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0 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ FERNANDA AMABILE DA SILVA RODRIGO XAVIER MATOS VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo. Itajaí 2012

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

FERNANDA AMABILE DA SILVA

RODRIGO XAVIER MATOS

VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS

NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo.

Itajaí

2012

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FERNANDA AMABILE DA SILVA

RODRIGO XAVIER MATOS

VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS

NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo.

Itajaí

2012

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do título de cirurgião-dentista, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde Orientadora: Profª.MSc Elisabete Rabaldo Bottan

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FERNANDA AMABILE DA SILVA

RODRIGO XAVIER MATOS

VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS ATENDIDAS

NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo qualitativo.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para a obtenção

do título de cirurgião-dentista e aprovado pelo Curso de Odontologia, da

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde.

Área de concentração: Odontologia Social e Coletiva.

Itajaí, XX de setembro de 2012.

Profª MSc Elisabete Rabaldo Bottan

UNIVALI – CCS – Curso de Odontologia

Orientadora

Profa. MSc Beatriz Helena Eger Schmitt

UNIVALI – CCS – Curso de Odontologia

Membro

Profa. MSc Eliane Garcia da Silveira

UNIVALI – CCS – Curso de Odontologia

Membro

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DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho aos nossos pais, que tanto se esforçaram para

que conseguíssemos chegar até aqui.

Fernanda e Rodrigo

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AGRADECIMENTOS

Ao longo de nossa trajetória acadêmica, muitas pessoas nos

incentivaram, ou de algum modo, nos ajudaram a chegar até aqui. Para que

não haja nenhuma injustiça, causada pelo esquecimento que ocorre pela

emoção deste momento, que é tão importante para nós, e para que ao nos

alonguemos demais, deixamos desde já nosso muito obrigado a todos.

Porém, existem aqueles que precisam ter seus nomes citados, em nosso

agradecimento, e todos compreenderão o porquê.

Agradecemos primeiramente a Deus, porque nos deste a força e a

coragem necessária em nossa caminhada.

Agradecemos aos nossos pais, que sempre foram nosso porto seguro,

que nos ensinaram os valores e o que de mais importante devemos priorizar

em nossas vidas e que, além disso, nos criaram com todo amor e carinho que

puderam nos dar, incondicionalmente. Modéstia a parte, se hoje estamos aqui,

prestes a nos formar, foi porque realizaram um ótimo trabalho. São nossos

heróis maiores, nossos exemplos de vida e vocação.

Agradecemos também aos nossos padrinhos, familiares, pessoas

especiais, que estiveram sempre nos ajudando, nos momentos em que mais

precisávamos.

Agradecemos também aos nossos amigos: Angélica, Francine, Karina,

Luiza e Julia e a todos os outros que não citamos aqui, por que senão este

texto ficaria extremamente longo.

Agradecemos a Adalina, a Renata e a Magatha, que tanto nos ajudaram

durante a etapa de pesquisa, e que voluntariamente se doaram também para

que o nosso trabalho tivesse êxito.

Agora, como não agradecer a nossa querida orientadora Bete, por seus

puxões de orelha, seus conselhos e palavras sempre muito bem colocados.

Obrigada, saiba que temos muito orgulho de dizer que fostes nossa orientadora

neste trabalho de conclusão de curso, mas, muito mais do que isso temos

orgulho de te chamar de amiga.

Fernanda Amábile da Silva e Rodrigo Xavier Matos.

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Agradeço também aos nossos amigos: Angélica, Francine, Karina, Luiza

e Julia e a todos os outros que não citamos aqui, por que senão este texto

ficaria extremamente longo. E também quero agradecer ao meu namorado

Everton, que me apoiou sempre, e que estava sempre disposto a me ajudar,

até mesmo a escanear os desenhos, quando era preciso. E, finalmente, agora

tomo a palavra, para agradecer ao meu parceiro de TCC, por ter se esforçado

e se preocupado tanto quanto eu, para fazer deste trabalho, um bom trabalho,

cujo qual nós pudéssemos nos orgulhar de termos feito. Nossas qualidades e

aptidões, sem dúvidas são diferentes, mas durante a confecção deste trabalho,

percebemos que, de alguma forma se completavam. Pois quando há respeito

mútuo e consideração pelo outro, as diferenças não atrapalham, mas sim,

somam e trazem resultados surpreendentes. Broncas, discussões e birras

fazem parte de uma amizade, assim como o fazem as risadas e brincadeiras.

Amigos não precisam concordar em tudo, nem precisam pedir desculpas a

cada palavra mal dita. Amigos precisam apenas compreender o outro e estar lá

para o que der e vier, porque lembranças de momentos ruins e brigas passam,

e o que fica são as coisas boas que guardamos um do outro. Obrigado, Rodri,

pelos momentos que passamos juntos, seja nos preocupando com coisas que

não fazíamos ideia de como resolver, seja rindo de nossas próprias

trapalhadas. Saiba que não poderia ter escolhido parceiro mais desorganizado

e estressante, mas também que daria mais certo como minha dupla de TCC.

Fernanda Amábile da Silva

Queria frisar aqui que conviver, como com qualquer um, é uma arte que

requer paciência, compreensão e dedicação, portanto não há como não

deixar de agradecer principalmente à minha dupla e grande amiga Fernanda,

por ter me aturado, durante esses quatro anos de amizade. Obrigado por fazer

parte desse momento marcante de minha vida; fiz muitos amigos durante

esses anos, mas você, Fê, sabe que foi a primeira. Nunca esqueço, eu vim de

transferência e fiquei perdido no bloco 24, até que te encontrei, e nesse

momento começou nossa grande amizade. Brigamos, rimos muito, quebramos

porta de vidro, dançamos muito, festamos, corremos e nos escondemos da

Prof. Bete, enfim nos divertimos como crianças e se for contar todas as

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atrapalhadas que já passamos, daria um livro. Tudo isso vai deixar uma

enorme saudade, obrigado por tudo, Fê.

Mas também não há como não lembrar e mencionar as minhas

amigas, Francine, Karina, Júlia, e minha irmã de coração e dupla

de clínica, Angélica. Agradeço-as por fazerem dos meus dias mais

valorosos e memoráveis com as tantas risadas, encrencas que vocês me

meteram e tantos outros fatos que não tenho como esquecer, como os almoços

na UNIVALI, as baladas na Wood's e na Shed, a diversão quando fomos ao

Beto Carreiro, o Interodonto, que deixou muitas boas lembranças, e

que vão deixar um vazio de saudade muito grande, porém não vão nos

separar, porque "as amizades verdadeiras, a distância fortalece", e

vocês não vão se ver livres de mim assim tão fácil.

Rodrigo Xavier Matos

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RESUMO

VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS

ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo

qualitativo.

Acadêmicos: Fernanda Amábile da SILVA; Rodrigo Xavier MATOS

Orientadora: MSc Profa. Elisabete Rabaldo BOTTAN

Resumo

Objetivo: Conhecer a visão de crianças sobre a consulta odontológica.

Método: Estudo exploratório, com abordagem qualitativa, tendo como

população-alvo as crianças em atendimento na Clínica de Odontopediatria da

Univali, no período de outubro de 2011 a maio de 2012. Para a coleta dos

dados, foi utilizada a técnica do desenho-estória com tema, quando foi obtido

um corpus, em substituição a uma amostragem representativa. O número de

crianças foi delimitado pela saturação dos dados. Para a estruturação dos

dados, foram consideradas quatro categorias, desdobradas em subcategorias.

A análise dos dados foi efetuada com base na técnica de análise temática de

Bardin. Resultados: Foram consideradas 162 evocações. A categoria

Ambiente Odontológico foi a que mais apareceu, com 52,5%, sendo que as

categorias Tratamento Odontológico, Imagem do CD e Manifestações

Comportamentais obtiveram, respectivamente, as seguintes frequências:

13,6%, 16,1% e 17,9%. Das subcategorias correspondentes à categoria

Ambiente Odontológico, a mais representativa foi

Material/Instrumental/Equipamentos, correspondendo a 23,5% evocações. Na

categoria Tratamento Odontológico, 10,5% das evocações eram a respeito da

subcategoria Preventivo, concordando com a subcategoria Humanizada,

presente na categoria Imagem do CD, que recebeu 14,2% das evocações. Por

fim, na categoria Manifestações Comportamentais, a evocação positiva em

relação ao profissional que a atendia e a consulta odontológica apareceu com

16,0% em relação à posição negativa que apresentou 1,9% de evocações.

Conclusão: Com os resultados obtidos percebeu-se a importância que tem o

ambiente odontológico, na construção da visão que criança tem sobre a

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consulta odontológica, e o quanto há necessidade de que este seja receptivo a

ela. Outro dado importante encontrado é a correlação que há entre a visão

humanizada e positiva do dentista e da consulta odontológica com o aumento

da perspectiva preventiva incutida nelas. Concluindo assim que a criança

possui uma visão preventiva e positiva a respeito do dentista e da consulta

odontológica.

Palavras-chaves: Assistência Odontológica Integral; Odontologia para

Crianças; Saúde Bucal.

Projeto financiado pelo Programa de Iniciação Científica

ProBIC/Universidade do Vale do Itajaí

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SUMÁRIO

ARTIGO................................................................................................. 10

REVISÃO DE LITERATURA................................................................. 29

10

ARTIGO

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VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS

ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo

qualitativo.

Fernanda Amábile da Silva

Bolsista de Iniciação Científica; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à

Saúde Individual e Coletiva em Odontologia da UNIVALI.

Rodrigo Xavier Matos

Bolsista de Iniciação Científica; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à

Saúde Individual e Coletiva em Odontologia da UNIVALI.

Elisabete Rabaldo Bottan

MSc em Educação e Ciências; Integrante do Grupo de Pesquisa Atenção à

Saúde Individual e Coletiva em Odontologia da UNIVALI.

Endereço para Correspondência:

Profa. Elisabete Rabaldo Bottan

Av. Atlântica, 1020, ap. 1801- CEP: 88330-006 - Balneário Camboriú – SC

E-mail: [email protected] - Fone/Fax (47) 33417564.

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VISÃO SOBRE A CONSULTA ODONTOLÓGICA DE CRIANÇAS

ATENDIDAS NA CLÍNICA DE ODONTOPEDIATRIA DA UNIVALI: estudo

qualitativo.

Resumo

Objetivo: Conhecer a visão de crianças sobre a consulta odontológica.

Método: Estudo exploratório, com abordagem qualitativa, tendo como

população-alvo as crianças em atendimento na Clínica de Odontopediatria da

Univali, no período de outubro de 2011 a maio de 2012. Para a coleta dos

dados, foi utilizada a técnica do desenho-estória com tema, quando foi obtido

um corpus, em substituição a uma amostragem representativa. O número de

crianças foi delimitado pela saturação dos dados. Para a estruturação dos

dados, foram consideradas quatro categorias, desdobradas em subcategorias.

A análise dos dados foi efetuada com base na técnica de análise temática de

Bardin. Resultados: Foram consideradas 162 evocações. A categoria

Ambiente Odontológico foi a que mais apareceu, com 52,5%, sendo que as

categorias Tratamento Odontológico, Imagem do CD e Manifestações

Comportamentais obtiveram, respectivamente, as seguintes frequências:

13,6%, 16,1% e 17,9%. Das subcategorias correspondentes à categoria

Ambiente Odontológico, a mais representativa foi

Material/Instrumental/Equipamentos, correspondendo a 23,5% evocações. Na

categoria Tratamento Odontológico, 10,5% das evocações eram a respeito da

subcategoria Preventivo, concordando com a subcategoria Humanizada,

presente na categoria Imagem do CD, que recebeu 14,2% das evocações. Por

fim, na categoria Manifestações Comportamentais, a evocação positiva em

relação ao profissional que a atendia e a consulta odontológica apareceu com

16,0% em relação à posição negativa que apresentou 1,9% de evocações.

Conclusão: Com os resultados obtidos percebeu-se a importância que tem o

ambiente odontológico, na construção da visão que criança tem sobre a

consulta odontológica, e o quanto há necessidade de que este seja receptivo a

ela. Outro dado importante encontrado é a correlação que há entre a visão

humanizada e positiva do dentista e da consulta odontológica com o aumento

da perspectiva preventiva incutida nelas. Concluindo assim que a criança

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possui uma visão preventiva e positiva a respeito do dentista e da consulta

odontológica.

Palavras-chaves: Assistência Odontológica Integral; Odontologia para

Crianças; Saúde Bucal.

Introdução

O atendimento odontológico de crianças é um campo que, apesar das

inúmeras investigações, cujos resultados vêm sendo publicados nas duas

últimas décadas, merece uma atenção especial. Notoriamente, a partir dos

anos 70, no século passado, houve um significativo avanço no que diz respeito

a equipamentos, procedimentos, técnicas, materiais, ampliação da oferta de

cuidados para a criança, no entanto, os aspectos relativos às manifestações

infantis frente ao tratamento odontológico, ainda, trazem uma série de

inquietudes ao cirurgião-dentista. (ALVES, 2005; FIORAVANTE; MARINHO-

CASANOVA, 2009; POSSOBON et al., 2007)

O contexto odontológico pode gerar ansiedade e, também, relacionar-se

a padrões comportamentais de fuga ou esquiva. O manejo da criança no

consultório odontológico, em algumas circunstâncias, se torna um grande

desafio para o profissional. Estudos, em diferentes contextos socioculturais,

demonstram que experiências negativas no consultório odontológico favorecem

e reforçam a associação entre dentista, dor, sofrimento e, conseqüentemente,

medo da consulta odontológica. (BOTTAN; DALL’ OGLIO; MARCHIORI, 2007;

FIORAVANTE; MARINHO-CASANOVA, 2009; KLINGBERG; BROBERG, 2007;

POSSOBON et al., 2007)

Assim, a identificação de variáveis comportamentais relacionadas ao

tratamento odontológico pode minimizar os comportamentos negativos dos

pacientes infantis. Deste modo, o profissional da Odontologia deve considerar

seu paciente como um ser integral, tomando decisões quanto ao tratamento

baseadas não somente em aspectos técnicos, mas também em aspectos

psicossociais inerentes ao paciente.

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Metodologia

A pesquisa caracteriza-se como uma investigação exploratória, com

abordagem qualitativa. Os sujeitos do estudo foram crianças de 6 a 12 anos de

idade, em atendimento nas Clínicas de Odontopediatria do curso de

Odontologia da UNIVALI, no período de outubro de 2011 a maio de 2012.

Considerando-se a abordagem qualitativa do estudo, optou-se pela

construção de um corpus, em substituição a uma amostragem representativa.

O corpus é delineado com base na linguagem (BAUER; AARTS, 2002) e, no

caso desta pesquisa, ele foi estruturado a partir de textos (transcrição das

falas) e desenhos. Assim, o número de crianças que integraram a pesquisa foi

delimitado pela técnica da saturação dos dados. (BAUER; AARTS, 2002)

Para a obtenção dos dados, foi utilizada a técnica do desenho-estória

com tema. O desenho-estória com tema é uma técnica projetiva constituída

pela associação de processos expressivos-motores (desenhos livres) e

perceptivos dinâmicos (verbalização temática).(ALVES, 2005).

O procedimento desta estratégia deu-se através dos seguintes passos.

Inicialmente, foi solicitado à criança que elaborasse um desenho sobre o tema

consulta odontológica. Posteriormente, ela foi convidada a falar

espontaneamente sobre o seu desenho; eventualmente, foram inseridos

tópicos com o objetivo de se fazer a conversa fluir naturalmente (ALVES, 2005;

BAUER; AARTS, 2002). Nesta pesquisa, foram abordadas as vivências, os

significados, as atitudes e os valores que as crianças possuem quanto à

consulta odontológica. Previamente à etapa de coleta dos dados, os

pesquisadores foram treinados quanto aos procedimentos para a coleta de

dados.

As crianças foram abordadas pelos pesquisadores, ao chegarem à sala

de espera. Os pesquisadores se apresentavam e explicavam, às crianças e

aos seus pais ou responsáveis, os procedimentos e os objetivos da pesquisa.

Para os que aceitaram participar da pesquisa, por livre e espontânea vontade,

foi solicitada a assinatura do responsável junto ao Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido. Estas crianças, em grupos, eram conduzidas para um

espaço, previamente organizado, na própria sala de espera, onde foram

acomodas para realizarem o desenho-estória.

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Para a elaboração do desenho foi disponibilizado folha de papel sulfite

branca, lápis de cor, lápis de cera, lápis preto, borracha, apontador.

Posteriormente à etapa do desenho, cada criança, individualmente, procedia à

descrição do seu desenho-estória, mediante conversa gravada. O gravador

era deixado de modo discreto sobre uma mesa para que a criança não se

intimidasse e se expressasse naturalmente.

A análise dos dados ocorreu com base na técnica de análise temática

(BARDIN, 2002), cujas etapas operacionais podem ser resumidas como se

segue. Inicialmente, foi efetuada a leitura flutuante, que consiste na tomada de

contato inicial com o material produzido (desenhos e transcrição das falas),

quando foram identificadas, de modo assistemático, as visões manifestadas

pelas crianças. Posteriormente, foi realizada a observação sistemática dos

desenhos, com agrupamento por semelhanças gráficas, e a leitura sistemática

dos textos obtidos com a transcrição das falas das crianças, para agrupamento

por semelhanças.

Para a categorização do conteúdo dos desenhos e das falas, foram

adotas as categorias e subcategorias indicadas por Alves (2005), conforme

quadro abaixo.

Quadro 1: Categorias e subcategorias pré-estabelecidas para o estudo.

CATEGORIA SUBCATEGORIA

Descrição do ambiente odontológico

-Espaço físico, material, instrumental, pessoas.

Modelo de tratamento odontológico

- Técnico/ curativo

- Preventivo

Imagem do dentista

- Humanizada

- Tecnicista/mecanicista

Manifestações quanto ao

tratamento odontológico

-Psicológicas (medo, ansiedade,

nervosismo)

-Comportamentais (choro, esquiva,

birra, participativo)

As manifestações foram tabuladas segundo as categorias e

subcategorias; após, calculou-se a frequências (relativa e absoluta). A

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quantificação das categorias, mediante cálculo da frequência relativa, definiu o

pensamento compartilhado coletivamente pelo grupo de sujeitos pesquisados.

Finalmente, foi produzido o texto-síntese com base no referencial teórico

obtido através do levantamento bibliográfico junto às bases de dados

localizadas no site da Bireme.

Como esta pesquisa integra a linha de investigação do Grupo de

Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva, em Odontologia, do ponto de

vista ético, ele se encontra ao abrigo do parecer emitido pela Comissão de

Ética em Pesquisa da Univali nº 190/09.

Resultados

Participaram do estudo 49 crianças com idades que variaram de 06 a 12

anos. A maioria (58%) era da faixa de 08 a 09 anos de idade. As crianças do

gênero feminino corresponderam a 36% e as do gênero masculino a 64%.

Todas as crianças já haviam, anteriormente, realizado consultas odontológicas

nas Clínicas de Odontopediatria da UNIVALI.

Através da técnica do desenho-estória, foram obtidas 162 evocações,

sendo que a maioria delas estava relacionada com o ambiente do consultório.

A frequência de cada categoria e respectivas subcategorias pode ser

identificada na tabela 1.

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Tabela 1: Distribuição das frequências (absoluta e relativa) de cada categoria

respectivas subcategorias.

Categorias e Subcategorias Nº % Ambiente odontológico 85 52,5

Material/Instrumental/Equipamentos 38 23,5 EPI 06 3,7

Presença do CD 19 11,7 Presença do Paciente 20 12,3

Presença do acompanhante 02 1,2

Tratamento Odontológico 22 13,6

Curativo 05 3,1 Preventivo 17 10,5

Imagem do CD 26 16,1

Humanizada 23 14,2 Tecnicista 03 1,9

Manifestações Comportamentais 29 17,9

Negativas 03 1,9 Positivas 26 16,0

A seguir, estão alguns dos desenhos-estória sobre a consulta

odontológica produzidos pelas crianças participantes desta pesquisa.

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Figura 1: Desenho-estória de menina 6 anos de idade, evidenciando a

categoria Ambiente Odontológico.

Eu gosto de ir no dentista, essa é eu na cadeira e minha dentista, ela cuida dos meus dentes, e eu sempre escovo depois de comer.

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Figura 2: Desenho-estória de menino 11 anos de idade, evidenciando a

categoria Ambiente Odontológico, com ênfase na subcategoria

materiais/instrumentais/equipamentos.

Eu gosto de ir no dentista, gosto dos meus dentistas, quando eles usam a vassourinha no meu dente, só não gosto da

anestesia, porque dói a picada.

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Figura 3: Desenho-estória de menino 8 anos de idade, em que a categoria

Ambiente Odontológico aparece como pano central do desenho.

Esse é meu dentista e eu na cadeira do dentista, eu gosto de ir no dentista.

21

Figura 4: Desenho-estória de menina 7 anos de idade, em que a categoria

Tratamento Odontológico é evidenciada, associada a subcategoria Preventivo.

Eu desenhei assim, que pra deixar o dente limpinho tem que usar a escova, com a pasta e o fio dental, que tira essas sujeirinhas, e daí

o dente fica branco. Se não escovar os dentes eles ficam igual aqueles ali, tudo sujo e feio.

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Figura 5: Desenho-estória de menino 8 anos de idade, evidenciando a

categoria Tratamento Odontológico, com evocações da subcategoria

Preventivo.

Esse é eu escovando os dentes, os pontinhos amarelos é sujeira no meu dente, dai tenho que escovar pra não estragar meu dente,

eu gosto de ir no dentista.

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Discussão

O comportamento da criança diante da consulta odontológica pode ser

determinado por uma série de fatores, tais como: maturidade da criança,

relacionamento com os pais, abordagem do odontopediatra, experiências

pregressas, ambiente do consultório. Consequentemente, o manejo da criança,

em algumas circunstâncias, se torna um grande desafio para o profissional

(CARDOSO; LOUREIRO; NELSON-FILHO, 2004; FIORAVANTE; MARINHO-

CASANOVA, 2009; JOSGRILBERG; CORDEIRO, 2005; MACEROU, 2004;

POSSOBON et al., 2007).

A postura do profissional é um aspecto importante para o bom

desenvolvimento da consulta odontológica. O manejo inadequado dos

instrumentos, a utilização de coerção e a negação dos sentimentos infantis

potencializam o medo e o comportamento não colaborativo por parte da criança

(BOTTAN; DALL’OGLIO; MARCHIORI, 2009; FARDIN et al., 2004; HANNA et

al., 2009).

Geralmente, o paciente infantil que manifesta um comportamento

positivo frente à consulta odontológica é aquele que recebe condutas positivas

por parte do profissional, tais como: fornecimento de informações,

compreensão das reações emocionais, uso de fantasias. Portanto, a

identificação e o manejo de variáveis comportamentais relacionadas tanto ao

cirurgião-dentista quanto à criança são um importante passo na redução da

aversividade ao contexto odontológico (BOTTAN; DALL’OGLIO; MARCHIORI,

2009; DANIEL et al., 2008; HANNA et al., 2009; SOTO;REYES, 2005).

Neste sentido, se percebeu entre a maioria dos sujeitos desta pesquisa

manifestações que caracterizam comportamentos positivos, pois foram

expressivas as falas demonstrando tranquilidade, empatia, estabelecimento de

diálogo, enfim ficou muito evidente que há uma relação de confiança, uma boa

comunicação entre os acadêmicos que atendem estas crianças, nas clínicas do

curso de Odontologia da UNIVALI. Além do que, na maioria dos desenhos-

estória, o ambiente odontológico é retratado de modo familiar, onde se pode

observar uma descrição detalhada de equipamentos, instrumentos, a presença

do dentista e do paciente.

A comunicação entre o dentista e a criança, objetivada por um

relacionamento amigável e amistoso durante o atendimento, é essencial ao

24

sucesso do tratamento odontológico e, portanto, para o estabelecimento de

comportamentos saudáveis. Essa interação do profissional com a criança faz

emergir a imagem de um profissional humanizado. (BOTTAN; DALL’OGLIO;

MARCHIORI, 2009; DANIEL et al., 2008; HANNA et al., 2009; KETZER et al.,

2011; MORAES et al., 2004; MONTONI et al., 2009; SOTO; REYES, 2005). E

esta condição foi muito percebida nos relatos dos desenhos-estória realizados

pelas crianças pacientes das clínicas de odontopediatria da UNIVALI.

Os métodos que o dentista utiliza na aproximação e nos procedimentos

com a criança apresentam fundamental importância nas atitudes e reações do

paciente infantil diante do tratamento odontológico. Assim, percebe-se que,

neste estudo, estes aspectos são de grande relevância, pois sendo a imagem

humanizada predominante acredita-se que o atendimento tem se apresentado

mais agradável e descontraído.

Dessa forma, a participação humana do profissional durante o

atendimento é primordial na busca de um tratamento harmonioso e eficaz e

que não proporcione o surgimento de sentimentos aversivos nos pequenos

pacientes. (ALVES, 2005; DANIEL et al., 2008; FARDIN et al., 2004;

FIORAVANTE; MARINHO-CASANOVA, 2009; HANNA et al., 2009; PIRES et

al., 2009)

Outro aspecto que se destaca nos desenhos-estória é quanto ao

desenvolvimento de ações preventivas em saúde, as quais objetivam contribuir

para que as pessoas tenham consciência de seus padrões de comportamento,

substituindo-os por estilos de vida mais saudáveis, compreendendo a relação

saúde-doença na perspectiva da melhoria da qualidade de vida. (ALVES, 2005;

KETZER et al., 2011; MASSONI et al., 2008; PERIN et al., 2004). As crianças

neste estudo demonstraram que são orientadas quanto às medidas preventivas

importantes para o estabelecimento de boas condições de saúde bucal.

Diante das exposições das crianças através de seus desenhos-estórias,

pode-se afirmar que, para a maioria destas crianças, o contexto da consulta

odontológica estrutura-se, principalmente, através de situações agradáveis que

são balizadas por uma prática educativo-preventiva, permeada por uma visão

humanizada do profissional da Odontologia, ratificando as concepções de

Ketzer et al. (2011) e de Montoni et al. (2009).

25

Conclusão

A partir dos resultados obtidos percebeu-se a importância que tem o

ambiente odontológico, na visão que criança constrói a respeito da consulta

odontológica, observando-se nisso a preocupação que o Cirurgião-Dentista

deve ter para este ambiente seja receptivo. É preciso compreender que visão a

criança terá ao adentrar num consultório odontológico, para que se possa

torná-lo menos estressante. Em relação ao tratamento a ser realizado,

observou-se que as crianças se mostram mais favoráveis em relação aos

tratamentos preventivos. A grande maioria declarou que gosta de ir ao dentista,

e as evocações mais presentes destas crianças eram a respeito de tratamentos

preventivos, mostrando que há uma correlação entre a visão humanizada e

positiva do dentista e da consulta odontológica com o aumento da perspectiva

preventiva incutida nelas. Tais aspectos aparecem como desenhos de

dentinhos felizes ao lado de instrumentos para higienização. Anteriormente a

pesquisa, esperávamos, como o demonstrado em outros estudos, atitudes e

evocações mais negativas e o que ocorreu foi exatamente o contrário. Pode-se

notar há um espaço de possibilidades para a desmistificação da consulta

odontológica como algo que gera estresse e sensações desagradáveis como

dor, e que exige capacitação do profissional na área odontológica e também na

área da psicologia. Concluindo assim que a criança possui uma visão

preventiva a respeito do dentista e da consulta odontológica.

Agradecimentos

Ao Programa de Iniciação Científica ProBIC, da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-

Graduação, Extensão e Cultura da UNIVALI, pelo financiamento da pesquisa.

Referências

ALVES, R.D. O tratamento odontológico sob o olhar da criança: um estudo de representações sociais. Dissertação. (Mestrado)- Programa de Mestrado em Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. BARDIN, E. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002.

26

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28

REVISÃO DA LITERATURA

29

Barreto (2003) aborda, em seu artigo, a questão da afetividade na

Odontologia para bebês, um estudo que analisa as representações das

verbalizações de dentistas, durante sessões clínicas de atendimento a

crianças, e por meio de entrevistas individualizadas. A afetividade foi delineada

enquanto representações ou imagens que reconhecem ou desconhecem

relações e vínculos possíveis. Um dos grandes interesses da pesquisa era

acompanhar a hipótese de indiferenciação, concebida como a sobreposição de

lugares no discurso. A pesquisa foi realizada com três Odontopediatras do sexo

feminino, sendo que duas possuíam mais de três anos de experiência

profissional e uma com menos de três anos de prática profissional nessa área.

As cirurgiãs-dentistas foram acompanhadas durante vinte sessões clínicas. A

análise do registro das observações sobre o lugar do profissional e de sua

prática indicou ser correta a hipótese de indiferenciação, pois as dentistas

durante o atendimento clínico assumiam os dois papéis no discurso, falando

ora como profissionais ora como os pacientes. A indiferenciação do profissional

foi reconhecida principalmente pelo uso da primeira pessoa do plural, o que

pode demonstrar tanto aproximação quanto indiscriminação de lugares

discursivos.

Segundo Fardin et al. (2004), o cirurgião-dentista na prática odontológica

não deve ficar restrito aos conhecimentos técnicos e científicos. Ele precisa,

também, saber lidar com as variações do comportamento humano,

principalmente quando o paciente é a criança. O profissional deve estar

consciente que o seu comportamento causa algum impacto nas atitudes das

crianças, influenciando dessa maneira o tratamento. O objetivo deste trabalho

foi verificar através de desenhos e relatos a imagem que a criança tem do

cirurgião-dentista. Foi utilizado um teste com desenhos previamente

padronizados, que continha cinco figuras representando os sentimentos de

alegria, satisfação, insatisfação, preocupação e medo. As crianças escolheram

um dos desenhos expressando, dessa forma, suas percepções e sentimentos

em relação ao cirurgião-dentista e ao tratamento odontológico. A maioria das

crianças (59%) escolheu a figura que representava alegria. Foi possível

constatar, através da análise dos dados e dos comentários das crianças, que

mesmo quando houve referências a uma vivência de dor e medo, o bom

relacionamento entre profissional e paciente foi um fator preponderante e,

30

muitas vezes, desencadeador de reações positivas e atitudes de colaboração.

Os autores concluíram que, apesar da maioria ter expressado uma reação

positiva, ainda houve referências de medo demonstrando a necessidade da

melhora no comportamento e atenção no atendimento.

De acordo com Macerou (2004), conhecer os fatores que influenciam o

comportamento da criança na situação odontológica facilita o estabelecimento

de estratégias adequadas para o tratamento da criança, levando em

consideração a evolução dos aspectos científicos, tecnológicos e,

principalmente, interacionistas do paciente infantil e do profissional. Saber lidar

com o comportamento infantil em odontopediatria pode significar a chave para

o sucesso do tratamento. Para o estabelecimento de uma relação satisfatória

entre o odontólogo e o paciente, é necessário que o primeiro saiba o que pode

ocorrer ao corpo do indivíduo quando seu estado emocional está alterado e o

que pode ocorrer ao estado emocional e ao comportamento do indivíduo

quando este adoece. O dentista deve ter clareza quanto ao fato de que o

homem é um ser biopsicossocial e que qualquer alteração em uma dessas

unidades alterará todas as outras. Para que se obtenha um bom tratamento, é

necessário conhecer o todo e ter em mente que alterações ao nível do corpo e

dos processos mentais ocorrem em termos fisiológicos ou funcionais,

simultaneamente. A vinculação profissional-paciente também não ocorre de

uma vez. É um processo que envolve conhecimento mútuo, estabelecimento

de limites claros e respeito às limitações do outro. O profissional da odontologia

deve conhecer seus pacientes, permitir a eles que confiem no profissional, e

principalmente, verificar quais são as emoções presentes que podem estar

interferindo neste encontro. Assim, a preocupação com aspectos psicológicos

tem sido cada vez maior. O conhecimento sobre o comportamento do ser

humano favorece um relacionamento satisfatório entre cirurgião-dentista e

paciente, principalmente o paciente infantil. A comunicação é a base para o

estabelecimento de um bom relacionamento com a criança, permitindo a

complementação dos procedimentos clínicos.

Oliveira et al. (2004) explicaram que o relacionamento entre o cirurgião-

dentista e seu paciente constitui um fator importante no manejo do

comportamento infantil. O desenvolvimento mental, emocional, social e

cognitivo de cada criança deve ser observado individualmente pelo profissional.

31

O objetivo da pesquisa foi correlacionar o tipo de vestuário e EPI utilizado pelo

Odontopediatra com a receptividade da criança. Foram pesquisadas 39 mães,

acompanhadas de seus filhos, de dois a cinco anos de idade, frequentadoras

de uma creche, na cidade de Belo Horizonte-MG. As mães responderam

perguntas sobre a experiência médica e odontológica da criança. Três fotos de

uma Odontopediatra em diferentes apresentações foram exibidas para a

criança, que deveria indicar a cirurgiã-dentista por quem queria ser atendida.

As figuras representativas eram as seguintes: Figura 1(roupa colorida), Figura

2 (roupa branca) e Figura 3 (EPI completo). Os resultados demonstraram que

houve uma correlação estatisticamente significante entre a foto escolhida pela

criança e o fato de a criança já ter tido experiência odontológica, e se essa

experiência foi positiva ou negativa. Das crianças que escolheram a foto 3,

66,6% já tinham tido experiência odontológica. A foto 1 foi escolhida por 57%

daquelas que não tiveram tal experiência. Dos participantes que tiveram

experiência odontológica negativa, 33,4% optaram pela foto 1. Baseado neste

estudo, o uso da roupa branca e do EPI pelo profissional não é um empecilho

para o atendimento da criança que já foi ao cirurgião-dentista. A utilização do

EPI (Equipamento de Proteção Individual) em Odontopediatria é uma medida

de biossegurança importante. Além disso, uma consulta odontológica positiva

favorece uma maior aceitação do EPI pelo paciente infantil. Os autores

concluíram que: a) houve uma grande identificação das crianças com

experiência odontológica em relação ao profissional portando roupa branca; b)

o uso da roupa branca e do EPI pelo profissional não foi um empecilho para o

atendimento da criança que já foi ao cirurgião-dentista, principalmente, nos

casos em que ela é apresentada gradativamente a estes acessórios.

Perin et al. (2004) tiveram como objetivo verificar a percepção e a

condição de saúde bucal das crianças que frequentavam a Instituição

Comunidade Educacional para o Trabalho, da cidade de Lins-SP. Foi efetuado

o levantamento de cárie dentária em 82 crianças, com 12 anos de idade, de

ambos os gêneros, sendo que estas crianças recebiam noções de higiene

bucal. Para avaliação da cárie dentária, foi utilizado o índice de CPO-D,

segundo os critérios e códigos de Klein e Palmer. Foi aplicado a todas as

crianças um questionário com perguntas referentes à percepção com cuidados

bucais. O CPO-D médio obtido foi de 2,5 (prevalência baixa). A análise do

32

questionário demonstrou que as crianças tinham conhecimento sobre saúde e

saúde bucal, enfatizando a estética na saúde bucal como fator importante. A

grande maioria frequentava o cirurgião-dentista e relatou que escovava seus

dentes, em média, três vezes ao dia. O principal anseio relatado foi quanto à

colocação de aparelhos ortodônticos. A conclusão do estudo foi de que os

conhecimentos referentes à saúde bucal transmitidos pelo programa da

disciplina de Odontologia Social e Preventiva foram relativamente assimilados

pelas crianças.

O estudo conduzido por Cardoso, Loureiro e Nelson Filho (2004) teve

por objetivo comparar um grupo de crianças com necessidades especiais

cognitiva, com um alto nível de ansiedade ao tratamento odontológico e

necessidade de contenção física, com um grupo de crianças que colaboraram

com tratamento odontológico. Todas as crianças estavam acompanhadas pelas

mães. A idade média das mães foi de 33 anos e o grau de escolaridade variou

de primeiro grau ao ensino universitário incompleto. Os alunos que atenderam

as crianças eram do quarto ano do curso de Odontologia, da Universidade de

São Paulo, de Ribeirão Preto (SP). Todos os alunos tiveram, pelo menos, duas

sessões de tratamento com as crianças. O estresse foi avaliado

individualmente em uma sessão de 25 minutos. As mães foram entrevistadas

sobre o comportamento da criança e avaliadas em termos de estresse e dos

níveis de medo, individualmente. A avaliação de estresse dos alunos de

odontologia foi realizada coletivamente em sala de aula. Como resultados,

foram apresentados os seguintes dados. O grupo 1 de crianças apresentou

mais dificuldades comportamentais que o grupo 2. As mães das crianças do

grupo 1 também apresentaram maior número de indicadores de estresse

quando comparadas ao grupo 2. O que sugere que, nos dois grupos, há

dificuldades de crianças e de suas mães para lidar com tratamento dentário, o

que pode aumentar o estresse durante o tratamento. Quanto aos alunos, os

resultados mostram que aqueles que realizaram tratamento no grupo 1

apresentaram níveis de estresse acima do normal. O que ressalta que o

estudante de Odontologia está rodeado de fatores de estresse em potencial,

como atendimento a pacientes que não colaboram, não aceitam o tratamento,

ou estão muito ansiosos quanto ao tratamento.

33

Segundo Alves (2005), é importante para os cirurgiões-dentistas

perceberem que a satisfação do tratamento odontológico não é independente

das experiências vividas pelo paciente. É necessário que o profissional

conheça as atitudes infantis a fim de configurar a abordagem de

relacionamento e o procedimento a serem estabelecidos para a construção de

estratégias de promoção a saúde bucal e obtenção do êxito no tratamento.

Configura-se, então, a necessidade de realização de trabalhos que

desenvolvam modelos voltados para a promoção da saúde bucal, numa

perspectiva psicossociológica. O atendimento odontológico infantil é um campo

bastante fecundo, repleto de nuances e reconhecidamente complexo, que

requer muita dedicação e paciência. Por um longo tempo, o tratamento

odontológico se satisfez em direcionar quase todos os seus esforços e

energias para o desenvolvimento de refinamentos técnicos e tecnológicos das

suas práticas operativas, em detrimento do estudo e da compreensão dos

diversificados eventos biológicos e biopsicossociais relacionados com o

processo saúde-doença. A abordagem restauradora tradicional centrada no

tratamento da doença influenciou a prática odontológica em muitas partes do

mundo. Desenvolveu-se uma maneira mecânica de solucionar problemas que

não promoveu tratamento efetivo da doença. Essa odontologia restauradora

apenas ganhava tempo, criando um novo problema: a manutenção e a

restauração do dente. Nas últimas décadas, a odontologia migrou da chamada

“era da Odontologia restauradora”, em que o diagnóstico e o tratamento da

doença eram baseados, quase que exclusivamente no reparo da lesão, para

uma odontologia da promoção de saúde. Dessa forma, as crianças terão desde

cedo maior contato com a situação odontológica, familiarizando-se com o

ambiente e com o profissional, tendo oportunidade de adquirir hábitos mais

saudáveis. Esta pesquisa identificou como crianças concebem o tratamento

odontológico e a imagem do dentista. A pesquisa utilizou como suporte

teórico/metodológico a Teoria das Representações Sociais. O cenário foi a

Escola Estadual “Professor José Fernandes Machado”, na cidade de Natal/ RN.

Participaram do estudo 30 crianças, selecionadas pelos seguintes critérios:

faixa etária entre 6 e 10 anos de idade; crianças que tenham sido submetidas a

tratamento odontológico há menos de um ano ou que estejam em tratamento

no momento da coleta de dados. Para obtenção dos dados, foram utilizadas a

34

entrevista em profundidade e a técnica do desenho-estória com tema. Dentre

os avaliados, 73% eram meninas e 27% meninos. Quanto à elaboração das

representações sociais das crianças sobre o tratamento odontológico, o

conhecimento formado com base no material coletado pelas entrevistas foi

dimensionado três categorias. A primeira categoria referia-se ao modelo de

tratamento odontológico infantil, que apresentou duas subcategorias: técnico-

curativo (68,04%) e preventivo (31,96%). A segunda categoria abordava a

imagem do dentista com a subcategoria tecnicista/mecanicista (18,05%) e

humanizada (81,95%). A terceira categoria se reportou às manifestações frente

ao tratamento odontológico, cujas subcategorias foram: psicológicas (21,2%) e

comportamentais (78,8%). A análise dos desenhos evidenciou quatro

categorias, a saber: descrição do ambiente odontológico, concepção do modelo

de tratamento odontológico, percepção da imagem do dentista e manifestações

frente ao tratamento odontológico. A estrutura do campo da representação

social do tratamento odontológico infantil, percebido e construído pelos

participantes desta pesquisa com o auxílio da técnica do desenho-estória com

tema, estruturou-se, principalmente, através de situações desagradáveis

encontradas técnico-curativista do dentista, como os próprios elementos

constituintes desta prática – espaço físico e material/instrumental- e a forma de

abordagem tecnicista/mecanicista do dentista. O ambiente clínico odontológico

surgiu em todos os grafismos, com destaque as espaço físico, aos materiais e

instrumentais constituintes de nossa prática e à figura do dentista, revelando,

assim, mesmo em nível inconsciente, todos os elementos que elas consideram

importantes no contexto do atendimento odontológico. O modelo de tratamento

odontológico predominante nos relatos e nos grafismos das crianças foi o

técnico/curativo, centrado em procedimentos operatórios e principalmente

invasivos. Apesar de já ser conhecido que esse modelo tradicional não se tem

mostrado capaz de controlar as doenças bucais, é triste perceber-se que esta

prática reducionista se encontra ainda bastante difundida e incrustada no

mundo infantil. No que concerne à imagem do dentista, observou-se que as

crianças valorizam por demais a relação humana durante o atendimento. Elas

expressam os seus desejos de serem atendidas por profissionais que se

comuniquem e interajam de forma criativa e lúdica, e a repulsa por aqueles que

executam os procedimentos de forma técnica/mecânica. Em relação às

35

manifestações infantis face ao tratamento odontológico, as dimensões

psicológicas e comportamentais consideravelmente aversivas, com medo,

ansiedade, dor e esquiva, foram referências percebidas com muita propriedade

pelo mundo infantil.

Josgrilberg e Cordeiro (2005) identificaram quais objetos utilizados no

tratamento odontológico podem causar medo ou ansiedade na criança. Foram

analisadas 68 crianças, de 4 a 11 anos que já tinham sido submetidas a

tratamento odontológico. As crianças foram divididas em dois grupos de acordo

com a idade: faixa etária pré –escolares (4 – 7 anos) e idade escolares (8 – 11

anos). Na sala de espera, antes da consulta, foram apresentadas cartelas em

ordem aleatória com fotografias de objetos utilizados rotineiramente na clínica

de odontopediatria. Para cada figura, a criança escolheu um item da escala

facial. Os resultados obtidos indicaram que os objetos que causaram menor

medo ou ansiedade para os dois grupos foram: cadeira odontológica, espelho

clínico, seringa tríplice. Em quanto que carpule, baixa rotação, perfurador de

dique de borracha e isolamento absoluto foram os que causaram um medo

generalizado entre as crianças. As crianças do grupo 1 apresentaram menor

medo objetivo frente a maioria dos instrumentos avaliados. As pesquisadoras

concluíram que carpule, baixa rotação, perfurador de dique de borracha e

isolamento absoluto demonstraram ser os instrumentos mais ameaçadores

para as crianças; e que o grupo 2 (8 a 11 anos) apresentaram mais emoções

negativas frente aos instrumentos odontológicos.

Segundo Rank et al. (2005), a criança que vai ao dentista pela primeira

vez cria, antes da consulta, uma expectativa de como será o tratamento. Este

grau de ansiedade varia muito de criança para criança, dependendo de fatores

como: informações distorcidas a respeito do que é um tratamento odontológico,

que são repassadas por familiares ou amigos; ansiedade dos pais; e influência

cultural. O primeiro encontro da criança com o cirurgião-dentista deve ser

agradável, pois assim o profissional estará preparando o comportamento

infantil, para que a próxima visita seja melhor que a anterior. A ansiedade é um

estado emocional interno, não observável, porém de grande importância no

processo cognitivo, assim sendo, a autodescrição deste acontecimento

subjetivo e individual, pela própria criança, supre valiosos dados inacessíveis

em comparação a outras técnicas mais objetivas. A ansiedade infantil, que

36

acompanha o tratamento odontológico, tem sido objeto de estudo por vários

autores, relatando sua complexa e multifatorial etiologia e afirmando que a

ansiedade varia quantitativamente e qualitativamente de criança para criança,

pois cada indivíduo tem sua história individual, sofrendo influência de

experiências odontológicas anteriores e do contexto sócio-econômico e

cultural. Os pacientes não temem ir ao consultório por causa do dentista, mas

porque este pode produzir ou induzir a dor. Desse modo, quando o medo e a

ansiedade são modificados também se modifica a percepção da dor. Para se

conseguir o controle do comportamento da criança, é preciso, primeiramente,

conseguir o controle da ansiedade, sendo que vários fatores refletem neste

comportamento infantil, como atitudes familiares, história médica, disposições

variáveis do ambiente como o tempo e o espaço (fome, hora do dia e sono). O

cirurgião-dentista que se propõe a assumir a responsabilidade de trabalhar com

o paciente infantil, na idade pré-escolar, deve ter em mente que o exercício da

odontopediatria não pode limitar-se à prevenção ou a tratamentos curativos,

mas trabalhar a criança como um todo. Para possibilitar facilitar a execução de

uma odontologia de alto padrão, é importante que o profissional busque

trabalhar preventivamente na ansiedade e tensão emocional infantil, evitando o

uso exagerado de contenções físicas e agentes farmacológicos. A tarefa de

transformar o paciente cativo em cooperador é a chave mestra para melhorar o

relacionamento do cirurgião-dentista e paciente.

Soto e Reyes (2005) destacaram que a conduta frente ao paciente

infantil exige do profissional muito mais que habilidade técnica, exige também

conhecimento psicológico do desenvolvimento da criança e treinamento para

definir que técnicas utilizar para condicionar o paciente ao tratamento. É

preciso que o profissional entenda que nem sempre uma técnica é efetiva para

todos os pacientes. Em alguns casos, é necessária a associação de várias

técnicas conjuntas para conseguir o controle das emoções das crianças. A

psicologia explica que comportamento pode ser modificado através de

intervenções nas condições ambientais. A emoção é a agitação do ânimo

resultante de uma causa passageira; este estado envolve trocas fisiológicas e

reacionais ao ambiente. É importante que o profissional fale com o seu

paciente, independente da idade. Esta abordagem verbal deve se adequar à

idade, pois o paciente infantil é um receptor emocional que consegue absorver

37

mais rápido os conceitos que lhe são expostos, permitindo que seja conduzido

de modo a torna-se um agente colaborador para sua saúde bucal.

Bottan, Dall`Oglio e Marchiori (2007) explicaram que estudos têm

demonstrado um interesse crescente na prevalência da ansiedade ao

tratamento odontológico e sua influência no desenvolvimento do trabalho do

cirurgião-dentista. O medo do tratamento odontológico, apesar de todos os

avanços tecnológicos na área da Odontologia, continua sendo uma significativa

barreira à otimização dos serviços de saúde bucal. Ele se situa entre os medos

mais comuns da população em geral, diferenciando-se, de um grupo para o

outro, quanto à frequência com que se manifesta. Logo, é fundamental que o

cirurgião-dentista tenha consciência de que o seu paciente não é somente

boca, que ele é um sujeito que traz uma série de temores e esperanças.

Portanto, quando da formação do cirurgião-dentista é necessário que se

desperte, no futuro profissional, a atenção para o estudo das relações paciente-

dentista.

Possobon et al. (2007) afirmaram que a submissão ao tratamento

odontológico tem sido relatada, por muitos pacientes, como uma condição

geradora de estresse e de ansiedade. Alguns estudos que investigaram as

origens da ansiedade e medo relacionados à situação de tratamento

odontológico sugerem que o paciente percebe como aversivos elementos

relacionados aos comportamentos dos profissionais e aos procedimentos

utilizados no tratamento. Para que o cirurgião-dentista possa implementar

estratégias que minimizem o estresse comumente gerado pelo tratamento e

pelo ambiente do consultório, é necessário que aprenda a identificar

comportamentos indicadores de ansiedade e seja capaz de estabelecer uma

adequada relação com o paciente. Estabelecer uma boa relação com a criança,

ajudando-a a enfrentar a situação de tratamento odontológico com o mínimo de

ansiedade, e manejar comportamentos não-colaborativos são habilidades

indispensáveis ao clínico. Com uma adequada interação o paciente se sente

mais seguro e amparado, mais tranquilo e relaxado, facilitando a realização do

procedimento.

De acordo com Daniel et al. (2008), o medo e a ansiedade da criança

representam um dos maiores obstáculos que os odontopediatras enfrentam

para estabelecer uma relação profissional favorável ao desenvolvimento

38

adequado do tratamento. É necessário que o profissional perceba as

características individuais das crianças, para construir um relacionamento

satisfatório e permitir um tratamento eficiente. O ambiente odontológico

também é um fator que pode influenciar a conduta do paciente, pois neste local

são experimentados materiais, instrumentos, odores e ruídos que podem ser

considerados pelo paciente como possíveis geradores de dor e desconforto,

interferindo no seu comportamento. A atuação do profissional não deve se

restringir à execução de procedimentos técnicos; ele deve estar preparado para

lidar com problemas comportamentais e emocionais do paciente. Quanto mais

vulnerável o indivíduo se sentir em uma determinada situação, maior a

intensidade com que as variáveis psicossociais tendem a se manifestar em um

consultório. Deste modo, a identificação de fatores causadores do medo e da

ansiedade no tratamento odontológico permite o emprego de procedimentos e

atitudes que podem auxiliar a reduzir o caráter estressante com que a criança

percebe a situação de tratamento dentário. O estabelecimento de uma

comunicação paciente/profissional eficiente também é fundamental para o

sucesso do tratamento.

Lima et al. (2008) estudaram as representações sociais de um grupo de

pré-adolescentes pertencentes a famílias de baixa renda, assistidos por um

programa de prevenção e assistência odontológica numa instituição

filantrópica. Este estudo foi realizado na Casa do Pequeno Cristo, no

Aglomerado Morro das Pedras, região de alto risco social em Belo Horizonte

(MG). O entrevistador participou, antes da coleta de dados, das atividades da

instituição durante quatro meses. A metodologia utilizada foi qualitativa. Foram

realizadas entrevistas individuais, gravadas em fita cassete, com dez pré-

adolescentes, na faixa etária de 10 a 12 anos. As entrevistas tiveram um

aspecto de conversa livre, com estimulo à manifestação espontânea e

seguiram um roteiro semi-estruturado dando ênfase aos temas: processo

saúde/doença; saúde/doença bucal; importância e função da boca e seus

componentes; avaliação do serviço odontológico prestado pela Casa. A análise

dos dados seguiu a proposta da hermenêutica-dialética, que considera o

significado dado pelas pessoas, avaliado dentro de seu contexto social. Os

entrevistados apresentaram uma boa noção sobre a sua realidade social e o

conhecimento da dificuldade do acesso a serviços de saúde bucal. Eles

39

possuem uma visão ampla de saúde relacionada com qualidade de vida, porém

a saúde bucal, para eles, restringe-se a métodos de higienização, tendo, então,

a necessidade de ações que ampliem esses conceitos.

Massoni et al. (2008) elaboraram um roteiro para auxiliar na

interpretação de desenhos infantis relacionados à situação odontológica, a fim

de contribuir para com a abordagem psicológica da criança durante o

atendimento. Para avaliação deste roteiro, foi utilizada uma amostra de 43

escolares do município de João Pessoa, Paraíba, na faixa etária de sete a doze

anos, de ambos os gêneros, de uma escola pública, de nível socioeconômico

baixo; e de uma escola privada, de médio a alto nível socioeconômico. O teste

foi aplicado coletivamente em grupos de 10 crianças de mesma idade e

divididas quanto ao gênero. Foram distribuídas folhas de papel A4, lápis e

borracha e solicitado que cada criança desenhasse o seu dentista. O resultado

demonstrou que as crianças possuem imagem positiva do dentista e que as

imagens negativas referem-se, sobretudo, a procedimentos cirúrgico-

restauradores. A utilização de desenhos e do roteiro mostrou-se uma técnica

eficiente e vantajosa para obtenção de dados a respeito da imagem do

cirurgião-dentista pela criança, favorecendo a capacitação para o atendimento

odontológico.

Para Stolz et al. (2008), a satisfação do paciente está relacionada com

as informações recebidas. Há disposição dos profissionais em compreender

seus pacientes de forma holística, porém muitas vezes não se demonstram

capacitados para isso. O paciente gosta que o profissional olhe diretamente em

seus olhos, pois esta atitude demonstra preocupação e interesse pelo que está

sendo comunicado, intensificando uma emoção positiva ou negativa. Para os

pacientes, o relacionamento profissional-paciente é manifestado por três

tendências: positiva, negativa e neutra. A percepção positiva é relacionada à

atenção e às explicações transmitidas pelo profissional ao paciente. A

percepção negativa para com o profissional é devida a falta de confiança do

paciente, a insegurança do dentista e o não esclarecimento do procedimento. A

percepção neutra do profissional é destacada por alguns pacientes por meio de

uma postura passiva por acreditarem que não têm competência para julgar ou

acham que tudo faz parte de uma rotina de procedimentos.

40

Fioravante e Marinho-Casanova (2009) descreveram comportamentos

de odontopediatras e de crianças durante atendimentos odontológicos.

Participaram do estudo dois profissionais graduados em Odontologia, há um

ano, sendo um do sexo masculino e outro do feminino, com a mesma faixa

etária. Também participaram 20 crianças, pacientes de um Núcleo de

Odontologia para Bebês, que presta atendimento gratuito à população. As

crianças eram de ambos os sexos, com idades entre 18 meses e seis anos.

Cada profissional atendeu a 10 crianças: cinco casos de procedimentos

profiláticos e cinco em situação de emergência. Todos os atendimentos foram

gravados em vídeo para posterior análise. Duas observadoras, que não

participaram das filmagens efetuaram a categorização das respostas

apresentadas pelos odontopediatras e pelas crianças durante a realização dos

atendimentos odontológicos. As categorias comportamentais adotadas foram

estabelecidas previamente, em: categorias para avaliação dos odontopediatras

(adequados/inadequados) e categorias para avaliação das respostas das

crianças (cooperativos/opositores). Foi registrada a frequência de ocorrência de

cada uma das categorias de respostas dos odontopediatras e das crianças em

cada minuto da consulta. O registro dos comportamentos da criança e do

odontopediatra foram feitos separadamente. Os dados apresentados indicam

que em 14 dos 20 atendimentos analisados os odontopediatras emitiram mais

respostas adequadas do que respostas inadequadas. Em todos os 10

atendimentos de profilaxia, os profissionais apresentaram mais respostas

adequadas. Em procedimentos de emergência, apenas 4, de 10 atendimentos,

foram registradas respostas adequadas. Houve um percentual de 30% de

respostas opositoras, no caso das crianças. Os pesquisadores concluíram que

as interações dos odontopediatras com as crianças foram caracterizadas

principalmente pelas respostas adequadas por parte dos profissionais e que

assim o tipo de atendimento tem influência sobre o comportamento de crianças

de dentistas.

No estudo de Hanna et. al. (2009), utilizou-se na pesquisa uma

abordagem de comunicação verbal (questionário) associada a uma de

comunicação não-verbal (desenho), para verificar que visão o paciente infantil

tem do dentista e do ambiente odontológico através da interpretação dos

desenhos de um grupo de crianças. Esta associação de técnicas, além de

41

retratar muito bem o que a criança pensa e sente, é uma forma agradável e

fácil de conseguir a atenção e colaboração da criança, podendo-se ser utilizada

tanto em pesquisas como também em consultório para observação de níveis

de estresse na criança. A abordagem ideal a criança e o próprio sucesso do

tratamento odontopediátrico, Deve envolver a compreensão total dos fatores

que interferem no atendimento odontológico e que se relacionam ao paciente,

ao profissional, ao ambiente odontológico e a estrutura familiar em que esta

criança está incluída. Para essa compreensão nenhum instrumento parece ser

mais valioso do que as técnicas projetivas, pois os desenhos constituem a

fonte mais rica de informação que uma criança pode nos dar, principalmente as

de idade mais tenra, isso porque a criança transfere para o desenho seus

sentimentos a respeito de uma pessoa específica. Entretanto estes desenhos

devem ser acompanhados de observação ou entrevista, em que

questionamentos sobre o desenho podem nos dar informações adicionais,

ainda mais específicas, como ocorreu nesta pesquisa. É por isso que se torna

tão importante que os profissionais que trabalham com as crianças se

preparem melhor para que possam entender ainda melhor o que a criança está

tentando comunicar através dos desenhos. Essa técnica de desenho além de

possibilitar que a criança expresse, de acordo com seu nível de compreensão,

seus desejos, fantasias e preocupações, é uma tarefa que desperta o interesse

da criança muito mais que um questionário, trazendo inclusive mais

informações do que este. Pois que a linguagem não se realiza apenas por meio

de palavras, é interessante que se utilizem outros métodos de linguagem.

Assim nesta pesquisa, as respostas obtidas no questionário foram

primeiramente analisadas de forma isolada e depois comparadas aos

desenhos, conseguindo-se assim uma melhor compreensão das respostas das

crianças. Sendo que a hostilidade apresentou-se pelas características da

ausência da figura humana, ou a presença desta mas com traçados básicos e

sem formas, assim como a de objetos e móveis com ausência de detalhes,

soltos e isolados entre si, além de cores escuras e sombreamentos. Já a

presença de duas ou mais figuras humanas e móveis, detalhados e utilizando-

se um gama de cores, apresentou-se como critério de receptividade tanto ao

dentista como ao tratamento. Sendo que a maioria das crianças mostrou-se

receptiva ao dentista e ao tratamento, concluindo ao final da pesquisa, os

42

autores, que a utilização de desenhos associados ao questionário é uma

técnica eficaz de verificar a visão que a criança tem do cirurgião-dentista.

Montoni et al. (2009) analisaram a percepção atual sobra a consulta

odontológica de escolares de ensino fundamental da rede pública da cidade de

Maceió-AL. Foi realizado um estudo transversal descritivo com 322 escolares

de ambos os sexos, de 6 a 14 anos de idade, regularmente matriculados, nas

séries da 1ª a 4ª do ensino fundamental de 15 instituições de ensino público de

Maceió-AL e que já haviam consultado um cirurgião-dentista, pelo menos, uma

vez. Em cada escola foram escolhidos aleatoriamente 20 alunos. O instrumento

de coleta de dados foi um questionário com quatro questões fechadas,

composto de dados de identificação do escolar (escola, série, idade e gênero)

e de perguntas e respostas relacionadas com a visita ao cirurgião-dentista.

Para análise de dados, foi considerado o grau de escolaridade dos alunos. Os

resultados foram os seguintes: 60,6% dos escolares vão ao cirurgião-dentista

com objetivo preventivo; 28% dos escolares consultavam o cirurgião-dentista

apenas para procedimentos curativos. Dos que apresentaram como motivo a

prevenção,18% eram da 4ª série, mostrando a importância do amadurecimento

intelectual na conscientização em saúde bucal. As sensações mais esperadas

foram: dor (37,27%) e medo (34,16%), sendo a anestesia a maior

preocupação. Assim, 41,6% gostariam que houvesse algo que os divertisse e

30,2% algo que os fizesse relaxar. A conclusão do estudo foi de que a

percepção sobre saúde bucal dos escolares de ensino fundamental de escolas

públicas de Maceió é preventiva, porém a dor e o medo continuam como as

sensações mais esperadas e sentidas diante da consulta odontológica, sendo

que é esperado que haja meios de dissipar essas sensações desagradáveis.

Oliveira (2009) utilizou do método desenho-estória com tema livre para

crianças que se recusavam a realizar a intervenção odontológica. A criança, ao

desenhar, consegue se comunicar melhor quanto às necessidades inatingíveis

pela fala. O objetivo desse estudo foi averiguar a hipótese de que o

procedimento de Desenhos-Estórias tem uma função terapêutica e

possibilitadora do atendimento em Odontopediatria. Os desenhos normalmente

representam a situação emocional da criança, constituindo-se em um

instrumento de aproximação do profissional com os conteúdos mentais dos

pacientes. O procedimento foi aplicado a todos os sujeitos no consultório

43

particular, no período diurno, em um ambiente claro e silencioso em que

estavam presentes um terapeuta e a criança. Ao término do desenho, as

crianças eram estimuladas a contar uma estória a respeito do desenho. Cada

caso clínico foi avaliado separadamente. Os resultados obtidos confirmam que

o desenho-estória permite a exposição dos aspectos bons e ruins de uma

consulta odontológica. O pesquisador conclui que a impossibilidade do

atendimento é devido às angústias intensas e mal resolvidas que necessitam

de compreensão e de um processo terapêutico efetivo. Esse estudo é uma

contribuição no sentido de minimizar o sofrimento de pacientes e colaborar nas

demais abordagens na área odontológica.

Piovesan et al. (2009) afirmaram que os problemas de saúde bucal têm

sido cada vez mais reconhecidos como importantes fatores que provocam um

impacto negativo no desempenho diário e na qualidade de vida. A cárie dental,

por exemplo, é o principal problema de saúde pública que afeta às crianças,

causa prejuízos na mastigação, diminuição do apetite, perda de peso,

problemas do sono, alterações comportamentais e baixo desempenho escolar.

O traumatismo dentário representa um impacto sócio-dental na vida diária das

crianças. Lesões dos tecidos moles, má oclusão e fluorose dentária, também,

são exemplos de problemas comuns na boca, mas poucos estudos incidiram

sobre as suas características funcionais, sociais, emocionais e efeitos nas

crianças. Em saúde pública, a medição da qualidade de vida é uma ferramenta

útil para planejar políticas de bem-estar, pois é possível determinar as

necessidades da população, a prioridade de atendimento, tratamento e

avaliação das estratégias adaptadas, ajudando assim no processo de tomada

de decisão. A seleção de um instrumento deve envolver a confiabilidade e os

objetivos específicos da investigação além da forma da entrevista, ou

questionário, uma vez que podem influenciar as propriedades psicométricas

dos indicadores utilizados para recolher os resultados. Os autores destacaram

que as crianças têm uma visão única da realidade. No entanto, as crianças e

os jovens são, muitas vezes, incapazes de completar um questionário sozinho,

portanto, é importante obter os relatórios de seus pais ou responsáveis. Vários

instrumentos têm sido propostos para medir a qualidade de vida das crianças e

devem ser selecionados, dependendo do resultado desejado e das

características da população-alvo.

44

Pires e Rossi (2009) identificaram e analisaram a imagem construída

pelo paciente da clínica odontopediátrica em relação ao dentista que o atende,

utilizando-se do desenho como forma de representação. A amostra foi

composta por 30 pacientes entre 5 e 12 anos de idade, de ambos os sexos,

atendidos semanalmente na Clínica de Odontopediatria por alunos do 4º ano

da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic Campinas – São Paulo.

Para o levantamento de informações, foi solicitado que os pacientes

desenhassem a si próprios e o dentista que os atendia. Os desenhos foram

classificados considerando os seguintes aspectos: cenário (ausência ou

presença); instrumental odontológico (ausência ou presença); vestuário do

profissional; presença de emoções (face tristonha, alegre ou indiferente entre

outras); presença ou não do paciente no desenho; e outros elementos. As

análises dos dados coletados indicaram que 20% das crianças representaram

um cenário odontológico. Em nenhum dos desenhos o instrumental

odontológico apresentou-se de forma negativa, 75% manifestaram emoções

agradáveis nos desenhos e 12% deles não incluíram o dentista ou o paciente.

As autoras concluíram afirmando que a imagem do dentista é positiva, o que

pode contribuir para o êxito no tratamento.

Oliveira et al. (2010) utiliza dois métodos em seu estudo para buscar

compreender quanto de ansiedade as crianças demonstram frente ao

tratamento odontológico. Um desses métodos é a Facial Image Scale (FIS) que

corresponde a uma escala de faces variando de muito feliz a muito triste, em

que a face número 1 corresponde a resposta mais positiva e a número 5 para a

resposta mais negativa, essa escala foi aplicada na pesquisa com as crianças,

por ser mais fácil, rápida e poder ser utlizada em crianças de pouca idade. O

segundo método usado, aplicado na coleta de dados com os responsáveis, foi

o Corah's Dental Anxiety Scale (DAS), que é uma escala psicométrica que

consiste em quatro perguntas de múltipla escolha relacionadas com as reações

subjetivas do paciente diante de diferentes situações odontológicas. A escala

para cada pergunta varia de 1 para não ansioso até 5 para extremamente

ansioso, sendo que pontuação final pode ser de 4 a 20, com pontuações acima

de 15 indicando profunda ansiedade. Esse estudo demonstrou ser importante

porque a ansiedade e o medo ainda são os principais motivos pelos quais um

paciente desiste de realizar o tratamento odontológico, porém a fuga só

45

exacerba os problemas bucais desse tipo de paciente, pois não houve o

tratamento preventivo, surgindo aí um ciclo, em que o tratamento que resta,

quando o paciente finalmente vai ao consultório, é aquele que ele mais teme,

extremamente invasivo e desconfortável. Sendo que pacientes não temerosos

comparados a estes, possuem melhor sáude bucal. Deve-se salientar que

comparados os gêneros, as mulheres sentem mais medo e ansiedade que os

homens, sendo que as crianças demonstram ter mais medo e mais ansiedade

que qualquer outro indivíduo. Nesta pesquisa foram avaliados 98 crianças entre

4 e 11 anos, pacientes atendidos na clínica de odontopediatria da Faculdade

de Odontologia de São José dos Campos - UNESP, e seus respectivos

responsáveis, e a pesquisa foi aplicada antes e depois do atendimento. A

grande maioria das crianças não demonstrou estar ansiosa com tratamento

odontológico, mesmo diante do procedimento anestésico, tanto que que o FIS

4 e FIS 5 não apareceu em nenhuma criança com idade entre 8 e 11 anos, e a

grande maioria que estava na FIS 3 era de 4 a 7 anos. Para os responsáveis

não ansiosos a maioria das crianças apresentou FIS, nos responsáveis com

ansiedade moderada essa correlação permaneceu, pois a maioria das crianças

apresentou FIS 2. Ocorrendo o inverso no caso dos responsáveis altos níveis

de ansiedade, já que a minoria das crianças apontou FIS 4 e 5. Concluindo

então que nessa amostra de crianças abordadas não se apresentou ansiosa, e

que existe uma correlação entre os níveis baixos de ansiedade dos

responsáveis e com as crianças não ansiosas. E que além da maioria possuir

responsáveis não ansiosos, os pouco que eram ansiosos não transmitiam essa

ansiedade às crianças. Podendo-se perceber que a conduta clínica está

adequada, conseguindo controlar satisfatoriamente a ansiedade dos pacientes.

Roberts et al. (2010) explicaram que a influência do manejo do

comportamento do paciente para o desenvolvimento adequado de um

atendimento odontológico é um aspecto extensamente concordante entre os

autores. Ela é um fator chave para o cuidado dental de crianças. É imperativo

que todo o processo de atenção odontológica esteja suportado na empatia e no

bem-estar de cada criança. Os autores destacaram que estudos efetuados com

base nas várias apresentações em congressos da Academia Européia de

Odontologia Pediátrica (EAPD) evidenciam que todos os aspectos referentes

às técnicas de gerência comportamental não-farmacológicas, descritas na

46

literatura nos últimos 80 anos, foram revistas. Há uma grande diversidade de

técnicas, mas nem todas são aceitas de modo universal, por odontopediatras,

em virtude das diferenças culturais e filosóficas. O estudo destaca que as

técnicas que têm aceitação universal são a do Dizer, Mostrar, Fazer (TSD), ou

o reforço positivo. Apesar da grande variedade de técnicas de gerência

comportamental, é importante destacar que o odontopediatra deve utilizá-las

considerando aspectos culturais, filosóficos e legais, os quais são específicos

de cada realidade.

Ketzer et al. (2011) conduziram um estudo exploratório de abordagem

qualitativa com o objetivo de conhecer a percepção de crianças sobre a

consulta odontológica. A população-alvo foram crianças de 4 a 9 anos

matriculadas em escolas públicas e privadas do perímetro urbano de Itajaí

(SC), em 2010. Para a coleta dos dados, foi utilizada a técnica do desenho-

estória com tema. O número de crianças que integraram a pesquisa foi

delimitado pela técnica de saturação dos dados. Para a estruturação dos

dados, foram consideradas quatro categorias, desdobradas em subcategorias.

Integraram a pesquisa 40 crianças de escolas públicas e 36 de escolas

particulares. A categoria ambiente odontológico foi a que mais se destacou,

nos dois grupos, com ênfase na descrição do consultório odontológico. Na

categoria imagem do dentista, houve predomínio da imagem humanizada e na

categoria modelo de tratamento a ênfase foi para o tratamento preventivo. Para

os dois grupos investigados, o contexto da consulta odontológica estrutura-se,

principalmente, através de situações agradáveis que são balizadas por uma

prática educativo-preventiva, permeada por uma visão humanizada do

profissional da odontologia.

Santi (2011) afirmou que a percepção que as pessoas têm em relação

ao dentista é um tema que, nas últimas décadas, vem despertando a atenção e

o interesse dos profissionais da área odontológica. Assim, o objetivo deste

estudo foi identificar as características de um dentista ideal na visão de

adolescentes. A pesquisa é do tipo descritivo, transversal, mediante coleta de

dados primários. A população-alvo foi constituída por alunos de 5ª a 8ª séries,

matriculados em uma escola particular e uma escola pública, localizadas no

perímetro urbano-central da cidade de Santiago, na região centro-oeste do Rio

Grande do Sul. O plano amostral foi não probabilístico e a obtenção da amostra

47

se deu por conveniência. A coleta de dados foi efetuada com base nos

princípios da Técnica de Associação Livre de Palavras. A análise dos dados foi

realizada de acordo com os pressupostos de pesquisa qualitativa, mediante

identificação de categorias de análise. O grupo pesquisado ficou constituído

por 190 sujeitos, sendo 44% da escola pública e 56% da escola particular;

50,5% eram do gênero feminino e 49,5% do masculino. As idades variaram de

10 a 15 anos, sendo que a faixa etária de 12 a 15 anos foi a mais frequente

(62,6%). Foram identificadas 5 categorias de análise. Para as duas escolas, a

categoria relacionamento interpessoal foi a mais citada (32,6%, na pública;

29,6%, na particular). Para a escola pública, a segunda categoria mais

evidenciada foi competência profissional (28,8%) e, na escola particular foi

biossegurança (28,9%). A pesquisadora explicou que o cirurgião-dentista deve

conhecer seus pacientes, deve saber interagir e se comunicar, para criar uma

relação profissional-paciente satisfatória, que é fundamental para o

estabelecimento de um vínculo de confiança. Ele deve ser atencioso e gentil,

responder às perguntas formuladas por seus pacientes, fazendo com que ele

se sinta acolhido e mais tranquilo durante o procedimento a que será

submetido. A conclusão da pesquisa foi de que, independente do tipo de

escola, os adolescentes consideram um bom dentista aquele que,

prioritariamente, consegue estabelecer um vínculo afetivo com seus pacientes

e que tenha domínio de habilidades e competências técnico-científicas

relacionadas à profissão.

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