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Psic. da Ed., São Paulo, 36, 1º sem. de 2013, pp. 5-17 Análise dos procedimentos de ensino e a emergência da leitura recombinativa Analisys of teaching procedures and recombinative reading emergency Análisis de los procedimientos de enseñanza y emergencia de la lectura recombinatoria Glenda Miranda da Paixão Gilvandro Figueiredo de Souza Olívia Misae Kato Universidade Federal do Pará Verônica Bender Haydu Universidade Estadual de Londrina Resumo Implementou-se uma análise dos procedimentos adotados e dos resultados obtidos em estudos sobre leitura recombinativa apresentados em artigos, dissertações e teses. A análise revelou que o ensino de discriminação condicional de sílabas anterior à apresentação de palavra tem gerado resultados com menor variabilidade intersujeitos e com maior percentual de acertos. Verifica-se a necessidade de ampliar os estudos, ampliando a complexidade das tarefas e a quantidade de estímulos utilizados durante ensino e testes e de verificar os efeitos da utilização de tais procedimentos no contexto natural de aprendizagem da leitura, as escolas. Palavras-chave: leitura; análise do comportamento; educação. Abstract Analysis of the adopted procedures and obtained results in articles and thesis on recombinative reading. It was observed that the teaching of syllable conditional discrimination before the word presentation has generated lower variability and higher percentage of correct answers. It was verified a need to expand the researches, increasing the tasks’ complexity and the number of the used stimuli and a need to verify the effects of these procedures in the natural context of learn to reading, schools. Keywords: reading; behavior analysis; education. Resumen Análisis de los procedimientos utilizados y resultados obtenidos en los estudios de la lectura recombinatoria presentados en artículos y tesis. Se observó que el enseno de la discriminación condicional de las sílabas antes a la presentación de la palabra ha generado resultados con menor variabilidad interindividual y mayor porcentaje de respuestas correctas. Hay una necesidad de ampliar los estudios, con el aumento de la complejidad de las tareas y del número de estímulos utilizados durante la enseñanza y las pruebas y, todavía, necesidad de verificar los efectos del uso de estos procedimientos en el contexto natural de aprender a leer, las escuelas. Palabras clave: lectura; análisis do comportamiento; educación.

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  • Psic. da Ed., So Paulo, 36, 1 sem. de 2013, pp. 5-17

    Anlise dos procedimentos de ensino e a emergncia da leitura recombinativa

    Analisys of teaching procedures and recombinative reading emergencyAnlisis de los procedimientos de enseanza y emergencia de la lectura recombinatoria

    Glenda Miranda da Paixo Gilvandro Figueiredo de Souza

    Olvia Misae Kato

    Universidade Federal do Par

    Vernica Bender HayduUniversidade Estadual de Londrina

    ResumoImplementou-se uma anlise dos procedimentos adotados e dos resultados obtidos em estudos sobre leitura recombinativa apresentados em artigos, dissertaes e teses. A anlise revelou que o ensino de discriminao condicional de slabas anterior apresentao de palavra tem gerado resultados com menor variabilidade intersujeitos e com maior percentual de acertos. Verifica-se a necessidade de ampliar os estudos, ampliando a complexidade das tarefas e a quantidade de estmulos utilizados durante ensino e testes e de verificar os efeitos da utilizao de tais procedimentos no contexto natural de aprendizagem da leitura, as escolas. Palavras-chave: leitura; anlise do comportamento; educao.

    AbstractAnalysis of the adopted procedures and obtained results in articles and thesis on recombinative reading. It was observed that the teaching of syllable conditional discrimination before the word presentation has generated lower variability and higher percentage of correct answers. It was verified a need to expand the researches, increasing the tasks complexity and the number of the used stimuli and a need to verify the effects of these procedures in the natural context of learn to reading, schools.Keywords: reading; behavior analysis; education.

    ResumenAnlisis de los procedimientos utilizados y resultados obtenidos en los estudios de la lectura recombinatoria presentados en artculos y tesis. Se observ que el enseno de la discriminacin condicional de las slabas antes a la presentacin de la palabra ha generado resultados con menor variabilidad interindividual y mayor porcentaje de respuestas correctas. Hay una necesidad de ampliar los estudios, con el aumento de la complejidad de las tareas y del nmero de estmulos utilizados durante la enseanza y las pruebas y, todava, necesidad de verificar los efectos del uso de estos procedimientos en el contexto natural de aprender a leer, las escuelas.Palabras clave: lectura; anlisis do comportamiento; educacin.

  • 6 Glenda Miranda da Paixo, Gilvandro Figueiredo de Souza, Olvia Misae Kato e Vernica Bender Haydu

    Psic. da Ed., So Paulo, 36, 1 sem. de 2013, pp. 5-17

    um comportamento mais complexo que demanda a aprendizagem de relaes entre os estmulos tex-tuais e seus referentes (objetos, figuras, aes, etc.). Quando esses esto relacionados por equivalncia, de acordo com Sidman e Tailby (1982), essas relaes documentam a leitura com compreenso. Leitura receptiva ou leitura receptiva-auditiva definida como o comportamento de selecionar uma palavra impressa, entre outras simultaneamente disponveis, na presena da palavra ditada como estmulo-modelo em uma tarefa de emparelhamento ao modelo (Hanna et al., 2010). Os termos leitura textual e leitura com compreenso da forma como esto definidos neste pargrafo sero empregados neste artigo.

    A LEITURA COM COMPREENSO E O PARADIGMA DA EQUIVALNCIA

    DE ESTMULOS

    Estudos sobre leitura com compreenso pas-saram a se destacar na bibliografia da Anlise do Comportamento a partir de um estudo pioneiro de Sidman (1971), no qual um participante de 17 anos com retardo mental severo aprendeu a relacionar cor-retamente 20 palavras impressas s respectivas figuras e a realizar leitura textual. Esse participante, no incio do estudo, j apresentava as habilidades de nomear corretamente essas 20 figuras e de emparelhar pala-vra ditada e figura. Foram ensinadas as respostas de escolher as palavras escritas correspondentes quelas ditadas pelo experimentador. Nesse ensino, o nmero de discriminaes de palavras de ensino era gradualmente aumentado e, antes de cada aumento, as relaes pala-vra impressa-figura, figura-palavra ditada e a leitura textual das palavras pelo participante eram testadas. Aps o ensino das discriminaes condicionais referen-tes a 20 palavras, o participante apresentou 100% de acertos diante de todas as relaes testadas. A partir desse estudo, muitas discusses foram levantadas sobre a eficincia dos procedimentos de ensino da leitura e as variveis que interferem no processo de aprendizagem. Essas discusses cresceram aps ter sido proposto por Sidman e Tailby (1982) o paradigma da Equivalncia de Estmulos elaborado a partir do modelo matemtico, de acordo com o qual partes de um conjunto mantm relao com elementos de outro conjunto.

    Segundo esse paradigma, os estmulos tornam-se equivalentes quando as relaes entre eles demons-tram, em testes, trs propriedades: reflexividade,

    A leitura, segundo Morais (1996), um meio de aquisio de informao, indispensvel no conv-vio cotidiano, pois os textos substituem a informao falada nas mais diversas situaes como nos bancos, nos aeroportos, nos anncios, nos manuais de instru-o, etc., sendo, portanto, um componente de um ato social. Essa exigncia cultural torna-se ainda maior na vida profissional, uma vez que o ingresso na maioria das profisses requer alguma forma de estudo, o que implica leitura. Esse tipo de comportamento tambm pode ser caracterizado como um deleite individual, pois pode propiciar prazeres mltiplos como, por exemplo, a produo de conhecimento, a oportunidade para refletir e/ou se emocionar em relao a um determinado assunto ou acontecimento. Assim, a leitura pode gerar reforadores naturais que a mantm e que contribuem para a manuteno de outros comportamentos ver-bais, possibilitando ao mesmo tempo um aumento do repertrio comportamental. Segundo Skinner (1957), o comportamento textual to fortemente reforado que as pessoas leem no apenas cartas, livros e jornais, mas tambm coisas consideradas menos importantes, como etiquetas de pacotes, anncios do metr e carta-zes, mesmo quando esse tipo de material no fornece informaes relevantes.

    De acordo com a Anlise do Comportamento, durante o aprendizado da leitura, so estabelecidos comportamentos verbais, que envolvem respostas especficas, as quais ficam sob o controle de estmulos textuais que podem ser visuais ou tteis. Esses com-portamentos correspondem ao que Skinner (1957) denomina de operante textual, definido como uma resposta vocal sob controle de um estmulo verbal no auditivo (Skinner, 1957).

    Na bibliografia da Anlise do Comportamento, verifica-se que o termo leitura designa diferentes tipos de comportamentos, podendo observar-se que h certa divergncia conceitual na definio desse termo. Por exemplo, as seguintes expresses podem ser encontradas: leitura textual (ou operante tex-tual), leitura com compreenso e leitura receptiva. O operante textual definido como o comportamento vocal sob controle dos estmulos impressos (Skinner, 1957), com correspondncias ponto a ponto, sem a obrigatoriedade de o leitor compreender o que foi lido. Alguns autores designam leitura oral o ope-rante textual (Sidman, 1994) ou, ainda, nomeao (Hanna et al, 2008; Hanna et al, 2010; Leite e Hbner, 2009). Leitura com compreenso definida como

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    CC). A simetria consiste na emergncia das relaes inversas s ensinadas (BA ou CA), aps o aprendizado das relaes condicionais AB e AC. A transitividade demonstrada pela emergncia das novas relaes condicionais formadas a partir do ensino direto de duas outras relaes condicionais que partilham um membro comum. Podem emergir as relaes de equivalncia (BC e CB) que documentam a leitura com compreenso, aps o ensino de pelo menos duas relaes condicionais (AB e AC). Durante o ensino das relaes condicionais, so utilizadas consequncias diferenciais para as respostas corretas e incorretas.

    simetria e transitividade. Para compreend-las, consi-dere o exemplo descrito a seguir e representado esque-maticamente na Figura 1. Inicialmente realizado o ensino das relaes entre palavras ditadas (conjunto A) e figuras (conjunto B) relao AB, e entre palavras ditadas (conjunto A) e palavras impressas (conjunto C) relao AC. A partir desse ensino, podem emergir as relaes entre figuras (conjunto B) e palavras impressas (conjunto C) relao BC, entre palavras impressas (conjunto C) e figuras (conjunto B) relao CB.

    A reflexividade demonstrada com relaes de identidade entre estmulos (por exemplo, AA, BB e

    Figura 1. Ilustrao do Modelo de Ensino e Teste de leitura pautado no Paradigma de Equivalncia de estmulos proposto por Sidman & Talby (1982). A letra A corresponde s palavras ditadas, B ao conjunto de figuras e C ao conjunto de palavras escritas.

    Esse paradigma tem recebido considervel aten-o por constituir-se em um modelo de estudo compor-tamental do significado, descrevendo como smbolos adquirem a funo controladora de seus referentes. Alm disso, tal paradigma tem como caracterstica a propriedade generativa, uma vez que o ensino de poucas relaes pode ser seguido pela emergncia de mltiplas novas relaes. Essa propriedade generativa

    viabiliza o desenvolvimento de procedimentos eficien-tes e eficazes de ensino, podendo, portanto, estabelecer repertrios complexos como a leitura (de Rose, 1996). Esse modelo pode, ainda, contribuir para o desenvol-vimento de novas tecnologias de ensino do comporta-mento de ler ou o aperfeioamento das j existentes.

    Srommer, Mackay & Stoddard (1992) amplia-ram esses estudos, assim como experimentadores

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    PACA. Segundo Alves et al. (2007), o controle restrito tem sido apontado como um dos principais fatores responsveis pelas dificuldades de generalizao da leitura por recombinao.

    Com o objetivo de reduzir o controle restrito, foram desenvolvidos estudos que introduziram ensino adicional de cpia, ditado e oralizao, escandida (com separao espacial ou temporal das slabas) ou fluente (sem separao espacial ou temporal das slabas), isolados ou combinados nos quais eram destacadas as unidades menores (slabas). Na apresentao das palavras com separao, o destaque das slabas era mais evidente do que na apresentao fluente (ver Estudos 1 e 2 de Cardoso, 2005, na Tabela 2). Essas tarefas adicionais foram introduzidas em diferentes momentos em relao ao ensino de discriminao de palavras ditadas e impressas, sendo introduzidas antes (Maranho & Kato, 2008; Sena, 2004), durante ensino das relaes de linha de base (Camelo, 2006; de Rose, de Souza, Rossito & de Rose, 1989; Hbner DOliveira & Matos, 1993; Matos, Hbner, Serra, Basaglia, Avanzi, 2002) e aps os testes das relaes de equivalncia (Alves et al., 2007; Alves, Assis, Kato, Brino, 2011; Matos et al., 2002). Nos estudos citados, a cpia consistiu na construo da palavra impressa pela seleo de letras ou slabas, diante de uma palavra impressa como estmulo-modelo. O ditado refere-se construo da palavra impressa pela seleo de letras ou slabas, diante de uma palavra ditada como modelo. A oralizao consistiu na tarefa de ecoar, ou seja, repetir oralmente de forma idntica uma palavra ou parte dela, diante da apresentao da palavra falada.

    Ainda com o objetivo de reduzir as respostas sob controle restrito, outros estudos, ainda, empregaram procedimentos de ensino explcito de discriminao das slabas, antes do teste da leitura das palavras, utilizando tarefas de emparelhamento auditivo-visual (Barros, 2007; Hanna et al., 2010; Maus, 2007; Serejo, Hanna, de Souza & de Rose, 2007) e ou atividades de conscincia fonolgica (Arajo, 2007; Camelo, 2006).

    A partir desse levantamento da literatura, observa-se uma variedade de delineamentos experi-mentais que tm sido acompanhados por diferentes resultados nos testes de leitura textual e leitura com compreenso das palavras de ensino e das palavras recombinadas. Menor variabilidade intersujeitos e aumento nos nveis de acerto tm sido documentados

    brasileiros ampliaram o paradigma da equivalncia de estmulos investigando a generalizao da leitura por recombinao das unidades verbais menores que a palavra (letras e slabas), segundo Alves, Kato, Assis & Maranho (2007). A leitura recombinativa genera-lizada que consiste na leitura de palavras constitudas por recombinao de letras e slabas das palavras de ensino, pode ocorrer em funo de uma srie de variveis. Uma varivel imprescindvel o desenvol-vimento do que Skinner (1957) denominou controle por unidades textuais mnimas.

    ESTUDOS COM ENSINO QUE ESTABELECE CONTROLE POR

    UNIDADES TEXTUAIS MNIMAS

    Ao longo dos anos, a investigao da aquisio dos repertrios de leitura tem sido desenvolvida por vrios grupos de pesquisas. Os avanos so visveis; entretanto, as divergncias nos resultados decorren-tes das diferenas na terminologia, nos critrios de aprendizagem e nas formas de descrever os resultados alcanados, dificultam uma anlise comparativa.

    O ensino com as unidades verbais maiores (palavras), segundo Skinner (1957), permite o estabe-lecimento de controle sobre o comportamento textual por unidades verbais menores (slabas, letras). Assim, a leitura de palavras com recombinao de slabas e letras poderia ocorrer aps o ensino de palavras inteiras. Entretanto, estudos que se iniciam com o ensino de discriminaes de palavras inteiras tm demonstrado grande variabilidade intersujeitos nos testes de leitura recombinativa, decorrente do provvel controle restrito de estmulos (Alves de Oliveira, 2010; Hanna et al. 2008; Hanna et al. 2010; Hbner-DOliveira, Matos, 1993; Leite, Hbner, 2009). O controle restrito ou superseletividade de estmulos se caracteriza pelo controle por partes dos estmulos complexos (Dube & McIlvane, 1997).

    O controle restrito resulta na aprendizagem de apenas uma parte da palavra. Em um exemplo geral, uma criana que inicia sua alfabetizao pelo ensino de discriminao de palavras inteiras pode ter sua leitura mantida sob controle de uma letra ou uma slaba da palavra, comumente a primeira. Por exemplo, aps o ensino de discriminao das palavras MALA e PATO, se apenas o controle pela slaba inicial for estabelecido, a criana pode ler MALA diante da palavra recombi-nada MATO, ou pode ler PATO diante da palavra

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    de palavras e em seguida, os estudos envolvendo o ensino de discriminao de slabas com procedimentos adicionais ao ensino envolvendo palavras. Por ltimo, sero especificados aqueles que iniciam com o ensino de discriminao de slabas. Todos os estudos utilizaram tarefas de emparelhamento de acordo com o modelo (MTS). As semelhanas e diferenas nos parmetros das variveis foram analisadas em funo dos resultados. Primeiramente, suas semelhanas e diferenas foram analisadas dentro de cada grupo de estudos e, em seguida, entre os diferentes grupos de estudos.

    ESTUDOS ENVOLVENDO O ENSINO DE DISCRIMINAO DE PALAVRAS

    Os estudos que iniciaram pelo ensino de dis-criminao de palavras sero avaliados na seguinte ordem: 1) na Tabela 1 sero apresentados os dados dos estudos que envolveram somente a discriminao de palavras e, 2) na Tabela 2, os estudos que introduziram procedimentos especiais com ensino de discriminao de slabas antes e durante o ensino de discriminao de palavras ou aps a emergncia das relaes de equiva-lncia que documentam a leitura com compreenso.

    nos estudos que programaram o ensino e testes explci-tos das unidades menores que a palavra, especialmente a slaba.

    Analisando os dados obtidos com esses estudos, verifica-se que a identificao das variveis dos proce-dimentos de ensino e de teste pode ser importante para anlise e desenvolvimento de tecnologias de ensino de leitura mais eficientes e eficazes. Considerando esse aspecto, o presente estudo apresenta uma revi-so bibliogrfica de estudos sobre o ensino de leitura pautados no paradigma de equivalncia, comparando aqueles que utilizaram o ensino envolvendo discrimi-naes de palavras inteiras (sem e com discriminao de slabas) com os que iniciaram com o ensino explcito de discriminaes de slabas. So descritos os proce-dimentos e os resultados obtidos em publicaes na forma de artigos, dissertaes e teses, no perodo de 1993 a 2011.

    Para uma melhor visualizao e anlise das vari-veis de procedimento sero apresentadas tabelas com a lista de estudos analisados, sendo cada um apresen-tado em uma linha e os parmetros dessas variveis sero apresentados nas colunas. Inicialmente, sero especificados os estudos com ensino de discriminao

    Tabela 1 Estudos que iniciaram com ensino de discriminao de palavras

    Resultados de Leitura (n de participantes)

    Palavras de Ensino Palavras de Generalizao

    Autor (ano) ParticipantesN de Palavras

    STextual Compreenso Textual Compreenso

    Ensino Teste Total Parcial Total Parcial Total Parcial Total Parcial

    Alves de Oliveira (2010)

    Crianas (Paralisia Cerebral)

    3 6 PD NT NT 3/4 1/4 NT NT 1/4 2/4

    de Rose, de Souza & Hanna (1996) Estudo 2

    Crianas tpicas

    51 45 4/4 0/4 1/4 3/4

    Rodrigues (2000)Crianas (Paralisia Cerebral)

    63 63 PD NT NT 5/5 5/5 3/5 2/5 NT NT

    Matos et al. (2002) Estudo 1

    Crianas tpicas

    NI NI PD NT NT 9/9 0/9 NT NT 0/9 9/9

    Hanna et al. (2008)

    Adultos universitrios

    12 14 PP 0/19 19/19 19/19 19/19 0/19 19/19 0/19

    Hanna et al. (2010) Estudo 1

    Adultos universitrios

    12 48 PP

    Leitura textual das palavras de ensino e de generalizao apresentadas conjuntamente

    Total = 5/16 Parcial = 11/16 NT: no testado; PD= Palavras disslabas; PP= Palavras em pseudoalfabeto; NI= No informado; S= Estmulo

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    Os melhores desempenhos foram obtidos no estudo com adultos envolvendo pseudopalavras (Hanna et al., 2008). Os elevados escores de acertos e a velocidade de aquisio de discriminaes ensinadas e do desenvolvimento de leitura recombinativa podem ser atribudos ao efeito da histria pr-experimental com relaes simblicas, uma vez que todos os parti-cipantes eram leitores fluentes, adultos universitrios. Alm disso, metade deles era das reas de cincias exatas, e foram os participantes que concentraram os escores mais elevados. Esses, alm do extenso reper-trio de leitura na lngua materna, tambm cursavam um nmero maior de disciplinas que utilizam concei-tos matemticos e outros smbolos. A variabilidade encontrada nos desempenhos de estudantes de Cincias Humanas durante o ensino dessas pseudopalavras em alfabeto inventado se assemelhou aos desempenhos observados em crianas durante o ensino da leitura em lngua portuguesa (Hanna et al., 2008).

    Os resultados dos estudos descritos indicam que o desenvolvimento do controle pelas unidades mni-mas e da relao entre elementos sonoros e textuais fundamental para a leitura recombinativa, conforme foi sugerido por Skinner (1957). Contudo, como apontado por Sidman (1994), o ensino de palavras inteiras deixa ao acaso o reconhecimento, pela criana, das correspondncias entre elementos sonoros e tex-tuais (p. 78), gerando variabilidade de resultados entre os participantes de um mesmo experimento. Alves de Oliveira, Assis e Garotti (2010) propuseram que quando o controle de estmulos pelas unidades bsicas no bem estabelecido, o comportamento pode ficar sob controle concorrente de outras variveis no identificadas (p. 3).

    Seguindo essa proposio, estudos tm intro-duzido procedimentos adicionais de ensino de slabas durante o ensino das palavras, visando promover a leitura recombinativa. Nesses estudos, so observados elevados percentuais de acertos em diferentes tipos de participantes, como jovens com retardo mental (Alves et al., 2007; Alves et al., 2011), crianas tpicas com histria de fracasso escolar (Cardoso, 2005) e crianas tpicas pr-escolares (Hbner, Gomes & McIlvane, 2009). Nos estudos conduzidos por de Rose et al. (1989, 1996), foi utilizada a seleo de letras para as tarefas de cpia (denominada anagrama nos textos originais), enquanto nos demais estudos foi usada a seleo de slabas para o mesmo tipo de tarefa.

    Na Tabela 1, so apresentados resumos dos estudos que se iniciam com a discriminao de palavras inteiras, sendo mostrados autores, tipo de participante e resultados obtidos nos testes de leitura. Verifica-se que todos os estudos localizados, nos quais foi ensinada a discriminao de palavras, mostraram-se eficientes em gerar a emergncia da leitura com compreenso das palavras de ensino, pois nos estudos de de Rose, de Souza & Hanna, 1996; Rodrigues, 2000; Matos et al., 2002; e Hanna et al., 2008, todos os participantes leram as palavras de ensino, e no estudo de Alves de Oliveira (2010), trs dos quatro participantes tambm demonstraram essa leitura. O teste da leitura textual das palavras de ensino no foi relatado, exceto no estudo de Hanna et al. (2008), no qual todos os partici-pantes apresentaram desempenho parcial. Entretanto, os resultados da leitura das palavras recombinadas foram variados e no foi demonstrada pela maioria dos participantes, exceto no Estudo 1 de Hanna et al. (2008), no qual foi ensinada a leitura de pseudopalavras a leitores fluentes. No estudo de Hanna et al. (2010), os resultados obtidos com as palavras de ensino e de recombinao foram apresentados conjuntamente, inviabilizando tal anlise.

    Verifica-se ainda, na Tabela 1, que os estudos que envolveram crianas atpicas (Alves de Oliveira, 2010; Rodrigues, 2000) apresentaram melhores resultados em leitura com compreenso de palavras recombinadas do que aquele que envolveu crianas tpicas (Matos et al., 2002). A omisso de muitos detalhes do procedi-mento do estudo de Matos et al. (2002) torna difcil conjecturar acerca dos fatores que contriburam para os resultados nulos de leitura recombinativa. Alves de Oliveira no realizou testes de leitura textual devido dificuldade de articulao da fala apresentada pelas crianas que participaram do estudo, testando apenas a leitura com compreenso. Os resultados dos estudos apresentados na Tabela 1 permitem afirmar que, inde-pendentemente de qual o tipo de desenvolvimento do participante e de quais so suas limitaes funcionais advindas de algum acometimento neurolgico (ou de outra ordem) que ele apresenta, a aplicao de um procedimento de ensino sistemtico e com o estabe-lecimento das relaes condicionais de linha de base e o arranjo de contingncias para a recombinao das unidades menores que constituem as palavras pode contribuir para transpor tais limitaes.

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    acertos superior a 75% em todos os procedimentos, exceto no Estudo 5 de Matos et al. (2002), no qual foram documentados escores entre 65% e 100%. Nesse estudo, foi utilizado um procedimento isolado de ora-lizao com separao das slabas durante o ensino das relaes pr-requisitos. A leitura textual das palavras de ensino foi testada por de Rose et al. (1989), com escores entre 67 e 100 % de acertos. Nos estudos de Cardoso (2005), Alves et al. (2007), Alves et al. (2011) e Hbner, Gomes & McIlvane (2009), esse escore foi de 100% para todos os participantes.

    A Tabela 2 apresenta os estudos nos quais foram programados procedimentos adicionais de ensino, sendo exibidos os tipos de participantes, o momento da introduo dos procedimentos adicionais, o tipo de procedimento adicional adotado, a forma de apresenta-o das palavras de ensino e os resultados obtidos nos testes de leitura das palavras de ensino e das palavras de recombinao.

    A leitura textual das palavras de generalizao no foi testada nos estudos de Matos et al. (2002). Nos testes de leitura com compreenso das palavras de ensino, os participantes apresentaram percentual de

    Tabela 2 Estudos com procedimentos adicionais de ensino

    Procedimentos Adicionais

    Autor (ano) Participantes Momento da introduo

    Ensino TipoApresentao

    da palavra

    Resultados de leitura (n de participantes e % de acertos)

    Palavras de ensino Palavras de generalizao

    Textual Compreenso Textual Compreenso

    de Rose et al. (1989)

    Crianas (fracasso escolar)

    Tentativas de excluso

    Isolado Cpia Fluente Parcial NT Parcial NT

    de Rose et al. (1996) Estudo 1

    Crianas (fracasso escolar)

    Isolado Cpia Fluente NT Total NT Parcial

    Estudo2: Aps Equiv.

    Isolado Oralizao Fluente NT Total NT Parcial

    Estudo 3: Aps Equiv.

    Isolado Oralizao Escandido NT Total NT Parcial

    Estudo 4: Ensino AB

    e AC Isolado Oralizao Fluente NT Parcial NT Parcial

    Matos et al. (2002)

    Pr- escolares Estudo 5: Ensino AB

    e AC Isolado Oralizao Escandido NT Parcial NT Parcial

    Estudo 6: Aps Equiv.

    Isolado Cpia NI NT Parcial NT Parcial

    Estudo 7: Aps Equiv.

    Combinado Cpia e

    oralizao Fluente NT Total NT Parcial

    Estudo 8: Aps Equiv.

    CombinadoCpia e

    oralizaoEscandido NT Parcial NT Parcial

    Cardoso (2005) Estudo 1

    Crianas (fracasso escolar)

    Ensino AC Combinado CDO Fluente Total Total Total Total

    Cardoso (2005) Estudo 2

    Crianas (fracasso escolar)

    Ensino AC Combinado CDO Escandido Total Total Total Total

    Alves et al. (2007)

    Jovens (retardo mental)

    Aps teste BC/ CB

    Ensinos isolados e

    combinadosCDO

    Fluente e escandido

    Total Total Total NT

    Hbner, Gomes & McIlvane (2009)

    Pr-escolares Aps ensino

    AC Combinado

    Cpia e oralizao

    Escandido Total Total Total Parcial

    Alves et al. (2011)

    Jovens (retardo mental)

    Aps reviso do ensino AC sem atingir o

    critrio

    Combinado

    CDO com destaque das

    slabas e CDO com fading in

    das slabas

    Fluente e escandido

    Total Total Total NT

    E= Ensinadas; R = Recombinadas; CS= Com Sentido; I= Inventadas; NT = No Testado; CD = Cpia e Ditado; ESS= Ensino de Slaba Simples; ESC=Ensino de Slabas Complexas; Total: igual ou maior que 90% para todos os participantes; Parcial: menor que 90% para um ou mais participantes .

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    do controle parcial sem a necessidade de aplicar proce-dimentos especiais. Para essa anlise foi adotado o cri-trio de 90% de acertos, antes da realizao dos testes de leitura com compreenso sendo apropriado afirmar que o ensino explcito de discriminao de slabas pode promover a emergncia da leitura recombinativa de novas slabas, assim como a emergncia imediata da leitura de palavras formadas pelas slabas de ensino e recombinadas.

    Dois outros estudos executaram os mesmos procedimentos de ensino e de teste, Maus (2007) e Barros (2007). A diferena entre os dois procedimentos foi apenas o aumento do nmero de slabas de ensino e recombinadas no segundo estudo, o que possibili-tou um aumento no nmero de palavras com sentido cultural. Alm disso, foram reprogramados os blocos longos de tentativas, dividindo-os em dois blocos para reduzir o nmero de erros durante o ensino das discriminaes de slabas, e reprogramao das fases nas quais ocorriam erros.

    Um delineamento geral semelhante ao de Kato e Perez-Gonzalez (2004) foi adotado por Maus (2007) e Barros (2007). Outro estudo que merece destaque o de Vale (2010), no qual foi investigada a emergncia da leitura de palavras e de frases com duas, trs e qua-tro palavras. Esse estudo uma replicao do estudo que foi desenvolvido por Haber e Baptista (2008), o qual fez uma reviso do ensino de discriminao de slabas a cada introduo de um componente novo frase, para garantir a manuteno do repertrio. Vale (2010), programou o ensino de nomeao das slabas exclusivamente na primeira fase do estudo e todos os demais desempenhos emergiram prontamente aps uma exposio ou um nmero mnimo de reexposies s etapas de ensino. Esses resultados foram semelhantes aos de Kato e Prez-Gonzlez (2004), Maus (2007) e Barros (2007), sendo importante ressaltar que foram utilizadas as mesmas slabas, palavras e parte das frases utilizadas por Haber e Baptista (2008). No entanto, foi reduzido o nmero de etapas e de repeties dos blocos de ensino em cada fase, o nmero de palavras e frases de ensino, mas foi ampliado o nmero de palavras e frases recombinadas.

    No estudo de Vale (2010), todos os participantes demonstraram a emergncia da leitura textual das slabas complexas e a emergncia imediata da leitura textual e com compreenso das palavras de ensino. Tambm demonstraram prontamente a leitura recom-binativa textual e com compreenso das palavras e das

    Na anlise comparativa dos resultados da Tabela 2 com aqueles apresentados na Tabela 1, verifica-se um maior nmero de acertos nos testes de leitura. Entretanto, muitas divergncias de resultados so encontradas na leitura textual e com compreenso das palavras recombinadas. Os percentuais mais elevados de leitura recombinativa foram obtidos aps procedi-mentos combinados, ou seja, aqueles que envolviam o ensino de mais de uma tarefa adicional. Os estudos que apresentaram 80 a 100% de leitura recombinativa para todos os participantes, imediato ou com atraso, envolveram o ensino combinado de cpia, ditado e oralizao de forma fluente e com separao (Alves et al., 2011; Alves et al., 2007; Cardoso, 2005; Hbner, Gomes, McIlvane, 2009).

    O estudo de Cardoso (2005) mostrou ntidas evidncias de que a utilizao da separao entre as slabas favorece a emergncia imediata da leitura recombinativa. O Estudo 8 de Matos et al. (2002) corrobora esse resultado, apresentando os melhores escores quando foi introduzida a separao. Sete das onze crianas que foram submetidas ao procedimento combinado de cpia e oralizao com separao das slabas apresentaram escores superiores a 75% de acertos. Observa-se, contudo, que nos estudos envol-vendo procedimentos adicionais, a generalizao da leitura por recombinao tem se mantido parcial ou se desenvolve ao longo de um extenso programa de ensino. Alm do procedimento de emparelhamento com o modelo, foram necessrios outros procedimentos combinados de ensino para estabelecer o controle por todos os componentes da palavra.

    O ensino explcito de discriminaes condicionais entre slabas com recombinao de letras foi realizado em alguns estudos provavelmente para tornar o treino mais eficiente e menos extenso.

    ESTUDOS QUE SE INICIARAM COM O ENSINO EXPLCITO DE DISCRIMINAO DE SLABAS

    Kato e Prez-Gonzlez (2004) iniciaram a investigao das variveis que afetam a emergncia da leitura textual e com compreenso das palavras com sentido e inventadas da lngua espanhola, aps ensino explcito de discriminao de slabas. Os resultados desse estudo demonstraram a emergncia imediata da leitura textual e com compreenso das palavras com sentido e inventadas, alm de evitar o estabelecimento

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    2010), e somente um participante apresentou a lei-tura textual de todas as palavras aps a emergncia da leitura com compreenso. Quanto leitura com compreenso das palavras com sentido e inventadas todos os participantes a demonstraram, alcanando o critrio pr-estabelecido de acerto. importante ressaltar que, no estudo de Barros (2007), a cpia e o ditado no foram ensinados, apenas testados. Todos os participantes apresentaram prontamente esses desem-penhos emergentes com 100% de acertos.

    Em termos comparativos com o estudo de Vale (2010), os estudos de Barros (2007), Maus (2007) e Kato & Prez-Gonzlez (2004) tambm documenta-ram a emergncia imediata da leitura recombinativa textual e com compreenso das palavras aps o ensino explcito de discriminao de slabas. Nos estudos de Barros (2007) e de Vale (2010), os participantes atin-giram os critrios de acertos na primeira exposio maioria das fases ou etapas de ensino, evidenciando uma aprendizagem sem erros ou com poucos erros.

    frases com duas, trs e quatro palavras. Esses resulta-dos indicam que a ocorrncia da leitura generalizada recombinativa de palavras e frases pode ocorrer pron-tamente aps o ensino direto das discriminaes entre slabas, sem estabelecer o controle parcial.

    Esses estudos em lngua portuguesa esto apresentados na Tabela 3, sendo exibidos o tipo de participante, a faixa etria, o nmero de slabas e os resultados dos testes de leitura.

    Em todos os trs estudos, todos os participan-tes apresentaram a emergncia da leitura textual das slabas de ensino e das novas slabas recombinadas, sem ensino direto. Alm disso, apresentaram a leitura textual das slabas de ensino e das slabas com recom-binao de letras aps o ensino das discriminaes con-dicionais das slabas de ensino. Todos os participantes desses estudos, com exceo de um, demonstraram a emergncia imediata da leitura textual de todas as palavras com sentido e inventadas, antes dos testes de relaes de equivalncia que documentam leitura com compreenso (Barros, 2007; Maus, 2007; Vale,

    Tabela 3 Estudos que iniciaram com ensino de discriminao de slabas

    Autor (ano) Participantes N de slabas N de palavrasResultados de Leitura (n de participantes)

    Textual de slabas

    Textual de palavras

    Com compreenso

    Testes Adicionais

    Maus (2007)Crianas tpicas

    pr-escolares

    05 (E) 04 (R)

    04 (CS) 04 (I)

    Total (E/R) Total (CS/I) Total (CS/I) NT

    Barros (2007)06 (E) 06 (R)

    08 (CS) 04 (I)

    Total (E/R) Total (CS/I) Total (CS/I) Total (CD)

    Vale (2010)

    Crianas tpicas com

    dificuldades de aprendizagem

    35 (E)18 (E) 39 (R)

    Total (ESS/ESC)

    Total Total NT

    E= Ensinadas; R = Recombinadas; CS= Com Sentido; I= Inventadas; NT = No Testado; CD = Cpia e Ditado; ESS= Ensino de Slaba Simples; ESC=Ensino de Slabas Complexas; Total: igual ou maior que 90% para todos os participantes; Parcial: menor que 90% para um ou mais participantes .

    CONSIDERAES FINAIS

    Os resultados dos estudos aqui revisados permi-tem concluir que o ensino direto das unidades menores que a palavra, especialmente a slaba, pode, portanto, promover prontamente a leitura de palavras recombi-nadas ou de palavras formadas pelas slabas de ensino e slabas com recombinao de letras. O ensino explcito de discriminao de slabas pode, ainda, promover a emergncia imediata da leitura de frases formadas por essas palavras. Essa afirmao consistente com resultados obtidos em lngua inglesa. As pesquisas

    sobre leitura recombinativa em ingls, por exemplo, tm demonstrado a emergncia de leitura de novas palavras formadas pela recombinao das unidades intra-silbicas (onset e rime). Goswami (1995) define onset como o som falado que corresponde a quaisquer consoantes no incio de cada slaba escrita e o rime corresponde aos sons finais da palavra.

    Outro exemplo o estudo conduzido por Mueller, Olmi & Saunders (2000), os quais ensinaram relaes auditivo-visuais entre palavras monossilbicas do tipo consoante-vogal-consoante, manipulando

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    sistematicamente os fragmentos (onsets e rimes) das palavras. As palavras de ensino apresentavam rimes semelhantes (por exemplo, sat e mat) ou onsets seme-lhantes (sop e sug). Nos testes foram utilizadas palavras novas com os mesmos componentes das palavras de ensino (por exemplo, mog e mup). As crianas demonstraram o emparelhamento palavra impressa--figura e nomearam a maioria das palavras impressas, mostrando que quando as discriminaes de todos os componentes so ensinadas, a leitura recombinativa emerge de maneira sistemtica e previsvel. Os auto-res afirmam, ento, que a habilidade de recombinar unidades da palavra crtica para a aprendizagem de leitura de novas expresses.

    O desenvolvimento de abstrao de unidades de controle de estmulos por relaes som-texto o processo bsico no desenvolvimento de leitura recom-binativa. Nessa leitura, o responder apropriado diante de um texto novo ocorre a partir do controle que fragmentos desse texto exercem sobre cada resposta, controle esse aprendido a partir da experincia anterior com outros textos (Hanna et al., 2010). Na lngua portuguesa, as slabas so as unidades menores recom-binadas para formar novas palavras na maioria dos estudos sobre leitura recombinativa, fundamentados no paradigma de equivalncia de estmulos.

    A anlise dos estudos nos quais foram introdu-zidos procedimentos adicionais (ver Tabela 2) indica que habilidades de oralizar e de copiar, isoladamente, no garantem leitura generalizada recombinativa. Contudo, o ensino combinado de oralizao, cpia e ditado mostrou-se eficaz (Matos et al., 2002; Sudo, Soares, Souza, & Haydu, 2008), especialmente quando se faz uso da separao espacial e temporal das slabas (Cardoso, 2005, Estudo 2). No estudo de Sudo et. al. (2008), foi verificado que um dos participantes soletrava as slabas e depois as lia de forma pausada, e que outro participante passou a imit-lo. Os autores concluram que esse comportamento pode ter contri-budo para melhorar a leitura e escrita manuscrita dos participantes. Alm disso, pode-se afirmar que os pro-cedimentos com anagramas em cpias ou ditados, nos quais as palavras so fragmentadas em suas unidades menores e so exigidas respostas de escolha dessas uni-dades na sequncia correta diante da figura, da palavra impressa (cpia) ou da palavra ditada (ditado), podem levar o aprendiz a discriminar as unidades das quais a palavra formada. Dessa forma, esses procedimentos podem estabelecer mais prontamente o controle pelas

    unidades menores e a recombinao das letras ou das slabas em novas palavras, promovendo a emergn-cia imediata da leitura recombinativa textual e com compreenso (Haydu & de Paula, 2008, Matos et al., 2002). O uso de procedimentos combinados tem sido mais eficiente do que o uso de procedimentos isolados para a aquisio simultnea das habilidades necessrias para a leitura, demonstrando que nenhum mtodo isolado completamente eficaz ou ineficaz (Matos et al., 2011, Serejo et al., 2007).

    Nos estudos com o ensino inicial explcito de discriminaes das slabas, verifica-se a emergncia imediata da leitura de novas slabas e de novas palavras e frases, evidenciando o papel facilitador de tal proce-dimento, alm da economia de ensino. Os estudos de Serejo et al. (2007) confirmaram esse achado de que crianas que foram inicialmente ensinadas a discrimi-nar palavras e, posteriormente, a discriminar slabas e palavras apresentaram melhor desempenho nessa segunda fase, enquanto as crianas que iniciaram com o ensino combinado (discriminao de slabas e palavras) apresentaram desempenho similar nas duas fases.

    Ao contrrio do mtodo tradicional utilizado nas escolas, nos estudos que se iniciam pelo ensino de discriminao das slabas, ocorre a leitura de novas sla-bas recombinadas e de palavras, no sendo necessrio o ensino de todas as slabas, evidenciando as caracte-rsticas generativa e econmica do procedimento de ensino adotado. Nesse, a leitura de novas slabas com recombinao das letras emerge. Tal procedimento mostrou-se eficiente em evitar o controle restrito pelas slabas, estabelecendo a independncia funcional delas. Assim, a generalizao da leitura de novas slabas com recombinao de letras, a partir da leitura de slabas de ensino, e a leitura de palavras formadas por essas slabas, ocorre com menor variabilidade intersujeitos e com maiores percentuais de acertos em comparao aos demais estudos.

    Os resultados dos estudos com ensino inicial de discriminao de slabas apontam que o controle restrito pela slaba ou letra foi evitado, no sendo necessria a aplicao de procedimentos adicionais de ensino. Aps a emergncia da nomeao de todas as slabas de ensino e recombinadas ocorreu prontamente a emergncia da leitura textual e com compreenso das palavras, mostrando que o domnio de relaes sil-bicas permite o controle imediato por essas unidades inseridas em palavras (Hanna et al., 2010).

  • Anlise dos procedimentos de ensino e a emergncia da leitura recombinativa 15

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    Em algumas lnguas, a leitura recombinativa pode se beneficiar do ensino de unidades intrassilbicas (Hanna et al. 2010; Mueller et al., 2000). No portu-gus e no espanhol, lnguas com maior regularidade nas correspondncias fonema-grafema, as unidades silbicas podem ter um papel importante na emer-gncia de leitura recombinativa (Barros, 2007; Kato & Perez-Gonzlez, 2004; Barros, 2007; Maus, 2007; Vale, 2010), pois o controle pelas unidades silbicas provavelmente favorece a produo vocal de palavras inteiras com significado, s quais o leitor pode reagir como ouvinte.

    A anlise realizada neste estudo aponta pro-blemas de pesquisa para as investigaes cientficas subsequentes e indica, para aqueles que se empenham no ensino da leitura, meios mais eficientes de faz-lo. Segundo os dados do censo 2010, o Brasil ainda tem, em mdia, 9,6% da populao analfabeta com 15 anos ou mais, com ntidas divergncias regionais. Os dados apontam uma realidade alarmante e que pe prova os mtodos de alfabetizao tradicionalmente utilizados.

    Os estudos aqui apresentados demonstram que procedimentos de ensino explcito de discriminaes condicionais de slabas so uma alternativa vivel, econmica e eficiente para o ensino da leitura de pala-vras e frases, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias de ensino ou de aperfeioamento das j existentes e, tambm, para a avaliao de repertrios de leitura. Outro aspecto importante referente ao modelo da equivalncia de estmulos para o ensino de repertrios acadmicos, ressaltado por Haydu e de Paula (2008), o fato de que o procedimento de formao de classes de estmulos equivalentes pode ser combinado a diversos outros procedimentos de ensino, como, por exemplo, jogos educativos (Sudo et al., 2008) e relato de histrias, usados como fonte de motivao. Essa combinao pode aumentar a probabi-lidade da aprendizagem das discriminaes de palavras e da emergncia da leitura de palavras.

    Contudo, prudente afirmar que h necessidade de ampliar os estudos sobre ensino e emergncia da leitura textual e com compreenso, ampliando tambm a complexidade das tarefas e a quantidade de estmulos utilizados no delineamento de ensino e testes. Estudos aplicados em contextos escolares como o que foi desen-volvido por Amorese e Haydu (2010), que capacitaram professoras a utilizar o paradigma de equivalncia em sala de aula, tambm so extremamente relevantes.

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    [email protected]

    Olvia Misae KatoProfessora da Universidade Federal do Par

    [email protected].

    Vernica Bender HayduProfessora do Departamento de Psicologia Geral e

    Anlise do Comportamento e do Mestrado em Anlise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina

    [email protected]