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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS ROBERTO PEREIRA DE LUCENA A ADAPTAÇÃO COMENTADA DE UNEQUALLY BOUND: THE CONDITIONS OF SLAVE LIFE AND TREATMENT IN SANTOS COUNTY, BRAZIL, 1822-1888 SANTOS – 2008 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com

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Page 1: TCC - Roberto Pereira de Lucena

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

ROBERTO PEREIRA DE LUCENA

A ADAPTAÇÃO COMENTADA DE

UNEQUALLY BOUND:

THE CONDITIONS OF SLAVE LIFE AND TREATMENT

IN SANTOS COUNTY, BRAZIL, 1822-1888

SANTOS – 2008

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Page 2: TCC - Roberto Pereira de Lucena

ROBERTO PEREIRA DE LUCENA

A ADAPTAÇÃO COMENTADA DE

UNEQUALLY BOUND:

THE CONDITIONS OF SLAVE LIFE AND TREATMENT

IN SANTOS COUNTY, BRAZIL, 1822-1888

Trabalho de Conclusão de Curso apresentadocomo exigência parcial para obtenção do grau deBacharel em Tradução e Interpretação, àUniversidade Católica de Santos.

Orientador: Prof. Me. José Martinho Gomes

SANTOS – 2008

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Page 3: TCC - Roberto Pereira de Lucena

ROBERTO PEREIRA DE LUCENA

A ADAPTAÇÃO COMENTADA DE

UNEQUALLY BOUND:

THE CONDITIONS OF SLAVE LIFE AND TREATMENT

IN SANTOS COUNTY, BRAZIL, 1822-1888

Trabalho de Conclusão de Curso apresentadocomo exigência parcial para obtenção do grau deBacharel em Tradução e Interpretação, àUniversidade Católica de Santos.

Orientador: Prof. Me. José Martinho Gomes

Banca Examinadora:

______________________________________________________________

Prof. Me. José Martinho Gomes, Universidade Católica de Santos

______________________________________________________________

Prof. Christian Ares Lapo, Universidade Católica de Santos

Data de aprovação: __________________________

SANTOS – 2008

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Page 4: TCC - Roberto Pereira de Lucena

AGRADECIMENTOS

A José Martinho Gomes, meu orientador, que inspirou, deu alento, e

foi capaz de acompanhar com grande dedicação esta empreitada.

A todos os professores e funcionários da Universidade Católica de

Santos, com quem convivi nesses quatro anos, não só pela acolhida cordial,

mas, principalmente, por apoiarem com seus conhecimentos e seu trabalho

minha formação como aluno.

A meus colegas do curso de Tradução e Interpretação, pelo estímulo e

convivência fraternal.

E a Ana Priscilla, com quem, além de compartilhar o lar e a vida em

comum, pude contar como consultora especializada no assunto de que trata o

corpus deste trabalho.

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Page 5: TCC - Roberto Pereira de Lucena

LUCENA, Roberto Pereira de. A Adaptação Comentada de Unequally Bound:

The Conditions of Slave Life and Treatment in Santos County, Brazil, 1822-

1888. Santos, 94p. (Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade Católica

de Santos.

Este trabalho tem por objetivo demonstrar que as adaptações, ou seja,

traduções nas quais são buscadas soluções para atingir maior clareza para um

público-alvo específico, são elaboradas por meio do emprego sistemático de

procedimentos específicos, consagrados na literatura sobre os problemas da

tradução.

As principais fontes teóricas de pesquisas são as obras de John Milton, Lauro

Maia Amorim, Francis Aubert e Heloisa Gonçalves Barbosa.

Utilizamos, como exemplo de aplicações das teorias aqui citadas, um dos

capítulos de minha adaptação para o português da dissertação de doutorado

elaborada por Ian William Olivo Read para o Departamento de História da

Universidade de Stanford, do estado da Califórnia, EUA, que tem por título

Unequally bound: the conditions of slave life and treatment in Santos County,

Brazil, 1822-1888.

Palavras-chave: modalidades tradutórias, procedimentos tradutórios, tradução,

público-alvo, adaptação.

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Page 6: TCC - Roberto Pereira de Lucena

LUCENA, Roberto Pereira de. A Adaptação Comentada de Unequally Bound:

The Conditions of Slave Life and Treatment in Santos County, Brazil, 1822-

1888. Santos, 94p. (Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade Católica

de Santos.

The objective of this paper is to demonstrate that an adaptation, a kind of

translation in which solutions are used in order to achieve clarity for a specific

target reader, is made by means of the systematic use of specific procedures,

which have been established in literature based on translations difficulties.

The main theoretical sources for research are the works of John Milton, Lauro

Maia Amorim, Francis Aubert and Heloisa Gonçalves Barbosa.

As an example of the theories herein used, we will analyze my adaptation into

the Portuguese language of a dissertation for the degree of Doctor of

Philosophy made by Ian William Read, to the Stanford University of the State of

California, USA, called Unequally bound: the conditions of slave life and

treatment in Santos County, Brazil, 1822-1888.

Keywords: translation modalities, translation procedures, translation, target

reader, adaptation.

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Page 7: TCC - Roberto Pereira de Lucena

Sumário

Introdução ................................................................................................... 07

I. Considerações teóricas ........................................................................... 09

1.1 A Tradução ....................................................................................... 09

1.2 O Texto original ................................................................................ 11

1.3 A Fidelidade ...................................................................................... 13

1.4. A Adaptação .................................................................................... 14

II. O corpus ................................................................................................. 17

2.1 Uma breve apresentaçao ................................................................ 17

2.2 O texto fonte e sua tradução adaptada ........................................ 18

III. Análise dos procedimentos tradutórios utilizados na tradução ............. 65

3.1 As adaptações preliminares ............................................................. 65

3.2 Omissões de tabelas ........................................................................ 67

3.3 Omissões de comentários ................................................................ 67

3.4 Omissões de parágrafos .................................................................. 67

3.5 Omissões de palavras ou expressões .............................................. 70

3.6 Acréscimos ...................................................................................... 74

3.7 Procedimentos tradutórios de Vinay e Darbelnet ............................. 76

3.8 Reconstruções de períodos de Newmark ........................................ 85

3.9 Transposições de categorias de Catford .......................................... 87

Considerações finais .................................................................................. 91

Referências Bibliográficas .......................................................................... 93

Bibliografia Consultada ............................................................................... 94

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Page 8: TCC - Roberto Pereira de Lucena

Introdução

As traduções de textos escritos originalmente em língua estrangeira

envolvem necessariamente transformações outras além das lingüísticas: são

influenciadas pela época, pelo lugar, e principalmente pela cultura do público-

alvo a quem se destina. Quando algum desses fatores é muito distinto entre o

texto-fonte e o texto da tradução, o tradutor faz uso de alguns procedimentos

para guiar suas escolhas em relação à linguagem, de modo a manter o foco no

objetivo de seu trabalho. Um texto fonte, portanto, pode servir a mais de um

tipo de tradução, podendo ser moldado ao objetivo pretendido, o que

caracteriza uma adaptação desse texto.

Assim, o presente trabalho propõe um estudo da teoria em que estão

baseados os procedimentos usados para a elaboração de uma tradução

adaptada a um objetivo específico, e a análise de sua aplicação na prática.

Para tanto, como corpus deste trabalho, foi escolhido um capítulo da

dissertação de doutorado Unequally Bound: The Conditions of Slave Life and

Treatment in Santos, Brazil, 1822-1888 (READ, 2006), elaborada

originalmente em língua inglesa, por Ian William Olive Read, historiador da

Universidade de Stanford, EUA. A dissertação está sendo traduzida por mim

de forma adaptada para um texto didático com linguagem acessível para

estudantes e leitores em geral, interessados na história de Santos no século

XIX.

Esse trabalho será apresentado da seguinte forma:

No capítulo I, Considerações Teóricas, vamos abordar os estudos

elaborados por alguns teóricos com cujas obras tomamos contacto ao longo

desse nosso curso de Tradução e Interpretação. A partir da classificação que

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Page 9: TCC - Roberto Pereira de Lucena

esses teóricos fazem das chamadas modalidades de tradução, vamos

exemplificar os procedimentos tradutórios que foram usados para atingir o

objetivo de fazer a tradução de um texto adaptado para um determinado

público leitor.

No capítulo II, Apresentação do Corpus, faremos uma breve explanação

a respeito do referido trabalho original de Ian Read, e introduziremos o capítulo

oito, que será apresentado em tabela ao lado da tradução adaptada para

permitir a comparação entre o texto de partida e a tradução.

O Capítulo III, Análise dos Procedimentos Teóricos Utilizados na

Adaptação, inicialmente expõe as modificações que foram levadas a efeito,

como, por exemplo, a divisão do capítulo em sub capítulos, a definição de

algumas palavras específicas da terminologia da época em que se situa o

texto, e alguns dados biográficos de historiadores citados. São também

exemplificados e analisados os cortes, acréscimos e demais procedimentos

tradutórios.

Por fim, seguem as nossas considerações finais, as referências

bibliográficas usadas neste trabalho, bem como a bibliografia consultada.

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Page 10: TCC - Roberto Pereira de Lucena

I – Considerações teóricas

1.1 A Tradução

De acordo com o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, a origem

latina de tradução, traductione, significa “ação de levar em triunfo, de transferir

de uma ordem a outra” (HOUAISS, 2001).

Uma tradução que transfira o conteúdo mais completo possível do texto

de partida, mesmo que fazendo as mudanças necessárias para adequar a

forma do texto às características da língua de chegada, fará com que o leitor

seja transportado para o universo cultural do contexto em que o texto foi

produzido, e conheça algo sobre aquele universo, e não apenas o assunto

abordado.

A teorização entre os diferentes níveis de adaptação do texto traduzido

leva ao questionamento do que seria afinal uma tradução fiel ao original. E,

antes, o que é realmente uma tradução? O que é fidelidade? O que é um texto

original?

Heloisa Gonçalves Barbosa faz uma análise das categorizações dos

procedimentos técnicos encontrados na obra de diversos teóricos.

No modelo de Vinay e Darbelnet, publicado em 1977, dois eixos

principais abrangem os diferentes procedimentos: a tradução direta

compreende o empréstimo, o decalque e a tradução literal; integram a

tradução oblíqua a transposição, a modulação, a equivalência e a adaptação

(BARBOSA, 1990, p. 31).

No presente trabalho serão utilizadas as modalidades da tradução

oblíqua.

Assim, dá-se a transposição quando são realizados rearranjos

morfossintáticos para se adequar o texto de partida ao de chegada, seja por

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Page 11: TCC - Roberto Pereira de Lucena

meio de fusões ou desdobramentos de palavras, alterações gramaticais ou da

ordem das palavras.

A modulação é considerada uma reestruturação semântica de

superfície, quando uma mudança estrutural é realizada, mantendo o mesmo

sentido.

A adaptação é a opção do tradutor pelo afastamento total do texto de

partida, como forma de tornar acessível seu sentido para o leitor a que se

destina, criando um texto equivalente dentro de outro aspecto cultural.

Ainda segundo Barbosa, Eugene A. Nida e Charles R. Taber classificam

a tradução em equivalência formal, centrada não apenas no conteúdo, mas na

forma do texto fonte, e que deve gerar, na língua de chegada, um texto que

corresponda aos mesmos elementos lingüísticos e extralingüísticos; e

equivalência dinâmica, que, em lugar de privilegiar os padrões culturais do

contexto da língua original, procura passar ao leitor a mesma mensagem

dentro dos elementos extralingüísticos presentes no universo dele, leitor. A

tradução literal, no entender de Nida & Taber, reproduz mecanicamente as

características da forma do texto-fonte, caracterizando a correspondência

formal, em oposição à equivalência dinâmica, em que o tradutor procura

reproduzir um efeito equivalente ao que teria sido criado pelo texto fonte,

privilegiando-se, entretanto,

os modos de comportamento relevantes no contexto de sua (do textode chegada) própria cultura, em vez de insistir que ele compreendaos padrões culturais do contexto da língua-fonte. (BARBOSA, 1990, p.31).

Gerardo Vazquez-Ayora considera que a tradução literal é um

procedimento único, e divide todos os outros procedimentos em duas

vertentes, que fazem parte da tradução oblíqua: os procedimentos principais

(transposição, modulação, equivalência e adaptação), e os complementares

(amplificação, explicitação, omissão e compensação) (ibid., p. 43).

Peter Newmark, em função do foco dado sobre o autor ou sobre o leitor,

considera o princípio do efeito equivalente aquele que aproxima o texto do

leitor, ao diminuir as diferenças estruturais e realidades extralingüísticas entre

os idiomas. Conclui que os procedimentos de tradução podem ser polarizados

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Page 12: TCC - Roberto Pereira de Lucena

em dois extremos: a tradução semântica, focada sobre a língua e o autor

originais, e a tradução comunicativa, com foco na língua de chegada e no leitor

(BARBOSA, 1990, p. 49).

Para Catford, tradução é “a substituição de material textual numa língua

por material textual noutra língua” (apud BARBOSA, 1990, p. 35). A partir

dessa definição, ele considera os procedimentos técnicos como transposições,

que podem ser de ordem ou de categorias.

As transposições de ordem acontecem ao ocorrerem mudanças entre a

ordem gramatical e a ordem lexical quando da tradução.

As transposições de categorias são, segundo o autor, a perda de

correspondência formal, e estão divididas em transposição de estrutura, de

classe, de unidade e de intra-sistema (ibid., p. 35).

Barbosa conclui:

[...] no entanto, acredito que é na conceituação da teoria dasfunções da linguagem, da tipologia dos textos e da finalidade dastraduções que está a chave para a solução da tensão entre atradução literal e não literal, que é, ao mesmo tempo, a tensão entreo conteúdo e a forma. Isto porque é a definição destes fatores quepermitirá a decisão de qual modo de traduzir será adequado emcada caso. Conforme o foco se deslocar ao longo desses elementosserá escolhido o modo de traduzir adequado, não dicotomicamenteentre tradução literal e não literal, mas passando por toda umagama de modos de traduzir variados que se encontram entre estesdois pólos: mais literal se o foco recair sobre o autor, menos literalse cair sobre o leitor, e assim por diante. (ibid., p. 109)

1.2 O texto original

Podemos afirmar que uma tradução é literal e outra pode ser livre, mas

é questionável afirmar que uma delas é fiel, e outra não, a um texto tido como

original. Até mesmo o conceito de originalidade de um texto é discutível, uma

vez que um autor ao escrever transforma em signos uma visão que ele tem de

uma idéia, real ou fictícia, mas anterior a seu texto. Esses signos dependem

de um leitor (ou um tradutor/leitor) que possa dar sentido a eles, de acordo

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Page 13: TCC - Roberto Pereira de Lucena

com sua cultura específica, época em que vive, conceitos próprios e outras

variantes. Esse texto, a partir da leitura do qual um tradutor vai passar o que

ele entende como seu sentido, melhor seria chamado de texto-fonte, a partir

do qual seria criado um texto equivalente na língua de chegada.

Rosemary Arrojo (2002, p. 23), para demonstrar que o conjunto de

signos presentes em um texto não é uma representação fiel e estável de um

objeto que existiria fora do labirinto da linguagem, mas sim uma fonte de

significados em potencial, criou a imagem do palimpsesto, do grego

palimpsestos, que significa papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi

raspado, para dar lugar a outro.

Assim, a leitura/tradução de um texto, em cada comunidade cultural e

em cada época, é sempre uma forma de apagar o anterior para dar lugar a

uma nova leitura/interpretação. De acordo com o francês Roland Barthes,

“qualquer texto, por pertencer à linguagem, pode ser lido sem a ‘aprovação’ de

seu autor […], que passa a ser mais um elemento que utilizamos para

construir uma interpretação coerente do texto” (BARTHES, 1979, apud

ARROJO, 2002, p. 40).

Cristina Carneiro Rodrigues (2000, p. 202) observa que “a tradição

sempre considerou que teríamos pleno acesso à origem. Essa ilusão

manifesta-se, na literatura sobre tradução, pelo próprio uso do termo texto

original sinônimo de texto-fonte”. Na visão da autora, não se pode recuperar a

origem do texto-fonte.

Se a cultura não é a fonte das representações, mas seu efeito; se arepresentação não domina nem oculta o referente, ela cria einterpreta esse referente, sem oferecer um acesso imediato a ele, otradutor não lida com uma fonte, nem com uma origem fixa, masconstrói uma interpretação que, por sua vez, também vai sermovimento e desdobrar-se em outras interpretações.

Em uma análise, Arrojo nota que a tradução é muitas vezes associada à

noção de inferioridade, ou mesmo de traição, e que muitos consideram que o

tradutor deva ser invisível, reproduzindo o original, devido a uma concepção

clássica de signo como substituição de uma presença plena. De acordo com

Arrojo,

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Page 14: TCC - Roberto Pereira de Lucena

as concepções de que a tradução é uma representação precária ederivada teriam partido de uma tradição que escamoteia a noção deque todo original com os signos que os constituem, é tambémmediação e simulacro e, portanto, também provisório e secundário.Toma-se o texto a ser traduzido – já secundário e provisório por suacondição de signo – pela presença, pela coisa-em-si, pelo original,por aquilo que supostamente poderia ser objetivamente reconhecidoe determinado. (ARROJO, 1993b, p. 73 apud RODRIGUES, 2000,p. 204)

De acordo com a análise de Rodrigues, considerar o texto original uma

fonte transparente de significados o transformaria em uma representação

direta do referente, enquanto que

trata-se apenas de signo de signo, isto é, uma representação dafala. Tudo que o fonocentrismo pensa ser característica da fala é,por uma espécie de esquecimento, transposto para o texto-fonte; ea secundariedade e a precariedade que caracterizariam a escriturase atribuem à tradução. (RODRIGUES, 2000, p. 204)

1.3 A fidelidade

André Lefevere destaca que a assim chamada fidelidade pode ser

apenas uma estratégia tradutória, que além do viés poético pode também

carregar uma opção ideológica, sendo, por isso, utópico considerá-la como a

única estratégia aceitável de tradução.

De fato, longe de serem ‘objetivas’, ou ‘livres de julgamento’, comoseus defensores nos levariam a acreditar, ‘traduções fieis’ sãofreqüentemente inspiradas por uma ideologia conservadora.(LEFEVERE, 1992b, p. 51, apud RODRIGUES, 2000, p. 130)

Lauro Maia Amorim aponta também para a utopia de tradução fiel, já

que nem mesmo o autor do texto-fonte pode garantir que seu texto terá uma

leitura considerada verdadeira.

Não há como impedir que aquilo que ele tenha produzido seja, dealguma forma, apropriado pelos leitores, já que essa apropriação éum gesto constitutivo da interpretação. Todavia, diferentemente daconcepção de que a atividade tradutória, em geral, acarreta algumaforma de violência, cristaliza-se a tradição que pressupõe apossibilidade de traduções marcadas pela neutralidade. Para essatradição, o tradutor deve ser o menos visível possível, ou seja, deve

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Page 15: TCC - Roberto Pereira de Lucena

produzir traduções que dêem, ao leitor, a impressão de estar lendoo próprio original. (AMORIM, 2005, p. 35)

Rodrigues acrescenta que a literalidade não existe per se, não são

repetições neutras de textos em outras línguas.

É impossível repetir significados porque não se retorna ao idêntico:novas situações, novos comentários, novas relações intertextuais einterculturais sempre se instauram em uma leitura. A ‘literalidade’, a‘servidão’, o ‘correspondente formal’ não são repetições neutras detextos em outras línguas – passam pelo viés e pela interpretação dotradutor. (RODRIGUES, 2000, p. 212)

Arrojo evidencia a utopia do projeto logocêntrico (a palavra como o

centro de qualquer texto ou discurso), já que a interpretação humana não é

constante ou imutável. Segundo ela,

é impossível encontrarmos um nível de apreensão neutra designificados, que possa ocorrer fora de um contexto eindependentemente da interferência de um sujeito. [...] Desse modo,o que se supõe ser a ‘essência’ ou a ‘verdade’ de um texto é umainterpretação dele, feita por um sujeito situado em um tempo elugar. (ARROJO,1992a, p. 70, apud RODRIGUES, 2000, p. 213)

1.4 A Adaptação

O tradutor pode optar por uma forma de passar o sentido do que está

escrito no texto de partida, considerando principalmente o universo do leitor do

texto de chegada. Esse universo abrange uma cultura certamente diversa

daquela do autor e dos leitores do texto de partida, e que não pode ser perdida

de vista pelo tradutor. Além das diferenças gramaticais, a abordagem do

assunto passa a ser transferida para sua correspondente formal da língua e da

cultura do leitor que se deseja atingir.

Esse e outros modelos são abordados pelos estudiosos da tradução em

diferentes períodos históricos. No século XVIII, John Dryden (1956, apud

MILTON, 1998, p. 26) considerava três formas de tradução: a metáfrase, que

seria a mais literal, quando se traduziria um autor palavra por palavra e linha

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Page 16: TCC - Roberto Pereira de Lucena

por linha, de uma língua para outra; a paráfrase, em que o tradutor mantém o

sentido do texto do autor, podendo até mesmo ampliá-lo, sem seguir

estritamente suas palavras, mas não alterá-lo; e a imitação, por meio da qual

o tradutor varia não somente as palavras, mas também o sentido do texto,

partindo da idéia geral do original, e fazendo as adaptações que julgar

necessárias.

A adaptação, segundo Lauro Maia Amorim, é considerada por certas

comunidades interpretativas uma transgressão, ou uma prática de agressão à

integridade de um texto, devendo por esses motivos ser desvinculada da

prática da tradução. Entretanto,

os limites que a separariam da tradução não são ‘naturais’ nem tãonítidos como se supõe, e não há nenhuma unanimidade teóricaquanto à possibilidade de delimitação objetiva. (AMORIM, 2005, p.40)

Susan Basnnett-McGuire vê também com restrições esse

estabelecimento de hierarquias com base na noção de ‘exatidão’, e para ela

um texto não pode ser percebido como

um objeto que somente pode produzir uma leitura única e invariante,de forma que qualquer ‘desvio’, por parte do leitor/tradutor, é julgadocomo uma transgressão. (BASNNET-MCGUIRE, 1980, p. 79, apudAMORIM, ibid., p. 41)

No entender de Amorim, as adaptações mantêm certa semelhança com

as imitações citadas por Dryden, porém com a diferença de serem feitas com o

objetivo de atingir a um determinado público, enquanto que as imitações

seriam um verdadeiro ‘exercício estilístico’ do tradutor.

Francis Henrik Aubert apresenta em sua obra uma abordagem técnica

dos diferentes procedimentos de tradução, baseada em um modelo

apresentado por Vinay e Darbelnet em 1958. Esse modelo estava organizado

em uma escala que partia do ‘grau zero’ da tradução, o empréstimo, até o

outro extremo, que seria o procedimento mais distante do texto-fonte, a

adaptação. Francis Aubert criou um quadro comparativo baseado no modelo

de Vinay e Darbelnet, em que a adaptação é definida como uma modalidade

que

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Page 17: TCC - Roberto Pereira de Lucena

denota uma assimilação cultural; ou seja, a solução tradutóriaadotada para o segmento textual dado estabelece uma equivalênciaparcial de sentido, tida por suficiente para os fins do ato tradutórioem questão, mediante uma intersecção de traços pertinentes desentido, mas abandona qualquer ilusão de equivalência perfeita.(AUBERT, 1998, p. 108)

Um uso bastante comum da adaptação é a condensação de livros, na

qual o tradutor faz as modificações necessárias para reduzir o corpo do texto,

deixando-o com o número de palavras pedido pelo editor, de acordo com as

normas por este estabelecidas. John Milton (1998, p. 94) cita como um editor

da Reader’s Digest, John Bainbridge, descreve o processo de condensação da

revista:

No processo de corte, adjetivos e advérbios são as primeiras vítimas.Palavras e frases descritivas e estilísticas são as próximas. Em umparágrafo de exposição que resulta em uma sentença de conclusão,talvez permaneça apenas a conclusão. Frases qualificativas sãoapagadas. Muitas vezes, o material é reorganizado, e aqui e acolá seadiciona um conectivo. No decurso dessa operação, a ênfase doartigo pode ser modificada sensivelmente, mas, via de regra, o pontode vista permanece intacto.

Como vemos, uma adaptação, como opção de ato tradutório, pode ser

considerada, por alguns teóricos, uma opção pouco fiel e não representativa

do texto fonte; no entanto, o tradutor que mantiver o foco de seu trabalho

voltado para as expectativas de um público específico tem à sua disposição

uma série de procedimentos que lhe permitem fazer as modificações

necessárias, principalmente de ordem morfossintática, mantendo o sentido do

texto fonte, e ao mesmo tempo criando uma linguagem acessível ao leitor alvo.

Esse é o caso da adaptação que servirá de corpus para esse trabalho, e

que apresentaremos a seguir. Em relação a esse trabalho, vamos considerar o

termo ‘adaptação’ em seu sentido mais amplo, e não apenas significando uma

modalidade tradutória, como a proposta por Vinay e Darbelnet.

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Page 18: TCC - Roberto Pereira de Lucena

II – O corpus

2.1 Uma breve apresentação

O trabalho de Ian William Olivo Read, Unequally bound: the conditions

of slave life and treatment in Santos County, Brazil, 1822-1888 (READ, 2006),

dá enfoque às evidências de que os escravos viviam em grupos estratificados,

em função do local onde viviam, suas ocupações e do nível sócio-cultural dos

senhores. Esses grupos de escravos dispunham de oportunidades diferentes

em relação a casamento, alfabetização, internamento em hospitais e,

principalmente, à conquista da liberdade.

Para realizar esse trabalho, Ian Read passou dois anos no Brasil, a

maior parte deles em Santos. Realizou pesquisas em cartórios, hospitais,

autarquias públicas e, durante grande parte do tempo, na Fundação Arquivo e

Memória de Santos (FAMS), onde são conservados os documentos oficiais da

cidade.

Depois de concluído seu trabalho de doutorado na Stanford University,

Ian Read ofereceu uma cópia para ser arquivada na FAMS, onde já havíamos

travado contacto pessoal. A partir de então, surgiu a idéia de fazer uma

adaptação do texto, nos moldes de um livro didático, com o aval do autor.

Atualmente, o projeto está em andamento.

O capítulo oito, Pathways to Freedom: Manumission and Runaways, foi

escolhido como forma de exemplificar os procedimentos de adaptações

necessários para tornar o texto de acordo com o objetivo proposto, ou seja,

acessível a um leitor leigo de língua portuguesa interessado na história da

cidade.

Esse capítulo aborda as chances que os escravos tinham de deixar a

escravidão: a alforria, ou a fuga. E também as conseqüências de sua escolha,

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Page 19: TCC - Roberto Pereira de Lucena

desde o pagamento da alforria em dinheiro ou prestação de trabalho por

alguns anos, até a prisão e os castigos no caso de uma fuga malograda.

Para possibilitar uma visualização comparativa dos dois textos, o da

língua de partida e o da língua de chegada, ambos estão colocados lado a

lado na tabela abaixo.

2.2 O texto fonte e sua tradução adaptada

Unequally bound: the conditions of slave life and treatment in SantosCounty, Brazil, 1822-1888

(READ, 2006)

CHAPTER EIGHT – Pathways to Freedom: Manumission and Runaways.

Late one Wednesday evening, 2 June 1858, under the cover of darkness,two slaves slipped away from their house in Santos and stole away fromtown. The runaways, named Jacintho and Francisco, were from Africa.They worked for their owner by tapering, beveling, planning and hollowingwood staves until they fit snugly within two or three stiff metal hoops. Ascoopers, they knew that gaps too small to be seen by the naked eye couldruin a barrel. In this craft, skilled workers were hard to find and their worktook years to master, commanding respect when it was done well.

CATIVEIROS

CAPÍTULO OITO

TANOEIRO(03)

Trabalhador especializado em fabricar tonéis, pipas, barris, etc. Por tradição, oscomponentes da categoria de trabalhadores do Porto de Santos chamada Consertadoresde Carga e Descarga também são conhecidos como tano

Tarde da noite de uma quartaescuridão, dois escravos saíram escondidos da casa onde moravam, emSantos, e fugiram da cidade. Os fugitivos, que se chamavam Jacintho eFrancisco, eram africanos. Suas tarefchanfrar e aplainar tábuas de madeira, até que elas se encaixassemperfeitamente entre dois ou três aros de metal. Eramque pequenas falhas no corte da madeira, invisíveis a olho nu, poderiamarruinar umaespecializados nessa função, que levava muito tempo para ser aprendida.O trabalho, quando bem feito, causava admiração e respeito.CARTA DE ALFORRIA

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Page 20: TCC - Roberto Pereira de Lucena

The two Africans may have previously discussed how extra work mightbring savings for manumission letters. Or, they may have talked about theways they could use their skills and savings in order to survive on the run.Jacintho was a tall man, from the port or nation of Mina, 30 years old, andwith lighter brown skin. Francisco was slightly younger and darker, had afirmer grasp of Portuguese, and came from Congo. If they had never leftAfrica, these men might have considered each other to have strangecustoms and languages, but in Brazil and in the dimness of a waning moon,they were compatriots and united in their risky pursuit.

Advertisement of Jacintho and Francisco

Source: Revista Comercial (Santos) 6/1858

A carta de alforria era um documento por meiorescindia dos seus direitos de propriedade sobre o mesmo.

Os dois africanos provavelmente já haviam feito as contas, e avaliado porquanto tempo teriam que fazer trabalho extra, nas poucas horas de folga,para ganhar oOu haviam discutido como usar suas economias e destreza no trabalhopara sobreviver em uma fuga e trabalhar como homens livres.que era alto e tinha a tez um pouco mais clara, erafricana de Mina, e tinha 30 anos. Francisco viera dmais jovem, tinha a pele mais escura, e melhor domínio da línguaportuguesa. Se nunca houvessem sido forçados a deixar sua África natal,esses homens consideralínguas e hábitos estranhos. No Brasil, no entanto, unidos por seu arriscadoprojeto de fuga sob a pouca luz de uma lua minguante, sentiamirmãos. (32)

Anúncio sobre Jacintho e Francisco

Fonte: Revista Comerial (Santos) 6/1858

Duas semanas depois do sumiço da dupla, seu senhor, José Teixeira daSilva Braga, publicou um anúncio no jornal, pedindo aos leitores que o

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Two weeks after their disappearance, their owner José Teixeira daSilva Braga posted an advertisement in the local newspaper asking readersto help him find his two slaves (Figure 8.1). He promised that he wouldgive 50 mil-reis (equivalent to more than a month of unskilled wages) toanyone who found his slaves, in addition to compensation for expensesincurred during their capture and return. He had reason to believe that oneof his townsmen could accomplish the task since he had heard rumors thatthe slaves had returned to Santos once or twice at night. In the end,Jacintho made his way back to Braga either voluntarily or through capture.Less is known about Francisco, who may have found tenuous freedom.Since slave runaways were often punished, Jacintho may have had theskin, tissue and muscles of his back severely cut by as many as 100-200lashes of a whip. Or he may have served a week or more in stocks at thecity jail.

José Braga probably felt very angry and dismayed with Jacintho andFrancisco since he would later act in a way that might have stemmed from aself-perception of benevolence. In the next two decades, he displayed aform of compassion (or protective concern towards his assets) byoccasionally paying the hospital fee for several of his slaves. He alsomanumitted two young women who may have known the two runawaycoopers when they were girls. Prior to manumission, those girls had been

ajudassem a encontrar os fugitivos. Prometia recompensar com 50 mil(quantia equivalente a mais de um mês de rendimentos de um trabalhadornão especializado) a quem os encontrasse, além de uma compensaçãopelas despesas relativas à captura e transporte. Ele tinha motivos paraacreditar que algum conterrâneo seu poderia prendêdavam conta de que os escravos haviam retornado à cidade uma ou duasvezes, durante a noite.

Não há informações sobre se voluntariamente ou devido à sua captura,mas Jacintho voltou a trabalhar como escravo do Sr. Braga. Nada mais sesoube sobre Francisco, que pode ter permanecido o resto da vida emrelativa liberdade.

Como os fugitivos eram geralmente punidos, Jacintho deve ter tido a pele,a carne e os músculos de suas costas gravemente feridos por váriaschibatadas. Ou pode ter ficadocadeia da cidade.

Apesar de José Braga possivelmente tercontrariado com Jacintho e Francisco, esse senhor tomaria mais tardeatitudes que pareciam ser resultantes de um sentimento de beNas duas décadas seguintes, ele demonstrou certa compaixão (oucuidados) com seus escravos, pagando eventualmente as taxashospitalares para vários deles. Também alforriou duas jovens escravas quetalvez tenham conhecido os dois tanoeiros quand

Antes da alforria, essas moças haviam sido treinadas para trabalhar nacasa de um rico homem de negócios português, tal como ele. A habilidadepara desempenhar essa função, no entanto, não seria suficiente paragarantir a sobrevivência dasdos dois tanoeiros.provavelmente mais dificuldades para conseguir trabalho.

Os casos dos escravos e escravas de José Braga demonstram que haviadois caminhos possíveFrancisco escolheram o segundo caminho quando “roubarammeio. A fuga era uma maneira de obter a liberdade relativamente rara atéos últimos cinco anos de escravidão em Santos; não apenas tconsideráveis, além de afastar os escravos dos cuidados de suascomunidades de família e amigos, como também requeria recursos ehabilidades que a maioria não possuía.senhores ricos eram mais propensos a corrercontacto com seus entes queridos, sofrer punições violentas, e até mesmomorrer durante a fuga, devido ao fato de, geralmente, possuírem

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trained to properly keep the house of a wealthy Portuguese businessmansuch as himself. The two young women were certainly skilled, but they didnot have the know-how required for a guild-craft like cooperage. Withoutproper references, these women would have probably had more troublefinding employment as fugitives.

José Braga’s slaves show that there were two pathways to freedomavailable to adult slaves, manumission and flight.

Jacintho and Francisco took the second pathway to freedom when they“stole themselves” by running away. Escape was a manner of attainingfreedom that was relatively rare until the last five years of slavery in Santos.I argue in this chapter that running away from owners not only carriedconsiderable risk and separated slaves from caring communities of familiesand friends, but required resources and skills that most slaves did not have.Slaves of wealthy owners were more likely to take the risk of losingconnections to loved ones, violent punishment, and even death throughflight because they were more likely to have marketable skills that theycould sell and enough education to help them navigate their way to safety.

The other pathway to freedom, that taken by Braga’s enslaved domesticservants, was manumission. Some manumission letters were freely givenand once a copy of the letter was received, the former slave (preto forro)had nearly every right as any other Brazilian citizen. Many othermanumissions allowed a slave to pay for their freedom or conditionallystipulated a future payment or labor. These conditional letters often did notgive immediate freedom for slaves, they did provide some worthwhilebenefits. The “onerous” manumission (alforrias onerosas), or those that

habilidades em ofícios mais procurados, e serem mais bem informados, oque poderia ajudá

PRETO FORRO

Assim era chamado o escravo que, por meio de uma carta de alforria, passavalegalmente em liberdade

Outro caminho para a liberdade, aquele que foi percorridodomésticas do Sr.dadas gratuitamente e, uma vez de posse de uma cópia, o expartir daí chamado deque os outros cidadãos brasileiros.pagar por sua liberdade, ou estipulavam a condição depagamento ou trabalho.não davam liberdade imediata ao escravo, mas apenas algumasvantagens. As alforrias onerosas, aquelasestipulavam um preço tão alto que podem ter deixado alguns exem condições precárias. Uma vantagem das alforrias onerosas era que umsenhor não poderia mais vender o escravo uma vez que o processo tivessesido iniciado.longos períodos de serviço e, caso eles não cumprissem sua parte docontrato, podia ser cancelada. Os filhos de escravas alforriadas geralmentejá eram considerados livres quando de seu nascimentsenhores não recebessem os pagamentos esperados por uma alforriaonerosa, ou se o escravo não cumprisse com o compromisso de trabalho ede comportamento de uma alforria condicional, ou mesmo se o alforriadodemonstrasse “ingratidão”, eser forçados a voltar à escravidão.as alforrias revogadas.

Apenas alguns grupos de escravos viviam em uma condição que tornavapossível obter uma carta de alforriaoptavam por um caminho ilegal para a liberdade podem ter assim agidoporque não quiseram pagar o alto preço de uma carta de alforria, ou nãotinham como obter dinheiro para isso. Essa é, portanto, uma discussão arespeito das duas maneiras possíveis de atingir a liberdade. Nela vamosretornar ao tema básico deste trabalho:condições desiguais, tinham acesso a opções diferentes, e agiam de

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were paid, usually stipulated high prices that may have left some formerslaves in precarious positions. However, slaves usually could not be soldonce the process of an onerous manumission had begun. Conditionalmanumission locked most ex-slaves into a long period of service and if theydid not fulfill their side of the deal, the manumission could be cancelled. It isimportant to note that the largest benefits were probably felt by manumittedfemales whose children were almost always born free. But if owners did notreceive expected payments for an onerous manumission, or the slave didnot provide the stipulated labor or behavior of a conditional manumission, orif any manumitted slave displayed “ungrateful” behavior, these formerlyenslaved men, women and children could be forced back into slavery.Overall, however, revoked manumissions were rare.

This chapter analyzes two sources that are logically connected:manumission letters and runaway advertisements. Only certain groups ofslaves were in a position to gain a manumission letter. The men andwomen who took an illegal route to freedom may have done so becausethey did not want to pay the high price for a manumission letter or were notable to earn money for a letter. This, then, is a discussion of the twoavailable pathways to freedom. In it, I will return to the overriding theme ofthis book: slaves lived in unequal conditions and had different optionsavailable and acted differently depending on those conditions.

In Santos, some slave infants were manumitted at baptism, but for enslavedadults and children most manumission letters were purchased eitherthrough a cash payment or with labor over an extended period of time. Ofthe 294 letters written for enslaved adults and children, 22 percent weregiven freely or listed no conditions. These were manumissions with no(known) strings attached. But a larger share—27 percent—forced the slaveto comply with some condition, usually in the form of pressed labor overmany years. Another 34 percent of the letters allowed the slave, a familymember, or a third party to pay money for the manumission letter. Withfree baptismal manumission letters included, the percentage of unpaid andunconditional manumission letters increases slightly, to 38 percent (Table8.1). Therefore, enslaved adults and children who wished to escape slaverylegally in Santos commonly had to meet one of three conditions: either theyhad to be able to earn, save or borrow enough money to cover their ownprice, they had to find someone else to pay, or they had to negotiate withtheir owners a future exchange of labor for partial or full freedom.

maneiras distintas em função dessas condições.

Em Santos, algos adultos e crianças muitas cartas dede pagamento em dinheiro ou de trabalho prestado por um grande período.(70) De 294 cartas lavradas para escravos adultos e crliberdade total, ou não estabeleciam condições: eram alforrias(aparentemente)escravo a cumprir alguma condição, normalmente na forma de prestaçãode serviços por muitos anos.escravo, um membro da família, ou um terceiro pagasse pela carta dealforria. Se incluirmos as cartas de alforria batismal, a porcentagem decartas livres e incondicionais cresce um pouco, para 38%.escravos, adultos ou crianças, que quisessem deixar legalmente aescravidão em Santos, normalmente tinham que enquadrartrês condições: odinheiro suficiente para cobrir seu próprio valor, opagasse por eles, ou tinham que negociar com seu senhor uma futura trocade prestação de serviços pela liberdade parcial ou total.(05)

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Table 8.1. Manumission Types (1810-1880)

Free Number Percent

Explicitly free18 5

No conditions mentioned 47 12

Purchased*1

Self-purchase 105 28

Family or third party purchase 21 6

Conditional*2

Serve until death of master 52 14

Serve a fixed time 7 2

Other 6 2

Unknown 13 3

Purchased and Conditional 25 7

Baptismal

No payment mentioned 80 21

Purchased 5 1

Unknown 25 7

Total 379 100*3

Note: *1) Includes 25 letters that were purchased and had conditions; 2)excludes all purchased letters; 3) These figures do not add to 100 percentbecause “purchased” category includes “purchased and conditional” letters.

Source: Source: Cartas de alforria, 1800-1880, PCNS, SCNS, CCS, FAMS.

The relatively lower number of unconditional manumission letters in Santoswas similar to other parts of São Paulo during this time. For SãoSebastião, Rosangela Dias da Ressurreição found that conditional letterswere the most common. Eisenberg found a higher number of purchasedletters (onerosas) for slaves in Campinas: 60 percent of letters were of thistype between 1798 and 1885. Only after 1886, when slavery seemed fatedto end, did unpaid letters surpass purchased letters in Campinas. In thisrespect, nineteenth-century São Paulo is unusual, since many other parts ofBrazil had proportionally more unpaid manumissions than paid.

Historians have often distinguished between the three types ofmanumission letters, and have argued that they were largely separate but

(07)

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related systems of granting freedom (or the future possibility of freedom). Ibelieve this is true, but two comments must be made about the dataavailable on slave manumissions in Santos. First, among the Santosmanumission letters from the two notary offices, nearly a third of alltranscribed letters do not fit into one of the three types of letters. Forexample, seven percent of the letters were both onerous and conditional(Table 8.1). In these cases, in addition to the conditions attached to themanumission letter, the slave or someone else had paid (or vowed to pay) asum of money. Another 16 percent of the letters neither explicitly said thatthey were “free” (gratuita) nor if there were conditions attached. These“ambivalently free” manumission letters became increasingly common after1860 when the notary officers composed shorter, more formulaic, and lessdetailed letters.

Second, slaves who paid or found a third-party payer were sometimes givena separately contracted “lease” on their labor (locatário). These “leases”were nothing other than indenture contracts and while they were writtenseparately from the manumission letters, they were also closely connectedto them.

In one example, Juliana, a slave, was manumitted by Anna Luisa in 1864in a letter that only mentions a 400 mil-reis payment but no payer. Thenotary office holds another document dated to that same year and for thesame amount, contracting Juliana to serve Joaquim Soares Gomes for fouryears. Evidently, at the request of Juliana, Gomes initiated the processand paid Anna Luisa the amount of Juliana’s manumission. He thenentered the former slave into indentured service in a contract that waswritten separately from the manumission letter.

In another case, Luis paid his mistress, Virginia Maria Nebias, 800 mil-reisto purchase his freedom. The letter also documented that Virginia’shusband, Captain José Raggio Nobrega, had paid an additional 700 mil-reis. The notary office holds an indenture contract, written on behalf of JoséRaggio Nobrega, stipulating that Luis (now Luis Andrade) would give eightyears and four months (100 months) of his labor for 400 mil-reis. ClearlyLuis did not have enough funds to pay his purchase price and offered anindenture for the monies. Why the locátorio is 300 mil-reis less than theamount listed in the manumission letter is not given.

When approaching manumission letters, then, we should keep in mind thatsome letters were unclear if they were free or conditional, others were bothonerous and conditional, and a few were onerous but excluded informationon conditional indenture service contracts written separately in the notary

Alguns escravos,cartas de alforria, tinham que cumprir também um contrato de“arrendamento” de sua mão de obra, lavrado em separado da carta.Esses arrendamentos eram nada mais que contratos de aluguel do trabalhodo escravo, qalforria.

Juliana, por exemplo, foi alforriada por Dona Ana Luisa em 1864,constando de sua carta de alforria apenas o valor pago, 400 milnão o nome do pagador. No mesmo ano, no mesmo caoutro documento, em que consta o mesmo valor, no qual Juliana écontratada para trabalhar para Joaquim Soares Gomes durante quatroanos. Fica assim evidenciadodeu entrada aoEm seguida, lavrou o contrato de prestação de serviços em separado.

Há também o caso do escravo Luis, que pagou para sua dona, VirginiaMaria Nébias, 800 milestá registrado que o marido de Virgínia, Capitão José Raggio Nóbrega,pagou um valor adicional de 700 miltambém um contrato de arrendamento de mão de obra, em nome doCapitão Nóbrega, estipulando que Luis (agora já cAndrade) (30)

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office. Nevertheless, the different manumission categories can bediscerned for many of the letters, but only if we include a few additionalcategories that do not hide the ambivalence of the data.

Among the conditional letters, two-thirds stipulated that the contract wouldend with the death of the former owner. A conditionally manumitted slaveresembled a slave in many ways, and some were sold before they met theterms of the contract or when masters died. Some contracts ran until theex-slaves reached adulthood or were married; others carried specificperiods of time that ranged between two and ten years. Of 17manumissions in 1866, the second year of a difficult five-year war againstParaguay, eight slaves were “freed” so they could be conscripted into thewar effort. They were donated by families to serve as substitutes for eightfamily members. Over the century, the proportion of “free,” “paid,” andconditional manumissions remained fairly steady.

Conditionally freed slaves occupied complicated positions somewherebetween slavery and freedom, a nuanced condition that was not alwayscaptured by township government and notary officials. Some of theconditionally manumitted slaves in Santos were listed as slaves in otherdocuments years later. For example, Clemente and Domingos wereconditionally manumitted four and eight years earlier respectively, but bothare listed as “slaves” in the 1817 nominal list. Or there is Urçula whoappears in the nominal list in 1817 as a young slave owned by AntonioJoaquim de Figueredo. Urçula was manumitted by Figueredo threedecades later, but then sold as a slave a short time after.

This sale was different from the indenture contracts (locátorio) mentionedearlier.

The meia-siza (tax) record in which she appears for the third time wasexclusively for the transferal of slave ownership, while a sale of anindentured labor contract could have only taken place in the notary office.

Among the onerous manumissions (Table 8.2), those purchased by a familymember or a third party were less common than “self-purchase” but thismay have been because the letters did not have to mention who paid for themanumission. For example, eighteen out of 58 letters manumitting slavechildren involved purchased freedom between 1811 and 1880, but nonegave information on a parent, relative or third-party. It is inconceivable thata child would be able to save the price for their own manumission, yet for athird of these letters, there is no mention of anyone paying. Manumissionletters of children were certainly not the only ones missing information on

portanto) de trabalho, por 400 milpreço de sua carta, vendeu seu trabalho para conseguir uma parte dovalor.(17)

(08)

Entre as cartas condicionais, dois terços estipulavam que os contratosterminariam com a morte do antigo senhor. Um escravo condicionalmentealforriado era semelhante a um escravo comum em muitos aspectos, ealguns eram vendidos antes de ser cumprido o contratsenhor falecia.

Alguns contratos vigoravam até que o exou se casasse; outros tinham validade por um período determinado detempo, que variava entre dois e dez anos. De 17 alforrias em 1866, que foio segundo dos cinco problemáticos anos de guerra contra o Paraguai, oitoescravos foram “libertados”, para que pudessem ser recrutados para servirna guerra. Foram doados por seus senhores para serem os substitutos deoito membros da família. Durante o século XIXlivres, pagas, e condicionais man

Os escravos alforriados condicionalmente por vezes ocupavam umaposição complicada, entre a escravidão e a liberdade, uma condição comnuances que às vezes não efuncionários dos cartórios. Alguns alforriados condicionais foramrelacionados como escravos em outros documentos anos mais tarde.Clemente e Domingos, por exemplo, foram alforriados condicionalmentequatro e oito acomo escravos na lista nominal de 1817. Ou Úrçula, que aparece na listanominal de 1817 como uma jovem escrava pertencente a Antonio Joaquimde Figueiredo; ela foi alforriada pelo Sr. Figueiredo trêstarde, mas foi vendida c

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who paid. It appears likely that among the “self-purchase” manumissionletters, some slaves received money from friends, family members orpeople, some who wished to use them as indentured servants.

Table 8.2 Purchased Manumissions by Type and Decade

Decade Self-purchase Family or third party purchase Allmanumissions

1811-1820 4 5 30

1821-1830 10 2 34

1831-1840 nd nd Nd

1841-1850 23 9 60

1851-1860 17 9 58

1861-1870 11 14 66

1871-1880 16 6 46

Total 81 45 294

Source: Cartas de alforria, 1800-1880, PCNS, SCNS, CCS, FAMS.

Slave females and males were fairly evenly divided between all typesof letters, although males are slightly higher in among purchased letters.This fits findings from other parts of Brazil, and gives more evidence thatmale slaves may have had better earning power. Too many of the lettersare missing information on birthplace to come to any strong conclusions, yetit does seem that African slaves were more likely to have purchased theirmanumission, while Brazilian born slaves were granted more conditionalmanumissions. Slaves of working age were the most commonlymanumitted slave in purchased and conditional letters, but children morefrequently appeared among the freely given letters perhaps because theirlower prices made it easier for family members or a third party to pay.

Table 8.3 Slave Manumissions by Type, Slave Gender, Slave Age, SlaveBirthplace, and Owner Information

Slave genderFree*1 Purchased Conditional Purchased andConditional Baptismal

(09)

Entre as alforrias onerosas, as pagas por um membro da família ou porterceiros eram menos comuns que as pagas pelo próprio alforriado, maspode ser que isso se deva ao fato dmencionar quem efetivamente havia pagado.cartas alforriando crianças eram onerosas entre 1811 e 1880, mas nadadiziam sobre pais, parentes ou terceiros.criança pudessedas cartas não há menção de quem tenho feito o pagamento.

As cartas de alforria de crianças não eram certamente as únicas queomitiam quem era o pagante.pagaram por sua alforria, muitos tenham recebido dinheiro de amigos, demembros da família, ou de pessoas interessadas em contratáserviçais.

As cartas de alforria eram relativamente bem divididas entre escravosescravas, havendo apenas uma quantidade ligeiramente maior de homensentre as cartas pagas. Esse pequeno predomínio é o mesmo nas

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Male 32 66 38 13 44

Female 33 60 40 12 41

Slave age

Child 13 20 20 2 85

Working age 16 35 27 6 0

Elderly 7 10 4 17 0

Unknown 29 61 27 0

Slave Birthplace

Brazil 18 35 25 6 85

Africa 11 38 12 6 0

Unknown 36 53 41 13 0

Owner information

Male 44 76 36 16 39*3

Female 18 42 40 9 44

Couple 3 4 2 0 0

Carmalite Church 0 4 0 0 0

Total (N=65) (N=126) (N=78) (N=25) (N=85)

Notes: *1) “Free” includes both letters that are explicitly free and thosewithout conditions mentioned; *2) the gender of two slaves is unknown.

Source: Cartas de alforria, 1800-1880, PCNS, SCNS, CCS, FAMS.

Except for conditional manumission letters, male owners were mostfrequently involved in the manumission process. Perhaps masters placedmore emphasis on the financial return of slaves, while mistresses weremore concerned with the future labor that they would receive. As wasdiscussed in chapter five, male owners were more likely to be involved incommercial ventures and businesses, while female owners were more likelyto have slaves tending their plantations or farms. These differentoccupations may have influenced the ways that owners and their slavesapproached manumission. A handful of couples manumitted their slavesjointly, usually favoring free manumission. If this was a “gift,” then ownersprobably wanted to include their spouses when bestowing letters thatcarried no obligations or collected no money. The officials from theCarmalite Convent also went to the notary office to write letters ofmanumission, but they may have been forced to do so by slaves who begana process of coartação.

pesquisas feitas em todo o país, o que evidencia que os homens tinham ummaior poder de ganho. Muitas cartas não dão informde nascimento, o que impede uma conclusão mais definitiva, mas pareceque a origem africana era mais comum nas cartas de alforria pagas,enquanto que os escravos nascidos no Brasil eram mais alforriados pelascondicionais. Os escravosalforriados por cartas compradas ou condicionais, enquanto que ascrianças aparecem mais freqüentemente entre as cartas livres, talvezdevido ao fato de que seu baixo valor tornasse mais fácil à família ou aterceiros fazer o pagamento.

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This discussion of free, onerous, and conditional manumission hasexcluded many letters that either had missing data or were manumissionsgranted during baptism.

Using the wider set of manumission gives us more information on thegender of the slaves who received all types of manumission, the gender ofthe owner, and sheds light on baptismal manumissions. Unfortunately, thiswider set does not help us further distinguish between the types of lettersthat were written in the notary office.

Considering this wider set of manumissions, Brazilian born female slaves inSantos were most likely to get any type of manumission letter. Thisconforms to every other systematic study of manumission in Brazil (Table8.4). Historians have found that native born females received the mostletters even though African males vastly outnumbered Brazilian femalesuntil late in slavery’s existence.

Before the last two decades of slavery, African males appear as themajority among slaves in most historical sources from Santos includingcensus lists, inheritance records, bills of sale, civil legal proceedings, andhospital records.

Table 8.4. Studies of Manumission by Location and Period

Location PeriodGroups most likely to be manumitted

(percent of manumissions)

Female Black Native-born Adults*1

Salvador, Bahia 1684-1745 67

54

69 55

Salvador, Bahia 1779-1850 62 77 51 89

Salvador, Bahia 1808-1884 57 nd 53 nd

Paraty, Rio de Janeiro 1789-1822 66 62 84 54

COARTAÇÃO

Era um processo em que o escravo fazia um acordo com seu senhor para comprar sualiberdade; o escravo e o patrão estipulavam o preço do resgate, que o servo ia pagandoaos poucos; entrem

Se não considerarmos as cartas de alforria condicionais, os senhores deescravos estavam mais relacionados com as alforrias que as senhoras.Talvez os senhores dessem mais ênfase ao retorno finaque as senhoras estavam mais voltadas para a futura prestação de serviçoque pudessem receber. Como já foi mencionado antes, os senhores erammais envolvidos no comércio e em negócios, enquanto que a maior partedas senhoras possuíam escrafazendas. Essas diferenças podem ter influenciado na maneira como osdonos e seus escravos assumiam a alforria. Alguns casais alforriavam seusescravos em conjunto, normalmente concedendo a alforria livre. Comotratava de um “presente”, os senhores provavelmente queriam incluir suasesposas quando concediam cartas que não acarretassem obrigações, ouque não angariassem dinheiro.

Por fim, os funcionários do Convento do Carmo também iam ao cartóriolavrar cartas de alfescravos que iniciaram processos de

(10)

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Rio de Janeiro (capital) 1807-1831 64 69 59 45

Santos, São Paulo 1800-1871 54 nd 68 46

São Paulo (capital)1800-1888 58 nd 69 nd

Campinas, São Paulo 1798-1888 52 58 76 66*2

Note: *1) Adults were defined as 16 years and older except Salvador(1684-1745) where adults were defined as 15 years or older; *2) slaves overten years of age

Source: Salvador 1684-1745 (Schwartz, “The Manumission of Slaves inColonial Brazil: Bahia, 1684-1745,”), Salvador 1779-1850 (Mattoso, “Apropósito de cartas de alforria na Bahia, 1779-1850,”), Salvador 1808-1884(Nishida, Meiko. “Manumission and Ethncicity in Urban Slavery: Salvador,Brazil, 1808-1888” HAHR 73:3 (Aug.), 361-391), Paraty (Kiernan, TheManumission of Slaves in Colonial Brazil : Paraty, 1789-1822, 1984), Rio deJaneiro (Karasch, Slave Life in Rio De Janeiro, 1808-1850, 1987),Campinas (Eisenberg, “Ficando livre: as alforrias em Campinas no séculoXIX; Karasch, Slave Life in Rio De Janeiro, 1808-1850. 1987)

Within the literature on the topic there are two answers for why native bornfemales were favored; often both are given equal weight. On the one hand,since female slaves were more likely than males to work domestic jobs,they are assumed to have been more integrated into the families of theirowners. Women played important roles in raising their mistresses’ childrenand keeping up the home; the concomitant affection and ties this developedmade their owners more conducive to partially freeing them. Some havetaken this a step further to posit that girls and women often entered intosexual or amorous relations with free men and could place pressure on theirpartners for greater benefits. Some have seen this in negative terms,believing that free men and women gave manumission in exchange forgreater “social control” by cultivating a sense of gratitude in their slaves thatcould translate into lifelong service. The “gratitude” or sense ofindebtedness they fostered might have been formed as a result of coerciveor willing sexual ties.

In this discussion, we must consider the different types of manumissions.Excluding the paid manumission letters, males and females were fairlyevenly divided. Thus, it seems more reasonable to consider the sexdifferences in terms of different economic opportunities and strategies,rather than affectional or sexual motivations.

CRIOULO

Era o termo usado na época para diferenciar o escravo nascido no Brasil dos que haviamsido trazidos da África.

Uma pesquisaas escravas nascidas no Brasil eram mais propensas a conseguir algumtipo de alforria, tanto em Santos como em outros locais do país.Historiadores descobriram que as escravasdas cartas de alforria, apesar de os escravos africanos do sexo masculinoserem muito mais numerosos que as escravas brasileiras até próximo dofim da escravidão.

(06)

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In Table 8.5, a few more characteristics of the wider set of manumittedslaves are listed. All types of manumission have been included here in onebroad category, and while this places three very different systems ofmanumission (free, purchase, and conditional) together in one category, itstill provides some information on the broader trends, especially in regard tothe gender of slaves. Since this study has included baptism records, thenumber of infants is higher than most studies of manumission

Table 8.5. Characteristics of manumitted slaves, 1800-1877 (percent)

Manumitted slaves

Years of source All years 1800-1850 1851-1877

Gender

Male 47 46 47

Female 54 54 53

Expected Male*1 39

Expected Female 61

Age (years, average) (A=22) (A=22) (A=21)

Age females (years, average) (A=22) (A=23) (A=22)

Age males (years, average) (A=20) (A=22) (A=20)

Children 38 39 37

Place of birth

Location listed 28 21 41

�Africa 46 493 43

Brazil 55 51 58

Santos 5 6 4

Race

Race listed 24 14 41

Preto 34 28 39

Pardo 42 28 51

Mulatto 21 45 5

Total number(N=551) (N=354) (N=197)Na literatura a respeit

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Notes: *1) This is the expected percentage of manumitted males adjustedfor the changing sex ratios (between 1825 and 1872). It assumes acounterfactual world in which sex ratios changed, but rates of manumissiondid not.

Source: Cartas de alforria, 1800-1880, PCNS, SCNS, CCS, FAMS.

Historians have found that in the first half of the nineteenth-centurymore women than men manumitted slaves; in the second half of the centurythe counts were reversed. Enidelce Bertin, who confirmed this for post-1850 São Paulo letters, suggests that this is because there were moremarried couples manumitting and they were represented solely by thehusband. When considering the characteristics of owners, the archivedoes not permit a strict division between the types manumission. (18) Moremen manumitted their slaves by the second half of the century in Santos aswell (Table 8.6), and this accompanied an increased number of marriedowners. The majority of these owners were quite old for their day and theymanumitted their slaves when they only expected to live for a short timemore. The average age of the owners increased over the century as lifeexpectancies lengthened slightly and slaves became more expensive (andthus less affordable to younger individuals).

Owners who manumitted slaves tended to be about five to ten years olderthan those who bought and sold slaves, but both groups would have beenconsidered fairly old for their day. In terms of civil status, there was aconsiderable shift during the century. Before 1850, single, married andwidowed owners were fairly evenly divided; after 1850, nearly two-thirds ofthe owners who manumitted their slaves were married. This is probably aconsequence of the steep rise in slave prices, since married men andwomen typically were wealthier than single and widowed individuals.

Among owners who manumitted most were white but there were asurprisingly high number of men and women of color. Bills of sale and taxrecords present a sharp contrast: only a handful of slave buyers and sellerswere listed in other documents as mulatto or black. Beyond genderdifferences, racial diversity is another clue that there might have been adifference in economic status between the group of owners whomanumitted slaves and those who purchased and sold slaves.

Another hint is their birthplace: during a period of time when only 16percent of slave buyers declared Santos as their birthplace, nearly half ofthe manumission owners were Santista. There were also much higherlevels of Brazilians than Portuguese; the latter were the majority among of

igualmente relevantes:escravas desempenhassem trabalhos domésticos, presumefossem mais integradas às famílias de seus senhores.tinham um papel importante na criação dos filhos de suas senhoras, e namanutenção da casa. O envolvimento afetivo resultante tornava ossenhores mais propensos a dar

Por outro lado, alguns historiadores vão um pouco mais longe aomencionar que moças e mulheres às vezes mantinham relacionamentoamoroso com homens livres, podendo daí pressionar seus parceiros paraobter benefícios. Outros chegaram a conclusões mais negativas,acreditando que senhores e senhoras davam alforrias em troca demaior “controle social”, criando um senso de gratidão em seus escravos,que poderia transformar“gratidão”, ou a sensação de endividamento que os senhores criavampoderiam também estar relacionadas à tentativa d

Se considerarmos, no entanto, todos os diferentes tipos de alforrias, comexclusão das onerosas, escravos e escravas estão relativamente bemdivididos. (67)

relação a escravooportunidades econômicas e estratégias diferentes, mais do que por razõesafetivas ou sexuais.

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Portuguese found in the buyers and sellers.

Table 8.6. Profile of Slaveholders who manumitted slaves, 1800-1871(percent)

1800-1850 1850-1871 1800-1871

Gender

Men 43 58 48

Women 54 38 48

Couples or business partners 3 2 2

Commercial or religious associations 1 2 1

Age (average) (A=55) (A=59) (A=56)

Civil status

Single 36 18 30

Married 28 64 41

Widowed 36 18 30

Race

White 78 nd 80

Of Color 22 nd 20

Birthplace

Portugal 33 44 40

Brazil (including Santos) 67 50 56

Santos 48 24 33

Europe 0 7 4

Occupation

Business 44 42 43

Public Office 10 28 20

Church 18 6 11

Farming 15 4 8

Army 5 6 5

Liberal profession 0 8 5

Other 10 6 8

Country landowners 25 22 24

Total number of documents (N=343) (N=179) (N=522)

ENIDELCE BERTIN

A historiadora Enidelce BertLetras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, estudou o papel das cartas de alforriaemitidas na cidade de São Paulo durante o século XIX, sua função dupla de controle e, aomesmo tempo, de diminuição

Em sua diconquista escrava e o paternalismo senhorialfeitas a partir de documentos (cartas de alforria) encontrafica no bairro da Barra Funda e no depósito do A

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Total number of owners (N=238) (N=134) (N=372)

Total number of cross-listed individuals (N=94) (N=86) (N=180)

Source: Cartas de alforria, 1800-1871, PCNS, SCNS, CCS, FAMS.

Note: “Documents” are both manumission letters and baptisms. The “totalnumber of owners” may have included repeating individuals. The “totalnumber of cross-listed individuals” included those who were found in otherhistorical sources (see chapter one for a description and discussion of thosesources).

Businessmen were more likely to buy or sell a slave than to manumit one.There were relatively more church officials among owners who manumittedthan among the buyers and sellers, and more slaveholders in liberalprofessions such as law, education and medicine.

Coffee commissioners and men who ran import and export businessesduring the coffee boom of the second half of the century seldommanumitted their slaves, preferring instead to buy and sell them. Nearly fivepercent of the 331 individuals who appeared in the slave market records,and for whom we have occupational data, were involved in the lucrativebusiness of coffee or general imports and exports. In contrast, less thantwo percent of the 211 men found in the manumission records wereinvolved in these occupations. Mid- to large sized comerciantes bought andsold 55 slaves but manumitted only five. These businessmen were morelikely to be of higher status and wealth than businessmen or women withshops or who worked as vendors or peddlers.

Overall, fewer men in the manumitting group had high status symbols suchas titles of nobility, educational degrees, or prestigious club associations.On the other hand, there were more individuals who manumitted that weremedium or high ranking military officers or who worked for one of the foreignconsulates in town. Twelve individuals who wrote up manumission lettersor who requested manumission at baptism were also found in theinheritance records; all except one were small or medium wealthholders.

Clearly, the chances of a manumission letter not only rested theslaves’ earning power and market price but also on the demographic andoccupation background of the owners. We should not go too far, though,since men and women of a wide spectrum of wealth, status, and occupationbought, sold, and manumitted slaves. The evidence presented here,however, shows that those who typically manumitted slaves had a bit lesswealth, more diverse jobs, and were far less involved with coffee, the port’ssignature trade after 1850.

Os estudiosos de história vêm demonstrando que, na primeira metade doséculo XIX, mais senhoras que senhores alforriavam seus escravosegunda metade daquele século, acontecia o inverso.sustenta quePaulo a partir de 1850, havia mais casais alforriando escravos, e apenas onome do marido era registrado.

Em Santos também predominam nessa época as cartas lavradas porhomens, com a predominância cada vez maior de casados.

Esses senhores eram, em sua maioria, bastante idosos para a época, eacabavam por alforriar seus escravos quando achavam que não lhesrestava mais muito tempo de vida.aumentando ao longo do séculotornando maior.tornando sua posse menos viável para os mais jovens.

Os senhores que alforriavam seus escravos eram em geral de cinco a dezanos mais velhos que aqueles que os vendiam ou compravam, mas os doisgrupos poderiam ser considerados de idade avançadarelação ao estado civil, houve umaséculo (13). Antes de 1850, havia um número relativamente semelhante desolteiros, casados ecerca de dois terços dos senhores que alforriavam seus escravos eramcasados. (45)

preço dos escravos decorrente da proibição do tráfego negreiro, já que, deum modo geral, os homens e mulheres casados tinham mais posses queos solteiros e viúvos.

Esses senhoressurpreendentemente alto de pessoas de etnia negra. Já nos recibos devenda e nos comprovantes de recolhimento de impostos, encontramos umamarcante diferença: apenas uns poucos vendedores e compradores deescravos estão relaciona

Além do sexo dos senhores, a diversidade racial é também uma evidênciade que haveria diferenças de status econômico entre o grupo de senhoresque alforriava escravos e o grupo que os negociava.

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This discussion of manumission letters gives another set of clues thatcertain slaves had more privileges than other slaves. For example,Brazilian born infants and children were in a particularly strong position toreceive a letter of manumission because their price was still low.Furthermore, male slaves were more likely to be manumitted by paying theirprice or by finding someone who would pay for them. Particular groups ofslaves, which included an even number of males and females, earnedenough money (or found someone who was willing to pay) for theirmanumission. While buying oneself or finding a buyer were certainly“onerous,” as this category was properly called, these slaves were in abetter position compared to those who could not earn money or knew noone who would sponsor them. Many slaves gained rights when manumittedand if they were not immediately free, a good number had much greaterpotential for eventually attaining full freedom. These letters also reveal theactive role that slaves played in the manumission process, and the fact thatsome were much better situated than others in this unequal society.

When manumission was not a good option, slaves may haveconsidered running away. Running away carried enormous risks ofpunishment and often permanently separated slaves from the communitieswithin which they lived and worked. In the nineteenth-century and even

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perhaps before, runaways mostly sought non-isolated places where theycould live under the false pretense that they were legally free. Or theylooked for other runaways that had banded together in quilombos (marooncommunities) that were places with people who scraped by on the fringes ofsociety. In the eyes of the law, slaves were “stealing” themselves, takingproperty that could be worth more than a year’s saved wages for someowners. Punishment for such acts was often severe: violence meted out inthe form whippings or beatings, or confinement to prison for weeks ormonths while shackled to the wall with iron chains. Owners occasionallymandated that slaves who had run away permanently wear iron collars,chains and heavy weights as a measure to prevent future flight. Anunknown number of slaves were killed during this punishment or throughattempts to escape capture.

Despite the risks, some slaves who had previously attempted to flee triedagain. The jail registers carried notices to owners of unknown slaves whowere found without papers but with the marks of previous whippings or thescars of iron shackles and chains. When slaves ran away and were notimmediately caught, some owners placed a notice in the newspapers thatcarried a description of the slave, his or her clothing, mannerisms, andoccupations or skills. Some notices are filled with minute details about theshape of a slave’s scar or length of their beards; others are brief andgeneral. When these notices are collected they begin to give a portrait ofthe slaves who took considerable chances to escape slavery. The slaveswho chose to escape slavery illegally differed from the typical slave whobargained for his or her legal escape through manumission. Thesedifferences reflect the stratified world of slavery and the opportunitiesavailable for slaves and owners based on their position within a hierarchy ofwealth and status.

Between 1851 and 1871, there were 110 notices for 139 individualswho, in groups or on their own, had escaped from plantations, small farmsor their urban homes. Only a small number of these slaves were fromSantos; the others worked and lived in towns and rural areas scatteredthroughout the state of São Paulo. Santos was a common destination formany slaves, partly because many had passed through the city when theywere transported from other provinces within the Brazilian Empire or fromAfrica. As the city expanded, driven by the growing business of coffee,fugitives learned that Santos had such a need for workers that someemployers might turn a blind eye to the history of a stranger. This wasespecially true by the late 1870s and 1880s when Santos attracted largernumbers of fugitive slaves and abolitionists battled police in order to shelter

COMISSÁRIOS DE CAFÉ

Eram homens de negócios que intermediavam a venda do produto entre os fazendeiros eos compradores estrangeiros. Também cuidavam do estoque e da exportação, e atémesmo financiavam a plantação eépoca. Eram a elite econômica da cidade.

Os homens de negócios eram um grupo que comprava e vendia seusescravos mais comumente do que os alforriava. Havia mais funcionários daigreja entre os senhores que alforriavacompradores. Neste grupo havia mais profissionais liberais.

Os comissários de cafédurante o auge dos negócios com café, durante a segunda metade doséculo, raramente alforriavamCerca de 5% dos 331 indivíduos que têm sua ocupação citada nosregistros do mercado de escravos eram relacionados aos lucrativosnegócios do café ou de importação e exportação. Em comparação, menosde 2% dos 211envolvidos com esses negócios.

Os médios e grandes comerciantesescravos, e alforriaram apenas cinco. Eram em geral pessoas de maiorstatus e riqueza que os negociantes quecaixeiros ou ambulantes.

De um modo geral, poucos indivíduospossuíam símbolos de status como títulos de nobreza ou acadêmicos, oueram sócios de clubes de prestígio. Havia oficiais de média efuncionários de alguns consulados estrangeiros. Doze constam dos

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and protect them. Many owners placed notices for the same slaves inmultiple town and city newspapers, with the hope of increasing theirchances at recovery. A notice in Santos’s Jornal do Comercio, therefore,did not necessarily imply that the owner knew the slave was destined for theport town.

The slave that chose to run away was not a typical slave. First of all,nine of every ten runaways were men (see table 8.7), but a slightly higherpercent of females fled in the 1860s than the 1850s.

Second, the runaways were on average a few years older than a slave whowas purchased or manumitted. The average age was 26 in the 1850s anda few years older in the 1860s.

Third, a little less than two-thirds of the fugitives were native-born, but thepercentage of Africans actually increased slightly, bucking the demographictrend brought about by the end of the international slave trade in 1850. Ofthe eleven slaves from a northeastern or a northern province, half do notgive us details on whether that was their birthplace or if they landed therefrom Africa. We can find a greater proportion of slaves from Bahia,Pernambuco, Maranhão, or Pará (all northern or northeastern provinces)than slaves bought and sold on the local market during these two decades.Most notices described slaves with lighter skin, although darker coloredslaves may have simply received less notice because they were the largestgroup. In today’s race conscious world, it is surprising that only 25 of the110 notices mentioned the race or ancestry of the slave. Far moreadvertisements described the shape of their faces or size of their bodiesthan the color of their skin.

Table 8.7. Profiles of runaways, 1851-1872 (percent)

Gender

Males 91

Females 9

Age (years, average) (A=28)

Birthplace

registros como sendo beneficiários de herança; e com apenas umaexceção, possuíam alguns

Fica evidentedependiam não apenas do poder de ganho e do valor de mercado dosescravos, mas também do local onde viviam e da ocupação de seussenhores.

Tanto entre os senhores que alforriavam quanto entre os que negociavamseus escravos havia uma grande variedade de ocstatus. No entanto, as evidências aqui apresentadas mostram que aquelesque em geral concediam a alforria eram um pouco menos ricos, tinhamprofissões mais diversas, e estavam menos envolvidos com os negócios docafé, que caracterizavam

O estudo das cartas de alforria trazescravos eram mais privilegiados que outros. Por exemplo, recéme crianças crioulos tinham grandes chances de receberam alforria porqueseu valor era ainda baixo.propensos que as escravas a pagarpagasse por eles.algum terceiro, essas alforrias eram onero nome, mas esses escravos estavam em uma condição melhorcomparados com aqueles que não tinham como conseguir o dinheiro, ounão conhecessem alguém que conseguisse para eles. Os escravosobtinham direitos quando eram alforrimediatamente libertados, um grande número deles tinha possibilidades deobter a liberdade completa.os escravos desempenhavam nos processos de alforria, e o fato de quemuitos estavam bem melhor situados que outros naquela sociedadedesigual.

QUILOMBO

A palavra “quilombo(Umbundo), presente também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos povosBantus que habitam a região de Angola, na África Ocidental. Originalmente, designavaapenas um lugar de pouso utilizado por populações nômades ou em deslocamento;

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With information 53

Africa 32

Brazil 60

From the North or Northeast (birthplace or previous home) 8

Race

Notices with race information 22

Preto 33

Mulatto 23

Fulo 20

Pardo 13

Negro 7

Cabra 3

Total (N=139)

Source: Jornal do Commercio (Santos), Diário de Santos, CCS, FAMS,HS.

Thus, like the slaves who were manumitted, the runaways hadparticular characteristics that made them different from the generalpopulation of slaves. They were on average older, a higher proportion wereAfrican or from the Northeast, and many had skills that they could use orsell when they established a new life. Of the notices that gave informationon jobs, most slaves worked skilled trades that included carpentry,cooperage, tailoring, or tile making (Table 8.8). Farmers and herders werethe next largest group, yet those who drove animals may have had moreopportunities for escape. Other fugitives worked jobs that allowed them totravel and have a great deal of independence. There were muleteers andtimber men, both knowledgeable about the road system and regionalgeography. Three fugitive slaves likely hoped to use their sailing skills aspart of a ship’s crew. Compared to slaves who were sold and manumitted,men and women involved in domestic tasks such as cleaning, cooking orsewing were noticeably absent. Only one domestic servant and two cookswere listed in these records. In contrast, domestic service was the largestoccupation group among the many slave sales.

Table 8.8. Occupations of Runaways, 1851 – 1871

Occupation Frequency

posteriormente passou a designar também as paragens e acampamentos das caravanasque faziam o c

Foi no Brasil que o termoescravos fugitivos.

Quando a alforria não era uma opção possível, os escravos podiam levarem consideração a fuga.punição, e geralmente separava permanentemente os escravos dascomunidades dentro das quais trabalhavam e viviam.talvez mesmo antes, os fugitivos procuravam os lugares mais ponde poderiam viver fingindo que eram legalmente livres. Ou iam juntara outros fugitivos que viviam em

Aos olhos da lei, os fugitivos estavam “roubando” a si mesmos, ou seja,roubando um patrimônio que podia valer mais de um ano depara alguns senhores.era aplicada na forma de chibatadas ou surras, ou pelo confinamento naprisão por semanas ou meses, acorrentados à parede. Alguns senhoresobrigavam os capturados a usacorrentes e pesos, como prevenção contra fugas futuras.desconhecido de escravos morreu nas seções de castigo, ou durante atentativa de sua captura.

Apesar dos riscos, muitos escravos que já haviam tenovamente. Os registros da cadeia incluem escravos desconhecidos queeram encontrados sem documentos, mas com marcas de açoites, oucicatrizes de algemas e correntes de ferro. Quando um escravo fugia e nãoera imediatamente recapturadno jornal, com a descrição física, de suas roupas, seus modos, ocupação ehabilidades. Alguns anúncios traziam detalhes minuciosos sobre o formatode alguma cicatriz, ou o comprimento da barba do escravo; outros sãosucintos e generalizados. Quando esses anúncios são analisados,podemos formar um retrato do tipo de escravos que tinha chancesconsideráveis de escapar da escravidão. Os escravos que optavam porescapar pela maneira ilegal eram diferentes daqueles que basua liberdade por meio da alforria. Essas diferenças refletem o mundoestratificado da escravidão, e as oportunidades existentes para escravos esenhores, baseadas em suas posições dentro de uma hierarquia de riquezae status.

Entre 1851 e 1871,grupos ou solitariamente, haviam fugido de grandes ou pequenas fazendas,ou de casas da cidade. Apenas um pequeno número deles era de Santos;os outros trabalhavam e viviam em cidades ou áreas rurais espalha

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Mason 8

Carpenter 6

Cooper 5

Farm worker 5

Herdsman 5

Sailor 4

Tailor 4

Baker 3

Cobbler 3

Muleteer 3

Timber man/sawyer3

Cook 2

Railroad worker 2

“Jack-of-all-trades” 1

Bread vendor 1

Coach driver 1

House servant 1

Mason and cook 1

Tailor and farm worker 1

Team driver 1

Tile maker 1

Tobacco roller 1

Total 62

Source: Revista do Commercio (Santos), Diário de Santos, CCS, FAMS,HS.

Slaves who worked within the home of their owner were more likelyto be manumitted than to run away. As already discussed, the pricedifferences between the expensive farm or skilled male workers and thelower priced female domestic servants was a crucial element ofmanumission rates. We might also attribute this to the greater surveillanceof the family and neighbors over domestic servant slaves or to the strongerconnections to a community of people who were part of the house.Domestic servants might have had a much smaller incentive to try escaping

pela província de São Paulo.pelos escravos, em parte porque muitos deles já haviam passado pelacidade quando trazidos de outras províncias do Império, ou da África.Com o crescimento da cidade devidoescravos sabiam que havia uma demanda tão grande de trabalhadores quealguns empresários poderiam fazer vista grossa sobre a origem de umforasteiro. (56)

década de 1880, quando Saos abolicionistas enfrentavam a polícia para abrigáMuitos senhores publicavam anúncios em jornais de várias localidades, naesperança de aumentar as chances de capturComércio de Santos, portanto, não queria necessariamente dizer que oproprietário sabia que seu escravo tinha como destino a cidade portuária.(57)

Nove em cada dez fugitivos eram homens, mas uma porcentagemligeiramente maior dede 1850. O fugitivo típico era um pouco mais velho que os escravos queeram negociados ou alforriados. A idade média era de 26 anos nos anos1850, e um pouco maior na década de 1860.

(11)

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because of their limited experience in the world beyond the few blocks orfew kilometers of countryside that they traveled for their daily chores.Furthermore, owners were probably less likely to take a domestic servantinto their house that had an unknown or hidden past. Thus, they may havehad fewer chances to make a living when they escaped. Slaves with skillsor trades that were in demand and who could work and live apart from thehouse probably did not need as many personal references to findemployment. Finally, owners that placed notices for missing slaves whowere domestic servants may have excluded the occupational informationbecause it did not reflect well on their own “duty” of benevolence andpatriarchy within their household.

Runaway slaves were among the highest priced in the Santos slavemarket because of their age, gender, and skills. In 1865, an African slavecarpenter in his upper twenties would have been priced between 1,500 and2,000 mil-reis. In comparison, a native-born female domestic servant, in thegroup most likely to bargain for manumission, would have been sold forabout 1000 mil-reis. These are coastal prices; near the recently plantedcoffee plantations in the São Paulo interior, prices for working-age malescould be as much as 50 percent higher. It is no wonder, then, that ownersoften placed rewards in amounts between 50 and 200 mil-reis on top of arepayment for any expenses accrued in capture and return. On the otherhand, owners did not have to offer a reward, and the 10 to 20 mil-reisexpense of placing notices in multiple newspapers for a week would havebeen a small price to pay for the recovery of a female or an older slave thathad been purchased for 500 mil-reis some time before.

OLEIROS

São os trabalhadores especializados em manipular a argila para a fabricação de telhas,jarros e outros objetos

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Because of the great amount of detail in these notices, far more canbe said about the men and women who fled. In Escravos nos anuncios(1979), Gilberto Freyre describes many of the unusual characteristics thatappeared in these advertisements. He was particularly interested in findingtraces of African customs such as filed teeth or tribal scarring. Beyond theparticular and surprising, Freyre was less interested in generalcharacteristics. He did notice, however, that “no one suffered more in Brazilthan the slave of the poor owner.” He based this argument on a greatrange of clothing, marks and scars of punishment, illness and disabilities,and mannerisms that he attributed to the economic backgrounds of differentslaves. Since there is little information about owners who placed theseadvertisements, it is difficult to tell if Freyre was right. One way to get at thisis to look at the few additional bits of evidence included in theadvertisements. For example, the bigger slaveholders may have beenmore likely to list one of the town’s big commission houses as their localcontact. Among the runaways of these owners, there were higher rewards,more groups of runaway slaves and only one female—all indicating thatthese slaves probably had worked at the larger plantations. The slaves ofthis group did have a slightly smaller percentage of afflictions or disabilitiesthan the rest, adding some credence to Freyre’s argument (and to theargument of this book).

The most common description of runaways focused on their bodies.Notices often began in general terms by specifying the height or weight of aslave. Tall and fat slaves, for example, appeared more often than short andskinny slaves. Some slaves had “good” or “regular builds” others were“very robust” or with “proportionate bodies.” Faces were the next mostcommonly described feature. Slaves had thin or round faces, long or shortforeheads, deeply set or big eyes, sharp chins, thick or thin mouths, or wideor fine noses. Descriptions of hair, particularly of beards, took up manywords. Slave men did or did not have facial hair, and the beardsthemselves were “slight” “full” or “wild.” Since teeth were often a commondistinguishing feature, owners recalled when slaves were missing their frontteeth, had gaps or “good denditure.” Four slaves had teeth that were filed(dentes limados), as was meaningful in some African traditions.Interestingly, only one with this distinctive feature was listed as African; theother three were from the Northeast and two were listed as native-born.Finally, legs, feet, and hands were described, especially when the slavewas disabled. Owners (or former owners) described hands and feet aspossessing a variety of ailments and disabilities, but a few were simply “ingood shape.”

Assim como os escravos que eram alforriados, os fugitivos tinhamcaracterísticas que os tornavam dis(24) Eram em média mais velhos, havia uma maior proporção de africanosou oriundos do nordeste, e muitos tinham habilidades que poderiam usarou vender quando estabelecessem a nova vida. De acordo com osanúncios queespecializadas, como de carpinteiro, tanoeiro, alfaiate ee vaqueiros eram também numerosos, sendo estes os que tinham maischances de fugir. Havia outros fugitivos que trabalhavam emfacilitavam a fuga: os condutores de mulas e os lenhadores, que eramconhecedores das estradas e da geografia da região. Houve três fugitivosque provavelmente esperavam poder usar seus conhecimentos demarinharia para entrar para a tripulaçãoos escravos que eram vendidos ou alforriados, havia poucos fugitivosenvolvidos em tarefas domésticas, como limpeza, cozinha ou costura.Apenas um doméstico e dois cozinheiros foram relacionados nos registros.Em contraste, os serviçais domésticos eram o maior grupo entre osescravos vendidos.

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Advertisements listed nearly one in every three runaways with somesort of affliction, disability or with marks from earlier diseases or wounds. Ifwe include broken or missing teeth, the number rises to one in every two.Most of these were scars, either from smallpox or other diseases, or weremarks left after an injury. Eleven slaves were scarred from whippings,mostly on the back and chest, but one on the buttocks and another on thelegs. Some slaves had other injuries that may or may not have beenaccidental. Firmino ran in 1864 marked by a scar due to a big hook thathad cut his neck, while another unnamed slave had an old bullet wound onhis hip. Owners left their marks on slave bodies in other ways, sometimesbranding them as they did their cattle. Marks and scars on the face were acommon point of description. There were pockmarked noses andforeheads, eczema, small tumors and cists. Some slaves escaped withopen wounds, such as Francisco who had a festering wound next to his lefteye that “continuously discharges liquid.”

Owners concentrated on physical aspects of their runaway slaves, but theyalso left us a picture of personality, manners, and habits. We might expectslaves to be depicted in mostly negative terms since, after all, owners astheir runaway slaves as thieves and bandits who (by running away) hadcreated a significant financial and personal problem for their owners. Amaster, who was likely to view himself as a stern but “caring” father,probably disappointment and a sense of wounded pride when his slavebroke an arrangement of “trust.” Sure enough, slaves are described as“untrustworthy” and “shrewd,” or “unpleasant” and “rude.” Other slaves aredescribed in terms of power that society meant them to lack. Several had“downcast eyes” and one “always seems frightened.”

But contrary to expectations, more notices carried fairly positive descriptionsof personalities or manners. One slave had “manners that are gentle and

Os escravos que trabalhavam dentro das casas de seus senhoreseram mais propensos a serem alfomencionado, atrabalhavam em fazendas ou tinham um oficio, e os escravos domésticos, éelemento crucial para os índices de alforrias.

Podemos também considerar a maior vigilância que a família e os vizinhosexerciam sobcom a comunidade das pessoas que faziam parte da casa. Os escravosdomésticos podem ter tido bem menos incentivo para tentar fugir devido aseus conhecimentos limitados a respeito do mundo além dequadras da cidade ou de alguns quilômetros da zona rural, por onde sedeslocavam em suas tarefas diárias. Além disso, os senhores eram menospropensos a levar para dentro de suas casas um escravo que tivesse umpassado desconhecido. Portanto,sobreviver caso fugissem. Escravos que possuíssem habilidades oudominassem ofícios para os quais havia demanda, ou que podiam trabalhare viver fora das casas, provavelmentereferências pessoais ppublicavam anúncios sobre fugitivos que eram escravos domésticospoderiam ter omitido a informação sobre a ocupação, já que isso nãodeixaria uma boa impressão sobre sua “obrigação” de benevolência epaternalismo para com seus escravos.

Os escravos fugitivos estavam entre os mais valorizados no mercado deSantos, devido à sua idade, sexo, e habilidades. Em 1865, um escravoafricano carpinteiro, acima dos vinte anos de idade, seria avaliado entre1500 e 2000

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kind;” another was “intelligent and quick.” Some were “very polite” or“friendly.” Owners described quirks and habits of their slaves and thesedescriptions show that these owners (or informants) knew the slave betterthan the majority of owners who could offer only laundry lists of scars ortypes of facial hair. Emilio, who disappeared in 1861, “walks quickly,”“shakes his arms when he walks,” and often “shrugs his shoulders.” Or, anunnamed slave from Mogy das Cruzes “has the habit of kicking one foot infront of the other while talking to a white man, resting his weight on his backleg.”

Speech and education were mentioned in the notices. We cannotassume that the African runaways were listed with greater difficulties withspeech. Native-born and African slaves were almost equally categorized bytheir owners as speaking well, poorly or with an accent. With the greatexpanse of the Brazilian Empire, there were many regional accents andvernaculars, and the “rough” speech of a native-born Bahian might not havesounded any worse or better than an African accent. Slaves had particularaccents that owners assumed newspaper readers would be familiar, suchas the Angolan accent or the speech of slaves from Matto Grosso. Oneslave, Emilio, spoke Portuguese so well that “he almost doesn’t seem to beblack.” Two African slaves spoke Portuguese well enough that the ownerwarned that they might be mistaken as native-born slaves. These were“ladino” slaves, a term used for acculturated Africans and occasionallypaired with speaking ability. Beyond vocabulary and languageconstruction, some slaves spoke softly, “in a pleasing manner,” “roughly,” orthey stammered.

One in six slaves was partly or fully literate in these notices, a remarkablyhigh number. Historians can only guess at literacy rates of Brazilian slaves,but the rate among these Paulista runaways was probably much higher thanthat among general population of slaves. There was a range of levels ofliteracy among these slaves. Emilio, the slave who spoke Portuguese “as ifhe doesn’t seem to be black” also knew some of the letters of the alphabet.Vicente, who disappeared in 1861, not only could read and write, but couldhelp conduct mass. Although Paulino could read and write Portuguese“poorly,” he escaped carrying papers and a lesson book (cartilha).

Brasil, portanto, pertencente aosua alforria, poderia ser vendida por aproximadamente 1000 milsão valores do litoral; próximo das novas fazenSão Paulo, o valor dos escravos do sexo masculino em idade útil poderiaser até 50% maior. Não é de admirar, portanto, que os senhoresoferecessem recompensas entre 50 e 200 mildespesas pela captura esenhores não precisavam oferecer recompensa, e a pequena despesa de10 ou 20 milsemana seria a única pela recaptura de uma escrava ou de um escravoidoso que teriam sido comprados por 500 mil

GILBERTO FREYRE

Gilberto de Mello Freyrefoi um sociólogo, antropólogo,

Devido à grande quantidade de detalhes constantes desses anúncios, épossível saber muita coisa a respeito desses fugitivos. Em Escravos nosAnúncios, Gilberto Freyreaparecem nos anúncios. Ele estava particularmente inencontrar traços de costumes africanos, tais como dentes limados oumarcas tribais, não tendo interesse em outras características.assim, percebeu que ninguém sofria mais no Brasil que os escravospertencentes a senhores pobres. Estnúmero de cicatrizes e marcas de punições, doenças, incapacitações, ehábitos que ele atribui às condições econômicas dos escravos. Como hápoucas informações a respeito dos senhores que publicavam os anúncios,é difícil dizer se Freyre estava certo. Uma maneira de tentar saber algumacoisa sobre isso é dar uma olhada nas outras poucas evidências existentesnos anúncios. Os donos de muitos escravos, por exemplos, eram maispropensos a indicar uma das grandes casas comissárialocal de contacto. Entre os fugitivos desses senhores as recompensaseram maiores, e um maior número de escravos fugia em grupos; haviaapenas uma escrava, o que indica que provavelmente a maioria trabalhavaem grandes fazendas. Os escravoporcentagem um pouco menor de doenças ou incapacitação que os outros,o que vem ao encontro do argumento de Freyre (e também ao deste livro)(58)

As descrições mais comuns dos fugitivos eram físicas. Os anúncios

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Slaves carried a range of other items and these possessions give aclue to their backgrounds. Many escaped with mules or horses and theaccoutrements they needed for long rides. Some carried bags or purseswith weapons hidden inside. Ignacio carried a sharp knife with a bonehandle inside his red goatskin bag. Two other slaves had firearms.Valeriano was armed with a Laporte Pistol while Simião tied a bundle of hisclothing to the end of his rifle and slung it over his shoulder. One slaveescaped with a manumission letter that had been written for a slavebelonging to his master’s father, while two slaves carried money or items ofvalue. Francisco brought 600 mil-reis in cash, possibly his manumissionsavings (peculio). One can better imagine this hierarchical society afterreading that Luis carried a new umbrella and a “fine English watch” when hemade his escape.

Clothing also demonstrated the range of changing styles and the ways thatsome slaves used their appearance to mark their positions of rank andstatus. Luis, the slave with the umbrella and English watch, also wore arichly colored felt hat and slightly used cashmere pants. These wereunusually fine trappings for a slave. Most other slaves only wore the fewitems of clothing that they were given or had to buy on their plantation. Thiscould include a pair of rough homespun cotton pants and a thin white shirt.Two slaves had large numbers stamped onto their shirts, probably to helpowners identify them in the fields. Runaways usually carried more than onechange of clothing, a blanket and a jacket or coat of some kind. Masterswarned that their runaways might try to trade their extra clothing for otherpants and shirts that would better conceal their identity. Runaways facedmany days in the rain, especially during the winter months in São Paulo andthey brought clothing that would protect them. Ponchos were morecommonly listed during the 1850s, but they were largely replaced byovercoats by the 1860s. Clothing was fairly standard among the runaways,but slaves may have distinguished themselves and their personalities withtheir hats. There were a surprising variety of hats, including straw hats,large brimmed caps with hare-tail tassels, “chile” hats. The headwear,

geralmente começavam especificando, em termos gerais, a altura e o pesodo escravo. Altos e obesos, por exemplo, apareciam mais que baixos emagros. Alguns escravos tinham “estatura boa”, ou “regular”, outros eram“muito robustos”, ou tinham “corpo proporciooutro traço muito comumente descrito. Os escravos possuíam rosto magroou redondo, testa grande ou pequena, olhos profundos ou grandes, queixopontudo, lábios grossos ou finos, nariz largo ou afilado. A descrição doscabelos, e principalmente da barba, era minuciosa. Os escravos possuíamou não barba, e essas eram ralas, cerradas ou crescidas.dentes eram um traço diferencial muito comum, os senhores especificavamquando algum não possuía os da frente, tinha falhas,Quatro escravos tinham dentes limados, o que era significativo em algumastradições africanas. Curiosamente, apenas um com essa característica eraanunciado como sendo africano. Os outros três eram provenientes donordeste, e dois erampernas, pés e mãos, principalmente quando o escravo era deficiente físico.Os senhores (ou exuma variedade de lesões e deficiências, mas alguns eram desimplesmente como “em bom estado”.

Os anúncios registravam que cerca de um em cada três fugitivospossuíam algum tipo de doença, incapacidade, ou marcas de doenças oucicatrizes. Se incluirmos dentes quebrados ou ausentes, o númeroaumenta paracausadas pela varíola ou outras doenças, ou por ferimentos. Onzeescravos eram marcados por açoites, a maioria nas costas e no peito, umnas nádegas e um nas pernas. Outros possuíam ferimentos que podeser ou não acidentais

Firmino fugiu em 1864 marcado por uma cicatriz causada por um grandegancho que havia atingido seu pescoço, enquanto outro, cujo nome édesconhecido, possuía um antigo ferimento de bala no quadril. Algunssenhores deixavam outromarcando-os como faziam com o gado. Marcas e cicatrizes na face eramuma forma comum de descrição. Havia testas e narizes com marcas devaríola, eczemas, pequenos tumores e cistos. Alguns fugiam com feridasabertas, como Francisco, que tinha um ferimento inflamado próximo aoolho esquerdo, que “vertia líquido constantemente”.

Os senhores descreviam mais detalhadamente os aspectos físicos de seusescravos fugitivos, mas também nos deixaram um retratopersonalidades, modos e hábitos.descritos, de um modo geral, em termos negativos, uma vez que, afinal, os

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furthermore, was constructed with a wide range of different materials.

The clothing and possessions that slaves carried indicate that they oftenprepared for long journeys. If in fact they were heading to Santos, thenumber of kilometers that they had to travel could have been considerable.In Figure 8.4, the former homes of the runaways have been placed into aregional map. Slaves escaped from farms that spread along a Northwest-Southeast axis that reflected the inward growth of the coffee business. Thefarthest town, Piraçununga, was 245 kilometers away in a straight line, butdouble that distance over roads. If we consider these notices to beevidence of a communication network between planters and traders, theregion that it covered was larger than the network region of the buyers andsellers in the bills of sale.

I found no instance of owners of a runaways assuming that runaways hadescaped by boat along the coast. For example, no owners who lived inneighboring coastal towns, even the most proximate towns like Itanhaem orSão Sebastião, had posted a runaway advertisement in a Santosnewspaper. The small and medium sized sailboats that took passengers toRio de Janeiro or down to Porto Alegre daily probably had strictrequirements for passports and papers, especially for individuals of colorand with accents. Yet there was a busy network of canoes that departedSantos and traveled to neighboring communities and the men who paddledthese boats in order to sell their aguardente or manioc flour (many whowere slaves themselves) would probably have been less curious about theidentity or history of a passenger if he or she was willing to pay a little morethat the normal cost of passage. Moreover, several slaves escaped whileaboard ships within the Santos harbor, and some runaways who had beenon plantations in the interior were described as having sailing skills. Whyowners did not believe their slaves capable of following the same maritimeroutes that they had traveled when they had arrived remains a puzzle.

senhores achavam que os fugitivos eram ladrões e bandidos que (emvirtude da fuga) haviam criado um probsignificativo para eles. Um senhor de escravos que se considerasse um paisevero, porém “bondoso”, sentiria desapontamento e sensação de orgulhoferido quando um escravo seu rompia uma relação de “confiança”.Certamente muitos esconfiança, ‘ladinos’, desagradáveis e rudes”.como desprezadores da hierarquia da sociedade. Muitos tinham “olhosabatidos” e um “parece sempre assustado”.

Mas, ao contrário dasregistrava descrições razoavelmente positivas de personalidades oumodos. Um escravo possuía “modos gentis e bondosos”, outro era“inteligente e ágil”, Alguns eram “muito educados” e “simpáticos”. Algunssenhores descreas descrições mostram que esses senhores (ou informantes) conheciam oescravo melhor que a maioria dos outros senhores que podiam apenasfornecer longas listas de cicatrizes ou tipos de barbas. Emíliodesapareceu em 1861, “caminha rápido”, “balança os braços enquantoanda”, e constantemente “dá de ombros”.das Cruzes “tem o hábito de baterconversando com um homem branco, mantendque está atrás”.

A fala e a educação eram mencionadas nos anúncios. Não podemosdizer que os fugitivos africanos fossem considerados como tendo grandesdificuldades para falar o português. Tanto os crioulos como os africanoseram tidos por seus donos quase que falando igualmente bem, mal, ou comsotaque. Com a grande expansão do Império do Brasil, havia muitossotaques e regionalismos, e o falar “grosseiro” de um baiano poderia nãosoar pior ou melhor que um sotaque africano. Alsotaques específicos que os senhores consideravam que os leitores dejornais achariam familiares, como o angolano, ou o modo de falar dosescravos do Mato Grosso. Havia um escravo, Emílio, que falava oportuguês tão bem que “quase nãescravos, africanos, falavam português bem o suficiente para que seu donoavisasse que poderiam ser confundidos com crioulos. A palavraempregada para identificar um escravo africano já aculturado, eeventualmenvocabulário e da estrutura da linguagem, alguns escravos falavamsuavemente, “de maneira agradável”, “grosseira”, ou gaguejavam.

Um em cada seis escravos aparecia como parcial ou totalmentealfabetizado nos anúncios, um número consideravelmente alto.Historiadores fazem apenas suposições sobre os níveis de alfabetização

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Former home and number of slave runaways, 1851-1871

Source: Jornal do Comercio, 1851-1867, FAMS, HS.

Conclusion

This chapter has examined slaves who sought freedom from theirservitude. These were men and women who followed the only twopathways to freedom, manumission and flight. Besides shared motives, thetwo groups were also vastly different. Certain slaves belonging to certainowners had more or less chances to either receive a free or conditionalletter or to compel an owner to “sell themselves to themselves” (viacoartação or onerous manumissions). I have included baptism records, adataset that is not often included in studies of manumission even thoughthis was a frequent manner of granting manumission.

Some slaves who could not (or choose not to) buy their manumissionletters, perhaps found illegal escape a more promising option. Studies ofmanumission and runaways have never been discussed side-by-side in theliterature, but there are underlying characteristics that explicate both.Slaves had different options for attaining freedom depending on their price,

dos escravos brasileiros, mas a média de alfabetizados entre os fugitivosem São Paulo era possivelmente muito maior do que entre a popescravos do país. Havia vários níveis de alfabetização entre essesescravos. Emílio, o escravo que falava português “como se não parecesseser negro” também conhecia algumas letras do alfabeto. Vicente, quedesapareceu em 1861, não apenas lia emissas. E Paulino, apesar de ler e escrever “muito mal”, fugiu levandopapéis e uma cartilha.

Os escravos fugiam carregando consigo uma série de objetos que podemdar uma pista sobre seus antecedentes. Muitos fugiam com mucavalos e a tralha necessária para longas viagens. Alguns levavam sacosou bolsas com armas escondidas. Inácio carregava uma afiada faca comcabo de osso dentro de sua bolsa vermelha de couro de cabra. Dois outroslevavam armas de fogo: Valeriano umamarrou uma trouxa de roupas em sua espingarda e a pendurou nosombros. Um escravo fugiu levando uma carta de alforria que havia sidoescrita para um escravo pertencente ao pai de seu dono, e outros doislevavam dinheidinheiro, possivelmente suas economias para a alforria. Podemos imaginaressa sociedade hierarquizada quando lemos que o escravo Luis levava umguarda-chuva novo e “um fino relógio inglês” quando fugiu

CAXEMIRA

Tecido feito a partir de lã importada, usado em roupas finas.

CHAPÉU-CHILE

Chapéu masculino feito com fibras finas da erva bombonaça, nativa em diversos países daAmérica do Sul

Também a forma de se vestir demonstrava os diferentes estilos emaneira como os escravos usavam a aparência pessoal para marcar suaposição e status. Luis, o escravo com um guardausava também um chapéu de feltro ricamente colorido e calças decaxemira semimaioria deles usava apenas uns poucos itens de vestimentas queganhavam ou eram obrigados a comprar nas fazendas.calça de algodão caseiro rústico e uma camisa branca simples.escravos ostentavam grandes númeroprovavelmente serviam para seus donos os identificarem no campo. Osfugitivos geralmente levavam mais de uma muda de roupas, um cobertor, ealgum tipo de casaco. Os proprietários advertiam que eles poderiam tentartrocar suas roupas de reserva por outras calças e camisas, para poderemocultar suas identidades. Os fugitivos enfrentavam muitos dias de chuva,principalmente durante os meses de inverno em São Paulo, e costumavam

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the amount that they earned, or whether their owners were inclined to writeconditional manumission letters. If these circumstances limited a slave’schances for a letter or meant that the slave had to make a very highpayment for a letter, the slave may have opted for illegal escape.Runaways were typically of an age and with skills that made them the mostvaluable in terms of the market prices that they could command. The factthat some owners mentioned that their runaways carried a good deal ofmoney adds evidence that these slaves may have preferred to take theirmanumission savings on the run.

The few possessions that slaves carried with them on their journeyand the type of clothing they wore indicate that many slaves had preparedfor the trip. Preparation was simplified for those with jobs that required longperiods of outdoor activities or travel. Nonetheless, the risks to runawayswere very high as they faced dangers on the road and the likelihood ofsevere punishment if they were captured. These were not journeys thatmost slaves were willing or prepared to undertake. Thus, as we have seen,the runaways tended to be of an age to be strong physically yet haveknowledge of the world to survive. Like Jacintho and Francisco, they hadskills that they could transfer to a fugitive life, they were often educated, andthey brought items that they could use in their journey. In 1888, a third andultimate “pathway to freedom” suddenly opened for all slaves. Many stepshad been taken to move Brazil toward emancipation and, as we will see inthe next chapter, some believed that increasing manumission for slaveswas one of those steps.

levar roupas que os protegessem. Os ponchos eram mdurante os anos 1850, mas foram amplamente superados por sobretudosna década de 1860. As roupas eram razoavelmente padronizadas entre osfugitivos, mas alguns podem terpor meio de seus chapéus. Havichapéus, incluindo os de palha, os bonés de abas grandes com rabo decoelho, e chapéusos chapéus.

As roupas e objetos levados pelos fugitivos indicavam que eles estem geral preparados para fazer longas viagens. Se estivessem realmenteindo para Santos, os quilômetros que teriam que viajar poderiam serconsideráveis. Os escravos fugiam de fazendas que se espalhavam aolongo de um eixo que se estende do nordeste aque mostra o crescimento das fazendas de café para o interior. A cidademais distante, Pirassununga, ficava a 245 quilômetros em linha reta, masas estradas para lá tinham o dobro dessa distância.

FLOTILHA

É um conjunto de emba

Não foi encontrado nenhum caso em que donos de escravosachassem que algum deles poderia ter fugido de barco, ao longo da costa.Nenhum senhor que vivesse nas cidades litorâneas vizinhas, mesmo asmais próximas,anúncios sobre fugitivos nos jornais de Santos. Os veleiros pequenos emédios, que diariamente transportavam passageiros para o Rio de Janeiroou para Porto Alegre, provavelmente tinham uma rotina de exigêncirigorosa de documentos, principalmente para pessoas de pele negra ouque falassem com sotaque. Mas havia também uma movimentadade canoas que saindo de Santos viajava para as comunidades próximas, eos homens que conduziam essas canoas, para venfarinha de mandioca (muitos deles também escravos), provavelmenteseriam menos curiosos a respeito da identidade ou do passado de umpassageiro que estivesse disposto a pagar um pouco mais do que o preçonormal da passagem. Além disso, munavios que entravam no porto de Santos, e alguns que trabalhavam emfazendas do interior eram descritos como tendo hOs motivos de os senhores não acreditarecapazes de segupermanece sendo um mistério.

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Locais de procedência de escravos fugitivos, 1851

Fonte; Jornal do Comércio, 1851

Este capítulo focalizou oslibertarem de sua servidão. Eram homens e mulheres que tentaram asduas únicas formas de conseguir a liberdade: a alforria ou a fuga. Os doisgrupos buscavam o mesmo objetivo, mas eram bem diferentes. Certosescravos, que pertenciam a certos senhores, tinham maiores chances deobter uma carta de alforria, livre ou condicional, ou conseguiam convencerseus donos a “vendêuma alforria onerosa).

Outros, que não podiam (escolhiam a fuga como uma melhor opção. Os estudos sobre alforrias efugas nunca foram abordados de forma comparativa na literatura a

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Page 49: TCC - Roberto Pereira de Lucena

respeito, apesar de existirem características que se aplicam a ambas asatitudes. As chances que os escravos tinham de obter a liberdadedependiam de seu valor dedinheiro, e da disposição de seus senhores em fornecer a alforria. Se essascircunstâncias limitassem as chances de obter a liberdsignificassem que o escravo teria que pagar um valor muito alto pela carta,ele talvez optasse pela fuga. Os fugitivos típicos eram de uma faixa deidade específica, e tinham habilidades funcionais que os tornavam os maisvaliosos do merque seus escravos fugitivos levavam consigo um grande valor em dinheiroevidencia que eles preferiam fugir levando o dinheiro economizado para acompra da alforria.

Os poucos objetos que carregavam edemonstram que a maioria havia planejado a fuga. Esse planejamento eramais fácil para aqueles cujas ocupações os mantinham por longos períodosfora da casa ou viajando. De qualquer maneira, os riscos que corriam eramgrandes, uma vez que seriam severamente punidos se capturados.

Era uma jornada que a maioria não queria, ou não estava preparada paraempreender. Por isso, como vimos, os fugitivos eram geralmente de umaidade em que ainda estavam fisicamente fortes, e detinhaminformação para conseguir sobreviver. Como Jacintho e Francisco,possuíam habilidades profissionais que seriam úteis numa vida de fugitivos,tinham alguma educação, e levavam objetos e roupas necessários para ajornada.

Em 1888, um terceiro e definabriu-se para todos os escravos. Muitos passos já haviam sido dados emdireção à abolição da escravidão no Brasil, e como veremos no próximocapítulo, os abolicionistas acreditavamalforrias concedidas seria

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III - Análise dos procedimentos tradutóriosutilizados na adaptação

Passamos agora a abordar as diversas alterações levadas a efeito na

adaptação em questão. Assim, iniciamos com as adaptações preliminares

realizadas em um momento anterior à tradução propriamente dita. Os demais

procedimentos, especificados nas notas que se seguem, foram os cortes de

gráficos com tabelas contendo dados estatísticos, cortes de parágrafos com

detalhamentos técnicos, omissão de palavras, acréscimos de frases com

informações necessárias para maior esclarecimento de assuntos abordados,

acréscimo de palavras por motivo de rearranjo sintático ou morfológico, ou de

complementação de informações, além de recursos técnicos de tradução,

como modulações, omissões, transposições, explicitações, implicitações,

adaptações, reconstruções de períodos e transposições de categorias.

3.1 As adaptações preliminares

A adaptação feita a partir da dissertação de Ian William Olivo Read,

com o intuito de transformar o texto técnico característico de uma monografia

em um texto de livro didático e de leitura acessível para o leitor que não

detenha conhecimentos científicos a respeito da história do país em geral, e da

história dos últimos escravos que havia na região do litoral paulista antes da

abolição da escravidão em particular, foi baseada em uma série de

procedimentos tradutórios, necessários para a obtenção do resultado

almejado.

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Page 51: TCC - Roberto Pereira de Lucena

A primeira adaptação deu-se no título do trabalho: Unequally bound: the

conditions of slave life and treatment in Santos County, Brazil, 1822-1888. O

título está de acordo com a finalidade do trabalho acadêmico a que se destina,

mas não com o objetivo da tradução adaptada. A solução escolhida,

‘Cativeiros Desiguais’(01), implicou na elipse do subtítulo original, de modo a

criar um título mais simples e de assimilação mais fácil a um público não

especializado, mas mesmo assim mantendo a informação sobre a hierarquia

existente entre os escravos. Para maior clareza, foi realizada a transposição

dos dois termos: o adjetivo bound passou a ser o substantivo ‘cativeiros’, e o

advérbio unequally deu lugar ao adjetivo ‘desiguais’.

O capítulo oito do texto fonte, usado como corpus deste trabalho, foi

dividido na tradução em nove subtítulos (02) (incluindo a conclusão), que se vão

sucedendo à medida que o autor apresenta novos argumentos, tornando a

leitura mais adequada à finalidade do texto adaptado. Esta, por si só, é uma

grande mudança estrutural levada a efeito tendo em vista o objetivo de criar

um texto destinado a um público-alvo específico.

Termos pouco conhecidos, ou que caíram em desuso, foram definidos

em “manchas de textos”. São eles: tanoeiro (03), carta de alforria, preto forro,

coartação, crioulo, quilombo, oleiro, chapéu-chile, caxemira, flotilha e

comissários de café. Essas definições foram usadas na adaptação para que o

leitor seja informado a respeito de como eram conhecidos alguns objetos,

profissões, processos etc., mencionados quase que exclusivamente em obras

didáticas ou literárias cuja temática se situa no século XIX.

Também não constam do texto-fonte os dados biográficos que foram

acrescentados aos nomes dos pesquisadores citados no texto, Gilberto

Freyre(04) e Enidelce Bertin. Esses acréscimos são relevantes na medida em

que proporcionam ao público-alvo desta adaptação informações sobre os dois

importantes pesquisadores.

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3.2 Omissões de tabelas

O texto fonte deste capítulo contém oito tabelas (05), elaboradas a partir

de pesquisas em documentos encontrados em cartórios e arquivos históricos;

fazem comparações entre os escravos, seus senhores, suas profissões,

posição social dos senhores, locais onde trabalhavam, idade, sexo,

nacionalidade, estado civil, e outros elementos comparativos, com o objetivo

de ilustrar os argumentos apresentados pelo autor. Essas tabelas foram

omitidas, uma vez que resumem dados que são desenvolvidos ao longo do

capítulo, tendo sido as explanações detalhadas priorizadas na tradução, de

acordo com o objetivo desta adaptação, que é apresentar um texto didático e

de leitura acessível a um público leigo.

3.3 Omissões de comentários

As tabelas 8.1, 8.4, 8.5, 8.6, contém pequenos comentários (06) que

estão diretamente relacionados aos dados estatísticos apresentados. Assim

como as próprias tabelas, e por também estarem especificados de maneira

mais abrangente ao longo do texto, esses comentários não foram traduzidos.

3.4 Omissões de parágrafos

Alguns parágrafos ou orações não foram traduzidos. Esses casos estão

relacionados a seguir, bem como os motivos de terem sido omitidos:

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Page 53: TCC - Roberto Pereira de Lucena

The relatively lower number of unconditional manumission letters inSantos was similar to other parts of São Paulo during this time. ForSão Sebastião, Rosangela Dias da Ressurreição found thatconditional letters were the most common. Eisenberg found ahigher number of purchased letters (onerosas) for slaves inCampinas: 60 percent of letters were of this type between 1798 and1885. Only after 1886, when slavery seemed fated to end, didunpaid letters surpass purchased letters in Campinas. In thisrespect, nineteenth-century São Paulo is unusual, since many otherparts of Brazil had proportionally more unpaid manumissions thanpaid.

Historians have often distinguished between the three types ofmanumission letters, and have argued that they were largelyseparate but related systems of granting freedom (or the futurepossibility of freedom). I believe this is true, but two comments mustbe made about the data available on slave manumissions in Santos.First, among the Santos manumission letters from the two notaryoffices, nearly a third of all transcribed letters do not fit into one of thethree types of letters. For example, seven percent of the letters wereboth onerous and conditional (Table 8.1). In these cases, in additionto the conditions attached to the manumission letter, the slave orsomeone else had paid (or vowed to pay) a sum of money. Another16 percent of the letters neither explicitly said that they were “free”(gratuita) nor if there were conditions attached. These “ambivalentlyfree” manumission letters became increasingly common after 1860when the notary officers composed shorter, more formulaic, and lessdetailed letters (07)

Baseando-se na tabela 8.1, e também em documentos relativos a

alforrias lavradas em cartórios de Santos e de outras regiões, o autor faz

comparações entre dados estatísticos e entre diferentes formas de

escrituração de alforrias. São detalhes técnicos importantes para o trabalho

original, mas que foram omitidos na tradução, uma vez que o assunto volta a

ser abordado mais adiante tanto no original como na tradução de forma

argumentativa, mais de acordo com o objetivo didático desta adaptação.

When approaching manumission letters, then, we should keep inmind that some letters were unclear if they were free or conditional,others were both onerous and conditional, and a few were onerousbut excluded information on conditional indenture service contractswritten separately in the notary office. Nevertheless, the differentmanumission categories can be discerned for many of the letters,but only if we include a few additional categories that do not hide theambivalence of the data. (08)

Comentários técnicos feitos pelo autor a respeito da análise de algumas

fontes em que nem todas as informações disponíveis estão explícitas, e sobre

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qual foi o procedimento do autor em relação a elas. A tradução desses

comentários nada acrescenta ao objetivo da adaptação, uma vez que se trata

de argumentação teórica e não de uma exposição objetiva dos fatos históricos.

This sale was different from the indenture contracts (locátorio)mentioned earlier. The meia-siza (tax) record in which she appearsfor the third time was exclusively for the transferal of slave ownership,while a sale of an indentured labor contract could have only takenplace in the notary office. (09)

Parágrafo não traduzido por se tratar de argumentação lógica a partir de

análise técnica de documentos, característica do tipo de trabalho do texto-

fonte, mas não da adaptação.

This discussion of free, onerous, and conditional manumission hasexcluded many letters that either had missing data or weremanumissions granted during baptism. Using the wider set ofmanumission gives us more information on the gender of the slaveswho received all types of manumission, the gender of the owner, andsheds light on baptismal manumissions. Unfortunately, this wider setdoes not help us further distinguish between the types of letters thatwere written in the notary office. (10)

Parágrafo em que o autor comenta a exclusão de algumas fontes em

que faltam dados que poderiam ser úteis para o trabalho original, não sendo

relevante para o objetivo da adaptação que está sendo feita.

Second, the runaways were on average a few years older than aslave who was purchased or manumitted. The average age was 26in the 1850s and a few years older in the 1860s. Third, A little lessthan two-thirds of the fugitives were native-born, but the percentageof Africans actually increased slightly, bucking the demographic trendbrought about by the end of the international slave trade in 1850. Ofthe eleven slaves from a northeastern or a northern province, half donot give us details on whether that was their birthplace or if theylanded there from Africa. We can find a greater proportion of slavesfrom Bahia, Pernambuco, Maranhão, or Pará (all northern ornortheastern provinces) than slaves bought and sold on the localmarket during these two decades. Most notices described slaveswith lighter skin, although darker colored slaves may have simplyreceived less notice because they were the largest group. In today’srace conscious world, it is surprising that only 25 of the 110 noticesmentioned the race or ancestry of the slave. Far moreadvertisements described the shape of their faces or size of theirbodies than the color of their skin. (11)

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Não foi traduzido o parágrafo que faz referência ao perfil dos fugitivos

de acordo com os anúncios publicados nos periódicos Jornal do Commercio,

destacando sexo, idade, nacionalidade e raça. Essas informações são

desenvolvidas no decorrer do texto, de forma mais abrangente e em

linguagem descritiva, mais de acordo com o estilo desta adaptação.

This chapter analyzes two sources that are logically connected:manumission letters and runaway advertisements. (12)

Esta frase não foi traduzida por se tratar de uma informação técnica,

importante para o trabalho acadêmico original, mas não para este projeto de

criar um texto didático a partir da tradução dos comentários do autor baseados

em suas análises.

3.5 Omissões de palavras ou expressões

Owners who manumitted slaves tended to be about five to ten yearsolder than those who bought and sold slaves, but both groups wouldhave been considered fairly old for their day. In terms of civil status,there was a considerable shift during the century. Before 1850,single, married and widowed owners were fairly evenly divided;

‘Os senhores que alforriavam seus escravos eram em geral de cincoa dez anos mais velhos que aqueles que os vendiam ou compravam,mas os dois grupos poderiam ser considerados de idade avançadapara a época. Em relação ao estado civil, houve uma mudançaconsiderável ao longo do século’ Antes de 1850, havia um númerorelativamente semelhante de solteiros, casados e viúvos. (13)

A tradução de owners na última oração foi elipsada, uma vez que a

palavra já foi citada no início do período.

Escape was a manner of attaining freedom that was relatively rareuntil the last five years of slavery in Santos. I argue in this chapterthat running away from owners not only carried considerable risk andseparated slaves from caring communities of families and friends, butrequired resources and skills that most slaves did not have.

‘A fuga era uma maneira de obter a liberdade relativamente rara atéos últimos cinco anos de escravidão em Santos; não apenas traziariscos consideráveis, além de afastar os escravos dos cuidados de

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suas comunidades de família e amigos, como também requeriarecursos e habilidades que a maioria não possuía’. (14)

Foi omitido o fragamento I argue in this chapter, eliminando, na

tradução, a figura do autor em frases na primeira pessoa, uma vez que o texto

fonte, em que o autor comenta seu próprio trabalho, foi transformado em um

texto narrativo na adaptação.

Second, slaves who paid or found a third-party payer weresometimes given a separately contracted “lease” on their labor(locatário).

‘Alguns escravos, que de algum modo conseguiam pagar por suascartas de alforria, tinham que cumprir também um contrato de“arrendamento” de sua mão de obra, lavrado em separado da carta’.(15)

Não foi traduzida a palavra “second”, que foi usada pelo autor para dar

seqüência ao parágrafo anterior, também não traduzido.

Evidently, at the request of Juliana, Gomes initiated the process andpaid Anna Luisa the amount of Juliana’s manumission. He thenentered the former slave into indentured service in a contract thatwas written separately from the manumission letter.

‘Fica assim evidenciado que o Sr. Gomes, a pedido de Juliana, deuentrada ao processo e pagou o valor da alforria para Dona AnaLuisa. Em seguida, lavrou o contrato de prestação de serviços emseparado’. (16)

Foram omitidas as traduções de the former slave e de from the

manumision letter por serem informações redundantes, que já constam do

período anterior.

The notary office holds an indenture contract, written on behalf ofJosé Raggio Nobrega, stipulating that Luis (now Luis Andrade) wouldgive eight years and four months (100 months) of his labor for 400mil-reis. Clearly Luis did not have enough funds to pay his purchaseprice and offered an indenture for the monies. Why the locátorio is300 mil-reis less than the amount listed in the manumission letter isnot given.

‘No mesmo cartório foi lavrado também um contrato dearrendamento de mão de obra, em nome do Capitão Andrade,estipulando que Luis (agora já com o nome de Luis Andrade) deveriaprestar oito anos e quatro meses (cem meses, portanto) de trabalho,por 400 mil-réis. Luis, que não teria como pagar o preço de suacarta, vendeu seu trabalho para conseguir uma parte do valor’. (17)

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Omitida a tradução da última oração, uma vez que se trata do

comentário do autor a respeito do fato de não ter sido encontrada certa

informação, não se tratando, portanto, do assunto que está sendo traduzido de

forma objetiva.

When considering the characteristics of owners, the archive does notpermit a strict division between the types manumission. (18)

Trata-se de uma informação técnica especificando detalhes sobre as

fontes de informações; importante para o trabalho original do autor, mas sem

relevância para esta adaptação.

These businessmen were more likely to be of higher status andwealth than businessmen or women with shops or who worked asvendors or peddlers.

‘Eram em geral pessoas de maior status e riqueza que osnegociantes que possuíam comércio ou que eram caixeiros ouambulantes’. (19)

A elipse do sujeito these businessmen foi feita em virtude de a frase

anterior já o citar.

Twelve individuals who wrote up manumission letters or whorequested manumission at baptism were also found in the inheritancerecords;

‘Doze constam dos registros como sendo beneficiários de herança; ecom apenas uma exceção, possuíam alguns bens’. (20)

[...] individuals who wrote up manumission letters or who requested

manumission at baptism foi suprimido na adaptação, uma vez que as frases

anteriores já deixam claro a quem o autor se refere nesse comentário, sendo,

portanto, possível a elipse.

Furthermore, male slaves were more likely to be manumitted bypaying their price or by finding someone who would pay for them.Particular groups of slaves, which included an even number of malesand females, earned enough money (or found someone who waswilling to pay) for their manumission.

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‘Vemos também que os escravos eram mais propensos que asescravas a pagar por suas alforrias, ou a encontrar quem pagassepor eles’. (21)

A frase Particular groups of slaves, which included an even number of

males and females, earned enough money (or found someone who was willing

to pay) for their manumission foi suprimida da adaptação, por se tratar de uma

informação adicional que não é relevante para a adaptação, além de causar

algum conflito de sentidos com a frase anterior.

Many slaves gained rights when manumitted and if they were notimmediately free, a good number had much greater potential foreventually attaining full freedom.

‘Os escravos obtinham direitos quando eram alforriados, e mesmoque não fossem imediatamente libertados, um grande número delestinha possibilidades de obter a liberdade completa’. (22)

A palavra many não foi traduzida, uma vez que se supõe que todos os

escravos alforriados obtinham alguns direitos.

The slave that chose to run away was not a typical slave. First of all,nine of every ten runaways were men (see table 8.7), but a slightlyhigher percent of females fled in the 1860s than the 1850s.

‘Nove em cada dez fugitivos eram homens, mas uma porcentagemligeiramente maior de escravas tentou a fuga na década de 1860 doque na de 1850. O fugitivo típico era um pouco mais velho que osescravos que eram negociados ou alforriados. A idade média era de26 anos nos anos 1850, e um pouco maior na década de 1860’. (23)

A frase The slave that chose to run away was not a typical slave não foi

traduzida por ser uma introdução à tabela 8.7 que está na seqüência do texto

fonte, mas não consta da tradução.

Neste parágrafo, a expressão First of all também não foi traduzida, uma

vez que o parágrafo seguinte, iniciado por second, foi omitido.

Thus, like the slaves who were manumitted, the runaways hadparticular characteristics that made them different from the generalpopulation of slaves.

‘Assim como os escravos que eram alforriados, os fugitivos tinhamcaracterísticas que os tornavam distintos da população geral deescravos’. (24)

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A conjunção thus remete à tabela anterior, que foi omitida na tradução,

não tendo sido traduzida por esse motivo.

He was particularly interested in finding traces of African customssuch as filed teeth or tribal scarring. Beyond the particular andsurprising, Freyre was less interested in general characteristics.

‘Ele estava particularmente interessado em encontrar traços decostumes africanos, tais como dentes limados ou marcas tribais, nãotendo interesse em outras características’. (25)

A expressão Beyond the particular and surprising não foi traduzida,

assim como a repetição do nome Freyre, que já havia sido citado. Desta

forma, apenas uma oração foi suficiente para manter o sentido do texto fonte,

resultando em uma adaptação de acordo com o propósito deste trabalho.

3.6 Acréscimos

Feitos a partir de informações obtidas por meio de pesquisas e do

conhecimento do assunto por parte do tradutor, os acréscimos têm por

finalidade contribuir para a adaptação do tipo de narrativa acadêmica do texto

fonte, transformando-o em uma narrativa didática.

The two Africans may have previously discussed how extra workmight bring savings for manumission letters.

‘Os dois africanos provavelmente já haviam feito as contas, eavaliado por quanto tempo teriam que fazer trabalho extra, naspoucas horas de folga, para ganhar o dinheiro suficiente paracomprar suas Cartas de Alforria’. (26)

O acréscimo da informação de que os escravos tinham poucas horas de

folga é importante para a avaliação, por parte do leitor-alvo desta adaptação,

da grande dificuldade que teriam os escravos de ganhar dinheiro fazendo

horas extras.

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Or, they may have talked about the ways they could use their skillsand savings in order to survive on the run.

‘Ou haviam discutido como usar suas economias e destreza notrabalho para sobreviver em uma fuga e trabalhar como homenslivres’. (27)

Foi acrescentada a frase ‘e trabalhar como homens livres’ para deixar

claro que a habilidade dos dois escravos como tanoeiros seria importante para

sua sobrevivência não somente durante o ato da fuga, mas também depois

que se estabelecessem em outro local.

The two young women were certainly skilled, but they did not havethe know-how required for a guild-craft like cooperage.

‘A habilidade para desempenhar essa função, no entanto, não seriasuficiente para garantir a sobrevivência das moças no caso de umafuga, como era o caso dos dois tanoeiros’. (28)

Foi explicitado que a habilidade das moças não seria suficiente para

garantir sua sobrevivência, como era o caso dos tanoeiros, para maior clareza.

Some manumission letters were freely given and once a copy of theletter was received, the former slave (preto forro) had nearly everyright as any other Brazilian citizen.

‘Algumas cartas de alforria eram dadas gratuitamente e, uma vez deposse de uma cópia, o ex-escravo, a partir daí chamado de pretoforro, obtinha quase que os mesmos direitos que os outros cidadãosbrasileiros’ (29)

Foi feita, por motivos didáticos, uma explicação mais clara a respeito da

expressão ‘preto forro’, que consta apenas entre parênteses no texto fonte.

The notary office holds an indenture contract, written on behalf ofJosé Raggio Nobrega, stipulating that Luis (now Luis Andrade) wouldgive eight years and four months (100 months) of his labor for 400mil-reis. Clearly Luis did not have enough funds to pay his purchaseprice and offered an indenture for the monies. Why the locátorio is300 mil-reis less than the amount listed in the manumission letter isnot given.

‘No mesmo cartório foi lavrado também um contrato dearrendamento de mão de obra, em nome do Capitão Nóbrega,estipulando que Luis (agora já com o nome de Luis Andrade) deveriaprestar oito anos e quatro meses (cem meses, portanto) de trabalho,

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por 400 mil-réis. Luis, que não teria como pagar o preço de suacarta, vendeu seu trabalho para conseguir uma parte do valor’. (30)

Foi feita a explicitação ‘agora já com o nome de Luis Nóbrega’ para

traduzir now Luis Andrade, para tornar mais clara a informação, obtida por

meio de pesquisa, de que os escravos não tinham direito a um sobrenome

enquanto não fossem considerados homens livres.

This is probably a consequence of the steep rise in slave prices,since married men and women typically were wealthier than singleand widowed individuals.

‘Isso se deu, provavelmente, em razão do grande aumento do preçodos escravos decorrente da proibição do tráfego negreiro, já que, deum modo geral, os homens e mulheres casados tinham mais possesque os solteiros e viúvos’. (31)

O trabalho de pesquisa e o conhecimento do assunto permitiram que

fosse feita a explicitação sobre o motivo do aumento do preço dos escravos,

para melhor entendimento do público a que se destina a adaptação.

3.7 Procedimentos tradutórios de Vinay e Darbelnet

If they had never left Africa, these men might have considered eachother to have strange customs and languages, but in Brazil and in thedimness of a waning moon, they were compatriots and united in theirrisky pursuit.

‘Se nunca houvessem sido forçados a deixar sua África natal, esseshomens considerariam um ao outro estrangeiros, possuidores delínguas e hábitos estranhos. No Brasil, no entanto, unidos por seuarriscado projeto de fuga sob a pouca luz de uma lua minguante,sentiam-se como irmãos’. (32)

A tradução de compatriots para ‘irmãos’ é uma modulação que não

muda o sentido do texto e evita o uso de termo pouco comum para expressar

o sentimento de solidariedade dos fugitivos.

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In the end, Jacintho made his way back to Braga either voluntarily orthrough capture. Less is known about Francisco, who may havefound tenuous freedom.

‘Não há informações sobre se voluntariamente ou devido à suacaptura, mas Jacintho voltou a trabalhar como escravo do Sr. Braga.Nada mais se soube sobre Francisco, que pode ter permanecido oresto da vida em relativa liberdade’. (33)

As expressões either...or e less is known, típicas da língua inglesa,

foram substituídas por meio de modulação por construções mais comuns em

português.

Only certain groups of slaves were in a position to gain amanumission letter.

‘Apenas alguns grupos de escravos viviam em uma condição quetornava possível obter uma carta de alforria’. (34)

A expressão ‘viviam em uma condição que’ é uma modulação do

original were in a position to, já que a tradução ao pé da letra (‘estavam em

uma posição de’) resultaria em uma forma pouco comum em português.

In it, I will return to the overriding theme of this book:

‘Nela vamos retornar ao tema básico deste trabalho: ’ (35)

A mudança do narrador da primeira pessoa do singular para a primeira

pessoa do plural é uma modulação que torna mais impessoal a narrativa, o

que corresponde ao estilo desta adaptação.

A opção por ‘(aparentemente) sem restrições’ para a tradução de no

(known) strings é uma modulação para um tipo de construção que não é usada

em português.

But a larger share—27 percent—forced the slave to comply withsome condition, usually in the form of pressed labor over many years.

‘Mas uma grande parte, 27%, forçava o escravo a cumprir algumacondição, normalmente na forma de prestação de serviços pormuitos anos’. (36)

Pressed labor foi traduzido por meio de modulação por ‘prestação de

serviços’, uma vez que os escravos alforriados por essa condição eram

obrigados a prestar trabalho por algum tempo para seus senhores, em função

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de um contrato, em troca da sua liberdade; mas não eram prisioneiros, como

daria a entender a expressão ‘trabalhos forçados’.

Second, slaves who paid or found a third-party payer weresometimes given a separately contracted “lease” on their labor(locatário).

‘Alguns escravos, que de algum modo conseguiam pagar por suascartas de alforria, tinham que cumprir também um contrato de“arrendamento” de sua mão de obra, lavrado em separado da carta’.(37)

A expressão were sometimes given não encontra equivalente em

português para sua tradução literal, tendo sido traduzida, como modulação,

para ‘tinham que cumprir’.

Também foi eliminado, para maior clareza, o advérbio sometimes. O

sentido da frase foi mantido por meio de uma modulação, iniciando-se a

oração com ‘alguns escravos’.

Evidently, at the request of Juliana, Gomes initiated the process andpaid Anna Luisa the amount of Juliana’s manumission. He thenentered the former slave into indentured service in a contract thatwas written separately from the manumission letter.

‘Fica assim evidenciado que o Sr. Gomes, a pedido de Juliana, deuentrada ao processo e pagou o valor da alforria para Dona AnaLuisa. Em seguida, lavrou o contrato de prestação de serviços emseparado’. (38)

Traduzir evidently por ‘evidentemente’ causaria alguma ambigüidade,

podendo significar ‘logicamente’, enquanto que a intenção do autor parece ter

sido a de dizer que ‘os argumentos levam à conclusão de que’; daí a

transposição para ‘fica assim evidenciado’.

He entered ... into indentured service in a contract that was written foi

traduzido, por meio de modulação, por ‘lavrou o contrato de prestação de

serviços’, de acordo com o tipo de construção usado em português.

In another case, Luis paid his mistress, Virginia Maria Nebias, 800mil-reis to purchase his freedom.

‘Há também o caso do escravo Luis, que pagou para sua dona,Virginia Maria Nébias, 800 mil-réis pela sua liberdade’. (39)

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In another case não seria uma expressão de uso comum em português

se traduzida literalmente, ou seja, ‘em outro caso’. ‘Há também o caso’ é uma

modulação que permite solução de uso corrente.

Among the onerous manumissions (Table 8.2), those purchased by afamily member or a third party were less common than “self-purchase” but this may have been because the letters did not have tomention who paid for the manumission.

‘Entre as alforrias onerosas, as pagas por um membro da família oupor terceiros eram menos comuns que as pagas pelo próprioalforriado, mas pode ser que isso se deva ao fato de que as cartasnão precisavam mencionar quem efetivamente havia pagado’. (40)

[...] this may have been because foi traduzido por meio de modulação

para ‘pode ser que isso se deva ao fato de que’, uma vez que a tradução literal

resultaria em uma linguagem informal em relação ao padrão usado nesta

adaptação.

For example, eighteen out of 58 letters manumitting slave childreninvolved purchased freedom between 1811 and 1880, but none gaveinformation on a parent, relative or third-party.

‘Por exemplo, 18 de 58 cartas alforriando crianças eram onerosasentre 1811 e 1880, mas nada diziam sobre pais, parentes outerceiros’. (41)

A modulação de but none gave information on a parent por ‘mas nada

diziam sobre pais’ é uma opção por uma construção mais comum na língua

portuguesa do que seria a tradução literal.

Historians have found that native born females received the mostletters even though African males vastly outnumbered Brazilianfemales until late in slavery’s existence.

‘Historiadores descobriram que as escravas crioulas recebiam amaior parte das cartas de alforria, apesar de os escravos africanosdo sexo masculino serem muito mais numerosos que as escravasbrasileiras até próximo do fim da escravidão’. (42)

Native born female foi traduzido por meio de modulação para ‘crioulas’,

termo que era usado para designar as pessoas nascidas no Brasil, mas

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descendentes de estrangeiros, incluindo os escravos. A pesquisa sobre

terminologia histórica tornou possível essa modulação.

Within the literature on the topic there are two answers for why nativeborn females were favored; often both are given equal weight.

‘Na literatura a respeito, encontramos duas razões para isso, ambasem geral consideradas igualmente relevantes: ’ (43)

A oração often both are given equal weight, além de ser introduzida, na

tradução, por uma vírgula, como é mais comum em português, e não por ponto

e vírgula como no original, foi traduzida por meio de uma modulação de forma

a se adequar ao uso de nossa língua, para ‘ambas igualmente relevantes’.

On the one hand, since female slaves were more likely than males towork domestic jobs, they are assumed to have been more integratedinto the families of their owners.

‘: por um lado, como era mais comum que escravasdesempenhassem trabalhos domésticos, presume-se que elasfossem mais integradas às famílias de seus senhores’. (44)

Na tradução esse período é introduzido por dois pontos, por estar

especificando uma das razões citadas no parágrafo anterior.

They are assumed não encontra correspondência literal em português,

tendo sido traduzido por meio de transposição para ‘presume-se’.

After 1850, nearly two-thirds of the owners who manumitted theirslaves were married.

‘Na segunda metade daquele século, cerca de dois terços dossenhores que alforriavam seus escravos eram casados’. (45)

After 1850 foi traduzido por ‘na segunda metade daquele século’, para

evitar, com essa modulação, a repetição do numeral 1850, que já havia sido

citado na frase anterior.

Coffee commissioners and men who ran import and exportbusinesses during the coffee boom of the second half of the centuryseldom manumitted their slaves, preferring instead to buy and sellthem.

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‘Os comissários de café e os importadores e exportadores queatuavam durante o auge dos negócios com café, durante a segundametade do século, raramente alforriavam seus escravos, preferindonegociá-los’. (46)

A expressão to buy and to sell them foi traduzida como modulação para

‘negociá-los’, uma expressão mais de acordo com o estilo desta adaptação.

These businessmen were more likely to be of higher status andwealth than businessmen or women with shops or who worked asvendors or peddlers.

‘Eram em geral pessoas de maior status e riqueza que osnegociantes que possuíam comércio ou que eram caixeiros ouambulantes’. (47)

A expressão were more likely to be foi modulada para ‘eram em geral’

por se tratar de um tipo de construção que não encontra correspondente em

português.

Clearly, the chances of a manumission letter not only rested theslaves’ earning power and market price but also on the demographicand occupation background of the owners.

‘Fica evidente que as chances de conseguir uma carta de alforriadependiam não apenas do poder de ganho e do valor de mercadodos escravos, mas também do local onde viviam e da ocupação deseus senhores’. (48)

Clearly foi traduzido por ‘fica evidente que’, uma modulação que permite

o uso de uma expressão mais comum em português.

Demographic and occupation background não encontra correspondente

em português para uma tradução literal, sendo ‘local onde viviam e [...]

ocupação’ uma transposição que permite expressar o mesmo sentido de uma

forma mais comum em nossa língua.

For example, Brazilian born infants and children were in a particularlystrong position to receive a letter of manumission because their pricewas still low.

‘Por exemplo, recém-nascidos e crianças crioulos tinham grandeschances de receberam alforria porque seu valor era ainda baixo’. (49)

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Were in a particularly strong position foi traduzido por meio de

modulação para ‘tinham grandes chances’, uma forma mais comum em

português e mais condizente com esta adaptação.

When manumission was not a good option, slaves may haveconsidered running away.

‘Quando a alforria não era uma opção possível, os escravos podiamlevar em consideração a fuga’. (50)

A expressão was not a good option foi traduzida de forma modulada

para ‘não era uma opção possível’, uma vez que o adjetivo good foi

certamente usado pelo autor com o sentido de algo que ‘valesse a pena para

alguns escravos’.

Running away carried enormous risks of punishment and oftenpermanently separated slaves from the communities within whichthey lived and worked.

‘Essa opção carregava grandes riscos de punição, e geralmenteseparava permanentemente os escravos das comunidades dentrodas quais trabalhavam e viviam’. (51)

‘Essa opção’ foi usada para evitar a repetição da tradução de running

away, que já consta da frase anterior.

In the eyes of the law, slaves were “stealing” themselves, takingproperty that could be worth more than a year’s saved wages forsome owners.

‘Aos olhos da lei, os fugitivos estavam roubando a si mesmos, ouseja, roubando um patrimônio que podia valer mais de um ano deeconomias para alguns senhores’. (52)

A year’s saved wages foi traduzido por ‘um ano de economias’, uma

modulação necessária para adequar a expressão a uma estrutura mais

comum na língua portuguesa.

Owners occasionally mandated that slaves who had run awaypermanently wear iron collars, chains and heavy weights as ameasure to prevent future flight.

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‘Alguns senhores obrigavam os capturados a usarempermanentemente colares de ferro, correntes e pesos, comoprevenção contra fugas futuras’. (53)

A tradução literal de owners occasionaly mandated passaria a idéia de

que todos os donos em algumas ocasiões aplicavam tais punições; a

modulação para ‘alguns senhores obrigavam’ deixa claro que alguns não o

faziam.

the others worked and lived in towns and rural areas scatteredthroughout the state of São Paulo.

os outros trabalhavam e viviam em cidades ou áreas ruraisespalhadas pela Província de São Paulo. (54)

State of São Paulo foi traduzido para “Província de São Paulo”, como

era chamado o estado no período. Esta modulação é uma conseqüência de

pesquisa feita pelo tradutor.

Santos was a common destination for many slaves, partly becausemany had passed through the city when they were transported fromother provinces within the Brazilian Empire or from Africa.

‘Santos era um destino bastante procurado pelos escravos, em parteporque muitos deles já haviam passado pela cidade quando trazidosde outras províncias do Império, ou da África’. (55)

Para manter o estilo que está caracterizando esta adaptação, were

transported from foi modulado para ‘eram trazidos de’, forma consagrada em

português.

As the city expanded, driven by the growing business of coffee,fugitives learned that Santos had such a need for workers that someemployers might turn a blind eye to the history of a stranger.

‘Com o crescimento da cidade devido à expansão dos negócios docafé, os escravos sabiam que havia uma demanda tão grande detrabalhadores que alguns empresários poderiam fazer vista grossasobre a origem de um forasteiro’. (56)

A modulação na tradução de As the city expanded, driven by por ‘Com o

crescimento da cidade devido à’ deve-se ao uso de uma construção mais

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comum em nossa língua, portanto mais de acordo com a linguagem usada

nesta adaptação,

A tradução de turn a blind eye por ‘fazer vista grossa’ é um exemplo de

uso de equivalência. As modulações de history por ‘origem’ e stranger por

‘forasteiro’, por serem palavras de uso mais comum nesse contexto, deixam

mais claro o sentido da frase.

A notice in Santos’s Jornal do Comercio, therefore, did notnecessarily imply that the owner knew the slave was destined for theport town.

‘Um anúncio no Jornal do Comércio de Santos, portanto, não querianecessariamente dizer que o proprietário sabia que seu escravotinha como destino a cidade portuária’. (57)

A transposição de was destined for para ‘tinha como destino’ é

necessária porque a tradução literal da frase na voz passiva não seria uma

construção de uso comum em português.

The slaves of this group did have a slightly smaller percentage ofafflictions or disabilities than the rest, adding some credence toFreyre’s argument (and to the argument of this book).

‘Os escravos desse grupo apresentavam uma porcentagem umpouco menor de doenças ou incapacitação que os outros, o que vemao encontro do argumento de Freyre (e também ao deste livro)’. (58)

[...] adding some credence to foi traduzido por ‘o que vem ao encontro

do’, tendo sido esta opção pela modulação motivada pelo fato da tradução

literal não ser um tipo de construção comum na língua portuguesa.

Slave men did or did not have facial hair, and the beards themselveswere “slight” “full” or “wild.”

‘Os escravos possuíam ou não barba, e essas eram ralas, cerradasou crescidas’. (59)

Os termos slight, full or wild foram modulados na tradução para os

termos correspondentes em uso no português neste contexto, ‘ralas, cerradas

ou crescidas’.

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Page 70: TCC - Roberto Pereira de Lucena

Sure enough, slaves are described as “untrustworthy” and “shrewd,”or “unpleasant” and “rude.”

‘Certamente muitos escravos eram descritos como sendo “indignosde confiança”, “ladinos”, “desagradáveis” e “rudes”’. (60)

Na tradução de shrewd foi usado, por modulação, o termo ‘ladino’, por

se tratar da forma usada na época da escravidão para designar o escravo tido

como malandro, conforme pesquisa realizada pelo tradutor.

Emilio, who disappeared in 1861, “walks quickly,” “shakes his armswhen he walks,” and often “shrugs his shoulders.”

‘Emílio, que desapareceu em 1861, “caminha rápido”, “balança osbraços enquanto anda”, e constantemente “dá de ombros”’. (61)

A tradução de shrugs his shoulders por ‘dá de ombros’ é um caso típico

de modulação obrigatória de uma expressão de uso corrente em uma língua

pela expressão que tem o mesmo sentido em outra, por meio de equivalência.

3.8 Reconstruções de períodos de Newmark

Os trechos a seguir, que foram traduzidos por meio de adaptações

sintáticas, estão mais bem enquadrados como um tipo de procedimento

denominado por Newmark reconstrução de período.

As coopers, they knew that gaps too small to be seen by the nakedeye could ruin a barrel.

‘Eram tanoeiros, e sabiam que pequenas falhas no corte da madeira,invisíveis a olho nu, poderiam arruinar uma barrica’. (62)

A tradução literal (‘como tanoeiros, sabiam que’) resultaria em uma

estrutura que, em português, passaria a impressão de que a profissão da

dupla já havia sido citada antes. A explicitação, por meio do uso de duas

orações coordenadas deixa claro que há duas informações novas para o leitor,

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Page 71: TCC - Roberto Pereira de Lucena

tornando o texto mais de acordo com a natureza didática da publicação na

língua de chegada.

In this craft, skilled workers were hard to find and their work tookyears to master, commanding respect when it was done well.

‘Era muito difícil encontrar trabalhadores especializados nessafunção, que levava muito tempo para ser aprendida. O trabalho,quando bem feito, causava admiração e respeito’. (63)

A informação sobre o respeito causado pelo trabalho bem feito foi

colocada em uma oração separada da que menciona a dificuldade de se

encontrar trabalhadores especializados nessa função, e do tempo que levava

para ser aprendida, tornando mais simples a linguagem e mais claro o sentido

do texto adaptado.

Of the 294 letters written for enslaved adults and children, 22 percentwere given freely or listed no conditions. These were manumissionswith no (known) strings attached.

‘De 294 cartas lavradas para escravos adultos e crianças, 22%davam liberdade total, ou não estabeleciam condições: eram alforrias(aparentemente) sem restrições’. (64)

A opção por separar a última oração por dois pontos e não por ponto,

como no original, deve-se ao fato de estar sendo acrescentada mais uma

informação para reforçar o mesmo argumento. O verbo ‘lavrar’ foi escolhido

para traduzir written como modulação, por se referir a documentos escritos em

cartórios, portanto ‘lavrados’. A adaptação se fez necessária por se tratar de

um verbo hiperônimo na língua inglesa, que foi traduzido por um hipônimo na

língua portuguesa.

Considering this wider set of manumissions, Brazilian born femaleslaves in Santos were most likely to get any type of manumissionletter. This conforms to every other systematic study of manumissionin Brazil.

‘Uma pesquisa em uma grande quantidade de cartas de alforriamostra que as escravas nascidas no Brasil eram mais propensas aconseguir algum tipo de alforria, tanto em Santos como em outroslocais do país’. (65)

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Page 72: TCC - Roberto Pereira de Lucena

A locução adverbial ‘tanto em Santos como em todo o país’ veio

substituir a tradução literal de uma oração completa, This conforms to every

other systematic study of manumission in Brazil, tendo esta modulação tornado

a linguagem mais simples e objetiva.

Within the literature on the topic there are two answers for why nativeborn females were favored; often both are given equal weight.

‘Na literatura a respeito, encontramos duas razões para isso, ambasem geral consideradas igualmente relevantes:’ (66)

A omissão da tabela anterior tornou mais próxima ao trecho anterior, na

tradução, a informação de que as escravas eram as mais beneficiadas com a

alforria, podendo assim o pronome ‘isso’ substituir a tradução de native born

females were favored.

In this discussion, we must consider the different types ofmanumissions. Excluding the paid manumission letters, males andfemales were fairly evenly divided.

‘Se considerarmos, no entanto, todos os diferentes tipos de alforrias,com exclusão das onerosas, escravos e escravas estãorelativamente bem divididos’. (67)

De maneira a manter o estilo mais fluente da adaptação, os dois

períodos do texto fonte foram transformados em apenas um período

composto. Dessa forma, a expressão in this discussion foi suprimida, e we

must consider foi traduzido por meio de transposição pela condicional ‘se

considerarmos’.

3.9. Transposições de categorias de Catford

Mais específicos que a modalidade correspondente de Vinay e

Darbelnet, tais procedimentos concebidos por J. C. Catford se fazem

necessários à particularidade dos exemplos a seguir, principalmente no que

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Page 73: TCC - Roberto Pereira de Lucena

concerne às mudanças morfológicas entre substantivos, adjetivos e advérbios,

por exemplo.

Many other manumissions allowed a slave to pay for their freedom orconditionally stipulated a future payment or labor.

‘Outras autorizavam o escravo a pagar por sua liberdade, ouestipulavam a condição de um futuro pagamento ou trabalho’. (68)

‘Estipulavam a condição de um’ é uma transposição de categoria em

que a inversão do plano sintático cria uma expressão mais comum em

português que a tradução literal (‘condicionalmente estipulavam um’).

But if owners did not receive expected payments for an onerousmanumission, or the slave did not provide the stipulated labor orbehavior of a conditional manumission, or if any manumitted slavedisplayed “ungrateful” behavior, these formerly enslaved men,women and children could be forced back into slavery.

‘No entanto, se os senhores não recebessem os pagamentosesperados por uma alforria onerosa, ou se o escravo não cumprissecom o compromisso de trabalho e de comportamento de uma alforriacondicional, ou mesmo se o alforriado demonstrasse “ingratidão”,esses ex-escravos, escravas e crianças podiam ser forçados a voltarà escravidão’. (69)

Foi feita a adaptação por meio da transposição, também de categoria,

de um substantivo adjetivado, ungrateful behavior, por um substantivo,

‘ingratidão’, uma vez que ‘demonstrar ingratidão’ é uma expressão mais

característica em português do que seria a tradução literal, ‘apresentar

comportamento ingrato’.

In Santos, some slave infants were manumitted at baptism, but forenslaved adults and children most manumission letters werepurchased either through a cash payment or with labor over anextended period of time.

‘Em Santos, alguns bebês escravos eram alforriados no batismo,mas para os adultos e crianças muitas cartas de alforria eramcompradas, por meio de pagamento em dinheiro ou de trabalhoprestado por um grande período’. (70)

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A inclusão do particípio ‘prestado’ em relação a ‘trabalho’, na tradução

de ‘labor’ é uma transposição que torna mais claro o sentido da locução

adverbial de tempo ‘por um longo período’.

With free baptismal manumission letters included, the percentage ofunpaid and unconditional manumission letters increases slightly, to38 percent.

‘Se incluirmos as cartas de alforria batismal, a porcentagem decartas livres e incondicionais cresce um pouco, para 38%’. (71)

A transposição de with ... include para ‘se incluirmos’... foi usada para

evitar um tipo de construção comum em língua inglesa, mas que pareceria

estranha na tradução literal para o português.

Manumission letters of children were certainly not the only onesmissing information on who paid.

‘As cartas de alforria de crianças não eram certamente as únicas queomitiam quem era o pagante’. (72)

Neste caso a transposição, trocando um verbo por um substantivo, foi

uma solução para outro tipo de construção da língua inglesa que não encontra

equivalente em português.

The officials from the Carmalite Convent also went to the notaryoffice to write letters of manumission, but they may have been forcedto do so by slaves who began a process of coartação.

‘Por fim, os funcionários do Convento do Carmo também iam aocartório lavrar cartas de alforria, mas talvez tenham sido forçados aisso por escravos que iniciaram processos de coartação’. (73)

A escolha de ‘Convento do Carmo’ para a tradução de Carmelite

Convent deve-se à tradição dessa forma em português, ao invés de “Convento

Carmelita”, daí a necessidade da transposição.

Before 1850, single, married and widowed owners were fairly evenlydivided;

‘Antes de 1850, havia um número relativamente semelhante desolteiros, casados e viúvos;’ (74)

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A tradução literal resultaria em uma construção fora do padrão usado

em português.

Compared to slaves who were sold and manumitted, men andwomen involved in domestic tasks such as cleaning, cooking orsewing were noticeably absent.

‘Em comparação com os escravos que eram vendidos ou alforriados,havia poucos fugitivos envolvidos em tarefas domésticas, comolimpeza, cozinha ou costura’. (75)

Em lugar de were noticeably absent a modulação ‘havia poucos

fugitivos envolvidos’ foi escolhida por estar mais de acordo com o uso da

língua portuguesa.

In contrast, domestic service was the largest occupation groupamong the many slave sales.

‘Em contraste, os serviçais domésticos eram o maior grupoocupacional entre os muitos escravos vendidos’. (76)

Para se adequarem aos tipos de construções usadas em português,

foram feitas duas transposições: domestic service por ‘escravos domésticos’, e

slave sales por ‘escravos vendidos’.

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Considerações finais

No início desse trabalho, destacamos os conceitos de tradução, assim

como os differentes níveis de adaptações que são usadas no ato tradutório.

Abordamos também o questionamento das definições de originalidade de um

texto e fidelidade na tradução.

Realçamos, também, a importância do uso criterioso de procedimentos

tradutórios específicos para cada dificuldade surgida ao longo de um trabalho

de adaptação de um texto.

Neste caso, tratava-se de transformar um texto acadêmico, elaborado

dentro do rigor científico e formal necessários para o fim a que se destina, em

um texto mais leve e acessível a um público que poderia ser, por exemplo,

formado por estudantes do nível de ensino médio.

Falamos em ‘transformar’, porque, mesmo dentro da própria língua

original, o texto teria que ser adaptado caso o objetivo fosse atingir esse

mesmo nível de alunos, caracterizando, assim, uma tradução intralingüística.

Alguns teóricos consideram a adaptação um ato pouco fiel e não

representativo do texto fonte. No entanto, fazendo uso de alguns

procedimentos consagrados na teoria da tradução, é possível manter o foco de

seu trabalho voltado para as expectativas de um público específico mantendo

o sentido do texto fonte, e ao mesmo tempo criando uma linguagem acessível

ao leitor alvo.

Consideramos, portanto, que foi realizado, ao mesmo tempo, um

trabalho de tradução e um de adaptação morfossintática.

Os procedimentos usados também foram analisados e serviram de

exemplo de aplicação de teorias de tradução. Alguns teóricos, como John

Dryden, Vinay e Darbelnet, Eugene A. Nida e Charles R. Taber, Gerardo

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Page 77: TCC - Roberto Pereira de Lucena

Vazquez-Ayora, Peter Newmark, Susan Basnnett-McGuire, André Lefevere e

John C. Catford, foram relacionados, tendo seus trabalhos servido de base

para as análises que foram feitas.

Foram também citadas as considerações sobre os estudos desses

teóricos, encontradas nas publicações de autores como John Milton, Heloisa

Gonçalves Barbosa, Rosemary Arrojo, Cristina Rodrigues, Lauro Maia Amorim

e Francis Henrik Aubert.

Com este trabalho, procuramos demonstrar a possibilidade de adaptar

um texto criado em um contexto específico e com objetivo definido, em outra

ou até mesmo na mesma língua, destinado a um público leitor de um universo

distinto daquele ao qual o texto de partida se destinava.

Procuramos demonstrar que os procedimentos necessários para o

cumprimento dessa tarefa encontram registros nos estudos encontrados na

literatura a respeito, e são fundamentados na teoria de conhecidos estudiosos

de lingüística na área da tradução.

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Page 78: TCC - Roberto Pereira de Lucena

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