je na internet

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 WEBJORNALISMO ECONÔMICO: ANÁLISE DA CRISE ECONÔMICA INTERNACIONAL NO PORTAL UOL Lorena Passos Andrade 1  RESUMO Este artigo se propõe a analisar o webjornalismo econômico no portal de notícia UOL através das matérias veiculadas na primeira semana da crise econômica internacional, iniciada em 2008. A partir dos pressupostos característicos do webjornalismo, é possível compreender como o jornalismo econômico tem se apresentado no país diante de um cenário de convergência das mídias. Palavras-chav e: jornalismo econômico; webjornalismo; crise econômica internacional; 1 INTRODUÇÃO Os estudos a respeito do Jornalismo Econômico (JE) no Brasil se restringem às análises históricas, quanto a formação da editoria de economia e suas características específicas, e a análise de linguagem, focando no estudo sobre o economês e suas aplicações no impresso. Poucos avançara m no sentido de analisar como se deu a adequação do Jornalismo Econômico à Internet e como ele se apresenta a partir das Novas Tecnologias da Comunicaçã o. 1  Mestranda em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: [email protected].

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Webjornalismo econômico: análise do discurso da crise econômica no portal UOL

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  • WEBJORNALISMO ECONMICO: ANLISE DA CRISE ECONMICA

    INTERNACIONAL NO PORTAL UOL

    Lorena Passos Andrade1

    RESUMO

    Este artigo se prope a analisar o webjornalismo econmico no portal de notcia UOL

    atravs das matrias veiculadas na primeira semana da crise econmica internacional, iniciada

    em 2008. A partir dos pressupostos caractersticos do webjornalismo, possvel compreender

    como o jornalismo econmico tem se apresentado no pas diante de um cenrio de convergncia

    das mdias.

    Palavras-chave: jornalismo econmico; webjornalismo; crise econmica internacional;

    1 INTRODUO

    Os estudos a respeito do Jornalismo Econmico (JE) no Brasil se restringem s anlises

    histricas, quanto a formao da editoria de economia e suas caractersticas especficas, e a

    anlise de linguagem, focando no estudo sobre o economs e suas aplicaes no impresso.

    Poucos avanaram no sentido de analisar como se deu a adequao do Jornalismo Econmico

    Internet e como ele se apresenta a partir das Novas Tecnologias da Comunicao.

    1 Mestranda em Comunicao e Cultura Contemporneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail:

    [email protected].

  • 3

    A proposta desse artigo apresentar como o Jornalismo Econmico se apresentou aos

    brasileiros no incio da crise econmica internacional, avaliando a partir dos aspectos que

    caracterizam o webjornalismo. Tendo como referncia o portal de notcias UOL, foram

    analisadas as matrias de economia publicadas na primeira semana da crise - considerando

    como marco inicial a data de concordata do banco Lehman Brothers, 15 de setembro de 2008.

    O objetivo avaliar se esto presentes nas matrias de economia os aspectos que

    caracterizam o webjornalismo e como eles se apresentam. Por fim, proposta uma anlise

    quanto a representao da memria atravs do JE, entendendo a importncia dos

    acontecimentos econmicos e a relevncia das notcias para a histria do pas.

    2 JORNALISMO ECONMICO

    Dentre as diversas especialidades do jornalismo brasileiro, a que se apresenta como um

    dos menos explorados, no sentido acadmico, o Jornalismo Econmico (JE), embora ele se

    faa presente no cotidiano dos jornais e revistas. Isso pode ser consequncia da falta de interesse

    dos estudantes/acadmicos do Jornalismo em lidar com a rea de Economia ou das dificuldades

    geradas pela rea.

    Para os autores que trabalham nessa rea como Suely Caldas, Bernardo Kucinski e Ayl-

    Salassi Quinto isso se deve principalmente ao desinteresse dos jornalistas em dar ao JE o

    discurso que lhe devido, que o de aproximar os dados econmicos vida do cidado comum.

    Embora o nascimento do JE seja retratado por alguns pesquisadores como emergente

    das pginas de comrcio tpicas dos jornais do incio do sculo XX, o jornalista Ayl-Salassi

    Quinto apresenta em O Jornalismo Econmico no Brasil depois de 1964, um dos livros

    emblemticos do JE, a teoria de que ele se desenvolve de fato no Brasil aps o golpe militar de

  • 4

    1964 e o fortalecimento da rea se d por questes de conjuntura econmica e poltica, a fim de

    favorecer ao plano de comunicao militar2.

    Segundo Quinto, os motivos que levam o Jornalismo Econmico a tornar-se uma das

    principais reas na dcada de 80 esto intimamente relacionados ao milagre econmico do

    governo militar e tentativa de convencimento do povo brasileiro de que as bem-aventuranas

    econmicas compensam os malfeitos dos militares poca3.

    Para Suely Caldas, o Jornalismo Econmico no comea em 1964, apenas ganha

    notoriedade4. O fato de o setor econmico representar um dos principais focos do governo

    militar favorece a cobertura jornalstica nessa rea e acaba por representar o fortalecimento

    desse setor, no mais representado somente pela cotao de commodities, do dlar e dados

    sobre a inflao.

    Dentre outras preocupaes que o jornalista de economia deve ter (alm daquelas que

    j so prprias da profisso), destaca-se o uso do economs. Para a maioria dos autores, esse

    ainda um problema no meio jornalstico, dado tanto pelo mau uso da linguagem pelo prprio

    jornalista ou pela ausncia de traduo de termos especficos.

    No raro possvel encontrar textos com referncias em outros idiomas, siglas sem

    explicao ou de difcil compreenso. Segundo Sidnei Basile, a dificuldade encontrada nas

    matrias econmicas existe porque h matrias chatas, feitas por reprteres chatos e editores

    chatos para publicaes chatas5.

    2 QUINTO, A-S.F. O Jornalismo Econmico no Brasil depois de 1964. Rio de Janeiro: Agir, 1987, p.21-22.

    3 QUINTO, A-S.F. Op.cit, p.40.

    4 CALDAS, S. Jornalismo Econmico. 2 ed. 1 reimpresso. So Paulo: Contexto, 2008, p.11.

    5 BASILE, S. Elementos do Jornalismo Econmico. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p.07.

  • 5

    Para Suely Caldas, criou-se o mito do JE como chato, elitista e voltado somente para

    economistas e grandes executivos, principalmente devido falta de preparo dos prprios

    jornalistas. Segundo ela,

    quem por vezes pode tornar o jornalismo econmico difcil e chato o prprio

    jornalista. Isso ocorre quando o reprter ouve das suas fontes de informao uma srie

    de explicaes tcnicas, um amontoado de expresses especficas (...) que realmente

    bem poucos entendem (s vezes, nem mesmo ele, reprter) e se limita a transcrev-

    las nesse mesmo jargo, o chamado economs6.

    Mesmo apresentando ainda deficincias quanto abordagem voltada para o consumidor,

    Caldas relata que o JE avanou (muito), principalmente aps o processo de abertura econmica

    do Brasil. O surgimento de revistas especializadas e a transformao do mercado jornalstico

    proporcionaram um boom nesse segmento.

    Hoje, acrescenta-se ao desafio da traduo da economia, a necessidade da informao

    mais instantnea e objetiva. O webjornalismo representa uma das principais fontes de

    informao do pblico e cumpre um desafio no enfrentado diretamente pelas outras mdias

    tradicionais: a notcia do ltimo minuto.

    Em 2008, a autora Suely Caldas dedicou um captulo somente para o Jornalismo

    Econmico Online7. Segundo ela, esse mercado representava um grande potencial e abria novas

    possibilidades para os jornalistas da rea. Citando os casos da Reuters e da Dow Jones, que

    previram a necessidade de que as informaes econmicas circulassem pelo mundo da Internet,

    ela destaca no Brasil a Agncia Estado, pioneira no pas na produo de notcias econmicas8.

    O jornalismo econmico ainda pouco estudado no Brasil, embora a quantidade de

    artigos a esse respeito tenha crescido consideravelmente nas ltimas duas dcadas. Entretanto,

    6 CALDAS, S. Op.cit., p.9.

    7 Opta-se aqui por manter o termo utilizado pela autora (Jornalismo Econmico Online), enquanto em outros

    momentos seja retratado aqui como webjornalismo econmico, tratando os termos como sinnimos.

    8 CALDAS, S. Op.Cit., p.93-94.

  • 6

    mesmo com os avanos da rea, pouco se encontra ainda a respeito do JE na Internet. A anlise

    do portal de notcia contempla uma lacuna que ainda existe nos estudos sobre o jornalismo

    econmico online.

    3 O WEBJORNALISMO

    Algumas questes no campo dos estudos da Internet ainda no esto plenamente

    resolvidas. Uma delas diz respeito a utilizao dos termos webjornalismo, jornalismo

    online, jornalismo digital, jornalismo na web9.

    Embora ainda haja divergncias a respeito da nomenclatura, que aqui se optou por

    webjornalismo, h aqueles que optam por utilizar todos esses termos citados como sinnimos.

    Segundo Luciana Mielniczuk, a definio de webjornalismo est relacionada ao meio em que

    est inserido refere-se a uma parte especfica da internet, que disponibiliza interfaces grficas

    de uma forma bastante amigvel. A Internet envolve recursos e processos que so mais amplos

    do que a web. 10

    Ela distingue as nomenclaturas utilizadas para descrever esse tipo de jornalismo,

    apresentando as divergncias entre umas e outras e defende que webjornalismo o mais

    apropriado quando se trata de uma rea especfica da Internet (a web) e produo de contedo

    noticioso (jornalismo).

    Considerando essas definies, se estabelece como referncia os estudos recentes sobre

    o webjornalismo e as transformaes da relao comunicacional entre emissor e receptor.

    9 MIELNICZUK, L. Jornalismo na web: uma contribuio para o estudo da notcia na escrita hipertextual.

    Tese de doutorado defendida na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 2003, p.2.

    10 MIELNICZUK, L. Op. cit., p.24.

  • 7

    Embora a comunicao, ao longo da histria, tenha sido analisada por muitos tericos atravs

    a dicotomia emissor/receptor e de teorias que demarcavam os territrios de atuao de um e

    outro, o webjornalismo surge num contexto em que a relao entre a mdia e o pblico se d de

    maneira mais convergente, com cooperao e colaborao de ambas as partes, construindo uma

    relao mais complexa e sem espaos pr-determinados.

    Palcios (2003) apresenta as caractersticas que so fundamentais para a concepo do

    webjornalismo. So elas: multimidialidade/convergncia, interatividade, hipertextualidade,

    customizao do contedo/personalizao, memria e instanteneidade/atualizao contnua11.

    O jornalismo sofreu profundas alteraes nos ltimos anos, principalmente quanto

    adaptao s Novas Tecnologias de Comunicao (NTC). Com o JE no foi diferente, uma vez

    que a editoria de economia encontra-se presente em todos os principais jornais do Brasil e nos

    principais portais de notcias. A editoria no somente ganhou maior visibilidade como tambm

    esteve entre os principais assuntos nos ltimos cinco anos devido crise econmica

    internacional.

    igualmente importante que se ressalte que no acreditamos existir um formato cannico, nem tampouco

    mais avanado ou mais apropriado no jornalismo que hoje se pratica na Web. Diferentes experimentos encontram-se em curso, sugerindo uma multiplicidade de formatos possveis e complementares, que exploram de

    modo variado as caractersticas das NTC. 12

    Muito embora no se proponha um formato pr-determinado para o jornalismo na web,

    importante ressaltar que da perspectiva do pblico esse jornalismo precisa se apresentar de

    forma diferenciada, provendo aquilo que no possvel atravs das outras mdias. Segundo um

    estudo argentino sobre a convergncia no jornalismo, as mudanas exigidas pelo

    11 PALCIOS, M. Ruptura, Continuidade e Potencializao no Jornalismo Online: o Lugar da Memria.

    In: MACHADO, Elias & PALACIOS, Marcos (Orgs), Modelos do Jornalismo Digital, Salvador: Editora Calandra,

    2003, p.2.

    12 PALCIOS, M. Op. cit., 2003, p.3.

  • 8

    leitor/espectador so frutos da crise do prprio jornalismo, devido a evoluo das tecnologias

    de informao e da comunicao.13

    Os autores defendem que os leitores atualmente

    no querem somente ler, mas buscam participar de algum modo. Querem opinar e

    conversar. So novos hbitos de consumo que o jornalismo atual deve atender para

    no perder o trem da evoluo dos meios (ROST et al, 2012, p.10)14.

    A partir dessa perspectiva de crise do modelo tradicional de jornalismo e pensando no

    processo de convergncia do campo, surge a necessidade de adaptao, apresentando as

    caractersticas sugeridas pelos autores, desde a hipertextualidade at a produo multimdia.

    Nesse cenrio de adaptao, os autores C.W. Anderson, Emily Bell e Clay Shirky (2013)

    apresentam um relatrio do jornalismo ps-industrial, onde sugerem que a necessidade de

    pensar o webjornalismo vai alm da questo da unificao das redaes (impressa e online),

    questionando, por exemplo, a rentabilidade do jornalismo e a influncia do mercado nesse

    contexto15.

    No jornalismo econmico, esse aspecto pode se tornar ainda mais importante, uma vez

    que o bom jornalismo sempre foi subsidiado; o mercado nunca foi capaz de suprir o volume

    13 ROST, A. et al. Periodismo en contexto de convergncias. 1a ed. Rio Negro: Publifadecs, 2012, p.9.

    14 ROST et al, Op. cit., 2012, p.10. Traduo minha para No slo quieren leer, sino que buscan participar de algn modo. Quieren opinar y conversar. Son nuevos hbitos de consumo que el periodismo actual debe atender para no

    perder el tren de la evolucin de los mdios.

    15 ANDERSON, C.W.; BELL, E.; SHIRKY, C. Jornalismo Ps-industrial: adaptao aos novos tempos. 2012.

    Tow Center for Digital Journalism da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia (EUA). Disponvel em:

    http://towcenter.org/reaserach/post-industrial-journalism/. Publicado no Brasil pela Revista de Jornalismo da

    ESPM e republicado pelo site Observatrio da Imprensa (abril de 2013). Ler em:

  • 9

    de informao que uma democracia exige (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2013, p.4)16. A

    influncia do mercado na produo do jornalismo econmico, principalmente no contexto da

    web, deve ser analisada com cautela e, no Brasil, est intrinsecamente relacionado

    convergncia entre os portais e os jornais de grande circulao, como o caso do UOL.

    4 ANLISE DAS MATRIAS

    Durante a semana inicial da crise, de 15 de setembro a 22 de setembro de 2008, foram

    publicadas seis matrias na editoria de economia relacionadas crise econmica internacional.

    A crise deflagrada a partir do pedido de concordata do banco de investimentos americano

    Lehman Brothers, ocorrido no dia 15, representou um dos eventos mais impactantes para

    economia mundial.

    A crise no s se tornou um dos assuntos mais comentados de todo o mundo como

    tambm transformou a editoria de Economia dos principais jornais e portais de notcias

    brasileiros. A emergncia dos assuntos econmicos se deu devido s mudanas ocorridas em

    todo o mundo desde ento. Discutia-se desde as medidas polticas necessrias para conter os

    impactos da crise em todos os pases do mundo capitalista at a situao financeira mundial.

    interessante observar que durante essa primeira semana, no se falava

    propriamente em uma crise internacional, mas de carter local (nos Estados Unidos), embora

    esta tivesse desdobramentos diretos sobre a economia mundial. As matrias veiculadas

    reportavam o pedido de concordata, as relaes entre a crise e a corrida presidencial nos EUA,

    a relao entre os EUA e a Unio Europeia e como a crise afetaria o Brasil.

    16 ANDERSON, C.W.; BELL, E.; SHIRKY, C. Op. cit., p.4.

  • 10

    Ao analisar as caractersticas do webjornalismo nas matrias veiculadas, possvel

    observar que o UOL no se utiliza de todos os elementos indiciados pelos autores. Importante

    tambm ressaltar que, das seis matrias, nenhuma foi produzida exclusivamente pela redao

    do portal: duas so da BBC, uma da Reuters, duas da Folha de So Paulo e uma do Estado

    contedo.

    As duas matrias oriundas da Folha de So Paulo, embora apaream no sistema de busca

    do portal relacionadas ao UOL Economia, direcionam seus links ao portal do jornal, enquanto

    as demais esto hospedadas no prprio portal com a fonte da agncia.

    O primeiro quesito a ser analisado o de multimidialidade/convergncia que pressupe

    a utilizao de recursos como som, vdeo e imagem para complementao da notcia. Nenhuma

    das matrias publicadas no perodo pelo UOL Economia apresenta essas caractersticas, trazem

    somente o texto corrido.

    Quanto a interatividade, Bardoel e Deuze (2000) consideram que a notcia online

    possui a capacidade de fazer com que o leitor/usurio sinta-se mais diretamente parte do

    processo jornalstico17. Esse processo pode se dar desde a abertura para comentrios at a

    participao direta do leitor com os jornalistas, atravs de fruns, por exemplo.

    As matrias veiculadas no site do UOL Economia no dispem de recursos de

    interatividade, embora alguns autores considerem que a hipertextualidade pode ser considerada

    um meio18. Aqui, pretende-se analisar esse quesito separadamente, pressupondo a interatividade

    pelos aspectos citados acima.

    Nas duas matrias publicadas atravs do site da Folha de So Paulo h duas situaes

    distintas. Uma dispe de espao para comentrios e outra, no. A matria sobre a relao entre

    a crise e a corrida presidencial recebeu 2850 comentrios, entre elogios postura do jornal (sem

    falar especificamente do contedo) e postulaes complementares ao contedo, que sero

    tratadas no aspecto da memria. Todas as matrias apresentam links para conexo e

    17 BARDOEL, J.; DEUZE, M. apud. PALCIOS, M. Op. cit., p.3.

    18 PALCIOS, M. Op. cit., p.4.

  • 11

    compartilhamento nas redes sociais, embora nenhuma delas tenha obtido compartilhamento

    (Facebook) ou tweet (Twitter).

    Definido pela interconexo de textos atravs de links, a hipertextualidade o aspecto

    mais utilizado pelo jornal, quatro das seis matrias apresentam hiperlinks relacionados ao tema

    proposto. As conexes direcionam a outras matrias do portal (ou do jornal, no caso da Folha)

    sobre outros aspectos do mesmo tema, como o caso da matria sobre a relao com a Unio

    Europeia que direciona a um texto da Folha de So Paulo explicando o papel do G-8 (Figura

    1).

    Figura 1 - Merkel culpa EUA e Reino Unido por crise econmica. Fonte: Folha de So Paulo, 2013.

    A pgina do UOL Economia no faz customizao de contedo, embora a abertura do

    portal apresente personalizao quanto a outros temas, como futebol, horscopo e publicidade.

    A pgina da Folha de S. Paulo personaliza o contedo das matrias relacionadas esquerda,

    entre as que o leitor ainda no leu e as mais lidas do site. A publicidade na Folha no

    personalizada tambm.

    Todas as matrias analisadas apresentam caractersticas de atualizao contnua, mesmo

    aquelas que foram produzidas a partir das agncias. Em uma das matrias analisadas, produzida

    no dia 22 de setembro de 2008, consta uma atualizao posterior datada de 20 de maio de 2010

    (Figura 2).

  • 12

    Figura 2 - Norte-americanos veem Obama melhor preparado para crise. Fonte: UOL Economia. 2008.

    A anlise de textos produzidos h cinco anos permite compreender como se d o

    arquivamento das matrias pelo portal. interessante pontuar nesse aspecto que todas so

    apresentadas dentro de um contexto atual. Ou seja, embora as matrias sejam datadas de 2008,

    a rea do portal atualizada, relacionando as informaes do dia e no as que foram postadas

    no momento da publicao.

    No caso da matria Obama e McCain aproveitam crise financeira dos EUA para ganhar

    votos, onde constam 2850 comentrios, pode-se considerar a questo das marginlias

    sugeridas por Palcios (2006) como complementao da notcia e contribuio para a memria

    coletiva19. Uma vez que, muitos dos comentrios apresentam informaes complementares

    matria e pontos de vista alternativos, podem contribuir positivamente para a compreenso dos

    leitores posteriores.

    As reas Veja Mais (que relaciona outras matrias do portal), ltimas Notcias,

    Cotaes e Mais Lidas destacam os acontecimentos e dados do momento em que o leitor

    acessa a matria, o que descaracteriza o carter de memria do portal. Nesse sentido, considera-

    se aqui que, embora a memria coletiva esteja presente no arquivamento das notcias sobre a

    19 PALCIOS, M. Marginlia, zeitgeist e memria do tempo presente: os comentrios de leitores no ciberjornalismo. Brazilian Journalism Research. Volume 8. Nmero 1.2012

  • 13

    crise, muito se perde, pois no h um resgate de todas as informaes do dia da publicao,

    somente o texto da prpria matria.

    CONCLUSO

    A partir da anlise do portal, possvel observar que muito ainda est por melhorar no

    sentido de um webjornalismo econmico no Brasil. Os aspectos apontados como determinantes

    para a composio de um jornalismo diferente do modelo tradicional, ainda se apresenta de

    forma muito incipiente, detendo-se somente ao texto em si.

    Considera-se tambm que muito poderia ser desenvolvido nesse sentido, tanto atravs

    da multimidialidade como a formao de uma memria (de fato) do jornalismo econmico.

    Logo, possvel entender porque essa rea ainda se mantm aqum nos estudos relacionados

    ao webjornalismo.

    Embora a crise ainda seja um assunto recorrente no cenrio atual, a cobertura dos portais

    no contempla as adaptaes esperadas para o contexto do jornalismo ps-industrial proposto.

    Assim, confirma-se uma perspectiva j apontada por Palcios a respeito do

    webjornalismo como um todo, uma vez que

    as caractersticas do Jornalismo na Web aparecem, majoritariamente, como

    Continuidades e Potecializaes (sic) e no, necessariamente, como Rupturas com

    relao ao jornalismo praticado em suportes anteriores (PALCIOS, 2003, p. 6).

  • 14

    Tambm observa-se que, no quesito memria, o webjornalismo econmico ainda tem

    muito a evoluir. Os espaos disponveis para interao do leitor com o jornalista/portal

    poderiam ser ampliados, permitindo um fluxo maior das informaes e possibilitando uma

    compreenso mais ampla do assunto, alm de possibilitar uma ruptura de fato com o modelo

    tradicional de jornalismo.

    REFERNCIAS

    ANDERSON, C.W.; BELL, E.; SHIRKY, C. Jornalismo Ps-industrial: adaptao aos

    novos tempos. 2012. Tow Center for Digital Journalism da Escola de Jornalismo da

    Universidade de Columbia (EUA). Disponvel em: http://towcenter.org/reaserach/post-

    industrial-journalism/. Publicado no Brasil pela Revista de Jornalismo da ESPM e republicado

    pelo site Observatrio da Imprensa (abril de 2013). Ler em:

    BASILE, S. Elementos do Jornalismo Econmico. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

    CALDAS, S. Jornalismo Econmico. 2 ed. 1 reimpresso. So Paulo: Contexto, 2008.

    MIELNICZUK, L. Jornalismo na web: uma contribuio para o estudo da notcia na

    escrita hipertextual. Tese de doutorado defendida na Universidade Federal da Bahia (UFBA),

    em 2003.

    PALCIOS, M. Marginlia, zeitgeist e memria do tempo presente: os comentrios de leitores no ciberjornalismo. Brazilian Journalism Research. Volume 8. Nmero 1.2012.

    ______________. Ruptura, Continuidade e Potencializao no Jornalismo Online: o

    Lugar da Memria. In: MACHADO, Elias & PALACIOS, Marcos (Orgs), Modelos do

    Jornalismo Digital, Salvador: Editora Calandra, 2003.

    QUINTO, A-S.F. O Jornalismo Econmico no Brasil depois de 1964. Rio de Janeiro: Agir,

    1987

    ROST, A. et al. Periodismo en contexto de convergncias. 1a ed. Rio Negro: Publifadecs,

    2012.