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Risco de cheias é maior a norte, comGondomar a liderar lista Estudo da Universidade de Lisboa mediu o impacto de possíveis cheias no país 024/25

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  • Risco de cheiasé maior a norte,comGondomara liderar listaEstudo da Universidade deLisboa mediu o impacto depossíveis cheias no país 024/25

  • Douro, Tâmega e Sousatêm um maior risco de cheias

    É na órbita do Douroque os municípiosapresentam maior graude vulnerabilidade.Em contraste, a regiãodo Algarve é das menosvulneráveis

    Projecto coordenado pelo CEG daUniversidade de Lisboa criou um índiceque estabelece a probabilidade daocorrência de uma cheia que possacausar impacto nas populações

  • InvestigaçãoCamilo SoldadoÉ no Norte do país que se encontramos municípios com maior risco decheias. As conclusões são do projec-to Forland, que abrange os 278 muni-

    cípios do continente, num levanta-mento levado a cabo entre 2016 e2019 por uma equipa de 22 investi-gadores. Mais precisamente, entreo Douro, o Tâmega e o Sousa: o índi-ce de Risco de Cheias, que estabele-ce a probabilidade da ocorrência deuma cheia que possa ter impacto em

    pessoas, bens e infra-estruturas, temno seu topo Gondomar, seguido deMarco de Canaveses. Olhando parao cimo da tabela, há também doisconcelhos da zona da ria de Aveiro(Murtosa e Estarreja), mas a maioriaé igualmente da área do Tâmega eSousa, (Castelo de Paiva, Cinfães,Celorico de Basto e Lousada) e tam-bém do Porto (Gaia).

    Mas, para compreender o quesignifica a posição de cada autarquianesta tabela, é preciso perceber queeste índice foi composto combinan-do três factores: perigosidade, expo-sição e vulnerabilidade, cada umdeles calculado a partir de diversasvariáveis. A coordenadora do pro-jecto de investigação, Susana Perei-ra, do Centro de Estudos Geográfi-cos (CEG) da Universidade de Lisboa

    (UL), explica que a perigosidade diz

    respeito à probabilidade espacial etemporal da ocorrência das cheias(calculada com base no histórico),a exposição "à presença de popula-ção e de actividades económicasque podem ser afectadas pelascheias" (densidade populacional,ou grau de impermeabilidade dossolos, por exemplo) e a vulnerabili-dade "está relacionada com ascaracterísticas dos indivíduos -como idade, nível de instrução, con-dição económica", mas tambémavalia os meios locais de resposta a

    situações de catástrofe.'Daí que haja municípios exacta-mente com o mesmo valor de índicede risco, mas a força motriz podeser diferente", sublinha SusanaPereira. O exemplo que apresenta éo da Golegã, na bacia do Tejo, "que

    tem mais de 80% da sua área amea-çada por cheias". Se este concelhodo Ribatejo "tem os valores maiselevados do país na perigosidade,depois, como tem menos populaçãoexposta e a vulnerabilidade não édas mais altas", acaba por não estarnos primeiros lugares do índice.

    Gondomar, por exemplo, queencabeça a tabela, tem na vulnera-bilidade social e na exposição valoresmais expressivos que a perigosidade,isto apesar de o concelho ser atraves-sado pelo Douro. Aliás, é na órbitado Douro que os municípios apre-sentam maior grau de vulnerabilida-de. Este indicador é tão mais rele-vante porque, explica a coordenado-

    ra, "potencialmente, quanto maisfrágil for a situação socio-económi-ca das pessoas, a resposta que elasterão numa situação de emergênciaserá pior e vão sofrer mais conse-quências". Em contraste, a regiãoSul do Algarve, assim como Porto eLisboa, são das menos vulneráveis.

    Há outro dado que decorre dasassimetrias do país: em caso de umacatástrofe do género, no interior dePortugal, há maior capacidade desuporte do que no litoral. "Se fizer-mos um rácio entre a quantidade de

    serviços disponíveis e quantidade de

    população que precisa de utilizaresses serviços, no litoral encontram--se em pior situação do que no inte-rior", explica a investigadora. Ou seja,"em caso de situação de emergência,é muito mais difícil dar resposta numa

    área urbana do litoral, mesmo tendomais hospitais, mais ambulâncias,mais meios, porque tem tambémmais população para socorrer".

    Levantamento históricoO Forland, que é resultado de umaparceria entre investigadores doCEG, do Centro de Estudos Sociaisda Universidade de Coimbra, doInstituto Dom Luiz (unidade da Uni-versidade de Lisboa de investigaçãoem geociência) e da Direcção-Geraldo Território (DGT), tem por baseum projecto de investigação ante-rior, de construção da base de dadosDisaster - um levantamento sobrecheias e movimentos de vertentes(termo académico para designarfenómenos como deslizamentos deterras ou escoadas de detritos) queprovocaram danos humanos emPortugal, entre 1865 e 2010. Foi feitonovo levantamento e o período emanálise estendido até 2015, contabi-lizando-se 938 mortos e 40.827pessoas afectadas em 1411 ocorrên-cias nestes 150 anos, sendo os núme-ros mais expressivos os das cheiasde Novembro de 1967, na região deLisboa, com um número de 522 fata-lidades.

    Sem surpresa, as ocorrências decheias estão concentradas nas zonasde Lisboa e Vale do Tejo, no Porto eVale do Douro, na região de Coim-bra e ao longo da bacia do Vouga. Oprojecto nota ainda "a concentraçãode pontos em alguns contextosurbanos": Lisboa, Porto e municí-

  • pios circundantes, mas tambémCoimbra, Águeda, Braga e zonasurbanas do Algarve.

    Se nessa base de dados eram iden-tificados todos os pontos geográfi-cos de cheias que provocaram mor-tos, feridos, desalojados ou desapa-recidos, não eram mostrados "osfactores, as forças motrizes que jus-tificavam a localização daquelespontos", afirma a coordenadora,para explicar a origem do For-land.

    Propostas de intervençãoOs dados do projecto não permitemfazer futurologia e, num contextode alterações climáticas, terão deser calibrados. A tendência, explicaSusana Pereira, é que ocorram maiseventos extremos. Isso quer dizerque "vamos ter períodos em que vaichover muito pouco ou nada edepois vamos ter precipitação mui-to concentrada". Tendo isso ematenção, numa fase seguinte, osinvestigadores terão de modelar ofactor "perigosidade" de acordocom a "alteração em quantidade ena distribuição da precipitação".

    E o que pode ser feito a partir dosdados deste projecto? A ideia é pro-

    videnciar material para que osórgãos de poder possam, a nívelnacional e regional, "fazer uma hie-

    rarquização de prioridades e saberem que factor devem investir parareduzir o risco de cheia". SusanaPereira refere que a DGT, por exem-plo, já mostrou interesse em receberos dados do Forland.

    O projecto elenca uma bateria depropostas de intervenção, que vãodesde soluções de renaturalizaçãode encostas e leitos de cheia, ainda

    que admita necessidade pontual deconstruir diques ou barragens, àimplementação de sistemas de aler-ta atempados, bem como de identi-ficar localmente grupos de risco.Resumindo, as medidas mitigadorasdependem da necessidade de cadamunicípio. Em concelhos com ele-vado grau de exposição, "seria maisimportante acautelar a localizaçãode novas construções fora das áreasperigosas", exemplifica a coordena-dora. Mas deve-se também "apostarna diminuição da vulnerabilidadeda população, até com programasde educação e de formação dapopulação", menciona.

    [email protected]

    278O projecto Forland abrange os278 municípios do continente,num levantamento levado acabo entre 2016 e 2019 por umaequipa de 22 investigadores