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REVISTA BRAIIUIRA DE ZOOLOGIA
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DISTRIBUIÇÃO E CICW DE, VIDA DAS ESPtCIES DE PE~ ~AIS ABUNDANTES DA LAGUNA D,E M~ENDI. RIO DE JANEIRO. BRASIL
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Luis R. R. Barbieri,l José V. Andreata, Man:os A. Santos, Maria H.C. da Sil;va,
Andrés S.C. Sebilia, Ricardo P. dos Santos
ABSTRACT
Month/y sampling from morch 1981 to april 1983 using beach seines, cast nets and gill nets indicated su species, Xenomelaniris bns~nsis. 8revoortia 'Pectinata: Geophagus brasiliensis. Gerres aprion. Genidens genidens ~nd Achirus lineatus. as the most abundant fishes in the Mizrependi Lagoon, Rio 'd~ Janeiro, BraziL The sPecies presented a long reproductive period and the reeruitment distrihuted throughout the year. Ana/ysis of the mean catch per unit effort in relation to 'month" sampling areas, and environmental factors aJong with ana/ysis of the length frequency distribution by depth strata indicated that the spatial distribution, related to depth and occu"ence of submergedaquatic vegetation seem to be the fTlain factors regulating the species distribution. Alteration oFthe environmental conditiom in the lagoon due to the' opening of the Marapendi ,channel in 1984 caused significative modification in the distribution and abundance pattems of the main species. The impact of these a/terations in the Marapendi Lagoon fish community has yet to be detennined '
INTRQDUÇÃO
Os estuários representam ambientes altamente produtivos, constituindo importantes zonas de crescimento e alimentação para larvas e juvenis de diversas espécies de peixes e invertebrados (MiIler & Dunn, 1980; Chao et al., 1987; Himes et aI., 1987). Embora muitas destas áreas não apresentem um potencial pesqueiro direto, o papel dos estuários como criadouros de diversas espécies exploradas comercialmente toma o estudo destes ambientes extremamente importante para o manejo de recursos costeiros (Chao et aI., no prelo; Lenanton & Potter, 1987).
Apesar 4a abundância de estuários e lagunas costeiras no litoral do Rio de Janeiro, poucos estudos foram realizados especificamente sobre a ictiofauna estuarina da região e até o momento pouco se sabe sobre a importância destes ambientes no ciclo de vida das espécies locais. Este trabalho apresenta os padrões de distribuição espacial e temporal, relação com parâmetros ambientais e a composição de comprimentos das seis espécies de peixes mais abundantes capturadas na Laguna de Marapendi, enfatizando-se o
Universidade Santa Úrsula, Departamento de Biologia Animal, Rua Fernando Ferrari, 75, Botat"ogo, CEP 22231 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil. Endereço atual: Vilginia Institute of t.1alim Science School of Marine Science The CoUege of William .l Mary Gloucester POint, V A 23062 - USA
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ReYta bras. Zool.
papel do ambiente estuaIino no ciclo de yjda das e~cies. A re1açio do total de e~cies capturadas durante o período de amostragem e uma descrição detalhada da ma estudada foram apretentados por Anelreata et alo (no prelo).
MATERIAL E MtrODOS
As amostras foram obtidas segUndo um programa de amostragem aleatório estratificado, no qual a ma total estudada foi subdividida em quatro faixas longitudinais deaproximadamente 2.5 km de extensão, mas 1, 2, 3 e 4, dispostas seqüencia1mente atA! o interior da 1apna, com o objetivo de refletir o gradiente de salinidade. Cada ma foi subdividida em tlfs resaões: margem norte, mugem sul e canal central (Fig. 1).
Amostru meDSlil foram realizadas no período de muço de 1981 a abril de 1983 com redes de arnsto de praia, tarrafas e rede de espera em estações pontuais estabelecidas aleatoriamente em cada regiio por mL Pua cada estação foram registrados 01 val~ res de salinidade, temperatura e oxigênio dissolvido superficiais.
Para as mtOStDs com auasto de praia nas regiões muginais_ rasas foi u~da uma rede de calões com 5 m de comprimento, 1,4 m de altura e malha de 15 mm, com um esforço de 3 unstos IJOr estação. Para as amOstras com tarrafa, realizadas nas regiões maiginais e zonas do canal, utilizou-se uma rede de 2 m de altura e malhade 18 mm, com um esforço de 15 lances por estação. Uma rede de espera de 35 m de comprimento, 2 m de altura e malha de 25 mm foi utilizada nas zonas mais profundas do canal. Não foi utilizada nenhuma unidade de esforço para a rede de espera e as amostras foram utilizadas apenas para fornecer dados de comprimento e oconência das e~cies.
No laboratório todos os exemplares foram identificados, medidos no comprimento padrão (CP, do extremo dó focinho atA! o fmal do pedúnculo caudal) ao milímetro majs próximo, pesados e, sempre que pOSSÍwl, determinado o sexo e o peso das gónadas. Em-amostras demasiadamente grandes foram retiradas sub-amostras aleatórias de 30 indivíduos de cada ~ie. Nestes casos era contada e pesada a captura total por e~cie.
O índice gonadOSlOmátiCO (IGS) das fêmeas foi obtido a~s da relação: WgJ (Wt-Wg) x 100, onde Wg ~ o peso da gônada e Wt o peso total, ambos em gramas (Vazzoler,I981).
A abundiocia relativa das e~cies foi medida em termos de captura m6dia por unidade de esforço (CPUE), utilizand~se o número ~dio de indivíduos por arrasto para os arrastos de praia e número m6dio de indivíduos por lance para as amostras com tarrafa. As diferenças significativas entre as médias de CPUE foram testadas atrln'és de análise de variiocia (ANOVA, p < 0,05) seguida do teste u a posteriori" de Scheffe (p < 0,05). A . normalidade dos dados e a homogeneidade das variâncias dos grupos f~ ram testadas prmamente atr.r.és do teste de Bartlett (p < 0,05) (Sokal &: Rohlf, 1981) e realizadas, sempre que necessúio, transformações dos dados do tipo Los • (X + I), onde X conesponde ao CPUE m6dio. Todas as análises foram realizadas utilizand~se o pacote estatístico SPSS-X (SPSS, 1985).
RESULTADOS E DISCUSSAO
Do total de ~ies capturadas na Laguna de Marapendi durante o período amos.trado, seis espkies, Xmomdmiris bnuiliensis. lJrewxJTtúz pectiNlta. Geoplutgw bTtlSiliensis. G~ tIprion. Gmidens gmidens e Achüw lineatus. foram as mais abundantes e estiveram presentes na irea durante todas as estações do ano.
Vol. 7(3), 1990
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o peixe-rei, X brasiliensis, foi a espécie mais abundante nas regiões marginais rasas amostradas pelos arrastos de praia. Embora não tenha apresentado diferenças estatisticamente significativas nas abundâncias espacial e temporal, os maiores valores de CPUE ocorreram no período de abril até outubro (final do outono até a primavera) e em áreas mais internas da laguna (Figs. 2A e 3A). Os valores de abundância em função de salinidade e temperatura também não apresentaram diferenças significativas, mas as médias de CPUE se concentram nas salinidades intermediárias e aumentam gradativamente em direção às temperaturas mais elevadas (Figs. 4A e 5A).
A distribuição mensal das médias do IGS indicou que a reprodução do peixe-rei na área se estendeu por um longo período (Fig. 6A), apresentando um pico no começo do outono (março), mas concentrando-se principalmente nos meses de inverno e início da primavera Gulho, agosto e setembro), quando a temperatura da água variou entre 200 C e 26°C. Valores máximos e mínimos similares foram observados por 8emvenuti (1984) durante os meses de outubro a dezembro para o período reprodutivo de X brasiliensis no estuário da Lagoa dos Patos, RS. Isso indica que mesmo em latitudes tropicais, onde as variações sazonais sllo menos evidentes, o período reprodutivo desta espécie ainda é fortemente influenciado pela temperatura.
Em função da reprodução extensa, juvenis-do-ano menores que 50 mm CP foram capturados no estuário o ano todo (Fig. 7). Durante o primeiro semestre observou-se o
crescimento dos indivíduos na laguna, mas a partir de julho, quando se inicia o período principal de recrutamento, não foi possível distinguir os diferentes grupos modais. O longo período reprodutivo e o recrutamento em levas sucessivas observado em diversas espécies de Atherinidae tem sido atribuído a desova seriada (Hubbs, 1976; Gonover & Kynard, 1984; Middaugh & Hemmer, 1987). Prince & Potter (1983) afirmam que este padrão reprodutivo constituiria uma estratégia oe aumento da fecundidade altamente adaptativa para as espécies de Atherinidae, geralmente sujeitos a altas taxas de predação.
A savelha, B. pectinata, capturada quase que exclusiva!nente pelas amostragens com tarrafa, foi a espécie mais abundante nas zonas de canal. Não foram registradas diferenças significativas na abundância temporal, mas os maiores valors de CPUE foram registrados durante os meses de maio, junho, julho (inverno) e um pico isolado em novembro (final da primavera) (Fig. 28). A abundância espacial foi significativamente mais elevada (p < 0,05) nas áreas 1 e 2, mais próximas à desembocadura da laguna (Fig. 38). Em relação aos fatores ambientais, a espécie demonstrou significativa preferência por salinidades mais eíevadas (p < 0,05), mas distribuiu-se independentemente da tempera
tura (Figs. 48 e 58).
O período reprodutivo foi longo, concentrando-se principalmente do outono ao início da primavera (Fig. 68). A análise da distribuição de freqüência de comprimentos (Fig. 8) sugere que o período de recrutamento ocorre de julho a outubro, mas o baixo número de indivíduos menores que 50 mm CP capturados neste período indica que provavelmente as artes de pesca utilizadas foram ineficientes na captura das classes de menor tamanho. Um grupo modal entre 120 e 200 mm CP foi consistente nas amostras durante o ano todo e parece constituir a classe etária principal que utiliza a laguna.
O acará, G. brasiliensis, foi bem representado tanto nas amostras com tarrafa como nos arrastos de praia. A abundância temporal não apresentou diferenças significativas (Fig. 2C), entretanto os indivíduos capturados com arrasto de praia (em geral < 50 mm CP) foram significativamente mais abundantes (p < 0,05) em áreas mais internas da laguna (Fig. 3C).
238
Yol. 7(3),1990
A abundância dos indivíduos capturados com tarrafa (em geral> 50 mm CP) não apresentou diferenças significativas em relação ao regime de salinidade e temperatura no estuário , mas os indivíduos capturados com arrastos de praia foram significativamente mais abundantes em salinidades e temperaturas mais baixas (Figs_ 4C eSC).
A variação do IGS médio (Fig. 6C) indicou que a reprodução é extensa e concentrada em dois períodos principais, um de menor intensidade no outono e outro mais evidente e mais extenso do final do invemo até o início do verão . Através da distribuição mensal de freqüência de comprimento (Fig . 9), observa-se que o primeiro período reprodutivo é responsável pelos grupos de recrutamento de abril até julho, enquanto o segundo relaciona-se com os grupos de agosto até janeiro. Barbieri et al_ (1980) demonstraram que a desova de C. brasiliensis ocorre de forma parcelada e os ovos são liberados em grupos ou lotes_ Este tipo de estratégia reprodutiva explica o recrutamento em ondas sucessivas e as oscilações observadas na abundância temporal dos juvenis capturados pelos arrastos de praia (Fig. 2C).
O carapicu , C. aprion, foi amostrado principalmente pelos arrastos de praia e apresentou abundãncias significativamente mais elevadas (p < 0,05) durante os meses de março , maio e setembro (Fig. 20) e na área 2 (Fig. 30). A preferência.do carapicu por esta área da laguna parece estar relacionada com a distribuição de recursos alimentares explorados por esta espécie . A área 2 apresenta bancos de areia e zonas de baixio onde grupos de C. aprion e outros gerreídeos eram comumente observados alimentando-se de organismos do bentos.
Cerres aprion ocorreu somente em salinidades superores a 100 /00 , apresentando um pico na classe de 200
/00 (Fig. 40). Não foram observadas diferenças significativas da abundância em função de temperatura (Fig. 50), mas as capturas foram maiores na classe de 30°e. Segundo Leon et aI. (1982), esta espécie suporta amplas variações de salinidade e temperatura. Cyrus & 8laber ( 1982), estudando a distribuição e abundância da famllia Gerreidae em estuários da África do Sul, encontraram que a salinidade constitui o fator principal determinando a dominância de cada uma das espécies em diferentes estuários, porém sugerem a importância da turbidez da água como um fator limitante na distribuição e abundância. Em trabalhos mais recentes (Cyrus & Blaber, 1987a,b), estes autores classificam a famma Gerreidae como característica de águas claras e concluem que a turbidez desempenha um papel importante , isoladamente ou em combinação com outras variáveis, na determinação da distribuição e abundância das espécies. A
distribuição de recursos alimentare s, apesar de importante. desempenharia um papel secundário ao da turbid·ez na distribuição dos ge rreídeos, já que todas as espécies da família oco rreram somente em águas claras. enquanto as maiores densidades das presas exploradas pelas espécies foram encontradas em águas túrbid as.
A distribuição do lGS médio (Fig. 6D) indicou que a reprodução de C. aprion na região é longa e concentrada em dois períodos, um no final do verão e outro do inverno até o início da primavera. O recrutamento também ocorreu de forma parcelada (Fig. 10). Jovens-do-ano menores que 50 mm CP aparecem nas amostras com arrasto de praia a partir de fevereiro, tornando-se mais abundantes em março É possível acompanhar a progressão deste grupo até julho, quando a moda principal atmge os 80 mm CP. Outros grupos mais fracos de recrutamento ocorreram durante os meses de agosto e novembro.
Embora, em função das art~e pesca utilizadas, indivíduos menores que 30 mm CP não tenham sido capturados na Laguna de Marapendi, estudos realizados com outras espécies de gerreídeos em ambientes estuarinos (Cyrus & 8laber 1983 , 1984) mdicam
Revta bras. Zoo!.
que, em ge!al, grupos de larvas penetram no estuário com 10 mm de comprimento-padrão, permanecendo na área até a maturidade sexual, quando retornam para reproduzir no ambiente marinho.
O bagre-urutu, G. genidens, apresentou para as capturas com arrastos de praia valores de CPUE significativamente mais elevados (p < 0,05) nos meses de junho e novembro (Fig. 2E) e na área I (Fig. 3E). As amostras com tarrafa não apresentaram diferenças significativas de abundância.
A distribuição em função de salinidade e temperatura não apresentou diferenças significativas, mas as maiores abundâncias ocorreram, tanto para tarrafa como para os arrastos de praia, na classe oe 200
/00 (Fig. 4E) e em temperaturas mais elevadas (Fig. SE). Mishima & Tanji (1983) e Araujo (no prelo), estudando a distribuição e abundância de G. genidens, respectivamente nos estuários de Cananéia, SP, e Lagoa dos Patos, RS, encontraram que a espécie se distribui preferencialmente em áreas internas do estuário, tem maiores abundâncias nos meses de verão, mas também não identificaram nenhuma relação de dependência entre as flutuações na abundância da espécie e as variações de salinidade e temperatura.
A biologia reprodutiva do bagre-urutu na região do complexo lagunar de Jacarepaguá está sendo estudada em detalhe por Santos et alo (em preparação). O período reprodutivo se extende do começo da primavera ao fim do verão, coincidindo com o pe· ríodo de chuvas responsável pelas baixas salinidades na região. Embora a reprodução ocorra no ambiente estuarino e se extenda por um amplo período, em função do hábito de incubação oral dos ovos e larvas, indivíduos menores que 70 mm CP não foram capturados na laguna e o primeiro grupo de recrutas foi capturado pelos arrastos de praia somente a partir do mês de março (Fig. 11). De abril até outubro, a classe de tamanhos predominante foi composta por indivíduos com comprimentos entre 100 e 200 mm CP e somente a partir de novembro um novo grupo de jovens-do·ano voltou a ser capturado na laguna.
O linguado-tapa, A lineatus, demonstrou grande adaptabilidade ao ambiente estuarino, distribuindo-se de forma bastante uniforme tanto em relação às abundâncias espacial e temporal (Figs. 2F e 3F), como em relação aos fatores ambientais (Figs. 4F e 5F), não apresantando diferenças significativas de abundância em relação a nenhum des. tes fatores.
A reprodução ocorreu durante um longo período, com um pequeno pico no outono e um período mais extenso na primavera (Fig. 6F). O recrutamento também foi parcelado, distribuindo-se pelos meses de fevereiro, junho e outubro (Fig. 12). Durante todos os meses do ano uma classe de comprimentos entre 50 e 100 mm CP constituiu a classe de tamanhos predominante na laguna e a captura de indivíduos maiores que 100 mm CP ocorreu apenas nos meses de setembro e outubro, possivelmente em função do pico do período reprodutivo.
A figura 13 apresenta a distribuição de freqüência por classes de comprimento total das seis espécies em função de estratos de profundidade (regiões de margem ou canal) para as amostras com tarrafa. É' possível observar que apesar de indivíduos de quase todas as classes de tamanho terem sido capturados nas regiões marginais, as menores classes de comprimento estiveram em geral ausentes das zonas do canal. Esta tendência a uma distribuição diferencial das classes de tamanho em relação aos estratos de profun· didade já havia sido observada para o conjunto total de espécies capturadas na Laguna de Marapendi (Andreata et al., no prelo) e, apesar de nenhum experimento específico
240
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ter sido realizado neste sentido, observações no local sugerem uma relação com a distribuição da vegetação aquática submersa. Estudos comparando áreas com e sem cobertura vegetal em regiões estuarinas tem demonstrado a importância das pradarias de vegetação submersa para juvenis de peixes (Livingston, 1975; Weinstein et al., 1977; Orth & Heck, 1980), influenciando principalmente a distribuição das classes de tamanho (Stoner, 1984; Stoner & Livingston', 1984). Na laguna de Marapendi, as regiões marginais rasas, geralmente apresentando pradarias de Ruppio maritima e bancos de macroalgas, oferecem abrigo para espécies de pequeno porte e para os juvenis-do-ano das espécies que utilizam a laguna como área de recrutamento. Para espécies como B. pectinata, cujos juvenis foram pouco abundantes ou restritos a períodos específicos, a distribuição batimétrica das classes de tamanho não foi tão evidente (Fig. 138).
Weinstein (1982) destaca três dimensões de nichos particularmente importantes nos mecanismos de repartição entre juvenis de espécies estuarinas: batimetria, salinidade e componentes temporais. Para a Laguna.de Marapendi, uma laguna costeira localizada na regmo tropical, caracterizada durante o período estudado por apresentar pequenas variações de salfnidade, sazonalidade pouco evidente e cujo grupo de espécies dominantes foi rotrnado basicamente por espécies residentes do estuário (Andreata et aI., no prelo), a distribuição espacial, relacionada secundariamente com a profundidade (regiões 'de margem ou canal) e a presença de vegetação aquática submersa, parecem ser os fatores principais regulando a distribuição das espécies. A influência da salinidade foi mais evidente apenas para espécies como B. pectinata e G. aprion, que se reproduzem no ambiente marinho e permanecem i"elacionadas ao estuário apenas durante uma etapa do ciclo de vida, ou para G. brasiliensis, que por constituir uma espécie primária de água doce, demonstrou preferir baixas salinidades durante os estágiosjuvenis.
A pequena importância de componentes temporais e da temperatura foi devida provavelmenté à sazonalidade pouco evidente na região e ao fato de todas as espécies te,
rem apresentado um amplo período reprodutivo e o recrutamento distribuído ao longo do ano. Hines et aI. (1987) destaca que o recrutamento de estágios larvais mais sensíveis de várias espécies de"invertebrados e peixes pode ser o fator principal na determinação de flutuações na abundância relacionadas com variações de parâmetros ambientais. Portanto, em situações em que o recrutamento se distribui por um longo período, flutuações sazonais nos fatores ambientais teriam pouca importância na sobrevivência e abundância das diferentes coortes.
Os resultados de campo e laboratório encontrados por Cyrus & B1aber (1987a, b) sobre o papel da turbidez na distribuição e abundância de juvenis de peixes marinhos em estuários da África do Sul indicam que esta variável pode constituir um fator ecológico importante em outros ambientes estuarinos tropicais, principalmente onde a descarga fluvial de sedimentos é significativa. Embora dados de turbidez da água não sejam disponíveis para a Laguna de Marapendi, a ausência de um aporte massivo de águas fluviais ~a laguna sugere um papel secundário para este fator. Entretanto, turbidez provavelmente desempenha um papel importante em outras lagunas do sistema lagunar de J acarepaguá.
Embora algumas das hipóteses apresentadas neste trabalho tenham que ser avaliadas cautelosamente em função de limitações evidentes relacionadas com as artes de pesca utilizadas, foi possível identificar que a Laguna de Marapendi constitui uma região importante no ciclo de vida de várias espécies de peixes, principalmente as residentes do estuário. A distribuição e abundância das espécies principais na laguna durante o período estudado foi influenciada principalme~te por fatores relacionados com a distribuição
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espacial, como área de coleta, zonas de margem ou canal e a presença de vegetação aquática submersa. Entretanto, como foi destacado em trabalho anterior (Andreata et aI., no prelo), coni a abertura do Canal Marapendi em 1984, e conseqüente alteração das condições ambientais na laguna, o padrão de distribuição e abundância das espécies foi sensivelmente alterado. O impacto destas alterações na comunidade ictiofaunística da La2una de Marapendi precisa ainda ser determinado.
AGRADECIMENTO~
Gostaríamos de agradeeer a todos que contribuíram para a realização deste trabalho. Ao Professor Ivo C. de Lima (USU) pelas determinações de salinidade e oxigênio dissolvido. A João P. Vieira (FURG) e Cassiano M. Neto (VIMS) pelas críticas e sugestões apresentadas. Ning L. Chao (FURG) prestou valiosas sugestões durante o desenvolvimento deste estudo e na preparação do manuscrito.
REFERÊNCIAS
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