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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA- UDESC CENTRO DE ARTES- CEART BACHARELADO EM MODA HELOISA PICKLER FRONZA Coleção de Moda para público infantil aliando Arte & Cultura à técnica de Estamparia Têxtil Digital. FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA 2012

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA- UDESC

CENTRO DE ARTES- CEART

BACHARELADO EM MODA

HELOISA PICKLER FRONZA

Coleção de Moda para público infantil aliando Arte & Cultura à técnica de

Estamparia Têxtil Digital.

FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA

2012

2

HELOISA PICKLER FRONZA

Coleção de Moda para público infantil aliando Arte & Cultura à técnica de

Estamparia Têxtil Digital.

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Moda - Habilitação em Design de Moda, do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Moda. Orientadora: Prof. Fabiana Ludwig

FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA

2012

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HELOISA PICKLER FRONZA

Coleção de Moda para público infantil aliando Arte & Cultura à técnica de

Estamparia Têxtil Digital.

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Bacharelado em Moda, habilitação

em Design de Moda, do Centro de Artes da UDESC, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Design de Moda.

Banca Examinadora

______________________________________________________

Profª Ms. Fabiana Ludwig (Orientadora)

Departamento de Moda, Centro de Artes, UDESC

Membro: __________________________________________________________

Profª. Dra. Icléia da Silveira

Departamento de Moda, Centro de Artes, UDESC

Membro: __________________________________________________________

Profº Dr. Lucas da Rosa

Departamento de Moda, Centro de Artes, UDESC

FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA

2012

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me ajudaram e contribuíram para a realização deste

trabalho, agradeço o incentivo e suporte essencial dos meus pais, dos meus irmãos,

da minha família, pessoas mais que importantes na minha vida e que fizeram grande

parte no desenvolvimento deste trabalho.

Agradeço as minhas colegas da faculdade de moda, que sempre

compartilharam conhecimentos e opiniões relevantes e que também souberam

compartilhar suas dúvidas e dificuldades, e juntas conseguimos ajudar umas às

outras, tenho um carinho enorme por muitas colegas que cultivei nesta extensa

trajetória.

Agradeço do fundo do coração aos meus mestres e professores, Cida e Mari

que auxiliaram com seus conhecimentos práticos na execução da modelagem e

costura das peças da minha coleção conceitual. À professora Balbinette que soube

coordenar um grande projeto de desfile de moda, um evento de sucesso já muito

reconhecido em nosso estado, e que foi uma grande realização para cada aluna

formanda. Em especial, agradeço a minha orientadora prof. Fabiana Ludwig que

me acompanhou e esteve presente em cada passo deste trabalho, que com suas

palavras de incentivo e de sabedoria me ensinou e me ajudou muito em cada etapa.

Enfim, agradeço a todos os mestres que passaram seus conhecimentos durante os

quatro anos de aprendizado na faculdade.

Agradeço por fim, o suporte e a paciência do meu namorado Fábio que

sempre esteve me apoiando, todos os dias, através de seus conselhos, seu carinho

e seu amor.

5

Dedico este trabalho aos meus pais e meus irmãos que sempre estiveram presente, dando apoio para concluir esta nova etapa. Aos meus professores que me ensinaram e orientaram para desenvolver este gratificante projeto, me trouxe ótimos resultados. Dedico às pessoas que de alguma forma, sempre estiveram comigo nesta longa caminhada, à todos os profissionais da área de moda que se interessam pela cultura e pelo design infantil e por fim, à Deus que me concedeu a graça para a realização de mais uma gratificante etapa em minha vida.

“A imaginação é tudo,

É uma prévia das próximas atrações da vida.”

Albert Einstein (1879/1955)

6

“Moda é interpretação de texto e contexto social, histórico, econômico e cultura. Moda é técnica, textura, cores, tecidos, e negócio. Mas, para mim, moda é antes de tudo a transformação do olhar através da escrita pessoal do indivíduo nas suas escolhas de vestir.”

Ronaldo Fraga (2012)

7

RESUMO

P. FRONZA, Heloisa. Coleção de Moda para público infantil aliando Arte & Cultura à técnica de Estamparia Têxtil Digital. Trabalho de Conclusão de Curso - Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Curso de Moda - habilitação em Design de Moda. Florianópolis, 2012.

Este trabalho apresenta o desenvolvimento de uma coleção de moda infantil feminina baseada na relação da arte e da cultura surrealista para a criação de estampas têxteis digitais. Em um primeiro momento, introduziu-se o conceito moda para melhor entender o seu funcionamento, suas características e seu comportamento no mundo moderno. Em seguida, abordou-se uma breve contextualização do livro “As Cidades Invisíveis” de Ítalo Calvino, tema geral este que foi o ponto de partida para o desenvolvimento da coleção de moda. Diante desta leitura, o livrou trouxe referencias lúdicas, histórias com forte apelo ao imaginário, fazendo com que o tema da coleção fosse abordado algo neste sentido. A vida e as obras de Joan Miró vieram ao encontro desta proposta, já que este artista revela em seus trabalhos, referências do criativo, de um universo surreal colorido com apelo infantil identificado em suas pinturas, telas e esculturas. Por meio de estudo de caso, analisou-se profundamente o comportamento do consumidor que são crianças, meninas de 6 à 8 anos no mundo atual, suas atitudes e características identificadas ao perfil estético, além da forte influência das mídias, do marketing que atingem constantemente as crianças. Neste sentido, a coleção foi inspirada para desenvolver produtos de moda divertidos transportando novas referências às roupas, inovando com a técnica da estamparia têxtil digital. Diante disto, introduziu-se uma breve historia sobre estamparia, seus processos e sua evolução. Abordou-se também o desenvolvimento de desenhos para estamparia têxtil digital da coleção “Meu Mundo de Fantasia” com os aplicativos Corel Draw e Photoshop, trazendo através destes, um colorido irreverente para o vestuário infantil. O trabalho apresenta, também, o portfólio da coleção que contém cinco looks conceituais e vinte comerciais, com painéis de pesquisa, texto argumento, parâmetro de moda, release, materiais empregados, aviamentos e design têxtil. Os três looks conceituais apresentam ficha técnica de estudo detalhado pois foram confeccionados e apresentados ao público durante o desfile de formatura.

Palavras-chaves: Moda. Criança. Arte. Estamparia.

8

ABSTRACT

This paper presents the development of a collection of a feminin children's fashion based on the relationship of art with the surrealistic culture for the creation of digital textile prints. In a first moment, was introduced a fashion concept to better understand your running, your characteristics and your behavior on the modern world. Next, was approached a brief contextualization of the book "As Cidades Invisíveis" of Ítalo Calvino, that was the bottom line to the growth of the fashion collection. According the reading, the book brought ludic mentions, stories with strong appeal with the imagination, bringin a theme on this way. Life and job of Joan Miró came to match this proposal, since this artist reveals in your labor, references to the criative, of a surreal universe colored with the children's appeal identified on your paintings and sculptures. By means of studies, was deeply analized the consumer behavior that are children, girls of 6 to 8 years old on the actual world, your attitudes and characteristics identified to the esthetic profile, beyond the hard influence of media, marketing that constantly reaches the children. In this case, the collection was inspired to build up fun fashion products, carrying new references to clothes, improving with digital textiles prints techniques. Besides that, was introduced a brief story of printing, your proceeding and evolution. Approached too the development of drawings to digital textile of printing of collection "Meu Mundo de Fantasia" with the Corel Draw and Photoshop apps, bringing trough these, a daring colorful to childlike clothing. The work presents too, the collecion's portfolio that has five conceptual looks and twenty comercial looks, with research panels, subject text, fashion parameters, release, materials, trims and design. The three conceptual looks present technical specifications of detailed studying because they are made and showed to the public during the prom runway show.

Key words: Fashion. Child. Art. Print.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Retrato de Joan Miró...................................................................................37

Figura 2: O jardim.......................................................................................................38

Figura 3: O carnaval de Arlequim, 1924 e Maternidade, 1924...................................39

Figura 4: Pássaro Solar e Pássaro Lunar..................................................................40

Figura 5: Televisão: Realizar atividades em lugares com a televisão ligada prejudica

cognição da criança....................................................................................................49

Figura 6: Demonstração da técnica de estamparia em blocos de madeira...............53

Figura 7: Rapport da estampa Doce Rabisco............................................................57

Figura 8: Processo de estamparia têxtil digital de impressão....................................58

Figura 9: Coleção de verão 3013 Victor Dzenk..........................................................58

Figura 10: Modelo no editorial da coleção Meu Mundo de Fantasia..........................59

Figura 11: Processo de desenvolvimento de estampas, teste de cores a partir de

técnicas manuais........................................................................................................61

Figura 12: Estampas da coleção Meu Mundo de Fantasia........................................63

Figura 13: Desenvolvimento da estampa Specchio Urbano no Corel Draw..............64

Figura 14: Colorindo a estampa no Photoshop..........................................................65

Figura 15: Finalização do rapport da estampa Specchio Urbano..............................65

Figura 16: Estampa Spechio Urbano finalizada.........................................................66

Figura 17: Nocturne....................................................................................................66

Figura 18: Desenvolvimento da estampa Doce Rabisco............................................67

Figura 19: Comparação entre a obra Bailarina e a estampa Curvas de Amor..........68

Figura 20: Criando a estampa Curvas de Amor no Corel draw X4............................69

Figura 21: Comparação entre a obra de Miró e a estampa Espantolia......................70

Figura 22: Princípios do desenvolvimento da Espantolia no Corel draw...................70

Figura 23: Variantes da estampa Espantolia.............................................................71

Figura 24: Painel Conceito.........................................................................................72

Figura 25: Painel Lifestyle..........................................................................................75

Figura 26: Painel de Parâmetros de Moda.................................................................76

Figura 27: Cartela de Cores.......................................................................................77

Figura 28: Painel de Materiais....................................................................................78

Figura 29: Painel de Aviamentos................................................................................79

Figura 30: Painel de Design Têxtil..............................................................................80

10

Figura 31: Mapa da Coleção Conceitual....................................................................82

Figura 32: Looks conceituais 1 e 2.............................................................................83

Figura 33: Looks conceituais 3 e 4.............................................................................84

Figura 34: Look conceitual 5......................................................................................85

Figura 35: Mapa da Coleção Comercial.....................................................................85

Figura 36: Looks comerciais 1 e 2..............................................................................87

Figura 37: Looks comerciais 3 e 4..............................................................................88

Figura 38: Looks comerciais 5 e 6..............................................................................89

Figura 39: Looks comerciais 7 e 8..............................................................................90

Figura 40: Looks comerciais 9 e 10............................................................................91

Figura 41: Looks comerciais 11 e 12..........................................................................92

Figura 42: Looks comerciais 13 e 14..........................................................................93

Figura 43: Looks comerciais 15 e 16..........................................................................94

Figura 44: Looks comerciais 17 e 18..........................................................................95

Figura 45: Looks comerciais 19 e 20..........................................................................96

Figura 46: Book Criativo.............................................................................................97

Figura 47: Ficha técnica do primeiro look...................................................................99

Figura 48: Ficha técnica do segundo look................................................................100

Figura 49: Ficha técnica do terceiro look..................................................................101

Figura 50: Orientação com o estilista Elio Fiorucci..................................................102

Figura 51: A estilista Heloisa Fronza finalizando o primeiro look.............................102

Figura 52: Provas dos protótipos e produtos finais..................................................103

Figura 53: Produção fotográfica da coleção Meu Mundo de Fantasia.....................103

Figura 54: Modelo Alice no Octa Fashion................................................................104

Figura 55: Modelo Heloísa no Octa Fashion............................................................105

Figura 56: Modelo Caroline no Octa Fashion...........................................................105

Figura 57: A estilista Heloisa Fronza com as modelos.............................................106

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Cronograma metodológico para o desenvolvimento do projeto...........23

12

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................14

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA......................................................................14

1.2 OBJETIVOS.........................................................................................................19

1.2.1 Objetivo Geral................................................................................................19

1.2.2 Objetivos Específicos...................................................................................19

1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................20

1.3.1 Metodologia de Pesquisa..............................................................................20

1.3.2 Metodologia de Projeto de produto de Moda..............................................23

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................29

2.1 MODA...................................................................................................................29

2.1.1 Moda e Arte......................................................................................................32

2.1.2 Moda e Vestuário.............................................................................................34

2.2 AS CIDADES INVISÍVEIS – ÍTALO CALVINO.....................................................35

2.3 JOAN MIRÓ – A INSPIRAÇÃO ...........................................................................36

2.4 COMO ENTENDER O CONSUMO......................................................................41

2.4.1 O Perfil estético...............................................................................................42

2.4.2 Crianças no mundo moderno.........................................................................44

2.4.3 A influência dos meios de comunicação......................................................47

2.5 ESTAMPARIA......................................................................................................53

2.5.1 Evolução da Estamparia.................................................................................53

2.5.2 Estamparia têxtil digital..................................................................................56

2.5.3 Desenvolvimento de desenhos têxteis para a estamparia..........................59

2.5.4 Criação das estampas da coleção Meu Mundo de Fantasia.......................62

3. BOOK DE COLEÇÃO...........................................................................................72

3.1 CONCEITO...........................................................................................................72

3.2 EMPRESA............................................................................................................73

3.2.1 Release.............................................................................................................73

3.3 PÚBLICO-ALVO...................................................................................................74

3.4 PARÂMETROS DE MODA...................................................................................75

13

3.5 COLEÇÃO............................................................................................................76

3.5.1 Cartela de Cores..............................................................................................76

3.5.2 Materiais...........................................................................................................77

3.5.3 Aviamentos......................................................................................................79

3.5.4 Design têxtil.....................................................................................................80

3.6 GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS..........................................................................81

3.6.1 Mapa da coleção conceitual...........................................................................82

3.6.2 Croquis conceituais........................................................................................82

3.6.3 Mapa da coleção comercial............................................................................85

3.6.4 Croquis comerciais.......................................................................................86

3.7 BOOK CRIATIVO..............................................................................................97

4. DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO..................................................................98

4.1 FICHA TÉCNICA DO PRODUTO........................................................................98

4.2 IMAGENS DAS ETAPAS DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO

PRODUTO..........................................................................................................102

4.3 PRODUÇÃO DO CATÁLOGO DE MODA..........................................................103

4.4 DESFILE............................................................................................................104

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................107

6. REFERÊNCIAS....................................................................................................111

14

1. INTRODUÇÃO

1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

O presente trabalho foi desenvolvido através da leitura do livro “As cidades

Invisíveis” de Ítalo Calvino, como tema central, o projeto foi sendo definido pelo forte

apelo do imaginário, do lúdico, dos sonhos e da realização. Sendo assim, o

surrealismo veio de encontro para definir um conceito forte e de relevância para uma

coleção infantil conceitual.

As obras artísticas de Joan Miró, entre pinturas e esculturas, foram as

grandes fontes de inspiração para poder estimular um processo criativo inovador,

onde a beleza da arte pudesse transmitir uma nova cultura, conhecimentos e

sentimentos às crianças modernas.

Através de estudos sobre o comportamento do consumidor e observando

detalhadamente estas crianças no cotidiano em que vivem, foi possível identificar

pontos importantes a serem considerados para o desenvolvimento de uma coleção

infantil, que enxerga a drástica mudança nas atitudes que vem sendo modificada ao

longo dos tempos.

Hoje em dia, ser criança pode ser definido e entendido através de outras

palavras. Elas podem ser vistas como pequenos seres precoces em seu

desenvolvimento, podem ser comparadas aos adultos pelas suas atitudes, podem

ser definidas, portanto, por uma constante atividade realizada nos tempos

modernos, o Consumo, pelo qual, somos caracterizados por aquilo que usamos,

ouvimos, comemos, ou seja, por aquilo que consumimos.

Nas palavras de David Buckingham (2007) em todas as sociedades

industrializadas – e também em muitos países em desenvolvimento – as crianças

hoje passam mais tempo em companhia dos meios de comunicação do que com

seus familiares, professores e amigos. As crianças parecem cada vez mais viver

“infâncias midiáticas”; suas experiências diárias são repletas das narrativas, imagens

e mercadorias produzidas pelas grandes corporações globalizadas de mídia.

Poderíamos mesmo dizer, que hoje o próprio significado da infância nas sociedades

15

contemporâneas está sendo criado e definido por meio das interações das crianças

com as mídias eletrônicas.

Com a revolução tecnológica, o mundo ganhou mais comodidade e

disponibilidade de consumir produtos inovadores que prendam a atenção de

qualquer ser humano, entretanto, das crianças. Um público manipulado pelas mídias

e influenciado pelo jogo de marketing que bombardeia suas mentes com a variedade

de produtos, criando um forte desejo de consumo.

Com o poder persuasivo que criam através da mídia e com a falta de atenção

que estas possuem atualmente dos pais, acabam tendo tudo o que querem, obtendo

de forma fácil e estática, produtos que servem para suprirem esta falta de carinho,

além de tudo, cada vez mais, ganham espaço frente às mídias adultas e começam a

desenvolver comportamentos e atitudes precoces, parecidos com seus pais, seus

exemplos de vida, o qual é muito comum identificar, em diversos momentos do dia a

dia, como na hora de influenciar as compras domésticas.

A mudança do conceito de valores é um assunto de extrema importância, na

qual a sociedade deveria estar ciente, para que os reais problemas sociais sejam

vistos com maior prioridade. Hoje em dia a preocupação com o futuro dos pequenos

consumidores está sendo discutida de diversas maneiras, inclusive foi criado em

2006 um Fórum Internacional Criança & Consumo1, que já realizou sua terceira

edição no ano de 2010, debatendo os impactos negativos da mercantilização da

infância e refletindo sobre violação dos direitos da criança e o hiperconsumismo que

desencadeiam problemas ambientais, econômicos e sociais. Também foi

contemplada a diminuição das brincadeiras criativas, essenciais ao desenvolvimento

humano.

Visando melhorar tal situação, este projeto se dedica a interferir no

desenvolvimento cultural das crianças, trazendo grandes referências de obras

artísticas, que são representadas através da estamparia têxtil digital, incentivando

também, a imaginação e a criatividade com o processo de criação e

desenvolvimento de estampas autorais.

1 Site oficial do Fórum Internacional Criança e Consumo. Disponível em: http://www.forumcec.org.br/

16

Diante disto, a questão norteadora é como desenvolver uma coleção de moda

para o público infantil aliando arte e cultura à técnica de estamparia têxtil digital?

Portanto, para melhor compreender os motivos, o contexto estudado, abordar-

se-á de maneira mais detalhada cada capítulo estabelecidos para o

desenvolvimento deste trabalho.

No primeiro capítulo, delineou-se a importância dos procedimentos

metodológicos e quais métodos foram seguidos. Na metodologia de pesquisa

utilizou-se como base a bibliografia de Marconi & Lakatos para estruturar uma

pesquisa ordenada, contudo, criou-se um cronograma final para melhor organização

e objetividade durante as etapas do trabalho. Na metodologia de projeto foram

utilizados os autores Baxter e Sandra Rech para compor uma estrutura mais

direcionada de projeto de produto de moda, onde relata-se o passo- a- passo do

processo de desenvolvimento de criação de uma coleção de moda infantil.

No segundo capítulo, o qual ocorre a fundamentação teórica, identifica-se o

suporte de todo o trabalho, o corpo da pesquisa para o qual o projeto foi embasado.

Num primeiro momento, buscou-se introduzir através de grandes autores

renomados, como Dario Caldas, Baudrillard, Flugel, Miranda, entre outros, o

conceito da moda, ressaltando diferentes ângulos de visões deste complexo tema.

Diante disto, mostra-se que hoje, podemos nos deparar com a moda em diversos

campos, não mais restrito ao vestuário e adornos, mas sim, presente num contexto

amplo, global, como por exemplo, na arquitetura, na decoração, no comportamento,

nas atitudes, em várias áreas do consumo moderno.

Em seguida, descreveu-se brevemente um resumo do livro As cidades

Invisíveis, o qual foi o tema central para iniciar o processo criativo de

desenvolvimento de uma coleção infantil, abrangendo conceitos coerentes

relacionados a partir da essência com que se foi tirada desta história.

No decorrer da pesquisa, percebeu-se que muito se tinha a ver o livro em

questão com o conceito abordado para este trabalho, o surrealismo de Joan Miró.

Notou-se a similaridade de termos e de valores transmitidos, uma coerência de

conceitos levados em questão. Reparou-se que Marco Polo (narrador das Cidades

invisíveis) descrevia cada lugar com que passara de acordo com sua imaginação,

17

uma busca de idealizar um lugar perfeito, sem regras, fora do mundo real,

diplomático em que vivia. Tais narrativas trouxeram a tona, o forte apelo da

imaginação, do lúdico e da fuga da realidade existente, buscando transmitir a

satisfação através da exaltação dos sonhos. Conceitos que se interligam quando

estudada as obras e a vida do artista plástico Joan Miró, ponto seguinte a ser

analisado.

Diante disto, abordou- se sua bibliografia, suas principais obras e sua vida,

informações essenciais utilizadas como base do processo de criação, pontos

importantes de uma inspiração que trouxe elementos divertidos e lúdicos para o

público infantil.

Para criar um produto de moda, é preciso antes de tudo, entender e saber

para quem criamos, qual o público alvo que deverá ser atingido. Para tanto, a

fundamentação teórica aprofundou-se no estudo das atitudes comportamentais das

crianças, discurso apresentado no início desta introdução. Foram descritos

primeiramente, conceitos de consumo, para que se entenda realmente o quão

importante é esta ação no mundo moderno e, consequentemente, na formação

infantil. Num segundo momento estabeleceu-se o perfil estético e como os meios de

comunicação, dentre eles, a televisão e as mídias globalizadas acabam

influenciando também em seu desenvolvimento.

Logo, conclui-se que a importância de trazer à tona referências das artes

plásticas, de uma cultura marcante que influenciou o mundo, para o universo de

moda infantil, é uma questão inovadora e irreverente. Utilizou-se, para tanto, como

base para criação, traços, cores, figuras e imagens das pinturas de Joan Miró,

usadas para desenvolver divertidas estampas atraentes aos olhares de uma

consumidora que também se interessa, além de vestir um simples vestido, vestir

uma peça de conteúdo, englobando valores de conforto, qualidade, cultura e moda.

Para reproduzir estes conceitos, partiu-se para parte técnica do trabalho, o

desenvolvimento das estampas da coleção Meu Mundo de Fantasia, abordadas no

último tópico da fundamentação teórica. De início, estuda-se a evolução da

estamparia e os métodos mais comuns utilizados no mercado têxtil. De acordo com

o crescente ramo da moda, a tecnologia acompanhou o desenvolvimento destas

técnicas atualmente utilizadas, culminando surgir uma grande inovação na área: A

18

estamparia têxtil digital, uma técnica computadorizada, que permite reproduzir o que

se deseja, independente do desenho e do número da cartela de cores.

Neste tópico relata-se, por fim, o passo a passo da criação de cada desenho

de estamparia, os programas utilizados e a facilidade em desenvolver estampas

para este segmento, de maneira dinâmica, descreve-se como foram utilizadas as

ferramentas nos aplicativos do Corel Draw e Photoshop para a execução então,

deste importante processo a ser realizado para a coleção.

Contudo, a fundamentação teórica é o corpo da pesquisa, o suporte que levou

a desenvolver um book de coleção infantil, mencionado a seguir no terceiro

capítulo.

O book de coleção foi criado a partir de técnicas manuais e artesanais que

englobam uma série de estudos e pesquisas, entre elas, de público alvo, de

macrotendências, de cores, materiais e aviamentos. Para ele, também foram feitos o

painel conceito, texto argumento e release de toda a coleção. Ao fim, foram

selecionados cinco looks conceituais, entre eles, os três looks do desfile de

formatura e mais vinte looks comerciais, todos com harmonia de cores, desenhos

técnicos e especificações das estampas utilizadas, um rico material que englobam

todas as características e informações descritas. O book da coleção Meu Mundo de

Fantasia também tem sua versão digital, possível de ser vista online2, transmitindo

melhor visualização geral do trabalho desenvolvido.

No quarto capítulo, aborda-se o desenvolvimento do produto, ou seja,

imagens e referências das atividades práticas da execução da coleção de moda.

Nesta etapa, identificam-se as fichas técnicas dos três looks conceituais

confeccionados para o desfile, onde contém informações essenciais para o

conhecimento, trazendo facilidade na hora de executar a confecção em uma fábrica,

como por exemplo, são inseridos dados de materiais e aviamentos, valores, gastos

dos produtos, modelagens, grade a ser confeccionada, descrição do produto, cotas,

entre outros.

Neste capítulo abordou-se também, as imagens das etapas do

desenvolvimento de produto, momentos especiais que marcaram a execução das

2 Book digital pode ser acessado através do link: http://meumundodefantasia.wordpress.com/

19

peças, entre elas, a orientação com o estilista Elio Fiorucci no primeiro semestre de

2012, um momento relevante que influenciou o início do processo de

desenvolvimento da coleção. Verificam-se também as imagens que consagram a

conclusão do projeto e da faculdade de moda, o desfile de formatura Octa Fashion,

que aconteceu no dia 13 de novembro, um evento considerado sucesso e que foi

muito reconhecido pelas mídias. Nele foram apresentados três looks conceituais da

coleção, os quais foram desenvolvidos pela estilista Heloisa Fronza, na própria

instituição de ensino UDESC durante o último semestre de 2012.

1.2. OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Desenvolver uma coleção de moda para público infantil aliando arte e cultura

à técnica de estamparia têxtil digital.

1.2.2 Objetivos Específicos

Pesquisar macrotendências, microtendências, parâmetros de moda,

público alvo, materiais, aviamentos e desenvolver seus respectivos painéis

visuais.

Dirigir um estudo mais aprofundado a respeito do público para melhor

entender o comportamento do consumidor em questão e suas atitudes.

Verificar dados a respeito do artista plástico Joan Miró, que é o tema de

inspiração para o desenvolvimento de estamparia têxtil digital para o produto

do vestuário infantil.

Desenvolver 25 gerações de alternativas de produtos de moda para a

linha infantil.

20

1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A leitura constitui-se em um dos fatores decisivos do estudo e imprescindível

em qualquer tipo de investigação científica. Gagliano (1979:85) afirma que “toda

leitura cultural tem sempre um destino, não caminha a esmo. Esse destino pode ser

a busca, a assimilação, a retenção, a crítica, a comparação, a verificação e a

integração de conhecimentos”.

Segundo Fachin (2003), a metodologia é a etapa de adequação das

características da pesquisa a ser realizada com os métodos que serão empregados,

dependendo do objetivo de cada pesquisa.

A pesquisa pode ser considerada um procedimento formal com método de

pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e se constitui no caminho

para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Significa muito

mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões

propostas, utilizando métodos científicos.

1.3.1 Metodologia de Pesquisa

Para Ander-Egg (1978:28), a pesquisa é um “procedimento reflexivo

sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados,

relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento”. A pesquisa, portanto, é um

procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um

tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para

descobrir verdades parciais.

O desenvolvimento de um projeto de pesquisa segundo Marconi & Lakatos

(2010), compreende seis passos:

1. Seleção do tópico ou problema para investigação.

2. Definição e diferenciação do problema.

3. Levantamento de hipóteses de trabalho.

4. Coleta, sistematização e classificação de dados.

21

5. Análise e interpretação dos dados.

6. Relatório do resultado da pesquisa.

A pesquisa do presente trabalho iniciou-se com o deparar do consumo infantil

no mercado atual. Nesta, estudos e avaliações sobre o contexto global foram

aprofundadas para melhor conhecimento especifico, e visto que esta área merece

grande reparo e mudanças. A coleção foi desenvolvida de acordo com a liberdade

de imaginação do universo infantil, do lúdico que nos permitiu criar grandes

conceitos de moda que interagiram com a cultura surrealista de Joan Miró, um dos

ícones mundiais de grande expressão no meio artístico. As alternativas e hipóteses

que foram feitas, tem como objetivo de transmitir além de produtos de moda

divertidos, novos conceitos e formas que envolvem a tecnologia da estamparia têxtil

digital com a cultura de um grande artista plástico para o cotidiano das crianças.

Desta forma, esta pesquisa se caracteriza:

Sob o ponto de vista da abordagem do problema, a pesquisa tem caráter

qualitativo. Segundo Creswell (2010),a investigação qualitativa possui conceitos

filosóficos, uma estratégia de investigação, métodos de coleta, análise e

interpretação de dados. Os procedimentos qualitativos são baseados em dados de

texto e imagem e têm passos singulares nas análises dos dados. Para Marconi

(2010) preocupa-se em interpretar e analisar aspectos mais profundos, descrevendo

a complexidade do comportamento humano, fornecendo um estudo mais detalhado

sobre as investigações.

O projeto é uma das etapas componentes no processo de elaboração,

execução e apresentação da pesquisa. Esta necessita ser planejado com extremo

rigor, caso contrário o investigador, em determinada altura, encontrar-se-á perdido

num emaranhado de dados colhidos, sem saber como dispor dos membros ou até

desconhecendo seu significado e importância.

Segundo Marconi e Lakatos (2010), a especificação da metodologia da

pesquisa é a que abrange maior número de itens, pois responde a um só tempo, às

questões como?, com quê?, onde?, quanto?

22

O primeiro passo para o planejamento da pesquisa, é a preparação. Esta

etapa ocorre a decisão, onde determina o que se pretende investigar. Toda pesquisa

deve ter um objetivo determinado para saber o que vai procurar e o que se pretende

alcançar. Deve partir, afirma Ander- Egg (1978:62), “de um objetivo limitado e

claramente definido, sejam estudos formulativos, descritivos ou de verificação de

hipóteses”.

Desde que tenha tomado a decisão de realizar uma pesquisa, deve-se pensar

em um esquema, que auxilie o pesquisador a conseguir uma abordagem mais

objetiva, imprimindo uma lógica de trabalho. Desenvolver um cronograma para

executar a pesquisa e uma previsão de gastos a serem feitos durante a mesma.

Para definir através de Marconi (2010), as fases da pesquisa, iniciou-se com a

escolha do tema, levantamento de dados, onde se realizou pesquisa bibliográfica,

capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados ao assunto em debate,

definindo assim, uma problemática concisa, clara e objetiva.

O tema escolhido, portanto, foi uma viagem ao mundo de Miró, que traz

muitas informações, obras ricas em formas, cores e conteúdo que se fazem

necessário para o desenvolvimento de uma coleção de moda diferenciada, não só

de desenhos animados e de personagens influentes da televisão.

Na etapa de execução, as principais técnicas utilizadas são de pesquisa

bibliográfica e de observação para coletar os dados. Uma vez que estes forem

manipulados e obtidos os resultados, o passo seguinte é a análise e interpretação

dos mesmos, constituindo-se ambas no núcleo central da pesquisa. Para Best

(1972:152) “representa a aplicação lógica dedutiva e indutiva do processo de

investigação”. A importância dos dados está não em si mesmos, mas em

proporcionarem respostas às investigações.

A última fase do planejamento será a conclusão e a o relatório geral da

pesquisa, mostrando seus resultados de maneira clara, objetiva e coerente.

Para Marconi & Lakatos (2010) A finalidade da pesquisa cientifica não é

apenas um relatório ou descrição de fatos levantados empiricamente, mas o

desenvolvimento de um caráter interpretativo, no que se refere aos dados obtidos.

Para tal, é imprescindível correlacionar a pesquisa com o universo teórico, optando-

23

se por um modelo teórico que sirva de embasamento à interpretação do significado

dos dados e fatos colhidos ou levantados.

A estrutura do projeto foi feita em forma de esquema de cronograma, para

melhor visualização e cumprimento das etapas:

Tabela 1: Cronograma metodológico para o desenvolvimento do projeto.

1.3.2 Metodologia de projeto do Produto de moda

Escorel (2000) “O projeto é o processo de fabricação das características

dos mesmos, exigidas para a satisfação das necessidades dos clientes, e parte

fundamental do desenvolvimento de produtos”. É necessário para articular cadeias

de informações destinadas à fabricação em larga escala por meio de tecnologias

industriais, já que é impossível dissociar a criação do produto, os equipamentos e

recursos tecnológicos utilizados para a fabricação desse produto.

Juran (1997: 166) disserta que o desenvolvimento de produtos consiste em

vários estágios sucessivos de um processo, partindo do conceito (ideia) até o

24

cliente, com a finalidade de desenvolver produtos com características que atendam

as necessidades dos clientes. Embora afirme que a terminologia não está

padronizada, utiliza como definição de desenvolvimento de produtos “o processo

experimental de escolha das características dos mesmos que correspondem às

necessidades dos clientes.”

Gurgel (1995) define o desenvolvimento de projeto de produtos como uma

sucessão estruturada de trabalhos, em que cada etapa fornece as informações para

o trabalho da etapa posterior, pode ser entendido como uma transformação de

informações. Até a década de 60, predominava a metodologia tradicional, onde cada

departamento finalizava sua parte do trabalho de depois o enviava para outro.

Atualmente, a metodologia é simultânea e reúne várias partes do trabalho, uma

parceria, omitindo etapas do desenvolvimento, poupando tempo e aumentando a

eficácia.

O projeto de produto está inserido num processo de tomada de decisões

denominado Desenvolvimento de Produtos, quando as fases não têm sua

progressão sequencial linear, mas, simultânea, transformando conceitos

(idéia/abstrato) em produtos (elemento físico/concreto) a partir da identificação de

oportunidades de mercado, de uso e de fabricação.

O objetivo do projeto de produto, portanto, é a satisfação das necessidades e

expectativas atuais e futuras dos consumidores, assim, considera-se o consumidor

como inicio e fim do projeto de produto.

Sem um ponto de partida, uma ideia, um estímulo, o estilista não terá

condições de desenvolver e configurar nenhuma coleção. É necessário aguçar os

sentidos e a criatividade. Gilda Chataignier (1996: 116) comenta sobre a inspiração:

“A primeira coisa que ela fala para quem quiser fazer uma boa coleção é simples: ter uma boa idéia. E essa ideia deve ser baseada no cotidiano, na rua, nas coisas que acontecem. „As novidades geram o estado de criatividade‟, sentencia Marília. Ao captar o fio condutor – pode ser um baile funk, o aproveitamento de retalhos, como fazem na Coopa-Roca, a ressurreição do Rio como cidade-maravilha, cidade-moda 0 o estilista deve externar seus sentimentos estéticos e projetá-los em forma de moda.”

Baxter (2003) afirma que a criatividade é o coração do design, em todos os

estágios do projeto. O projeto mais excitante e desafiador é aquele que exige

inovações de fato- a criação de algo radicalmente novo, nada parecido com tudo o

25

que se encontra no mercado. Deve ser explorada e exercitada, pois a criatividade é

uma das mais misteriosas habilidades humanas. A dificuldade maior da criatividade

é a excessiva lógica e o apego ao convencional.

É imprescindível que o designer se auxilie de vários métodos de

desenvolvimento de criatividade. Castro (1981) afirma que as fontes de criatividade

podem ser de várias ordens, as principais utilizadas para desenvolver as estampas e

a coleção em si foram de origem individual e cultural.

As fontes individuais descritas por Castro (1981) fundamentam-se na

pesquisa de caráter psicológico, das preferencias formais e coloristicas de cada

pessoa. Uma postura crítica diante da produção casual de manchas de cores ou de

desenhos realizados ao acaso, procurando identificar elementos passíveis de serem

transformados em um produto, possibilita a integração criativa das técnicas de

produção e da s possibilidades de desenvolvimento psicológico dos indivíduos.

As fontes culturais, por sua vez, pode-se desenvolver padrões ou cores a

partir do estudo de obras de arte (pintura, escultura), no caso, a forte inspiração para

desenvolver a coleção infantil veio do surrealismo, movimento histórico que

influenciou às artes, pinturas, literatura, cinema, um movimento de destaque para

grandes artistas da época, ente eles, Joan Miró, pintor e escultor de obras repletas

de elementos abstratos que possibilitaram a evasão dos sonhos e do inconsciente.

De acordo com Slack (1997), o desenvolvimento de projeto de produto é

dividido em cinco etapas: geração do conceito; triagem; projeto preliminar; avaliação/

melhoria do projeto e prototipagem/ projeto final. Baseadas nesta sequencia, a

coleção de moda infantil foi desenvolvida de acordo com as especificações a seguir

de cada uma:

A primeira etapa, geração de conceitos, inicia com o fornecimento de ideias

para novos produtos, a partir de informações coletadas junto a fontes internas e

externas da empresa. Engloba não só a ideia, mas também sua forma, função,

objetivo e benefícios que o produto trará aso consumidores. “A geração de ideias é o

coração do pensamento criativo” (Baxter, 2000:61). Nesta fase, portanto,

compreende-se a análise de coleções anteriores, o estabelecimento da direção

mercadológica da nova coleção e a avaliação da dimensão da coleção.

26

Num segundo momento, realiza-se a triagem dos conceitos, a avaliação

quanto a sua viabilidade, aceitabilidade e vulnerabilidade. O produto é analisado

quanto à sua elaboração e à sua adequação. Assim, são analisados sob diferentes

aspectos e critérios para a seleção das melhores propostas. Nesta fase também

ocorre a definição dos temas de moda.

Um dos princípios do desenvolvimento de novos produtos, denominado por

Baxter (2003) é o funil de decisões, de extrema importância, é uma forma de

visualizar as variações do risco e incerteza, ao longo do processo de

desenvolvimento do novo produto. É, em essência, um processo de tomada de

decisões entre alternativas propostas, de extrema importância quanto ao sucesso do

novo produto.

Após este estudo, o próximo passo é a elaboração do projeto preliminar, que

consiste da especificação dos produtos e serviços. A especificação do projeto seria

uma fase de antecipação de tudo o que pode ocorrer. Corresponde aos esboços dos

modelos e à escolha de cores, formas, tecidos, aviamentos, componentes,

acessórios e etiquetas.

Na preparação da especificação do projeto, conseguir utilidade significa produzir especificações uteis para controlar a qualidade durante o processo de desenvolvimento do produto. Portanto, a especificação do projeto deve ser feita com precisão suficiente para permitir a tomada de decisões técnicas. Essa precisão não deve prejudicar a correta interpretação das necessidades e desejos do consumidor. E a especificação do projeto, de uma forma geral, deve conter uma descrição completa e compreensível das percepções e valores do consumidor. A especificação do projeto deve ser fiel às necessidades do consumidor (Baxter, 2000:212).

A etapa seguinte de avaliação e melhoria do projeto objetiva o

aperfeiçoamento do produto antes que seja introduzido no mercado. São definidos

os modelos, desenvolvidos os desenhos técnicos, feita modelagem e a ficha técnica.

A última fase do projeto denomina-se prototipagem/ projeto final e consiste

em transformar o projeto melhorado em um protótipo que possa ser testado. O

protótipo é desenvolvido, e, testado para confecção do look final. Os editoriais de

fotos também ocorrem nesta etapa final, já que o produto está pronto para o desfile.

Desta forma, Baxter (2003) afirma que “a aprovação „oficial‟ desse protótipo encerra

o processo de desenvolvimento do produto. É a „luz verde‟ para se começar a

produção e lançá-lo no mercado”.

27

De acordo com Munari (1982), que construiu um projeto de produto (a partir

dos esquemas de Archer, de Fallon, de Sidal e Asimow), a metodologia do projeto

de produto inicia-se com a enunciação do problema e termina com a elaboração do

protótipo. A partir de um problema bem definido pela, o designer deve realizar uma

analise dos aspectos e das funções físicas e psicológicas do problema. Como

componente físico, Munari considera a verificação técnica- econômica do problema;

e, como componente psicológico, a verificação cultural, histórica e geográfica, ou

seja, a relação entre o produto e o usuário.

Na etapa subsequente, há o estudo dos limites do problema, como

disponibilidade de materiais, prazos de entrega do projeto, recursos financeiros,

utilização de materiais, cores e formas. A partir deste momento, pode-se identificar e

sintetizar os elementos do projeto e trabalhar com técnicas de criatividade para

coordenar a fusão de todos esses componentes de uma forma projetável. O design

caracteriza-se por partir das intuições mais alucinadas e conseguir levar à pratica

sonhos, que permitam produzir objetos uteis e bonitos, desenvolvidos com base em

imagens ou elementos com determinados reflexos, cores toques e grafismos,

mesmo sem estabelecer qualquer ligação com o produto a ser produzido ( Vicent –

Ricard, 1989).

Partindo como base dos processos de desenvolvimento de produtos

propostos por Slack(1997) e ensinamentos de Munari (1982), e Baxter (2000), pode-

se acrescentar alguns pontos importantes para a criação e desenvolvimento de

produto de moda. De acordo com Sandra Rech(2002), é necessário a observação,

analise e síntese quantitativas e qualitativas das necessidades de determinado

segmento de mercado; e, transformação dessas necessidades em um produto de

moda. Partindo dessa síntese, e das influencias sazonais da moda (tendências de

moda), pode-se traçar conceitos, ou seja, definir a base para coleções de tecelagens

e confecções, possibilitando o estabelecimento de normas para acentuar a

mensagem de estilo, integrando criação e método, capacidade artística e produção

industrial.

28

“Basta olharmos para as roupas que vestimos para constatarmos como elas são influenciadas por tendências culturais. A indústria da moda é organizada de forma implacavelmente eficiente para impor pequenas diferenças todos os anos. A tendência é imposta pelos desfiles anuais dos “grandes nomes” do mundo da moda. Eles mostram o que as mais atraentes modelos estão usando no ano, reforçado pela imagem de pessoas influentes pela sociedade e pelos ídolos de cinema, TV e esportes. As tendências e cores da moda são massificadas na forma de coleções de verão, inverno ou meia-estação e chegam às lojas. A propaganda encarrega-se do resto, encorajando os consumidores a andar na moda. Devido a essa pressão da propaganda, uma pessoa que esteja usando o estilo do ano passado, pode ficar incomodado, por ser considerado socialmente inferior perante os colegas. Isso pode ser uma maravilha para o comércio. Roupas que poderiam durar cinco ou seis anos são considerados obsoletos articialmente em apenas um ano, forçando a um novo consumo, baseado na tendência social do estilo. As pessoas fiéis a moda são o maior patrimônio da indústria da moda.” (Baxter 2003, quando menciona os efeitos sociais do estilo no desenvolvimento de novos produtos.)

Em comparação a outros produtos de consumo, e considerando a

complexidade e a fragmentação da cadeia têxtil, os produtos de moda são os que

demoram mais tempo a chegar ao consumidor, com constantes e periódicas

inovações. Vicent- Ricard (1989:33) afirma que por causa da renovação de produtos,

“com uma regularidade de metrônomo”, não é suficiente um designer de moda

possuir intuição e criatividade.

De acordo com Juran (1997:194), a principal responsabilidade dos designer

de produto é “ desenvolver novas características de produtos que possam criar

novas vendas”, sendo um processo cíclico: criam-se novos desejos com o intuito de

tornar obsoletos os produtos existentes no mercado e garantir as vendas dos novos

produtos.

29

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 MODA

Para entender o essencial sobre a vida da moda, seu funcionamento, seus

aspectos, sua atuação e seu desenvolvimento, estudou-se através de várias

bibliografias uma visão abrangente do grande comportamento da moda, já que trata-

se de uma questão complexa e que pode ser entendida através dos conceitos de

diferentes e renomados autores a seguir.

Dario Caldas(1999) em seu livro O universo da moda, inicia sua reflexão

afirmando que a moda é um fenômeno complexo, que faz funcionar as engrenagens

de uma das mais antigas e poderosas indústrias da nossa civilização. Hoje, o

assunto moda está presente como objeto de pesquisa em várias áreas das

principais universidades do planeta e a roupa é vista, antes de tudo, como signo

portador de mensagens que nos falam do individuo que a veste e da sociedade que

a produziu.

Ana Paula de Miranda (2008) diz que para o entendimento da moda como

fenômeno a ser analisado é importante que se entenda que a maior parte da

sociedade identifica, em primeiro lugar, a moda como campo reservado aos

costumes e adornos, mas ela não é restrita ao vestuário. Arquitetura, indústria

automobilística, decoração de interiores, nomes de batismos, gerenciamento de

negócios, entre outros, foram atingidos também pelo processo da moda.

“Os povos necessitam da moda para sua estabilidade mental. (...) Entendem-se por moda os costumes, os hábitos, os trajos, a forma do mobiliário da casa (...); contudo, é a moda do trajo que mais forte influência tem sobre o homem, porque é aquilo que está mais perto de seu corpo e sue corpo continua sempre sendo a parte do mundo que mais interessa ao homem.” (Carvalho, 1956)

Flugel (1966) já dizia que a moda é, também, um espelho de seu tempo e da

cultura que a produziu. O psicanalista inglês John – Carl Flugel, nos anos 30, refletiu

sobre as relações entre moda e outras manifestações estéticas, sobretudo a

arquitetura, o design de objetos e as artes plásticas. Para Flugel, esses elementos

fazem parte de um todo e expressam o “espírito do tempo”.

30

Assim, Dinah B. Pezzolo (2009) define moda como um fenômeno

sociocultural que traduz a expressão dos povos por meio de mudanças periódicas

de estilo, estilo esse que particulariza cada momento histórico. Ligada aos

costumes, à arte e à economia, a moda tem o poder de comunicar posicionamentos

sociais.

A moda documenta períodos históricos, e dessa forma, é compreensível que seja influenciada por acontecimentos das esferas política, social, cultural, artística, industrial, esportiva e afins. A moda documenta o passado, mas também assinala transformações da época em que vivemos. Assim, é possível afirmar que a moda é sinônimo de mudança. Para melhor compreensão das suas engrenagens, evolução é poder, é necessário buscar suas origens. (Dinah B. Pezzolo, pg17)

Os críticos da sociedade de consumo definem a moda como “mudança na

aparência para que haja uma aparência de mudança” (Baudrillard,1984). Dessa

forma, chamam a atenção para seu caráter conservador e autoritário, de

manutenção da ordem social (leia-se, das diferenças entre as classes ou da

dominação de uma delas sobre as outras).

Moda, hoje, não é só roupa, mas também os lugares que são frequentados, o que se lê e se escuta, o modo como se vive. Ao mesmo tempo, todas essas esferas do comportamento humano enviam mensagens sobre quem somos, frequentemente sobre quem não somos, às vezes sobre quem gostaríamos de ser. Desse ponto de vista, a roupa- como qualquer outro ato de consumo – é um fato de comunicação. Ela fala do individuo, suas as, também, sobre o modo como ele se oculta ou se vê, mas informa, também, sobre o modo como ele se relaciona com o grupo e com o quadro sociocultural mais amplo nos quais se insere. (Dario Caldas, pg 39)

É esse movimento constante, essa troca permanente de referenciais, que

permite definir a moda como “o império do efêmero”, expressão cunhada pelo

sociólogo e professor francês Gilles Lipovetsky. Por isso, ainda, se tivéssemos que

sintetizar moda em uma única ideia, a palavra chave seria mudança.

A moda é o fenômeno que melhor demonstra esta capacidade e necessidade de mudanças na sociedade, que é refletida no processo de consumo. Moda essencialmente envolve mudança, definida pela sucessão de tendências e manias em espaço curto de tempo, é um processo de obsolescência planejada. (Ana Paula de Miranda, pg 17)

Dario Caldas (1999) cita os primeiros pensadores que se dedicaram ao

assunto – Spencer, Veblen, Simmel, por exemplo – identificaram os dois

movimentos que estão na base do funcionamento da moda: a “imitação” (ou querer

parecer igual, na tentativa de ganhar status ou pertencer ao grupo) e a

“diferenciação” (ou querer ser diferente, atitude própria dos líderes que lançam

31

novas modas, ou de contestação ao grupo). Identificar-se e diferenciar-se: é o jogo

permanente entre esses dois polos antagônicos e complementares que define os

fenômenos de moda.

Da mesma forma, teóricos da cultura e estudiosos da vestimenta fixaram o

foco em quatro funções práticas das roupas: utilidade, decência, indecência (isto é,

atração sexual) e ornamentação. Em seu livro, comportamento do consumidor em

relação às roupas, 1979, Georges Sproles aponta quatro funções adicionais às

existentes: diferenciação simbólica, filiação social, auto aprimoramento psicológico e

modernismo.

A capacidade de comunicação simbólica é passível de ser encontrada em

todos os tipos de produtos, mas o vestuário é um dos mais eloquentes e poderosos

produtos que as pessoas usam para se comunicar, se tornou uma das mídias mais

expressivas na contemporaneidade. Os motivos fundamentais do vestir segundo

Flugel (1950) são classificados entre a proteção, o adorno, a comunicação (assim

sendo, a moda, indumentária e vestuário são considerados fenômenos culturais na

medida em que constituem alguma das maneiras pelas quais uma ordem social é

experimentada e comunicada.), expressão individual (declarando alguma forma de

singularidade), definição de papeis sociais (pois a moda pode ser usada para indicar

ou definir papeis sociais que as pessoas têm.), lazer (podem indicar o inicio ou o fim

de períodos de relaxamento), por fim, entre outras funções atribuídas à moda por

que levam as pessoas a adornar seus corpos.

Segundo Lomazzi (1989:87) a moda é uma linguagem, uma estrutura

organizada de sinais, “ a maneira mais cômoda mas também a mais importante e

mais direta que o individuo possa usar diariamente para exprimir, para além da

palavra”.

Porque a linguagem do vestuário, tal como a linguagem verbal, não serve apenas para transmitir certos significados, mediante certas formas significativas. Serve também para identificar posições ideológicas, segundo os significados transmitidos e as formas significativas que foram escolhidas para transmitir” (Eco, 1989:17)

Miranda (2008), afirma que as mulheres associam a palavra moda com

identidade, a apresentação do eu para o outro; bem como a palavra é ligada

automaticamente ao seu objeto de uso mais popular, isto é, roupas e acessórios, e

32

ao glamour. Moda para elas é sinônimo de glamourização, ou seja, charme, encanto

pessoal e magnetismo.

Fischer Mirkin (2001) em seu livro O código de vestir, explica que a

vestimenta é uma janela para o ser consciente e o inconsciente da mulher. Nossa

vestimenta revela muito de como nos sentimos em relação a nós mesmas e oferece

um vislumbre de nossos desejos, nossas fantasias e nossos valores. Nosso corpo é

uma tela sobre a qual colocamos tecidos e cor para criar um auto-retrato agradável.

Ao fazê-lo, expressamos diferentes dimensões de nós mesmas e decidimos o

quanto revelar sobre quem somos.

A moda é um objeto que permeia as sociedades capitalistas, está presente

em nossas atitudes, comportamentos, visões, vestimenta, na nossa definição de

cultura. A moda por ser passageira e mutante, transtorna os meios e cria uma lei da

efemeridade, onde a busca constante pelo novo é necessária para suprir a rapidez

do consumo e a satisfação da inovação. A moda para mim é paixão, que não traz

apena valores financeiros, mas sim, também um meio de comunicação, recordação

e sentimento.

2.1.1 Moda e Arte

Sempre que nos deparamos com discussões que buscam aproximar ou

relacionar os termos moda e arte fica um questionamento: Moda é arte? Segundo

Durand (1988) esta é uma questão sempre inquietante para quem lida com o gosto e

a estética. E afirma, “a resposta é positiva”. O entendimento da moda como

manifestação artística está relacionada com o conceito de arte que adotamos. Uma

tarefa nada fácil como explica Mendonça,

A definição do que venha a ser arte não é fácil e raramente é possível apresentar uma sistematização satisfatória sobre as intrincadas implicações do problema. Isso porque a arte não se limita às obras que podem ser encontradas nos museus, galerias ou praças das cidades, mas está presente em tudo o que é criado como objetivo de transmitir emoções e de obter resposta dos sentidos. Todas as artes apresentam como elemento comum, a forma, ou seja, a configuração particular observada, seja em uma escultura, em uma pintura, em um edifício, em um objeto ou, ainda, em uma produção literária ou musical. (2006, p.72)

Segundo Mendonça (2010) não podemos designar que o artista é aquele que

somente pinta quadros, é um homem, que faz música, poesia, móveis e até mesmo

sapatos e vestidos. Aqui, o que aproxima o artista do estilista é o processo criativo, a

33

inspiração, o domínio das formas, cores e texturas e a capacidade de traduzir um

momento num objeto capaz de despertar o interesse e emocionar o observador.

Lipovetsky (1989) afirma que o costureiro após séculos relegado a uma

condição subalterna, tornou-se um artista moderno. A partir do século XVIII os

profissionais de moda passam a ocupar cada vez mais prestigio social alcançando o

status dos artistas.

A arte pode servir de inspiração para a moda, assim como vice-verso. Os

grandes costureiros e estilistas sempre dialogam com os artistas do seu tempo. O

primeiro a promover essa troca de modo sistemático foi Paul Poiret, pedindo a

pintores de expressão que criassem estampas exclusivas para seus tecidos.

Dario Caldas (1999) também cita que Coco Chanel trabalhou com Picasso e

com outros grandes artistas. Essa postura que se firma ao longo do século XX,

traduz uma visão da moda como arte e do grande costureiro (ou do criador de moda)

como um verdadeiro artista de vanguarda.

A combinação de mesclar moda e arte resulta em criar produtos de moda que

tenham um suporte coerente para a produção, a arte plástica apresenta referências

visuais com domínios em formas, cores e texturas, enriquece a imaginação e

estimula processos criativos, pois além do apelo visual, ela pode marcar momentos

de uma determinada época, como é o caso do surrealismo, uma cultura marcante

que teve início na década de 1920.

Diante disto, tais termos possuem pontos em comum, são considerados

grandes meios de comunicação, a arte como a moda, em específico a roupa, são

fatores de representação social, delineiam estilo, e podem expressar muito além da

fala através do apelo visual. Além de tudo, podem transmitir adorações, causar

impactos, revelar sentimentos que exaltam a emoção.

Analisando e estudando o contexto moda e arte, este conceito é transmitido

para este trabalho, com o objetivo de desenvolver produtos de moda, através do

entrosamento das obras surrealistas de Joan Miró que trazem fortes referências de

cores e imagens para fortalecer o imaginário e o processo criativo para o

desenvolvimento de estamparia têxtil, aliando assim, cultura, arte e moda para uma

coleção infantil feminina.

34

2.1.2 Moda e vestuário

Sue Jones (2002), revela a moda de uma forma especializada de

ornamentação do corpo. A moda frequentemente vê as formas e os materiais do

passado como fonte de inspiração para novos estilos, onde o aspecto “emocional”

das roupas é um elemento importante do design. As políticas de identidade estão

estreitamente associadas com as roupas que escolhemos. Atualmente, o foco está

no uso das roupas nos ritos de passagem e como manifestações das inquietações

sociais e das mudanças culturais. Hoje, há muito mais liberdade de escolha do que

tinham nossos antepassados e são raríssimas as leis suntuárias que proíbem ou

obrigam o uso de determinadas roupas.

“A moda reafirma a liberdade do homem de recriar a própria pele, não a primeira, dada biologicamente, mas a segunda, gerada por sua imaginação e fantasia, e tornada real por sua engenhosidade técnica.” (N. Baitello Jr.)

Castro (1981:23) afirma que a “moda é um meio pelo qual o individuo como

comprador, ao satisfazer as suas exigências estético-sociais, influencia toda a

complexa estrutura socioeconômica de que faz parte” No livro Sistemas da Moda,

Roland Barthes (1976) demonstra como são importantes a opinião estética e as

correntes de gosto da sociedade quanto a orientação e condução de uma estrutura

econômica industrial. Sob este prisma, é fundamental que os estilistas de moda

pesquisem as correntes estéticas do consumidor, prevendo em que direção se

deslocarão, elaborando produtos que atendam a estas exigências, uma vez que o

trabalho destes profissionais é traduzir, ideias, sonhos em termos práticos da

produção industrial.

A moda é poderosa. Ao entender a roupa que funciona bem para você no trabalho e nas relações pessoas, você pode realçar tanto na sua vida particular quanto profissional. A roupa pode expressar seu lado sério, seu senso de humor, sua criatividade e sua natureza sexual. O que você veste pode criar uma impressão positiva e fazer com que se sinta bem consigo mesma. (Fischer- Mirkin 2001, pag 15 - O código de vestir)

Portanto, os produtos de moda podem ser qualquer elemento ou serviço que

conjugue as propriedades de criação (design e tendências de moda), qualidade

(conceitual e física), vestibilidade, aparência (apresentação) e preço a partir das

vontades e anseios do segmento de mercado ao qual o produto se destina. Além

disso, a indústria da moda envolve muito mais que produção e comercialização de

roupas e acessórios: abrange toda a mídia de massa, agencias de propaganda,

35

agencias de modelos, consultorias empresariais e especializadas. Um ramo

extremamente complexo onde se tem como principal objetivo projetar produtos para

a satisfação das necessidades e expectativas do público consumidor.

2.2 AS CIDADES INVISÍVEIS – ÍTALO CALVINO

O tema central proposto para o desenvolvimento de uma coleção de moda é o

livro As cidades Invisíveis de Ítalo Calvino. O livro aborda uma história onde o leitor

pode ter várias visões de entendimento do que se ocorre. É composto por dois

personagens principais, Marco Polo, um famoso viajante veneziano que descreve

para Kublai Khan, o imperador dos tártaros, as incontáveis cidades do imenso

império conquistador mongol.

Através dos textos curtos, cada página se torna uma surpresa, surge um

curioso interesse de qual será a nova aventura, são descritas uma geografia

instigante e fantástica que nos faz refletir sobre a ambiguidade dos conceitos. O

leitor vira um turista que viaja junto nas passagens de cada cidade, nos sentimos

com uma bagagem enorme como se estivéssemos vivendo cada momento descrito.

Não se sabe se Kublai Khan acredita em tudo o que diz Marco Polo, quando

lhe descreve as cidades visitadas, mas certamente o imperador continua sempre a

ouvi-lo com curiosidade e atenção.

Um conselho do próprio Marco Polo para Kublai Khan nos faz refletir ainda

mais a abrangência de significados que podemos captar com a frase seguinte: “de

uma cidade, não aproveitamos suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a

resposta que dá às nossas perguntas”.

Partindo das ilusões e do imaginário forte com que Marco Polo descrevia as

cidades por onde passava para o diplomata e analisando todo o contexto em que

ocorre a história, o conceito para a coleção infantil foi se formando. Encontrou-se

nos livros fortes referencias do lúdico, de uma realidade paralela onde o contador

pudesse encontrar um lugar para viver livremente suas fantasias, suas loucuras, não

permitidas no mundo real, convencional, regrado e político.

O surrealismo entra de frente com esta questão, da fuga da realidade, de

idealizar um mundo dos sonhos e da imaginação criativa, de poder transmitir a um

36

leitor um mundo de evasão de sentimentos e de satisfação. A última frase do livro foi

marcante para então, consolidar a base deste conceito:

“O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem continua: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço”. (Calvino, 1972)

2.3 JOAN MIRÓ: A INSPIRAÇÃO

O primeiro passo para o desenvolvimento de uma coleção é ter um fonte de

inspiração, um suporte que te traga referencias, informações, fontes que alimentam

o imaginário com ideias relevantes, para que este estimule a criatividade de forma

coerente.

A inspiração é a iluminação para futuros processos de criação e pode vir de

várias vertentes, de diferentes pontos de vista. Podem vir de obras artísticas, de

atitudes comportamentais, de filmes, de livros, da arquitetura, de referências

culturais ou até mesmo do movimento cotidiano nas ruas metropolitanas.

A inspiração é de extrema importância porque traz uma coerência ao trabalho,

é um ponto de partida que contém referencias para torná-lo objetivo, com

embasamento em fontes que podem ser factuais ou não. Representa uma resposta

a uma necessidade de solucionar um determinado problema.

Portanto, esta coleção utilizou como fonte de inspiração, pinturas e esculturas

de um artista que marcou a historia com seus elementos ricos da arte surrealista.

A harmonia das cores e formas das obras de Joan Miró foram os principais

meios de inspiração para desenvolver as estampas criadas para a coleção Meu

mundo de Fantasia, trazendo assim, a arte de desenhos coloridos e contagiantes

para o universo infantil.

Joan Miró foi um dos maiores pintores e escultores que pertenceu ao

movimento surrealista no século XIX. Nasceu em Barcelona, em 1893 e teve sua

vida entregue à uma de suas grandes paixões: a arte.

Na juventude, Miró estudou na Escola de Belas Artes de Barcelona e na

Academia de Francisco Galí, o qual, posteriormente apresentou às escolas de arte

37

moderna de Paris, transmitindo-lhe sua paixão pela arte bizantina e pela fantástica

arquitetura de Antonio Gaudí.

No começo da década de 1920 teve contatos com outros grandes pintores

que o influenciaram em seus trabalhos, entre eles Andre Breton e Paul Klee, que

pintou cenas oníricas e paisagens imaginárias, trazendo consigo novos elementos

figurativos que começaram a ressurgir em suas obras.

Através de seus trabalhos artísticos, criou um meio de expressão onde sua

imaginação pudesse se libertar em meio aos valores tradicionais da época. Suas

obras tem um ar metafórico, signos que trazem conceitos da natureza num sentido

poético e transcendental, valores muito comuns com outros movimentos modernistas

como o dadaísmo e o próprio, surrealismo.

Seguindo um movimento colorido e cheio de formas, as obras trazem a

harmonia da combinação de elementos irregulares que sempre são interferidos por

linhas que alteram a tonalidade de acordo com o caminho de cada traço. Figuras do

mundo real em sintonia com formas geométricas, rabiscos vindo do forte imaginário

do artista, (Figura 1). A conexão do mundo real com o lúdico transmite uma

característica contagiante que é bem representada também, no mundo infantil.

Figura 1: Contemporâneo do fauvismo e do cubismo, Miró criou sua própria linguagem artística e procurou retratar a natureza como o faria o homem primitivo ou uma criança, que tivesse,

no entanto, a inteligência de um homem maduro do Século 20. Fonte: http://joanmiro.com/joan-miro-gallery

38

A análise detalhada de cada pintura exprime acima de tudo, valores e

sentimentos bem expressivos, refletidos pelo autor. Nota-se um forte contraste de

cores, de linhas descontínuas, enfatizando o papel do inconsciente a favor de sua

capacidade criativa.

A linguagem artística pertinente nas pinturas revelam a arte liberta das

exigências da lógica e da razão, predominando uma identidade visual criada em

figuras, desenhos de insetos, animais, em especial, o pássaro, plantas e outras

formas que se referem à bela natureza. Assim como desenhos do universo

galáctico, estrelas, a lua e o próprio céu, um lugar onde o sonho se transforma.

Pessoas, crianças, seres reconfigurados de outro mundo, em sintonia com figuras

geométricas e muitas outras referências trazidas pela imaginação.

As cores trazem a autenticidade e uma identidade bem característica para

Miró, como pode ser vista na figura 2. Usando como base as cores primárias, possui

uma cartela de cores bem abrangente, que utiliza para dar vida à fantasia criada

pelo seu subconsciente. A mistura de tons quentes e frios na mesma figura também

é bastante pertinente, despertando um novo conceito, que confronta com as regras

impostas pelo racionalismo.

Figura 2: O Jardim Fonte: http://joanmiro.com/joan-miro-gallery

39

No início de sua carreira pintou duas de suas obras mais importantes, O

carnaval de Arlequim e Maternidade, (Figura 3). Logo, já participava da primeira

exposição de obras surrealistas em Paris. Sua arte foi ampliada e consagrada em

ilustrações, cenários e figurinos para balés, entre eles, o clássico romance russo

Romeu e Julieta, de Diàguilev. Na tapeçaria, encontrou um grande interesse pela

arte monumental e mural. A partir daí, suas obras passaram a ser expostas

regularmente em galerias francesas e americanas.

Figura 3: O carnaval de Arlequim,1924 e Maternidade, 1924

Fonte: http://joanmiro.com/joan-miro-gallery

Os grandes acontecimentos históricos passaram a influenciar sua produção

no final da década de 20, quando eclodiu a guerra civil espanhola e em meados da

década de 40 quando a segunda guerra mundial voltou à Espanha. Constelações foi

criada então, uma arte que simboliza a evocação de todo o poder criativo dos

elementos e dos cosmos para enfrentar as forças anônimas da corrupção política e

social causadora da miséria e da guerra.

Entre tantos fatos, começa a trabalhar com a cerâmica e produz grandes

esculturas, um trabalho que se tornou intenso e que posteriormente foram

trabalhadas com nobre material, o bronze. A partir de 1948, Miró dividiu seu tempo

entre a Espanha e Paris, iniciando uma série de trabalhos poéticos, cujos temas são

variações sobre a mulher, o pássaro e a estrela. Algumas obras revelam grande

espontaneidade, enquanto em outras se percebe a técnica altamente elaborada e

reflexiva, um contraste também pertinente em suas esculturas, (figura 4).

40

Figura 4: Esculturas Pássaro Solar e Pássaro Lunar, respectivamente.3

Demonstrado tanto talento durante sua carreira, é constituída em 1972 a

Fundação Joan Miró, um centro de estudos da arte contemporânea, em Barcelona.

Foi aberta ao público e expõe uma grande quantidade de suas obras artísticas, entre

pinturas, escultoras e obras gráficas. Hoje, a coleção presente na Fundação

compreende mais de 14 mil peças: 217 pinturas, 178 esculturas, 9 textos, 4

cerâmicas, quase todo o trabalho gráfico de Miró e 10 mil desenhos4.

Miró passou a reduzir os elementos de sua linguagem artística à pontos,

linhas e alguns símbolos, pintando seus últimos trabalhos com basicamente, branco

e preto. Joan Miró morre em Palma de Maiorca, Espanha, em 25 de dezembro de

1983, deixando sua cultura, seu sentimento e sua vida em forma da arte, aos seus

fãs e prestigiadores que o admiram até hoje.

3 Título original: Oiseau Solaire (Pássaro Solar) 1946-1949 Pintura em Bronze, medidas: 13,5 x 11 x

18,5. O pássaro não sugere o vôo ou a habilidade de voar, nem mesmo o próprio movimento, mas sim, um papel de mediador entre o céu e a terra. Título original: Oiseau lunaire (Pássaro Lunar) 1946- 1949 Técnica em bronze. Medidas 19 x 17 x 12,5cm. A lua e o sol, o feminino, masculino, o dia e a noite, as forças do oposto e complementar, são referências constantes nas obra de Miró. 4 Dados retirados da Fundação Joan Miró. Disponível em: http://www.fundaciomiro-bcn.org/

41

2.4 COMO ENTENDER O CONSUMO

Processos de consumo são complexos, por isso é importante o estudo das

teorias e investigações sobre o consumo e como entender este conceito tão

pertinente no cotidiano atual.

Na Linguagem corriqueira, segundo Canclini (1997) consumir costuma ser

associado a gastos inúteis e compulsões irracionais. Esta desqualificação moral e

intelectual se apoia em outros lugares-comuns sobre a onipotência dos meios de

massa, que incitariam as massas a se lançarem irrefletidamente sobre os bens.

Canclini (1997) explica também que o consumo é o conjunto de processos

socioculturais em que se realizam a apropriação e o uso dos produtos. Esta

caracterização ajuda a enxergar os atos pelos quais consumimos como algo mais do

que simples exercícios de gostos, caprichos e compras irrefletidas, segundo os

julgamentos moralistas, ou atitudes individuais, tal como costumam ser explorados

pela pesquisa. Na perspectiva desta definição, o consumo é compreendido,

sobretudo, pela sua racionalidade econômica. O consumo é considerado como ciclo

de produção e reprodução social: é o lugar em que se completa o processo iniciado

com a geração de produtos, em que se realiza a expansão do capital e se reproduz

a força do trabalho.

Lipovestky(1989) aponta uma sociedade de consumo por diferentes traços:

elevação do nível de vida, abundância das mercadorias e dos serviços, culto dos

objetos e dos lazeres, moral hedonista e materialista, etc. Mas estruturalmente, é a

generalização do processo de moda que a define propriamente. A sociedade

centrada na expansão das necessidades é antes de tudo, aquela que reordena a

produção e o consumo de massa sob a lei da obsolescência, da sedução e da

diversificação, aquela que faz passar econômico para a órbita da forma moda.

O consumo é um lugar onde os conflitos entre classes, originados pela

desigual participação na estrutura produtiva, ganham continuidade em relação à

distribuição e à apropriação dos bens. Consumir é participar de um cenário de

disputas por aquilo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo.

Segundo Lipovestky(1989), o avanço tecnológico e o gosto pela novidade

passaram, desde meados do século XX, a impulsionar uma cultura do gadget –

42

“utensilio nem realmente útil, nem realmente inútil”. Momento inaugural da cultura de

massa, que então se esfuma em beneficio dos terminais inteligentes, das vídeo

comunicações maleáveis, das programações autônomas e sob encomenda.

Um ponto importante no estudo do consumo como lugar de diferenciação e

distinção entre as classes e os grupos tem chamado a atenção para os aspectos

simbólicos e estéticos da racionalidade consumidora.

Os textos de Pierre Bordieu, Arjun Appadurai e Stuart Ewen, mostram que nas sociedades contemporâneas boa parte da racionalidade das relações sociais se constrói, mais do que na luta pelos meios de produção, pela disputa em relação à apropriação dos meios de distinção simbólica. No consumo, se constrói parte da racionalidade integrativa e comunicativa de uma sociedade. (García Canclini, Néstor. Pg 62)

Consumir é tornar mais inteligível um mundo onde o sólido se evapora. Por

isso, além de serem úteis para a expansão do mercado e a reprodução da força de

trabalho, para nos distinguirmos dos demais e nos comunicarmos com eles, como

afirmam Douglas e Isherwood, “as mercadorias servem para pensar”. É neste jogo

entre desejos e estruturas que as mercadorias e o consumo servem também para

ordenar politicamente cada sociedade. O consumo é um processo em que os

desejos se transformam em demandas e em atos socialmente regulados.

2.4.1 O perfil estético

De acordo com o estudo do comportamento do consumidor, o sociólogo

italiano Francesco Morace(2012), fala sobre as mudanças das atitudes e quais as

consequências do ponto de vista comportamental no dia-a-dia das pessoas. Ele

divide os perfis do consumo em doze grupos geracionais, que encarnam a condição

criativa da própria geração e que constituem o núcleo principal dos consumidores

autores em cada faixa etária.

O público para qual se direciona a coleção Meu mundo de Fantasia, se

enquadra nas definições do target Lively Kids, que são crianças de 4 a 8 anos,

protagonistas de um consumo aspiracional e cada vez mais acentuado. Para

entender melhor a vida deste público-alvo, analisou-se o livro Consumo Autoral- As

gerações como empresas criativas de Francesco Morace (2012), onde trazem

grandes informações sobre a vida cotidiana deste segmento.

43

Segundo Morace, na Itália, e em muitos outros países, a queda da taxa de

natalidade dos últimos 20 anos fez surgir uma nova categoria de crianças que (são

em sua maioria filhos únicos hiperprotegidos e estão no centro de um investimento

afetivo e econômico sem precedentes) têm absorvido a cultura do consumo

profundamente estruturada e articulada, tornando-se verdadeiros campeões das

tendências.

Na vida dos Lively Kids a cumplicidade com os pais é fundamental segundo

Morace (2012): eles não só transferem aos seus filhos preciosos princípios de

valores e de gosto, como também muitas vezes criam a oportunidade de formar

alianças em termos de consumo que agem como elemento de conexão entre o

mundo protegido da família e o eterno, com o qual as crianças vão se confrontando.

Nesse contexto, alguns produtos assumem um papel fundamental na realização feliz

e equilibrada com a família e favorecem um compartilhar essencial para o

crescimento não apenas dos pequenos, mas do próprio núcleo em si.

Estes possuem um papel cada vez mais central nas relações familiares,

protagonistas ativos e interativos na realização da construção de um cotidiano mais

feliz. Elas transformam-se nos atores do compartilhamento, não mais simples

destinatários de atenção e cuidados, mas artífices e responsáveis pela conquista da

relação. Decorrente a tais atitudes, consolidam a construção de um próprio mundo

real e social mais adulto, tendo como ponto de referencia importante, os pais como

exemplo, mas também irmão e colegas que ajudam a tornar o mundo externo bem

mais atrativo.

Levando ao pé da letra, tradução dos Lively Kids são crianças vitais e vivazes,

protagonistas de sua própria historia. Vivem um mundo de “espera” do momento em

que poderão viver como gente grande, ter livre acesso, por exemplo, aos telefones

celulares, à internet, participar ativamente do mundo moderno e globalizado.

Emerge, desse modo, um mundo de elementos – na tradução estética e não apenas conceitual de adulto e criança – que as crianças reconhecem com grande perspicácia e que podem dar caráter ao produto em detalhes particulares que privilegiam a surpresa e a maravilha típica da sensibilidade infantil, devolvendo códigos divertidos e linguagem criativa autônoma, para crianças cada vez mais conscientes do próprio potencial, utilizando, por exemplo, a cor como chave lúdica. Assim é possível propor famílias de produtos com os quais as crianças podem experimentar e “testar” de forma simples e esquemática o próprio gosto, alimentando a própria paixão de “escolher” algo único e de compartilhar ou também trocar entre eles como

44

se fossem “novas figurinhas.” (Francesco Morace – Consumo Autoral- As empresas como gerações alternativas, pg, 30.)

A coleção Meu mundo de Fantasia se identifica com este consumidor pois

tendem a reproduzir o próprio mundo de fábulas, um mundo independente com

regras e estéticas próprias. Morace (2012) afirma que é essa uma dinâmica

complementar ao comportamento Lively Kids (que tende a reproduzir por imitação o

mundo adulto) e que tende a criar um microcosmo alternativo no qual a fantasia e a

imaginação produzem uma realidade paralela perfeitamente justificada, com uma

lógica própria e uma linguagem autônoma.

Os Lively Kids, por fim, exigem articular com fantasia e riqueza de particulares

mundos únicos e inventados, em que as crianças se movem com naturalidade e

espontaneidade, afeiçoando-se a produtos e serviços pensados para elas, portanto,

é vital inventar novos mundos antes de novos produtos e inspirar-se nas lógicas

estruturadas dos contos, o qual a coleção se proporciona a fazer.

2.4.2 Crianças no mundo moderno

De acordo com o documentário “Consuming kids, The commercialization of

Childhood” (1995) nunca, desde o final da II Guerra Mundial, no ápice do baby

boom, houve tantas crianças em nosso meio. Uma população explorada, elusiva e

capturada a todo custo. Possuem o grande poder de compra, movimentando

absurdamente a economia mundial pela forte influencia da mídia em suas vidas.

Desde o berço recebem constantemente informações de diversos meios e maneiras

de uma guerra comercial que acaba afetando drasticamente no desenvolvimento e

comportamento das crianças.

Neste contexto, David Buckingham (2007) afirma que a categoria moderna

“juventude” emergiu no pós-guerra, não apenas como um resultado de mudanças

sociais mais amplas- com a expansão continua do período de dependência dos

jovens em relação aos adultos- mas também como uma consequência direta da

busca do capitalismo por novos mercados.

45

Com o aumento de produtos de consumo oferecidos pelo mercado, os últimos cinquenta anos têm assistido um aumento impressionante nas atividades de consumo. Fazer compras tornou-se um passatempo muito comum e agradável na vida das pessoas, as oportunidades de fazê-las são cada vez mais variadas e disponíveis. Entretanto, foi apenas nas ultimas décadas que a procura incessante do capitalismo por novos mercados passou a se concentrar tão intensamente nas crianças, um dos alvos mais procurados pelo marketing segmentado. A redução do tamanho das famílias, a frequência dos divórcios e das famílias monoparentais e ao aumento geral de renda de consumo, combinados com a nova “valorização” simbólica da infância, têm dado mais voz às crianças nas decisões de compras domésticas. Possuem o poder de importunar, exercendo uma influencia real nas decisões de compras da família. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mercado para crianças é calculado em 10 bilhões de dólares por ano; mas a influencia total das crianças nas compras domésticas supera os 130 bilhões de dólares anuais, de acordo com as estimativas

5. O

comércio varejista também adotou técnicas de vendas mais “focadas nas crianças”; os gastos com a publicidade dirigida a esse grupo social têm crescido exponencialmente e ampliou-se o mercado de promoções gerais voltadas para o público infantil, sobretudo nas escolas

6.

A nova realidade social e demográfica dessa jovem geração estabelece novas

categorias de produtos e serviços que os envolvem tanto nos diferentes aspectos de

consumo como também no setor de cuidados com o corpo e o bem estar.

O consumo neste segmento pode ser entendido por Morace (2012): ele é

filtrado da linguagem cotidiana e acessibilidade, onde ideias importantes e

conteúdos permitem o compartilhamento com o mundo adulto. O consumo serve

como um campo de treinamento para aprender a gerenciar os próprios desejos,

favorecendo assim, a construção da identidade. Os produtos, por sua vez, são

capazes de estimular a imaginação e a surpresa, levando a experimentação criativa

ao divertimento sensorial, são objetos transicionais que facilitam a troca de afeto e a

segurança emocional, objetos facilitadores para um primeiro comportamento

autônomo.

Buckingham (2007) ressalta que as crianças são o foco especial de

preocupação, a partir de sua aparente vulnerabilidade à influencia das mídias.

Atribui-se à mídia um superpoder capaz de governar comportamentos, moldar

atitudes, construir e definir a identidade das crianças. É preciso construir respostas

5 Estimativas desse tipo são relatadas por B.GUNTER, A. FURNHAM, Children as consumers: a

psychological analysis of the Young people´s Market, London, Routledge, 1998, capítulo 1. 6 Ibid., capítulo 7. Para uma análise aprofundada sobre o crescimento do Mercado escolar, ver J.

KENWAY, L. FITZCLARENCE, Selling education: Consumer Kids, consuming cultures, Milton Keynes, Open University Press, 1999.

46

mais aprofundadas, tanto com relação às políticas midiáticas quanto a educação

para um desenvolvimento melhor e saudável.

A nova era, a era das marcas, composta pelo materialismo interfere

fortemente no desenvolvimento criativo e imaginário das crianças. A falta de

estímulo para exercitar tais aspectos é devido ao poder de consumo desenfreado e

persuasão que possuem, se tornam autoritários e autônomos para obterem o que

quiserem, são grandes formadores de opiniões e atualmente movimentam grande

parte da economia pela influência midiática e tecnológica.

Nos últimos anos, o mundo é bombardeado por constantes inovações em

tecnologias, avanços nos meios de comunicação e informação, constituindo um

mundo globalizado, capitalista e extremamente consumista. A massificação na

sociedade influi diretamente no comportamento das pessoas, sendo elas de

qualquer faixa etária. A forte penetração destes meios no mundo infantil vem

consolidando novos valores éticos e sociais para este segmento, que se tornou alvo

para grandes negócios perante várias empresas.

Morace (2012) afirma que a direção mais natural para qual as empresas

devem endereçar a própria atividade do marketing para se aproximar de um público

tão jovem, bem como o de crianças como o Lively Kids, é uma responsabilidade

própria de seus pais, que se colocam sempre contra estes pequenos consumidores.

As propostas de marketing que são desenvolvidas sob a ótica de um suporte, uma

aproximação ideal dos pais em seu papel de guiarem o desenvolvimento das

crianças em termos de formação da identidade e, sobretudo, a capacidade de ler o

mundo, incluindo a lógica do consumo.

A aquisição e o uso de bens materiais são vistos como uma das primeiras

formas por meio das quais as pessoas constroem e definem seus relacionamentos e

sua identidade social. Nessa perspectiva, a “cultura de consumo” pode ser vista

como uma característica presente em todas as sociedades.

Como os autores de Cultura infantil: a construção corporativa da infância, Kline assegura repetidamente que a indústria cultural “agarra” poderosamente a imaginação das crianças, que mina sua capacidade de pensamento crítico e que as manipula, engana e intimida rotineiramente, levando-as à submissão. O controle hipnótico que exercem parece ser absoluto. As são tratadas como crianças como vítimas indefesas de um tipo

47

de lavagem cerebral, nas mãos dos conglomerados capitalistas da mídia. As corporações comerciais são acusadas de “colonizar a consciência das crianças” impondo falsas ideologias e inculcando valores materialistas aos quais as crianças parecem especialmente incapazes de resistir. É claro que a preocupação com a relação entre as crianças e cultura de consumo nem sempre é motivada por argumentos tão explicitamente anticapitalistas. Porém, assume-se genericamente que as crianças são um “público especial”, um grupo cujas características e necessidades inatas deixam especialmente em situação de risco. (Buckinghan, pg 232)

É necessário diante Buckingham (2007), preparar as crianças para o

mercado, envolvendo uma educação planejada de cultura de consumo e princípios

econômicos. Reconhecimento legal dos direitos das crianças como consumidores,

informações, orientações precisas, para que não seja explorada. Diferenciação de

desejos e necessidades.

2.4.3 A influência dos meios de comunicação

Como vemos, este público se tornou vítima do exagero da publicidade e

propaganda que os envolve e influencia constantemente. A televisão é o principal

meio em que se transmitem tais informações, possuem poder de entretenimento e

convencimento de compra, tornando as crianças cada vez mais precoces,

consumistas e individualistas.

Por outro lado, Morace (2009), afirma que o interesse pelo mundo do desenho

animado, do seriado e da ficção dos programas de TV corresponde à necessidade

de viver contextos reais, independentes do mundo adulto e próximos às vicissitudes

cotidianas. Eles procuram uma fuga, uma necessidade, um desejo de se identificar

com um personagem que com sua vida pessoal, cotidiana, viva uma vida paralela

extraordinária na qual podem se concretizar através desta imaginação.

Em todos os novos filmes e seriados de TV, tanto a criação estética como a

psicológica estão muito bem codificadas, aproximam-se do limite do estereotipo.

Sempre apresentam, por exemplo, a figura do criativo, do fashion victim7, do

estudante perfeito, etc. Tais papéis correspondem evidentemente à necessidade de

auto identificação necessária para o jovem, necessidade de se sentir mais próximo

7 O termo “fashion victim” foi originalmente cunhado pelo estilista Oscar de la Renta para definir

pessoas que são incapazes de identificar limites da moda comumente reconhecidos. São aqueles indivíduos maravilhados com o materialismo proporcionado pelas coleções que não param de se renovar nas araras das lojas e acabam usando tudo o que veem pela frente, muitas vezes, ao mesmo tempo.

48

de um dos personagens e ao mesmo tempo tranquilo em relação à estabilidade de

um mundo que não apresenta rupturas ou grandes mudanças no roteiro.

Os episódios exibem um cenário característico que, da mesma forma,

combinam com a expressão de caráter dos personagens dando uniformidade,

preservando na forma de expressão quase que o mundo plano e bidimensional do

desenho animado tradicional.

O grupo assim satisfaz o seu desejo de pertencimento e representa a

principal fonte de energia que vem do compartilhar comportamentos e paixões com

os outros. A carga emotiva aqui é ampliada pelo ato de compartilhar, mesmo se,

logo crescendo, essas “crianças adultas” comecem a sentir sujeitos únicos e

inimitáveis.

Stephen Kline, expressa essa posição em termos sombrios:

“O mercado nunca irá inspirar as crianças com ideais elevados, imagens positivas da personalidade ou oferecer histórias que as ajudem a se ajustar tais problemas da vida ou promover brincadeiras que as ajudem a amadurecer. Não se pode esperar que os interesses comerciais em busca de lucros máximos se preocupem com os valores culturais ou objetivos sociais situados além da linha cultural consumista que sustenta as mídias comerciais. As crianças demandam de “ideais elevados” e “imagens positivas da personalidade”, e que elas precisam de ajuda para se ajustar e amadurecer.” (S.KLINE, Out of the Garden: Toys and children-s culture in the Age of TV marketing, London, Verso, 1993, 350.)

Buckingham (2007) afirma em seu livro Crescer na era das Mídias Eletrônicas

que Geraldine Laybourne(1993) e outros provavelmente compartilhariam essa visão

geral das necessidades das crianças- embora talvez argumentassem que as

próprias crianças estão em melhor posição para identificar e articular essas

necessidades, e que o mercado oferece os meios mais efetivos para capacitá-las a

fazê-lo.

Para essa faixa etária a tecnologia, portanto, marca uma nova autonomia

relacional, uma estética de pensamento. Inicialmente vivida somente no nível

performativo, o que diz respeito, ao entusiasmo para o meio em que vive e enfrenta,

a sua estética, a sua interatividade, o uso tecnológico, tornam-se rapidamente uma

modalidade de acesso a conteúdos e a novos mundos para deles participar

ativamente e construir jogos e possíveis percursos de conhecimento.

49

Morace (2012) ressalta que a web não é ainda um mundo a ser explorado de

maneira autônoma, mas um lugar onde aprofundar conhecimentos, encontrar

amigos e experimentar lugares já conhecidos. Algumas marcas de sucesso e muito

amadas por esse target, como Barbie e Winx, souberam construir sites muito

interessantes para as crianças. Nesse espaço a criança além de brincar on-line, cria

o próprio produto ideal, definindo aspectos estéticos, sugerindo contos, uma maneira

da criança se tornar a protagonista de sua própria história.

A televisão e todo meio de comunicação e de interação tecnológica, que

estão articulados para potencializar desejos infantis, entretanto, estão defasando no

desenvolvimento imaginário e construtivo das crianças, retardando no processo

criativo, pois tudo está se consumindo de maneira pronta, estática e desenfreada,

sem algum esforço para estimular a criação e a imaginação. André Iwoff, que

recebeu prêmio Nobel de medicina, diz que a televisão é o principal fator de

retardamento intelectual e afetivo do mundo contemporâneo. Na figura 6, é possível

identificar um exemplo da influencia que a televisão possui sobre as crianças.

Figura 5: Televisão: Realizar atividades em lugares com a televisão ligada prejudica cognição da

criança (Thinkstock). Fonte: http://psicoterapiacomportamentalinfantil.blogspot.com.br/2012/10/criancas-passam-quatro-

horas-por-dia.html

Esta geração segundo Morace (2012) pode ser definida também como touch

generation, pois crescem usando com naturalidade quaisquer dispositivos

eletrônicos e em particular interfaces (multi) touch screen. Porém, o uso dos meios

de comunicação ainda é regulado pelos adultos, pois são bem suscetíveis às

50

mensagens publicitárias que nem sempre conseguem se distinguir da realidade

objetiva. A televisão, portanto, é o meio de comunicação mais forte seguido nesta

idade, visto que grande parte das crianças têm acesso constantemente a este

produto bem popularizado.

Sendo assim, a quantidade de televisão disponível para crianças tem aumentado significativamente, tanto nos canais abertos, como nos canais por assinatura, embora isso não tenha sido acompanhado por um aumento de qualidade e diversidade. (Buckingham, pg 212) As crianças estão muito mais sujeitas à persuasão, simplesmente em virtude de sua imaturidade. Por exemplo, em um dos livros mais importantes sobre a publicidade, Leiss, Kline e Jhally dizem o seguinte: “as crianças como telespectadores nem têm a habilidade de entender os objetivos persuasivos da propaganda nem a maturidade conceitual e a experiência necessária para avaliar racionalmente as mensagens comerciais”. W.S. LEISS, KLINE, S. JHALLY, Social communication in advertising, London, Routledge, 1990, 365. Pg 216

Stephen Kline (1993) argumenta em seu livro Out of the garden, que a

comercialização da cultura infantil tem fundamentalmente destruído as experiências

e atividades tradicionais da infância. “A emergência da mídia eletrônica”, ele diz,

“parece ter minado as tradicionais saudáveis brincadeiras de rua, as conversas com

amigos e o simples passeio no jardim, atividades há tanto tempo associadas a uma

infância feliz”. “Os pais, ao que parece, não conversam mais com as suas crianças,

e ver TV em família é pouco mais que um ritual passivo.”

“Está faltando algo à infância [...] quando damos a uma criança uma fita musical de canções infantis porque não temos tempo de cantar para ela ou com ela, quando damos a ela um livro de colorir do pequeno pônei como substituto para o ato de desenhar, quando a deixamos assistir fantasias na TV sem ler para ela ou oferecer-lhe a intimidade pessoal da narração de histórias, quando lhe damos Nintendo, mas deixamos de ensinar-lhe brincadeira com os dedos ou habilidades artesanais (tricô, carpintaria, jardinagem) que eram tradicionais em nossas famílias.” (Ibid, 13.)

A criança, quanto menor, é um ser muito sensível, vulnerável e influenciável.

É também nessa fase da vida que parte da personalidade é formada e consolidada.

Todas as experiências, educação e regras refletem nas fases posteriores como

aprendizados e ajudam a definir também o seu caráter. A educação é o ponto mais

importante no futuro de uma criança, é dela que dependem as principais

características de personalidade e as relações numa sociedade.

As crianças dos 6 aos 12 anos, hoje em dia, têm à sua disposição uma

enorme variedade de produtos com referencias adultas para viver o seu sonho de

crescer e ser gente “grande”. O desafio do futuro próximo será aquele de tornar

educativa essa projeção do mundo adulto, propondo comportamentos, estilos e

51

estéticas que não sejam simplesmente a extensão da lógica fashion victim, mas que

sejam capazes de imaginar uma passagem criativa em 360 graus do brinquedo ao

vestuário e ao acessório, recorrendo estéticas novas e espontâneas.

As crianças estão ganhando maior acesso às mídias “adultas” e maior status como consumidores; contudo a comercialização e a privatização das mídias (e das ofertas de lazer em geral) contribuem para o aumento da desigualdade. Se as crianças estão de fato vivendo hoje uma “infância midiática”, os ambientes de mídia que elas habitam tornam-se cada vez mais diversificados. (Buckingham, D. Crescer na era das mídias eletrônicas, 2007.)

Desde sempre, tendem a reproduzir um mundo próprio de fábula, um

microcosmo independente com regras e estéticas próprias. É essa a dinâmica

complementar ao comportamento Kidult (que tende a reproduzir, por imitação o

mundo adulto), e que tende também, ao contrário, criar um microcosmo alternativo,

cuja fantasia e imaginação produzem uma realidade paralela perfeitamente

justificada, com sua lógica e suas linguagens autônomas.

É um pouco irônico que os adultos acusem as crianças de consumismo

quando o poder de consumir que elas têm está quase que inteiramente nas mãos

dos próprios adultos. Deste modo, Buckingham (2007) afirma que a infância

contemporânea- e a idade adulta- está inextricavelmente vinculada à cultura de

consumo. As necessidades sociais e culturais das crianças são inevitavelmente

expressas e definidas por suas relações com as mercadorias materiais, assim como

pelos textos midiáticos produzidos comercialmente e que permeiam sua vida. Assim

como a “juventude”, a infância tem um significado construído social e historicamente;

e o mercado comercial exerce um papel cada vez mais central nesse processo. As

crianças já são consumidoras, mesmo que muitas das compras em nome delas

sejam feitas por seus pais.

Não podemos trazer as crianças de volta ao jardim secreto da infância ou encontrar a chave magica que as manterá para sempre presas entre seus muros. As crianças estão escapando para o grande mundo adulto- um mundo de perigos e oportunidades onde as mídias eletrônicas desempenham um papel cada vez mais importante. Está acabando a era em que podíamos esperar proteger as crianças desse mundo. Precisamos ter a coragem de prepara-las para lidar com ele, compreende-lo e nele tornar-se participantes ativas, por direito próprio. (BUCKINGHAM, D. Crescer na era das mídias eletrônicas.Pg 295.)

52

Esses argumentos baseiam-se em uma noção paternalista e conservadora da

infância. A ideia de que as crianças são simplesmente “exploradas” pelos interesses

comerciais desconsideram os modos diversificados e complexos com que elas usam

e se relacionam com as mercadorias culturais. Há poucos motivos para acreditarmos

que as crianças em geral sejam significativamente mais vulneráveis à persuasão

comercial do que os adultos.

A mudança do conceito de valores, contudo, é um assunto de extrema

importância, na qual a sociedade deveria estar ciente, para que os reais problemas

sociais sejam vistos com maior prioridade. Hoje em dia a preocupação com o futuro

dos pequenos consumidores está sendo discutida de diversas maneiras, inclusive foi

criado em 2006 um Fórum Internacional Criança & Consumo, que já realizou sua

terceira edição no ano de 2010, debatendo os impactos negativos da

mercantilização da infância e refletindo sobre violação dos direitos da criança e o

hiperconsumismo que desencadeiam problemas ambientais, econômicos e sociais.

Problemas que o próprio ser humano cria em função de beneficiamento próprio.

Diante tal situação, a sociedade deve se preocupar com o futuro dessas crianças,

pois os jovens de hoje serão o futuro de amanhã.

Estudando cada atitude comportamental do público-alvo em questão e no

contexto geral do consumo infantil, identifica-se um quadro bastante importante a ser

trabalhado e melhorado, uma complexidade de modos comportamentais que influem

abrangentes aspectos no mercado moderno. Com a globalização, as teorias de

marketing constroem estratégias para que a publicidade e propaganda nos incentive

ao consumo desenfreado e muitas vezes impensável, uma atividade rotineira que as

vezes nem sabe-se o que se compra. Em meio a esta sociedade de grandes ofertas,

creio em obter pequenas consumidoras que se interessem em compreender o

desenvolvimento dos produtos que vestem, interagindo na educação, um

aprendizado que permeiem conceitos de arte, cultura e moda.

53

2.5 ESTAMPARIA 2.5.1 Evolução da Estamparia

A estamparia é o foco da coleção Meu mundo de Fantasia, onde através dela,

foram criadas quatro estampas diferentes, exclusivas, trazendo a criatividade da

criação como processo de extrema importância no desenvolvimento das crianças.

Para entender, como funciona, na prática, todo o processo de

desenvolvimento de desenhos de estamparia e o processo propriamente dito da

estamparia digital, é preciso analisar teoricamente seus princípios e sua história.

Registros mostram que os antigos povos do Mediterrâneo haviam utilizado o

método da estamparia em seus costumes. A civilização fenícia foi uma cultura

comercial marítima empreendedora durante 1500 a.C. a 300 a.C que obtiveram os

primeiros tecidos estampados, utilizando o método precário e artesanal de

estamparia em blocos de madeira misturando tecelagem trabalhada em fios de

diversas cores, produtos que foram muito apreciados pelo mercado, identificado na

figura a seguir.

Figura 6: Demonstração da técnica rupestre de estamparia em blocos de madeira. Fonte: http://crisweck.blogspot.com.br/2011/08/evolucao-da-gravura-rupestre-estamparia.html

54

Entretanto, a forte comercialização e utilização só veio ocorrer na Europa

após o século XVII. Aprimorando o conhecimento da estamparia utilizada em blocos

de madeira sobre o linho, durante a Idade Média, a técnica trazida da Ásia foi

difundida pelos romanos na Europa. A Índia era mestra da arte de estampar,

superando, em muito, o trabalho feito também pelos persas e egípcios.

Os corantes utilizados na Idade Média para as devidas técnicas de

estamparia eram todos de origem natural, sendo eles, a Garança, tintura vermelha

extraída da raiz desta planta e o Pastel, planta que possui flores amarela, porém só

se era útil, suas folhas, onde eram formados variados tons de azul. Também era

muito comum o Quermes, corante vermelho obtido da fêmea do inseto Kermes

vermilio e a Gauda, planta herbácea que se tornou a principal fonte de amarelos,

castanhos claros e oliva.

O alúmem era o principal fixador utilizado, extraído também de plantas locais.

As cinzas das árvores queimadas eram utilizadas por fim, na tintura e também na

lavagem dos tecidos.

Nobres tecidos são valorizadas pela arte de estampar. A difusão das

estampas na Europa ganhou força a partir dos anos 1000, quando Veneza

estabeleceu sua posição como distribuidora de mercadorias entre o Leste e o Oeste,

dando prioridade ao luxo com a importação de seda e tecidos preciosos. A seda era

muito cobiçada para os espanhóis dos séculos XIV e XV, distinguindo- os como

soberanos, foi daí que surgiu uma imensa variedade de estampas como listras,

xadrezes e figuras, que acabavam sendo ornamentadas junto com bordados e

apliques, sendo assim, os tecidos orientais eram muito apreciados por sua perfeição

técnica.

Durante o século XIV, a moda dos tecidos de estampas florais se tornou

intensa na Itália, especificamente nas regiões nobres de Genova e Veneza,

assumindo dimensões exageradas com romãs ou cardos estampados entre linhas

sinuosas. A moda pegou e cada vez mais começaram a ser encontradas exemplos

da flora exótica em padronagens que exibiam flores e frutos desconhecidos na

Europa até então.

Foi no período do século XIX, que as padronagens florais realísticas se

mantiveram populares através da Art Deco, sendo essas, estilizadas e

55

desenvolvidas em algodão acetinado. Nos EUA foram adotadas as primeiras

máquinas de estampar criadas pela empresa Thorp, Siddel and Company. Dentro de

poucos anos passava a existir uma grande quantidade de empresas de estamparia.

Entre estas, exemplos de tecidos da Print Works, a qual produziu a padronagem de

pequenas flores espalhadas por toda superfície do tecido, que acabou sendo

conhecida como Chita.

Contrapondo com os motivos florais, as imagens pictográficas (nuvens,

objetos, paisagens, etc.) surgiram em toda sua glória na época medieval. Obtiveram

força durante o barroco francês e inglês onde suas técnicas eram bem sofisticadas.

Porém só obteve força, no século XX quando a Art Nouveau introduziu elegantes

figuras para padronagens pictoriais.

A partir de então, a estamparia têm destaque no ramo têxtil com suas

variadas cores, formas e volumes. Com a rápida evolução tecnologia de ponta e o

crescente desenvolvimento do mercado, existem várias técnicas de estamparia que,

atualmente, se pode desfrutar, permitindo a realização de criar qualquer tipo de

desenho ou imagem que se queira estampar.

Os processos de estamparia utilizam diferentes técnicas com a finalidade de

alterar os tecidos e dar a eles desenhos variados, que podem ser florais,

geométricos, listrados, manchados, entre muitos outros. Dentre os principais

utilizados pode-se ressaltar o “transfer sublimático” ou “silk screen”,

estamparia prisma (difração da luz), fotogravura, estamparia de quadro ou rotativa,

serigrafia, técnicas artesanais como o tye-dye e o batik, e as mais atuais como

reportagem e estamparia têxtil digital. Estas são apenas algumas a serem

destacadas dentro do ramo têxtil, porém, a que merece aprofundamento técnico é a

estamparia digital, que traz tecnologia de ponta, agilidade e qualidade aos produtos.

É uma das grandes novidades surgidas no mercado nos últimos tempos,

permitindo estampar qualquer figura, independente das cores, por isso, é a técnica

escolhida para o desenvolvimento dos produtos da coleção Meu Mundo de Fantasia,

verão 2013.

56

2.5.2 Estamparia Têxtil Digital

Para a coleção Meu Mundo de Fantasia, a técnica de estamparia escolhida foi

a de Estamparia Digital, uma técnica recente, moderna, que permite estampar

qualquer desenho, independente do número de cores. Uma técnica que permite

estampar em poucos metros, trazendo a excelência em qualidade de cor e toque.

J.C. Macedo (2008) afirma que a Estamparia Têxtil Digital chegou para a

indústria têxtil para ficar e desempenhar um papel extremamente importante. O

processo é todo informatizado e o seu desenho é transportado diretamente, não se

utilizando de quadros ou cilindros, sendo tais desenhos transferidos para o substrato

diretamente do programa têxtil para uma impressora industrial. Suas cores são

formadas pelos pixels em jatos de tinta e podem ser estampados praticamente todos

os tipos de desenhos que se desejar, de qualquer padronagem que conhecemos em

estamparia e inclusive ou principalmente os formados por fotos e/ou ilustrações com

todas as cores possíveis.

A estamparia têxtil digital está revolucionando a indústria têxtil em todo o

mundo. Para se entender melhor este fenômeno, é preciso entender seu principio na

história do setor de estamparia têxtil:

Tradicionalmente, esta modalidade tem se baseado em um modelo de produção de massa, onde os tecidos são produzidos pelas estamparias rotativas em grandes volumes. Os benefícios deste método eram grande volume a baixo custo, mas sem levar em conta as suas desvantagens: altos custos de preparação (desenho, fotolito, abertura de quadros e gravação de cilindros, cozinha de cores, tratamento de efluentes), margem de erro que aumenta violentamente, processos de produção de amostras caros e demorados, longo ciclo que vai da criação à produção, limitado número de cores por variante e anti-econômicas pequenas produções. Sendo assim, a estamparia digital, por outro lado, se tornou a chave para se abrirem novos mercados. Não apresenta nenhuma das desvantagens da estamparia tradicional, ao passo que oferece a capacidade de se utilizar um número ilimitado de cores, excelente reprodução de tons contínuos de imagens, tamanhos de repetição (rapport) ilimitados e a capacidade de estampar múltiplas criações. (Macedo, J.C 2008, artigo A Revolucionária estamparia têxtil digital, pag1)

Este grande investimento tecnológico veio de encontro à necessidade atual

do mercado da moda, que hoje não requer e não deseja grandes metragens de um

mesmo padrão, mas procura por pequenas tiragens de diferentes e variados

padrões, atendendo à demanda do mundo moderno por exclusividade e

57

personalização. Realiza desenhos impossíveis para a estamparia convencional, já

que trabalha como uma impressora que é, não apresentando problemas com

quantidade de cores, remontes, desencaixe de estampa ou medidas de rapport.

Segundo D.C Maria Nazaré (2006) a expressão rapport é definida como o

padrão mínimo da estrutura do desenho que se repetirá por toda a extensão do

tecido; sua arte é criada para que não seja percebida a emenda entre uma batida e

outra, de forma que o desenho se complemente. Na figura abaixo, exemplifica-se o

rapport da estampa Doce Rabisco, este pertencente à coleção Meu Mundo de

Fantasia.

Figura 7: Rapport da estampa Doce Rabisco

Ou seja, não há limites de criação para este método, sendo que, se pode

estampar tudo o que a mente pode criar. As possibilidades se tornam ilimitadas e

propiciam uma moda exclusiva, tendo um alto valor agregado para o produto, por

isso a escolha desta técnica para a coleção infantil Meu Mundo de Fantasia. Além

de ser uma grande inovação, seu processo é rápido e ágil.

Outro fator essencial é o da assistência técnica, tanto no hardware como no

software, tendo a disponibilidade em pronto atendimento, assim como o da

disponibilidade imediata no fornecimento das tintas e produtos para pré e pós-

tratamento, quando necessários. O mercado brasileiro tem aceitado com grande

satisfação a tecnologia da impressão digital, depois de elucidadas as dúvidas e

confirmadas todas as vantagens que são oferecidas, quebrando assim, as barreiras

de dificuldade impostas pela inserção da inovação. Na figura 8, identifica-se uma

impressão digital em tecido plano.

58

Figura 8: Processo de estamparia onde uma maquina semelhante a uma impressora gigante imprime diretamente no tecido um desenho digital. Do computador para o tecido.

Fonte: http://euqfizmoda.blogspot.com.br/2011/11/estampa-digital.html

O estilista Victor Dzenk é um dos precursores do uso da técnica – ele a utiliza há seis anos, desde seu primeiro desfile no Fashion Rio. Victor contou como funciona o processo: “Digitalizamos a estampa e mandamos para o fornecedor. O tecido entra em uma máquina de impressão, parecida com uma impressora de fotos, só que da largura do pano. Depois de estampado, ele passa por um processo de lavagem para retirar uma película que é aplicada antes da impressão.” Segundo Victor, uma das vantagens da estamparia digital é o fato de poder criar várias estampas para uma mesma coleção, pois não há custos extras para a abertura de quadros. Ignez do Prado, designer da Afghan, utilizou a técnica pela primeira vez no verão 2010 da marca e conta os benefícios: “Tenho mais liberdade de criação, acesso a uma cartela de cores maior e a transferência da imagem para o tecido é mais rápida.”

A seguir, na figura 9, podemos ver uma criação de Victor Dzenk para o verão

2013, apresentada no SPFW.

Figura 9: Coleção verão 2013 Victor Dzenk – utilizou a técnica da estamparia digital em suas roupas.

Disponível em: http://www.lazuldoforte.com.br/victordzenk-3

59

Usando a mesma técnica de estamparia digital, a modelo da figura a seguir

veste um dos looks com estampa usando o mesmo processo. Podemos perceber

que a estampa se encontra na parte central da modelagem, em que as extremidades

foram reproduzidas em tecidos de cores lisas.

Figura 10: Modelo no editorial da coleção Meu Mundo de Fantasia

2.5.3 Desenvolvimento de desenhos têxteis para a estamparia

Segundo Levinbook (2008) Tanto o desenho de estamparia têxtil como o

desenho de ilustração de moda, assumem vários papéis no processo do Design de

Moda: participam na concepção, na expressão, na proposição de ideias e conceitos,

na materialização dos produtos e finalmente na interpretação dos mesmos. Por meio

de formas, volumes, texturas, movimentos e suas inúmeras inter-relações, o design

de Moda incorpora valores culturais nos objetos que produz e gera canais de

identificação social e comunicação não-verbal de realidades e tendências

comportamentais.

Rüthschilling, (2006), afirma que o design de superfície é uma atividade

técnica e criativa cujo objetivo é a criação de imagens bidimensionais (texturas

visuais e tácteis), projetadas especificamente para a constituição e/ou tratamento de

60

superfícies, apresentando soluções estéticas e funcionais adequadas aos diferentes

materiais e processos de fabricação artesanal e industrial.

A moda é um ramo bem extenso e curioso. No design de superfície ao qual

envolve cor, textura, forma, desenho, semiótica, confortabilidade, o mais importante

tópico da moda é a unicidade da customização. Pois os homens veem aos homens

ao primeiro impacto, simplesmente o que vestem não o que são.

Por meio do tamanho, cor e textura, que sugiram ou incorporem plano e/ou

volume dos elementos visuais, das relações entre eles, e da direção em que serão

dispostos, é o que determinará o conteúdo final do processo de criação visual que

constitui a melhor expressão visual possível da essência de algo, ou seja, o desenho

de estamparia. O desenho de estamparia pode ser considerado, como uma imagem,

que reflete por meio de sua constituição visual, aspectos que se relacionem com o

projeto de design de moda, em suas estruturas visuais e táteis. Ele pode partir de

algum desenho livre, de uma simulação, da apropriação, de uma tradução de

gêneros artísticos, de colagem, ou até mesmo de técnicas artesanais.

Geralmente, a arte é obtida através do trabalho do desenhista na confecção

de uma imagem / tema de uma tendência pré estabelecida por uma pesquisa sob a

coordenação de um estilista / designer. Um produto bem elaborado pelo criador

requer conhecimento da área, pois uma boa estampa começa na execução do

desenho, suas formas, linhas e tamanho.

Sanches (2006) afirma que para a criação das imagens que farão parte de

uma coleção, os princípios de estilo, serão sintetizados em referências de linguagem

visual, inseridas naquilo que é normalmente denominado como Tema (ou Referencia

Estética), o qual servirá como fio condutor de integração e harmonia do conjunto de

produtos que são lançados simultaneamente.

A construção do produto requer um processo de planejamento que antecede

seu desenvolvimento, e que eventualmente pode se configurar como uma questão

metodológica bastante especifica. Segundo Caldas (2004, p. 96), existem regras de

observação e decifração de sinais, tanto mercadológicos, como de tendências de

moda e de comportamentos sociais, que são de extrema valia para o designer de

moda planejar, desenvolver, lançar e comunicar produtos e objetos de moda no

mercado.

61

É neste sentido que pode-se observar a ilustração de moda como parte

integrante do projeto de design do produto de moda e também como uma face do

design gráfico, quando identifica-se ambos como uma imagem, que na moda,

também pode ser entendida como instrumento de comunicação, que acontece ao

longo de todo o processo de criação, desenvolvimento e comercialização do produto

de moda.

O desenho artístico pode ser criado com diversos materiais, inclusive com a

mistura entre eles, para a estamparia têxtil digital, a técnica utilizada na figura 11,

demonstra a qualidade nas imagens formadas com canetinhas hidrocor feitas pela

designer Heloisa Fronza. Há quem não possui facilidade em desenvolver

manualmente os desenhos têxteis, para isso recorrem aos recursos modernos de

programas computadorizados para designers como Photoshop, Corel draw,

Illustrator, entre outros que produzem grandes resultados positivos para este fim.

Figura 11: Processo de desenvolvimento de estampas, teste de cores a partir de técnicas manuais.

De acordo com Santaella (p.84), há outra classificação possível para uma

imagem: a imagem simbólica. Este tipo de imagem seria um meio termo, uma ou

muitas nuances entre a ideia de temporalidade e de atemporalidade. O simbolismo

na imagem também pode ser determinado a partir de regras culturais, onde os

elementos que constituem a imagem são passíveis de interpretações que vão além

de seu significado comum ou imediato, e que dependem de referências culturais e

62

de valores atribuídos a objetos ou representações, códigos culturais: “já as imagens

simbólicas, embora possam sugerir a temporalidade de possíveis referentes, essa

temporalidade é sempre tão geral e vaga quanto é genérica e universalizante a

função referencial desse tipo de imagem” Gilda Chataignier (2006) reforça esta ideia

quando salienta, que “por meio de seus signos, o tecido utilizado em roupas, trajes,

moda e utilitários é um dos mais fortes e antigos meios de comunicação”.

Sendo assim, a ilustração de moda e o desenho de estamparia podem ser

uma forma de induzir e documentar comportamentos e valores, além de

simplesmente refleti-los ou caracterizá-los. Dessa forma, pode-se ainda perceber

mensagens de moda implícitas em uma ilustração que carrega o desenho de

estamparia por meio dos elementos que a compõem, ou seja, formas, cores e

arranjos compositivos, como explica Dondis (2003):

Se um meio de comunicação (verbal) é tão fácil de decompor em partes componentes e estrutura, por que não o outro? Qualquer sistema e símbolos é invenção do homem (...). A sintaxe visual existe. Há linhas gerais para a criação de composições. Há elementos básicos que podem ser aprendidos e compreendidos por todos os estudiosos dos meios de comunicação visual, (...) para a criação de mensagens visuais claras. O conhecimento de todos esses fatores pode levar a uma melhor compreensão das mensagens visuais.

A partir das constatações acima, pode-se considerar a ilustração de moda e o

desenho de estamparia, como possíveis suportes ao design de moda, que

comunicam mensagens por meio de suas imagens, aspectos relacionados ao corpo,

ao tecido, às texturas, formas e cores à seus usuários.

2.5.4 Criação das estampas da coleção Meu Mundo de Fantasia

A criação e o desenvolvimento das estampas para impressão digital têxtil,

como já foi visto, normalmente são feitos em computação gráfica, embora alguns

desenhos possam ser feitos utilizando técnicas manuais, mas seu processo de

estamparia é todo informatizado. Existem vários programas gráficos que podem ser

utilizados para desenvolver desenhos, mas a arte, o estilo, a experiência e o

conhecimento das técnicas sempre serão indispensáveis.

De acordo com as referências trazidas das obras de Joan Miró, a coleção

Meu mundo de Fantasia, se focou em criar estampas para compor os looks

propostos ao público. Inspirados nas obras surrealistas do autor, as cores, os

63

desenhos e as formas transformaram a pequena coleção, em sentimento, em arte,

em vida.

Passando analisar cada detalhe das principais pinturas do autor, foram

criadas, através de vários testes de alternativas, quatro estampas (figura 12) a partir

da essência, da personalidade única identificada em cada uma. As selecionadas

entraram em profundo estudo de cor e posicionamento, são elas, Specchio Urbano,

Doce Rabisco, Curvas de Amor e Espantolia.

Figura 12: Estampas da coleção Meu Mundo de Fantasia

A primeira é criada para ressaltar o tema da coleção, um contraste entre o

meio urbano com o universo imaginário. São inseridas simbologias reais, utilizadas

constantemente na vida diária das pessoas, que podem dar evasão ao sonho e à

fantasia. A linguagem estética é composta por uma curva em movimento, em

transição destas fases, permeadas por desenhos figurativos pertinentes entre os

meios. A estampa é espelhada e refletida, justificando assim, seu nome.

O processo de criação começou a partir da seleção dos principais elementos

compostos nas obras, Vila Prades (1917), Números e constelações em Amor com

uma Mulher (1941) e O Jardim (1977), trazendo a identidade através dos pássaros,

formas geométricas, estrelas, crianças e o coração. Convivem harmoniosamente

64

com o mundo real, determinista, perigoso e regrado, por isso, tantos desenhos fortes

em relação ao urbano.

A estampa foi desenvolvida através dos aplicativos do Corel Draw, versão

15.0 e coloridas com as ferramentas de pintura do Adobe Photoshop CS3 Extended,

versão 10.0. Na figura a seguir, identifica-se o início do processo de criação da

estampa Specchio Urbano, utilizando as ferramentas do Corel Draw.

Figura 13: Desenvolvimento da estampa Specchio Urbano no Corel Draw.

Com os aplicativos do Corel Draw X5, a estampa Specchio Urbano foi criando

forma com as ferramentas básicas de execução, as principais ferramentas utilizadas

foram Mão livre, ferramenta B- spline e ferramenta Formas Básicas para dar início

aos desenhos, com a ferramenta Forma os traços destes, foram criando formato

adequado através das curvas e dos movimentos. Com a ferramenta Seleção,

adequou-se as variadas figuras para formarem a estampa final.

A segunda etapa a ser realizada foi a de pintura da base da estampa pelo

programa Adobe Photoshop CS3. As principais ferramentas utilizadas foram de

Preenchimento Uniforme e Conta Gotas, onde mesclando várias cores referentes ao

pintor Miró, a estampa foi ganhando vida com o harmônico colorido proposto pela

extensa cartela de cores do programa, ilustrado pela Figura 14. Feito este rápido

processo de coloração, a estampa quase pronta, retoma aos aplicativos do Corel

Draw para sua finalização.

65

Figura 14: Colorindo a estampa no Photoshop.

Faltando poucos cliques para o término, o desenho já colorido (figura 15) é

copiado e espelhado pela ferramenta Espelhar Horizontalmente para duplicar de

maneira inversa a imagem, formando assim o rapport da estampa Specchio Urbano.

Para a montagem de uma estampa corrida, os objetos, então, foram duplicados

inúmeras vezes, para baixo, concluindo o processo de criação, fomo verifica-se na

figura 16. Foram etapas simples, mas realizados com muita dedicação, sendo assim,

o grau de dificuldade foi estabelecido como baixo, facilitando o desenvolvimento de

criação de todas as estampas.

Figura 15: Finalização do rapport da estampa Specchio Urbano.

66

Figura 16: Estampa Spechio Urbano finalizada

Demonstrado o conceito através da primeira estampa, passou-se a criar a

estampa definitiva para a confecção dos três looks conceituais do desfile, a estampa

Doce Rabisco. Esta estampa demonstra em seus traços, a identidade do pintor Miró

em suas figuras e cores, inspiradas no universo infantil identificado nas obras

Noturno (figura 17) e O carnaval de Arlequim (1924). Feito um estudo profundo em

cada uma, a estampa foi desenvolvida pela essência do artista, trazendo os

símbolos autorais, objetos geométricos e o pássaro, animal que se referia

constantemente em suas obras.

Figura 17: Nocturne, 1940. Fonte: http://www.artchive.com/artchive/m/miro/nocturne.jpg.html

67

Os procedimentos realizados para criação desta segunda arte foram

exatamente os mesmos realizados para a estampa Specchio Urbano. Porém, para

dar o efeito de degradé nos desenhos, foi utilizada a ferramenta de Transparência

do Corel Draw no menu à esquerda, abordado na figura 18. O objeto é duplicado e

colorido com tonalidades superiores às originais, assim, a ferramenta permite dar

este contraste entre cores, tal como, noções de luz e sombra. Um ponto importante

a se destacar é o espelhamento das imagens para desenvolver uma estampa em

que possa ser utilizada sem desperdícios excessivos, assim a arte é denominada de

estampa sem pé, possibilitando maior utilidade na hora do corte dos produtos.

Figura 18: Desenvolvimento da estampa Doce Rabisco

A estampa bem colorida se refere também, às tendências para o verão 2013.

Foi exclusivamente criada para a coleção Meu Mundo de Fantasia direcionada às

crianças de 6 a 8 anos, possui divertidas referências infantis, do imaginário e dos

sonhos, assim como o artista inspirador propunha em suas artes. Definido e

aprovados os testes feitos pela empresa Real Estudio de estamparia digital, em

Blumenau, o desenho foi estampado, pelos mesmos, em Sarja acetinada (97%

algodão/ 3% elastano) material excelente para confecção de roupas infantis,

propiciando conforto, qualidade e sofisticação.

No desenvolvimento das estampas Curvas de Amor e Espantolia, foram

seguidos os mesmo procedimentos de execução das artes anteriores. O que vale

ressaltar é o processo criativo de cada uma, o porquê das referências utilizadas e

68

como representadas. A primeira, Curvas de Amor (figura 19, canto direito)

representa a feminilidade com apenas um elemento central, o coração, que sempre

romântico e doce, aparece nas obras do autor de diversas formas e é conduzido por

curvas aleatórias que intersectam o amor. A pintura inspiradora para tal estampa foi

Bailarina (figura 19, canto esquerdo), onde retrata a mulher como o centro do

universo.

Figura 19: Comparação entre a obra Bailarina, 1925 e a estampa Curvas de Amor Fonte: http://www.allposters.com.br/-sp/Ballerina-II-c-1925-posters_i1286249_.htm

A partir de então, as alternativas para criar esta estampa foi desenvolver

curvas aleatórias que seguem ao infinito, entre elas, corações distorcidos que são

posicionados ao longo do desenho criando uma estampa harmônica em seu

movimento, os objetos são espelhado e as curvas ganham formas tracejadas em

sua extensão. A representação da figura 20 demonstra o início do desenvolvimento

da estampa no aplicativo Corel Draw X4 e como foram utilizadas as ferramenta

básicas de execução.

69

Figura 20: Criando a estampa Curvas de Amor no Corel Draw X4, utilizando as ferramentas de

execução do menu esquerdo.

Nesta etapa, basicamente foram utilizadas a ferramenta B-Spline, que define

pontos de controle formando curvas sem quebra-las em segmentos, a ferramenta

mão livre, utilizada para criar os corações e a ferramenta forma para torná-los

irregulares. Logo a estampa começa a ter formas com a duplicação dos objetos e

seus espelhamentos.

A pintura, por sua vez, revela o contraste das cores quentes ao passo que

cada curva intersecta o coração, assim, este sempre mudará de cor, uma referencia

bastante pertinente nas pinturas coloridas de Joan Miró, uma característica autoral

do pintor que se faz presente sem deixar a inspiração tornar-se obvia aos olhos do

leitor.

A diversão da estampa Espantolia ganhou destaque para duas variantes, a

estampa corrida e a versão em estampa localizada. É uma arte que representa a

alegria do universo infantil, do lúdico, da menina sapeca, para quem se direciona o

produto. A inspiração veio da obra abaixo (imagem da esquerda- figura 21) que é

retratada com desenhos figurativos de uma criança feliz, revelando por estes traços,

a essência da fonte e suas grandes referências, como a estrela, sempre presente

nas suas criações (imagem da direita da mesma figura).

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Figura 21: Comparação entre a obra de Miró e a estampa Espantolia.

Fonte: http://www.carlosianni.com.ar/blog/548/joan_miro:_mironiana._por_juan_carlos_llop.html

Partimos então, para os processos de criação desta última estampa.

Seguindo o mesmo esquema das anteriores, a Espantolia foi desenvolvida com o

uso das ferramentas Formas básicas no menu à esquerda. Este foi o começo para

construir os rostos e os detalhes, como olhos e bochechas. Para criar a curva

tracejada mudou-se o estilo da linha na barra superior e a forma foi feita também

com a ferramenta B-Spline. As estrelas foram criadas com a ferramenta Mão livre,

assim como os cabelos e laços contidos na figura 22. Todos os objetos, após

sofrerem modificação na forma, foram reposicionados com a ferramenta Seleção.

Figura 22: Princípios do desenvolvimento da Espantolia no Corel draw.

71

Por fim, esta última estampa foi colorida nos Photoshop com as mesmas

ferramentas utilizadas nas anteriores, a ferramenta Paint Bucket, que possibilita

pintar qualquer espaço fechado de uma figura. Contudo, com as diferentes

possibilidades de estamparia, esta arte, pôde ser desenvolvida também em uma

estampa localizada que será estampada em peças da coleção comercial. Na figura a

seguir, esta criação pode ser comparada nas duas variantes finalizadas.

Figura 23: Variantes da estampa Espantolia

Ter as referências deste grande artista como inspiração, foi de extrema

satisfação, onde através da sua história, a coleção Meu Mundo de Fantasia se

transformou em arte, em cultura. Sua linguagem dotada de uma simplicidade infantil

fez desenvolver grandes estampas para este projeto, trazendo como grandes

referências, sua autenticidade e estilo, recriando uma diversidade de imagens

distorcidas da realidade, cheias de formas orgânicas e construções geométricas,

idealizando esta essência, em mundo divertido e fantástico cheio de ilusões.

72

3. BOOK DA COLEÇÃO – “MEU MUNDO DE FANTASIA”

3.1 CONCEITO

Dois lados distintos, dois polos, dois mundos com valores extremamente

opostos. Um lógico, previsível, contagioso, cenário por onde pessoas são apenas

fantoches, seres acomodados pelas próprias regras. O outro da fantasia, do criativo,

do surreal, da imaginação e do sonho. Onde se permite acreditar no inacreditável,

expressar livremente desejos e anseios pelo simples prazer de viver. Um contraste

entre o geométrico e o colorido, entre o racional e o lúdico. Inconsciente, inocente.

Por essas linhas, o encanto das obras surrealistas de Joan Miró trazem a

mais forte inspiração para desenvolver estampas e formas impressionantes para a

linha infantil. Um público manipulado pela tecnologia, influenciado constantemente

pela mídia, pela massificação de figuras, ilustrações e consumo. Onde o poder de

expressar o desejo, a fantasia, o imaginário repleto de ilusões trazem a coleção

grandes referências, que interagem e tornam simples pedaços de pano, em

sentimento, em satisfação.

Figura 24: Painel conceito

73

3.2 EMPRESA

A empresa inspirada e usada como suporte, é a marca catarinense Minamoo,

uma grife infantil que pertence ao grupo SOMEDAY, fundada em setembro de 2010.

Atende o mercado de meninos e meninas de 02 a 12 anos de classes A e B, que

exigentes, assumem a escolha de suas próprias roupas, se divertindo com as

coleçoes que estão antenadas com o universo da moda infantil. A marca tem como

finalidade cricular diversos momentos do pequenos cosumidores, que são

acostumados às brincadeiras do dia a dia, viagem de férias, cinema e passeios,

crianças cheias de personalidade, descoladas e que gostam de aventuras ao

escolher suas próprias roupas. O projeto de desenvolvimento da marca, ocorreu

devido à carencia de uma marca infantil forte no mercado, assim, a empresa tem

como objetivo se destacar nesta área, inclusive na linha jeans, contando com peças

diferenciadas em lavagens e ao mesmo tempo cheias de informações de moda.

Os produtos Minamoo, portanto, são confeccionados sob altíssimos padrões

de qualidade, utilizando matérias primas dos melhores fornecedores nacionais. A

rede de franchising Minamoo desenvolve uma logística de produto com alta

qualidade de comercialização e com uma modelagem e design apropriado que

atende aos sonhos de consumo de toda criança. A empresa investe constantemente

em pesquisa e desenvolvimento de produtos, compondo seu estilo através da

adaptação para o nosso mercado das últimas tendências internacionais de moda e

consumo. As lojas minamoo são inspiradas no encanto das florestas mágicas,

voltada para o mundo do imaginário infantil, onde escolher a roupa da criança é uma

grande aventura.

3.2.1 Release

Para primavera/ verão 2013/14, a coleção Meu mundo de Fantasia é lançada

para divertir e colorir meninas de 6 a 8 anos. Sua inspiração vem das grandes obras

do escultor e pintor surrealista Joan Miró, onde através de suas artes, foram criadas,

estampas super divertidas e exclusivas que transmitem fortemente o tema e a chave

da coleção. Um paradoxo entre a imaginação e o mundo real, uma distinção de

valores entre dois mundos extremamente opostos, onde o prazer de viver em maior

74

harmonia vem da busca de poder expressar livremente sonhos e desejos, trazer á

realidade, o gosto da fantasia, nas formas, no toque, no sentimento. Um contraste

entre o geométrico e o colorido, entre o racional e o lúdico.

A partir deste conceito, a modelagem segue uma linha geométrica, onde

predominam peças amplas, com bastante contrastes e recortes, variedade em

tecidos, cores e formas.

Para o desenvolvimento dos produtos, a pesquisa em tendências de moda e

referências fortes em estamparia e modelagem foram feitas e transmitidas para

coleção, trazendo saias e tops mullets, plissados, diversos vestidos, cores referentes

ao verão, laranja cítrico, rosa, azul, verde, vermelho e amarelo, cores primárias e

secundárias para um color block super divertido para o infantil que remetem também

ao conceito das obras de Miró.

Os principais materiais utilizados foram o crepe georgette, que traz a leveza

na estamparia e em peças plissadas, o crepe silk, para camisas e vestidos fashion.

O tricoline com elastano, em parte de camisaria e vestidos, a sarja, que traz o color

para jaquetas, calças e bermudas e a malharia de algodão para a linha basic como

regatas e t-shirts. E para valorizar ainda mais cada produto, aviamentos em metais

dourados, zíperes e botões de massa em diversas formas e cores dão o toque final

em detalhamento e diferenciação para a marca.

O foco, portanto, é trazer às pequenas consumidoras, um novo conceito de

moda, identificação com produtos autênticos e satisfação.

3.3 PÚBLICO- ALVO

A coleção Meu mundo de Fantasia é inspirada e direcionada á meninas com

faixa etária entre 6 a 8 anos. Um público onde a inovação persiste para criar e

despertar algo novo e diferente, desejos de consumo pelo belo e satisfação com

produtos que se adequam aos seus sonhos. Bonecas e princesas, amantes da

moda, das tendências, consumidoras de uma estética autêntica e divertida.

Estão super antenadas no que ocorre no mundo atual, repleto de

informações, seguem e se divertem neste viciante complexo tecnológico com maior

autonomia, seja em casa, na escola, no shopping, na amiga, ou até na casa da vó.

O que procuram é um espaço de fuga para poderem viver momentos de

fantasias, reproduzirem seus sonhos, da qual a fertilidade de uma imaginação rica

75

de ideias constrói uma realidade lúdica, idealizada pela diversão, paralela com a sua

própria estética e linguagem.

Para este target, o espaço de venda de produtos, deve surgir como um lugar

onde o mundo da moda é proposto, um mundo que captura e encanta, trazendo a

realização da menina que quer se sentir protagonista de sua história surreal. É

necessário, portanto, definir novos sonhos, antes de novos produtos, para realizar e

fidelizar uma grande amizade entre a empresa e a mini- consumidora.

Figura 25: Painel de Lifestyle

3.4 PARÂMETROS DE MODA

Para o verão 2013/14, a coleção se inspira em cores e formas para um

divertido Tchnicolor Summer. Relaxamento puro e alegria trazem uma fuga daquela

vida de todos os dias. As cores e os códigos tradicionais do verão ganham um giro

mais alegre, sem medo de extravagâncias. A alegria é a palavra-chave da

tendência, nela encontramos a influência de padronagens geométricas e bem

coloridas. Maxi bolsos e maxi golas fazem presença para os looks mais despojados.

E como conforto também permeia essa tendência as peças aparecem com

76

modelagens mais soltas e amplas, sobreposições com camisas e jaquetas,

contrapondo com bermudas, saias, macaquinhos, batas e vestidos.

O tema mescla elementos da fantasia com a cidade, permitindo uma

brincadeira com o imaginário infantil, sendo transmitidas através de um over de

estampas, tornando os looks mais modernos e cheios de estilo. Fazendo menção ao

urbano, aparecem tons mais contrastantes e modelagens com recortes, assim um

mix de diferentes tecidos constroem peças super valorizadas e cheias de graça.

Surgem novos paradigmas e predominam novos conceitos com a variedade de

formas, o ponto chave da macrotendência, contudo, é conforto, diversão e

irreverência.

Figura 26: Painel de Parâmetros

3.5 COLEÇÃO

3.5.1 Cartela de Cores

Para a tendência “Technicolor Summer”, a cartela de cores revela tons

vibrantes onde o colorido traz uma variedade de tonalidades que vão deixar coleção

ainda mais divertida. Foi elaborada através da inspiração nas obras artísticas de

77

Joan Miró, onde foram selecionadas as principais cores condizentes com as grandes

apostas de tendências para o público infantil.

Neste segmento, o color block é o ponto chave da estação, misturando cores

e criando combinações que vão das cores quentes até as cores frias. Vermelho,

rosa, laranja, amarelo combinam com azul e o verde e para amenizar tanto contraste

o Off White aparece na grande maioria dos looks e em peças que são estampadas.

A irreverência, portanto, veio para ficar, tudo combina e tudo se permite

quando a imaginação liberta sensações de desejo, sonho e fantasia no dia a dia da

pequena menina.

Figura 27: Cartela de Cores

3.5.2 Materiais

O principal elemento que determina toda a coleção é o tecido. Vários fatores

relevantes como, composição, cor, textura, são levados em conta para a construção

de cada produto.

Para o verão 2013/14, os materiais utilizados foram o tricoline e a cambraia,

trazendo a sofisticação para vestidos e camisas, pois o conforto também é

prioridade quando destinadas a este público- alvo. A sarja com elastano é um

material confortável e leve, utilizada para construir, saias, shorts, boleros e vestidos

78

em diversas cores, um tecido mais sofisticado pelo seu aspecto acetinado, é ótimo

para compor com os materiais mais leves e sofisticados, remetendo a tendência

High-Low. Assim, o crepe silk, com toque de seda, se faz presente em vestidos e

camisas, um tecido leve e bem fresquinho que promete arrasar na estação, assim

como o crepe georgette, que quando plissado e estampado, traz uma harmonia

vibrante para compor grandes looks, através de sua leveza e caimento, tornando-se

um dos principais materiais da coleção.

Um mix de tecidos é a grande aposta da coleção, cheia de recortes e colorida,

faz forte referência ao tema, também com as formas geométricas apresentadas e a

ousadia de investir na composição de tecidos leves e pesados.

Na cartela de materiais abaixo, verifica-se apenas os principais materiais, os

quais foram utilizados para a confecção dos looks conceituais da coleção.

Figura 28: Cartela de Materiais

79

3.5.3 Aviamentos

É nos pequenos detalhes que a coleção se diferencia e revela seu valor. Para

tornar especial cada produto, foram utilizados botões forrados em vários tamanhos e

em várias cores, remetendo às estampas e às fontes de inspiração, cristais

termocolantes em detalhes de vestidos, boleros e golas, dando um ar de sofisticação

na finalização.

Como acabamento externo ainda se faz presente, aviamentos em pedrarias,

metais como placas para sinalização e zíper invisível. Porém, nada disso poderia ser

apresentado se não houvesse desde o princípio, um valor agregado para construir

cada produto, sendo assim, foram selecionadas muitas linhas coloridas, para realizar

um melhor acabamento interno e criar diversos pespontos para contrapor com as

estampas.

Para estruturar cós, golas e vistas foram utilizadas entretela fina colante, que

estrutura de modo sutil estas partes de grande importância presente em vários

looks. Ainda como acabamentos internos foram utilizados elásticos em saias mullets

e acabamentos em mangas franzidas.

A sutileza nos aviamentos foi essencial para elaborar uma coleção infantil

mais sofisticada e diferenciada, onde a qualidade nos acabamentos e a versatilidade

de misturar diferentes materiais transmitem a riqueza e a dedicação na criação de

nossos produtos.

Figura 29: Painel de Aviamentos

80

3.5.4 Design Têxtil

Figura 30: Painel de Design Têxtil

A coleção apresenta uma variedade de estampas que serão aplicadas na

maioria dos looks comerciais e conceituais, transmitindo fielmente o tema inspirado e

características divertidas para seduzir e conquistar o público consumidor.

A estampa Specchio Urbano, se refere ao cotidiano, elementos do urbano que

se misturam com o imaginário, com as formas, cores, curvas e a essência das obras

de Joan Miró que estão relacionadas ao lúdico e a fantasia. Um delírio, uma fuga,

um desvio, pelas curvas regradas do meio urbano. Para transmitir fielmente às

roupas da coleção, utilizou-se a tecnologia da estamparia digital para compor tais

efeitos.

As estampas entram em harmonia quando forem compostas juntamente uma

com a outra construindo combinações irreverentes através da tendência over print,

looks cheios de informações, reproduzidos através da mistura de estampas que

prometem arrasar a coleção.

A estampa Doce rabisco é meiga e bem sutil no seu delinear, trazendo como

finalidade um toque de feminismo e romantismo em suas formas para um verão bem

81

divertido, que cria um lindo composé, com a estampa Curvas de Amor, que retrata

um lado sentimental e doce em seu desenho colorido com cores mais quentes.

Reproduziu-se também a Espantolia, uma estampa que além de ser

reproduzida em estamparia digital, é uma estampa localizada quando utilizada em

tamanho maior, tudo para divertir o imaginário das baixinhas que vão poder curtir

seus novos looks com a tecnologia de estamparia em marca d´agua. É só molhar e

se divertir!

Além das estampas, foram aplicadas nas peças conceituais, cristais

termocolantes para valorizar cada detalhe que merecem ser chamado a atenção.

Focos de luz refletem elementos importantes que fascinam também os olhos das

pequenas consumidoras.

3.6 GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS

Para definir as coleções conceituais e comerciais, foi preciso desenvolver

uma grande geração de alternativas que foi avaliada e selecionada juntamente com

a professora e orientadora do projeto de coleção, Dra. Sandra Regina Rech em maio

de 2012. Foram escolhidos àqueles desenhos que possuíam um apelo visual e

estético agradável ao público consumidor (no caso, infantil feminino), com formas

coerentes ao conceito da coleção, às tendências de moda, estudadas a partir da

pesquisa de parâmetros. Diante dos conselhos e das alterações realizadas, num

primeiro momento, foram selecionados o cinco looks conceituais e posteriormente os

vinte looks comerciais.

Após realizar a etapa de seleção, buscou-se encontrar materiais que se

adaptavam às características de conceito e de tendências, materiais coerentes para

a construção de cada produto. Realizado o estudo de viabilidade de cada matéria-

prima, definiram-se a cartela de cores e a cartela de materiais com uma amostragem

de cada tecido. Desta maneira, foi possível partir para a etapa seguinte da criação: o

teste de cores, onde foram esboçadas várias gerações de combinações a partir da

cartela definida.

Contudo, foi estabelecida uma ordem de coleção influenciada pelas cores,

estampas e formas desenvolvidas. O processo de geração de alternativas é uma

etapa lenta, que requer estudo e conhecimento, pois exige noção de viabilidade de

82

confecção, de como utilizar e mesclar materiais, mantendo uma ordem estética

coerente e agradável.

3.6.1 Mapa da Coleção Conceitual

Uma coleção conceitual de moda é rica de significados, definições, de

conceitos que se queiram transmitir ao leitor. Desta forma, as roupas passam a ser

vínculo de comunicação e geralmente são criadas para causar algum impacto, já

que geralmente, não são peças usuais do dia a dia.

Na coleção conceitual Meu Mundo de Fantasia foram transportadas

referências de cores contrastantes, formas exageradas e elementos vindos das

obras surrealistas. Tendo como objetivo exaltar sentimento e transmitir cultura às

crianças modernas, de uma maneira divertida e confortável. Na figura 31, pode-se

analisar de um modo abrangente o mapa definitivo da coleção conceitual, após

passar pelos processos de criação.

Figura 31: Mapa da Coleção Conceitual

3.6.2 Croquis Conceituais

Nas imagens a seguir, identifica-se os croquis da coleção conceitual com

informações técnicas de desenho planificado, harmonia das cores que foram

utilizadas, a estampa presente em cada peça e por fim, um desenho estilizado que

viabiliza ter uma noção de um produto final sendo usado pela própria consumidora.

83

Figura 32: Looks conceituais 1 e 2, respectivamente.

84

Figura 33: Looks conceituais 3 e 4, respectivamente.

85

Figura 34: Look conceitual 5

3.6.3 Mapa da Coleção Comercial

A coleção comercial, por sua vez, se direciona ao consumo do público- alvo.

Um fator relevante que é importante ressaltar é conhecer bem este consumidor, pois

através de suas características, é preciso desenvolver produtos usáveis e coerentes

com suas necessidades. Neste caso, foram levados em conta, uma modelagem

mais solta, tecidos confortáveis, uma união de fatores que levam ao bem estar da

criança, que ao mesmo tempo está bem vestida e dentro da moda. Na figura 35, é

possível enxergar como um todo, o mapa da coleção comercial, identificando uma

ordem harmônica de cores e formas que são estabelecidas.

86

Figura 35: Mapa da coleção comercial

3.6.4 Croquis Comerciais

A coleção comercial, portanto, é composta por vinte looks, estes possuem

formas que seguem uma mesma linha estética, muitas peças possuem o mesmo

acabamento, a mesma forma, uma semelhança que transmite uma uniformidade e

harmonia entre os produtos. Nas figuras abaixo, estão expostas as mesmas

informações que estão presentes nos croquis conceituais. Fatores relevantes para

conhecimento prático na hora de executar cada peça. Para isso é importante

organizá-los de modo que se possa supor e visualizar um produto final.

As referências ficam alocadas num mesmo plano, onde desenho técnico,

harmonia de cores, estampa e croqui estilizado fiquem unidos para melhor serem

analisados.

87

Figura 36: Looks comerciais 1 e 2, respectivamente.

88

Figura 37: Looks comerciais 3 e 4, respectivamente.

89

Figura 38: Looks comerciais 5 e 6, respectivamente.

90

Figura 39: Looks comerciais 7 e 8, respectivamente.

91

Figura 40: Looks comerciais 9 e 10, respectivamente.

92

Figura 41: Looks comerciais 11 e 12, respectivamente.

F

93

Figura 42: Looks comerciais 13 e 14, respectivamente.

94

Figura 43: Looks comerciais 15 e 16, respectivamente.

95

Figura 44: Looks comerciais 17 e 18, respectivamente.

96

Figura 45: Looks comercias 19 e 20, respectivamente.

97

3.7 BOOK CRIATIVO

O Book criativo da coleção Meu Mundo de Fantasia foi produzido a partir de

técnicas artesanais do scrap book, entre elas a técnica francesa de sobreposição de

imagens que proporciona um design 3D para o que se deseja ressaltar. Assim,

diversos papéis especiais foram utilizados para compor em harmonia a estética do

book, que é interativo e atraente aos olhos de uma criança. Possui em cada capítulo

dobraduras que ressaltam aos olhos, com a técnica da pop art. O book contém

vários materiais reais como figuras, aviamentos, tecidos, uma experiência tátil que

proporciona melhor análise de cada item. Concluindo, o book é um material criativo

que foi feito com objetivo de conter todos os conhecimentos e informações

necessários para o desenvolvimento da coleção de moda Infantil, transmitidos de

uma forma divertida para a pequena consumidora.

Figura 46: Book Criativo da coleção Meu Mundo de Fantasia

98

4- DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

4.1 FICHA TÉCNICA

A ficha técnica é elaborada para auxiliar na produção, nela contém

informações de modelagem, corte, materiais e aviamentos utilizados, as cotas de

cada look, entre outros tópicos importante que ajudam e facilitam os processos na

prática. Assim, ficam registrados todos os detalhes técnicos da peça, incluindo

também desenhos e figuras de plano de corte. Diante disto, a ficha técnica foi

desenvolvida para os três looks conceituais confeccionados para o desfile, podendo

ser conferidas nas imagens abaixo.

Os looks conceituais desenvolvidos foram de ordem 3, 4 e 5 que

correspondem a ordem das fichas técnicas nas figuras 47, 48 e 49, respectivamente.

99

Figura 47: Ficha técnica do primeiro look do desfile

100

Figura 48: Ficha técnica do segundo look do desfile

101

Figura 49: Ficha técnica do terceiro look do desfile

102

4.2 IMAGENS DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

No desenvolvimento do projeto de coleção, obteve-se várias orientações com

professores e até mesmo com o estilista italiano Elio Fiorucci (figura 50), com o qual

pudemos compartilhar informações, uma experiência que jamais será esquecida.

Figura 50: Orientação com o estilista Elio Fiorucci

Algumas das principais etapas elaboradas para a produção das peças foram

registradas para arquivar os processos para recordação de cada momento. A

modelagem e a costura dos looks foram realizadas no ateliê da UDESC pela própria

estilista Heloisa Fronza, que idealizou cada etapa desde o inicio da produção,

adquirindo grandes conhecimentos na área pratica, podendo ser identificado na

figura 51.

Figura 51: A estilista Heloisa Fronza finalizando o primeiro look no ateliê da UDESC.

103

Na figura 52, está registrado as provas dos protótipos nas modelos, que ao

serem ajustados e aprovados passam a ser desenvolvidos adequadamente como

produtos finais.

Figura 52: Provas dos protótipos e produto finais nas modelos.

4.3 PRODUÇÃO DO CATÁLOGO DE MODA

No dia 17 de setembro de 2012, foi realizado um ensaio fotográfico no estúdio

fotográfico do Brandão para a revista do Octa fashion. A modelo Caroline representa

estar colorindo um arco- íris, uma figura muito presente no universo imaginário

infantil, trazendo uma linda gama de cores que é capaz de criar e reproduzir através

da arte, um mundo de fantasia, representado na figura 52.

Figura 53: Produção fotográfica da coleção Meu Mundo de Fantasia8

8 Créditos: Fotografia: Juan Mazzola; Produção de Moda, cabelo e maquiagem: Heloisa Fronza;

Tratamento e elaboração de Imagem: Fabiana Ludwig; Modelo: Caroline Niehues.

104

4.4 DESFILE

Há 16 anos a Udesc capacita estudantes para o mercado de moda.

A cada ano, isto se consagra de forma muito profissional, com um desfile de

moda realizado no final do curso de graduação. Este ano, o evento foi realizado no

dia 13 de novembro na ACM- Associação Catarinense de Medicina. Recebe o nome

de OCTA Fashion – Observatório de Cultura e Tendências Antecipadas, sua

segunda edição que teve como tema central o livro As cidades Invisíveis, de Ítalo

Calvino. O evento apresentou o trabalho de 35 formandas com suas mini coleções,

entre elas, feminino, masculino e infantil, um momento muito especial e marcante

para cada uma que participou na produção e realização deste sonho. Nas figuras

abaixo, estão apresentadas o desfecho de todo este honroso trabalho com a

apresentação da mini coleção conceitual Meu mundo de Fantasia.

Figura 54: Modelo Alice Hubert no desfile para a coleção Meu Mundo de Fantasia Fonte: Samanta Belletti Fotografias

105

Figura 55: Modelo Heloísa Morimoto para a coleção Meu Mundo de Fantasia. Fonte: Samanta Belletti Fotografias

Figura 56: Modelo Caroline desfila para a coleção Meu Mundo de Fantasia Fonte: Modeline Udesc

106

Figura 57: Modelos agradecem junto com a estilista Heloisa Fronza Fonte: Modeline Udesc

107

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É pelo andar da moda e através das suas constantes mudanças que este

objeto de pesquisa se faz presente em várias áreas do cotidiano e do mundo

globalizado. Já dizia Dario Caldas (1999), que a roupa é vista antes de tudo, como

signos portadores de mensagens que nos falam do individuo que a veste e da

sociedade que a produz. Tudo se volta a um mesmo ciclo, dependente, onde as

características vão surgindo e identificando cada estilo. A moda se faz agora, como

parte integrante na comunicação dos posicionamentos sociais delineando a espécie

e a cultura existente.

Por meio do discurso complexo da moda foi possível desenvolver uma

coleção infantil coerente com seu tema e inspiração onde abordou-se uma pesquisa

teórica, comportamental, visual e histórica para concluir os objetivos propostos pelo

trabalho.

A pesquisa das tendências, incluindo macro e micro foram realizadas através

de sites regulares e atuais dentro do segmento da moda. Estendeu-se também à

revistas como Vogue Kids e desfiles conceituais lançadores de tendências infantis,

possibilitando a criação de um painel de parâmetros rico em informações de formas,

texturas e cores que influenciaram fortemente para o desenvolvimento dos looks da

coleção.

Analisou-se as atitudes comportamentais do público alvo, que são meninas de

6 a 8 anos, dentre os objetos de desejo e de consumo que são fatores de

referências essenciais para montagem do painel de lifestyle.

Quanto ao primeiro objetivo específico: pesquisar macrotendências,

microtendências, parâmetros de moda, público alvo, materiais, aviamentos e

desenvolver seus respectivos painéis visuais, foi possível concluir e definir

ótimos materiais e aviamentos para a elaboração de roupas para o segmento

infantil. Priorizando o conforto, a qualidade e a facilidade em produzir satisfação.

Para tanto, a etapa ocorreu-se através da busca em diversas lojas de tecidos e

aviamentos, levando em conta o fator da indicação de profissionais da área pelos

melhores produtos.

108

De acordo ao segundo objetivo específico: dirigir um estudo mais

aprofundado a respeito do público para melhor entender o comportamento do

consumidor em questão e suas atitudes, utilizou-se como bibliografia base o livro

Consumo Autoral- As gerações como empresas Criativas, de Francesco Morace e

referências visuais de comportamentos corriqueiros identificados nos shoppings, na

escola, dentro da própria família para definir tais conceitos de extrema importância.

Neste tópico foi possível compreender que a realidade infantil muda

constantemente, observou-se uma drástica mudança nas atitudes que se tornam

precoces, nas brincadeiras que hoje passam a ser basicamente exclusivas da

tecnologia da computação, do comportamento visando ter alguém como referência,

este que, geralmente é tido como influência dos pais. O que ocorre no mundo

moderno, é uma situação onde as crianças participam ativamente do consumo

diário, são vitimas das propagandas abusivas, do marketing e da publicidade, que

acabam afetando o desenvolvimento criativo. É uma abordagem polêmica, uma área

muito estudada e cheia de informações, um caso debatido até em Fórum

internacional da Criança e Consumo, criado especialmente para identificar estas

mudanças em todo o mundo. Diante disto a pesquisa é baseada também em

documentários estrangeiros como Consuming Kids, que trazem um suporte de

informações sobre o contexto global.

Quanto ao terceiro objetivo específico: verificar dados a respeito do

artista plástico Joan Miró, que é o tema de inspiração para o desenvolvimento

de estamparia têxtil digital para o produto do vestuário infantil, buscou-se

através da história, da teoria, estudar o surrealismo, a bibliografia do artista plástico

Joan Miró, analisar suas obras, entre poesias, pinturas e até mesmo esculturas para

desenvolver estampas coerentes ao segmento infantil e ao tema de inspiração que

pudesse ser transmitida a arte e a cultura de uma nova maneira, inovadora, aliando

à moda, à técnica de estamparia têxtil digital.

Para realizar o processo de estampagem, foi necessário enviar os tecidos da

coleção Meu Mundo de Fantasia até a sede da empresa Real Estúdio, em

Blumenau, a qual entrou como apoiadora deste projeto, incentivando novos

designers dentro do ramo da moda. Verificou-se, portanto, a evolução da

109

estamparia, suas técnicas e seu funcionamento, priorizando a revolucionária

estamparia têxtil digital para a prática do trabalho.

Diante disto, foi possível desenvolver quatro estampas através dos aplicativos

do Corel Draw e Photoshop para inovar na produção da coleção infantil a ser criada.

Destacou-se o passo a passo da utilização de cada ferramenta e a facilidade em

desenvolver de forma simples um produto diferenciado para o segmento infantil.

Em relação ao quarto objetivo específico: desenvolver 25 gerações de

alternativas de produtos de moda para a linha infantil, foi concluído através da

base de toda estrutura de pesquisa, teórica, visual e comportamental, assim,

primeiramente, foram criados cinco looks conceituais, dos quais, três foram

confeccionados e apresentados ao público no desfile de formatura, intitulado Octa

Fashion.

Como fator revelação, a coleção de moda infantil Meu Mundo de Fantasia

ganha espaço para divulgação e concorre à premiação na Feira Internacional Infanto

Juvenil em São Paulo em novembro de 2012, exibindo sua novidade em estamparia

digital para grandes empresários do setor têxtil infantil presentes neste evento. Esta

surpresa ocorreu durante o processo de conclusão do projeto para o desfile, já que

não se esperava devido a alta concorrência, pois o concurso foi divulgado para o

país inteiro. Com imensa alegria e dedicação, foram enviados, portanto, um resumo

do book de coleção, contendo os objetivos, informações de materiais, desenhos

técnicos, design têxtil e o próprio conceito. Os trabalhos foram expostos na feira

juntamente com grandes empresas de valor do setor têxtil infantil.

Além disto, desenvolveu-se mais vinte gerações de looks comerciais

coerentes às tendências de moda da estação verão 2013. Produtos despojados,

divertidos, com informações de cultura, tecnologia e arte que interagem com as

exigências da pequena consumidora: conforto e satisfação.

Diante disto, vale ressaltar que todo o esforço e dedicação depositadas para o

estudo desta pesquisa foi de grande valia, trazendo ótimos resultados e uma enorme

satisfação e felicidade em concluir um projeto digno de reconhecimento.

110

Desta forma, todos os objetivos específicos foram atingidos e a

pesquisa atingiu a resolução do objetivo geral que era desenvolver uma

coleção de moda aliando arte e cultura à técnica de estamparia têxtil digital.

Diante disto, a questão norteadora, que foi o ponto de partida para a pesquisa,

foi solucionada.

111

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