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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Colegiado dos Cursos de Graduação em Geografia GLÁUCIA DA SILVA ALMEIDA PERFIL DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS NA COMUNIDADE DE AGRICULTORES FOZ DE IMBASSAÍ, MATA DE SÃO JOÃO - BAHIA Salvador - Bahia 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

Colegiado dos Cursos de Graduação em Geografia

GLÁUCIA DA SILVA ALMEIDA

PERFIL DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS NA COMUNIDADE DE AGRICULTORES

FOZ DE IMBASSAÍ, MATA DE SÃO JOÃO - BAHIA

Salvador - Bahia

2016

GLÁUCIA DA SILVA ALMEIDA

PERFIL DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS NA COMUNIDADE DE AGRICULTORES

FOZ DE IMBASSAÍ, MATA DE SÃO JOÃO - BAHIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Geografia como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Geografia pela Universidade Federal da Bahia. Orientadora: Profª Drª Mª Eloisa Cardoso da Rosa

Salvador - Bahia

2016

FICHA CATALOGRÁFICA

A447p Almeida, Gláucia da Silva

Perfil das atividades agrícolas na comunidade de agricultores Foz

de Imbassaí, Mata de São João - Bahia / Gláucia da Silva Almeida. –

Salvador : UFBA, 2016.

101 f.: il.

Orientadora: Professora Drª. Eloisa Cardoso da Rosa.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade

Federal da Bahia, Instituto de Geociências, 2016.

1. Agricultura Familiar. 2. Agricultura Sustentável. 3. Políticas

Públicas. I. Rosa, Eloisa Cardoso da. II. Universidade Federal da

Bahia, Instituto de Geociências. III. Título.

CDU: 631.5

TERMO DE APROVAÇÃO

GLÁUCIA DA SILVA ALMEIDA

PERFIL DA AGRICULTURA DESENVOLVIDA NA COMUNIDADE FOZ DE

IMBASSAÍ, MATA DE SÃO JOÃO - BAHIA

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Graduação em Geografia como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Geografia pela Universidade Federal da Bahia. APROVADO EM: 24 de Maio de 2016.

Banca examinadora:

Dra. Maria Eloisa Cardoso da Rosa

_____________________________________________________________

Orientadora. Universidade Federal da Bahia | Geociências.

Dr. Altino Bomfim de Oliveira Junior

_____________________________________________________________

Avaliador externo. Universidade Federal da Bahia | Faculdade de Filosofia e

Ciências Humanas.

Dra. Noeli Pertile

_____________________________________________________________

Avaliado externo. Universidade Federal da Bahia | Geociências.

RESUMO

Esta monografia aborda o perfil agrícola da comunidade Foz de Imbassaí, o objetivo

visa a constatação da hipótese de predominância de agricultura de base ecológica

na área de estudo. Para isso, pesquisas bibliográficas auxiliaram na elaboração de

um referencial teórico sobre os tipos de agriculturas de base ecológica, alternativas

ao modo de produção moderna – orgânica, biodinâmica e permacultura –;

agroecologia como ciência do campo da complexidade capaz de resolver os

problemas ambientais, sociais e econômicos causados pela agricultura moderna;

tecnologia agrícola tradicional – relatando a importância da experiência e do

conhecimento nativo e tradicional em contribuição ao desenvolvimento agrícola; e

as principais políticas públicas de incentivo ao pequeno produtor. Buscou-se

identificar a participação das políticas públicas como um possível fator de influência

na dinâmica da agricultura familiar. Procurou-se também especificar as

potencialidades agrícolas a serem incentivadas e as necessidades básicas para

iniciar ou prosseguir no processo de ecologização da agricultura. Para atender aos

objetivos tornou-se essencial o desenvolvimento de pesquisa quali-quantitativa

através da aplicação de entrevistas estruturadas para identificar o perfil agrícola da

comunidade. Assim, os resultados evidenciam que metade da comunidade tem uma

base ecológica, um importante movimento de princípios contrários ao sistema

hegemônico de desigualdades sociais, com perspectivas de promoção da saúde e

bem-estar do ser humano por meio da produção limpa, uso consciente dos recursos

naturais e protagonismo do agricultor. A outra metade responde aos anseios da

agricultura moderna.

Palavras-chave: Agroecologia. Agricultura familiar. Agriculturas sustentáveis.

Política pública. Perfil agrícola.

ABSTRACT

This monograph discusses the agricultural profile of the community of Foz de Imbassaí, the goal is to verify the hypothesis of the development of ecological basis of agriculture in the study area. For this, bibliographical research helped in the development of a theoretical framework on the types of ecological basis of agriculture other than the modern way of production - organic, biodynamic and permaculture -; agroecology as a science of the field of complexity able to solve the environmental, social and economic problems caused by modern agriculture; traditional agricultural technology - reporting the importance of experience and the importance of native and traditional knowledge contributing to agricultural development; and the main public policies to encourage the small producer. We sought to identify the participation of public policies as a possible factor of influence in the dynamics of family farm. Also we sought to specify agricultural potential to be encouraged and basic needs to start or continue in the agriculture greening process. To reach the goals it has become essential to develop qualitative and quantitative research by applying interviews with the objective to identify the community's agricultural profile. Thus, the results show that half of the community has an ecological basis, an important movement of principles contrary to the hegemonic system of social inequalities, with prospects for promotion of health and human well-being through cleaner production, responsible use of natural resources and farmer's role. The other half responds to the longings of modern agriculture. Key-words: Agroecology, Family farm, Sustainable agriculture, Public policies, Agricultural profile. Key-words: Agroecology. Family farm. Sustainable agriculture. Public policies. Agricultural profile.

AGRADECIMENTO

Em primeiro momento, agradeço a Deus por ter me dado forças para

prosseguir diante das dificuldades.

Agradeço aos meus pais pela liberdade de escolha do caminho seguido e

pelas contribuições diversas.

Além de agradecer, dedico este trabalho a uma das pessoas mais

importantes da minha vida, o meu irmão Tito, um exemplo de fé e superação. A

minha dedicação pela sua vida me trouxe muitas conquistas, principalmente a sua

recuperação e a consequente mudança do tema de estudo. As poucas vezes que

me ajudou cavar com enxada e mexeu a pilha de composto ficarão guardadas com

esperança de sua retomada ao lindo contato com a terra.

Agradeço também a Adriano e aos demais familiares que contribuíram

direta e indiretamente.

Aos meus colegas de trabalho e equipe da SEI, que me ajudaram muito

no desenvolvimento e revisão da pesquisa. Tenho um carinho especial por todos.

Aos professores da banca, utilizo a palavra gratidão como retorno pela

ajuda, Noeli por ter sido minha professora de Ciências Agrárias no

Geociências/UFBA e Altino por ter me apresentado à Agroecologia no projeto de

Pesquisa Agroecologia em rede.

Agradeço também à orientadora Maria Eloísa que diante das dificuldades,

orientou e a pesquisa desenvolveu resultados satisfatórios.

Mais uma vez Gratidão a Deus e a mim mesma, que neste momento

encontra-se realizada.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização da comunidade Foz de Imbassaí, Mata de São João, BAHIA.

....................................................................................................................................13

Figura 2 - Delimitação da área da Comunidade de agricultores Foz de Imbassaí....58

Figura 3 – Participação dos grupos por autorreconhecimento em relação ao total de

entrevistados na Comunidade Foz de Imbassaí........................................................61

Figura 4 – Exemplo de cultivo em sistema agroflorestal............................................71

Figura 5 – Exemplo de solo descoberto por capina frequente de solo......................72

Figura 6 – Sistema agroflorestal em fase de implantação por agricultor em transição

Agroecológica.............................................................................................................73

Figura 7 – Exemplo de práticas prejudiciais ao agroecossistema desenvolvidas pelos

agricultores convencionais.........................................................................................78

Figura 8 – Relação de participação dos agricultores por perfil agrícola e políticas

públicas em números absolutos.................................................................................80

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Relação de participação de indivíduos por tipo de autorreconhecimento à

classificação do perfil agrícola de acordo com a atividade desenvolvida..................67

Tabela 2 – Principais fatores de motivação à escolha da atividade desenvolvida por

perfil agrícola..............................................................................................................68

Tabela 3 – Principais tecnologias agrícolas tradicionais aplicadas na comunidade por

perfil agrícola..............................................................................................................70

Tabela 4 – Tipos de fertilizantes utilizados por perfil agrícola em números absolutos

....................................................................................................................................75

Tabela 5 – Relação da necessidade e do tipo de controle utilizado em caso de

desequilíbrio por perfil agrícola em números absolutos.............................................76

Tabela 6 – Identificação das principais dificuldades dos agricultores por perfil

agrícola.......................................................................................................................84

Tabela 7 – Melhoras obtidas pelos agricultores a partir do desenvolvimento da

atividade agrícola.......................................................................................................86

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. Artigo

BA Bahia

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

Bt Bacillus thuringiensis

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

DAP Declaração de aptidão

FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

GPS Global Positioning System

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LEAGET Laboratório de Estudos Ambientais e Gestão do Território

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

NPK Nitrogênio, Fósforo e Potássio

ONG Organizações não governamentais

PAA Programa de Aquisição de Alimentos

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRONAF Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar

SEAGRI Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação,

Pesca e Aquicultura

SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia

SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar

USAID United States Agency for International Development

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 14

3. AGRICULTURAS SUSTENTÁVEIS ALTERNATIVAS AO MODELO DE AGRICULTURA

MODERNA .......................................................................................................................................... 17

3.1. AGRICULTURA ORGÂNICA ................................................................................................ 22

3.2. AGRICULTURA BIODINÂMICA ........................................................................................... 26

3.3 PERMACULTURA ................................................................................................................... 28

4. AGROECOLOGIA ......................................................................................................................... 32

4.1. TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA ....................................................................................... 37

5. TECNOLOGIA AGRÍCOLA TRADICIONAL............................................................................... 39

5.1. CONHECIMENTO NATIVO .................................................................................................. 39

5.2. PRINCIPAIS TÉCNICAS TRADICIONAIS .......................................................................... 42

5.2.1. Sementes .......................................................................................................................... 42

5.2.2. Policultura ......................................................................................................................... 44

5.2.3. Consórcio de cultura ....................................................................................................... 44

5.2.4. Cobertura morta ............................................................................................................... 45

5.2.5. Plantio direto .................................................................................................................... 45

5.2.6. Capina seletiva ................................................................................................................ 46

5.2.7. Quebra-ventos ................................................................................................................. 47

5.2.8. Rotação de culturas ........................................................................................................ 48

5.2.9. Adubação verde ............................................................................................................... 48

5.2.10. Cultivos de cobertura .................................................................................................... 49

5.2.11. Estercos .......................................................................................................................... 50

5.2.12. Compostagem................................................................................................................ 51

5.2.13. Sistemas agroflorestais ................................................................................................ 51

5.2.14. Coivara ............................................................................................................................ 52

6. POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................................................. 53

6.1. PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) ................................................... 54

6.2. PROJETO SALVAÇÃO DA LAVOURA ............................................................................... 55

6.3. DECLARAÇÃO DE APTIDÃO AO PRONAF (DAP) .......................................................... 56

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................................ 57

7.1. HISTÓRIA DE OCUPAÇÃO .................................................................................................. 57

7.2. A COMUNIDADE E O AUTORRECONHECIMENTO ....................................................... 60

7.3. ANÁLISE POR PERFIL AGRÍCOLA DE BASE ECOLÓGICA ........................................ 67

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 88

REFERÊNCIA ..................................................................................................................................... 91

1. INTRODUÇÃO

O trabalho delimitou-se colher informações sobre a forma com que se

praticam as atividades agrícolas pelos integrantes da comunidade de agricultores

Foz de Imbassaí, em Mata de São João e avaliá-las para constatar o seu perfil

comparando-as aos princípios estabelecidos pelas agriculturas de base ecológica e

agroecologia.

A importância de se desenvolver um estudo com tais evidências,

principalmente no contexto dentro do qual a área se encontra, em meio a complexos

hoteleiros e principais pontos turísticos do conhecido Litoral Norte baiano é uma

forma de visualização das necessidades e potencialidades dos pequenos

agricultores, que quanto a recursos ao que tudo indica são mais desprovidos em

comparação aos latifundiários.

As atividades desenvolvidas, ainda que não atendam a todos os pré-

requisitos das agriculturas de base ecológica, formam, um movimento de que busca

ir de encontro à exploração exacerbada do meio ambiente, principalmente para as

atividades turísticas locais. Trata-se também de uma forma de superação dos atuais

problemas socioambientais do desenvolvimento agrícola e rural. É também o

objetivo das agriculturas sustentáveis ir de encontro ao atual modelo de geração de

alimentos, concentração de terras e de rendas.

A pesquisa tenta encontrar respostas evidentes para a efetividade ou

refutação da para o problema da preservação ambiental nas agriculturas

desenvolvidas pelo pequeno agricultor a partir da análise de suas respostas em

entrevistas. Para esta hipótese, analisou-se também o desenvolvimento das práticas

agrárias, parte do comportamento socioeconômico dos agricultores, bem como

questões que envolvam a opinião pessoal dos mesmos para concluir até que ponto

os indivíduos estão satisfeitos como agricultores.

De igual importância é a avaliação quanto as principais dificuldades

enfrentadas pelos pequenos agricultores, uma vez que visibilizadas estas podem

contribuir para a promoção de assistências diversas atendendo as necessidades e

facilitando o processo de ecologização da agricultura familiar. Isto posto, uma vez

que ausência de políticas públicas e assistência técnica que atendam as principais

carências de uma comunidade pode ser uma ameaça ao desenvolvimento da

agricultura familiar. A pesquisa visa ainda verificar a influência das políticas públicas

existentes como possíveis determinantes para a dinâmica da agricultura familiar

desde a formação da comunidade.

Em síntese, as pesquisas revelaram uma heterogeneidade no perfil agrícola

da comunidade, quando se constatam presença de veranistas descompromissados

com a agricultura e maior parte da comunidade composta por agricultores com

ações convencionais, alimentadores da Revolução Verde. No entanto, avançando

como um movimento de resistência ao atual modelo capitalista de geração de

alimento e devastação ambiental, parte da comunidade desenvolve agroecologia,

transição agroecológica e agricultura orgânica.

O acesso à área de estudo foi facilitado por meio da participação do projeto

Laboratório de Estudos Ambientais e Gestão do Território (Leaget) que tem como

área de estudo o litoral norte compreendida entre o rio Pojuca e o rio Imbassaí e a

comunidade Foz de Imbassaí está inserida neste mesmo recorte. A convivência na

comunidade permitiu importante aproximação e conhecimento da situação vivida

pelos integrantes.

Como parte de uma família que desenvolve agricultura tradicional na

comunidade, houve prévio conhecimento da área e de alguns “vizinhos”, anterior à

pesquisa, que facilitaram o livre acesso à região e maior segurança durante a

aplicação das entrevistas.

O trabalho contém referencial teórico, abordando um breve histórico das

formas de agricultura tradicional e “alternativa”, evidenciando a diferença entre as

formas da agricultura alternativas ou com base ecológica, às suas práticas rurais

usuais e às políticas públicas voltadas ao pequeno agricultor nos últimos 20 anos;

aquisição e uso de ortofotoimagens da área para delimitação do território da

comunidade; estruturação e aplicação de entrevista abordando os principais temas

referentes à identificação de processos ecológicos nas práticas agrícolas; a

compilação e análise dos dados obtidos e a comparação com o referencial teórico

com relação às definições das agriculturas de base ecológica e agroecologia.

A Comunidade de Agricultores Foz de Imbassaí (figura 1) tem posição

geográfica aproximada compreendida entre as latitudes 12º 27’ 41” e 12º 26’ 30“Sul

e as longitudes 37º 59’ 03” e 37º 57’ 21” Oeste. Insere-se numa área

institucionalizada como rural, nomeada como localidade Areal, dentro do Distrito Açu

da Torre, porção litorânea do município Mata de São João (IBGE, 2011). Não foram

encontradas em pesquisas, localidades nomeadas Foz de Imbassaí e a população e

alguns documentos institucionais reconhecem a área como Comunidade Foz de

Imbassaí, assim foi reconhecido no trabalho.

Figura 1 – Localização da comunidade Foz de Imbassaí, Mata de São João, BA.

Fonte: DERBA (2007); IBGE (1967), (1970), (2007); SEI (2015).

Elaborado por Gláucia da Silva Almeida (2016).

Como se pode observar na Figura 1, a área tem como referência ao Norte a

proximidade a um dos principais rios da região, o Rio Imbassaí, recurso que oferta

inúmeros benefícios à população, principalmente para o desenvolvimento da

agricultura familiar, o que ressalta a necessidade de preservação e uso consciente

desses e dos demais recursos hídricos.

14

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi desenvolvido na Comunidade de Agricultores Foz de

Imbassaí e consiste em levantamento do perfil dos agricultores em relação às

agriculturas de base ecológica e agroecologia. A pesquisa buscou respostas quanto

à efetividade da base ecológica das agriculturas, bem como suas necessidades para

tal e análise das políticas públicas de incentivo como fator de aumento do número de

adeptos à atividade.

O trabalho teve início em abril de 2015, período em que se iniciaram as

pesquisas bibliográficas em bibliotecas físicas e virtuais, tendo como base para o

referencial teórico sobre agriculturas sustentáveis e agroecologia, bem como as

principais técnicas agrícolas tradicionais, as leituras de autores como Altieri (2004,

2010, 2012), Caporal (2005), Caporal e Costabeber (2004), Capra (2006), Costa

(1985, 1993), Gliessman (2002), Gonçalves (1991), Holgren (2003), Indrio (1980),

Meirelles (1998, 2001), Mutuando (2005), e Reijntjes, Haverkort e Waters-Bayer

(1999) e a Lei nº. 10.831/2003 (BRASIL, 2003) que dispõe sobre a agricultura

orgânica e embasaram a estruturação e elaboração deste capítulo.

Embasaram as pesquisas sobre políticas públicas autores como Amaral

(2008), Teixeira (2002), Grisa (2012), Junqueira e Lima (2008), resoluções, leis e

decretos relacionados à agricultura familiar. Resolução nº 2191/1995 que institui o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF); Decreto nº

7.775/2012 o qual regulamenta o artigo 19 da Lei nº 10.696/2003, que institui o

Programa de Aquisição de Alimentos.

A identificação espacial da área de estudo foi auxiliada pelas imagens

Ortofotos do banco de dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais

da Bahia (SEI, 2010), permitindo um melhor planejamento do campo e a delimitação

da área de estudo. A delimitação foi feita a partir de entrevista informal por meio da

qual se buscou conhecimento do processo de ocupação inicial e tamanho e limites

da área estudada durante trabalho em campo com o auxílio de Sistema de

Posicionamento Global (GPS - Global Positioning System) para registro.

As entrevistas informais foram gravadas e ocorreram em dezembro de 2015.

Primeiro, procurou-se as lideranças, e os moradores mais antigos uma vez que

estes podem oferecer um conhecimento histórico mais aprofundado por ser maior a

possibilidade de ter presenciado desde o início a formação e ocupação da área.

15

Posteriormente, as estas entrevistas foram ouvidas e, a partir delas, descritos os

pontos mais relevantes.

Após a análise das entrevistas informais, preparou-se questionário em papel

para aplicação das entrevistas estruturadas durante trabalho em campo de

dezembro/2015 a fevereiro/2016. A análise das entrevistas informais forneceu uma

visão geral das principais atividades desenvolvidas na área de estudo, contribuindo

assim para elaboração dos questionários para aplicação das entrevistas

semiestruturadas.

Alguns conhecimentos descritos no referencial teórico também foram

importantes na construção dos questionários que seguiram os eixos relacionados à

autodenominação do agricultor, à importância dada à atividade e motivação para tal;

o tipo de atividade a partir do tipo de cultivo e insumos utilizados; às práticas

adotadas; destino da produção; principais problemas enfrentados, bem como a

representação da associação e participação em benefícios de políticas públicas.

Inicialmente, se previu entrevistar todos os integrantes da comunidade, sendo

efetivadas apenas sessenta e oito (68). Em março (2016), efetuou-se a compilação

dos dados e discussão dos resultados.

Este número reflete uma quantidade significativa de 20 pessoas não

entrevistadas por não comparecer em seu terreno no período de aplicação das

entrevistas, são os indivíduos que não desenvolvem agricultura, também conhecidos

como veranistas. Diante da complexidade presente na entrevista semiestruturada,

convém esclarecer aqui algumas questões. Quanto ao tipo de produto cultivado,

considerou-se por raízes aipim, mandioca e batatas; cultura anual foram os cultivos

que comumente se plantam todo outono, como milho, feijão e amendoim. Por

plantas nativas foram consideradas a mangabeira (também frutífera), barbatimão,

palmeira piaçava e sucupira. Esta última é também reconhecida como madeira de

lei, assim como maçaranduba, ipê, biriba e aroeira. As plantas utilizadas como ervas

para fins medicinais: barbatimão nativo, boldo, capim santo, cidreira, orelha de

sereia, pulga do campo, vick natural, benzetacil, hortelã, arroizinho, amora, noni, e

trançagem.

Após a análise das entrevistas cada indivíduo entrevistado foi enquadrado ao

tipo de agricultura definido no referencial teórico. Portanto, os veranistas foram

assim considerados porque ocupam a comunidade com objetivo de veranear, não

16

demonstram compromisso com agricultura ou possuem pouca produção, não moram

no local e também eles mesmos não se consideram agricultores.

A denominação agricultores convencionais refere-se, neste trabalho, aos que

fazem uso de agrotóxicos na plantação, ainda que tenham alta diversidade de cultivo

e desenvolvam práticas ecológicas; são chamados agricultores orgânicos parciais

àqueles que não atendem a todos os princípios orgânicos, são aqueles cuja

produção é limpa, livre de insumos sintéticos e químicos, mas tem altos custos com

adubos, comercializam sua produção apenas a atravessadores, não demonstram

preocupação com o meio ambiente e mantém o solo sempre descoberto; já o

agricultor orgânico caminha em sentido contrário dos parciais, a semelhança está

apenas na produção limpa, este se enquadra nos parâmetros estabelecidos na lei de

orgânicos.

Os agricultores considerados agroecológicos têm como base os princípios

estabelecidos por Altieri (2012), Caporal (2004; et al., 2006), Caporal e Costabeber

(2004; 2004a) e Gliessman (2002 e [n.d.]) – economicamente viável, socialmente

justa e ambientalmente sustentável. Além disso, para sua classificação, foram

considerados os fatores motivacionais como preocupação com o meio ambiente e

resgate de raízes, o manejo – através do uso regular das práticas tradicionais

ecológicas, excluindo a capina frequente de enxada, mas considerada a de

roçadeira, a diversidade biológica e principalmente a preservação da mata ciliar,

reserva legal ou agrofloresta.

Em processo de transição agroecológica estão aqueles agricultores que ainda

não moram na comunidade e não possuem agrofloresta mas produzem alimentos

especialmente para consumo, conservam plantas nativas ou madeira de lei. Os que

comercializam diretamente ao consumidor, os que compram adubos orgânicos

externos e também os que terceirizam mão de obra na propriedade, estas são as

limitações que os impedem de serem agroecológicos, principalmente este último

porque não se sabe até que ponto há efetividade da justiça social.

17

3. AGRICULTURAS SUSTENTÁVEIS ALTERNATIVAS AO MODELO DE

AGRICULTURA MODERNA

A crescente adesão às agriculturas sustentáveis em todo o mundo é fruto do

combate às formas de agricultura moderna que geram grandes impactos negativos

na saúde animal e no meio ambiente. Sustentáveis ou alternativas, como também

são conhecidas, possuem princípios e valores próprios e comportam uma filosofia de

preservação ambiental, justiça social e produção alimentar.

Entre seus objetivos principais, estão a baixa ou nula pressão sobre os

recursos naturais não renováveis – ter a agricultura como fonte de energia; busca

ser ambientalmente sadia; energeticamente positiva; economicamente viável;

socialmente justa; culturalmente apropriada e, além disso, deve favorecer o

protagonismo do agricultor na organização de seu processo produtivo – autonomia e

independência (MEIRELLES, 2001; MEIRELLES, 1998).

Como seus princípios combatem diretamente a agricultura moderna, é de

todo conveniente apresentar esta agricultura e posteriormente como se

desenvolveram as agriculturas alternativas a esta. A agricultura moderna surgiu a

partir do século XIX com as teorias “agroquímicas”, responsáveis pela união dos

setores da agricultura e da indústria (DE MARCOS, 2007). Desenvolveu, ao mesmo

tempo, um mercado de fertilizantes, herbicidas e defensivos químicos, que se

expandiu rapidamente e substituiu as técnicas agrícolas conhecidas dos pequenos

agricultores nativos (como a simples rotação de culturas para a refertilização do

solo, entres outras) por uma exploração cada vez mais intensiva da terra (DE

MARCOS, 2007).

As mesmas culturas passaram a ser cultivadas sempre no mesmo lugar,

sendo cada vez menor a diversidade de espécies e maior o uso de corretivos e

fertilizantes químicos, visando o aumento da capacidade produtiva do solo (DE

MARCOS, 2007). Estas são algumas das práticas do pacote tecnológico, chamado

Revolução Verde, que garantia findar a fome no mundo após a Segunda Guerra

Mundial.

Incentivada por forças governamentais e influenciada por renomadas

instituições financeiras – como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), a United States Agency for Internacional Development

(Usaid) e a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) – além da

18

ampla divulgação e uso, a Revolução Verde baseou-se num modelo capitalista com

fortes impactos econômicos, sociais, ambientais e políticos (DE MARCOS, 2007).

A Revolução Verde promoveu a industrialização da agricultura, um sistema

agrícola e alimentar baseado na alta produtividade e empresas assumindo o

processamento, transformação e distribuição dos alimentos. Com isso, surgem

novos alimentos embalados e processados para atrair a população, o que culminou

na mudança de práticas e costumes do consumo alimentar das famílias

(GONÇALVES, 2009).

O padrão “Agrobiotecnológico”, com mesma base técnica da Revolução

Verde, avança em tecnologia, genética e química fina aplicadas aos novos produtos

agrícolas no século XXI (GONÇALVES, 2009). Este padrão está articulado às

“trading companies”, um mega-conglomerado que une os setores agrícola,

financeiro, industrial, fármaco, biotecnológico e químico para dominar os principais

segmentos da agricultura globalizada (GONÇALVES, 2009).

Este sistema, baseado no agronegócio de forma insustentável, alimenta a

exclusão social, a poluição do conjunto ar-solo-água-animais-pessoas, a pobreza

rural e ainda promove a concentração de renda e da terra sob o poder de poucos

(GONÇALVES, 2009). A disseminação de híbridos e sementes melhoradas, que

culminou no aumento do uso de agrotóxicos e gerou problemas ambientais e para a

saúde, são potencialmente utilizados para gerar e acumular riqueza aos investidores

(ALTIERI, 2012).

Tem-se como resultado o desaparecimento de culturas locais, uma vez que

algumas variedades de sementes crioulas fazem parte de cerimônias religiosas ou

comunitárias, mas devido ao monocultivo, surgiram novas sementes e a

biodiversidade em grandes áreas foi substancialmente reduzida, aumentando a

susceptibilidade a pragas e doenças e o risco de perda da produção (ALTIERI,

2012).

Os monocultivos extremamente tecnificados nos quais máquinas tomam lugar

dos trabalhadores, a transformação de grão em combustível “limpo”, atualmente

divulgado como um produto “ecologicamente correto”, jamais podem ser assim

considerados, uma vez que, o cultivo da matéria-prima está totalmente inserido nos

princípios capitalistas da “Revolução Verde” (DE MARCOS, 2007).

Segundo Caporal e Costabeber (2004b), a ampliação da fronteira agrícola, o

aumento anual do número de colheitas no mesmo lugar e a intensificação da

19

produção com intenção de desviar a atenção dos fatores sociais e políticos da fome

e da miséria, não garantiram a alimentação necessária aos mais pobres do mundo,

sobretudo porque há deficiências e desinteresses na distribuição equitativa dos

alimentos – única forma de alcançar este objetivo.

A redução da biodiversidade impacta diretamente na segurança alimentar da

população e quando aliada à diversificação de sementes melhoradas e simplificação

dos cultivos tradicionais, aumentam significativamente as preocupações nutricionais,

pois a diversidade da dieta alimentar é diretamente prejudicada (ALTIERI, 2012). O

aumento da produção de grãos ligado à expansão dos transgênicos e redução da

renda do camponês ocorre devido ao barateamento desses produtos no mercado

internacional e a dependência dele às grandes corporações multinacionais

(ALTIERI, 2012).

Assim, se instalou uma crise diante da intensidade de produção,

transformação e consumo desses alimentos e culminou em preocupação ambiental,

social e econômica, pois não acabou com a fome mundial (GONÇALVES, 2009).

Muitos que sofrem deste mal hoje habitam o meio rural, são agricultores não

beneficiados pelo programa de desenvolvimento técnico científico por não poder

arcar com os custos de obtenção da tecnologia e insumos (GONÇALVES, 2009).

É justamente em torno desta crise de impactos do Agronegócio que surge a

necessidade de reestruturação das práticas agrícolas e a emergência de sistemas

de produção estável e eficiente de alimentos, que permita segurança e soberania

alimentar e ainda promova o uso de práticas tradicionais de manejo desenvolvidas

pelas comunidades com preservação da cultura local (DE MARCOS, 2007) e menos

dependência de insumos externos.

Para Gonçalves (2009), o desafio é buscar formas de manejo dos recursos

naturais e da produção voltados para a expansão da participação de agricultores

mais pobres, considerando sua possibilidade de desenvolvimento. “É retomar à

agricultura tradicional de muitos séculos, utilizada pelas comunidades indígenas e

camponesas, reascender conhecimentos e práticas agrícolas que se contrapõem ao

padrão de agricultura puramente técnico e que imperativamente foram esquecidas

por muitos” (Grifos nossos).

É neste contexto que surge um movimento mundial de renovação e de

posição contrária ao modelo de agricultura proposto pela “Revolução Verde”. Este

movimento luta por um processo de transição que promova a ecologização da

20

agricultura e para isso há participação das iniciativas agrícolas, nomeadas como

“Agriculturas Alternativas”, “Agriculturas Sustentáveis” ou “Agriculturas de Base

Ecológica” (CAPORAL e COSTABEBER, 2004b). Todas constituem conhecimentos

técnicos, científicos, tradicionais, filosóficos e até religiosos para alcançarem

padrões agrícolas produtivos e sustentáveis.

O conceito de agricultura sustentável é um contraponto aos fortes impactos

sociais e ambientais: à degradação dos solos, retirada de vegetação, contaminação

da água, do alimento e do agricultor; à insegurança alimentar, à redução da

biodiversidade geral e funcional; à concentração de renda, migração, exclusão

social; à pobreza; e à crise de empregos (ASSAD & ALMEIDA, 2004). Para Altieri

(1989), elas têm como características comuns a promoção da reciclagem de

nutrientes e de matéria orgânica otimizada, fluxos e sistemas energéticos fechados,

uso múltiplo da terra e equilíbrio de populações de pragas.

A expressão se refere à agricultura de rendimentos duráveis, em longo prazo,

que, para isso, utiliza-se de técnicas de manejo adequadas ecologicamente e

possua um sistema “otimizado”. O uso racional dos recursos naturais, a minimização

de impactos negativos ao meio ambiente, a redução do uso de insumos externos e

ainda o atendimento às necessidades humanas de alimentação e renda, bem como

as demandas sociais das comunidades rurais (LOPES e LOPES, 2011).

Agricultura sustentável ou alternativa é um conceito capaz de estabelecer a

distância entre a agricultura sustentável e um modelo que produz fortes impactos

ambientais e sociais, no entanto não se pode considerá-las um movimento social

nem um paradigma emergente (ASSAD e ALMEIDA, 2004). Estes autores

reconhecem essas agriculturas pela capacidade de unir forças que vise uma

mudança do padrão tecnológico extremamente impactante e desagregador da

agricultura moderna.

No entanto, no debate social da atualidade, elas apresentam certa

ambiguidade. De um lado, elas funcionam como uma técnica produtiva baseada em

um conjunto de regras para atender às estratégicas de mercado expressas pela

FAO e pela AGENDA 21. Do outro lado, há quem considere uma possibilidade de

superação do atual sistema agrícola dominante defendido por Organizações não

governamentais (ONG) e movimentos sociais, neste caso, avançando muito além da

simples produção agrícola (CAPORAL e COSTABEBER, 2004b). Em suma, um lado

busca maquiar ecologicamente a agricultura moderna da Revolução Verde e o outro

21

lado objetiva, de fato, a difusão e implementação dos princípios de uma agricultura

tradicional mais sustentável (ASSAD & ALMEIDA, 2004).

Assim, estes mesmos autores concluíram que a criação de um padrão de

tecnologias sustentáveis não é suficiente para uma ação social organizada contra a

hegemonia do modo de desenvolvimento agrícola atual capaz de promover essa

transformação (DA SILVA, 1995). Por isso não pode ser considerada um movimento

social porque não se deve privilegiar a grandeza tecnológica em uma questão que é

fundamentalmente de ordem política (no caso de movimento social) (DA SILVA,

1995).

Da Silva (1995) ainda recomenda que primeiro deve-se definir o tipo de

desenvolvimento econômico desejado, para depois aplicar as tecnologias

adequadas. Assad e Almeida concordam e definem a agricultura sustentável como

“[...] A expressão de iniciativas de grupos ou agentes sociais mais ou menos

isolados, ainda pouco orgânicos, com resultados técnicos e sociais em

diferentes amplitudes, agentes estes que poderão vir a integrar um

movimento social, mas que, atualmente, não constituem e não representam

um movimento social” (Assad e Almeida, 2004: 11).

Com o advento destas agriculturas sustentáveis, o termo sustentabilidade

passou a ser de uso corrente mesmo por aqueles que lidam com o desenvolvimento

não sustentável, controvertendo e difundido um conceito baseado em interpretações

e definições conflitantes (Reijntjes et al., 1999). Agricultura sustentável é aquela

capaz de garantir a permanência de sua produtividade e, ao mesmo tempo, manter

a base de recursos naturais, satisfazendo as necessidades humanas, melhorando

e/ou mantendo a qualidade do meio ambiente (Reijntjes et al., 1999).

Para ser sustentável deve garantir a estabilidade dos recursos naturais e do

ambiente geral para preservar as interações ocorridas entre os componentes do

ecossistema; a estabilidade financeira e rendimento em longo prazo; além da

valorização social, indicando que o manejo e a organização do sistema devem ser

compatíveis aos valores culturais e éticos dos grupos envolvidos e da sociedade

como um todo (LOPES E LOPES, 2011). Depois de todos estes parâmetros

estabelecidos, aplicam-se as tecnologias adequadas a cada situação distinta.

A partir de 1920, ano marcado pela emergência da industrialização da

agricultura, desenvolveram-se diferentes expressões de “agriculturas alternativas”

22

com a atenção de seus praticantes voltada a conhecer a viabilidade técnica,

econômica, social e ecológica de cada uma (Gonçalves, 2009). São elas:

“Agricultura Orgânica”, “Agricultura Biodinâmica”, “Agricultura Natural”, “Agricultura

Ecológica”, “Agricultura Biológica” e “Permacultura” e a Agroecologia, (Gonçalves,

2009).

Para Caporal e Costabeber (2004), estas denominações resultam em uso de

técnicas diferenciadas do pacote convencional moderno e ressalta que suas regras

impõem limites ao uso de alguns insumos, no entanto, libera o uso de outros.

Notificam também que algumas agriculturas ditas “alternativas” estão subordinadas

a certificações internacionais, outras utilizam insumos orgânicos importados, neste

caso, o objetivo maior é o aumento de lucros, uma vez que, há um nicho de mercado

no qual os produtos de origem orgânica são supervalorizados (CAPORAL &

COSTABEBER, 2004a).

Assim, há três caminhos de possibilidades de consolidação das agriculturas

sustentáveis no contexto sociopolítico brasileiro: a marginalização delas quase de

forma institucionalizada; a “ecologização” da agricultura moderna ou a efetivação

como uma verdadeira alternativa técnico-científica global (ASSAD e ALMEIDA,

2004).

A agricultura biológica não foi tratada neste referencial teórico porque alguns

autores a tratam como a mesma agricultura orgânica, diferenciada apenas por ser

tratada com termo biológico na Europa, enquanto no Brasil é chamada de orgânica.

Em alguns países, inclusive no Brasil, é conhecida como “agricultura orgânica”, mas

há divergência de autores sobre o assunto (FUNDAÇÃO BIOLÓGICA, [n.d.]).

3.1. AGRICULTURA ORGÂNICA

O artigo primeiro da lei federal nº. 10.831 de 23 de Dezembro de 2003

(BRASIL, 2003) define a agricultura orgânica como toda atividade que otimize o uso

dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e que respeite à cultura das

comunidades rurais, pois seu objetivo é alcançar a sustentabilidade econômica e

ecológica e aumentar os benefícios sociais e a proteção ao meio ambiente. Faz

parte também quando necessário aplicar métodos culturais, biológicos e mecânicos

em substituição ao uso de materiais sintéticos, eliminar os organismos

23

geneticamente modificados e radiações ionizantes e minimizar a dependência de

energia não-renovável (BRASIL, 2003).

Ainda segundo a lei, todas estas recomendações devem ser consideradas em

todas as fases do processo de produção, processamento, armazenamento,

distribuição e comercialização (BRASIL, 2003). Para Meirelles (2001) são inúmeras

tentativas de conceituação da agricultura orgânica, mas o movimento defende uma

agricultura ambientalmente sadia, energeticamente positiva, economicamente viável,

socialmente justa, culturalmente apropriada e capaz de favorecer o protagonismo do

agricultor.

Fonseca et al. (2009) apresenta como princípios da agricultura orgânica um

conjunto de procedimentos que envolvem a planta, o solo, o ser humano e as

condições climáticas. São princípios da saúde, ecologia, equidade e precaução

deste conjunto envolvido. O primeiro propõe a sustentação e aumento da saúde das

comunidades por meio do manejo do solo, geração, distribuição e consumo de

alimentos sem quaisquer substâncias químicas e tóxicas que possam provocar

efeitos adversos a eles (FONSECA et al. 2009).

A produção deve basear-se nos princípios da ecologia ajustando-se ao

equilíbrio dos ciclos e balanços ecológicos da natureza, por meio da adaptação às

condições locais, ecologização da agricultura, produção e manejo da diversidade

genética dos cultivos e da cobertura vegetal, uso racional dos recursos naturais,

proteção e preservação do meio ambiente (FONSECA et al. 2009).

O princípio da equidade visa uma produção orgânica de qualidade e em

quantidade suficiente para diminuir a pobreza e contribuir com a segurança

alimentar, exige um sistema de produção socialmente justo que proporcione

qualidade de vida e justiça a todos os envolvidos. A precaução é indispensável, uma

vez que planejamento e cuidado proporcionam qualidade à produtividade e ao meio

ambiente (FONSECA et al. 2009).

A fertilidade do solo, entendida por Lopes e Lopes (2011) como a

representação da capacidade ou não de manutenção do agroecossistema, é um dos

elementos mais importantes para a produção da agricultura orgânica e, sucede

através da riqueza em nutrientes e da saúde do solo, mecanismo que garante a

manutenção da fertilidade do sistema. A fertilidade é diretamente proporcional à

produção de biomassa do agroecossistema, ou seja, quando a fertilidade é alta, o

24

agroecossistema tem boa capacidade produtiva, pois há sinergia entre os processos

biológicos responsáveis por ela (LOPES e LOPES, 2011).

Além da manutenção da fertilidade natural dos solos, as práticas comuns da

agricultura orgânica são: confecção de composto de matéria orgânica; adubação

exclusivamente orgânica com reciclagem de nutrientes no solo e rotação de cultura

sem utilização de animais na produção, sendo que ocasionalmente eles podem

aparecer como produtores e recicladores de esterco (WOLFF, [n.d.]).

Segundo Meirelles (2001), algumas práticas que não condizem com seus

princípios não atingem aos objetivos propostos pelo movimento. Por exemplo, a

substituição de insumos químicos por orgânicos ou naturais sem um redesenho do

sistema produtivo foge do enfoque do movimento uma vez que a sustentabilidade

ambiental fica comprometida. É de igual importância evidenciar que custos altos com

insumos, mesmo orgânicos ou naturais, torna a agricultura orgânica inviabilizada

(MEIRELLES, 2001).

A agricultura orgânica compõe a prática essencial das demais agriculturas

ecológicas e sustentáveis e, pode compor também uma produção industrial com o

“diferencial” por ser orgânica. Assim, “o conceito de sistemas orgânicos de produção

agropecuária e industrial abrange os denominados ecológicos, biodinâmicos,

natural, regenerativo, biológico e permacultura” (THEODORO, 2002 apud LOPES e

LOPES, 2011). Ou seja, toda agricultura de base ecológica deve, primeiro, atender

aos princípios da agricultura orgânica.

No entanto, o crescimento do consumo de orgânicos tem se tornado um nicho

de mercado, importante como fonte de renda dos agricultores, cujo objetivo maior é

o lucro. Muitos afirmam que o mercado é o grande impulsionador dessa agricultura

porque a realidade mostra o abandono dos princípios éticos, políticos e sociais do

movimento (MEIRELLES, 1998).

Cresce consideravelmente o consumo de alimentos produzidos sem a

aplicação de fertilizantes e defensivos químicos e sem uso de sementes

geneticamente modificadas em seus plantios – a base para uma produção

puramente orgânica. Só no Brasil, o faturamento com orgânicos cresce em média

40% ao ano, fruto do aumento da demanda interna de consumo (SALOMÃO, 2014).

Assim, impulsionada pelo aumento do consumo e interesse do setor, surge a

agricultura orgânica de mercado (MEIRELLES, 2001), movimentada por uma gama

de atores envolvidos, tem o mercado como principal impulsionador dos agricultores.

25

Ou seja, o crescimento do mercado é o argumento usado para convencer os

agricultores a mudar o padrão tecnológico de agricultura (MEIRELLES, 1998;

MEIRELLES, 2001). Visando seu crescimento, os comerciantes de produtos

orgânicos aumentam o preço de 30 a 150% a mais em comparação ao preço de um

produto similar convencional; outro motivo de distanciamento dos consumidores é a

presença dos atravessadores (MEIRELLES, 2001).

Anunciar a eliminação de insumos químicos na produção induziu o

estabelecimento de relações diferenciadas entre o produtor e o mercado

(WHITACKER, 2012). O objetivo é conquistar novos espaços para a reprodução do

modo de produção capitalista estimulado pelo discurso ideológico de

“desenvolvimento sustentável” com a falsa percepção de conscientização ecológica.

Os atores envolvidos nesta agricultura de mercado têm como práxis tornar os

agricultores reféns das “leis de mercado”, às quais se voltam à circulação planetária

de mercadorias; ao uso de insumos orgânicos industrializados e mercado

globalizado; à integração verde; ao mercado como organizador da unidade produtiva

e a burocracia e alto custo da certificação tornando o agricultor cada vez mais

dependente de suas incertezas (MEIRELLES, 1998; MEIRELLES, 2001).

Faz-se também uma crítica ao modelo de certificação de produção orgânica

de base ecológica, sobretudo porque os produtores têm a necessidade de se

rotularem como tal para serem reconhecidos e ter acesso ao livre comercio

(WHITACKER, 2012). Trata-se de uma forma de mercantilização e padronização da

agricultura orgânica através da qual os pequenos produtores não conseguem

sobreviver, enquanto isso a agricultura devastadora e poluidora encontra menos

burocracia ao comercio de seus produtos (WHITACKER, 2012).

A partir da análise desta realidade, vê-se a necessidade de mudança da base

tecnológica da agricultura orgânica. O primeiro passo é vê-la como o principal

instrumento desta mudança, que envolve a realidade econômica, política, social e

ecológica, “pois é um equívoco apostar no mercado como o principal motivador

deste processo” (MEIRELLES, 1998:03), uma vez que transforma a produção

orgânica em uma alternativa de produção voltada exclusivamente ao comercio

capitalista (WHITACKER, 2012).

Para Meirelles (1998), o segundo passo é retomar aos princípios originais da

agricultura orgânica, com baixa ou pouca pressão sobre os recursos naturais, a volta

do agricultor como organizador de seu processo produtivo e total independência

26

deste ao complexo agroindustrial, agricultura como fonte de energia e a redução de

insumos externos.

Deve-se ainda considerar o mercado “diferenciado” como uma possibilidade e

uma forma de facilitar a comercialização direta das mercadorias e não como um fim

em si mesmo a ponto de por em segundo plano as dimensões que deveriam ser

mais efetivas, como as naturais, culturais, sociais e políticas (MEIRELLES, 1998;

WHITACKER, 2012).

3.2. AGRICULTURA BIODINÂMICA

A agricultura biodinâmica criada pelo pai da Antroposofia1, Rudolf Steiner

(1861-1925), é um aperfeiçoamento da agricultura orgânica, pois abrange alguns

princípios comuns. Na Antroposofia, as influências cósmicas são fundamentais no

desenvolvimento das plantas e animais, a crença em forças espirituais e troca de

energia entre plantas, animais e homens também tem bastante força (FAZIO &

VIEIRA, 2014).

A biodinâmica considera o homem como parte do universo e restitui práticas

agrícolas antigas que foram abandonadas pela agricultura convencional. Sua

principal meta está baseada nos aspectos dinâmico e biológico, que consiste na

fertilização dos solos em longo prazo através da atividade biológica capaz de

modificar as condições físicas e químicas (AZEVEDO, 2008).

O aspecto dinâmico é voltado para o uso de preparativos caseiros a partir de

substâncias orgânicas e minerais bastante diluídas, o que configura a base do

método, os chamados preparativos homeopáticos (AZEVEDO, 2008).

Na biodinâmica, a propriedade é transformada em uma espécie de organismo

agrícola integrado, diversificado e autossustentável, onde se efetua o plantio, a

criação animal, e também onde as florestas, os recursos naturais hídricos, os

animais, entre outros, interagem entre si da melhor forma possível (ÁVILA, 2000). O

objetivo é que este organismo constitua, com o tempo, um ciclo fechado de

nutrientes no qual não precisará de insumos externos (ÁVILA, 2000).

1 A antroposofia segue uma doutrina científico-espiritual, segundo a qual a terra em harmonia com o

cosmo permite um equilíbrio mais natural à vida (INDRIO, 1980).

27

Entre suas práticas, está o uso intensivo de processos biológicos, alguns

comuns à agricultura orgânica, como compostagem, adubação verde, rotação e

consórcio de cultivo, agrossilvicultura, cobertura do solo etc. Tem-se como uma das

técnicas mais característica da agricultura biodinâmica, o calendário astronômico de

plantio e semeadura baseado no movimento dos astros sobre a terra e as plantas

(AZEVEDO, 2008).

Com vistas à mínima utilização de insumos externos, o agricultor biodinâmico

aperfeiçoa o uso dos recursos locais disponíveis de forma que o plantio e a

pastagem forneçam alimentos aos animais à medida que estes fornecem tanto os

alimentos ao homem – carne, ovo e leite – como materiais fisiológicos com grande

potencial de aumentar a fertilização do solo (ÁVILA, 2000). Unindo os excrementos

animais, tanto líquidos como sólidos, aos restos vegetais disponíveis, tem-se a

compostagem, fertilizante orgânico utilizado no solo.

Além do adubo orgânico, o agricultor aproveita os componentes do ar, da

chuva e do sol (ÁVILA, 2000). O ar contém nitrogênio, oxigênio e gás carbônico e

através da adubação verde com leguminosas, suas bactérias se responsabilizam

pela fixação de nitrogênio. A chuva em um solo bem estruturado, além da umidade,

oferece nitrogênio, oxigênio e outras substâncias; luz e calor, bem como as

radiações provenientes do sol, são essenciais para o processo de fotossíntese

(ÁVILA, 2000).

O respeito aos ciclos naturais é de extrema importância neste conceito, sendo

permitido acelerar alguns processos, no entanto, não sendo recomendados (ÁVILA,

2000). A proliferação excessiva de algum predador é combatida com preparados

biodinâmicos que possuem baixa toxicidade e a inserção de plantas inseticidas

naturais no plantio são outras práticas habituais. Logo, no trabalho biodinâmico,

insetos, plantas e solos estão intimamente interligados e quando equilibrado

dificilmente apresentará deficiências (FAZIO e VIEIRA, 2014).

Para agricultura biodinâmica, os preparados biodinâmicos são o cerne do

todo o sistema, eles “[...] apoiam a planta na tarefa de ser receptora, acumuladora e

transmissora do intercambio da Terra com o Cosmo” (FAZIO e VIEIRA, 2014, p. 12).

Tem efeito dinâmico e homeopático capazes de ativar a força do solo e da planta e

com sua energia vital eles mantêm o número de nutrientes no solo por um longo

período de tempo (ÁVILA, 2000). Os preparados também são chamados de

28

compostos ou ervas medicinais ou biofertilizantes e devem ser usados de forma

moderada.

Indrio (1980) também estudou a agricultura biodinâmica e concorda que

devem ser respeitadas as crenças e formas de uso dos preparados. Por outro lado,

afirma que a rigidez “ideológica”, com este caráter espiritual e uso de matérias

específicas não disponíveis em todos os locais, limita o uso da corrente,

centralizando sua produção na mão de poucos. Ou ainda, os rituais serão logo

esquecidos e os preparados biodinâmicos se transformarão em fórmulas específicas

com eficácia duvidosa na visão dos biodinâmicos (INDRIO, 1980).

Ávila (2000) também destaca a importância da sinergia na unidade produtiva.

Os seres vivos, em especial os humanos, devem cultivar relações de cooperação,

harmonia, tranquilidade, confiança, alegria e amizade. Para Fazio e Vieira (2014), o

ser humano tem ação terapêutica na recuperação, incremento e vitalidade da saúde

do solo, das plantas e dos animais essenciais na produção de alimentos saudáveis

aliada à qualidade ambiental.

3.3 PERMACULTURA

Permacultura é uma das agriculturas sustentáveis que vai além das simples

práticas agrícolas ecológicas e orgânicas. Nela são instituídos costumes e hábitos

conscientes, harmonia entre as pessoas e a natureza, geração de energia solar e a

bioconstrução. Criada em 1974 por Bill Mollison e David Holmgren, na Austrália

(INSTITUTO DE PERMACULTURA DA BAHIA, 2015), o termo deriva da união de

“agricultura” e “permanente”, sendo uma agricultura permanente e alternativa ao

modelo convencional (SHEPARD, 2011).

David Holmgren (2013) afirma ser desnecessário definir o que vem a ser a

Permacultura para não controlá-la, uma vez que ele reconhece “[...] perigos nas

tentativas de se desenvolver uma teoria de tudo e em ser um pau para toda obra,

mas especialista em nada” (HOLMGREN, 2013: 30).

Contudo, este autor vê a definição como a melhor forma de apresentação do

tema, então apresenta paisagens planejadas de caráter consciente imitando as

relações e padrões da natureza e produzindo alimentos, fibras e energia para suprir

as necessidades locais como sendo a permacultura. Mas como as pessoas e suas

29

construções, além das suas diversas formas de organização, são essenciais no

contexto permacultural, a sua concepção de “agricultura permanente” (sustentável)

evoluiu para a de uma “cultura permanente” (sustentável) aplicável em vários

lugares e âmbitos da vida (HOLMGREN, 2013).

Incontente com a apresentação anterior criada em conjunto com Mollison,

David Holmgren (2013) expõe sua visão de Permacultura: refere-se a um conjunto

de valores e visões (ideias, habilidades e modos de vida), sistemas de manejo e

princípios de “designs” e “redesigners” para um sistema integrado de evolução de

animais e plantas a partir de uma compreensão holística em conhecimentos

bioecológicos e psicossociais, capazes de sustentar o bem-estar e a saúde das

gerações presentes e futuras e que permitam a mudança de consumidores

dependentes para produtores responsáveis (HOLMGREN, 2013).

Com isso, Holmgren (2013) explica que a permacultura não pode ser

entendida por si só como uma paisagem, como habilidades de cultivo alternativo,

nem mesmo como edificações eficientes energeticamente ou o desenvolvimento de

ecovilas. Ela é usada para planejar, estabelecer, manejar e aperfeiçoar estes e

outros esforços e princípios executados pelo ser humano para um futuro sustentável

(HOLMGREN, 2013). Diz respeito às relações humanas com os sistemas de manejo

de recursos naturais e seus designs.

Não só David Holmgren, como Marsha Hansi, sóciofundadora do Instituto de

Permacultura do Brasil como também os demais precursores da temática evitam

apresentar uma definição precisa da Permacultura, mas enfatizam sobre seus

fundamentos e princípios (SHEPARD, 2011).

O Instituto de Permacultura da Bahia (2015) explica que o princípio é o

porquê de fazer; a estratégia é saber onde e quando fazer e as técnicas são os

materiais usados para fazer. Assim, David Holmgren (2007) apresenta seus

princípios acompanhados de provérbios que explicam o porquê de fazer e os divide

em éticos e de designers.

Os primeiros são princípios gerais, básicos e inquestionáveis: cuidado com o

planeta terra – cuidar e preservar os recursos naturais e o lugar onde se habita;

cuidado com as pessoas – cuidar para proporcionar qualidade de vida e garantir a

sobrevivência do ser humano a partir de sistemas bem planejados com o mínimo de

consumo dos recursos não renováveis; a distribuição dos excedentes – os

excedentes gerados por um sistema bem planejado devem criar e incentivar meios

30

de distribuição para garantir o acesso de todos os necessitados aos recursos de

forma igualitária (HOLMGREN, 2007; INSTITUTO DE PERMACULTURA DA BAHIA,

2015).

Os princípios de designers da Permacultura tem base na ciência ecológica,

em especial, a ecologia dos sistemas. Holmgren (2007) apresenta os princípios de

forma divergente dos comumente utilizados pela maioria dos professores de

permacultura quando enfatiza que o permacultor deve observar a natureza e

interagir com ela, uma vez que repetir seus processos rende-lhe uma série de

benefícios como a captação da energia e armazenamento de excedente, isso

diminui sua dependência à tecnologia e às energias não-renováveis e garante

rendimento na produção e lucro já que há uma extrema economia e possibilidade de

reinvestimento da riqueza oferecida pela natureza a fim de gerar o capital natural

(HOLMGREN, 2007).

Um dos seus princípios destaca a importância do uso consciente dos serviços

renováveis executados pelas plantas, animais, solo e água, enfatiza que se deve

usá-los e preservá-los, sem, no entanto, consumi-los. Por exemplo, os dejetos

humanos são fonte renovável de fertilidade dos solos porque os microorganismos do

solo prestam o serviço ecológico de decompor todo material e transformá-lo em

húmus. Logo, se percebe a necessidade de não produzir desperdícios, pois, na

permacultura, desperdícios são vistos como recursos e oportunidades. Exemplo

mais comum a minhoca, que transforma resíduos vegetais em húmus, isso melhora

o solo para ela e para os demais microorganismos da terra e também para as

plantas (HOLMGREN, 2007).

Com vistas ao equilíbrio dinâmico na natureza é imprescindível a interelação

entre comunidades de plantas, animais e pessoas. A elaboração de designers de

sistemas de permacultura não pode ser pensada em seus componentes de forma

isolada, mas em cada um destes como participante de um todo, entendido a partir

do cooperativismo, afinal, “Muitos braços tornam o fardo mais leve” (Holmgren,

2007). Com o mesmo objetivo, Holmgren (2007), afirma: “Devagar e sempre

ganha-se a corrida”. Com isso, fica claro que a escala e a capacidade humana

funcionam como unidade de medida para um manejo sustentável, uma vez que

funções designadas em menor escala de forma eficiente e prática são mais eficazes

do que se aplicadas num sistema de larga escala.

31

Valorizar a diversidade dos sistemas de cultivo, das estruturas, das formas,

das funções e das interações da natureza, e do homem como parte dela, bem como

sua complexidade e dinâmica permitem sim alcançar o equilíbrio. Na permacultura,

se atribui valor aos elementos que contribuem apenas de maneira periférica no

sistema. As bordas e aspectos marginais, muitas vezes invisíveis, devem ser

reconhecidos e preservados uma vez que auxiliam no aumento da estabilidade e

produtividade do sistema.

Perceber o futuro, também como princípio, possui duas vertentes, na primeira,

realiza-se um design considerando as mudanças de forma deliberada e cooperativa

respondendo de forma criativa. Na segunda, o design é adaptado às mudanças de

larga escala do sistema que foge do controle e influência. Diante de ambas as

vertentes, percebe-se a importância de se compreender que as mudanças sociais e

organizacionais podem acontecer de forma criativa e num sistema particular e que

as mudanças rápidas de pequena escala e a duração dos seus elementos contribue

para a estabilidade elevada. (HOLMGREN, 2007).

Um permacultor deve aceitar autoregulação e feed back do design, sobretudo

porque, por meio da primeira, o crescimento ou comportamento inadequado no

sistema pode ser limitado ou inibido. Feed back é a resposta de determinado

acontecimento que pode ser negativo ou positivo, muito importante por ser capaz de

evitar a redução do sistema à instabilidade devido o uso de energia em excesso ou o

seu mau uso (negativo), já o positivo impulsiona cada vez mais o sistema ao balanço

equilibrado de energia (HOLMGREN, 2007).

32

4. AGROECOLOGIA

Sabendo como surgiu a agricultura moderna e conhecendo seus principais

valores e processos, pode-se inferir que o êxito na produção de alimentos

decorrente de inovações tecnológicas, avanços científicos como a transgenia, uso

de fertilizantes e inseticidas, degradação do solo, da água e da diversidade genética,

a dependência dos recursos não-renováveis e a produção capitalista em larga

escala, evidenciou o surgimento da necessidade de movimentos que lutasse por

mudanças no modo de cultivo.

Na busca por agriculturas sustentáveis/alternativas, socioambientalmente

mais adequadas, as encontradas, no entanto, não conseguiram contrapor os

problemas socioambientais acumulados decorrentes principalmente da aplicação do

modelo convencional predominante após a II Guerra Mundial (CAPORAL &

COSTABEBER, 2004a), pois a agricultura portadora de algumas soluções para

alguns problemas na área e que provoca efeitos colaterais no sistema também não

é, de todo, uma solução eficiente.

Berry (2006), por exemplo, trata de algumas soluções ruins para a agricultura

que deve ser entendida como um sistema complexo dentro do qual os elementos

principais como solo, plantas, animais e pessoas possam interagir-se mutuamente.

Sendo assim, mesmo com o crescimento das agriculturas alternativas a partir de

1920, acadêmicos, movimentos sociais e ambientalistas pensaram, a partir do termo

agroecossistema, continuar a busca por algo de maior consistência conceitual e

metodológica que superasse eficientemente todos os problemas ambientais citados

na produção de alimentos. Uma luta baseada em um discurso político, ecológico,

econômico e social, depois de diversas tentativas humanas de diminuir os impactos

negativos ao meio ambiente por meio da agricultura (CAPORAL & COSTABEBER,

2004a).

A agroecologia, iniciada na década de 80 (CAPORAL, 2005) busca preencher

esta lacuna que as agriculturas “sustentáveis” deixaram a desejar. Sua tentativa

inicial foi integrar a Agronomia à Ecologia e reconhecer a importância do saber

popular das comunidades tradicionais sobre manejo dos recursos naturais nas

produções agrícolas ou extrativas (CAPORAL, 2005).

33

A perspectiva da agroecologia vai muito além da simples substituição de

técnicas alternativas à agricultura moderna e bem mais adiante do baixo uso de

agroquímicos e energia externa e tem como princípios básicos:

A reciclagem de nutrientes e energia; a substituição de insumos externos; a melhoria da matéria orgânica e da atividade biológica do solo; a diversificação das espécies de plantas e dos recursos genéticos dos agroecossistemas no tempo e no espaço; a integração de culturas com a pecuária; a otimização das interações e da produtividade do sistema agrícola como um todo, ao invés de rendimentos isolados obtidos com uma única espécie (ALTIERI, 2012: 16).

Enfatiza a complexidade dos agroecossistemas nos quais ocorrem sinergias e

interações ecológicas entre seus elementos biológicos, que funcionam como

mecanismo para que o próprio sistema garanta subsídio que elevem a fertilidade do

solo, a produtividade e a saúde dos cultivos (ALTIERI, 2012).

É uma ciência fundamentada também num conjunto de conhecimentos e

técnicas desenvolvido pelos agricultores e a partir de seus processos de

experimentação, avaliação e expansão do poder da inovação por meio da pesquisa

(ALTIERI, 2012).

Caporal e Costabeber (2004) alertam para o cuidado de não tratar a

agroecologia baseada no senso comum da ecologização que a confunde a todas as

agriculturas com uma base ecológica, menos agressiva ao meio ambiente e

desprovida de fertilizantes e defensivos químicos. Tais interpretações tidas como

agroecológicas, no achismo, afetam de fato a agroecologia como ciência que cria

bases sustentáveis de desenvolvimento rural e de agricultura mesmo porque esses

equívocos apresentam duas perspectivas de abordagem da terminologia “agricultura

de base ecológica”.

A primeira perspectiva consiste em distinguir agriculturas que utilizam

princípios agroecológicos dos modelos de agriculturas convencionais e dos estilos

de agricultura que vem surgindo com caráter ambientalista e, no entanto, são

alimentadoras da Revolução Verde. A segunda pretende distinguir cada agricultura

de base ecológica, todas baseadas em princípios agroecológicos que, no achismo,

são chamadas de agroecologia (CAPORAL & COSTABEBER, 2004a). O objetivo

aqui é mostrar que agriculturas alternativas que apenas não utilizam agrotóxicos e

possuem um discurso “verde” jamais sejam chamadas de agroecologia. Elas têm

34

uma finalidade maior de se diferenciar da agricultura convencional para atrair um

público específico e obter lucros (CAPORAL & COSTABEBER, 2004a).

No processo de construção da Agroecologia como uma nova ciência foram

incorporados conhecimentos da Sociologia, Antropologia, Física, História, Biologia,

Agronomia, Ecologia, Economia Ecológica e Economia Política e Educação e

Comunicação. A Agroecologia então se firma como um ramo científico estruturado e

plural (GONÇALVES, 2009), um novo paradigma científico que rompe a

individualidade das ciências, uma vez que, integra e articula estes conhecimentos

científicos ao saber popular e permite analisar, compreender e criticar o modelo de

agricultura moderna, bem como elaborar e reproduzir estratégias de

desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis a partir de uma abordagem

holística, inter, multi e transdisciplinar (CAPORAL et al., 2006).

Como ciência do campo da complexidade, a Agroecologia vem

revolucionando paradigmas por ser integradora capaz de articular diversos

conhecimentos de diferentes disciplinas e campos da ciência (conhecimento técnico-

científico) com o conhecimento empírico (saber popular) (CAPORAL et al., 2006).

Segundo Caporal et al., (2006) essa “revolução paradigmática” começa a

transformar os núcleos organizadores da sociedade, civilização, cultura entre outros,

na busca da ecologização da agricultura para o desenvolvimento sustentável e a

reorientação da coevolução sociedade-natureza. Isso é uma ameaça aos adeptos do

paradigma convencional. Gliessman (2002) completa que a Agroecologia luta por

transformações sociais e ecológicas e ainda estuda os processos ecológicos

ocorridos nos agroecossistemas.

Agroecologia é definida como “La aplicación de conceptos y princípios

ecológicos para el diseño y manejo de agroecosistemas sostenibles” (GLIESSMAN,

2002:13). A agroecologia emergiu como uma disciplina distinta e única para o estudo

de agroecossistemas no início dos anos 80 (GLIESSMAN, 2002). Nela, estes são

estudados de forma holística com todos os elementos humanos e ambientais,

incluindo a dinâmica, a forma e as funções do conjunto de elementos cujos

processos relacionam entre si (REIJNTJES et al., 1999).

Para se entender o agroecossistema, é preciso compreender a relação

ambiente natural e ambiente modificado, pois o agroecossistema abrange ambos,

desde comunidade de plantas e animais e seus ambientes físicos e químicos,

naturais e/ou modificados pelo homem para produção de alimentos, combustíveis e

35

demais produtos para seu consumo e também para processamento (REIJNTJES et

al., 1999).

Gliessman (2002) apresenta um conceito de agroecossistema baseado nos

princípios ecológicos e no entendimento dos ecossistemas naturais, este conceito

oferece subsídios que tornam capazes de analisar, em sua totalidade, os sistemas

de produção de alimentos e seu completo conjunto de entradas e saídas e as

interações entre suas partes.

Para Gliessman (et al., [n.d]), ecossistema é um fundamento básico da

agroecologia, pois aplicado à agricultura, é o que permite considerar os sistemas

agrícolas em agroecossistemas. Este fundamento extrapola a atenção ao

rendimento econômico do sistema e permite visualizar completamente as interações

biológicas, físicas, químicas e culturais determinantes para a obtenção dos

rendimentos (GLIESSMAN et al., [n.d.]), da estabilidade, do equilíbrio e também da

autossustentabilidade.

Como principal objeto de estudo da agroecologia, o agroecossistema é um

organismo complexo, significa “tecido junto”, há um esforço para unir e operar

diferenciações dentro dele (MORIN, 1998 apud CAPORAL et al., 2006:07). Assim,

um agroecossistema, entendido como uma área de produção agrícola, é visto por

Reijntjes et al. (1999) como um sistema complexo pela interação da diversidade de

seres vivos distribuídos e pelo fato de, nela, ocorrerem os mesmos processos

ecológicos encontrados nos ecossistemas naturais. São eles: a reciclagem de

nutrientes, as interações predador/presa, a competição e simbiose e ainda as

mudanças relacionadas à sucessão ecológica (REIJNTJES et al., 1999).

Gliessman (2002) também garante que é possível observar processos,

estruturas e outras características de um ecossistema natural em um

agroecossistema. Para ele, a diferença entre ambos pode ser observada através da

manipulação e alteração dos ecossistemas naturais pelo ser humano com o objetivo

de produzir alimentos. Esta interferência humana torna o agroecossistema mais

difícil de ser estudado do que o ecossistema natural (GLIESSMAN et al., [n.d.]). O

primeiro, quando diferente do ecossistema natural, tem um pacote de insumos

externos ofertados com ampla dependência do homem e outro pacote de saída

significativa do que deveria alimentar a ciclagem de nutrientes (GLIESSMAN, 2002).

Ainda em termos de estrutura e função, neste tipo de agroecossistema a

produtividade é alta, mas as interações tróficas são simples e lineares, a diversidade

36

genética e de espécies é baixa em relação ao ecossistema; a heterogeneidade do

habitat é simples e não, completa; a permanência temporal é curta devido a certa

instabilidade verificada na dependência do controle humano, sobretudo de insumos,

uma vez que a biodiversidade é reduzida (GLIESSMAN, 2002).

As principais entradas de energia também são ofertadas pelos humanos e a

cada colheita há uma saída considerável de energia e uma perda de biomassa que

compromete a ciclagem de nutrientes e o mecanismo de regulação das populações

de plantas e animais, com isso a estabilidade – capacidade de recuperação ou

resiliência – do agroecossistema torna-se baixa (GLIESSMAN, 2002).

O agroecossistema também pode caminhar junto ao ecossistema natural. O

primeiro pode ser desenhado imitando o segundo (GLIESSMAN, 2002). Assim,

compreendendo as relações e processos ecológicos, entende-se que os

agroecossistemas podem ser manipulados, pois para Gliessman (2002) variam

dependendo do nível de intervenção humana. Com base nas leituras de Gliessman,

percebe-se certa diferença entre os agroecossistemas: há o agroecossistema e o

agroecossistema natural. Este objetiva melhorar a produção e produzir de maneira

mais sustentável na tentativa de reduzir os impactos ambientais e sociais negativos

e a utilização de insumos externos (REIJNTJES et al., 1999).

É nesta tentativa de autoequilíbrio do agroecossistema sustentável com

características de ecossistema natural que a agroecologia propõe a ampliação da

sustentabilidade do sistema através da redução da dependência de insumos não

renováveis, do equilíbrio entre a energia que flui e a que abandona o sistema em

forma de colheita para que o agricultor possa manter a reciclagem de nutrientes

através do êxito na regulação de populações, o que proporciona maior resistência a

enfermidades e infestação de insetos, pois neste agroecossistema é permitida a

existência de inimigos naturais (GLIESSMAN, 2002). Além destes, a diversidade

biológica e a produtividade estão entre os elementos essenciais para se atingir o

equilíbrio dinâmico do sistema.

Agroecologia tem nos seus princípios ecológicos básicos as diretrizes de

como estudar, projetar e manejar agroecossistemas produtivos que

concomitantemente conservem os recursos naturais seja social e economicamente

viável e ao mesmo tempo adaptados culturalmente (ALTIERI, 2012).

A Agroecologia é uma ciência empírica complexa, portanto completa,

sobretudo por abordar princípios e métodos apropriados para desenvolver uma

37

agricultura ambientalmente adequada de um lado e, do outro, ser altamente

produtiva e economicamente viável (GLIESSMAN, 2002). Seus procedimentos são

essenciais para definir se uma prática agrícola, insumo ou formas de manejo são

sustentáveis e determinar a base ecológica para decidir que manejo utilizar e seu

impacto em longo prazo (GLIESSMAN, 2002).

4.1. TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA

A agroecologia, com todo seu enfoque sistêmico objeta também proporcionar

as bases científicas para apoiar o processo de transição do modelo de agricultura

convencional para estilos de agriculturas sustentáveis. A aplicação de princípios e

conceitos da Ecologia numa escala temporal, partindo do conhecimento local e

integrando-o ao conhecimento científico, permite a expansão de novos saberes

socioambientais e do processo de transição agroecológica (CAPORAL, 2004).

Segundo Caporal (2004), o conceito de transição agroecológica é central na

agroecologia. Trata-se de um processo gradual e multilinear de mudança – evolução

contínua e crescente no tempo, sem um momento final determinado – nas formas de

manejo dos agroecossistemas. Na agricultura, sua meta consiste em promover a

passagem de um modelo agroquímico de produção agrícola a estilos de agriculturas

que se apropriam de princípios e tecnologias de base ecológica.

Este processo de mudança depende da intervenção humana, portanto

Caporal (2004) o define como um processo social, mesmo porque a transição

implica na busca de maior racionalização econômico-produtiva de acordo com as

especificidades de cada agroecossistema e mudança nas atitudes e valores dos

atores sociais em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais.

Por isso, o processo de transição agroecológica é também complexo e o

progresso técnico e avanço do conhecimento científico não são dispensados

(CAPORAL, 2004). Já Claudia Schmitt justifica a complexidade do processo por este

envolver pontos críticos de interseção entre diversas visões de mundo, o que implica

em “descontinuidades e assimetrias em termos de valores, conhecimentos,

interesses e poder entre os diferentes agentes envolvidos” (SCHMITT, 2013).

Schmitt (2013) compreende o processo transitório como uma construção

social ou ecossocial que surge por meio das interações estabelecidas entre atores,

38

recursos, atividades e lugares nos processos de desenvolvimento rural. Ela avança

um pouco mais ao utilizar o exercício da transição agroecológica para problematizar

a leitura e investigação dos processos de mudança socioambiental na agricultura.

Caporal (2013) considera fundamental a busca da sustentabilidade como

estratégia do processo de transição não traduzida como apenas a simples

substituição ou diminuição de insumos químicos, mas também como a

implementação geral de mudanças multilineares e graduais nas formas de manejo e

no desenho dos agroecossistemas.

Para Altieri (1989), esta sustentabilidade a qual Caporal se refere remete aos

rendimentos duráveis em longo prazo por meio da aplicação das técnicas de manejo

ecológicas que objetiva otimizar o sistema como um todo e não apenas o

rendimento elevado de poucos produtos específicos.

Para Schmitt (2013), a transição implica também na reapropriação e/ou

fortalecimento da capacidade de gestão sobre os recursos naturais, é também

influenciada por fatores econômicos, sociais, culturais e políticos, portanto um

processo conflitivo e multinível de mudança socioambiental.

Assim, devido a complexidade da mudança, a tarefa não é simples e nem

rápida. Inicialmente, a terra encontra-se sob efeito de contaminação por venenos e

adubos químicos, o solo desequilibrado e os inimigos naturais de plantas e animais

fora de controle, mas é preciso paciência e dedicação na realização das inovações

agroecológicas (MUTUANDO, 2005). Inovações estas entendidas como a aplicação

das práticas tradicionais de agricultura sustentável que objetivem a recuperação do

sistema produtivo de forma ecológica, a conservação das matas, a substituição de

venenos por defensivos naturais e a eliminação de agrotóxicos, controle biológico e

uso de sua própria semente (MUTUANDO, 2005).

39

5. TECNOLOGIA AGRÍCOLA TRADICIONAL

Neste tópico, pretende-se discutir a importância do conhecimento nativo no

desenvolvimento da agricultura tradicional e apresentar as principais técnicas

agrárias utilizadas pelos camponeses tradicionais e comuns às agriculturas

sustentáveis e à Agroecologia. Altieri (2012) sugere como estratégia do

desenvolvimento agrícola sustentável, a base de princípios agroecológicos e a

abordagem participativa para o desenvolvimento e a difusão de tecnologias. Para os

pequenos agricultores, o conhecimento tradicional e a utilização dos recursos locais

ambientalmente sustentáveis são a base do manejo dos recursos naturais

disponíveis (ALTIERI, 2012).

Na produção sustentável, a ciência tem sua importância na garantia de uma

agricultura saudável, segura e ecologicamente correta, contudo, o conhecimento

científico por si só não é suficiente. A empiria também tem o seu valor, o

conhecimento tradicional e a experiência prática são importantes meios de

sobrevivência e possuem resultados práticos dentro do contexto cultural onde ele foi

gerado. Logo, ambos os conhecimentos devem ser respeitados e corelacionados.

5.1. CONHECIMENTO NATIVO

Muito embora, ao se falar em desenvolvimento de técnicas e inovação

tecnológica, pouco se pensa sobre a criatividade dos agricultores, pensa-se apenas

nas atividades de pesquisa de cientistas e extensionistas, os quais são vistos

continuamente como fonte central de pesquisas e agentes de disseminação de

descobertas tecnológicas. Mas Reijntjes et al. (1999) apresenta evidências

empíricas e afirma que a maior parte das tecnologias agrícolas desenvolvidas no

mundo é fruto da integração de conhecimentos e experiências dos agricultores.

Assim, segundo a história (REIJNTJES et al., 1999), a luta das famílias rurais

pela sobrevivência obrigava-as a produzir alimentos para consumo, estoque e

comercialização, mas a continuidade dessa atividade, a complexidade e a

possibilidade de transformação do sistema agrícola, despertara no agricultor, a cada

mudança no sistema, a necessidade de adaptação a essas novas condições.

Adequadas ou não, as constantes tentativas de adequação e inovação são o

40

estopim do desenvolvimento de diversos sistemas agrícolas, cada um adaptado ao

seu ambiente ecológico, econômico, sociocultural e político (REIJNTJES et al.,

1999).

Ainda assim, segundo Richards (1988 apud REIJNTJES, 1999), muito se

considerava que essas práticas tradicionais foram descobertas acidentalmente na

experimentação do agricultor durante o processo evolutivo e reproduzidas de forma

inconsciente geração por geração. Contudo, o mesmo autor apresenta evidências

que negam essa presunção. Altieri (2012) contribui ao afirmar que a força deste

conhecimento tradicional está tanto na observação aguçada, como na aprendizagem

empírica e assegura que boa parte dos agricultores tradicionais tem profundo

conhecimento a respeito das forças ecológicas que o rodeiam.

Atualmente, o conhecimento local ou nativo e adaptado é aceito como

práticas de uso sustentável dos recursos locais e tem despertado interesse

científico, mas há alguns critérios apresentados por Reijntjes et al. (1999) para

entendê-lo. O conhecimento local ou nativo de uma determinada população agrícola

é resultado de suas experiências passadas, sejam elas vividas pela atual geração ou

herdadas de gerações anteriores (REIJNTJES et al., 1999).

No conhecimento tradicional “a informação é extraída do meio ambiente por

meio de sistemas especiais de percepção e cognição que selecionam as

informações mais úteis e adaptáveis” (ALTIERI, 2012: 164). Após este processo, as

adaptações bem sucedidas são divulgadas pelas gerações.

Também é considerado conhecimento nativo quando aquela prática

desenvolvida em outro lugar é incorporada pelos agricultores locais, reconhecida da

mesma forma que as práticas desenvolvidas por eles mesmos (REIJNTJES et al.,

1999). Contudo, Altieri (2012) assegura que de modo geral a agricultura tradicional

se estabelece em lugares específicos em certo habitat e cultura e que nem sempre a

transferência de tecnologia de um lugar para outro pode ser bem sucedida. Deve ser

adaptado às especificidades locais de cada sistema.

Os conhecimentos nativos são sistemas complexos, pois podem ser vistos

como um acúmulo dinâmico da experiência coletiva de muitas gerações e vão muito

além das técnicas e de suas raízes e “[...] nem sempre são facilmente

compreendidos pelas pessoas formadas nos preceitos da ciência ocidental” (Thrupp,

1987 apud Reijntjes et al., 1999: 48). Ele abrange também percepções e intuições

relacionadas ao ambiente a exemplo do ciclo lunar, da astrologia, das condições

41

meteorológicas, geológicas, geográficas e ecológicas. É uma sabedoria popular,

associada a um conjunto de crenças e normas culturais, expressa em mitos e

tradições.

Até mesmo as formas tradicionais de comunicação expressas em canções e

provérbios e as estruturas de organização social e cooperação são parte do sistema

local de conhecimento tradicional. Logo, este conhecimento não é estático. As

técnicas desenvolvidas na comunidade ou vindas de fora, quando adaptadas às

condições locais, são difundidas boca a boca, por imitação, educação informal em

reuniões etc., mas à medida que se adquirem novas experiências outras perdem sua

relevância de acordo com circunstâncias e necessidades locais e temporais

(REIJNTJES et al., 1999).

Para que as novas tecnologias beneficiem os agricultores mais pobres,

devem ser consideradas as abordagens participativas, o contexto e as necessidades

do agricultor sobre uma base de utilização e desenvolvimento dos recursos já

disponíveis: “a população local, seus conhecimentos e recursos naturais nativos”

(ALTIERI, 2012: 120). Assim, é possível a criação de sistemas complexos próprios

dos agricultores tradicionais adaptados às condições locais, pois não dependem de

tecnologias do sistema agrícola convencional, tais como mecanização, fertilizantes e

defensivos químicos (ALTIERI, 2012).

Um sistema próprio permite tanto o manejo sustentável de diversos ambientes

como o autoconsumo (ALTIERI, 2012). Embora muitos destes sistemas tenham

desaparecido, os policultivos e os sistemas agroflorestais existentes que permitem a

biodiversidade, não dependem da agricultura convencional e conseguem sustentar a

produtividade o ano inteiro, são a prova de que a criatividade dos pequenos

agricultores é sim bem-sucedida.

Esse conjunto de técnicas e conhecimentos desenvolvido pelos agricultores

por meio de seus processos de experimentação é fundamental na ciência

agroecológica. Esta enfatiza a capacidade das comunidades locais de experimentar,

avaliar e expandir seu poder de inovação mediante pesquisa de agricultor a

agricultor por via de ferramentas de extensão baseadas em relações mais

horizontais entre os atores (ALTIERI, 2012).

Os sistemas agrícolas tradicionais possuem normas próprias como o uso

mínimo de insumos externos e alto grau de diversidade vegetal por meio de

policultivos e sistemas agroflorestais. Estratégias de redução de riscos,

42

produtividade em longo prazo e mesmo com acesso limitado às tecnologias,

diversificam a dieta e incrementam os retornos (HARWOOD, 1979 apud ALTIERI,

2012).

5.2. PRINCIPAIS TÉCNICAS TRADICIONAIS

5.2.1. Sementes

Os pequenos agricultores de comunidades tradicionais tendem a cultivar uma

variedade de sementes, adaptadas ao local e que foram transmitidas de geração a

geração, geralmente são mantidas como um seguro em caso de mudança

ambiental, necessidades sociais e econômicas futuras (ALTIERI, 2010). Pesquisas

concluíram que estas sementes chamadas crioulas têm a capacidade de melhorar a

produtividade e manter o equilíbrio biológico de populações de forma natural

(ALTIERI, 2010).

Para assegurar-se da produtividade orgânica, as sementes utilizadas podem

ser preferencialmente as crioulas ou aquelas sementes guardadas de plantios

anteriores ou compradas por pequenas empresas de sementes (ALTIERI, 2012). A

lei de orgânicos, Lei nº 10.831/2003, restringe o uso de sementes geneticamente

modificadas em todas as etapas do processo, da produção à comercialização

(BRASIL, 2003).

Em 2011, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) criou

a Instrução Normativa nº 46 (BRASIL, 2011), cujo Artigo 100 adverte obrigatoriedade

para o uso de sementes e mudas orgânicas. Contudo, o parágrafo 1º abre uma

brecha para o uso de sementes não orgânicas caso seja constatada a

indisponibilidade ou inadequação das sementes e mudas oriundas de sistemas

orgânicos, desde que não tenham recebido tratamento com agrotóxicos e outros

produtos químicos.

Em contrapartida, no parágrafo seguinte deste mesmo artigo, fica proibido o

uso destas sementes não orgânicas a partir de 19 de Dezembro de 2013 e o artigo

102 proíbe o uso de agrotóxico sintético no tratamento e armazenagem de sementes

e mudas orgânicas. Entretanto, antes da data prevista para a restrição de apenas

mudas e sementes orgânicas, a Câmara Temática da Agricultura Orgânica revogou

43

para a partir de 2016, sem data definida, propondo que cada estado produza uma

lista definindo quais espécies e variedades devem ser obrigatoriamente orgânicas

(BRASIL, 2013).

É de suma importância ressaltar que os princípios da agricultura orgânica são

essenciais para o desenvolvimento das demais agriculturas de base ecológica. A

Agroecologia tem como princípio fundamental o uso de sementes crioulas (ALTIERI,

2012), mas não foram encontradas informações que confirmassem o uso de

sementes convencionais na ausência das orgânicas. Contudo, Altieri (2012) faz um

alerta sobre a necessidade de uma área isolada para o cultivo orgânico, caso

contrário, convive-se com os riscos de contaminação do plantio caso tenha algum

cultivo com semente transgênica nas proximidades.

Conforme Altieri (2012), a transgenia (proibida nos sistemas orgânicos) é

capaz de afetar os organismos não alvos por meio do fluxo de genes e da toxicidade

encontrada em suas culturas, resistentes a herbicidas ou a insetos, tornando uma

ameaça à biodiversidade. Se o pólen de uma planta transgênica é capaz de fertilizar

uma cultura não transgênica de propriedade vizinha significa que a “coexistência” de

ambas é um risco de contaminação do cultivo orgânico, alerta.

Dentre os prejuízos tem-se: plantas espontâneas ressurgindo no ano seguinte

como superervas daninhas, a demanda por maior utilização de herbicidas que

matam todas as outras plantas não geneticamente modificadas e sua toxidade

atingindo solos, água e a vida silvestre dentre outros impactos imprevisíveis em

longo prazo (ALTIERI, 2012). Dentre as sérias consequências para a saúde humana

e meio ambiente, está a substituição das sementes crioulas, uma ameaça à

diversidade cultural e biológica (ALTIERI, 2012).

No entanto, há estudiosos que defendem o uso de algumas sementes

melhoradas quando estas objetivam aumentar a produção e são bem adaptadas às

condições locais. Uma vez aprovadas, elas podem passar a integrar o conjunto das

cultivares locais e não substituí-las (ALTIERI, 2012). Isto ocorreu no estado de

Jalisco, México, onde as sementes introduzidas foram apenas de milho, com usos e

formas de manejo complementares, com predominância das variedades crioulas no

agroecossistema (ALTIERI, 2012). Neste caso, o estudioso acredita que o fluxo de

genes do milho transgênico não compromete a biodiversidade do milho não

transgênico.

44

Há controvérsias, pois outros estudiosos defendem que a introdução de

sementes transgênicas pelos pequenos agricultores em áreas de diversidade pode

diluir a sustentabilidade natural das sementes. Para Altieri (2012), o impacto direto

da introdução dos transgênicos nas variedades crioulas é principalmente a alteração

do equilíbrio biológico das comunidades de insetos, uma vez que a toxina Bacillus

thuringiensis (Bt) afeta os predadores benéficos que se alimentam de presas

intoxicadas, ameaçando o controle natural de pragas. Os prejuízos vão além das

sementes, restos de cultivo continuam ativos, liberando toxina por pelo menos 234

dias (ALTIERI, 2012).

5.2.2. Policultura

Cultivo de diversas plantas simultaneamente próximas umas das outras no

mesmo terreno, podem ser plantadas na mesma época ou adicionadas ao longo do

tempo. Elas interagem entre si e podem apresentar diferentes arranjos (DUARTE et

al., 2009). Múltiplos cultivos garantem produção maior do que uma área equivalente

com monocultura e eficiência no aproveitamento da terra em uso, principalmente em

pequenas extensões dela (ALTIERI, 2004).

No entanto, vale ressaltar que um policultivo não está restrito às condições de

baixo uso de insumos, é possível um plantio em policultura no qual o agricultor utiliza

muitos insumos na produção, como também pode também ter uma produção “suja”,

com insumos químicos e ainda pode degradar as plantas nativas (ALTIERI, 2004).

Então, desenvolver policultivos melhora a estrutura do solo pela presença de plantas

de raízes diferenciadas, pode aumentar a fertilidade e o controle de insetos e

doenças, bem como as plantas invasoras, mas só o policultivo não será ecológico se

não estiver aliado a um conjunto de outras técnicas tradicionais ecológicas.

5.2.3. Consórcio de cultura

Prática antiga dos agricultores tradicionais fundamentada no cultivo

simultâneo, em mesma área, de duas ou mais espécies que possuem características

diferenciadas de acordo com sua arquitetura vegetal, fisiologia e hábitos de

crescimento (HERNANI et al., 2015). Segundo eles, as plantas podem ser semeadas

ou plantadas ao mesmo tempo ou em épocas diferentes, contanto que compartilhem

45

dos mesmos recursos ambientais durante seus ciclos de vida. A atividade promove

interações importantes entre as espécies e o meio ambiente que resultam no

aumento da produtividade.

5.2.4. Cobertura morta

Consiste na utilização de uma fina camada sobre o solo com materiais de

origem natural, não aproveitados pelo ser humano e pelo animal, mas que possui

valor para o solo, uma vez que incorporam matéria orgânica (GLIESSMAN, 2002).

De acordo com a tradicionalidade da prática, podem ser utilizados restos de cultivo

como palhas e folhas e de lixo doméstico, capim seco, arbustos, folhas de árvores,

gramíneas, ervas infestantes e até mesmo plantas vivas como os cultivos de

cobertura e adubos verdes (REIJNTJES et al., 1999).

Recomenda-se em substituição à preparação de canteiros em plantio direto

antes da semeadura, efetuar abertura manual de fendas na cobertura morta para

colocar as sementes (REIJNTJES et al., 1999). Porém, Gliessman (2002), alerta

sobre o cuidado necessário caso haja organismos predadores ou enfermidades nos

resíduos, uma vez que o risco é de contaminar o cultivo subsequente.

Vale ressaltar aqui também os benefícios resultantes desta prática como o

fortalecimento da vida do solo e a melhora da sua fertilidade e estrutura; a

conservação da umidade e a minimização do impacto da radiação solar, melhorando

seu microclima; a redução da proliferação das ervas infestantes, o controle das

erosões e a minimização da compactação (REIJNTJES et al., 1999).

5.2.5. Plantio direto

Termo usado para designar a semeadura com o mínimo possível de

movimentação do solo, sem arado. Mais recomendável em solos com baixa

susceptibilidade à compactação e formação de crostas, com boa drenagem interna e

infiltração, com atividade biológica alta e diversas condições de umidade. Assim, é

menos adequado para solos degradados, compactados, ou que endurecem

facilmente na estação seca e precisam de aração (REIJNTJES et al., 1999).

É de grande importância destacar que o termo plantio direto é comumente

utilizado pelos grandes empresários do agronegócio. Segundo Agric ([n.d.]), o

46

manejo consiste na eliminação de aragem e dragagem do solo durante o processo

de produção, e aproveitamento da palha e restos de cultivo, no entanto, são os

maiores utilizadores de herbicidas dessecantes para matar o mato utilizado como

cobertura morta.

5.2.6. Capina seletiva

Consiste no cuidado e manejo de plantas que, sem serem plantadas,

aparecem no local e no momento não interessante para o agricultor. É contrária à

prática comum dos sistemas convencionais de eliminação das plantas conhecidas

como invasoras e ervas daninhas que, na imaginação dos agricultores, disputam ou

até mesmo sugam nutrientes das plantas de maior valor econômico. Neste sistema,

elas são eliminadas por meio da capinação incessante com enxada e outras

ferramentas e a utilização de herbicidas (CAPORAL, 2011).

Capina seletiva é uma técnica comum na agroecologia, na qual as plantas

que surgem no meio do plantio são chamadas de plantas espontâneas, plantas

indicadoras ou até mesmo de invasoras (CENTRO ECOLÓGICO, 2005). A técnica

consiste em observá-las e manejá-las de acordo com suas funções ecológicas, e

para isso, deve-se levar em consideração o estágio de degradação do

agroecossistema, uma vez que as plantas espontâneas são também indicadoras das

condições do solo (CAPORAL, 2011).

A vegetação espontânea surge diante da pouca diversidade de plantas no

solo, o seu objetivo é recolonizar a área com maior diversidade de plantas e animais,

então elas abrem caminho para o estabelecimento de plantas arbóreas e mais

arbustivas por meio da Sucessão Ecológica (MUTUANDO, 2005). Esta se inicia

desde o processo de intemperismo da rocha para a formação do solo, enquanto este

não atinge seu máximo grau de desenvolvimento e a formação da vegetação clímax

– as florestas –, e continuamente haverá modificações na colonização vegetal

(CENTRO ECOLÓGICO, 2005).

As espécies vão passando por um processo de sucessão umas às outras,

cada qual em determinado estágio de maturidade em que o ambiente se encontra

(CENTRO ECOLÓGICO, 2005). Além de informarem as condições do solo, elas

preparam o ambiente para a continuidade do processo, permitindo o surgimento de

novas espécies até a recuperação total da área (MUTUANDO, 2005).

47

Logo, pode-se concluir que na agroecologia não há lavoura “limpa”, a

sucessão ecológica sempre estará presente. E o ato de capinar diversas vezes no

ano, está-se, na verdade, impedindo o amadurecimento do solo por meio da

sucessão, que reage proporcionando o aparecimento de plantas cada vez mais

difíceis de serem manejadas (MUTUANDO, 2005).

Portanto, seu controle deve ser feito não através de sua eliminação

sistemática, mas sim por meio de práticas de manejo capazes de mudar a qualidade

do solo, permitindo assim o aparecimento de espécies menos agressivas e menos

competidoras com a cultura principal (MUTUANDO, 2005).

É importante a mudança de concepção quanto ao papel desempenhado por

estas plantas, pois o agricultor pode considerá-las um recurso barato à disposição e,

quando bem observado e/ou manejado, muito útil (MUTUANDO, 2005). Para o

Instituto Mutuando (2005), é preferível roçar a capinar a terra, segundo ele, a

capinação deixa o solo exposto e diminui sua fertilidade, uma vez que a matéria

orgânica do solo é destruída pelo sol. O solo torna-se também muito susceptível à

erosão causada pelo vento e pela chuva, provocando ainda o assoreamento dos rios

(AGRICULTURA FAMILIAR, AGROECOLOGIA E MERCADO, 2008).

E ainda recomenda deixar sempre alguma cobertura morta sobre o solo para

aproveitar ao máximo a energia fornecida pelo sol e pela água. Como opção, o

agricultor também pode substituir ao longo do tempo as plantas invasoras por

plantas recuperadoras do solo, as chamadas de adubo verde (MUTUANDO, 2005).

Os adubos verdes são capazes de descompactar o solo por meio de uma mínima

mobilização do solo. Mutuando (2005) indica também o plantio direto, pois uma vez

que o solo é revirado perde-se muito em matéria orgânica e microorganismos.

5.2.7. Quebra-ventos

Podem ser entendidas como faixas estreitas de espécies lenhosas plantadas

em torno das plantações, casas etc., com o propósito de reduzir a erosão eólica e

melhorar o microclima. Ocorrem geralmente em forma de cercas vivas, sebes,

árvores isoladas e até mesmo muros de pedra (REIJNTJES et al., 1999). Para o

autor, os quebra-ventos também têm como função afastar os animais da lavoura ou

de qualquer outro local desejável, é uma importante fonte de redução da incidência

de insetos, bem como possibilita o aumento da produtividade. E acrescenta que

48

suas restrições são apenas a disputa excessiva por luz e espaço para as raízes

dependendo da proximidade com o cultivo e a transmissão de insetos-predadores e

doenças para o cultivo agrícola (REIJNTJES et al., 1999).

5.2.8. Rotação de culturas

Rotacionar as culturas equivale em diferenciar os cultivos de uma mesma

área, alternando, de acordo com o tempo, uns em sucessão aos outros com

sequência definida e variável de acordo com clima, tradição, economia e outros

fatores (ALTIERI, 2004). Esta prática influencia diretamente no sistema, aumentando

a fertilidade do solo, a sobrevivência dos patógenos das plantas e a microbiologia,

alterando as propriedades físicas do solo, diminuindo a erosão, a incidência de

insetos e doenças e de ervas daninhas (GLIESSMAN, 2002).

Altieri (2004) cita alguns preceitos definidos por Millington et al., (1990) para

uma rotação de cultura bem-sucedida: inclusão de cultivos com diferentes sistemas

de enraizamento e, no mínimo, um cultivo de leguminosas; separação de cultivos

com susceptibilidade semelhante a pragas e doenças; sequência de cultivos de

estruturação e de exploração; diversificação e alternância de culturas suscetíveis a

ervas adventícias; uso de adubos verdes e cobertura de solo no inverno (ALTIERI,

2004).

Francesco Indrio (1980) afirma que na rotação deve conter culturas que sejam

grandes consumidoras e culturas pouco consumidoras de nutrientes, seguida de

leguminosas que, ocupando o terreno na fase de repouso, têm como função

proporcionar a reposição dos elementos nutricionais do solo que foram retirados

pelas culturas anteriores.

5.2.9. Adubação verde

Uma prática histórica e milenar, também conhecida como biofertilização, é

apresentada por Hiroshi Seó (1993) como a introdução de qualquer matéria orgânica

fresca, não decomposta, ao solo, seja produzida localmente ou importada. Em

rotação de cultura, a adubação verde é comumente feita com oleaginosas, consiste

em plantar as mesmas no início das chuvas, derrubá-las em seu auge de

florescimento e deixá-las compostar sobre o solo até próximo ano agrícola (SEÓ,

49

1993). Mas também ocorre de outra maneira, através da consorciação de uma

leguminosa com um cereal, por exemplo, planta-se o milho, quando este atingir um

metro de altura, planta-se a leguminosa (SEÓ, 1993).

Costa et al. (1993) apresenta uma definição de adubação verde, segundo a

qual as plantas podem ser utilizadas em rotação, sucessão ou consorciação com as

culturas, podem ser incorporadas ao solo ou deixadas na superfície e ainda podem

ser destinadas a vários fins desde produção de sementes, fibras até alimentação

animal, entre outros (COSTA et al., 1993). Segundo ele, as leguminosas são mais

utilizadas, pois se decompõem mais rápido, mas podem ser utilizadas plantas de

outras famílias, inclusive as gramíneas.

A principal função da adubação verde é fixar o nitrogênio ao solo, por

exemplo, as leguminosas possuem pequenos “sócios” em suas raízes que

aproveitam suas excreções e, em troca, fixam o nitrogênio atmosférico no solo, são

chamados rhizobium (COSTA et al., 1993). Á medida que os microorganismos vão

digerindo a matéria orgânica, os nitrogênios são liberados lentamente. Costa (1985)

apresenta como vantagens da adubação verde: a cobertura do solo – além de

proteger o solo contra o impacto das chuvas, aumenta o poder de infiltração e

diminui prováveis erosões.

O aumento da umidade, a proteção da radiação solar no solo, o

aprofundamento das raízes aumentam a porosidade do solo e melhoram suas

condições físicas e biológicas, através, também, do incremento da atividade

microbriana uma vez que há aumento de matéria orgânica e de nutrientes no solo.

Além disso, a adubação verde altera a composição da fauna e flora e promove o

controle de pragas e doenças do solo (COSTA, 1985).

5.2.10. Cultivos de cobertura

Cultivo de cobertura, como sugere o próprio nome, é o plantio de misturas

entre leguminosas, cereais e outros tipos de plantas de estrato inferior nas

plantações com o objetivo de cobrir e proteger o solo, por isso é denominado ‘de

cobertura’ (ALTIERI, 2004). Plantado especificamente para incorporar adubo verde

ao solo é importante fonte de matéria orgânica para o cultivo principal, pois as

50

plantas de cobertura geralmente são produzidas em rotação um cultivo ou durante

determinada época do ano que o cultivo não pode crescer (GLIESSMAN, 2002).

As leguminosas, por exemplo, melhoram muito a biomassa do solo tanto

quando cultivadas sozinhas para cobertura ou acompanhadas de outras espécies

não leguminosas. A biomassa gerada após o corte das plantas, a qual pode ser

deixada cobrindo a superfície até sua decomposição ou incorporada ao solo, é

denominada adubo verde (GLIESSMAN, 2002). Este mesmo autor ainda apresenta

uma inovação muito usada em vinhedos, pomares e sistemas de cultivo com

árvores, a cobertura viva semeada diretamente entre os sulcos durante o ciclo do

principal cultivo, em consórcio (GLIESSMAN, 2002).

Também protege o solo contra a erosão hídrica e eólica e a compactação,

pois o escoamento superficial é bem reduzido e o movimento de água na superfície

além de bem mais lento intercepta as gotas de água, evitando o efeito “splash” e

permitindo maior retenção de água e nutrientes para o sistema radicular das plantas

(GLIESSMAN, 2002, tradução nossa).

Entre outros benefícios, está a melhora do microclima, uma vez que reduz a

incidência de luz e calor, reduzindo as temperaturas com o aumento da umidade;

melhora também a fertilidade do solo, já que acrescenta material orgânico enquanto

a cobertura morta se decompõe e contribui na fixação de nitrogênio (GLIESSMAN,

2002). E mais, são capazes de controlar os insetos nocivos e minimizar a

competição entre lavouras principais e suprimir o crescimento das ervas adventícias.

Apesar dos benefícios conquistados pelo cultivo de cobertura, Gliessman (2002)

alerta que seu uso deve ser aplicado de acordo com as peculiaridades de cada

agroecossistema.

5.2.11. Estercos

A introdução de estercos ao solo é uma prática agrícola tradicional, tanto nas

agriculturas sustentáveis como na convencional, visando melhorar os conteúdos de

matéria orgânica do solo. É importante destacar que estercos são excrementos de

animais convertidos em recursos ao retornar ao campo (GLIESSMAN, 2002). São

usados para produção agrícola, mas este autor aponta alguns problemas com

aplicação direta do produto e ressalta alguns cuidados.

51

Segundo ele, o esterco fresco, quando incorporado ao solo deve aguardar a

sua decomposição e consequente estabilização para ser adicionado ao cultivo, caso

contrário o produto gera alguns problemas, como odor, moscas, perda de nitrogênio

e lixiviação de nitratos e demais materiais solúveis (GLIESSMAN, 2002).

5.2.12. Compostagem

Compostagem é a decomposição de matéria orgânica exercida pelos

microorganismos e a fauna do solo com objetivo de reciclar nutrientes dos resíduos

orgânicos para melhorar a qualidade do solo e aumentar sua fertilidade. A

compostagem utiliza como matéria-prima restos de cultura e de beneficiamento,

ervas infestantes, esterco, cama de animais e urina entre outros e tem como produto

final, na forma de húmus, o chamado composto (REIJNTJES et al., 1999).

“O composto é um fertilizante orgânico que libera lentamente os nutrientes,

estimula a vida do solo e melhora sua estrutura” (REIJNTJES et al., 1999: 213). É o

resultado do processo de decomposição e humificação da matéria-prima antes de

ser adicionada ao solo, que ao estabilizar-se em composto, oferece benefícios de

forma mais eficiente, até aumentando a resistência das plantas a doenças e pragas

(GLIESSMAN, 2002; REIJNTJES et al., 1999).

Diante do exposto, Reijntjes et al. (1999) explica que a compostagem

geralmente é feita em pilhas ou em buraco sombreado em áreas de muito sol;

segundo ele, a boa qualidade da matéria-prima e o manejo correto determinam a

qualidade do composto e, em alguns casos, podem ser adicionados aditivos

minerais para aumentar o conteúdo nutricional do composto. Há também outras

técnicas conhecidas como produção de biogás e compostagem de excrementos

(REIJNTJES et al., 1999).

5.2.13. Sistemas agroflorestais

Sistema de plantio no qual árvores são associadas na mesma área, ao

mesmo tempo ou em sequência, com plantios agrícolas e/ou animais (pastos).

Combina elementos da silvicultura a sistemas de produção de alimentos e faz baixo

uso de insumos (ALTIERI, 2004). Segundo Gliessman (2002), há variações de

52

sistemas agroflorestais – a agrosilvicultura combina árvores com cultivo; o sistema

silvopastoril combina árvores com produção animal e agrossilvopastoril é um sistema

completo que combina árvores, cultivos e animais.

Todos três são exemplos de um bom aproveitamento do uso do solo e da

diversidade na produção de alimentos e outros produtos agrícolas (GLIESSMAN,

2002). Além do mais deixa o agricultor autossuficiente pelo menos em relação às

necessidades básicas de alimentos, lenha e forragem. Gliessman (2002) destaca a

importância das árvores nesse sistema.

Presentes nas três formas de se fazer agrofloresta, as árvores com seu

tamanho diferenciado, perenidade e raízes mais profundas melhoram a estrutura do

solo, a reciclagem de nutrientes e a umidade, também reduzem a temperatura e a

evapotranspiração e minimizam o impacto direto do vento e ainda funcionam como

hábitats para a diversidade de vida animal e se tornam importante fonte de matéria

orgânica quando em estágio de decomposição (GLIESSMAN, 2002).

5.2.14. Coivara

Conhecida como agricultura de corte e queima ou itinerante, esta estratégia

de manejo dos recursos é feita para aproveitar o fornecimento de nutrientes onde há

curtos períodos de pousio ou onde eles não existam (ADAMS, 2008). Consiste na

abertura de clareiras para aproveitamento da área destinada a cultivos por períodos

mais curtos, através da derrubada da vegetação e posterior queima, contribuindo na

captura dos processos naturais de regeneração da fertilidade típica de qualquer

sucessão ecológica que tornam as cinzas nutrientes disponíveis para absorção

pelas plantas (ADAMS, 2008).

53

6. POLÍTICAS PÚBLICAS

Atualmente, entre as principais responsabilidades do Estado está a promoção

do bem-estar da sociedade, mas nem sempre foi assim, a função do Estado sobre a

sociedade passou por diversas transformações (AMARAL, 2008).

Entende-se como política pública a totalidade de ações, metas e planos

traçados pelo governo para atingir o interesse público e o bem-estar social

(AMARAL, 2008). “São diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público;

regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade”

(TEIXEIRA, 2002:02).

Sua elaboração envolve um conjunto de decisões desenvolvidas pelos atores

sociais que regulam, articulam e harmonizam os conflitos entre seus interesses e os

interesses coletivos (GRISA, 2012). Em resumo, política pública como o campo do

conhecimento que busca colocar o “governo em ação” e, ao mesmo tempo, analisar

essa ação e propor mudanças no rumo ou curso delas (SOUZA, 2006).

Como exercício do poder político, a tomada de decisão das políticas públicas

deve envolver distribuição e redistribuição de poder, repartição de custos e

benefícios sociais e o papel do conflito social deve ser considerado (TEIXEIRA,

2002). A propósito, nas ações e decisões coerentes das políticas públicas, estão o

caótico e o contraditório que também fazem parte do processo de elaboração e

implantação das políticas (GRISA, 2012).

Em se tratando de agricultura familiar, pode-se relacioná-la ao

desenvolvimento das políticas públicas voltadas para si tendo em vista as

dificuldades e problemáticas enfrentadas pelos adeptos da atividade. Essas políticas

devem fomentar a permanência do homem no campo e contribuir com o

desenvolvimento regional para, assim, evitar novos e intensos fluxos de êxodo rural

(JUNQUEIRA; LIMA, 2008).

A política pública voltada para agricultura familiar tem como objetivo ainda

reduzir os conflitos sociais a um nível administrável, visa também o desenvolvimento

do setor e a diminuição de algumas dificuldades consideradas históricas.

Dificuldades estas apontadas por Junqueira & Lima (2008) como os impasses de

acesso ao crédito e às novas tecnologias e baixa capitalização, que ao contrário dos

agentes do agronegócio, a agricultura familiar encontrou-se durante muito tempo,

bastante marginalizada.

54

O desenvolvimento rural também deve aparecer como preocupação

fundamental das políticas públicas voltadas para agricultura familiar uma vez que o

processo de modernização da agricultura agravou o problema da exclusão do grupo

aumentando as desigualdades sociais (JUNQUEIRA; LIMA, 2008).

O artigo 29 da Lei nº 6.383/1976 legitima, por exemplo, o título de posse da

terra, mas para isto, exige a comprovação de efetiva produtividade de origem

familiar e moradia por no mínimo um ano; o ocupante da terra devoluta não pode ser

proprietário de outro imóvel rural, sendo que a posse só é efetivada em terras

devolutas contínuas de até 100 (cem) hectares.

Assim, afirma-se que a comunidade é de agricultores familiares com base na

Lei nº 11.326/2006, segundo a qual o tamanho da propriedade não pode ser maior

de quatro módulos fiscais; direção e mão de obra nas atividades econômicas

predominantemente executadas pela própria família e tenha percentual mínimo da

renda familiar proveniente de atividades econômicas do seu estabelecimento ou

empreendimento (BRASIL, 2006).

Segundo Landau et al. (2012), cada município brasileiro tem sua medida de

módulo fiscal, em Mata de São João corresponde a sete hectares, justificando a

presença de agricultores familiares com propriedades de até 28 hectares. De

acordo com a classificação fundiária, têm-se propriedades denominadas minifúndios

– até um módulo fiscal – e pequenas propriedades – de um a quatro módulos fiscais

(LANDAU et al., 2012).

As políticas públicas que assistem aos produtores familiares da área de

estudo são: o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) o Projeto Salvação da

Lavoura e a Declaração de Aptidão ao PRONAF (Programa de Fortalecimento da

Agricultura Familiar) – ADAP.

6.1. PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA)

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) criado em 2003 pela Lei nº

10.696/2003 integra o Sistema Nacional de Segurança Alimentar (SISAN) (BRASIL,

2012). Executado com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate

à Fome (MDS) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em parceria com

estados e municípios, mas é um programa interministerial – operacionalizado pela

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) (BRASIL, 2013).

55

O artigo 2º da Lei nº 7.775/2012 (BRASIL, 2012) apresenta as finalidades do

PAA, entre elas tem-se o incentivo à agricultura familiar, promoção da inclusão

econômica e social e fomento à produção sustentável, ao processamento, à

industrialização de alimentos e à geração de renda. Incentiva o consumo e a

valorização de produtos oriundos da agricultura familiar; promove o acesso à

alimentação para as pessoas com insegurança alimentar e nutricional; promove o

abastecimento alimentar por meio de compras de alimentos pelo governo para

alimentação escolar, seja nos âmbitos municipal, estadual, distrital e federal e em

áreas abrangidas por consórcios públicos (BRASIL, 2012).

A lei (BRASIL, 2012) informa ainda a promoção e valorização da

biodiversidade, da produção orgânica e agroecológica de alimentos, bem como

incentiva adoção de hábitos alimentares saudáveis em nível local e regional. Os

beneficiários são consumidores assistidos por doações e fornecedores – agricultores

familiares, assentados de reforma agrária, silvicultores entre outros que tenham

produção para fornecer (comercializar) ao PAA (BRASIL, 2012).

É importante ressaltar também que a lei incentiva a participação de mulheres

como fornecedoras. Os preços das mercadorias são compatíveis com os vigentes no

mercado local e regional, sendo que alimentos orgânicos e agroecológicos poderão

ter sobrepreço de até 30% em comparação com os convencionais. Segundo o Art.

18 da Lei 12.512/2011 (BRASIL, 2011a), os alimentos adquiridos pelo PAA são

destinados a ações de promoção de segurança alimentar e nutricional ou à

formação de estoques, podendo ser comercializados, conforme regulamento.

6.2. PROJETO SALVAÇÃO DA LAVOURA

O Projeto Salvação da Lavoura, desenvolvido desde 2006 com recursos

municipais, foi idealizado pelo Secretário de Agricultura de Mata de São João que

também é agricultor orgânico reconhecido na região. A atual gestão mantém o

projeto que consiste em aquisição de ferramentas de trabalho como enxadeta,

enxada, facão, par de botas e luvas, carro de mão, tanque de água, pulverizador;

aproximadamente cinco sacos de adubo orgânico e sementes de hortaliças, milho,

feijão, sementes para adubação verde como feijão de porco, mucuna e crotolária.

56

Segundo coordenadora da Secretaria da Agricultura e Reforma Agrária

(Seagri) de Mata de São João, as sementes são convencionais, devido à dificuldade

de encontrar semente orgânica que atenda aos hoje 800 beneficiários. A semente de

milho, especificamente é uma variedade híbrida da Embrapa, tratada com algum

defensivo para não proliferar insetos durante a armazenagem da mesma. Existem

alguns pré-requisitos para ser assistido, como renda mínima, etc.

A distribuição do kit consiste num incentivo ao desenvolvimento da agricultura

familiar no município, pois ainda que os agricultores não comercializem a produção a

semente é cultivada para o consumo (ASCOM, 2016). Outras ações deste projeto

são as feiras da agricultura familiar que ocorrem duas vezes no mês.

6.3. DECLARAÇÃO DE APTIDÃO AO PRONAF (DAP)

A Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) é uma certidão básica

obrigatória para concessão de financiamento no âmbito do PRONAF. A declaração é

elaborada para a unidade familiar de produção e deve ser emitida por agentes

credenciados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) (BANCO CENTRAL

DO BRASIL, 2015). Já o PRONAF criado em 1995, é um sistema de crédito para

custeio e investimento destinados ao desenvolvimento do estabelecimento rural ou

integralização de cotas-partes pelos beneficiários nas cooperativas de produção

(BANCO CENTRAL DO BRASIL, 1995).

Os agricultores familiares devem residir no estabelecimento de até quatro

módulos fiscais ou próximo a ele e ter no mínimo 50% da renda bruta familiar vinda

da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento e até

R$360.000 mil de qualquer atividade desenvolvida por qualquer componente familiar

nos últimos 12 meses (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2015).

57

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES

7.1. HISTÓRIA DE OCUPAÇÃO

A comunidade de agricultores Foz de Imbassaí, na localidade Areal, Distrito

Açu da Torre, não possui uma delimitação de área institucionalizada por lei ou

decreto legal, mas os moradores mais antigos reconhecem toda a sua extensão, por

meio do conhecimento de identidade e pertencimento à área por eles habitada.

Segundo a direção da associação de moradores, esta é denominada

Associação de Produtores Rurais e Preservação Ecológica Foz de Imbassaí. Com

interesse em representar a área ocupada pela comunidade, elaborou-se um traçado

junto aos moradores durante os trabalhos em campo como identificação da área

comunitária, conforme apresentação da Figura 2.

A área estudada foi traçada em programa ArcGis com o auxílio das imagens

de satélite e dados coletados com auxílio do Sistema de Posicionamento Global

(GPS) – pontos de controle e rotas percorridas. Os pontos de controle foram

marcados em cada propriedade onde foi realizada a entrevista, identificados na

Figura 2; as rotas registradas com o GPS seguiam caminho indicado pelos

moradores como limite da área da comunidade. “[...] à direita, o limite é o rio... ali faz

encontro com outra comunidade do Areal”... e “[...] é uma fazenda grande, não

pertence à comunidade” disseram vários agricultores.

Assim como indicado pelos integrantes da área de estudo, o traçado foi

realizado acompanhando em alguns momentos a hidrografia, as estradas

implantadas ou caminhos e as fazendas às quais são limites, com atenção sempre

voltada para as indicações dos conhecedores da área. Utilizou-se para a

delimitação, a criação de arquivo shape baseado nos dados cartográficos obtidos na

Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI, 2010), em

formato nativo do ArcGis.

Ao observar a porção norte da figura 2, vê-se uma extensa área com floresta

atlântica provavelmente secundária preservada em sua maior parte dentro da qual

não aparecem pontos de GPS. Trata-se de uma propriedade com acesso restrito

que foi impossível realizar entrevista. É área da antiga fazenda, reconhecida como

parte da comunidade, que foi invadida antes da ocupação iniciada no ano 2000.

58

Figura 2 - Delimitação da área da Comunidade de agricultores Foz de Imbassaí.

E. E Elaborado poElabp

Elaborado por Gláucia Almeida, 2016.

..

59

A grande fazenda situada na porção norte da área de estudo na figura 2,

apesar da floresta preservada, observa-se manchas de solo exposto, que induz a

inferência de pasto para criação de gado. Esta fazenda possui 1,2 km² de extensão,

31% da área total da comunidade, 3,9 km².

A área tem como limite norte outra comunidade do Areal e o Rio Imbassaí, a

oeste uma fazenda com pastagem para expressiva criação de gado; a leste, a BA-

099 que liga Salvador a Sergipe e a sul delimita-se com uma fazenda de acesso

restrito que não se sabe o tipo de atividade desenvolvida.

Tomou-se conhecimento da história da comunidade junto aos próprios

moradores locais, principalmente os mais antigos, que participaram do processo de

ocupação da área. Um dos itens apontados como sendo precursor da ocupação foi

relatado como o baixo valor das terras, isso por volta dos anos 2000.

Na verdade, a área é uma antiga fazenda de monocultura de coco da década

de 1950 e 60. Por volta de 1978 e 79, descontinuando a atividade agrícola, a área foi

loteada por uma empresa imobiliária chamada Canadá, mas na época a empresa

teria feito propaganda enganosa, vendendo os terrenos como beira-mar quando na

verdade nem estrada para acesso à área existia. A fazenda estava abandonada há

30 anos.

Mais ou menos 10 indivíduos que compraram seus terrenos através da

imobiliária ocuparam-nos. Mas a maioria dos compradores abandonaram seus lotes

por um período de 30 a 40 anos, devido ao difícil acesso ao local de mata fechada e

por descobrir que não era beira-mar como a imobiliária anunciou. Tão logo a

empresa desistiu do negócio, ou faliu porque a maioria dos clientes decepcionados

não quitou a dívida, e passou as terras para a prefeitura.

A terra sendo da prefeitura e sem destinação e uso, os moradores de hoje

deram inicio à ocupação, quando então a principal dificuldade era manter-se no local

uma vez que, segundo relatos, os ocupantes iniciais passaram por um “cenário de

guerra” em conflitos por terra. Um cidadão de fortes ligações políticas com objetivo

de construir grande empreendimento na área e torná-la urbana – para construção

talvez de um complexo hoteleiro, a partir de inferências em depoimentos – atacava a

população com “capangas e policiais” para expulsá-los e dominar a área.

Segundo ele, exercia seu trabalho para o proprietário da terra, mas a

população afirma que nunca houve relação direta entre ele e o antigo dono. Seu

60

interesse era expulsar os pequenos ocupantes, dominar e tomar posse de toda a

área.

Entre os relatos de perseguição estão a soltura dos animais ou até mesmo

morte dos mesmos; perseguição com tiros ao alto; o corte dos arames das cercas

em pedaços menores a um metro; pressão e prisão por policiais, segundo eles,

“comprados pelo cidadão que queria a área toda só para ele”. Para um morador,

eles foram vencidos pelo cansaço, agradecendo a Deus por ninguém ter morrido, diz

produtor.

Os pequenos ocupantes resistiram às represálias tentando defender a sua

própria vida e a vida de seus familiares das violências praticadas pelo invasor.

Segundo relatos, hoje esse opressor tenta integrar à comunidade e participar das

ações da associação, no entanto é pouco aceito por muitos moradores.

Em 2007, cria-se a Associação de Agricultores Foz de Imbassaí com objetivo

de desenvolver agricultura por todos os ocupantes. Ao Ministério Público já foi

solicitada a manutenção de posse aos moradores pelo usucapião. O direito à posse

foi concedido a alguns moradores por ocuparem terras devolutas e as tornarem

produtivas cumprindo a função social da propriedade estabelecida no Art. 29 da Lei

nº 6.383/1976. Outros membros da comunidade continuam a espera do título de

posse.

7.2. A COMUNIDADE E O AUTORRECONHECIMENTO

Este item se propõe a descrever e generalizar a comunidade com os dados

resultantes da pesquisa em questionário anexo a este trabalho. Das entrevistas

realizadas, optou-se por separá-las inicialmente pelo tipo de autorreconhecimento –

o diagnóstico do próprio indivíduo quanto ao tipo de agricultura que pratica. Entre as

alternativas sugeridas no questionário estavam agricultores familiares, orgânicos,

biodinâmicos, permacultores e agroecológicos.

Convém ressaltar que pelo menos 20 proprietários não foram entrevistados

porque durante o período de aplicação das entrevistas, não foram encontrados na

comunidade. Segundo vizinhos, alguns não frequentam a área há muito tempo, o

que leva a crer que pode estar havendo uma especulação imobiliária no local.

61

De acordo com o Gráfico 1, metade dos entrevistados se reconhece como

agricultores familiares, este é o maior grupo; o segundo maior é composto pelos que

se reconhecem familiares e, ao mesmo tempo, orgânicos e apenas 10% afirmam

serem orgânicos, o terceiro maior grupo. Os agricultores que se reconhecem como

agroecológicos são 3%, percentual menor do que o do grupo dos que não se

reconhecem agricultores, 6%; a pesquisa apresenta ainda dois agricultores que se

reconhecem como iniciantes na atividade agrícola.

Com base no depoimento dos entrevistados, não foram encontrados

agricultores que afirmam ser permacultores e biodinâmicos. Percebeu-se, por

conseguinte, que alguns indivíduos demonstraram desconhecer os termos. Com

isso, alguns se reconheciam logo como agricultores familiares, baseados na

definição da Lei nº 11.326 (BRASIL, 2006), conforme são tratados em programas de

apoio e incentivo ao pequeno produtor familiar. Outros questionaram a definição de

cada um dos termos desconhecidos e só após o entendimento, declaravam a que

grupo ele se autoafirmava.

Figura 3 – Participação dos grupos por autorreconhecimento em relação ao

total de entrevistados na Comunidade Foz de Imbassaí

Elaborado por Gláucia Almeida, 2016.

Foi com base neste tratamento dado aos agricultores familiares por órgão e

instituições que promovem ação social voltada para este público que a maioria dos

integrantes se reconhece como agricultores familiares.

62

De modo geral, os dados obtidos em entrevistas, permitem concluir que 80%

da comunidade é composta por homens e apenas 18% por mulheres. A maioria

(38%) possui de 51 a 60 anos, 25% estão inseridos no grupo de 41 a 50 anos e 21%

de 61 a 70 anos. Mas também há indivíduos com idade entre 21 e 30 anos (3%) e

de 71 a 80 anos (6%), os 7% restantes se incluem na faixa de 31 a 40 anos.

Apesar de ser conhecida por Comunidade de agricultores, 75% dos

entrevistados tem a agricultura como atividade complementar e apenas 25% como

atividade principal. Assim também a pesquisa concluiu que apenas 40%dos

indivíduos moram na comunidade contra 60% que possuem a terra, mas moram em

outros locais. Estas informações leva-se a mensurar, por conseguinte, que a maioria

da comunidade dar pouca importância econômica à atividade agrícola, ela está mais

voltada a atividades de veraneio à agricultura ecológica em si.

Apesar destas proposições, 76% da comunidade tem suas raízes na

agricultura, já desenvolveram a atividade em algum momento anterior da sua vida,

carregam a experiência, os outros 24% fazem agricultura pela primeira vez.

Estes números, aliados à maioria de origem do interior baiano e de outros

estados, parecem indicar que a maioria dos ocupantes da comunidade fora

'convidada' a sair do campo onde criaram suas próprias raízes,como vítimas do

êxodo rural, e hoje, inconformadas com a vida na cidade, buscam o resgate dessas

raízes em novo contato com a terra. É o resgate das tecnologias tradicionais

aprendidas com seus familiares mais velhos, que muitas foram perdidas e

esquecidas pelos moradores das grandes cidades.

Os resultados da pesquisa apresentam evidências positivas para esta

hipótese ao expor números que demonstram as principais motivações para ou fazer

ou pretender fazer agricultura na comunidade. Entre as alternativas apresentadas,

resgatar suas próprias raízes foi uma das mais votadas, escolhida por 37

entrevistados, atrás apenas de amor pela terra, escolhida por 45. Dos entrevistados,

35 tem o objetivo de melhorar a própria saúde e 31 apontaram a escolha como um

refúgio para fugir das grandes cidades e apenas 8 relataram estar na comunidade

por influencia familiar.

A alternativa autonomia de produzir seu próprio alimento tem uma

participação considerável de 27 entrevistados. Vinte e um agricultores relataram

outro fator como motivação para desenvolver agricultura na comunidade, dentre as

63

opções estão sossego e tranquilidade, citadas por 6, qualidade de vida por 8,

oportunidade, citada por 2, e paz por 1.

Trata-se de uma comunidade de agricultores familiares de acordo com a Lei

nº 11.326/2006 (BRASIL, 2006) que estabelece limite de até quatro módulos fiscais

para esta categoria. Seguindo a classificação fundiária apresentada por Landau et

al. (2012), em Mata de São João é considerado agricultor familiar proprietários de

áreas com até 28 hectares. São 65 minifúndios e três pequenas propriedades. Uma

realidade, a qual muitos têm tão pouco e poucos tem em abundância, através da

qual há conflito entre as partes.

Esses 65 minifúndios são quase completamente composto por indivíduos que

desenvolvem policultivos e são mais interessados em praticar a agricultura

tradicional, em contrapartida, quase todos tem menos de 1 ha, o que compromete

seu desempenho agrícola, uma vez que a área pequena limita a produtividade e a

sobrevivência de muitos, os obrigando a buscar outras formas de sobrevivência fora

da agricultura. Assim também não há espaço para reserva legal, criações de animais

de maior porte entre outros espaços necessários. Entretanto, os três agricultores

com área acima de um módulo fiscal (7 ha), tem espaço suficiente para desenvolver

agricultura, aumentar a produtividade, preservar a reserva legal e sobreviver.

A comunidade tem como característica forte o policultivo, assim, 100% dos

entrevistados cultivam árvores frutíferas; 94% plantam raízes, como aipim, mandioca

e batatas; as hortaliças são cultivadas por 38%, sendo que 9% já deixou de cultivar

e outros 7% dos que ainda não cultivam hortaliças revelam as intenções de cultivar.

Culturas anuais, como milho, feijão e amendoim são cultivadas por 84% dos

agricultores e dois que tem a intenção de iniciar a produção.

Plantas nativas em meio ao plantio de alimentos são mantidas por 88% da

população entrevistada sendo que 54% tem madeira de lei, mas apenas 12% tem

agrofloresta. As plantas ornamentais foi o tipo de cultivo mais prejudicado pela seca

em 2014 e 2015, relatados por 15% dos agricultores, mas 40% ainda mantêm as

plantações mesmo diante das dificuldades.

Quanto às criações de animais, constatou-se que apenas 1% cria abelha para

o próprio consumo do mel e outro cria gado bovino; 4% criam peixe em áreas

escavadas por eles, semelhante aos tanques escavados; e 37%, galinha; sendo que

18% apresentam intenções em criá-las, mas dois deixaram de criar incomodados

com furtos e animais predadores. A presença de animais na propriedade agrícola é

64

de grande importância para a família, uma vez que todos os animais podem servir

ao núcleo familiar como fonte de alimentação, fonte de renda ao comercializá-los e

fonte natural de fertilizantes do solo.

Os dados parecem reforçar a ideia exposta nas considerações de Gliessman

(2002) ao afirmar que a combinação de árvores, cultivos e animais tornam o sistema

agrícola completo. Tanto os dados como o pensamento de Gliessman (2002)

fornecem evidências da sustentabilidade alcançada por agricultores que criam

animais como galinha e gado. Isso porque seus excrementos servem para adubar o

solo e aumentar a produção, consiste num adubo limpo sem resíduos contaminantes

e que ainda diminui o custo, uma vez que a propriedade será autossustentável em

fertilizante ecológico pelo baixo ou nenhum uso de insumos externos.

A área foi ocupada segundo os integrantes, por 66% que gostam do contato

com a terra, 54% interessados em resgatar o conhecimento tradicional agrícola de

outrora e 51% em busca de melhorias para a saúde. Mas também há agricultores

que visam aumentar a renda, que se preocupam com o meio ambiente; tem os que

só estão lá por incentivo familiar, autonomia de produzir seu próprio alimento e como

apenas uma ocupação a mais.

Entre as práticas mais utilizadas na comunidade estão cobertura morta,

capina com frequência, principalmente de enxada, e consórcio. Apesar de não ser

totalmente autossuficiente em suplementação orgânica, 97% utilizam adubo

orgânico, principalmente esterco e compostagem, do primeiro 45% é comprado e

30% doado, já sobre compostagem, quase a metade recebe doação (48%), 30%

produz e apenas 11% compram. Ainda assim, 15% da população entrevistada

utilizada adubo químico, o NPK2.

O uso de adubo químico reflete diretamente na principal dificuldade relatada

pelos agricultores, uma vez que os dados apontam a baixa fertilidade do solo como

a maior dificuldade (68%), a segunda é a dependência ou ausência de assistência

técnica (46%) e também acesso à água (34%). Assim, pode-se inferir com base nos

dados que a principal necessidade da comunidade é o acesso a conhecimento

agrícola sustentável que auxilie principalmente no aumento da fertilidade natural dos

solos.

2 Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K).

65

A ação danosa de seres vivos considerados nocivos ao plantio foi relatada por

apenas 7% da comunidade, a despeito de os dados mostrarem que a alternativa

possa ter sido entendida de forma equivocada uma vez que, em outra pergunta,

respostas evidenciam a existência de 85% da população entrevistada afetada pelo

descontrole de doenças e insetos considerados nocivos ao plantio contra 15% que

não identifica o mesmo problema. Assim, vale mencionar que o inseto mais

frequente, em 53% da comunidade, é a formiga cortadeira.

Diante desta problemática, tendo como base os 58 agricultores com

necessidade de controle, destes 16% desenvolvem técnicas de convivência

enquanto 84% combatem diretamente, alguns (47%) fazem controle alternativo com

fumo (53%) e urina de vaca (21%) e maioria (63%) faz controle químico. Destes

defensivos industrializados, 87% é formicida e 16% carrapaticida, segundo

Mutuando (2005), estes produtos desequilibram todo o sistema.

Quanto ao consumo e comercialização, todos os agricultores consomem seus

próprios produtos como alimento e 88% utilizam ervas plantadas por eles próprios

no tratamento natural de algumas doenças. No entanto, diante da quantidade

produzida, a comunidade prefere consumir a comercializar, apenas 43%

comercializam o excedente produzido, apesar de 21% destes demonstrarem

intenção em aumentar a produção para comercializar e 5% que deixou de

comercializar.

No geral, todos vendem seus produtos in natura e apenas 17% fazem

beneficiamento dos frutos, transformando-os em polpa de forma artesanal com

embalagens comuns sem identificação, até porque não há agricultores certificados

na comunidade. Assim, a maioria (66%) comercializa diretamente ao consumidor em

feiras, a vizinhos etc., 24% vendem à prefeitura pelo PAA, no entanto, 28% a

comerciantes, os atravessadores.

Alguns agricultores não se contentaram em cultivar apenas o convencional, o

que todo mundo tem, mas também inovaram diante das técnicas e tipo de cultivo

utilizado, embora 34% não adotem, 66% buscam a inovação – são 29 o número de

agricultores que plantam sem conhecer o tipo de manejo adequado para a planta, 17

usam determinado adubo orgânico como teste indicado por alguém, 5 cultivam

plantas diferentes juntas e 7 cultiva plantas de pequeno porte na sombra de árvores.

A comunidade reconhece a associação como sua representante legal (99%),

embora 59% afirme que há trabalho coletivo contra 19% que negam este papel da

66

associação e 16% que não sabem afirmar. Entende-se por trabalho coletivo aquele

desenvolvido por muitos a seu próprio benefício, mas em Foz de Imbassaí 65% dos

integrantes participam dos trabalhos coletivos e 38% não.

Percebeu-se que a associação desenvolve um trabalho político muito

importante por toda a comunidade, uma vez que intermedia a inserção de benefícios

para a comunidade, se une com outras associações próximas para criação de

projeto que vise aprovação do poder público, bem como contratou advogado para

agilizar a entrega de títulos da terra, milita por espaços em lugares estratégicos

próximos para a participação de produtores rurais da comunidade em feiras de

agricultura familiar e de artesanato.

67

7.3. ANÁLISE POR PERFIL AGRÍCOLA DE BASE ECOLÓGICA

Este capítulo analisa e discute os resultados finais encontrados na tabulação

das entrevistas realizadas apenas aos agricultores da comunidade excluindo os

indivíduos com perfil exclusivo de veranear. Sendo assim, os dados em números

absolutos e em porcentagem aqui apresentados têm como base 64 entrevistas

realizadas. Após a análise de cada uma, o entrevistado foi enquadrado a partir de

seus relatos e da revisão bibliográfica, num perfil agrícola de acordo com os

aspectos ecológicos e socioeconômicos do ponto de vista do agricultor. Convém

lembrar, por conseguinte, que serão apresentados os pontos principais que atendam

direta ou indiretamente os objetivos específicos do presente trabalho.

De modo geral, foram extraídos cinco grupos compostos por agricultores com

perfis semelhantes de acordo com as práticas agrícolas desenvolvidas. Como se

pode observar na tabela 1, considerando o autorreconhecimento do agricultor e a

que perfil de agricultura ele de fato desenvolve.

Tabela 1 - Relação de participação de indivíduos por tipo de autorreconhecimento à

classificação do perfil agrícola de acordo com a atividade desenvolvida

Perfil agrícola Iniciante Orgânico

Familiar

orgânico

Agroecoló

gico Familiar Total

Agricultor por autorreconhecimento (nº pessoas)

Agricultores

convencionais - 4 4 - 25 33

Agroecológicos - 1 1 2 2 6

Orgânicos - - 1 - - 1

Orgânicos

parciais 1 2 7 - 6 16

Transição

agroecológica 1 - 6 - 1 8

Elaborado por Gláucia da Silva Almeida, 2016.

O perfil de agricultores convencionais tem aproximadamente 71% dos que se

reconhecem familiares e minoria de orgânicos e familiares e orgânicos. Há um grupo

chamado orgânicos parciais com maior participação daqueles que se consideraram

familiar e familiar e orgânico. Já os agroecológicos têm 100% dos que se

consideraram agroecológicos, mas têm participação também dos que se

reconhecem como orgânicos e como familiares e orgânicos. O único que responde

68

ao perfil de agricultor orgânico, inicialmente se reconheceu orgânico. Tem-se

também um perfil denominado de transição agroecológica composto por maior parte

dos que se consideraram familiar e orgânico.

7.3.1 Motivação

A comunidade desenvolve vários tipos de agricultura, mas foi motivada

principalmente por agricultores que tem muito amor pelo que fazem e isso é um

potencial importante. Tem-se uma comunidade vítima do êxodo rural, dentro da qual

61% pretendem resgatar suas próprias raízes, conhecimento agrícola tradicional

herdado de seus familiares e 56% buscam melhorias na saúde através da

agricultura.

E possível concluir a partir da observação da tabela 2 que Incentivo familiar

foi motivação para poucos agricultores, Melhora da saúde já teve uma participação

maior, principalmente do que se encontra em transição agroecológica, Fuga das

grandes cidades foi a quarta motivação mais escolhida, principalmente pelos

orgânicos, pelos convencionais e pelos agroecológicos; aumento da renda como

motivação para desenvolver agricultura tem pouca participação, uma vez que o

maior índice foi 50% do grupo de orgânicos parciais, os demais grupos tiveram

participação ainda menor.

Tabela 2 - Principais fatores de motivação à escolha da atividade desenvolvida por

perfil agrícola

Principais motivações

Perfil agrícola (%)

Agricultores convencionais

Orgânicos parciais

Agroecoló- gicos

Orgânicos Transição agroecoló-

gica

Incentivo familiar 6 19 33 100 25

Melhorar saúde 52 44 50 100 100

Amor pela terra 73 63 83 100 75

Fuga das cidades 55 38 50 100 38

Aumentar renda 27 50 17 - 38

Autonomia 39 44 50 - 63

Preocupação meio

ambiente 9 13 67 - 25

Resgate de raízes 58 63 83 - 63

Outro 30 19 - 100 38

Elaborado por Gláucia Almeida, 2016.

69

Motivados pela possibilidade de autonomia na produção de seu próprio

alimento, 63% dos agricultores em transição agroecológica e 50% dos

agroecológicos buscam alcançá-la como mostra tabela 2. Preocupação com o meio

ambiente caminha junto com o incentivo familiar, os agroecológicos tem participação

de 67% e os de transição apenas 25%, sendo que os demais grupos tem atuação

muito inferior. Amor pela terra e resgate de raízes são as alternativas mais votadas

por todos os grupos, mas de destaque para os agroecólogos – 83% de participação

deles em ambas as alternativas.

Outros motivos como qualidade de vida, ocupação a mais, sossego e lazer

foram votados pelos orgânicos, pelos em transição, pelos convencionais e pelos

orgânicos parciais, exceto pelos agroecólogos. É importante destacar que apesar da

tabela apresentar porcentagem, só há um agricultor orgânico que não tem como

motivação aumento da renda, autonomia em produzir seu próprio alimento,

preocupação com o meio ambiente e resgate de raízes, mas outros fatores

contribuíram para classificá-lo como orgânicos.

7.3.2 Práticas tradicionais

Tendo em vista que o policultivo é desenvolvido por todos os agricultores,

torna-se desnecessário apresentar aqui dados com o tipo de cultivo coletivo

empregado. Assim, convém-se apresentar, por conseguinte, as práticas agrícolas

tradicionais desenvolvidas na comunidade, pois se constitui num dos dados que

mais distingue cada grupo de perfil agrícola.

As mais utilizadas pelo grupo agroecológico são cobertura morta por 100%,

capina seletiva por 83%, culturas em sistema de consórcio por 67% e rotação de

cultura por 50%. As demais alternativas são utilizadas por um número menor de

agricultores, mas estão sempre presente na agroecologia, conforme apresentação

na Tabela 3.

As únicas técnicas ecológicas não desenvolvidas pelo grupo são o plantio

direto, a rotação entre lavoura e pasto para os que criam animais. Importante

salientar que nenhum dos agricultores que capinam com frequência, mantendo

sempre o solo desprotegido foi considerado agroecológico. Os números ultrapassam

100% porque todos responderam pelo menos mais de três alternativas (com

70

exceção da capina frequente com enxada), como pré-requisito para se enquadrar no

perfil agroecológico.

Tabela 3 – Principais tecnologias agrícolas tradicionais aplicadas na comunidade por

perfil agrícola

Principais técnicas

Perfil agrícola (%)

Agricultores convencio-

nais

Orgânicos Parciais

Agroecoló gicos

Orgânicos Transição

Agroecológica

Plantio direto 3 - - - 25

Quebra-vento 27 19 33 - 50

Adubo verde 18 6 33 - 25

Cultivo de cobertura 15 31 17 - 38

Consórcio 67 63 67 - 88 Rotação lavoura pasto

15 - - - 13

Suplementação orgânica

52 44 50 100 88

Cobertura morta 76 81 100 - 100

Coivara 36 38 17 - 50

Imita floresta 9 6 33 100 13

Rotação de cultura 39 50 50 - 38

Capina seletiva 12 25 83 100 75

Capina frequente: 88 69 17 - 25

Enxada 82 69 - - 0

Roçadeira 9 - 17 - 25

Estrovenga 3 6 - - 0

Elaborado por Gláucia Almeida, 2016.

Dos seis agricultores de perfil agroecológico, o que se reconheceu como

orgânico tem projeto de inserção de alguns elementos como hortaliças, culturas

anuais, criação de galinha e caprino no arranjo da agrofloresta, ele se preocupa

muito na manutenção do verde preservando uma grande área, onde insere também

as mudas ainda pequeninas, conforme figura 4.

Este agricultor, sobretudo demonstra conhecimento sobre ecologia: “se

capinar sempre, a terra vai ficar exposta ao sol, só capina quando vai plantar” e “não

preciso de adubo, só água, com água se planta tudo”. Fala também da necessidade

de proteção aos animais: “há uma falta de conscientização da população com

respeito à caça de veados, cutia e coelho”. Ele sente falta da atuação da associação

na preservação das nascentes.

71

Figura 4 – Exemplo de cultivo em sistema agroflorestal.

Na agrofloresta deles, ocorrem os processos predador/presa, a competição e

simbiose, processos de sucessão ecológica e a reciclagem de nutrientes

proporcionada pela cobertura morta (Tabela 3) decorrente da biomassa da própria

agrofloresta, que mantém a umidade do solo e preserva sua microbiologia (Figura

4).

Segundo Gliessman (2002), há outros benefícios na agrofloresta, como a

redução da temperatura e do impacto direto do vento e da chuva, as raízes

profundas melhoram a estrutura do solo e se tornam um habitat em potencial para a

diversidade da vida animal, além de ser uma fonte de matéria orgânica quando em

estágio de decomposição.

Todas as técnicas ecológicas são desenvolvidas pelo grupo de agricultores

em transição agroecológica. Importante salientar que nenhum dos que capinam com

frequência, mantendo sempre o solo desprotegido, foi considerado em transição

agroecológica (Tabela 3). Os números ultrapassam 100% porque todos

responderam pelo menos três alternativas para ser inserido no perfil de transição.

As práticas mais utilizadas pelo grupo em transição são cobertura morta por

100%, consórcio de culturas e suplementação regular com adubo orgânico por 88%

do grupo; 75% aderiram à capina seletiva e quebra-vento e coivara por 50% e

rotação de cultura por mais 50%. As demais alternativas são utilizadas por um

número menor de agricultores, mas estão sempre presentes somando ao grupo,

conforme apresentação da Tabela 3.

72

A cobertura morta é uma das formas mais eficiente no aumento da fertilidade

e melhora da estrutura do solo pelo fortalecimento da sua microbiologia,

minimização do impacto da radiação solar e das chuvas e também da compactação

(REIJNTJES et al., 1999). Eficiente porque não é preciso muito esforço e mão de

obra para acontecer, uma vez que cobertura morta consiste numa camada de

material natural sobre o solo (GLIESSMAN, 2002), este deve estar sempre coberto,

técnica essencial da agroecologia.

Vê-se na tabela 3 que cobertura morta, cultivo em consórcio e capina

frequente com enxada são as técnicas mais utilizadas por todos os perfis. É de todo

conveniente ressaltar, no entanto, que as tecnologias apresentadas na tabela 3

estão sendo resgatadas pelos agricultores e contribuem muito para o aumento do

desenvolvimento ecológico das propriedades que as praticam, exceto a tecnologia

chamada capina frequente com enxada.

Nota-se que a prática tradicional mais utilizada pelos grupos de agricultores

convencionais e orgânicos parciais é a menos ecológica e a que mais agride o solo

e compromete sua fertilidade e o processo de sucessão ecológica (MUTUANDO,

2005) – a capina frequente com enxada (figura 5). Assim, 88% do grupo dos

convencionais e 69% dos orgânicos parciais mantém o solo sempre limpo. A

observação em campo destas práticas e a base teórica apresentada foram

determinantes na escolha desta técnica como agressiva ao solo.

Figura 5 – Exemplo de solo descoberto por capina frequente de solo.

Sendo assim, os agricultores que capinam com muita frequência, como

parece na figura 5, foram considerados sem base ecológica uma vez que são

diversas as desvantagens a partir de seu uso, mesmo por aqueles agricultores que

73

desenvolvem outras atividades de cunho ecológico como cobertura morta (76%),

consórcio de cultura (67%) e suplementação orgânica (52%) – dados dos

agricultores convencionais.

A capina total e frequente é uma prática tradicional decisiva para expressar a

agricultura exploradora do solo. Diante dos 68 entrevistados, 47 a praticam, 42 com

enxada, apenas seis com roçadeira e dois com estrovenga. Esta prática é exercida

pelos indivíduos que se referem ao mato como sujeira: “tem que sempre tá

capinando, vai deixar o terreno sujo, cheio de mato!?” disse um agricultor.

Ao mesmo tempo eles se queixam do excesso de trabalho pesado necessário

para desenvolver a prática com enxada. Embora seja considerada uma prática

benéfica pelos agricultores tradicionais, pesquisas mostram que tal trabalho,

essencialmente pesado, é desnecessário e prejudicial ao solo.

Segundo o Centro Ecológico (2005), as plantas que surgem no momento de

pouca diversidade vegetal no solo, conhecidas como ervas daninhas, plantas

invasoras ou mesmo mato (por alguns agricultores) são na verdade plantas

indicadoras das condições do solo através do processo de sucessão ecológica, que

promove o desenvolvimento de solos e vegetais. Então, o ato de capinar tudo

impede o amadurecimento do solo e o progresso da vegetação que tenta atingir seu

clímax (MUTUANDO, 2005).

A figura 6 captura um sistema que aproveita os benefícios das plantas

indicadoras, bem visível na imagem da direita, mais conhecida como Jurubeba,

segundo o produtor, elas só serão retiradas quando for preciso plantar alimento no

local.

Figura 6 – Sistema agroflorestal em fase de implantação por agricultor em transição

Agroecológica.

74

O Instituto Mutuando (2005) nos alerta para o equívoco de ver estas plantas

(à direita da figura 6) como “daninhas”, elas são benéficas por nos fornecerem

muitas informações sobre o estágio de desenvolvimento do solo. Assim, o Instituto

recomenda substituí-la pela capina seletiva, primeiro observar as informações

fornecidas pelas plantas e, de acordo com a necessidade do solo, manejar a sua

qualidade para que não apareçam espécies mais agressivas e mais competidoras

com o cultivo. Estas aparecem como reação da sucessão ecológica pela vegetação

anterior que foi eliminada, elas vêm mais resistentes e difíceis até de serem

exterminadas (CENTRO ECOLÓGICO, 2005).

Pode-se concluir que 71% dos agricultores entrevistados estão tomando

prejuízos ao capinar com frequência suas lavouras, além de deixar o solo exposto e

susceptível à erosão e redução da sua fertilidade pela perda da matéria orgânica,

desperdiça ainda um recurso barato e acessível que se bem manejado dispensa até

consultoria, as plantas indicadoras.

Apesar da minoria, é um avanço positivo o uso de roçadeira por seis

agricultores – três dos que capinam com enxada apenas uma vez ao ano –, usam

também a roçadeira para diminuir a altura das plantas espontâneas e utilizá-las

como cobertura morta. Já a capina seletiva, recomendada pela agroecologia, é

desenvolvida por 28% da população entrevistada (19 agricultores), e apenas dois

não capinam, um porque cultiva agrofloresta e outro porque pouco faz agricultura.

7.3.3 Insumos

Dos seis que cultivam em arranjo agroecossistêmico, poucos compram adubo

para incrementar a fertilização do solo, mas a maioria tem fonte no próprio sítio, de

criações ou compostagem ou recebem doação. Com base em Reijntjes et al. (1999),

na agrofloresta há diversidade de seres vivos e ocorrência dos mesmos processos

ecológicos de um ecossistema natural.

A agricultura orgânica ecológica baseada nas premissas apresentadas por

Meirelles (2001) e pela Lei de Orgânicos é desenvolvida por apenas um agricultor na

comunidade. Ao observar a tabela 4, vê-se que o agricultor orgânico tem uma fonte

a qual fornece adubo de compostagem, mas ainda assim compra um pouco de

esterco humano produzido por hotel em Imbassaí, segundo ele viável

75

economicamente, e como defensivo orgânico compra o chorume do esterco de

gado.

Tabela 4 – Tipos de fertilizantes utilizados por perfil agrícola em números absolutos

Tipo de adubo Agricultores

convencionais Agroecológicos Orgânicos

Orgânicos parciais

Transição agroecológica

Nenhum - 1 - - 1

Orgânico 33 5 1 16 7

Adubo verde 4 1 - - 2

Compostagem 10 3 1 8 5

Minhocário - - - 1 Esterco animal 29 4 1 12 6

Outros 4 1 - 5 - Químico – NPK

10 - - - -

Elaborado por Gláucia Almeida, 2016.

Depois de analisado cada perfil, percebe-se um conjunto de agricultores que

não cumprem as mais básicas atribuições da lei como no inciso primeiro do

parágrafo de mesmo número que atribui como finalidade do sistema de produção

orgânica “a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais”

(BRASIL, 2003: 01). São os chamados agricultores convencionais.

Quase todos os integrantes de cada grupo utilizam fertilizante orgânico, desde

compostagem, esterco de sua própria criação a doados, poucos o compram para

complementar, mas diante da necessidade de controle, conforme tabela 6,

principalmente as formigas cortadeiras, quase todos utilizam formicida.

Ao observar as entrevistas, indica-se que estes agricultores abominam o uso

de veneno na fertilização dos solos para aumentar a produção, a ponto de um que

comercializa para o Programa de Aquisição de Alimentos, afirmar com segurança

que a totalidade de sua produção é essencialmente natural. “Não uso adubo

químico... nem eucalipto eu quero de jeito nenhum, sei que ele prejudica o solo”

disse um, outro afirmou que quando se usa o químico, para ele a planta se torna

artificial e, no entanto, todos utilizam formicida.

Baseado nesse discurso, alguns agricultores encontram-se numa situação

ainda mais grave. Para um deles, é necessário utilizar adubo químico NPK por

76

vários motivos, apesar de afirmar que o solo é bom, sua área agricultável fica em

relevo ondulado, o que para ele se torna mais difícil produzir porque a chuva carrega

todo o esterco utilizado e, para compensar, ele precisa fazer reposição com

frequência. “Já perdi produção inteira com o adubo de gado porque a chuva

carregou tudo... esterco aqui não adianta... não dar nada... eu mesmo não arrisco

mais... milho e feijão só vai no químico”, diz.

Para ele, é insustentável usar sempre o orgânico por ser muito caro e o que

recebe da Salvação da Lavoura é muito pouco. Depois ele releva que usa o químico

também nos coqueiros. O resultado evidencia uma tendência de desequilíbrio

justamente nas mesmas culturas adubadas pelo químico, uma vez que ele é o único

do grupo que se queixa de lagartas no milho e no feijão, as mesmas culturas nas

quais, segundo ele, só produzem com o químico. Já os outros que adubam apenas

com orgânico, esterco ou compostagem, só têm desequilíbrio com excesso de

formiga cortadeira e usam veneno para eliminá-las.

Todos os agricultores que fazem utilizam adubo químico ou fazem o controle

também com venenos industrializados, foram inseridos no perfil de agricultores que

alimentam o sistema capitalista do agronegócio – os agricultores convencionais

(Tabela 5). Deste grupo, a maioria (30 agricultores) se queixa de desequilíbrio e 28

fazem o controle químico, apenas dois utilizam alternativas orgânicas de controle e

três afirmaram não ter necessidade de controle. Estes possuem sistemas

semelhantes a agrofloresta, alta produtividade diversificada diminui o impacto dos

agroquímicos.

Tabela 5 – Relação da necessidade e do tipo de controle utilizado em caso de

desequilíbrio por perfil agrícola em números absolutos

Identificação do controle

Agricultores convencionai

s Agroecológicos Orgânicos

Orgânicos parciais

Transição agroecológic

a

Sem necessidade de Controle

3 2 0 4 2

Necessidade de Controle

30 4 1 12 6

Controle químico 24 0 0 0 0 Controle alternativo

2 3 1 10 4

Controle químico e alternativo

4 0 0 0 0

Convivência 0 1 0 2 2

Elaborado por Gláucia Almeida, 2016.

77

Segundo a Cartilha de Agroecologia (AGRICULTURA FAMILIAR,

AGROECOLOGIA E MERCADO, 2008), o descontrole tem justificativa: quando há

um desequilíbrio ocorrido pelo uso de produtos químicos que matam os

microorganismos, abre-se espaço para o surgimento de “pragas” e,

consequentemente aumenta-se uso de agrotóxicos e inseticidas num sistema que

nunca terá capacidade de se sustentar.

Porém os resultados mostram que um sistema agroflorestal (diversidade

biológica), mesmo com a utilização de insumos não renováveis diminui o

desequilíbrio calculado pela incidência de “pragas”. Seja pela maior diversidade

biológica (em comparação ao mesmo uso em sistema não agroflorestal) que leva

mais tempo para de fato desequilibrar-se ou pelo fato de a agrofloresta minimizar os

efeitos dos produtos. Lembrando que sua utilização mata a vida no solo,

contaminando ele e a água superficial ou subterrânea.

Do que já foi dito, pode-se acrescentar ainda a importância da manutenção de

alimentos “limpos”, especialmente para os oito agricultores que se dizem orgânicos e

simultaneamente familiares e orgânicos, pois a lei que regulamenta a produção

orgânica (BRASIL, 2003) destaca o uso de agrotóxicos na produção como um ato de

infração apurada em processo administrativo passível da aplicação de sansões

como advertência; multa de R$1.000.000 (um milhão de reais); suspensão da

comercialização, inutilização e condenação do produto, embalagens e matérias-

primas (BRASIL, 2003).

Mesmo diante de comércio informal, as sanções podem ser aplicadas aos que

se autodenominam orgânicos, posto que o parágrafo primeiro do artigo terceiro torna

a certificação facultativa desde que o órgão fiscalizador tenha livre acesso aos locais

de produção e comercialização (BRASIL, 2003). E a inconveniência de lesar até

mesmo os próprios vizinhos, que compram muitas vezes pagando mais caro

confiando na qualidade do produto, também merece justiça ao perceber atitude de

má fé do produtor ou vendedor.

Fala-se assim com base na lei, mas baseado no discurso da maioria dos

indivíduos no momento da entrevista, revela certa ignorância – falta de

conhecimento – quanto ao uso de inseticidas nas lavouras. Uma pessoa que usa

formicida como defensivo e fala sem nenhum receio “Não uso nada artificial... não

78

tomo nada artificial, se for orgânico eu tomo”, disse um agricultor que não demonstra

conhecimento mínimo sobre os agroquímicos.

Ao que parece, para eles, ser orgânico e usar defensivo químico é normal,

não pode é perder a produção para as pragas, mas utilizar adubo químico modifica a

planta, o fruto entre outros comentários ouvidos. É um equívoco que cerca muitos

produtores, os que utilizam o fertilizante químico demonstram clara moderação, não

usa em tudo, apenas nos cultivos mais difíceis de produzir e disponíveis só uma vez

no ano, como milho e feijão e nos cultivos que desejam produção mais rápida como

coqueiro. A situação é lamentável, comprova a carência de informação pela qual

passa a comunidade, necessita de políticas públicas voltadas especificamente para

a educação ambiental e práticas de agricultura ecológica.

Em geral, dos indivíduos entrevistados que não se apropriam dos moldes das

agriculturas ecológicas apresentadas totalizam 49% dos entrevistados. Se eles não

se enquadram no padrão de agricultura orgânica, não podem se acomodar em

qualquer agricultura de base ecológica e sustentável porque o princípio fundamental

delas é a eliminação de insumos artificiais tóxicos (LOPES e LOPES, 2011).

Convém chamá-los de agricultores convencionais, uma vez que suas práticas,

mesmo não sendo todas, são típicas da agricultura convencional alimentadoras da

Revolução Verde como se pode visualizar na figura 7 a falsa consciência de que

eliminar toda a vegetação para plantar alimento é uma prática sustentável. Segundo

Caporal e Costabeber (2004), esse tipo de agricultura resulta no uso de algumas

técnicas diferenciadas do pacote convencional moderno, mas é o mesmo modelo.

Figura 7 – Exemplo de práticas prejudiciais ao agroecossistema desenvolvidas pelos

agricultores convencionais.

79

Os insumos sintéticos derivados de energias não renováveis são fruto das

teorias “agroquímicas” desenvolvidas pela agricultura moderna no Século XIX. Os

detentores das mesmas ensinaram à sociedade que a utilização dos mesmos

substituiria efetivamente as técnicas tradicionais utilizadas pelos pequenos na

agricultura e passou a ser a mercadoria indispensável dos adeptos da Revolução

Verde.

Sergio Gonçalves (2009) alerta que esta revolução tem como característica a

contaminação do conjunto ar-solo-água-animais-pessoas pelos insumos químicos.

Sendo assim, torna-se relevante afirmar a insustentabilidade da agricultura e do

agricultor que utiliza material sintético em suas terras. É uma forma de acabar com a

vida no solo e na água, pois deixa de ocorrer o processo predador/presa que

mantém o equilíbrio do reino animal no solo e na água, modifica a fertilidade do solo

e ainda pode causar inúmeras doenças ao próprio ser humano que o manipula.

Um agricultor merece destaque no assunto, ele passou toda a sua vida

trabalhando como agricultor e utilizando todo tipo de adubo, inclusive o químico.

Hoje, já adoentado, ele ‘descobriu’ que utilizar fertilizante químico contamina o solo,

que um dia não conseguirá mais produzir, e a água, matando, por conseguinte, até

os peixinhos que ele tanto admira numa área alagada dentro de seu terreno. A

informação levada a ele incessantemente por amigos e vizinhos, o fez deixar de

utilizar os produtos, mas como a maioria da comunidade, ele disse que se uma

praga atingir seu plantio, ele vai usar defensivos não naturais porque a ação é muito

mais rápida.

É de suma importância esse trabalho voluntário de conscientização quanto ao

uso dos agroquímicos, principalmente na comunidade onde boa parte não conhece

os malefícios para o agroecossistema e para a saúde animal e humana. Há outros

seis agricultores que deixaram de interferir quando percebiam o desequilíbrio e

passaram a buscar o aprimoramento das técnicas de convivência com os animais

para alcançar o equilíbrio.

7.3.4 Políticas públicas

Ao relacionar os dados obtidos sobre as políticas púbicas que assistem os

agricultores com o tempo de permanência deles na comunidade, foi possível inferir

sobre a influência das políticas públicas na tomada de decisão de fazer agricultura.

80

Diante do número de políticas públicas de incentivo e permanência dos agricultores

familiares no campo, a cada ano tem crescido o número de agricultores familiares.

Na Comunidade Foz de Imbassaí, auxiliados principalmente por duas políticas

públicas, o Programa de Aquisição de Alimentos, criado em 2003 e o Salvação da

Lavoura em 2006, além da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), apesar de

não encontrarem-se agricultores que se declarassem beneficiados do Programa

Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF). A DAP é uma certidão básica

obrigatória para os beneficiários do PRONAF, que permite o acesso ao crédito.

Figura 8 – Relação de participação dos agricultores por perfil agrícola e políticas

públicas em números absolutos

Elaborado por Gláucia da Silva Almeida, 2016.

Há apenas dois agricultores com registro na DAP, um não ativou para o ano

em exercício e outro ainda a utiliza, com certeza para acesso a algum crédito do

PRONAF, apesar de não declarado na entrevista. Isso aconteceu com certa

frequência e principalmente em relação aos beneficiários do kit salvação da lavoura

por acharem que a entrevista estava sendo feita por algum órgão ou ONG que

poderia beneficiar àqueles que não recebiam nenhum incentivo.

Então eles negavam ter o benefício, mesmo a entrevistadora se identificando

como estudante e também agricultora. Isso foi descoberto no dia da entrega do kit,

quando se vê agricultores não beneficiados nas entrevistas sendo chamados para

81

receber o kit, material intransferível, pois já vem da prefeitura com nome de cada

beneficiário.

Convém afirmar também que os agricultores fazem certa confusão quanto ao

fornecedor do kit salvação da lavoura, eles acreditam que a associação fornece o

material, quando na verdade a associação faz a intermediação entre a prefeitura e

os beneficiados ao distribuir os kits e agendar o dia do cadastro e atualização do

mesmo.

Com certeza, a agricultura familiar foi muito bem influenciada, aumentando o

número de adeptos da atividade após a criação do PRONAF há mais de 20 anos

(BRASIL, 2014). Apesar de poucos beneficiários do programa na comunidade,

acredita-se que o saber da possibilidade do benefício, deixa o pequeno agricultor

mais seguro de desenvolver a atividade do que antes da sua criação.

Há mais de 16 anos, pouco tempo antes dos anos 2000, havia sete

agricultores dispostos a desenvolver atividades agrícolas, na época só o PRONAF

existia como política aos pequenos produtores, destes seis são beneficiários da

salvação da lavoura e um do PAA. A partir dos anos 2001 até 2005, houve um

aumento de agricultores familiares de 86% na comunidade e continuou crescendo

entre os anos de 2006 e 2010 em 69%mas apesar de 22 agricultores na

comunidade, até 2010 apenas 15 tiveram acesso às políticas públicas, 13 à

Salvação da lavoura.

Em intervalos menores, de 2013 a 2011, os dados tomaram um sentido

contrário, com redução de 45% no crescimento do número de agricultores familiares,

isso em comparação com o valor do período anterior (2006 a 2010). Em números,

apenas 12 pessoas passaram a desenvolver agricultura até 2013, porém menos de

50% (cinco) se beneficiam de alguma política pública e apenas a salvação da

lavoura. No período de 2014 a 2016, o número de adeptos foi semelhante aos do

período anterior mais próximo, sua redução foi de apenas 17%.

É de grande importância mostrar um resultado não planejado: o número de

beneficiários do PAA cresceu até o ano de 2010, deste ano em diante não houve

novos adeptos ao programa, que desde o início como se pode observar a observar

na figura 8 já tinha uma ínfima participação na comunidade em comparação com a

Salvação da Lavoura.

Conforme os dados propostos, desde o início do processo de ocupação da

área, o crescimento da agricultura familiar ganhou proporções significativas,

82

influenciadas apenas pelos programas do PRONAF e PAA. Os agricultores que

estão na área entre 6 e 10 anos pode-se citar também a influência do projeto

Salvação da Lavoura e os demais, sendo que a partir de 2011 o número de adeptos

em vez de aumentar, diminuiu significativamente, trazendo consigo uma alerta para

maiores investimentos ao pequeno produtor visando conquistar espaço no local de

tradição econômica voltada ao turismo.

A partir da assistência promovida pelo projeto Salvação da Lavoura aos

agricultores, relacionada ao número de beneficiários – bem maiores que os do

Programa de Aquisição de alimento – não foi possível inferir quantos utilizam as

sementes convencionais concedidas pelo projeto.

7.3.5 Sementes

Abre-se aqui uma discussão voltada ao uso de sementes convencionais em

sistemas agrícolas de base orgânica. Como visto na literatura, há permissão para o

uso destas sementes no cultivo orgânico, desde que não sejam tratadas com

produtos químicos, e diante da ausência de sementes de origem orgânicas (BRASIL,

2013). Têm-se aqui dois problemas.

O primeiro conclui que diante de pesquisas em livros de autores renomados

da agroecologia em internet, contato com pessoas atuantes na área e inclusive a

Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), não foram encontradas leis, decretos

e/ou citações que limitassem ou liberassem o uso destas sementes na ausência de

sementes crioulas ou orgânicas em sistemas agroecológicos.

O segundo problema está na análise visual feita na semente recebida pelos

agricultores como parte do kit Salvação da Lavoura. São sementes convencionais de

hortaliças e culturas anuais como milho, feijão e amendoim; no entanto,

especificamente as sementes de milho recebem tratamento para que sejam

conservadas por mais tempo, infringindo a lei.

Diante destes dois problemas, resolve-se considerar a lei de orgânicos para

os sistemas agroecológicos, uma vez que sobre estes não foram encontrados

restrições, logo o agricultor orgânico, agroecológico e em transição agroecológica

continuam sendo considerados de base ecológica, uma vez que não se tem o

controle de quem utiliza essas sementes para plantar.

83

Apesar de ser muito incentivada, a diversidade genética, criação de sua

própria cultivar e sementes crioulas na agroecologia, apresenta princípios não com

receita de bolo para compra de ingredientes, mas o processo é iniciado com os

recursos disponíveis. Como parte do kit, estas sementes são fornecidas sem

nenhum custo ao agricultor, logo é o recurso que ele dispõe para o plantio.

Entretanto, no sistema agroecológico, o agricultor não pode se acomodar a

utilizar as sementes convencionais, ele deve criar sua própria semente e armazenar

para o próximo plantio, pois segundo Altieri (2012) devem ser utilizadas sementes

crioulas e orgânicas. Questionamento que não foi feito durante a entrevista, mas é

reconhecido como uma das principais limitações desta pesquisa. Outra limitação

relacionada ao tema foi a ausência de questões voltadas a saber da efetividade do

uso das sementes fornecidas pelo projeto. Tem-se plena convicção, com base nos

dados, que pode haver mais de um agricultor que não utilizam as sementes tratadas

a eles concedidas.

7.3.6 Dificuldades

Trata-se como um tópico de grande importância tanto econômica como social,

o que discute e busca encontrar e apresentar as principais dificuldades de uma

comunidade e dos perfis agrícolas que a compõem. O motivo é claro, pois ao se

tomar conhecimento das principais dificuldades, podem-se inferir as principais

necessidades da presente comunidade, fatores essenciais para promoção de

investimentos e políticas públicas efetivas.

Como já mencionado, a principal dificuldade dos agricultores é a crença de

que o solo local é praticamente infértil, principalmente pelos agricultores

convencionais, orgânicos, orgânicos parciais e em transição agroecológica.

Conforme tabela 6, no grupo dos agroecológicos, apenas 50% tem esta alternativa

como a principal dificuldade, uma vez que em geral suas práticas culminam no

aumento natural da fertilidade do solo.

A dependência de assistência técnica foi a segunda alternativa mais votada

pelos agricultores, 50% dos orgânicos parciais e dos em transição agroecológica

relatam esta como dificuldade que impedem de avançar por falta de orientação para

o desenvolvimento da atividade. Já os convencionais e agroecológicos tem menos

de 50% com esta queixa.

84

A tabela 6 também mostra que metade dos agroecológicos queixa-se também

de baixo poder aquisitivo para investir na atividade agrícola e criação animal,

principalmente para construção de galinheiros. Não é um dos fatores principais, mas

o baixo poder aquisitivo foi relatado por agricultores de todos os grupos.

Tabela 6 – Identificação das principais dificuldades dos agricultores por perfil

agrícola

Fatores de dificuldade

Perfil agrícola (%)

Agricultores convencio-

nais

Agroecoló- gicos

Orgânicos Orgânicos parciais

Transição agroecoló-

gica

Sem dificuldade 6 17 0 0 13

Necessidade de controle

9 17 0 0 13

Baixo poder aquisitivo 21 50 100 25 13

Falta de conhecimento 0 0 0 0 0

Dependência de assistência técnica

48 33 0 50 50

Baixa fertilidade do solo

73 50 100 63 63

Acesso à água 30 17 100 44 38

Elaborado por Gláucia Almeida, 2016.

Problemas com desequilíbrio no plantio que aparece na tabela 6 como

necessidade de controle (dos insetos que se tornam nocivos quando em excesso), é

maior para os agroecológicos e em transição agroecológica, justificável uma vez que

estes não utilizam inseticidas químicos para o controle de insetos e doenças, o que

de certo modo, torna mais dispendioso encontrar um tipo de controle alternativo que

seja efetivo e possa recuperar o equilíbrio e o plantio.

Apesar de a região ser rica em recursos hídricos, o acesso à água potável

ainda é um sonho pouco distante para os agricultores. Menos da metade o

considera uma consistente dificuldade para manutenção dos plantios. Assim, a

maioria faz uso da água diretamente do rio por meio de baldes plásticos para

abastecimento doméstico e agricultura.

No entanto, 6% dos agricultores convencionais, 17% dos agroecológicos e

13% dos em transição não relatam dificuldade em desenvolver agricultura e em

manter a atividade, uma minoria que pratica agricultura com recursos disponíveis e

85

não ver dificuldade nisto. Pode-se concluir que todos os agricultores não tem falta de

conhecimento como uma dificuldade, ou melhor, segundo eles, há conhecimento

acumulado, pois, ao observar a tabela 6, percebe-se que a alternativa falta de

conhecimento não foi votada por nenhum agricultor de qualquer grupo.

Logo, diante das principais dificuldades identificadas por meio das entrevistas,

podem-se inferir as principais necessidades para minimizar os problemas e

concretizar a atividade. Dentre elas, a emergência de uma educação ambiental de

qualidade visando o aumento de conhecimento agrícola voltado para o uso e reuso

dos recursos locais disponíveis capazes de auxiliar tanto no aumento natural da

fertilidade do solo como na otimização para os que dispõem de poucos recursos

financeiros para investimento no desenho de um agroecossistema eficiente.

Apesar de nenhum admitir falta de conhecimento, percebe-se que a

alternativa pode ter sido entendida de forma equivocada ou há uma resistência dos

agricultores em admitir pouco conhecimento sobre produção agrícola em especial de

base ecológica. Investimento em políticas públicas voltadas em assistência técnica

regular para os agricultores é uma das carências essenciais principalmente na troca

de conhecimento através de cursos com temáticas agrícolas específicas, como na

economia e uso racional dos recursos ambientais até mesmo as necessidades de

controle e manutenção do equilíbrio.

7.3.7 Melhorias

Como forma de saber a satisfação dos agricultores com o desenvolvimento da

atividade, criou-se uma pergunta relacionada ao assunto e o resultado mostra que a

atividade proporciona bem-estar aos atores envolvidos, a menor participação é do

grupo dos agroecólogos, observa-se na tabela 7 que 67% passaram a desfrutar de

bem-estar. Na comunidade, a segunda maior melhoria foi na alimentação, uma vez

que muitos agricultores plantam o seu próprio consumo, o que permite uma maior

segurança alimentar tendo em vista a procedência “confiável” dos alimentos

consumidos por eles próprios.

A tabela 7 mostra que a segunda maior melhoria na alimentação foi pensada

como diretamente relacionada à alternativa autonomia (que se refere à autonomia

em produzir seu próprio alimento), no entanto, esta teve uma adesão menor por

todos os tipos de agricultores, 50% dos agroecológicos e 56% dos orgânicos

86

parciais tem os maiores índices; não inclui os orgânicos porque em porcentagem

seus dados se tornam pouco representativos porque só há um agricultor neste grupo

e este além de melhorar bem-estar e alimentação, conquistou autonomia na

produção de alimentos e conseguiu a realização pessoal que almejava.

A realização pessoal refere-se àquele sentimento do agricultor de, após sofrer

com o êxodo rural, almejar seu retorno à área rural para desenvolver agricultura e

resgatar as raízes aprendidas por meio de conhecimento nativo passado de pais e

avós para filhos. Trata-se de uma alternativa votada por mais da metade da

comunidade que se encontra satisfeita com o sonho realizado.

Tabela 7 – Melhoras obtidas pelos agricultores a partir do desenvolvimento da

atividade agrícola

Melhorias

Perfil agrícola (%)

Agricultores Convencionais

Agroecológicos

Orgânicos Orgânicos Parciais

Transição Agroecológica

Rentabilidade 33 33 0 38 25

Alimentação 73 83 100 81 75

Autonomia 24 50 100 56 25

Bem-estar 94 67 100 94 100

Realização

pessoal 45 50 100 50 88

Outra 12 33 0 0 25

Saúde 6 17 0 0 25

Qualidade de vida 3 17 0 0 0

Lazer 3 0 0 0 0

Elaborado por Gláucia Almeida, 2016.

O aumento da renda também como uma das motivações foi a alternativa

menos votada. Com base nestes dados da tabela 7, pode-se concluir que poucos

agricultores aumentaram a renda com a atividade agrícola. Isso acontece porque

também são poucos os que comercializam e mais: a maioria dos agricultores tem

muito gasto com insumos, adubos etc., seja orgânico ou químico e material para

controle de doenças e insetos nocivos.

Alguns não vêm o aumento na renda porque comercializam apenas a

comerciantes, e ainda afirmam que tem de agradecer pelo comerciante buscar seu

87

produto diretamente no sítio. A ausência de transportes e ausência de uma certeza

de venda em feiras que acontecem em Mata de São João, Lauro de Freitas e

Salvador, torna preocupante ao agricultor fretar um carro para transportar a

mercadoria. Segundo eles, muitas vezes, o lucro da venda não dava para pagar

sequer o frete.

Aqui, pode-se afirmar que há necessidade de investimento público para

fomentar a produção e principalmente o comércio justo para a comunidade, Assim,

instalações próximas à comunidade na qual os agricultores pudessem expor e

comercializar seus produtos, bem como o fornecimento de um transporte para

escoamento de toda produção que a comunidade desejasse comercializar são

projetos que devem ser pensados.

88

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral, não existe homogeneidade na agricultura da comunidade,

apesar de terem sido constatados fatos comuns a comunidade é muito heterogênea,

composta por pessoas e posturas diferenciadas no âmbito da agricultura. Constatou-

se a ausência de agricultores que vivam exclusivamente da agricultura para a

própria subsistência da família, uma vez que, aposentados ou não, a comunidade

em si possui outros meios de subsistência que não agricultura.

Verificou-se também certa tendência à especulação imobiliária na

comunidade, pois nem todo agricultor é morador local. Muitas pessoas compram

terrenos e o abandonam por alguns anos para agregar valor e depois vender, muitos

ainda fatiam suas terras para a venda e ficam cada vez mais com áreas menores.

Constatou-se uma limitada utilização de base ecológica representativa na

agricultura da comunidade porque houve uso de pelo menos um insumo químico ou

de práticas, ainda que tradicionais, mas contraditórias aos princípios da

sustentabilidade. São práticas agrárias que garantem a continuidade da reprodução

do capital por mais da metade da população entrevistada.

Cada vez fica mais evidente a dúvida quanto à originalidade de alimentos que

segundo seus responsáveis são orgânicos ou agroecológicos. Não se pode afirmar

até que ponto o solo no qual aquele alimento foi cultivado recebe insumos químicos.

Não se pode constatar também se o responsável pelo alimento conhece os

princípios da agricultura orgânica.

Os estudos revelaram uma carência de informação e conhecimento acerca

dos parâmetros estabelecidos pela agricultura orgânica e produção de alimentos

limpos e, também, em conhecimentos ecológicos de preservação do meio ambiente

por meio do manejo agrícola do solo. Tais deficiências sugerem a criação de

políticas públicas que promovam a educação ambiental e assistência técnica a todos

os agricultores, único caminho de se alcançar uma comunidade de base ecológica.

Embora haja necessidade de assistência técnica, as duas principais políticas

públicas que assistem maior parte da comunidade são efetivas. Ficou comprovado

maior número de adeptos da agricultura familiar no início do processo de ocupação

e menor adesão nos últimos dez anos.

89

Em síntese, não se pode assegurar que as políticas públicas Programa de

Aquisição de Alimentos e Salvação da Lavoura influenciaram diretamente a

dinâmica de indivíduos que aderiram ao movimento de agricultores familiares. O

PRONAF mostrou-se mais determinante pouco tempo após sua criação. Ainda

assim, todas contribuem muito na redução dos gastos com insumos agrícolas,

contribuem para o desenvolvimento rural e da agricultura familiar, enfatizando-a

como atividade prioritária, fomentando a permanência do homem no campo e

sempre produzindo.

Diante da metade da comunidade que desenvolve agricultura orgânica,

agroecologia e transição agroecológica, é de grande importância resistir ao

agronegócio e aos moldes de desenvolvimento capitalista, pois vai de encontro com

os princípios destes. Numa área de potencial econômico essencialmente turístico e

centralizador, o movimento de agricultores conseguem isenção de Imposto Territorial

Rural (ITR) e desenvolver agricultura.

Durante o período de pesquisas em sites, artigos, livros e cartilhas em geral,

bem como consultas a atuantes na agroecologia, não foram encontradas lei e/ou

princípios que restrinja ou autorize, na ausência de sementes orgânicas, o uso das

sementes convencionais, mas tomou-se conhecimento da orientação correta para

sementes crioulas. Assim, os agricultores que recebem os kits Salvação da Lavoura

com tais sementes, não deixaram de serem considerados agroecológicos por isto,

uma vez que a pesquisa teve como limitação o questionamento sobre o uso das

sementes concedidas pela prefeitura.

Sugere-se de acordo com a necessidade, uma intervenção com certa

urgência em capacitação para iniciar o processo de transição para agriculturas de

base ecológica e aprimorá-lo. Sem investimentos a comunidade corre risco de

perder espaço da agricultura familiar para o desenvolvimento de atividade que

alimente exclusivamente os agentes hegemônicos do capitalismo, seja na agricultura

ou no turismo exacerbado que já acontece na região e também ameaça o meio

ambiente.

Recomenda-se, sobretudo que as políticas públicas sejam voltadas à questão

ambiental, por exemplo, a distribuição de sementes orgânicas ou livres de

tratamentos químicos, isso garante ao agricultor a manutenção de uma semente e

todo seu sistema sadios. Incentivos para que a oferta de produtos orgânicos iguale a

alta demanda e diminua as burocracias para o livre comercio de produtos orgânicos

90

– a certificação. Políticas equitativas do ponto de vista socioeconômico, por

exemplo, com medidas fiscais que incentivem e encorajem a adesão às práticas de

base ecológica seja por meio de aumento de impostos para usuários de práticas

predatórias e convencionais ou isenção para os que preservam a diversidade

biológica entre outras ações.

Convém lembrar mais uma vez que a área da comunidade não tem precisão,

foi delimitada a partir de indicações dos próprios moradores. Por conseguinte, torna-

se importante a institucionalização da área para uma maior visibilidade e

possibilidade de participação em políticas públicas entre outras ações sociais para

agricultura familiar, por exemplo, uma certificação coletiva para os agricultores de

base ecológica.

91

REFERÊNCIA

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97

APÊNDICE

MODELO DO QUESTIONÁRIO PARA APLICAÇÃO DAS ENTREVISTAS

1. Natural de: ____________________ Idade: _________ Sexo: ( )F ( ) M

2. Área: ( ) <1ha ( ) 1-5 ha ( ) 5,01-20 ha ( ) 20,01-

30 ha ( ) Não sabe

3. ( ) Agricultura como atividade principal ( ) Como atividade

complementar. Qual principal? ___________________________________________

( ) Outra atividade complementar. Qual?___________________________________

4. Há quanto tempo como agricultor: ( ) 0-2 anos ( ) 3-5 ( ) 6-10 anos

( )11-15 anos ( ) Acima de 16 anos

5. ( ) Morador local ( ) Apenas agricultor local. Onde mora?________________

6. Experiências anteriores com agricultura? ( ) Não ( ) Sim.___________________

7. O que cultiva?

( ) Árvores frutíferas ( ) Raízes ( ) Hortaliças ( ) Culturas anuais/temporárias

( ) Plantas nativas ( ) Agrofloresta ( ) Madeiras de lei ( ) Plantas

Ornamentais ( ) Abelha

( ) Galinha ( ) Caprino/ovino ( ) Bovino ( ) Piscicultura ( ) Outros

___________________________________________________________________

8. Como se autodenomina?

( ) Agricultor familiar ( ) Permacultor ( ) Agroecológico

( ) Biológico ( ) Biodinâmico ( ) Agricultor convencional ( ) Orgânico

9. O que motivou a escolha pelo tipo de agricultura que praticas?

( ) Incentivo familiar ( )Melhorar saúde ( )Aumentar renda

( ) Preocupação com o meu ambiente ( ) Amor pela terra ( ) Fuga das grandes

cidades ( ) Resgatar as próprias raízes ( ) Autonomia de produzir o próprio

alimento ( ) Outro

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

98

10. Práticas tradicionais adotadas

( ) Plantio direto ( ) Sistema consorciado ( ) Quebra-ventos ( ) Adubação

verde ( ) Suplementação regular de material orgânico ( ) Rotação de culturas

( ) Rotação lavoura/pasto ( ) Cobertura morta ( ) Imitação da floresta

( ) Manejo ou capina seletiva do mato mole ( ) Cultivo de cobertura

( ) Imita floresta ( ) Capina frequente: ( ) enxada ( ) Roçadeira

( ) Aração Superficial ( ) Aração Profunda: ( )Utiliza trator

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

11. Como são regados os plantios? ( ) Apenas chuva ( ) Armazenamento da

água da chuva ( ) Poço artesiano ( ) Irrigação ( ) Direto do rio

12. Que adubo utiliza para melhorar a produção? ( ) NENHUM ( ) ORGÂNICO:

( ) Adubação verde ( ) Compostagem ( ) Minhocário ( ) Esterco animal

( ) Preparado biodinâmico ( ) Restos alimentares diretamente na planta ( )

Outros. ( ) Produção própria ( ) Comprados ( ) Doação

( ) QUÍMICO: ( )NPK ( ) Outros______________________________________

13. Quais as maiores dificuldades? ( ) Necessidade de controle de doenças e

insetos ( ) Baixo poder aquisitivo para investimento ( ) Falta de

conhecimento sobre sustentabilidade ( ) Dependência de assistência técnica

( ) Baixa fertilidade do solo ( ) Acesso à água ( ) Outras.

___________________________________________________________________

14. Quais os insetos/doenças mais frequentes? ( ) Pulgão ( ) Lagarta do

milho/feijão ( ) Gafanhoto ( ) Formiga cortadeira ( ) Lagarta da fruta

( ) Outros___________________________________________________________

15. Como combate eles? ( ) Não combate ( ) Combate: ( ) Defensivo

natural ( ) Inseticida químico ( ) Controla com plantas repelentes ( )

Comprados ( ) Produção própria ( )Aduba

Nome:______________________________________________________________

16. Utiliza os alimentos em benefício da saúde? ( ) Não ( )Sim.

99

Como: ( ) Alimentos ( ) Remédios ( ) Outros:

___________________________________________________________________

17. Comercializa? ( )NÃO: ( ) Consumo familiar ( )SIM: ( ) Tudo

( ) apenas excedente. Clientes: ( ) comerciantes ( ) Feiras ( ) Vizinhos

( ) PAA ( ) PNAE ( )Outros._______________________________________

18. Há processamento de alimentos? ( ) Não ( ) Sim. ( ) No sítio ( ) Em casa.

( ) Artesanal ( ) Semi-industrial

19. Utilizam embalagens? ( ) Não ( ) Sim. Qual padrão? ( ) Plástico comum

( ) Sem identificação ( ) Material reciclado ( ) Improvisado- Sacolinhas de

mercado ( ) Outro ___________________________________________________

20. Custo alto? ( )Não ( )Sim. Quanto?________________________________

21. Costuma fazer experimentos e observar os resultados? ( )Não ( )Sim. Quais:

( ) cultivar uma planta junto com outra ( ) Plantar na sombra de árvores

( ) Plantar determinada planta sem conhecimento prévio da forma de cultivo

( ) Usar determinado adubo orgânico ( ) Outros____________________________

22. Melhoras obtidas com a agricultura sustentável: ( )NÃO ( )SIM:

( ) Rentabilidade ( ) Segurança alimentar ( ) Autonomia ( ) Bem-estar

( ) Realização pessoal ( ) Outro_____________________________________

23. É certificado? ( )Não ( )Sim. Há quanto tempo: ( )<5 anos ( ) 6-10 anos

( ) 11-15 anos ( ) > 15 anos. Quem certifica?_____________________________

Tem supervisão? ( ) Não ( )Sim Quantas?________________________________

Qual a orientação da certificadora?__________________________________

24. Tem associação representante? ( ) Não ( ) Sim ( ) Não sabe ( ) Abstenção.

Há trabalho coletivo? ( ) Não ( ) Sim ( ) Não sabe ( ) Abstenção.

Participa? ( ) Não ( ) Sim. Como ocorre? ( ) Troca de saberes ( ) Solidariedade

( ) competição entre os agricultores ( )____________________________________

___________________________________________________________________

25. Como o (a) Sr. (a) ver o tipo de agricultura que desenvolve? ( ) Aumento de

renda ( ) Ocupação a mais ( ) Aprendizado ( ) Filosofia de vida ( )

Importante Herança familiar/pais para filhos ( ) Forma de contribuir com o meio

ambiente ( ) Outro:__________________________________________________

100

26. É beneficiário de algum programa de política pública do município, estado ou

federal? ( ) Não ( ) Sim. Qual? ( ) PAA ( ) PRONAF ( )

Salvação da Lavoura ( ) Outro:_____________________________

Observar se há preservação dos recursos Naturais? ( ) Reserva legal ( ) Mata

ciliar