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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
ROSALY ROCHA CAZETTA
AS DIFERENÇAS NA ESCOLA:
PROMOVENDO AÇÕES INTEGRADORAS
Londrina 2012
AS DIFERENÇAS NA ESCOLA:
PROMOVENDO AÇÕES INTEGRADORAS
Professor: Rosaly Rocha Cazetta1
Orientador: Marleide Rodrigues da Silva Perrude2
RESUMO Este artigo tem por objetivo relatar a implementação de um projeto de intervenção pedagógica desenvolvido junto a uma turma de 8ª série do ensino fundamental do Colégio Estadual D. Pedro I – E.F.M., da cidade de Lidianópolis, PR3, sendo parte integrante das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE4. Tal projeto teve por objetivo promover momentos de reflexão com os alunos sobre o tema educação e diversidade. Buscamos caracterizar a realidade sociocultural dos alunos, além de discutir as diferenças e a presença do preconceito no ambiente escolar. Ressalta-se que discutir as diferenças na sociedade brasileira não é um tema fácil. Vários pesquisadores tem se debruçado sobre esse debate, buscando seu entendimento; e, trazê-lo para o cotidiano escolar é muito mais complexo, principalmente para o professor que trabalha e convive com alunos que levam para a sala de aula um conjunto de situações, onde as diferenças sociais e culturais fazem parte do cotidiano escolar. Ao final do trabalho, concluímos que os alunos refletem sobre a realidade que vivenciam, quando se abre espaço para debates e reflexões o que exige do professor uma mudança de olhar, a fim de que se alterem certos comportamentos que silenciam a existência do preconceito e da discriminação no espaço escolar. Palavras-chave: Diversidade. Diferenças. Discriminação. Ações integradoras.
1 Professora de Escola Pública do Estado do Paraná; Especialista em Deficiência Mental, pela
FAFIJAN – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Jandaia do Sul. e-mail:
[email protected]. 2 Professora do Departamento da Educação da Universidade Estadual de Londrina.
3 A direção do Colégio Estadual D. Pedro I-Ensino Fundamental e Médio de Lidianópolis, autorizou a divulgação do nome da Instituição neste artigo.
4 O PDE é uma política pública de Estado regulamentado pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010 que estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da educação básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense. Disponível em: <http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/ conteudo.php?conteudo=20>. Acesso em: 6 jul. 2012.
ABSTRACT
THE DIFFERENCES IN SCHOOL: PROMOTING INTEGRATIVE ACTIONS
The purpose of this article is to report the implementation of a pedagogical intervention project developed with a 8th grade class of the D. Pedro I – E.F.M., elementary school from the city of Lidianópolis, PR. that has been an integrant part of the educational development program – EDP activities. Such project had the objective to promote reflection moments with the students about the themes: education and diversity. We seek to characterize the sociocultural reality of the students, beyond discuss the differences and the presence of prejudice in the school environment. It is noteworthy that discuss the differences in the Brazilian society isn’t an easy theme. Several researchers has pawned on this debate, researching the understanding of this; and, bring it to the school quotidian is even more difficult, mainly for the teacher that works and have a close association with the students, that bring to the classroom a conjunct of situations, where the social and cultural differences make part of the school everyday. In the end of the work, we came to a conclusion that the students reflect on the reality that they live in; when a space is open for debates and reflections, what demands a change of perspective from the teacher, in order to change certain behaviors that hush the existence of prejudice and discrimination in the school environment.
Keywords: Diversity. Differences. Discrimination. Integrative actions.
Introdução
O projeto denominado “As Diferenças na Escola: Promovendo Ações
Integradoras” teve por objetivo promover momentos de reflexão com os alunos 8ª
série do ensino fundamental sobre o tema educação e diversidade. O tema partiu da
própria realidade da escola onde as diferenças dos alunos era visível, revelando-se
por meio das condições sociais, culturais e em comportamentos em sala de aula;
porém, invisível aos olhos dos professores. As dificuldades de entender as
diferenças socioculturais e perceber como interferiam no processo de ensino e
aprendizagem ocasionaram desmotivação e desinteresse, por parte dos alunos, em
frequentar as aulas, gerando situações de indisciplina e baixo rendimento escolar. A
percepção desses comportamentos ficava silenciada por alguns professores, os
quais se calavam diante dos problemas encontrados na sala de aula, principalmente,
quando havia situações que envolviam preconceitos e discriminação.
Nessa escola, no período vespertino, a grande maioria dos alunos era da
zona rural – o que dificultava, muitas vezes, a interação entre escola-família. Muitos
alunos não realizavam as tarefas de casa, demonstravam dificuldades em interagir
com os alunos da zona urbana, entre outras atitudes. Observava-se também a baixa
de autoestima desses alunos, que, muitas vezes, chegavam cansados em virtude do
trajeto que faziam de sua casa até a escola. Em muitos casos, a causa dessa
desmotivação tinha origem na insatisfação pessoal dos alunos da zona rural, devido
ao fato de se sentirem fora dos padrões idealizados pelo meio. Vale ressaltar que
essa realidade acabou gerando consequências que interferiram, direta e
indiretamente, no processo de ensino-aprendizagem, e, além reduzia as
expectativas dos professores sobre eles.
Diante dessa realidade de muitos temas que poderiam ser explorados,
optou-se por discutir as diferenças socioculturais na escola, que, afinal, é um
assunto que merece reflexão e busca exaustiva de alternativas, contribuindo de
maneira positiva para o processo de ensino-aprendizagem. Essa não foi uma tarefa
fácil, pois, para trabalhar com o tema, foi preciso respostas para algumas questões,
tais como: Como essas diferenças sociais e culturais manifestavam-se no contexto
da sala de aula? Qual o olhar dos alunos e professores sobre essas diferenças?
Elas interferiam no processo de ensino e aprendizagem?
Nesse sentido, por meio de um grupo de estudos com alunos da 8ª série,
buscou-se promover momentos de reflexão sobre o tema “diversidade”. Buscou-se,
ainda, discutir os temas diferença, preconceito, discriminação e racismo no ambiente
escolar.
A Escola como Espaço de Conhecimento e de Reconhecimento das Diferenças
A identidade de cada indivíduo é construída por meio de inúmeros
elementos culturais adquiridos por meio das relações que se estabelecem no
decorrer do seu processo formativo. Isso significa que a identidade diferencia e
caracteriza grupos humanos.
De acordo com Munanga (2000), para os indivíduos, a identidade é a fonte
de sentidos e de experiência. Toda identidade exige reconhecimento; do contrário,
ela poderá sofrer prejuízos se for vista de modo limitado ou depreciativo. Para que
isso aconteça, é necessário que se tome consciência de que a diferença é parte
constitutiva do ser humano. Partindo desse raciocínio, o autor afirma que “[...] a
construção dessa nova consciência não é possível sem colocar no ponto de partida
a questão de autodefinição, ou seja, da autoidentificação dos membros do grupo em
contraposição com a identidade dos membros do grupo ‘alheio’” (MUNANGA, 2008,
p. 14).
As crianças, durante seu processo de escolarização, enfrentam um conjunto
de situações que permite o reconhecimento de si e dos outros, reconhecendo que as
diferenças são biológicas ou culturais. Esse processo de construção pode estar
permeado de experiências positivas ou negativas e, na medida em que elas se
deparam com situações de não reconhecimento de suas características, buscam
defender-se do sentimento e das pessoas, isto é, tendem a isolar-se, retrair-se,
autoexcluir-se e até mesmo a ter comportamentos indisciplinados ou violentos.
Infelizmente, essa criança acaba carregando isso ao longo de todo o seu processo
de desenvolvimento dentro da escola.
Essa violência escolar reflete uma situação que evidencia um ambiente
repleto de medo e insegurança, interferindo nas relações interpessoais e
comprometendo o processo de ensino-aprendizagem. Em algumas situações de
acordo com Campos (2003, p. 186),
[...] há uma responsabilização dos excluídos pela sua situação. As reações dos alunos podem ser tanto de retraimento – recusa em participar do ‘jogo’ – como de agressividade e violência contra a escola, os professores e colegas.
Contudo, essa situação não se limita aos alunos, pois, como afirma Moysés
e Collares (apud QUINTEIRO, 2000, p. 31), esse conceito errôneo ainda está
presente no discurso dos professores:
[...] comum no discurso dos professores o argumento de que as crianças não aprendem porque são pobres, sujas, desnutridas, imaturas, negras, nordestinas, não aprendem por que seus pais são analfabetos, alcoólatras e as mães trabalham fora.
Ressalta-se que em cada contexto social, apresenta-se um padrão de
comportamento ou “um tipo ideal” de homem, mulher, isto é, diferenciações
pautadas em padrões pré-estabelecidos por cada grupo social. Os padrões são
definidos e determinados pelo contexto histórico e cultural, ou seja, pensar em um
“padrão” ou “tipo ideal” de pessoas é algo praticamente impossível de ser atingido
por todos os seres humanos; no entanto, quer seja consciente quer seja
inconscientemente, todos estão em busca desse ideal, e quem não corresponde a
esse padrão é excluído ou vivencia situações marcadas pelo preconceito e pela
discriminação. Para Amaral (1998, p.14):
[...] a aproximação ou semelhança com essa idealização em sua totalidade ou particularidade é perseguida, consciente ou inconscientemente, por todos nós, uma vez que o afastamento dela caracteriza a diferença significativa, o desvio, a anormalidade. E o fato é que muitos e muitos de nós, embora não correspondendo a esse protótipo ideologicamente construído, o utilizamos em nosso cotidiano para a categorização/validação do outro.
Um aluno no espaço escolar que se sente diferente e, consequentemente,
discriminado pelos outros, muitas vezes, recorre à agressividade para se defender.
Essa agressão pode ser tanto verbal quanto física. Em face disso, observa-se, com
certa frequência, que há brigas entre alunos durante as aulas, durante o recreio ou
na saída da escola. Entretanto, não é somente o comportamento agressivo que
caracteriza o aluno que se sente inferiorizado. Se não trabalhada de forma correta, a
diferença pode gerar dentro do ambiente escolar um desconforto, fazendo com que
o aluno fique desmotivado a frequentar e a participar das aulas. A falta de motivação
pode acarretar a indisciplina ou a apatia do aluno e prejudicar o processo de ensino-
aprendizagem.
Um aluno que se sente diferente por ser oriundo de uma condição social
inferior ou por trazer consigo alguma peculiaridade cultural, enxerga a si mesmo
como diferente dos demais – o que pode trazer à tona marcas negativas. As
consequências desse sentimento são, muitas vezes, irreversíveis no ambiente
escolar. Por isso, é imprescindível mostrar aos alunos de que realmente existem as
diferenças, fundamentando-as histórico e culturalmente. Aponta-se para a
necessidade de discutir, explorar e refletir sobre as diferenças e a sua importância
para o processo de socialização, excluindo do cotidiano escolar a discriminação e
todas as suas formas de manifestação.
Aoyama e Perrude (2009, p. 173) enfatizam a importância de chamar a
atenção para essa problemática; logo, é necessário romper o “ [...] silêncio histórico
diante do preconceito, do racismo e da discriminação presentes no cotidiano
escolar”, apontando para a necessidade de ações formativas e pedagógicas mais
consistentes.
Considerando que o professor deve ser o mediador do conhecimento,
facilitando o processo ensino-aprendizagem, a ele é destinado o desafio de
reconhecer as diferenças não biológicas, mas também culturais – além de trabalhar
na sala de aula com tais diferenças. Para tanto, o professor precisa se apropriar de
todo um conjunto de conhecimento de maneira crítica para que, assim, possa
questionar os valores impostos e idealizados pela sociedade.
Esses problemas devem ser trabalhadas de forma clara e responsável, com
o professor para que, assim, ele possa enfrentar e discutir com seus alunos as
diferentes manifestações do preconceito e da discriminação. Conforme ressalta
Ruiz (2003) para aqueles professores engajados em um processo de transformação
social, é necessário que acreditem na educação, pois “sem ela nenhuma
transformação profunda se realizará”.
Desenvolvimento do Projeto
O projeto denominado “As Diferenças Na Escola: Promovendo Ações
Integradoras” foi desenvolvido junto a uma turma de 8ª série do ensino fundamental
do Colégio Estadual D. Pedro I – E.F.M., da cidade de Lidianópolis, tendo por
objetivo promover momentos de reflexão com os alunos e possibilitar um processo
de discussão sobre a educação e a diversidade.
Buscou-se descrever a realidade sociocultural dos alunos, discutir as
diferenças e a presença do preconceito no ambiente escolar e mostrar aos
professores a importância da participação de todos no desenvolvimento do projeto.
Iniciou-se o trabalho com a aplicação de questionário aos alunos, com o
objetivo de colher informações, visando verificar as percepções dos alunos a
respeito das diferenças, estereótipos, padrões e idéias sociais. Seguiu-se o trabalho
com grupos de debate formados pelos alunos por meio de dinâmicas de grupo,
vídeo-fórum sobre trechos de filmes selecionados que provocavam reflexões sobre o
tema: diferenças culturais. As atividades tiveram início em agosto de 2011 e foram
desenvolvidas no decorrer do segundo semestre, sendo concluídas em dezembro de
2011. Essas atividades desenvolveram-se durante as aulas da oitava série do
período vespertino, com duração média de meia hora ou uma hora para cada
atividade.
De acordo com o Projeto Político Pedagógico da Colégio Estadual D. Pedro I
– E.F.M, 2012 a comunidade atendida é constituída por alunos oriundos de famílias
de camada social baixo-média, com nível de escolaridade igualmente baixo, sendo
que a maioria dessas famílias provém da zona rural. Ressalta-se que os alunos que,
por necessidade de auxiliar na renda familiar, entram precocemente no mercado de
trabalho ou assumem responsabilidades domésticas, o que acarreta dificuldades no
seu desempenho acadêmico culminando, inclusive, em algumas situações na
evasão escolar.
Na primeira etapa do trabalho foram aplicados questionários com alunos,
para coletar informações sobre a sua vida e de sua família. Buscou-se informações
sobre moradia, transporte para a escola, tempo de chegada à escola, se gosta das
pessoas com quem convive no ambiente escolar, se gosta de estudar, se sofreu
algum preconceito, e se sim, como resolveu, sobre sua vida sociocultural.
De dezoito questionários aplicados retornaram quinze. Ao analisar os dados
coletados, percebeu-se que a organização familiar é diversificada, ou seja,
diferentes arranjos compõem o universo familiar. Muitos alunos vivem com os avós e
tios, outros moram somente com a mãe.
Identificou-se, ainda, nas respostas, a dificuldade que os alunos encontram
para chegar à escola, visto que, em função da distância entre a escola e a moradia\
muito alunos chegam atrasados. Conforme já revelado pelo P.P.P da escola a
maioria dos moram na zona rural. Para se deslocarem, os alunos vão à escola a pé
ou de ônibus, sendo que muitos deles até mais de uma hora para chegar à escola.
Contudo, apesar das dificuldades, a maioria afirmou gostar de estar na escola.
Buscou-se ainda verificar se os alunos sofreram algum tipo de discriminação
dentro da escola. Dos alunos que responderam ao questionário, verificou-se que oito
sofreram algum tipo de preconceito; seis sofreram e um deixou de responder. Dentre
os motivos desse preconceito, as razões foram variadas: seis alunos atribuíram tal
preconceito ao fato de morarem na zona rural, um ao fato de ser negro, oito não
responderam o motivo, pois assinalaram que não sofreram situações de preconceito.
Em relação ao preconceito sofrido por alunos da zona rural, observa-se que muitos
alunos da área urbana não conhecem nem reconhecem a importância da zona rural
na estrutura do município e até mesmo no Brasil. O preconceito sofrido pelo aluno
por ser negro, revela esse é um tema que ainda deve ser exaustivamente
trabalhado, no sentido de promover a conscientização tanto das vítimas (que devem
denunciar) quanto dos agressores – o que demonstra, afinal de contas, a dificuldade
em romper preconceitos sedimentados ao longo da história.
Em relação às atitudes dos alunos diante do preconceito; seis alunos não
responderam, dois contaram para seus pais, dois falaram para pedagoga, dois não
fizeram nada e outros dois alunos choraram. Essa realidade revela que os alunos
buscam resolver o seu problema de forma diferente. Dos preconceitos identificados
e mencionados pelos alunos, somente aqueles que foram relatados a Pedagoga foi
discutido.
Após o levantamento desses dados, e dos encontros coletivos foi possível
perceber um pouco das percepções, dos medos e anseios dos alunos diante das
situações de preconceito. Afinal, estar ciente do que acontece em seu dia dia pode
possibilitar maior aproximação do professor com os alunos, tornando o processo de
ensino-aprendizagem mais significativo e nesse sentido é preciso estar atento a
cada atitude preconceituosa que se manifesta no espaço escolar.
No tocante a vivencia de situações onde o preconceito se manifesta alguns
alunos sentiram-se inibidos, não conseguiram expor seus sentimentos e uma boa
parte são os percebiam, já aqueles que o percebia e sofriam com o problema com
este trabalho conseguiram expor seus sentimentos inclusive alguns até se
sensibilizaram.
Após a caracterização do grupo e a análise das informações coletadas, teve
início um trabalho de estudo com os alunos da 8ª série. Primeiramente, discutiu-se
sobre o tema identidade, tendo como ponto de partida o desenvolvimento de uma
dinâmica de grupo que tinha por objetivo fazer com que cada aluno pudesse
descrever suas características físicas, emocionais e culturais. Nessa dinâmica, os
alunos falaram de sua vida, sobre o que mais gostavam de fazer, quais eram as
suas brincadeiras, quem são seus amigos, suas características individuais, bem
como de seus sonhos e o que esperam do futuro. É importante observar que, na
análise das respostas, de maneira geral, poucos deles possuíam perspectiva em
relação à continuidade dos estudos, isto é, ingressar no ensino superior, alegando
não possuir condições financeiras para tal realização. Tal visão precisou ser
desmistificada, pois, como se sabe, o acesso ao ensino superior tem-se tornado
acessível aos alunos das camadas populares5.
Dando continuidade às discussões, trabalhou-se com o tema preconceito a
partir do filme “O pequeno Príncipe”. Os alunos foram à biblioteca, fizeram pesquisas
sobre o preconceito em revistas, jornais, internet, e voltaram para sala de aula para
fazer um debate durante a aula. Os debates levaram-lhes a perceber que eles
próprios possuem preconceitos, embora não se apercebam disso. Observou-se,
também, que alguns já sofreram preconceito e que deixavam de realizar atividades
em grupo, a fim de evitar sofrê-lo novamente; por isso, fechavam-se em grupos em
que os indivíduos possuem as mesmas características que eles, chegando, às
vezes, ao ponto de privar-se do convívio social.
O tema racismo também foi trabalhado a partir do vídeo “Uma infância sem
racismo”. Após assistirem ao vídeo, os alunos discutiram sobre o racismo no Brasil,
fizeram uma reflexão sobre o tema e, nas discussões, chegaram à conclusão de
que, infelizmente, ainda é grande a prática do racismo no país. Vale destacar que
alguns alunos ficaram chocados com o levantamento apresentado, pois acreditavam
que tal prática não acontecia no Brasil. Afinal, por ser um país com grande
diversidade cultural e pluralidade de raças, é possível que esperassem outra
realidade; no entanto, ao ver que o Brasil é um país extremamente preconceituoso,
disseram-se intrigados e, ao mesmo tempo, entristecidos.
5 Em virtude dos programas do Governo Federal nos últimos anos, como o Prouni e o sistema de cotas em universidades públicas, ingressar em uma faculdade, apesar de alguns limites, não é mais um privilégio, mas sim, um direito.
É importante ressaltar que se iniciou o projeto com uma grande ansiedade e
expectativa, acreditando que seria muito difícil a sua aplicabilidade, pois os alunos
que sofrem preconceito são estigmatizados tanto no ambiente escolar quanto na
comunidade em que vivem e, por vergonha, preferem esconder que foram vítimas.
Contudo, quando foi aplicada a atividade “Quem sou eu”, um dos alunos chamou-
nos a atenção sobremaneira, pois, ao contrário do previsto, foi notável a sua
confiança em relatar-nos os problemas que enfrentava no ambiente escolar e na
sociedade. Aliás, ao discutirem a proposta do projeto, a maioria dos alunos
demonstrou interesse nos vídeos que seriam apresentados, além de mostrarem-se
motivados na realização das atividades.
Enfim, no desenvolvimento desse projeto julgou-se relevante o fato de haver
uma aproximação maior com os alunos, fazendo com que conhecêssemos um
pouco da vida de cada um; afinal, ao contrário do que muitos professores acreditam,
sabe-se muito pouco sobre o cotidiano de cada aluno, embora convivamos
diariamente com eles. No final do trabalho, pode-se constatar, não sem tristeza, que
alguns alunos são discriminados em seu dia-a-dia, sendo que muitos não
conseguem se expressar; desse modo, ressalta-se a importância deste projeto, visto
que, nos encontros semanais, promoveu-se um espaço para desenvolver, por meio
das atividades propostas, uma proximidade maior tanto entre os próprios alunos,
como também entre o professor e os alunos.
Considerações Finais
Planejar um trabalho é sempre árduo e difícil. Prever os resultados,
principalmente quando envolve várias pessoas – no caso específico, uma sala de
aula alunos, na 8ª série do ensino fundamental –, não é uma tarefa das mais fáceis.
Assim, ao colocar o projeto em prática, as atividades demonstraram a necessidade
de modificar o seu planejamento, havendo, portanto, algumas alterações, isto é, ora
aprofundando um ponto, ora deixando-o do de lado, mas sempre dentro dos
objetivos traçados.
No decorrer do projeto, tudo foi importante: os questionários, vídeos,
palestra, debate, filmes etc. Todavia, o ponto mais relevante no desenrolar de cada
etapa percorrida, no desenvolvimento de cada um dos temas, sem dúvida, foi a
possibilidade de conhecer cada aluno e perceber que entre eles houve uma
aproximação maior, quando o projeto já se encaminhava para o fim, foi possível
perceber os avanços desse trabalho, isto é, a importância de cada um reconhecer –
se a si mesmo e respeitar a diferença do outro.
Ressalta-se com esse trabalho que a discriminação deve ser tratada
cotidianamente no ambiente escolar. Assim, o que se espera do educador é uma
reflexão em conjunto com os alunos sobre a construção da identidade, bem como
sobre as diferenças que caracterizam cada sujeito no espaço escolar. Nesse
sentido, faz-se necessária uma mudança de olhar por parte dos educadores, a fim
de que se alterem certos comportamentos que silenciam a existência do preconceito
e da discriminação no espaço escolar.
É preciso promover momentos de discussão com os alunos sobre a sua
realidade, o que permitirá um processo de reflexão sobre educação e diversidade.
Na turma em que se aplicou esse projeto, ficou evidente que os alunos que por
algum motivo se sentiam discriminados apresentavam dificuldade tanto em se
relacionar com os colegas de sala quanto com o professor. Esses mesmos alunos
não demonstravam interesse e entusiasmo em participar dos eventos culturais,
artísticos e esportivos – o que deixava evidente que o “sentir-se” discriminado leva o
aluno a não ser reconhecer nem a autovalorizar-se.
Talvez por falta de amadurecimento, ou de esclarecimentos os alunos
muitas vezes não se dão conta quando são vítimas de discriminação; ao contrário,
quando se sentem vítimas de preconceito, optam por não denunciar tais abusos,
quer seja por vergonha, quer seja por medo, sendo, portanto, reféns do preconceito.
Quanto aos professores, devido ao fato de se tratar de um assunto
“delicado”, continuam silenciando-se diante de situações que envolvam
preconceitos, preferindo não tomar nenhuma atitude. Ressalta-se que isso afeta
diretamente o processo de ensino-aprendizagem, pois, os alunos podem deixar de
interagir, comunicar-se, ou, simplesmente, não frequentam as aulas.
Em suma, ao término das atividades do projeto, buscou-se relatar os
resultados do trabalho, promovendo encontros e reuniões pedagógicas no sentido
de orientar, propor ações e instigar a comunidade escolar a refletir sobre a presença
do preconceito e da discriminação no espaço escolar. Chegou-se ainda a conclusão
que é necessário um trabalho coletivo entre direção, equipe pedagógica,
professores, agentes educacionais para uma melhor reflexão sobre o tema
diversidade no espaço escolar.
REFERÊNCIAS
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