revista latitude - 2

59
Latitude ano 1 • número 2 fevereiro de 2008 01º23’05”S

Upload: hangar-centro-de-convencoes-e-feiras-da-amazonia

Post on 08-Mar-2016

252 views

Category:

Documents


8 download

DESCRIPTION

Revista Latitude - ano I - número 2 - fevereiro de 2008

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Latitude - 2

Latitude

a n o 1 • n ú m e r o 2f e v e r e i r o d e 2 0 0 8

La

titu

de

Ha

ng

ar

a

no

1 •

2 •

fe

vere

iro

de

20

08

01º23’05”S

capa_hangar1.indd 1 23/2/2008 D044 17:20:16

Page 2: Revista Latitude - 2

delta

capa_hangar1.indd 2 23/2/2008 D044 17:20:40

Page 3: Revista Latitude - 2

revista_hangarboneca1.indd 3 23/2/2008 D044 18:42:54

Page 4: Revista Latitude - 2

índice

Como o açaí saiu da fl oresta para con-quistar os paladares do mundoHow açaí has gone from the rainforest to conquer tastes around the world

Vista aérea da orla de Belémfoto/photo: João Ramid

04

entrevista interview10Ricardo Young, do Instituto Ethos, fala de responsabilidade ambientalRicardo Young of the Ethos Institute speaks on environmental responsibility

turismo tourism48

roteiro itinerary18 ensaio essay30

cultura culture56 culinária cuisine64

Dez lugares em Belém para apreciar a vista para o rioTen spots with a view of the river to enjoy Belém

A paz e o aconchego dos hotéis-fazenda em roteiros especiais de ecoturismo Peace and coziness of farm-hotels in special ecotourism circuits

A vez do samba e do choro na capital paraenseSamba and choro in Belém

O chef Paulo Martins e o regional reinventado Chef Paulo Martins reinventing regional cuisine

editorial editorial05cenário scenariomeio ambiente environment14

06

artigo article 16moda fashion28

negócios business38crônica cronicle60ponto de vista point of view62economia economy68institucional institutional70

por dentro inside 72localize-se map74porta-retrato snapshot75artigo article84eventos events 85

revista_hangarboneca1.indd 4 23/2/2008 D044 18:43:11

Page 5: Revista Latitude - 2

Editorial

The Hangar made a fresh start into 2008 with the right foot by ex-

ceeding even our most optimistic expectations. We congregated about

one million people in over 150 events that were held in 2007, with a

turnover of more than R$30 million. We were the newest conventions

center to have won the Caio Prize, which is considered the ‘Oscar of

Events’, when the Hangar had only 7 months of operations. This dem-

onstrates that we are going in the right way.

Through endeavor and dedication, this center became a reference

for holding events in the Amazon, bringing out very positive conse-

quences for the entire economy of the State. Local entrepreneurs are

working harder, new hotels are being built and the professionals work-

ing in this fi eld have become more specialized; everyone is united to-

wards a single goal: enhancing our real vocation for the tourism of

events and businesses.

The perspectives are even better. In May we will celebrate our very

fi rst anniversary with an agenda fi lled with national and international

events. The people of Pará are to benefi t the most, since this refl ects in

employment, income, funding, and fosters growth.

Joana Pessoa

President of Hangar Conventions

and Fair Center of the Amazon

editor ia l / editor ’s letter

O Hangar entrou em 2008 com o pé direito, ultra-

passando até as nossas expectativas mais otimistas.

Reunimos cerca de um milhão de pessoas nos mais de

150 eventos realizados, movimentando R$ 30 milhões

e fomos o mais jovem centro de convenções a ganhar

o Prêmio Caio, considerado o “Oscar dos Eventos”,

quando tínhamos apenas sete meses de funcionamen-

to. Isso mostra que estamos indo no caminho certo.

Com muito empenho e dedicação, este espaço aca-

bou se consolidando como referência na realização de

eventos na Amazônia, o que traz conseqüências muito

positivas para toda a economia do Estado. Não é à toa

que o empresariado local está se movimentando, no-

vos hotéis são construídos e os profi ssionais ligados

ao setor estão se especializando, todos unidos com um

só objetivo: aprimorar a nossa real vocação para o tu-

rismo de eventos e negócios.

As perspectivas para o futuro são ainda melhores.

Em maio completaremos um ano, com a agenda cheia

de eventos nacionais e internacionais, e o maior bene-

fi ciado é o povo paraense, já que isso refl ete em empre-

go, renda, divisas e impulsiona o crescimento.

Joana Pessoa

Presidente do Hangar Centro de

Convenções e Feiras da Amazônia

expediente

Diretora-presidentePresidentJoana Pessoa

Diretora geralDébora Amoras

Diretor administrativo-fi nanceiroFinance-administration DirectorCornélio Rath

Diretor operacionalOperations managerLuiz Carlos Moraes

Assessora de comunicaçãoCommunications AdvisorEsperança Bessa

Conselho administrativo do HangarManagement BoardRoberto Ferreira (presidente); Edilson Moura (Se-cretaria de Estado de Cultura - Secult); Ann Pontes (Empresa Paraense de Turismo - Paratur); Hildegardo Nunes (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas - Sebrae); Orlando Rodrigues (Belém Convention & Visitors Bureau); Anazilda Sequeira, Jarbas Vasconcelos, Altair Vieira, Thaís Montenegro e Ruy Martini (conselheiros)

Agência responsável/Agency Double M

Edição/EditingPublicarte Editora

Editor-chefe/Chief EditorFabrício de Paula

Editora/PublisherAline Monteiro

Editores assistentes/Assistant EditorsElvis Rocha e Esperança Bessa

Produção editorial/ProductionJuliana Oliveira, Elianna Homobono, Guilherme Guerreiro Neto, Nerusa Palheta e Suelem Lobão

Edição de arte/Art EditorsAndré Loreto e Fabrício de Paula

DesignGil Yonezawa e Leandro Bender

Fotos/PhotosDiana Figueroa, Ely Pamplona, Jaime Souzza, João Ramid Nailana Thiely, Renato Chalu, Miguel Chikaoka

Textos/TextsAline Monteiro, Anna Carla Ribeiro, Bob Menezes, Caco Ishak, Carlos Henrique Gondim, Carolina Menezes, Elianna Homobono, Esperança Bessa, Guilherme Guerreiro Neto, Irna Cavalcante, Ismael Machado, Juliana Oliveira, Leandro Moreira, Maurílio Monteiro, Suelem Lobão e Zildinha Sequeira

Revisão/RevisionJosé Rangel

Versão em Inglês/English Version Márcio ValleRobert Finnegan

Comercial/Commercial DepartmentCristiane ChistéRua João Balbi, 167 – 3º [email protected]: (91) 4005.6868

Impressão/PrintingGráfi ca Delta

Tiragem: 5.000 exemplares (5,000 copies)

Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia

Av. Dr. Freitas, S/N. Belém • Pará • Brasil. CEP: 66613-902Telefones: (91) 3344-0100, 3344-0101 e 3344-0102imprensa@hangarcentrodeconvencoes.com.brwww.hangarcentrodeconvencoes.com.br

05

revista_hangarboneca1.indd 5 23/2/2008 D044 18:43:53

Page 6: Revista Latitude - 2

06

cenár io / scenar io

De l íc ias case irasEscondida entre as ruelas e casas antigas da Cidade Velha (o primeiro

bairro de Belém), a Portinha é uma charmosa lanchonete que serve quitutes originais, com ingredientes como jambu, lingüiça defumada, palmito e pupu-nha, e que funciona, literalmente, numa portinha. O empreendimento surgiu depois que os salgados produzidos por Manuel Júnior e Cezar Oliveira para lanchonetes e cafés locais caíram no gosto do público, e foi instalado no an-tigo ponto de venda de açaí da família. Destaque para o pão “Portinha”, feito com massa caseira, palmito, presunto de peru e jambu. Mas é o folhado de pupunha com lingüiça defumada o item mais procurado. Além dos salgados, a Portinha serve pratos típicos como maniçoba e tacacá, e especialidades da casa: camusquim de camarão com queijo cuia, lasanha de frango com manjericão e queijo cuia, risoto de frango no tucupi com jambu, e sopa de caranguejo com ovo de codorna e jambu. Na Rua Doutor Malcher, 463, entre Pedro Albuquerque e Gurupá, Cidade Velha. Funciona de quinta a domingo, das 17 às 22 horas.

Desco ladoRestaurante, pub e boate, o Barcelona Prime virou point em Belém. O bar e restau-

rante têm lounge refrigerado e área aberta. Com serviço da Estação Gourmet, o res-taurante abre de terça a domingo para almoço (buffet por quilo) e jantar (à la carte). A partir de quarta, as noites no pub são animadas por bandas de pop rock. Na boate, os dias quentes são sexta, sábado e vésperas de feriado. Na Avenida Senador Lemos, 175, esquina com a travessa Almirante Wandenkolk. Fone: (91) 3229-9520

Restaurant, pub and nightclub, Barcelona Prime has become a favorite spot in Belém. The bar

and restaurant have both an air-conditioned lounge and an open-air area. With service from Estação

Gourmet, the restaurant is open from Tuesday to Sunday for lunch (buffet) and dinner (from the menu).

Starting on Thursday, pop rock bands liven up the club at night. The best nights at the nightclub are

Friday, Saturday and on the eves of holidays. Address: Senador Lemos Avenue, 175, corner with Almirante

Wandenkolk Street. Phone: +55 (91) 3229-9520

Snuggled amid the narrow streets and old manors of the Old City (Belém’s oldest

neighborhood) is Portinha1. It is a charming little place that serves a series of very

original tidbits with ingredients such as jambu2, smoked spicy sausage, heart of palm

and peach palm, and that operates, literally, out of a small door. The snackbar opened

after the appetizers that Manuel Júnior and Cezar Oliveira made for local cafés and

snackbars became popular, and is located where the family already had a point of sale

for açaí3. One of the specialties you can fi nd there is their ‘Portinha bread’, made with

homemade dough, palm heart, turkey ham and jambu. Their peach palm phyllo rolls

with smoked spicy sausage, though, is the most sought after item. In addition to ap-

petizers, Portinha also serves typical dishes such as maniçoba4 and tacacá5 as well as

the house specials: shrimp camusquim with Edam cheese, chicken lasagna with basil

and Edam cheese, chicken risotto in tucupi6 sauce with jambu, and crab soup with

quail eggs and jambu. Address: Doutor Malcher Street, 463, between Pedro Albuquer-

que and Gurupá, Old City. Open from Thursday to Sunday, 5 p.m. to 10 p.m.

Home-cooked de l ights

L ive ly

1 - ‘Portinha’ in Portuguese means ‘Little Door’2 - Spilanthes oleracea, leaves and fl owers make your tongue tingle.3 - Euterpe oleracea; a palm berry used to make a nutritious juice.4 - Stew made of specially prepared and ground manioc leaves with pork and beef, smoked pork, lard, sausage, tripes, pig ears, ribs, etc.5 - A type of soup served in a small half-gourd bowl, with tucupi sauce, tangy jambu leaves, shrimp, tapioca starch and hot pepper.6 - A savory yellowish broth prepared from the manioc root.

Foto: divulgação

revista_hangarboneca1.indd 6 23/2/2008 D044 18:44:05

Page 7: Revista Latitude - 2

07

Be lém em jó iasAo imprimir a beleza da cidade de Belém em quadros, bolsas e agora também em jóias,

Celeste Heitmann, artista plástica portuguesa radicada em Belém, vem conquistando um público seleto e exigente no Brasil e exterior. Aos olhos dela, a beleza da cidade está nas mangueiras, no açaí, no Ver-o-Peso, em Nossa Senhora de Nazaré. O toque sofi sticado do traço da artista é somado à riqueza de pigmentos e gemas extraídos dos minerais para-enses, dando cores sutis às peças exclusivas. Em janeiro último, Celeste apresentou no Fashion Rio sua mais recente coleção, inspirada em signos marajoaras. Ela já trabalha em novas peças, que trarão a borboleta como elemento principal. Para conhecer mais do trabalho da artista, acesse www.celesteheitmann.com.

Sons da Amazônia

A rabeca é um tipo de violino rústico usado na Marujada – manifestação cultural do município de Bragança – durante a Festa de São Benedito, padroeiro local. Para fortalecer e manter essa identidade cultural, o Instituto de Artes do Pará (IAP), por meio do projeto “Tocando a Memória – Rabeca”, vem capacitando novos luthieres (artesãos especializados na construção de instrumentos musicais) na região.

Desde então, Bragança já possui diversos músicos que, por meio das ofi cinas ministradas - aulas práticas, de partitura e ainda de produção manual do instrumento –, formaram há dois anos a “Orquestra Rabecas da Ama-zônia”, hoje com 38 integrantes. O sucesso do projeto culminou na criação da Associação Bragantina de Música (ABM). Hoje, mais de 100 alunos podem estudar diversos tipos de instrumentos musicais como fl auta doce, viola clássica, violoncelo, e, claro, a rabeca. O desenrolar das atividades da associação deu tão certo que o Rabecas da Amazônia ganhou em dezembro passado o terceiro lugar no “Prêmio Cultura Viva 2007”, promovido pelo Ministério da Cultura, na categoria Organização da Sociedade Civil. Quem quiser saber mais sobre o trabalho da associação e da orquestra, pode contactá-las pelos telefones (91) 3425-1459 ou (91) 8141-7264.

Be lém in jewe l ryA select and discriminating public in Brazil and abroad have been admiring the work of Celeste

Heitman, a Portuguese artist living in Belém, who depicts the beauty of the city of Belém in paintings,

handbags and now even in jewelry. Through her eyes, the beauty of the city is in its mango trees, açaí,

Ver-o-Peso and Our Lady of Nazareth. The artist’s signature sophisticated touch, together with the

richness of the pigments and gems taken from mines in Pará, provide subtle shades to her exclusive

pieces. In January, Celeste presented her latest collection at Fashion Rio, inspired by Marajó-style

designs. She is already working on new pieces, using the butterfl y as their main element. To fi nd out

more about the artist’s work, visit www.celesteheitmann.com.

Foto

s: A

urim

ar A

raújo

The rabeca is a type of very simple fi ddle used in the Marujada – a cultural manifestation

from the municipality of Bragança – during the Festivity of Saint Benedict, the local patron

saint. In an effort to maintain and promote cultural identity, the Pará Art Institute (IAP)

has set up the “Playing from Memory – Rabeca” project, training new luthiers (craftsmen

specialized in making musical instruments) in the region.

Ever since, a number of musicians in Bragança have taken part in workshops – prac-

tical lessons, sheet music reading and handcrafting the instruments themselves – and

two years ago formed the “Rabeca Orchestra of Amazonia”, currently with 38 musi-

cians. The project was so successful it resulted in the establishment of the Bragan-

tine Music Association (ABM). There are currently over 100 people studying different

musical instruments such as the fl ute, classic viola, violoncello and, of course, the

rabeca. The Association’s activities are becoming so successful that in December,

Rabecas of Amazonia won third place at the “Cultura Viva 2007 Awards”, pro-

moted by the Ministry of Culture, in the category of Civil Society Organization.

If you’d like to know more about the association’s activities and the orchestra,

contact them by phone: +55 (91) 3425-1459 or +55 (91) 8141-7264.

Sounds of Amazon ia

revista_hangarboneca1.indd 7 23/2/2008 D044 18:44:25

Page 8: Revista Latitude - 2

cenár io / scenar io

08

P izza ard id inha

Fe ito à mãoPara sair de Belém com presentes que guardam memórias inesquecíveis da cidade – e

ainda se diferenciam das outras lojas de suvenires – , não deixe de visitar o Bazar BR. Especializada em artesanato, a loja reúne artigos regionais, nacionais e internacionais. São produtos fabricados com diversos tipos de materiais, indo de objetos pessoais, como as biojóias, a artigos de decoração. Em todos eles, a idéia é uma só: retratar a diversidade cultural do país, da região amazônica e do mundo. Abre de segunda a sexta-feira, das 10 às 13 horas. Na Travessa Benjamin Constant, 1.122, lojas 3 e 4. Fone: (91) 3230-2444.

If you want to buy some gift from Belém

remindful of this unforgettable city and that is

different from what you fi nd in the run-of-the-

mill souvenir stores, don’t miss Bazar BR. It’s

a shop specialized in handicraft, with regional,

national and international items. The pieces are

made from a variety of materials, and range

from personal objects, such as biojewelry, to

home decorations. All of the items have a single

idea behind them: depict the cultural diversity

of Brazil and of Amazonia. Open from Monday

to Friday, 10 a.m. to 1 p.m. Address: Travessa

Benjamin Constant, 1.122, shops 3 & 4. Phone:

+55 (91) 3230-2444.

Quem visita a capital paraense não pode deixar de experimentar a pizza de jambu, excelente combinação da folha regional com a massa fi na e crocante italiana. Com queijo bem derretido, alho, uma pitada de molho de pimenta amarela e azeite, é de subir ao céu. O pioneiro na combinação foi o Café Ima-ginário (Trav. Quintino, próximo à Boaventura. F.: 91-3230.5235), que fez da pizza sua especialidade, junto ao jazz e MPB ao vivo. No Xícara da Silva (Av. Visconde de Souza Franco, 978-A, próximo à Boaventura. F.: 91-3241-0167), o recheio ganhou camarões rosa.

If you’re visiting the capital of Pará, you have to try the jambu pizza, an excellent

combination of regional herbs on a thin-crusted Italian-style pizza. Thoroughly melted

cheese, garlic and a pinch of tabasco and olive oil makes it a heavenly dish. The pioneer

with this combination was Café Imaginário (Trav. Quintino, near Boaventura. Ph.: 55-91-

3230-5235), which made this pizza its specialty, along with live jazz and MPB music. At

Xícara da Silva (Av. Visconde de Souza Franco, 978-A, near Boaventura. Ph.: 55-91-3241-

0167), they’ve added pink shrimp fi lling.

Handmade

Sp icy p izza

Pizza, jambu e jazz no Imaginário

Fot

o: d

ivul

gaçã

o

revista_hangarboneca1.indd 8 23/2/2008 D044 18:44:58

Page 9: Revista Latitude - 2

SUBTLE DIFFERENCEtexto / text: Ismael Machadofoto / photo: Renato Reis

Sutil diferençaQuando Pio Lobato começou a fazer expe-

rimentos sonoros paralelos ao de sua banda principal, a Cravo Carbono, as pessoas per-guntavam sobre o projeto que ele estaria desenvolvendo. Daí nasceu o nome do grupo, Suposto Projeto, uma sutil ironia do guitarris-ta. Sutis ironias que, aliás, são característi-cas da personalidade dele, um perfeccionista que faz parte de uma geração que renovou a música paraense.

Misturando tudo o que encontra pela fren-te e que lhe agrada, Pio é, de certa forma, responsável pelo renascimento do interesse dos ouvidos “bem educados” pela guitarra-da, um gênero de música de salão que antes era restrito aos locais, digamos, não muito recomendáveis a moças de boa família.

Depois de “Café”, primeiro disco solo – artesanal, é verdade –, ele voltou a reu-nir parte da banda (o baixista Guilherme e o baterista Vovô) para gravar onze composi-ções instrumentais que são um passeio pelo universo sonoro de uma Belém antiga e atual. Nas mãos do guitarrista (que acaba de ser

incluído, assim como a Cravo Carbono, na coletânea “O Novo Rock do Brasil” lançada pela revista francesa Brazuca), o desvalori-zado tecnobrega ganha roupagem charmosa, a guitarrada encontra um discípulo atento e o pop rock torna-se artigo de luxo.

“Esboço”, o mais recente resultado des-sas elucubrações sonoras de Pio – que en-cantaram desde o cineasta Cacá Diegues, que inseriu uma composição do músico em “Deus é Brasileiro”, a produtores como Carlos Eduardo Miranda – é um achado. O ouvinte desavisado vai ter difi culdade em escolher qual prateleira colocá-lo: rock, jazz, MPB, brega, world music.

No fundo, isso é o que menos importa. A música, como costuma repetir Pio Lobato, é que ganha todas as reverências. No trabalho dele, ela é tratada assim.

O disco solo pode ser encomendado pelo email [email protected]. Já a coletânea da Brazuca está disponível para download gratuito no site www.magazinebrazuca.blo-gspot.com.

When Pio Lobato began experimenting with sounds different from

those of his main band, Cravo Carbono, people asked him about what

kind of project he was trying to develop. Hence the name of the group,

Suposto Projeto (the Alleged Project), a subtle bit of irony from the gui-

tarist. Subtle irony, it should be said, is a personality trait of his, a

perfectionist who is part of the generation that is causing a renewal on

the Pará music scene.

Mixing just about everything and anything he found that was

pleasing to the ear, Pio is, in a certain sense, responsible for the re-

born interest in ‘educated’ listening to the ‘guitarrada’ (a guitar solo

to lambada, choro and other regional rhythms), a dance music genre

that was heretofore restricted to places where, shall we say, good girls

weren’t supposed to go.

After “Café”, his fi rst solo album – done somewhat rustically, it’s

true, - Pio went back and brought in half of the members of Cravo

Carbono (bass player Guilherme and drummer Vovô) to record eleven

instrumental compositions that are a musical journey through Belém

past and present. The guitar player has brought new life and charm

to little known ‘techno-brega’, ‘guitarrada’ has found in him an ardent

disciple, and pop rock has gained popularity with the upper class.

“Esboço”, the most recent album of Pio’s experiments in sound

– has been acclaimed by people such as fi lmmaker Cacá Diegues,

who included one of Pio’s compositions in the soundtrack of the movie

“Deus é Brasileiro” (“God is Brazilian”), and producers like Carlos

Eduardo Miranda – he is now a discovered talent. Listeners caught

unawares will fi nd it hard to know how to classify it: rock, jazz, MPB,

brega, world music.

In the end, that’s not what is important. The music, as Pio Lobato

often says, is the one that deserves the applause. He treats music with

the respect it deserves. You can order his album by writing to: piolo-

[email protected].

09

revista_hangarboneca1.indd 9 23/2/2008 D044 18:45:24

Page 10: Revista Latitude - 2

10

entrevista / interv iew

RESPONSIBILITYfor the future of the planettexto / text: Esperança Bessafoto / photo: Jaime Souzza

For many years, the Amazon has been known as the lung

of the world. Today, it has more responsibilities to fulfi ll

in behalf of mankind. It is regarded as a symbol of changes

in the way man relates with nature – challenged to produce

sustainable development and, therefore, to take wealth from

the standing forest. But also it is in the Amazon that the con-

sequences of the irresponsibility of the human being worldwide

are felt in a more intense form.

In this sense, sustainable development became a synonym

of environmental responsibility. A company that is tuned to the

future is the one that keeps an eye on nature and not only on

the profi t from exploiting it. Thus, the fauna and the fl ora are

to win as well as the society as a whole, for it shall expect an

assured future in an inhabitable planet. But this calculation,

which yields income without intensive exploitation, is still hard

to be understood by many.

Having environmental responsibility in Brazil is about, in

large part, taking care of the Amazon directly or of what is

done in the distance, but with effects that are felt in the forest

(such as global warming). This was one of the subjects of the

Sustainable Amazon Forum that was held at the Hangar in No-

vember of 2007. Many institutions attended the event such as

the Ethos Institute, which is a reference in the third sector for

disseminating the concept of social responsibility throughout

Brazil and that soon shall add Environmental Responsibility to

its name, since these are two inseparable concepts according

to its President, Ricardo Young.

Ricardo Young attended the event and enthusiastically

spoke about his optimism regarding the future of our planet.

For him, this future starts right with sustainable development

arising from environmental responsibility. Below is an exclu-

sive interview with the President of the Ethos Institute.

Sustainability is understood as a form of environmental

responsibility. Do the companies already have expressive

awareness in this sense?

Two months ago, the Ibope institute released a survey that

verifi ed the level of awareness of the companies towards the

concept of sustainability and, amongst those people who are

familiar with this term, how much they have incorporated such

concept into their companies. From 56% to 60% had the con-

cept well developed, but only 33% actually adopted it. This

demonstrates that there is some misbalance between the per-

ception of a necessity and a true transforming action. We live

a time of transition in which awareness is present but has not

yet reached the critical mass as it should have.

And while this takes long to come, a company that is pol-

luting, say the air in the south of the country, does not know

that it is causing some harm that stretches up to the Ama-

zon…They must be aware of the fact that within the Amazon

there are refl exes of is done all over the world. The forest is

now having its ‘fi ne tuning’ altered by climatic changes and a

short-term solution must be found in order to straighten this

up. We do not have much time.

A Amazônia, que por tantos anos foi conhecida como o “pulmão do mundo”, tem hoje muito mais res-ponsabilidades a cumprir em prol da humanidade.

A ela é aplicada a imagem de símbolo das mudanças na maneira como o homem se relaciona com a natureza, desafi ado a produzir um desenvolvimento sustentável e, por conseguinte, tirar riqueza da fl oresta em pé. Mas também é nela que se sente de forma mais intensa as conseqüências da irresponsabilidade humana.

Nesse sentido, desenvolvimento sustentável virou sinônimo de responsabilidade ambiental. Empresa an-tenada com o futuro é aquela que está de olho no cui-dado com a natureza e não só com o lucro advindo da exploração dela. Com isso, ganha a fauna, a fl ora e a própria sociedade, que poderá ter pela frente um futuro garantido em um planeta habitável. Mas essa matemá-tica, que gera renda sem exploração intensiva, ainda é difícil de ser compreendida por muitos.

Ter responsabilidade ambiental no Brasil signifi ca, em grande parte, cuidar da Amazônia diretamente ou do que é feito à distância, mas com efeitos sentidos na fl oresta (como o aquecimento global, por exemplo).

Este foi um dos temas do Fórum Amazônia Sustentável, realizado no mês de novembro de 2007 no Hangar Cen-tro de Convenções e Feiras da Amazônia e que reuniu, entre outras entidades, o Instituto Ethos, referência no Terceiro Setor por disseminar Brasil afora o conceito de responsabilidade social, e que em breve deverá acres-centar a responsabilidade ambiental a seu nome, já que para o presidente Ricardo Young, esses são dois concei-tos indissociáveis.

Ricardo Young participou do evento e falou à Lati-tude com entusiasmo, sobre o seu otimismo em relação ao futuro do planeta, que para ele se inicia exatamente no desenvolvimento sustentável nascido da responsabi-lidade ambiental. A seguir, confi ra a entrevista exclusiva com o presidente do Instituto Ethos.

A sustentabilidade é entendida como uma forma

de responsabilidade ambiental. Já há uma conscienti-zação expressiva das empresas nesse sentido?

Foi publicada há dois meses uma pesquisa do Ibo-pe para verifi car qual o grau de conscientização que as empresas tinham em relação ao conceito de sustentabi-

lidade e, entre os que conhecem o termo, quantos têm levado isso para dentro de suas empresas. De 56% a 60% tinham o conceito bem desenvolvido, mas apenas 33% adotavam de fato. Isso mostra que existe um des-compasso entre a percepção da necessidade e uma ação transformadora mesmo. Estamos vivendo um período de transição, onde a conscientização é presente, mas ainda não atingiu a massa crítica como deveria.

Enquanto isso demora a chegar, a empresa que po-lui, por exemplo, o ar no Sul do país, não sabe que está causando um mal que se estende até a Amazônia... É imperativo ter essa consciência de que no meio da Ama-zônia há refl exos do que é feito no mundo todo. A fl oresta já começa a ter sua sintonia fi na alterada por mudan-ças climáticas e é preciso encontrar uma solução a ser operada em curto prazo para resolver isso. Não temos muito tempo.

As alterações climáticas são refl exo disso? As empresas de seguro tinham um modelo de cálculo

baseado em eventos da natureza dentro de uma linha histórica. Não cobriam, por exemplo, danos causados

Responsabilidade pelo futuro do PLANETA

revista_hangarboneca1.indd 10 23/2/2008 D044 18:45:31

Page 11: Revista Latitude - 2

L

revista_hangarboneca1.indd 11 23/2/2008 D044 18:45:32

Page 12: Revista Latitude - 2

““por enchentes em áreas sem histórico de enchentes. Da segunda metade da década de 90 para cá, isso foi alte-rado de acordo com as mudanças climáticas. Os prejuí-zos com o furacão Katrina nos Estados Unidos, ou mais recentemente com os incêndios da Califórnia, foram enormes para quem não estava preparado e isso deixou as seguradoras perplexas. Que as empresas de seguro não conheçam os impactos de fenômenos inesperados é aceitável, mas não projetar é um absurdo.

Esses fenômenos seriam respostas da natureza à ação do homem?

Primeiro a natureza representava uma ameaça ao homem. Essa visão de dominá-la era uma necessidade de sobrevivência. Do século 18 em diante ela começou a ser fonte de recurso e, dada a capacidade de reposição, era vista como inesgotável. Da década de 1990 para cá, mais de 30% dos recursos que se renovavam natural-mente já não têm mais garantia de que irão durar muito tempo. É preciso redefi nir as formas de consumo, e isso irá refl etir na biodiversidade e no regime climático. Acre-dito que daqui a 50 ou 70 anos, não sem muitas tragé-dias – até porque vai ser pelas tragédias que o homem irá acordar –, esse cenário irá mudar.

Mas até lá teremos muitas perdas, então?

Serão várias, algumas delas irreversíveis. Espécies ameaçadas de extinção vão acabar, e isso é uma perda de história da evolução também. Imagine os milhões de anos de evolução do urso polar para chegar ao estágio aonde chegou, e agora está ameaçado de extinção. Olhe o prejuízo do ponto de vista histórico. Essas perdas vão acontecer até quando o homem perceber que ele tem que se subordinar à natureza, não só por fazer parte dela, mas por ser o único com capacidade de “zeladoria” e de usar a tecnologia em prol dessa natureza.

A mesma tecnologia que hoje destrói a natureza é a chave para mantê-la viva?

Sem dúvida. O melhor da tecnologia que temos veio do esforço de guerra, como é o caso do plástico. Temos tecnologia que nos permite queimar etapas, e acho que em breve haverá um salto tecnológico a ponto de que, no futuro, não se faça nada se não for sustentável. Quer um caso? Num primeiro momento se fabricava o vidro.

No segundo momento, esse vidro começou a ser utilizado em prédios, porque ele deixa a fachada mais leve, refl e-te o céu, a ocorrência dele no cenário urbano é menos pesada. Só que com ele aumentou o calor no interior do prédio e começou-se a utilizar a refrigeração, que preci-sa de muita carga energética para funcionar. Uma uni-versidade em Taiwan já descobriu uma forma de fazer o vidro com microfi lamentos e ele próprio será um painel de produção de energia solar para alimentar o prédio, invertendo o que era ameaça para se tornar solução.

A Amazônia pode ser o símbolo dessa mudança de paradigmas ao aplicar um modelo de uso sustentável da fl oresta em pé?

Essa é a nossa esperança. Na Amazônia tudo pode ser diferente. Ela tem todos os elementos fundamentais que podem produzir riquezas de forma sustentável. Se a Amazônia for sacrifi cada, o Brasil se tornará inviável, porque a Amazônia é o que regula nosso clima. Quando se olha a faixa do Trópico de Capricórnio, em todo o mun-do é árida, inclusive no Chile, nos Andes, na Austrália, menos no Brasil, porque a capacidade de retenção da umidade na Amazônia é oito vezes maior que a retenção da água dos oceanos, e isso cria a capacidade de chuva do país todo, tornando nosso agronegócio um dos mais bem-sucedidos no mundo.

12

Poderia haver esforço para transformar a fl o-resta em patrimônio da humanidade

“destrói a natureza é trói a natureza é

logia que temos veioogia que temos ve

“There must be an effort to make the rainforest into a worldwide heritage”

revista_hangarboneca1.indd 12 23/2/2008 D044 18:45:39

Page 13: Revista Latitude - 2

Young reforça a idéia de que a Amazônia terá papel fundamental na nova ordem do planeta

Are the climatic changes a consequence of this?

Insurance companies had a model of calculation that was

based upon events of the nature within a history line. They

did not cover, for example, damage caused by fl oods in ar-

eas with no historic records for fl oods. From the second half

of the 1990s to present, this has been altered according to

climatic changes. The damages caused by hurricane Katrina

in the USA and more recently the forest fi res in California were

tremendous for those who were not prepared for them and got

insurance companies perplexed. The insurance companies’ not

knowing the impacts of unexpected phenomena is acceptable,

but not projecting them is absurd.

Would these phenomena be the response from nature

against mankind’s actions?

In the fi rst place, nature represented a threat to man. This

vision of dominating it was a necessity of survival. As from the

18th century nature started to be a source of resources and

due to its ability to recover it was regarded as inexhaustible.

From the 1990s to present, more than 30% of the naturally

renewable resources are no longer expected to last for long. It

is necessary to redefi ne the forms of consumption and this will

refl ect on the biodiversity and on climatic regime. I do believe

that 50 or 70 years from now this scenario shall change, but

not without some tragedies – because it will be through the

tragedies that man will wake up.

But until then we shall have many losses, right?

It will be many losses, some of them irreversible. Threat-

ened species will be lost, and this is loss of the history of evo-

lution as well. Imagine the millions of years of evolution for

the polar bear to have reached its current level and now is

endangered. Look at the loss from a historical viewpoint. Such

losses shall happen until men realize that we have to be sub-

ordinated to nature, not only for being a part of it but because

we are the only ones with the ability to care, to use technology

in behalf of nature.

So, is this very technology that destroys nature today the

key to keep it alive?

No doubt about it. The best of the technology we have today

derives from the efforts to war, as is the case of the plastic.

We have the technology that allows us to skip steps and I think

soon there will be a technological leap to the point that, in the

future, nothing will be done if it is not sustainable. Do you want

a case? At a fi rst moment, glass was made. At a second mo-

ment, this very glass started being used in buildings because

it makes the façades lighter, it refl ects the sky; the use of glass

in the urban environment is not as heavy. But with glass, heat

inside of buildings increased and so did the use of refrigera-

tion, which uses a huge energy load to work. A university of

Taiwan has discovered a way of producing glass with microfi l-

aments that make glass itself act as a solar energy-producing

panel to supply power to the building, thus turning what was a

threat into a solution.

Can the Amazon become a symbol of this change of

paradigms by applying a model of sustainable use of the

standing forest?

This is our hope. Everything can be different in the Ama-

zon; it has all the essential elements to produce wealth in a

sustainable way. If the Amazon is to be sacrifi ced, Brazil will

become unfeasible because it is the Amazon that regulates our

climate. As you look at the Tropic of Capricorn, it is arid all

over the world, also in Chile, the Andes, in Australia, except in

Brazil because the capacity to retain humidity in the Amazon

is eight times higher than the same capacity of retention of

water in the oceans, and this creates the capacity of rain all

over the country, thus making our agribusiness one the most

successful in the world.

The entire world demands that Brazil takes care of the

Amazon but forgets that something done on the other side

of the planet might refl ect here. Should we demand that ev-

eryone did their part?

This is a relatively old discussion and in my opinion it has

divergences. If Brazil does not do it fi rst, how moral will we

be to demand it from others? President Lula uses this speech

that other countries in the northern hemisphere have destroyed

their forests and do not have the morality to demand our re-

sponsibility. Yes, they do, for they did it wrong and we already

have a model to follow.

But does Brazil itself need to get to know and feel as an

integral part of the Amazon?

Yes. And this too depends on the peoples of the Amazon.

The people of Rio de Janeiro turned the Cristo Redentor into one

the seven wonders of nature. This could happen to the Brazil-

ian Amazon. There could be a joint effort among the Amazon

States to turn the forest into a heritage of mankind. People

in southern Brazil should act as an example and say, “do not

make the same mistakes as we did with our forests”. It is

necessary that local effort is exerted to promote the wealth of

both nature and mankind. We all have responsibilities, for we

are guardians of an area which is one of the solutions for the

future of this planet.

O mundo todo cobra que o Brasil cuide da Amazônia, mas se esquece que algo feito do outro lado do planeta pode refl etir aqui. Deveríamos cobrar que todos fi zes-sem a sua parte?

Essa é uma discussão relativamente antiga e, na mi-nha opinião, existem divergências. Se o Brasil não fi zer primeiro, qual a moral que teremos para cobrar dos ou-tros? O presidente Lula usa essa fala de que os países do hemisfério Norte destruíram suas fl orestas e não têm moral de cobrar nossa responsabilidade. Eles têm sim, porque fi zeram errado e nós já temos um modelo a “não seguir”.

Mas não falta o próprio Brasil conhecer e se sentir parte integrante da Amazônia?

Falta, e isso também depende dos povos amazônicos. Os cariocas transformaram o Cristo Redentor em uma das sete maravilhas do mundo. Isso poderia acontecer com a Amazônia brasileira. Poderia haver um esforço dos Estados amazônicos para transformar a fl oresta em patrimônio da humanidade.

As pessoas do Sul do país deveriam servir de exemplo e dizer “não cometam os erros que nós cometemos com as nossas fl orestas”. É preciso haver um esforço local para promover a riqueza natural e humana. Todos temos res-ponsabilidade, porque somos guardiões de uma área que é uma das soluções para o futuro do planeta.

13

L

L

Young stressed the idea that Amazonia will play a fundamental role in the planet’s new order.

revista_hangarboneca1.indd 13 23/2/2008 D044 18:45:47

Page 14: Revista Latitude - 2

14

meio ambiente / environment

Por um crescimentosustentávelFor a SUSTAINABLE increasetexto / text: Irna Cavalcantefoto / photo: Diana Figueroa

Encontrar alternativas de desenvolvimento

que tragam melhorias de vida à população

local (e conservem ao mesmo tempo o pa-

trimônio ambiental e cultural) tem sido um desa-

fi o para todos os Estados brasileiros, em especial

para os da região amazônica, que detém uma das

maiores fontes de recursos naturais do planeta.

Apesar de não ser uma tarefa fácil, aliar desenvol-

vimento e sustentabilidade vem sendo a principal

aposta do Pará no planejamento para o futuro.

“Com o investimento no desenvolvimento sus-

tentável, nós garantimos a preservação do meio

ambiente, a fl oresta ‘em pé’. A mentalidade hoje

ainda é de que é preciso derrubar para gerar de-

senvolvimento e renda, mas isso não é verdade.

O nosso grande atrativo é a fl oresta, e é por meio

dela que a comunidade deve alcançar sua fonte de

renda”, defende a governadora Ana Júlia Carepa.

Ela explica que para que isso aconteça é ne-

cessário mudar a concepção de desenvolvimento

na região. “Temos muito a fazer na área ambien-

tal e há algumas forças contrárias a nosso projeto

de desenvolvimento sustentado. Eu defendo o uso

de nossos recursos naturais sem que isso impli-

que na destruição da fl oresta e de nossos rios.

Queremos inverter um quadro, historicamente,

explorador no Estado.”

Parte deste projeto, a governadora informa,

começou a ser implantada com a reforma das

secretarias e a conseqüente ampliação da ca-

pacidade de produção e proteção das fl orestas.

Só para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente

(Sema) foram contratados este ano mais 200 no-

vos técnicos; houve ampliação do orçamento do

Fundo Estadual de Meio Ambiente e regulamen-

tação do instrumento de compensação ambiental

que prevê, para 2008, uma arrecadação de, no

mínimo, R$ 30 milhões disponíveis para a área

ambiental.

Os investimentos para o fomento do ecotu-

rismo no Estado, como o mapeamento dos pólos

a serem explorados e as melhorias nas áreas de

infra-estrutura, também já estão sendo executa-

dos. “Com infra-estrutura, bons serviços e uma

nova mentalidade ecológica, teremos resultados

positivos na área”, afi rmou Ana Júlia.

Produzir ou preservar? Para superar um dos maiores dilemas da re-

gião, o secretário estadual de Meio Ambiente,

Valmir Ortega, explica que é preciso fugir de sim-

plifi cações.

“Temos que ter um modelo de desenvolvimen-

to muito mais complexo do que outros Estados,

que contemple a produção de grãos, a indústria,

o turismo e a fl oresta, temos que ser capazes de

congregar todas essas matrizes e a partir disso

elaborar novas formas de produção.”

Para que isso aconteça, ele destaca a parceria

com o Governo Federal e as ações integradas com

as demais secretarias do Estado como importan-

tes ferramentas. Ortega cita como exemplos as

parcerias fi rmadas entre a Sema e o Instituto de

Desenvolvimento Florestal do Estado (Idefl or), os

investimentos em regularização fundiária feitos

no Instituto de Terras do Pará (Iterpa), e os progra-

mas sociais da Secretaria de Trabalho, Emprego e

Renda (Seter).

Com este conjunto de ações, destaca o secretá-

rio, alguns resultados já começam a ser alcança-

dos. Só no ano passado, foram criados mais de 15

milhões de hectares de reservas legais no Estado

e mais 25 milhões em unidades de conservação.

O Estado também saiu na frente ao ser o pri-

meiro da Federação a criar uma lista estadual de

espécies de fauna e da fl ora ameaçadas de extin-

ção. Além da lista, a Sema vai criar um Programa

Estadual de Proteção e Conservação da Biodiver-

sidade, que fará parte de uma rede de parcerias

com instituições de pesquisa. O objetivo é moni-

torar e acompanhar os planos de ação sobre as

espécies ameaçadas.

O próprio processo de liberação dos planos de

manejo sustentável, que estava sendo prejudica-

do em virtude da transferência de competências

do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Re-

cursos Naturais Renováveis (Ibama) para o Esta-

do, também já vem sendo normalizado.

Com a nova estrutura de atendimento, de acor-

do com dados da secretaria, de abril a novembro

já foram liberados quase três milhões de metros

cúbicos de madeira em tora – o equivalente à mé-

dia anual que o Ibama vinha liberando nos últi-

mos dois anos.

“Existe um esforço muito grande em agregar

valor ao Estado, em trazer para o plano de desen-

volvimento do Pará o turismo e todo este potencial

de crescimento advindo do uso sustentável dos

recursos naturais”, avaliou Ortega.

Pará investe em projetos para aproveitar o potencial da fl oresta sem prejudicar o meio ambiente

Pará invests in projects to use the po-tential of the rainforest without harming the environment

L

“Conservar a fl oresta e usá-la para o desenvol-vimento econômico da região: eis o grande de-safi o para este século.

“século.século.

Conserve the rainforest and use it for the economic development of the region: this is the major challenge of this century.

revista_hangarboneca1.indd 14 23/2/2008 D044 18:45:55

Page 15: Revista Latitude - 2

15

Finding development alternatives that provide improve-

ments in the quality of life of the local population (while

also conserving their environmental and cultural heritage)

has been a challenge throughout Brazil, especially to states

in the Amazon Region, which is one of the largest sources

of natural resources on the planet. Despite the inherent dif-

fi culties in the task, Pará has been striving to align develop-

ment and sustainability in its plans for the future.

“By investing in sustainable development, we are ensur-

ing preservation of the environment and the standing for-

est”. Many nowadays still believe that the forest must be

felled to provide development and income, but this is not

true. Our greatest asset is the rainforest and people must

make it their source of income”, says Governor Ana Júlia

Carepa.

She said that to do this, the concept of development in

the region must change. “We have a lot to do in environmen-

tal terms and there are forces against our sustainable devel-

opment project. I advocate that we use our natural resources

without this resulting in the destruction of our forest and

rivers. We want to invert the historical situation in the state

of merely exploiting resources.”

Part of this project, the Governor informs, has already

begun in the restructuring of government departments and

consequent expansion of forest protection and production

capacity. The State Environment Department (Sema) alone

has hired over 200 new technical staff members this year.

The State Environment Fund’s budget was increased and an

environmental compensation law has been codifi ed that, for

2008, should collect at least 30 million reals that will be

invested in the environment.

Investments are being made to increase ecotourism in

Pará, including the mapping of priority areas and infrastruc-

ture enhancements. “With infrastructure, quality services

and a new ecological mentality, we should see positive re-

sults in this area”, stated Ana Júlia.

Produce or preserve?

State Environmental Secretary Valmir Ortega explains

that people must avoid simplifi cations in order to overcome

one of the region’s major dilemmas.

“We need a development model that is more complex

than in other states, one that includes grain production,

industry, tourism and the rainforest. We must be capable of

uniting all of these sectors and base new forms of produc-

tion on them”.

To accomplish this, he says that partnerships with the

federal government and integrated activities involving other

departments of the state government, will be important

tools. Ortega mentioned partnerships between Sema and the

State Forest Development Institute (Idefl or), investments in

land tenure regulation with the Pará Land Institute (Iterpa)

and social programs of the Department of Labor, Employ-

ment and Income (Seter) as examples.

Some progress, said the Secretary, is already becoming

visible through these joint actions. Last year alone, over 15

million hectares of legal reserves were established in Pará

and another 25 million in conservation units.

The state also took the initiative and is the fi rst state

to create a state list of endangered species of fauna and

fl ora. In addition to the list, Sema will also begin a State

Biodiversity Conservation and Protection Program, which will

participate in a network of partnerships with research insti-

tutions. The aim of the program is to monitor endangered

species action plans.

The approval process for sustainable management

plans, which experienced problems during the transfer of

jurisdiction from the Brazilian Institute of the Environment

and Renewable Natural Resources (Ibama) to the state, is

now getting back to normal. With the new service system,

Sema data shows that logging plans for almost three million

cubic meters of timber – the equivalent to Ibama’s yearly

average these last two years – were released between April

and November.

“We are putting forth a lot of effort to add more value in

the state, bringing tourism into the state development plan

and to make use of all this growth potential from sustainable

use of natural resources”. L

O secretário estadual de Meio Ambiente, Valmir Ortega, destaca a parceria com o Governo Federal na busca por alternativas para mudar o quadro atual.

Valmir Ortega, the State Secretary of the Environment, highlights the partnership with the federal government in seeking alternatives to change the present situation.

revista_hangarboneca1.indd 15 23/2/2008 D044 18:46:00

Page 16: Revista Latitude - 2

0606

L

S istema paraense de inovaçãoA maior riqueza da Amazônia é a diversidade dos recursos naturais; e o maior de-

safi o é produzir e distribuir riquezas a partir da utilização destes recursos, sem

destruí-los. Ou seja, promover o desenvolvimento sustentável.

É certo que sem educação, informação e inovação não se promoverá desenvolvi-

mento sustentável; sem novos processos e técnicas de manejo, não se explorarão os

recursos naturais sem destruí-los; sem pesquisa, sem tecnologia, sem inovação não

se transformará raiz em perfume, folha em medicamento. Sem ciência e tecnologia,

enfi m, a Amazônia está condenada a ter sua diversidade social, cultural e ambiental

reduzida a gerar grandes riquezas para poucos.

A construção de uma alternativa de desenvolvimento requer que se estabeleça um

novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia, baseado no uso intensivo da ciên-

cia e da tecnologia para ampliar a competitividade social a partir da valorização da di-

versidade regional; um modelo baseado não na utilização indiscriminada da química,

mas na bioquímica, na informação, na inovação. Um modelo que incorpora propostas

históricas do movimento social, e agora tem a oportunidade de se implementar.

Um dos elementos centrais para impulsionar um novo modelo de desenvolvimento

é o estabelecimento de um sistema regional de inovação. Os chamados sistemas de

inovação surgiram nos anos 60, e logo ganharam força em países da Europa como

estratégia para reduzir desigualdades econômicas regionais. São a articulação ins-

titucional dos principais agentes de desenvolvimento: o governo (políticas públicas e

segurança institucional), as empresas (produtoras de inovação) e as universidades e

instituições de pesquisa (produtoras de ciência). Um espaço privilegiado onde estes

agentes se integram são os parques de ciência e tecnologia.

Nos parques, as empresas expõem suas necessidades, as universidades demons-

tram o avanço de pesquisas, os governos ressaltam necessidades e vocações. Este en-

contro é que transforma inovação em produto, pesquisa em processo e política pública.

E são as políticas públicas que levarão o resultado da pesquisa ao pequeno produtor,

ao pequeno comerciante, às pequenas empresas.

O Governo do Estado já deu passos decisivos para estabelecer um Sistema Regional

de Inovação: constrói três parques de ciência e tecnologia (em Belém, Santarém e

Marabá), criou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Pará (Fapespa), recriou o Insti-

tuto de Pesquisas Socioeconômicas e Ambientais (Idesp), multiplicou a concessão de

bolsas e projetos de pesquisa, entre outras ações. O caminho é longo, mas o Sistema

Paraense de Inovação já dá os primeiros passos - seguros, consistentes, conscientes

do passado, do presente e do futuro.

Amazonia’s greatest asset is its diversity of natural resources. It’s

greatest challenge is to produce and distribute wealth based on the

use of these resources, without destroying them. In other words, to develop

sustainably.

One thing is certain, sustainable development cannot be achieved

without education, information and innovation. It is impossible to use

natural resources without destroying them without new management pro-

cesses and techniques. Research, technology and innovation are needed

in order to transform roots into perfume, leaves into medications. So,

without science and technology, Amazonia’s fate will be to have its social,

cultural and environmental diversity reduced to merely generating large

amounts of wealth to a very few.

A new development model must be established in order to arrive at a

development alternative. One based on intensive use of science and tech-

nology to expand social competitiveness, based on adding value to region-

al diversity. A model based, not on simple chemistry, but in biochemistry,

information and innovation. A model that incorporates historical proposals

from social movements and that is now being given its chance.

One of the core elements driving this new development model is the

establishment of a regional innovation system. So-called innovation sys-

tems came into being in the 1960s, and soon took off in Europe as a strat-

egy for reducing regional economic inequalities.

They are based on interaction between major development agents:

government (public policies and institutional security), companies (in-

novation producers) and universities and research institutions (science

producers). The prime venue where these agents become integrated is in

the science and technology parks.

In these parks, companies express their needs, universities present re-

search advances and governments stress needs and vocations. This con-

vergence is what transforms innovation into products and research into

processes and public policies. Public policies, in turn, take research re-

sults back to small-scale producers, small-scale traders and businesses.

The Pará state government has already taken important steps towards

building a Regional Innovation System: it is building three science and

technology parks (in Belém, Santarém and Marabá), it created the Pará

Research Support Foundation (Fapespa), and reopened the Environmen-

tal and Socioeconomic Research Institute (Idesp). It has also increased

the number of research projects and scholarships and is promoting other

activities. There is still a long way to go, but the Pará Innovation System

has already taken its fi rst steps, fi rm, confi dent, aware of the past, pres-

ent and future.

*Maurílio Monteiro is a Professor at the Núcleo de Altos Estudos

Amazônicos (Center for High Amazon Studies) of Universidade Fed-

eral do Pará (Naea/UFPA) and Pará State Secretary of Development,

Science and Technology.

art igo / art ic le

PARÁ INNOVATION SYSTEMtexto / text: Maurílio Monteiro*

* Maurílio Monteiro é professor do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará

(Naea/UFPA) e Secretário de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia do Estado do Pará.

16

foto

jaim

e S

ouzz

a

revista_hangarboneca1.indd 16 23/2/2008 D044 18:46:12

Page 17: Revista Latitude - 2

revista_hangarboneca2.indd 17 23/2/2008 D044 18:12:44

Page 18: Revista Latitude - 2

rote iro / routes

18

RIOS de mil encantosEnchanting RIVERStexto / text: Caco Ishakfoto / photo: Diana Figueroa

Até 1616, não havia nada nesse pedaço da fl o-resta amazônica além da própria natureza e seus encantos. Naquele ano, os portugueses

construíram o Fortim do Presépio, dando o pontapé inicial do que viria a ser a cidade de Santa Maria de Belém do Grão-Pará e mudando por completo a pai-sagem ao longo dos séculos seguintes. Certas coi-sas, no entanto, não mudaram: ao sul, o Rio Guamá; a oeste, a Baía do Guajará. Água em abundância.

A escolha tinha uma razão prática em tempos de desbravamento: garantir um ponto estratégico para a proteção da cidade e dos interesses portugueses. Uma herança que talvez tenha contribuído para que

Belém tenha crescido de costas para as águas e perdido gradativamente sua relação com o rio, em-paredado por construções, portos e armazéns.

Por anos a fi o os habitantes tiveram cerceado seu direito à vista para o rio e ao lazer em suas margens, com poucas alternativas para observar as águas – ainda que elas sempre tenham permeado a lógica das relações do centro da cidade com sua parte insular (mais de 70% do território da capital paraense é constituído de ilhas) e com o interior do estado. Isso começou a mudar a partir de um pro-cesso de revitalização da orla iniciado há cerca de uma década.

Desde então a relação entre o homem e o rio vem sendo redescoberta gradativamente a partir da valorização das belezas naturais da região, estimu-lando o turismo, que, não à toa, cresce mais a cada estação. Belém é calorosa que só ela, então nada como um rio para se refrescar. A um só tempo, uma experiência ambiental, transcendental e – por que não? – degustativa.

Vire a página e faça um passeio ecológico e gas-tronômico pela orla fl uvial de Belém, do Rio Guamá à Baía do Guajará, atravessando as águas para se chegar às ilhas desta que é uma das maiores ba-cias hidrográfi cas do planeta. Boa viagem.

revista_hangarboneca2.indd 18 23/2/2008 D044 18:12:53

Page 19: Revista Latitude - 2

19

Up until 1616, there was nothing in this part of the Ama-

zon forest except the forest’s very own nature and its

charms. In this year, the Portuguese constructed the Nativity

Fort (Fortim do Presépio), creating the initial settlement that

would later become the city of Santa Maria de Belém do Grão

Pará, as well as completely changing the landscape over the

ensuing centuries. Certain things however, have not changed:

to the south, the Guamá River; to the west, the Guajará Bay.

Water in abundance.

For many, many years, however, local inhabitants had lost

their view of the river and leisure activities along the banks

– the river became synonymous only with making a living,

food (of top quality, it has to be said) to be extracted from

it and nothing more. Protection of the city and its residents

during pioneer times was, after all, the most important. This

is why Belém was not constructed on the coast, but instead,

on the river front, with its back towards the water.

With so few places where one could see the water – even

though these waters permeate the entire logic of the relations

between the downtown area and its surrounding islands (more

than 70% of municipal territory is comprised of islands), the

natural charms of times gone by would have almost been lost

to memory if it hadn’t been for a revitalization process about

a decade ago along the river’s banks.

Hence, the relationship between man and the river has

been gradually rediscovered due to the appreciation of the

region’s natural beauties, stimulating tourism in the process

– which is growing, not by chance, every season.

Belém is warm-hearted in a way only it can be. There is

nothing like a river for getting refreshed. A singular environ-

mental and transcendental experience - after all, why not?

It’s enjoyable. Turn the page and take an ‘almost’ complete

ecological and gastronomic trip around the riverbanks of

Belém, from the Guamá River to the Guajará Bay, crossing

the waters over to the islands, one of the largest water basins

on the planet. Have a great tour.

revista_hangarboneca2.indd 19 23/2/2008 D044 18:13:03

Page 20: Revista Latitude - 2

20

No coração da cidade, o Mangal das Garças oferece 40 mil m² de atrações para os visitantes

In the heart of the city, Mangal das Garças offers its visitors some 40,000 m² of attractions.

Aningais, borboletas e manjares divinosNosso percurso começa pelo Mangal das Garças,

um parque ecológico próximo à Praça do Arsenal

de Marinha, no bairro da Cidade Velha. Aqui você

tem a experiência de fi car em contato direto com

os animais que vivem às margens dos rios ou en-

trar em uma gaiola de 700 m² com 140 aves de 44

espécies. Guarás, colhereiros e gralhas são parte

da fauna que o parque preserva, fora os pássaros

soltos que aparecem nos seus 40 mil m² de área.

Quem preferir um “vôo mais leve”, mas nem por

isso mais contido, pode visitar o borboletário, onde

se encontram 800 borboletas de sete espécies. Para

os “vôos” mais altos, há o Farol de Belém, observa-

tório da cidade e das águas – a vista começa na

Baía do Guajará e entra no Rio Guamá, quase uma

esquina com a Ilha das Onças, logo em frente.

Inaugurado em 2005, o Mangal ainda oferece

o Museu da Navegação, com acervo doado pela

Marinha – a quem pertencia o terreno – com toda

a memorabilia ligada à vida fl uvial da região. No

andar de cima, subindo uma escadaria externa,

está o Manjar das Garças, restaurante de onde

você pode apreciar o melhor da comida típica pa-

raense com uma excelente vista do rio.

A digestão se faz numa caminhada pela pas-

sarela suspensa sobre o aningal – área de várzea

cuja vegetação predominante é a aninga, planta

característica do interior e das margens ribeiri-

nhas – até o Mirante do Rio para apreciar a vista.

Herança lusitanaDescendo pela Cidade Velha chega-se até a Pra-

ça Frei Caetano Brandão, núcleo de formação da

cidade em cujo entorno se criou o complexo Feliz

Lusitânia, que reúne diversos pontos privilegiados

de observação do rio. Restaurado, o Forte do Pre-

sépio - ou do Castelo, como por muito tempo fi cou

conhecido - transformou-se em espaço cultural,

abrigando um museu onde estão resquícios arque-

ológicos da época da fundação de Belém. Ao lado

dos canhões do forte, dá para imaginar como os

portugueses viam o horizonte nos primeiros tempos

da cidade.

O prédio ao lado, conhecido como a Casa das

Onze Janelas, também foi totalmente restaurado e

readequado. Onde havia o antigo hospital militar,

hoje há um espaço com salas de exposição e res-

taurante, de frente para o rio. É possível desfrutar

a paisagem em meio a um jardim de esculturas.

No primeiro andar da Casa, nada como relaxar

Mangal das Garças - Here you’ll have the chance to make

direct contact with the animals that lives on the riverbanks,

like entering a 700 m2 birdcage with 140 birds of 44 different

species. The scarlet Ibis, roseate spoonbills and magpies are

only a small part of the fauna that the park protects, as well

as the free-fl ying birds that may be found within this 40,000

m² area.

For those who prefer smaller fl ying creatures, no less

exciting however, one can visit the butterfl y enclosure where

you can fi nd 800 butterfl ies from seven different species. For

higher fl yers, there is the Belém Lighthouse (Farol de Belém),

an observatory looking over the city and its waters - the view

starts at the Guajará Bay and carries on until the Guamá River,

leading on towards the Ilha das Onças (Jaguar Island), located

almost straight in front of the park.

Offi cially opened in 2005, the Mangrove contains the Navi-

gation Museum, its collection having been donated by the Navy

to whom the area belongs, with memorabilia intrinsically con-

nected to life on the waters. By going up an external stairway,

you arrive at the Manjar das Garças (Manjar Restaurant), with

the best in typical food from Pará.

After enjoying the food you can take a walk over the man-

grove footbridge – a watery fl atland whose vegetation is pre-

dominantly made up of the philodendron, a plant characteris-

tic of the Amazonian hinterland - arriving at the River Lookout

Point, where the view can be further appreciated.

Estação das Docas - Where once there used to be English

iron warehouses, rusted by time and dockworkers running to

and fro with crates of newly unloaded merchandise, there now

stands a 32,000 m² tourist-cultural complex with 500 meters

of veranda overlooking the Guajará Bay, with stylized decor,

including cranes with special lighting, an old steam engine

foto

Fab

rício

de

Pau

la

revista_hangarboneca2.indd 20 23/2/2008 D044 18:13:10

Page 21: Revista Latitude - 2

06

Na Casa das 11 Janelas, história, arte e gastronomia em um só lugar.Casa das 11 Janelas, where history, art and gastronomy meet.

Rod. BR 316. KM2

Alameda Moça Bonita, nº 14

Guanabara • Ananindeua/PA

fone: (91) 3235-5395 / 3235-5313

no Boteco das Onze enquanto o rio passa com as

horas do lado de fora. Aproveite para visitar as

exposições permanentes de arte contemporânea

brasileira.

Sobre as águasBem ao lado do jardim da Casa das Onze Ja-

nelas, a fachada de um sobrado antigo esconde

surpresas. Primeiro encontramos uma portinha de

madeira. Depois dela, uma escada que nos leva

a um corredor que, por sua vez, nos leva a outras

duas escadas: primeiro você sobe, depois desce.

Bem-vindo ao Palafi ta.

Como o nome sugere, o bar é uma construção

de madeira sobre as águas, freqüentada pelas

tribos mais diversas, de formadores de opinião a

funcionários públicos que trabalham no entorno

do lugar. Ali, o pôr-do-sol encharcado com uma

and the ruins of the São Pedro Nolasco Forte, today an am-

phitheater.

Offi cially opened in May 2000, Estação das Docas receives

around six thousand people a day in three renovated ware-

houses, bringing together the best in high cuisine from Pará,

as well as acting as the stage for cultural performances for

all tastes. Life on the river banks can be enjoyed on Art Bou-

levard, ideal for those who wish to enjoy a beer and appreci-

ate the handicrafts from Marajó and the town’s archeology; on

the Gastronomy Boulevard there are eight restaurants and an

amount of services; or on the Fairs and Expositions Boulevard.

revista_hangarboneca2.indd 21 23/2/2008 D044 18:13:17

Page 22: Revista Latitude - 2

22

$VVLVWLU� DR� S{ U� GR� VRO� RX� VLP SOHVPHQWH� OHYDU� RV�DP LJRV�SDUD� FXUWLU� ERQV�P RP HQWRV� p� D� SHGLGD� QR� 3DOD� �ta. ,I� \RX� ZDQW� WR� ZDWFK� WKH� VXQVHW� RU� VLP SO\� WDNH� \RXU� IULHQGV�KDYH� D� JRRG� WLP H� � WKH� EHVW� SODFH� WR� GR� VR� LV�3DOD� �ta.

boa cerveja gelada é obrigatório aos que passam

pela cidade. O telhado de palha ajuda a disfarçar

o mormaço. Bendita é a vista: uma garça pousada

num toco de madeira no meio do rio faz parte da

decoração natural constante do bar.

Bom de papo, Índio – o antigo dono, irmão do

atual – perambula pela casa fazendo a alegria dos

clientes. Hoje, o Palafi ta conta com três câmeras

espalhadas pelo local, que transmitem ao vivo

pela internet tudo o que está rolando lá dentro.

De qualquer lugar do mundo, é só acessar o

site www.tourdoindio.com.br e passar vontade

enquanto, deste lado, alguém se refresca com o

exótico drink “Amazônia” (suco de kiwi, limão e

soda limonada) depois de ter se esbaldado com

uma maniçoba ou um tacacá – pratos regionais

que são especialidades do menu. Também no site,

programe-se para fazer o Tour do Índio – um pas-

seio de 20 minutos em barco próprio até a Ilha das

Onças, do outro lado da baía.

Porto culturalOnde antes havia galpões de ferro inglês en-

ferrujados pelo tempo e estivadores correndo de

um lado a outro com caixotes de mercadorias que

chegavam ao porto, hoje há um complexo turís-

tico-cultural de 32 mil m² e com 500 metros de

varanda para a Baía do Guajará e decoração esti-

lizada – guindastes iluminados, uma máquina a

vapor e as ruínas do Forte de São Pedro Nolasco,

hoje um anfi teatro.

Funcionando desde maio de 2000, a Estação

das Docas recebe cerca de seis mil pessoas por

dia em três galpões restaurados que reúnem o

melhor da alta culinária paraense, além de serem

palco de manifestações culturais para todos os

gostos. A vida à beira do rio pode ser desfrutada

no Boulevard das Artes, para quem quer tomar um

chopp e apreciar o artesanato marajoara ou um

quê de arqueologia urbana; no Boulevard da Gas-

tronomia, com oito restaurante e serviços; ou no

Boulevard das Feiras e Exposições.

There is also the passenger boarding and arrival terminal

for those wanting to take one of the regular (daily) river tours.

The “Music in the Air” project will delight those who want

to stay on dry land though, with live music played on a moving

stage, up above the heads of the visitors - the structure hav-

ing been mounted in what was once the gear system used for

cargo transportation.

Feliz Lusitânia - Going up Belém’s fi rst street you fi nd a

cultural complex at the heart of the city, with several wonderful

spots to observe the river. Newly restored, the Nativity Fort (or

Castle) as it had been known for many years, has since been

transformed into a cultural area, home to a museum contain-

ing archeological items from the time of the city’s founding.

Next to the fort cannons, it’s easy to imagine how the Portu-

guese gazed upon the river during the city’s fi rst years.

The building located next door, known as the House of

Eleven Windows (Casa das Onze Janelas), has also been totally

restored and refurbished. It used to be a military hospital, but

these days it has exhibit rooms and a restaurant, being situ-

ated right in front of the river.

You can enjoy the landscape walking within its sculptural

gardens. There’s nothing like relaxing on the fi rst fl oor of the

Eleven Windows Tavern whilst the river fl ows by outside along

with the time. Make the most of its permanent Brazilian con-

temporary art exhibitions.

Palafi ta - Wandering through the Old City, we encounter

a simple wooden door. Going through it, a stairway that takes

us up a corridor that, in turn, takes us up two further stair-

cases: fi rst you go up one and then down another. Welcome

to Palafi ta.

As the name suggests, it’s a construction made of wood

over the river, frequented by a wide variety of regulars, from

opinion makers to government offi cials that work in the im-

Passear pela orla pode ser um bom começo para conhecer a cidade

Strolling along the water-front is a good start to get to know the city

a cidade

Passear pser um

revista_hangarboneca2.indd 22 23/2/2008 D044 18:13:27

Page 23: Revista Latitude - 2

23

Para quem quiser navegar há um terminal de

embarque e desembarque de passageiros de onde

partem passeios turísticos diários. Os que opta-

rem por fi car em terra se surpreenderão com o pro-

jeto “Música no Ar”, com show em um palco que

desliza sobre as cabeças do público – a estrutura

foi montada na engrenagem que funcionava como

transportadora de carga.

Mais adiante na orla, em outra antiga área de

armazenagem de cargas, foi criado um complexo

de lazer de frente para a Baía do Guajará.

Situado num espaço de 5 mil m², o Ver-o-Rio

tornou-se local de convivência e interação, es-

pecialmente nos fi ns de semana, onde grupos de

jovens e famílias se reúnem por lá.

Além de um memorial em homenagem aos ne-

gros e índios onde são realizadas programações

culturais, há um posto de informação ao turista e

seis cabanas que vendem comidas típicas, bebi-

das e produtos artesanais.

Um píer de madeira, playground, palco para

shows musicais e áreas verdes completam o Ver-

o-Rio. Outras atrações são uma rampa da extin-

ta Companhia Aérea Panair, que funcionou até o

início da década de 40, e um marégrafo - apare-

lho que registra o nível do mar para o estudo das

marés.

Praça do PescadorEntre as barracas do Mercado do Ver-o-Peso e

a Estação das Docas, fi ca a Praça do Pescador, de

onde se vê mais um pedaço da Baía do Guajará.

mediate area.

The rain-drenched sunset with a good chilled beer is a

must for those that pass through the city. The thatched roof

helps to relieve the sultry heat. It’s a blessed view - a heron

perched on a wooden log in the middle of the river makes up

part of the bar’s natural decoration.

Always eager to chat, “Indian” the former owner and

brother of the current owner - wanders about spreading cheer

amongst the clients. Today, the Palafi ta restaurant has three

cameras installed within the establishment, transmitting all

that goes on there, live over the Internet.

From anywhere around the world, simply access the web-

site www.tourdoindio.com.br and take your time; meanwhile

someone is refreshing themselves with the exotic “Amazo-

nia” drink (kiwi, lime juice and lemonade soda) after having

grabbed a dish of maniçoba or tacacá – house specialties.

Also on the site, you can register to take Indian’s Tour - a 20

minute trip on his own boat over to Jaguar Island on the other

side of the river.

Beira Rio - Long before the revitalization project took

hold in the downtown area, the Beira-Rio (River Bank) Hotel’s

Marulhos restaurant used to rein supreme in the ‘food with a

view over river department’.

It’s one of the most hospitable places imaginable. Starting

with the employees: 95% of them have been at the hotel for

more than 10 years, moving from table to table amongst the

decorations hanging from the ceiling.

Combú Island lies directly in front of it. The hotel has in-

novations in store for 2008: a fi shing bridge along the river

for the hotel’s customers and a boat brought up from Rio de

Janeiro with a capacity of 30, allowing visitors to comfortably

travel along the river banks of Belém.

The menu is also being reformulated; bringing a greater

variety of shrimp-based dishes. On Mondays, when most simi-

lar establishments are closed, Marulhos is where you can fi nd

delicious roasted peacock bass.

University - It’s been 45 years since over 400 hectares of

land on the banks of the Guamá River – fl ooded lands at the

time – were expropriated and assigned for construction of the

main campus of the Federal University of Pará (UFPA). After

much landfi lling and construction, UFPA has become a spot

frequented not only by students and professors, but also by

Durante os passeios, é obrigatório degustar as delícias gastronômicas da região

During the excursions, trying the gastronomic delicacies of the region is a must.

cas s, trying cacies of

onôm the excustronomic

s a m

ante atóri

Duobri

A Estação das Docas, parada obrigatória em Belém, recebe cerca de seis mil pessoas por dia.‘Estação das Docas’, a must-see spot for those visiting Belém, receives around six thousand visitors a day.

revista_hangarboneca2.indd 23 23/2/2008 D044 18:13:36

Page 24: Revista Latitude - 2

24

Os barcos que trazem produtos do interior e região

das ilhas sempre passam por ali.

A Praça do Pescador faz parte do Complexo do

Ver-o-Peso, que agrega também os Mercados de

Carne e de Peixe (este conhecido como Mercado de

Ferro), o Solar da Beira, a Praça do Relógio e a feira

livre, existentes desde o século 17 e até hoje consi-

derados alguns dos principais cartões-postais.

Para estudar e aproveitar a cena Pertinho do Beira-Rio, no bairro do Guamá, está

o campus principal da Universidade Federal do

Pará (UFPA). Já são 45 anos desde que os mais de

400 hectares de terra às margens do Rio Guamá

- na época, um terreno alagado - foram desapro-

priados e cedidos para a construção do campus.

Depois de muito aterro e construções erguidas,

a UFPA tornou-se lugar movimentado não só por

estudantes e professores, mas por quem aprecia

estar à beira do rio.

Os adeptos ao exercício físico servem-se do

cenário para ginásticas e caminhadas. Romances

também surgem inspirados pela brisa e embalados

pelas águas do Guamá. Para quem gosta de festa,

o Centro de Recreação da UFPA, mais conhecido

como “Vadião”, localizado bem na beira do Guamá

e reformado recentemente, tem noites de festas

populares, normalmente às sextas-feiras.

Da orla do campus também se tem uma visão

privilegiada das ilhas ao sul de Belém, como a do

Combu, que tem sido alvo de várias pesquisas e

projetos de extensão da universidade.

O PioneiroBem antes das revitalizações cidade afora,

quem reinava absoluto no quesito refeição com

those wanting just to appreciate being close to the river.

People looking to keep in shape use the area to perform

calisthenics and take walks. Romances also bloom, inspired by

the breeze and the rhythm of the waters of the Guamá. For those

looking for a party, the UFPA Recreation Center, also known as

“Vadião”, located right on the riverbank of the Guamá and re-

cently renovated, is the stage of open-access parties, usually

on Friday nights. The riverbanks of the campus also provide

a wonderful view of the islands to the south of Belém, such

as Combu, where the university has been conducting research

and extension projects.

Ver-o-rio - Located in an area of 5 thousand square me-

ters by the Guajará Bay, the Ver-o-Rio is a place for leisure and

interaction with the river. In addition to a memorial dedicated

to the black citizens and the indian where cultural events are

held, there is a tourist information kiosk and six huts selling

typical food, drinks and handicraft in the place.

The Ver-o-Rio also has a wooden pier, a playground, a

stage for music shows, green areas and a ramp used by the

old airline company Panair, which operated there until the early

1940s. There is a tide gage (a device to measure tide level)

installed in the place.

Fisherman’s Square - Located between the Ver-o-Peso

street market and Estação das Docas (Dock Station), the Fish-

erman’s Square is another site where you can enjoy another

view of the Guajará Bay.

The boats that bring goods from the country side and from

the nearby islands always sail by this area. The Fisherman’s

Square is part of the Ver-o-Peso Complex, which also includes

the Meat and Fish Markets (the latter is also known as the

‘Iron Market’), the Solar da Beira, the Praça do Relógio and the

street market, which were erected in the 17th century.

Saudosa Maloca - After spending so much time in the

city, viewing the river with its paradisiacal islands in the

background, how about doing the opposite? No more walking

on asphalt, but let’s take a boat and glide across the waters.

O campus da UFPA oferece extensas áreas para apreciar o rio

The Federal University campus has extensive areas to enjoy a view of the river

rio

campce e

O ofer

Da esquerda para direita, Universidade Federal, Ver-o-Rio (aci-ma, no alto), e Praça do Pescador, estão entre as opções para aproveitar as belezas naturais da cidade.

revista_hangarboneca2.indd 24 23/2/2008 D044 18:13:41

Page 25: Revista Latitude - 2

06

www..contact.trd.brtel/fax: [91] 3246.4174/8134.5000

[email protected]

Aluguel de equipamentos de interpretação de conferências

Serviços de interpretação e tradução em geral

Let’s actually go to the islands. We start then on the island of

Combú, after seven minutes traveling on a “popopô” (a small

motor boat).

As we make the crossing we start to distance ourselves

from the concrete, getting the impression of being swallowed

up by the forest.

The view of the buildings is now the background. We have

arrived at Saldosa Maloca, a typical hinterland riverfront

restaurant. Declared an environmentally protected area, only

those that lived there before have been allowed to remain. Sal-

dosa, however, is open to all - providing that you preserve the

area. Strolling around the restaurant’s surrounding woodlands,

vista para o rio era o restaurante Marulhos, do

Beira-Rio Hotel.

O clima é dos mais hospitaleiros, começando

pelos funcionários: 95% deles têm mais de dez

anos de casa, desfi lando de mesa em mesa entre

os tajás pendentes do teto.

De frente para a Ilha do Combu, o hotel reserva

novidades para 2008: uma ponte de pesca para

os clientes e um barco vindo do Rio de Janeiro com

capacidade para 30 pessoas em que o prazer de

passear pela orla de Belém será garantido.

O cardápio também está sendo reformulado,

trazendo uma maior variedade nos pratos à base

de camarão. Não deixe de experimentar o tucuna-

ré, peixe de sabor único.

From left to right, the Federal University, the Ver-o-Rio (above, at the top), and the Fisherman´s Square are some of the options to enjoy the natural beauty of the city.

revista_hangarboneca2.indd 25 23/2/2008 D044 18:13:50

Page 26: Revista Latitude - 2

Do outro ladoDepois de tanto andar pela cidade atrás de

vistas para o rio com ilhas paradisíacas ao fundo,

que tal o caminho inverso? Não mais andar no as-

falto, mas pegar um barco ou uma lancha e des-

lizar pelas águas. Depois de sete minutos numa

viagem de “popopô” (barco a motor), chegamos

à Ilha do Combu.

Durante a travessia, vamos nos distanciando

do concreto e tendo a impressão de que seremos

engolidos pela mata. O pano de fundo, agora, são

os prédios. Chegamos à Saldosa Maloca, restau-

rante tipicamente ribeirinho.

Considerada área de proteção ambiental e ter-

ritório da União, o Combu só reserva lugar para os

moradores mais antigos. A Saldosa, porém, está

aberta a todos – contanto que preservem o local.

No passeio pelo bosque nas redondezas do

restaurante, frutas e sementes de todo tipo são

encontradas espalhadas pelo chão. Andiroba, je-

nipapo, cupuaçu, manga, tem de tudo.

As seringueiras do lugar ainda guardam as

cicatrizes dos áureos tempos da borracha. His-

tória viva. Quem reina absoluta, no entanto, é a

samaumeira com 32 metros de diâmetro e sabe-

se lá quantos séculos de vida.

Suas raízes se estendem pelo terreno, aden-

trando o rio. Por seus galhos – a cerca de 30 me-

tros de altura – espalham-se bromélias e orquíde-

as que abrem duas vezes ao ano (são 45 espécies

na ilha), enfeitando a velha árvore. À noite, um

espetáculo extra (embora artifi cial): Belém ilumi-

nada. O prazer é todo seu.

Rio de ondasApenas R$ 1,50. É quanto se gasta, de ônibus,

para se chegar, por fi m, até Icoaraci ou à Ilha de

Mosqueiro, distritos da grande Belém. O primeiro

fi ca a 20 km da capital. O outro, a 68 km. Cada

qual com suas respectivas graças, uma coisa os

torna semelhantes: a diversidade de opções.

Enquanto Icoaraci se destaca por seu artesa-

nato marajoara, cujo pólo se instala no bairro do

Paracuri, Mosqueiro tem quilômetros e mais qui-

lômetros de praias de água doce, onde até o surf

é possível – em julho, os veranistas tomam conta

da ilha em meio a shows e programações cultu-

rais realizados durante todo o mês.

Em Icoaraci e Mosqueiro, lazer se confunde

com poesia. A começar pelos nomes: o último re-

mete a uma antiga prática de assar o peixe sobre

um braseiro feito no chão, bastante usado pelos

índios Tupinambás, primeiros habitantes da ilha.

Já o primeiro veio do tupi ico-araci, ou “onde o

sol repousa”. Peixe, praia, sol, repouso... é como

diz a letra de Pinduca, mestre do carimbó: “Quem

vai ao Pará, parou”. L

26

A Ilha de Mosqueiro e o distrito de Icoaraci (abaixo) são algumas das opções mais baratas para quem deseja não ir muito longe e estar perto da brisa do rio

The district of Icoaraci and Mosqueiro Island (below) are some of the cheapest options for those who don’t want to travel too far, yet still want to stay close to the river’s breeze.

all types of fruit can be found scattered on the ground. Andi-

roba, genipap, cupuaçu, mango – a little bit of everything. The

rubber trees in the area still bear the scars from the rubber

boom period. Living history.

The tree that reigns supreme, however, is the 32 meter

diameter kapok tree; who knows how many hundreds of years

old it is… Its roots extend across the ground, entering into

the river. Over its branches –around 30 meters in height – are

bromeliads and orchids, opening twice a year (there are 45

species on the island), decorating the ancient tree. At night,

you are witness to an extra spectacle (albeit artifi cial): Lit-up

Belém. The pleasure is all yours.

Icoaraci and Mosqueiro - R$ 1.50 is how much it costs to

get by bus to Icoaraci or to Mosqueiro Island, districts within

greater Belém. The fi rst is some 20 km from the capital. The

other, 80 km. Each with its respective charms, one thing that

they have in common is a variety of options.

Whereas Icoaraci is famous for its Marajo handicrafts,

mainly located in the Paracuri neighborhood, Mosqueiro on

the other hand has kilometer after kilometer of freshwater

beaches, where even surfi ng is possible – in July, vacationers

fl ock to the island.

In both Icoaraci and Mosqueiro, leisure mingles with po-

etry. Starting with the respective names: the latter goes back

to the ancient practice of roasting fi sh over hot coals in a hole

in the ground, frequently used by the Tupinambá Indians, the

fi rst inhabitants of the island. The former comes from the Tupi

word, Ico-araci, or ‘where the sun rests”. Fish, beaches, sun,

rest... it’s as the composer Pinduca suggests: “Whoever goes

to Pará, parou (stops)”. L

revista_hangarboneca2.indd 26 23/2/2008 D044 18:13:54

Page 27: Revista Latitude - 2

27

Boteco das 11Onde: Praça Frei Caetano Brandão, s/n, Cidade VelhaQuando: De 3ª a domingo, às 12h. 2ª, às 18h.O quê: Música regional ao vivo, mas só de noite quando funciona o boteco. De dia, é restaurante. A decoração com objetos encontrados nas escavações, porém, fi ca sempre lá.Por quê: Filhote e pescada amarela, seja como for o preparo. Uma tangiroska (suco de tangerina com vodka) para acompanhar.Telefone: (91) 3224.8899

Palafi taOnde: Rua Siqueira Mendes, 264, Cidade VelhaQuando: De 3ª a domingo, das 10h em diante.O quê: MPB, música regional e latina, além de pop e rock. Tudo ao vivo.Por quê: Pastel de pato (massa empanada com pato desfi ado, acompanhado de uma pequena cuia de tucu-pi com jambu). Para calibrar, o saboroso drink Palafi ta (suco de manga, vodka, licor de chocolate).Telefone: (91) 3212.6302

Mangal das GarçasOnde: Pass. Carneiro da Rocha, s/n (ao lado do Arsenal da Marinha), Cidade VelhaQuando: De 3ª a domingo, das 10h às 18h para visitação ou até o último cliente no restaurante.O quê: Manjar das Garças – de dia, buffet; pela noite, à la carte. Borboletário, viveiro, Farol de Belém e Museu da

Navegação são pagos: R$ 2 cada ou R$ 6 o passaporte. Possui estacionamento próprio e guia turístico para vi-sitas agendadas por telefone.Por quê: Filhote com crosta de amêndoas, acompanha-do de risoto de jambu.Telefone: (91) 3242.5052

Estação das DocasOnde: Boulevard Castilhos França, s/n, CampinaQuando: De 2ª a 2ª, das 10h à 0h (orla); das 12h à 0h (armazéns); e das 12h às 22h (mezanino e barracas). Entrada franca. Estacionamento próprio.O quê: Restaurantes, choperia, lojas, quiosques, bar-raquinhas de artesanato, salão de beleza, salas multi-uso para realização de eventos, agência de câmbio, de viagem e bancos 24 horas, sorveteria, exposições per-manentes com a história do porto e arqueologia urbana, cinema e teatro.Por quê: O famoso chopp de bacuri e nada menos que oito restaurantes, que vão do regional ao cosmopolita.Telefone: (91) 3212.5525

Beira-RioOnde: Av. Bernardo Sayão, 4.804, GuamáQuando: De 2ª a 2ª, das 12h às 15h e das 19h às 22h, exceto jantar aos domingos.O quê: Almoço com voz, violão e percussão levando MPB e música regional. Por quê: Caipirinha com receita e roupagem exclusivas da casa, além do fi lhote na brasa com corte especial e

temperos regionais.Telefone: (91) 3249.4921

Saldosa MalocaOnde: Ilha do CombuQuando: Aos fi ns-de-semana. De 2ª a 6ª, só com reserva prévia.O quê: Um pedaço do céu a sete minutos da cidade.Por quê: Uma grande variedade de peixes: pescada amarela e branca, fi lhote, tucunaré, pirarucu, pratiquei-ra, entre tantos outros. O preparo? Cozido, no tucupi, assado, frito, na chapa. Na Saldosa Maloca, isso não é problema.

Icoaraci e MosqueiroOnde: A 20 Km e 68 Km do centro de Belém, respecti-vamente Quando: de 2ª a 2ª, faça chuva ou faça sol (tanto me-lhor).O quê: Icoaraci: Praia do Cruzeiro e o pôr-do-sol no Pon-tão; Mosqueiro: Areião, Praia Grande, Farol, Chapéu Vi-rado, Murubira, Paraíso, para fi carmos em algumas de suas praias.Por quê: Icoaraci: caldeirada com frutos dos rios ama-zônicos, um rodízio na pizzaria Vitória ou simplesmente uma água de coco no fi m da tarde; Mosqueiro: A tra-dicional tapioquinha do desjejum, fora os quiosques e barracas espalhados por toda a orla praiana da ilha com o melhor dos quitutes paraenses.

Boteco das 11 (Tavern of the 11)What: Live regional music, but only at night when the tavern

is open. During the day it is a restaurant. The objects found

in excavations and used as decorations remain there.

Where: Frei Caetano Brandão Square, s/n, Feliz Lusitânia

Complex, Old CityWhen: Tuesday to Sunday, at Noon. Monday,

at 6 p.m.

Why: Catfi sh (fi lhote) and Acoupa weakfi sh (pescada ama-

rela), prepared a number of ways. Tangiroska (tangerine

concentrate with vodka) on the side.

Telephone: 3224.8899

Palafi taWhat: MPB, regional and Latin music, as well as pop and

rock. Live music.

Where: Siqueira Mendes Street, 264, Old City When:Tuesday

to Sunday, from 10 a.m. on.

Why: Duck ‘Pastel’ (minced duck in a thin pastry envelope,

accompanied with a half-gourd of tucupi sauce and jambu).

A savory drink, called Palafi ta (mango juice, vodka, chocolate

liquor), goes along with it perfectly.

Telephone: 3212.6302

Mangal das GarçasWhat: Manjar das Garças – a buffet restaurant during the

day and a la carte at night.

Entrance charged to butterfl y enclosure, nursery Belém Light-

house and Navigation Museum. R$ 2.00 each or R$ 6.00 for

all of them. Restaurant parking lot and tour guides for visits

scheduled by phone.

Where: Doutor Assis Street, s/n, Old CityWhen: Tuesday to

Sunday from 10 a.m. to 6 p.m. for visits or until the last cus-

tomer leaves the restaurant.

Why: Catfi sh with almond crust, accompanied by jambu ri-

sotto.

Telephone: 3242.5052

Estação das DocasWhat: Restaurant, micro-brewery, shops, kiosks, handicraft

stalls, beauty parlor, multiple use rooms for events, exchange

bureau, travel agency, 24 hour ATMs, ice cream parlor, per-

mament exhibits on history of the port and urban archeology,

movie and stage theater.

Where: Boulevard Castilhos França Ave., S/N – Campina

When: Every day, from 10 a.m. to midnight (waterfront area);

from noon to midnight (inside); and from noon to 10 p.m.

(mezzanine and stalls). Entrance free. Parking lot.

Why: The famous Bacuri Draft Beer and no fewer than eight

restaurants, ranging from regional to cosmopolitan.

Telephone: 3212.5525

Beira RioWhat: Lunch with live MPB and regional music. No music

played at dinner to not disturb hotel guests.

Where: Bernardo Sayão Ave., 4804, Guamá

When: Every day, from noon to 3 p.m. and from 7 p.m. to 10

p.m., except dinner on Sundays.

Why: Caipirinha with exclusive recipe and look, in addition to

the specially cut roast catfi sh with regional seasonings.

Telephone: 3249.4921

Saudosa MalocaWhat: A little bit of Heaven only seven minutes from town.

Where: Combu Island

When: On weekends. Monday to Friday, only by appointment.

Why: A large variety of fi sh: acoupa and smooth weakfi sh

(pescada amarela and branca), catfi sh , peacock bass, pi-

rarucu, mullet (pratiqueira) and many others. How are they

prepared? Cooked in tucupi sauce, roasted, fried on the broil-

er. You can have it any way you like at Saudosa Maloca.

Icoaraci and MosqueiroWhat: Icoaraci: Cruzeiro Beach and sunset at Pontão;

Mosqueiro: Areião, Praia Grande, Farol, Chapéu Virado,

Murubira, Paraíso, are just some of the beaches there.

When: every day, rain or shine (better).

Where: 20 Km and 80 Km from downtown Belém, respec-

tively

Why: Icoaraci: stew with Amazonian freshwater fi sh, all-

you-can-eat pizza at the Vitória Pizza Parlor or simply drink

‘coconut water’ in the late afternoon; Mosqueiro: Traditional

tapioca crepes for breakfast, and the many kiosks and stalls

scattered along the island’s shoreline with some of the best

snacks Pará has to offer.

Maloca do OrlandoWhat: A spot right in the heart of Amazonia along the banks

of the Arapari River. Visitors can sleep over if they take a

hammock or sleep on the tour agency boat, moored to a

house over the water.

When: Weekends. During the week only by reservation.

Where: Parrot Island

Why: Crab in shell, crab claws, a wide variey of fi sh, steamed

shrimp. All this with wonderfully seasoned beans and what-

ever else the cook comes up with. Then there’s açaí… after-

wards you’ll want to take a nap.

serviço / service

revista_hangarboneca2.indd 27 23/2/2008 D044 18:14:07

Page 28: Revista Latitude - 2

moda / fashion

28

Livre para ousarFree to daretexto / text: Esperança Bessafoto/ photo: divulgação

André Lima está numa fase mais do que positiva

na carreira. No auge da maturidade criativa,

este ano ele integrará uma coleção da editora

Cosac Naify reunindo os maiores nomes da moda no

Brasil. Depois de ser considerado um estilista para o

público feminino por excelência, agora surpreende com

uma linha masculina, focada na alfaiataria e cami-

saria, e investe também em uma linha de decoração.

Ele admite que está em um período de transição, indo

bem mais além das experiências com estamparias,

que continuam ali, fi rmes e fortes, no lugar de desta-

que que sempre terão.

“A estampa ainda é caminho importante dentro

do processo criativo porque não posso ir contra uma

marca que eu mesmo construí, só que o liso sempre

aconteceu em paralelo, com o mesmo sucesso. Acabei

de fazer a coleção de inverno e a metade dela era pre-

ta”, diz. “Estou mesclando um diferencial de silhueta

com proporção, tecido, estampa, acabamento, tudo

em termo da proposta de uso da roupa. Não gosto da

linearidade, do que é raso, plano. A estampa começou

a se tornar uma linguagem em paralelo, e cada vez

mais a vontade de experimentar novas formas se torna

maior que misturar cores e grafi smos. Não quero ser

estilista de roupa estampada de festa o resto da vida.

Para muitos é confortável e interessante estar assim,

André Lima is living a very positive phase of his

career. In the height of his creative maturity,

this year he will be a part of a collection by the

publishing company Cosac Naify of the greatest

names of the fashion sector in Brazil. After be-

ing considered a women’s clothes designer par

excellence, now he amazes everyone with a line for

men, with a focus on the tailor-made and shirts

segment, and he also invests in a decoration line.

He admits he is in a period of transition, going far

beyond the experiences with print patterns, which

are still there, alive and kicking, in the prominence

place that they’ll always deserve.

“The print pattern still is an important way

within the creative process because I cannot go

against a mark that I myself built; but the plain

has always happened in parallel, equally suc-

cessful. I’ve just concluded the winter collection

and half of it was black”, he says. “I’m blending

a differential of silhouette with proportion, fab-

ric, print, and fi nish, everything in terms of the

intended use of the clothes. I don’t like linear-

ity; I don’t like what is fl at, plain. The print pat-

tern started to become a parallel language, and

more and more the will to try new forms becomes

greater than mixing colors and graphism. I don’t

want to be a designer of printed party clothes for

the rest of my life. For many, it is comfortable and

interesting to be like that, in a consolidated stage,

but I never liked comfort”.

Scenes from the winter collection opening. Above, the designer at the end ofthe show.

Cenas do lança-mento da coleção de inverno. Acima, o HVWLOLVWD� DR� � �nal do GHV� �le.

O nome dele sempre foi associado a cores vibrantes e estampas únicas, e dessa assinatura ele garante que não irá abrir mão. Mas André Lima não é só isso. O esti-lista paraense mais do que nunca vem experimentando formas e volumes, transformando as roupas – também monocromáticas - literalmente numa extensão tridimen-sional do corpo. Para ele, não há limites à criação.

His name has always been connected to exciting colors and unique prints – and this characteristic is one he guar-antees won’t let go. But André Lima is not only this. The Pará-born clothes designer has more than ever been trying forms and volumes by turning clothes, in-cluding the monochromatic ones, into a three-dimensional extension of the body, literally. For him there are no limits to creation.

revista_hangarboneca2.indd 28 23/2/2008 D044 18:14:12

Page 29: Revista Latitude - 2

29

num estágio consolidado, mas eu nunca gostei de

conforto”, desabafa.

Mesmo depois de tantos anos no mercado, ainda

existem os que insistem em procurar nas criações de

André o traço amazônico. Esse traço está lá, assim

como as referências que o estilista traz de Nova Ior-

que, da Europa, de livros, obras de arte... Afi nal, para

ele tudo é referência, e é na busca disso que investe.

“Sempre que posso, viajo. Vou em busca de livros,

música, de perceber nos lugares a relação com o

tempo. Quero entender o que a cultura de uma época

deixa na moda, na arquitetura, na decoração... Com-

portamento é o que busco, saio sem saber o que vou

achar”, diz o estilista, já envolto nas pesquisas para

a coleção primavera-verão, que seguirá a mesma tri-

lha em busca de novas formas e volumes.

“Com o passar do tempo me senti mais maduro,

livre para ousar. A cintura não precisa, necessaria-

mente, ser o ponto-chave do look. Sinto prazer em

propor relações diferenciadas sobre o corpo. A ci---

ntura é importante, como são os ombros, as costas,

os braços e as pernas. Quando criador e consumidor

se tornam escravos da forma, envelhecem porque

não dá para manter a novidade fazendo sempre a

mesma coisa.”

Nessa concepção, cada peça dele é tratada como

única, associando alta-costura a uma linha de mon-

tagem quase artesanal.

“A minha roupa acabou fi cando uma mistura prêt-

à-porter e luxo, com requinte de artesanato de moda

que não está só no detalhe do acabamento, mas na

construção mesmo. Muitas peças são produzidas fa-

zendo mulagem, estudando os volumes no corpo do

manequim. Não gosto de falar em alta-costura, mas

são peças quase sob medida. Tem vestido montado

com 79 pedaços de tecido, vestido curto que precisou

de 12 metros de pano, peças que demoram de dois a

três dias para fi car prontas. Isso foge da linguagem

da confecção brasileira hoje.”

Mesmo com todo esse aprumo, André Lima diz que

todas as peças são “usáveis”, afi nal não adianta es-

tar tudo deslumbrante no desfi le se lugar de roupa é

no corpo, e a melhor passarela está nas ruas.

“Não faço duas coleções, uma para passarela e

outra para os clientes. O que vai para a passarela

é como um perfume, um extrato de uma concepção

maior e sei que quem compra minha roupa é para

uma ocasião especial, que pode ser um casamento

ao meio-dia ou uma festa black-tie. Pode ser um ves-

tido super luxuoso ou uma simples camiseta com um

corte diferente: quem busca minha coleção sabe que

vai fi car diferenciado no meio da multidão.”

Even after so many years in the market, there

are still those who insist on fi nding traces of the

Amazon in the creations of André. Such trace is

there as well as the references the designer brings

from New York, Europe, from the books, works of

art… After all, for him everything is a reference,

and he’s devoted to that search. “Whenever I can, I

travel. I go in search of books, music, and perceiv-

ing in the places the relation with time. I want to

understand what the culture of a time leaves in

fashion, in architecture, in decoration… Behavior

is what I search for; I leave without knowing what

I’ll fi nd”, says the fashion designer, who is already

involved in the research for the spring-summer

collection, which will follow the same trend in

search of new forms and volumes.

“As time went by, I felt more experienced, more

liberated to dare. The waist does not necessarily

need to be the key-point of the looks. I feel plea-

sure in proposing differentiated relations on the

body. The waist is important, as are the shoulders,

the back, the arms, the legs… When creator and

consumer become slaves of the form, they age, for

one cannot keep the novelty by doing the same

thing”.

According to this conception, each of his

pieces is treated as unique, associating top dress-

making to an almost artisanal assembly line. “My

clothes ended up being a mixture prêt-à-porter

and luxury, with the refi nement of fashion handi-

craft, which is not only in the fi nish, but actually

in the making of it. Many pieces are produced by

dressmaking – studying the volumes on the body

of the dummy. I don’t like talking about top dress-

making, but those are almost tailor-made pieces.

There is a dress made with 79 pieces of fabric, a

short dress that required 12 meters of fabric to

be made, pieces that took two to three days to be

ready. This is out of the language of the Brazilian

dressmaking of today”.

Even with all this, André Lima says that all the

pieces can be worn; after all, there is no point in

everything being gorgeous in the fashion show if

clothes are to be worn on the body, and the best

catwalk is in the streets. “I do not make two col-

lections, one for the catwalk and another for the

customers.

What goes for catwalk is as a perfume, an

extract of a bigger conception and I know that

those who buy my clothes will do so for a special

occasion, such as a wedding at noon or a black-

tie party. It can be a super luxurious dress or an

ordinary t-shirt with a different cutting: those who

search for my collection know that they will stand

out in the crowd”.

Known as a designer of women’s clothes, André Lima makes his � � UVW� FROOHFWLRQ� IRU� P HQ�

Conhecido por criar roupas para mulheres, André Lima acaba de lançar sua primeira coleção masculina.

L

L

revista_hangarboneca2.indd 29 23/2/2008 D044 18:14:16

Page 30: Revista Latitude - 2

30

ensaio / essay

Sabor do ParáThe flavor of Parátexto / text: Redação

Traditional staple of riverbank dwellers in Pará,

açaí has become popular worldwide the last

few years due to its properties as an energy

drink. Traditional staple of riverbank dwellers in

Pará, açaí has become popular worldwide the

last few years due to its properties as an en-

ergy drink. Today it is the mainstay of produce

exported from Pará, the number one producer

of açaí in Brazil, responsible for 95% of national

production.

According to data from the State Depart-

ment of Agriculture (Sagri), in 2006, Pará pro-

duced 472,040 tons of açaí, resulting in R$

433,500,289 in revenue. In Belém alone, daily

consumption of the fruit is estimated at nearly

440 tons.

Since late 2007, the state has been implement-

ing the State Açaí Quality Program, promoting

good farming and processing practices, in ad-

dition to hygienic procedures for handling and

sales of the product. Learn more about the

açaí productive chain, from harvest to the ta-

ble, through the lenses of local photographers.

Base tradicional da alimentação das po-pulações ribeirinhas paraenses, o açaí vem ganhando o mundo nos últimos anos graças às suas propriedades energéti-cas. Hoje, é o principal item de hortifruti na pauta de exportações do Pará, Estado que é o maior produtor nacional da fruta, sendo responsável por 95% da produção. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri), em 2006 o Pará produziu 472.040 toneladas de açaí, gerando uma receita de 433 milhões, 500 mil e 289 reais. Estima-se que só em Be-lém o consumo diário da fruta fi que em torno de 440 toneladas diárias.

Desde o fi nal de 2007, o Estado vem implantando um Programa Estadual de Qualidade para o Açaí, observando boas práticas agrícolas e de fabricação, além dos procedimentos higiênico-sanitários na manipulação e comercialização do pro-duto. Conheça um pouco da cadeia pro-dutiva do açaí pelas lentes de fotógrafos paraenses.

Foto

: E

ly P

am

plo

na

revista_hangarboneca2.indd 30 23/2/2008 D044 18:14:23

Page 31: Revista Latitude - 2

31

Foto

: R

enato

Chalu

Foto

: R

enato

Chalu

Foto

: R

enato

Chalu

revista_hangarboneca2.indd 31 23/2/2008 D044 18:14:37

Page 32: Revista Latitude - 2

32

Foto

: M

iguel C

hik

aoka

revista_hangarboneca2.indd 32 23/2/2008 D044 18:14:45

Page 33: Revista Latitude - 2

33

Foto

: M

iiguel C

hik

aoka

revista_hangarboneca2.indd 33 23/2/2008 D044 18:14:49

Page 34: Revista Latitude - 2

34

revista_hangarboneca2.indd 34 23/2/2008 D044 18:15:02

Page 35: Revista Latitude - 2

35

Foto

: M

iguel C

hik

aoka

revista_hangarboneca2.indd 35 23/2/2008 D044 18:15:31

Page 36: Revista Latitude - 2

06

revista_hangarboneca2.indd 36 23/2/2008 D044 18:15:35

Page 37: Revista Latitude - 2

revista_hangarboneca3.indd 37 23/2/2008 D044 18:21:07

Page 38: Revista Latitude - 2

06

negócios / business

revista_hangarboneca3.indd 38 23/2/2008 D044 18:21:09

Page 39: Revista Latitude - 2

AromasO Pará é conhecido por ser uma ter-ra de muitos cheiros. Seja no aroma das frutas ou das fl ores exóticas da região, no patchuli ou no cheiro-do-pará tirados das cascas de árvores para perfumar o corpo e a roupa, não importa: conhecer a cultura do Esta-do é também fazer uma viagem sen-sorial por meio do olfato.

texto // text: Esperança Bessa e Leandro Moreirafotos // photos: Jaime Souzza

39

A sabedoria indígena somada à do caboclo ribeirinho

faz com que se tire das árvores e plantas soluções

para tudo, inclusive para cuidar da estética do corpo.

O mercado de “cosméticos populares” há muito já conhe-

ce essa combinação, mas ultimamente a grande indústria

descobriu que, em tempos de globalização, as pessoas es-

tão cada vez mais em busca do que é natural. Então por que

não aproveitar sementes, fl ores, frutos e raízes para cuidar

de si? Para isso, basta aproveitar o que proporciona a cha-

mada “Amazônia engarrafada”.

O Ver-o-Peso é um dos maiores mercados a céu aberto

do mundo, é mundialmente famoso pelas vendedoras de

ervas que, entre uma e outra fórmula para cuidar dos ma-

les do corpo e da alma, comercializam produtos de beleza

artesanais. É o caso, por exemplo, do Recuperador Capilar,

uma mistura de três tipos de sementes, quatro tipos de

óleos e uma mistura secreta de ervas, não revelada sob hi-

pótese alguma. “É tiro e queda para a calvície! Em menos

de duas semanas já tem cabelo nascendo de novo. Só fi ca

careca quem quer!”, afi rma Dona Heloísa, 42, vendedora

no Ver-o-Peso há 20 anos.

Quer sabonete esfoliante? Lá também tem, graças a

uma combinação de andiroba, copaíba, mel de abelha e pó

de Juá, como é chamado o extrato tirado da árvore juazeiro.

Isso sem falar nos óleos de pequi e de coco, que deixam “o

cabelo bonito”, como diz a erveira. Outro produto famoso, a

banha de tartaruga é muito usada para remover manchas,

rugas e pés-de-galinha, e para muitos é bem mais efi cien-

te que os ácidos aplicados nas mesas de dermatologistas.

Quando perguntada sobre o porquê da banha de tar-

taruga ser benéfi ca para a pele, a vendedora de erva é de

uma simplicidade surpreendente: “Ah, isso aí eu não sei

não, mas que deixa bonito, deixa!”, diz, externando a im-

portância da tradição. “O cliente sempre vai preferir um

produto 100% natural do que um industrializado, cheio

de corantes e outros ingredientes artifi ciais que só Deus

sabe o nome. Além de ser uma receita mais efi ciente e com

uma tradição que vem de muitos anos atrás. Sem contar a

nossa propaganda, que é cara-a-cara mesmo. Nunca que

um comercial vai te pegar no braço e te mostrar o cheiro

do produto que ele quer vender pela televisão”, argumenta

Dona Heloísa, que aprendeu a arte de fabricar os cosmé-

ticos naturais como herança familiar. “Meu pai e minha

avó trabalhavam com a venda desses produtos e há 20

A paradise of aromas

Paraíso dos

Pará is known as a land of many fragrances. Whether in the aroma of the exotic fruits and fl owers from the region, in the patchouli or cheiro-do-pará taken from tree bark to perfume both body and clothing, it doesn’t matter: experiencing the culture of Pará includes tak-ing a sensorial journey through the sense of smell.

revista_hangarboneca3.indd 39 23/2/2008 D044 18:21:33

Page 40: Revista Latitude - 2

40

anos eu tenho seguido os passos deles usando o

ensinamento que me passaram.”

Tradição

Além dos produtores artesanais que ganham

a vida vendendo o que alguns chamam de “Ama-

zônia engarrafada”, surgiram, com o passar dos

anos, algumas empresas que se especializaram em

industrializar cosméticos usando receitas tradicio-

nais que são herança cultural do Pará. A Natura é

uma das que já investiram na área, com a linha

Ekos, criada em 2002 e baseada nos princípios ati-

vos da biodiversidade brasileira - principalmente

amazônica. Foi o que alavancou as vendas da em-

presa, que estava perdendo espaço por não ter uma

identidade única, e ainda abriu portas no exigente

mercado internacional.

Mas bem antes de marcas nacionalmente co-

nhecidas chegarem por aqui, fábricas locais já

investiam nesse nicho, como a Orion, tradicional

perfumaria fundada em 1927 na capital paraense,

pelo português Antônio Gomes, um apaixonado pela

mistura dos aromas.

Na Orion, o cliente brinca de alquimista e mon-

ta o perfume do jeito que quiser, misturando as

essências para criar cheiros personalizados. “É

possível unir muitos elementos, podendo misturar

as nossas essências e ‘à francesa’, ‘vence-tudo’,

‘dama da noite’ e ‘pau-rosa’, mas há uma extensa

gama de combinações que o cliente pode idealizar

e encomendar”, exemplifi ca Manoel Santos, mais

conhecido como Português, neto de Antônio e hoje

gerente da loja.

Além dos perfumes exclusivos, há os carros-

chefe da Orion, como o perfume “Fetiche” e uma

essência chamada “Cheiro-do-Pará”, mistura se-

Wisdom of indigenous peoples and riverbank-dwelling

‘caboclos’ (Amazonian hinterland dwellers) enabled them

to fi nd everything they needed in the forest’s trees and plants,

including for aesthetic bodily needs. The ‘popular cosmetics’

market has known about this for some time, but recently large-

scale industry has discovered that, in this age of globalization,

people are increasingly seeking out natural products. So why

not use seeds, fruits, fl owers and roots to take care of the body?

To do so, one need only to use what has been called “bottled

Amazonia”.

Ver-O-Peso is one of the largest open-air markets in the

world, and is world-famous for its herb sellers who, between

sales of different formulas to heal the ills of the body and of the

soul, also sell handcrafted beauty products. Take the case, for

example, of Hair Recoverer, a mixture of three types of seeds,

four types of oils and a secret mixture of herbs, which the

saleswomen absolutely refuse to disclose. “It’ll cure hair loss

for sure! In less than two weeks, you’ll have your hair growing

back. Nobody has to be bald unless they want to!”, states Dona

Heloísa, 42, a saleswoman at Ver-o-Peso for the last 20 years.

Need cleansing soap? It’s there, thanks to a combination of

andiroba, copaiba, honey and ‘Jua powder’, as the extract of the

juazeiro tree is called. There is also souari and coconut oil, to

make ‘your hair pretty’, according to the herbalist. Another fa-

mous product is turtle fat, which is widely used to remove spots,

wrinkles and age marks. Many people feel it is much more ef-

fi cient than the products applied by dermatologists.

When asked why turtle fat is so benefi cial to the skin, the

herb seller has a surprisingly simple response: “Ah, I don’t

know why, but it sure does make your skin pretty!”, she says,

emphasizing the importance of tradition. “Customers always

prefer 100% natural products instead of industrialized ones,

full of dyes and other artifi cial ingredients that God only knows

the names of. Besides ours being a more effi cient composition

and with years and years of tradition. There’s also our advertis-

ing, which is one-on-one. A commercial cannot take you by the

hand and show you the smell of the product it’s trying to sell on

TV”, says Dona Heloísa, who learned the art of making natural

cosmetics passed down through generations. “My father and

As ervas aromáticas amazônicas são comercializadas nas feiras livres da capital com a promessa de curar males do corpo e da alma

Amazonian aromas are sold in ope-air markets in Belem, promising to heal the ills of the body and of the soul

revista_hangarboneca3.indd 40 23/2/2008 D044 18:22:20

Page 41: Revista Latitude - 2

41

grandfather worked selling these products and for the last 20

years I’ve followed their footsteps, using the knowledge they

taught me”.

Tradition

In addition to the handicraft producers who make their liv-

ing selling what some call “bottled Amazonia”, in the last few

years, certain companies have specialized in industrializing

cosmetics using traditional compositions that are part of the

cultural heritage of Pará. Natura is one that has invested heav-

ily in this area, with the Ekos product line, created in 2002 and

based on active ingredients from Brazilian biodiversity – espe-

cially from Amazonia. This has leveraged company sales, as it

was losing market share due to not having a singular identity,

and has even enabled it to enter the demanding international

market.

Long before nationally known brands came here, local

companies were investing in this niche, such as Orion, a tra-

ditional perfume maker founded in 1927 in Belém, by Antônio

Gomes, from Portugal, who was passionate about the mixing

of aromas.

At Orion, customers act as alchemists and put together

their perfume the way they want it, mixing essences to create

individualized scents. “You can combine many elements, mix-

ing some of our store fragrances and “French woman”, “win-

ner-of-all”, “lady of the evening” and “rosewood”, as well as a

wide variety of combinations that you can imagine and order”,

says Manoel Santos, also known as “Portuguese”, grandson of

Antônio and manager of the shop.

Among the exclusive perfumes of the Orion shop, there are

the fl agship products, such as the “Fetiche” perfume and an

essence called “Cheiro-do-Pará” (“Scent of Pará”), a secret

mixture of ingredients from the region. Manoel says that the

perfume shop is regularly launching new products. “We are

launching new perfumes, essences, colognes, soaps…but it’s

not something you see in the news, our publicity is by word of

mouth”. So what customers say is very valuable. Some com-

positions reduced their alcohol content and concentrated es-

sences due to suggestions from customers. “The customer is

always right”, “Portuguese” says emphatically.

Orion completed 80 years in business in 2007 and is still

quite popular in Belém, with tradition being its differential on

creta de elementos da região. Manoel avisa que

a perfumaria não pára com os lançamentos. “A

qualquer momento nós podemos lançar novos per-

fumes, essências, colônias e sabonetes, mas não é

algo que seja divulgado na mídia, pois nossa pro-

paganda é no boca-a-boca”, ressalta. Para isso, as

conversas com os fregueses valem muito. Graças às

sugestões do público, por exemplo, algumas recei-

tas tiveram o nível de álcool reduzido e ganharam

concentração de essências. “O cliente tem sempre

razão”, afi rma, categórico, o Português.

A Orion completou 80 anos de existência em

2007 e ainda é sucesso de vendas na cidade, de-

fendendo a tradição como diferencial de mercado.

“Famílias antigas de Belém sempre compraram os

seus perfumes na loja, e os fi lhos dessas famílias

mantêm a tradição dos pais, sempre comprando na

Orion”, afi rma o Português, que também associa a

longevidade da marca a preços baixos. “Pela facili-

dade de adquirir as matérias-primas perto da fon-

te, temos uma média de preço muito inferior à dos

fabricantes nacionais, o que atrai o grande público

das classes média e baixa.”

Outra empresa local que soube acompanhar a

mudança nos tempos foi a Chamma, hoje Chamma

da Amazônia. A perfumaria, fundada em 1957 por

Oscar Chamma, um químico encantado por perfu-

mes, apresenta uma diversidade de produtos que

já ganharam mercados nacionais e internacionais

sem perder a característica regional. Atualmen-

te, além de Belém, é possível encontrar produtos

Chamma da Amazônia em São Paulo, Salvador, Rio

de Janeiro, Manaus, Brasília, Vitória, Goiânia, Belo

Horizonte, Curitiba, Teresina, Natal e Florianópolis,

e em países como Estados Unidos, Itália e Portugal.

Até nos Emirados Árabes Unidos os produtos 100%

paraenses estão presentes.

Fugindo dos modelos tradicionais de produção,

a Chamma da Amazônia trabalha em conjunto com

comunidades ribeirinhas, que produzem grande

parte dos itens comercializados pela empresa,

numa ação de responsabilidade social e ambiental.

É assim que nascem produtos como a “Água Chei-

rosa de Castanha-do-Pará”, um perfume hidra-

tante baseado na semente da castanheira; a deo

colônia “Caboclo”, feita com bergamota, sândalo e

vetiver somados ao aroma de “madeiras quentes”;

e o Banho de Chamma, uma infusão de raízes, se-

mentes e ervas - como patchuli, priprioca, cumaru,

pataqueira, catinga-de-mulata, oriza e erva chama

- misturadas em base de lavanda, que, depois de

envelhecidas, têm os cheiros e as cores extraídos.

A linha da Chamma também conta com perfumes,

loções pós-barba, hidratantes, xampus, condicio-

nadores, sabonetes, óleos perfumados e sachês.

“A Amazônia não é interessante pelo simples

fato de ser o ‘pulmão’ do mundo ou o ‘coração

verde da terra’. Ela é interessante pelas pessoas

que moram e amam a terra, que valorizam e re-

cebem todos que a visitam. A marca ‘Amazônia’

não teria essa importância toda se os índios não

fossem inteligentes o sufi ciente para encantar os

Nossa propaganda é no boca-a-boca

Our advertising is spread from one to another

Nossa pno boca-a

revista_hangarboneca3.indd 41 23/2/2008 D044 18:22:27

Page 42: Revista Latitude - 2

42

the market. “Old families from Belém always buy their per-

fumes at our shop, and the children of these families carry on

the tradition of their parents, and continue to shop at Orion”,

Portuguese says, who also associates the brand’s longevity to

affordable prices. “Because it’s easy to get raw material near

the source, our average prices are lower than those of nation-

wide companies, which attracts lots of middle and lower class

customers”.

Another local company that knew how to follow changing

times is Chamma, now called Chamma da Amazonia. The per-

fume shop was founded in 1957 by Oscar Chamma, a chemist

with a passion for perfumes, and has a variety of products

that have gained acceptance in national and international

markets, without losing its regional traits. Currently, in addi-

tion to Belém, you can fi nd Chamma da Amazônia products in

São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, Manaus, Brasília, Vitória,

Goiania, Belo Horizonte, Curitiba, Teresina, Natal and Flori-

anópolis, besides countries such as the United States, Italy

and Portugal. Products 100% from Pará have even found their

way to the United Arab Emirates.

Abandoning traditional production models, Chamma da

Amazonia works together with the riverbank communities that

produce most of the items sold by the company, demonstrating

both social and environmental responsibility. This has led to

products such as “Scented Brazilnut Water”, a moisturizing

perfume based on Brazil nuts; the deo-cologne “Caboclo”,

made from tangerine, sandalwood and vetiver plus aromas

from “hot woods”; and Chamma After-Bath, an infusion of

roots, seeds and herbs, including patchouli, priprioca, cu-

maru, pataqueira, catinga-de-mulata, oriza and chama herb

– mixed in a lavender base, which has its fragrances and col-

ors extracted after ageing. The Chamma product line also has

perfumes, aftershave lotions, moisturizing creams, shampoos,

conditioners, soaps, perfumed oils and sachets.

“Amazonia is not only important because it is the ‘lung

of the world’ or the ‘green heart of the planet’. It is important

because of the people who live on and love this land, who care

for it and receive all those who visit. The brandname “Ama-

zonia” would not be so important if it were not for the indig-

enous people being smart enough to woo the foreigners with

their herbs and remedies. More than a ‘green Amazonia’, it is

a ‘human Amazonia’, which few speak of”, says the company’s

marketing director, Gustavo Chamma.

The latest company to appear on the local cosmetics mar-

ket is Insumos da Amazonia. The basic knowledge came from a

famous medication mixing pharmacy in Belém. The owners be-

lieved in the idea of investing in cosmetics made from Amazo-

nian substances, and launched a small line of products in 2005

that included soaps, shampoos and conditioners prepared in

the pharmacy laboratory, to test the public’s reaction. Initially,

their only point of sale was on the shelves of their pharmacy.

estrangeiros com suas ervas e ‘curandorias’. Mais

que a ‘Amazônia verde’, é uma ‘Amazônia humana’,

que poucos falam”, defi ne o diretor de marketing da

marca, Gustavo Chamma.

A mais nova empresa surgida no mercado local

dos cosméticos é a Insumos da Amazônia. O conhe-

cimento de base veio de uma famosa farmácia de

manipulação de Belém cujos donos, seduzidos pela

idéia de investir na área de cosméticos feitos com

substâncias amazônicas, lançaram em 2005 uma

pequena e limitada linha que incluía sabonetes,

xampus e condicionadores preparados no labora-

tório da farmácia, para testar a receptividade do

público. A princípio, não havia nenhum ponto de

venda fora das prateleiras da própria farmácia.

A surpresa veio na mesma dimensão que o su-

cesso da linha de cosméticos, que caiu no gosto

popular. A demanda não parou de crescer, o que

forçou a criação de quiosques de venda pela cida-

de, a construção de um novo laboratório exclusiva-

mente para a fabricação dos cosméticos e de uma

loja própria.

“A partir do momento em que ocorreu a indus-

trialização, tivemos a chance de mostrar os produ-

tos em outros locais, divulgar a marca”, diz Agis

Elias Júnior, um dos fundadores da Insumos da

Amazônia.

Hoje são mais de 50 produtos no catálogo, den-

tro da proposta de unir o melhor dos cosméticos do

mundo todo com as regionalidades amazônicas.

Assim nasceram os sabonetes de açaí e de casta-

nha-do-pará, o sabonete esfoliante de jambu e o

hidratante de cupuaçu. Deu tão certo que já estão

confi rmadas exportações de amostras para alguns

países da Europa.

“Somos da região, conhecemos os produtos e

matérias-primas daqui. Nosso objetivo é vender

uma produção bem-elaborada, com ativos 100%

naturais, afi nal, estamos na Amazônia e é daqui

que tiramos nossas essências. Nossas idéias par-

tem de uma mistura de criatividade, pesquisa e do

nosso conhecimento de botânica, todas as receitas

são nossas. Temos sabonetes, xampus, condicio-

nadores, cremes capilares, cremes de massagem

corporal, uma linha especial para pés (com direito

a gel relaxante feito com arruda), hidratantes para

o corpo (à base de açaí, castanha-do-pará e cupu-

açu) e uma loção antioxidante de cacau e pequi.”

Em muitos casos, o cliente faz a sua própria combinação a partir de uma LQ� �nidade de fragrâncias, criando perfumes exclusivos

In many cases, the customers make their own combination from manyfragrances, thus creating exclusive perfumes

L

revista_hangarboneca3.indd 42 23/2/2008 D044 18:22:29

Page 43: Revista Latitude - 2

The surprise came with the immense

success of their line of cosmetics, which

gained wide popularity. Demand steadily

increased, and resulted in sales kiosks be-

ing set up around town, plus the building

of a new laboratory exclusively for prepar-

ing cosmetics and a separate shop. “Once

we began industrializing, we were able to

show the products elsewhere, to publicize

our brand”, says Agis Elias Júnior, one of the

founders of Insumos da Amazonia.

Today it has over 50 products in its cat-

alogue, and its aim is to combine the best

of world-class cosmetics with Amazonian

regional specifi cities. This gave rise to açai

and Brazilnut soaps, jambu cleansing soap

and cupuaçu moisturizing cream. It has

been so successful that exports of samples

to countries in Europe have already been

confi rmed.

“We are from the region, we know the

products and raw materials here. Our aim is

to sell a well-prepared product, with 100%

natural active ingredients, after all, we are

in the Amazon and all these essences come

from here. Our ideas for all our compositions

come from a mixture of creativity, research

and botanical knowledge. We make soaps,

shampoos, conditioners, hair creams, body

massage creams, a special product line for

footcare (with a soothing gel made from

rue), body moisturizers (made from açai,

Brazilnut and cupuaçu) and an anti-oxidiz-

ing lotion made from cocoa and souari.”

L

L

06

O conhecimento tradicional foi parar em fábricas (abaixo) e resultou em produtos valorizados no mundo inteiro

nonononon

The traditional knowledge took to the factories (below) and resulted inproducts that are valued all over the world.

L

revista_hangarboneca3.indd 43 23/2/2008 D044 18:22:41

Page 44: Revista Latitude - 2

Copaíba(Copaifera spp)Onde: Encontrada em fl oresta de terra fi rmeUso: Óleo-resina empregado na produção de cosméticos

Cumaru (Dipteryx odorata)Onde: Freqüente em mata de terra fi r-me e várzeas altasUso: Óleo de amêndoas utilizado na in-dústria de perfumes

Pau-rosa (Aniba rosaeodora)Onde: Nativa em fl oresta de terra fi rme, principalmente em áreas ri-beirinhasUso: Óleo essencial que compõe fra-grâncias na indústria de perfumes

Pimenta-longa (Piper hispidinervum)Onde: Cresce em áreas abertas de mata secundária alta ou savanasUso: Óleo essencial utilizado como fi xador de fragrâncias

Priprioca (Cyperus articulatus)Onde: Freqüente em áreas semi-inun-dadasUso: Óleo essencial empregado na criação de fragrâncias

Pataqueira (Conobea scoparioides)Onde: Encontrada em áreas semi-inun-dadasUso: Em banhos aromáticos

Celeiro de perfumesNa Amazônia, há 1.250 plantas e frutos catalo-

gados de onde são retirados óleos e aromas usados

na indústria cosmética. Algumas foram parar em

frascos famosos, como o do Chanel nº 5, criado

em 1921, com um fi xador extraído do óleo do pau-

rosa.

Empresas internacionais produtoras de fra-

grâncias, como Firmenich e Givaudan (Suíça),

Lautier (França), Dragoco (Alemanha) e Takasago

(Japão), comercializam essências amazônicas. Se-

gundo o químico José Guilherme Maia, coordenador

do Banco de Dados de Plantas Aromáticas e Frutos

Tropicais da Amazônia, além da variedade da fl ora,

as diferenças de clima e solo, que alteram a com-

posição química das plantas, são fatores que expli-

cam a diversidade de óleos e aromas da região.

Depois de 30 anos de pesquisa, coleta e identi-

fi cação de plantas aromáticas, Maia diz que a bus-

ca por novas essências está longe do fi m.

“Já realizamos mais de mil expedições de cam-

po, percorremos mais de 50 mil quilômetros, cole-

tamos mais de 2,5 mil plantas e produzimos mais

de 1,5 mil óleos essenciais e aromas. Mas ainda há

muito por fazer.”

There are 1,250 catalogued plants and fruits in Amazonia

used to extract oils and aromas for the cosmetics industry.

Some are found in world-famous scents, such as Chanel no. 5,

created in 1921, using a fi xer extracted from rosewood oil.

International fragrance producers such as Firmenich and

Givaudan (Switzerland), Lautier (France), Dragoco (Germany)

and Takasago (Japan) sell Amazonian essences. According

to chemist José Guilherme Maia, Coordinator of the Aromatic

Plants and Tropical Fruits of Amazonia Database, in addition to

the variety of fl ora, there are also soil and climate differences

that alter the chemical make up of the plants, factors the ex-

plain the diversity of oils and aromas found in the region.

After 30 years of research, collection and identifi cation of

aromatic plants, Maia says that the search for new essences is

far from over. “We’ve already conducted over a thousand fi eld

expeditions, covered over 50,000 kilometers, collected over

2,500 plants and produced more than 1,500 essential oils and

aromas. There’s still a lot to do.”

Fonte: Plantas arom

áticas na Am

azônia e seus óleos essenciais

A treasure-trove of perfumes

Pau-rosa (Aniba rosaeodora)

Where: it is a native plant of highland for-

ests, especially in riverside areas

Usage: an essential oil used in fragrances

for the perfume industry

Pimenta-longa (Piper hispidinervum)

Where: it grows in open areas of high secondary forests or savannahs

Usage: essential oil used as a fi xation agent in fragrances

Cumaru (Dipteryx odorata)

Where: it is frequently found in highlands and

high lowlands

Usage: almond oil used in the perfume industry

Priprioca (Cyperus articulatus)

Where: frequently found in semi-fl ooded areas

Usage: essential oils used in the making of

fragrances

Pataqueira (Conobea scoparioides)

Where: it can be found in semi-fl ooded areas

Usage: aromatic baths

Copaíba (Copaifera spp)

Where: it can be found in highlands

Usage: resin oil for the cosmetics industry

revista_hangarboneca3.indd 44 23/2/2008 D044 18:22:48

Page 45: Revista Latitude - 2

revista_hangarboneca3.indd 45 23/2/2008 D044 18:23:08

Page 46: Revista Latitude - 2

revista_hangarboneca3.indd 46 23/2/2008 D044 18:23:16

Page 47: Revista Latitude - 2

revista_hangarboneca3.indd 47 23/2/2008 D044 18:23:23

Page 48: Revista Latitude - 2

48

tur ismo / tour ism

Respirando os ares do campo

Em um Estado de grandes atrativos na-turais, os hotéis-fazenda – ou fazendas-hotel – são uma ótima oportunidade para quem quer experimentar os ares do campo e relaxar longe da conturba-da vida da cidade grande.

Taking in the country airtexto / text: Carlos Henrique Gondimfoto / photo: divulgação

In a state with outstanding natural at-tractions, farm hotels are an excellent chance to test the country air and relax far from the big city bustle.

revista_hangarboneca3.indd 48 23/2/2008 D044 18:23:25

Page 49: Revista Latitude - 2

Em um Estado de vastas extensões de terra, que ocupam quase 15% de todo o território nacional, era de se esperar que o Pará fosse dotado de uma

incrível vocação para a vida no campo. E de fato é. Essa vocação tem sido aproveitada por diversos empreende-dores paraenses de uma maneira bastante inteligente: a criação de hotéis-fazenda (ou fazendas-hotel), nos quais as atividades típicas do campo são mantidas e se aliam à tarefa de receber, de forma simpática, turis-tas e aventureiros do Brasil e do mundo.

Nesta reportagem, apresentamos alguns destes ho-téis, cada um com as suas peculiaridades. A maioria está localizada no Arquiélago do Marajó, onde surgiram as primeiras idéias em torno da criação de hotéis-fa-zenda. Para chegar até eles, é preciso viajar de avião ou barco, partindo de Belém. Mas também há opções que podem ser acessadas de carro e estão relativamente próximas à capital.

O perfi l dos hotéis-fazenda no Pará é o mais variado possível. Existem desde o mais simples, com poucos quartos - o que torna o ambiente ainda mais aconche-gante - a estruturas imensas que podem chegar a 80

apartamentos, oferecendo todo o conforto e comodidade só encontrados em hotéis cinco estrelas. Mas há algo que os deixa semelhantes: a chance de estar próximo da natureza, em uma paisagem única, propícia tanto ao descanso quanto ao lazer.

Marajó: o berço dos hotéis-fazendaQue o Marajó é um dos destinos paraenses que mais

atraem turistas do Brasil e do mundo, isso não é preciso repetir. Com uma área de 62 mil km2, a maior ilha fl u-vial do mundo é, na verdade, um arquipélago com ilhas que se formam com o sobe e desce das águas. Lá, onde a vida rural e a selvagem convivem harmonicamente, nasceram as primeiras experiências com hotel-fazen-da no Pará, motivadas pelo fato incontestável de que, em um lugar tão deslumbrante, é preciso oferecer algo além de uma simples hospedagem.

Uma das pioneiras em receber turistas em sua casa foi a fazendeira Heronides de Albuquerque Acatauas-sú. Dona Dita, como era conhecida, ganhou o título de “Embaixatriz do Marajó” por seu talento na arte de bem-receber. Na Fazenda Santa Cruz da Tapera, loca-

lizada no município de Soure, Dona Dita recepcionou personalidades como o Príncipe Charles, herdeiro do trono inglês, o Rei Gustavo, da Suécia, e os ex-pre-sidentes do Brasil Garrastazu Médici e João Baptista Figueiredo. Celebridades do mundo das artes e da dra-maturgia nacional, como Beth Faria, Glória Menezes e Tarcísio Meira também foram hóspedes de Dona Dita e seu marido, Domingos. Ana Tereza Acatauassú Nunes, sobrinha-neta de Dona Dita, conta que seus avós não tinham objetivos comerciais ao receber tantos turistas. “Recebiam todos os que os procurassem, mas sempre de coração aberto.”

Hotel-fazenda SanjoTido como capital do Marajó, o município de Soure

possui pelo menos dois bons hotéis-fazenda nos quais o turista pode se hospedar confortavelmente. O Hotel-Fazenda Sanjo, a 35 km do centro da cidade, dispõe de duas suítes e quatro quartos em uma casa-sede acon-chegante, administrado por Ana Tereza.

Entre as várias atividades oferecidas no local, estão as cavalgadas pelos campos da fazenda, passeio de

Given its vast size – it covers nearly 15% of Brazil’s total

area – one might well expect the state of Pará to be incred-

ibly well suited to country living. And so it is. Now, this voca-

tion has been rather intelligently turned to good advantage by a

number of enterprising locals, who have set up farm-hotels (or

hotel farms), which pursue all the typical rural activities, while

at the same time warmly welcoming tourists and adventurers

from all over Brazil and the world.

This article lists six such hotels, each with its own dis-

tinctive features. Most are on the island of Marajó, where the

farm-hotel idea fi rst took root. To get to most of these means a

plane or boat trip from Belém, the state capital, but some can

be reached by car and are relatively close.

Farm hotels in Pará are as varied as can be. Some are the

soul of simplicity, with only six rooms, making for a cozy, homely

atmosphere, while others are immense structures of up to 80

apartments offering all the comforts and conveniences of a

fi ve-star hotel.

They all have one thing in common though: the opportunity

to get close to nature in unique scenery just made for relaxation

and leisure. For older people who were born in the countryside

and now live in town, it is a chance to revisit their childhoods

and revel in the smells and atmosphere of the farm. For the

young, it is a chance to experience what for city folk are com-

pletely new sensations.

Marajó: where it all started

It hardly needs repeating that the Island of Marajó is one of

the destinations in Pará that most attracts visitors from around

Brazil and the world. Covering 24,000 square miles, the world’s

49

Abaixo e na página ao lado, imagens do Hotel Vitória. A proximidade com a natureza e a hospi-talidade dos nativos têm feito o interesse pelos hotéis-fazenda crescer.

Proximity to nature and hospitality of the locals has led to increased interest in hotel-farms

revista_hangarboneca3.indd 49 23/2/2008 D044 18:23:31

Page 50: Revista Latitude - 2

50

barco, trilha ecológica com observação da fl ora e da fauna (que inclui espécies exóticas como o colhereiro, o guará e a garça), montaria em búfalos e pescaria de piranhas e outros peixes da região.

Também é possível visitar uma réplica de um cemi-tério indígena, onde se observa como se encontravam as peças indígenas enterradas há mais de mil anos, e conhecer o museu arqueológico na sede da fazenda, com peças indígenas verdadeiras. No hotel, o hóspede se integra à rotina rural e pode cavalgar junto aos va-queiros para buscar os búfalos pelos campos, além de apreciar e observar como é produzido o famoso queijo do Marajó. Aliás, falando em comida, a alimentação dos hóspedes é preparada no local e são servidos pra-tos típicos, como fi lé de búfalo, pernil de porco, sopa de queijo de búfala, peixes, sucos regionais, pão caseiro, tapioquinha, açaí, cupuaçu, pudim de tapioca e geléias de frutas regionais. Após as refeições, nada como des-cansar em uma rede armada na varanda da casa.

Hotel-fazenda São JerônimoTambém localizado em Soure, o Hotel-Fazenda São

Jerônimo tem como trunfo o fato de ter sido o local esco-lhido como sede do programa “No Limite 3”, exibido em 2001 pela Rede Globo. Até hoje, os cenários de várias provas realizadas no reality show estão preservados e desafi am os visitantes, como é o caso do labirinto.

A propriedade tem 400 hectares, manguezais, igara-pés, campos, lagoa e praia particular. Tucanos, cotias, periquitos, macacos, garças, guarás, gaviões e tartaru-gas são alguns dos animais que habitam o lugar.

Aberta ao público desde janeiro de 2002, a fazenda produz coco e frutas regionais, além de criar gado. En-tre os atrativos, estão as caminhadas e os passeios de charretes puxadas por búfalos ou de cavalos marajoa-ras pelas trilhas nas matas e nos manguezais. Também recomenda-se o passeio de barco a remo pelos igarapés para contemplar a beleza e diversidade natural.

A culinária é típica do Marajó, aliada a pratos in-ternacionais. A chef é a dona da fazenda, que preza os ingredientes oriundos do local, como o açaí e carangue-jos. O hotel oferece cinco opções de suítes avaranda-

das, com ar-condicionado, frigobar, chuveiro elétrico e decoração regional. Há ainda uma quadra de vôlei e os hóspedes podem usar a internet.

Fazenda Carmo-CamaráSaindo de Soure, mas ainda no Marajó, encontra-se

a Fazenda Carmo-Camará. O lugar deve seu nome ao Rio Camará, onde se localiza o porto que dá acesso a todos os municípios do Marajó, para quem vem de Belém. A fazenda oferece hospedagem com conforto e bem-estar, sem luxo, porém com calorosa acolhida. A culinária ca-seira de apurado paladar tem como destaque as igua-rias produzidas lá mesmo. A casa-sede oferece quatro quartos no andar superior e dois quartos no térreo, com sala de banho em cada pavimento. Na parte anexa da casa, há quatro suítes.

O hóspede segue uma programação diária que inicia às 6 horas, com a alvorada ao som de pássaros e ma-cacos. Às 7h30, é feita uma visita ao curral dos búfalos, com ordenha e degustação de leite. Segue-se o café da manhã, com geléia, frutas, pão caseiro, queijo de búfa-la, bolos e biscoitos. Às 10 horas, de acordo com o mo-vimento da maré, são feitos passeios pelo rio com visita aos igarapés, caminhada na fl oresta com demonstração de ervas medicinais, e visita à arqueologia indígena.

A tarde é dedicada aos passeios a cavalo ou búfalo pelos campos naturais, onde se observa a fauna cam-pestre e a criação de gado e cavalo. À noite, o hóspede pode aproveitar um passeio de barco para focagem de jacarés e para observar outros animais como cobras, corujas e macacos-da-noite. A toda hora o hóspede pode fazer passeios de canoa e caiaque, participar de pesca-rias artesanais e tomar banho de rio e lago.

Marajó Park ResortNa Ilha de Mexiana – uma das centenas que com-

põem o Arquipélago do Marajó – fi ca este hotel-fazenda ecológico com total infra-estrutura de serviços: energia elétrica, piscina, restaurante, 80 apartamentos duplos e pista de pouso para aviões com até 50 lugares.

Nele, a experiência vai muito além das cercas da fazenda. Aos hóspedes, são oferecidos três tipos de pa-

cotes: ecológico, aventura e pesca. Os pacotes variam de acordo com o período do ano. No inverno, de fevereiro a julho, são 70% de atividades aquáticas e 30% ter-restres. Já no verão, de agosto até meados de dezembro, a ordem é invertida.

Entre os passeios, destacam-se uma excursão à foz do Rio Amazonas, seguida por caminhada em uma praia de areia selvagem, e safáris ecológicos de três horas de duração no interior da ilha, entre lagos, iga-rapés, campos alagados e selva equatorial. No pacote “Pesca”, o hóspede participa de pescarias diárias nos lagos em busca do pirarucu, o maior peixe de água doce do mundo. A pescaria, de caráter esportivo, tam-bém inclui espécies como tambaqui, poraquê, piranha, apaiari, fi lhote e dourada. Os pacotes ofertam ainda focagem noturna de jacarés e animais silvestres, pes-caria artesanal de piranhas, trilha na selva e montaria em búfalo.

Hotel-fazenda Santa RosaEm Vigia, um dos municípios mais antigos do Pará,

fi ca o Hotel-Fazenda Santa Rosa, inaugurado há cerca de um ano. A infra-estrutura conta com 28 apartamen-tos com ar-condicionado, TV e frigobar, além de varan-da com vista para a piscina.

Para o lazer do hóspede, o hotel oferece igarapé, piscinas adulto e infantil, quadras de futebol society e de vôlei e um pequeno bosque. Junto ao hotel, há uma área onde são criados cavalos.

Quem gosta de água vai ter a oportunidade de to-mar banho no furo da Laura, na Bahia do Sal, durante os passeios na lancha própria do hotel, que conta com marina e rampa para receber jet-skis, tornando-se uma opção ideal para os amantes da pesca esportiva e de esportes aquáticos.

A gastronomia é voltada para as culinárias nordes-tina e paraense, sendo o carneiro o prato principal da casa. Todos os anos, no mês de novembro, acontece um grande evento, a “Vaquejada”, que atrai turistas de vá-rias partes do Brasil. O hotel fi ca na Vila de Santa Rosa, a 18 km do centro de Vigia e a 30 km de São Caetano de Odivelas, um dos pólos da pesca no Pará.

Na Carmo-Camará, o hóspede pode tomar parte nas atividades diárias da fazenda.

At the Carmo-Cama-rá farm, the guest can take in the daily activities.

revista_hangarboneca3.indd 50 23/2/2008 D044 18:23:34

Page 51: Revista Latitude - 2

51

largest river island is, in fact, an archipelago of countless is-

lands and islets that take form as the tides rise and fall. With

country life and wildlife coexisting in harmony, the fi rst experi-

ments with farm hotels in Pará responded to the glaring fact

that here, in this breathtaking setting, it was necessary to offer

something more than just accommodation.

One of the pioneers in welcoming tourists to her farm was

Heronides de Albuquerque Acatauassu. Dona Dita, as she is

known, gained the title “Ambassadress of Marajó” for her tal-

ent in making people feel at home. At her farm, the Fazenda

Santa Cruz da Tapera, in the municipality of Soure, Dona Dita

received international personalities like Prince Charles, heir to

the British throne, King Gustaf of Sweden, and former presi-

dents Garrastazu Médici and João Baptista Figueiredo of Brazil.

Stars of the Brazilian arts and theater, including Betty Faria,

Glória Menezes and Tarcísio Meira, have also been guests of

Dona Dita and her husband, Domingos.

Ana Tereza Acatauassu Nunes, Dona Dita’s great-niece,

tells how her grand-relatives had no commercial purposes in

receiving tourists. “They never took people in for commercial

reasons. They welcomed whoever came to them, always with

an open heart and no interest in turning Fazenda Tapera into

a tourist resort.” Today Ana Tereza manages the Hotel-Fazenda

Sanjo, also in Soure, 22 miles from the town center.

Hotel-fazenda Sanjo

Regarded as the capital of Marajó, the municipality of

Soure has at least two good farm hotels where tourists can

stay in comfort. The Hotel-Fazenda Sanjo offers two suites and

four rooms in a homely “big-house”. Activities on offer include

horse-riding through the farm’s fi elds, boat excursions, ecologi-

cal trails (with nature observation of exotic species including

roseate spoonbill, scarlet ibis, herons and egrets), water buffalo

rides and fi shing for piranha and other local species.

There is also a replica indigenous cemetery, where visitors

can see how thousand year-old buried indigenous pottery was

discovered, and an archeological museum at the main farm-

house that holds authentic indigenous artifacts.

At the hotel, guests join in the farm routine, riding with the

cowboys to round up water buffalo in the fi elds and learning

how the famed Marajó cheese is produced in the farm’s dairy.

Incidentally, on the subject of food, guests’ fare is produced

entirely on the ranch and includes typical local dishes such

as buffalo fi llets, leg of pork, buffalo cheese soup, local fi sh,

salads and juices, homemade bread, tapioca pancakes, local

sweets, açai, cupuaçu, tapioca pudding, Amazon fruit jams and

so on. After meals, nothing better than to laze in a hammock

slung out on the veranda.

Hotel-fazenda São Jerônimo

Also in Soure, the Hotel-Fazenda São Jerônimo stands out

for having been chosen as the site for No Limite 3, broadcast

in 2001 as Brazil’s version of the “Survivor” reality show. The

settings for the various challenges, like the labyrinth, con-

tinue intact to this day as a dare to visitors. The estate covers

400 hectares of Amazon forest and mangroves, with igarapé

slack-water channels, open fi elds, plus its own lake, island

and private beach. The local wildlife includes toucans, agou-

tis, parakeets, howler monkeys, egrets, lizards, owls, ibises,

hawks and turtles.

Open to the public since January 2002, the farm produces

coconuts and Amazon fruits, as well as cattle. Other attrac-

tions are excursions through the forest or mangroves, either

on foot or riding Marajoara horses or water buffalo carts. Also

recommended is a rowboat ride through the igarapés, to con-

template the natural beauty and diversity that abounds on all

sides.

Meals include dishes typical of Marajó, together with in-

ternational cuisine. But then the chef owns the farm, which

prides itself on its local ingredients: the açaí is picked from

their own palms, the milk is from their own cows and water

buffaloes, and the crabs are caught in the nearby mangrove.

The hotel offers fi ve options of air-conditioned suites with ve-

randa, mini-bar, electric shower and regional decor. There is

also a volleyball court and Internet access.

Fazenda Carmo-Camará

Leaving Soure, but not Marajó Island, is the Fazenda

Carmo-Camará. The farm, isolated from urban areas, owes its

name to the Camará River, site of the port that - for arrivals

from Belém - is the gateway to all the towns on Marajó.

The farm offers accommodation with all creature comforts

and conveniences. There is no luxury, but a warm welcome is

sure. The refi ned, tasty home cooking is distinguished by deli-

cacies produced on the farm itself. The farmhouse offers four

rooms on the upper fl oor and two on the ground fl oor, with a

bathroom on each fl oor. There is also an annex to the house

with four suites.

Guests follow a daily program starting at 6 a.m. with a

wakeup call courtesy the bird and monkey chorus. At 7.30,

there is a visit to the buffalo corral for milking and milk tast-

ing. Next is breakfast, with jams, fruits, homemade bread, buf-

falo cheese, cakes and biscuits. At 10, depending on the tides,

there are outings on the river to cruise the igarapé slack-water

channels, and forest trails with a demonstration of medicinal

plants and a visit to an indigenous archeological site.

The afternoon is given over to horse- or buffalo-back rides

around the farm’s natural fi elds to observe the local bird and

animal life and its herds of cattle and horses. At night, de-

pending on the tidal ebb and fl ow, guests can take a boat ride

for fl ashlight alligator spotting, and to observe a wide variety

of nocturnal fauna including snakes, owls and owl monkeys.

In addition, guests can take out canoes and kayaks, go

fi shing and bathe in the river and lake whenever the fancy

takes them.

Marajó Park Resort

On Mexiana Island – one of the hundreds that make up the

5 LGLQJ� ZDWHU� EXIIDORHV�DQG� � �shing are just some of the available activities

Passear montado em búfalos e conferir de perto a pesca na região são alguns dos passatempos disponíveis

revista_hangarboneca3.indd 51 23/2/2008 D044 18:23:37

Page 52: Revista Latitude - 2

52

Fazenda-hotel VitóriaHá 40 anos, o fazendeiro e empresário Themístocles

Martins descobriu um tesouro escondido nas terras de Tracuateua, a 196 km de Belém. Nascido no município de Chaves, no Arquipélago do Marajó, “Seu” Martins – como prefere ser chamado – encontrou em Tracuateua uma extensa área incrivelmente parecida com sua terra natal. São os campos de Santa Tereza, que alagam entre os meses de dezembro e maio – o inverno, para quem vive nestas bandas próximas à linha do equador.

“Seu” Martins logo percebeu a oportunidade de estar próximo do seu querido Marajó sem precisar viajar três dias de ida e mais três de volta. Partindo de Belém pela ferrovia (hoje desativada), ele chegava a Bragança em menos de 14 horas, e eram necessários mais alguns mi-nutos de carro até a fazenda.

Hoje, é possível fazer o mesmo percurso sem precisar passar por Bragança, em duas horas e meia, graças às ótimas condições das estradas. Diante da oportunidade, não teve dúvidas: comprou o terreno do antigo proprietá-rio e lá, três décadas depois, fundou a Vitória.

Diferencial - Fomos até Tracuateua conhecer de per-to como funciona a fazenda-hotel, cuja sede está ins-talada em um casarão datado de 1875. A forma cordial com que o hóspede é tratado é, provavelmente, o maior diferencial da fazenda-hotel. Logo na chegada, fomos recebidos pelo proprietário em pessoa.

Não é exagero dizer que lá o hóspede não se sente em

um hotel, mas sim como se estivesse no sítio de um ami-go. É justamente isso que “Seu” Martins e a esposa, D. Iracy, querem proporcionar. Não há horários. É o próprio hóspede que faz sua programação. Todos os atrativos do lugar fi cam à disposição para que se possa aprovei-tá-los. Entre as opções, estão o passeio a cavalo, que pode ser aquele bem básico, guiado por um tratador, ou a montaria livre, para quem já possui experiência e quer correr solto pelos campos.

Em se tratando de passeio, uma experiência única é montar no “Fofi nho”, um búfalo enorme, que pesa cerca de 800 quilos, e tão dócil quanto indica seu nome. Tam-bém são imperdíveis os passeios de jangada, caiaque e canoa no lago da fazenda. É onde acontece um dos mo-mentos mais incríveis da estadia: a travessia da manada de búfalos, na volta do pasto para o curral.

A travessia acontece todos os dias, por volta das 18 horas e os hóspedes podem assistir à cena sentados con-fortavelmente em um trapiche. Você também pode acom-panhar a cavalo os vaqueiros que conduzem os animais. Um fato torna o momento ainda mais inusitado: um dos vaqueiros atravessa o rio de pé, em cima do búfalo, como se estivesse “surfando” o animal.

Está na mesa - Na Fazenda-Hotel Vitória, só um horá-rio deve ser respeitado: o de comer. Neste quesito, “Seu” Martins faz questão de manter a ordem, e se alguém passa da hora de ir jantar ou almoçar, vai pessoalmente à suíte dos esquecidos para convocá-los.

Mas os hóspedes não costumam perder nem um se-gundo para aproveitar as delícias que a culinária do lu-gar, típica de fazenda, tem a oferecer. As refeições, todas inclusas no valor da diária, são feitas em grupo, criando um ambiente propício para que os hóspedes se conhe-çam, conversem e acabem se tornando amigos.

Às 7h30 da manhã, “Seu” Martins toca o berrante para acordar os hóspedes e chamá-los para o café da manhã, que reúne uma variedade de mais de 30 itens, com seis opções de suco, além de frutas, doces, bolos e salgados. Um dos destaques é um pãozinho especial sem bromato que é esquentado no forno a lenha do restauran-te, acompanhado de queijo de coalho derretido, feito com leite de búfala. Simplesmente maravilhoso.

No almoço, o cardápio traz pratos como carne-de-sol, costela de forno, pato ao molho pardo, pirarucu no leite de coco, fi lé na chapa com legumes, acompanhados de um feijão bem temperado, salada crua, arroz branco e um exclusivo purê de macaxeira.

No jantar, são servidos pratos mais leves, como o fi lé de peixe à dorê ou moqueca de peixe, pernil de forno, bo-linho de piracuí, batata gratinada, camusquim e sopa de caranguejo ou de legumes. “Seu” Martins e D. Iracy sempre guardam surpresas especiais para o jantar.

O hotel aproveita muito bem o incrível luar do campo para proporcionar noites únicas, que lembram os tempos em que não havia luz elétrica e podia-se ouvir o som dos pássaros e demais animais noturnos.

Longe da agitação da cidade, ambientes como os da fazenda Vitória ajudam a aliviar o estresse.Alway from the frenzy of the city, such environment as those of Vitória farm help relieve the stress.

revista_hangarboneca3.indd 52 23/2/2008 D044 18:23:43

Page 53: Revista Latitude - 2

53

Marajó Archipelago – is the Marajó Park Resort, an ecological

farm hotel with full service infrastructure: electricity, swim-

ming pool, restaurant, 80 double apartments and a landing

strip for up to 50-seater aircraft.

The experience there extends far beyond the fences of the

farm. Guests are offered three types of package: ecological,

adventure and fi shing, all featuring the widest imaginable

range of activities. The packages are seasonal: in winter,

from February to July, they are 70% water-based and 30%

land-based; in summer, from August to mid-December, the

proportions are reversed.

Notable among the excursions are a trip to the mouth of

the Amazon River, followed by a walkabout on an uninhabited

sandy beach, and three-hour ecological safaris around the

island taking in lakes, igarapé slack-water channels, fl ooded

forests and equatorial jungle. The “Fishing” package entitles

guests to daily fi shing trips to the lakes in search of pira-

rucu, the largest freshwater fi sh in the world. The fi shing is

for sport, and includes tambaquis, poraquê electric eels, pi-

ranhas, apaiaris (Oscars), and fi lhote and dourada catfi sh.

The packages also include nocturnal fl ashlight “spot-

ting” of alligator and other wildlife, piranha fi shing, forest

trails and water buffalo riding.

Hotel-fazenda Santa Rosa

The Hotel-Fazenda Santa Rosa, which opened about a year

ago in Vigia, one of the oldest towns in Pará, has 28 air-condi-

tioned apartments with TV and mini-bar and overlooking the

swimming pool. Leisure activities include trips on the igarapé

slack-water channels, adult and children’s swimming pools,

football pitches and volleyball courts and a small wood. Next

to the hotel is an area where horses are raised, the handsom-

est and rarest being used for horseback riding.

Water lovers can bathe in the “Furo da Laura” canal, at

Bahia do Sal, during trips in the hotel’s own launch. The hotel

also has a marina and jet-ski ramp, making it ideal for sports

fi shermen and water sports enthusiasts.

The hotel menu centers on the cuisine of Brazil’s northeast

and Pará State, the house specialty being lamb. A major steer

tailing event – the “Vaquejada” - takes place every year in

November, drawing tourists from all over Brazil.

The hotel is in Vila de Santa Rosa, 11 miles from the town

of Vigia and 19 from São Caetano de Odivelas, the hub of

fi shing activities in Pará.

Fazenda-hotel Vitória

Forty years ago, a local farmer and businessman, Themís-

tocles Martins, discovered a hidden treasure on the land at

Tracuateua, 120 miles from Belém. “Seu” Martins – as he

prefers to be called – who was born in the town of Chaves, on

Marajó Island, found a vast area uncannily like the land of his

birth. These are the Santa Tereza grasslands, which fl ood from

December to May (in “winter” to those who live in these parts

close to the Equator).

Right away “Seu” Martins saw the opportunity to feel close

to his beloved Marajó without having to face the three-day trip

each way. Taking the (now discontinued) train from Belém, he

could get to Bragança in less than 14 hours, and from there to

the farm was only a few more minutes by car.

Today, thanks to excellent road conditions, the same trip

can be done in two and a half hours, without having to go

through Bragança. Faced with that opportunity, “Seu” Martins

did not have to think twice: he bought the land from its for-

mer owner and founded the Fazenda Hotel Vitória there three

decades later.

At his invitation we went to Tracuateua to see at fi rst

hand how a farm hotel functions. One striking feature was

the steady wind that blew from the moment we arrived. We

were welcomed personally by the farm owner, who had al-

ready reserved a spacious suite for us. The cordial treatment

Além de paz e tranqüilidade, os hotéis-fazenda também garantem momentos de aventuraAlway from the frenzy of the city, such environment as those of Vitória farm help relieve the stress.

Besides peace and tranquility, the country hotels also offer moments of adventure.

revista_hangarboneca3.indd 53 23/2/2008 D044 18:23:46

Page 54: Revista Latitude - 2

54

Os pacotes do Marajó Park Resort, em Mexiana, incluem passeios ecológi-cos como a excursão à foz do rio Amazonas.

The packages of Marajó Park Resort, in Mexiana, include excursion to the mouth of Amazon river.

lavished on guests is probably what most distinguishes the

Fazenda Hotel Vitória. Where else – even among the smaller

establishments – are you received by the owners themselves,

who make a point of seeing to every detail so that your stay

is as amazing as possible? That is hard to answer, but it is

no exaggeration to say that at Fazenda Hotel Vitória guests

do not feel they are staying at a hotel, but rather visiting a

friend’s ranch.

And that is exactly what “Seu” Martins and his wife, Dona

Iracy, want to offer. Unlike other places where there is a proper

time for everything, at the Vitória it is the guest who sets the

timetable. All the attractions are at guests’ disposal so they

can enjoy them whenever and as often as they like. Options

include horseback outings, which can be very basic, with a

groom leading the horse, or free for the more experienced want-

ing to range freely over the Santa Teresa grasslands.

Talking of outings, one unique experience is to mount “Fo-

fi nho” (Old Softy), an enormous water buffalo weighing in at

around 1700 lbs, but as docile as his name.

Also not to be missed are the raft, kayak and canoe rides

on the lake behind the ranch house, the scene of one of the

most unforgettable moments of our stay as the buffalo herd

crossed on its way back from the pastures.

That crossing takes place every day at around 6 p.m. and

guests can take part either by just watching from a comfort-

able seat in the sugar mill or on horseback, riding herd with

the cowboys. One detail makes the scene even more indelible:

one of the cowboys makes the crossing standing on a buffalo’s

back, as if surfi ng the animal.

It’s on the table!

At the Fazenda Hotel Vitória, punctuality is essential only

at mealtimes. On this point, “Seu” Martins is adamant and

makes it his job to keep things in order: if anyone is absent-

minded enough to be late for lunch or dinner, he will go and

summon them personally from their room.

As it is, guests seldom waste a second when it’s time to

relish the fi ne local fare coming from the farm kitchen. Meals,

all included in the daily rate, are taken in groups, creating

an ideal environment for guests to get to know each other,

talk and make friends. At 7.30 in the morning, “Seu” Martins

blows the ox-horn to wake his guests and announce breakfast

comprising over 30 separate items, including six juices, fruit,

sweets, cakes and savories.

One highlight is a special zero-bromate bread roll warmed

in the restaurant’s wood stove, accompanied by melted whey-

cheese made from buffalo milk. Just awesome.

For lunch, the menu offers dishes like sun-dried meat,

roast rib, duck in gravy, pirarucu in coconut milk, grilled fi l-

let and vegetables, all accompanied by well-seasoned beans,

fresh salad, white rice and an exclusive pureed yucca.

Dinner consists of lighter dishes, like golden-roast fi sh

or fi sh stew, roast leg of pork, piracuí fi sh-meal croquettes,

potato gratin, camusquim and crab or vegetable soups. Also

“Seu” Martins and Dona Iracy always spring special surprises

for dinner.

The hotel takes very good advantage of the incredible coun-

try moonlight to offer unforgettable evenings reminiscent of the

days when there was no electric light and you could sit and listen

to the sounds of the night-birds and other nocturnal wildlife. L

revista_hangarboneca3.indd 54 23/2/2008 D044 18:23:50

Page 55: Revista Latitude - 2

HOTEL-FAZENDA SANJOComo chegar: De Belém, por barco ou avião até a cida-de de Soure (o hotel fi ca a 35 km do centro da cidade). A partir daí, no verão o traslado é feito por carro ou lancha. No inverno só é possível chegar de lancha.Reservas: (91) 9145.4475/ 8117.3158 / 9116.3291 / 3224.6835Aceita os cartões de crédito Visa e MastercardSite: www.sanjo.tur.br

HOTEL-FAZENDA SÃO JERÔNIMOComo chegar: De Belém, pode-se chegar de barco ou avião. O hotel fi ca na Rodovia Soure-Pesqueiro, km 3. Reservas: (91) 3741.2093 / [email protected] os cartões de crédito Visa e MasterCardSite: www.marajo.tk

FAZENDA CARMO-CAMARÁComo chegar: De Belém, saem barcos diariamente com destino direto ao Porto de Camará. De lá até o Porto do Beiradão, são 20 minutos de carro; depois, pega-se uma lancha até a fazenda, com uma viagem de 40 minutos.Reservas: (91) 3241.2202/ 3223.1578/ 5696 / Fax: (91) 3241.8148 / [email protected]: www.carmocamara.com

MARAJÓ PARK RESORTComo chegar: Recomenda-se utilizar o traslado ofere-cido pelo Park Resort.Reservas: (91) 3244.4613/ 3202.7034/ 3202.7042 / Fax: (91) 3244.3200Site: www.marajoparkresort.com.br

HOTEL-FAZENDA SANTA ROSAComo chegar: De Belém, pela BR-316, são 43 km até Santa Isabel. De lá, pega-se a Estrada da Vigia, na PA-140, km 39.Reservas: (91) 3833.3177/ 3833.3166 / [email protected] os cartões de crédito Visa, Mastercard e Din-ners.Site: www.hotelfazendasantarosa.com.br

FAZENDA-HOTEL VITÓRIAComo chegar: De Belém, de carro ou ônibus fretado, pela BR-316, são 196 km de distância (2h30).Funcionamento de sexta a domingo, além de feriados.Diária por pessoa: R$ 160 (refeições e passeios in-clusos)Reservas: (91) 3228.4481 / 8114.8420 / 8114.8423Site: www.fazendahotelvitoria.com.br

OUTRAS OPÇÕES DE HOTÉIS-FAZENDA:H2O AMAZÔNIA RESORT (Em Colares) - www.h2oama-zonia.com.brHOTEL-FAZENDA PARAÍSO (Em Mosqueiro)www.hotelfazendaparaiso.com.br

ESCOLHAHOTEL-FAZENDA SANJO

How to get there: from Belém, by river or air to the town of

Soure (the hotel is 22 miles from the town center). From there,

in summer, transport is by car or motorboat; in winter, only

motorboat.

Reservations: (+55 91) 9145-4475/ 8117-3158 / 9116-3291

/ 3224- 6835

Visa and Mastercard credit cards accepted.

Website: www.sanjo.tur.br

HOTEL-FAZENDA SÃO JERÔNIMO

How to get there: from Belém, by boat or plane. The hotel

stands on the Soure-Pesqueiro highway at Km 3.

Reservations: (+55 91) 3741-2093 / saojeronimo@canal13.

com.br

Visa and Mastercard credit cards accepted.

Website: www.marajo.tk

FAZENDA CARMO-CAMARÁ

How to get there: from Belém, there are daily boats direct to

Porto de Camará. From Camará, it is a 20-minute car ride to

Porto do Beiradão, where the farm can be reached in 40 min

by motorboat.

Reservations: (+55 91) 3241-2202/ 3223-1578/ 5696 / Fax:

(+55 91) 3241-8148 / [email protected]

Website: www.carmocamara.com

MARAJÓ PARK RESORT

How to get there: it is recommended to use transportation

offered by the park resort.

Reservations: (+55 91) 3244-4613/ 3202-7034/ 3202-7042 /

Fax: (+55 91) 2443-200

Website: www.marajoparkresort.com.br

HOTEL-FAZENDA SANTA ROSA

How to get there: from Belém, follow the BR-316 highway 27

miles to Santa Isabel. From there, take the Vigia road, PA-

140, to Km 39.

Reservations: (+55 91) 3833-3177/ 3833-3166 / reservas@

hotelfazendasantarosa.com.br

Visa, Mastercard and Diners credit cards accepted.

Website: www.hotelfazendasantarosa.com.br

FAZENDA HOTEL VITÓRIA

How to get there: from Belém, by car or chartered bus, follow

highway BR-316 for 122 miles (2½ hrs).

Open Friday to Sunday, and public holidays.

Daily rate per person: R$ 160.00 (includes meals and excur-

sions)

Reservations: (+55 91) 3228-4481 / 8114-8420 / 8114-

8423

Website: www.fazendahotelvitoria.com.br

OTHER FARM HOTELS:

H2O AMAZÔNIA RESORT (in Colares) –

www.h2oamazonia.com.br

HOTEL-FAZENDA PARAÍSO (in Mosqueiro)

www.hotelfazendaparaiso.com.br

TAKE YOUR PICK!

54

revista_hangarboneca3.indd 55 23/2/2008 D044 18:23:57

Page 56: Revista Latitude - 2

56

cultura / culture

Chora, Belém!Weep, Belém!

Além do brega e do carimbó, capital paraense guarda o chorinho como uma herança musical que atravessa gerações

Besides brega and carimbó music, the Par-aense capital considers “chorinho” music as part of its heritage, passed down through many generations.

texto / text: Ismael Machadofoto / photo: Diana Figueroa

revista_hangarboneca3.indd 56 23/2/2008 D044 18:24:01

Page 57: Revista Latitude - 2

Belém, terra do brega, do carimbó e da guitarrada? À primeira vista esses podem ser os estilos mu-sicais identifi cados imediatamente com a cidade.

Mas quem se aventurar a percorrer os becos e meandros musicais da capital paraense vai-se deparar com uma tradição musical voltada também para o... chorinho. Considerado o primeiro gênero musical urbano brasilei-ro e com mais de um século de existência, o choro, que chega a ser antecessor do jazz norte-americano, também tem uma história antiga em Belém. Uma história, aliás, que tem seus heróis, ídolos e que já prepara uma nova geração de chorões.

É algo que começou lá pelo fi nal dos anos 1950. Um dos primeiros nomes que surgem quando se fala em “choro paraense” é o de Adamor do Bandolim. Aos 65 anos, ele conseguiu dar ao chorinho feito na “Terra do Açaí” um tempero todo especial.

Nascido no Marajó e infl uenciado por grupos de ca-rimbó e outros ritmos amazônicos, Adamor tem um jeito de tocar que outros músicos, especialistas no gênero, garantem: é único, com uma levada amazônica para um estilo que surgiu nos morros cariocas.

“Eu cresci ouvindo os ritmos amazônicos. Sou ribei-rinho, não nego as raízes”, diz Adamor, um homem que adora contar causos e histórias. Quando tinha sete anos, viu o pai comprar um gramofone, daqueles de 78 rota-ções em que se precisava dar corda para tocar um disco. “Tornei-me um chorão por causa de um disco com grava-ções do violonista Garoto. Eu achava que era um garoto

de verdade e pensei: se ele pode tocar assim, eu também posso”, relembra o músico.

Mesmo sob o olhar desconfi ado do pai, Adamor co-meçou a tocar. E foi benefi ciado por um fato no mínimo curioso. Em 1962, ele trabalhava nos Correios em Ana-jás. Era um município sem campo de pouso, ou seja, era necessário deixar e buscar as malas de correspondência na capital, onde ele acabava passando um mês. Solteiro, aproveitava para conhecer a noite, comprar discos e to-car com outros apreciadores da música e da boêmia em Belém, como Edyr Proença, Danivale Nobre, Zezé Miranda e Catiá.

O resto é história. Ou histórias, que se confundem com a de Gilson, o lendário proprietário da principal casa de choro de Belém, a “Casa do Gilson”, ponto de encontro dos chorões da cidade há 20 anos. Em 1975, recém-saído da Marinha, voltou ao Pará depois de uma temporada no Rio de Janeiro, onde se apaixonou pelo chorinho que ouvia nas noites cariocas. Em Belém, conheceu Aldemir Ferrei-ra, em meio às farras dos fi ns de semana. Era uma turma que andava sempre procurando por bares onde pudesse tocar. Nem todos os donos gostavam, já que associavam as rodas de choro com baderna. A idéia, então, foi ter o próprio lugar. Surgiu assim, em 1979, a Casa do Choro.

Na verdade era um terreno nos fundos da casa de Ferreira, com um igarapé atravessando o quintal. “Aos domingos enchia de gente e de repente a coisa foi cres-cendo com o boca-a-boca. Ficou uma grande família. Foi assim que tudo começou”, lembra.

Belém; land of brega, carimbó and guitar solo? At fi rst glance

yes, these musical styles are the ones immediately identifi ed

with the city. But those who venture further, wandering through

Belém’s musical alleys and meanderings will stumble upon a

musical tradition that also reverts back to the “chorinho” style.

Considered the primary Brazilian urban musical style, around for

more than a century, “Choro” is the predecessor of North-Ameri-

can jazz, having a long history in Belém. Furthermore, it’s a his-

tory that has its heroes and idols, and is also preparing its new

generation of “chorões”.

In Belém, it’s a story that dates back to the late 1950’s. One

of the fi rst names that springs to mind when Para ‘choro’ is men-

tioned is Adamor do Bandolim. At 65 years of age, Adamor has

managed to add a bit of extra spice to the “chorinho” music from

the Land of Açaí. Born on Marajó Island and infl uenced by carimbó

groups and other Amazonian rhythms, Adamor has a way of play-

ing that other musicians and genre specialists tell us is unique,

bringing an Amazonian touch to a style that began in the Rio de

Janeiro hillside shantytowns.

“I grew up listening to Amazonian rhythms. I’m a riverbank

dweller, I don’t deny my roots”, says Adamor, a man that loves to

recount stories and tell tales. When he was seven years old, his

father bought a gramophone, one of those at 78 rpm’s that need-

ed to be wound up to play a vinyl record. “I became a “Chorão”

because of a recording by the violinist Garoto (the name means

‘young boy’). I thought he really was a young boy and thought: if

he can play like that, well I can too.”

Even under the unsure gaze of his father, Adamor started to

play. He later benefi ted from a curious event. In 1962 he worked

for the Anajás postal service. It was a municipality without its

own airfi eld, in other words, it was necessary to take the mailbags

and later pick them up in Belém. Adamor took the opportunity to

spend a month in the city. Single, he decided to frequent Belém

nightlife, buying and listening to records together with other

connoisseurs of Belém’s music and Bohemian lifestyle. Amongst

them were Edyr Proença, Danivale Nobre, Zezé Miranda and Catiá.

The rest is history.

It’s easy however to confuse Adamor with Gilson, the legend-

ary owner of Belém’s fi rst “choro” house, “Gilson’s House”, which

over the last 20 years has been the main meeting point for the

city’s “chorões” (choro singers). In 1975, having just left the Navy,

he returned to Belém after spending time in Rio de Janeiro, fall-

ing in love with Rio’s chorinho music in the process. In Belém he

met Aldemir Ferreira during his nights out on the weekends. There

was a group of musicians that wandered around looking for bars

where they could play. Not all bar owners liked the idea, since cho-

ro groups were associated with uproar. The idea was ultimately to

get their own place. That’s how the Casa do Choro (Choro House)

came to be in 1979. If truth be told it was a piece of land at the

back of Ferreira’s house, with a canal that passed through the

backyard. “On Sundays it was packed solid and suddenly, by word

of mouth, it started to grow. It was like a huge family. It all started

like this”, he recalls.

Aldemir died in 1985 and, being without a meeting place,

the musicians started to go to Gilson’s House instead. It was just

a step across to the new bar. Because of Gilson’s House, Belém

started to become chorinho’s most traditional refuge. Further-

more, it was during this period that Adamor do Bandolim (Adamor

of the Mandolin) launched his fi rst record: “Chora Marajó” (The

Marojó Weep). Old school music entwined with new passions.

revista_hangarboneca3.indd 57 23/2/2008 D044 18:24:18

Page 58: Revista Latitude - 2

58

Em 1985, Aldemir morreu. Sem o ponto de encontro para tocar, os músicos passaram a se encontrar na casa de Gilson. Daí para um novo bar foi um passo. Com a Casa do Gilson, Belém passou a ter o seu reduto mais tradicional para o chorinho. Aliás, foi nesse período que Adamor do Bandolim lançou seu primeiro disco, “Chora Marajó”, e a velha-guarda foi se misturando a novos apaixonados.

Um dos representantes dessa nova geração é Diego Xavier, 20 anos. Neto de Mestre Vaíco, um dos pionei-ros do choro paraense, Diego toca desde os seis anos de idade. Aos 11, já se apresentava na noite. “A primeira música que toquei no cavaco foi ‘Brasileirinho’. Aprendi de ouvido”, diz ele.

Atualmente, Diego integra o grupo Sapecando no Choro, que surgiu em 2002 de um projeto chamado “Ci-dadão Xequerê”. O Sapecando no Choro é especialista não apenas em executar choros e sambas conhecidos do grande público, mas, sobretudo, em mostrar canções de compositores regionais que estavam esquecidos.

Esse trabalho de pesquisa desembocou, em novem-bro de 2005, no show “Obras Ocultas”, que se fez inte-

gralmente de composições regionais. É dessa forma que o grupo vem ganhando espaço no meio musical. Além de Diego, integram o grupo Carla Cabral (cavaco base), Diego Leite (violão de sete cordas) e Bruno Miranda (pan-deiro e efeitos).

E o que dizer então de um grupo de choro formado só por jovens mulheres? Assim é o Charme do Choro, que surgiu de uma ofi cina realizada no Instituto de Ar-tes do Pará (IAP), em 2006. Incentivadas pelo músico Paulinho Moura, Jade Moraes (bandolim), Dulci Cunha (fl auta transversal), Carla Cabral (cavaco), Camila Alves (violão de sete cordas), Laíla Cardoso (violão de seis cordas) e Janete Carvalho (pandeiro) ensaiaram dois choros para serem apresentados no término dos módulos da ofi cina. O entusiasmo com a receptividade foi o que bastou para que a idéia do grupo realmente se solidifi casse.

“Daí nasceu o Charme do Choro, que rapidamente foi sendo convidado para outros eventos. Tudo aconte-ceu muito rápido, tivemos que correr montando repertó-rio, ganhando a experiência que, a bem da verdade, não tínhamos, a cada apresentação. Mas foi dando tudo

certo”, diz Camila Alves, uma profunda admiradora da chamada velha-guarda do choro.

“Eles representam muito para a cultura do Estado, e os tenho como espelho e exemplo. Felizes de nós, jovens músicos, que temos tão boas referências no gênero e para quem eles nos são acessíveis, incentivadores e, por que não falar, generosos mesmo.”

Apesar disso, Camila lembra que no início houve certo preconceito. “Queriam saber se dávamos conta do recado. O ambiente da música é muito masculino, e, de certa forma, machista, mas isso a gente tira por menos”, garante a violonista.

Em alguns casos, a paixão pelo choro passa por ge-rações. Se Diego aprendeu a tocar vendo o avô Catiá, Jade Moraes tem no pai, o multiinstrumentista Pardal, seu principal exemplo. É isso que garante a longevi-dade do estilo. Além, é claro, da fi delidade do público. Como a de dona Maria de Lourdes Oliveira, 79, que há 15 anos freqüenta a Casa do Gilson só para ouvir a mú-sica. Para isso, Maria de Lourdes precisa apanhar dois ônibus, praticamente atravessando a cidade. “Enquan-to eu viver, virei”, diz ela. Alguém duvida?

O Charme do Choro nasceu DSyV�XP D� R� �cina do Instituto de Artes do Pará (IAP) e tem ganhado as noites da cidade

Charme do Choro was formed after a workshop held by the Pará Arts Institute (IAP) and has become popular with the city’s nightlife

O Sapecando no Choro é um dos representantes da nova geração do chorinho paraense

Sapecando no Choro is a group representing the younger generation that is carry on with the chorinho tradition in Belém

L

revista_hangarboneca3.indd 58 23/2/2008 D044 18:24:20

Page 59: Revista Latitude - 2

Latitude

a n o 1 • n ú m e r o 2f e v e r e i r o d e 2 0 0 8

La

titu

de

Ha

ng

ar

a

no

1 •

2 •

fe

vere

iro

de

20

08

01º23’05”S

capa_hangar1.indd 1 23/2/2008 D044 17:20:16