interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA LUCIANO VAGNER MATA CRUZ INTERPRETAÇÃO SISMOESTRATIGRÁFICA DO NORTE DA BACIA DE PELOTAS Salvador 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOLOGIA

LUCIANO VAGNER MATA CRUZ

INTERPRETAÇÃO SISMOESTRATIGRÁFICA DO NORTE DA BACIA DE PELOTAS

Salvador 2011

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ii

LUCIANO VAGNER MATA CRUZ

INTERPRETAÇÃO SISMOESTRATIGRÁFICA DO NORTE DA BACIA DE PELOTAS

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Michael Holz

Salvador 2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

LUCIANO VAGNER MATA CRUZ

Salvador, 18 de Novembro de 2011

INTERPRETAÇÃO SISMOESTRATIGRÁFICA DO NORTE DA BACIA DE PELOTAS

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

Michael Holz P.H.D. em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. UFBA João Mauricio Figueiredo Ramos Bacharel em Geofísica pela Universidade Federal da Bahia PETROBRÁS Robson Egon Witzke Bacharel em Geologia pela Universidade Federal da Bahia PETROBRÁS

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Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro.

E se tu olhares, durante muito tempo, para o abismo, o abismo também olha para dentro de ti.

Friedrich Nietzsche

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v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por qualquer conquista e por estar sempre comigo

iluminando e me guiando para os melhores caminhos, inclusive a descoberta da

Geologia que deu muita felicidade e a cada dia vem dando conquistas especiais em

minha vida. A minha família principalmente meus avós Grigorio e Maria, minha mãe

Tania por tudo que sou e tenho no momento. A minha irmã Taniele e minha sobrinha

Taciane por todo carinho e amor que tem por mim. Aos meus tios e primos por

sempre estarem apoiando. Agradeço ao meu orientador Michael Holz pelo

conhecimento passado, atenção, conselhos e a toda estrutura dada no GETA –

Grupo de Estratigrafia Teórica e Aplicada e aos amigos do grupo, principalmente a

Priscila, Vinicius, Ives, Steban e Luís. Agradeço a Robson Witzke pelo auxílio dado e

João Mauricio pela presença na banca. Ao PRH 08 e Profs. Cícero e Sato, INCT e

Prof. Possani, pelos cursos que aprimoraram meus conhecimentos, aos amigos

Sábata, Vanessa Lima, Regina, Fabiane, Josane e aos grandes geólogos Zoltan

Romero e Paulo Maia. Aos professores Cezar, Simone, Vilton, Haroldo Sá, Johildo,

Angela, Osmario, Rosa e Carlson. Aos Funcionários Deraldo, Joaquim e Mercia. A

pró Voinha que me alfabetizou e professora Natividade pelo carinho. A todos os

meus amigos e colegas da geologia como Felipe Seibert, Ramon Arouca, Eduardo

Abrahão, Tiago Ximenes, Leonardo Nepravinik, Mariana Cayres, Edér Medeiros,

Guilherme Gonçalves, Edu Barzi, Fernandinha, Dira Góes, Caribes, Guilherme

Barbosa, Lila, Lucas Nery, Ana Santana, Mileno, Lusandra, Wilson, Philadelpho,

Marina, Davidson, Luan Dattoli, Kim, Ravena, Vinícius, Pedro, Eduardo Chapa, Júlio,

Judiron, Danilo Show, Bruno Metaformica, Caçador, Eula, Gleice, Gleide, André

Lyrio, Assunção, Acassio, Marcelinho, Elô, Lore, Mari Fraga, Maria Clara e as

princesas Carol, Priscila e Biritinha da UFOP, a Naedja Pontes (muito especial),

Talita Fernandes, Vanessa Gomes e Ana Abreu da UFCE, Suelen Serra da UFMT,

Alice Melo e Ellen Aguiar UFS, Zeck Paranhos da Rural e a todos que eu tive o

prazer de conhecer e conviver.

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo o estudo estratigráfico-geológico da região

norte da Bacia de Pelotas a partir da análise sismoestratigráfica. A metodologia

aplicada compreendeu o estudo prévio baseado na literatura sobre a geologia

da Bacia de Pelotas, principalmente na sua porção norte por apresentar

características distintas, a correlação das informações das seções sísmicas

através da construção do mapeamento de horizontes, os padrões

deposicionais, as superfícies estratigráficas, as terminações estratais e

estruturas geológicas tais como feições vulcânicas e falhas. Como resultado

foi possível descrever a evolução da estratigrafia de sequência da área

estudada, mapear e classificar as estruturas geológicas e entender como se

deu a deposição relacionando-a com a possível área fonte. A Bacia de Pelotas

possui distinções das demais Bacias do Leste Brasileiro, e esse estudo

contribui para a avaliação e o aprimoramento do conhecimento da evolução

tectono-sedimentar da bacia.

Palavras-chave: interpretação sísmica 2D; Bacia de Pelotas;

sismoestratigrafia.

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vii

ABSTRACT

This work aims on stratigraphic geological study of the northern region of

Pelotas basin based on seismic stratigraphy. The methodology included the

preliminary study of published data of the geology of the Pelotas basin mainly in

its northern portion, the correlation of information from seismic sections,

mapping of seismic horizons based on stratal terminations, recognition of

depositional patterns, stratigraphic surfaces and geologic structures such as

volcanic upbuilds and faults. The study led to the description and interpretation

of the evolution of sequence stratigraphy of the study area, mapping and

classification of the geological structures and to the understanding of the

depositional history. The Pelotas basin has distinctions from other Brasilian

basins, and this study contributes to the knowledge of the tectonic and

sedimentary evolution of the basin.

Keywords: 2D Seismic Interpretation; Pelotas Basin; Sismostratigraphy

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 10

1.1 OBJETIVOS ...................................................................................................... 10

1.2 ÁREA DE ESTUDO .......................................................................................... 10

2 GEOLOGIA REGIONAL .................................................................. 12

2.1 EVOLUÇÃO TECTONO SEDIMENTAR ........................................................... 12

2.2 MAGMATISMO ................................................................................................. 18

2.3 EVAPORITOS ................................................................................................... 20

2.4 ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS ............................................................... 22

3 SÍSMICA .......................................................................................... 28

3.1 ONDAS SÍSMICAS ........................................................................................... 28

3.2 MÉTODOS SÍSMICOS ..................................................................................... 29

3.2.1 Método Sísmico de Reflexão ......................................................................... 30

3.2.2 Processamento de dados Sísmicos ............................................................... 32

4 INTERPRETAÇÃO SÍSMICA .......................................................... 34

4.1 SISMOESTRUTURAL ....................................................................................... 34

4.2 SISMOESTRATIGRAFIA .................................................................................. 35

4.2.1 Variáveis que controlam a sedimentação ...................................................... 35

4.2.2 Acomodação .................................................................................................. 36

4.2.3 Padrões de empilhamento ............................................................................. 37

4.2.4 Nível de base ................................................................................................. 38

4.2.5 Trajetórias da Linha de Costa ........................................................................ 38

4.2.6 Terminações Estratais ................................................................................... 40

4.2.7 Superfícies Estratigráficas ............................................................................. 41

4.2.8 Trato de Sistemas .......................................................................................... 45

5 INTERPRETAÇÃO DE DADOS ...................................................... 50

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ix

5.1 METODOLOGIA ............................................................................................... 51

5.2 RESULTADOS OBTIDOS ................................................................................. 52

5.3 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 63

5.4 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 70

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ....................................................... 72

ANEXO I – SEÇÃO SÍSMICA D1 ......................................................... 75

ANEXO II – SEÇÃO SÍSMICA D2 ........................................................ 76

ANEXO III – SEÇÃO SÍSMICA D3 ....................................................... 77

ANEXO IV – SEÇÃO SÍSMICA D4 ...................................................... 78

ANEXO V – SEÇÃO SÍSMICA D5 ....................................................... 79

ANEXO VI – SEÇÃO SÍSMICA D6 ...................................................... 80

ANEXO VII – SEÇÃO SÍSMICA S1 ...................................................... 81

ANEXO VIII – SEÇÃO SÍSMICA S2 ..................................................... 82

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1 INTRODUÇÃO

1.1 OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo o estudo estratigráfico-geológico de uma

região específica da Bacia de Pelotas a partir da análise sismoestratigráfica. Os

dados gerados neste estudo tem uma aplicabilidade na análise de mega-

sequências, sendo que essas podem ser avaliadas em relação a influência: da

tectônica; do aporte sedimentar; da variação do nível do mar, do magmatismo

presente; do comportamento geomorfológico em função da chegada destes

sedimentos. Sendo assim temos como princípio detalhar melhor parte da estrutura

que limita a Bacia de Pelotas na sua região norte.

1.2 ÁREA DE ESTUDO

A Bacia de Pelotas compreende a margem continental Sul Brasileira limitado

a sul pela Zona de Fratura de Chuy e a norte pela plataforma de Florianópolis e pela

Dorsal de São Paulo, fazendo parte de um contexto geológico que pertence a

Província da Mantiqueira, ocupando uma área de cerca de 200.000 km2 na região

costeira e marítima do Estado do Rio Grande do Sul, 40.000 Km2 dos quais na

porção emersa (Dias, 1994 apud Milani & Tomaz-Filho, 2000) (Figura 1.1 e 1.2).

As rochas que constituem o preenchimento sedimentar da Bacia de Pelotas

se situam sobre o Embasamento Cristalino e sobre sequências paleozóicas

equivalentes a Bacia do Paraná, fazendo parte assim de um contexto de Bacia do

tipo rift que evoluiu para Bacia do tipo Margem Passiva.

A Bacia de Pelotas é uma bacia marginal preenchida por sequências clásticas

continentais, transicionais e marinhas. Sua origem está associada ao evento

geológico que originou a abertura do Atlântico Sul e sua evolução inicial

compreendeu um grande volume de magma formado no processo de acreção

crustal. Nessa bacia ocorrem os melhores exemplos de seaward dipping reflectors

(SDR) da Margem Continental Brasileira, sendo que esse fenômeno acontece

geralmente durante a fase inicial da gênese da bacia oceânica.

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Figura 1.1 – Mapa de Situação - Bacias Sedimentares Brasileiras. (Souza-Lima & Hamsi Junior, 2003).

MAPA REGIÃO SUL

Santa Catarina

Paraná

Santa Catarina

Rio Grande Do Sul

Figura 1.2 – Mapa de Localização da área de trabalho, Bacia de Pelotas, entre os estados de Santa

Catarina e Rio Grande do Sul.

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2 GEOLOGIA REGIONAL

2.1 EVOLUÇÃO TECTONO SEDIMENTAR

O estudo das bacias sedimentares de margem passiva é de importância para

a avaliação do potencial exploratório nas pesquisas de hidrocarbonetos e para o

conhecimento da evolução tectônica que, com seus estágios de subsidência rift e

subsidência termal, originam diferentes sequências estratigráficas.

O supercontinente Gondwana, que antecede a placa sul-americana, formou-

se no Proterozóico superior como resultado da orogenia Brasiliana ou Pan Africana,

causada pelo processo de acrescimento do Cráton São Francisco com o Cráton

Amazônico. As bacias do leste brasileiro são resultado do processo de ruptura do

Supercontinente Gondwana, a partir de um modelo tipo rift, desenvolvendo-se até

um modelo atual de bacia de margem passiva, culminando na separação ou deriva

continental e sendo parte integrante da fase oceano aberto definida no Ciclo de

Wilson. A fragmentação do Supercontinente Gondwana caracterizou-se pela

reativação de antigos falhamentos, soerguimento de arcos e abatimento de bacias

sedimentares, que começou a há cerca de 200 Ma e culminando com a abertura do

Oceano Atlântico há aproximadamente 130 Ma.

O sistema rift da margem continental brasileira formou-se por processos

extensionais datados do Jurássico Superior e Cretáceo Inferior. Ocorrem evidências

destes processos extensionais nas regiões extremas da placa sul-americana, com

idades dos sedimentos que preenchem os grábens atingindo até o Triássico,

identificados através de datações geocronológicas de rochas intrusivas e extrusivas

correlacionadas à fase rift (Conceição et al. 1988; Mizusaki et al, 2002 apud Mohriak,

2003).

As bacias sedimentares da margem continental brasileira podem ser divididas

em duas províncias: bacias do norte e bacias do leste, isto com base em suas

características estratigráficas e estruturais (Figura 2.1). (Asmus, 2004).

As bacias do norte estendem-se da Bacia Potiguar até a Bacia da Foz do

Amazonas, exibindo dois estilos tectônicos: distensão e compressão, tendo suas

idades entre o Jurássico Tardio e o Cretáceo Tardio, com direções diferentes, uma

paralela ao alinhamento do embasamento e a outra transversal. Sua evolução está

constituída por: estágio rift continental, estágio marinho ligado a movimentos

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transformantes e um estágio oceano aberto, diferindo da maioria das bacias de

margem leste pela ausência de rochas evaporíticas do Cretáceo Inferior (Asmus,

2004) (Figura 2.1a).

As bacias do leste brasileiro estendem-se da Bacia de Pelotas até a Bacia

Pernambuco-Paraíba, apresentando um estilo tectônico distensional, tendo suas

idades entre o Jurássico Tardio e o Cretáceo Tardio. Suas estruturas desenvolvem-

se paralelamente aos alinhamentos estruturais do embasamento pré-cambriano,

exceto na Bacia Pernambuco-Paraíba, onde ocorrem falhas mesozóicas que cortam

transversalmente o embasamento em direção leste-oeste (Asmus, 2004) (Figura

2.1b).

Figura 2.1 - 2.1a. Bacias do norte se estendem da Bacia Potiguar à Bacia do Foz do Amazonas. 2.1 b. Bacias do leste se estendem da Bacia de Pelotas até a Bacia de Pernambuco-Paraíba (Mohriak, modificado de Milani e Tomaz-Filho 2000).

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A evolução das bacias pode ser classificada quanto ao seu comportamento

de ascensão da astenosfera: quando ocorre a extensão da crosta relacionada às

plumas vulcânicas e fusão do manto por descompressão, define-se como um rift

ativo; entretanto, as bacias geradas por tensões horizontais, por movimentos de

placas provocando adelgaçamento litosférico e consequentemente uma ascensão

do material astenosférico, são definidas como rift passivo (Sengör e Burke, 1978

apud Bueno, 2004).

Nas bacias do leste brasileiro ocorrem os dois tipos de rifts. A parte nordeste

se caracteriza por uma sedimentação de um lento e progressivo afundamento,

caracterizando um modelo de rift passivo, enquanto a parte sul e sudeste são

caracterizadas por volumoso vulcanismo basáltico da Bacia do Paraná, Platô de São

Paulo, Arcos de Rio Grande e Ponta Grossa, refletindo uma forte influência da pluma

mantélica Tristão da Cunha e caracterizando um modelo de rift ativo (figura 2.3).

Figura 2.2 – Bacias do leste brasileiro apresentando os dois modelos de rift: passivo a Nordeste caracterizado por extensões devido a movimento de placas, e ativo a Sul, caracterizado por extensões devido as plumas vulcânicas (Milani, 1987; Dias 1991 modificada por Bueno, 2004).

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Os conceitos tectonofísicos de McKenzie (1978) geraram um modelo geral

para a formação das bacias da margem continental e do oceano atlântico, em que

admite um estiramento litosférico e afinamento da crosta litosférica durante a fase

rift, em sequência uma fase de subsidência termal que está associada à anomalia

térmica da astenosfera (Mohriak et al, 1990 apud Mohriak, 2003).

A presença do magmatismo tem grande importância na identificação de

movimentação durante a separação do Supercontinente Gondwana, pois o

magmatismo ocorre preferencialmente nas zonas de fraquezas herdadas do

embasamento e nas áreas que circundam o cráton, por serem zonas menos

espessas. Quanto mais próximo da costa, o magmatismo está mais relacionado aos

processos de ruptura do Supercontinente Gondwana, indicando assim uma

movimentação para oeste da placa sul-americana que influenciou na formação das

bacias sedimentares marginais (figura 2.3).

Figura 2.3 – Blocos diagrama mostrando a evolução da separação entre Brasil e África associado a uma anomalia termal mantélica e sua infuência sobre a região sudeste brasileira. Macedo, 1989.

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Uma síntese tectono-sedimentar foi elaborada, onde ficou estabelecida uma

sucessão evolutiva das sequências deposicionais: continental, lacustre, golfo e

marinha, diretamente relacionada às distintas e contínuas fases tectônicas: pré-rift,

rift, proto-oceano e drift. (Asmus e Ponte, 1973; Pontes e Asmus, 1978; Asmus e

Porto, 1980 apud Bueno, 2004). A análise do desenvolvimento dos rifts brasileiros é

dividida em duas correntes: Dias (1991), Magnavita (1992) e Cupertino (2000),

seguem a classificação tectono-sedimentar proposta em Asmus e Porto (1980) para

as bacias da margem leste brasileira. Essa classificação se baseia no

reconhecimento de sincronismo entre fases tectônicas e deposicionais específicas,

cujo início da fase rift coincide com a sequência deposicional lacustre. Por outro lado

Figueiredo (1981), Chang et al (1988), Matos (1992; 1999) e Destro (1994)

consideram seu início já durante a época de acumulação da sequência continental

(Bueno, 2004).

A Bacia de Pelotas pode ser dividida em duas sub-bacias: Norte, a partir do

Terraço de Rio Grande até o Alto de Florianópolis, que separa a Bacia de Pelotas da

Bacia de Santos, e Sul, do Terraço de Rio Grande ao Alto de Polônio, que separa a

Bacia de Pelotas da Bacia de Punta Del Leste (Silveira & Machado, 2004 apud

Bueno et al, 2007). Ocorreram posteriormente divisões da Bacia de Pelotas em duas

sub-bacias, utilizando-se como marco divisor tectono-sedimentar o lineamento

estrutural de Porto Alegre. Estas distinções geológicas entre Sul e Norte da Bacia de

Pelotas tem importância no estudo de tectônica rift e entendimento dos estágios de

evolução. A Bacia de Pelotas foi definida como uma bacia marginal subsidente

preenchida por sequências clásticas continentais e transicionais (Asmus e Porto,

1972 apud Barboza et al, 2008). Possui na sua porção rasa espessura de

sedimentos de aproximadamente 3.000 metros e na parte mais profunda é

subdividida em três compartimentos semi-isolados, com espessuras de 6.000, 7.000

e 8.000 metros nos seus depocentros, respectivamente de norte para sul (Barboza.

et al 2006), e sua maior espessura deve ultrapassar 10.000 metros (Fontana, 1989

apud Barboza

et al, 2008).

A partir dos estudos da evolução tectônica das bacias sedimentares do

Atlântico Sul foi proposto um modelo onde se permite estabelecer as principais

feições formadas durante o processo e as fases relacionadas ao rift. Este modelo foi

proposto por Cainelli e Moriak (1999), representando uma sequência evolutiva

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coerente em cinco fases principais: Fase I (Figura 2.5a) soerguimento termal

astenosférico, com afinamento regional da crosta continental e manto superior,

corresponde a uma fase dúctil, e formação de falhas na crosta superior; Fase II

(Figura 2.5b) corresponde a uma fase rúptil, com o aumento do estiramento

litosférico e a ocorrência de grandes falhas afetando a crosta continental, extrusões

basálticas e formação de semi-grabéns; Fase III (Figura 2.5c) intensa extensão

litosférica, com geração de grandes falhas e rotação dos blocos do rift; Fase IV

(Figura 2.5d) concentração da extensão litosférica em um lócus leva à formação da

cordilheira Meso-Atlântica concominantemente ao extravasamento de crosta

oceânica, estando associados nas bacias do sul aos Seaward Dipping Reflectors

(SDRs) e reativação de falhas longitudinais; Fase V (Figura 2.5e) contração termal

da litosfera e afundamento da batimetria no final do Albiano.

Figura 2.5 – Modelo geodinâmico esquemático da margem continental divergente onde permite estabelecer as principais feições formadas durante o processo e as fases relacionadas ao rift (Cainelli & Moriak, 1999).

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2.2 MAGMATISMO

A ruptura do supercontinente Gondwana, que deu origem ao atlântico Sul foi

sucedida de inúmeros eventos magmáticos na margem continental, nos altos que

separam as bacias bem como no continente emerso adjacente. Mizusaki et al,

(1998) e Tomaz Filho et al, (2000) utilizaram 377 resultados de datações

radiométricas K/Ar de amostras de rochas magmáticas básicas e alcalinas das

bacias sedimentares brasileiras para elaborar um histograma que identifica os

principais eventos magmáticos que ocorreram (Tomaz-Filho et al, 2008):

Evento 1 - aproximadamente 215 Ma (Triássico) e evento 2 -

aproximadamente 180 Ma (Jurássico): diques e derrames de composição toleíticas;

evento 3 - ao redor de 130 Ma (Neocomiano): derrames e diques de composição

toleíticas e intermediária; evento 4 - aproximadamente 100 Ma

(Santoniano/Turoniano): predominam intrusões de composição básica a

intermediária; evento 5 - aproximadamente 60 Ma (Eoceno) e evento 6 - idades

inferiores a 50 Ma (Eoceno ao Recente): normalmente sob a forma de cones

vulcânicos de composição intermediária a alcalina (figura 2.6) (Tomaz-Filho et al,

2008).

Figura 2.6 Datações radiométricas K/Ar de rochas magmáticas básicas e alcalinas e sua relação com o tempo (Tomaz Filho et al, 2008 modificado de Tomaz Filho et al, 2000).

Page 19: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

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O evento do Neocomiano ocorreu de forma muito intensa na Bacia do Paraná

no que constitui os grandes derrames de basalto da formação Serra Geral. Ao

Santoniano/Turoniano, Tomaz Filho et al, (2000) associaram a separação definitiva

entre os continentes sul-americano e africano, até então ligados. Os eventos do

Eoceno e do Oligoceno são interpretados como magmatismos pontuais resultantes

da ação de hotspots, quando da deriva do continente sul-americano para oeste,

afastando-se do continente africano. O evento dp Eoceno correlaciona com o

magmatismo de ocorrência nas regiões de Cabo Frio (RJ), Bacia de Campos e

Arquipélago de Abrolhos (ES). O magmatismo do Oligoceno mostra que a ação do

hotspot tem sido contínua durante a deriva continental e provavelmente continua até

os dias atuais (Tomaz-Filho et al, 2008).

O Vulcanismo Basáltico que originou as províncias Paraná-Etendeka, Walvis

Ridge e Elevação do Rio Grande, foi também responsável pela espessa crosta

oceânica no sul do Atlântico Sul, que apresenta cunhas basálticas denominados de

Seaward-Dipping-Reflectors (SDRs) (Gladczenko et al, 1997 apud Corrêa, 2004).

Alguns autores citam que essa fácies sísmica encontra-se em uma posição de limite

entre a crosta continental e a crosta oceânica (Hinz, 1981; Mutter, 1985; Fontana,

1996). Devido a esta característica, os SDRs são de suma importância para melhor

conhecimento do processo de ruptura do Gondwana e da evolução das margens

passivas.

O modelo mais aceito para os SDRs é o de Hinz (1981), que explica que a

extensão e afinamento da crosta continental são alimentados por diques que

funcionam como condutos para o vulcanismo. Essa erupção contínua provoca o

empilhamento dessas rochas basálticas em ambiente subaéreo, o que produz um

aumento do peso da crosta causando posteriormente a subsidência. Deste modo, os

derrames basálticos depositados são inclinados em direção a bacia (Hinz, 1981

apud Corrêa, 2004) (Figura 2.7).

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2.3 EVAPORITOS

Os evaporitos tem sua ocorrência limitada dentro de um tempo geológico,

pois a sua deposição exige condições específicas, diferindo, contudo dos demais

sedimentos. (Palagi, 2009).

Figueira (1989) especificou fatores de contribuição para a importância dos

evaporitos na exploração de petróleo: camadas de evaporitos formam excelentes

selos para reservatórios subjacentes; os sais solúveis provocam halocinese, tendo

um papel importante na formação de armadilhas estruturais e estratigráficas em

reservatórios sobrejacentes (Palagi, 2009).

Evaporitos são formados por minerais precipitados de salmouras através da

evaporação, podendo recobrir grandes áreas. Normalmente suas sequências tem

início com fácies sicliciclásticas arenosas, continentais sobre uma descontinuidade

estratigráfica, prosseguem com fácies evaporíticas constituídas por carbonatos,

sulfatos e cloretos, ambas as fácies anteriores do tipo red bed e intercalações com

Figura 2.7 Modelo de Hinz 1981 para a formação de SDR. (A) Diques sendo conduto para o magma, (B) empilhamento magmático em ambiente subaéreo, (C) Aumento do peso da crosta gerando uma subsidência, (D) Os derrames basálticos em forma de cunha são inclinados em direção a Bacia (Corrêa 2004, Modificado de Mutter, 1985)

Page 21: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

21

folhelho e arenitos, podendo variar a depender da posição da bacia no contexto de

mais proximal ou distal (Palagi, 2009).

O desenvolvimento dos evaporitos de idade Aptiana do Atlântico Sul está

associado a um clima árido e a periódicas transgressões marinhas invadindo um

golfo raso se estendendo da Bacia de Santos à Bacia de Sergipe-Alagoas, contido

de forma incipiente no norte da Bacia de Pelotas. De um ponto de vista tectono-

sedimentar, os evaporitos estão localizados na zona transicional da fase sag para

marinha. Na bacia do Jacuípe não foram identificados evaporitos.

A Bacia de Santos é separada da Bacia de Pelotas, por um lineamento

formado pela Dorsal de São Paulo e o Alto de Florianópolis, ambas representando

grandes feições regionais. Estas estruturas que delimitam as Bacias de Santos e

Bacia de Pelotas são consideradas uma barreira que possibilitou a deposição um

espesso pacote de evaporitos na Bacia de Santos, enquanto na Bacia de Pelotas

predominam condições francamente marinhas com presença de evaporitos apenas

na parte norte e com pequena espessura (Figura 2.8).

Figura 2.8 – Distribuição do sal Aptiano Superior e barreira que impossibilitou o Sal de ter espessos pacotes na Bacia de Pelotas (Palagi, 2009).

Page 22: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

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A ocorrência de evaporitos nas bacias sedimentares de margens brasileiro-

africanas indica uma distribuição entre a margem equatorial e a Zona de Fratura de

Florianópolis-Dorsal de Walvis. Interpreta-se que no Aptiano implementou-se uma

extensa plataforma evaporítica correspondendo a um grande golfo alongado que se

estendia entre o Brasil e a África (Amus e Pontes 1973, Szatmari et al, 1974, Amus e

Pontes 1980, Dias e Brito et al, 1987; Mohriak 2003; Bueno 2004; Azevedo 2004,

Davison 2005, Rosendahl, 2005 apud Mohriak 2009). Esta propagação deve ter

ocorrido de sul para norte, um pouco antes da abertura do Atlântico Sul, uma vez

que os registros de evaporitos da Bacia de Pelotas não são considerados

significativos (Gamboa et al, 2009).

2.4 ESTRATIGRAFIA DE SEQUÊNCIAS

O espaço de acomodação que é gerado tectonicamente é preenchido por

uma superposição de distintos padrões deposicionais, sendo limitados por

superfícies de discordâncias. Estas discordâncias podem ser identificadas pelas

relações estratigráficas desenvolvidas na região lateral e axial do rift. Nas fases pré-

rift e pós-rift os estratos apresentam um perfil padrão tabular contrastando com um

perfil de um gráben assimétrico que se origina de uma sedimentação sintectônica,

característica da fase rift, depositados sobre uma extensão crustal, sob a ação de

subsidência térmica. Este intervalo é separado pelas superfícies discordantes, rift

onset unconformity (ROU), considerada a discordância inicial do rift e a Breakup

unconformity, considerada a de separação continental (Falwey, 1974 apud Bueno et

al 2007).

As rochas que compreendem a parte sul da Bacia de Pelotas encontram-se

sobre o Embasamento Pré-cambriano que se situa no Cinturão Dom Feliciano, faixa

móvel gerada durante o Ciclo Brasiliano, sendo constituído por rochas metamórficas

de baixo grau (filitos, xistos, quartzitos e mármores) e por granitos e Migmatitos

(Vilwock & Tomazzeli,1995 apud Bueno 2007). Já a porção nordeste da Bacia de

Pelotas se encontra sobre rochas sedimentares e ígneas permianas e mesozóicas

da Bacia do Paraná, foi originada a partir de subsidência térmica, seguindo com o

resfriamento da crosta continental posterior ao Ciclo Orogênico Brasiliano - Pan

Africano (Zalan et al, 1990 apud Bueno 2007).

Page 23: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

23

O preenchimento sedimentar da Bacia do Paraná é constituído de três

sequências sedimentares paleozóicas e duas sequências mesozóicas que estão

divididas em dois grupos: no Grupo Guatá com as formações Rio Bonito e Palermo

ambas de ambiente marinho; e no grupo Passa Dois a Formação Irati, de ambiente

marinho, e Formações Teresina e Rio do Rastro depositadas em ambiente flúvio-

lacustre-marés (Milani et al, 1994 apud Bueno 2007).

Na Bacia de Pelotas, segundo Dias et al (1994), são identificada quatorze

sequências deposicionais. Bueno (2007) identifica vinte e uma sequências

deposicionais. Em uma síntese das duas cartas estratigráficas publicadas, tomando

como base a carta estratigráfica de 1994 de Dias et al modificada pela ANP (Figura

2.9) e usando alguns padrões da carta estratigráfica de 2007 Bueno (Figura 2.10),

foram feitas algumas interpretações para facilitar o entendimento da deposição e do

desenvolvimento da estratigrafia de sequência na Bacia de Pelotas:

SEQ 1: Dividida em Perm-Triássico com o Grupo Guatá (Formações Rio

Bonito e Palermo) e o Grupo Passa Dois (Formações Irati, Teresina e Rio do Rastro)

e Juro-Cretáceo com as Formações Botucatu e Formação Serra Geral

caracterizando assim a Bacia do Paraná.

SEQ 2: Essa sequência caracteriza a fase rift, é dividida pelos basaltos da

formação Imbituba e pelas fácies siliciclásticas da Formação Cassino.

A Formação Imbituba consiste em depósitos vulcânicos básicos considerados

síncronos a Formação Serra Geral da Bacia do Paraná (Dias et al, 1994). Os

estudos geocronológicos (Ar-Ar) indicaram datações de 118 ± 1,9 Ma no topo e

125,3 Ma ± 0,7 Ma na base da seção (Lobo, 2007 apud Bueno, 2007), definindo um

evento mais jovem em relação a Formação Serra Geral, cuja datação indica idade

em que o período de extrusão ocorreu entre 127 e 138 Ma (Stewart et al, 1996 apud

Bueno, 2007).

A Formação Cassino consiste em clásticos grossos e finos de idade Aptiana,

tal como sua correlata, a Formação Guaratiba da Bacia de Santos, representada nas

fácies proximais do preenchimento de meio-grábens gerados na fase rift, como

cunhas preenchidas por conglomerados, diamictitos e siltitos que se espessam de

encontro a falhas antitéticas. A fase apresenta fragmentos de rocha com uma forte

presença vulcânica, diminuindo para o topo, com o aumento de rochas metamórficas

Page 24: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

24

evidenciando mudança de área fonte (Bueno, 2007). Estes depósitos são

interpretados como leques aluviais (Dias et al, 1994), possuindo contato na parte

inferior com a Formação Imbituba e superior ora com a Formação Imbituba, ora em

contato com os arenitos da Formação Tramandaí e com rochas vulcânicas da

Formação Curumim.

SEC 3: Caracterizada pelo início da fase pós-rift, está representado pelas

seguintes formações:

A Formação Curumim apresenta uma suíte vulcânica (basaltos, andesitos e

traquiandesitos) representando um estágio de subsidência térmica cuja datação pelo

método Ar-Ar resultou em idade de 113 ± 0,1 Ma (Dias et al, 1994). Sobreposto a

esta unidade encontram-se, ora os carbonatos da Formação Portobelo, ora os

evaporitos da Formação Ariri. A base desta unidade ainda não foi atingida por

poços, mas as análises de seções sísmicas permitiram uma interpretação de uma

discordância com a unidade sotoposta e caracterizá-la pela geometria tipo sag

(Bueno, 2007).

Ao longo do contato crosta continental com crosta oceânica podem ser vistas

nas seções sísmicas cunhas de SDRs de diferentes idades. As suas relações de

contatos sugerem as mais antigas a Sul, de idade equivalente à da Formação

Imbituba e as mais jovens a norte, com idades similares às da Formação Curumim.

Assim, enquanto a sub-bacia de Torres (Norte) sofria um processo rift, a sub-bacia

Sul já experimentava um estágio de subsidência flexural produzido pelo resfriamento

e contração termal da crosta oceânica (Martins Neto et al, 2006 apud Bueno, 2007).

A Formação Ariri está representadas pelos evaporitos de idade neo-alagoas

indicadores de transição da sedimentação continental para marinha. Encontra-se

presente na porção norte da Bacia de Pelotas, com intercalações de anidrita e

carbonatos recobrindo os andesitos da Formação Curumim.

A Formação Portobelo é constituída por depósitos carbonáticos e

siliciclásticos caracterizando uma plataforma mista, sobrepostos concordantemente

aos evaporitos da Formação Ariri e recobertos pelos pelitos da Formação Atlântida.

Em direção ao continente interdigita-se lateralmente com a parte inferior dos

clásticos Tramandaí. Interpreta-se para essa unidade uma deposição em plataforma

carbonática de alta e baixa energia (Dias et al, 1994).

Page 25: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

25

A Formação Tramandaí é constituída por arenitos finos, intercalados com

folhelhos, siltitos e calcários, encontra-se em discordância sob os arenitos da

Formação Cidreira, interdigitados lateralmente com os carbonatos e pelitos das

Formações Porto Belo e Atlântida, respectivamente. É Interpretado como de

ambiente marinho raso que sofre a transgressão dos pelitos de plataforma externa

da Formação Atlântida.

A Formação Atlântida está representado por clásticos e carbonatos finos

situados entre os carbonatos Portobelo e os clásticos finos da formação Imbé. Esta

seção pelititica é espessa, composta por folhelho e siltito, com camadas de arenito

muito fino, argiloso e marga. Esta unidade marca o início de uma transgressão

marinha em ambiente de sedimentação nerítico de plataforma externa.

SEQ 4: A partir dessa sequência ocorre a presença de diversos onlaps e

períodos erosivos retratando episódios de uma alternância de transgressões e

regressões de maior ordem, que foi subdividido em SEQ – 4a, 4b, 4c ... 4n. O

ambiente costeiro passa a ser dominado por leques de clásticos grossos e finos da

Formação Cidreira que, em direção à bacia, encontra-se interdigitado com os

folhelhos e siltitos da Formação Imbé. Ocorre a presença de camadas de arenitos

turbidíticos dando uma interpretação de ambiente marinho profundo, com plataforma

externa, talude e bacia.

A Formação Cidreira apresenta clásticos grossos e finos interdigitados com os

pelitos da Formação Imbé, estando em discordância sobre a Formação Tramandaí.

Esta unidade é caracterizada por arenito muito fino até grosso, depositado como

leques costeiros progradando sobre a plataforma em ambientes neríticos (Dias et al,

1994).

A Formação Imbé está caracterizada por pelitos, ou seja, folhelhos e argilas

situados normalmente em discordância sobre a Formação Atlântida e interdigitados

com a Formação Cidreira. Possui raras camadas de arenitos turbidíticos intercaladas

e sua deposição se deu em ambientes marinhos profundos, como plataforma

externa, talude e bacia (Dias et al, 1994).

Page 26: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

26

Figura 2.9 – Carta estratigráfica (Dias et al 1994).

Page 27: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

27

Figura 2.10 – Carta estratigráfica (Bueno 2007).

Page 28: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

28

3 SÍSMICA

3.1 ONDAS SÍSMICAS

Onda pode ser denominada como fenômeno físico no qual ocorre propagação

de energia no espaço e no tempo em todas as direções. Em meios de composição

homogênea as ondas sísmicas se comportariam em forma de raio equidistante em

todos os pontos, como a terra possui a uma composição heterogênea ela não tem

esse comportamento.

Estas ondas são classificadas como: Ondas de Corpo, subdivididas em

Ondas Longitudinais e Ondas Transversais; e Ondas Superficiais, subdivididas em

Ondas Rayleigh e Ondas Love.

As Ondas Longitudinais são denominadas de Ondas Compressionais ou

ondas primárias (P) e as Ondas Transversais são denominadas de Ondas

Cisalhantes ou Secundárias (S) (Figura 3.1).

Figura 3.1 – Padrão de movimentação das ondas P (compressionais) e ondas S (cisalhantes) além das

ondas superficiais que são as ondas de Love e onda de Rayleigh (Veeken modificado de Kearey & Brooks 1991)

Page 29: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

29

Para fins matemáticos, é necessário assumir que as rochas possuem o

mesmo comportamento de materiais elásticos e homogêneos, cujas propriedades

são constantes em todos os pontos e isotrópicos, nos quais estas propriedades não

variam para quaisquer que sejam as direções em que as observações são

efetuadas. Observa-se que o fenômeno de propagação compõe-se em dois

processos ondulatórios independentes, as ondas primárias (P) e secundárias (S)

possuem então, respectivamente, suas velocidades (Vp e Vs) de propagação

escritas matematicamente por:

(1) Vp = (√ λ+2μ) /ρ

(2) Vs = √ μ / ρ

a velocidade de propagação das ondas (P) onde as constantes de Lamé λ e μ

definem as propriedades elásticas da rocha e ρ a densidade. (Martins, 2001).

Verificando e analisando as equações anteriores observa-se que Vp é maior que a

de Vs pois as constantes elásticas não são simultaneamente nulas para um material.

3.2 METODOS SÍSMICOS

Os métodos sísmicos iniciam-se a partir da emissão de ondas elásticas

geradas por fontes de energias. A dinamite é a fonte mais comum para uso em terra

e canhões de ar comprimido para levantamentos marítimos. Estas ondas elásticas

são emitidas numa duração ou comprimento de tempo muito reduzido numa ordem

de milissegundos. Ao longo do processo de propagação as rochas respondem a

perturbações provocadas pelas passagens das ondas elásticas num processo de

reflexão ou refração, sendo que cada uma das camadas geológicas se deformando

em função das suas constantes elásticas. Esta ocorrência existe porque as rochas

se comportam como materiais com propriedades Intrínsecas, influenciada por

algumas características como porosidade, conteúdo de fluido, composição mineral e

etc (Figura 3.2).

Os receptores utilizados para registrar as reflexões destas ondas são

basicamente de dois tipos eletromagnéticos (geofones) para levantamentos em terra

e os de pressão (hidrofones) para levantamentos na água. Estes receptores devem

reproduzir as possíveis vibrações em forma de oscilações elétricas que são

transmitidas a um sismógrafo onde são digitalizadas, multiplexadas e registradas.

(Thomas et al, 2001)

Page 30: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

30

3.2.1 Metodo Sísmico de Reflexão

O Método Sísmico de Reflexão é muito utilizado na indústria do petróleo, pois

fornece alta definição das feições geológicas de subsuperfície sendo seu custo

relativamente baixo. A maior parte dos investimentos em prospecção sísmica é

aplicada na Sísmica de Reflexão, onde o produto final são imagens das estruturas e

camadas geológicas em superfície, apresentadas das mais diversas formas e que

são disponibilizadas para o trabalho dos intérpretes.

Segundo Martins (2001), uma maneira simples de analisar os aspectos

geométricos das ondas registradas é através do modelo esquematizado na Figura

3.3. Este modelo apresenta uma interface delimitando dois pacotes de rochas com

diferentes impedâncias acústicas, resultado do produto de diferentes constantes

elásticas e diferentes densidades (I = ρ.V). (Ribeiro, 2001)

Figura 3.3(a). Tal representação mostra uma interface que separa dois

pacotes de rocha com contraste de impedância acústica, ou seja, diferentes

constantes elásticas, diferentes densidades, fator determinante para o espalhamento

da energia sísmica na forma de reflexão e refração das ondas elásticas.

Figura 3.3(b), no ponto F é posicionada uma fonte de transmissão de ondas

acústicas que são injetadas no solo, através de energia mecânica ou explosiva.

Após incidir na camada parte destas ondas sofre refração e outra reflexão. As que

retornam para a superfície são ondas refletidas que são captadas por geofones

(terra) ou hidrofones (mar) conectados a um sismógrafo. As ondas que sofrem

Figura 3.2 – As diferentes velocidades das encontradas pelo método sísmico de reflexão em função das propriedades do material constituinte (Thomas, 2001).

Page 31: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

31

refração total são ondas incidentes e observando-se que essas refrações são tidas a

partir de um ângulo definido como ângulo de Incidência (ic). A caracterização deste

ponto permite identificar o início das refrações críticas (refrações para ângulos de

incidência maiores que o ângulo crítico), e delimita as reflexões subcríticas e

supercríticas (reflexões associadas a ângulos de incidência menores e maiores,

respectivamente, que o ângulo crítico). Os arranjos das fontes-receptores são

projetados para detalhar os registros das reflexões na região subcrítica (Martins,

2001apud Ribeiro, 2001).

Observe que as ondas que se propagam diretamente da fonte aos receptores

também são captadas e possuem expressão matemática definida por:

(3) td = x/V1,

A equação anterior define uma reta que passa pela origem do plano

cartesiano (x, t). O eixo horizontal x define o eixo dos afastamentos (offsets), e o

eixo vertical t caracteriza os tempos de percurso. Assim, na equação anterior, x é a

distância entre a fonte e o receptor, e td é o tempo de percurso da onda direta

medida no receptor.

Isolando-se um dos raios refletidos possibilita deduzir que o tempo de

percurso desde a fonte até o receptor será expresso por:

(4) tr2 = to + ( x/V1)

2,

onde to = 2d/V1 é o tempo duplo para a incidência normal e d é a espessura da

camada que compõe o modelo em análise (Martins, 2001).

Figura 3.3 – Reflexão das ondas em camadas com diferentes impedâncias acusticas (Martins, 2001).

Page 32: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

32

3.2.2 Processamento de dados Sísmicos

O objetivo do processamento é produzir imagens da subsuperfície com a

máxima fidelidade possível, atenuando as várias distorções que afetam no método.

O produto final é uma seção sísmica podendo ser definida como o mapeamento em

tempo das feições geológicas da subsuperfície ao longo de um perfil. O subproduto

do processamento de dados é adquirido através da utilização de técnicas de

inversões com estimativa das impedâncias acústicas dos principais pacotes

rochosos ao longo de um perfil.

As etapas de edição podem ser simplificadas por: Ordenação da Família

CDP, Correção Estática, Análise de Velocidades e Correção de NMO, Empilhamento

e Migração. Formando assim um núcleo de processamento de dados.

Edição – Nesta etapa os dados são preparados para o processamento, pois a

análise destes dados tem como finalidade principal eliminar os traços ruidosos e os

traços danificados por problemas instrumentais. Existem formas automáticas de

edição, como o critério de amplitudes anômalas. Um importante procedimento

executado nessa fase é a gravação da geometria de aquisição nos headers dos

traços sísmicos, pois os módulos de processamento necessitam das informações da

geometria de tiro nos traços para poder executar as etapas adiante.

Ordenação da Família CDP – Os registros que são selecionados na edição

possuindo informações da geometria de aquisição gravada nos headers sofrem uma

ordenação, com o objetivo de agrupa-los uma vez que todo ordenamento tem por

base esta técnica. Ao fim de ordenação cada grupo de traços assim compostos

contém informações de um mesmo ponto dos refletores iluminados pela geometria

de aquisição (Martins, 2001).

Correções Estáticas – Reduz os traços de um sismograma para um mesmo

datum, elimina desta maneira o deslocamento dos picos de reflexão causado por

irregularidades topográficas ou mudanças abruptas na camada superficial de baixa

velocidade (Dourado, 2001). Estes deslocamentos são provocados principalmente

pelas camadas de intemperismo resultando nestes deslocamentos verticais, pois as

zonas próximas à superfície são constituídas por materiais muito heterogêneos. São

consideravelmente espessas em regiões tropicais e geram várias formas de ruídos

(ground-roll) que interferem de forma destrutiva com as reflexões. Quando as ondas

geradas nessas camadas sofrem atrasos durante a propagação, resultam em erros

Page 33: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

33

de posicionamento dos refletores subjacentes a Zona de Baixa Velocidade (ZBV)

(Martins, 2001).

Analises de Velocidades e Correções de NMO – A análise de velocidades

estima a função velocidade para o empilhamento de dados. As velocidades de

empilhamento (VNMO) conforme o ambiente de aquisição de dados vai ser

determinado de maneiras distintas, em caso terrestre normalmente executa a

análise de velocidades para vários CDP’s estrategicamente escolhidos. Adota-se um

intervalo de trabalho e um incremento para as velocidades, aplicado ao CDP a partir

do valor inicial do intervalo escolhido até o valor final, executando as correções NMO

conforme a equação: ∆tn = tr – t0 (tr é tempo de reflexão e t0 é extraído diretamente

do CDP). A Correção NMO coloca todos os traços de um sismograma com offset

igual a zero, ou seja, afastamento entre fonte e geofones será anulado. Desta

maneira os picos refletidos perderão a feição hiperbólica e se alinharão feito essa

correção os traços pertencentes a um mesmo ponto em subsuperfície são

estaqueados (somados) aumentando desta maneira a relação sinal ruído (Martins,

2001).

Empilhamento – este procedimento é simples, porém aplicado após os

procedimentos de correções estáticas e das correções de NMO. Um somatório de

numero de traços de CDP é executado respeitando-se as posições as posições das

amostras em tempo, gerando um único traço sísmico para cada CDP empregado.

Os traços resultantes comporão a seção sísmica sem correção devido a inclinação

dos refletores em subsuperfície. Entretanto procedimentos como migração e pré-

empilhamento serão capazes de gerar seções sísmicas com refletores mais

corretamente posicionados em subsuperfície. A atenuação de ruídos incoerentes

pelas interferências destrutivas representa uma vantagem do empilhamento CDP,

eventos que possuem coerência nos traços laterais tem a amplitude reforçada após

o empilhamento, enquanto os eventos incoerentes são atenuados. As múltiplas

normalmente causadas pela lamina d’água em dados marítimos, são parcialmente

atenuadas com o empilhamento (Martins, 2001).

Migração – Traços sísmicos empilhados pode ser imaginados como fontes e

receptores de uma família CDP que estivessem posicionados em um mesmo ponto

da superfície (Martins, 2001).

A migração é um modelamento inverso, uma vez que utiliza a seção sísmica

empilhada para obter uma seção geológica real da subsuperfície (Silva, 2004 apud

Page 34: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

34

Andrade, 2009). Tem como objetivo principal a correção da posição das reflexões na

seção sísmica, por causa das distorções causadas pelas estruturas com inclinações

(falhas, estratos inclinados, sinclinórios, anticlinórios, etc.) ou camadas inclinadas em

subsuperfície, resultando em uma seção sísmica que represente a geologia de

subsuperfície mais próximo da realidade.

4 INTERPRETAÇÃO SÍSMICA

A Interpretação sísmica agrega diversas metodologias científicas, que usam

dados sísmicos para obter um diagnóstico mais próximo da realidade do

comportamento estrutural, estratigráfico ou de caracterização físico-química da

geologia em subsuperfície.

O desenvolvimento da Interpretação sísmica se deu a partir da necessidade

de novas tecnologias para prospecção de hidrocarbonetos envolvendo

conhecimento de Geologia e Geofísica. É fundamental para um intérprete ter

conhecimento de Sedimentologia, Estratigrafia, Estratigrafia de Sequências,

Paleontologia, Geologia do Petróleo, Geologia Estrutural, Geologia Tectônica,

Geologia Histórica, Sísmica, Sismoestratigrafia e Geofísica de Poço, como também

o domínio de softwares específicos para a interpretação, que possibilitarão o

reconhecimento de uma série de feições geológicas através de padrões típicos

relacionados com um histórico de deposição sedimentar, variação lateral de fácies,

domo de sal, evolução estratigráfica e etc.

Basicamente, a interpretação sísmica pode ser dividida em dois segmentos a

interpretação sismoestrutural e sismoestratigráfica, podendo ser utilizada para:

busca de reservatórios na exploração de gás e óleo; monitoramento dos fluidos em

um reservatório através da Sísmica 4D, na fase explotatória; localização e

delimitação de jazidas minerais, na exploração mineral; evolução estrutural e

estratigráfica na produção científica, dentre outras.

4.1 SISMOESTRUTURAL

Na Interpretação sismoestrutural procura-se mapear na seção sísmica as

estruturas geológicas compondo um modelo estrutural da área. Podendo ser

representado, em blocos diagramas ou em mapas.

Page 35: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

35

Falhas e dobras são estruturas importantes no mapeamento para prospectar

hidrocarbonetos. As falhas abertas servem como condutos durante a migração do

hidrocarboneto de uma rocha geradora, se acumulando em uma rocha reservatório.

As falhas fechadas e as dobras podem servir na formação de armadilhas, ou seja,

sela a rocha reservatório impedindo que o hidrocarboneto continue migrando, sendo

assim gera trapas que acumulam óleo e gás, podendo ser classificadas essas trapas

como estratigráficas ou trapas estruturais.

Estruturas como Domos de Sal e Domos de Argila também são importantes,

pois podem ser rochas selantes na formação de trapas. Os evaporitos apresentam

uma característica importante, por se apresentar certa plasticidade pode sofrer uma

pressão de rochas sobrejacentes fazendo com que migre, este deslocamento pode

provocar esforços nas rochas encaixantes gerando dobras e falhas, que por sua vez

pode criar trapas e falhas que podem servir como condutos migratórios.

4.2 SISMOESTRATIGRAFIA

A sismoestratigrafia é a aplicação da estratigrafia de sequência na sísmica,

permitindo entender o preenchimento de uma bacia dividindo a em pacotes

geneticamente relacionados e delimitados pelas suas discordâncias e concordâncias

correlativas (Holz, 2010)

4.2.1 Variáveis que controlam a sedimentação

A sedimentação é geralmente controlada por uma combinação de processos

autogênicos e alogênicos que determinam a distribuição dentro de um sistema

deposicional, o empilhamento em maior escala e os padrões dos sistemas

deposicionais dentro de uma bacia sedimentar (Catuneanu, 2006).

Os processos autogênicos são particularmente importantes em uma pequena

escala dentro do sistema, normalmente utilizado em estudos de métodos

convencionais de sedimentologia e análise de fácies. Os processos alogênicos são

diretamente importantes em uma sequência estratigráfica, por sua vez controlam a

arquitetura de grande escala no preenchimento de uma bacia.

São quatro as variáveis que controlam a sedimentação e variação dos

padrões de empilhamento dos estratos, além da distribuição de litofácies nas bacias

Page 36: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

36

sedimentares: alogênico → Subsidência Tectônica, Eustasia e Clima; e autogênico

→ Aporte Sedimentar.

Subsidência Tectônica – Está relacionada ao processo de rebaixamento da

superfície terrestre com amplitude regional e local. A subsidência altera a energia do

sistema erosivo e aumenta a taxa de material depositado com relação ao

transportado pelo sistema.

Eustasia – Está diretamente relacionada com as variações do nível do mar

independente dos fatores locais como subsidência tectônica e aporte sedimentar,

pois diz respeito somente a posição da superfície do mar com referência a um

datum.

Clima – Está relacionado com as variações climáticas na atmosfera, globais e

locais, a temperatura, umidade, corrente oceânica e etc.

Aporte Sedimentar – Está relacionado com a tectônica e o clima influenciando

na área fonte através da erosão e do intemperismo, sendo importante para a

arquitetura estratigráfica de uma bacia, onde o volume e o tipo de sedimento se

apresentará na forma de padrões de empilhamento e elementos deposicionais no

espaço de acomodação criado.

4.2.2 Acomodação

A quantidade de espaço disponível para preenchimento de sedimentos,

relacionado pela distância entre o nível de base e a superfície deposicional (Jervey,

1988 apud Catuneanu 2006). Este conceito foi aplicado inicialmente para ambientes

marinhos, como ferramenta para permitir simulações matemáticas de progradação e

preenchimento sobre as margens divergentes da bacia (Jervey, 1988 apud

Catuneanu, 2006). Em ambiente marinho o nível de base foi relacionado ao nível do

mar e acomodação é o espaço criado entre este e o fundo do mar (Posamentier et

al, 1988, Apud Catuneanu, 2006). O espaço de acomodação disponível em

ambiente marinho vai depender então da variação do nível do mar e quanto de

espaço é consumido pela sedimentação (Figura 4.1).

Page 37: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

37

4.2.3 Padrões de empilhamento

Os padrões de empilhamento são fundamentais para a construção de um

modelo estratigráfico, se subdividem em progradacional, retrogradacional e

agradacional, variando em função das taxas de sedimentação e do espaço de

acomodação.

A progradação ocorre quando a taxa de sedimentação é maior que a taxa de

criação de espaço de acomodação. Os perfis vão apresentar fácies continentais

sobrepondo fácies marinhas, gerando assim uma tendência a granocrescencia

ascendente. Neste caso a linha de costa migra para o oceano (Figura 4.2).

A Retrogradação ocorre quando a taxa de sedimentação foi menor que a taxa

de criação de espaço de acomodação. Os perfis vão apresentar fácies marinhas

sobrepondo fácies continentais, gerando assim uma tendência granodecrescente

ascendente. Neste caso a linha de costa migra em direção ao continente (Figura

4.2).

Figura 4.1 – Acomodação em relação ao Nível de Base; verifica-se que esse espaço de acomodação depende tanto da variação do nível do mar quando da relação com os sedimentos no fundo marinho. (Posamentier et al, 1988).

Page 38: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

38

A agradação ocorre quando as taxas de sedimentação e de criação e espaço

de acomodação são iguais, os perfis nesse sistema não apresentam tendências

preferenciais. Neste caso a linha de costa apresenta-se estática(Figura 4.2).

4.2.4 Nível de base

O nível de base é considerado como uma superfície de referência global que

delimita a erosão da deposição em determinado ambiente. Esta superfície é

dinâmica, oscila em movimento ascendente e descendente ao longo do tempo em

relação ao centro da terra e em paralelo com aumentos e quedas eustáticas no nível

do mar. Para simplificar, nível de base é aproximável com o nível do mar (Jervey,

1988; Schumm, 1993 apud Catunenu 2006).

Em sistema fluvial o nível de base vai estar representado por qualquer corpo

de água no qual desemboca o rio, podendo ser o nível do mar, nível de um lago,

nível de um rio e etc (Posamentier & Allen, 1999 apud Catuneanu 2006).

4.2.5 Trajetórias da Linha de Costa

A interação entre a variação do nível de base e sedimentação controlam as

oscilações na profundidade da água, bem como as mudanças de transgressão e

Figura 4.2 – progradação com perfil em tendências granocrescente ascendente, retrogradação com perfil em tendências granodecrescente ascendente e agradação onde o perfil não apresenta tendências (Van Wagoner et al. 1990).

Page 39: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

39

regressão da linha de costa. (Catuneanu, 2006). Estes tipos de mudanças são

fundamentais para a estratigrafia de sequência, pois as terminações, a formação de

pacotes estratigráficos associados a determinadas tendências deposicionais, é

caracterizado por padrões específicos de empilhamento conhecido como Trato de

sistemas, sendo inserido nas variações da transgressão e regressão marinha.

Transgressão

Transgressão é o avanço da linha de costa em direção ao continente. Isto

ocorre quando as taxas de aumento do nível de base ultrapassam as taxas de

sedimentação na linha costeira, com o espaço de acomodação sendo criado mais

rapidamente que a sedimentação possa preenchê-lo e resultando na regressão das

fácies. Devido à subida do nível de base estes processos que ocorrem na zona

transicional passam a ter retrabalhamento e agradação dos sedimentos. Ocorre

também um reajuste de um ambiente continental com gradiente menos íngreme

para a zona de face de praia com gradiente mais íngreme. O deslocamento da linha

de costa para o continente tem como resultado a erosão causada pelas ondas ou

assoreamento costeiro. Litorais dominados pela erosão estão associados a

inconformidades na parte continental. Estes hiatos são de idades equivalentes com

a fase transgressiva marinha (Catuneanu, 2006).

Regressão Forçada

Regressão forçada ocorre durante o estágio de queda de nível de base

forçando a linha de costa a regredir independente da fonte de sedimentos resultando

em uma progradação. Uma variedade de processos pode ocorrer durante a

regressão forçada entre ambientes marinhos e não marinhos, incluindo a erosão,

assoreamento ou uma combinação de ambos. Estes processos afetam os ambientes

fluviais e marinhos e a relação entre um e outro vai depender da posição relativa

entre equilíbrio do fluxo de energia e a superfície do solo (Catuneanu, 2006).

Regressão Normal

A regressão normal ocorre durante estágios inicial e tardio da subida do nível

de base, quando as taxas de sedimentação ultrapassam as baixas taxas do

Page 40: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

40

aumento de nível de base. Nesta situação a sedimentação passa a ocupar o espaço

de acomodação recém-criado. A agradação está associada a um bypass e a

circulação de sedimentos resultando em uma progradação de fácies. Esta sucessão

de fácies geradas na vertical consiste em depósitos com aumento da granulometria

gradualmente para o topo. Os depósitos de regressão normal podem ser

representados por progradações deltaicas ou de plataforma marinha rasa, tendo

também como característica a agradação costeira como resultado do aumento do

nível de base.

4.2.6 Terminações Estratais

As terminações estratais são definidas pela relação geométrica entre os

estratos e a superfície estratigráfica no qual eles terminam, são melhores

observados em grandes escalas, especialmente em linhas sísmicas e grandes

escalas de afloramento. Os principais tipos de terminações estratais são:

truncamento, toplap, onlap, downlap e offlap (Catuneanu, 2006). (Figura 4.3)

O truncamento é um termo da geologia clássica e os demais termos foram

desenvolvidos pela sismoestratigrafia na década de 70 para descrever e interpretar

a arquitetura mostrada pela sísmica de reflexão (Mitchum & Vail, 1977; Mitchum et

al, 1977 apud Catuneanu, 2006).

Truncamento – Terminação de estratos contra uma superfície de erosão

sobrejacente. Os toplaps podem se desenvolver em truncamentos só que o

truncamento é mais extremo, isso implica tanto o desenvolvimento de alivio da

erosão ou desenvolvimento de uma discordância angular.

Figura 4.3 – Terminações estratais definindo a relação geométrica entre os estratos e a superfície estratigrafica (Catuneanu 2006).

Page 41: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

41

Toplap – Terminação de estratos inclinados contra a superfície sobrejacente

de ângulo mais baixo. Esta superfície representa o limite proximal da unidade

deposicional sedimentar.

Onlap – Terminações de estratos de baixo ângulo com uma superfície

estratigráfica mais íngreme. Pode ser também chamado de um lapout, marcando

uma terminação lateral de uma unidade sedimentar no seu limite deposicional. Os

Onlaps podem se desenvolver em ambientes marinhos, costeiros e não marinhos:

Onlap Marinho – desenvolve em encosta continental durante a transgressão

Onlap Costeiro – desenvolve na transgressão onde os estratos costeiros de

águas rasas ficam em onlap com as superfícies de ravinamento.

Onlap Fluvial – desenvolvem ao fim do assoreamento dentro de um sistema

fluvial, durante subida do nível de base os estratos fluviais posteriores começam a

depositar em onlap.

Downlap – Terminações de estratos inclinados sobre uma superfície de

ângulo inferior. Pode ser também chamado de baselap, por marcar a base de uma

camada em seu limite deposicional. É comum observar na base clinoformas em uma

progradação deltaica.

Offlap – Este padrão representa a mudança progressiva do avanço offshore e

das terminações superiores (mergulho acima) das unidades sedimentares dentro de

uma sequência de rochas ou estratos concordantes. Este padrão é produto da

queda do nível de base, sendo diagnóstico de regressão forçada.

4.2.7 Superfícies Estratigráficas

As superfícies estratigráficas têm uma aplicabilidade de muita importância

dentro da estratigrafia de sequência, pois são elas que delimitam os tratos de

sistemas e as sequências deposicionais. As Superfícies estratigráficas são

representadas por duas curvas, uma descreve as mudanças do nível de base no

litoral e a outra descreve as mudanças associadas na costa (transgressão e

regressão) (Catuneanu, 2006) (Figura 4.4).

Page 42: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

42

Como resultado das variações do nível de base e sedimentação Catuneanu

(2006) definiu quatro eventos que controlam as superfícies estratigráficas:

Início da regressão forçada – início da queda de nível de base na linha de

costa e está acompanhada por uma mudança de sedimentação para a erosão ou

bypass nos ambientes fluvial a marinho raso;

Fim de regressão forçada – final da queda do nível de base na linha de costa

e está marcada por uma mudança da degradação para agradação nos ambientes

fluvial a marinho raso;

Fim de regressão – durante o aumento do nível base na linha de costa

marcando o ponto em que muda o padrão de sedimentação, de regressão da linha

de costa para transgressão;

Fim da transgressão – durante o aumento do nível de base na linha de costa

marcando uma mudança na direção da variação da linha de costa da transgressão

para regressão.

Discordância Subaérea

A discordância subaérea é uma superfície formada normalmente durante a

queda do nível de base por processo subaéreo como erosão fluvial ou não

Figura 4.4 – relação dos eventos que controlam as superfícies com o nível de base (Catuneanu 2006).

Page 43: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

43

deposição, degradação eólica, pedogênese ou dissolução. Gradualmente se

estende da bacia adentro durante a regressão forçada e atinge a sua máxima

extensão no final de regressão forçada. Devido ao seu tempo e modo de formação,

correspondem aos grandes hiatos do registro estratigráfico, separando estratos que

pertencem a diferentes ciclos de mudança de nível de base e marca mudanças

abruptas de fácies bacia adentro. (Catuneanu, 2006).

Conformidade Correlativa

Existem duas conformidades correlativas na literatura a primeira foi definido

por Posamentier et al. (1988), onde conformidade correlativa representa o paleo-

fundo marinho abaixo da discordância subaérea no início da regressão forçada que

corresponde a uma superfície estratigráfica marcando uma mudança no padrão de

empilhamento de uma regressão normal para uma regressão forçada. (Catuneanu,

2008 apud Casagrande, 2010).

Existe uma proposta de Hunt e Tucker (1992), onde conformidade correlativa

representa mudança no padrão de empilhamento de uma regressão forçada para

uma regressão normal se formando em ambiente marinho no final da queda do nível

de base na linha de costa, sem exposição subaérea (Catuneanu, 2008 apud

Casagrande, 2010).

Para Catuneanu (2006) a superfície proposta por Posamentier & Vail. (1988)

seria o mesmo que a Superfície Basal de Regressão Forçada e a proposta por

Sensu Hunt e Tucker (1992), seria de fato a Conformidade Correlativa.

Superfície Basal de Regressão Forçada

A superfície basal de regressão forçada foi definido como sendo à base de

todos os depósitos que se acumulam no ambiente marinho durante a regressão

forçada da linha de costa (Hunt & Tucker, 1992 apud Catuneanu, 2006). Isto

corresponde a definição de Conformidade Relativa proposta por Posamentier et al

(1992) (Catuneanu, 2006).

Para Catuneanu (2006) este termo é utilizado para se referir à base da

clinoforma mais antiga associado ao padrão offlap, sendo o paleo-fundo oceânico no

inicio do estagio da linha de costa (Catuneanu 2008 apud Andrade, 2009). Esta

superfície para ser reconhecida vai depender da preservação, conforme a magnitude

da queda do nível de base, onde o gradiente marinho e o nível de atuação das

Page 44: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

44

ondas na costa causam erosão significativa, podendo ocorrer remobilização total dos

depósitos de regressão forçada (Catuneanu, 2008 apud Casagrande, 2010).

Superfície Regressiva de Erosão Marinha

A superfície regressiva de erosão marinha é causada pelo ravinamento

regressivo durante a regressão forçada em ambientes da plataforma dominados por

ondas na região de costa. Este ravinamento ocorre porque a gradiente do fundo

marinho na zona de face de praia é inferior ao gradiente de equilíbrio das ondas

(Catuneanu, 2006).

Essa superfície constrói um truncamento na linha de tempo (diacrônico) e ao

lado da superfície de ravinamento transgressivo ficando mais difícil de serem

preservadas no registro estratigráfico (Catuneanu, 2006). Está relacionada à

regressão forçada e pode se formar em regressão normal quando as taxas de

energias estão relativamente altas, especialmente quando a trajetória da linha de

costa é horizontal e retilínea ou com baixo ângulo de mergulho (Catuneanu et al

2008 apud Andrade, 2009).

Superfície de Regressão Máxima

A superfície de regressão máxima está definida em relação à curva

regressiva-transgressiva marcando a mudança da regressão normal para a

transgressão da linha de costa, sendo assim separa estratos progradando abaixo

para estratos retrogradando acima (Catunenanu, 2006). O final da regressão da

linha de costa marca uma mudança de regimes sedimentares referente ao aporte

sedimentar e a energia do ambiente em todos os sistemas deposicionais da bacia. A

superfície máxima de inundação pode se desenvolver com um contato estratigráfico

gradacional ou discreto em muitas bacias sedimentares, sendo assim o seu

potencial de preservação é maior em ambientes marinhos rasos a profundos

ocorrendo uma tendência de onlaps pelos sedimentos agradacionais transgressivos

costeiros (Catunenanu, 2006).

Superfície de Transgressão Máxima

A superfície de transgressão máxima está definida em relação à curva

transgressiva-regressiva, marcando o fim da transgressão da linha de costa. Assim

Page 45: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

45

esta superfície separa estratos retrogradacionais abaixo de estratos que podem

variar de agradacionais a progradacionais a cima. A presença destes estratos a cima

identifica a superfície de transgressão máxima com a superfície em dados sísmicos

apresentando um padrão downlap. A mudança dos padrões de empilhamento de

retrogradacional para agradacional ou progradacional ocorre durante a subida do

nível de base, quando as taxas de sedimentação começam a superar as taxas de

aumento do nível de base.

Superfície de Ravinamento Transgressivo

A superfície de ravinamento transgressivo é originada por ações erosivas e de

remobilização de sedimentos provocadas pela ação da maré (TRS) ou das ondas

(WRS) durante a subida do nível de base e transgressão da linha de costa. Esta

superfície ocorre normalmente em plataforma aberta, onde se tem a presença da

fácies retrogradante. Em muitos casos o ravinamento é expressivo podendo erodir

os depósitos praias e fluviais depositados, sendo assim vários tipos de depósitos

podem ocorrer abaixo da superfície de ravinamento transgressivo, dependendo do

grau de escavamento (Catuneanu, 2006).

As TRS são incisões causadas pelas correntes de maré nos ambientes

costeiros durante a transgressão da linha de costa, ficando seu registro na base dos

depósitos do complexo da boca do estuário (Catuneanu, 2006).

As WSR são formadas na fácies costeira superior durante a transgressão

devido à ação das ondas no substrato marinho onde os sedimentos depositados

serão retrabalhados (Catuneanu, 2006).

4.2.8 Trato de Sistemas

O conceito de Trato de Sistemas foi introduzido para definir uma ligação de

sistemas deposicionais contínuos e contemporâneos, formando a subdivisão de uma

sequência (Brown & Fisher, 1977 apud Catuneanu, 2006).

Os Tratos de Sistemas são interpretados com base nos padrões de

empilhamentos estratais, tipos de superfícies limitantes e sua colocação dentro de

uma sequência sendo atribuídas posições específicas ao longo de uma inferida

curva de variação do nível de base na linha costeira. Dentro da variação a curva do

nível de base, se identifica quatro tratos de sistemas, que são: Trato de Sistemas de

Page 46: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

46

Nível Alto (TSNA); Trato de Sistemas de Regressão Forçada (TSRF); Trato de

Sistemas de Nível Baixo (TSNB); e Trato de Sistemas Transgressivo (TST).

Trato de Sistemas de Nível Alto

O Trato de Sistemas de Nível Alto é limitado na base por uma superfície

transgressiva máxima, suas clinoformas são marcados por downlaps e o topo é

limitado por discordância subaérea, superfície basal de regressão forçada ou

superfície regressiva de erosão marinha. Este trato se forma durante a fase tardia da

subida do nível de base quando as taxas de sedimentação são maiores que as taxas

de crescimentos, gerando uma regressão normal da costa e tem inicialmente um

padrão de empilhamento agradacionais sendo sucedidos por um conjunto de

clinoformas progradantes. (Catuneanu, 2006) (Figura 4.5).

Este trato possui um conjunto de sistemas deposicionais onde predominam

ambientes fluviais, costeiro deltas e marinho raso. Os depósitos fluviais possuem

uma tendência a ser granodecrescente ascendente, os depósitos marinhos raso tem

uma tendência granocrescente ascendente formando estratos com baixa taxa de

agradação e progradação e os depósitos deltaicos à medida que ocorre a

desaceleração da subida do nível de base a progradação passa a ser maior que a

agradação.

Page 47: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

47

Trato de Sistemas de Regressão Forçada

O Trato de Sistemas de Regressão Forçada é limitado no topo por uma

superfície composta pela discordância relativa na porção não marinha, concordância

correlativa na região abissal e porções retrabalhadas pela superfície regressiva de

erosão marinha na sua fase inicial. Na base é limitado pela superfície basal de

regressão forçada e pela porção mais antiga da superfície regressiva de erosão

marinha. Este trato de sistemas inclui todos os estratos acumulados em uma bacia

sedimentar durante a regressão forçada da linha de costa. De acordo com os

modelos da estratigrafia de sequências este trato é formado principalmente por

ambientes marinhos rasos e marinhos profundos, se acumulando ao mesmo tempo

da discordância subaérea na porção não marinha da bacia (Catunenanu, 2006).

No inicio da queda do nível de base a linha de costa avança para a bacia

junto com os depósitos fluviais que chegam a plataforma continental, na área com

ambiente não marinho passa a circular canais fluviais de alta energia e entrelaçados,

os rios assim escavam seus leitos levando sedimentos em direção aos oceanos.

Figura 4.5 – Evolução do TSNA em relação ao tempo, (a) Curva eustática indicando o ponto que ocorre, (b) geometria de empilhamento indicando o padrão de empilhamento e (c) blocodiagrama (Coe, 2003).

Page 48: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

48

Neste ambiente é comum registros de paleo-linhas deixadas com retração da linha

de costa evidenciando o processo de regressão forçada. (Figura 4.6)

Na quebra da plataforma se desenvolvem deltas de regressão forçada

apesentando terminações estratais em offlap, tendo uma granulometria mais

grosseira em relação aos deltas de regressão normal. Na região de águas profundas

começa depositar sedimentos de fluxo de gravidade (mud flows e debris flows). Na

fase final se forma turbiditos de altas densidades com canais ligados a frente

deltaica se depositando mais a frente em relação ao fluxo de gravidade.

Trato de Sistemas de Nível Baixo

O Trato de Sistemas de Nível Baixo é limitado na base pela discordância

subaérea e pela conformidade correlativa e no topo é marcado pela superfície de

máxima regressão. Esse trato é formado durante o estagio inicial da subida do nível

de base no momento em que a taxa de sedimentação é maior que a taxa de

Figura 4.6 - Evolução do TSRF em relação ao tempo, (a) Curva eustática indicando o ponto que ocorre, (b) geometria de empilhamento indicando o padrão de empilhamento e (c) blocodiagrama (Coe 2003).

Page 49: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

49

acomodação caracterizando como uma regressão normal, consequentemente seus

processos deposicionais e empilhamento padrões são dominados pela baixa taxa de

agradação e progradação em toda a bacia sedimentar (Catuneanu, 2006).

Quando a plataforma continental está parcialmente submersa durante o inicio

da subida do nível de base, após a regressão forçada, o limite basal pode se incluir

a porção mais jovem da superfície erosiva de regressão marinha (Figura 4.7).

Os principais ambientes deposicionais esperados nesse trato estão

associados a sistemas deposicionais, desde fluvial e costeiro a marinho raso e

profundo. Os depósitos não marinhos e plataformais apresentam um padrão

granodecrescente ascendente, já os depósitos associados a ambientes marinhos

profundos apresentam padrão granocrescente ascendente.

Trato de Sistemas Transgressivo

O Trato de Sistemas Transgressivo é limitado pela superfície regressiva

máxima na base, e pela superfície de transgressão máxima no topo. Este trato de

sistemas forma durante a fase de subida do nível de base, quando as taxas de

crescimento ultrapassam as taxas de sedimentação variando assim linha de costa.

Figura 4.7 - Evolução do TSNB em relação ao tempo, (a) Curva eustática indicando o ponto que ocorre, (b) geometria de empilhamento indicando o padrão de empilhamento e (c) blocodiagrama (Coe 2003).

Page 50: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

50

Ele é caracterizado por um padrão de empilhamento retrogradacional, que resultam

em geral nos perfis dentro de sucessões verticais marinhas e não marinhas com

granodecrescencia ascendente.

Como as taxas de crescimento ultrapassam as taxas de sedimentação

durante a transgressão marinha. O Trato de Sistemas Transgressivo se espera

apresentar em todos os sistemas deposicionais ao longo da bacia sedimentar, fluvial

e costeiro, marinhos rasos e marinho profundo (Figura 4.8).

5 INTERPRETAÇÃO DE DADOS

A interpretação de dados foi feita através de oito seções sísmicas do norte da

Bacia de Pelotas, sendo seis seções de orientação Dip denominadas D1, D2, D3,

D4, D5 e D6 e duas de orientação strike denominadas S1 e S2 (Figura 5.1). É

importante observar que as seções S2 e D6 não se interconectam com as demais

seções, mas estão sendo usadas para tentar auxiliar a verificação do

Figura 4.8 - Evolução do TST em relação ao tempo, Curva (a), Perfil (b) e modelo (c) (Coe 2003).

Page 51: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

51

comportamento dos padrões geológicos observados a norte através da seção D6 e a

oeste através da seção S2.

5.1 METODOLOGIA

A metodologia aplicada para confecção deste trabalho tem como ponto inicial

a consulta de trabalhos bibliográficos buscando conhecer detalhes sobre a geologia,

o arcabouço tectônico e estratigráfico da região, que é de grande importância para

subsidiar o uso das ferramentas da estratigrafia de sequências. Foi necessário o uso

dos conceitos teóricos da Geologia Tectônica, Geologia Estrutural, Estratigrafia,

Estratigrafia de Sequências, Sísmica e Sismoestratigrafia.

Figura 5.1 – Disposição das seções sísmicas na área de trabalho

Santa Catarina

Page 52: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

52

Na parte prática foi utilizado o software Geographix® LANDMARK e os seus

aplicativos para interpretação das seções sísmicas 2D. Após o carregamento de

dados começou a correlação através: da marcação das terminações dos refletores;

da ligação desses refletores marcados, formando um horizonte único; da

identificação do topo e da base de uma sequência deposicional, individualizando o

pacote sedimentar; da marcação das superfícies de downlap, toplap, onlap e

truncamento erosivo; e dos padrões de empilhamento, sendo eles progradação-

agradação, agradação-progradação e retrogradação, identificando assim os tratos

de sistemas.

5.2 RESULTADOS OBTIDOS

Foi possível identificar dez sequências, sendo que uma sequência é da Bacia

do Paraná enquanto nove sequências fazem parte da Bacia de Pelotas. O

conhecimento geológico-estratigráfico foi utilizado nas seções sísmicas para avaliar

o padrão de deposição sedimentar, verificando os processos e comportamento da

área fonte dos sedimentos que preenchem a bacia, bem como para analisar a

influência do magmatismo na fase rift, no controle da deposição sedimentar.

Foram elaboradas duas tabelas, sendo que a primeira apresenta as principais

características das sequências sedimentares mapeadas na área de trabalho (Tabela

5.1) e a segunda tabela deve ser utilizada para a compreensão dos critérios

utilizados na metodologia para separação das sequências sedimentares (Tabela 2).

Litoestratigrafia Terminações Padrão de empilhamento Tratos Distinções

SEQ 4f Cidreira e Imbé Toplap Downlaps Agradação Progradação TSNA A base é discordância de um canal espesso na seção Onlap Retrogradação TST

SEQ 4e Cidreira e Imbé Toplap Downlaps Agradação Progradação TSNA Slump; e a base é discordância de um canal espesso na seção Onlap Retrogradação TST

SEQ 4d Cidreira e Imbé Truncamentos Downlaps

Agradação Progradação TSNA Início do Slump e a presença de falhas normais

Onlap Retrogradação TST

SEQ 4c Cidreira e Imbé Toplap Downlaps Agradação Progradação TSNA Pode inferir início do Triássico e tem onlap aparente Onlap Retrogradação TST

SEQ 4b Cidreira e Imbé Toplap Downlaps Agradação Progradação TSNA Topo pode inferir fim do Jurássico Onlap Retrogradação TST

SEQ 4a Cidreira e Imbé Toplap Downlaps Agradação Progradação TSNA Único que apresenta TSNB

Onlap Retrogradação TST

Toplap e Downlap Progradação Agradação TSNB

SEQ 3b Curumim, Porto Belo, Atlântida e Tramandaí

Toplap Downlaps Agradação Progradação TSNA Bacia SAG

Onlaps Retrogradação TST

SEQ 3a Curumim, Porto Belo, Atlântida e Tramandaí

Truncamentos Onlaps

Retrogradação TST Bacia SAG

SEQ 2 Imbituba e Cassino Não Não Não Vulcano-Sedimentar

SEQ 1 Serra Geral Não Não Não Basalto da Bacia do Paraná

Tabela 5.1 – Apresentando as principais características das sequências e distinções das Sequências Sedimentares.

Page 53: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

53

Marcações nas Seções Cor

Terminações

Superfície de Transgressão Máxima

Superfície de Regressão Máxima

Discordância Subaérea

Falhas

SEQ 1 – Não caracterizada na Bacia de Pelotas. Essa sequência encontra-se

como embasamento na porção nordeste e é constituída por um espesso depósito

magmático da Formação Serra Geral que recobre os sedimentos da Bacia do

Paraná (Figura 5.2).

SEQ 2 – A sequência 2 pertence a fase rift, nas fases rift, sin-rift e pós-rift se

encontra rochas vulcânicas, o que dificulta o mapeamento desta sequência, pois isto

ocorre em função da transição da Bacia do Paraná para a Bacia de Pelotas ser

gradual, de forma que os processos magmáticos da Formação Serra Geral migre

para a Formação Imbituba podendo esse vulcanismo ser geneticamente

correlacionados e de difícil separação, já que a estratificação de litologias

semelhantes são dificilmente visíveis as distinções geofísicas. O processo de

estiramento crustal da Bacia de Pelotas foi de forma rápida e intensa, o que

dificultou o desenvolvimento desta fase, portanto a fase rift teve um registro

diferenciado das demais bacias de margem leste Brasileira. Esta sequência pôde ser

poucas vezes observada com clareza, nas Seções D1, D2 e D3 os critérios para

identificação foram o preenchimento de meio grabéns com falha de bordo para leste

e através do seu padrão de deposição vulcano-sedimentar aparentemente, onde se

verifica que o depósito vulcânico caracterizado como Formação Imbituba

apresentando um padrão sísmico de refletores sedimentares pela presença da

Formação Cassino (Figura 5.2).

DS

SRM TST

TSNA

TSNB

STM

Tabela 5.2 – Apresenta a marcação das terminações estratais e das superfícies destacando a cor usada em cada uma delas.

Page 54: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

54

SEQ 3 – A Sequência 3 está associada a fase pós-rift, onde já se observa a

existência de uma rampa e pode ser associada regionalmente às formações

Curumim, Porto Belo, Atlântida e Tramandaí. Foi separada em 3a e 3b, pois ocorre

uma discordância sutil que foi interpretada como um hiato deposicional. (Figura 5.3).

SEQ 3a – A Sequência 3a observa-se na sua base uma discordância

facilmente identificável e de clara distinção, pois esta se encontra sobre a Crosta

Continental, sobre a Crosta Oceânica e sobre a SEQ 2 formadas pela Formação

Figura 5.2 – Seção D1 mostrando a SEQ 2 como um meio grabén e o seu padrão vulcano-sedimentar.

Figura 5.3 – Seção D1 onde se verifica a SEQ 3a e 3b, separada por uma discordância erosiva.

SEQ 1

Page 55: interpretação sismoestratigráfica do norte da bacia de pelotas

55

Imbituba com Formação Cassino respectivamente basaltos e conglomerados. A alta

amplitude é característica das diferentes rochas constituintes por isso apresenta

abrupta mudança de padrão sísmico. Seu padrão deposicional é retrogradante e

suas terminações estão bem representadas por onlaps o que caracteriza um TST.

Apresenta um padrão de bacia tipo SAG no topo, ou seja, uma bacia contínua

extensa e rasa que nas bacias da margem leste separam a fase pós-rift da fase

oceano aberto (Figura 5.4).

SEQ 3b – A sequência 3b é separada da 3a por uma discordância, percebe-

se levemente na linha D1 que existem terminações do padrão truncamento erosivo

interpretado como uma retardação da subida do nível do mar, posteriormente volta a

ter a subida e a repetição dos padrões de empilhamento retrogradacional com

terminações em onlaps caracterizando um TST. Logo acima verifica a presença de

uma STM e os padrões de empilhamento mudam para agradacionais-

progradacionais e as terminações são bem definidas por toplaps e downlaps, o que

nos faz interpretar um TSNA (Figura 5.5).

Figura 5.4 – Seção D1 apresenta na SEQ 3a um padrão retrogradacional com presença de onlap e truncamento no topo caracteriza uma erosão causada quando ocorreu um leve hiato deposicional.

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56

SEQ 4 – A Sequência 4 está associado à fase de oceano aberto com quebra

da plataforma e é composta pelas Formações Cidreira e Imbé. Essa sequência foi

dividida em sequências deposicionais (4a, 4b, 4c, 4d, 4e e 4f) por acompanhar uma

evolução marcada por eventos deposicionais e erosionais que se sucedem ao longo

do tempo. Isso é resultado da variação dos níveis de base ocasionada pela ação

conjunta das variáveis controladoras do registro estratigráfico, são elas: subsidência,

aporte sedimentar e variação no nível relativo do mar. Caracterizada na estratigrafia

de sequência por transgressões e regressões marinhas uma característica marcante

nas bacias do leste brasileiro.

SEQ 4a – A Sequência 4a está na base das sequências caracterizadas da

fase oceano aberto e é a única sequência a se encontrar o TSNB. Verifica-se esse

trato na base com padrões deposicionais de progradação-agradação evidenciando o

mesmo e suas terminações são discretos toplaps e downlaps vistos na seção D1.

Na seção S1 também podem ser vistos alguns padrões de TSNB, pois em alguns

momentos ela está se comportando como um modelo deposicional de seção Dip em

função da direção e do comportamento da chegada dos sedimentos que estão

Figura 5.5 – Seção D1 com retrogradação na base (TST) e agradação-progradação (TSNA) no topo com terminações em toplap e downlap.

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associados à geomorfologia da área. Acima do TSNB é separado por uma SRM é

muito claro o padrão retrogradacional dos sedimentos na seção D1, assim como nas

demais seções D2 e D3 as terminações em onlaps são claras, evidenciando a

ocorrência desse pacote como um TST. No topo da sequência separado do TST por

uma STM temos um padrão deposicional de agradação-progradação o caracteriza

um TSNA e se verifica uma forte representação de toplaps e downlaps bem

definidos seção D1(Figura 5.6).

SEQ 4b – A Sequência 4b é delimitada da sequência 4a por uma forte

discordância erosiva. Esta sequência vai apresentar em sua base padrão

deposicional retrogradacional e onlaps bem definidos na seção D1. Este pacote

sedimentar está limitado pela STM na sua parte superior, sendo que os padrões

deposicionais acima dessa superfície são caracterizados por agradação-

progradação e bem representados nas seções D3 e D4 (Figura 5.7), mostrando suas

terminações em toplaps e downlaps bem definidos.

Figura 5.6 – Seção D1 com progradação-agradação, toplaps e downlaps na base, seguido de retrogradação acima e agradação-progradação com toplaps e downlaps no topo.

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SEQ 4c – A Sequência 4c é delimitada da Sequência 4b por uma

discordância, que em várias seções Dip, apresenta uma erosão do TSNA da

sequência 4b. É importante a observar que se pode associar esta discordância ao

Terciario/Eoceno, pela ocorrência de vulcanismo desta idade em quase todas as

bacias do leste brasileiro (Figura 5.8). Na base dessa sequência temos um padrão

deposicional retrogradacional com terminações em onlap bem definidas

caracterizando como TST, é importante a atenção das marcações de onlap desta

sequência, pois em algumas seções, como na seção D1, existe uma feição de onlap

aparente, ou seja, isto ocorre porque as terminações em onlap são perfeitas quando

não ocorrem deposições encosta (Figura 5.9a e 5.9b), quando ocorrem deposições

na encosta contemporânea aos preenchimentos em onlap (Figura 5.9c), resulta no

que chamamos de onlap aparente (Figura 5.9d), o que por sua vez, pode nos fazer

cometer o erro de separar rochas contemporâneas como se fosse de idades

diferentes, e assim delimitar a base do TST nesta sequência em um local errado

(Figura 5.10). O topo do TST é limitado pela STM, acima dessa superfície ocorre um

padrão agradacional-progradacional, bem visível nas seções D2, D3, D4 e D5,

apresentando terminações em toplap e downlap bem definidos (Figura 5.11).

Figura 5.7 – seção D4 com retrogradação na base seguido de terminações em onlaps, no topo ocorre agradação-progradação com toplaps e downlaps.

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.

Figura 5.8 – Seção S1 com a deformação da discordância entre as SEQ 4b e 4c evidenciando que o vulcão responsável foi desta época e podendo ser associado ao vulcanismo do eoceno que ocorre nas bacias do leste brasileiro.

Figura 5.9 – Modelo exemplificando a evolução de um Onlap. Em (a) o onlap gerado é de forma perfeita por não ocorrer deposição na rampa como mostra em (b) e em (c) mostra a ocorrência de deposição na rampa contemporânea ao preenchimento onlap o que em (d) mostra a feição chamada onlap aparente. (Cartwright et al 1993).

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SEQ 4d – A sequência 4d é delimitada da sequência 4c por uma

discordância. Esta sequência tem como característica a presença de falhas normais

bem expressivas e apresenta uma rampa mais representativa onde ocorre a

Figura 5.11 – Seção D3 com agradação-progradação, toplaps e downlaps.

Figura 5.10 – Seção D1 mostrando um onlap aparente em uma seção sísmica na sequência 4c.

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presença de slump. Inicia-se com um padrão deposicional retrogradacional e com

terminações em onlaps caracterizando como TST que está delimitado acima por um

STM. Acima desta superfície apresenta padrão deposicional em agradação-

progradação com a presença de terminações em truncamentos e downlaps

caracterizando como TSNA (Figura 5.12), que não pode ser visto na seção D2, pois

encontra-se erodido pela discordância superior que é a base de um canal visível na

seção S1.

SEQ 4e – A sequência 4e é delimitada da sequência 4d por uma

discordância, na seção S1 essa discordância representa a base de um canal com

espessura lateral aproximada de 30 Km, é identificado slump bem visível nessa

sequência, principalmente na seção D2 que é perpendicular a seção S1 e passa

pelo centro do canal. Na seção D5 verifica em sua base padrão deposicional

retrogradante apresentando terminações em onlaps, caracterizando-o como um TST

que é delimitado acima por uma STM. Posteriormente os sedimentos apresentam

um padrão deposicional agradacional-progradacional e suas terminações são bem

definidas em Toplap e Downlap representando um TSNA (Figura 5.13).

Figura 5.12- Seção D5 com retrogradações apresentando onlaps na base e no topo agradação-progradação com truncamentos e downlaps.

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SEQ 4f – A sequência 4f é delimitada da 4e por uma discordância erosiva,

nas seções dips apresenta uma intensa erosão e verifica feições podendo ser

interpretadas como canais de um sistema meandrante. Nessa sequência a base

representa um padrão de deposição retrogradante com a presença de onlaps o que

identifica um TST delimitado no topo por uma STM, apresenta slump com menor

representação que a sequência 4e, porém ainda indica uma rampa íngreme.

Posteriormente os estratos tem um padrão deposicional de agradação-progradação

e contendo terminações em toplaps e downlaps representando assim um TSNA

(Figura 5.14).

Figura 5.13 – Seção D5 com retrogradação na base e no topo com agradação-progradação, toplaps e downlaps.

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5.3 DISCUSSÃO

Verificamos que a área é formada por amplas sequências sedimentares sobre

uma sequência vulcano-sedimentar, e uma parte de crosta continental e de crosta

oceânica. As sequências sedimentares tem um controle deposicional tanto

autogênicos quanto alogênicos. O processo autogênico pode ser facilmente visto

pelo espesso vale inciso que consta na seção S2, onde se interpreta ser a principal

fonte de sedimentos de chegada à área no início das deposições (Figura 5.15). Os

processos alogênicos tem tamanha importância principalmente pela influência do

controle tectônico e magmático que apresenta a área de trabalho.

Figura 5.14 – Seção D4 com retrogradação na base. No topo apresenta agradação-progradação e

downlaps.

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A Figura 5.16 representa a área de estudo com o índice de cores indicando o

tempo de respostas das ondas em milissegundos, estas respostas foram

interpretadas em velocidades e representa o horizonte que limita do embasamento

das sequências sedimentares. O que se percebe é que a diferença batimétrica é

significante sendo interpretadas pelos diferentes tempos de resposta, enquanto a

seção S2 apresenta valores de tempo de respostas, na sua maior profundidade

próximos de 2.500ms a seção S1 apresenta valores de tempo de respostas, na sua

menor profundidade próximo dos 5000ms, apresentando assim uma declividade

significante da área. Na seção S2 temos um vale com espessura de

aproximadamente 30 km (Figura 5.15), que está representado no mapa (Figura

5.16), a sul na seção S2, está de cor vermelho indicando um tempo de resposta

2.500ms aproximadamente. Através dos dados extraídos desta figura foi criado um

bloco diagrama procurando visualizar a geomorfologia da área. (Figura 5.17)

Este vale citado anteriormente, interpretado como fonte principal dos

sedimentos no início da deposição, em direção a seção S1, mostra que a deposição

dos sedimentos, ora se apresenta com maior fluxo para sul, ora com maior fluxo

para norte, fazendo com que na seção strike S1 apresente padrões deposicionais de

seções dip mostrado na sequência SEQ 3. Os sedimentos que se acumularam na

SEQ 3a, foram dobrados por tensão aplicada pela chegada dos sedimentos

superiores isto visto na seção S1 (Figura 5.18).

Figura 5.15 – Seção S2 com vale inciso interpretado ser principal fonte de sedimentos da área.

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Figura 5.16 – Apresenta as seções com respostas em tempo tomando como base a discordância que delimita o embasamento.

Santa Catarina

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Na sequência SEQ 4e percebe-se que a deposição dos sedimentos não é

mais controlada pelo vale inciso, os sedimentos que chegam à área tem um controle

da plataforma, que apresenta um canal bem formado tomando como base a

discordância erosiva com a SEQ 4d (Figura 5.18).

Figura 5.17 – Bloco diagrama representando as seções com respostas em tempo tomando como base a discordância que delimita o embasamento, proporcionando melhor a visualização da geomorfologia.

S1

S2

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Na seção S1 se tem a interpretação da discordância que pode ser inserida

como a separação do Cretáceo/Terciário pela presença do Vulcão. Este pode ser

associado ao vulcanismo do eoceno, que ocorre nas demais bacias do leste

brasileiro, a discordância entre a SEQ 4b e SEQ 4C é assim interpretada por

perceber a sua deformação deste refletor causada pelo vulcão (Figura 5.19).

O mapa da (Figura 5.20) é referente à discordância entre as SEQ 4d e SEQ

4e já próximo a superfície e foi utilizado para se ter uma noção de como

possivelmente encontra-se a situação mais atual da geomorfologia e de como

resultou a deposição sedimentar posterior da área, representado no bloco diagrama

(Figura 5.21).

Figura 5.18 – Seção S1 apresenta sedimentos dobrados e apresentando características de seção Dip, nas sequências 4e e 4f sendo um vale na interseção com as seções D1 e D3.

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Figura 5.19 – Vulcão interpretado como sendo do Eoceno, pois apresenta um padrão dos demais ocorrentes nas bacias do leste brasileiro, deforma o refletor que separa as SEQ 4b e 4c evidenciando ser mais tardio e a partir disso delimitar o Cretáceo do Terciário.

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Figura 5.20 – Apresenta as seções com respostas em tempo tomando como base o discordância 14 que delimita as SEQ 4d e 4e.

Santa Catarina

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5.4 CONCLUSÃO

O estudo estratigráfico-geológico da porção norte da Bacia de Pelotas a partir

da análise sismoestratigráfica de oito seções sísmicas permitiu as seguintes

conclusões:

1 – O contato Crosta Oceânica foi interpretado a partir da identificação dos

SDRs presente nas seções sísmicas.

2 – foram mapeadas 9 sequências de 3ª ordem, sendo elas a SEQ 2 de

caráter vulcano-sedimentar admitindo ser da fase rift, as SEQs 3a e 3b com

magmatismo na base e um padrão tectônico típico de bacia SAG admitindo

pertencer a fase pós-rift e as SEQs 4a, 4b, 4c, 4d, 4e e 4f que são de origem

sedimentar de uma fase Oceano Aberto.

3 – Descobriu-se um controle morfológico em que se interpreta que a fonte

principal dos sedimentos no início das deposições é de um vale inciso bem

representado na Seção S2.

Figura 5.21 – Bloco diagrama representando as seções com respostas em tempo tomando como base a discordância 14 que encontra-se próximo ao topo das seções, proporcionando melhor a visualização da geomorfologia em dias mais atuais.

S1

S2

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4 – Foram interpretados três tipos de vulcanismo: o primeiro da Formação

Serra Geral que pertence a Bacia do Paraná; o segundo a formação Imbituba

pertencente a da Bacia de Pelotas; e terceiro a Formação Curumim pertencente a

Bacia de Pelotas.

5 – Constatou se que os evaporitos da Formação Ariri que ocorrem desde o

Sul da Bacia de Santos e que a alguns autores citam que se apresentam de forma

incipiente no norte Bacia de Pelotas não estão presente na área de estudo.

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ANEXO I – Seção Sísmica D1

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ANEXO II – Seção Sísmica D2

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ANEXO III – Seção Sísmica D3

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ANEXO IV – Seção Sísmica D4

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ANEXO V – Seção Sísmica D5

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ANEXO VI – Seção Sísmica D6

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ANEXO VII – Seção Sísmica S1

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ANEXO VIII – Seção Sísmica S2

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