pÆginas 6 a 13 pages 14 to 21 - iee - instituto de ...143.107.4.241/download/revista/rbb8.pdf ·...

56
1

Upload: vantruc

Post on 04-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

1

Page 2: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

ObjetivoCapacitar profissionais para analisar, avaliar, controlar, planejar,estruturar e implementar projetos, de forma eficaz e eficiente, combase nos modernos conceitos de gestão ambiental, a partir deuma visão integrada das áreas de Energia e de Meio Ambiente,em seus aspectos técnicos, legais, institucionais, comerciais eorganizacionais, face à crescente importância estratégica eoperacional dessas áreas.

ObjectiveEnable Professional to analyze, evaluate, control, plan, organizeand implement projects, efficiently and incisively, based on themodern concepts of environmental management, with an integratedview of the Energy and the Environmental areas, in its technical,legal, institutional, commercial and organizational aspects, front tothe increscent strategic and operational importance of these areas.

Informações/InformationTels.: (55 11) 3091-2649,3091-2650 e 3091-2654Fax: [email protected]/latosensu

Realização/Organizationn

Inscrições/RegistrationAté 19/12/2009Until 12/19/2009

Gestão Ambientale Negócios noSetor Energético

Environmental Managementand Energy Sector Business

Curso deEspecialização em

Gestão Ambientale Negócios noSetor Energético

Environmental Managementand Energy Sector BusinessSpecialization Course

Page 3: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

3

Capa/Cover

O caminho de CopenhagueThe path of Copenhagen

Páginas 6 a 13Pages 14 to 21

Sumário/Summary

5

22

32

3638

2729

4042

44

49

5454

Editorial...................................................

Entrevista/InterviewSuzana Kahn, secretária de MudançasClimáticas e Qualidade Ambiental ..................Suzana Kahn, Secretary of Climate Change andEnvironmental Quality of Brazil.......................

Empresas Modernas/Modern CompaniesO etanol pode ser uma �commodity�...............Ethanol can be a �commodity�........................

Meio Ambiente/The Environment�Código florestal� em discussão .....................�Forest Code� under discussion.......................

Projetos do Cenbio/Cenbio ProjectsEnergia a partir do lixo.................................Energy from waste ....................................

Artigo/ArticleEstudo do Icone contesta resultadospreliminares de Iluc para RFS2......................Icone study disputes preliminary Iluc results forRFS2 ......................................................

AgendaPrograme-se para os próximos eventos..........Include the next events in your schedule........

Foto/Photo: Michael Klenetsky/Dreamstime

Am

orim

Lei

te

Div

ulga

ção/

diss

emin

atio

n

Page 4: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

EditoraEditor

Suani Teixeira CoelhoUniversidade de São Paulo (USP)

Instituto de Eletrotécnica e Energia daUniversidade de São Paulo (IEE-USP)

Centro Nacional de Referência emBiomassa (Cenbio)

Conselho EditorialEditorial Board

José GoldembergUniversidade de São Paulo (USP)

Instituto de Eletrotécnica e Energia daUniversidade de São Paulo (IEE-USP)

Daniel PiochCentro Internacional de Pesquisas

Agrícolas para o Desenvolvimento(Cipad) - Montpellier/França

Eric D. LarsonUniversidade de Princeton/USA

Fernando ReiCompanhia Ambiental do Estado de

São Paulo (Cetesb)

Francisco Annuatti NetoFaculdade de Economia,

Administração e Contabilidade (USP)

Frank Rossilo-CalleKing´s College London/Inglaterra

Helena ChumNational Renewable Energy

Laboratory/USA

José Roberto MoreiraUniversidade de São Paulo (USP)

Biomass Users Network

Luiz Augusto Horta NogueiraUniversidade Federal de Itajubá (Unifei)

Luiz Gonzaga BertelliFederação das Indústrias do Estado deSão Paulo (Fiesp)

Sérgio PeresUniversidade de Pernambuco (UPE)

Equipe de Produção EditorialPublishing team of ProductionCristiane Lima CortezFernando Saker (assistente)Sandra ApolinarioSílvia Maria González Velázquez

Jornalista ResponsávelJournalist in ChargeAmorim Leite MTb 14.010-SP

Reportagem e RedaçãoEditingAmorim LeiteLeonardo Desideri FreitasVictor Bianchin

Projeto GráficoGraphic DesignCarolina Amorim

Editoração EletrônicaArtCristiane Martins Carratu

Preparação de TextoText OrganizationAmorim Leite

Tradução para Inglês e PortuguêsTranslation from and into EnglishMª Cristina V. Borba

A Revista Brasileira de Bioenergia, ISSN 1677-3926, é uma publicação trimestral doCentro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), patrocinada pelo Ministério deMinas e Energia Projeto MME Projeto Fortalecimento n° 1406 - Convênio n° 07/2005, e distribuída para ministros de estado, senadores, governadores, deputados fe-derais, prefeitos, deputados estaduais, diretores de agências reguladoras, secretáriosestaduais de meio ambiente e energia, cientistas, empresários e especialistas em meioambiente e energia. As opiniões emitidas nas entrevistas e artigos são de responsabili-dade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição de seus editores. Épermitida a reprodução parcial ou total das reportagens, desde que citada a fonte.

The Revista Brasileira de Bioenergia, ISSN 1677-3926, is a quarterly publication of theBrazilian Reference Center on Biomass (Cenbio), sponsored by Ministério de Minas eEnergia Projeto MME Fortalecimento nº1406 – Convênio nº 07/2005, and is distributedto federal government ministers, senators, deputies, federal legislators, mayors, statelegislators, heads of regulatory agencies, state environmental and energy secretaries,scientists, businesspeople and specialists in energy and the environment. The opinionsexpressed in the interviews and articles are those of their authors and do not necessarilyreflect the position of the editors. Partial and or total reproduction is permitted as longas the source is cited.

Centro Nacional deReferência em Biomassa

Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289Cid. Universitária

CEP 05508-010, São Paulo, SP, BrasilTel. (11) 3091-2649

http://cenbio.iee.usp.brMinistério de Minas e Energia

www.mme.gov.br

Impresso por/Printed byArvato do Brasil

Tiragem/Press run10.000 exemplares/10,000 copies

Page 5: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

5

O T

Editorial

Suani Teixeira CoelhoEditoraCoordenadora do Centro Nacionalde Referência em Biomassa (Cenbio)Instituto de Eletrotécnica e EnergiaUniversidade de São Paulo

Suani Teixeira CoelhoEditor

Coordinator of the Brazilian ReferenceCenter on Biomass (Cenbio)

Institute of Electrotechnics and EnergyUniversidade de São Paulo

COPENHAGUE, ANOSSA ESPERANÇA

COPENHAGEN,OUR HOPE

he Kyoto Protocol is a world landmark in the climate debate. Afteryears of discussions confined to laboratories and research centers,Kyoto made clear to the world the need of immediate policies against

greenhouse gas emissions. We ignored it then, but it was a key moment. Tenyears before Kyoto, global warming was something distant, almost a myth.Ten years after it, it was as much a tangible reality as vehicles, industrialchimneys and the deforested trees that so much contributed to aggravating thesituation.

The Copenhagen Conference to be held in December is, above all, the hopethat the goals and commitments made twelve years ago will not be thrownaway and that the global struggle to fight warming will only be strengthened.We know it will not be easy. With the recently ended crisis and the economicdifficulties undergone by countries all over the world – the United States, forexample, recorded 10.2% unemployment in November 2009, a rate not reachedsince 1983 –, sustainability is one of the last things of which governmentswould like to think at the moment.

Thinking of sustainability is thinking of the future – and the future doesnot seem fit for the present problems. Brazil has the second largest ethanolprogram in the world (and, we advocate, the best), but what is seen in headlinesis the pre-salt layer and the possible turn it will cause to the Brazilian economyin the short and medium terms.

Pre-salt is surely important. In the “Interview” section in this issue, theSecretary of Climate Change and Environmental Quality, Suzana Kahn Ribei-ro, states that pre-salt is not going to harm biofuels and explains that thegovernment intends to invest in a Nationally Adequate Mitigation Action(Nama) specific for second-generation ethanol. It is an optimistic forecast, as weat Cenbio like to be.

For this reason, we believe in Copenhagen. We believe that the worldleaders will be present and that a global agreement will be discussed, even if itis not signed. We believe that Lula, Barack Obama, Gordon Brown and otherimportant Heads of State will greet each other, sit together and discuss the 0.8degrees Celsius the planet has already warmed and the 6.4 degrees Celsius itmay have warmed by the end of the century (according to the most pessimisticof forecasts) and give these numbers the attention they deserve.

Our cover article on the Copenhagen Conference recalls all that has beendone as a preparation for the meeting and details how Brazil can do its share.Our lack of actions in some points is unfortunately compared to the inertia of themost polluting countries in the globe. Yet only in some points. Our biofuelprograms, our fight against deforestation and CDMs show how much disposition,both public and private, there is in the country to revert the CO

2 emission

numbers.A good example of this is our goal for Copenhagen, as announced: between

36.1% and 38.9% by 2020 – a much larger number than the comfortable 20%that we would already reduce due to the decrease in deforesting.

We, from Cenbio, believe in these numbers and believe in Brazil. MayCopenhagen mirror this trust and eventually provide reasons for the wholeplanet to keep believing.

Enjoy your reading!

Protocolo de Quioto é um marco mundial no debate sobre o clima. Apósanos de discussões presas aos laboratórios e centros de pesquisas, Quiotoescancarou ao mundo a necessidade de políticas imediatas contra a emis-

são de gases de efeito estufa. Naquela época, não sabíamos, mas o momento erachave. Dez anos antes de Quioto, o aquecimento global era algo distante, quase ummito. Dez anos depois dele, era uma realidade tão tangível quanto os automóveis, aschaminés industriais e as árvores desmatadas que tanto contribuíram para o agrava-mento da situação.

A Conferência de Copenhague que se realizará em dezembro é, antes de tudo, aesperança de que as metas e compromissos assumidos doze anos atrás não serãojogados fora e que a luta global pelo combate ao aquecimento será apenas fortalecida.Sabemos que não será fácil. Com a crise recém-encerrada e as dificuldades econômi-cas pelas quais passam os países em todo o globo – os Estados Unidos, por exemplo,registraram 10,2% de desemprego em novembro de 2009, índice não alcançado desde1983 –, sustentabilidade é uma das últimas coisas em que os governantes gostariamde pensar neste momento.

Porque pensar em sustentabilidade é pensar no futuro – e o futuro não serve aosproblemas de agora. O Brasil tem o segundo maior programa de etanol do mundo (e,defendemos, o melhor), mas o que está nas manchetes é a camada do pré-sal e apossível guinada que ela dará na economia brasileira no curto e médio prazos.

É claro que o pré-sal é importante. Na seção “Entrevista” desta edição, asecretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, Suzana Kahn Ribeiro,afirma que o pré-sal não irá prejudicar os biocombustíveis e explica que o governopretende investir em uma Ação Nacionalmente Apropriada de Mitigação (Nama)específica para o etanol de segunda geração. É uma previsão otimista, como nós doCenbio sempre gostamos de ser.

Por esse motivo, acreditamos em Copenhague. Acreditamos que os líderesmundiais irão comparecer e que um acordo global será discutido, ainda que não sejaassinado. Acreditamos que Lula, Barack Obama, Gordon Brown e outros importan-tes chefes de Estado irão cumprimentar-se, sentar-se juntos e discutir os 0,8 graus queo planeta já aqueceu e os 6,4 graus que poderá ter aquecido até o final do século(segundo a mais pessimista das previsões) e deem a esses números a atenção que elesmerecem.

Nossa matéria de capa sobre a Conferência de Copenhague resgata tudo que foifeito como preparação para a reunião e detalha como o Brasil pode fazer sua parte.Nossa falta de ação em alguns pontos, infelizmente, se compara à inércia dos paísesmais poluidores do globo. Mas só em alguns pontos. Nossos programas debiocombustíveis, contra o desmatamento e de MDLs mostram como há disposiçãono país, pública e privada, para reverter os números de emissões de CO

2.

Um bom exemplo disso é nossa meta para Copenhague, conforme anunciado:entre 36,1% e 38,9% até 2020 – número bem maior que os confortáveis 20% que járeduziríamos por causa das quedas no desmatamento.

Nós, do Cenbio, acreditamos nesses números e acreditamos no Brasil. QueCopenhague seja um espelho dessa confiança e termine dando motivos para que oplaneta inteiro continue acreditando.

Boa leitura!

Page 6: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

6 Novembro/November 2009

Capa

O CAMINHODE COPENHAGUE

C

Em dezembro, a mais importante conferência sobre o clima desteséculo deve estabelecer novo pacto global

ientistas, políticos, empresários e am-bientalistas de todo o mundo estão apostos: de 7 a 18 de dezembro de 2009,

a capital da Dinamarca, Copenhague, será a an-fitriã da Conferência de Mudanças Climáticasda Organização das Nações Unidas (ONU). Acidade será palco do 15º evento sobre mudan-ças climáticas, reunião realizada desde 1995pelos participantes da Convenção-Quadro dasNações Unidas sobre a Mudança do Clima(UNFCCC), geradora do Protocolo de Quioto.

De acordo com o Mapa do Caminho lança-do em Bali na edição de 2007 da conferência, oencontro de 2009 será responsável pela assina-tura de um acordo para o combate às mudançasclimáticas que servirá como substituto do Pro-tocolo de Quioto quando seu primeiro períodode compromisso expirar, em 2012. O acordo, porseu potencial em interferir na economia das na-ções e por suas consequências ambientais, éum dos mais esperados deste século entre osenvolvidos com o clima.

Até o momento, porém, os resultados daconferência permanecem difíceis de ser previs-tos. As discussões sobre o clima têm parado emconflitos diplomáticos que, por sua vez, impe-dem a formulação de um acordo global. Paraentender o que acontecerá em Copenhague, épreciso conhecer o cenário em que a reunião ocor-rerá e as posições que os principais países en-volvidos estão defendendo antes de chegar lá.

RODADAS PRÉVIASAs discussões para Copenhague começa-

ram em junho deste ano com uma reunião infor-mal na cidade de Bonn, na Alemanha, que du-rou duas semanas e teve representantes de 183países. Apesar de muito esperado pelo público,o encontro foi marcado pela reapresentação deinformações já bastante conhecidas – é precisocortar as emissões mundiais em 80% até 2050,ou a temperatura subirá acima de 2oC; os países

Michael Klenetsky/Dreamstime

Page 7: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

7

Capa

Divulgação Bella Center

mais poluidores precisam se comprometer a re-alizar reduções maciças; etc. – e por muitadiscussão diplomática que não resultou em ne-nhum acordo de fato. “A única coisa em queeles concordaram em Bonn é que eles discor-dam fundamentalmente em todos os assuntos”,afirmou Regine Guenther, diretora do Programade Mudanças Climáticas da ONG ambientalistaWWF, ao jornal alemão Deutsche Welle. O se-cretário-executivo da UNFCCC, Yvo de Boer,preferiu ser mais otimista em nota oficial à im-prensa: “Uma grande conquista dessa reuniãofoi que os governos deixaram mais claro o quequerem ver no acordo de Copenhague”.

Entre 28 de setembro e 9 de outubro, ocor-reu a primeira reunião oficial pré-Copenhague,no Centro de Conferências das Nações Unidas,em Bangkok. O encontro tinha como um dosobjetivos principais reduzir um documento deduzentas páginas e com mais de 2 mil pontos dediscordância para uma versão mais curta econsensual. Espera-se desse calhamaço – umajunção das opiniões e interesses das naçõesparticipantes sobre a redução das emissões degases de efeito estufa – que ele sirva de basepara o acordo de Copenhague. Segundo de Boer,a papelada foi reduzida pela metade.

Mas o que marcou mesmo a reunião foi oembate entre a China e os Estados Unidos (EUA).Durante o encontro, os representantes ameri-canos declararam ser contra o Protocolo deQuioto, pelo menos em seu modelo atual, pornão contemplar todas as nações do mundo. Onegociador americano, Jonathan Pershing, afir-mou ao jornal britânico The Guardian que a si-tuação dos países mudou entre 1990 e 2009 eque a discussão sobre o clima não pode se pren-der a um tratado com vinte anos de idade. “Que-remos ação de todos os países”, disse ele.

A China rebateu a posição dos EUA dizen-do que Quioto “não é negociável” e se colocoua favor da revitalização do tratado, com a inclu-são dos países do Anexo I (os desenvolvidos)e o estabelecimento de uma meta de reduçãopara eles de 40% nas emissões até 2020. “Nóstemos um acordo. Se o ignorarmos, eliminamosa base de negociações”, disse Yu Qintai, repre-sentante chinês.

Ambos os lados têm motivos próprios paraadotar tais posições. Os EUA querem queQuioto seja substituído por um novo acordo,assinado por todos os países, em que cada na-ção poderia determinar sua própria meta de re-dução e o período necessário para seu cumpri-mento. Dessa forma, o país poderia utilizar polí-

Dinamarca, Copenhague: anfitriãda Conferência de Mudanças

Climáticas da ONU

Scanrail/Dreamstime

Page 8: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

8 Novembro/November 2009

Capa

ticas de redução que priorizassem alguns seto-res em detrimento de outros, preservando suaeconomia de um baque generalizado, comoQuioto pode causar.

A China, por sua vez, é beneficiada pelo Pro-tocolo de Quioto atual, já que, mesmo sendo amaior poluidora do mundo, permanece deso-brigada de reduzir suas emissões. A “revitali-zação” que o país sugere seria o cálculo de re-duções para cada país baseado em seus índi-ces de emissão de CO

2 per capita (o modelo

atual é baseado em índices de emissão absolu-tos). Nesse cenário, a China estaria confortá-vel: é a 96ª colocada no ranking de emissõesper capita, o qual tem Qatar, Emirados ÁrabesUnidos e Kuwait nos três primeiros lugares. OsEUA ficam em 9º e o Brasil, em 123º.

O embate dividiu Bangkok. A China rece-beu o apoio do G-77 (grupo de países em de-senvolvimento) e da Alliance of Small IslandStates (Aosis) – grupo de nações peninsularesque correm o risco de ficar inabitáveis com asalterações no clima –, enquanto os EUA foramapoiados pela União Europeia (UE). O encon-tro terminou com de Boer dizendo que “há umforte medo de que exista intenção de matar oProtocolo de Quioto”. À vista dos especialis-tas, resolver esse conflito se tornou uma ques-tão-chave para o sucesso de Copenhague.

E AGORA?Em artigo sobre a questão climática, o pro-

fessor da Universidade de Columbia, JeffreySachs, diz que o mais efetivo para os principaispaíses envolvidos na discussão (EUA, China,Índia, nações da UE) seria que eles estabele-cessem acordos entre si ditando metas de mi-tigação, meios de auxílio financeiro e medidaspráticas a serem tomadas. Entre elas, Sachs citao aumento de projetos de energia solar em todoo mundo, a exemplo do que vem ocorrendo naÍndia, e o investimento em carros elétricos.

Recentemente, o presidente americanoBarack Obama anunciou encontros com o pre-sidente chinês, Hu Jintao, e a presidente india-na, Pratibha Patil, ambos no final de novembro,para falar sobre o clima. A ideia é criar acordosbilaterais para a redução de emissões, medidaque segue o posicionamento americano emBangkok. Obama, que havia dito em sua cam-panha eleitoral que se esforçaria para reduzirem 15% as emissões de gás carbônico dos EUAaté 2012, e em 80% até 2050, até o momento, nãoconseguiu passar uma lei ambiental pelo Sena-do americano.

O discurso de Sachs e as reuniões de Obamaparecem apontar para o mesmo (e talvez inevi-tável) caminho. Ainda que a conferência de Co-penhague consiga a assinatura de um tratadoglobal, como os países em desenvolvimentoquerem, as metas definidas dificilmente serãoalcançadas sem cooperações bilaterais e regio-nais, principalmente porque envolvem aportesfinanceiros. “A decisão política pode ser glo-bal, mas a transferência de recursos seria feitaprovavelmente por meio de acordos caso acaso”, pondera o professor da Universidade deSão Paulo José Goldemberg, ex-ministro da Edu-cação e ex-secretário de Meio Ambiente do Es-tado de São Paulo.

O próprio Brasil é exemplo dessa ideia. Emabril deste ano, a Noruega selou um acordo como País para a doação de 700 milhões de coroasnorueguesas (cerca de R$ 215 milhões) para oFundo Amazônia, criado para financiar o PlanoAmazônia Sustentável, programa do governofederal que pretende combater o desmatamentono período entre 2008 e 2011. O fundo tem ummecanismo que torna compulsório o combateao desmatamento: a cada ano, o repasse de ver-bas só é feito se for comprovada diferença en-tre o nível de desmatamento do ano anterior eum nível de referência (que é a média da taxa dedesmatamento na década anterior). Administra-do pelo Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES), o dinheiro é vol-tado não só à recuperação das áreas desmata-das, mas também ao mapeamento econômico eecológico das áreas, à regulação de proprieda-de, à vigilância, ao controle e legislação do meioambiente e às atividades econômicas baseadasno uso sustentável da mata, entre outros itens.

A contribuição norueguesa, porém, é pou-ca se comparada ao que o Banco Mundial (Bird)estima ser necessário para combater o aqueci-mento global. Relatório do Bird divulgado emsetembro de 2009 aponta que, nos próximos vin-te anos, serão indispensáveis US$ 475 bilhõesao ano para que os países em desenvolvimentopossam combater e se adaptar às mudanças cli-máticas. O primeiro-ministro britânico, GordonBrown, um dos mais engajados chefes de Esta-do na luta contra o aquecimento global, dissepor sua vez, em junho, que o repasse dos paí-ses desenvolvidos para os em desenvolvimen-to deveria ser de US$ 100 bilhões anuais.

O DESAFIO BRASILEIRO“O Brasil tem tido sempre um papel de des-

Estados Unidosquerem novo acordo.Presidente Obama,até o momento, nãoconseguiu passaruma lei ambientalpelo Senadoamericano

Tdmartin/Dreamstime

Page 9: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Capa

taque nas discussões no âmbito da Convençãosobre Mudança do Clima”, acredita José Do-mingos Gonzalez Miguez, coordenador-geral deMudanças Globais de Clima do Ministério daCiência e Tecnologia. E enumera: “Sediamos aRio 92, elaborando a proposta brasileira de 1997,que levou à criação do Mecanismo de Desen-volvimento Limpo (MDL); propusemos, em2005, os dois trilhos de negociação que estabe-leceram os dois grupos negociadores – Grupode Trabalho Ad Hoc sobre Ação Cooperativade Longo Prazo no âmbito da Convenção (AWG-LCA) e Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Com-promissos Adicionais no âmbito do Protocolode Quioto para os Países do Anexo I (AWG-KP); indicamos o mecanismo de Redução deEmissões para o Desmatamento e Degradação(Redd), em Nairóbi; por meio do Fundo Amazô-nia, estabelecemos a implementação objetiva deMDL; e também propusemos o Bali Road Mapem 2007, que permitiu o início das negociaçõescom vistas a um resultado positivo em Copen-hague”.

O que se espera do País, portanto, é queassuma uma posição de liderança na Conferên-cia de Copenhague. A proposta oficial que ogoverno brasileiro levará é o compromisso dereduzir as emissões de gases que provocam oaquecimento global entre 36,1% e 38,9%, emrelação ao que o País emitiria em 2020 se nadafosse feito. Na prática, o que se terá é a diminui-ção do lançamento para a atmosfera de cerca de300 milhões de t de gases de efeito estufa emrelação ao que o Brasil emitiu em 2005, repre-sentando uma queda de 15% no período.

Para atingir seu objetivo, o governo federalpretende reduzir em 80% o desmatamento daAmazônia e 40% o do Cerrado. Outras medidascontemplam ainda a redução no desmatamentode outros biomas e de políticas públicas relaci-onadas a outras fontes de emissão. O alcancede tais índices, porém, segundo a proposta,dependeria de um aporte anual de US$ 10 bi-lhões financiado pelos países ricos.

Ao se comparar a proposta brasileira com ade outros países, conclui-se que a primeira é amais audaciosa dos países em desenvolvimen-to. A China, por exemplo, já anunciou diversasações para reduzir suas emissões, mas aindanão falou em números. Segundo DilmaRousseff, ministra-chefe da Casa Civil, “o es-forço chinês é significativo, mas está na faixade 16% ou 17%”. A Índia, por sua vez, defendea ideia de que, para crescer, tem direito a poluir.

“Basicamente, o que pretendemos apresen-

tar é uma meta de desvio da nossa curva deemissão”, resume Suzana Kahn Ribeiro, secre-tária de Mudanças Climáticas e QualidadeAmbiental do Ministério do Meio Ambiente. “Oque é esperado dos países em desenvolvimen-to é que haja um descolamento entre a curva docrescimento econômico e a curva do crescimen-to de emissões. Ou seja, que haja uma desace-leração mesmo com o país crescendo”, explica ela.

Os países em desenvolvimento, de acordocom a Convenção do Clima da ONU, não sãoobrigados a adotar metas. Porém, as nações in-dustrializadas pressionam os emergentes, gran-des emissores de gases estufa, para que tam-bém apresentem objetivos concretos.

DESMATAMENTOO desmatamento é o grande calcanhar de

Aquiles do Brasil no que diz respeito às emis-sões de CO

2. O Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (Inpe) estima que, até hoje, a Amazô-nia Legal tenha perdido cerca de 700 mil km2 defloresta, ou seja, 18% de sua área. Durante en-contro na Suécia para discutir o clima, o própriopresidente Lula admitiu que o “desmatamentozero” é impossível.

Yu Qintai,representantechinês: "Quioto

�não é negociável�.Se ignorarmos

o acordo,eliminamos a base

de negociações"

9

Gar

y718

/Dre

amst

ime

Page 10: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

10 Novembro/November 2009

Capa

O calendário do desmatamento amazônicoé medido entre agosto de um ano e julho doseguinte. Os dados do Projeto Prodes, do Inpe,que realiza seu monitoramento por meio de sa-télites, apontam um crescimento no ritmo dodesmatamento até o ano 2003-2004, que tevedesmatamento de 27.772 km2, e depois quedaaté o ano 2006-2007, quando o índice foi de11.633 km2 (redução de 42%). Porém, no últimoano, o relatório afirma que o desmatamento vol-tou a crescer, pulando para 12.911 km2 (aumen-to de 11%).

Suzana Kahn ressalta a importância da fis-calização no combate ao desmatamento, masdiz que a criação de leis contra produtos nãocertificados também é um mecanismo eficientenesse processo. Mas a Amazônia não é a únicaárea verde brasileira ameaçada. O MMA lan-çou, em 2006, os Mapas de Cobertura Vegetaldos Biomas Brasileiros, estudos detalhadossobre as áreas conservadas dos biomas nacio-nais, feitos a partir de imagens de satélite. Osdados apontam que o Pantanal é o bioma maispreservado, com 88,7% de sua cobertura vege-tal nativa intacta. A Amazônia vem em 2º lugar(85%), seguida da Caatinga (62,6%), Cerrado(61,1%), Pampa (41,3%) e Mata Atlântica(27,44%).

O Cerrado, conhecido pela sua biodiversi-dade, ficou de fora do zoneamento agroecoló-gico lançado pelo governo federal em setembrodeste ano. O zoneamento protege a Amazônia,

o Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai, masprevê um aumento de 6 milhões de ha de áreaplantada de cana-de-açúcar nos próximosanos (atualmente, o Brasil tem 7 milhões), aser alocada em “áreas degradadas” dos Esta-dos de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, MatoGrosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.

Também em setembro deste ano, núme-ros divulgados pelo MMA mostram que, en-tre 2002 e 2008, foram desmatados 127,6 milkm2 do Cerrado, uma média de 21.260 km2 aoano – mais que o dobro do desmatamento naAmazônia, pelos dados do Inpe. Isso signifi-cou a emissão média de 350 milhões de t deCO

2 anuais, mais que a metade dos 507,4 mi-

lhões de t de CO2 emitidos pela Amazônia no

ano de 2007.

MDLAlém da redução no desmatamento, ne-

nhuma meta de controle das emissões de car-bono é possível sem mecanismos de desen-volvimento limpo e políticas públicas quemudem a cultura da indústria e dos cidadãos.Há diversas iniciativas nesse sentido em todoo País, hoje. A Secretaria de Meio Ambientedo Estado de São Paulo, por exemplo, pôs emexecução em abril deste ano 21 projetosambientais que focam na cooperação entregoverno, ONGs e iniciativa privada para atin-gir metas que vão desde o tratamento de es-goto até o estímulo ao ecoturismo. Um dos

Estima-se que,até 2010, aChina terá

aumentadosuas emissões

em 600 milhõesde t métricas

de carbono

Brad Calkins/Dreamstime

Page 11: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

11

Capa

projetos visa a replantar e a reflorestar 180 milha de Mata Atlântica, o que equivale a 50% daárea do bioma no Estado.

Outro bom exemplo são os programas dePagamento por Serviços Ambientais (PSA) –agricultores e proprietários de terras são remu-nerados em troca da conservação de água eflorestas em suas propriedades. No municípiode Extrema (MG), 49 proprietários recebem hoje,em troca da conservação das matas e do soloem suas terras, uma quantia que varia de R$ 75a R$ 169 por ha/ano. A prefeitura da cidade co-gita remunerar esses fazendeiros também pelosequestro de carbono do solo.

Já existem projetos de PSA também no Espí-rito Santo, Amazonas e São Paulo. O governofederal enviou ao Congresso, em junho, proje-to de lei que institui o Programa Federal de Pa-gamento por Serviços Ambientais, criando umfundo para financiar as ações de PSA. Segun-do estudo da Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa), só os serviçosambientais prestados pelos ecossistemas doPantanal já valem R$ 112 bilhões.

Outra medida do gênero é a campanha YIkatu Xingu, que estabeleceu parceria entre aONG Instituto Socioambiental (ISA) e fazendei-ros da região do Xingu em Mato Grosso. O ob-jetivo: reflorestar áreas desmatadas peloagronegócio. Até fevereiro, 200 ha já haviam re-cebido o trabalho de restauração, sendo 75 comsemeadura mecanizada, 55 com plantio naturale 70 com cercado para regeneração natural.

“Como 63% das nossas emissões são dedesmatamento, penso que o Brasil vá assumirinternacionalmente um compromisso de redu-ção”, afirma Fábio Feldmann, ex-deputado fe-deral e consultor em Questões Ambientais.“Mas acredito que o país também deva colocarmetas em relação aos outros setores, comotransporte, energia e indústria. Nós temos emtorno de 4.500 projetos de desenvolvimento lim-po, entre os quais menos de dez são de trans-porte. No setor de edifícios, o número também épequeno. Acho que o ideal seria criar um mode-lo adicional que permitisse para cada setor ob-ter mecanismos próprios para reduzir emis-sões”, defende o consultor.

Aprovados na ONU, são 416 os projetos deMDL do Brasil atualmente, o que nos torna oterceiro país em número de projetos, atrás ape-nas da China e Índia: 48,8% referem-se à ener-gia renovável; 9% a aterros sanitários; 10% àtroca de combustível fóssil; e 16,1% à suino-cultura (combate à liberação de gás metano das

lagoas de dejetos). Os projetos de energia atu-almente geram 3.557 megawatts, índice corres-pondente à geração de uma grande hidrelétrica.A maior parte (1.290 MW) vem de hidrelétricasde médio porte, seguidas por projetos decogeração com biomassa (1.211 MW) e pelaspequenas centrais hidrelétricas, ou PCHs, com807 MW.

Mas tudo isso não é suficiente. O relatórioAgenda Elétrica Sustentável 2020, feito por umaequipe de especialistas da Universidade deCampinas (Unicamp), a pedido da WWF-Bra-sil, e publicado em 2006, mostra que o País po-deria economizar 50% da energia que consomehoje: 30% com programas de conservação, 10%com repotenciação de usinas antigas e 10% re-duzindo as perdas nas linhas de transmissão.Revela ainda que a demanda de energia elétricado Brasil irá mais que dobrar entre 2004 (anobase dos cálculos) e 2020. Nesse mesmo perío-do, também aumentará o uso de petróleo (de 2%para até 5%) e de gás natural (de 5% para até10%) na matriz energética. Por outro lado, o usode energia eólica deverá crescer de 0 para 6%.

A HORA DA DECISÃOAo final da reunião em Bangkok, Kim Cars-

tensen, líder da Iniciativa Climática da WWF,fez um apelo aos chefes de Estado para quecompareçam em Copenhague e mostrem aomundo disposição para negociar. O presidenteamericano Barack Obama disse que estará pre-sente se, até lá, for criado um cenário real queexija sua presença. O Brasil terá a presença dasenadora Marina Silva e da ministra da CasaCivil, Dilma Rousseff (esta última, ainda nãoconfirmada). Questionado sobre sua presença,

Compromissobrasileiro:

reduziremissões entre36,1% e 38,9%,

em relação aoque o País

emitiria em2020 se nada

fosse feito

Ale

xand

re F

agun

des

De

Fag

unde

s/D

ream

stim

e

Page 12: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

12 Novembro/November 2009

Capa

UM NOVO QUIOTO

O Protocolo de Quioto pode ser esquecido em Copenha-gue. Ainda que essa notícia possa ser recebida com alarmismo,ela também é interpretada por alguns ambientalistas como umachance de estabelecer um novo tratado que cubra pontos ondeQuioto pode ser considerado deficiente.

O primeiro item na lista de revisão seria a falta de igualdadena distribuição de metas para os países signatários. Os paísesdo Leste Europeu, por exemplo, só assinaram o protocolo por-que sua estagnação econômica, devido ao colapso da UniãoSoviética, permitia a redução de suas emissões sem a instaura-ção de qualquer política pública para isso. A Rússia, por suavez, foi isentada de qualquer obrigação em reduzir suas emis-sões.

O caso da China é ainda pior. Assim como a Rússia (e tam-bém a Índia), o país não recebeu no documento quaisquer me-tas de emissões. E se tornou o maior poluidor do mundo, au-mentando em 105% suas emissões de CO

2 entre 1996 e 2006.

Estima-se que, até 2010, a China terá aumentado suas emissõesem 600 milhões de t métricas de carbono, o que é mais de cincovezes a soma total das reduções que os países signatários deQuioto se comprometeram a fazer. E as previsões são pessimis-tas: segundo uma análise do Journal of Environmental Economicsand Management publicada em 2008, estima-se que as emis-sões de CO

2 da Ásia irão crescer numa média de 11% ou mais

nos próximos anos.Além de deixar de fora essas importantes nações em desen-

volvimento, Quioto também não foi ratificado pelos EstadosUnidos (EUA). E a justificativa americana é, justamente, que umacordo pela redução de emissões globais não pode deixar defora as maiores nações em desenvolvimento atualmente. Desdea administração de George W. Bush, o país argumenta que sópoderá se comprometer com alguma meta se essas nações fo-rem incluídas no acordo. Em 1997, o Senado americano até apro-vou por unanimidade uma resolução afirmando que os EUA serecusariam a participar de qualquer tratado que não envolvessetambém os países em desenvolvimento. Caso tivesse ratificadoQuioto, o país deveria atingir uma redução de 7% até 2012. Emvez disso, aumentou suas emissões nesse mesmo índice, entre1996 e 2006, e é atualmente o segundo maior emissor de CO

2 no

mundo.Os números mostram a importância que os países citados

têm hoje no cenário mundial da emissão de gases. Segundorelatório da Agência de Energia Internacional com dados refe-rentes a 2006, os cinco maiores emissores de CO

2 do mundo

(China, EUA, Rússia, Índia e Japão, nesta ordem) correspondema quase 60% da emissão global.

Outro ponto que poderia ser melhorado é o meio de controle

de emissão de gases causadores do efeito estufa. Quioto esti-mula apenas “caps”, ou seja, limites para a emissão. Algunsambientalistas afirmam que, como o alcance desses limites exigegrandes investimentos financeiros, que poderiam afetar as eco-nomias dos países, os governantes acabam adotando políticasincompletas ou pouco efetivas a respeito. E muitos acabam pre-ferindo comprar créditos de carbono de outras nações – umsistema estabelecido pelo protocolo que, na opinião de algunsambientalistas, permite que esses países continuem poluindo.No mercado internacional, cada t de gás causador do efeitoestufa evitada dá direito a um crédito de carbono.

Um imposto sobre as emissões de carbono talvez seja maiseficiente porque, ao pesar nos bolsos das empresas, encorajariaa investir em métodos mais sustentáveis, em vez de esperar queisso aconteça devido apenas à existência da meta – cujo nãocumprimento não tem maiores consequências para as naçõesque aderiram ao Protocolo de Quioto. Para funcionar, o impos-to teria de ser aplicado globalmente e sobre uma base de cálculosemelhante para cada país.

Roberto Smeraldi, diretor da organização não governamen-tal (ONG) Amigos da Terra, é a favor tanto dos caps como doimposto. “Seria suficiente [por parte dos governos], o resto omercado faria sozinho. “Smeraldi diz ainda que, caso os caps setornassem obrigatórios, a necessidade de reduzir emissões dei-xaria de ser encarada como um “mal econômico” (como é hojedevido ao seu custo). “Passaria a ser uma oportunidade, pois ocusto da t de carbono ficaria altíssimo.”

As sugestões, sejam elas acatadas ou não, compõem a pau-ta mais polêmica da discussão sobre a reformulação de Quioto,um tratado estabelecido em 1997, quando os cenários ambientale econômico eram bem diferentes. A necessidade de mudanças,porém, pode ser considerada como uma manutenção. Afinal,Quioto trouxe atenção mundial ao tema do clima em uma épocana qual o assunto ainda não era discutido. Com o tratado e assubsequentes reuniões da UNFCCC, geradora do protocolo, osambientalistas viram a discussão sobre o clima ter continuidadeno ambiente político e ganhar importância na esfera pública.

Ao mesmo tempo, o protocolo levou alguns países a inves-tir em novas tecnologias energéticas. De acordo com o estudoRenewable Global Status Report 2009, do órgão internacionalREN21, de 2005 para 2008, a produção de energia com painéisfotovoltaicos no mundo quase quadruplicou, pulando de 3,5GW para 12,5 GW. Não à toa, a maior investidora na tecnologiaé a Alemanha, país que, segundo relatório da UNFCCC divulga-do em 2007, já em 2004 havia reduzido suas emissões de carbo-no em 19%, sendo que sua meta para 2012, segundo o Protoco-lo de Quioto, é de 8%.

Page 13: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

13

Capa

13

Lillo Mendola/Dreamstime

Lula disse que irá à Copenhague “muito prova-velmente”.

Os que chegarem à capital dinamarquesa,porém, terão de enfrentar os problemas diplo-máticos e a descrença de políticos e ambientalis-tas que estão céticos quanto ao sucesso daconferência. Uma última reunião preparatória nocomeço de novembro, em Barcelona, será achance final para que as nações cheguem a umconsenso prévio.

Os entraves de Copenhague, conforme ex-plicado, continuam sendo a resistência dos pa-íses desenvolvidos a assinar um acordo quenão inclua os países em desenvolvimento e aexigência dos países em desenvolvimento devultosas somas financeiras dos países desen-volvidos para financiar seus programas demitigação.

O Protocolo de Quioto, contudo, ainda apre-senta-se como única base possível para a for-

mação de um novo acordo, já que é o único tra-tado global sobre o clima que estabelece metasnuméricas de mitigação. Além disso, ele traz tam-bém o valor simbólico de ser um documentocongregando a participação de 184 nações. Co-mo seu prazo de redução global de 5,2% nasemissões só termina em 2012, garante-se pelomenos que a discussão continuará viva e rele-vante até lá, independente do que aconteça emCopenhague.

Em um discurso em um fórum econômico emLondres no final de outubro, Brown disse – aoque foi apoiado mais tarde pelo diplomata espe-cial dos EUA para Mudanças Climáticas, ToddStern – que “não há plano B” para um acordomundial para o corte de emissões. “Não pode-mos nos dar ao luxo de falhar. Se agirmos agora,juntos, com visão e determinação, o sucesso emCopenhague ainda estará ao alcance. Mas se hesi-tarmos, a Terra estará em risco”, disse o premiê.

Para atingir seu compromisso, o governo brasileiropretende reduzir em 80% o desmatamento daAmazônia e 40% o do Cerrado

São Paulo: 21 projetos ambientais focamna cooperação entre governo, ONGs einiciativa privada

Dellarocca/Dreamstime

Page 14: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Cover

14 Novembro/November 2009

TOWARDS COPENHAGENIn December, the most important climate conference in thiscentury will establish a new global pact

Michael Klenetsky/Dreamstime

cientists, politicians, entrepreneurs andenvironmentalists from all over the worldare getting ready: from December 7th to

18th, 2009, Denmark capital, Copenhagen, willhost the United Nations (UN) Climate ChangeConference. The city will be the stage of the15th event on climate change, a meeting heldsince 1995 by the parties of the United NationsFramework Convention on Climate Change(UNFCCC), generator of the Kyoto Protocol.

According to the Road Map issued in Baliin the 2007 Conference edition, the 2009 meetingwill account for the signature of an agreementto fight climate change which will be areplacement for the Kyoto Protocol when itsfirst commitment period expires, in 2012. Theagreement, for its potential in interfering in theeconomy of the nations and for its environmen-tal consequences, is one of the most expectedin this century among those involved with cli-mate.

So far, however, the conference results aredifficult to foresee. The discussions on the cli-mate have stalled with diplomatic conflictswhich, in turn, prevent the formulation of a glo-bal agreement. In order to understand what willhappen in Copenhagen, it is necessary to knowthe scenario in which the meeting will occurand the positions advocated by the majorcountries involved before getting there.

PREVIOUS ROUNDSThe discussions towards Copenhagen star-

ted in July this year with an informal meeting inthe city of Bonn, Germany, which lasted twoweeks and counted on representatives from 183countries. Albeit much expected by the public,the meeting was marked by once more presen-ting well known information – it is necessary tocut the world emissions by 80% by 2050, or thetemperature will rise over 2oC; the majorpollutant countries have to commit and makemassive reductions; etc – and by much diplo-matic discussion which resulted in no effectiveagreement. “The only thing that they have

S

Page 15: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

15

Cover

15

agreed on in Bonn is that they fundamentallydisagree on all issues”, stated Regine Guenther,director of the Climate Change Program of theenvironmentalist NGO WWF, to the Germannewspaper Deutsche Welle. The UNFCCCExecutive Secretary, Yvo de Boer, chose to bemore optimistic in an official release to the press:“A great achievement of this meeting was thatgovernments made what they want to see inthe Copenhagen agreement clearer”.

Between September 28th and October 9th, thefirst official pre-Copenhagen meeting tookplace, at the United Nations Conference Centerin Bangkok. One of the major goals of themeeting was to reduce a 200-page documentwith over 2 thousand disagreement points to amore concise and consensual version. Thisheap of paper – gathering the opinions andinterests of the parties on greenhouse gasesemission reduction – is expected to serve as abase for the agreement to be closed inCopenhagen. According to de Boer, the heapwas reduced by 50%.

What really marked the meeting was theclash between China and the United States(USA). During the meeting, the Americanrepresentatives declared to be against the KyotoProtocol, at least its present model, for notcontemplating all the world nations. TheAmerican negotiator, Jonathan Pershing, statedto the British newspaper The Guardian that thecountries’ situation changed between 1990 and2009 and that we cannot be stuck with a 20-year-old agreement. “We want action from allcountries,” he said.

China rebutted the USA position saying thatKyoto “is not negotiable” and was in favor ofthe treaty revitalization, with the inclusion ofAnnex I (developed) countries and theestablishment of a 40% emission reduction goalby 2020 for them. “We have an agreement. If weignore it, we eliminate the base for negotia-tions”, said Yu Qintai, Chinese representative.

Both sides have their own reasons foradopting such positions. The USA want Kyototo be replaced with a new agreement, signed byall countries, in which each nation could deter-mine its own reduction goal and the necessaryperiod for its attainment. The country could thenuse reduction policies that prioritized somesectors in detriment of others, preserving itseconomy from a generalized breakdown, as maybe caused by Kyoto.

China, in turn, benefits from the presentKyoto Protocol, since even though it is the

Dissemination Bella Center

Jose Antonio Sanchez Romero/Dreamstime

Denmark, Copenhagen: host of the UNClimate Change Conference

Page 16: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

16 Novembro/November 2009

Cover

16 Novembro/November 2009

greatest polluter in the world, it keeps exemptedfrom reducing its emissions. The “revitalization”suggested by the country would be the calcu-lation of reductions for each country based onits CO

2 per capita emission rates (the present

model is based on absolute emission rates). Inthis scenario, China would be comfortable: itranks 96th in emissions per capita, whereasQatar, the United Arab Emirates and Kuwait holdthe first three places. USA ranks 9th and Brazil,123rd.

The clash divided Bangkok. China wassupported by the G-77 (group of developingcountries) and by the Alliance of Small IslandStates (Aosis) – group of peninsular nationsthat run the risk of becoming uninhabitable withclimate alterations –, while the USA weresupported by the European Union (EU). Themeeting ended with de Boer saying that “thereis a strong fear that there is an attempt to kill theKyoto Protocol”. In the specialists’ view,solving this conflict became a key issue for theCopenhagen success.

NOW WHAT?In a paper on the climate issue, the Columbia

University professor, Jeffrey Sachs, says thatthe most effective for the major countries invol-ved in the discussion (USA, China, India, EUnations) would be their establishing agreementsamong themselves dictating mitigation goals,means of financial aid and practical measuresto be taken. Among them, Sachs mentions theincrease in solar energy projects all over theworld, as an example of what has been occurringin India, and the investment in electric vehicles.

Recently, American president Barack Obamaannounced meetings with the ChinesePresident, Hu Jintao, and the Indian president,Pratibha Patil, both in late November, to discussthe climate. The idea is to establish bilateralagreements to reduce emissions, a measure thatfollows the American position in Bangkok.Obama, who had said in his electoral campaignthat he would struggle to reduce carbonemissions in the USA by 15% by 2012, and by80% by 2050, has not yet succeeded in passingan environmental legislation in the AmericanSenate.

Sachs’s speech and Obama’s meetings seemto point to the same (and maybe unavoidable)path. Even if the Copenhagen conferencemanages to have the signing of a global treaty,as desired by developing countries, the goalsdefined will hardly ever be attained without bi-

lateral and regional cooperation, mainly becauseit involves financial contributions. “The politicaldecision may be global, but the resources trans-ference would probably be conducted by meansof agreements, case by case”, ponders the Uni-versity of São Paulo professor José Goldemberg,former Minister of Education and ex-Secretaryfor the Environment of the State of São Paulo.

Brazil itself is an example of this idea. In Aprilthis year, Norway signed an agreement with Brazilfor donating 700 million Norwegian Krones(about R$ 215 million) for the Amazon Fund,meant to finance the Sustainable Amazon Plan,a federal government program intending to fightdeforestation in the period comprised between2008 and 2011. The fund has a mechanism thatmakes fighting deforestation compulsory: eachyear, the fund is only transferred if the differencebetween the deforestation level of the previousyear and a reference level is proved (which isthe average of the deforestation rate of theprevious decade). Managed by the NationalBank for Economic and Social Development(BNDES), the fund is aimed not only at reco-vering deforested areas, but also at the econo-mic and ecological mapping of the areas, atregulating estates, at surveillance, at envi-ronment control and legislation and at economicactivities based on the sustainable use of theforest, among other items.

The Norwegian contribution, however, issmall if compared to what the World Bank (Bird)estimates to be necessary to fight global war-ming. The September 2009 Bird report pointedout that US$ 475 billions a year will be indispen-sable, in the next twenty years, for developingcountries to be able to fight and adapt to climatechange. The British Prime Minister, GordonBrown, one of the most committed heads of statein the fight against global warming, in turn, saidin June that the fund transfer from developedcountries to developing ones should be US$100 billions a year.

THE BRAZILIAN CHALLENGE“Brazil has always had a detached role in

the discussions in the Climate Change Conven-tion ambit”, believes José Domingos GonzalezMiguez, general coordinator of Global ClimateChange of the Ministry of Science and Techno-logy. He lists: “We hosted Rio 92, elaboratedthe 1997 Brazilian proposal, which led to theestablishment of the Clean DevelopmentMechanism (CDM); in 2005, we proposed thetwo negotiation paths which established the

The United States wanta new agreement. Sofar President Obamahas not succeeded inpassing anenvironmentallegislation by the USSenate

Benjamin Ves/Dreamstime

Page 17: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

17

Cover

17

two teams of negotiators –Ad Hoc WorkingGroup on Long-Term Cooperative Action in theambit of the Convention (AWG-LCA) and AdHoc Working Group on Further Commitmentsin the ambit of the Kyoto Protocol for the AnnexI countries (AWG-KP); we indicated theReducing Emissions from Deforestation andDegradation (Redd) mechanism in Nairobi; bymeans of the Amazon Fund, we established theobjective implementation of CDM; and we alsoproposed the Bali Road Map in 2007, whichallowed the beginning of negotiations aimingat a positive result in Copenhagen”.

Brazil is therefore expected to take a leadingposition in the Copenhagen Conference. Theofficial proposal the Brazilian government willtake is the commitment of reducing the emissionof gases that cause global warming by between36.1% and 38.9%, in relation to what it wouldemit in 2020 if nothing was done. In practice,there will be a reduction of 300 million tons ofgreenhouse gases emitted into the atmospherein relation to what Brazil emitted in 2005,representing a decrease by 15% in the period.

So as to attain its goal, the federal govern-ment intends to reduce by 80% the deforestationin the Amazon and by 40% that in Cerrado.Other measures also contemplate the reductionof deforestation in other biomes and of publicpolicies related to other emission sources. Thereach of these rates, however, according to theproposal, would depend on a yearly funding ofUS$ 10 billions provided by the rich countries.

When comparing the Brazilian proposal tothose of other countries, the former is conclu-ded to be the most daring in developing coun-tries. China, for example, has already announcedseveral actions to reduce its emissions, but hasnot stated any numbers. According to DilmaRousseff, Minister-in-chief of the Civil Cabinet,“the Chinese effort is significant, but it lieswithin the 16% or 17% rate”. India, in turn, advo-cates the idea that, in order to grow, it has theright to pollute.

“Basically, what we intend to present is agoal for deviating our emission curve”, summa-rizes Suzana Kahn Ribeiro, Secretary of ClimateChange and Environmental Quality of the MMA.“What is expected from developing countriesis that there is a detachment between the econo-mic growth curve and the emission growth cur-ve. That is, that there is a deceleration eventhough the country is growing”, she explains.

Developing countries, in agreement with theUN Climate Convention, are not obliged to adopt

goals. Nevertheless, industrialized nations pressthe emerging ones, great greenhouse emitters,so that they also present concrete goals.

DEFORESTATIONDeforestation is the great Brazilian weak-

ness concerning CO2 emissions. The National

Institute for Space Research (Inpe) estimatesthat, so far, the Legal Amazon has lost about700 thousand km2 of forests, that is, 18% of itsarea. During the meeting in Sweden to discussthe climate, President Lula himself admitted that“zero deforestation” is impossible.

The Amazon deforestation calendar ismeasured between August of one year and Julyof the next year. The Inpe Prodes Project data,which conducts its monitoring by means ofsatellites, points to a growth in the deforestationrate until 2003-2004, which had a 27,772 km2

deforestation, and then a fall until 2006-2007,when the rate was 11,633 km2 (a 42% reduction).However, in the last year, the report states thatdeforestation grew again, jumping to 12,911 km2

(an 11% increase).Suzana Kahn stresses the importance of

inspections in the fight against deforestation,but says that the implementation of laws against

Nat

aliy

a H

ora/

Dre

amst

ime

Yu Qintai, Chineserepresentative:

�Kyoto �is notnegotiable�. If we

ignore theagreement, we

eliminate the basefor negotiations�

Page 18: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

18 Novembro/November 2009

Cover

18 Novembro/November 2009

non-certified products is also an efficientmechanism in this process. Yet the Amazon isnot the only green Brazilian threatened area. In2006, the MMA issued the Vegetal Cover Mapsof the Brazilian Biomes, detailed studies on theconserved areas of the Brazilian biomes,conducted as from satellite images. The datashow that Pantanal is the best conservedbiome, with 88.7% of its native vegetal coverintact. Amazon comes second (85%), followedby Caatinga (62.6%), Cerrado (61.1%), Pampa(41.3%) and the Atlantic Rainforest (27.44%).

Cerrado, known for its biodiversity, was leftout of the agro-ecological zoning implementedby the federal government in September thisyear. The zoning protects the Amazon, Panta-nal and the Upper Paraguay Basin, but foreseesan increase of 6 million ha of the area plantedwith sugar cane in the next years (today, Brazilhas 7 million), to be allocated in “degradedareas” in the States of Minas Gerais, Goiás, SãoPaulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul andParaná.

Also in September this year, numbersdisseminated by the MMA show that, between2002 and 2008, 127.6 thousand km2 weredeforested in the Cerrado, an average of 21,260km2 a year – more than the double of the Amazondeforestation, according to the Inpe data. Thismeant an average emission of 350 million tonsof CO

2 a year, more than half of the 507.4 million

tons of CO2 emitted by the Amazon in 2007.

CDMBesides a reduction in deforestation, no

carbon emission control goal is possible wi-thout clean development mechanisms andpublic policies that change the industry andthe citizens’ culture. There are several initiativesin this direction in Brazil today. In April thisyear, the State of São Paulo Secretariat for theEnvironment, for instance, started 21 envi-ronmental projects focusing on the cooperationamong government, NGOs and the private sectorto attain goals that go from sewage treatmentto incentives to ecotourism. One of the projectsaims to replant and reforest 180 thousand ha ofAtlantic Rainforest, which is equivalent to 50%of the biome area in the State.

Another good example are the Payment forEnvironmental Services (PSA) programs –agriculturalists and land owners are paid forconserving water and forests in their estates.In the Extrema (MG) municipality, 49 landowners are now paid an amount varying from

By 2010, China is estimated to have increased itsemissions by 600 million metric tons of carbon

Nat

aliy

a H

ora/

Dre

amst

ime

Page 19: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

19

Cover

19

R$ 75 to R$ 169 per ha/year in exchange forconserving the forest and the soil in their lands.The municipal government is also consideringto remunerate these farmers for soil carbonsequestration.

There are already PSA projects also in Espí-rito Santo, Amazonas and São Paulo. In June,the federal government sent a Bill to the Con-gress instituting the Payment for EnvironmentalServices Federal Program, establishing a fundto finance PSA actions. According to a BrazilianAgricultural Research Corporation (Embrapa)study, the environmental services rendered bythe Pantanal ecosystems alone are alreadyworth R$ 112 billions.

Another measure of the kind is the Y IkatuXingu campaign, which established apartnership between the NGO Socio-Envi-ronmental Institute (ISA) and farmers in theXingu region in Mato Grosso. The aim is toreforest areas deforested by agribusiness. ByFebruary, 200 ha had already receivedrestoration work, being 75 with mechanizedseeding, 55 with natural planting and 70 withfencing for natural regeneration.

“As 63% of our emissions are caused bydeforestation, I think Brazil will internationallymake a reduction commitment”, states FábioFeldmann, ex-Congressman and a consultantin environmental issues. “But I believe Brazilshould also establish goals concerning othersectors, such as transportation, energy andindustry. We have about 4,500 clean develop-ment projects, among which less than tenconcern transportation. In the building sector,the number is also small. I think the ideal wouldbe to establish an additional model that allowseach sector to obtain their own mechanisms toreduce emissions”, advocates the consultant.

There are 416 CDM projects approved bythe UN in Brazil nowadays, which makes us thethird country in number of projects, just behindChina and India: 48.8% refer to renewableenergy; 9% to landfills; 10% to fossil fuelreplacement; and 16.1% to sow breeding (fightagainst the emission of methane from decan-tation ponds). The energy projects today gene-rate 3,557 megawatts, a rate corresponding to alarge hydropower plant generation. The majorpart (1,290 MW) comes from medium-sizedhydropower plants, followed by biomass coge-neration (1,211 MW) and by small hydropowercentrals, or PCHs, with 807 MW.

Yet all this is not enough. The 2020 Sustai-nable Power Agenda report, conducted by a

Ale

xand

re F

agun

des

De

Fag

unde

s/D

ream

stim

e

team of University of Campinas (Unicamp)specialists, ordered by WWF-Brazil, and issuedin 2006, shows that Brazil could save 50% ofthe energy it consumes today: 30% with conser-vation programs, 10% by the repotentiation ofold plants and 10% by reducing the losses intransmission lines. It also reveals that thedemand for electric power in Brazil will morethan double between 2004 (calculations baseyear) and 2020. In the same period, theconsumption of oil (from 2% up to 5%) and ofnatural gas (from 5% up to 10%) will also growin the energy matrix. Conversely, the use of windenergy will grow from 0 to 6%.

DECISION TIMEAt the end of the meeting in Bangkok, Kim

Carstensen, leader of the WWF’s ClimateInitiative, made an appeal to the Heads of Statefor going to Copenhagen and for showing theworld the will to negotiate. American PresidentBarack Obama said he will be present if, untilthen, a real scenario is set that requires hispresence. Brazil will have the presence ofSenator Marina Silva and of the Minister of theCivil Cabinet, Dilma Rousseff (the latter not yetconfirmed). Questioned about his presence,Lula said he will “very likely” be in Copenhagen.

Those who get to the Danish capital, how-ever, will have to face diplomatic problems andthe disbelief of politicians and environmen-talists who are skeptical about the success ofthe conference. A last preparatory meeting inBarcelona in early November will be the final

Braziliancommitment:

reducingemissions by

between 36.1%and 38.9%, in

relation to whatthe country would

emit in 2020 ifnothing was done

Page 20: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Cover

20 Novembro/November 2009

A NEW KYOTO

The Kyoto Protocol may be forgotten in Copenhagen.Even though this news may be received with alarmism, it isalso interpreted by some environmentalists as a chance ofestablishing a new treaty that covers points in which Kyotomay be considered deficient.

The first item in the revision list would be the lack ofequanimity in the distribution of goals among the signingcountries. The Eastern Europe countries, for instance, onlysigned the protocol because their economic stagnation, dueto the collapse of the Soviet Union, allowed their emissionreduction without implementing any public policy for that.Russia, in turn, was exempted of any obligation to reduce itsemissions.

The case of China is even worse. Just as Russia (and India,too), the country was not given any emission goal in thedocument. And it became the greatest polluter in the world,increasing its CO

2 emissions by

105% between 1996 and 2006.

By 2010, China is estimated to have increased its emissions by600 million metric tons of carbon, which is more than five timesthe total sum of reductions that the Kyoto signing countriescommitted to make. The forecasts are pessimistic: accordingto an analysis by the Journal of Environmental Economicsand Management issued in 2008, CO

2 emissions in Asia are

estimated to grow at an average of 11% or more in the nextyears.

Besides leaving these important developing nations out,Kyoto failed to be ratified by the United States (USA), too.The American justification is exactly that an agreement forreducing global emissions today cannot fail to include themajor developing nations. Since the George W. Bushadministration, the country argues that it can only commit to agoal if these nations are included in the agreement. In 1997,the American Senate even unanimously approved a resolutionstating that the USA would refuse to participate in any treatythat failed to involve developing countries, as well. In case ithad ratified Kyoto, the country should attain a 7% reductionby 2012. Instead, it increased its emissions by the same rate,between 1996 and 2006, and is now the second major CO

2

emitter in the world.The numbers show the importance that the countries

mentioned now have in the gases emission world scenario.According to an International Energy Agency report, withdata referring to 2006, the five top CO

2 emitters in the world

(China, USA, Russia, India and Japan, in this order) correspondto nearly 60% of the global emission.

Another point that could be improved is the means for

controlling greenhouse gas emissions. Kyoto only stimulates“caps”, that is, emission limits. Some environmentalists state that,as the scope of these limits requires large financial investments,which could affect the countries’ economies, rulers eventuallyadopt incomplete or little effective policies in this respect. Manyeventually prefer buying carbon credits from other nations – asystem established by the protocol that, in the opinion of someenvironmentalists, allows these nations to keep on polluting. Inthe international market, each tons of greenhouse gas avoidedallows a carbon credit.

A tax on carbon emissions may be more efficient because, asthey would increase the companies’ budgets, they would stimulateinvesting in more sustainable methods, instead of expecting thisto occur due only to the existence of a goal – the attainment ofwhich has no greatest consequences for the nations that adheredto the Kyoto Protocol. In order to work, the tax would have to becharged globally and on a similar calculation base for each country.

Roberto Smeraldi, director of the non-governmentalorganization (NGO) Friends of the Earth, is in favor of both thecaps and the tax. “That would be enough [on the part ofgovernments]; the market alone would do the rest.” Smeraldi alsostates that, in case the caps were made compulsory, the need toreduce emissions would cease to be considered an “economicevil” (as it is today due to its cost). “It would turn to be anopportunity, as the cost of the tons of carbon would be consi-derably high.”

The suggestions, whether they are accepted or not, constitutethe most polemical agenda of the discussion on the reformulationof Kyoto, a treaty established in 1997, when the environmentaland economic scenarios were very different. The need of changes,however, may be considered maintenance. After all, Kyoto broughtthe world’s attention to the climate issue at a time when the issuewas not even discussed. With the treaty and the subsequentUNFCCC meetings, which generated the protocol, environ-mentalists witnessed the continuity of the discussion on climatein the political environment and the growth of its importance inthe public sphere.

At the same time, the protocol led some countries to invest innew energy technologies. According to the study RenewableGlobal Status Report 2009, of the international organism REN21,from 2005 to 2008, energy production from photovoltaic panels inthe world nearly quadrupled, jumping from 3.5 GW to 12.5 GW.Not by chance, the major investor in the technology is Germany,a country which, as stated by the 2007 UNFCCC report, hadreduced its carbon emissions by 19% in 2004, being that its goalfor 2012, according to the Kyoto Protocol, is 8%.

Page 21: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

21

Cover

21

chance for nations to reach a previous con-sensus.

The Copenhagen hindrances, as explained,are still the resistance of developed countriesto sign an agreement that does not includedeveloping countries and developing countriesrequiring large amounts of funds from develo-ped countries to finance their mitigation pro-grams.

The Kyoto Protocol, however, is still pre-sented as the sole possible base for forming anew agreement, since it is the only global treatyon climate which establishes numericalmitigation goals. Moreover, it also carries thesymbolic value of being a document congre-gating the participation of 184 nations. As itsdeadline for reducing global emissions by 5.2%only ends in 2012, it is at least guaranteed thatthe discussion will be kept kindled and relevantuntil then, independently of what happens inCopenhagen.

In a speech in an economic forum in Londonin late October, Gordon Brown said – and waslater supported by the special USA envoy forClimate Change, Todd Stern – that “there is noplan B” for a world agreement for cuttingemissions. “We cannot afford to fail. If we actnow, if we act together, if we act with vision andresolve, success in Copenhagen is still withinour reach. But if we falter, the Earth itself will beat risk”, said the Prime Minister.

Sao Paulo: 21environmental

projects focus onthe cooperation

amonggovernment,NGOs and the

private sector

So as to meet its commitment, theBrazilian government intends to

reduce deforestation in the Amazonby 80% and that of Cerrado by 40%

Ant

onio

De

Aze

vedo

Neg

rão/

Dre

amst

ime

Jona

tha

Bor

zicc

hi/D

ream

stim

e

Page 22: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

22 Novembro/November 2009

Entrevista

SUSTENTABILIDADECOM RACIONALIDADESuzana Kahn, secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental,diz que meta brasileira em Copenhague não terá impasse e que pré-sal nãoé ameaça para biocombustíveis

uzana Kahn Ribeiro está na linha de

frente do planeta contra o aquecimen-

to global. Secretária de Mudanças Cli-

máticas e Qualidade Ambiental do Ministério

do Meio Ambiente, a professora recebeu o

Prêmio Nobel da Paz em 2007, junto com os

outros profissionais do Painel Intergover-

namental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)

da Organização das Nações Unidas, grupo

de 2.500 cientistas de que ela faz parte e do

qual, na época, era a única mulher brasileira.

O prêmio laureou um relatório do grupo

que apresentava alternativas para a redução

de emissões de gases causadores do efeito

estufa no setor de transportes. Mais de dois

anos depois, Suzana continua focada no tema

da mitigação e é hoje um dos nomes direta-

mente envolvidos com as questões climáti-

cas que tangem a participação brasileira no

cenário mundial.

Entre essas questões está, é claro, a meta

brasileira a ser defendida em Copenhague.

Otimista, a secretária acredita que, além de

sólida, a meta será consensual e que o Brasil

tem chances de ser um dos grandes líderes

da conferência. Nesta entrevista para a Re-

vista Brasileira de Bioenergia – concedida

poucos dias antes de o governo brasileiro

anunciar a proposta que levará para Copen-

hague (redução de emissões de gases entre

36,1% e 38,9%) –, Suzana fala sobre desma-

tamento, bioenergia, políticas públicas e da

importância da participação do consumidor

na luta pela sustentabilidade.

RBB – A meta de 40% na redução das emis-

sões brasileiras, proposta pelo Ministério do

Meio Ambiente, sofreu a resistência de ou-

tros ministérios. Corremos o risco de ir para

Copenhague com um impasse?

Suzana Kahn – Acho que não porque, na

realidade, não é que os outros ministérios te-

nham se oposto à nossa meta. O que foi pe-

dido foi um maior detalhamento dessa redu-

ção. Como quando a gente propõe uma re-

S“

O Brasil hojetem um

programa debiocombustíveis

que é umexemplo para o

mundo todo

Fotos: divulgação

Page 23: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

23

Entrevista

dução de emissões, ela impacta outros seto-

res, é natural que os outros setores também

se pronunciem, se manifestem. Então, quan-

do a gente diz que vai diminuir o desmata-

mento no Cerrado, por exemplo, sendo ele

uma das áreas agrícolas mais importantes do

Brasil, o Ministério da Agricultura tem de

analisar se realmente isso não vai compro-

meter o crescimento de produção, etc. Basi-

camente, o que está sendo feito são a checa-

gem e a verificação desses números com

outros políticos do próprio governo. Estamos

decompondo esse número que propomos em

40% até 2020.

RBB – A senhora mencionou o Cerrado. Ele

não está protegido pela ‘Lei de Zoneamento

Agrícola’? Como vocês estão lutando por ele?

Suzana – Há uma série de medidas separa-

das. Temos a moratória da soja e o rastrea-

mento de pecuária, ambos vão diminuir bas-

tante a pressão em cima do Cerrado. Tam-

bém há a discussão sobre a melhoria de pro-

dutividade da agricultura, sobre as melhores

práticas do setor agrícola, enfim, todas es-

sas medidas, além da fiscalização que, evi-

dentemente, faz com que diminua a pres-

são. E foi lançado no mês passado [outu-

bro] o que a gente chama de PPCerrado, que

é o Plano de Proteção ao Cerrado. Como

acabou de ser lançado, a gente espera que os

resultados sejam tão bons como têm sido os

do PPCDAm [Plano de Ação para Preven-

ção e Controle do Desmatamento na Ama-

zônia Legal], que está fazendo com que o

desmatamento seja reduzido de fato.

RBB – Mas, mesmo assim, tem muita gente

que acredita que a plantação agrícola de bio-

combustíveis vai crescer para o Cerrado...

Suzana – Ainda temos muitas áreas degra-

dadas [que podem ser usadas]. Você pode

recuperar pastagens. É necessário fazer um

mapeamento de tal forma que o aumento de

produção de grãos ou de oleaginosas para

biocombustíveis e alimentos não implique o

aumento da área agrícola. Para isso, a gente

tem de ver quais as áreas disponíveis, quais

as áreas degradadas que já existem, quais as

áreas que podem ser recuperadas e quais as

áreas que podem ser mais bem aproveita-

das. Tudo isso faz parte desse pacote.

RBB – Nós temos pesquisas brasileiras de-

senvolvidas sobre técnicas que permitem

otimizar a produção de bioenergia, como a

gaseificação da palha de cana e a hidrólise

enzimática de bagaço. Como o Ministério

apoia essas iniciativas?

Suzana – Quando falamos desse desvio [da

curva de emissões], parte já é considerando

que será exatamente por conta de um pro-

grama de biocombustível ainda mais agres-

sivo do que o que a gente já tem. O Brasil

hoje tem um programa de biocombustíveis

que é um exemplo para o mundo todo. Para

a gente continuar avançando, de fato, temos

de entrar também em outras áreas e até em

outros mercados. E aí a gente vê que o mer-

cado de energia elétrica é um mercado fun-

damental, devido ao crescimento da popula-

ção e da demanda por energia elétrica. A gente

quer que a oferta seja fundamentalmente de

base renovável. E uma das fontes que a gen-

te vê que é capaz de atender a esse cresci-

mento é a biomassa. E por biomassa a gente

entende a gaseificação da palha, o melhor

aproveitamento do bagaço, etc. Estamos até

avaliando a possibilidade de o Brasil apresen-

tar uma Nama – Ações Nacionalmente Apro-

priadas de Mitigação – específico pra esse

setor. E essa será exatamente a ação que vai

É necessáriofazer um

mapeamentode tal forma

que oaumento deprodução degrãos ou deoleaginosas

não impliqueaumento daárea agrícola

Page 24: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

24 Novembro/November 2009

Entrevista

deslumbrar essa possibilidade e outros usos

de biomassa.

RBB – Biocombustíveis e fontes de energia re-

novável em geral correm risco com o pré-sal?

Suzana – Não. Nem as fontes renováveis

correm risco com o pré-sal, nem o pré-sal

corre risco com as fontes renováveis. A pres-

são pelo aumento da necessidade de energia

é muito grande. Países emergentes como

Brasil, China e Índia vão precisar de muita

energia. Acho que há espaço para todas es-

sas fontes. O petróleo vai continuar sendo

muito importante na matriz energética de

qualquer país, não há um cenário projetado

em que ele não seja usado. Mas não vai ser

suficiente. Você terá aumento de demanda

por energia tão expressivo que eu acho que

surgirá espaço muito grande tanto para o

crescimento dos renováveis como para a

utilização de petróleo.

RBB – A Suécia anunciou planos de se tor-

nar independente de combustíveis fosseis até

2020. O Brasil ainda está longe dessa reali-

dade, mas isso é possível para um país em

desenvolvimento?

Suzana – Não. Não ter combustível fóssil é

muito difícil. Por mais que você tenha toda

uma base hidrelétrica de geração de energia

como o Brasil tem, é preciso algum tipo de

complementação. Muitas vezes, você não

tem o regime de chuvas que vai ser adequa-

do, então você vai precisar de uma compen-

sação termoelétrica. Você não consegue sus-

tentar o crescimento do país todo só com

renovável, é muito difícil. O que a gente quer

fazer, e eu acho que isso é muito importante,

é ter o mínimo possível. Usar da melhor for-

ma possível nosso potencial renovável.

RBB – O ‘ranking’ da Nota Verde para os

carros poluidores, divulgado no ‘site’ do Mi-

nistério do Meio Ambiente, sofreu algumas

críticas porque não leva em conta as emis-

sões de CO2. Isso não pode levar a resulta-

dos deturpados?

Suzana – Na verdade ele tem esse critério

também, só que separado. Você tem o que a

gente chama de Nota Verde e Nota Verme-

lha. Talvez o nome tenha sido meio infeliz.

Mas, na Nota Vermelha, há exatamente as

emissões de CO2 e, na Nota Verde, os

poluentes regulamentados. Só que as pesso-

as acabaram se fixando só nos regulamenta-

dos e não consideraram a outra nota. A pró-

pria imprensa chama a atenção só para a Nota

Verde, até porque, na Nota Vermelha, não há

muita variação. Se o carro é a álcool, a gente

considera a emissão como zero, não tem

muita novidade. Porém, exatamente para

contemplar melhor essa questão do álcool,

do etanol e dos gases do efeito estufa, a gen-

te está reformando o sistema e devemos apre-

sentar no final de novembro outra forma de

hierarquização, juntando os dois lados. O lado

de gases que não são poluentes, mas são ga-

ses do efeito estufa, e os regulamentados. A

gente vai juntar as duas notas numa só e di-

vulgar a nova fórmula. Mas todas as infor-

mações já estão acessíveis.

RBB – O ranking também apontou os car-

ros ‘flex’ movidos a álcool como os mais

poluidores. Especialistas dizem que a expli-

cação para o desempenho do álcool se deve,

em parte, ao fato de o motor ‘flex’ ser mais

adequado à gasolina, pois o mercado mun-

dial não utiliza o etanol. Isso significa, na

prática, que a indústria brasileira de etanol

é refém da indústria automobilística inter-

nacional?

Suzana – Não. O veículo flex é um carro

Nem asfontes

renováveiscorrem

risco como pré-sal,

nem opré-sal

corre riscocom asfontes

renováveis

Page 25: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Entrevista

tipicamente brasileiro, país em que você tem

essa mistura tão grande que pode escolher

abastecer com qualquer combustível. Acho

que isso mostra que a indústria procura real-

mente atender o mercado em que ela está. É

uma questão apenas de você adequar me-

lhor o motor, porque é natural que um carro

que roda com qualquer combustível não seja

otimizado para nenhum especificamente.

Seria realmente muito difícil otimizar porque

você nunca sabe como o seu consumidor

vai abastecer. Você tem de fazer uma média.

Mas não se esperava também que a grande

parte do consumo se desse usando álcool.

Então, acho que isso é bastante trivial de se

ajustar. Se formos analisar o resultado da

Nota Verde, a diferença entre um e outro às

vezes é de centésimos. Então, um é melhor

do que o outro e, às vezes, chama bastante a

atenção. No entanto, se for ver o quanto é de

diferença, é quase nada. O objetivo de fazer

esse ranking é estimular a melhoria, o desen-

volvimento tecnológico, a inovação. E é por

isso que a gente quer que, cada vez mais, te-

nhamos padrões mais rigorosos, é assim que a

tecnologia está avançando. A ideia é exatamen-

te essa. Mas não há disparidade entre um

carro flex rodando com álcool ou gasolina.

RBB – A nova fase do Proconve estabelece

alguns novos limites para emissão de polu-

entes que entram em vigência em 2013 para

veículos a diesel e 2014 para veículos a ga-

solina. Mas esses níveis vão ser mais tole-

rantes dos que os que a Europa tem hoje.

Por que esse atraso?

Suzana – À medida que estamos avançando

e criando essas novas fases, estamos nos

aproximando cada vez mais do melhor pa-

drão. Agora, é natural que a gente esteja um

pouco mais atrasado que a Europa e os Es-

tados Unidos, até por conta do nosso poder

aquisitivo, que não é o mesmo que o de um

europeu. A gente não tem o mesmo padrão

de consumo que a Europa tem. Então, que-

rer comparar e exigir que o Brasil esteja no

mesmo patamar que a Europa é irreal. Ter

isso como objetivo é muito saudável, é o que

a gente tem e, ao longo do tempo, a gente

vai se aproximar cada vez mais. Mas é natu-

ral que o país menos desenvolvido esteja sem-

pre um pouco atrasado, porque a tecnologia

é mais cara. O combustível na Europa tam-

bém é melhor do que no Brasil. Isso também

atrasou bastante. Alguns motores exigem um

combustível de uma qualidade que a gente

ainda não produz no Brasil. Tudo isso pro-

voca essa defasagem que estamos procuran-

do diminuir cada vez mais.

RBB – Então, se o governo resolvesse ser

radical e adotasse os mesmos níveis da Eu-

ropa hoje, não adiantaria?

Suzana – Não adiantaria, até porque a gente

não tem combustível para isso. Não é só o

carro, são o carro e o combustível. É isso

que vai resultar em um determinado nível de

emissão. Se você tem um veículo e não tem

o combustível, não vai adiantar, e vice-ver-

sa. A Petrobras está se preparando para pro-

duzir o combustível de melhor qualidade. É

por essa combinação que a gente conseguiu

marcar essas fases, essas datas, para que

todos comecem a se preparar. Não só o fa-

bricante do combustível, Petrobras, mas tam-

bém as distribuidoras, que vão ter de passar

a distribuir um novo tipo de combustível tam-

bém. Isso implica custos, adaptação, logís-

tica, em uma estrutura toda. Tudo isso de-

mora certo tempo.

RBB – A senhora considera o programa de

O petróleo vaicontinuar

sendo muitoimportante na

matrizenergética dequalquer país(...) Mas não

vai sersuficiente

25

Page 26: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

26 Novembro/November 2009

inspeção veicular da cidade de São Paulo

um exemplo a ser seguido?

Suzana – Todos os programas de inspeção

veicular têm muito a melhorar. Eu acho que

o grande problema nesse programa acaba

existindo no fato de você verificar os carros

que menos têm problema. Mas o que tam-

bém é compreensível, porque os carros

muito velhos, na verdade, deveriam estar

sendo sucateados. E aí você entra num ou-

tro problema, que muitas vezes é social, e

acaba punindo quem tem veículo muito ve-

lho. O que eu acho disso tudo é que o foco

acaba sendo um grupo de veículos que ain-

da não têm um nível de emissão tão elevado

como outros que estão circulando. Nesse

sentido, o programa sozinho não pode fazer

muito. É preciso ter fiscalização associada,

para que realmente os carros que não tive-

rem passado pela inspeção sejam removidos,

multados, etc. Porque, o que acaba aconte-

cendo, não tendo repressão do outro lado, é

que o veículo que sabe que não vai passar

naquele teste nem comparece à inspeção e

acaba circulando irregularmente. Se não ti-

ver repressão, fiscalização, isso não vai ser

coibido.

RBB – Foi necessária uma denúncia do

Greenpeace neste ano para que os maiores

frigoríficos do Brasil se comprometessem a

não comprar carne de fazendeiros que

desmatam a Amazônia. Por que é tão difícil

combater a pecuária irregular?

Suzana – Realmente, é muito difícil fiscali-

zar esses produtos dos setores agrícola e de

pecuária quando se tem um país do tamanho

do nosso e quando não se tem o que é fun-

damental, a regularização fundiária. Muitas

vezes, não há como multar o fazendeiro por-

que nem se sabe se ele é o dono da terra. Há

uma coisa muito básica que se precisaria fa-

zer: regularizar, ver a posse da terra, saber

quem é dono de quê. E monitorar tudo isso,

o que não é uma coisa tão simples assim,

porque você precisa de fato saber de quem é

a culpa. A regularização fundiária vai dar mais

facilidade para coibir esse tipo de prática. E

eu acho que a tendência é essa, você cada

vez mais ter o controle do seu produto. Mas

isso também faz parte da cultura e da educa-

ção do próprio consumidor. Quantas vezes

as pessoas também não compram carvão

para fazer um churrasco sem se preocupar

se aquele carvão é de origem certificada ou

não? A maior parte da madeira ilegal é

consumida em São Paulo. Será que as pes-

soas têm consciência, ao comprar um mó-

vel, de verificar se aquilo é certificado, se

não vem de desmatamento? Essa parte edu-

cacional também é muito importante porque,

na hora em que ninguém mais comprar, aí a

outra ponta pode se adequar. Acho que a

cadeia toda precisa estar consciente e co-

brando, desde o consumidor.

É muito difícilfiscalizar (...)

quando se temum país dotamanho do

nosso e quandonão se tem o

que éfundamental, aregularização

fundiária

Entrevista

Page 27: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

27

E

Meio Ambiente

�CÓDIGO FLORESTAL�EM DISCUSSÃO

Fotos: Amorim Leite

Agricultores e ambientalistas procuram ponto de equilíbrio nodebate sobre a nova alteração das leis ambientais

m meados de novembro, espera-se co-locar fim a uma discussão acaloradaque, no segundo semestre deste ano,

mexeu com organizações não governamentaisambientalistas e ruralistas. Trata-se do pacotede alteração do Código Florestal, apresentadopelo ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente(MMA). Suas propostas foram mais uma etapano debate promovido no País para buscar equi-líbrio entre a evolução do agronegócio e a pre-servação do meio ambiente. Aprovado em 1965,o Código Florestal atualmente em vigor prevêa existência de áreas de preservação permanen-te (APPs) – por exemplo, zonas de mananciais,encostas com mais de 45 graus de declividade,manguezais ou matas ciliares – e estabelece anecessidade da “reserva legal” – parcela den-tro de qualquer propriedade rural cujo uso deveser feito de forma sustentável. O código sofreualterações ao longo dos anos. A principal delasfoi em 2001, no governo de Fernando HenriqueCardoso. Atualmente, a porcentagem de áreadestinada à reserva legal varia de acordo com aregião: são 80% para a Amazônia, 35% para obioma cerrado dentro da Amazônia Legal e 20%para o restante do País.

Segundo Cesário Ramalho, presidente daSociedade Rural Brasileira (SRB), “aproximada-mente 90% da propriedade rural no Brasil nãoestá adequada à legislação”. O governo atualprometia começar em janeiro de 2009 a aplica-ção de multas aos proprietários rurais que nãoaverbassem e regularizassem suas reservas le-gais. Pressionado pela alegação dos agriculto-res de que o prazo era muito curto, o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva assinou, em dezembrode 2008, um decreto fixando o dia 11 de dezem-bro de 2009 como nova data. O recente pacoteproposto por Carlos Minc, desenvolvido emconjunto com representantes do setor rural, es-tipula adiamento de mais seis meses. “Não sepode ter uma legislação feita em 1965, quando o

Page 28: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Meio Ambiente

Brasil tinha uma agricultura extrativa e de sub-sistência, e fazer valer essas mesmas regrasquarenta anos depois”, reclama Ramalho.

Duas medidas contidas no novo pacote sãoas cotas de reservas legais — um produtor podecomprar excedentes de florestas cultivadas poroutro proprietário — e a desoneração para pro-prietários que comprarem e doarem à União ter-ras em unidades de conservação. “Esses ins-trumentos atendem basicamente os médios egrandes proprietários”, diz João de DeusMedeiros, diretor do Departamento de ÁreasProtegidas do MMA. Para os pequenos propri-etários, uma nova concessão do governo é apermissão de práticas agrícolas, com algunscuidados ambientais, em APPs. Raul do Valle,coordenador do Instituto Socioambiental (ISA),ressalta que as APPs continuam sendo APPs,pois continuam tendo restrições de uso. “Masnão são áreas que precisam ter só vegetaçãonativa. Será permitido o uso agrícola regulado”,completa. Outra medida do documento, especi-almente favorável a pequenos proprietários, éque, em propriedades de até 400 ha na Amazô-nia ou 150 ha nas demais regiões, a reserva le-gal será somada com a APP.

�MAIS AMBIENTE�O pacote exclui a possibilidade de delegar

aos governos estaduais a questão ambiental.Ramalho afirma que essa ideia é defendida for-temente pela SRB. “O princípio básico deve partirdo governo federal, mas quem deve determinare aplicar a política são os Estados brasileiros.Cada Estado tem uma peculiaridade. Não sepode ter, de maneira alguma, a mesma políticaambiental em Santa Catarina, Bahia, Pará e RioGrande do Sul.”

Outra medida que o pacote descarta é a anis-tia a proprietários de regiões já desmatadas paraque elas sejam usadas na agricultura. Ramalhoacredita que a anistia seria favorável ao País.Segundo ele, se o atual código fosse cumpridoà risca, o Estado de São Paulo perderia, aproxi-madamente, R$ 5 bilhões de faturamento porano. “Todo o café de encostas seria perdido.Há lavouras de café que têm cem anos. Quantaspessoas ficariam desempregadas se não acei-tássemos as áreas consolidadas?” Lavouras decafé, no entanto, além de plantações de maçã euva, poderão ser mantidas em encostas confor-me o texto elaborado pelo MMA. Para Raul doValle, o impacto da anistia total seria duplamen-te negativo. “Se o proprietário deixar de serobrigado a recuperar áreas ambientalmente sen-

síveis, seja a reserva legal, sejam as APPs, su-miria o único fator que pode fazer com que es-sas áreas sejam recuperadas. Outra conse-quência seria o incentivo ao desmatamento ile-gal nas áreas que ainda estão cobertas. A leitu-ra social das anistias é esta: ‘Faça o que vocêquiser, pode atuar na ilegalidade, porque daquia alguns anos virá outra anistia para reconhe-cer que não tem como voltar atrás’. A gente nãorecupera o que foi devastado e não conseguemanter o que ainda está preservado.”

Para Ramalho, não se deve polarizar a dis-cussão e transformá-la em uma contenda entreruralistas e ambientalistas. “Precisamos ter equi-líbrio e promover um debate para uma nova le-gislação que faça com que o produtor rural con-tinue produzindo com sustentabilidade e cre-dibilidade. Não podemos defender produto quenão tem certificação, que não tem reconheci-mento, cuja produção agride o meio ambiente.”

De acordo com João de Deus, para facilitaro lado dos agricultores, o MMA está desenvol-vendo o programa Mais Ambiente. “Essa é aalternativa para que todos os proprietários quetenham passivos com relação à questão ambien-tal, tanto no que tange à averbação como tam-bém às áreas para recuperar, possam seguir umprocedimento padrão para a regularização”, ex-plica Medeiros. A adesão ao programa funcio-naria como uma espécie de termo de compro-misso. O compromisso do proprietário de pro-mover as ações que o programa determina jáliquidaria o passivo que ele tem. “Não é umaanistia. Como a lei já prevê que, quando autua-do, o proprietário tem um prazo e assume umcompromisso, o programa facilitaria o procedi-mento”, conclui Medeiros. Para agricultores fa-miliares e pequenos proprietários, o Mais Am-biente ofereceria assistência técnica, alémde recursos financeiros para auxiliar a regulari-zação. Se o pacote de medidas for aprovado, oproprietário rural terá longo período para regu-larizar sua situação depois de assinar o termode compromisso: vinte anos.

Reserva legal:uso de maneirasustentável

28 Novembro/November 2009

POLÍTICA DEMUDANÇAS CLIMÁTICAS

Desde o dia 9 de novem-bro, vigora no Estado deSão Paulo a Política Esta-dual de Mudanças Climá-ticas (Pemc), que temcomo meta a redução, emtodos os setores da eco-nomia, de 20% da emis-são de gases de efeito es-tufa até 2020, tendo porbase o ano de 2005. Apartir dessa lei, explicaJosé Serra, governador doEstado, �São Paulo emiti-rá 24 milhões de t a me-nos de CO2. A meta é ou-sada e implicará mudan-ças de comportamentonas áreas privada e públi-ca. O poder público tam-bém tem que se progra-mar para isso.�

Page 29: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

29

B

29

The Environment

�FOREST CODE�UNDER DISCUSSION

Photos: Amorim Leite

Agriculturists and environmentalists seek a balance point in thedebate on the new alterations to the environmental laws

y mid November, an end is expected fora heated discussion that, in the secondhalf of this year, affected both environ-

mentalist and ruralist non-governmental orga-nizations. It is a package for altering the ForestCode, presented by Minister Carlos Minc, of theMinistry for the Environment (MMA). His pro-posals were one more stage in the debate pro-moted in Brazil to seek a balance between theevolution of agribusiness and the preservationof the environment. Approved in 1965, theForest Code now in force provides the existenceof permanent preservation areas (PPAs) – forexample, water source zones, hillsides with over45-degree declivity, mangroves or riversidevegetation – and establishes the need of “legalreserves” – a parcel within any rural estate, theuse of which must be made sustainably. Thecode underwent alterations along the years. Themain one was in 2001, in the Fernando HenriqueCardoso government. Today, the percentage ofarea destined to the legal reserve varies accor-ding to the region: 80% for the Amazon, 35%for the cerrado biome within the Legal Amazonand 20% for the rest of the country.

According to Cesário Ramalho, CEO of theBrazilian Rural Society (SRB), “approximately90% of the rural estates in Brazil do not complywith the legislation”. The present governmentvowed to start fining, in January 2009, the ruralestate owners that failed to register and to lega-lize their legal reserves. Pressed by the agri-culturists’ allegation that the deadline was tooshort, in December 2008, president Luiz InácioLula da Silva signed a decree establishingDecember 2009 as the new deadline. The recentpackage proposed by Carlos Minc, jointly de-veloped with rural sector representatives, stipu-lates a postponement of six more months. “Onecannot have a legislation made in 1965, whenBrazil counted on extractivist and subsistenceagriculture, and keep the same rules in force

Page 30: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

30 Novembro/November 2009

The Environment

forty years later”, complains Ramalho.Two of the new package measures are the

legal reserves shares — a producer may buysurpluses of forests cultivated by anotherowner — and the exoneration for owners thatbuy and donate lands in conservation units tothe Federal Union. “These instruments basicallyserve medium and large owners”, says João deDeus Medeiros, director of the MMA Depar-tment of Protected Areas. For small owners, anew government concession is the permissionfor agricultural practices, with some environ-mental concerns, in PPAs. Raul do Valle,coordinator of the Socio-EnvironmentalInstitute (ISA), points out that the PPAs arestill PPAs, as they keep having restricted use.“But they are not areas that need to have solelynative vegetation. Regulated agricultural usewill be allowed”, he adds. Another measure inthe document, especially favorable to smallowners, is that, in estates of up to 400 ha in theAmazon or of 150 ha in the other regions, thelegal reserve will be added to the PPA.

�MORE ENVIRONMENT�The package excludes the possibility of

delegating the environmental issue to the stategovernments. Ramalho states that this idea isstrongly advocated by the SRB. “The basicprinciple has to come from the federal govern-ment, but those that have to determine and toapply the policy are the Brazilian states. EachState has its own peculiarity. In no way can wehave the same environmental policy in SantaCatarina, Bahia, Pará and Rio Grande do Sul.”

Another measure the package discards isamnesty to owners of already deforested areasso that they can be used for agriculture.Ramalho believes that an amnesty would befavorable to Brazil. As he argues, if the presentlegislation were fully complied with, the Stateof São Paulo would lose revenue of about R$ 5billion per year. “All the coffee planted onhillsides would be lost. There are coffeeplantations of over 100 years of age. How manypeople would be unemployed in case we didnot accept the consolidated areas?” Coffeeplantations, however, besides apple and grapeplantations, can be kept on hillsides accordingto the text elaborated by the MMA. For Raul doValle, the impact of total amnesty would bedoubly negative. “If the owner is no longerforced to recover environmentally sensitiveareas, be it the legal reserve, be it PPAs, theonly factor that can make these areas be

recovered would vanish. Another consequencewould be an incentive to illegal deforestation inthe areas not yet covered. The social reading ofamnesties is the following: ‘Do whatever youwant, you can commit illegalities, as in someyears there will be another amnesty to acknow-ledge that there is no going back’. One cannotrecover what has been devastated and is notable to keep what is still preserved.”

For Ramalho, the discussion should not bepolarized or transformed into a dispute betweenruralists and environmentalists. “We must havea balance and promote a debate for a newlegislation so that the rural producer keepsproducing with sustainability and credibility.We cannot advocate a non-certified product,which is not recognized, the production of whichharms the environment.”

According to João de Deus, so as tofacilitate the agriculturists’ side, the MMA isdeveloping the Mais Ambiente (More Environ-ment) program. “This is the alternative for allowners having liabilities concerning the envi-ronmental issue, both concerning regularizationand areas to be recovered, to follow a standardprocedure for regularization”, explains Me-deiros. The adherence to the program wouldwork as a kind of term of agreement. Theagreement of the owner in promoting the ac-tions provided by the program would extinguishthe liabilities held. “It is not an amnesty. Asalready provided in the law, when sued, theowner has a deadline and makes an agreement,the program will facilitate the procedure”,concludes Medeiros. For family farmers andsmall owners, More Environment would providetechnical assistance, besides financial resour-ces to aid the regularization. If the package ofmeasures is approved, the rural owner will havea long period to regularize the situation aftersigning the term of agreement: twenty years.

30 Novembro/November 2009

Legal reserve:use in asustainable way

CLIMATECHANGE POLICY From November 9th on,the State Climate ChangePolicy (Pemc) is in forcein the State of São Paulo,which has as a goal to re-duce, in all economy sec-tors, 20% of the green-house effect gases emissionby 2020, considering theyear of 2005 as a basis.From this law on, explainsJosé Serra, governor of theState, �São Paulo will emit24 million less tons of CO2.The goal is daring and itwill implicate changes inthe behaviors of thepublic and private areas.The public power needsto prepare itself for that,as well.�

Page 31: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

31

Interview

31

S

SUSTAINABILITYWITH RATIONALITY

Suzana Kahn, Secretary of Climate Change and Environmental Quality,says that the Brazilian goal in Copenhagen will cause no impasse andthat pre-salt poses no threat to biofuels

uzana Kahn Ribeiro is in the planet

front-line against global warming.

Secretary of Climate Change and

Environmental Quality of the Ministry for the

Environment, the professor was granted the

Nobel Peace Prize in 2007, together with

other professionals of the Intergovernmental

Panel on Climate Change (IPCC) of the United

Nations, a group of 2,500 scientists of which

she is a member and, at the time, she was

the only Brazilian woman in it.

The prize was given to a report by the

group which presented alternatives for redu-

cing greenhouse gases emissions in the trans-

portation sector. More than two years later,

Suzana keeps focused on the mitigation issue

and is now one of the names directly involved

with climate issues concerning the Brazilian

participation in the world scenario.

Among these issues, of course, is the Bra-

zilian goal to be advocated in Copenhagen.

Optimistic, the secretary believes that, besi-

des solid, the goal will be consensual and

that Brazil has chances of being one of the

major leaders of the conference.

In this interview to the Revista Brasilei-

ra de Bioenergia – conceded few dies before

the Brazilian government announced the

proposal it will take to Copenhagen (reduction

of gases emissions between 36.1% and

38.9%) –, Suzana talks about deforestation,

bioenergy, public policies and about the im-

portance of consumers’ participation in the

fight for sustainability.

RBB – The goal for reducing 40% of the

Brazilian emissions, proposed by the Ministry

for the Environment, faced resistance by

other Ministries. Do we run the risk of going

to Copenhagen with an impasse?

Photos: dissemination

Brazil todayhas a biofuel

programwhich is anexample tothe whole

world

Page 32: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

32 Novembro/November 2009

Interview

Suzana Kahn – I do not think so because

the other ministries were not actually opposed

to our goals. We were just asked further

details on that reduction. Since when we pro-

pose an emission reduction, it impacts other

sectors, it is just only natural that the other

sectors also have something to say, and do

so. Therefore, when we say we are going to

reduce deforestation in the Cerrado, for

example, as it is one of the most important

agricultural areas in Brazil, the Ministry of

Agriculture, Livestock and Supply has to

analyze whether this is not really going to

hinder production growth, etc. Basically,

what is being done is the checking and

verification of these numbers with other

politicians in the government itself. We are

breaking down this number which we

propose to be 40% by 2020.

RBB – You mentioned the Cerrado. Is it not

protected by the ‘Law of Agricultural

Zoning’? How are you fighting for it?

Suzana – There are a number of separate

measures. We have the soybean moratorium

and the stockbreeding tracking; both are

going to markedly reduce the pressure on

the Cerrado. There is also the discussion on

agriculture productivity enhancement, on

better practices in the agricultural sector;

ultimately, all these measures, besides ins-

pection, which evidently makes the pressure

be soothed. And last month [October] what

we call PPCerrado was started, which is the

Cerrado Protection Plan. As it has just been

started, we expect the results to be as good

as those of the PPCDAm [Action Plan for

Preventing and Controlling Deforestation in

the Legal Amazon], which is making

deforestation be actually reduced.

RBB – Even so, there are a lot of people

that believe that the planting of crops for

biofuels is going to grow into the Cerrado.

Suzana – We still have many degraded areas

[that can be used]. Grazing lands can be re-

covered. It is necessary to conduct a mapping

so that an increase in grains or oleaginous

production for biofuels and for food does

not imply an increase in the agricultural area.

For this, it is necessary to see what the avai-

lable areas are, what degraded areas already

exist, which areas can be recovered and

which areas can be better used. It is all part

of this package.

RBB – We have Brazilian researches deve-

loped on techniques that allow optimizing

bioenergy production, such as sugar cane

straw gasification and bagasse enzymatic

hydrolysis. How does the Ministry support

these initiatives?

Suzana – When we talk about this [emission

curve] deviation, part is already considering

that it will occur owing to an even more

aggressive biofuel program than the one we

already have. Brazil today has a biofuel pro-

gram which is an example to the whole

world. So that we keep advancing, actually,

we also have to start operating in other areas

and even in other markets. And then we see

that the power market is a critical market,

due to the growth in population and in the

demand for electric power. We want the su-

pply to be fundamentally from a renewable

base. And one of the sources that we consider

to be able to see to this growth is biomass.

We understand biomass as straw gasification,

a better use of bagasse, etc. We are even

assessing the possibility of Brazil presenting

32 Novembro/November 2009

It isnecessary toconduct a

mapping sothat an

increase ingrains or

oleaginousproductionfor biofuelsand for food

does notimply an

increase inthe

agriculturalarea

Page 33: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

33

Interview

33

a Nama – Nationally Adequate Mitigation

Actions – specific for this sector. This will

be the action that will open this possibility

and other biomass uses.

RBB – Are biofuels and renewable energy

sources in general at risk due to the pre-salt?

Suzana – No. Neither are renewable sources

at risk due to the pre-salt, nor is pre-salt at

risk due to renewable sources. The pressure

deriving from the increase in the need of

energy is too great. Emerging countries such

as Brazil, China and India will need a lot of

energy. I think there is room for all these

sources. Oil will continue to be very impor-

tant in any country´s energy matrix; there is

not a projected scenario in which it is not

used. Yet it will not be enough. There will be

such an expressive demand for energy that I

think there will be much room both for the

growth of renewables and for oil use.

RBB – Sweden announced plans for beco-

ming independent of fossil fuels by 2020.

Brazil is still far from this reality, but is that

possible for a developing country?

Suzana – No, it is not. It is very difficult not

to use fossil fuels. Even counting on a hydro-

power base for power generation such as

the one Brazil has, some kind of complemen-

tation is necessary. Many times, the adequate

rain regime is not available, thermopower

compensation is necessary. It is not possible

to support the growth of the whole country

solely with renewables, it is very difficult.

What can be done, and which I consider to

be very important, is to have the minimum

possible, to use our renewable potential in

the best way possible.

RBB – The ranking of the Green Grade for

polluting cars, disseminated in the Ministry

for the Environment site, suffered some

criticism for not taking into account the CO2

emissions. Can’t this lead to distorted results?

Suzana – Actually, this criterion is also

considered, but separately. You have what

we call Green Grade and Red Grade. Maybe

the name was a bad choice. But, in the Red

Grade, CO2 emissions are considered, and

in the Green Grade, regulated pollutants are.

The fact is that people got stuck to the

regulated pollutants and fail to consider the

other grade. The press itself calls attention

solely to the Green Grade, even because, in

the Red Grade, there is not much variation.

If the car runs on ethanol, its emission is

considered zero, not much novelty. However,

exactly to better contemplate this ethanol

issue, of ethanol and greenhouse gases, we

are changing the system and will present ano-

ther form of hierarchization by late Novem-

ber, combining both sides. The side of gases

that are not pollutant, but are greenhouse

gases, and the regulated ones. We are going

to combine the two grades into a single one

and disseminate the new formula. But all the

information is already accessible.

RBB – The ranking also indicated ‘flex’

ethanol-fueled vehicles as the most pollutant.

Specialists say that the explanation for the

ethanol performance is partly due to the fact

that the ‘flex’ engine is more suitable to

gasoline, since the world market does not

use ethanol. Does this mean, in practice, that

the Brazilian ethanol industry is tied to the

international automotive industry?

Suzana – No. The flex vehicle is typically a

Brazilian one, as the country has such a large

Neither arerenewable

sources at riskdue to the

pre-salt, nor ispre-salt at risk

due torenewable

sources

Page 34: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

34 Novembro/November 2009

Interview

mix that one can choose to fill a vehicle with

any fuel. I think that shows that the industry

really seeks to see to the market in which it

is. It is just a question of adapting to the best

engine, because it is natural for a car that

runs on any fuel not to be optimized for any

specific fuel. It would really be very difficult

to optimize because you never know how

the consumer is going to fill the vehicle. One

has to make an average. We did not expect

the major part of fuel consumption to be of

ethanol. Thus, I think this is very easy to be

adapted. If we analyze the result of the Green

Grade, the difference between one and the

other is sometimes of centesimals. Hence,

one is better than the other one and, some-

times, this calls a lot of attention. However,

if one checks what the difference is, it is

almost nothing. The aim of making this ran-

king is to stimulate enhancement, technolo-

gical development, innovation. And this is

why we more and more want to have stricter

standards, this is how technology is advan-

cing. The idea is exactly that. But there is no

disparity between a flex vehicle running on

ethanol or on gasoline.

RBB – The new Proconve phase establishes

some new boundaries for pollutant emissions

which are to be enforced in 2013 for diesel

vehicles and in 2014 for gasoline vehicles.

But these levels will be more tolerant than

the ones Europe uses today. Why such a delay?

Suzana – As we go forward and establish

these new phases, we are getting closer and

closer to the best standard. Now, it is natu-

ral for us to be a little behind Europe and the

United States, even because of our purchase

power, which is not the same as that of an

European citizen. We don’t have the same

consumption standard as Europe does.

Hence, wanting to compare and requiring that

Brazil is at the same level as Europe is unreal.

Having this as a goal is very healthy, it is

what we have and, over time, we will get

closer and closer. But it is natural for a less

developed country to be always a little late,

because technology is quite expensive. The

fuel in Europe also has a better quality than

in Brazil. This is delayed, too. Some engines

require high quality fuel which is not yet

produced in Brazil. All this causes this gap

which we are trying to narrow more and

more.

RBB – Thus, if the government decided to

be radical and adopted the same levels as

Europe today, wouldn’t that help?

Suzana – No, it wouldn’t, even because we

do not have the proper fuel for that. It is not

only the vehicle, it is both the vehicle and the

fuel. That is what is going to result in a certain

emission level. If you have the right vehicle,

but not the right fuel, it will not work, and

vice-versa. Petrobras is getting ready to pro-

duce a better quality fuel. It is due to that

combination that we managed to establish

these phases, these deadlines, so that every-

body can get ready. Not only the fuel manu-

facturer, Petrobras, but also the distributors,

which will have to distribute a new kind of

fuel, as well. This implies costs, adaptation,

logistics, all along the structure. All this takes

a certain time.

RBB – Do you consider the São Paulo city´s

vehicle inspection program an example to be

followed?

Suzana – All vehicle inspection programs

have a lot to improve. I think the great pro-

34 Novembro/November 2009

Oil willcontinue to

be veryimportant inany country

energymatrix (...)Yet it willnot beenough

Page 35: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Interview

blem in this program lies in the fact of veri-

fying the vehicles that have the least problems.

But this is also understandable, since very

old cars should actually be dumped. And then

you enter another problem, which is many

times social, and eventually punishes those

who own very old vehicles. What I think of

all this is that the focus eventually falls on a

set of vehicles that still does not have such a

high emission level as others that are running.

In this sense, the program alone cannot do

much. It is necessary to have associated

inspection, so that vehicles that fail inspection

are actually removed, fined, etc. Because,

what eventually occurs, if there is no

repression on the other side, is that the vehicle

owner that knows that it is not going to pass

that test does not even go to inspection and

ends up circulating freely. If there is no

repression, inspection, this is not going to

be prevented.

RBB – A Greenpeace denouncement was ne-

cessary this year for the major packing plants

in Brazil to commit not to buy meat from

farmers that deforest the Amazon. Why is it

so difficult to fight irregular stockbreeding?

Suzana – It is really very difficult to inspect

these products of the agricultural and

livestock sectors when we have a country

the size of ours and when it lacks what is

fundamental, agrarian regularization. Many

times, there is no way of punishing a farmer

because it is not known whether that person

really owns the land. There is something very

basic to be done: regularizing, verifying the

land ownership, knowing who owns what.

And monitoring all that, which is not all that

simple, because it is necessary to actually

know who is to blame. Agrarian regularization

will make it easier to prevent this kind of

practice. And I think that is the trend, to have

an increasing control on a product. But that

is also part of the very consumer culture and

education. How many times do people buy

charcoal for their barbecue without consi-

dering whether that charcoal is of certified

origin or not? Most of the illegal timber is

consumed in São Paulo. Are people aware,

when buying furniture, that they should

verify whether that is certified, whether it

does not derive from deforestation? This

educational part is very important, too,

because in case no one else buys, the other

end will have to get adapted. I think the whole

chain has to be aware and demanding,

starting from the consumer.

It is verydifficult toinspect (...)

when we havea country thesize of oursand when itlacks what isfundamental,

agrarianregularization

35

Page 36: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Empresas Modernas

N

O ETANOL PODE SERUMA �COMMODITY�

o começo da última década, o interes-se de países desenvolvidos em reduzira dependência que tinham do petróleo

gerou forte crescimento nas exportações doetanol combustível, reforçando a necessidadede um organismo que ajudasse a gerenciar es-sas transações. Em outubro de 2006, fundou-se, em São Paulo, a International Ethanol TradeAssociation (Ietha), única associação no mun-do exclusivamente dedicada a promover o co-mércio internacional de etanol. Hoje, suas prin-cipais atribuições são liderar mundialmente aarbitragem desse comércio e garantir a existên-cia de um documento que facilite os negócios.

A Ietha disponibiliza na Internet (www.ietha.org)um contrato-padrão de comercialização. O co-mitê responsável pela elaboração desse docu-mento se reúne a cada três meses para aprimorá-

Ietha, associação sediada em São Paulo, organiza e promove acomercialização do produto internacionalmente

lo e é comandado por Plinio Nastari, um especi-alista em negócios relacionados a açúcar e ál-cool. Joseph Sherman, diretor-executivo da as-sociação, explica que, como cada país exige di-ferentes cláusulas de sustentabilidade nos con-tratos, a formulação de um contrato-padrãoneutro, que atenda a todas essas cláusulas, di-minui as dificuldades de exportação. O comitêde sustentabilidade acompanha o processo decertificação que algumas empresas ou paísesexigem, da cana até o destino.

A missão da Ietha, segundo Sherman, é “tor-nar o etanol uma commodity, como o milho e asoja são”. Para isso, é necessário que as espe-cificações técnicas do produto exportado se-jam padronizadas e que as características físi-cas sejam homogêneas. Há na associação umgrupo trabalhando para estabelecer essas espe-

36 Novembro/November 2009

Fotos: Udop

Sherman: �Defen-demos o etanol.Tanto faz se ele éde cana-de-açúcar,milho ou de trigo�

Page 37: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Empresas Modernas

cificações. Sherman, que em mais de trinta anoscomo executivo trabalhou em várias empresasdo setor de agribusiness, compara a situaçãodo etanol à de outra commodity: “Com a soja,por exemplo, no porto de Paranaguá (PR), aqualidade é uma só, podem-se misturar os pro-dutos. Com o etanol, no porto de Santos (SP),já é diferente, há um tanque específico para aSuécia, outro para a França e assim por diante.Tudo segregado, até no navio. Esperamos atin-gir um consenso na qualidade, para que tudopossa ser misturado e aceito em todos os paí-ses.” Contudo, Sherman acredita que o proces-so vai demorar: falta iniciativa, principalmentedos europeus, para se sentar à mesa e acertaras especificações.

BM&FOutra frente de trabalho da Ietha é a Bolsa

de Mercadorias e Futuros (BM&F). Ali, os es-forços são voltados para melhorar a liquidezfinanceira do etanol e para torná-lo facilmentenegociável. Essas tratativas são feitas pelo co-mitê de Futuros, liderado por Alexandre Aidar.A associação conta também com um comitê deLogística, que, ao longo de 2009, preparou duaspalestras para profissionais ligados ao comér-cio do etanol. “Também organizamos seminári-os técnicos sobre como exportar, desde a usinaaté o porto de destino”, explica Sherman. Deolho em entraves logísticos que dificultam asaída da mercadoria, o diretor-executivo contaque, recentemente, visitou o porto de Santos epediu para se instalar ali mais dois berços vi-sando à agilizar o carregamento dos navios.“Nossa reivindicação deve ser atendida nospróximos anos.”

Além disso, a Ietha busca ajudar a garantirao comprador a produção sustentável do etanol.Algumas das corporações associadas estãocontratando empresas de controle de qualida-de para realizar vistorias no processo. Embora aIetha não possa atribuir diretamente o certifica-do de sustentabilidade, seu contrato possui clá-usulas em que o vendedor garante, por exem-plo, não ter usado trabalho escravo na produ-ção. Garantir a sustentabilidade é essencial paraevitar a resistência de alguns importadores, es-pecialmente os da União Europeia.

Sherman prevê que os números da exporta-ção de etanol em 2009 serão bem mais baixosque os de 2008. Segundo ele, o mercado internoestá pagando melhor que o externo. Além dis-so, a produção de açúcar aumentou. Em 2007,2008, houve muito investimento em usinas no

Brasil; cerca de cem novas empresas foramconstruídas. Com a crise financeira e a baixa dopreço do petróleo, o mercado esfriou. Para oexecutivo da Ietha, porém, isso não quer dizerque o etanol não tenha chegado para ficar. “Ofator cíclico atinge até mesmo produtos conso-lidados. As commodities, em geral, são muitovoláteis em termos de preço. Com o etanol é amesma coisa.”

Segundo Sherman, o resto do mundo seencontra na etapa em que o Brasil estava porvolta de 1975, na época do Pro-álcool (financia-do pelo governo brasileiro como alternativa di-ante da crise do petróleo). “O planeta está ten-tando descobrir como produzir álcool melhor ereduzir a dependência de petróleo. Isso vai fa-zer com que o mundo todo use etanol, seguin-do o exemplo do Brasil.”

Embora tenha sede em São Paulo e atue pre-dominantemente no Brasil, o maior exportadorde etanol do mundo, a Ietha conta com associ-ados de onze países diferentes. “Uma empresaindiana chegou a fazer parte do conselho-exe-cutivo e temos vários representantes de tradingeuropeus”, diz Sherman. Todas as corporaçõesvinculadas à Ietha (atualmente, há 37, entre asquais a Shell, a Cargill, a Copersucar e aPetrobras) pagam para se associar. O dinheiro édestinado à sua subsistência e ao pagamentodos salários dos executivos. Sem fins lucrati-vos e políticos, a empresa é uma associaçãotécnica. “Não somos um grupo para fazer lobbyou ser contra isso ou aquilo”, salienta o diretor.“Defendemos o etanol. Tanto faz se ele é decana-de-açúcar, milho ou de trigo. O principal éo contrato.”

Garantir asustentabilidade é

essencial paraevitar a resistência

de algunsimportadores,

especialmente os daUnião Europeia

37

Page 38: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

38 Novembro/November 2009

Modern Companies

ETHANOL CAN BE ACOMMODITY

n the early 1990s, the interest of developedcountries in reducing the dependencethey had on oil generated a strong in-

crease in ethanol fuel exports, stressing the needof an organism that helped to manage thesetransactions. In October 2006, the InternationalEthanol Trade Association (Ietha) was esta-blished in São Paulo, the only association inthe world exclusively dedicated to promoteinternational ethanol trading. Today, its majorattributions are to lead the arbitration of thistrade in the world and to guarantee the existenceof a document that makes businesses easier.

Ietha makes a standard trading contractavailable in the Internet (www.ietha.org). The

Ietha, an association located in São Paulo, organizes andpromotes the product trading internationally

committee responsible for elaborating thisdocument gathers every three months toimprove it and is led by Plinio Nastari, a specialistin business related to sugar and ethanol. JosephSherman, the association CEO, explains that, aseach county requires different sustainabilityclauses in the contracts, the formulation of aneutral standard contract, complying with allthese clauses, reduces export difficulties. Thesustainability committee follows the certificationprocess that some companies or countriesrequire, from the sugar cane plantation to itsdestination.

The Ietha mission, states Sherman, is “tomake ethanol a commodity, as are corn and

I

38 Novembro/November 2009

Sherman: �Weadvocate

ethanol. Nomatter if it is

made of sugarcane, corn or

wheat�

Photos: Udop

Page 39: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

39

Modern Companies

39

soybean”. For this, it is necessary for the tech-nical specifications of the exported commodityto be standardized and that the physical charac-teristics are homogeneous. In the association,there is a team working to establish these spe-cifications. Sherman, who has worked overthirty years as an executive for differentagribusiness sector companies, compares theethanol situation to that of another commodity:“With soybean, for example, at the Paranaguá(PR) harbor, there is a single quality, the commo-dity can be mixed. With ethanol, at the Santos(SP) harbor, it is different, there is a specifictank for Sweden, another one for France and soon. Everything is segregated, up to the vessel.We expect to reach a quality consensus, so thateverything can be mixed and accepted in allcountries.” Yet, Sherman believes that theprocess will take long: there is a lack of initiative,mainly on the part of the Europeans, to gettogether and to adjust the specifications.

BM&FAnother Ietha work front is the Commodities

and Futures Exchange (BM&F). There, theefforts aim to improve the financial liquidity ofethanol and to make it easily tradable. Thesenegotiations are conducted by the Futures co-mmittee, led by Alexandre Aidar. The asso-ciation also counts on a Logistics committee,which, along 2009, prepared two presentationsfor professionals linked to ethanol trading. “Wealso organized technical seminars on how toexport, from the plant to the destination harbor”,explains Sherman. Concerned about logistichindrances that make the commodity clearancedifficult, the CEO reports that he recently visitedthe Santos harbor and asked to have two moreberths installed there, aiming to make shippingnimbler. “Our claim will be satisfied in the nextfew years.”

Moreover, Ietha seeks to guarantee a sus-tainable ethanol production to the purchaser.Some of the associated corporations are hiringquality control companies to conduct inspec-tions in the process. Even though Ietha cannotdirectly provide the sustainability certificate, itscontract contains clauses in which the sellerguarantees, for example, not to have used slavework in the production. Guaranteeing sus-tainability is essential to prevent resistance bysome importers, especially those from theEuropean Union.

Sherman foresees that the ethanol exportnumbers in 2009 will be much lower than those

in 2008. According to him, the domestic marketis paying better than the foreign one. Again,sugar cane production increased. In 2007, 2008,there was great investment in plants in Brazil;about a hundred new companies were esta-blished. With the financial crisis and thedecrease in oil prices, the market slowed down.For the Ietha CEO, however, this does not meanethanol has not come to stay. “The cyclic factoraffects even consolidated products. Commo-dities, in general, are very volatile in terms ofprice. It is the same with ethanol.”

As stated by Sherman, the rest of the worldis now at the stage Brazil was around 1975, atthe time of Pro-álcool (financed by the Braziliangovernment as an alternative to the oil crisis).“The planet is trying to discover how to betterproduce ethanol and to reduce oil dependence.This will make the whole world use ethanol,following the Brazilian example.”

Although its headquarters are in São Pauloand it predominantly acts in Brazil, the greatestworld ethanol exporter, Ietha counts onmembers from eleven different countries. “AnIndian company was even part of the executiveboard and we have several representatives fromEuropean trading”, says Sherman. All thecorporations linked to Ietha (there are now 37,among which Shell, Cargill, Copersucar andPetrobras) pay to become members. The moneyis meant for its subsistence and for paying itsexecutives’ wages. A not-for-profit and nopolitical ends entity, the company is a technicalassociation. “We are not meant to be a lobbyinggroup or to be against this or that”, stressesthe CEO. “We advocate ethanol. No matter if itis made of sugar cane, corn or wheat. The mainpoint is the contract.”

Guaranteeingsustainability is

essential toprevent resistanceby some importers,

especially thosefrom the European

Union

Page 40: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

Projetos do Cenbio

ENERGIA A PARTIR DO LIXO

terros sanitários produzem, por meioda degradação de matéria orgânica, obiogás, um composto de gases que tem

entre seus principais componentes o metano eo dióxido de carbono. Em janeiro de 2006, oCentro Nacional de Referência em Biomassa(Cenbio) iniciou o desenvolvimento do projetoAproveitamento do Biogás Proveniente do Tra-tamento de Resíduos Sólidos Urbanos paraGeração de Energia Elétrica e Iluminação aGás. Após os testes iniciais, foram realizadasmodificações no sistema de iluminação que en-trará em operação em dezembro deste ano. Osistema de geração de energia elétrica encon-tra-se operando desde setembro de 2009, noCentro de Tratamento de Resíduos (CTR) deCaieiras, aterro localizado na Rodovia dos Ban-deirantes e administrado pela Essencis Solu-ções Ambientais.

O uso de aterros ainda é a alternativa maiscomum para a disposição do lixo urbano, mes-mo com o crescimento recente de técnicas comoa incineração, compostagem e reciclagem. Deacordo com dados de 2007, da Companhia

Sistema aproveita resíduos orgânicos para gerar eletricidade eainda minimiza impacto ambiental

Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb),diariamente, em São Paulo, são geradas cercade 29 mil t de lixo. Por oferecerem as condiçõescorretas para impermeabilização do solo, cober-tura dos resíduos e captação do chorume, osaterros são o destino da maior parte desse ma-terial.

Os aterros sanitários podem dispor de téc-nicas de captação e queima do biogás produzi-do em flare; assim, o metano (CH

4) é transfor-

mado em dióxido de carbono (CO2), minimizando

o impacto ambiental. Vale lembrar que o CH4 é

um gás de efeito estufa com potencial de aque-cimento global cerca de 21 vezes maior se com-parado ao CO

2.

Com a técnica desenvolvida pelo Cenbio,uma pequena parcela do biogás produzido (cer-ca de 2%) é utilizada como combustível no sis-tema de geração de energia elétrica, sendo orestante do biogás queimado em flare. Portan-to, parte da energia elétrica consumida pelo ater-ro é autogerada. Além disso, a partir de dezem-bro, o sistema de iluminação manterá acesosdurante a noite sete postes de luz. Isso traz re-dução de custos e diminui a sobrecarga dasconcessionárias de eletricidade.

Para instalar o sistema de energia elétrica, oCenbio optou por um motor ciclo Otto com po-tência de 200 kW, de tecnologia nacional,acoplado a um gerador. Esse sistema é eficientequando operado com biogás, tem custo maisbaixo quando comparado ao de outras tecno-logias, como microturbinas a gás, além de serde fácil operação e manutenção.

O projeto é coordenado por Geraldo Fran-cisco Burani, ex-diretor geral do Instituto deEletrotécnica e Energia da Universidade de SãoPaulo (IEE-USP), e financiado pelo Ministériode Minas e Energia (MME). A equipe executoraconta com Aquiles Baesso Grimoni (atual dire-tor geral do IEE), Sílvia Maria Stortini GonzálezVelázquez, Suani Teixeira Coelho e VanessaPecora. Agora, com o projeto consolidado, aexpectativa do Cenbio é que outros aterros si-gam o exemplo e adotem o sistema de aprovei-tamento do biogás.

CTR de Caieiras:vista aérea A

Fotos: divulgação

40 Novembro/November 2009

Page 41: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

41

Projetos do Cenbio

As vantagens da utilização do biogás comofonte de energia estão relacionadas às emis-sões evitadas pela geração de energia elétrica apartir de fonte renovável. Há ainda a diminui-ção da demanda de energia proveniente dasconcessionárias locais e a possibilidade de re-ceita adicional com a obtenção e comercializaçãode créditos de carbono, no âmbito do Mecanis-mo de Desenvolvimento Limpo (MDL), além dacomercialização da energia excedente.

Apesar de possuir elevado custo de inves-timento, a instalação de sistemas de aproveita-mento energético do biogás em aterros sanitá-rios é considerada economicamente viável, des-de que seja incluída a receita gerada pela vendados créditos de carbono. O mercado de crédi-tos de carbono, aliás, traz o incentivo financei-ro necessário para que as atividades relativasao aproveitamento do biogás gerado em ater-ros sanitários se estabeleçam sem comprome-ter a qualidade ambiental, atendendo, assim, aspremissas do desenvolvimento sustentável.

CTR CAIEIRAS

A CTR Caieiras iniciou suas atividadesem 2002. De todo o material depositadono aterro, há cerca de 60% de resíduosorgânicos degradáveis. Aproximada-mente, 80% do material provem de do-micílios e o fluxo diário de resíduos atu-al é da ordem de 7 mil t. Segundo VanessaPecora, pesquisadora do Cenbio, “em2009, a energia disponível pela vazão demetano na CTR Caieiras é de, aproxima-damente, 340 MWh/dia. O aterro, quedeve encerrar suas atividades entre 2028e 2030, produzirá biogás suficiente paramanter a produção de energia elétricadurante toda sua existência e por maiscerca de 20 anos após seu encerramento”.

Motor ciclo Otto,com potência de200 kW, detecnologianacional

Energiaautogerada: sete

postes de luz semanterão acesos

com o sistema

Crédito de carbono:aproveitamento energético

do biogás em aterrossanitários pode gerar receita

Page 42: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

42 Novembro/November 2009

Cenbio Projects

42 Novembro/November 2009

B

Photos: dissemination

ENERGY FROM GARBAGESystem uses organic waste to generate power and alsominimizes environmental impacts

y degrading organic matter, landfillsproduce biogas, a gases compoundwhich has methane and carbon dioxide

among its major components. In January 2006,the Brazilian Reference Center on Biomass(Cenbio) started developing the project Use ofBiogas Deriving from Municipal Solid WasteTreatment for Power Generation and GasLighting. After the initial tests, modificationswere made to the lighting system that is to startoperating in December this year. The powergeneration system has been operating sinceSeptember 2009, in the Caieiras Waste TreatmentCenter (CTR, in Portuguese), a landfill locatedin Rodovia dos Bandeirantes and managed byEssencis Soluções Ambientais.

The use of landfills is still the most commonalternative for dumping municipal waste, evenwith the recent growth of incineration, com-posting and recycling techniques. Accordingto 2007 data, from the State of São PauloEnvironmental Agency (Cetesb), about 29thousand tons of garbage are generated daily

in the city of São Paulo. For providing the rightsoil liquid-proof conditions, waste cover andgarbage-dripping collection, landfills are thedestination of most of this material.

Landfills may count on techniques forcollecting and flaring the biogas produced;methane (CH

4) is thus transformed into carbon

dioxide (CO2), minimizing the environmental

impact. It is worth observing that CH4 is a

greenhouse gas with global warming potentialabout 21 times greater if compared to CO

2.

With the technique developed by Cenbio, asmall parcel of the biogas produced (about 2%)is used as fuel in the power generation system,the remaining biogas being flared. Therefore,part of the power consumed in the landfill isself-generated. Moreover, from December on-wards, the lighting system will keep seven lampposts lit during the night. This provides costreduction and decreases the utilities overload.

In order to install the power system, Cenbioopted for a 200 kW Otto cycle engine, ofBrazilian technology, coupled to a generator.This system is efficient when operated withbiogas, has lower cost as compared to that ofother technologies, with gas microturbines, be-sides being of easy operation and maintenance.

The project is coordinated by Geraldo Fran-cisco Burani, ex-Director General of the Instituteof Electrotechnics and Energy of the Universityof São Paulo (IEE-USP), and financed by theMinistry of Mines and Energy (MME). Theexecutive team counts on Aquiles BaessoGrimoni (present Director General of IEE), SílviaMaria Stortini González Velázquez, SuaniTeixeira Coelho and Vanessa Pecora. Now, withthe project consolidated, Cenbio expects otherlandfills to follow the example and adopt thebiogas use system.

The advantages of using biogas as a sourceof energy are related to the emissions avoidedby the power generation from a renewablesource. There is also a decrease in the demandfor power derived from local utilities and thepossibility of additional income by obtaining

Caieiras CTR:air view

Page 43: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

4343

and trading carbon credits, in the ambit of theClean Development Mechanism (CDM), besidestrading the surplus energy.

Despite having a high investment cost, theimplementation of biogas energy use systemsin landfills is considered economically viable,since the income generated by the sale of car-bon credits is included. The carbon credit mar-ket, by the way, provides the necessary financialstimulus so that the activities concerning theuse of landfill-generated biogas are establishedwithout compromising environmental quality,thus meeting the premises of sustainable deve-lopment.

Cenbio Projects

CTR CaieirasCTR Caieiras started operating in 2002.From all the material deposited in thelandfill, there are about 60% of degra-dable organic waste. Approximately, 80%of the material derive from householdsand the present daily flow is of the orderof 7 thousand tons. According to Va-nessa Pecora, Cenbio researcher, “in2009, the energy made available by themethane flow in the Caieiras CTR is ofabout 340 MWh/day. The landfill, whichis meant to close its activities between2028 and 2030, will produce enoughbiogas to keep power production alongthe whole of its existence and for 20years more after its closing down”.

Otto cycle engine,200 kW power,Braziliantechnology

Carbon credit:biogas energy use

in landfills maygenerate income

Self-generatedpower: seven

lamp posts willkeep alight with

the system

Page 44: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

44 Novembro/November 2009

Artigo

ESTUDO DO ICONE CONTESTARESULTADOS PRELIMINARES DEILUC PARA RFS2

Marcelo Moreira, André M. Nassar e Sabrina Feldman

Modelo Blum, adequado para as particularidades brasileiras, indica emissõesde gases de efeito estufa significativamente menores na produção de etanolde cana-de-açúcar do que as sugeridas pelo EPA

1. INTRODUÇÃO

O Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Interna-

cionais (Icone) finalizou, recentemente, um documento que ana-

lisa as emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas à

mudança no uso da terra em decorrência da expansão da cana-

de-açúcar no Brasil.

Os cálculos levaram em conta os cenários que a Environmen-

tal Protection Agency (EPA-EUA) estabeleceu no âmbito da

legislação referente ao Renewable Fuel Standard (RFS). Ao es-

tabelecer uma meta significativamente mais ambiciosa que a an-

terior, condicionada às regras de classificação de combustíveis,

a nova regulamentação para implementação do Padrão Nacio-

nal de Combustíveis Renováveis (Renewable Fuel Standard),

também conhecido como RFS2, colocou em pauta critérios para

o consumo de biocombustíveis. O RFS2 cria mecanismos para

que o consumo de biocombustíveis atinja 36 bilhões de galões

(136 bilhões de L) até 2022. Para ter acesso a tal mercado, porém,

os biocombustíveis deverão comprovar critérios e exigências,

dentre eles, reduções mínimas de redução de emissão de GEE

em relação ao consumo de gasolina.

O cálculo de emissões de GEE deve se basear em todo ciclo

de vida dos biocombustíveis. Mais especificamente, a EPA deve

contabilizar no cálculo de emissões de GEE, além daquelas de-

correntes do processo de produção agrícola e industrial, as

emissões associadas à mudança direta (LUC) e indireta (Iluc) do

uso do solo.

Conceitualmente, a inclusão das emissões de GEE devido à

mudança de uso do solo faz sentido, uma vez que a redução de

emissões de GEE é uma das principais razões da expansão do

consumo dos biocombustíveis. Porém, a dinâmica de uso do

solo é tema de amplo debate internacional, ainda longe de al-

cançar um consenso sobre a metodologia adequada para calcu-

lar tal fenômeno.

A EPA utilizou dois modelos para estimar a expansão de

grãos e cana-de-açúcar e, em seguida, as emissões associadas a

essa expansão foram calculadas, seguindo as recomendações

padronizadas pelo Intergovernmental Panel on Climate Change

(IPCC) referentes a Agriculture, Forest and Other Land Use

(Afolu).

A inclusão do Iluc será decisiva para a implementação do

RFS2 e provocará impactos significativos no setor sucroener-

gético brasileiro. De acordo com os resultados preliminares, a

redução de emissões do etanol de cana-de-açúcar varia entre

42% e 44%. As emissões indiretas de uso da terra representam

entre 70% e 80% das emissões totais de GEE do etanol de cana.

Embora a EPA já tenha indicado que pretende reduzir a exigên-

cia mínima de redução de GEE para 40%, para que biocom-

bustíveis sejam considerados avançados (o que incluiria o etanol

de cana-de-açúcar nessa classe), as emissões relacionadas ao

Iluc impedem que o etanol de cana tenha redução de emissões

de GEE da classe de biocombustíveis avançados celulósicos,

no qual o volume de consumo enviado pelo FRS2 é de 60,5

bilhões de L em 2022 (quatro vezes maior que a meta dos avan-

çados não celulósicos) [1].

Assim, o Icone debruçou-se sobre o tema de Iluc na cadeia

da cana-de-açúcar, avaliando a base de cálculos do EPA e de-

senvolvendo uma metodologia (modelo) adequada para abar-

car conceitos e peculiaridades da realidade brasileira. O princi-

Page 45: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

45

Artigo

pal objetivo era garantir que o cálculo de emissões de GEE do

etanol de cana brasileiro fosse realizado com as melhores técni-

cas e bases de informações existentes.

2. METODOLOGIAS PARA O CÁLCULO DE ILUC

Existe forte tendência no entendimento de que o cálculo de

emissões de GEE no ciclo de vida do etanol deva considerar

também o Iluc provocado pela produção da matéria-prima agrí-

cola [2]. As principais legislações de biocombustíveis incluem

referências explicitas ao tratamento do Iluc [3, 4]. A avaliação de

Iluc global é uma proposta relativamente recente, com metodo-

logia ainda em desenvolvimento. Há consenso de que as análi-

ses desenvolvidas estão sujeitas a um elevado grau de incerte-

za que coloca em dúvida sua utilização para fins de definição de

legislações. No entanto, tais legislações colocaram o tema do

Iluc no centro do debate sobre biocombustíveis.

Os esforços de pesquisa têm sido direcionados no preenchimen-

to das lacunas para adaptar metodologias robustas e já existen-

tes, utilizadas em diferentes áreas da ciência. De modo geral, bus-

ca-se a combinação de modelos sócio-econômicos e biofísicos.

As atividades desenvolvidas relacionadas à mensuração das

emissões associadas ao Iluc, a partir de modelagem econômica

do Iluc, encontram-se em contínuo desenvolvimento pelo Icone,

cuja interação com as principais instituições internacionais

inseridas nesse tema permitiu o aprofundamento da compreen-

são e harmonização das metodologias que se encontram na fron-

teira do conhecimento em análises de Iluc. A interação interna-

cional também foi substantiva na identificação das principais

lacunas a serem preenchidas, além das melhorias já incorpora-

das ao Modelo de Uso da Terra para a Agricultura Brasileira

(Brazilian Land Use Change - Blum) desenvolvido pelo Icone

em parceria com o Center for Agricultural and Rural Development

e o Food and Agricultural Policy Research Institute (Card/Fapri,

Universidade de Iowa), no sentido de integrar o Blum ao siste-

ma de modelos setoriais mundiais.

Aliando a experiência do Icone na avaliação das análises

desenvolvidas pela EPA e pelo Card, com a participação em

projetos de pesquisa sobre esse tema, pode-se definir um mo-

delo conceitual ideal para mensuração de Iluc. A Figura 1 resu-

me o modelo conceitual.

FIGURA 1. Modelo Conceitual do IconeFonte: ICONENotas: o símbolo indica que o tópico já está conectado ao Blum ou que já usa as informações do Blum.O símbolo indica que o tópico ainda precisa ser desenvolvido.

Insumo Insumo Insumo

Padrão de uso da terraa partir de informaçõesgeorreferenciadas

Dados passados;Uso e alocação de terra: usosantrópicos e não antrópicos;Disponibilidade de terra, tendoem conta questões legais e aaptidão para a agricultura(solos, declividade e clima);Padrão de mudança no uso daterra: fronteira e regiõestradicionais

Modeloeconômico (Blum)

Modelo dedistribuiçãoespacial

Otimização com baseem variáveiseconômicas(diferenciais de custo epreços) e de logísticade transporte;Dados emmacrorregiões sãoabertas nasmicrorregiões

Emissões de CO2

(forma tabular)

Emissões de CO2 sãocalculadas multiplicando-secoeficientes de emissão pelamudança no uso da terra

Emissões deCO2 (modelosespacialmenteexplícitos)

Emissões de CO2 sãocalculadas no nível do grid;Uso de sistemas de informação

geográfica.

Projeções;Modelo de equilíbrio demercado para oferta edemanda;Alocação e mudança nouso da terra em nível demacrorregiões no Brasil;Efeito escala (fronteira) ecompetição (realocaçãonas áreas tradicionais);Elasticidades cruzadas eelasticidade de expansãocalibradas a partir daanálise georreferenciada;Intensificação depastagens.

Page 46: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

46 Novembro/November 2009

Artigo

A mensuração do Iluc é feita a partir da combinação de dois

tipos de modelagem: uma com base em técnicas de georreferen-

ciamento e outra de base econômica. A modelagem econômica

tem como papel principal projetar a alocação e a mudança no

uso da terra a partir de cenários de oferta e demanda para os

produtos agrícolas e florestais. A modelagem econômica, no

entanto, requer informações georreferenciadas como insumo. O

modelo econômico deve ser capaz de mensurar mudança de uso

da terra e não apenas área alocada.

Os modelos mundiais do Card/Fapri foram utilizados pela

EPA na projeção dos cenários de expansão e alocação de terra

para a produção agrícola em função de expansão da demanda

por etanol. Dessa forma, a parceria entre Icone e Card/Fapri

constitui uma colaboração indireta entre Icone e EPA.

A participação do Icone nas discussões técnicas para ela-

boração das principais legislações para biocombustíveis no

mundo tem também contribuído para a especialização do insti-

tuto no tema de Iluc. A equipe técnica aprofundou seu conheci-

mento, verificando as nuanças, vantagens e limitações dos prin-

cipais modelos de metodologias atualmente empregados ou pro-

postos. Nesse processo, verificou-se a possibilidade de integração

do Blum à maioria dos modelos globais, contribuindo significa-

tivamente para a metodologia de cálculo de emissões de GEE.

Verificou-se também que o Blum tem capacidade muito superior

para avaliações de Iluc no Brasil. Dessa maneira, é possível

utilizar o Blum como referência para verificar a aderência dos

modelos globais de uso da terra às características brasileiras.

3. IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO EPAO etanol produzido no Brasil a partir da cana-de-açúcar pode

ajudar os Estados Unidos a cumprir a legislação de consumo de

combustíveis renováveis, ao mesmo tempo que reduz as emis-

sões naquele país. Mesmo considerando-se supostos impac-

tos indiretos devido ao Iluc, o desempenho do etanol brasileiro

se mantém elevado.

Naturalmente, por se tratar de uma legislação federal dos

EUA, atualmente maior mercado mundial de etanol, os resulta-

dos divulgados pela EPA podem ter impactos significativos na

reputação do etanol de cana-de-açúcar em todo o mundo. As

propostas de legislações na Califórnia e União Europeia acom-

panham de perto o andamento do RFS2. Outros países que

pretendem incluir os biocombustíveis como mecanismos para

reduzir as emissões de GEE estarão atentos aos resultados di-

vulgados pela EPA.

Da mesma maneira, o RFS2 faz com que esforços significati-

vos sejam realizados para que se desenvolvam estudos e

metodologias sobre a dinâmica de uso da terra.

O trabalho do Icone é de suma importância para o setor

sucroenergético brasileiro, já que, além de promover energia

limpa e renovável e gerar bioeletricidade a partir de seu bagaço,

o etanol de cana-de-açúcar terá demanda garantida nos EUA,

caso o EPA aceite os dados do estudo do Icone.

A busca de uma metodologia de emissões de GEE associa-

dos ao Iluc se iniciou por conta do impacto dos biocombustíveis

nas mudanças climáticas. Porém, a tendência é de que o mesmo

ocorra com outros produtos, especialmente os agrícolas e in-

tensivos em terra. Assim, a consolidação do Blum como

metodologia de referência em cálculo de Iluc servirá como uma

ferramenta importante para balizar adequadamente as negocia-

ções e legislações futuras.

4. RESULTADOS EPA X RESULTADOS ICONENa proposta de legislação do RFS, a EPA combinou a análi-

se de uso da terra, desenvolvida pelo sistema de modelos do

Card/Fapri e pelo modelo Forestry Agriculture Sector

Optimization Model (Fasom), da Universidade Texas AM, com

as análises de imagens de satélite e dados georreferenciados

disponibilizados pela Winrock International i.

A proposta de regulação que estava sob consulta pública,

publicada no Draft Regulatory Impact Analysis (Dria) pelo EPA,

em maio de 2009, foi cuidadosamente analisada pela equipe de

especialistas do Icone. A avaliação foi que a análise sugerida no

documento não é adequada para a dinâmica da agricultura bra-

sileira.

Inicialmente, a análise é demasiadamente agregada. O Brasil

é tratado como uma única região, enquanto se reconhece facil-

mente que a dinâmica de uso da terra em áreas tradicionais de

cana (como São Paulo) é muito diferente da dinâmica de uso da

terra na Amazônia ou até mesmo no Pantanal.

Em seguida, as áreas de pastagens não são modeladas se-

guindo hipóteses econômicas e a capacidade de intensificação

da pecuária não foi devidamente considerada. No Dria, a dinâ-

mica das pastagem foi reduzida à uma metodologia em duas

etapas nas quais a expansão das áreas de lavouras sobre pasta-

gens é totalmente compensada pelo avanço das pastagens so-

bre vegetação nativa, simplesmente replicando o padrão inferi-

do para o passado. Tal metodologia ignora a dinâmica espacial

das pastagens e melhorias na produtividade, via trocas entre

Page 47: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

47

Artigo

fatores de produção.

Soma-se, ainda, o uso de imagens de satélite sem a precisão

adequada para diferenciar as áreas de pastagens e vegetação

nativa em alguns biomas brasileiros.

No período de consulta pública referente ao Dria para o

RFS, diversas melhorias já haviam sido incorporadas no Blum

tornando possível elaborar propostas construtivas para a

melhoria da metodologia sugerida pela EPA. A análise de mu-

dança de uso da terra indicada no texto original foi refeita utili-

zando o Blum, desagregando o Brasil nas seis regiões e com

uma análise de mudança de uso da terra substancialmente mais

completa que a do texto originalmente proposto pela EPA [5].

Os resultados obtidos no Blum indicam existência de efeito

indireto da expansão de consumo de produção de etanol de

cana-de-açúcar, porém marginal e significativamente inferior aos

resultados originalmente propostos no Dria. Tal constatação

indica a necessidade de aprimorar e adequar os resultados apre-

sentados no Dria. A colaboração entre o Icone e Card/Fapri

coloca o Blum como candidato natural para executar tais apri-

moramentos.

Na Tabela 1 são comparados os valores da redução de emis-

sões de GEE do etanol em relação ao uso de gasolina obtidos

por diferentes metodologias. Na primeira linha são reportados

os resultados originais relatados no Dria. Na segunda linha são

apresentados os resultados obtidos pelo Icone por meio do

modelo Blum e utilizando os valores default para estoques de

carbono, conforme sugerido pelo texto inicial da EPA. Na tercei-

ra linha, os mesmos resultados do Blum são utilizados, porém

foi considerada uma medida mais adequada para estoque de

carbono acima do solo para a cana-de-açúcar (17 t de carbono

equivalente por ha) [6]. As duas colunas fazem referência a duas

possíveis maneiras de contabilizar o tempo. Na da esquerda, foi

considerado um horizonte temporal de cem anos, com taxa de

desconto intertemporal de 2% ao ano. Na coluna à direita, foi

considerado um horizonte de trinta anos, sem taxa de desconto.

A comparação das duas primeiras linhas da tabela confirma

que, de fato, a forma pela qual a mudança de uso da terra foi

tratada no Dria foi demasiadamente simplificada, gerando re-

sultados enviesados e significativamente inferiores ao real po-

tencial de mitigação do etanol de cana. No documento submeti-

do pelo Icone ao EPA, é possível verificar que grande parte da

diferença entre as análises está no tratamento dado à expansão

da área de grãos e cana-de-açúcar, além da desagregação regio-

nal do Brasil. No documento proposto pelo EPA, toda expansão

da área de grãos e cana se converteria direta ou indiretamente

no avanço da fronteira agrícola sobre vegetação remanescente.

No Blum, a expansão das lavouras ocorre tanto sobre vegeta-

ção nativa como em pastagens. Estas últimas, no entanto, são

projetadas regionalmente e têm a capacidade de intensificar sua

produtividade de acordo com os incentivos de mercado.

A comparação entre os dois resultados do Blum com dife-

rentes coeficientes para estoques de carbono para a cana-de-

açúcar demonstra a alta sensibilidade dos resultados a tais hi-

póteses. Combinado essa alta sensibilidade com a imensa difi-

culdade de trabalhar com coeficientes defaults, verifica-se a

necessidade do aprofundamento das pesquisas e uso de coefi-

cientes adequados.

5. CONCLUSÃO

No presente artigo buscou-se esclarecer alguns pontos acer-

ca da mensuração das emissões de GEE relacionados à mudan-

ça de uso da terra provocada pelo consumo e produção de bio-

combustíveis, com foco na legislação federal de biocombustíveis

dos EUA (RFS2). Atualmente, tal tema é de extrema relevância

para o setor sucroenergético brasileiro e mundial. É um momen-

to de consolidação de legislações e de metodologias que defini-

rão o futuro do mercado de biocombustíveis. A definição de tais

metodologias condicionará o uso e estímulos aos biocombus-

tíveis, determinando sua contribuição para a redução de emis-

sões de GEE, assim como fluxos comerciais, que dependerão

ANÁLISE

Análise original do EPA

Resultados de LUC e Ilucgerados pelo modelo Blum

Resultados de LUC e Ilucgerados pelo modeloBlum + ajuste no estoque decarbono da cana-de-açúcar(17 t de carbono equivalentepor ha)

30 anos,sem taxa dedesconto

-26%

-52%

-60%

TABELA 1. Porcentagem de redução de emissãode gases de efeito estufa pelo etanol decana-de-açúcar comparativamente à gasolina

100 anos e2% de taxade desconto

-44%

-64%

-69%

Page 48: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

48 Novembro/November 2009

Artigo

não apenas de preço, mas também do desempenho ambiental

dos biocombustíveis. A forma pela qual as metodologias de

cálculo de emissões de GEE relacionados ao uso da terra forem

definidas pelo EPA servirá também de base para outros produ-

tos, principalmente os agrícolas e intensivos em terra.

Verifica-se que a metodologia proposta pelo EPA no Dria

ainda não pode ser considerada adequada para representar a

dinâmica brasileira de uso da terra. Por outro lado, os avanços

obtidos pelo Icone, em parceria com o Card/Fapri no estabeleci-

mento de uma metodologia mais aderente às características bra-

sileiras, além de conceitualmente mais avançada, permitem já

obter valores mais robustos pelo modelo Blum. De acordo com

o exercício de simulação realizado com o Blum, de fato existe um

efeito indireto de uso da terra, porém, é marginal. Apenas com

os melhoramentos na metodologia de cálculo de uso da terra, a

efetiva mitigação de GEE do etanol em relação ao uso de gaso-

lina é de -64% (cem anos e taxa de desconto de 2% ao ano) e -

52% (cem anos, sem taxa de desconto) em vez de -44 e -26%,

respectivamente. A correção do valor de estoque de carbono

acima do solo para a cana melhora as reduções de GEE, chegan-

do a 69% e 60% para os mesmos períodos temporais e taxas de

descontos.

6. REFERÊNCIAS

[1] UNITED STATES ENVIRONEMENTAL PROTECTION

AGNECY (EPA). Draft regulatory impact analysis: changes

to renewable fuel standard program. EPA-420-D-09-001.

Maio 2009.

[2] SEARCHINGER, T., HEIMLICH, R., HOUGHTON R.A.,

DONG, F., ELOBEID, A., FABIOSA J. Use of US croplands

for biofuels increases greenhouse gases through emissions

from land-use change. Science 319:1238–1240 (2008).

[3] COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION, Directive of the

European parliament and of the council on the promotion

of the use of energy from renewable sources. Dossier

interinstitutionnel 2008/0016 (COD). Bruxelas: Dezembro

2008.

[4] CALIFORNIA ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY

AIR RESOURCES BOARD (CARB). Proposed regulation

to implement the Low Carbon Fuel Standard, Staff report:

initial statement of reasons. Volume I. Sacramento, Março

2009.

[5] NASSAR, A.M.; HARFUCH. L.; MOREIRA, M.; BACHION,

L.; ANTONIAZZI L.B. Impacts on Land Use and GHG

Marcelo Moreira, André Meloni Nassar eSabrina FeldmanInstituto de Estudos do Comércio e NegociaçõesInternacionais (Icone)(11) 3021-0403Rua General Furtado Nascimento, 740, cj. 81Alto de Pinheiros, 05465-070, São Paulo, SPwww.iconebrasil.org.br

Emissions from a Shock on Brazilian Sugarcane Ethanol

Exports to the United States using the Brazilian Land Use

Model (BLUM). Report to the U.S. Environmental Protection

Agency Regarding the Proposed Changes to the Renewable

Fuel Standard Program. Docket EPA-HQ-OAR-2005-0161. Se-

tembro 2009.

[6] AMARAL, W.A.N.; MARINHO, A.P.; TARASANTCHI, R.;

BEBER, A.; GIULIANI, E. Environmental sustainability of

sugarcane ethanol. Artigo em ZURBIER e VOOREN (org)

Sugarcane ethanol, contributions to climate change and the

environment. Wageningem Academic Publishers.

Netherlands, 2008.

Page 49: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

49

Artigo

ICONE STUDY DISPUTESPRELIMINARY ILUC RESULTSFOR RFS2The Blum Model, adequate to the Brazilian peculiarities, indicatessignificantly smaller greenhouse gas emissions in the sugar cane ethanolproduction than those suggested by EPA

Marcelo Moreira, André M. Nassar and Sabrina Feldman

1. INTRODUCTION

The Institute for International Trade Negotiations (Icone)

has recently completed a document that analyzes greenhouse

gas emissions (GHG) associated to land use change deriving

from sugar cane expansion in Brazil.

The calculations took into account the scenarios established

by the Environmental Protection Agency (EPA-EUA) in the ambit

of the legislation concerning the Renewable Fuel Standard (RFS).

When it set a significantly more ambitious goal than the previous

one, conditioned to the fuel classification rules, the new

regulation for implementing the Renewable Fuel Standard, also

known as RFS2, listed criteria for biofuel consumption. RFS2

creates mechanisms for biofuel consumption to reach 36 billion

gallons (136 billion L) by 2022. So as to have access to such a

market, however, biofuels will have to undergo criteria and

requirements, among which minimal reductions of GHG emission

reduction in relation to gasoline consumption.

The GHG emissions calculation has to be based upon the

whole biofuels lifecycles. More specifically, in the GHG

emissions calculation, besides those deriving from agricultural

and industrial production processes, EPA will have to factor in

the emissions associated to the direct (LUC) and indirect land

use change (Iluc).

Conceptually, the inclusion of GHG emissions due to land

use change makes sense, once GHG emission reduction is one

of the main reasons for biofuels consumption expansion.

However, land use dynamics is the theme of a wide international

debate, still far from reaching a consensus on the adequate

methodology to calculate such a phenomenon.

EPA used two models to estimate the expansion of grains

and sugar cane, and then the emissions associated to this

expansion were calculated, following the recommendations

standardized by the Intergovernmental Panel on Climate Change

(IPCC) concerning Agriculture, Forest and Other Land Use

(Afolu).

The inclusion of Iluc will be decisive for implementing RFS2

and will cause significant impacts on the Brazilian sugar-energy

sector. According to the preliminary results, the sugar cane

ethanol emission reduction varies between 42% and 44%. Land

use indirect emissions represent between 70% and 80% of the

total sugar cane ethanol GHG emissions. Although EPA has

already indicated that it intends to reduce the minimum

requirement for reducing GHG to 40%, so that biofuels are

considered advanced (which would include sugar cane ethanol

in this class), the emissions related to Iluc prevent sugar cane

ethanol from having GHG emission reduction of the cellulosic

advanced biofuels class, in which the consumption volume set

by FRS2 is 60.5 billion L in 2022 (four times greater than the goal

for non-advanced cellulosic ones) [1].

Hence, Icone worked on the Iluc theme in the sugar cane

chain, assessing the EPA calculation base and developing an

adequate methodology (model) to include concepts and

peculiarities of the Brazilian reality. The main purpose was to

guarantee that the GHG emissions calculation of the Brazilian

sugar cane ethanol was conducted with the best techniques

and existing information bases.

49

Page 50: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

50 Novembro/November 200950

Article

2. METHODOLOGIES FOR CALCULATING ILUC

There is a strong trend towards understanding that the

ethanol lifecycle GHG emissions calculation should also consider

the Iluc caused by agricultural feedstock production [2]. The

major biofuels legislations include explicit references to the Iluc

treatment [3, 4]. The global Iluc assessment is a relatively recent

proposal, with a methodology still under development. There is

a consensus that the analyses developed are still a subject of

great uncertainty, which questions its use for legislation

definition ends. Nonetheless, such legislations placed the Iluc

theme in the center of the debate on biofuels.

The research efforts have been directed to fill gaps to adapt

already existing robust methodologies, used in different areas

of science. In general, a combination of socio-economic and

biophysical models is sought.

The activities developed and related to measuring the

emissions associated to Iluc, as from the Iluc economic modeling,

are under continuous development by Icone, the interaction of

which with the main international institutions inserted in this

theme allowed a further understanding and harmonization of

the methodologies that are in the boundaries of knowledge in

Iluc analyses. The international interaction was also substantial

in identifying the major gaps to be filled, besides the

improvements already incorporated to the Brazilian Land Use

Change – Blum Model, developed by Icone in a partnership

with the Center for Agricultural and Rural Development and the

Food and Agricultural Policy Research Institute (Card/Fapri,

University of Iowa), in the sense of integrating Blum to the

world sectorial models system.

Combining the Icone experience in assessing the analyses

developed by EPA and by Card, with the participation in research

projects on this theme, an ideal conceptual model for measuring

Iluc can be defined. Figure 1 summarizes the conceptual model.

The Iluc measurement is performed from a combination of

FIGURE 1. Icone conceptual modelSource: ICONENotes: Symbol indicates that the topic is already connected to Blum or that it already uses information from Blum.Symbol indicates that the topic still has to be developed.

Feedstock Feedstock Feedstock

Land use standard asfrom georeferencedinformation

Economicmodel (Blum)

Spatialdistributionmodel

CO2 emissions(tabular form)

CO2 emissions are calculatedby multiplying emissioncoefficients byland use change

CO2 emissions(spatiallyexplicit models)

CO2 emissions are calculatedat grid level;Use of geographic informationsystems.

Past data;Land use and allocation:anthropic and non-anthropicuses;Land availability, taking intoaccount legal issues andaptitude for agriculture (soil,declivity and climate);Land use change standard:boundary and traditionalregions

Forecasts;Market balance model forsupply and demand;Allocation and land usechange at macroregionslevel in Brazil;(boundary) Scale effectand competition(reallocation in traditionalareas);Crossed elasticity andexpansion elasticitycalibrated as fromgeoreferenced analysis;Intensification of grazingareas.

Optimization basedon economic (costand pricesdifferentials) andtransport logisticsvariables;Data in macroregionsare open inmicroregions.

Novembro/November 2009

Page 51: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

51

Article

two types of modeling: one based on georeferencing techniques

and the other on an economic basis. The main role of economic

modeling is to foresee allocation and land use change as from

supply and demand scenarios for agricultural and forest products.

Economic modeling, however, requires georeferenced

information as input. The economic model should be able to

measure land use change and not only allocated area.

The Card/Fapri world models were used by EPA for foreseeing

expansion and land allocation scenarios for agricultural

production in function of ethanol demand expansion. Therefore,

the partnership between Icone and Card/Fapri constitutes an

indirect cooperation between Icone and EPA.

The Icone participation in the technical discussions for

elaborating the major legislations for biofuels in the world has

also contributed to the specialization of the institute in the Iluc

theme. The technical team improved its knowledge, verifying

the nuances, advantages and constraints of the main

methodology models employed or proposed now. In this process,

the possibility of integrating Blum to most global models was

verified, significantly contributing to the GHG emissions

calculation methodology. It was also verified that Blum has a

much higher capacity for Iluc assessments in Brazil. It is thus

possible to use Blum as a reference to verify the adherence of

the land use global models to the Brazilian characteristics.

3. IMPORTANCE OF THE EPA STUDY

The ethanol produced in Brazil as from sugar cane may help

the United States to abide by the renewable fuel consumption

legislation, at the same time as it reduces emissions in that

country. Even considering supposed indirect impacts due to

Iluc, the Brazilian ethanol performance keeps high.

Naturally, for being a federal USA legislation, nowadays the

largest world ethanol market, the results disseminated by EPA

may have significant impacts on the sugar cane ethanol

reputation all over the world. The legislations proposals in

California and the European Union closely follow the RFS2

process. Other countries that intend to include biofuels as

mechanisms to reduce GHG emissions will turn their attention

to the results disseminated by EPA.

Likewise, RFS2 makes significant efforts be made so that

studies and methodologies are conducted on land use dynamics.

The Icone work is of paramount importance to the Brazilian

sugar-energy sector, since besides promoting clean and

renewable energy and generating bioelectricity from its bagasse,

sugar cane ethanol will have guaranteed demand in the USA, in

case EPA accepts the Icone study data.

The search for a GHG emission methodology associated to

Iluc was started owing to the impact of biofuels on climate

change. However, the tendency is that the same occurs to other

products, specially the agricultural and land-intensive ones.

Hence, the consolidation of Blum as a reference methodology

for calculating Iluc will serve as an important tool to adequately

guide future negotiations and legislations.

4. EPA RESULTS X ICONE RESULTS

In the RFS legislation proposal, EPA combined land use

analysis, developed by the Card/Fapri models system and by

the Forestry Agriculture Sector Optimization Model (Fasom),

from the University of Texas AM, with the analyses of satellite

images and georeferenced data made available by Winrock

International i.

The regulation proposal that was under public consultation,

published by EPA in the Draft Regulatory Impact Analysis (Dria)

in May 2009, was carefully analyzed by the Icone expert team.

The assessment was that the analysis suggested in the

document is not adequate for the Brazilian agriculture dynamics.

Initially, the analysis is too aggregated. Brazil is treated as a

single region, while the land use dynamics in traditional sugar

cane areas (such as São Paulo) can be easily recognized to be

very different from the Amazon land use dynamics or even from

that in Pantanal.

Moreover, grazing areas are not modeled following economic

hypotheses and the capacity for stockbreeding intensification

was not duly considered. In Dria, the grazing areas dynamics

was reduced to a two-stage methodology in which the expansion

of planted areas over grazing ones is totally compensated by

the advancement of pastures on native vegetation, simply

replicating the pattern inferred for the past. The methodology

ignores the spatial dynamics of grazing areas and improvements

in productivity, by exchanges between production factors.

Furthermore, satellite images were used without the adequate

accuracy to distinguish grazing areas from native vegetation in

some Brazilian biomes.

In the public consultation period concerning the Dria for

RFS, several improvements had already been incorporated to

Blum, allowing the elaboration of constructive proposals for

improving the methodology suggested by EPA. The land use

change analysis indicated in the original text was rewritten by

Page 52: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

52 Novembro/November 2009

Article

using Blum, disaggregating Brazil in the six regions and with a

land use change analysis substantially more complete than that

of the text originally proposed by EPA [5].

The results obtained in Blum indicate the existence of the

indirect effect of the sugar cane ethanol production consumption

expansion, yet marginal and significantly inferior to the results

originally proposed in Dria. This verification indicates the need

of enhancing and adapting the results presented in Dria. The

cooperation between Icone and Card/Fapri makes of Blum a

natural candidate to conduct such enhancements.

In Table 1, the values of the ethanol GHG emission reduction

are compared in relation to that of gasoline use obtained by

different methodologies. The original results reported in Dria

are expressed in the first line. The second line presents the

results obtained by Icone by means of the Blum model and

using the default values for carbon stocks, as suggested by the

initial EPA text. In the third line, the same results as Blum are

used, yet a more adequate measure was considered for carbon

stock above the soil for sugar cane (17 tons of carbon equivalent

per ha) [6]. The two columns refer to two possible ways of

accounting time. On the left column, a 100-year time horizon

was considered, with an inter-temporal discount rate of 2% a

year. On the right column, a 30-year horizon was considered,

with no discount rate.

The comparison of the two first lines in the Table confirms

that, in fact, the way in which land use change was treated in

Dria was too simplified, generating biased results and

significantly inferior to real mitigation potential of sugar cane

ethanol. In the document presented by Icone to EPA, it is possible

to verify that a large portion of the difference between the

analyses lies in the treatment given to the expansion in the grain

and sugar cane area, besides the regional disaggregation of

Brazil. In the document proposed by EPA, the whole expansion

of the grain and sugar cane area would be directly or indirectly

converted into the advance of the agricultural boundaries on

the remaining vegetation. In Blum, the expansion of crops occurs

both on the native vegetation and on grazing areas. The latter,

however, are regionally forecast and have capability for

intensifying their productivity according to market incentives.

The comparison between the two Blum results with different

carbon stock coefficients for sugar cane demonstrates the high

sensitivity of the results to such hypotheses. Combining this

high sensitivity with the huge difficulty in working with default

coefficients, the need of improving researches and the use of

adequate coefficients is verified.

5. CONCLUSION

The aim here was to clarify some points concerning the

measurement of the GHG emissions related to land use change

caused by biofuels consumption and production, focusing on

the USA federal biofuels legislation (RFS2). The theme is now

of extreme relevance to the Brazilian and world sugar-energy

sector. It is a moment of consolidating legislations and

methodologies that will define the future of the biofuels market.

The definition of such methodologies will condition biofuels

use and stimulation, determining their contribution to GHG

emission reduction, as well as trade flows, which will depend

not only on the price, but also on the biofuels environmental

performance. The way in which the methodologies for

calculating GHG emissions related to land use are defined by

EPA will also serve as a basis for other products, mainly the

agricultural and land-intensive ones.

It can be verified that the methodology proposed by EPA in

Dria cannot yet be considered adequate to represent the Brazilian

land use dynamics. Conversely, the advances obtained by Icone,

in a partnership with Card/Fapri for establishing a methodology

more adherent to the Brazilian characteristics, besides

conceptually more advanced, already allow obtaining more

robust values by the Blum model. According to the simulation

ANALYSIS

EPA original analysis

LUC and Iluc resultsgenerated by the Blum model

LUC and Iluc resultsgenerated by the Blummodel + adjustment of thesugar cane carbon stock(17 tons of carbonequivalent per ha)

30% and 0%

-26%

-52%

-60%

TABLE 1. Percentage of greenhouse gas emissionreduction by sugar cane ethanol as compared togasoline:

100% and 2%

-44%

-64%

-69%

52 Novembro/November 2009

Page 53: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

53

Article

53

exercise performed with Blum, there is actually an indirect land

use effect, albeit marginal. With the enhancements in the

methodology for calculating land use alone, the effective ethanol

GHG mitigation in relation to gasoline use is of -64% (a hundred

years and discount rate of 2% a year) and -52% (a hundred

years, no discount rate) instead of -44 and -26%, respectively.

The correction of the value of the carbon stock above the soil

for sugar cane improves GHG reductions, reaching 69% and

60% for the same time periods and discount rates.

6. REFERENCES

[1] UNITED STATES ENVIRONEMENTAL PROTECTION

AGNECY (EPA). Draft regulatory impact analysis: changes

to renewable fuel standard program. EPA-420-D-09-001. May

2009.

[2] SEARCHINGER, T., HEIMLICH, R., HOUGHTON R.A.,

DONG, F., ELOBEID, A., FABIOSA J. Use of US croplands

for biofuels increases greenhouse gases through emissions

from land-use change. Science 319:1238–1240 (2008).

[3] COUNCIL OF THE EUROPEAN UNION, Directive of the

European parliament and of the council on the promotion of

the use of energy from renewable sources. Dossier

interinstitutionnel 2008/0016 (COD). Brussels: December

2008.

[4] CALIFORNIA ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY

AIR RESOURCES BOARD (CARB). Proposed regulation to

implement the Low Carbon Fuel Standard, Staff report: initial

statement of reasons. Volume I. Sacramento, March 2009.

[5] NASSAR, A.M.; HARFUCH. L.; MOREIRA, M.; BACHION,

L.; ANTONIAZZI L.B. Impacts on Land Use and GHG

Emissions from a Shock on Brazilian Sugarcane Ethanol

Exports to the United States using the Brazilian Land Use

Model (BLUM). Report to the U.S. Environmental Protection

Agency Regarding the Proposed Changes to the Renewable

Fuel Standard Program. Docket EPA-HQ-OAR-2005-0161.

September 2009.

[6] AMARAL, W.A.N.; MARINHO, A.P.; TARASANTCHI, R.;

BEBER, A.; GIULIANI, E. Environmental sustainability of

sugarcane ethanol. Article in ZURBIER and VOOREN (org)

Sugarcane ethanol, contributions to climate change and the

environment. Wageningem Academic Publishers.

Netherlands, 2008.

Marcelo Moreira, André Meloni Nassar andSabrina FeldmanInstitute for International Trade Negotiations(Icone)(+ 55 11) 3021-0403Rua General Furtado Nascimento, 740, cj. 81,Alto de Pinheiros, 05465-070, São Paulo, SPwww.iconebrasil.org.br

Page 54: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica

54 Novembro/November 2009

Agenda

COP15 – CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBREMUDANÇAS CLIMÁTICAS

Período: 7 a 18 de dezembro de 2009Local: Bella Center – Copenhague, DinamarcaInformações: http://en.cop15.dk/

WORLD FUTURE ENERGY SUMMIT 2010

Período: 18 a 21 de janeiro de 2010Local: Abu Dhabi National Exhibition Centre (ADNEC) –Abu Dhabi, Emirados Árabes UnidosInformações: http://www.worldfutureenergysummit.com* Participação da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho,no Painel Renewable Policies, Planning andRegulation in the Developing World, dia 19 dejaneiro, 14h00

REUNIÃO DO GRUPO CONSULTIVO SOBRE ENERGIA EMUDANÇAS CLIMÁTICAS DO SECRETÁRIO-GERAL DAORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)

Período: 21 a 23 de janeiro de 2010Local: Yas Hotel – Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos* Participação da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho,na reunião

3RD ANNUAL DEVELOPING AND COMMERCIALISINGNEXT GENERATION BIOFUELS CONFERENCE

Período: 9 a 11 de fevereiro de 2010Local: Londres, Reino UnidoInformações: http://www.wfc2009.org

18º SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ÁLCOOISCOMBUSTÍVEIS

Período: 9 a 12 de março de 2010Local: The Claridges, Surajkund, Delhi NCR, ÍndiaInformações: http://www.isaf2010.org

WORLD BIOFUELS MARKETS 2010

Período: 15 a 17 de março de 2010Local: The RAI Exhibition and Congress Centre –Amsterdã, HolandaInformações: http://www.worldbiofuelsmarkets.com

BIT’ 3RD WORLD CONGRESS OF INDUSTRIALBIOTECHNOLOGY 2010

Período: 25 a 27 de Julho de 2010Local: Qingdao, ChinaInformações: http://www.bit-ibio.com/

EXPO ENERGIA 2010

Período: 18 a 21 de Agosto de 2010Local: Expo Center Norte – São Paulo, SP, BrasilInformações: http://www.expoenergia.com.br/br/index.php* Participação da coordenadora do Cenbio, Suani Coelho,como membro da Comissão Técnica de Biomassa doevento

COP15 – UNITED NATIONS CLIMATE CHANGECONFERENCE

Period: From December 7th to 18th, 2009Venue: Bella Center – Copenhagen, DenmarkInformation: http://en.cop15.dk/

WORLD FUTURE ENERGY SUMMIT 2010

Period: From January 18th to 21st, 2010Venue: Abu Dhabi National Exhibition Centre (ADNEC) –Abu Dhabi, United Arab EmiratesInformation: http://www.worldfutureenergysummit.com* Participation of Cenbio’s coordinator, Suani Coelho, in theRenewable Policies, Planning and Regulation in theDeveloping World Panel, on January 19th, at 2:00 PM

ADVISORY GROUP ON ENERGY AND CLIMATE CHANGEOF THE SECRETARY-GENERAL OF THE UNITED NATIONS(UN) MEETING

Period: From January 21st to 23rd, 2010Venue: Yas Hotel – Abu Dhabi, United Arab Emirates* Participation of Cenbio’s coordinator, Suani Coelho, in thereunion

3RD ANNUAL DEVELOPING AND COMMERCIALISINGNEXT GENERATION BIOFUELS CONFERENCE

Period: From February 9th to 11th, 2010Venue: London, United KingdomInformation: http://www.wfc2009.org

18TH INTERNATIONAL SYMPOSIUM ONALCOHOL FUELS

Period: From March 9th to 12th, 2010Venue: The Claridges, Surajkund, Delhi NCR, IndiaInformation: http://www.isaf2010.org

WORLD BIOFUELS MARKETS 2010

Period: From March 15th to 24th, 2010Venue: The RAI Exhibition and Congress Centre –Amsterdam, The NetherlandsInformation: http://www.worldbiofuelsmarkets.com

BIT’ 3RD WORLD CONGRESS OF INDUSTRIALBIOTECHNOLOGY 2010

Period: From July 25th to 27th, 2010Venue: Qingdao, ChinaInformation: http://www.bit-ibio.com/

EXPO ENERGIA 2010

Period: From August 18th to 21st, 2010Venue: Expo Center Norte – São Paulo, SP, BrazilInformation: http://www.expoenergia.com.br/us/index.php/* Participation of Cenbio’s coordinator, Suani Coelho, as amember of the Technical Comission on Biomass of theevent

Page 55: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica
Page 56: PÆginas 6 a 13 Pages 14 to 21 - IEE - Instituto de ...143.107.4.241/download/revista/RBB8.pdf · Suani Teixeira Coelho Universidade de São Paulo (USP) Instituto de Eletrotécnica