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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá
G963 Guimarães, Mariana Pessanha. DEIXA QUE EU TE ENVOLVA EM MINHA ARTE: o teatro como instrumento na prática profissional do Assistente Social / Mariana Pessanha Guimarães. � 2010.
45 f. Orientador: Rita de Cássia Santos Freitas.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço
Social) � Universidade Federal Fluminense, Escola de Serviço
Social, 2010. Bibliografia: f. 43.
1. Teatro. 2. Arte. 3. Educação. 4. Serviço Social. I. Freitas, Rita de Cássia Santos. II. Universidade Federal Fluminense. Escola de Serviço Social. III. Título.
CDD 361.4
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Departamento de Serviço Social de Niterói da
Universidade Federal Fluminense, como requisito
parcial para obtenção do Grau de Bacharel em
Serviço Social. Titulação: Assistente Social.
Aprovada em dezembro de 2010
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AGRADECIMENTOS
À Casa Maria de Magdala
À Companhia Teatral Recontando Conto
À Companhia Teatral A Cena é Nossa
À Universidade Federal Fluminense,
À Professora Doutora Rita de Cássia Santos Freitas,
A todos os professores com quem convivi e de quem
tive o privilégio de ser aluna no curso de
Serviço Social.
EEPPÍÍGGRRAAFFEE
�Viver é sempre subir, sempre crescer, sempre acrescentar a si, o sentimento e a noção
do belo� (Léon Denis)
RESUMO
Este trabalho visa refletir se o teatro pode ser utilizado como um novo
instrumento na prática profissional do assistente social e não apenas isso, se esta nova
prática pode ser considerada dotada de instrumentalidade. Para tanto iremos recorrer
a diversos autores que percebem na arte �forma de manifestação do lúdico- a
possibilidade de apreensão e transformação da realidade. Compreendemos que essa
transformação pode ocorrer tanto a partir do conhecimento das origens e necessidade
da arte como através da criação de uma nova estética da arte ou ainda a partir das
experiências de grupos teatrais �que sejam ou não coordenados por assistentes sociais-
mas que se caracterizem como espaço de criação contínua. Resgatamos ao final o
significado da Instrumentalidade para o Serviço Social, mas não somente para esta
profissão visto que a instrumentalidade está presente em todo trabalho social. A partir
da experiência da Companhia teatral Recontando Conto da Casa Maria de Magdala,
aponto a arte e o teatro como um caminho para se trabalhar com grupos ou
comunidades.
Palavras - chave: Teatro. Arte. Educação. Instrumentalidade. Serviço Social.
ABSTRACT
This study aims to consider if the theater can be used as a new tool in the
professional practice of social workers and not only this, but also if this new practice
can be considered as provided with instrumentality. To that purpose, we will be based
in several authors who understand that the art � ludic manifestation � is the possibility
of apprehending and transforming reality. We understand that this transformation can
occur either from the knowledge of the origins and necessity of art such as by creating a
new aesthetic of art or from the experiences of theater groups, coordinated or not by
social workers, but which are characterized as a space of continuous creation. In the
end we recover the meaning of Instrumentality for Social Work, but not only for the
profession, since the instrumentality is ubiquitous in social work. From the experience
of the Theater Company Recontando Conto da Casa Maria de Magdala, we appoint art
and theater as a way to work with groups or communities.
Keywords: Theatre. Art. Education. Instrumentality. Social Service.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO, p.10
1 TODA FORMA DE ARTE, p.13
1.1 UM DIÁLOGO COM ERNST FISCHER: UMA PITADA DE MAGIA, p.13
1.2 A ESTÉTICA DO OPRIMIDO - DE AUGUSTO BOAL, p.16
1.3 OFICINA DE TEATRO E MEMÓRIA � ESPAÇO AVANÇADO/UFF, p.20
1.4 CONCLUINDO O CAPÍTULO..., p.21
2 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL ATRAVÉS DO TEATRO, p.23
2.1 SOBRE A CASA MARIA DE MAGDALA, p.24
2.2 QUEM É A COMPANHIA TEATRAL RECONTANDO CONTO, p.29
2.3 HISTÓRICO DA COMPANHIA, p.32
2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA PROFISSIONAL, p.34
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS, p.41
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p.43
5 ANEXOS, p.44
ANEXO 1. APRESENTAÇÕES DA COMPANHIA TEATRAL RECONTANDO CONTO, p.44
10
INTRODUÇÃO
Quando eu comecei a pensar no que eu queria ser - mesmo que de forma não tão
consciente- eu pensei na faculdade de dança, sim e em todas as possibilidades que ela me
traria, certo ar de liberdade, um armário com roupas largas, um apê no Rio num lugar
arborizado e um namorado gato do lado. O que não faz a imaginação? Ainda mais quando se
é muito jovem.
Talvez tal inspiração tenha vindo de um professor de dança do primeiro curso de
teatro que fiz em 2001, pelo qual me apaixonei. Falo do professor. Nunca mais nos vimos e
de certa forma a dança também morreu em mim.
Contudo, sou atriz amadora há nove anos. Digo � amadora no melhor sentido da
palavra � aquela que ama sua arte. Por perceber a grande importância da arte na minha
vida, o quanto ela me faz ser mais comunicativa, mais corajosa, é que incentivo � e
incentivarei sempre - a todos, que, descubram seus talentos inatos e que com isso sejam
felizes.
E me pergunto, afinal de contas, porque concluo agora a faculdade de Serviço Social?
Eu me matriculei na faculdade de Serviço Social porque minha mãe falou pra eu
fazer, eu não tinha a menor ideia sobre o que se tratava. Por ironia, ou mérito (porque eu
estudei) fui aprovada para cursar Serviço Social na Universidade Federal Fluminense aos 17
anos. A minha amiga é que me deu a notícia por telefone, me dando os parabéns, eu não
esbocei reação alguma.
Por muitos períodos - desses longos noves períodos � muitas vezes a realidade na
minha vida universitária se mostrou complexa e esmagadora e em alguns momentos muito
simples.
Estagiei por três períodos na Subsecretaria de Orçamento Participativo de Niterói, e
tive a felicidade de ser bolsista de iniciação científica pela pesquisa da prof. Dr. Angela
Neves, intitulada �Espaços Públicos, participação da sociedade civil e construção
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democrática: Dilemas da Democracia participativa na sociedade brasileira� o que
me trouxe um grande aprendizado político.
Eu venci essas etapas, também entre muitos erros, mas hoje piso firmemente no solo
que escolhi. Minha vida não é o que fizeram dela. Sou a minha autora, soberana das minhas
escolhas.
Elegi o Serviço Social por profissão que norteará a minha vida e que andará de mãos
dadas com a arte. Pois a arte é a única forma de vida possível para mim. Sem ela tudo
pereceria. O compromisso com o bem estar social há de prevalecer antes de qualquer coisa.
E esse bem estar sem dúvida inclui a arte, embora isso seja tão pouco discutido.
Portanto quero sim, ser Assistente Social, atuar na área, me especializar, dar aulas...
Mas estou apenas começando! Agora minhas dúvidas já não são esmagadoras, pelo
contrário me impulsionam a caminhada. Pois afinal como a professora Rita de Cássia
carinhosamente me elegeu eu sou a Mariana que não desiste nunca!
Este trabalho tem como objetivo investigar o teatro como um novo instrumental para
a atuação do profissional de Serviço Social. E para tanto vamos utilizar a experiência da
Companhia Teatral Recontando Conto (CTRC) ligada a Unidade Cultural da Casa Maria de
Magdala.
Mesmo não tendo nenhuma assistente social ligada diretamente a CTRC � mas sim à
Casa Maria de Magdala - utilizo o espaço do teatro como local de investigação, lançando
sobre ele, um olhar curioso e diferenciado, visto que faço parte da CTRC desde 2006 com a
função de atriz (entre outras funções, como por exemplo cenógrafa, maquiadora, ... como
todos no grupo). Então para mim é um desafio ser objeto e ao mesmo tempo pesquisadora
deste trabalho. Busco olhar a Cia não apenas como atriz neste momento, mas como futura
assistente social que pode aproveitar as experiências e práticas exercidas nesse grupo para a
construção de um espaço de liberdade. Busco uma história possível para ser levada para
outros espaços, onde se faça ou não teatro, mas que este seja uma possibilidade para a
prática profissional.
A Casa Maria de Magdala(CMM) é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos que
atende a portadores do HIV, acolhendo pacientes adultos e crianças e atendendo a cerca de
170 famílias ligadas ao HIV. A Casa fica no Sapê em Niterói e foi fundada pelo Dr. Renê
Pessa em 1993.
A Companhia Teatral Recontando Conto surgiu da ideia de alguns tarefeiros da CMM
que viram na arte uma possibilidade de divulgação e de angariar recursos para a obra
12
assistencial da CMM. Os voluntários são pessoas comuns unidas pelo interesse de fomentar a
arte em seus diversos níveis, dança, música, teatro...
A CTRC apresenta espetáculos teatrais voltados para o público infanto-juvenil e para
famílias. Do grupo de teatro participam 29 tarefeiros voluntários da Casa, sendo 20 maiores
de 14 anos e 06 crianças (todas devidamente autorizadas pelos responsáveis). O objetivo
fundamental da Companhia é, através da arte, contribuir diretamente com a viabilidade
financeira da Instituição que a abriga.
Construiremos a nossa pesquisa através da observação participativa, ou seja, através
da minha inserção na CTRC, aliás, da qual já faço parte desde janeiro de 2006, tendo atuado
em diversas montagens teatrais.
Utilizo também, no presente trabalho, trechos de entrevistas com alguns componentes
da CTRC retiradas do blog da Companhia, quando sinto necessidade de elucidar o assunto
que abordo em um dado momento.
No capítulo 1 dialogamos com Ernst Fischer que vê na arte uma forma de se resgatar
a ancestralidade e a partir disso a possibilidade de uma construção individual de uma nova
concepção de mundo. Boal também está presente em nossos estudos através da sua Estética
do Oprimido e por fim a experiência da Oficina de Teatro e Memória do Espaço Avançado
da UFF, que utiliza o teatro como forma de resgate da memória e de expressão dos idosos.
No capítulo 2 apresento a Casa Maria de Magdala e a Companhia Teatral
Recontando Conto. Quem nós somos? As nossas montagens, projetos, possibilidades.
Por fim analiso se o teatro pode ser considerado um novo instrumental para a prática
profissional dos assistentes sociais. E desta forma resgato o significado da instrumentalidade
- que é uma categoria presente em todo o trabalho social � através de uma correlação com as
experiências relatadas ao longo deste trabalho.
Roland Barthes nos diz que há uma idade em que ensinamos o que não sabemos e isso
se chama pesquisar. Seguimos o nosso trabalho com a sua seguinte idéia: �Nenhum poder,
um pouco de saber, um pouco de sabedoria e o máximo de sabor possível.�
13
1. TODA FORMA DE ARTE
Arte não é adorno, palavra não é absoluta, som não é ruído, e as imagens
falam, convencem e dominam. A estes três Poderes, Palavra, Som e Imagem
� não podemos renunciar, sob pena de renunciarmos à nossa condição
humana. (Augusto Boal)
Este capítulo irá tratar sobre algumas concepções e experiências artísticas.
Apresento, portanto, Fischer que já na década de 50 aponta a arte como possibilidade contra
o �aprisionamento� imposto pelas classes dominantes. Boal vem complementar
perfeitamente seu pensamento, com a sua Estética do Oprimido segundo a qual todos somos
atores e, portanto não devemos aceitar receber passivamente as produções artísticas, mas
sim expor a nossa própria cultura. Apresento ainda a experiência do Espaço Avançado da
UFF, especialmente com a Oficina de Teatro e Memória, ministrada pela assistente social e
professora universitária Beatriz Venancio.
Busco nesse primeiro momento fundamentar a minha pesquisa em algumas bases
teóricas e angariar assim fundamentos que possam me responder se o teatro pode ser
considerado como um novo instrumental para prática do Serviço Social.
1.1 UM DIÁLOGO COM ERNEST FISCHER: UMA PITADA DE MAGIA.
14
Ernest Fischer é austríaco nascido em 1899. Trata-se de um poeta, escritor, filósofo e
jornalista. Em seu livro, �A Necessidade da arte� 1, o autor nos apresenta alguns
questionamentos: Poderá a função da arte ser resumida em uma única fórmula?Não satisfará
ela a variadas e diversas necessidades?
Fischer parte do princípio que o homem não quer ser apenas ele mesmo. Quer ser um
homem total, anseia por uma �plenitude� na direção da qual se orienta quando busca um
mundo mais compreensível e mais justo, um mundo que tenha significação. O homem (e por
que não dizer as mulheres também?) anseia o mundo circundante, integrá-lo. Podemos
considerar a partir dessas premissas que o homem anseia unir na arte o seu �Eu� limitado
por uma existência humana coletiva e tornar social a sua individualidade.
O autor nos apresenta � segundo a minha visão, muito poeticamente � como
conseguir ser um artista: é necessário dominar, controlar e transformar a experiência em
memória, a memória em expressão, a matéria em forma. Os laços de vida são
temporariamente suspensos, pois segundo Fischer: �a arte �cativa� de modo diferente da
realidade, e este agradável e passageiro cativar artístico constitui precisamente a natureza
do �divertimento��. (FISCHER, 1959, p. 14).
Este livro foi lançado no fim da década de 50, no entanto percebemos o quanto é
pertinente as reflexões do autor sobre o sistema capitalista correlacionado com a arte, pois
nos faz perceber o quanto a verdadeira democracia ainda está longe de ser alcançada,
embora o movimento exista e seja dos conflitos que ela nasça.
O autor nos mostra a importância de observarmos a realidade social no seu
mecanismo de aprisionamento. As representações artísticas, portanto devem devassar a
�alienação� do tema e dos personagens, visto que, segundo Fischer, o efeito �imediato� da
obra de arte requerida pela estética da classe dominante é o efeito de suprimir as diferenças
sociais existentes na platéia.
Desta forma, a partir dessa leitura aprendemos que a razão de ser da arte nunca
permanece inteiramente a mesma. A função da arte numa sociedade em que a luta de classes
se aguça, difere em muitos aspectos, da função original da arte. Assim toda arte é
condicionada pelo seu tempo e representa a humanidade em consonância com as ideias e
1 FISCHER, Ernest. A Necessidade da Arte. Trad. Leandro Konder. 9 ed. Rio de Janeiro:
Editora Guanabara S.A, 1987. 256p. Tradução de: Von der Notwendigkeit der Kunst.
15
aspirações, as necessidades e as esperanças de uma situação histórica particular. Mas a arte,
ao mesmo tempo supera essa limitação e, de dentro do momento histórico, cria também um
momento de humanidade que promete constância no seu desenvolvimento. Portanto, quanto
mais conhecermos trabalhos de arte há muito tempo esquecidos com mais clareza iremos
perceber os seus elementos contínuos.
A arte em sua origem foi magia, foi um auxilio mágico à dominação de um mundo
real inexplorado. O autor nos traz que esse papel mágico da arte aos poucos foi cedendo
lugar ao papel de clarificação das relações sociais e também ao papel de ajudar o homem a
reconhecer e transformar a realidade social. Sua função concerne sempre ao homem total,
capacita o �Eu� a identificar-se com a vida de outros, capacita-o a incorporar a si o que ele
não é, mas tem possibilidade de ser. A arte é necessária para o homem conhecer e
transformar o mundo. Neste sentido, Fischer acrescenta:
É verdade que a função inicial da arte para uma classe destinada a
transformar o mundo não é a de fazer mágica e sim a de esclarecer e incitar
à ação; mas é igualmente verdade que um resíduo mágico na arte não pode
ser inteiramente eliminado, de vez que sem esse resíduo provindo de sua
natureza original a arte deixa de ser arte. (FISCHER, 1959, p. 20).
A função decisiva da arte nos seus primórdios foi, segundo Fischer, a de conferir
poder: poder sobre a natureza, poder sobre os inimigos, poder sobre o parceiro de relações
sexuais, poder sobre a realidade, poder exercido no sentido de um fortalecimento da
coletividade humana. Pode-se dizer que na aldeia tribal a arte era uma arma da coletividade
humana em sua luta pela sobrevivência.
Assim compreendemos que a arte, em todas as suas formas � a linguagem, a dança, os
cantos rítmicos, as cerimônias mágicas � era a atividade social por �excellence� comum a
todos e elevando todos os homens acima da natureza, do mundo animal. Contudo, Fischer
nos afirma que a arte nunca perdeu esse papel coletivo, mesmo muito depois da quebra da
sociedade primitiva e da sua substituição por uma sociedade dividida em classes.
A partir da interpretação do ponto de vista do autor podemos dizer que arte pode
elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro, total. A arte
capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a
transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais hospitaleira
para a humanidade.
16
1.2 A ESTÉTICA DO OPRIMIDO � DE AUGUSTO BOAL
Nunca antes havia lido Augusto Boal, li por aceitar o caminho apontado pela minha
orientadora, Rita de Cássia. Quero continuar a ler Boal depois da realização deste trabalho,
pois sua linguagem é profunda, rica e muitas vezes irônica e não deve ser interpretada de
forma superficial. Baseio-me especialmente em meus estudos na análise de seu último livro,
�A Estética do Oprimido� 2, finalizado em janeiro de 2009, poucos meses antes do
falecimento do autor.
Boal nos apresenta que as formas de apreciação da arte e o seu uso foram
modificadas ao longo do tempo, sendo sua mudança mais radical a passagem de sua função
ritual para a multiplicação mecânica, isto quer dizer que a mesma obra pode ser exposta a
um público diverso e heterogêneo, em muitos lugares ao mesmo tempo, como por exemplo, o
cinema.
Contudo, ao perder a sua origem, seu caráter ritual, suas narrativas; perde-se a aura
da arte para sempre única. O autor define aura como a projeção que faz o observador sobre
o objeto. A aura se desenvolve depois da criação do objeto ou durante sua fabricação, não
quando só existia imaterial na mente do artista.
Para Boal aura é produzida pelo olhar subjetivo e não pela coisa concreta e neste
sentido, podemos até ver o que não existe, mas que está dentro de nós. O autor utiliza o
exemplo de peças utilitárias antigas que são obras de arte, mas que em seu tempo não eram
valorizadas como tal e hoje quando a miramos surge a aura. Desta forma, auras se perdem e
se ganham ao sabor do diálogo social, capricho das culturas. (BOAL, 2010).
Destarte, seria uma forma de animismo acreditar que uma coisa, objeto, possuísse
algo que a transcendesse. Boal nos traz que a substância da aura é o Saber e o Mistério. O
Saber é o acúmulo das tradições, conhecimentos e experiências, já o Mistério são os mitos, as
esperanças e as alucinações. O Mistério funciona como fonte de poder, e para elucidar essa
questão o autor fala sobre os rituais da igreja católica nos quais os sacerdotes escondiam o
2 BOAL, Augusto. A Estética do Oprimido: Reflexões errantes sobre o pensamento do ponto de vista estético e
não científico. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. 256p.
17
significado de suas missas em latim, com o objetivo de manter a ignorância dos fiéis.
Portanto, não saber é renunciar ao poder.
É neste sentido, que Boal, nos alerta sobre o maior perigo da aura: a sua utilização
política antidemocrática baseada no saber de uns e na ignorância do �rebanho�. Nota-se
nesta expressão um tom ácido e crítico que Boal emprega ao falar de algumas religiões que,
segundo ele, assim chamam �carinhosamente�, os fiéis apaziguados, domesticados.
A Estética do Oprimido propõe uma nova forma de se fazer e de se entender a arte;
não pretende a vulgarização do produto artístico. Um trecho de sua obra que me chamou
bastante atenção é quando ele fala que comumente as pessoas querem oferecer as outras o
acesso a cultura, como se o povo não tivesse sua própria cultura ou não fosse capaz de
construí-la.
Assim, ele afirma: �Queremos promover a multiplicação dos artistas�. (BOAL, 2010,
p. 46). Segundo sua análise, existe aura da obra, aura do artista e aura do grupo ao qual se
pertence. Esta nova aura produzida pela multiplicação dos artistas não é misteriosa, e sim
uma nova forma de se ver o mundo.
A Estética do Oprimido coloca o oprimido como protagonista do processo estético,
não simples apreciador da arte. Não apenas educa nos elementos essenciais do como fazer,
mas estimula os participantes a buscarem seus próprios caminhos. No teatro especificamente,
a peça deve conter a ação dramática e sua clara crítica. Expressar uma realidade que busque
alternativas. É como uma estrutura de poderes que vão sendo revelados.
O autor nos elucida um novo termo: ascese, e o define como causa primeira, ou causa
superior, anterior, verdadeira e que é essa causa que devemos buscar em todas as coisas
para não naturalizarmos os fatos sociais. A Estética do oprimido é transição e esperança,
pois como afirma Boal:
Uma Estética democrática, ao tornar seus participantes capazes de produzir
suas obras, vai ajudá-los a expelir os produtos pseudoculturais que são
obrigados a tragar no dia-a-dia dos meios de comunicação, propriedade dos
opressores. Democracia estética, contra a monarquia da arte. (BOAL, 2010,
p. 167)
Boal defende que com a Estética do Oprimido é possível reverter o curso da acelerada
desumanização dos oprimidos nesta época sombria. A arte expande as potencialidades da
mente. Desta forma o autor defende que a todos devem ser dadas condições e meios para
desenvolver suas potencialidades em todas as direções. Contudo ressalta que nenhuma
18
estrutura seja ela dança, música ou teatro é inocente ou vazia, pois todas contêm a visão de
mundo de quem as produz, contêm sua ideologia.
A Estética do Oprimido é uma proposta que ajuda os oprimidos a descobrir a arte
descobrindo a sua arte e para realizá-la na prática o Centro do Teatro do Oprimido do Rio
de Janeiro vêm desenvolvendo o Projeto Prometeu. O Centro do Teatro do Oprimido (CTO) é
uma organização não-governamental sem fins lucrativos dedicada ao estudo, a pratica e à
difusão do Teatro e da Estética do Oprimido no Brasil e em países onde quer que seja
necessária e possível a sua implementação.
O CTO tem como sua maior referência à declaração universal dos direitos humanos.
Há muitas organizações que praticam o Teatro do Oprimido (TO) atuando em dezenas de
países dos cinco continentes. Sua filosofia e sua política são claras: a luta contra todas as
formas de opressão em todos os seguimentos sociais. A originalidade do método do TO está
principalmente em três transgressões, segundo Boal:
1. Cai o muro entre o palco e a platéia: todos podem usar o poder da cena;
2. Cai o muro entre o espetáculo teatral e a vida real: aquele é uma etapa propedêutica
desta;
3. Cai o muro entre artistas e não-artistas: somos todos gente, somos humanos, artistas
de todas as artes, todos podemos pensar por meios sensíveis � arte e cultura.
Boal define o TO como uma �Árvore Estética� comparando a idéia com o Cajueiro de
Natal que possui mais de oito mil metros quadrados de superfície, porém a �Árvore Estética�
tem suas raízes cravadas na terra fértil da Ética e da Solidariedade, visando à construção de
sociedades não opressivas.
O autor traz em seu livro uma definição para �participação� que penso ser muito
importante para o Serviço Social:
Deve incluir todos os seguimentos oprimidos da sociedade. A pessoa só é
vulnerável: devemos ajudar os nossos parceiros a se organizarem em
grupos e com grupos que sofrem opressões semelhantes, evitando-se o
corporativismo e o individualismo. (BOAL, 2010, p.186)
19
Esse conceito bem entendido e bem praticado é muito importante para a nossa
categoria, pois nos centra na realidade. Assim, não teremos uma visão messiânica de que
vamos salvar o mundo e nem teremos o fatalismo de que nada podemos fazer.
Há alguns casos, demandas trazidas aos profissionais que uma das saídas indicadas
deve ser a mobilização popular na luta por direitos sociais e a democratização de
informações. Mas para isso é importante o entendimento que essa mobilização se faz com
sujeitos. A visão do outro (do usuário, por exemplo) como sujeito, como ator que pode definir
e construir (com outros atores, coletivamente) outra história, outras histórias é fundamental.
Ética e Solidariedade em forma estética, são a seiva que alimenta a grande árvore do
TO. Segundo Boal, nesta Árvore existem quatro grandes Copas e mais uma. A primeira é o
Teatro Jornal. Segundo o autor, jornalismo é ficção a mando dos proprietários, que nele
refletem suas ideologias. As doze técnicas do Teatro Jornal permitem desmistificar essa falsa
neutralidade transformando notícias e reportagens ou qualquer material impresso em cenas
teatrais.
A segunda Copa é o Arco-Íris do Desejo, onde se estuda as técnicas introspectivas,
que mostram opressões que trazemos integradas como se tivessem nascido em nossa mente;
se estudam as relações sociedade-indivíduo. A terceira é o Teatro Invisível, o qual tenta
sensibilizar a cidadania para opressões despercebidas. No sentido de que é preciso
desfamiliarizar as opressões para que se possa combatê-las.
A quarta Copa é o Teatro Legislativo, que consiste na simulação de uma sessão
normal de uma assembléia legislativa. Nele a cidadania legisla e conhece os mecanismos de
fabricação das leis. O coração da Árvore é o Teatro Fórum, onde os oprimidos ensaiam
ações concretas e continuadas, expõem desejos, necessidades e opiniões. É a Copa Soberana,
meta maior do Teatro do Oprimido que visa à intervenção na realidade.
Boal nos traz que o Teatro do Oprimido não pode limitar-se à luta de operários e
camponeses, e diz que entre os excluídos, vitimas até mesmo de outros excluídos, estão os
portadores de dificuldades mentais. E, portanto o TO busca ajudá-los a transformar suas
realidades opressivas, reais ou imaginárias.
20
1.3 OFICINA DE TEATRO E MEMÓRIA � ESPAÇO AVANÇADO / UFF.
Tive a oportunidade de conhecer no primeiro semestre de 2010 a professora Beatriz
Venancio, através da disciplina optativa Tópicos Especiais sobre Políticas Sociais Setoriais
VI. É o nome é realmente grande. A matéria aborda a questão do envelhecimento e suas
repercussões no campo social e as transformações ocorridas na sua imagem. Pude também
através da disciplina cursada conhecer o significado do Espaço Avançado da UFF.
Antes de fazer essa matéria já tinha ouvido falar que a professora Beatriz Venancio
trabalhava com teatro, e que inclusive ministrou uma optativa com esta temática, porém
infelizmente na época eu ainda não era estudante de Serviço Social.
A minha orientadora Rita de Cássia sempre me estimulou a procurar a ajuda da
professora Beatriz Venancio para a execução deste trabalho, visto toda a sua trajetória
pessoal na arte e suas diversas produções na área.
Não me arrependi de seguir seu conselho, pois através da observação de algumas
aulas da Oficina de Teatro e Memória do Espaço Avançado, pude me encantar pelo trabalho
realizado e perceber o quanto os idosos podem se manifestar de forma espontânea,livre e
corajosa.
Conheci melhor o grupo e a trajetória da Oficina através da leitura do livro:
�Pequenos Espetáculos da Memória� 3 de Beatriz Venancio, no qual pude observar a origem
do grupo, seus objetivos e conquistas.
Criado no verão de 1999, o grupo vêm narrando reminiscências e construindo uma
dramaturgia breve de lembranças.
Na época da pesquisa relatada no livro citado a Oficina era formada apenas por
mulheres. Vinte e cinco mulheres com idades entre 55 e 80 anos. O grupo foi criado por
Beatriz Venancio, a partir de um projeto de extensão universitária, denominado Oficina de
Teatro e Memória. O projeto faz parte do Programa de Extensão da UFF Espaço Avançado
(Uffespa), que atende a população idosa de Niterói e seu entorno.
3 VENANCIO, Beatriz Pinto. Pequenos espetáculos da memória: registro cênico-
dramatúrgico de uma trupe de mulheres idosas. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Editores,
2008. 125p.
21
Em seu livro a professora situa a sua pesquisa no campo da pedagogia do teatro,
implicando o trabalho social e o teatro comunitário, tendo como objetivo o registro de
memórias, a produção de dramaturgia e o desenvolvimento humano.
O projeto da Oficina de Teatro e Memória tratava, inicialmente, da utilização da
linguagem teatral na reconstrução da memória de um grupo de idosos, não-atores. Além do
teatro comunitário também estava presente na sua pesquisa a presença do Método Boal, que
imprimia a concepção ético-política contida na proposta. E também aos fundamentos do
DBTE ( Discipline-Based Theatre Education) que é uma proposta curricular de ensino de
teatro para as escolas americanas, e por último recorreu ao sistema de jogos de Viola Spolin.
Venancio em seu livro relata que é difícil precisar o momento exato em que percebeu
a necessidade de criar um modo próprio de encaminhar as oficinas, pois as origens dos
métodos aos quais se apoiou inicialmente eram diversas da que estava vivenciando. Seu
grupo estava situado em um projeto maior, com uma equipe de múltiplos profissionais,
articulando diferentes oficinas unidas por um eixo comum � a cidadania do idoso. Além
disso, Venancio afirma que:
Tínhamos enorme liberdade para inventar um teatro com suas
exigências e imperfeições, invadido, talvez, pelos limites técnicos,
mas, ao mesmo tempo, possível de revelar originalidade e pertinência
por meio de uma teatralidade discreta. (VENANCIO, 2008, p.36)
Com o passar do tempo, a pesquisa, rompendo barreiras, invadiu o campo da
produção de memórias criando a urgência de um registro dramatúrgico dessas.
Tive a oportunidade de assistir em novembro deste ano a apresentação desta trupe
denominada �A Cena é Nossa� através do espetáculo �O Cinema Nosso de Cada Dia� e foi
uma experiência maravilhosa tanto pela peça em si que retrata a memória dos idosos em
relação aos clássicos do cinema quanto pela observação da platéia � que era composta por
todas as idades � ao se emocionar, rir e cantar junto com o grupo. Levei a minha avó para
assistir e ela gostou muito. Está pensando seriamente em entrar para o Espaço Avançado.
1.4 CONCLUINDO O CAPÍTULO...
22
O que pretendo analisar com essas anotações que partem tanto das concepções da
arte como mesmo de práticas teatrais, é a compreensão da arte como forma de
transformação social. Não me refiro aqui a uma transformação estrutural da sociedade, por
enquanto. Sabemos que mesmo o projeto profissional do Serviço Social não está em
consonância com o projeto hegemônico de nossa sociedade, qual seja o neoliberal. Daí as
dificuldades apresentadas a nossa profissão, não só a nossa. Mas, quero dizer que assim
como a professora Beatriz Venancio descobriu novas necessidades para o seu grupo que não
poderiam ser supridas por nenhuma teoria ou outras práticas, assim a experiência da
Companhia Teatral Recontando Conto segue com o mesmo ideal. Redescobrir-se em meio a
Solidariedade e a Ética - propostas por Boal-, construindo assim uma nova estética na arte.
Como Boal nos diz �Todos somos artistas� às vezes precisamos apenas despertar isso,
portanto podemos precisar da ajuda de alguém. Mas a nossa arte deve ser livre. A arte não
deve imprimir um formato, mas sim tirar de dentro, expor o que há em nós.
A Cia Teatral Recontando Conto significa para mim um constante aprendizado, pois
posso me observar e me conhecer melhor a partir das experiências em grupo. Por exemplo, a
nossa apresentação no Teatro Municipal João Caetano em outubro de 2009 com a peça
�Peter Pan� contribuiu efetivamente para que eu acredite na arte como um instrumento de
magia, lúdico e de resgate social, no sentido do resgate da cultura e no despertar do
potencial que há em todos nós. O teatro é uma arte completa que engloba a mímica, a
declamação, a dança, as artes plásticas e a música. Reflete a relação do ser humano com o
universo e seus semelhantes.
Dessa forma analiso que a transformação social � que também pode ser vivida no dia-
a-dia � é possível de se dar através do teatro. Não que o teatro por si só seja uma experiência
democratizadora. Contudo a prática teatral da CTRC é vista a partir de uma prática coletiva,
onde a convivência é significativa, seja pelo ideal do voluntariado ou pela amizade presente
no sentimento dos integrantes do grupo.
A partir da experiência da CTRC busco analisar de que forma o teatro pode ser
inserido como estratégia para a prática profissional do serviço social. Como ele pode ser
implementado? Com quais grupos utilizá-lo? Será que existe uma fórmula para isso?
No próximo capítulo busco responder de que forma o teatro pode ser utilizado como
instrumento de intervenção do exercício profissional do assistente social a partir da análise
do cotidiano da Cia Teatral Recontando Conto da Casa Maria de Magdala.
23
2 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL ATRAVÉS DO TEATRO
Antes a vida, anunciaram a minha morte, nomeando-a com uma sigla
de quatro letras que não são as da palavra amor. São letras da
palavra dias: estes. que vivemos ou aos quais sobrevivemos. Não
quero esses dias, não aceito essa morte anunciada. AIDS é só uma
doença desses novos dias, uma qualquer, não aceito que façam dela
sinônimo do último dia. Ela nada mais significa senão uma infecção
por um vírus que causa uma epidemia que vamos vencer. Com todas
ao letras do amor: solidariedade. 4 (HERBERT DANIEL, In: PINTO,
2002, p.31 apud, SILVEIRA, C. L. P.; PETRI, W.)
Este capítulo vai elucidar o que é a Casa Maria de Magdala, instituição a que
pertence a Companhia Teatral Recontando Conto. E também explicar como surgiu essa Cia,
quais seus objetivos e projetos. Ao contrário do que possa parecer primeiro cheguei a CTRC
para apenas, depois, conhecer o Serviço Social da CMM. Quando entrei na CTRC eu ainda
iria começar a faculdade de Serviço Social.
Conheci o Serviço Social da CMM mais profundamente no início de 2010 quando
buscava uma oportunidade de estágio, mas na época o meu horário não me permitiu.
Contudo as assistentes sociais da CMM sempre foram muito solicitas e sempre se dispuseram
a me ajudar neste trabalho.
Finalizo este capítulo com algumas considerações sobre o teatro enquanto
instrumento da prática profissional do assistente social. Analiso ser importante deixar claro
que ainda não atuei em nenhuma companhia teatral como assistente social e que mesmo a
CTRC não possui nenhuma assistente social em sua equipe.
4 PINTO, W. P. Conviver com a AIDS. São Paulo: Scipione, 2002.
24
Utilizo a experiência da CTRC com a intenção de demonstrar o potencial de
transformação que há nas pessoas. Sendo possível, portanto a utilização das experiências de
teatro aplicadas em grupos à atuação do Serviço Social no sentido de incentivar o despertar
dos potencias e do desenvolvimento humanos. Para que a nossa prática profissional não caia
no assistencialismo no qual as pessoas nunca perdem a condição de necessitadas.
A experiência da professora Beatriz Venancio na utilização do teatro com um grupo
de empregadas domésticas dentro de uma Igreja do Rio de Janeiro vai contribuir
fundamentalmente nas minhas elaborações, que apesar de extensas, devido à amplitude do
assunto, não se esgotam, e nem este é o objetivo deste trabalho, visto este ser um tema pouco
discutido em nosso meio acadêmico.
2.1 SOBRE A CASA MARIA DE MAGDALA
A Casa Maria de Magdala foi fundada em 22 de julho de l991, após uma idéia de
ação integrada da educação e da assistência social aos portadores do vírus da AIDS. Desde
o final da década de oitenta, executa o projeto AIDS-Educação, com o objetivo primordial de
levar ao público alvo � a família - informações seguras e esclarecedoras sobre a etiologia, a
transmissão e a prevenção da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS).
O projeto tem-se desenvolvido em três níveis:
- Estudantes: escolas de l°, 2° e 3º graus, linguagem acessível às mesmas;
- Pais/mães: associações de Moradores, nas localidades onde as escolas encontrem-
se inseridas;
- Trabalhadores: indústrias e empresas de médio e grande porte, nas regiões próximas às
escolas.
A CMM mantém cursos periódicos com informações ao alcance de todos, além de
encontros, seminários e conferências, sob a responsabilidade do Centro de Estudos Julio
César Grandi Ribeiro - CEJCGR, que abrange todas as atividades de extensão da Instituição.
A Instituição começou a ter credibilidade no momento em que pessoas HIV soropositivas
a procurava e mostrava suas dificuldades em encontrar apoio psicoterapêutico, moral e
25
religioso, sem cobranças em relação ao passado pessoal. Contudo, o apoio religioso não é
obrigatório.
A escolha do nome Maria de Magdala como patronesse da CMM ocorreu por duas razões,
segundo nos relata o livro �Casa Maria de Magdala: Lar de amor, aprendizado, renovação e
aconchego espiritual� (SILVEIRA. PETRI. 2007):
∞ Maria de Magdala executou a revolução interior em toda a sua plenitude,
transformando-se e deixando a alma liberta para o amor verdadeiro, aquele que
�cobre a multidão dos erros� (�O amor cobre uma multidão de pecados� 1, Pe, 4:8)
∞ Maria terminou seus dias ao lado dos réprobos daquela época, os leprosos, enquanto
os chamados �aidéticos� soropositivos sintomáticos são os réprobos dos dias atuais.
Maria de Magdala foi uma mulher famosa em seu tempo. Primeiramente por ser uma
meretriz muito rica e requisitada, amada pelos homens, odiada e invejada pelas mulheres.
Contudo lemos que se sentia infeliz e doente até que, através da mensagem de um mendigo
que outrora ela ajudou, foi ao encontro de Jesus e seguiu-lhe os passos até o último dia de
vida. Contraindo a lepra alguns anos depois de começar a cuidar dos leprosos no �vale dos
imundos�.
O terreno onde a CMM foi erguida é propriedade da Casa do Homem de Amanhã,
recebendo em abril de 1994, por Escritura de Comodato, autorização para funcionamento em
uma área de, aproximadamente, 2.470m2, toda ela já ocupada.
Funciona, desde julho de 1993, como um lar para os HIV soropositivos, adultos em
fase avançada da doença, seja terminal ou considerada fora de possibilidade terapêutica, e
crianças em qualquer estágio.
Os adultos contam com duas enfermarias, cada uma com 03 leitos, e a triagem desses
pacientes é feita, sempre, por contato telefônico entre o hospital onde se encontra internado,
ou entre a família (caso esteja em sua própria residência), e o corpo médico da Casa Maria
de Magdala, para que sejam avaliadas suas condições clínicas e autorizada a transferência.
Por não contarem com o apoio familiar ou passarem dificuldades financeiras que os
impossibilitem de se cuidarem, dependem da Casa Maria de Magdala para a continuidade do
tratamento com assistência mais ampla, com médicos em diversas especialidades, tais como
clínica médica, gastroenterologia, dermatologia, ginecologia, anestesiologia, neurologia,
26
cardiologia, psiquiatria, homeopatia, acompanhamento farmacêutico, cuidados de
enfermagem, odontólogo, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiologia e terapeuta
ocupacional. Sempre que necessário, são submetidos a exames laboratoriais ou levados a
consultas com médicos especialistas, tais como oftalmologista, ortopedista, otorrino-
laringologista, radiologista, etc.
Como parte do projeto de ampliação de suas atividades, em 01 de junho de 1996 foi
inaugurada uma enfermaria infantil para 08 leitos, e em 14 de junho de 1997, foi lançada a
pedra fundamental da Casa de Acolhida Marco Antônio Thomé Saar, projetada como
prolongamento do departamento infantil, e inaugurada em 01 de junho de 2002, a oferecer
mais 21 leitos para crianças HIV soropositivas, sintomáticas e assintomáticas, sejam elas
crianças órfãs, crianças cujos pais encontrem-se hospitalizados e sem condições de lhes
oferecer os cuidados necessários, ou cujos familiares não queiram ou não possam assumir
esta responsabilidade.
Dos 29 leitos, 20 foram destinados para 10 meninos e 10 meninas em situação de
abrigo temporário, até que sejam reintegrados à família de origem ou localizados em família
substituta. Aqui, a vaga é sempre solicitada pelo Juizado da Infância e da Adolescência ou
pelo Conselho Tutelar da cidade de origem da criança.
Os 09 leitos restantes encontram-se à disposição de crianças em estado delicado, cuja
vaga é sempre solicitada por hospital, por julgar que necessitem de cuidados especiais e que
suas famílias não apresentam condições de lhes oferecer no momento.
A faixa etária para o ingresso é de 0 a 06 anos, o que não impede que a CMM abra
exceções em situações emergenciais, fato, inclusive, já ocorrido. A permanência, no entanto,
é por tempo ilimitado, de acordo com as necessidades da criança e com as decisões do
Juizado da Infância e da Adolescência da Comarca de Niterói, órgão com o qual a
Instituição mantém estreito vínculo, para regularização e acompanhamento da situação das
crianças. Estas poderão vir a ser adotadas caso soronegativem, ficando, sempre, a palavra
final com o referido Juizado.
É o Departamento Jurídico que, juntamente com o Serviço Social da Casa Maria de
Magdala, responsável pela observação criança-família e criança-Instituição, que responde
pelas crianças institucionalizadas e por aquelas que solicitam abrigo, mantendo intercâmbio
permanente com as autoridades do Juizado da Infância e da Adolescência, através de
reuniões periódicas e de contatos emergenciais, além de enviar relatórios trimestrais, com
27
informações precisas e freqüentes acerca das crianças abrigadas, seguindo, rigorosamente,
as instruções do Juizado após receber a guarda da criança.
A CMM acolhe no momento, 15 crianças e adolescentes entre 01 e 16 anos. Todos
freqüentam escola do município. Os momentos de lazer se distribuem em saídas freqüentes a
parques, praias, sítios, cinemas e outras atividades externas. Também recebem assistência
médica, em diversas especialidades, tais como clínica médica, pediatria, gastroenterologia,
dermatologia, ginecologia, anestesiologia, neurologia, cardiologia, psiquiatria, homeopatia,
acompanhamento farmacêutico, cuidados de enfermagem e de equipe interdisciplinar
composta de odontopediatras, psicólogos, nutricionista, psicopedagogas, fisioterapeutas,
fonoaudiólogas, terapeuta ocupacional, arteterapeutas, hidroterapeutas e professores para o
reforço escolar.
Mensalmente são levadas ao CPN (Centro Previdenciário de Niterói), onde são
cadastrados para recebimento da medicação antirretroviral, aplicação de gamaglobulina e
demais acompanhamentos. São submetidos a exames laboratoriais sempre que necessário e à
aplicação de vacinas tradicionais e de vacinas especiais, para doenças infecto-contagiosas.
Periodicamente, visitam médicos especialistas (oftalmologista, cardiologista, ortopedista,
otorrino-laringologista, radiologista, etc.) como prevenção e controle.
Em situações de urgência, as crianças são atendidas no �Getulinho� (Hospital
Getúlio Vargas Filho), localizado no bairro Fonseca, em Niterói, ou em hospitais
particulares conveniados ao plano de saúde coberto por colaboradores amigos para cada
uma das crianças.
A Casa Maria de Magdala desenvolve suas atividades, em trabalho ininterrupto, com
um corpo de voluntários de aproximadamente 400 pessoas, em regime de plantão de 04 a 08
horas semanais, em dia e horário fixos. Esses tarefeiros-voluntários se distribuem durante o
dia e a noite, para os cuidados com os adultos e com as crianças. O voluntariado faz parte da
filosofia dos trabalhos da Instituição desde o seu início. É na divulgação dos trabalhos, seja
através das reuniões públicas internas, de palestras a convite, do boletim mensal da
Instituição e da imprensa falada e escrita que a CMM arregimenta novos voluntários. São
eles preparados pelo chamado �plantão treinamento�, que funciona toda 4ª e 5ª feiras, de 14
às 18h, onde recebem orientações e reciclagem como cuidadores, tomando ciência dos
objetivos da Instituição e das formas de procedimentos nas mais diversas atividades, para
que se sintam mais seguros e confiantes na tarefa.
28
Projetos futuros, ainda sem valores estimativos
Imediatos
Concluir o centro de assistência farmacêutica e de cuidadores, hoje
dependendo apenas dos equipamentos, como forma de minimizar os custos com
medicamentos;
Construir um centro cultural, como forma de buscar recursos seguros
para a auto-sustentabilidade da Instituição, através de eventos culturais
(lançamento de livros, vernissages, shows musicais e de poesia, peças teatrais,
exposições, chás, jantares, almoços, empréstimo do espaço para eventos externos,
etc);
Construir uma escola de capacitação de confeiteiros para cozinha
dietética, como forma de geração de renda e de buscar recursos seguros para a
auto-sustentabilidade da Instituição.
Mediatos
Construir 05 (cinco) casas intermediárias, com sala, quarto e
banheiro, para pacientes que, sem estarem acamados, não tenham mais
condições de se manterem sozinhos e precisem de acompanhamento mais de
perto, fazendo suas refeições no refeitório do albergue dos adultos e
encontrando-se sob a supervisão do corpo clínico da Casa;
Construir um poço artesiano.
Instalar a chamada �Praça das Estações�, com a construção de
bancos de cimento, para tomada de sol e ar livre a beneficiar os pacientes;
Pavimentar a chamada �Via Joanna de Angelis�, com caminhos
para livre acesso de cadeiras de roda, para locomoção dos pacientes dentro
do terreno ainda íngreme da Instituição;
Com o acréscimo de aproximadamente 700m2 ao Contrato de Comodato, ficou
possível viabilizar o projeto das Oficinas de Capacitação e Geração de Renda (cabeleireiro e
29
manicure, informática, corte e costura, artesanato, bijuterias, artes plásticas, dança
flamenca, sapateado, artes cênicas, aulas de canto, aulas de violão e alfabetização de
adultos), todas elas disponíveis a uma média de 170 famílias assistidas, aos abrigados em
condições de freqüentá-las e aos que obtiveram alta ou foram reinseridos em suas famílias.
Neste espaço desenvolvem-se outros trabalhos na área de assistência social externa,
como a distribuição mensal das cestas básicas às famílias assistidas, palestras a elas
oferecidas, em reuniões onde são abordados temas voltados para a promoção humana.
A assistência externa desenvolve, simultaneamente, um trabalho de visitas
domiciliares e hospitalares para aqueles cujo acompanhamento está a cargo da própria
família, fornecendo, inclusive, medicamentos e cesta básica mensal, sempre em conformidade
com orientação médica e nutricional. Também o auxílio moradia, como complemento
temporária no aluguel ou na construção de cômodos, e o auxílio transporte, como forma de
facilitar o acesso do paciente aos atendimentos mais urgentes, além dos atendimentos
ambulatorial, psicológico, jurídico e espiritual (aos que o desejarem).
O Departamento Jurídico tem representado a Instituição, no que diz respeito aos seus
deveres e direitos junto à sociedade, e se encontra sempre atento às necessidades dos
pacientes internos e externos, que se deparam com barreiras sem fim no que tange aos seus
direitos legais para obtenção de passe-livre nos ônibus, auxílio-doença, renda vitalícia,
aposentadoria, pensões e auxílio-sepultamento.
2.2 QUEM É A COMPANHIA TEATRAL RECONTANDO CONTO
A Companhia Teatral Recontando Conto é uma atividade ligada à Unidade Cultural
da Casa Maria de Magdala. Criada em 2002, apresenta espetáculos teatrais voltados para o
público infantojuvenil e para famílias. A CTRC começou a partir da ideia de alguns
voluntários de outras atividades da CMM que buscaram através da arte construir a
possibilidade de divulgação e apoio material a CMM.
Cheguei a CMM através da arte em uma das minhas experiências como autora
teatral: Havia escrito uma peça sobre Maria de Magdala e queria reverter a renda para a
instituição, que apenas conhecia por nome.
O que me estimulou a escrever uma peça sobre Magdala foi a sua profunda mudança
interior, pois ela foi uma pessoa que abandonou todas as ilusões materiais para seguir um
30
ideal superior. E eu acredito que não deve ser fácil para alguém que possua muitos bens, se
dispor a doá-los. Isso foi possível para ela devido a crença no Mestre Jesus. Diferentemente
de Paulo de Tarso que já possuía a fé, e perseguia os cristãos pela obediência as leis
Mosaicas, Madalena (como também é conhecida) precisou construir tudo. A força com que
ela perseguiu o seu ideal me inspira a ser uma pessoa melhor. E é claro me identifico na
medida dos preconceitos que ela sofreu a época pela sua condição de mulher, pois a mulher
ainda hoje luta na conquista de seu espaço.
Marquei uma entrevista com Solange Pessa, viúva do fundador da CMM e na época
diretora da CTRC. Ela não compareceu. E todos na CMM acharam inusitado o fato porque
era um dia de sábado e Solange praticamente nunca faltava. Um voluntário desculpou-se
comigo e me pediu que eu comparecesse no dia seguinte que Solange estaria reunida com o
grupo de teatro, mas que com certeza ela conversaria comigo.
No domingo lá estava eu e mais alguns amigos que me ajudaram no projeto da peça.
Acabou que assistimos a reunião da CTRC e foi um dia muito importante e de decisões para
o grupo. Uma companheira dizendo que teria de se afastar por algum tempo, por motivos
pessoais e as definições para a nova montagem da Cia na época: A Bela Adormecida.
Fomos convidados para participar da nova montagem e entre os meus amigos fui a
única que aceitou. Logo o que seria uma simples conversa resultou no meu primeiro
personagem dentro da Cia: a mamãe passarinho. A minha peça sobre Maria de Magdala
acabou acontecendo mesmo só no próximo ano em fevereiro de 2007.
O nosso projeto mais audacioso é a construção da Casa de Cultura Renê Pessa, já
com local de construção definido em Camboinhas, Niterói. Como é um projeto maior com
Teatro, cinema,.. Visa-se garantir a sustentabilidade da CMM.
O nosso grupo sofreu uma transformação no ano de 2008, pois foi quando entrou um
grande número de novos participantes. Alguns deles chegaram a partir do conhecimento ou
da participação nas Oficinas realizadas nos sábados pela CMM, sendo um delas � dança
flamenca- ministrada por uma integrante CTRC.
Todos na Cia fazem um pouco de tudo como podemos observar nos trechos das
entrevistas, nos quais a pergunta feita foi: �Qual a sua função na Companhia? O que você
faz?�
Eu sou atriz! Interpreto, danço, canto (se for preciso), ajudo também
carregando coisas, montando e produzindo também (caixas, pintando).
(Gabi Almeida)
31
Bem, acho que como todo mundo, além de atriz, sou carregadora, faxineira,
maquiadora� Risos. (Jordana Corrêa)
Acredito que todos da Cia. possuem várias funções, isso devido a não
sermos pessoas especializadas para as áreas, quaisquer que sejam,
entretanto, pratico mais a atuação. (Elisa Pessa)
Ah, isso sim é um fator importante: somos - em maioria - atores amadores, ou seja,
como disse na Introdução deste trabalho, isso quer dizer que amamos a nossa arte.
Hoje, do grupo de teatro participam tarefeiros voluntários da CMM e crianças
acolhidas na instituição. São cerca de 30 voluntários envolvidos na criação e montagem das
peças teatrais. Nosso objeto de atuação são histórias que fazem parte do imaginário infantil,
recontadas de acordo com os valores da caridade cristã e universal.
Nenhum componente é remunerado pelo trabalho na Companhia. Toda a renda dos
nossos espetáculos é revertida para a CMM. O preparo do elenco inclui Oficina de Prática
Teatral, Oficina de Corpo e Oficina de Voz. Esta preparação permite a montagem de
espetáculos teatrais com coreografias e músicas de técnica apurada, oferecendo qualidade
em respeito ao nosso público.
Os nossos encontros são realizados no Anfiteatro da CMM e são sempre aos
domingos. O plantão (como nós chamamos os nossos encontros) é de quatro horas, seguindo
o estipulado para todos os plantões das diversas tarefas que existem na CMM.
Por seus valores e por seu trabalho reconhecido pela sociedade a Companhia foi
convidada a se apresentar na abertura solene da Mostra de Teatro Infantil de Niterói de
2009, realizada pela Prefeitura de Niterói no Teatro Municipal João Caetano. Desta
apresentação o nosso grupo guarda excelentes lembranças, quais sejam:
O trabalho em equipe. A possibilidade que os nossos jovens tiveram de se
apresentar naquele �solo sagrado�. Quando será que eles teriam essa
oportunidade se não fosse pela Casa Maria de Magdala? (Andréa Terra)
O espaço, as luzes, o som. Nada ficará tão marcado do que o arrepio de
pisar naquele palco pela primeira vez. (Elisa Pessa)
O momento em que eu pisei no palco, antes mesmo da peça e olhei o
�mundo� que se escondia ali e que pouca gente conhece. Quando eu e Julia
fomos para o palco novamente, no último dia, para nos despedir, então
fizemos uma reverência e dissemos �Até logo e muito obrigada�. (Jordana
Corrêa)
32
O ator não necessariamente precisa de um palco, embora muitas vezes este o
desperte. O ator pode atuar em qualquer lugar. E tem seu laboratório nas ruas, nas pessoas
que passam. Poderíamos ser elas. Poderíamos estar no lugar delas. E, portanto no palco não
há limitações. Nele o oprimido encontra a sua cena e vira o jogo. Transforma-se em autor da
própria história. Ao se renovar, transforma o mundo ao seu redor. Ou seja, vê o mundo se
transformar para com ele.
A Cia tem como missão despertar o público para temas pertinentes para pais e filhos,
permitindo que as emoções vivenciadas durante as apresentações sejam duradouras a ponto
de promover o diálogo, a reflexão e eventualmente a mudança de atitude das famílias que nos
assistem.
Os valores defendidos pela CTRC são: Comportamento Ético e Solidário,
comprometido com o futuro das crianças acolhidas em nossa Instituição e da sociedade na
qual estamos inseridos.
2.3 HISTÓRICO DA COMPANHIA
A Companhia Teatral Recontando Conto iniciou através de uma reunião de um grupo
de amantes de teatro no ano de 2002. Esses tarefeiros eram plantonistas da CMM, divididos
em diversas atividades e que encontraram na formação do grupo de teatro uma oportunidade
de integração além da possibilidade de divulgação da Casa e de angariar recursos para a
mesma. Os primeiros ensaios para a montagem de Cinderela, por falta de espaço adequado
na Instituição, ocorriam no terraço da avó de alguns integrantes, a vó Jacy, que logo se
tornou avó de todo o grupo. Nesta primeira montagem as características de criação coletiva
e pé na estrada, marcas registradas do grupo, já eram visíveis. Cinderela teve várias
apresentações em colégios, grupos espíritas, festivais de teatro, centros culturais e empresas.
O marco foi as duas apresentações realizadas no espaço da UFF, que proporcionaram pela
primeira vez a vários de seus atores a experiência de representação em um palco teatral. A
rotina de levar a experiência a crianças com pouca ou nenhuma vivência teatral começou a
ser praticada.
A Bela Adormecida representou uma grande mudança para o grupo. Os ensaios já
podiam ser realizados na CMM. Onde? No terreno que futuramente abrigaria o Anfiteatro,
33
sob o sol escaldante das tardes de verão brasileiro, um verdadeiro teste para qualquer
vocação!
Amor e vida, espetáculo concebido para a comemoração dos 16 anos da CMM, foi
apresentado enfim no Anfiteatro, em sua inauguração. Cinco anos já havia se passado desde
a reunião do grupo original. Era uma manhã de julho de 2007, chovia muito, tanto fora
quanto dentro do Anfiteatro (!), o palco ainda era do mesmo porcelanato que revestia o resto
da construção e o ator principal faltou! O Espetáculo ocorreu mesmo assim, com a platéia
lotada (apesar da chuva que caía sobre as suas cabeças) e emocionadíssima, pois via tomar
forma diante de seus olhos, a história da criação da Instituição que todos ali tanto amavam.
A emoção era a tônica, tanto para quem atuava quanto para quem assistia. Neste trabalho,
pela primeira vez o grupo fundiu teatro e dança (no caso, a dança flamenca). Isso ainda nos
daria muito trabalho...
Peter Pan, montado em 2008, assinalou a estreia do palco do Anfiteatro. Seis anos
depois o grupo tinha, finalmente, um local apropriado para os seus ensaios. É verdade que o
espaço é emprestado pela Diretoria de Assistência Social da CMM, mas depois do sol
escaldante e da chuva torrencial era o céu! A Companhia definiu um horário regular de
trabalho de quatro horas semanais, acompanhando ao critério dos plantões da CMM.
O ano de 2009 marcou a maturidade artística da CTRC. Neste ano tiveram início as
Oficinas de Voz e Corpo em Movimento para os atores do grupo, ministrados por
profissionais interessados em participar de forma voluntária. A especialidade deste trabalho
possibilitou a montagem de um musical voltado para o público juvenil, O Grande Laço.
Vários novos atores se juntaram ao grupo neste período.
A montagem de Peter Pan, foi selecionada pelo Fórum de Artes Cênicas de Niterói
para a solenidade de abertura da 1º Mostra de Teatro Infantil de Niterói, realizada no Teatro
Municipal de Niterói. Além disso, tomou forma a investigação do que denominamos como
�diálogos cênicos�, entendendo estes como as interlocuções possíveis entre teatro, música,
dança, circo e literatura. Esta pesquisa resultou na montagem teatral adulta Onde Tudo Não
Morre... , peça que funde várias linguagens na busca de uma linguagem ao mesmo tempo
simples, forte e onírica. O título da obra é um trecho do poema Hipóteses de Mario Quintana.
Oito anos depois de sua criação, em 2010, a CTRC tem uma equipe solidificada: são
21 artistas, 02 maitres e 07 técnicos. Seus integrantes têm diferentes origens, histórias de
vida e conhecimento de mundo, resultando num grupo que se orgulha em ser plural, reunindo
uma variedade de �saberes� que, somados, transformam as diferenças em um corpo criativo.
34
Grande exemplo dessa pluralidade são as crianças da Companhia: um menor acolhido pela
Instituição, uma ex-acolhida atualmente adotada, uma moradora da comunidade em torno da
Instituição, uma estudante do colégio de aplicação da UFF, duas estudantes de colégios
particulares. Todos convivendo e compartilhando a experiência teatral, o serviço voluntário
e a alegria de levar a arte.
Todas as montagens da CTRC sempre foram o resultado de um esforço de criação
coletiva. A elaboração e confecção de todas as etapas de pré-produção- com privilégio de
matérias recicláveis- é feita pelos membros da Companhia. A nossa montagem mais recente
A Viúva do Barão � uma releitura da tradicional história de Cinderela - foi encenada no dia
09 de outubro de 2010 no Teatro Municipal João Caetano, através da II Mostra de Teatro
Infantil de Niterói. A nova abordagem parte de uma série de questionamentos feitos pelos
próprios membros do grupo: por que a Madrasta se tornou fria e autoritária? Será Cinderela
uma menina ingênua, sem opinião própria e submissa à Madrasta e suas filhas? O que
desperta o interesse do príncipe pela gata borralheira levando-o a se apaixonar por ela?
A implantação da Oficina de Prática Teatral em 2010 deu aos atores mais
consciência sobre o seu ofício e tem, como objetivo, capacitá-los para atuar futuramente
como instrutores, estendendo a atuação da CTRC para uma efetiva ação social em atividades
de arte-educação, oferecidas aos alunos do ensino fundamental e médio da rede pública,
moradores da região do entorno do Sapê, no contraturno escolar. É o futuro da CTRC e da
CMM, trabalhando com arte para o desenvolvimento da cidadania e da auto-estima de
crianças e jovens.
2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA PROFISSIONAL
Penso que é um desafio concluir este capítulo com algumas considerações sobre a
prática profissional do assistente social correlacionada com a arte, pois este é um assunto
pouco falado dentro da nossa categoria.
Contudo, esta pesquisa me instigou e tenho a intenção de contribuir com as pessoas
que também se interessam por teatro e Serviço Social.
35
Para alcançar este objetivo foi fundamental para as minhas reflexões a leitura do livro �Uma
experiência em cena: Diálogo entre Serviço Social e Teatro� 5 da professora Beatriz
Venancio.
O trabalho da autora é uma reflexão teórico-crítica da sua experiência, vivida no trabalho
com um grupo de empregadas domésticas da Zona Sul do Município do Rio de Janeiro.
Venancio diz que a intenção de seu trabalho é viver um Serviço Social que possibilite o
emergir de um sentido para o mundo a partir do conhecimento dos sujeitos que permita a
descoberta de �ser pessoa humana�.
No livro citado a autora busca compreender o teatro vivenciado não como recurso de
ajuda imediata ou terapia, mas como instrumento de uma educação criativa, promovendo
condições de reflexão sobre o contexto social através da aplicação de uma metodologia de
Serviço Social com fundamentos da filosofia da existência e na fenomenologia.
Quanto à escolha pelo teatro como instrumento a autora afirma que:
A partir de uma vivência junto a um grupo teatral, fui radicalmente
tocada por esta linguagem que se apresentou a mim como um
caminho de acesso ao diálogo através do qual as pessoas se
expressam por inteiro. É o momento em que a manifestação verbal e
corporal se faz presente; o sonho, a fantasia e a razão caminham
juntas na busca de novos projetos e se relacionam sem se
confundirem. É uma das formas de manifestação na qual o ato de
criação é permanente... (VENANCIO, 1986, p.16)
Beatriz Venancio também aborda a questão da transformação social quando lemos
que a arte de representar possivelmente não é capaz de provocar modificações sócio-
políticas marcantes, mas sim de estabelecer diálogos provocadores de reflexão, ou seja, a
arte pode não implicar na transformação da sociedade, mas age diretamente sobre aqueles
que são os criadores da vida social � os homens e as mulheres.
Venancio inicia sua fala com a narrativa que a levou a conhecer o grupo com o qual
mais tarde iria utilizar o teatro. Venancio que na época era mestranda de Serviço Social da
PUC, juntamente com a estagiária Maria, adentrou o salão de uma Igreja no início de março
5 VENANCIO, Beatriz. Uma experiência em cena: Diálogo entre Serviço Social e teatro. Rio
de Janeiro: Dois Pontos, 1986. 95p.
36
de 1982, pois havia marcado um horário para conversar com o padre com o objetivo de
trabalhar com um grupo que na sua maioria era formado por empregadas domésticas e que
era alfabetizado a noite.
O padre disse que no momento eles estavam precisando de alfabetizadores e que se elas
aceitassem seriam bem-vindas.
Relata-nos o livro que essa ideia foi recebida com muita expectativa pelas duas estudantes
diante do instigante desafio de alfabetizar (mas não irei me aprofundar neste assunto).
Depois de algumas semanas como alfabetizadoras, o grupo de teatro surgiu a partir de um
processo de discussão que se estabeleceu nas turmas de alfabetizandos sobre a possibilidade
de criação de alternativas para as quartas-feiras (nestes dias não havia aula). A autora
relata no início de sua obra que já existia como atividade nas quartas-feiras um grupo de
evangelização, mas até mesmo o padre reconhecia que era o momento de novas opções.
Venancio nos relata que sugeriu o teatro mas que também apareceram outras propostas:
grupos de debate, grupos de corte e costura.
Relata-nos a autora que o principal no processo de implementação do teatro não era colocar
nem interpretar, mas compartilhar, entrar na problematização do tema com os membros do
grupo, o que implica uma relação de empatia.
Venancio ainda define como a problemática de seu trabalho dois valores fundamentais:
participação e liberdade. O grupo a partir de improvisações desempenhava um tema e neste
sentido:
Tornavam-se atores de seus próprios acontecimentos. Cada improvisação
foi o centro dos diálogos nos quais, intencionalmente, busquei provocar a
compreensão das relações entre eles e o mundo, concebidas de maneiras
muito variadas: articulando passado e futuro ao presente, criando e
recriando valores, modos de ser, visões de mundo. (VENANCIO, 1986, p.
36)
Venancio narra-nos que juntamente com a sua orientadora -à época- Anna Augusta
refletiu diversas vezes sobre a importância da criação de um novo instrumental para a
profissão. Aproveito esta �deixa� para fazer algumas reflexões sobre a instrumentalidade.
37
Relata-nos Guerra 6 (2000, P. 53) que a instrumentalidade no exercício profissional
refere-se não ao conjunto de instrumentos e técnicas, mas a uma determinada capacidade ou
propriedade constitutiva da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico.
A instrumentalidade possibilita o atendimento de demandas e o alcance de objetivos
(profissionais e sociais) e, portanto constitui-se como uma possibilidade concreta de
reconhecimento social da profissão. Guerra nos diz que:
É por meio da instrumentalidade que os assistentes sociais modificam,
transformam as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais
e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do
cotidiano. (GUERRA, 2000, P.53)
Podemos entender que condições objetivas são aquelas relativas à produção material da
sociedade, como por exemplo: a propriedade privada dos meios de produção e os espaços
sócio-ocupacionais. Já as condições subjetivas são aquelas relativas aos sujeitos, as suas
escolhas e aos referenciais teórico, metodológico, ético e político entre outras.
Todo trabalho social possui instrumentalidade. Pelo processo de trabalho os homens
transformam a realidade, transformando a si mesmos. Desta forma reproduzem material e
socialmente a própria sociedade.
Retomando a experiência de Venancio, a autora relata-nos que o sentido do grupo de
teatro está contido na seguinte colocação:
... estou dizendo que , quando a gente é criança, dizem � criança não fala!
Em adulto, a vida que nós levamos é sempre a mesma- empregada não fala!
Quer dizer empregada tem que ser boa, eficiente, maravilhosa, trabalhar o
máximo possível, tem que ter o seu lugar. E será que existe esse lugar?
(Joana in VENANCIO, Beatriz, 1986, p.67.)
Esta fala demonstra que o desejo do diálogo é inerente a pessoa humana e retrata a
denúncia da ausência desta oportunidade. Quanto ao Serviço Social CASSAB7 (1995, p.25.)
6 GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade no processo de trabalho e serviço social. In Serviço
Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n.62, 2000.
7 CASSAB, M A T. A instrumentalidade na intervenção do assistente social. Caderno de
Serviço Social. Escola de Serviço Social de Niterói. Nº 1, Niterói, RJ., UFF, 1995
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lembra algumas atitudes facilitadoras da reflexão no relacionamento profissional que
procura uma base dialogal, dentre elas vale destacar a valorização da experiência que
significa:
Ouvir, ouvir, ouvir, realmente interessado no que o outro diz, demonstrar
esse interesse, fazê-lo perceber que é importante o que lhe acontece e dizer
sempre a verdade, sem criar falsas expectativas, ou escamoteá-la no
interesse da instituição, são chaves fundamentais para se ter a confiança e o
respeito dos usuários. (CASSAB, 1995, p.35)
Quando eu idealizei falar da Companhia Teatral Recontando Conto eu quis falar de
um espaço de criação contínua e de liberdade de expressão. Não conseguiria participar de
um grupo que me imprimisse um formato. Por mais que os diretores orientem o modo se ser
dos personagens outras propostas são debatidas e todos colaboram com suas opiniões, com
seus pontos de vista.
É necessário realmente �recontar� as histórias para romper os espaços onde a
uniformização e a generalização ergueram paredes. É importante perder (nesses espaços e
junto aos nossos usuários) a triste impressão de �deja vu� e buscar compreender cada caso
como um caso único ainda que pertencente a uma totalidade.
Quem disse que a princesa precisa ser loira e ter olhos azuis?
Será que Cinderela pode usar um vestido que não seja azul?
Estas questões foram discutidas quando estávamos para estrear A Viúva do Barão �
releitura da tradicional história de Cinderela- em outubro no Teatro Municipal João
Caetano.
Alguém da CTRC numa de nossas reuniões levantou a seguinte questão: �Pode ser que não
gostem de Cinderela, por ela não ser loira e não usar vestido azul.�
Outro componente respondeu: �Impossível não gostarem!�
E no dia 09 de outubro estreamos. Eu no papel de Cinderela que foi um dos mais difíceis de
toda a minha trajetória.
Tive que tomar um cuidado muito grande para ela não se tornar chata já que praticamente
nunca saía de cena. Fora a tensão de estar naquele palco enorme e ter que repensar todo o
tempo onde eram as minhas �saídas� de cena. E o medo de não conseguir fazer as trocas de
figurino a tempo. Mas tudo deu certo ou, pelo menos, o que deu errado o público não
percebeu.
39
Ah, a platéia gostou de Cinderela! As crianças se identificaram com ela, pois Cinderela não
precisava ser extremamente correta o tempo todo. Acredito que isso a tenha aproximado do
público.
Com essas experiências cresci. Pude compreender a importância do trabalho em
equipe. Fora as �avaliações� que realizamos depois das nossas apresentações e que são
clássicas na Cia, praticamente um vício. Todos dão suas opiniões de como foi o trabalho e
assim enriquecemos, ampliamos a nossa visão.
Eu realmente tenho buscado compreender como o assistente social pode utilizar o
teatro na sua prática profissional, mas por mais que eu buscasse não encontrei fórmulas
prontas e avalio isso de forma positiva.
As pessoas precisam ser livres para criar. Livres para serem o que quiserem.
Acredito que o maior desafio profissional é respeitar o modo como as pessoas se expressam.
Afinal, a democracia não deveria ser vista como a convivência de iguais; ao contrário é a
convivência dos diferentes sem desigualdades.
São tantas as experiências e elas são tão interessantes! Basta mergulharmos no universo
reflexivo e prático de Boal com a sua Estética do Oprimido para refletirmos como ela pode
ser estudada em nossa categoria; a assistente social Wanusa Pereira 8 nos apresenta uma
sugestão:
Acredito que o método do Teatro do Oprimido deveria ser estudado na
academia assim como estudamos as demais ferramentas do Serviço Social,
pois ele está intimamente ligado ao projeto ético político profissional de
nossa categoria, sobretudo nos aspectos da defesa de direitos, na atuação
profissional numa perspectiva emancipatória e desalienadora. (Wanusa in
MENDES, 2007, p. 38)
Guerra (2000) vem complementar o nosso raciocínio no sentido de que através da
instrumentalidade da profissão que �retomando- é a capacidade de o Serviço Social operar
transformações, alterações nos objetos e nas condições (meios e instrumentos) visando
alcançar seus objetivos, surgem elementos progressistas e emancipatórios, próprios da razão
dialética.
8 MENDES, Verônica Moreira. Por trás das cortinas, novos olhares: A utilização do teatro do oprimido no fazer
profissional do Serviço Social. Niterói, 2007. 39f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social)
- Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007.
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A razão dialética se expressa na razão humana, ou seja, é permeada pela contradição, pela
totalidade e mediações buscando a essência ou substância dos fenômenos.
Então, desejo que a nossa categoria possa através da razão dialética construir
caminhos que visem a superação da ordem social do capital, que trabalhe no sentido de
antecipar demandas e que pise firmemente no interior de nosso projeto profissional. Contudo,
essa prática tem que ser construída sempre no respeito ao outro e tomando este outro como
sujeito histórico da mesma forma que nós, assistentes sociais.
E será que a prática teatral pode ser um caminho?
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também. (Oswaldo Montenegro)
Não pretendo de forma alguma esgotar as possibilidades do fazer teatro na
prática profissional do assistente social.
Este trabalho apenas veio me mostrar que estamos ainda no início.
É possível criarmos espaços participativos, democratizadores, libertários, mas
não conseguiremos nada sozinhos. Trabalhamos em equipe. E precisamos aprender a
ouvir os nossos usuários. Falamos em dar a voz como se estes não tivessem voz. A voz é
deles, como diria Chico Buarque, ele é o dono da voz. Talvez um dos nossos maiores
problemas seja que a gente não consiga ouvir.
As experiências estão lançadas: Estética do Oprimido, Cia Teatral Recontando Conto, Espaço
Avançado...
Cabe a nós que esses projetos sigam adiante. Acadêmicos e Usuários numa relação que muitas
vezes gerará conflito. E aí está a graça: é do caos que nascem as estrelas, como disse Chaplin.
Ainda bem que tenho a arte para dedicar à vida!
Meu futuro? Não tenho ideia.
Atriz? Palcos? Ou Serviço Social?
Seja qual for a opção não serei triste por isso.
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Nada está separado somos parte do universo.
A arte me diz que posso construir um Serviço Social com mais alternativas, experiências
democratizadoras, um ouvido mais atento.
O Serviço Social me diz que a arte é indissociável da percepção do ser humano em sua visão
holística, em suas falas e transformações, num constante vir a ser.
Não espero fazer dessas considerações � conclusões. Espero apenas que o espaço esteja
aberto. Que o diálogo flua. Que a arte floresça. E que nos sensibilizemos para o mundo que nos
rodeia.
Uma aprendiz.
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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOAL, Augusto. A Estética do Oprimido: Reflexões errantes sobre o pensamento do ponto de
vista estético e não científico. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. 256p.
CASSAB, M A T. A instrumentalidade na intervenção do assistente social. Caderno de
Serviço Social. Escola de Serviço Social de Niterói. Nº 1, Niterói, RJ., UFF, 1995
GUÉNOUN, Denis. O Teatro é necessário? São Paulo: Perspectiva, 2004. 168p.
GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade no processo de trabalho e serviço social. In Serviço
Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, n.62, 2000.
FISCHER, Ernest. A Necessidade da Arte. Trad. Leandro Konder. 9 ed. Rio de Janeiro:
Editora Guanabara S.A, 1987. 256p. Tradução de: Von der Notwendigkeit der Kunst.
FREITAS, Rita de Cássia Santos. Uma questão de estilo. In: Mães de Acari � Preparando a
tinta e revirando a praça: um estudo sobre mães que lutam. Rio de Janeiro, 2000. Tese
(Doutorado em Serviço Social) - Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRJ,
Rio de Janeiro, 2000.
GONDENBERG, Mirian. Noites de insônia: cartas de uma antropóloga a um jovem
pesquisador. Rio de Janeiro: Record, 2008.
LUKÁCS, György. Arte e Sociedade: Escritos estéticos 1932�1967. Org. e Trad. Carlos
Nelson Coutinho e José Paulo Netto. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009. 276p.
MENDES, Verônica Moreira. Por trás das cortinas, novos olhares: A utilização do teatro do
oprimido no fazer profissional do Serviço Social. Niterói, 2007. 39f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Serviço Social) - Centro de Estudos Sociais Aplicados,
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007.
PESSA, Renê. Amor e Vida. Rio de janeiro: SEJA, 1996. 264
SILVEIRA, Carmen L. P. PETRI, Waldemar. Casa Maria de Magdala: Lar de amor,
aprendizado, renovação e aconchego espiritual. São Paulo: All Print Editora, 2007. 103p.
VENANCIO, Beatriz Pinto. Pequenos espetáculos da memória: registro cênico-dramatúrgico
de uma trupe de mulheres idosas. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Editores, 2008. 125p.
Uma experiência em cena: Diálogo entre Serviço Social e teatro. Rio de Janeiro: Dois
Pontos, 1986. 95p.
Teatro de lembranças. Separata de: Gênero: Revista do Núcleo transdisciplinar de
Estudos de Gênero � NUTEG, Niterói: Eduff. v.2, n.1, p. 49-58, 2. Sem. 2001.
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5. ANEXOS
ANEXO I � APRESENTAÇÕES DA COMPANHIA RECONTANDO O CONTO
. Cinderela (2002/2003/2004)
Casa Maria de Magdala
Teatro da UFF � Julho 2003
Centro Cultural de Itaipu
Teatro do Colégio Salesianos de Santa Rosa
Sala Cecília Meirelles (espetáculo fechado para funcionários da VIVO) � Julho de 2005
UMEP � Petrópolis
Grupo Luz e Caridade � Magé
EFRA � São Gonçalo
. O Renascimento de Jesus (2003/2004)
Casa Maria de Magdala
Grupo Espírita Amor e Caridade
Grupo Espírita Leôncio de Albuquerque
Grupo Luz e Caridade � Magé
EFRA � São Gonçalo
. A Bela Adormecida (2005/2006)
Casa Maria de Magdala
EFRA � São Gonçalo
Grupo Luz e Caridade � Magé
. Amor e Vida (2007)
(Em comemoração aos 16 anos da Casa Maria de Magdala)
Anfiteatro da Casa Maria de Magdala � Julho de 2007
. Um Conto de Natal (2007)
Anfiteatro da Casa Maria de Magdala � Dezembro de 2007
. Sarau � Uma Noite em Conservatória (2008)
Casa de Roberto Franklin � Agosto de 2008
. Peter Pan (2008/2009)
Anfiteatro da Casa Maria de Magdala � Outubro de 2008
Teatro Municipal João Caetano � Festival de Teatro Infantil de Niterói � Outubro de 2009
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. Natal em Família (2008)
Anfiteatro da Casa Maria de Magdala � Dezembro de 2008
. O Grande Laço (2009)
(Em comemoração aos 18 anos da Casa Maria de Magdala)
Anfiteatro da Casa Maria de Magdala � Agosto de 2009
. �onde tudo não morre�� (2009)
Solar Imperial � Novembro de 2009
Anfiteatro da Casa Maria de Magdala � Dezembro de 2009
. A Viúva do Barão (2010)
Teatro Municipal João Caetano � II Festival de Teatro Infantil de Niterói � Outubro de 2010