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sta não é uma história como as outras. Os protagonistas são empresas, veículos financei- ros, fundos de investimento. A ação decorre em contratos. No fundo, tudo se passa em Portugal, mas algumas das ce- nas principais acontecem no Luxemburgo e nas Ilhas Cai- mão. E, para responder à úl- tima pergunta tradicional do jornalismo - «quando?» -, teremos de contar factos que ocorreram ao longo dos últimos 14 anos. Ano 1999: O anfitrião é Ricardo Salgado, o poderoso e dinâmico chairman do Grupo Espírito Santo (GES), o império financeiro mais influente, e tradicional, do País. Os restantes personagens são também eles ilustres: Frank Carlucci, ex-embaixador dos EUA durante o PREC, em- presário do grupo Carlyle; Tony Coelho, ex-congressis- ta e diretor de campanha do vice-Presidente Al Gore; e Sherman Lewis, vice-chairman do banco de investimentos americano Lehman Brothers. Falta quase uma década para a ruína do Lehman Bro- thers, que marcaria o início da crise que ainda vivemos. E a empresa que os norte-americanos representam - e na qual investiram parte das suas fortunas -, a Euroamer, está também ainda longe de fechar as portas, o que virá a acontecer em 2005. Fracassos que o patrão do GES não pode, nesta altura, adivinhar. Por isso, aceita receber os investidores americanos. Afinal, a Euroamer acaba de concluir alguns negócios imobiliários importantes e mos- tra boa saúde. O século XX termina em euforia, em Portugal e no cada vez mais arriscado mundo dos investimentos financeiros. A expansão imobiliária vive o seu apogeu. É um negócio que transforma, literalmente, em ouro. Tal como acon- tece nesta história. Cabe à Euroamer encontrar terrenos «com potencial» de valorização. O papel do GES é financiar a compra e desnvolvimento dos projectos. Mas os empreendimentos Portais de Carnide, em Lisboa, e da Quinta Marques Go- mes, em Gaia, ainda hoje dão dores de cabeça aos respon- sáveis do GES. SUSPEITAS DE 'FRAUDE FISCAL' A Euroamer, através da sua subsidiária Moinho do Paço, vende à Espírito Santo Activos Financeiros (ESAF), em nome do fundo Gespatrimónio, estes dois terrenos. O de Gaia é alvo de três escrituras públicas e custa 12 320 308,06€ - sensivelmente o mesmo preço que a Euro- amer paga por ele, no mesmo dia 26 de fevereiro de 1999. Facto curioso: a Euroamer apenas foi proprietária dos imóveis durante escassos minutos. No dia 14 de outubro de 1999, a ESAF estabelece um protocolo com um off-shore, chamado Aynor, cuja ligação à Euroamer se desconhecia então, para o desenvolvimento de um processo de urbani- zação. A repartição dos lucros é incomum: 70% vão para o ?

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Page 1: Press Review page - ClipQuick · 2013-01-31 · off-shore e os restantes 30% para a ESAF, que é a dona Mas há mais: Luís Monteiro, que assina as escrituras pela ESAF, neste negócio,

sta não é uma história comoas outras. Os protagonistas são

empresas, veículos financei-ros, fundos de investimento.A ação decorre em contratos.No fundo, tudo se passa emPortugal, mas algumas das ce-nas principais acontecem noLuxemburgo e nas Ilhas Cai-mão. E, para responder à úl-tima pergunta tradicional do

jornalismo - «quando?» -, teremos de contar factos queocorreram ao longo dos últimos 14 anos.

Ano 1999: O anfitrião é Ricardo Salgado, o poderosoe dinâmico chairman do Grupo Espírito Santo (GES), o

império financeiro mais influente, e tradicional, do País.Os restantes personagens são também eles ilustres: FrankCarlucci, ex-embaixador dos EUA durante o PREC, em-presário do grupo Carlyle; Tony Coelho, ex-congressis-ta e diretor de campanha do vice-Presidente Al Gore; eSherman Lewis, vice-chairman do banco de investimentosamericano Lehman Brothers.

Falta quase uma década para a ruína do Lehman Bro-thers, que marcaria o início da crise que ainda vivemos.E a empresa que os norte-americanos representam - e na

qual investiram parte das suas fortunas -, a Euroamer,está também ainda longe de fechar as portas, o que só viráa acontecer em 2005. Fracassos que o patrão do GES não

pode, nesta altura, adivinhar. Por isso, aceita receber osinvestidores americanos. Afinal, a Euroamer acaba deconcluir alguns negócios imobiliários importantes e mos-tra boa saúde.

O século XX termina em euforia, em Portugal e no cadavez mais arriscado mundo dos investimentos financeiros.

A expansão imobiliária vive o seu apogeu. É um negócioque transforma, literalmente, pó em ouro. Tal como acon-tece nesta história.

Cabe à Euroamer encontrar terrenos «com potencial»de valorização. O papel do GES é financiar a compra e

desnvolvimento dos projectos. Mas os empreendimentosPortais de Carnide, em Lisboa, e da Quinta Marques Go-mes, em Gaia, ainda hoje dão dores de cabeça aos respon-sáveis do GES.

SUSPEITAS DE 'FRAUDE FISCAL'

A Euroamer, através da sua subsidiária Moinho do Paço,vende à Espírito Santo Activos Financeiros (ESAF), emnome do fundo Gespatrimónio, estes dois terrenos.O de Gaia é alvo de três escrituras públicas e custa12 320 308,06€ - sensivelmente o mesmo preço que a Euro-amer paga por ele, no mesmo dia 26 de fevereiro de 1999.

Facto curioso: a Euroamer apenas foi proprietária dosimóveis durante escassos minutos. No dia 14 de outubrode 1999, a ESAF estabelece um protocolo com um off-shore,chamado Aynor, cuja ligação à Euroamer se desconheciaentão, para o desenvolvimento de um processo de urbani-zação. A repartição dos lucros é incomum: 70% vão para o ?

Page 2: Press Review page - ClipQuick · 2013-01-31 · off-shore e os restantes 30% para a ESAF, que é a dona Mas há mais: Luís Monteiro, que assina as escrituras pela ESAF, neste negócio,

off-shore e os restantes 30% para a ESAF, que é a dona

Mas há mais: Luís Monteiro, que assina as escrituras pela

ESAF, neste negócio, passa a trabalhar para a Euroamer.

Apesar dos contratos assinados, as obras não podem

avançar porque os planos municipais de ordenamento

(PDM, Plano de Pormenor Canidelo-Afurada, programa

Polis) estão em processo de revisão, ou aprovação, o que

impede o licenciamento das obras.

Com os terrenos parados, o dinheiro continua a circular.

É o que demonstra uma consulta ao processo 2859/04.3 tdl-

sb, no Departamento Central de Investigação e Ação Penal,

em Lisboa, onde tramitam os casos complexos, de crimina-

lidade económica. O fundo off-shore da Euroamer, Aynor,deve 2 milhões à ESAF,

que esta não se esforça porcobrar. A ESAF paga, «porconta de mais-valias»,

7 715 382,36 cao Aynor.E já tinha gasto 26,2 mi-lhões (com a compra e

gastos posteriores) e nem

sinais de mais-valias.

Todos estes dadosconstam de um minucio-

so relatório da CMVM,instruído pela inspetoraSandra Lage, que culminou, em 14 de junho de 2006, com

a condenação da ESAF ao pagamento de 1,25 milhões de

euros de multa. O supervisor considerou que aquela em-

presa do GES «violou deveres de diligência e profissiona-

lismo, colocando em causa a transparência e credibilidade

do mercado». A CMVM enviou para o Ministério Público

«indícios de crimes de fraude fiscal qualificada».A Inspecção-Geral de Finanças, no dia 19 de janeiro de

2004, já concluíra o mesmo: A ESAF «encontra-se enreda-

da numa teia de interesses que são formalmente alheios

aos do fundo que gere», mostra uma «conduta muito cen-surável» e pode ter cometido «crimes de fraude fiscal».

Além da multa que pagou à CMVM, a ESAF foi obriga-da a injetar 9 milhões de euros no fundo Gespatrimónio(correspondentes aos pagamentos e dívidas por cobrar

que ficaram provados no processo de contraordenação).Os impostos foram regularizados. Não houve nenhuma

condenação judicial. Mas o caso não morre aqui.

AGARRA-ME, SE PUDERES...

Depois da condenação pela CMVM, a ESAF

decide criar um novo fundo imobiliário.Chama-se Fundimof, e nasce no dia 27 de

novembro de 2006. Fonte do Grupo Espí-rito Santo afirma que esta mudança resulta

de uma nova estratégia - mudar os inves-

timentos imobiliários expcctantes (sem

aprovação) para fundos fechados: «Foitomada a decisão de prosseguir uma es-

tratégia de venda de todos os imóveis com

aquelas características e focar a carteira do

fundo em imóveis acabados e com capacidade de gerarrendimentos constantes.»

Um ano depois, numa sexta-feira que antecede as mini-

férias de Natal, no dia 21 de dezembro de 2007, o Fundi-

mof muda de nome para Imogestão. O capital quintuplica:de 5 milhões para 25 milhões.

Apenas seis dias depois, no dia 27, a Imogestão faz a

sua primeira (e até agora única) grande aquisição: por65,5 milhões de euros, compra ao fundo Gespatrimónioos dois terrenos que este havia comprado à Euroamer, em

1999. Conta, para tal, com um empréstimo de 45,5 milhões

do BES, por seis anos (termina em 2013).

Aparentemente, a ESAF lucra com o negócio. Adqui-riu, em 1999, os dois

terrenos por cerca de

21 milhões de euros

(12,3 milhões o de Gaia,

8,7 milhões o de Carni-

de) e foi forçada, pelaCMVM, a pagar 10 mi-lhões de euros, por ir-

regularidades. A venda

dos terrenos rende 34,5

milhões de euros.Mas quem é o dono da

Imogestão? Até ao dia

21 de dezembro de 2007, é a própria ESAF. No momento

da compra dos terrenos é, na mesma, a F.SAF, mas apenascom 20%, já que surge uma nova entidade, dona de 80% do

capital: o Strategic Real Estate Fund, das Ilhas Caimão.

Durante o ano de 2008, a Imogestão contrata os servi-

ços da Eurogestion & Partners, uma empresa gestora de

financiamentos suíça, cujo presidente do Conselho de

Administração, Alexandre Cadosch, é um antigo quadrodo Grupo Espírito Santo. É esta empresa que, tal como

explica um relatório interno de 2008, decide «colocar

entre o Strategic Real Estate Fund e o fundo Imogestãoum veículo especial no Luxemburgo» com o propósitode «aproveitar o estatuto luxemburguês e beneficiar de

isenções fiscais (participation exemptions)». Nesta altura,o Luxemburgo ainda integra a lista oficial de «paraísosfiscais», de que saiu em novembro de 2011.

«Para manter uma porta aberta a uma possível venda

das unidades de participação da Imogestão», continua

o relatório, é feita uma «estruturação de capital» da em-

presa luxemburguesa por forma a «transferir os lucros da

companhia para o fundo-mãe, nas Caimão,

com uma taxação mínima, i.e. aproximada-mente 1,5%».

A IMOGESTÃO, FUNDO CRIADO PELA ESAF,

COMPRA AO GESPATRIMÓNIO, OUTRO FUNDO

GERIDO PELA MESMA EMPRESA, DOIS

TERRENOS POR 65,5 MILHÕES DE EUROS.

0 VALOR DOSTERRENOSTRIPLICOU. MESMO

SEM HAVER URBANIZAÇÃO APROVADA

Resumindo: em 2008, a Imogestão mu-dou outra vez de titulares. Mas, aparente-mente, só no papel. Com 80%, aparece, ago-

ra, o «veículo especial» Prime PropertiesInvestments, com sede no Luxemburgo queé, como vimos, detido pelo fundo StrategicReal Estate, das Caimão. Os 20% da Imo-

gestão que estavam em nome da ESAF tran-

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Uma relação próxima0 Grupo Espírito Santoe a Ongoing cruzam-seem vários pontos destahistória. Veja quem é quemnos dois universos

A chamadade RelvasNo último Conselho de Ministros (CM)do Governo PSD/CDS liderado por PedroSantana Lopes, no dia 2 de fevereirode 2005, uma outra urbanização do

GES, o empreendimento Portucale, emBenavente, levantou suspeitas públicas.O caso dá que falar até hoje. Mas da

agenda do CM constava, também, a sus-pensão do PDM de Gaia. que permitiriao andamento dos trabalhos da QuintaMarques Gomes. Há uma conexão entreo caso Portucale e este de que aquifalamos: ambos foram motivo para con-versas ao telemóvel entre Abel Pinheiro,

do CDS, e Miguel Relvas, secretário-geraldo PSD.Relvas afirmou em tribunal, durante o

julgamento do caso Portucale (em quecompareceu como testemunha), queteve uma «participação direta» na tenta-

tiva de fazer passar a suspensão do PDMde Gaia, que viabilizaria o andamentodo projeto da Quinta Marques Gomes.Um dos juizes, citado pelo JN, tentouperceber por que razão o secretário-ge-ral do PSD, à época, se dedicava a tentarsuspender o PDM de Gaia, quando oGoverno já estava de saída: «Secretário--geral do PSD não é um cargo de Estado!Têm que ser os aparelhos partidários atratar destes assuntos? As pessoas queestão no Governo parece que não têmcompetência para isto e têm que ser

pessoas como o secretário-geral do PSDe como o dr. Abel Pinheiro a fazê-10...»,

questionou o magistrado Fernando Pina,no dia 19 de maio de 2011. Não há registoda resposta do atual ministro-adjunto.

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?¦ sitam para o Fundo de Pensões do BES. Esta é a estruturaacionista que se mantém até hoje.

Fundo de pensões da PT é acionista do Benfica Stars Fund

Foi a história do verão de 2009. A PT

entregou 75 milhões de euros à Ongoing.Administradores bateram com a porta.Henrique Granadeiro disse-se «encor-nado». Especulou-se: serviria o dinheiro

para financiar a compra da TVI pelo

grupo de Nuno Vasconcellos? Não foi

bem assim...Constituído por 55 milhões de euros, em29 de junho de 2009, exclusivamente

por verbas da PT Prestações, o Fundo F,

da Ongoing International Partners/GIO,

comprou, logo na sua criação, 25% das«unidades de participação» do fundo de

jogadores do Benfica. A Benfica SAD é

dona de apenas 15% deste fundo, que é

gerido pela ESAF.

A PT Prestações é um sistema de apoioà saúde para os reformados da empresa,equiparado a um fundo de pensões, comos mesmos benefícios fiscais.

Em 2009, o administrador responsá-vel pela Previsão (que gere os fundos

sociais na PT) era Fernando Soares

Carneiro, um dos administradoresindicados pelo Estado. SoaresCarneiro não pediu parecersobre este investimento aoComité de Investimentos do

Conselho de Administra-

ção. Outro administradorda PT, Jorge Tomé,criticou esta falta.

O chairman, HenriqueGranadeiro, apontou-

-lhe a porta da rua. Em 22 de fevereirode 2010, Soares Carneiro sai, recebendo

uma indemnização de 1,8 milhões de

euros. A Ongoing contratou os seus

serviços, no Brasil.

Quando foi criado, em 2009, o BenficaStars Fund valia 40 milhões de euros,divididos em 8 milhões de unidades de

participação. A PT Prestações, atravésda Ongoing, comprou 2 milhões, por10 milhões de euros. Hoje, cada unidadede participação vale 3,6 euros. E o valor

líquido do fundo é de 29,4 milhões. A

participação da PT já só vale 7,2 milhões,tendo «perdido», neste negócio,2,8 milhões, em apenas dois anos.Não é uma surpresa. O próprio BenficaStars Fund, «considerando os riscos ine-

rentes», diz procurar «um perfilde investimento agressivo.»

Será esse o caso da PT Prestações?À VISÃO, fonte da PT afirma que a em-

presa «nunca deu qualquer indicação deinvestimentos». E que esta matéria «foi

objecto de esclarecimentos públicos em2009».Entre os «ativos» do fundo estão jogado-res como Cardozo e Gaitán. E estiveramoutros, como Coentrão, Jávi Garcia e

David Luís, já vendidos. Mas casos como? de Schaffer já obrigaram ao registode «imparidades». Outros, como Alan

Kardec, Felipe Menezes e Yartey, são, até

ver, maus negócios. O relatório e contasdo fundo regista mais de 12 milhões em«menos-valias». Numa frase: os joga-dores do fundo, que valiam 32 milhões,no último relatório e contas, já estão só

avaliados em 19,6 milhões.

Fonte do processo garante que a rentabi-lidade dos outros investimentos do Fundo

F cobre as perdas registadas no BenficaStars Fund. Mas a VISÃO sabe que outroinvestimento do Fundo Fé uma carteira

de ações, superior a 2 milhões de

euros, da Impresa (empresa donada VISÃO) e da Cofina, cujos títulos

se desvalorizaram desde 2009.Têm, contudo, uma coisa em

comum com o Benfica: sãoinvestimentos na esfera de

influência de Nuno Vas-

concellos. Muito mais

que dos interesses dosreformados da PT...

AONGOINGENTRAEMCENA

Mas é preciso que alguma coisa mude para que tudo fiquecomo está, como afirmava Tancredi ao seu tio, o Príncipede Salina, em O Leopardo, de Tomasi di Lampedusa.

A mudança decorreu assim: Entre os dias 3 de novembro e

15 de dezembro de 2008, João Borralho, pelo BES Vida, e João

Zorro, pela ESAF, entregam à Ongoing International, comsede no número 11 da Rue Aldringen, no Lu-

xemburgo, 150 milhões de euros. Este dinhei-

ro, de duas empresas do grupo GES, passa aconstituir o sub -fundo deprivate equity classe E

(Fundo E, doravante), detido a 100% por aque-las duas empresas do universo BES. Ou seja, a

ESAF e o BES Vida são os acionistas únicos.

Quem gere o Fundo E é outro veículo

luxemburguês, a Ongoing International

Partners, com sede no numero 23 da Avenue Monterey, ci-dade do Luxemburgo. É esta sociedade gestora que decide

como investir o dinheiro. Que acaba aplicado em dois ter-

renos, à espera de licenciamento para construção. Quais?O leitor já terá adivinhado...

Um dia depois de receber a última tranche, pela ESAF e

pelo BES Vida, no dia 16 de dezembro de 2008, o Fundo E,

compra, por 40 milhões de euros, o Stratcgic Real EstateFund. No contrato a que a VISÃO teve acesso, o «vendedor»

não é identificado, figurando apenas como um cliente da

filial suíça de Private Banking da instituiçãofinanceira francesa Société General.

Nesse contrato, aparece ainda identificado

um segundo off-shore, o Solaris Venture Capi-tal Fund, das Ilhas Caimão, que pode ser o mis-

terioso cliente da SG Private Banking. Noutro

documento, o Solaris Venture Capital surgecomo titular indireto de 32,1% da Espírito San-

to Saúde, SGPS, SA, uma empresa do GES.

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PORTAIS DECARNIDE AalteraçâodoPDM de Lisboa não seguiu os desejos da

Imogestâo. Não se pode construir

A Ongoing International comprou, pelos mesmos

40 milhões de euros, 16 675 ações do Solaris Venture Ca-

pital Fund SP, num contrato em que o número da contabancária do «vendedor» é o mesmo. Ou seja, ambos os off-

shores, Solaris e Real Estate, teriam o mesmo dono.

E as transferências de dinheiro não param aqui.No dia 10 de novembro de 2008, sete dias após a entrega

pelo BES Vida da primeira tranche, o Fundo E, através da

Ongoing International, empresta 100 milhões de euros à

Opportunity One, uma empresa luxemburguesa sediada na

mesma morada da Ongoing International Partners. Assinam

o contrato, Paulo Cardeira Gomes e Vittorio Calvi di Bergo-lo. Pelas duas entidades. Ambos são quadros da Ongoing.

Fonte próxima da sociedade luxemburguesa garanteà VISÃO que não há nenhum conflito de interesses, umavez que a OpportunityOne era uma empresa--veículo detida a 100%

pelo fundo. Mas nãoadianta qual o objetode mais está «empre-sa- veículo»...

No dia 4 de feverei-ro de 2010, novo em-

préstimo: a OngoingInternational empres-ta à Ongoing StrategyInvestments SGPS,40 milhões de euros doFundo E. Desta vez, Vittorio Calvi assina pelo Fundo e

Paulo Gomes pela Ongoing. «A ESAF não tem conheci-

mento», adianta à VISÃO fonte do GES

MUDAM-SE OS NOMES, MUDAM-SE AS VONTADES

Para complicar ainda mais, a própria Ongoing Interna-tional, que é o veículo financeiro luxemburguês (SICAV,sociedade de investimento de capital variável) a partirdo qual nasceu o Fundo E, ao lado de outros três fundos

semelhantes, também muda de nome. Em 2012, a OngoingInternational passa a chamar-se Global Investmcnt Op-portunitties (GIO). Os seus gestores são os mesmos, e

os fundos também. Hoje, o nome Ongoing está a sair de

cena. E a holding familiar, a Rocha dos Santos, que assume

algumas das participações financeiras, como a GTO.

A VISÃO encontrou-se com responsáveis dos dois gru-pos (GES e Ongoing) e recolheu explicações «informais»relativas a este complexo negócio: vantagens económicas

e alteração das políticas de investimento. Fonte do pro-cesso explica que a Ongoing decidiu investir naqueles ter-renos após uma aturada pesquisa de mercado, e tendo em

conta a valorização futura dos dois empreendimentos.Oficialmente, a resposta é que não há nada de estra-

nho neste «carrossel» financeiro: «A Global Investments

Opportunities SICAV é uma entidade legalmente inde-

pendente e supervisionada pelo regulador luxemburguêse auditada por uma das maiores e mais reputadas empre-sas internacionais de auditoria. Nunca teve qualquer re-serva às suas contas.»

Em janeiro de 2013, não há uma única casa vendida, nos

dois empreendimentos imobiliários.Em Lisboa, os terrenos de Carnide estão cheios de er-

vas daninhas. «Não há registo de pedido de licenciamen-

to», responde-nos o gabinete do vereador do urbanismo,Manuel Salgado. Para aquela área, do projeto Portais de

Carnide, está apenas previsto o estudo de uma obra mu-

nicipal, o Parque Empresarial e Tecnológico da Pontinha-Carnide. Um projeto muito diferente dos 49 554 metros

quadrados de «área comercial, edifícios de habitação e

escritórios», previstos pelos promotores.Em Gaia, o final é mais feliz, apesar de tudo. «O pedido de

licenciamento de operação de loteamento foi objeto de de-

ferimento em 16 de julho de 2012, por despacho da Sra. Ve-readora Eng. Mercês Fer-

reira, tendo sido admitidaa comunicação prévia deobras de urbanização em20 de dezembro de 2012»,refere a autarquia, em

resposta à VISÃO. Mas o

projeto aprovado em Gaia

c muito menor que o ini-cialmente previsto: «Uma

capacidade construtiva to-tal de 76 583 m2, acima do

solo», segundo a autarquia,distante dos 150 mil metros

quadrados do projeto da ESAF. «O número de fogos previs-tos segundo a proposta do referido plano de pormenor, de 1

167, foi drasticamente reduzido para cerca de 300.»Por esta razão, a Deloitte expressa «reserva», na última

auditoria à Imogestão.O GES procura afastar-se desta história. A Euroamer

desapareceu. A Ongoing já não é o exemplo fulgurante de

outrora. Pelo caminho, centenas de milhões de euros cir-

cularam, entre Portugal, o Luxemburgo e as Caimão, en-tre «veículos financeiros» e fundos de pensões, comissões

e multas. E, que se veja, nada foi criado por tanto dinheiro

disponível... ?

NOS DIAS 3 DE NOVEMBRO E l 5DE DEZEMBRO

DE 2008, JOÃO BORRALHO, PELO BES VIDA,

E JOÃO ZORRO, PELA ESAE, ENTREGAM À

ONGOING INTERNATIONAL, COM SEDE NO

LUXEMBURGO, 150 MILHÕES DE EUROS. ESTE

DINHEIRO PASSAACONSTITUIR 0 FUNDO E

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