melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneusde dois equipamentos de medição...
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Melhoria de qualidade
nos processos da indústria dos pneus
Hermano Emanuel Rodrigues Maia
Dissertação de Mestrado
Orientador: Prof.ª Maria Henriqueta Sampaio da Nóvoa
Mestrado Integrado em Engenharia e Gestão Industrial
2017-07-13
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
i
À minha Mãe.
Ao meu Pai.
Aos meus Avós.
“What I want to do has no end,
since I am on the endless frontier of a branch of knowledge.”
Joseph M. Juran in John Butman, “Juran: A Lifetime of Influence”, 1997
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ii
Resumo
Numa economia que se tornou definitivamente global, caracterizada por uma crescente
competitividade de mercado e por clientes cada vez mais exigentes e com necessidades mais
específicas, a gestão da qualidade evoluiu para um paradigma em que, através do envolvimento
de todas as partes interessadas das empresas e das respetivas cadeias de abastecimento, se visa
prevenir a ocorrência de defeitos desde o momento da conceção dos produtos e ao longo de
todas as etapas dos processos produtivos. Para assegurar resultados financeiros sólidos, as
empresas procuram, no seu quotidiano, reduzir o desperdício, diminuir os custos de não
qualidade e aumentar a sua produtividade, através da melhoria contínua dos seus processos.
O Grupo Continental, sediado na Alemanha, é um dos maiores fornecedores mundiais da
indústria automóvel, sendo em Portugal que se localiza a sua fábrica mais eficiente. A
Continental Mabor - Indústria de Pneus, S.A. dedica-se à produção de pneus para veículos de
passageiros e comerciais ligeiros e encontra-se em fase de expansão, sendo crítico garantir que
o crescimento da produção não comprometa a qualidade do produto final.
Foi neste contexto que se desenvolveu o projeto de dissertação de mestrado em ambiente
empresarial que o presente documento encerra. O projeto contemplou três áreas de atuação: (i)
os controlos do processo de misturação; (ii) a análise dos sistemas de medição das
características críticas para a qualidade – o peso e a espessura – da camada calandrada; e (iii) o
desperdício gerado no processo de calandragem. A metodologia adotada para resolução dos
problemas existentes em cada área envolveu a definição concreta dos objetivos e prioridades, a
obtenção de dados através da medição, a análise da informação recolhida com recurso a técnicas
analíticas e estatísticas e, finalmente, a proposta de soluções e de ferramentas de controlo.
O Grupo Continental impôs à fábrica portuguesa a implementação de um novo conjunto de
controlos no processo de misturação. Neste projeto, foram analisados dois controlos: o controlo
da exatidão das balanças dos misturadores, com vista à definição do procedimento e do seu
impacto em termos de quebra de produção, para o que se realizou um teste piloto; e o controlo
da temperatura de paletização, que implicou a definição do método de controlo e a comparação
de dois equipamentos de medição através de modelos de regressão.
No âmbito dos sistemas de medição da camada calandrada, pretendeu-se quantificar a
variabilidade associada ao processo de medição, a fim de perceber a adequabilidade dos
sistemas existentes. Estudou-se o enviesamento e aplicaram-se testes de repetibilidade e
reprodutibilidade (R&R), os quais sugeriram que o medidor de espessura apresentava uma
precisão questionável, motivando a pesquisa de equipamentos alternativos mais robustos.
No que concerne ao desperdício do processo de calandragem, identificou-se a emenda das telas
têxteis como a principal causa de scrap. O tratamento e a análise de dados históricos, bem como
o acompanhamento in loco da produção, sugeriram a relevância do fator “máquina” e do
método de trabalho do operador do enrolamento na quantidade de desperdício produzida.
Findo o projeto, considera-se que os seus objetivos foram globalmente cumpridos: foi delineado
o procedimento de autocontrolo das balanças dos misturadores e estimado o seu impacto na
produção; o método de controlo de paletização está definido e a ferramenta construída para o
seu registo e análise está finalizada; foi elaborada uma proposta concreta de um sistema
alternativo para a medição da espessura que deverá reduzir a variabilidade associada e permitirá
uma efetiva monitorização desta característica; relativamente ao processo de calandragem, foi
formulado um conjunto de recomendações, cuja implementação permitirá reduzir o respetivo
desperdício.
Considera-se, então, que o projeto permitiu criar uma base sólida para a melhoria contínua da
qualidade, podendo as abordagens adotadas ser replicáveis nos demais processos da Continental
Mabor, de modo a reforçar a excelência e competitividade da empresa.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
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Quality Improvement in Tire Industry Processes
Abstract
In a globalized economy, characterized by increasing market competitiveness and increasingly
demanding customers with more specific needs, quality management evolved to a paradigm
that aims to prevent the occurrence of defects, from the moment of design of the products
throughout all stages of the production process, through the involvement of all corporate
departments and supply chain. To ensure sound financial results, in their daily operations,
companies seek to reduce waste, reduce costs of poor quality and increase their productivity
through continuous improvement of their processes.
Continental Group, based in Germany, is one of the world’s largest suppliers of the automotive
industry. Its most efficient plant is located in Portugal. Continental Mabor - Indústria de Pneus,
S.A. produces passenger and light truck tires (PLT) and is facing a process of expansion. This
expansion is a major challenge, since it is necessary to ensure that growth does not compromise
final product quality.
The dissertation project in a business environment presented in this document was developed
in this context. The project covered three areas: (i) the controls of the mixing process; (ii)
analysis of the measurement systems of critical-to-quality characteristics – weight and thickness
– of the calendered sheet; and (iii) the waste generated in the calendering process. The
methodology used to address the problems in each area involved the definition of the objectives
and priorities, obtaining data through measurement, analyzing the information collected using
analytical and statistical techniques and, finally, proposing solutions and control tools.
The Continental Group imposed a new set of controls of the mixing process on the Portuguese
factory. In this project, two controls were analyzed: the control of the accuracy of the mixers’
scales to define the procedure and determine its impact on production losses, for which a pilot
test was carried out; the control of the palletizing temperature, which implied the definition of
the control method and the comparison of two measurement devices through regression studies.
In what concerns the measurement systems of the calendered sheet, the goal was to quantify
the variability associated with the measurement process, to determine the suitability of the
existing systems. The bias was analyzed and repeatability and reproducibility (R&R) studies
were applied, which suggested that the thickness gauge had a questionable precision, motivating
search for alternative devices that allow the implementation of a more robust system.
Regarding the waste of the calendering process, the textile ply seam was identified as the main
cause of scrap. The analysis of historical data, as well as the on-site monitoring of production,
exposed the relevance of both the “machine” factor and the work method of the winding
operator in the amount of waste produced.
At the end of the project, it is considered that its objectives have been globally fulfilled: the
procedure of self-control of the mixers’ scales was outlined and their impact on the production
estimated; the palletizing control method was defined and documented and the tool developed
for its registration and analysis is completed; a concrete proposal was made for an alternative
thickness measurement system that should reduce the associated variability and allow an
effective monitoring of this characteristic; the scrap analysis of the calendering process allowed
to define a set of recommendations that, when implemented, will result in a reduction of waste.
It is thought that the present project has created a solid basis for continuous improvement of
quality. The adopted approaches can be applied to the other processes of Continental Mabor, in
order to reinforce its excellence and competitiveness.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
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Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço à Professora Henriqueta Nóvoa, cujo apoio e constante
disponibilidade contribuíram de forma ímpar para o desenvolvimento da dissertação que o
presente documento encerra. A serenidade com que sempre me recebeu e a sua permanente
vontade de acrescentar valor científico a esta dissertação permitiram-me enfrentar mais
facilmente os desafios do projeto e alguns momentos de insegurança naturais a um trabalho
académico tão relevante quanto este. Por tudo isto, pelo que me ensinou enquanto Professora e
Orientadora, estou-lhe profundamente grato, acalentando a esperança de que este não seja o
único projeto em que tenhamos cooperado.
Seguidamente, agradeço ao Engenheiro Rui Barbosa, o meu orientador na empresa, porque me
conferiu uma elevada autonomia de ação, sem prejuízo de ter estado sempre disponível para me
auxiliar na realização do projeto de dissertação, permitindo a adaptação dos seus objetivos ao
rigor académico que se lhe impõe.
Um sincero obrigado à Continental Mabor, que, no âmbito do programa ContiBest, tornou
possível este projeto de dissertação, tendo-me potenciado uma experiência única de
crescimento pessoal e profissional.
À Clara Costa, agradeço por me ter acolhido no Departamento de Qualidade da melhor
maneira, por se preocupar e fazer tudo ao seu alcance para melhorar a minha experiência
na empresa. Na minha memória, guardarei os momentos de maior descontração que
partilhamos com o Frederico, a quem estou também grato, por me desafiar
constantemente a conhecer melhor a fábrica e o processo produtivo.
Deixo ainda um agradecimento especial à Rosário, ao Sr. Campos, ao Daniel, ao
Gilberto, ao Luís, ao Ângelo, ao Jorge, ao Nuno, à Ana, ao Pedro, ao Sr. Martins e ao
Sr. Rui.
Mas, sendo a dissertação o culminar de um percurso universitário de cinco anos – que,
naturalmente, foi antecedido de outros doze anos de ensino – é obrigatório referir a instituição
que o tornou possível.
Agradeço à FEUP pela valiosa formação que me disponibilizou e por me ter permitido,
no último ano, transmitir aos novos estudantes, enquanto monitor do Projeto FEUP, uma
ínfima parte dos conhecimentos adquiridos, sob a supervisão da Professora Dulce Lopes
– a quem estou também muito grato.
Acrescento uma palavra de grande apreço pelos docentes do MIEGI, e em particular
pela sua Diretora, Professora Ana Camanho, que, como um todo, garantem a excelência
crescentemente reconhecida deste nosso curso.
Aos meus colegas e amigos Ana, Rita, Andreia e Nuno, que a FEUP me permitiu conhecer e
que pontuaram de forma determinante estes últimos anos, à Márcia e ao Ricardo, que estão
presentes sempre que é preciso, um fraterno obrigado.
E termino agradecendo ao meu porto seguro: a minha família.
Obrigado Mãe, por seres a minha matriz basilar de valores, por me dares liberdade para
traçar o meu próprio percurso e estares sempre ao meu lado.
Obrigado Pai, pela forma sui generis com que manifestas o teu orgulho nas minhas
conquistas.
Obrigado avô José, avó Lurdes e avó Fernanda por terdes sempre acreditado nas minhas
capacidades – infelizmente, já não conto com a vossa presença, mas procuro que tudo o
que faço vos honre e orgulhe.
Agradeço-vos, porque cada um de vós me acrescentou algo especial, que não esquecerei.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
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Índice de Conteúdos
1 Introdução .............................................................................................................................. 1 1.1 Enquadramento do projeto e motivação ................................................................................. 1 1.2 O projeto na Continental Mabor ............................................................................................. 2 1.3 Objetivos do projeto ............................................................................................................... 4 1.4 Metodologia ........................................................................................................................... 5 1.5 Estrutura da dissertação .......................................................................................................... 5
2 Enquadramento Teórico ......................................................................................................... 6 2.1 A Qualidade ........................................................................................................................... 6
2.1.1 Paradigmas da gestão da qualidade ........................................................................... 7
2.1.2 Requisitos específicos da indústria automóvel .......................................................... 8 2.2 Projetos de melhoria de qualidade.......................................................................................... 9
2.2.1 Six Sigma ................................................................................................................ 10
2.2.2 Lean Six Sigma ....................................................................................................... 12 2.3 Análise de sistemas de medição (MSA) ............................................................................... 13
2.3.1 Enviesamento e repetibilidade ................................................................................. 15
2.3.2 Repetibilidade e reprodutibilidade (R&R) .............................................................. 16 2.4 Síntese .................................................................................................................................. 19
3 Caracterização da situação atual .......................................................................................... 20 3.1 O pneu .................................................................................................................................. 20 3.2 Processo de produção de um pneu ....................................................................................... 22
3.2.1 Matérias-primas ....................................................................................................... 23
3.2.2 Misturação ............................................................................................................... 23
3.2.3 Preparação: calandragem e demais processos ......................................................... 24
3.2.4 Construção, Vulcanização e Inspeção final ............................................................. 26
3.2.5 Outras considerações sobre o processo produtivo ................................................... 27 3.3 Descrição dos problemas ...................................................................................................... 27
3.3.1 Controlos no processo de misturação ...................................................................... 27
3.3.2 Sistemas de medição da camada calandrada ........................................................... 29
3.3.3 Scrap produzido no processo de calandragem ........................................................ 31
4 Controlos no processo de misturação .................................................................................. 33 4.1 Controlo dos equipamentos de pesagem dos misturadores .................................................. 33
4.1.1 Resultados ............................................................................................................... 34
4.1.2 Conclusões .............................................................................................................. 35 4.2 Controlo da temperatura de paletização ............................................................................... 35
4.2.1 Resultados ............................................................................................................... 36
4.2.2 Conclusões .............................................................................................................. 39 4.3 Comentário ........................................................................................................................... 39
5 Sistemas de medição da camada calandrada ........................................................................ 40 5.1 Testes de enviesamento e repetibilidade .............................................................................. 40 5.2 Testes de repetibilidade e reprodutibilidade (R&R) ............................................................. 42 5.3 Conclusões e propostas de melhoria .................................................................................... 45
6 Scrap produzido no processo de calandragem ..................................................................... 47 6.1 Resultados do acompanhamento in loco da produção .......................................................... 49 6.2 Conclusões e propostas de melhoria .................................................................................... 52
7 Conclusões e perspetivas de trabalho futuro ........................................................................ 53
Referências ............................................................................................................................... 55
ANEXO A: Controlo de temperaturas nas câmaras de misturação ...................................... 59
ANEXO B: Processo de calandragem .................................................................................. 61
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ANEXO C: Controlo dos equipamentos de pesagem dos misturadores ............................... 65
ANEXO D: Controlo da temperatura de paletização ............................................................ 72
ANEXO E: Sistemas de medição da camada calandrada ..................................................... 77
ANEXO F: Scrap produzido no processo de calandragem .................................................. 79
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Siglas
AIAG Automotive Industry Action Group
ANOVA Analysis of Variance
AV Appraiser Variation
Cg, Cgk Índices de capacidade dos sistemas de medição
CoP Cost of Production (Custo de Produção)
CTQ Critical to Quality
DMADV Define, Measure, Analyze, Design and Verify (Definir, Medir, Analisar,
Desenhar e Verificar)
DMAIC Define, Measure, Analyze, Improve and Control (Definir, Medir, Analisar,
Melhorar e Controlar)
DOE Design of Experiments (Desenho de Experiências)
EV Equipment Variation
FMEA Failure Mode and Effects Analysis
IATF International Automotive Task Force
ISO International Organization for Standardization
KPIV Key Process Input Variables
KPOV Key Process Output Variables
LSS Lean Six Sigma
MS Mercado de Substituição
MSA Measurement System Analysis (Análise de Sistemas de Medição)
NDC Number of Distinct Categories
OE Original Equipment market (mercado de Equipamento Original)
PLT Passenger and Light Truck Tires (pneus para veículos de passageiros e
comerciais ligeiros)
PTR ou P/T Precision-to-tolerance Ratio
PV Part Variation
R&R Repeatability and Reproducibility (Repetibilidade e Reprodutibilidade)
SIPOC Supplier, Input, Process, Output and Customer
SPC Statistical Process Control
TQM Total Quality Management (Gestão da Qualidade Total)
TV Total Variation
VAB Valor Acrescentado Bruto
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Índice de Figuras
Figura 1 - Indicadores económico-financeiros da Continental Mabor .................................... 3
Figura 2 - Diferença entre os conceitos de exatidão e precisão ............................................ 14
Figura 3 - Elementos que constituem um pneu ..................................................................... 21
Figura 4 - Fases principais do processo de produção de um pneu ........................................ 23
Figura 5 - Esquema ilustrativo do processo de misturação ................................................... 24
Figura 6 - Linha de calandragem têxtil .................................................................................. 25
Figura 7 - Esquema ilustrativo da calandragem de material metálico ................................... 25
Figura 8 - Excerto do plano de controlo do processo de misturação ..................................... 28
Figura 9 - Procedimento de recolha de amostras da camada calandrada .............................. 30
Figura 10 - Medidor de espessura montado numa bancada de base granítica ......................... 30
Figura 11 - Exemplos de scrap produzido no processo de calandragem ................................ 31
Figura 12 - Diagrama de Pareto dos custos associados ao scrap da calandragem têxtil ......... 32
Figura 13 - Aspeto da camada calandrada na zona de emenda de telas têxteis ....................... 32
Figura 14 - Ações necessárias previamente à implementação do autocontrolo das balanças
dos misturadores ................................................................................................... 33
Figura 15 - Pontos de medição da temperatura do composto paletizado ................................ 36
Figura 16 - Cartas de controlo de valores individuais e amplitudes móveis para a
temperatura de paletização ................................................................................... 36
Figura 17 - Modelo de regressão entre as variáveis temperatura ambiente e temperatura de
paletização ............................................................................................................ 37
Figura 18 - Modelo de regressão entre as temperaturas obtidas com o termómetro de agulha
e com o pirómetro ótico ........................................................................................ 38
Figura 19 - Teste de medição do tipo 1 à balança ................................................................... 40
Figura 20 - Teste de medição do tipo 1 ao medidor de espessura ........................................... 41
Figura 21 - Procedimento adotado para aplicação do teste R&R ao medidor de espessura ... 43
Figura 22 - Teste R&R ao medidor de espessura .................................................................... 45
Figura 23 - Scrap da calandragem têxtil com origem em setup, por calandra e por equipa ... 48
Figura 24 - Scrap da calandragem têxtil com origem em setup, por estilo ............................. 48
Figura 25 - Comprimento médio da emenda, por máquina e equipa, com base na folha de
cálculo construída ................................................................................................. 49
Figura 26 - Boxplot do comprimento da emenda para cada equipa ........................................ 50
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
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Índice de Tabelas
Tabela 1 - Semelhanças e diferenças entre Six Sigma e Lean ............................................... 12
Tabela 2 - Regras de aceitação de um sistema de medição com base no PTR ...................... 18
Tabela 3 - Fatores que influenciam as características da camada calandrada ....................... 29
Tabela 4 - Tempo de execução das tarefas do autocontrolo dos equipamentos de pesagem
dos misturadores ................................................................................................... 34
Tabela 5 - Resultados do teste de repetibilidade à balança .................................................... 43
Tabela 6 - Resultados do teste R&R segundo a abordagem clássica ..................................... 44
Tabela 7 - Teste ANOVA para o estudo R&R ...................................................................... 44
Tabela 8 - Testes t e ANOVA para comparação das calandras e das respetivas equipas ...... 51
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
1
1 Introdução
No âmbito do ciclo de estudos integrado conducente ao grau de Mestre em Engenharia e Gestão
Industrial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a presente dissertação
descreve um projeto desenvolvido em ambiente empresarial – in casu, na Continental Mabor -
Indústria de Pneus, S.A. – que visou, por um lado, a avaliação e implementação de controlos
no processo de misturação e, por outro lado, uma análise do processo de calandragem focada
nos sistemas de medição das características consideradas críticas para a sua qualidade e também
no desperdício gerado.
Neste capítulo introdutório, divido em cinco subcapítulos, principia-se pela identificação do
tema do projeto, referindo-se a sua relevância para a Continental Mabor e o contexto que
motivou a sua realização. Segue-se uma apresentação mais detalhada da empresa,
caracterizando-se a sua atividade, estrutura e dimensão, como forma de retratar o ambiente em
que o projeto foi desenvolvido. Ulteriormente, são definidos os objetivos do projeto e é
formulada a metodologia adotada para alcançar os mesmos. Finalmente, é descrita, de forma
breve, a estrutura da dissertação.
1.1 Enquadramento do projeto e motivação
A indústria automóvel revela-se um palco privilegiado no que concerne à evolução da forma
como o conceito de qualidade é percecionado, o que é reconhecido por Juran e Godfrey (1999)
que afirmam que a “a palavra qualidade adquiriu um novo significado no setor automóvel”.
A crescente competitividade desta indústria, reforçada pelo fenómeno da globalização, exige,
portanto, um esforço contínuo no sentido do aumento da eficiência e da eficácia dos processos,
pelo que a aplicação de filosofias e metodologias de melhoria de qualidade pode desempenhar
um papel relevante.
É nesta conjuntura que a Continental Mabor – que está inserida no Grupo Continental, um dos
maiores fornecedores da indústria automóvel mundial – desenvolve a sua atividade de produção
de pneus. A fábrica de Lousado1 tem sido sucessivamente eleita como a melhor unidade de
produção do grupo, tanto em termos de eficiência como em termos de qualidade (Continental
2016, 15). Para tal, muito contribui o esforço persistente do Departamento de Qualidade, que
procura ativamente identificar imperfeições, descobrir e agir sobre as respetivas causas,
reduzindo o nível de scrap e os custos de não qualidade, de forma a assegurar a melhoria
contínua dos processos.
Além de existirem programas transversais e contínuos, como o ScrapAttack, que visam a
redução do nível de scrap de forma continuada, é frequente a criação de equipas
multidisciplinares (isto é, que integram colaboradores de vários departamentos) às quais são
atribuídos projetos de melhoria com objetivos específicos e um horizonte temporal predefinido.
1 “Fábrica de Lousado” é uma expressão frequentemente utilizada para referir a Continental Mabor no contexto
do Grupo Continental.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
2
A empresa encontra-se em fase de expansão, estando em curso diversos investimentos que
visam, nomeadamente, o alargamento da fábrica original e das instalações do ContiSeal2, a
construção de uma nova área de inspeção final e de uma unidade de produção de pneus agrícolas
(projeto LousAgro). Este aumento de dimensão da Continental Mabor constitui um importante
desafio, na medida em que é necessário garantir que o crescimento da produção não
comprometa a qualidade do produto final, ou seja, que o nível de scrap não aumente.
Surge, assim, neste contexto, o presente projeto de dissertação. Por um lado, pretende-se
realizar um estudo crítico dos requisitos mínimos definidos pela Central (sede da Continental
AG, em Hannover) em termos do controlo de determinadas variáveis do processo de
misturação, tendo em conta a frequência de controlo e o impacto do respetivo tempo de
execução. Por outro lado, pretende-se analisar o processo de calandragem em duas vertentes: a
primeira respeita à adequabilidade dos sistemas existentes para a medição do peso e da
espessura do output do processo (a camada calandrada), e a segunda corresponde ao desperdício
gerado no contexto da calandragem, visando-se a determinação das causas de scrap mais
relevantes e o entendimento dos fatores que as influenciam.
1.2 O projeto na Continental Mabor
A Continental Mabor – Indústria de Pneus, S.A., sediada na freguesia de Lousado do concelho
de Vila Nova de Famalicão, surgiu em 1989 como uma joint-venture entre a empresa
portuguesa Mabor – Manufatura Nacional de Borracha, S.A., com uma participação de 40% do
capital social, e a empresa alemã Continental AG, titular dos 60% remanescentes. Cerca de três
anos após a constituição da joint-venture, a investidora alemã passou a deter 100% do seu
capital, tornando-se, desde então, acionista única.
A fábrica da Mabor – Manufatura Nacional de Borracha, S.A., foi inaugurada em 1946, sendo
pioneira em Portugal em termos de produção de pneumáticos e contando com o suporte técnico
da General Tire and Rubber Company (empresa americana de manufatura de pneus)
(Continental 2017a).
A Continenal AG3 foi fundada em 1871, em Hannover, dedicando-se originalmente ao fabrico
de artefactos de borracha flexível e de pneus maciços para carruagens e bicicletas. Em 1898,
iniciou a produção de pneus lisos para automóveis, tendo, desde então, contribuído
decisivamente para o progresso técnico deste componente. Com a aquisição da Siemens VDO
Automotive AG, em 2007, passou a integrar o grupo dos cinco maiores fornecedores da
indústria automóvel (Continental 2017b). Em 2016, a empresa registou um volume de negócios
superior a 40 mil milhões de euros, estando presente em 56 países e contando com cerca de 220
mil trabalhadores (Cardoso 2017). Em Portugal, além da Continental Mabor, o Grupo
Continental controla a Continental Pneus (comercialização de pneus), a Continental - Indústria
Têxtil do Ave (produtora de telas têxteis), a Continental Lemmerz (montagem de rodas) e a
Continental Teves (fabricante de sistemas de travagem) (Larguesa 2016).
Atualmente, a Continental Mabor, que se dedica à produção de pneus para veículos de
passageiros e comerciais ligeiros (Passenger and Light Truck Tires, PLT) é a quarta maior
exportadora portuguesa (Neves 2017a), tendo encerrado o ano de 2016 com um volume de
negócios de 831 milhões de euros, um valor acrescentado bruto (VAB) de 416 milhões de euros
e um resultado líquido de 226 milhões de euros (Neves 2017b). Na Figura 1, apresenta-se um
2 Nas instalações do ContiSeal, anexas à fábrica principal, é aplicado sealant no interior de pneus vulcanizados.
Os pneus com sealant constituem uma das linhas de produtos da Continental. O sealant é uma substância viscosa
e aderente (espécie de goma), que atua como vedante, impedindo a fuga de ar aquando da ocorrência de furos.
3 Ao longo do texto da presente dissertação, a expressão “Grupo Continental” deve entender-se como sendo uma
referência à Continental AG e às suas subsidiárias (nas quais se inclui a Continental Mabor).
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
3
gráfico que retrata a evolução destes três indicadores económico-financeiros entre 2012 e 2016,
observando-se que no ano de 2016 se atingiu o valor máximo em termos de volume de negócios,
existindo uma tendência de crescimento do VAB.
Figura 1 - Indicadores económico-financeiros da Continental Mabor
No final de 2016, 1902 trabalhadores integravam o quadro permanente da Continental Mabor,
mais 108 do que no ano anterior, quando a empresa contava com 1794 colaboradores com uma
idade média de 38 anos (Continental 2016), esperando-se que os investimentos em curso
permitam a contratação de mais duas centenas de pessoas até 2018.
A fábrica labora de forma contínua, em três turnos, sendo a produção interrompida para
manutenção durante duas semanas, no verão, e quatro dias, aquando da Páscoa. Entre 1990 e
1996, a produção diária da Continental Mabor mais do que quadruplicou, passando de 5 mil
para 21 mil pneus. Em 2016, a produção anual superou os 18 milhões de pneus, sendo,
atualmente, produzidos cerca de 60 mil pneus por dia.
Os pneus produzidos destinam-se a dois mercados distintos4: o mercado do equipamento de
origem (OE), composto pelos fabricantes de automóveis, e o mercado de substituição (MS),
constituído por oficinas e lojas de venda de pneus. Em 2015, 98% da produção foi exportada,
tendo o mercado de substituição absorvido cerca de 60% dos pneus produzidos, e os custos de
não qualidade, em percentagem dos custos de produção (% CoP), foram de 1,53% (Continental
2016).
A estrutura organizacional da Continental Mabor é do tipo funcional, assentando em onze
departamentos/direções. Embora o presente projeto tenha sido formulado pelo Departamento
de Qualidade, a sua consecução implicou a colaboração com o Departamento de Engenharia, o
Departamento de Engenharia Industrial, o Departamento de Produção e o Departamento de
Apoio Técnico à Produção.
O Departamento de Qualidade, recentemente reestruturado, está organizado em quatro áreas –
Laboratórios, Clientes e Sistemas; Processos PLT; Produto e Uniformidade; Continental
4 Aquando da inspeção final, cada pneu é classificado como OE, MS ou scrap. Os fabricantes de automóveis são
os clientes mais exigentes, sendo necessário cumprir um conjunto mais vasto de requisitos, pelo que se pode
considerar que os pneus para OE são de primeira qualidade e os pneus para MS são de segunda qualidade: um
pneu pode cumprir todas as exigências legais e ser considerado apto e seguro à função a que se destina, mas, se
não verificar todos os requisitos dos fabricantes automóveis, não poderá destinar-se ao mercado OE.
796
316
187
794
347
196
759
336
182
821
410
243
831
416
226
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
Volume de Negócios Valor Acrescentado Bruto Resultado Líquido
mil
hõ
es d
e eu
ros
Indicadores económico-financeiros da Continental Mabor
2012 2013 2014 2015 2016
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
4
Commercial Specialty Tires (projeto LousAgro), ContiSeal e Armazém de Produtos Acabados
Externo –, cujas principais funções se indicam de seguida:
• Monitorizar os processos nas várias áreas, tomando ações, quando necessário, de modo
a garantir o cumprimento das especificações dos processos e produtos;
• Participar e dinamizar os diferentes grupos de análise de problemas, assegurando a
melhoria contínua dos produtos e processos de fabrico, utilizando diversas ferramentas
da qualidade;
• Planear e gerir o plano de calibrações dos dispositivos de medição;
• Realizar os ensaios de aprovação e controlo nos laboratórios;
• Desenvolver os programas de controlo estatístico do processo;
• Participar na elaboração dos planos de controlo da empresa e garantir a sua execução;
• Programar, planear e gerir o sistema de auditorias internas;
• Garantir a aplicação dos requisitos dos clientes e a sua divulgação pela organização,
gerindo as auditorias externas;
• Analisar as reclamações de clientes e promover a implementação de ações corretivas e
preventivas necessárias e adequadas.
O projeto sobre o qual incide a presente dissertação, cujos objetivos e metodologia se
descrevem nas secções seguintes, está circunscrito aos processos de misturação e calandragem,
os quais são da responsabilidade da área de Processos PLT do Departamento de Qualidade.
1.3 Objetivos do projeto
No que concerne ao processo de misturação, os objetivos do projeto são os que se resumem de
seguida:
• Identificar os requisitos impostos pela Central que não estão contemplados nos planos
de controlo da Continental Mabor;
• Definir os equipamentos de medição mais apropriados e os métodos de controlo mais
adequados, suportando a avaliação em técnicas estatísticas;
• Avaliar os recursos necessários à realização dos controlos e o impacto da sua frequência
em termos de quebra de produção.
Relativamente ao processo de calandragem, pretende-se:
• Avaliar os sistemas de medição das variáveis de qualidade (peso e espessura);
• Propor sistemas alternativos que permitam minimizar a variabilidade associada à
medição e que possibilitem reduzir o tempo associado ao registo, tratamento e análise
dos dados;
• Medir o nível de scrap produzido;
• Identificar a principal causa de scrap, em termos de quantidade e de custo, e os fatores
que a influenciam de forma mais determinante;
• Apurar se os métodos de trabalho definidos são cumpridos e estudar o impacto da sua
eventual incorreta execução no nível de scrap gerado;
• Propor ferramentas para monitorizar o scrap do processo de calandragem.
O presente projeto de dissertação contempla, então, três áreas de atuação: (i) controlos do
processo de misturação, (ii) análise dos sistemas de medição da camada calandrada e (iii)
análise do scrap da calandragem. Só a conceção ponderada e adequada dos controlos do
processo de misturação, a determinação concreta da origem da variabilidade dos sistemas de
medição das características críticas para a qualidade da camada calandrada e ainda a análise
estruturada e metódica do scrap gerado no processo de calandragem permitirão contribuir de
forma efetiva para a melhoria de qualidade destes processos.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
5
1.4 Metodologia
A fim de concretizar os objetivos elencados em 1.3, procurou-se adotar, em cada uma das três
áreas de atuação do projeto, uma abordagem inspirada na metodologia de resolução de
problemas DMAIC (Define, Measure, Analyze, Improve and Control), tendo em conta as
filosofias e técnicas revistas no capítulo 2. Assim, depois de enquadrar a atividade da empresa,
o seu produto e o respetivo processo produtivo, procedeu-se da seguinte forma:
(1) Definir concretamente os problemas existentes em cada uma das três áreas de atuação,
especificar os objetivos e estabelecer prioridades de ação (por exemplo, entre os quatro
controlos em falta no processo de misturação priorizou-se o controlo dos equipamentos
de pesagem e da temperatura de paletização, enquanto que na análise dos sistemas de
medição da camada calandrada, foram estudados apenas os sistemas de medição das
características críticas para a qualidade);
(2) Obter informação, sobretudo sobre a forma de dados quantitativos, para posterior
análise. Neste âmbito, realizou-se um teste piloto para quantificar os tempos associados
à execução das tarefas de controlo dos equipamentos de pesagem; durante um período
experimental, foram medidas as temperaturas de paletização; realizaram-se testes R&R
aos sistemas de medição da camada calandrada; e compilaram-se dados existentes nos
sistemas informáticos sobre o scrap da calandragem. Os dados foram representados,
nomeadamente, através de gráficos de dispersão e de diagramas de Pareto;
(3) Analisar os dados recolhidos, com recurso a ferramentas analíticas e estatísticas.
Recorreu-se a modelos de regressão na análise da temperatura de paletização, de modo
a definir o método de controlo mais fiável; foram identificadas as origens da
variabilidade presente nos sistemas de medição; e determinou-se a principal causa de
scrap do processo de calandragem;
(4) Com base na análise realizada, propor soluções de melhoria e conceber métodos e
ferramentas de controlo. Foi apresentada uma proposta de sistema alternativo de
medição da espessura da camada calandrada e foram construídas folhas de cálculo que
permitem registar e analisar (graficamente e através de indicadores de capacidade de
processo) a temperatura de paletização e o scrap proveniente das emendas.
1.5 Estrutura da dissertação
A presente dissertação compõe-se de sete capítulos, com as epígrafes a seguir enunciadas:
Introdução; Enquadramento Teórico; Caracterização da situação atual; Controlos no processo
de misturação; Sistemas de medição da camada calandrada; Scrap produzido no processo de
calandragem; Conclusões e perspetivas de trabalho futuro.
No capítulo 2, partindo da definição da palavra qualidade, apresenta-se uma análise breve da
literatura publicada sobre os conceitos, as metodologias e as ferramentas que se considera
estarem enquadrados no âmbito do projeto e aos quais se recorreu na consecução dos objetivos
deste.
No capítulo 3, principia-se pela apresentação da estrutura de um pneu, seguindo-se uma
explicação sucinta do respetivo processo produtivo. Posteriormente, são descritos, de forma
detalhada, os problemas conexos ao projeto de dissertação.
Nos capítulos 4, 5 e 6, que incidem sobre cada uma das áreas de atuação do projeto, são
analisados os problemas e são apresentados os resultados dos diversos testes aplicados, com
base nos quais se propõe soluções e ferramentas de controlo apropriadas.
No capítulo 7, que encerra a dissertação, são elencadas as principais conclusões do projeto
empreendido, bem como as possíveis perspetivas de trabalhos futuros.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
6
2 Enquadramento Teórico
Neste capítulo, procede-se a uma breve revisão da literatura que se entende estar enquadrada
nas áreas de atuação do presente projeto, considerando os objetivos que o norteiam. Principia-
-se pela definição do conceito de qualidade nas suas diversas vertentes, sendo apresentado um
resumo da evolução histórica dos paradigmas da gestão da qualidade e ainda identificados os
requisitos específicos aplicáveis aos fornecedores da indústria automóvel. Segue-se uma
revisão das abordagens e metodologias que atualmente são mais utilizadas em projetos de
melhoria de qualidade. Finalmente, aborda-se a análise de sistemas de medição.
2.1 A Qualidade
O conceito de qualidade, de acordo com Dale (2003), pode ser interpretado de várias formas e
utilizado em diferentes contextos, o que implica que tenha múltiplas definições. A norma NP
EN ISO 9000:2015 define qualidade como o “grau de satisfação de requisitos dado por um
conjunto de características intrínsecas de um objeto” (IPQ 2015), todavia, Dale (2003)
considera que não existe apenas uma definição válida de qualidade e, no mesmo sentido,
Montgomery (2009) aponta a qualidade como uma “entidade multifacetada”.
Garvin (1987) propôs um desdobramento do conceito de qualidade num conjunto de oito
dimensões críticas, às quais, posteriormente, Montgomery (2009) associou oito questões que
encerram o âmbito de cada uma daquelas dimensões: (1) desempenho – “o produto faz o
trabalho pretendido?”; (2) funcionalidades extra – “o que faz o produto?”; (3) fiabilidade –
“com que frequência o produto falha?”; (4) conformidade – “o produto foi feito exatamente
como desenhado?”; (5) durabilidade – “quanto dura o produto?”; (6) assistência – “quão fácil
é reparar o produto?”; (7) estética – “qual a aparência do produto?”; (8) qualidade percecionada
– “qual é a reputação da empresa ou do seu produto?”.
Juran e Godfrey (1999) referem que, entre os vários significados da palavra qualidade, existem
dois que se apresentam como críticos para a gestão da qualidade: a qualidade enquanto
satisfação das necessidades dos clientes e a qualidade enquanto ausência de defeitos. No
primeiro caso, o significado é orientado para a receita, visando-se a maximização da satisfação
dos clientes, o que, geralmente, implica que os produtos apresentem mais ou melhores
funcionalidades, acarretando um custo de produção mais elevado. No segundo caso, está em
causa a conformidade do produto com as respetivas especificações, existindo uma orientação
para o custo, na medida em que a ausência de erros evitará o retrabalho ou a reparação do
produto, bem como a insatisfação e as reclamações dos clientes.
Montgomery (2009) prefere uma “definição moderna” da qualidade: “a qualidade é
inversamente proporcional à variabilidade”. Consequentemente, Montgomery (2009) define a
melhoria de qualidade como a “redução da variabilidade presente nos processos e nos
produtos”, a par da “redução do desperdício”.
No contexto da indústria automóvel, Juran e Godfrey (1999) distinguem três dimensões da
qualidade: (i) a “qualidade no produto”, que corresponde à capacidade global do produto em
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
7
desempenhar as funções exigidas; (ii) a “qualidade na produção”, que se avalia pela capacidade
de garantir uma produção consistente com o projetado (ausência de defeitos) sem comprometer
os objetivos definidos em termos de volume e custo; e (iii) a “qualidade na ownership” que é,
simultaneamente, a dimensão mais crítica e aquela cuja compreensão é mais difícil,
correspondendo à capacidade de satisfazer os clientes ao longo do ciclo de vida do produto, o
que tem em conta a experiência de quem o compra (quer do dono inicial, quer dos
subsequentes), os custos de propriedade (custos de operação, de manutenção e de reparação,
bem como a depreciação do valor do produto que influencia o valor de revenda) e ainda o valor
psicológico inerente à propriedade (implicações na autoconfiança e na imagem social
decorrentes da posse de um determinado produto).
2.1.1 Paradigmas da gestão da qualidade
Face à crescente competitividade de uma economia que se tornou global e para responder às
necessidades de clientes cada vez mais exigentes, as empresas tiveram que repensar a maneira
como perspetivavam a qualidade, assistindo-se, particularmente desde o surgimento da
produção em massa no início do século XX, a um contínuo desenvolvimento da gestão da
qualidade. Com base em Dale (2003), é possível identificar pelo menos quatro fases ou
paradigmas da gestão da qualidade: a inspeção da qualidade, o controlo da qualidade, a garantia
da qualidade e a gestão da qualidade total (TQM).
Desde a Revolução Industrial e particularmente durante o período da produção em massa, a
gestão da qualidade em contexto industrial era sinónimo de inspeção, a qual tinha como objetivo
que os produtos entregues aos clientes não apresentassem falhas, garantindo uma qualidade
suficiente para evitar reclamações. A inspeção incidia unicamente sobre o produto final, muitas
vezes a 100%, o que resultava em custos elevados – incorridos quer na deteção, quer na
reparação ou substituição dos produtos defeituosos – e em elevadas quantidades de desperdício.
A correção das falhas tardiamente detetadas (no final do processo de fabrico) motivava um
importante consumo de recursos (operários e tempo), resultando numa “fábrica escondida”
(Weckenmann et al. 2015).
Na fase da inspeção da qualidade, os problemas eram analisados segundo o triângulo
“qualidade, custo e tempo”. No entanto, a intensificação da pressão económica conduziu a uma
mudança de paradigma, tendo o foco da qualidade sido transferido do produto para os processos
na origem do seu fabrico; já não se pretendia inspecionar e reagir, mas sim acompanhar e
controlar a qualidade ao longo dos processos de produção. O controlo da qualidade motivou o
surgimento de ferramentas de qualidade como o ciclo Plan, Do, Check, Act (PDCA) e os “cinco
porquês”, tendo também promovido o uso generalizado do controlo estatístico de processo
(SPC), a fim de identificar e reagir a alterações ao longo do tempo para evitar o desperdício
(Weckenmann et al. 2015).
De facto, na época do controlo da qualidade, intensificou-se o recurso a técnicas estatísticas e
a métodos de inferência, cujo desenvolvimento decorreu ainda na fase de inspeção da qualidade,
sobretudo em empresas de produção em série dos EUA, tendo as cartas de controlo formuladas
por Walter A. Shewhart na década de 1920 assumido um papel relevante (Cabral 2015).
Ainda assim, na fase de controlo da qualidade, perdurava a lógica de reação, sendo os inputs
dos processos corrigidos quando se verificava um desvio da qualidade desejada. A partir da
década de 1960, a perspetiva do controlo da qualidade dos produtos e processos e da reação a
posteriori, começou a ser substituída pela perspetiva de garantir a qualidade a priori,
identificando possíveis riscos e problemas a fim de prevenir a sua ocorrência, atuando-se não
só nos processos de fabrico, mas também na fase de conceção dos produtos. Neste contexto,
surgiram métodos como a análise de modos de falha e seus efeitos (FMEA) (Weckenmann et
al. 2015).
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
8
O aumento da complexidade dos produtos e dos mercados implicou também uma crescente
complexidade das organizações e das relações entre estas. A necessidade de considerar as
interdependências entre organizações, particularmente entre fornecedores e compradores, e as
interdependências internas (e.g. entre departamentos) na gestão da qualidade, motivou a
estandardização dos requisitos de qualidade através da publicação do grupo de normas ISO
9000, que permitiu harmonizar internacionalmente documentos, atividades e a certificação da
qualidade, promovendo a confiança mútua entre empresas parceiras (Weckenmann et al. 2015).
Neste contexto, surgiu a perspetiva da gestão da qualidade total (TQM) que “envolve a
aplicação dos princípios da gestão da qualidade a todos os aspetos da organização, incluindo
clientes e fornecedores, e a sua integração com os processos-chave de negócio” (Dale 2003). A
TQM pode ser vista como “uma cultura corporativa caracterizada pelo aumento da satisfação
dos clientes através da melhoria contínua, na qual todos os trabalhadores da empresa participam
ativamente” (Dahlgaard et al. 1998 in Andersson et al. 2006) ou como “um sistema de gestão
em contínua evolução baseado em valores, metodologias e ferramentas que visam o aumento
da satisfação dos clientes internos e externos empregando poucos recursos” (Hellsten e Klefsjö
2000 in Andersson et al. 2006).
A TQM, que é a base do paradigma atual da gestão da qualidade, reconhece, portanto, as
relações entre a liderança, os trabalhadores, os processos, a satisfação dos clientes e os
resultados do negócio, assentando no envolvimento e comprometimento de todos os níveis das
organizações e das suas partes interessadas como forma de garantir a otimização do
desempenho geral (Arunachalam e Palanichamy 2017).
2.1.2 Requisitos específicos da indústria automóvel
Uma parte cada vez mais significativa das organizações exige aos seus fornecedores um sistema
de gestão da qualidade certificado de acordo com o grupo de normas internacionais ISO 9000,
o qual compreende (i) a norma ISO 9000, que define os fundamentos e conceitos do sistema de
gestão da qualidade, (ii) a norma ISO 9001, que define os requisitos, e (iii) a norma ISO 9004,
que estabelece linhas de orientação para melhoria de desempenho.
Em certas indústrias, contudo, é exigido o cumprimento de mais requisitos, de acordo com as
respetivas especificidades. Trata-se do caso da indústria automóvel, em que a generalidade dos
fabricantes exige aos seus fornecedores uma certificação de acordo com a norma ISO/TS
169495 (renomeada como IATF 16949), a qual se baseia na norma ISO 9001, adaptando-a à
realidade daquela indústria.
Além da norma IATF 16949 e ainda relativamente à estandardização de requisitos de qualidade
na indústria automóvel, foram publicados pelo Automotive Industry Action Group (AIAG)
diversos manuais de referência, nomeadamente sobre controlo estatístico de processo (AIAG
2005) e análise de sistemas de medição (AIAG 2010). Este grupo foi constituído em 1982,
reunindo, originalmente, representantes dos três maiores fabricantes de automóveis (Ford,
General Motors e Chrysler), com o objetivo de padronizar os requisitos exigidos aos seus
fornecedores e aos da indústria automóvel em geral (AIAG 2017).
5 A primeira edição da norma ISO/TS 16949 ocorreu em 1999 (ISO/TS 16949:1999), como resultado do trabalho
conjunto da International Automotive Task Force (IATF) e do comité técnico para a gestão da qualidade da
International Organization for Standardization (ISO) (AIAG 2016). A IATF é um grupo ad hoc que integra
fabricantes de automóveis e respetivas associações comerciais, visando a melhoria da qualidade dos produtos
entregues aos clientes (IATF 2017). A versão mais recente da ISO/TS 16949 data de 2009, tendo sido, em 2016,
substituída e renomeada como IATF 16949.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
9
2.2 Projetos de melhoria de qualidade
A melhoria da qualidade consubstancia-se na eliminação do desperdício, podendo ser associada
à redução da variabilidade presente nos processos e nos produtos (Montgomery 2009). O
objetivo de um projeto de melhoria é identificar as causas-raiz dos problemas do processo em
estudo, removendo ou mitigando os seus efeitos de forma permanente, de modo a reduzir os
custos de não qualidade decorrentes das deficiências existentes (Juran e Godfrey 1999).
Partindo da premissa de que “o diagnóstico deve anteceder o remédio”, Juran e Godfrey (1999)
estabeleceram uma sequência universal com duas fases para a melhoria de qualidade, que
permanece atual e está patente na metodologia DMAIC dos projetos de Six Sigma:
(1) A fase de diagnóstico estrutura-se em três etapas: o entendimento dos problemas
(sintomas); a formulação de teorias sobre as suas causas, recorrendo, nomeadamente, a
sessões de brainstorming e a diagramas de causa e efeito; e a comprovação dessas
teorias, através da análise do fluxo e da capacidade do processo e de técnicas como o
desenho de experiências (DOE);
(2) Na fase do remédio, são implementadas as soluções com maior potencial de entre as
várias identificadas na fase de diagnóstico, iniciando-se com um teste piloto pouco
abrangente (circunscrito, por exemplo, a um determinado produto ou linha de
produção); se deste resultar uma efetiva melhoria de qualidade, as soluções concebidas
podem ser aplicadas de forma generalizada, devendo, contudo, realizar-se uma análise
de custo-benefício, de modo a aferir se as melhorias, que podem ser avaliadas pelo seu
impacto na redução dos custos de não qualidade, compensam os custos inerentes à sua
implementação. As alterações devem ser documentadas e os planos de controlo devem
ser atualizados de modo a contemplarem verificações regulares, que permitam garantir
que as melhorias são permanentes, e a promoverem a identificação de novas
oportunidades de melhoria.
As abordagens sistemáticas para a melhoria de qualidade podem ser contínuas, por vezes
denominadas de Kaizen (que significa melhoria contínua), ou descontínuas, sendo que ambas
dependem de um esforço de equipa e visam a melhoria do desempenho dos processos. As
abordagens descontínuas são disruptivas, envolvendo a reengenharia dos processos e
implicando alterações radicais, cuja implementação e aceitação pelos trabalhadores pode
constituir um grande desafio. Já as abordagens de melhoria contínua assentam em mudanças
incrementais e menos abrangentes (focadas em problemas específicos e bem delimitados),
visando de igual modo melhorias relevantes, mas menos ambiciosas do que as melhorias
descontínuas (Juran e Godfrey 1999).
As primeiras abordagens estruturadas para a melhoria da qualidade surgiram no Japão, sendo o
Toyota Production System (TPS), criado na viragem para a segunda metade do século XX,
precursor na aplicação da filosofia Kaizen e na criação das bases do “pensamento Lean”,
conceito introduzido por James Womack e Daniel Jones em 1996 (Al-Zu'bi 2015; Castro 2012;
Womack e Jones 1996).
Lean é uma abordagem sistemática para identificar e eliminar o desperdício através da melhoria
contínua, em que o fluxo dos materiais e produtos é determinado pelos pedidos dos clientes
(sistema pull), visando-se a perfeição (NIST 2000 in Andersson et al. 2006). Com a evolução
da qualidade na indústria japonesa, o desperdício (muda) passou a ser entendido como qualquer
atividade que não acrescenta valor, do ponto de vista do cliente (Castro 2012), sendo com base
nesta perspetiva que são definidos os cinco princípios da abordagem Lean:
(1) Entender o que é valor do ponto de vista do cliente: só aquilo a que o cliente atribui
valor é importante;
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
10
(2) Analisar a cadeia de valor: determinar as atividades dos processos de negócio que
acrescentam valor, sendo que as atividades que não acrescentam valor devem ser
modificadas ou eliminadas;
(3) Criar um fluxo contínuo: organizar um fluxo contínuo de materiais e informação ao
longo da produção e da cadeia de abastecimento, evitando movimentações em lotes
desnecessárias;
(4) Implementar um sistema puxado (pull): a produção deve ser determinada pela procura
dos clientes, evitando-se a produção para stock; nenhum trabalho deve ser realizado, a
menos que seja requerido a jusante da produção;
(5) Trabalhar no sentido da perfeição: a eliminação das atividades que não acrescentam
valor (desperdício) é um processo de melhoria contínua, permanentemente inacabado
(Andersson et al. 2006).
O sucesso da abordagem nipónica da qualidade conduziu a um amplo acolhimento da filosofia
Lean nas indústrias europeia e americana (Al-Zu'bi 2015), tendo igualmente motivado a procura
de abordagens alternativas que promovessem a competitividade. Uma das novas metodologias
que assumiu maior destaque a partir da década de 1980 foi a abordagem Six Sigma, com origem
na empresa norte-americana Motorola, que se detalha na secção seguinte.
2.2.1 Six Sigma
Sigma corresponde a uma letra do alfabeto grego, σ, à qual se recorre, no âmbito da Estatística,
para representar o desvio padrão, que é uma medida de variação. Um nível de qualidade “Six
Sigma” implica que por cada milhão de unidades produzidas, apenas 3,4 sejam defeituosas
(Jirasukprasert et al. 2014). A Motorola foi pioneira na conceção e aplicação de um programa
Six Sigma, tendo como objetivo reduzir a variabilidade para um nível em que a ocorrência de
falhas ou defeitos fosse altamente improvável (Montgomery 2009).
Antony (2004) caracteriza a metodologia Six Sigma como uma “poderosa estratégia de negócio
que recorre a uma abordagem disciplinada para atacar a variabilidade presente nos processos,
aplicando ferramentas e técnicas estatísticas e não-estatísticas, de forma rigorosa”. A dimensão
estratégica da abordagem Six Sigma é também percetível na definição presente em Andersson
et al. (2006): “um processo de negócio que permite à empresa melhorar drasticamente os seus
resultados, projetando e monitorizando as atividades diárias do negócio de uma maneira que
minimize o desperdício e os recursos”.
A operacionalização da metodologia Six Sigma assenta num conjunto de passos pré-definidos,
a saber, Define, Measure, Analyze, Improve and Control (DMAIC), ou Define, Measure,
Analyze, Design and Verify (DMADV), consoante o projeto incida sobre processos existentes
ou envolva o desenho de novos processos. DMAIC é um procedimento estruturado de resolução
de problemas, que permite implementar soluções para as causas-raiz de problemas de qualidade
e estabelecer as melhores práticas para assegurar que as melhorias são permanentes e
replicáveis noutras áreas relevantes da empresa (Montgomery 2009). De seguida, são
apresentadas as cinco fases do procedimento DMAIC:
• Fase de Definição (D)
Nesta fase, define-se a equipa de trabalho e o papel de cada participante; o âmbito do
projeto e os seus limites; as expectativas e requisitos dos clientes (“ouvir a voz dos
clientes”); os objetivos e os benefícios – tanto para a empresa (desempenho operacional
e financeiro), como para os clientes (satisfação das expectativas) – que se espera atingir
com a implementação do projeto de melhoria (Jirasukprasert et al. 2014).
Também nesta fase é crucial a identificação das características críticas para a qualidade
(Critical to Quality, CTQ), na perspetiva do cliente, que o projeto deve influenciar, bem
como o entendimento do fluxo do processo que se pretende melhorar, através de mapas
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
11
de processo de alto nível como os diagramas SIPOC (identificação dos fornecedores,
entradas, fases do processo, saídas e clientes) (Montgomery 2009).
• Fase de Medição (M)
Na fase de medição, pretende-se avaliar e entender o estado atual do processo, o que
implica recolher dados sobre medidas de qualidade, custos e tempos de ciclo, devendo
identificar-se um conjunto de variáveis chave de entrada e de saída do processo (Key
Process Input Variables, KPIV, e Key Process Output Variables, KPOV), tendo em
conta as características CTQ estabelecidas na fase D (Montgomery 2009). Estas
variáveis chave, além de permitirem caracterizar o estado inicial do processo, permitirão
avaliar o impacto das melhorias a implementar (Jirasukprasert et al. 2014).
A recolha de dados deve ser precedida de uma análise dos sistemas de medição (vide
subcapítulo 2.3), a fim de apurar se os dados recolhidos são fiáveis, ou seja, se são exatos
e precisos. Os dados recolhidos podem ser representados graficamente, nomeadamente
através de histogramas, gráficos de dispersão e diagramas de Pareto, para análise na fase
posterior. As atividades do processo alvo de melhoria devem ser classificadas de acordo
com a sua relevância para a criação de valor, recomendando-se o registo do tempo de
execução das mesmas (Montgomery 2009).
• Fase de Análise (A)
A fase de análise suporta-se nos dados recolhidos na fase M e centra-se na determinação
da causa-raiz dos problemas – a qual pode ser apoiada em diagramas de causa e efeito
–, visando o entendimento do motivo pelo qual ocorrem os defeitos e a identificação
das oportunidades de melhoria (Jirasukprasert et al. 2014). A análise dos dados suporta-
-se em técnicas estatísticas, nomeadamente testes de hipóteses, intervalos de confiança,
análise de variância (ANOVA), modelos de regressão e cartas de controlo (Montgomery
2009).
Os modelos de regressão permitem avaliar a relação entre as variáveis de entrada e as
variáveis de saída, a fim de serem identificadas potenciais ações de melhoria. O recurso
a cartas de controlo permite separar a variabilidade com origem em causas comuns (cuja
remoção implica alterar o processo) e em causas assinaláveis (cuja remoção implica a
eliminação de um problema específico). Para um processo estável, isto é, em que a
variabilidade presente seja atribuível apenas a causas comuns, será possível estimar a
capacidade do processo (Montgomery 2009).
Deve ser estabelecida uma ordem de prioridade relativamente às oportunidades de
melhoria, sendo selecionadas, para investigação na fase posterior, aquelas que se
considere terem maior potencial. Neste sentido, a análise de modos de falha e seus
efeitos (FMEA) poderá desempenhar um papel relevante, na medida em que permite
ordenar as diferentes causas potenciais de variação em termos da sua criticidade ou risco
(Montgomery 2009).
• Fase de Melhoria (I)
Na fase de melhoria, o foco está na experimentação e no recurso a técnicas estatísticas
que permitam definir concretamente ações que desencadeiem melhorias das
características CTQ (Jirasukprasert et al. 2014). Pode proceder-se a uma alteração do
fluxo do processo, o que exigirá a representação do processo através de mapas mais
detalhados do que os SIPOC, como, por exemplo, os fluxogramas. Por outro lado, o
recurso a desenho de experiências (DOE) permite aferir a contribuição dos diversos
fatores na variação das características CTQ, o que possibilita a determinação dos
respetivos níveis ótimos. Esta fase terminará idealmente com um teste piloto, que tem
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
12
como objetivo validar a efetiva melhoria inerente às alterações introduzidas
(Montgomery 2009).
• Fase de Controlo (C)
A última fase da abordagem DMAIC visa monitorizar a solução implementada, por
exemplo através de cartas de controlo, e garantir que existe uma melhoria sustentada do
processo. As alterações introduzidas devem ser documentadas e o plano de controlo do
processo deve ser atualizado mediante a inclusão dos novos parâmetros que passarão a
ser verificados periodicamente e dos métodos definidos para a sua monitorização.
A literatura publicada regista diversas aplicações da abordagem Six Sigma e do procedimento
DMAIC no contexto da indústria automóvel. Por exemplo, Gijo et al. (2014) desenvolveram
um projeto numa pequena fábrica de fundição a fim de reduzir a percentagem de rejeição de
um componente para a indústria automóvel por incumprimento das especificações. Antes da
implementação do projeto, 48,33% das unidades produzidas deste componente eram rejeitadas,
tendo a abordagem adotada permitido a redução daquela percentagem para 0,79%, o que
possibilitou uma poupança de 8000 USD por ano (valor que compara com o custo de 1100 USD
do projeto). O projeto incluiu um estudo R&R e um DOE, nas fases M e I, respetivamente, do
procedimento DMAIC.
Gijo et al. (2011), por sua vez, implementaram numa fábrica de injetores de combustível
destinados à indústria automóvel um projeto de Six Sigma no âmbito do processo de polimento
de um componente, tendo conseguido uma poupança anual de 2,4 milhões de USD decorrente
da diminuição do nível de rejeição de 16,6% para 1,19%.
Numa empresa de produção de motores para a indústria automóvel, Kumar et al. (2007),
pretendendo elevar a satisfação dos clientes e reduzir os custos de não qualidade inerentes ao
processo de fundição, aplicaram a metodologia Six Sigma e o procedimento DMAIC,
conseguindo uma redução dos defeitos por unidade de 0,194 para 0,029, uma melhoria do índice
de capacidade de processo Cpk de 0,49 para 1,28 e, consequentemente, uma poupança de 110
mil USD no primeiro ano e 250 mil USD no ano subsequente.
2.2.2 Lean Six Sigma
Embora ambas as abordagens Lean e Six Sigma visem a melhoria contínua, registam-se
diferenças na maneira como perspetivam os processos, nas metodologias e ferramentas a que
recorrem e nos efeitos que potenciam. Na Tabela 1, apresenta-se um resumo das características
dos dois conceitos em várias dimensões de análise.
Tabela 1 - Semelhanças e diferenças entre Six Sigma e Lean, adaptado de Andersson et al. (2006)
A abordagem Lean visa a remoção do desperdício, sendo que, ao defini-lo como tudo aquilo
que não acrescenta valor para o cliente, foca-se de forma mais pronunciada na satisfação dos
clientes do que a abordagem Six Sigma, que se centra na redução da variabilidade, a fim de
Conceitos Six Sigma Lean
Origem Evolução da qualidade no Japão e Motorola Evolução da qualidade no Japão e Toyota
Teoria Zero defeitos Remover desperdício
Visão dos processos Reduzir a variabilidade e melhorar os processos Melhorar o fluxo dos processos
Metodologias DMAIC ou DMADV Entender a perceção do valor pelo cliente, cadeia de
valor, fluxo, pull , perfeição
Ferramentas Ferramentas analíticas e estatísticas avançadas Ferramentas analíticas
Efeitos pretendidos Poupar dinheiro Reduzir o lead time
Outros efeitos Atingir os objetivos do negócio e melhorar o
desempenho financeiro
Reduzir o inventário, aumentar a produtividade e a
satisfação dos clientes
Críticas Não envolve todos, não melhora a satisfação dos
clientes, não tem uma visão de sistema
Reduz a flexibilidade, causa o congestionamento da
cadeia de abastecimento, não é aplicável em todas
as indústrias
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
13
eliminar os defeitos e, consequentemente, através da redução dos custos de não qualidade,
melhorar os resultados financeiros. Por outro lado, as metodologias e o tipo de ferramentas
utilizadas (analíticas na Lean e sobretudo estatísticas na Six Sigma) implicam que a abordagem
Six Sigma envolva um menor número de elementos da organização.
O sucesso das metodologias de melhoria contínua Six Sigma e Lean e a perceção de que a
conjugação destas filosofias permite ultrapassar as respetivas limitações através do
aproveitamento das sinergias que decorrem das diferenças acima enunciadas, motivaram a
integração destas filosofias numa outra, mais abrangente, designada de Lean Six Sigma (LSS).
Salah et al. (2010) exploram as relações existentes entre os cinco princípios Lean e as cinco
fases do procedimento DMAIC, descrevendo a LSS como uma metodologia focada na
eliminação do desperdício e da variabilidade, que, através da estrutura DMAIC, procura
garantir a satisfação dos clientes em termos de qualidade, tempo de entrega e custo.
O reconhecimento de que a abordagem Lean Six Sigma “ajuda as empresas a prosperarem num
mundo novo em que os clientes esperam que os produtos não apresentem defeitos e sejam
entregues com rapidez, ao custo mínimo” (George et al. 2004 in Andersson et al. 2006), tem
despertado o interesse da indústria e também da comunidade científica, tendo sido publicados,
entre 2003 e 2015, 235 artigos sobre esta filosofia, como apuraram Sreedharan e Raju (2016)
numa recente revisão da literatura.
2.3 Análise de sistemas de medição (MSA)
O sucesso da atividade das organizações está consideravelmente dependente da sua capacidade
de recolher e tratar a informação relativa aos respetivos processos, sob a forma de dados –
quantitativos ou qualitativos –, e de, ulteriormente, agir sobre essa informação. Na origem
desses dados estará sobretudo a medição.
Eisenhart (1962) define a medição como “a atribuição de números a coisas materiais para
representar as relações existentes entre elas relativamente a características particulares”, sendo
a Metrologia, de acordo com o Bureau International des Poids et Mesures (2017) “a ciência da
medição, que engloba os aspetos práticos e teóricos, qualquer que seja o nível de incerteza, o
campo de aplicação ou a tecnologia”. Por sua vez, o AIAG (2010) define um sistema de
medição como o processo para obter medições, o qual se estrutura num conjunto formado por
equipamentos de medição, normas, métodos, operadores e ambiente.
A importância dos sistemas de medição – e, consequentemente, da sua análise –, é salientada
por Montgomery (2009), que considera ser “muito difícil monitorar, controlar, melhorar, ou
gerir eficazmente um processo com um sistema de medição desadequado”, comparando a
situação com uma embarcação sem radar que navega com nevoeiro: “eventualmente vai
embater contra um iceberg”. Pop e Elod (2015) referem também que a análise de sistemas de
medição (MSA) tem um papel importante na metodologia Six Sigma.
A relevância da MSA é ainda reconhecida pela Norma ISO/TS 16949, que impõe como
requisito a realização de estudos estatísticos para analisar a variação dos sistemas de medição
contemplados nos planos de controlo, remetendo os métodos analíticos e os critérios de
aceitação para manuais de referência como o formulado pelo AIAG (2010).
De forma simples, e adotando a formulação de Montgomery (2009), pode considerar-se que o
valor apurado numa medição (y) integra, além do valor verdadeiro (x) da característica do
produto em estudo, uma componente que se pode designar como erro de medição (ε), assumindo-se que x e ε são variáveis aleatórias independentes e normalmente distribuídas com
μ = 0 e variâncias σP2 e σgauge
2 , respetivamente.
y = x + ε (2.1)
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
14
Na variabilidade total do processo (σTotal2 ) estão, portanto, incluídas a variabilidade do produto
(σP2) e a variabilidade inerente ao sistema de medição (σgauge
2 ), como se observa na equação
2.2. É, então, fundamental, por um lado, desenvolver estudos que permitam determinar essa
variabilidade e, por outro lado, que o equipamento e o método de medição consubstanciem um
sistema de medição com reduzida variabilidade; só assim será possível tomar decisões
fundamentadas no que concerne à capacidade do processo.
σTotal2 = σP
2 + σgauge2 (2.2)
Um sistema de medição desadequado, isto é, que comporte elevada variabilidade, afeta as
atividades desenvolvidas para melhorar os processos, implicando, por exemplo, uma maior
dimensão das amostras ou mais repetições no desenho de experiências (DOE), o que conduz a
testes mais demorados e dispendiosos. Além disso, se o sistema de medição é desadequado, o
estudo da variabilidade e da capacidade do processo pode sugerir problemas que afinal não
existem, uma vez que essa variabilidade pode, eventualmente, resultar em grande parte do
sistema de medição (Montgomery 2009).
Previamente à clarificação das condições que se entendem como necessárias para que um
sistema de medição seja considerado adequado, importa discernir os conceitos “exatidão” e
“precisão”. Um sistema de medição será tanto mais exato quanto mais próximas do valor
verdadeiro forem as leituras geradas para a característica do produto em estudo. A precisão, por
sua vez, aumenta com a maior proximidade entre as várias leituras da mesma característica do
mesmo produto, sendo uma medida da variabilidade intrínseca ao sistema de medição
(Montgomery 2009). A Figura 2 ilustra estes dois conceitos, através de uma analogia com um
alvo em que os pontos pretos correspondem às leituras do sistema de medição e o círculo
vermelho central corresponde ao valor verdadeiro.
Figura 2 - Diferença entre os conceitos de exatidão e precisão, adaptado de Davies (2013)
Knowles et al. (2003) propõem um conjunto de seis critérios para que um processo de medição
seja considerado “bom”:
(1) ser linear: resposta proporcional ao longo da amplitude de medição definida para o
equipamento;
(2) ser estável: inexistência de causas assinaláveis de variação;
(3) ser exato: gerar leituras próximas do valor de referência (valor conhecido ou valor
verdadeiro);
(4) ser consistente: gerar para o mesmo produto leituras com reduzida dispersão;
(5) ser robusto: não ser afetado por mudanças de operador, das condições ambientais ou
pela presença de fatores que causem ruído;
(6) ser capaz de suportar a análise: gerar dados quantitativos em vez de dados qualitativos
(atributos).
elevada exatidão
baixa precisão
elevada exatidão
elevada precisão
baixa exatidão
baixa precisão
baixa exatidão
elevada precisão
(a)
(c) (d)
(b)
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
15
Estes critérios têm correspondência direta com os tipos de estudos ou testes definidos pelo
AIAG (2010), de acordo com o qual, na análise dos sistemas de medição, o erro de medição
pode ser estruturado e estudado em cinco categorias ou vertentes: linearidade, estabilidade,
enviesamento, repetibilidade e reprodutibilidade, que, respetivamente, permitem aferir o
cumprimento dos primeiros cinco critérios anteriormente enunciados.
A linearidade corresponde à variação da exatidão e/ou precisão observada ao longo do intervalo
de medição do sistema e o seu estudo é possível através de um modelo simples de regressão
linear, sendo que eventuais problemas em termos desta categoria de erro terão origem em
calibração ou manutenção desadequadas (Montgomery 2009).
A estabilidade relaciona-se com a capacidade de o sistema de medição manter as suas
propriedades ao longo do tempo e é avaliada através da comparação de medições obtidas em
momentos temporais distintos, com o mesmo instrumento e o mesmo método de medição, em
relação à mesma característica do mesmo produto, correspondendo à alteração do enviesamento
ao longo do tempo (AIAG 2010). A estabilidade pode ser afetada pelo desgaste do instrumento
de medição, por fatores ambientais (temperatura, humidade, entre outros), pelo desempenho
inconsistente do operador ou pela falta de adequação do método estabelecido (Montgomery
2009).
O enviesamento está relacionado com a noção de exatidão do sistema de medição, apurando-se
através da utilização de um padrão, em relação ao qual se conhece o valor verdadeiro ou de
referência em termos da característica em análise. O enviesamento corresponde à diferença
entre a média dos valores medidos para a mesma característica da mesma amostra e o valor
verdadeiro da característica dessa amostra, podendo ser entendido como o erro sistemático do
sistema de medição (AIAG 2010). Um sistema de medição será tanto mais enviesado, quanto
maior for aquela diferença.
A repetibilidade pode ser definida como uma medida da variabilidade das medições que um
mesmo operador obtém, em várias repetições, com o mesmo equipamento da mesma
característica de um certo produto; enquanto a reprodutibilidade é uma medida da variabilidade
das medições obtidas quando vários operadores utilizam o mesmo equipamento para medir a
mesma característica do mesmo produto (Antony et al. 1999).
Note-se que o estudo da repetibilidade e da reprodutibilidade não visa aferir a exatidão das
medições (como acontece nos estudos de linearidade, estabilidade e enviesamento); o objetivo
não é determinar se os valores medidos estão próximos do valor verdadeiro ou de referência,
pretendendo-se apenas que as várias leituras dos diferentes operadores para o mesmo produto
sejam próximas (avaliação da precisão).
Pelo seu particular interesse para o projeto de dissertação, os testes de avaliação dos efeitos de
enviesamento, repetibilidade e reprodutibilidade são apresentados, de seguida, em secções
próprias (2.3.1 e 2.3.2).
2.3.1 Enviesamento e repetibilidade
O estudo do enviesamento e da repetibilidade de um sistema de medição pode materializar-se
na realização de um teste de medição do tipo 1, em que um operador mede uma amostra de
referência ou padrão relativamente à qual se conhece, a priori, o seu valor verdadeiro (Minitab
Inc. 2016).
Para analisar o enviesamento, o AIAG (2010) propõe a aplicação de um teste t bilateral em que
a hipótese nula supõe a inexistência de enviesamento – equivalente a supor que o valor esperado
das leituras do sistema de medição é igual ao valor verdadeiro –, sendo que a eventual rejeição
desta hipótese sugerirá que as medições são consistentemente diferentes, por excesso ou por
defeito, do valor de referência.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
16
Relativamente ao efeito de repetibilidade, este pode ser aferido através da comparação do
desvio padrão amostral (𝑠) das leituras recolhidas, que corresponde à variabilidade atribuída ao
efeito de repetibilidade (ou seja, intrínseca ao equipamento de medição), com a variabilidade
total do processo esperada, a qual, quando desconhecida, pode ser substituída por um sexto da
amplitude do intervalo de especificação (tolerância) do processo (AIAG 2010).
A análise dos efeitos de enviesamento e repetibilidade também pode assentar no cálculo e
interpretação dos índices de capacidade de sistema de medição Cg e Cgk (Andrejiová e
Kimáková 2014), cujas fórmulas de cálculo se indicam abaixo, nas equações 2.3 e 2.4,
respetivamente.
Cg =K × T
L × s (2.3)
Cgk =K/2 × T − |xg − xref|
L × s (2.4)
Onde:
K é, habitualmente, 0,2 (20%);
T é a tolerância especificada para o produto (amplitude do intervalo de especificação);
xg é a média das medições;
xref é o valor de referência;
L é o número de desvios padrões que se pretende considerar no cálculo dos índices (habitualmente,
6 para Cg e 3 para Cgk);
s é o desvio padrão amostral das medições.
O índice Cg, ao estabelecer uma comparação da variabilidade das medições com uma
percentagem (geralmente, 20%) da tolerância especificada, permite estudar o efeito de
repetibilidade. O índice Cgk, além de estabelecer a comparação atribuída ao índice Cg, tem em
conta se as medições estão próximas do valor verdadeiro, diminuindo à medida que aumenta a
diferença entre este valor e a média das medições realizadas, pelo que permite avaliar
simultaneamente os efeitos de enviesamento e repetibilidade (Minitab Inc. 2016). Os sistemas
de medição serão considerados capazes se Cg e Cgk forem superiores a 1,33 (AIAG 2010).
2.3.2 Repetibilidade e reprodutibilidade (R&R)
A variância inerente ao sistema de medição, que, como visto na equação 2.2, é parte da variância
total do processo, pode ser desdobrada noutras duas variâncias, conforme demonstrado infra na
equação 2.5, as quais permitem avaliar os efeitos de repetibilidade e reprodutibilidade (Li e Al-
-Refaie 2008).
σgauge2 = σrepetibilidade
2 + σreprodutibilidade2 (2.5)
A formulação clássica dos testes de repetibilidade e reprodutibilidade baseia-se nas cartas de
controlo de amplitudes e médias, as quais permitem separar os dois efeitos e individualizar as
respetivas variâncias (Antony et al. 1999). A carta das médias permite avaliar o poder do
sistema de medição em distinguir as amostras, enquanto a carta das amplitudes apresenta
diretamente a magnitude dos erros de medição (Wang e Li 2003; Yeh et al. 2015).
A existência de pontos fora dos limites de controlo na carta das amplitudes sugere que o
operador tem dificuldade em utilizar o instrumento de medição (Wang e Li 2003).
Contrariamente ao que se deve verificar quando as cartas de controlo são construídas para
avaliar se um processo se encontra em controlo estatístico, no contexto dos testes R&R é
desejável que os pontos da carta das médias se apresentem fora dos limites de controlo (Borror
2009), pois tal significará que o equipamento de medição é capaz de distinguir as diferentes
amostras (Western Electric 1958, 87). Admitindo que as amostras são representativas da
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
17
variação existente no processo, para o equipamento ser considerado capaz, então pelo menos
metade dos pontos da carta das médias deverá apresentar-se fora dos limites de controlo (AIAG
2010, 106).
As equações 2.6 a 2.10 detalham o cálculo da variabilidade intrínseca ao equipamento de
medição (equipment variation, EV), que capta o efeito de repetibilidade, da variabilidade
atribuível ao efeito do operador (appraiser variation, AV), que capta o efeito de
reprodutibilidade, da variabilidade atribuível aos efeitos conjuntos de repetibilidade e
reprodutibilidade (σgauge), da variabilidade do produto (part variation, PV) e da variabilidade
total (total variation, TV).
EV = σrepetibilidade = R × K1 (2.6)
AV = σreprodutibilidade = √(Rx × K2)2 − (EV2 / (n × r)) (2.7)
σgauge = √EV2 + AV2 (2.8)
PV = RP × K3 (2.9)
TV = √σgauge2 + PV2 (2.10)
Onde:
R é a média das amplitudes apuradas para cada conjunto de medições do mesmo operador à mesma
amostra;
Rx é a amplitude das médias das medições efetuadas por cada operador;
RP é a amplitude das médias das medições obtidas para cada amostra;
n é o número de amostras;
r é o número de repetições (número de vezes que cada operador mede a mesma amostra);
K1, K2 e K3 correspondem ao inverso da constante d2∗ , utilizada no âmbito das cartas de controlo
para converter amplitudes em desvios padrões. K1 depende do número de repetições (r) e do
produto do número de amostras (n) pelo número de operadores (o), sendo igual a 0,8862 para
r = 2 e a 0,5908 para r = 3, assumindo que n x o > 15; K2 depende do número de operadores, sendo
igual a 0,7071 para o = 2 e a 0,5231 para o = 3; e K3 depende do número de amostras, sendo igual
a 0,3146 para n = 10 e a 0,2814 para n = 15 (AIAG 2010).
A partir das variabilidades detalhadas nas equações 2.6 a 2.10, é possível construir indicadores
de avaliação dos sistemas de medição em termos de repetibilidade e reprodutibilidade.
Montgomery (2009) refere que o indicador mais comum é o precision-to-tolerance ratio (PTR
ou P/T), o qual, como indica a equação 2.11, estabelece uma comparação entre a capacidade do
sistema de medição estimada e a amplitude dos limites de especificação, isto é, do intervalo de
tolerância. As regras seguidas pelo AIAG (2010) quanto à decisão sobre a adequabilidade dos
sistemas de medição com base no PTR são apresentadas na Tabela 2.
PTR =k ∙ σgauge
USL − LSL (2.11)
Onde:
USL e LSL são, respetivamente, os limites superior e inferior de especificação;
Comummente, k = 6 (número de desvios padrões compreendidos entre os limites naturais de
tolerância de uma população normal).
Montgomery e Runger (1993a) alertam sobre os perigos da análise se focar apenas no PTR,
referindo, como exemplo, que o valor do rácio pode tornar-se arbitrariamente pequeno quando
o intervalo de tolerância aumenta. Também nesse sentido se pronunciam Burdick et al. (2003),
que referem que “um processo com elevada capacidade pode tolerar mais facilmente um
sistema de medição com um elevado PTR do que um processo não capaz”, o que constitui uma
limitação daquele rácio.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
18
Tabela 2 - Regras de aceitação de um sistema de medição com base no PTR, adaptado de AIAG (2010)
PTR Decisão Observações
Inferior a 10% O sistema de medição é
aceitável para a generalidade
de aplicações e processos.
Recomendado e especialmente útil quando se
pretende ordenar e classificar peças ou quando é
exigido um controlo de processo mais apertado.
Entre 10% e 30% O sistema de medição pode ser
aceitável para certas aplicações
ou processos.
A decisão de aceitar o sistema de medição deve
ser baseada na importância da aplicação ou
processo, custo do equipamento de medição e
custo de retrabalho ou reparação.
O sistema de medição deve ser aprovado pelo
cliente.
Superior a 30% O sistema de medição não é
aceitável.
Devem ser desenvolvidas ações para melhorar o
sistema de medição.
Esta situação pode ser resolvida através de uma
estratégia de medição apropriada, como, por
exemplo, utilizar a média de várias leituras da
característica da mesma peça, para reduzir a
variabilidade final da medição.
Outro indicador utilizado no âmbito dos testes R&R é o número de categorias distintas (Number
of Distinct Categories, NDC), cujo cálculo se explicita na equação 2.12 e que permite
identificar o número de grupos ou níveis que o sistema de medição consegue discernir. É
recomendado que o valor de NDC seja igual ou superior a 5, sendo que um NDC de 1
apenas indicará se o processo está a produzir unidades com ou sem defeitos (AIAG 2010).
NDC = 1,41 × PV σgauge⁄ (2.12)
Burdick et al. (2003) procederam a uma revisão da literatura sobre os métodos de análise da
capacidade de um sistema de medição e, assim como Montgomery (2009), indicam, como
alternativa ao PTR, vários indicadores para avaliar se um sistema de medição é adequado em
termos de repetibilidade e reprodutibilidade, designadamente o signal-to-noise ratio (SNR) e o
discrimination ratio (DR), definidos, respetivamente, pelo AIAG (2010) e por Mader et al.
(1999). Montgomery (2009) considera ainda pertinente a análise dos rácios entre a variabilidade
do produto e a variabilidade total e entre a variabilidade do sistema de medição e a variabilidade
total.
Montgomery e Runger (1993a) referem que uma das maiores limitações da abordagem clássica
dos testes R&R reside no facto de esta ignorar a eventual interação entre operadores e amostras,
que, por vezes, pode ser significativa, centrando-se na contribuição do equipamento e do
operador para a variabilidade total, o que tem como consequência a subestimação da
reprodutibilidade quando se verifica a presença de uma interação estatisticamente significativa
entre operadores e amostras.
A versão ANOVA dos testes R&R, geralmente assente num modelo a dois fatores, amostra e
operador, é uma alternativa à abordagem clássica e permite ultrapassar a limitação referida, o
que leva Antony et al. (1999) a considerá-la mais fiável. Vardeman e VanValkenburg (1999),
assim como o AIAG (2010, 195-197), consideram um modelo de efeitos variáveis, enquanto
Daniels e Burdick (2005) apresentam um modelo misto, em que consideram o operador como
um fator fixo.
Outra limitação da abordagem clássica dos testes R&R – e que a versão ANOVA permite
ultrapassar – é a impossibilidade de serem diretamente obtidos intervalos de confiança para as
variabilidades e para os indicadores (Burdick et al. 2003), possibilitando apenas estimativas
pontuais. Alguns métodos de estimação de intervalos de confiança, baseados na versão
ANOVA, são propostos e analisados por Montgomery e Runger (1993b), Burdick e Larsen
(1997), Burdick et al. (2003) e Daniels e Burdick (2005). Wang e Li (2003) recorreram ao
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
19
método bootstrap para formular intervalos de confiança para os testes R&R baseados na
abordagem clássica.
Note-se ainda que, quando a análise incide sobre sistemas de medição de atributos, isto é,
sistemas cujas medições estão limitadas a um número finito de categorias (AIAG 2010), a
formulação acima apresentada não é válida. Um possível procedimento para avaliar a
repetibilidade e reprodutibilidade de sistemas de medição de atributos foi proposto por Lyu e
Chen (2008), baseando-se num modelo linear generalizado.
A melhoria das técnicas de MSA continua a merecer atenção por parte da comunidade
científica. Por exemplo, Kazemi et al. (2010) propuseram uma abordagem difusa para a
avaliação de sistemas de medição, recorrendo a funções de pertença triangulares para
representar com maior precisão e exatidão os diversos índices (EV, AV, entre outros) dos testes
R&R. Também Yeh et al. (2015) testaram a teoria difusa para calcular aqueles índices e o NDC.
Por outro lado, Burr e Hamada (2015), motivados pelo facto do desvio padrão das medições de
características químicas aumentar com a magnitude do valor verdadeiro, apresentaram um
modelo multiplicativo para os estudos R&R.
Ainda que se verifiquem limitações nas técnicas de MSA existentes, Li e Al-Refaie (2008)
recorreram a testes R&R para avaliar o desempenho do sistema de medição do diâmetro de
perfuração de peças de madeira, tendo adotado um procedimento DMAIC que permitiu a
redução das variabilidades associadas aos efeitos de repetibilidade e reprodutibilidade em
33,58% e 19,86%, diminuindo o PTR de 12,67% para 9,86%. A melhoria de qualidade do
sistema de medição resultou, nomeadamente, de um treino adequado dos operadores, da seleção
de instrumentos com uma precisão mais adequada e da implementação de procedimentos
efetivos de calibração e manutenção dos equipamentos de medição.
Também Pop e Elod (2015) aplicaram testes R&R para comparar o desempenho de sistemas
alternativos de medição do desvio de turbocompressores destinados à indústria automóvel e
avaliar a conformidade desses sistemas com a Norma ISO/TS 16949.
2.4 Síntese
Principiar o enquadramento teórico da presente dissertação pelo entendimento da abrangência
do conceito de qualidade revelou-se fulcral para, posteriormente, analisar o progresso na gestão
da qualidade e compreender a génese e o propósito das abordagens de melhoria de qualidade.
A gestão da qualidade assente na inspeção do produto final, com o objetivo de garantir a sua
conformidade com as especificações, evoluiu progressivamente para um paradigma em que o
foco está na satisfação dos clientes e no qual se garante a qualidade aquando da conceção do
produto e ao longo de todo o processo produtivo, de modo a prevenir a ocorrência de defeitos.
A gestão da qualidade total reconhece a relevância do envolvimento de todas as partes
interessadas, sendo o comprometimento dos trabalhadores, independentemente da sua posição
hierárquica, fundamental para o sucesso dos projetos de melhoria, que, em maior ou menor
escala, implicarão sempre mudanças. As filosofias Lean e Six Sigma destacam-se enquanto
abordagens sistemáticas de melhoria contínua, e a sua conjugação, designada de Lean Six
Sigma, permite ultrapassar as respetivas limitações individuais, resultando numa filosofia mais
poderosa com diversas oportunidades de sinergia entre as abordagens que estão na sua origem.
Na gestão quotidiana da qualidade e em qualquer projeto de melhoria, designadamente na fase
M do procedimento DMAIC, existe a necessidade de recolher dados com recurso a sistemas de
medição. É, então, imprescindível garantir a fiabilidade das medições, de forma a que a tomada
de decisões tenha por base dados exatos e precisos, sendo crítica, neste contexto, a análise de
sistemas de medição.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
20
3 Caracterização da situação atual
A resolução dos problemas que motivaram a presente dissertação, com vista à concretização
dos seus objetivos, exige um conhecimento efetivo do produto e do processo produtivo da
Continental Mabor. Assim, este capítulo inicia-se com a apresentação do produto, o pneu,
referindo-se as suas funções, as características valorizadas pelos clientes e os elementos
estruturais que permitem assegurá-las. Seguidamente, são indicadas as principais fases do
processo produtivo, detalhando-se os processos de misturação e de calandragem, atendendo à
sua relação direta com os objetivos do projeto. Finalmente, são definidos concretamente os
problemas que serão analisados nos capítulos subsequentes, com base nas técnicas e abordagens
revistas no capítulo 2.
3.1 O pneu
De acordo com a European Tyre and Rim Technical Organization (2003), “o pneu é um
componente flexível (…) constituído por borracha e reforçado através de outros materiais” que,
quando cheio de ar comprimido, adquire a capacidade de “suportar a carga aplicada na roda” e
de “transmitir forças longitudinais e transversais”.
A Continental (2010), por sua vez, refere-se ao pneu como “um componente técnico complexo
dos carros a motor de hoje [que] tem que executar uma variedade de funções”. De facto, a
estrutura atual do pneu representa uma evolução considerável face à génese deste elemento, que
começou no século XIX como um simples tubo interno de lona revestido em couro, dando,
posteriormente, origem ao conceito de câmara de ar (a qual, atualmente, também já se considera
ultrapassada).
Independentemente da sua composição, o pneu é o único elemento do carro que está
diretamente em contacto com o solo, pelo que influencia sobremaneira o desempenho do
veículo e a experiência de condução, assumindo um papel preponderante em termos de
estabilidade, segurança e conforto. Do ponto de vista do condutor, a qualidade do pneu traduz-
-se, precisamente, na capacidade de maximizar estas três características, na sua durabilidade e
no seu impacto em termos de consumo de combustível.
Os vários modelos de pneus radiais modernos para veículos de passageiros apresentam uma
composição química6 e uma estrutura distintas, consoante a dimensão, o tipo (verão ou inverno)
e o fabricante do pneu (Continental 2010). Na Figura 3, apresenta-se uma representação
esquemática de um pneu produzido na Continental Mabor e dos respetivos elementos que o
estruturam.
6 Refira-se, como exemplo, a composição química do pneu ContiPremium Contact 2 205/55 R 16 91W: 41% de
borracha natural e sintética, 30% de materiais de enchimento (negro de fumo, sílica, carbono, giz), 15% de
materiais de reforço (aço, poliéster, rayon, fibra sintética), 6% de plastificantes (óleos e resinas), 6% de
substâncias químicas que promovem a vulcanização (enxofre, óxido de zinco, entre outras), 2% de outras
substâncias, nomeadamente aditivos ou agentes de antienvelhecimento (Continental 2010).
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
21
Figura 3 - Elementos que constituem um pneu, adaptado de Continental (2015)
Para cada elemento representado na Figura 3, são indicadas, abaixo, de forma não exaustiva, as
respetivas funções e constituição.
• Piso
O composto misturado é submetido a uma operação de extrusão e posteriormente
cortado de acordo com o comprimento especificado, resultando num perfil de borracha
(natural e sintética) designado de piso. Este elemento do pneu está estruturado em três
partes: a cobertura ou capa, que constitui a camada externa do piso e da qual dependem
o nível de aderência às superfícies de estrada, a estabilidade direcional e a resistência
ao desgaste; a base, que, enquanto parte interna do piso, adere ao cap ply ou à cinta
metálica e reduz o atrito e os danos provocados no revestimento; e o ombro, que faz a
transição entre o piso e a parede lateral.
O piso é a última camada do pneu, pelo que envolve a carcaça (estrutura que resulta da
montagem da camada interna, da cinta têxtil, do talão e das paredes laterais) e estabelece
o contacto com o solo. A sua composição influencia o desgaste, a aderência, a
resistência à tração e a condutividade elétrica. Por seu turno, o padrão do piso, cujo
aspeto final é conferido pelos moldes utilizados aquando da vulcanização, influencia a
experiência de condução e minimiza o risco de aquaplanagem e o ruído.
• Parede lateral
As paredes laterais são constituídas por borracha natural e têm como principal função a
proteção da carcaça contra a aplicação de cargas mecânicas diretas e as condições
ambientais, influenciando a transmissão de forças e, consequentemente, a experiência
de condução. Nas paredes laterais, são inscritas, segundo as normas e exigências legais,
as informações e indicações técnicas que caracterizam o pneu.
• Cap ply
Após uma operação de calandragem, através da qual cordas de nylon ou poliéster são
embutidas em borracha, procede-se ao corte da camada calandrada entre as cordas e de
1
3
4
5
6
2
7
9
1 – piso
2 – parede lateral
3 – cap ply
4 – cintas metálicas
5 – cinta têxtil
6 – camada interna
7 – núcleo do talão
8 – cunha do talão
9 – reforço do talão
8
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
22
acordo com as dimensões especificadas, resultando uma tira estreita (esta tira pode
também ser obtida por extrusão independente em máquinas próprias, as capstrips). Na
fase de construção, a tira é enrolada sobre as cintas metálicas, com o objetivo de
diminuir a respetiva flexão, formando uma cinta têxtil designada por cap ply. Este
componente permite combater o desgaste prematuro do pneu, uma vez que contribui
para a redução da resistência ao rolamento.
• Cinta metálica (breaker)
A cinta metálica é composta por cordas de aço calandradas de elevada resistência. Cada
pneu tem um par de cintas metálicas cruzadas entre si, as quais garantem a estabilidade
direcional, reduzem a resistência ao rolamento, preservam a forma e aumentam a
durabilidade do pneu.
• Cinta têxtil
A cinta têxtil é constituída por fibras de poliéster ou rayon impregnadas em borracha
por ação da calandra. Trata-se do elemento que controla a pressão interna e preserva a
forma do pneu, promovendo a consistência deste.
• Camada interna ou estanque (innerliner)
A camada interna, composta por borracha butílica, substitui a antiga câmara de ar,
sendo, por isso, o elemento que promove a retenção de ar dentro do pneu. Como tal,
este elemento influencia o ruído e a durabilidade do pneu.
• Talão
O talão é composto pelo núcleo (arames impregnados em borracha), a cunha (borracha
sintética) e, frequentemente, pelo reforço (cordas têxteis embutidas em borracha). Este
conjunto é responsável por assegurar a fixação do pneu à jante, pretendendo-se um
ajuste perfeito entre estes, a fim de promover uma experiência de condução confortável,
segura, precisa e estável.
3.2 Processo de produção de um pneu
O processo adotado pela Continental Mabor para a produção de um pneu está estruturado em
cinco fases, cujas designações, entradas (inputs) e saídas (outputs) se ilustram no esquema da
Figura 4 e explicam sucintamente abaixo:
(1) a Misturação, que visa a obtenção de uma camada homogénea e paletizada, designada
por “composto final”, através da combinação de matérias-primas como a borracha, o
negro de fumo e o enxofre;
(2) a Preparação, que, partindo do composto final e recorrendo a operações de extrusão ou
calandragem, permite, respetivamente, a produção de pisos, de paredes e dos elementos
do talão, e a produção de camadas internas, de cintas metálicas, de cap ply e de cintas
têxteis;
(3) a Construção do “pneu em verde” (ou “pneu em cru”), o qual resulta da ação sequencial
de dois tipos de máquinas que combinam os diversos elementos do pneu;
(4) a Vulcanização, que permite a transformação do “pneu em verde” no produto final, com
recurso a prensas e a moldes, que conferem ao pneu uma forma consistente e definem o
seu padrão característico;
(5) a Inspeção Final, que é a fase em que os pneus, através da realização de testes visuais,
testes à uniformidade e testes ao balanceamento, são classificados como pneus para
equipamento original (OE) ou pneus para mercado de substituição (MS) ou, ainda,
scrap, com base nas imperfeições detetadas.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
23
Figura 4 - Fases principais do processo de produção de um pneu
3.2.1 Matérias-primas
Previamente ao início do processo produtivo, é fundamental garantir a existência, no armazém
de matérias-primas, das substâncias químicas e dos materiais necessários, sobretudo, às fases
de misturação e de preparação. A seleção das matérias-primas deve observar uma análise prévia
rigorosa, tendo em atenção critérios como as características físico-químicas, facilidade de
manuseamento ou processamento e impacto em termos de saúde, segurança e ambiente.
Os compostos produzidos na fase de misturação exigem a combinação de diversas matérias-
-primas, nomeadamente:
(1) a borracha, que é o componente base dos compostos, pode ser natural ou sintética. A
borracha natural é obtida através da extração de látex (líquido de aparência leitosa) do
caule das árvores de Seringueira, que é ulteriormente coagulado através da adição de
ácido e, finalmente, moldado em blocos. A borracha sintética é proveniente de derivados
de petróleo, existindo vários tipos, nomeadamente a borracha de estireno-butadieno
(SBR), a borracha de polibutadieno (BR), a borracha butílica (IIR), cada um com
características próprias e dependentes dos copolímeros que os constituem;
(2) o negro de fumo, a sílica e o carbonato de cálcio, que são classificados como
“enchedores”, têm como função o reforço das propriedades desejadas (dureza,
resistência ao desgaste, entre outras) para o composto final, a fim de cumprir os
parâmetros e especificações estabelecidos;
(3) os óleos e outros aditivos que se constituem como ajudantes de processamento visam
promover uma misturação mais eficaz (maior adesão) e mais eficiente (menor consumo
de energia) das matérias-primas, bem como reduzir a fricção durante as operações de
extrusão e calandragem, diminuindo, assim, o risco de pré-vulcanização do composto;
(4) o agente de vulcanização (in casu, o enxofre) promove o estabelecimento de ligações
permanentes entre as cadeias de borracha, conferindo a esta uma estrutura
tridimensional definitiva;
(5) os ativadores, como o estearato de zinco (que resulta da reação química entre o óxido
de zinco e o ácido esteárico), combinados com os aceleradores (substâncias formadas
por aminas, guanidinas, sulfenamidas, entre outras), favorecem a reação de
vulcanização, cuja taxa é influenciada pela quantidade destes elementos no composto.
3.2.2 Misturação
O processo de misturação contempla duas fases, resultando da primeira os compostos
designados de “masters” e da segunda os compostos “finais”. A diferença existente na
classificação dos compostos reside no facto dos primeiros ainda não terem incorporados na sua
composição os elementos que promovem a vulcanização (enxofre, ativadores e aceleradores).
Apresenta-se, infra, a descrição, suportada no esquema ilustrativo da Figura 5, da sequência de
operações de uma instância típica da fase de produção de masters, sendo a segunda fase em
Misturação Preparação Construção VulcanizaçãoInspeção
Final
Pneus
vulcanizados
Pneus em cru(resultantes da
montagem dos
vários elementos)
Elementos dos
pneus(pisos, paredes,
componentes do
talão, camadas
internas, cintas
metálicas, cap ply,
cintas têxteis)
Composto final extraído em camada
(Masters e Finais)
Matérias-primas(borracha, negro de
fumo, sílica, óleos,
enxofre, entre
outros)
Pneus
classificados como OE, MS ou
scrap
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
24
tudo semelhante, com exceção das matérias-primas, uma vez que os compostos finais são
produzidos a partir dos masters.
Figura 5 - Esquema ilustrativo do processo de misturação, adaptado de Continental (2015)
Algumas matérias-primas, como o negro de fumo, a sílica e os óleos, são armazenadas em silos,
que alimentam diretamente (D) a câmara de misturação, enquanto outras (B), como a borracha
e os pigmentos (substâncias químicas no estado sólido e com forma granular, como, por
exemplo, antioxidantes), são colocadas pelo operador sobre o tapete rolante (A), que as
transporta para a câmara de misturação. Na câmara de misturação (E), a ação do martelo –
acionado por um sistema hidráulico –, conjugada com a ação de dois rotores que se
interpenetram, assegura a combinação das matérias-primas, originando um composto que é
recolhido, através de uma conduta, pela extrusora (F) acoplada ao misturador.
A extrusora, constituída por dois parafusos que funcionam em direções opostas, permite a
homogeneização do composto, o qual é posteriormente enviado para a calandra, que o perfila
numa camada contínua de espessura regulável e largura pré-definida. Esta camada passa, de
seguida, num tanque que contém um soluto antiaderente (G) e é temporariamente acumulada
(batch-off) a fim de permitir o seu arrefecimento e a secagem do soluto (H). Finalmente, a
camada é colocada sobre uma palete, isto é, ocorre a paletização (I).
3.2.3 Preparação: calandragem e demais processos
A fase de preparação constitui-se como a mais abrangente, englobando todos os processos que
asseguram a transformação do composto final produzido na misturação nos elementos que, na
fase de construção, são combinados para formar o pneu em verde. Nesta secção, explica-se mais
detalhadamente o processo de calandragem, por constituir um dos focos principais do projeto
de dissertação, fazendo-se, no final, uma breve referência aos demais processos da fase de
preparação.
De forma genérica, na calandragem, um determinado material é impregnado noutro. No âmbito
da produção de pneus, verifica-se a impregnação de uma tela têxtil ou metálica em borracha,
por intermédio de um conjunto de rolos que são dispostos de maneira a formar simultaneamente
duas camadas de borracha – uma superior e outra inferior – no interior das quais é impregnada
Passadeira de
alimentação (balança)
Matérias-primas
(borracha, pigmentos, etc.)
Paletização
Parafuso
(extrusão)
Passadeira de
alimentação
Câmara de
misturação (CM)
Acumulação para
arrefecimento
Banho em
soluto antiaderente
Alimentação
da CM
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
25
uma tela. A análise conjunta da Figura 6 e da Figura 7 – que correspondem, respetivamente, à
representação de uma linha de calandragem têxtil e a um esquema simplificado da calandragem
de material metálico – permite perceber o encadeamento de equipamentos e operações inerentes
ao processo de calandragem.
Figura 6 - Linha de calandragem têxtil, adaptado de Continental (2015)
Uma linha de calandragem, independentemente do tipo de material impregnado, contempla,
como representado na parte superior da Figura 6, uma extrusora (A) e dois moinhos (B), um de
homogeneização e outro de aquecimento ou alimentação, que aquecem o composto final
produzido na misturação. A tela têxtil, que é fornecida em rolos (C), podendo ser constituída
por poliéster, rayon ou nylon, também é aquecida previamente à impregnação (F). Após a
operação de impregnação (G), a camada calandrada é arrefecida (H) e, finalmente, enrolada (J)
em torno de um material têxtil de forma a não colar. Ao longo da linha de calandragem existem
zonas de acumulação (E e I), em que a tela ou a camada calandrada são dispostas em loop, a
fim de evitar a paragem da máquina aquando da mudança de rolo, a qual exige a emenda das
telas (D).
Figura 7 - Esquema ilustrativo da calandragem de material metálico, adaptado de Krautz (2010)
Alimentação por paletes de composto
Pré aquecimento do composto na extrusoraA
Moinhos de homogeneização dos
compostosB
Rolos de tecido em verde (tela)C
Prensa para criar a emenda aquando da
troca de rolos em verdeD
Acumulador de tela para prevenir a paragem
da máquina na troca dos rolosE
Câmara de aquecimento do tecido em verdeF
Calandra de 4 rolos
O composto pré aquecido é forçado a
passar entre os rolos de cima e de baixo.
O têxtil é impregnado no centro.
G Enrolamento da camada calandradaJ
Estação de arrefecimentoH
Acumulador de camada calandradaI
Bobinas
Cooling
Accumulate
Rolo de camada
calandradaEstação de enrolamento
Liner
Moinho de aquecimento
Acumulação
Composto
Arrefecimento
Impregnação
Corda
metálica
Rolos da
calandra
Sala “Creel”
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
26
Relativamente ao processo de calandragem de material metálico, esquematizado na Figura 7, a
principal diferença consiste na forma como esta matéria-prima é fornecida. Ao contrário da tela
têxtil que surge em rolos, o material metálico é fornecido em bobinas de cordas metálicas, que
são armazenadas numa sala com temperatura e humidade controladas (creel room). A tela
metálica resulta da passagem das cordas das bobinas por fieiras que as alinham e permitem a
formação de uma camada relativamente contínua de material metálico. O enfiamento das fieiras
é um processo manual e, consequentemente, moroso, uma vez que cada tela metálica é formada
por mais de mil cordas.
A camada calandrada é posteriormente cortada em máquinas próprias. Dependendo do material
impregnado ser metálico, nylon ou rayon, o corte da camada dará origem, respetivamente, a
cintas metálicas, cap ply e cintas têxteis. Se o material impregnado for poliéster, o seu corte
poderá resultar em cap ply ou cintas têxteis.
Na fase de preparação, estão ainda compreendidos os processos que permitem a produção (1)
de pisos e paredes, (2) de camadas internas e (3) dos elementos dos talões, que se descrevem
brevemente:
(1) A produção de pisos e paredes é realizada através do processo de extrusão. O composto
final da misturação é sujeito à ação mecânica dos parafusos das extrusoras, que elevam
a sua temperatura e promovem a sua movimentação, por pressão, através de uma fieira
(placa de metal que define a secção transversal dos pisos e das paredes). O perfil de
borracha resultante é posteriormente arrefecido por um banho de água, cortado de
acordo com o comprimento especificado e colocado em carros de placas metálicas;
(2) A camada interna é produzida em roller head extruders. A borracha é submetida a uma
operação de extrusão, sendo diretamente libertada para o centro de um conjunto de dois
rolos que definem a espessura da camada, sendo posteriormente cortada de acordo com
o comprimento especificado;
(3) O fabrico do talão estrutura-se em duas fases: a extrusão da cunha e o batimento desta
no núcleo.
3.2.4 Construção, Vulcanização e Inspeção final
Na fase de construção, os elementos estruturais do pneu, cujos processos de fabrico individuais
foram descritos na secção anterior, são combinados para formar o “pneu em verde”, isto é, o
pneu não vulcanizado. Nesta fase, intervêm sequencialmente dois tipos de máquinas, que
constituem os módulos de construção: as Karkasse Maschine (KM), que, por montagem da
camada interna, da tela têxtil, do talão e das paredes laterais, constroem a carcaça, e as Process
Unit (PU)7, que produzem o “pneu em verde”, combinando, por esta ordem, a carcaça, a cinta
metálica, o cap ply e o piso.
Através de transportadores automáticos, os pneus em verde deixam os módulos de construção
e seguem para as cabines de pintura, onde são lubrificados interiormente, com o objetivo de
prolongar o ciclo de vida do diafragma, que é um dos componentes das prensas responsáveis
pelo processo subsequente, a vulcanização, e que permite contornar o facto do pneu em verde
não poder suportar diretamente o vapor de vulcanização, servindo, assim, de condutor de calor.
Como referem Kumar e Nijasure (1997), a vulcanização permite transformar a borracha num
material duro e firme através da ligação cruzada das suas cadeias poliméricas. Este processo
consiste na combinação, a temperaturas entre os 140 ºC e os 180 ºC, de borracha com enxofre
(agente de vulcanização) e outras substâncias (ativadores e aceleradores que promovem a
7 As máquinas são designadas em idiomas distintos (KM em alemão e PU em inglês) em razão da origem diversa
dos fornecedores das mesmas.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
27
reação e, simultaneamente, permitem controlá-la, conferindo ao processo maior previsibilidade
em termos das características finais).
Depois dos pneus em verde estarem lubrificados, estes são encaminhados para as prensas de
vulcanização. Os pneus são, então, moldados e vulcanizados, nas prensas, que expõem o “pneu
em verde” a elevadas temperaturas e pressões, durante um período de tempo definido. Os
moldes utilizados conferem a forma e a consistência finais do pneu, incluindo o padrão do piso.
Finalmente, os pneus vulcanizados são inspecionados a 100%, a fim de lhes ser atribuída a
classificação de OE (pneus para equipamento original), MS (pneus para mercado de
substituição) ou, ainda, scrap. A inspeção final consubstancia-se na realização de testes visuais,
testes à uniformidade e testes ao balanceamento, os quais permitem avaliar características como
o aspeto, a geometria e a qualidade dos elementos individuais que constituem o pneu.
3.2.5 Outras considerações sobre o processo produtivo
Na Continental Mabor, existe um acompanhamento transversal da qualidade ao longo de todo
o processo produtivo, quer por intermédio do autocontrolo dos operadores, quer por ação de
inspetores de processo, com vista a identificar precocemente não conformidades. Estas podem
ser classificadas em três tipos, que se elencam infra por ordem crescente de gravidade:
(1) rework, quando o material ou produto intermédio ou final não cumpre os requisitos ou
especificações, mas pode ser retrabalhado;
(2) workoff, quando o material não cumpre os requisitos ou especificações, não pode ser
retrabalhado, mas pode ser reintroduzido no processo produtivo como matéria-prima do
composto produzido na misturação;
(3) scrap ou desperdício, quando o produto intermédio ou final não cumpre os requisitos
ou especificações, não pode ser retrabalhado nem reintroduzido no processo produtivo.
3.3 Descrição dos problemas
No capítulo 1, foram apresentados, sucintamente, os problemas que motivaram a realização do
projeto de dissertação e foram estabelecidos os respetivos objetivos, tendo-se delimitado três
áreas de atuação: a implementação de controlos no processo de misturação, a análise dos
sistemas de medição da espessura e do peso da camada calandrada e a análise do scrap
produzido no processo de calandragem. Nas secções deste subcapítulo, são apresentados com
um maior nível de detalhe e rigor os problemas e os objetivos para cada uma dessas áreas.
3.3.1 Controlos no processo de misturação
Os planos de controlo têm como propósito assegurar o fabrico de produtos com qualidade, de
acordo com os requisitos dos clientes, consistindo num documento escrito com a descrição
sumária dos sistemas implementados para minimizar a variabilidade dos processos e dos
produtos. Estes documentos devem ser revistos com regularidade e atualizados sempre que se
verifiquem alterações nos processos ou melhorias nos métodos de inspeção (Smith 2011).
Na Figura 8, apresenta-se um excerto do plano de controlo do processo de misturação da
Continental Mabor. Cada controlo incide sobre uma característica ou parâmetro do processo,
tem geralmente associado um procedimento detalhado num documento autónomo, é da
responsabilidade de um departamento específico e realiza-se com uma frequência pré-
-determinada. Os planos de controlo preveem ainda as ações a tomar aquando da verificação de
condições anómalas, sendo construídos em função dos modos de falha previstos nos
documentos de FMEA e das instruções emanadas da Central. O Departamento de Qualidade é
responsável pela elaboração e atualização dos planos de controlo.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
28
Figura 8 - Excerto do plano de controlo do processo de misturação
A comparação dos planos de controlo definidos pela Central com os planos de controlo
implementados na Continental Mabor permitiu identificar um conjunto de controlos que a
fábrica de Lousado não contempla, designadamente:
(1) o controlo da temperatura dos reservatórios: as matérias-primas adicionadas à câmara
de misturação no estado líquido são armazenadas em reservatórios, sendo relevante que
a sua temperatura se mantenha dentro de um determinado intervalo, a fim de que as
propriedades dessas substâncias não sofram alterações indesejadas. É, portanto,
necessário controlar regularmente as temperaturas das substâncias durante o seu
armazenamento nos reservatórios;
(2) o controlo da exatidão dos equipamentos de pesagem dos misturadores: a qualidade do
composto que resulta do processo de misturação depende do rigoroso cumprimento das
receitas, que especificam as matérias-primas que devem ser misturadas e as respetivas
quantidades. Os misturadores estão, por isso, equipados com diversas balanças (e.g. as
balanças presentes nas passadeiras de alimentação, que se localizam no ponto A da
Figura 5), que permitem controlar as quantidades de matérias-primas que são
efetivamente introduzidas na câmara de misturação, sendo importante garantir que esses
equipamentos de medição são exatos;
(3) o controlo das temperaturas nas câmaras de misturação: às câmaras de misturação estão
associadas unidades de controlo de temperatura (temperature control units, TCU) que
permitem medir a temperatura de zonas específicas das câmaras, designadamente no
martelo e nos rotores, sendo necessário proceder à monitorização periódica dessas
temperaturas;
(4) o controlo da temperatura do composto produzido na misturação depois de paletizado:
relativamente ao composto produzido na misturação, que é dobrado sobre uma palete à
medida que é extraído do misturador, é necessário controlar a temperatura aquando da
paletização (simplificadamente, temperatura de paletização), tendo em conta que, se
essa temperatura for excessiva, existe risco de vulcanização precoce.
A transposição dos controlos para os planos da Continental Mabor não pode ser realizada de
forma imediata, exigindo-se uma análise cuidada das diferentes implicações da sua
implementação. A fim de incluir os controlos em falta no plano de controlo da Continental
Mabor, foi constituída uma equipa que integra elementos do Departamento de Qualidade, do
Departamento de Engenharia, do Departamento de Engenharia Industrial, do Departamento de
Produção e do Departamento de Apoio Técnico à Produção.
Nas reuniões iniciais da equipa de trabalho, percebeu-se que o acesso físico às sondas de
temperatura presentes nos reservatórios de líquidos era extremamente difícil, complicando a
sua substituição em caso de avaria ou a remoção temporária para tarefas de calibração e
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
29
manutenção, pelo que o Departamento de Engenharia concebeu uma solução de
reposicionamento das sondas e submeteu-a à aprovação da Central. Por outro lado, a
monitorização inicial das temperaturas nas câmaras de misturação – cujos dados estão
documentados no Anexo A – revelou valores fora das especificações e com oscilações
pronunciadas em curtos períodos de tempo, tendo a equipa de trabalho decidido que a
prossecução da análise do controlo destas variáveis só seria possível após intervenção técnica
(para recolher as sondas, avaliar o estado do seu funcionamento e proceder à sua calibração).
Face à expectável morosidade quer do processo de aprovação pela Central da solução de
reposicionamento das sondas de temperatura dos reservatórios de líquidos, quer da intervenção
técnica necessária nas câmaras de misturação, e de forma a compatibilizar os horizontes
temporais do projeto de dissertação (até junho de 2017) e do projeto de transposição dos
controlos da Continental Mabor (até ao final de 2017), estabeleceu-se que a implementação dos
controlos principiaria pelos equipamentos de pesagem dos misturadores e pela temperatura de
paletização.
O controlo dos equipamentos de pesagem implica a interrupção do funcionamento dos
misturadores e, de acordo com as instruções da Central, deverá ser realizado diariamente,
quando às balanças estejam associados sistemas automáticos de padrões (isto é, quando os
misturadores dispõem internamente de padrões e de sistemas automáticos que possibilitam a
sua descida e subida, com base nas ordens transmitidas através de um computador), e
mensalmente nos restantes casos, pelo que a análise das quebras de produção é crucial.
A Continental Mabor dispõe de 11 misturadores, produzindo diariamente 1200 toneladas de
composto misturado (o que equivale a 1200 paletes). Antes da implementação generalizada do
controlo das balanças, impõe-se a definição da respetiva sequência de tarefas e a realização de
um teste piloto, a fim de quantificar o tempo de controlo e, consequentemente, determinar as
quebras de produção inerentes. Por outro lado, para o controlo da temperatura de paletização,
que deve ser realizado mensalmente em cada misturador, é necessário definir o método de
controlo, a forma de registo e as ferramentas de análise dos dados recolhidos. O capítulo 4 inclui
a análise, os testes, os resultados e as conclusões referentes aos estudos de implementação
destes dois controlos.
3.3.2 Sistemas de medição da camada calandrada
A qualidade da camada calandrada, cujo processo de produção foi descrito em 3.2.3 e
representado, através de um diagrama SIPOC, na Figura B.1 do Anexo B, é avaliada com base
em quatro características: a largura, o número de cordas por decímetro, a espessura e o peso8
por metro quadrado. Na Tabela 3, apresenta-se uma lista não exaustiva dos fatores que
influenciam estas características.
Tabela 3 - Fatores que influenciam as características da camada calandrada
8 Em rigor, a propriedade avaliada é a massa, no entanto, por simplificação da linguagem e de modo a
compatibilizá-la com os termos utilizados no quotidiano da Continental Mabor, recorre-se ao termo “peso”.
Característica FatorFator controlável pelos
operadores da calandra?
Largura Posição das lâminas presentes junto aos rolos da calandra Sim
Tela têxtil utilizada Não
Enfiamento das cordas metálicas Sim
Espessura Espaçamento entre os rolos da calandra Sim
Espessura da camada Não
Características do composto (produzido na misturação) Não
Temperatura de extrusão Sim
Temperatura dos rolos da calandra Sim
Número de cordas por decímetro
Peso por metro quadrado
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
30
A largura é relevante apenas em termos de scrap, pois, sendo a camada calandrada submetida
a um subsequente processo de corte, é deste que dependem as dimensões finais (largura e
comprimento) das cintas metálicas, das cintas têxteis e do cap ply, de modo que no âmbito da
calandragem se pretende apenas que a largura da camada minimize o desperdício gerado
aquando do corte. Por outro lado, a monitorização do peso e da espessura deverá permitir
identificar situações anómalas em termos do número de cordas. Assim, das quatro
características referidas, apenas o peso e a espessura são consideradas CTQ.
O plano de controlo do processo de calandragem contempla o autocontrolo das quatro
características anteriormente elencadas. Um rolo de tela têxtil, vulgo rolo em verde, permite,
em regra, produzir quatro rolos de camada calandrada, pelo que o autocontrolo se deve realizar
através da recolha de amostras de quatro em quatro rolos de camada calandrada. Assim, é
possível caracterizar a produção resultante de todos os rolos em verde.
O procedimento de recolha de amostras para medição do peso e da espessura encontra-se
descrito na Tabela B.1 do Anexo B. Sucintamente, como documenta a Figura 9, é necessário
(1) cortar uma tira de camada calandrada, (2) obter três amostras circulares, cada uma com 1
dm2, por corte em três locais da tira (junto aos dois extremos e no centro), e (3) assegurar a
correta identificação das amostras.
Figura 9 - Procedimento de recolha de amostras da camada calandrada
O peso das amostras é obtido com recurso a uma balança digital comum e a espessura é medida
através de um medidor de espessura (também designado de comparador de espessura)
semelhante ao que se representa na Figura 10. O operador movimenta, com o dedo, a alavanca
do medidor, desencadeando o movimento do fuso. No entanto, de acordo com as afirmações de
um responsável do Departamento de Apoio Técnico à Produção (e corroboradas por alguns
operadores), a alavanca apresenta uma duração curta, implicando que os operadores passem a
movimentar o fuso diretamente através do seu punho/capa.
Figura 10 - Medidor de espessura montado numa bancada de base granítica, adaptado de Logismarket (2017)
Os valores das características monitorizadas no autocontrolo são registados em papel. Por mês,
podem ser controlados mais de 400 rolos, o que implica a medição de mais de 1200 valores de
espessura e de 1200 valores de peso. Embora este autocontrolo não tenha implicações relevantes
1 2 3
Ponto de
contacto
Punho ou
capa do fuso
Leitura
Fuso
Alavanca
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
31
na produção, uma vez que é realizado pelo chefe de máquina (o qual pode interromper o
controlo sempre que se verifiquem problemas que exijam a respetiva intervenção) e que cada
calandra dispõe de dois módulos de enrolamento (pelo que aquando do corte da tira de camada
calandrada já está a decorrer o enrolamento de camada noutro rolo), o registo daquelas
medições no sistema informático, que é realizado pelos inspetores de processo no final de cada
mês, pode demorar mais de 2 horas. Apesar de ser uma tarefa necessária à posterior avaliação
da capacidade do processo, não é uma atividade que acrescente valor, sendo que o consumo de
recursos associado conduziu à decisão de registar apenas os valores do peso no sistema
informático.
Os problemas concernentes ao manuseamento do medidor de espessura, as condições
ambientais (e.g. temperatura) em que se realizam as medições e o facto de os equipamentos
atuais não permitirem o armazenamento informático dos registos motivaram uma análise dos
sistemas de medição do peso e da espessura da camada calandrada, cujos resultados e
conclusões são apresentados no capítulo 5.
3.3.3 Scrap produzido no processo de calandragem
Em 2015, os custos de não qualidade, em percentagem dos custos de produção (% CoP), foram
de 1,53% (Continental 2016). O Departamento de Qualidade procura ativamente identificar
imperfeições, descobrir e agir sobre as respetivas causas, reduzindo o nível de scrap e os custos
de não qualidade, de forma a assegurar a melhoria contínua dos processos. Nesse sentido e
tendo-se apurado um desvio no scrap produzido no processo de calandragem de camada têxtil
face ao objetivo de 2017, torna-se necessário identificar oportunidades de melhoria que
permitam reduzir o nível de desperdício atual.
No primeiro trimestre de 2017, o scrap produzido nas duas calandras da Continental Mabor
representou, em termos de custos, 14,7% do scrap total produzido na empresa: 2,8%
identificados na calandra 1; 1,8% identificados na calandra 2; e 10,1% identificados aquando
do corte. Do scrap identificado nas calandras, 58,5% resultou da calandragem de tela têxtil de
poliéster ou rayon. Na Figura 11, apresenta-se uma fotografia de alguns tipos de scrap
produzidos nas calandras, encontrando-se na Tabela B.2, na Tabela B.3 e na Tabela B.4 do
Anexo B os dados considerados nos cálculos das percentagens apresentadas.
Figura 11 - Exemplos de scrap produzido no processo de calandragem
A fim de identificar a principal causa do scrap da calandragem têxtil, construiu-se, com base
na informação diariamente introduzida pelos operadores no sistema informático, o diagrama de
Pareto representado na Figura 12. A causa mais frequente deste scrap é atribuída ao setup
(67,7%), ou seja, ao desperdício que resulta da troca de rolo em verde, seja este do mesmo estilo
(tipo de tela têxtil, também referido como medida) ou de um estilo diferente do anterior.
21
3
4
3
1 – início de creel (metálico)
2 – setup (metálico para têxtil)
3 – setup têxtil (mudança de rolo ou estilo)
4 – extremos
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
32
Figura 12 - Diagrama de Pareto dos custos associados ao scrap da calandragem têxtil
Um setup implica que se proceda à emenda (segundo o procedimento detalhado na Figura B.2
do Anexo B) das telas têxteis de dois rolos em verde, de forma a permitir um fluxo contínuo de
material. O aumento da espessura que se verifica na zona da emenda implica, como se pode
observar na Figura 13, que uma parte da camada produzida não seja totalmente revestida de
borracha, originando desperdício.
Figura 13 - Aspeto da camada calandrada na zona de emenda de telas têxteis
Sendo a emenda um procedimento considerado inevitável, pretende-se perceber quais os fatores
que influenciam a quantidade de desperdício associada a esta causa de scrap. Para tal, é crucial
o acompanhamento in loco da produção, no sentido de verificar se o procedimento definido
para a execução da emenda é cumprido pelos operadores e para registar a quantidade de scrap,
em kg, associada a cada emenda. Com base nesta informação deverá ser possível definir um
nível “aceitável” de scrap por emenda e passar a monitorizar com regularidade o desperdício
imputado a esta causa.
A informação disponível nos sistemas informáticos não permite obter diretamente o número de
setups realizados nem, consequentemente, a quantidade de scrap por cada emenda. Assim, é
necessário construir uma folha de cálculo que permita estimar, a partir do cruzamento da
informação disponível nos sistemas informáticos sobre a produção e o scrap, a quantidade de
desperdício gerada em cada emenda. As estimativas obtidas terão que ser validadas por
comparação com os registos obtidos aquando do acompanhamento da produção.
No capítulo 6, são apresentados os resultados e as conclusões relativos às diversas solicitações
no âmbito do scrap da calandragem têxtil.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
Setup Avaria de
máquina
Arranque de
máquina
MP não
conforme
Extremos -
Borracha
Testes Extremos -
Outros
Outros
cust
o d
e sc
rap
, em
euro
s
Scrap das calandras - Têxtil
Diagrama de Pareto
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
33
4 Controlos no processo de misturação
Neste capítulo, são apresentadas as análises desenvolvidas no âmbito do estudo (prévio à
implementação) do controlo dos equipamentos de pesagem dos misturadores e do controlo da
temperatura de paletização. No primeiro caso, atribui-se particular relevância à quantificação
do impacto na produção da realização do controlo com a frequência definida pela Central. No
segundo caso, estuda-se a capacidade do processo em termos da temperatura de paletização e
define-se o sistema de medição, com base numa análise comparativa de dois equipamentos.
4.1 Controlo dos equipamentos de pesagem dos misturadores
O controlo dos equipamentos de pesagem dos misturadores visa a avaliação regular da respetiva
exatidão, de modo a aferir se as leituras geradas pelas balanças correspondem ao valor
verdadeiro das cargas. Considerando a frequência de controlo exigida pela Central (diária para
balanças equipadas com sistemas automáticos e mensal para as restantes), a equipa de trabalho
definiu que a verificação da exatidão das balanças terá que ser realizada pelos operadores dos
misturadores, consubstanciando-se, assim, num autocontrolo. Para estudar as implicações da
implementação do autocontrolo, particularmente em termos de quebra de produção, procedeu-
-se à definição de uma sequência de ações, a qual se apresenta na Figura 14.
Figura 14 - Ações necessárias previamente à implementação do autocontrolo das balanças dos misturadores
Os misturadores apresentam diferentes características, o que implica que não estejam equipados
com um número uniforme de balanças. Procedeu-se, então, à identificação das balanças
presentes em todos os misturadores, como consta da Tabela C.1 do Anexo C, recolhendo-se
informação, a partir das receitas dos diversos compostos, sobre as substâncias pesadas em cada
balança e sobre o peso, mínimo e máximo, das cargas habitualmente introduzidas nos
misturadores. Seguiu-se uma verificação técnica do funcionamento das balanças, especialmente
dos sistemas automáticos associados a alguns equipamentos, que permitem controlar a descida
e a subida de padrões internos. Foi ainda delineado o método de controlo, através da
identificação das tarefas previsivelmente necessárias.
Na Figura C.1 do Anexo C, encontra-se representada a folha construída para o registo das
medições obtidas no âmbito deste controlo: os operadores apontam os valores do enviesamento
sob a forma de pontos de um gráfico, com escalas previamente definidas; se os valores
excederem as linhas de referência do gráfico, devem ser desencadeadas ações corretivas.
A fim de comprovar a adequabilidade do método de controlo e para recolher informação sobre
os tempos exigidos para a execução das respetivas tarefas, realizou-se um teste piloto no
misturador 6, o qual foi escolhido por apresentar o número mais elevado de balanças. Os
resultados do teste piloto são apresentados na secção seguinte.
Reunir informação
sobre todas as
balanças dos
misturadores
Verificar estado de
funcionamento das
balanças
Definir o método de
controlo
Teste piloto no
misturador 6
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
34
4.1.1 Resultados
No teste piloto ao misturador 6, estiveram presentes elementos de todos os departamentos
representados na equipa de trabalho constituída para o estudo de implementação dos controlos
no processo de misturação. O controlo das balanças exige a interrupção do funcionamento do
misturador, pelo que se definiu, in loco, que o autocontrolo das balanças deveria ser sempre
realizado aquando de um setup, evitando-se, assim, despender tempo na descontinuação de uma
série em curso. Antes de iniciar o teste, o operador recebeu indicações sobre o método a adotar.
As tarefas realizadas durante o teste são elencadas na Tabela 4, juntamente com os respetivos
tempos de execução, os quais totalizam 23 minutos.
Tabela 4 - Tempo de execução das tarefas do autocontrolo dos equipamentos de pesagem dos misturadores
Com base nos resultados obtidos no teste piloto realizado no misturador 6 e atendendo ao tipo
e ao número de balanças dos restantes misturadores, extrapolou-se o tempo de autocontrolo
necessário para o conjunto destas máquinas, como se detalha na Tabela C.2 do Anexo C.
Estima-se que o controlo das balanças equipadas com sistemas automáticos exigirá 122 minutos
por dia e o controlo das restantes balanças exigirá 69 minutos por mês. Assim, o tempo apurado
para a execução do controlo diário das balanças representa 0,84% do tempo diário disponível
(tempo de trabalho deduzido do tempo associado às paragens programadas) e implica uma
quebra diária de produção de 10 paletes de composto.
Note-se que, embora os tempos apresentados na Tabela 4 tenham em conta fatores de
rendimento e de correção determinados pelo Departamento de Engenharia Industrial da
Continental Mabor – como, aliás, é recomendado por Costa e Arezes (2003) –, existiu um
elevado nível de entropia durante o teste piloto que não foi quantificado no tempo acima
indicado: ocorreu uma avaria no sistema automático de uma das balanças, cuja reparação
demorou cerca de 20 minutos; o operador não tinha credenciais de acesso ao menu informático
que permite controlar os sistemas automáticos, tendo sido necessária a intervenção de um
terceiro; procedeu-se, no decurso do teste, ao esclarecimento de dúvidas suscitadas pelo
operador.
# Tarefas Tempo (s)
1 Preparar o início do autocontrolo (assegurar condições de segurança e material de registo) 15
2 Login (Inclui sair do menu da produção e entrar no menu da engenharia) 64
3 Iniciar verificação da balança de negro de fumo e aguardar que as massas desçam 94
4 Verificar e anotar leitura 17
5 Repetir o processo (passos 3 e 4) para as restantes balanças (6) com sistema automático 666
6 Transportar o carrinho com os padrões e a folha de registo 20
7 Colocar padrões na balança manual de químicos (1 padrão de 5 kg) 24
8 Iniciar verificação da balança, verificar e anotar leitura 11
9 Retirar padrões da balança 18
10 Transportar o carrinho com os padrões e a folha de registo 15
11 Colocar padrões na balança manual de borracha (5 padrões de 20 kg) 33
12 Iniciar verificação da balança, verificar e anotar leitura 17
13 Retirar padrões da balança 37
14 Retornar carrinho com os padrões ao local de origem e transportar folha de registo 37
15 Reiniciar a série (chamar receita) 45
16 Reposição a zero das balanças 250
1363 s
23 min
Autocontrolo da exatidão dos equipamentos de pesagem - Teste piloto no misturador 6
Balanças c/
sistema
automático
Balanças s/
sistema
automático
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
35
4.1.2 Conclusões
Salvaguardando a significativa entropia verificada no teste piloto, é possível formular as
seguintes conclusões e recomendações:
(1) Atendendo ao contínuo crescimento das metas de produção da Continental Mabor e
dado que o composto misturado é imprescindível à produção dos elementos estruturais
dos pneus, uma quebra de 0,84% no tempo disponível neste processo pode comprometer
a satisfação das encomendas. Dever-se-á, portanto, ponderar a eventual apresentação à
Central de uma proposta de redução da frequência do autocontrolo;
(2) A eventual proposta de redução da frequência do autocontrolo deve apoiar-se numa
análise dos equipamentos de medição, especificamente da sua estabilidade, pois, no
caso de equipamentos estáveis, uma periodicidade diária de controlo da sua exatidão
poderá revelar-se excessiva. Uma análise preliminar de alguns certificados de calibração
das balanças do misturador 6 (vide Figura C.3, Figura C.4 e Figura C.5 do Anexo C)
demonstra comportamentos distintos em termos de estabilidade, pelo que nos
equipamentos mais estáveis será adequada uma menor frequência de controlo;
(3) Para entender de forma mais rigorosa o impacto da implementação deste autocontrolo,
sugere-se a realização de um novo teste piloto no misturador 6, mais abrangente: durante
três semanas (de modo a que todas as equipas sejam avaliadas), os operadores do
primeiro turno (das 08h00 às 16h00) devem proceder ao autocontrolo de todas as
balanças no primeiro setup desse turno. Durante as várias instâncias do autocontrolo,
um elemento do Departamento de Engenharia Industrial deverá registar os tempos de
execução das tarefas e das ocorrências imprevistas, como, por exemplo, avarias;
(4) O autocontrolo das balanças sem sistemas automáticos implica que os operadores
carreguem padrões de 20 kg, sendo recomendável que os carrinhos de transporte dos
padrões sejam equipados com plataformas elevatórias, de modo a reduzir o esforço
físico necessário e a aumentar o grau de ergonomia. No teste piloto, o carrinho não
dispunha de plataforma elevatória, sendo visível nas fotografias da Figura C.2 do Anexo
C o esforço do operador aquando do carregamento das balanças sem sistema automático.
4.2 Controlo da temperatura de paletização
Como referido em 3.2.2 e 3.3.1, o composto que resulta do processo de misturação é dobrado
sobre uma palete à medida que é extraído, sendo necessário implementar o controlo da
temperatura aquando da paletização, uma vez que, se o seu valor for excessivo, existe risco de
vulcanização precoce. O controlo da temperatura de paletização, por imposição da Central, deve
ser realizado uma vez por mês em cada misturador, exigindo-se a definição apropriada do
método de controlo e do equipamento de medição.
O composto dobrado e paletizado atinge uma altura superior a um metro e o comprimento e a
largura são de valores da mesma ordem de grandeza (cada palete é carregada com 1 tonelada
de composto), pelo que é previsível que a temperatura não seja uniforme: por exemplo, a
temperatura à superfície será mais baixa, por existir uma influência mais significativa da
temperatura ambiente (que é inferior à temperatura de extração do composto).
Por outro lado, estão disponíveis dois equipamentos de medição: (i) um pirómetro ótico, que
permite medir a temperatura sem necessidade de contacto com o composto, o que é vantajoso
por possibilitar que o controlo seja realizado de forma célere (bastará apontar o sensor do
pirómetro para o ponto cuja temperatura se pretende obter e registar a sua leitura), mas comporta
a desvantagem de a temperatura medida estar limitada aos valores superficiais; (ii) um termo-
-higrómetro, vulgo termómetro de agulha, que, embora permita ultrapassar a limitação
mencionada, implicará que o controlo seja mais moroso, por ser necessário perfurar o composto,
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
36
o que, por sua vez, pode danificar o equipamento. Na Figura D.1 do Anexo D, é possível
observar imagens exemplificativas dos equipamentos de medição disponíveis.
Considerando que no controlo da temperatura de paletização está em causa assegurar que esta
variável não exceda 40 ºC e como se desconhece o local da temperatura máxima do composto
paletizado, estabeleceu-se que, de cada controlo da temperatura de paletização, deverá resultar
um conjunto de três valores que correspondem à medição da temperatura do composto em três
pontos, como ilustra a Figura 15, e a partir dos quais se determina a temperatura máxima da
palete. Por outro lado, face aos equipamentos de medição disponíveis e às respetivas vantagens
e desvantagens já enunciadas, definiu-se que, durante um período experimental, deverão ser
realizados 30 controlos da temperatura de paletização utilizando ambos os equipamentos.
Figura 15 - Pontos de medição da temperatura do composto paletizado
Após a recolha das amostras, deverá dar-se resposta às seguintes questões problemas: (i) a
temperatura de paletização está sob controlo e dentro dos limites de especificação?; (ii) a
temperatura de paletização está relacionada com a temperatura ambiente?; (iii) existe alguma
relação lógica entre os valores recolhidos através dos dois equipamentos utilizados?.
4.2.1 Resultados
A resposta à primeira questão teve por base os dados recolhidos com a utilização do termómetro
de agulha, uma vez que, como explicado anteriormente, permite caracterizar melhor a variável
em estudo, analisando-se, para cada palete, o máximo dos valores registados nos três pontos de
referência. Para responder à primeira parte da questão, procedeu-se à construção de cartas de
controlo para valores individuais e amplitudes móveis, as quais se apresentam na Figura 16.
Figura 16 - Cartas de controlo de valores individuais e amplitudes móveis para a temperatura de paletização
28252219161310741
35,0
32,5
30,0
27,5
25,0
Observation
Ind
ivid
ua
l Va
lue
_X=30,69
UCL=36,20
LCL=25,17
28252219161310741
6,0
4,5
3,0
1,5
0,0
Observation
Mo
vin
g R
an
ge
__MR=2,072
UCL=6,771
LCL=0
I-MR Chart of temperature (maximum)
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
37
A análise conjunta das cartas da Figura 16 (geradas pelo software Minitab) permite concluir
acerca da estabilidade do processo. Principiando pela carta das amplitudes móveis, conclui-se
que a variabilidade do processo está controlada, dado inexistirem pontos fora dos limites de
controlo. A carta de valores individuais sugere também que a temperatura de paletização
máxima está sob controlo.
No âmbito da segunda parte da primeira questão, apenas o limite superior de especificação está
definido (40 ºC) e, como todas as observações registam valores inferiores a este limite, conclui-
-se que a temperatura de paletização máxima está dentro do intervalo de especificação. Para
caracterizar a capacidade real do processo9 e face à existência de apenas um limite de
especificação, recorre-se ao índice Ppk, o qual toma o valor de 2,03 (vide Figura D.3 do Anexo
D). Sendo este valor superior ao valor de referência, 1,33, é possível concluir que o processo é
capaz de extrair o composto a temperaturas dentro dos limites de especificação.
A fim de responder à segunda questão, isto é, averiguar se a temperatura de paletização está
relacionada com a temperatura ambiente, procedeu-se à construção de um gráfico de dispersão
– representado na Figura 17, gerada pelo software Minitab – e ao cálculo do coeficiente de
determinação amostral, r2. Embora o gráfico sugira que a valores extremos da temperatura de
paletização correspondem valores extremos da temperatura ambiente, não se afigura possível
estabelecer uma relação entre estas duas variáveis. Por seu turno, o valor de r2 é de 15,54%
para o modelo linear representado (22,47% para um modelo quadrático), o que significa que a
variação da temperatura de paletização é explicada apenas numa pequena parte pela variação
da temperatura ambiente.
Figura 17 - Modelo de regressão entre as variáveis temperatura ambiente e temperatura de paletização
9 Previamente ao cálculo e análise dos índices de capacidade, realizou-se um teste à normalidade da característica
em estudo, na formulação de Anderson-Darling (vide Figura D.2 do Anexo D), com um valor de prova de 15,9%,
sugerindo a normalidade da distribuição e validando a posterior análise de capacidade.
R-squared (adjusted) 15,54% 22,47%
P-value, model 0,018* 0,012*
P-value, linear term 0,018* 0,085
P-value, quadratic term — 0,072
Residual standard deviation 1,363 1,306
Statistics Linear
Selected Model
Quadratic
Alternative Model
3231302928272625
34
32
30
28
temperatura_ambiente
tem
pera
tura
_pale
tização
Unusual X
Y: temperatura_paletização
X: temperatura_ambiente
Fitted Line Plot for Linear ModelY = 18,98 + 0,4051 X
* Statistically significant (p < 0,05)
Regression for temperatura_paletização vs temperatura_ambienteModel Selection Report
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
38
Finalmente, analisa-se a terceira questão, ou seja, procura-se encontrar alguma relação entre a
temperatura lida com o termómetro de agulha e a temperatura registada pelo pirómetro ótico.
Note-se que a pertinência desta questão reside na possibilidade de uma eventual relação
consistente entre estas temperaturas poder sustentar a preferência pelo pirómetro ótico, já que
passaria a ser possível ultrapassar a sua principal limitação aplicando um modelo que, com base
nas suas leituras, permitisse calcular a leitura corresponde no termómetro de agulha (que é mais
exato por não estar limitado à temperatura superficial).
Recorrendo a uma abordagem semelhante à adotada na análise da segunda questão, construiu-
-se um gráfico de dispersão, que consta da Figura 18 (gerada pelo software Minitab), e calculou-
-se r2 para um modelo de regressão linear. O gráfico sugere que quanto maior é a temperatura
registada pelo termómetro de agulha, maior é a temperatura medida com o pirómetro ótico; no
entanto, o melhor modelo de regressão linear simples não é sequer capaz de explicar metade da
variação da variável.
Figura 18 - Modelo de regressão entre as temperaturas obtidas com o termómetro de agulha e com o pirómetro
ótico
Analisou-se, adicionalmente, a relação da temperatura de paletização registada pelo pirómetro
ótico e a temperatura ambiente (vide Figura D.4 do Anexo D), tendo-se registado um coeficiente
de determinação amostral de 93,42% para um modelo de regressão quadrática e de 89,24% para
um modelo de regressão linear, o que confirma que as leituras do pirómetro ótico, estando
limitadas à superfície do composto paletizado, são consideravelmente influenciadas pela
temperatura ambiente.
Note-se ainda que, durante as medições da temperatura, foram registados, por diversas vezes,
os tempos de controlo para cada um dos equipamentos de medição em estudo, tendo-se apurado
que o controlo com recurso ao pirómetro ótico não excede 30 segundos, enquanto o controlo
através do termómetro de agulha exige, em média, 2 minutos.
R-squared (adjusted) 40,63% 45,37%
P-value, model 0,001* 0,001*
P-value, linear term 0,001* 0,140
P-value, quadratic term — 0,115
Residual standard deviation 1,268 1,217
Statistics Linear
Selected Model
Quadratic
Alternative Model
32313029282726
34
32
30
28
temp_pirometro_otico
tem
p_t
erm
om
etr
o_a
gu
lha
Unusual X
Y: temp_termometro_agulha
X: temp_pirometro_otico
Fitted Line Plot for Linear ModelY = 5,369 + 0,8720 X
* Statistically significant (p < 0,05)
Regression for temp_termometro_agulha vs temp_pirometro_oticoModel Selection Report
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
39
4.2.2 Conclusões
Após responder às três questões, importa elencar as principais conclusões, para, a posteriori,
formular o método mais apropriado para o controlo da temperatura de paletização:
(1) O processo de misturação é capaz no que respeita à temperatura de paletização máxima
e esta encontra-se sob controlo estatístico;
(2) As medições realizadas com o termómetro de agulha, por oposição ao que acontece com
as leituras geradas pelo pirómetro ótico, não são significativamente influenciadas pela
temperatura ambiente;
(3) Não é possível estabelecer um modelo fiável que relacione a temperatura medida com
o termómetro de agulha e a temperatura obtida com o pirómetro ótico.
Assim, propõe-se que o controlo seja realizado com o termómetro de agulha, uma vez que este,
embora implique um dispêndio de tempo de controlo superior, permite caracterizar melhor a
variável em estudo (é menos influenciado pela temperatura ambiente). Por outro lado, os dados
recolhidos não se mostraram conclusivos relativamente à localização da temperatura máxima,
podendo esta verificar-se em qualquer um dos três pontos de referência, pelo que o controlo
desta variável não poderá incidir apenas na medição da temperatura num ponto específico. Na
Tabela D.1 do Anexo D, encontra-se detalhado o método a adotar para o controlo da
temperatura de paletização.
Como documenta a Figura D.5 do Anexo D, para armazenamento e análise dos registos das
temperaturas de paletização, foi preparada uma folha de cálculo, na qual os inspetores de
processo, após as medições, introduzem as seguintes informações: máquina, composto, data da
medição, turno e equipa, identificação do inspetor, temperatura ambiente e temperaturas
medidas em cada um dos locais ilustrados na Figura 15. De forma automática, a folha de cálculo
apresenta o máximo das medições dos três pontos e identifica o local em que este se verificou.
A folha de cálculo inclui também uma área, ilustrada na Figura D.6 do Anexo D, que permite
filtrar os registos com base num período temporal, no tipo de temperatura (máxima, média, ou
em cada um dos três locais de referência), na máquina e no turno/equipa. Com base nos dados
resultantes da aplicação dos diversos filtros disponíveis, a folha de cálculo realiza testes à
normalidade dos dados, constrói cartas de controlo de valores individuais e amplitudes móveis
e determina os índices de capacidade de processo.
4.3 Comentário
Como se salientou aquando do Enquadramento Teórico da presente dissertação, a gestão da
qualidade não se deve focar na exclusiva monitorização das características CTQ dos processos,
podendo consubstanciar-se na realização de controlos regulares de aspetos desses processos
que influenciam essas características. No entanto, a multiplicação de controlos não significa
uma melhoria direta da qualidade, podendo até ser prejudicial para as diversas vertentes da
empresa quando os controlos não são adequadamente concebidos. De facto, se o controlo dos
equipamentos de pesagem dos misturadores tivesse sido implementado sem uma análise prévia,
ter-se-ia assistido a uma quebra significativa na produção, atendendo ao tempo de execução das
tarefas de controlo. Por outro lado, o estudo desenvolvido no âmbito da temperatura de
paletização permitiu concluir que o equipamento a que está associado um maior tempo de
controlo é a única alternativa viável para caracterizar e controlar adequadamente a variável.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
40
5 Sistemas de medição da camada calandrada
A análise dos sistemas de medição da camada calandrada (balança e medidor de espessura)
baseou-se, numa primeira fase, na realização de testes do tipo 1 e, posteriormente, em testes
R&R, sendo os resultados apresentados nos subcapítulos 5.1 e 5.2, respetivamente. Com base
nos resultados dos testes, foram formuladas conclusões e foi proposto um sistema de medição
alternativo, como se detalha no subcapítulo 5.3.
5.1 Testes de enviesamento e repetibilidade
Para avaliar o efeito do enviesamento e da repetibilidade foi aplicado um teste de medição do
tipo 1 a cada sistema de medição.
Balança
O peso das amostras de camada calandrada depende do material impregnado, podendo ser
inferior a 6 g no caso do nylon ou, tratando-se de material metálico, superior a 20 g.
Considerando a gama de valores especificados para os diferentes tipos de material calandrado
e atendendo às massas de referência disponíveis, definiu-se que, para o teste do tipo 1 à balança
digital, seriam efetuadas 50 medições a uma massa padrão de 10 g. A Figura 19 foi gerada pelo
software Minitab e reúne os resultados deste teste.
Figura 19 - Teste de medição do tipo 1 à balança
464136312621161161
10,10
10,05
10,00
9,95
9,90
Observation
peso Ref
Ref + 0,10 × Tol
Ref - 0,10 × Tol
Reference 10
Mean 10,00
StDev 0,016
6 × StDev (SV) 0,094
Tolerance (Tol) 1
Resolution 0,01 < 5% of Tol
Basic Statistics
Bias -0,00
T 0,539
PValue 0,592
(Test Bias = 0)
Bias
Cg 2,12
Cgk 2,09
Capability
%Var(Repeatability) 9,44%
%Var(Repeatability and Bias) 9,55%
Gage name: Balança
Date of study: 03/2017
Reported by: Hermano Maia
Tolerance: 1
Misc: g
Run Chart of peso
Teste de medição do tipo 1 - Balança
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
41
A média das medições realizadas situou-se em 10,00 g e o desvio padrão foi de 0,016 g, tendo
as observações individuais variado entre 9,97 g e 10,03 g, como documenta o gráfico da Figura
19. A proximidade entre o valor médio das medições e o valor verdadeiro da massa de referência
sugere, desde logo, que a balança não gera leituras enviesadas, o que é corroborado pelo
resultado do teste t, que apresentou um valor de prova de 59,2%, ou seja, superior ao nível de
significância adotado (5%), concluindo-se, assim, que a balança é exata.
A variabilidade das medições atribuível ao efeito de repetibilidade corresponde a 9,44% da
variabilidade total, que o software Minitab calcula como sendo um sexto da tolerância
especificada para o processo. Considerando as recomendações formuladas pelo AIAG (2010),
e como aquele valor é inferior a 10%, conclui-se que a balança é aceitável em termos de
repetibilidade. Tal conclusão é reforçada através da análise do índice de capacidade Cg, cujo
valor (2,12) é superior ao valor de referência (1,33).
Finalmente, analisa-se o índice Cgk, que combina os efeitos de repetibilidade e de enviesamento.
O valor deste índice, 2,09, é superior à referência de 1,33 e apenas ligeiramente inferior ao valor
do índice Cg, pelo que o enviesamento não é relevante. Assim, conclui-se que a balança digital
é capaz, gerando leituras exatas (sem enviesamento) e precisas (repetíveis).
Medidor de espessura
A espessura da camada calandrada, embora de forma menos pronunciada do que se verifica
com o peso, depende do material impregnado. Como, em termos médios, a especificação é de
1,00 ± 0,10 mm, o teste de tipo 1 ao medidor de espessura consubstanciou-se na realização de
50 medições de um padrão de 1 mm, tendo estas sido recolhidas com o medidor de espessura
colocado sobre um plano granítico (isto é, um bloco granítico com condições de planeza
devidamente asseguradas), a fim de evitar que fossem influenciadas por oscilações de nível. Na
Figura 20, com origem no software Minitab, são apresentados os resultados do teste.
Figura 20 - Teste de medição do tipo 1 ao medidor de espessura
Como se observa no gráfico da Figura 20, as medições realizadas variaram entre 0,99 mm e
1,01 mm, registando-se uma média de, aproximadamente, 1,00 mm e um desvio padrão de
0,0035 mm. O valor médio das medições está, portanto, próximo do valor verdadeiro do padrão,
464136312621161161
1,02
1,01
1,00
0,99
0,98
Observation
esp
ess
ura
Ref
Ref + 0,10 × Tol
Ref - 0,10 × Tol
Gage name: Medidor de espessura
Date of study: 03/2017
Reported by: Hermano Maia
Tolerance: 0,2
Misc: mm
Reference 1
Mean 1,000
StDev 0,0035
6 × StDev (SV) 0,0209
Tolerance (Tol) 0,2
Resolution 0,01 = 5% of Tol
Basic Statistics
Bias 0,000
T 0,8137
PValue 0,420
(Test Bias = 0)
Bias
Cg 1,92
Cgk 1,88
Capability
%Var(Repeatability) 10,43%
%Var(Repeatability and Bias) 10,64%
Run Chart of espessura
Teste de medição do tipo 1 - Medidor de espessura
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
42
o que sugere que o medidor de espessura não gera leituras enviesadas. Por sua vez, o resultado
do teste t, que apresentou um valor de prova de 42,0%, ou seja, superior ao nível de significância
adotado (5%), em nada obsta à conclusão de que o medidor de espessura é exato.
A variabilidade das medições atribuível ao efeito de repetibilidade corresponde a 10,43% da
variabilidade total. Considerando as recomendações formuladas pelo AIAG (2010), como
aquele valor é superior a 10% e inferior a 30%, o medidor de espessura pode ser aceitável, mas
deve ser analisado consoante a importância do processo e da monitorização da característica
em estudo. Note-se, contudo, que se a decisão assentar na análise do índice de capacidade Cg,
cujo valor é 1,92, ou seja, superior à referência de 1,33, conclui-se que o medidor de espessura
é capaz em termos do efeito de repetibilidade.
Finalmente, compara-se o índice Cgk com o índice Cg, a fim de reforçar a anterior conclusão da
inexistência de enviesamento. Como o valor do índice Cgk, 1,88, é muito próximo do valor do
índice Cg, continuando acima do valor 1,33 tomado como referência, conclui-se que o
enviesamento é muito reduzido. O teste do tipo 1 aplicado ao medidor de espessura sugere, em
suma, que este equipamento é capaz e que gera leituras exatas, devendo ser realizada uma
análise adicional quanto à sua precisão.
5.2 Testes de repetibilidade e reprodutibilidade (R&R)
Na secção 5.1, foram apresentados os resultados dos testes de medição do tipo 1, tendo-se
concluído, por um lado, que a balança analisada é exata e precisa e, por outro, que o medidor
de espessura é exato, surgindo, contudo, algumas dúvidas sobre a sua precisão.
A avaliação da precisão, ou seja, do efeito de repetibilidade, no contexto de um teste do tipo 1
está limitada pelo facto de a análise incidir sobre uma única amostra (padrão). Importa, então,
analisar a repetibilidade no contexto real do processo, ou seja, medindo várias amostras de
camada calandrada. Para tal, pode recorrer-se a testes R&R, que, como referido em 2.3, captam
a variabilidade intrínseca ao equipamento de medição (repetibilidade) e a variabilidade inerente
ao operador (reprodutibilidade).
Note-se, contudo, que caso os testes do tipo 1 tivessem sugerido que algum dos sistemas de
medição não era capaz de gerar leituras próximas do valor verdadeiro da amostra – o que não
se verificou –, não faria sentido analisar o desempenho desse sistema no contexto real do
processo através de um teste R&R. Nessas circunstâncias, seria necessário calibrar o
equipamento de medição, seguindo-se uma repetição do teste do tipo 1 e, só depois de analisar
os novos resultados em termos de enviesamento, seria adequada a aplicação de um teste R&R.
Balança
Como a balança em análise é digital e sendo que o operador apenas necessita de colocar a
amostra sobre a base da mesma e aguardar que a leitura do monitor estabilize, definiu-se, a
priori, que, relativamente a este instrumento de medição, só seria analisado o efeito de
repetibilidade, o que permitiu reduzir o número de medições e amostras a recolher
comparativamente a um teste R&R típico. O teste assentou na recolha de 10 amostras de camada
calandrada e na realização, por um único operador, de 5 medições a cada uma delas.
Após aplicação do teste, cujos resultados se apresentam na Tabela 5, apurou-se que a
variabilidade atribuível ao efeito de repetibilidade corresponde a 8,77% da variabilidade total
(a variabilidade total considerada corresponde a um sexto da tolerância do processo), sendo este
valor próximo do que havia sido obtido aquando da aplicação do teste de medição do tipo 1
(9,44%). Assim, pode-se concluir, novamente, que a balança é precisa e apta à medição da
característica em estudo.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
43
Tabela 5 - Resultados do teste de repetibilidade à balança
Medidor de espessura
A realização do teste R&R ao medidor de espessura implicou a recolha de 10 amostras, as quais
foram posteriormente medidas por 3 operadores, sendo que cada operador mediu cada amostra
3 vezes, tendo-se, portanto, recolhido um conjunto de 90 medições. Os operadores foram
escolhidos aleatoriamente de entre aqueles que habitualmente procedem ao autocontrolo da
largura, peso e espessura da camada calandrada, não lhes tendo sido transmitidas instruções
específicas, de maneira a não condicionar a forma como cada um atuava. As fases e etapas do
procedimento adotado para aplicação do teste R&R ao medidor de espessura encontram-se
detalhadas na Figura 21 e basearam-se no método seguido por Li e Al-Refaie (2008).
Figura 21 - Procedimento adotado para aplicação do teste R&R ao medidor de espessura
1 2 3 4 5 Média Amplitude
1 11,64 11,63 11,65 11,64 11,65 11,64 0,02
2 11,45 11,42 11,45 11,44 11,44 11,44 0,03
3 11,64 11,62 11,60 11,59 11,59 11,61 0,05
4 15,56 15,55 15,57 15,59 15,56 15,57 0,04
5 12,64 12,62 12,65 12,62 12,66 12,64 0,04
6 19,61 19,63 19,65 19,66 19,65 19,64 0,05
7 12,94 12,96 12,95 12,95 12,95 12,95 0,02
8 11,65 11,66 11,65 11,65 11,64 11,65 0,02
9 8,69 8,65 8,66 8,67 8,69 8,67 0,04
10 11,65 11,64 11,65 11,64 11,62 11,64 0,03
= 0,034
EV = 0,0146
Tol = 1,0
%EV = 8,77%
Medições (gramas)N.º da
amostra
Analisar dados
Cada operador mede a espessura de cada amostra
e regista o valor
Reordenar as amostras de forma aleatória
A espessura de cada amostra foi medida 3 vezes
por cada operador?
Recolher os registos das medições
Selecionar 3 operadores
Selecionar aleatoriamente 10 amostras e atribuir
um número identificativo a cada amostra
Verificar o instrumento de medição
Calandrar
Fase I
Fase II
Fase III
Fase IV
Não
Sim
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
44
Os resultados do teste R&R, de acordo com a abordagem clássica, estão resumidos na Tabela
6. Verifica-se que o PTR para os efeitos individuais de repetibilidade e reprodutibilidade é de
13,00% e 8,03%, respetivamente, o que sugere que a variação observada nas medições
recolhidas é influenciada de forma mais significativa pela variabilidade intrínseca ao próprio
equipamento do que pelo operador.
O efeito conjunto da repetibilidade e reprodutibilidade apresenta um PTR de 15,28%, que, face
às recomendações do AIAG (2010), não permite a aceitação imediata do equipamento de
medição, devendo conduzir-se uma análise adicional. Por outro lado, o valor de NDC, sendo
superior a 1 e inferior a 5, indicia que os dados fornecidos pelo medidor de espessura apenas
permitem uma estimativa grosseira de parâmetros e índices, produzindo, nomeadamente, cartas
de controlo pouco reativas (AIAG 2010).
Tabela 6 - Resultados do teste R&R segundo a abordagem clássica
Quando se verifica a presença de uma interação estatisticamente significativa entre amostra e
operador, a versão ANOVA do teste R&R permite estimar de forma mais fiável a
reprodutibilidade (Antony et al. 1999). Assim, para aferir se essa interação existe e se é
significativa, realizou-se um teste ANOVA a dois fatores, cujos resultados se apresentam na
Tabela 7.
Tabela 7 - Teste ANOVA para o estudo R&R
O teste ANOVA sugere que a interação entre amostra e operador não é significativa (valor de
prova de 11,5%), pelo que não se prosseguiu com a análise de repetibilidade e reprodutibilidade
de acordo com a formulação ANOVA. Note-se que a análise da Figura 22 (gerada pelo software
Minitab), especialmente do gráfico do canto inferior direito, não permite identificar visualmente
uma interação entre amostra e operador, concluindo-se, novamente, no sentido da inexistência
de interação.
Registe-se ainda que as cartas de controlo apresentadas na Figura 22 – baseadas em subgrupos
de dimensão 3, uma vez que foi este o número de vezes que cada amostra foi medida pelo
mesmo operador –, sobretudo a carta das médias, apresentam diversos pontos fora dos limites
de controlo. Como referido em 2.3.2, no contexto dos testes R&R é desejável que os pontos da
carta das médias estejam fora dos limites de controlo, pois isso significa que o equipamento de
medição é capaz de discernir as diferentes amostras. O AIAG (2010) recomenda que pelo
menos 50% dos pontos se apresentem fora dos limites de controlo. Na carta das médias em
análise, 17 dos 30 pontos representados (57%) estão fora dos limites de controlo.
Source VarComp%Contribution
(of VarComp)
StdDev
(SD)
Study Var
(6 x SD)
%Study Var
(%SV)
PTR
(%)NDC
Total Gage R&R 2,59E-05 10,30 0,00509 0,03055 32,09 15,28 4
Repeatability 1,88E-05 7,46 0,00433 0,02600 27,30 13,00
Reproducibility 7,16E-06 2,84 0,00268 0,01605 16,86 8,03
Part-To-Part 2,26E-04 89,70 0,01503 0,09017 94,71 45,09
Total Gage R&R 2,52E-04 100,00 0,01587 0,09521 100,00 47,60
Source DF SS MS F p-value
Part 9 1,64E-02 1,82E-03 43,22 0,000
Operator 2 4,62E-04 2,31E-04 5,47 0,014
Part * Operator 18 7,60E-04 4,22E-05 1,52 0,115
Repeatability 60 1,67E-03 2,78E-05
Total 89 1,93E-02
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
45
Figura 22 - Teste R&R ao medidor de espessura
5.3 Conclusões e propostas de melhoria
Como referido em 3.3.2, a análise dos sistemas de medição das características CTQ da camada
calandrada (peso e espessura) foi motivada pelos problemas concernentes ao manuseamento do
medidor de espessura, pelas condições ambientais em que se realizam as medições e pelo facto
de os equipamentos atuais não permitirem o armazenamento informático dos registos.
A análise realizada consubstanciou-se no estudo do enviesamento, da repetibilidade e da
reprodutibilidade dos sistemas de medição. Se de um sistema resultam medições sem
enviesamento, então o sistema é considerado exato; por outro lado, um sistema cujas medições
para a mesma amostra sejam próximas entre si (repetíveis), mesmo quando são obtidas por
operadores diferentes (reprodutíveis), é um sistema preciso.
Os resultados dos estudos de enviesamento e repetibilidade e de R&R, apresentados nas secções
anteriores, permitem concluir (i) que o sistema de medição do peso é exato e preciso e (ii) que
o sistema de medição da espessura é exato, mas a sua precisão, com base nas recomendações
do AIAG (2010), é questionável. De facto, o teste R&R apresentou um PTR superior a 10% e
um NDC inferior a 5. O teste R&R sugere também que a variabilidade associada ao efeito de
repetibilidade é superior à variabilidade relativa ao efeito de reprodutibilidade, o que indicia
que os fatores que motivam essa variabilidade são intrínsecos ao equipamento de medição e/ou
transversais aos operadores.
O medidor de espessura estudado no teste R&R já não dispunha de alavanca, sendo que os três
operadores movimentaram o fuso puxando o respetivo punho, tendo, inclusivamente, sido
referido por um operador que, mesmo que existisse alavanca, preferia atuar diretamente no
punho do fuso. Durante o teste, foi também comum aos três operadores o facto de, por diversas
vezes, darem ligeiras pancadas no punho antes de registarem as medições. Apesar do método
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
46
definido prever que cada amostra seja medida em três pontos, correspondendo a respetiva
espessura à média dos três valores obtidos, os operadores, por vezes, não realizaram as três
medições. Além disso, para cada amostra, os operadores apenas apontaram a média das
medições, a qual calcularam de forma mental, com duas casas decimais (o que corresponde ao
número de casas decimais exibidas no leitor do medidor de espessura).
Atendendo ao objetivo de reduzir a variabilidade do processo de medição e de forma a
solucionar os problemas identificados ou confirmados no decurso do teste R&R, importa definir
um sistema em que as medições da espessura sejam menos influenciadas por comportamentos
erróneos dos operadores, o que se pode traduzir num equipamento de medição mais robusto.
Procedeu-se, então, a uma pesquisa de soluções existentes no mercado, de forma a identificar
equipamentos que possibilitem ultrapassar os problemas detetados e que sejam capazes de
registar e armazenar as medições num suporte que permita exportar diretamente os dados para
folhas de cálculo.
Esta pesquisa envolveu a consulta dos catálogos da Mitutoyo (2016), da Qualitest (2017) e da
EGITRON (2017) e embora existam equipamentos com tecnologias de funcionamento mais
avançadas (e.g. soluções pneumáticas para o movimento do fuso), privilegiou-se a identificação
de equipamentos simples, semelhantes aos atuais, mas com funcionalidades que permitam
suprimir os problemas existentes. Com base na pesquisa realizada10, propõe-se a aquisição de:
• um novo medidor de espessura digital, com grande semelhança visual e dimensional
com o atual, preparado para o armazenamento e exportação dos dados das medições;
• um cabo de controlo da movimentação do fuso (spindle lifting cable) compatível com o
novo medidor: este cabo é uma alternativa à alavanca, permitindo controlar a posição
do fuso, sem contactar fisicamente com o medidor de espessura;
• uma caixa em acrílico para proteção do medidor de espessura e da respetiva bancada de
suporte11, com uma abertura para introdução das amostras na base da bancada e orifícios
para os cabos: esta caixa isola o medidor de espessura, impedindo que os operadores
atuem diretamente sobre o fuso do equipamento;
• equipamentos necessários ao registo, armazenamento e exportação dos dados das
medições: estes equipamentos permitem substituir o registo manuscrito das medições
da espessura, evitando o dispêndio de tempo associado à posterior transcrição para o
sistema informático, possibilitam o armazenamento individual das três medições que
devem ser efetuadas a cada amostra e garantem que a média destas medições é calculada
sem erros.
Às aquisições propostas está associado um custo estimado de 1638 €. As rubricas que serviram
de base ao cálculo deste custo, bem como imagens ilustrativas dos equipamentos e acessórios
contemplados na proposta apresentada, encontram-se descritas na Tabela E.1 do Anexo E.
10 Foi atribuída prioridade aos equipamentos da Mitutoyo, uma vez que se pretendia evitar o custo de aquisição de
uma nova bancada.
11 O novo medidor de espessura pode ser montado na bancada atualmente existente, pelo que não será necessário
adquirir uma bancada nova.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
47
6 Scrap produzido no processo de calandragem
A causa principal do desperdício gerado no processo de calandragem, como explicado em 3.3.3,
é o setup, ou seja, a troca de rolos de tela têxtil, que implica que seja feita uma emenda entre o
final da tela do rolo que está a ser utilizado e o início da tela do rolo subsequente, a fim de
garantir um fluxo contínuo de material. O procedimento da emenda está detalhado na Figura
B.2 do Anexo B, envolvendo a sobreposição das telas de dois rolos e de tiras de borracha
posteriormente submetidas à ação de uma prensa.
A informação do scrap é introduzida pelos operadores, no final de cada turno, numa base de
dados autónoma à base de dados da produção: os operadores registam a quantidade de scrap
em kg e a respetiva causa; no caso do scrap ter origem no setup, os operadores indicam a
quantidade de scrap por cada estilo, sem discriminarem a quantidade que respeita
individualmente a cada emenda (ou seja, a cada setup). A produção é registada automaticamente
em metros de comprimento de camada calandrada, sendo possível determinar quanto produziu
cada equipa, de cada estilo, num determinado dia.
Embora a largura especificada seja comum a todos os estilos (1,5 metros), o peso por m2
especificado varia com o estilo (em consequência das diferentes densidades e espessuras dos
materiais das telas têxteis). Além disso, como a quantidade produzida de cada estilo não é igual
entre as equipas, para estabelecer uma comparação adequada entre equipas, entre máquinas e
entre estilos, foi necessário converter a quantidade de scrap de kg para comprimento, em
metros, de camada calandrada desperdiçada, dividindo os kg de scrap pelo peso por m2 e pela
largura especificados para cada estilo; este procedimento permitiu obter, de forma aproximada,
o comprimento das tiras de camada calandrada cortadas pelos operadores na zona das emendas.
Com base nos dados de scrap e produção do primeiro trimestre de 2017 – o mesmo período
temporal a que se recorreu para determinar a principal causa de desperdício –, foram
construídos gráficos que permitem comparar as equipas de cada calandra e os diversos estilos
de camada calandrada em termos de metros de scrap por cada mil metros de produção (o que
equivale a uma permilagem). Neste período, por cada mil metros de camada calandrada, foram
gerados 0,86 metros de scrap (corresponde ao valor representado na linha de traço interrompido
da Figura 23 e da Figura 24).
O gráfico da Figura 23 estabelece a comparação entre as calandras e entre as respetivas equipas.
Note-se que a Continental Mabor tem duas linhas de calandragem, a calandra 1 (C1) e a calandra
2 (C2). Na C1 trabalham 5 equipas (C1-A, C1-B, C1-C, C1-D e C1-E), sendo calandrado
material metálico e material têxtil, e na C2 trabalham 2 equipas (C2-A e C2-B), sendo
calandrado apenas material têxtil; todas as equipas laboram em regime de turnos rotativos.
Antes mesmo de analisar os dados do gráfico, importa referir que, sendo a C2 a calandra mais
recente, logo dotada de tecnologia mais moderna, e como a C1 além de material têxtil, também
calandra material metálico (mais espesso), estando, por isso, sujeita a maiores e mais frequentes
ajustes do espaçamento dos rolos da máquina, é expectável que seja gerado mais scrap na C1.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
48
De facto, como se observa na Figura 23, o nível de scrap associado à calandra 1, 1,18‰, é
superior ao que se verificou para a calandra 2, 0,76‰. Constata-se ainda a existência de
diferenças relevantes entre o scrap gerado pelas diversas equipas da calandra 1: à equipa C1-A
está associado o maior nível de scrap (1,58‰) e à equipa C1-C está associado o menor nível
de scrap (0,88‰).
Figura 23 - Scrap da calandragem têxtil com origem em setup, por calandra e por equipa
O gráfico da Figura 24 permite comparar o nível de scrap associado aos vários estilos de
camada calandrada: P1319, P1365, P1370, P1377, P1457, R1564 e R3002, em que P e R
respeitam a poliéster e rayon, respetivamente. O gráfico sugere que o nível de scrap se distribui
de forma homogénea entre os diversos estilos, com exceção de P1377 e de R1564.
Figura 24 - Scrap da calandragem têxtil com origem em setup, por estilo
Analisando a origem da produção dos estilos representados na Figura 24, em termos de máquina
(calandra 1 ou calandra 2), percebe-se que, em geral, 76% dos metros produzidos advêm da
calandra 2. No entanto, para o estilo P1377 essa percentagem é superior (93%), justificando o
menor nível de scrap associado, e para o estilo R1564 essa percentagem é inferior (66%),
justificando o maior nível de scrap observado. O estilo P1457 foi totalmente produzido na
calandra 2, todavia representa apenas 0,3% da produção do período em análise.
1,58
1,21
0,88
1,37
1,06
0,65
0,78
1,18
0,76
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
C1-A C1-B C1-C C1-D C1-E C2-A C2-B
met
ros
de
scra
p
po
r ca
da
10
00
met
ros
de
pro
duçã
o
Scrap da calandragem têxtil com origem em setup, por calandra e por equipa
C1 C2 C1+C2
0,82 0,82 0,850,78
0,89
1,01
0,85
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
P1319 P1365 P1370 P1377 P1457 R1564 R3002
met
ros
de
scra
p
po
r ca
da
10
00
met
ros
de
pro
duçã
o
Scrap da calandragem têxtil com origem em setup, por estilo
todos os estilos
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
49
A análise da Figura 23 e da Figura 24 sugere, então, que os fatores “máquina” e “equipa” podem
ser significativos relativamente à quantidade de scrap, contrariamente ao fator “estilo”.
Para estimar a quantidade de scrap gerada por emenda, construiu-se uma folha de cálculo que
permite calcular de forma aproximada o número de setups: analisando os registos da produção,
a folha contabiliza um setup sempre que se verifique uma mudança de estilo (por exemplo, do
estilo P1370 para o estilo P1319) e, com base no número de metros produzidos, a folha estima
o número de trocas de rolo em verde durante a calandragem de um mesmo estilo (por exemplo,
se tiverem sido calandrados 5449 metros de P1319, tendo em conta que cada rolo em verde da
tela têxtil respetiva tem, em média,1860 metros, então terão sido utilizados 3 rolos em verde de
P1319, logo terão ocorrido 2 setups do mesmo estilo). O gráfico da Figura 25, que apresenta o
comprimento médio da emenda por calandra e por equipa, foi gerado pela folha de cálculo
construída.
Figura 25 - Comprimento médio da emenda, por máquina e equipa, com base na folha de cálculo construída
Assim como observado na Figura 23, o gráfico da Figura 25 sugere que a calandra 1 gera mais
scrap por setup do que a calandra 2, sendo que, na calandra 1, a equipa A é a que produz mais
scrap e a equipa C é a que produz menos scrap. Para confirmar a relevância dos fatores
“máquina” e “equipa” e validar a folha de cálculo construída, procedeu-se ao acompanhamento
in loco da produção, registando-se: a quantidade de scrap gerada em cada emenda, se durante
cada emenda o procedimento foi corretamente executado e se existiram ocorrências anómalas.
O acompanhamento incidiu sobre as equipas C1-A, C1-B, C1-C, C2-A e C2-B, apresentando-
-se nas secções seguintes os respetivos resultados e conclusões.
6.1 Resultados do acompanhamento in loco da produção
Além da recolha de amostras que permitissem analisar o comprimento da emenda12, o
acompanhamento in loco da produção envolveu a observação do procedimento de execução das
emendas, do trabalho do operador do enrolamento (a quem cabe transmitir à máquina a ordem
de corte da camada calandrada na zona da emenda e retirar a respetiva tira de desperdício), da
pesagem do scrap e do posterior registo no sistema informático.
12 A referência ao comprimento da emenda deve ser entendida como comprimento, em metros, da tira de camada
calandrada classificada como desperdício.
3,02 2,88
1,97
2,84
2,68
1,18
1,41
0
0,4
0,8
1,2
1,6
2
2,4
2,8
3,2
C1-A C1-B C1-C C1-D C1-E C2-A C2-B
met
ros
Comprimento médio da emenda, por calandra e por equipa
C1 C2 C1+C2
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
50
Durante o acompanhamento realizado, (i) não se verificou nenhuma situação assinalável em
termos da execução das emendas, ou seja, o procedimento foi respeitado por todos os
operadores; (ii) percebeu-se que a ação do operador do enrolamento é muito relevante em
termos da quantidade de scrap associada às emendas, na medida em que, se o operador
transmitir tardiamente a ordem de corte, a tira de desperdício terá um maior comprimento e
abrangerá uma parte de camada calandrada que estaria em condições aceitáveis; (iii) constatou-
-se, por duas vezes, que a equipa C1-B não pesou separadamente as emendas de estilos
diferentes, registando, posteriormente, no sistema informático, valores com base num “cálculo
aproximado” questionável; e (iv) percebeu-se que alguns operadores tinham dúvidas na maneira
como devem registar no sistema informático a emenda associada ao arranque de máquina, isto
é, não sabiam se essa emenda deveria ser imputada como scrap de arranque de máquina ou
scrap de setup.
Foram recolhidas amostras de scrap relativas a 16 emendas da calandra 1 (o tempo de
calandragem de material metálico na calandra 1 inviabilizou a recolha de um número de
amostras superior) e a 24 emendas da calandra 2, sendo que o número de amostras se distribui
de forma equilibrada pelas equipas de cada máquina. Na Figura 26, com origem no software
Minitab, as observações recolhidas são representadas através de gráficos boxplot.
Figura 26 - Boxplot do comprimento da emenda para cada equipa
Com base nos dados recolhidos e fixando-se um nível de significância de 5%, foram realizados,
através do software Minitab, dois testes t e um teste ANOVA, detalhados na Tabela 8 e cujos
resultados se elencam de seguida:
• Para comparar o valor esperado do comprimento das emendas das duas calandras,
realizou-se um teste t para duas amostras, bilateral. Obteve-se um valor de prova de
0,0%, pelo que o teste sugere que a diferença entre as calandras é significativa;
• Para comparar o valor esperado do comprimento das emendas das duas equipas da
calandra 2, realizou-se um teste t para duas amostras, bilateral. Obteve-se um valor de
prova de 48,9%, pelo que o teste sugere que a diferença entre as equipas analisadas não
é significativa;
• Para comparar o valor esperado do comprimento das emendas das três equipas da
calandra 1, realizou-se um teste ANOVA, a 1 fator. Obteve-se um valor de prova de
4,9%, ligeiramente inferior ao nível de significância adotado, sendo que a construção
de intervalos de confiança de Tukey sugere que apenas o valor esperado das emendas
das equipas C1-A e C1-C é significativamente diferente.
C2-BC2-AC1-CC1-BC1-A
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
Equipa
com
pri
men
to d
a e
men
da (
metr
os)
Boxplot of comprimento da emenda (metros)
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
51
Tabela 8 - Testes t e ANOVA para comparação das calandras e das respetivas equipas
Note-se que, nos dois testes t realizados, não foi assumida a igualdade de variâncias, uma vez
que foram previamente realizados testes à razão das variâncias e, em ambos, foi rejeitada a
hipótese nula (valor de prova inferior a 5%). A formulação e os resultados detalhados dos testes
à razão das variâncias constam na Figura F.3 e na Figura F.4 do Anexo F.
Teste Gráfico
Teste t e intervalos de confiança para as calandras Calandra N Mean StDev SE Mean
C1 16 2,425 0,475 0,12
C2 24 1,189 0,271 0,055
Difference = μ (C1) - μ (C2)
Estimate for difference: 1,236
95% CI for difference: (0,964; 1,509)
T-Test of difference = 0 (vs ≠): T-Value = 9,43
P-Value = 0,000 DF = 21
Teste t e intervalos de confiança para as equipas da calandra 2 Equipa N Mean StDev SE Mean
C2-A 15 1,151 0,167 0,043
C2-B 9 1,251 0,394 0,13
Difference = μ (C2-A) - μ (C2-B)
Estimate for difference: -0,100
95% CI for difference: (-0,413; 0,213)
T-Test of difference = 0 (vs ≠): T-Value = -0,72
P-Value = 0,489 DF = 9
Teste ANOVA para as equipas da calandra 1 Null hypothesis All means are equal
Alternative hypothesis At least one mean is different
Significance level α = 0,05
Equal variances were assumed for the analysis.
Factor Levels Values
Equipa 3 C1-A; C1-B; C1-C
Source DF Adj SS Adj MS F-Value P-Value
Equipa 2 1,258 0,6288 3,83 0,049
Error 13 2,132 0,1640
Total 15 3,390
Model Summary
S R-sq R-sq(adj) R-sq(pred)
0,405001 37,10% 27,42% 3,84%
Pooled StDev = 0,405001
Intervalos de confiança de Tukey, a 95%
Equipa N Mean Grouping
C1-A 5 2,740 A
C1-B 6 2,483 A B
C1-C 5 2,040 B
Means that do not share a letter are significantly
different.
Tukey Simultaneous Tests for Differences of Means
Difference Difference SE of
of Levels of Means Difference 95% CI
C1-B - C1-A -0,257 0,245 (-0,903; 0,390)
C1-C - C1-A -0,700 0,256 (-1,376; -0,024)
C1-C - C1-B -0,443 0,245 (-1,090; 0,203)
Individual confidence level = 97,95%
C2C1
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
Calandra
Boxplot of comprimento da emenda (metros)
C2-BC2-A
2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
1,0
0,8
0,6
Equipa
Boxplot of comprimento da emenda (metros)
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
52
6.2 Conclusões e propostas de melhoria
O acompanhamento in loco confirmou, em termos do scrap produzido em consequência da
troca de rolos em verde, a relevância do fator “máquina” e sugeriu a existência de diferenças
entre duas das três equipas da calandra 1. De facto, a calandra 2 ajusta-se mais rapidamente à
variação de espessura localizada na zona da emenda, gerando menos scrap. Nesse sentido e
atendendo ao facto da calandra 2 não estar a ser utilizada na sua capacidade máxima (trabalha
apenas 16 horas por dia, por oposição à calandra 1, que trabalha em contínuo) recomenda-se
que o Departamento de Qualidade e o Departamento de Produção estudem a possibilidade de
implementar um terceiro turno na calandra 2 (uma nova equipa ou uma das equipas da calandra
1), colocando-a a laborar em regime contínuo, permitindo, assim, que a calandragem de tela
têxtil ocorra quase em exclusivo na calandra 2, com vista à diminuição do scrap.
Por outro lado, no que concerne à equipa C1-A, que os testes sugerem que produz mais scrap
do que a equipa C1-C, observou-se, durante o acompanhamento realizado, que o operador
apresentou um critério mais exigente relativamente à quantidade de camada calandrada que, no
seu entendimento, devia ser classificada como desperdício. Sugere-se, então, que o
Departamento de Qualidade e o Departamento de Apoio Técnico à Produção definam um
critério para o corte da emenda (por exemplo, cortar até inexistirem zonas sem borracha ou
cortar até inexistirem rugas na camada), uniformizando o procedimento. Note-se que o objetivo
não é que os setups deixem de gerar scrap, pois se os operadores da calandragem não
removerem as tiras de camada na zona da emenda, essa camada será enviada para as máquinas
de corte, afetando negativamente esse processo; o objetivo é que seja removida a camada que
efetivamente esteja em más condições.
Além disso, considera-se importante reforçar a formação dos operadores do enrolamento,
especificamente quanto à relevância de transmitirem no momento apropriado a ordem de corte
da camada calandrada. No acompanhamento às equipas da calandra 2, verificou-se, por duas
vezes (em vinte e quatro), que a ordem de corte da camada foi transmitida tardiamente, sendo
que as emendas respetivas apresentaram um comprimento 57% e 68% superior à média dos
comprimentos das restantes emendas da calandra 2 – por isso, se os operadores forem formados
no sentido de reagirem de forma adequada à passagem da emenda pela lâmina de corte, será
possível reduzir a quantidade de desperdício associada a esta causa.
Adicionalmente, sugere-se a criação, no sistema informático, da causa “emenda no arranque de
máquina”, para mitigar as dúvidas suscitadas pelos operadores e separar o efeito de arranque
de máquina do efeito de setup nos registos informatizados.
Refira-se ainda que os dados recolhidos permitiram validar a folha de cálculo construída para
estimar o comprimento das tiras de scrap cortadas por cada equipa em cada calandra, estando
esta apta para ser utilizada para a monitorização regular desta causa. Na Figura F.5 do Anexo
F, são apresentadas imagens ilustrativas da folha de cálculo.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
53
7 Conclusões e perspetivas de trabalho futuro
A Continental Mabor é uma das mais relevantes empresas portuguesas, sendo subsidiária de
um dos maiores fornecedores mundiais da indústria automóvel, o Grupo Continental. Como
fábrica mais eficiente do grupo, a Continental Mabor procura diariamente eliminar o
desperdício e diminuir os custos de não qualidade, objetivos que não podem ser prejudicados
pelo momento de expansão que a empresa enfrenta.
Nesse sentido, estando a Continental Mabor consciente de que a qualidade do produto final
implica garantir a qualidade desde a conceção dos produtos e ao longo de todas as atividades
das diversas fases do processo produtivo, o projeto de dissertação proposto incidiu sobre três
áreas de atuação: (i) controlos do processo de misturação; (ii) sistemas de medição da camada
calandrada; e (iii) scrap gerado no processo de calandragem.
A misturação, enquanto fase inicial do processo produtivo da Continental Mabor, fornece às
fases subsequentes o composto a partir do qual são produzidos os elementos estruturais dos
pneus, nomeadamente as cintas têxteis e as cintas metálicas, que têm origem no corte da camada
calandrada resultante da impregnação de materiais no composto misturado. Reconhecendo
como crítica a qualidade deste composto, existem diversos controlos ao longo do processo de
misturação. No entanto, comparando os controlos existentes com aqueles que são impostos pela
sede do grupo, foi identificado um pequeno conjunto de controlos que não estão contemplados
na fábrica portuguesa. No âmbito deste projeto, estudou-se a implementação de um controlo da
exatidão dos equipamentos de pesagem (balanças) dos misturadores e de um controlo da
temperatura do composto aquando da sua paletização.
Após ter sido definido o procedimento de autocontrolo das balanças dos misturadores, a fim de
estudar o seu tempo de execução, foi realizado um teste piloto. Com base na frequência imposta
pelo grupo (diária para balanças equipadas com sistemas automáticos de padrões e mensal para
as restantes), o teste permitiu estimar um tempo de autocontrolo das balanças de 122 minutos
por dia, traduzindo-se numa diminuição de 0,84% do tempo diário disponível para produção e
numa quebra diária de 10 paletes de composto – uma quebra relevante para uma empresa cujas
ordens de produção estão em crescimento.
Embora se tenha verificado algum nível de entropia durante o teste piloto, considera-se que o
autocontrolo, com a frequência exigida, dificilmente demorará menos tempo do que a
estimativa apresentada, pois não foi, por exemplo, contabilizado o tempo associado à resolução
de avarias dos sistemas automáticos de algumas balanças. Sugeriu-se, por isso, que durante um
período experimental de autocontrolo, num determinado misturador, sejam registados os
respetivos tempos de execução (para obter uma estimativa mais exata) e que a partir do estudo
da estabilidade das diversas balanças (uma análise preliminar revelou comportamentos distintos
dos equipamentos) se proponha à sede do grupo um plano de autocontrolo adaptado à realidade
da fábrica da Continental Mabor, com frequências adequadas à estabilidade das suas balanças.
O período experimental decorrerá nas primeiras três semanas do próximo mês e a análise de
estabilidade deverá estar concluída no final do mês corrente (junho de 2017).
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
54
No que concerne ao controlo da temperatura de paletização, a análise comparativa de dois
equipamentos de medição, designadamente através de modelos de regressão, possibilitou a
definição do método de controlo desta característica. O estudo realizado permitiu concluir que
o processo de misturação é capaz (Ppk = 2,03) relativamente à temperatura de paletização
máxima, encontrando-se sob controlo estatístico. O controlo da temperatura de paletização será
integrado, no próximo mês, no plano de controlo do processo de misturação e a folha de cálculo
construída durante o projeto será utilizada para o registo das observações e posterior análise.
O estudo dos sistemas de medição das características consideradas críticas para a qualidade da
camada calandrada – o peso e a espessura –, assente em testes ao enviesamento e em testes
R&R, permitiu concluir que a balança digital utilizada é exata e precisa e que o medidor de
espessura é exato, mas a sua precisão é questionável (o teste R&R apresentou um PTR de
15,28% e um NDC de 4). Assim, com base nos problemas identificados ou confirmados
aquando da recolha das amostras necessárias ao teste R&R, nomeadamente o manuseamento
do fuso e o registo das medições, foi elaborada uma proposta concreta de um sistema alternativo
que implica a aquisição de um novo medidor de espessura e de um software que permitirá o
registo automático e em suporte informático das medições, possibilitando a monitorização
efetiva da espessura (atualmente, apesar da espessura ser considerada crítica e dos operadores
procederem ao seu autocontrolo, o tempo exigido à informatização dos registos implica que só
as medições do peso sejam transcritas para folhas de cálculo e analisadas). O Departamento de
Qualidade e o Departamento de Apoio Técnico à Produção consideram o novo sistema
adequado e útil, pelo que a sua aquisição e implementação deverá ocorrer nos próximos meses.
A análise do desperdício gerado no processo de calandragem, com base nos dados da produção
e do scrap do primeiro trimestre de 2017, permitiu identificar o setup têxtil (troca de rolos em
verde) – que implica a realização de uma emenda das telas têxteis dos rolos – como a principal
causa de desperdício. O acompanhamento in loco da produção e a folha de cálculo construída
para a análise dos dados históricos permitiram identificar o fator “máquina” como crítico,
sugerindo que a calandra 2 – mais recente, com uma tecnologia mais moderna e que calandra
apenas material têxtil – produz menos scrap do que a calandra 1. As propostas formuladas no
âmbito da redução do scrap associado a esta causa envolvem a definição de critérios de
qualidade da camada calandrada (para definir quando é que a camada calandrada deve ser
considerada desperdício), a formação dos operadores e uma redistribuição da produção entre as
calandras. A folha de cálculo construída será utilizada para monitorização regular do scrap com
origem nos setups e permitirá estimar de forma mais clara o potencial de cada proposta de
melhoria apresentada.
Findo o projeto, considera-se que os seus objetivos foram globalmente atingidos, sendo que
várias das propostas formuladas serão implementadas pela Continental Mabor nos próximos
meses. Para tal, revelou-se fundamental a revisão de literatura realizada, uma vez que permitiu
a identificação de técnicas, abordagens e metodologias apropriadas à resolução dos problemas
em estudo no projeto. Conclui-se que só a conceção ponderada e adequada dos controlos do
processo de misturação (previamente à respetiva implementação), a determinação concreta da
origem da variabilidade dos sistemas de medição das características críticas para a qualidade
da camada calandrada e ainda a análise estruturada e metódica do scrap gerado no processo de
calandragem permitiram desenhar propostas com potencial concreto para contribuir de forma
efetiva para a melhoria de qualidade destes processos.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
55
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Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO A
59
ANEXO A: Controlo de temperaturas nas câmaras de misturação
Neste Anexo, são apresentadas representações gráficas das observações relativas à temperatura
das TCU dos misturadores 5 (Figura A.1, página 59), 6 (Figura A.2, página 60) e 7 (Figura A.3,
página 60).
Os dados foram recolhidos durante três semanas, existindo várias observações fora dos limites
das especificações.
Aquando da recolha dos dados, a temperatura indicada pelos vários sensores oscilava
bruscamente em curtos períodos de tempo (mais de 5 ºC em 20 segundos).
Determinou-se, então, que os sensores de todos os misturadores deveriam ser recolhidos para
análise técnica do seu funcionamento pelo Departamento de Engenharia e para posterior
calibração pela área de Metrologia do Departamento de Qualidade.
Figura A.1 - Monitorização das TCU do misturador 5
-10
-5
0
5
10
15
20
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Tem
pera
tura
(ºC
)
TCU - Misturador 5 - Diferença relativamente à especificação
Zona 1 Zona 2 Zona 3 LIE LSE
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO A
60
Figura A.2 - Monitorização das TCU do misturador 6
Figura A.3 - Monitorização das TCU do misturador 7
-20
-10
0
10
20
30
40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Tem
pera
tura
(ºC
)
TCU - Misturador 6 - Diferença relativamente à especificação
Zona 1 Zona 2 Zona 3 LIE LSE
-30
-25
-20
-15
-10
-5
0
5
10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Tem
pera
tura
(ºC
)
TCU - Misturador 7 - Diferença relativamente à especificação
Zona 1 Zona 2 Zona 3 LIE LSE
Intervenção técnica
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO B
61
ANEXO B: Processo de calandragem
Neste Anexo, referente ao processo de calandragem, apresenta-se:
• um diagrama SIPOC do processo de calandragem (Figura B.1, página 61);
• o procedimento definido para a recolha de amostras de camada calandrada e a execução
do autocontrolo da espessura e do peso (Tabela B.1, página 62);
• informação sobre o scrap produzido no primeiro trimestre de 2017: quantidade, em kg,
e custos, em €, do scrap produzido em cada processo (Tabela B.2, página 63), do scrap
produzido em cada linha de calandragem (Tabela B.3, página 63) e do scrap relativo a
cada tipo de camada calandrada – material metálico, nylon e têxtil (poliéster e rayon) –
por cada causa de imperfeição (Tabela B.4, página 63);
• procedimento de trabalho para realização da emenda de telas têxteis, aquando de um
setup, isto é, da troca de rolos em verde (Figura B.2, página 64).
Figura B.1 - Diagrama SIPOC do processo de calandragem
Ssupplier
• Misturação
• Indústria têxtil (sobretudo Continental Indústria Têxtil do Ave)
• Indústria de corda metálica
Iinput
• Composto “final”
• Tecido
• Corda metálica
Pprocess
• Extrusão
• Homogeneização
• Aquecimento
• Impregnação (calandragem)
• Enrolamento
Ooutput
• Camada calandrada (metálico ou têxtil)
Ccustomer
• Processo de corte
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO B
62
Tabela B.1 - Método de autocontrolo da espessura e do peso da camada calandrada
Procedimentos a adotar no autocontrolo da espessura e do peso da camada calandrada
a) Recolha de amostras
A recolha de amostras efetua-se no final de um rolo calandrado. São retiradas três amostras:
duas a aproximadamente 10 cm dos extremos, uma de cada lado (operador e motor); a terceira
é retirada do centro. Cada amostra é constituída por um quadrado de tecido com,
aproximadamente, 15 cm de lado. As amostras devem ser cortadas e manuseadas com os
cuidados indispensáveis para não serem deformadas ou contaminadas (recomenda-se que sejam
protegidas com plástico dos dois lados).
b) Identificação das amostras
Após a recolha das amostras, procede-se à identificação destas; da identificação deve constar o
n.º do rolo, a combinação de calandragem e a identificação da amostra (L1, C, ou L2, conforme
se trate da fração recolhida na extremidade do lado do operador, no centro do tecido ou no lado
do motor, respetivamente).
c) Corte das amostras
O corte da amostra é feito com uma fieira no cortador disponível da área, em círculos de 1 dm2
de superfície.
d) Determinação das variáveis
Espessura da camada calandrada: com o medidor de espessura, medir a espessura em 3 pontos
de cada uma das amostras. A espessura de cada amostra será a média dos resultados assim
obtidos.
Peso da camada calandrada: É registado em g/m2 e determina-se pesando cada um dos círculos
e multiplicando por 100 o resultado obtido (por estar em g/dm2).
e) Registos e representações gráficas dos valores obtidos
Registar e representar graficamente os valores obtidos, usando os símbolos indicados na folha de
registo de identificação da amostra (L1, C ou L2).
Excerto da folha de registos:
1244 a ...
1231 a 1243
Tecido 1224 a 1230
Calandrado 1197 a 1223
1210 ± 20
mm
Escala 1190 a 1196
Resolução 1177 a 1189
1 mm ... a 1176
Valor verificado
Limite Superior Tolerância
Limite Inf. Desempenho
Limite Ajuste Inferior
Limite Ajuste Superior
Limite Sup. Desempenho
Limite Inferior Tolerância
2ªs Linhas
3ªs Linhas
1ªs Linhas
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO B
63
Tabela B.2 - Scrap do 1.º trimestre de 2017, por processo
Scrap produzido de janeiro a março de 2017
Quantidade (kg) Custo (€)
Origem do scrap Valor Peso Valor Peso
Calandragem/Impregnação* 42065 14,8% 98241 18,3%
Colocação de Cunha e Flipper 10869 3,8% (1) (1)
Construção 64590 22,7% (1) (1)
Construção de Talões 20861 7,3% (1) (1)
Corte 111139 39,1% (1) (1)
Let-Off** 27996 9,8% 54203 10,1%
Testes DIP 7013 2,5% (1) (1)
Total 284533 100,0% 536505 100,0%
(1) dados omitidos por motivo de confidencialidade
*inclui máquinas innerliners e capstrips
**scrap das calandras retirado no corte
Tabela B.3 - Scrap do 1.º trimestre de 2017 do processo de calandragem, por máquina
Detalhe do scrap "Calandragem/impregnação"
Quantidade (kg) Custo (€)
Origem do scrap Valor Peso Valor Peso
Cal4 7782 2,7% 14815 2,8%
Cal4-nº2 4484 1,6% 9598 1,8%
Outras máquinas 29799 10,5% 73828 13,8%
Subtotal 42065 14,8% 98241 18,3%
Tabela B.4 - Scrap do 1.º trimestre de 2017 das calandras, por tipo de produto e por imperfeição
Imperfeição Metálico Nylon Têxtil Total Metálico Nylon Têxtil Total
Arranque de máquina 664 664 1217 1217
Avaria de máquina 415 129 723 1266 661 268 1741 2670
Borracha vulcanizada 2 2 3 3
Cordas partidas/rebentadas/nós. 58 20 78 92 42 134
Dimensão incorreta 89 89 187 187
Extremos - Borracha 25 143 169 52 312 364
Extremos - Falha de borracha 2 2 4 4
Extremos - Outros 16 61 78 35 143 177
Extremos - Tensão 3 3 6 6
Falha de borracha 56 96 152 89 197 286
Falta de cordas ou cordas mal distribuídas 2 2 4 4
Fim de creel 1158 1158 1836 1836
Início de creel 1655 9 1664 2622 19 2641
Liner danificado 13 13 24 24
Matéria-prima não conforme 294 389 683 603 939 1543
Material estranho 4 4 6 6
Problemas de adesividade 7 7 14 14
Problemas de armazenamento 37 19 56 78 54 133
Rugas ou dobras do rolo calandrado 21 4 25 44 7 51
Setup (mudança de rolo ou dimensão) 66 1458 4512 6036 105 3124 9674 12903
Testes 16 8 92 116 25 17 169 211
Total 3430 2212 6624 12266 5437 4688 14288 24413
Quantidade (kg) por produto Custo (€) por produto
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO B
64
Figura B.2 - Procedimento para emenda de telas têxteis, aquando de um setup
Operação Auxílio Visual
1.1. Cortar tiras de borracha para fazer emenda
(operador do let-off).
• Com tesoura, cortar as tiras de borracha do rolo.
OBS: RISCO DE CORTE
• Reciclagem do plástico que separa as tiras de
borracha.
1.2. Preparar a prensa para a emenda do tecido em
verde com o liner de enfiamento (operador do let-off).
• Puxar a extremidade do tecido em verde para a
plataforma de trabalho.
• Fazer o enfiamento da vara que segura o liner de
enfiamento com o tecido em verde.
• Com as mãos, forrar a zona da emenda que contem
tecido em verde com tiras de borracha, em seguida
colocar a extremidade do tecido em verde sobre a
tira de borracha, ambos na zona da emenda.
• Garantir que as laterais do tecido em verde ficam
alinhadas com as laterais do liner de enfiamento.
SUPERFÍCIE AQUECIDA
1.3. Prensar tecido (operador do let-off).
• Fechar a prensa e programar a temperatura e o
tempo de operação conforme especificado.
• Fechar a prensa somente quando as etapas
anteriores estiverem totalmente concluídas, sendo
que o operador deve estar fora da área de risco.
RISCO DE ESMAGAMENTO
• Aguardar abertura da prensa.
• Descolar emenda da prensa.
RISCO DE QUEIMADURA
1.4. Eliminar o excesso de material prensado
(operador do let-off).
• Sempre que necessário utilizando uma tesoura para
cortar o excesso de borracha e tecidos utilizados na
emenda.
RISCO DE CORTE
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO C
65
ANEXO C: Controlo dos equipamentos de pesagem dos misturadores
Neste Anexo, relativo ao controlo dos equipamentos de pesagem dos misturadores, apresenta-
-se:
• a identificação das balanças dos misturadores, através da sua designação, cargas
mínimas e máximas previstas nas receitas dos compostos, quantidade e massa dos
padrões a utilizar no autocontrolo dos misturadores, conforme definido pelo responsável
da área de Metrologia do Departamento de Qualidade (Tabela C.1, página 66);
• a folha de registos que deverá ser utilizada pelos operadores para apontar os dados do
autocontrolo das balanças (Figura C.1, página 67);
• os tempos estimados para a execução do autocontrolo de todos os misturadores (Tabela
C.2, página 68), obtidos por extrapolação dos tempos observados no teste piloto
realizado ao misturador 6;
• fotografias recolhidas durante o teste piloto ao misturador 6 no momento de colocação
dos padrões na balança de borracha (Figura C.2, página 68). É visível o esforço físico
do operador, o qual se considera poder ser minimizado se o carrinho utilizado possuir
uma plataforma elevatória;
• certificados de calibração de algumas das balanças do misturador 6 (Figura C.3, página
69; Figura C.4, página 70; Figura C.5, página 71). Cada um dos certificados contém um
gráfico com o enviesamento das balanças registado aquando das últimas cinco
observações. Estes gráficos permitem analisar a estabilidade dos equipamentos,
sugerindo que a balança de resina E2 é estável, contrariamente às balanças de borracha
e de óleo.
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO C
66
Tabela C.1 - Identificação das balanças dos misturadores
Bal.
#0
1B
al.
#0
2B
al.
#0
3B
al.
#0
4B
al.
#0
5B
al.
#0
6B
al.
#0
7B
al.
#0
8B
al.
#0
9B
al.
#1
0B
al.
#1
1
Au
to
Ma
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al
xx
Mín
. [k
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Má
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Pa
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Mín
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Má
x. [
kg
]4
,57
1,9
8,6
20
3,5
Pa
drã
o [
kg
]4
50
51
00
Au
to
Ma
nu
al
xM
ín. [
kg
]2
,5M
áx.
[k
g]
24
5P
ad
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[k
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10
0A
uto
xx
xx
Ma
nu
al
xx
Mín
. [k
g]
1,7
93
7,5
2,6
1,7
86
6,3
Má
x. [
kg
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7,4
39
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39
,49
,54
62
52
,5P
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[k
g]
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4 X
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51
00
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xx
xM
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ua
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Mín
. [k
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1,7
52
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2,2
2,6
3,9
38
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9M
áx.
[k
g]
9,1
74
,56
91
,23
9,9
9,6
12
53
8,2
5P
ad
rão
[k
g]
4 X
54
X 5
4 X
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4 X
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51
00
Au
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xx
xx
xx
Ma
nu
al
xx
Mín
. [k
g]
0,4
1,9
42
,50
,85
,32
3,1
58
,76
1,9
9M
áx.
[k
g]
3,6
84
,19
86
38
,89
,46
25
32
1,1
8,4
5P
ad
rão
[k
g]
4 X
54
X 5
4 X
30
4 X
15
71
00
4 X
7,5
4 X
7,5
4 X
5A
uto
xx
xx
xx
Ma
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xx
Mín
. [k
g]
0,4
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42
,50
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,32
3,1
58
,76
1,9
9M
áx.
[k
g]
3,6
84
,19
86
38
,89
,46
25
32
1,1
8,4
5P
ad
rão
[k
g]
4 X
54
X 5
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30
4 X
15
71
00
4 X
7,5
4 X
5A
uto
xx
xx
Ma
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xx
xx
Mín
. [k
g]
3,4
22
,39
,93
,85
1,8
79
12
37
Má
x. [
kg
]2
8,4
37
42
3,1
10
,52
6,1
29
22
07
1,5
Pa
drã
o [
kg
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X 5
4 X
54
X 3
04
X 1
05
51
00
Au
tox
xx
Ma
nu
al
xx
xx
Mín
. [k
g]
1,5
1,5
12
,51
,78
61
,87
93
,15
3,2
Má
x. [
kg
]2
8,4
34
,53
60
,31
0,5
26
,68
62
53
79
,5P
ad
rão
[k
g]
4 X
54
X 5
4 X
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55
10
05
0A
uto
xx
xM
an
ua
lx
xx
xM
ín. [
kg
]2
,48
12
5,2
4,0
42
,99
81
9,2
58
,72
Má
x. [
kg
]4
9,7
51
45
,81
0,2
57
8,0
35
43
21
33
,5P
ad
rão
[k
g]
55
10
01
00
11M
ist.
#11
(C
C0
32
6)
9M
ist.
#9
10M
ist.
#10
(C
C0
33
9)
7M
ist.
#6
(C
C0
33
9)
8M
ist.
#7
(C
C0
33
9)
5M
ist.
#4
6M
ist.
#5
(C
C0
33
9)
3M
ist.
#2
4M
ist.
#3
1M
ist.
#0
2M
ist.
#1
Resi
na
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(CR
11
26
)
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10
)
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Qu
ímic
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orr
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12
)
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60
)
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05
)
#M
istu
ra
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r
Tip
o /
ga
ma
s /
pa
drã
o
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO C
67
Figura C.1 - Folha de registos para o autocontrolo das balanças dos misturadores
Dia
Dia
Dia
DP
Au
toc
on
tro
lo d
as
ba
lan
ça
s d
os
mis
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res
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(no
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do
1.º
tu
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17
18
78
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11
12
12
34
56
31
27
28
29
30
BA
LA
NÇ
A: __________
RUBRICA
16 14 12
Co
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olo
Pe
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10 8 6
25
26
19
20
21
22
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24
13
14
15
16
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34
56
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Ações
Corretivas
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14 12
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10 -4 -6
Re
so
luçã
o
-8 -10
-12
-14
-168 6 4
27
28
29
30
31
16
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22
23
24
25
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__
__
__
±10
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ram
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23
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22
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24
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27
16
17
18
19
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_____
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Re
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luçã
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-12
-14
-16
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__
__
±10
0 -2(g
ram
as
)-412
Co
ntr
olo
Pe
so
10 8
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO C
68
Tabela C.2 - Tempos estimados para o autocontrolo dos misturadores
Estima-se um tempo de 175 minutos para o autocontrolo de todas as balanças de todos os
misturadores. O controlo diário das balanças automáticas de todos os misturadores exigirá 122
minutos por dia; e o controlo mensal das balanças manuais exigirá 69 minutos por mês (este
valor não inclui o tempo referente ao início de controlo e reinício da série para os misturadores
4, 5, 6, 7, 9, 10 e 11, porque se admite que o autocontrolo mensal das balanças manuais é
realizado em conjunto com o autocontrolo das balanças automáticas no dia em apreço).
Figura C.2 - Fotografias do teste piloto ao misturador 6
Auto Manual Iniciar Auto Manual Reiniciar
Mist.#0 0 2 15 0 212 295 522 9
Mist.#1 0 1 15 0 127 295 437 8
Mist.#2 0 4 15 0 382 295 692 12
Mist.#3 0 1 15 0 127 295 437 8
Mist.#4 4 2 15 508 212 295 1030 18
Mist.#5 4 2 15 508 212 295 1030 18
Mist.#6 7 2 15 841 212 295 1363 23
Mist.#7 6 2 15 730 212 295 1252 21
Mist.#9 4 4 15 508 382 295 1200 20
Mist.#10 3 4 15 397 382 295 1089 19
Mist.#11 3 4 15 397 382 295 1089 19
totais 31 28 165 3889 2842 3245 10141 175
TOTAL (s) TOTAL (min)MisturadorN.º de balanças Tempos (s)
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO C
69
Figura C.3 - Certificado de calibração da balança de resina E2 do misturador 6
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO C
70
Figura C.4 - Certificado de calibração da balança de borracha do misturador 6
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO C
71
Figura C.5 - Certificado de calibração da balança de óleo do misturador 6
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO D
72
ANEXO D: Controlo da temperatura de paletização
Neste Anexo, referente ao controlo da temperatura de paletização, apresenta-se:
• imagens exemplificativas dos instrumentos de medição comparados (Figura D.1, página
72);
• gráficos e indicadores, gerados pelo software Minitab, concernentes ao teste de
normalidade (Figura D.2, página 73) e ao estudo de capacidade (Figura D.3, página 73)
das temperaturas recolhidas com o termo-higrómetro, vulgo termómetro de agulha. Os
pontos representados resultam do máximo da temperatura medida nos três pontos de
referência de cada palete monitorizada;
• estudo de regressão, efetuado no software Minitab, entre as variáveis temperatura
ambiente e temperatura de paletização medida pelo pirómetro ótico (Figura D.4, página
74);
• procedimento definido para o controlo da temperatura de paletização (Tabela D.1,
página 74);
• imagens exemplificativas da área de registos (Figura D.5, página 75) e da área de análise
(Figura D.6, página 76) da folha de cálculo construída para a monitorização da
temperatura de paletização.
Figura D.1 - Termómetro de agulha13 e pirómetro ótico14 utilizados na medição da temperatura de paletização
13 Imagem obtida de http://www.shinko-technos.co.jp/e/jpeg_gif/hand_dft1.jpg (consultado em 17 de março de
2017)
14 Imagem obtida de https://www.instrumart.com/assets/ST2030.jpg (consultado em 17 de março de 2017).
Termo-higrómetro Shinko Technos Pirómetro ótico Raytek
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO D
73
Figura D.2 - Probability Plot e resultados do teste à normalidade para a temperatura de paletização
Figura D.3 - Análise de capacidade do processo de misturação em termos da temperatura de paletização
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO D
74
Figura D.4 - Estudo de regressão entre as variáveis temperatura ambiente e temperatura de paletização medida
pelo pirómetro ótico
Tabela D.1 - Procedimento para o controlo da temperatura de paletização
R-squared (adjusted) 93,42% 89,24%
P-value, model 0,000* 0,000*
P-value, linear term 0,006* 0,000*
P-value, quadratic term 0,002* —
Residual standard deviation 0,319 0,408
Statistics Quadratic
Selected Model
Linear
Alternative Model
3231302928272625
32
31
30
29
28
27
ambiente
tem
p_p
iro
metr
o_o
tico
Large residual
Unusual X
Y: temp_pirometro_otico
X: ambiente
Fitted Line Plot for Quadratic ModelY = 70,49 - 3,773 X + 0,08098 X^2
* Statistically significant (p < 0,05)
Regression for temp_pirometro_otico vs ambienteModel Selection Report
A.
(1) Antes de iniciar o controlo, garantir que (i) estão reunidas condições de segurança para a sua
realização (assegurar que o processo de carregamento da palete a controlar está terminado e que
esta se encontra num local adequado que não dificulte a circulação dos operadores) e (ii) se
dispõe do termómetro de agulha e de materiais necessários ao registo das medições (papel e
caneta);
(2) Registar a designação do composto presente na palete, do turno e da equipa de operadores;
(3) Medir a temperatura ambiente: (i) retirar a cápsula de proteção da agulha do equipamento de
medição, (ii) ligar o termómetro, (iii) aguardar que a leitura estabilize, (iv) registar o valor medido;
(4) Repetir a seguinte sequência de ações, para cada um dos três pontos de referência: (i) introduzir,
gradual e totalmente, a agulha no interior do composto, perfurando-o; (ii) aguardar que a leitura
estabilize; (iii) retirar a agulha do termómetro do interior do composto; (iv) verificar que a agulha
não está danificada; (v) registar o valor medido;
(5) Desligar o termómetro e repor a cápsula de proteção na agulha.
B.
(1) Registar as informações recolhidas na folha de cálculo;
(2) Se algum dos valores medidos exceder a especificação, pedir intervenção do Departamento de
Apoio Técnico à Produção e repetir o teste no misturador em apreço, em data próxima.
Nas instalações do departamento:
Junto do misturador (chão de fábrica):
Procedimento a adotar no controlo da temperatura de paletização
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO D
75
…
…
Figura D.5 - Folha de cálculo para registo das medições da temperatura de paletização15
15 Os valores apresentados na figura correspondem a dados de teste.
Sub
grupo LIE LSE Material Caract. Máquina Receita Data
Turno/
Equipa Inspetor Ambiente Baixo Meio Cima Máximo
Local do
máximo Média Ações corretivas / Observações
12 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-01 FMF-R00037 18/03/2017 1ºB L.Carvalho 26,50 34,60 35,10 34,70 35,10 Meio 34,80
13 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-03 FMF-T04053 18/03/2017 1ºB L.Carvalho 28,00 36,90 36,40 35,80 36,90 Baixo 36,37
14 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-04 R1 - R00218 18/03/2017 1ºC L.Carvalho 26,50 38,30 41,00 31,60 41,00 Meio 36,97
15 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-06 M1 - T08846 21/03/2017 1ºC L.Carvalho 27,50 31,10 30,80 30,80 31,10 Baixo 30,90
16 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-07 R1 - R00218 21/03/2017 1ºC L.Carvalho 27,40 36,40 40,80 39,50 40,80 Meio 38,90
17 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-09 FMO-S00211 21/03/2017 1ºB L.Carvalho 27,10 34,10 36,00 35,70 36,00 Meio 35,27
18 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-10 M1 - T01139 18/03/2017 1ºC L.Carvalho 26,20 26,80 26,50 27,80 27,80 Cima 27,03
19 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-11 M1 - B00458 21/03/2017 1ºC L.Carvalho 25,70 26,80 27,40 27,80 27,80 Cima 27,33
20 0 40 Composto Temp. de Paletização Mist-00 FMF-T08846 21/03/2017 7ºD L, Carvalho 25,20 34,30 34,90 32,80 34,90 Meio 34,00
Verificação Temperatura de Paletização1xmês / misturador
Dados
Ambiente Baixo Meio Cima Máximo
Local do
máximo Média Ações corretivas / Observações
26,50 34,60 35,10 34,70 35,10 Meio 34,80
28,00 36,90 36,40 35,80 36,90 Baixo 36,37
26,50 38,30 41,00 31,60 41,00 Meio 36,97
27,50 31,10 30,80 30,80 31,10 Baixo 30,90
27,40 36,40 40,80 39,50 40,80 Meio 38,90
27,10 34,10 36,00 35,70 36,00 Meio 35,27
26,20 26,80 26,50 27,80 27,80 Cima 27,03
25,70 26,80 27,40 27,80 27,80 Cima 27,33
25,20 34,30 34,90 32,80 34,90 Meio 34,00
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO D
76
Figura D.6 - Folha de cálculo para análise das medições da temperatura de paletização16
16 Os valores apresentados na figura correspondem a dados de teste.
INÍCIO 01/jan/16
FIM 01/jun/17
Temp. Baixo
Filtro Sim
Caract. Temperatura de Paletização
Máquina Mist-06Turno (All)
Subg. Ambiente Baixo Meio Cima Máximo Média Data Est
6 30,10 29,60 29,50 30,10 29,73 42667
15 27,50 31,10 30,80 30,80 31,10 30,90 42695
27 23,40 28,40 28,60 28,50 28,60 28,50 42743
38 28,50 28,10 28,10 29,60 29,60 28,60 42771
Filtros ATUALIZARDADOS EM ANÁLISE
LSCX = 40 Outliers <> Range 20 Range Móvel = 2
LSCX =
Especif ic. AMOSTRAGEM INSTR. MEDIÇÃO
Controlo Temperaturas na Preparação Subgr. Frequ. Tipo Resol.
Data inicio:
Capacidade do processo
Que nível de confiança?
a = 0,05 n = 35 30,42
1 TRUE95 Espec. LIE LSE Tam. sub.= 2 2,83
0 0 40 si = 2,51 sp = 1,60
Pp = * 2,7911711
c2 (Obser vado) = 12,88 P o pulação Ppk = 1,99
Valor prova = 0,0752 % > LSE = 0,0000% 0 0,00% ppm =
C o nclusão : % < LIE = 0,0000% 0 0,00% b = 0
% Total = 0,0000% 0 0,00% LCSx = 35,73 LCISx = 25,11 LCSR = 9,23
d2 = 1,128 D4 = 3,268 A2 = 1,88
T EST E A D ER ÊN C IA : P R OB A B ILID A D ES:
A mo stras fo ra
0
Aderente à função Normal.
2 x MêsTermómetro
(agulha) 0,1
ºC01/jan/16
2
ESPECIFICAÇÃO:
Folha de recolha de dadosMist-06 Temp. Paletização -
Limites pré-
definidos
Máquina/Componente: Caract./Parâmetro: Medida/material
LCSx
LCIx
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
30,1 31,1 28,4 28,1 29,6 30,1 31,1 28,4 28,1 29,6 31,5 28,4 31 28,9 33,7 30,4 32 29,2 30,9 34,5 30,1 31,1 34 30,3 29,6 30,4 29,1 31,4 28,2 31 31,7 30,9 29,4 30,8 31,6
24/out 21/nov 8/ jan 5/fev 16/mar 1/mai 2/mai 3/mai 4/mai 5/mai 6/mai 7/mai 8/mai 9/mai 10/mai 11/mai 12/mai 13/mai 14/mai 15/mai 16/mai 17/mai 18/mai 19/mai 20/mai 21/mai 22/mai 23/mai 24/mai 25/mai 26/mai 28/mai 29/mai 30/mai 31/mai
D
e
s
v
i
o
s
Medido
LCSR
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
R
A
N
G
E
S
Continental Mabor
R =
X =
Cp/Cpk (Weibull)
Pp/Ppk (3sigma)
Cp/Cpk Mét. XR
Pp/Ppk (3,64sigma)
0
2
4
6
8
10
12
14
< m
-3s
m-
3s
a m
-2s
m-
2s
a m
-s
m-
s a
m
m a
m+
s
m+
s a
m+2
s
m+
2s
a m
+3s
> m
+3s
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO E
77
ANEXO E: Sistemas de medição da camada calandrada
Neste Anexo, são apresentados, detalhadamente, os equipamentos e acessórios necessários à
implementação do novo sistema de medição da espessura da camada calandrada.
Tabela E.1 - Equipamento necessário para o novo sistema de medição da espessura
Rubrica Imagem Quantidade Preço (€)
Medidor de espessura
Mitutoyo com resolução de
0,01 mm
Referências 543-783 ou 543-
783B17
1 por calandra 158
Cabo de elevação do fuso
Mitutoyo
Referência 54077418
1 por calandra 27
Cabo para ligação SPC
Mitutoyo
Referência 90540919
1 por calandra 42
17 Imagem obtida de http://ecatalog.mitutoyo.com/cmimages/003/320/543-783.jpg e preço obtido com base em
http://www.midwestflex.com/543-783.html (fontes consultadas em 3 de junho de 2017).
18 Imagem e preço obtidos em http://www.mitutoyo.co.uk/540774 (fonte consultada em 3 de junho de 2017).
19 Imagem e preço obtidos em http://www.mitutoyo.co.uk/905409 (fonte consultada em 3 de junho de 2017).
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO E
78
Rubrica Imagem Quantidade Preço (€)
Caixa de acrílico e outros
materiais necessários à
montagem20
-
1 por calandra 200
Interruptor para transmissão
das medições para o software
do computador Mitutoyo
Referência 264-01621
1 por calandra 252
Software de registo das
medições Mitutoyo
Referência 06AEN84622
-
1 280
Nota: os preços apresentados resultaram de conversão para euros, com base nas taxas de
câmbio em vigor no final do dia 17 de junho de 2017; quando possível, os valores basearam-
-se no preço antes de impostos de valor acrescentado.
Considerando a existência de duas calandras, a proposta de novo sistema de medição da
espessura da camada calandrada tem inerente um custo de, aproximadamente, 1638 €. Este
custo poderá variar aquando da negociação de eventuais descontos comerciais com o
fornecedor.
O interruptor apresentado permite o registo automático das medições em folhas de cálculo, sem
a necessidade de aquisição de um software específico. No entanto, contemplou-se na proposta
a aquisição de um software específico, já que este permite o registo automático de outras
informações relevantes, como a hora e o local de medição.
20 Preço estimado.
21 Imagem e preço obtidos em http://www.mitutoyo.co.uk/264-016 (fonte consultada em 3 de junho de 2017).
22 Preço obtido com base em http://www.msi-viking.com/Mitutoyo-06AEN846-USB-ITPAK-V10-
Cable_p_24764.html (fonte consultada em 3 de junho de 2017).
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO F
79
ANEXO F: Scrap produzido no processo de calandragem
Neste Anexo, relativo à análise do scrap produzido no processo de calandragem que tem como
causa a emenda das telas têxteis, apresenta-se:
• a produção, em metros, por máquina, por equipa e por estilo, durante o 1.º trimestre de
2017 (Tabela F.1, página 80);
• a quantidade, em kg, de scrap causado pela emenda das telas têxteis no 1.º trimestre de
2017, por máquina, por equipa e por estilo (Tabela F.2, página 80);
• boxplots para representar, por calandra (Figura F.1, página 81) e por equipa (Figura F.2,
página 81), o comprimento das emendas, com base na análise dos dados históricos
através da folha de cálculo construída (boxplots gerados pelo software Minitab);
• testes à razão de variâncias do comprimento das emendas por calandra (Figura F.3,
página 82) e por equipa da calandra 2 (Figura F.4, página 83), com base nos dados
recolhidos durante o acompanhamento in loco da produção e realizados com recurso ao
software Minitab;
• explicação sucinta do funcionamento da folha de cálculo construída para monitorizar o
comprimento das emendas (Figura F.5, página 84).
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO F
80
Tabela F.1 - Produção de camada calandrada no 1.º trimestre de 2017, por máquina, por equipa e por estilo
Tabela F.2 - Quantidade de scrap, com origem no setup, de camada calandrada no 1.º trimestre de 2017, por
máquina, por equipa e por estilo
Máquinas
e Equipas P1319 P1365 P1370 P1377 P1457 R1564 R3002 Total
C1
A 27835 30335 20350 1900 27654 7450 115524
B 30223 34432 12518 3839 36058 12731 129801
C 44081 53128 14254 7659 31847 21810 172779
D 12487 29908 12449 3832 25880 7631 92187
E 36527 29067 15622 1937 44595 15848 143596
C1 Total 151153 176870 75193 19167 166034 65470 653887
C2
A 95631 97986 53180 49471 70648 37501 404417
B 386449 447307 191936 200529 7300 250663 154632 1638816
C2 Total 482080 545293 245116 250000 7300 321311 192133 2043233
Total 633233 722163 320309 269167 7300 487345 257603 2697120
Estilos
Produção no 1.º trimestre de 2017 em metros
Máquinas
e Equipas P1319 P1365 P1370 P1377 P1457 R1564 R3002 Total
C1
A 87 87 79 26 59 18 356
B 78 87 53 0 50 44 311
C 76 80 25 5 55 55 296
D 35 64 61 7 53 31 251
E 82 60 55 3 56 47 304
C1 Total 358 378 272 41 273 195 1517
C2
A 128 107 77 58 93 51 513
B 528 557 289 260 16 591 242 2482
C2 Total 656 663 365 318 16 684 293 2995
Total 1014 1041 638 359 16 957 488 4512
Scrap com origem no setup no 1.º trimestre de 2017 em kg
Estilos
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO F
81
Figura F.1 - Comprimento da emenda da camada calandrada, por calandra, estimado com base na folha de
cálculo construída
Figura F.2 - Comprimento da emenda da camada calandrada, por equipa, estimado com base na folha de cálculo
construída
C2C1
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
co
mp
rim
en
to d
a e
men
da, em
metr
os
Boxplot por calandra
C2-BC2-AC1-EC1-DC1-CC1-BC1-A
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
co
mp
rim
en
to d
a e
men
da, em
metr
os
Boxplot por equipa
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO F
82
Test and CI for Two Variances: comprimento da emenda (metros) vs Calandra
Method
Null hypothesis σ(C1) / σ(C2) = 1
Alternative hypothesis σ(C1) / σ(C2) ≠ 1
Significance level α = 0,05
Statistics
95% CI for
Calandra N StDev Variance StDevs
C1 16 0,475 0,226 (0,357; 0,722)
C2 24 0,271 0,073 (0,187; 0,427)
Ratio of standard deviations = 1,754
Ratio of variances = 3,076
95% Confidence Intervals
CI for
CI for StDev Variance
Method Ratio Ratio
Bonett (1,080; 3,623) (1,166; 13,125)
Levene (1,060; 3,843) (1,123; 14,765)
Tests
Test
Method DF1 DF2 Statistic P-Value
Bonett — — — 0,026
Levene 1 38 4,95 0,032
Figura F.3 - Teste à razão de variâncias do comprimento da emenda das calandras
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO F
83
Test and CI for Two Variances: comprimento da emenda (metros) vs Equipa
Method
Null hypothesis σ(C2-A) / σ(C2-B) = 1
Alternative hypothesis σ(C2-A) / σ(C2-B) ≠ 1
Significance level α = 0,05
Statistics
95% CI for
Equipa N StDev Variance StDevs
C2-A 15 0,167 0,028 (0,117; 0,274)
C2-B 9 0,394 0,155 (0,246; 0,809)
Ratio of standard deviations = 0,423
Ratio of variances = 0,179
95% Confidence Intervals
CI for
CI for StDev Variance
Method Ratio Ratio
Bonett (0,190; 0,838) (0,036; 0,702)
Levene (0,181; 0,868) (0,033; 0,753)
Tests
Test
Method DF1 DF2 Statistic P-Value
Bonett — — — 0,023
Levene 1 22 5,90 0,024
Figura F.4 - Teste à razão de variâncias do comprimento da emenda das equipas da calandra 2
Melhoria de qualidade nos processos da indústria dos pneus
ANEXO F
84
Figura F.5 - Folha de cálculo construída para analisar o comprimento das emendas no âmbito do estudo do scrap
da calandragem
Os valores apresentados nas imagens correspondem a dados de teste.
O utilizador deve definir um período de análise.
O utilizador deve fixar os níveis mínimo e máximo aceitáveis de scrap (comprimento em metros
da tira de camada calandrada removida), para cada calandra (como a máquina é um fator
significativo, os limites devem ser diferentes para cada calandra).
O utilizador pode expurgar a análise de valores considerados outliers (definindo a eliminação de
valores inferiores ou superiores às referências fixadas).
A folha estima, para cada dia e para cada máquina, o comprimento médio das tiras removidas.
A folha apresenta um gráfico dinâmico para cada calandra, apenas com os valores do período de
análise definido. Quando os valores estiverem fora dos limites fixados, então a parte superior da
coluna respetiva é automaticamente rodeada com uma circunferência de contorno vermelho.
Se o utilizador pretender, pode também consultar o scrap gerado por uma determinada equipa num
certo dia.
Início 01/03/2017
Fim 31/03/2017
CL1-LIE 1
CL1-LSE 3
CL2-LIE 0,8
CL2-LSE 1,8
Omitir
Valores superiores a 5,9
Valores inferiores a 0,7
C1 C1 C1 C2 C2 C2
Data n.º setups m scrap m/emenda n.º setups m scrap m/emenda
01/03/2017 3,0 3,7 1,2 7 24,1 3,44
02/03/2017 6,0 21,4 3,6 16 19,7 1,23
03/03/2017 3,0 8,9 3,0 9 61,8 #N/A
04/03/2017 3,0 5,1 1,7 12 15,2 1,27
05/03/2017 5,0 9,3 1,9 19 22,4 1,18
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
Calandra 1
Calandra 1 LIE LSE fora dos limites