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VILÃ OU MOCINHA? CONHEÇA OS DOIS LADOS DA MACONHA entrevista sobre mídia e a música de MAX B.O. PERFIL DO RAPPER CORUJA BC1 internet DICAS PARA SE DAR BEM NA REDE E MAIS: opinião | dj | mídia | história | grafite | novidades + cultura ENTRETENIMENTO análise

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TCC - Jornalismo FAAC/UNESP-Bauru. João Paulo Monteiro e Juliana Prado

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Page 1: Revista H2 ed.01

VILÃ OU MOCINHA?

CONHEÇA OS DOIS

LADOS DA MACONHA

entrevista sobre mídia e a música de

MAX B.O.

PERFIL DO RAPPER

CORUJA BC1

internet

DICAS pARA SE

DAR BEM NA REDE

E MAIS:

opinião| dj| mídia| história| grafite| novidades + culturaENTRETENIMENTO análise

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Revista H202H2

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Revista H2 03

HEY, MANOS E MINAS

EXPEDIENTE

ReportagemJoão Paulo MonteiroJuliana Prado

ColaboradoresConrado DacaxDenis WarrenD’BronxGuaíra MaiaHenrique GasparinoNathalia Boni

DiagramaçãoJoão Paulo Monteiro

Foto de capa:Juliana Prado

H2Numa era em que

a tecnologia se de-senvolve em uma

velocidade incrível, temos a impressão de que a in-formação também circu-la a todo vapor. Com isso, os artistas ganharam uma grande aliada: a internet, a forma mais atual e eficien-te de comunicação. além da facilidade na divulga-ção do trabalho em redes sociais, é possível aprender a fazer tudo no mundo on--line, como produzir uma música própria de maneira independente. Na matéria Você pode, descubra uma série de ferramentas dis-poníveis para quem está começando e quer mostrar ao mundo o seu trabalho.

em Repórter da Perife-ria e O Rap Sem Limites, saiba tudo sobre a histó-ria do rap e como o estilo veio parar no Brasil; já em Poesia de rua, abordamos o surgimento da expres-são visual do Hip Hop: o grafite. O breaking apa-rece na história de major em Vivendo nas Batidas do Rap, onde ele conta que viveu ao lado da dro-

ga, mas optou pela dança como estilo de vida.

O Perfil desta edição traz a emocionante traje-tória do rapper bauruense Coruja BC1, que canta sua realidade através da músi-ca e dos repentes, e a tur-bulenta relação entre o Hip Hop e a mídia é abordada em Resistência recíproca. Nós também falamos da Profissão DJ, regulamen-tada no ano passado, e desmistificamos os mitos e as verdades que envolvem a maconha. Afinal, será ela Vilã ou mocinha?

Para fechar com chave de ouro, Trocando Ideia traz uma entrevista exclu-siva com o rapper e apre-sentador Max B.O., que levanta a bandeira do rap dentro do programa ma-nos e minas, da TV Cul-tura. No papo, ele fala de sua carreira, da mídia e do movimento Hip Hop. Isso, é claro, além das seções Opinião, Novidades, De-poimento e Galeria, que sempre pintam por aqui.

Seja bem-vindo à revis-ta H2 e boa leitura!

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sumário

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07max b.o.Conversamos com mar-celo Silva, o rapper max B.O. Ele, que é também o apresentador do pro-grama manos e minas, da TV Cultura, deu sua opinião sobre a relação do movimento Hip Hop com a mídia.

Jair

Mag

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Divulgação/Bauru Breakers Crew

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kin

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18 4264

0614172430

Divulgação

Juliana Prado

Arquivo pessoal/Aubre “Dj Ding”

carta do leitor

cobertura

novidades

repórter da periferia

bauru

o Hip Hop sai da periferia

projeto ensaio no Geisel

os últimos lançamentos

uma breve história do rap

Hip Hop na cidade sem limites

3650526768

maconha

opinião

o poder da internet

depoimento

análise

vilã ou mocinha?

preconceito

dicas sobre como usá-la

o Hip Hop salvou a minha vida

Hip Hop e a mídia

perfi

l c

oru

ja b

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grafi

te dj

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Revista H206

O rap estourou, chegou na mídia, se popularizou. Abraçado pela indústria fonográfica e agora com tecnologias e informações mais acessíveis, é possível que cômodos bagunçados se tornem verdadeiros home studios. as produções de música independente estão em alta e o rap, que partilha do mesmo ideal Punk do “faça você mesmo”, não fica pra traz.

Mas o fato de o Hip Hop ganhar uma visibilidade maior não significa que perdeu sua essência de rua. A questão é que, como qualquer gênero musi-cal, tem coisas muito boas, comprometimento com a verdade e vontade de transmitir o que a novela não vende, e também coisas moldadas pra vender e fomentar estereótipos falidos de uma cultura muito mais rica do que as osten-tações que promovem. O que, mesmo assim, em âmbitos gerais, ainda é visto como ascensão pra nós, pois é uma porta de entrada para aqueles que não conhecem a cultura. e uma vez do lado de dentro, aumentam-se as possibili-dades de enxergar a dimensão do movimento e suas varias vertentes, que se estendem além do conteúdo ativista político/social.

É um universo em expansão, e a prova disso é a repercussão que estão tendo os novos artistas. O rap ainda sofre alguma resistência por parte dos MCs mais conservadores que parecem ter tudo muito bem delimitado em suas visões sobre o que é e o que não vem a ser rap. Quase uma demarcação territorial.

Certo que temos que tratar e manter as raízes, e é justamente por isso que não tem como impedir que essa grande árvore dê bons frutos e que a semente desses frutos gerem novas raízes. É um processo natural da vida, e quando se tenta interferir nessa naturalidade ocorre um conflito com a lei de progresso. O grito da rua é contra o preconceito, então está na hora de começar a praticar esta harmonia, caso contrário, de nada vale discursar em cima do palco com batida de fundo. a periferia é o primeiro degrau, e o primeiro é importante, pois dá a condição de existência dos demais, e sabe-se lá Deus onde essa es-cadaria vai dar. O rap é musica, musica é sensibilidade, e sensibilidade não tem endereço fixo, ela faz morada dentro de qualquer ser humano que lhe conce-da o espaço. Hip Hop é cultura de rua e a rua passa na frente da casa de todo mundo.

revista H2

carta do leitorpor grupo anonimono

Para nos passar sua opinião, sugestão ou comentário, envie um email para [email protected].

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Revista H2 07

breaking

Vivendo nas batidas do rapFoi ainda criança que as batidas do rap passaram a movimentar os pés de Luis enrique, conhecido por major. No bairro do Jaraguá, pe-riferia de Bauru, o garoto se interessou pelo breaking, dança que nasceu nas periferias, e de lá para cá, ele não parou mais: “Vi os caras dançando e me apaixonei por aquilo à primeira vista”.

Texto Juliana PradoFotos Acervo pessoal

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Revista H208

OM suA lON-Ga trajetória na dança, major tem muita his-

tória pra contar. O interesse começou quando assistiu a alguns grupos que se apre-sentaram nos caminhões--palco que a periferia rece-bia. ele gostou do que viu e passou a frequentar oficinar de breaking. “No começo, eu era o mais preguiçoso da turma”, confessa. “Mas todo dia eu treinava alguma coi-sa. Havia competições nas escolas e foi então que eu decidi que que-ria aquilo de verdade. Sempre fui muito com-petitivo, então me dedicava para ser o melhor”.

ele e seus amigos não deixavam de praticar. “Nós treinavamos onde dava. Se tivesse um bom chão e uma tomada, lá estavamos”. Pas-saram pela rodoviária (até a polícia expulsá-los de lá), pela praça rui Barbosa, e até já pularam o muro da escola para dançar lá den-tro (com conhecimento da

diretora, segundo ele). O tempo foi passando e seus amigos desistiram da dan-ça. Alguns tiveram filhos, outros se perderam no trá-fico de drogas, um foi pre-so, o outro se casou. ma-jor não desistiu, continuou dançando.

O garoto evoluiu tan-to que passou a participar de campeonatos regionais. Viajava para competições e eventos, trocava experiên-cias com pessoas de vários estados e até de outros paí-ses. e tanto esforço só pode-ria lhe render grandes frutos: em 2010, recebeu o convite da Cia. De Dança WaziMu! para fazer parte de um es-petáculo chamado Primatas

– do velho ao louco mundo. “Foi incrível pra mim, sem-pre admirei o WaziMu! e es-tar junto de alguns dos me-lhores dançarinos do Brasil, e até do mundo, foi muito marcante”.

Logo em seguida, foi convidado a fazer parte do

grupo em que dança até hoje. ele conseguiu es-paço para treinar na aca-demia sigma de Dança, e as vitórias não param por aí: hoje, major faz parte de projetos como o Wise Madness, que trabalha o lado espiritu-al dos jovens através da arte, cultura e esporte e também princípios cris-

tãos. Faz parte, ainda, de um grupo de Hip Hop chama-do Tijolo Crew, que envolve não só o breaking, mas tam-bém o grafite, MC e DJ, e do grupo chamado Bauru Bre-akers, e tem um novo proje-to onde trabalha com vários bailarinos de outros tipos de dança, o T.W.A.B – Together we are better (Juntos somos melhores). Não é para qual-quer um.

‘‘‘‘

Cresci ao lado da droga e de muita coisa

ruim, mas eu fiz a minha es-colha: a dança

MAJOR

breaking

C

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Revista H2 09

‘‘‘‘

um papel importante do Hip Hop nas periferias é tirar as crianças e os jovens da rua para, em troca, fornecer cultura de qualidade, aliada a edu-cação e diversão. major cresceu na periferia, onde teve contato com as drogas e a criminalidade. ele não esconde a alegria em dizer que a dança foi sua salvação: “Eu cresci ao lado da droga e de muita coisa ruim, mas fiz a minha escolha: a dança. Sempre que eu pensava

em entrar nesse mundo, falava: não, a dança é mais importante”.

Hoje, o rapaz dá aulas para mais de 20 crianças na ONG Periferia legal, trabalho que ele define com uma palavra: or-gulho. ele conta que, quando recebeu o convi-te da ONG para dar au-las, ficou com receio de não saber ensinar. mas se enganou, já que, se-gundo ele, foi mais fácil do que imaginava. Para o professor, cada criança é

um motivo para continu-ar: “É muito gratificante ver as crianças evoluindo e tendo a dança como uma influência cultural legal para a vida deles. Me vejo em cada aluno”.

além do prazer em dar aulas, major comenta a importância dos projetos sociais nas periferias. “Eu vivo em uma periferia e sei o quão impactante o Hip Hop é na vida de cada criança. acredito muito na transformação social através da arte e

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Bauru Breakers Crew: Kustelinha, Lucas Yalahar, Major e Victor Soares

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Revista H2010

da cultura. muita gente critica, acha que é boba-gem, mas é porque não vêem crianças de 8, 9 anos vivendo em luga-res infestados pelo tráfi-co de drogas”, afirma.

históriaO breaking nasceu

em meados dos anos 70 no Bronx, bairro de negros e hispânicos em Nova York. O grande responsável pelo estilo foi Kool Herc. a dança de rua recebeu várias influências, entre elas um pouco de funk, afro e o balanço de danças latinas. e para praticá--la, não basta ter suin-gue - os passos exigem muita força, energia e criatividade.

O breaking repre-senta a manifestação corporal do Hip Hop, e tem esse nome porque os praticantes dançam na “quebrada” da mú-sica. No estilo, não são só os pés ou as mãos

que se movimentam, é o corpo todo - e também o intelecto. Para major, mais do que dança, o breaking é estilo de vida. “Hoje, o breaking é meu trabalho. eu danço em apresentações, dou aula, tiro meu sustento da dança. Sou competidor também. Já viajei pra vários lugares do Brasil, já fui pra Venezuela”.

Com o tempo, veio à tona a tradição das “batalhas” de dança. A competição era dispu-tada por gangues rivais do Bronx. Dois grupos eram colocados frente a frente e cada batalha durava seis minutos. esse formato foi mo-dificado, mas ainda há grandes campeona-tos pelo mundo todo. Ganha quem dançar melhor, de acordo com os juízes. O grande desafio é ser mais cria-tivo que o oponente, e os movimentos bem executados também

contam pontos. Tudo depende de muita habilidade, e uma série de critérios podem ser avaliados, como a pre-sença de palco, a músi-ca escolhida e a dificul-dade dos movimentos.

breaking nelesLevar solidariedade e educação aos jovens de Bauru: é esse o objetivo de um trabalho realiza-do no bairro Beija-flor, periferia da cidade. a “Organização Não-Go-vernamental” Periferia Legal tem o intuito de afastar as crianças do mundo do crime. Na sede do projeto, localizada na rua afon-so Forrenti, 240, são ministradas aulas gra-tuitas de dança de rua, técnicas de DJ, e tam-bém sessões de cine-ma. O local ainda conta com uma mini biblio-teca, com a finalidade de estimular a leitura entre as crianças.

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“Bboying é meu estilo de vida. Sou bboy quando acordo, quando estou trabalhan-do, quando estou em qualquer lugar. Está em tudo para mim, na maneira de me vestir, de me comportar, de pensar. O breaking sou eu, e eu sou o breaking.”

MAJOR

Revista H2 011

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Freezes: nesses movimentos, o bboy fica imóvel em uma posição de difícil exe-cução. É, muitas vezes, o auge da apre-sentação. Em uma batalha, quanto mais difícil a posição, maior a nota dos juízes.

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Revista H2014

DuAs VEzEs POr Mês rola no bosque do Geisel o projeto ensaio, organizado pelo Ponto de Cultura acesso Hip Hop. Tudo é bem simples: o DJ solta a base e quem

quiser pega o microfone e lança sua ideia. Sempre aos sábados, no fim da tarde, começo da noite, sem uma hora exata pra começar.Durante a tarde, ainda antes das rimas, o pessoal vai chegando ao bosque enquanto a aparelhagem começa a ser montada. reencontros, conversas, cigarros, risadas. “É sempre assim, aqui todo mun-do é amigo e um fortalece o outro, todos da paz”, comenta Felipe Canela, DJ.

Durante uma das vezes em que fui acompa-nhar o evento, um grupo me chamou a atenção, o mentes Blindadas, aqui mesmo de Bauru, formado pelos MCs Dentão e Dharlis. Enquanto Dentão usa sua nova camisa do Corinthians (“libertadores é

nossa, rapaz”), Dharlis exibe suas tatuagens do Palmeiras e da Mancha Verde (“Ano que vem a gente mata os gambá na Liberta! Fica liga-do moleque”).

O clima é de total descon-tração entre os dois, nomes importantes na história do rap bauruense. Mas, os “ini-migos no futebol, amigos na vida” não me chamaram atenção somente pelas pre-ferências futebolísticas, mas pelo que cantaram.

“Enquanto os manos da-vam um tapa no beque, eu já tava ali sentado na brisa,

FIM DE SEMANANO BOSQUE

“É da hora porque aqui na quebrada a gente conhece todo mundo. Aqui é um lugar de lazer e trazemos o rap pra cá. Te-mos que usar o espaço pra isso aí mesmo, pro bem, pro Hip Hop, pra orientar a molecada”

MC Dharlis, Mentes Blindadas

texto e Fotos João paulo monteiro

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Além do rap, basquete também é opçao de lazer no bosque

no meu rap. Então fiquei de boa, tô legal, tô firmão, tô a pampa. a brisa que eu tô, é mais louca que essa daí, essa é diferente, nem vende por aqui. e não dá pra plantar, porque não tem semente, é diferente, cresce na minha mente, se é que você me entende. Ás vezes brota e sai um som, Deus é o agricultor dono do meu dom, me faz saber viajar consciente, pra mim não viajar clandestina-mente, porque eu tô ligado que rap é viagem, e quem me passou a caminhada foi o sabotage.”

Conscientização. É isso que buscam com suas le-tras. “Apesar do preconceito que o rap sofre, já que muitos acham que só tratamos de temas como vio-lência e drogas, continuamos rimando. Falamos sim de violência, de drogas, mas dos males que causam. Não existe apologia, somos totalmente contra”.

em outro sábado, me chamou a atenção o sentimento de união daqueles que fortalecem o movimento. Como canta Coruja BC1, “a união faz mais que açúcar, e rap é mais que hit, se liga, presta atenção, que é Bauru City”.

“Estou falando pela voz do gueto, falo sim, não tenho medo”. Com esse espírito, assumiu o micro-fone mC Jal. era sua primeira vez. Vindo do bairro Ferradura mirim, o jovem de 21 anos sentiu a pres-são de estar frente a frente com nomes que fizeram a história do rap bauruense. errou a letra, parou, baixou a cabeça e pediu desculpas aos seus mestres e ao público.

cobertura

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Revista H2016

Mentes Blindadas:

rap bauruense de qualidade

Prontamente, Dharlis pu-xou uma salva de palma e gri-tos de incentivo. mC Jal, agora cheio de confiança, pediu pro DJ soltar novamente a base.

“Morador de rua morre de frio, fome e sede, uns morrem queimados, outros no porre-te. Não entende o que estou falando? Vai ler jornal, veja o que estão anunciando.

Playboy de madruga-da en-

che a cara, ri que nem gaze-la, tira a favela. sabe inglês, até espanhol, faz natação, joga tênis e futebol. En-quanto isso num farol, vejo um moleque, queimando no sol, vendendo chiclete”.

No fim, MC Jal deixa uma mensagem: “não tenho o melhor carro nem o tênis mais caro, mas eu tenho ati-tude. Faço revolução através das palavras. É muito fácil reclamar e ficar parado. Não inveje nenhum playboy nem sinta vergonha da sua vila, da sua cultura, da sua co-

munidade. Pelo contrário, sinta orgulho da sua origem, por mais difícil que ela te-nha sido. Nunca se esqueça de que unidos vamos fazer a revolução”.

e é assim que o rap se manifesta no bosque do Geisel. um lugar normalmen-te calmo, com crianças brin-cando e famílias passeando, mas que, duas vezes por mês, recebe caras que querem protestar com a voz, que se opõem ao sistema. São bau-ruenses que clamam pela fé, querem proteção às crianças, lutam contra as drogas e o tráfico e pregam a igualdade, uma sociedade sem racismo e sem preconceito.

MC Jal: nervosismo na estreia do rapper do

Ferradura Mirim

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Revista H2 017

NOVIDADES

Não chegou para ser mais um

Com mensagens de paz e de superação, D´Bronx lança o álbum “Pra quem não desistiu” trabalhando o mais do mesmo, mas com sua marca no que diz respeito à letra e melodia, demonstrando personalidade. Por meio de seu som, o rapper traz palavras de incentivo no me-lhor estilo “se tu lutas, tu conquistas” de sNJ.

Neste segundo álbum solo, o bauruense canta sua trajetória pessoal e profissional, abrindo uma lacuna de esperança para a juventude em desalento com a atual situação econômico-social.

Com a participação de Jessé Pedra, Josiel rusmont, Thigor, lito Atalaia e Nene, “Pra quem não desistiu” é um álbum que se apoia na fé em Deus. Apesar de não focar, especificamente, em uma religião, D´Bronx mostra sua confiança em uma força maior e, através de sua experiência de vida, chama a atenção para a importância de um apego para superação de obstáculos.

Pelo visto em seu som, esse rapper ainda nos brindará com novas músicas e com sua mensagem inspiradora em um futuro não mui-to distante. Que sua luta continue!

por HENRIQUE GASPARINO

Pelo Facebook, rap Nobre MC lançou sua mais nova música, “É Possível”. Para escutar, é só acessar a fanpage do cara! Curte lá! www.facebook.com/rapNobreMC

Também pela rede social, a galera do Tijolo Crew disponibilizou para down-load “Mais um ano se passou”, do MC JF com produção de Felipe Canela.www.facebook.com/TijoloCrew

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Revista H2018

Foto

: Gua

íra M

aia

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DOis MCs FreNTe a FreNTe. Dois rounds de trinta segundos e o tema é livre. Quem dá o veredicto é o público, à moda antiga, pelo barulho. assim são as rinhas de mC.idealizadas por Criolo Doido em 2006, têm na figura de Emicida seu maior vencedor (14 vezes). O evento foi um dos responsáveis pelo boom do rap nacional e por sua maior aceitação pelo públi-co em geral.De forma independente, Criolo e Emicida são os líderes desta nova geração de rappers que recolocaram o estilo como um dos grandes no país, chamando a atenção da mídia e, desse modo, daquelas pessoas que antes só conheciam o gênero pelas músi-cas de fora que tocam nas rádios.

em 2010 emicida veio a Bauru para um show gratuito durante o Festival Canja, o resultado foi o Parque Vitória régia

lotado. Já em 2012 foi a vez de Criolo lotar uma casa de shows com velhos e novos fãs do rap.

“Hoje o rap é um movimento mais aceito, o preconceito tá diminuindo”, afirma Gus-

tavo Vinícius Gomes de Souza. Com apenas 18 anos, Coruja BC1, como é conhecido, é um dos rappers desta nova escola que vem se destacan-

do em Bauru, cantando sua rea-lidade e tentando, por meio de suas letras, transformar.Confira nas próximas páginas a matéria com o jovem rapper.

O RAP AINDA É DEDO NA FERIDA

Revista H2 019

pERFIL

texto João paulo monteiro

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F ilho de pais nor-destinos, o impro-viso do repente era algo constante na

vida de Coruja. Com o passar do tempo, conhe-ceu o rap, e logo com racionais mC’s e Planet Hemp. Desse modo o rap entrou na vida do jovem para nunca mais sair: “quando descobri o free-style, foi amor à primeira vista”.

O rap para Coruja é as-sim, além de paixão, uma forma de expressar a sua verdade, seus sentimen-

tos e sua vivência: “tento passar o que aprendi com meus erros, o que vejo do mundo e o que vivi, sem-pre tentando acrescentar alguma coisa na vida de quem me ouve”.

aos nove anos che-gou a Bauru. antes disso, já conhecia e fazia suas primeiras rimas, mas aqui na cidade é que ganhou o apelido que usa até hoje, acrescido posteriormente o BC1: buscando conheci-mento em primeiro lugar.

Bezerra da Silva, Nina Si-mone, Tim maia, Bob mar-

ley até Emicida. O respeito e o gosto pelos mais va-riados estilos musicais é a marca de Coruja, que bus-ca influências em cada um deles. Com apenas 12 anos começou a escrever suas letras, ao mesmo tempo em que dançava em gru-pos como Crew Panic Crew, Breakmon e Breamonster. em 2010, deu prioridade ao rap, com letras sentimen-tais e de desabafo. Temas como drogas, desigualda-des sociais e respeito são constantes nas músicas do rapper.

020 Revista H2

Foto

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rado

Dac

ax

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Revista H2 021

FamíliaCoruja não nega suas

origens nordestinas, mui-to menos tem vergonha do fato. emociona-se aos falar sobre seus pais: “não tenho o que reclamar da minha vida. Os treze anos que vivi com meu pai foram ótimos, era um senhor baixinho, negro, nordestino e batalhador. Tive uma mãe guerreira que fazia três trampos por dia, para que eu e minha irmã pudéssemos crescer, ter uniforme e uma calça pra usar”.

a admiração pela mãe está evidente no trecho: “Mãe, desculpa pelos tra-balhos que eu te dei, sei que não sou perfeito, mas tu és meu maior bem. Te

amo incondicional, guer-reira pra carai, não é qual-quer mulher que consegue criar dois filhos sem pai”.

Até surdo ouviuO trecho anterior é de

Não Posso murmurar, mú-sica presente na mixtape “Até surdo ouviu”, lançada no meio deste ano e pro-

duzida por Felipe Canela, Miez Beats, rodrigo Dakor e pelo próprio Coruja, com apoio do Ponto de Cultura acesso Hip Hop.

Todas as músicas do álbum são de autoria de Coruja. apesar de escritas durante uma fase dolorosa de sua vida, após a morte do avô e do pai, as letras

O vídeo de Não Posso Murmurar já ultrapassou a marca de 64 mil visualizações no Youtube

Zika Zuka Crew: da esquerda para a direita: Thigor, Coruja,

Dom Black, Felipe Canela, Miezbeatz e Vitor Felix

Con

rado

Dac

ax

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‘‘trazem mensagens positivas.e o jovem não canta sozinho.

a música Bauru City conta com a participação de Dom Black e tra-ta de modismos e produtos de marcas famosas em uma Bauru na qual a desigualdade social é gritante. Já em Liga os Colômbia, junto com MC Dentão, canta so-bre a repressão sofrida pelo usu-ário de maconha, enquanto polí-ticos cometem atrocidades com o dinheiro público.

A crew de Coruja, a zika zuka, também está presente na mixtape e no clipe Não Posso murmurar. Produzido por rafael Pesotto e Conrado Dacax e com apoio do Ponto de Cultura acesso Hip Hop, o vídeo já alcançou mais de 58 mil acessos no Youtube.

“Sozinho a gente nao consegue nada”

Coruja BC1 vinha tentando há anos gravar um álbum: “Dobrava meu joelho toda noite, pedindo ajuda para que Deus abençoasse e colocasse as pessoas certas na minha vida”. No começo deste ano o rapper participou e ven-ceu o duelo de rimas no “sarau de Arte urbana”, um evento que reuniu bboys, MCs, grafiteiros e outras artes integradas, realizado pelo Ponto de Cultura acesso Hip Hop. “Foi um dia muito aben-

Revista H2022

Foto

: Gua

íra M

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Revista H2 023

çoado pra mim, por ter ganhado a batalha e, a partir daquele dia conheci melhor o magu, o renato moreira, e hoje a gente trabalha junto e ele já faz parte da minha história”.

Com o clipe de Não Posso murmurar pronto, Coruja o enviou pelo Face-book para rodrigo Tuchê. O produtor gostou do que viu e convidou Coruja para a batalha rival Vs. rival, em Diadema. “Passei uma tarde na Casa do Hip Hop, foi uma experiência enor-me”, conta o rapper. re-alizado pelo grupo afro-Break, na ocasião Coruja ficou em segundo lugar, atrás do mC Luca.

O RAP“Acredito que a música,

principalmente o rap, é um material de transformação de vidas, algo que acres-centa muito na vida das pessoas e promove uma transformação social muito grande”. É com esse pensa-mento que Coruja compõe e canta suas letras. além de tentar passar algo po-sitivo para a vida das pes-soas, o protesto também é

uma marca do rapper, uma “revolta e indignação con-tra o sistema em si”.

Segundo Coruja, as humilhações são cons-tantes na vida dos pobres aqui no país, e isso causa revolta: “você nasce com a polícia batendo nos seus familiares, agredin-do a gente só porque a gente usa uma calça larga ou porque é negro e usa cabelo black ou trança-do. a gente cresce numa realidade de apanhar e

sofrer humilhações”.Como viveu tudo isso

na pele, Coruja canta com propriedade. Buscando identificação com o públi-co, canta para a periferia, para aqueles que se iden-tificam com sua música. mas sabe que seu público não é limitado: “se eu can-tar para alguém que não é daqui e puder acrescentar alguma coisa que melhore o caráter ou alguma outra coisa na vida desta pessoa, amém”, finaliza.

‘‘‘‘

O MC é um visionário,

sempre vendo o que está errado e

colocando o dedo na ferida

CORUJA BC1

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Revista H2024 Foto: Guaíra Maia

Page 25: Revista H2 ed.01

Revista H2 025

rap

O rAP HOJE EsTá EM EViDêNCiA EM Bauru. Claro que você não vê D’Bronx, Dom Black ou Coruja BC1 estampando uma capa de jornal nem sendo comen-tado no telejornal, mas isso importa?O movimento está mais forte do que nunca aqui na cidade. Novos nomes trazem novas rimas que arrebatam cada vez mais fãs. mas, para chegar ao nível que notamos hoje, tanto de aceitação, como de quali-dade, foi uma trajetória difícil para o rap. Confira nas próximas páginas um breve relato das origens do gênero, como ele chegou ao Brasil e a nova cara que de-mos a ele.

repórter da periferia

texto João paulo monteiro

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Revista H2026

Para entender a origem do rap, é preciso voltar no tempo e viajar

um pouco. Na década de 60, na Jamaica, eram co-muns as disco-mobiles, uma espécie de discote-ca ambulante, que eram colocadas nos guetos para animar os bailes. Com o aparelho, as fes-tas eram na rua mesmo.

Durante estas festas, assumiam o microfone os chamados toasters, con-siderados os primeiros mestres de Cerimônia. esses mCs discursavam seguindo o ritmo da mú-sica, levando conhecimen-to e críticas aos presentes. Assuntos como a violência nas favelas de Kingstom ou a situação política da Jamaica eram frequente-mente abordados.

Devido à crise econô-mica e social, muitos jo-vens deixaram a Jamaica rumo aos estados unidos na década de 70. entre eles DJ Kool Herc, que foi o responsável por levar para o Bronx, nos estados unidos, a disco-mobile e, junto dela, as festas.

Nas festas de rua es-tadunidenses foi se mis-turando o funk e o soul a diversos ritmos diferen-tes. a partir dai, come-çaram a despontar mCs e rappers cheios de dis-cursos de denúncia, até mesmo raivosos, muitas vezes influenciados pelos Panteras Negras.

Desse modo, com as rimas seguindo o ritmo da música, nasceu o rap, rythm and Poetry, em português ritmo e poe-sia. Assim, “ao vivo”, nos quarteirões pobres do Bronx, sempre à base do improviso. Keith “Cowboy” Wiggins e Grandmaster melle mel foram os pio-neiros desta manifestação cultural e artística.

Dos guetos as quebradas paulistanas

O rap, junto do movi-mento Hip Hop, chegou ao Brasil no início da dé-cada de 80. Não se sabe muito bem o que che-gou primeiro, se foram as músicas nas rádios, ou a dança com vídeos de Michael Jackson, mas

DJ Kool Herc, Keith “C

owboy” Wiggins,

Gran

dmaster M

elle Mel e Chuck D.

foram alguns nomes que

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ds

Page 27: Revista H2 ed.01

“Aqui no país, o Hip Hop foi

incorporado predominante pela

população negra das periferias.

Com o rap, este grupo social

passou a buscar uma maior in-

serção dentro da sociedade. As

tragédias e mazelas das grandes

cidades que afetam os pobres

viraram temas recorrentes nas

letras dos rappers, como pobre-

za, exclusão social, criminalidade,

violência policial e urbana. O rap,

como um movimento cultural

com viés político, visa uma au-

toexpressão, comunicação, pas-

sar uma mensagem de educação.

A música não se limita a entre-

tenimento, mas busca também

problematizar a realidade da qual

autores e público fazem parte”.

Célio José Losnak, historiador

o que importa é que o Hip Hop chegou aqui no país.

Foi difícil o início do rap por aqui, já que o próprio movi-mento Hip Hop optou por uma divisão. No começo, os jovens se reuniam na rua 24 de maio, em São Paulo, para dançar e cantar. Porém, devido às gran-des aglomerações e, com isso, várias perseguições por lojistas e policiais, estes jovens passa-ram a se reunir na estação São Bento de metrô. Foi na esta-ção que os “tagarelas” (como eram chamados os rappers) e os bboys se separaram, com o ponto de encontro dos dançarinos se deslocando até a Praça roosevelt.

Foi, portanto, na esta-ção São Bento que o rap se estabeleceu na cidade de São Paulo, ao som de la-tas, palmas e do beat box. Incorporado predominan-temente pela população negra, o rap foi ganhando a cara do povo brasileiro. Denúncias, mazelas so-ciais e tudo o que se pas-sa na periferia estava ali, nas letras dos rappers. Por isso o rapper é, muitas vezes, chamado de repórter da periferia, por retratar por meio da sua música tudo aquilo que vê.

O início foi conturbado. Mesmo assim, aliando as letras do rap com as batidas do DJ e o break, sem apoio

027Revista H2Foto

: Nat

halie

Grin

gold

João Paulo Monteiro

Page 28: Revista H2 ed.01

Revista H2028

algum da mídia e de gra-vadoras, grupos de rap faziam sucesso na capital paulista, o que resultou, no ano de 1988, no lança-mento da coletânea Hip Hop Cultura de rua. Im-portantes nomes do rap estavam ali, como Thaíde e DJ Hum, MC Jack, Códi-go 13 e O Credo. No ano seguinte, foi a vez do lan-çamento do primeiro volu-me de Consciência Black, que trouxe artistas como os racionais mC’s, Crimi-nal master e mC Gregory.

Em 1989, foi estabele-cido o MH2O, Movimento Hip Hop Organizado que proporcionava, além de oficinas e shows de rap gratuitos nas periferias paulistanas, as principais ideias para as letras, por meio de debates sobre questões raciais, sociais e políticas. No final da déca-da de 80, o rap já não era tido mais como um modis-mo, consolidando-se como trilha sonora da periferia, com letras cada vez mais conscientes e críticas.

a partir daí, o Hip Hop e o rap foram somente

crescendo em São Paulo e no país, mas se man-tinham ainda na “mar-ginalidade” da mídia e do grande público. Foi somente em 1997, com “Diário de um de-tento” do álbum Sobrevivendo no Inferno dos ra-cionais mC’s é que o gênero alcançou o topo das paradas pelo país. a músi-ca conta a história verídica do massa-cre no presídio do Caran-diru, em 1992, quando 111 presos morreram.

Mano Brown, Edy rock, Ice Blue e KL Jay foram, portanto, os principais responsáveis pela divul-gação do rap no Brasil. Desse modo, rappers que já há anos cantavam suas letras, passaram a ser reconhecidos fora das periferias também, como o próprio Thaíde.

muitos, na verdade a maioria, continuam até os dias de hoje lutando sozi-nhos. Sem qualquer tipo de ajuda, os rappers criam

selos independentes, gra-vam seus próprios álbuns, divulgam no boca-a-boca seus shows e vendem seus próprios CDs.

mesmo assim, o rap hoje está incorporado ao cená-rio musical brasileiro, tendo saído da periferia e vencido preconceitos, ganhando o grande público. Dezenas de álbuns de rap são lançados anualmente, porém, apesar de vários estilos diferentes dentro do rap, o gênero não perdeu sua essência de de-núncia, seja das injustiças ou como vivem os pobres das periferias brasileiras.

Thaíde

Foto

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ulga

ção/

TV B

and

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Desde que se estabeleceu nos

EUA, nos anos 70, numa violenta

Nova Iorque, o rap impôs a discus-

são de questões negras. Os Esta-

dos Unidos viviam então a ressaca

de conflitos raciais que incluíram

desde o pacífico movimento pe-

los direitos civis de Martin Luther

King até a militância armada dos

Panteras Negras. No Brasil, o deba-

te realmente se intensificou após

a projeção do grupo americano

Public Enemy, na segunda metade

dos anos 80. Seus clipes mos-

traram um novo mundo de ideias

para os rappers do país. Grupos

tradicionais de São Paulo como

Racionais e DMN admitem Chuck D

& Cia. como influência. Malcolm X

e Martin Luther King tornaram-se

leitura de cabeceira.Martin Luther King e Malcolm X

Revista H2 029

Foto: Marion S. Trikosko

Foto: Carolina Sauceda

“A Rua é Noiz”Emicida

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Revista H2030

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Revista H2 031

assiM COMO NA CAPiTAl, aqui em Bauru o Hip Hop só se firmou no fim da década de 80 e começo dos anos 90. Antes disso já havia alguns rappers e bboys, mas somente por meio dos bailes do icaraí, Flashdance, skinadan-ce e do Bancários, que tocavam rap, é que o movimento foi ganhando força.as músicas de mC Pepeu, Ndee Naldi-nho, MC Jack, Código 13, irmãos Me-tralha e Black Júnior, além dos gringos Afrika Bambaataa, Grandmaster Flesh, Onyx, Public Enemy e Kurtis Blow ani-mavam as noites dos bauruenses.

o rap sem limites

BAURUFoto: G

uaíra Maia

texto João paulo monteiro

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Revista H2032

‘‘‘‘Cara, sabadão todo mundo que-ria dançar na pista de dança iluminada da Flashdance e, no domingo, era Bancários e, logo

depois surgiu o skinadance que era rap mesmo e ali, no começo dos anos 90, foi desenvolvido algo legal”, comenta o saudoso Aubre idesti, o DJ Ding, um dos pioneiros do rap em Bauru.

Se nessa época já era difícil, antes era pior. O rapper ricardo Dias, o Pica Pau, comenta o quanto era complicado: “o Hip Hop co-meçou na minha vida em 1986. A gente não tinha muitos recursos e o que a gente ouvia era pela rádio, a 96, mas a explosão foi com Thaíde e DJ Hum. Pergunte pra qualquer um, você vai ver que não tinha como, tocava nas FMs, era muito legal. Mas, as dificuldades eram muitas, começavam pelo lugar para tocar, porque não tinha. aí passava pra parte da tecnologia. Os discos de base eram os mesmos pra todo mundo, então era maçan-

te fazer música igual os outros”.Foi então no começo dos anos 90 que

surgiram os primeiros grupos de rap da cidade, como o extermínio mCs, Cons-cientização rap, Impacto Frontal, Socie-dade Feminina e o Desacato Verbal. Este último, responsável pela gravação do primeiro LP de rap do centro-oeste pau-lista, o Desliga Essa P..., em 1993.

DJ Ding, do Desacato Verbal, comen-ta que no começo era tudo muito difícil e diferente do que é hoje: “Começamos aqui em Bauru em 89, 90. Era eu e o Tu-

‘‘‘‘

A gente saía de Bauru,

pegava o trem e ia pra Sao Paulo para

curtir os bailesDJ Ding

Desliga Essa P..., álbum lançado em 1993 pelo Desacato Verbal

Conrado D

acax

Repr

oduç

ão

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033

thão, e a gente começou a correr junto, ele de Pira-tininga e eu aqui de Bauru e assim, sem aparelhagem nenhuma. Só gostando de rap e boa. O primei-ro mixer foi um radinho am/Fm que um técnico em eletrônica soldou uns cabos e fizemos”.

O palco para as festas normalmente era na Praça rui Barbosa. Desde o co-meço, os meios de comu-nicação tradicionais deixa-vam de lado o movimento. a divulgação era feita no corpo-a-corpo mesmo, um indo até a casa do outro e anunciando a festa.

“A praça foi o primeiro lugar que teve um mo-vimento do Hip Hop, no coreto. eram umas minas

can-tan-do, al-tos caras tocando. Lembro da Sociedade Femi-nina, efeito Frontal, muita coisa legal. e, pra nós, era uma coisa muito nova. Durante a semana era assim, de segunda a sexta trabalhando e, no sábado, rolê na Batista de Carvalho, que era o ponto

‘‘‘‘

O Hip Hop pra mim é filosofia de vida, é o es-tilo que escolhi pra mim em

qualquer lugar que eu estiver

PICA PAU

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a

Coreto na Praça Rui Barbosa,

no Centro de Bauru

Revista H2

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‘‘‘‘

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de encontro com o os ami-gos”, lembra Pica Pau.

a consolidação mesmo do movimento, segundo o rapper Pica Pau, se deu quando os racionais vieram para Bauru. Foi em 1990, no clube dos Bancários. e, ain-da no clube é que o pessoal se reunia na chamada “Hora do Peso”, quando os bboys tomavam a pista.

O movimento só passou a ganhar certo destaque na mídia em 1999, com o som das ruas na rádio unesp Fm e o Voz da Periferia na undertech FM. Dois anos depois, em 2001, nasce o Núcleo Cultural Quilombo do interior. O projeto surgiu quando algumas pessoas perceberam que o Hip Hop em Bauru era forte, mas

não era organizado. Durou até 2006 e tinha como um dos objetivos a profissiona-lização de mCs, por meio de oficinas gratuitas.

O fim deste projeto talvez se deu pela queda do rap e do movimento Hip Hop em Bauru. e a causa foi a violência. To-cando outra vez na cidade, os racionais mC’s viraram notícia no caderno de polícia em 2005. Duran-te o show, um jovem de 19 anos foi morto em um tiroteio no meio do salão. Logo depois da abertura com a música “Jesus Cho-rou” os disparos foram ou-vidos. mano Brown pediu para que os presentes fi-cassem calmos e para que o corpo fosse conduzido

‘‘‘‘

Depois dessa morte, parou o Hip Hop. Nessa época atuava como oficineiro e tinha 40 alu-nos só no Vila Dutra. Foram 34 pais que me procuraram e me cobraram: como eu falava que Hip Hop é compromisso e de repente

acontece uma coisa dessa?PICA PAU

Revista H2034

Conr

ado D

acax

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ção

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Revista H2 035

até o palco. Num ato de fé, o rapper rezou o Pai Nosso e pediu proteção ao jovem baleado.

Hoje o Hip Hop voltou a figurar entre os princi-pais gêneros na cidade. um dos grandes responsá-veis é renato moreira, o magu. ex-diretor presidente do Quilombo do Interior, hoje ele está à frente do acesso Hip Hop. em abril de 2011, graças à Lei de Incentivo a Cultura, foi criado o Instituto acesso Hip Hop, um braço do Instituto acesso Popular, este criado em 2006. Além de oferecer oficinas, o Ponto de Cultura abre possibilidades efetivas para os artis-tas do Hip Hop, produzindo e gravando músicas e até mesmo clipes para rappers da cidade.

além do acesso, o coletivo de artistas Somos um e a ONG Periferia legal também realizam ações na cidade que visam um fortalecimento, não só do rap e do Hip Hop, mas buscam também potencializar a qualidade de vida da população da periferia e a promoção da cidadania.

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Revista H2036

mocinha?vilã ou

matéria especial

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037

os dois lados da

maconhaF AlAr EM MACO-

NHa é gerar po-lêmica. Há quem diga que a droga

mata neurônios, e tem também os que lutam pela legalização. ela apa-rece em qualquer lugar do planeta, e não há um sequer onde não haja divergências nas opiniões. Afinal, a droga é ou não uma vilã? a revista H2 foi conferir!

O QUE É?maconha é o nome

dado aqui no Brasil a uma planta chamada cientifica-mente de Cannabis sativa. Planta herbácea de clima quente e úmido, é originá-ria da Índia. Os primeiros relatos da erva no Brasil datam do século XVIII.

estima-se que a ma-conha contenha mais de 400 substâncias químicas,

das quais 60 se classificam na categoria dos “canabi-nóides”. De acordo com o Instituto Nacional da Saúde, sua principal substância psicoativa é o THC - tetrahi-drocanabinol, substância mais associada aos efeitos produzidos no cérebro.

No organismoao fumar maconha, o

THC passa pelos pulmões, onde é absorvido e, em minutos, cai na corrente sanguínea, quando chega até o cérebro. Os recep-tores atingidos se concen-tram em lugares diferen-tes, como no hipocampo, cerebelo e gânglios ba-sais. esses receptores estão ligados, sobretudo, a funções de importância em diversos processos fisiológicos, tais como regulação do metabolis-mo, ansiedade, função

imunitária, coordenação, aprendizado e soluções de problemas. Devido às suas propriedades, os canabinóides podem produzir efeito analgésico, de relaxamento muscular, melhora de humor, es-timulo de apetite, entre outros fatores.

boa x máOs efeitos colaterais da

droga podem ser físicos e psíquicos, e sua ação depende de cada organis-mo. Fisicamente, as con-seqüências imediatas mais comuns são olhos aver-melhados, boca seca e ta-quicardia (coração dispa-rado). Quanto aos efeitos adversos psíquicos, para algumas pessoas o uso da maconha pode causar an-gústia, ansiedade e medo. Pode acontecer também a perturbação da capacida-

Texto Juliana Prado

Page 38: Revista H2 ed.01

de de calcular o tempo e espa-ço, além do prejuízo na atenção. O consumo interfe, ainda, na capacidade cognitiva do indivi-duo, de concentração, memória, iniciativa e outras funções ce-rebrais, além de causar desmo-tivação para as atividades do dia a dia. A droga não “destrói neurônios”, como se costuma dizer, mas suas toxinas alteram o funcionamento destas células.

mas, para muitos, o uso da maconha causa sensação de bem estar, seguida de calma, relaxamento e riso imotivado. No livro de Fernando Gabeira, o autor diz que “a maconha leva a um estado contempla-tivo. Independentemente da presença de espiritualidade, é uma experiência humana para muitos indispensável”.

Segundo alguns médicos, a droga apresenta menos danos

à saúde do que as drogas líci-tas, como o cigarro e o álco-ol – não se sabe se por uma questão química ou apenas quantitativa. Se forem anali-sadas as proporções, o uso do “baseado” costuma ser espo-rádico, enquanto um fumante de cigarros de nicotina pode tragar mais de 2 maços por dia, e um alcoólatra, ingerir litros de bebida alcoólica.

mas um risco deve ser leva-do em consideração: a questão da dependência psicológica. segundo o médico Dr. ricardo Caponera, “esse é o grande perigo da maconha. Nesses casos, o corpo desenvolve uma tolerância, acostuma-se ao efeito daquela substância. aí o prazer diminui, e o usuá-rio acaba procurando drogas mais potentes, como a cocaína e o crack”.

* Nenhum mal sério à saúde foi comprovado pelo uso esporádico da maconha;* O vício da maconha é muito mais psicológico do que farmacológico;* Não são conhecidos casos de abstinência causada pela maconha;* Não são conhecidos casos de câncer de pulmão pelo uso da Cannabis (já o cigarro de nicotina é a maior causa da doença).

SAIBA MAIS

Revista H2038

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usos medicinaisa maconha foi, por muito tem-

po, utilizada como “remédio”. Na China, servia como analgésico, an-tidepressivo, antibiótico e sedativo. a erva foi citada na primeira far-macopéia (livro de medicamentos) conhecida no mundo, cerca de dois mil anos atrás. mas a droga tam-bém foi utilizada, por muitos, para fins não-médicos, principalmente como “causadora de risos”.

muitos acreditam que os efeitos negativos superam os positivos, mas os pontos nocivos da maco-nha não estão totalmente compro-vados. Por conta disso, algumas pessoas lutam pela legalização da droga no Brasil. em alguns estados norte-americanos, o uso medicinal da maconha é legalizado.

Segundo o médico psiquiatra Dartiu Xavier (ao lado), em entrevista à TV uOl, seu uso pode aliviar dores de quem sofre de esclerose múlti-

pla. Nos estados unidos, em vários estados o uso é liberado e a droga é usada com bastante freqüência para este fim, entre outras utilidades mé-dicas. existe, portanto, um potencial terapêutico da maconha conhecido e comprovado por pesquisadores.

Mas, para o Dr. ricardo Capo-nera, o uso da maconha para fins medicinais é “bobagem”. Ele con-firma seus efeitos terapêuticos, mas explica que hoje há fármacos mais eficientes no tratamento das enfer-midades que poderiam ser tratadas com a Cannabis. No caso do com-bate à náusea, por exemplo, o mé-dico explica que a potência da dro-ga seria a mesma do medicamento Plasil, vendido em farmácias.

Dartiu Xavier, médico psiquiátra e especialista em

dependencia química

Revista H2 039

Masao G

oto Filho

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Revista H2040

AFINAL, POR QUE É PROIBIDA?

Foi esta a pergunta que fiz a mim mesma enquanto escrevia este texto. É proibida porque faz mal? mas há tantas coisas que fazem mal! Parece que não é bem assim. a guerra contra essa droga foi causada mui-to mais por fatores culturais, econômicos, raciais e morais do que propriamente por seus danos ao organismo.

a maconha surgiu há sécu-los: há quem diga que oito mil anos atrás, outros garantem que não passa de cinco mil, e talvez não seja possível definir precisamente quando a Canna-bis entrou para a História. Nos primeiros anos do século XX, a droga era liberada e utiliza-da para fins medicinais. Mes-mo assim, era vista de forma preconceituosa. No Brasil, era fumada nos terrenos de can-domblé. Na europa, estava associada a imigrantes árabes e indianos. Nos estados unidos, muitos dos fumantes eram me-xicanos que iam para o país em

busca de melhores condições de vida. a droga esteve sempre associada às classes marginali-zadas.

Em 1920 foi decretada, nos estados unidos, a Lei Seca, também conhecida por The Noble experiment, que proibia a venda, fabricação e trans-porte de bebidas alcoólicas. “A proibição do álcool foi o estopim para o ‘boom’ da ma-conha”, afirmou o historiador inglês richard Davenport-Hines em seu livro The pursuit of Oblivion (A busca do esqueci-mento, ainda sem versão para o Brasil). Com a dificuldade para conseguir bebidas alcoó-licas, a maconha passou a ser mais procurada.

É neste momento que entra na história Harry Jacob anslin-ger, comissário do Serviço de Narcóticos dos estados unidos, um homem conhecido por lu-tar pela proibição da maconha. Na verdade, estavam por trás de sua “luta” algumas questões

Page 41: Revista H2 ed.01

econômicas: a Cannabis es-tava derrubando a indústria de papel, já que servia como matéria prima mais barata do que as madeiras.

anslinger fez com que passassem a ser divulga-dos alguns “mitos” sobre a droga (como, por exem-plo, que a maconha in-duzia a sexo promíscuo), e, baseado nos boatos, o estado passou a proibi-la. e o trabalho dele não pa-rou por aí: Harry fez ques-tão de espalhar as “infor-mações” a outros países, e não demorou para que as leis chegassem ao Brasil e também à europa.

O avanço da droga so-bre a juventude aconteceu mesmo na década de 60, e influenciou na decisão dos países sobre manter a proibição. esse período marca o “encontro” da ma-conha com a classe média – antes disso, a influência

da droga concentrava-se entre pobres e negros.

descriminalizaçãoa Lei Seca nos estados

unidos foi desastrosa. esti-mulou a criminalidade, surgi-ram alguns usos “estranhos” do álcool (foi o único mo-mento da história em que se registrou o uso injetável da substância), houve aumento no índice de violência, entre outros problemas.

Na opinião do médico Dartiu Xavier, não se pode criminalizar o individuo pelo uso de uma substância, a penalização apenas piora a situação. ele acredita que esse tipo de medidas proibi-cionistas causam muito mais danos ao usuário do que a própria substância.

Além disso, para o Dr. Caponera, o uso “não-oficial” da maconha estimula o tráfi-co, e “este sim é um proble-ma para a sociedade”.

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“O que me cativou foram os muros. A ocupação e transformação da cidade, o preenchimento de espaços vazios. Parece que a cidade é nossa”Celso Oliveira

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poesiade rua

grafite

COrEs, TrAçOs, FOrMAs E DE-SIGN tomam conta do cenário ur-bano. Os grafites se apresentam como um diálogo entre o artista e a rua, entre o muro e o espectador. uma nova impressão é formada a cada pessoa que passa e inter-age com a pintura. Imagens mod-ernas estampadas nos muros das cidades mostram a continuação de uma prática que vem dos tempos da pedra: a arte de escrever nas paredes, deixar sua marca, grafitar. Afinal, foi este o vestígio mais rico e fascinante que o homem deixou através do tempo: suas manifesta-ções artísticas.

Texto e fotos Juliana Prado

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o dom de transformar spray em arte

O grafite teria surgido, da maneira como conhecemos hoje, por volta de 1968, junto com o movimento da contracul-tura, quando os muros de Paris foram utilizados para a estampa de inscrições poéticas. a técnica se desenvolveu, ganhou novos significados e, em questão de tempo, se espalhou pelo mundo. Nos Estados unidos, o grafite despontou e se consagrou como linguagem artística em 1980, junto com o movimento Hip Hop. Para o Brasil, veio com ares norte-americanos, e se instalou no fim dos anos 80, mas já con-quistou sua identidade por aqui – foi abrasileirado e hoje garante seu espaço, expõe nossa cultura e segue em constante evolução.

a rua é um museu aoar livre

Celso Oliveira é estudante e grafiteiro há cerca de 6 anos. O interesse pelo grafite começou ainda na escola, quando cursava a sexta série. O primeiro contato com a arte foi mesmo nas ruas,

onde, a caminho da escola, ob-servava “novos muros” a cada dia. Depois, vieram oficinas e cursos, que só aumentaram sua vontade de pintar. “Fiz curso de desenho, mas sempre pensando em colocar aquilo nos muros. E fiz uma ofici-na cujo nome era ‘Lixo arte’, tam-bém relacionada a grafite, mas que englobava serigrafia, fotogra-fia, música e xilogravura. Acabei me apaixonando por todas essas linguagens”, conta Celso. Com as mãos sujas de tinta, ele fala sobre o prazer de pintar e interferir no dia a dia da cidade: “O que me cativou foram os muros. a ocupa-ção e transformação da cidade, o preenchimento de espaços vazios. Parece que a cidade é nossa”, comenta. Seu primeiro contato com a arte foi através do grafite, e apropriar-se dos espaços urbanos acabaria mudando seus rumos para sempre, já que o dom não ficou só nas ruas: há três anos, Celso decidiu fazer das artes, sua profissão. Hoje, ele estuda Edu-cação artística na universidade estadual Paulista.

044

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nada de pichação ou vandalismo, estamos falando de arte

Por muito tempo, o grafite esteve associada a uma conotação negati-va. O fato de ser ligado à pichação tornou-o objeto de combate pela socie-dade. O grafite foi visto como um assunto sem importância, ou mesmo contravenção, e perma-neceu por um longo pe-ríodo à margem do que conhecemos por arte. mas essa concepção vem se transformando. Não apenas por ser uma for-ma de manifestação ar-tística, mas também por

sua importância social. atraente para os jovens, a arte de rua funciona, em diversos locais, como uma importante ferra-menta na reintegração de crianças e adolescentes na sociedade.

o grafite veio para democratizar a arte

atualmente, é reco-nhecido e considerado uma forma de expressão incluída nas artes visuais e urbanas, e distancia-se, pouco a pouco, do con-ceito de pichação. e, se alguém ainda duvida des-sa transformação, saiba que a técnica conquistou

um espaço no museu de Arte Contemporânea de São Paulo, quando foram expostos 60 trabalhos de artistas brasileiros e italianos. O Museu foi o primeiro do país a incor-porar o grafite. “A arte contemporânea tem se influenciado pelo grafite. são muitos grafites que incorporam a sua obra, elementos que são ni-tidamente oriundos do espaço urbano”, afirmou Fábio magalhães, curador da mostra.

Quando está criando, o artista usufrui dos espaços públicos para interferir na cidade à sua maneira. e a

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pintura que às vezes passa despercebida aos nossos olhos na correria do dia a dia, há de ser muito mais que uma simples tin-ta no muro. “Como qualquer outra mani-festação artística, um bom grafite tem que comover de alguma maneira. Tem que arrepiar, extasiar, fazer você sentir, mudar

o seu olhar. Tem que ter sentimento”.Se é para chamar a atenção, o local

escolhido não poderia ser mais estratégi-co: muros, objetos cuja finalidade não é a arte. e as ruas se tornam um museu a céu aberto, por onde passam, todos os dias, milhares de olhares à espera de sentir.

Com o grafite, alguns artistas já voaram alto. É o caso dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos. A técnica en-trou na vida dos caras em 1986, quando viviam na região central de São Paulo e a cultura Hip Hop chegava nas terras tupiniquins. Os jovens começaram a pintar suas ideias nos muros, e logo começaram a construir seu estilo. Como não existiam acessórios próprios para a prática, eles improvisavam com tinta de carro, látex, spray e usavam até bicos de desodorante para moldar seus traços. Em 1993, quando o artista plástico e grafiteiro Barry Mgee veio ao Brasil para realizar uma exposição de arte contemporânea, a du-pla viu que poderiam viver fazendo o que tanto gostavam. Dois anos depois, realizaram uma ex-posição no mIS – museu da Imagem e do Som - de São Paulo. mas a vida como artistas plásti-cos só despontou em munique, alemanha, a convite de Loomit, grande nome do mundo da street art, que descobriu os brasileiros em uma revista sobre o tema. e foi esse o pontapé inicial para exposições em são Francisco e Nova York, onde suas obras ganharam espaço no mercado de arte contemporânea. Os Gêmeos passaram a levar suas criações para muito além das ruas e hoje têm obras espalhadas por todo o mundo!

os gêmeos

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Divulgação

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GALERIAVários são os grafiteiros que colorem os cinzentos muros da cidade. É o grafite tomando conta de Bauru.

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vale a pena tentar?Parque Vitória régia é depredado após revitalização e cidade fica dividida: de um lado a arte, do outro o piche

TextoNathalia Boni Colaboradora

TODOs Os DiAs, o Parque Vitória régia recebe inúmeros ciclistas, crianças brincando e soltando pipa,

homens e mulheres caminhando, jovens fazendo malabares e outro tipo de ativi-dade. Aos finais de semana esse número aumenta ainda mais e o local é palco de diversas manifestações culturais. O parque, no entanto, ainda é alvo de pi-chação e sujeira. até quem não é daqui percebe como o vandalismo invadiu uma

área tão nobre da cidade de Bauru.Para tentar mudar esse quadro, em

setembro deste ano, estudantes da Fa-culdade de engenharia da unesp organi-zaram, juntamente com a Secretaria do Bem-Estar social, o evento “Ao Vivo e Em Cores”, projeto de revitalização que deu uma cara nova ao Vitória régia. as arqui-bancadas e as pétalas que ficam ao redor do palco foram pintadas, atividades recre-ativas, como a confecção de pipas e ma-

Contra pichações, fotógrafo bauruense Jucivaldo Passos sugere um Vitória Régia mais colorido e grafitado

Arquivo pessoal

Fotomontagem: Jucivaldo Passos

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labares, foram realizadas com as crianças, além de avaliações físicas e várias apre-sentações musicais durante o dia todo. Três dias após o projeto, as áreas pintadas pelos voluntários foram pichadas duran-te a madrugada, sem a identificação dos responsáveis, causando indignação entre a maioria da população. O secretário da Cultura de Bauru, elson reis, considerou o ato “burro e injustificável”.

O OUTRO LADODono de uma loja de Street Art, o gra-

fiteiro Fino pensa diferente do secretário. Para ele, a pichação é consequência de um problema social. “Pessoas que não têm oportunidade na vida querem ser vis-tas. O piche é cheio de sentimento, cheio de raiva, e essa é a forma que encontram de mostrar que estão vivas”, afirma, de-monstrando não ter visto mal no que fize-ram os pichadores após a revitalização.

É indiscutível que inúmeros problemas sociais estejam presentes na cidade de Bauru. mas será que depredar um patri-

mônio de uso comum, reformado volun-tariamente por estudantes que nada têm a ver com alguma política da cidade, vale como forma de protesto? até que ponto podemos afirmar que os responsáveis pela pichação tinham o propósito de reinvindicar os problemas da cidade? O fato é: a depredação causou mais preju-ízos aos moradores de Bauru e aos vo-luntários do que a qualquer autoridade política, suposto “alvo” dos pichadores.

alguns bauruenses, através das redes sociais, comentaram que o grafite pode-ria ser uma solução para o problema da pichação. Alem de os grafiteiros poderem expor seu trabalho, existe a questão do respeito dos pichadores pela manifesta-ção artística, e não haveria vandalismo. “E se, ao invés de simplesmente pintar nova-mente, fosse contratado um artista para grafitar, como foi feito no Teatro Muni-cipal?”, questiona Jucivaldo Passos, fotó-grafo bauruense que produziu uma mon-tagem de como ficaria o Parque Vitória régia todo “grafitado”. Vale a pena tentar?

‘‘

‘‘ O piche é uma forma das pes-soas mostrarem que estao vivas

FINO

Arq

uivo

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DEsDE O iNÍCiO DO HiP HOP aqui na cidade, foram muitas dificuldades que precisaram ser superadas para que o

movimento alcançasse o sucesso. Sejam en-traves relacionados à tecnologia, à divulgação do movimento ou até mesmo encontrar um local adequado para os shows e festas. Todos os obstáculos já foram superados. um que ainda persiste, mas o movimento ainda luta forte para superá-lo, é o preconceito.Querendo ou não, o mano é sempre coloca-do de forma pejorativa por quem vê de fora. mano é aquele irmão de luta, que levanta a mesma bandeira. mas, muitas vezes, mano é tido como o cara da calça larga e boné pra trás que faz arruaça e vandalismos na rua. este estereótipo, que vincula o mano com coisas ruins, não é algo de hoje, vem desde o começo. anos se passaram, e os manos ain-da continuam na luta para desmistificar esse pensamento errado. O problema, talvez, é que o rap ainda é denún-cia e, desse modo, muitas vezes tachado como violento. Mas é simples, se o rapper vê flores, ele fala de flores. Mas, se o rapper só vê tragé-dias, desgraça, polícia agredindo criança, luga-res que não tem saneamento básico, vai falar do que nas músicas? Por isso, muitas vezes o rap é discriminado por falar de uma forma muito pesada das coisas, mas é a realidade do movimento. É o que se vive nas quebradas, en-tão a denúncia tem que ser feita desta forma.Sobre esse assunto do preconceito, a revista H2 conversou com os MCs Dharlis e Dentão, do mentes Blindadas, confere ai um pouco da ideia dos caras.

o preconceito

OpINIÃO

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texto joão paulo monteiro

Foto:Guaíra Maia

‘‘‘‘

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‘‘‘‘‘‘

A minha principal dificuldade dentro do rap é o preconceito. até hoje, eu

tenho mais de 30 anos e ando de cal-ças largas e muitos me vêm e dizem, ‘o cara é vagabundo’. Não é porque você usa uma calça larga e fala uma gíria que você é vagabundo e malo-queiro. eu sou pai de família, tenho dois filhos maravilhosos. As pessoas acham que mCs são vagabundos,

mas a gente é mais informado que muitos. um dos conceitos bons do

rap é o de estar bem informado e ser capaz de trocar uma ideia. usando nossas gírias e com o conhecimen-to que a gente tem das quebradas, a gente troca uma ideia. e, não tem

como, quem é sofredor e já teve difi-culdades na vida, ouve rap.

MC DHARLIS

‘‘Falou que é rap, já era. mas agora o pessoal ta com uma outra visão, tão parando pra

escutar e vendo que o rap não é apologia ao crime. as músicas que falam de assalto e de matar também falam que dá cadeia e morte, e que isso não dá certo. O rap mostra para os moleques que não se deve entrar no cri-me, não traficar, não coisa er-rada. O rap tá sendo feito com amor, a gente tá se dedicando e, graças a Deus, as portas es-

tão se abrindo para nós.

MC DENTAO

Fotos joão paulo monteiro

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O NÍVEl EM quE O HiP HOP BrAsilEirO se en-contra atualmente não está ligado à propaganda de grandes veículos de co-municação. até hoje essa relação do movimento com a mídia tradicional é ques-tionada, gerando muitos debates. uma das principais características do Hip Hop é o exercício constante da co-municação e, desse modo, é impossível depender des-ta chamada grande mídia. mesmo que nestes últimos anos seja possível notar uma aproximação entre mídia tradicional e Hip Hop, aqui em Bauru esse contato gera, na maior parte das

vezes, nada mais que uma agenda, ou seja, a mídia dá destaque aos eventos, realizando coberturas, mas ainda falta um material mais analítico e que gere reflexão por parte da po-pulação. Para não depen-der, portanto, desta mídia tradicional, muitos artistas e articuladores do movi-mento geram sua própria informação, principalmente por meio das redes sociais, como Facebook e Twitter. acompanhe nas próximas páginas algumas dicas, como sites e redes sociais, que irão ajudar na divulga-ção e articulação do movi-mento pela rede virtual.

internet

Você pode!Texto João paulo monteiro

Fotos Divulgação

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além de viver da música, você sabe qual a semelhan-ça entre mallu

Magalhães, Arctic Monkeys, Fresno, Cansei de Ser Sexy e Justin Bieber? Simples, eles são somente alguns dos artistas que mais se desta-caram nos últimos anos e que começaram tudo com um Blog, mySpace ou vídeo no Youtube, ou seja, usaram a internet para chegar ao sucesso.

Você pode até não gostar da música deles, mas o uso que fizeram das ferramentas disponíveis na internet serve de exemplo pra quem está começando e quer mostrar o seu traba-lho para o mundo.

a internet causou uma revolução na música, dan-do a chance a artistas menores de aparecer. Da

geração do mp3, passamos agora para a das redes so-ciais, cada vez mais reple-tas de recursos. Na rede, os artistas podem disponibi-lizar suas músicas gratui-tamente para que pessoas conheçam e passem a frente, como um “boca a boca” moderno.

antônio Carlos, de Pou-so alegre, interior de minas Gerais, esteve este ano na décima oitava edição do Fórum do Hip Hop do In-terior Paulista, realizado em Bauru pelo Ponto de Cultu-ra acesso Hip Hop. Há 15 anos dentro do movimento, somente após participar da oficina sobre Mídias sociais e Mídias Espontâneas é que antônio percebeu que já passou da hora de começar a usar a internet: “eu sou um cara que nem curto muito essa tecnologia, de

mexer em Facebook,

MsN, Orkut, mas sei que isso vai fazer falta pra mim, vou procurar agora entrar nessa área da tecnologia. eu sou mC e, com o uso das redes sociais eu sei que eu posso pôr a minha mú-sica num número maior de lugares. A importância das redes sociais é isso, saber que vou levar o meu tram-po, a minha arte, pra vários lugares sem sair de casa”.

O poder dedivulgação dainternet

a internet se tornou há algum tempo o maior veículo de difusão de infor-mação da nossa geração. mesmo assim, não são todos que fazem bom uso desta ferramenta. Vários artistas não têm site e nem participam de redes sociais ainda. estar inserido nes-ta rede virtual é fácil, não demanda nenhum conhe-

Arctic Monkeys, Cansei de Ser Sexy, Justin Bieber e Mallu Magalhães são alguns exem-plos de artistas revelados pela internet

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cimento específico nem a contratação de um expert no assunto.

“A internet assumiu nos últimos anos uma posição obrigatória na divulgação de artistas independentes,

principalmente por ser um veículo de baixo custo, lon-go alcance e abrangente – independente da cultura, classe social, posição geo-gráfica ou idade”, afirma o guitarrista Denis Warren.

São vários os sites que permitem essa inclusão de músicas, vídeos, fotografias, biografia, vendas e muito mais. A seguir, Denis Warren nos dá várias dicas sobre o uso dessas ferramentas.

1 – Procure sites que podem ser co-nectados, exemplo: Twitter + Myspa-ce + Friendfeed. A vantagem é que as atualizações se dão de forma simultâ-nea, ou seja, escreva num dos sites e o post é duplicado nos outros;

2 – Configure para que as movimenta-ções de usuários, como comentários, perguntas, downloads, sejam co-municados via email, tornando mais eficaz o controle desse tipo de intera-ção;

3 – Coloque em cada site os links para suas outras páginas e o link di-reto para sua homepage;

4 – Atualize os sites com frequência para estimular frequentadores ativos;

5 – Permita em algum dos sites um es-paço para interação do artista com o público;

6 – Tenha uma padronização visual, um vínculo no design criando indentidade;

7 – Coloque a informação de forma direta e clara para ser facilmente identificada;

8 – Crie tags que sejam abrangentes, mas ainda diretamente relacionados com sua música. Estas podem ser atualizadas buscando assuntos em evidência no período;

9 – Não utilize o site para qualquer assunto que esteja com relação des-conexa ao artista ou banda;

10 – Cada site tem um propósito di-ferente. Atender o objetivo de cada página é importante, então evite um bombardeio de informação desne-cessária. Lembre que textos muito longos não capturam o interesse do visitante espontâneo.

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Facebook, Myspace, Youtube, Flickr, Twitter... Cada uma destas páginas e redes tem um propósito diferente. então, atender o objetivo de cada página é fundamental.

Sugestões:

WEBPAGE

É a principal página do artista na internet, onde são encontrados além das informa-ções cruciais, os links das outras páginas sociais. O site deve ter design impecável com fácil acesso ao seu conteúdo, que po-derá ser abrangente e detalhista. É ideal que o nome seja o mesmo do artista ou banda, e de fácil memorização. Tópicos co-muns do site pessoal:Biografia/release: Quem é o artista, que tipo de música faz e quais foram as con-quistas ao longo da carreira musical;Discografia: Quais os álbuns que já gra-vou ou participou. Pode ter uma descrição de cada trabalho, listagem das músicas, amostras em mp3, downloads;Videografia: Quais os vídeos que já gra-vou ou participou. Pode ser uma seleção de vídeos avulsos mesclando performan-ces ao vivo, clipes, vídeo-aulas;Equipamento: O que usa para gravar e to-car ao vivo. equipamento que coleciona;Álbum de fotografias: uma seleção de

vários contextos com fotos ao vivo, em es-túdio, de divulgação, com outros artistas, em eventos;Turnê/datas: listagem de shows, partici-pações e eventos relacionados ao artista, do passado ao futuro;Novidades: lançamentos, participação em eventos, novas conquistas, essa página tem como principal função trazer dinamis-mo ao site promovendo constantes atuali-zações;Downloads: de músicas, vídeos, rider téc-nico, cartazes, material de divulgação, en-cartes de CDs e DVDs;Links: todos os sites dos quais participa e links de patrocinadores e relacionados.Fórum: é o espaço ideal para interagir com o público e promover o diálogo entre pes-soas compartilhando um assunto em co-mum: você.Contato: um e-mail ou similar onde é pos-sível contato direto com o artista ou res-ponsável.

DOWNLOADS

Permitem uploads/downloads de arqui-vos. Podem ser usados para armazenar as músicas da banda/artista, dispondo o link em outras páginas da web, ou como fer-ramenta para divulgação. Por meio de um sistema de busca do próprio site, usando

tags relacionados, que sua música pode ser encontrada.

Sugestões:

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MÚSICA

São as principais páginas da web quando o foco é música. Servem para exibir, pro-mover e divulgar o artista, buscar contatos para shows e comércio.

Youtube: o principal arquivo de vídeos no mundo, não apenas re-lacionado com música. Criando

seu canal no Youtube, você pode controlar efetivamente todos os vídeos que fez uplo-ad e tem acesso às estatísticas de acesso. um número maior de views faz com que o vídeo seja encontrado facilmente e os co-mentários criam a interação direta entre os consumidores ouvintes. muitas páginas na web usam os links do Youtube para postar os vídeos nos seus layouts.

Myspace: Com a renovação do seu conceito, o myspace está di-retamente voltado para a música

e o artista. O seu player permite a execu-ção imediata do repertório disponível e as playlists promovem a divulgação direta.

Unsigned: Página reunin-do artistas independentes

e classificando por gênero e estilo. Existe a possibilidade do cadastro de fãs que po-dem promover o artista nas suas páginas pessoais dentro do site.

Reverbnation: Site voltado para música independente promoven-do o elo entre o artista, os produ-

tores e as casas de espetáculo. Possui um ranking de acordo com os views e fãs e um player que pode ser facilmente linkado em outras páginas sociais.

Palcomp3: uma das principais pá-ginas de música do Brasil com es-paço disponível para downloads,

fotos, comentários e release. artistas no-vos são divulgados na home da página, o que catalisa o processo de divulgação inicial.

Cifraclub: Site para as cifras das músicas da banda. É uma pági-na com muitos acessos e que

vem se renovando constantemente. além das cifras podem ser encontrados arquivos Guitar Pro, tablaturas e video-aulas.

Trama Virtual: Página do selo Trama que reúne ar-

tistas independentes e remunera os do-wnloads. Tem um Top 40 e um Top 100 que ajuda na divulgação dos artistas mais visados.

Vimeo: Parecido com o Youtube permite arquivamento e execução de videos, inclusive em HD.

VARIADOS

Linkedin: Página para conectar profissionais e estimular possibilida-des de trabalho. Funciona como um

Curriculum Vitae online onde o público pode ter acesso as suas informações profissionais e entrar em contato para assuntos pertinentes.

StarNow: Site com ofer-tas de trabalho voltados

para artistas de vários gêneros. O sistema de filtragem permite encontrar trabalhos para um instrumento específico numa re-gião pré-determinada.

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REDES SOCIAIS

use apenas para assuntos relacionados com sua música/banda/artista. assuntos pessoais devem se restringir a páginas pessoais, onde a divulgação se dá apenas aos amigos. a página da banda deve ter seu conteúdo pertinente às questões do músico.

Twitter: com posts curtos, ideal para linkar com suas outras pági-nas e informar atualizações. Pode

ser mais informal com pequenas notas descrevendo o presente e o recurso de re-tweet ajuda na promoção dos textos.

Orkut: ainda bastante popular no Brasil. A página de perfil perdeu espaço para o Facebook e Twitter,

mas ainda é muito forte. Veículo ideal para divulgações de massa atingindo público fora do eixo de amizade.

recursos – comunidades, álbum de foto-grafias e vídeos, recados.

Facebook: um dos mais popula-res com um grande número de ins-critos, junto com o Twitter forma a

principal dupla mundial. Toda empresa está vinculando suas projeções na mídia a esses dois sites. O botão like pode e deve ser in-cluído em outros sites, o que facilita demais a propagação da informação. recursos: álbum de fotografias, vídeos, posts com comentá-rios, eventos, comunidades e muito mais.

Friendfeed: parecido com o Twit-ter. Seus desenvolvedores acredi-tam que o Friendfeed torna o con-

teúdo de internet mais relevante usando a página social como ferramenta para des-coberta de assuntos interessantes. Possui grupos vinculados a assuntos em comum.

BLOGS e FOTOLOGS

Flickr: uma das principais páginas para o arquivamento e demons-tração de fotografias. Podem ser

separadas em álbuns e comentadas.Fotolog: Arquivo de fotografias com legendas e espaço para co-mentários.

Blogger: Podem ser postados ví-deos, músicas e fotografias, mas o foco principal é a qualidade do

texto. O blog pode ser temático, mesmo quando o assunto é uma banda ou artista, por exemplo, para falar de equipamento, ou ser um diário de uma turnê.

São páginas que complementam as outras, fornecendo espaço para veiculação de assuntos específicos.

então é isso. Com um uso correto, a internet é uma poderosa ferramenta de divulgação do seu trabalho, trazendo um retorno direto e imediato do públi-co. Agora que você já conhece os principais sites e redes, é só começar!

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a revista H2 conversou também com Chico maia, ele é jornalista e gestor de projetos na Prefeitura de Bauru desde 1988. Chico trabalha auxiliando, articulando e fortale-cendo movimentos sociais e cultu-rais, no sentido de prepará-los para que possam acessar recursos em nível federal, estadual, municipal e na iniciativa privada no Brasil ou até mesmo fora do país.

São vários os mecanismos de em-presas e de governo, via incentivo fis-cal, na qual grupos ou artistas possam acessar recursos para fortalecer seus trabalhos culturais. São programas do ministério da Cultura, da Funarte, da Secretaria de Políticas de Promo-ção da Igualdade racial, da Funda-

ção Palmares, ministério do Turismo, Secretaria do estado da Cultra, entre outros, voltados ao Hip Hop e a vá-rios outros movimentos culturais. “No entando, muitos destes grupos nem imaginam a quantidade de recursos que existe. uma das minhas funções é mostrar que existem vários caminhos e que estes grupos precisam ser orga-nizados e se capacitar para acessar e captar estes recursos e, depois disso, executar seu projeto cultural, prestar contas e dar continuidade ao ciclo”, afirma o jornalista.

a internet é o caminho mais fácil para se encontrar oportunidades, en-tão, fique ligado sempre nesses sites sugeridos por Chico maia:

ministério da Cultura - www.cultura.gov.brPortal Setor 3 Senac - www.setor3.com.brDearo Alianças Estratégicas - www.dearo.com.br

Petróleo Brasileiro S/a Petrobrás - www.petrobras.com.brConselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - www.cnpq.brPortal dos Convênios do Governo Federal - www.convenios.gov.brrevista Marketing Cultural Online - www.marketingcultural.com.brGrupo de Institutos Fundações e empresas - www.gife.org.brFundos de Fomento Social da Fundação Getúlio Vargas - www.fgv.br/fosocialOrganização em Defesa dos Direitos e Bens Comuns - www.abong.org.brrede de Informações para o Terceiro Setor - www.rits.org.br

FIQUE ATENTO!!

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Revista H2060

Transitando entre o rap e o repente, Marcelo silva, ou Max B.O, se destacou como repórter do programa Brothers of Brazil da redeTV!, onde entrevistava e improvisava ao mesmo tempo. Hoje, levanta a bandeira da cultura rap den-tro da televisão como apresentador do manos e minas, da TV Cultura, único programa de TV aberta destinado ao rap, Hip Hop e cotidiano da periferia.

BOLETIM DE OCORRÊNCIA

envolvimento com o Hip Hop vem des-de cedo. Seu

primeiro grupo foi o Bole-tim de Ocorrência (primei-ro significado do B.O. que acompanha seu nome). em seus novos trabalhos, explica a sigla como Brasi-leiro Original e, além dis-so, também é o nome de seu projeto que pesquisa manifestações locais nos elementos do Hip Hop, o Brasil Original.

Dos festivais infantis, passou para o grupo aca-demia Brasileira de rimas e consolida seu trabalho no movimento e no cená-

rio musical nacional can-tando ao lado de nomes como Marcelo D2, seu Jorge, Nação zumbi, O ra-ppa, entre outros, além do lendário Afrika Bambaataa.

Sempre envolvido em causas sociais, trabalha no “Tim Música nas Escolas” e com a crew PATCHOl’s Fa-mília, que realiza eventos sociais em apoio a comu-nidades carentes.

a revista H2 bateu um papo com o mC sobre sua carreira, mídia e Hip Hop. Confere aí:Revista H2: Quando o Hip Hop entrou na sua vida?Max B.O.: Sou envolvido com a cultura hip hop des-

de 1993, ano em que es-crevi minha primeira letra.H2: Os meios de comuni-cação tradicionais abriram portas para você? Fizeram algo mudar nas suas letras?B.O.: Sim, abriu portas. mostrei o Hip Hop como ferramenta de comuni-cação e isso fez com que uma oportunidade fosse abraçada. através dela en-trou um Hip Hop legitimo, respeitando a oralidade e a capacidade de improvi-sação. agora, as mudanças nas minhas letras estão ligadas aos temas e concei-tos da vida. a porta aberta pelo meio de comunicação jamais poderia influir na for-

O

TROCANDO IDEIA

Texto João paulo monteiro FOTOS DIVULGAÇÃO / TV CULTURA

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ma de conceber minha arte.H2: Você entende o pro-grama Manos e Minas como algo feito pelo mo-vimento Hip Hop para o próprio movimento? Qual a importância do progra-ma na sua opinião?B.O.: acho que mesmo com as dificuldades de sermos uma TV aberta, fundação do estado de São Paulo, as questões das letras muito explícitas e tudo mais, apesar disso tudo, conseguimos fazer

um bom programa. a nível da Cultura, estamos entre a segunda e terceira me-lhor audiência da emisso-ra. O Manos é feito pela cultura Hip Hop, mas para todos. acho que por ser um programa numa TV aberta, temos ainda mais a função de falar com a cul-tura e principalmente com quem não há conhece.H2: Como são definidos os assuntos e os encami-nhamentos?B.O.: recebemos e bus-

camos informações e acontecimentos que sejam ligados ao cotidiano dos jovens, independente de serem apreciadores da cul-tura ou não. Os assuntos são definidos de acordo com o que acontece de novo, importante e inte-ressante, etc.H2: Como você vê a rela-ção do movimento com a mídia tradicional? B.O.: recebe o espaço que tem buscado. acho que a mídia divulga por vontade

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própria a arte que mais lhe convém financeiramente, o produto quer envolver a massa, mesmo que ludi-briando-a. aí o rap, a cul-tura Hip Hop, que tem sua formação, sua raiz, entra até onde da. Vai até onde não distorce a raiz.H2: Você vê alguma for-ma de preconceito de alguma parte? Seja da mídia para com o mo-vimento ou do próprio movimento Hip Hop para com a mídia tradicional?B.O.: Sim, dos dois lados. mas também tem muita gente querendo mudar esse panorama. O Hip Hop tem seu espaço garanti-do em todos os lugares e a mídia tem obrigação de considerar isso, sem piadas, exploração ou deturpação da arte ali apresentada.H2: O Hip Hop é capaz de produzir sua própria mídia e não se importar com a mídia tradicional?B.O.: É capaz, mas não é o suficiente. O movimento fala diretamente pro publico do Hip Hop, com a linguagem que o publico já conhece. mas a mídia em geral é ne-cessária, para mostrar uma

visão mais abrangente e mais didática da cultura. H2: E, além da mídia, o movimento consegue se sustentar de dentro pra fora? Seja produ-zindo suas próprias músicas sem depen-

dência de grandes pro-dutoras, divulgando e organizando seus pró-prios shows e etc.?aqui no Brasil, a cultura Hip Hop existe há mais de 30 anos e na maioria dos casos sempre foi assim.

Em 2010, quando João Sayad assumiu o comando da TV Cultura, o programa Manos e Minas foi extinto. Diante da revolta popular em redes sociais e do apelo de personalidades como Emicida, Mano Brown e Eduardo Suplicy, o programa voltou ao ar cinco meses depois

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Profissão DJ

SEr DJ TOrNOu-Se uma atividade atrativa e cobiçada entre os jovens.

eles estão por toda a parte: baladas, festas, e até em academias. Afinal, pare-ce divertido trabalhar em lugares onde as pessoas estão para se divertir, não é mesmo? mas, será que qualquer um pode “aper-tar o play”? O que é preci-so para se tornar um DJ?

Depois de anos sendo uma atividade não muito definida, oscilando entre “músico” e “técnico de som”, os “disk jockeys” ganharam, no fim do ano passado, uma profissão. Isso porque a Comissão de assuntos do Senado (CaS) aprovou o projeto de lei que regulamenta a ocupa-ção. O projeto é antigo, e

a questão é discutida há alguns anos no Congresso Nacional, mas finalmente saiu do papel. as ativida-des passaram a constar na lei nº 6.533, de 1978, que trata da regulamentação das profissões de artistas e técnicos em espetáculos e diversões.

a partir da medida, o primeiro passo para se tornar DJ é ter registro na superintendência regional do Trabalho e emprego. É preciso, também, ter um certificado ou diploma cor-respondente às habilitações profissionais. Apenas os DJs que já exerciam o ofício antes da lei estão dispensa-dos dessa obrigação.

um dos pontos positi-vos da medida seria pôr fim à questão dos “DJs celebridade” – artistas

famosos que, vez ou ou-tra, comandam as pick-ups em casas noturnas (e por cachês altíssimos). Mui-tos DJs “velhos de casa” acreditam que os novatos estão tirando a vaga dos verdadeiros profissionais. Mas, para o DJ bauruense Felipe Canela, esse não é um grande problema, já que o ramo está crescen-do e “há lugar para todos”. No entanto, ele explica que existem diferenças: “hoje é fácil ter a aparelha-gem de DJ. Com os recur-sos que a internet oferece, qualquer um toca. mas os DJs profissionais sabem usar o equipamento, são estudados para isso. um DJ de verdade cria seus próprios remixes e suas músicas, sabem como va-lorizar o trabalho.”

DJ

Texto Juliana PradoFotos Acervo pessoal

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Um dos pioneiros do Hip Hop em Bauru, hoje Ding atua como DJ na ONG Periferia Legal, no bairro do Beija Flor

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Outra discussão que assola a ques-tão das habilidades de um “disc-jockey” veio à tona quando o renomado DJ e produtor canadense Deadmou5 “en-tregou o jogo” e, após dizer ter cons-ciência que seria odiado pela classe, publicou na internet uma declaração que dizia “todos nós apertamos o play”, afirmando que qualquer DJ toca sets com trechos pré-mixados.

as declarações deram o que falar! Na internet, reivindicações com cara de ma-nifesto esquentaram a discussão. muitos criticaram o DJ por acreditarem que o mérito do profissional está na habilidade de tocar ao vivo. A “desculpa” dada por Deadmou5 foi que os grandes DJs não podem se arriscar nos “megaeventos”, já que qualquer deslize poderia custar caro.

Afinal, ele está certo? Na opinião de Felipe Canela, “um verdadeiro DJ faz o trampo na hora e mostra por quê real-mente é DJ.” No entanto, ele concorda que, ao tocar ao vivo, podem aconte-cer erros que realmente prejudicam a atuação do DJ, e não vê problema nos

que preferem pré-mixar seus sets. “isso é bastante relativo, tudo depende do objetivo do DJ. Mixar na hora é bacana, porque você acaba passando uma ener-gia diferente pra galera. mas não sou contra os que tocam trechos pré-mixa-dos. Cada um toca como quiser”.

DJ da periferiaÉ na ONG Periferia legal, em Bauru,

que o DJ Ding exerce sua atividade: faz nascer novos DJs. Com 20 anos de estra-da, Ding ministra oficinas sobre a ativida-de de um disk-jockey para crianças, e fala com alegria sobre a experiência: “A res-ponsabilidade é grande. algumas músicas mandam mensagens certas, e outras nem tanto. a gente tem que saber lidar com isso. a música passa muita coisa para a molecada. quando toca, eles ficam em transe. E se tocar o dia inteiro, eles ficam aqui o dia inteiro. É um motivo pra tirá-los da rua, um incentivo pra gostar de mú-sica, despertar interesse e ver como fun-ciona a atividade de DJ. E o pagamento é grande. O retorno é muito gratificante.”

todo mundo aperta o play?

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o HIP HOPsalvou a minha

vida

“A minha relação com o hip hop é de troca. O Hip Hop me resgatou efetivamente. em dezembro deste ano faz dez anos que estou limpo, sou ex-usuário de crack. uma das coisas que me resgatou, me tirou do crime e do crack, foi a preocu-pação que o rap trouxe com o meu povo e o que a gente vinha fazen-do com a gente mesmo. Vender a droga e plantar a morte dentro da nossa própria quebrada, pegar uma coisa que o sistema planta dentro da quebrada e disseminar aquilo e causar a morte dentro do nosso povo mesmo, caindo numa armadilha. ai comecei a escrever as minhas letras quando estava inter-nado, e o rap prega o compromis-so de você viver o que você canta. aí não tinha como eu entrar em contradição. eu tinha que passar uma mensagem positiva e, a partir daquilo, eu tinha que ser o exem-plo. Graças a Deus estou hoje nesta caminhada que o Hip Hop conse-guiu me resgatar.”

Fábio “Corvo”,28 anos, 15 de Hip Hop

DEpOIMENTO

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Foto Juliana Prado

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Hip Hop

e a Mídia

resistênciarecíproca

análise

Revista H2068

Texto João paulo monteiro

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ViVEMOs uMA realidade da mídia no Brasil muito comple-

xa. Hoje, algumas poucas famílias concentram em suas mãos os principais conglomerados midiáticos do país. Com isso, essa chamada grande mídia ou mídia tradicional não faz coberturas de eventos realmente relevantes na sociedade, mas enfocam aqueles que, de certa forma, vão de encontro aos seus interesses mer-cadológicos. esse é o pen-samento do coordenador do curso de jornalismo da FaaC/uNeSP-Bauru Juarez Xavier. “Não se pode es-perar muito da cobertura desta mídia”, aponta o professor.

a história recente do Hip Hop nos mostra que o distanciamento do mo-vimento da mídia se deu mesmo com os racionais mCs. apresentados à gran-de mídia em 1997, com o histórico álbum Sobreviven-do no Inferno, o grupo foi símbolo de uma geração. e, uma característica marcante, que influenciou muitos, foi

justamente esta distância que mantinham da mídia tradicional. Hoje, mais de 15 anos depois, a situação mu-dou e bastante, mas a rela-ção entre hip hop e mídia ainda é conturbada e muito se discute sobre o tema.

“Foi uma postura, uma maneira de pensar que acabou influenciando mui-ta gente e interferindo nas relações entre o Hip Hop e a mídia. acho que hoje esse debate já foi supera-do de diversas maneiras”, opina Gabriel ruiz, jorna-lista e membro da rede de coletivos Fora do Eixo. “se você está sendo chamado, você tem que aproveitar a oportunidade e ocupar o espaço que a mídia tradi-cional está oferecendo e divulgar seu trabalho, falar de suas ideologias e no que acredita”.

CRISE NO JORNALISMOSó que este espaço

é muito concorrido nos dias de hoje. mariana Cerigatto, jornalista aqui em Bauru, admite que o “jornalismo cultural hoje virou um meio de marke-ting e meio de divulgação

pessoal de artistas. Não que essa também não seja uma função do jornalismo cultural, a agenda, só que hoje, esse se tornou o foco principal e às vezes até único do caderno”.

e essa crise do jorna-lismo afeta, é claro, a co-bertura do movimento hip hop aqui em Bauru. em pouco tempo o mo-vimento ganhou muita força e, apesar desse de-senvolvimento, os veículos de comunicação ainda o veem de uma forma mui-to estereotipada e sem força comercial, fator de-terminante no jornalismo, aponta Mariana: “a força comercial das matérias é constantemente algo a ser considerado nos veículos de comunicação, principal-mente na área cultural. São empresas e produtores divulgando seus eventos e, ao mesmo tempo, in-vestindo no jornal. então é lógico que o jornal vai dar mais espaço para um show que esta sendo divulgado no jornal e tem um inves-timento por trás, voltado para o próprio jornal. Os anunciantes são, muitas

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vezes, produtores que trazem shows e acabam comandando a linha principal de matérias do caderno. a gente tem aqui em Bauru algumas empresas de pro-dutores que, qualquer coisa que eles tragam, tem que dar desta-que, porque eles são ao mesmo tempo anunciantes do jornal”.

OUTRAS MÍDIASuma alternativa, segundo o

professor Juarez, são as mídias radicais: “são os grupos sociais subalternos e marginalizados que constituem suas mídias, tanto im-pressa como eletrônica e agora mídias digitais. este é um fenô-meno muito positivo no Brasil”.

Segundo Juarez, a mídia alter-nativa e radical consegue furar a invisibilidade que a mídia corpo-rativa tenta impor aos movimen-tos sociais: “um fator muito im-portante é que, a despeito desta concentração midiática, as mídias radicais conseguem estabelecer um diálogo com setores que, de fato, estão interessados nessa in-formação, ou seja, os movimen-tos sociais”, finaliza o professor.

mariana Cerigatto também acredita nesta alternativa: “a grande mídia sempre esteve apoiando os grupos que estavam em destaque na indústria cultu-ral, porém, com a internet e as

novas tecnologias, a gente mu-dou este cenário. Hoje não existe mais esta questão de que a in-dústria cultural é o único acesso para você divulgar o seu trabalho. Hoje, quem está postando algu-ma coisa no Facebook, ganha visibilidade. a internet democrati-zou bastante a questão do traba-lho artístico como um todo”.

a blogueira Letícia abreu está inserida neste meio alternativo de comunicação. Ela mantém o “Bau-ru Também É rap” e acredita que é nas redes sociais a melhor forma de comunicação entre o movi-mento e o público: “hoje em dia a cobertura sobre o hip hop está crescendo cada vez mais, quando tem algum show ou alguma mani-festação são falados nos telejornais e publicados na mídia impressa. mas é no espaço das redes sociais onde os eventos são sempre divul-gados, como no Facebook e Twit-ter, fazendo com o que as pessoas conheçam, compartilhem, e assim todos acabam se interessando e participando dos eventos”.

a principal mídia especializada no assunto no país é a revista e portal rap Nacional. Com mais de 35 mil acessos diários, a publica-ção completou 12 anos de exis-tência. A revista se diz mais que uma publicação impressa, é a voz de uma parcela da população que

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071Revista H2

está marginalizada.Cristiane Oliveira é uma

das repórteres da revis-ta e é responsável pelas entrevistas do “rap Além do rap”. Militante do movimento hip hop, faz questão de levá-lo a to-dos os lugares e mostrar sua importância, seu real sentido e valor. Quanto à mídia tradicional, Cristia-ne é só crítica: “o Hip Hop não tem o devido espa-ço na mídia de massa, e quando abrem este espa-ço não fazem questão de entender o movimento e acabam desrespeitando ou

cometendo gafes”.Cristiane também vê na

internet a alternativa, um espaço onde o movimento se fortaleceu e vem cami-nhando com suas próprias pernas: “o Hip Hop absor-veu o meio virtual como propriedade particular do movimento, se organizou e criou programas web, rádio, faz transmissões ao vivo, utiliza as redes sociais com maestria e faz desses canais de comunicação um meio eficaz para passar a mensagem que os meios tradicionais de mídia boi-cotam diariamente. estar

ou não estar na mídia de massa já não faz diferença pra o Hip Hop”.

Sobre o papel desempe-nhado pela revista, Cristiane afirma que a equipe faz o possível para cumprir a mis-são de informar com qua-lidade: “o público é muito grande, recebemos emails diariamente de grupos pedindo um espaço e man-dando músicas. Sempre nos colocamos à disposição do movimento, acho impor-tante a existência de veícu-los especializados, pois eles são feitos por pessoas que realmente entendem de Hip Hop e mais que isso, fazem mais por amor do que por qualquer outro motivo”, finaliza a jornalista.

O rapper bauruense D’Bronx ora ou outra está estampado nas capas dos jornais aqui em Bauru. Para ele, é de fundamental importância no Hip Hop as parcerias. “Por mais que o artista seja independente, ele depende de muitos parceiros e de pessoas que saibam usar as mais diversas ferramentas que ele não tem conhecimento e, com essa parceria, po-

As mídias radicais são alternativas para o movimento Hip Hop, que pouco espaço tem na mídia tradicional, segundo Juarez Xavier

Conrado Dacax

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Revista H2072

tencializar o seu trabalho artístico e sua carreira”. a relação com a mídia deve ser da mesma forma, acredita D’Bronx: “mídia tradicional e alternativa se complementam. É impor-tante estar inserido na mídia alternativa para não criar dependência alguma, ou seja, o próprio movi-mento é capaz de se ar-ticular e se produzir. mas é importante também se inserir, criar uma parceria com outras mídias, como jornais e televisão, por-que, querendo ou não, a grande massa assiste te-levisão, compram jornais, então, se o artista puder utilizá-la como mais uma ferramenta para levar a sua informação, seu pro-testo, sua indignação e ter um alcance maior de pessoas, acho válido”.

“Eu acho que o Hip Hop deve ocupar todos os espaços desde que esta ocupação seja feita por pessoas conscientes e que saberão passar qual o verdadeiro sentido do movimento. Se for para ir na Globo e só segurar o microfone e cantar creio

que não precisamos dis-so, pois a internet já faz este papel. ao meu ver, quem se propõe a levar o Hip Hop para lugares onde ele ainda não aden-trou terá como obrigação ter um discurso coerente e principalmente atitude coerente ao seu discur-so. explicar quem somos, porquê somos, e onde pretendemos chegar é fundamental para que os leigos possam se não en-tender, pelo menos dar--nos o devido respeito”, finaliza Cristiane.

Querendo ou não, existe um preconceito por parte das empresas jornalísticas em relação a movimentos como o Hip Hop, que vem da periferia. Não um pre-conceito escancarado, mas ainda assim existe, basi-camente por falta de co-nhecimento. Para superar tal situação, fica aqui uma sugestão da mariana Ceri-gatto: “falta para os grupos manter contato e se orga-nizar de forma a montar uma linha de trabalho para se relacionar com os meios de comunicação, estreitan-do os laços”.

A mídia tradicional é importante, segundo

D’Bronx. Porém, é importante que o

rapper desenvolva sua própria forma de se comunicar com seu

público, para que não seja criada

uma dependência

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na TV:

Sábados, às 18h30, na TV Cultura

Na Internet:

centralhiphop.uol.com.br

www.rapnacional.com.br

baurutambemerap.blogspot.com.br

Revista especializada:

RAP NACIONALrapnacional.com.br/revista

Exemplos de mídias que abordam o movimento Hip Hop

Revista H2

Divulgação

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‘‘‘‘

O Hip Hop na cidade de Bauru vem passando por uma grande transformação positiva, que é fruto e reflexo do que vários ativistas do movimento fizeram no passado. Não pode-mos esquecer de quem começou isso em nossa cidade sem os recursos que hoje temos em mãos.

Devido à evolução tecnológica, cultural e muitos preconcei-tos e barreiras que foram quebradas, vejo o Hip Hop crescer cada vez mais, muitos artistas trabalhando com empenho e profissionalismo tendo oportunidade de obter o seu sustento financeiro fazendo arte.

Se continuarmos trabalhando cada vez mais, é claro, daqui a alguns anos teremos muito mais o que relatar.

É importante atentar ainda para um fator primordial do Hip Hop, que é a transformação social. Independente da evolução ou da época que estamos o Hip Hop deve ser uma ferramenta de transformação social. Não são apenas 4 elementos, não é um movimento que veio para benificiar um só, e sim todo um coletivo, grupo, comunidade e assim por diante.

revista H2

muito obrigado a todos pela leitura, um abraço, fiquem com Deus e segue a rima...

Divulga

ção

B’BRONX

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‘‘‘‘

H2

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Revista H2076

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H2VILÃ OU MOCINHA?

CONHEÇA OS DOIS

LADOS DA MACONHA

entrevista sobre mídia e a música de

MAX B.O.

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