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 Anais do IV S eminário Nacional OS ANNALES: A RENOVAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA E "UTÓPICA" DA HISTÓRIA PELA RECONSTRUÇÃO DO TEMPO HISTÓRICO  José Carlos Reis 1 1 - Sobre as Rea!es e#$re Tempo Histórico e Conhecimento Histórico: %&a H'()$ese As questões que guiarão a nossa reflexão poderiam ser assim formuladas: o que diferencia em profundidade as diversas "escolas" ou "programas" históricos? Qual a diferença  profunda entre a história filosófica e literária as escolas históricas metódica historicista marxi st a e dos Annal es ? ! que seria uma "nova escola" em oposição a uma "esco la tradicional"? m que pode uma escola ser "nova" ou "ultrapassada"? #ostuma$se definir essa diferença como uma "diferença de m%todo": novos o&'etos novas fontes novas t%cnicas novos conceitos novas instituições e o&ras e historiadores$modelo( )as esses elementos acima importantes sem d*vida para a definição do "novo" e do "ultrapassado" em história não seriam apenas o lado mais vis+vel do m%todo? A "diferença profunda" que esses elementos revelam e sem a qual não existiriam não exigiria uma reflexão so&re o m%todo tam&%m em maior profundidade? is a nossa hipótese em uma primeira formulação: a &ase  profunda de um m%todo histórico % uma "representação do tempo histórico" e % esta repr ese ntaç ão que diferencia as div ersa s escolas e prog rama s históricos( !s conceitos "tradicional" "utrapassado" "novo" 'á revelam esse su&strato temporal( ,ma escola histórica só pode se apresentar como "nova" se apresent a uma outra e origi nal representaç ão do tempo histórico( !ptar por uma ou outra escola histórica não % meramente optar por o&'etos e t%cnicas ou o&ras$historiadores modelos( A 'ustificativa da escolha % mais profunda: opta$se  por um registro da temporalidade( -ara sustentar essa proposta e antes de tratar da inovação temporal que os Annales representaram iremos a .eródoto de .alicarnasso o desco&ridor do tempo dos homens( !s gregos os criadores da história tinham um pensamento profundamente anti$ histórico( /anto a poesia %pica de .omero quanto a filosofia que nasceu no s%culo 0 a(# não tratavam de eventos particulares e de personagens aut1nticos( A poesia %pica no lugar dos eventos punha categorias2 no lugar dos personagens reais arqu%tipos( la produ3ia uma lem&rança m+tica exemplar atemporal( As ações humanas tornam$se modelos 2 os heróis são tipos( A lem&rança % "po%tica" $ % o artista que cria o exemplo e modelo das ações e  personagens so & a inspiração da s musas( As musas contam ao poeta em geral ceg o o que f oi % e será( ! poeta prefere não "ter visto" mas "ter ouvid o" diretamente das musas que tudo v1m( A filosofia grega por seu turno irá se opor e se articular ao mito preservando dele o seu caráter anti$histórico( -ara o filósofo grego só o permanente % conhec+vel( ! ser supralunar reali3a um movimento circular cont+nuo e regular que revela a eternidade e não o tempo( 4#olling5ood 67869 Anti$histórico portanto o pensamento grego m+tico$po%tico e filosófico não trata do transi tório da sucessão da mudança do mundo su&lunar reino da corrupt i&ili dade temporal( 1 epartamento de .istória;,<)= 6 5 10 15 20 25 30 35 40

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 Anais do IV Seminário Nacional

OS ANNALES: A RENOVAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA E "UTÓPICA" DAHISTÓRIA PELA RECONSTRUÇÃO DO TEMPO HISTÓRICO

 José Carlos Reis1

1 - Sobre as Rea!es e#$re Tempo Histórico e Conhecimento Histórico: %&a H'()$ese

As questões que guiarão a nossa reflexão poderiam ser assim formuladas: o quediferencia em profundidade as diversas "escolas" ou "programas" históricos? Qual a diferença profunda entre a história filosófica e literária as escolas históricas metódica historicistamarxista e dos Annales? ! que seria uma "nova escola" em oposição a uma "escolatradicional"? m que pode uma escola ser "nova" ou "ultrapassada"? #ostuma$se definir essadiferença como uma "diferença de m%todo": novos o&'etos novas fontes novas t%cnicasnovos conceitos novas instituições e o&ras e historiadores$modelo( )as esses elementosacima importantes sem d*vida para a definição do "novo" e do "ultrapassado" em histórianão seriam apenas o lado mais vis+vel do m%todo? A "diferença profunda" que esseselementos revelam e sem a qual não existiriam não exigiria uma reflexão so&re o m%todotam&%m em maior profundidade? is a nossa hipótese em uma primeira formulação: a &ase profunda de um m%todo histórico % uma "representação do tempo histórico" e % estarepresentação que diferencia as diversas escolas e programas históricos( !s conceitos"tradicional" "utrapassado" "novo" 'á revelam esse su&strato temporal( ,ma escola históricasó pode se apresentar como "nova" se apresenta uma outra e original representação do tempohistórico( !ptar por uma ou outra escola histórica não % meramente optar por o&'etos et%cnicas ou o&ras$historiadores modelos( A 'ustificativa da escolha % mais profunda: opta$se

 por um registro da temporalidade( -ara sustentar essa proposta e antes de tratar da inovaçãotemporal que os Annales representaram iremos a .eródoto de .alicarnasso o desco&ridor dotempo dos homens(

!s gregos os criadores da história tinham um pensamento profundamente anti$histórico( /anto a poesia %pica de .omero quanto a filosofia que nasceu no s%culo 0 a(# nãotratavam de eventos particulares e de personagens aut1nticos( A poesia %pica no lugar doseventos punha categorias2 no lugar dos personagens reais arqu%tipos( la produ3ia umalem&rança m+tica exemplar atemporal( As ações humanas tornam$se modelos2 os heróis sãotipos( A lem&rança % "po%tica" $ % o artista que cria o exemplo e modelo das ações e personagens so& a inspiração das musas( As musas contam ao poeta em geral cego o que foi

% e será( ! poeta prefere não "ter visto" mas "ter ouvido" diretamente das musas que tudov1m( A filosofia grega por seu turno irá se opor e se articular ao mito preservando dele o seucaráter anti$histórico( -ara o filósofo grego só o permanente % conhec+vel( ! ser supralunar reali3a um movimento circular cont+nuo e regular que revela a eternidade e não o tempo(4#olling5ood 67869

Anti$histórico portanto o pensamento grego m+tico$po%tico e filosófico não trata dotransitório da sucessão da mudança do mundo su&lunar reino da corrupti&ilidade temporal(

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! seu olhar e atenção estão voltados para o eterno( ! mito se li&ertava do evento e damudança procurando manter$se na origem no antes do tempo &uscando a eternidade no presente intenso do tempo sagrado do ritual onde o atual reencontra a origem( A filosofiagrega estava voltada para as id%ias eternas para os movimentos regulares para o permanente

supralunar *nico cognosc+vel o&'eto de "episteme"( !s filósofos não deixaram de refletir so&re as coisas humanas e reali3aram reflexões inesquec+veis so&re a %tica a est%tica e a pol+tica mas na perspectiva das "id%ias eternas"( -ara eles o mundo temporal su&lunar seriaresidual e despre3+vel pois incognosc+vel e ina&ordável pela teoria( nfim o pensamentogrego do s%culo 0 a(#( era paradoxal: fundamentalmente anti$histórico criou a "ci1ncia dahistória"( 4#olling5ood 67862 )omigliano 678>9

A questão que intriga %: como pode esse pensamento do supralunar criar a "históriaci1ncia do su&lunar" i(%( um sa&er das ações humanas como resultado de uma investigaçãode uma pesquisa e aspirando verdade? A verdade não seria privil%gio do supralunar e do seuconhecimento pela teoria? #omo encontrá$la no su&lunar e na narrativa de fatos particulares?0erdade e mudança verdade e história não seriam termos excludentes? #omo puderam os

gregos criar uma ci1ncia do que consideravam incognosc+vel das ações humanas em suasmudanças um "conhecimento verdadeiro" do devir? #omo conhecer a mudança o que % e não%? -ara os filósofos a história estava no mundo ef1mero de am&ições e paixões do qual afilosofia deveria li&ertar os homens( les preferiam .omero a .eródoto o que falava do que"poderia acontecer" ao que tratava do "acontecido"( -ara Aristóteles a teoria era um discursoracional e atemporal so&re o universal $ "episteme"( A poesia atendia s suas exig1nciasepistemológicas melhor do que a história( Aristóteles despre3ava a nova criação grega a"ci1ncia dos homens no tempo" e o seu criador segundo ele o "contador" 4para muitos o"mentiroso"9 .eródoto( -ara ele os historiadores se referiam a fatos acontecidos particularese não ao universal referiam$se mudança e não esta&ilidade e regularidade e eram por issoepistemologicamente menos "s%rios"( !s historiadores produ3iam um conhecimento residual

so&re o residual: "doxa" opiniões sem valor lógico so&re as coisas humanas que mudam( @euconhecimento não seria demonstrativo e portanto não teria validade teórica( 4)omigliano678>2 .artog 6789

m um contexto intelectual tão desfavorável a criação da história por .eródoto nos%culo 0 representou uma verdadeira re*o%!+o ,%$%ra( Ao inv%s de evitar a mudança otempo o historiador decidiu a&ordá$la( ! historiador optou pelo su&lunar pela temporalidadeque para ele % o verdadeiro lugar da inteligi&ilidade da vida humana( ssa foi uma atitudeinaugural original uma ruptura com a tradição m+tica e filosófica( "!s homens no tempo" oshomens em sua vida particular e p*&lica com os seus nomes iniciativas e valoresexperi1ncias e esperanças em sua finitude em sua historicidade em suas mudanças $ eis onovo o&'eto do novo conhecimento( .eródoto argumentaria contra Aristóteles: % pouco s%rio

falar do vivido humano? Ba verdade não % o vivido que interessa a um pensamento realmentes%rio? @em desvalori3ar a ficção e a poesia a filosofia e a ci1ncia o vivido não % o que maisexige reflexão análise e investigação? is a convicção de .eródoto e dos historiadores queentão surgiam( A história foi a "ci1ncia nova" das ações humanas no tempo( C umconhecimento fruto de uma investigação de uma enquete que tem a preocupação com a"verdade" &aseada em "testemunhos oculares" &em interrogados pelo historiador(4)omigliano 678>9

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! poeta ouvia as musas2 o historiador quer a "verdade" e interroga e ouve os que viramos fatos ou escreve so&re o que ele próprio viu( "0er" % prioritário so&re o "ouvir di3er"(iferente do mito e da poesia o conhecimento histórico % escrito o que permite acomparação a correção de contradições a incredulidade em relação ao fa&uloso e

maravilhoso( #onhecimento "escrito" do que foi "visto" a história pretende di3er a "verdade"so&re o mundo dos homens( Ao contrário do mito que % oral e impessoal a história % escrita e pessoal( C o próprio historiador a garantia da verdade2 a sua assinatura o torna responsável pelo que escreveu( le escreve na primeira pessoa e a "verdade histórica" se confunde com asua assinatura( 4.artog 6789

.eródoto de .alicarnasso reali3ou portanto uma mudança epistemológicasu&stancial: ele quer acompanhar os homens em suas mudanças e realizar a sua descrição e

análise( A perspectiva do novo personagem cultural o historiador % a de que o homem % umser &asicamente temporal finito instável histórico( le recusa a atitude contemplativa do que% eterno fora do tempo que % para ele o que de fato % ina&ordável e incognosc+vel( -ara eleinefável não % a singularidade histórica mas a eternidade( A eternidade só % pronunciável

como construção de homens históricos que criam as suas utopias manifestam o seu dese'o de"fuga da temporalidade"( ! historiador se interessa pela vida humana em sua diversidade emsua alteridade e diferença temporais( ! que ele quer produ3ir % o "conhecimento da mudança"uma descrição do transcurso dos homens finitos em sua experi1ncia da finitude que eleconsidera paradoxalmente o *nico apreens+vel e cognosc+vel(

Ao valori3ar o passado o historiador fa3 uma inversão em seu conceito( -ara ele o passado não % o que "não % mais"2 ao contrário ele % o que há de mais sólido na estrutura dotempo( ! passado % exist1ncia conhec+vel2 somente como "tendo sido" o vivido humano se dáao conhecimento( ! passado não seria uma queda no nada mas ao contrário uma passagemao ser: ele % a consolidação do ser no tempo % duração reali3ada( le não % o que "não %mais" mas o que "foi e ainda %"( como tal % conhec+vel e % a *nica dimensão conhec+vel domundo humano em suas relações com o presente( ! o&'etivo do historiador % mediar umdiálogo entre "vivos" e "vivos ainda"( ! que ele fa3 % conhecer diferenciando$as as duraçõeshumanas( 4Eeis 677F& e 677c9

.eródoto valori3ou o tempo dos homens e por isso fundou uma nova "ci1ncia"( A partir dessa articulação entre "tempo novo" e "conhecimento novo" em .eródoto eis asegunda formulação da nossa hipótese so&re as relações entre tempo histórico e conhecimento

histórico( -ara mediar o diálogo entre presente;passado para "diferenciar as duraçõeshumanas" i(%( conhec1$las em sua historicidade e em seus próprios termos para conhecer "oshomens em suas mudanças perp%tuas" o olhar do historiador % estruturado por uma"representação do tempo histórico"( ! conhecimento histórico só % poss+vel no interior de uma

concepção do tempo histórico( ssa "representação do tempo dos homens" teria para oconhecimento histórico uma função semelhante id%ia Gantiana do tempo como "intuição a priori" do su'eito( #omo a "intuição a priori" Gantiana que põe o universo como exterior aosu'eito e o organi3a como sucessão e simultaneidade % a "representação do tempo histórico" presente no historiador que o leva a o&'etivar o mundo humano de uma certa maneira aorgani3á$lo de um certo modo a distinguir e selecionar certos o&'etos a esta&elecer determinadas t%cnicas a construir determinados conceitos a optar por certos valores a

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organi3ar a ação e a in%rcia( C só nessa "representação do tempo histórico" que a realidade dos processos históricos % reconhec+vel e conhec+vel tem sentido e significado(

Aparentemente primeiro % a percepção das experi1ncias humanas que cria arepresentação do tempo histórico2 depois % essa representação que organi3a a percepção das

experi1ncias humanas( )as não % tão simples pois a própria percepção só se dá 'á no interior de uma representação do tempo sem a qual nenhuma "ordem" ou "forma" ou "intensidade" ou"ritmo" poderia ser perce&ida( A representação do tempo histórico % a condição subjetiva dohistoriador e da sua sociedade so& a qual todas as experi1ncias humanas podem se tornar intelig+veis( A história efetiva se reali3a segundo certas representações da temporalidade( A percepção das experi1ncias humanas não % 'amais direta imediata e muda mas semprearticulada por uma "representação" por um sa&er sim&ólico( ! "tempo histórico enquanto tal"em si % uma a&stração( le só existe em relação a uma %poca histórica determinada e a umaconstrução sim&ólica determinada( A vida "enquanto tal" % tam&%m uma a&stração( Arepresentação do tempo histórico % anterior experi1ncia da historicidade( Quando se vive e seage fa3$se opções por valores i(%( por uma certa periodi3ação por uma certa direção por um

certo passado e um certo futuro por um determinado "modo de durar"( Quando se vive essaexperi1ncia pressupõe 'á uma representação anterior de uma linha temporal $ circular linearc+clica espiral helicoidal ramificada estrutural ou uma com&inação delas( 4Eeis 677F&9

-ortanto não se tem um "tempo histórico" ahistórico definido por uma teoriadefinitiva( Bão se tem o "tempo histórico enquanto tal" mas um "tempo histórico do qual sefala"( ! tempo histórico não se dá ao conceito teoria mas a uma "representação histórica"(.á representações históricas do tempo histórico( le não % exterior ao su'eito e história mas% a construção de su'eitos históricos em um dado momento da história efetiva( Asrepresentações do tempo histórico revelam as mudanças da sociedade e a sua eficácia dependede sua capacidade para acompanhar os desdo&ramentos dessa sociedade( /oda renovação emhistória toda "escola histórica" reali3a uma mudança profunda na representação do tempohistórico apoiadas em mudanças ocorridas na história efetiva( C esta reconstrução que permite a renovação teórico$metodológica da história pois % a partir dela que se distinguemnovos o&'etos que se formulam novos pro&lemas e se reformulam os antigos que seconstróem novas a&ordagens( sta reconstrução oferece tam&%m uma nova visão do futurouma reorientação da ação e dos seus valores i(%( oferece uma "utopia"(

nfim esta % a nossa hipótese em sua terceira formulação so&re as relações entretempo histórico e conhecimento histórico: o conhecimento histórico só se renova uma "novahistória" só aparece quando se reali3a uma mudança significativa na representação do tempohistórico( .eródoto só pode fundar a história quando se separou do atemporal e valori3ouepistemologicamente as mudanças do su&lunar( ! tempo histórico portanto parece$nos o

centro e a &ase de toda reflexão so&re a pesquisa histórica( @e se muda a perspectiva so&re essecentro e &ase uma outra história emerge com novos historiadores novos o&'etos novas fontesnovas t%cnicas e %&a #o*a %$o('a(

finalmente em decorr1ncia dessa hipótese geral quanto aos Annales eles sórepresentaram uma renovação teórico$metodológica e "utópica" em relação históriatradicional porque teriam produ3ido so& a influ1ncia das ci1ncias sociais uma "novarepresentação do tempo histórico"( 4Eeis 677Fa9

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- O Tempo Histórico .os A##aes

A principal proposta do programa dos Annales foi a interdisciplinaridade e as suas tr1sgerações apesar de suas diverg1ncias e descontinuidades fi3eram uma história so& a

influ1ncia das ci1ncias sociais( ntretanto esta aliança entre história e ci1ncias sociais seriauma proposta inexequ+vel se não fosse sustentada por um novo olhar temporal( stainterdisciplinaridade seria incompat+vel com a temporalidade "acontecimental" do *nicosingular e irrepet+vel linear progressista e teleológica da dita "história tradicional"( Bósconsideramos portanto que não foi propriamente a interdisciplinaridade a grande mudançaepistemológica produ3ida pelos Annales mas aquilo que a tornou poss+vel: a novarepresentação do tempo( #riaram$se novas "condições su&'etivas" para o conhecimentohistórico( ! historiador dos Annales a&ordou a história com um "novo olhar" i(%( com umanova representação do tempo histórico( Ao se aproximarem das ci1ncias sociais os Annalesreali3aram uma "revolução epistemológica" quanto ao conceito de tempo histórico ou melhoruma renovação profunda uma mudança su&stancial na forma de sua compreensão mas sem

 perder a sua ligação com o pro'eto inaugural de .eródoto: "conhecer as mudanças humanas notempo"( ssa aproximação da história com as ci1ncias sociais teria se dado em > momentos:6H9 a história tomou conhecimento das ci1ncias sociais que emergiam da sua percepção domundo humano com uma outra temporalidade2 DH9 os novos historiadores constataram aimpossi&ilidade da cooperação interdisciplinar se mantivessem a mesma representação dotempo histórico tradicional2 >H9 os novos historiadores fi3eram um com&ate no interior dadisciplina histórica por uma nova representação do tempo histórico que tornasse poss+vel acola&oração com as ci1ncias sociais( A prática da interdisciplinaridade exigiu uma outrarepresentação do tempo dos homens( 4Iraudel 6772 IurguiJre 67K79

As ci1ncias sociais ofereceram no in+cio do s%culo LL uma a&ordagem do social quecompetirá com a a&ordagem histórica tradicional( .averá uma tensão entre a milenar história eas novas ci1ncias sociais( -arece$nos que o epicentro desse estremecimento estaria narepresentação do tempo humano( Ba perspectiva das ci1ncias sociais a a&ordagem gen%ticasucessiva idiográfica da história tradicional era inadequada para oferecer uma compreensãosatisfatória da história do s%culo LL( las não t1m em grande conta o tempo calendário( temem a aceleração da história efetiva produ3ida pela influ1ncia metaf+sica da filosofia so&re ahistória$conhecimento( As ci1ncias sociais se opõem visão da história como a construçãolinear e acelerada do futuro da utopia da li&erdade pois para elas uma a&ordagemespeculativa da história % inválida e perigosa( A organi3ação da vida humana a partir de umfinal tecnicamente inantecipável não % epistemológica e politicamente confiável( ! sentido doseventos não se dá a um conhecimento especulativo( Bão se pode propor ações totais eimediatas a partir de uma consideração especulativa do final da história( #ontra a a&ordagem

teleológica as ci1ncias sociais preferirão uma "a&ordagem estrutural" do tempo histórico(4IurguiJre 67K62 -omian 67882 @imiand 67M9

#om o conceito de "estrutura social" as ci1ncias sociais querem su&meter a sociedade representação do tempo da f+sica e da matemática( las &uscam encontrar no mundo humanoregularidades esta&ilidades reversi&ilidades( ! tempo das ci1ncias sociais não se refere sucessão mudança assimetria passado;futuro mas tende a a&oli$las em umasimultaneidade estrutural o que era at% então impensável e imposs+vel para o mundo humano(

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C como se as ci1ncias sociais quisessem finalmente atender exig1ncia grega do"conhecimento do universal" como crit%rio do conhecimento epistemologicamente "s%rio"cient+fico( As ci1ncias sociais querem como que a refundação do conhecimento do mundohumano atendendo s exig1ncias epistemológicas do pensamento anti$histórico( Bo s%c( 0 as

ci1ncias sociais estariam mais para .omero e Aristóteles do que para .eródoto( /alve3/uc+dides pudesse então ser visto como um dos seus precursores pois ele tam&%m pretendia produ3ir uma história diferente da de .eródoto( 4@imiand 67M9

#omo refundadoras do conhecimento do mundo humano as ci1ncias sociais quiseramsu&stituir a milenar história( -ara elas o conhecimento das mudanças humanas não só %imposs+vel como irrelevante ou melhor "pouco s%rio"( !s sociólogos durGheimianos foramagressivos em relação "história histori3ante"( O%vi$@trauss % expl+cito quanto precariedadede um "conhecimento das mudanças humanas"( -ara eles tam&%m no mundo humano otempo deve ser suprimido pela &usca do regular do cont+nuo do estável do supralunar( Asci1ncias sociais desconsideram a sucessão dos eventos enfati3am menos as mudançasqualitativas e valori3am as transformações estruturais que são como "movimentos naturais"

na sociedade( Iuscam na sociedade o que a f+sica encontra na nature3a: uniformidadereversi&ilidade homogeneidade quantidade perman1ncia( ! tempo das ci1ncias sociais %anti$sucessão $ ele enfati3a a simultaneidade a reversi&ilidade a interdepend1ncia dos eventoshumanos( C um tempo anPnimo o&'etivo quantitativo coletivo endurecido que su&mete omundo dos homens a uma lógica matemática( sse olhar temporal das ci1ncias sociais revela asua orientação conservadora em qualquer de suas tend1ncias( @eu o&'etivo % dominar o eventoque representa a mudança a insta&ilidade do tempo humano( las surgiram contra aaceleração do tempo produ3ida pela modernidade revolucionária contra a mudança &rusca &arulhenta nervosa contra o sacrif+cio do presente pela implantação nele do futuro e v1m propor a desaceleração do tempo das sociedades( las querem tornar mais lenta ou at% apagar a sucessão e propõem uma "simultaneidade atrasada" dos eventos: querem tornar o presente

mais contemporneo;solidário do passado do que do futuro( @eu o&'etivo % o de controlar amudança social tornando$a segura e previs+vel gradual e harmoniosa e evitar as aceleraçõesrevolucionárias que que&ram as estruturas sociais e nada oferecem( 4RosellecG 677M2 O%vi$@trauss 67K6 e 678>9

! conceito de "estrutura social" desvitali3a o evento desfa3 a mudança su&stancialque revela mais intensamente a assimetria entre passado e futuro( !s estruturalistas maisradicais at% eliminam o tempo histórico e a consideração da mudança da passagem do passadoao futuro( A análise estrutural da sociedade então recupera a inspiração mitológica $ a dotempo a&olido em um eterno presente( !s eventos$choques são amortecidos quando integradosna estrutura social como elementos que a transformam mas não a mudam( ! presente se ligaao passado e o passado ao presente de tal forma que o passado se torna presente e o presente

se imuni3a contra a sua sorte que % tornar$se passado( -resente e passado ligados a&ole$se asua diferença e o que esta representa: a temporalidade( A perspectiva estrutural das ci1nciassociais % "grega" i(% anti$histórica: recusa a sucessão o vivido o evento o singular enfim amudança e propõe a simultaneidade o sistema o modelo o formal a a&stração( 4O%vi$@trauss 67K6 e 678>2 Ioudon 6779

is a argumentação so&re o tempo histórico da lingu+stica da sociologia daantropologia da demografia da geografia humana da economia qual os Annales das >

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gerações se mostraram sens+veis( para tornarem reali3ável a "troca de serviços"interdisciplinar eles empreenderam a sua grande renovação reconstruindo a representação dotempo histórico da disciplina histórica( @o& a influ1ncia das ci1ncias sociais a história antesso& a influ1ncia metaf+sica da filosofia e da teologia estudo exclusivo da sucessão dos

eventos da mudança da assimetria passado;futuro com um final universal conhecidoantecipadamente será o&rigada a incluir em sua representação do tempo a perman1ncia asimultaneidade( )as mesmo aceitando essa influ1ncia das ci1ncias sociais os Annalesmant1m o pro'eto de .eródoto: "descrever e analisar a mudança"( A estruturação da mudança para o historiador % uma forma de torná$la mais vis+vel mais analisável controlável econhec+vel( !s Annales e Iraudel em particular construiram o conceito de "longa duração"que ao mesmo tempo se inspira e se diferencia do conceito de "estrutura social" das ci1nciassociais( A "longa duração" % a tradução para a linguagem temporal dos historiadores daestrutura atemporal dos sociólogos lingu+stas e antropólogos( Ba perspectiva da longaduração o tempo histórico % representado como "dial%tica da duração"( !s eventos sãoinseridos em uma ordem não sucessiva simultnea( A relação diferencial entre

 passado;presente e futuro se enfraquece i( %( a representação sucessiva do tempo histórico %enquadrada por uma representação simultnea( As "mudanças humanas" endurecem$sedesaceleram$se( /ornam$se comparáveis aos movimentos naturais e incorporam as qualidadesdesses: homogeneidade reversi&ilidade regularidade medida( 4Iraudel 6772 0ovelle 678D2-omian 67889

A&ordando o mundo humano com esta concepção do tempo histórico os Annalesmant1m uma postura moderni3adora mas mais cautelosa( les se oporão assim como asci1ncias sociais a todas as propostas de mudanças profundas e glo&ais da sociedade a partir de uma visão especulativa do futuro( !s Annales constatam que "agir" 4 faire lhistoire9 e"conhecer" 4 faire de lhistoire9 são atividades distintas que não se reco&rem( ! conhecimentonão narra o vivido tal como ele se passou não % a sua consci1ncia mas diferencia$se dele( !

conhecimento supõe distinção o&'etivação do vivido( A realidade histórica não % transparente(la resiste análise e ação( Bem a sua análise e nem a intervenção podem ser reali3ados deforma especulativa( Antes de se pretender agir so&re a realidade alterando$a provocandomudanças forçando$a a passar ao futuro % preciso conhecer as suas resist1ncias perce&1$lacomo um "nó$górdio" de passado e presente( esatá$lo com a espada porque de acordo com aEa3ão porque se conhece especulativamente o seu sentido % produ3ir o drama a trag%dia(4Eeis 677Fa e 677c9

#omo um "nó$górdio$passado$presente" a sociedade será considerada como coisa!

 perman"ncia! continuidade inerte! repetição constante do mesmo! tend"ncia # rotina e ao

repouso do cotidiano( @em utopias finais sem Ea3ão a&soluta final que a o&rigue a acelerar$se( ste nó$passado;presente deverá ser desatado como se desmonta uma &om&a i(%( de forma

lenta gradual t%cnica informada serena e prudente( @enão o drama o &arulho e furor doevento( Bão se pode optar pelo futuro 'á pois este % desconhecido e inantecipável( -retender implantar esse desconhecido no presente % sacrificar o presente e o passado % fa3er o horror da iniciativa sem peso sem gravidade e densidade histórica(

ntretanto se os Annales estruturam a mudança eles não a a&olem( A mudança % preservada em uma "dial%tica da duração" i(%( ela % dialeticamente superada( essa formaeles continuam o pro'eto de .eródoto e continuam historiadores contra a atemporalidade da

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estrutura social( )as enquadrada pela longa duração a mudança % limitada e não tende ruptura descontrolada( A mudança sempre retorna ao chão do mundo conhecido e %incorporada( Quando finalmente após s%culos de esta&ilidade a mudança rompe com aesta&ilidade estrutural ela constitui uma nova esta&ilidade estrutural( Bo interior das

estruturas os movimentos c+clicos se compensam e se limitam criando a reversi&ilidade acontinuidade( ! evento pode at% ter repercussões su&stanciais mas sem romper com aestrutura que o sustenta e que o torna poss+vel( ntre as estruturas aparece a mudança profunda que altera o mundo histórico at% então esta&elecido e o tempo volta a ser devir esucessão irreversi&ilidade descontinuidade( ntre as estruturas não há v+nculo evolutivo progressivo s+ntese qualitativa teleologia( As estruturas se relacionam com uma lógica daalteridade da diferença( ! tempo estrutural dos Annales % uma "desaceleração cautelosa" umareação aceleração revolucionária &aseada em um conhecimento especulativo do sentido dahistória( 4Iraudel 6772 RosellecG 677M9

-ara as ci1ncias sociais a história não pode ser conhecida e so&retudo não pode ser  produ3ida a partir de uma compreensão especulativa e revolucionária do tempo histórico( @o&

a influ1ncia especulativa da filosofia a história se tornara ameaçadora: nacionalismosracismos imperialismos etnocentrismos xenofo&ias e a guerra era o que emergia e semnenhum controle em&ora se 'ustificassem filosoficamente( Bão se poderia mais pensar otempo histórico de modo teleológico um tempo utópico linear cont+nuo irrevers+vel e progressivo em direção Ea3ão( ra 'á o momento de se opor ameaça da destruição planetária por essa concepção metaf+sica do tempo histórico( -ara controlar esse tempoacelerado a história deveria se tornar outra que a tradicional por uma revisão radical da suaconcepção do tempo histórico( !s Annales deram ra3ão aos durGheimianos e geógrafos contraa história tradicional e empreenderam a reconstrução da história e do seu tempo(

!s principais autores dos Annales t1m perspectivas diferentes so&re a renovação que produ3iram( ! que os reuniria a todos <e&vre Iloch Iraudel e os representantes da >Sgeração será a perspectiva da lon$a duração! a tentativa de superação do evento! a partir da

influ"ncia das ci"ncias sociais que permitiu a interdisciplinaridade( )as dentro dessa perspectiva comum eles t1m diferentes concepções da longa duração e da sua relação com oevento( ssa diverg1ncia interna longe de ser um "pro&lema teórico" revela a complexidadedo movimento dos Annales a sua rique3a a sua a&ertura s ci1ncias sociais e história efetivado s%culo LL a sua recusa de sistemas e princ+pios a priori dogmáticos atemporais(

/ - Os A##aes e o Conhecimento Histórico: A Re#o*a!+o Te)r',o-Me$o.o)0',a .aH's$)r'a

Ao incorporar a consideração da simultaneidade que % a dominação da assimetria entre passado e futuro a história tornou$se outra que a tradicional( la mudou os seus o&'etosmudou os seus historiadores mudou os seus o&'etivos mudaram$se os seus pro&lemasdisciplinares( Apareceu o que antes parecia não existir quando a história era dominada por uma representação do tempo histórico sucessiva e teleológica $ um mundo histórico maisdurável mais estruturado mais resistente s mudanças: as estruturas econPmico$sociais$mentais( Besse mundo revelado pela inclusão da consideração da perman1ncia no olhar do

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historiador as ações humanas são perce&idas como coletivas inconscientes anPnimasrepetitivas2 a documentação % involuntária massiva menos pol+tica e &iográfica( !conhecimento histórico pode incluir a quantidade o conceito a análise a pro&lemati3ação pois não trata mais de um mundo histórico volátil sustentado e suspenso por um final

especulativamente antecipado mas de um mundo histórico estruturado durável lento( Ahistória portanto se renovou teórico$metodologicamente de forma profunda partir dareconstrução do tempo histórico pelos Annales(

m primeiro lugar houve uma revisão e reconstrução do conceito de "homem" de"humanidade" de "história"( -ara os Annales o homem não % só su'eito consciente livre potente criador da história2 ele % tam&%m e em maior medida resultado o&'eto feito pelahistória( Bo tempo histórico dos Annales há uma consci1ncia opaca inconsciente que possuialgumas caracter+sticas do tempo natural: constncia regularidade repetição cicloshomogeneidade quantidade perman1ncia e reversi&ilidade( Ao formularem o conceito de"longa duração" inspirados no conceito de "estrutura social" das ci1ncias sociais oshistoriadores dos Annales reali3aram uma novidade epistemológica: introdu3iram a

a&ordagem da repetição da perman1ncia em um conhecimento antes limitado irreversi&ilidade e mudança( #once&er a simultaneidade em história % pensar em "sucessãosem mudança" em "repetição"( !s gestos sucessivos por serem uma repetição perdem ascaracter+sticas do "evento": irreversi&ilidade novidade mudança( #ria$se uma perman1nciaso&re a qual se articulam mudanças mais ou menos lentas( 4Iraudel 6772 0ovelle 678D2-omian 67889

! que era impensável em história a repetição a perman1ncia a quantificação demovimentos revers+veis e regulares a longa duração enfim torna$se a direção principal doolhar do historiador( ,ma outra história começa a ser pensada o que refletirá so&re a históriaque se produ3( ,m tempo histórico desacelerado i(% que inclui a simultaneidade criará umaação histórica plane'ada cautelosa com a sensi&ilidade da resist1ncia dos processos o&'etivosaos pro'etos su&'etivos( A ação não terá nenhum compromisso com um futuro utópicoconforme Ea3ão mas com um presente utópico com as suas crises e tensões so& controle( !historiador procurará constatar e reconstruir articulações de durações: mais lentas mais oumenos lentas mais ou menos rápidas mais rápidas mais ou menos &reves &reves( A históriase desacelera i(% se estrutura( /orna$se revers+vel simultaneidade : sucessão sem mudança!

repetição( Bem por isso o homem deixou de ser su'eito e de fa3er a história( le apenas tomouconhecimento do seu lado feito resultado inconsciente o que significou a ampliação daconsci1ncia e do seu poder de construção da história( ,ma consci1ncia que se sa&e tam&%minconsciente opaca não transparente % paradoxalmente uma consci1ncia ampliada( !sAnnales não a&andonaram o estudo da mudança( se incluiram em sua perspectiva a perman1ncia foi para melhor conhecer e controlar as mudanças humanas no tempo( 4Eeis

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#om essa nova visão do homem e da história sustentada pela sua inovadorareconstrução do tempo histórico um "outro homem" aparece na pesquisa histórica(  % história sofreu uma modificação profunda em seu campo de análise( ominada por um tempoteleológico a história tradicional enfati3ava a "história acontecimental": o homem aparecia nahistória pol+tica das id%ias na &iografia dos grandes l+deres( A história tradicional era um"olhar partir de cima": psicológica elitista &iográfica qualitativa visava o particular o

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individual e o singular era legitimadora partidária comemorativa uma narrativa 'ustificadora do poder presente( !s historiadores dos Annales darão 1nfase região "nãoacontecimental" da história: ao mundo mais durável mais estruturado mais resistente mudança da vida material econPmico$social e da vida mental( Besse campo econPmico$

social$mental o tempo histórico se revela como perman1ncia constncia resist1ncianecessidade social( @ão ações coletivas massivas repetições dos mesmos gestos efica3es de produção distri&uição troca e consumo comportamentos inconscientes normas regrass+m&olos e ordens sociais( 4<uret 678D9

!s homens do campo econPmico$social$mental permitem 4deles9 uma a&ordagemquantificada anal+tica e pro&lemati3ante( A história não será a narrativa de povos e indiv+duoslivres produtores de eventos grandiosos que fa3em avançar o esp+rito universal em direção li&erdade( la será a pesquisa análise teoria e cálculo limitados em sua validade defenPmenos necessários repetitivos e massivos que limitam a ação livre individual( .áfundamentalmente uma recusa da história pol+tica das relações exteriores dos stadosnacionais suas guerras seus l+deres seus imperialismos( Ba agitada realidade europ%ia do

s%culo LL as preocupações deixam de ser de ordem pol+tica e passam a ser de ordemeconPmico$social $ uma questão de massas e quantidade de produção e escasse3 deesta&ilidade e cr+se de controle e pacificação das forças desestruturadoras( !s Annalesenfati3arão os condicionamentos econPmico$sociais das ações e decisões individuais asociedade glo&al e as massas as condições materiais e não os pro'etos individuais su&'etivos eideológicos( Tnfluenciada pelas ci1ncias sociais a história visaria antes aquilo que os homensnão sa&em que fa3em e não os seus planos declarados suas causas edificantes suas crençasli&ertárias( Aliando$se s ci1ncias sociais a história renovada dos Annales encontra um novocampo de pesquisa amplo e diversificado( 4<uret 678D2 0ovelle 678D9

-ara a&ordar essas realidades humanas a história teve de se renovar quanto #s

técnicas e métodos( % renovação dos objetos e&i$irá a mudança no conceito de fonte histórica(A documentação será agora relativa ao campo econPmico$social$mental: % massiva serialrevelando o duradouro a longa duração( !s documentos se referem vida cotidiana dasmassas anPnimas sua vida produtiva s suas crenças coletivas( !s documentos não são maisof+cios cartas editais textos expl+citos so&re a intenção do su'eito mas listas de peços desalários s%ries de certidões de &atismo ó&ito casamento nascimento fontes notariaiscontratos testamentos inventários( A documentação massiva e involuntária % prioritária emrelação aos documentos voluntários e oficiais( /odos os meios são tentados para se vencer aslacunas e sil1ncios das fontes( !s Annales foram engenhosos para inventar reinventar oureciclar fontes históricas( les usavam escritos de todos os tipos2 psicológicos oraisestat+sticos plásticos musicais literários po%ticos religiosos( les utili3aram de maneiraousada e inovadora a documentação e as t%cnicas das diversas ci1ncias sociais: da economia:

arquivos &ancários de empresa &alanços comerciais documentos portuários documentosfiscais alfandegários2 da demo$rafia: registros paroquiais civis recenseamentos2 daantropolo$ia: os cultos os monumentos os há&itos de linguagem os livros sagrados aiconografia os lugares sagrados as rel+quias os gestos e as palavras miraculosas a medicina popular as narrativas orais os processos da inquisição os testamentos o voca&ulário ofolclore os rituais2 do direito: arquivos 'udiciários processos criminais arquivos eleitoraiscorrespond1ncias oficiais a legislação2 da arqueolo$ia eles continuarão a utili3ar ascermicas tum&as fósseis paisagens con'untos arquiteturais inscrições moedas( As t%cnicas

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 para o tratamento dessas fontes: teorias econPmico$sociais a informática a reconstituição defam+lias a análise estat+stica modelos inventários a lexicografia a fotografia a%rea afenologia a dendrocronologia car&ono 6F a genealogia o microfilme o gravador a filmagemetc( 4osse 678K2 IurGe 677M2 Oe EoU Oadurie 67K>9

! arquivo do historiador se renovou e se diversificou( as t%cnicas de processamentose tornaram mais sofisticadas e complexas( Agora a história poderá ser feita com todos osdocumentos que são vest+gio da passagem do homem( ! historiador tem como tarefa vencer oesquecimento preencher os sil1ncios recuperar as palavras a expressão vencida pelo tempo( Bão % poss+vel mais dividir a história em pr%$história e história &aseando$se na inexist1ncia dedocumentos escritos na pr%( ! historiador que estuda a difusão de uma cermica neol+ticasustenta <e&vre fa3 história exatamente como aquele que tra&alha com uma fonte estat+sticamoderna( 4<e&vre 67N9

ssa a&ertura e ampliação do campo dos o&'etos das fontes e t%cnicas históricas estãoassociadas inovadora proposta teórica da história'problema( ! historiador não estaria maissu&metido tirania da heur+stica( @e para Oanglois e @eigno&os "sem documentos não háhistória" para os Annales "sem pro&lema não há história"( C o pro&lema e não adocumentação que está na origem da pesquisa i(% sem um "su'eito que pesquisa" sem ohistoriador que procura respostas para questões &em formuladas não há documentação e nãohá história( C o pro&lema posto que dará a direção para o acesso e construção do corpusnecessário verificação das hipóteses que ele terá suscitado( A história$pro&lema devolve aohistoriador a li&erdade na exploração do material emp+rico( ! fato histórico não está presente"&ruto" na documentação( ! historiador não % um colecionador e empilhador de fatos( le %um construtor recortador leitor e int%rprete de processos históricos( ! fato histórico não %"dado" assim como o passado não % "dado"( ! passado e o fato histórico "dados" nãoengendram o historiador e a história mas % o historiador em seu presente que interroga o passado e constrói os dados necessários prova de suas hipóteses( ! historiador constrói osseus fatos e não os rece&e automática e passivamente dos documentos( A realidade do passadonão % fixa e definitiva( la seria como uma "imagem de holograma": dependendo do ngulo eda incid1ncia da lu3 a imagem do passado muda( "Angulo" e "incid1ncia da lu3" significamque % o su'eito com seus pro&lemas e orientação teórica que "fa3 aparecer" uma nova imagemdo passado( A realidade histórica % apreendida pelo su'eito não atrav%s de a prioris intuitivosinverificáveis e incomunicáveis mas atrav%s de pro&lemas e hipóteses atrav%s de conceitosque devem ser verificados pela documentação rigorosamente criticada( 40ovelle 678D2 <uret678D9

-ortanto a grande renovação teórica propiciada pela reconstrução do tempo histórico pelos Annales foi a história$pro&lema( la veio se opor ao caráter narrativo da história

tradicional( la veio reconhecer a impossi&ilidade de se "narrar os fatos tal como se passaram"( Eeconhece$se que não há história sem teoria( A pesquisa histórica % a verificaçãode respostas$hipóteses poss+veis a pro&lemas postos no in+cio( Bela o historiador sa&e queescolhe seus o&'etos no passado e os interroga a partir do presente( le explicita a suaela&oração conceitual pois não pretende se apagar na pesquisa em nome da o&'etividade( Aocontrário exatamente para ser mais o&'etivo o historiador "aparece e confessa" seus pressupostos e conceitos seus pro&lemas e hipóteses seus documentos e suas t%cnicas e osmodos como as utili3ou e so&retudo a partir de que lugar social e institucional ele fala( !

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historiador escolhe seleciona interroga conceitua analisa sinteti3a conclui( A partir da posição do pro&lema o historiador distri&ui as suas fontes atri&ui$lhes sentido e organi3a ass%ries de dados que ele terá constru+do( ! texto histórico % o resultado de uma expl+cita e totalconstrução teórica e não o resultado de uma narração o&'etivista de um processo exterior 

organi3ado em si pelo final( A organi3ação da pesquisa % feita pelo pro&lema que a suscitou2este vai guiar na seleção dos documentos na seleção e construção das s%ries de eventosrelevantes para a construção de hipóteses( Eompendo com a narração a história tornou$se umaempresa teórica que segue o caminho de toda ci1ncia: põe pro&lemas e levanta hipóteses edemonstra$as com uma documentação &em criticada e com uma argumentação conceitualrigorosa( la não % mais orientada por valores trans$históricos ou uma narração da chegadafinal e triunfal da Ea3ão( 4<uret 678D2 )assicotte 67K69

<e&vre define essa história intelectualista esta história teórica como um estudo"cientificamente condu3ido"( ssa história conceitual pro&lemati3ante anal+tica % umainquietação permanente que repõe em causa de forma racional e metódica as "verdadestradicionais"( ssa nova história rea&re constantemente o passado ao inv%s de reconstitui$lo

definitivamente( la o retoma o remane'a o rediscute estimulada pelas experi1ncias do presente que % sempre novo e exige para se pensar a rea&ertura constante do passado(4<e&vre 67N9

A história condu3ida por pro&lemas e hipóteses por construções &em ela&oradas eexpl+citas representou a mais profunda renovação teórica da história( ! historiador mudou de posição e de disposição: se antes ele era proi&ido em tese de aparecer na pesquisa o que %uma interdição imposs+vel de ser cumprida agora ele % o&rigado a "aparecer" e a explicitar asua estrutura teórica documental e t%cnica e o seu lugar social e institucional( #omo empresaracional de pesquisa a história pode atingir algum grau de "intersu&'etividade"( A comunidadedos historiadores % capa3 de acompanhar e controlar as pesquisas históricas m*ltiplas pois foi posta a par dos pressupostos dos documentos e seus meios de processamento sa&e o que o pesquisador quis demonstrar e onde ele pode chegar( A história deixou de ser uma empresaintuitiva fundamentada em a prioris indemonstráveis e passou a ser "comunicável" criando$se assim as condições de uma "intersu&'etividade"( )esmo na discordncia dos pontos devista e dos resultados das pesquisas % poss+vel o diálogo entre os pesquisadores pois cada umsa&e o que o outro pretendia e o que ele conseguiu ou não conseguiu e o que ele deveria fa3er  para conseguir o que queria ou o que o impediu que mesmo atingindo o seu o&'etivo seusresultados fossem divergentes ao de outras pesquisas( ,m estudioso norte$americano deIraudel V(.(.exter considera a história$pro&lema próxima da matemática $ ela tem aelegncia de uma demonstraçãoW 4.exter 67KD9

A possi&ilidade da história$pro&lema liga$se estreitamente reconstrução do tempo

histórico produ3ida pelos Annales( ssa inovação teórica depende de uma anterior reconstrução da representação do tempo histórico( A representação teleológica do tempohistórico % compat+vel com a história$narrativa e incompat+vel com a história$pro&lema( (rimeiro não sendo mais movida pelo fim mas articulação de perman1ncia e mudança a's$)r'a #+o 2 &a's re(rese#$a.a ,o&o %& (ro0resso ( A história não reali3a valorestranscendentais( la não possui um sentido;direção final antecipável( ! desdo&ramento dotempo não % uniforme linear homog1neo( .á tempos m*ltiplos o&servados nos processosmesmos e reconstru+dos pelo historiador( As sociedades e cada sociedade vivem em ritmos

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distintos e o seu presente não % centrado mas uma coexist1ncia tensa de durações m*ltiplas( !historiador reconstrói essas durações coordena$as atrav%s do tempo representado modelos econceitos( ! vivido e o seu conhecimento não se reco&rem2 eles se separam( ! tempo % umarealidade dada nos processos humanos concretos mas não pode ser apreendido em si e não

 pode ser conhecido especulativamente( Bem perce&ido imediatamente e nem antecipávelespeculativamente o tempo histórico só pode ser reconstru+do teórica e formalmente( Areconstrução não se confunde com o vivido e não o legitima( .á dois tempos: o real e o pensado o vivido e o reconstru+do( @ão esferas diferentes que dialogam e não se reco&rem enão se legitimam reciprocamente( A pesquisa histórica condu3ida por pro&lemas % uma"reconstrução temporal" que polemi3a com o passado$presente mas não chega a "reconstitui$los" tal como se passaram( ! conhecimento histórico não coincide com o seu o&'eto e nem %condu3ido por um "dever ser" final por valores( ! conhecimento histórico constrói e temati3ao seu o&'eto formula pro&lemas e hipóteses so& a influ1ncia do presente sem se referir avalores teleológicos( 4<uret 678D9

)e$undo há uma o%$ra (er'o.'3a!+o: ela % agora temática e definida pelo pro&lema a

ser tratado( As periodi3ações demográfica econPmica social lingu+stica antropológica nãosão grandes cortes na história da humanidade mas uma flutuação c+clica no interior de umaestrutura( Ba sucessão vis+vel nas durações reais o conceito as diferencia e articula( ! temporeal torna$se pensável conceitualmente( C uma periodi3ação que toma o passado em suasdurações m*ltiplas para torná$lo a&ordável e intelig+vel( 4-omian 67889

*erceiro há outra rea!+o (assa.o-(rese#$e: são diferentes que dialogam2 entre eleshá uma relação de interrogação rec+proca( ! presente não continua e nem % superior ao passado2 % "outro"( ! m%todo retrospectivo não leva o historiador &usca das "origens"( !historiador vai do presente ao passado e retorna do passado ao presente( -assado e presente sedeterminam reciprocamente( ! passado só % apreens+vel se se vai at% ele com uma pro&lemática sustentada pelo presente( ! historiador não pode ignorar o presente ao qual pertence $ deve ter a sensi&ilidade histórica do seu presente e interrogar o passado a partir dele( le fa3 o caminho do mais conhecido o presente ao menos conhecido o passado( ! presente tem um interesse vivo pelo passado: quer se compreender como continuidade ediferença em relação a ele( A história enquanto "conhecimento dos homens no tempo" une oestudo dos mortos ao dos vivos( vita$se assim a vinda mecnica do atrás para a frente e evita$se tam&%m a &usca das origens que leva a uma retrospecção infinita que excluidefinitivamente o presente da perspectiva do historiador( sse m%todo regressivo sustenta ahistória$pro&lema: temática essa história elege a partir das tensões vividas no presente ostemas que interessam a esse presente pro&lemati3ando$os e tratando$os no passado tra3endoinformações para o presente que o esclareçam so&re a sua experi1ncia vivida( 4Iloch 67KF9

 Ba história$pro&lema o historiador torna$se o "mediador de um diálogo" de um de&ateentre os homens passados cu'a presença torna$se mais viva e os homens do presente que setornam menos solitários e desprotegidos( sse diálogo promovido pelo historiador oferece aoshomens do presente uma interlocução um conforto uma melhor locali3ação de si no tempo osentido espec+fico da diferença da alteridade e da identidade( Aos homens do passado estediálogo oferece a esperança de so&reviverem sua finitude( <inalmente e estamos sempresugerindo hipóteses a reconstrução do tempo histórico pelos Annales tam&%m serve como

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todas as outras escolas históricas serviram "evasão do tempo" administração daintolerável experi1ncia da finitude( 4Eeis 677F& e 677a9

4 - "D'a2$',a .a D%ra!+o" e "E*as+o": A "U$o('a .os A##aes" - U&a I#$er(re$a!+o(oss5*e

-or que os historiadores dos Annales se deixaram influenciar pelas ci1ncias sociais ereconstruiram o tempo histórico inspirados no seu conceito de "estrutura social"? -or que atese da "estrutura social" da "longa duração" da "dial%tica da duração" da "superação doevento" pode ser formulada no s%culo LL na uropa e particularmente na <rança e o&tevetanta repercussão? Bossa hipótese: porque toda representação do tempo histórico  al%m de

sustentar um conhecimento histórico mais adequado a uma %poca al%m de propor umaconcepção do homem e da história dos o&'etos fontes t%cnicas e m%todos dos historiadoresoferece tam&%m uma "utopia" um caminho de pa3 de repouso da consci1ncia de esta&ilidadee tranquilidade de relação +ntima com a eternidade( Assim a reconstrução do tempo histórico pelos Annales al%m de promover uma renovação teórico$metodológica da história ofereceutam&%m uma nova forma de "evasão" de "administração feli3" do vivido( #omo todarepresentação do tempo a "dial%tica da duração" dos Annales oferece tam&%m uma proteçãocontra a descontinuidade contra o desconhecido contra a finitude contra a corrupçãotemporal( A dial%tica da duração % a proposta de uma "utopia social" de um modo seguro esereno de fa3er e viver a história( 4liade 6772 Xe&er 6782 Alqui% 677M9

 Bas sociedades arcaicas o mito oferecia a a&olição do tempo transcorrido pelo

reencontro com a origem pelo retorno do atual ao antes do tempo atrav%s do tempo sagradodo ritual( A filosofia grega preferia despre3ar o su&lunar caótico e contemplar o cosmossupralunar2 os cristãos v1m na dispersão dos eventos e na finitude a -resença de eus eesperam a "salvação" o retorno eternidade2 os filósofos Tluministas e revolucionários dos%culo L0TTT ao s%culo LL esperam que os homens se salvem por suas próprias mãos e aindano tempo rompendo com o passado e construindo a sociedade moral 'usta e livre conforme Ea3ão( /odas essas estrat%gias de evasão se tornaram perigosas ou frágeis no s%culo LL i(%ineficazes( A nossa hipótese % que as ci1ncias sociais e os Annales representaram uma novaforma de &usca da "salvação" i(% da esta&ilidade e harmonia utópicas( As "estrat%gias defuga" da história são diferentes mas o resultado visado % o mesmo: o controle da mudança &rusca o controle da alteridade e irreversi&ilidade pela suspensão do devir e a construção da

 perman1ncia da identidade da pa3( ,ma continuidade vem apagar o terror da dispersão e dadescontinuidade tra3ida pela sucessão dos eventos pela mudança sem controle( ! conceitode "evasão" não tem o sentido negativo de uma "fuga" desenfreada e cega mas exprime omeio criado para se fa3er face experi1ncia da temporalidade atri&uindo$lhe um sentido( Asestrat%gias de evasão se sucedem e convivem: as mais recentes não invalidam as anteriores(4Eeis 677F&2 omingues 6779

A "história estrutural" do s%culo LL tam&%m &usca satisfa3er a este dese'o de"evasão" i(% procura construir a esperança utópica( la não &uscará nem o instante eterno

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nem a reversi&ilidade circular nem a linha escatológica nem a linha utópica mas propõe aeternidade da "estrutura": uma linha longa sem vetor nem escatológica e nem utópicainterrompida no in+cio e no fim no interior da qual há repetição uma sucessão sem mudançaou com mudança revers+vel que cria a confortável aconchegante sensação de identidade de

eternidade de -resença( A "estrutura social" das ci1ncias sociais e a "longa duração" dosAnnales seriam a versão do s%culo LL da reversi&ilidade que protege contra o novo aalteridade a mudança a finitude( Tsso porque toda representação do tempo al%m de produ3ir meios de conhecer a história para dominá$la oferece tam&%m a representação do seusignificado da sua direção do seu sentido uma "utopia"(

 Bossa hipótese % que essa utopia das ci1ncias sociais e dos Annales foi constru+da porque no s%culo LL o que marcou a uropa e a <rança em particular foi a experi1ncia daderrotaW A história da uropa e da <rança no s%culo LL foi assinalada pela experi1nciadramática do grande evento: a finitudeW A história dos Annales procura organi3ar racionali3ar o inesperado o intolerável( A reconstrução do tempo histórico dos Annales encontra a suara3ão e necessidade nesse presente vivido franc1s e europeu( m Iraudel essa reconstrução se

tornou mais l*cida e complexa( <e&vre Iloch e so&retudo Iraudel pós$FN procuraramela&orar a "estranha derrota"W <oi nesse contexto de derrotas militares pol+ticas e individuaisdos chefes pol+ticos que se ela&orou o tempo histórico desacelerado e que desconfia demilitares pol+ticos e grandes indiv+duos( A aceleração moderna da história significou a produção ansiosa de eventos radical e sem limites e produ3iu o maior evento do s%culo LL: ofim da uropa como centro da grande históriaW A Ea3ão que visava a sua expressão a&solutaviu$se face face com o seu limite( sse % o evento a ser "dialeticamente superado" i(%reconstru+do organi3ado racionali3ado para que ganhasse sentido e se tornasse reconhec+vele pensável( #omo pensar e reconhecer um tal evento? is a questão a ser enfrentadaW

A aceleração da história iniciada no s%culo L0TTT com a Eevolução <rancesa e as=uerras BapolePnicas desem&ocou no s%culo LL na derrota da uropa pelo Atlntico e peloOeste( Após s%culos de dom+nio incontestável de conquista e aculturação do mundo a uropasa+a ou passava a dividir a cena central( A finitude chegou ao sp+rito A&soluto e de formaconcreta e &rutal( Quanto <rança ela conheceu os seus limites no final do s%culo LTL elaos reconheceu em 6F;68 e os teve confirmados em >7;FN( A <rança sou&e$se pela >S ve3 eramortalW -or seu turno a spanha 'á não era Tmperial e a "=eração spanhola de 6878"composta por homens como )iguel de ,namuno Angel =anivet Vos% )artine3 Eui34A3orin9 ruminava misticamente a sua derrota( 4)ann 67K69 A Alemanha e a Ttália tentaramvencer as suas próprias limitações impondo$se s pot1ncias decadentes da uropa e aos seusimp%rios( Antes de serem devastadas devastaramW @e a Tnglaterra venceu e so&reviveu % porque foi a criadora e sempre aliada do Atlntico $ ela via e era vista pelo continente comsuspeição(

 Bo s%culo LL portanto a uropa perdeu a hegemonia mundial perdeu as suas naçõesmais potentes seus imp%rios mais vastos por meio de guerras internas e externas e conheceu alei a&soluta do tempo: há um momento em que o que parecia eterno termina( quanto maisa&soluta e eterna parece ser uma realidade histórica mais violenta e &rutal precisa ser aescalada de eventos que a destrói( ! tempo aparece fero3 e indiferente( Após 67FN os grandes poderes mundiais são vários e outros( A história era conce&ida de modo mais simples quandoa uropa era o *nico centro da história( -odia$se at% pensar em um tempo universal cont+nuo

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linear em direção li&erdade a&soluta da humanidade so& a liderança da uropa( Bo s%culoLL a história tem outros centros e as suas direções são duramente negociadas( A história dos%culo LL % muito mais complexa: as revoluções sovi%tica e chinesa os movimentos deindepend1ncia das colPnias europ%ias com suas respectivas revoluções internas pelo controle

do novo poder as cr+ses do capitalismo que levaram a movimentos violentos de maior oumenor dimensão etc( ! s%culo LL foi uma torrente de eventos dramáticos que puseram fim ao poder a&soluto dos conquistadores europeus( 4osse 678K2 IurGe 677M9

@o& o terror de tais eventos &revemente evocados o tempo histórico dos Annales seela&orou e venceu( le não teria vencido se não fosse tam&%m uma estrat%gia consistente naadministração$evasão desses eventos( le venceu porque possi&ilitou aos europeusreconhecerem no dia seguinte a sua nova condição e começassem imediatamente areconstrução da sua uropa( Após FN a derrota da uropa estava consumada( ntregue a finsm*ltiplos e poderosos a aceleração do tempo que levara quele resultado dramático poderiase prosseguisse levar ao fim do próprio planeta e da humanidade( ra preciso entãodesacelerar a história v1$la de outro modo isto % desestimular a produção de eventos

so&retudo os produ3idos pela enorme força material das massas( As massas o novo poder emergente deveriam ficar fora da produção do evento( las deveriam ficar confinadas sua"vida material" sem acesso ao evento produção da história( 4<uret 678D9

! tempo histórico dos Annales % revolucionário porque rompeu com o temporevolucionário da modernidade2 eles puseram fim a uma fase de aceleração e inauguraramuma outra de desaceleração( !s maiores nomes dos Annales escreveram as suas o&ras pressionados por aqueles eventos sem notas livros prisioneiros em um campo deconcentração e com&atendo contra poderes totalitários e racistas( -irenne Iloch e Iraudelconheceram os limites da ação individual( les assistiram prisioneiros ou clandestinos aoseventos( les ela&oraram o seu tempo histórico com &ase nesse lugar isto % um lugar queconhece os limites da ação e os riscos de uma ação que não considera os seus limites $ adestruição a viol1ncia o genoc+dio( !s Annales produ3iram uma "contemplação do tempoimperioso do mundo"( istanciados força dos eventos eles tam&%m dese'aram se distanciar deles( .á uma recusa afetiva do evento próximo do dese'o m+tico e religioso da "salvação"( Asua estrat%gia de evasão do tempo histórico % distanciar$se do evento nervoso &arulhentotraumático que % a experi1ncia do limite( les o olham de longe e do alto para o veremmelhor e sentirem menos( #ontra o calor excessivo dos eventos infernal eles aspiram pa3 deuma longa duração &em material e natural( les dese'am a imo&ilidade de um tempoespaciali3ado extenso sem singularidades e intensidades eventos que mais que&ram eatormentam do que reali3am o que pretendem( les aspiram ao repouso de um tempoharmonioso harmonia constru+da pela articulação dial%tica da multiplicidade dos tempos(4Eeis 677F&9

 Bada como a derrota para alimentar a nostalgia da "vida cotidiana" daquilo$que$se$fa3ia$todos$os$dias de uma esta&ilidade próxima da nature3a da vida rotineira e previs+veldo pr%$guerra( ! tempo histórico dos Annales % uma racionali3ação da finitude umdistanciamento da mudança sem controle assustadora( C uma visão "sá&ia" da história"oriental" com um sorriso m+stico nos olhos compreendendo e aceitando a finitude( C ummomento de revisão do passado de mudança de posturas e atitudes diante de si e do outro(,ma uropa;<rança pós$colonial pós$imperial pós$Tluminista pós$moderna tem a tarefa de

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se reconstruir reinterpretando$se tomando$se como "pro&lema" e produ3indo "soluções"diferentes das tradicionais e mais efica3es( ntretanto a derrota parece ter feito &em uropaWla passou a exercer o seu novo poder de modo mais &rando mais respeitosa em suas relaçõescom o mundo que invadira conquistara e agora perdera( la está mais atenta e interessada na

"multiplicidade dos mundos históricos"( ! eurocentrismo que a alimentara e legitimara toda asua viol1ncia conquistadora e civili3adora foi posto em seus limites( errotada a uropa setornou uma liderança mais l*cida e mais afável mais a&erta ao diálogo mais sens+vel derrota alheia aos sofrimentos e decepções do outro( A uropa se a&riu alteridade aoconhecer o seu limite( !s exclu+dos do mundo ocidental os povos ditos primitivos e os povosnão$europeus em geral foram considerados e respeitados em sua alteridade em suatemporalidade singular( ! eurocentrismo chegou ao seu limite(

!s Annales procuraram refletir so&re esta nova posição descentrada da uropa nomundo tradu3indo$a em "pro&lemas" racionali3ando$a fa3endo$lhe face evitando oressentimento est%ril( les procuraram oferecer as soluções mais efica3es a essa nova situação(!s Annales fa3em a história da uropa vencida e da <rança vencida entre 6F;FN visando a sua

reconstrução( @ua história ensina a cautela a prud1ncia a necessidade de controle da mudançafe&ril descontrolada e os riscos de um conhecimento histórico especulativo su&servienteotimista legitimador cortesão dos l+deres pol+ticos( ! conhecimento histórico tem pretensõesmais t%cnicas mais o&'etivas e não pretende mais legitimar o expansionismo dos l+deres pol+ticos nacionalistas( A história quer oferecer informações o&'etivas para a reorgani3ação areconstrução da pa3( A o&ra histórica mant%m uma relação indireta com o presente$passadovivido: faire de lhistoire não % o mesmo que faire lhistoire( ! tempo da pesquisa % diferentedo tempo vivido: não pretende reconstitui$lo mas reconstrui$lo( A o&ra histórica % o resultadode operações intelectuais de corte medida quantificação numeração datação mapeamentota&elamento conceituação modeli3ação pro&lemati3ação( C um conhecimento marcado pelanão adesão pela não legitimação do vivido pela neutralidade em relação a valores(

! conhecimento histórico não quer estimular e legitimar a produção de eventos mascontrolá$los dominá$los e at% evitá$los( A pesquisa histórica considera o futuro com extremacautela evitando toda especulação aprior+stica e sistemática( ! futuro % o&'eto ainda de esperae de ação mas racional e tecnicamente informada e plane'ada( "ominar a história" %conhec1$la empiricamente e plane'á$la controlando as cr+ses os ciclos de &aixa e a fricção doseventos( /rata$se de um controle t%cnico do vivido que permite a ação segura( ! evento %su&metido a con'unturas e perman1ncias que o enquadram( A história conce&ida como"dial%tica da duração" possui "suspensão" e a&sorve o impacto dos eventos( -rocura$searticular mudança e continuidade em uma "oscilação feli3"(

A "dial%tica da duração" que funda a "utopia" dos Annales lem&ra a reflexão de

Iachelard so&re a "ritmanálise": durar bem % conhecer os seus ritmos e não se opor a eles2 %durar em sintonia com eles e entregar$se s suas flutuações(  +urar bem para os Annales %conhecer e acompanhar as ascilações do "tempo imperioso do mundo"( ! historiador procuraorgani3ar o vivido ao mesmo tempo reconhecendo as suas durações m*ltiplas e plane'ando$o(!s Annales não propõem mais o sacr+fico do presente em favor do futuro utópico( les propõem a construção de uma utopia viável no presente que seria a construção de uma"oscilação feli3" pelo reconhecimento plane'amento e controle dos eventos e con'unturas dovivido( 4Iachelard 678M9

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A metáfora de Iachelard para esclarecer as relações entre o conhecimento histórico e autopia no presente % a m*sica( @egundo ele as notas musicais são durações sonoras caóticas( Co pensamento que constitui com elas uma melodia harmoniosa( C ele que corta recorta e fa3um todo r+tmico que conforta consola oferece repouso( ! historiador dos Annales faria o

mesmo que um maestro: este correlaciona instrumentos e os fa3 se sustentaremreciprocamente e se condu3irem uns aos outros( )as sem ritmo de &ase ao qual todos serefeririam( ,ma o&ra de história dos Annales % como uma orquestra: uma ilusão decontinuidade uma duração constru+da com durações vividas m*ltiplas e divergentes( A o&ra dehistória % como uma ilusão de sentido cont+nuo( ! o&'etivo % o mesmo: sair da dispersão dadissonncia do não sentido evadir do terror do evento que aparece quando ocorre um somimposs+vel de ser articulado e de se fa3er consoar(

nfim dominados pela experi1ncia furiosa e dramática dos eventos do s%culo LL osAnnales querem oferecer uropa <rança e .umanidade que poderia ter um futuro parecido uma representação do tempo histórico que enfati3e a continuidade estrutural contra amudança ou que a&sorva em uma longa duração o evento desestruturador( -ara eles os

homens não tendem mudança não são fascinados pelo futuro pelo desconhecido( les nãoapreciam mudar( ! que eles apreciam % continuar permanecer no ser $ eles querem levar o passado ao futuro apagar a sua diferença e assimetria para evitar o atrito o &arulho a tensãoo desconforto da mudança( !s homens preferem viver em um mundo reconhec+vel sem planos reflexões e decisões inovações e fraturas( les preferem morar demorar em sua vidarotineira pac+fica eterna( A própria noção de sociedade de tempo coletivo 'á revela o esforçodos indiv+duos em criar a esta&ilidade em vencer a sua condição ef1mera( @ocial$econPmico$mental o mundo humano % sólido permanente estruturado: coeso compartilhadoinvoluntário inconsciente repetição dos mesmos gestos palavras atitudes( .á umaresist1ncia ao futuro: passado e presente se unem endurecem$se resistem ao futuro( A vidaganha datas amplas2 ela ainda muda oscila e se agita mas no interior de limites &eiradas

 &ordas molduras largas((( 4Eeis 677c9A representação do tempo histórico dos Annales como "evasão" como "utopia"

 portanto teria um triplo aspecto: % uma evasão afetiva pois dese'o de estancamento do tempode seu fluxo irrevers+vel em uma "espaciali3ação da mudança"2 % uma evasão intelectual  poisnão quer reviver coincidir reconstituir e legitimar o passado$presente vivido mas reconstrui$lo pro&lemati3ando$o distncia e neutramente para produ3ir uma intervenção segura quecontrole o evento desestruturador2 % uma evasão filosófica humana pois na experi1nciainquietante da finitude &usca algo como a "salvação" a perman1ncia no ser a -resença orepouso da consci1ncia a pa3 a eternidade(

RE6ER7NCIAS 8I8LIOGR96ICAS

AOQ,T <( ,e +ésir d-ternité. -aris : -,< 677M 46S ed(67F>9(IA#.OAE =( ,a +ialectique de la +urée. -aris : -,< 678M( 46S ed( 67NM9(IO!#.)( %polo$ie pour l/istoire ou 0étier d/istorien. -aris : A(#olin 67KF 4KS ed(9(I!,!B E( % uoi sert la notion de 2)tructure23 -aris : =allimard 678(IEA,O<( -crits sur l/istoire. -aris : <lammarion 677(

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I,E=,TE A( ".istoire dY,ne .istoire: la Baissance des Annales"( Tn:  %nnales -)C  nH(-aris : A( #olin Bov$ec;67K7($$$$$$$$$$$$( ".istoire et @tructure"( Tn: %nnales -)C  nH>( -aris : A( #olin )ai$'uin;67K6(I,ER -( *he 4rench /istorical Revolution ' *he %nnales )chool 1565785 ( #am&ridge;,R :

-olitU -ress 677M(#!OOTB=X!! E=( % 9déia de /istória. Ois&oa : -resença 6786(!)TB=,@ T( : 4io e a *rama( @ão -aulo;Ielo .ori3onte : Tluminuras;,<)= 677(!@@ <( OY.istoire en )iettes $ es "Annales" la "Bouvelle .istoire"( -aris : Oa%couverte 678K(OTA )( ,e 0;the de l-ternel Retour. -aris : =allimard 677 4<olio$ssaUs9(<I0E O( Combats pour l/istoire( -aris : A(#olin 67N(<,E/<( ,%telier de l/istoire( -aris : <lammarion 678D(.L/EV( "<(Iraudel and the ")onde Iraudelien(((" Tn:  Journal of 0odern /istor; nH F(#hicago;,@A : ,niv( #hicago -ress( dec(;67KD(.AE/!=<( Oes .istoriens =recques( Tn: I,E=,TE A( 4!rg(9 +ictionnaire des )ciences

 /istoriques. -aris : -,< 678(R!@OO#R E(  ,e 4utur (assé ' Contribution # la )emantique des *emps /istoriques(-aris : .@@ 677M(O E!Z OA,ET ( ,e *erritoire de l/istorien( -aris : =allimard 67K>(O0T$@/EA,@@ #l( "Oe /emps du )Uthe"( Tn: %nnales -)C  nH >;F( -aris : A( #olin mai$Aout 67K6($$$$$$$$$$$$$$$$( ".istoire et thnologie"( Tn: %nnales -)C  nH ( -aris : A( #olin nov$dec;678>()ABB .( ,. 4ebvre! la (ensée <ivante dun /istorien. -aris : A #olin 67K6 4#ahiers desAnnales >69)A@@T#!// =( ,/istoire'(robl=me> la 0éthode de ,.4ebvre. Que&ec;-arisT@);)aloine 67K6()!)T=OTAB! A(  (robl=mes d/istorio$raphie %ncienne et 0oderne. -aris : =allimard678>(-!)TAB R( ,:rdre du *emps( -aris : =allimard 678F($$$$$$$$$( ,/istoire des )tructures. Tn: O =!<< V( 4ir(9 Oa Bouvelle .istoire( Iruxelles :#omplexe 6788(ET@ V#( ?ouvelle /istoire e *empo /istórico > a Contribuição de 4ebvre! @loch e @raudel.

@ão -aulo ( Atica 677Fa($$$$$$$$( *empo! /istória e -vasão( #ampinas : -apirus 677Fb($$$$$$$$( % /istória! -ntre a 4ilosofia e a Ci"ncia. @ão -aulo : Atica 677a($$$$$$$$( %nnales! a Renovação da /istória( !uro -reto : ,<!- 677b($$$$$$$$( "! #onceito de /empo .istórico em Eicoeur RosellecG e Annales"( Tn: )Antese ?ova

 4ase! vol( D> nH K>( Ielo .ori3onte: OoUola 677,(ET#!,E -( *emps et Récit  4> vols(9 -aris : @euil 678>;8N(@T)TAB <( ")%thode .istorique et @cience @ociale"( Tn: %nnales -)C! nH6( -aris : A( #olinVanv$fev;67M( 46S ed( 67M> $ E%vue de @UnthJse90!0OO )( 9déolo$ies et 0entalités( -aris : )aspero 678D(XIE )( -arenthJse /h%orique: le Eefus Eeligieu du )onde ses !rientations et sesegr%s( Tn: %rchives de )ciences )ociales des Reli$ions >6e( Ann%e 6;6( -aris : #BE@ 'an$mars;678( 46S ed( 67DM9(

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