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Universidade do Estado do Pará Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Escola de Enfermagem “Magalhães Barata” Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Curso de Mestrado em EnfermagemAssociado UEPA/UFAM Marune Melo Távora Fatores que Interferem no Sucesso do Tratamento Diretamente Observado em Tuberculose Belém 2016

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Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Escola de Enfermagem “Magalhães Barata”

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

Curso de Mestrado em Enfermagem–Associado UEPA/UFAM

Marune Melo Távora

Fatores que Interferem no Sucesso do Tratamento

Diretamente Observado em Tuberculose

Belém

2016

Marune Melo Távora

Fatores que Interferem no Sucesso do Tratamento Diretamente

Observado em Tuberculose

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Enfermagem, Mestrado em Enfermagem Associado

UEPA/UFAM, como requisito parcial para obtenção do

título de Mestre em Enfermagem.

Linha de Pesquisa: Enfermagem em Saúde Pública e

Epidemiologia de Doenças na Amazônia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ivaneide Leal Ataíde Rodrigues

Belém

2016

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UEPA

Távora, Marune Melo

Fatores que interferem no sucesso do tratamento diretamente observado em tuberculose. / Marune Melo Távora. -- Belém, 2016.

76 f. : il.

Orientador: Ivaneide Leal Ataíde Rodrigues. Dissertacão (Mestrado em Enfermagem) - Universidade do Estado do Pará,

2016.

1. Tuberculose. 2. Enfermagem. I. Rodrigues, Ivaneide Leal Ataíde, Orient. II. Título.

CDD 22.ed. 616.998 ___________________________________________________________________

Marune Melo Távora

Fatores que Interferem no Sucesso do Tratamento Diretamente

Observado em Tuberculose

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Enfermagem, Mestrado em Enfermagem Associado

UEPA/UFAM, como requisito parcial para obtenção do

título de Mestre em Enfermagem.

Linha de Pesquisa: Enfermagem em Saúde Pública e

Epidemiologia de Doenças na Amazônia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ivaneide Leal Ataíde Rodrigues

Data de aprovação:

Banca Examinadora:

__________________________________________

Prof.ª Dr.ª Ivaneide Leal Ataíde Rodrigues - orientadora Doutora em Enfermagem – UFRJ

Universidade do Estado do Pará

__________________________________________

Prof. Dr. Silvio Eder Dias da Silva – examinador externo Doutor em Enfermagem – UFSC

Universidade Federal do Pará

__________________________________________

Prof. Drª. Laura Maria Vidal Nogueira – examinadora interna Doutora em Enfermagem – UFRJ

Universidade do Estado do Pará

__________________________________________

Prof.ª Dr.ª Jacira Nunes Carvalho – examinadora externa (suplente) Doutora em Enfermagem – UFSC

Universidade Federal do Pará

__________________________________________

Prof. Drª. Antonia Margareth Moita Sá – examinadora interna (suplente) Doutora em Enfermagem – UFRJ

Universidade do Estado do Pará

Belém

2016

Dedico essa dissertação a minha mãe, Nazaré

Távora, pelo apoio e incentivo em todos os

momentos da minha vida. Sem você nada disso

teria sido possível, pois, é o seu amor que me

sustenta. Obrigada por tudo.

AGRADECIMENTOS

A Deus, senhor de todas as horas da minha existência.

A minha filha Helena, pela companhia nas madrugadas de estudo sacrificando suas

horas de sono.

À Secretaria de Estado de Saúde Pública pela liberação e especialmente à

Coordenadora Estadual do Programa de Controle da Tuberculose, Lucia Helena Martins

Tavares Monteiro e colegas de trabalho pelo apoio.

À Secretaria Municipal de Saúde de Belém pela concessão de horário especial para

estudo e acesso às Unidades de Saúde. Especialmente a Coordenadora Municipal do

Programa de Controle da Tuberculose, Emanuele Cordeiro Chaves e equipe.

A direção da Unidade de Saúde do Curió, Edilson Reis e Taís Maués, e aos meus

colegas de trabalho pela compreensão em todas as ausências necessárias.

Aos colegas enfermeiros, pela acolhida e confiança, e as pessoas doentes com

tuberculose, que gentilmente aceitaram participar do estudo, me permitindo conhecer um

pouco de suas histórias pessoais, ampliando minha visão e conhecimento sobre o tema.

As minhas colegas de turma, para quem repito aqui o que várias vezes disse

pessoalmente: uma das melhores coisas dos últimos dois anos, foi conhecer vocês. Que nossa

amizade permaneça.

As queridas Professoras, Doutoras do curso, por tão amavelmente compartilharem um

pouco de seus conhecimentos conosco.

A todos os servidores do campus IV que direta ou indiretamente contribuíram para o

bom andamento do curso, especialmente a Nelma e Augusto sempre presentes nos “sufocos”

e conquistas.

Aos Professores Doutores da banca examinadora, que acompanharam todo o processo

desde a qualificação, por suas valiosas contribuições.

A Profª Dra Ivaneide Leal Ataíde Rodrigues, por todo seu cuidado, generosidade e

incentivo. Hoje minha orientadora, mas a quem eu tenho o prazer de chamar, há muitos anos,

de amiga.

A todos, meus sinceros agradecimentos!

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não

nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam

um pouco de nós.” (Antoine de Saint-Exupéry)

TÁVORA,MM. Fatores que interferem no sucesso do tratamento diretamente observado em

tuberculose. 2016. 76 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade do Estado do

Pará, Belém. 2016.

RESUMO

Os objetivos deste estudo foram: analisar os fatores intervenientes na adesão ao Tratamento

Diretamente Observado em tuberculose, sob o ponto de vista de doentes e enfermeiros de

unidades básicas de saúde do município de Belém, Pará; descrever a percepção de

enfermeiros e doentes a respeito do Tratamento Diretamente Observado; buscar congruência

na percepção de enfermeiros e doentes a respeito dos fatores intervenientes na adesão ao

Tratamento Diretamente Observado e discutir como esses fatores se relacionam com vistas à

melhor compreensão da realidade nas unidades básicas de saúde. Trata-se de uma pesquisa

qualitativa descritiva com participação de 13 enfermeiros e 52 pessoas doentes com

tuberculose. Para a produção dos dados foram realizadas entrevistas individuais utilizando-se

roteiro semiestruturado composto de duas partes. A primeira tratou do perfil dos participantes

e a segunda, com questões abertas, sobre o entendimento da modalidade de tratamento e o

processo de trabalho. Da análise dos resultados emergiram duas categorias: Percepções sobre

o Tratamento Diretamente Observado; Operacionalização do Tratamento Diretamente

Observado: aspectos positivos e negativos. Na dimensão das percepções, doentes e

enfermeiros concordaram que a forma de tratamento garante a cura, porém, o entendimento

dos doentes é parcial, o que dificulta a adesão. Na dimensão da operacionalização,

demonstrou-se que as baixas condições sócio econômicas em que vivem, geram dificuldades

para os doentes chegarem aos Serviços de Saúde e comprometem o bom andamento do

tratamento. Para os enfermeiros, escassez de recursos humanos, falta de incentivos para

alimentação e transporte dos doentes, e estruturas físicas inadequadas dificultam a

operacionalização do tratamento diretamente observado. Mesmo com os pontos de fragilidade

apontados, concluiu-se que as unidades básicas de saúde possuem um bom potencial para

desenvolver a estratégia, pois, os enfermeiros são sensíveis quanto a sua importância.

Todavia, necessitam de maior apoio institucional para que as dificuldades possam ser

superadas e esta seja bem sucedida. Os resultados deste estudo podem contribuir para a

tomada de decisão e o empoderamento das equipes de trabalho, para mudanças necessárias na

realidade local no que concerne principalmente a valorização da opinião do doente e do

trabalho multidisciplinar.

Palavras chave: tuberculose, terapia diretamente observada, adesão a medicação, cooperação

do paciente.

TÁVORA,MM. Factors that affect the success of tuberculosis directly observed treatment.

2016. 76 f. Dissertation (Masters in Nursing) - State University of Pará, Belém. 2016.

ABSTRACT

The objectives of this study were: to analyze the factors involved in Directly Observed

Treatment adherence for tuberculosis from the patients and nurses’ perspective about basic

health units in Belém, Pará; to describe the nurses and patients’ perception about the Directly

Observed Treatment; to search consistency in the nurses and patients’ perception about the

factors involved in Directly Observed Treatment adherence, and to discuss how these factors

relate in order to better understanding of reality in the basic health units. This is a descriptive

qualitative research with participation of 13 nurses and 52 sick people with tuberculosis. For

the production of data were performed individual interviews using a semi-structured script in

two parts. The first dealt with the participants’ profile and the second one, with open

questions, about the understanding from the method of treatment and the work process. From

the analysis of the results emerged two categories: Perceptions about Directly Observed

Treatment; Directly Observed Treatment operationalization: positive and negative aspects. In

the perceptions dimension, patients and nurses agreed that the treatment form provides

healing, but the patients’ knowledge is partial which hamper the adherence. In

operationalization dimension it was demonstrated that low socioeconomic conditions in which

they live, raises difficulties for the patients get health services, and compromise the good

treatment progress. For nurses, scarcity of human resources, lack of incentives for food and

patients transport, and inadequate physical structures hamper the directly observed treatment

operationalization. Even with the weak points indicated, it was concluded that the basic health

units has a good potential to develop the strategy, because the nurses are sensitive about their

importance. However, they need the most institutional support for these difficulties can be

overcome and this is successful. The study results may contribute to the decision-making and

empowering work teams for necessary changes in the local reality in which especially

concerns the patient opinion valuation and the multidisciplinary work.

Key words: tuberculosis, directly observed therapy, medication adherence, patient

cooperation

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 12

2. REVISÃO DA LITERATURA 21

2.1. TUBERCULOSE: BREVE HISTÓRICO NO MUNDO E NO

BRASIL

21

2.2. TRATAMENTO DIRETAMENTE OBSERVADO 26

2.3. ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO CONTROLE DA

TUBERCULOSE

27

3. METODOLOGIA 30

3.1. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO 30

3.2. CENÁRIOS DO ESTUDO 30

3.3. PARTICIPANTES 31

3.4. PRODUÇÃO E ANÁLISE DE DADOS 33

3.5. ASPECTOS ÉTICOS 33

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 35

4.1. SOBRE OS PARTICIPANTES 35

4.2. SOBRE AS CATEGORIAS 35

4.2.1. Categoria 1 – Percepções sobre o TDO 36

A percepção dos doentes 36

A percepção dos enfermeiros 38

4.2.2. Categoria 2 – Operacionalização do TDO: aspectos positivos e

negativos 40

Aspectos positivos na concepção dos doentes 41

Aspectos positivos na concepção dos enfermeiros 43

Aspectos negativos na concepção dos doentes 46

Aspectos negativos na concepção dos enfermeiros 52

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 59

REFERÊNCIAS 61

APÊNDICES 66

ANEXOS 74

12

1. INTRODUÇÃO

A tuberculose é uma doença de transmissão direta por meio de secreções respiratórias

quando a pessoa doente fala, tosse ou espirra. Por essa característica não é de controle fácil,

porém, seu tratamento é altamente eficaz e disponibilizado integralmente pelo Sistema Único

de Saúde (SUS), de forma descentralizada para os serviços de atenção primária em saúde

(APS) favorecendo o acesso das pessoas acometidas e com toda a possibilidade de cura, desde

que o tratamento seja realizado conforme o preconizado. Entretanto, ainda hoje permanece

como um problema grave de saúde pública (BRASIL, 2014).

Para efetivar o controle da tuberculose em nosso país, o Ministério da Saúde, por meio

do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), estabeleceu metas que

apresentaram algumas variações ao longo do tempo, de acordo com a situação

epidemiológica, desde o lançamento do Plano Emergencial de Combate a Tuberculose

(BRASIL, 1996). Este Plano estabeleceu metas em conformidade com as orientações da

Organização Mundial de Saúde/Organização Panamericana da Saúde (OMS/OPAS), sendo

que essas se modificaram, de acordo com a evolução do controle da doença.

Atualmente são metas vigentes: Descoberta de 70% dos casos estimados para o ano

de avaliação; Tratamento correto de 100% dos pacientes diagnosticados com tuberculose;

Cura de no mínimo 85%; Manutenção da taxa de abandono em percentuais que não

ultrapassem 5% do total de casos. No Brasil, os esforços para o seu alcance vêm sendo

reconhecidos internacionalmente, mas, mesmo com algumas conquistas, ainda se mantém no

18º lugar entre os 22 países considerados de alta carga e que concentram juntos cerca de 80%

dos casos do mundo (BRASIL, 2016).

No ano de 2003 o Brasil apresentava coeficiente de incidência de 44,4/100.000 hab.

Esse indicador após dez anos chegou a apresentar uma redução de até 20,4%, quando em

2013 o Brasil diagnosticou 71.123 casos novos perfazendo uma incidência de 35,4/100.000

hab. A mortalidade por tuberculose também vem apresentando tendência de redução nas

últimas décadas e o país alcançou em 2012, cinco anos antes do previsto, as metas

estabelecidas pela OMS.

Essa redução estava em consonância com os oito Objetivos do Milênio que se referiam

a Erradicação da pobreza; Garantia de ensino básico universal; Promoção da igualdade de

gênero e autonomia das mulheres; Redução da mortalidade infantil; Melhoria da saúde

materna; Garantia da sustentabilidade ambiental; Estabelecimento de parceria mundial para o

desenvolvimento; Combate ao HIV/AIDS, malária e outras doenças, onde a tuberculose

13

estava incluída com o compromisso de reduzir pela metade o coeficiente de mortalidade até

2015, quando comparado ao coeficiente de 1990. Também em 2012 o coeficiente de

mortalidade ficou em 2,3/100.000 hab. e a cura dos casos bacilíferos foi de 70,6%, enquanto o

abandono de tratamento superou os 10% (BRASIL, 2014).

Ainda no ano de 2014, a Assembleia Mundial de Saúde aprovou a Estratégia Global e

Metas para Prevenção, Atenção e Controle da Tuberculose pós-2015 – Estratégia pelo Fim da

Tuberculose. Essa nova estratégia tem como objetivo o fim da epidemia global da tuberculose

e como metas, a redução do coeficiente de incidência para menos de 10 casos/100.000hab e a

mortalidade em 95% até 2035, tomando-se por base o perfil epidemiológico de 2015. Para

que essas metas sejam alcançadas, a estratégia será baseada em três pilares: “prevenção e

cuidado integrado centrado no paciente; políticas arrojadas e sistemas de apoio; intensificação

da pesquisa e inovação” (p.2). Um Plano Global e outro Regional para o período 2016 a 2020

foram lançados pelas Organizações Mundial e Panamericana de Saúde respectivamente, com

a recomendação da criação de planos nacionais para os países de cada região, enfatizando-se

as populações vulneráveis, grupos de risco, determinantes sociais, percentuais de cura,

testagem HIV e diagnóstico. Em 2015 o coeficiente de incidência do Brasil foi de

30,9/100.000hab e o de mortalidade 2,2/100.000hab (BRASIL, 2016).

A região Norte é a 1ª em incidência no país, com coeficiente de 37,4/100.000hab

(BRASIL,2016), e o Pará figura como o primeiro estado em carga (número absoluto de casos)

na região (BRASIL, 2014). Segundo a Coordenação Estadual do Programa de Controle da

Tuberculose, o Pará apresenta uma média anual de cerca de 3.500 casos novos/ano. As taxas

de cura e abandono para casos novos de todas as formas na avaliação de 2014 foram de 62,3%

e 8,6% respectivamente e a mortalidade de 2,7/100.000hab, dados ainda sujeitos a revisão

(PARÁ, 2014).

Para o enfrentamento da magnitude do problema no país, vários investimentos têm

sido feitos, tanto no contexto epidemiológico, como no operacional. Dentre eles destaca-se a

implantação do tratamento em regime supervisionado para doentes com maior risco de

abandono, recomendada a partir do Plano Emergencial de 1996, considerando a grave

situação de adoecimento existente (NETTO, 2006).

No ano de 1998 uma nova proposta de implementação de ações foi criada com o Plano

Nacional de Controle da Tuberculose, oriundo da decisão número 284 de 06 de agosto de

1998 do Conselho Nacional de Saúde. Este destacou a tuberculose como um problema

prioritário de saúde no Brasil e estabeleceu uma série de medidas para melhorar a

operacionalização e a gestão das ações no país. O plano foi expandido para os 5.500

14

municípios brasileiros, ampliando a cobertura anterior que era de apenas 230 municípios, no

Plano Emergencial, e apresentava como metas: implementar em 100% dos municípios a

cobertura do Programa de Controle da Tuberculose (PCT); diagnosticar pelo menos 92 % dos

casos esperados em três anos (2001 a 2003), curar (“tratar com sucesso”) pelo menos 85% dos

casos diagnosticados; reduzir a incidência em 50% e mortalidade em dois terços em nove

anos contados a partir de 2001 (BRASIL, 1999).

A elaboração do Plano Nacional atendeu uma recomendação da OMS/OPAS para a

adoção da estratégia DOTS, sigla em inglês que se refere a Tratamento Diretamente

Observado de Curta Duração (Directly Observed Tratment Short-Course) e sustenta-se em

cinco elementos considerados essenciais: Compromisso governamental que considere

recursos humanos e financeiros necessários para alcançar as metas dos Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio; Detecção de casos através dos exames bacteriológicos de

escarro (baciloscopia, cultura, teste de sensibilidade e tipificação quando necessário), com o

fortalecimento das redes laboratoriais com controle de qualidade; Regime de tratamento

padronizado com supervisão da tomada dos medicamentos por profissional de saúde

(Tratamento Diretamente Observado – TDO); Sistema efetivo e regular de fármacos de

qualidade; Sistema de informação eficiente para monitoramento e avaliação do Programa

(BRASIL, 2006).

Nessa perspectiva, a estratégia DOTS é considerada como prioritária para atingir as

metas pactuadas, como forma de evitar o surgimento de bacilos resistentes e possibilitar um

efetivo controle da doença no país. No ano de 2011 somente 45,7% dos casos novos de

tuberculose foram acompanhados por TDO em todo o território nacional, o que demonstra a

necessidade de expansão para a consolidação da estratégia no país (BRASIL, 2014).

O Ministério da Saúde, por meio do PNCT, redefiniu em 2009 os critérios para o

estabelecimento de municípios prioritários para o controle do agravo: ser capital de unidade

federada ou apresentar população igual ou maior do que 100 mil habitantes e pelo menos um

dos dois critérios a seguir:

■ Apresentar coeficiente de incidência de casos novos de todas as formas superior a

80% do coeficiente nacional (32 casos novos por 100 mil habitantes), utilizando como base os

dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) em 2007;

■ Apresentar coeficiente de mortalidade por tuberculose superior ao coeficiente

nacional (2,5 óbitos por 100 mil habitantes) pela base do Sistema de Informação sobre

Mortalidade (SIM) em 2007.

15

A partir desses novos critérios, 181 municípios foram incluídos na lista de prioritários

para o PNCT, dentre estes a capital paraense Belém, que apresentou em 2007 taxa de

incidência e mortalidade de 80,5 e 4,34/100.000 hab respectivamente.

Em agosto de 2015, após reunião no PNCT com a participação de todos os

coordenadores das unidades federadas, houve nova revisão nos critérios para definição dos

municípios prioritários que passou a considerar: capitais ou municípios com população maior

que 150 mil habitantes, com coeficiente de incidência ou de mortalidade por tuberculose todas

as formas acima do coeficiente nacional que, segundo dados de 2013 eram 35,3/100.000 hab.

e 2,3/100.000 hab, respectivamente, ou se apresentou mais de 200 casos novos nesse mesmo

ano. Essa lista ainda é provisória e não foi oficializada em documento do Ministério da Saúde

por conta de necessidade de aprovação em definitivo de instâncias superiores. Os estados e

municípios foram informados por e-mail emitido pelo PNCT. Na nova lista Belém continua

fazendo parte por ainda atender à critérios estabelecidos.

Minha aproximação com o problema da tuberculose aconteceu desde o inicio de minha

trajetória profissional e nos últimos vinte anos, tenho desenvolvido atividades no controle da

tuberculose em nosso estado, atuando em unidade básica de saúde no atendimento direto aos

doentes e como técnica da Coordenação Estadual do Programa de Controle da Tuberculose,

onde desenvolvo atividades de planejamento, monitoramento, avaliação e capacitação de

recursos humanos. Essa experiência me permite conhecer o desenvolvimento das ações de

controle da tuberculose nos serviços de saúde, não só na capital, como nos demais municípios

do Pará.

A prática cotidiana também permitiu observar que mesmo com incentivos por parte

dos níveis Federal e Estadual, muitos municípios ainda não conseguiram implantar e/ou

implementar a estratégia DOTS com sucesso, chegando a apresentar índices de cura e

abandono de tratamento muito semelhantes quando comparado ao regime autoadministrado.

Desde a adesão do Brasil às recomendações internacionais das metas e ações voltadas

ao aumento da cura e redução do abandono de tratamento, o TDO vem despontando como

estratégia eficiente para o alcance dessas metas e sendo aplicado na APS em todo o país.

Entretanto, percebe-se que a qualidade da atenção dispensada nos serviços de saúde varia de

acordo com cada realidade e com o grau de valorização do TDO pelos atores envolvidos,

sejam enfermeiros, doentes ou a própria Instituição.

O processo de implantação da estratégia DOTS em Belém teve início em 2001, com

cerca de 6,7% dos casos novos em TDO. Estes se distribuíam em um Centro Escola

gerenciado pela Universidade do Estado do Pará e em algumas unidades básicas gerenciadas

16

pela Secretaria Municipal de Saúde, pois, o processo de municipalização da rede básica de

serviços ainda não se efetivara em Belém e a maior parte das UBS continuava sob a gestão do

estado. Após o ano de 2008 houve um incremento na modalidade de tratamento no município,

com a expansão do TDO para unidades de saúde tradicionais e Estratégias de Saúde da

Família com apoio da parceria Projeto Fundo Global Brasil/Ministério da Saúde, instituída em

2007. Em que pesem os esforços para a implementação da estratégia, em 2014 somente 44%

dos casos diagnosticados em Belém estavam em regime observado (PARÁ, 2014). Na

avaliação de 2014 os percentuais de cura e abandono de casos em TDO foram de 73% e 9% e

64% e 10%, respectivamente, para casos em regime auto administrado, ficando, em ambos os

casos, aquém da recomendação nacional.

Apesar de haver um vasto referencial bibliográfico sobre tuberculose e estratégia

DOTS, poucos trabalhos encontrados se referem ao objeto deste estudo. As abordagens

referem-se a questões relacionadas a efetividade, custos ou avaliação de desempenho de

serviços, sendo muitos deles desenvolvidos em países do Oriente Médio, continente africano

ou América Central que possuem realidades bem diferentes do Brasil. Partiu-se então para

uma busca mais aprofundada para conhecer as evidências na literatura que colaborassem para

mostrar a relevância deste estudo. Nessa perspectiva, o Estado da Arte nos pareceu a opção de

melhor aplicabilidade.

Foram pesquisadas as principais bases de dados em saúde por meio da biblioteca

virtual em saúde (BIREME) tais como: MEDLINE, LILACS, BDENF - enfermagem (Brasil)

e do banco de teses e dissertações do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem

(CEPEn). Os estudos incluídos foram publicados entre 2005 e 2015, no intuito de buscar as

mais recentes produções.

Ao pesquisar o descritor [tuberculose] na BIREME, 122.230 referências aparecem

distribuídas em 09 coleções de bases de dados. Ao se relacionar [terapia diretamente

observada] a [tuberculose], 1.183 publicações são distribuídas em 05 bases de dados.

Incluindo-se o descritor [adesão à medicação] obteve-se 87 registros. Com a inclusão do

descritor [cooperação do paciente] 16 artigos foram contabilizados em 03 bases de dados,

destes somente 10 estavam disponíveis com texto completo.

A página de pesquisa oferece várias opções de filtros que podem ser associados à

busca. Considerando a ocorrência de tuberculose em animais, a exemplo da tuberculose

bovina, optou-se por usar o filtro “humanos” como limite. Utilizando esse recurso, 14 artigos

permaneceram na busca. Dentre os textos obtidos, somente 03 foram selecionados para a

composição do Estado da Arte nesta base. Vale ressaltar que foram realizadas várias outras

17

associações entre descritores, sem que ao final se obtivesse resultado satisfatório em relação

ao número de publicações ou muito diferente do obtido nas buscas anteriores. O que se

descreve aqui foi a associação que mais artigos gerou.

Na base de dados do CEPEn, foram utilizadas como palavras chave: tuberculose,

tratamento supervisionado, tratamento diretamente observado e DOTS. Encontrou-se 788

registros com a palavra tuberculose, 11 com tratamento supervisionado, 03 com tratamento

diretamente observado e 09 com a sigla DOTS estando um deles indisponível. Destes

trabalhos, 01 continha os dois termos: tratamento diretamente observado e DOTS. Da base

CEPEn de 2005 a 2014, último catálogo publicado, somente 03 trabalhos foram utilizados,

sendo 02 artigos e 01 tese. Desta forma, ao final da pesquisa, fizeram parte da construção

deste Estado da Arte 05 artigos e 01 tese que tratavam sobre o universo do TDO.

Na visão de profissionais e doentes, a tuberculose é uma doença estigmatizante e traz

muito sofrimento físico e mental que geram impactos negativos como o afastamento do

trabalho, separação da família e enfraquecimento da autoestima (QUEIROZ et al, 2012). O

estigma e a discriminação foram percebidos pelos profissionais na relação familiar, mas

também com a equipe, gerando constrangimentos e ambiguidade nas relações que ora

promoviam a inclusão e ora a exclusão (SÁNCHEZ, 2007).

Para os profissionais de saúde, a discriminação é o fator de maior peso (QUEIROZ,

2010) e gera para o paciente medo, tristeza, vergonha e culpa (SÁNCHEZ, 2007) pelo

adoecimento. O medo se refere não só a questão da discriminação, mas também a

possibilidade de perder o emprego ou transmitir a doença para outras pessoas. Mesmo assim,

a maioria dos doentes compartilha a situação com a família (CRUZ, 2012).

A tuberculose é vista pelos profissionais como doença dos menos favorecidos, ligada

ao “risco social” que é considerado como viver em situação de rua, ser imigrante, ter

subemprego e dependência química, dentre outros. A co-infecção com o vírus da aids pode

piorar o quadro emocional pela exacerbação do medo da morte. A debilidade física

apresentada em ambas as situações afeta a vida e principalmente o emprego (SÁNCHEZ,

2007).

Alguns trabalhadores entendem que a estratégia deve ser utilizada para todos os casos,

porém, persiste a idéia de que o TDO é para os doentes mais “difíceis” e não se aplica para

aqueles que possuem condições socioeconômicas favoráveis (SÁNCHEZ, 2007; CRUZ,

2012). Essa percepção se confirma em pesquisa realizada em um município paulista com

coordenadores gerenciais. Estes afirmaram que o TDO é para “ver, controlar e observar” a

ingestão dos medicamentos, garantindo a adesão e quebrando a cadeia epidemiológica da

18

doença; e que o mesmo deve ser indicado para pacientes de retratamento e aos “trabalhosos”.

No mesmo estudo os profissionais da assistência veem o TDO da mesma forma e incluem a

importância de ambientes adequados para a observação visando a melhora na formação de

vínculo (TERRA, 2008).

Segundo alguns profissionais, a estratégia não dá autonomia aos pacientes mas, na

situação epidemiológica atual, é necessária. A falta de flexibilização de horários é apontada

como um ponto negativo, pois, não garante o direito de cidadania e liberdade de escolha

(TERRA, 2008). Conciliar os horários da observação da ingestão dos medicamentos com os

de trabalho dos doentes é apontado como dificuldade tanto por eles quanto pelos profissionais

de saúde e, por vezes se transforma em desafio para que os serviços atendam a necessidade de

cuidado que o TDO exige (QUEIROZ et al, 2012).

Apesar de alguns profissionais acharem que o TDO é difícil e cansativo, acreditam que

o vínculo ameniza as dificuldades (QUEIROZ, 2010). O vínculo é amplamente citado como

facilitador da estratégia, porém, limitado por questões como dependência química, reações

adversas, trabalho, autoestima prejudicada, falta de apoio familiar e pouca compreensão sobre

a importância do tratamento. O abandono na visão dos profissionais estaria relacionado

também ao fato dos pacientes já se sentirem curados mediante a melhora clínica (CRUZ,

2012).

Os incentivos são importantes no TDO pelas condições de vida que a maior parte dos

doentes apresenta (SÁNCHEZ, 2007). Morar próximo às unidades, receber vale-transporte,

facilidades no atendimento e em alguns serviços, facilitam a adesão. Quando essa

flexibilidade não acontece, a conciliação com o trabalho geralmente é mais difícil (CRUZ,

2012).

Os profissionais apontam que a burocracia, limitação da oferta e atrasos nos repasses

influenciam na relação com os doentes (TERRA, 2008), assim como a baixa qualidade do que

é oferecido (SÁNCHEZ, 2007), causando por vezes “decepção” na equipe. Existe relato de

que a falta de vale-transporte, inclusive, propiciou a interrupção do TDO por um período em

que os doentes ficaram em tratamento autoadministrado até a regularização (CRUZ, 2012). A

falta da garantia para esse ir-e-vir, reforça as dificuldades institucionais para dirimir essa

barreira que se interpõe como fragilidade no acompanhamento dos casos (ARCÊNCIO et al,

2011).

Sobre a responsabilidade pelo TDO, profissionais e doentes não chegam a um

consenso, havendo referências quanto responsabilidade ser da equipe e do doente, só da

equipe ou só do doente ou que a responsabilidade seria da enfermeira ou pelo menos do

19

pessoal de enfermagem, talvez pela presença mais próxima desses profissionais na estratégia

(CRUZ, 2012).

O TDO foi defendido por vários pacientes que se sentiram amparados, seguros e

sujeitos de seu tratamento (QUEIROZ, 2010. CRUZ, 2012). Eles referiram que a principal

potencialidade para a adesão é a cura, porém, esta também pode se converter em problema no

momento em que, achando que já estão bem, os doentes tem maior propensão para o

abandono. O apoio familiar é visto por doentes e profissionais como fortalecedor da confiança

e incentivador para a conclusão do tratamento assim como o vínculo entre os sujeitos

envolvidos (QUEIROZ et al, 2012).

A formação dos profissionais foi apontada como um dos motivos da resistência ao

atendimento a pessoas com tuberculose, sendo que, a falta de informação contribui com a

manutenção do medo. As condições de biossegurança também parecem afetar o

relacionamento porque ajudam a manter o estigma (SÁNCHEZ, 2007).

Os profissionais se sentem os maiores responsáveis pelo tratamento perante a

fragilidade do doente e acabam por adotar posturas que demonstram poder e não contribuem

para a autonomia dos doentes, como por exemplo, exigir cartelas vazias (QUEIROZ et al,

2012). Sabe-se que o mau relacionamento entre doentes, profissionais e familiares,

descompromisso profissional, efeitos colaterais dos medicamentos e a quantidade de

comprimidos a ingerir dificultam a condução do tratamento (QUEIROZ, 2010; DIAS, 2013).

Também referem que questões gerenciais dificultam a articulação entre serviços e ao

repasse de informações quando necessárias. O despreparo e desinteresse de alguns

profissionais e número insuficiente de recursos humanos para a supervisão reflete na

qualidade da assistência e interação entre profissionais e doentes. A adesão também fica

prejudicada pela impotência dos doentes em seguirem orientações de saúde por questões

sociais, como a falta de alimentação. A difícil conciliação de horários entre TDO e trabalho

foi citada por todos (QUEIROZ et al, 2012).

Com taxa de incidência e mortalidade de 100,2/100.000hab e 6,0/100.000hab

respectivamente, percentuais de cura de 80,4% e 11,8% de abandono, Belém figura hoje como

a 4ª capital em incidência por tuberculose no Brasil (BRASIL, 2014). Por conta de sua taxa de

incidência é considerado um município de alto risco para o agravo, segundo a tabela de

classificação por taxa de incidência (CLANCY, 1991) que é utilizada até o momento para

definição do nível de endemicidade da tuberculose no mundo.

Como se pode observar, o envolvimento profissional e a percepção da vulnerabilidade

ao adoecimento, expressa nos dados do município de Belém, bem como a escassez de

20

publicações sobre a adesão ao TDO no contexto nacional, regional e principalmente

municipal, causa grande inquietude e motivaram a decisão de investigar nos serviços de saúde

como acontece a operacionalização do TDO e definir como objeto deste estudo: fatores

intervenientes na adesão ao TDO.

Como questão de pesquisa se decidiu indagar: quais os fatores intervenientes na

adesão dos doentes ao TDO? Para atender a essa questão se estabeleceu o seguinte objetivo

geral: Analisar os fatores intervenientes na adesão ao TDO e específicos: Descrever a

percepção de enfermeiros e doentes a respeito do TDO; Buscar congruência na percepção de

enfermeiros e doentes a respeito dos fatores intervenientes na adesão ao TDO; Discutir como

esses fatores se relacionam com vistas à melhor compreensão da realidade nas unidades

básicas de saúde.

Como possíveis contribuições deste estudo entende-se que, ao identificar as fortalezas

e fragilidades relacionadas ao TDO, espera-se demonstrar os pontos de intervenção para

melhoria da operacionalização da estratégia no município de Belém, visando a garantia do

desenvolvimento do TDO de qualidade com aumento significativo da cura, diminuição do

abandono e prevenção de novos casos de resistência medicamentosa, e onde enfermeiros e

doentes possam, efetivamente, se perceberem sujeitos coparticipantes no processo.

21

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Tuberculose: Breve histórico no mundo e no Brasil

A tuberculose é uma doença milenar. Estudos descrevem a possibilidade do

acometimento da doença em ossos humanos, encontrados na Alemanha, de aproximadamente

8.000 anos antes de Cristo. A tuberculose da coluna vertebral, também conhecida como mal

de Pott, em homenagem ao cirurgião Percivall Pott que a observou no século XVIII, foi

identificada em múmias egípcias em 2.500 A. C. Hipócrates denominou a tuberculose como

“tísica” (do grego phthsikos – que traz consumpção) baseado no fato de que a doença causava

grande esgotamento físico aos doentes. Na região das Américas foram encontradas marcas

compatíveis com tuberculose em múmias pré-colombianas (CONDE et al, 2002). Especula-se

que a universalização do bacilo se deva inicialmente ao nomadismo dos povos durante vários

momentos da história humana; entretanto parece mais correto afirmar que este fato seu deu

através do contato entre pessoas de diferentes nacionalidades durante as guerras e conquistas

territoriais por longos períodos principalmente na Europa. Isso talvez explique o fato da

tuberculose ter sido tão comum no mundo romano que descreveu, através de seus estudiosos,

os hábitos dos doentes da época e já sugeria a cura pelo repouso e acesso a climas mais

favoráveis (CONDE et al, 2002). Entre os séculos XIV e XV os doentes eram isolados, assim

como seus pertences, na tentativa de se minimizar a transmissão da tuberculose. Do século

XVI ao XVIII, a cura da tuberculose ganglionar na Inglaterra e na França era realizada através

do toque real. Os doentes eram levados a presença do Rei em um dia pré-determinado e

recebiam, além do toque das mãos, orações realizadas pelo próprio rei ou por sacerdotes por

ele indicados. Muitos doentes realmente se curavam provavelmente por causa da assepsia das

fístulas que era realizada antes do toque e que deveriam ter algum efeito positivo nas lesões

(CONDE et al, 2002).

A tuberculose no século XVIII foi chamada de “doença romântica”, por ser uma causa

de adoecimento frequente entre poetas e intelectuais. O que, segundo o médico Aloysio de

Paula, acontecia não pelo fato de serem românticos, mas sim porque, em sua maioria, eram

pessoas de baixa renda, de vida geralmente boêmia, que pouco se alimentavam, pois

chegavam a trocar alimentos por seus materiais de trabalho:

[Havia] a lenda de que a tuberculose preferia os artistas [...]. Os

artistas eram pobres, o dinheiro da comida, eles gastavam em tinta. Então,

gerava uma condição de inferioridade orgânica, por isso ficavam doentes.

22

Não era o fato de serem artistas que os predispunham à tuberculose.

(FERNANDES et al, 1993 p. 31).

A partir do século XIX, essa visão romântica passa a ser desmistificada pela

observação da relação do adoecimento por tuberculose à questões voltadas às condições de

vida. Passa então a doença a ser considerada um “mal social”. Essa relação também aumentou

o preconceito por se considerar que a mesma só afetava os mais carentes e que poderia ter

algum fator hereditário uma vez que várias pessoas da mesma família adoeciam

(FERNANDES et al,1993).

Com o desenvolvimento da ciência e da anatomia nos séculos XVII e XVIII, foi

verificado a presença de tubérculos nos pulmões e vísceras durante as autópsias dos que

morriam por conta da tuberculose, daí deriva a sua denominação atual. Naquele período

também grassava pelo mundo a Peste Negra ou Bubônica, doença bacteriana aguda que,

dependendo da forma, apresentava sintomas iniciais semelhantes aos da tuberculose mas que

gerava lesões escuras na pele. Para diferenciá-las a tuberculose ficou popularmente conhecida

como Peste Branca. A mortalidade de ambas era muito alta e as más condições de vida da

população favorecia o crescimento no número de doentes. Na Espanha os médicos eram

obrigados a informar as autoridades de saúde a ocorrência de casos e óbitos. Os doentes eram

isolados à força e os que evoluíam a óbito tinham seus pertences incinerados. A partir dessa

época as mudanças econômicas e nas relações de trabalho e renda que culminaram com a

Reforma Industrial na Inglaterra, trouxeram consigo a diferenciação de classes e toda sorte de

situações que gerariam condições favoráveis para a disseminação da tuberculose, tais como a

exploração da mão-de-obra e o êxodo rural com a formação de bolsões de pobreza e miséria

nos centros urbanos (CONDE et al, 2002).

No século XIX o conhecimento sobre a tuberculose ganha novos impulsos com as

descobertas de Villemin que estudou a doença através da inoculação de material biológico de

seres humanos em cobaias, a descoberta do bacilo por Robert Kock em 1882 e da radiografia

por Roentgten em 1885. O tratamento considerado mais correto à época foi o

“higienodietético”, caracterizado pelo confinamento dos doentes em sanatórios, que eram

espaços geralmente localizados em regiões montanhosas, de elevada altitude em áreas rurais

que ofereciam condições de “bons ares” e de exposição solar adequada. Além disso, uma

alimentação reforçada e repouso eram indicados na busca pela cura espontânea

(FERNANDES et al, 1993). O Brasil teve vários sanatórios famosos como os de São José dos

Campos e Campos do Jordão onde se desenvolviam tratamento conforme o preconizado

23

internacionalmente. Entidades filantrópicas pioneiras na assistência a doentes com

tuberculose, fundaram vários preventórios pelo país, que eram instituições destinadas a

acolher os filhos desses doentes.

Para tratamento, os medicamentos disponíveis eram a base de enxofre, quinino,

creosoto, cálcio e preparados de ouro e bismuto, usados para tratar sintomas gerais como a

febre. Esse tipo de tratamento se manteve até a década de 40, implementado por técnicas

cirúrgicas como a ressecção de partes pulmonares e pneumotórax. A partir de então, a

quimioterapia específica foi descoberta, transformando o perfil epidemiológico vigente e

ampliando o conhecimento científico. O primeiro antibiótico específico para tratamento foi a

estreptomicina, descoberta em 1944. Já a isoniazida, apesar de ser conhecida desde 1912, só

em 1945 teve sua eficácia comprovada no combate ao bacilo de Kock.

Um esquema de tratamento composto por três drogas, isoniazida, estreptomicina e

PAS (ácido para-aminosalicílico), utilizado pelo efeito bloqueador sobre o metabolismo do

bacilo, foi instituído na década de sessenta e conseguiu curar cerca de 95% dos casos

diagnosticados. O tratamento era realizado nos sanatórios e os medicamentos de uso diário

durante 18 a 24 meses. A doença chegou a ser considerada erradicada em alguns países

(VELOSO, 2008). O uso desses medicamentos foi avaliado internacionalmente em 1961 em

pesquisa realizada pela União Internacional contra a Tuberculose. Após a conclusão dos

estudos, adotou-se, na década de 70, a pirazinamida em substituição ao PAS, por sua ação

altamente esterilizante. A introdução desse fármaco permitiu a redução do tratamento para

seis meses (LIMA et al, 2011).

Na década de 80 a tuberculose volta a crescer no mundo motivada pelo advento da

aids, movimentos migratórios mais intensos e crises financeiras e sociais, que vêm

desestruturando economias antes consideradas fortes em várias partes do mundo e

promovendo maiores desigualdades nos países de economia mais frágil.

No contexto brasileiro, a tuberculose chega juntamente com os europeus às terras

brasileiras, que trouxeram consigo muitas doenças, entre elas a tuberculose. Vários

missionários religiosos morreram por conta da doença a exemplo do Padre Manoel da

Nóbrega, que faleceu em 1570 de franca hemoptise. Além dos missionários e cristão novos,

eram enviados ao Brasil, na época da colonização, degredados da sociedade como traficantes

e foras da lei que aqui eram deixados para irem se “acamaradando” aos indígenas. A

população indígena sofreu grande impacto com esse contato e milhares de índios, além de

24

perderem o direito aos seus territórios, morreram por falta de imunidade (CONDE et al,

2002).

Com a evolução da economia da colônia, em atendimento as determinações de

Portugal, foram trazidos escravos africanos para o trabalho na lavoura, que viviam em

condições sub-humanas e que também foram afetados pela tuberculose que adquiriam de seus

senhores. A mortalidade entre os escravos era alta e, quando do advento da abolição da

escravatura no Brasil em 1888, sem garantia de nenhum apoio para o modo de vida dessas

pessoas, as condições de marginalização em que foram obrigados a viver contribuiu ainda

mais para a disseminação da doença, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de

Janeiro (CONDE et al, 2002).

No século XX eram as instituições filantrópicas que mais atuavam para o controle da

doença no país. A Liga Brasileira contra a Tuberculose foi fundada em 1900 motivada pela

alta mortalidade que se apresentava à época. Composta por médicos e intelectuais, além de

atuar na criação de dispensários, difundia informações sobre a situação e tratamento da

tuberculose para a sociedade, inclusive com publicações de revistas específicas. Após esse

período, foi fundado o Departamento Nacional de Saúde Pública, advindo da Reforma Carlos

Chagas de 1920, que traz maior participação do Estado no combate a doença, com a criação

da Inspetoria de Profilaxia da Tuberculose, mas ainda assim, convivendo com a assistência

filantrópica. Nos anos 30, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública ampliando a

participação das entidades públicas e incorporando novas tecnologias nas instituições

assistenciais visando o combate a tuberculose. A vacina BCG, baciloscopia de escarro,

abreugrafia, pneumotórax e a especialização médica em tisiologia, trazem novas esperanças

para o diagnóstico e minimização de danos e para a produção científica com novos estudos

(FERNANDES et al, 1993).

Ainda no contexto da organização pública para o controle da doença, foram criados,

nos anos 40 o Serviço Nacional de Tuberculose e a Campanha Nacional contra a Tuberculose

trazendo consigo definições de financiamento que lhe permitiram expandir as estruturas

hospitalares senatoriais em todo território nacional, interiorizando e uniformizando as ações

de saúde voltadas aos doentes de tuberculose. O Programa Nacional de Controle da

Tuberculose iniciou suas atividades nos anos 70, após a criação da Divisão Nacional de

Tuberculose em 1970 mas que logo em 1976 foi transformada em Divisão Nacional de

25

Pneumologia Sanitária passando a contemplar outras pneumopatias de interesse sanitário

(FERNANDES et al, 1993).

Os esforços na década de 80 eram voltados para o tratamento correto dos casos de

tuberculose em todo o país e para isso equipes foram treinadas e o tratamento com três

fármacos (rifampicina, isoniazida e pirazinamida), instituído na década de 70, expandido em

todo Brasil. Os resultados foram percebidos com o fechamento de vários sanatórios e com o

tratamento sendo disponibilizado nas unidades de saúde, ficando para os hospitais somente os

casos mais graves e que necessitassem de internação. Na década de 1990, a tuberculose volta

a apresentar sua magnitude crescente em várias partes do mundo (CONDE et al, 2002).

No Brasil, o início do processo de descentralização das ações da atenção básica,

segundo preceitos do SUS, inicialmente teve impacto negativo para o controle da tuberculose.

Muitos municípios não estavam preparados estrutural nem financeiramente para atender as

demandas de saúde de suas populações. Associado a isso as condições de vida das pessoas

pouco melhoraram no país. As áreas urbanas ainda apresentam sérios problemas relacionados

ao acesso à renda. O número de casos de infecção pelo vírus HIV também contribuiu para o

aumento na mortalidade por tuberculose assim como o agravamento no percentual de casos de

tuberculose resistente (CONDE et al, 2002).

Nos anos de 2007 e 2008 foi realizado o II Inquérito Nacional de resistência aos

fármacos anti-TB pelo Ministério da Saúde onde foi constatado o aumento na resistência

primária à isoniazida de 4,4 para 6,0% e a resistência primária à isoniazida associada à

rifampicina de 1,1 para 1,4%. Sendo que esses primeiros resultados para comparativo foram

obtidos no I Inquérito Nacional realizado entre 1995 e 1997. Os dados justificaram a

introdução, em 2009, de um quarto fármaco no esquema vigente, o etambutol, para evitar o

aumento da multirresistência. Além do fármaco adicionado, a dosagem de cada substância foi

modificada em relação a dosagem anterior, utilizando-se também a apresentação combinada

dos quatro fármacos em um único por comprimido, visando o conforto na administração dos

medicamentos para os doentes (BRASIL, 2007; 2011).

Atualmente o tratamento da tuberculose se mantém na rede de atenção primária a

saúde, com o esquema disponível em unidades de saúde e estratégia de saúde da família,

responsáveis pelo diagnóstico e acompanhamento ambulatorial dos casos. A rede de cuidado

também deve ser composta por unidades de referência secundária para diagnósticos mais

26

complexos e definição de tratamentos especiais, e unidades de referência terciária onde são

acompanhados os casos de resistência às drogas (BRASIL, 2011).

2.2. Tratamento Diretamente Observado

A estratégia DOTS foi inicialmente proposta no Brasil em 1998 através do Plano

Nacional de Controle da Tuberculose e, a partir daí, iniciou-se a implantação oficial do TDO

em diferentes estados da federação. Vários problemas, porém, foram surgindo durante sua

implantação/implementação, variando conforme as especificidades locais (NETTO, 2006).

Uma das metas do plano nacional era reduzir a incidência por tuberculose em 50% e a

mortalidade em dois terços num período de nove anos de 2001 a 2010. Naquele momento, a

supervisão das doses era recomendada para o tratamento de casos pulmonares positivos,

mantendo os casos pulmonares negativos e extrapulmonares em acompanhamento mensal

(BRASIL, 1999).

A estratégia passa a ser fortalecida pelo Ministério da Saúde a partir de 2003, através

da pactuação com os gestores estaduais e municipais, quando a tuberculose é inserida na

agenda de prioridades das políticas públicas do Brasil. Entre os anos de 2000 a 2006 o

percentual de casos tratados com doses observadas saltou de 7% para 81%, o que incluiu o

Brasil na lista dos países que possuem entre 50% a 90% de seus casos em TDO (SANTOS,

2007). A recomendação a partir de então é de que todos os casos de tuberculose, independente

da forma, passem a ser tratados com a estratégia observada. Com a parceria Ministério da

Saúde/Projeto Fundo Global, entre os anos de 2007 a 2012, o programa de Controle da

Tuberculose garantiu recursos para várias ações, dentre elas a capacitação de profissionais de

saúde para expansão do tratamento diretamente observado. O Fundo Global é uma instituição

financeira internacional que trabalha para angariar fundos para o combate à tuberculose,

malária e aids. O projeto “Fortalecimento da Estratégia DOTS em Grandes Centros Urbanos

com Alta Carga de Tuberculose no Brasil”, aprovado pelo Fundo, teve duração de cinco anos

e contemplou municípios de 11 regiões metropolitanas: Manaus, Belém, São Luiz, Fortaleza,

Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Baixada Santista e Porto Alegre.

que apresentavam altas cargas da doença. Na região metropolitana de Belém, foram

contemplados a capital e o município de Ananindeua.

Atualmente o TDO é realizado em unidades de saúde tradicionais e Estratégias de

Saúde da Família onde os doentes são observados diariamente na ingestão dos medicamentos

ou no mínimo de maneira intermitente, três vezes por semana, caso haja algum impedimento

27

por parte dele de comparecer ao serviço durante os cinco dias da semana. Os serviços de

atenção básica também realizam o TDO de maneira compartilhada com a referência terciária,

que atende os pacientes com bacilos resistentes mensalmente e os encaminha para a

observação em unidades próximas a suas residências. Nesta modalidade de TDO, o

comparecimento é diário (BRASIL, 2011a).

2.3. Atuação da enfermagem no controle da tuberculose

A história da enfermagem brasileira na luta contra a tuberculose se inicia nos anos 20

quando da implantação do primeiro Dispensário de Tuberculose da Saúde Pública no Rio de

Janeiro, onde um grupo de enfermeiras visitadoras atuavam na vigilância e educação sanitária

(NASCIMENTO, 2005). Na década de 40, com a criação da Campanha Nacional Contra a

Tuberculose (CNCT) que tinha como foco principal as atividades de profilaxia e o tratamento

pós-alta hospitalar nos dispensários, as enfermeiras assumiram as funções de supervisoras e

instrutoras na organização de serviços de tuberculose por todo o país.

Durante a fundação dos sanatórios na década de sessenta, percebeu-se que o número

de profissionais capacitados para atuar nas ações era muito pequeno, e a enfermagem convivia

com a existência de duas categorias: “enfermeiras diplomadas” e “enfermeiras tituladas”,

sendo essas últimas as que estavam em maior número e realizavam atividades práticas sem

diplomação (MONTENEGRO et al, 2009).

Nesse período, um grupo de enfermeiras do Estado da Guanabara, pertencentes às

chefias dos serviços de saúde, realizaram um estudo para reorganizar o serviço de

enfermagem em nível local e confirmaram a necessidade de mão de obra qualificada para

atender as exigências que demandavam das atividades de combate a tuberculose.

Considerando a situação que se apresentava, o Hospital Estadual Santa Maria

(HESM), pioneiro no tratamento de casos de tuberculose na Guanabara, nomeou a enfermeira

Raimunda da Silva Becker, conhecida por sua atuação no campo da tisiologia, que

implementou o serviço de enfermagem para acompanhamento dos casos de tuberculose. O

trabalho por ela desenvolvido, elevou o prestígio e o poder das enfermeiras diplomadas em

relação aos outros membros da equipe, treinou os profissionais, promoveu atividades

científicas e sensibilizou a equipe multidisciplinar para questões relacionadas não somente aos

doentes mas também ao acolhimento de suas famílias.

28

Todo esse processo não ocorreu de forma tranquila, principalmente no que diz respeito

as enfermeiras tituladas, que perderam poder, e aos médicos, que se utilizavam de recursos

contestados e denunciados pelas enfermeiras, tal como a alta para pacientes “indisciplinados”

(FILHO et al, 2009).

Com o incremento no número de enfermeiros diplomados, a assistência ganhou em

qualidade e começou a ser reconhecida por seus esforços na elaboração de recomendações

para o cuidado de enfermagem aos doentes internados (MONTENEGRO et al, 2009). A

ampliação dos centros formadores de nível superior em enfermagem e a descentralização das

ações de controle da tuberculose para os serviços de atenção básica, propiciou que a

enfermagem se tornasse fundamental para o programa de controle da tuberculose, uma vez

que está em todas as frentes de atuação necessárias ao controle da doença.

Para assegurar a descentralização das ações de controle da tuberculose com qualidade,

deve-se considerar como fundamental a participação de equipes multidisciplinares não

somente para o alcance das metas mas também para a superação dos desafios. Nesse contexto,

a participação da equipe de enfermagem torna-se fundamental na condução das atividades do

TDO garantindo a supervisão adequada durante todo o tratamento e a vigilância das

intercorrências (BRASIL, 2011a).

Segundo o Decreto nº 94.406 de 08 de junho de 1987 da Presidência da República, em

seu art. 8º, ítem II, alínea c, ao Enfermeiro incumbe, enquanto integrante de equipe de saúde,

a “prescrição de medicamentos previamente estabelecidos em programas de saúde pública e

em rotina aprovada pela instituição de saúde”. Sendo o Programa de Controle da Tuberculose

uma politica nacional de saúde, a prescrição de tuberculostáticos por enfermeiros encontra-se

amparada por lei em todo território nacional para casos com confirmação baciloscópica. Essa

condição permite que o tratamento chegue a um maior número de pessoas, melhorando o

acesso e a inclusão dos casos.

No que diz respeito à equidade, a enfermagem deve contribuir para que as pessoas sob

seus cuidados possam alcançar qualidade de vida desejável. Para isso os enfermeiros se fazem

presentes não somente no nível operativo mas também no político, quando buscam o

empoderamento e o espaço profissional. Fora do nível assistencial, a pesquisa e a docência

também são atividades onde os enfermeiros tem atuado com afinco para a busca de novas

estratégias que favoreçam a atenção em tuberculose (OBLITAS, FYM. et al, 2010).

29

Além das tomadas observadas, os enfermeiros se destacam no controle da tuberculose

por fazerem parte das equipes atuantes em todos os componentes e subcomponentes em que

está organizado o PNCT, tanto no que se refere à atenção a saúde quanto a informação

estratégica, desenvolvendo atividades na assistência direta e também na vigilância

epidemiológica, no planejamento, monitoramento e avaliação das ações (BRASIL, 2011).

O trabalho da enfermagem está ligado a subjetividade e desta é produzido o cuidado

que pode conduzir a produção de mudanças onde o enfermeiro exerce o papel de protagonista.

Assim o trabalho do enfermeiro ganha visibilidade para si e para os profissionais que se

encontram sob sua supervisão. Dentre as contribuições da Enfermagem ao TDO, o papel do

enfermeiro como educador e o vínculo que consegue estabelecer com os doentes são

apontados como de extrema importância pelos outros membros da equipe (SOUZA et al,

2014), demonstrando a importância deste profissional na consolidação das ações da

tuberculose e do SUS.

30

3. METODOLOGIA

3.1. Caracterização do estudo

Estudo de abordagem qualitativa descritiva que envolve a compreensão e interpretação

da realidade por meio do olhar do outro, considerando suas singularidades, experiências e

vivências pessoais e no grupo em que se inserem. Nesse sentido, a análise qualitativa

possibilita a interpretação objetiva dos discursos dos atores envolvidos, permitindo a

construção do conhecimento científico (MINAYO, 2012).

3.2. Cenários do estudo

Para a gestão municipal, o município de Belém está organizado em 08 Distritos

administrativos assim distribuídos: Distrito Administrativo do Mosqueiro (DAMOS), Distrito

Administrativo de Belém (DABEL), Distrito Administrativo do Entroncamento (DAENT),

Distrito Administrativo da Sacramenta (DASAC), Distrito Administrativo do Guamá

(DAGUA), Distrito Administrativo do Benguí (DABEN), Distrito Administrativo de Icoaraci

(DAICO) e Distrito Administrativo do Outeiro (DAOUT). Para a gestão da saúde

consideram-se somente sete distritos, com a fusão de DAICO e DAOUT.

Nesses Distritos estão distribuídas atualmente 25 unidades básicas de saúde e 51

equipes da Estratégia Saúde da Família. Excetuando o distrito DABEL que não possui em sua

área unidades básicas de saúde, somente serviços especializados.

Para este estudo foram selecionadas 13 UBS que estavam realizando TDO pelo menos

três vezes por semana, considerando frequência mínima normatizada pelo Ministério da

Saúde, que recomenda 24 tomadas observadas na primeira fase do tratamento e 48 tomadas

observadas na segunda fase (BRASIL, 2011). Destas, foi excluída uma Unidade do distrito

DAENT por ser onde a pesquisadora é a enfermeira responsável pelo acompanhamento aos

doentes. Assim executou-se a pesquisa em 12 serviços de saúde. As informações referentes à

situação do TDO em cada unidade, foram prestadas pelos enfermeiros responsáveis pelo PCT

das mesmas.

31

Quadro 1 – Distribuição de Unidades Básicas de Saúde com TDO por distrito administrativo

no município de Belém-Pará

Distrito Nº de UBS Nº de UBS com

TDO

% de UBS com

TDO por distrito

DABEN 6 3 50

DAICO 2 1 50

DAOUT 2 1 50

DAGUA 6 4 67

DAENT 4 2 50

DASAC 5 2 40

DAMOS 0 0 0

DABEL 0 0 0

TOTAL 25 13 52

Fonte: PCT/SESMA

3.3. Participantes

A pesquisa foi realizada com enfermeiros que atuam no TDO das unidades

selecionadas e doentes em tratamento de tuberculose. Em relação aos enfermeiros, foram

entrevistados 100% dos que exerciam suas atividades no TDO. Totalizaram 13 por haver em

uma unidade mais de um enfermeiro atuando na estratégia.

Quanto aos doentes, o número total foi de 52, considerando somente aqueles em TDO

que compareciam ao serviço pelo menos três vezes por semana. Neste caso a coleta de dados

foi encerrada, utilizando-se como critério a saturação, quando observou-se a repetição dos

depoimentos por parte dos doentes e considerando-se o volume de informações que atendiam

aos objetivos do estudo.

O encerramento da amostra por saturação teórica advém da interrupção da

participação de novos sujeitos no estudo quando o pesquisador avalia a “redundância ou

repetição” das informações, e considera não haver mais necessidade da manutenção da coleta

de dados por não acrescentar nada de diferente ao que já foi obtido para amparar a análise

(BRUNO et al, 2008 p. 17).

Pelo levantamento realizado no período da coleta de dados em cada unidade de saúde,

constatou-se que o número de casos em TDO reduziu significativamente. Esses números são

apresentados no Quadro 2.

32

Quadro 2 – Distribuição de doentes de tuberculose em TDO por Unidade de Saúde e o

quantitativo de participantes.

UNIDADE

Nº DE CASOS

DE TB EM

TRATAMENTO

Nº DE

CASOS

EM TDO

Nº DE CASOS

QUE

ATENDEM

CRITÉRIOS

DE INCLUSÃO

ENTREVISTADOS %

BENGUI II 11 05 05 04 80

MARAMBAIA 19 19 16 10 62,5

SACRAMENTA 07 07 05 04 80

ICOARACI 27 12 11 09 81,8

JURUNAS 44 14 14 10 71,4

GUAMÁ 47 24 24 15 62,5

TELÉGRAFO 25 07 02 0 0

SIDERAL 09 06 02 0 0

CABANAGEM 15 04 03 0 0

CONDOR 02 02* 0 0 0

OUTEIRO 03 03* 0 0 0

CREMAÇÃO 04 01 01 0 0

TOTAL 213 104 83 52 62,6

Fonte: levantamento realizado pela autora * Casos de TBDR

Mediante o número total de doentes, considerou-se como critérios de inclusão os

maiores de 18 anos, casos novos e em retratamento, em controle na unidade há pelo menos 30

dias, tempo necessário para melhor adaptação do doente ao TDO, tanto os casos

diagnosticados na Unidade, como egressos de outros serviços do próprio município. Foram

excluídos doentes egressos de outros municípios ou que apresentavam alguma barreira de

comunicação.

Para os enfermeiros considerou-se como critérios de inclusão: enfermeiros que

estavam atuando há pelo menos 1 mês no TDO, pela necessidade de alguma experiência com

a estratégia para uma melhor discussão das questões levantadas. Foram excluídos os que não

estavam no pleno exercício de suas atividades profissionais no período da produção dos

dados.

33

3.4. Produção e análise dos dados

As informações foram produzidas por meio de entrevista individual, utilizando-se um

roteiro com questões semiestruturadas para doentes e enfermeiros (Apêndices A e B). O

instrumento continha duas partes: a primeira referente aos códigos de identificação, dados

básicos sobre o perfil dos participantes e tempo de contato com o TDO de modo a caracterizar

a experiência na estratégia, seja como doente ou trabalhador. A segunda se referia a questões

abertas, que foram elaboradas com vistas a identificar o entendimento dos participantes sobre

a estratégia e responder perguntas sobre o processo de trabalho, que foram complementadas

pela observação de campo que se deteve na operacionalização das ações considerando

aspectos referentes ao processo de trabalho, recursos materiais e instalações físicas. Além da

interação existente entre doentes e profissionais.

Com os enfermeiros, as entrevistas foram pré-agendadas no local de trabalho em

visita prévia à unidade onde se fez o primeiro contato com os mesmos e o convite para

participação. Realizaram-se no próprio consultório de enfermagem, considerando a

necessidade de assegurar conforto e privacidade para pesquisadora e entrevistados.

Para os doentes a abordagem e convite para participação se deu durante o processo de

observação. As entrevistas foram agendadas contando-se não alterar a rotina de ida dos

mesmos ao serviço e foram realizadas na própria unidade de saúde com garantia de

privacidade. Os registros foram realizados pela entrevistadora e as entrevistas gravadas

mediante consentimento.

Para complementar a produção de dados, foi realizada a observação livre da

operacionalização das ações considerando aspectos referentes ao processo de trabalho,

recursos materiais e instalações físicas. Além da interação existente entre os participantes.

Para a análise das respostas utilizou-se a técnica de análise de conteúdo temática

(BARDIN, 2009), conforme os seguintes passos: pré-análise; exploração do material;

tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

3.5. Aspectos Éticos da Pesquisa

Os aspectos éticos foram cumpridos de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho

Nacional de Saúde (CNS/MS, 2012). O projeto foi autorizado pela Secretaria de Saúde do

Município de Belém (anexo A) e aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de

34

Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará sob o parecer 1.479.099

(anexo B).

No momento da entrevista a todos os participantes foi apresentado o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (APENDICES C e D) com a descrição dos

aspectos da pesquisa no intuito de esclarecer sobre objetivos propostos, métodos, processo de

produção de dados, possíveis benefícios, potenciais riscos, a possibilidade de retirada do

consentimento a qualquer momento, mesmo após a assinatura do mesmo.

Esta pesquisa apresentou risco mínimo, relacionado à possibilidade de quebra de sigilo

dos participantes. Para minimizá-lo, as entrevistas foram codificadas por meio de código alfa

numérico assim descrito: E para enfermeiros, CN para doentes classificados como caso novo

e RR e RA para doentes em retratamento, por recidiva ou retorno após abandono

respectivamente, todos seguidos do número de ordem sequencial das entrevistas. Na

oportunidade de divulgação dos resultados em eventos e/ou periódicos científicos, estes serão

apresentados por categoria sem que constem informações sobre qualquer forma de

identificação do entrevistado ou da instituição na qual desempenha suas funções ou realiza

tratamento.

Como benefícios, ressalta-se a relevância do acesso à informação de forma

aprofundada sobre o tema, ouvindo-se os principais atores desse processo, o que pode

favorecer a melhoria da operacionalização da estratégia TDO no município de Belém, com

possibilidade de impacto nos indicadores de cura e abandono e consequente redução de novos

casos de tuberculose resistente. Os pacientes poderão ser beneficiados com um atendimento

mais humanizado, voltado à suas particularidades com garantia de acolhimento e acesso. E os

enfermeiros pela satisfação de um acompanhamento qualificado, demonstrado pela cura dos

doentes.

35

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Sobre os participantes

Dentre os doentes 65% eram do sexo masculino e 35% do feminino, acompanhando o

perfil nacional de maior ocorrência de casos em homens. Segundo o Ministério da Saúde, no

ano de 2012 o sexo masculino apresentou incidência 2,1 vezes maior que o sexo feminino

(BRASIL, 2014). A faixa etária predominante foi a de 18 a 47 (73%). Quanto ao tempo de

tratamento, verificou-se que 86% dos doentes encontravam-se na segunda fase e em igual

tempo em TDO.

Em relação aos enfermeiros, predominou o sexo feminino com 85%, sendo 31% na

faixa etária entre 42 a 48 anos. Cerca de 54%, graduados há mais de 23 anos e atuavam na

unidade de saúde entre 3 e 12 anos. Desses enfermeiros 92% estão trabalhando no TDO desde

a implantação da estratégia em seus serviços ou desde que foram admitidos neles, sendo que

62% atuavam no TDO entre 1 e 8 anos, o que lhes conferia experiências variadas com a

observação da ingestão dos medicamentos permitindo impressões mais aprofundadas sobre a

estratégia.

Das unidades de saúde que utilizavam o TDO para acompanhamento dos casos, 46%

tinham entre 5 e 8 anos de implantação da estratégia. Isso sugere que o TDO parece ter sido

bem aceito pelos serviços.

Sobre as categorias

O corpus de análise constituiu-se de 100% das entrevistas. Estas foram transcritas para a

realização da leitura flutuante. Em seguida fez-se detida leitura por entrevistado, para verificar

a adequação das respostas a cada questão do instrumento. Após as sucessivas leituras foram

identificados os aspectos semelhantes nas respostas tanto por pergunta a cada entrevistado,

como por conjunto de respostas dos entrevistados a cada pergunta. Assim foi feito tanto para

profissionais como para doentes.

Na fase de exploração do material, fez-se a identificação dos temas, sua correlação

por ocorrência e co-ocorrência e o agregamento em unidades de registro (UR) para a melhor

descrição do conteúdo. Na etapa do tratamento dos resultados, inferência e interpretação, as

UR foram agrupadas conforme os temas identificados e organizadas em duas categorias de

análise: Percepções sobre o TDO; Operacionalização do TDO: Aspectos positivos e

negativos.

36

4.2.1.Categoria 1 - Percepções sobre o TDO

Nesta categoria discute-se o entendimento sobre o TDO por doentes e enfermeiros.

Ambos admitem sua importância na manutenção da regularidade do tratamento para o alcance

da cura. Embora por parte dos doentes esteja manifesta a dificuldade dessa compreensão.

A percepção dos doentes

No que concerne aos doentes, 71% descreveram sua compreensão sobre o TDO, mas

detectou-se pelos depoimentos, que pelo menos 38% deles tiveram dificuldade de definir o

que é TDO. Nessa análise foi possível inferir que essa informação não foi prestada a eles

pelos profissionais, ou que não ficou muito clara, fazendo com que as idas ao serviço se

dessem por obrigatoriedade e não por compreensão de seu significado e importância.

É porque é assim mesmo. É... como é que se chama? É assim que funciona.

É assim que eles (profissionais) tem que fazer (CN 13).

Porque é o tratamento, vai melhorar a saúde. Eu não sei lhe explicar direito

(CN 20)

Olha, eu não sei. Não vou mentir, mas eu faço o que eles pedem. Eles

pedem e eu tenho que obedecer porque já é uma grande coisa essa ajuda (CN

33).

Não sei lhe explicar... eu tenho que tomar três pílulas pra poder ver se eu

faço alguma coisa. Até porque dá falta de ar e outras coisas. Aí eu tenho que

vir tomar todo dia (CN 48).

Para os 33% de doentes que definiram o que é TDO, este é descrito como uma

maneira de “controle” dos profissionais sobre o uso diário dos medicamentos, ou mesmo que

é uma forma de tratamento que reflete uma necessidade de acompanhamento mais amiúde.

Eu entendo que seja pra ter um controle das pessoas que vem tomar a

medicação, porque se não fizer isso, tem gente que pega o remédio e esquece

de tomar ou não toma mesmo porque não quer (CN 22).

Ela me explicou que eu tenho que vir três vezes por semana porque é um

tratamento que a pessoa tem que ver você tomar o remédio. Se desse pra

levar pra casa eles não tinham como controlar (CN 28).

Eu entendo que seja uma maneira mais fácil de controlar. Acompanhando o

paciente, vendo como ele está, a questão física dele. [...] É um tratamento

que tem que seguir a risca, não pode parar. Se parar também é mais

complicado, é mais complexo, tem a recaída. É muito importante porque eles

ajudam a gente (CN 35).

37

No contexto da compreensão sobre o TDO, buscou-se saber o que, na opinião deles,

poderia melhorar. Esta pergunta foi respondida por 59%, desses, cerca de 34%, consideraram

que tudo estava bom e nada precisava mudar e 25% não souberam opinar. Observou-se nas

respostas que na realidade, os 59% apresentaram dificuldade de responder, provavelmente,

pela ausência de parâmetros comparativos ou mesmo pelo desconhecimento do que é o TDO

e suas rotinas. Para os que opinaram, a prática da observação foi considerada desnecessária.

Eu achava que [...] deveria ser com menos dias, pelo menos de quinze em

quinze dias porque vai muito do paciente saber que é necessário tomar o

remédio (CN 24).

Acho que só diminuir esses três dias na semana para pelo menos umas duas

vezes [...] (CN 26).

Eu acho que tem que reduzir os dias pra vir aqui (CN 31).

Cruz (2012) demonstrou em seu estudo que os doentes desconhecem o que é o TDO,

pois, só conseguem explicá-lo como sinônimo de comparecimento ao serviço para tomar

medicamentos; e nem sempre essas idas e vindas são vistas de maneira positiva.

Entende-se que a clareza sobre o que é o tratamento da tuberculose na modalidade

TDO é necessária para as pactuações com o doente. O momento da consulta de início do

tratamento, deveria ser utilizado para o esclarecimento correto das ações, embasada no

fornecimento de informações precisas, que dessem ao doente a opção da escolha do TDO pelo

entendimento da necessidade do acompanhamento mais próximo, e não somente baseada na

rotina das unidades. No Protocolo de Enfermagem do TDO (BRASIL, 2011a), na avaliação

da sistematização da assistência de enfermagem, uma das principais metas a serem alcançadas

é a orientação sobre a doença para a promoção da adesão, onde o doente deve ter

entendimento de todos os aspectos que envolvem o agravo, tratamento, controle de contatos,

dentre outros.

A educação é um dos recursos para a promoção da saúde. Sua prática traduz o

conhecimento científico para os usuários dos serviços, por meio dos profissionais de saúde,

permitindo o melhor entendimento do “processo saúde-doença” para a mudança de atitudes

que reflitam positivamente na qualidade de vida de cada um. Porém, há pouca valorização da

atividade educativa por parte de muitos profissionais ou somente a transmissão impessoal de

informações de forma vertical, muitas vezes sem a percepção que a relação com o usuário

necessita ser horizontalizada e humanizada (TRIGUEIRO et al, 2009).

38

Para Fernandes e Backes (2010), o processo educativo na atenção primária à saúde

deve tomar como base as idéias de Paulo Freire, que define a educação como um encontro,

por meio do diálogo, entre pessoas que buscam “a significação dos significados” (p. 568) e

não somente uma transferência de informações impessoais que desconsidere o saber popular.

Em seu artigo, traz como uma das reflexões a dificuldade dos profissionais na abordagem

inicial dos doentes para esse processo, após a reflexão de que a prática do simples repasse de

informações não obteve sucesso na história da educação em saúde no Brasil.

Percebeu-se durante as observações, que muitos enfermeiros apresentaram

dificuldade em estabelecer uma comunicação mais ampliada com os doentes. Dentre vários

fatores que parece ter contribuído como barreira para uma interação maior, tem-se o

imaginário que doentes e enfermeiros fazem em relação uns aos outros. Os doentes aceitam as

orientações técnicas dos profissionais de saúde, mesmo a contragosto, porque entendem que

estes guardam consigo o conhecimento. Já os profissionais, consideram que doentes não

compreendem as orientações e por isso, são incapazes de fazer a opção pela forma de

tratamento a seguir por eles considerada a ideal.

A percepção dos Enfermeiros

Os enfermeiros, em sua maioria (85%), consideraram que o TDO é a melhor

estratégia para se ter certeza de que os doentes estão fazendo uso correto dos medicamentos e

consequentemente o tratamento adequado. O conceito de TDO, segundo o Ministério da

Saúde, também foi mencionado por 15% dos enfermeiros.

Bom, o tratamento diretamente observado é aquele acompanhamento que

você pode ter a certeza de que o paciente está fazendo a tomada da

medicação de forma assídua e comprometida (E 3).

Pra mim é a certeza de que o usuário faz o uso da medicação, nem que seja 3

vezes por semana. [...] Então pelo menos com o tratamento supervisionado a

gente sabe que aquelas doses que são feitas na unidade são efetivamente

tomadas (E 4).

[...] é aquele que a gente vê o paciente tomar o remédio. Que dá segurança

pra gente que ele vem tomar o remédio aqui na nossa frente e que a gente o

vê tomar realmente [...] (E 10).

A estratégia é considerada como parte fundamental para garantia dos princípios de

tratamento pela associação correta dos medicamentos na dose e tempo suficientes para a cura

(BRASIL, 2011a). Estudo retrospectivo comparativo realizado em dois serviços de saúde de

Belém em um período de quatro anos, indicou que o TDO garante taxas significativas de cura,

39

redução de abandono e da ocorrência de novos casos na comunidade, o que reflete a melhora

dos indicadores epidemiológicos do agravo (PAZ et al, 2012).

Embora os enfermeiros tenham relatado que o TDO assegura o comparecimento

regular dos doentes em tratamento, contatou-se na rotina das unidades que ocorrem faltas e

que a busca desses faltosos enfrenta dificuldades. Inclusive em várias delas, não se pode

completar o número de entrevistas definidas para o estudo por absenteísmo destes. Segundo

os enfermeiros, quando o doente falta, a primeira tentativa de contato é feita por telefone.

Caso não se obtenha êxito, as visitas domiciliares acontecem, mas são raras e somente para os

que residem próximo ao serviço.

Poucos enfermeiros solicitaram ajuda da Referência Técnica municipal para tentar

localizar os doentes que apresentaram risco de abandono. Segundo os profissionais, além da

dificuldade de se ausentar da unidade para atividades externas, o que implicaria no não

atendimento da demanda, grande parte das áreas de abrangência dos serviços é considerada

área de risco pela alta criminalidade, o que dificulta ou impede o acesso.

Considerando que o abandono em TDO ainda se encontra em percentuais acima do

aceitável, como mencionado anteriormente, para que se alcance os níveis de cura desejados,

se faz necessária a implementação de estratégias para garantia da presença do doente nos

serviços de saúde.

Em alguns países onde a tuberculose também é um problema grave, observa-se que

várias são as tentativas para conseguir atrair e manter o paciente em TDO. Entre elas

identificou-se um programa de incentivo financeiro para doentes de tuberculose droga

resistentes em TDO, tanto na internação como em regime ambulatorial, iniciado no Equador

em julho de 2011. Neste, os doentes recebiam uma quantia mensal de US$240,00 (duzentos e

quarenta dólares) para ajudar nas despesas pessoais. Embora a questão financeira não tenha

sido apontada por eles como a principal motivação para a adesão, muitos reconheceram que

passariam por dificuldades caso não houvesse essa ajuda, principalmente na alimentação,

onde utilizou-se mais o recurso. Houve redução do absenteísmo com consequente redução na

taxa de abandono, e os resultados possivelmente não tenham sido melhores pelos atrasos na

liberação dos recursos e por outras questões que permearam o acompanhamento como reações

adversas e problemas de fundo emocional (SRIPAD et al, 2014).

Nos municípios brasileiros, as experiências também variam de acordo com a

disponibilidade de recursos e compromisso político de cada gestor com as ações do programa

de tuberculose. Não é comum a disponibilização de recurso financeiro em espécie para os

40

doentes, mas sim estratégias que garantam alimentação e/ou transporte, como a que foi

custeada pelo Projeto Fundo Global no período de 2007 a 2012.

Experiências pontuais, a exemplo da que ocorreu na comunidade da Rocinha, Rio de

Janeiro, demonstraram que mesmo em condições sócio-econômicas desfavoráveis, a

sensibilização e participação das pessoas da comunidade e valorização do trabalho dos

profissionais de saúde, podem influir positivamente na operacionalização do TDO. A

melhoria do vínculo empregatício dos agentes comunitários no município, ocasionou maior

motivação e estabilidade da equipe, melhorando o relacionamento com os doentes e

diminuindo a necessidade de treinamentos constantes por rotatividade de servidores

(SOARES et al, 2013).

Embora esse estudo se refira a ESF, apresenta uma possibilidade pouco utilizada por

serviços de saúde – a participação comunitária. A parceria do Programa de Controle da

Tuberculose com a sociedade civil ainda é recente e muito incipiente no Brasil. Segundo

Curto et al (2010) o apoio a doentes em situação econômica desfavorável vem sendo

desenvolvido em alguns municípios por entidades filantrópicas, religiosas, não-

governamentais, algumas escolas e serviços de saúde. Porém, isso não é feito de maneira

uniforme e sistematizada. As instituições e profissionais de saúde não costumam envolver a

comunidade nas questões locais. Parte por desconhecerem a realidade dela e parte por

preconceito quanto à sua capacidade de co-participação.

O desconhecimento que ainda se percebe sobre a tuberculose, é uma fragilidade a ser

enfrentada, tanto voltado para a compreensão do doente em tratamento quanto para seus

familiares e comunidade em geral. A formação de parcerias locais pode auxiliar no controle

do agravo, principalmente em áreas sem abrangência por ESF, onde a própria comunidade

pode atuar como uma extensão da unidade de saúde na disseminação de informações. Para

tanto, os profissionais e instituições de saúde, devem se disponibilizar a entender melhor, não

somente a doença, mas todo o processo que a estabelece em cada realidade local considerando

suas características e potencialidades.

4.2.2.Categoria 2 - Operacionalização do TDO: Aspectos positivos e negativos

Nesta categoria discute-se a percepção de doentes e enfermeiros referentes aos

aspectos que permeiam a operacionalização do TDO nos serviços. Verificou-se que existe

uma grande concordância entre os dois grupos e que os enfermeiros trazem informações mais

41

precisas por apresentarem um olhar diferenciado em conformidade com suas experiências

técnicas.

Aspectos positivos na concepção dos doentes

Quando questionado sobre aspectos positivos e/ou negativos referentes ao TDO, 90%

dos doentes conseguiram classificá-los. Dentre os aspectos considerados positivos

destacaram-se o entendimento de que está fazendo o tratamento regularmente (43%) e receber

mais atenção por parte dos profissionais de saúde (20%), que foram considerados motivadores

para as idas as unidades. Nas respostas dos outros 27% dos entrevistados, houveram várias

referências positivas como a facilidade de atendimento nas intercorrências, receber os

medicamentos gratuitamente, acesso a outros exames para si e para a família, por meio do

controle de contatos, e receber mais informações sobre a doença.

A parte boa é, ao meu entender, um controle melhor que tem pra que as

pessoas tomem mesmo, porque se ela não vier ou esqueceu é porque não está

dando continuidade ao tratamento (CN 30).

Eu acho bom porque eles estão querendo cuidar mesmo, ver se a gente está

tomando a dosagem no horário certo (CN 42).

Foi grande o percentual de doentes (90%) que considerou o TDO como importante

para chegar à cura e, consequentemente, evitar o abandono. Muitos referiram que sem o apoio

recebido dos profissionais, provavelmente teriam parado o tratamento em algum momento.

Com certeza eu considero, porque senão eu já tinha parado. Como meus

exames constam negativado desde o primeiro mês, se eu tivesse outro

pensamento já tinha largado. [...] Tenho que concluir os seis meses, como

pede o enfermeiro e a ordem (CN 6).

É importante, porque tem gente que está com a doença e não sabe, [...]. E

eles (os profissionais de enfermagem) conversam muito com a gente, pra

gente ir até o fim. Porque quando começa a tomar a medicação, já sente

melhora e pensa que já está bom [...]. Tem que ser os seis meses certos. (CN

34).

Com certeza, isso dá uma segurança para o paciente. As enfermeiras são

ótimas, a doutora também. Tratam as pessoas com carinho, com atenção.

Isso é um incentivo bom pra pessoa poder se tratar e não desistir. Como eu,

que queria desistir. Porque [...] só eu que sustento minha família em casa,

tinha que trabalhar e não podia. Então teve um dia que eu não vim tomar

remédio, aí a doutora (enfermeira) conversou comigo, e disse que eu tinha

uma filha e que eu tinha que zelar por isso [...] e eu continuei a tomar meu

remédio (CN 40).

42

O pessoal de enfermagem, por estar diretamente envolvido com o acompanhamento

dos doentes, é o mais mencionado dentre os profissionais de saúde, embora alguns doentes

confundam os enfermeiros com os médicos e os técnicos em enfermagem com os

enfermeiros. Para 92% dos doentes, o relacionamento com os enfermeiros foi considerado

bom.

Eu acho bom. [...]. Quando não é ele é uma mocinha, uma outra enfermeira

(falando sobre a técnica em enfermagem) e eles me tratam correto, como

deve ser. Me orientam tudo direitinho (CN 15).

Com a doutora (enfermeira) e com a menina (técnica em enfermagem) que

me atende lá, a morena, elas são bacanas. A doutora (médica) também que

todo mês me atende, ela me atende bem que só. A que me atende ruim, que

falam que ela é sempre ruim, enjoada é a do exame de escarro do laboratório

(CN 39).

[...] a enfermeira [...], eu gosto muito dela, é uma pessoa muito legal. Trata

bem as pessoas. Tem assim um zelo pelas pessoas que estão ali, o tratamento

dela é muito bom (CN 43).

Esse relacionamento mais próximo potencializa a formação do vínculo necessário para

o acompanhamento durante o tratamento. Formozo et al (2012) refere em seu artigo sobre

relações interpessoais em saúde, que a empatia é essencial entre os atores envolvidos no

cuidado, pois, quando se entende a experiência do outro sem pré julgamentos, há uma

conexão emocional que qualifica o cuidado pela aproximação entre as partes.

Os enfermeiros que atuam no TDO, mesmo desenvolvendo outras atividades na

unidade de saúde, permanecem um tempo considerável à disposição da estratégia. Constatou-

se que os consultórios de enfermagem, específicos para atendimento de doenças

transmissíveis, podem ser acessados pelos doentes de tuberculose sem a necessidade de

agendamento prévio. Neles, estes são acolhidos e suas demandas encaminhadas conforme

necessidade. A dificuldade acontece quando o consultório de enfermagem atende a outros

programas. Nessa situação, a escuta inicial é prejudicada pelos atendimentos agendados para

o dia.

Para Ponce et al (2011), quando o doente é atendido sempre pelo mesmo profissional,

se estabelece uma maior aproximação favorecendo o relacionamento de ambos e qualificando

a assistência prestada pelo aumento da confiança. Para que isto ocorra de maneira satisfatória,

é necessário que o profissional tenha tempo disponível para uma escuta adequada. As autoras

indicam em seu estudo, que esse processo pode ser afetado negativamente por questões

relacionadas principalmente a recursos humanos, como número insuficiente, qualificação

inadequada e alta rotatividade dos mesmos nos serviços de saúde.

43

Essa ideia também é compartilhada por Penna, Faria e Rezende (2014), que

complementam a discussão sobre recursos humanos, pontuando a necessidade de

sensibilização dos profissionais de saúde para a compreensão dos conceitos de acolhimento e

vínculo. Indicam também que questões estruturais podem ser problema para a escuta quando

não garantirem a privacidade nas conversas.

Percebeu-se nas unidades de saúde, que os enfermeiros buscam o relacionamento mais

próximo com o paciente, porém, os fatores apontados nos estudos citados, fazem parte da

realidade dessas unidades. Além do profissional não ser exclusivo do programa de doenças

transmissíveis, existe um grande número de encaminhamentos, dos diversos setores da

unidade, que são feitos para os enfermeiros de maneira equivocada e que poderiam ser

resolvidas por outros profissionais, o que gera mais demanda acumulada reduzindo o tempo

destinado aos doentes.

Aspectos positivos na concepção dos Enfermeiros

O tratamento adequado com o acompanhamento da evolução até a cura foi

considerado um aspecto muito positivo no TDO para 61% dos enfermeiros, sendo que 100%

deles perceberam as diferenças nos resultados entre o TDO a o tratamento autoadministrado.

Eu considero importante [...]. Porque muitas vezes eles levam (os

medicamentos) pra casa e não [...] tomam direito. Então se eles virem que

todos os pacientes estão vindo é porque é necessário (E 3).

O que é bom é que eu tenho certeza do que eu estou vendo. ( E 5).

Bom é o vínculo e a adesão que o paciente faz. (E 8).

Para que esse acompanhamento se efetive de maneira mais segura, é fundamental uma

boa interação entre os atores envolvidos. Sobre isso, não houve relato de dificuldades de

relacionamento com os doentes por parte dos enfermeiros, para 100% deles, a relação é boa.

Quando ocorria alguma situação diferente, esta geralmente se dava em relação a pacientes

faltosos e dependentes químicos que ofereciam resistência ao tratamento em si, mas que não

apresentavam restrições no contato diário.

A estratégia é vista como potencialidade quando estimula a conclusão do tratamento

e gera vínculo, mas considera que em alguns momentos exige muitos esforços, como nas

questões relacionadas à saúde debilitada dos doentes, no início do tratamento, para o

deslocamento diário, alterações de suas rotinas e exigência de melhor organização dos

serviços (DIAS, 2013).

44

Quanto a experiência em observar a ingestão dos medicamentos pelos doentes,

embora um grande percentual (92%) dos enfermeiros considere a experiência como boa,

muitos mencionaram restrições, causadas por situações relacionadas aos serviços, como

espaço físico inadequado e poucos profissionais para o atendimento da demanda; aos doentes,

tais como o absenteísmo por situação financeira, dependência química dentre outras, e que

dificultavam o bom andamento do acompanhamento dos doentes gerando certa insatisfação

nos profissionais.

A minha experiência é satisfatória [...] mas eu gostaria que fosse excelente.

Mas devido a alguns entraves por conta do paciente, da instituição e de

outras coisas, aí já não é como eu gostaria mas, na medida do possível, a

gente tenta melhorar (E 1).

Como técnico, como profissional, é importante porque vemos a efetividade

do tratamento. Coisa que nós não teríamos certeza se não víssemos a tomada

da medicação. Agora como pessoa entendo o lado do paciente quando acha

ruim vir a unidade todos os dias ou 3x na semana [...] (E2).

Sinceramente? Aqui na unidade é falho. Como você observa o espaço, para

mim teríamos que ter um local próprio para atendê-los, acolhê-los de forma

adequada. Ter um cantinho só para eles para que pudéssemos conversar

melhor [...] (E 14).

Embora pareçam contraditórias as ideias expostas pelos enfermeiros ao considerar a

observação da ingestão dos medicamentos uma boa estratégia, mas ao mesmo tempo,

elencando restrições, observou-se nos depoimentos uma certa solidariedade dos enfermeiros

em relação às situações enfrentadas por muitos doentes para conseguir manter-se em TDO. Os

enfermeiros reconhecem que as condições apresentadas para o desenvolvimento da estratégia

nas unidades municipais são pouco favoráveis para um acompanhamento adequado e causam

vários transtornos.

Conforme o levantamento feito pela pesquisadora diretamente nas unidades de saúde,

existem várias formas de operacionalizar o TDO pelos profissionais da enfermagem. A

frequência do comparecimento é acordada com os doentes conforme a situação

socioeconômica de cada um. Assim, existem pacientes que comparecem quinzenalmente,

semanalmente ou somente duas vezes na semana. Constatou-se que 88% dos casos em TDO

compareciam ao serviço três vezes por semana e 12% cinco vezes. O percentual de unidades

de saúde que ofertam TDO três vezes por semana é igual ao de unidades que ofertam em

todos os dias úteis (50%). Alguns serviços de saúde, ainda utilizam a divisão de cinco

tomadas observadas na primeira fase do tratamento e três na segunda. Considerou-se para

45

pesquisa que, nestes casos, o serviço oferece TDO de segunda a sexta-feira, uma vez que o

enfermeiro encontra-se nessa atividade.

As UBS que ofertam o TDO pelo menos três vezes por semana, geralmente o fazem

as segundas, quartas e sextas, mas existem variações desses dias porque os enfermeiros não

são exclusivos do programa de tuberculose e possuem agendamento de outras atividades

como coleta de exame Papanicolau, escalas de urgências, dentre outras. A definição dos

pacientes entre comparecer três ou cinco vezes na semana, também dependia de outras

questões, a exemplo de fazer parte de grupo de maior vulnerabilidade ou apresentar situação

de maior risco para abandono.

Realiza de segunda a sexta (unidade de saúde), sendo que tem paciente que

vem todos os dias e outros três vezes na semana. São os usuários de droga,

pacientes com recidiva, pacientes com história de abandono, alcoólatras. São

os escolhidos pra vir de segunda a sexta (E 8).

Temos feito umas avaliações e a maioria das pessoas que abandonam são

usuários de drogas. Essas pessoas não tem nível educacional para

compreender a transmissão (E 4).

Segundo recomendação do Ministério da Saúde os pacientes que aderem ao TDO,

devem ser observados de segunda a sexta-feira. As observações intermitentes, só devem ser

realizadas caso haja algum impedimento por parte do doente e não do serviço, que deve se

organizar para o atendimento diário. Para que isso aconteça de forma satisfatória, é necessário

conhecer a situação da doença no local e principalmente o perfil da clientela a ser atendida

(BRASIL, 2011a).

Sagbakken et al (2013), comparando os aspectos éticos na experiência DOTS entre

dois países com condições econômicas e cargas de tuberculose opostas, mas com TDO diário

sem concessões, demonstrou que os custos para um doente concluir o tratamento podem ser

desastrosos para sua renda familiar. Nas duas experiências, os profissionais de saúde do TDO

comprometeram o relacionamento com os doentes pela falta de compreensão da realidade

destes e flexibilidade na condução do tratamento quando necessário. Aliado a isso, o poder

público não possibilitou a inclusão social dos mais desfavorecidos. Os autores questionaram a

eficácia do TDO não somente pela perda de automia do doente em relação a condução de seu

tratamento, mas também pelas alterações sociais e econômicas a que foram expostos.

Em estudo retrospectivo de coorte de tuberculose realizado em uma cidade de Taiwan,

Yen et al (2013) demonstraram que o TDO foi de extrema importância na redução da

mortalidade por tuberculose dos casos positivos, quando comparada a mortalidade de casos

46

em tratamento autoadministrado. Os doentes que aderiram à estratégia foram incluídos em um

programa de apoio social para receber os profissionais de saúde em casa ou no trabalho cinco

vezes por semana.

Na experiência brasileira, as coortes comparativas de TDO e autoadministrado variam

em cada município. Em Belém, o TDO apresenta desempenho discretamente melhor,

conforme dados apresentados anteriormente. Pelos depoimentos dos enfermeiros, ficou clara

a importância da observação da ingestão dos medicamentos, mas também houve o

reconhecimento da necessidade de apoio institucional para que esta aconteça a contento.

Percebeu-se que a flexibilidade apresentada nas várias maneiras de condução do tratamento,

mesmo dos casos não caracterizados como TDO, foi uma tentativa de manter o doente mais

próximo e evitar os abandonos.

Aspectos negativos na concepção dos doentes

Verificou-se que os doentes não costumam ser consultados sobre a possibilidade da

realização do TDO. Esse aspecto é demonstrado em diversas falas onde os termos imposição,

norma, ordem e rotina são muito frequentes. Cerca de 90% dos doentes responderam que as

tomadas observadas fazem parte da rotina da unidade e que isso é informado aos que iniciam

tratamento. Somente em 10% dos casos houve uma pactuação entre eles e os profissionais.

Eu já vinha de uma outra unidade e lá era esse mesmo processo, mas as

vezes eu ficava uma semana sem ir, levava a cartela toda. Quando cheguei

aqui, foi um choque porque mudou a minha rotina de estudo, trabalho e

ocupações. E vir segunda, quarta e sexta não foi fácil. Mas por eu ter me

recuperado, ter uma vida pra seguir, resolvi acatar e fazer. Colocaram como

uma imposição, no caso (CN 4).

A ordem é pra vir todos os dias. Já me orientaram assim (CN 15).

Vim encaminhada da rede particular e aqui eles disseram como eu tinha de

fazer o tratamento. É a rotina da unidade fazer três vezes por semana (CN

46).

No capítulo dedicado ao TDO no manual de normas (BRASIL, 2011), consta que a

escolha da modalidade para o tratamento, deverá ser sempre pactuada entre equipe de saúde e

doentes, considerando a realidade local e a estrutura existente no serviço de saúde. São

poucos doentes em TDO que pensam em abandonar o tratamento e alguns deles gostariam de

poder optar por fazer tratamento autoadministrado, o que reafirma a ideia mencionada

anteriormente de que nem sempre a decisão do regime de tratamento é pactuado entre

profissionais e doentes (CRUZ, 2012).

47

Receber a informação correta e a possibilidade de comum acordo entre a forma de

tratamento, além de direito do usuário, está previsto na lei de exercício profissional. De

acordo com o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, Capitulo I, Seção I nos

Artigos 17 e 18 (p. 3), é dever do enfermeiro prestar as devidas informações sobre “direitos,

riscos, benefícios e intercorrências” sobre a assistência de enfermagem para doente, a família

e a coletividade, assim como, “respeitar, reconhecer e realizar” ações que asseguram o direito

de escolha do cliente ou seu representante legal sobre sua “saúde, tratamento, conforto e bem

estar” (COFEN, 2007).

Um outro aspecto considerado negativo pelos doentes foi a pouca participação da

equipe de saúde no TDO. Além do corpo de enfermagem, os outros profissionais mais citados

foram os médicos, pelas consultas nas quais os doentes comparecem. Observou-se que poucos

doentes conhecem os nomes dos profissionais que os atendem. Em relação às consultas

médicas, chamou atenção a frequência baixa de atendimentos dos doentes em TDO para esses

profissionais. No período de observação, verificou-se que em algumas unidades os doentes

são encaminhados aos médicos somente em caso de intercorrências. Ressalta-se que, em pelo

menos duas unidades, pelo quantitativo reduzido de recursos humanos, os doentes concorrem

às vagas juntamente com a demanda espontânea, sem possibilidade de agendamento prévio.

[...] fui pegar uma ficha para o médico da diabete [...]fiquei horas na fila.

Vim cedo como me informaram. Mandaram ficar numa sala. Chegou na

hora, falaram que era pra ir pra outra sala. Quando nós chegamos na outra

sala já tinha uma fila enorme. Aí eu fiquei chateada [...]não quis mais fazer.

Não estou fazendo meu tratamento da diabete. [...] eu imagino que, cada vez

que eu vier, vai acontecer a mesma coisa (CN 13).

Minha relação com o pessoal da sala do TDO é boa, com as outras pessoas

da unidade eu não tenho muito contato. Com a doutora eu tenho contato só

quando eu peço pra marcar consulta pra conversar com ela e esclarecer

algumas coisas (CN 35).

Foram pouco mencionados os encaminhamentos para outros profissionais de nível

superior. Para esses também, os atendimentos ocorriam conforme necessidade. Por essa razão

54% dos doentes nunca haviam sido atendidos por nenhum outro profissional além do pessoal

de enfermagem e, para 44% deles, o relacionamento com estes outros profissionais era bom,

porém, entende-se que essa avaliação ficou comprometida devido ao pouco tempo de

interação entre os envolvidos.

Para Clementino e Miranda (2010), o nível de satisfação do usuário está intimamente

ligado à relação que é estabelecida com este pelos profissionais de saúde, e se dá pela

48

resolutividade das demandas apresentadas. Essa relação se fundamenta pelo vínculo criado

que desencadeia um processo permanente de ensino-aprendizagem.

O acolhimento é primordial para o estabelecimento de vínculo e é uma atividade que

deve ser exercida por todas as pessoas que atuam na unidade de saúde. Quando é executado

pela equipe multiprofissional, além de favorecer a comunicação desta com os doentes,

também pode favorecer o relacionamento entre os próprios trabalhadores do serviço

melhorando o desemprenho do grupo (PENNA, FARIA, REZENDE, 2014).

Segundo Bertachini (2012) em artigo de revisão, o entendimento de saúde centrado na

figura médica ainda persiste na população e poderia ser modificado por meio do acolhimento

multiprofissional que ele denomina “comunicação terapêutica” (p. 515) proporcionada por um

acolhimento verdadeiramente resolutivo e humanizado. Para isso, considera que novas

posturas devem ser incentivadas tanto no contexto do sistema de saúde quanto pessoal.

Tomando por base os depoimentos, é correto afirmar que existe necessidade de maior

interação entre os profissionais de saúde para que se possibilite atenção integral, pois, é

inadmissível constatar que a pessoa em tratamento de tuberculose, estando na própria

Unidade, não tenha acesso à outros serviços prioritários, conforme mencionado por CN13.

Para que essa interação ocorra, a equipe deverá inicialmente ser instrumentalizada com

informações técnicas e rotinas do programa de tuberculose para então ter condições de

estabelecer fluxos e detalhamentos do atendimento.

É necessário o entendimento dos profissionais que atuam nos serviços de saúde que,

embora em tratamento para uma doença transmissível, os doentes apresentam outras

necessidades relacionadas ao processo saúde-doença que precisam de atendimento oportuno,

de acordo com suas individualidades e ciclos de vida.

Uma outra situação que pode ser reflexo da pouca participação da equipe

multidisciplinar no TDO, foi a baixa interação entre os doentes. Como eles permaneciam, na

maioria das vezes, somente com o grupo da enfermagem, não tinham oportunidade de

participar de outros momentos onde pudessem trocar experiências. Em geral o contato entre

eles acontecia durante a espera pelo atendimento.

Segundo os enfermeiros, esses momentos de maior convívio entre os doentes existiram

quando as unidades ofertavam café da manhã e a permanência deles nas unidades era maior.

Sem esse recurso, os doentes chegavam, tomavam seus medicamentos e logo se retiravam.

Dos doentes entrevistados, 54% referiram que o relacionamento com outros doentes não

existia:

49

Com os outros pacientes eu não tenho muito contato, não converso muito

com eles. Porque quando eu venho geralmente não tem mais ninguém (CN

28).

Eu não tenho muito contato com os outros pacientes, porque a gente vem e é

uma coisa assim rápida. [...] entra uma pessoa, aí tem que sair pra entrar

outra. Então a gente não fica com outros na sala, é só a gente [...] e os

profissionais. No momento, só precisei dos profissionais do TDO. Médico

quando eu preciso é consulta particular (CN 31).

Eu não sei quem são (os outros doentes), vejo aí varias pessoas, tomo os

comprimidos quando eu chego e recebo os demais comprimidos pra tomar

em casa e voltar no dia que é marcado aqui. [...] vou logo embora. (CN 44).

Andrade et al (2015), trabalhando com grupos focais de doentes com tuberculose,

estudantes de medicina e médicos em um hospital no Rio de Janeiro, demonstrou a

importância da interação no fortalecimento da adesão ao tratamento. A valorização do

compartilhamento de experiências e saberes propiciou o conhecimento das diferentes

percepções do grupo e suas repercussões nas questões emocionais e sociais dos doentes, e

contribuiu para o melhor entendimento dos profissionais e alunos, do contexto em que os

doentes estão inseridos para a uma melhor tomada de decisão, fortalecendo a necessidade do

diálogo no atendimento em saúde.

Entende-se que na situação descrita, o agregamento de outros saberes da equipe

multidisciplinar contribuiria sobremaneira para a adesão ao tratamento e o acolhimento

adequado das demandas, não somente dos doentes, mas também o envolvimento de suas

famílias.

David e Torres (2013), ao entrevistar profissionais da atenção básica que atuavam na

educação em saúde do programa de diabetes em um município de Minas Gerais, concluíram

que as dificuldades apresentadas por estes, para o trabalho em grupo com os doentes,

referiam-se a formação profissional, dificuldades em estabelecer vínculo e a não adoção de

posturas voltadas para a responsabilidade social. Apontaram que as ações conjuntas podem

promover mudanças significativas no comportamento do doente em relação a sua saúde e

fortalecer os laços entre os profissionais, que tem nesse momento a oportunidade de rever

suas práticas e trocar experiências que complementem os conhecimentos específicos.

Entende-se que são muitas as questões que perpassam o acompanhamento em

tuberculose, e que estas seriam melhor conduzidas com o apoio de todos profissionais da

equipe de saúde, otimizando a resolução de dificuldades inerentes ao serviço e permitindo

uma interação com qualidade entre os doentes, e entre estes e o grupo de trabalho.

50

O maior percentual de doentes (65%) considerou a experiência de ir a unidade de

saúde tomar os medicamentos um aspecto negativo basicamente por dois motivos: relação

com o trabalho (42%) e gastos com transporte (23%).

A relação entre a frequência do comparecimento à unidade e as questões que

envolvem o trabalho é direta e importante. A incompreensão do patrão quanto ao adoecimento

e tratamento, foram causadores de momentos de tensão, inclusive com relatos de perda de

emprego.

[...] nesse negócio (TDO), eu já perdi um emprego. Agora trabalho com meu

irmão para poder vir três vezes na semana [...]. O meu patrão me despediu

por causa disso [...] (CN 11).

[...] eu tenho um problema [...], eu não falei no trabalho que tenho essa

doença. [...] tenho sempre que dar um jeito de vir e voltar. Chego lá tarde,

tem engarrafamento e trabalho bastante longe também. Ela ( a patroa) é uma

pessoa idosa e não ia entender, nem os familiares, achando que eu poderia

passar, mas eu já estou no quinto mês (CN 17).

Por vir todo dia pra cá. [...] eu fui despedido quando eles souberam que eu

estava doente. Agora, por enquanto, não estou fazendo ainda nada. Esperar

acabar o tratamento pra ver se eu consigo algum emprego (CN 20).

Comparecer três ou cinco vezes por semana à Unidade, implicava no uso de algum

meio de transporte, que por vezes comprometia a renda familiar, fazendo com que vários

doentes optassem em comparecer aos atendimentos a pé, mesmo os que moravam longe. A

obrigatoriedade do comparecimento foi vista como uma dificuldade não somente pelos gastos

que podia gerar, mas também porque alterava a rotina das pessoas:

Às vezes, como eu moro longe, não tenho dinheiro pra vir, mas aí eu venho

de bicicleta, dou um jeito [...] (CN 28).

Pra mim se torna meio ruim, porque eu moro longe, trabalho, tenho que

pagar ônibus. Toda vez cinco reais se torna ruim. São 150 por mês (CN 50)!

Como eu faço curso, tive de colocar pro horário da tarde [...].É ruim só por

causa disso, mas a prioridade agora é a minha saúde, então é melhor assim

mesmo (RA 3).

Análise sobre satisfação dos doentes realizada no estado de São Paulo revelou que o

tempo que o doente leva para se deslocar até a unidade de saúde reflete a necessidade de

melhoria de acesso geográfico, com oferta de serviços o mais próximo possível do seu local

de moradia. Considerou também que os gastos com transporte tem relação direta com a baixa

situação econômica dos doentes (PALHA, 2012).

51

Utilizando os resultados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD),

Pinheiro et al (2013) constataram a relação entre renda per capita menor que meio salário

mínimo e a ocorrência de caso de tuberculose na família e sugeriram a inclusão da tuberculose

nos programas de transferência de renda da União como forma de assegurar direitos sociais

básicos. Embora o acesso a esses programas tenha aumentado significativamente entre a

população de baixa renda no país, verifica-se que a questão financeira continua tendo grande

influência para o tratamento dos doentes.

Residir longe do serviço de saúde pode gerar prejuízo para resultado do tratamento. A

ausência de serviços de saúde mais próximos dos usuários promovem desigualdades

geográficas de acesso. A ESF foi criada para levar o atendimento em saúde mais próximo a

comunidade, otimizando as ações primárias em saúde (CLEMENTINO, MIRANDA, 2010).

Com a cobertura de ESF aquém da necessidade no município, muitos casos de tuberculose

são referenciados para unidades tradicionais, implicando na necessidade de locomoção com

uso de transporte.

Não ter com quem deixar os filhos menores também foi mencionado como gerador de

gastos adicionais, pois, 18% dos pacientes precisavam por vezes levá-los à unidade. Isso

implicava em mais gastos, a mudança na rotina das crianças e a maior exposição das mesmas

ao ambiente das unidades de saúde com os riscos que muitas vezes acarretam.

Às vezes o meu marido vai trabalhar aí não tem com quem deixar minha

filha, somos só nós três em casa. Tem que [...] acordar cedo para trazer ela

ainda no ônibus, aquela agonia. Ainda tem engarrafamento [...] (CN 39).

[...] é ruim, ter que acordar minha filha cedo pra vir comigo. Porque eu e ela

(esposa) fazemos tratamento. Não dá pra deixar minha filha com outra

pessoa [...] a gente hoje em dia não confia em ninguém (CN 40).

A questão do deslocamento talvez fosse amenizada na presença de algum incentivo

material que garantisse o transporte até a unidade básica. Porém, ao serem questionados sobre

“incentivo”, 88% dos doentes se referiram sempre ao encorajamento dado pelos profissionais

de saúde, principalmente os enfermeiros, para a adesão ao tratamento e a manutenção até o

final. Verifica-se que a maioria desconhece a possibilidade da existência de recursos

financeiros para este fim, embora alguns já tenham ouvido falar sobre isso indiretamente.

Não recebo. Meu primo já fez tratamento aqui e ele recebia café da manhã

mas agora não tem. Não sei por que... Mas seria bom receber também (CN

1).

52

O enfermeiro, no caso, sempre me alerta a gravidade da doença e oferece

apoio moral, psicológico. Acho que isso (falta de apoio material) é uma

grande dificuldade pra nós. Melhoraria a parte do café da manhã. Para os que

já vem pra cá, para os que tem dificuldade de locomoção, alguns podem ter

outro compromisso após sair daqui e então esse contratempo, se tivesse esse

apoio material seria ótimo. Por exemplo um kit do café da manhã (CN 2).

Recebo muito incentivo da doutora lá pra mim vir, pra não desistir. Sempre

ela me falou isso – “não desiste, vai até o final”. Eles incentivam bastante a

gente (CN 26).

Os achados estão em consonância com o que foi descrito por Dias (2013) quando,

embora tenham considerado difícil fazer o tratamento em regime observado, os doentes

referiram que a presença do profissional de saúde do TDO é uma forma de estimulo para a

conclusão do mesmo. Este fato estaria relacionado ao vínculo estabelecido e a flexibilização

nas observações conforme as necessidades apontadas.

Quando o vínculo não ocorre, aumenta o risco de abandono por questões relacionadas

a organização do serviço e ao despreparo de recursos humanos para lidar com doenças

transmissíveis. Durante os depoimentos, verificou-se que as questões referentes a preconceito

e estigma que foram relatadas, tanto por doentes quanto por enfermeiros, se relacionavam a

outros profissionais de saúde externos ao TDO. Infere-se assim, que existe um compromisso

de aproximação dos enfermeiros com os doentes e que isso impulsiona o tratamento mesmo

quando há dificuldades.

Aspectos negativos na concepção dos enfermeiros

O que foi mencionado como negativo para 68% se refere à falta de incentivos na

forma de café da manhã ou lanche, auxílio para transporte e cestas básicas. Este aspecto

parece ter maior relevância na fala dos profissionais. Observa-se que para eles, a situação

financeira dos doentes, com predominância de baixas condições socioeconômicas, figura

como uma grande dificuldade para a manutenção do TDO, embora a estrutura física de alguns

serviços e problemas relacionados à escassez de recursos humanos também afetem o bom

andamento da atividade:

E o que é ruim é que eu não tenho condições pra oferecer pro paciente o

transporte para vir todos os dias aqui e o café da manhã ( E 5).

Tem muitos pacientes que não tem condições de vir aqui sempre. São muito

humildes, moram longe [...] Então na época do lanche eu via que o paciente

vinha mais disposto. Tinha gente que vinha só pelo lanche. Você percebia

que não tinha nada em casa e vinha feliz da vida tomar o café da manhã. [...]

Tomava a medicação dele e já tinha uma refeição garantida, pelo menos uma

(E 7).

53

São pacientes pobres e não temos o mínimo pra ofertar, que é um café da

manhã, uma cesta básica ou um vale transporte [...]. É muito complicado o

paciente vir de ônibus [...] ás vezes eles não tem (dinheiro) para esse

transporte. [...] Teve paciente que abandonou o tratamento porque acabou o

café. Vinha ele e a mulher e tomavam o café da manhã aqui. [...] não teve

mais como vir porque além de ser longe, ele não tinha o que comer. [...]

chegava entre 10-11h da manhã, tomava o remédio e tomava o café e já se

sentia aliviado (E 10).

Para 33% dos enfermeiros, o fornecimento de incentivos materiais é o melhor meio de

fortalecer a adesão dos doentes ao TDO. Considerando as questões negativas por eles

apontadas, as situações de caráter econômico que envolvem a presença dos doentes nos

serviços de saúde, podem induzir ao absenteísmo e o abandono de tratamento:

[...] ter alguns benefícios pra atrair mais o cliente, porque a gente sabe que

tem alguns pacientes que necessitam de um lanche, uma passagem de

ônibus... Eu tenho pacientes que não conseguem vir segundas, quartas e

sextas [...] (E 1).

[...] precisa ter o (vale transporte) “digital” que tinha antigamente e [...] o

café da manhã. (O doente) vem pra cá em jejum e [...] volta pra casa pra

tomar o café . [...] tem lugar aqui que é longe, precisa pegar van ou ônibus e

tem que ter o dinheiro do transporte. [...] são poucos os idosos e eles não

pagam a passagem, mas os outros pagam (E 5).

[...] o vale transporte seria muito importante, porque a minha área é muito

grande e os pacientes tem muita dificuldade pra vir pra cá. [...] não tem

condições, não tem dinheiro. Já peguei paciente aqui que mal tem o que

comer (E 7).

Em pesquisa realizada com doentes de tuberculose em uma unidade de saúde de

Ribeirão Preto há 14 anos, a disponibilidade de incentivos voltados para transporte e

alimentação já era apontada como uma fortaleza do TDO (VENDRAMINI, 2002). Em outro

estudo de 2007, realizado com enfermeiros, a disponibilidade de incentivos foi considerada

como um fator importante, porém, não o único para a adesão ao TDO. As autoras

consideraram que somente a oferta de benefícios, sem inclusão social, poderiam resultar em

maior discriminação do usuário quanto a seus direitos e deveres (SILVA et al, 2007). Essa

opinião também é compartilhada por vários outros estudiosos que referem que a questão da

tuberculose tem que estar envolvida no combate a miséria.

Pelo que se pode observar, a ajuda institucional para doentes em TDO é uma

necessidade antiga. Os determinantes sociais da tuberculose são importantes em todas as

ações do programa de controle. Comprometem diretamente o acesso e necessitam de uma

política pública que garanta as condições para um acompanhamento adequado do doente em

todos os atendimentos. O que se percebe na realidade atual, é que ainda se busca soluções

54

paliativas, uma vez que as estratégias governamentais para o enfrentamento das questões

sociais mais profundas, não tem conseguido melhorar de fato a vida da população.

De acordo com o segundo pilar da nova estratégia da OMS para o controle da

tuberculose pós-2015 – políticas arrojadas e sistema de apoio - existe uma recomendação para

a adoção de estratégias de proteção específicas para doentes com tuberculose, que incluem

auxílio para alimentação e transporte. No ano de 2015, cerca de 45% dos municípios

prioritários para tuberculose disponibilizavam algum tipo de benefício como cestas básicas,

auxílio transporte e lanches, porém, esses incentivos não eram ofertados para 100% dos casos

em tratamento e nem sempre houve regularidade na oferta (BRASIL, 2015).

Atualmente nenhuma unidade de saúde recebe incentivo financeiro ou material para a

manutenção do TDO. Após o encerramento da parceria do Projeto Fundo Global para

Tuberculose no Brasil em 2012, a gestão municipal de Belém, por meio do Departamento de

Vigilância Epidemiológica, conseguiu manter o café da manhã por alguns meses. Após a

suspensão do mesmo, nenhum outro recurso foi introduzido. Enfermeiros de alguns serviços

tentaram manter esse incentivo através de doações de comerciantes dos bairros onde se

localizam as unidades mas, certo tempo depois não foi mais possível.

Na falta de incentivo, alguns enfermeiros utilizaram de criatividade para tornar mais

atrativa as idas dos doentes à unidade lançando mão de outros recursos na tentativa de agregar

valor aos encontros, como descreve E6:

[...] a gente não só faz o que tá no manual, fazer o acolhimento, fazer todas

as orientações e ver se o paciente tomou a medicação, ver se ele engoliu

direitinho, não. Eu introduzi algumas coisas a mais que eu achei necessário

pra poder ir até o final. Paciente diabético quando ele chega, toda segunda-

feira a gente verifica a glicemia dele, toda segunda-feira eu peso os

pacientes, eles amam isso, pra ver se tão ganhando ou perdendo peso e não

só no mês da consulta. Toda segunda-feira a gente verifica a pressão do

paciente, então eu agreguei algumas coisas pra ganhar o paciente. Pacientes

femininas eu agendo ginecologista, se tem filho pediatria [...]. Eu acho que o

TDO é um todo, não só a medicação, mas sim o paciente como um todo.

Embora utilizando outras estratégias para manter os doentes em TDO, notou-se que os

enfermeiros se ressentiam da pouca participação de outros profissionais de saúde da equipe,

ou até mesmo de outros enfermeiros que não atendiam casos de tuberculose, por não se

envolverem nas ações do programa.

Aspectos relacionados à recursos humanos e estrutura física também aparecem como

fatores que não favorecem o bom andamento do TDO. Quando questionados sobre o

55

relacionamento com outros profissionais, 68% dos enfermeiros julgaram que era bom, porém,

nas observações de campo percebeu-se que essa avaliação foi baseada no relacionamento

interpessoal de maneira geral, e não relacionada às questões que envolviam o trabalho em si.

Nestas, o que se ressaltou foi a dificuldade de colaboração dos outros. Tal fato talvez explique

o contato pouco frequente dos doentes com estes profissionais:

Eu acho que outros profissionais enfermeiros e de outras categorias

deveriam ser mais enfronhados também no tratamento [...]. Mas

infelizmente só fica no poder de um ou dois, três, porque as pessoas tem

medo ainda da tuberculose e da hanseníase. Essa é a grande verdade. Não

são todos os profissionais que gostam de trabalhar com doenças

transmissíveis com medo de se contaminar (E1).

Com a nutricionista o um relacionamento é bom, mas um pouquinho

difícil por ser só uma para unidade toda. Ela atende os meus pacientes

mas é difícil encaixar [...]. Psicóloga de manhã só atende criança Eu não

posso encaminhar pra tarde porque eu não tenho feedback, então eu não

encaminho. Serviço social, eu encaminho, mas... eles não se envolvem, só

quando eu encaminho[...]. Sabem que é uma população que realmente

precisa, mas a gente não tem o feedback. Os médicos eu tenho um

relacionamento bom, só que eles não se envolvem (E 6).

A minha relação é bastante amigável. Eu tento ser bastante amistoso com

os pacientes e com a equipe de uma maneira em geral. Não tive problema

algum nem com paciente e nem com profissional da área. O TDO

funciona somente pela manhã. A equipe sou eu, um técnico de

enfermagem e um médico. Raramente os outros profissionais

acompanham os pacientes (E 14).

As dificuldades relacionadas a interdisciplinaridade parecem ter vários fatores, entre

eles: recursos humanos escassos para a realização de muitas atividades, ou em horários que

não propiciem o contato entre os atores envolvidos, medo, desconhecimento, dificuldade de

interação, dentre outros.

Sobre o desconhecimento e o medo, ambos parecem estar intimamente ligados. Nos

cursos na área da saúde, durante a formação acadêmica, as vezes são poucas as oportunidades

de maior contato dos graduandos com as doenças transmissíveis com forte carga social, a

exemplo da tuberculose e hanseníase. Assim, a desinformação sobre a doença e seu manejo,

alicerçadas nos conhecimentos estigmatizantes circulantes no senso comum, podem gerar

temor e preconceito, interferindo no relacionamento doente-profissional de saúde. Para

Rodrigues, Motta e Ferreira (2016), a organização das representações sociais negativas a

respeito dos doentes com tuberculose que são amparadas no medo, fragilizam a relação

enfermeiro-doente e influenciam na adesão ao tratamento observado de ambas as partes,

reforçando o preconceito e a exclusão.

56

Segundo Pinheiro et al (2010), a interdisciplinaridade procura integrar saberes por

meio do olhar diferenciado de cada profissional. A incompreensão dessa necessidade faz com

que os profissionais ajam isoladamente, o que implica na dificuldade de entendimento da

evolução técnico-científica em saúde, da dinâmica da vida e das relações de trabalho.

Em relação à estrutura física, 28% dos enfermeiros consideraram que há necessidade

de melhoria nos consultórios e outros espaços de atendimento, verbalizaram ainda a

preocupação quanto à privacidade dos doentes, na tentativa de minimizar o preconceito e o

estigma que estes sofrem não somente por outros clientes das unidades mas, algumas vezes,

por profissionais da própria Unidade.

[...] eu percebi que eles ficavam meio constrangidos. Porque não existe uma

sala adequada pra tomar o café da manhã. Eles tomavam junto com o

funcionário. Tinha funcionário que quando chegava aqui e encontrava o

usuário lá, se ressentia e saia. Então, pra ser feito isso tem que ter um local

adequado, sala adequada, capacitação de todos os funcionários,

sensibilização de todos os funcionários (E 4).

[...] o fato dele vir a unidade tomar medicação na sala de tuberculose, onde

as pessoas que passam ali o vejam na fila e vão saber que ele está sendo

tratado de tuberculose. E como a tuberculose tem um grande estigma social,

é um fato negativo para o paciente. Isso faz com que o paciente ele fique às

vezes... não diria revoltado...mas reativo com relação ao tratamento (E 2).

O contexto da estrutura física inclui não somente a garantia de privacidade dos

profissionais e doentes como também os aspectos relativos à biossegurança. No que se refere

a biossegurança, existem três tipos de medidas de controle de infecção recomendadas para

serviços que atendem tuberculose, com o intuito de evitar ou minimizar o risco da transmissão

nosocomial nos ambientes. São elas as medidas administrativas, de controle ambiental e

proteção individual. As medidas administrativas se referem a organização do fluxo de doentes

nos ambientes; as de controle ambiental estão ligadas a existência de ventilação adequada; e

as de proteção individual, ao uso de máscaras apropriadas onde as outras medidas não forem

suficientes (TAVARES, 2012).

Das Unidades que compõem este estudo, verificou-se que 58% eram de médio porte,

25% de pequeno porte e 17% de grande porte. Quanto à biossegurança observou-se que as

medidas administrativas eram aplicadas em somente 25% delas. Nas outras, os espaços de

espera eram compartilhados com a clientela que procurava a unidade para outras atividades e

por vezes, a espera se dava em corredores estreitos e pouco ventilados. No que diz respeito à

aplicação de medidas de controle ambiental, chamou atenção o fato de 50% das salas que

57

atendem doenças transmissíveis possuírem ar condicionado, demostrando que o conforto

térmico sobrepõe a necessidade de biossegurança.

Nas salas que possuíam janelas, nem sempre estas estavam posicionadas de maneira

que permitissem o fluxo correto de ar dentro do espaço. Nessa situação era comum o uso de

ventiladores que acabavam favorecendo a disseminação de bacilos por estarem mal

posicionados ou em função basculante. Nenhum dos enfermeiros usou medidas de proteção

individual para atendimento aos doentes droga resistentes em TDO compartilhado, o que é

uma recomendação do Ministério da Saúde para atendimento a esses doentes mesmo em UBS

(BRASIL, 2011).

As salas também variavam muito de tamanho e somente 25% delas eram exclusivas

para atendimento dos casos de doenças transmissíveis. Em pelo menos 33% das unidades, só

havia um consultório de enfermagem onde se acompanhava, além dos casos de tuberculose,

todos os grupos prioritários das políticas de saúde tais como gestantes, crianças, diabéticos,

hipertensos, idosos, dentre outros.

Quanto ao número insuficiente de profissionais de enfermagem para as atividades

nas unidades de saúde, verificou-se que, embora em 100% dos serviços o enfermeiro participe

diretamente no TDO ele não desempenha suas atividades exclusivamente no programa de

doenças transmissíveis.

Da mesma maneira, o técnico em enfermagem também desempenha várias

atividades, sendo frequentemente deslocado para outros setores. Tal fato acarreta prejuízos na

atenção dispensada ao doente e por vezes dificulta o estabelecimento de vínculo com o

mesmo. Pelo exposto, 19% dos enfermeiros justificaram a necessidade de aumento no número

de profissionais de saúde nos serviços:

[...] aqui como é pequeno, só tem uma enfermeira pra atender tudo. Então se

ele (paciente) chegar muito cedo, tem de esperar a gestante, a criança, a

puérpera ser atendida [...] é ordem de chegada, não tem prioridade. Ele

estando bacilífero ou não, vai aguardar (E 4).

A gente tem dificuldade porque o enfermeiro é sobrecarregado. A partir do

momento que você tem o enfermeiro só pra trabalhar com doenças

transmissíveis, você já fecha um pouquinho mais o quadro e consegue dar

uma atenção maior, se dedicar mais ao programa [...]. Trabalho com

hipertensão e diabetes. [...]. Isso sobrecarrega o trabalho da gente (E 8).

A gente capacita o funcionário pra atender tuberculose [...] mas quando ele

está treinado pra nos ajudar, a gerência o solicita para cobrir outro setor. O

técnico de enfermagem tem que ser parceiro no nosso atendimento ao

paciente portador de TB (E 11).

58

Sánchez (2007) e Cruz (2012) já mostravam que a má organização dos serviços

contribui negativamente para o acompanhamento de doentes quando não consegue atender a

demanda com qualidade e presteza. Nesses estudos os profissionais apontam o número

insuficiente de recursos humanos como aspecto negativo não somente pela sobrecarga de

trabalho a qual o profissional é submetido, mas também na necessidade de referência dos

casos para outros serviços quando necessário.

Outras situações que geraram desgastes no desemprenho da equipe de saúde foram

identificadas por Shimizu e Carvalho Júnior (2012) estudando o processo de trabalho em ESF.

Dentre elas, as dificuldades de comunicação e apoio por parte das chefias, que mantem a

gestão centralizada e hierarquizada comprometendo inclusive o trabalho multiprofissional e a

escassez de recursos técnicos para as tarefas, que foram apontadas como fatores de desgaste

físico, cognitivo e emocional. Nesse contexto, o esforço individual para vencer as barreiras é

maior. Mesmo assim, os profissionais referiram obter satisfação pela sensação de utilidade e

dever cumprido junto à comunidade que assistiam.

Comparando a sobrecarga de trabalho entre ESF e equipes de unidades básicas de

saúde, Trindade e Pires (2013) concluíram, pelos depoimentos dos profissionais de ambos os

modelos de assistência, que a estrutura dos serviços de saúde não era compatível com o

número de pessoas atendidas. Em relação à gestão, esta sobrecarregava os profissionais com

uma postura “político-partidária de cunho clientelista” (p. 39) baseada no modelo biomédico,

principalmente nas unidades básicas de saúde. Outras questões apontadas foram recursos

materiais insuficientes e mal administrados, capacitação incipiente, dificuldades de

referências, jornadas de trabalho desgastantes, vínculo empregatício frágil e problemas de

relacionamento com doentes, comunidade e entre membros da equipe.

Esse panorama é compatível com a realidade deste estudo e ajuda a demonstrar o

quanto se necessita avançar na melhoria das condições de trabalho na atenção primária à

saúde para o alcance dos preceitos estabelecidos pelo SUS. Entende-se que é extremamente

difícil e desgastante conviver com problemas que se repetem e para os quais nenhuma saída

parece possível a curto prazo, pois, muitos deles estão diretamente ligados a gestão em saúde

em seus diferentes níveis de competência.

59

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante os resultados deste estudo é possível concluir que os fatores intervenientes

na adesão de doentes ao TDO estão relacionados, principalmente, ao baixo conhecimento dos

doentes sobre essa estratégia de tratamento e as baixas condições sócio econômicas em que

vivem. Esse contexto reflete as dificuldades enfrentadas por eles para chegar ao Serviço de

Saúde, nos vários comparecimentos que a operacionalização da estratégia exige para que seja

efetivada com sucesso, por vezes comprometendo seus resultados.

No que concerne aos doentes, embora estes considerem que a garantia de tratamento

adequado e a maior atenção por parte da equipe de saúde sejam aspectos importantes que

influenciam positivamente para sua adesão ao TDO, verifica-se que essa adesão sofre

influência do baixo entendimento da importância da mesma. Os doentes apresentam

dificuldades em emitir conceitos e opiniões acerca dessa modalidade de tratamento. Isso

também remete ao desconhecimento de direitos e deveres onde a informação e o acesso

emergem como pontos de fragilidade. Percebe-se que a relação enfermeiro-doente é baseada

na empatia e por meio desta, boa parte das dificuldades são superadas, pois, o doente

considera o enfermeiro como seu ponto de apoio quando surgem as intercorrências.

Pelo entendimento da situação epidemiológica atual da tuberculose, os enfermeiros

assumem que o TDO é maior garantia de cura, porém, contribuem para o não entendimento

dos doentes quando não primam pela informação correta e acabam impondo a modalidade de

tratamento sem dar espaço para as pactuações necessárias durante todo o processo e

estabelecimento de uma relação de confiança. Mesmo se solidarizando com as dificuldades

enfrentadas pelos doentes, preferem não correr o risco de tê-los em tratamento irregular. Mas

essa conduta também pode proporcionar efeito contrário, uma vez que, ao não conseguir

eliminar as barreiras que dificultam a rotina dos doentes no TDO, os enfermeiros também

assumem o risco de perdê-los por abandono de tratamento.

Mesmo com a obrigatoriedade de ir a unidade de saúde conforme a rotina, os doentes e

profissionais de enfermagem conseguem ter um bom relacionamento. O pessoal de

enfermagem e mais intensivamente o enfermeiro, exerce papel fundamental, pois, compartilha

todos os momentos pela proximidade com os doentes. Procuram incentivar a manutenção do

tratamento com criatividade, utilizando-se de recursos do próprio serviço, mesmo com a carga

excessiva de trabalho à qual, muitas vezes estão expostos.

Essa postura, infelizmente, não é compartilhada por outros profissionais de saúde,

inclusive enfermeiros que atuam em outros programas, que procuram não se envolver com as

60

ações da tuberculose. Seja por recursos humanos insuficientes, medo ou falta de interesse,

isso reflete no acesso dos doentes à outras demandas individuais e coletivas, não favorecendo

a interação doente-profissional de saúde e nem entre os doentes, fundamental para troca de

saberes que favoreçam a adesão. Os enfermeiros findam sendo forçados a centralizar as

decisões pela falta de outros atores para a divisão de responsabilidades.

Os enfermeiros defendem o retorno de incentivos materiais, principalmente os que se

relacionam a garantia de transporte, nos deslocamentos para a unidade de saúde, e

alimentação, para maior fidelização dos doentes ao TDO. Consideram que a situação

socioeconômica dos doentes tem grande influência na aceitação do TDO, pois, impõe para

muitos deles gastos e problemas relacionados a questões de trabalho.

Apontam ainda, outras situações que comprometem o bom andamento da estratégia.

Essas se referem à estrutura física das unidades, que apresentam problemas relacionados a

biossegurança e espaços físicos que delimitam de maneira negativa as ações, e ao número

insuficiente de recursos humanos capacitados para atuação no PCT, o que facilitaria o acesso

e o comprometimento de toda a equipe para um atendimento qualificado e resolutivo.

Considera-se que o TDO no município de Belém, oferece condições para o alcance de

bons resultados. Porém, se faz necessário investimentos, não somente para a melhor

estruturação dos Serviços de Saúde e operacionalização da estratégia, mas um trabalho

conjunto entre os diversos órgãos da área social para garantia de direitos e apoio. Também,

um maior envolvimento da sociedade civil principalmente no que se refere a disseminação de

informações, para minimizar o estigma que persiste contra o doente, fazendo com que esse

seja incompreendido e hostilizado no trabalho, família e comunidade.

Os profissionais de saúde sempre terão que usar de bom senso para o

acompanhamento dos doentes. É preciso que se entenda que a pessoa com tuberculose não se

resume somente a doença que a afeta, mas tem uma história de vida e outras necessidades que

podem alterar seu compromisso com o tratamento e que devem ser consideradas no momento

da definição do plano terapêutico a ser utilizado.

Entende-se que esse estudo apresenta limitações, por não ter considerado outras

variáveis que ampliassem as discussões, como o TDO compartilhado com serviços de

referência, mas espera-se contribuir para o esclarecimento dos fatores que favorecem ou

dificultam a adesão ao TDO no município de Belém, que tem situação epidemiológica e

operacional semelhante à outras capitais, e que ele sirva de incentivo para outras

investigações sobre o tema no Estado do Pará.

61

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Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Escola de Enfermagem Magalhães Barata

Programa de pós-graduação em Enfermagem

Mestrado associado em enfermagem UEPA-UFAM

APÊNDICE A

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PARA DOENTES

CÓDIGO

IDADE: ___________

SEXO: M F

TEMPO DE TRATAMENTO: ___________TEMPO EM TDO:___________

1. O que é o TDO para você? Pode explicar?

2. Como é a experiência de vir tomar os medicamentos na unidade?

3. Quantas vezes você vem na unidade para tomar os medicamentos por semana?

4. Como foi a decisão de fazer TDO?

5. O que você considera bom no TDO? E ruim?

6. O que precisa ter? Por que?

7. Descreva a sua relação com os profissionais de saúde, com enfermeiros e com

os outros pacientes em TDO.

8. Existe alguma dificuldade para fazer o TDO, se sim qual(is)

9. Você considera importante fazer TDO, porque?

10. Você recebe algum tipo de incentivo?

a) Se sim, qual?

b) Se não, por que?

67

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Programa de pós-graduação em Enfermagem

Mestrado associado em enfermagem UEPA-UFAM

APÊNDICE B

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PARA ENFERMEIROS

CÓDIGO

IDADE: ___________

SEXO: M F

TEMPO FORMADO (A): ___________

TEMPO DE ATUAÇÃO NA UNIDADE:___________

1. Há quanto tempo existe o TDO na unidade?

2. O que é o TDO para você?

3. Quantas vezes é realizado TDO por semana na unidade?

4. Há quanto tempo você está atuando no TDO?

5. Como é a experiência da observação da ingestão dos medicamentos pelos doentes

para você?

6. O que você considera bom no TDO? E ruim?

7. O que precisa ter? Por que?

8. Você considera importante ter o TDO implantado? Porque

9. Descreva a sua relação com os doentes em TDO e com os outros profissionais que

atuam no PCT da unidade.

68

10. A UBS oferece algum tipo de incentivo? Se sim qual, se não porque

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Mestrado associado em enfermagem UEPA-UFAM

APÊNDICE C

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PACIENTES

Para a conclusão de minha dissertação do Curso de Mestrado associado em enfermagem

UEPA-UFAM realizarei uma pesquisa que tem por título Fatores que Interferem no

Sucesso do Tratamento Diretamente Observado em Tuberculose orientada pela Profª Dra

Ivaneide Rodrigues. O objetivo deste estudo é analisar os fatores que podem influenciar na

adesão ao Tratamento Diretamente Observado. Convidamos você a participar deste estudo

que tem como grupo alvo os pacientes em tratamento para tuberculose e os enfermeiros que

os acompanham. Sua participação se dará respondendo perguntas sobre as consultas na

Unidade de Saúde e o tratamento em si, através da aplicação de um formulário, que será

preenchido por mim e, mediante seu consentimento, a entrevista poderá ser gravada. Caso

não saiba alguma pergunta ou lhe provoque constrangimento, você tem liberdade para não

responder. Nesta pesquisa não será realizado nenhum procedimento que lhe traga qualquer

desconforto ou risco à sua vida, porém, tem o risco mínimo de seu nome vir a ser conhecido.

Para evitar esse risco, deixamos claro que o seu nome será conhecido somente pela

pesquisadora e que na divulgação dos resultados do estudo, ele não irá aparecer, pois

usaremos os códigos CN para as pessoas que nunca fizeram tratamento para tuberculose, RR

para quem fez tratamento anterior, curou e agora adoeceu novamente, e RA para as pessoas

que abandonaram tratamento e estão reiniciando, todas seguidas do número de ordem

sequencial das entrevistas. Sua participação no estudo é muito importante, pois, ouvindo-se as

pessoas que fazem parte do TDO, espera-se favorecer a melhoria da estratégia no município

69

de Belém, com possibilidade de melhora também na cura, no abandono e na diminuição do

aparecimento de novos casos de tuberculose resistente. Para os pacientes o benefício poderá

vir através de um atendimento mais humanizado, voltado a suas necessidades e com garantia

de acolhimento e acesso. A qualquer momento você poderá afastar-se da pesquisa e não

permitir o uso das informações obtidas e todo material gravado e/ou anotado lhe será

devolvido. As informações obtidas serão utilizadas somente nesta pesquisa, guardadas pela

pesquisadora por cinco anos e depois destruídas. Os resultados desta pesquisa poderão ser

apresentados em eventos científicos ou outro meio de comunicação e publicados em revistas

cientificas. Não há despesas pessoais para você em qualquer fase do estudo e não haverá

nenhum pagamento por sua participação, pois, este trabalho será realizado com recursos da

própria pesquisadora. Se você tiver dúvidas e desejar esclarecimentos sobre a pesquisa ou

mesmo sobre os seus direitos poderá fazer contato com a orientadora responsável, Drª.

Ivaneide Leal Ataíde Rodrigues, COREn-Pa nº. 23.412 End: Tv. Bom Jardim, 996 – Bairro:

Jurunas, Fone: (91) 3224-6673, email: [email protected], ou com a pesquisadora Marune Melo

Távora, Passagem Dias Junior, 03 – Bairro: Pedreira, fone: (91) 987025940, email

[email protected] ou ainda no Comitê de Ética em Pesquisa do Curso de Enfermagem

da Universidade do Estado do Pará, End: Av. José Bonifácio, 1289 CEP: 66063-010 Fone:

(91) 3249-0236/ Fax:(91) 3249-4671 Ramal: 208, email: [email protected].

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO

Eu ______________________________________________________declaro que li e/ou

ouvi o esclarecimento acima e compreendi as informações que me foram explicadas sobre a

pesquisa. Conversei com a pesquisadora do projeto sobre minha decisão em participar,

autorizando a gravação da entrevista, ficando claros para mim, quais são os objetivos da

pesquisa, a forma como vou participar os riscos e benefícios e as garantias de

confidencialidade e de esclarecimento permanente. Ficou claro também, que a minha

participação não tem despesas nem receberei nenhum tipo de pagamento, podendo retirar o

meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos. Concordo

voluntariamente participar desse estudo assinando este documento em todas as páginas junto

com o pesquisador. Estou ciente que uma cópia ficará comigo e a outra com o pesquisador.

Data/Local:.........../............/..............

70

____________________________________ RG: _________________

Assinatura do voluntário

___________________________________ RG: __________________

Assinatura do responsável por obter o consentimento

___________________________________ RG: __________________

Assinatura do pesquisador responsável

Observação: Este Termo está descrito em 2 páginas que serão rubricadas pelo pesquisador e

participante.

71

Universidade do Estado do Pará

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Escola de Enfermagem Magalhães Barata

Programa de pós-graduação em Enfermagem

Mestrado associado em enfermagem UEPA-UFAM

APÊNDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ENFERMEIROS

Para a conclusão de minha dissertação do Curso de Mestrado associado em enfermagem

UEPA-UFAM realizarei uma pesquisa que tem por título Fatores que Interferem no

Sucesso do Tratamento Diretamente Observado em Tuberculose. O objetivo deste estudo

é analisar os fatores intervenientes na adesão ao Tratamento Diretamente Observado.

Convidamos você a participar desse estudo que tem como grupo alvo os enfermeiros e

pacientes em tratamento para tuberculose nas unidades tradicionais de saúde de Belém. Sua

participação se dará respondendo perguntas sobre o comparecimento dos doentes ao serviço e

a operacionalização do TDO através da aplicação de um formulário, que será preenchido por

mim e, mediante seu consentimento, a entrevista poderá ser gravada. Caso não saiba alguma

pergunta ou lhe provoque constrangimento, você tem liberdade para não responder. Nesta

pesquisa não será realizado nenhum procedimento que lhe traga qualquer desconforto ou risco

à sua vida, porém, existe um risco mínimo de seu nome vir a ser conhecido. Para evitar esse

risco, deixamos claro que o seu nome será conhecido somente pela pesquisadora e que na

divulgação dos resultados do estudo, ele não irá aparecer, pois usaremos o código E para

nominar os enfermeiros, seguido do número de ordem sequencial das entrevistas. Sua

participação no estudo é muito importante, pois, se ressalta a relevância do acesso à

informação sobre o tema para a melhoria da operacionalização da estratégia no município de

Belém, com aumento nos percentuais de cura, diminuição da taxa de abandono e de novos

casos de TBDR. Para os pacientes o benefício virá através de um atendimento mais

humanizado, voltado a suas particularidades com garantia de acolhimento e acesso. E para o

enfermeiro através da satisfação de um acompanhamento qualificado, demonstrado pela cura

72

dos doentes. A qualquer momento você poderá afastar-se da pesquisa e não permitir o uso das

informações obtidas e todo material gravado e/ou anotado lhe será devolvido. As informações

obtidas serão utilizadas somente nesta pesquisa, guardadas pela pesquisadora por cinco anos e

depois destruídas. Os resultados desta pesquisa poderão ser apresentados em eventos

científicos ou outro meio de comunicação e publicados em revistas científicas. Não há

despesas pessoais para você em qualquer fase do estudo e não haverá nenhum pagamento por

sua participação, pois, este trabalho será realizado com recursos da própria pesquisadora. Se

você tiver dúvidas e desejar esclarecimentos sobre a pesquisa ou mesmo sobre os seus direitos

poderá fazer contato com a orientadora responsável, Drª. Ivaneide Leal Ataíde Rodrigues,

COREn-Pa nº. 23.412 End: Tv. Bom Jardim, 996 – Bairro: Jurunas, Fone: (91) 3224-6673,

email: [email protected], ou com a pesquisadora Marune Melo Távora, Passagem Dias Junior,

03 – Bairro: Pedreira, fone: (91) 987025940, email [email protected] ou ainda no

Comitê de Ética em Pesquisa do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará,

End: Av. José Bonifácio, 1289 CEP: 66063-010 Fone: (91) 3249-0236/ Fax:(91) 3249-4671

Ramal: 208, email: [email protected].

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO

Eu______________________________________________________ declaro que li e/ou

ouvi o esclarecimento acima e compreendi as informações que me foram explicadas sobre a

pesquisa. Conversei com a pesquisadora do projeto sobre minha decisão em participar,

autorizando a gravação da entrevista, ficando claros para mim, quais são os objetivos da

pesquisa, a forma como vou participar os riscos e benefícios e as garantias de

confidencialidade e de esclarecimento permanente. Ficou claro também, que a minha

participação não tem despesas nem receberei nenhum tipo de pagamento, podendo retirar o

meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos. Concordo

voluntariamente participar desse estudo assinando este documento em todas as páginas junto

com o pesquisador. Estou ciente que uma cópia ficará comigo e a outra com o pesquisador.

Data/Local:.........../............/..............

73

____________________________ RG.:_____________________

Assinatura do voluntário

_______________________________ RG.:_____________________

Assinatura do responsável por obter o consentimento

___________________________ RG.:_____________________

Assinatura do pesquisador responsável

Observação: Este Termo está descrito em 2 páginas que serão rubricadas pelo pesquisador e

participante.

74

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76

77

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde

Curso de Graduação em Enfermagem

Av. José Bonifácio nº1289 – Guamá

66063-010, Belém – PA

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