marketing de destinos: a importÂncia dos planos...
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I FÓRUM INTERNACIONAL DE TURISMO DO IGUASSU
27 a 30 de junho de 2007 Foz do Iguaçu – Paraná – Brasil
MARKETING DE DESTINOS: A IMPORTÂNCIA DOS PLANOS ESTRATÉGICOS PARA
O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES TURÍSTICAS
DESTINATION MARKETING: THE IMPORTANCE OF THE STRATEGIC PLANNING TO
THE DEVELOPMENT OF TOURIST CITIES
Carlos Eduardo Silveira1
Chayene Marques Geoges2
Dario Luiz Dias Paixão3
Juliana Medaglia Silveira4
Resumo
O presente trabalho busca subsídios na teoria sobre destinos turísticos para demonstrar a importância da organização destes como vantagem competitiva frente às novas tendências de mercado. Para tanto, apóia-se no planejamento estratégico a fim de demonstrar seu uso em destinos turísticos apontando a dificuldade existente em comparação ao planejamento estratégico de organizações. Em seguida, explora a relação com o marketing estratégico de lugares turísticos, detalhando os processos baseados na teoria e em sua aplicabilidade, até culminar com o papel do poder público no desenvolvimento do marketing de destinos. As conclusões apresentadas chamam a atenção para a evolução do turismo e do marketing de destinos turísticos, bem como para a necessidade de integração desses conceitos com os de sustentabilidade e de competitividade, com o objetivo de atrair fluxos turísticos de qualidade, maior número de eventos e negócios. Neste sentido, a necessidade de colaboração dos atores inseridos no processo de desenvolvimento turístico é essencial.
Palavras-chave: turismo; destino turístico; planejamento estratégico; plano estratégico
marketing.
1 Bacharel em Turismo e Hotelaria (Univali); Mestre em Turismo em Países em Desenvolvimento (University
of Strathclyde); Doutorando em Gestão e Desenvolvimento Turístico Sustentável (Universidad de Málaga); Coordenador do Núcleo de Pesquisa e professor do curso de Turismo do UnicenP. E-mail: [email protected]. 2 Bacharel em Turismo (UnicenP); MBA em Marketing e Gestão de Negócios (ESIC). E-mail:
[email protected]. 3 Bacharel em Turismo (UFPR); Mestre em Turismo (Universidad de Las Palmas de Gran Canaria); Doutor
em Gestão e Desenvolvimento Turístico Sustentável (Universidad de Málaga); Coordenador do curso de Turismo do UnicenP e do Núcleo de Estudos e Atividades em Empregabilidade. E-mail: [email protected]. 4 Bacharel em Turismo (Universidade Anhembi-Morumbi); Mestre em Comunicação e Turismo (Universidad
de Málaga). E-mail: [email protected].
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Abstract
This article makes use of the supporting theory to the tourist destinations in order to call attention to the importance of their structured organisation as a means of competitiveness, due to new market trends. For that matter, strategic planning is used in order to demonstrate its use in destinations pointing out the difficulties of its application when compared to organisations and enterprises. Afterwards, the article explores the relation between strategic marketing of places, describing its process based on theory and its application, leading to the role of the public sector in developing tourist destinations marketing. The conclusions call the attention to the evolving tourism market and the tourism destination marketing itself, and point out to the integration of these concepts with the ones about sustainability as well as competitivity, in order to attract quality tourism arrivals, larger number of congresses and business. Moreover, the need of collaboration of the stakeholders in the development process of tourist destinations is essential.
Keywords: tourism; tourist destination; strategic planning; strategic marketing plan.
1. INTRODUÇÃO
O fenômeno da globalização; os avanços da tecnologia da informação; as
inovações nas telecomunicações e nos transportes; o aumento do tempo livre das
pessoas; e, a maior renda e o envelhecimento da população mundial estão entre os
fatores que permitiram que o turismo e seus vários segmentos de atuação se
desenvolvessem a ponto de se tornarem fundamentais para a economia de várias
comunidades, cidades, regiões, estados e nações. Neste contexto, os lugares adquiriram
funções mais evidentes, além do ponto de encontro, da moradia e das relações sócio-
culturais.
Neste entorno pós-contemporâneo, a competitividade entre profissionais, setores
econômicos e determinadas regiões tornam-se cada vez mais agressiva, evidenciando a
necessidade de estratégias mais apuradas e táticas mais eficazes para que se
conquistem objetivos e metas pré-determinadas pelos grupos envolvidos.
O planejamento estratégico passou a ser utilizado não só para produtos e serviços,
pessoas e empresas, mas também, para desenvolver ou melhorar aspectos abstratos, tal
como pode ser a capacidade de uma cidade para atrair visitantes, investimentos ou novos
moradores.
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Uma cidade que, por exemplo, necessita acompanhar as repentinas mudanças dos
mercados econômicos e dos fenômenos sociais, justamente para melhorar as condições
de vida de seus habitantes, busca – por meio de seus profissionais/técnicos em
planejamento urbano – definir qual é o seu perfil; quem são seus concorrentes; quais são
seus fatores críticos de sucesso; como deve acompanhar ou personalizar suas ações;
enfim, como obter uma identidade própria que a defina como um bom – ou o melhor –
lugar para determinados investimentos.
Dentre os investimentos mais atraentes desta primeira década do século XXI estão
os eventos (congressos, seminários, feiras, festivais, etc); considerado como um dos
segmentos turísticos que mais crescem nas cidades de pequeno, médio e grande porte.
Estes acontecimentos programados necessitam da elaboração de um plano estratégico
para sua captação, planejamento e organização; ou seja, configuram uma área complexa
e repleta de exigências profissionais e contemporâneas. Geram, ainda, várias
possibilidades de negócios na região, e os próprios turistas de eventos que visitam uma
cidade gastam mais do que um visitante a passeio.
Eventos, tais como o ‘Salão Nacional de Turismo: Roteiros do Brasil’, o ‘Destination
Brazil Showcase’, o ‘Festival do Turismo de Gramado’, e o ‘Festival Internacional de
Turismo de Foz do Iguaçu’, evidenciam a importância e a necessidade de um
planejamento estratégico de marketing para alcançar metas de desenvolvimento
socioeconômico e bem-estar populacional.
O Plano Estratégico de Marketing de uma cidade visa munir o destino com ações e
estratégias que proporcionarão a quebra de barreiras e obstáculos, a minimização de
ameaças e a maximização de seus esforços em aproveitar oportunidades e fortalezas,
sempre buscando melhorar sua imagem, para num efeito exponencial, captar novos
investimentos.
Os aspectos citados acima devem ser estabelecidos de maneira criativa e
responsável, determinando a visão, a missão, os valores, os objetivos, as estratégias e
ações para que o destino se torne um lugar competitivo na captação de fluxos turísticos,
além de pequenos e grandes acontecimentos.
O cenário turístico atual sofre uma forte influência da globalização, com padrões,
idiomas, moedas, empresas multinacionais e atuantes em todo desenvolvimento turístico
mundial. Cenário este que apresenta, entre outras conseqüências, um forte aumento da
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concorrência entre destinos turísticos. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT,
2004a, p. 25), em 1959 os quinze primeiros destinos do mundo contabilizavam 87% das
chegadas internacionais, em 1970 este número era de 75% e já em 2000 somente 62%.
Tal aumento da concorrência tem ocasionado uma evolução do marketing de destinos,
conforme afirma a OMT (2004b, p. 07) quando diz que “até os anos oitenta, as
organizações de turismo focaram grande parte de suas energias nos ingressos de suas
contas de marketing, em lugar de tratar de determinar seus efeitos no turismo receptor”.
Assim, diante do grau de desenvolvimento atual do turismo brasileiro, somado à
“maturidade” do turismo internacional parece pertinente verificar a importância dos Planos
Estratégicos de Marketing das cidades turísticas e como estes devem ser trabalhados.
2. MARCO TEÓRICO
2.1. Destinos turísticos: da teoria à prática
Os destinos turísticos são composições de elementos que conformam a oferta
turística. Aliás, alguns autores concordam que os lugares turísticos reúnem várias
combinações de produtos, que são os próprios elementos da oferta à disposição dos
visitantes, para que estes satisfaçam seus desejos.
Tradicionalmente, os destinos se consideravam como uma zona bem definida geograficamente, como um país, uma ilha ou uma cidade. Sem dúvida, cada vez mais se reconhece que um destino pode ser um conceito percebido, quer dizer, que pode interpretar-se subjetivamente pelos consumidores, em função de seu itinerário de viagem, formação cultural, motivo da visita, nível de educação e experiência prévia (BIGNÉ, FONT & ANDREU, 2000, p. 30).
Seguindo o pensamento dos autores, o conceito de produto turístico está mais
avançado nos dias de hoje, pois se procura oferecer ao cliente uma “experiência turística”
dentro de cada destino. Porém, a verdadeira evolução do turismo consiste,
fundamentalmente, em considerar os lugares não somente como destinos e sim como
uma unidade ou entidade que engloba recursos turísticos e infra-estruturas, formando um
sistema consideravelmente difícil de controlar e comercializar devido à complexidade das
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relações da comunidade local e a diversidade de interesses implicados no
desenvolvimento e produção dos produtos turísticos (BIGNÉ, FONT & ANDREU, op cit, p.
32).
Neste sentido, em localidades que desenvolvem planos estratégicos os
profissionais e especialistas possuem a difícil tarefa de satisfazer as necessidades e
desejos, tanto da comunidade local, quanto de seus visitantes. As estratégias
desenvolvidas e, respectivamente, suas ações praticadas precisam do apoio da
comunidade para obter êxito, tornando-se necessário que as mesmas sejam comunicadas
e consultadas desde o início da concepção do plano até sua implantação.
Segundo Porter (1989), todo e qualquer destino que deseja aumentar sua
competitividade e resistir às grandes transformações do mercado. E a melhor maneira de
fazer isso é por meio de um planejamento estratégico que considere todos os atores
participantes do sistema turístico (residentes, empresários, investidores, turistas,
intermediários turísticos e outros grupos de interesse), pois os turistas “consomem”
destinos como uma experiência integrada, sem dar-se conta de que cada elemento do
produto é produzido e controlado por agentes individuais (BIGNÉ, FONT & ANDREU, op
cit, p.33).
Além disso, os profissionais que desenvolvem estes destinos devem pensar em
estratégias para aumentar a permanência de seus visitantes. É normal que os visitantes
que não encontram serviços suficientes e/ou adequados às suas expectativas renunciem
a permanecer no local mais do que o necessário.
A partir desta realidade, Ejarque (2005, p. 29) defende que surge a necessidade de
preservar os atrativos naturais e valorizar os atrativos culturais porque a tendência do
mercado se orienta na prática de um turismo ativo, em que o turista é visto como um ator
que interage com a cidade, ao contrário de um passivo espectador.
Ainda segundo o autor, as localidades que atenderem adequadamente aos desejos
do mercado aumentarão suas possibilidades de captar um maior fluxo de consumidores
(turistas e investidores), que são muito importantes como promotores do destino e de sua
marca (EJARQUE, op cit, p. 29).
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2.2. Planejamento estratégico de destinos turísticos
Para realizar esta complexa e difícil tarefa de aumentar o fluxo turístico de uma
região é necessário planejamento estratégico. Segundo Munuera e Rodríguez (apud
MEDAGLIA, 2005, p. 71), “planejar, em qualquer âmbito, significa traçar ou descobrir um
curso de ação para obter um objetivo desejado”.
Do ponto de vista de Kotler (2006, p. 126), “os lugares precisam começar a fazer o
que as empresas vêm fazendo há muitos anos, um planejamento estratégico de mercado.
Que pressupõe que o futuro é bastante incerto e pode ser influenciado por ações e planos
estratégicos”.
Para o autor, o desafio da comunidade é projetar um sistema flexível que possibilite
absorver choques e adaptar-se de maneira rápida e eficaz a novos acontecimentos e
oportunidades. Isso significa que a comunidade precisa instituir sistemas de informação,
de planejamento e de controle que lhe permita avaliar mudanças no ambiente e reagir de
forma construtiva a oportunidades e ameaças. A finalidade é preparar planos e ações que
integrem objetivos e recursos às oportunidades em mutação. Por meio do processo de
planejamento estratégico, os lugares podem criar uma proposta de venda exclusiva
(Kotler, 2006, p. 126).
Referente às diferenças do planejamento em destinos e em empresas, Kotler (op
cit, p. 126 e 127) ainda destaca que:
a gestão de planejamento estratégico é mais difícil para comunidades e regiões do que para empresas. As organizações costumam ter uma linha de autoridade e hierarquia clara, assim como balanços e demonstrações de lucro e perdas para medir o progresso anual. As comunidades, por outro lado, são campos de batalha crônicos, onde grupos de interesses lutam pelo poder e forçam seus programas e estratégias de competição.
Enquanto a empresa do setor privado consegue lutar por uma meta unificadora de
lucro, o desenvolvimento econômico da comunidade corre risco de ficar comprometido por
múltiplos interesses e eleições periódicas.
Segundo Valls (1996, apud MEDAGLIA, 2005, p. 73), num “âmbito público/privado
do turismo, o planejamento estratégico correto de um destino levará em conta os
interesses gerais da região. E, o correto planejamento de uma empresa turística requer
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conhecer o planejamento estratégico do destino”. Desta maneira, acredita-se que não se
pode desejar êxito em longo prazo baseando-se somente nas condições próprias de uma
empresa que atua na atividade turística de uma localidade. Para ele, é necessário
condicionar a empresa aos marcos referenciais estabelecidos para o próprio destino.
Como forma de exemplo ilustrativo, segue esquema que explica o processo do
planejamento estratégico de destinos turísticos:
Figura 1 - A sinergia entre a planejamento e o marketing de destinos turísticos
Fonte: Altés (1993) adaptado por Medaglia, 2005.
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2.2.1. Plano Estratégico de Marketing de Lugares Turísticos
Quando uma cidade se dispõe a crescer e a se desenvolver turisticamente,
tornando seus potenciais atrativos em produtos efetivos, faz-se necessário a formulação
de um “plano inteligente e eficiente que serve de orientação para todas as suas ações e
estratégias estabelecidas” (CHIAS, 2005, p. 09).
Para tanto, é indispensável realizar um planejamento, base de todo o processo até
alcançar a sua implantação. Este planejamento fornece informações sobre o local e
mostra o melhor caminho a ser seguido na busca dos objetivos traçados.
É seguindo este pensamento que as cidades devem criar seu próprio Plano de
Marketing Estratégico que serve de instrumento técnico adequado para impulsionar o
desenvolvimento do lugar por meio da captação de novos visitantes, negócios e eventos
que significa, também, desenvolvimento econômico e social; geração de empregos de
qualidade; cobrança mais eficiente de impostos; melhoria na infra-estrutura urbana;
redução da sazonalidade; mobilização de diversos setores da economia; produção de
trabalhos técnico-científicos que proporcionarão capital intelectual ao destino; promoção
turística; e um maior fluxo turístico pós-venda para a cidade (BERBERI, 2004).
Desenvolver este plano como ferramenta para gerar oportunidades para a cidade
tem acontecido em diversas regiões pelo fato de que a atividade turística apresenta
crescimento evidente com relação a outras formas de desenvolvimento e, geralmente,
propicia bons impactos econômicos e menores impactos sócio-culturais e ambientais
negativos, o que geralmente ao encontro dos programas de governo das cidades, que
procuram evidenciar por meio de suas ações a preocupação com a responsabilidade
social do seu município.
O Plano Estratégico de Marketing de uma cidade deve mostrar dados como a infra-
estrutura turística do local (equipamentos, bens e serviços turísticos + equipamentos,
bens e serviços de apoio ao turismo), ou seja, o setor de hospedagem, alimentação,
comércio, agência de viagens, empresas de eventos, centros de convenções, transportes,
etc, que servirão de base para construir o diagnóstico da atividade turística que inclui o
número de visitantes; seus gastos; sua permanência média; o fluxo de vôos que chegam
e partem; qualidade dos serviços em geral; a descrição dos atrativos naturais, culturais e
mistos; a capacidade das pessoas que prestam os diferentes serviços gerais e
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específicos; entre outros aspectos diversos. Assim, o local tem condições de transformar
seus atrativos, equipamentos, bens, serviços e infra-estrutura básica em produtos de
qualidade.
É fundamental organizar uma pesquisa de mercado envolvendo a comunidade
local, o setor empresarial e autoridades governamentais, pois num Plano Estratégico de
Marketing é essencial a opinião dos profissionais do setor público e privado. Desta
maneira, torna-se viável a elaboração de um prognóstico (possíveis cenários futuros do
local), base para determinar um cenário possível e ideal (objetivos e metas do destino)
que, quando realidade, terá sucesso aos olhos dos planejadores, cidadãos, trabalhadores
e organizações, pelo esforço mútuo em satisfazer as necessidades da comunidade e os
desejos dos turistas e/ou novos investidores – os clientes da cidade (KOTLER;
GERTNER; REIN & HAIDER, 2006, p. 44 ).
Estes elementos citados anteriormente podem ser visualizados de maneira mais
simplificada no modelo de Kotler et al (2006, p. 45) que demonstra os elementos
principais do marketing estratégico aplicados a um lugar:
Fonte: (KOTLER et al, 2006, p.45 )
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O potencial de um local não depende exclusivamente de sua localização
geográfica, de seu clima e de seus recursos naturais, mas também depende da vontade,
da habilidade, da energia, dos valores e da organização das pessoas.
Segundo Kotler et al (1994, p. 22), para um local ser bem sucedido, deve ser capaz
de executar as seguintes tarefas fundamentais:
1. Interpretar o que está acontecendo no ambiente, num sentido mais amplo;
2. Entender as necessidades, os desejos e o comportamento de todos os
condutores (ou indivíduos, grupos e organizações) envolvidos interna e
externamente;
3. Identificar forças e franquezas específicas;
4. Elaborar uma visão realista e comercialmente viável do que pode ser realizado;
5. Criar um plano de ação para complementar essa visão;
6. Fortalecer o consenso interno e a organização efetiva para as atividades
operacionais;
7. Avaliar, a cada estágio, o progresso obtido com o plano de ação.
Por muitos anos (no século XX especificamente), os destinos turísticos mais
interessantes se resumiam a locais voltados para o segmento de sol e praia, desde que
possuíssem alguma infra-estrutura básica no local. Assuntos referentes a planejamento,
sustentabilidade, responsabilidade ambiental, cultural e social foram crescendo em
importância - seja na teoria, seja na prática - com acentuada lentidão. Somente nos anos
1980 e 1990 é que estes temas se tornaram freqüentes.
As atenções eram voltadas em grande parte para a promoção, comercialização e
metas quantitativas, assim como para o número de pessoas atendidas e pacotes, camas
e assentos vendidos. Assim, os destinos e seus atrativos naturais e culturais foram – em
sua maioria – explorados, tornando-os cada vez mais sensíveis aos impactos negativos
do turismo de massa. Com a matéria-prima do turismo ameaçada em diversos destinos,
investidores e promotores turísticos ficaram alarmados e conscientes de que esta prática
passaria a significar um menor número de visitantes, além de menos camas e assentos
preenchidos.
Este fato demonstrou que todo e qualquer destino necessita de um planejamento
base que ofereça técnicas adequadas para o seu desenvolvimento sustentável e melhor
posicionamento no mercado. Porém, muitos dirigentes de localidades ao realizar um
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plano de desenvolvimento do destino turístico, confundem o marketing com a promoção
turística, além de não integrar todos os agentes envolvidos no sistema (BIGNÉ, FONT &
ANDREU, op cit, p. 25).
Esta realidade pôde ser percebida na cidade de Curitiba, especialmente no mercado
turístico de negócios e eventos, pois a capital paranaense carece de pesquisas mais
aprofundadas sobre o tema. Atualmente, os setores público/privado investem somente em
poucos elementos do marketing promocional visando atender alguns aspectos do
marketing mix (Ex.: a logo Capital Ecológica atendeu por algum tempo as necessidades
de imagem do produto Curitiba – esta campanha foi suspensa antes mesmo dos
operadores turísticos colocarem em suas prateleiras um produto vendendo a capital
paranaense com atividades vinculadas ao meio ambiente). É importante ressaltar que,
atualmente, não existe nenhum plano de marketing para a cidade de Curitiba, o que
dificulta a orientação deste destino rumo a seu desenvolvimento por meio de estratégias
específicas.
Segundo as teorias do planejamento estratégico, os objetivos de um Plano
Estratégico de Marketing de um lugar deveriam ser:
Realizar uma análise interna da atividade turística no destino;
Analisar os aspectos externos à cidade que influenciam o desenvolvimento do
setor turístico;
Estabelecer um diagnóstico (cenário atual) e um prognóstico (cenário futuro) da
atividade turística, considerando o atual entorno e perfil dos visitantes, além das
perspectivas e tendências de âmbito nacional e internacional;
Pesquisar a imagem que o lugar possui, sob a percepção dos visitantes, dos
profissionais do setor turístico e da comunidade local;
Analisar a concorrência da cidade na captação de visitantes, de negócios e
eventos em âmbito nacional e internacional;
Definir a visão, missão, objetivos e metas que nortearão as estratégias e planos de
ação deste Plano Estratégico de Marketing;
Elaborar as estratégias de marketing e os planos de ação e desenvolvimento do
produto;
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Sugerir meios de avaliação e controle das ações realizadas com o objetivo de
alimentar o planejamento estratégico com novas informações para ajustes
adequados;
Divulgar os resultados deste trabalho aos órgãos públicos e instituições privadas
que coordenam a divulgação e o desenvolvimento do destino.
2.2.1.1. Processos do marketing estratégico de destinos turísticos
Muitos destinos utilizam o marketing como uma ferramenta para atrair mais visitantes
a uma região, porém este não deveria ser seu único propósito.
O marketing deve funcionar como um facilitador para o alcance dos objetivos de
desenvolvimento regional e racionalizar o crescimento (aqui diferente de
desenvolvimento) da atividade turística, com o fim de assegurar que os objetivos
estratégicos dos destinos se cumpram.
Além disso, Bigné et al (op cit) comentam que,
o marketing de destinos deve gerar receitas em função dos recursos utilizados para a produção e desenvolvimento dos produtos turísticos, assim como a regeneração destes mesmos recursos. Desta forma, os benefícios repercutirão em todos os níveis do sistema turístico (BIGNÉ,
FONT & ANDREU, op cit, p. 34 ).
O marketing de destinos deve atuar como um mecanismo estratégico em conjunto
com o planejamento e a gestão do lugar, mais do que uma ferramenta de vendas. Os
organismos públicos devem propiciar o planejamento integrado das atividades que
acontecem no destino para alcançar objetivos como estes citados abaixo:
Melhorar a prosperidade da comunidade local a médio e longo prazo;
Maximizar a satisfação dos visitantes;
Aumentar a rentabilidade das empresas locais e os efeitos multiplicadores em sua
economia;
Otimizar os impactos do turismo assegurando um equilíbrio sustentável entre
benefícios econômicos e impactos socioculturais e meio ambientais.
Já Kotler et al (op cit, p. 02) citam as seis necessidades essenciais que definirão o
sucesso do marketing de lugares nas cidades da América Latina. A título de exemplo,
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utiliza-se a cidade de Foz do Iguaçu (segundo destino turístico brasileiro) para melhor
ilustrar a teoria dos autores:
1 – A necessidade de excelência do local (aqui os autores comentam que vários
destinos latino-americanos possuem magnetismo turístico; força industrial;
cosmopolitismo; charme; dinamismo; prestígio; qualidade; rica diversidade de idiomas e
pessoas; biodiversidade; patrimônios culturais, etc que podem torná-los competidores
globais). Acredita-se que Foz do Iguaçu possui muitos destes elementos que a torna um
importante competidor em termos de lugar para investimentos, negócios e eventos em
âmbito nacional e internacional.
2 – A necessidade de o lugar definir seu próprio marketing e suas estratégias de
destaque perante os concorrentes (neste ponto é importante que os profissionais da área
realizem uma auto-análise abrangente do destino; focalizem na atração de recursos para
cumprir as metas; desenvolvam relações duradouras entre os atores do processo;
melhorem a infra-estrutura de marketing; promovam os produtos de forma eficiente). Foz
do Iguaçu possui lideranças e equipes de profissionais multidisciplinares aptos a colocar
em ação estas idéias, sempre observando cases de sucesso e de fracasso no cenário
internacional.
3 – A necessidade de integrar tecnologia da informação (TI) ao plano de marketing
(neste contexto, elementos como mão-de-obra qualificada; custo/benefício das
tecnologias adotadas; e oportunidades de entrar em novos mercados contam muito).
Neste aspecto, Foz do Iguaçu possui ampla vantagem sobre a maioria dos lugares latino-
americanos que, em geral, possuem deficiências de investimento e infra-estrutura.
Embora, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) seja um exemplo de esforço público/privado
para melhorar aspectos da região. Neste campo muitas iniciativas ainda deveriam ser
alavancadas.
4 – A necessidade de administrar adequadamente o processo de comunicação
(avanços tecnológicos recentes necessitam da gestão de estratégias de comunicação
para o melhor desenvolvimento da imagem, da promoção e da distribuição de
informações). Neste ponto, acredita-se que Foz do Iguaçu poderia melhorar a partir da
elaboração de um plano de marketing integrado a estas estratégias de comunicação.
5 – A necessidade de diminuir o conflito entre localismo e regionalismo, além de
harmonizar regras e padrões (os pesquisadores explicam a importância dos países e
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destinos latino-americanos trabalharem em conjunto para diminuir divergências e
fortalecer convergências). Foz do Iguaçu, por sua localização privilegiada no Mercosul,
poderia somar forças com outros destinos para competir melhor (teoria da ‘coopetição’).
6 – A necessidade de o destino qualificar os profissionais, além de recrutar e reter
talentos (a competitividade de um destino não pode ser sinônimo de mão-de-obra barata
e neste campo de atuação – marketing de lugares – os profissionais devem ser
competidores globais altamente capacitados e bem formados). Foz do Iguaçu possui uma
classe de recursos humanos com educação acima da média nacional, o que pode resultar
em uma maximização dos resultados propostos em um planejamento estratégico.
2.2.2. O Papel do poder público no desenvolvimento do marketing de destinos
turísticos
Ainda que no mercado turístico em geral e, em especial, junto às empresas do
setor, a maior ênfase da atuação do setor público se situe nos esforços de promoção e
fomento à comercialização do turismo, seu papel na composição da oferta parte dos
serviços públicos, que antes de colaborar para o êxito a atividade turística devem servir
aos cidadãos que habitam o destino. De acordo com Martín (2004), a administração local
atua na ordenação do turismo, sendo responsável também pelos serviços de
abastecimento de água, energia, limpeza, segurança.
Além dos serviços públicos, a SANCHO (1998) destaca que também dependem do
Estado as praias e monumentos, ou seja, os recursos considerados matéria–prima do
turismo. Esta capacidade da administração pública do destino é ressaltada por Seaton &
Bennet (apud ALCÁZAR, 2002) que apontam como papel do poder público no
desenvolvimento do destino, o interesse e os esforços das autoridades deste destino em
focar seu crescimento no turismo.
A correta gestão e regulamentação dos serviços públicos considerados básicos,
dos recursos turísticos e da qualidade de vida da comunidade local exigem um trabalho
contínuo e em longo prazo. Em uma localidade turística o papel regulador do Estado
costuma ser ainda mais difícil e complexo, devido à presença de diferentes agentes com
objetivos muito específicos que atuam no turismo. Assim, os esforços governamentais
direcionados a atividade turística devem estar apoiados em políticas públicas claras e
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com capacidade de administrar o destino de maneira sistêmica, envolvendo todos os
agentes e suas necessidades. Para Marques (apud BENI, 2006, p. 17) “toda política
pública é concebida a partir de uma representação do setor à qual ela se refere, assim
como a um conjunto de normas, organizações, técnicas e recursos de poder que a
implementarão”. Neste sentido, estabelecer políticas públicas para o turismo é uma
empreitada complexa, uma vez que a atividade turística envolve diversos outros setores,
como os já mencionados serviços básicos, a economia, o meio natural, as relações
internacionais, entre outros.
A má formulação e execução destas políticas públicas podem gerar perdas
profundas para a localidade e seus agentes, como destacam Trigo e Panosso (1993, p.
98) ao colocar que “o turismo é um fenômeno que não cria somente empregos, impostos
e desenvolvimento. Se mal planejado e implementado é um fator de poluição, exclusão
social, concentração de renda, aumento da prostituição (...), e comprometimento dos
investimentos em projetos mal elaborados”.
De acordo com o caráter subjetivo e dinâmico do turismo e suas características
específicas, cabe destacar que nada na atividade turística, tampouco a gestão, atuação
ou implementação de políticas públicas apresentam modelos universais. Ainda que o
benchmarking seja bastante utilizado, cada processo de gestão e planejamento turístico
deve ser desenvolvido de acordo com as características socioeconômicas, culturais,
tecnológicas, legais, ecológicas e políticas de cada localidade.
Cabe então a reflexão acerca da atuação dos organismos públicos no
desenvolvimento do marketing de destinos turísticos. Iniciando com o `P´ de produto
pode-se fazer referência ao planejamento turístico, ou seja, as etapas de inventário,
diagnóstico, prognóstico e plano de ações, podem ser consideradas as fases de
desenvolvimento de produto (MEDAGLIA, 2005). Isto significa que a pesquisa e a análise
de mercado, necessárias para a criação e implantação de um produto, são também
necessárias no turismo e podem ser realizadas em conjunto ou tomando como base o
planejamento estratégico de destinos turísticos. Tais planos de desenvolvimento
costumam ser realizados por organismos públicos em parceria com outros agentes da
localidade ou consultorias especializadas.
Compreender o ‘P’ de promoção, que segundo Kotler (apud SANCHO, 1998), é o
conjunto de diferentes atividades desenvolvidas pelas organizações para comunicar as
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virtudes de seus produtos e convencer o público objetivo para adquiri-los, é ainda mais
necessária diante dos serviços e destinos turísticos, onde a informação é a principal
“aquisição” que um turista possui antes do efetivo desfrute de sua viagem. Isso de deve à
intangibilidade do produto e do destino turístico, o que concede à comunicação uma
repercussão maior do que nas demais empresas de serviços. Os empresários turísticos
vendem o uso de instalações e serviços para que os turistas desenvolvam experiências
satisfatórias (VALLS, 1996). Outro enfoque da promoção é apontado por Serra (2002, p.
283) quando menciona que:
para muita gente, marketing é promoção, porque a promoção é a faceta mais visível do marketing. Porém, a promoção é somente uma parte do marketing, um dos quatro `P´ ou variáveis controláveis do marketing. É a ponta do iceberg que todos vêem, mas somente alguns são capazes de ver o iceberg completo.
Os custos deste processo de ‘comunicar o intangível’ faz com que as organizações
de marketing de destinos realizem campanhas promocionais, enquanto os fornecedores
locais participam e contribuem com o financiamento das mesmas. Os orçamentos de
promoção turística ocupam um destacado lugar nas ações de marketing dos distintos
países (BIGNÉ et al, 2000). A importância da ação dos organismos nacionais de turismo
no âmbito promocional é tanta, que a Organização Mundial do Turismo publicou no ano
2004 um guia específico com pesquisas e métodos de avaliar as atividades promocionais
destes organismos. (OMT, 2004b).
A maturidade do turismo internacional também se reflete no desenvolvimento da
Promoção. Nos anos 1990 iniciou-se a pressão para que os Organismos Nacionais de
Turismo prestassem contas da eficácia de seus meios de promoção (OMT, 2004b).
Assim, estes organismos começaram a estabelecer indicadores de rendimentos,
conscientes que para o bom funcionamento de sua política de promoção, estes
indicadores são necessários não só para a prestação de contas, mas também “para
regulamentar os demais organismos públicos e privados normalmente envolvidos na
promoção dos destinos” (OMT, 2004b, p. 07).
Diante dos altos gastos que envolvem a promoção de um destino turístico, este ‘P’
tem se tornado responsabilidade de organizações quase autônomas de composição
público-privada. Ou seja, o governo tem trabalhado em parceria com Federações e
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Associações que reúnem as empresas do setor, principalmente no caso da promoção
internacional. Estas organizações buscam cooperação entre instituições nacionais,
regionais ou locais por um lado e do setor privado por outro (MISTILIS & DANIELE, 2004,
p. 65).
Já a relação do papel do setor público e os ‘Ps’ de preço e ponto de venda (que no
turismo é considerado distribuição), cabe destacar as necessárias políticas públicas de
regulamentação do setor turístico. Ainda que o governo não tenha influência direta na
política de preços praticada no mercado turístico e, tampouco, possa optar pelos
melhores canais de distribuição dos produtos turísticos, ele exerce o papel essencial de
regulamentar tais atividades para salvaguardar o turismo nacional.
O que se observa hoje é a que a natureza do setor público na atividade turística foi
afetada pelo modelo empresarial, transformando a maneira tradicional utilizada pelos
organismos públicos nas últimas décadas. De acordo com este modelo a eficiência, o
retorno dos investimentos, o papel do mercado e as relações com os stakeholders (atores
envolvidos no processo) são fundamentais (MISTILIS & DANIELE, op cit, p. 65).
Porém, a problemática neste modelo atual de desenvolvimento da atividade
turística está no fato de que talvez se esteja gerando crescimento econômico para poucas
empresas e muita dependência por parte dos destinos como aponta Esteve (1983, p. 310)
ao afirmar que “outra das maiores manifestações da dependência dos países turísticos
pode ser encontrada na área econômica onde grande porcentagem dos benefícios da
atividade turística fica fora do controle e do domínio dos mesmos, normalmente devido à
intervenção das multinacionais do turismo, os operadores turísticos”.
Esta dependência também é percebida pelos pesquisadores que estudam as
teorias colonialistas, como Echtner & Prasad (2003, p. 661) que colocam que “estes
destinos (do terceiro mundo) são normalmente mais promovidos por operadores turísticos
multinacionais, agências de viagem e outros intermediários originários do primeiro mundo
(…). O resultado é que a grande maioria dos destinos do terceiro mundo é criada e
distribuída pelos promotores do primeiro mundo”.
Segundo a OMT (1999), esta ausência de controle por parte do ofertante em
relação ao canal de distribuição pode gerar situações nas quais sejam os intermediários
os responsáveis pelos preços praticados no mercado, pressionando os produtos turísticos
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a baixar os preços para incrementar o volume de demanda captada. O que supõe um
perigo para a manutenção da competitividade e da sustentabilidade de um destino.
Diante desta perigosa propensão, recorda-se a importância das políticas públicas
no âmbito turístico. Assim, entre outras funções, o papel do governo é estabelecer o
ambiente regulatório no qual os negócios operam, segundo interessa ao desenvolvimento
de um país (Hall, 2005). Exemplos mais concretos destas ações no campo do turismo são
apresentados por Beni (2004, p 32) para quem entre os papéis do governo devem estar:
o estabelecimento de políticas e condições legais, institucionais e estruturais para a abertura de empresas e operadoras turísticas internacionais; assegurar com legislação pertinente de contratos e convênios que funcionários nacionais sejam treinados e capacitados pelas empresas internacionais; a decisão do percentual de funcionários estrangeiros que poderá que poderá ser alocado no quadro de recursos humanos das empresas turísticas internacionais que se acham instaladas e operando no país.
Desta maneira, é necessário o desenvolvimento de marcos regulatórios que
possam frear ações que influenciem negativamente na sustentabilidade e conseqüente
perda de competitividade dos destinos turísticos. Edgell (apud BENI, 2001, p 109) coloca
que “o êxito futuro da atividade de turismo dependerá enormemente de políticas
formuladas pelo Estado para administrar seu desenvolvimento, crescimento e
maturidade”.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mercado global de turismo, assim como outros mercados, está cada vez mais
competitivo e centrado nos clientes (YASIN et al, 2004, p 20), fazendo importante a
compreensão do marketing como filosofia.
O conceito e os modelos de marketing vêm evoluindo ao longo dos tempos. Miquel
et al (1994, p 11) apontam que paralelamente ao desenvolvimento da economia de
mercado, o marketing vem adquirindo novas funções tanto no conjunto da economia
como no interior das organizações. Esta evolução é verificada também nas orientações do
marketing, que já teve seu enfoque principal na produção, nas vendas, nos clientes e nas
relações, estes dois últimos bastante comuns no mercado atual.
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Porém, esta evolução não se desenvolveu de maneira igualitária e totalitária em
todos os mercados. Muitas organizações, não somente no setor turístico, seguem
utilizando o marketing de maneira parcial ou equivocada. Ou seja, o marketing ainda é
utilizado exclusivamente para as vendas com ênfase na promoção. Desta maneira é
esquecida sua função estratégica, que deve apontar o caminho que as organizações
devem seguir, envolvendo toda a organização, seus departamentos e processos;
utilizando o marketing como filosofia.
É fundamental considerar a evolução do marketing e a necessidade de
desenvolvimento sustentável do turismo, aliados ao fato de que a atividade turística está
focada em entornos muito frágeis. Este contexto exige do marketing de destinos uma
consciência maior na questão do desenvolvimento e da sustentabilidade, do que a que se
tem apresentado até agora (MIDDLETON E CLARKE, 2001, p 463).
Para uma correta implementação do marketing, que considere o entorno, a
sustentabilidade e o relacionamento com os turistas, apresenta-se o conceito de
marketing turístico de Bordas e Araya (apud VALLS, 1996, p 141) que aborda tanto a
função estratégica como a operacional:
o marketing turístico é composto do marketing estratégico, o qual estabelece as linhas básicas das políticas de produto, de comercialização e de comunicação a ser desenvolvida nos mercados selecionados; e do marketing operacional, que é o conjunto de ações, plasmadas e ordenadas por ordem de prioridade em programas encaminhados ao desenvolvimento das políticas de produto, preço, comercialização e comunicação: objetivos específicos, destinatários, conteúdos, prazos e orçamentos de ação.
À amplitude deste conceito de marketing turístico, ainda é necessário aliar algumas
especificações, quando sua aplicação ocorre nos destinos turísticos.
O primeiro ponto chave é relacionado à análise da situação. Ao analisar as
oportunidades e ameaças apresentadas pelo entorno, os gestores públicos devem
considerar aspectos políticos, sociais, econômicos e legais das principais localidades
emissoras, além de considerar o desempenho dos seus concorrentes (outros países,
regiões ou zonas turísticas).
Já em termos de análise interna, é necessário considerar estudos detalhados tanto
quantitativos como qualitativos da oferta, dos recursos turísticos, da imagem do destino e,
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obviamente da demanda e sua evolução, elaborando estudos comparativos ano a ano
(SERRA, 2002, p. 392).
Desta forma, destacamos a importância do planejamento estratégico do destino
turístico. Se a análise da situação realizada durante a elaboração do Plano de
Desenvolvimento Turístico de uma localidade tiver sido bem feita, o trabalho da função
estratégica do marketing poderá ser ainda melhor desenvolvido, por já existirem pontos
essenciais pesquisados. Por outro lado, a equipe de marketing poderá colaborar na etapa
de controle, propondo correções e/ou adaptações ao plano do destino. Desta maneira,
Valls (1996) coloca que, no caso de algum destino não ter um plano de desenvolvimento
turístico e decidir elaborar diretamente um plano de marketing, deve realizar o marketing
estratégico antes de passar ao marketing operacional.
Com a teoria apresentada, tenciona-se demonstrar que o papel do poder público no
desenvolvimento turístico pode e deve ser aplicado no marketing de destinos turísticos no
âmbito mais amplo que o promocional, já que o próprio marketing tem evoluído para um
desenvolvimento mais filosófico do que o foco em vendas e comercialização conhecidos
no passado e ainda presentes na atualidade.
A atuação do marketing junto ao planejamento turístico na formatação do produto-
destino pode e deve ajudar no processo do desenvolvimento turístico, assim como, preço
e distribuição exigem marcos reguladores do poder público para salvaguardar o turismo
nacional, enquanto a promoção avança para sua realização mais profissional, realizada
sobre amplas bases de pesquisa.
Considera-se então, que a responsabilidade da academia de pesquisar e analisar
as relações entre teorias e práticas, foi alcançada, no mais puro intuito de auxiliar no
processo de desenvolvimento, e porque não dizer, consolidação da atividade turística
brasileira. Desta forma, acredita-se que cabe aqui a reflexão acerca do muito que já
avançamos e do quanto mais ainda temos a realizar.
Por fim, a partir da realidade latino-americana, e das necessidades de
desenvolvimento turístico dos destinos brasileiros, propõe-se aos atores envolvidos com a
atividade que elaborem Planos Estratégicos de Marketing, pois somente desta maneira
colher-se-ão os benefícios conquistados com a qualidade, a competitividade e a
sustentabilidade.
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