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Rev. Cient. InFOC v.1 n.2 jan-jun. 2017 ISSN 2525443X ODONTOLOGIA
O ATUAL CRITÉRIO DE INDICAÇÃO DE EXODONTIA DO PRIMEIRO PRÉ-MOLAR
NO CONTEXTO DA ORTODONTIA AUTOLIGADA
The current criterion for indication of the first premolar extraction in the context of self-ligating
orthodontics
*Flávia do Bem Castilho Almeida ** Leonardo Alcântara Cunha Lima *** Vinícius Alcântara Cunha
Lima**** Célia Alcântara Cunha Lima ***** Thiago Barros da Silva
RESUMO
Através da apresentação dos primeiros meses de tratamento de três casos clínicos tratados no curso
de especialização em Ortodontia do UNIFLU, procuramos esclarecer os critérios para indicações de
exodontias de primeiros pré-molares quando tratados com aparelhos autoligados. Concluiu-se que
dentre os fatores favoráveis à exodontia estariam o perfil convexo a protrusão dentária e apinhamento
severo. Porém, frente à presença de vedamento labial passivo e grande apinhamento, o uso adequado
de fios termodinâmicos eliminaram a necessidade de exodontias, permitindo expressivo ganho
transversal, mantendo-se o equilíbrio facial.
Palavras Chave: Exodontias de primeiros pré-molares, Aparelho autoligado, Vedamento labial.
ABSTRACT
Through the presentation of the first months of treatment of three clinical cases treated in the
specialization course in Orthodontics of UNIFLU, we sought to clarify the criterion for indications
of first premolar extractions when treated with self-ligating devices. We conclude that among the
factors favorable to the extraction are: convex profile, dental protrusion and severe crowding.
However, in view of the presence of passive labial sealing and large crowding, the proper use of
thermodynamic wires eliminated the need for tooth extraction, allowing a significant transversal gain,
maintaining facial balance.
Keywords: First premolar extractions, Self-ligating, Labial sealing.
*Pós-Graduanda em Ortodontia. Centro Universitário Fluminense UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
** Doutor em Ciências Odontológicas – Ortodontia. Professor titular de Ortodontia. Professor do Curso de Especialização
em Ortodontia do Centro Universitário Fluminense UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
*** Mestrando em Ortodontia. Professor do Curso de Especialização em Ortodontia do Centro Universitário Fluminense
UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
**** Doutora em Ciências Odontológicas -Ortodontia. Coordenadora de Pesquisa e Extensão do Centro Universitário
Fluminense UNIFLU. Coordenadora do Curso de Ortodontia UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
***** Mestrando em Ortodontia. Professor do Curso de Especialização em Ortodontia do Centro Universitário
Fluminense UNIFLU. Campos dos Goytacazes RJ.
Recebido em 22∕11∕2016 Aceito em 30∕11∕2016. Endereço para correspondência: [email protected]
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1. INTRODUÇÃO
Já há bastante tempo lança-se mão de exodontias em Ortodontia, seja em casos de elementos
dentários supranumerários, de terceiros molares para os quais não há espaço para irrupção ou correção
de linha mediana. Entretanto, o motivo pelo o qual mais se utilizam extrações dentárias no tratamento
ortodôntico é o alinhamento; nos casos de apinhamento moderado a severo, a fim de se evitar o efeito
colateral da protrusão dentária e para a correção de má oclusão de classe II. Tais extrações podem
ser de dois ou de quatro dentes, sempre em busca da manutenção ou melhora do perfil.
A extração dos primeiros pré-molares são as que mais resultam em alterações no perfil, por
isso deve ser muito bem planejadas para cada caso (HOFFELDER et al. 2003).
O alinhamento e nivelamento e também as mêcanicas de fechamento de espaço após
exodontias, sofrem interferência do atrito durante a movimentação. Sendo assim, o ortodontista deve
sempre procurar eliminar os fatores que interferem na movimentação, e aproveitar os artifícios
existentes. É sabido que hoje existe um sistema de alta tecnologia, o sistema autoligado, que reduz
muito o atrito na mecânica ortodôntica (ZANELATO et al., 2013). Associando este benefício do
baixo atrito à força muscular, a qual desde sempre é de particular interesse no planejamento do
tratamento ortodôntico, temos o benefício da autocinese e da ancoragem muscular (LOPES, 2015;
LAMBRECHTS et al., 2010). Com isso os casos de indicações de exodontia tornaram-se bastante
criteriosos, baseados em fatores como padrão facial, características do sorriso, crescimento vertical,
entre outros e há necessidade de uma maior análise em casos limítrofes (MALTAGLIATI, 2015).
Este trabalho visa esclarecer os critérios de indicações de exodontias de primeiros pré-
molares, quando tratados com aparelhos autoligados, ilustrados através de relato de casos clínicos.
2. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
O projeto de pesquisa referente a este relato de casos clínicos foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do UNIFLU.
3. REVISÃO DA LITERATURA
Proffit (1994) estudou a frequência de extração de pré-molares na clínica ortodôntica da
Universidade de Carolina do Norte durante quarenta anos e observou o declínio das extrações de
primeiro pré-molar durante este tempo. Atribuiu este fato à maior preocupação com o impacto das
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extrações na estética facial, a não garantia de estabilidade e a preocupação com a disfunção
temporomandibular.
Suguino et al. (1996) realizaram um estudo profundo de análise facial para auxiliar no
diagnóstico e plano de tratamento ortodôntico visto que os conceitos hoje vigentes remetem ao
equilíbrio e harmonia dos traços faciais.
Hoffelder et al. (2003) abordaram através da revisão da literatura, as possíveis alterações no
perfil facial decorrentes de extrações de primeiros pré-molares no tratamento ortodôntico.
Concluíram que as extrações teriam sua indicação e esta deveria estar baseada no plano de tratamento
individualizado e que as extrações de primeiros pré-molares podem provocar mudanças favoráveis
no perfil, o que justificaria o sucesso do procedimento. Porém seria necessário atentar para as
mudanças desfavoráveis que poderiam aparecer quando o diagnóstico individual não for realizado.
Afirmaram haver uma concordância entre os profissionais quanto à indicação de extração de
primeiros pré-molares visando a melhora do perfil, e mesmo com todos estes esclarecimentos, ainda
se teriam dúvidas, em casos limítrofes.
Brant & Siqueira (2006) compararam alterações no perfil tegumentar em 30 pacientes do
gênero feminino, leucodermas, apresentando inicialmente má oclusão Classe II, 1a divisão, tratadas
com extrações dos quatro primeiros pré-molares, e um grupo de pacientes tratados de forma similar,
mas sem nenhuma extração. Concluíram que ambos os grupos tratados com e sem extrações de pré-
molares apresentaram valores médios normais na avaliação do perfil facial ao final do tratamento,
com melhora significativa na posição do lábio inferior, diminuição do espaço interlabial e aumento
do ângulo do perfil facial.
Busato et al. (2006) realizaram um estudo no qual compararam o comportamento da forma do
arco inferior durante as fases de tratamento e pós-contenção, em pacientes portadores de má oclusão
Classe II de Angle. O protocolo ortodôntico incluiu extrações de dois e de quatro pré-molares,
portanto com e sem extrações no arco inferior. Os resultados foram relatados como tendo mostrado
que se poderia esperar o mesmo grau de recidiva pós-contenção da forma do arco inferior em
pacientes com má oclusão de Classe II, quando o tratamento fosse conduzido com extrações de dois
pré-molares superiores, ou quando realizado com extrações de quatro pré-molares.
Almeida et al. (2008) avaliaram cefalometricamente as mudanças do ângulo nasolabial em
pacientes submetidos ao tratamento ortodôntico com e sem exodontias dos primeiros pré-molares, e
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correlacionaram este ângulo com as alterações na inclinação do incisivo superior, do lábio superior e
da base do nariz. Tiraram como principais conclusões o aumento significativo no ângulo nasolabial
no grupo com exodontia dos primeiros pré-molares, assim como alteração na posição do lábio
superior e incisivo superior. Esses referidos ângulos não se alteraram significativamente no grupo
que não recebeu as extrações. Todas as outras medidas analisadas não apresentaram diferenças
estatísticas entre os dois grupos, entre os tempos iniciais e finais.
Lambrechts et al. (2010) estudaram 107 pacientes sendo 63 do gênero feminino e 44 do
gênero masculino com idade entre sete e 45 anos, com a intenção de avaliar se haveria diferenças
estatisticamente significativas entre a pressão lábio e pressão da língua, assim como avaliar se essas
diferenças seriam influenciadas por gênero, idade, tipo de má oclusão, e hábitos orais. Observaram
em seus resultados que a pressão labial é maior nos homens do que nas mulheres e não haver
evidências de diferença de pressão labial por idades. Menor pressão do lábio foi relatada em pacientes
classe II primeira divisão do que em pacientes classe I de Angle. No que diz respeito à relação entre
os hábitos orais e pressão dos lábios, afirmaram haver maior pressão lingual em indivíduos com
interposição lingual durante a deglutição do que se comparados à pressão dos lábios de indivíduos
sem selamento labial.
Oliver et al. (2011) estudaram a influência de atrito em mecânicas de deslizamento em
aparelhos autoligados passivos, ativos e interativos. Para o estudo utilizaram diferentes marcas e
avaliaram o atrito em três diferentes espessuras de arcos retangulares: 0,017”x0,022”, 0,017”x0,025”
e 0,019”x0,025”. Concluíram que em mecânicas de deslize com aparelhos passivos o atrito seria
significativamente menor se comparado aos ativos. E em aparelhos ativos, quanto maior a
profundidade (tamanho vestíbulo-lingual) do fio maior seria a resistência ao movimento de deslize.
Prettyman et al. (2012) realizaram um estudo cujo objetivo foi avaliar se as vantagens do
aparelho autoligado seriam percebidas pelos ortodontistas na prática diária e qual tipo de suporte seria
preferido. Relatram que o aparelho autoligado foi preferido principalmente pelo progresso mais
rápido na fase inicial do tratamento e maior intervalo de consultas. Em contrapartida a maioria
preferiu o suporte convencional para acabamento e finalização dos tratamentos e por oferecerem
menor custo e menos consultas de urgências. Concluíram que no geral, ortodontistas preferem o
suporte autoligado ao convencional e quanto mais casos são tratados com autoligados mais os
profissionais apontam preferências por esses suportes.
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Bicalho & Bicalho (2013) inferiram que o número de indicações de extrações visando
correção de más oclusões diminuíram consideravelmente com o passar dos anos. A experiência
clínica estaria mostrando que extração de pré-molares não garantiriam necessariamente estabilidade
do alinhamento dentário a longo prazo, sendo possível tratar pacientes sem exodontias a partir de
análises cuidadosas dos casos. Demonstraram que em casos limítrofes, em que haja dúvidas quanto a
necessidade de extração em apinhamentos moderados, a mecânica oferecida pelos braquetes
autoligados favoreceria o tratamento não extracionista, simplificando a mecânica utilizada e
produzindo efeitos colaterais reduzidos e previsíveis.
Zanelato et al. (2013) inferiram sobre a tendência em Ortodontia em buscar soluções que
permitam o movimento dentário de forma mais simples e eficiente. Consideraram o atrito como
dificultador do movimento e afirmaram ser dever do ortodontista identificar e minimizar esse tipo de
interferência da movimentação dentária. Buscaram diminuir este atrito em biomecânicas de deslize
através de aparelhos autoligados, que têm sendo amplamente utilizados. O deslize estaria presente
nas fases iniciais do tratamento, nas fases de alinhamento e nivelamento e nas mecânicas de
fechamento de espaço.
Neto et al. (2014) realizaram uma revisão de literatura a fim de descrever as características, a
importância e as vantagens dos autoligáveis em Ortodontia. Concluíram que a principal vantagem
dos braquetes autoligáveis seria a otimização do tempo de atendimento clínico, possível graças ao
baixo atrito entre o braquete e o fio, principalmente na fase inicial do tratamento ortodôntico, além
de melhores resultados estéticos, e uso de forças de menor intensidade.
Valentim et al. (2014) descreveram o desenvolvimento de um método para medir as forças
exercidas por lábio e língua sobre o incisivo superior durante posição habitual e deglutição.
Participaram 28 sujeitos (10 do gênero masculino e 18 do gênero feminino), com idades variando
entre 19 e 31 anos (média de 23,2 anos). Concluíram que em posição habitual, o lábio exerceria uma
força maior do que a língua sobre o dente enquanto que durante a deglutição, não tendo sido verificada
diferença entre força de língua e lábio sobre esse dente.
Jacob & Frenck (2015) avaliaram os resultados clínicos do uso de braquetes autoligáveis, os
quais apresentam baixo atrito e melhor leitura de torque, em pacientes com arcada inferior triangular
(atrésica) e em casos de mordida aberta. Concluíram que o uso desses braquetes na primeira situação
apresentaria importante efeito expansivo dentoalveolar e correção da mordida aberta anterior com
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mecânicas simples. Porém, para se obter bons resultados seria sempre imprescindível um correto
diagnóstico.
Lopes (2015) abordou a necessidade contemporânea relativa à estética e menor tempo de
tratamento. Para isso seria utilizado dentre outras ferramentas de alta tecnologia, a ortodontia digital,
associada ao benefício da autocinese e ancoragem muscular proporcionadas pelo baixo atrito dos
aparelhos autoligados passivos e interativos, ou através da combinação dos sistemas, dependendo da
necessidade mecânica. Isto culminou na alta produtividade nos consultórios tendo menor tempo de
cadeira entre cada paciente, menor número de consultas e melhoria na qualidade de vida do
profissional.
Maltagliati (2015) discutiu fatores determinantes na indicação de extração dentária para a
correção de más oclusões com aparelhos autoligados, através de revisão de literatura e relatos de
casos. Descreveu características predisponentes do perfil facial, sorriso e fatores oclusais que seriam
indicativos de ganho de espaço através de desgastes ou extração, e aquelas características que
geralmente não seriam favoráveis ao ganho prévio de espaço. Concluiu que quando mais de um fator
é favorável ao ganho de espaço há fortes indícios para se obter, porém quando apenas uma
característica é indicativa, a protrusão dos incisivos é fator determinante de ganho de espaço enquanto
fatores de crescimento vertical, mordida aberta anterior seriam fatores predisponentes.
Ursi & Matias (2015) apresentaram princípios gerais que norteariam a mecânica ortodôntica
com autoligáveis. De maneira simples e objetiva, abordaram as características ideais desses
braquetes, uso de diferentes prescrições, posicionamento das peças, mecânicas específicas como o
uso da desarticulação das arcadas, uso de elásticos no início do tratameno, diferentes aplicações no
uso de stops, desgastes interproximais tudo isso para um tratamento ortodôntico de qualidade com
resultados estáveis e eficientes.
3. RELATO DE CASOS CLÍNICOS
Os casos relatados a seguir foram tratados na clínica do curso de especialização em Ortodontia
do Centro Universitário Fluminense – UNIFLU.
O primeiro caso é de M.V.R.B, gênero feminino de 11 anos, procurou tratamento ortodôntico
para corrigir o apinhamento dos incisivos laterais, os quais a incomodava. Analisando a face observa-
se características mesofaciais, perfil reto, pequeno aumento do terço inferior da face. Nos aspectos
intrabucais observou-se dentição mista, classe III de Angle subdivisão esquerda, apinhamento severo
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na arcada superior com os incisivos laterais girovertidos e posicionados por lingual, sem espaço para
erupção dos caninos superiores, atresia maxilar com mordida cruzada do lado direito e incisivos
inferiores retroinclinados por compensação muscular (Fig. 1).
Figura 1: Fotos extra e intraorais iniciais.
Na primeira consulta foi indicada a exodontia dos elementos dentários decíduos
remanescentes. Após este processo, foi montado inicialmente a arcada superior com aparelho
autoligado e inserido o fio termoativado de liga níquel-titânio-cobre (CuNiTi) 0,013” e mantido por
três meses (Fig. 2). O aparelho inferior foi montado posteriormente, lançando-se mão de levantes
oclusais para desarticulação entre as arcadas, e foi seguido a sequência de evolução dos fios
termoativados 0,014”, 0,014”x 0,025”, 0,017”x 0,025” mantidos por aproximadamente dois meses
cada fio (Fig. 3). Após esta fase de alinhamento e nivelamento a paciente encontrava-se preparada
para iniciar a mecânica avançada para tratamento da classe III.
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Figura 2: Montagem do aparelho superior
Figura 3: Evolução da sequência de arcos termoativados. Observa-se melhora da atresia
maxilar.
O segundo caso apresentado foi M.L.S.S.C., gênero feminino, de 14 anos. Paciente de
características faciais padrão II, mesofacial, apresentando apinhamento acentuado com significativo
overjet devido à protrusão dos incisivos superiores, retroinclinacão dos incisivos inferiores, linha
queixo-pescoço diminuída, caracterizando retrusão mandibular e adequado selamento labial (Fig. 4).
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Figura 4: Fotos extra e intra orais iniciais.
Devido ao bom padrão muscular optou-se pela estratégia não extracionista. Com apenas seis
meses de tratamento após a montagem do aparelho e uso adequado dos fios termoativados pode-se
observar acentuada melhora do apinhamento (Fig. 5). Após a fase de alinhamento e nivelamento a
paciente encontrar-se-á preparada para receber o aparelho propulsor mandibular com o qual será
corrigida a relação de classe II de caninos, overjet e desvio de linha média.
Figura 5: Após os primeiros fios de alinhamento.
O terceiro caso é de A.G.O.A., 20 anos, gênero masculino. A análise facial revelou perfil
aceitável com aumento do terço inferior da face e notável assimetria facial com desvio da mandíbula
para o lado esquerdo. Não há história de traumatismo em côndilo da mandíbula na infância. No
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aspecto intrabucal podemos observar mordida cruzada anterior e no lado esquerdo, com forte desvio
de linha média para o mesmo lado, caninos superiores ectópicos, classe III de Angle subdivisão direita
(Fig.6).
Figura 6: Fotos extra e intrabucais.
Devido ao eficiente selamento labial e visando a expansão dentoalveolar superior, foi
preconizado o tratamento não extracionista com o sistema autoligado com uso de fios de CuNiTi e
levantes oclusais (Fig.7). Após oito meses de tratamento houve considerável expansão dentoalveolar
da maxila e melhora no desvio de linha média (Fig. 8).
Figura 7: Montagem do aparelho superior.
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Figura 8: Após oito meses de tratamento com sistema autoligado com uso de elásticos
de uso precoce.
4. DISCUSSÃO
As extrações de primeiros pré-molares podem provocar grandes mudanças no perfil dos
pacientes, por isso têm sua indicação e devem estar baseada no plano de tratamento individualizado
para cada paciente (HOFFELDER et al., 2003; MALTAGLIATI, 2015).
O desafio do diagnóstico ortodôntico não reside nos casos que declaradamente requerem
extrações, ou naqueles que não as necessitam, mas sim em um extenso grupo conhecido como casos
limítrofes, ou borderlines (BICALHO e BICALHO, 2013). Esses casos considerados limítrofes
muitas vezes são corrigidos com braquetes autoligáveis sem exodontias. A mecânica de baixo atrito
oferecida por esses braquetes promove um alinhamento e nivelamento eficientes além de simplificar
a mecânica ortodôntica e produzir efeitos colaterais reduzidos e previsíveis (URSI e MATIAS, 2015).
A redução do atrito na interface slot/clipe/arco traz como vantagem a utilização de forças
leves, em um ambiente passivo, com fluidez biomecânica, que interagem com as forças geradas pelos
lábios (músculo orbicular), bochechas (m. bucinador), língua e o sistema neuromuscular do paciente,
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produzindo dois efeitos fundamentais para o entendimento da técnica autoligável: autocinese e
ancoragem muscular (LOPES, 2015).
A posição dos dentes é estabelecida por forças que os equilibram mutuamente. E a
movimentação dentária ocorre quando uma força é maior ou durar mais do que a sua força de
neutralização. Sendo a duração da força mais importante do que a sua magnitude. (LAMBRECHTS
et al., 2010; VALENTIM et al., 2014). Visto isso, quando os caninos se encontram em infra-versão e
vestíbulo-versão, se o ortodontista realizar a extração dos primeiros pré-molares, dois a três meses
antes da colocação do aparelho fixo, os caninos sofrem pressão do músculo orbicular dos lábios no
sentido ânterposterior melhorando consideravelmente a posição destes dentes. Montado o aparelho,
o deslizamento do fio no interior do braquete ocorre mais facilmente o que favorece o movimento
distal do canino sem o movimento vestibular dos dentes anteriores (NETO et al., 2014), o que
caracteriza ancoragem muscular. Essas extrações devem ser realizadas no início do tratamento. O
objetivo é transferir todo problema anterior para os espaços deixados pelas extrações e, assim,
promover o alinhamento sem prejudicar o setor anterior através de adaptação fucional posterior. Os
efeitos da adaptação transversal nos braquetes autoligáveis não impedem a utilização de aparelhos
expansores fixos para disjunção palatina (ZANELATO et al., 2013; NETO et al., 2014; LOPES,
2015).
O número de indicações de extrações visando correção de más oclusões diminuíram
consideravelmente com o passar dos anos devido a experiência clínica ter mostrado que extração de
pré-molares não obtém necessariamente estabilidade do alinhamento dentário a longo prazo
(BICALHO e BICALHO, 2013; BUSATO et al., 2006; PROFFIT, 1994). Corroborando essa
afirmativa, Jacok e Frenck (2015) mostraram que através de um adequado diagnóstico, pode-se obter
o bom resultado clínico de autoligáveis por exemplo em mandibulas atrésicas onde haja compensação
da Classe II com labioversão dos incisivos infeirores e inclinação mesial de coroas de caninos, através
de expansão dentoalveolar diminuindo a necessidade de exodontias.
O aparelho autoligado ativo é mais indicado para casos sem extração dental, no qual o atrito
ajuda no controle tridimensional, enquanto o passivo é mais indicado nos casos em que o fio
retangular permanece por mais tempo, como nos casos com extração dentária, pois este gera menor
atrito na mecânica de deslize (NETO et al., 2014; OLIVER et al., 2011). Os suportes autoligados
estão sendo cada vez mais preferidos aos convencionais devido o rápido progresso na fase inicial do
tratamento e maior intervalo de consultas (PRETTYMAN et al., 2012).
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A confiança na análise cefalométrica para definir o plano de tratamento algumas vezes
decorrem em problemas estéticos (SUGUINO et al., 1996). Em qualquer tipo de filosofia de
tratamento, a linha-mestra sempre é a harmonia dos aspectos faciais e a estética, lembrando que os
padrões de beleza variam entre as pessoas e grupos raciais. A nível de exemplo, pacientes com lábios
finos tendem a apresentar maior mudança facial em relação ao movimento dentário se comparado aos
indivíduos com lábios espessos. O ângulo Naso-Labial pode mudar perceptivelmente com
procedimentos ortodônticos e cirúrgicos que alteram a posição ântero posterior ou a inclinação dos
dentes ântero superiores. Em qualquer tempo, todos os procedimentos devem colocar este ângulo na
variação cosmeticamente desejável de 90° a 110°. Ao saber o que pode alterar o perfil do paciente, é
possível prevenir mudanças indesejáveis em decorrência do tratamento ortodôntico (SUGUINO et
al.,1996; ALMEIDA et al., 2008; BRANT et al., 2006).
Discrepâncias de modelo acima de 4mm podem facilmente, ser tratadas sem extrações quando
o paciente tiver perfil reto ou retrognata, altura facial anteroinferior normal ou diminuída, corredor
bucal amplo, sorriso com exposição gengival ou exposição dentária adequada, sobremordida
acentuada e atresia dentoalveolar das arcadas dentárias (MALTAGLIATI, 2015).
Características que favorecem a obtenção de espaço antes do alinhamento, seja por meio de
extração dentária ou de desgastes interproximais, são: perfil convexo, falta de selamento labial, altura
facial anteroinferior aumentada, corredor bucal já preenchido, exposição inadequada dos incisivos
superiores, mordida aberta e protrusão dentária (MALTAGLIATI, 2015). As exodontias continuam
a ser indicadas em casos de acentuado apinhamento severo e comprometimento periodontal, devido
à quantidade de movimentação necessária para a correção do apinhamento; também nos casos em
que se deseja uma melhora no perfil facial de um paciente biprotruso ou uma melhora das relações
inter-arcadas, para a correção da sobressaliência ou da sobremordida (URSI e MATIAS, 2015).
Pacientes com má oclusão de classe II tratados sem extrações no arco inferior, devem receber, se
necessário, desgaste interproximal na região de incisivos inferiores para acomodar o apinhamento
ântero-inferior (BUSATO et al., 2006).
Quando mais de um fator é favorável ao ganho de espaço há fortes indícios para se obter,
porém quando apenas uma característica é indicativa, a protrusão dos incisivos é fator determinante
de ganho de espaço enquanto fatores de crescimento vertical, mordida aberta anterior são fatores
predisponentes (MALTAGLIATI, 2015).
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5. CONCLUSÃO
Dentre os principais fatores favoráveis a extração de primeiros pré-molares estão o perfil
convexo, protrusão dentária e apinhamento severo. Porém, frente a presença de vedamento labial
passivo e grande apinhamento, o uso adequado de fios CuNiTi eliminam a necessidade de exodontias,
permitindo expressivo ganho transversal, mantendo o equilíbrio facial.
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nasolabial após o tratamento ortodôntico com e sem extrações de primeiros pré-molares. R Dental
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jovens com Classe II, 1ª divisão, após o tratamento ortodôntico. Rev Dental Press Orthodon
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da forma do arco inferior na má oclusão de Classe II de Angle tratada com e sem extração de pré-
molares. Rev Dental Press Orthodon Ortop Facial. v. 11, n. 5, p. 129-137, 2006.
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