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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ LUCAS PATINO LORDELLO A CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS DE ESTÍMULO AO USO DA BICICLETA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL NAS CIDADES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

LUCAS PATINO LORDELLO

A CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS DE ESTÍMULO AO USO DA BICICLETA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL NAS CIDADES

CURITIBA2012

LUCAS PATINO LORDELLO

A CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS DE ESTÍMULO AO USO DA BICICLETA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL NAS CIDADES

Monografia apresentada ao Curso de Ciências Econômicas, Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.

Orientadora: Prof. José Guilherme Silva Vieira

CURITIBA2012

TERMO DE APROVAÇÃO

LUCAS PATINO LORDELLO

A CONTRIBUIÇÃO DAS POLÍTICAS DE ESTÍMULO AO USO DA BICICLETA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL NAS CIDADES

Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Ciências Econômicas, Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade

Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora:

_____________________________Orientador: Prof. José Guilherme Silva Vieira.Setor de Ciências Sociais AplicadasUniversidade Federal do Paraná

_____________________________Profª. Dayani Cris de AquinoSetor de Ciências Sociais AplicadasUniversidade Federal do Paraná

_____________________________Profª. Denise Maria MaiaSetor de Ciências Sociais AplicadasUniversidade Federal do Paraná

Curitiba, 2012

AGRADECIMENTOS

Ao professor José Guilherme, pela orientação, incentivo e pela amizade.À minha família pelo amor, compreensão e pela força.

“Se a mobilidade física é condição essencial da liberdade, a bicicleta talvez tenha sido o instrumento singular mais

importante, desde Gutenberg, para atingir o que Marx chamou de plena realização das possibilidades de ser

humano, e o único sem desvantagens óbvias.”

Eric Hobsbawm

RESUMO

O modelo de transporte urbano focado no automóvel apresenta sinais de ter alcançado os seus limites nas cidades brasileiras. Os congestionamentos, a poluição atmosférica e os acidentes de transito são sinais de um quadro insustentável. Sendo a mobilidade urbana um fator determinante para o desenvolvimento das atividades socioeconômicas da cidade, é necessária uma mudança de paradigma em direção a uma mobilidade mais sustentável. O objetivo desta monografia é ilustrar qual a contribuição da bicicleta para o desenvolvimento das cidades. O trabalho apresenta a relação entre desenvolvimento e mobilidade sustentável, fazendo uma avaliação das potencialidades da bicicleta enquanto modo de transporte sustentável. Por meio do estudo das medidas tomadas por várias cidades do mundo para incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte concluiu-se que a adoção de políticas coerentes e a implantação de infraestruturas para o ciclismo são condições essenciais para conduzir a um novo cenário com maior utilização da bicicleta como meio de transporte.

Palavras-chave: desenvolvimento sustentável. mobilidade urbana. bicicleta.

ABSTRACT

The urban transport model focused on cars shows signs of having reached its limits in Brazilian cities. Congestion, air pollution and traffic accidents are signs of an unsustainable framework. Being urban mobility a key factor for the development of socio-economic activities of the city a paradigm shift toward a more sustainable mobility is required. The aim of this work is to illustrate the contribution of the bicycle to the development of cities. The paper presents the relationship between sustainable development and mobility, with an evaluation of the potential of the bicycle as a mode of sustainable transportation. By studying the actions of cities around the world to encourage the use of bicycles as transportation, it was concluded that the adoption of coherent policies and deployment of infrastructure for cycling are essential to lead a new scenario with increased use bicycle as transportation.

Key words: sustainable development. urban mobility. bicycle.

LISTA DE SIGLAS

Abraciclo – Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores,Motonetas, Bicicletas e Similares

ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos

CET – Companhia de Engenharia de Tráfego

Denatran – Departamento Nacional de Trânsito

Fenabrave – Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

SumáriO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................62 CRESCIMENTO ECONÔMICO E SUSTENTABILIDADE................................72.1 A TEORIA CLÁSSICA E O CRESCIMENTO ECONÔMICO.............................7

2.2 O NOVO PARADIGMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL................8

3 AS CIDADES E O AUTOMÓVEL....................................................................113.1 A ECONOMIA POLÍTICA DO AUTOMÓVEL...................................................11

3.1.1 O automóvel e as leis da acumulação capitalista.........................................11

3.1.2 O impacto do automóvel no desenvolvimento das cidades..........................13

3.2 DESENVOLVIMENTO E MOBILIDADE URBANA NO BRASIL.......................15

3.3 OS CUSTOS SOCIAIS GERADOS PELO PADRÃO DE TRANSPORTE

AUTOMOBILÍSTICO..................................................................................................16

3.4 A TRANSIÇÃO PARA A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL.................................19

3.4.1 A Política Nacional de Mobilidade Urbana....................................................21

4 A BICICLETA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CIDADE......234.1 A CONTRIBUIÇÃO DA BICICLETA PARA A ECONOMIA..............................23

4.1.1 A economia da bicicleta no Reino Unido......................................................25

4.1.2 A infraestrutura para bicicletas e o potencial de geração de empregos.......26

4.2 A BICICLETA COMO MODAL ALTERNATIVO DE TRANSPORTE URBANO28

4.2.1 Amsterdã, a cidade dos ciclistas..................................................................29

4.2.2 A CicloRuta de Bogotá.................................................................................33

4.2.3 Os sistemas de transporte público em bicicleta............................................36

5 CONCLUSÃO..................................................................................................42REFERÊNCIAS.........................................................................................................44

1

introdução

O intenso uso dos automóveis como meio de transporte ameaça a

sustentabilidade da mobilidade urbana e o futuro desenvolvimento das cidades. Os

congestionamentos e os acidentes de trânsito são cada vez mais intensos e

frequentes. Essa situação demanda uma mudança de paradigma para que sejam

alcançados os verdadeiros objetivos dos sistemas de mobilidade.

Este trabalho procura ilustrar qual a contribuição do uso da bicicleta como

meio de transporte urbano alternativo para o desenvolvimento sustentável das

cidades. Quais são as vantagens que ela apresenta para alcançar a mobilidade com

menor externalidade negativa? Quais medidas são eficazes na promoção do uso da

bicicleta? A questão é abordada recorrendo-se a trabalhos que acreditam e

valorizam a bicicleta como veículo indicado para a mobilidade urbana sustentável,

em diferentes países do mundo, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento.

O capítulo 2 apresenta os fundamentos do pensamento clássico sobre o

crescimento econômico e as preocupações de novos pensadores com o efeito no

longo prazo dos modelos clássicos sobre o meio ambiente e o bem estar. No

capítulo 3 será discutido como a popularização do automóvel afeta o

desenvolvimento das cidades e serão apontados alguns problemas que o modelo de

transporte atual tem causado na mobilidade urbana. No capítulo 4 será ilustrado o

papel que a bicicleta tem a desempenhar para o desenvolvimento sustentável das

cidades como mercadoria geradora de empregos como meio de transporte

alternativo. Os casos de sucesso foram escolhidos pelo fato de serem fruto de

políticas públicas integradas com o objetivo de transformar da cidade em benefício

do trânsito de pessoas.

12

2 CRESCIMENTO ECONÔMICO E SUSTENTABILIDADE

Neste capítulo serão apresentadas as ideias que moldaram o pensamento

clássico sobre o crescimento econômico e questionadas as suas limitações frente

aos tempos modernos.

2.1 A TEORIA CLÁSSICA E O CRESCIMENTO ECONÔMICO

Adam Smith (1996) afirmou que os principais fatores que contribuíam para o

progresso econômico ou, como ele denominou, para a "riqueza das nações" eram o

acúmulo de capital físico, o progresso tecnológico, a especialização do trabalho e o

livre comércio. Nesse contexto, o crescimento econômico continuará enquanto o

capital for acumulado e novas tecnologias forem introduzidas. A concorrência e o

livre comércio contribuem para tornar cumulativo este processo, e um ambiente de

mercado competitivo fornece o quadro para todos os benefícios de um sistema de

mercado em expansão para acumular, a números cada vez maiores, consumidores,

produtores, trabalhadores e proprietários. A análise de Smith sobre os amplos

benefícios de uma ordem mundial capitalista em expansão praticamente automática

fez dele um dos mais otimistas de todos os economistas clássicos. Ele pensava que

todos os povos do mundo seriam levantados em uma onda de prosperidade

econômica como propagação do capitalismo.

David Ricardo (1996) acrescentou elementos importantes na análise do

processo de crescimento econômico que, de alguma forma, demonstram a

importância do meio ambiente no processo de desenvolvimento. Ao abordar a

questão dos rendimentos decrescentes da terra, Ricardo deixou claro que o avanço

da produção teria implicações na distribuição da renda (em favor dos proprietários

de terra) e no surgimento de conflitos pela distribuição dos resultados da produção.

Todavia, não sugeriu qualquer medida na direção da limitação da exploração do

recurso terra ou da limitação da produção. O que interessava a Ricardo era o tipo de

13

medida econômica que reduzisse a pressão sobre a acumulação de lucros dos

capitalistas e a discussão sobre a renda da terra ou sobre os limites de sua

produtividade estavam inseridas nesse contexto e não no tipo de argumentação pró-

ambiental.

Assim é que se percebe não haver entre os primeiros economistas clássicos

qualquer tipo de preocupação com os limites da exploração dos recursos naturais.

Tal esquecimento é bastante compreensível na medida em que, no seu tempo, a

questão do esgotamento dos recursos naturais não estava colocada. O aumento da

produção e do consumo de mercadorias era sinônimo do progresso material e da

riqueza de uma nação. Tal visão, verdadeira ou falsa no passado, passou a ser

objeto de análise de um ponto de vista completamente diferente no século XX. O

fetiche pela produção e pelo consumismo passou a ser atacado por diversos

pesquisadores que levantaram questões sobre as consequências desse modelo de

produção baseado no consumo sobre a qualidade de vida e bem estar da sociedade

moderna.

2.2 O NOVO PARADIGMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Desde 1970, é crescente a preocupação com o impacto do crescimento

econômico sobre o meio ambiente. Em 1971, uma conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi realizada na Suíça, seguida em 1972

pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, na Suécia.

Esses e outros encontros de acadêmicos, políticos, ativistas e ONGs culminaram

com a conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - a chamada

"Cúpula da Terra" - realizada no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992.

A preocupação com o aquecimento global e sua relação com o que e como

as economias produzem tornou-se notícia de primeira página desde a década de

1990.O resultado desses vários fóruns e de um crescente corpo de pesquisa

14

científica tem sido uma maior conscientização e interesse na questão da

sustentabilidade do crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável foi

definido pela Comissão Brundtland como "desenvolvimento que satisfaz as

necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras

satisfazerem suas próprias necessidades” (WWF-BRASIL).

Para Cypher (2008) a convicção motivadora do desenvolvimento sustentável

é que o crescimento econômico não precisa estar em conflito com o ambiente

natural se as decisões de política econômica e pública forem tomadas com o

objetivo de conservar os recursos naturais e melhorar a utilização de tecnologia de

forma que sejam valorizados não só níveis mais elevados de produção, mas

também seja considerado o impacto da expansão econômica como sobre o meio

ambiente.

Cypher (2008) aponta que o esforço para definir "sustentabilidade" tem se

dedicado a encontrar um meio termo entre a visão de que toda a natureza é

igualmente valiosa e deve ser preservada tanto quanto possível e a visão alternativa

de que a natureza é para ser conquistada para o benefício dos seres humanos.

Assim como os economistas do desenvolvimento estão tendo um olhar mais

atento aos insumos de capital humano como sendo críticos para o progresso, a

preocupação com a sustentabilidade pode ser vista como parte de um esforço para

ver o capital ambiental e de recursos naturais como fatores chave para a

prosperidade nacional e global. Nesse sentido, o capital ambiental e os recursos

naturais começam a ser valorizados, medidos e pensados como insumos para a

produção cujo preço é diferente de zero e são tão importantes quanto os insumos

mais tradicionais de trabalho e capital.

Cypher (2008) afirma que o conceito de sustentabilidade do crescimento

econômico e do desenvolvimento não precisa ser limitado a considerações sobre o

ambiente natural por si só. Também é possível conceber a sustentabilidade das

estruturas sociais da economia. O ritmo, nível e distribuição de crescimento

econômico podem ser estendidos para questões de qualidade de vida.

15

Há, portanto, uma necessidade de valorizar os recursos naturais e

ambientais mais racionalmente, de um ponto de vista social, de modo que o

crescente consumo de massa que acompanha os níveis mais elevados de PIB não

seja automaticamente contabilizado como tendo valor, enquanto que os custos

ambientais do aumento da produção e do consumo são ignorados.

O aumento dos padrões de consumo capitalista nos países desenvolvidos e

nos grandes centros dos países em desenvolvimento aliado à negligência em

relação ao passivo ambiental levou a um aumento substancial dos níveis de

poluição. A poluição resultante é o dano ambiental devido ao aumento da produção

industrial e dos padrões de renda mais alta de consumo, tais como a proliferação de

veículos automóveis particulares e de resíduos não recicláveis que contribuem para

a degradação do ar, da terra e da água. Este tipo de poluição tende a aumentar com

o crescimento econômico (CYPHER, 2008).

A preocupação com a qualidade do ar e da água, com o tempo perdido com

os deslocamentos urbanos e com os impactos para a saúde física e mental do modo

de vida baseado em aumento de produção e consumo passou a ganhar espaço nos

debates sobre crescimento e desenvolvimento. O presente trabalho está inserido

nesse contexto. Será abordado aqui um dos reflexos do modelo de crescimento

econômico capitalista sobre a qualidade de vida das populações urbanas: o

problema da mobilidade urbana.

16

3 AS CIDADES E O AUTOMÓVEL

Neste capítulo serão abordados os reflexos do modo de produção capitalista

e do automóvel sobre o desenvolvimento das cidades e consequentemente sobre o

aspecto de mobilidade urbana.

3.1 A ECONOMIA POLÍTICA DO AUTOMÓVEL

As mudanças tecnológicas que afetam a produção e o consumo envolvem

alterações fundamentais nos padrões de consumo da massa, com consequências

de longo alcance para o funcionamento do capitalismo.

Pelo lado da tecnologia e da produção, o fator decisivo foi a introdução de

Henry Ford do automóvel de baixo preço modelo T, envolvendo (como causa e

efeito) tais tecnologias de redução de custos como a linha de montagem e peças

intercambiáveis.

O automóvel tornou-se uma mercadoria de consumo de massa. Na década

de 1920 se deu o início de um processo cumulativo extremamente complexo,

culminando com o que se refere hoje a "crise urbana". As forças propulsoras deste

processo foram o barateamento do automóvel e a extensão da rede viária.

3.1.1 O automóvel e as leis da acumulação capitalista

De acordo com Sweezy (1973), o desenvolvimento do automóvel e da

indústria automobilística fornece uma ilustração clássica das leis da acumulação

capitalista. O modelo de produção fordista transformou a produção de

veículos,implementando novas estratégias de organização e de gestão, num

processo de concentração do capital que se expandiu através do investimento do

seu próprio lucro. O resultado foi a redução dos preços e dos custos de produção,

17

que aliados ao aumento da renda per capita, abriram um vasto mercado para os

automóveis. O elemento imprescindível para o crescimento do consumo dessa

mercadoria foi a expansão da rede viária, conectando cidades e subúrbios.

Sweezy (1973) afirma que os interesses privados que cercam o automóvel

são maiores que os relacionados a qualquer outra commodity ou complexo na

economia americana. São aqueles interesses da indústria automobilística em si,

uma das mais lucrativas na economia; das indústrias dependentes do automóvel,

fabricantes de combustíveis e outros insumos; dos serviços dependentes do

automóvel, vendedores, manutenção;daqueles que lucram nas rodovias, serviços de

carga e transporte rodoviário; dos fabricantes de rodovias e finalmente dos usuários

da rede viária urbana.

O crescimento urbano no Brasil desde 1950 trouxe consigo o aumento do

uso de veículos motorizados públicos e particulares. Segundo dados do Denatran

(2011) a frota de veículos motorizados cresceu 121% entre 2001 (32 milhões) e

2011 (70,5 milhões). Segundo dados da Anfavea (2012) o faturamento líquido do

setor automobilístico brasileiro no mesmo período cresceu 85%, de 50,4 bilhões de

dólares para 93,5 bilhões de dólares. Este último valor representa 18,2% do PIB

industrial.A Fenabrave (2011) publicou ranking da venda mundial de veículos no

período entre 2003 e 2011, o Brasil passou da décima para a quarta posição, atrás

da China, Estados Unidos e Japão.

De acordo com um levantamento realizado por Moura (2011) se forem

somadas taxas, tributos, multas e contribuições cobradas pelo governo de Estados e

municípios, o carro é a maior unidade arrecadatória do país. Segundo o autor, o

governo federal recolheu dos automóveis em 2011, de janeiro a agosto, 32 bilhões

de reais, ou 22% da arrecadação dos principais tributos federais. Para os Estados, o

automóvel rendeu 30 bilhões de reais até agosto, arrecadados com o Imposto sobre

a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e com o Imposto sobre Consumo de

Mercadorias e Serviços (ICMS), que incide sobre todas as fases da vida do carro:

fabricação, compra, licenciamento, reparo e abastecimento.

18

Moura (2011) estima que somando os tributos recolhidos nas três esferas do

governo, as multas municipais e receitas com pedágios ao longo deste ano, a

projeção é que os carros rendam ao Estado brasileiro 81 bilhões de reais, ou cerca

de 2% do Produto Interno Bruto brasileiro. O autor afirma que ao todo, de cada 100

reais recolhidos em impostos no país, um único produto – o automóvel – responde

por aproximadamente 6 reais. A fatia dos impostos recolhidos com os carros explica

em grande parte a deferência do Estado com o setor automobilístico.

Sweezy (1973) argumenta que o complexo industrial automobilístico forma

grupos organizados que detém um enorme poder econômico e força política que são

mobilizados para apoiar projetos de expansão desse mercado. A capacidade do

automóvel para gerar negócios explica em grande parte por que o dinheiro público é

predominantemente dedicado a esta forma perigosa, insalubre e insustentável de

transporte.

3.1.2 O impacto do automóvel no desenvolvimento das cidades

Para Sweezy (1973) o desaparecimento das velhas distinções entre a

paisagem urbana, suburbana e campestre teria sido impossível a não ser pelo

automóvel, com sua rede viária complementar, que introduziu um modal de

transporte que substituiu os modos anteriores de mobilidade. Podendo ir a qualquer

direção e a qualquer distância, o automóvel dissolve as barreiras econômicas e

sociais uma vez definidas pelos trilhos do bonde ou o limite da carroça. Tornam-se

possíveis novos padrões de localização determinados pelo processo de acumulação

capitalista que procura e reage a novas oportunidades de investimentos lucrativos.

Sweezy (1973) explica que com a maior liberdade de mobilidade a forma da

economia e da sociedade pode ajustar-se às forças da acumulação de maneira mais

rápida e completa. A probabilidade do processo de mudança cumulativa aumentou,

19

e uma vez iniciada tomou vida própria muitas vezes contradizendo as necessidades

sociais e econômicas que inicialmente lhe deram lugar.

Sweezy (1973) aponta que a automobilização coincidiu com a transição de

um capitalismo competitivo para o monopolístico. As corporações emergentes eram

mais lucrativas que suas antecessoras e foram capazes de crescer mais

rapidamente que outros setores mais competitivos da economia. Este setor cada vez

mais dominante tecnologicamente e altamente dinâmico mira métodos de produção

cada vez mais sofisticados e capital intensivos. Em sua busca por novos mercados,

essa indústria disponibiliza tecnologias avançadas a outros setores que

revolucionam seus métodos de produção.

A mecanização e a introdução de fertilizantes químicos e pesticidas

permitiram o aumento de produtividade na agricultura, impulsionando o fenômeno da

migração para os centros urbanos. Esse processo normalmente seria acompanhado

pelo crescimento comparável do tamanho geográfico das cidades, mas o fator de

mobilidade introduzido pelo automóvel permitiu uma expansão de área mais do que

proporcional.

Novos moradores se instalam em subúrbios afastados do centro e procuram

emprego dentro da cidade. Isso significa que um volume enorme de transporte de

bens e pessoas ocorre todos os dias para manter o ritmo da cidade. Com a

expansão do comércio de bens e serviços, além do movimento pendular de manhã e

no final da tarde, as vias se entopem de veículos ao longo do dia.

O processo de crescimento das cidades trouxe consigo a descentralização

de varias funções normalmente associadas ao centro, resultando no surgimento de

vários subcentros que oferecem alguns serviços centrais como compras e lazer, mas

que não possuem grande magnetismo.

Uma vez alcançado este estágio, a cidade como estrutura significativa de

vida social organizada desaparece em favor de um agregado de pessoas, carros,

ruas e atividades econômicas misturadas numa área geográfica em contínua

expansão. Com o número de pessoas, carros, e área urbana em constante

20

expansão não há de vir como surpresa que a poluição e o congestionamento são

experimentados como a manifestação de uma grave crise urbana e que o fator de

mobilidade do automóvel é cada vez menor (SWEEZY, 1973).

3.2 DESENVOLVIMENTO E MOBILIDADE URBANA NO BRASIL

Não se pode pensar em desenvolvimento econômico e social sem

transporte. As pessoas precisam se deslocar para estudar, trabalhar, fazer compras,

viajar e possuem cada vez mais a necessidade de estar em movimento. Verifica-se

que as regiões mais desenvolvidas do Brasil possuem também os maiores

indicadores de transportes, pois a evolução econômica traz consigo a necessidade

de mais infraestrutura, em especial ligada à mobilidade urbana.

O processo intenso de urbanização e as políticas de Estado que priorizaram

o investimento na indústria automobilística resultaram no aumento do uso de

veículos motorizados nas cidades brasileiras a partir da década de 1950.

Atualmente, o sistema de mobilidade urbana dos grandes centros urbanos se

caracteriza pelo intenso uso do transporte individual motorizado.

A elevação do poder aquisitivo das pessoas num cenário de transporte

público deficiente e de incentivos do governo federal para a aquisição de veículos

individuais reforça a tendência do aumento da frota de automóveis e motocicletas

(VASCONCELLOS et al., 2011). Considerando o resultado do Censo IBGE 2010,

que indica que a população é de 190,732 milhões, o país tem uma média de um

carro para cada 2,7 habitantes (MOREIRA, 2011).

Rogério Belda, vice-presidente da ANTP (Associação Nacional de

Transportes Públicos) observa que à medida que se espalha a rede viária para

abrigar o numero crescente de automóveis, a cidade vai se espalhando cada vez

mais num modelo de expansão tipicamente norte americano. Esse processo de

urbanização é mais caro, pois o poder público tem que levar os serviços de

21

saneamento, iluminação, transporte a regiões cada vez mais afastadas

(SOCIEDADE, 2005). O Estado de São Paulo está investindo nove bilhões de reais

na construção de um Rodoanel na capital e em intervenções em avenidas –

enquanto as obras do Metrô em 2010 consumiram 5,5 bilhões de reais (MOURA,

2011).

A seguir serão apresentados alguns dos efeitos negativos que a adoção do

automóvel como modo preferencial de transporte causa à população urbana. Em

seguida se aponta para a mudança de paradigma que ocorre para reverter esse

quadro.

3.3 OS CUSTOS SOCIAIS GERADOS PELO PADRÃO DE TRANSPORTE AUTOMOBILÍSTICO

O padrão de mobilidade baseado no uso intensivo de transporte individual

motorizado impõe externalidades negativas às cidades, ameaçando a qualidade de

vida da população e comprometendo a produtividade dos agentes econômicos.

O aumento dos congestionamentos e, consequentemente, dos tempos de

deslocamento da população são reflexo do aumento da frota de veículos privados

nas cidades. O jornal Folha de S. Paulo divulgou em agosto de 2012 dados da

Companhia de Engenharia de Trânsito que revelam uma distribuição desigual no

uso das vias urbanas da capital paulista. Por meio de contagem de circulação ao

longo de uma extensão total de 255 km em horário de pico, calculou-se que na

média 78% das principais vias são ocupadas pelos automóveis, mas que estes

transportam somente 28% da população. Em contrapartida, os ônibus de linha e

fretados, com ocupação de 8% do asfalto, levam 68% das pessoas (CORREA,

2012).

De acordo com uma pesquisa inédita da Escola Politécnica da Universidade

de São Paulo, com base em dados do mercado imobiliário desde 1930, cerca de

25% de toda a área construída no Município é usado para garagens

22

(BRANCATELLI, 2012). Os pesquisadores observaram que o aumento da

motorização foi acompanhado de um apetite incontrolável do mercado imobiliário por

áreas para estacionamento.

O domínio das vias públicas pelos automóveis resulta em um pequeno

número de usuários de transporte privado provocando congestionamentos que

atrasam um grande número de usuários de transporte coletivo sobre pneus. Apesar

dos investimentos feitos na melhoria dos sistemas de transporte, as condições de

trânsito urbano continuam em processo de degradação.

Entre 1992 e 2008, o tempo médio de deslocamento da população entre a

residência e o local de trabalho nas dez principais Regiões Metropolitanas do país

aumentou aproximadamente 6%. O percentual de pessoas que gastam mais de uma

hora para realizar esse tipo de deslocamento passou de 15,7% para 19% nesse

período (VASCONCELLOS et al., 2011). Dessa forma as pessoas perdem a chance

de lazer, convívio familiar e outras atividades para o seu bem estar durante a

semana em decorrência das condições deficitárias do transporte.

A paralisia do trânsito tem impacto na economia como um todo: custos

logísticos, as empresas precisando contratar mais motoristas e veículos para

transportar seus produtos; gastos com combustíveis; custos de produção, produtos

parados tendo sua validade encurtada e aumentando a necessidade de estoque; e

finalmente as horas perdidas nos engarrafamentos que poderiam ser aproveitadas

na própria produção ou no consumo de produtos e serviços.

O Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo calcula

perdas diárias de 11 milhões de reais com tempo e combustível nos

congestionamentos na cidade de São Paulo. O estudo considera a média de 80

quilômetros de lentidão por dia, com picos de 200 quilômetros. No total, os custos

anuais chegariam a 3,3 bilhões de reais. As soma do tempo perdido pelos paulistas

no trânsito atinge a média de 240.000 horas (CRESPO, 2008).

Segundo estudo realizado pelo Citigroup, os problemas de

congestionamento de automóveis devem limitar o potencial de crescimento

23

econômico do Brasil e de outros países latino-americanos nos próximos anos. A

pesquisa levou em consideração o tempo que se gasta em viagens urbanas e

concluiu que o trânsito gera uma perda de 5% na produtividade do Brasil

(CRESPO,2008).

O atual padrão de mobilidade urbana também tem efeitos diretos sobre a

qualidade do meio ambiente local e global. Sociedades que privilegiam o transporte

motorizado individual em detrimento do transporte público e não motorizado tendem

a contribuir de forma muito mais significativa para o aquecimento global, devido às

emissões de gases de efeito estufa decorrentes do uso de combustíveis fósseis

(IEMA, 2010).

A ANTP (2008) estimou para 2007 que a emissão de poluentes pelos

veículos usados para o transporte das pessoas nas cidades brasileiras com mais de

60 mil habitantes. Foram atribuídos 15 vezes mais poluentes locais e quase duas

vezes mais CO2 aos veículos privados em relação ao transporte público.

Segundo Carvalho (2011) quando se analisam as emissões por passageiro

transportado, verifica-se que os usuários de transporte privado emitem mais gases

de efeito estufa do que os do transporte público coletivo. A explicação está na maior

produtividade apresentada pelos veículos coletivos, que transportam uma

quantidade de passageiros superior aos veículos privados. Um usuário de

automóvel, por exemplo, emite quase oito vezes mais CO2 que um usuário de ônibus

e 36 vezes mais que um usuário de metrô. Quanto ao consumo energético, os

automóveis gastam 68% da energia total usada nos deslocamentos enquanto o

transporte coletivo responde por 32% (ANTP, 2008).

Os acidentes de trânsito também são relevantes para a análise não somente

pelos custos econômicos provocados, mas principalmente, pelo sofrimento e perda

de qualidade de vida das vitimas, seus familiares e da sociedade como um todo.

Uma pesquisa do IPEA (2003) revelou que os acidentes de trânsito nas

aglomerações urbanas no ano de 2001 geraram custos da ordem de 3,6 bilhões de

reais. Caso se considere o total da área urbana, estes custos chegam a 5,3 bilhões

24

de reais. A composição percentual dos custos anuais é representada principalmente

pela perda de produção (43%), danos a veículos e propriedades (30%)e tratamento

médico e resgate (16%).

Os acidentes de trânsito são o segundo maior responsável pelas mortes por

causas externas. Em 2002, segundo dados do Ministério da Saúde, 26,3% das

fatalidades foram causadas por acidentes de trânsito (CARVALHO et al., 2007).

Segundo o Ministério da Saúde (NETO, 2011), os acidentes de trânsito continuam

aumentando a cada ano no país. No ano de 2010, houve o maior número de mortes

(40.610) dos últimos 15 anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, os

pedestres representaram, em 2006, o maior percentual de mortes em acidentes de

trânsito (9.220 pedestres mortos, 27,4% do total) (DENATRAN, 2009).

De acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes de Trânsito do

Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN, 2009), em 2008, no Brasil, foram

registradas 1.861 vítimas fatais e 28.736 vítimas não fatais em acidentes de trânsito

envolvendo ciclistas. Estes acidentes decorrem principalmente da precariedade da

infraestrutura disponível.

Os dados ilustram o quadro insustentável dos efeitos do crescimento

desenfreado de veículos motorizados. Alternativas a esse modelo devem ser

aplicadas para evitar o colapso das cidades.

3.4 A TRANSIÇÃO PARA A MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

Banister1 (2000, citado por BANISTER et al., 2007) indica que objetivo geral

da estratégia de transporte sustentável em termos de mobilidade deve ser o de

permitir que a oferta de transporte seja mantida ou aumentada, mas ao mesmo

tempo reduzir o consumo de energia, em particular no que diz respeito à utilização

de recursos não renováveis. Isto significaria uma redução das emissões (incluindo

1 Banister, D, Stead, D, Steen, P, Akerman, J, Dreborg, K, Nijkamp, P and Schleicher-Tappeser, R. European Transport Policy and Sustainable Development, London, 2000.

25

CO2), melhorias na qualidade do ar, bem como a utilização de combustíveis

alternativos.

Outras dimensões de transporte sustentável incluem reduzir custos de

congestionamento, e os custos relativos a acidentes, ruído e consumo de espaço.

Um argumento mais forte de transporte sustentável exigiria tanto que a oferta de

transporte e o consumo de energia diminuam ao longo do tempo, através de uma

combinação de medidas de política e de inovação tecnológica.

Além disso, é importante avaliar a consistência das estratégias de transporte

sustentáveis com políticas que abordem outras dimensões do desenvolvimento

sustentável, incluindo o crescimento econômico sustentável, as questões de

distribuição e equidade, e as preocupações intergeracionais (BANISTER et al.,

2007).

Por causa dos prejuízos gerados pelo esquema de mobilidade focado no

transporte individual motorizado, é necessário pensar em métodos para desestimular

os meios de transporte não sustentáveis. Porém, as decisões para reverter essa

tendência que conduz a um sistema de mobilidade não sustentável são de difícil

implementação, sobretudo pelo alto custo político das medidas de restrição ou de

desincentivos que são pouco populares e não oferecem soluções no curto prazo.

As medidas que buscam afastar os usuários do automóvel são políticas

restritivas sobre estacionamento, pedágio urbano, rodízio de placas, tributação sobre

combustíveis e veículos, e planejamento de novas áreas construídas com restrições

de acesso ao automóvel. As medidas que procuram atrair os motoristas de veículos

individuais para meios de transporte sustentáveis e para manter os usuários já

existentes são a melhoria do sistema de transporte público, a melhoria da

infraestrutura para transporte não motorizado e os incentivos para usos alternativos

de transporte como a bicicleta (PARDO, 2011a).

A escolha pela mobilidade por bicicleta faz parte de um processo de

libertação dos dogmas de riqueza relacionados ao carro e dos estigmas de pobreza

vinculados à bicicleta. Optar pela bicicleta como transporte simboliza a escolha por

26

um estilo de vida focado na saúde e aptidão física; de pessoas preocupadas com o

desenvolvimento pessoal, compromissadas com o social, com a natureza e com as

gerações futuras (WEISSFLOG, 2009, apud XAVIER, 2011)2.

3.4.1 APolítica Nacional de Mobilidade Urbana

Ocorreu no Brasil um processo de construção de arcabouço legislativo e de

diretrizes de mobilidade sustentável que, se colocadas em prática de maneira

integrada (uma vez que medidas isoladas possuem pouca eficiência), poderão

proporcionar uma nova estruturação sustentável das políticas do setor de

transportes.

A aprovação da Lei nº 12.587, em 3 de janeiro de 2012, que instituiu as

diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, consiste em um importante

marco na gestão das políticas públicas nas cidades brasileiras. A lei sancionada visa

contribuir no enfrentamento do quadro critico dos sistemas de transporte, isto é, no

objetivo de instituir diretrizes e dotar os municípios de instrumentos para melhorar as

condições de mobilidade das pessoas nas cidades brasileiras.

A Lei propõe a integração das políticas de transporte com as de

desenvolvimento urbano, a melhoria do transporte coletivo, a racionalização do uso

dos motorizados individuais, e a valorização dos meios de transporte não

motorizados, demonstrando que o Brasil está em sintonia com as tendências

mundiais de incentivo à mobilidade urbana sustentável (GOMIDE et al., 2012).

Contudo, a sustentabilidade socioeconômica e ambiental das cidades, com a

necessária ampliação dos investimentos, redução dos congestionamentos e da

poluição do ar, e a melhoria da qualidade dos serviços públicos de transporte

dependem de mais do que uma lei. É necessário o engajamento político dos atores

2WEISSFLOG, U. Inmotionmar.com Contributions to Marketing and Communication on Cycling.Entrevista concedida a Giselle Xavier.

27

para atender às demandas de realização da mudança para melhores condições de

mobilidade.

Aqui se ressalta o importante papel que deverão ter as gestões municipais

para fazer uso adequado dos instrumentos da Política Nacional de Mobilidade

Urbana na elaboração de seus planos diretores, bem como o maior desafio de

colocar esses instrumentos na prática. Isto, por sua vez, está sujeito à ampliação da

cidadania, ao aprofundamento da democracia e, sobretudo, da capacitação do

Estado, em todas as suas esferas, para atender, direta ou indiretamente, as

necessidades sociais.

28

4 A BICICLETA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CIDADE

Os meios de transporte têm grande relevância para o desenvolvimento das

cidades. A mobilidade e o acesso aos meios de transporte são considerados

necessidades essenciais, pois geram impacto direto sobre o bem-estar das famílias

e à sua acessibilidade à educação, emprego, saúde e outros serviços. O desafio

presente é melhorar as condições de mobilidade para a população de forma que a

cidade possa sustentar o seu crescimento.O crescimento e o desenvolvimento se

produzem em áreas próximas a redes de transporte de alta qualidade porque estas

áreas se tornam mais acessíveis e atraentes.

Neste capítulo será ilustrado como a bicicleta pode contribuir para a

atividade econômica e também como um meio de transporte urbano sustentável.

4.1 A CONTRIBUIÇÃO DA BICICLETA PARA A ECONOMIA

À semelhança do automóvel, a bicicleta é uma mercadoria capaz de

mobilizar recursos econômicos na economia capitalista (cadeia de produção,

empregos) de forma a atingir resultados na mesma direção (a expansão da

mobilidade), porém sem a geração das externalidades negativas, e com a

contribuição para melhorar qualidade de vida das cidades.

O mercado mundial de automóveis e bicicletas oferece uma visão

interessante sobre a relação entre desenvolvimento internacional e meio ambiente

global. O Earth PolicyInstitute acompanha a produção mundial de bicicletas como

um indicador do meio ambiente e do estado da "economia ecológica" (BROWN,

2009).

AFIGURA 1 mostra duas tendências interessantes na produção de

automóveis e de bicicletas no mundoa partir da década de 1950. Por um lado, a

produção mundial de bicicletas aumentou dramaticamente no início dos anos 1970.

Depois de quase dobrar entre as décadas de 1950 e 1970, a produção mundial de

29

bicicletas cresceu de pouco mais de 20 milhões de unidades em 1970 para 130

milhões de unidades até 2007. Em segundo lugar, a produção de bicicletas tem

crescido muito mais rápido do que a de carros, superando-a por uma relação de

mais de 2 a 1 desde 1970.

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

2001

2004

2007

0

20

40

60

80

100

120

140

Bicicletas Automóveis

Ano

Milh

ões

de u

nida

des

FIGURA 1 - PRODUÇÃO MUNDIAL DE AUTOMÓVEIS E BICICLETAS, 1950 - 2007FONTE: BROWN, L.R. Plan B 4.0: Mobilizing to Save Civilization. New York: W.W. Norton & Company, 2009.

Os dados para 2012da Abraciclo mostram que o Brasil é o terceiro maior

produtor mundial de bicicletas com participação de 4%, atrás da Índia (10%) e a

China (80%) (ABRACICLO, 2011a). Em termos de consumo de bicicletas, o Brasil é

o quinto maior mercado, com participação de 4% que representa 5,3 milhões de

unidades (ABRACICLO, 2011b).

A seguir serão apresentados dois estudos que analisam a contribuição da

bicicleta e da infraestrutura associada para o crescimento econômico.

30

4.1.1 A economia da bicicleta no Reino Unido

O informe de Alexander Grous (2011) da London SchoolofEconomicsdiz que

o ciclismo no Reino Unido passou por um renascimento nos últimos anos, com um

número crescente de pessoas se locomovendo pelas ruas de bicicleta. Ele afirma

que fatores estruturais, econômicos, sociais e de saúde causaram uma transição na

expansão do mercado das bicicletas indicando que será uma tendência de longo

prazo. Os esforços do governo e as campanhas de grupos autônomos para afirmar o

ciclismo como alternativa viável de meio de transporte resultaram na crescente

participação da bicicleta. Houve um aumento de 28% nas vendas no Reino Unido de

2009 para 2010 e 208 milhões de viagens foram feitas a pedal no mesmo ano. Isso

se refletiu na adição de 1,3 milhão de novos ciclistas em 2010 dos quais 500.000

são ciclistas regulares. No mesmo ano 22 mil pessoas utilizam as 5 mil bicicletas do

sistema de empréstimo Barclays CycleHire em Londres.

Os fatores que contribuíram para este crescimento são: a expansão em

200% da rede cicloviária nacional para 19.000 km; o aumento de ciclovias em áreas

urbanas; maior preocupação da população em relação às questões ambientais;

considerações de saúde; o sucesso de ciclistas britânicos em competições de elite;

e o aumento de eventos ciclísticos organizados.

O informe de Grous (2011)mostra que o ciclismo contribui diretamente para

a economia com a manufatura de bicicletas e acessórios, com os serviços de venda

e manutenção e com o desenvolvimento de infraestrutura para o ciclismo. O setor se

consolida como um importante gerador de empregos na produção e prestação de

serviços, caracterizado pelo treinamento especializado dos trabalhadores, que

chegam a realizar uma variedade de serviços entre manutenção, reparo e

customização de bicicletas. A contribuição do emprego também se manifesta na

forma de tributos e contribuições à previdência. A cadeia de produção é geradora de

demanda por matéria prima e produtos intermediários.

31

O crescimento do ciclismo teve efeitos econômicos e sociais benéficos para

o Reino Unido. Em 2010 a sua contribuição bruta para a economia foi de três bilhões

de libras esterlinas. Segundo o estudo, o produto anual por ciclista alcançou 230

libras. Se a tendência de crescimento continuar, a adição de um milhão de ciclistas

regulares poderia contribuir com 141 milhões de libras à economia do Reino Unido

até 2013, enquanto melhoraria a saúde dos ciclistas e reduziria o absenteísmo,

oferecendo benefícios econômicos ainda maiores.

Grous (2011) demonstra que a contribuição do uso da bicicleta é significativa

para a economia em termos de vendas e ao longo da cadeia produtiva. Num período

econômico desafiador para o Reino Unido, as perspectivas para a indústria são

positivas, com indícios de que o setor está em crescimento sustentável. Embora a

desaceleração econômica provavelmente tenha contribuído para o ressurgimento da

bicicleta, a influência de outros fatores é observada, desde a preocupação com o

meio ambiente e a saúde. Ao mesmo tempo em que o sucesso de ciclistas britânicos

em competições internacionais traz maior visibilidade, o apoio público e privado aos

projetos de infraestrutura contribui para a tendência positiva do ciclismo no Reino

Unido.

Grous (2011) conclui que para aproveitar o impulso desse crescimento, os

esforços para normalizar o uso da bicicleta devem ser intensificados, abordando

questões de segurança através de investimentos em melhor acesso e infraestrutura

para bicicletas. O setor privado também tem uma oportunidade de atuação,

apoiando iniciativas de passeios públicos em massa e programas de aluguel de

bicicletas e incentivando seus funcionários a pedalarem.

4.1.2 A infraestrutura para bicicletas e o potencial de geração de empregos

A infraestrutura para bicicletas e pedestres como calçadas, ciclovias e trilhas

pode ser utilizada para a locomoção, lazer e treino. Esse tipo de infraestrutura cria

32

benefícios para os usuários assim como para a comunidade. Alguns dos benefícios

são econômicos, como maiores receitas e emprego nos negócios locais, e outros

são não econômicos como a redução do congestionamento, melhor qualidade do ar,

percursos mais seguros e estilos de vida mais saudáveis.

O estudo de Heidi Garrett-Peltier(2011) estima os impactos na geração de

empregos que resultam do planejamento, construção e manutenção de

infraestrutura para ciclistas e pedestres. Foram utilizados os dados dos

departamentos de transporte e obras públicas de 11 cidades dos Estados Unidos da

América. Analisando os custos de 58 projetos de infraestrutura viária, por meio de

um modelo insumo-produto, chegou-se ao resultado de geração direta, indireta e

induzida de emprego.

Os resultados mostram que projetos de infraestrutura para bicicletas criam

mais empregos para um nível dado de gastos: Para cada milhão de dólares, projetos

de ciclismo criaram um total de 11,4 empregos. Projetos somente para pedestres e

trilhas multi modais criaram uma média de 10 empregos a cada milhão de dólares

gasto. Os projetos de vias exclusivas para veículos automotivos foram os que menos

empregos geraram, totalizando 7,8 empregos por milhão de dólares.

Para sustentar sua análise, Garret-Peltier (2011) afirma que para os setores

trabalho intensivos, como a construção civil e a engenharia, a maior parte dos

recursos é gasto em salários e remunerações. Enquanto nas indústrias capital

intensivas, como a produção de cimento, menos dinheiro é gasto em salários

relativamente ao montante gasto em materiais e equipamentos. A razão entre os

insumos trabalho e capital dos projetos é apontada como a principal causa da

diferença na geração de emprego entre os tipos de infraestrutura. Os projetos

voltados exclusivamente a pedestres e ciclistas requerem mais gastos na

contratação de engenheiros e construtores, setores trabalho intensivos.

A implementação de uma ciclovia, que requer planejamento e desenho

específicos, irá gerar mais empregos, dado o mesmo nível de recursos, que um

projeto de autopista, que requer uma proporção maior de equipamentos de

33

construção mecanizados e menos planejamento e desenho relativamente. A

engenharia e os serviços relacionados são itens trabalho intensivos. Assim, projetos

cujos orçamentos têm maior percentual desses serviços criarão mais empregos.

Os resultados sugerem que ao se depararem com a decisão entre incluir ou

não facilidades para pedestres e bicicletas nos projetos de infraestrutura de trânsito,

os técnicos de planejamento devem fazê-lo, não só pelos benefícios ambientais, de

segurança e de saúde gerados pela elevação dos níveis de ciclismo, mas também

porque esses projetos podem criar mais empregos locais.

4.2 A BICICLETA COMO MODAL ALTERNATIVO DE TRANSPORTE URBANO

Giselle Xavier afirma que a bicicleta é parte da solução para as dificuldades

da mobilidade urbana. Seu potencial reside no fato de ela ser acessível para a maior

parte da população, sendo assim capaz de promover maior igualdade social no uso

do espaço público. Seu valor para a mobilidade está demonstrado na eficiência com

que se realizam deslocamentos de pequenas e médias distâncias, e principalmente,

na integração com o transporte público coletivo em países como Holanda, Alemanha

e Dinamarca. A bicicleta não irá resolver todos os problemas do trânsito na cidade,

mas para solucionar problemas localizados, ela é um elemento chave (XAVIER et

al., 2009).

Muitas cidades, inclusive no Brasil, já apresentam algumas iniciativas de

estímulo ao uso da bicicleta. No entanto elas são isoladas e não fazem parte de um

plano estratégico de mobilidade urbana em bicicleta. A seguir serão apresentados

três casos de sucesso em que se demonstra o comprometimento político e o

pensamento sistêmico que contribuíram para melhorar as condições para o ciclismo

e aumentar a participação modal da bicicleta no transporte urbano. O primeiro é um

resgate da história de Amsterdã, que logrou recuperar a cultura da bicicleta mesmo

com o advento do automóvel. O segundo é uma descrição da CicloRuta de Bogotá,

34

uma solução urbanística criada para recuperar o espaço público urbano e incentivar

o uso da bicicleta. Finalmente, se descreverá o programa de empréstimo de

bicicletas de várias cidades que servem como um sistema de transporte público em

bicicleta.

4.2.1 Amsterdã, a cidade dos ciclistas

A Holanda tem uma tradição de altos níveis de uso de bicicletas e uma longa

história de políticas que promovem o ciclismo. Segundo Van Goeverden e

Godefrooij(2011) na Holanda, assim comoem muitos outros países, o uso de

bicicletas aumentou continuamente na primeira metade do século 20 e atingiu um

máximo em cerca de 1950. Então, o uso de bicicletas começou a declinar devido à

concorrência crescente do carro. Em alguns países, como a Inglaterra, a bicicleta

quase desapareceu, enquanto que em outros países, como a Holanda ea

Dinamarca, a bicicleta sobreviveu como um modo frequentemente usado.

A FIGURA 2 mostra a evolução do ciclismo na Holanda desde 1950. Depois

de 1950, o uso da bicicleta caiu de cerca de 5 km por pessoa por dia para menos de

2 km em meados dos anos 1970. Em seguida, ele voltou a aumentar para 2,5 km, e

este nível foi mantido até os dias atuais.

35

FIGURA 2 - EVOLUÇÃO DOS QUILÔMETROS PEDALADOS POR PESSOA, POR DIA, NA HOLANDA, 1950-2009FONTE: VAN GOEVERDEN, K.; GODEFROOIJ, T. The Dutch Reference Study. Delft: Delft Universityof Technology, 2011

Segundo Van Goeverden e Godefrooij(2011) a década de 1970 marcou uma

mudança de paradigma no pensamento holandês sobre o tráfego. Considerando que

em 1950 e 1960 as políticas de trânsito e transporte foram caracterizadas por

tentativas diretas de se abrir espaço para a crescente motorização, nos anos 1970as

pessoas começaram a ver as desvantagens de motorização em massa. O número

de vítimas mortais em estradas atingiu um pico em 1972 e levantou grande

insatisfação pública. A fundação em 1973 do grupo “Stop de Kindermoord” (Pare o

assassinato de crianças) foi um protesto contra o elevado número de acidentes

rodoviários com crianças mais jovens ea prioridade geralmente dada ao tráfego

motorizado.

Além disso, o relatório do Clube de Roma sobre os limites do crescimento

em 1972 teve um grande impacto sobre o debate público na Holanda, e provocou

um pensamento mais crítico sobre os aspectos ambientais da motorização em

curso. Ao mesmo tempo, a crise do petróleo de 1973 demonstrou a vulnerabilidade

do transporte motorizado(VAN GOEVERDEN; GODEFROOIJ, 2011).

36

Van Goeverden e Godefrooij(2011) relatam que na década de 1990 o

governo central iniciou um grande número de projetos e estudos no âmbito dos

"FietsMasterplan" (Plano Diretor de Bicicleta). Pesquisas e políticas ativas

continuaram no novo século. Os autores afirmam que novos conceitos foram

desenvolvidos com objetivo de humanizar o tráfego e promover modos de transporte

ativo, como o ciclismo, que incluem "ruas de bicicletas", "espaço compartilhado",

"dirigir devagar vai mais rápido" e "vias expressas de bicicletas". Estes conceitos não

transformaram as cidades holandesas de um dia para o outro, mas ajudaram a

torná-las mais amigáveis às bicicletas e, assim, sustentar os níveis de ciclismo

existentes. A promoção da bicicleta tornou-se uma questão permanente de política,

e as pesquisas sobre a eficácia das medidas para melhorar as condições de ciclismo

começaramtambém.

Com uma população de 780.000 pessoas, Amsterdã é a maior cidade da

Holanda. A região da grande Amsterdã tem 2,3 milhões de habitantes e está

situadano extremo norte da Randstad, da Holanda, a maior aglomeração urbana. A

administração da cidade de Amsterdã estima que havia 881 mil bicicletas em

Amsterdã, em 2006, cerca de 1,1 bicicletas por habitante (AMSTERDAM).

Amsterdã tem uma longa tradição de ciclismo. Em 1955, até 75% de todas

as viagens em Amsterdã foram feitas de bicicleta. De 1955 a 1970, a divisão modal

bicicleta caiu para apenas 25% de todas as viagens (LANGENBERG, 2000).

Segundo o autor, os níveis em declínio de ciclismoforam acompanhados pelo

aumento crescente da suburbanização e da possee uso do carro.

Pucher (2009) relata que desde os anos 1960 e início de 1970, os

defensores da bicicleta e ambientalistas promoveram o uso da bicicleta na cidade.

Suas principais preocupações eram a poluição atmosférica e sonora, o

congestionamento de trânsito, e as condições de tráfego inseguro causadaspelo uso

de automóveis na cidade. Na época, havia duas soluções concorrentes para os

problemas de tráfego de Amsterdã: adaptar os padrões de desenvolvimento e

estrutura da cidade para o automóvel ou limitando o acesso de carro para o centro

37

da cidade e promover a caminhada, o ciclismo e o transporte público. O conselho da

cidade decidiu promover modos alternativos de transporte ao invés de ampliar

estradas e construir garagens de estacionamento no centro da cidade.

Pucher (2009) afirma que a topografia e os padrões de desenvolvimento

espacial de Amsterdã são ideais para o ciclismo. A cidade é predominantemente

plana e densamente urbanizada. Bairros de uso misto mantêm as distâncias de

viagem relativamente curtas. Além disso, muitas pontes e atalhos para

bicicletasfacilitam o deslocamentoem bicicleta no centro da cidade. Em comparação,

o uso do carro é difícil na área central. Há poucas vagas de estacionamento de

carros, muitas ruas sem saída, e as ruas de sentido únicodesencorajam os

deslocamentos de carro.

Modos não motorizados de transporte estão no centro da política de

transportes de Amsterdã. Mesmo que o objetivo principal da política de transportes

da cidade seja aumentar a acessibilidade de todos os modais, as preocupações com

a qualidade de vida e a poluição do ar dão à bicicleta um papel especial no

planejamento de transporte.

A segurança no trânsito para os ciclistas aumentou nas ultimas décadas.

Segundo PUCHER e BUEHLER (2007) em 2005 houve 40% menos lesões graves e

mortes em acidentes de trânsito que durante os anos 1980. As leis de trânsito

holandesas protegemos jovens ciclistas e colocam a responsabilidade por

umacidente no motorista do carro. A única exceção é quando os ciclistas

deliberadamente desobedecem às leis de trânsito. Semelhantemente às da

Alemanha, as leis de trânsito holandesas requerem que os motoristastenham um

cuidado especial quando se deparam com as crianças e osidosos.

Dados os níveis elevados de propriedadede bicicleta, as políticas restritivas

sobre o uso do carro e padrões de desenvolvimento urbano de uso misto e

compacto, em 2003, 57% dos habitantes de Amsterdã fez uso diário de suas

bicicletas (CYCLING, 2012).

38

As bicicletas moldaram a imagem de Amsterdã, a tal ponto que, para muitas

pessoas ao redor do mundo, Amsterdã é quase sinônimo de ciclismo. Em 2008, o

ciclismo respondeu por 38% de todas as viagens feitas em veículos, uma

participação modal inédita em outras cidades europeias de dimensão comparável

(CYCLING).

4.2.2 A CicloRuta de Bogotá

A cidade de Bogotá procurou uma maneira de abordar a emissão de ruído e

a poluição ambiental causada pelo aumento do tráfego e congestionamento. O

poder público reconheceu que a qualidade de vida de seus moradores se deteriora

ao passo que a intensificação do tráfego de automóveis continua a causar o

aumento nos tempos de viagem e uma cidade mais barulhenta e mais poluída.

A partir de 1974, a cidade de Bogotá promoveu a recuperação do espaço

publico urbano através do fechamento de 120 km de avenidas aos domingos e

feriados para circulação exclusiva de pedestres e ciclistas. No ano de 2000 o

prefeito Enrique Peñalosa inaugurou uma rede de novas ciclovias integrando as

rotas com o sistema de transporte público (PEÑALOSA, 2002). O projeto começou a

ser integrante do plano de desenvolvimento econômico e de mobilidade social. O

projeto surgiu a partir do desenvolvimento do Plano Diretor para CicloRuta que foi

conduzido por diversas entidades do distrito, considerando a sua interação com

outros meios de transporte.

Hoje Bogotá conta com a rede mais extensa de vias exclusivas para

bicicletas da América Latina, batizada de CicloRuta, com uma extensão de 344 km e

que se conecta às principais rotas de seu sistema de ônibus expresso BRT

TransMilenio, parques e centros comunitários. O sistema é uma prática

recomendada, não só porque reduziu a dependência do carro e as emissões

39

associadas a esse padrão de mobilidade, mas também mudou o comportamento das

pessoas e sua relação com a cidade (PARDO, 2011b).

O sistema é bem sucedido porque o seu desenho levou em consideração a

topografia da cidade - os recursos artificiais e naturais, tais como infraestruturas de

serviços essenciais, morros, rios e parques - para criar o melhor fluxo e função

possíveis. O sistema é dividido em três seções. A rede principal une de forma direta

os polos de atração, como os centros de emprego e educação, com as áreas

residenciais mais densas. A rede secundária é a alimentadora da rede principal.

Cumpre a função de receber os fluxos de ciclistas dos centros habitacionais e

centros de importância pública e distribuí-los para a rede principal. A rede

complementar está constituída por trechos de ciclovias que entrelaçam o sistema,

distribuindo fluxos de ciclistas por áreas especificas. Dessa rede fazem parte a rede

ambiental e recreativa, as redes destinadas aos deslocamentos dentro dos bairros e

ao sistema de parques lineares (CAMPO, 2009).

O sistema CicloRuta foi construído pela prefeitura da cidade com o

orçamento de investimento público. Segundo Susa (2011) os estudos e o desenho

inicial custaram 250 mil dólares, e a construção da rede custaram 50 milhões de

dólares. O investimento direto por quilômetro construído chega a 147 mil dólares. A

cada seis meses realiza-se a manutenção das vias principalmente nas guias

rebaixadas a um custo de US$ 0.60/m2, e a cada dois anos se reaplica uma pintura

térmica a um custo de US$32.5/m.

Desde a inauguração da CicloRuta em 2000, a participação modal da

bicicleta no total de viagens aumentou de 0,2% para 4% em 2007. O uso diário de

bicicletas na CicloRuta aumentou de 22.700 a 83.500 ciclistas, o que significa um

aumento de 268% em 7 anos. A CicloRuta desempenha um papel importante para a

população de menor renda da cidade: 23% das viagens feitas pelo grupo de menor

renda na cidade são de pedestres e bicicletas. O uso da CicloRuta em substituição

ao uso do automóvel ajudou a melhorar a qualidade do ar. Foi calculada uma

redução de 36,6 mil toneladas de CO2 em oito anos (BOGOTÁ CICLORUTA, 2012).

40

A segurança no trânsito é um dos fatores determinantes que os ciclistas

mencionam em pesquisas. Pela CicloRuta eles podem deslocar-se com menor risco

de acidentes pois os caminhos estão separados das vias dos veículos motorizados.

Susa (2011) aponta que em Bogotá o numero de mortes relacionadas com bicicletas

caiu de 115 em 2001 para 77 em 2004; isso ocorreu apesar do aumento de viagens

feitas pela CicloRuta. Além disso, o numero de acidentes com ciclistas diminuiu

8,8% (2.754 em 2001 para 2.512 em 2004), apesar de um aumento de 38% no uso

da bicicleta.

A integração da bicicleta com o transporte público representa benefícios

para os usuários, e também representa um potencial para incrementar o número de

usuários do transporte público. Ao facilitar o estacionamento de bicicleta nas

estações, os beneficiários da integração estariam dispostos a percorrer uma

distância maior para utilizar o sistema. Diversas experiências comprovaram que a

bicicleta é um meio de transporte que não compete diretamente com o sistema

público, pois com a bicicleta se realizam distâncias mais curtas. Uma boa integração

dos dois sistemas permite que a bicicleta aja como um alimentador do sistema

público, resolvendo a questão do primeiro e último trecho.

Em Bogotá isso se demonstrou através de uma pesquisa de opinião

realizado pela Câmara de Comercio de Bogotá entre os usuários do transporte

público. A Pesquisa de Qualidade no Transporte Público perguntou se os usuários

utilizariam a bicicleta para concluir sua viagem se existissem estacionamentos para

bicicletas nas estações; 50% dos usuários responderam que o fariam. Os resultados

revelam um potencial para promover o uso complementar da bicicleta, que permitiria

uma redução do tempo de deslocamento dos usuários e eventualmente uma

redução de custos de alimentação do sistema de transporte integrado (CAMPO,

2009).

Campo (2009) aponta as principais características que fizeram do projeto

CicloRuta uma opção de transporte de sucesso:

41

A vontade política do prefeito Enrique Peñalosa permitiu recuperar o espaço

público que vinha sendo apropriado pelos automóveis em favor dos pedestres e

ciclistas;

A rede de ciclovias fisicamente apartada das vias para automóveis oferece mais

segurança para os usuários.

As vias foram planejadas ligando as rotas de origem-destino mais utilizadas,

incentivando as pessoas a utilizarem a bicicleta em seus deslocamentos diários;

As intersecções estão sinalizadas e dão preferência ao ciclista, foram construídas

pontes para atravessar grandes avenidas mantendo a continuidade do fluxo;

A visão sistêmica do projeto de transporte integrou a bicicleta com outros modos

de transporte;

A instalação de estacionamento de bicicletas em locais públicos e privados,

especialmente em locais de troca de modal de transporte;

As campanhas educativas para ciclistas, pedestres e motoristas ajudaram a

sensibilizar a população para a segurança;

Os espaços ao longo da CicloRuta se tornaram atrativos para novos

empreendimentos, como serviços de estacionamento de bicicletas e lojas de

peças de reposição e de vestuário.

4.2.3 Os sistemas de transporte público em bicicleta

O sistema de compartilhamento de bicicletas evoluiu desde o primeiro

programa lançado na Holanda a meados dos anos 1960. Até maio de 2011 havia

136 programas de compartilhamento em 165 cidades ao redor do mundo, com

237.000 bicicletas nas ruas(SHAHEEN e GUZMAN, 2011). Na América, esse

sistema está presente no Canadá, México, Estados Unidos de América, Argentina,

Brasil e Chile. A Ásia, que representa o mercado onde o sistema mais cresce, tem

programas de compartilhamento na China, Coreia do Sul e Taiwan.

42

A primeira geração do programa de compartilhamento, as bicicletas brancas,

começou em Amsterdã, em 1965. Cinquenta bicicletas pintadas de branco foram

colocadas à disposição sem custo para o usuário no centro da cidade. Podia-se

encontrar uma bicicleta, pedalar até o seu destino, e deixá-la para o próximo

usuário. Devido ao roubo ou estrago sofrido pelas bicicletas, a iniciativa falhou logo

após o seu lançamento. Apesar da experiência em Amsterdã, o conceito de

compartilhamento de bicicletas estava inaugurado.

Os problemas com a primeira geração levaram a cidade de Copenhagen a

lançar um modo de compartilhamento melhorado em 1995. Isso deu início à

segunda geração do programa chamado de sistema por depósito de moeda. Os

componentes do sistema eram as bicicletas com cor e desenho diferenciado, os

terminais de estacionamento onde as bicicletas podem ser travadas, alugadas e

devolvidas, e os depósitos para destravar as bicicletas.

Desta forma a segunda geração do sistema é mais confiável, pois os

usuários têm um local definido e apropriado para acessar as bicicletas disponíveis.

Porém, problemas de danos e roubos ainda aparecem devido ao anonimato dos

usuários.

Construída a partir da experiência, a terceira geração está ganhando

popularidade ao incorporar tecnologias de informação avançadas para o

empréstimo, devolução e rastreio de bicicletas. Os componentes principais

anteriores ganham melhorias que contribuem com a manutenção do sistema.

As bicicletas e quiosques dos programas exibem um espaço comercial para

propaganda. Os terminais podem ser fixos, com a infraestrutura de empréstimo e

estacionamento em locais pré-determinados, ou flexíveis, quando as bicicletas são

presas ao mobiliário urbano e o usuário envia a informação do local para o sistema e

depois recebe um código para destravar sua próxima bicicleta. Telefones celulares,

cartões magnéticos e quiosques inteligentes permitem que os usuários tenham

acesso ao sistema de forma prática e rápida. A maioria dos programas de

empréstimo de bicicletas no mundo é de terceira geração.

43

Paul DeMaio (2009) aponta que sistema mais conhecido é o Vélib de Paris.

Até o momento, opera com 20.600 bicicletas e 1.451 terminais que estão disponíveis

a cada 300 metros por todo o centro da cidade. Em seu primeiro ano de operação,

foram realizadas 20 milhões de viagens. O mesmo autor aponta que o maior

programa de empréstimo do mundo funciona em Hangzhou, China, e opera com

61.000 bicicletas e 2.400 terminais.

Atualmente já existe uma quarta geração do sistema que inclui todos os

componentes da terceira geração com o diferencial de que está ligado ao sistema de

transporte público. Os terminais de empréstimo de bicicleta estão localizados perto

de estações de trânsito, os horários de partida e chegada de ônibus e trens são

coordenados e um cartão único de pagamento garante o acesso a todas as opções

disponíveis.

As tecnologias limpas são um elemento chave do desenvolvimento da quarta

geração do programa. O sistema BIXI no Canadá conta com terminais que operam

com energia solar e podem ser realocados quando padrões de uso diferentes forem

observados. Um incentivo à distribuição sustentável das bicicletas pela rede de

terminais são os descontos na tarifa ou crédito de tempo de uso adicional para

ciclistas que devolvem as bicicletas aos terminais menos usados.

A evolução das tecnologias de compartilhamento de bicicletas e os modelos

de negócios levaram a uma gama de opções para a implantação do programa.

Segundo Shaheen e Guzman (2011) na Cidade do México, uma das cidades mais

congestionadas do mundo, o sistema visa auxiliar no alívio do trânsito. Apesar dos

baixos níveis históricos de ciclismo, o programa alcançou sua capacidade de 30.000

membros e mantém uma lista de espera.

As autoras destacam que Hangzhou, uma cidade com altos níveis históricos

de uso de bicicletas, lançou o seu programa como um alimentador para o transporte

público ao colocar os terminais de aluguel perto das estações do serviço. O

programa já foi expandido para suprir a demanda.

44

As autoras apontam que Montreal montou o seu esquema BIXI como uma

estratégia a complementar o transporte de ônibus e sobre trilhos, porque a bicicleta

oferece uma solução de baixo impacto para a questão do primeiro ou último trecho.

Ao conectar os modais de transporte existentes, estimula-se os indivíduos a usarem

mais de um modal. Os usuários do BIXI completaram 1,1 milhão de viagens no

primeiro ano de funcionamento e 3,3 milhões no segundo.

Os exemplos sugerem que o programa de compartilhamento de bicicletas

pode ser adaptado a circunstâncias e necessidades diferentes e logra ter sucesso.

O sistema de compartilhamento de bicicletas oferece benefícios para os

usuários individuais e para a sociedade, mas o estudo dos ganhos sociais ainda é

limitado. Dados iniciais sugerem que o programa tem o potencial de reduzir as

emissões de gases de efeito estufa devido à transferência de modal, principalmente

quando o deslocamento em bicicleta substituir viagens feitas em automóvel.

Segundo Pardo et al. (2010) O Velo’v de Lyon reduziu a participação modal do

automóvel em sete pontos percentuais desde 2005. Com o lançamento do Vélib, o

uso da bicicleta em Paris cresceu de 1% em 2001 a 2.5% em 2007. O mesmo autor

aponta para uma pesquisa entre usuários do SmartBike em Washington D.C. que

revelou que 16% das viagens realizadas em suas bicicletas teriam sido realizadas

de carro. Apesar de serem escassos, os dados disponíveis sugerem que o

empréstimo de bicicletas tem tendências comportamentais, contribuindo para o

crescimento da população ciclista. O mesmo autor afirma que no primeiro ano de

funcionamento do Velo’v 96% dos usuários não haviam pedalado antes no centro de

Lyon.

Atransferência de modalocorre à medida em que as viagens em bicicleta

substituem deslocamentos feitos de outra forma anteriormente à implementação de

um sistema de empréstimo de bicicletas. Os resultados para três cidades podem ser

resumidos na Tabela 1. Observa-se que o modal que mais foi impactado foi o do

transporte urbano, seguido pelas viagens realizadas a pé. O automóvel sofreu um

45

impacto significativo, sendo substituído pela bicicleta em 10% das viagens

realizadas em Barcelona, 8% das viagens em Paris e 7% das viagens em Lyon.

TABELA 1 - TRANSFERÊNCIA DE MODAL POR IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE EMPRÉSTIMO DE BICICLETASModal substituído Vélib (Paris) Bicing (Barcelona) Velo’v (Lyon)Transporte público 65% 51% 50%Automóvel /motocicleta 8% 10% 7%Táxi   5%Caminhada 20% 26% 37%Viagem não realizada 2%Não definido 2% 13%

FONTE: PARDO, C. et al. (2010)

DeMaio (2009) ressalta que os programas de transporte público em bicicleta

devem superar vários desafios para garantir o seu crescimento. Apesar dos avanços

tecnológicos, um dos maiores problemas são os roubos ou danos de componentes.

Outra questão importante é a distribuição de bicicletas entre os terminais segundo

os padrões de demanda. Em Montreal caminhões equipados com computadores

conectados aos terminais permitem aos funcionários remanejar antecipadamente as

bicicletas segundo informações de oferta e demanda em tempo real. A

regulamentação sobre o uso de capacetes também influencia o sucesso do

programa. Muitos críticos apontam a lei que obriga o uso do capacete para todos os

ciclistas na Austrália como uma causa da baixa adesão ao sistema em Melbourne.

DeMaio (2009) afirma que a oferta da infraestrutura para bicicletas, incluindo

vias, sinalização e estacionamento é crucial para a ampliação da população ciclista.

O autor aponta que uma pesquisa concluiu que cada milha adicional de ciclovia por

milha quadrada conduz ao aumento em um ponto percentual de viajantes habituais

em bicicleta. O estudo não prova uma relação de causa e efeito, mas evidencia o

fato que os ciclistas usarão as vias quando forem oferecidas.

O programa de bicicletas públicas de Hangzhou oferece algumas reflexões

importantes sobre como se comportam os usuários. Segundo Shaheen e Guzman

46

(2011) uma pesquisa de março de 2010 entre usuários membros e não membros

revelou que o esquema atrai usuários que utilizam simultaneamente outros meios de

transporte como ônibus e automóveis. Além disso, os usuários estão incorporando o

empréstimo de bicicletas em suas viagens diárias. A pesquisa também aponta que

usuários cujas residências contam com um automóvel também estão utilizando o

serviço. Os usuários membros apresentaram uma taxa de posse de automóvel maior

(22%) do que os não membros (11%). Isso sugere que o fato de possuir um

automóvel não reduz a probabilidade de usar o empréstimo.

A demanda crescente por mobilidade sustentável levou as cidades ao redor

do mundo a adotarem o compartilhamento de bicicletas como uma opção de

transporte público. Até a primavera de 2011 havia 136 programas em 165 cidades

do mundo, cada uma aprendendo das experiências de outras cidades para entender

melhor os procedimentos de implementação e operação. Estudos contínuos são

necessários principalmente sobre os benefícios nas áreas social e ambiental, os

modelos de negócio sustentáveis, a infraestrutura de suporte e a segurança. Para

promover o êxito e o crescimento do sistema, as cidades devem desenvolver uma

estratégia que inclui campanhas de segurança no trânsito, opções de transporte

público conectadas com políticas a favor do ciclismo. Essa estratégia também

estimula o poder público a construir infraestrutura de suporte como ciclovias e

políticas de acessibilidade no trânsito.

47

5 CONCLUSÃO

As teorias clássicas de crescimento foram idealizadas num momento em que

não se imaginava que o mundo pudesse apresentar limites ao crescimento oriundos

da esfera dos recursos naturais. O atual padrão de consumo de energia e de

recursos naturais já é insustentável na forma atual e a perspectiva de expansão

desse estilo de vida é inviável.

Nos dias de hoje, a sustentabilidade do crescimento econômico clássico é

questionada por correntes de pensamento que pregam novos paradigmas de

crescimento e desenvolvimento e assim se abrem as discussões sobre novas

formas de promover o desenvolvimento sem comprometer o bem estar das gerações

futuras.

Importante mercadoria da economia capitalista, a cadeia automotiva é

responsável por um pedaço significativo da produção industrial e por diversos

enlaces setoriais que repercutem inclusive na capacidade de financiamento dos

Estados nacionais via tributação.

Essa dependência do automóvel é ao mesmo tempo econômica e social.

Como saída individualista para a precariedade dos serviços prestados em termos de

transporte público e como reflexo das iniciativas de promoção ao uso do automóvel

que contam inclusive com estímulos por parte do governo o fato é que a frota de

veículos não para de crescer. Nos últimos dez anos a frota de veículos no Brasil

mais do que dobrou.

Este trabalho procurou evidenciar os principais danos à sociedade gerados

pelo uso intensivo do automóvel como meio de transporte urbano. Ele é o veículo

que mais contribui para o aumento de gases de efeito estufa quando comparado a

outros meios de transporte urbano como o ônibus e o metrô.É o veículo que mais

consome os recursos energéticos utilizados no transporte. Além disso, é inegável a

sua responsabilidade no quadro alarmante das vítimas fatais em acidentes de

trânsito.

48

Os dados deixam claro que este modelo de mobilidade já alcançou um

estágio insustentável e que novas alternativas de transporte devem ser estimuladas

para evitar o colapso das cidades.

O Brasil já iniciou o trabalho de moldar o ambiente legal para que os

formadores de política pública encarem os desafios de melhorar as condições de

vida e mobilidade das pessoas nos centros urbanos e permitir o desenvolvimento

sustentável das cidades por meio de medidas que logrem inverter as prioridades de

uso do espaço e de escolha modal.

A bicicleta se apresenta como parte da solução para atender às demandas

por mobilidade e transporte nas cidades. Além de cumprir um papel importante como

mercadoria que contribui para o crescimento econômico, ela tem um grande

potencial de servir de suporte como meio de transporte de massa sustentável.

Algumas cidades ao redor do mundo já tomaram algumas medidas para incentivar o

uso da bicicleta, adotando medidas que transformam a cidade a favor das pessoas.

Nesses casos têm alcançado resultados muito positivos, tanto do ponto de vista

econômico, com aporte à geração de empregos, quanto do ponto de vista da

mobilidade, na transferência de modal para meios de transporte mais sustentáveis.

Para os planejadores no Brasil está colocado o desafio de reunir os

especialistas na área de bicicletas e os grupos de ciclistas urbanos para conseguir

compreender as suas necessidades reais e aplicá-las na tomada de decisão. Deve

ser feito o uso das novas diretrizes para a mobilidade urbana e conseguir prover as

cidades brasileiras de infraestrutura que forneça mobilidade e segurança aos

ciclistas.

49

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