diques de Metadiabásio ...................................................................... 61

4.3 HISTÓRIA DEFORMACIONAL E CONFIGURAÇÃO ESTRUTURAL DO

VALE DO JACURICI .............................................................................................. 61

5 CAPÍTULO V – PETROGRAFIA ....................................................................... 64

5.1 MÁRMORES ............................................................................................... 64

5.2 DIOPSIDITOS ............................................................................................. 69

5.3 GRANULITOS PARADERIVADOS ............................................................. 72

5.4 METARCÓSEOS ........................................................................................ 76

5.5 METACHERT .............................................................................................. 78

6 CAPÍTULO VI - GEOQUÍMICA .......................................................................... 79

6.1 COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS MAIORES E MENORES ........... 79

6.1.1 Mármores ............................................................................................. 79

6.1.1.1 Elementos Maiores e Menores ........................................................ 79

6.1.1.2 Distribuição dos Elementos Maiores nos Minerais .......................... 81

6.1.2 Diopsiditos ........................................................................................... 83

6.1.2.1 Elementos Maiores e Menores ........................................................ 83

6.1.2.2 Distribuição dos Elementos Maiores nos Minerais .......................... 85

6.1.3 Granulitos Paraderivados ................................................................... 86

6.1.3.1 Elementos Maiores e Menores ........................................................ 86

6.1.3.2 Distruibuição dos Elementos Maiores nos Minerais ........................ 90

6.2 COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS TRAÇOS ................................... 91

6.3 COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS TERRAS RARAS ...................... 95

6.3.1 Anomalias de Ce e Eu ......................................................................... 99

7 CAPÍTULO VII - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................. 103

8 CAPÍTULO VIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................... 106

9 ANEXOS .......................................................................................................... 111

9.1 Anexo 1 ..................................................................................................... 111

9.1.1 Lista de Abreviação e Fórmula Química dos Minerais ................... 111

9.2 Anexo 2 ..................................................................................................... 113

9.2.1 Mapa Geológico do Vale do Rio Jacurici, Bahia ............................. 113

9.3 ANEXO 3 .................................................................................................. 114

9.3.1 Tabela de Análises Geoquímicas ..................................................... 114

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17

1 CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

Rochas metacarbonáticas e calcissilicáticas são resultantes do

metamorfismo de dolomitos e calcários ou de sedimentos originalmente

portadores de carbonatos, existindo uma gradação completa entre estes

membros. Estas rochas ocorrem com abundância em terrenos metamórficos

associados a cinturões orogenéticos e ocorrem comumente intercalados com

outros metassedimentos de origem pelítica e siliciclástica. As reações de

descarbonatação que se sucedem durante o metamorfismo dessas rochas

geram uma variedade de silicatos ricos em Ca-Mg, principalmente no

metamorfismo de alto a médio grau, tais como zoisita, tremolita, grossulária,

anfibólio, diopsídio, olivina entre outros (BUCHER e GRAPES, 2010).

Na região do vale do Rio Jacurici, Bahia, inserida no norte do Cinturão

Salvador-Curaçá, importante segmento do Cráton do São Francisco, ocorre

uma sequência de rochas metacarbonáticas e calsissilicáticas como lentes

descontínuas encaixadas nas rochas ortognáissicas do Complexo Caraíba.

Este conjunto de rochas supracrustais representa uma das principais

encaixantes do corpo máfico-ultramáfico acamadado mineralizado em cromo,

de idade paleoproterozoica e estão deformadas e metamorfizadas em

condições de alto grau, configuradas em uma megaestrutura sinclinal. Dentre

as litologias presentes nesta sequência estão rochas calcissilicáticas

(diopsiditos), mármores, metacherts, granulitos, metarcóseos, formações

ferríferas bandadas, grafititos, quartzitos entre outras. As primeiras cinco

litologias citadas foram amostradas em testemunhos de sondagem para a

confecção do presente estudo, visto que ocorrem com maior frequência na

região onde estão instaladas as minas de Ipueira-Medrado e, à sul do vale, a

região de Pedra do Dórea, pertencentes à companhia Ferro-Ligas da Bahia,

FERBASA.

Neste contexto, o trabalho visa à abordagem dos aspectos petrográficos

e litogeoquímicos dessas rochas de origem metassedimentar, incluindo a

descrição da distribuição e comportamento dos elementos maiores, menores,

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18

traços e terras raras, sugerindo, sempre que possível, as condições geológicas

em que estas foram geradas.

1.1 LOCALIZAÇÃO E ACESSOS

Geograficamente a área está inserida no vale do Rio Jacurici, nordeste

do estado da Bahia, abrangendo porções dos municípios de Andorinha e Monte

Santo (Figura 1.1).

Tendo como referência Salvador, o principal acesso se dá pela BR-324,

até Capim Grosso, e pela BR-407 até Senhor do Bonfim, em um percurso de

374 quilômetros. Logo após, até o município de Andorinha, são 48 quilômetros

também por estrada pavimentada. Já o acesso final à área da FERBASA é

realizado através de estrada municipal, com extensão de 10 quilômetros de

Andorinha.

Fonte: Santos (2013).

Figura 1.1: Mapa de localização e principais vias de acesso para a área da FERBASA no vale do Rio Jacurici, Bahia.

ÁREA DE ESTUDO

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19

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

O presente trabalho tem como objetivo geral a caracterização

petrográfica e litogeoquímica de amostras obtidas em testemunhos de

sondagem da sequência supracrustal da região do vale do Rio Jacurici, a fim

de classificar adequadamente as litologias e propor os ambientes e condições

geológicas de formação dessas rochas. Estes dados auxiliarão na

compreensão da evolução geológica local da área de estudo além de

complementar a bibliografia acerca de rochas metacarbonáticas e

calcissilicáticas.

1.2.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos abrangem os seguintes tópicos:

(i) Classificar e caracterizar as litologias com base no estudo

petrográfico (análise modal, textural, comportamento dos

minerais) e análises geoquímicas para elementos maiores e

menores;

(ii) Descrever os possíveis processos e ambientes envolvidos na

gênese dessas rochas, identificando seus protólitos, tendo em

mãos dados de elementos traço e elementos terras raras;

(iii) Analisar e interpretar as principais assembleias mineralógicas e

paragêneses em equilíbrio, visando assim à descrição de reações

metamórficas que podem ter dado origem a estes minerais.

1.3 MATERIAIS E MÉTODOS

O desenvolvimento do presente trabalho ocorreu em cinco etapas

sistemáticas: (i) Levantamento Bibliográfico e Estudos Teóricos; (ii) Trabalho de

Campo; (iii) Estudo Petrográfico; (iv) Estudo Geoquímico e (v) Elaboração da

Monografia.

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20

(i) Levantamento Bibliográfico e Estudos Teóricos:

Nesta etapa foram realizadas pesquisas sobre trabalhos pré-existentes,

abrangendo tanto estudos de casos semelhantes ao proposto no presente

trabalho quanto materiais teóricos que abordem as temáticas de interesse,

como metamorfismo de rochas calcissilicáticas e litogeoquímica de rochas

metassedimentares. Também foi foco de estudo, publicações detalhadas sobre

a geologia da área de estudo e seu contexto no cratón do São Francisco.

(ii) Trabalho de Campo:

Esta etapa foi realizada entre os dias 15 e 18 de julho de 2013, no vale

do Rio Jacurici, na área de domínio da companhia FERBASA. As amostras

foram adquiridas em testemunhos de sondagem realizadas nas áreas onde são

desenvolvidas as atividades de exploração e extração de cromo da empresa.

Durante estas atividades, houve o auxílio dos geólogos Waldemir Queiroz,

Francisco Xavier, Eraldo Bulhões e Jaime Souza Junior. Foram então

selecionadas 35 amostras em três furos da mina de Medrado, uma da Mina de

Ipueira e uma da região de Pedra do Dórea. As mesmas foram catalogadas

segundo as descrições já realizadas pelos geólogos da empresa.

(iii) Estudo Petrográfico:

Das 35 amostras coletadas em campo, 18 foram selecionadas para

confecção de lâminas delgadas. O estudo foi realizado com a utilização do

microscópio binocular Olympus, modelo BX41, do Laboratório de Mineralogia

Óptica e Petrografia do IGEO/UFBA. Nesta etapa foram descritos importantes

aspectos de cada litotipo, como composições mineralógicas, classificação

modal e considerações texturais. Fotomicrografias representativas de cada

amostra foram tomadas para ilustrar as principais características descritas no

relatório.

(iv) Estudo Geoquímico:

Foram realizadas análises químicas de rocha total para 33 das amostras

coletadas, no laboratório da empresa Geosol. As análises foram financiadas

pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral e os seguintes métodos foram

utilizados: (i) ICP (Inductively Coupled Plasma) por digestão com água régia

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21

(3HCl+HNO3) para elementos maiores; (ii) ICP com digestão utilizando-se

peróxido de sódio (Na2O2) para elementos menores e traços; e (ii) ICP-MS

(Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry) por digestão com metaborato

de lítio (LiBO2) para ETR. Para interpretação dos dados foi utilizado o software

Minpet para Windows, versão 2.02 (RICHARD, 1985), o que possibilitou a

criação de gráficos ternários de classificação geoquímica, além de gráficos de

elementos terras raras. Os demais gráficos utilizados na descrição da

geoquímica dos elementos maiores foram confeccionados no Microsoft Office

Excel 2007.

(v) Elaboração da Monografia:

Tendo em mãos os dados adquiridos na etapa de campo, estudos

petrográficos e análises geoquímicas de rocha total, foi elaborada a

monografia, que compreende as descrições destes aspectos e as

interpretações e conclusões que puderam ser feitas com o nível de dados

fornecidos. Este trabalho representa o Trabalho Final de Graduação do curso

de graduação em Geologia, na Universidade Federal da Bahia.

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22

2 CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 METAMORFISMO DE MÁRMORES E ROCHAS CALCISSILICÁTICAS

Através da compilação de trabalhos descritivos sobre o metamorfismo

de rochas carbonáticas (BUCHER e GRAPES, 2010; WINTER, 2010;

YARDLEY, 1989), foi realizada uma síntese sobre o tema, cuja aplicação é

fundamental para o desenvolvimento do presente trabalho.

De acordo com estes autores, rochas carbonáticas sedimentares

consistem predominantemente de dolomita (CaMg(CO3)2) e calcita (CaCO3),

que formam dolomitos e calcários, respectivamente. Existe uma gradação

completa entre os membros finais representados por dolomitos e calcários

puros, indicados pelos termos dolomitos calcíticos, calcários dolomíticos e

calcários magnesianos. À medida que apresentam conteúdos variáveis de

quartzo, podem ser referidas também como dolomitos e calcários silicosos.

Seus correspondentes metamórficos são os mármores, e podem conter

diversas quantidades de minerais silicáticos ricos em Ca e/ou Mg,

especialmente nos graus médios a alto de metamorfismo (tal como zoisita,

grossulária, anfibólio, diopsídio, olivina entre outros). Quando são pobres

nestes minerais, são simplesmente denominados de acordo com o mineral

carbonático dominante: dolomita mármores, mármores dolomíticos, calcita

mármores, mármores calcíticos. Na ocorrência destes silicatos em quantidades

modais, levam os mesmos na sua nomenclatura: tremolita mármores, diopsídio

mármores, forsterita mármores entre outros. É comum encontrar

metassedimentos ricos nestes silicatos, mas que contêm pouco ou nenhum

carbonato. Estes são denominadas de rochas calcissilicáticas. Os

metacarbonatos e rochas calcissilicáticas são abundantes em terrenos

metamórficos associados a cinturões orogenéticos e ocorrem comumente

intercalados com outros metassedimentos, além de ocorrerem em aureolas de

contato entre intrusões magmáticas rasas e dolomitos ou calcários (skarns),

como produto da interação metassomática entre os mesmos.

Rochas calcissilicáticas são formadas do metamorfismo de sedimentos

originalmente portadores de carbonatos e as reações que se seguem neste

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23

processo envolvem basicamente a destruição de dolomita e calcita, com perda

de CO2 na produção de silicatos (reações de descarbonatação). Para descrever

sedimentos carbonáticos metamorfizados, é apropriado dividi-los entre: (i)

Metamorfismo de Calcários Puros e Calcários Silicosos; e (ii) Metamorfismo de

Dolomitos e Calcários Impuros.

2.1.1 Metamorfismo de Calcários Puros e Calcários Silicosos

Estas rochas são compostas basicamente por calcita, com menores

proporções de quartzo, geralmente detrítico. Algumas vezes pode ocorrer

grafita, derivada de restos orgânicos. Como a calcita é um mineral estável em

todas as pressões, exceto as muito elevadas, estas rochas fornecem poucos

indicativos das condições de sua formação.

Quando há presença de quartzo, nas situações de baixas pressões e

temperaturas muito elevadas, pode ocorrer a formação da wollastonita,

piroxênio resultante da reação entre quartzo e calcita. Este cenário é bastante

comum no metamorfismo de contato. A reação para formar a wollastonita se

segue da seguinte maneira:

(i) CaCO3 (Cal) + SiO2 (Qtz) → CaSiO3 (Wo) +CO2

Apesar da baixa probabilidade de ocorrer reações mineralógicas nos

calcários puros, a mudança textural é extensa, visto que a recristalização da

calcita pode gerar granulometrias mais grossas e orientação preferencial.

Somente em temperaturas excepcionalmente elevadas e baixas pressões

ocorrem outras fases, como o carbonato espurrita (Ca4SiO2O8.CaCO3) e

olivina cálcica, larnita (Ca2SiO4).

2.1.2 Metamorfismo de Dolomitos e Calcários Impuros

Diferentemente do número de fases limitadas que podem ser formadas a

partir do metamorfismo de calcários puros ou com a presença de algum

quartzo, a presença de dolomita pode gerar diversos indicadores de grau

metamórfico, representados por uma gama de silicatos de Ca e/ou Mg

formados em condições de P-T usuais, como talco, tremolita e diopsídio.

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24

Há uma sequência de isógradas de aparecimento mineral em

sedimentos carbonáticos impuros, submetidos a um metamorfismo regional

definida por Bowen (1940) e Tiley (1951) apud Yadley (1989):

Talco (nem sempre presente);

Tremolita;

Diopsídio ou forsterita;

Diopsídio + forsterita.

O aparecimento de forsterita foi reportado como anterior ao do diopsídio.

No entanto, estes surgem a temperaturas muito próximas, levando a

composição da rocha a ter uma influencia grande sobre este processo.

Para se discutir relações entre as fases presentes em mármores

impuros, H2O e CO2 devem ser adicionados os componentes Cal, Dol e Qtz,

constituindo o sistema CMS-HC (CaO-MgO-SiO2-H2O-CO2) (Figura 2.1). Neste

sistema, estão representadas as composições dos principais minerais que

podem ser gerados e suas relações. Em adição ao quartzo, silicatos e

carbonatos de Ca-Mg, estas rochas podem ainda conter outras fases minerais

como micas, feldspatos, granada e etc, que não mudam substancialmente as

relações entre os silicatos de Ca-Mg.

Figura 2.1: Sistema CaO-MgO-SiO2 -CO2 -H2O, com os componentes CO2 e H2O. A área

sombreada de verde representa a composição comum em calcários e dolomitos. A metade do

triângulo à esquerda, de cor violeta, representa a área de interesse para metacarbonatos. Já a

metade do triângulo à direita, representa a área das rochas ultramáficas carbonáticas.

Fonte: Winter (2010).

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25

Uma sequência de compatibilidade entre CaO-MgO-SiO2-H2O-CO2 se

encontra sintetizada no diagrama da figura 2.2. A relação das siglas e seus

respectivos minerais, além de suas fórmulas químicas se encontram no Anexo

1. A primeira reação metamórfica que ocorre (Figura 2.2a e b) é tipicamente:

3 Dol + 4 Qtz + H2O → Tlc + 3 Cal + 3 CO2 (Reação 2.1)

Uma vez que o quartzo é consumido, a temperatura ascende até o

sistema interceptar a curva onde há a aparição de tremolita (Figura 2.2c):

5 Tlc + 4 Qtz + 6 Cal → 3 Tr + 6 CO2 + 2 H2O (Reação 2.2)

Quando a reação 2.2 é completada, talco ou quartzo serão consumidos

por completo, e a temperatura irá ascender novamente. Mármores dolomíticos

inseridos no campo Dol-Tlc-Cal irão passar pela reação que introduz tremolita

nos dolomitos silicosos. (Figura 2.2d):

2 Tlc + 3 Cal → Dol + Tr + CO2 + H2O (Reação 2.3)

Já o talco é consumido primeiro em calcários impuros e em dolomitos

silicosos impuros mais raros. Na maioria dos casos, quartzo é consumido

primeiro, então, a origem do diopsídio por esta reação é menos provável e

pode ser descartada (Figura 2.2e):

Tr + 2 Qtz + 3 Cal → 5 Di + 3 CO2 + H2O (Reação 2.4)

A próxima reação que ocorre em potencial introduz o diopsídio no

sistema em dolomitos impuros (Figura 2.2e):

Cal + Tr → Dol + 4 Di + H2O + CO2 (Reação 2.5)

O diopsídio pode ser gerado também através de outra reação,

envolvendo dolomita e quartzo iniciais, quando fluidos muito ricos em CO2,

típicos de metamorfismo de alto grau, estão presentes no sistema:

Dol + 2 Qtz → Di + 2 CO2 (Reação 2.6)

Já a forsterita pode ser introduzida em dolomitos impuros através da

reação (Figura 2.2f):

11 Dol + Tr → 8 Fo + 13 Cal + H2O + 9 CO2 (Reação 2.7)

Quando o diopsídio ocorre (em dolomitos mais silicosos), a forsterita

pode ser também introduzida pela seguinte reação (Figura 2.2f):

Di + 3 Dol → 2 Fo + 4 Cal + 2 CO2 (Reação 2.8)

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26

No centro de aureolas de metamorfismo de contato em temperaturas de

aproximadamente 550°C e pressões de 0.1Gpa, quando a pressão parcial de

CO2 > 0.2, a wollastonita é gerada em calcários silicosos, pela seguinte reação

(Figura 2.2g):

Cal + Qtz → Wo + CO2 (Reação 2.9)

Em aureolas ainda mais quentes (T > 700°C), a dolomita finalmente é

quebrada gerando periclásio e calcita (Figura 2.2h):

Do → Per + Cal + CO2 (Reação 2.10)

Fonte: After Spears (1993 apud Winter, 2010).

Figura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-MgO-SiO2-H2O-

CO2.

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27

3 CAPÍTULO III – GEOLOGIA REGIONAL

_______________________________________________________________

3.1 INTRODUÇÃO

As rochas calcisilicáticas do vale do rio Jacurici estão inseridas no

embasamento da porção norte do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, contido

no cráton do São Francisco, que por sua vez representa um remanescente de

crosta continental arqueana-paleoproterozoica de grande importância da

Plataforma Sul-Americana (ALMEIDA, 1977) (Figura 3.1).

Figura 3.1: Porção continental da Placa Sul-Americana, com as áreas estáveis (Plataforma Sul-Americana), áreas instáveis e extensão do Brasil com destaque para os crátons. (I) Guianas; (II) Brasil Central; e (III) Atlântico.

Fonte: Modificado de Almeida et al. (1976, apud SCHOBBENHAUS e BRITO NEVES, 2003).

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3.2 COMPARTIMENTAÇÃO GEOLÓGICA DO CRÁTON DO SÃO

FRANCISCO

O cráton do São Francisco, segundo Almeida (1977) (Figura 3.2),

representa uma porção continental de substrato cristalino (mais antigas que

1.8Ga) não envolvido em deformações Brasilianas, ocorridas no final do

Neoproterozoico, evento que culminou na formação do supercontinente de

Gondwana (BRITO NEVES et al., 1999; ALKMIM et al. 2001).

O embasamento deste cráton consiste de cerca de 50% da sua área

total contida na Bahia e é composto basicamente por rochas arqueanas e

paleoproterozoicas de alto a médio grau de metamorfismo (“terrenos de alto

grau” e “complexos gnáissico-migmatíticos”), nas quais estão encaixadas

sequências vulcanossedimentares do tipo greenstone belts, geralmente em

fácies xisto verde a anfibolito, ocupando áreas consideravelmente menores

(BARBOSA e SABATÉ, 2003). Estas rochas também afloram no estado de

Minas Gerais, no extremo sul do cráton (Cinturão Mineiro) (Figura 3.2).

As faixas de dobramento que delimitam o Cráton do São Francisco

registram as acresções e posteriores colisões diacrônicas que ocorreram

durante o Brasiliano ao longo de suas bordas. Estas possuem as seguintes

denominações: (i) Faixa Riacho do Pontal e Sergipana (BRITO NEVES et al.

2000), à norte e nordeste respectivamente; (ii) Faixa Araçuaí (ALMEIDA, 1977)

à sul; (iii) Faixa Brasília (ALMEIDA, 1977) à oeste e (iv) Faixa Rio Preto (INDA

et al. 1984) à norte (Figura 3.2).

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Figura 3.2: Delimitação do Cráton do São Francisco e suas faixas móveis segundo Almeida (1977).

Fonte: Barbosa et al. (2012).

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30

Segundo o modelo de evolução geológica-geotectônica de Barbosa e

Sabaté (2002) e atualização segundo estudos recentes de Barbosa et al.

(2012), o cratón consiste de seis importantes segmentos crustais que colidiram

e se estabilizaram no Paleoproterozoico (Figura 3.3). Suas posições postuladas

durante a colisão se encontram ilustradas na Figura 3.4 e abaixo são

apresentadas suas principais características geológicas:

(i) Bloco Gavião, constituído por núcleos TTG, metamorfisados na

fácies anfibolito, com idades U-Pb SHRIMP em zircões entre 3,4-

3.1Ga (MARTIN et al., 1991; MARINHO, 1991; SANTOS PINTO,

1996; CUNHA et al. 1996; BASTOS LEAL, 1998 apud BARBOSA

e SABATÉ, 2003) sequências arqueanas vulcanossedimentares

como o Contendas-Mirante (MARINHO, 1991 apud BARBOSA e

SABATÉ, 2003), sendo a maioria do tipo greenstone belts, a

exemplo de Mundo Novo (MASCARENHAS e SILVA, 1994 apud

BARBOSA e SABATÉ, 2003), Umburanas, Brumado e Guajeru

(CUNHA et al., 1996) reequilibrados na fácies xisto-verde; rochas

arqueanas graníticas-granodioríticas por vezes migmatizadas e

reequilibradas na fácies anfibolito, bacias metassedimentares

paleoproterozoicas, a exemplo de Jacobina, além de diversas

intrusões graníticas e máfica-ultramáficas proterozoicas.

(ii) Bloco Serrinha, constituído por ortognaisses graníticos-

granodioríticos e tonalíticos com idades entre 3,1 e 2,8 Ga (Rb-Sr,

Pb-Pb zircão, U-Pb zircão) (GAAL et al., 1987; OLIVEIRA et al.,

1999; MELLO et al., 2000; RIOS, 2002; apud BARBOSA e

SABATÉ, 2003) reequilibradas na fácies anfibolito; enclaves

gabróicos e sequências do tipo greenstone belts

paleoproterozoicos (Rio Itapicuru e Rio Capim).

(iii) Bloco Jequié, constituído por migmatitos com enclaves de

supracrutais com idades entre 3,0-2,9Ga (WILSON, 1987;

MARINHO, 1991; MARINHO et al. 1994; apud BARBOSA e

SABATÉ, 2003) e intrusões graníticas-granodioríticas com idades

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31

entre 2,8-2,7Ga (Rb-Sr, Pb-Pb RT, U-Pb SHRIMP em zircão)

(ALIBERT e BARBOSA, 1992 apud BARBOSA e SABATÉ, 2003).

Estas unidades formaram o embasamento para bacias

intracratônicas do tipo rifte onde se acumularam rochas

vulcânicas básicas a intermediárias e sequências químico-

sedimentares como formações ferríferas. Todo o embasamento

do bloco encontra-se reequilibrado na fácies granulito.

(iv) Cinturão/Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, em cuja porção norte

(Cinturão Salvador-Curaçá, detalhado mais adiante) encontra-se

a área de estudo. É constituído por tonalitos-trondjemitos com

idades entre 2,6 e 2,1Ga em cristais de zircão (Pb-Pb evaporação

e U-Pb SHRIMP) (LEDRU et al.e 1993; SILVA et al. 1997;

BARBOSA e PEUCAT, 2003 apud BARBOSA e SABATÉ, 2003);

charnockitos de ~2,6 (U-Pb SHRIMP em zircão); sequências

metassedimentares intercaladas; além de gabros e basaltos de

fundo oceânico e/ou bacias de back-arc de fonte mantélica

(TEIXEIRA, 1997 apud BARBOSA e SABATÉ, 2003). Todas estas

unidades foram reequilibradas na fácies granulito durante o

Paleoproterozoico. São comuns a presença de intrusões de

ambiente de subducção (monzonitos de afinidade shoshonítica e

tonalitos sintectônicos), como de arco de ilhas e bacias de back-

arc, ambientes predominantes na construção do referido bloco

(FIGUEIRÊDO, 1989; BARBOSA, 1990, 1997; TEIXEIRA e

FIGUEIRÊDO, 1991 apud BARBOSA e SABATÉ, 2003).

(v) Cinturão Salvador-Esplanada, que corresponde a uma faixa

costeira que se estende de Salvador, Bahia, até o Estado de

Sergipe. Oliveira (1990) subdividiu o cinturão em dois domínios

tectônicos: um definido por milonitos da Zona de Aporá-Itamira e

uma suíte granitoide e outro denominado de Zona Salvador-

Conde, onde ocorrem rochas anfibolíticas e granulíticas.

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32

(vi) Bloco Uauá, no qual estudos recentes consideraram as rochas

dessa unidade como alóctones em relação as do Complexo Santa

Luz (Bloco Serrinha), apesar de não terem sido identificadas

diferenças litogeoquímicas significantes (RIOS et al., 2009;

OLEIRA et al., 2002, 2004a,b,2012; apud BARBOSA et al., 2012).

É composto por anortositos metamorfizados e bandados, que

afloram na margem ocidental do Bloco, com idades Pb-Pb em

rocha total de 3.161+65Ma, sugerindo que sejam os mais antigos

do cráton do São Francisco. Além destas rochas, ocorrem

também gnaisses e migmatitos e corpos granodioríticos (SEIXAS

et al., 1985 apud BARBOSA et al., 2012) e o greenstone belt de

Rio Capim.

Truncando o embasamento do cráton, especificamente ao longo do

Bloco Gavião, encontra-se um rifte continental abortado, que posteriormente

sofreu esforços colisionais no Brasiliano, gerando a serra do Espinhaço

Setentrional. Este encerra um importante compartimento geotectônico de

orientação N-S, no qual foram depositadas as coberturas que constituem os

Supergrupos Espinhaço (Mesoproterozoico) e São Francisco (Neoproterozoico)

(ALKMIM et al., 1993), além de intrusivas diversas. Sobrepostas às unidades

descritas, encontram-se os sedimentos fanerozoicos, a exemplo da Bacia do

Recôncavo-Tucano-Jatobá de idade mesozoica e coberturas inconsolidadas de

idade tércio-quaternária

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33

Figura 3.3: Mapa simplificado do Estado da Bahia exibindo os domínios tectônicos-geocronológicos arqueanos e paleoproterozoicos.

Fonte: Barbosa et al.(2012).

Fonte: Barbosa e Sabaté, 2003.

Figura 3.4: Posições postuladas dos blocos arqueanos e início da colisão paleoproterozoica.

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34

3.2.1 Cinturão Salvador-Curaçá

3.2.1.1 Estruturação, evolução geotectônica e gênese

O Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá consiste de uma faixa de rochas

que se estende por mais de 800 km, desde o sul até o norte do estado da

Bahia (OLIVEIRA et al., 2004), além da borda leste do Bloco Gavião e da borda

oeste do Bloco Serrinha (KOSIN et al., 2003). Segundo estes autores,

aproximadamente na latitude da cidade de Salvador, esta faixa se divide em

dois membros, um que segue para nordeste ao longo da costa atlântica e o

outro para norte ao longo interior. Na sua porção meridional, está situado entre

o bloco Jequié e o Oceano Atlântico e é conhecido principalmente por Cinturão

Costeiro Atlântico. Já na setentrional, o membro situado no interior está

inserido entre os blocos Gavião, a oeste, e Serrinha, a leste, sendo

denominado por Cinturão Salvador-Curaçá (SANTOS e SOUZA, 1985;

BARBOSA, 1997 apud KOSIN et al., 2003).

O cinturão Salvador-Curaçá é descrito por Melo et al. (1995) como um

cinturão gerado em regime transpressivo no Paleoproterozoico, e evoluído

durante episódios reversos e transcorrentes progressivos. Segundo estes

autores, conforma uma estrutura em flor positiva assimétrica a sul, na qual as

massas rochosas migraram centrifugamente, cavalgando sobre os Blocos

Serrinha e Gavião, consistindo assim do produto final da colisão oblíqua

paleoproterozoica entre estes blocos. De acordo com Kosin et al. (2003), à

norte essa estrutura encontra-se descaracterizada devido a ocorrência de uma

inversão de vergência do cisalhamento que o limita com o Bloco Serrinha, em

geral para oeste. Outras estruturas importantes são descritas como

truncamentos do Cinturão por zonas de cisalhamento transcorrentes dextrais

NE-SW na porção noroeste, as quais coalescem com zonas de cisalhamento

N-S mais a norte, com deslocamentos de até dezenas de quilômetros.

Estes processos estruturam as unidades que compõem o Cinturão de

maneira que se encontram lenticularizadas e imbricadas tectonicamente,

formando uma trama anastomosada controlada por zonas de cisalhamento

transcorrentes sinistrais, possivelmente geradas segundo as cicatrizes de

rampas laterais e oblíquas da tectônica reversa (MELO et al., 1995).

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Diversos estudos foram realizados a fim de interpretar a história de

formação da litosfera que constitui o segmento norte do Orógeno Itabuna-

Salvador-Curaçá, estimulados pela sua significância metalogenética, na qual se

pode destacar as mineralizações de cobre no vale do Curaçá e cromo no vale

do Jacurici. Foi descrito por Mascarenhas et al. (1976 apud OLIVEIRA, 2001)

como um cinturão móvel arqueano. Estudos litogeoquímicos e geocronológicos

mais recentes (OLVEIRA et al., 2004; LEDRU et al., 1993; SILVA et al., 1997;

BARBOSA e PEUCAT, 2003 apud BARBOSA e SABATÉ, 2003) indicam

acresções de material juvenil à crosta continental geradas em ambiente de arco

continental tipo andino, o qual sofreu reequilíbrio metamórfico de alto à médio

grau durante a colisão da orogênese paleoproterozoica, cujo pico do

metamorfismo, foi em torno de 2,0Ga. Segundo evidências estruturais,

metamórficas e radiométricas apuradas por Barbosa e Sabaté (2003), este

orógeno representa uma importante cadeia de montanhas gerada pela colisão

supracitada, com zonação metamórfica invertida das bordas para o centro

devido a rampas tectônicas associadas à thrusts (Figura 3.5). Arcos de ilhas,

bacias tipo back-arc e zonas de subducção foram os ambientes predominantes

na construção do Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá, (FIGUEIRÊDO, 1989;

BARBOSA, 1990, 1997; TEIXEIRA e FIGUEIRÊDO, 1991 apud BARBOSA e

SABATÉ, 2003). Segundo Teixeira (1997), o cinturão é composto por rochas

que marcam a transição Arqueano/Paleoproterozoico, representando um vasto

prisma de acrescimento crustal soerguido durante a tectogênese supracitada.

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Figura 3.5: Perfis geotectônicos E-W no NNE do estado da Bahia, destacando somente rochas de idade paleoproterozoica. (a) Estágio colisional intermediário no Paleoproterozoico com formação dos Greenstone Belts. As intrusões máfico-ultramáficas de Caraíba e Medrado (vale do Jacurici) e de granitos sin-tectônicos estão relacionadas a este estágio. (b) Estágio final da orogênese com a colocação de sienitos e granitos. Atualmente nas porções oeste e leste podem ser observados terrenos granulíticos sobrepostos a terrenos anfibolíticos e xisto-verdes. Diagramas PxT localizados na lateral superior direita das seções. O sentido horário da trajetória metamórfica atesta o contexto colisional. GB = Greenstone Belt.

Fonte: Barbosa e Sabaté (2003).

3.2.1.2 Unidades Litoestratigráficas

O Cinturão Salvador-Curaçá é constituído por três unidades mapeadas:

Suíte São José do Jacuípe e pelos complexos Caraíba e Tanque Novo–Ipirá

(Figura 3.6). Estão presentes ainda, intrusões máfico-ultramáficas, alguns delas

portadores de mineralizações importantes, a exemplo do cromo do vale do Rio

Jacurici, área de estudo, além de várias gerações de granitoides

paleoproterozoicos (sin, tardi e pós tectônicos), dentre eles o Maciço Sienítico

de Itiúba, maior intrusão sienítica da Bahia (CONCEIÇÃO e OTERO, 1996

apud KOSIN et al., 2003).

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Figura 3.6: Mapa geológico do Cinturão Salvador-Curaçá destacando as unidades granulíticas mesoarqueanas (Complexo Caraíba, Tanque Novo-Ipirá e Suíte São José do Jacuípe) e granitoides paleoproterozoicos. Simplificado e atualizado de Barbosa e Dominguez (1996), Kosin et al. (2003) e Oliveira et al. (2010).

Fonte: Barbosa et al. (2012).

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3.2.1.2.1 Suite São José do Jacuípe

Trata-se de uma associação de rochas máfico-ultramáficas aflorante na

porção sudoeste do cinturão, próximo à cidade homônima (LOUREIRO, 1991;

MELO, 1991; SAMPAIO, 1992 apud KOSIN et al., 2003) (figura 3.6). Possui

direção preferencial meridiana e ocorre como lentes descontínuas e imbricadas

com as rochas dos complexos Caraíba e Tanque Novo-Ipirá.

Segundo descrito por Teixeira (1997), à leste da unidade ocorrem,

principalmente, biotita ou hornblenda noritos, gabronoritos com níveis

cumuláticos e leucogabros. Já na porção mais a oeste ferrogabros, peridotitos

e piroxenítos são mais frequentes. O quimismo dos termos máficos apresentam

semelhanças com rochas toleíticas oceânicas que ocorrem nos greenstone

belts, como alto Mg, baixo TiO2, enriquecimento em ETR leves e baixas taxas

de contaminação. Segundo o autor, pode-se então levantar hipóteses de que a

unidade se trate de fragmento de fundo oceânico primitivo e/ou associadas a

zonas de transição entre magmatismo continental e oceânico em bacia tipo

rifte, atualmente granulitizados. O autor ainda sugere que houve abertura

completa do rifte, indicada pela presença de possíveis representantes de TTG:

os litotipos félsicos do Complexo Caraíba. Neste cenário teria ocorrido

oceanização, com posterior fechamento durante a colisão continental. As

rochas da suíte descrita representariam o magmatismo da fase inicial deste

oceano.

É frequente também a ocorrência de diques máficos (Diques de Aroeira)

que truncam as demais unidades do Cinturão. Além disso, segundo dados de

Teixeira (1997), apresentam quimismo bem distinto da suíte máfica-ultramáfica,

com enriquecimento em TiO2 e Fe2O3, com assinatura geoquímica continental

nítida. Estes diques foram granulitizados concomitantemente com as rochas da

Suíte São José do Jacuípe e do Complexo Caraíba.

A idade U-Pb (SHRIMP em zircão) de 2,69 Ga feita em um xenólito de

gabronorito em enderbito TTG do Complexo Caraíba, aponta a Suíte São José

do Jacuípe como arqueana (SILVA et al., 1997 apud KOSIN et al., 2003). As

mesmas datações realizadas na periferia desses zircões confirmaram o

metamorfismo paleoproterozoico (2,072Ga) da unidade.

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3.2.1.2.2 Complexo Caraíba

Esta é a unidade litoestratigráfica de maior representatividade do

Cinturão Salvador-Curaçá. De acordo com a descrição de Kosin et al. (2003), à

leste a distribuição das rochas se dá de forma contínua, com truncamentos por

granitoides. Já a oeste e à sul, os litotipos geralmente ocorrem como

megalentes imbricadas tectonicamente com as rochas da Suíte São José do

Jacuípe, do Complexo Tanque Novo-Ipirá e granitoides (Figura 3.6).

A oeste, o complexo faz contato com o Complexo Tanque Novo-Ipirá e

com o Complexo Mairi, esta última unidade locada no Bloco Gavião. Este

ocorre através de falhas de empurrão com vergência para oeste. A leste é

interrompido por gnaisses e migmatitos do Complexo Santa Luz e do Cinturão

Caldeirão do Bloco Serrinha. Este contato também é tectônico e possui

vergência para leste, fazendo com que rochas granulíticas cavalguem sobre

rochas da fácies anfibolito (KOSIN et al., 2003).

O Complexo consiste de uma associação de rochas

tonalíticas/trondhjemíticas com enclaves metabasálticos de derivação oceânica

(OLIVEIRA, 2001). Ocorrem ainda, na região do vale do Rio Jacurici, enclaves

metassedimentares (calcissilicáticas, mármores, formações ferríferas

bandadas, grafititos, quartzitos) encaixados nas rochas do Complexo Caraíba,

as quais apresentam similaridade litológica com o Complexo Tanque Novo-

Ipirá, descrito mais adiante. Estas rochas supracrustais representam as

litologias envolvidas no presente estudo, no entanto, não há na literatura

citações que explorem a locação formal destas rochas.

Segundo Teixeira (1997), a unidade é constituída por um conjunto de

ortognaisses muito extenso, na qual ocorrem rochas plutônicas na fácies

anfibolito alto à granulito, não destacadas em mapa devido ao intenso

tectonismo e difícil contraste visual que permita definir plutões. É composto

basicamente por uma suíte bimodal, cujo polo félsico é constituído por

ortognaisses enderbíticos, charnoenderbíticos com forte caráter tonalítico

variando até composições granodioríticas; charnoenderbitos, charnoquitos e

hiperstênio-granodioritos ricos em plagioclásio, além de ortognaisses

charnoquíticos ricos em feldspato alcalino. Geralmente possuem coloração

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cinza esverdeada. O polo básico, menos representativo, é composto por lentes

gabro-dioríticas.

Os dados geoquímicos de Teixeira (1997) concordam com a geologia de

maneira a confirmar a natureza ígnea dos protólitos dos gnaisses descritos

com segurança. Foram caracterizados dois tipos: ortognaisses sódicos e

potássicos. Entre os sódicos, um grupo não é caracterizado como possíveis

TTG’s, podendo ter se originado da fusão parcial de uma crosta oceânica

anfibolitizada. Um segundo grupo de sódicos mostra menor nível de

diferenciação (baixo SiO2 e Na2O) e aparentemente são produtos da fusão de

material crustal félsico com contribuição de outro material rico em MgO, CaO e

pobre em sílica. Um terceiro grupo exibe características compatíveis com

suítes TTG arqueanas de outras localidades, gerados, portanto, da fusão

parcial de crosta oceânica toleítica, em zona de subducção.

Já os ortognaisses potássicos mostram uma variação sódico-potássica

semelhantes ao dos TTG e possuem características das séries cálcio-alcalinas

normais. Sua gênese pode estar associada à fusão parcial de crosta oceânica

com contaminação de uma crosta continental mais antiga, por exemplo, de

uma margem continental ativa. Já a outra variação é mais enriquecida em K e

são denominados granitóides de Cais, tipicamente monzoníticos e fortemente

fracionados. De acordo com o autor, este último grupo, mais potássico,

representa bem as manifestações de anatexia que ocorrem no Complexo

Caraíba, podendo representar produto destas fusões parciais.

O metamorfismo destas rochas sugere condições da transição entre as

fácies anfibolito e granulito (hidrogranulito), indicadas pela presença de

hiperstênio em equilíbrio com hornblenda. Neste intervalo é comum processos

de fusão parcial, explicando a ocorrência de feições migmatíticas, cujas fases

leucossomáticas são sienograníticas e monzoníticas (TEIXEIRA, 1977).

Ocorrem ainda estruturas migmatíticas decorrentes da injeção de granitoides

que contaminaram e transformaram parcialmente os ortognaisses encaixantes

nas suas bordas (KOSIN et al., 2003).

Datações pelo método de evaporação Pb-Pb em zircão indicaram idades

de formação em torno de 2,1Ga para os granulitos enderbíticos e charno-

enderbitos (SABATÉ et al., 1994). Posteriormente, análises U-Pb SHRIMP

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realizadas por Silva et al. (1997) apud. Kosin et al. (2003) indicaram idades de

2690Ma para os ortognaisses enderbíticos e de 2634Ma para a colocação dos

charnokíticos, sugerindo uma evolução no Aqueano com sucessivos episódios

de acresção crustal. O metamorfismo granulítico foi datado por estes mesmo

autores (2072Ma, U-Pb SHRIMP), mostrando-se compatível com o evento

paleoproterozoico que estruturou o Cinturão Salvador-Curaçá.

O Complexo também hospeda importantes intrusões máfico-ultramáficas

mineralizadas em cobre e cromo, no vale do Curaçá e vale do Jacurici,

respectivamente, separados pelo Maciço Sienítico de Itiúba. Estes litotipos

encontram-se descritos mais adiante.

3.2.1.2.3 Complexo Tanque Novo-Ipirá

Foi definido por Kosin et al. (1999 apud KOSIN et al., 2003) como uma

sequência vulcanossedimentar metamorfizada na fácies anfibolito e granulito,

provavelmente evoluída do Arqueano ao Paleoproterozoico.

O complexo é dividido em seis unidades informais, com diversas

variações faciológicas: (i) biotita gnaisses aluminosos, kinzigítico ou rico em

granada, quase sempre migmatizado, com associações de rocha

calcissilicática, quartzito, formação ferrífera, rochas grafitosas e,

principalmente, rochas metamáficas e metaultramáficas; (ii) rochas

calcissilicáticas e quartzito, metacalcário, anfibolito e formação ferrífera; (iii)

hornblenda-biotita gnaisse, levemente migmatizado, com bandas quartzo-

feldspáticas, ortopiroxênio, e em parte granatíferas, intercalado com

abundantes níveis anfibolíticos de largura desde centimétrica a decamétrica;

(iv) gnaisse grafitoso associado a rochas calcissilicáticas com intercalações de

quartzito ferrífero, anfibolito, biotita gnaisse parcialmente migmatizado, gnaisse

kinzigítico, gnaisse quartzo-feldspático, com ou sem granada, que, segundo

Lindenmayer (1980 apud KOSIN et al., 2003), a rocha calcissilicática, o

quartzito ferrífero e o gnaisse grafitoso, representam possíveis fontes de

assimilação de enxofre das intrusões máfico-ultramáficas mineralizadas em

cobre do vale do Rio Curaçá, sendo elementos importante para o

estabelecimento do controle subestrafigráfico das mesmas; (v) gnaisse

bandado, com alternância de bandas granítico-granodioríticas e gabróico-

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dioríticas, e intercalações de gnaisse tonalítico, anfibolito e rocha calcissilicática

subordinada; e (vi) gnaisse quartzo-feldspático com ortopiroxênio, com ou sem

granada e raras biotitas, freqüentemente associado a níveis de quartzito

recristalizado. Estas rochas apresentam diferentes níveis de migmatização e

possuem contatos difusos com corpos de granitóides granadíferos.

Esta unidade possui características litológicas muito semelhantes às

rochas metassedimentares do vale do Jacurici, onde também ocorrem rochas

calcissilicáticas, mármores, formações ferríferas bandadas, grafititos e

quartzitos. No entanto, estas são muitas vezes discriminadas como inserida no

Complexo Caraíba, cujo caráter é magmático, predominantemente TTG. Os

poucos estudos realizados sobre estas rochas abre espaço para investigações

que caracterizem a origem destes materiais, resultando em um melhor

posicionamento estratigráfico e mapeamento na unidade geológica mais

apropriada.

3.2.1.2.4 Rochas Máfico-Ultramáficas Intrusivas

(i) Rochas Máfico-Ultramáficas do Vale do Rio Curaçá

As rochas do vale do rio Curaçá formam uma faixa de direção N-S

estreita, situada na porção noroeste do Cinturão Salvador-Curaçá, a oeste do

sienito de Itúba, onde ocorrem os já descritos Complexo Caraíba e Tanque

Novo-Ipirá (Figura 3.6), unidades encaixantes das intrusões máfico-

ultramáficas mineralizadas em cobre, além de diversos granitoides

paleoproterozoicos (SEIXAS et al., 1975; LOUREIRO, 1991; MELO, 1991;

SAMPAIO, 1992; MELO et al., 1992; MELO et al., 1995 apud MISI et al., 2012).

Segundo Teixeira et al. (2010), as rochas máfico-ultramáficas consistem

de leucogabro, gabro, gabronorito, norito, melanorito, hiperstenito e peridotito,

de dimensões decamétricas a hectométricas, com estrutura maciça, textura fina

a média ou anisotrópica com foliação. Rochas gabroicas, datadas na Mina

Caraíba, indicaram idade U-Pb de 2580+10Ma e de 2103+23Ma, interpretadas

como idade de cristalização e de metamorfismo destas rochas,

respectivamente (OLIVEIRA et al., 1990; OLIVEIRA et al., 2003 apud

BARBOSA et al., 2012). De acordo com Teixeira et al. (2010), algumas porções

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dessas rochas apresentam forte metassomatismo e alteração hidrotermal, cuja

idade do principal evento é paleoproterozoica (datações Ar-Ar em flogopitas

indicaram idade entre 2,0-2,1Ga e de 1,9Ga). Estas idades mostram-se crono-

correlatas ao magmatismo tarditectônico potássico que originou os corpos

sieníticos no Cinturão, a exemplo do sienito de Itiúba.

O conjunto dos corpos mineralizados constitui a Província Cuprífera do

Vale do Rio Curaçá, abrangendo uma área de 1700km², englobando

parcialmente os municípios de Juazeiro e Curaçá. As mineralizações ocorrem

em sulfetos de cobre, com paragênese principal calcopirita+bornita (razão de

70% para 30%) de forma disseminada nos piroxenitos, e epigenética em

fraturas preenchendo planos estruturais, este presente tanto nos piroxenitos

como nos noritos, em algumas calcissilicáticas da encaixante do corpo máfico-

ultramáfico e em brechas tectônicas.

Lindemayer (1981) propôs uma origem primária ortomagmática para os

sulfetos disseminados, e de acordo com Texeira et al. (2010), existe um

segundo evento mineralizante, responsável pelo minério tectono-controlado de

origem hidrotermal, que gerou as mineralizações mais importantes

economicamente.

Diversas questões são levantadas com relação à origem destes corpos.

Para Lindemayer (1981), a ausência de olivina e demais características

geoquímicas dessas rochas sugerem uma origem de líquido basáltico toleítico,

que sofreu diferenciação em profundidade, antes de ser soerguido. Em

complemento, de acordo com D’el Rey Silva et al. (2007 apud TEIXEIRA et al.,

2010), valores de єNd (para T~2,6Ga) obtidos em rochas anfibolíticas situaram-

se entre -2,03 e +1,21, e amostras das porções mais centrais (menos

contaminadas) em torno de zero. Estes autores interpretaram estes resultados

como indicação de protólito basáltico de manto deplecionado (rochas de fundo

oceânico).

(ii) Rochas Máfico-Ultramáficas do Vale do Rio Jacurici

Representa um siil alongado N-S, composto por uma sequência

estratificada de rochas ricas em olivinas, na base, até rochas mais

diferenciadas, ricas em plagioclásio, no topo. São produtos de fracionamento

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magmático diferenciado e estão mineralizadas em cromita, sendo explorada

economicamente pela empresa Vale do Jacurici, do grupo FERBASA. A

descrição mais detalhada sobre estes corpos encontra-se no Capítulo IV

(Geologia Local).

3.2.1.2.5 Granitoides Paleoproterozoicos

Ocorrem várias gerações de granitoides relacionadas aos eventos de

tectônica reversa e transcorrente. São agrupados como sintectônicos ou pós-

tectônicos.

O Maciço Sienítico de Itíúba (CONCEIÇÃO e OTERO, 1996 apud

KOSIN et al., 2003), como já citado, representa a maior intrusão sienítica da

Bahia e apresenta caráter sin a tarditectônico. Constitui uma intrusão batolítica

de orientação N-S, com 150km de comprimento, de área aproximada de

1800km² e sustenta a serra homônima (Figura 4.6). A descrição detalhada

deste maciço encontra-se no Capítulo IV (Geologia Local).

Segundo Kosin et al. (2003), no conjunto sintectônico destaca-se o

granitoide Riacho da Onça, alongado NW-SE, situado na borda leste do

Cinturão e demarcado por zonas de cisalhamento transcorrentes sinistrais. Ele

é composto por biotita-hornblenda augen gnaisses quartzo monzononítico e

granítico, foliados, porfiroclásticos e com acamadamento primário,

apresentando enclaves máficos e xenólitos de rochas do Complexo Caraíba.

De acordo com Melo et al. (1995), são metaluminosos, subalcalinos, e

pertencem à suíte monzonítica, possivelmente gerados pela mistura de magma

alcalino e magma proveniente de fusão crustal. Estudos mostraram que

algumas porções alcançaram a fácies granulito e datações U-Pb SHRIMP,

realizadas por Silva et al. (1997 apud KOSIN et al., 2003), indicaram idade de

2126 Ma. Outros corpos ocorrem neste conjunto, colocados durante eventos

reversos e transcorrentes. São granitos e granodioritos, cálcio-alcalinos de alto

K, meta e peraluminosos, possivelmente gerados da mistura de magmas

mantélicos e crustais ou reciclagem crustal, envolvendo fusão de sedimentos.

O conjunto pós-tectônicos aflora principalmente na porção sul do

Cinturão e no extremo meridional do Maciço Sienítico de Itiúba, onde ocorrem

estruturas de misturas mecânicas e enclaves de sienito (OTERO &

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CONCEIÇÃO, 1996 apud KOSIN et al., 2003). Neste grupo ocorrem

sienogranitos e monzogranitos com biotita e/ou hornblenda, além de

granodioritos e monzonitos subordinados. As idades em isócronas Rb-Sr

(rocha total) realizadas por Melo (1991), Otero e Conceição (1996 apud KOSIN

et al., 2003) indicaram entre 1915 e 1897Ma.

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46

4 CAPÍTULO IV - GEOLOGIA LOCAL

_______________________________________________________________

4.1 INTRODUÇÃO

Como descrito no capítulo anterior, as rochas calcissilicáticas da região

do vale do Rio Jacurici representam encaixantes metassedimentares diretas

dos corpos máfico-ultramáficos mineralizados em cromita, explorados pela

Mineração Vale do Jacurici, empresa do Grupo FERBASA. Esta área apresenta

uma associação complexa de rochas de médio a alto grau metamórfico

intensamente deformadas, inseridas no Complexo Caraíba, como definido por

Jardim de Sá et al. (1976), Figueiredo (1981), Loureiro (1991), Melo (1991),

Pereira (1992) e Sampaio (1992) apud Oliveira (2001). No entanto, as rochas

supracrustais, de caráter principalmente calcissilicático, possuem maior

afinidade com as litologias do Complexo Tanque Novo-Ipirá.

As rochas estudadas estão inseridas na área da FERBASA, empresa

proprietária dos direitos minerários da região do vale do Rio Jacurici, cujo mapa

geológico se encontra no Anexo 2. Estas áreas são referentes às Minas de

Medrado, à norte, e Ipueira, no centro e à região de Pedra do Dórea, mais a

sul, que está em fase de pesquisa.

4.2 UNIDADES LITOLÓGICAS DO VALE DO RIO JACURICI

Uma sequência estratigráfica foi descrita por Jardim de Sá (1984) e

Marinho et al. (1986), elaborada utilizando-se relações estruturais e intrusivas

de diferentes gerações de rochas plutônicas que ocorrem na área, entre si e

com os demais conjuntos litológicos. A ordem sugerida por estes autores está

sequenciada da base para o topo da seguinte maneira: 4.2.1) Sequência

Supracrustal Metamorfizada; 4.2.2) Sill Diferenciado Máfico-Ultramáfico; 4.2.3)

Ortognaisses G1; 4.2.4) Diques Máficos; 4.2.5) Ortognaisses G2; 4.2.6)

Granitoides G3; 4.2.7) Rochas Pegmatíticas e; 4.2.8) Diques de Metadiabásio.

Abaixo estão detalhados os conjuntos litológicos de acordo com Marinho et al.

(1986), com adaptações segundo algumas observações em campo e estudos

geoquímicos e petrográficos.

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47

4.2.1 Sequência Supracrustal Metamorfizada

É caracterizado por uma grande variabilidade litológica, o que é comum

em sequências de origem supracrustal. Essas rochas apresentam bandamento

gnáissico milimétrico a centimétrico, denominada estruturalmente de S1,

paralelo ao acamadamento primário S0. Além disso, representam as

encaixantes principais do corpo máfico-ultramáfico mineralizado em cromo.

Nesta sequência ocorrem: (i) gnaisses bandados (litotipo predominante)

intercalados com diferentes proporções de (ii) piroxênio-anfibolitos; (iii)

diopsiditos; (iv) mármores; (v) metacherts; (vi) metarcóseo (vii) quartzitos

granadíferos e (viii) formações ferríferas; e (ix) granulitos paraderivados. As

litologias (iii), (iv), (v), (vi) e (ix) são focos do presente trabalho e foram

caracterizadas através de petrografia e litogeoquímica.

Para a realização do presente trabalho, foram selecionadas 35

amostras, ao longo de 5 furos de sondagem: 15 nos furos M2E-83-68°W e

M2E-82-68°W (Seção 15 – Figura 4.1) e 6 no furo M2E-77-50°W (Seção 16-C

– Figura 4.2) na região de Medrado, à norte do vale do Jacurici, 8 no furo

IG293-1337-70°W (Seção 31 – Figura 4.3) na região de Ipueira, no centro do

vale, e 6 no furo PD08-90° (Seção 3450 – Figura 4.4) na região de Pedra do

Dórea, à sul. A Tabela 4.1 apresenta as coordenadas (UTM) de cada furo e no

Anexo 2 encontram-se a localização dos mesmos na área estudada.

Tabela 4.1: Relação dos furos e suas respectivas seções e coordenadas (UTM). M = Medrado; IG: Ipueira; e PD: Pedra do Dórea.

Furo Seção X Y

M2E:82-68°W 15 416536,25 8859705,69

M2E: 83-68°W 15 416688,25 8859704,52

M2E-77-50°W 16-C 416550,35 8859581,77

IG293-1337-70°W 31 416244,47 8856016,19

PD08-90° 3450 416346,00 8851779,00

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48

Fonte: FERBASA.

Fonte: FERBASA.

Figura 4.2: Seção 16-C interpretada, referente ao furo amostrado M2E-77-50°W

Figura 4.1: Seção 15 interpretada, referente aos furo amostrados M2E-83-68°W e M2E-82-68°W.

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49

Figura 4.3: Seção 31 interpretada, referente ao furo amostrado IG293-1337-70°W.

Fonte: FERBASA.

Fonte: FERBASA.

Figura 4.4: Seção 3450 (não interpretada), referente ao furo amostrado PD08-90°.

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50

A seguir, estão descritas as litologias que constituem a sequência

supracrustal do vale do Rio Jacurici:

(i) Gnaisses Bandados

São gnaisses leucocráticos, com bandas essencialmente quartzo-

feldspáticas associadas a menores proporções de biotita e hiperstênio. É

comum estas bandas estarem separadas por outras enriquecidas em biotita.

(ii) Piroxênio Anfibolitos

Encontram-se intercalados principalmente com os gnaisses bandados

possuindo espessuras de centímetros até 300 metros. A paragênese mais

representativa é plagioclásio, anfibólio e subordinadamente diopsídio e

hiperstênio. Em alguns locais este litotipo apresenta uma variação para

anfibolitos mais escuros, sem plagioclásio, constituídos basicamente por

anfibólio, hiperstênio e opacos subordinados.

(iii) Diopsiditos

Ocorrem frequentemente intercalados com os gnaisses bandados, assim

como xenólitos e megaxenólitos alongados nos ortognaisses tipo G1 (descritos

adiante) ou ainda associados com os serpentina mármores, intercalados com

camadas puras de metachert e com os granulitos (“micro-gabro”) (Foto 4.1).

Apresenta granulação variada, cor cinza clara, cinza esverdeada e verde

clara (Foto 4.4). Por vezes, próximo a zonas de falhas, apresentam

magnetismo baixo a médio, devido à presença de magnetita hidrotermal. São

constituídos essencialmente por diopsídio-hedenbergita, e menores proporções

de augita, podendo ocorrer escapolita em quantidades normativas. Em muitas

amostras o plagioclásio pode está presente, podendo representar até 10% em

volume da rocha. Uma variação rica em granada, de menor ocorrência, foi

amostrada na região de Medrado (Foto 4.2).

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51

Foto 4.2 - Diopsidito com granada, amostra MM-05, da região de Medrado, furo M2E-82-

68° W (Seção 15).

Foto 4.1: Diopsidito (camadas mais claras) intercalado com granulito (“micro-gabro”,

camadas mais escuras), amostra MI-05, da região de Ipueira, furo IG293-1337-70°W (Seção

31).

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(iv) Serpentina Mármores

Apresentam granulação fina a média, com coloração variando de branca

a cinza médio. A presença de olivina é observada como pontuações

esverdeadas frequentes, na sua grande maioria serpentinizadas e que variam

desde milimétricas a alguns centímetros (Foto 4.3). Além de olivina

serpentinizada, predominam calcita e em menores quantidades granada,

muscovita, flogopita e apatita. Assim como nos diopsiditos, pode haver

presença de magnetita. Ocorrem frequentemente em contato com camadas de

diopsidito (Foto 4.4).

Foto 4.3 – Serpentina mármore típico, apresentando olivinas serpentinizadas desde de

milimétricas à alguns centímetros. Foto meramente ilustrativa (não amostrada).

(v) Metachert

Estão frequentemente intercalados com os diopsiditos, raramente

alcançando representatividade em escala de mapeamento de semi-detalhe.

Apresentam coloração branca a cinza clara e granulação fina a média.

Possuem composição essencialmente quartzosa, porém apresentando-se

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53

muitas vezes impuro, exibindo bandamento representando a alternância de

níveis de quartzo, com níveis ricos em diopsídio-hedenbergita e/ou anfibólio,

podendo ainda estar presente plagioclásio (Foto 4.5).

Foto 4.4 – Contato entre o diopsidito com o serpentina mármore, amostra MM-14, da região de

Medrado, furo M2E-77-50°W (Seção 16-C).

Foto 4.5 - Metachert impuro exibindo bandamento entre níveis puramente quartzosos (mais

claros) e níveis ricos em diopsídio e/ou anfibólio (mais escuros), amostra MM-18, região de

Medrado, furo M2E-77-50°W (Seção 16-C).

Serpentina Mármore Diopsidito

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54

(vi) Metarcóseo

Localiza-se no topo de toda a sequência, e são evidentemente derivados

de sedimentos arcoseanos (composição quartzo-feldspática) (OLIVEIRA,

2001). Possui coloração rosa, caracterizando a predominância de feldspatos

alcalinos e bandamento marcado por pequenas quantidades minerais máficos,

principalmente biotita (Foto 4.6).

Foto 4.6 - Metarcóseo, amostra MM-01.1, região de Medrado, furo M2E-83-68° W (Seção 15).

(vii) Quartzitos Granadíferos

Ocorrem como intercalações de centímetros de espessura nas demais

litologias da sequência supracrustal, ocorrendo ainda como xenólitos nos

Ortognaisses G1. Possuem granulação fina, coloração cinza a cinza-

esverdeada, com pontuações avermelhadas de granada. Além de quartzo e

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55

granada, podem conter proporções variadas de plagioclásio e clinopiroxênio.

Estas rochas não foram amostradas.

(viii) Formações Ferríferas

Constituem camadas pouco espessas, não individualizadas, na

sequência supracrustal, assim como os quartzitos granadíferos. Apresentam

bandamento, com bandas milimétricas ricas em magnetita, parcialmente

limonitizadas, intercaladas com bandas essencialmente quartzosas. Estão

presentes também, em variadas proporções o clinopiroxênio e hiperstênio.

Estas rochas não foram amostradas.

(ix) Granulitos Paraderivados

Este litotipo ocorre muitas vezes como níveis centimétricos intercalados

com diopsiditos (Foto 4.1), metacherts e mármores, mostrando certa gradação

composicional até a ocorrência de metros de espessura de sua composição

característica. São informalmente denominadas de “micro-gabro” (Queiroz,

informação verbal), devido a sua semelhança macroscópica com rochas

gabróicas (Foto 4.7). As análises petrográficas realizadas nas amostras

coletadas deste membro demonstram que são granulitos silicosos, constituídos

essencialmente por diopisídio-hedenbergita, hiperstênio, plagioclásio, biotita e

uma pequena proporção de granada (<5%).

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56

4.2.2 Sill Diferenciado Máfico-Ultramáfico

O siil se dispõe como uma faixa de trend N-S, descontínua e espessura

média de 125 metros (BARBOSA DE DEUS e VIANA, 1982), onde ocorre uma

sequência estratificada de rochas desde ricas em olivina até rochas ricas em

plagioclásio, geradas pelo fracionamento magmático diferenciado, que se

estende por 7 km (Anexo 2). Estas rochas concordam com a foliação dos

granulitos encaixantes, estão altamente deformadas e possuem menos de

300m de espessura.

Segundo estes autores, as rochas ricas em olivina e ortopiroxênio

situam-se na base e rochas com plagioclásio, ortopiroxênio e clinopiroxênio no

topo. As seguintes unidades foram geradas com o fracionamento magmático:

olivina–ortopiroxênio-espinélio cumulatos (dunito), ortopiroxênio–olivina–

cumulatos (harzburgito) cromita cumulato (cromitito), ortopiroxênio-espinélio

cumulato (piroxenito) e plagioclásio–ortopiroxênio +/- clinopiroxênio cumulato

(gabro). As espessuras de cada um destes níveis variam desde centímetros até

dezenas de metros (Figura 4.5).

Foto 4.7: Granulito (“micro-gabro”) típico, amostra MM-03, da região de Medrado, furo M2E-82-68° W (Seção 15).

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57

Este conjunto de rochas foi caracterizado tipologicamente por Oliveira

(2001) como intrusões máfico-ultramáficas estratificadas, com fenômenos de

acamadamento modal, cíclico e críptico. O autor sugere uma origem de fusão

de manto hidratado em regime tectônico continental sin-colisional, na qual a

colocação do corpo se deu em zonas de controle tectonoestrutural tardiamente

à colisão. Oliveira e Lafon (1995 apud KOSIN et al., 2003), utilizaram o método

de evaporação de Pb em zircão das rochas gabroicas do corpo, obtendo

idades de 2.038+19Ma. Estas rochas foram ainda datadas pelo método U-Pb

em zircão, resultando na idade de 2.066Ma (OLIVEIRA, 2001).

O corpo de cromitito possui geralmente de 5 a 8m de espessura, o que

representa uma proporção incomum para o total da espessura do corpo

intrusivo (BARBOSA DE DEUS e VIANA, 1982). O autor propõe que este

cenário possa ser resultado de processos como: (i) alta taxa de fusão de manto

metassomatizado, com geração magma rico em Mg, Si e elementos

compatíveis, principalmente Cr, com alta taxa de fugacidade de oxigênio (ƒO2);

(ii) novos aportes de magma primário na câmara e a consequente mistura de

magmas e; (iii) o desvio do curso do fracionamento para o campo dos

espinélios (cromita) devido a supersaturação em sílica e elevada (ƒO2). A

textura do minério é predominantemente maciça, com teores típicos de 38% de

Cr203 com uma razão Cr/Fe de 1.8. As principais mineralizações encontram-se

em Medrado e Ipueira e as reservas de cromo do distrito do vale do Jacurici

são estimadas em cerca de 42x106 toneladas de minério de cromo (QUEIROZ,

informação verbal).

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58

Figura 4.5: Coluna estratigráfica do sill máfico-ultramáfico do vale do Jacurici proposta por

Barbosa de Deus e Viana (1982).

Fonte: Deus e Viana (1982).

4.2.3 Ortognaisses G1

Apresentam-se de forma homogênea em escala de afloramento e

exibem bandamento puramente metamórfico (S1). Estas rochas encerram

diversos xenólitos de diopsiditos, piroxênio-anfibolitos e gnaisses bandados da

Sequência Supracrustal.

São constituídos essencialmente de feldspatos (plagioclásio e/ou

mesopertita, k-feldspatos subordinados), em média 70%, quartzo e ainda biotita

e subordinadamente hipestênio. A grande parte dessas rochas estão na fácies

granulito. Uma variação dessas rochas apresenta um processo superposto de

milonitização e recristalização, onde foi gerada uma matriz fina constituída por

microclina, quartzo, plagioclásio e microclina pertítica, que englobam

aglomerados máficos compostos por biotita cloritizada e anfibólio fibroso.

4.2.4 Diques Máficos

São representantes de antigas rochas subvulcânicas e intrusivas,

diabásicas a balsálticas, que foram anfibolitizadas com a presença ou não de

diopsídio, pouco hiperstênio e rara biotita. Ocorrem truncando o bandamento

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59

metamófirco S1 dos Ortognaisses G1 e seus respectivos xenólitos, geralmente

como faixas milimétricas a centimétricas.

4.2.5 Ortognaisses G2

Possuem composições essencialmente granodioríticas a tonalíticas,

surgindo também variações monzoníticas a quartzo monzodioríticas

surbordinadamente. Estes gnaisses truncam o bandamento S1 exibido pelos

Ortognaisses G1, apresentando um bandamento gnáissico fino ou xistosidade

S2.

Apresentam as seguintes associações minerais principais: feldspatos

(mesopertita e/ou plagioclásio, k-feldspatos subordinados) com menores

quantidades de quartzo, biotita, hornblenda, hiperstênio e diopsídio,

caracterizando assim essas rochas nas fácies anfibolito a granulito.

4.2.6 Granitoides G3

Estão representados pelo Sienito de Itiúba, além de diversas intrusões

de dimensões menores, sob a forma de “sheets” subverticais, à leste da serra

de Itiúba (Figura 4.6). Estes últimos cortam as demais litologias já descritas,

com exceção do sienito.

O Maciço Sienítico de Itiúba é aflorante no centro-norte do Cinturão

Salvador-Curaçá, a oeste do vale do Jacurici. É demarcado por diversas zonas

de cisalhamento e bordas foliadas, evoluindo para fácies mais isotrópicas em

direção ao centro. Ocorrem neste maciço rochas álcali-feldspática sieníticas,

leucocráticas, cinza-claro a rosadas, de textura média a grossa, apresentando

estruturas magmáticas, como cumulatos de clinopiroxênio e apatita em

camadas máficas centimétricas com interdigitações.

Conceição (1990 apud KOSIN et al., 2003) caracterizou

geoquimicamente essas rochas como metaluminosas, com média alcalinidade,

potássicas e enriquecimento em Ba, Sr e ETR. Como sugerido por Corrêa-

Gomes et al. (1996), foi gerado em sistema pull-apart e possui fonte mantélica.

Datação U-Pb SHRIMP de Oliveira et al. (2002b,v apud KOSIN et al., 2003)

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60

indicou idade de 2084Ma para zircões deste sienito. Estas rochas apresentam

uma foliação (S3) ressaltada pelo desenvolvimento de biotita.

Figura 4.6: Imagem de satélite destacando a Serra de Itiúba (à leste).

Fonte: Google Earth (2013).

4.2.7 Rochas Pegmatíticas

Trucando as litologias já descritas, ocorrem corpos pegmatíticos, de

composição sienítica (quartzo e feldspato potássico), associados

principalmente a zonas de cisalhamento e fraturas relacionadas a deformações

tardias, de caráter rúptil.

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61

4.2.8 Diques de Metadiabásio

Intrudem localmente algumas das litologias da região, possuindo alto

ângulo com a foliação S3.

4.3 HISTÓRIA DEFORMACIONAL E CONFIGURAÇÃO ESTRUTURAL DO

VALE DO JACURICI

O conjunto de rochas máfico-ultramáficas e suas encaixantes

apresentam-se dobradas em sinformes apertadas, com plano axial

aproximadamente vertical com vergência e eixo ondulado com caimento entre

20° e 30° para sul (BARBOSA DE DEUS E VIANA, 1982 apud OLIVEIRA,

2001), como pode ser observado nos perfil das figuras 4.1, 4.2, 4.3, e 4.4. A

atual configuração estrutural do sill portador de mineralização de cromita reflete

a interação dos eventos tectônicos que foram submetidos à área. Estes corpos

encontram-se, além de dobrados em sinformes, transpostos e boudinados. A

ocorrência descontínua dessas rochas representa um grande desafio na

prospecção das mesmas.

A foliação é paralela ao acamadamento geral, e estão, portanto,

dobradas. Segundo Oliveira (2001), esta configuração regional em conjunto

com dados locais, sugerem a atuação de uma fase pretérita de regime dúctil,

com dobramentos recumbentes e transposição, coaxial à segunda fase, a qual

seria responsável pelos sinformes. De acordo com o mesmo autor, os contatos

entre as rochas máfica-ultramáficas mineralizadas com as encaixantes de topo

e base da sequência supracrustal, ocorrem por falhamentos e são bastante

irregulares.

Três conjuntos distintos de falhas e fraturas foram agrupados por

Barbosa de Deus e Viana (1982 apud OLIVEIRA 2001), de acordo com três

fases de deformação que se sucederam no vale do Jacurici e cujos

truncamentos entre si puderam definir a seguinte hierarquia:

(i) F1: N50° - 70°E, correspondente a um par de cisalhamento, N50° -

70°, ENE-WNW, correspondente a fraturas de extensão e NNE –

NNW, correspondente a fraturas de alívio.

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62

(ii) F2: NNE e NNW, correspondentes a falhas inversas com

mergulhos entre 20° e 70°, tanto para leste como para oeste, cuja

interseção é uma linha aproximadamente paralela ao eixo da

dobra.

(iii) F3: ENE e WNW, correspondentes a falhamentos inversos com

mergulhos para norte e para sul. Apesar de não haver evidências

diretas que indiquem a idade dessas estruturas, os autores

sugerem que estas representem uma resposta a esforços

compressivos de direção aproximadamente N-S.

Marinho et al. (1986) propuseram uma história metamórfico-

deformacional para o vale do Jacurici, que ocorreu essencialmente em três

eventos distintos:

1- Na fase F1 há a formação de dobramento isoclinal e transposição com

repetição, rompimento e estiramento das camadas. Esses processos seriam

responsáveis pela paralelização de S0 com uma foliação S1, representada por

um bandamento metamórfico nas rochas da sequência supracrustal e nos

ortognaisses G1. Este último grupo de rochas foi colocado pré a

sintectônicamente a essa fase. Após F1, foram colocados os diques máficos,

provavelmente em condições crustais mais rasas, preenchendo fraturas e

zonas de cisalhamento. Esta fase foi caracterizada como tendo ocorrido na

fácies anfibolito.

2- Na fase F2 foram geradas dobras apertadas a isoclinais, que

dobraram a foliação S1, gerando um bandamento metamórfico fino (S2) em

alguns locais. Algumas relações de interferência indicaram um trend original

aproximadamente E-W. A colocação dos ortognaisses G2 foi precoce a

sintectônica a essa fase, truncando o bandamento mais antigo S1.

Paragêneses com hiperstênio sugerem que o metamorfismo dessa fase

ocorreu em condições de fácies granulito, no entando, a ausência desta

paragênese em alguns corpos indicam que a intrusão de ortognaisses G2

continuou após o pico metamórfico, já em condições de fácies anfibolito.

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63

3- Na fase F3 teria ocorrido a estruturação do trend regional NNE-NNW.

Nesta ocorreram diversas estruturas de interferência, como bumerangues e

cogumelos (tipo 2 de Ramsay), impressos na S1, e subordinadamente tipo

domo. Esta configuração permitiu sugerir um trend E-W original para a fase F2,

como já citado. As paragêneses com anfibólio, biotita e secundáriamente

diopsídio do Sienito de Itiúba, indicam que o metamorfismo da fase F3 ocorreu

em fácies anfibolito.

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64

5 CAPÍTULO V – PETROGRAFIA

_______________________________________________________________

As lâminas delgadas foram confeccionadas no laboratório de laminação

da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral. A partir dos estudos petrográficos

de 07 lâminas de mármores, 04 de diopsiditos, 05 de granulitos, 01 de

metarcóseo e 01 de metachert, foram observados e descritos os seguintes

aspectos de cada litotipo: composições mineralógicas das amostras e suas

paragêneses principais, o que possibilitou a classificação modal das mesmas,

além das texturas presentes, relações de contato entre os cristais,

granulometria, feições de alteração entre outras características.

As classificações foram realizadas com segundo a SCMR

(Subcommission on the Systematics of Metamorphic Rocks), ramo da IUGS

(International Union of Geological Sciences), que consta na publicação de

Rosen et al. (2007) e Coutinho et al. (2007). Para as demais descrições

petrográficas, como texturas e granulometria, utilizou-se o Winter (2010).

Algumas relações de composição mineralógica foram sugeridas fazendo uso

da associação mineralógica, assim como da geoquímica de rocha total das

amostras, tema do capítulo 6 desta monografia.

A seguir, serão descritas petrograficamente as litologias estudadas da

sequência supracrutal metamorfisada do vale do Rio Jacurici.

5.1 MÁRMORES

Representam, junto aos diopsiditos, o litotipo de maior ocorrência na

sequência estudada. São constituídos basicamente por serpentina, calcita,

olivina e menores quantidades de biotita, muscovita, granada, dolomita, apatita

e opacos (Figura 5.1). Observou-se que os carbonatos ocorrem em uma matriz

com textura granoblástica granular em meio a grãos maiores de serpentina e

uma quantidade menor de olivina preservada, caracterizando uma textura

porfiroblástica. Estes minerais não apresentam orientação preferencial.

A origem da serpentina é facilmente constatada como proveniente da

substituição/alteração posterior da olivina, e ocorre geralmente como cristais

inequigranulares arredondados, por vezes alongados e fibrosos, com

proporção média de 28% da composição das amostras. Possui granulometria

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65

fina (0,1 < e ≤ 1,0 mm) à média (1,0 < e ≤ 5,0 mm). Algumas amostras de mão

apresentam cristais de serpentina maiores que 1 centímetro (Foto 4.3).

É possível observar a presença de cristais bem preservados de olivina

magnesiana, forsterita (Mg2SiO4), em algumas amostras (Fotomicrografia 5.1).

Ocorrem também como frações reliquiares inclusas na serpentina, cuja

granulometria varia de muito fina (O ≤ 0,1 mm) à fina, representando uma

média de 1,7% nas amostras, chegando a 10% (amostra MPD_02). De acordo

com estudos realizados por Lama et al. (2001), utilizando microssonda nestes

minerais, a serpentina dominante é a antigorita (Mg3Si2O5(OH)4), ocorrendo

também, com menor frequência, seu polimorfo crisotila. Já as olivinas, segundo

estes autores, possuem composição Fo96-99, sendo mais ricas em Mg que as

olivinas das rochas ultramáficas intrusivas, cuja composição é Fo84-90 de

acordo com Oliveira (2001). Além disso, o baixo conteúdo de NiO das mesmas

(0.04%) evidencia uma gênese diferente destas olivinas em relação as da

sequência ultramáfica. Segundo descrito por (KLEIN et al., 1993), a serpentina

é comumente gerada através da alteração de silicatos magnesianos, no caso

presente da forsterita, por processos de hidratação:

2Mg2SiO4 (Fo) + 3H2O Mg3Si2O5(OH)4 (Sp) + Mg(OH)2 (Brucita)

A distinção entre calcita e dolomitas se torna inviável através da análise

petrográfica sem outros métodos auxiliares. Consequentemente, a calcita e

dolomita são identificadas em conjunto pela clivagem polissintética

característica. Além disso, Lama et al. (2001) demonstraram através de

estudos mineraloquímicos que os carbonatos destas rochas são representados

basicamente pela calcita, porém a presença de alguma quantidade dolomita

não pode ser descartada. Os cristais, geralmente xenoblásticos à

subidioblásticos, apresentam forte extinção ondulante e contatos irregulares

entre si, dominando interlobados e curvos, sendo raramente retos. São

inequigranulares e apresentam granulometria muito fina a fina, raramente

maiores que 1mm. Estes minerais constituem cerca de 63% da composição

modal.

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66

Os contatos entre os carbonatos e serpentina são frequentemente

interlobados, por vezes exibindo uma fina aureola de reação, sugerindo a

interação química entre estes minerais. Além disto, os grãos de serpentina são

muitas vezes cortados pela calcita e apresentam textura poiquiloblástica em

peneira, na qual são observadas inclusões deste mineral, que se comportam

preenchendo espaços resultantes da substituição de olivina por serpentina,

podendo-se sugerir um evento de carbonatação correlato ou tardio a esta

alteração envolvendo processos de hidratação (Fotomicrografia 5.2).

A biotita ocorre em quantidade >5% em uma das amostras analisadas

(MI_02_B). Ocorrem como cristais idioblásticos a subdioblásticos não

orientados, com granulometria fina a média, constituindo cerca de 12% da

amostra, estando presente em outras, porém em quantidades acessórias

(<1%), que resulta em uma média de 1,9% entre as amostras. Possuem

contatos interlobados com os carbonatos e serpentinas, além de frequentes

inclusões de carbonato, caracterizando uma textura poiquiloblástica em

peneira. Estes contatos mostram que o processo de carbonatação citado e de

serpentinização parecem ter ocasionado o desequilíbrio da biotita, que muitas

vezes apresenta birrefringência anômala, característico de cloritização. A

amostra MM_19 foi a única a apresentar ocorrência de muscovita (1,5%), que

se comporta semelhantemente à biotita (Fotomicrografia 5.3).

Foi constatada a presença de granada em 03 amostras (Fotomicrografia

5.2). Ocorrem de maneira aleatória, distribuídas na matriz carbonática. Os

cristais são subidioblásticos a idioblásticos, com granulometria fina e

constituem cerca 1% da composição modal dessas amostras. Pela associação

mineralógica essas granadas possivelmente são grossulárias (Ca3Al2(SiO4)3).

Minerais opacos e apatita ocorrem nestas amostras em quantidades

acessórias, sendo raramente observados.

É importante citar que a paragênese principal dessas rochas (calcita +

forsterita) é gerada por reações de descarbonatação dominantes em processos

metamórficos em dolomitos silicosos, considerando a serpentina posterior à

formação destes minerais e que diferentes proporções de impurezas

aluminosas no ambiente sedimentar possibilitaram a formação de biotita,

muscovita e granada. Assim, Bucher e Grapes (2010) demonstram que há

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67

consumo de dolomita e diopsídio ou tremolita para gerar calcita, forsterita, CO2

e H2O, em um contínuo processo de metamorfismo regional (reações 2.7 e

2.8).

Segundo a classificação da SCMR (ROSEN et al., 2005), uma

composição de 95% de carbonatos separa o campo dos mármores puros e dos

mármores impuros (figura 5.2). Já os mármores impuros são separados das

rochas carbonáticas silicosas pela concentração de 50% de carbonatos. A

nomenclatura dessas rochas através da análise modal inclui um prefixo

denotando o(s) principal(is) minerais não carbonáticos e que ocorrem em

quantidades significativas, caracterizando as rochas descritas como serpentina

mármores.

1mm

NC

Cal

LP

Sp

Fo

Sp

Cal

Cal

Fo

Fo Fo

Cal

a) b

)

Fotomicrografia 5.1: Serpentina mármore, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto

mostra um cristal de serpentina com cerca de 1mm, apresentando ainda núcleos de olivina muito

fina. A calcita, cuja geminação polissintética é evidente, forma a matriz ao redor da serpentina.

Amostra MPD_02. Aumento de 10x.

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68

1mm

NC

Cal

LP

Sp

Grt

Sp

Cal

Cal

Fo

Fo

Sp

Cal

Grt

Grt

Grt

a) b)

1mm

NC

Cal

Sp Sp Ms Ms

LP

Sp

Sp

Sp

Sp

Cal

a) b)

Fotomicrografia 5.2: Serpentina mármore, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto mostra um cristal de serpentina, apresentando ainda núcleos de olivina e cristais idioblásticos à subdioblásticos de granada em meio à matriz calcítica. Amostra MPD_02. Aumento de 10x.

Fotomicrografia 5.3: Serpentina mármore, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto

mostra cristais de serpentina e muscovita em meio à matriz calcítica. É possível ainda observar

preenchimentos de calcita nos grãos de serpentina. Amostra MM_19. Aumento de 10x.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE  · PDF fileFigura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-MgO-SiO 2-H 2 O-CO 2. 26

69

Figura 5.1: Composição modal das amostras de serpentina mármore.

5.2 DIOPSIDITOS

Foram descritas 04 lâminas de diopsiditos. Estas amostras são

constituídas quase que totalmente de clinopiroxênios. A geoquímica referente a

estas amostras sugere que há diferentes proporções de diopsídio (CaMgSi2O6)

– hedenbergita (CaFeSi2O6), e mais raramente de augita (Ca, Na)(Mg, Fe,

Al)(Si, Al)2O6. Isto ocorre, visto que há diferentes concentrações de CaO, MgO,

Fe2O3 e Al2O3 exibidas pelas análises químicas de rocha total, além da

inexistência de outros minerais em quantidades significativas que possam

conter estes elementos. Estes minerais são dificilmente distinguidos entre si

somente através da petrografia, considerando que os ângulos de extinção de

cada um são muito próximos e a distinção através dos mesmos é muito

insegura. No entanto, a química sugere que o diopsídio é predominante nestas

rochas, podendo-se denominar estas amostras como diopsiditos.

As amostras são constituídas por um agregado de grãos de

clinopiroxênios, arranjados em uma textura granoblástica decussada a

poligonal, na qual os cristais são subidiobláticos e orientados ao acaso

(Fotomicrografia 5.4). Apresentam forte extinção ondulante e fraturamento. São

observadas inclusões e vênulas de clorita e epidoto, além de carbonatos entre

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70

os contatos ou truncando os cristais de diopsídio. No entanto, estes minerais

não ocorrem em quantidades >1%. A granulometria dos grãos varia de muito

fina à média, ocorrendo cristais de até 2 mm. O contato entre os mesmos é

geralmente reto e curvo, ocorrendo, com menor frequência, contatos

interlobados.

De acordo com as reações metamórficas de Bucher e Grapes (2010),

anteriormente citados para os mármores, pode-se originar rochas puramente

diopsidíticas através de um protólito rico em dolomita e quartzo ou em

tremolita, calcita e quartzo (reações 2.4 e 2.6)

A presença dos demais membros do grupo dos clinopiroxênios ocorrem

possivelmente devido aos diferentes tipos de materiais que são depositados no

ambiente de formação dessas rochas, que incluem diversas proporções de

impurezas argilosas constituídas de Fe, Mg e Al.

Segundo a classificação da SCMR (ROSEN et al., 2007), o campo das

rochas calcissilicáticas é restrito àquelas que possuem menos que 5% de

carbonatos modal (Figura 5.2). Rochas com mais de 5% de carbonatos estão

incluídas no campo das rochas carbonáticas silicosas e um valor de 50% de

minerais calcissilicáticos separa as rochas silicáticas com carbonato de rochas

calsissilicáticas. Além disso, estes autores definem minerais calcissilicáticos

como os constituídos de quantidades > 20% de CaO. Neste contexto se

encaixam o diopsídio e hedenbergita, predominantes nos piroxenitos descritos,

caracterizando-os como rochas calcissilicáticas.

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE  · PDF fileFigura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-MgO-SiO 2-H 2 O-CO 2. 26

71

Fonte: Rosen et al. (2007).

Figura 5.2: Diagrama de classificação para rochas metacarbonáticas, calcissilicáticas e afins. C,

carbonatos: calcita, dolomita e aragonita. CS, minerais calcissilicáticos; S, todos os demais silicatos.

Em vermelho estão as amostras de mármores e em azul de diopsiditos.

LP NC

Di-Hd Di-Hd

2 mm a) b)

Fotomicrografia 5.4: Diopsidito, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto mostra cristais

de clinopiroxênio que formam uma textura granoblástica decussada a poligonal. É possível observar

os diversos contatos entre os grãos e a presença de uma vênula de carbonato que corta a amostra.

Amostra MM_17. Aumento de 2x.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE  · PDF fileFigura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-MgO-SiO 2-H 2 O-CO 2. 26

72

5.3 GRANULITOS PARADERIVADOS

Foram estudadas 05 lâminas de granulitos, os quais são constituídos

basicamente por plagioclásio, clinopiroxênio, ortopiroxênio, biotita e, mais

raramente por feldspato alcalino, granada, anfibólio, quartzo (Figura 5.3).

Apresentam textura granoblástica decussada, na qual os cristais tendem a ser

prismáticos, subdioblásticos e sem orientação (Fotomicrografia 5.5). Como já

descrito no Capítulo IV, estas rochas foram denominadas informalmente de

‘’micro-gabro’’ devido a sua semelhança macroscópica com rochas gabroicas,

como textura fina e composição marcada principalmente por plagioclásio e

piroxênio.

Os cristais de plagioclásio são subidioblásticos a xenoblásticos, algumas

vezes subarredondados, e variam de granulometria entre fina a muito fina.

Possuem composição entre oligoclásio e albita, An8-20%, que foi obtida através

do método de Michel-Levy, e constituem cerca de 51,5% da composição modal

dessas rochas. Na maioria das amostras apresentam fraturamento e

geminação albita encurvada, refletindo a deformação sob média à alta

temperatura, > 500°C segundo Fossen (2010). Ocorrem frequentemente

mesopertitas. Possuem contatos diversos entre si (retos, curvos e interlobados)

e muitas vezes apresentam bordas de reação no contato com os piroxênios. Os

feldspatos alcalinos identificados constituem cerca de 2% da composição

modal das rochas. Comportam-se semelhantemente aos cristais de

plagioclásio e ocorrem também como pertitas. São comuns inclusões de

cristais de apatita e zircão bem formados nestes minerais.

Os clinopiroxênios, que constituem o grupo diopsídio-hedenbergita-

augita, são geralmente subdioblásticos a xenoblásticos, apresentando

granulometria fina à média. Apresentam fraturamento e inclusões de biotita,

plagioclásico e de minerais acessórios, como apatita, zircão e opacos,

caracterizando uma textura poiquiloblástica. Constituem cerca de 15,7% do

volume das amostras. Já os ortopiroxênios, dos quais predomina o hiperstênio

((Mg, Fe) SiO3), exibem o mesmo comportamento que os clinopiroxênios,

porém estão presentes em menor quantidade (média de 8,8%). Tanto os

clinopiroxênios quanto os ortopiroxênios apresentam alteração para anfibólio,

que representa 12% da amostra MI_05, o que pode indicar processos de

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE  · PDF fileFigura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-MgO-SiO 2-H 2 O-CO 2. 26

73

retrometamorfismo (Fotomicrografia 5.6). Neste contexto inclusões de minerais

opacos são mais comuns, representando restos de Fe da reação.

Os cristais de biotita são geralmente subdiobláticos, variando de

granulometria muito fina à média, considerando que ocorrem tanto como

pequenas inclusões nos plagioclásios e piroxênios, quanto no contato entre os

demais minerais. Apresentam muitas vezes contatos interlobados e bordas de

reação com estes minerais, principalmente com os piroxênios e constituem

cerca de 8,8% da composição modal das amostras. Por vezes, apresentam

orientação preferencial, mas geralmente estão orientados ao acaso e

deformadas, exibindo formas sigmoidais ou encurvadas. Este mineral exibe

frequentemente a cor marrom-avermelhada (Fotomicrografia 5.5 e 5.6),

característica petrográfica típica observada em rochas pelíticas de alto grau

metamórfico, quando ocorrem substituições catiônicas de titânio por Fe ou Mg

nesse mineral (biotita titanífera) (HENRY e GUIDOTTI, 2002). Estes minerais

também apresentam frequentes inclusões de apatita e zircão.

A granada ocorre em quase todas as amostras, porém em proporções

que não ultrapassam 5% (média de 2%). Ocorrem como grãos subdioblásticos,

com granulometria muito fina e estão distribuídos principalmente entre os

cristais de plagioclásio. Possivelmente, pela associação mineralógica, possuem

composição entre almandina (Fe3Al2(Si3O12)) e piropo (Mg3Al2(Si3O12)).

Apesar de estas rochas não apresentarem quantidades dominantes de

minerais aluminosos, como a granada e biotita, é seguro afirmar que são

derivadas de material sedimentar, visto que estão intercaladas com as demais

litologias da sequência crustal (serpentina mármores, diopsiditos e metachert).

Muitas vezes, estes granulitos, assim como as demais litologias, representam

estreitas camadas, quase indiscriminadas entre si, refletindo o caráter

deposicional destes materiais. Além disso, geralmente apresentam transições

graduais, a exemplo da amostra MM-10, a qual foi amostrada próxima ao

contato com metachert e portando exibe quantidades modais de quartzo. Além

disso, a natureza sedimentar dessas rochas fica também sustentada pelas

características geoquímicas, conforme descrito no capítulo seguinte do

trabalho. Considerando o grau metamórfico dessas rochas, foi utilizada a

classificação SCMR (COUTINHO et al., 2007), que leva em consideração o

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74

processo genético, ou seja, o tipo e grau de metamorfismo, além da

composição mineralógica, em que os minerais maiores e que fazem parte de

paragêneses importantes são descritos em ordem crescente como prefixo, em

direção ao nome da rocha. Visto que estas rochas apresentam paragêneses de

fácies granulito e foram submetidas a um metamorfismo regional, podem ser

petrograficamente denominadas como biotita-hiperstênio-diopsídio granulito, e

ainda como granada-biotita-hiperstênio-diopsídio granulito, quando a granada

se mostra presente em quantidades > 5%.

LP

NC

Bt

Opx

Cpx

Pl Pl

Cpx

Bt

2mm

K-fd K-fd

a) b)

Fotomicrografia 5.5: Granulito paraderivado, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto

mostra cristais de clinopiroxênio, ortopiroxênio, biotita e plagioclásio e k-felspato, os quais formam uma

textura granoblástica decussada. É possível observar os diversos contatos entre os grãos. Amostra

MM_04. Aumento de 2x.

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75

Cpx

Bt

Bt

NC

Bt

Op

x

Pl Pl

Pl Pl

LP

1mm

Bt

Pl Pl

Qtz Qtz

Qtz Qtz

a

)

b

)

NC

Bt

Opx Cpx

Pl

Plg

Pl

Am Am

Op

Op

Op

Op Opx Opx

LP

1mm a) b)

Fotomicrografia 5.6: Granulito paraderivado, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto

mostra cristais de clinopiroxênio, ortopiroxênio, biotita e plagioclásio, anfibólio e minerais opacos.

Amostra MI_05. Aumento de 10x.

Fotomicrografia 5.7: Granulito paraderivado, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A

foto mostra cristais de plagioclásio, mesopertitas, quartzo e biotita. Amostra MM_01. Aumento de

10x.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE  · PDF fileFigura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-MgO-SiO 2-H 2 O-CO 2. 26

76

Figura 5.3: Composição modal das amostras de granulitos paraderivados.

5.4 METARCÓSEOS

Representam as rochas essecialmente quartzo-feldspáticas, que

ocorrem no topo da sequência metasupracrustal. Pôde ser caracterizada

através da análise de 01 lâmina (MM_01_1). A amostra é constituída

basicamente de quartzo (28%), feldspato alcalino (60%), plagioclásio (5%),

mesopertitas (5%), e menores quantidades de biotita (2%), além de acessórios

como apatita. Apresenta forte extinção ondulante, textura granoblástica

decussada a granular, cujos grãos são inequigranulares e orientados ao acaso.

Os cristais de quartzo são xenoblásticos, geralmente subarredondados e

variam de granulometria muito fina a fina, enquanto os grãos de k-feldspatos

são xenoblásticos a subdioblásticos com granulometria fina. O contato entre

estes minerais é geralmente interlobado, curvo, serrilhado e mais raramente

reto. Ocorre também textura mimerquítica em alguns cristais, representando

intercrescimento de quartzo em plagioclácio, quando em contato com o

feldspato alcalino.

Os cristais de biotita ocorrem sem orientação, são xenoblásticos e

possuem granulometria fina. Ocorrem geralmente nos interstícios entre os

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77

grãos de quartzo e feldspato. São observados cristais de apatita como mineral

acessório.

NC

Pl

Pl

Pl

Pl

LP

1mm

Pl

Pl

Qtz Qtz Qtz Qtz

Kfs Kfs

Pl

a) b)

NC

Bt

Qtz

Pl Pl

Pl Bt

2mm

Kfs Kfs

Qtz

Qtz Qtz

Pl

Qtz Qtz

Bt Bt

a) b)

Fotomicrografia 5.8: Metarcóseo, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto mostra cristais

xenoblásticos de quartzo, plagioclásio, biotita e k-feldpatos dispostos em uma textura granoblástica

decussada a granular. Amostra MM_01_1. Aumento de 02x.

Fotomicrografia 5.9: Metarcóseo, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto mostra cristais

xenoblásticos de quartzo, plagioclásio, mesopertita e k-feldpatos dispostos em uma textura

granoblástica decussada a granular. É possível observar intercrescimento mimequítico no plagioclásio,

quando em contato com o felspato alcalino. Amostra MM_01_1. Aumento de 10x.

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78

5.5 METACHERT

Uma lâmina representativa de metachert pôde ser descrita. Representam

camadas essencialmente monominerálicas (>95% de quartzo), intercaladas

com as demais litologias e apresentando frequentemente contatos

gradacionais, o que resulta em variações faciológicas de mármores, diopsiditos

e granulitos mais quatzosos. Os cristais de quartzo exibem forte extinção

ondulante e compõem um mosaico com textura granoblástica granular, cujos

grãos apresentam granulometria geralmente fina (Fotomicrografia 5.10).

Ocorrem também cristais de feldspato que compõem até 5% da composição da

amostra e se comportam semelhantemente aos de quartzo. Alguns minerais

acessórios podem aparecer, como biotita, opacos e apatita. Estes últimos dois

aparecem, muitas vezes, inclusos nos cristais de quartzo e feldspato.

NC LP

1mm

Qtz Qtz

a) b)

Fotomicrografia 5.10: Metarchert, a) à luz plana polarizada e b) à nicóis cruzados. A foto mostra

cristais xenoblásticos de quartzo que formam um mosaico com textura granoblástica granular.

Amostra MM_09. Aumento de 10x.

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79

6 CAPÍTULO VI - GEOQUÍMICA

______________________________________________________________________

Foram analisadas 11 amostras de mármores, 06 amostras de

diopsiditos, 11 amostras de granulitos, 01 de metárcoseo e 01 de metachert.

Estas últimas duas litologias apenas foram inseridas na interpretação de ETR,

visto que a limitada quantidade de amostras analisadas é insuficiente para

estudos comparativos da distribuição dos elementos maiores, menores e

traços. No Anexo 3 do trabalho, encontra-se a tabela com as análises de rocha

total para todas as amostras.

6.1 COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS MAIORES E MENORES

6.1.1 Mármores

6.1.1.1 Elementos Maiores e Menores

Segundo Bucher e Grapes (2010), já citado anteriormente, para se

discutir as relações entre as fases presentes nos mármores, H2O e CO2 devem

ser adicionados os componentes Cal, Dol e Qtz, constituindo o sistema CMS-

HC (CaO-MgO-SiO2-H2O-CO2) (BUCHER e FREY 1994 apud BUCHER e

GRAPES, 2010), ilustrado na figura 6.1. Neste sistema, estão representadas as

composições dos principais minerais encontrados em mármores. Diante deste

contexto, todas as amostras situam-se no campo dos mármores calcítico-

dolomíticos a dolomíticos, com exceção da amostra MM-13 (mais enriquecida

em Al2O3, Fe2O3, K2O, MgO, Na2O, SiO2 e TiO2 que as demais amostras), a

qual situou-se, sem correspondência, no campo das rochas carbonáticas

ultramáficas. De acordo com estes mesmos autores, mármores que contêm

fases silicáticas em quantidades modais são nomeados segundo o mineral

metamórfico de significância, concordando com a classificação já segundo

Rosen et al. (2007). Neste sentido, os mármores da região são denominados

de serpentina mármores.

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80

Figura 6.1: Sistema CMS-HC (CaO-MgO-SiO2-H2O-CO2). As zonas 1a, 1b e 1c representam os Mármores Dolomíticos à Calcítico-dolomíticos; as 2a e 2b representam os Mármores Calcissilicáticos .

Fonte: Bucher e Frey (1994).

As amostras apresentam valores entre 8,72% e 23,79% de SiO2 (média

de 15,22%) (Figura 6.2a). Os teores de CaO são relativamente uniformes,

variando entre 27,75% e 34,08% (média de 29,39%), com exceção da amostra

MM-13, mais empobrecida (16,17%), (Figura 6.2b). Os teores de MgO

encontram-se entre 14,31% e 21,95% (média de 17,85%) (Figura 6.2c).

A distribuição de Fe203 é heterogênea entre as amostras, ocorrendo em

quantidades <1% em cinco, e entre 1,18% e 4.41% nas demais (Figura 6.2d).

O mesmo ocorre com o conteúdo de Al2O3, que ocorre em <1% em sete

amostras, e entre 2,22% e 7,06% nas demais (Figura 6.2e). Já os teores de

K20 (com exceção da amostra MM-13, com 3,66%), Na2O, MnO, P2O5 e TiO2

são inferiores a 1% em todas as amostras analisadas.

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81

6.1.1.2 Distribuição dos Elementos Maiores nos Minerais

Além da caracterização da distruibuição e concentração dos elementos

nestes litotipos, é importante também a análise da distribuição dos mesmos

nos minerais presentes. Alguns processos e relações químicas podem ser

investigados através deste estudo.

Segundo estudos de química mineral de Lama et al., (2001), como já

citado, os carbonatos dos mármores da região correspondem basicamente à

Figura 6.2: Distribuição dos óxidos dos elementos maiores nos serpentina mármores a) SiO2; b) CaO; c) MgO; d) Fe2O3 e, e) Al2O3.

a) b)

c) d)

e)

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE  · PDF fileFigura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-MgO-SiO 2-H 2 O-CO 2. 26

82

calcita, com ocorrências quase insignificantes de dolomita. As relações entre

CaO e MgO, com exceção da amostra MM-13, em que esta é invertida, é

bastante homogênea, sendo de aproximadamente 30% de CaO e 18% de MgO

(Figura 6.3a). A correlação negativa entre estes óxidos demonstram que há

consumo de dolomita, e assim de MgO, como demonstra as reações

metamórficas 2.7 e 2.8 para gerar calcita, forsterita, além de CO2 e H2O.

Neste contexto, o CaO compõem basicamente a calcita, que constitui

cerca de 63% da composição modal dos mármores da região, e o MgO a

fosterita, com cerca de 1,7% e serpentina, compondo 28%. Secundariamente,

o MgO compõe também a calcita, além da biotita e dolomita, que, quando

presentes, constituem o restante da composição modal destas rocha. Portanto,

considera-se que no sistema CMS-HC, as amostram tendem para o campo dos

mármores dolomíticos, devido à ocorrência de silicatos magnesianos (fosterita

e serpentina), sendo a sua composição carbonática dominantemente calcítica.

O SiO2 e CaO (Figura 6.3.b) apresentam uma correlação muito

semelhante com a citada anteriormente (CaO x MgO), considerando que o

CaO está presente dominantemente na fase carbonática, e o SiO2, com teor

médio de 15,29%, constitui os silicatos (fosterita, biotita, ~2%, quando

presentes e serpentina), principalmente os magnesianos.

A correlação entre SiO2 e Al2O3 e Fe2O3 (Figuras 6.3c e d) são

semelhantes e positivas. O Fe2O3 e o Al2O3 constituem basicamente a biotita e

granada (~1%), quando presentes, portanto possuem correlação positiva entre

si bem definida (figura 5.3d). Estes óxidos estão presentes secundariamente

nos minerais opacos, que ocorrem quantidades acessórias.

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE  · PDF fileFigura 2.2: Sequência representativa das reações metamórficas no diagrama CaO-MgO-SiO 2-H 2 O-CO 2. 26

83

6.1.2 Diopsiditos

6.1.2.1 Elementos Maiores e Menores

Os diopsiditos são praticamente monominerálicos e constituídos por

clinopiroxênios da série diopsídio-hedenbergita-augita, apresentando menores

quantidades de minerais acessórios.

As amostras apresentam valores homogêneos de SiO2, que variam entre

40,97% e 55% de, (média de 49%), com exeção da amostra MI-04 (16,1%),

que representa o contato da sequencia supracrustal com a ultramáfica intrusiva

a) b)

c) d)

e)

Figura 6.3: Relações entre óxidos de elementos maiores nos mármores: a) CaO x MgO; b) CaO x SiO2;

c) Fe2O3 x SiO2; d) Al2O3 x SiO2; e e) Al2O3 x Fe2O3.

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84

(figura 6.4a). Os teores de CaO variam entre 11,33% e 30,06% (média de

20,78%), com execeção da amostra MM-17 mais empobrecida (5,76%) (figura

6.4b). Os teores de MgO, com exeção da amostra citada (5,35%), variam entre

9,05% e 19,5% (média de 15,12%) (figura 6.4c).

Os teores de Fe203 variam entre 5,03% e 14,39% (média de 8,43%)

(figura 6.4d) e os de Al2O3 entre 2,11% e 13,56% (média de 7,62%) (figura

6.4e). Já a distribuição de Na2O é heterogênea, sendo >1% em duas amostras

(MM-17, 4,67% e MI-02-1, 1,68%), e <1% nas demais amostras. A amostra

MM-17, mais empobrecida em CaO e MgO é a que apresenta maior

enriquecimento em Fe203, Al2O3 e Na2O. A distribuição de TiO2 possui mesmo

comportamento, onde duas amostras apresentam valor >1% (MM-02, 1,45% e

MM-17, 1,79%) e as demais <1%. Todas as amostras possuem valor <1% para

K2O, MnO e P2O5.

Figura 6.4: Distribuição dos óxidos dos elementos maiores nos diopsiditos a) SiO2; b) CaO; c)

MgO; d) Fe2O3. e, e) Al2O3.

a) b

)

c) d)

e)

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85

6.1.2.2 Distribuição dos Elementos Maiores nos Minerais

As amostras apresentam valores maiores que 90% de clinopiroxênios do

grupo diopsídio (CaMgSi2O6) – hedenbergita (CaFeSi2O6) – augita (Ca,

Na)(Mg, Fe, Al)(Si, Al)2O6. Diopsídio e hedenbergita formam uma solução

sólida completa, cujas propriedades físicas e óticas variam linearmente com a

composição. A augita é um clinopiroxênio no qual alguma proporção de Ca é

substituída por Na e proporções de Mg, Fe ou Si é substituída por Al. Além

disso, possuem maior conteúdo de Fe e Mg que o diopsídio e hedenbergita.

Embora as propriedades cristalinas variem ligeiramente de um membro para a

outro, uma única descrição é suficiente para os mesmos (KLEIN et al., 1993).

O diopsídio predomina na maioria das amostras analisadas. Nestas, os

valores de CaO e MgO são mais altos que de Fe2O3 e Al2O3. O oposto ocorre

em amostras mais ricas nos membros com maior conteúdo Fe e Al

(hedenbergita e augita), como a exemplo da amostra MM-17, cujo teor de Na2O

relativamente mais alto (4,67%) que nas demais confirma a maior ocorrência

da augita. Algumas, como a MM-02, possuem quantidades intermediárias de

cada membro, principalmente entre diopsídio e hedenbergita. Estas amostras

em que o diopsídio não é predominante podem ser classificadas apenas como

clinopiroxenitos, e observa-se que, assim como nos mármores, diferentes

quantidades de impurezas de Fe, Mg e Al, provindos possivelmente de material

pelítico, foram fornecidos no ambiente de formação do protólito dessas

litologias.

Pequenas proporções de CaO e MgO estão presentes nos carbonatos

(calcita/dolomita) que ocorrem nos contatos entre os grão de piroxênio ou como

vênulas que cortam os mesmos. O mesmo ocorrem com SiO2, MgO, Al2O3,

K2O, que compõem a clorita e filossilicatos que ocorrem como vênulas. No

entanto, estes minerais não representam quantidades modais nas amostras

estudadas, assim como os demais acessórios, dentre os quais predomina a

apatita.

As relações gráficas exibem a distribuição destes óxidos nos

clinopiroxênios presentes. A correlação positiva entre Fe2O3 e Al2O3 (figura

5.5a) mostra que ambos ocorrem associados, sendo que a substituição entre

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86

os mesmos ocorre em maior proporção na augita. A mesma correlação é

visível entre Na2O e Fe2O3 (figura 5.5b), (gráfico), considerando que a

substituição de Ca por Na ocorre na augita, membro mais rico em Fe. As

correlações negativas entre CaO com Na2O e Al2O3 (figura 5.5c e d) mostram a

mudança do diopsídio, membro mais rico em Ca, para hedenbergita e augita,

mais ricos em Fe, o qual é substituído parcialmente por Al.

6.1.3 Granulitos Paraderivados

6.1.3.1 Elementos Maiores e Menores

De acordo com a classificação de Coutinho et al. (2007) estas

rochas podem ser geoquimicamente classificadas como granulitos silicosos,

apesar da presença de alguma quantidade de mineral aluminoso, como a

granada e biotita.

Segundo Rosen (1992), valores relativamente altos de SiO2/Al2O3 com

relação à K20/Na2O (figura 6.7) sugerem um protólito arenítico, com porções

pelíticas, mais rico em plagioclásio que feldspato alcalino. É importante

enfatizar que as razões MgO/CaO são sensíveis às contribuições de

Figura 6.5: Relações entre óxidos de elementos maiores nos diopsiditos a) Al2O3 x Fe2O3; b) Fe2O3 x

Na2O; c) Na2O x CaO; e d) Al2O3 x CaO;

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87

sedimentos carbonáticos que sofreram recristalização como plagioclásio e

piroxênio metamórfico, portanto não representam necessariamente um protólito

rico em plagioclásio. Já a razão K2O/Na2O utilizada, reflete com maior

segurança a contribuição de material clástico rico em k-felspato e/ou

argilominerais. Os valores de SiO2/Al2O3, K2O/Na2O e MgO/CaO dos granulitos

paraderivados no diagrama de discriminação de protólito de Rosen (1992)

sugerem um protólico grauvaquíco, com contribuição pelítica (figura 6.6)

A razão TiO2/Al2O3 pode ser utilizada para inferir o tipo de rocha fonte de

rochas detríticas. Razões entre 3 e 8 são características de rochas máficas,

entre 8 e 21 para intermediárias e entre 21 e 70 para ígneas félsicas (HAYASHI

et al., 1997). Nos granulitos estudados foram obtidos valores predominando no

intervalo entre 6 e 15, o que indicaria forte proveniência de material de rochas

ígneas máficas à intermediárias.

Fonte: Rosen, 1992.

Figura 6.6: Valores de SiO2/Al2O3, K2O/Na2O e MgO/CaO dos granulitos paraderivados no diagrama de discriminação de protólito (amostras em azul e preto).

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88

As amostras apresentam valores relativamente homogêneos de SiO2,

que variam entre 43,9% e 74,69% (média de 51,34%), com exceção da

amostra MM-10 que possui 84,85% (figura 6.8a). Esta foi coletada em uma

zona intercalada com chert, o que explica o alto valor sílica. Os teores de CaO

são variáveis, desde 1,25% até 9,56% (média de 6,57%) (figura 6.8b). Na

amostra MM-10 este valor é <1%. Os valores de MgO variam de forma

semelhante, entre 1,24% e 8,94% (média de 6,00%) (figura 6.8c).

Os teores de Fe2O3 variam de 2,47% a 18,97% (média de 13,13%)

(figura 5.6d). Já os valores de Al2O3 são homogêneos, variando de 13,10% a

15,70% (média de 13,85%), com exceção da amostra MM-10 (5,95%) (figura

6.8e). A distribuição do Na2O também é relativamente homogênea, variando de

1,11% a 4,74% (média de 3,18%) (figura 6.8f). Os valores de K2O são <1% em

sete amostras, e entre 1,13% e 5,22% nas demais (figura 6.8g). Para P2O5,

apenas uma amostra apresenta valor >1% (MPD-03), e para MnO todas as

amostras apresentam <1%. Já o TiO2 varia de 1,41% a 2,44%, sendo <1% em

2 amostras (média de 1,61%), variando de acordo com o Fe2O3 (figura 6.8h).

Figura 6.7: Relação K2O/Na2O x SiO2/Al2O3 nos granulitos

paraderivados.

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89

Figura 6.8: Distribuição dos óxidos dos elementos maiores nos granulitos a) SiO2; b) CaO; c) MgO; d) Fe2O3.; e) Al2O3; f) Na2O; g) K2O e h) TiO2.

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90

6.1.3.2 Distruibuição dos Elementos Maiores nos Minerais

Algumas considerações importantes podem ser feitas relacionando a

mineralogia dessas rochas com a distribuição dos seus elementos maiores.

São rochas constituídas essencialmente por silicatos, sendo as correlações

entre CaO, MgO, Fe2O3, Na2O com SiO2 muito semelhantes (figura 6.9a, b, c e

d).

O CaO está presente principalmente nos clinopiroxênios (~15,7% modal)

e secundariamente no plagioclásio, com composição média An8-20%, mais sódia

que cálcia (albita-oligoclásio, ~51,5% modal). O MgO compõe principalmente o

hiperstênio (~8,8% modal) e secundáriamente os clinopiroxênios (augita) e a

granada (~2% modal), considerando parte da sua composição magnesiana

(piropo). O Fe2O3 também compõe estes minerais de forma semelhante,

exibindo valores mais altos devido a presença também de biotita (~8,8%

modal). O Al2O3, além de estar presente na albita, caracteriza a biotita e

granada como minerais aluminoso.

O feldspato mais abundante, plagioclásio entre albita e oligoclásio, é

responsável pela presença de Na2O, visto que a augita é composta de

quantidades muito baixas de Na. Já o K2O, além de estar presente na biotita,

constitui secundáriamente os feldspatos alcalinos (~2% modal)

A correlação positiva entre Fe2O3 e TiO2 (figura 6.9e) pode estar

associada à composição titanífera das biotitas, que apresentam coloração

vermelha anômada em lâminas delgadas, características desta composição,

como já citado na descrição petrográfica. Pequenas quantidades de Fe2O3

devem compor os minerais opacos, presentes em quantidades acessórias.

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91

6.2 COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS TRAÇOS

Nas rochas estudadas, os elementos traços cujos teores apresentam

quantidades mais significantes são B (média de 114 ppm), Ba (346 pmm) e Sr

(153 ppm) para os mármores (Tabela 6.1), Ba (264 ppm) e V (85 ppm) nos

diopsiditos (Tabela 6.2) e Ba (642 ppm), Cu (104 ppm) e V (183 ppm) nos

granulitos (Tabela 6.3). A presença de Ba em sedimentos marinhos está

associada a cristais de plagioclásio detrítico ou barita (BaSO4). O

enriquecimento do mesmo em sedimentos pode estar associado à ocorrência

a) b)

c) d)

e)

Figura 6.9: Relações entre óxidos de elementos maiores nos granulitos paraderivados: a) CaO x SiO2; b) MgO x SiO2; c) Fe2O3 x SiO2; d) Na2O x SiO2; e e) Fe2O3 x TiO2.

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92

de matéria orgânica, no entanto, este elemento pode migrar durante a

diagênese primária (MULLER, 2012 apud FONSECA, 2013).

O Sr, altamente relacionado a carbonatos biogênicos, pode fracionar em

ambientes metamórficos de acordo com a seguinte preferência: carbonatos >

apatita (JIMENEZ-MILLAN et al., 1997), visto que substitui o cálcio na estrutura

destes minerais. Na tabela 6.4 esta relação de Sr em carbonatos é clara, sendo

a média para carbonatos entre 610 e 2000 ppm (FLEISCHER e PARKER,

1967). Na ausência de carbonatos, este particiona fortemente na apatita,

explicando sua presença também nos diopsiditos e granulitos da sequência.

Como esperado, os teores de metais traços (Co, Cu e V), no geral,

crescem dos mármores e diopsiditos para os granulitos, visto que são

fracionados preferencialmente em fases argilosas (MULLER, 2012 apud

FONSECA, 2013), o que pode ser conferido na Tabela 6.4.

O teor médio de V nos mármores é de 15 ppm, nos diopsiditos de 85

ppm e nos granulitos de 183 ppm. Esse aumento do valor de V dos mármores

para os granulitos ocorrem, pois durante os processos exógenos, este

elemento é intensamente incorporado aos minerais argilosos e permanece

nestes enquanto é removido. O V5+ se mobiliza com facilidade e se nas águas

subterrâneas e nas soluções da meteorização existem metais pesados, podem

produzir grandes concentrações locais de vanadatos de Cu, Pb, Zn e U, em

particular na zona de oxidação e na presença de margas e dolomitos, que

originam um pH adequado para precipitação dos vanadatos (FONSECA, 2013).

Os teores de Cu para os mármores são baixos, apresentando uma

média de 5 ppm. Os diopsiditos também apresentam valores baixos de Cu, em

uma média de 10 ppm, diferentemente dos granulitos que exibem valores

relativamente maiores, em uma média de 104 ppm. Estas proporções estão de

acordo com os valores sugeridos por (FLEISCHER e PARKER, 1967) (Tabela

6.4), dos quais, materiais argilosos possuem maiores proporções de Cu que

sedimentos carbonáticos. De acordo com Fonseca (2013), durante o ciclo do

Cu, pequena quantidade deste elemento é acumulada nos oceanos. Este nível

é mantido baixo em decorrência da adsorção sobre os organismos marinhos.

Também é provável a proveniência de algum Cu ao mar pelas emanações

vulcânicas, que são frequentemente cupríferas. Qualquer sal cuproso (Cu+) que

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93

chegue ao mar se oxida em seguida para cúprico (Cu2+), assim, as quantidades

de Cu no mar são muito pequenas para que evaporitos marinhos e demais

sedimentos químicos possuam quantidades apreciáveis desse metal. Já as

fases mais detríticas apresentam quantidades um pouco maiores.

Visto que o Cr se assemelha tanto ao Fe3+ e Al3+

em suas propriedades

químicas, tamanho e carga iônica, acompanha esses íons durante o ciclo

exógeno. Nas soluções que se formam durante os processos meteóricos,

somente uma pequena quantidade de Cr é removida. Em consequência, os

precipitados, oxidados e evaporados possuem baixos valores de Cr

(FONSECA, 2013). Na tabela 6.4 o valor aproximado de Cr em carbonatos é de

11 ppm. Os mármores da sequência apresentam valor médio de 23 ppm de

cromo, variando de 6 a 69 ppm, o que pode indicar diferentes níveis de

contaminação provenientes do corpo máfico-ultramáfico mineralizado em

cromo, assim como os teores dos diopsiditos, que variam de 5 a 38 ppm, com

exceção da amostra MI_02_1, coletada no contato com a ultramáfica,

apresentando 468 ppm de Cr. Os valores de Cr nos granulitos variam de 9 a 70

ppm (média de 40 ppm).

O teor médio de Ni para os mármores é de 19 ppm, consistente com o

valor proposto por (FLEISCHER e PARKER, 1967) de 20 a 30 ppm para rochas

carbonáticas sedimentares. Ainda, a baixa concentração de Zr nos mármores,

corrobora sua natureza paraderivada. A distribuição dos elementos traços

caracterizam, portanto, estas rochas como de origem sedimentar, descartando

qualquer hipótese de origem ortomagmática.

Tabela 6.1: Concentrações dos principais elementos traços nos serpentina mármores.

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94

Tabela 6.2: Concentrações dos principais elementos traços nos diopsiditos.

Tabela 6.3: Concentrações dos principais elementos traços nos granulitos paraderivados.

Tabela 6.4: Abundância dos elementos em alguns tipos de rochas. X = 1 – 9 %.

Fonte: Fleischer e Parker, (1967).

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95

6.3 COMPORTAMENTO DOS ELEMENTOS TERRAS RARAS

Foram analisadas um total de 29 amostras para ETR, destas, 11

representam serpentina mármores, 11 granulitos paraderivados, 06

diopsiditos/piroxenitos, 01 chert e 01 metaortoclasito. As amostras foram

normalizadas segundo o “North American Shale Composite – NASC” (HASKIN

e FREY 1966 apud RICHARD, 1985) e para a água do mar atual (seawater)

(RICHARD, 1985).

Investigações do comportamento das ETR durante processos

metamórficos (CULLERS et al., 1974; MUECKE et al., 1979 apud TORRES et

al., 2006) indicam que há mobilidade das ETR durante eventos de caráter

metassomático, porém há pouca modificação dos padrões durante o

metamorfismo. Este fato permite usá-los na interpretação do material pré-

metamórfico e consequentemente do ambiente de formação.

Os serpentina mármores apresentam ΣETR variando em um intervalo

extenso, de aproximadamente 25 a 129 ppm (Tabela 6.6). O mesmo ocorre

com os diopsiditos, com ΣETR entre 53 e 135 ppm (Tabela 6.5). Os granulitos

aluminosos apresentam valores entre 36 e 196 ppm, à exceção de uma

amostra mais enriquecida, apresentando ΣETR de 779 ppm (MPD-03) (Tabela

6.7).

Os valores de (La/Lu)n nos serpentina mármores variam entre 24 e 92,

nos diopsiditos entre 7 e 42 e nos granulitos aluminoso entre 5 e 21, com

exceção das amostras MP3-03 e MM-01, que apresentam valores anômalos

(110 e 129, respectivamente). Percebe-se uma diminuição dessa razão dos

mármores para os granulitos, com os diopsiditos apresentando valores

intermediários, indicando fracionamento de ETRL entre essas litologias.

Ao normalizar as amostras segundo o folhelho NASC (Tabela 6.8),

observa-se anomalia negativa de Ce e Eu, ambas acentuadas nos mármores

(Figura 6.10). Os valores para todos ETR na maioria das amostras situam-se

abaixo de 1 do padrão do folhelho, com exceção da amostra MPD-03

(granulito) e da MM_01_1 (metarcóseo), que mostra enriquecimento acentuado

em ETRL. Isto indica que a maioria das amostras não sofreu influência

significante na concentração destes elementos por processos hidrotermais.

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96

Assim, estes valores podem refletir processos deposicionais e diagenéticos,

auxiliando na reconstrução do ambiente deposicional.

As amostras possuem comportamento distinto ao serem normalizadas

ao padrão da água do mar atual (Tabela 6.9). Grande parte das amostras

exibem anomalia positiva de Ce, enquanto a anomalia de Eu torna-se

ligeiramente positiva para algumas amostras (Figura 6.11). Neste contexto, os

mármores apresentam um padrão menos anômalo para Ce e Eu. O padrão

geral mostra maior depleção em ETR pesados com relação a da água do mar e

forte enriquecimento em ETRL.

A distribuição de ETR em diferentes massas de água do mar reflete

fortemente o seu fracionamento em sedimentos. Considerando a concentração

relativa da ETR em rios semelhantes à de xistos, segundo Piper (1974 apud

TORRES et al., 2006), a remoção destes elementos da água do mar por fases

autigênicas e biogênicas resulta em: (i) um diminuição da sua concentração

total; (ii) uma depleção de Ce; e (iii) um enriquecimento de ETR pesados em

relação ETR leves.

Tabela 6.5: Valores de ETR’s nos diopsiditos.

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97

Tabela 6.8: Valores padrão de ETR’s para o folhelho NASC.

Fonte: Haskin e Frey (1966, apud RICHARD 1985).

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu

39 76 10,3 37 7 2 6,1 1,3 --- 1,4 4,0 0,58 3,4 0,6

Tabela 6.6: Valores de ETR’s nos mármores. Tabela 6.7: Valores de ETR’s nos granulitos.

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98

Tabela 6.9: Valores padrão e ETR’s para água do mar atual.

Fonte: Richard, 1985.

Figura 6.10: Padrão dos ETR das rochas supracrustais do vale do Jacurici normalizadas ao

folhelho NASC (HASKIN e FREY, 1966 apud RICHARD, 1985).

Figura 6.11: Padrão dos ETR das rochas supracrustais do vale do Jacurici normalizadas à

água do mar (RICHARD, 1995).

La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu

20,8 9,64 --- 21,1 4,32 0,823 5,2 --- 5,610 --- 4,94 xxx 4,66 ---

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99

6.3.1 Anomalias de Ce e Eu

Os elementos Ce e Eu tem sido utilizados na interpretação

paleoambiental devido a influência que as variações de condições de oxidação-

redução ocasionam na concentração destes elementos em ambiente

sedimentar.

Anomalias negativas de Ce em rochas sedimentares, particularmente

em rochas carbonáticas, tem sido muito utilizadas para argumentar a origem

marinha, enquanto a sua inexistência é atribuída a influência de águas

continentais (TLIG, 1987 apud PARENTE et al., 1998). Nos oceanos, a

oxidação de Ce+3 para a forma insolúvel Ce+4, na qual precipita como CeO2,

resulta na sua remoção e consequente empobrecimento deste elemento com

relação aos demais ETR (TORRES et al., 2006). Este processo ocorre

preferencialmente na porção superior da coluna d’água, onde há maior

presença de oxigênio (MAZUMDAR et al., 1998 apud TORRES, 2006). Com

isso, pode-se utilizar a anomalia de Ce como indicador das variações

eustáticas do nível do mar (WILDE et al., 1996), já que anomalias positivas

indicam condições mais oxidantes e coluna d’água menor, podendo associá-las

a fases regressivas, em que há descida do nível do mar. Neste sentido, as

anomalias negativas podem implicar fases transgressivas, cuja elevação do

nível do mar possibilitou a deposição de sedimentos sob condições mais

redutoras, em que o Ce é insolúvel e não precipita.

Também, tem-se verificado que o Ce não é removido em solução em

ambientes estuarinos. Em condições suficientemente oxidantes, o Ce é

inicialmente removido junto aos óxidos de Fe em águas fluviais. Em locais onde

estes complexos são preservados, como por exemplo, em sedimentos

carbonáticos estuarinos devonianos, estes mostram anomalia positiva de Ce.

Além disso, amostras de água do Mar Barents (HOGDAHL et al., 1968 in

FLEET 1984 apud TORRES et al., 2006), também não apresentam anomalia

negativa de Ce, e a água próxima a costa leste dos EUA é de 10 a 100 vezes

mais enriquecida neste elemento que a amostra coletada no Oceano Atlântico

adjacente. Outro fator que complementa estes estudos é a ausência de

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100

anomalias negativas de Ce em amostras de chert depositados em extensas

plataformas (FLEET, 1984 apud TORRES et al., 2006).

Segundo Fleet (1984 apud TORRES et al., 2006) há duas possibilidades

para explicar a ausência de empobrecimento de Ce nos sedimentos marinhos

proximais à costa: (1) em áreas próximas ao continente, em regiões

plataformais, ocorre a mistura de águas continentais, que não são

empobrecidas em Ce, e águas ocêanicas empobrecidas, o que resulta em uma

deficiência em Ce mais ou menos pronunciada; (2) em áreas de mares rasos, o

Ce, apesar de tetravalente, se comporta como os demais ETR e é envolvido

em partículas sólidas suspensas com os demais ETR remanescentes. Já em

áreas continentais remotas, o Ce é selecionado por partículas sólidas muito

finas (<0,lμm, flocos de Fe-Mn) e removido, podendo resultar em uma anomalia

positiva ou negativa nos sedimentos. Tendo em vista estes processos, Shimizu

e Maskada (1977 apud PARENTE et al., 1998) sugeriram que o Ce é

deplecionado em águas oceânicas profundas, mas não em mares superficiais,

o que implica que anomalias positivas de Ce exibidas em sedimentos

carbonáticos podem indicar um paleoambiente estuarino ou marinho costeiro,

influenciado por águas continentais.

Com relação às anomalias de Eu nos sedimentos marinhos, as positivas

têm sido atribuídas a processos de influxos hidrotermais acompanhados de

enriquecimentos de ETRL (e.g. MICHARD et al., 1983, TLIG 1987 apud

TORRES et al., 2006), que são comuns nos sedimentos arqueanos, em que os

mares recebiam forte contribuição de fluidos hidrotermais. Este processo é

observado atualmente ao longo de cadeias meso-oceânicas e em centros de

expansão de retroarco, em ambiente redutor (FOUQUET el al., 1993 in BAU e

MOLLER, 1993 apud TORRES et al., 2006). Enquanto a anomalia negativa de

Eu, esta é considerada característica de ambiente redutor, cenário no qual o

Eu3+ é reduzido para Eu2+. No entanto, alguns autores sugerem que processos

metamórficos e metassomáticos possam causar uma redução do Eu (JARVIS

et al., 1975 in FLEET, 1984 apud PARENTE et al., 1998). Outros autores como

Morteani et al. (1983 apud PARENTE et al., 1998) sugerem que anomalias

negativas de Eu em carbonatos ocorrem em minerais formados a partir de

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101

soluções com baixo Eh, enquanto as positivas associam-se a minerais

formados em soluções com alta fugacidade de oxigênio que interagiram na

decomposição de feldspatos antes da formação dos carbonatos, considerando

estes minerais a principal fonte de Eu. Anomalias de Eu positivas também

podem ocorrer sob condições ácidas, nas quais o Eu+2 é menos absorvido que

os demais ETR trivalentes durante a migração de fluidos. Esta situação é

favorecida em ambientes de baixa fugacidade de oxigênio e temperaturas entre

200 e 150°C (TORRES et al., 2006).

As rochas estudadas exibem padrão irregular com forte enriquecimento

em ETRL em relação aos ETRP, anomalia positiva de Ce e ligeiramente

positiva de Eu na maioria das amostras com relação a água do mar. Ao

considerar uma origem marinha para estes sedimentos, um enriquecimento em

ETRL e anomalia positiva de Ce podem indicar a influência de fonte aquosa

externa, diferente da água do mar e mais enriquecido em ETRL e Ce. Segundo

Torres et al. (2006), o enriquecimento em ETRL em ambiente sedimentar está

associado principalmente à presença de partículas e colóides, relacionados a

matéria orgânica e a hidróxidos de Fe e Mn em ambiente estuarino. Estas

informações podem levar a um cenário de formação de sedimentos

carbonáticos com diferentes proporções siliciclásticas e pelíticas de ambiente

marinho costeiro com incursão de material estuarino. O enriquecimento

moderado ETR intermediários, como o Eu, pode corroborar para este contexto

de mistura de fontes aquosas.

Comparando ainda o comportamento dos ETR de mármores dolomíticos

neoproterozoicos da sequência metavulcano-sedimentar de Acarape, CE,

estudados por Torres et al. (2006), pode-se observar que são mais

empobrecidos nestes elementos, principalmente em ETRL. Além disso,

apresentam anomalias positivas de Ce mais acentuadas, com relação tanto ao

folhelho NASC quanto à água do mar, evidenciando que a água do mar no

ambiente de formação dessas rochas era mais depletada em Ce, com relação

ao ambiente de formação dos mármores descritos no presente trabalho, mais

antigo, possivelmente de idade arqueana.

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102

Figura 6.12: Padrão dos ETRs dos mármores dolomíticos da sequência metavulcano-sedimentar de Acarape, CE, normalizados ao folhelho NASC.

Fonte: Torres et al. (2006).

Figura 6.13: Padrão dos ETRs dos mármores dolomíticos da sequência metavulcano-sedimentar de Acarape, CE, normalizados em relação à água do mar.

Fonte: Torres et al. (2006).

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103

7 CAPÍTULO VII - CONSIDERAÇÕES FINAIS

_______________________________________________________________

O estudo petrográfico e litogeoquímico das rochas metacarbonáticas e

calcissilicáticas amostradas na região do vale do Rio Jacurici possibilitou a

classificação litológica e caracterização preliminar da origem de seus protólitos.

Do ponto de vista petrográfico, os serpentina mármores são constituídos

basicamente por uma matriz calcítica granoblástica envolvendo grãos de

serpentina, originados da alteração de forsteritas, ocorrendo ainda alguns

núcleos preservados, caracterizando uma textura porfiroblástica. Mais

raramente, cristais de granada, biotita, muscovita, apatita e minerais opacos

também ocorrem nestas rochas. A classificação geoquímica aponta para

mármores dolomíticos à calcítico dolomíticos, visto que o alto teor de Mg que

constitui a forsterita (Fo96-99) desvia o campo para dolomitos. No entanto, os

carbonatos são essencialmente calcíticos. A presença de olivina indica que

estas rochas foram submetidas à condições metamórficas de alto grau e,

posteriormente, sofreram alterações hidrotermais que levaram à formação de

serpentina.

Foi possível conferir ainda que os diopsiditos representam porções

calcissilicáticas monominerálicas da sequência, sendo constituídos

basicamente por clinopiroxênios que formam uma textura granoblástica

decussada a poligonal. Apesar da forte similaridade das propriedades óticas

desses minerais, a geoquímica dos elementos maiores evidencia que estes

variam entre composições mais cálcicas (diopsídio), predominante, ferrosas

(hedenbergita) e magnesianas (augita). Para assegurar a proporção exata

entre estes minerais, é necessária a aplicação de estudos de química mineral.

Já os biotita-hiperstênio-diopsídio granulitos e granada-biotita-hiperstênio-

diopsídio granulitos representam litologias de derivação siliciclástica, com

porções pelíticas variáveis. As paragêneses envolvendo clinopiroxênios,

ortopiroxênios, granada e biotitas titaníferas, dispostos em uma textura

granoblástica decussada, evidenciam que um metamorfismo de alto grau, em

fácies granulito, foi imposto a esta sequência. Ainda, uma pequena ocorrência

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104

de anfibólio associado aos piroxênios pode sugerir processos de

retrometamorfismo.

Ainda ocorrem intercaladas com estas litologias, metacherts, que

representa frações puras de quartzo, de química, além de metárcóseo, que

ocorre no topo da sequência e cuja composição é basicamente quartzo-

feldspática.

A variação composicional do pacote sedimentar (carbonática e

siliciclástica) possibilitou a formação, durante o metamorfismo, de um conjunto

de rochas intercaladas com associações mineralógicas diferentes, no entanto

relacionadas, visto que, enquanto rochas dolomíticas ricas em quartzo podem

gerar rochas completamente diopsidíticas, as reações entre dolomita e

diopsídio ou dolomita e tremolita geram mármores calcíticos ricos em fosterita

em reações de descarbonatação. Além disso, as pequenas proporções de

impurezas argilosas fornecem elementos para formação de minerais

aluminosos, como granada, biotita e muscovita.

O enriquecimento em ETRL e a anomalia positiva de Ce e ligeiramente

positiva de Eu, com relação à composição de ETR da água do mar, sugerem

que diferentes proporções de material siliciclástico, carbonático e pelítico foram

fornecidos em um ambiente marinho costeiro com contribuição de fluidos

continentais, possivelmente de ambiente estuarino. Esta variação é refletida

nas diferentes paragêneses minerais de origem metamórfica hoje presentes

nestas litologias (calcita + serpentina/olivina + granada, diopsídio+hedenbergita

+ augita, diosídio + hiperstênio + biotita títanífera + granada). Além disso, as

relações entre SiO2/Al2O3, K2O/Na2O e MgO/CaO nos granulitos, plotados em

diagrama de discriminação de protólito, sugerem um protólito grauvaquíco com

contribuição pelítica e o enriquecimento destas rochas, em relação aos

mármores e diopsiditos, em alguns elementos traços metálicos (Co, Cu e V)

relacionados durante seu ciclo à argilominerais, está de acordo com o cenário

proposto. As demais distribuições e teores de elementos traços, como alto Sr e

Ba e baixo Ni, confirmam a origem sedimentar dessas rochas, descartando

qualquer hipótese de origem ortomagmática.

As profundas mudanças ocorridas na atmosfera terrestre no final do

Arqueano e início do Paleoproterozoico promoveram um enorme aumento na

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105

quantidade de CO2 dissolvido nos oceanos e, consequentemente, a deposição

de espessas sequências de carbonatos, principalmente dolomíticos. Estes

depósitos formaram-se em condições de mar raso interdigitados com praias

litorâneas frequentemente com recifes algais instalados em margens

continentais (WINDLEY, 1984).

Os resultados obtidos neste trabalho trazem contribuições para um

melhor entendimento do ambiente geológico e evolução de um segmento

crustal paleoproterozoico do nordeste do Craton do São Francisco. Com isso,

tem-se também elementos para interpretação do potencial metalogenético,

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106

8 CAPÍTULO VIII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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111

9 ANEXOS

9.1 ANEXO 1

9.1.1 Lista de Abreviação e Fórmula Química dos Minerais

Ab – Albita NaAlSi3O8

Alm – Almandina Fe3Al2(Si3O12)

Am – Anfibólio ----

Na – Anortita CaAl2Si2O8

Ap – Apatita Ca5(PO4)3(F,OH,Cl)

Atg – Antigorita Mg3Si2O5(OH)4

Aug – Augita (Ca, Na)(Mg, Fe, Al)(Si, Al)2O6.

Brc – Brucita Mg(OH)2

Bt – Biotita K(Mg, Fe)3(AlSi3O10)(OH)2

Cal – Calcita CaCO3

Chl– Clorita (Mg,Al,Fe)12(Si, Al)8O20(OH)16

Cpx – Clinopiroxênio ----

Di Diopsídio CaMgSi2O6

Dol – Dolomita CaMg (CO3)2

Ep – Epidoto Ca2(Al, Fe)3(SiO4)3(OH)

Fo – Forsterita Mg2SiO4

Grs – Grossulária Ca3Al2Si3O12

Grt – Granada ----

Hd – Hedenbergita CaFeSi2O6

Kfs - K-feldspato ----

Ms – Muscovita KAl2(Si3Al)O10(OH,F)2

Ol – Olivina ----

Opx – Ortopiroxênio ----

Per – Periclásio MgO

Pl – Plagioclásio ----

Prp – Piropo Mg3Al2(Si3O12)

Qtz – Quartzo SiO2

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Sp – Serpentina ----

Tlc – Talco Mg2Si4O10(OH)2

Tr – Tremolita Ca2Mg5Si8O22(OH)2

Wo – Wollastonita CaSiO3

Zrn – Zircão ZrSiO4

Op - Opacos ----

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9.2 ANEXO 2

9.2.1 Mapa Geológico do Vale do Rio Jacurici, Bahia

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9.3 ANEXO 3

9.3.1 Tabela de Análises Geoquímicas