new universidade federal do cearÁ centro de ciÊncias … · 2020. 5. 25. · pelo seu amor...
TRANSCRIPT
0
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA
PROSPECÇÃO DE MOLÉCULAS COM POTENCIAL NUTRACÊUTICO EM
SEMENTES DE Enterolobium contortisiliquum (VELL.) MORONG.: PURIFICAÇÃO
E CARACTERIZAÇÃO PARCIAL DE TRÊS INIBIDORES DE QUIMOTRIPSINA
LADY CLARISSA BRITO DA ROCHA BEZERRA
FORTALEZA-CEARÁ
2010
1
LADY CLARISSA BRITO DA ROCHA BEZERRA
PROSPECÇÃO DE MOLÉCULAS COM POTENCIAL NUTRACÊUTICO EM
SEMENTES DE Enterolobium contortisiliquum (VELL.) MORONG.: PURIFICAÇÃO
E CARACTERIZAÇÃO PARCIAL DE TRÊS INIBIDORES DE QUIMOTRIPSINA
Dissertação submetida à Coordenação do Programa de Pós-Graduação
em Bioquímica da Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre em Bioquímica
Área de concentração: Bioquímica
Orientadora: Profa. Dra. Ana de Fátima Fontenele Urano Carvalho
Co-orientador: Prof. Dr. Maurício Pereira de Sales
FORTALEZA-CEARÁ
2010
2
B469p Bezerra, Lady Clarissa Brito da Rocha
Prospecção de moléculas com potencial nutracêutico em sementes de
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong.: purificação e
caracterização parcial de três inibidores de quimotripsina / Lady Clarissa
Brito da Rocha Bezerra, 2010.
97 f. ;il. color. enc.
Orientadora: Profa. PhD. Ana de Fátima Fontenele Urano Carvalho
Co-orientador: Prof. Dr. Maurício Pereira de Sales
Área de concentração: Bioquímica Vegetal
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de
Ciências, Depto. de Bioquímica e Biologia Molecular, Fortaleza, 2010.
1. Enterolobium contortisiliquum. 2. Proteases. 3. Nutracêutica. I.
Carvalho, Ana de Fátima Fontenele Urano (Orient.). II. Sales, Maurício
Pereira de (Co-orient.). III. Universidade Federal do Ceará – Programa de
Pós-Graduação em Bioquímica. III.Título.
CDD 574.192
3
LADY CLARISSA BRITO DA ROCHA BEZERRA
PROSPECÇÃO DE MOLÉCULAS COM POTENCIAL NUTRACÊUTICO EM
SEMENTES DE Enterolobium contortisiliquum (VELL.) MORONG.: PURIFICAÇÃO E
CARACTERIZAÇÃO PARCIAL DE TRÊS INIBIDORES DE QUIMOTRIPSINA
Esta Dissertação foi submetida à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em
Bioquímica e Biologia Molecular como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre
em Bioquímica, outorgado pela Universidade Federal do Ceará e encontra-se à disposição dos
interessados na Biblioteca do Centro de Ciências e Tecnologia da referida universidade.
A transcrição de qualquer trecho desta tese é permitida, desde que seja feita em
conformidade com as normas da ética científica.
Aprovada em: ____/____/____.
Lady Clarissa Brito da Rocha Bezerra
Profa. Dra. Ana de Fátima Fontenele Urano Carvalho
Departamento de Biologia
Universidade Federal do Ceará
- Orientadora -
Dra. Adeliana Silva de Oliveira
Departamento de Bioquímica
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
- Examinadora -
Profa. Dra. Ilka Maria Vasconcelos
Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular
Universidade Federal do Ceará
- Examinadora -
4
Dedico esta obra, com amor e gratidão, aos
homens da minha vida: Paulo Lopes, Raul
Júlio e Bezerra Neto.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela dádiva da vida. Por me proporcionar saúde e forças a cada amanhecer. E por me
permitir acreditar que o sol sempre volta a surgir após cada tempestade.
À minha orientadora, Profa. Dra. Ana de Fátima Fontenele Urano Carvalho, inicialmente pela
feliz convivência no laboratório, mesmo nos dias em que todos os problemas vêm à tona de
uma só vez. Pela divertida companhia na hora do café e pelas várias histórias de vida
compartilhadas com alegria e humor. Pelo apoio e confiança incondicionais quando mais
precisei. Pelos valiosos ensinamentos transmitidos, sempre zelando pela ética, caráter e por
uma ciência livre de vaidades e engajada na solução dos problemas sociais. Muitíssimo
obrigada!
Ao meu co-orientador, Prof. Dr. Maurício Pereira de Sales, por ter me proporcionado
momentos valiosos de aprendizagem e descontração durante minha estadia em seu
laboratório. Pela acolhida calorosa e pela agradável companhia em vários momentos. Pelas
perguntas excitantes, sugestões, críticas e ensinamentos de cientista experiente, pelo incentivo
incessante na busca de resultados claros e coerentes. Pela orientação dedicada e confiança em
mim depositada. Muitíssimo obrigada!
À Profa. Dra. Ilka Maria Vasconcelos, pela convivência sempre agradável, por estar sempre
disposta a esclarecer dúvidas e por suas valiosas sugestões. Pela alegria, otimismo e
motivação dispensados em momentos de insegurança e incerteza. Pela paciência e dedicação
durante as disciplinas. Por aceitar a participação na banca examinadora deste trabalho, mesmo
com tantos outros trabalhos a realizar. Muitíssimo obrigada!
À Dra. Adeliana Silva de Oliveira (carinhosamente Ade), minha co-co-orientadora, pelos
valiosos conhecimentos compartilhados, pela gentileza em ajudar e esclarecer dúvidas, pela
paciência em escutar e discutir as minhas idéias mirabolantes e confusas, pelo apoio e
incentivo não apenas no trabalho, mas sobretudo na vida pessoal. Pela disponibilidade em
contribuir mais ainda para a concretização deste trabalho, através de participação na banca
examinadora. Agradeço ainda pela convivência agradável e pela amizade. Muitíssimo
obrigada!
6
Às professoras Vânia Maria Maciel Melo, Suzana Cláudia Silveira Martins e Cláudia Miranda
Martins, pela convivência agradável ao longo de todos estes anos.
A todos os professores que ministraram disciplinas para o Curso de Mestrado em Bioquímica
Vegetal da Universidade Federal do Ceará, pelos conhecimentos cedidos e, em especial, à
Profa. Ilka Vasconcelos e ao Prof. José Tadeu Abreu de Oliveira por me trazerem
experiências de vida e ensinamentos que livros não podem transmitir.
À Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Bioquímica, do Departamento de
Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará, na pessoa da Profa. Dra.
Norma Benevides, Coordenadora, da Profa. Dra. Ilka Vasconcelos, Vice-Coordenadora, e de
Márcio Souza, Secretário, pelo apoio institucional no decorrer de meu curso de Mestrado.
Aos colegas e amigos do Laboratório de Bioprospecção de Recursos Regionais (Bioprospec),
Martônio, Terezinha, Rachel, Renata, Gabrielle, Priscila e Cecília, pela amizade,
companheirismo, credibilidade e pelos maravilhosos e impagáveis momentos de trabalho
(recheados de árduas discussões científicas, né Martônio!?) e diversão ao lado de vocês,
sempre com muita alegria e gargalhadas incessantes, capazes de eliminar todos os radicais
livres! Em especial aos grandes, velhos e queridos amigos Davi, Glauber e Nathanna, por
todos os motivos mencionados e ainda por sempre me apoiarem incondicionalmente quando
preciso, por brigarem comigo quando mereço e por acalmarem minhas angústias e aflições.
Vocês são “ispiciais”!
Aos colegas e amigos que já fizeram parte do nosso grupo de pesquisa, Nara, André, Mariana,
Sayonara, e Pedro, pelos felizes e inesquecíveis momentos de convivência no lab. Em
especial aos amigos de velha e jovem guarda, Paulo Michel e Bruno, pelos motivos
mencionados e também pela disponibilidade em ajudar com os experimentos envolvendo
células tumorais.
Às colegas e amigas “agregadas” do laboratório, Eliane e Cecília, por estarem sempre
presentes nos momentos de confraternização, trazendo ainda mais alegrias e sorrisos ao nosso
grupo.
7
À amiga Francisca Berenice Alves, por sua amizade, carinho, alegria e presteza em vários
momentos.
Ao amigo José Valdenor de Oliveira, pelos sorrisos contagiantes que nunca saem do rosto,
pelo otimismo e presteza, pela agradável convivência no dia-a-dia.
Aos colegas e amigos da turma 2008.1, pelo companheirismo durante todo o curso e, em
especial, a Nathanna, Mirella, Mariana e Daniel pela amizade, horas de descontração e de
desespero compartilhadas.
Aos queridos amigos ainda da época de graduação, Liana e Daniel, pela torcida e carinho
sinceros, mesmo à distância. Saudade de vocês!
Aos professores do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Adriana Uchôa, Elizeu Antunes e Hugo Rocha, pelos momentos de estudo durante as
reuniões e seminários, quando tive o prazer de aprender um pouco com o muito que têm a
oferecer.
Aos novos colegas e amigos do Laboratório de Química e Função de Proteínas Bioativas
(LQFPB), Cleysyvan, Dayse, Rafaella, Patrícia, Ana Paula, Norberto, Ticiana, Raphael,
Alexandre Serquiz, Kaline, Richele, Luciana e Phellipe, pela agradável e divertida
convivência durante quase um ano, pelo carinho e amizade, pelos vários momentos de auxílio
na bancada e pelos vários almoços até 3 horas da tarde. Em especial ao Jannison, cearense de
verdade e com força, por disponibilizar bastante tempo para me ajudar em uma das etapas
mais importantes deste trabalho, pelo seu otimismo e torcida, pelas idéias de novos trabalhos
e por estar sempre disponível para tirar dúvidas e dar sugestões.
Aos colegas e amigos que já fizeram parte do LQFPB, Paulinha, Fabinho, Alexandre Martins
e Leal, pelos momentos de trabalho e diversão juntos, sempre recheados de gargalhadas e
“cultura inútil”. Em especial à Fabíola, que me recebeu tão bem desde o primeiro dia e que se
dispôs a me ajudar em vários momentos, com paciência e dedicação, e ao Daniel, que também
disponibilizou muito do seu tempo escasso em me ajudar no acúmulo de material para
realização dos ensaios biológicos deste trabalho.
8
Às amigas “agregadas”, Virgínia, pelas gargalhadas contagiantes e pelo apoio em momentos
de angústia e solidão; e Jailma, pela calma e otimismo que transmitem a certeza de que tudo
vai dar certo.
Às minhas mais novas melhores amigas, Sheyla e Roberta. Muito obrigada pelo carinho e
pela amizade gratuita e sincera, pelos inesquecíveis e hilários momentos nos “shoppings”,
pela companhia e pelo apoio em vários momentos difíceis, pelos conselhos e orientações.
Desejo “muito bastante” que nossa amizade ultrapasse as barreiras do tempo e da distância, e
cada vez que a gente se encontre seja como se a gente nunca tivesse se separado. “Pela hóstia
consagrada”! Adoro vocês!
Ao meu pai, Paulo Lopes, e irmão, Raul Júlio, por estarem sempre comigo, mesmo à
distância. Por respeitarem e apoiarem as minhas decisões, sejam quais forem. Por terem
compreendido e tolerado a minha ausência por longos períodos. E por sempre acreditarem em
mim e nos meus sonhos.
Ao meu companheiro, Bezerra Neto, pelo imenso esforço em me apoiar quando estive longe.
Por acreditar que seria capaz de realizar meu trabalho com competência e compromisso,
apesar das dificuldades. Por não me deixar desistir quando tudo estava muito difícil de
suportar. Por dividir comigo a angústia de estarmos separados, e ainda assim permanecemos
unidos. Pelo seu amor grande, forte e incondicional. Obrigada amor!
Às minhas mães (in memoriam), Marinalva Brito e Jandira Lopes, pela imensa contribuição à
minha educação e pelos ensinamentos de vida, jamais aprendidos em livro algum.
A todos aqueles que, de alguma maneira, contribuíram para a execução deste trabalho.
9
Este trabalho foi realizado graças ao auxílio das seguintes instituições:
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
Ceará.
Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, Centro de Ciências, Universidade Federal
do Ceará, Fortaleza, Ceará.
Departamento de Biologia, Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
Ceará.
Laboratório de Química e Função de Proteínas Bioativas (LQFPB), Centro de Biociências,
Departamento de Bioquímica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio
Grande do Norte.
Laboratório de Oncologia Experimental (LOE), Faculdade de Medicina, Departamento de
Fisiologia e Farmacologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará.
Laboratório de Bioprospecção de Recursos Regionais (Bioprospec), Centro de Ciências,
Departamento de Biologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará.
10
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por
isso, cante, chore, dance, sorria e viva intensamente antes
que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.”
Charles Chaplin
11
RESUMO
Sementes de leguminosas constituem uma das principais fontes de proteína na alimentação
humana e animal. Outros interesses têm sido despertados para o potencial nutracêutico
inerente a essas proteínas vegetais, uma vez que muitas proteínas bioativas, até então referidas
apenas como fatores antinutricionais, têm exercido efeitos benéficos no organismo, atuando
na cura e/ou prevenção de várias doenças. Dentre esses, destacam-se os inibidores de
proteases, os quais desempenham importantes funções na defesa de plantas e apresentam
propriedades biológicas de interesse para aplicações biotecnológicas nas áreas farmacológica
e médica. O objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial nutricional e nutracêutico de
sementes de Enterolobium contortisiliquum, enfocando a purificação e caracterização parcial
de inibidores de quimotripsina e avaliar seu efeito antiproliferativo contra células
tumorigênicas humanas. As sementes de E. contortisiliquum são uma excelente fonte de
proteínas, apresentando cerca de 50% desse macronutriente em base seca. A presença de
inibidores de proteases em quantidades elevadas sugere que essas moléculas possam vir a ter
uma aplicação nutracêutica. Dessa forma, foram purificados três inibidores de quimotripsina,
denominados EcCI1, EcCI2 e EcCTI, os quais foram parcialmente caracterizados. As massas
moleculares aparentes determinada para os três inibidores é de 17, 17 e 19 kDa,
respectivamente. EcCI1 e EcCI2 são inibidores do tipo não competitivo e apresentam ki de 4 x
10-8
e 2,5 x 10-8
M, respectivamente. Em contrapartida, EcCTI inibe a quimotripsina de forma
competitiva e apresenta ki de 5 x 10-8
M. Apenas EcCTI foi capaz de inibir a tripsina (98%).
EcCI1 e EcCI2 inibiram satisfatoriamente a elastase neutrofílica (ca. de 70%), mas não EcCTI
(20%). Os três inibidores inibiram sutilmente a elastase pancreática (ca. de 20%) e nenhum
foi capaz de inibir a papaína. Os três inibidores são altamente estáveis às condições extremas
de temperatura (de 37 a 90 °C para EcCI2 e de 37 a 100 °C para EcCI1 e EcCTI ), pH (2 a 12)
e DTT nas concentrações de 1 a 100 mM para EcCI1 e EcCTI e de 1 a 10 mM para EcCI2.
Outros estudos são necessários para melhor caracterizar esses inibidores. Nenhum dos
inibidores promoveu efeito antiproliferativo contra as quatro linhagens de células
tumorigênicas testadas.
Palavras-chave: Enterolobium contortisiliquum, inibidores de proteases, nutracêutica,
potencial nutricional
12
ABSTRACT
Leguminous seeds are main sources of food proteins for humans and animals. Other interests
in these plant proteins concerning their nutraceutical properties have been raised, since many
bioactive proteins, previously referred only as anti-nutritional factors, have exerted beneficial
effects on health, acting as chemopreventive agents against several diseases. Among these are
protease inhibitors, which play important roles in plant defense and have biological properties
of interest for biotechnological applications in pharmaceutical and medical areas. This study
aimed to evaluate the nutritional and nutraceutical potential of Enterolobium contortisiliquum
seeds, focusing on the purification and partial characterization of chymotrypsin inhibitors and
assess their antiproliferative effect against human tumor cells. E. contortisiliquum seeds are
an excellent protein source, with about 50% of this macronutrient on a dry basis. The presence
of protease inhibitors in high quantities suggests that these molecules may exert a
nutraceutical application. Three chymotrypsin inhibitors, denominated EcCI1, EcCI2 and
EcCTI were purified and partially characterized. EcCI1, EcCI2 and EcCTI show molecular
weights of 17, 17 and 19 kDa, respectively. EcCI1 and EcCI2 are non-competitive inhibitors
with ki of 4 x 10-8
and 2.5 x 10-8
M, respectively, while EcCTI inhibits chymotrypsin
competitively with ki of 5 x 10-8
M. Only EcCTI was able to inhibit trypsin (98%). EcCI1 and
EcCI2 successfully inhibited leukocyte elastase (about 70%), but EcCTI (20%). The three
inhibitors slightly inhibited pancreatic elastase (about 20%) and none was able to inhibit
papain. The three inhibitors have a high thermal stability (37 to 90 °C for EcCI2 and 37 to
100 °C for EcCI1 and EcCTI), pH (2 to 12) and DTT concentrations ranging from 1 to 100
mM for EcCI1 and EcCTI and from 1 to 10 mM for EcCI2. Further studies are needed to
better characterize these inhibitors. None of the inhibitors promoted antiproliferative effect
against four tumorigenic cell lines tested.
Keywords: Enterolobium contortisiliquum, chymotrypsin inhibitor, nutraceutical properties,
nutritional potential
13
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. A área em destaque no mapa representa a abrangência do Bioma Caatinga no
Nordeste do Brasil .................................................................................................................... 21
Figura 2. A área em destaque no mapa representa o domínio do clima semi-árido no Nordeste
Brasil, por sua vez delineando a abrangência do Bioma Caatinga na mesma região ............... 22
Figura 3. Imagens de Enterolobium contortisiliquum. A: planta adulta; B: folhas e flores; C:
frutos; D: sementes; E: tronco; F: madeira (Lorenzi, 1998) ..................................................... 26
Figura 4. Possíveis mecanismos e sítios de interação nos quais inibidores de proteases podem
atuar a fim de inibir o processo de carcinogênese (Adaptado de JOHNSON et al., 1994). ..... 31
Figura 5. Procedimento para determinação de Fibra Alimentar Total da farinha delipidada das
sementes de Enterolobium contortisiliquum segundo a metodologia descrita pela AOAC
(1997) ....................................................................................................................................... 39
Figura 6. Perfil cromatográfico da fração F5,0 aplicada em Resource Q em sistema FPLC
Äkta Purifier ............................................................................................................................. 58
Figura 7. Perfil eletroforético de amostras de Enterolobium contortisiliquum sob condições
desnaturantes e não redutoras ................................................................................................... 61
Figura 8. Curvas de calibração de EcCI1 e EcCI2 (A) - 17,3 kDa e EcCTI (B) - 19,3 kDa,
construídas em relação a marcadores de massa molecular ....................................................... 62
Figura 9. Curvas de titulação dos inibidores de quimotripsina EcCI1 (A) e EcCI2 (B) e
inibidor de quimotripsina e tripsina EcCTI (C) ........................................................................ 64
Figura 10. Mecanismos de inibição de EcCI1, EcCI2 e EcCTI determinados através de
gráfico duplo-recíproco de Lineweaver-Burk .......................................................................... 65
14
Figura 11. Constantes de inibição (ki) de EcCI1 (A), EcCI2 (B) e EcCTI (C) através de
representação de Dixon ............................................................................................................ 66
Figura 12. Estabilidade térmica dos inibidores EcCI1 (A), EcCI2 (B) e EcCTI (C) .............. 69
Figura 13. Estabilidade de EcCI1 (A), EcCI2 (B) e EcCTI (C) a variação de pH .................. 70
Figura 14. Estabilidade dos inibidores EcCI1 (A), EcCI2 (B) e EcCTI (C) ao agente redutor
ditiotreitol (DTT). ..................................................................................................................... 71
15
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Composição química elementar (g/100g) e energia (kcal/100g) da farinha de
sementes de Enterolobium contortisiliquum em base seca ...................................................... 53
Tabela 2. Composição de aminoácidos (g/kg de proteína) da farinha delipidada de sementes
de Enterolobium contortisiliquum comparada à clara do ovo, soja e aos requerimentos
estabelecidos pela FAO/WHO/UNU para crianças em diferentes faixas etárias ..................... 54
Tabela 3. Análise quantitativa da presença de fatores tóxicos e/ou antinutricionais nas
sementes de Enterolobium contortisiliquum ............................................................................ 55
Tabela 4. Atividade inibitória de quimotrisina das frações proteicas de Enterolobium
contortisiliquum: Percentual de Inibição e Atividade Específica ............................................. 57
Tabela 5. Tabela de Purificação dos inibidores de quimotripsina de sementes de
Enterolobium contortisiliquum ................................................................................................. 59
Tabela 6. Especificidade de inibição apresentada pelos inibidores EcCI1, EcCI2 e EcCTI
frente a enzimas serínicas e cisteínica ...................................................................................... 67
16
ABREVIATURAS
BANA Nα-Benzoil-DL-Arginina-p-Naftilamida
BApNA Nα-Benzoil-DL-Arginina-p-Nitroalinida
BSA Albumina Sérica Bovina
DL50 Dose Letal capaz de matar 50% dos animais testados
DMACA 4-Dimetilaminocinamaldeído
DMSO Dimetilsolfóxido
DTT Ditiotreitol
EDTA Ácido Etilenodiaminotetracético
FAT Fibra Alimentar Total
IC50 Concentração de inibidor capaz de reduzir em 50% a atividade
enzimática
MTT Brometo de 3-(4,5-Dimetiltiazol-2-il)-2,5-Difeniltetrazólio
PAGE Eletroforese em Gel de Poliacrilamida
SAAVpNA N-Succinil-L-Alanil-L-Alanil-L-Valina-p-Nitroanilida
SDS Dodecil Sulfato de Sódio
TCA Ácido Tricloroacético
TEMED N’, N’, N’, N’, tetrametiletilenodiamina
Tris Tris (hidroximetil) aminometano
UI Unidades de Inibição
UH Unidades de Hemaglutinação
ki Constante de inibição
17
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 20
1.1. O Bioma Caatinga ................................................................................................................. 20
1.2. Valorização da Biodiversidade da Caatinga .......................................................................... 23
1.3. Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong.; Fabaceae .................................................. 24
1.4. Leguminosas como Fonte de Proteínas Alimentares e Bioativas .......................................... 27
1.5. Inibidores de Proteases .......................................................................................................... 27
1.6. Atividade Anticarcinogênica de Inibidores de Proteases ...................................................... 29
2. OBJETIVOS ............................................................................................................................. 33
2.1. Objetivo Geral ....................................................................................................................... 33
2.2. Objetivos Específicos ............................................................................................................ 33
3. MATERIAL ............................................................................................................................. 34
3.1. Material Biológico ................................................................................................................. 34
3.1.1. Sementes de E. contortisiliquum ........................................................................................ 34
3.1.2. Células Tumorais ................................................................................................................ 34
3.2. Reagentes Químicos .............................................................................................................. 34
3.2.1. Proteínas ............................................................................................................................. 34
3.2.2. Substratos Enzimáticos ....................................................................................................... 34
3.2.3. Outros Reagentes ................................................................................................................ 35
3.3. Equipamentos ........................................................................................................................ 35
4. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 37
4.1. Processamento das Sementes de E. contortisiliquum ............................................................ 37
4.2. Composição Proximal de Sementes de E. contortisiliquum .................................................. 37
4.2.1. Umidade ............................................................................................................................. 37
4.2.2. Proteínas Totais .................................................................................................................. 37
4.2.3. Lipídios Totais .................................................................................................................... 38
4.2.4. Matéria Mineral .................................................................................................................. 38
4.2.5. Fibra Alimentar Total ......................................................................................................... 38
4.2.6. Carboidratos Digeríveis ...................................................................................................... 41
4.3. Composição Aminoacídica de Sementes de E. contortisiliquum .......................................... 41
4.4. Preparação do Extrato Proteico Bruto (EB) de E. contortisiliquum ...................................... 42
4.5. Determinação de Fatores Tóxicos e/ou Antinutricionais ...................................................... 42
4.5.1. Lectinas ............................................................................................................................... 42
18
4.5.2. Inibidores de Quimotripsina ............................................................................................... 43
4.5.3. Inibidores de Tripsina ......................................................................................................... 43
4.5.4. Toxinas ............................................................................................................................... 43
4.6. Seleção do Melhor Fracionamento Proteico com TCA ......................................................... 44
4.7. Obtenção da Fração Proteica (F5,0) de E. contortisiliquum ................................................. 44
4.8. Dosagem de Proteínas Solúveis ............................................................................................. 44
4.9. Isolamento e Purificação de Inibidor (es) de Quimotripsina ................................................. 45
4.10. Caracterização Bioquímica .................................................................................................. 45
4.10.1. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida (SDS-PAGE) ...................................................... 45
4.10.2. Determinação de IC50 ......................................................................................................................................................... 46
4.10.3. Determinação da Constante de Inibição e do Mecanismo de Inibição ............................. 46
4.10.4. Avaliação da Especificidade dos Inibidores Para Proteases Serínicas e Cisteínica ......... 47
4.10.4.1. Inibição de Tripsina (protease serínica)......................................................................... 47
4.10.4.2. Inibição de Elastase Pancreática (protease serínica) ..................................................... 48
4.10.4.3. Inibição de Elastase Neutrofílica (protease serínica) .................................................... 48
4.10.4.4. Inibição de Papaína (protease cisteínica)....................................................................... 48
4.10.5. Estabilidade dos Inibidores a Agentes Desnaturantes Físicos e Químicos ...................... 49
4.10.5.1. Estabilidade em Diferentes Temperaturas ..................................................................... 49
4.10.5.2. Estabilidade em Diferentes Valores de pH .................................................................... 49
4.10.5.3. Estabilidade Frente ao Agente Redutor DTT ................................................................ 49
4.11. Avaliação da Atividade Antiproliferativa de Inibidores de Quimotripsina de E.
contortisiliquum ............................................................................................................................ 50
4.11.1. Citotoxicidade contra Células Tumorais in vitro .............................................................. 50
5. RESULTADOS ........................................................................................................................ 52
5.1. Potencial Nutricional de Sementes de E. contortisiliquum ................................................... 52
5.2. Atividade Inibitória de Quimotripsina nas Frações Proteicas de E. contortisiliquum .......... 56
5.3. Isolamento e Purificação dos Inibidores de Quimotripsina ................................................... 56
5.4. Caracterização Bioquímica .................................................................................................... 60
5.4.1. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida (SDS-PAGE) ........................................................ 60
5.4.2. Determinação de IC50 ........................................................................................................ 60
5.4.3. Determinação do Mecanismo de Inibição e da Constante de Inibição ............................... 63
5.4.4. Especificidade dos Inibidores para Proteases Serínicas e Cisteínica ................................. 63
5.4.5. Estabilidade dos Inibidores a Agentes Desnaturantes Físicos e Químicos ........................ 63
5.5. Atividade Antiproliferativa in vitro contra Células Tumorais Humanas .............................. 68
19
6. DISCUSSÃO ............................................................................................................................ 72
7. CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 81
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 83
20
1. INTRODUÇÃO
1.1. O Bioma Caatinga
A Caatinga é um mosaico de arbustos espinhosos e florestas sazonalmente secas
que cobre a maior parte dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a parte nordeste de Minas Gerais (Figura 1). Ocupa
uma área de 734.478 km2, correspondendo a quase 10% do território brasileiro (LEAL et al.,
2005).
Apesar de ser a única grande região natural brasileira cujos limites estão
inteiramente restritos ao território nacional, pouca atenção tem sido dada à conservação da
variada e marcante paisagem da Caatinga, e a contribuição da sua biota à biodiversidade
extremamente alta do Brasil tem sido subestimada (GIULIETTI et al., 2004).
A Caatinga estende-se por todo o domínio do clima semi-árido (Figura 2), sob um
solo raso e pedregoso e com um índice pluviométrico que varia entre 240 e 1.500 mm anuais,
mas metade da região recebe menos de 750 mm e algumas áreas centrais menos de 500 mm
(SAMPAIO, 1995; PRADO, 2003). A maioria das chuvas na Caatinga (50-70%) é
concentrada em três meses consecutivos, apesar da alta variação anual e dos longos períodos
de seca freqüentes (NIMER, 1972). Tal escassez de água aliada a outros fatores abióticos
criam, durante a maior parte do ano, uma feição desoladora da Caatinga, o que contribuiu para
a criação de mitos a respeito da biodiversidade desse bioma. Ele tem sido descrito como um
ecossistema pobre em espécies e endemismos (VANZOLINI et al., 1980; ANDRADE-LIMA,
1982; PRANCE, 1987). Entretanto, estudos recentes têm desafiado esse ponto de vista e
demonstrado a importância da Caatinga para a conservação da biodiversidade brasileira
(LEAL et al., 2003).
Apesar de estar, realmente, bastante alterada, a Caatinga possui uma grande
variedade de tipos vegetacionais, com elevado número de espécies e, também, remanescentes
de vegetação ainda bem preservada, que incluem um número expressivo de táxons raros e
endêmicos (GIULIETTI et al., 2004).
A lista de espécies existentes na Caatinga é incompleta devido à falta de estudos
na região. Segundo Tabarelli et al. (2000), mais de 40% deste bioma ainda não foi amostrado,
cerca de 80% das áreas estudadas foram sub-amostradas e as áreas protegidas, como reservas
e unidades de conservação, totalizam menos de 2% de todo ecossistema. Portanto, a crescente
21
Figura 1. A área em destaque no mapa representa a abrangência do Bioma Caatinga no
Nordeste do Brasil.
22
Figura 2. A área em destaque no mapa representa o domínio do clima semi-árido no Nordeste
Brasil, por sua vez delineando a abrangência do Bioma Caatinga na mesma região.
Fonte: www.integracao.gov.br/programas/programasregi...
23
preocupação com a conservação do bioma Caatinga vem aumentando à medida que estudos
são realizados na região e novas espécies endêmicas de plantas e animais são constantemente
descritas (ANDRADE-LIMA, 1982; RODAL, 1992; SAMPAIO, 1995; GARDA, 1996,
SILVA e OREN, 1997).
Apesar da alta biodiversidade, a Caatinga ainda é pouco explorada cientificamente
(MARACAJÁ et al., 2003; AMBIENTE BRASIL CAATINGA, 2007). Dentre os biomas
brasileiros, a Caatinga é, provavelmente, o mais desvalorizado e mal conhecido
botanicamente (GIULIETTI et al., 2004).
Contrapondo-se à falta de pesquisas voltadas ao seu conhecimento, há uma
exploração crescente dessa vegetação, com fins meramente lucrativos, necessitando, dessa
forma, de elementos básicos de sustentabilidade (ARAÚJO FILHO e BARBOSA, 2000), que
venham a evitar a extinção de espécies nativas desse bioma, antes mesmo do conhecimento de
várias de suas propriedades e aplicabilidades.
1.2. Valorização da Biodiversidade da Caatinga
A descoberta de espécies florestais de valor econômico e o crescente risco de
extinção decorrente da ação predatória e da exploração indiscriminada em áreas nativas têm
motivado o estudo de espécies que empiricamente possuem algum potencial ou propriedades
que venham a ser reveladas através de pesquisas científicas antes que sejam extintas. O
potencial de muitas espécies silvestres cearenses está sendo subestimado pela comunidade em
suas áreas de ocorrência e pelo setor governamental competente devido à falta de
conhecimento do seu real valor de utilização (RIZZINI, 1978).
Em 2003, foram produzidas no semi-árido nordestino 80 toneladas de mel de
abelha, 30 toneladas de doces, sucos e geléias a partir de umbu, além de 3 mil artigos de couro
comercializados mensalmente, dentre outros. Esses são apenas alguns exemplos do imenso
potencial que a região semi-árida nordestina oferece com a exploração racional, pura ou
associada, dos recursos do bioma caatinga (GUIMARÃES FILHO, 2006).
Outro grande filão do bioma caatinga, contudo, ainda está por ser conhecido e
explorado. Trata-se de sua extraordinária biodiversidade, na qual se inserem espécies vegetais
de uso medicinal, produtoras de óleos essenciais, agentes praguicidas e outras provedoras de
matérias primas para indústria química, alimentar e farmacêutica; espécies animais,
especialmente insetos, inimigas naturais de pragas, provedoras de substâncias de uso
medicinal (soros, enzimas, hormônios); bactérias, fungos e líquens com propriedades de
24
antagonismo a agentes de pragas e doenças, bioinseticidas, biolixiviadoras, antibióticas e
genes indutores de tolerância ao estresse hídrico e salino, à acidez do solo e a doenças. Na
identificação e expressão prática desse potencial, cabe à pesquisa um papel decisivo, ainda
não assumido efetivamente. A valorização dos produtos locais é, no contexto da globalização,
o grande instrumento estratégico para alcançar os objetivos principais de conservar os
recursos da caatinga e assegurar, ao mesmo tempo, o bem estar das populações que nela
vivem e dela dependem (GUIMARÃES FILHO, 2006).
Desta forma, um estudo sistemático poderia revelar o potencial de utilização de
muitas espécies, considerando a riqueza da biodiversidade brasileira. O extrativismo fomenta
cada vez mais os riscos de extinção das espécies e medidas que venham inviabilizar as ações
degradantes, favorecendo ao mesmo tempo o domínio do conhecimento sobre os recursos
naturais, representam, neste momento, o caminho para a elaboração de diagnósticos e
estabelecimentos de estratégias adequadas ao manejo racional desses recursos, bem como
uma alternativa para a melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas, no momento
em que a conservação ambiental é fator de vital importância para a humanidade.
1.3. Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong.; Fabaceae
A espécie Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong., conhecida
popularmente como orelha-de-negro, orelha-de-macaco, tamboril, timbaúba, timboúva, dentre
outros, apresenta duas sinonímias botânicas: Mimosa contortisiliqua Vell. e Enterolobium
timbouva Mart. (LORENZI, 1998). Segundo a obra de Carl Friedrich Philipp von Martius,
Flora Brasiliensis (CRIA, 2005), a orelha-de-negro é classificada taxonomicamente da
seguinte forma:
Família Leguminosae (Fabaceae)
Subfamília Mimosoideae
Tribo Ingeae
Gênero Enterolobium Mart.
Enterolobium timbouva Mart.
A distribuição geográfica de E. contortisiliquum é ampla: ocorre desde o Pará ao
Rio Grande do Sul, nas florestas pluvial e semidecídua. É particularmente frequente na
floresta latifoliada da bacia do Paraná. Estende-se ainda até Uruguai e Argentina (BRAGA,
1982; LORENZI, 1998).
25
Esta espécie é uma árvore cuja altura varia de 20 a 35 m, com tronco medindo de
80 a 160 cm de diâmetro. As folhas são compostas, bipinadas, com 2 a 7 jugas de pinas. A
madeira é leve, macia ao corte, pouco resistente, própria para o fabrico de barcos e de canoas
de tronco inteiro, brinquedos, compensados, armações de móveis, miolo de portas e caixotaria
em geral. A copa é ampla e frondosa, proporcionando ótima sombra. As flores apresentam-se
em capítulos globosos esbranquiçados de cerca de 4 mm e reúnem-se em cachos terminais ou
axilares. A vagem é coriácea, dura e lenhosa, indeiscente, preta, incurvo-reniforme,
lembrando uma orelha, daí a denominação popular “orelha-de-negro” (Figura 3) (BRAGA,
1982; LORENZI, 1998).
Orelha-de-negro é uma planta decídua, heliófita, seletiva higrófita, dispersa em
várias formações florestais. É ótima para reflorestamento de áreas degradadas, principalmente
por seu rápido crescimento inicial e para arborização urbana (LORENZI, 1998). Quanto à sua
classificação no estádio sucessional, é considerada, de acordo com Oliveira Filho et al.
(1995), uma espécie pertencente ao grupo ecológico clímax exigente de luz. A árvore floresce
em meados de setembro, prolongando-se até novembro. A maturação dos frutos ocorre
durante os meses de junho e julho, entretanto permanecem na árvore mais alguns meses.
Assim como ocorre com inúmeras outras espécies de plantas da caatinga, pouco
se conhece a respeito do potencial nutricional e bioativo de E. contortisiliquum, a fim de
utilizá-los para fins farmacêuticos e/ou biotecnológicos e de alimentação. Alguns trabalhos,
no entanto, descrevem algumas das potencialidades dessa planta. Hashimoto e Nishimoto
(1996) relatam que E. contortisiliquum é uma planta rica em saponinas triterpenóides e, por
isso, é usada popularmente no tratamento de doenças parasitárias e gonorréia no Brasil.
Mimaki et al. (2003; 2004) descrevem o isolamento e a atividade citotóxica contra
macrófagos de 9 novas saponinas triterpenóides, denominadas Enterolosaponinas A e B e
Contortisiliosídios A-G. Também é relatada na literatura a atividade antibacteriana do óleo
essencial de sementes de E. contortisiliquum contra bactérias Gram-positivas e Gram-
negativas (SHAHAT et al., 2008). Quanto às proteínas bioativas de E. contortisiliquum,
Castro-Faria-Neto et al. (1991) descrevem a atividade pro-inflamatória da enterolobina, uma
proteína hemolítica obtida a partir das sementes de E. contortisiliquum. Já é relatada também
a purificação e caracterização de um inibidor de protease do tipo Kunitz (BATISTA et al.,
1996) e de uma vicilina ligante à quitina, dotada de bioatividade contra fungos filamentosos e
insetos (MOURA et al., 2007).
26
Figura 3. Imagens de Enterolobium contortisiliquum. A: planta adulta; B: folhas e flores; C:
frutos; D: sementes; E: tronco; F: madeira (Lorenzi, 1998).
27
1.4. Leguminosas como Fonte de Proteínas Alimentares e Bioativas
As leguminosas constituem um dos grupos de plantas mais importantes da
humanidade, uma vez que provêem proteínas para a alimentação humana e animal
(DURANTI, 2006). Em várias regiões do mundo, especialmente em países em
desenvolvimento, sementes de leguminosas constituem a única fonte de proteínas da dieta
(CRUZ et al., 2004), apesar de serem deficientes em aminoácidos sulfurados, principalmente
metionina e cisteína, além do triptofano (PROLL et al., 1998).
A maior restrição ao uso de sementes de leguminosas na dieta é a presença de
fatores tóxicos e/ou antinutricionais, os quais podem ocasionar efeitos deletérios agudos nos
organismos que os consomem, como também efeitos crônicos resultantes da interferência
negativa sobre os processos relativos ao aproveitamento de nutrientes (VASCONCELOS e
OLIVEIRA, 2004).
Nos últimos anos, tem sido reconhecido que proteínas vegetais não são
meramente fonte de aminoácidos necessários para desempenhar funções energética e
construtora, mas também se constituem em fonte de componentes bioativos e/ou precursores
de peptídios biologicamente ativos que exercem efeitos metabólicos sobre os organismos que
os consomem (CHAMP, 2002; DURANTI, 2006).
Nessa perspectiva, foi desenvolvida uma nova área da pesquisa científica,
denominada nutracêutica, resultante da fusão de “nutrientes” e “farmacêutica”. A nutracêutica
abrange “qualquer alimento, ou parte dele, considerado promotor de efeitos benéficos à saúde,
incluindo a prevenção e o tratamento de doenças”, tais como doenças cardiovasculares,
inflamatórias e degenerativas, diabetes, obesidade, e câncer (SCARAFONI et al., 2007).
Muitas propriedades nutracêuticas são atribuídas aos fatores antinutricionais clássicos, como
lectinas, inibidores de proteases e substâncias não-proteicas oriundas do metabolismo
secundário de plantas. Dessa forma, a importância da ingestão moderada de fatores
antinutricionais presentes na dieta, em especial em sementes de leguminosas, tem sido
amplamente discutida (DURANTI, 2006).
1.5. Inibidores de Proteases
Inibidores de proteases compreendem um grupo específico de proteínas que
possuem a habilidade de produzir complexos estequiométricos com enzimas alvo e, desta
28
maneira, inibem a atividade catalítica das mesmas (VALUEVA e MOSOLOV, 1999;
OLIVEIRA et al., 2007).
Inibidores de proteases estão presentes em todas as formas de vida, mas são
especialmente comuns em sementes de plantas (BATISTA et al., 2001; ZHANG et al., 2007).
São encontrados em várias famílias, sendo particularmente abundantes (1-10% de proteína
total) em órgãos de armazenamento, como sementes e tubérculos (RICHARDSON, 1991;
USSUF et al., 2001).
São várias as funções biológicas dos inibidores de proteases vegetais. Podem atuar
como proteínas de armazenamento (XAVIER-FILHO, 1992), como reguladores endógenos de
atividade proteolítica (RYAN, 1990) e, também, como participantes dos mecanismos de
morte celular programada (SOLOMON et al., 1999; LIN e NG, 2008). Ademais, esses
inibidores participam de mecanismos de defesa de plantas em resposta a estresses abióticos
(FRANCO e MELO, 2000) e contra o ataque de insetos (CARLINI e GROSSI-DE-SÁ, 2002),
fungos (KIM et al., 2005) e outros microrganismos patogênicos (BREITENEDER e
RADAUER, 2004).
Geralmente, os inibidores de proteases são específicos para uma das classes de
enzimas proteolíticas, e, baseado na classe mecanística de enzimas que são capazes de inibir,
são classificados em inibidores serínicos, cisteínicos, aspárticos ou de metalo-proteases
(RYAN, 1990; RICHARDSON, 1991). Dentre esses, os inibidores de proteases serínicos são
provavelmente os mais intensamente estudados. A maioria deles tem sido isolada e
caracterizada a partir de sementes de plantas das famílias Leguminosae, Cucurbitaceae,
Solanaceae e Poaceae (RICHARDSON, 1991).
Os inibidores de proteases serínicos são divididos, de acordo com suas
propriedades estruturais (estrutura primária, posição e número de pontes dissulfeto, posição
do sítio reativo), nas subfamílias Kunitz, Bowman-Birk, Batata I, Batata II, Abóbora e Cereal
(RICHARDSON, 1991; OLIVA et al., 2000).
Dentre as famílias de inibidores de proteases serínicos, as famílias Kunitz e
Bowman-Birk são as mais bem caracterizadas (OLIVEIRA et al., 2007), tendo sido
inicialmente isolados e caracterizados a partir de sementes de soja, da família Leguminosae
(BOWMAN, 1946; KUNITZ, 1947a,b; BIRK et al., 1963). Essas famílias diferem entre si em
relação à massa molecular, conteúdo de cisteína e número de sítios reativos. Geralmente,
inibidores do tipo Kunitz são proteínas de massa molecular entre 18 e 25 kDa, compostas de
aproximadamente 180 resíduos de aminoácidos, incluindo 4 resíduos de cisteína, capazes de
formar até duas pontes dissulfeto e um único sítio reativo (um resíduo de arginina)
29
(RICHARDSON, 1991). Estudos recentes têm mostrado, no entanto, que outros sítios reativos
podem estar presentes em inibidores dessa família (FRANCO et al., 2002; OLIVEIRA et al.,
2002; GOMES et al., 2005). Por outro lado, inibidores do tipo Bowman-Birk são,
geralmente, proteínas de massa molecular entre 8 e 10 kDa, de cadeia única, com dois sítios
reativos e apresentam um padrão característico de 14 resíduos de cisteína, todos formando
pontes dissulfeto intracadeia (RICHARDSON, 1991; PRAKASH et al., 1996). Esse arranjo
conservado de sete pontes dissulfeto desempenha um papel importante na estabilização da
estrutura tridimensional (QI et al., 2005).
Sob um ponto de vista histórico, inibidores das famílias Kunitz e Bowman-Birk
são considerados “fatores antinutricionais” devido a sua habilidade em inibir enzimas
envolvidas nos processos digestivos em animais e humanos, interferindo na digestibilidade
das proteínas da dieta (LIENER, 1995; DOMONEY, 1999; DURANTI et al., 2003). No
entanto, recentemente tem sido demonstrado que eles podem desempenhar importantes papéis
na cura e/ou prevenção de diversas doenças (CHAMP, 2002; DURANTI, 2006;
SCARAFONI et al., 2007). Assim, tem sido reconsiderada sua utilização sob o ponto de vista
de exploração de suas atividades biológicas nas áreas farmacológica, médica e cosmética
(DURANTI et al., 2003).
O controle desses inibidores sobre síntese e reciclagem de proteínas os possibilita
regular vários processos fisiológicos, tais como digestão, crescimento, diferenciação e
sinalização/migração celular, defesa imunológica e apoptose. Proteases são cruciais para o
estabelecimento e a propagação de doenças, e inibidores dessas proteases emergem como
agentes terapêuticos promissores (LEUNG et al., 2000). Evidências terapêuticas incluem
efeitos positivos no tratamento de hemorragia, atrofia do músculo esquelético, desordens
respiratórias e cardiovasculares, controle de obesidade, doenças degenerativas e autoimunes,
esclerose múltipla e doença de Alzheimer (OLIVA et al., 2000; LICHTENSTEIN et al., 2002;
ROSTAMI e KENNEDY, 2004; MORRIS et al., 2005). Além disso, possuem importantes
propriedades antivirais (LIN e NG, 2008), anti-inflamatórias e anticarcinogênicas
(KENNEDY, 1998; ZHANG et al., 2007).
1.6. Atividade Anticarcinogênica de Inibidores de Proteases
O câncer é uma das maiores causas de mortalidade no mundo, geralmente
excedida apenas por doenças cardiovasculares em países desenvolvidos. É esperado que o
número de pessoas diagnosticadas com câncer dentro das próximas décadas chegue ao dobro.
30
Haverá, portanto, aumento na demanda por novos diagnósticos e terapias médicas que
utilizem fontes alternativas (CHAMP, 2002).
Estudos epidemiológicos sugerem que componentes de vegetais, particularmente
legumes, podem desempenhar um papel benéfico na diminuição da incidência e mortalidade
por diferentes tipos de câncer (CORREA, 1981). Uma vez que legumes são conhecidos por
conter elevadas quantidades de inibidores de proteases, especialmente das famílias Kunitz e
Bowman-Birk (CLEMENTE et al., 2004), acredita-se que há uma estreita relação entre baixa
incidência e mortalidade por câncer e ingestão desses inibidores presentes em leguminosas da
dieta, como a soja (MESSINA e BARNES, 1991; MESSINA et al., 1994). De fato, proteases
são consideradas fatores chave na progressão do câncer (CLEMENTE et al., 2005). Assim, o
controle de sua atividade por inibidores de proteases parece ser relacionado com a capacidade
de prevenir ou suprimir patologias tumorais (DURANTI, 2006; SCARAFONI et al., 2007).
Vários estudos apontam para o potencial dos inibidores de proteases Kunitz e
Bowman-Birk na supressão e prevenção da carcinogênese, tanto em modelos in vitro quanto
in vivo (TROLL, 1989; JOHNSON et al., 1994; WARE et al., 1997; KENNEDY, 1998;
WITSCHI e ESPIRITU, 2002; CATALANO et al, 2003; CLEMENTE e DOMONEY, 2006;
SAITO et al., 2007; ZHANG et al., 2007; LIN e NG, 2008).
Embora sejam bastante relatadas as propriedades anticarcinogênica,
antiproliferativa, e radio- e quimioprotetora de inibidores de proteases das famílias Kunitz e
Bowman-Birk, ainda permanece desconhecido se essas atividades estão correlacionadas com
a inibição de tripsina e quimotripsina ou de outras enzimas capazes de interagir com outras
macromoléculas. Tem sido proposto que a atividade antiquimotríptica é mais eficaz do que a
atividade antitríptica no processo de supressão e prevenção de carcinogênese (DURANTI,
2006; SCARAFONI et al., 2007). No entanto, a atividade antiquimotríptica não é
requerimento essencial (CATALANO et al., 2003). As pesquisas realizadas no sentido de
elucidar essa questão têm focalizado em três linhas principais (Figura 4): i) o efeito de
inibidores sobre proteases celulares envolvidas no processo de carcinogênese (transformação,
proliferação, liberação de espécies reativas de oxigênio capazes de causar danos ao DNA); ii)
o efeito de inibidores de proteases no sistema de reparo de DNA nuclear ou na regulação da
expressão de alguns proto-oncogenes, como c-myc e c-fos, superexpressos em várias
linhagens de células tumorais, e iii) inibição de tripsina extracelular, secretada por muitas
linhagens de células tumorais e envolvida, junto com metaloproteases, na proteólise da matriz
extracelular, favorecendo a ocorrência de metástase (CATALANO et al., 2003).
31
Figura 4. Possíveis mecanismos e sítios de interação nos quais inibidores de proteases podem
atuar a fim de inibir o processo de carcinogênese (Adaptado de JOHNSON et al., 1994).
32
Mesmo de posse do conhecimento do imenso potencial terapêutico e preventivo
dos inibidores de proteases Kunitz e Bowman-Birk contra doenças como o câncer, muitas
pesquisas ainda são necessárias para torná-los ferramentas biológicas efetivas para uso com
essas finalidades. Por exemplo, inibidores de proteases como drogas potentes devem se
mostrar altamente específicos, além de apresentar propriedades farmacocinéticas e
farmacodinâmicas apropriadas (LEUNG et al., 2000). Ademais, é necessário também elucidar
com detalhes os mecanismos pelos quais os inibidores exercem a sua bioatividade, além de
buscar novas fontes (SCARAFONI et al., 2007), a fim de ampliar as possibilidades de
utilização dessas proteínas como ferramentas biológicas e biotecnológicas nas áreas
farmacológica e médica.
33
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Este trabalho objetivou avaliar o potencial nutracêutico de sementes de
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong., destacando: a avaliação da composição
proximal e aminoacídica, a detecção de fatores tóxicos e/ou antinutricionais, a purificação e
caracterização parcial de inibidores de quimotripsina, e a avaliação de sua atividade
antiproliferativa contra linhagens de células tumorigênicas humanas.
2.2. Objetivos específicos
Determinar a composição proximal e aminoacídica, como também os teores de fatores
tóxicos e/ou antinutricionais em sementes de E. contortisiliquum;
Purificar o (s) inibidor (es) de quimotripsina e caracterizá-lo (s) quanto a:
- Massa molecular aparente;
- Cinética da inibição;
- Estabilidade frente a agentes desnaturantes físicos e químicos;
- Especificidade do (s) inibidor (es) para enzimas serínicas e cisteínica.
Verificar a proliferação e a viabilidade de células tumorigênicas das linhagens HL-60,
MDA-MB-435, SF-295 e HCT-8 em presença do (s) inibidor (es) purificado (s) de sementes
de E. contortisiliquum;
Avaliar o (s) mecanismo (s) envolvido (s) na possível atividade citotóxica do (s)
inibidor (es) de quimotripsina de sementes de E. contortisiliquum.
34
3. MATERIAL
3.1. Material Biológico
3.1.1. Sementes de E. contortisiliquum
As sementes de E. contortisiliquum foram obtidas de vagens maduras, coletadas
em uma área de caatinga arbórea na fazenda “Não me Deixes”, no município de Quixadá –
CE. Um ramo terminal com folhas e frutos foi coletado, prensado e desidratado para posterior
identificação e incorporação ao acervo do Herbário Prisco Bezerra (EAC), Universidade
Federal do Ceará (UFC), sob a identificação EAC 38.115.
3.1.2. Células Tumorais
Células tumorais das linhagens HL-60 (leucemia), MDA-MB-435 (melanoma),
SF-295 (cérebro) e HCT-8 (cólon), cultivadas e mantidas no Laboratório de Oncologia
Experimental do Departamento de Farmacologia e Fisiologia da Universidade Federal do
Ceará, foram obtidas do National Cancer Institute, Bethesda, MD, EEUU.
3.2. Reagentes Químicos
3.2.1. Proteínas
Albumina sérica bovina (BSA), tripsina, quimotripsina, elastase pancreática,
papaína e proteases de Bacillus licheniformis foram adquiridas da Sigma-Aldrich Co. (St.
Louis, EEUU). Elastase neutrofílica foi obtida a partir de suspensão de neutrófilos humanos
cedida pelo Hemonorte – Hemocentro do Rio Grande do Norte. Marcadores de massa
molecular foram adquiridos da Fermentas International Inc. (Ontário, Canadá).
3.2.2. Substratos Enzimáticos
Os substratos sintéticos BApNA (Nα-benzoil-DL-arginina-p-nitroanilida) e
BANA (Nα-benzoil-DL-arginina-p-naftilamida), SAAVpNA (N-succinil-L-alanil-L-alanil-L-
35
valina-p-nitroanilida) e o substrato proteico Azocaseína foram adquiridos da Sigma-Aldrich
Co. (St. Louis, EEUU).
3.2.3. Outros Reagentes
O kit para ensaio de fibra alimentar TDF-100A e L-triptofano foram obtidos da
Sigma-Aldrich Co. (St Louis, EEUU). Acrilamida, Coomassie Brilliant Blue R-250, Dodecil
Sulfato de Sódio (SDS), TEMED (N’, N’, N’, N’- tetrametiletilenodiamina), trizma-base,
metilenobisacrilamida, β-mercaptoetanol e demais reagentes foram adquiridos das empresas
Amersham Biosciences (Piscataway, EEUU), Sigma-Aldrich Co. (St Louis, EEUU), Acros
Organics (Geel, Bélgica) e Amresco Inc. (Ohio, EEUU). Meio de cultura de células RPMI
1640, soro fetal bovino, penicilina e estreptomicina foram adquiridos da Cultilab (Campinas,
Brasil). MTT [brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio] foi adquirido da
Sigma-Aldrich Co. (St Louis, EEUU).
Todos os demais reagentes utilizados eram de grau analítico, fabricados por
empresas reconhecidas e foram obtidos comercialmente.
3.3. Equipamentos
Foram utilizados os seguintes equipamentos:
Moinho industrial Tecnal (São Paulo, Brasil);
Estufa de secagem Fanem, Modelo 002 CB (São Paulo, Brasil);
Forno mufla Quimis, Modelo Q-318m24 (Diadema, Brasil);
Aparelho Digestor Marconi, Modelo MA 448 (Piracicaba, Brasil);
Espectrofotômetro Femto 700 Plus (São Paulo, Brasil);
Espectrofotômetro de placa Beckman Coulter DTX 880 (Brea, CA, EEUU);
Banho-Maria Tecnal TE-056 (Piracicaba, Brasil);
Balança analítica Tecnal Classe II (Piracicaba, Brasil);
Centrífuga Hitachi CR 21 Hitachi High Technologies Corp. (Tóquio, Japão);
Sistema de purificação de água Milli-Q Millipore Corporation (Billerica, MA, EEUU);
Sistema FPLC Äkta Purifier GE Healthcare Bio-Sciences (Uppsala, Suécia);
Coletor de frações Radifrac Pharmacia Biotech (Uppsala, Suécia);
Concentrador Eppendorf 5301 (Hamburg, Alemanha);
36
Microcentrífuga Eppendorf 5410 (Hamburg, Alemanha);
Centrífuga de placa Eppendorf 5403 (Hamburg, Alemanha);
Agitador magnético Tecnal TE-081 (Piracicaba, Brasil);
Sistema de eletroforese unidimensional Amersham Biosciences Corp. (Piscataway,
NJ, EEUU);
Incubadora de CO2 Nuaire US Autoflow (Plymouth, MN, EEUU);
Centrífuga de placa Eppendorf 5403 (Hamburg, Alemanha);
Leitor de placa Beckman Coulter DTX 880 Esalab (São Paulo, Brasil).
37
4. METODOLOGIA
4.1. Processamento das Sementes de E. contortisiliquum
As sementes de E. contortisiliquum foram retiradas de suas vagens e moídas em
moinho industrial. Em seguida, a farinha foi peneirada em malha de 1,0 mm2 e colocada em
estufa a 45 °C por 72 h para obtenção de um material mais homogêneo e livre de umidade. Os
procedimentos descritos em tópicos a seguir foram realizados com a farinha delipidada,
exceto a determinação de lipídios totais. A delipidação foi realizada com n-hexano, na
proporção de 1:3 (p/v), num total de quatro trocas de solvente. O solvente foi desprendido da
farinha em capela de exaustão à temperatura ambiente. A farinha obtida foi acondicionada em
recipiente plástico até a realização das análises.
4.2. Composição Proximal de Sementes de E. contortisiliquum
4.2.1. Umidade
A umidade da farinha das sementes de E. contortisiliquum foi determinada
seguindo a metodologia descrita pela AOAC (1998). Em triplicata, 10 g de amostra não-
desidratada foram colocados em recipientes limpos e tarados e deixados a 105 °C por 24 h. O
percentual de umidade foi determinado pela diferença entre os pesos inicial e final das
amostras após o processamento.
4.2.2. Proteínas Totais
As proteínas totais da farinha das sementes de E. contortisiliquum foram
determinadas em triplicata segundo o método Macrokjeldahl, utilizando o fator 6,25 para
conversão do teor de N em teor de proteína. Balões de Kjeldahl contendo 0,5 g de amostra, 25
mL de ácido sulfúrico concentrado e 5,0 g de mistura catalítica (sulfato de potássio, sulfato de
cobre e selênio metálico, 100:10:1, respectivamente) foram levados para um digestor e
deixados por 1 h a 400 °C. Em seguida, o material digerido foi transferido para balões
volumétricos de 100 mL, que tiveram seus volumes aferidos com água deionizada. A medida
de nitrogênio foi obtida por ensaio fotocolorimétrico como descrito por Baethgen e Alley
(1989), utilizando uma curva padrão com diferentes concentrações de sulfato de amônio.
38
4.2.3. Lipídios Totais
O teor de lipídios totais da farinha das sementes de E. contortisiliquum foi
determinado em triplicata segundo o método descrito pela AOAC (1998). Amostras de 5 g
foram pesadas em balança analítica e depositadas em cartuchos de papel de filtro, sendo,
então, transferidas para um sistema Soxhlet 303 mm. A extração de lipídios foi contínua
durante 8 h, sendo o n-hexano utilizado como solvente, na proporção de 1:5 (p/v). Em
seguida, o solvente foi evaporado em estufa durante 48 h e os balões contendo os resíduos de
óleo foram resfriados em dessecador e pesados em balança analítica. O percentual de lipídios
totais foi calculado pela diferença entre os pesos inicial e final dos balões.
4.2.4. Matéria Mineral
A matéria mineral foi determinada em triplicata a partir da farinha das sementes
de E. contortisiliquum segundo metodologia descrita pela AOAC (1998). Amostras pesando 1
g foram levadas em cadinhos de porcelana a um forno mufla e calcinizadas à temperatura de
550 °C por 4 h. O percentual de matéria mineral foi determinado pela diferença entre os pesos
inicial e final.
4.2.5. Fibra Alimentar Total
A determinação do teor de fibra alimentar da farinha das sementes de E.
contortisiliquum foi realizada em quadruplicata, seguindo a metodologia descrita pela AOAC
(1997), utilizando o kit para ensaio de fibra alimentar TDF-100A. Os procedimentos de
digestão e filtração estão representados na Figura 5.
39
DIGESTÃO
1,0000 g da amostra livre de umidade em 50 mL de tampão fosfato de sódio 0,08 M, pH 6,0, contendo 0,1 mL de
α-amilase (kit TDF-100A)
Banho-maria a 95 °C por 15 min, agitação a cada 5 min
Resfriar à temperatura ambiente
Ajustar o pH 7,3 a 7,7 com 10 mL de NaOH 0,275 M
Adicionar 0,1 mL de protease 50 mg/mL (kit TDF-100A)
Banho-maria a 60 °C com agitação por 30 min, após a temperatura interna atingir 60 °C
Resfriar à temperatura ambiente
Ajustar o pH 4,0 a 4,6 com 10 mL de HCl 0,325M
Adicionar 100 mL de amiloglucosidase (kit TDF-100A) e misturar
Banho-maria a 60 °C com agitação por 30 min, após a temperatura interna atingir 60 °C
Resfriar à temperatura ambiente
Acrescentar um volume de etanol 95% correspondente a 4 x o volume já existente nos recipientes
40
Registrar o peso do cadinho livre de umidade e da celite (kit TDF-100A), (referido como R1 = cadinho + celite)
Deixar as soluções sedimentarem overnight à temperatura ambiente
Umedecer e redistribuir a camada de celite em cada cadinho, usando etanol 78%
FILTRAÇÃO
Aplicar sucção branda para sentar a celite e transferir o precipitado e a suspensão para o cadinho
Acrescentar 20 mL de etanol 78%, 2 porções de 10 mL de etanol 95% e 2 porções de 10 mL de acetona
Secar os cadinhos contendo os resíduos overnight em uma estufa ventilada a 105 °C ou a vácuo a 70 °C
Pesar os cadinhos livres de umidade (referido como R2 = cadinho + celite + resíduo)
PROTEÍNAS E CINZAS
Das 4 repetições de cada amostra, duas tiveram suas proteínas totais quantificadas segundo Baethgen e Alley
(1989) e as outras duas a matéria mineral (registrado o peso do cadinho + amostra calcinizada = R3) segundo a
AOAC (1998)
Figura 5. Procedimento para determinação de Fibra Alimentar Total da farinha delipidada das
sementes de Enterolobium contortisiliquum segundo a metodologia descrita pela AOAC
(1997).
41
A quantificação do teor de fibra alimentar total foi obtida a partir da equação:
% FAT = Ramostra - Pamostra - Aamostra - B x 100
PA
Onde:
FAT: Fibra Alimentar Total;
R: Peso médio do resíduo da amostra, em mg (R2 - R1);
P: Peso médio da proteína, em mg;
A: Peso médio da matéria mineral, em mg, (R3 – R1);
PA: Peso médio da amostra, em mg;
B = Rbranco - Pbranco - Abranco
4.2.6. Carboidratos Digeríveis
O teor de carboidratos digeríveis foi determinado pela diferença dos demais
constituintes (proteínas totais, lipídios totais, matéria mineral e fibra alimentar total).
4.3. Composição Aminoacídica de Sementes de E. contortisiliquum
A composição em aminoácidos da farinha das sementes de E. contortisiliquum foi
realizada através de cromatografia de troca iônica em sistema HPLC, adaptada a partir do
método descrito por Spackman et al. (1958). Em triplicata, 4 mg de farinha delipidada foi
hidrolisada com 1 mL de HCl 6,0 M contendo 1% de fenol (p/v), por 22 h, a 110 ºC.
Concluída a hidrólise, as ampolas foram abertas e o HCl/fenol foi removido por evaporação
em dessecador com pressão reduzida na presença de NaOH. Em seguida, as amostras foram
dissolvidas em tampão citrato de sódio 0,05 M, pH 2,2, filtradas em membrana de 40 µm
(Millipore®) e submetidas a análise de aminoácidos.
O aminoácido aromático triptofano, sensível a hidrólise ácida, foi determinado
pelo método descrito por Pintér-Szakács e Molnár-Perl (1990). Amostras contendo 12,5 mg
de farinha foram colocadas em contato com 2,5 mL de reagente contendo ninhidrina a 1%
dissolvida em HCl 37% + ácido fórmico 96% (2:3, v/v), por 2 h, a 35 ºC. O branco foi
realizado paralelamente em condições semelhantes, mas sem ninhidrina. A seguir, às amostras
42
em solução foram adicionados 2,5 mL de uma mistura feita com as soluções HCl/ácido
fórmico descritas e etanol absoluto (1:4, v/v). O teor de triptofano foi medido através de
leitura espectrofotométrica a 380 nm, tendo como referência uma curva padrão feita com L-
triptofano.
4.4. Preparação do Extrato Proteico Bruto (EB) de E. contortisiliquum
A farinha delipidada das sementes de E. contortisiliquum foi submetida a extração
em tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5, na proporção 1:10 (p/v) e mantida sob agitação
constante por 3 h, à temperatura ambiente. O material foi filtrado em tecido de nylon e em
seguida submetido à centrifugação a 8.000 x g, por 30 min, a 4 °C. O material precipitado foi
descartado e o sobrenadante, denominado Extrato Bruto (EB), utilizado para a realização dos
procedimentos descritos adiante. Alíquotas do EB foram separadas para dosagem de proteínas
solúveis.
4.5. Determinação de Fatores Tóxicos e/ou Antinutricionais
4.5.1. Lectinas
A presença de lectinas nas sementes de E. contortisiliquum foi avaliada através de
ensaio de atividade hemaglutinante do EB, seguindo a metodologia descrita por Moreira e
Perrone (1977), adaptada para o uso de tubos de ensaio. O EB foi diluído seriadamente com
NaCl 0,9% (1:2; 1:4; 1:8; 1:16 etc) e cada diluição foi misturada (1:2, v/v) com uma
suspensão a 2% de eritrócitos de coelho, nativos e tratados previamente com um pool de
proteases de Bacillus licheniformis. Esse tratamento consistiu em uma mistura da solução de
proteases (1 mg/mL) com a suspensão de eritrócitos a 2%, na proporção 1:100 (v/v), por 1 h,
a 4 ºC. As soluções diluídas do EB foram incubadas a 37 °C, durante 30 min, com o sangue
nativo e tratado de coelho e, depois, por mais 30 min à temperatura ambiente. Após esse
tempo, os tubos foram centrifugados a 2000 x g, por 1 min, e a aglutinação visualizada a olho
nu. Os resultados foram expressos como título de hemaglutinação, o qual foi definido como o
recíproco da maior diluição que é capaz de provocar aglutinação visível, ou como a
quantidade mínima de proteína (µg/mL) capaz de induzir aglutinação visível. Essa
concentração foi denotada como uma unidade de atividade hemaglutinante (UH).
43
4.5.2. Inibidores de Quimotripsina
A atividade inibitória sobre a quimotripsina foi determinada de acordo com
Erlanger et al. (1961). Vinte microlitros de solução de quimotripsina bovina (0,1 mg/mL em
tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5 contendo CaCl 0,02 M) foram pré-incubados, por 15 min a
37 °C, com o mesmo tampão e 0,1 mL da solução teste. Após esse período, a reação foi
iniciada adicionando-se 0,2 mL de azocaseína 1% em tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5.
Decorridos 30 min, a reação foi interrompida adicionando-se 0,3 mL de solução de TCA 20%.
A mistura de reação foi centrifugada a 10.000 x g, por 10 min e o sobrenadante alcalinizado
com NaOH 2 N na proporção 1:2 (v/v), a fim de intensificar a cor do produto da clivagem da
azocaseína pela enzima. A leitura das absorbâncias foi realizada a 440 nm. Provas em branco
foram realizadas em duplicata e os testes em triplicata. Os resultados foram expressos em
Percentual de Inibição (%) e Unidade de Inibição (UI), definida como o decréscimo em 0,01
da absorbância a 440 nm.
4.5.3. Inibidores de Tripsina
A atividade inibitória sobre a tripsina foi determinada de acordo com Erlanger et
al. (1961). Vinte microlitros de solução de tripsina bovina (0,3 mg/mL em HCl 0,0025 M)
foram pré-incubados, por 15 min a 37 °C, com tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5 e 0,1 mL da
solução teste. Após esse período, a reação foi iniciada adicionando-se 0,2 mL de azocaseína
1% em tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5. Decorridos 30 min, a reação foi interrompida
adicionando-se 0,3 mL de solução de TCA 20%. A mistura de reação foi centrifugada a
10.000 x g, por 10 min e o sobrenadante alcalinizado com NaOH 2 N na proporção 1:2 (v/v),
a fim de intensificar a cor do produto da clivagem da azocaseína pela enzima. A leitura das
absorbâncias foi realizada a 440 nm. Provas em branco foram realizadas em duplicata e os
testes em triplicata. Os resultados foram expressos em Percentual de Inibição (%) e Unidade
de Inibição (UI), definida como o decréscimo em 0,01 da absorbância a 440 nm.
4.5.4. Toxinas
A avaliação da toxicidade aguda do EB de E. contortisiliquum, em diferentes
concentrações, foi realizada através de injeção intraperitonial (0,3 mL/10 g de peso corpóreo)
em camundongos machos, seguindo metodologia descrita por Carvalho et al. (1987).
44
Após 48 h da inoculação do extrato, foram contados os indivíduos mortos, caso
tenha ocorrido, para calcular medidas de dispersão como média, desvio padrão e coeficiente
de variação. A DL50 foi calculada conforme descrita por Litchfield e Wilcoxon (1949). Foi
utilizado como controle negativo o grupo de animais que recebeu apenas NaCl 0,9%.
4.6. Seleção do Melhor Fracionamento Proteico com TCA
Inicialmente, foi realizado um screening a fim de verificar, baseado na atividade
inibitória de quimotripsina específica e no percentual de inibição, qual fração proteica
encerrava maior concentração de inibidores após tratamento com ácido tricloroacético (TCA).
Dessa forma, alíquotas do EB foram submetidas ao fracionamento com TCA 20% a fim de
obter frações de concentração final de ácido variando de 0,5 a 10,0%. Ao EB, mantido neste
procedimento sob agitação constante e a frio, foram adicionados paulatinamente os volumes
de TCA 20% correspondentes a cada fração. O material foi então deixado em repouso por 30
min, a 4 °C e em seguida centrifugado a 8.000 x g, por 30 min, a 4 °C. O precipitado foi
descartado e o sobrenadante submetido à diálise overnight contra água destilada em
membranas de 6-8 kDa. Em seguida foi realizada nova diálise, desta vez contra tampão Tris-
HCl 0,05 M, pH 7,5 por 4 h, a fim de ajustar o pH das amostras. As frações proteicas obtidas
foram finalmente submetidas à dosagem de proteínas solúveis e quantificação de atividade
inibitória de quimotripsina.
4.7. Obtenção da Fração Proteica (F5,0) de E. contortisiliquum
De acordo com os procedimentos descritos no item 4.6., foi verificado que a
fração proteica correspondente a 5% de TCA apresentou os melhores valores de atividade
inibitória de quimotripsina específica e percentual de inibição. Por isso, essa fração foi
escolhida para dar continuidade aos procedimentos de purificação do (s) inibidor (es) de
quimotripsina e nomeada de F5,0. O procedimento para obtenção de F5,0 segue os mesmos
passos já descritos no item 4.6., com exceção de que a diálise foi realizada apenas contra água
destilada, realizando um total de 4 trocas a cada 12 h. O material dialisado foi então
liofilizado e acondicionado em recipiente plástico à temperatura ambiente até sua utilização.
4.8. Dosagem de Proteínas Solúveis
45
A dosagem de proteínas solúveis foi realizada de acordo com o método de
Bradford (1976). A uma alíquota de 50 µL das amostras foram adicionados 2,5 mL do
reagente de Bradford. A mistura foi agitada e após 10 min foram feitas as leituras das
absorbâncias a 595 nm. A concentração foi estimada em relação a uma curva padrão obtida
com diferentes concentrações de albumina sérica bovina (BSA) em NaCl 0,9%.
4.9. Isolamento e Purificação de Inibidor (es) de Quimotripsina
A purificação do (s) inibidor (es) de quimotripsina de sementes de E.
contortisiliquum foi realizada aplicando-se a fração protéica (F5,0) em coluna de troca iônica
Resource Q em sistema FPLC Äkta Purifier, com loop de 1 mL. A F5,0 liofilizada foi
ressuspendida em tampão Tris-HCl 0,02 M, pH 8,0 na concentração de 1 mg P/mL e, em
seguida, centrifugada a 10.000 x g, por 10 min, a 4 °C para remoção de partículas em
suspensão. A F5,0 foi então aplicada na coluna, previamente equilibrada com o mesmo
tampão. Foi aplicado 1 mg de proteína na coluna para evitar saturação. A cromatografia foi
realizada a um fluxo constante de 1,5 mL/min. O material não retido foi eluído com tampão
Tris-HCl 0,02 M, pH 8,0. Em seguida, foi aplicado um gradiente salino que variou de 0 a 0,5
M NaCl para eluição do material retido na coluna. Foram coletadas frações cromatográficas
de 0,5 mL, as quais foram acompanhadas por espectrofotometria a 280 nm e submetidas a
ensaio de inibição de quimotripsina conforme descrito no item 4.5.2. Nesse procedimento,
foram identificados três picos cromatográficos com atividade inibitória de quimotripsina
superior a 40%, os quais foram nomeados P1, P2 e P3. Os mesmos foram eluídos quando o
gradiente de NaCl atingiu as concentrações 0,12; 0,14 e 0,19 M, respectivamente. Material
correspondente a esses três picos foi, então, obtido em quantidade para os procedimentos
descritos a seguir.
4.10. Caracterização Bioquímica
4.10.1. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida (SDS-PAGE)
Com o intuito de avaliar o grau de pureza das amostras proteicas, as mesmas
foram submetidas à eletroforese em gel de poliacrilamida em presença de SDS, de acordo
com a metodologia descrita por Laemmli (1970). O gel de separação (12% de acrilamida) foi
preparado com 1,25 mL de acrilamida-bisacrilamida 30%; 1,25 mL de tampão Tris-HCl 1,5
46
M, pH 8,8; 2,425 mL de água destilada; 0,05 mL de SDS 10%; 0,005 mL de TEMED e 0,025
mL de persulfato de amônio 30%. O gel de concentração (5% de acrilamida) continha 0,33
mL de acrilamida-bisacrilamida 30%; 0,625 mL de tampão Tris-HCl 0,5 M, pH 6,8; 1,5 mL
de água destilada; 0,025 mL de SDS 10%; 0,005 mL de TEMED e 0,0125 mL de persulfato
de amônio 30%. O tampão de corrida consistia de Tris-HCl 0,025 M; glicina 0,192 M e SDS
10%. Uma vez diluídas em tampão de amostra (Tris-HCl 0,0625 M; SDS 2%; glicerol 10%
(v/v) e 0,01% de azul de bromofenol), em um volume de 0,02 mL, amostras que encerravam
12 µg de EB, F5,0, P1, P2 e P3 foram aplicadas no gel (10 x 14 cm, com espaçadores de 0,75
mm), o qual foi submetido a uma corrente constante de 20 mA por, aproximadamente, 2 h.
Após o término da corrida, o gel foi corado segundo procedimento descrito por Weber e
Osborne (1969). A solução corante foi preparada usando-se Comassie Brilliant Blue R-250
1%, metanol 40%, ácido acético 10% e água destilada. O descoloramento foi feito com uma
solução contendo ácido acético 10% e etanol 30%. Para determinar a massa molecular
aparente da (s) proteína (s) de interesse, foram utilizados os marcadores padrão de massa
molecular β-galactosidase (116 kDa), BSA (66,2 kDa), ovalbumina (45 kDa), lactato
desidrogenase (35 kDa), endonuclease de restrição Bsp 981 (25 kDa), β-lactoglobulina (18,4
kDa) e lisozima (14,4 kDa).
4.10.2. Determinação de IC50
A concentração de P1, P2 e P3 que reduz em 50% a atividade da quimotripsina
(IC50) foi determinada através da construção de uma curva de titulação que relaciona
percentual de atividade de quimotripsina e concentração de inibidor. Na construção dessa
curva, alíquotas com concentrações crescentes de inibidor (0,041; 0,083; 0,165; 0,330 e 0,661
μM, para P1; 0,062; 0,124; 0,248; 0,495 e 0,991 μM para P2; e 0,130; 0,259; 0,518; 1,036 e
2,073 μM para P3) foram incubadas com alíquotas de 10 μL de quimotripsina 8,0 μM,
encerrando uma concentração final de 0,114 μM, e o ensaio procedeu como descrito no item
4.5.2. Foi determinado o percentual de atividade residual de quimotripsina na presença de
cada concentração de inibidor utilizada e construída a curva de titulação.
4.10.3. Determinação da Constante de Inibição e do Mecanismo de Inibição
47
Para a determinação do mecanismo de inibição foi construído o gráfico de
Lineweaver-Burk, no qual é representado o inverso da velocidade da reação enzimática em
presença de inibidor em função do inverso da concentração de substrato.
Para a construção do gráfico, foi realizado um ensaio de inibição de quimotripsina
no qual se combinaram várias concentrações de substrato com várias concentrações de
inibidor, mantendo-se a concentração de enzima constante. Foram utilizadas quantidades
crescentes de inibidores de quimotripsina de E. contortisiliquum nas concentrações 17,34
(P1), 18,49 (P2) e 7,25 (P3) µM, encerrando concentrações finais a saber:
P1: 0,165; 0,248; 0,330 µM;
P2: 0,124; 0,186; 0,248 µM;
P3: 0,130; 0,259; 0,518 µM.
Os inibidores foram pré-incubados com 10 µL de solução de quimotripsina na
concentração de 8,0 µM em tampão Tris-HCl 0,05 M com CaCl2 0,02 M, pH 7,5, cuja
concentração final foi de 0,114 µM. A reação foi iniciada com a adição de 200 µL de
azocaseína em diferentes concentrações: 0,1; 0,15; 0,3; 0,4; 0,6 e 0,8 mM. O controle positivo
procedeu-se da mesma maneira, porém sem a adição da fração inibidora. O ensaio foi
realizado como descrito no item 4.5.2.
O valor da constante de inibição (ki) foi determinado de acordo com Dixon et al.
(1979). O ensaio enzimático com quimotripsina para a determinação de ki foi realizado na
presença de concentrações crescentes de P1, P2 e P3 (as mesmas já referenciadas para a
construção do gráfico de Lineweaver-Burk) e duas diferentes concentrações de azocaseína
(0,1 e 0,15 mM para P1; 0,6 e 0,8 mM para P2 e 0,15 e 0,3 mM para P3). O valor de ki foi
obtido através da intercessão de duas linhas correspondentes às concentrações de substrato.
4.10.4. Avaliação da Especificidade dos Inibidores para Proteases Serínicas e Cisteínica
4.10.4.1. Inibição de Tripsina (protease serínica)
A atividade anti-tríptica foi determinada utilizando BApNA como substrato
(ERLANGER et al., 1961). Alíquotas de 20 L de solução de tripsina bovina (0,3 mg/mL em
HCl 0,0025 M) foram pré-incubadas, por 10 min a 37 °C, com HCl 0,0025 M, tampão Tris-
HCl 0,05 M, pH 7,5 e volumes de P1, P2 e P3 que encerravam 8, 5 e 20 g de proteína,
respectivamente. Após esse período, a reação foi iniciada adicionando-se 0,5 mL de BApNA
48
0,00125 M. A reação prosseguiu por mais 15 min nas mesmas condições de incubação, sendo
interrompida pela adição de 0,12 mL de ácido acético 30%. A formação de p-nitroanilina foi
monitorada em espectrofotômetro a 410 nm. Provas em branco foram realizadas em duplicata
e os ensaios em triplicata.
4.10.4.2. Inibição de Elastase Pancreática (protease serínica)
A atividade inibitória sobre elastase pancreática foi avaliada utilizando-se
azocaseína como substrato (ERLANGER et al., 1961). A enzima (60 µL; 2,9 mg/mL) foi pré-
incubada, por 15 min a 37 °C, com tampão Tris-HCl 0,05 M com CaCl2 0,02 M, pH 7,5 e
volumes de P1, P2 e P3 que encerravam 8, 5 e 20 g de proteína, respectivamente. A reação
foi então iniciada adicionando-se 0,2 mL de azocaseína 1% em tampão Tris-HCl 0,05 M, pH
7,5. A reação enzimática prosseguiu durante 30 min e foi finalizada com a adição de 0,3 mL
de TCA 20%. O material foi então centrifugado por 10 min a 10.000 x g e depois o
sobrenadante alcalinizado com NaOH 2 N na proporção 1:2 (v/v), a fim de intensificar a cor
do produto da clivagem da azocaseína pela enzima. A leitura das absorbâncias foi realizada a
440 nm.
4.10.4.3. Inibição de Elastase Neutrofílica (protease serínica)
A atividade inibitória de elastase neutrofílica foi avaliada utilizando SAAVpNA
como substrato (JOHANSSON et al., 2002). Para o ensaio, a solução de enzima foi
previamente centrifugada a 10.000 x g por 10 min, a 4 °C. Uma alíquota de 0,1 mL do
sobrenadante (0,5 mg/mL) foi incubada, por 15 min a 37 °C, com tampão fosfato de sódio 0,1
M, pH 7,4, e volumes de P1, P2 e P3 que encerravam 8, 5 e 20 g de proteína,
respectivamente. A reação foi iniciada com a adição de 5 µL de SAAVpNA 0,125 M. Após 2
h, a reação foi interrompida com a adição de 0,25 mL de ácido acético 2%. Os tubos foram
centrifugados a 10.000 x g por 10 min a 4°C e, então, foi realizada a leitura das absorbâncias
a 405 nm.
4.10.4.4. Inibição de Papaína (protease cisteínica)
A atividade inibitória sobre a papaína foi realizada utilizando BANA como
substrato (ZHAO et al., 1996). A enzima (0,1 mg/mL) foi pré-incubada por 10 min a 37°C
49
com tampão fosfato de sódio 0,25 M, pH 6,0, solução ativadora para papaína [tampão fosfato
de sódio 0,25 M, pH 6,0 contendo ditiotreitol (DTT) 0,003 M e ácido
etilenodiaminotetracético (EDTA) 0,002 M] e volumes de P1, P2 e P3 que encerravam 8, 5 e
20 g de proteína, respectivamente. A reação foi iniciada com a adição de 0,2 mL de BANA
0,001 M, e a mistura mantida nas mesmas condições por 20 min. Para interromper a reação
foram utilizados 0,5 mL de HCl 2% em etanol e, em seguida, adicionados 0,5 mL de reagente
de cor 4-dimetilaminocinamaldeído (DMACA) 0,06% em etanol. As absorbâncias foram
monitoradas a 540 nm.
4.10.5. Estabilidade dos Inibidores a Agentes Desnaturantes Físicos e Químicos
4.10.5.1. Estabilidade em Diferentes Temperaturas
A estabilidade térmica de P1, P2 e P3 foi avaliada segundo a metodologia descrita
por Gomes et al. (2005). Alíquotas de 0,5 mL de cada inibidor foram incubadas em banho-
maria por 30 min nas seguintes temperaturas: 37 (controle), 40, 60, 70, 90 e 100 °C. Após
resfriamento das amostras à temperatura ambiente, procedeu-se o ensaio de inibição de
quimotripsina conforme descrito no item 4.5.2. Foram utilizados volumes de inibidor que
encerravam 8, 5 e 20 μg de P1, P2 e P3, respectivamente. Provas em branco foram realizadas
em duplicata e os ensaios em triplicata.
4.10.5.2. Estabilidade em Diferentes Valores de pH
A estabilidade de P1, P2 e P3 em diferentes valores de pH foi avaliada segundo a
metodologia descrita por Gomes et al. (2005). Alíquotas de 0,5 mL de cada inibidor foram
submetidas à diálise overnight contra as seguintes soluções tampão: glicina-HCl 0,1 M, pH
2,0; glicina-HCl 0,1 M, pH 3,0; fosfato de sódio 0,1 M, pH 6,0; fosfato de sódio 0,1 M, pH
8,0; glicina-NaOH 0,1 M, pH 11,0; glicina-NaOH 0,1 M, pH 12,0. Os inibidores foram em
seguida submetidos à nova diálise, desta vez contra tampão Tris-HCl 0,05 M, pH 7,5, durante
4 h. Procedeu-se, então, o ensaio de inibição de quimotripsina conforme descrito no item
4.5.2., usando volumes de P1, P2 e P3 que encerravam 8, 5 e 20 μg de proteína,
respectivamente. Provas em branco foram realizadas em duplicata e os ensaios em triplicata.
4.10.5.3. Estabilidade Frente ao Agente Redutor DTT
50
Para avaliar a estabilidade dos inibidores de quimotripsina de sementes de E.
contortisiliquum na presença de agente redutor seguiu-se a metodologia descrita por Cruz
(2008), onde alíquotas de inibidor, encerrando 8, 5 e 20 μg de P1, P2 e P3, respectivamente,
foram incubadas a 37 °C com soluções de DTT de concentrações finais de 1, 10 e 100 mM
por 15, 30, 60 e 120 min. Ao final do tempo de incubação, foi adicionada iodoacetamida na
quantidade de duas vezes a concentração final de DTT, a fim de prevenir a reoxidação dos
grupos sulfidril. Após o período de incubação, a mistura de reação foi submetida ao ensaio de
atividade inibitória de quimotripsina como descrito no item 4.5.2. O ensaio foi acompanhado
por controle sem DTT. Provas em branco foram realizadas em duplicata e os ensaios em
triplicata.
4.11. Avaliação da Atividade Antiproliferativa de Inibidores de Quimotripsina de E.
contortisiliquum
4.11.1. Citotoxicidade contra Células Tumorais in vitro
A citotoxicidade de inibidores de quimotripsina de E. contortisiliquum contra
células tumorais humanas foi inicialmente avaliada de acordo com a metodologia descrita por
Mosmann (1983). O ensaio consiste em uma análise colorimétrica baseada na conversão do 3-
(4,5-dimetil-2-tiazol)-2,5-difenil-2-H-brometo de tetrazólio (MTT) em formazan, devido a
atividade da enzima succinil-desidrogenase presente nas mitocôndrias de células viáveis.
Desta maneira, é possível quantificar a porcentagem de células vivas. Nessa investigação,
foram utilizadas as linhagens HL-60 (leucemia), MDA-MB-435 (melanoma), SF-295
(cérebro) e HCT-8 (cólon), obtidas através de doação do National Cancer Institute (Bethesda,
MD, USA).
As linhagens celulares foram cultivadas em frascos plásticos para cultura
(Corning, 25 cm2, volume de 50 mL para células aderidas e 75 cm
2, volume de 250 mL para
células em suspensão) em meio de cultura RPMI 1640 suplementado com 10% de soro fetal
bovino e 1% de antibióticos (penicilina e estreptomicina). As células foram incubadas em
estufa a 37 °C em atmosfera de 5% de CO2, seguido da observação do crescimento celular
com ajuda de microscópio de inversão a cada 24 h. Quando necessário, as células foram
repicadas em meio de cultura novo, em uma concentração de 5,0-10,0 x 105 céls/mL
(BUTLER e DAWSON, 1992).
51
As células em suspensão ou monocamadas foram distribuídas em placas de 96
poços numa densidade de 3,0 x 105 céls/mL para HL-60, 7,0 x 10
4 céls/mL para HCT-8 e 1,0
x 105 céls/mL para MDA-MB-435 e SF-295. Os inibidores foram incubados durante 72 h
juntamente com as suspensões de células em concentrações que variaram de 0,39 a 200
g/mL, obtidas através de diluição seriada. Doxorrubicina foi utilizada como controle
positivo com concentrações variando de 0,003 a 0,25 g/mL. Após o período de incubação, as
placas foram centrifugadas a 15 x g por 15 min e o sobrenadante foi descartado. Cada poço
recebeu 0,2 mL de MTT 10% em meio RPMI 1640 e foram reincubadas durante 3 h em estufa
a 37 °C e CO2 5%. Em seguida, as placas foram novamente centrifugadas a 30 x g por 10 min,
o sobrenadante foi desprezado e o precipitado ressuspendido em 0,15 mL de dimetilsulfóxido
(DMSO). Para a quantificação do sal reduzido nas células vivas, as absorbâncias foram lidas
em espectrofotômetro de placa a 550 nm. Os testes foram realizados em duplicata.
Para análise dos resultados, foi registrada a porcentagem de inibição versus
logaritmo da concentração de inibidor e foram determinados suas CI50 (concentração capaz de
diminuir em 50% o efeito máximo) e seus respectivos intervalos de confiança, através de
regressão não-linear utilizando o programa Prism versão 3.0 (Graph Pad Software).
52
5. RESULTADOS
5.1. Potencial Nutricional de Sementes de E. contortisiliquum
A composição proximal da farinha das sementes de E. contortisiliquum está
apresentada na Tabela 1. Essas sementes são excelentes fontes de proteína, uma vez que são
compostas majoritariamente por esse macronutriente (cerca de 50% do conteúdo total, em
base seca). A semente também apresenta um alto conteúdo de fibra alimentar (24,61%),
característica desejável para uma leguminosa, e de umidade (10,29%). As sementes de E.
contortisiliquum apresentam teor de lipídio correspondente a 3,42% do conteúdo total, em
base seca. Percentual semelhante a esse é representado pelo teor de matéria mineral (3,46%).
O alto percentual de proteínas e moderado teor de carboidratos digeríveis (18,48%) resultam
em uma semente com um altíssimo valor calórico, correspondente a 304,82 kcal em uma
porção de 100 gramas.
As sementes de E. contortisiliquum apresentam um bom perfil de aminoácidos
essenciais, uma vez que o teor de leucina, lisina e histidina (81,4; 148,9 e 60,7 g/kg P,
respectivamente) são superiores aos descritos para a soja e clara do ovo e também aos
requerimentos nutricionais para crianças em diferentes faixas etárias (FAO/WHO/UNU,
1985). As sementes de E. contortisiliquum também apresentam um bom teor de treonina,
uma vez que este é equivalente ao descrito para a soja e superior aos requerimentos para
crianças em diferentes faixas etárias (FAO/WHO/UNU, 1985). No entanto, é notória a
deficiência nos aminoácidos metionina e triptofano, como também em fenilalanina, quando
comparados aos valores de referência (Tabela 2). Quanto aos aminoácidos não essenciais,
destacam-se os teores de serina (57,0 g/kg P) e glicina (50,2 g/kg P). Estes valores são
superiores aos descritos para a soja e clara do ovo.
Os resultados da análise da presença quantitativa de fatores tóxicos e/ou
antinutricionais estão apresentados na Tabela 3. Foi verificada a presença de toxinas no
extrato bruto (EB) de E. contortisiliquum, apresentando uma DL50 de 1,12 ± 0,04 g/kg de peso
corpóreo. Não foi detectada a presença de lectinas. Por outro lado, foram detectados altos
níveis de inibidores de tripsina e quimotripsina. A atividade inibitória de quimotripsina e
tripsina de sementes de E. contortisiliquum, considerando o teor de proteínas solúveis no EB
(atividade inibitória específica), foi avaliada em 39,84 e 38,87 UI/mg P, respectivamente. O
percentual de inibição de quimotripsina e tripsina foram de 97 e 100%, respectivamente. Com
base no alto conteúdo de inibidores de proteases nessas sementes e no fato de que a atividade
53
Tabela 1. Composição química elementar (g/100 g) e energia (kcal/100 g) da farinha de
sementes de Enterolobium contortisiliquum em base secaa
Constituintes
Sementes de
E. contortisiliquum
Umidadeb 10,29 ± 0,46
Proteínas totaisa,b
50,03 3,44
Lipídios totaisa,b
3,42 0,0
Material minerala,b
3,46 0,37
Fibra alimentara,b
24,61 0,28
Carboidratos digeríveisa 18,48
Energiac
304,82
bOs valores são média desvio padrão de uma triplicata;
cg de carboidrato x 4,0 kcal + g de proteína x 4,0 kcal + g de lipídio x 9,0 kcal (MAHAN e
SCOTT-STUMP, 1996).
54
Tabela 2. Composição de aminoácidos (g/kg P) da farinha delipidada de sementes de
Enterolobium contortisiliquum comparada à clara do ovo, soja e aos requerimentos
estabelecidos pela FAO/WHO/UNU (1985) para crianças em diferentes faixas etárias
Aminoácidos Sementes de E.
contortisiliquum
Clara do
ovo Soja
Crianças
2
0-5
anos
1
10-12
anos
Essenciais
Thr 38,2 49,2 38,1 34,0 28,0
Val 34,1 55,4 46,6 35,0 25,0
Ile 30,1 57,8 37,9 28,0 28,0
Leu 81,4 77,1 76,8 66,0 44,0
Lys 148,9 110,2 65,5 58,0 44,0
Phe 52,2 89,5 60,5 63,0 22,0
Tyr 37,5 44,0 50,2 - -
Met 10,2 52,3 13,8 25,0 22,0
Cys 8,36 23,8 16,3 - -
Trp 1,93 14,5 5,4 11,0 0,9
His 60,7 23,4 30,4 19,0 19,0
Não-essenciais
Asx 92,3 61,2 111,3
Glx 141,4 86,0 183,0
Ser 57,0 54,3 42,3
Gly 50,2 32,6 38,8
Ala 49,8 58,1 42,5
Arg 81,5 104,0 85,2
Pro 26,3 29,2 53,3
55
Tabela 3. Análise quantitativa da presença de fatores tóxicos e/ou antinutricionais nas
sementes de Enterolobium contortisiliquum
Fator tóxico e/ou antinutricional
Sementes de
E. contortisiliquum
Toxinas 1,12 ± 0,04*
Lectinas
ND**
Inibidores de Quimotripsina
39,84 ± 0,95***
Inibidores de Tripsina
38,87 ± 0,15***
* DL50, definido como a quantidade de proteína, em g/kg de peso corpóreo, capaz de causar
50% de morte em 24 h.
** Não detectado quando usado sangue de coelho nativo e tratado com proteases de Bacillus
licheniformis;
*** Expresso em Unidades de Inibição por miligrama de proteína (UI/mg P). Uma unidade de
inibição é definida como o decréscimo em 0,01 na absorbância a 440 nm no ensaio de
atividade inibitória de quimotripsina segundo Erlanger et al. (1961).
56
antiquimotríptica é mais eficaz do que a atividade antitríptica no processo de supressão e
prevenção da carcinogênese (DURANTI, 2006; SCARAFONI et al., 2007), o estudo foi
direcionado para o potencial nutracêutico dos inibidores de quimotripsina de sementes de E.
contortisiliquum, inicialmente através da sua purificação e caracterização parcial e finalizando
com a avaliação do seu efeito antiproliferativo contra linhagens de células tumorigênicas
humanas.
5.2. Atividade Inibitória de Quimotripsina nas Frações Proteicas de E. contortisiliquum
A Tabela 4 mostra o percentual de inibição e a atividade inibitória de
quimotripsina específica das frações proteicas de E. contortortisiliquum. As frações proteicas
correspondentes a concentração final de 0,5-6,0% de TCA apresentaram alto percentual de
inibição (≥ 95%), semelhante ao mostrado pelo EB (97%). Em contrapartida, as atividades
específicas das referidas frações mostraram-se superiores (de 13 a 45 vezes maior) do que a
observada no EB. As frações proteicas que correspondem a 6,5-10,0% de TCA praticamente
não apresentaram atividade inibitória de quimotripsina, por isso foram desconsideradas para
fins de seleção da fração de trabalho. A fração proteica que corresponde à concentração final
de 5,0% de TCA (F5,0) foi escolhida para dar prosseguimento aos procedimentos de
isolamento e purificação de inibidores de quimotripsina, já que ela apresentou o maior valor
de atividade inibitória específica (1.806 UI/mg P) e um alto percentual de inibição (97%).
5.3. Isolamento e Purificação dos Inibidores de Quimotripsina
O perfil cromatográfico de F5,0 aplicado em Resource Q em sistema FPLC Äkta
Purifier está apresentado na Figura 6. O ensaio de inibição de quimotripsina das frações
cromatográficas revelou que todos os picos do material retido na coluna mostraram algum
efeito inibitório sobre a quimotripsina, variando de 10 a 86%. No entanto, foram selecionados,
para fins de purificação e caracterização, somente aqueles que apresentaram inibição igual ou
superior a 40%. Os picos selecionados, P1, P2 e P3, apresentaram 69, 86 e 40% de inibição,
respectivamente.
As etapas utilizadas no processo de purificação dos inibidores de quimotripsina de
sementes de E. contortisiliquum estão sumarizadas na Tabela 5.
57
Tabela 4. Atividade inibitória de quimotrisina das frações proteicas de E. contortisiliquum:
Percentual de Inibição e Atividade Específica expressa em Unidades de Inibição* por
miligrama de proteína (UI/mg P)
Amostra % Inibição UI/mg P
EB 97 39,84
F0,5 95 503,6
F1,0 96 530,8
F1,5 96 568,2
F2,0 98 664,3
F2,5 98 720,0
F3,0 98 813,9
F3,5 97 1039,3
F4,0 98 1711,8
F4,5 97 1729,4
F5,0 97 1806,3
F5,5 97 1694,1
F6,0 96 1594,4
F6,5 7 146,7
F7,0 3 53,3
F7,5 0 0
F8,0 0 0
F8,5 0 0
F9,0 0 0
F9,5 0 0
F10,0 0 0
*Uma unidade de inibição é definida como o decréscimo em 0,01 na absorbância a 440 nm no
ensaio de atividade inibitória de quimotripsina segundo Erlanger et al. (1961).
58
Figura 6. Perfil cromatográfico da fração F5,0 aplicada em Resource Q em sistema FPLC
Äkta Purifier, com loop de 1 mL. A F5,0 liofilizada foi ressuspendida em tampão Tris-HCl
0,02 M, pH 8,0 e aplicada na coluna (1mgP/mL), previamente equilibrada com o mesmo
tampão. A cromatografia foi realizada a um fluxo constante de 1,5 mL/min. O material não
retido foi eluído com tampão Tris-HCl 0,02 M, pH 8,0 e, em seguida, aplicado um gradiente
salino que variou de 0 a 0,5 M NaCl para eluição do material retido na coluna. Foram
coletadas frações cromatográficas de 0,5 mL, as quais foram acompanhadas por
espectrofotometria a 280 nm e submetidas a ensaio de inibição de quimotripsina. Os picos P1,
P2 e P3 foram eluídos quando o gradiente de NaCl atingiu as concentrações 0,12; 0,14 e 0,19
M, respectivamente, e selecionados para fins de purificação e caracterização por terem
apresentado atividade inibitória de quimotripsina igual ou superior a 40%.
59
Tabela 5. Tabela de purificação dos inibidores de quimotripsina de sementes de E. contortisiliquum
Amostra Proteína
Total (mg)
Atividade Específica
(UI/mg P)
Atividade
Total (UI)
Índice de
Purificação**
Rendimento***
(%)
em termo de
proteína
Rendimento****
(%)
em termo de
atividade
EB* 748,3 54 40.470 1 100,0 100,0
F5,0 105,6 715 75.451 13,2 14,1 186,4
P1 1,8 6.741 11.864 124,8 0,24 29,3
P2 4,2 7.567 31.629 140,1 0,56 78,2
P3 4,2 1.208 5.123 22,4 0,56 12,6
* O extrato bruto (EB) obtido na primeira etapa de purificação serviu como referência para as demais amostras.
** Índice de purificação 1 e rendimento de 100% foram atribuídos ao EB. O índice de purificação nos passos subsequentes foi calculado
como sendo a razão entre a sua atividade específica e aquela do EB.
*** O rendimento foi calculado como sendo a razão entre a quantidade de proteína total em cada etapa e aquela do EB, multiplicada por 100.
**** O rendimento foi calculado como sendo a razão entre a atividade total em cada etapa e aquela do EB, multiplicada por 100.
60
O EB obtido na primeira etapa serviu como referência para as demais amostras.
Índice de purificação 1 e rendimento de 100% foram atribuídos ao EB. O índice de
purificação nos passos subsequentes foi calculado como sendo a razão entre a sua atividade
específica e aquela do EB. O rendimento em termo de proteína foi calculado como sendo a
razão entre a quantidade de proteína total em cada etapa e aquela do EB, multiplicado por
100. O rendimento em termo de atividade foi calculado como sendo a razão entre a atividade
total em cada etapa e aquela do EB, multiplicado por 100. A análise da Tabela 5 revela que as
atividades específicas de P1, P2 e P3 são bastante mais elevadas do que a observada no EB.
Tomando-se em consideração este parâmetro, o índice de purificação desses inibidores foi de,
aproximadamente, 125, 140 e 22 vezes, respectivamente. O rendimento proteico da
purificação, no entanto, foi inferior a 1,0% para os três inibidores.
5.4. Caracterização Bioquímica
5.4.1. Eletroforese em Gel de Poliacrilamida (SDS-PAGE)
Os perfis eletroforéticos de EB; F5,0; P1; P2 e P3 estão mostrados na Figura 7.
No EB, está presente uma grande variedade de proteínas que se encontram em uma ampla
faixa de massa molecular. Já em F5,0, a variedade de bandas proteicas é muito menor, sendo
majoritárias aquelas correspondentes aos inibidores. Esse fato mostra que o fracionamento do
EB com TCA foi um procedimento bastante eficaz na remoção de proteínas de alta massa
molecular, contribuindo para uma maior eficiência no processo de purificação. Os inibidores
de quimotripsina de sementes de E. contortisiliquum P1, P2 e P3 migraram como proteínas de
massas moleculares aparentes de 17,3; 17,3 e 19,3 kDa, respectivamente, determinadas
através de mobilidade eletroforética com base em curva de calibração utilizando marcadores
moleculares (Figura 8). Considerando a visualização de apenas uma banda protéica no gel em
cada um dos picos P1, P2 e P3, deste momento em diante os mesmos passaram a ser
denominados EcCI1, EcCI2 e EcCTI, como referência ao nome da planta (Ec) e atividade
inibitória de quimotripsina e/ou tripsina (CI e/ou CTI).
5.4.2. Determinação de IC50
61
Figura 7. Perfis eletroforéticos de amostras de E. contortisiliquum sob condições
desnaturantes e não redutoras. Foram aplicados 12 g de proteína em cada poço. 1:
Marcadores de massa molecular (β-galactosidase - 116 kDa; BSA - 66,2 kDa; ovalbumina -
45 kDa; lactato desidrogenase - 35 kDa; endonuclease de restrição Bsp 981 - 25 kDa; β-
lactoglobulina - 18,4 kDa; lisozima - 14,4 kDa); 2: EB; 3: F5,0; 4: EcCI1 - 17,3 kDa; 5:
EcCI2 - 17,3 kDa; 6: EcCTI - 19,3 kDa.
62
Figura 8. Curvas de calibração de EcCI1 e EcCI2 (A) - 17,3 kDa e EcCTI (B) - 19,3 kDa,
construídas de acordo com a mobilidade eletroforética em gel de poliacrilamida sob condições
desnaturantes e não redutoras – SDS-PAGE (Laemmli, 1970), utilizando marcadores de
massa molecular como referência. 1: β-galactosidase (116 kDa); 2: BSA (66,2 kDa); 3:
ovalbumina (45 kDa); 4: lactato desidrogenase (35 kDa); 5: endonuclease de restrição Bsp
981 (25 kDa); 6: β-lactoglobulina (18,4 kDa); 7: lisozima (14,4 kDa).
63
A Figura 9 mostra as curvas de titulação de EcCI1, EcCI2 e EcCTI. As massas de
EcCI1, EcCI2 e EcCTI que reduzem em 50% a atividade da quimotripsina (IC50) são 2; 1,5 e
4 µg, respectivamente.
5.4.3. Determinação do Mecanismo de Inibição e da Constante de Inibição
Os gráficos duplo-recíproco (Lineweaver–Burk) para determinação do mecanismo
de inibição de EcCI1, EcCI2 e EcCTI estão mostrados na Figura 10. EcCI1 e EcCI2
apresentaram inibição do tipo não-competitiva, caracterizada pela alteração da velocidade
máxima, dada pela interseção das retas em diferentes pontos da ordenada, e inalteração do
valor de km (constante de Michaellis-Menten), dada pela interseção das retas no mesmo ponto
da abscissa. EcCTI inibiu a quimotripsina de forma competitiva, caracterizada pela
inalteração da velocidade máxima e alteração do valor de km.
As determinações das constantes de inibição (ki) de EcCI1, EcCI2 e EcCTI
através dos gráficos de Dixon (1/v versus I) estão mostradas na Figura 11. Os valores de ki de
EcCI1, EcCI2 e EcCTI são, respectivamente, 4 x 10-8
; 2,5 x 10-8
e 5 x 10-8
M.
5.4.4. Especificidade dos Inibidores para Proteases Serínicas e Cisteínica
Os inibidores de quimotripsina de E. contortortisiliquum não apresentaram
atividade inibitória contra papaína (Tabela 6). Apenas EcCTI foi capaz de inibir a tripsina,
apresentando 98% de inibição. Esse inibidor também foi capaz de inibir a elastase
neutrofílica, porém não com a mesma intensidade (apenas 20%). Em contrapartida, EcCI1 e
EcCI2 a inibiram consideravelmente (77 e 76%, respectivamente). Os três inibidores também
foram capazes de inibir a elastase pancreática, porém de forma mais fraca (ca. de 20%).
5.4.5. Estabilidade dos Inibidores a Agentes Desnaturantes Físicos e Químicos
A estabilidade térmica dos inibidores de quimotripsina de E. contortortisiliquum
está apresentada na Figura 12. Apenas EcCI2 não manteve sua atividade inibitória estável a
100 °C, tendo sido reduzida para 10%. No intervalo de 37 a 90 °C, a inibição de EcCI2 variou
entre 88 e 93%. A variação térmica não exerceu influência sobre a capacidade inibitória de
64
Figura 9. Curvas de titulação dos inibidores de quimotripsina EcCI1 (A) e EcCI2 (B) e do
inibidor de quimotripsina e tripsina EcCTI (C), construídas com concentrações crescentes de
inibidor (0,041; 0,083; 0,165; 0,330 e 0,661 μM, para EcCI1; 0,062; 0,124; 0,248; 0,495 e
0,991 μM para EcCI2; e 0,130; 0,259; 0,518; 1,036 e 2,073 μM para EcCTI). As quantidades
de EcCI1, EcCI2 e EcCTI que reduzem em 50% a atividade da quimotripsina (IC50) são 2; 1,5
e 4 g, respectivamente.
65
Figura 10. Mecanismos de inibição de EcCI1, EcCI2 e EcCTI determinados através de
gráfico duplo-recíproco de Lineweaver-Burk. EcCI1 (A) e EcCI2 (B) apresentam mecanismo
de inibição do tipo não-competitivo. EcCTI (C) apresenta mecanismo de inibição do tipo
competitivo.
66
Figura 11. Constantes de inibição (ki) de EcCI1 (A), EcCI2 (B) e EcCTI (C) através de
representação de Dixon.
67
Tabela 6. Especificidade de inibição apresentada pelos inibidores EcCI1, EcCI2 e EcCTI
frente a enzimas serínicas e cisteínica, determinada utilizando 8, 5 e 20 g de EcCI1, EcCI2 e
EcCTI, respectivamente
Inibição Enzimática (%)
Tripsina Elastase
Pancreática
Elastase
Neutrofílica Papaína
EcCI1 ND* 17 77 ND
*
EcCI2 ND* 18 76 ND
*
EcCTI 98 18 20 ND*
*ND: Não detectada.
68
EcCI1 e EcCTI. No intervalo de 37 a 100 °C, a inibição de EcCI1 variou entre 89 e 97%. Já a
inibição de EcCTI variou entre 86 e 92%.
Os três inibidores mantiveram suas atividades inibitórias de quimotripsina
estáveis frente a variações extremas de pH (Figura 13). A variação de pH entre 2 e 12
praticamente não alterou a atividade inibitória de EcCI1 (inibição de 92 a 100%), EcCI2
(inibição de 92 a 94%) e EcCTI (inibição de 80 a 91%).
A presença do agente redutor ditiotreitol (DTT), mesmo em alta concentração
(100 mM), não exerceu influência sobre a atividade inibitória de quimotripsina de EcCI1 e
EcCTI, como mostrado na Figura 14. A variação da inibição exercida por EcCI1 e EcCTI nos
vários tempos de incubação e nas várias concentrações de DTT foi de 86-94% e de 81-84%,
respectivamente. EcCI2, em contrapartida, reduziu a sua atividade inibitória em cerca de 50%
quando incubado com DTT 100 mM, em todos os tempos testados. A variação da atividade
inibitória de EcCI2 quando incubado com DTT 1 e 10 mM foi entre 84 e 92%.
5.5. Atividade Antiproliferativa in vitro contra Células Tumorais Humanas
Os inibidores de quimotripsina de sementes de E. contortisiliquum não exerceram
efeito antiproliferativo contra as linhagens de células tumorais HL-60 (leucemia), MDA-MB-
435 (melanoma), SF-295 (cérebro) e HCT-8 (cólon), testadas na concentração máxima de 200
µg/mL em 72 h de exposição.
69
Figura 12. Estabilidade térmica dos inibidores EcCI1 (A), EcCI2 (B) e EcCTI (C),
determinada utilizando 8, 5 e 20 g de EcCI1, EcCI2 e EcCTI, respectivamente. A variação
de inibição de EcCI1 e EcCTI, quando incubados entre 37 e 100 °C, por 30 min, foi de 89-
97% e 86-92%, respectivamente. Entre 37 e 90 °C, a inibição de EcCI2 variou entre 88 e
93%. A 100 °C, a inibição de EcCI2 caiu para 10%.
70
Figura 13. Estabilidade de EcCI1 (A), EcCI2 (B) e EcCTI (C) a variação de pH entre 2 e 12,
determinada utilizando 8, 5 e 20 g de EcCI1, EcCI2 e EcCTI, respectivamente. Os três
inibidores mantiveram-se funcionalmente estáveis nas condições de pH testadas.
71
Figura 14. Estabilidade dos inibidores EcCI1 (A), EcCI2 (B) e EcCTI (C) ao agente redutor
ditiotreitol (DTT) em concentrações que variaram entre 1 e 100 mM, determinada utilizando
8, 5 e 20 g de EcCI1, EcCI2 e EcCTI, respectivamente. EcCI1 e EcCTI mantiveram suas
atividades inibitórias estáveis nas concentrações de DTT e tempos de incubação testados,
enquanto EcCI2 reduziu sua atividade em torno de 50% quando incubado com DTT 100 mM.
72
6. DISCUSSÃO
Neste trabalho, foi avaliado o potencial nutricional de sementes de E.
contortisiliquum, considerando a possibilidade de estas virem a ser uma fonte promissora de
alimento com propriedades funcionais (nutracêuticos). Considerando que várias espécies de
plantas da Caatinga são subexploradas ou o seu real valor de utilização é desconhecido da
população e também da comunidade científica, pesquisas que objetivam oportunizar o uso
racional dos recursos naturais podem fornecer subsídios para a conservação da biodiversidade
dos biomas brasileiros, neste caso, a Caatinga.
Inicialmente, o estudo foi direcionado para a avaliação do potencial nutricional
das sementes de E. contortisiliquum através da análise da composição proximal e
aminoacídica e determinação da presença de fatores tóxicos e/ou antinutricionais. O teor de
umidade determinado para as sementes de E. contortisiliquum (10,29 ± 0,46%) é superior ao
descrito para Vigna unguiculata (6,14 a 8,92%) (ONWULIRI e OBU, 2002) e para legumes
selvagens da Índia (Cassia floribunda, C. obtusifolia e Mucuna monosperma), os quais
variam entre 5,7 e 8,5% (VADIVEL e JANARDHANAN, 2005). De acordo com Puzzi
(2000), grãos de soja devem ser armazenados com teor de umidade variando entre 11 e 14% a
fim de prevenir a proliferação de microrganismos e a ocorrência de reações de hidrólise que
podem levar a perda do valor nutricional das sementes. Portanto, o alto valor de umidade
determinado para as sementes de E. contortisiliquum não compromete a sua qualidade
nutricional.
Na composição proximal em base seca da farinha das sementes de E.
contortisiliquum destaca-se o teor de proteínas. Essa leguminosa possui um altíssimo teor
proteico, de 50,03 ± 3,44%, muito mais elevado do que os valores já descritos para 6
variedades de Vigna unguiculata (19,5 a 26,1%), 9 variedades de Glycine max (39,4 a 44,5%)
e legumes selvagens da Índia (37,2 a 45,41%) (MAIA et al., 2000; VADIVEL e
JANARDHANAN, 2005; VASCONCELOS et al., 2006). Portanto, E. contortisiliquum pode
ser considerada uma excelente fonte de proteínas. É de fundamental importância o estudo de
fontes não convencionais de proteína vegetal a fim de que possam ser incorporadas à dieta, na
tentativa de combater os quadros de desnutrição que atingem, principalmente, as populações
mais pobres dos países em desenvolvimento (METRI et al., 2003). Por outro lado, o teor
lipídico, de apenas 3,42%, é bastante inferior ao descrito para a soja (20,1 a 23,2%) por
Vasconcelos et al. (2006), porém superior ao dos feijões (UNICAMP, 2006). O percentual de
material mineral encontrado para as sementes de E. contortisiliquum (3,46 ± 0,37%) é
73
comparável aos valores descritos por Trugo et al. (2000) para Lupinus spp. (3,2%), Phaseolus
vulgaris (4,6%), Glycine max (5,3%) e para as demais leguminosas comumente utilizadas na
alimentação humana (UNICAMP, 2006). O percentual de fibra alimentar nas sementes de E.
contortisiliquum é moderado, equivalendo a 24,61 ± 0,28%, em base seca. Esse valor é apenas
um pouco inferior ao descrito para Phaseolus vulgaris (36%) por Mechi et al. (2005). A
presença de uma quantidade razoável de fibra alimentar nas sementes de E. contortisiliquum
as tornam ainda mais promissoras do ponto de vista nutricional, dado que o consumo desses
componentes da dieta em quantidades moderadas promove uma série de efeitos benéficos à
saúde, como prevenção de doenças cardiovasculares e do trato digestório, diabetes, sobrepeso
e obesidade (DURANTI, 2006), caracterizando-a, nessa condição, como alimento funcional.
Devido ao moderado teor de carboidratos digeríveis (18,48%) e ao altíssimo percentual de
proteínas, as sementes de E. contortisiliquum apresentam um elevado conteúdo calórico, de
304,82 kcal em uma porção de 100 g, enquanto a mesma quantidade de Phaseolus vulgaris
fornece apenas 228,16 kcal (MECHI et al., 2005). As sementes de E. contortisiliquum,
portanto, são dotadas de um alto valor nutricional, na medida em que são excelentes fontes de
proteínas, apresentam moderado teor de fibras em sua composição e ainda, fornecem um
elevado aporte energético.
Quanto à composição aminoacídica, parâmetro importante quando se busca uma
nova fonte de proteína para a alimentação humana e/ou animal, as sementes de E.
contortisiliquum apresentam, dentre os aminoácidos essenciais, quantidades adequadas de
leucina (81,4 g/kg P), lisina (148,9 g/kg P) e histidina (60,7 g/kg P) quando em comparação
com os valores descritos para Glycine max, clara do ovo e com os requerimentos
estabelecidos pela FAO/WHO/UNU (1985) para crianças em diferentes faixas etárias. O teor
de treonina (38,2 g/kg P) também pode ser considerado adequado quando comparado com os
valores de referência (exceto clara do ovo). Por outro lado, é notória a deficiência nos
aminoácidos metionina e triptofano (10,2 e 1,93 g/kg P, respectivamente), característica
inerente às proteínas das leguminosas (MAIA et al., 2000; VASCONCELOS et al., 2001).
Dentre os aminoácidos não-essenciais ou semi-essenciais, destacaram-se os elevados teores de
serina e glicina (57,0 e 50,2 g/kg P), superiores aos encontrados na soja e clara do ovo.
Quando os teores de aminoácidos essenciais detectados em E. contortisiliquum são
comparados à composição da clara do ovo, proteína de referência nos estudos de avaliação da
qualidade de proteínas, apenas três aminoácidos aparecem em quantidades superiores:
leucina, lisina e histidina. Esses mesmos aminoácidos, acrescido de treonina, isoleucina,
fenilalanina e metionina aparecem também em quantidades equivalentes ou superiores nas
74
sementes de E. contortisiliquum quando comparado à soja (G. max) analisada por
Vasconcelos et al. (2001). Portanto, o perfil aminoacídico das sementes de E. contortisiliquum
é comparável àquele descrito para G. max, leguminosa amplamente difundida na alimentação
humana. Quando a composição de aminoácidos essenciais de E. contortisiliquum é comparada
aos requerimentos estabelecidos pela FAO/WHO/UNU (1985) para crianças de 2 a 5 anos,
três aminoácidos (fenilalanina, metionina e triptofano) apresentam deficiência de 17,14; 59,20
e 82,45%, respectivamente. No geral, as sementes de E. contortisiliquum são boas fontes de
aminoácidos, apresentando triptofano e metionina como os mais limitantes.
Quanto aos fatores antinutricionais, foi detectada a presença de toxinas e
inibidores de proteases (tripsina e quimotripsina). Não foi detectada a presença de lectinas
através de ensaio de atividade hemaglutinate utilizando eritrócitos de coelho nativo e tratado
com proteases de Bacillus licheniformis. As lectinas são encontradas em uma ampla variedade
de espécies de plantas e animais. Entretanto, estão presentes em maior quantidade em grãos
de leguminosas e gramíneas (MANCINI-FILHO et al., 1979; PUSZTAI, 1989). Vasconcelos
et al. (2006) detectaram atividade hemaglutinante em nove cultivares de soja brasileira,
variando de 1.152 a 147.456 UH/kg farinha. Embora muitas lectinas reconheçam e se liguem
a açúcares simples, a afinidade é muito maior para com os constituintes de glicoproteínas
encontrados em animais e seres humanos (NICOLSON, 1974; PEUMANS e VAN DAMME,
1996). Assim, faz-se necessária a investigação de atividade hemaglutinante utilizando tipos
sanguíneos de outras origens (rato, camundongo, homem) a fim de ratificar a ausência de
lectinas nas sementes de E. contortisiliquum. Foi verificada a presença de toxinas nas
sementes de E. contortisiliquum. A DL50 calculada para a atividade tóxica foi de 1,12 ± 0,04
g/kg de peso corpóreo. Esse valor é cerca de 180 vezes maior do que aqueles descritos para
duas proteínas tóxicas de Glycine max, a “soyatoxina” – SYTX e a toxina da soja – SBTX, as
quais apresentam DL50 de 6-8 mg/kg de peso corpóreo e 6 mg/kg de peso corpóreo,
respectivamente (VASCONCELOS et al., 1994; 2008). Outra toxina, a canatoxina – CNTX,
purificada de Canavalia ensiformis, apresenta DL50 de 2 mg/kg de peso corpóreo, isto é, 560
vezes mais potente do que as toxinas de E. contortisiliquum. Dessa forma, a presença de
toxinas em sementes de E. contortisiliquum não deve representar um elevado potencial para a
manifestação de efeitos deletérios à saúde devido à sua baixa toxicidade. Ademais, embora a
presença de proteínas com propriedades tóxicas em sementes de E. contortisiliquum seja
desfavorável à sua sugestão como nova fonte de proteína para uso na alimentação animal e
humana, elas podem ser facilmente inativadas através de tratamento térmico como o
cozimento, uma vez que são termolábeis. Também foi verificada a presença de inibidores de
75
proteases (tripsina e quimotripsina) nas sementes de E. contortisiliquum, cujas atividades
corresponderam a cerca de 40 UI/mg P para ambos os tipos de inibidores. A essa classe de
biomoléculas é atribuída uma série de efeitos deletérios à saúde, como alterações metabólicas
do pâncreas (aumento da secreção enzimática, hipertrofia e hiperplasia) e redução da taxa de
crescimento (AL-WESALI et al., 1995). No entanto, o outro lado a se considerar, quando se
propõe a caracterizar os componentes antinutricionais/bioativos de uma planta, é aquele
referente aos efeitos benéficos que esses compostos podem também exercer (CHAMP, 2002;
DURANTI, 2006), questão de que trata a nutracêutica. Neste sentido, há relatos de várias
propriedades farmacológicas interessantes apresentadas por inibidores de proteases de soja e
outras leguminosas, o que tem levado a comunidade científica a repensar a necessidade de se
remover todas as substâncias antinutricionais e/ou tóxicas por meios tecnológicos e,
especialmente, por melhoramento genético (THOMPSON, 1993; WARE et al., 1997;
CLEMENTE e DOMONEY, 2001). Dessa forma, o estudo foi direcionado para a
investigação do potencial nutracêutico dos inibidores de quimotripsina de sementes de E.
contortisiliquum, inicialmente através da sua purificação e caracterização parcial e finalizando
com a avaliação do seu efeito antiproliferativo contra linhagens de células tumorigênicas
humanas.
Três inibidores de quimotripsina foram purificados e parcialmente caracterizados
a partir de sementes de E. contortisiliquum através de precipitação com TCA e cromatografia
de troca iônica em sistema FPLC. Para a mesma espécie, já é descrito na literatura a
purificação e caracterização de um inibidor de tripsina pertencente à família Kunitz
(BATISTA et al., 1996), onde foram realizadas etapas de precipitação com acetona e
cromatografias de troca iônica, exclusão molecular e de fase reversa.
O fracionamento proteico do EB de E. contortisiliquum com TCA foi capaz de
desnaturar e precipitar proteínas de alta massa molecular, fato verificado através da
visualização dos perfis eletroforéticos de EB e F5,0 (Figura 6). O EB apresenta uma grande
diversidade de bandas proteicas de alta e média massa molecular, ao passo que a fração
proteica obtida através de fracionamento com TCA encerrando uma concentração final de
5,0% de ácido (F5,0) reúne, em termos práticos, apenas os inibidores de quimotripsina.
Assim, o fracionamento com TCA como etapa inicial do processo de purificação desses
inibidores revelou-se uma estratégia extremamente eficiente na remoção de grande parte de
proteínas contaminantes.
Os inibidores de quimotripsina EcCI1, EcCI2 e EcCTI foram purificados
utilizando apenas um passo cromatográfico em coluna de troca aniônica Resource Q, em
76
sistema FPLC Äkta Purifier. O índice de purificação de EcCI1 e EcCI2 foi de 125 e 140
vezes, respectivamente. Esses valores são comparáveis aos encontrados para os inibidores de
tripsina de Dimorphandra mollis (116,2 vezes), Archidendron ellipticum (123,9 vezes) e
Tamarindus indica (127 vezes) (MACEDO et al., 2000; ARAÚJO et al., 2005;
BHATTACHARYYA et al., 2006). EcCTI apresentou índice de purificação de 22 vezes,
superior a outros inibidores de tripsina de Cratylia mollis (18 vezes), Dimorphandra mollis
(12,15 vezes), Caesalpinia bonduc (11,4 vezes) e Entada scandens (2,3 vezes) (MELLO et
al., 2001; PAIVA et al., 2006; BHATTACHARYYA et al., 2007; LINGARAJU e GOWDA,
2008).
A análise dos perfis eletroforéticos dos inibidores de quimotripsina purificados de
E. contortisiliquum revelou a presença de bandas proteicas de massas moleculares aparentes
de 17,3 (EcCI1 e EcCI2) e 19,3 kDa (EcCTI), semelhantes às encontradas para inibidores de
Lens culinaris, de 16 kDa (RAGG et al, 2006), Archidendron ellipticum
(BHATTACHARYYA et al., 2006), Entada scandens (LINGARAJU e GOWDA, 2008),
Caesalpinia bonduc (BHATTACHARYYA et al., 2007), Dimorphandra mollis (MACEDO et
al., 2000) e também para o inibidor de tripsina de E. contortisiliquum descrito por Batista et
al. (1996), todos apresentando massa molecular aparente de 20 kDa. Lam e Ng (2009) relatam
que a maioria dos inibidores de quimotripsina apresenta massa molecular inferior a 10 kDa.
No entanto, muitos deles encontram-se entre 10 e 25 kDa, como é o caso dos inibidores
descritos neste trabalho. As massas moleculares aparentes de EcCI1, EcCI2 e EcCTI sugerem
que esses inibidores são pertencentes à família Kunitz, da qual fazem parte inibidores de
proteases de massas moleculares que variam, geralmente, entre 18 e 25 kDa (RICHARDSON,
1991). Outros parâmetros como o conteúdo de cisteína e o número de sítios reativos devem
ser avaliados para reforçar essa hipótese. No entanto, resultado conclusivo sobre este aspecto
será obtido com sequenciamento e comparação de identidade com outros inibidores dessa
família em bancos de dados.
Os valores de ki determinados para os inibidores purificados de sementes de E.
contortisiliquum encontram-se na mesma ordem de grandeza, 10-8
M. Dentre esses, EcCI2 é o
mais potente inibidor de quimotripsina, com ki de 2,5 x 10-8
M, seguido de EcCI1 e EcCTI,
que apresentam constantes de inibição de 4 x 10-8
e 5 x 10-8
M, respectivamente. Esses
inibidores são menos potentes do que aqueles descritos por Bhattacharyya et al (2006; 2007) e
Bhattacharyya e Babu (2009) para A. ellipticum, C. bonduc e Derris trifoliata Lour, todos
exibindo ki da ordem de 10-10
M. Outros inibidores de quimotripsina, no entanto, exibem
constantes de inibição comparáveis aos encontrados neste trabalho, como é o caso dos
77
inibidores de Schizolobium parahyba e Bombyx mori, que apresentam ki de 5,8 x 10-8
e 1,3 x
10-8
M, respectivamente (SASAKI, 1984; SOUZA et al., 1995). Ademais, EcCI1, EcCI2 e
EcCTI são inibidores de quimotripsina mais potentes do que os descritos para Plathymenia
foliosa, Calliandra selloi, Peltophorum dubium e para a própria E. contortisiliquum, os quais
apresentam ki de 1,4 x 10-6
; 4,95 x 10-7
; 2,6 x 10-7
e 1,2 x 10-7
M, respectivamente (BATISTA
et al., 1996; MACEDO et al., 2003; YOSHIZAKI et al., 2007; RAMOS et al., 2008).
Os estudos referentes à cinética de inibição também revelaram que EcCI1 e EcCI2
inibem a quimotripsina de forma não-competitiva, assim como os inibidores de C. bonduc
(BHATTACHARYYA et al., 2007), Acacia confusa (LAM e NG, 2009) e Adenanthera
pavonina (MACEDO et al., 2004). EcCTI, no entanto, inibe a quimotripsina de forma
competitiva, assim como os inibidores de A. ellipticum (BHATTACHARYYA et al., 2006) e
D. trifoliata Lour (BHATTACHARYYA e BABU 2009).
Dentre os inibidores de quimotripsina purificados neste trabalho, apenas EcCTI
foi capaz de também inibir a tripsina (98% de inibição), assim como EcTI, outro inibidor já
descrito para E. contortisiliquum (BATISTA et al., 1996). Apesar de EcCTI e EcTI serem
ambos inibidores de tripsina e quimotripsina e ainda apresentarem massas moleculares
aparentes semelhantes, o estudo cinético dos dois inibidores sugere a possibilidade de que
sejam moléculas distintas, dada a afinidade para quimotripsina ser diferente nos dois casos. A
constante de inibição de EcTI para quimotripsina é da ordem de 10-7
M, enquanto que o
mesmo parâmetro encontra-se na ordem de 10-8
M no caso de EcCTI. No entanto, a
comparação das sequências de aminoácidos dos dois inibidores, ainda não realizada, poderá
esclarecer essa questão a respeito da identidade de ambos os inibidores.
Vários inibidores de tripsina/quimotripsina já foram purificados e caracterizados
(LIN et al., 1991; SAMPAIO et al., 1996; OLIVA et al., 2000; BHATTACHARYYA et al.,
2006, 2007; BHATTACHARYYA e BABU, 2009). Por outro lado, poucos inibidores de
quimotripsina não exercem atividade inibitória sobre a tripsina, como é o caso de EcCI1,
EcCI2 e outros inibidores já descritos na literatura (KORTT, 1980; SOUZA et al., 1995;
TELES et al., 2004; IWANAGA et al., 2005; LAM e NG, 2009). EcCI1 e EcCI2 também
apresentaram elevada atividade inibitória de elastase neutrofílica (ca. de 80%), enquanto
EcCTI inibiu fracamente essa enzima (20%). Elastase neutrofílica é uma proteinase serínica
envolvida em processos inflamatórios agudos e crônicos devido a sua habilidade em degradar
elastina, fibronectina, proteoglicanos e proteínas plasmáticas, além de atuar como moduladora
de funções celulares inflamatórias, como ativação de linfócitos e agregação plaquetária
(OWEN et al., 1997). Compostos capazes de inibir a ação da elastase neutrofílica ou sua
78
liberação a partir de neutrófilos são candidatos a novas drogas anti-inflamatórias, e portanto,
de grande interesse para a indústria farmacêutica (FOOK et al., 2005). Os três inibidores
purificados neste trabalho foram capazes de inibir a ação da elastase pancreática, porém de
forma pouco intensa (ca. de 20%). Esse resultado é semelhante ao encontrado por Teles et al.
(2004), no qual relatam a inibição dessa enzima em 18% pelo inibidor de S. parahyba.
Nenhum dos três inibidores relatados neste trabalho foi capaz de inibir a enzima cisteínica
papaína. Portanto, eles não exibem a característica bifuncional já descrita para outros
inibidores de proteases serínicas, como aqueles purificados de Pithecelobium dumosum
(OLIVEIRA et al., 2007) e Crotalaria pallida (GOMES et al., 2005).
Quanto à permanência da atividade inibitória de quimotripsina frente a agentes
desnaturantes físicos (temperatura e pH) e químicos (DTT), EcCI1, EcCI2 e EcCTI
mostraram-se bastante estáveis. EcCI1 e EcCTI não tiveram suas propriedades inibitórias
alteradas em temperaturas extremas, mantendo a inibição de quimotripsina em torno de 90%,
mesmo a 100 °C. Resultado semelhante foi apresentado por inibidor de Poecilanthe
parviflora (GARCIA et al., 2004). Esses autores discutem que as pontes dissulfeto
intramoleculares são presumivelmente as responsáveis pela alta estabilidade funcional de
inibidores em condições extremas de temperatura, pH e presença de agentes redutores. A
maior termoestabilidade apresentada por EcCTI em relação a EcTI descrito por Batista et al.
(1996) fornece mais subsídios à hipótese de que se tratam de dois inibidores distintos. Este
último mantém sua atividade inibitória após incubação a 60 °C por 10 min, mas não quando
incubado pelo mesmo tempo a 100 °C. Por outro lado, EcCI2 se manteve funcionalmente
estável até 90 °C, apresentando percentual de inibição em torno de 90%. A 100 °C, entretanto,
sua atividade inibitória de quimotripsina decaiu para 10%. Ainda assim, esse inibidor é mais
termoestável do que aquele de A. confusa, o qual inicia a decrescer sua atividade a partir de 60
°C, chegando a perdê-la completamente a 100 °C (LAM e NG, 2009) e de S. parahyba, o qual
inicia a diminuição de sua atividade inibitória a partir de 75 °C e chega a 95 °C sem atividade
(SOUZA et al., 1995). A atividade inibitória de quimotripsina de EcCI1, EcCI2 e EcCTI não
foi influenciada pela variação de pH entre 2 e 12, mantendo o percentual de inibição em torno
de 90%. Resultados semelhantes foram obtidos para E. contortisiliquum (BATISTA et al.,
1996), P. parviflora (GARCIA et al., 2004) e Inga laurina (MACEDO et al., 2007). Além da
possível presença de pontes dissulfeto, a alta estabilidade dos inibidores de E.
contortisiliquum à variação de pH pode estar relacionada à baixa massa molecular desses
inibidores. Lam e Ng (2009) discutem que a susceptibilidade do inibidor de quimotripsina de
A. confusa em extremos de pH (0-2 e 11-14) pode dever-se a sua massa molecular elevada, de
79
70 kDa. Os três inibidores também se mostraram altamente resistentes ao agente redutor DTT.
EcCI1 e EcCTI não tiveram suas atividades inibitórias comprometidas mesmo na
concentração de 100 mM de DTT por 2 h, mantendo percentuais de inibição em torno de 90 e
80%, respectivamente. EcCI2, entretanto, apresentou-se mais susceptível ao DTT do que os
outros dois inibidores, reduzindo sua atividade inibitória para 50% da original quando
incubado com DTT 100 mM. Resultado semelhante a esse foi descrito para o inibidor de Inga
laurina, o qual perdeu 56% de sua atividade quando incubado com DTT 100 mM (MACEDO
et al., 2007). Ainda assim, os três inibidores purificados neste trabalho demonstram-se mais
resistentes ao DTT do que os inibidores de P. parviflora (GARCIA et al., 2004) e P. dubium
(MACEDO et al., 2003), os quais reduzem drasticamente suas atividades inibitórias quando
incubados com DTT 10 mM. Alguns autores discutem que a estabilidade funcional do
inibidor não está relacionada à presença de pontes dissulfeto intramoleculares (MACEDO et
al., 2007), uma vez que é raro a susceptibilidade ao DTT. No entanto, as pontes dissulfeto que
conferem estabilidade estrutural à proteína não necessariamente também conferem sua
estabilidade funcional. Esta pode ser adquirida também através de inúmeras pontes de
hidrogênio no sítio reativo, como é o caso do inibidor de tripsina de Erythrina caffra (LEHLE
et al., 1994).
Já é bastante relatada na literatura a ocorrência de inibidores de proteases oriundos
de sementes de leguminosas capazes de inibir a ação catalítica de tripsina e/ou quimotripsina
com ação antiproliferativa contra células tumorais. Esses inibidores possuem características
bastante variadas, apresentando massas moleculares tão distintas quanto 8 e 70 kDa, além de
pertencerem a ambas as famílias Kunitz e Bowman-Birk (KENNEDY, 1998; CATALANO et
al., 2003; SAITO et al., 2007; LIN e NG, 2008; LAM e NG, 2009). Não há, pois, até o
momento, uma regra que defina quais características um inibidor de proteases deve possuir
para que seja capaz de apresentar essa atividade biológica. Sabe-se, no entanto, que a
atividade antiquimotríptica é mais eficaz do que a atividade antitríptica no processo de
supressão e prevenção de carcinogênese (KENNEDY, 1998; DURANTI, 2006; SCARAFONI
et al., 2007). No entanto, a atividade antiquimotríptica não é requerimento essencial
(CATALANO et al., 2003). No presente trabalho, não foi observado efeito antiproliferativo
dos inibidores de quimotripsina EcC1 e EcCI2 e de tripsina/quimotripsina EcCTI contra as
linhagens de células tumorigênicas HL-60 (leucemia), MDA-MB-435 (melanoma), SF-295
(cérebro) e HCT-8 (cólon). No entanto, este resultado não descarta a possibilidade de dar
continuidade à avaliação dessa atividade biológica desempenhada pelos inibidores de
quimotripsina purificados neste trabalho. Uma nova perspectiva de trabalho é avaliação da
80
atividade antiproliferativa in vitro utilizando outras linhagens de células tumorais, dada a
especificidade de inibidores de proteases sobre células-alvo (LAM e NG, 2009). Outra
possibilidade é o estudo dessa atividade em sistemas in vivo. Há relatos de que certas
substâncias podem exercer efeitos antiproliferativos in vivo, mas não in vitro (LINS et al.,
2008).
Vários mecanismos de quimioprevenção contra o câncer desempenhados por
inibidores de proteases são descritos na literatura. Um deles abrange a prevenção primária, na
qual o agente quimiopreventivo atua de forma a evitar a indução da transformação e/ou a
inibir a progressão de um estágio preliminar para outro mais avançado da carcinogênese. Isso
pode ocorrer de várias maneiras, dentre elas, atuando sobre a inibição da síntese e/ou captação
de agentes mutagênicos, degradação e/ou remoção de carcinógenos, favorecimento da
absorção de outros agentes protetores, controle da inibição da ativação de pró-
mutagênicos/carcinogênicos por enzimas etc (DE FLORA e FERGUSON, 2005). Desse
modo, é válido ainda avaliar se os inibidores de quimotripsina de E. contortisiliquum
relatados neste trabalho desempenham ou não alguma função quimiopreventiva em células
sadias.
81
7. CONCLUSÕES
1- As sementes de Enterolobium contortisiliquum são dotadas de um alto
potencial nutricional, merecendo destaque:
o excelente teor de proteínas (ca. de 50% do conteúdo da semente, em base
seca) e um bom perfil de aminoácidos essenciais, sendo triptofano e metionina os mais
limitantes;
o bom teor de fibra alimentar (ca. de 20%) e o alto aporte energético (ca. de
300 kcal) fornecido em uma porção de 100 g;
a baixa toxicidade;
a presença de inibidores de proteases (tripsina e quimotripsina), cujas
atividades específicas foram avaliadas em cerca de 40 UI/mg P para ambos.
2- Três inibidores de quimotripsina denominados EcCI1, EcCI2 e EcCTI foram
purificados e assim caracterizados:
EcCI1, EcCI2 e EcCTI possuem massas moleculares aparentes de 17, 17 e 19
kDa, respectivamente;
EcCI1 e EcCI2 apresentam mecanismos de inibição do tipo não-competitivo e
constantes de inibição (ki) de 4 x 10-8
e 2,5 x 10-8
M, respectivamente. EcCTI apresenta
inibição de quimotripsina do tipo competitivo e ki de 5 x 10-8
M;
EcCI1, EcCI2 e EcCTI mantêm suas atividades inibitórias de quimotripsina
estáveis em uma faixa de pH entre 2 e 12, apresentando percentuais de inibição de até 100, 94
e 91%, respectivamente;
EcCI1 e EcCTI mantêm suas atividades inibitórias de quimotripsina estáveis
em uma faixa de temperatura entre 37 e 100 °C, apresentando percentuais de inibição de até
97 e 92%, respectivamente. EcCI2 mantém sua atividade inibitória de quimotripsina estável
até 90 °C, apresentando percentual de inibição de até 93%. A 100 ºC, no entanto, EcCI2
apresenta percentual de inibição de 10%;
EcCI1 e EcCTI apresentam elevada estabilidade ao agente redutor DTT.
Mesmo na concentração de 100 mM de DTT, esses inibidores mantêm suas atividades
inibitórias de quimotripsina em torno de 90 e 80%, respectivamente, enquanto EcCI2 reduz
sua inibição para 50%;
82
Apenas EcCTI apresenta atividade inibitória de tripsina (98% de inibição).
EcCI1 e EcCI2 apresentam elevada atividade inibitória de elastase neutrofílica (77 e 72% de
inibição, respectivamente), mas não EcCTI (20% de inibição). Os três inibidores também
exercem efeito inibitório sobre a elastase pancreática, porém de forma pouco intensa (ca. de
20% de inibição para os três inibidores). Nenhum inibidor de quimotripsina purificado neste
trabalho apresenta atividade inibitória de papaína;
EcCI1, EcCI2 e EcCTI não apresentam atividade antiproliferativa contra as
linhagens de células tumorais HL-60 (leucemia), MDA-MB-435 (melanoma), SF-295
(cérebro) e HCT-8 (cólon), quando testadas in vitro na concentração máxima de 200 µg/mL
em 72 h de exposição.
83
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AL-WESALI, M.; LAMBERT, N.; WELHAM, T.; DOMONEY, C. The influence of pea
seed trypsin inhibitors on the in vitro digestibility of casein. Journal of the Science of Food
and Agriculture, v. 68, p. 431-437, 1995.
AMBIENTE BRASIL CAATINGA (2007). Disponível em:
<http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./natural/index.html&conteudo=./n
atural/biomas/caatinga.html#loca>. Acesso em: 29/12/2009.
ANDRADE-LIMA, D. Present-day forest refuges in northeastern Brazil. In: PRANCE, G. T.
(Ed.). Biological diversification in the tropics. Nova York: Columbia University Press,
1982. p. 245-251.
AOAC - ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY. Official
Methods of Analysis of AOAC International.16th
ed. Gaitheersburgh, 1997.
AOAC - ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY. Official
Methods of Analysis. 2v, 16th
ed, 4 rev., 1998.
ARAÚJO FILHO, J. A.; BARBOSA, T. M. L. Manejo agroflorestal da catinga: uma proposta
de sistema de produção. In: OLIVEIRA, T. S.; ASSIS JÚNIOR, R. N.; ROMERO, R. E.;
SILVA, J. R. C. S. Agricultura, sustentabilidade e o semi-árido. Fortaleza: Folha de
Viçosa, 2000. p. 47-57.
ARAÚJO, C. L.; BEZERRA, I. W. L.; OLIVEIRA, A. S.; MOURA, F. T.; MACEDO, L. L.
P.; GOMES, C. E. M.; BARBOSA, A. E. A. D.; MACEDO, F. P.; SOUZA, T. M. S.;
FRANCO, O. L.; BLOCH JR, C.; SALES, M. P. In vivo bioinsecticidal activity toward
Ceratitis capitata (fruitfly) and Callosobruchus maculatus (cowpea weevil) and in vitro
bioinsecticidal activity toward different orders of insect pests of a typsin inhibitor purified
from tamarind tree (Tamarindus indica) seeds. Journal of Agricultural and Food
Chemistry, v. 53, p. 4381-4387, 2005.
BAETHGEN, W. E.; ALLEY, M. M. A manual colorimetric procedure for measuring
ammonium nitrogen in soil and plant Kjeldahl digests. Commun. Soil Sci. Plant Anal., v.
20, p. 961-969, 1989.
BATISTA, I. F. C.; OLIVA, M. L. V.; ARAUJO, M. S.; SAMPAIO, U. M.; RICHARDSON,
M.; FRITZ, H.; SAMPAIO, C. A. M. Primary structure of a Kunitz-type trypsin inhibitor
from Enterolobium contortisiliquum seeds. Phytochemistry, v. 41, p. 1017-1022, 1996.
84
BATISTA, I. F. C.; NONATO, M. C.; BONFADINI, M. R.; BELTRAMINI, L. M.; OLIVA,
M. L. V.; SAMPAIO, M. U.; SAMPAIO, C. A. M.; GARRATT, R. C. Preliminary
crystallographic studies of EcTI, a serine proteinase inhibitor from Enterolobium
contortisiliquum seeds. Acta Crystallographica Section D Biological Crystallography, v.
57, p. 602-604, 2001.
BHATTACHARYYA, A.; MAZUMDAR, S.; LEIGHTON, S. M.; BABU, C. R. A Kunitz
proteinase inhibitor from Archidendron ellipticum seeds: Purification, characterization, and
kinetic properties. Phytochemistry, v. 67, p. 232-241, 2006.
BHATTACHARYYA, A.; RAI, S.; BABU, C. R. A trypsin and chymotrypsin inhibitor from
Caesalpinia bonduc seeds: Isolation, partial characterization and insecticidal properties. Plant
Physiology and Biochemistry, v. 45, p. 169-177, 2007.
BHATTACHARYYA, A.; BABU, C. R. Purification and biochemical characterization of a
serine proteinase inhibitor from Derris trifoliata Lour. seeds: insight into structural and
antimalarial features. Phytochemistry, v. 70, p. 703-712, 2009.
BIRK, Y.; GERTLER, A.; KHALEF, S. A pure trypsin inhibitor from soya
beans. Biochemical Journal, v. 87, p. 281-284, 1963.
BOWMAN, D. E. Differentiation of soy bean anti-tryptic factors. Procedings of the Society
for Experimental Biology and Medicine, v. 63, p. 547-550, 1946.
BRADFORD, M. M. A rapid and sensitive method for the quantitation of microgram
quantities of protein utilizing the principle of protein-dye binding. Analytical
Biochemistry, v.72, p. 248-254, 1976.
BRAGA, R. Plantas do Nordeste, especialmente do Ceará. 3º edição comemorativa ao II
Congresso Brasileiro de Florestas Tropicais. v. XLII, 3ª.ed. Mossoró: Coleção Morossoense,
1982.
BREITENEDER, H., RADAUER, C. A classification of plant food allergens. Journal of
Allergy and Clinical Immunology, v. 113, p. 821-830, 2004.
BUTLER, M.; DAWSON, M. Cell culture. 1. ed. Blackwell Scientific Publications, 1992.
247p.
85
CARLINI, C. R.; GROSSI-DE-SÁ, M. F. Plant toxic proteins with insecticidal properties. A
review on their potentialities as bioinsecticides. Toxicon, v. 40, p. 1515-1539, 2002.
CARVALHO, A. F. F. U.; MELO, V. M. M.; AGUIAR, L. M. B. A.; MATOS, F. J. A.
Avaliação da toxicidade de extratos de plantas medicinais através de bioensaio com Artemia
salina Leach. Ciência e Cultura, v. 40, p. 1109-1111, 1987.
CASTRO-FARIA-NETO, H. C.; MARTINS, M. A.; BOZZA, P. T.; PEREZ, S. A. C.;
CORREA-DA-SILVA, A. C. V.; LIMA, M. C. R.; CRUZ, H. N.; CORDEIRO, R. S. B.;
SOUSA, M. V.; MORHY, L. Pro-inflammatory activity of enterolobin: A haemolytic protein
purified from seeds of the Brazilian tree Enterolobium contortisiliquum. Toxicon, v. 29, p.
1143-1150, 1991.
CATALANO, M.; RAGONA, L.; MOLINARI, H.; TAVA, A.; ZETTA, L. Anticarcinogenic
Bowman-Birk inhibitor isolated from snail medic seeds (Medicago scutellata): solution
structure and analysis of self-association behavior. Biochemistry, v. 42, p. 2836-2846, 2003.
CHAMP, M. M. -J. Non-nutrient bioactive substances of pulses. British Journal of
Nutrition, v. 88, p. 307-319, 2002.
CLEMENTE, A.; MACKENZIE, D. A.; JONSON, I.T.; DOMONEY, C. Investigation of
legume seed protease inhibitors as potential anticarcinogenic proteins. In: MUZQUIZ, M.;
HILL, G. D.; CUADRADO, C.; PEDROSA, M. M.; BURBANO, C. (Eds). Proceedings of
the fourth international workshop on antinutritional factors in legume seeds and
oilseeds. Wageningen: EAA Publications, 2004. p. 137-141.
CLEMENTE, A.; GEE, J. M.; JOHNSON, I. T.; MACKENZIE, D. A.; DOMONEY, C. Pea
(Pisum sativum L.) protease inhibitors from the Bowman-Birk class influence the growth of
human colorectal adenocarcinoma HT29 cells in vitro. Journal of Agricultural and Food
Chemistry, v. 53, 8979-8986, 2005.
CLEMENTE, A.; DOMONEY, C. Anticarcinogenic activity of protease inhibitors in
legumes. In: Proceedings of the 4th
European Conference on Grain Legumes. Paris: AEP
Editions, 2001. p. 114-115.
CLEMENTE, A.; DOMONEY, C. Biological significance of polymorphism in legume
protease inhibitors from the Bowman-Birk family. Current Protein & Peptide Science, v. 7,
201-216, 2006.
CORREA, P. Epidemiologic correlations between diet and cancer frequency. American
Association for Cancer Research, v. 41, p. 3685-3690, 1981.
86
CRIA. Flora Brasiliensis (2005). Disponível em: <http://florabrasiliensis.cria.org.br/>.
Acesso em: 10/01/2010.
CRUZ, A. C. B. Purificação, caracterização e análise da atividade bioinseticida de um
inibidor de sementes de catanduva (Piptadenia moniliformis). 2008. Dissertação (Mestrado
em Bioquímica) – Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2008.
CRUZ, G. A. D. R.; OLIVEIRA, M. G. A.; PIRES, C. V.; PILON, A. M.; CRUZ, R. S.;
BRUMANO, M. H. N.; MOREIRA, M. A. Avaliação da digestibilidade protéica, inibidor de
protease e fibras alimentares de cultivares de feijão (Phaseolus vulgaris L.). Brazilian
Journal of Food Technology, v. 7, p. 103-109, 2004.
DE FLORA, S.; FERGUSON, L. R. Overveiw of mechanisms of cancer chemopreventive
agents. Mutation Research, v. 591, p. 8-15, 2005.
DIXON, M.; WEBBER, E. C.; THERONE, C. J. R.; TRIPTON, K. F. Inhibition and
Activation. In: PRESS, A. Enzymes. New York, 1979. p. 332-381.
DOMONEY, C. Inhibitors of legume seeds. In: SHEWRY, P. R.; CASEY, R. (Eds.). Seed
proteins. Amsterdam: Kluwer Academic Publishers, 1999. p. 635-655.
DURANTI, M.; BARBIROLI, A.; SCARAFONI, A.; TEDESCHI, G.; MORAZZONI, P.
One-step purification of Kunitz soybean trypsin inhibitor. Protein Expresion & Purification,
v. 30, p. 167-170, 2003.
DURANTI, M. Grain legume proteins and nutraceutical properties. Fitoterapia, v. 77, p. 67-
82, 2006.
ERLANGER, B. F.; KOLOWSKY, N.; COHEN, W. The preparation and properties of two
new chromogenic substrates of trypsin. Archives of Biochemistry and Biophysics, v. 95, p.
271-278, 1961.
FAO/WHO/UNU. Energy and protein requirements. Report of a Joint FAO/WHO/UNU.
Technical Report Series. WHO, Geneva, 1985. 724p.
FOOK, J. M. S. L. L.; MACEDO, L. L. P.; MOURA, G. E. D. D.; TEIXEIRA, F. M.;
OLIVEIRA, A. S.; QUEIROZ, A. F. S.; SALES, M. P. A serine proteinase inhibitor isolated
87
from Tamarindus indica seeds and its effects on the release of human neutrophil elastase. Life
Sciences, v. 76, p. 2881-2891, 2005.
FRANCO, O. L.; GROSSI-DE-SÁ, M. F.; SALES, M. P.; MELLO, L.V.; OLIVEIRA, A. S.;
RIGDEN, D. J. Overlapping binding sites for trypsin and papain on a Kunitz-type proteinase
inhibitor from Prosopis juliflora. Proteins Structure, Function and Genetics, v. 49, p. 335-
341, 2002.
FRANCO, O. L.; MELO, F. R. Osmoprotectants – A plant strategy in response to osmotic
stress. Russian Journal of Plant Physiology, v. 47, p. 137-144, 2000.
GARCIA, V. A.; FREIRE, M. G. M.; NOVELLO, J. C.; MARANGONI, S.; MACEDO, M.
L. R. Trypsin inhibitor from Poecilanthe parviflora seeds: purification, characterization, and
activity against pest proteases. The Protein Journal, v. 23, p. 343-350, 2004.
GARDA, E. C. Atlas do meio ambiente do Brasil. Brasília: Editora Terra Viva, 1996.
GIULIETTI, A. M.; BOCAGE NETA, A. L.; CASTRO, A. A. J. F.; GAMARRA-ROJAS, C.
F. L.; SAMPAIO, E. V. S. B.; VIRGÍNIO, J. F.; QUEIROZ, L. P.; FIGUEIREDO, M. A.;
RODAL, M. J. N.; BARBOSA, M. R. V.; HARLEY, R. M. Diagnóstico da vegetação nativa
do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V.
(Orgs.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação.
Ministério do Meio Ambiente, Brasília, 2004.
GOMES, C. E. M.; BARBOSA, A. E. A. D.; MACEDO, L. L. P.; PITANGA, J. C. M;
MOURA, F. T.; OLIVEIRA, A. S.; MOURA, R. M.; QUEIROZ, A. F. S.; MACEDO, F. P.;
ANDRADE, L. B. S.; VIDAL, M. S.; SALES, M. P. Effect of trypsin inhibitor from
Crotalaria pallida seeds on Callosobruchus maculatus (cowpea weevil) and Ceratitis
capitata (fruit fly). Plant Physiology and Biochemistry, v. 43, p. 1095-1102, 2005.
GUIMARÃES FILHO. Um Agronegócio para a Caatinga (2006). Disponível em
<http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?public
ationCode=16&pageCode=391&textCode=2739&date=currentDate>. Acesso em: 10 jan.
2010.
HASHIMOTO, G.; NISHIMOTO, Y. Illustrated Cyclopedia of Brazilian Medicinal
Plants. Kamakura: Aboc-sha Press, 1996. 676p.
IWANAGA, S.; YAMASAKI, N.; KIMURA, M.; KOUZUMA, Y. Contribution of conserved
Asn residues to the inhibitory activities of Kunitz-type protease inhibitors from plants.
Bioscience, Biotechnology and Biochemistry, v. 69, p. 220-223, 2005.
88
JOHANSSON, S.; GFRANSSON, U.; LUIJENDIJK, T.; BACKLUND, A.; CLAESON, P.;
BOHLIN, L. A. Neutrophil multitarget functional bioassay to detect anti-inflammatory natural
products. Journal of Natural Products, v. 65, p. 32-41, 2002.
JOHNSON, I. T.; WILLIAMSON, G.; MUSK, S. R. R. Anticarcinogenic factors in plant
foods: a new class of nutrients? Nutrition Research Reviews, n. 7, p. 175-204, 1994.
KENNEDY, A. R. Chemopreventive agents: protease inhibitors. Pharmacology &
Therapeutics, v. 78, p. 167-209, 1998.
KIM, J. Y.; PARK, S. C.; KIM, M. H.; LIM, H. T.; PARK, Y., HAHM, K. S. Antimicrobial
activity studies on a trypsin–chymotrypsin protease inhibitor obtained from potato.
Biochemical and Biophysical Research, v. 330, p. 921-927, 2005.
KORTT, A. A. Isolation and properties of a chymotrypsin inhibitor from winged bean seed
Psophocarpus tetragonolobus (L) Dc. Biochimica et Biophysica Acta. v. 624, p. 237-248,
1980.
KUNITZ, M. Crystalline soybean trypsin inhibitor.II.General properties. Journal of General
Physiology, v. 30, p. 291-310, 1947a.
KUNITZ, M. Isolation of a crystalline protein compound of trypsin and of soybean trypsin-
inhibitor. Journal of General Physiology, v. 30, p. 311-320, 1947b.
LAEMMLI, U. K. Cleavage of structural proteins during the assembly of the head of the
bacteriophague T4. Nature, v. 227, p. 689-695, 1970.
LAM, S. K.; NG, T. B. A dimeric high-molecular-weight chymotrypsin inhibitor with
antitumor and HIV-1 reverse transcriptase inhibitory activities from seeds of Acacia confusa
Phytomedicine, (2009), doi:10.1016/j.phymed.2009.10.005.
LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. Ecologia e conservação da Caatinga.
Recife: Editora Universitária, Universidade Federal de Pernambuco, 2003.
LEAL, I. R.; SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; LACHER JR., T. E. Mudando o curso da
conservação da biodiversidade na Caatinga do Nordeste do Brasil. Megadiversidade, v. 1, p.
139-146, 2005.
89
LEHLE, K.; WRBA, A.; JAENICKE, R. Erythrina caffra trypsin inhibitor retains its native
structure and function after reducing its disulfide bonds. Journal of Molecular Biology, v.
239, p. 276-284, 1994.
LEUNG, D.; ABBENANTE, G.; FAIRLIE, D. P. Protease inhibitors: current status and future
prospects. Journal of Medicinal Chemistry, v. 43, p. 305-341, 2000.
LICHTENSTEIN, G. R.; DEREN, J.; KATZ, S.; KENNEDY, A. R.; WARE, J. H. The
Bowman-Birk protease inhibitor: a novel therapy for treatment of patients with active
ulcerative colitis. Gastroenterology, v. 122, A60, 2002.
LIENER, I. E. Possible adverse effects of soybean anticarcinogens. American Institute of
Nutrition, p. 744-750, 1995.
LIN, J. Y; CHU, S. C; WU, H. C; HSICH, Y. S. Trypsin inhibitor from the seeds of Acasia
confusa. Journal of Biochemistry, v. 110, p. 879-883, 1991.
LIN, P.; NG, T. B. A stable trypsin inhibitor from Chinese dull black soybeans with
potentially exploitable activities. Process Biochemistry, v. 43 p. 992-998, 2008.
LINGARAJU, M. H.; GOWDA, L. R. A Kunitz trypsin inhibitor of Entada scandens seeds:
Another member with single disulfide bridge. Biochimica et Biophysica Acta, v. 1784, p.
850-855, 2008.
LINS, K. O. A. L.; BEZERRA, D. P; ALVES, A. P. N. N.; ALENCAR, N. M. N.; LIMA, M.
W.; TORRES, V. M.; FARIAS, W. R. L.; PESSOA, C.; MORAES, M. O.; COSTA-
LOTUFO, L. V. Antitumor properties of a sulfated polysaccharide from the red seaweed
Champia feldmannii (Diaz-Pifferer). Journal of Applied Toxicology, v. 29, p. 20-26, 2008.
LITCHFIELD, J. T. J.; WILCOXON, F. A. Simplified method for evalution of dose-effects
experiments. Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, v. 96, p. 99-104,
1949.
LORENZI, H. Árvores Brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas
nativas do Brasil. v. 2, 2ª ed. Nova Odessa: Plantarum, 1998.
MACEDO, M. L. R.; MATOS, D. G. G.; MACHADO, O. L. T.; MARANGONI, S.;
NOVELLO, J. C. Trypsin inhibitor from Dimorphandra mollis seeds: purification and
properties. Phytochemistry, v. 54, p. 553-558, 2000.
90
MACEDO, M. L. R.; FREIRE, M. G. M.; CABRINI, E. C; TOYAMA, M. H.; NOVELLO, J.
C.; MARANGONI, S. A trypsin inhibitor from Peltophorum dubium seeds active against pest
proteases and its effect on the survival of Anagasta kuehniella. Biochimica et Biophysica
Acta, v. 1621, p. 170-182, 2003.
MACEDO, M. L. R.; SÁ, C. M.; FREIRE, M. G. M.; PARRA, J. R. P. A Kunitz-type
inhibitor of Coleopteran proteases, isolated from Adenanthera pavonina L. seeds and its effect
on Callosobruchus maculatus. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 52, p.
2533-2540, 2004.
MACEDO, M. L. R.; GARCIA, V. A.; FREIRE, M. G. M.; RICHARDSON, M.
Characterization of a Kunitz trypsin inhibitor with a single disulfide bridge from seeds of
Ingra laurina (SW.) Willd. Phytochemistry, v. 68, p. 1104-1111, 2007.
MAHAN, L. K.; SCOTT-STUMP, S. Proteins. In: KRAUSE. Krause’s food, Nutrition and
Diet Therapy. 9. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1996. p. 63-76.
MAIA, F. M. M.; OLIVEIRA, J. T. A.; MATOS, M. R. T.; MOREIRA, R. A.;
VASCONCELOS, I. M. Proximate composition, amino acid content and haemagglutinanting
and trypsin-inhibiting activities of some Brazilian Vigna ungiculata (L.) Walp cultivars.
Journal of Science of Food and Agriculture, v. 80, p. 453-458, 2000.
MANCINI-FILHO, J.; LAJOLO, F. M.; VIZEU, D. M. Lectins from red kidney beans:
radiation effect on agglutinating and mitogenic activity. Journal of Food Science, v. 44, p.
1194-1196, 1979.
MARACAJÁ, P. B.; BATISTA, C. H. F.; SOUSA, A. H.; VASCONCELOS, W. E.
Levantamento florístico e fitosociológico do extrato arbustivo-arbóreo de dois ambientes na
Vila Santa Catarina, Serra do Mel, RN. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 3, p. 20-
33, 2003.
MECHI, R.; CANIATTI-BRAZACA, S. G.; ARTHUR, V. Avaliação química, nutricional e
fatores antinutricionais do feijão-preto (Phaseolus vulgaris L.) irradiado. Ciência e
Tecnologia de Alimentos, v. 25, p. 109-114, 2005.
MELLO, G. C.; OLIVA, M. L. V.; SUMIKAWA, J. T.; MACHADO, O. L. T.;
MARANGONI, S.; NOVELLO, J. C.; MACEDO, M. L. R. Purification and characterization
of a new trypsin inhibitor from Dimorphandra mollis seeds. Journal of Protein Chemistry,
v. 20, p. 625-632, 2001.
91
MESSINA, M.; BARNES, S. The role of soy products in reducing risk of cancer. Journal of
The National Cancer Institute, v. 83, p. 541–546, 1991.
MESSINA, M. J.; PERSKY, V.; SETCHELL, K. D. R.; BARNES, S. Soy intake and cancer
risk: a review of the in vitro and in vivo data. Nutrition and Cancer, v. 21, p. 113-131, 1994.
METRI, A. C.; BION, F. M.; OLIVEIRA, S. R. P.; LOPES, S. M. L. Farinha de mandioca
enriquecida com bioproteínas (Saccharomyces cerevisiae), em associação ao feijão e arroz, na
dieta de ratos em crescimento. Revista de Nutrição, v. 16, p. 73-81, 2003.
MIMAKI, Y.; HARADA, H.; SAKUMA, C.; HARAGUCHI M.; YUI S.; KUDO, T.;
YAMAZAKI, M.; SASHIDA, Y. Enterolosaponins A and B, novel triterpene bisdesmosides
from Enterolobium contortisiliquum, and evaluation for their macrophage-oriented cytotoxic
activity. Bioorganic & Medicinal Chemistry Letters, v. 13, p. 623-627, 2003.
MIMAKI, Y.; HARADAA, H.; SAKUMAA, C.; HARAGUCHIB, M.; YUIC, S.; KUDOC,
T.; YAMAZAKIC, M.; SASHIDAA, Y. Contortisiliosides A – G: isolation of seven new
triterpene bisdesmosides from Enterolobium contortisiliquum and their cytotoxic activity.
Helvetica Chimica Acta, v. 87, 2004.
MOREIRA, R. A.; PERRONE, J. C. Purification and partial characterization of a lectin
from Phaseolus vulgaris. Plant Physiology, v. 59, p. 783-787, 1977.
MORRIS, C. A.; MORRIS, L. D.; KENNEDY, A. R.; SWEENEY, H. L. Attenuation of
skeletal muscle atrophy via protease inhibition. Journal of Applied Physiology, v. 99, p.
1719-1727, 2005.
MOSMANN, T. Rapid colorimetric assay for cellular growth and survival: application to
proliferation and cytotoxicity assays. Journal of Immunological Methods, v. 6, p. 55-63,
1983.
MOURA, F. T.; OLIVEIRA, A. S.; MACEDO, L. L. P.; VIANNA, A. L. B. R.; ANDRADE,
L. B. S.; MARTINS-MIRANDA, A. S.; OLIVEIRA, J. T. A.; SANTOS, E. A.; SALES, M. P.
Effects of a chitin-binding vicilin from Enterolobium contortisiliquum seeds on bean bruchid
pests (Callosobruchus maculatus and Zabrotes subfasciatus) and phytopathogenic fungi
(Fusarium solani and Colletrichum lindemuntianum). Journal of Agricultural and Food
Chemistry, v. 55, p. 260-266, 2007.
NICOLSON, G. L. The interactions of lectins with animal cell surfaces. International
Review of Cytology, v. 39, p. 89-190, 1974.
92
NIMER, E. Climatologia da região Nordeste do Brasil. Introdução à climatologia dinâmica.
Revista Brasileira de Geografia, v. 34, p. 3-51, 1972.
OLIVA, M. L. V.; SOUZA-PINTO, J. C.; BATISTA, I. F. C.; ARAÚJO, M. S.; SILVEIRA,
V. F.; AUERSWALD, E. A.; MENTELE, R.; ECKERSKORN, C; SAMPAIO, M. U.;
SAMPAIO, C. A. M. Leucaena leucocephala serine proteinase inhibitor: prymary structure
and action on blood coagulation, kinin release and paw edema. Biochimica et Biophysica
Acta, v. 1477, p. 64-74, 2000.
OLIVEIRA FILHO, A. T.; VILELA, E. A.; CARVALHO, D. A.; GAVILANES, M. L.
Estudos florísticos e fitossociológicos em remanescentes de matas ciliares do alto e médio
Rio Grande. Belo Horizonte: CEMIG, 1995. 27p.
OLIVEIRA, A. S.; PEREIRA, R. A.; LIMA, L. M.; MORAIS, A. H. A.; MELO, F. R.;
FRANCO, O. L.; BLOCH JR., C.; GROSSI-DE-SÁ, M. F.; SALES, M. P. Activity toward
bruchid pest of a Kunitz-type inhibitor from seeds of the algaroba tree (Prosopis juliflora
D.C.). Pesticide Biochemistry and Physiology, v. 72, 122-132, 2002.
OLIVEIRA, A. S.; MIGLIOLO, L.; AQUINO, R. O.; RIBEIRO, J. K. C.; MACEDO, L. L.
P.; ANDRADE, L. B. S.; BEMQUERER, M. P.; SANTOS, E. A.; KIYOTA, S.; SALES, M.
P. Purification and characterization of a trypsin-papain inhibitor from Pithecelobium
dumosum seeds and its in vitro effects towards digestive enzymes from insect pests. Plant
Physiology and Biochemistry, v. 45, p. 858-865, 2007.
ONWULIRI, V. A.; OBU, J. A. Lipids and other constituents of Vigna ungiculata and
Phaseolus vulgaris grown in northern Nigeria. Food Chemistry, v. 78, p. 1-7, 2002.
OWEN, C. A.; CAMPBELL, M. A.; BOUKEDES, S. S.; CAMPBELL, E. J. Cytokines
regulate membrane-bound leukocyte elastase on neutrophils: a novel mechanism for effector
activity. American Journal of Physiology, v. 272, p. 385-393, 1997.
PAIVA, P. M. G.; OLIVA, M. L. V.; FRITZ, H.; COELHO, L. C. B. B.; SAMPAIO, C. A.
M. Purification and primary structure determination of two Bowman-Birk type trypsin
isoinhibitors from Cratylia mollis seeds. Phytochemistry, v. 67, p. 545-552, 2006.
PEUMANS, K. J.; VAN DAMME, E. J. M. Prevalence, biological activity and genetic
manipulation of lectins in foods. Trends in Food Science & Technology, v. 7, p. 132-138,
1996.
93
PINTÉR-SZAKÁCS, M.; MOLNÁR-PERL, H. Determination of tryptophan inunhydrolyzed
food and feedstuffs by the acid ninhydrin method. Journal of Agricultural and Food
Chemistry, v. 38, p. 720-726, 1990.
PRADO, D. As caatingas da América do Sul. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J.
M. C. (Eds.). Ecologia e conservação da Caatinga. Recife: Editora Universitária,
Universidade Federal de Pernambuco, 2003. p. 3-73.
PRAKASH, B.; SELVARAJ, S.; MURTHY, M. R. N.; SREERAMA, Y. N.; RAO, D. R.;
GOWDA, L. R. Analysis of the amino acid sequences of plant Bowman-Birk
inhibitors. Journal of Molecular Evolution, v. 42, p. 560-569, 1996.
PRANCE, G. T. Vegetation. In: WHITMORE, T. C.; PRANCE, G. T. (Eds.). Biogeography
and Quaternary history in tropical America. Oxford: Oxford Science Publications, 1987.
p. 28-45.
PROLL, J.; PETZKE, K. J.; EZEAGU, I. E.; METGES, C. C. Low nutritional quality of
unconventional tropical crop seeds in rats. Journal of Nutrition, v. 128, p. 2014-2022, 1998.
PUSZTAI, A. Lectins. In: CHEEK, P. R. Toxicants of plant origin: proteins and
aminoacids. v.3. Boca Raton: CRC Press, 1989. p.29-71.
PUZZI, D. Abastecimento e armazenamento de grãos. Campinas: Instituto Campineiro de
Ensino Agrícola, 2000. 666p.
QI, R. -F.; SONG, Z. -W.; CHI, C. -W. Structural features and molecular evolution of
Bowman-Birk protease inhibitors and their potential application. Acta Biochimica et
Biophysica Sinica, v. 37, p. 283-292, 2005.
RAGG, E. M.; GALBUSERA, V.; SCARAFONI, A.; NEGRI, A.; TEDESCHI, G.;
CONSONNI, A.; SESSA, F.; DURANTI, M. Inhibitory properties and solution structure of a
potent Bowman–Birk protease inhibitor from lentil (Lens culinaris, L) seeds. FEBS Journal,
v. 273, p. 4024-4039, 2006.
RAMOS V. S.; SILVA, G. S.; FREIRE, M. G. M.; MACHADO, O. L. T.; PARRA, J. R. P.;
MACEDO, M. L. R. Purification and characterization of a trypsin inhibitor from Plathymenia
foliolosa seeds. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 56, p. 11348-11355, 2008.
94
RICHARDSON, M. Seed storage proteins: The enzyme inhibitor. In: Methods in Plant
Biochemistry. New York: Academic Press, 1991.
RIZZINI, C. T. Árvores e madeiras úteis do Brasil – manual de dendrologia brasileira.
São Paulo: Edgar Blucher, 1978. 294p.
RODAL, M. J. N. Fitossociologia da vegetação arbustivo-arbórea em quatro áreas da
caatinga em Penambuco. 1992. Tese – Universidade Estadual de Campinas, Campinas,
1992.
ROSTAMI, A.; KENNEDY, A. R. Use of Bowman-Birk inhibitor for the treatment of
multiple sclerosis and other autoimmune diseases. U.S. Patent 6767564, 2004.
RYAN, C. A. Protease inhibitor in plants: genes for improving defenses against insects and
pathogens. Annual Review of Phytopathology, v. 28, p. 425-449, 1990.
SAITO, T.; SATO, H.; VIRGONA, N.; HAGIWARA, H.; KASHIWAGI, K.; SUZUKI, K.;
ASANO, R.; YANO, T. Negative growth control of osteosarcoma cell by Bowman-Birk
protease inhibitor from soybean; involvement of connexin 43. Cancer Letters, v. 253, p. 249-
257, 2007.
SAMPAIO, C. A. M.; OLIVA, M. L. V.; SAMPAIO, M. U.; BATISTA, I. F. C.; BUENO, N.
R.; TANAKA, A. S.; AUERSWALD, E. A.; FRITZ, H. Plant serine proteinase inhibitors.
Structure and biochemical applications on plasma kallikrein and related enzymes.
Immunopharmacology, v. 32, p. 62-66, 1996.
SAMPAIO, E. V. S. B. Overview of the Brazilian Caatinga. In: BULLOCK, S. H.;
MOONEY, H. A.; MEDINA, E. (Eds.). Seasonally dry forests. Cambridge: Cambridge
University Press, 1995. p. 35-58.
SASAKI, T. Amino acid sequence of a novel Kunitz-type chymotrypsin inhibitor from
hemolymph of silkworm larvae, Bombyx mori. FEBS Letters, v. 168, p. 227-230, 1984.
SCARAFONI, A.; MAGNI, C.; DURANTI, M. Molecular nutraceutics as a mean to
investigate the positive effects of legume seed proteins on human health. Trends in Food
Science & Technology, v. 18, p. 454-463, 2007.
SHAHAT, A. A.; EL-BAROUTY, G.; HASSAN, R. A.; HAMMOUDA, F. M.; ABDEL-
RAHMAN, F. H.; SALEH, M. A. Chemical composition and antimicrobial activities of the
95
essential oil from the seeds of Enterolobium contortisiliquum (leguminosae). Journal of
Environmental Science and Health Part B, v. 43, 519-525, 2008.
SILVA, J. M. C.; OREN, D. C. Geographic variation and conservation of the Moustached
Woodcreeper (Xiphocolaptes falcirostris), an endemic and threatened species of northeastern
Brazil. Bird Conservation International, v. 7, p. 263-274, 1997.
SOLOMON, M.; BELENGHI, B.; DELLEDONNE, M.; MENACHEM E.; LEVINE, A. The
involvement of cysteine proteases and protease inhibitor genes in the regulation of
programmed cell death in plants. Plant Cell, v. 11, p. 431-443, 1999.
SOUZA, E. M. T.; MIZUTA, K.; SAMPAIO, M. U.; SAMPAIO, C. A. M. Purification and
partial characterization of a Schizolobium parahyba chymotrypsin inhibitor. Phytochemistry,
v. 39, p. 521-525, 1995.
SPACKMAN, D. H.; STEIN, W. H.; MOORE, S. Automatic recording apparatus for use in
the chromatography of amino acids. Analytical Chemistry, v. 30, p. 1190-1206, 1958.
TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C.; SANTOS, A. M. M.; VICENTE, A. Análise da
representatividade das unidades de conservação de uso direto e indireto na Caatinga: análise
preliminar. In: SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M. (Coord.). Workshop Avaliação e
Identificação de Ações Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e
Repartição de Benefícios da Biodiversidade do Bioma Caatinga (2000). Disponível em:
˂www.biodiversitas.org.br˃ Acesso em: 23/01/2010.
TELES, R. C. L.; SOUZA, E. M. T.; CALDERON, L. A.; FREITAS, S. M. Purification and
pH stability characterization of a chymotrypsin inhibitor from Schizolobium parahyba seeds.
Phytochemistry, v. 65, p. 793-799, 2004.
THOMPSON, L. U. Potential health benefits and problems associated with antinutrients in
foods. Food Research International, v. 26, p.131-149, 1993.
TROLL, W. Protease inhibitors interfere with the necessary factors of carcinogenesis.
Environmental Health Perspectives, v. 81, p. 59-62, 1989.
TRUGO, L. C.; DONANGELO, C. M.; TRUGO, N. M. F.; BACHKNUDSEN, K. Effect of
heat treatment on nutritional quality of germinated legume seeds. Journal of Agricultural
and Food Chemistry, v. 48, p. 2082-2086, 2000.
96
UNICAMP. Tabela de Composição dos alimentos (2006). Disponível em:
<http://www.unicamp.br/nepa/taco/>. Acesso em: 04/03/2010.
USSUF, K. K.; LAXMI, N. H.; MITRA, R. Proteinase inhibitors: plant-derived genes of
insecticidal protein for developing insect-resistant transgenic plants. Current Science, v. 80,
p. 847-853, 2001.
VALUEVA, T. A.; MOSOLOV, V. V. Protein inhibitors of proteinases in seeds: 1.
Classification, distribution, structure, and properties. Russian Journal of Plant Physiology,
v. 46, p. 362-378, 1999.
VADIVEL, V.; JANARDHANAN, K. Nutritional and antinutritional characteristics of seven
south Indian wild legumes. Plant Foods for Human Nutrition, v. 60 p. 69-75, 2005.
VANZOLINI, P. E.; RAMOS-COSTA, A. M. M.; VITT, L. J. Répteis das Caatingas. Rio de
Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 1980.
VASCONCELOS, I. M.; TRENTIM, A.; GUIMARÃES, J. A.; CARLINI, C. R. Purification
and physicochemical characterization of soyatoxin, a novel toxic protein isolated from
soybean (Glycine max). Archives Biochemistry and Biophysics, v. 312, p. 357-366, 1994.
VASCONCELOS, I. M; MAIA, A. A.; SIEBRA, E. A.; OLIVEIRA, J. T. A.; CARVALHO,
A. F. F. U.; MELO, V. M. M.; CARLINI, C. R.; CASTELLAR, L. I. M. Nutritional study of
two Brazilian soybean (Glycine max) cultivars differing in the contents of antinutritional and
toxic proteins. Journal of Nutritional Biochemistry, v. 12, p. 55-62, 2001.
VASCONCELOS, I. M.; OLIVEIRA, J. T. A. Antinutritional properties of plant lectins.
Review. Toxicon, v. 44, p. 385-403, 2004.
VASCONCELOS, I. M.; CAMPELLO, C. C.; OLIVEIRA, J. T. A.; CARVALHO, A. F. U.;
SOUZA, D. O. B.; MAIA, F. M. M. Brazilian soybean Glycine max (L.) Merr. cultivars
adapted to low latitude regions: seed composition and content of bioactive proteins. Revista
Brasileira de Botânica, v. 29, p. 617-625, 2006.
VASCONCELOS, I. M.; MORAIS, J. K. S.; SIEBRA, E. A.; CARLINI, C. R.; SOUSA, D.
O. B.; BELTRAMINI, L. M.; MELO, V. M. M.; OLIVEIRA, J. T. A. SBTX, a new toxic
protein distinct from soyatoxin and other toxic soybean [Glycine max] proteins and its
inhibitory effect on Cercospora sojina growth. Toxicon, v. 51, p. 952-963, 2008.
97
WARE, J. H.; WAN, X. S.; RUBIN, H.; SCHECHTER, N. M.; KENNEDY, A. R. Soybean
Bowman-Birk protease inhibitor is a highly effective inhibitor of human mast cell chymase.
Archives of Biochemistry and Biophysics, v. 344, p. 133-138, 1997.
WEBER, K.; OSBORN, M. The reliability of molecular weight determinations by dodecyl
sulfate-polyacrylamide gel electrophoresis. Journal of Biological Chemistry, v. 244, p.
4406-4412, 1969.
WITSCHI, H.; ESPIRITU, I. Development of tobacco smoke-induced lung tumors in mice
fed Bowman-Birk protease inhibitor concentrate (BBIC). Cancer Letters, v. 183, p. 141-146,
2002.
XAVIER-FILHO, J. The biological roles of serine and cysteine proteinase inhibitors in
plants. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, v. 4, p. 1-6, 1992.
YOSHIZAKI, L.; TRONCOSO, M. F.; LOPES, J. L. S.; HELLMAN, U.; BELTRAMINI, L.
M.; WOLFENSTEIN-TODEL, C. Calliandra selloi Macbride trypsin inhibitor: Isolation,
characterization, stability, spectroscopic analyses. Phytochemistry, v. 68, p. 2625-
2634, 2007.
ZHANG, Z.; LI, Y.; LI, C.; YUAN, J.; WANG, Z. Expression of a buckwheat trypsin
inhibitor gene in Escherichia coli and its effects on multiple myeloma IM-9 cell proliferation.
Acta Biochimica et Biophysica Sinica, v. 39, p. 701-707, 2007.
ZHAO, Y.; BOTELLA, M. A.; SUBRAMANIAN, L.; NIU, X.; NIELSEN, S. S.; BRESSAN,
R. A.; HASEGAWA, P. M. Two wound-inducible soybean cysteine proteinase have greater
insect digestive proteinase inhibitory activities than a constitutive homolog. Plant
Physiology, v. 111, p. 1299-1306, 1996.