patricia dantas

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Unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Campus de Rosana - SP PATRÍCIA DANTAS DE MIRANDA ANDRADE I I N N C C L LU US S Ã Ã O O S S O O C C I I A AL L P P O OR R M M E E I I O O D DA AS S A A R R T T E E S S : : OCASO DO PROGRAMA “VIVA ARTENO MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM SÃO PAULO ROSANA –SÃO PAULO. 2008 Create PDF with GO2PDF for free, if you wish to remove this line, click here to buy Virtual PDF Printer

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAJLIO DE MESQUITA FILHO Campus de Rosana - SP

PATRCIA DANTAS DE MIRANDA ANDRADE

INCLUSO SOCIIAL POR MEIIO DAS ARTES: NCLUSO OC AL POR ME O DAS RTESO CASO DO PROGRAMA VIVA ARTE NO MUSEU DE ARTE CONTEMPORNEA EM SO PAULO

ROSANA SO P AULO. 2 008

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PATRCIA DANTAS DE MIRANDA ANDRADE

INCLUSO SOCIAL POR MEIIO DAS ARTES: C US O C AL OR ME O D S RT SO CASO DO PROGRAMA VIVA ARTE NO MUSEU DE ARTE CONTEMPORNEA EM SO PAULO

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Turismo Unesp/Rosana, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Turismo.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Romero de Oliveira

R OSANA SO P AULO.

2 008

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PATRCIA DANTAS DE MIRANDA ANDRADE

INCLUSO SOCIAL POR MEIIO DAS ARTES: C US O C AL OR ME O D S RT SO CASO DO PROGRAMA VIVA ARTE NO MUSEU DE ARTE CONTEMPORNEA EM SO PAULO.Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Turismo Unesp/Rosana, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Turismo. Linha de pesquisa: Incluso social e a sua relao com elementos referentes ao patrimnio e ao turismo cultural na atualidade. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Romero de Oliveira

Data de aprovao: 02/07/08 MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:

Presidente e Orientador: Professor Doutor Eduardo Romero de Oliveira. Universidade Estadual Paulista.

Membro Titular: Professor Mestre Rodrigo Guimares Universidade Estadual Paulista.

Membro Titular: Professora Mestra Cludia Correa Universidade Estadual Paulista. Local: Universidade Estadual Paulista UNESP Campus Experimental de Rosana

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Aos meus pais, Dulce e Airton e ao meu irmo Junior, pelo amor que os tenho e por estarem presentes em minha existncia e, apesar da distncia, sempre me concedendo motivao e apoio para as etapas e objetivos que foram, e que ainda sero alcanados em minha vida. amiga Jaqueline Anacleto, pela cumplicidade, lealdade e amor nesta trajetria, em tantas outras passadas e em outras que viro. minha Estrela, Irineu Junior, pela fora, amor, carinho, respeito, felicidade e tantos outros sentimentos sublimes e surpeendentes que me proporciona. E s integrantes da famlia que constitui - Patrcia Marcela, Carolina Castro, Giesa Karla e Miriam Pavez - e que sempre terei comigo.

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AGRADECIMENTOS Agradeo primeiramente a Deus, por permitir oportunidades como esta em minha vida e por sempre me guiar pelo melhor caminho. Agradeo aos meus pais pela pacincia, respaldos, incentivos, educao, amor, e por todas as benesses abenoadas que me concedem. Ao Professor Doutor Eduardo pela disposio em me orientar, o que com certeza trar efeitos positivos por muito tempo. Tambm agradeo aos Professores e Mestres Rodrigo Guimares e Cludia Correa, por terem gentilmente aceitado participar da minha banca julgadora, pelas disciplinas que lecionaram de maneira surpreendente e pelos profissionais competentes que so. Aos profissionais do Museu de Arte Contempornea da Universidade de So Paulo, Srgio Miranda e Andrea Amaral, pela disposio e gentileza em contribuir com a pesquisa. A Professora Doutora Patrcia Tosqui pela contribuio na elaborao e estrutura da monografia, e por todos os semestres que nos lecionou aulas, contribuindo para nossa formao. Ao Professor Doutor Srgio Oliveira - o Srginho - pela constante vontade em ajudar, pela ateno para com os alunos, alm de sua compreenso, pacincia, respeito e carinho. Agradeo tambm, ao funcionrio Gilnei Gutierrez, por sempre estar presente em vrios momentos e viagens da convivncia universitria, e por sempre contribuir conosco, seja pelo entusiasmo, seja pelo seu bom-humor e carisma. s companheiras de repblica, Patrcia Marcela, Carolina Castro, Giesa Karla e Miriam Pavez, por estarem presentes em momentos especiais, proporcionando companheirismo, respeito, carinho e amizade. Ao amigo Lus Fernando Neves Alves, pela parceria, disposio em ajudar, contribuio, bom-humor e por ter tido o prazer de conhecer algum de tamanho carter e nobreza de esprito.A todos os funcionrios, professores da UNESP por terem contribudo para a minha formao profissional e pessoal. Ademais, a todos os colegas, amigos e familiares que estiveram presentes em momentos singulares da minha vida, e que, mesmo indiretamente contriburam tambm, para a formao do meu carter.

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Sem um fim social, o saber ser a maior das futilidades (FREYRE, 1917). Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela no saiba. E que ningum a tente complicar, porque preciso simplicidade para faz-la florescer (MONTENEGRO, 1988). Desmaterializando a obra de arte do fim do milnio Fao um quadro com molculas de hidrognio, Fios de pentelho de um velho armnio Cuspe de mosca, po dormido, asa de barata torta. Meu conceito parece, primeira vista, Um barrococ figurativo neo-expressionista Com pitadas de arte nouveau ps-surrealista calcado da revalorizao da natureza morta Minha me certa vez disse-me um dia, Vendo minha obra exposta na galeria, "Meu filho, isso mais estranho que o cu da jia E muito mais feio que um hipoptamo insone" Pra entender um trabalho to moderno preciso ler o segundo caderno, Calcular o produto bruto interno, Multiplicar pelo valor das contas de gua, luz e telefone, Rodopiando na fria do ciclone, Reinvento o cu e o inferno Minha me no entendeu o subtexto Da arte desmaterializada no presente contexto Reciclando o lixo l do cesto Chego a um resultado esttico bacana Com a graa de Deus e Basquiat Nova York, me espere que eu vou j Picharei com dend de vatap Uma psicodlica baiana Misturarei anguas de viva Com tampinhas de pepsi e fanta uva Um penico com gua da ltima chuva, Ampolas de injeo de penicilina Desmaterializando a matria Com a arte pulsando na artria Boto fogo no gelo da Sibria Fao at cair neve em Teresina Com o claro do raio da silibrina Desintegro o poder da bactria. (BALEIRO; RAMALHO, 1999).

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RESUMO A excluso social uma realidade notria do sistema capitalista, que acarreta na falta de acesso, para grande parte da populao brasileira, aos principais elementos bsicos de sobrevivncia moradia, educao, trabalho, alimentao, sade, entre outros cujos so direitos de todo cidado e deveres do Estado. Alm de excluir a maior parte da populao do direito de uma vida digna de mnimos recursos, o regime vigente tambm causa excluso de outros elementos que possibilitariam uma melhor qualidade de vida, como o direito ao lazer, o acesso arte e a cultura. Partindo desse contexto, alguns rgos tomam iniciativas para que essa realidade seja alterada, mesmo que em parcela mnima, ainda sim com a meta de surtir efeitos positivos. Algumas dessas iniciativas so programas e projetos de incluso social desenvolvidos por localidades de cunho artstico e cultural. Exemplos dessas localidades so os museus do municpio de So Paulo, os quais tentam propiciar populao excluda acessibilidade a elementos artsticos e culturais, numa das maiores cidades concentradoras de riqueza e de desigualdade social do pas. Um desses museus o Museu de Arte Contempornea de So Paulo (MAC), o qual desenvolve o programa scio-educativo e cultural denominado Viva Arte. Este programa tem como objetivo inserir pessoas desfavorecidas no campo das artes visuais, que at ento estavam alheias a concepes relacionadas a este tema, proporcionando aos participantes novas experincias e conhecimento. Palavras-chave: Excluso. Incluso social. Museu de Arte Contempornea. Programa Viva Arte. Artes.

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ABSTRACT The social exclusion is a notorious reality of the capitalist system, which entails the lack of access to a numerous part of the Brazilian population, to the main basic elements of survival - housing, education, work, food, health, among others - which are rights of all citizen and obligations of the State. In addition to the exclusion for most of the population of the right to a dignified life of minimal resources, the current system also causes exclusion of other elements that would make possible a better quality of life, such as the right to leisure, access to art and culture. In this context, some organizations take initiatives to that reality is altered, even in a minimum plot, but still with the goal to have positive effects. Some of these initiatives are programs and projects of social inclusion developed by localities of artistic and cultural purposes. Examples of such locations are the museums of Sao Paulo city, which try to provide the population excluded with access to artistic and cultural elements, in one of the largest cities that concentrate wealth and social inequality in the country. One of these museums is the Museum of Contemporary Art in Sao Paulo (MAC), which develops an educational and socio-cultural program, called Viva Arte. Its objective is to insert marginalized people in the field of visual arts, which until then were unfamiliar to concepts related to this issue, giving participants new experiences and knowledge. Keywords: Exclusion. Social inclusion. Contemporany Art Museum. Viva Arte Project. Arts.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 Atividade ao ar livre no centro de So Paulo........................................................65 Figura 1.2 Atividade ao ar livre no centro de So Paulo - Obra pronta..........................65 Figura 2 Atividade realizada no ateli elaborao do desenho........................................65 Figura 2.1 Atividade realizada em ateli exposio dos trabalhos ................................66 Figura 3 Alguns produtos feitos por integrantes das oficinas de gerao de renda...........68

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SUMRIOINTRODUO ................................................................................................................................................................... 1 UM SUCINTO CONTEXTO DO QUADRO DA URBANIZAO NO B RASIL E AS SUAS CONSEQNCIAS ............................... 1 INCLUSO E EXCLUSO SOCIAL ....................................................................................................................................... 3 A incluso social e a arte............................................................................................................................................ 5 OBJETIVOS ......................................................................................................................................................................... 9 JUSTIFICATIVA................................................................................................................................................................... 9 METODOLOGIA ................................................................................................................................................................ 10 CAPTULO I - O TURISMO CULTURAL.................................................................................................................. 14 1.1 UM BREVE CONTEXTO DO TURISMO CULTURAL ..................................................................................................... 14 1.2 A COMPLEXIDADE DA RELAO DOS PATRIMNIOS HISTRICO-CULTURAIS COM O TURISMO CULTURAL .......... 18 1.2.1 A memria, a identidade cultural e as mudanas na sociedade................................................................... 18 1.2.2 A preservao do patrimnio histrico-cultural e o turismo cultural.......................................................... 22 1.3 TURISMO CULTURAL EM SO P AULO ...................................................................................................................... 28 1.3.1 Algumas questes do processo urbanstico da cidade .................................................................................. 28 1.3.2 Turismo cultural em So Paulo: dificuldades e possibilidades.................................................................... 31 CAPTULO 2 MUSEUS DE ARTE E O TURISMO ............................................................................................... 37 2.1 BREVE CONCEPO HISTRICA ................................................................................................................................ 37 2.2 OS MUSEUS COMO ATRATIVOS TURSTICOS NO BRASIL .......................................................................................... 41 2.3 BREVE DESCRIO DE ALGUNS MUSEUS DE INTERESSE TURSTICO NA CAPITAL PAULISTA .................................. 46 2.4 AS NOVAS CONCEPES E FUNES DO MUSEU...................................................................................................... 48 2.5 ARTE-EDUCAO E AES CULTURAIS EM MUSEUS ............................................................................................... 50 CAPTULO III O MAC E OS PROJETOS DE ARTE-EDUCAO.................................................................. 56 3.1 O MUSEU DE ARTE CONTEMPORNEA (MAC): HISTRICO E ATIVIDADES ........................................................... 56 3.2 BREVE DESCRIO DE ALGUNS PROGRAMAS........................................................................................................... 58 3.2.1 Lazer para Terceira Idade............................................................................................................................... 58 3.2.2 MEL Museu, Educao e o Ldico e Acervo: Roteiros de Visita.............................................................. 59 3.2.3 Arte no Caminho .............................................................................................................................................. 60 3.2.4 O Programa Viva Arte ................................................................................................................................ 62 3.3 ENTREVISTAS COM A COORDENADORA DO PROGRAMA .......................................................................................... 66 3.4 A OBSERVAO DA ATIVIDADE E A APLICAO DE QUESTIONRIOS COM OS PARTICIPANTES DO PROGRAMA ... 72 3.5 DESCRIO E ANLISE DOS DADOS OBTIDOS .......................................................................................................... 73 CONSIDERAES FINAIS........................................................................................................................................... 76 REFERNCIAS ................................................................................................................................................................ 83 7.1 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS DIRETAS................................................................................................................ 83 7.2 BIBLIOGRAFIA SUPLEMENTAR UTILIZADA ............................................................................................................... 88 APNDICES ...................................................................................................................................................................... 89 APNDICE A - QUESTIONRIO DE ORIENTAO PARA A ENTREVISTA COM A COORDENADORA DO PROJETO VIVA ARTE......................................................................................................................................... 90 APNDICE B - QUESTIONRIO APLICADO AOS PARTICIPANTES DO PROJETO VIVA ARTE............. 91 ANEXOS............................................................................................................................................................................. 93 ANEXO A - MAPA DO NDICE DE DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL.................................................. 94 ANEXO B - MAPA DO NDICE DE EXCLUSO SOCIAL NO BRASIL ............................................................ 95 ANEXO C - MAPA DO NDICE DE DESIGUALDADE SOCIAL NO MUNICPO DE SO PAULO ............. 96 ANEXO D - MAPA DO NDICE DE EXCLUSO SOCIAL NO MUNICPO DE SO PAULO ....................... 97

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INTRODUO Um sucinto contexto do quadro da urbanizao no Brasil e as suas conseqncias No ltimo quinqagenrio, o Brasil teve um crescimento urbano que modificou de maneira intensa, a distribuio da populao em seu espao geogrfico. Em 1945, a populao urbana representava 25% da populao nacional, e no incio de 2000 este ndice, assustadoramente, passou para 82%, o que representa aproximadamente 169 milhes de pessoas. Na ltima dcada, a populao brasileira em sua totalidade, teve um aumento de 20%, e o nmero de habitantes de reas urbanas aumentou em mais de 40%. Sendo que nove regies metropolitanas do Brasil, as quais concentram 85% da renda do pas, comportam um tero da populao nacional. De acordo com Rattner (2001), essas verdadeiras aglomeraes acarretaram em altas incidncias de violncia, dado este que est relacionado com a concentrao de renda, desigualdade, marginalidade, desemprego, privao de direitos e na perda da identidade dos cidados. As regies metropolitanas apontadas so classificadas, em mbito nacional, como regies bem desenvolvidas, porm elas apresentam na realidade alto grau de desigualdade social, com altos contingentes populacionais em condies subumanas. Essas regies destacam essencialmente cidades do Sul e Sudeste, dentre as quais esto Porto Alegre, Belo Horizonte, Campinas, e obviamente, Rio de Janeiro e So Paulo. Segundo Mrcio Pochmann: Este quadro parece ter se agravado a partir dos anos 90, com a adoo de polticas econmicas de corte liberal. Identifica-se uma nova forma e peculiar de excluso social nesses grandes centros urbanos. E so nestes centros, onde se encontra um grande nmero de indivduos, que apesar de escolarizados, de terem experincia de assalariamento formal e possurem famlias poucos numerosas, encontra-se em situao de desemprego e insuficincia de renda (POCHMANN, 2004a, p.73). Atualmente, no incio do sculo XXI, muitas sociedades enfrentam uma perspectiva da crise urbana, que uma das conseqncias dessa ocupao excessiva e catica do espao. A rpida urbanizao e a intensa concentrao de indstrias e seres humanos carregam consigo o acmulo de riquezas sem distribuio eqitativa dos benefcios sociais, o que agrava os conflitos da sociedade e as contradies do sistema que dirige a sociedade. Estas contradies remetem, inclusive, no discurso de que os processos da globalizao e da industrializao trazem desenvolvimento econmico para o pas e benefcios gerais para a populao. Porm, mesmo o quadro atual das cidades sendo algo em situao emergencial, a urbanizao paradoxalmente trouxe desenvolvimento em alguns aspectos e excluso em outros.

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Diante de tal situao, Jos Chacon de Assis (2001, p.07) afirma que as cidades contemporneas nos do testemunhos da experincia histrica dos povos e da produo do espao urbano que os marcam. Ao mesmo tempo, estes fatores, evolues tecnolgicas e processos urbansticos desenvolvem especulao e inovao, criando simultaneamente novos espaos de privilgio e de excluso. A nova globalizao, em conjunto com o sistema capitalista, e toda a complexidade de sua dinmica e dos elementos e fatos que os implicam, nomeada por Negri como Imprio. Assim:O Imprio com qual nos deparamos exerce enormes poderes de opresso e destruio, mas isso no deveria, de modo algum, nos deixar saudosos das antigas formas de dominao. A transio para o Imprio e seus processos de globalizao oferece novas disponibilidades para as foras de libertao. A globalizao, claro, no uma coisa nica, e os mltiplos processos que chamamos de globalizado no so unificados, nem unvocos (NEGRI, 2004, p.15).

Dentro deste contexto, Pochmann (2004a, p.10), de forma lgica, afirma que o desenvolvimento de um pas pode gerar paralelamente, condies de incluso e de excluso. Devido ao fato que as transformaes temporais na sociedade anunciam tambm fatores de desigualdade e de incluso. A partir dos autores, afirmam-se os paradoxos que so estabelecidos pelos sistemas vigentes globais, os quais ocasionaram as grandes revolues industriais e com ela, a urbanizao demasiada, que por sua vez, trouxe consigo crescimento econmico e simultaneamente, srios problemas sociais, culturais e estruturais. Para finalizar, Freire aponta que a realidade das sociedades e cidades urbanas poderia ser diferente se o seu progresso tivesse sido executado a partir da associao de grupos humanos em comunidades, e que fosse baseado numa solidariedade poltica de sabedoria democrtica. Assim, Freire menciona o trecho a seguir:Aglomeraes urbanas em que teria exercitado, se florescidas desde o incio de nossa colonizao, sob o impulso da vontade popular, posies diferentes. Posies democrticas de que teriam nascido e se desenvolvido outras disposies mentais e no as que se consubstanciaram e nos marcam ainda hoje (FREIRE, 1978, p.74).

Infelizmente, no foi desta forma que surgiram as nossas urbes, mas se fosse com certeza teramos uma realidade diferente e mais democrtica. No entanto, a realidade outra, e por isso preciso estabelecer a implantao de novas polticas e diretrizes que coadunem em aes de

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incluso social, em tentativa e esforo de modificar, nem que seja, uma pequena parcela deste quadro. Incluso e Excluso Social Ao nos referirmos ao vocbulo incluso, - e os conceitos que lhe implicam - diretamente o ligamos terminologia de excluso, a qual revela certo desequilbrio pela desigualdade da sociedade, que vai alm da distribuio de renda, tendo em seu contexto outras dimenses. Ou seja, ambas esto relacionadas e ao definir a existncia de pessoas includas subentende-se que existem pessoas excludas. Neste mbito, os elementos de excluso social podem ser verificados pela:[...] indicao quantitativa para a definio de excluso, ou no, ao acesso educao, ao trabalho, moradia, renda, ao transporte e informao, entre outros, cresce de importncia a noo de qualidade, pois a simples constatao a respeito do acesso a um bem ou servio no suficiente para compreender a superao da condio de excluso. Torna-se fundamental, portanto, medir tambm a qualidade e o resultado deste acesso (POCHMANN, 2004a, p. 10).

No que diz respeito excluso social necessrio discorrer um breve histrico de suas diferentes concepes. No perodo do Renascimento, Rousseau classificou em dois tipos de desigualdades que atingem a espcie humana, a primeira sendo natural ou fsica, que diz respeito as externalidades dos padres vigentes, como por exemplo, os padres e conceitos de esttica e beleza. A segunda desigualdade est relacionada moral ou a poltica, a qual est atrelada diferena entre os homens por razes econmicas, sociais, polticas e culturais. Nas sociedades da Idade Moderna o modo de excluso social implicava-se em excluir do seu interior tudo que era considerado fora dos padres da poca. E as sociedades contemporneas procuram combinar de maneira instvel a incluso pela cultura ao mesmo tempo em que exclui socialmente e economicamente. Para o sistema capitalista, o regime da propriedade e a consolidao da diviso do trabalho, culminaram na consolidao de classes dspares; e para o liberalismo a desigualdade considerada natural, ou seja, como parte de um sistema produtivo. O aspecto da nova excluso social est em meio ao desemprego contra a maior qualificao, sendo este um fenmeno transdisciplinar relacionado ausncia de acesso a bens e servios bsicos, e excluso dos direitos humanos. No perodo de 1960 a 2000, segundo as os estudos de Mrcio Pochmann (2004), os ndices de qualidade de vida, de um modo geral,

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cresceram, porm questionvel o entendimento dos ndices da excluso social, quando os nveis apresentam crescimento. O fato explica-se nas questes polticas e econmicas e no modelo concentrador capitalista, assim como, relaciona-se tambm o desemprego e as formas precrias de insero do cidado no mercado de trabalho. O que atualmente verifica-se a queda de emprego formal, conseqentemente, a fora do trabalhador inferior do empregador, sendo que, principalmente, nos ltimos cinco anos da dcada de 90, constata-se uma queda na organizao e participao sindical. A informalidade implica na perda de direitos de carter social. Assim como o desemprego um fenmeno que ultrapassa a sociedade brasileira. Sendo que a violncia pode ser explicada, entre outros elementos, pela falta de emprego, precariedade na educao e pela massificao do consumo. No Brasil, h o espantoso nmero, em que os 10% dos mais ricos possuem uma renda 60 vezes maior que 10% dos mais pobres, onde os ndices de subdesenvolvimento expandem-se pela seiva retroativa do regime escravocrata em que o pas foi um dos ltimos a extingui-lo - e, atualmente, intensificado pela poltica neoliberal. Estes indicadores so agravados pela ausncia de reformas agrria, tributria e social, que transformaram o Brasil capitalista numa mquina de produo e reproduo de desigualdades (ANDRADE et al., 2006, p.08). A imensido da excluso social no Brasil agravou-se aps a segunda metade do sculo XX, sendo que os locais mais atingidos esto acima do trpico de Capricrnio. Em anlise das caractersticas geogrficas, histricas e sociais do Brasil, concordar-se- com a afirmao de Pochmann (2005e) em que:Parece incrvel como um pas vastssimo de territrio termina por excluir parcelas expressivas da populao da possibilidade de produzir na terra, bem como de ter habitao, sade, educao e transporte decentes para todos. (POCHMANN, 2005e).

Em suma, a excluso social um fenmeno atrelado lgica do sistema capitalista e a outras dinmicas sociais vigentes na contemporaneidade. O sistema, por si s causa estranhamentos e barreiras sociais, que se opem ao desenvolvimento da capacidade humana, sujeitando as pessoas aos trabalhos mais desumanos para sobreviver nesta realidade e ter o mnimo de acesso s necessidades bsicas. As quais seriam fundamentais a qualidade do acesso educao, informao, moradia, renda, ao trabalho, ao transporte, entre outros. No que se refere ao acesso da populao ao trabalho, Pochmann, cita que a incluso social uma forma de exclu-los da precariedade das condies em que vivem, pois esses excludos, dos quais grande parte est abaixo da linha da pobreza, esto na verdade includos no setor de empregos e de

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produo, em pssimas condies, na qual o subemprego prevalece. Assim sendo, [...] o critrio de excluso social capta de forma mais abrangente as vrias formas de insero precria ou de falta de acesso a um conjunto de bens sociais (POCHMANN, 2004, p. 67-68). Diante disso uma forma de melhorar essa situao por intermdio de polticas pblicas que desenvolvam potencialidades dessas pessoas. Vale ressaltar que:[...] deve-se diferenciar a excluso social como processo do discurso que muitas vezes o acompanha. Isto porque muitas vezes acaba por se reforar a idia de que o segmento mais vulnervel da sociedade no tem direito ou perspectiva de acesso cidadania [...] s possvel se contrapor a esta viso limitada a partir da defesa da universalizao do acesso s polticas sociais (POCHMANN, 2004, p.39).

Perante essas informaes, pretende-se analisar a representatividade de intervenes realizadas quanto sua funcionalidade e qualidade no que se refere s aes de incluso social, pois so elas que realmente modificam a realidade. Essas aes sero analisadas especificamente, como so efetivadas por meio do acesso as artes, universo este que tambm faz parte do processo de excluso na sociedade. A incluso social e a arte A arte remete a certas manifestaes da atividade humana, as quais causam admirao no outro, e so privilegiadas perante as noes solidificadas da nossa cultura em algumas atividades. Em muitos casos, a determinao de arte sobre alguma manifestao dada por outro grupo distinto, sendo que o manifestante no reconhece como arte. Por exemplo, no caso de algum grupo que pratica um ritual ou dana tradicional de sua sociedade, para ele aquilo no visto como arte, e sim como um costume histrico de seu povo, sendo que quem nomeia esta prtica como arte so grupos sociais externos a esta realidade. Para a definio do que ou no arte, a sociedade coloca alguns critrios especficos de anlises e selees, que no partem de definies lgicas, abstratas ou tericas, mas de atribuies e comparaes intuitivas, que dignifica um objeto como sendo artstico. Um desses critrios o discurso feito sobre um objeto, a partir de um conjunto de estudos, no qual se reconhece a autenticidade, competncia e confere a ele o estatuto para reconhec-lo como arte. Quem utiliza desses critrios e faz essas atribuies so profissionais especficos, como muselogos, peritos, crticos, historiadores da arte, dentre outras profisses relacionadas. No caso

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de construes arquitetnicas, quem determina a importncia artstica o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), ao realizar um tombamento. Muitos objetos, ao serem considerados como arte, perdem suas funes primitivas e utilitrias - como, por exemplo, no caso de antiguidades que serviam de utenslios domsticos nos sculos passados e hoje esto preservados em museus. Nesse sentido, j diria Mrio de Andrade (apud COLI, 2002, p. 86) que a arte um elemento da vida, e no um elemento vital; ou seja, ela no faz parte das necessidades bsicas de sobrevivncia, como o alimento e a gua, sendo, por muitos, considerada suprflua e intil. Por outro lado, mesmo precisando de incentivos para se manter, atividades de arte e cultura se tornaram lazer para muitos e at mesmo filosofia para alguns. Ela necessita de uma maior divulgao na sociedade, sobretudo em relao s classes sociais menos favorecidas, j que a maioria no tem acesso e nem o hbito de freqentar o universo das artes, devido falta de conhecimento e valorizao que foram geradas a partir de processos sociais e polticos que sofreram. Verifica-se ento, um problema social, pois manifestaes artsticas e culturais em grandes centros urbanos so em sua maioria de alto custo - como o caso de algumas apresentaes teatrais e musicais havendo tambm uma ausncia de meios para freqentar esse universo. Esse problema em parcela representativa responsabilidade de setores governamentais, que no estimulam e no proporcionam acesso, educao e incentivo para a populao. Segundo Hughes (2005, p.19), existe uma juno de elementos e de valores comuns que determinam e constituem as artes, o qual adquirido por meio da famlia, da experincia, da educao. Tal afirmao pode explicar o fato do pblico, que tem o hbito de freqentar locais de apresentao ou de exposio artstica, ser limitado e interpretado como culto, designando a ele certo status social. As classes denominadas superiores utilizam disso como atribuio da identidade ao seu grupo especfico, constituindo, de certa maneira, uma forma de excluso social no mbito artstico e histrico-cultural. Tal afirmao pode ser verificada e relacionada, tambm com o pensamento Menezes (2006, p.42-43) em um de discursos sobre o turismo cultural em que: as grandes construes culturais e identitrias, associadas a obras monumentais de arte ligada a classes dominantes, principalmente com o elo arquitetura, escultura, pintura, literatura (includo o teatro) e a msica. A excluso da arte vem de um processo histrico, assim como de outros setores, porm ele muito mais subjetivo e psicolgico, pois a massa populacional julga o acesso s artes como

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algo caro e de difcil entendimento, sendo que certos setores dominantes da sociedade definiram o que era arte excluram os demais (HUGHES, 2005, p.20). Sendo que por muitas vezes, discursam de forma errnea que a maioria da populao no tem interesse em contemplar e participar de atividades culturais. Neste contexto, Carol Jeffers (2003, p. 110) menciona que somente so desinteressados e distantes da esfera cultural, aqueles possuem conhecimento e acesso a ela, pois afirmar que aqueles que no possuem acesso e conhecimento a respeito das artes, so desinteressados no passa de um discurso elitista e mascarado. Neste sentido, geralmente, os eventos artsticos so caros e esto localizados nas grandes capitais. Tem-se ento, um problema social, onde h falta de meios de visitao freqentes, de acesso, interesse e incentivos governamentais para com a arte e a cultura, as quais deveriam ser inseridas a partir do sistema educacional de boa parte das regies brasileiras. Alguns locais de constituio artstica e cultural possuem alguns projetos sociais, a fim de modificar a realidade descrita, na tentativa de possibilitar o acesso e a insero das classes mais baixas em eventos de cunho artstico e cultural. Isso se exemplifica nos casos do Servio Social do Comrcio (SESC) e do Servio Social da Indstria (SESI), que financiam projetos como teatro, apresentaes musicais e oficinas, gratuitos voltados para a comunidade. Alm destes na cidade de So Paulo, por exemplo, existem alguns espaos culturais de exposio e museus gratuitos, ou de baixo custo, como o caso do espao da Caixa Econmica Federal, o espao Ita Cultural, dentre muitos outros. Mas infelizmente, essas iniciativas, acabam por no atingir com muita eficcia este pblico mais desfavorecido, pois a localizao de onde ocorrem estas atividades , na maioria dos casos, nos grandes centros, distantes da periferia, o que dificulta o intuito real dos projetos. Alm da deficincia na divulgao, que ainda escassa, principalmente nos meios de comunicao que atingem este pblico. Outras localidades de mesmo mbito executam programas de cunho educacional com a mesma finalidade, como o caso dos museus e os seus projetos de arte-educao, muitos deles voltados, principalmente, para o pblico escolar, de terceira idade e de comunidades menos favorecidas econmica e socialmente. Isso ocorre em vrios museus da capital paulista, como no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo (MAE) que conta inclusive com um projeto para a comunidade do bairro de Jardim So Remo - do Museu de Arte Moderna (MAM), do Museu de Arte Contempornea (MAC), dentre outros inmeros museus que possuem projetos sociais, sendo eles de arte ou de qualquer outra tipologia.

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De acordo com o Conselho Internacional de Museus (ICOM):Museu uma instituio permanente sem fins lucrativos, a servio da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao pblico, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e expe testemunhos materiais do homem de seu meio, para fins de educao e lazer (apud VASCONCELLOS, 2002, p.35).

Sendo assim, o museu contribui com funes pedaggicas, desenvolvimento de pesquisas, e nas funes educativas em relao importncia do patrimnio por meio de iniciativas que propaguem o ensino e a aprendizagem na populao. Alm de ser uma instituio a servio do pblico, tendo finalidade de insero da sociedade, contribuindo para a sua qualidade de vida. Sem contar que os museus tambm so atrativos em potencial para a prtica do turismo cultural e do lazer urbano, por fazer parte dos patrimnios que constituem os smbolos da histria de uma determinada sociedade, e que atraem principalmente turistas e visitantes que buscam experincias diferenciadas. Afinal, as artes podem contribuir com a atividade turstica de maneira recproca, pois:Se as artes trazem benefcio, e o turismo contribui para a existncia das artes, ento o turismo pode alegar que contribui para esses benefcios. Acredita-se que as artes enriquecem a vida das pessoas e o entretenimento ao vivo tem tido seus mritos como interao social e comunitria, escapismo, sentido de contentamento, realizao, felicidade, etc. (HUGHES, 2004, p.169).

Nesse nterim, foram estabelecidas discusses sobre as possibilidades, dificuldades e relaes do turismo cultural e dos museus enquanto atrativos tursticos, sobretudo em meio a conflitos e problemas sociais e de identidade cultural sofridos nos grandes centros urbanos, especificamente no municpio de So Paulo. Portanto, a partir dessas discusses estabelecidas, a problemtica do presente trabalho aborda a cultura e a arte como formas de incluso social, relacionando-as com o turismo, tendo como objeto o Museu de Arte Contempornea, do municpio de So Paulo. O MAC foi criado em 1963, pela Universidade de So Paulo quando recebeu o acervo que constitua o MAM Museu de Arte Moderna, pelo presidente do museu, Francisco Matarazzo Sobrinho. Na atualidade, o MAC um dos mais importantes museus de arte moderna e contempornea da Amrica Latina e exerce uma poltica de tornar a cultura acessvel a todas as classes sociais. Por isso, foram enfatizados os seus projetos sociais, que visam incluir alguns setores da sociedade no campo cultural e artstico, de maneira que estas atividades sejam voltadas para o conhecimento, educao e lazer. O projeto enfatizado o programa Viva Arte, cujo programa voltado para o pblico socialmente excludo do mundo das artes e que desenvolve

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atividades que contribuem para a sua gerao de renda, visando sua incluso scio-educativa e cultural. Objetivos Geral: Avaliar a arte e a cultura, associando a dimenso esttica, como formas de incluso social, tendo como objeto o Museu de Arte Contempornea (MAC), e seus projetos scio-culturais, principalmente o projeto Viva Arte. Especficos: Analisar os projetos scio-educativos existentes no MAC, bem como o pblico para qual so destinados, e verificar concomitantemente em qual medida eles atuam como formas de incluso social, especialmente o programa Viva Arte. Verificar a renda e a situao econmica e sociocultural dos participantes do projeto determinado; Contextualizar o MAC em relao aos museus de interesse turstico na cidade de So Paulo. Justificativa So Paulo, apesar de ser o municpio com maior concentrao de renda do pas, o que apresenta um dos maiores ndices desigualdade social. Isso resultado do processo de emigrao, do crescimento desordenado, do progresso econmico e da falta de planejamento por parte do governo (dentre outros fatores) que a cidade sofreu. Realidades como essas so conseqncias ocasionadas pelo regime capitalista e pela globalizao, ocorrendo na maior parte dos grandes centros, onde se mais perceptvel identificar os problemas ligados excluso social. A excluso social no ocorre apenas no que se refere s necessidades bsicas dos cidados - como alimentao, moradia, sade e trabalho -, mas tambm no que diz respeito ao acesso ao lazer, a cultura e a arte, os quais podem ser considerados como elementos intrnsecos e fundamentais para se ter uma melhor qualidade de vida. Isto verificado, desde 1993 com a estatstica mencionada por Almeida (apud PIRES, 1993, p.28), em que apenas 3,5% da populao economicamente ativa brasileira possua o acesso a produtos culturais. De acordo com

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dados recentes - do primeiro semestre de 2008 - do IPEA (Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), 90% dos jovens brasileiros entre 15 a 29 anos no consumem produtos culturais. Diante de tal situao algumas localidades de cunho artstico e cultural, realizam projetos educativos que visam incluso social, representando um diferencial na sociedade, alheio a esta realidade, com o intuito de modific-la de maneira positiva. por isso que as lutas pela universalizao dos benefcios da cultura so ao mesmo tempo lutas contra as relaes de dominao entre as sociedades contemporneas, e contra as desigualdades bsicas das relaes sociais no interior das sociedades. So lutas pela transformao da cultura. (SANTOS, 2003, p. 86).

Um dos locais o MAC, no municpio de So Paulo, que por meio de seus programas scioeducativos, executa aes de incluso social voltadas para as pessoas que no possuam acesso s atividades culturais. Portanto, com base no que foi mencionado, se justifica a importncia de um maior conhecimento e aproximao sobre este museu em especfico, tomando-o como objeto para o aprofundamento de averiguar como essas aes funcionam e quais os reais efeitos que elas surtem no pblico para o qual direcionado. Metodologia A presente monografia consiste numa discusso terica mais elaborada em relao s abordagens pertinentes ao tema do trabalho e a uma pesquisa descritiva de resultados, os quais possam comprovar que o objeto de estudo, o programa Viva Arte, de fato atua como uma ao educativa e de incluso social. A metodologia utilizada no trabalho foi inicialmente a coleta de informaes a partir de pesquisas em referncias bibliogrficas, documentais e eletrnicas sobre temas inter-relacionados com o assunto e objetivo da pesquisa. Tema como o de Incluso Social foi utilizado como base, principalmente, algumas das obras de Mrcio Pochmann. No caso de algumas definies de patrimnio foram utilizadas diversas referncias, entre elas uma obra de Franoise Choay, por exemplo. Em assuntos de memria, identidade e cultura, alguns dos autores utilizados foram Maurice Halbwachs, Stuart Hall e Clifford Geertz, respectivamente. Alm destas, assim como para os demais temas, foi utilizada uma gama de referncias que incluem teses, dissertaes, artigos (inclusive em outros idiomas) entre outras obras, como o caso de assuntos referentes ao turismo cultural, aos museus e cidade de So Paulo. Alguns dados quantitativos e objetivos

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foram referenciados a partir de dados disponveis em websites do IBGE, da prefeitura da cidade de So Paulo, da SPturismo, dentre outros inmeros.1 A partir dessas referncias foram estabelecidas a discusso e fundamentao terica. Em relao ao objeto de estudo, o Museu de Arte Contempornea, alm das informaes obtidas em referncias e no seu prprio website, elas foram concedidas por meio de contato direto com um dos profissionais do Museu, o diretor de imprensa, Srgio Miranda, que tambm serviu como intermediador para o contato direto com a coordenadora do programa Viva Arte, Andrea Amaral. Posteriormente, foi realizada a pesquisa a campo, que se iniciou a partir de uma visita, em maro de 2008, unidade do MAC na cidade universitria, na qual ocorreu uma anlise geral dos espaos dos museus e uma entrevista informal com o diretor de imprensa, sobre o funcionamento do museu. A partir de ento, o contato com o museu tornou-se constante, para a obteno de informaes gerais e especficas. A segunda parte da pesquisa a campo foi realizada nos dias 15 e 16 de maio de 2008, na unidade do MAC localizada no Parque Ibirapuera. No dia 15 foi realizada a entrevista, com a coordenadora do programa Viva Arte, Andra Amaral. Ela foi executada, a partir de um questionrio de orientao 2 com perguntas-chave, sendo todas abertas, pois o intuito principal foi a obteno de respostas livres e gerais, com o direcionamento somente para algumas informaes determinadas. A partir desta entrevista, obtiveram-se informaes importantes sobre o seu projeto e seus principais objetivos. importante citar que a entrevista foi gravada, com a permisso da entrevistada. J no dia 16, ocorreu uma entrevista informal, na qual foram concedidas informaes adicionais e algumas fotos das atividades j realizadas no projeto. No dia 30 de maio de 2008, a partir das 14hs, no Centro Universitrio Maria Antnia3, localizado Rua Maria Antnia no centro de So Paulo, aconteceu a observao da aplicao de uma das atividades do Viva Arte, e posteriormente a aplicao dos questionrios4 - com a maioria das perguntas fechadas - a alguns participantes do projeto. Para a aplicao do questionrio, antes de sua efetivao, foi preciso obter a autorizao, por intermdio da1

Vale mencionar que estes so alguns exemplos de algumas referncias utilizadas, porque na elaborao do texto utilizou-se muito mais, como pode ser observado tanto no corpo do texto, como nas referncias. 2 Modelo de questionrio encontra-se no Apndice. 3 O Centro Universitrio Maria Antnia abrigava os cursos da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas (FFLCH) da Universidade de So Paulo, no fim da dcada de 1960, mas devido aos conflitos do perodo de ditadura militar, os cursos foram transferidos para a cidade universitria. Hoje o local uma instituio Cultural da USP, o qual exibe peas de teatro do TUSP (Teatro da USP), exposies de obras de artes, mostras de filme, apresentaes musicais, dentre outros. 4 Idem ao 2.

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coordenadora do projeto, das instituies sociais, ONGs e OSCIPs, s quais os participantes so vinculados. Devido a estas vinculaes, no foi permitido, gravar, filmar ou fotografar as atividades, nem os participantes, para no correrem o risco de serem expostos. Por isso mesmo, algumas fotos foram concedidas por Andrea Amaral, sob a assinatura de responsabilidade sobre o uso das imagens. Mesmo estas, no divulgam em nenhuma hiptese, as identidades dos participantes. Esta data foi escolhida, devido atividade ter sido direcionada aos participantes da primeira turma, por eles estarem no programa h mais tempo, o que fez com que se tornasse mais tangvel uma melhor e maior obteno, anlise e verificao dos resultados. Foram entrevistados 6 participantes neste dia, sendo que um deles, alm de participante, um voluntrio de uma das instituies, as quais tem vinculao com o Viva Arte. Os questionrios foram distribudos e respondidos pelos prprios participantes, - mas alguns foram auxiliados por assistentes sociais presentes - mediante a requisio deles, para a sua prpria facilidade e comodidade. O nmero no foi maior devido pr-disposio dos entrevistados, visto que o ato de responder os questionrios no era obrigatrio. Tambm, neste dia um nmero representativo de pessoas que participam do projeto estava ausente por motivos pessoais. Ademais, no foi possvel realizar essas entrevistas anteriormente devido a processos burocrticos e a disponibilidade do grupo, e nem foi possvel realizar entrevistas adicionais aps a data pelo fato das atividades ocorrerem quinzenalmente, e por isso no haveria tempo hbil em relao ao prazo de entrega da pesquisa. De qualquer forma, os entrevistados se mostraram dispostos e interessados na aplicao da entrevista. Ainda, mesmo sendo este um nmero reduzido, com ele possvel a obteno de resultados, pois esta amostra representa 12,76%, ou seja, mais que os 10% de amostra indicados na disciplina obrigatria de estatstica, integrante da grade curricular obrigatria do curso de turismo da presente universidade, o qual se refere esta monografia. Aps a obteno dos dados e informaes, por meio dos mtodos mencionados, ocorreram as suas anlises, interpretaes e descries, a fim de realizar a averiguao quanto aos objetivos da presente pesquisa e o grau atingido por eles. Enfim, ser discorrida, nos captulos seguintes, a fundamentao terica que dar base para a justificativa da presente pesquisa. No segundo captulo sero abordadas algumas definies e conceitos pertinentes ao turismo cultural e as suas prticas. Ainda, sero discutidos alguns conceitos relacionados s formas de interferncia dos processos urbansticos em elementos

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da sociedade, como cultura, identidade cultural, memria coletiva, patrimnio e sua preservao. Assim, estes conceitos sero relacionados com esta atividade turstica, particularmente no municpio de So Paulo, local onde h uma gama de atratividades deste cunho. Alm de amarrar essas idias e relaes com possveis aes educativas de incluso social, voltadas para a democratizao da cultura, no que diz respeito, inclusive, ao acesso s artes. Estas aes se referem especialmente, em programas e projetos educacionais oferecidos por espaos museolgicos. Seguindo esta linha, o terceiro captulo, contextualizar e definir alguns conceitos dos museus, como o seu papel social e educacional na sociedade, e a sua significncia quanto atrativos de interesse para o turismo cultural. Por isso, sero citados alguns dos principais museus da cidade de So Paulo, os quais poderiam consistir num circuito turstico interessante. Dentre esses principais museus, est o MAC, que alm de ter um dos acervos mais expressivos do pas, tambm apontado como uma referncia de programas e cursos educativos voltados para a populao. Um desses programas, denominado como Viva Arte, muito mais que uma iniciativa de educao, uma iniciativa de incluso social. Ele pretende incluir socialmente pessoas que no tm, inclusive, o acesso a espaos artstico-culturais, por muitas vezes no se reconhecem nisto, e conseqentemente no se sentem pertencentes e nem no direito de adotar hbitos culturais, como o de freqentar espaos como esses. Mais que incluso, o Viva Arte, permite, entre outras coisas, a troca entre culturas. Sendo que:A troca constante entre culturas distintas guarda em seu cerne o respeito diversidade, a uma pluralidade disposta no interior e exterior de cada ser humano que deve ser descoberta, incentivada e acalentada pelos que acreditam no poder transformador nela envolvido (MIRANDA, 2007, p.06).

Contudo, conforme mencionado, sero discutidos assuntos pertinentes ao foco do trabalho, que averiguar e observar na prtica a viabilidade do programa Viva Arte em seus aspectos culturais e de carter inclusivo, e como isso tem afetado as pessoas que participam dele.

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Captulo I - O TURISMO CULTURAL 1.1 Um breve contexto do Turismo Cultural Ao longo dos anos, o turismo tem tomado uma proporo maior, deixando de significar apenas uma viagem de lazer, e passa a ter uma importncia mais complexa da busca do conhecimento de novas culturas e costumes. Com isso, o turismo adquiriu diversas caractersticas sociais, econmicas e culturais que contriburam para o surgimento de novos mercados, os quais estimulam a visitao a museus, centros de preservao de patrimnios e teatros. Essas caractersticas so remetidas pelos desejos do homem contemporneo, o qual busca tirar proveito do seu tempo livre com o aprimoramento de seus conhecimentos, inclusive no campo cultural. De acordo com Suzana Gastal (2000, p.33), as novas exigncias do pblico consumidor nos levam a encarar a cultura, no apenas como uma motivao ou segmentao do setor do turismo, mas como um determinado insumo e atrativo ao lado de outros atrativos naturais complementados por servios nas formataes de um produto turstico final. Anteriormente, o turismo cultural era mais uma das segmentaes do turismo, na qual se qualificava uma das motivaes do turista. Hoje, o fator cultural e artstico ganhou novos espaos de prticas e teorizaes. Alm disso, uma das importncias e diferenciais do turismo cultural que ele no depende de condies climticas, como no caso de atrativos naturais, por isso mesmo a sazonalidade costuma ser menor. Isso pode ser observado em Ouro Preto, Minas Gerais, local onde o turismo cultural bem consolidado:A sazonalidade, embora exista, menor quando o atrativo cultura. Ouro Preto tem pelo menos dois grandes fluxos no ano: um em janeiro e o outro em julho, fora muitas outras datas em que a cidade incha de visitantes. Assim, tanto no auge do calor quanto no frio intenso a cidade se mantm atrativa. (PIRES, 2002, p.80).

O turismo cultural tem como constituio dos seus principais atrativos as construes e manifestaes humanas realizadas no decorrer dos sculos, que so destacadas por caractersticas peculiares, podendo fazer parte ou no de um conjunto cultural. A finalidade do turismo cultural o conhecimento de patrimnios materiais e imateriais advindos do homem, o qual ao longo do tempo deixou vrios sinais e marcas que testemunham suas aes, ou seja, o seu patrimnio cultural, cujo formado por seu valor histrico, arqueolgico etnogrfico, bibliogrfico ou artstico (MALETTA, 2001, p.09). O turista que busca esse conhecimento , muitas vezes, motivado pela busca de novas interaes com outras comunidades, tradies e lugares.

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Conforme o discurso de Funari e Pinsky (2006, p.09), o turismo ligado cultura, considera o patrimnio cultural, como voltado para atividades de cunho cultural, como visitas a museus ou a roteiros temticos, o qual demonstra um aspecto importante do turismo contemporneo, j que os maiores pases, regies e cidades receptoras de turistas podem ser identificados como destinos de visitantes vidos por cultura. A realizao deste turismo possibilita o acesso a este patrimnio cultural deixado pelo homem ao longo do tempo. E pessoas interessadas a este acesso so as que esto em busca de um lazer mais expressivo, que proporcione conhecimento por meio de valores, costumes e idias de um povo ou nao do local em que se visitado. Elas fazem parte dos novos turistas que so aqueles que buscam alternativas de lazer e viagem, que sejam alm do turismo de sol e mar, pois eles esto em busca de significado e identidade de forma autntica e que permita, ou no, o contato com o passado. Pois:[...] as intermediaes que se fazem entre a cultura passada e o cotidiano o que possibilita o entendimento, a contextualizao instigante (porque no claramente interposta) e a memorizao prazerosa, que permanece na mente, revive o momento da compreenso e estimula a busca de novos entendimentos e de novos prazeres (MENESES, 2004, p. 20).

De acordo com Hughes (2005, p. 19) estes turistas, geralmente, possuem maior nvel de renda e mais tempo livre. Felizmente, isto est sendo possibilitado gradativamente para a classe mdia, que tem crescido devido a mais oportunidades de trabalho no setor de servios e indstria, e conseqentemente vem obtendo maior renda e tempo livre. Ainda dentro desta vertente, o interesse pelo turismo cultural, ainda com base na obra de Hughes (2005, p. 54-55) pode ser dividido em 4 subclassificaes, porm para o texto no se tornar redundante possvel resumi-las em duas: Turismo variado (ou tnico): o qual busca conhecer grupos sociais e suas caractersticas como religio, tradies e idioma - que permanecem ou afetam o estilo de vida do turista, independente dos processos contemporneos de globalizao; Turismo cultural limitado (e/ou setorizado): mais utilizado para atividades apreciativas e intelectuais de cunho artstico e cultural. Este ltimo costuma ser o mais praticado, no qual se procura a visitao de patrimnios e edificaes histricas, - tambm denominado como turismo histrico ou de patrimnio e/ou a museus e galerias de arte e a teatros tambm nomeado de turismo de arte. Em relao a esse tipo de turismo, especificamente visitao a teatros, pode-se citar como exemplo as apresentaes

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do Cirque du Soleil no Brasil, em que as cidades das apresentaes, receberam vrios turistas de outros estados para assistir ao espetculo. Porm, segundo esta classificao a denominao turismo de artes utilizada para o consumo de cultura contempornea, e por isso, dependendo do acervo e caractersticas do museu visitado, a nomenclatura pode ser modificada para turismo de patrimnio. De qualquer forma, independente das subclassificaes, o termo turismo cultural o mais apropriado e abrangente, cultivando vrias atividades distintas ao mesmo tempo. Nesta linha, segundo Cooper (apud DALONSO, 2005, p.358), os atrativos do turismo cultural se classificam em: stios histricos e arqueolgicos; arquitetura; culinria; monumentos; museus; shows; musicais; teatro; e at mesmo plos industriais. O objetivo do turista cultural, inclusive o voltado para as artes, o de se envolver de forma particular e experimental com o objeto de visita, sendo que esta ao capaz de estimular os sentidos subjetivos individuais como uma espcie de fuga que ultrapassa a participao fsica. Ele busca novas experincias recompensadoras de aprendizagem tendo a cultura como foco, sendo ela contempornea ou de qualquer outra poca. Para Funari e Pinsky (2003, p.11), o turista atento cultura aprecia melhor os seus interlocutores locais e seus costumes, e aproveita melhor o seu lazer, pois valoriza a diversidade cultural, o que contribui para a formao de uma cidadania mais crtica. Eles no so apenas consumidores passivos de cultura, pois eles interagem com a diversidade cultural. No Brasil, h um repleto e diversificado acervo cultural, histrico e artstico, em decorrncia da miscigenao dos povos e acontecimentos ao longo de sua histria, inclusive muito antes das invases europias e da colonizao portuguesa. A partir disso pode-se exemplificar a amplitude deste patrimnio advindo desde cultura indgena - infelizmente, quase dizimada pelo homem branco presente inclusive em alguns museus, como o MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo) at os mais atuais como o caso de Braslia um distrito planejado pelo renomado arquiteto (e porque no dizer tambm, artista?) Oscar Niemeyer onde as grandiosas obras so verdadeiros chamarizes para o turismo. Alm disso, existem espalhados pelos estados brasileiros uma gama de museus de arte, centros culturais, institutos de arte e teatros, que possuem valores artsticos devido as suas construes, atividades e acervos de relevncia cultural - que concomitantemente proporcionam formas de entretenimento - no mbito nacional e internacional, que constituem tambm, os atrativos tursticos culturais do pas. Porm esses atrativos e patrimnios arquitetnicos, histricos,

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culturais e artsticos brasileiros so pouco explorados, pois ainda predominam o interesse e investimento no turismo em reas naturais, incluindo as litorneas, o que pode ser averiguado nos maiores ndices anuais, publicados - no incio de 2008 - pela EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo), de turistas que esto no Rio de Janeiro (34,13%) e Florianpolis (19,65%). Na maioria dos casos, infelizmente, os patrimnios histricos, especificamente, so incentivados principalmente por cidades tursticas que desejam estimular a economia por meio do turismo e no como forma de valorizao da prpria cidade para os prprios habitantes e posteriormente para os visitantes. Segundo Hughes (2005, p. 55), algumas das dificuldades ao incentivo da prtica do turismo cultural so econmicas, por ser mais caro que o turismo de sol e praia, pois costuma estar relacionado com frias curtas em busca de algo diferente do convencional. Para Rooksana Omar, mesmo com todas as dificuldades que esta atividade possui, decorrentes inclusive dos processos de globalizao, contraditoriamente o turismo pode ser uma atividade de reafirmao da identidade, o que pode ser observado em sua seguinte retrica:[...] cada vez mais a globalizao e turismo cultural tem reforado tendncias baseadas no somente no que se refere a costumes, mas tambm tem afirmado valores de regionalizao e o redescobrimento de foras e identidades culturais do cotidiano (OMAR, 2005, p.58) (traduo nossa).

A afirmao acima compreensvel e coesa, devido ao discurso do autor em sua obra, que pautada no contexto de que a globalizao um agente de aculturao e homogeneizao, causando similaridades culturais em vrias partes do mundo. Por conta disso, grupos de pessoas e turistas, tm buscado conhecer o que diferido quanto a culturas tpicas e peculiares, e patrimnios especficos de cada local, os quais no podem ser encontradas facilmente. Afinal, o patrimnio que o turista quer e deve ver est vivo. Ele deveria ser vivenciado em seu prprio devir, em sua dinmica vivncia que conjuga histria, tradies, arte, valores e prticas costumeiras (MENESES, 2004, p. 30). Contudo, em uma perspectiva positiva, se houver mais incentivos pblicos e privados e maior divulgao do turismo cultural no Brasil, a atividade pode ser um mercado promissor devido abundncia e importncia histrica e social que estes patrimnios tm para o pas, adquiridos em pouco mais de 508 anos de descobrimento.

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1.2 A complexidade da relao dos patrimnios histrico-culturais com o turismo cultural 1.2.1 A memria, a identidade cultural e as mudanas na sociedade Com a globalizao e o industrialismo, oriundos do sistema capitalista, ocorreram inmeras transformaes no Brasil e no mundo, uma delas foi a urbanizao acelerada que transformou cidades em grandes ncleos urbanos. De acordo com Betina, a globalizao ocorre quando os interesses de grupos dominantes determinam a anulao de valores existentes para outros que consolidem novas estruturas de poder (2002, p.19). Ou seja, as mudanas decorrentes dos processos produtivos e as novas tecnologias so primordiais perante outros elementos da sociedade como um todo, pois de acordo com a teoria da industrializao e do capitalismo a evocao ao passado pode significar desvantagem e desatualizao diante aos novos processos tecnolgicos e econmicos. Essa desvantagem pode significar, inclusive, a evocao de prprios valores de uma sociedade, que pela lgica do sistema, deveriam ficar alheios. No processo de urbanizao, uma das anulaes de valores, como apontado por Betina, ou seja, uma das conseqncias desses processos foi a desvalorizao da memria relativa conscincia do significado da identidade histrico-social de uma sociedade civil. Segundo reflexes de Marilena Chau, de forma simplificada, a conscincia o sentimento da identidade individual num fluxo temporal de estados corporais e mentais que retm o passado na memria. Em outro ponto de vista, a autora afirma que a conscincia tambm a capacidade para compreender e interpretar sua situao e sua condio (fsica, mental, social, cultural e histrica) (1996, p.117). A partir dessa conscincia sobre as condies de identidade do indivduo, aborda-se em uma amplitude maior, no que diz respeito no somente a memria individual, mas sobre a memria coletiva. Para Maurice Halbwachs:A memria coletiva, por outro, envolve as memrias individuais, mas no se confunde com elas. Ela evolui segundo suas leis, e se algumas lembranas individuais penetram algumas vezes nelas, mudam de figura assim que sejam relocadas num conjunto que no mais uma conscincia pessoal (HALBWACHS, 1990, p.54).

A memria coletiva consiste em anotaes de datas e definies ou lembranas arbitrrias de acontecimentos e fatos histricos que podemos relacionar aos acontecimentos nacionais as diversas fases de nossa vida que passam a ser pontos de referncia e divises dela (HALBWACHS, 1990, p.54-57). Pois, por intermdio desta memria, um grupo determinado

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capaz de distinguir sua histria no momento em que considera seu passado, sente acertadamente que permaneceu o mesmo e toma conscincia de sua identidade atravs do tempo (ibidem, p. 87). Contudo, a memria coletiva em seu contexto, faz parte da identidade de grupos sociais sobre fatos histricos, tradies e costumes ocorridos em suas geraes. Pois a memria permite evocar o passado a partir do tempo presente, ou seja, recordar o que no existe mais, pelo que atualmente (CHAU, 1996, p.130). Se, por ventura, a memria coletiva de um grupo for perdida, ela passa ento, a ser considerada como memria histrica, que deve ser materializada para ser mantida, por meio de documentos, artefatos, edifcios ou tombamentos, existentes em qualquer territrio que tenha essa importncia histrica e cultural, seja em cidades interioranas, no meio rural ou em grandes urbes. Os grandes centros urbanos de forma intensa foram palcos das relaes culturais e sociais, muitas vezes no mbito das transformaes nacionais. Os fatos que ocorreram ao longo dos anos, nesses locais, influenciaram o resto do pas, sobretudo em aspectos econmicos. Devido forma de como se deu esses fatos, as grandes cidades foram testemunhas da juno de distintas culturas advindas de vrias regies e pases, tornando-as assim, espaos multiculturais. Paradoxalmente, mesmo com essa repleta diversidade cultural, - que ocorreu simultaneamente no decorrer de processos histricos de crescimento das urbes uma das conseqncias existentes nas metrpoles advindas do processo industrial e de urbanizao foi desaparecimento de boa parte de valores culturais essenciais, o que fez com que um numero representativo dos indivduos deixasse de se identificar com a sua prpria cidade. Esta ambigidade pode ser compreendida melhor se colocarmos essa diversidade como uma mudana e/ou um conflito de culturas, conforme Geertz (1989, p.178) que expe as relaes culturais da seguinte forma: a integrao cultural como uma harmonia de significados, mudana cultural como instabilidade de significados e conflito cultural como incongruncia de significados. Alm desse conflito cultural que alterou a identidade da populao, ocorreram outros diversos fatores que contriburam para e muitos outros problemas nas cidades, pois os processos industriais e da globalizao tem o intuito de uniformizar os espaos, o que acarretou na massificao e em mutaes fsicas e sociais. Assim,[...] os processos de modernizao do espao urbano e a globalizao econmica de certa forma forjaram a homogeneizao das cidades, dos modos de existncia, dos valores e costumes sociais. At os gostos gastronmicos e os modismos estticos generalizaram-se em todo o mundo (PELEGRINI, 2006, p.122).

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Esses fatos, por sua vez, ocasionaram em dificuldades de identidade de reconhecimento e valorizao da histria, dos bens patrimoniais, tradies e smbolos de muitas cidades. A expresso identidade vem do grego idios, que significa mesmo, si prprio ou privado, ou seja, antes de qualquer coisa a palavra remete a semelhanas consigo mesmo. Com base em Stuart Hall (2003) e em Ulpiano Meneses (1993), o conceito de identidade cultural definido historicamente na interao entre o individual e o social, e justamente por isso no pode ser colocado como um referencial fixo, completo ou unificado. Ele surge do sentido de pertencer a culturas em suas formas tnicas, racionais, lingsticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais. A internalizao de significados e valores provenientes de identidades culturais o que contribui para alinhar nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no mundo social e cultural (HALL, 2003, p. 12). Os modos de vida interpostos na dinmica sistemtica da globalizao e da contemporaneidade, apontados por Anthony Giddens (1991, p.21), modificaram de maneira intensa as caractersticas tradicionais dos perodos anteriores, sobretudo na ordem social. Tambm, acarretaram em transformaes no plano da extenso, elas serviram para estabelecer formas de interconexo social que cobrem o globo; em termos de intensidade, elas alteraram algumas das caractersticas mais ntimas e pessoais de nossa existncia cotidiana (grifo nosso). As alteraes destas caractersticas resultam, inclusive, na crise da identidade, ou seja, as identidades esto sendo fragmentadas e descentradas, para dar espao ao surgimento de novas identidades. Este procedimento est deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referncia que davam aos indivduos uma ancoragem estvel no mundo social (HALL, 2003, p.07). Ademais, esses fatores que so descritos como uma mudana poltica de identidade, e passa a ser descrito como uma poltica de diferena. Uma vez que a identidade muda de acordo com a forma como o sujeito interpelado ou representado, a identificao no automtica, mas pode ser ganha ou perdida (ibidem, p.21). Portanto, partindo dessas discusses, se faz imprescindvel buscar meios para a buscar a valorizao e maior exaltao da memria coletiva e da revalorizao cultural, que so elementos integrantes da identidade e de significados, citados no decorrer do tempo, de grupos sociais estabelecidos. Significados e identidade so de suma importncia para a dinmica da vida humana, sendo que a sua complexidade pode ser observada na seguinte afirmao de Clifford Geertz (1989, p.37):

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Quando vista um conjunto de mecanismos simblicos para controle do comportamento, fontes de informao extra-somticas, a cultura fornece o vnculo entre o que os homens so intrinsecamente capazes de se tornar e o que eles realmente se tornam um por um. Tornar-se humano tornar-se individual e nos tornamos individuais sob a direo dos padres culturais, sistemas de significados criados historicamente em termos dos quais damos formas, ordem, objetivo e direo s nossas vidas.

De acordo com Camargo (2002, p.31), os bens culturais partem do valor simblico que atribumos aos objetos ou artefatos, que so decorrentes da importncia que a memria coletiva lhes atribui. Esta memria que nos impele a desvendar seu significado histrico-social, refaz o passado em relao ao presente, e a concebe o patrimnio dentro de limites e possibilidades, os quais so estabelecidos pelo campo do conhecimento. Por fim, os smbolos e significados culturais, que devem ser resgatados e valorizados, bem como a memria coletiva dos cidados, dizem respeito, inclusive a marcos histricos, que so representados por edificaes de importncia, que so os patrimnios histricos, culturais e artsticos, os quais tambm devem ser preservados e reintegrados na rotina e costumes dos cidados. Assim sendo, torna-se coerente a seguinte (e interessante) citao de Cssia Magaldi (1992, p.24):[...] entre as muitas demandas dos mltiplos agentes que produzem a cidade, aquela que diz respeito preservao da memria to importante como qualquer outra: se no est ligada diretamente a interesses, incide sobre a identidade e cultural e social dos habitantes da cidade, sobre o controle do seu passado em suas relaes com o tempo presente, em seus diretos de cidadania (indissociveis da dimenso temporal) que implicam a luta de apropriao e gesto de espaos urbanos para todos os cidados, na luta pela democracia.

Desta forma, a memria , e deve ser considerada como um direito de propriedade da populao e um dever do Estado que crie ferramentas e mtodos, para que ela no seja perdida totalmente. Para que esta memria permanea, preciso que a comunidade adquira e se aproprie dos seus bens culturais, cujos so constitudos de:[...] fatores indispensveis no processo de conservao integral ou preservao sustentvel do patrimnio, pois fortalece os sentimentos da identidade e pertencimento da populao residente, e ainda estimula a luta pelos seus direitos, bem como o prprio exerccio da cidadania (PELEGRINI, 2006, p.127).

Ou seja, medida que o cidado se coloca como parte integrante do seu entorno, tende a reconhecer a sua memria individual e coletiva, elevar a sua auto-estima e valorizar a sua prpria identidade cultural. Para isso, necessrio que instituies privadas, organizaes no-

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governamentais e o governo, estabeleam um foco em polticas pblicas, que criem medidas assentadas, que fomentem a conscincia e responsabilidade coletiva da utilizao e valorizao destes espaos pblicos, costumes e tradies. 1.2.2 A preservao do patrimnio histrico-cultural e o turismo cultural Segundo Franoise Choay (2001, p.11), a palavra patrimnio est relacionada ao que transmitido de gerao para gerao, pois tem a sua origem relacionada s estruturas jurdicas, familiares, econmicas de uma sociedade estvel, enraizadas no espao e no tempo. J o termo patrimnio histrico remete na acumulao contnua, realizada para o usufruto da comunidade, de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes [...] dos seres humanos. Para Joaqun Morel (2002, p.78), um patrimnio monumental e cultural fruto e reflexo das necessidades, interesses e desejos do homem, so edifcios e mveis que refletem na personalidade histrico-artstica de cada complexo humano, e constitui na identidade cultural de cada povo. Mas o valor dos patrimnios, - os quais precisam ser preservados - vai alm, ultrapassa essas descries, eles so verdadeiros:[...] memoriais gigantes, relquias e relicrios ao mesmo tempo, continuam, no entanto, sendo excepcionais, assim como os fatos que eles trazem memria dos homens. Marcas que basta escolher e saber nomear, elas testemunham, alm disso, a progressiva dissociao que se opera entre a memria viva e o saber edificar (CHOAY, 2001, p.24).

A respeito da preservao patrimonial existem dificuldades em relao do reconhecimento identitrio por maior parte populao brasileira, sobretudo no estado de So Paulo (principalmente na capital), devido aos processos histrico-sociais ocorridos provenientes do industrialismo e da urbanizao demasiada. O que pode ser verificado com a seguinte afirmao de Giddens (1991, p.20) em que: O impacto do industrialismo claramente no limitado esfera de produo, mas afeta muitos aspectos da vida cotidiana, bem como influencia o carter genrico da interao humana com o meio ambiente material. No que foi mencionado pode-se perceber que o sistema vigente afetou, e ainda afeta, vrias vertentes do dia-a-dia da massa populacional, incluindo a relao dela para com a sua histria e seu bem-patrimonial, o que dificulta a sua preservao, e, conseqentemente um melhor e maior desenvolvimento do turismo cultural.

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De fato, tanto o sentimento preservacionista, quanto aes de polticas de preservao de uma sociedade advm de um processo histrico. E da mesma forma advm da dinmica acelerada da urbanizao, que acabou por destruir edificaes importantes, a partir de interferncias que as substituram por avenidas, viadutos, novos prdios, entre outras construes. Como ocorreu com intensidade em vrias cidades no mundo como Paris, Roma, So Paulo e Rio de Janeiro. Obviamente que com o passar dos anos e as necessidades citadinas, torna-se preciso modificar e acrescentar certas estruturas e infra-estruturas que acompanhem a dinmica da populao. Porm isso no justifica o descaso para com a conservao de patrimnios de valor identitrio. Entretanto, o desdm e deficincia da identidade da sociedade para com seu legado histrico, cultural e artstico, tambm so algo que infelizmente, esto inseridos em seus costumes, afinal a cultura se constri pela vivncia coletiva, a partir da difuso de culturas distintas, como objeto de processos histricos e sociais. Infelizmente, os elementos da prpria negao da cultura so, com maior ou menor intensidade, includos na prpria cultura (GEERTZ, 1989, p.180), ou seja, a pouca valorizao dos patrimnios integra a cultura e hbitos da populao. Mas se essa situao fosse inversa, dependendo de sua intensidade, e de uma m organizao, ela tambm poderia ser tida como algo malfico. Para Meneses (2004, p. 24-25), cultural a forma do uso e de consumo das construes culturais, sejam elas imateriais ou materiais. A massificao deste consumo pode transform-las demais ou at mesmo destru-las, inclusive pela utilizao turstica, e reconstru-las posteriormente pode ser uma tarefa difcil. Sem contar que a massificao tambm, traz problemas na apreenso, interpretao e comunicao do patrimnio, e concomitantemente traz consigo a excluso social de parcelas da populao. Diante de tais afirmaes, tem-se um problema social que vai alm de um processo histrico. Ele parte de pressupostos advindos da falta de planejamento turstico e sobre a preservao da cidade, planejamento de eventos culturais e de incluso da populao no usufruto do bem patrimonial. Ocorre uma mnima preocupao de setores do governo para uma gesto pblica eficiente. O que se tem a ausncia de uma gesto e de planejamentos urbanos eficazes e efetivos, que englobem obras de infra-estrutura, polticas de preservao, planos diretores, entre outras medidas. Nesse contexto, de acordo com Henrique Rattner (2001, p. 16), o plano diretor, o qual deve ser executado, torna-se essencialmente um conjunto de regras que articulam e estruturam a participao de todos os atores sociais, mobilizados e motivados para a tarefa de reabilitao de suas cidades, para o beneficio de todos os seus habitantes.

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Essas faltas podem ser fatores que contribuem para a excluso de pessoas e de possibilidades econmicas para a prpria sobrevivncia da aglomerao enquanto patrimnio, identidade, herana e tradio. Deste modo, mesmo polticas e aes de preservao patrimonial, se no forem executadas com estratgias de incluso e participao comunitria pode se tornar um vetor incoerente e excludente. Segundo Sandra Pelegrini, (2006, p. 129) um exemplo dessa realidade, ocorreu em territrio nacional, entre 1980 e 1990 no Largo do Pelourinho, em Salvador. Neste local as polticas de preservao de setores pblicos e privados se limitaram a recuperao de fachadas e monumentos, com a nica finalidade de serem apreciados aos olhos dos turistas. O que ocorreu no Pelourinho, foi a:[...] imposio do uso contemplativo das reas comunitrias [...] o que inibiu a preservao do significado original e a funo que esses lugares haviam adquirido para a populao local. A imposio de padres burgueses no uso desses lugares da cidade intensificou a excluso dos moradores pobres (ibidem, p.129).

Todavia, apesar desses problemas que corroboram nas dificuldades da identidade cultural para com os bens patrimoniais e do turismo cultural, eles no devem ser colocados como algo intransmutvel e distante da realidade. Para que esta situao seja modificada preciso estabelecer novos planejamentos e gestes advindos e estimulados pelo governo e por aqueles que tm conhecimento e interesses nestas modificaes. Estas aes devem se pautar em estratgias de gesto urbana que requalifiquem a cidade por meio de intervenes destinadas a valorizar potencialidades do local (sociais, econmicas e funcionais), capazes de fomentar a melhoria da qualidade de vida da populao residente e a cidade como um todo, devolvendo as suas qualidades, sua dignidade e sua aptido de desempenhar um papel social. (ibidem, p.130). fundamental que sejam estabelecidas parcerias entre setores pblicos, privados, organizaes no governamentais, profissionais do turismo (e de outras formaes), instituies interessadas, dentre outros. necessrio tambm, divulgar com nfase o legado histrico e cultural brasileiro para a nao, por todos os meios de comunicao. A divulgao deve partir desde uma ferramenta como parte integrante das disciplinas de ensino at os principais meios de comunicao que atinja com sucesso o grande pblico, por meio de um plano de marketing bem estruturado. Dessa forma: possvel e estimulante pensar em um planejamento diferente, em uma percepo mais acurada, onde o bem histrico-cultural possa ter tratamento de construo histrica dinmica e em andamento e possa propiciar incluso identitria e social de quem participa ativamente dessa dinmica. A experincia

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turstica tem demonstrado que a participao comunitria sustenta no apenas o atrativo, mas tambm a prpria estrutura receptiva do turista (MENESES, 2004, p.13).

Aes de preservao de reas urbanas podem ser entendidas como resgate da identidade do indivduo e de sua condio de ente social, inserido em um espao cultural nacional, internacional e globalizado que, no presente se apresenta em espaos urbanos especficos. (ADAMS, 2002, p. 13). Por isso, o Estado pode e deve ser um agente de aes e propostas polticas em relao preservao consciente e sistemtica do acervo cultural de uma determinada localidade. Pois estas propostas polticas esto imersas na dinamicidade da economia da sociedade, geralmente, numa demanda de segmentos intelectuais, com capacidade de ampliao gradativa de abranger outros setores e grupos da sociedade. As aes do estado, quanto preservao de patrimnios, so baseadas em processos legais e de valores prvios que, conforme Betina (ibidem, p. 20):[...] tm como conseqncia a proteo de bens culturais que passam a integrar os acervos, federal, estadual e municipal, sendo objeto de cuidados que visam sua preservao. A existncia desse acervo protegido refora a identidade coletiva, conferindo legitimidade quilo que identifica como fundamental.

Um bom exemplo, de que um planejamento pode ser diferenciado e beneficiar a cidade, a populao de um modo geral e simultaneamente alavancar a atividade turstica, o caso do municpio de Florianpolis (ADAMS, 2002). O turismo no local, bem com a preservao de seus patrimnios, so itens slidos e interligados, por causa de aes e medidas de conscientizao cultural realizadas pelo do governo do estado de Santa Catarina e do municpio de Florianpolis em parcerias com Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), Servio do Patrimnio Histrico, Artstico e Natural do Municpio (SEPHAN), Comisso Tcnica do Servio ao Patrimnio Histrico, Artstico e Natural do Municpio (COTHESPHAN), Instituto de Planejamento Urbano de Florianpolis (IPUF) e organizao da sociedade civil. A participao comunitria foi essencial para a efetivao da preservao urbana e natural de Florianpolis, que tambm teve participao. Foram tomadas diversas medidas, inclusive em relao ao funcionamento de museus de arte, e em outras vertentes culturais, como na literatura e nas artes cnicas. A cidade conseguiu, e ainda consegue, a preservao e valorizao de seus patrimnios culturais e naturais pela sociedade e pelo poder pblico. E posteriormente com a identificao da comunidade com seus patrimnios e atrativos, devido riqueza e variedade deles, conseguiu

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desenvolver com sucesso e mais facilidade a atividade turstica, associando-a e atribuindo-a as vertentes do turismo cultural e do natural. Diante deste exemplo, percebe-se que plausvel que os patrimnios culturais sejam valorizados com maior nfase, reconhecidos como elementos da identidade nacional ou local, associados e interpretados como parte do cotidiano da sociedade em questo. Afinal, de acordo com Betina Adams (2002, p.19), a preservao ultrapassa a recuperao e valorizao de patrimnios e se estende qualidade cultural e a projeo sociocultural, que se integra ao cotidiano dos indivduos, como uma identidade que exige a reutilizao com um sentido social. A partir disso verificam-se as possibilidades de harmonizar os servios oriundos da interpretao scio-cultural realidade desta sociedade que construiu e preservou os seus patrimnios culturais. Essa interpretao refere-se ao patrimnio, que por sua vez a arte que revela o significado do legado natural, cultural ou histrico, capaz de informar ao pblico visitante em seu tempo de cio o que ele representa a partir de sua construo cultural. Vale ressaltar que, a mesma sociedade, no deve dissociar esta interpretao (da identidade cultural), de seus elementos importantes como as idiossincrasias, suas tradies e as formas de expresso e a sua representatividade para ela. Com o reconhecimento e valorizao dos prprios habitantes torna-se mais fcil preservar os legados e assim, transform-los em atrativos tursticos. Mesmo assim, no se pode olvidar que:Os objetos protegidos, valorizados, fazem parte do movimento econmico, seja como locais tursticos, seja como espaos comerciais ou de servios, com cunho cultural ou no. Porm fundamental no perder como mote orientador das intervenes a razo original que lhes conferiu valor de preservao, porque o sentido de preservar, muito mais profundo e relacionado com o sentido de existncia, transcende a questo econmica (ADAMS, 2002, p.18).

Tambm, importante mencionar que a adoo de iniciativas ligadas educao patrimonial fundamental para a conscientizao e valorizao de bens culturais, tanto para os residente, quanto para os visitantes oriundos de outras localidades. A educao patrimonial trata de atividades formais e informais que se propem a reconhecer e valorizar as referncias culturais locais ou regionais (PELEGRINI, 2006, p.128) No Brasil ela teve incio em 1940, principalmente em Olinda e Ouro Preto, onde o IPHAN j matinha monumentos tombados. Porm na poca, essa ao educativa no consistia numa sistematizao eficaz, sendo que essas atividades educacionais somente vieram a se intensificar nas dcadas de 1980 e 1990. Para Sandra Pelegrini (2006, p.127), a educao patrimonial deve contemplar a pesquisa, o registro para que se explore as razes culturais e a valorizao da

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diversidade. Essa experincia permite que os cidados atingidos por esta educao, se tornem agentes fundamentais na dimenso da preservao do patrimnio. preciso que abordagens desse tema sejam iniciadas nas escolas, includo leis e normas de preservao, para que assim possa se tornar um hbito inserido na cultura da populao. indispensvel que a populao seja advertida, e que desvende os processos referentes preservao, tais como: uso, manuteno, conservao, restaurao e administrao. Nesse sentido deve-se ambicionar a participao comunitria e disseminar o saber referente ao patrimnio por meio de agentes comunitrios, professores de ensino mdio e universitrio, propalando os bens culturais e naturais entre as comunidades (ibidem, p.128). A participao comunitria, por meio de polticas de incluso da sociedade, fundamental que para que vrias prticas sociais, polticas e econmicas inclusive a atividade turstica tenham sucesso, eficincia e eficcia, visto que, assim como outras atividades econmicas:O turismo passa por um momento histrico em que [...] ou se apresenta como uma proposta econmica de incluso social e, assim contribui para novas perspectivas de valorizao da vida, do consumo de produtos culturais e de distribuio de renda, ou, por outro lado alia-se a uma economia que exclui parcelas imensas da populao da participao na produo e, dessa forma opta por uma proposta de consumo de massa que pouco se preocupa com a sustentabilidade da produo econmica (MENESES, 2004, p.13).

As atuais preocupaes e tendncias como estas, colocam um desafio aos planejadores e poderes pblicos de implementar uma nova gesto, a partir do conceito de poder comunitrio local, em que haja o engajamento de setores governamentais e de organizaes interessadas em conjunto com os interesses da comunidade, para que assim, possam reconfigurar e redefinir os seus aspectos sociais. Essa reconstruo da sociedade, tanto no turismo, como em outras atividades, deve fazer parte de uma democratizao participativa, na qual a populao participe de deliberaes, conselhos, no oramento e em vrias etapas do processo. Assim, o desenvolvimento do turismo cultural, atrelado conscientizao do patrimnio histrico-cultural, pode ser um recurso de desenvolvimento social, que associados interpretao da construo cultural (com exigncia de rigor metodolgico), implicam em novas formas de ao quanto aos valores culturais, as quais exigiro a articulao interdisciplinar entre diferentes atores do processo de planejamento e gesto do setor (MENESES, 2004, p. 12-13). Em sntese, para que o desenvolvimento do turismo ocorra de maneira concreta, correta e eficiente, essencial que os patrimnios histricos artsticos e culturais sejam reconhecidos como

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parte da identidade da comunidade local, e assim, possivelmente tornar-se-o atrativos tursticos. Ento, a partir de aes e medidas centradas em polticas democrticas, eles sero conhecidos, compreendidos e valorizados, tanto pelos turistas, como pelos prprios habitantes e visitantes do local. Afinal, em concordncia com Rattner (2001, p.17), uma vez que a comunidade se torne protagonista de sua histria, as prioridades sero redefinidas com mais facilidade e as necessidades