interpretação do monumental livro de gênesis parte 1
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Parte I
2
Interpretação do Monumental Livro
de Gênesis
Parte 1
Silvio Dutra
NOV/2015
3
A474 Alves, Silvio Dutra Interpretação do monumental livro de gênesis./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 446p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Criação. 3. Redenção. 4. Israel. 5. Estudo Bíblico. I. Título.
CDD 222.11
CDD
230.227
4
Sumário
O Primeiro Dia da Criação (Gênesis 1.1-5).. 6
O Segundo Dia da Criação (Gênesis 1:6-8). 8
O Terceiro Dia da Criação (Gênesis 1:9-13) ..................................................................................
9
O Quarto Dia da Criação (Gênesis 1:14-19). 11
Quinto Dia da Criação (Gênesis 1:20-23).. 14
O Sexto Dia da Criação (Gênesis 1.24-31).. 16
O Descanso de Deus Relativo à Criação
(Gênesis 2.1-3) .........................................................
22
Detalhes sobre a Criação do Homem
(Gênesis 2.4-7) ........................................................
23
O Homem no Jardim do Éden (Gênesis
2.8-17) ..........................................................................
30
Detalhes sobre a Criação da Mulher
(Gênesis 2.18-25) ...................................................
39
A Queda do Homem em Razão do Pecado
(Gênesis 3.1-7) .........................................................
47
Deus Vem ao Encontro do Homem Caído
(Gênesis 3.8-13) ......................................................
57
A Maldição da Serpente (Gênesis 3.14,15). 67
A Maldição da Mulher (Gênesis 3.16)........ 75
A Maldição do Homem (Gênesis 3.17-19). 79
A Promessa da Redenção (Gênesis 3.20-24) .................................................................................
82
A História de Caim (Gênesis 4:1-16)............. 89
A Família de Caim (Gênesis 4.16-24)........... 97
O Nascimento de Sete (Gênesis 4.25,26).... 105
Genealogia de Adão a Noé (Gênesis 5)...... 111
O Dilúvio (Gênesis 6)........................................... 120
O Dilúvio (Gênesis 7)............................................ 133
5
O fim do dilúvio (Gênesis 8)............................ 138
Gênesis 9................................................................... 145
Repovoamento da Terra depois do
Dilúvio (Gênesis 10).............................................
154
Repovoamento da Terra Depois do
Dilúvio (Gênesis 11)..............................................
161
A Chamada de Abraão (Gênesis 12)............. 168
Gênesis 13.................................................................. 178
Gênesis 14................................................................. 185
Gênesis 15................................................................. 192
Gênesis 16................................................................. 201
Gênesis 17.................................................................. 206
6
Gênesis 1
O Primeiro Dia da Criação
(Gênesis 1.1-5)
“1 No princípio, criou Deus os céus e a terra.
“2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas
sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus
pairava sobre a face das águas.
3 Disse Deus: haja luz. E houve luz.
4 Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.
5 E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi
a tarde e a manhã, o dia primeiro.”
No princípio Deus criou, no hebraico, bará, que
significa criar a partir do nada, todo o universo,
sem nenhuma matéria existente anterior e nenhuma energia existente anterior.
No verso 2 nós temos a afirmação de que a terra era sem forma e vazia.
No hebraico, a palavra para “sem forma” é
“tohu”, que significa desértico.
E para vazio a palavra é “bohu”, que
significa “um vazio sem utilidade”, isto é, algo
que não pode ser utilizado na forma em que se encontra.
A palavra para abismo, é tehom, indicando as
profundezas das águas por sobre as quais o
Espírito Santo pairava no início da criação.
7
O Espírito estava pronto e preparado para gerar
todas as coisas que seriam chamadas à
existência pela palavra de ordem de Deus.
Vemos no ato de Deus ter feito separação entre
luz e trevas (v. 4), entre águas e águas (1.6) para
criar o firmamento no meio das águas que
estavam envolvendo toda a terra, e a que estava acima da terra, o seu poder para separar-nos do
mundo para Ele, das trevas do pecado para a luz
de Cristo, e formar no final de tudo, a partir de
um vazio e de um nada um lindo jardim no nosso coração para que o Espírito habite nele
eternamente; assim, como do vazio da terra fez
no final um lindo jardim para a habitação do
homem que criou.
A citação no verso 4 de que “viu Deus que a luz
era boa” indica claramente pela ausência da
mesma citação para as trevas, que onde não haja uma ação de Deus criando luz, a condição
natural é de trevas.
A bondade incomparável de Deus demanda que tudo o que Ele cria, tudo que é fruto da sua ação,
seja bom.
É importante lembrar que quando Deus criou a luz no primeiro dia o sol não havia sido ainda
criado, pois somente o seria no quarto dia.
E já há uma referência a tarde e manhã, sem a
existência do sol.
Antes de criar o corpo celeste que iluminaria a
terra (o sol), e que viria a ser a fonte permanente
de luz sobre a terra, Deus criou a luz.
8
O Segundo Dia da Criação (Gênesis 1:6-8)
“6 E disse Deus: haja um firmamento no meio
das águas, e haja separação entre águas e águas.
7 Fez, pois, Deus o firmamento, e separou as águas que estavam debaixo do firmamento das
que estavam por cima do firmamento. E assim
foi.
8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde
e a manhã, o dia segundo.” (Gên 1.6-8).
Deus disse no verso 6, que houvesse uma
expansão (firmamento) no meio das águas, e isto significa abrir um espaço entre as águas,
para formar os céus, e fez isto separando as
águas das águas.
E Deus fez a expansão e separação das águas que
estavam debaixo do firmamento, das águas que
estavam sobre o firmamento.
Assim o que é dito aqui é que Deus criou os céus,
como se conclui no verso 8.
Não havia nenhum céu envolvendo a terra antes
do segundo dia.
Esta é a primeira verdade nesta revelação. Uma segunda, é que a água foi o elemento básico na
criação, pois em II Pe 3. 5, se afirma que a terra
surgiu da água e através da água pela palavra de
Deus.
E realmente a água é o elemento básico
sustentador da vida do mundo físico.
A palavra "expansão, ou firmamento" é a palavra
râqiya, que no hebraico, significa expansão.
Significa esparramar para fora.
9
Aqui é dito que o espaço está sendo ampliado.
Isto pode ser mais do que uma citação à
atmosfera que envolve a terra, pois pode incluir
também a ideia da formação do espaço onde seriam colocados todos os astros do universo no
quarto dia da criação, inclusive o sol e a lua.
Pelo relato bíblico, a terra seria o centro do
universo, o centro da concentração das
atenções de Deus, especialmente em razão do propósito por Ele fixado de criar o homem para
habitá-la.
“Porque assim diz o Senhor que criou os céus, o
único Deus, que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a fez para ser um caos, mas
para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há
outro.” (Is 45.18).
O verso 8 conclui a breve narrativa do segundo
dia da criação, afirmando que Deus chamou ao firmamento que criou de céus. Certamente é
uma referência ao universo e não ao terceiro
céu que é a habitação de Deus e dos anjos, dos
serafins, dos querubins, dos santos que partiram para a sua morada celestial.
O Terceiro Dia da Criação (Gênesis 1:9-
13)
“9 E disse Deus: Ajuntem-se num só lugar as
águas que estão debaixo do céu, e apareça o elemento seco. E assim foi.
10 Chamou Deus ao elemento seco terra, e ao
ajuntamento das águas mares. E viu Deus que
isso era bom.
10
11 E disse Deus: Produza a terra relva, ervas que
deem semente, e árvores frutíferas que,
segundo as suas espécies, deem fruto que tenha
em si a sua semente, sobre a terra. E assim foi.
12 A terra, pois, produziu relva, ervas que davam
semente segundo as suas espécies, e árvores
que davam fruto que tinha em si a sua semente, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso
era bom.
13 E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.”
A terra ainda estava despovoada, inabitável e
não em sua forma final até o terceiro dia da criação.
Até agora nós tínhamos uma terra informe,
totalmente envolvida pelas águas. Havia a luz e a vastidão de um universo que havia sido criado
no dia anterior (segundo dia). E nós chegamos
ao terceiro dia no versículo 9. "Então Deus
disse:” “Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca.”. E assim
se fez. A porção seca chamou Terra, e ao
ajuntamento das águas, Mares. E então, no
terceiro dia, Deus começou a amoldar e a povoar a terra.
As águas se moviam enquanto se juntavam ao
redor dos continentes que estavam sendo formados, para dar origem aos mares.
A expressão “segundo a sua espécie”, no verso
12, relativa à reprodução, é repetida dez vezes no primeiro capítulo de Gênesis.
A palavra hebraica para "tipo" é “min”, que
indica a limitação de variação.
11
Uma planta só pode produzir algo de seu próprio
tipo.
Uma árvore só pode produzir algo de seu próprio
tipo.
Isto põe por terra qualquer teoria relativa à
possibilidade de evolução de uma espécie
inferior para outra espécie superior.
O Quarto Dia da Criação (Gênesis 1:14-19)
“14 E disse Deus: haja luminares no firmamento
do céu, para fazerem separação entre o dia e a
noite; sejam eles para sinais e para estações, e
para dias e anos;
15 e sirvam de luminares no firmamento do céu,
para alumiar a terra. E assim foi.
16 Deus, pois, fez os dois grandes luminares: o
luminar maior para governar o dia, e o luminar
menor para governar a noite; fez também as estrelas.
17 E Deus os pôs no firmamento do céu para
alumiar a terra,
18 para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que
isso era bom.
19 E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.”
O nosso texto de Gênesis 1:14-19, descreve a criação de todos os luminares, os corpos
estelares que ocupam o espaço infinito ao redor
de nós.
12
Nestes versos 14 a 19 do primeiro capítulo é
afirmado de modo simples e direto que foi Deus
quem fez todos os corpos celestes.
Quando A Bíblia diz que Deus fez as estrelas juntamente com o sol e a lua, está afirmando
algo sobre o Seu imenso poder.
Aquela pequena declaração simples para algo
tão imenso e complexo, como é o universo, e
tudo o que ele contém, mostra que não há nada maravilhoso demais para aquele que é a
verdadeira maravilha, o próprio Senhor.
As estrelas no céu dão testemunho da santidade
e do poder de Deus. São imensas fogueiras queimando no universo, com diversos níveis de
luminosidade e calor. Elas servem para nos
trazer à lembrança que o nosso Deus é um fogo
consumidor (Hb 12.29).
São bilhões e bilhões de estrelas queimando
continuamente no universo como vários altares
acesos para celebrarem a santidade do
Altíssimo, do nosso amado Senhor. Como não seríamos convencidos da necessidade da
santidade para habitarmos com um Deus que é
Ele próprio um fogo consumidor e purificador?
Os raios de luz de todas estas estrelas
atravessam o universo em todas as direções, por causa da forma esférica de todas elas, e a
velocidade que Deus deu à luz é uma velocidade
espantosa, muitas vezes maior do que a do som.
Na verdade, é a maior velocidade que existe no universo. A velocidade da luz é de
aproximadamente 300 mil km/s, e a do som é de
340 m/s.
13
Uma outra função para os astros colocados por
Deus no universo, além de iluminarem e
fazerem separação entre o dia e a noite, foi a de
servirem para sinais, para estações, para dias e anos (Gên 1.14).
Assim, com a criação do sol, da lua e das
estrelas, Deus criaria um dia de 24 horas, que
inclui um período diurno e outro noturno.
Cada dia seria marcado por um amanhecer e por um anoitecer.
O verbo usado no verso 14 para “fazerem”, no
hebraico, é hayvom, que significa “para servir”.
Deus deu estes corpos luminosos para servirem.
Para servirem de “sinais”, otth, no hebraico, que tem usualmente a conotação normal de um
sinal para os habitantes da terra.
E quais foram estes sinais? Eles são descritos no
texto. Seriam sinais que apontariam as estações, os dias e os anos. Então não foi o homem quem
inventou o calendário.
Foi o próprio Deus que determinou um meio
para marcar o tempo do homem na terra.
As estações seriam os sinais maiores para a
marcação deste tempo, pelas suas características bem distintivas, nos períodos do
outono, inverno, primavera e verão.
O sol é um determinador de anos porque leva
um ano inteiro para a terra completar uma volta
em torno do sol. Assim são os corpos celestiais que nos ditam quando nós devemos trabalhar e
quando nós devemos descansar, quando nós
estamos acordados e quando nós dormimos.
14
Como em todos os dias da criação, a conclusão
dos atos criativos de Deus é feita com a citação:
“Houve tarde e manhã”, e na sequência é citado
o dia respectivo da tarde e manhã que houve naquele dia, aqui em Gên 1.19, o quarto dia, em
que Deus criou todos os astros que existem no
universo, com exceção da terra, que havia sido criada no primeiro dia. É importante ver que até
mesmo o satélite da terra, que é a lua, foi
também criada neste quarto dia, lançando-se
por terra a teoria que afirma que ela teria sido formada por desprendimento de materiais que
saíram da terra.
Quinto Dia da Criação (Gên 1:20-23)
“20 E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves acima da terra
no firmamento do céu.
21 Criou, pois, Deus os monstros marinhos, e
todos os seres viventes que se arrastavam, os
quais as águas produziram abundantemente segundo as suas espécies; e toda ave que voa,
segundo a sua espécie. E viu Deus que isso era
bom.
22 Então Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e
multiplicai-vos, e enchei as águas dos mares; e multipliquem-se as aves sobre a terra.
23 E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.” (Gên
1.20-23).
Até o quinto dia não havia sido criado um só ser
do reino animal. Como vimos antes, o reino
15
vegetal havia sido criado no terceiro dia, e agora,
no quinto dia, Deus começa a criar tudo do reino
animal, com exceção dos mamíferos e répteis
terrestres, incluindo aqui os insetos e outras formas de vida, que citaremos na parte relativa
à criação do sexto dia, dia em que foi criado
também o homem, como o último ato da criação de Deus.
Quando Deus formou os vegetais no terceiro dia, Ele não usou a palavra hebraica nephesh,
traduzida por “alma”, e a palavra
raiâh, “vivente”, em Gên 2.7. As árvores são
seres vivos, mas não estão dotadas desta percepção do ambiente em que vivem e nem
podem se mover como os animais.
Por isso as mesmas palavras hebraicas citadas
anteriormente são usadas também em Gên 1.21
para designar a criação dos “seres viventes” (animais) no quinto dia da criação, bem como
em Gên 1.24 para a criação dos demais animais
no sexto dia.
Apesar destes animais demonstrarem que são
formas de vida inteligente, e dotados, muitos
deles dos mesmos órgãos que compõem o corpo humano, no entanto há uma imensa distinção
entre o homem e qualquer um deles, porque o
homem está dotado de um espírito que lhe
permite comunicar-se com Deus, e adquirir as virtudes morais de Deus, e tem várias
faculdades em seu espírito como a da vontade e
direção própria.
16
O homem tem também a capacidade de se auto
conhecer e tem um destino eterno, em razão de
ter um espírito.
O verso 21 começa com “Criou pois Deus”. Estes animais são seres criados. E a palavra usada aqui
no hebraico é bará, a palavra para criar.
E os criou com a capacidade de se reproduzirem,
e isto não é algo natural, mas um milagre, a demonstração prática da existência do poder de
Deus, que foi colocado em todos os seres
fecundos da criação, exatamente para darem
este testemunho silencioso de que há um Criador que planejou todas as coisas e as chama
à existência pelo Seu poder.
O Sexto Dia da Criação (Gên 1.24-31)
“24 E disse Deus: Produza a terra seres viventes
segundo as suas espécies: animais domésticos, répteis, e animais selvagens segundo as suas
espécies. E assim foi.
25 Deus, pois, fez os animais selvagens segundo
as suas espécies, e os animais domésticos
segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra segundo as suas espécies. E viu Deus que
isso era bom.
26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves
do céu, sobre os animais domésticos, e sobre
toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta
sobre a terra.
17
27 Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou.
28 Então Deus os abençoou e lhes disse:
Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre
as aves do céu e sobre todos os animais que se
arrastam sobre a terra.
29 Disse-lhes mais: Eis que vos tenho dado todas
as ervas que produzem semente, as quais se
acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê
semente; ser-vos-ão para mantimento.
30 E a todos os animais da terra, a todas as aves
do céu e a todo ser vivente que se arrasta sobre a
terra, tenho dado todas as ervas verdes como mantimento. E assim foi.
31 E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e a manhã, o dia sexto.”
Até agora nós estudamos os cinco primeiros dias da criação. Os primeiros cinco dias estavam
realmente equipando a casa na qual o homem
moraria. O homem é o governante da terra. O
homem é o pináculo da criação de Deus, criado à Sua imagem. Assim, por ser o homem
diferente de tudo o mais na criação, por ser a
coroa da criação, a sua casa foi preparada e
receberia o toque final no sexto dia com a criação dos animais que vivem sobre a terra
seca, antes que o homem fosse finalmente
criado.
18
No sexto dia, como já dissemos antes, houve este
último retoque na criação, antes de ser formado
o homem. No começo do sexto dia foi necessário
criar as criaturas da terra que são identificadas nos versos 24 e 25 em três categorias: animais
domésticos, répteis e animais selvagens. Este foi
o toque final de Deus para preparar a casa na qual o homem moraria.
O homem era o objeto. O homem era o assunto
principal na criação. Era a criação do homem com o propósito remissório que Deus realmente
tinha em mente. Tudo perecerá no universo.
Tudo sairá da existência no universo. As estrelas
cairão, de acordo com o livro de Apocalipse; e o sol e a lua acabarão. O universo inteiro será
enrolado como um rolo de papel. A criação
inteira derreterá com calor abrasador. E tudo
sairá de existência. Mas não o homem.
O homem é pois o personagem principal, e o
desdobramento completo da criação é um
teatro no qual a grande saga remissória possa ser terminada com Deus buscando uma noiva
para o Seu Filho, como Deus busca demonstrar
a Sua graça e misericórdia e compaixão e poder de salvação, tanto para os homens, como para os
anjos.
Em Gên 1.30 vemos Deus dizendo que os animais foram criados para servirem de mantimento
para o homem. Ora, está implícito aqui que além
de se alimentar do leite e dos ovos de alguns
deles, ele também se alimentaria deles.
Nos versos 26 e 27 lemos: “Também disse Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
19
nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os
animais domésticos, sobre toda a terra e sobre
todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou.”.
Aqui está o ápice da criação que é a razão de tudo
o mais que foi criado. Não foi o homem que foi criado para o boi, mas o boi para o homem. E é
neste mesmo sentido que Jesus disse aos
fariseus legalistas que davam mais importância
ao sábado do que ao homem, que foi o sábado que foi criado para o homem, e não o homem
para o sábado.
O domínio do homem sobre a criação foi
declarado e determinado por Deus.
Quanto à criação do homem há um ponto distintivo quanto ao modo usado na palavra de
ordem divina. Para as demais coisas temos um
haja, um produza, um povoe, mas aqui temos
um façamos. Façamos o homem à nossa imagem.
O homem não foi criado para pertencer a si
mesmo, mas foi dado pelo Pai ao Filho. Como
lemos em Col 1.16 que tudo foi feito por meio de Jesus e para ele.
Esta vida espiritual do céu não foi recebida pelo
homem quando se diz em Gên 2.7 que Deus
formou o homem do pó da terra e lhe soprou nas
narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente, porque o que se diz aqui é uma
referência ao dom da respiração, o mesmo que
foi dado aos animais como se depreende de Gên
20
7.22: “Tudo o que tinha fôlego de vida em suas
narinas, tudo o que havia em terra seca,
morreu.”.
Quem determina a capacidade para receber esta vida do céu não é esta referência ao fôlego de
vida porque os animais também o receberam e
não têm tal capacidade; mas o que nos dá tal
capacidade é o fato de termos sido criados à imagem conforme a semelhança de Deus.
Em Gên 1.27 se afirma: “Criou pois o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem
e mulher os criou.”. A humanidade é composta de homens e mulheres. E Deus instituiu o
casamento conforme está expresso na citação à
unidade do casal constante de Gên 2.23,24.
Assim, para o casamento do homem com a
mulher Deus previu um propósito mais elevado do que a simples reprodução, pois o casamento
serviria de sinal para a união que há entre Cristo
e a igreja.
Dentre as coisas reveladas acerca da criação do homem, além da responsabilidade que ele
recebeu de dar nomes a todas as criaturas, foi-
lhe também dada a incumbência de cultivar e
guardar o jardim do Éden (Gên 2.15).
Havia um trabalho que lhe foi designado. Não
havia ainda suor do rosto e canseira porque não
havia pecado.
No jardim que Deus plantou para o homem fez
brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boa para alimento; e também a árvore da vida no
meio do jardim e a árvore do conhecimento do
bem e do mal (Gên 2.9). E estas duas árvores
21
foram destacadas como árvores sem igual, e
sobre as quais Deus havia determinado
propósitos e ordens específicas para o homem.
Depois de ordenar ao homem que cultivasse e guardasse o jardim, Deus “lhe deu esta ordem:
De toda árvore do jardim comerás livremente,
mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás, porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gên 2.16,17).
Isto foi uma advertência.
Assim a responsabilidade do homem era
aprender sobre a criação e glorificar a Deus pelas suas maravilhas e então classificar e
moldar a criação de forma que isto fosse em
todos os sentidos para a honra e glória do
Criador. Agora se lembre, que não havia nenhum temor e não havia morte.
Apesar de ter sido grandemente afetado pela
queda ao pecado, e com isto, pela morte, nós
vivemos ainda num mundo que foi projetado por Deus para manifestar a Sua glória. E isto é
ensinado expressamente em vários lugares da
Bíblia.
22
Gênesis 2
O Descanso de Deus Relativo à Criação
(Gên 2.1-3)
“1 Assim foram acabados os céus e a terra, com
todo o seu exército.
2 Ora, havendo Deus completado no dia sétimo a obra que tinha feito, descansou nesse dia de
toda a obra que fizera.
3 Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou;
porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera.”
O sétimo dia é muito importante porque é em
relação a ele que é usada pela primeira vez a palavra "santo" na Escritura.
A palavra hebraica "kedesh", traduzida
"santificado" no verso 3, é a palavra "santo".
A raiz "kedesh", significa ser cortado ou separado. E santidade, é portanto, elevação ou
exaltação sobre o nível habitual.
Assim o sétimo dia é um dia especial porque foi
dia separado.
É um dia cortado dos outros porque seguiu
imediatamente à conclusão de todas as coisas
criadas nos seis dias anteriores a ele.
É um dia exaltado, porque Deus abençoou e santificou este dia, isto é, Ele declarou que este
dia deve ser santo.
Este dia é um dia especial para Deus, porque a
partir dele se cumpriu o Seu decreto fixado na
23
eternidade, e indicava a condição de descanso
eterno pretendida por Deus para Ele e suas
criaturas, especialmente o homem que criara.
O sétimo dia é dia de descanso, não no sentido
de repor a energia perdida, mas no sentido de
não trabalhar, de não se ocupar o homem com coisas que sejam do seu interesse, mas com as
que são de Deus, em comunhão com Ele.
Detalhes sobre a Criação do Homem
(Gên 2.4-7)
“4 Eis as origens dos céus e da terra, quando
foram criados. No dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus
5 não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois nenhuma erva do campo tinha ainda
brotado; porque o Senhor Deus não tinha feito
chover sobre a terra, nem havia homem para
lavrar a terra.
6 Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda
a face da terra.
7 E formou o Senhor Deus o homem do pó da
terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida;
e o homem tornou-se alma vivente.” (Gên 2.4-7).
Esta porção da Escritura é um desdobramento
da narrativa referente à criação do homem no
sexto dia, conforme registro de Gên 1.26-30, em que se diz que Deus criou o homem à sua
imagem conforme a sua semelhança para ter
domínio sobre a terra e tudo o que há na terra.
24
A partir deste segundo capítulo de Gênesis a
revelação irá se concentrar no desvendamento
da história da redenção.
Gênesis foi escrito por Moisés, a mando de
Deus, para este propósito. Para revelar a história
da redenção do homem que se extraviou por
causa do pecado.
Tanto é assim, que a narrativa da criação foi
condensada em poucas palavras,
comparativamente a tudo o mais que é relatado em Gênesis.
Assim, Gênesis 2.4 é introduzido com uma nota
explicativa de que a partir dali seria informada a gênese dos céus e da terra quando foram
criados. Ora, a palavra para “gênese” no
hebraico, é “toledoth”, que significa gerações.
A primeira geração do gênero humano foi a de Adão e Eva, e será a primeira a ser apresentada
em ordem.
O livro de Gênesis dará o registro de outras gerações, como a genealogia de Caim, de Adão,
de Sem, filho de Noé etc.
Por isso Gênesis 2.4, literalmente no hebraico é introduzido por: “Estas são as gerações”.
Os versos 5 e 6 nos apresentam o cenário em que
o homem foi criado. E no verso 5 é dito o seguinte: “Não havia ainda nenhuma planta do
campo na terra, pois ainda nenhuma erva do
campo havia brotado; porque o Senhor Deus não
fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo.”.
O que parece estar sendo dito aqui é que antes
da criação do homem não havia nenhuma
25
“planta do campo”, ou “erva do campo” sobre a
terra, porque não haviam ainda brotado.
O autor sagrado não estava se referindo às
condições existentes antes do terceiro dia, quando não havia realmente nenhuma planta
sobre a terra porque o reino vegetal foi formado
no terceiro dia da criação.
Ora, mas sabemos que depois do sexto dia havia a condição de se cultivar as plantas do campo
porque o homem havia sido criado. Então a
condição de não terem brotado ainda foi
provavelmente por falta da chuva? Foi isto, mais muito mais do que isto. Estas plantas ou ervas
que são cultiváveis e dependentes de se lavrar o
solo pelo homem, são em sua grande maioria
dependentes de períodos de chuva intercalados com períodos de estiagem.
Estas plantas agrícolas dependem das condições
de umidade do solo que lhes são propícias para
o seu desenvolvimento, e é por isso que são
cultivadas pelo homem nas épocas mais favoráveis conforme o conhecimento que
adquiriu sobre as exigências de cada tipo de
cultura.
Assim, é imprescindível que o solo seja lavrado pelo homem para o cultivo de verduras,
legumes e grãos.
Mas o homem não necessitava lavrar o solo
quando estava sem pecado no Éden.
Isto foi uma das consequências da queda no pecado, como se vê em Gên 3.23: “O Senhor
Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden,
a fim de lavrar a terra de que fora tomado.”.
26
A terra da qual o homem fora formado por Deus
e que garantiria o suprimento de alimentos para
ele de forma contínua e espontânea, sem exigir
cuidados da parte do homem no que tange à sua fertilização e manejo, dependeria agora, depois
do pecado, de que o homem a trabalhasse para
poder obter o seu alimento.
A terra como que não se mostraria mais
completamente favorável ao homem, pois, seria como que se recusasse a lhe fornecer o
necessário para a sua subsistência, e por causa
da maldição que foi trazida sobre ela, em razão
do pecado, tudo o que o homem tirasse dela para a sua provisão contínua, deveria ser agora,
resultante do seu próprio esforço, lavrando o
solo em face das exigências de tais culturas e
combatendo pragas, doenças e ervas daninhas, no trabalho que deveria fazer em relação ao
manejo do solo e trato das culturas.
Então, não há dúvida que a produção de safras
agrícolas seria dependente daquilo que Gênesis
chama de planta ou erva do campo cuja produção exige que a terra seja lavrada pelo
homem, e isto só passou a acontecer depois da
queda no pecado, pois se diz em Gênesis 3.17 que
por causa do pecado a terra foi amaldiçoada e por isso a condição inteiramente abençoada que
ela apresentava anteriormente seria
conturbada pela maldição, uma vez que o
sustento que o homem obteria dela durante todos os dias de sua vida seria em fadigas, e a
razão disto é que a terra passaria a produzir
cardos e abrolhos (ervas daninhas) que são
27
concorrentes de nutrientes com a erva do
campo da qual o homem se alimentaria.
A expressão hebraica para erva do campo em
Gên 3.18 é a mesma usada em Gên 2.5. Há,
portanto, uma relação entre a queda e o fato de o homem ter que começar a lavrar o solo para
cultivar as plantas agrícolas, pois estas plantas
foram criadas por Deus com esta característica
de serem dependentes de serem cultivadas pelo homem, pois de outra forma não podem ser
produzidas em abundância.
Em Gên 2.5, a palavra para arbusto (erva), em
hebraico, é “siach", e a palavra para planta é
"êseb". É citado planta do campo ou erva do
campo, porque, como vimos, a referência aqui é àqueles vegetais que são cultivados em campos
agrícolas.
Isto é um sinal da parte de Deus nem tanto para
castigar o homem por causa do pecado, mas
para lembrar-lhe que não está mais num mundo
perfeito como era antes da queda no pecado.
De fato não é tarefa fácil a de produzir alimentos,
porque são inúmeros os inimigos da alimentação do homem, e deste modo, são
também, indiretamente, do próprio homem,
porque depende destes alimentos para a sua
subsistência.
Quando Gên 2.5 fala de planta e erva do campo,
a referência é principalmente às centenas de espécies de leguminosas, verduras e cereais
apropriados para a alimentação humana e
também do gado.
28
Está registrado em Gên 2.5 que não havia tal
produção agrícola antes da queda porque Deus
não havia ainda feito chover sobre a terra, e
porque não havia homem para lavrar o solo. Como vimos, a chuva veio como consequência
da entrada do pecado no mundo, e é
maravilhoso o fato de que realmente a produção dos campos agrícolas é dependente da
regularidade das chuvas.
Gên 2.6 diz o seguinte:” Mas uma neblina subia
da terra e regava toda a superfície do solo.”. Isto
significa que a condição perfeita para a terra seria esta que havia sobre toda a superfície do
globo.
Um suprimento perfeito de água subterrânea
garantido pelo poder de Deus. Observe que a referência aqui não é a orvalho, mas a uma
quantidade adequada de umidade que provinha
do interior da terra e que regava a superfície. Por
isso é usada a palavra neblina, mas não no sentido de que entendemos esta palavra.
A ideia do autor sagrado era a de mostrar que
não havia erosão de solos por águas pluviais, e
nem a irregularidade da precipitação de chuvas,
em razão da maldição da terra por causa do pecado, mas uma como que cortina suave de
águas que garantiam a rega adequada da
superfície do solo.
No hebraico, a palavra para “neblina” é “ed”, que significa uma fonte, e literalmente é “águas
do fundo”, que afloram à superfície do solo.
E assim é descrita a criação do homem no verso
7: “Então formou o Senhor Deus ao homem do
29
pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de
vida, e o homem passou a ser alma vivente.”. E
nós sabemos que Deus criou o homem à sua
própria imagem conforme é dito em Gên 1.26. E aqui se diz como ele fez isto. Ele formou o
homem do pó.
Quanto ao corpo do homem que foi formado da
terra, é fascinante o fato de que muitos dos elementos químicos básicos que compõem as
rochas e os solos, estão também presentes na
estrutura física do corpo humano, e são
necessários para alimentar o corpo, mantendo-o em vida (fósforo, nitrogênio, potássio, cálcio,
oxigênio, ferro, magnésio, boro, carbono etc).
Depois de ter formado o corpo do homem do pó
da terra, Deus lhe soprou nas narinas o fôlego de vida e o homem passou a ser alma vivente (Gên
2.7).
O fôlego de vida veio de Deus tanto para o
homem quanto para os animais (Gên 7.21,22).
Assim Deus assoprou vida literalmente em tudo que vive; tudo o que é animado. Respiração é
"ruah", no hebraico. É a mesma palavra para
"vento." A mesma palavra para "espírito.".
Não é esta a palavra usada em Gên 2.7 quando se fala em fôlego de vida, e em alma vivente, e
como já estudamos anteriormente, nós vimos
que a palavra "nephesh", em hebraico, para
alma, em Gên 2.7, é tanto usada para se referir à vida animada do homem quanto à de todos os
demais seres vivos, excetuando-se os vegetais.
Já vimos também que o que identifica o homem
como diferente de tudo o mais na criação é a
30
imagem e semelhança com Deus citada em Gên
1.26.
O Homem no Jardim do Éden
(Gênesis 2.8-17)
“8 Então plantou o Senhor Deus um jardim, da
banda do oriente, no Éden; e pôs ali o homem que tinha formado.
9 E o Senhor Deus fez brotar da terra toda
qualidade de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da vida no
meio do jardim, e a árvore do conhecimento do
bem e do mal.
10 E saía um rio do Éden para regar o jardim; e
dali se dividia e se tornava em quatro braços.
11 O nome do primeiro é Pisom: este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro;
12 e o ouro dessa terra é bom: ali há o bdélio, e a
pedra de berilo.
13 O nome do segundo rio é Giom: este é o que
rodeia toda a terra de Cuche.
14 O nome do terceiro rio é Tigre: este é o que
corre pelo oriente da Assíria. E o quarto rio é o
Eufrates.
15 Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs
no jardim do Éden para o lavrar e guardar.
16 Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo:
De toda árvore do jardim podes comer
livremente;
17 mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal, dessa não comerás; porque no dia em que
dela comeres, certamente morrerás.”
31
A partir do segundo capítulo, o autor se
concentra em detalhar a criação do homem.
Isto porque o propósito da revelação feita por
Deus não é o de narrar a história de qualquer outro assunto, senão a história da redenção do
homem.
O propósito é o de narrar a redenção, porque
quando Moisés começou a registrar a revelação
escrita conforme lhe fora ordenado por Deus, o pecado já estava no mundo há muito tempo, e
Deus já havia chamado Abraão para começar a
partir dele, a formação de Israel, e mais do que isto, fez promessas específicas ao patriarca
relativas à salvação de pessoas em todas as
nações, por meio da união com o seu
descendente (de Abraão) que é Cristo.
O assunto é o da redenção do homem que havia caído no pecado, e que sujeitou toda a raça
humana à condenação eterna, porque aquela
comunhão e conhecimento de Deus que o
homem tinha no princípio, foi perdido por causa do pecado.
Deus revelou então através de Moisés como foi
que isto aconteceu, e quais as providências que
Ele havia tomado para livrar o homem desta condição de estar espiritualmente adormecido,
morto, e impossibilitado, por natureza, de
conhecer o seu criador.
Nós vimos anteriormente que Deus havia
colocado uma restrição para o homem quanto o uso que deveria fazer dos frutos das árvores do
jardim, proibindo-lhe o acesso a apenas um tipo
de fruto.
32
Então apesar de ter sido criado para dominar
sobre todas as coisas da terra, o homem deveria
fazê-lo dentro dos limites e restrições impostos
por Deus.
Assim, todo o planeta terra estava sob o domínio do homem, mas ele precisava de uma casa. E ao
plantar um jardim para o homem, Deus foi o
primeiro jardineiro.
No princípio, a terra inteira era "boa", a terra
inteira era "muito boa", mas Deus fez uma casa especial para o homem.
Com isto queria mostrar que o homem foi criado para receber dEle bênçãos sobre
bênçãos.
Que o propósito da criação do homem, foi para
que vivesse sem pecado, sendo continuamente
abençoado pelo cuidado de Deus.
Podemos chamar isto de bênção dentro da
bênção.
A terra e tudo o mais que foi criado era uma perfeição e uma bênção para o homem, mas
Deus avançou no seu cuidado em relação ao
homem, dando-lhe um jardim com tudo o que
era agradável à vista e bom para alimento. E mesmo ao homem caído no pecado Deus
revelou até onde vai a extensão do seu amor por
ele, dando o Seu próprio Filho para morrer no
lugar do pecador, de maneira que este agora redimido do pecado, possa receber graça sobre
graça (Jo 1.16), em que está incluída esta
condição de receber bênção sobre bênção.
Quem duvidará da intenção de bondade de Deus
para com o homem, à vista destas coisas?
33
A palavra hebraica Éden, significa prazer,
delícia.
Um jardim fala de alegria, beleza, prazer,
descanso e tudo o mais que é agradável.
E Deus compartilhava isto com o homem antes
da queda no pecado.
Quando Moisés escreve que o jardim estava ao
leste, podemos entender disto que estava ao leste de Israel.
De fato, a descrição relativa à localização do
jardim afirma que havia um rio que regava o
Éden, e que saindo dele se repartia em quatro braços, chamados de Pisom, Giom, Tigre e
Eufrates, sendo, que é dito que o Tigre corria
pelo oriente da Assíria.
A bacia hidrográfica dos rios Tigre e Eufrates,
corre no sentido noroeste a sudeste, desembocando no Golfo Pérsico.
O rio Tigre fica localizado à leste do Eufrates.
A capital da Assíria, Nínive, ficava junto e à leste
do rio Tigre.
A nascente destes rios fica atualmente nos
montes da Armênia, próximo ao Monte Arará.
O dilúvio deve ter alterado em muito o curso
destes rios, bem como as alterações
topográficas havidas ao longo dos anos, uma vez que se afirma que tanto eles quanto os rios
Pisom e Giom, eram quatro braços que se
dividiam a partir do grande rio que cortava o jardim do Éden.
Então, provavelmente, o Éden ficava num
território ao norte das terras de Havilá, rodeada
pelo rio Pisom (Gên 2.11); da terra de Cuxe,
34
circundada pelo rio Giom (Gên 2.13), e da
Assíria, que era banhada pelo rio Tigre.
O local exato onde estava o jardim não é
relevante, mas o fato de ser um lugar real sobre
a terra conforme as descrições relativas à sua localização, que são feitas na Palavra, e que tinha
dimensões imensas, já que era do rio que o
cortava que procediam estes quatro grandes
rios citados na Palavra de Deus.
Como informações adicionais podemos dizer
que Cuxe era um dos filhos de Cão, filho de Noé, e pai de Ninrode (Gên 10.6-12), que edificou a
cidade de Nínive na Assíria (Gên 10.11).
Havilá, que passou a ser o nome de uma cidade,
rodeada pelo rio Pisom, era também um outro
filho de Cuxe, além de Ninrode (Gên 10.7).
Cuxe era neto de Noé, e Ninrode e Havilá,
bisnetos de Noé, pois ambos eram filhos de Cuxe.
Vemos com isso que o autor de Gênesis usou
nomes de pessoas e de lugares para o jardim do
Éden, numa perspectiva pós-diluviana, pois não
é dito qual era o nome destes rios nos dias de Adão, e devemos considerar que as cidades e
nações que são citadas (Cuxe, Havilá, Assíria),
não existiam, e foram fundadas depois do
dilúvio pelos descendentes de Noé.
A própria Bíblia registra sobre Havilá que era
um dos termos dos ismaelitas, e que ficava ao norte de Sur, cidade fronteiriça ao Egito (Gên
25.18), e que veio a ser ocupada nos dias de Saul
pelos amalequitas (I Sm 15.7).
35
Como Cuxe e Havilá ocupavam o território da
Arábia, estas cidades estavam portanto
localizadas à sudoeste do Tigre e Eufrates.
Então os rios Giom e Pisom corriam no extremo
oposto ao Tigre e Eufrates, próximo ao território de Canaã, e dirigindo-se em direção ao Egito,
desembocando provavelmente no Mar
Vermelho.
Há uma importante lição que é dada na
revelação de ter Deus formado um jardim para a habitação do homem, porque isto mostra que é
Deus quem designa o local de habitação eterna
do homem.
É Ele quem prepara as muitas moradas onde o
homem deve residir em comunhão com Ele.
A terra toda fora dada ao homem, mas o local
onde o homem deveria habitar foi designado e preparado por Deus.
Isto nos lembra também que somos peregrinos e forasteiros neste mundo, porque ainda não se
manifestou o lugar da nossa habitação eterna.
Mas ele será tanto ou mais magnífico do que o
próprio jardim do Éden.
A perfeição e beleza exterior do Éden, falavam da perfeição e beleza interior de Deus e do seu
caráter, também refinado, sensível, estético,
uma vez que Ele escolheu as espécies de árvores
e minerais mais preciosos e belos para formar o jardim.
Somente o homem poderia reconhecer a grandeza, a majestade, a bondade, a perfeição, o
amor e os demais atributos divinos, e responder
a isto Lhe devolvendo o cuidado e atenção
36
recebidos na forma de comunhão, gratidão,
amor e louvor.
O Éden passou, e toda glória terrena passará,
mas o Senhor não muda, a Sua glória não
murcha, e o Seu amor e bondade são eternos.
Assim, a criação do homem revela em todos os
sentidos a glória de Deus, quer ao ter recebido
dEle um magnífico jardim como local de habitação, quer pela expressão da Sua graça,
justiça e misericórdia ao salvar pecadores por
meio da oferta que fez para cobrir os pecados: o
corpo do Seu próprio Filho, que foi dado por nós, em Sua morte na cruz.
É por meio de Jesus que aquela condição inicial, antes do pecado, está sendo restaurada.
É Ele quem tira o pecado do homem, para que o homem possa ser reconciliado em santidade
com Deus.
É por isso que havia no meio do jardim duas
árvores especiais e diferentes das demais.
Uma era a árvore da vida (que representava a
vida de Jesus em nos), e a outra árvore era a
chamada árvore do conhecimento do bem e do
mal (que representava a tentativa do homem de viver independentemente de Deus).(Gên 2.9)
O fruto da árvore da vida tinha uma propriedade
sobrenatural de dar vida eterna àquele que o comesse.
Entretanto, o pecado é um impedimento para que se tenha vida eterna, uma vez que o homem
foi expulso do jardim para que não comesse do
fruto da árvore da vida.
37
Alguns afirmam que se ele o tivesse comido,
ficaria sujeito para sempre ao estado de pecado
eterno, sem possibilidade de salvação, mas
entendemos que a mensagem que nos é passada pela expulsão do homem do Éden para que não
lançasse mão do fruto da árvore da vida, é a de
que pecado e vida eterna são coisas incompatíveis, porque o salário do pecado, isto é
a sua paga, a sua consequência, é a morte, e não
a vida.
Por isso temos recebido a vida eterna em Cristo
Jesus por meio do arrependimento e do lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que
removerá pela santificação, inteiramente o
pecado de nossa natureza, quando estivermos
na glória.
Havia outra árvore especial no jardim, a árvore
do conhecimento do bem e do mal, cujo fruto foi
vedado por Deus ao homem, e do qual tendo este
comido, transgrediu o mandamento do Senhor, e por esta razão a criação ficou sujeitada à
vaidade e à maldição.
Quanto ao fruto da árvore do conhecimento do
bem e do mal devemos dizer que esta árvore era
também uma árvore real, como a árvore da vida, pois o autor bíblico não usou nenhuma
linguagem figurada para se referir à mesma.
Era uma árvore que, como se diz em Gên 3.6 que
a “árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar
entendimento”.
Note que era uma árvore bela à vista e cujo fruto
era comestível, e não venenoso.
38
Até mesmo porque não havia nada em tudo o
que Deus havia criado nos seis dias da criação
que não fosse muito bom, até que o pecado
entrasse no mundo.
Não havia nenhum espinho, nenhuma praga,
nenhum veneno.
Nada poderia fazer mal ao organismo do
homem, porque até então, nenhum ser vivo, fosse planta ou animal, ou mesmo substância
mineral, poderia fazer-lhe qualquer mal.
Estas alterações na constituição de
determinados seres foram introduzidas por Deus depois da queda no pecado, em razão de a
terra, o homem, a mulher, e a serpente terem
sido amaldiçoados.
Assim, aquela árvore era uma prova para o homem. Ela era um teste da sua obediência.
Não que houvesse qualquer coisa na árvore que
fosse tóxica.
A árvore era somente um teste. E se o homem
comesse do seu fruto, o ato de desobediência seria o mal que ele experimentaria.
Deus o amaldiçoaria então por causa daquela
desobediência, e ele morreria.
Antes do pecado, ainda que o homem não fosse um bebê, ele tinha a inocência de um bebê, pois
não conhecia nem o bem, nem o mal.
Mas no dia em que comeu do fruto o homem e
sua mulher perderam a inocência, e passaram a ter uma consciência objetiva do mal a partir do
momento que haviam desobedecido a Deus.
Assim, o desfrutar da comunhão com Deus; a
condição de habitar no maravilhoso jardim do
39
Éden, onde tudo era perfeito e agradável,
dependeria de o homem vencer as tentações do
diabo, e permanecer em obediência a Deus,
passando pela prova dessa obediência que consistiria em não comer o fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal.
Para o homem que vence o pecado e é obediente
a Deus em tudo, o lugar da sua habitação é eterno e maravilhoso, porque é isto o que Deus
tem planejado para aqueles que O amam, para
que possam se encantar e desfrutar todas as
Suas bênçãos em perfeita comunhão com Ele.
Esta será certamente a condição de todo cristão
na glória, a de perfeita obediência a Deus,
conforme Ele lhes tem prometido.
Bem farão todos aqueles que se esforçarem para
caminharem de modo obediente a Deus, mediante a Sua Palavra, por meio da graça do
Senhor e do poder do Espírito.
Detalhes sobre a Criação da Mulher
(Gênesis 2.18-25)
“18 Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o
homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.
19 Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os
animais do campo e todas as aves do céu, e os
trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser
vivente, isso foi o seu nome.
20 Assim o homem deu nomes a todos os
animais domésticos, às aves do céu e a todos os
40
animais do campo; mas para o homem não se
achava ajudadora idônea.
21 Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado
sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em
seu lugar;
22 e da costela que o senhor Deus lhe tomara,
formou a mulher e a trouxe ao homem.
23 Então disse o homem: Esta é agora osso dos
meus ossos, e carne da minha carne; ela será
chamada varoa, porquanto do varão foi tomada.
24 Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só
carne.
25 E ambos estavam nus, o homem e sua
mulher; e não se envergonhavam.”
Nós vimos no primeiro capítulo de Gênesis que
Deus criou o homem à Sua imagem, e tendo
feito o gênero humano, homem e mulher,
ordenou-lhes que se multiplicassem e enchessem a terra (1.26-28).
Agora, o segundo capítulo vai descrever o modo
e o propósito da criação da mulher (2.18-25).
Apesar de haver bilhões de pessoas na terra,
todos viemos do relacionamento de um único casal (Adão e Eva), e podemos considerar que
apesar de muitos, somos participantes de uma
mesma família, designada por raça humana.
Deus poderia ter criado todos os homens do mesmo modo que criou os anjos. Todos ao
mesmo tempo, e sem que houvesse necessidade
de se reproduzirem. Mas Ele criou laços de
41
família para que as pessoas aprendessem a
compartilhar a amizade, o amor, o
relacionamento, o serviço mútuo, no seio
familiar.
Os maridos amariam suas respectivas esposas
como Cristo ama a igreja, e as esposas também
amariam e respeitariam os seus próprios maridos.
Os filhos honrariam e obedeceriam a seus pais.
Assim, dentro na família, se aprenderia o amor,
respeito, honra e obediência que são
principalmente devidos a Deus.
O amor praticado no seio familiar seria estendido em auxílio e cooperação mútua entre
as diversas famílias da terra.
A raça humana seria um só corpo edificado no amor de Deus.
Como o pecado impediu o cumprimento deste
propósito com todas as famílias da terra, porque não são poucos os que resistem à Sua vontade e
ao que planejou para a humanidade, Deus está
formando uma grande família com pessoas de
todas as tribos, povos e nações, na qual cumprirá este Seu propósito eterno (Ef 2.9;
3.15).
Por isso Deus disse depois de ter criado Adão que não era bom que o homem estivesse só, isto
é, solitário.
Ele deveria estar em companhia de outras
pessoas, especialmente de quem lhe fosse íntimo, e não há maior relacionamento de
intimidade do que o que há entre cônjuges,
sendo seguido pelo que há entre pais e filhos.
42
Deus deu início aos tipos de relacionamentos,
criando o mais íntimo e desinteressado de todos
eles: o que há entre o homem e a mulher dentro
do casamento.
Deus deu uma só esposa para Adão que foi
formada a partir da sua própria costela. Não
criou mais de uma, a partir daquela costela.
Poderia ter feito mais de uma se o quisesse, mas
revelou que o homem deve ser esposo de uma
só mulher, e a mulher, está ligada a um só marido, enquanto ambos viverem.
Os laços do matrimônio são por isso
indissolúveis, enquanto viverem os cônjuges.
Este laço de relacionamento é o fundamento de
todos os deveres mútuos e obrigações do
matrimônio.
Então, enquanto o laço permanecer, ninguém
pode se abster legalmente de levar a cabo os
próprios deveres do matrimônio, nem proibir o
seu desempenho.
A mulher não foi criada porque Deus viu que o
homem estava só. Não. A criação da mulher já
fazia parte do plano original de Deus de trazer as pessoas à existência através do relacionamento
conjugal.
Em Gên 1.27 a palavra “homem” em “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem,”, é também
“Adão”, Adam, no original hebraico, que tem
também o sentido de gênero humano, incluindo
tanto o homem quanto a mulher.
Assim, a mulher seria uma “auxiliadora idônea”
ao homem, porque com ela, associada ao
homem, Deus poderia dar pleno cumprimento
43
ao Seu propósito de que o homem se
relacionasse com o seu próximo e o amasse, e se
multiplicasse sobre a terra.
Esta auxiliadora ou ajudadora, idônea ou
satisfatória, no hebraico é "êzer keneghdo", e significa um ajudante como ele, ou
correspondente a ele.
Alguém que é um ajuste perfeito para o gênero
humano ser capaz de reproduzir e governar toda
a criação, porque este governo geral foi dado a ambos, tanto ao homem quanto à mulher (Gên
1.27,28).
Entretanto, dentro do casamento, note bem: no
matrimônio, Deus estabeleceu o marido como
cabeça, isto é como líder, em relação à esposa, e
por isso fez a mulher a partir do homem, e não o homem a partir da mulher.
Assim, estando ainda no sexto dia da criação,
depois de ter formado o homem do pó da terra,
Deus iria agora formar a mulher, fazendo a
primeira cirurgia do mundo, anestesiando o homem com um sono profundo para retirar
uma de suas costelas, e tornou a fechar o lugar
com carne (Gên 2.21).
Quando Deus trouxe a mulher ao homem este
entoou a primeira canção de amor quando
disse: “Esta, afinal é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto
do varão foi tomada.” (Gên 2.23).
O homem em sua admiração e emoção foi
levado a compor esta poesia.
Quanta alegria e felicidade lhe trouxeram o
encontro com Eva. E foi Deus quem criou e
44
aproximou o primeiro casal, e Ele continua
ainda aproximando casais pelo amor,
especialmente quando oram a Ele lhe pedindo
isto.
Então ele lhe dá um nome: “será chamada
varoa", isto é, será chamada mulher, porque no
hebraico, homem é "ish", e mulher é "ishah".
Mas "ishah" não é da mesma raiz hebraica de
"ish".
Note que a palavra homem ish possui a consoante hebraica yodh com som de “i” na
pronúncia, e a palavra mulher não possui este
yodh, pois tem o “i” pronunciado como vogal,
que não aparece portanto no texto, porque o hebraico não possuía vogal no texto escrito.
Além disso, possui em sua raiz, a consoante hê,
sendo assim de raízes completamente distintas.
A palavra "ishah" vem de uma raiz que significa
"suave, macio".
Esta foi a primeira impressão dele sobre a
mulher; ela era suave (Gên 2.23)
Quando Adão procurou uma palavra para definir a mulher, ele a chamou de “suave”.
Isto estava bem de acordo com o desígnio de
Deus para a mulher, especialmente no seu papel
dentro do casamento e mesmo na sociedade.
À vista da satisfação do homem expressada na
declaração que fez para a sua esposa, o Senhor acrescentou o que deve ocorrer portanto com os
filhos em relação ao lar paterno, quando
decidem se casar.
45
Eles devem deixar pai e mãe e se unirem,
tornando-se uma só carne. Isto é dito em Gên
2.24: “Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une
à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”.
Isto não significa que abandonarão para sempre
seus pais, que os rejeitarão em sua condição de
pais, ou que deixarão de honrá-los, mas isto
significa que sairão de debaixo da dependência paterna e dirigirão o seu próprio lar, assim como
seus pais edificaram o deles.
Outra coisa importante que se aprende desta
declaração de Deus em Gên 2.24 é que existe
somente uma forma aprovada de
relacionamento sexual perante Ele: a do homem com a mulher dentro do casamento.
Então há um comentário final interessante no
verso 25 de que "o homem e sua mulher,
estavam nus, e não se envergonhavam.”.
Veja que a referência é: “e sua mulher”,
indicando a condição matrimonial entre Adão e
Eva.
Eles estavam nus e não estavam envergonhados porque não conheciam qualquer tipo de malícia.
Eles não sabiam que os desejos sexuais poderiam ser usados para maus propósitos.
Eles não sabiam que o desejo sexual pudesse ser
pervertido e torcido.
Eles não tinham um mínimo pensamento mau
em suas imaginações.
Eles se amavam profundamente, de modo
íntimo mas respeitoso, sem mácula, sem
agressividade, sem dominação.
46
A vergonha é produzida pela consciência do mal
que possa existir em determinada coisa.
Nós sentimos vergonha em nossas vidas como
pecadores porque nós temos pensamentos maus, porque nós temos desejos maus.
Mas isto não existia antes da queda.
Havia uma beleza maravilhosa naquele
matrimônio sem qualquer mácula. Eles
desfrutaram em plenitude o que se recomenda
em Hb 13.4: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula;
porque Deus julgará os impuros e adúlteros.”.
Deus os uniu, e eles desfrutaram a alegria
completa daquela relação.
47
Gênesis 3
A Queda do Homem em Razão do Pecado
(Gênesis 3.1-7)
“1 Ora, a serpente era o mais astuto de todos os
animais do campo, que o Senhor Deus tinha
feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?
2 Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,
3 mas do fruto da árvore que está no meio do
jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele
tocareis, para que não morrais.
4 Disse a serpente à mulher: Certamente não
morrereis.
5 Porque Deus sabe que no dia em que comerdes
desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal.
6 Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos e sendo
árvore desejável para dar entendimento, tomou
do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele
também comeu.
7 Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que
coseram folhas de figueira, e fizeram para si
aventais.”
A queda do homem descrita no terceiro capítulo
de Gênesis não é apenas a sua própria queda,
mas de todo o universo, porque mediante a sua
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queda toda a criação foi sujeitada à maldição de
Deus.
Tudo envelhece e se corrompe pelo uso, desde
então.
Tudo perdeu o seu caráter eterno.
O pecado do homem influenciou tudo o mais na criação.
Gênesis 3 revela como a criação perfeita, boa, de
Deus, se tornou corrompida e má.
Satanás, que tinha sido expulso do céu por causa
da sua rebelião, tentou Eva valendo-se de uma
serpente.
Ele entrou na serpente e falou através dela.
Não é de se admirar que tenha entrado na serpente, pois vimos Jesus permitindo que
demônios entrassem em porcos conforme lhe
haviam rogado. Sem a permissão de Deus isto
não pode suceder, muito menos o ato de falar por meio dos agentes que possuem, mas o fato é
que isto foi concedido a Satanás, porque de
outra sorte, a obediência da mulher e do homem
não poderia ser provada.
Este é um dos motivos porque Deus não nos livra de todas as tentações.
Ele nos concede poder e graça para resistir e não
cair nas tentações, mas de modo nenhum nos
poupa, porque é exatamente por elas que a
nossa fé, fidelidade, obediência, perseverança, são provadas, e o nosso caráter fortalecido e
confirmado no bem.
Ainda que Deus mesmo a ninguém tente e nem
possa ser tentado.
49
Mas Satanás em seu ódio a Ele e a tudo o que
criou, acaba servindo ao propósito de Deus de
colocar a nossa fé à prova para que se firme e
cresça, por meio das tentações.
Satanás queria conduzir Eva e Adão ao pecado. Ele queria fazer com que eles desobedecessem a
Deus. Ele queria corromper a criação boa de
Deus.
A estratégia usada por Satanás é a mentira, ou o
engano.
O que Satanás precisa fazer para efetuar o resultado esperado por ele é criar uma mentira
na qual Eva creia.
Ele tem que enganá-la para que ela venha a pecar.
Por isso que Jesus em João 8:44 chama Satanás
de “pai da mentira".
Satanás mente sobre o caráter de Deus, e ele
mente sobre a Palavra de Deus.
É nisso onde o ataque dele se concentra
inevitavelmente.
Satanás que caiu e no momento que caiu levou
um terço dos anjos juntamente com ele volta-se agora para atingir a criação mais alta de Deus no
mundo natural: o homem.
Ele se volta para Eva disfarçado na serpente, como se fosse um "anjo de luz", de acordo com 2º
coríntios 11:14. Ele quer que você acredite que
ele está lhe contando a verdade, e que o Deus da Bíblia é mentiroso.
Essa é a sua estratégia. Se ele pode conseguir
que você creia que o caráter de Deus não pode
50
ser confiável e, na Palavra de Deus como não
sendo a verdade, e, portanto, não digna de ser
aceita e confiada, mas que nele você pode
confiar, naquilo que está afirmando, então ele alcança a sua meta.
Ele conseguiu que Eva duvidasse do caráter de
Deus, duvidasse da palavra de Deus, e
acreditasse nele, Satanás.
Satanás chega a Eva argumentando que se ela
lhe ouvisse experimentaria alegrias das quais Deus gostaria de privá-la.
Ele se esforça para que Eva rebaixe o conceito de Deus na visão dela, e então viesse a descrer na
palavra de Deus, e a dar crédito não àquilo que
Deus afirmou, mas àquilo que lhe apontava o
seu próprio desejo e sentimentos.
Satanás disse à mulher: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”. Como
a dizer sutilmente: “Reflita sobre o significado
real desta ordem. Ela é razoável? Você tem
liberdade para questionar Deus; você tem liberdade para duvidar de Deus; você tem
liberdade para desconfiar de Deus.”
E isso conduziu Eva à desobediência.
Quando fazemos a suposição de que aquilo que
Deus disse está sujeito ao nosso julgamento, nós
estamos a um passo de pecar, nos tornando
desobedientes e incrédulos.
Toda transgressão da vontade de Deus, todo
pecado, traz em seu bojo esta ideia da relativização dos mandamentos de Deus, do
questionamento ainda que indireto da Sua
vontade soberana.
51
Assim Eva é deslocada da firme posição de estar
seguramente confiada na soberania de Deus
para a sua provisão pessoal, para a de fazer valer
aquilo que passaria a considerar como seus direitos.
Satanás conseguira o seu intento, fazendo com
que pensasse que a sua liberdade estava sendo
tolhida, que Deus lhe estava impondo restrições.
Colocou um desejo em seu coração e agora
ordena que não o satisfaça. Qual é a lógica que
há nisso?
A da cruz que estava oculta aos olhos de Eva.
A nossa vontade deve ser submetida a Deus.
Importa que seja feita a vontade dele e não a nossa, ainda que seja muito grande o nosso
desejo de ser ou obter algo.
A cruz trata com o eu, e impõe o tom correto aos
nossos desejos, fazendo com que deixemos que
sejam governados pelo Senhor e não pela nossa própria vontade.
O que o Senhor tem dito que é lícito e conveniente faremos, mas o que nos é vedado,
ou mesmo que sendo lícito, seja inconveniente,
isto não faremos, assistidos pela Sua graça que
opera em nós, enquanto sujeitos à Sua santa vontade.
Mas Eva e lembrou que havia uma penalidade
atrelada ao ato da desobediência.
Ela disse para Satanás que não deveria comer ou
tocar no fruto da árvore que estava no meio do
jardim, para que não morresse.
E observando que já havia conseguido o intento
de lançar a dúvida no coração da mulher em
52
relação à verdade da Palavra de Deus, Satanás foi
ousado e direto contrariando diretamente a
afirmação daquilo que Deus havia dito, dizendo:
“é certo que não morrereis”, e para gerar convicção em Eva apresentou um argumento
para sua afirmação: “Porque Deus sabe que no
dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do
bem e do mal.”. (Gên 3.3,4).
O resultado imediato está relatado no verso 6:
“Vendo a mulher que a árvore era boa para se
comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e
comeu, e deu também ao marido, e ele comeu.”.
O admirável nisto tudo é que apesar de Eva ter
conhecido o caráter de Deus, tendo experiência do Seu amor e bondade, ela deixou que o seu
desejo falasse mais alto e não questionou
Satanás em nada do que ele disse, e não levantou
qualquer suspeita sobre as afirmações que ele estava fazendo; ainda que ela não soubesse que
estava falando com um anjo caído, com o arqui-
Inimigo de Deus.
Seria de se esperar que ela partisse em defesa de
Deus, de Seu caráter, de Sua Palavra, e que permanecesse fiel e obediente à Sua vontade.
Mas não é exatamente isto que se espera
também de nós quando confrontados pela
tentação e pelas cobiças que operam na nossa carne?
Assim, o ponto é este: se o que fazemos não é
completamente, de todo o coração, sem
reservas, confiando na sabedoria e bondade de
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Deus, nós estamos em dificuldade. Nós
pecamos.
Eva pecou, não quando ela comeu. Ela pecou quando ela deixou de acreditar que Deus era
bom e somente bom. E que importava ser
obedecido em tudo. Mas se achamos que pode
haver alguma falha no caráter de Deus, é bem provável que não confiemos inteiramente na
Sua Palavra.
Antes do pecado ela poderia ter resistido a tudo pela graça divina que lhe seria concedida caso
obedecesse à Palavra, sem a dificuldade que
todos nós temos depois que o pecado entrou no
mundo, porque, uma vez estando debaixo do seu senhorio, ele é muito mais forte do que a nossa
própria vontade.
O que queremos dizer é que Eva não tinha tanta impulsão para desobedecer no ato da
desobediência original, quanto a que passou a
ter depois que pecou, e juntamente com ela toda
a humanidade, em razão do domínio e habitação do pecado em nossa natureza terrena.
O pecado que reina na carne luta contra a nossa
mente e diz que não é o que Deus quer que importa, mas o que nós queremos.
Todo pecado em nós dá boa acolhida às
mentiras de Satanás: de que há prazer lá fora;
que há satisfação lá fora; que há diversão lá fora; que há alegria lá fora; que o mundo tem tudo o
quanto possa nos satisfazer; e que Deus está
sempre tentando nos restringir.
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Nós pecamos quando pensamos que por causa
de Deus estamos perdendo a nossa
possibilidade de sermos livres e felizes.
Temos dado crédito à mentira de Satanás
quando afirma ousadamente que Deus é um
mentiroso ao declarar que o salário do pecado é a morte, e afinal temos pecado e não temos
morrido. Satanás cria a falsa ideia de que não há
e não haverá qualquer julgamento contra o
pecado.
Esquecidos que já estamos naturalmente
julgados e mortos espiritualmente falando, porque não temos real comunhão com Deus, a
menos que Ele nos redima em Jesus Cristo.
Assim Eva não chegou a conhecer o bem e o mal
do modo que ela pensou que conheceria, isto é,
tal como Satanás lhe mentira, dizendo que seria
na exata forma como Deus os conhece.
Deus conhece o bem e o mal, guardadas as
devidas proporções, pois que seu conhecimento é perfeito e onisciente, do modo que um
cirurgião de câncer sabe sobre o câncer que é
muito diferente do modo que um paciente o
conhece.
E como Eva conheceu o mal?
O mal estava no coração de Eva.
Ela não conheceu o mal por algum efeito mágico na fruta, mas conheceu o mal no seu próprio
coração.
Ela tinha desconfiado do caráter de Deus. Ela
tinha impugnado os motivos de Deus, e ela tinha
desobedecido a Palavra de Deus.
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Desde então, o homem ainda procura cobrir a
vergonha do estado pecaminoso da sua alma,
não mais com vestes de figueira, mas com
apanágios psicológicos, com sistemas positivistas de pensamento, com sistema de
autoajuda que procurem elevar a sua auto-
estima.
Mas perguntamos, qual é a eficácia destas coisas para limpar um coração corrompido pelo
pecado, e de uma má consciência, que são as
fontes onde residem e de onde brotam de fato,
todos os nossos sentimentos de fraqueza, insucesso e toda sorte de perturbações da alma
e do espírito?
Vestes de figueira não cobrirão a vergonha da
sua nudez diante de um Deus santo e temível.
Esconder-se atrás das árvores, não mais do jardim do Éden, mas de uma má consciência,
para fugir da presença de um Deus amoroso e
fiel que nos busca para nos resgatar da condição
má em que nos encontramos em nossa própria natureza, continua sendo um sentimento
universal, produzido pelo pecado original.
Por isso o caminho de volta para Deus, para o
reino dos céus, desde o Éden e para sempre, deverá ser feito por meio de violência, ou seja,
por esforço deliberado para o exercício de fé e
obediência e sujeição ao Deus que nos procura
para ter comunhão conosco.
Então mais adiante vemos Adão não assumindo a sua culpa de modo responsável, ao contrário
ele lançou a culpa no próprio Deus e não em Eva.
Ele não disse “Essa mulher que me levou a fazer
56
isto”, mas “a mulher que você me deu”. Em
outras palavras: a culpa é sua por ter criado e me
dado esta mulher.
Não houve o mínimo arrependimento traduzido
em atitude voltada para a mudança e correção do erro, pela aceitação responsável do erro, pelo
reconhecimento sincero da culpa e pela
confissão da maldade.
Mas ao contrário disto vemos vergonha, fuga,
desculpa esfarrapada. E então Deus pronuncia uma maldição neles. Deus os amaldiçoou. E o
universo inteiro sentiu as consequências desta
maldição.
Então ambos foram expulsos do jardim.
Deus deixou uma porta aberta para que o
pecador pudesse entrar por ela na Sua presença.
Cristo é esta porta e não há nenhuma outra para tal propósito.
Deus pode perdoar os pecadores em Cristo. E não é maravilhoso saber isso, que apesar da
realidade de tudo aquilo que somos, que Deus
perdoa os pecadores? Essa é a glória do
evangelho.
Deus colocou nossa iniquidade em Cristo. Grande realidade. Ele carregou nossos pecados
no Seu próprio corpo. Ele foi feito pecado por
nós, e assim Deus O castigou no nosso lugar,
para que possamos ser levantados da queda a que nos sujeitou Adão em razão do pecado.
O homem foi criado em estado perfeito por Deus e foi colocado no topo da criação. Mas o pecado
o derrubou das alturas em que havia sido
colocado por Deus, mas pela Sua exclusiva graça
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e misericórdia, Ele tem levantado os pecadores
que creem por intermédio de Cristo, para que
estejam para sempre, em Sua santa presença.
Deus Vem ao Encontro do Homem Caído
(Gênesis 3.8-13)
“8 E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o
homem e sua mulher da presença do Senhor
Deus, entre as árvores do jardim.
9 Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?
10 Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no
jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-
me.
11 Deus perguntou-lhe mais: Quem te mostrou
que estavas nu? Comeste da árvore de que te
ordenei que não comesses?
12 Ao que respondeu o homem: A mulher que
me deste por companheira deu-me a árvore, e
eu comi.
13 Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente
enganou-me, e eu comi.”
Devemos aprender do que Deus fez no Éden logo
depois que o primeiro casal pecou. Aprender do
diálogo que o Senhor teve com o homem e com
a mulher logo depois da queda, e que antecedeu o proferimento da maldição da serpente, da
mulher, do homem e da terra por causa do
pecado.
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Quando Deus confrontou Adão e Eva no Éden
depois da queda, e os amaldiçoou, bem como a
serpente e toda a terra, não foi por um pequeno
motivo.
O pecado conturbaria o propósito de Deus para a criação.
A humanidade sujeitada ao pecado e ao diabo
passaria a ser, destrutiva, mentirosa, assassina
das coisas boas e eternas, que Deus havia criado
e especialmente aquelas que estavam sendo cultivadas no espírito do homem, como o amor,
a bondade, a paz, a alegria, o domínio próprio,
enfim, todas as virtudes que fazem parte do caráter do próprio Deus.
Quando Adão e Eva ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia,
esconderam-se da Sua presença entre as
árvores do jardim (Gên 3.8).
Isto representava uma mudança dramática no relacionamento deles com Deus.
O endurecimento produzido pelo pecado se revelou no conteúdo e no modo das respostas
que ambos deram a Deus, quando foram
confrontados por Ele.
Nenhum dos dois mostrou arrependimento ou
lamentou pelo que haviam feito.
Não demonstraram tristeza diante de Deus.
Não assumiram a própria culpa declarando-se culpados, ao contrário, deram respostas
evasivas e com troca de acusações.
O pecado faz com que atribuamos os nossos
fracassos a outros e não a nós mesmos.
59
Faz com que tentemos nos justificar
condenando a outros.
Foi o que Adão e Eva fizeram quando foram
confrontados por Deus. Eles haviam duvidado
da bondade de Deus, e agora, no estado de pecado não creram, não confiaram na Sua graça
e misericórdia para serem perdoados através do
arrependimento e confissão da sua culpa.
Assim, eles ofenderam duplamente a Deus,
quando fugiram da Sua presença, quando
ouviram a Sua voz no jardim.
Eles o consideraram como alguém mal e disposto a destruí-los, e foi por isso que fugiram.
Eles tiveram medo de Deus porque viram que estavam nus.
Tinham vergonha de estarem nus, porque agora
estavam sendo dominados por maus
pensamentos.
Eles conheciam a santidade e pureza de Deus.
Na verdade, eles queriam evitar Deus, se fosse
possível. Mas o Senhor não os deixou entregues
à própria sorte, e veio confrontá-los e prestar
contas juntamente com eles dos atos que haviam praticado e das coisas que estavam
sentindo.
Eles estavam endurecidos pelo pecado,
conforme demonstraram em suas atitudes e
respostas, e de nada adiantaria Deus argumentar com eles para convencê-los acerca
da Sua graça e misericórdia.
Aquela era a hora das trevas, Satanás havia
triunfado em seu intento de induzir o homem e
a mulher ao pecado, e não restou a Deus senão a
60
alternativa de punir o pecado, naquele
momento, com a morte espiritual, pela quebra
da comunhão de Adão e Eva com Ele, e pela
punição da falta com o proferimento de maldições, e com a expulsão do homem e da
mulher do jardim.
O pecado manifestou a sua face terrível e o seu poder de manter escravizada a alma humana.
Uma vez debaixo da escravidão do pecado, o
homem fica dependente de que Deus use os meios de graça necessários para conduzi-lo ao
arrependimento, para que possa ser libertado.
Somente o poder da graça de Deus pode libertar o homem da escravidão do pecado.
Somente o Filho Unigênito de Deus pode
libertar aqueles que são escravos por natureza deste inimigo terrível que conduz o homem
tanto à morte física, quanto espiritual e eterna.
O pecado é como um vício terrível ligado à alma humana, e do qual o homem não pode se livrar
por si mesmo.
Ele pode entender que o que tem feito é errado.
Pode sentir vergonha da sua condição em
pecado, tal como Adão e Eva sentiram.
Pode reconhecer que Deus é santo e que não
pode estar em comunhão com Ele enquanto
estiver escravizado ao pecado.
Pode saber que há um julgamento de Deus sobre
o pecado.
Pode sentir a sua consciência culpada.
Pode fazer resoluções de mudar sua vida e
deixar de fazer as coisas erradas que faz, mas
não pode parar de pecar, nem pode se
61
arrepender honestamente, porque o poder do
pecado é maior do que todos os poderes que
existem na natureza humana.
Somente o poder de Deus pode vencer o pecado.
Para tanto, o homem deve se sujeitar a Deus.
Deve pedir-lhe humildemente que o ajude a se
livrar dessa escravidão que é mais forte do que
tudo o que há no mundo.
Por isso a Bíblia indica ao homem qual é o caminho que ele deve seguir para obter o favor,
a graça de Deus. Ele deve lamentar, chorar as
suas misérias humildemente diante do Senhor, esperando que Ele estenda a Sua mão poderosa,
e o liberte e o abençoe.
Adão e Eva tentaram cobrir a vergonha da sua
nudez com folhas de figueira, mas isto não foi
suficiente, porque a nudez do pecado é sentida no coração, e não pode ser acobertada.
Somente pela fé e pelo arrependimento é que
pode ser coberta pelo sangue de Jesus.
Não há outro modo para se livrar da culpa do pecado, e alcançar uma boa consciência diante
de Deus.
Conseguimos esta boa consciência pela certeza
de que fomos de fato perdoados de todos os nossos pecados e que toda a nossa culpa foi
removida, pelo sacrifício de Jesus, para o ato de
justificação que nos reconciliou para sempre
com Deus.
Aquele foi o pôr de sol mais triste já
testemunhado pela história do mundo.
Pois foi naquele entardecer que a criação foi
amaldiçoada por Deus.
62
Foi quando a amizade foi rompida e toda a
humanidade passou a estar debaixo da ira de
Deus.
A ira do julgamento do pecado que sujeitou o
homem à morte, tal como havia sido alertado anteriormente.
As trevas do pecado receberam a justa sentença divina, e somente por meio do sangue de Jesus,
o homem poderia voltar a ter paz com Deus.
“O Filho do homem veio buscar e salvar o
perdido.” (Lc 19.10).
O próprio Jesus proferiu estas maravilhosas
palavras quando se referiu à conversão de
Zaqueu, o publicano.
Esta missão de buscar o pecador perdido começou no jardim do Éden, quando o Senhor
Deus veio ao encontro de Adão e Eva depois de
terem caído no pecado.
Como Ele lhes havia alertado que no dia em que
eles O desobedecessem comendo o fruto, que
lhes havia proibido, eles certamente morreriam, é bem provável que ambos tenham
pensado que seriam aniquilados pela ira de
Deus quando Ele os encontrasse, e por isso
fugiram da Sua presença e tentaram se esconder entre as árvores do jardim.
Mas Deus veio buscar o pecador escondido.
E aqui nós achamos a primeira visão da graça, a primeira expressão de misericórdia, a primeira
indicação de que poderia haver uma
possibilidade para a reconciliação.
No verso 9 nós lemos: “E chamou o Senhor Deus
ao homem, e lhe perguntou: Onde estás?”.
63
Isto não é certamente o que se poderia
imaginar, porque se eles desobedecessem a
Deus, eles iriam morrer, e pensamos em algum
ato imediato de julgamento divino caindo sobre as cabeças deles. Mas ao invés, nós achamos
Deus iniciando uma confrontação que começa
de uma forma muito branda.
Aqui está revelada pela primeira vez a verdade do evangelho: Deus busca o pecador e lhe
pergunta onde ele está.
Há uma sentença de morte sobre o pecador,
mas Deus vem buscá-lo para que possa ser salvo desta condenação.
O homem está morto em seus pecados, mas
Deus vem buscá-lo para que tenha vida, e a
tenha em abundância. E Deus ainda busca os
pecadores.
A nossa própria consciência nos acusa e
condena acerca do fato de sermos pecadores.
Satanás é o grande acusador que nos aponta os
nossos pecados e tenta nos fazer sentir que Deus não tem qualquer misericórdia para pessoas
corrompidas pelo pecado como nós.
Mas neste ato de busca de Adão e Eva, depois de
terem pecado, Deus revelou a grande mentira
do diabo, e o quanto a nossa própria consciência sujeita ao pecado nos engana e é uma má
consciência nos dizendo que não podemos ter
confiança em que Deus possa ser bondoso e
perdoador em relação a nós, um a vez tendo nós lhe ofendido de maneira tão terrível com os
nossos pecados. Seria de se esperar vingança e
ressentimento e não oportunidade e perdão.
64
Mas a graça superabundou onde abundou o
pecado. A graça se revelou infinitamente rica,
pela primeira vez, por Adão e Eva terem sido
poupados pela longanimidade de Deus, apesar de não terem manifestado qualquer tipo de
arrependimento em relação ao seu pecado.
A graça reteve a destruição deles.
Quando Deus perguntou a Adão onde ele estava, ele não o fez porque não soubesse onde ele havia
se escondido, pois Ele sabe tudo, Ele é
onisciente. Ele sabia onde Adão estava. O que Ele
queria era que Adão reconhecesse a sua condição atual, e que confessasse o seu pecado,
porque é Deus misericordioso, compassivo,
longânimo, perdoador, e estava manifestando
estes seus atributos a Adão de forma que ele pudesse achar lugar para o arrependimento.
A palavra "chamou", “ikrrá”, no mesmo
versículo (3.9), “Chamou o Senhor Deus ao
homem”, significa no hebraico o ato de chamar alguém para uma prestação de contas. É usada
em várias passagens do Velho Testamento
como por exemplo em Gên 12.18; 20.9; 26.9.10. Dt
25.8. Deus chama Adão para responder por seus atos perante Ele, mas é uma aproximação
bastante compassiva.
Antes do pecado, Adão falava somente a verdade
e amava somente a verdade, mas o engano havia
entrado agora no seu coração. Ele não consegue ser inteiramente honesto em dizer em plena
sinceridade a Deus tudo o que estava sentindo e
pensando.
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O pecado tem esta característica de levar o
homem a ser indulgente para com as suas faltas,
e ser parcial na justa avaliação delas.
Adão não sentiu repulsa pelo seu pecado. Não
ficou entristecido pelo fato de ter desagradado
Aquele que tanto o amava e que lhe manifestava diretamente este amor todas as vezes que ia ter
com ele no jardim.
Adão não ficou horrorizado com o próprio
pecado, ao contrário ele ficou horrorizado com
Deus porque teve medo de Deus.
Ele teve medo das consequências, mas não teve
nenhum temor em relação ao mal que havia
aprisionado a sua mente e coração.
Depois de ter confrontado Adão, Deus
confrontou Eva: “Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A
serpente me enganou, e eu comi.”. Adão não
tentou proteger Eva. E cabia a ele, no casamento,
a função de proteger a sua esposa.
Ao contrário, ele direcionou a atenção de Deus
para ela, procurando achar alívio na sua própria responsabilidade.
Ele fez, como se costuma dizer popularmente: “tirou o corpo fora” e lançou toda a carga sobre
sua esposa.
Aquela relação maravilhosa que havia antes do pecado foi inteiramente torcida.
Do mesmo modo que fez com Adão, Deus deu à mulher uma oportunidade para
arrependimento quando lhe perguntou o que
ela havia feito.
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Mas, tal como o seu marido, a mulher não
assumiu a sua culpa, e a jogou inteiramente
sobre a serpente.
Pensou que poderia ser justificada perante Deus
pelo fato de ter sido enganada pela serpente. “A
culpa é toda do diabo.”.
É o que muitos pensam erroneamente. Há
mesmo cristãos que pensam que tudo o que
fazem de errado não é por causa do seu próprio
pecado, mas que é sempre por causa do diabo.
“Foi o diabo que me fez fazer aquilo. Não fui eu o
culpado. O culpado foi o diabo!”.
É muito comum se ouvir isto. Ainda que não se
possa inocentar o maligno que veio realmente
roubar, matar e destruir, sendo ele o pai da
mentira, nem por isso, não podemos transferir a responsabilidade
pelos nossos maus pensamentos e atos
inteiramente para a conta de Satanás.
Como afirma Tiago: “Cada um é tentado pela
sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.”
(Tg 1.15).
O homem é inteiramente responsável por todos
os seus atos. A cura está portanto em
exatamente reconhecer esta responsabilidade e confessá-la a Deus. Porque isto é a verdade
quanto à nossa condição em relação ao pecado.
E é portanto somente confessando a própria
culpa que se pode achar o favor e graça de Deus.
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A Maldição da Serpente (Gênesis 3.14,15)
“14 Então o Senhor Deus disse à serpente:
Porquanto fizeste isso, maldita serás tu dentre
todos os animais domésticos, e dentre todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e
pó comerás todos os dias da tua vida.
15 Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a
tua descendência e a sua descendência; esta te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Satanás conseguiu se prover de filhos espirituais através do êxito do seu propósito em
tentar a mulher a pecar, e ao conseguir com que
esta também convencesse o seu marido a comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal.
O descendente da mulher que ferirá a cabeça do diabo é sem qualquer sombra de dúvida o
Senhor Jesus, que sendo Deus, foi concebido no
ventre de Maria para vir a este mundo destruir as obras do diabo, esmagando a sua cabeça.
Este ato de esmagar a cabeça da serpente, seria
feito através de um ferimento “do calcanhar” do Senhor pelo diabo, a saber a humilhação,
perseguição que foi permitido que o diabo lhe
fizesse, e que culminou com a Sua morte na
cruz; e não somente isto, esta ferida que é produzida no calcanhar pelo diabo, na
descendência bendita da mulher, é também
feita naqueles que são de Cristo.
Satanás se proveu de uma descendência em
toda a humanidade, por meio do pecado, mas
68
Deus prometeu levantar desta descendência
muitos que seriam inimigos do diabo, e não
seriam mais seus descendentes, porque viria
Aquele que lhe esmagaria a cabeça, e lhe despojaria do seu poder sobre todos os homens,
de maneira que aqueles que se unissem ao
Redentor, seriam livrados do seu senhorio maligno.
Por isso, há uma maldição sobre os animais, e
especialmente sobre a serpente, como consequência do pecado do homem, e há
também uma maldição específica sobre
Satanás, por ter a sua cabeça esmagada pelo
descendente da mulher, que é Cristo.
Nós temos a partir destes versículos de Gênesis,
o começo da maldição divina. Nós temos a
maldição que Ele proferiu sobre a serpente; que é sobretudo a maldição de Satanás.
É importante verificar que Satanás foi lançado juntamente com muitos demônios à terra,
depois que eles se rebelaram no céu, e muitos
demônios foram colocados em cadeias num
lugar que a Bíblia chama de abismo. E eles ainda permanecem lá.
No tempo do fim, no período da Grande
Tribulação, um grande número deles será libertado para afligir os homens que estiverem
vivendo sobre a terra. É possível que Satanás e os
demônios que atuam na terra também
estivessem no abismo, antes de o Senhor criar os céus e a terra, e foi permitido a estes saírem
do abismo para cumprirem pelo menos dois
grandes propósitos de Deus: O primeiro de
69
trazer um julgamento sobre eles, através do
agravamento do pecado deles, por ter Satanás
tentado o primeiro casal a pecar contra Deus,
fazendo com que a criação ficasse sujeita à vaidade, e também por toda a sorte de males que
eles praticam sobre a terra, especialmente em
relação aos homens, e por terem também atuado para levar Jesus à cruz.
Isto tudo agravou sobremaneira o juízo deles,
pois Deus propiciou com que ficasse exposta à
vista de todos os seres celestiais e dos homens, a
excessiva malignidade de Satanás e de todos os anjos caídos.
Foi portanto, pela morte de Jesus na cruz, que
eles não somente ficaram despojados do
domínio completo sobre aqueles pelos quais o Senhor morreu, e que nEle creem, como
também ficaram sujeitos ao desprezo pela
vitória de Jesus na cruz (Col 2.14,15).
O segundo propósito é o de que Satanás e os
demônios que estão na terra, operam como agentes de provação da obediência dos homens,
e são também os executores de juízos sobre os
desobedientes que lhes são entregues para
destruição da carne.
Deus não pode ser tentado pelo mal, e a
ninguém também pode tentar, porque é
absolutamente puro e santo, e desta forma,
Satanás e os demônios atendem bem ao propósito de provar a fidelidade do coração dos
homens, por tentar seduzi-los à prática do mal.
Evidentemente, isto não esgota tudo o que Deus
intentou em Sua sabedoria e soberania, quando
70
fez com que os homens sobre a terra tivessem
que ter a companhia de Satanás e de demônios,
que mesmo sendo indesejável para aqueles que
amam e temem ao Senhor, acabam cooperando indiretamente para o aperfeiçoamento do seu
caráter, nas lutas que têm que empreender
contra os poderes das trevas.
Satanás, certamente, tanto quanto o próprio
homem a quem tentou, não sabia, não conhecia
tudo o que estaria implicado naquele ato de tentação do primeiro casal. Ele jamais
imaginaria tudo o que seria colocado em curso
por Deus para cumprir os Seus eternos
propósitos tanto no que se refere à redenção do homem, quanto à manifestação da glória da Sua
graça, quanto aos juízos que Ele traria sobre o
próprio diabo.
Satanás pensou que poderia estragar
completamente a criação de Deus, levando o
primeiro casal a cair no pecado. Mas Ele não
sabia que tudo já estava previsto nos conselhos eternos de Deus, e que Ele tinha um plano
maravilhoso para ser colocado em prática.
É interessante observar que na palavra mesma
de maldição que Deus proferiu sobre a serpente
estava embutida a promessa do Salvador.
A maldição distintiva da serpente teve também
o propósito de que ela se tornasse um símbolo,
uma lembrança constante para o homem, da
queda e da condição amaldiçoada do próprio Satanás, que se identificou com a serpente, e
que é por isso chamado na Bíblia por este nome,
como em Apo 12.9; 20.2; II Cor 11.3, por exemplo.
71
Satanás disse em seu coração: “Eu subirei ao
céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu
trono, e no monte da congregação me
assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante
ao Altíssimo.” (Is 14.13,14). Entretanto, Deus que
tudo sabe, conhecendo-lhe estes pensamentos íntimos proferiu a seguinte sentença sobre ele:
“Contudo serás precipitado para o reino dos
mortos, no mais profundo do abismo,” (Is 14.15).
Satanás será de fato lançado no abismo por
ocasião da volta de Jesus (Apo 20.1-3), e será
lançado no lago do fogo e enxofre, no final do
milênio (Apo 20.10).
Satanás jamais considerou, quando pensou que
teria estragado para sempre, o plano de Deus de
ter muitos filhos como Jesus Cristo, com a sua tentação de Eva, porque sabia que havia uma
sentença de morte para o caso de desobediência
ao mandamento de Deus, caso comesse do fruto
proibido, que daquela sentença de morte, Deus traria ainda vida, e vida em abundância ao
homem morto espiritualmente em seus delitos
e pecados.
Jamais o diabo cogitaria que o próprio Deus
pagaria na pessoa de Seu Filho, o preço exigido
para a redenção do pecado e a remoção da morte do mundo.
A morte seria vencida pelo autor da vida, com a
Sua própria morte, e como Satanás poderia cogitar um tal plano de redenção em que o
próprio Deus se disporia a morrer por amor ao
homem, e ainda por cima, de um homem agora
72
corrompido pelo pecado, e transgressor dos
mandamentos de Deus?
O diabo não podia pensar que um Deus tão
elevado, poderoso, glorioso e majestoso, se
humilhasse e se dispusesse a tal ponto de assumir a forma de homem e de servo, para
morrer em tal condição, em favor de míseros
pecadores.
Satanás estava cheio de ódio contra Deus por ter
sido expulso para sempre do céu, e por ter recebido uma sentença de morte espiritual
eterna. E jamais poderia imaginar que Deus
pudesse perdoar transgressores da Sua vontade
tal como ele, a saber, o diabo.
Então, ao atacar a criação perfeita na pessoa de
Eva, ele tencionava atacar o próprio Deus.
Ele já havia enganado e arrastado a muitos anjos juntamente com ele, enquanto ainda se
encontrava no céu. E agora procuraria produzir
estragos na criação de Deus na terra.
Na verdade, ele continua operando
incansavelmente neste seu trabalho,
procurando produzir tudo o que está ao seu alcance para trazer miséria, destruição e
corrupção ao mundo e a tudo o que ele contém.
Com isto ele está agravando e em muito a
sentença de condenação contra ele, e ele sabe
muito bem disto.
Até o momento do proferimento da maldição
não havia nenhuma luta entre o homem e o diabo. Adão e Eva tinham seguido a Satanás. Não
havia nenhuma hostilidade entre eles. Não
havia nenhuma inimizade lá. E não é dito que
73
eles fugiram da serpente depois da queda
procurando se esconder do diabo. Ao contrário
é dito que fugiram da presença de Deus
tentando se esconder entre as árvores do jardim. E o diabo deve ter se regozijado
antecipadamente num triunfo pleno que ele de
fato não chegaria a ter, pois não imaginava que Deus se proveria de muitos filhos, incontáveis
como as estrelas do céu, dentre os pecadores
caídos.
Na maldição proferida por Deus contra Satanás,
há uma possível profecia indicando a futura conversão de Eva. O diabo pensou que teria Eva
do seu lado para sempre, mas quando Deus lhe
disse que Ele colocaria uma profunda inimizade
entre a mulher e o diabo, pode estar também incluída aqui a conversão de Eva.
Ela, por um momento, havia se tornado inimiga
de Deus por causa do pecado, mas ela poderia,
pela misericórdia e graça de Deus vir a se converter e assim voltar a ter comunhão com
Deus, e consequentemente ser inimiga do
diabo.
Temos nas palavras de Eva proferidas em Gên 4.1, em que tributou glória a Deus no
nascimento do seu filho primogênito, Caim,
uma indicação desta sua possível conversão:
“adquiri um varão com o auxílio do Senhor.”.
Depois de Caim ter assassinado Abel, a mesma Eva viria a declarar em relação a nascimento de
sete: “Deus me concedeu outro descendente em
lugar de Abel, que Caim matou.” (Gên 4.25).
74
Há nestas palavras algum indício de inimizade
contra Deus?
Ao contrário, parecem ser palavras de quem
tinha o temor do Senhor.
Estas foram palavras proferidas por Eva depois
da maldição da serpente.
Que duro golpe não seria para Satanás a
conversão de Eva, e quão duro golpe é para ele a
conversão de todos aqueles que ele consegue
enganar por algum tempo mantendo debaixo da sua influência na condição de inimigos de Deus.
É possível que até o próprio Adão tenha se convertido a Deus, porque vemos Abel sendo
temente a Deus e agindo de acordo com as
ordens de Deus, e provavelmente todos os
primeiros descendentes de Adão e Eva aprenderam acerca da bondade e do amor de
Deus através do relato de seus pais.
A Maldição da Mulher (Gênesis 3.16)
“E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os
sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores
darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu
marido, e ele te governará.” (Gên 3.16).
Deus estava projetando originalmente que as
mulheres teriam filhos e que esses filhos
trariam às mulheres tristeza e dor física, tristeza na hora do nascimento, e então tristeza
assistindo a luta daquele pequeno ser, contra
todas as ameaças que vêm contra a sua vida e
75
todas as coisas que podem afligir e quebrar o
coração de uma mãe.
O desígnio original de Deus era isso? Não. Tudo
isso é parte da maldição. Isso é o que Gên 3.16
está dizendo. Isso faz parte da maldição; isso não faz parte do desígnio original de Deus.
A mulher foi amaldiçoada na esfera do seu trabalho, na esfera da sua vida; na relação com
os filhos e o seu marido.
As dificuldades com os filhos e as dores que
se sofre nesta área, a dor física e emocional e às
vezes uma dor espiritual profunda, e a luta com o marido, não fazia parte do que Deus pretendeu
no princípio.
Isso é um resultado do pecado, e da maldição
que Deus fez a Eva.
Isto lhe viria como consequência do pecado.
A primeira parte da maldição é em relação aos
filhos. A segunda parte está relacionada ao
marido. Nesta primeira parte, é dito
literalmente: "'Em dor você terá os seus filhos”. E na segunda parte: “o teu desejo será para o teu
marido, e ele te governará.”.
Assim, as mulheres foram amaldiçoadas para
sofrerem nas duas relações mais significativas
da maioria delas, a saber, relacionamento com os filhos e relacionamento com os maridos.
Esses realmente são os dois reinos nos quais as mulheres geralmente acham a sua vida, porque
a maioria delas está vocacionada por Deus para
ser esposa e mãe.
Deus criou Adão e Eva, originalmente no jardim
em perfeição e sem pecado.
76
Deus falou com a mulher com a maldição que foi
destinada a ela para servir como uma
lembrança constante do seu pecado.
É em princípio uma lembrança para todas as
mulheres do horror do pecado, não para acusação, mas para reconhecimento da
condição de pecado, para que haja confissão,
arrependimento e salvação, porque sem o
convencimento do pecado, não se pode receber a graça que liberta do pecado.
Podemos dizer então que a maldição no caso da mulher e do homem, não foi para o mal, mas
para uma boa finalidade, a saber, a da redenção
da humanidade.
A mulher quer ter paz, alegria, amor e harmonia
no relacionamento com seu marido e filhos, mas para tê-lo, depois do pecado, deverá buscar
tudo isso vivendo para Cristo.
Se ele não edificar o lar, em vão será todo o seu
trabalho e esforço em tal sentido, porque
somente Cristo pode libertar do poder e
escravidão do pecado, que impede um viver abençoado em plenitude.
Isto quer dizer que a vida da mulher que está
vencendo os efeitos da maldição que há no
mundo é marcada por fé em Deus, por amor
sincero a Deus, por santificação, pureza de vida e domínio próprio.
Esta é a marca com que uma mulher piedosa produzirá filhos piedosos. E com isso a sua dor
será grandemente reduzida, pela bênção de
Deus em sua vida, neste mundo de trevas.
77
Entretanto, como já dissemos, nem toda dor,
sofrimento, decepção, serão retirados, pois não
há quem não peque e que não necessite da
disciplina e da instrução do Senhor.
Como aprenderemos humildade e paciência se não formos contraditados, injustiçados,
perseguidos, desamparados?
Como experimentaríamos a realidade do
cuidado de Deus se não tivéssemos em que ser
socorridos?
Em quê perceberíamos a necessidade de
mudarmos nosso comportamento, e mais do que o comportamento exterior, as atitudes
internas do nosso coração, se não
percebêssemos, pela graça do Senhor, no que
temos errado em relação à edificação da vida de nosso cônjuge e filhos?
Por isso, os problemas em família são também
oportunidades para mudança e crescimento
espiritual, pelo aprendizado e prática das
virtudes que estão na própria pessoa de Cristo.
E assim, Deus faz com que tudo coopere para o
bem daqueles que Lhe ama, sejam circunstâncias favoráveis ou adversas, porque
estarão sempre produzindo um fruto pacífico de
justiça e de refinamento de caráter e de fé.
Agora, vejamos a segunda parte da maldição
que se refere à relação da mulher com o seu marido: “o teu desejo será para o teu marido, e
ele te governará.”.
"O teu desejo será para o teu marido.". Isto
significa que o desejo dela vai ser algo negativo,
algo que reflete separação e alienação.
78
Até este ponto foi posta inimizade entre a
serpente e a mulher. Foi posta inimizade entre o
homem e a terra. E é posta inimizade entre a
esposa e o seu marido.
Ela não pode fazer o que ela deseja. Ela não vai viver a própria vida dela totalmente
independente, porque o marido dela rege sobre
ela.
Tudo que ela deseja está sujeito à vontade dele.
Ela nem sempre adquirirá o que ela quer.
Ela vai ter que suportar a tristeza da insatisfação.
Lembre, antes de prosseguirmos, que isso será experimentado, sempre que não estiver debaixo
do governo de Cristo.
Somente o Senhor pode modificar este quadro,
colocando satisfação no coração em toda e
qualquer circunstância.
Olhemos agora para as particularidades do idioma que expressa o conflito. "'Seu desejo será
para o seu marido.". Agora, falemos sobre a
palavra "desejo". Significa “busca de controle”.
Literalmente, poderia ser lido: “você buscará ter o controle de tudo”.
O pecado produziria isto naquela submissão
voluntária da mulher antes da queda.
Em vez dela, haveria naturalmente na mulher,
em sua natureza terrena, esta inclinação para
governar o marido, invertendo assim o que fora planejado por Deus desde o princípio.
Você desejará fazer prevalecer sua vontade. Isso
é um sinal da maldição do pecado que está no
mundo desde a queda.
79
Somente em Cristo, este desejo pode ser
revertido em sincera submissão.
Este comportamento seria uma consequência do próprio pecado na mulher, e não
propriamente da maldição proferida por Deus.
Você desejará estar no controle, dominar. E então, a consequência disto é que seu marido
reagirá com domínio, governo, em vez de
liderança amorosa.
A Maldição do Homem (Gênesis 3.17-19)
“17 E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos
à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que
te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela
todos os dias da tua vida.
18 Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e
comerás das ervas do campo.
19 Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado;
porquanto és pó, e ao pó tornarás.”
Na maldição da mulher relativa a seus filhos e
marido, temos a indicação indireta de que o
reino da mulher casada é o seu lar. E nos versos 17 a 19 nós vemos qual é o reino do homem, pois
foi designado a ele a atribuição de obter o
sustento da sua família lavrando a terra.
O homem passaria também a ter dificuldades no
trabalho que deveria fazer para obter o sustento
de sua família, porque a terra produziria cardos
80
e abrolhos, que é uma referência a ervas
daninhas e espinhos.
A causa da maldição do homem é declarada por
Deus: “Visto que atendeste à voz de tua mulher,
e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: maldita é a terra por tua causa...”.
Houve uma razão para o efeito especial que foi
projetado para ser um castigo particular
colocado no homem como uma lembrança da severidade do pecado. A razão porque ele fez isto
foi porque ele escutou a voz da sua esposa, em
lugar da voz de Deus.
Ele decidiu fazer o que ela queria que ele fizesse,
em lugar do que Deus lhe ordenou que fizesse. É bom conhecer os desejos da esposa; é bom
satisfazer os pedidos da esposa. Mas não quando
ela está pedindo que o marido desobedeça a
Deus.
Ela sabia o que Deus tinha dito. Mas ela queria
que ele comesse. Ela tinha feito isto debaixo da ilusão que ela conheceria o bem e o mal agora;
que ela seria como Deus. Este era um ato de
autoexaltação. Ela queria que ele fizesse isto. E
ele escutou a voz dela, em lugar do mandamento de Deus. Ele fez o que a sua esposa queria que ele
fizesse. E foi como se Deus dissesse: "'Porque
você escutou a voz de sua esposa no lugar da voz
de Deus. Porque em lugar de regê-la, você deixou que ela o regesse. Em lugar de mostrar a
ela através do exemplo o que era certo,
obedecendo a Deus, você seguiu o exemplo
81
dela de desobediência a Deus. Em lugar de
honrar a Deus, você honrou sua esposa, que, em
vez de honrar a Deus, honrou a serpente.”.
A consequência disso é que a terra permanece
sob maldição, e não há outro modo de se obter
boas safras agrícolas a não ser mediante muito trabalho e esforço.
Por isso Deus disse a Adão: “maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento
durante os dias de tua vida. Ela produzirá
também cardos e abrolhos, e tu, comerás a erva
do campo. No suor do rosto comerás o teu pão”.
Assim, somente o trabalho honesto num mundo
de pecado se torna uma bênção. E as dificuldades para o homem vencer em seu
trabalho são um duplo reforço de bênção já que
estamos num mundo de pecado e sujeitos ao
pecado.
O trabalho mantém a mente e as mãos ocupadas
naquilo que é útil e não pecaminoso.
O coração fica fortalecido e Deus derrama a sua
bênção sobre aquele que trabalha.
Mas o ocioso pode facilmente se dispor para a
prática do mal, e a ocupar o seu pensamento com o que é vão e pecaminoso.
Assim, essa maldição específica, num mundo
pecado, é uma proteção para o homem com seu coração pecaminoso, e não algo para
atormentá-lo e levá-lo à ruína.
O ideal seria que não houvesse fadiga, esforço,
tristeza em seu trabalho, mas isto somente seria
adequado num mundo sem pecado.
82
Certamente as mãos que não estiverem
ocupadas no que é útil, poderão mais facilmente
ocupar-se de cousas com as quais não deveriam
se envolver.
Isto se aplica tanto ao pão material, quanto ao espiritual, porque sem diligência, trabalho,
especialmente para viver dentro do padrão
estabelecido por Deus em Sua Palavra, a graça
que está disponível em Jesus, de pouco ou nada nos beneficiará, porque o Senhor tem amarrado
à Sua bênção à quebra da maldição, pelo esforço
em diligência.
A Promessa da Redenção
(Gênesis 3.20-24) “20 Chamou Adão à sua mulher Eva, porque era
a mãe de todos os viventes.
21 E o Senhor Deus fez túnicas de peles para
Adão e sua mulher, e os vestiu.
22 Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem
se tem tornado como um de nós, conhecendo o
bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua
mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente.
23 O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden para lavrar a terra, de que fora tomado.
24 E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma
espada flamejante que se volvia por todos os
lados, para guardar o caminho da árvore da
vida.”
83
O jardim do Éden simbolizava o céu na terra; e
assim, em razão do pecado, o homem não
poderia permanecer no Éden, porque ninguém
pode permanecer em pecado no céu.
Isto é claramente ensinado aqui, em figura.
Então o homem foi expulso do Éden, e
querubins, que são guardiões da santidade de
Deus foram colocados à entrada do jardim, para que o homem soubesse que ele não pode estar
no local da habitação de Deus, enquanto estiver
sob o pecado.
Mas a redenção, que é segundo a fé, e com base na misericórdia e graça de Deus, pode dar ao
homem caído a oportunidade de ser restaurado,
e habilitado a retornar ao paraíso, isto é, ao local
da habitação do homem, que é também a morada de Deus. E o modo de se ter isto, está
ensinado de forma compactada em Gên 3.20,21.
Jesus prometeu ao ladrão na cruz, que havia se
arrependido, que o conduziria ao paraíso.
Aqui nesta passagem de Gênesis é provável e quase certo que nós tenhamos a primeira
revelação da promessa do evangelho em ação,
salvando pela fé a Adão, que recebeu, depois
deste posicionamento de fé, uma cobertura adequada para a sua nudez física, preparada não
por ele e nem por Eva, mas pelo próprio Deus,
que fez túnicas de peles para ambos, que exigiu
o sacrifício de animais, e consequentemente derramamento de sangue.
Um ato de fé em Deus fez com que fossem
cobertos com a justiça de Cristo, que seria a
única vestimenta apropriada para cobrir de
84
justiça a todos os que nele creem, desde que o
pecado entrou no mundo.
Nós temos no versículo 20, anterior ao que fala
da cobertura com as túnicas de peles (v.21), uma
possível evidência do porque ter Deus preparado uma tal vestimenta que, diga-se de
passagem, foi aceita por Adão e por Eva, pois, se
estivessem do lado da serpente, lhe dando
crédito na mentira que havia proferido, eles se apresentariam em rebelião contra Deus.
Eles estavam debaixo do pecado, sentindo as consequências e influências do pecado, como
qualquer pessoa depois deles, mas haviam
provavelmente se reconciliado com Deus, pela
fé, como se dá com todos os que nEle creem.
Como dissemos, há uma forte evidência para a conversão de Adão, logo posteriormente à
queda, uma vez que ele deve ter presenciado e
ouvido a maldição contra a serpente, a qual
conforme já estudamos antes, afirma que haveria inimizade entre a mulher e a serpente, e
entre a descendência da mulher e a da serpente,
e que o descendente da mulher lhe esmagaria a
cabeça.
Ora, isto, trouxe provavelmente a Adão a fé que
salva.
Ele demonstrou ter crido nesta promessa de Deus, e por conseguinte, no próprio Deus, uma
vez, que, ato contínuo, deu, o próprio Adão, o
nome de Eva à sua mulher.
Até aquele momento ela não tinha um nome
próprio específico.
85
Adão se sentiu inspirado a lhe dar o nome
naquela hora, que é para nós uma forte e
provável evidência da sua fé, pois este nome, no
hebraico, como está no original, significa “vida”.
Ele creu que haveria vida, porque Deus, apesar
de terem sido amaldiçoados, manteve a ordem de que ele e sua esposa fossem fecundos e se
multiplicassem; e o melhor de tudo, haveria
uma grande oportunidade para eles, de serem
inimigos da serpente, e gerar Aquele que viria depois deles, como descendente de Eva, para
esmagar a cabeça da serpente.
Isto é maravilhoso, não é verdade?
Adão que tinha amizade com Deus no Éden, antes da queda, não tinha, no entanto, fé em
Deus, tanto que não deu crédito a Deus e confiou
nas palavras da serpente.
Mas, agora, apesar de pecador, tendo quebrado
aquela perfeição de comunhão, por causa do
pecado, ele expressa fé em Deus, e naquilo que ainda não era visível e concretizado.
Ele creu na promessa de Deus, e colocou o nome de “Vida” em sua esposa.
Ele não era pai de ninguém, e nem Eva era mãe de ninguém, até aquele momento, e Adão creu
em Deus e na Sua palavra.
A fé é por isso, o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se
veem (Hb 11.1), e quanto à importância da fé,
Jesus disse diante da incredulidade de Tomé que felizes são os que não viram e creram.
Por isso sem fé é impossível agradar a Deus.
86
É também por isso que se declara que é por meio
da fé que vive o justo.
A vida eterna é por fé, porque é somente por ela
que podemos expressar a nossa confiança em
Deus.
Confiança plena no Seu caráter, naquilo que Ele
é.
Plena certeza na Sua fidelidade, especialmente para cumprir Suas promessas.
Neste texto de Gênesis 3.20-24 estão resumidos os componentes necessários para a salvação.
Aqui é apresentada a teologia da redenção, tanto
pelo lado do homem, quanto pelo lado de Deus.
Do lado do homem, são apresentados fé e
arrependimento.
Do lado de Deus é apresentada substituição.
O homem crê com um coração penitente, e
Deus provê substituição para o pecador crer na eternidade.
A salvação dos pecadores, a libertação deles do pecado, sempre foi por fé e arrependimento; e
por substituição e pelo poder de Deus para nos
justificar e nos afiançar a vida eterna.
A substituição aqui referida é a de que Deus
provê um substituto para cobrir o nosso pecado.
Os animais que foram sacrificados para cobrir a
nudez de Adão e Eva, tipificavam o sacrifício de Jesus que foi sacrificado para cobrir o nosso
pecado.
Assim, a salvação do lado do homem requer fé.
Mas do lado de Deus, requer substituição para
satisfação da Sua justiça e santidade.
87
O versículo 21 diz que Deus fez túnicas de peles
para Adão e Eva e os vestiu com elas. Antes de
qualquer outro comentário queremos deixar
destacado o fato de que a Bíblia diz que foi Deus mesmo quem os vestiu.
Ele não somente fez as túnicas como também os
vestiu.
O que eles fizeram foi somente aceitar aquilo
que Deus tinha preparado para eles.
Deus já preparou para nós uma vestimenta de
justiça apropriada para cobrir o nosso pecado: a
justificação que é por meio da fé em Jesus.
Adão e Eva não tiveram que pagar pela veste que
Deus fez para cobri-los.
De igual modo a justiça de Jesus para todo pecador que nEle creia é também pela graça de
Deus.
O pecador não tem nada que fazer senão
somente aceitar a justiça que lhe está sendo
oferecida gratuitamente por Deus.
Será o próprio Deus, pelo Seu poder, que
justificará e salvará o pecador. Este, tão somente
deve aceitar aquilo que Deus já preparou para ele.
Aqui nós temos então novamente a iniciativa
soberana de Deus, dantes buscando o homem
perdido no jardim, e agora preparando uma
vestimenta de peles para Adão e Eva, e os vestindo.
Eles não haviam pedido isto, e nem sequer sabiam que era possível fazer uma vestimenta
mais apropriada com peles de animais do que
com folhas de figueira.
88
Eles não participaram disto.
Deus fez tudo sozinho. Assim são os meios de
salvação.
Jesus consumou a Sua obra sozinho, sem
qualquer participação do homem, quanto aos meios que são necessários para livrá-lo do
pecado e torná-lo um filho de Deus. Ele agiu em
graça para com o pecador.
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Gênesis 4
A História de Caim (Gênesis 4:1-16)
“1 Conheceu Adão a Eva, sua mulher; ela
concebeu e, tendo dado à luz a Caim, disse:
Alcancei do Senhor um varão.
2 Tornou a dar à luz a um filho -a seu irmão Abel. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da
terra.
3 Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da terra
uma oferta ao Senhor.
4 Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o
Senhor para Abel e para a sua oferta,
5 mas para Caim e para a sua oferta não atentou.
Pelo que irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe
o semblante.
6 Então o Senhor perguntou a Caim: Por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante?
7 Porventura se procederes bem, não se há de
levantar o teu semblante? e se não procederes
bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.
8 Falou Caim com o seu irmão Abel. E, estando
eles no campo, Caim se levantou contra o seu
irmão Abel, e o matou.
9 Perguntou, pois, o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Respondeu ele: Não sei; sou eu
o guarda do meu irmão?
10 E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de
teu irmão está clamando a mim desde a terra.
90
11 Agora maldito és tu desde a terra, que abriu a
sua boca para da tua mão receber o sangue de
teu irmão.
12 Quando lavrares a terra, não te dará mais a
sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra.
13 Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha
punição do que a que eu possa suportar.
14 Eis que hoje me lanças da face da terra; também da tua presença ficarei escondido;
serei fugitivo e vagabundo na terra; e qualquer
que me encontrar matar-me-á.
15 O Senhor, porém, lhe disse: Portanto quem
matar a Caim, sete vezes sobre ele cairá a
vingança. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse quem quer que o
encontrasse.
16 Então saiu Caim da presença do Senhor, e
habitou na terra de Node, ao oriente do Éden.”
Adão foi criado diretamente por Deus, e Eva foi
criada a partir de uma costela de Adão. Caim foi
a primeira pessoa que nasceu no mundo como
fruto da união do homem com a sua mulher. Com o nascimento de Abel foram ambos, os
primeiros irmãos no mundo.
Nós temos na história de Caim o primeiro crime
do mundo.
O principal propósito da revelação com a
história de Caim é nos apresentar o primeiro
homem que permaneceu como amigo da serpente, o diabo, sendo contado na sua
descendência, por sua semelhança moral com
ele, dando-se assim início ao cumprimento da
91
maldição que Deus proferiu contra Satanás, que
ele teria também uma descendência que se
oporia e seria inimiga daqueles que seriam
contados como descendência daquele que descenderia da mulher no futuro e que
esmagaria a cabeça do diabo, a saber, nosso
Senhor Jesus Cristo.
A história de Caim é a história de um réprobo, a
história de um homem impenitente. É a história daqueles que rejeitam a salvação graciosa de
Deus, por meio da qual são tornados seus
amigos.
Caim se tornou o modelo, o protótipo de todos aqueles que permanecem como inimigos de
Deus para sempre, como lemos na epístola de
Judas, verso 11: “Ai deles! Porque prosseguiram
pelo caminho de Caim...”
E em I João 3.12:
"Caim que era do maligno e assassinou a seu irmão; e porque assassinou? Porque as suas
obras eram más, e as de seu irmão, justas.”
Não levou muito tempo, aparentemente, para o
caráter de Caim ser revelado, assim como o de
Abel.
Esta revelação foi manifestada numa ocasião de
adoração.
A Bíblia distingue aqueles que amam o pecado daqueles que o detestam.
Aqueles que são amigos do diabo, daqueles que
são seus inimigos.
Aqueles que amam as trevas, daqueles que
amam a luz.
92
Na verdade, de um modo geral, senão total, a
humanidade se encontra naturalmente em
inimizade contra Deus, e é resgatada desta
condição devida ao pecado original, pela graça e misericórdia do Senhor, na conversão.
Assim, apesar da inimizade contra Deus ser
transitória naqueles que a Ele se convertem, ela
permanece intacta e eterna naqueles que seguem obstinadamente nas mesmas pegadas
de Caim.
É bem provável que o maior motivo da rejeição
da oferta de Caim por Deus esteja relacionado ao fato de não ter obedecido à ordem de Deus de
que trouxesse um sacrifício de animal ao altar,
para o propósito de que ficasse ensinado em
figura que a cobertura do pecado seria através do derramamento do sangue de uma vítima
inocente, apontando-se assim para o sacrifício
vicário (substitutivo) de Jesus.
Tendo trazido frutos da terra no lugar de um
animal, Caim estava frustrando o propósito de Deus, e não poderiam, portanto, ser aceitos
tanto ele, quanto a sua oferta.
Agora, é importante destacar que assim mesmo
ele foi alvo da graça e da longanimidade do Senhor, pois que Deus arrazoou com ele quanto
ao fato de ter ficado irado em razão da rejeição
da oferta, dizendo que não era justificável
aquele comportamento, uma vez que ele seria também seguramente aceito caso procedesse
corretamente.
Está aqui a razão de não serem aniquilados todos
aqueles que não servem a Deus pelo modo que
93
Ele tem determinado nas Escrituras. É porque o
Senhor é longânimo e lhes dá oportunidade
para arrependimento, e isto, na maior parte dos
casos, através de longos e longos anos de vida.
Tal qual, Deus colocou uma marca em Caim,
depois que matou Abel, para que não fosse
assassinado.
Parece um paradoxo, mas não é, pois a ele seria
demonstrada toda a longanimidade do Senhor, para que ficasse patenteado tanto aos homens
quanto aos anjos, que o próprio Caim seria o
único responsável direto pela sua condenação.
Vivendo na impiedade e na desobediência enquanto a graça que conduz ao
arrependimento estava ao seu alcance, ele
demonstraria que os filhos da perdição, como
Judas, não se converterão jamais, ainda que lhes seja dado participar da mesma mesa do Senhor,
e de desfrutar de todo o Seu amor e cuidado,
conforme ficou bem patenteado no caso de
Judas em relação a Jesus.
A referência à gordura das primícias do rebanho
oferecido por Abel, indica que Ele trouxe à
presença de Deus o que havia de melhor no seu
rebanho, pois trouxe o mais gordo que aparentemente era o mais saudável, e não o
fraco e doente. Com isto dava testemunho que
Deus é digno de receber o melhor.
Isto fala de generosidade, de gratidão, de
reconhecimento, e por isso se diz na Bíblia que através da sua oferta, Abel alcançou
testemunho de que era justo, porque o próprio
Deus deu testemunho da qualidade da sua
94
oferta, que comprovava a genuinidade da sua fé
(Hb 11.4).
Fé de que dependia do sangue daquele sacrifício
para ser aceito por Deus. E que dependia e necessitava da cobertura do sacrifício (o de
Cristo, do qual aquele era figura) para ser
livrado do pecado e da morte que é consequente
do pecado.
Por isso está escrito que Deus se agradou não somente da oferta de Abel, mas também do
próprio Abel, em razão da sua obediência e
reconhecimento que dependia dos meios de graça estabelecidos pelo próprio Deus para ser
aceito por Ele.
A sua fé, a confiança no que Deus havia
determinado para tal aceitação, foi de fato o
motivo de ter agido em obediência, fazendo estritamente o que lhe foi ordenado.
A sua aprovação não foi resultante tanto da
simples apresentação do sacrifício certo e
exigido, quanto foi do seu espírito voluntário e de obediência.
Isto é uma grande verdade, pois não raro Deus
repreendeu a nação de Israel através dos
profetas, apesar de estarem apresentando os
sacrifícios exigidos e prescritos na lei, mas não da forma correta, a saber, com espírito
voluntário e contrito, no caso de oferta pelo
pecado, e com espírito alegre e também
voluntário no caso das ofertas pacíficas. Em resumo: para Deus não vale apenas a ação, pois
também pesa principalmente a intenção e o
espírito com que agimos.
95
Por isso Deus não se agradou apenas da oferta de
Caim, mas do próprio Caim, que não somente
deixou de apresentar o que foi requerido, como
também o fez por motivos e com o espírito errado.
João diz que as obras de Caim eram más porque
ele era do maligno.
Quando Deus perguntou a Caim no verso 6:
“Por que te iraste e por que está descaído o teu semblante?”
Ele não estava procurando ser informado,
porque Ele nunca precisa de qualquer
informação, pois tudo sabe e conhece, até o
mais recôndito dos nossos pensamentos. Com a pergunta feita Ele queria simplesmente incitar
Caim ao diálogo. Ele veio a Caim para que Ele
avaliasse as motivações do seu coração, e ponderasse acerca da sua ira contra Deus e seu
irmão. Deus lhe revelou que apesar de toda
aquela ira injustificada havia esperança de cura
para os seus sentimentos. Havia aquela fonte de graça para ser apropriada pela fé, a saber, a
cobertura do sangue de Jesus, tipificado naquela
oferta que Caim se recusava a apresentar, e que
apontava para o único meio que pode reconciliar qualquer pecador com Deus.
Aqui, no exemplo deixado na história de Caim,
Deus está revelando que a oportunidade de
salvação está aberta para todos os pecadores, e
por isso ninguém poderá desculpar-se do fato de não ter se arrependido e crido, porque a Palavra
da fé que pregamos não está distante que não se
possa alcançar, mas está perto do pecador, junto
96
de sua boca e do seu coração, esperando tão
somente que ele atenda ao convite de Deus que
o convoca ao arrependimento e à conversão.
É por isso que se ordena da parte de Deus que se pregue o evangelho a toda criatura debaixo do
céu. O evangelho ordena a todos e em toda parte
que se arrependam e creiam em Cristo para a
remissão dos pecados.
Ao afirmar que qualquer que matasse Caim
seria vingado sete vezes, Deus quis indicar que
faria com que a morte de Caim fosse vingada
perfeitamente caso alguém o matasse. Com isto Ele demonstra o quanto é contra o crime de
assassinato e que todo o que matar pela espada
(violência) pela espada será morto.
Isto e um princípio de justiça em Deus, a quem
pertence a vingança.
Nem com isso Caim se arrependeu do seu crime
de assassinato, e ainda por cima este foi
agravado, por ter sido contra um justo que era o
seu próprio irmão.
Com isto, Deus não estava instituindo um
privilégio para o assassino, como se estivesse
abençoando e protegendo Caim, mas para
mostrar um princípio pelo qual tinha em vista especialmente preservar a raça humana da
destruição pela violência, de forma que pelo
temor do juízo e da maldição de Deus, os
homens evitassem praticar o mal contra o seu próximo. Afinal, está claramente revelado por
Ele na Sua Palavra o modo como amaldiçoou
Caim em razão do seu crime de assassinato.
97
A Família de Caim (Gênesis 4.16-24)
“16 Então saiu Caim da presença do Senhor, e
habitou na terra de Node, ao oriente do Éden.
17 Conheceu Caim a sua mulher, a qual
concebeu, e deu à luz a Enoque. Caim edificou
uma cidade, e lhe deu o nome do filho, Enoque.
18 A Enoque nasceu Irade, e Irade gerou a
Meujael, e Meujael gerou a Metusael, e
Metusael gerou a Lameque.
19 Lameque tomou para si duas mulheres: o
nome duma era Ada, e o nome da outra Zila.
20 E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que
habitam em tendas e possuem gado.
21 O nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai
de todos os que tocam harpa e flauta.
22 A Zila também nasceu um filho, Tubal-Caim,
fabricante de todo instrumento cortante de
cobre e de ferro; e a irmã de Tubal-Caim foi Naamá.
23 Disse Lameque a suas mulheres: Ada e Zila, ouvi a minha voz; escutai, mulheres de
Lameque, as minhas palavras; pois matei um
homem por me ferir, e um mancebo por me
pisar.
24 Se Caim há de ser vingado sete vezes, com
certeza Lameque o será setenta e sete vezes.”
Nós temos aqui um relato adicional sobre Caim,
e o que aconteceu depois que ele foi rejeitado
por Deus.
No verso 16 nós lemos que Caim saiu da
presença do Senhor, isto é, ele renunciou a Deus
98
voluntariamente e contente em não ter que
viver debaixo dos seus preceitos.
Ele rejeitou o temor de Deus e dos seus
mandamentos, e nunca mais veio a estar na companhia dos justos, pois o seu prazer estava
exatamente no oposto daquilo que diz o Salmo
primeiro em relação ao homem que é bem-
aventurado.
Caim se empenhou para confrontar aquela
parte da maldição pela qual ele foi feito um
fugitivo e errante, porque ele escolheu a sua
terra (Node) a leste do Éden, em algum lugar distante onde Adão e sua família piedosa
residiam, fazendo assim com que a sua
descendência estivesse distante do
acampamento dos santos e daqueles que temiam a Deus.
Isto é bem verdadeiro que não agrada àqueles
que odeiam a Deus, estar na companhia
daqueles que O amam, ainda que veja nestes,
somente a intenção de lhes fazer o bem.
O temor a Deus e o testemunho de uma vida
santa são uma ofensa para o homem perverso,
porque ele não quer ter nenhum governo de
Deus e não quer fazer qualquer outra vontade senão a sua própria vontade.
Era justamente a leste do Éden que estavam os
querubins e a espada flamejante (3.24) e foi
exatamente lá que Caim escolheu a sua morada, como que para desafiar e afrontar os terrores de
Deus.
Mas a tentativa dele de superar a maldição que
lhe foi imposta por Deus foi vã, porque assim
99
como a palavra Node significa exílio, tremor,
assim como a inquietude e intranquilidade
ininterruptas do seu espírito.
Repare que aqueles que saem da presença de
Deus não podem achar mais descanso em
qualquer lugar que seja. Depois que Caim saiu da presença do Senhor, ele nunca descansou.
Aqueles que fecharam para si mesmos as portas
do céu terão um tremor perpétuo.
No verso 17 nós lemos que Caim construiu uma
cidade para sua habitação. Ele estava
construindo uma cidade, com uma maldição
sobre ele de que seria errante sobre a face da terra.
Se ele tivesse se arrependido e tivesse se humilhado, esta maldição poderia ter se
transformado numa bênção, como a da tribo de
Levi, de que eles deveriam ser divididos em Jacó
e deveriam ser espalhados em Israel; mas o coração impenitente dele caminhando ao
contrário do de Deus, e decidindo fixar-se num
lugar, contra aquilo que Deus havia
determinado para ele, fez com que a possibilidade da bênção fosse definitivamente
afastada e consolidada numa maldição.
Para sufocar os clamores de uma consciência culpada, e para desviar os seus pensamentos da
consideração da sua miséria, Caim se entregou
aos afazeres da construção de uma cidade. O
barulho de martelos e de tudo o mais que há numa construção seria buscado para tal
propósito. Ainda que inconscientemente esta é
a razão de muito ativismo entre aqueles que se
100
afastam da presença de Deus e que não têm paz
em suas almas. Eles geralmente prosperam
materialmente em razão do modo como
procuram se refugiar no trabalho.
A prosperidade material, desta forma, muitas
vezes não é uma indicação segura da bênção de
Deus sobre a vida. Ao contrário, pode ser
exatamente o resultado de se buscar muitas ocupações pela falta de paz no coração. Tal foi o
caso da família de Caim. Gênesis dá conta de
sete gerações a partir dele. O filho de Caim tinha
o mesmo nome, mas não o mesmo caráter daquele homem santo que andou com Deus e foi
arrebatado, a saber, Enoque. (v.22).
Enoque gerou a Irade, que gerou Meujael, que
gerou a Metusael, que gerou a Lameque. Este Lameque tomou para si duas mulheres: o nome
duma era Ada, e o nome da outra Zila. De Ada
nasceu Jabal; que foi o pai dos que habitam em
tendas e possuem gado. Ada gerou também a Jubal; que foi o pai de todos os que tocam harpa
e flauta. E da segunda mulher de Lameque, Zila
nasceu Tubal-Caim, fabricante de todo
instrumento cortante de cobre e de ferro; e a irmã de Tubal-Caim chamava-se Naamá.
Nós temos aqui alguns particulares relativos a
Lameque, o sétimo descendente de Adão na
genealogia de Caim.
Observamos que foi este Lameque o primeiro a transgredir a lei original do matrimônio de que
marido e mulher deveriam ser uma só carne.
Até aqui um homem tinha somente uma esposa
de cada vez; mas Lameque teve duas.
101
Desde o princípio não era assim. Mal. 2.15; Mat.
19.5. Aqui nós vemos que aqueles que
abandonam a igreja e os mandamentos de
Deus ficam abertos a toda forma de tentação, e quando um costume ruim é começado por
homens ruins, até mesmo homens de caráter
melhor são induzidos a seguir o seu mau exemplo, como foi o caso de Jacó, Davi, e outros,
que apesar de serem homens justos ficaram
enlaçados neste pecado que Lameque havia
iniciado.
Agora, o que reparamos no breve relato que Deus ordenou a Moisés para registrar acerca
dos descendentes de Caim até a família de
Lameque, destaca-se apenas a industriosidade
material e habilidades terrenas daqueles cabeças de família, e o pecado daquele com o
qual a narrativa sobre Caim e sua descendência
é fechada.
Não há ali uma só nota referindo-se à santidade,
obediência, fé, boas obras, enfim de qualquer valor espiritual, celestial e eterno,
relativamente a eles.
O autor sagrado se fixa em detalhar as
habilidades daqueles que descenderam deste
homem perverso chamado Lameque, e não de nenhum dos que são citados anteriormente, e
disto deduzimos o possível propósito de Deus
em querer demonstrar que a sua bondade é
demonstrada mesmo ao injusto e à sua descendência, como no caso de Lameque e seus
filhos, mas em vez deles tirarem proveito desta
bondade manifestada a eles, ao contrário
102
somente fizeram agravar a pena dos seus
pecados em face do seu não arrependimento,
por colocarem a sua confiança não no Senhor,
mas na instabilidade das riquezas e dos dons terrenos (I Tim 6.17-19).
Veja que é apenas nas coisas mundanas a única coisa que as pessoas que não amam a Deus, que
não O amam e servem, fixam seus corações.
Jesus alertou e ensinou abundantemente sobre isto. Assim se deu com a parentela do
amaldiçoado Caim. Eles seguiram, ao que
parece, os passos do seu pai. Eles estavam
dispostos a serem hábeis nas artes e em seus ofícios, mas nada em ensinar e viver o
conhecimento do bom Deus.
Eles estavam dispostos a serem ricos,
poderosos, felizes segundo o mundo, mas nada
de Deus e do temor devido a Ele.
Calvino destaca, comentando a respeito das
habilidades de Jabal, filho de Lameque, no
manejo de Gado (v.20); das de Jubal, seu irmão,
nas artes, e especificamente na música instrumental de harpa e flauta; e também as de
outro filho de Lameque com sua segunda
esposa, chamado Tubalcaim, que era artífice de
instrumentos cortantes de ferro e bronze; que Moisés destacou com os males que procederam
da família de Caim, algum bem misturado a todo
aquele mal, porque a invenção de artes e de
outras coisas que servem ao uso comum e à conveniência da vida, é dom de Deus, que de
nenhuma maneira deve ser menosprezado, e
uma faculdade merecedora de louvor.
103
É verdadeiramente maravilhoso, que esta raça
que tinha caído profundamente da integridade
pudesse desenvolver dons raros.
Porém, a Bíblia deixa claro ao se referir aos dons
distribuídos à família de Caim que ele não foi totalmente amaldiçoado por Deus e que alguns
dons ainda seriam distribuídos à sua família.
Por princípio o Senhor também revela nisto que
os filhos não levam sobre si a iniquidade de seus
pais, ainda que Deus, em Sua sabedoria, para propósitos santos e elevados, possa em perfeito
exercício de juízo, em perfeita justiça, visitar a
iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e
quarta geração, nos casos em que julgar e determinar fazê-lo.
Nos versos 23 e 24 vemos Lameque dizendo o seguinte às suas duas esposas:
“ouvi a minha voz; escutai, mulheres de
Lameque, as minhas palavras; pois matei um
homem por me ferir, e um mancebo por me
pisar. Se Caim há de ser vingado sete vezes, com certeza Lameque o será setenta e sete vezes.”
Veja quão prepotentemente ele fala com suas esposas, esperando da parte delas uma grande
consideração e elogio.
Ele se vangloria do fato de ter cometido dois
assassinatos por motivos banais, por se
imaginar elevado demais para que pudesse ser ofendido por aqueles que certamente ele não
considerava como seus semelhantes, por se
julgar muito superior a eles.
Ele já havia demonstrado isto com sua
disposição em quebrar a lei divina do
104
matrimônio, por achar que merecia mais do que
uma esposa.
”Matei um homem porque me feriu e um rapaz
porque me pisou.” Estas são as palavras vangloriosas de Lameque para se referir aos
crimes que cometeu. Mas, para ele não era um
crime. Ele se considerava acima de tudo uma
vítima, porque aqueles homens que matara não haviam percebido a sua excelência intocável.
Ele conhecia a forma como Deus havia marcado
Caim, seu ancestral, para que ninguém o
matasse, vingando a morte de Abel.
Certamente, Lameque entendeu erroneamente
daí, que havia uma proteção especial sobre a
descendência de Caim para que pudesse matar
livremente, sem correr o risco de alguém vingar a morte da vítima deles, porque Deus não o
permitiria.
Este deveria ser certamente o pensamento
deste homem perverso, pois considerava que
tinha uma cobertura muito maior do que a que Caim havia recebido, para praticar o mal.
O fato é que, como já comentamos
anteriormente, Deus não havia dado a Caim um
salvo conduto para o crime que havia praticado e nem mesmo para continuar na prática do
mal.
Em Fp 3.19 Paulo se refere ao tipo de pessoas que
se gloriam exatamente na sua própria infâmia, naquilo que é vergonhoso, e este era o caso de
Lameque.
Parece que ele falou daquele modo às suas
esposas, porque conhecendo elas a sua
105
inclinação para o mal, e a sua facilidade em se
ressentir com qualquer tipo de provocação,
deviam temer que a qualquer momento ele
acabaria sendo morto por algum oponente, e por isso ele lhes disse que não temessem por ele
porque assim como Caim seria vingado sete
vezes, ele seria muito mais, isto é, setenta vezes sete, segundo o seu dizer.
Praticamos o mal e não morremos. Praticamos o
mal e não fomos enfermados. Saímos com isso
da presença de Deus, tal como se deu com Caim. Mas para muitos vem o perverso pensamento:
“Mas o que importa, já que Deus nos tem
preservado em vida?”
Mas graças a Deus que por meio de nosso Senhor Jesus Cristo veio nos revelar a natureza
celestial que devemos cultivar em nossos
corações, porque em vez de abrigarmos
ressentimentos devemos estar dispostos, não para que Deus nos vingue setenta vezes sete dos
males que nos fazem os nossos inimigos, mas
para que nos conceda, pela Sua graça a estarmos numa atitude mansa e compassiva de quem está
disposto a perdoar setenta vezes sete (Mt 18.2).
O Nascimento de Sete (Gênesis 4.25,26)
“25 Tornou Adão a conhecer sua mulher, e ela
deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete;
porque, disse ela, Deus me deu outro filho em lugar de Abel; porquanto Caim o matou.
26 A Sete também nasceu um filho, a quem pôs
o nome de Enos. Foi nesse tempo, que os
106
homens começaram a invocar o nome do
Senhor.”
Adão e Eva estavam colhendo o fruto amargo do
pecado que haviam cometido no Éden e pelo qual sujeitaram toda a raça à ruína. Eles
perderam dois filhos num só dia, um que foi
assassinado, e o outro que foi sujeitado a
vaguear pela terra, deixando o lar de seus pais para sempre. Quando os pais são afligidos pelo
pecado que veem em seus filhos, eles deveriam
achar ocasião para lamentar aquela corrupção que é derivada da natureza deles, como uma raiz
de amargura.
Mas nós achamos aqui nestes dois versículos
um consolo para Adão e Eva em sua aflição,
porque o Senhor tornou a reconstruir a família deles, dando-lhes um filho que se tornaria justo
pela fé nEle, tal qual Abel, e assim seria o
exemplo de fé e obediência deste filho, a quem
eles deram o nome de Sete, seria seguido pelo filho que seria gerado por ele, Enos, e de tal
modo, que em seus dias e certamente pela
forma consagrada que servia a Deus, houve um
avivamento do Espírito entre eles, e naquela geração os homens buscavam a face de Deus
para fazer a Sua vontade.
O nome de Deus era invocado, isto significa que
eles oravam e buscavam ter comunhão com Ele.
Esta geração certamente haveria de deixar a sua marca nas gerações seguintes, de modo que de
Enos, descenderam homens como Enoque, que
foi arrebatado, e o próprio Noé.
107
É por isso que o galardão do justo é contado
mesmo depois da sua morte, porque até
gerações depois deles são abençoadas pelo seu
exemplo de vida.
Não era somente a reconstrução da família de Adão e Eva, pelos interesses privativos deles,
que se encontrava em jogo, mas pelo interesse
supremo de Deus de conduzir adiante o plano de
salvação do pecador perdido.
A história da redenção não seria através de
Caim, mas de Sete.
O descendente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente viria ao mundo através da
descendência de pessoas de fé, e por isso; justas
diante de Deus, porque o homem é justificado
unicamente pela fé.
É particularmente isso que a revelação dada a
Moisés e que está registrada em Gênesis, particularmente nas genealogias, quer marcar.
Veja que a genealogia que segue até Jesus é
marcada nos descendentes que amaram e
temeram a Deus, e não naqueles que O
desprezaram.
Veja o caso de Esaú e Jacó, filhos de Isaque.
Não foi Esaú, que era o primogênito, o que foi
eleito por Deus, mas Jacó, porque Esaú desprezou a sua primogenitura e não era um
homem de fé, tal como Jacó.
O caminho para Cristo é um caminho de vida e
não de morte.
A vida é mediante a fé, que crê em tudo o que
Deus disse ou diz, e que se dispõe a pô-lo em
prática.
108
Assim, Deus escolheu para incluir na
genealogia de Seu Filho, não pessoas poderosas,
sábias segundo o mundo, mas pessoas como
Raabe, que antes de ser escolhida era uma prostituta, e que se tornou uma mulher de
grande fé no Senhor, como que para marcar que
Cristo é para todo aquele que se arrepender dos seus pecados e crer no evangelho, que mostra
que o homem deve se converter e viver para
Deus, em santidade de vida.
Assim, deveria se contar a partir de Sete, nesta
semente de fé, dada a Adão e Eva, que a igreja do Deus vivo deveria ser construída e perpetuada,
pela sucessão de confessores e mártires.
A descendência da serpente pode levar ao
martírio aqueles que são da descendência de Cristo.
Todos os que têm matado os servos de Deus, por
inspiração do diabo, ao longo de toda história da
humanidade sobre a face da terra, esperam com
isto afastar os santos do Altíssimo, sem saberem que nem mesmo a morte pode mais separar do
amor de Deus que está em Cristo Jesus - todos
aqueles que amam a Deus.
Este foi o engano de Caim quando matou Abel. Pensou que seu irmão deixaria de existir e assim
interromperia a comunhão que havia entre ele
e Deus.
Mas Abel vive e viverá para sempre ao lado do Seu amado Senhor.
De igual modo se enganam todos aqueles que
pensam também que deterão a obra de Deus
matando um justo, porque Deus é poderoso para
109
levantar outro em seu lugar, para dar
continuidade à Sua obra, como se vê no caso de
Sete que foi dado a Eva para estar no lugar de
Abel, em quem, provavelmente poderia estar marcada a descendência de Cristo, caso não
tivesse sido assassinado por Caim.
Sete não poderia ser removido da face da terra,
ainda que pelo esforço de todo o inferno contra ele, porque havia sido determinado pelo Todo-
Poderoso que seria fixada nele a genealogia do
nosso Salvador e Senhor.
Por isso recebeu o nome profético Seth, que significa, fixo, colocado, determinado, porque
na sua descendência, através de Cristo, os que
se convertem a Deus viverão por toda a
eternidade.
Enquanto Caim, o cabeça da apostasia, é feito um errante, Sete, de quem a verdadeira igreja
viria, é fixado.
Cristo e a Sua igreja são o único e verdadeiro
edifício que permanece para sempre, que tem alicerce e colunas que jamais poderão ser
abalados.
Como dissemos, a partir de Enos, filho de Sete,
houve um reavivamento da fé, isto é, os homens que descenderam de Enos, em face da
impiedade vista em Caim e seus descendentes,
especialmente em Lameque, apegaram-se mais
firmemente ao Senhor e aos Seus mandamentos.
Deus faz com que o justo se apegue ainda mais à
verdade à vista da maldade que vê na vida dos
ímpios.
110
Isto é, portanto, sabedoria que procede do
Senhor, em fazer com que os santos habitem
com os ímpios na face da terra.
Caim e aqueles que tinham abandonado a fé tinham construído uma cidade, e começado a
declarar a impiedade e falta de temor ao Senhor,
mas aqueles que na descendência de Sete, se
voltaram para Deus, começaram a invocar o seu nome.
111
Gênesis 5
Genealogia de Adão a Noé (Gênesis 5)
“1 Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus
o fez.
2 Homem e mulher os criou; e os abençoou, e os
chamou pelo nome de homem, no dia em que foram criados.
3 Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um
filho à sua semelhança, conforme a sua
imagem, e pôs-lhe o nome de Sete.
4 E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos; e gerou filhos e filhas.
5 Todos os dias que Adão viveu foram
novecentos e trinta anos; e morreu.
6 Sete viveu cento e cinco anos, e gerou a Enos.
7 Viveu Sete, depois que gerou a Enos,
oitocentos e sete anos; e gerou filhos e filhas.
8 Todos os dias de Sete foram novecentos e doze
anos; e morreu.
9 Enos viveu noventa anos, e gerou a Quenã.
10 viveu Enos, depois que gerou a Quenã,
oitocentos e quinze anos; e gerou filhos e filhas.
11 Todos os dias de Enos foram novecentos e
cinco anos; e morreu.
12 Quenã viveu setenta anos, e gerou a Maalalel.
13 Viveu Quenã, depois que gerou a Maalalel,
oitocentos e quarenta anos, e gerou filhos e
filhas.
112
14 Todos os dias de Quenã foram novecentos e
dez anos; e morreu.
15 Maalalel viveu sessenta e cinco anos, e gerou
a Jarede.
16 Viveu Maalalel, depois que gerou a Jarede,
oitocentos e trinta anos; e gerou filhos e filhas.
17 Todos os dias de Maalalel foram oitocentos e noventa e cinco anos; e morreu.
18 Jarede viveu cento e sessenta e dois anos, e gerou a Enoque.
19 Viveu Jarede, depois que gerou a Enoque, oitocentos anos; e gerou filhos e filhas.
20 Todos os dias de Jarede foram novecentos e
sessenta e dois anos; e morreu.
21 Enoque viveu sessenta e cinco anos, e gerou a
Matusalém.
22 Andou Enoque com Deus, depois que gerou a
Matusalém, trezentos anos; e gerou filhos e filhas.
23 Todos os dias de Enoque foram trezentos e
sessenta e cinco anos;
24 Enoque andou com Deus; e não apareceu
mais, porquanto Deus o tomou.
25 Matusalém viveu cento e oitenta e sete anos,
e gerou a Lameque.
26 Viveu Matusalém, depois que gerou a
Lameque, setecentos e oitenta e dois anos; e
gerou filhos e filhas.
27 Todos os dias de Matusalém foram
novecentos e sessenta e nove anos; e morreu.
28 Lameque viveu cento e oitenta e dois anos, e
gerou um filho,
113
29 a quem chamou Noé, dizendo: Este nos
consolará acerca de nossas obras e do trabalho
de nossas mãos, os quais provêm da terra que o
Senhor amaldiçoou.
30 Viveu Lameque, depois que gerou a Noé,
quinhentos e noventa e cinco anos; e gerou
filhos e filhas.
31 Todos os dias de Lameque foram setecentos e
setenta e sete anos; e morreu.
32 E era Noé da idade de quinhentos anos; e
gerou Noé a Sem, Cão e Jafé.”
A genealogia aqui registrada está inserida na
genealogia de nosso Salvador (Lc 3.36-38), e tem
o propósito de revelar que Cristo é a "semente da
mulher" que foi prometida.
Quando Adão morreu, seu filho Sete tinha
oitocentos anos, porque ele gerou Sete quando
tinha cento e trinta anos, e morreu com novecentos e trinta anos.
O propósito da narrativa destas genealogias não
é o de destacar todos os descendentes de Adão,
mas de apontar a linha de descendência de onde tinha provindo Noé, o homem que foi
preservado com sua família da destruição geral
que Deus trouxe sobre a terra no dilúvio, e com os quais a terra seria repovoada e do qual
descenderia obrigatoriamente o Messias,
através da linhagem de um dos três filhos de
Noé, chamado Sem.
O texto bíblico afirma que Adão gerou um filho
à sua imagem, conforme à sua semelhança, e
certamente isto não indica que se tratava da
114
condição de estar sem pecado como era a
condição de Adão no Éden, antes da queda, pois
que desde que ele pecou toda a sua
descendência é concebida em pecado, conforme se afirma no Sl 51.5.
Sete era, portanto um pecador tanto quanto o
seu pai. Tendo perdido aquela santidade
original, Adão ficou impedido de transmiti-la à sua descendência.
A graça não é transmitida de forma natural e
assim um pecador gera um pecador.
Assim, Sete não é incluído na genealogia de Noé,
e, por conseguinte, de Cristo, não porque fosse perfeitamente santo, mas porque era um
daqueles que são justificados pela fé e passam a
ter paz com Deus, por serem reconciliados com
Ele, através do sacrifício de Jesus Cristo.
Relativamente aos quatro patriarcas na
sucessão direta da genealogia de Sete (Enos,
Quenã, Maalalel e Jarede); inclusive ao próprio
Sete, o texto bíblico não faz qualquer menção especial, entretanto nós podemos supor que
eles eram homens eminentes e devotados a
Deus, pois que foi Jarede que gerou Enoque,
aquele que foi arrebatado por Deus, e que certamente aprendeu o modo de se servir a
Deus através do testemunho de seus ancestrais,
que por viverem muitos anos, eram
contemporâneos uns dos outros em várias gerações.
Além disso, o registro sequencial das
genealogias nos ajuda a fixar a cronologia desde
a criação do primeiro homem, de modo que
115
podemos entender que a criação é jovem e não
muito antiga conforme afirmam os
evolucionistas.
De todos os que são citados na genealogia é dito
o tempo que eles viveram e que morreram, à exceção de Enoque, do qual se diz que andou
com Deus e já não era porque Deus o tomou para
Si.
Deus fez com Enoque o mesmo que fez com
Elias. Com o arrebatamento de Enoque Deus
quis sem dúvida marcar o ensino de que há uma imortalidade em comunhão eterna com Ele
reservada para aqueles que andam em Sua
presença fazendo a Sua vontade, e isto serviria
de consolo e encorajamento para viverem na prática da justiça todos aqueles santos que
voltavam ao pó, na morte, de modo a saberem
que poderoso é o Senhor para ressuscitar os
corpos dos justos, e de que há uma vida melhor reservada para eles do que esta que eles vivem
neste mundo.
Enoque gerou Matusalém e lhe deu um nome
profético, porque a raiz deste nome, em
hebraico, significa morrer.
Foi exatamente Matusalém o homem que viveu
mais anos na terra (969).
Qual pois a razão deste nome? Isto pode ser
entendido no fato de que ele morreu
exatamente no ano do dilúvio, quando toda a carne, com exceção de Noé e aqueles que
estavam com ele, foi destruída pelas águas do
dilúvio.
116
Deus pode ter designado este nome para
Matusalém como um sinal indicativo de que
quando aquele homem morresse, a morte
visitaria toda a humanidade, porque o nome profético deste homem significa morrer.
Enoque teria facilmente discernido o propósito
de Deus com este nome profético para o seu
filho Matusalém, porque Enoque andava com Deus, e o que é a piedade senão um caminhar
com Deus?
A comunhão exige acordo espiritual. Por isso
Deus declara através do profeta Amós como pode ser possível dois andarem juntos se não
houver acordo entre eles?
Enoque andava com Deus porque estava de
acordo com a vontade de Deus. Caminhar com
Deus é fixar sempre Deus diante de nós, e agir como aqueles que sempre estão debaixo do Seu
olhar. É fazer da Palavra de Deus a nossa regra e
a Sua glória, conforme Ele exige e ordena na Sua
própria Palavra.
Enoque caminhou com Deus. Enquanto outros
viveram para si mesmos e para o mundo,
Enoque viveu para Deus. O Senhor era a sua
alegria e sustento. A comunhão com Deus era melhor do que a vida para ele, tal como Paulo
que disse que para ele o viver era Cristo (Fp 1.21).
Não foi logo depois que gerou Matusalém aos 65
anos de idade que ele foi arrebatado, mas
trezentos anos depois, e isto pode indicar que a sua fé e devoção aumentaram com o passar do
tempo, porque viveu mais trezentos anos sobre
a terra, sendo arrebatado aos trezentos e
117
sessenta e cinco anos. Grandes santos chegam à
sua eminência através de graus. Os pecadores
são transformados pelo fortalecimento da sua fé
de glória em glória, através do crescimento na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Um verdadeiro santo perseverará até o fim, e
caminhará com Deus enquanto ele viver, com a
esperança de que estará para sempre com ele,
pois o Espírito Santo incentiva todo crente autêntico à perseverança.
Como Enoque não viveu como os demais, ele não morreu como eles (v. 24): Ele já não era,
porque Deus o levou; quer dizer, como está
explicado em Hb 11. 5, ele foi trasladado para não
ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara, pois obteve testemunho de ter
agradado a Deus por causa da sua fé.
Aqueles cujo testemunho no mundo é de
santidade e cuja conversação é santa, terão uma
trasladação feliz, ainda que na morte, porque o
Senhor tem feito a promessa de que aqueles que são dele, ainda que morram, viverão, e não terão
do que se lamentar todos aqueles que procuram
viver de modo que Lhe seja verdadeiramente
agradável.
Lameque, filho de Matusalém, neto de Enoque,
gerou Noé aos cento e oitenta e dois anos e lhe deu o nome de Noé, que no hebraico significa
consolo, descanso, e daí ter dito quando lhe deu
este nome:
118
“Este nos consolará dos nossos trabalhos, e das
fadigas de nossas mãos, nesta terra que o
Senhor amaldiçoou.”
Aqui está a reclamação de Lameque quanto ao
estado calamitoso da vida humana. Pela entrada de pecado, e o vínculo da maldição com o
pecado, nossa condição ficou muito miserável:
nossa vida inteira é gasta em canseiras e
trabalhos.
Lameque vê no nascimento de Noé uma
esperança de alívio para não somente para a sua casa, mas até mesmo para a raça humana.
Não no sentido de que aqueles homens ímpios
teriam algum tipo de lucro com o nascimento de
Noé, mas que é provável que tenha havido
profecias relativas ao nascimento de Noé, indicando que nele haveria uma renovada
esperança para o homem em seu estado
pecaminoso.
Certamente isto apontava para o repovoamento
da terra, através da semente de Noé, e pela
influência do seu testemunho sobre os seus descendentes, especialmente na linhagem de
Sem, de modo que pudesse ser preservada a
raça humana, no sentido geral, até a chegada do
Messias prometido que esmagaria a cabeça da serpente.
Se Cristo é nosso o céu é nosso.
Isto seria possível porque o Senhor proveu para Si este homem de fé e que andava em retidão,
chamado Noé, com o qual reiniciaria a história
da humanidade no mundo, reassinalando a
119
esperança de salvação para os pecadores que
viessem a se arrepender e a crerem em Deus.
120
Gênesis 6
O Dilúvio
“1 Sucedeu que, quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram
filhas,
2 viram os filhos de Deus que as filhas dos
homens eram formosas; e tomaram para si
mulheres de todas as que escolheram.
3 Então disse o Senhor: O meu Espírito não permanecerá para sempre no homem,
porquanto ele é carne, mas os seus dias serão
cento e vinte anos.
4 Naqueles dias estavam os néfilins na terra, e
também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes
deram filhos. Esses néfilins eram os valentes, os
homens de renome, que houve na antiguidade.
5 Viu o Senhor que era grande a maldade do
homem na terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má
continuamente.
6 Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o
homem na terra, e isso lhe pesou no coração
7 E disse o Senhor: Destruirei da face da terra o
homem que criei, tanto o homem como o animal, os répteis e as aves do céu; porque me
arrependo de os haver feito.
8 Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor.
9 Estas são as gerações de Noé. Era homem justo
e perfeito em suas gerações, e andava com Deus.
121
10 Gerou Noé três filhos: Sem, Cão e Jafé.
11 A terra, porém, estava corrompida diante de
Deus, e cheia de violência.
12 Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu
caminho sobre a terra.
13 Então disse Deus a Noé: O fim de toda carne é
chegado perante mim; porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os destruirei
juntamente com a terra.
14 Faze para ti uma arca de madeira de gófer:
farás compartimentos na arca, e a revestirás de betume por dentro e por fora.
15 Desta maneira a farás: o comprimento da arca
será de trezentos côvados, a sua largura de
cinquenta e a sua altura de trinta.
16 Farás na arca uma janela e lhe darás um côvado de altura; e a porta da arca porás no seu
lado; fá-la-ás com andares, baixo, segundo e
terceiro.
17 Porque eis que eu trago o dilúvio sobre a terra, para destruir, de debaixo do céu, toda a carne
em que há espírito de vida; tudo o que há na terra
expirará.
18 Mas contigo estabelecerei o meu pacto; entrarás na arca, tu e contigo teus filhos, tua
mulher e as mulheres de teus filhos.
19 De tudo o que vive, de toda a carne, dois de
cada espécie, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo; macho e fêmea
serão.
20 Das aves segundo as suas espécies, do gado
segundo as suas espécies, de todo réptil da terra
122
segundo as suas espécies, dois de cada espécie
virão a ti, para os conservares em vida.
21 Leva contigo de tudo o que se come, e ajunta-
o para ti; e te será para alimento, a ti e a eles.
22 Assim fez Noé; segundo tudo o que Deus lhe
mandou, assim o fez.”
Tudo relativo ao mundo antigo foi escrito para
nossa advertência, que participamos do novo mundo que seria formado a partir de Noé,
depois do dilúvio. Assim, o dilúvio é o maior
alerta dado por Deus a toda a humanidade de que a terra que hoje existe será destruída pelo
fogo por causa do pecado.
O mundo sempre esteve maduro para ser
submetido ao juízo de Deus por causa do pecado.
O mundo novo não é melhor do que o mundo antigo.
É somente por causa da longanimidade de Deus
que o juízo é retardado.
A mesma multiplicação da iniquidade, tal como ocorreu nos dias de Noé, há de trazer o juízo de
Deus sobre a terra, no momento oportuno
fixado por Ele, tal como fizera nos dias de Noé.
Assim farão bem todos os que se arrependerem
de seus pecados e crerem em Cristo para que possam escapar do grande juízo de Deus para o
qual somos alertados principalmente pelo juízo
que Ele trouxe sobre o mundo de pecado nos dias de Noé.
O Senhor o fez no passado para advertência de
todos os homens, depois de Noé, quanto ao que
haverá de ocorrer no futuro.
123
Entretanto devemos lembrar que no mundo
novo opera a longanimidade, graça e
misericórdia de Deus, conforme promessa feita
a Noé, no capítulo oitavo.
Como o mundo velho foi arruinado para ser um monumento de justiça, assim este mundo novo,
depois de Noé, permanece até este dia, como
um monumento de misericórdia, de acordo
com o juramento de Deus, que as águas de Noé não devem mais retornar para cobrir a terra.
Por isso o Senhor declara o que lemos em Is 54.9,10:
“Porque isto é para mim como as águas de Noé;
pois jurei que as águas de Noé não mais
inundariam a terra, e assim jurei que não mais
me iraria contra ti, nem te repreenderia. Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão
removidos; mas a minha misericórdia não se
apartará de ti, e a aliança da minha paz não será
removida, diz o Senhor que se compadece de ti.”
São descritas aqui as coisas que ocasionaram a
maldade do mundo antigo:
O aumento do gênero humano. Os homens começaram a se multiplicar na face da terra.
Este era o efeito da bênção (Gên 1.28), mas a
corrupção do homem abusou e perverteu esta
bênção que foi se transformando numa maldição.
Assim o pecado pode achar ocasião na misericórdia e longanimidade de Deus, para
tornar os homens mais pecadores ainda, pelo
abuso desta longanimidade e misericórdia.
124
O pecador geralmente confunde a bênção geral
de Deus que faz nascer o sol sobre justos e
injustos, como um ato de aprovação do pecado,
pois seria de se esperar somente juízos em face do pecado, e nenhuma bênção.
Mas o homem se esquece da longanimidade de
Deus, que o leva a abreviar ou retardar o juízo,
mas nunca suspendê-lo, pois todos darão contas
de todos os seus atos no futuro Tribunal de Deus.
Casamentos mistos (6.2) foram uma das
principais causas da corrupção do gênero
humano nos dias que antecederam o dilúvio.
Os filhos de Deus, quer dizer, os líderes da
verdadeira adoração, que eram chamados pelo
nome do Senhor, se casaram com as filhas dos homens, isto é, aqueles que eram profanos,
estranhos a Deus e à vida de piedade.
Diz-se filhas dos homens, porque seguiam nos
passos de seus pais, que não seguiam os
caminhos de Deus.
Eles faziam o que era da vontade do homem, da
sua própria vontade corrompida, e não o que era da vontade de Deus.
Eles não seguiram o exemplo da posteridade
santa de Sete, o exemplo de Enos, de Enoque, de
Matusalém, de Lameque, e do próprio Noé, mas
seguiram nos passos da descendência degenerada de Caim.
Quando os que temiam a Deus começaram a se casar com pessoas que não eram do Senhor e
não amavam o Senhor, tanto eles quanto seus
filhos ficaram debaixo de uma má influência
125
que acabou por corromper toda a humanidade
sobre a face da terra.
O que estava errado nestes matrimônios? Eles
escolheram somente pela vista. Eles seguiram a escolha dos seus próprios afetos corrompidos.
Eles não buscaram conselho nem a direção de
Deus. Assim se colocaram no jugo desigual (II
Cor 6.14).
Por isso na lei que Deus deu a Israel, tais
casamentos mistos foram proibidos (Dt 7.3,4). e
foi exatamente isto, tais casamentos mistos, a
causa da apostasia de Salomão (I Rs 11.1-4).
Aqueles que professam serem amigos de Deus não devem se casar com aqueles que são Seus
inimigos.
Quando lemos que Deus sujeitou à destruição
aqueles homens gigantes de renome, porque se corromperam casando-se com mulheres
ímpias, há aqui uma lição que devemos
ponderar, que todo o bem que Ele deseja fazer
aos homens encontra respaldo quando o homem lhe dá a resposta devida de uma vida
santa, assim como Ele preparou um jardim
maravilhoso para Adão no Éden, enquanto este
vivia sem pecado, e que de lá foi expulso quando pecou.
Esta é, portanto, uma mensagem muito clara da
parte de Deus para nós, que podemos esperar
desfrutar boas coisas da parte dEle e contar com a Sua bênção, quando vivemos de fato em
santidade de vida.
Por causa da maldade do homem que havia se
multiplicado na terra (6.5,6), Deus afirmou que
126
Seu Espírito não agiria para sempre no homem,
e fixou um prazo de 120 anos para trazer o Seu
juízo de destruição sobre toda a carne (6.7,13).
O amor ao pecado sujeita a alma a uma condição extremamente perigosa, conforme a que é
citada em Romanos de ser entregue por Deus à
imundícia (1.24); às paixões infames (1.26); a uma
disposição mental reprovável que conduz a prática de coisas inconvenientes (1.28); por não
receber graça e a influência do Espírito Santo
para ser conduzido ao arrependimento.
Por isso a raiz do verbo usado no hebraico para o verbo da expressão que afirma que o Espírito
“não agirá para sempre no homem” tem o
significado do ato de se colocar a espada na
bainha.
A ideia é a seguinte: se é o Espírito que usa a Palavra de Deus para dividir junta e medula,
alma e espírito, Ele não faria mais este trabalho
até a vinda do dilúvio, e os homens ficariam
entregues à sua própria maldade, porque a figura usada é a de que o Espírito estaria fora de
atuação, assim como uma espada que está
embainhada.
Quando o Espírito Santo deixa de atuar entre o seu povo, todo esforço religioso será inútil. Uma
igreja sem o mover do Espírito é um organismo
sem vida.
O Espírito atuou quando Noé estava pregando (I Pe 3.19,20), mas foi em vão, como se vê no verso
20, porque eles foram desobedientes.
O Espírito Santo age no sentido de conduzir os
pecadores ao arrependimento, por meio de
127
convencimento do pecado, da justiça e do juízo,
advertindo a consciência, para converter o
homem do pecado, para a obediência a Deus.
Mas se o Espírito é resistido, por muito tempo,
Ele é extinto, isto é, a sua atuação cessará, e os pecadores permanecerão endurecidos em seus
pecados por lhe terem resistido.
A razão da resolução de o Espírito parar de agir
no homem é declarada logo em seguida em 6.3:
“o homem é carnal”, isto é, incuravelmente
corrompido, sensual, inclinado para as coisas da carne e não às coisas do Espírito.
O pendor da carne dá para a morte, como se
afirma em Rom 8.6, e aquela morte física, em
razão de ser o homem carnal, seria uma figura
expressiva da morte espiritual e eterna, a que estão sujeitos todos aqueles que não têm o
pendor do Espírito, que dá para a vida e paz,
conforme se afirma no mesmo versículo de
Romanos.
É a natureza terrena corrompida pelo pecado, a
inclinação da alma para a carne que se opõe à operação do Espírito e a torna ineficaz.
Gênesis 6.4 nos dá conta que aqueles
casamentos mistos deram como resultado
homens valentes, varões de renome na
antiguidade.
É interessante observar que em vez disso
contribuir para algum bem, ao contrário, contribuiu para a multiplicação da maldade, e
há uma explicação para isto, pois é muito
comum que quando o poder do homem
128
aumenta, ele fica sob a forte tentação de ser um
opressor violento e arrogante.
Foi exatamente isto o que ocorreu com aqueles
homens.
Eles eram gigantes e filhos de gigantes, e assim deixaram de reconhecer os direitos dos seus
vizinhos e os pisotearam bem como tudo o que
era sagrado e ordenado por Deus.
O bom nome dos pais deles foi arruinado porque
eles se inclinaram à influência das suas esposas ímpias e às famílias delas, que não tinham o
temor do Senhor.
Assim a maldade de certas pessoas realmente é
grande quando os pecadores mais notórios
forem os homens de renome entre eles.
As coisas se tornam piores quando os homens ruins não somente são honrados, bem como a
maldade deles, e os homens mais vis são
exaltados.
A maldade então aumenta quando os grandes
homens são ímpios.
A influência da maldade deles atingirá um grande número de pessoas, em razão da
grandeza deles.
Mas como Deus não olha para a aparência e a
grandeza dos homens, determinou trazer um
juízo sobre aqueles homens.
O Grande Juiz os julgaria de modo a pôr fim à maldade deles.
Ele viu que o desígnio dos seus corações era
continuamente mau, e isso era uma tristeza
para o coração santo, justo e amoroso de Deus.
129
Eles não praticavam o mal por descuido ou
ignorância, mas deliberadamente e
imaginavam formas para aumentar a sua
prática perversa.
Assim, em Gên 6.6 está declarada a tristeza e a
ira de Deus em relação à maldade do homem.
Ele não viu isto como um espectador
desinteressado, mas como quem foi prejudicado e afrontado por isto.
Deus viu todas estas coisas como um pai terreno
vê a loucura e teimosia de um filho rebelde e
desobediente que o aflige, e o faz desejar que
seria melhor não ter tido filhos.
O fato de Deus ter se arrependido de ter criado o
homem, não significa que Ele tivesse feito
algum planejamento incorreto na deliberação
de ter criado a humanidade, tanto que sabemos que tudo corre exatamente como Ele havia
planejado nos Seus decretos eternos, mas é
usada uma expressão humana para descrever a
tristeza de Deus, no sentido de mostrar que a deliberação do homem viver em pecado, e de
não se arrepender e se converter à prática da
justiça pela fé no Senhor, é algo que não
corresponde ao Seu propósito relativo à criação do homem.
Deus criou o homem perfeito, sem pecado, com
faculdades e poderes nobres, e o homem estava
fazendo exatamente o oposto daquilo que se esperava dele, por um mau uso de tais
faculdades e poderes.
A razão, a mente, a vontade, que lhes foram
dados por Deus, principalmente para escolher e
130
praticar o bem, estavam sendo usados para
imaginar o mal e praticá-lo.
Fazendo contraste com tudo isto, nós vemos a Palavra da revelação afirmando que Noé achou
graça diante do Senhor.
Isto é muito significativo, porque apesar de se afirmar no verso seguinte (6.9) que ele era um
homem justo e íntegro entre os seus
contemporâneos, e que andava com Deus, a
citação que achou graça diante do Senhor, indica que ele foi poupado não em razão da sua
própria justiça e integridade, mas por causa da
graça do Senhor, que pelo Espírito, forjou em
Noé tal justiça e integridade.
Foi a justiça que é pela fé, que o tornou agradável
a Deus, como lemos em Hebreus 11.7.
A este respeito, especialmente o Novo Testamento, revela muitas verdades sobre o
fato de que a justiça própria do homem é uma
grande ofensa para Deus, porque desde que
Adão pecou, não há mais no homem nenhuma justiça que possa produzir nele, no seu espírito,
a condição e o estado de piedade e santidade que
podem ser somente forjados pelo Espírito Santo.
Então, o conceito de bem segundo o homem,
não corresponde necessariamente ao conceito
de bem conforme ele é na verdade e conforme
se revela nas Escrituras, que é sempre o resultado de uma comunhão íntima e real em
obediência prática do homem com o Seu criador
divino.
131
Noé não resistia ao Espírito de Deus,
diferentemente dos seus contemporâneos, e
por isso foi poupado.
Enquanto toda a humanidade rejeitava a misericórdia de Deus, Noé mergulhou
inteiramente nela e encontrou graça para ter
poder espiritual para viver na prática da justiça.
Enquanto todo o gênero humano havia se tornado objeto da ira de Deus, Noé era objeto do
Seu favor.
Provavelmente Noé não achou favor aos olhos
dos homens; eles o odiaram e o perseguiram, porque tanto pela sua vida quanto pela sua
pregação ele havia condenado o mundo.
Deus disse a Noé que faria perecer toda carne
debaixo dos céus, mas que faria com Noé a sua
aliança, no sentido de que o conservaria vivo juntamente com sua esposa, filhos e as esposas
de seus filhos, bem como com todos os animais
que estivessem na arca.
Para manter e preservar a vida Deus se interpõe com uma aliança, tal como agora, é na arca que
é Cristo, que estamos seguros da destruição
eterna, porque o Pai estabeleceu uma aliança
com o Filho de preservar em vida todos aqueles que estivessem unidos a Ele.
Somos assim, salvos porque permanecemos em
Cristo, juntamente ligados a Cristo, com quem o
Pai fez uma aliança eterna de salvar a todos aqueles que estivessem unidos a Ele.
É importante destacar que o trabalho de Deus
deve seguir as instruções que Ele nos dá. Veja
que no caso de Noé, as dimensões, os três
132
andares e os compartimentos da arca foram
determinados pelo próprio Deus, e Noé fez
consoante a tudo que Deus lhe ordenara (6.22)
nos mínimos detalhes.
A obra do Senhor deve ser realizada de acordo com as medidas estabelecidas por Deus, as quais
devemos cuidadosamente observar.
É Ele quem estabelece as medidas e os limites e
não nós. Este é o segredo do sucesso de todo e
qualquer ministério: seguir estritamente a direção dada pelo Senhor.
133
Gênesis 7
O Dilúvio
“1 Depois disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu
e toda a tua casa, porque tenho visto que és justo
diante de mim nesta geração.
2 De todos os animais limpos levarás contigo
sete e sete, o macho e sua fêmea; mas dos
animais que não são limpos, dois, o macho e sua fêmea;
3 também das aves do céu sete e sete, macho e
fêmea, para se conservar em vida sua espécie sobre a face de toda a terra.
4 Porque, passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites, e
exterminarei da face da terra todas as criaturas
que fiz.
5 E Noé fez segundo tudo o que o Senhor lhe
ordenara.
6 Tinha Noé seiscentos anos de idade, quando o dilúvio veio sobre a terra.
7 Noé entrou na arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos, por causa
das águas do dilúvio.
8 Dos animais limpos e dos que não são limpos, das aves, e de todo réptil sobre a terra,
9 entraram dois a dois para junto de Noé na arca,
macho e fêmea, como Deus ordenara a Noé.
10 Passados os sete dias, vieram sobre a terra as
águas do dilúvio.
134
11 No ano seiscentos da vida de Noé, no mês
segundo, aos dezessete dias do mês, romperam-
se todas as fontes do grande abismo, e as janelas
do céu se abriram,
12 e caiu chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites.
13 Nesse mesmo dia entrou Noé na arca, e
juntamente com ele seus filhos Sem, Cão e Jafé,
como também sua mulher e as três mulheres de
seus filhos,
14 e com eles todo animal segundo a sua espécie, todo o gado segundo a sua espécie, todo
réptil que se arrasta sobre a terra segundo a sua
espécie e toda ave segundo a sua espécie,
pássaros de toda qualidade.
15 Entraram para junto de Noé na arca, dois a dois de toda a carne em que havia espírito de
vida.
16 E os que entraram eram macho e fêmea de
toda a carne, como Deus lhe tinha ordenado; e o
Senhor o fechou dentro.
17 Veio o dilúvio sobre a terra durante quarenta dias; e as águas cresceram e levantaram a arca,
e ela se elevou por cima da terra.
18 Prevaleceram as águas e cresceram
grandemente sobre a terra; e a arca vagava
sobre as águas.
19 As águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que havia
debaixo do céu foram cobertos.
20 Quinze côvados acima deles prevaleceram as
águas; e assim foram cobertos.
135
21 Pereceu toda a carne que se movia sobre a
terra, tanto ave como gado, animais selvagens,
todo réptil que se arrasta sobre a terra, e todo
homem.
22 Tudo o que tinha fôlego do espírito de vida em suas narinas, tudo o que havia na terra seca,
morreu.
23 Assim foram exterminadas todas as criaturas
que havia sobre a face da terra, tanto o homem
como o gado, o réptil, e as aves do céu; todos
foram exterminados da terra; ficou somente Noé, e os que com ele estavam na arca.
24 E prevaleceram as águas sobre a terra cento e
cinquenta dias.”
Noé não trabalhou duramente na construção da
arca durante aqueles 120 anos, em busca de
prazeres presentes ou futuros, mas senão em
ser obediente a Deus e buscar somente a Sua glória divina.
Do mesmo modo fica para nós a pergunta: O que estamos buscando em nosso serviço a Deus?
Prazeres?
Acharmos a felicidade para nós mesmos?
Ou, como Noé estamos, sobretudo interessados
em vivermos para que Deus seja glorificado em
tudo que vivermos e fizermos?
Deus disse a Noé que reconhecia que ele era
justo diante dEle no meio daquela geração
perversa. O próprio Deus deu testemunho da honra e integridade de Noé. Assim Deus não
deixou que se perdesse aquele único grão de
trigo no meio de um grande monte de palha.
136
O Senhor conhece os que são seus e os preserva.
Aqueles que se mantêm puros em tempos de
iniquidade terão a Deus como o seu castelo forte
na hora da calamidade.
Quando se cumpriram os 120 anos em que a
longanimidade de Deus aguardava para trazer o
dilúvio sobre a terra, Ele avisou Noé que em sete
dias começaria a chover, e Noé deveria, neste prazo de sete dias, começar a receber os animais
na arca, e depois de tê-los abrigado, o próprio
Deus fechou a arca quando se cumpriu o prazo
por Ele determinado.
Noé entrou na arca e Deus a fechou, e do mesmo
modo, quando Ele traz uma alma a Cristo, ele
assegura a sua salvação, e a porta que Deus
fecha ninguém pode abrir.
No dia 17 do segundo mês do ano em que Noé contava com a idade de 600 anos, a chuva
começou a cair sobre a terra e se diz que
inclusive as fontes subterrâneas de água
afloraram sobre face da terra.
As águas foram derramadas e afloraram à
superfície da terra por quarenta dias.
A tentativa de fugir subindo os altos montes foi
em vão porque as águas cobriram o cume dos montes.
Tentar fugir em cavernas que fossem
hermeticamente fechadas seria também em
vão, porque as águas prevaleceram sobre a terra
por cerca de um ano, e logo acabaria o suprimento de oxigênio, bem como não haveria
provisões suficientes para sustentar a vida em
tão longo período.
137
Acrescente-se a isto que os ímpios foram
apanhados de surpresa quando começou o
dilúvio, porque eles não creram na pregação de
Noé sobre o juízo de Deus, e não se prepararam para escapar dele.
Jesus ensinou que ocorrerá a mesma coisa em
relação à sua segunda vinda para julgar o
mundo, porque muitos não creem que haverá um juízo sobre o pecado, e assim não se
preparam para escapar dele pelo
arrependimento e fé.
Tentar fugir em cavernas, em altos montes será em vão, porque o juízo é sobre o pecado, e
condenará todo aquele que não tiver sido
justificado e lavado dos seus pecados pelo
sangue de Cristo, por meio do arrependimento e da fé.
Não há nenhum lugar na terra tão alto e seguro
que esteja fora do alcance dos julgamentos de
Deus (Jer 49.16; Ob 3,4) pois a mão do Senhor descobrirá todos os seus inimigos (Sl 21.8).
138
Gênesis 8
O fim do dilúvio
“1 Deus lembrou-se de Noé, de todos os animais
e de todo o gado, que estavam com ele na arca; e
Deus fez passar um vento sobre a terra, e as águas começaram a diminuir.
2 Cerraram-se as fontes do abismo e as janelas
do céu, e a chuva do céu se deteve;
3 as águas se foram retirando de sobre a terra;
no fim de cento e cinquenta dias começaram a
minguar.
4 No sétimo mês, no dia dezessete do mês,
repousou a arca sobre os montes de Arará.
5 E as águas foram minguando até o décimo
mês; no décimo mês, no primeiro dia do mês,
apareceram os cumes dos montes.
6 Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela
que havia feito na arca;
7 soltou um corvo que, saindo, ia e voltava até
que as águas se secaram de sobre a terra.
8 Depois soltou uma pomba, para ver se as águas
tinham minguado de sobre a face da terra;
9 mas a pomba não achou onde pousar a planta do pé, e voltou a ele para a arca; porque as águas
ainda estavam sobre a face de toda a terra; e Noé,
estendendo a mão, tomou-a e a recolheu
consigo na arca.
10 Esperou ainda outros sete dias, e tornou a
soltar a pomba fora da arca.
139
11 À tardinha a pomba voltou para ele, e eis no
seu bico uma folha verde de oliveira; assim
soube Noé que as águas tinham minguado de
sobre a terra.
12 Então esperou ainda outros sete dias, e soltou
a pomba; e esta não tornou mais a ele.
13 No ano seiscentos e um, no mês primeiro, no
primeiro dia do mês, secaram-se as águas de sobre a terra. Então Noé tirou a cobertura da
arca: e olhou, e eis que a face a terra estava
enxuta.
14 No segundo mês, aos vinte e sete dias do mês, a terra estava seca.
15 Então falou Deus a Noé, dizendo:
16 Sai da arca, tu, e juntamente contigo tua
mulher, teus filhos e as mulheres de teus filhos.
17 Todos os animais que estão contigo, de toda a carne, tanto aves como gado e todo réptil que se
arrasta sobre a terra, traze-os para fora contigo;
para que se reproduzam abundantemente na
terra, frutifiquem e se multipliquem sobre a terra.
18 Então saiu Noé, e com ele seus filhos, sua
mulher e as mulheres de seus filhos;
19 todo animal, todo réptil e toda ave, tudo o que se move sobre a terra, segundo as suas famílias,
saiu da arca.
20 Edificou Noé um altar ao Senhor; e tomou de
todo animal limpo e de toda ave limpa, e ofereceu holocaustos sobre o altar.
21 Sentiu o Senhor o suave cheiro e disse em seu
coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra
por causa do homem; porque a imaginação do
140
coração do homem é má desde a sua meninice;
nem tornarei mais a ferir todo vivente, como
acabo de fazer.
22 Enquanto a terra durar, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno,
dia e noite.”
Cinco meses exatos depois do início do dilúvio, a arca pousou sobre o monte Arará, onde fica
atualmente a Armênia, no dia 17 do sétimo mês.
Foi somente 40 dias após o primeiro dia do
décimo mês, que Noé soltou um corvo, por algum tempo, para verificar se havia terra seca
na base e ao redor do monte Arará.
Depois soltou uma pomba por alguns dias, e
num determinado dia, depois de ter esperado
sete dias, soltou a pomba e ela retornou com um ramo de oliveira no bico.
Noé ainda esperou outros sete dias e soltou a
pomba, e ela não mais retornou.
Assim, somente no dia primeiro do primeiro ano do ano 601, que as águas secaram sobre a
terra.
Mas foi somente no dia 27 do segundo mês, que
a terra estava seca, e foi quando Deus ordenou a Noé para sair da arca, isto é, um ano e 10 dias
depois, desde que havia começado o dilúvio no
dia 17 do segundo mês do ano 600.
Que admirável prova de paciência e de fé na tribulação que nos foi deixado por Noé.
Apesar de todas as dificuldades, do longo tempo
de prova e trabalhos sob circunstâncias difíceis
dentro da arca com todos aqueles animais, Noé
141
não foi desapontado em sua esperança de
salvação divinamente prometida a ele.
O mesmo se dá com a esperança de salvação de
todos os que andam obedientemente a Cristo.
Eles guardam os mandamentos de Cristo e com
isto provam a si mesmos que O amam de fato e
que estão unidos a Ele, e assim, têm a certeza de
que não serão frustrados em sua esperança de salvação.
Quando Noé saiu da arca, ele edificou um altar
ao Senhor, e como havia sete pares de animais
limpos na arca, ele ofereceu de todo animal
limpo e de toda ave limpa holocaustos em sacrifício sobre aquele altar.
Tendo o sacrifício agradado ao Senhor, Ele fez a
promessa de não tornar a amaldiçoar a terra por
causa do homem, por causa da imaginação do coração do homem que é continuamente má, e
nem tornaria mais a ferir todo vivente, como
tinha feito, pois enquanto durasse a terra, não
deixaria de existir, sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.
Em primeiro lugar cabe destacar a importância
que o sacrifício tem na revelação feita por Deus
ao homem desde o princípio.
Ainda que fossem os sacrifícios de animais, uma figura do sacrifício de Jesus, estes foram usados
abundantemente nos dias do Antigo
Testamento, mesmo antes da lei de Moisés,
como uma ilustração que sem o derramamento do sangue de Jesus não haveria qualquer
remissão de pecadores, e nem estes poderiam
jamais ser agradáveis a Deus.
142
O sacrifício cruento é central na reconciliação
do pecador com Deus, para a sua aproximação e
plena aceitação.
Sem esta justificação, purificação, remissão,
substituição, expiação, que são exclusivamente
mediante o sacrifício de Cristo, não haveria qualquer salvação e possibilidade de vida com
Deus por parte dos pecadores.
Tão importante era o sacrifício, que mesmo em face da escassez de espécimes para garantir a
continuidade da multiplicação de animais sobre
a terra, Noé entendeu que deveria oferecer por
fé, crendo que Deus era poderoso para preservar e multiplicar os animais que
restassem, toda a sorte de animais limpos e de
aves sobre o altar que construíra para
apresentar os sacrifícios exigidos por Deus, para que os homens soubessem até que Cristo viesse,
que necessitam do sacrifício expiatório e
vicário, para que sejam aceitos por Deus.
E, o ter oferecido Noé somente animais limpos
no altar, segundo o mandado de Deus, é muito
instrutivo quanto ao fato de que a cobertura do pecado seria feita por alguém inteiramente
santo, o que estava ilustrado na exigência da
parte de Deus que fossem sacrificados somente
aqueles animais que Ele havia designado como limpos, dentre aqueles que considerou
imundos.
Quando prometeu que nunca mais destruiria o mundo pelas águas do dilúvio, Deus
demonstrou que não havia se arrependido de
ter criado o homem, bem como não havia se
143
arrependido de ter destruído toda a carne
debaixo do céu, e também não afirmou que
removeria as maldições proferidas por ocasião
do pecado original de Adão e Eva, mas que não acrescentaria nenhuma maldição adicional
àquela maldição, em razão dos pecados dos
contemporâneos de Noé que o levou a destruí-los com o dilúvio.
Ao fazer a promessa maravilhosa que temos no
final do capítulo oitavo de preservar a raça
humana, nós temos diante de nós, uma
afirmação da misericórdia e bondade divina, que está alegando que proveria uma graça
abundante de tal forma em Cristo, e agora
sabemos isto, pelo progresso da revelação, que
não viria jamais a exterminar a humanidade em sua totalidade.
A promessa de misericórdia feita a Noé em
relação à humanidade pecadora foi marcada por
Deus com um sinal visível (o arco-íris),
conforme veremos no capítulo seguinte (9), como lembrança perpétua da aliança que ele fez
com toda a humanidade através de Noé. Quão
maravilhosa e profunda é a revelação do caráter
bondoso e misericordioso do nosso Deus!
Ele quis mostrar que apesar de todos no mundo serem dignos da destruição imediata, por serem
pecadores diante de um Deus inteiramente
santo e justo, e como de fato são, pois o
demonstrou de forma bem clara no dilúvio, no entanto, por ser também amor, misericórdia e
longanimidade, partes essenciais do Seu caráter
divino, Ele suporta os pecadores com infinita
144
paciência, dando-lhes a oportunidade de se
arrependerem; ainda que não possa
desconsiderar o pecado, inocentar o culpado;
em razão da Sua santidade e justiça.
Deus tem firmado a promessa de usar de
misericórdia em relação aos pecadores, por
saber que o pecado é algo ligado à natureza
humana e que não pode ser destruído mediante juízos, e a não ser pelo derramar da graça nos
corações que voluntariamente se consagram à
sua atuação, regenerando o pecador, através do
derramar do amor de Deus em seus corações pelo Espírito Santo.
A manifestação desta bondade, desta
disponibilidade de graça salvadora, seria
demonstrada ao despertar de cada manhã, trazendo a lembrança da promessa feita por
Deus a Noé de que “enquanto a terra durar, não
deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor,
verão e inverno, dia e noite.”
145
Gênesis 9
“1 Abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-
lhes: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra.
2 Terão medo e pavor de vós todo animal da terra, toda ave do céu, tudo o que se move sobre
a terra e todos os peixes do mar; nas vossas mãos
são entregues.
3 Tudo quanto se move e vive vos servirá de
mantimento, bem como a erva verde; tudo vos
tenho dado.
4 A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu
sangue, não comereis.
5 Certamente requererei o vosso sangue, o
sangue das vossas vidas; de todo animal o
requererei; como também do homem, sim, da mão do irmão de cada um requererei a vida do
homem.
6 Quem derramar sangue de homem, pelo
homem terá o seu sangue derramado; porque
Deus fez o homem à sua imagem.
7 Mas vós frutificai, e multiplicai-vos; povoai
abundantemente a terra, e multiplicai-vos nela.
8 Disse também Deus a Noé, e a seus filhos com
ele:
9 Eis que eu estabeleço o meu pacto convosco e
com a vossa descendência depois de vós,
10 e com todo ser vivente que convosco está: com as aves, com o gado e com todo animal da
terra; com todos os que saíram da arca, sim, com
todo animal da terra.
146
11 Sim, estabeleço o meu pacto convosco; não
será mais destruída toda a carne pelas águas do
dilúvio; e não haverá mais dilúvio, para destruir
a terra.
12 E disse Deus: Este é o sinal do pacto que firmo entre mim e vós e todo ser vivente que está
convosco, por gerações perpétuas:
13 O meu arco tenho posto nas nuvens, e ele será
por sinal de haver um pacto entre mim e a terra.
14 E acontecerá que, quando eu trouxer nuvens
sobre a terra, e aparecer o arco nas nuvens,
15 então me lembrarei do meu pacto, que está
entre mim e vós e todo ser vivente de toda a
carne; e as águas não se tornarão mais em dilúvio para destruir toda a carne.
16 O arco estará nas nuvens, e olharei para ele a
fim de me lembrar do pacto perpétuo entre
Deus e todo ser vivente de toda a carne que está
sobre a terra.
17 Disse Deus a Noé ainda: Esse é o sinal do pacto
que tenho estabelecido entre mim e toda a carne que está sobre a terra.
18 Ora, os filhos de Noé, que saíram da arca,
foram Sem, Cão e Jafé; e Cão é o pai de Canaã.
19 Estes três foram os filhos de Noé; e destes foi
povoada toda a terra.
20 E começou Noé a cultivar a terra e plantou
uma vinha.
21 Bebeu do vinho, e embriagou-se; e achava-se
nu dentro da sua tenda.
22 E Cão, pai de Canaã, viu a nudez de seu pai, e
o contou a seus dois irmãos que estavam fora.
147
23 Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e
puseram-na sobre os seus ombros, e andando
virados para trás, cobriram a nudez de seu pai,
tendo os rostos virados, de maneira que não viram a nudez de seu pai.
24 Despertado que foi Noé do seu vinho, soube o
que seu filho mais moço lhe fizera;
25 e disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos será de seus irmãos.
26 Disse mais: Bendito seja o Senhor, o Deus de
Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
27 Alargue Deus a Jafé, e habite Jafé nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.
28 Viveu Noé, depois do dilúvio, trezentos e
cinquenta anos.
29 E foram todos os dias de Noé novecentos e
cinquenta anos; e morreu.”
Deus abençoou a Noé e a seus filhos (v 1), isto é,
Ele lhes assegurou de fazer o bem a eles, de
protegê-los, de guardá-los em segurança. É
exatamente isto que o Senhor faz em relação a todos os crentes que estão em Cristo Jesus.
Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e
os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas,
mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males (I Pe 3.12).
Vemos este cuidado de Deus para com os justos,
isto é, para aqueles que foram justificados pela
fé em Seu Filho, e que praticam obras de justiça, dignas de arrependimento, declarado nas
palavras de Jesus em Jo 17.11,12:
“Pai santo, guarda-os em teu nome... Quando eu
estava com eles, guardava-os no teu nome que
148
me deste, e protegi-os, e nenhum deles se
perdeu, exceto o filho da perdição, para que se
cumprisse a Escritura.”
É do mesmo modo que abençoa a todos os que
creem em Cristo, que Deus abençoou a Noé e a seus filhos.
Abençoar significa: fazer e trazer o bem a; e a bênção de Deus para os seus filhos é especial,
porque inclui o cuidado e proteção a que nos
referimos anteriormente.
Assim, tendo Deus feito as prescrições deste
capítulo em favor da manutenção da vida, naquele novo mundo que seria reconstruído a
partir de Noé e seus filhos, Ele fez uma aliança
com eles e com todos os que descenderiam
deles, isto é, uma aliança com a humanidade em geral, em todas as gerações, de não mais
destruir toda a carne pelas águas do dilúvio; e de
que não haveria mais dilúvio, para destruir a
terra.
Esta promessa significa em síntese, que haveria um grande aumento da população mundial,
pelo desígnio de Deus; e que embora o mundo
não seja um paraíso, no entanto, é ainda melhor
do que nós merecemos.
Abençoado seja Deus, pois não é o inferno.
A aliança feita pelo Senhor para com os que
habitam na terra, garante que por mais que se multiplique a iniquidade, a terra não seja como
é o inferno.
Embora a morte não devesse reinar, o Senhor
ainda seria conhecido pelos Seus julgamentos,
contudo a terra nunca deveria ser novamente
149
despovoada como foi no dilúvio, mas seria cheia
tanto de homens quanto de animais (At 17.24-
26).
Provavelmente depois de ter construído uma casa para si e sua família, Noé plantou uma
vinha, e talvez fosse este o seu ofício, antes de ter
que paralisá-lo para se dedicar à construção da
arca, como um carpinteiro.
Assim, depois do dilúvio, ele retornou às suas atividades normais e rotineiras, e não viveria de
modo nenhum uma vida inativa, pois estava
bem inteirado por Deus que a Sua bênção está associada ao trabalho para o qual se está
vocacionado por Ele segundo os dons e talentos
dele recebidos (I Cor 7.24).
Noé expôs o descuidado e não vigilante Cão, seu
filho, a pecar, pois quando o viu nu e embriagado no interior da tenda, zombou do
seu pai junto aos seus irmãos Sem e Jafé, que na
ocasião agiram corretamente, guardando-se de
não praticarem o mesmo pecado, e tomaram a iniciativa de cobrir a nudez do pai, para que não
ficasse exposto à vergonha, e o fizeram com tal
reverência, que tomaram uma capa e a
colocaram sobre seus próprios ombros e andaram de costas, desviando o rosto, de modo
a não verem a nudez do pai.
O que fez Deus através de Noé, depois que este
despertou e se recuperou do seu vinho, e soube o que havia feito o seu filho mais moço?
Proferiu uma maldição sobre Canaã, um dos
filhos de Cão, sujeitando-o à servidão de Sem e
Jafé.
150
Os filhos de Cão foram Cuxe, Misraim, Pute e
Canaã (10.6).
De Misraim descenderiam os egípcios, e todos
sabemos o que sucedeu aos cananeus, descendentes de Canaã, que foram habitar
exatamente na terra que Deus prometeu aos
descendentes de Abraão, descendente de Sem,
dando-se assim cumprimento à maldição proferida por Noé, quando foram de lá expulsos
ou sujeitados a trabalhos forçados pelos
israelitas, quando a terra foi conquistada nos
dias de Josué.
Agora, o pecado do próprio Noé nos ensina que
quando a Bíblia diz que ele era justo e íntegro
entre os seus contemporâneos (Gên 6.9) isto se
refere à sua sinceridade diante de Deus e não a uma perfeição sem pecado.
No maior dos santos sempre se achará alguma
falta.
Ninguém pode ser perfeitamente sem pecado
neste mundo, porque o pecado é algo ligado à natureza terrena, e deve ser continuamente
mortificado, pois de outro modo sempre
prevalecerá.
Todos aqueles que têm tido a resolução de vigiar, e que pela graça de Deus têm mantido a
sua integridade em meio às tentações, às vezes,
por descuido e negligência da graça de Deus, são
surpreendidos em pecado, mesmo depois de ter cessado o tempo da sua provação, e de tudo
terem vencido com o auxílio da graça de Cristo.
Por isso se ordena aos cristãos que estejam
sempre vigilantes e vestidos da armadura de
151
Deus, para que possam resistir no dia mau, e,
depois de terem vencido tudo, permanecerem
inabaláveis (Ef 6.13). E para isto, “orando em todo
tempo no Espírito”, vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos (Ef
6.18).
Um aspecto importante a destacar na maldição
de Canaã por causa do pecado de Cão, seu pai, é
que ela se cumpriu somente cerca de oitocentos anos depois de ter sido proferida, quando os
israelitas conquistaram a terra de Canaã.
O povo de Canaã foi amaldiçoado porque era tão
ímpio quanto foram os seus ancestrais.
Deus jamais proferiria aquela maldição sobre
um povo piedoso.
Cabe destacar que há uma precisão maravilhosa na profecia de Noé em relação a seus filhos,
como não poderia deixar de ser, pois foram
proferidas pelo próprio Deus. Em Gên 9.27 lemos:
“Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.”
Esta profecia se aplica especialmente aos gregos
e romanos que eram descendentes de Jafé.
As nações orientais são particularmente
descendentes de Sem, e daí serem chamadas de
semitas.
As nações ocidentais, particularmente da Europa, e Ásia, de Jafé.
Esta profecia aponta maravilhosamente para a
conversão dos gentios (jafetistas) através da
salvação que viria a partir dos judeus (semitas),
152
e daí se dizer que eles habitariam nas tendas de
Sem.
As tendas de Sem foram depositárias da
revelação de Deus desde os dias de Abraão até os dias de Jesus e dos apóstolos, e foi nestas tendas
que os gentios acharam a salvação.
Jafé seria engrandecido, e isto indica domínio e
prosperidade material, como de fato foi o caso
dos gregos e dos romanos que habitaram nas tendas de Sem, também sendo os dominadores
dos judeus, que foram tributários deles.
Mas não é esta a verdadeira e duradoura
bênção, e por isso a bênção de Jafé não é tanto a de ser engrandecido por Deus para exercer
domínio, mas a de estar unido como gentio aos
judeus, pelo evangelho de Cristo, no qual é
derrubada a barreira de separação que havia entre ambos (Ef 2.14,15).
E, mais maravilhoso ainda é o fato de que
aqueles que viriam a se abrigar nas tendas de
Sem seriam verdadeiramente grandes no sentido de que seriam mais numerosos como
povo de Deus do que os próprios judeus, porque
não padece dúvida que ao longo de toda a
história da igreja, ela tem sido composta em muito maior parte por gentios do que por
judeus.
Jafé seria aumentado por Deus, mas o
sacerdócio seria dado a Sem, porque Deus
decidiu e escolheu habitar nas tendas de Sem. Seria pela descendência de Sem que traria ao
mundo Aquele que esmaga a cabeça da
serpente.
153
Será no Monte Sião, em Jerusalém, que Jesus
estabelecerá a sede do Seu governo sobre a terra
no milênio, e será também na mesma posição
ocupada atualmente por Jerusalém, que a Nova Jerusalém descerá sobre a nova terra que Deus
criará depois do milênio.
Assim, é na tenda de Sem que Jafé habitará. Isto
não é maravilhoso?
É interessante observar que a profecia deixa
Canaã, um dos filhos de Cão, totalmente
descartado desta habitação nas tendas de Sem,
que foi concedida a Jafé.
Dele se diz apenas que seria servo tanto de Sem
quanto de Jafé.
De fato, os cananeus foram praticamente
exterminados da face da terra porque eles não tinham parte no Senhor. Por isso se diz que bem-
aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor.
Por isso estaremos mais contentes se nós
tivermos Deus habitando em nossas tendas, do que possuir todo o ouro e toda a prata do mundo.
É melhor morar em tendas com Deus do que em
palácios sem Ele.
154
Gênesis 10
Repovoamento da Terra depois do
Dilúvio
“1 Estas, pois, são as gerações dos filhos de Noé:
Sem, Cão e Jafé, aos quais nasceram filhos
depois do dilúvio.
2 Os filhos de Jafé: Gomer, Magogue, Madai,
Javã, Tubal, Meseque e Tiras.
3 Os filhos de Gomer: Asquenaz, Rifate e Togarma.
4 Os filhos de Javã: Elisá, Társis, Quitim e
Dodanim.
5 Por estes foram repartidas as ilhas das nações
nas suas terras, cada qual segundo a sua língua, segundo as suas famílias, entre as suas nações.
6 Os filhos de Cão: Cuche, Mizraim, Pute e
Canaã.
7 Os filhos de Cuche: Seba, Havilá, Sabtá, Raamá
e Sabtecá; e os filhos de Raamá são Sebá e Dedã.
8 Cuche também gerou a Ninrode, o qual foi o
primeiro a ser poderoso na terra.
9 Ele era poderoso caçador diante do Senhor; pelo que se diz: Como Ninrode, poderoso
caçador diante do Senhor.
10 O princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar.
11 Desta mesma terra saiu ele para a Assíria e
edificou Nínive, Reobote-Ir, Calá,
12 e Résem entre Nínive e Calá (esta é a grande
cidade).
155
13 Mizraim gerou a Ludim, Anamim, Leabim,
Naftuim,
14 Patrusim, Casluim (donde saíram os filisteus) e Caftorim.
15 Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e
Hete,
16 e ao jebuseu, o amorreu, o girgaseu,
17 o heveu, o arqueu, o sineu,
18 o arvadeu, o zemareu e o hamateu. Depois se
espalharam as famílias dos cananeus.
19 Foi o termo dos cananeus desde Sidom, em
direção a Gerar, até Gaza; e daí em direção a
Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa.
20 São esses os filhos de Cão segundo as suas
famílias, segundo as suas línguas, em suas
terras, em suas nações.
21 A Sem, que foi o pai de todos os filhos de Eber
e irmão mais velho de Jafé, a ele também
nasceram filhos.
22 Os filhos de Sem foram: Elão, Assur,
Arfaxade, Lude e Arão.
23 Os filhos de Arão: Uz, Hul, Geter e Más.
24 Arfaxade gerou a Selá; e Selá gerou a Eber.
25 A Eber nasceram dois filhos: o nome de um foi Pelegue, porque nos seus dias foi dividida a
terra; e o nome de seu irmão foi Joctã.
26 Joctã gerou a Almodá, Selefe, Hazarmavé, Jerá,
27 Hadorão, Usal, Dicla,
28 Obal, Abimael, Sebá,
29 Ofir, Havilá e Jobabe: todos esses foram filhos
de Joctã.
156
30 E foi a sua habitação desde Messa até Sefar,
montanha do oriente.
31 Esses são os filhos de Sem segundo as suas
famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, segundo as suas nações.
32 Essas são as famílias dos filhos de Noé
segundo as suas gerações, em suas nações; e
delas foram disseminadas as nações na terra
depois do dilúvio.”
Este é o único registro correto sobre a existência e origem das primeiras nações, depois do
dilúvio.
São apresentadas setenta cabeças de famílias
dos quais procederam as nações. Todos eles descenderam dos três filhos de Noé, Sem, Cão e
Jafé.
Moisés começa com a família de Jafé,
provavelmente porque ele era o primogênito, e
apresenta posteriormente a descendência de Cão, que era formada em boa parte pelos
inimigos de Israel, especialmente no que se
refere aos povos formados a partir de Canaã, e
finalmente registra a descendência de Sem que foi o antepassado de Israel.
No capítulo décimo primeiro é apresentada uma
genealogia mais detalhada de Arfaxade, um dos
filhos de Sem, porque seria nele que seria
chamada a descendência de Abraão, que foi chamado por Deus para a formação da nação de
Israel, e a quem foi feita a promessa da Nova
Aliança.
157
É feito um destaque especial a Heber, que era
Neto de Sem, pois era filho de Selá, que era filho
de Arfaxade, filho de Sem.
Este Heber é um personagem importante na
história dos israelitas, pois a palavra hebreu, incluindo aí a língua falada primitivamente
pelos israelitas, é originado de Heber.
Assim é dado um destaque especial a ele
dizendo-se que Sem foi o pai de todos os filhos
de Heber.
Além de Canaã, Cão, filho de Noé, gerou a
Mizraim, Pute e Cuche.
Este Cuche gerou além de outros filhos, a
Ninrode, que foi o fundador da cidade de Nínive, capital da Assíria, e que havia principiado o seu
reino em Babel, a cidade onde Deus confundiu
as línguas dos homens, agilizando e
precipitando com isto, a formação das nações.
Diz-se de Ninrode que foi poderoso na terra, e observe que ele é filho de Cão, mas não na
linhagem de Canaã, que foi amaldiçoado.
Ele é filho de Cuche, outro dos quatro filhos de
Cão.
Deste Ninrode se diz que começou o seu reino
em Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de
Sinar. Observe que são quatro cidades sobre as quais ele reinou no princípio.
Ele expandiu os termos do seu reinado partindo para a Assíria, onde edificou Nínive, Reobote-Ir,
Calá, e Résem que foi uma grande cidade que
ficava entre Nínive e Calá.
São citadas assim oito cidades sobre as quais ele
governou.
158
Tendo iniciado, como vimos antes, o seu
reinado entre aqueles que estavam em Babel, e
que tinham por propósito permanecer na região
que teria o topo da torre que estavam edificando como referencial, para não se espalharem pela
terra, e com isto estariam frustrando o plano de
Deus de que toda a terra fosse habitada pelo homem.
Naquela ocasião isto era facilitado pelo fato de
todos falarem a mesma língua.
Se havia mais de uma língua na terra antes do
dilúvio, a partir deste, é bem provável que a língua que passou a ser falada em toda a terra
era a mesma que era falada pela família de Noé.
Era Ninrode, como vimos, quem fundou Babel e
governava sobre eles quando Deus, por ato
miraculoso e extraordinário fez com que grupos e grupos falassem um idioma diferente, de
modo que não podiam mais se comunicar
mutuamente, e todos já não podiam mais
entender e por conseguinte acatar as ordens do governador.
É bem provável que tenha sido este o motivo de
Ninrode ter se dirigido para outras terras para
fundar novos reinos com aqueles que passaram a falar o mesmo e novo idioma que ele começou
a falar.
Isto indica que Deus é poderoso para dar a quem
quer, ou que lhe peça, uma facilidade especial para pensar e falar outras línguas, além da sua
língua materna.
Dos filisteus, se diz que eram descendentes de
Casluim, um dos filhos de Mizraim, também
159
filho de Cão, do qual procederam também os
egípcios, a partir de um outro de seus filhos.
São citados todos os povos cananeus, que
descenderam de Canaã, citando-se inclusive os sidôneos, e os habitantes de Sodoma e Gomorra
entre eles, como os termos da sua habitação.
Assim é citado que de Canaã foram formados os
sidôneos, os heteus, os jebuseus, os amorreus, os girgaseus, os heveus, os arqueus, os sineus,
os arvadeus, os zemareus e os hamateus.
Todas estas nações seriam subjugadas por
Israel, em razão do crescente aumento da
iniquidade delas desde os dias de Abraão, conforme o Senhor havia declarado que ainda
não estava completa a medida da iniquidade dos
amorreus nos dias de Abraão.
E, que a nação de Israel permaneceria no cativeiro no Egito até que fosse completada tal
medida, e isto se deu nos dias de Moisés.
A terra dos cananeus, de contaminada pelo
pecado que era, viria a ser a terra santa, a terra de Emanuel (Deus conosco) pois foi lá que o
Senhor Jesus viveu e realizou o seu ministério e
obra, conforme predito pelos profetas.
Estas genealogias comprovam a certeza
histórica do dilúvio, pois que dão conta que de fato foi a partir dos três filhos de Noé que se
formaram todas as nações da terra, e o Senhor
Deus que tudo sabe e conhece, até o número de
fios de cabelos das cabeças de seus filhos, deu o relato fiel da origem das nações a partir dos
filhos de Noé para ficar registrado,
principalmente como testemunho de que ele
160
havia destruído o mundo antigo, e repovoado a
terra a partir daqueles três filhos de Noé.
É principalmente isto que a revelação sobre a
formação destes povos tem em vista.
161
Gênesis 11
“1 Ora, toda a terra tinha uma só língua e um só
idioma.
2 E deslocando-se os homens para o oriente,
acharam um vale na terra de Sinar; e ali habitaram.
3 Disseram uns aos outros: Eia pois, façamos
tijolos, e queimemo-los bem. Os tijolos lhes serviram de pedras e o betume de argamassa.
4 Disseram mais: Eia, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e
façamo-nos um nome, para que não sejamos
espalhados sobre a face de toda a terra.
5 Então desceu o Senhor para ver a cidade e a
torre que os filhos dos homens edificavam;
6 e disse: Eis que o povo é um e todos têm uma
só língua; e isto é o que começam a fazer; agora
não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.
7 Eia, desçamos, e confundamos ali a sua
linguagem, para que não entenda um a língua do outro.
8 Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.
9 Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a linguagem
de toda a terra, e dali o Senhor os espalhou sobre
a face de toda a terra.
10 Estas são as gerações de Sem. Tinha ele cem
anos, quando gerou a Arfaxade, dois anos depois
do dilúvio.
162
11 E viveu Sem, depois que gerou a Arfaxade,
quinhentos anos; e gerou filhos e filhas.
12 Arfaxade viveu trinta e cinco anos, e gerou a Selá.
13 Viveu Arfaxade, depois que gerou a Selá,
quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas.
14 Selá viveu trinta anos, e gerou a Eber.
15 Viveu Selá, depois que gerou a Eber, quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas.
16 Eber viveu trinta e quatro anos, e gerou a
Pelegue.
17 Viveu Eber, depois que gerou a Pelegue,
quatrocentos e trinta anos; e gerou filhos e
filhas.
18 Pelegue viveu trinta anos, e gerou a Reú.
19 Viveu Pelegue, depois que gerou a Reú,
duzentos e nove anos; e gerou filhos e filhas.
20 Reú viveu trinta e dois anos, e gerou a
Serugue.
21 Viveu Reú, depois que gerou a Serugue,
duzentos e sete anos; e gerou filhos e filhas.
22 Serugue viveu trinta anos, e gerou a Naor.
23 Viveu Serugue, depois que gerou a Naor,
duzentos anos; e gerou filhos e filhas.
24 Naor viveu vinte e nove anos, e gerou a Tera.
25 Viveu Naor, depois que gerou a Tera, cento e
dezenove anos; e gerou filhos e filhas.
26 Tera viveu setenta anos, e gerou a Abrão, a
Naor e a Harã.
27 Estas são as gerações de Tera: Tera gerou a Abrão, a Naor e a Harã; e Harã gerou a Ló.
28 Harã morreu antes de seu pai Tera, na terra
do seu nascimento, em Ur dos Caldeus.
163
29 Abrão e Naor tomaram mulheres para si: o
nome da mulher de Abrão era Sarai, e o nome da
mulher do Naor era Milca, filha de Harã, que foi
pai de Milca e de Iscá.
30 Sarai era estéril; não tinha filhos.
31 Tomou Tera a Abrão seu filho, e a Ló filho de
Harã, filho de seu filho, e a Sarai sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur
dos Caldeus, a fim de ir para a terra de Canaã; e
vieram até Harã, e ali habitaram.
32 Foram os dias de Tera duzentos e cinco anos;
e morreu Tera em Harã.”
No texto que relata o modo como Deus espalhou
os primeiros descendentes dos filhos de Noé, por toda a terra se destaca que o fato de falarem
uma só língua contribuía para que todos
ficassem debaixo do mesmo governo, e pelo que
vimos anteriormente, este governo não estava debaixo de uma pessoa piedosa e temente ao
Senhor, pois se fizera poderoso na terra pela
ambição de ampliar o seu governo, tendo
chegado a fundar e governar oito cidades; este Ninrode que era neto de Cão, o filho de Noé que
não trazia consigo a promessa da bênção de
Deus.
Aquele primeiro grupo da humanidade que
havia se formado depois do dilúvio caminhou para o Oriente em busca de um local amplo para
abrigar a todos eles, e onde pudessem se fixar
permanentemente.
Eles acharam um lugar espaçoso muito
conveniente para se instalarem (v. 2), uma
164
planície na terra de Sinear, uma planície
espaçosa, que ficava num vale que era capaz de
abrigar a todos, provavelmente com uma terra
fértil e frutífera. A ordem de Deus para Noé e seus filhos era:
“Sede fecundos, multiplicai-vos, e enchei a
terra.” (9.1)
Este “enchei a terra” era uma ordem para que se espalhassem pela superfície do globo, e não que
intentassem se fixar numa determinada região.
Esta era uma medida preventiva para que não
ocorresse toda a corrupção do gênero humano,
por estarem todos debaixo da mesma influência, tal como ocorreu antes do dilúvio,
quando os homens de Deus começaram a fazer
casamentos mistos com mulheres de famílias
ímpias, e o temor a Deus e a obediência aos Seus mandamentos foram perdidos.
Então o Senhor agiu preventivamente
ordenando que eles se espalhassem, de modo a
se garantir que houvesse sempre na terra existência de um testemunho fiel ao longo das
sucessivas gerações.
É importante saber que o Velho Testamento não
está escrito em rigorosa ordem cronológica, e assim temos no capítulo 10 o registro de coisas
que são posteriores ao episódio de Babel
narrado no capítulo 11.
Veja que é dito em 10.5,20, 31, em relação aos
descendentes de Jafé, Cão e Sem, como uma nota comum, que eram segundo suas famílias,
segundo as suas línguas, em suas terras, em
suas nações.
165
Isto ocorreu obviamente depois do episódio de
Babel, pois até então se falava uma única língua
em toda a terra.
Havia uma promessa de graça da parte do Senhor, de não mais destruir toda a
humanidade, e assim, Ele estava intervindo,
para poder garantir o cumprimento de tal
promessa.
Aquela era então uma medida de julgamento,
mas ao mesmo tempo de proteção da
humanidade e da garantia da sua perpetuação
sobre a face da terra.
Aqui encerramos o nosso comentário sobre a
primeira parte de Gên 11 que se refere ao
episódio de Babel. Veremos agora, brevemente,
a segunda parte deste capítulo que trata da genealogia de Sem até Abraão (11.10-32).
Antes de tudo, observe como houve uma
diminuição gradual nos anos de vida dos
homens a partir do dilúvio:
Sem - viveu 600 anos
Arfaxade – 438
Selá - 433
Heber - 464
Pelegue - 239
Réu - 239
Serugue - 230
Naor - 148
Terá - 205
Abraão - 175 (Gên 25.7)
Quando a população da terra começou a
aumentar, os anos de vida dos homens foram
encurtados. Parece que aqueles muitos anos de
166
vida dos primeiros homens tinham em vista
garantir a perpetuidade da humanidade.
Agora, com um grande aumento populacional, a
garantia da preservação da raça não dependeria
mais de se manter um período tão extenso de anos de vida num mundo sujeito ao pecado.
A vida seria marcada para eles, especialmente para os que não tinham o temor de Deus, como
puro enfado e canseira.
Foi, portanto a misericórdia do Senhor que
abreviou o número de anos de vida sobre a terra.
Com isto nos ensina também que há também
uma morada infinita melhor para aqueles que O
amam, do que a terra em que vivemos.
A longevidade na terra é apontada por Deus como um sinal da sua bênção, mas Ele, em sua
sabedoria, põe limites a esta longevidade, de
modo que aquilo que está destinado a ser uma
bênção não se transforme, ainda que não numa maldição, mas num grande fardo para ser
carregado.
É em Gên 11 que começa a história de Abraão,
cujo nome é famoso em ambos os Testamentos,
e que é uma pessoa importante na revelação
bíblica.
Ele era habitante de Ur dos Caldeus (11.31), que havia se tornado numa nação idólatra, apesar de
serem descendentes de Heber.
Eles haviam se corrompido em seus caminhos.
O próprio pai de Abraão, Terá, havia servido a
outros deuses (Josué 24.2).
Gên 11.26 diz que Terá tinha 75 anos quando
gerou Abraão, Naor e Harã.
167
Pelo contexto bíblico, sabemos que não eram
trigêmeos.
Assim, a citação de 75 anos se refere
provavelmente à idade com que começou a
gerar seus filhos.
Tudo indica que Abraão não era o mais velho
deles, pois quando foi chamado pelo Senhor tinha também 75 anos quando partiu de Harã
(Gên 12.4), local onde havia morrido seu pai Terá
(11.32) depois de ter partido de Ur para lá, com
Abraão, Ló, e Sarai, esposa de Abraão (11.31).
É provável que Terá tenha se enfraquecido e ficado enfermo com a longa viagem até Harã, e
ter sido impedido, em face da sua idade
avançada, de prosseguir a viagem rumo a Canaã.
Muitos admitem a hipótese de que ele havia se
convertido ao Senhor, quando partiu de Ur, e
sob a ordem de Deus para ir para Canaã, mas isto não passa de uma possibilidade, porque nada se
diz no texto bíblico quanto a isto.
Harã, um dos irmãos de Abraão, que era pai de
Ló, morreu em Ur dos caldeus, sua terra natal,
enquanto seu pai Terá ainda vivia (At 11.28).
Foi na família de Naor, outro irmão de Abraão,
que Isaque e Jacó, filho e neto de Abraão, respectivamente, se proveriam de esposas no
futuro.
Estes descendentes de Naor habitavam em
Pada-Arã (Gên 31.18), na Mesopotâmia (Gên
24.10), região entre os rios Tigre e Eufrates, ao Norte da cidade de Ur dos caldeus
168
Gênesis 12
A Chamada de Abraão
“1 Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para
a terra que eu te mostrarei.
2 Eu farei de ti uma grande nação; abençoar-te-
ei, e engrandecerei o teu nome; e tu, sê uma
bênção.
3 Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te amaldiçoar; e em ti
serão benditas todas as famílias da terra.
4 Partiu, pois Abrão, como o Senhor lhe
ordenara, e Ló foi com ele. Tinha Abrão setenta
e cinco anos quando saiu de Harã.
5 Abrão levou consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que
haviam adquirido, e as almas que lhes
acresceram em Harã; e saíram a fim de irem à
terra de Canaã; e à terra de Canaã chegaram.
6 Passou Abrão pela terra até o lugar de Siquém, até o carvalho de Moré. Nesse tempo estavam os
cananeus na terra.
7 Apareceu, porém, o Senhor a Abrão, e disse: À
tua semente darei esta terra. Abrão, pois,
edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera.
8 Então passou dali para o monte ao oriente de
Betel, e armou a sua tenda, ficando-lhe Betel ao
ocidente, e Ai ao oriente; também ali edificou
169
um altar ao Senhor, e invocou o nome do
Senhor.
9 Depois continuou Abrão o seu caminho,
seguindo ainda para o sul.
10 Ora, havia fome naquela terra; Abrão, pois,
desceu ao Egito, para peregrinar ali, porquanto
era grande a fome na terra.
11 Quando ele estava prestes a entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és
mulher formosa à vista;
12 e acontecerá que, quando os egípcios te
virem, dirão: Esta é mulher dele. E me matarão a
mim, mas a ti te guardarão em vida.
13 Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me
vá bem por tua causa, e que viva a minha alma
em atenção a ti.
14 E aconteceu que, entrando Abrão no Egito, viram os egípcios que a mulher era mui
formosa.
15 Até os príncipes de Faraó a viram e gabaram-
na diante dele; e foi levada a mulher para a casa
de Faraó.
16 E ele tratou bem a Abrão por causa dela; e este
veio a ter ovelhas, bois e jumentos, servos e servas, jumentas e camelos.
17 Feriu, porém, o Senhor a Faraó e a sua casa com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher
de Abrão.
18 Então chamou Faraó a Abrão, e disse: Que é
isto que me fizeste? Por que não me disseste que
ela era tua mulher?
170
19 Por que disseste: E minha irmã? de maneira
que a tomei para ser minha mulher. Agora, pois,
eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te.
20 E Faraó deu ordens aos seus guardas a
respeito dele, os quais o despediram a ele, e a sua mulher, e a tudo o que tinha.”
Abraão foi constituído por Deus pai de numerosas nações, portanto não somente de
Israel, mas inclusive de nações estrangeiras,
porque todos os que são nascidos de novo pela
sua fé em Cristo, são considerados por Deus como filhos de Abraão, a quem ele fez a
promessa da Nova Aliança, e pelo fato de Jesus
ter descendido de Abraão, conforme planejado
por Deus; através desta Nova Aliança pessoas de todas as nações seriam abençoadas por
estarem unidas
ao descendente de Abraão, segundo a carne,
que é Cristo (Gên 17.4,5; Rom 4.16,17).
Com a chamada de Abraão, Deus vai usar a
estratégia de formar a sua própria nação entre
as nações.
Uma nação para viver segundo a Sua vontade, separada das demais nações da terra, de modo
que pudesse se revelar através desta nação, até
que Jesus viesse, e o Espírito fosse derramado
em todas as nações, provendo-se assim o Senhor de um povo exclusivamente seu; zeloso
de boas obras, em todas as nações da terra.
Abraão não é somente um exemplo de homem
de fé, mas também um testemunho de boas
obras, e isto foi registrado pelo apóstolo Tiago
171
em sua epístola (Tg 2.22), e o próprio Senhor
Jesus ensinou que os verdadeiros filhos de
Abraão são aqueles que fazem as obras de
Abraão (Jo 8.39).
Ele é pois dado a nós não somente como
exemplo de fé, mas também como exemplo de
quem praticou as boas obras que Deus preparou
de antemão para serem praticadas por todos os seus filhos (Ef 2.10).
Nós vimos nos últimos versículos do décimo
primeiro capítulo de Gênesis que o pai de
Abraão, Terá, havia saído juntamente com ele, Sara e Ló, de Ur dos caldeus, em direção à terra
de Canaã, e tendo ficado em Harã, Terá veio a
falecer naquela terra, e quando a narrativa é
reiniciada no décimo segundo capítulo, logo no primeiro versículo nós lemos: o seguinte: “Ora,
disse o Senhor a Abraão: Sai da tua terra, da tua
parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra
que te mostrarei;”
Nos versículo seguintes (v. 2 e 3) é declarado por Deus, o propósito desta chamada:
“de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e
te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção:
abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti
serão benditas todas as famílias da terra.”
Quando Deus disse a Abraão: “Sê tu uma
bênção”, Ele estava incentivando o patriarca a
corresponder ao nível da sua chamada, porque a graça do Senhor se estenderia para além da sua
pessoa e abençoaria a muitos sobre a face da
terra, em todas as gerações depois dele, e
172
especialmente depois que se manifestasse o Seu
descendente (Jesus) no qual seriam abençoadas
todas as nações da terra.
Assim, todos aqueles que abençoassem a
Abraão, isto é, que reconhecessem nele o
significado da sua vocação e a bênção que foi
trazida a eles por meio dele, porque seria dele que descenderia o Cristo, e a nação de Israel
através da qual Deus revelou a Sua vontade e os
Seus mandamentos ao mundo, seriam também
abençoados com a mesma bênção que o Senhor o abençoou, a saber, a bênção da justificação
que traz a salvação eterna.
De igual modo seriam amaldiçoados por Deus todos aqueles que amaldiçoassem Abraão,
porque é somente no descendente dele que está
a bênção, e assim, quem amaldiçoasse a Abraão
estaria amaldiçoando o Deus de Abraão, por conseguinte rejeitando a Sua bênção, ficando
sujeito à maldição eternamente.
Assim é o próprio Deus, o próprio Cristo, o Espírito Santo, quem abençoa e não
propriamente Abraão.
Em Gên 12.7 lemos que Deus apareceu a Abraão quando chegou a Canaã, e lhe fez a promessa de
dar aquela terra à sua descendência.
Isto é de grande importância para vermos o
amor e a obediência de Abraão a Deus, porque, não tendo filhos, recebeu a promessa de que
aquela terra seria dada à sua descendência, e
não a ele mesmo.
173
Abraão não estava buscando, portanto o que era
da sua própria vontade, mas o que era da
vontade de Deus.
Abraão revelou a Sua obediência a Deus desde o princípio, quando obedeceu ao Seu
mandamento de deixar a sua parentela e a terra
dos seus pais, e ir para uma terra que lhe seria
mostrada pelo Senhor.
Ele sabia que teria o encargo de ordenar não apenas a própria vida, mas toda a sua casa, tanto
descendentes quanto servos, de modo que
vivessem segundo os preceitos de Deus (Gên
18.17-19).
Ao atravessar a terra de Siquém, chegando ao carvalho de More, em Canaã (12.6), depois que o
Senhor fez a promessa de dar aquela terra à sua
descendência, a primeira coisa que Abraão fez
foi edificar um altar ao Senhor.
Prosseguindo sua jornada edificou outro altar
ao oriente de Betel, e ali invocou o nome do
Senhor (Gên 12.8).
Aonde quer que Abraão ia, ele sempre mantinha
a adoração a Deus em sua família.
Ele havia enriquecido e tinha muitos servos, mas a sua confiança não estava nos seus bens e
no braço de carne, mas no Deus que lhe havia
chamado e lhe fizera a promessa de lhe
engrandecer o nome e de abençoar a muitos por causa da sua obediência.
Nisto Abraão é um tipo de Cristo; de quem por
causa da sua obediência perfeita a Deus e à sua
lei, somos justificados (Rom 5.19).
174
Ninguém pode ser verdadeiramente uma
bênção para outras pessoas se não viver de
modo obediente à vontade de Deus, tornando-se
assim um exemplo vivo para ser seguido.
No caso de nosso Senhor Jesus Cristo, não temos
apenas o legado do exemplo deixado por Sua
obediência, mas os benefícios decorrentes dela,
porque é exclusivamente por meio da Sua perfeita obediência que somos justificados pela
graça, mediante a fé. Pois Aquele que não
conheceu pecado foi feito pecado por nós.
Quando Abraão se dirigia em direção ao Neguebe houve grande fome na terra, e por isso
Abraão se dirigiu ao Egito (12.9,10).
Ele fez um ajuste com Sara para que dissesse
quando chegassem ao Egito, que era sua irmã e
omitisse que era sua esposa, de modo a ter sua vida poupada caso fosse cobiçada pelo faraó,
uma vez que a lei antiga entre eles permitia que
a mulher de alguém fosse dada a um homem
poderoso, desde que fosse morto o marido, de modo que este não vivesse corroído pelo ciúme.
Aquela grande fome que estava havendo na
terra, provavelmente em razão da visitação da
iniquidade dos cananitas, estava colocando duramente à prova a fé de Abraão.
Outro, em seu lugar teria pensado e se deixado
dominar pelo seguinte pensamento: “Deus me
tirou da minha terra para me matar de fome neste lugar estranho?”.
Somente alguém com uma fé forte como a de
Abraão, prosseguiria adiante, confiando em
Deus, sem duvidar de Suas promessas, e tendo
175
bons pensamentos acerca de Deus, debaixo de
uma prova como aquela.
A terra em que Abraão deveria peregrinar não
era o Egito, mas como ocorre ainda hoje, muitas
vezes a nossa missão sofre interrupções em razão das dificuldades que enfrentamos neste
mundo, e que têm em vista, no propósito geral
de Deus em relação a nós, provar nossa fé e
fortalecê-la de modo a nos preparar para obras maiores e melhores.
É possível estar a serviço do Senhor, e ainda assim estar debaixo de grandes dificuldades e
aflições.
Na promessa feita através de Noé que enquanto
durar a terra não deixará de haver sementeira e
ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite
(Gên 8.22), é prometida a alegria da ceifa, mas esta será antecedida pelas lágrimas da
semeadura; haverá o calor do zelo e fervor na
obra de Deus e dos grandes progressos e
sucessos que a acompanharão, mas haverá também o frio e o inverno que muitas vezes
surgem com desânimos, desapontamentos,
lutas, tristezas e perseguições.
Tudo isto está misturado na vida daqueles que
servem ao Senhor. Não há de se ver aquela
alegria pura e permanente com a qual tanto sonhamos, porque os espinhos na carne estão
cooperando para nos manter humildes diante
do Senhor, e a refinar a nossa fé e caráter.
Entretanto, nunca somos desamparados pelo
Senhor (II Cor 4.8,9), de modo que somos
176
consolados e assistidos por Ele em nossas
aflições.
Ele sempre preparará para nós um lugar de
refúgio, de escape, conforme a Sua infinita
sabedoria, provisão e poder.
Ele provê para nós outra condição, enquanto
aquela em que deveríamos estar não possa nos suprir, assim como o Egito estava para Abraão
em relação a Canaã.
O fato de ter estado Abraão no Egito deu ao
Senhor a oportunidade de manifestar naquela
terra o Seu poder, trazendo juízos sob a forma de grandes pragas, sobre faraó e sua casa, em razão
de ter tomado a Sara para si para ser sua mulher.
Por causa de Sara, antes de Deus ter-lhe enviado
pragas, faraó tratou bem a Abraão que
enriqueceu ainda mais no Egito, vindo a ter ovelhas, bois, jumentos, escravos e escravas,
jumentas e camelos.
Indo para o Egito Abraão mostrou qual era a sua
maturidade e a qualidade da sua dependência
de Deus, pois não esperou por milagres
desnecessários para ser provido em Canaã, sabendo que havia provisões suficientes no
Egito, e logo levantou acampamento e se dirigiu
para lá.
Mas, vemos que mesmo no Egito Abraão
dependeu da intervenção sobrenatural do Senhor para livrar Sara de faraó, que a havia
tomado para ser sua mulher.
Quanto ao fato de ter abençoado e cuidado de
Abraão, Deus não estava honrando a omissão
dele em não ter dito toda a verdade a faraó, mas
177
agindo com base na Sua pura graça e
misericórdia, cuidando daquele que estava a
Seu serviço.
Sara era de fato meio irmã de Abraão, filha de Terá com outra mulher, que não era a mãe de
Abraão (Gên 20.12).
178
Gênesis 13
“1 Subiu, pois, Abrão do Egito para o Negebe,
levando sua mulher e tudo o que tinha, e Ló o
acompanhava.
2 Abrão era muito rico em gado, em prata e em ouro.
3 Nas suas jornadas subiu do Negebe para Betel,
até o lugar onde outrora estivera a sua tenda,
entre Betel e Ai,
4 até o lugar do altar, que dantes ali fizera; e ali invocou Abrão o nome do Senhor.
5 E também Ló, que ia com Abrão, tinha
rebanhos, gado e tendas.
6 Ora, a terra não podia sustentá-los, para eles
habitarem juntos; porque os seus bens eram
muitos; de modo que não podiam habitar juntos.
7 Pelo que houve contenda entre os pastores do
gado de Abrão, e os pastores do gado de Ló. E
nesse tempo os cananeus e os perizeus
habitavam na terra.
8 Disse, pois, Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti, e entre os meus pastores e os
teus pastores, porque somos irmãos.
9 Porventura não está toda a terra diante de ti?
Rogo-te que te apartes de mim. Se tu escolheres
a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, irei eu para a esquerda.
10 Então Ló levantou os olhos, e viu toda a
planície do Jordão, que era toda bem regada
(antes de haver o Senhor destruído Sodoma e
179
Gomorra), e era como o jardim do Senhor, como
a terra do Egito, até chegar a Zoar.
11 E Ló escolheu para si toda a planície do Jordão,
e partiu para o oriente; assim se apartaram um
do outro.
12 Habitou Abrão na terra de Canaã, e Ló
habitou nas cidades da planície, e foi armando as suas tendas até chegar a Sodoma.
13 Ora, os homens de Sodoma eram maus e
grandes pecadores contra o Senhor.
14 E disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se
apartou dele: Levanta agora os olhos, e olha
desde o lugar onde estás, para o norte, para o sul,
para o oriente e para o oriente;
15 porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre.
16 E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se puder ser contado o pó da
terra, então também poderá ser contada a tua
descendência.
17 Levanta-te, percorre esta terra, no seu
comprimento e na sua largura; porque a darei a ti.
18 Então mudou Abrão as suas tendas, e foi habitar junto dos carvalhos de Manre, em
Hebrom; e ali edificou um altar ao Senhor.”
Neste capítulo é relatado o retorno de Abraão do
Egito para Canaã.
Abraão era muito rico em bens deste mundo,
mas era muito mais rico para com Deus, através
da sua grande fé e obediência.
180
Por isso, ao retornar se dirigiu para o local entre
Ai e Betel, onde havia erigido um altar ao Senhor
antes de ir para o Egito, e ali ele invocou o nome
do Senhor.
Certamente ele veio para o lugar do altar, para
reavivar a recordação da doce comunhão que
ele tinha tido com Deus naquele lugar.
Foi nesta ocasião que Ló se separou de Abraão.
Aqueles dois grandes homens que eram amigos
inseparáveis, tiveram que seguir caminhos diferentes em razão de não poderem habitar na
mesma região, em razão de ter aumentado
muito os seus rebanhos, e estava havendo
discussão entre os seus pastores, provavelmente em razão do uso do pasto para a
alimentação do gado.
Assim os seus próprios servos foram os pivôs da
separação deles, no intuito de agradarem aos seus respectivos senhores procurando as
melhores áreas de pasto.
É melhor preservar a paz do que quebrá-la; e
Abraão tomou a iniciativa de extinguir o fogo
das desavenças propondo a Ló que escolhesse o lugar em que pretendia se fixar, para que ele,
Abraão, se dirigisse na direção contrária.
Abraão, ao se esforçar pela paz, estava agindo
dentro da vontade de Deus, que nos determina
no que depender de nós que tenhamos paz com todos os homens, e que nos empenhemos em
alcançar a paz.
Por isso Jesus diz que os pacificadores são bem-
aventurados.
181
Não é agradável ao Senhor que os seus servos
vivam a contender (Lc 22.26; I Cor 11.16).
Embora Deus tivesse prometido a Abraão dar-
lhe toda aquela terra à sua descendência, e não
tivesse falado nada em relação a fazer qualquer partilha mesmo com o justo Ló, Abraão não
argumentou ao nível de fazer prevalecer os seus
direitos, para não sacrificar a paz que lhe era
muito preciosa.
Ló escolheu o melhor lugar para o seu gado, pois era uma planície verdejante que ia dar em
Sodoma, e foi mudando de lugar,
provavelmente, à medida que o pasto ia se
esgotando, até que chegou à cidade de Sodoma.
Assim, aquilo que era bom para o gado, não era
o melhor para uma família, pois Ló seria o único justo que viria a habitar naquela cidade.
A Palavra destaca que os habitantes de Sodoma
eram homens maus e grandes pecadores contra
o Senhor.
Abraão não escolheu segundo a vista, mas
segundo a obediência ao Senhor, pois
permaneceu na terra de Canaã, onde Deus lhe ordenara a ficar.
É possível que os pastos não fossem tão
verdejantes como os de Sodoma, mas era o
melhor lugar para ele e para sua família, pois
não fora escolhido pelo homem, e pelos critérios do homem, mas por Deus e pelos
critérios de Deus.
Assim o Senhor apareceu a Abraão e confirmou
a promessa de dar à sua descendência toda
aquela terra, e por isso lhe ordenou que a
182
percorresse em toda a sua extensão, tanto no
sentido norte-sul, quanto no sentido leste-
oeste.
Abraão reiniciou suas peregrinações na terra,
chegando junto a Hebrom, onde levantou um
altar ao Senhor.
Quanto à escolha de Ló é importante frisar ainda
que a Palavra destaca em Gên 14.11,12 que os
seus bens haviam sido tomados pelos reis que guerrearam contra Sodoma, e ficamos também
a imaginar quanto do seu rebanho Ló pôde levar
consigo quanto teve que deixar a cidade às
pressas para não ser destruído juntamente com os seus moradores quando o Senhor a
incendiou.
Se ele tinha a ideia de se fazer ainda mais
próspero quando fez aquela sua escolha, sem
consultar ao Senhor, pensando que estava
fazendo um grande negócio quando escolheu o melhor pasto para o seu rebanho, o tempo viria
a revelar que aquela tinha sido uma péssima
escolha, e há aí um grande ensinamento para
todos os filhos de Deus, e eu penso que é exatamente isto que a Palavra quer destacar
quando registrou propositalmente que os bens
de Ló haviam sido capturados, e que ele era
ainda um dos habitantes da cidade ao tempo que o Senhor decidiu trazer a destruição sobre ela.
Cabe destacar que a escolha de Abraão o tornou
ainda mais próspero, pois chegou a reunir trezentos e dezoito homens dentre os mais
capazes nascidos em sua casa, que lhe serviam,
e aliando-se a Manre, Escol e Aner, deram
183
contra as forças coligadas que haviam vencido a
Sodoma, e a tudo resgataram de volta, inclusive
a Ló e seus bens.
A bondade de Deus permitiu que Ló fosse
resgatado por seu tio, apesar de o próprio Ló ter dado ensejo àquela situação quando decidiu
morar com aqueles que eram grandes
pecadores contra o Senhor, considerando que
isto era um fato pouco relevante, à face de toda a prosperidade material que poderia obter junto
deles.
É melhor ser pobre e habitar junto aos santos, do
que ser rico e morar nas tendas da
perversidade.
É importante destacar as palavras proferidas
pelo Senhor a respeito de Sodoma, em Ezequiel 16.49,50:
“Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua
irmã: soberba, fartura de pão e próspera
tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca
amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de
mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali.”
Entretanto Ló conseguiu manter-se íntegro
entre eles, mas viveu em constante aflição em
sua alma em face de toda aquela maldade que o
rodeava.
Disto, Pedro dá testemunho em sua segunda epístola:
“e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-
as posto como exemplo a quantos venham a
viver impiamente; e livrou o justo Ló, afligido
184
pelo procedimento libertino daqueles
insubordinados (porque este justo, pelo que via,
e ouvia quando habitava entre eles,
atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles), é porque o
Senhor sabe livrar da provação os piedosos, e
reservar, sob castigo, os injustos para o dia de juízo,” (II Pe 2.6-9).
185
Gênesis 14
“1 Aconteceu nos dias de Anrafel, rei de Sinar,
Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de
Elão, e Tidal, rei de Goiim,
2 que estes fizeram guerra a Bera, rei de Sodoma, a Birsa, rei de Gomorra, a Sinabe, rei de
Admá, a Semeber, rei de Zeboim, e ao rei de Belá
(esta é Zoar).
3 Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o Mar Salgado).
4 Doze anos haviam servido a Quedorlaomer,
mas ao décimo terceiro ano rebelaram-se.
5 Por isso, ao décimo quarto ano veio
Quedorlaomer, e os reis que estavam com ele, e
feriram aos refains em Asterote-Carnaim, aos zuzins em Hão, aos emins em Savé-Quiriataim,
6 e aos horeus no seu monte Seir, até El-Parã,
que está junto ao deserto.
7 Depois voltaram e vieram a En-Mispate (que é
Cades), e feriram toda a terra dos amalequitas, e também dos amorreus, que habitavam em
Hazazom-Tamar.
8 Então saíram os reis de Sodoma, de Gomorra,
de Admá, de Zeboim e de Belá (esta é Zoar), e
ordenaram batalha contra eles no vale de Sidim,
9 contra Quedorlaomer, rei de Elão, Tidal, rei de Goiim, Anrafel, rei de Sinar, e Arioque, rei de
Elasar; quatro reis contra cinco.
10 Ora, o vale de Sidim estava cheio de poços de
betume; e fugiram os reis de Sodoma e de
186
Gomorra, e caíram ali; e os restantes fugiram
para o monte.
11 Tomaram, então, todos os bens de Sodoma e
de Gomorra com todo o seu mantimento, e se foram.
12 Tomaram também a Ló, filho do irmão de
Abrão, que habitava em Sodoma, e os bens dele,
e partiram.
13 Então veio um que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu. Ora, este habitava junto dos
carvalhos de Manre, o amorreu, irmão de Escol
e de Aner; estes eram aliados de Abrão.
14 Ouvindo, pois, Abrão que seu irmão estava preso, levou os seus homens treinados,
nascidos em sua casa, em número de trezentos
e dezoito, e perseguiu os reis até Dã.
15 Dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus
servos, e os feriu, perseguindo-os até Hobá, que fica à esquerda de Damasco.
16 Assim tornou a trazer todos os bens, e tornou
a trazer também a Ló, seu irmão, e os bens dele,
e também as mulheres e o povo.
17 Depois que Abrão voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele,
saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma, no vale de
Savé (que é o vale do rei).
18 Ora, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo;
19 e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja
Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e
da terra!
187
20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou
os teus inimigos nas tuas mãos! E Abrão deu-lhe
o dízimo de tudo.
21 Então o rei de Sodoma disse a Abrão: Dá-me a
mim as pessoas; e os bens toma-os para ti.
22 Abrão, porém, respondeu ao rei de Sodoma:
Levanto minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra,
23 jurando que não tomarei coisa alguma de
tudo o que é teu, nem um fio, nem uma correia
de sapato, para que não digas: Eu enriqueci a
Abrão;
24 salvo tão somente o que os mancebos
comeram, e a parte que toca aos homens Aner, Escol e Manre, que foram comigo; que estes
tomem a sua parte.” (Gên 14.1-24)
Nós temos aqui um relato da primeira guerra da
qual nos dá notícia a Escritura.
Os invasores eram quatro reis, dois deles nada
menos do que os reis de Sinear e Elão (quer
dizer, Caldeia (Sinear), onde ficava a cidade de
Ur de Abraão, e Pérsia (Elão), que ficava ao oriente da Caldeia, sendo os outros dois reinos,
os de Elasar e Goim.
Os invadidos eram reis de cinco cidades que se
situavam junto à planície do Jordão, isto é,
Sodoma, Gomorra, Admah, Zeboim, e Zoar.
O motivo desta guerra foi devido ao fato de
Querdorlaomer, rei do Elão ter feito seus tributários os reis destas cinco cidades,
inclusive de Sodoma e Gomorra, por doze anos,
e eles se recusaram continuar lhe pagando
188
tributos no décimo terceiro ano, e assim o rei do
Elão coligado às três outras cidades estado
citadas, veio sobre eles no décimo quarto ano,
isto é, dois anos depois de terem decidido não mais lhe pagar tributos.
Veja que os sodomitas eram descendentes de
Canaã, que havia sido amaldiçoado por Noé no
sentido de que seria servo dos descendentes de Sem e de Jafé.
Assim, a profecia começou a ter cumprimento,
porque aqueles dos quais foram tributários
eram semitas. Elão era o filho primogênito de Sem (Gên 10.22).
Mas, por causa de Ló, a bondade de Abraão se
estendeu àqueles pecadores de Sodoma, que
foram resgatados juntamente com Ló, e tendo
vindo ao encontro de Abraão o rei de Sodoma, prestar-lhe a devida honra e homenagem, veio
também Melquisedeque, rei e sacerdote de
Salém, que o abençoou, reconhecendo que a
vitória que tivera naquela guerra foi-lhe dada da parte do Deus Altíssimo.
Cabe destacar a atitude de Abraão em ter
rejeitado o oferecimento do rei de Sodoma de
que ficasse com todos os bens que havia resgatado.
Abraão fez o que se costuma chamar de corte
direto, pois rejeitou a oferta que lhe fora feita,
pois não queria estabelecer qualquer tipo de
laço e aliança com o rei de Sodoma, e muito menos lhe conceder a oportunidade de desviar
a glória do feito da pessoa de Deus para si
mesmo, pois certamente viria a divulgar que
189
havia enriquecido a Abraão, ou então que ele
agira por motivos mercenários, em troca dos
bens que viria a receber caso fosse bem
sucedido na guerra.
Em todo o caso, o que Abraão não queria de fato era vincular o nome santo do Deus a quem
servia, com aquela nação ímpia.
Assim ele agiu no sentido de deixar uma
distinção bem marcada entre aqueles que
amam e servem a Deus e aqueles que não o amam e não o servem.
Abraão negou receber algo sobre o que ele tinha um direito natural já que havia lutado na guerra
e se exposto com os seus ao perigo, mas ele não
impõe o rigor que impôs a si mesmo, a Manre,
Escol e Aner, que haviam lutado ao seu lado, e disse ao rei de Sodoma que deveria ser-lhes
dada a parte do despojo que lhes tocava, e
quanto aos homens que haviam lutado, seria
justo que fossem compensados com a reposição da comida que haviam consumido durante os
dias de batalha.
Isto, certamente não daria qualquer glória ao rei
de Sodoma.
Quando somos rígidos quanto à nossa própria
liberdade, não devemos impor estas restrições à
liberdade de outros.
Nós não devemos fazer de nós mesmos o padrão da medida com que outros devem ser medidos.
Não havia a mesma razão para que Aner, Escol e Manre, que não eram servos de Deus, seguirem
a recusa da oferta do rei de Sodoma, assim como
Abraão fizera.
190
Agora, sem nos estendermos em tentar
descobrir quem era Melquisedeque, o grande
fato é que Deus o incluiu na revelação e
demonstrou que o próprio Abraão que viria a ser designado por Ele como o pai de numerosas
nações, sendo-lhe dada uma honra
elevadíssima entre todos os homens, se submeteu a Melquisedeque, e com isto, a
cabeça da igreja não seria Abraão, pois há outro
que é mais elevado do que ele.
Isto foi gravado de modo muito claro por Deus
com esta breve passagem em que se destaca que o maior abençoou o menor, porque
Melquisedeque abençoou Abraão, e este lhe
deu o dízimo de tudo.
E, se diz depois que Jesus é sacerdote não segundo a ordem de Levi, mas de
Melquisedeque, cujo sacerdócio, dura para
sempre.
Então, Deus quis marcar desde o princípio que a honra de ser a cabeça da igreja não é de Abraão,
mas de Cristo, que de fato e de verdade é o único
cabeça da igreja, a qual lhe foi dada, conforme o
propósito eterno de Deus.
Propositalmente, para ser um tipo perfeito de Cristo, nenhuma informação adicional foi dada
a respeito de Melquisedeque por Deus nas
Escrituras, pois não se diz sobre a sua
ascendência nem descendência, nem como veio a ser rei e sacerdote em Salém, para que
fosse um tipo perfeito de Cristo, que não tem
princípio nem fim de existência, porque é Deus
191
sempiterno, e por isso, o seu sacerdócio é para
sempre (Sl 110.4).
192
Gênesis 15
“1 Depois destas coisas veio a palavra do Senhor
a Abrão numa visão, dizendo: Não temas, Abrão; eu sou o teu escudo, o teu galardão será
grandíssimo.
2 Então disse Abrão: Ó Senhor Deus, que me
darás, visto que morro sem filhos, e o herdeiro
de minha casa é o damasceno Eliézer?
3 Disse mais Abrão: A mim não me tens dado
filhos; eis que um nascido na minha casa será o
meu herdeiro.
4 Ao que lhe veio a palavra do Senhor, dizendo:
Este não será o teu herdeiro; mas aquele que sair
das tuas entranhas, esse será o teu herdeiro.
5 Então o levou para fora, e disse: Olha agora
para o céu, e conta as estrelas, se as podes contar; e acrescentou-lhe: Assim será a tua
descendência.
6 E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-
lhe isto como justiça.
7 Disse-lhe mais: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus, para te dar esta terra em
herança.
8 Ao que lhe perguntou Abrão: Ó Senhor Deus,
como saberei que hei de herdá-la?
9 Respondeu-lhe: Toma-me uma novilha de três
anos, uma cabra de três anos, um carneiro de
três anos, uma rola e um pombinho.
10 Ele, pois, lhe trouxe todos estes animais,
partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em
frente da outra; mas as aves não partiu.
193
11 E as aves de rapina desciam sobre os
cadáveres; Abrão, porém, as enxotava.
12 Ora, ao pôr do sol, caiu um profundo sono
sobre Abrão; e eis que lhe sobrevieram grande
pavor e densas trevas.
13 Então disse o Senhor a Abrão: Sabe com
certeza que a tua descendência será peregrina
em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e
será afligida por quatrocentos anos;
14 sabe também que eu julgarei a nação a qual
ela tem de servir; e depois sairá com muitos
bens.
15 Tu, porém, irás em paz para teus pais; em boa
velhice serás sepultado.
16 Na quarta geração, porém, voltarão para cá;
porque a medida da iniquidade dos amorreus
não está ainda cheia.
17 Quando o sol já estava posto, e era escuro, eis
um fogo fumegante e uma tocha de fogo, que
passaram por entre aquelas metades.
18 Naquele mesmo dia fez o Senhor um pacto
com Abrão, dizendo: À tua descendência tenho
dado esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates;
19 e o queneu, o quenizeu, o cadmoneu,
20 o heteu, o perizeu, os refains,
21 o amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebuseu.”
Depois do encontro com Melquisedeque Abraão
teve uma visão na qual lhe veio a palavra do
Senhor lhe dizendo que não temesse porque Ele
194
era o seu escudo, isto é a sua proteção, e que o
seu galardão seria grandíssimo.
Abraão não contestou esta afirmação do
Senhor, mas alegou que não tinha filhos
naturais, e lhe parecia que morreria sem filhos, pois os seus anos de vida avançavam, e a
possibilidade de ter uma descendência
numerosíssima ia ficando cada vez mais
distante.
Em face desta argumentação, o Senhor,
reafirmou a promessa feita anteriormente, trazendo Abraão para fora de sua tenda e lhe
mostrando as estrelas do céu e lhe disse que as
contasse caso pudesse, e afirmou que a sua
descendência seria numerosa como aquelas estrelas, e de um herdeiro que seria gerado pelo
próprio Abraão.
E, contra qualquer tipo de evidência que lhe
fosse favorável, Abraão deu crédito às palavras
do Senhor, e creu inteiramente no que Ele disse,
apesar de nada ter diante de si, senão apenas a promessa que lhe fora feita.
A Escritura registra que a fé de Abraão lhe foi imputada como justiça.
A pronta concordância de Abraão com o fato de que a promessa era verdadeira, prova que ele
não esmoreceu na fé (Rom 4.19) que havia
demonstrado desde a primeira vez que o Senhor
lhe fizera a promessa de lhe dar uma numerosa descendência, apesar de saber que sua mulher
era estéril e que estavam ficando avançados em
idade.
195
A fé de Abraão é, portanto, uma fé que descansa
nas promessas e no poder de Deus, e não nas
evidências e na própria capacidade pessoal, e é
este tipo de fé, que se manifesta na perseverança nesta confiança fazendo aquilo
que lhe é agradável, é exatamente o tipo de fé
viva que salva e justifica, e por isso se diz, que isto foi imputado a Abraão como justiça.
Daí se dizer que o justo viverá pela fé; que a
salvação é pela graça mediante a fé.
Mas observe que não é um tipo de fé qualquer
que justifica, mas a mesma qualidade de fé que teve Abraão, cuja autenticidade era evidenciada
pelas suas obras.
Assim o que justificou a Abraão não foi a sua
justiça própria, mas o próprio Deus, com base na
fé de Abraão que permaneceu firme em confiar nEle e em suas promessas, apesar de não ter
nada além para crer senão na própria promessa.
Assim todos os que creem em Cristo, são salvos
por crerem na promessa que Deus tem feito a Abraão de abençoar a todos os que estiverem
unidos pela fé ao seu descendente que é Cristo.
Eles são justificados não porque lhes seja dada
alguma evidência visível da sua justificação, mas porque eles simplesmente confiam de que
Deus fará exatamente como tem prometido em
Sua Palavra em relação aos que cressem em Seu
filho.
Abraão foi justificado pela sua fé, assim como o são todos os verdadeiros cristãos, e é por isso
que já não há nenhuma condenação para eles,
como se lê em Rom 8.1, e conforme foi predito
196
pelo salmista no Sl 34.22: “O Senhor resgata a
alma dos seus servos, e dos que nele confiam,
nenhum será condenado.”.
Deus em sua misericórdia, para manter o
espírito de Abraão devidamente esclarecido quanto ao propósito de lhe dar uma
descendência numerosa, lhe revelou que a
promessa da herança da terra não se cumpriria
logo, conforme Abraão poderia estar pensando, mas o povo que seria formado a partir dele
ficaria encerrado numa terra estranha (o Egito)
por quatrocentos anos, e que a terra prometida
seria tomada com luta através de juízos sobre a iniquidade dos habitantes de Canaã, depois que
o próprio povo que descenderia de Abraão fosse
libertado da escravidão no Egito.
Deus revela assim de modo maravilhoso e
assombroso, o Seu conhecimento e controle
total sobre o futuro das coisas que tem determinado de acordo com o conselho da Sua
santa vontade.
O que estava em realce não era, portanto o
simples desejo de Abraão de ter uma
descendência conforme lhe fora prometido,
mas de Deus cumprir os seus elevados propósitos para fins determinados através dele.
Uma nação santa seria formada para habitar em Canaã.
É a redenção da humanidade que está em jogo, e não somente o fato de dar uma terra como
promessa para ser habitada pela descendência
de Abraão.
197
Mas cumpre destacar que Abraão teve que se
esforçar e obedecer estritamente dentro das
instruções que lhes foram dadas por Deus para
que a revelação pudesse lhe chegar.
Com isto a sua fé foi colocada à prova, tanto na apresentação dos sacrifícios na forma
estabelecida por Deus, como no tempo de
espera, e na vigilância e diligência em afugentar
as aves de rapina que vinham sobre os animais sacrificados na tentativa de arrebatá-los.
Com isto Abraão provou o seu interesse e fé na resposta que Deus lhe daria, e se tornou um
grande exemplo para nós quanto à forma como
devemos zelar sobre os nossos sacrifícios
espirituais de fé, louvor, adoração, enquanto aguardamos as respostas que esperamos da
parte do Senhor.
Devemos afugentar os pensamentos ou
insinuações demoníacas que vêm sobre nós,
tentando roubar a nossa devoção, vigilância, fé e
oração, e continuarmos firmes na expectativa de que Deus trará a Sua revelação até nós,
conforme aquilo que nos tem prometido.
A revelação foi feita diretamente ao espírito de
Abraão, porque lhe veio da parte de Deus um
sono profundo, para que a alma não interferisse
em nada na revelação por uma possível distração com as coisas deste mundo.
Deus tem os seus meios sobrenaturais para se revelar a nós de forma que não tenhamos
qualquer dúvida sobre a maneira da revelação,
de sorte que saibamos que esta não nos veio por
198
meio da carne nem do sangue, mas do Senhor
que está no céu.
É importante observar que antes da alegria
santa da revelação veio um profundo temor
sobre a alma de Abraão, e houve densas trevas.
Isto traz um santo temor do Senhor e prepara a
alma para as coisas elevadas do Espírito.
Deus geralmente primeiro fere e depois cura, de modo que a cura traz grande alegria, e lhe
damos grande valor; geralmente primeiro
humilha e abate e depois exalta, de modo que a
nossa alegria e regozijo estejam nEle mesmo e no Seu poder, e nunca em nós mesmos e na
nossa própria capacidade.
Logo, a alegria da descendência de Abraão em
ocupar a terra prometida, seria antecedida por
um período de escravidão numa terra estranha.
Assim as coisas que Abraão experimentou sob a
forma de temores e densa escuridão, estavam de acordo com a revelação das coisas que
também ocorreriam à sua descendência:
primeiro experimentariam a cruz, e depois a
coroa.
Assim, os herdeiros do céu são primeiro estranhos e peregrinos na terra, numa terra que
não é deles. Eles podem até mesmo
experimentar servidão aos poderes deste
mundo, mas numa servidão diferente dos cananitas, porque estes servem debaixo da
maldição, mas os israelitas debaixo da bênção.
Por isso o que lhes está reservado não é
condenação, como no caso dos cananitas, mas
libertação e bênçãos.
199
Daí terem sido prometidas também as
consolações que se seguiriam à tribulação no
cativeiro no Egito, conforme Deus disse a
Abraão:
“Sabe com certeza que a tua descendência será
peregrina em terra alheia, e será reduzida à
escravidão, e será afligida por quatrocentos
anos; sabe também que eu julgarei a nação a qual ela tem de servir; e depois sairá com muitos
bens.”
A nação opressora seria julgada pelo Senhor, e
efetivamente foi, com tudo o que lemos no livro de Êxodo, especialmente em relação à dez
pragas, e morte do exército de faraó no Mar
Vermelho, e os israelitas sairiam com muitos
bens, como forma de compensação da exploração e opressão que haviam sofrido.
Abraão não veria o cumprimento destas coisas,
mas Deus lhe prometeu que ele morreria em
ditosa velhice e seria juntado aos seus pais em
paz.
Mas fez uma aliança com ele de que certamente
a sua descendência habitaria a terra de Canaã
desde os termos do Egito até ao rio Eufrates.
A longanimidade de Deus aguardaria para julgar a impiedade dos cananitas por mais de
quatrocentos anos, e isto porque há uma medida
de iniquidade que faz com que os seus juízos
sejam precipitados.
Nos dias de Abraão, eles não tinham atingido um nível de impiedade que demandasse a
destruição deles, tal como o Senhor faria pouco
tempo depois em Sodoma e Gomorra.
200
Disto, aprendemos que o passar dos séculos,
quando não se tem o temor do Senhor e o devido
apreço pela Sua Palavra, a tendência natural é
que aqueles que são injustos se tornarão mais injustos ainda, nas gerações subsequentes.
É exatamente isto que tem ocorrido no mundo em que vivemos atualmente. O que temos visto
é que o mundo está pronto, está amadurecido
para o julgamento que o Senhor trará sobre toda
a terra em razão do aumento crescente da iniquidade.
Assim como fez com Abraão, Ele já tem fixado o tempo em que Jesus voltará, e julgará a
impiedade do mundo. Ele sabe exatamente o
ano, o mês, o dia em que tal sucederá.
201
Gênesis 16
“1 Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava
filhos. Tinha ela uma serva egípcia, que se
chamava Agar.
2 Disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de ter filhos; toma, pois, a minha
serva; porventura terei filhos por meio dela. E
ouviu Abrão a voz de Sarai.
3 Assim Sarai, mulher de Abrão, tomou a Agar a egípcia, sua serva, e a deu por mulher a Abrão
seu marido, depois de Abrão ter habitado dez
anos na terra de Canaã.
4 E ele conheceu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada
aos seus olhos.
5 Então disse Sarai a Abrão: Sobre ti seja a
afronta que me é dirigida a mim; pus a minha serva em teu regaço; vendo ela agora que
concebeu, sou desprezada aos seus olhos; o
Senhor julgue entre mim e ti.
6 Ao que disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está nas tuas mãos; faze-lhe como bem te
parecer. E Sarai maltratou-a, e ela fugiu de sua
face.
7 Então o anjo do Senhor, achando-a junto a uma fonte no deserto, a fonte que está no caminho de
Sur,
8 perguntou-lhe: Agar, serva de Sarai, donde
vieste, e para onde vais? Respondeu ela: Da presença de Sarai, minha senhora, vou fugindo.
9 Disse-lhe o anjo do Senhor: Torna-te para tua
senhora, e humilha-te debaixo das suas mãos.
202
10 Disse-lhe mais o anjo do Senhor:
Multiplicarei sobremaneira a tua descendência,
de modo que não será contada, por numerosa
que será.
11 Disse-lhe ainda o anjo do Senhor: Eis que
concebeste, e terás um filho, a quem chamarás
Ismael; porquanto o Senhor ouviu a tua aflição.
12 Ele será como um jumento selvagem entre os homens; a sua mão será contra todos, e a mão de
todos contra ele; e habitará diante da face de
todos os seus irmãos.
13 E ela chamou, o nome do Senhor, que com ela falava, El-Rói; pois disse: Não tenho eu também
olhado neste lugar para aquele que me vê?
14 Pelo que se chamou aquele poço Beer-Laai-
Rói; ele está entre Cades e Berede.
15 E Agar deu um filho a Abrão; e Abrão pôs o nome de Ismael no seu filho que tivera de Agar.
16 Ora, tinha Abrão oitenta e seis anos, quando
Agar lhe deu Ismael.”
Dez anos haviam se passado desde que Abraão
havia saído de Harã, rumo a Canaã, pelo
mandado de Deus, tendo recebido a promessa
de que a sua descendência receberia aquela terra por herança.
Abraão contava agora com oitenta e cinco anos
de idade e Deus não havia ainda lhe dado filhos.
Sara, impaciente com a demora do
cumprimento da promessa feita por Deus, instou com Abraão para que coabitasse com
uma serva egípcia chamada Hagar, para que se
provesse de filhos através dela.
203
A lei antiga prescrevia que, os filhos nascidos do
relacionamento de um senhor com uma
escrava, dava o direito legal de maternidade à
esposa do senhor e não à escrava.
Foi pensando neste arranjo que Sara fez a proposta a Abraão para que coabitasse com
Hagar.
O pecado de Sara lhe trouxe dificuldades,
porque tendo Hagar concebido de Abraão,
passou a desprezá-la.
Isto a deixou extremamente ferida e irada a
ponto de proferir um juízo sobre o próprio marido dizendo que aquilo que ela estava
recebendo da parte de Hagar na forma de
afronta, que viesse a recair sobre Abraão por
uma aplicação da justiça de Deus na avaliação do caso.
Esta não era de fato uma avaliação justa porque
ela mesma havia se precipitado dando ocasião a
que tudo aquilo acontecesse.
Abraão certamente errou ao dar ouvidos à sua
mulher, para satisfazer o seu desejo, em vez de
buscar orientação em Deus, ou agir de acordo com a promessa que o Senhor lhe fizera.
Ele poderia e deveria ter dito a Sara: “Não
devemos fazer isto porque Deus nos tem feito a
promessa de nos dar um filho que será gerado
por nós mesmos.”
Tal era a pressão da situação que Abraão expôs
Hagar à livre ação de Sara, lembrando-lhe que ela tinha autoridade sobre a escrava, pois era
sua senhora, e estava em suas mãos tomar a
decisão que bem lhe parecesse.
204
Sara a humilhou, de modo que ela teve que
fugir, estando grávida.
Foi o desejo de vingança de Sara contra Hagar que a levou a proferiu aquela palavra de
imprecação sobre Abraão, porque no seu
entendimento ele se recusava a punir Hagar.
Esta vingança foi cumprida quando Sara a
humilhou.
Certamente a aprovação de Deus não estava em nada disso porque Ele proíbe claramente a
vingança e a ira injustificada.
Um pecado conduz a outro pecado, e por isso o
mal deve ser cortado pela raiz, para que não se espalhe e contamine a muitos.
O fato de sermos humilhados não nos dá o
direito da parte de Deus, de pagarmos na mesma moeda.
Ao contrário, Ele nos ordena que abençoemos
os que nos maldizem, que amemos os nossos inimigos, que oremos pelo bem dos que nos
perseguem.
Além disso, foi a própria Sara a culpada por tudo
o que estava ocorrendo; e como no dizer do apóstolo, aqueles que sofrem por causa das suas
próprias faltas, devem suportar os seus
sofrimentos pacientemente, uma vez que foram eles próprios que lhe deram causa (I Pe 2.20).
Mas o propósito principal desta revelação das
Escrituras está contido nas palavras do anjo do
Senhor a Hagar quando ela se encontrava no deserto, quanto ao futuro da descendência
daquele filho que ela conceberia: “Ele será,
entre os homens, como um jumento selvagem;
205
a sua mão será contra todos, e a mão de todos
contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus
irmãos.”
Esta profecia é de um alcance que tem
cumprimento ainda em nossos dias e terá até
que Jesus volte, porque os descendentes de
Ismael são os árabes, e de fato, eles têm, na história da humanidade, especialmente da
cristandade, sido um povo à parte, neste aspecto
de serem contra todos, e todos serem contra
eles, o que se vê nos constantes conflitos que ocorrem há séculos naquela região,
particularmente em razão da inimizade
histórica com Israel, que é descendente de Isaque, o filho de Abraão com Sara.
A atitude inconsequente e precipitada de Sara e
Abraão deixaria este duro legado para a
humanidade.
Assim, para que o menino que seria gerado
fosse preservado e se desenvolvesse em
segurança sob a influência de Abraão, o anjo ordenou a Hagar que se desculpasse com Sara,
humilhando-se perante ela, de modo que fosse
recebida de novo no seio da família da qual ela
havia fugido.
206
Gênesis 17
“1 Quando Abrão tinha noventa e nove anos,
apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: Eu sou o Deus
Todo-Poderoso; anda em minha presença, e sê perfeito;
2 e firmarei o meu pacto contigo, e
sobremaneira te multiplicarei.
3 Ao que Abrão se prostrou com o rosto em
terra, e Deus falou-lhe, dizendo:
4 Quanto a mim, eis que o meu pacto é contigo, e serás pai de muitas nações;
5 não mais serás chamado Abrão, mas Abraão
será o teu nome; pois por pai de muitas nações
te hei posto;
6 far-te-ei frutificar sobremaneira, e de ti farei
nações, e reis sairão de ti;
7 estabelecerei o meu pacto contigo e com a tua
descendência depois de ti em suas gerações,
como pacto perpétuo, para te ser por Deus a ti e
à tua descendência depois de ti.
8 Dar-te-ei a ti e à tua descendência depois de ti a terra de tuas peregrinações, toda a terra de
Canaã, em perpétua possessão; e serei o seu
Deus.
9 Disse mais Deus a Abraão: Ora, quanto a ti,
guardarás o meu pacto, tu e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações.
10 Este é o meu pacto, que guardareis entre mim
e vós, e a tua descendência: todo macho entre
vós será circuncidado.
207
11 Circuncidar-vos-eis na carne do prepúcio; e
isto será por sinal de pacto entre mim e vós.
12 À idade de oito dias, todo varão dentre vós
será circuncidado, por todas as vossas gerações,
tanto o nascido em casa como o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da
tua linhagem.
13 Com efeito será circuncidado o nascido em
tua casa, e o comprado por teu dinheiro; assim
estará o meu pacto na vossa carne como pacto
perpétuo.
14 Mas o incircunciso, que não se circuncidar na carne do prepúcio, essa alma será extirpada do
seu povo; violou o meu pacto.
15 Disse Deus a Abraão: Quanto a Sarai, tua,
mulher, não lhe chamarás mais Sarai, porem
Sara será o seu nome.
16 Abençoá-la-ei, e também dela te darei um
filho; sim, abençoá-la-ei, e ela será mãe de nações; reis de povos sairão dela.
17 Ao que se prostrou Abraão com o rosto em terra, e riu-se, e disse no seu coração: A um
homem de cem anos há de nascer um filho?
Dará à luz Sara, que tem noventa anos?
18 Depois disse Abraão a Deus: Oxalá que viva
Ismael diante de ti!
19 E Deus lhe respondeu: Na verdade, Sara, tua
mulher, te dará à luz um filho, e lhe chamarás Isaque; com ele estabelecerei o meu pacto como
pacto perpétuo para a sua descendência depois
dele.
20 E quanto a Ismael, também te tenho ouvido;
eis que o tenho abençoado, e fá-lo-ei frutificar, e
208
multiplicá-lo-ei grandissimamente; doze
príncipes gerará, e dele farei uma grande nação.
21 O meu pacto, porém, estabelecerei com
Isaque, que Sara te dará à luz neste tempo
determinado, no ano vindouro.
22 Ao acabar de falar com Abraão, subiu Deus
diante dele.
23 Logo tomou Abraão a seu filho Ismael, e a
todos os nascidos na sua casa e a todos os
comprados por seu dinheiro, todo varão entre os da casa de Abraão, e lhes circuncidou a carne do
prepúcio, naquele mesmo dia, como Deus lhe
ordenara.
24 Abraão tinha noventa e nove anos, quando
lhe foi circuncidada a carne do prepúcio;
25 E Ismael, seu filho, tinha treze anos, quando lhe foi circuncidada a carne do prepúcio.
26 No mesmo dia foram circuncidados Abraão e
seu filho Ismael.
27 E todos os homens da sua casa, assim os
nascidos em casa, como os comprados por
dinheiro ao estrangeiro, foram circuncidados com ele.”
Entre a narrativa do capítulo dezesseis de
Gênesis e a do capítulo dezessete, há um espaço
de treze anos. Este capítulo começa com a
afirmação de que o Senhor apareceu a Abraão quando ele tinha noventa e nove anos de idade.
Deus reafirmou a aliança que havia feito com ele
de lhe fazer pai de numerosas nações, e mudou-
lhe o nome de Abrão, que significa no hebraico,
209
“pai exaltado”; para Abraão, que significa “pai
de multidão”
(Gên 17.5), e o de Sarai, que significa “minha
princesa”; para Sara, que significa “a princesa” (Gên 17.15).
A renovação da promessa teve que aguardar
pelo menos mais treze anos depois do
nascimento de Ismael, como que aquele ato
precipitado de Sara e Abraão, em vez de apressar o cumprimento da promessa, contribui
possivelmente para retardá-lo, pois somente
vinte e cinco anos, depois de Abraão ter deixado Harã, que Isaque nasceria, dando-se
cumprimento à primeira parte da promessa, a
saber, que Abraão teria um filho com Sara.
Quando Deus apareceu a Abraão quanto
contava com noventa e nove anos de idade, disse-lhe ser o Deus Todo-Poderoso, isto é, El-
Shaddai, e antes de renovar a aliança com ele,
lhe disse que andasse na Sua presença e fosse
perfeito (17.1).
Em atitude de reverência e temor, Abraão
prostrou-se com o rosto em terra, e assim Deus
lhe falou que ele seria pai de numerosas nações,
mudou-lhe o nome de Abrão, para Abraão, e disse que o faria fecundo extraordinariamente,
e que dele faria nações, e que reis procederiam
dele, e a aliança que faria com ele e a sua
descendência seria uma aliança perpétua no decurso de todas as suas gerações, aliança de
ser o Deus da sua descendência para sempre.
Sem qualquer dúvida, esta parte da promessa
extrapola a nação de Israel segundo a carne,
210
pela descendência de Abraão, e aplica-se,
sobretudo ao Israel espiritual que seria formado
com todos aqueles que nascessem de novo pela
mesma fé que havia justificado a Abraão, pois é este o verdadeiro Israel de Deus que estará
aliançado perpetuamente com Ele.
A promessa feita a Abraão incluía também a
posse perpétua da terra de Canaã em que
Abraão estava peregrinando.
Como sinal desta aliança, o Senhor instituiu a
circuncisão para ser feita em todas as pessoas do sexo masculino que estivessem debaixo da
autoridade de Abraão, e a todos os que
nascessem da sua descendência no decurso de
todas as gerações, quando tivessem oito dias de nascidos.
Mas não era exatamente nisto que consistiria o
verdadeiro sinal da aliança com Deus, pois a
circuncisão que nos liga a Ele não é a do
prepúcio, mas a do coração.
Daí ter ordenado a Abraão que andasse na Sua
presença e fosse perfeito.
Esta é a condição exigida de todos os que estão aliançados com Deus na Nova Aliança por meio
de Cristo, porque esta é uma aliança eterna, e
por isso devem ser diligentes em andar na
presença de Deus e serem perfeitos assim como Ele é perfeito, uma vez que por meio de Cristo
obtiveram a cidadania do céu, onde tudo é
perfeito e santo.
Os que são de Cristo formam um só espírito com
ele, e devem andar assim como Ele andou.
211
Esta perfeição aponta para maturidade
espiritual em devoção ao Senhor, e não à
perfeição moral sem qualquer defeito. É, como
podemos dizer, uma perfeição evangélica, ou seja, decorrente da nossa fé no evangelho.
Abraão pensou que a descendência da qual o
Senhor falara, provavelmente se referia a
Ismael, e até riu enquanto estava prostrado com
o rosto em terra, pensando na situação bizarra que seria ele um homem de cem anos, e Sara
com os seus noventa, gerando um filho.
Mas Deus disse-lhe que a aliança não seria
firmada em Ismael, a quem Ele abençoaria
fazendo dele uma grande nação, mas seria
firmada em Isaque (que significa “riso” em hebraico), ao qual Sara daria à luz um ano
depois, conforme estava lhe prometendo.
As bênçãos do pacto não poderiam ser
cumpridas em Ismael, porque não seria dele
que descenderia o Messias, mas de Isaque, a quem Sara ainda daria à luz.
Assim, os muitos filhos de Deus que nasceriam pela fé em Cristo, seriam irmãos na fé de Isaque,
que foi também justificado pela fé.
Seriam filhos desta promessa tal como Isaque,
de serem abençoados juntamente com o crente
Abraão, porque este é o único caminho da salvação que foi estabelecido e determinado por
Deus no Seu conselho eterno.
A salvação vem portanto dos judeus conforme
afirmou Jesus, e por meio do próprio Jesus que é
o único caminho para tal salvação.
212
Tendo o Senhor se elevado, retirando-se da
presença de Abraão, depois de lhe ter falado
todas estas palavras, ele se dispôs a obedecer ao
mandamento de Deus, tendo circuncidado a todos os da sua casa.
213