rÁdio garibaldi e o noticiÁrio do meio-dia: a opiniÃo do ... · investigates why the community...
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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
LILIAN DONADELLI
RÁDIO GARIBALDI E O NOTICIÁRIO DO MEIO-DIA: A OPINIÃO DO OUVINTE
SOBRE O CONTEÚDO JORNALÍSTICO
CAXIAS DO SUL
2014
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LILIAN DONADELLI
RÁDIO GARIBALDI E O NOTICIÁRIO DO MEIO-DIA: A OPINIÃO DO OUVINTE
SOBRE O CONTEÚDO JORNALÍSTICO
Monografia do Curso de Comunicação Social, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Universidade de Caxias do Sul. Orientador Prof. Ma. Adriana dos Santos Schleder
CAXIAS DO SUL
2014
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LILIAN DONADELLI
RÁDIO GARIBALDI E O NOTICIÁRIO DO MEIO-DIA: A OPINIÃO DO OUVINTE
SOBRE O CONTEÚDO JORNALÍSTICO
Monografia do Curso de Comunicação Social, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na Universidade de Caxias do Sul.
Aprovado em:____/___/______.
Banca Examinadora
______________________________________
Prof. Ma. Adriana dos Santos Schleder
Universidade de Caxias do Sul
______________________________________
Prof. Ms. Jacob Raul Hoffmann
Universidade de Caxias do Sul
______________________________________
Prof. Ma. Leyla Maria Portela Coimbra Thomé
Universidade de Caxias do Sul
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Dedico este trabalho aos meus pais
Carmen e Valdir. Exemplos de amor e
dedicação, por quem sou inspirada todos
os dias da minha vida.
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AGRADECIMENTO
Da mesma forma que fiz uso da citação de diversos autores no decorrer
desta pesquisa, não posso deixar de agradecer e fazer uso da palavra do autor da
minha vida, Deus. De acordo com Ele, o ser humano deve permanecer com a fé, a
esperança e o amor, mas destaca que dos três fundamentos, o maior é o amor:
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria (1Co 13, 1-2).
É por meio deste amor que fui criada pelos meus pais Carmen e Valdir.
Graças aos seus ensinamentos e apoio, pude chegar até esta etapa da minha vida.
Sou grata pelas vezes que enxugaram minhas lágrimas, que me fizeram rir, que me
aconselharam, e, principalmente, por terem acreditado no sonho que nasceu e que
se torna cada dia mais forte dentro de mim, o sonho de ser jornalista. Vocês são o
meu orgulho.
Agradeço também por ter ao meu lado um anjo bom. Marcos Sabei, meu
namorado. Um presente do céu para abençoar a minha vida. Sou grata pela
paciência e pela compreensão das horas e horas em meio aos livros e questionários.
Obrigada pelo colo, carinho, dedicação e pelas palavras de encorajamento. Assim
como aos seus familiares e à Preta, pela receptividade e apoio.
Às minhas queridas amigas e amigos, de perto e de longe, que conheci nas
idas e vindas de Garibaldi à UCS, ou no decorrer da minha vida, sem citar nomes,
ressalto a minha gratidão. Agradeço também, com todo amor, às amigas que se
tornaram minhas irmãs, que mesmo em tempos de dificuldade não largaram a minha
mão. E hoje, com a monografia pronta, posso dizer que chegamos até aqui juntas.
Não posso deixar de agradecer à minha orientadora, Prof. Ma. Adriana dos
Santos Schleder, que não me deixou divagar na pesquisa, mas com muito empenho,
sabedoria e paciência me instruiu. Assim como aos entrevistados que colaboraram
com muita atenção, respondendo às perguntas da pesquisa, fazendo-me tornar
ainda mais apaixonada pelo Jornalismo.
Desta forma, finalizo meus agradecimentos e prossigo, com muito amor,
levando todos no meu coração, para sempre.
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“O rádio é o jornal de quem não sabe ler, é o mestre de
quem não pode ir à escola, é o divertimento gratuito do
pobre, é o animador de novas esperanças, o
consolador do enfermo, o guia dos sãos, desde que
realizem com espírito altruísta e elevado.”
Roquette-Pinto
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RESUMO
Ao assumir o Panorama, o Noticiário do Meio-dia como objeto central do estudo, o
presente trabalho investiga por que a comunidade garibaldense ouve o radiojornal
da Rádio Garibaldi AM, que integra há 57 anos a grade da emissora no horário do
meio-dia. Para isso, como método, utilizou-se a Análise de Conteúdo e, como
técnicas, referência bibliográfica, entrevistas, questionário e observação. Neste
sentido, o estudo se fundamenta por meio de duzentos questionários realizados com
moradores da área rural e urbana de Garibaldi, além da entrevista com o
coordenador de jornalismo da emissora, com a editora e apresentadora do
Panorama e da observação de três edições. Como um dos resultados constatados, o
trabalho reforça a importância da informação local dentro do radiojornalismo.
Palavras-chave: Radiojornalismo. Rádio Garibaldi AM. Panorama, o Noticiário do
Meio-dia. Análise de Conteúdo. Informação local.
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ABSTRACT
By taking Panorama, the Noon Newscast as central object of the study, this paper
investigates why the community of Garibaldi hears the newscast on Radio AM
Garibaldi, which has integrated the grid of the station on air at noon for 57 years. For
that, methodologically, we used Content Analysis and as techniques we used
bibliographic references, interviews, questionnaires and observation. In this sense,
the study is based on two hundred questionnaires conducted with residents of rural
and urban area of Garibaldi, also the interview with both the coordinator of broadcast
journalism and the editor and presenter of Panorama, along with the observation of
three editions of the newscast. It is from the Content Analysis that the study
reinforces the importance of local information in the global context in radio journalism.
Keywords: Radio Journalism. Radio Garibaldi AM. Local information. Panorama, the
Noon Newscast. Content Analysis.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Edição de radiojornal por similaridade de assuntos ................................. 48
Figura 2 – Edição de radiojornal por zonas geográficas ........................................... 48
Figura 3 – Edição de radiojornal com divisão por editorias ....................................... 49
Figura 4 – Edição de radiojornal em fluxo de informação ......................................... 50
Figura 5 – Sexo das pessoas entrevistadas ............................................................ 112
Figura 6 – Idade das pessoas entrevistadas ........................................................... 113
Figura 7 – Local de residência dos entrevistados ................................................... 114
Figura 8 – Grau de instrução dos entrevistados ...................................................... 115
Figura 9 – Renda Mensal dos entrevistados ........................................................... 116
Figura 10 – Religião dos entrevistados ................................................................... 116
Figura 11 – Principal Meio de Comunicação dos entrevistados .............................. 117
Figura 12 – Idade e principal meio de comunicação ............................................... 118
Figura 13 – Meio de comunicação preferido por local ............................................. 119
Figura 14 – Meio de Comunicação e grau de instrução dos entrevistados ............. 121
Figura 15 – Meio de comunicação segundo a renda mensal dos entrevistados ..... 122
Figura 16 – De que forma os entrevistados que têm o rádio como principal meio de
comunicação acessam o conteúdo radiofônico ....................................................... 124
Figura 17 – Período que os entrevistados ouvem rádio .......................................... 125
Figura 18 – Principal veículo de comunicação regional/local .................................. 125
Figura 19 – Frequência que os entrevistados ouvem o Panorama ......................... 127
Figura 20 – Frequência que os entrevistados ouvem o Panorama por faixa etária . 129
Figura 21 – Frequência do Panorama por local ...................................................... 131
Figura 22 – Qual programete do Panorama é preferido pelos entrevistados .......... 132
Figura 23 – Principal editoria do Panorama segundo os entrevistados ................... 134
Figura 24 – Avaliação do conteúdo pelos entrevistados ......................................... 135
Figura 25 – Entrevistados que acessam o site da Rádio Garibaldi AM ................... 136
Figura 26 – Avaliação do conteúdo do site ............................................................. 138
Figura 27 – Tipo de informação que os entrevistados procuram na
Rádio Garibaldi ........................................................................................................ 139
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Local de nascimento dos entrevistados ................................................. 114
Tabela 2 – Idade e principal meio de comunicação ................................................ 118
Tabela 3 – Meio de comunicação preferido por local .............................................. 120
Tabela 4 – Meio de Comunicação e grau de instrução dos entrevistados .............. 121
Tabela 5 – Meio de comunicação segundo a renda mensal dos entrevistados ...... 123
Tabela 6 – Outros veículos citados pelos entrevistados ......................................... 126
Tabela 7 – Justificativa dos entrevistados que não ouvem o Panorama ................. 128
Tabela 8 – Frequência que os entrevistados ouvem o Panorama por faixa etária .. 130
Tabela 9 – Frequência do Panorama por local........................................................ 131
Tabela 10 – Justificativa dos entrevistados que não acessam o site da
Rádio Garibaldi ........................................................................................................ 137
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 O RADIOJORNALISMO NO BRASIL ................................................................... 14
2.1 O SURGIMENTO ................................................................................................ 14
2.1.1 A experiência no Rio Grande do Sul ............................................................. 21
2.1.2 O rádio em Garibaldi ...................................................................................... 24
3 O RÁDIO E A GLOBALIZAÇÃO ........................................................................... 27
3.1 GLOBAL .............................................................................................................. 27
3.2 LOCAL................................................................................................................. 29
3.3 A INTERNET COMO PARCEIRA DO RÁDIO ..................................................... 32
4 A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO RÁDIO ......................................................... 34
4.1 GÊNEROS E FORMATOS DE PROGRAMAS RADIOFÔNICOS ....................... 34
4.2 O RADIOJORNALISMO ...................................................................................... 38
4.2.1 Radiojornal ...................................................................................................... 41
4.2.2 Etapas de produção da notícia ..................................................................... 42
4.2.2.1 Pauta ............................................................................................................. 45
4.2.2.2 Fontes, entrevista e reportagem .................................................................... 45
4.2.2.3 Edição ........................................................................................................... 47
5 METODOLOGIA .................................................................................................... 51
5.1 MÉTODO ............................................................................................................. 51
5.2 TÉCNICAS .......................................................................................................... 53
5.2.1 Revisão bibliográfica ..................................................................................... 53
5.2.2 Entrevista ........................................................................................................ 54
5.2.3 Observação ..................................................................................................... 55
5.2.3.1 Corpus da pesquisa....................................................................................... 56
5.2.3.1.1 Histórico do programa ................................................................................ 56
5.2.3.1.2 Descrição dos programas ........................................................................... 58
6 ANÁLISE DE CONTEÚDO .................................................................................. 112
6.1 PERFIL DO PÚBLICO ENTREVISTADO .......................................................... 112
6.2 AUDIÊNCIA ....................................................................................................... 117
6.3 CONTEÚDO ...................................................................................................... 132
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6.4 A RÁDIO E O CONTEXTO LOCAL ................................................................... 139
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 142
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 146
APÊNDICES ........................................................................................................... 150
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO USADO NA ENTREVISTA COM O PÚBLICO . 151
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO USADO NA ENTREVISTA DA EDITORA E APRESENTADORA DO PANORAMA, O NOTICIÁRIO DO MEIO-DIA, DENISE FURLANETTO DA CAMPO .................................................................................... 155
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO USADO NA ENTREVISTA DO COORDENADOR DE JORNALISMO DA RÁDIO GARIBALDI AM, JOSÉ CARLOS CICHELERO ... 156
APÊNDICE D – RESPOTA DA ENTREVISTA DA EDITORA E APRESENTADORA DO PANORAMA, O NOTICIÁRIO DO MEIO-DIA, DENISE FURLANETTO DA CAMPO ................................................................................................................... 157
APÊNDICE E – RESPOTA DA ENTREVISTA DO COORDENADOR DE JORNALISMO DA RÁDIO GARIBALDI AM, JOSÉ CARLOS CICHELERO ......... 158
ANEXO A – PROJETO MONOGRÁFICO EM CD .................................................. 160
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1 INTRODUÇÃO
No ano de 1950 a radiodifusão no Brasil passava por um desafio, o
surgimento da televisão. Nesta mesma época, em Garibaldi, município localizado na
região Nordeste do Rio Grande do Sul, eram feitas transmissões em Amplitude
Modulada da primeira e única emissora de rádio da cidade, a Rádio Garibaldi AM.
Inaugurada oficialmente em 1956, a emissora pertencente aos Freis
Capuchinhos transmitia o seu primeiro informe do meio-dia com o apoio de um
patrocinador no dia 1º de agosto de 1957. O noticiário, que primeiramente foi
chamado de Informativo Tramontina, no ano de 1992 passou a ser conhecido como
Panorama, o Noticiário do Meio-dia, programa este que será o objeto de estudo da
presente pesquisa.
Como método, usa-se a proposta de Laurence Bardin (1977), por meio de
Análise de Conteúdo, com o objetivo de responder a questão norteadora, Por que a
comunidade garibaldense ouve o programa Panorama, o Noticiário do Meio-dia?
Afinal, são 57 anos no ar de forma ininterrupta. Para fundamentar a pesquisa, faz-se
uso de técnicas propostas por Gil (1999), Duarte e Barros (2005) por meio de
referências bibliográficas, entrevistas com dois gestores do veículo, 200
questionários aplicados entre a área rural e urbana da cidade, além da observação
de três edições do noticiário, estabelecendo-se como pesquisa qualitativa.
A Rádio Garibaldi, e mais especificamente o programa Panorama, o
Noticiário do Meio-dia, são provas de que o rádio está sobrevivendo ao tempo. Neste
caso, acredita-se que a pesquisa escolhida para desenvolver o trabalho de
conclusão do curso de Jornalismo pode acrescentar novos dados e informações
sobre o perfil dos ouvintes, a importância da informação local e a estrutura do
radiojornal, visto que o programa analisado é um marco quanto ao seu tempo de
transmissão e, principalmente, pelo fato de ser o único veículo de comunicação
radiofônico da cidade de Garibaldi.
Por se tratar de um programa que vem passando de geração a geração, a
pesquisa tem como intuito compreender os motivos que fazem a comunidade
permanecer sintonizada na programação no período do meio-dia, considerando o
seu alcance pela frequência 1480 kHz, com potência de 1000 watts e as
interferências do meio digital, apresentando quatro hipóteses.
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A primeira delas afirma que a opção pelo Panorama, o Noticiário do Meio-dia
da Rádio Garibaldi é porque o programa atualiza instantaneamente as informações.
A segunda hipótese diz que a audiência do programa Panorama, o Noticiário do
Meio-dia da Rádio Garibaldi está ligada à credibilidade em torno dos seus 57 anos.
Como terceira hipótese, o programa Panorama, o Noticiário do Meio-dia da
Rádio sobrevive frente às novas tecnologias por ser o veículo que leva as
informações locais à comunidade. E, a quarta e última hipótese, afirma que a
credibilidade do Panorama, o Noticiário do Meio-dia da Rádio Garibaldi está ligada
ao conteúdo que é fornecido no programa.
Sendo assim, a presente pesquisa tem como objetivo principal investigar por
que as pessoas ouvem o Panorama e, como objetivos específicos, verificar a
evolução histórica do rádio; analisar a produção de conteúdo para o radiojornal;
revisar a história da Rádio Garibaldi e do Panorama, o Noticiário do Meio-dia;
pesquisar a evolução tecnológica das mídias e entender o que os ouvintes pensam
sobre a Rádio Garibaldi.
E todo o processo envolvendo esse estudo resultou em sete capítulos. O
capítulo dois contextualizará o surgimento do rádio, assim como a sua chegada no
Brasil, no Rio Grande do Sul e em Garibaldi, tendo como finalidade compreender a
história e a evolução do veículo, com foco no radiojornalismo, devido ao tema da
pesquisa.
O próximo capítulo, de número três, abordará a questão local e global no
radiojornalismo, bem como a internet auxilia o rádio na transmissão de informações.
O quarto capítulo descreverá a produção do conteúdo e a estrutura que fundamenta
o rádio como veículo de comunicação, bem como os seus gêneros, formatos,
programação e produção, com ênfase ao radiojornalismo.
O quinto capítulo apresentará a metodologia utilizada para o
desenvolvimento da pesquisa e, logo após, no capítulo seis, a análise de conteúdo
ajudará a responder a questão norteadora confirmando ou não as hipóteses iniciais.
E por fim, o sétimo e último capítulo fará uma reflexão, por meio das considerações
finais, sobre os resultados obtidos na pesquisa.
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2 O RADIOJORNALISMO NO BRASIL
Neste capítulo será relatado o surgimento do rádio bem como a sua história
no Brasil e a sua trajetória no Rio Grande do Sul. O conteúdo terá como foco o
radiojornalismo devido ao tema da presente pesquisa, tendo como embasamento
teórico Luiz Arthur Ferrareto, Gisela Swetlana Ortriwano, Walter Sampaio, entre
outros.
2.1 O SURGIMENTO
De acordo com o autor Luiz Artur Ferrareto (2001) na obra O veículo, a
história e a técnica, as primeiras transmissões radiofônicas aconteceram no final do
século XIX, e solidificaram-se como meio de comunicação após o advento do
jornalismo impresso, tornando-se responsável pela transformação da comunicação
em massa.
Embora o senso comum atribua a invenção do rádio ao italiano Guglielmo Marconi, pode-se afirmar que a radiodifusão sonora constitui-se no resultado do trabalho de vários pesquisadores em diversos países ao longo do tempo, representando o esforço do ser humano para atender a uma necessidade histórica: a transmissão de mensagens a distância sem o contato pessoal entre o emissor e o receptor (FERRARETO, 2001, p. 80).
Dentre os estudiosos que tornaram suas pesquisas um marco para a criação
da radiodifusão, o autor cita o norte-americano Samuel Morse, que contribuiu com o
desenvolvimento do telégrafo; Graham Bell com a carta patente para o telefone; e,
paralelo a isso, Clerk Maxwell descobriu a existência das ondas eletromagnéticas,
que em 1887 foi totalmente ratificada com experimentos do físico alemão Henrich
Rudolph Hertz.
No Brasil, em 1893, o padre e cientista gaúcho Roberto Landell de Moura fez
a primeira transmissão oratória por meio de ondas eletromagnéticas sem fio. No
entanto, ainda de acordo com Ferrareto (2001), essas descobertas não se referem
propriamente ao surgimento do rádio como veículo de comunicação, mas sim como
a criação da radiotelefonia. O rádio transmissor ganhou forças apenas 10 anos após
o surgimento das ondas eletromagnéticas, com o avanço da tecnologia, como
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destacou o jornalista e radialista Cyro César (2005) em seu livro Rádio: a mídia da
emoção.
À medida que as novidades tecnológicas se incorporavam à comunicação, os meios de informação se afirmavam. O homem, na ânsia de vencer barreiras no tempo e no espaço, os queria mais velozes e eficazes. É nesse processo, que o início do século XX embalou uma demanda febril da comunicação: o rádio (CÉSAR, 2005, p. 180).
De acordo com Ferrareto (2001), nesse processo de transformação e
evolução das tecnologias, a Primeira Guerra Mundial serviu como propulsora para o
início das atividades radiofônicas no Brasil. Logo após a Revolução de 1930, o autor
afirma que, para sair de problemas econômicos, o então presidente Getúlio Vargas
passou a incentivar o crescimento industrial, modernizando o país. E assim, “o rádio
começa a se estruturar, não mais como novidade, mas sim se constituindo em um
veículo de comunicação que, ao buscar o lucro, volta-se para a obtenção constante
de anunciantes e de público” (p. 102).
Desta forma, na ânsia de mercados cada vez maiores, assim como visa o
capitalismo, Ferrareto (2001) explica que o rádio no Brasil, antes operados por
empresas internacionais, começa a ganhar forças e fazer sua história no país.
A primeira demonstração pública da radiodifusão no Brasil aconteceu no dia
7 de setembro de 1922, pela Westinghouse, durante a Exposição Internacional do
Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Independência. No entanto,
conforme o professor e jornalista Walter Sampaio (1971), na obra Jornalismo
audiovisual – teoria e prática do jornalismo no rádio, TV e cinema, o verdadeiro
berço do rádio teria sido na região nordeste do país, “isso ocorreu exatamente no dia
6 de abril de 1919, no Recife, quando foi fundada a Rádio Clube de Pernambuco por
Oscar Moreira Pinto que, depois, se associou a Augusto Pereira e João Cardoso
Ayres” (p. 19).
Contudo, de acordo com Ferrareto (2001), a implantação legal do rádio no
Brasil foi liderada por Edgar Roquette-Pinto com a fundação da Rádio Sociedade do
Rio de Janeiro, que teve a sua primeira transmissão no dia 1º de maio, iniciando
assim a era do rádio no país.
A autora Gisela Swetlana Ortriwano (1985) afirma no livro A informação no
rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos, que as rádios
começaram a se difundir pelo país ainda nos anos 20, “as primeiras emissoras
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tinham sempre em sua denominação os termos “clube” ou “sociedade”, pois na
verdade nasciam como clubes ou associações formadas pelos idealistas que
acreditavam na potencialidade do novo meio” (p. 14).
Conforme Ferrareto (2001), até a primeira metade desta década o rádio não
havia descoberto os lucros que o veículo poderia proporcionar. Em junho de 1924,
com fundação da Rádio Clube do Brasil, por Elba Dias, e a autorização para
transmitir publicidade são criadas as programações para as vendas de espaços
publicitários. Logo, o rádio começa a ganhar forma e surgem os comunicadores e
programistas da emissora.
Ferrareto (2001) cita um trecho da autora Maria Elvira Bonavita Federico,
onde a mesma relata que foi nesta fase do rádio brasileiro que começaram a surgir
as primeiras tentativas de transmitir informações aos ouvintes:
Por volta de 1925, a Rádio Sociedade já emitia, além do jornal da manhã, efetivado por Roquette, que comentava as notícias dando um cunho de jornalismo interpretativo, pois se reportava ao evento comentado historicamente, fazia um apanhado geral da situação da época e preconizava sobre as tendências dos acontecimentos; o Jornal do meio-dia, o Jornal da tarde e o Jornal da noite já eram acompanhados de suplementos musicais e abrangiam páginas literárias, agronomia, esportes, seção feminina, doméstica e infantil (FEDERICO, 1982 apud FERRARETO, 2001, p. 101).
Tratando-se de radiojornalismo, o autor Walter Sampaio (1971) relata trecho
do pioneiro dos estudos de Folk-comunicação, Luiz Beltrão, onde ele afirma que o
primeiro jornal falado do Brasil foi apresentado pelos jornalistas Carlos Rios e Mário
Libânio, no final de 1926, em Pernambuco. Ainda, de acordo com o autor, “em 1932,
na Revolução Constitucionalista, São Paulo também iniciava sua experiência
radiojornalística, mais em termos editorais do que propriamente informativos” (p. 20).
Um pouco antes, provavelmente em 1931, em Sorocaba, a PRD-9, Rádio Sociedade, ‘A Voz de Sorocaba’, no interior paulista, já se dava ao luxo de transmitir, das dez da manhã à uma da tarde, discos, e, das oito às onze da noite, notícias e uma hora de estúdio ao vivo (SAMPAIO, 1971, p. 20).
A Rádio Record foi outra emissora de destaque na história nacional do rádio.
Ortriwano (1985) diz que ela difundiu um modelo de programação para as demais
emissoras, com direito a orquestras e astros populares, expandindo-se assim pelos
mais diversos estados brasileiros.
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Sampaio (1971) relata que em 1941, com a II Guerra Mundial e a
necessidade da população colocar-se a par das informações, surgiu o Repórter Esso
por meio da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. E, apesar do seu desenvolvimento
nos anos 1940, na chamada época de ouro do rádio brasileiro, o jornalismo no rádio
ganha impulso na década de 1950 com um novo molde de programação noticiosa
lançada pela Rádio Bandeirantes de São Paulo.
A Rádio Bandeirantes de São Paulo fez-se a pioneira no sistema intensivo de noticiário, lançando em 1954 um processo revolucionário de programação (BR-54), em que as notícias com um minuto de duração entravam a cada quinze minutos e, nas horas cheias, em boletins de três minutos (SAMPAIO, 1971, p. 22).
No entanto, mesmo com o avanço da rádio na maioria dos estados
brasileiros e de sua popularização, o veículo enfrentou um novo desafio nos anos de
1950, o surgimento da televisão.
Quando surge, ela vai buscar no rádio seus primeiros profissionais, imita seus quadros e carrega com ela a publicidade. Para enfrentar a concorrência com a televisão, o rádio precisava procurar uma nova linguagem, mais econômica. Aos poucos, ele vai encontrando novos rumos. No início, foi reduzido à fase do vitrolão: muita música e poucos programas produzidos. Como o faturamento era menor, as emissoras passaram a investir menos, tanto em produção quanto em equipamento e pessoal técnico e artístico. O rádio aprendeu a trocar os astros e estrelas por discos e fitas gravadas, as novelas pelas notícias e as brincadeiras de auditório pelos serviços de utilidade pública. Foi se encaminhando no sentido de atender às necessidades regionais, principalmente ao nível da informação. Começa a acentuar-se a especialização das emissoras, procurando cada uma delas um público específico (ORTRIWANO, 1985, p. 21-22).
Na obra História do rádio no Brasil, a jornalista Magaly Prado (2012) relata
que após os anos de 1960, um grande fator que contribuiu para o crescimento do
veículo foi a criação do transitor, facilitando o trabalho dos repórteres nas matérias
de ruas, e assim favorecendo para o desenvolvimento do rádio. “Nos anos 1970, foi
introduzida a FM (frequência modulada), que levou o crescimento do número de
canais e, consequentemente, de opções para o ouvinte, que até então só tinha
disponível os sinais AM (amplitude modulada) e ondas curtas” (p. 43).
Em 1970, Ferrareto (2001) diz que, devido ao regime militar, a radiodifusão
começou a sofrer alterações principalmente quanto a sua programação, atraindo um
público mais jovem, por seguir as tendências norte-americanas de fazer rádio.
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A partir da segunda metade da década, começa a ocorrer uma segmentação proporcionada, em princípio, pela divisão do espectro em dois ramos com características próprias de som e abrangência. Seguindo a tendência verificada após o final do rádio espetáculo, as estações de amplitude modulada concentram-se no jornalismo, mas coberturas esportivas e na prestação de serviços à população. Este último aspecto, por vezes, materializa-se em programas popularescos centrados na figura de um comunicador que simula um companheiro para o ouvinte, enquanto explora de modo sensacionalista situações do cotidiano. Nas FMs, predomina a música. Inicia um processo de divisão de público que vai se consolidar nos anos 80. Nesta nova realidade, o rádio reestrutura-se e, mesmo sem recuperar o faturamento de outras épocas, reposiciona-se no mercado (FERRARETO, 2001, p. 155).
Em 1980, o regime militar perde força. No entanto, Ferrareto (2001) explica
que, “as pressões sobre a liberdade de informação continuam” (p. 165), e a ditadura
dá lugar a autocensura.
Mesmo assim, a efervescência política chama a atenção do público e a informação ganha destaque nas programações das rádios, ao mesmo tempo em que, ao longo da década, a segmentação consolida-se nos grandes centros urbanos. É importante observar que, nas nove principais regiões metropolitanas do país, viviam 29% da população brasileira em 1980. [...] Um número tão grande de habitantes implica uma variedade de públicos que possuem preferências diferenciadas, além de níveis socioeconômicos, faixas etárias e graus de instrução diversos. Estas particularidades passam a ser exploradas como instrumentos para que o rádio concorra com os demais veículos de comunicação (FERRARETO, 2001, p. 165-166).
Outro fator que nasce para modificar mais uma vez a radiodifusão no Brasil
é o surgimento de canais via satélite.
A radiodifusão sonora brasileira entrou na era das redes via satélite em março de 1982, quando a Bandeirantes AM, de São Paulo, começou a gerar o seu radiojornal Primeira Hora, usando o tempo ocioso do subcanal que a Rede Bandeirantes de Televisão havia alugado no Intelsat 4 (FERRARETO, 2011, p. 166).
Não muito tempo depois, em 1985, nasceu o Brasilsat, um satélite de
comunicações próprio para o Brasil. E, quatro anos depois, em 1989, a Embratel
anunciou a nova fase da radiodifusão no país com o serviço Radiosat.
Com o Radiosat, no dia 25 de setembro de 1989, a Rede Bandeirantes de Rádio passou a operar um canal de satélite próprio. Dois anos depois, além da Primeira Hora, eram transmitidos pequenos informativos de três a cinco minutos, além do Jornal do meio-dia e do Jornal das seis (FERRARETO, 2001, p. 166).
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Nos anos de 1990 começam a surgir as redes de radiodifusão no país
proporcionando abertura para as rádios comerciais. Além disso, Prado (2012)
destaca que, neste período da história do rádio até os anos 2000, outro fator foi a
chegada do computador e da internet. De acordo com a jornalista, essas tecnologias
influenciaram tanto o veículo quanto os ouvintes, fazendo com que a linguagem da
rádio se tornasse mais ágil.
No entanto, este advento também se tornava uma ameaça para o rádio, tão
quanto foi com o surgimento da televisão, como conta o professor Eduardo Meditsch
(2001) no artigo O ensino do radiojornalismo em tempos de internet:
O velho fantasma da extinção do rádio ronda mais uma vez os nossos estúdios, trazendo angústias e incertezas a seus profissionais e gerando confusão entre os estudiosos do meio. Agora, a ameaça se chama internet, o fenômeno que parece querer subjugar o mundo nesta virada do milênio, devorando todas as mídias que o antecederam, até mesmo a televisão, até há pouco tão garbosa no seu domínio sobre a civilização (MEDITSCH, 2001, p. 1).
Apesar dos rumores de que a internet seria uma ameaça para o rádio, os
autores Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima (2003) afirmam no livro Manual
de Radiojornalismo: Produção, Ética e Internet, que a internet não acabará com a
rádio, pois ambas não são concorrentes. Segundo eles, a tecnologia veio para
auxiliar a radiodifusão, tanto no quesito qualidade quanto na elaboração de
conteúdos proporcionando um diálogo com o ouvinte.
Em setembro de 2005, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)
autorizou os primeiros experimentos de transmissões com sinais digitais. De acordo
com a autora Rachel Severo Alves Neuberger (2012), na obra O Rádio na Era das
Convergências das Mídias, no ano de 2010 o Ministério das Comunicações instituiu
o Sistema Brasileiro de Rádio Digital (SBRD). Neuberger explica que está previsto
no documento a recepção do sinal analógico com o digital, ou seja, emissão em
simulcasting.
O novo rádio, apesar de trazer um mundo de possibilidades, traz também uma série de inquietações para as pequenas emissoras, já que a estrutura das mesmas normalmente é precária e o número de funcionários, condizentes com as receitas, é pequeno. Assim, trabalhar como locutor ou como repórter será, possivelmente, uma dupla jornada. Estar adequado às novas tecnologias fará com que haja a necessidade de se trabalhar em ramos que antes eram distantes da realidade do rádio, ou seja, textos, fotos e vídeos (NEUBERGER, 2012, p. 145).
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O rádio digital permitiu que a modulação AM fosse transmitida com menos
interferências e a FM com um som mais limpo, além de possibilitar uma melhor
transmissão via internet. Conforme os autores Oliveira e Nunes (2006) no livro De
Landell ao infinito, na rádio digital também é possível a transmissão de dados, textos
e imagens, devido a sua tecnologia.
Em 2013, a presidente da República, Dilma Rousseff assinou, durante
cerimônia no Palácio do Planalto, um decreto permitindo às emissoras de rádio a
migração da faixa AM para FM. E, em 2014, o Ministério das Comunicações assinou
os documentos com as regras para que ocorram as modificações.
[...] decreto presidencial nº 8139 autoriza a migração das emissoras de rádio que operam na faixa AM para a faixa FM. As regras foram definidas pelo Ministério das Comunicações na portaria nº 127, de 12 de março de 2014. O documento define como os radiodifusores devem proceder para pedir a mudança da frequência e a forma como os processos vão ser analisados pelo MiniCom e pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2010).
O decreto publicado no site do Ministério das Comunicações1 (2010), explica
que o objetivo da mudança é a recuperação da audiência nas rádios AM, que
sofreram prejuízos devido à interferência no sinal pelo qual são transmitidas e pela
impossibilidade de serem sintonizadas por aparelhos como tablets e celulares.
A baixa demanda por novas emissoras AM de caráter local pode ser
explicada pela concorrência do serviço de FM e de sistemas mais modernos de
comunicação. A faixa FM possui cobertura similar com maior qualidade de
transmissão, o que explica o gradual desinteresse na continuidade da prestação do
serviço de AM local. Atualmente, 1.772 emissoras operam na frequência de AM em
todo o Brasil. Elas estão divididas de acordo com o alcance: local, regional ou
nacional (MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES, 2010).
Os veículos com frequência AM que quiserem fazer a migração deverão
encaminhar um pedido para o Ministério das Comunicações e Anatel para
verificarem se há ou não disponibilidade. De acordo com o Ministério (2010), “nas
localidades onde não houver espaço essas emissoras terão de aguardar a liberação
do espaço que vai ocorrer com a digitalização da TV no país”. Até 2018 as
1Disponível em: Acesso em: 15 set. 2014.
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emissoras FMs estão sendo sintonizadas na faixa de 87.9 MHz a 107.9 MHz; com os
canais liberados, a frequência se estenderá de 76 MHz a 107.9 MHz.
2.1.1 A experiência no Rio Grande do Sul
O dia 7 de setembro de 1924 marcou a data da primeira transmissão oficial
da Rádio Sociedade Rio-Grandense, realizada na casa do coronel e empresário
Juan Ganzo Fernandez, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. De acordo com
Ferraretto (2002), foi a “primeira entidade a realizar, de forma organizada,
transmissões radiofônicas no Rio Grande do Sul (p.45)”. Logo após, em 1925, o
autor cita a fundação da Rádio Pelotense de Pelotas como sendo a principal rádio
do interior Rio Grande do Sul e, em 1927, a Rádio Sociedade Gaúcha, em Porto
Alegre.
Na obra Rádio e Capitalismo, Ferraretto (2007) explica que as emissoras
pioneiras possuíam conteúdo artesanal. O autor relata que a mentalidade mudou
após a criação da Rádio Difusora Porto-Alegrense, que foi oficializada em 27 de
outubro de 1934 como rádio comercial.
O autor destaca as emissoras que ganharam notoriedade nos anos de 1950
a 1960:
Neste período, as mais importantes são a PRC-2 – Rádio Gaúcha e a PRH-2 – Rádio Farroupilha, além da ZYU-58 – Rádio Guaíba, inaugurada em abril de 1957. Na disputa pela audiência e, em consequência, pela viabilidade econômica, seguem um caminho próprio, em Porto Alegre, entre outras de menor importância, a PRF-9 – Rádio Difusora Porto-Alegrense, a ZYU-33 – Rádio Itaí e a ZYU-44 – Rádio Clube Metrópole (FERRARETO, 2007, p. 27).
Nos anos de 1950, o autor relata a trajetória da Ordem dos Frades Menores
Capuchinhos que iniciam a aquisição de emissoras de rádios pelo Rio Grande do
Sul, mesclando uma programação igual a das rádios de renome da capital com
informativos dedicados à ação da Igreja Católica. Segundo Ferraretto (2007), “vão
operar assim, estações em Garibaldi, Lagoa Vermelha, Soledade, Veranópolis, e, a
partir de 1958, em Porto Alegre, onde adquirem a Rádio Difusora, até então
pertencente aos Diários e Emissoras Associadas” (p. 57).
Com o surgimento da televisão nos anos de 1950, as emissoras de rádio
gaúchas também passam por uma fase de dúvidas referentes ao mercado da
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radiodifusão. No entanto, Ferraretto (2007) conta que, “com pouquíssimos e caros
receptores de televisão em Porto Alegre, o rádio não chega a experimentar, em um
primeiro momento, o impacto do novo veículo” (p. 84). Apenas com a instalação da
segunda emissora televisiva no Estado, em 1951, que as rádios começaram a sentir
a concorrência.
Segundo Ferraretto (2007), nos anos de 1960 e 1970 as emissoras
passaram por mudanças para adequarem-se à necessidade do público.
Na definição dos novos moldes a serem adotados, três estações – Guaíba, Itaí, e Continental – vão se destacar em uma forma de segmentação de início embrionário, mas no qual já prepondera a preocupação com uma adequação diferenciada à linguagem, às necessidades e aos anseios do público. Público que, na efervescência política e cultural da década de 60 e na euforia econômica do início dos anos 70, comporta novos atores sociais, como as parcelas empobrecidas da população urbana oriunda do campo e os jovens universitários das classes média e média alta (FERRARETTO, 2007, p. 89).
Desta maneira, conforme Ferraretto (2007), o rádio no Rio Grande do Sul
inicia também a modificação de sua programação, onde as músicas substituíram os
programas de entretenimento, e os espaços destinados às notícias – que antes era
pequeno ou nem existia – é ampliado, assim como o espaço dedicado “às
reportagens, à entrevista, à cobertura esportiva, à participação dos ouvintes e à
prestação de serviços” (p. 89.). Outra alteração destacada pelo autor é quanto ao
horário nobre, que, por influência da televisão, passou do turno da noite para a
manhã.
Foi por volta desta década de 1970 que chegaram ao Brasil os rádios
portáteis, que segundo Ferrarretto (2007), por se tratar de um aparelho barato,
aproximou ainda mais o veículo das classes C, D e E:
É a modalidade que dá novas características à recepção de mensagem radiofônica. O que, antes, era estático e exigia atenção constante – o aparelho de grandes proporções em destacada posição na sala de estar – torna-se, com a transistorização, dinâmico, posicionando-se junto ao ouvinte, em toda parte e a qualquer momento, como um ágil companheiro do dia-a-dia (FERRARETTO, 2007, p. 91).
Segundo o autor, a fase da segmentação do Rádio no Rio Grande do Sul se
deu no final dos anos de 1960. Em 1972, as emissoras começaram a se proliferar,
principalmente em Porto Alegre e, nesse mesmo ano, iniciaram as transmissões em
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frequência modulada. No entanto, levando-se em conta o jornalismo na radiodifusão,
Ferratetto (2007) ressalta que o segmento sofreu censura até o final dos anos de
1970, retardando o seu desenvolvimento durante a ditadura militar.
Neste contexto, em 1973, os ouvintes da Região Metropolitana de Porto Alegre contam com 20 estações de rádio em amplitude modulada. Três destas – Farroupilha, Gaúcha e Guaíba – operam também canais em ondas curtas. Mesmo entre as grandes emissoras, a maioria busca, ainda, um público eclético. Destoam, em termos mercadológicos, a Itaí, voltada às classes C e D, com uma programação em que predominam o entretenimento e serviço, e a Continental, com música para os jovens universitários dos estratos A e B. Diferencia-se também das demais a Guaíba, com a sobriedade presente nos textos dos seus noticiários, na música que privilegia comedidas orquestrações e nos comerciais lidos por locutores em substituição a jingles e spots pré-gravados (FERRARETTO, 2007, p. 172).
Outra emissora de destaque citada pelo autor é a estação da Companhia
Jornalística Caldas Júnior, que utilizou como estratégia mercadológica a mescla
entre música, esporte e notícias. Logo após, em 1974, Ferraretto (2007) relata que
com a distensão política promovida pelo governo do general Ernesto Geisel, o
radiojornalismo começa a se desenvolver lentamente, e em 1978 a política retorna
como pauta das emissoras.
Nas eleições para governador estadual de 1982, quando o voto direto é
retomado, Ferraretto (2007) conta que as duas grandes emissoras gaúchas
concorrentes no radiojornalismo, Rede Brasil Sul – Rádio Gaúcha e Rádio Guaíba,
realizaram um trabalho de reportagem na apuração dos votos, que se repetiu nos
anos de 1986, 1988 e 1990. No entanto, conforme o autor, “na linha de evolução da
reportagem radiofônica, cabe registrar, no entanto, que até o início do século 21, a
atividade jornalística enfrenta, ainda, por vezes, restrições de ordem interna em
diversas emissoras” (p. 451).
Em 2003, com as novas tecnologias, aconteceu a primeira transmissão
experimental de recepção digital em uma rádio comercial brasileira, na Rádio
Gaúcha. Sendo assim, pode-se observar que a trajetória do rádio no Rio Grande do
Sul acompanhou o desenvolvimento da história do veículo no Brasil. A radiodifusão
no interior do Estado também ganhou o público, chegando a Garibaldi na década de
1950, como será visto a seguir.
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2.1.2 O rádio em Garibaldi
A primeira rádio de Garibaldi nasceu no início de 1950. De acordo com os
relatos históricos dos autores Elvo Clemente e Maura Ungaretti, no livro História de
Garibaldi (1993), a Rádio Difusora nasceu por meio de um grupo de jovens da
cidade pertencentes à União de Moços Católicos, que criaram um serviço de alto-
falante e o estenderam em pontos estratégicos da cidade. E assim, surgiu a ideia de
criar um sistema de rádio no município.
Mas, conforme a pesquisa da jornalista Daniela Fanti (2012), na monografia
Rádio Garibaldi AM: Uma narrativa história, de 1950 a 2012, foi ainda na segunda
metade dos anos de 1940 que a Rádio Garibaldi AM começou a ganhar forma por
meio da iniciativa de aproximadamente 20 jovens que fundaram a Ação Católica de
Garibaldi, que era uma entidade da igreja, idealizada com o apoio do Frei
Capuchinho Miguel de Alfredo Chaves. Sendo assim, é importante destacar a estima
dos Freis Capuchinhos desde o início da Rádio Garibaldi.
No livro Os Capuchinhos do Rio Grande do Sul, os Freis Rovílio Costa e Luis
A. de Boni (1996) contam que os primeiros frades da congregação dos Capuchinhos
do Rio Grande do Sul se instalaram em Garibaldi no ano de 1896, quando a cidade
ainda recebia o nome de Colônia Conde D’Eu, onde posteriormente ergueram um
convento que, anos depois, também serviria como sede da Rádio Garibaldi AM.
De acordo com Fanti (2012), os jovens que faziam parte do grupo, dentre
eles Claimar Caetano Lorenzi, Lino Miotti e Henrique Dalmaz, utilizavam as horas
vagas para realizarem diversas atividades, entre elas o serviço de alto falante que
recebia o nome A Voz da Ação Católica, em um prédio de dois pisos na União de
Moços Católicos, localizado na Rua Júlio de Castilhos, no centro da cidade. No local,
eles rodavam músicas em disco de vinil, liam notícias retiradas dos jornais, além dos
avisos, oferecimentos e dedicatórias, entre os horários das 12h as 14h e das 18h as
22h. Segundo relatos da autora, “pode ser considerado um dos primeiros indícios de
formação da primeira e única rádio de amplitude modulada do município de Garibaldi
até os dias atuais” (p. 34).
E então, em 1950, os jovens iniciaram o projeto para fundar uma rádio em
Garibaldi, nos mesmos moldes de transmissão do que era realizado por meio dos
alto-falantes:
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Como refere Dalmáz, o rádio-técnico Marcos Balbinot, hoje falecido, foi quem construiu um transmissor, com a ajuda de Marcelino Tosin, e o instalador nos fundos da União de Moços Católicos. Apesar de não pertencer à Ação Católica, Balbinot era muito amigo dos jovens do grupo e, por isso, fez o trabalho gratuitamente, cobrando apenas as despesas com material e equipamentos (FANTI, 2012, p. 36).
Mesmo sem licença, Fanti (2012) afirma que os jovens fizeram para a
comunidade de Garibaldi uma emissora de rádio. Em 8 de setembro de 1950, o
então prefeito da cidade, Heitor Mazzini, expediu o documento de autorização para o
grupo a Voz da Ação Católica – Serviço de Alto-Falantes, abrir uma emissora de
rádio com alcance em todo município. No entanto, o documento não possuía
validação perante as leis Federais.
Sendo assim, Fanti (2012) explica que os idealizadores da rádio procuraram
auxílio dos Freis Capuchinhos para formalizar a emissora, estabelecendo-se assim
uma sociedade civil.
Conhecedores da importância e do respaldo que uma emissora de rádio de cunho religioso traria para o trabalho de evangelização de toda a comunidade de Garibaldi e arredores, os Freis Capuchinhos Siro Severino Ferreto e Abramo Roncatto assinaram em 3 de Outubro de 1951 o Contrato Social da agora denominada Rádio Difusora Garibaldi Ltda. (FANTI, 2012, p. 39).
O Ministro de Viação e Obras Públicas, Octávio Marcondes Ferraz, autorizou
a Rádio Garibaldi a funcionar pela frequência 1480 kHz e com potência de 1000
watts no dia 7 de maio de 1955. Fanti (2012) relata que a licença chegou em
Garibaldi no dia 25 junho de 1956, data em que a rádio foi oficialmente inaugurada
com fins educativos e recreativos, tendo como primeiro contratado, e responsável
pela programação, Henrique Dalmaz.
Ao longo dos anos, conforme relato histórico no site da emissora2, o Frei
Nicolau Lucian comandou a Rádio Garibaldi até falecer, em 03 de maio de 1985. E,
a partir de então o Frei José Ferronato assumiu a direção da emissora. Anos depois,
em 1995, os freis compraram a Rádio Champagne FM.
2 Disponível em: Acesso em: 01 jun. 2014.
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Em 1996 foi iniciada uma reforma geral nos estúdios, dentro de uma nova concepção, que integrava cinco estúdios sem central técnica e informatizava todo processo de produção e administração da rádio, uma verdadeira revolução de métodos e processos, integrando o computador como ferramenta de trabalho numa época em que a maioria das emissoras ainda usava fita cassete, cartucheira e minidisc na programação (RÁDIO GARIBALDI).
A primeira página na internet da emissora foi ao ar no dia 4 de outubro de
1999, e, em 2000, o áudio da rádio começou a ser transmitido no site, tornando-se a
primeira rádio da rede dos Capuchinhos a transmitir informação neste formato,
conforme relatos no histórico do site da Rádio Garibaldi AM. Dois anos após, no dia
30 de abril de 2002, a empresa Rádio Difusora Garibaldi Ltda. foi extinta e
substituída pela Fundação Cultural da Serra, que até os anos de 2014 é a
mantenedora da Rádio Garibaldi AM e Mais Nova FM.
E assim, 58 anos se passaram desde a fundação da primeira radiodifusora
em Garibaldi. A cidade permanece até o ano de 2014 com apenas duas emissoras,
a Rádio Garibaldi AM e a Rádio Maisnova FM, ambas pertencentes aos Freis
Capuchinhos.
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3 O RÁDIO E A GLOBALIZAÇÃO
Neste capítulo será abordada a questão local e global no radiojornalismo,
bem como a internet enquanto parceira do rádio na transmissão de informações.
Dentre os autores pesquisados estão Ianni (1999), Ortriwano (1985), Morin (2002),
McLuhan (1969) e Ferraretto (2001).
3.1 GLOBAL
A tecnologia e o seu desenvolvimento vieram ao encontro da necessidade
dos meios de comunicação, fazendo com que os mesmos ultrapassassem fronteiras
e vencessem inúmeras barreiras tornando-se, assim, parte do mundo globalizado,
como afirma o autor Octávio Ianni (1999) na obra Teorias da Globalização.
Para o autor Edgar Morin (2002), no livro As duas globalizações:
complexidade e comunicação uma pedagogia do presente, a globalização é um
processo que teve início após a conquista das Américas e a expansão europeia pelo
mundo.
A primeira modernização no princípio do século XVI é a globalização dos micróbios, porque os micróbios europeus, como tuberculose e outras enfermidades chegaram às Américas ao longo dos anos. Porém, os micróbios americanos, como os da sífilis, chegaram à Europa. Esta é a primeira unificação mundial danosa para todos. Entretanto o dano principal foi para os conquistados (MORIN, 2002, p. 39).
Segundo o autor, o século XIX é marcado pela dominação da Europa
Ocidental em vários pontos do mundo, que começou a mudar somente no século
XX, que é considerado o período da globalização.
Depois da última guerra mundial começa o processo de descolonização ou a emancipação relativa dos povos dominados. E, ao final dos últimos dez anos, com a derrubada do Muro de Berlim e o fracasso do império soviético, tem-se a hegemonia, sobretudo a partir do centro norte-americano, do mercado mundial, com a dominação tecnológica e econômica do Ocidente (MORIN, 2002, p. 40).
De acordo com Antonio Rosa Neto (1998), na obra Atração Global: A
Convergência da Mídia e Tecnologia, uma prova de que o mundo vive a
globalização é a velocidade pela qual os meios de comunicação estão transmitindo
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informação. Para Morin (2002), esse processo é considerado um fenômeno positivo
visto que permite “a comunicação instantânea em todos os pontos do planeta” (p.
42), possibilitando a troca de informações.
Na década de 1960, o estudioso Marshall McLuhan (1969) desenvolveu o
conceito de aldeia global, com o objetivo de expressar a influência da comunicação
de massa na sociedade contemporânea, conforme descrito na obra Os meios de
comunicação. A era é descrita pelo filósofo como sendo uma aldeia, onde todas as
pessoas podem se comunicar independente da distância que as separa. Segundo as
teorias de McLuhan, este processo é obtido por meio da tecnologia. Neste contexto,
Antonio Rosa Neto (1998) cita algumas das ferramentas que servem como canais da
troca de informação, “Internet, TVs por assinatura, telefone, celular, pagers, painéis
eletrônicos, além das mídias tradicionais como jornal, TV aberta, revista e rádio” (p.
29).
Em relação ao veículo rádio, objeto de estudo da presente pesquisa,
McLuhan (1969) descreve o seu poder de envolvimento:
O poder que tem o rádio de envolver as pessoas em profundidade se manifesta no uso que os adolescentes fazem do aparelho de rádio, durante seus trabalhos de casa, bem como as pessoas que levam consigo seus transistores, que lhes propiciam um mundo particular próprio em meio às multidões (MCLUHAN, 1969, p. 335).
Para afirmar a sua teoria, o autor define o rádio como sendo o sistema
nervoso da informação, “transmitindo notícias, hora certa, informação sobre o tráfego
e, acima de tudo, informação sobre o tempo” (p. 335). Ainda destaca, exemplificando
o poder do veículo, que a existência política de Hitler se deu pela forma como ele
transmitia as suas ideias ao povo por meio do rádio.
O rádio afeta as pessoas, digamos, como que pessoalmente, oferecendo um mundo de comunicação não expressa entre escritor-locutor e o ouvinte. Este é o aspecto mais imediato do rádio. [...] As profundidades subliminares do rádio estão carregadas daqueles ecos ressoantes das trombetas tribais e dos tambores antigos. Isto é inerente à própria natureza deste meio, com seu poder de transformar psique e a sociedade numa única câmara de eco (MCLUHAN, 1969, p. 336-337).
De acordo com Ortriwano (1985), dos meios de comunicação de massa o
rádio é o veículo mais popular e com maior alcance público no Brasil e no exterior.
Ferraretto (2001) afirma que “por ser um meio tradicionalmente de comunicação de
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massa, o rádio possuiu uma audiência ampla, heterogênea e anônima” (p. 23). Logo,
pode-se observar a importância da radiodifusão dentro da comunicação que,
conforme a obra Rádio comunitária: uma estratégia para o desenvolvimento local, da
estudiosa Claudia Mara S. Ruas (2004), “é um processo ativo e não passivo. Ativo
pois cria laços, envolve, amarra, influencia, dirige, manipula, oprime, reprime, libera”
(p. 28).
César (2005) na obra Rádio: a mídia da emoção, afirma que a audiência do
rádio é anônima, devido ao locutor não saber onde encontra-se cada ouvinte, mas
atinge pessoas diversas, de várias classes sociais.
Seu público ouvinte é heterogêneo, por causa da abrangência de pessoas de diversas classes socioeconômicas, com anseios e necessidades diferentes. O rádio, como emissor, utiliza a linguagem oral. Ele “fala” a mensagem e o receptor ouve. O ouvinte não precisa ser alfabetizado (CÉSAR, 2005, p. 163).
Na obra A sociedade em rede, o Manuel Castells (2001) afirma que, ainda
que se defenda a ideia de “aldeia global”, as pessoas buscam cada vez mais a
proximidade, do global ao local. Entretanto, Milton Santos (2002) acredita que, “na
globalização, a localidade se opõe à globalidade, mas também se confunde com ela”
(p.32), destacando a importância da informação local no radiojornalismo.
3.2 LOCAL
De acordo com a autora Cicilia M. Krohling Peruzzo (2005), no artigo Mídia
regional e local: aspectos conceituais e tendências. Comunicação e Sociedade, a
mídia local existe desde os primórdios da criação dos meios de comunicação. A
estudiosa explica que alguns dos veículos atingem abrangência nacional e
internacional, outros, como é o caso do rádio, tem como essência o raio de alcance
nacional e regional.
Para o autor Milton Jung (2007), no livro Jornalismo de rádio, a proximidade
com o ouvinte é uma das principais características do rádio. Segundo ele, as
pessoas fazem do radialista seu amigo, com o qual dividem diariamente inúmeras
situações.
Peruzzo (2005) diz que o território demarcado para identificar o que é
conteúdo local e regional, está além de uma dimensão geográfica necessitando ter
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uma proximidade quanto à sua identidade histórico-cultural e de interesses. Outro
aspecto citado pela autora é a relação global-local, onde a mesma afirma que a
globalização aproxima e impulsiona o local:
Pressupõe-se que o jornalismo local seja aquele que retrate a realidade regional ou local, trabalhando, portanto, a informação de proximidade. O meio de comunicação local tem a possibilidade de mostrar melhor do que qualquer outro a vida em determinadas regiões, municípios, cidades, vilas, bairros, zonas rurais etc. [...] As pessoas acompanham os acontecimentos de forma mais direta, pela vivência ou presença pessoal, o que possibilita o confronto entre os fatos e sua versão midiática de forma mais natural (PERUZZO, 2005, p. 78).
Compartilhando da mesma ideia, os autores Paul Chantler e Sim Harris
(1998), no livro Radiojornalismo, destacam o valor da produção radiojornalística nas
emissoras locais, onde explicam que o instrumento que caracteriza uma emissora
local é a importância que o veículo dá ao jornalismo. Conforme os autores, as
emissoras de rádio que visam somente a audiência ignorando o jornalismo sofrem
consequências, pois, “num mercado cada vez mais disputado, o jornalismo é uma
das poucas coisas que distinguem as emissoras locais de todas as outras” (p. 21).
No entanto, apesar de emissoras de rádio locais transmitirem notícias que
interessam aos moradores de seu município e região, os autores também destacam
a importância do veículo apresentar uma realidade além da vivida na comunidade:
Uma estação de rádio local não será convincente se transmitir apenas notícias locais. Além disso, os jornalistas devem reconhecer que existe um amplo mundo além do seu “quintal’’. As notícias nacionais e internacionais que chegam para o rádio local são fornecidas por várias organizações especializadas. [...] As agências de notícias para a rádio, assim como as que trabalham para os jornais, fornecem informações nacionais e internacionais 24 horas por dia. Como o rádio trabalha com sons, ela fornece não só textos lidos, mas entrevistas e reportagens sonoras. (CHANTLER; HARRIS, 1998, p. 33-34).
O autor Marcelo Parada (2004), no livro Rádio: 24 horas de jornalismo,
explica que seis aspectos são fundamentais para analisar o que pode ser
considerado notícia nas rádios locais:
a) proximidade: onde os ouvintes buscam saber o que acontece na sua
comunidade, no seu bairro;
b) relevância: o assunto deve ser útil e de interesse para a maioria dos
ouvintes;
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c) imediatismo: a principal função do rádio é transmitir a notícia de forma
instantânea;
d) interesse: é a soma das informações que o ouvinte precisa saber com as
que ele quer saber. Errar neste aspecto tem como consequência a perda
de audiência e credibilidade;
e) drama: é contar a história dos fatos sem distorcer a informação ou torná-la
apelativa, visando manter a integridade;
f) entretenimento: o ouvinte faz do rádio o seu companheiro e também
deseja ouvir informações que lhe proporcionem bem-estar.
Já Peruzzo (2005) aponta como falha de muitas emissoras locais “a falta de
ampla cobertura e de apuração de acontecimentos, tanto no nível local como no
regional” (p. 81). A autora explica que informação de proximidade é entendia por
representar as características de um lugar:
[...] que retrate, portanto, os acontecimentos orgânicos a uma determinada região e seja capaz de ouvir e externar os diferentes pontos de vista, principalmente a partir dos cidadãos, das organizações e dos diferentes segmentos sociais. Enfim, a mídia de proximidade caracteriza-se por vínculos de pertença, enraizados na vivência e refletidos num compromisso com o lugar e com a informação de qualidade e não apenas com as forças políticas e econômicas no exercício do poder (PERUZZO, 2005, p. 81).
No livro A constituição da sociedade, o autor Anthony Giddens (1989)
expõem a ideia do rádio como companheiro, principalmente das gerações mais
velhas que buscam rotinas que as auxiliem a se relacionarem com o tempo e o
espaço a partir da informação sobre a sua comunidade.
Além disso, segundo a dissertação de Mestrado da autora Graziela Soares
Bianchi (2003) intitulada A participação do rádio nas construções e sentidos do rural
vivido e midiatizado, na terceira idade, principalmente nas pessoas que residem em
comunidades do interior, o aparelho radiofônico tem um valor simbólico muito
grande, por remeter a fatos do passado que marcaram o imaginário dos receptores.
Assim, para auxiliar o rádio nesse processo de transmitir a informação do
local ao global e do global ao local, o advento da internet serve como facilitador tanto
no processo da produção quanto de transmissão de notícias.
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3.3 A INTERNET COMO PARCEIRA DO RÁDIO
Com o advento da internet nos anos 1990, a rádio ganhou uma aliada. De
acordo com o autor Eduardo Meditsch (2007), na obra O rádio na era da informação:
teoria e técnica do novo radiojornalismo, os jornalistas dependem cada vez mais da
internet para fazerem suas pautas. Além disso, as emissoras utilizam a Web para
suas transmissões e para a postagem do conteúdo noticioso.
A estudiosa Debora Lopez (2010) na obra Radiojornalismo hipermidiático:
tendências e perspectivas do jornalismo de rádio all news brasileiro em um contexto
de convergência tecnológica, afirma que a internet está levando cada vez mais os
profissionais que atuam no rádio a repensarem a forma de fazer radiojornalismo:
Esta tecnologia que afeta a produção, transmissão e consumo de conteúdo radiofônico leva os jornalistas a uma nova condição: repensar e rediscutir o radiojornalismo, seus fazeres e sua linguagem. São processos que não podem ser considerados de maneira isolada, e que prescindem desta relação por se afetarem mutuamente. É tempo de pensar o radiojornalismo para além de sua concepção tradicional, considerando as especificidades de suporte que criam uma nova estrutura narrativa para o rádio (LOPEZ, 2010, p. 37).
A autora explica que o rádio, além de passar as informações pelas ondas
sonoras, torna-se cada vez mais hipermidiático, ou seja, amplia o conteúdo sonoro
com produções audiovisuais, fotográficas de textos na internet.
Barbeiro e Lima (2001), também explica as alterações que a implantação da
internet está causando nas características do rádio.
A nova rádio terá que desenvolver uma grande e excelente quantidade de serviços se quiser que internautas-ouvintes estejam conectados. O núcleo de produção da rádio para internet vai ser maior ou igual ao núcleo que produz a divulgação sonora na rede. Com isso, a rádio perde sua velha vocação auditiva, à medida que agrega arquivos, dados, textos e imagens na programação normal. O novo rádio vai ter que disponibilizar na rede as imagens dos seus apresentadores e entrevistados e até mesmo dos anúncios veiculados (BARBEIRO; LIMA, 2001, p. 38).
Desta forma, como ressalta Lopez (2010), a internet potencializa o rádio
auxiliando no alcance de um novo perfil de público, na interação e participação dos
ouvintes por meio de novos canais. De acordo com a autora, “ao estruturarem seu
site com um perfil interativo e amplamente informacional, com preocupações com
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33
navegabilidade e integração em redes sociais, mostram-se adequadas ao contexto
tecnológico e informacional da internet” (p. 52).
Lopez (2010) destaca que não é somente o rádio que vai ao encontro da
internet. Segunda ela, muitas notícias transmitidas pelos veículos radiofônicos são
de sites informativos, onde “as emissoras de rádio abrem mão de seus valores
notícia e assumem como seus os valores dos sites informativos nos quais se
baseiam [...]” (p. 83).
No entanto, apesar de a internet ser aliada do rádio, nem todos os brasileiros
possuem acesso à rede. De acordo com dados apresentados na Pesquisa TIC
Domicílios 2013, sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no
Brasil3, 24,2 milhões de domicílios com renda mensal de até 2 salários mínimos não
têm acesso à Internet, assim como 7,5 milhões de brasileiros que residem na área
rural. Conforme a pesquisa, 45,1 milhões de pessoas de 45 anos ou mais, e 49,9
milhões de pessoas que possuem uma renda familiar de até 2 salários mínimos, não
são usuárias de internet.
Sendo assim, notam-se dois desafios destacados por Lopez (2010)
enfrentados pelo rádio informativo atualmente, “o incremento da concorrência e o
envelhecimento da audiência” (p. 2). Se por um lado, como cita Peruzzo (2005), o
rádio local tem a possibilidade de atingir regiões como a zona rural de uma forma
muito mais abrangente do que qualquer outro veículo de comunicação, ele
frequentemente fica limitado por se tratar de um público, como citado no TIC
Domicílios 2013, que muitas vezes não tem acesso à internet.
Por outro lado, o rádio precisa se adaptar, como explicou Lopez (2010), aos
novos suportes digitais para assim suprir a nova demanda informativa estabelecida
por um público convergente e global.
3 Disponível em: Acesso em: 30 out.
2014.
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4 A PRODUÇÃO DE CONTEÚDO NO RÁDIO
No presente capítulo será apresentada a estrutura que fundamenta a rádio
como veículo de comunicação, bem como os seus gêneros, formatos, produção,
com ênfase para o radiojornalismo, que é o objeto de estudo desta pesquisa, tendo
como principais autores Ferraretto (2001), Barbosa Filho (2009) e Walter Sampaio
(1971).
4.1 GÊNEROS E FORMATOS DE PROGRAMAS RADIOFÔNICOS
A personalidade de cada rádio, seja ela AM ou FM, determina o perfil de seu
público. Desta forma é definida a segmentação do veículo, que segundo Ferraretto
(2001), no livro Rádio: o veículo, a história e a técnica, é um processo onde os
programas da emissora adaptam-se as preferências de um determinado grupo ao
qual o indivíduo pertença.
Para o autor André Barbosa Filho (2009), no livro Gêneros Radiofônicos:
formatos e os programas de rádio, esses programas são classificados por gêneros:
jornalístico, educativo-cultural, entretenimento, publicitário, propagandístico, serviço
e especial.
O gênero jornalístico, segundo Barbosa Filho (2009), é a ferramenta
destinada para atualizar os ouvintes dos acontecimentos. O autor explica que este
gênero é apresentado no rádio por 14 formatos
a) notas: são frases diretas de aproximadamente quarenta segundos que
passam a informação resumida de um fato atual;
b) notícias: são as informações básicas sobre um fato, tendo um tempo curto
de duração, aproximadamente um minuto e trinta segundos. Dependendo
da quantidade de informação pode ser apresentada em mais de um bloco,
por dois ou mais locutores. A notícia pode ser classificada conforme o
modo em que é divulgada, podendo ser em flash, que tem como objetivo
passar a informação com a maior rapidez possível; em notícias
explicadas, que são apresentadas nos boletins e nos radiojornais tendo
como característica relatar o fato em si e tudo o que for necessário para
compreendê-lo; notícias de opinião, onde o fato é relatado com o
comentário do jornalista; notícia ambientada, utiliza suportes sonoros para
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dar apoio ao fato noticiado; notícia monologada e dialogada, tem como
característica a participação do apresentador sozinho ou em parceria;
notícia documentada, por meio de dados e sem a presença de opiniões,
tem como princípio esclarecer os ouvintes do acontecimento pelo qual
deu-se enfoque e, por meio do informe, que conta a versão completa dos
acontecimentos e busca entender o porquê deles terem acontecido,
desenvolvendo a notícia com informações do presente e do passado;
c) boletins: são programas informativos com a duração de no máximo cinco
minutos, formado por notas, notícias e pequenas entrevistas.
Habitualmente são transmitidos nas chamadas “horas cheias”;
d) reportagens: são as notícias com maior profundidade, que apresentam as
inúmeras variáveis do fato narrando;
e) entrevistas: são as principais fontes para colher informações. Elas podem
ser diretas, feitas ao vivo, e diferidas, onde são montadas antes da
transmissão da matéria. Ainda, as entrevistas podem ser de caráter, que
tem como foco a personalidade do entrevistado, e noticiosa, onde a
informação é o objetivo central, podendo ser estrita, mais ágil e breve, ou
em profundidade, com mais informações, tendo como objetivo gerar
reflexões;
f) comentários: são as opiniões do comentarista sobre a notícia apresentada
e não deve ultrapassar três minutos;
g) editoriais: são as opiniões da instituição radiofônica;
h) crônicas: são formatos que mesclam jornalismo e literatura e tendem a
sensibilizar o ouvinte pela forma como é narrada pelo locutor;
i) radiojornal: é um formato que reúne outros formatos jornalísticos, como as
notas, notícias, reportagens, entrevistas, comentários e crônicas,
possuindo diversas editorias, como notícias nacionais, internacionais,
econômicas, culturais, de serviços, política, esportes, entre outras;
j) documentário jornalístico: são matérias que desenvolvem uma pesquisa
sobre o determinado tema analisando-o de forma específica;
k) mesas-redondas ou debates: são espaços destinados para a discussão
de temas da atualidade e devem ser ou ter aparência de ao vivo;
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l) programas policiais: podem ser apresentados durante os radiojornais ou
de forma independente cobrindo os acontecimentos da área de
segurança, por meio de reportagens, notícias, comentários e entrevistas;
m)programas esportivos: têm como objetivo cobrir as informações do
esporte, podendo ser apresentados no radiojornal ou em programas
específicos no formato de notícias, reportagens, mesa-redonda e
entrevista;
n) divulgação tecnocientífica: tem como foco informar a população com uma
linguagem de fácil entendimento sobre o mundo da ciência.
O gênero educativo-cultural, é muito utilizado em países desenvolvidos e,
conforme Barbosa Filho (2009), é de extrema importância para o desenvolvimento
da sociedade, pois visa educar por meio do veículo.
O gênero de entretenimento é caracterizado por ir do real à ficção. O autor
destaca que ele cria proximidade e empatia entre a mensagem passada e o
receptor, por geralmente ter a participação do ouvinte. O gênero pode ser
classificado como formato de programa musical, ficcional, interativo de entrevista e
programete artístico.
O gênero publicitário é um espaço destinado para a venda de produtos ou
serviços. Barbosa Filho (2009) ressalta que é um gênero importante para
estabilidade do veículo, classificando-os como:
a) esporte: é um anúncio radiofônico que tem como característica a locução
com o suporte de meios sonoros, com tempo médio de duração de trinta
segundos.
b) jingle: é uma peça musical curta com o anúncio cantado em uma melodia
simples e fácil de decorar.
c) testemunhal: são as propagandas feitas pelos locutores, devido à
credibilidade dos mesmos perante os ouvintes.
d) peça de promoção: são ações publicitárias que tem como principal
objetivo aumentar a receita do veículo levando a mensagem dos
patrocinadores.
O gênero propagandístico é descrito pelo autor como sendo um gênero que
tem o poder manipular atitudes coletivas por meio de peças radiofônicas de ação
pública e programas eleitorais.
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Barbosa Filho (2009) classifica também o gênero de serviço como sendo um
informativo que comunica “necessidade reais e imediatas de parte ou de toda a
população ao alcance do sinal transmitido pela emissora de rádio” (p. 135). Como
último gênero o autor cita o gênero especial, que apresenta variados formatos como
programas infantis e de variedades.
Quanto aos formatos de programas radiofônicos, Barbosa Filho (2009)
explica que são ações que podem ser integradas em gêneros radiofônicos,
“manifestado por meio de uma intencionalidade e configurado mediante um contato
plástico, representado pelo programa de rádio ou produtor radiofônico (concordando
com conjunto)” (p. 71).
Ferraretto (2001) classifica os formatos como sendo puros e híbridos. No
grupo dos puros ele destaca os formatos informativo, musical, comunitário,
educativo-cultural e místico-religioso. Já nos híbridos, os formatos com participação
dos ouvintes e música-esporte-notícia.
Segundo o autor o formato informativo tem o objetivo de transmitir a notícia
em duas formas, all talk ou talk and news:
[...] all talk, em que preponderam a opinião, a entrevista e a conversa com o ouvinte; e talk and news, no qual há uma mescla dos anteriores. O formato informativo apresenta nuanças. A sua adoção não significa, portanto, que as emissoras tenham programações com finalidades idênticas (FERRARETTO, 2001, p. 61).
O formato musical é classificado por Ferraretto (2001) como sendo mais
utilizado pelas emissoras FM, com apresentações ao vivo ou gravadas. De acordo
com o autor, este formato pode ser subdividido em musical jovem, adulto e
popularesco. Em relação ao formato comunitário, o estudioso explica que se trata de
uma programação voltada para a comunidade.
O formato educativo-cultural, classificando anteriormente por Barbosa Filho
(2009) como gênero radiofônico, é descrito por Ferraretto (2001) como sendo um
formato utilizado por emissoras não comerciais, “voltadas a uma programação que
pretende formar o ouvinte, ampliando seus horizontes educativos e culturais” (p. 63).
Outro formato classificado pelo autor é o formato místico-religioso, que é utilizado
por emissoras que transmitem exclusivamente programação religiosa.
Fazendo parte dos formatos destacados por Ferraretto (2001) como híbrido,
a participação do ouvinte é descrita como sendo o rádio do bate-papo com o ouvinte,
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que pode também ser utilizada dentro dos formatos informativo e comunitário. O
último formato que o autor explica é a música-esporte-notícia, que é um formato
onde se misturam vários elementos para assim o programa se adequar ao público.
Ferrareto (2001) afirma que as formas mais comuns de programação são:
linear, em mosaico e em fluxo. O autor define o termo linear para a programação
homogênea, ou seja, onde todos os programas da emissora seguem a mesma linha.
A programação em mosaico, é o conjunto de programas extremamente variados
compostos, em geral, no primeiro período da manhã com programação para um
público mais genérico, intercalando informação e música. Logo após, iniciam os
programas jornalísticos focados em notícias locais e regionais. Durante a tarde, a
programação visa atingir as classes C e D com comunicadores populares.
Já conforme o autor, a programação em fluxo, diferentemente das duas
outras formas apresentadas anteriormente, “é estruturada em uma emissão
constante em que se encara toda a programação como um grande programa
dividido em faixas bem definidas” (p. 60).
O objeto de estudo desta pesquisa, o programa Panorama, o Noticiário do
Meio-dia, faz parte da programação direcionada à transmissão de notícias. Segundo
Ferraretto (2001) esse gênero, descrito como radiojornalismo, é propagado por meio
dos noticiários, quer sejam em forma de textos ou reportagens, tema este que será
explicado a seguir.
4.2 O RADIOJORNALISMO
A autora Gisela Swetlana Ortriwano (1985) explica em seu livro Informação
no rádio: Os grupos de poder e a determinação dos conteúdos, que o objetivo da
informação é manter as pessoas atualizadas sobre os acontecimentos. A autora
classifica oito características que fazem o rádio ganhar destaque entre os meios de
comunicação de massa.
A primeira característica citada por Ortriwano (1985) é a linguagem oral, que
permite ao rádio atingir um grande público, inclusive às pessoas não alfabetizadas. A
segunda característica é voltada para a penetração das ondas, que possibilita o
rádio chegar em lugares que outros veículos não conseguem alcançar.
A terceira característica é a mobilidade, que é dividida pela autora sobre dois
pontos de vista: dos produtores, que consideram o veículo vantajoso por possuir
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transmissão móvel e a possibilidade de utilizar o improviso para comunicar o fato a
qualquer hora, de qualquer lugar, e o ponto de vista dos receptores, que podem se
deslocar para qualquer lugar com os aparelhos portáteis, seja no trabalho, enquanto
dirige ou limpando a casa.
Como quarta característica a autora aponta o imediatismo como sendo uma
das principais vantagens do rádio, pois transmite os acontecimentos dos fatos
instantaneamente. Logo em seguida, Ortriwano (1985) destaca o baixo custo tanto
para produzir a mensagem, quanto para a aquisição de aparelhos radiofônicos por
parte dos ouvintes, que com a tecnologia tem avançado para os celulares e
computadores. A autora afirma que o rádio é “o meio de mais baixo custo de
produção em relação ao público atingido” (p. 80). E por fim, a estudiosa cita a
sensorialidade, onde o ouvinte acaba desenvolvendo uma linguagem mental com o
veículo, criando um envolvimento emocional e estimulando a imaginação.
Já o autor Walter Sampaio (1971) diz, no livro Jornalismo audiovisual: rádio,
tv e cinema, que informar é o conceito básico do radiojornal. Para Ortriwano (1985) a
informação radiofônica é classificada em cinco níveis:
a) 1º nível: a notícia de um acontecimento relevante e de interesse público,
que é transmitida a qualquer momento, tendo como prioridade o
imediatismo;
b) 2º nível: são as notícias especiais que tem como objetivo aprofundar os
fatos;
c) 3º nível: são os boletins, ou seja, conjunto de informações;
d) 4º nível: são os jornais falados que trazem em seu conteúdo informações
mais aprofundadas e com uma seleção baseada no seu valor notícia,
transmitindo as notícias do dia, com ressalvas do dia anterior e projeção
para o dia seguinte;
e) 5º nível: são as informações jornalísticas integradas a um programa de
variedades.
A autora afirma que todos os cinco níveis são importantes, mas dá um
destaque aos programas jornalísticos fixos, pois “permitirão a quem não possa ouvir
rádio o dia todo saber quando poderá encontrar reunidos os fatos que, ao menos
teoricamente, foram os mais importantes” (p. 05).
Já Ferraretto (2001) cita o noticiário como sendo um dos formatos do rádio
que tem a função de transmitir informações, subdividindo-o em cinco categorias:
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a) síntese noticiosa – com a duração de aproximadamente cinco a dez
minutos, a síntese noticiosa é um informativo contendo os acontecimentos
mais importantes;
b) radiojornal – a junção de várias formas jornalísticas, como boletins,
comentários, editoriais, entre outros.
c) edição extra – é um mini-informativo com algum fato relevante que não
pode esperar para ser noticiado no próximo programa da emissora,
interrompendo assim qualquer que seja a programação;
d) toque informativo – mais comum em emissoras FM e dentro da
programação musical, é um espaço informativo que apresenta uma ou
duas notícias;
e) informativo especializado – abrange uma área de cobertura específica,
como é o caso dos noticiários esportivos.
O autor também classifica três gêneros jornalísticos presentes no rádio:
jornalismo informativo, jornalismo interpretativo e jornalismo opinativo.
Ferraretto (2001) descreve o jornalismo informativo, como sendo o gênero
predominante nos noticiários, aparecendo na maioria dos boletins. Já segundo o
autor, o jornalismo interpretativo tem como objetivo deixa o ouvinte informado do fato
que está acontecendo:
Este gênero ainda está presente em alguns boletins em que o repórter situa o fato em um quadro amplo, podendo englobar aspectos sociais, econômicos, históricos e culturais. [...] No rádio, recursos de sonoplastia podem servir à contextualização do fato. O repórter que grava as palavras de ordem gritadas pelos participantes de uma passeata e com elas abre o seu boletim está situando o ouvinte no fato narrado, além de, com mais facilidade, capturar e manter a atenção do público (p. 201).
Quanto ao jornalismo opinativo o autor afirma que se trata de um julgamento
realizado pelo próprio comunicador ou pelo veículo sobre determinado
acontecimento.
Sampaio (1971) destaca que a elaboração das notícias para o rádio, apesar
de também seguirem as etapas básicas do lead, onde respondem quê? – quem? –
quando? – onde? – Como?, são constituídas por todos os fatos possíveis pelos
quais se pretendem informar.
Na obra Teorias do jornalismo: a tribo jornalística – uma comunidade, o autor
Nelson Traquina (2005) relata que muitos jornalistas têm dificuldade para explicar o
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que é notícias e o critério de noticiabilidade, ilustrando-as superficialmente como, “o
que é importante e/ou o que interessa ao público” (p. 62).
Já Ferrareto (2001) diz que o valor notícia é fundamental devendo ser
observado a relevância da informação para assim determinar sua abrangência. O
autor destaca quatro elementos essenciais