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Acta Scientiae Veterinariae, 2015. 43: 1287.

RESEARCH ARTICLE Pub. 1287

ISSN 1679-9216

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Received: 22 December 2014 Accepted: 4 June 2015 Published: 30 June 2015

1Laboratório de Anatomia Animal, Departamento de Ciências Morfológicas, Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS), Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brazil. 2Laboratório de Anatomia Animal, Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias (PPG-CV), UFRGS), Porto Alegre. CORRESPONDENCE: A.C.P. Araújo [[email protected] - Tel.: +55 (51) 3308-6924]. Laboratório de Anatomia Animal, Faculdade de Veterinária, UFRGS. Av. Bento Gonçalves n. 9090, Bairro Agronomia. CEP 91540-000 Porto Alegre, RS, Brazil.

Técnicas Anatômicas de Preparação de Vísceras Secas e de Angioarquitetura para Visualização da Ramificação da Artéria Mesentérica Cranial em Cães e Gatos

Techniques for Anatomical Preparation of Dried Viscera and Angioarchitecture of Cranial Mesenteric Artery Branching of Dogs and Cats

Sueli Hoff Reckziegel1, Paulete de Oliveira Vargas Culau1, Ana Cristina Pacheco de Araújo1 & Juliana Voll²

ABSTRACT

Background: The study of the arterial vascularization of the abdominal cavity viscera is essential on the process of learning anatomy. For authors, various anatomical techniques can be used for the preservation of structures, allowing the explora-tion and visualization of the organs shape in many different ways. Among the techniques there is the angioarchitecture of viscera, with or without the utilization of formaldehyde. The aim of this paper is to describe a technique for anatomical preparation of the intestines (small and large) of dogs and cats using dried viscera and angioarchitecture, to facilitate the study and visualization of the cranial and caudal mesenteric arteries branching. Materials, Methods & Results: Twenty pieces of intestine of dogs and two of cats were used. The intestine was removed from the duodenum to the cranial portion of the rectum, the root of the mesentery was sectioned as well as the cranial and caudal mesenteric arteries. The part was washed, then the caudal and cranial mesenteric and pancreaticoduodenal arteries were ligated, latex was injected in the cranial mesenteric artery and the sample remained immersed in a 10% acetic acid aqueous solution. The cranial portion of the rectum was ligated and, through a cannula into the duodenum, air was insuf-flated until the viscera were distended. Following that, the part was positioned and fixed, exposed to continuous ventila-tion until complete drying and sprayed with turpentine, insect repellent and varnish. After thirty days, the samples were conditioned, fifteen in a glass cabinet and seven, isolated, in closed boxes, with a significant difference between the types of conditioning regarding the proliferation of fungi and insect invasion. After four months of preparation it was possible to observe that the distension each viscera had changed.Discussion: There are few standardized protocols regarding the preparation of dried viscera angioarchitecture, more par-ticularly, of intestines. Latex is more effective for the display of structures with larger calibers and, in addition, this mate-rial does not retract and does not alter the vessel walls, being moderately resistant and elastic when solidified. For these reasons it was the chosen material for the development of this project. Regarding the technique of dry viscera preparation of the digestive system, it is indicated to isolate the segments of intestine removing the mesentery, but in this study it was maintained, preserving the organ anatomy. The latex injection technique can be performed in several ways due to the large number of vessels to be cannulated. In this study, the cranial mesenteric artery was cannulated after removal of the viscera from the abdominal cavity and without any difficulty. Preparation of the part proceeded, keeping the intestinal segments united, facilitating the visualization of vessels. Samples maintained separately in boxes had its aspect better preserved than those who remained in a larger space. Authors report that viscera with excessive fat should be treated with carbon tetrachloride or a similar solvent in order to prevent deterioration. In this research 30% of the preparations had their final aspect impaired, even with the use of turpentine. According to the findings it is possible to conclude that the technique of angioarchitectonic molding of dry intestines of dogs and cats is feasible, has low cost and allows excellent visualization of arterial branching and easy handling. It features also some technical advantages such as reducing the weight of the parts, avoiding the use of tanks of formaldehyde and allowing its use for a virtually unlimited period.

Keywords: intestine, anatomical preparation, artery, pets.Descritores: intestino, preparação anatômica, artéria, cães e gatos.

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S.H. Reckziegel, P.O.V. Culau. A.C.P. Araújo & J. Voll. 2015. Técnicas Anatômicas de Preparação de Vísceras Secas e de Angioarquitetura para Visualização... Acta Scientiae Veterinariae. 43: 1287

INTRODUÇÃO

O estudo da vascularização arterial das vísceras da cavidade abdominal é de vital importância para o aprendizado de anatomia. O conhecimento desta vas-cularização é indispensável também para as práticas de cirurgia tanto no intestino como na cavidade abdominal, assim como para análise de exames complementares como ultrassonagrafia Doppler, angiografia, ressonân-cia magnética, entre outros [2,8]. Em aulas práticas de anatomia animal, o estudo desta vascularização normal-mente é realizado em animais ou peças formolizadas, em que as artérias e suas ramificações não estarão coradas.

Uma coletânea de técnicas anatômicas indis-pensáveis para o estudo da anatomia macroscópica já foi publicada, sendo utilizada por todos os profissionais que se interessam pelo ensino desta disciplina. Dentre as técnicas descritas há a técnica de angioarquitetura de vísceras e métodos alternativos de conservação de peças, sem o uso de formaldeído [10]. Para muitos autores várias técnicas anatômicas podem ser empre-gadas para a conservação de estruturas, possibilitando ao acadêmico ou profissional, explorar e visualizar a forma de algum órgão de maneiras diferentes [6,10].

O objetivo deste trabalho é descrever uma téc-nica de preparação anatômica de intestino (delgado e grosso) de cães e gatos através de vísceras secas e de angioarquitetura (com a injeção de látex), para facilitar o estudo e a visualização da ramificação das artérias mesentérica cranial e caudal. Outro aspecto que deverá ser analisado é se a técnica empregada possibilita um fácil manuseio e acondicionamento, além de baixo custo e boa durabilidade das peças.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizadas vinte peças de intestino de cães e duas de gatos, durante o período de três anos, provenientes de cadáveres frescos destinados à necrop-sia no setor de patologia da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As causas dos óbitos destes animais não estavam relacionadas a problemas gastrointestinais.

Após a abertura da cavidade abdominal sec-cionou-se o intestino, a partir do duodeno até a porção cranial do reto. A raiz do mesentério foi seccionada assim como as artérias mesentéricas cranial e caudal. Retirada à peça, esta foi lavada em água corrente para total eliminação de resíduos. Em seguida localizou-se e procedeu-se a ligadura, com fio não absorvível 3-01, das

artérias mesentérica caudal e pancreaticaduodenal caudal para evitar extravasamento do látex. A artéria mesentérica cranial foi canulada e injetou-se látex 6032 corado de vermelho3 até o preenchimento dos vasos (Figura 1). A peça foi imersa em solução aquosa de ácido acético 10%4 por 24 h e após foi lavada novamente em água corrente. A artéria mesentérica cranial e suas ramificações foram dissecadas removendo-se os linfonodos e pâncreas, tendo o cuidado de preservar o mesentério. A porção cranial do reto foi ligada com fio não absorvível 3-01 e, através de uma cânula no duodeno, insuflou-se ar com o auxílio de um inalador5, até que a víscera ficasse distendida (Figura 2). Na sequência a peça foi posicionada e fixada, através do uso de alfinetes, em uma superfície lisa sendo que o duodeno e jejuno-íleo foram mantidos mais caudalmente, de tal maneira que deixasse à mostra toda a ramificação da artéria mesentérica cranial. As peças foram expostas a ventilação contínua com um auxílio de um ventilador6

durante um período de 24 a 48 h até a secagem completa. Após foram retirados os pontos de fixação, a peça foi suspensa por barbantes iniciando-se, então a pulverização com terebentina7. Este produto foi aplicado, com o auxílio de um aplicador de spray, duas vezes ao dia até a desidra-tação e transparência da víscera, tendo isso ocorrido em torno de 30 dias aproximadamente. Por último todas as amostras também receberam uma aplicação, com auxílio de pincel, de um produto repelente de insetos8 e de verniz9, objetivando uma maior durabilidade e conservação das mesmas (Figura 3).

Figura 1. Intestino de cão após a secção da raiz do mesentério, a partir do duodeno até a porção cranial do reto, evidenciando a injeção de látex na artéria mesentérica cranial.

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Figura 2. Intestino de cão após secagem completa. a- jejuno-íleo; b- ceco; c- cólon ascendente; d- cólon transverso; e- cólon descendente; f- artéria mesentérica cranial.

Figura 3. Intestino de gato após a finalização da técnica. a- jejuno-íleo; b- íleo; c- ceco; d- cólon ascendente; e- cólon transverso; f- cólon descen-dente; g- artéria mesentérica cranial.

Figura 4. Intestino de cão após três anos de acondicionamento em caixa de madeira com vidro.

Figura 5. Intestino de cão após três anos de acondicionamento em armário de vidro.

RESULTADOS

As peças de cães utilizadas no presente experi-mento pertenciam a animais com pesos bem distintos, variando em torno de 5 a 30 quilos de peso vivo. Já as amostras de felinos não passaram de 4 quilos de peso. No total foram 20 peças de cães (91%) e duas peças de gatos (9%), totalizando 22 intestinos.

A presença de gordura intra-abdominal no mo-mento da retirada do órgão foi um dos itens observado no estudo. O local mais comum de acúmulo adiposo no intestino foi na borda mesentérica e a raiz do mesenté-rio. O excesso de gordura abdominal não interferiu na execução das técnicas propostas, mas no aspecto final e, posteriormente, na conservação de algumas peças.

Transcorridos os 30 dias necessários para a total realização da técnica, as peças foram acondicionadas. Quinze amostras (68,2%) foram colocadas em um ar-mário de vidro e sete (31,8%) foram acondicionadas, isoladamente, em caixas fechadas de madeira com vidro (Figura 4). Nas duas maneiras de acondicionamento fo-ram colocadas pastilhas de naftalina para evitar o desgaste das peças devido à invasão de insetos, como traças. O ma-nuseio deste material ficou restrito ao pessoal autorizado. Mesmo com todos estes cuidados a presença de insetos (traças e cupins) e a proliferação de fungos ocorreram, havendo uma diferença significativa entre as peças acon-dicionadas isoladamente em caixas, daquelas colocadas em um local mais amplo (armário de vidro) [Figura 5].

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Após quatro meses da preparação de cada peça foi possível observar que a distensão de cada víscera havia mudado, ou seja, todas as preparações tiveram o seu diâmetro diminuído. Em 18 amostras (81,8%) houve pouca alteração e em quatro peças (18,2%) a deformação foi maior. Não houve correlação entre a diminuição da distensão da víscera e o acondicionamento da peça.

DISCUSSÃO

Existem poucos protocolos padronizados com relação à preparação da angioarquitetura de vísceras secas, mais especificamente, de intestinos dos espé-cimes. Dificilmente é possível reproduzir os estudos já publicados uma vez que geralmente faltam dados importantes e a literatura é inconsistente nesse aspecto.

Em um estudo comparativo [1] entre o látex e acetato de vinil, concluiu-se que os dois métodos possuem vantagens e desvantagens. De acordo com esses autores, o látex é mais efetivo para a visualização de estruturas de calibres maiores e, além disso, este material não retrai e nem altera as paredes dos vasos sendo moderadamente resistente e elástico quando solidificado [10]. Por esses motivos, foi o material escolhido para o desenvolvimento do presente trabalho.

Em literatura publicada [10], no que se refere à técnica de preparação de vísceras secas do sistema diges-tório, antes de proceder à injeção de látex corado nos vasos remanescentes, indica-se isolar os segmentos de intestino retirando o mesentério, conforme também descrito por outros autores [5]. Contudo neste estudo, preferiu-se man-ter o mesentério, preservando assim a anatomia do órgão. Ainda para este autor [10], pode-se também injetar as ar-térias mesentérica cranial e tronco celíaco, ou seus ramos, antes da retirada dos órgãos da cavidade para diminuir as ligaduras e facilitar a injeção os vasos. Entretanto, a técnica de injeção de látex pode ser executada de várias maneiras devido ao grande número de vasos a serem canulados [3]. No presente trabalho, em todas as peças, foi canulada a artéria mesentérica cranial após a retirada da víscera da cavidade abdominal e sem nenhuma dificuldade.

Segundo a literatura [10] é indicado isolar o intestino grosso do jejuno-íleo. Na técnica executada procedeu-se a preparação da peça mantendo unidos os segmentos intestinais, desde o duodeno até a porção inicial do reto, facilitando a visualização dos vasos nas preparações para estudo. Nestas amostras foi possível identificar todos os vasos arteriais do intestino delgado e grosso, ou seja, a artéria mesentérica cranial e caudal, com seus respectivos ramos.

Outro aspecto analisado foi o acondicionamento das peças, tendo sido encontrado poucas referências so-bre o assunto. As peças mantidas isoladamente em caixas tiveram seu aspecto melhor preservado, sem a presença de fungos ou invasão de insetos como traças e cupins. Já as amostras que permaneceram em um espaço mais amplo (armário) observou-se a proliferação de fungos, além de serem atingidas por insetos apesar do uso de pro-dutos específicos para este fim. Acreditamos que essas alterações estejam relacionadas com o tipo de vedação dos recipientes, com o tipo de manipulação, bem como com a presença, excessiva ou não, de tecido adiposo.

Nos casos em que o tecido adiposo estiver pre-sente, a desidratação se processará lentamente e a gordura existente entre as fibras musculares conferirá às peças um aspecto mais escuro, como se estivessem úmidas, favorecendo também o aparecimento de fungos e outros microrganismos que comprometerão seu acabamento [10]. As vísceras com excesso de gordura deveriam ser tratadas com tetracloreto de carbono ou solvente similar com a finalidade de evitar a deterioração [5]. Este fato foi observado no presente trabalho, no qual aproximadamente 30% das preparações tiveram seu aspecto final prejudica-do, mesmo com a utilização da terebentina.

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados encontrados neste estudo é possível concluir que a técnica de moldagem an-gioarquitetônica em intestinos secos de cães e gatos descrita é factível e possui baixo custo, permitindo uma excelente visualização da ramificação da artéria mesentérica cranial e caudal na rotina das aulas práticas. Possibilitando também um fácil manuseio e acondicionamento, além de boa dura-bilidade das amostras. Apresenta ainda algumas vantagens técnicas como a redução do peso das peças, a dispensa do uso de cubas de formol para conservação e a utilização das mesmas durante um período praticamente ilimitado, permitindo assim o destaque das estruturas desejadas.

MANUFACTURERS1Shalon Fios Cirúrgicos. São Luis de Montes Belos, GO, Brazil.2Bertoncini Ltda. São Paulo, SP, Brazil.3BASF SA. São Bernardo do Campo, SP, Brazil.4Dinâmica. Diadema, SP, Brazil. 5Indústria de aparelhos médicos Ltda. São Paulo, SP, Brazil. 6ARNO S/A. Perdizes, SP, Brazil. 7Proquímios. Rio de Janeiro, RJ, Brazil.8Jimo Cupim. Cachoeirinha, RS, Brazil.9Coral. Mauá, SP, Brazil.

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www.ufrgs.br/actavet1287

Declaration of interest. The authors report no conflicts of interest and alone is responsible for the content and writing of the paper.

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