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O USO DO CINEMA NO ENSINO SUPERIOR: DADOS PRELIMINARES DE UMA PESQUISA NA UFOP Margareth Diniz/UFOP Valeska Fortes/ UFSM Resumo O presente artigo busca apresentar os dados coletados e analisados da pesquisa intitulada “Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema, desenvolvida na UFOP e em Santa Maria/Rio Grande do Sul. Em parceria com o Grupo de Pesquisas em Formação e Condição Docente (PRODOC/FAE/UFMG), com esta investigação identificamos, caracterizamos e analisamos as relações e vivências de professores da Universidade em relação ao cinema, e buscamos compreender as visões e concepções, o conhecimento e a prática docente e os significados e sentimentos que eles têm com o cinema e suas práticas cinematográficas na universidade e fora dela. A pesquisa desenvolvida apresentou como objetivo estabelecer uma interface com as atividades de extensão universitária, como também com as chamadas pesquisas colaborativas e com a pesquisa participante. Durante o desenvolvimento da pesquisa realizamos uma ampla pesquisa bibliográfica por meio de artigos, livros, teses, relacionados com a temática cinema e educação. Ainda, realizamos uma discussão coletiva acerca do questionário que seria aplicado como instrumento de coleta de dados no intuito de fazer os devidos ajustes com o publico a ser pesquisado no caso professores do ensino superior. Após o pré-teste, foi disponibilizado o questionário online, de forma a facilitar a participação dos professores da universidade. Sabemos mediante observações assistemáticas do cotidiano da sala de aula, da escola e da docência, e dos dados preliminares coletados nessa pesquisa que o cinema tem sido utilizado nas escolas, mediante a popularização do vídeo, dos DVDs e demais equipamentos e objetos necessários à exibição e produção de filmes, de cinema, e que muitos docentes utilizam filmes em suas aulas, para ilustrar e ampliar os ensinamentos de determinados conteúdos, mas no ensino superior ainda há uma certa resistência em seu uso, como verificamos a partir dos dados coletados. Palavras chave: Pesquisa; cinema; ensino superior. Introdução: O presente artigo busca apresentar os dados coletados e analisados da pesquisa i . “Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema, na UFOP e em Santa Maria/Rio Grande do Sul. Em parceria com o Grupo de Pesquisas em Formação e Condição Docente (PRODOC/FAE/UFMG), identificamos, caracterizamos e analisamos as relações e vivências de professores da Universidade em relação ao cinema, e buscamos compreender as visões e concepções, o conhecimento e a prática Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 05000

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O USO DO CINEMA NO ENSINO SUPERIOR: DADOS

PRELIMINARES DE UMA PESQUISA NA UFOP

Margareth Diniz/UFOP

Valeska Fortes/ UFSM

Resumo

O presente artigo busca apresentar os dados coletados e analisados da pesquisa

intitulada “Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema, desenvolvida

na UFOP e em Santa Maria/Rio Grande do Sul. Em parceria com o Grupo de Pesquisas

em Formação e Condição Docente (PRODOC/FAE/UFMG), com esta investigação

identificamos, caracterizamos e analisamos as relações e vivências de professores da

Universidade em relação ao cinema, e buscamos compreender as visões e concepções, o

conhecimento e a prática docente e os significados e sentimentos que eles têm com o

cinema e suas práticas cinematográficas na universidade e fora dela. A pesquisa

desenvolvida apresentou como objetivo estabelecer uma interface com as atividades de

extensão universitária, como também com as chamadas pesquisas colaborativas e com a

pesquisa participante. Durante o desenvolvimento da pesquisa realizamos uma ampla

pesquisa bibliográfica por meio de artigos, livros, teses, relacionados com a temática

cinema e educação. Ainda, realizamos uma discussão coletiva acerca do questionário

que seria aplicado como instrumento de coleta de dados no intuito de fazer os devidos

ajustes com o publico a ser pesquisado no caso professores do ensino superior. Após o

pré-teste, foi disponibilizado o questionário online, de forma a facilitar a participação

dos professores da universidade. Sabemos mediante observações assistemáticas do

cotidiano da sala de aula, da escola e da docência, e dos dados preliminares coletados

nessa pesquisa que o cinema tem sido utilizado nas escolas, mediante a popularização

do vídeo, dos DVDs e demais equipamentos e objetos necessários à exibição e produção

de filmes, de cinema, e que muitos docentes utilizam filmes em suas aulas, para ilustrar

e ampliar os ensinamentos de determinados conteúdos, mas no ensino superior ainda há

uma certa resistência em seu uso, como verificamos a partir dos dados coletados.

Palavras chave: Pesquisa; cinema; ensino superior.

Introdução:

O presente artigo busca apresentar os dados coletados e analisados da

pesquisai. “Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema, na UFOP e

em Santa Maria/Rio Grande do Sul. Em parceria com o Grupo de Pesquisas em

Formação e Condição Docente (PRODOC/FAE/UFMG), identificamos, caracterizamos

e analisamos as relações e vivências de professores da Universidade em relação ao

cinema, e buscamos compreender as visões e concepções, o conhecimento e a prática

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Page 2: O USO DO CINEMA NO ENSINO SUPERIOR: DADOS … USO DO...docência, no dia a dia da sala de aula e da escola. Mediante estudos de perfis de professores, a exemplo do que foi realizado

docente e os significados e sentimentos que eles têm com o cinema e suas práticas

cinematográficas na universidade e fora dela.

Pensar a vinculação do Cinema com a educação é de fundamental

importância, pois, ambos podem ser utilizados como instrumentos de enfrentamento da

realidade social onde estes sujeitos estão inseridos. A educação tende a introduzir o

reconhecimento de um determinado grupo. Este é determinado de várias

particularidades diferentes. A educação possibilita a formação de identidades, que

levem ao pertencimento dos sujeitos a uma categoria de atores sociais na busca do

fortalecimento da cidadania e direitos humanos. Já o cinema não pode ser separado

deste processo de reconhecimento.

Ao buscar teorizar e compreender um pouco mais o que denominamos

condição docente, analisando-a em sua fundação e realização, em suas texturas nas

sociedades contemporâneas, no Brasil, em particular, uma condição que se instaura na

relação docente/discente e que se desenvolve nos cenários da materialidade, da cultura e

da institucionalidade da escola (Teixeira, 2007) que se inscrevem, por sua vez, nos

processos, estruturas e dinâmicas sócio-históricas mais amplas, ressaltamos que a

condição docente se concretiza no exercício do trabalho de ensinar e aprender e de

aprender ensinando. Esse processo se associa não somente aos processos de formação

de professores, mas sobretudo às condições objetivas e subjetivas, materiais e

simbólicas das escolas e do exercício da docência, destacando-se as condições laborais

sob as quais o trabalho docente se realiza.

Como preocupação central no processo de formação docente articulado ao

processo de melhoria das condições docentes preocupa-nos, em especial, a formação

estético-expressiva, realizando dentre outras iniciativas na UFOP a ida a museus e sua

repercussão na ampliação do repertório cultural das professoras e em específico, aos

projetos de pesquisa/extensão em torno do cinema.

Considerando então que a vida nas sociedades contemporâneas, sociedades

do espetáculo, sociedades da imagem, colocam o cinema e o audiovisual em lugar de

destaque, interpelando com as mais diferentes imagens e cenas os indivíduos, sejam eles

crianças, jovens, adultos ou mais velhos, a educação do olhar, a leitura e alfabetização

imagética passa a se constituir um desafio e mais uma responsabilidade da escola.

Assim, a referida pesquisa desenvolvida em 5 estados brasileiros, dentre eles Minas

Gerais e Rio Grande do Sul, apresentemos a problemática central desta investigação,

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qual seja: as relações, os enredos, os significados, experiências e práticas dos docentes

com o cinema. Nas vidas dos professores nos interrogamos e buscamos compreender

algo mais acerca de seus encontros ou mesmo de seus desencontros com o cinema

ontem e hoje. Interrogamos e buscamos compreender sobre suas ideias, seus

sentimentos, suas experiências e práticas, seus trabalhos, individuais e coletivos com

cinema. Uma arte tão moderna que conheceram, as gerações mais antigas conheceram

em tempos remotos de suas vidas e que reencontram desta e daquela forma, neste e

naquele dia assim como as novas e intermediárias gerações docentes.

De acordo com (Teixeira, 2007) por uma razão e outra, aqui e acolá, nos

tempos e espaços de suas vidas cotidianas, na sala de aula, na escola, em suas

residências, nas salas de cinema, diante da TV ou onde seja docentes e discentes se

encontram com as imagens em movimento, com o audiovisual, com o cinema. Mas não

somente os docentes têm o cinema diante de si, pois que o cinema também os observa.

O cinema olha os professores/as e os descobre inteiramente humanos. Apreende-os,

compreende-os, captura-os em sua humana condição. Observados e interroga-os,

mirando-os em seus encontros e desencontros com as crianças, adolescentes e jovens

nos territórios da escola. O cinema olha os professores/as, reportando-se às salas de

aulas, aos corredores, aos pátios, aos espaços escolares das relações do ensinar-

aprender, do aprender-ensinando. O cinema olha os professores e penetra em suas

alegrias e dores, angústias e satisfações, venturas e desventuras. Toca em suas

dificuldades e realizações, nos sabores e dissabores do ofício de mestre. Penetra nas

incertezas e dúvidas dos docentes em seus sempre inacabamentos. Suas incompletudes.

O cinema olha os professores abrindo-se aos limites e potencialidades da docência, de

forma atenta, sensível, cuidadosa. Com um olhar que indaga e inquieta. Um olhar que

espreita e espera. Que anuncia e denuncia. Um olhar que surpreende. Isso é o que se

pode ver, ouvir e pensar diante de alguns filmes da cinematografia contemporânea,

cujos argumento e roteiro se desenrolam em torno da escola e seus sujeitos, de seus

textos e contextos. Não quaisquer filmes, mas um certo tipo de filmes e de cinema, que

não é o do puro consumo, nos termos de Bergala (2008).

A pesquisa partiu do pressuposto teórico-analítico de que os/as professores/as

são sujeitos socioculturais, que se diferenciam dos demais grupos, categorias e

segmentos de trabalhadores a partir de sua condição de docentes. Em outras palavras, a

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condição docente demarca os processos de construção identitária dos professores

particularizando-os face a outros atores, segmentos e grupos sociais.

Interrogamos ao longo da pesquisa como essa arte se coloca nestes cenários e

enredos da escola e da docência hoje? Por que falar e pensar o cinema na educação,

escola, na docência, no cotidiano da escola e nos processos educativos? O cinema

integra as mídias contemporâneas, nas quais as novas gerações estão enredadas. Assistir

a filmes e mesmo fazer pequenos exercícios fílmicos pode ser uma parte significativa da

formação e da experiência estética do sujeito contemporâneo, que nos remete à questão

da sensibilidade e do belo, que integra, por sua vez, a questão do que alguns denominam

como Educação do Olhar. É possível pensar, ainda, que a questão da estética nos

direciona para a problemática da formação e do exercício da ética, visto que projetos de

homem e hominização e a própria discussão da humanidade e do humanismo, e,

portanto, do ato e dos processos educativos, estão implicados em questões destes dois

domínios: ético e estético.

Mais especificamente, nos referimos não a qualquer criação ou obra

cinematográfica, ao cinema de puro consumo, nos termos de Alain Bergala (2008), mas

a um cinema que muito além da indústria cultural, é uma criação artística, como

também pode ser uma arte da memória, individual, coletiva, histórica. Pensamos em um

cinema que pensa, e que não é apenas transparência, mas opacidade. Buscamos, ainda,

uma discussão das relações entre Educação e Cinema, para muito além da utilização de

filmes como recurso didático ou de modo meramente instrucional. Ao contrário,

buscamos o cinema que participa da história não apenas como técnica, mas como arte e

ideologia, como linguagem e fruição estética, um cinema que interroga ao mesmo

tempo em que contempla e encanta a vida humana. O cinema como contemplação e

deslocamento, como experiência onírica e transcendência. Pensamos que a criação

cinematográfica é algo muito maior do que uma certa maneira de filmar, de posicionar e

de usar a câmera, pois implica em um maneiras de reconstruir e recriar a vida, podendo

dela extrair-se tudo o que se quiser, inclusive imaginar novas e outras formas de vivê-la.

O cinema, tal com a literatura, a pintura, a música, pode ser um meio de

explorarmos os problemas mais complexos do nosso tempo e da nossa existência,

expondo e interrogando a realidade em que vivemos, impedindo que ela nos obscureça e

nos submeta. Ao contrário, o cinema que pensa, pode propor novas formas de viver e

habitar o mundo, outro mundo, possível e necessário. Daí, também a simbiose que pode

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haver entre ética e estética nos terrenos da experiência e da aventura humana, nos

processos educativos e fazeres docentes.

Em suma, a escola, um direito de cidadania, está cada vez mais em pauta. Por

ser assim, os professores estão na cena, os professores estão nos palcos das salas de aula

e nas telas do cinema, tanto quanto nossas crianças, adolescentes e jovens estão nas

cenas e enredos da escola, da sala de aula, do campo e da cidade, daqui e acolá, em seus

protagonismos infantis e juvenis.

Os estudos e pesquisas no campo educacional, assim como os estudos do

mundo do trabalho, da Sociologia das Profissões e outros campos das Ciências

Humanas e Sociais, têm se debruçado sobre a docência e os docentes, sobre a escola e

seus sujeitos, seus tempos e espaços, entre outras de suas dimensões e aspectos.

Contudo, ainda há muito o que percorrer, o que problematizar, o que investigar e tentar

compreender. Entre o que ainda nos falta, entre as temáticas ausentes ou pouco

consideradas na investigação sobre os professores e a docência está a problemática das

práticas culturais docentes, nas quais se insere o cinema. Seja no que se refere às

relações e experiências dos professores com o cinema, seja quanto à sua utilização na

docência, no dia a dia da sala de aula e da escola.

Mediante estudos de perfis de professores, a exemplo do que foi realizado por

Fanfani (2005) ou da pesquisa de Gatti (2008) sabe-se que são raros os docentes que

frequentam salas de cinema e que se apropriam dos chamados bens culturais de um

modo geral. Contudo, não há estudos disponíveis que investiguem esta problemática

mais especificamente, examinando-a mais a fundo.

A pesquisa abordou dois ambientes educacionais: a Educação Básica, na qual

buscamos saber sobre o mal-estar docente, e no Ensino Superior, em que buscamos

saber se o cinema faz parte ou não de suas vidas e da sua prática docente, ou seja,

embora ela aconteça também no Ensino Superior, ela está vinculada à Educação Básica,

uma vez que nos interessa a posteriore entender como essa formação de professores nas

licenciaturas pode contribuir com a prática docente na educação básica. Assim, na

presente pesquisa buscamos identificar, caracterizar e analisar as relações e vivências de

professores/as da UFOP com o cinema. De um lado, no que se refere às suas histórias

pessoais e profissionais e as formas pelas quais o cinema nelas se faz presente,

buscando compreender as visões e concepções, os saberes e fazeres docentes acerca

desta arte em suas vidas. De outro, interrogamos não somente a forma como o cinema

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se faz presente ou as razões de sua ausência no trabalho docente no cotidiano da escola,

como também os significados e sentimentos inscritos em seus encontros com o cinema e

suas práticas cinematográficas ou com cinema na escola e fora dela.

Durante o andamento da pesquisa, foi feita a discussão em torno de um

instrumento básico construído também coletivamente e decidimos o que teria que ser

modificado, para que o questionário pudesse ser aplicado para os professores do Ensino

Superior. Com o intuito de saber se as questões estavam claras e objetivas, foi feito um

pré-teste onde percebemos o que poderia ser modificado para o melhor entendimento do

questionário, após o pré-teste, fizemos contato com o NTI para disponibilizar o

questionário online, sendo aplicado para os professores da universidade através da

plataforma online da UFOP.

Metodologia:

Optamos por desenvolver uma pesquisa de abordagem qualitativa utilizando

em sua primeira etapa como instrumento de coleta de dado a aplicação de um

questionário aos participantes e na segunda etapa a partir da categorização alcançada a

partir dos questionários trabalharemos os dados qualitativos. O questionário foi

estruturado a partir de três eixos a saber: O primeiro eixo analítico da investigação

intitulado: O cinema de cada um: viveres e memórias cinematográficas, que buscou

levantar e analisar como o cinema está colocado nas histórias e vidas pessoais dos

grupos de professores investigados. Foram investigadas as práticas usuais, as

experiências, o acesso e os significados, as concepções e as relações dos professores

com o cinema em suas vidas, no passado e no presente, através da elaboração de

memórias cinematográficas, entre outros encaminhamentos metodológicos. Esta

dimensão contempla não somente como os docentes compreendem, definem e

interpretam seus trabalhos educativo-pedagógicos com o cinema, mas também a

presença ou possível ausência do cinema na vida pessoal dos professores, visto que

ambas as dimensões, pessoais e profissionais não podem ser separadas.

O segundo vértice de análise, intitulado O cinema vai à universidade pelas

mãos dos professores procurou rastrear, identificar e categorizar os projetos, trabalhos e

atividades que envolvem cinema e educação, ou identificar alguns professores que

realizam tais projetos, trabalhos ou atividades com certa regularidade, independente da

maneira como o fazem, podendo variar desde a simples exibição de filmes até a

produção de pequenos filmes com os adolescentes e jovens alunos. Quanto à

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regularidade, os trabalhos e atividades com cinema que costumam ser realizados pelos

professores ao menos duas vezes a cada semestre letivo, ou seja, a cada quatro vezes em

cada ano escolar. Contudo, tendo em vista o pouco conhecimento que temos do assunto

no momento, essa referência poderá ser alterada para menos ou para mais, no que se

refere à regularidade deste tipo de trabalho, que será considerado seja quando realizado

individualmente por algum professor ou professora, seja coletivamente, por um grupo

de docentes.

O terceiro vértice ou eixo de análise intitulado “Professores no cinema e

professores fazendo cinema”, está articulado aos anteriores, porém deles se distingue.

Nele buscaremos analisar e compreender, como no vértice dois, as relações e

experiências profissionais e pessoais dos professores com o cinema e será realizado na

segunda etapa da pesquisa.

Após a coleta dos dados, foi feita a tabulação com os resultados obtidos, para

então começarmos uma análise preliminar. Na reunião de supervisão realizada com a

professora Valeska Fortes, foi decidido que fizéssemos categorias de análises, para

conhecer o perfil dos entrevistados e a sua relação com o cinema na vida e na prática

docente. Na extensão, em articulação com o programa PET-UFOP, produzimos um

catálogo contendo filmes e sinopses relacionados à educação e cinema a ser distribuído

entre os/as professores/as da educação básica e do ensino superior.

Resultados/ Análise

Aqui apresentaremos alguns dos dados levantados em relação ao primeiro

eixo: a participação dos professores da UFOP ocorreu de forma espontânea onde estes

puderam responder ao questionário. Tivemos um total de 46 professores/as, sendo que a

maior parte dos participantes é do sexo masculino. (65% masculino e 35% feminino).

Têm idade média entre 41 a 50 anos (Idade: 35% de 41 a 50 anos, 22% de 31 a 35 anos,

19% de 36 a 40 anos, 8% de 26 a 30anos, 5% de 51 a 55 anos, 5% de 56 ou mais e 3%

até 25 anos. Dos participantes que assistem filmes, a grande parte se considera branca

(70% branco, 27% indígena, 3% pardo). Pouco mais da metade dos participantes não

tem filhos (Filhos: 51% não, 49% sim). 100% têm nível de graduação completa na

formação escolar e a maior parte não fez pós-graduação Lato Sensu (Lato Sensu –

Especialização: 73% não fez, 24% completo, 3% em curso), mas em relação à Pós-

graduação Strictu Sensu – Mestrado: 94% possuem, 3% estão em curso e 3% não fez) e

Doutorado: 62% completo, 22% em curso, 16% não fez. A grande maioria dos

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participantes não exerce outra ocupação remunerada (89% não e 11% sim). Em relação

ao trabalho doméstico e sua freqüência os participantes responderam que: 38% realizam

semanalmente, 32% diariamente, 16% raramente, 11% nunca realiza, 3%

quinzenalmente. A maior parte dos participantes tem renda mensal acima de 10 salários

mínimos, sendo que a renda menor é de 2 a 4 salários mínimos. (Renda mensal pessoal:

49% acima de 10 salários mínimos, 27% de 07 a 10 salários mínimos, 13% de 04 a 07

salários mínimos, 11% de 02 a 04 salários mínimos).

No gráfico abaixo agrupamos nove gráficos da mesma categoria, para

visualizar a porcentagem maior de cada resposta dos entrevistados, em relação a sua

assistência de filmes fora da escola, como mostra em síntese o gráfico 1.

De acorde com o gráfico acima, observa-se que o hábito de assistir filme com

membros da família como esposa, companheiro, esposa e filhos, foi declarado como

sem frequência alguma em quase, ou até mais, que a metade da população entrevistada.

A minoria em geral assistem filmes junto a amigos. O hábito de assistir filme com

membros da família como irmãos, pais e sobrinhos, foi declarado como sem frequência

alguma em quase, ou até mais, que a metade da população entrevistada. Com membros

da família como outros parentes ou outros, foi declarado como sem frequência alguma

em quase, ou até mais, que a metade da população entrevistada. A maioria assistem

filmes sozinhos.

No segundo eixo: Podemos perceber que quase todos os entrevistados tem o

hábito de assistir filmes (97% sim e 3% não), sendo que quase a metade dos

entrevistados assistem filmes semanalmente em (DVD/ Locadora/ Vídeo/ Internet),

informando que 40% semanalmente, 30% raramente, 22% quinzenalmente, 8%

mensalmente e mais da metade dos entrevistados assistem filmes no cinema

mensalmente (32% mensalmente), raramente (30%), quinzenalmente (27%),

semanalmente (11%). Quase a metade dos entrevistados costuma assistir filmes fora da

escola com amigos no tempo livre algumas vezes (49% algumas vezes, 30% raramente,

13% sempre, 8% nunca). Quase a metade, assistem filmes fora da escola com esposa/o

ou companheiro/a algumas vezes (40% algumas vezes, 35% sempre, 22% nunca, 3%

raramente). Mais da metade dos participantes nunca assistem filmes com os filhos (62%

nunca, 22% algumas vezes, 11% sempre, 5% raramente); com irmãos (47% nunca, 25%

algumas vezes, 25% raramente, 3% sempre). Mais da metade dos participantes nunca

assistem filmes com pais (57% nunca, 21% raramente, 19% algumas vezes, 3%

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sempre), ou com sobrinhos (57% nunca, 30% algumas vezes, 13% raramente) e mais da

metade dos participantes nunca assistem filmes com outros parentes (68% nunca, 19%

algumas vezes, 13% raramente). Podemos perceber que quase a metade dos

entrevistados costuma assistir filmes sozinhos sempre (46% sempre, 40% algumas

vezes, 11% raramente, 3% nunca). A grande maioria dos participantes nunca assistem

filmes com outros (78% nunca, 14% algumas vezes, 5% sempre, 3% raramente). A

título de síntese apresentamos o gráfico 2. A frequência em que assistem a estes filmes é

semanalmente, sendo tais de locadora, DVD, internet, televisão e vídeo. Assistir filmes

diretamente no cinema não é muito frequente entre os entrevistados.

Quanto à indicação de filmes, mais da metade dos participantes costumam

seguir recomendações de indicações sobre filmes (58% sim, 36% eventualmente, 6%

não). E a grande maioria dos participantes considera que o mais importante na escolha

do filme é o tema/ assunto, sendo que o que se pode ver, ouvir e pensar diante de alguns

filmes da cinematografia contemporânea, cujos argumentos e roteiro se desenrolam em

torno da escola e seus sujeitos, de seus textos e contextos, confirmando o que Bergala

(2008) afirma: não quaisquer filmes, mas certo tipo de filmes e de cinema, que não é o

do puro consumo. Neste repertório não estão, por exemplo, filmes hollywoodianos

exibidos em inúmeras salas de cinema, nos quais os professores são apresentados como

salvadores ou heróis, mas outros tipos de cinematografia, de um cinema feito como arte,

como indicam os dados: 70% tema/assunto, 19% diretores, 5% atores, 3% ano, 3%

todos os itens acima me interessam. Mais da metade tem preferência por algum gênero

de filme (68% sim e 32% não).

Mais da metade dos entrevistados costuma exibir filmes em seus trabalhos de

professor/a algumas vezes e sempre. O cinema olha os professores e penetra em suas

alegrias e dores, angústias e satisfações, venturas e desventuras. Toca em suas

dificuldades e realizações, nos sabores e dissabores do ofício de mestre. Penetra nas

incertezas e dúvidas dos docentes em seus sempre inacabamentos. Suas incompletudes.

O cinema olha os professores abrindo-se aos limites e potencialidades da docência, de

forma atenta, sensível, cuidadosa. Com um olhar que indaga e inquieta. Um olhar que

espreita e espera. Que anuncia e denuncia. Um olhar que surpreende (32% algumas

vezes, 30% sempre, 24% raramente, 14% nunca). Quase a metade dos entrevistados

costumam usar filmes raramente na universidade. Trata-se, ainda, de observações e

conhecimentos pouco sistematizados que deixam a descoberto os diferentes aspectos,

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questões e dimensões constitutivas das relações e diálogos possíveis entre educação e

cinema, entre docência e cinema, entre sala de aula e cinema. Pouco se conhece acerca

dos limites e possibilidades do cinema na escola, inclusive como elemento que pode

qualificar e aprimorar as relações entre docentes discentes no dia a dia da escola e das

salas de aula (41% raramente, 17% semestralmente, 14% a cada dois meses, 14% a cada

três meses, 11% mensalmente, 3% semanalmente). Embora a maioria alegue que nunca

teve dificuldade para trabalhar com exibição de filmes na universidade (43% nunca,

35% algumas vezes, 22% sempre), percebemos que mais da metade dos entrevistados

considera pouco necessário a exibição de filmes pelos professores em seus trabalhos

com os/as estudantes. Mas não somente os docentes têm o cinema diante de si, pois que

o cinema também os observa. O cinema olha os professores/as e os descobre

inteiramente humanos. Apreende-os, compreende-os, captura-os em sua humana

condição. Observa os e interroga-os, mirando-os em seus encontros e desencontros com

as crianças, adolescentes e jovens nos territórios da escola. O cinema olha os

professores/as, reportando-se às salas de aulas, aos corredores, aos pátios, aos espaços

escolares das relações do ensinar-aprender, do aprender-ensinando (67% um pouco

necessário, 30% imprescindível, 3% desnecessário) e assim, mais da metade dos

entrevistados nunca realiza outras atividade com cinema, além da exibição de filmes na

universidade. Quase a metade dos entrevistados considera pouco necessária a realização

de atividade com cinema pelos professores em seus trabalhos com os/as estudantes.

Considerando que o cinema integra as mídias contemporâneas, nas quais as novas

gerações estão enredadas. Assistir a filmes e mesmo fazer pequenos exercícios fílmicos

pode ser uma parte significativa da formação e da experiência estética do sujeito

contemporâneo, que nos remete à questão da sensibilidade e do belo, que integra, por

sua vez, a questão do que alguns denominam como Educação do Olhar precisamos

realizar um trabalho de formação com os docentes nessa direção (57% um pouco

necessário, 32% imprescindível, 11% desnecessário).

A grande maioria dos participantes considera que a exibição de filmes e

atividades com cinema, tem grande impacto e/ou contribuição na sua experiência de

vida, pessoal e profissional (78% tem grande impacto e/ou contribuição, 16% tem

pouco impacto, 6% não tem impacto), mas alegam que poderiam participar de grupos de

trabalho e/ou de projetos sobre cinema/professor/universidade (62% sim e 38% não).

Considerações finais:

Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores

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Sabemos mediante observações assistemáticas do cotidiano da sala de aula,

da escola e da docência, e dos dados preliminares coletados nessa pesquisa que o

cinema tem sido utilizado nas escolas, mediante a popularização do video, dos DVDs e

demais equipamentos e objetos necessários à exibição e produção de filmes, de cinema,

e que muitos docentes utilizam filmes em suas aulas, para ilustrar e ampliar os

ensinamentos de determinados conteúdos, mas no ensino superior ainda há uma certa

resistência em seu uso, como verificamos a partir dos dados coletados. Contudo trata-se,

ainda, de observações e conhecimentos pouco sistematizados que deixam a descoberto

os diferentes aspectos, questões e dimensões constitutivas das relações e diálogos

possíveis entre educação e cinema, entre docência e cinema, entre sala de aula e cinema.

Pouco se conhece acerca dos limites e possibilidades do cinema na escola, inclusive

como elemento que pode qualificar e aprimorar as relações entre docentes discentes no

dia a dia da escola e das salas de aula.

A segunda parte da pesquisa que terá o terceiro eixo de análise como foco

visará entender a docência propriamente dita, os sentidos e significados que os

professores lhe atribuem, bem como as dificuldades, as tensões, as alegrias, realizações

e conquistas dos professores são focalizada, tendo o cinema como um recurso

mobilizador desta discussão. Isto é, essas questões serão investigadas com grupos de

professores a partir de filmes ou produções cinematográficas que discutem a docência,

porque trazem em seu argumento e roteiro a escola e seus sujeitos, os professores de

modo especial. Neste caso, os docentes investigados se verão como num espelho,

vendo-se na tela.

Consideramos assim, que uma arte tão moderna que conheceram, as gerações

mais antigas conheceram em tempos remotos de suas vidas e que reencontram desta e

daquela forma, neste e naquele dia assim como as novas e intermediárias gerações

docentes. Por uma razão e outra, aqui e acolá, nos tempos e espaços de suas vidas

cotidianas, na sala de aula, na escola, em suas residências, nas salas de cinema, diante

da TV ou onde seja docentes e discentes se encontram e se encontrarão com as imagens

em movimento, com o audiovisual, com o cinema.

Referências bibliográficas:

Diniz, Margareth; NUNES, Célia; TEIXEIRA, Inês. Projeto de pesquisa:

“Enredos da vida, telas da docência: os professores e o cinema”. CNPQ. 2012 – 2014.

Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores

EdUECE- Livro 205010

Page 12: O USO DO CINEMA NO ENSINO SUPERIOR: DADOS … USO DO...docência, no dia a dia da sala de aula e da escola. Mediante estudos de perfis de professores, a exemplo do que foi realizado

BERGALA, Alain (2008). A Hipótese-Cinema: pequeno tratado de transmissão do

cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: UFRJ.

RAMOS, Ana Lúcia Azevedo e TEIXEIRA, Inês Assunção de Castro (2010).

Os professores e o cinema na companhia de Bergala. Revista Contemporânea de

Educação, 5 (10), pp.7-22.

TEIXEIRA, Ines Assunção de Castro (2007). Da condição docente: primeiras

aproximações teóricas. Revista Educação & Sociedade, 28 (99), pp.426 a 443.

Gráfico 1

49 % 40 %62 %

47 %57 % 57 % 67 %

46 %

78 %

0

20

40

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100

Nos seus tempos livres, fora da escola, com quem você costuma assistir filmes

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Gráfico 2

i O presente artigo busca apresentar os dados coletados e analisados da pesquisa. “Enredos da vida, telas da docência:

os professores e o cinema, na UFOP e em Santa Maria/Rio Grande do Sul. Em parceria com o Grupo de Pesquisas em

Formação e Condição Docente (PRODOC/FAE/UFMG), identificamos, caracterizamos e analisamos as relações e

vivências de professores da Universidade em relação ao cinema, e buscamos compreender as visões e concepções, o

conhecimento e a prática docente e os significados e sentimentos que eles têm com o cinema e suas práticas

cinematográficas na universidade e fora dela.

40 % 40 %32 %

01020304050

Meio em que assistem filmes

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