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TECTÔNICA PALEO-MESOZÓICA E SUAS IMPLICAÇÕES GEOLÓGICO-
GEOMORFOLÓGICAS NAS PAISAGENS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO
RIO MULATO PIAUÍ/BRASIL
Tectonic Paleo-Mesozoic and implications geological-geomorphological in
landscapes of river basin Mulato Piauí / Brasil
Marco Aurélio da Silva Lira Filho¹
Iracilde Maria de Moura Fé Lima²
¹Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI
²Universidade Federal do Piauí – UFPI, [email protected]
RESUMO
O presente artigo é um estudo de caso e tem por objetivo geral caracterizar os aspectos geológico-geomorfológicos
decorrentes do tectonismo paleo-mesozóico nas paisagens da Bacia Hidrográfica do Rio Mulato, que é uma sub-bacia
da bacia hidrográfica do rio Parnaíba, sendo inserida no grupo das bacias hidrográficas difusas localizadas na região do
médio Parnaíba piauiense. Acerca dos procedimentos e das técnicas, estas se deram em pesquisa bibliográfica, pesquisa
de campo e confecção do mapeamento cartográfico desenvolvido através da aplicação de técnicas de geoprocessamento
por meio de SIG. Como resultados têm se que as características geológico-geomorfológicas das paisagens da Bacia
hidrográfica do rio Mulato estão condicionadas à influência das grandes falhas e fraturamentos locais associados à zona de influência das falhas geológicas normais denominadas de São Francisco e do Descanso, que permitiram a existência
de fortes controles estruturais geológicos e uma diversa fisionomia de paisagens. Portanto, compreender as
características e dinâmicas das paisagens da bacia hidrográfica dó rio Mulato possibilita um planejamento mais eficaz
das formas de uso e ocupação do território por meio de ações e estratégias que ordenem o espaço geográfico e
promovam uma sustentabilidade dos atributos dos sistemas ambientais que compõem a paisagem.
Palavras chaves: Geologia, Geomorfologia, Tectônica, Bacia Hidrográfica, Paisagem.
ABSTRACT
This article is a case study and has the objective to characterize the geological and geomorphological aspects arising
from the Paleo-Mesozoic tectonics in the landscapes of Mulato River Basin, which is a sub-basin of the Parnaíba River
basin, being inserted in group of diffuse catchments located in the middle piauiense Parnaíba region. About procedures
and techniques, these were developed in literature, field research and production of cartographic mapping developed
through the application of GIS techniques using GIS. The results have been that the geological and geomorphological characteristics of the landscapes of the Mulato River catchment are subject to the influence of the major faults and
fractures associated with local influence of normal faulting named San Francisco and the rest area, which allowed the
existence of strong geological and structural controls a diverse physiognomy landscapes. Therefore, understanding the
characteristics and dynamics of the landscapes of the river basin Mulato enables more effective planning of ways to use
and occupation of the territory by means of actions and strategies ordering the geographical space and promote the
sustainability of the attributes of environmental systems that make up the landscape.
Keywords: Geology, Geomorphology, Tectonics, Watershed, Landscape.
1.INTRODUÇÃO
Este trabalho discorre sobre os componentes naturais que dizem respeito às características geológico-
geomorfológicas e sua dinâmica decorrente dos processos tecnosedimentares desenvolvidos durante as eras paleozóica e
mesozóica. Para tal finalidade fez se uso de procedimentos e técnicas que correspondem à revisão bibliográfica e uso de
técnicas de geoprocessamento com a utilização de sistemas de informação geográfica.
O rio Mulato e um conjunto de outros canais fluviais formam uma sub-bacia da bacia hidrográfica do rio
Parnaíba, apresentando uma área de aproximadamente 978,8km² e um perímetro de aproximadamente 213,5km. Sendo
inserida no grupo das bacias difusas do médio Parnaíba piauiense, e localizada no território de oito municípios que são:
Amarante, Angical do Piauí, Hugo Napoleão, Jardim do Mulato, Palmeiras, Regeneração, Santo Antônio dos Milagres e
São Gonçalo do Piauí (ver Fig. 1).
Entre os aspectos discutidos que demonstram a importância da caracterização dos aspectos geológico-
geomorfológicos das paisagens da bacia hidrográfica do rio Mulato é o fato da mesma corresponder a uma área de
contato entre dois domínios geológicos distintos que correspondem ás formações geológicas sedimentares e as intrusões
de basalto e diabásio, que associados às características de áreas de transição entre domínios morfoclimáticos diferentes,
possibilitam a existência de um mosaico de fisionomias que revelam paisagens complexas e distintas.
A escolha da bacia hidrográfica do rio Mulato como objeto de estudo deve-se, portanto ao fato de que a bacia
hidrografia do rio Mulato apresenta contrastes que influenciam na fisionomia e funcionalidade dos elementos
componentes da paisagem sendo, que estes têm reflexos diretos e indiretos nos padrões de uso e ocupações da terra.
Fig. 1 – Mapa de Recursos Hídricos Superficiais e Localização Geográfica da Bacia Hidrográfica do Rio Mulato
2.PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS
A respeito dos procedimentos e técnicas empregadas, estas se deram em três etapas. A primeira corresponde
à pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos e outras fontes adquiridas em websites e grupos de pesquisas,
referentes a estudos sobre bacias hidrográficas, com o intuito de subsidiar as análises das informações pertinentes sobre
os parâmetros físicos e naturais na bacia hidrográfica do rio Mulato, e bem como na interpretação dos dados colhidos
em campo e da redação do texto final.
A segunda etapa consistiu na confecção do mapeamento cartográfico acerca da localização geográfica e dos
condicionantes naturais que correspondem à geologia, aspectos geomorfológicos e hidrográficos, presentes na bacia
hidrográfica do rio Mulato. Sendo esse mapeamento desenvolvido através da aplicação de técnicas de
geoprocessamento por meio das ferramentas de SIG, que correspondem aos softwares Arcgis 10 e o Global Mapper 10.
A terceira etapa correspondeu à pesquisa de campo, realizadas em diferentes pontos da bacia hidrográfica, e
destinadas à observação e confronto de dados e a confirmação das informações obtidas no levantamento bibliográfico e
do mapeamento cartográfico, sendo esta etapa subsidiada por registros fotográficos que permitem preservar os detalhes
possibilitando rever as informações.
No que diz respeito às técnicas de geoprocessamento, na delimitação espacial da bacia hidrográfica do rio
Mulato utilizou-se do SIG Arcgis 10, que por meio de um MDE (Modelo Digital de Elevação) criados a partir de
imagens de radar do projeto SRTM (Radar Shuttle Missão Topográfica) com resolução espacial de 30m obtidos em
INPE (2011), que submetidos à ferramenta Hidrology do SIG utilizado, foi possível delimitar o perímetro com base na
identificação dos interflúvios. Com o perímetro delimitado foi possível determinar o valor da área utilizando-se da
extensão X Tools Pro presentes no SIG Arcgis 10.
Para a extração da rede de drenagem, foi utilizado processos automáticos de extração de drenagem, por meio
do geoprocessamento a partir da ferramenta Hidrology do SIG ArcGIS 10.
Acerca do reconhecimento e elaboração do mapeamento das formações geológicas da bacia hidrográfica do
rio Mulato, utilizou-se dos dados vetoriais em formato Shapefile da folha TERESINA SB-x23 provenientes do projeto
Geobank obtidos em CPRM (2011). Que submetidos em ambiente SIG do Arcgis 10, possibilitaram a categorização e
caracterização das unidades geológicas estratigráficas presentes na bacia hidrográfica do rio Mulato.
E para caracterização das feições geomorfológicas foram elaborados MDEs com base em imagens de radar
SRTM com resolução espacial de 30m obtidos em INPE (2011) e submetidos em ambiente SIG do Global Mapper 10 através da ferramenta Show 3D View.
Os métodos e técnicas desta pesquisa permitiram a caracterização e análise de importantes processos naturais
da dinâmica ambiental relativos às características geológico-geomorfológicas da área de estudo, o que foi de
fundamental importância para um eficiente planejamento e desenvolvimento das discussões realizadas neste trabalho.
3.RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Dinâmica Tecnosedimentar paleo-mesozóica e suas implicações nas estruturas geológicas da bacia
hidrográfica do rio Mulato.
Para compreender os aspectos geológico-geomorfológicos da bacia hidrográfica do rio Mulato é importante
atentar que estes são resultantes da dinâmica da litosfera e da tectônica de placas que construíram o arcabouço
litoestrutural e as formas de relevo da Plataforma Sul-Americana e, sobretudo da bacia sedimentar do Parnaíba.
E é partir do período ordoviciano (aproximadamente 500 milhões de anos atrás), que desenvolvem-se os
estágios das coberturas sedimentares intrinsecamente fanerozóicas decorrentes da meteorização das rochas cristalinas,
dos escudos e dos cinturões orogenéticos desenvolvidos em períodos geológicos anteriores (SCHOBBENHAUS;
NEVES, 2003).
Nesta pesquisa são evidenciadas as formações geológicas que vão desde o carbonífero (360 milhões de anos
atrás), quando os terrenos da Plataforma Sul-Americana faziam parte do supercontinente Pangeia, ao início do cretáceo (aproximadamente 150 milhões de anos atrás) no final da era Mesozóica, onde ocorreram os processos de reativação
plataformal, decorrente de processos de tafrogênese, que foi o evento geotectônico Sul-Atlantiano que deu origem à
parte sul do Oceano Atlântico, e este evento provocou o retrabalhamento das rochas preexistentes e a formação de
falhamentos nos terrenos da plataforma Sul-Americana e da bacia sedimentar do Parnaíba decorrentes do
desenvolvimento da zona de falha do lineamento Transbrasiliano (SCHOBBENHAUS; NEVES, 2003).
O desenvolvimento da zona de falha do lineamento transbrasiliano, criou falhas secundárias como a falha
normal de São Francisco, que na sua área de influência na bacia hidrográfica do rio Mulato, é possível encontrar dobras
e estratificações cruzadas em várias escalas, sendo que algumas não apresentam coerência no estilo e nas direções o que
indica que foram formadas em eventos tectônicos distintos (ver Fig. 2).
Fig. 2 – Fotografia destacando linha de seixo em perfil de rodovia municipal no município de Jardim do Mulato (PI). A
- Linha com seixo apresentando ao longo dobras que indicam movimentos tectônicos e marca a divisão entre os
sedimentos coluviais acima e a rocha arenítica em intemperização; B – Seixos com 5cm a 10 cm de diâmetro
apresentando metamorfismos.
3.2 Coberturas sedimentares paleo-mesozóicas da bacia hidrográfica do rio Mulato
A área em que bacia hidrográfica do rio Mulato ocupa, apresenta dois domínios geológicos distintos que
correspondem às formações sedimentares, correspondentes às coberturas fanerozóicas (Formações Corda, Formação
Pastos Bons, Formação Pedra de Fogo, Formação Piauí) e a formação ígnea (Formação Sardinha) decorrente de
extrusão vulcânica por meio do fraturamento e falhamento dos terrenos (ver Fig 3)
Fig. 3 – Mapa geológico da bacia hidrográfica do rio Mulato
3.2.1 Formação Piauí
A Formação Piauí data do período Carbonífero (aproximadamente 360 milhões de anos atrás) e na sua
litologia predominam arenitos cinza-claros e amarelados, com granulação fina a muito fina, com estratificação delgada
e localmente com aspecto lajeado, ou seja, aflorante na superfície do solo (Fig. 4) e, as vezes, apresenta uma granulação
grosseira sendo conglomerático e com estratificação cruzada (BRASIL, 1973).
Na parte média da estratificação apresentam intercalações de siltitos e folhetos cinza-escuros e verdes. A
espessura é muito variável, indo de 100 a 500 metros. Sendo que na área da bacia hidrográfica o contato com a
formação pedra de fogo é de maneira concordante. É ainda recoberta discordantemente pelas formações Sardinha e
Corda, sendo a Formação Corda considerada como Formação Itapecuru pelo projeto Radam Brasil (BRASIL, 1973).
Fig. 4 – Fotografia destacando arenito da Formação Piauí com aspecto lajeado na sede do município de Amarante-PI
3.2.2 Formação Pedra de Fogo
A Formação Pedra de Fogo é do período Permiano (aproximadamente 300 milhões de anos) sendo composta
por arenitos, siltitos e folhetos que intercalam-se em proporções variadas, sendo que os arenitos são brancos e amarelo-
claros, com granulação fina e muito fina, enquanto aos siltitos e folhetos são de tonalidades vermelho-purpura e verde,
com pouco minerais micáceos e com baixa fissilidade (BRASIL, 1973).
Esta formação apresenta em certas áreas, conglomerados e bancos de seixos de quartzo com comprimento de
1,0 cm a 5,0 cm aproximadamente (ver Fig. 5), estando presentes em vários níveis estratigráficos, sendo que o contato
inferior com a Formação Piauí é concordante e o superior com a Formação Corda é discordante (BRASIL, 1973).
Fig.5 – Fotografia destacando banco de seixos de quartzo no município de Regeneração-PI.
3.2.3 Formação Pastos Bons
A Formação Pastos Bons é do período Triássico (aproximadamente 250 milhões de anos atrás) sendo
considerada uma variação da Formação Pedra de Fogo. Apresenta uma seqüência de folhelhos e arenitos róseos e
avermelhados, as vezes brancos ou amarelos, com porosidade fina a média com finas intercalações de sílex o que
condiciona uma baixa permeabilidade. Essa formação teve suas rochas sedimentadas em ambiente fluvioeólico (CPRM,
2010; BRASIL, 1973).
3.2.4 Formação Sardinha
A formação Sardinha representa uma manifestação vulcânica ocorrida no final do Jurássico ao início do
cretáceo (aproximadamente 150 milhões de anos atrás), decorrente da extrusão magmática pelo desenvolvimento das
falhas normais de São Francisco e do Descanso, com uma direção geral NE-SO junto às cidades de São Francisco do
Maranhão (MA) e Amarante (PI). Vale destacar que o alinhamento da falha de São Francisco segue por cerca de 40km,
e depois se perde sob sedimentos mesozóicos, para ir reaparecer a SO, ainda no vale do Parnaíba, cerca de 20 km a
oeste do município de Floriano (PI) (BRASIL, 1973).
A dinâmica dessas falhas separou dois blocos distintos, sendo que o bloco SE em relação à falha, rebaixou-se
em relação ao bloco NO e pôs em contato na área dos municípios de São Francisco do Maranhão (MA) e Amarante (PI)
as Formações Piauí e Pedra de Fogo, sendo justamente por meio destas linhas de fraqueza que ocorreram as extrusões
vulcânicas e posteriormente, o encaixamento da drenagem (BRASIL, 1973).
Desta forma, foi por meio do desenvolvimento da estrutura falhada de São Francisco, que se estabeleceu o
principal controle estrutural da rede de drenagem da bacia hidrográfica do rio Mulato, onde o canal de maior hierarquia
que corresponde ao riacho Mulato, através do encaixamento constrói um vale de linha de falha que segue exatamente a
linha de falhamento de São Francisco, que tem uma direção geral de NE-SW, o que o torna retilíneo e longo até
encontrar um declive na estrutura falhada que muda a direção geral do escoamento para oeste.
A extrusão vulcânica deu origem a soleiras e diques de diabásio intrudidos nas formações geológicas
anteriores, apresentando tonalidades verde-escuro a preto, tomando, as vezes, as tonalidades vermelho, róseo, amarelo e
outras cores quando alterado. A textura varia do basalto afanítico que devido ao intemperismo apresenta esfoliação
esferoidal, (ver Fig. 6) aos gabros grosseiros. Seu contato superior é discordante em relação à formação Corda e segue a
mesma discordância em relação às formações mais antigas (BRASIL, 1973; CPRM, 2010).
Fig. 6 – Fotografia de Basaltos afaníticos com esfoliação esferoidal localizado no município de Amarante (PI)
3.2.5 Formação Corda
Á Formação Corda é atribuída idade cretácea por relações litoestratigráficas, sendo que a mesma corresponde
à formação Itapecuru no projeto Radam Brasil. Esta é constituída por arenitos avermelhados e arroxeados, com
granulação fina a média, com níveis de folhelhos e siltitos geralmente cinza-escuros. Está assentada sobre as
paleodepressões dos diabásios da Formação Sardinha, os quais funcionam como assoalho dessa unidade e seu contato é discordante com todas as formações geológicas mais antigas (PTATZGRAFF; TORRES; BRANDÃO, 2010).
3.3 Ocorrências de fósseis
Os estudos de fósseis na região do médio Parnaíba piauiense, ainda são escassos. Mas, há importantes
ocorrências descritas no projeto Paleontologia das bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luiz que permitem estabelecer uma
possível configuração da paisagem da bacia do Parnaíba e consequentemente da bacia hidrográfica do rio Mulato,
especificamente no Carbonífero e no Permiano.
No início do carbonífero, que é o período em que se inicia o recuo dos mares interiores, o ambiente apresenta
duas paleopaisagens distintas, sendo uma correspondente à comunidade bentônica de plataforma marinha rasa,
predominando as espécies de biválvios, e a outra correspondente a uma comunidade florística com predominância de
espécies do gênero Palinomorfos (Gimnospermas primitivas) com estratificação herbácea-arbustiva localizada na superfície terrestre em um ambiente litorâneo (SANTOS; CARVALHO, 2009).
O projeto Paleontologia das bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luiz, faz referência a fósseis encontrados nos
municípios de Angical (PI) e Regeneração (PI) ambos do gênero Palinomorfos, associados à Formação Potí, e que
atualmente afloram em formações geológicas distintas do seu ambiente de permineralização. A presença desses fósseis
indica que a região da atual bacia sedimentar do Parnaíba e consequentemente da bacia hidrográfica do rio Mulato,
possuía um padrão climático de regiões temperadas, o que indica que a região esteve em médias latitudes no período
carbonífero, antes portanto, da abertura do oceano Atlântico Sul, datada do Cretáceo (SANTOS; CARVALHO, 2009).
Já no contexto do Permiano, este foi um período de intensos movimentos de placas tectônicas, além de
glaciações amplamente distribuídas. Neste contexto, a região norte da América do Sul havia alcançado a latitude do
Equador e o Super-continente Gondwana uniu-se à massa continental do hemisfério norte, (Laurásia) e esta agregação
deu origem ao Supercontinente Pangea (DIETZ; HOLDEN, 1970 citado por SANTOS; CARVALHO, 2009).
A principal característica do Permiano na bacia sedimentar do Parnaíba e possivelmente na atual região da bacia hidrográfica do rio Mulato foram as constantes regressões e transgressões oceânicas decorrentes dos processos de
glaciações. Essas constantes regressões e transgressões oceânicas possibilitaram o processo de permineralização nas
formações vegetais, haja vista que as mesmas foram constantemente soterradas por sedimentos oceânicos e aéreos, o
que deu origem aos fósseis de madeiras com associações de siltitos e arenitos finos avermelhados e madeiras
silicificadas (ver Fig. 7) ambos encontrados na região do município de Amarante (PI) (SANTOS; CARVALHO 2009;
BAPTISTA, 1975).
Figura 8 – Fotografia de madeira fossilizada a partir da silicificação.
3.4 Aspectos geomorfológicos
A atual estrutura e a morfoescultura das unidades de relevo da bacia hidrográfica do rio Mulato são
resultantes da ação tecnosedimentar e climática pretérita, mas também das ações recentes dos fatores endógenos e
exógenos que atuam sobre a estrutura geológica, que é um fator condicionante para a construção do modelado que
continua a evoluir em combinação com outros elementos do quadro natural, e que por ter um caráter sistêmico, se torna
um importante indicador da fisionomia e bem como dos processos e dinâmicas das paisagens.
Como já evidenciado nos aspectos geológicos, o relevo da bacia hidrográfica do rio Mulato está inserido na
grande unidade lito-estrutural que predomina coberturas sedimentares Paleo-Mesozóicas que é a bacia sedimentar do
Parnaíba que na classificação de Lima (1987) é denominada de Bacia Paleo-Mesozóica do Maranhão-Piauí.
Na proposta de classificação de Lima (1987) a unidade lito-estrutural dos sedimentos paleozóicos da bacia sedimentar Paleo-Mesozóica Maranhão – Piauí (Bacia do Parnaíba) possui três subdivisões, sendo que a bacia
hidrográfica do rio Mulato está inserida no compartimento regional do relevo que compreende nos Baixos Planaltos do
Médio-Baixo Parnaíba.
Segundo Lima (1987) este compartimento regional de relevo tem reflexos, ainda que diminutos do mergulho
geral das camadas sub-horizontais dos terrenos da cuesta da Ibiapaba. Assim, as cotas altimétricas na área da bacia
hidrográfica do rio Mulato aumentam no sentido de oeste para leste, apresentando altitudes que variam 80 a 160 metros
nas proximidades da foz do rio e do riacho Mulato, inseridos no vale do rio Parnaíba e de 200 a 300 metros nos
planaltos rebaixados e morros testemunhos do tipo mesa.
O processo de dissecação decorrentes do desenvolvimento da drenagem da bacia hidrográfica do rio Mulato
isola pequenos planaltos tabulares apresentando vertentes, sendo denominados de morros testemunhos do tipo mesa (ver
Fig. 9), que podem estar agrupados ou estar distribuídos com grandes espaçamentos, que possibilitam a formação de vales coluviais e aluviais (LIMA, 1987).
Fig 9 – Modelo digital de elevação (MDE). A - MDE de um morro testemunho localizado no interfluvio entre a
drenagem do rio Mulato e do riacho Mulato no município de Regeneração. B - MDE de planaltos rebaixados
localizados no município de Regeneração.
Além dos planaltos rebaixados e morros testemunhos do tipo mesa, outras formas de relevo locais podem ser
encontradas na bacia hidrográfica do rio Mulato como: áreas de acumulação inundáveis e as planícies flúvio-lacustres
(ver Fig 10).
Fig 10 – Modelo Digital de Elevação (MDE) de áreas de acumulação inundáveis e planícies flúvio-lacustres.
Segundo Lima (1987) os rios nesse compartimento apresentam fluxo torrencial, inundando periodicamente
áreas superiores ao seu leito-maior, principalmente no baixo curso dos canais fluviais, sobretudo nas proximidades da
foz onde o fluxo é represado pelo rio Parnaíba em períodos de cheia. O que tem possibilidades concretas de ocorrências,
sobretudo na foz do riacho Mulato, pois como aborda Lira Filho (2011) o índice de circularidade desta bacia hidrográfica determina uma tendência à ocorrência de cheias principalmente em eventos meteorológicos com alta
precipitação.
Outro ponto importante sobre a drenagem da bacia hidrográfica, com base na análise da rede de drenagem e
da hipsometria (ver Figura 11), é a possível captura fluvial de um trecho de rede de drenagem localizado no interflúvio
entre as drenagens dos altos cursos do rio e do riacho Mulato, próximos às nascentes, nos limites dos municípios de
Regeneração (PI) e Jardim do Mulato (PI). A indicação de captura se dá pelo fato da grande simetria entre a rede de
drenagem dos canais das respectivas nascentes, que foram possivelmente separadas pela elevação por meio de
movimentos tectônicos de um planalto rebaixado, onde a drenagem que possivelmente era do rio Mulato foi capturada
pela drenagem do riacho Mulato.
Fig 11 – Mapa hipsométrico da bacia hidrográfica do rio Mulato, destacando a região de captura fluvial
4 .CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho consistiu em um estudo de caso, que gerou como principal produto um diagnóstico das
principais características geológico-geomorfológicas presentes nas paisagens da bacia hidrográfica do rio Mulato.
Sendo que os resultados obtidos neste trabalho confirmam que a dinâmica e a fisionomia das paisagens da referente
bacia hidrográfica, sobretudo nos aspectos relativos ao sistema de drenagem, estão condicionados à influência das
grandes falhas regionais e fraturamentos locais das falhas geológicas normais denominadas de São Francisco e do
Descanso que permitiram a existência de fortes controles estruturais geológicos.
Os fatores e elementos geológico-geomorfológicos que condicionam as paisagens da bacia hidrográfica do
rio Mulato mostraram-se muito complexos, tanto no tocante à variedade fisionômica do relevo quanto nos reflexos
dessas condições para o uso e ocupação da terra. Portanto, compreender as características e dinâmicas das paisagens da
bacia hidrográfica dó rio Mulato é de grande relevância, pois possibilita um melhor planejamento das formas de uso e ocupação do território, através de ações e estratégias que implementadas ordenem o espaço geográfico e promovam
uma sustentabilidade dos atributos dos sistemas ambientais que compõem a paisagem.
E por fim, espera-se que as informações desde artigo sirvam de subsídios para posteriores estudos mais
detalhados, notadamente na pós-graduação, e que os resultados apresentados possam ser utilizados como parte de
critérios para a regionalização e classificação das unidades de paisagem da Bacia Hidrográfica do rio Mulato e bem
como na implantação de programas de gerenciamento ambiental para a área de estudo.
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