interpretação do monumental livro de gênesis parte 1

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Parte I

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Page 1: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

Parte I

Page 2: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

2

Interpretação do Monumental Livro

de Gênesis

Parte 1

Silvio Dutra

NOV/2015

Page 3: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

3

A474 Alves, Silvio Dutra Interpretação do monumental livro de gênesis./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 446p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Criação. 3. Redenção. 4. Israel. 5. Estudo Bíblico. I. Título.

CDD 222.11

CDD

230.227

Page 4: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

4

Sumário

O Primeiro Dia da Criação (Gênesis 1.1-5).. 6

O Segundo Dia da Criação (Gênesis 1:6-8). 8

O Terceiro Dia da Criação (Gênesis 1:9-13) ..................................................................................

9

O Quarto Dia da Criação (Gênesis 1:14-19). 11

Quinto Dia da Criação (Gênesis 1:20-23).. 14

O Sexto Dia da Criação (Gênesis 1.24-31).. 16

O Descanso de Deus Relativo à Criação

(Gênesis 2.1-3) .........................................................

22

Detalhes sobre a Criação do Homem

(Gênesis 2.4-7) ........................................................

23

O Homem no Jardim do Éden (Gênesis

2.8-17) ..........................................................................

30

Detalhes sobre a Criação da Mulher

(Gênesis 2.18-25) ...................................................

39

A Queda do Homem em Razão do Pecado

(Gênesis 3.1-7) .........................................................

47

Deus Vem ao Encontro do Homem Caído

(Gênesis 3.8-13) ......................................................

57

A Maldição da Serpente (Gênesis 3.14,15). 67

A Maldição da Mulher (Gênesis 3.16)........ 75

A Maldição do Homem (Gênesis 3.17-19). 79

A Promessa da Redenção (Gênesis 3.20-24) .................................................................................

82

A História de Caim (Gênesis 4:1-16)............. 89

A Família de Caim (Gênesis 4.16-24)........... 97

O Nascimento de Sete (Gênesis 4.25,26).... 105

Genealogia de Adão a Noé (Gênesis 5)...... 111

O Dilúvio (Gênesis 6)........................................... 120

O Dilúvio (Gênesis 7)............................................ 133

Page 5: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

5

O fim do dilúvio (Gênesis 8)............................ 138

Gênesis 9................................................................... 145

Repovoamento da Terra depois do

Dilúvio (Gênesis 10).............................................

154

Repovoamento da Terra Depois do

Dilúvio (Gênesis 11)..............................................

161

A Chamada de Abraão (Gênesis 12)............. 168

Gênesis 13.................................................................. 178

Gênesis 14................................................................. 185

Gênesis 15................................................................. 192

Gênesis 16................................................................. 201

Gênesis 17.................................................................. 206

Page 6: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

6

Gênesis 1

O Primeiro Dia da Criação

(Gênesis 1.1-5)

“1 No princípio, criou Deus os céus e a terra.

“2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas

sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus

pairava sobre a face das águas.

3 Disse Deus: haja luz. E houve luz.

4 Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.

5 E Deus chamou à luz dia, e às trevas noite. E foi

a tarde e a manhã, o dia primeiro.”

No princípio Deus criou, no hebraico, bará, que

significa criar a partir do nada, todo o universo,

sem nenhuma matéria existente anterior e nenhuma energia existente anterior.

No verso 2 nós temos a afirmação de que a terra era sem forma e vazia.

No hebraico, a palavra para “sem forma” é

“tohu”, que significa desértico.

E para vazio a palavra é “bohu”, que

significa “um vazio sem utilidade”, isto é, algo

que não pode ser utilizado na forma em que se encontra.

A palavra para abismo, é tehom, indicando as

profundezas das águas por sobre as quais o

Espírito Santo pairava no início da criação.

Page 7: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

7

O Espírito estava pronto e preparado para gerar

todas as coisas que seriam chamadas à

existência pela palavra de ordem de Deus.

Vemos no ato de Deus ter feito separação entre

luz e trevas (v. 4), entre águas e águas (1.6) para

criar o firmamento no meio das águas que

estavam envolvendo toda a terra, e a que estava acima da terra, o seu poder para separar-nos do

mundo para Ele, das trevas do pecado para a luz

de Cristo, e formar no final de tudo, a partir de

um vazio e de um nada um lindo jardim no nosso coração para que o Espírito habite nele

eternamente; assim, como do vazio da terra fez

no final um lindo jardim para a habitação do

homem que criou.

A citação no verso 4 de que “viu Deus que a luz

era boa” indica claramente pela ausência da

mesma citação para as trevas, que onde não haja uma ação de Deus criando luz, a condição

natural é de trevas.

A bondade incomparável de Deus demanda que tudo o que Ele cria, tudo que é fruto da sua ação,

seja bom.

É importante lembrar que quando Deus criou a luz no primeiro dia o sol não havia sido ainda

criado, pois somente o seria no quarto dia.

E já há uma referência a tarde e manhã, sem a

existência do sol.

Antes de criar o corpo celeste que iluminaria a

terra (o sol), e que viria a ser a fonte permanente

de luz sobre a terra, Deus criou a luz.

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8

O Segundo Dia da Criação (Gênesis 1:6-8)

“6 E disse Deus: haja um firmamento no meio

das águas, e haja separação entre águas e águas.

7 Fez, pois, Deus o firmamento, e separou as águas que estavam debaixo do firmamento das

que estavam por cima do firmamento. E assim

foi.

8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde

e a manhã, o dia segundo.” (Gên 1.6-8).

Deus disse no verso 6, que houvesse uma

expansão (firmamento) no meio das águas, e isto significa abrir um espaço entre as águas,

para formar os céus, e fez isto separando as

águas das águas.

E Deus fez a expansão e separação das águas que

estavam debaixo do firmamento, das águas que

estavam sobre o firmamento.

Assim o que é dito aqui é que Deus criou os céus,

como se conclui no verso 8.

Não havia nenhum céu envolvendo a terra antes

do segundo dia.

Esta é a primeira verdade nesta revelação. Uma segunda, é que a água foi o elemento básico na

criação, pois em II Pe 3. 5, se afirma que a terra

surgiu da água e através da água pela palavra de

Deus.

E realmente a água é o elemento básico

sustentador da vida do mundo físico.

A palavra "expansão, ou firmamento" é a palavra

râqiya, que no hebraico, significa expansão.

Significa esparramar para fora.

Page 9: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

9

Aqui é dito que o espaço está sendo ampliado.

Isto pode ser mais do que uma citação à

atmosfera que envolve a terra, pois pode incluir

também a ideia da formação do espaço onde seriam colocados todos os astros do universo no

quarto dia da criação, inclusive o sol e a lua.

Pelo relato bíblico, a terra seria o centro do

universo, o centro da concentração das

atenções de Deus, especialmente em razão do propósito por Ele fixado de criar o homem para

habitá-la.

“Porque assim diz o Senhor que criou os céus, o

único Deus, que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a fez para ser um caos, mas

para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há

outro.” (Is 45.18).

O verso 8 conclui a breve narrativa do segundo

dia da criação, afirmando que Deus chamou ao firmamento que criou de céus. Certamente é

uma referência ao universo e não ao terceiro

céu que é a habitação de Deus e dos anjos, dos

serafins, dos querubins, dos santos que partiram para a sua morada celestial.

O Terceiro Dia da Criação (Gênesis 1:9-

13)

“9 E disse Deus: Ajuntem-se num só lugar as

águas que estão debaixo do céu, e apareça o elemento seco. E assim foi.

10 Chamou Deus ao elemento seco terra, e ao

ajuntamento das águas mares. E viu Deus que

isso era bom.

Page 10: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

10

11 E disse Deus: Produza a terra relva, ervas que

deem semente, e árvores frutíferas que,

segundo as suas espécies, deem fruto que tenha

em si a sua semente, sobre a terra. E assim foi.

12 A terra, pois, produziu relva, ervas que davam

semente segundo as suas espécies, e árvores

que davam fruto que tinha em si a sua semente, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso

era bom.

13 E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.”

A terra ainda estava despovoada, inabitável e

não em sua forma final até o terceiro dia da criação.

Até agora nós tínhamos uma terra informe,

totalmente envolvida pelas águas. Havia a luz e a vastidão de um universo que havia sido criado

no dia anterior (segundo dia). E nós chegamos

ao terceiro dia no versículo 9. "Então Deus

disse:” “Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca.”. E assim

se fez. A porção seca chamou Terra, e ao

ajuntamento das águas, Mares. E então, no

terceiro dia, Deus começou a amoldar e a povoar a terra.

As águas se moviam enquanto se juntavam ao

redor dos continentes que estavam sendo formados, para dar origem aos mares.

A expressão “segundo a sua espécie”, no verso

12, relativa à reprodução, é repetida dez vezes no primeiro capítulo de Gênesis.

A palavra hebraica para "tipo" é “min”, que

indica a limitação de variação.

Page 11: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

11

Uma planta só pode produzir algo de seu próprio

tipo.

Uma árvore só pode produzir algo de seu próprio

tipo.

Isto põe por terra qualquer teoria relativa à

possibilidade de evolução de uma espécie

inferior para outra espécie superior.

O Quarto Dia da Criação (Gênesis 1:14-19)

“14 E disse Deus: haja luminares no firmamento

do céu, para fazerem separação entre o dia e a

noite; sejam eles para sinais e para estações, e

para dias e anos;

15 e sirvam de luminares no firmamento do céu,

para alumiar a terra. E assim foi.

16 Deus, pois, fez os dois grandes luminares: o

luminar maior para governar o dia, e o luminar

menor para governar a noite; fez também as estrelas.

17 E Deus os pôs no firmamento do céu para

alumiar a terra,

18 para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que

isso era bom.

19 E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.”

O nosso texto de Gênesis 1:14-19, descreve a criação de todos os luminares, os corpos

estelares que ocupam o espaço infinito ao redor

de nós.

Page 12: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

12

Nestes versos 14 a 19 do primeiro capítulo é

afirmado de modo simples e direto que foi Deus

quem fez todos os corpos celestes.

Quando A Bíblia diz que Deus fez as estrelas juntamente com o sol e a lua, está afirmando

algo sobre o Seu imenso poder.

Aquela pequena declaração simples para algo

tão imenso e complexo, como é o universo, e

tudo o que ele contém, mostra que não há nada maravilhoso demais para aquele que é a

verdadeira maravilha, o próprio Senhor.

As estrelas no céu dão testemunho da santidade

e do poder de Deus. São imensas fogueiras queimando no universo, com diversos níveis de

luminosidade e calor. Elas servem para nos

trazer à lembrança que o nosso Deus é um fogo

consumidor (Hb 12.29).

São bilhões e bilhões de estrelas queimando

continuamente no universo como vários altares

acesos para celebrarem a santidade do

Altíssimo, do nosso amado Senhor. Como não seríamos convencidos da necessidade da

santidade para habitarmos com um Deus que é

Ele próprio um fogo consumidor e purificador?

Os raios de luz de todas estas estrelas

atravessam o universo em todas as direções, por causa da forma esférica de todas elas, e a

velocidade que Deus deu à luz é uma velocidade

espantosa, muitas vezes maior do que a do som.

Na verdade, é a maior velocidade que existe no universo. A velocidade da luz é de

aproximadamente 300 mil km/s, e a do som é de

340 m/s.

Page 13: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

13

Uma outra função para os astros colocados por

Deus no universo, além de iluminarem e

fazerem separação entre o dia e a noite, foi a de

servirem para sinais, para estações, para dias e anos (Gên 1.14).

Assim, com a criação do sol, da lua e das

estrelas, Deus criaria um dia de 24 horas, que

inclui um período diurno e outro noturno.

Cada dia seria marcado por um amanhecer e por um anoitecer.

O verbo usado no verso 14 para “fazerem”, no

hebraico, é hayvom, que significa “para servir”.

Deus deu estes corpos luminosos para servirem.

Para servirem de “sinais”, otth, no hebraico, que tem usualmente a conotação normal de um

sinal para os habitantes da terra.

E quais foram estes sinais? Eles são descritos no

texto. Seriam sinais que apontariam as estações, os dias e os anos. Então não foi o homem quem

inventou o calendário.

Foi o próprio Deus que determinou um meio

para marcar o tempo do homem na terra.

As estações seriam os sinais maiores para a

marcação deste tempo, pelas suas características bem distintivas, nos períodos do

outono, inverno, primavera e verão.

O sol é um determinador de anos porque leva

um ano inteiro para a terra completar uma volta

em torno do sol. Assim são os corpos celestiais que nos ditam quando nós devemos trabalhar e

quando nós devemos descansar, quando nós

estamos acordados e quando nós dormimos.

Page 14: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

14

Como em todos os dias da criação, a conclusão

dos atos criativos de Deus é feita com a citação:

“Houve tarde e manhã”, e na sequência é citado

o dia respectivo da tarde e manhã que houve naquele dia, aqui em Gên 1.19, o quarto dia, em

que Deus criou todos os astros que existem no

universo, com exceção da terra, que havia sido criada no primeiro dia. É importante ver que até

mesmo o satélite da terra, que é a lua, foi

também criada neste quarto dia, lançando-se

por terra a teoria que afirma que ela teria sido formada por desprendimento de materiais que

saíram da terra.

Quinto Dia da Criação (Gên 1:20-23)

“20 E disse Deus: Produzam as águas cardumes de seres viventes; e voem as aves acima da terra

no firmamento do céu.

21 Criou, pois, Deus os monstros marinhos, e

todos os seres viventes que se arrastavam, os

quais as águas produziram abundantemente segundo as suas espécies; e toda ave que voa,

segundo a sua espécie. E viu Deus que isso era

bom.

22 Então Deus os abençoou, dizendo: Frutificai e

multiplicai-vos, e enchei as águas dos mares; e multipliquem-se as aves sobre a terra.

23 E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.” (Gên

1.20-23).

Até o quinto dia não havia sido criado um só ser

do reino animal. Como vimos antes, o reino

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15

vegetal havia sido criado no terceiro dia, e agora,

no quinto dia, Deus começa a criar tudo do reino

animal, com exceção dos mamíferos e répteis

terrestres, incluindo aqui os insetos e outras formas de vida, que citaremos na parte relativa

à criação do sexto dia, dia em que foi criado

também o homem, como o último ato da criação de Deus.

Quando Deus formou os vegetais no terceiro dia, Ele não usou a palavra hebraica nephesh,

traduzida por “alma”, e a palavra

raiâh, “vivente”, em Gên 2.7. As árvores são

seres vivos, mas não estão dotadas desta percepção do ambiente em que vivem e nem

podem se mover como os animais.

Por isso as mesmas palavras hebraicas citadas

anteriormente são usadas também em Gên 1.21

para designar a criação dos “seres viventes” (animais) no quinto dia da criação, bem como

em Gên 1.24 para a criação dos demais animais

no sexto dia.

Apesar destes animais demonstrarem que são

formas de vida inteligente, e dotados, muitos

deles dos mesmos órgãos que compõem o corpo humano, no entanto há uma imensa distinção

entre o homem e qualquer um deles, porque o

homem está dotado de um espírito que lhe

permite comunicar-se com Deus, e adquirir as virtudes morais de Deus, e tem várias

faculdades em seu espírito como a da vontade e

direção própria.

Page 16: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

16

O homem tem também a capacidade de se auto

conhecer e tem um destino eterno, em razão de

ter um espírito.

O verso 21 começa com “Criou pois Deus”. Estes animais são seres criados. E a palavra usada aqui

no hebraico é bará, a palavra para criar.

E os criou com a capacidade de se reproduzirem,

e isto não é algo natural, mas um milagre, a demonstração prática da existência do poder de

Deus, que foi colocado em todos os seres

fecundos da criação, exatamente para darem

este testemunho silencioso de que há um Criador que planejou todas as coisas e as chama

à existência pelo Seu poder.

O Sexto Dia da Criação (Gên 1.24-31)

“24 E disse Deus: Produza a terra seres viventes

segundo as suas espécies: animais domésticos, répteis, e animais selvagens segundo as suas

espécies. E assim foi.

25 Deus, pois, fez os animais selvagens segundo

as suas espécies, e os animais domésticos

segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra segundo as suas espécies. E viu Deus que

isso era bom.

26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa

imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves

do céu, sobre os animais domésticos, e sobre

toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta

sobre a terra.

Page 17: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

17

27 Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à

imagem de Deus o criou; homem e mulher os

criou.

28 Então Deus os abençoou e lhes disse:

Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre

as aves do céu e sobre todos os animais que se

arrastam sobre a terra.

29 Disse-lhes mais: Eis que vos tenho dado todas

as ervas que produzem semente, as quais se

acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê

semente; ser-vos-ão para mantimento.

30 E a todos os animais da terra, a todas as aves

do céu e a todo ser vivente que se arrasta sobre a

terra, tenho dado todas as ervas verdes como mantimento. E assim foi.

31 E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e a manhã, o dia sexto.”

Até agora nós estudamos os cinco primeiros dias da criação. Os primeiros cinco dias estavam

realmente equipando a casa na qual o homem

moraria. O homem é o governante da terra. O

homem é o pináculo da criação de Deus, criado à Sua imagem. Assim, por ser o homem

diferente de tudo o mais na criação, por ser a

coroa da criação, a sua casa foi preparada e

receberia o toque final no sexto dia com a criação dos animais que vivem sobre a terra

seca, antes que o homem fosse finalmente

criado.

Page 18: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

18

No sexto dia, como já dissemos antes, houve este

último retoque na criação, antes de ser formado

o homem. No começo do sexto dia foi necessário

criar as criaturas da terra que são identificadas nos versos 24 e 25 em três categorias: animais

domésticos, répteis e animais selvagens. Este foi

o toque final de Deus para preparar a casa na qual o homem moraria.

O homem era o objeto. O homem era o assunto

principal na criação. Era a criação do homem com o propósito remissório que Deus realmente

tinha em mente. Tudo perecerá no universo.

Tudo sairá da existência no universo. As estrelas

cairão, de acordo com o livro de Apocalipse; e o sol e a lua acabarão. O universo inteiro será

enrolado como um rolo de papel. A criação

inteira derreterá com calor abrasador. E tudo

sairá de existência. Mas não o homem.

O homem é pois o personagem principal, e o

desdobramento completo da criação é um

teatro no qual a grande saga remissória possa ser terminada com Deus buscando uma noiva

para o Seu Filho, como Deus busca demonstrar

a Sua graça e misericórdia e compaixão e poder de salvação, tanto para os homens, como para os

anjos.

Em Gên 1.30 vemos Deus dizendo que os animais foram criados para servirem de mantimento

para o homem. Ora, está implícito aqui que além

de se alimentar do leite e dos ovos de alguns

deles, ele também se alimentaria deles.

Nos versos 26 e 27 lemos: “Também disse Deus:

Façamos o homem à nossa imagem, conforme a

Page 19: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

19

nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os

peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os

animais domésticos, sobre toda a terra e sobre

todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois o homem à sua imagem, à imagem de

Deus o criou; homem e mulher os criou.”.

Aqui está o ápice da criação que é a razão de tudo

o mais que foi criado. Não foi o homem que foi criado para o boi, mas o boi para o homem. E é

neste mesmo sentido que Jesus disse aos

fariseus legalistas que davam mais importância

ao sábado do que ao homem, que foi o sábado que foi criado para o homem, e não o homem

para o sábado.

O domínio do homem sobre a criação foi

declarado e determinado por Deus.

Quanto à criação do homem há um ponto distintivo quanto ao modo usado na palavra de

ordem divina. Para as demais coisas temos um

haja, um produza, um povoe, mas aqui temos

um façamos. Façamos o homem à nossa imagem.

O homem não foi criado para pertencer a si

mesmo, mas foi dado pelo Pai ao Filho. Como

lemos em Col 1.16 que tudo foi feito por meio de Jesus e para ele.

Esta vida espiritual do céu não foi recebida pelo

homem quando se diz em Gên 2.7 que Deus

formou o homem do pó da terra e lhe soprou nas

narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente, porque o que se diz aqui é uma

referência ao dom da respiração, o mesmo que

foi dado aos animais como se depreende de Gên

Page 20: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

20

7.22: “Tudo o que tinha fôlego de vida em suas

narinas, tudo o que havia em terra seca,

morreu.”.

Quem determina a capacidade para receber esta vida do céu não é esta referência ao fôlego de

vida porque os animais também o receberam e

não têm tal capacidade; mas o que nos dá tal

capacidade é o fato de termos sido criados à imagem conforme a semelhança de Deus.

Em Gên 1.27 se afirma: “Criou pois o homem à

sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem

e mulher os criou.”. A humanidade é composta de homens e mulheres. E Deus instituiu o

casamento conforme está expresso na citação à

unidade do casal constante de Gên 2.23,24.

Assim, para o casamento do homem com a

mulher Deus previu um propósito mais elevado do que a simples reprodução, pois o casamento

serviria de sinal para a união que há entre Cristo

e a igreja.

Dentre as coisas reveladas acerca da criação do homem, além da responsabilidade que ele

recebeu de dar nomes a todas as criaturas, foi-

lhe também dada a incumbência de cultivar e

guardar o jardim do Éden (Gên 2.15).

Havia um trabalho que lhe foi designado. Não

havia ainda suor do rosto e canseira porque não

havia pecado.

No jardim que Deus plantou para o homem fez

brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boa para alimento; e também a árvore da vida no

meio do jardim e a árvore do conhecimento do

bem e do mal (Gên 2.9). E estas duas árvores

Page 21: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

21

foram destacadas como árvores sem igual, e

sobre as quais Deus havia determinado

propósitos e ordens específicas para o homem.

Depois de ordenar ao homem que cultivasse e guardasse o jardim, Deus “lhe deu esta ordem:

De toda árvore do jardim comerás livremente,

mas da árvore do conhecimento do bem e do

mal não comerás, porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gên 2.16,17).

Isto foi uma advertência.

Assim a responsabilidade do homem era

aprender sobre a criação e glorificar a Deus pelas suas maravilhas e então classificar e

moldar a criação de forma que isto fosse em

todos os sentidos para a honra e glória do

Criador. Agora se lembre, que não havia nenhum temor e não havia morte.

Apesar de ter sido grandemente afetado pela

queda ao pecado, e com isto, pela morte, nós

vivemos ainda num mundo que foi projetado por Deus para manifestar a Sua glória. E isto é

ensinado expressamente em vários lugares da

Bíblia.

Page 22: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

22

Gênesis 2

O Descanso de Deus Relativo à Criação

(Gên 2.1-3)

“1 Assim foram acabados os céus e a terra, com

todo o seu exército.

2 Ora, havendo Deus completado no dia sétimo a obra que tinha feito, descansou nesse dia de

toda a obra que fizera.

3 Abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou;

porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera.”

O sétimo dia é muito importante porque é em

relação a ele que é usada pela primeira vez a palavra "santo" na Escritura.

A palavra hebraica "kedesh", traduzida

"santificado" no verso 3, é a palavra "santo".

A raiz "kedesh", significa ser cortado ou separado. E santidade, é portanto, elevação ou

exaltação sobre o nível habitual.

Assim o sétimo dia é um dia especial porque foi

dia separado.

É um dia cortado dos outros porque seguiu

imediatamente à conclusão de todas as coisas

criadas nos seis dias anteriores a ele.

É um dia exaltado, porque Deus abençoou e santificou este dia, isto é, Ele declarou que este

dia deve ser santo.

Este dia é um dia especial para Deus, porque a

partir dele se cumpriu o Seu decreto fixado na

Page 23: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

23

eternidade, e indicava a condição de descanso

eterno pretendida por Deus para Ele e suas

criaturas, especialmente o homem que criara.

O sétimo dia é dia de descanso, não no sentido

de repor a energia perdida, mas no sentido de

não trabalhar, de não se ocupar o homem com coisas que sejam do seu interesse, mas com as

que são de Deus, em comunhão com Ele.

Detalhes sobre a Criação do Homem

(Gên 2.4-7)

“4 Eis as origens dos céus e da terra, quando

foram criados. No dia em que o Senhor Deus fez a terra e os céus

5 não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois nenhuma erva do campo tinha ainda

brotado; porque o Senhor Deus não tinha feito

chover sobre a terra, nem havia homem para

lavrar a terra.

6 Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda

a face da terra.

7 E formou o Senhor Deus o homem do pó da

terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida;

e o homem tornou-se alma vivente.” (Gên 2.4-7).

Esta porção da Escritura é um desdobramento

da narrativa referente à criação do homem no

sexto dia, conforme registro de Gên 1.26-30, em que se diz que Deus criou o homem à sua

imagem conforme a sua semelhança para ter

domínio sobre a terra e tudo o que há na terra.

Page 24: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

24

A partir deste segundo capítulo de Gênesis a

revelação irá se concentrar no desvendamento

da história da redenção.

Gênesis foi escrito por Moisés, a mando de

Deus, para este propósito. Para revelar a história

da redenção do homem que se extraviou por

causa do pecado.

Tanto é assim, que a narrativa da criação foi

condensada em poucas palavras,

comparativamente a tudo o mais que é relatado em Gênesis.

Assim, Gênesis 2.4 é introduzido com uma nota

explicativa de que a partir dali seria informada a gênese dos céus e da terra quando foram

criados. Ora, a palavra para “gênese” no

hebraico, é “toledoth”, que significa gerações.

A primeira geração do gênero humano foi a de Adão e Eva, e será a primeira a ser apresentada

em ordem.

O livro de Gênesis dará o registro de outras gerações, como a genealogia de Caim, de Adão,

de Sem, filho de Noé etc.

Por isso Gênesis 2.4, literalmente no hebraico é introduzido por: “Estas são as gerações”.

Os versos 5 e 6 nos apresentam o cenário em que

o homem foi criado. E no verso 5 é dito o seguinte: “Não havia ainda nenhuma planta do

campo na terra, pois ainda nenhuma erva do

campo havia brotado; porque o Senhor Deus não

fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo.”.

O que parece estar sendo dito aqui é que antes

da criação do homem não havia nenhuma

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25

“planta do campo”, ou “erva do campo” sobre a

terra, porque não haviam ainda brotado.

O autor sagrado não estava se referindo às

condições existentes antes do terceiro dia, quando não havia realmente nenhuma planta

sobre a terra porque o reino vegetal foi formado

no terceiro dia da criação.

Ora, mas sabemos que depois do sexto dia havia a condição de se cultivar as plantas do campo

porque o homem havia sido criado. Então a

condição de não terem brotado ainda foi

provavelmente por falta da chuva? Foi isto, mais muito mais do que isto. Estas plantas ou ervas

que são cultiváveis e dependentes de se lavrar o

solo pelo homem, são em sua grande maioria

dependentes de períodos de chuva intercalados com períodos de estiagem.

Estas plantas agrícolas dependem das condições

de umidade do solo que lhes são propícias para

o seu desenvolvimento, e é por isso que são

cultivadas pelo homem nas épocas mais favoráveis conforme o conhecimento que

adquiriu sobre as exigências de cada tipo de

cultura.

Assim, é imprescindível que o solo seja lavrado pelo homem para o cultivo de verduras,

legumes e grãos.

Mas o homem não necessitava lavrar o solo

quando estava sem pecado no Éden.

Isto foi uma das consequências da queda no pecado, como se vê em Gên 3.23: “O Senhor

Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden,

a fim de lavrar a terra de que fora tomado.”.

Page 26: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

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A terra da qual o homem fora formado por Deus

e que garantiria o suprimento de alimentos para

ele de forma contínua e espontânea, sem exigir

cuidados da parte do homem no que tange à sua fertilização e manejo, dependeria agora, depois

do pecado, de que o homem a trabalhasse para

poder obter o seu alimento.

A terra como que não se mostraria mais

completamente favorável ao homem, pois, seria como que se recusasse a lhe fornecer o

necessário para a sua subsistência, e por causa

da maldição que foi trazida sobre ela, em razão

do pecado, tudo o que o homem tirasse dela para a sua provisão contínua, deveria ser agora,

resultante do seu próprio esforço, lavrando o

solo em face das exigências de tais culturas e

combatendo pragas, doenças e ervas daninhas, no trabalho que deveria fazer em relação ao

manejo do solo e trato das culturas.

Então, não há dúvida que a produção de safras

agrícolas seria dependente daquilo que Gênesis

chama de planta ou erva do campo cuja produção exige que a terra seja lavrada pelo

homem, e isto só passou a acontecer depois da

queda no pecado, pois se diz em Gênesis 3.17 que

por causa do pecado a terra foi amaldiçoada e por isso a condição inteiramente abençoada que

ela apresentava anteriormente seria

conturbada pela maldição, uma vez que o

sustento que o homem obteria dela durante todos os dias de sua vida seria em fadigas, e a

razão disto é que a terra passaria a produzir

cardos e abrolhos (ervas daninhas) que são

Page 27: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

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concorrentes de nutrientes com a erva do

campo da qual o homem se alimentaria.

A expressão hebraica para erva do campo em

Gên 3.18 é a mesma usada em Gên 2.5. Há,

portanto, uma relação entre a queda e o fato de o homem ter que começar a lavrar o solo para

cultivar as plantas agrícolas, pois estas plantas

foram criadas por Deus com esta característica

de serem dependentes de serem cultivadas pelo homem, pois de outra forma não podem ser

produzidas em abundância.

Em Gên 2.5, a palavra para arbusto (erva), em

hebraico, é “siach", e a palavra para planta é

"êseb". É citado planta do campo ou erva do

campo, porque, como vimos, a referência aqui é àqueles vegetais que são cultivados em campos

agrícolas.

Isto é um sinal da parte de Deus nem tanto para

castigar o homem por causa do pecado, mas

para lembrar-lhe que não está mais num mundo

perfeito como era antes da queda no pecado.

De fato não é tarefa fácil a de produzir alimentos,

porque são inúmeros os inimigos da alimentação do homem, e deste modo, são

também, indiretamente, do próprio homem,

porque depende destes alimentos para a sua

subsistência.

Quando Gên 2.5 fala de planta e erva do campo,

a referência é principalmente às centenas de espécies de leguminosas, verduras e cereais

apropriados para a alimentação humana e

também do gado.

Page 28: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

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Está registrado em Gên 2.5 que não havia tal

produção agrícola antes da queda porque Deus

não havia ainda feito chover sobre a terra, e

porque não havia homem para lavrar o solo. Como vimos, a chuva veio como consequência

da entrada do pecado no mundo, e é

maravilhoso o fato de que realmente a produção dos campos agrícolas é dependente da

regularidade das chuvas.

Gên 2.6 diz o seguinte:” Mas uma neblina subia

da terra e regava toda a superfície do solo.”. Isto

significa que a condição perfeita para a terra seria esta que havia sobre toda a superfície do

globo.

Um suprimento perfeito de água subterrânea

garantido pelo poder de Deus. Observe que a referência aqui não é a orvalho, mas a uma

quantidade adequada de umidade que provinha

do interior da terra e que regava a superfície. Por

isso é usada a palavra neblina, mas não no sentido de que entendemos esta palavra.

A ideia do autor sagrado era a de mostrar que

não havia erosão de solos por águas pluviais, e

nem a irregularidade da precipitação de chuvas,

em razão da maldição da terra por causa do pecado, mas uma como que cortina suave de

águas que garantiam a rega adequada da

superfície do solo.

No hebraico, a palavra para “neblina” é “ed”, que significa uma fonte, e literalmente é “águas

do fundo”, que afloram à superfície do solo.

E assim é descrita a criação do homem no verso

7: “Então formou o Senhor Deus ao homem do

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pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de

vida, e o homem passou a ser alma vivente.”. E

nós sabemos que Deus criou o homem à sua

própria imagem conforme é dito em Gên 1.26. E aqui se diz como ele fez isto. Ele formou o

homem do pó.

Quanto ao corpo do homem que foi formado da

terra, é fascinante o fato de que muitos dos elementos químicos básicos que compõem as

rochas e os solos, estão também presentes na

estrutura física do corpo humano, e são

necessários para alimentar o corpo, mantendo-o em vida (fósforo, nitrogênio, potássio, cálcio,

oxigênio, ferro, magnésio, boro, carbono etc).

Depois de ter formado o corpo do homem do pó

da terra, Deus lhe soprou nas narinas o fôlego de vida e o homem passou a ser alma vivente (Gên

2.7).

O fôlego de vida veio de Deus tanto para o

homem quanto para os animais (Gên 7.21,22).

Assim Deus assoprou vida literalmente em tudo que vive; tudo o que é animado. Respiração é

"ruah", no hebraico. É a mesma palavra para

"vento." A mesma palavra para "espírito.".

Não é esta a palavra usada em Gên 2.7 quando se fala em fôlego de vida, e em alma vivente, e

como já estudamos anteriormente, nós vimos

que a palavra "nephesh", em hebraico, para

alma, em Gên 2.7, é tanto usada para se referir à vida animada do homem quanto à de todos os

demais seres vivos, excetuando-se os vegetais.

Já vimos também que o que identifica o homem

como diferente de tudo o mais na criação é a

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imagem e semelhança com Deus citada em Gên

1.26.

O Homem no Jardim do Éden

(Gênesis 2.8-17)

“8 Então plantou o Senhor Deus um jardim, da

banda do oriente, no Éden; e pôs ali o homem que tinha formado.

9 E o Senhor Deus fez brotar da terra toda

qualidade de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da vida no

meio do jardim, e a árvore do conhecimento do

bem e do mal.

10 E saía um rio do Éden para regar o jardim; e

dali se dividia e se tornava em quatro braços.

11 O nome do primeiro é Pisom: este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro;

12 e o ouro dessa terra é bom: ali há o bdélio, e a

pedra de berilo.

13 O nome do segundo rio é Giom: este é o que

rodeia toda a terra de Cuche.

14 O nome do terceiro rio é Tigre: este é o que

corre pelo oriente da Assíria. E o quarto rio é o

Eufrates.

15 Tomou, pois, o Senhor Deus o homem, e o pôs

no jardim do Éden para o lavrar e guardar.

16 Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo:

De toda árvore do jardim podes comer

livremente;

17 mas da árvore do conhecimento do bem e do

mal, dessa não comerás; porque no dia em que

dela comeres, certamente morrerás.”

Page 31: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

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A partir do segundo capítulo, o autor se

concentra em detalhar a criação do homem.

Isto porque o propósito da revelação feita por

Deus não é o de narrar a história de qualquer outro assunto, senão a história da redenção do

homem.

O propósito é o de narrar a redenção, porque

quando Moisés começou a registrar a revelação

escrita conforme lhe fora ordenado por Deus, o pecado já estava no mundo há muito tempo, e

Deus já havia chamado Abraão para começar a

partir dele, a formação de Israel, e mais do que isto, fez promessas específicas ao patriarca

relativas à salvação de pessoas em todas as

nações, por meio da união com o seu

descendente (de Abraão) que é Cristo.

O assunto é o da redenção do homem que havia caído no pecado, e que sujeitou toda a raça

humana à condenação eterna, porque aquela

comunhão e conhecimento de Deus que o

homem tinha no princípio, foi perdido por causa do pecado.

Deus revelou então através de Moisés como foi

que isto aconteceu, e quais as providências que

Ele havia tomado para livrar o homem desta condição de estar espiritualmente adormecido,

morto, e impossibilitado, por natureza, de

conhecer o seu criador.

Nós vimos anteriormente que Deus havia

colocado uma restrição para o homem quanto o uso que deveria fazer dos frutos das árvores do

jardim, proibindo-lhe o acesso a apenas um tipo

de fruto.

Page 32: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

32

Então apesar de ter sido criado para dominar

sobre todas as coisas da terra, o homem deveria

fazê-lo dentro dos limites e restrições impostos

por Deus.

Assim, todo o planeta terra estava sob o domínio do homem, mas ele precisava de uma casa. E ao

plantar um jardim para o homem, Deus foi o

primeiro jardineiro.

No princípio, a terra inteira era "boa", a terra

inteira era "muito boa", mas Deus fez uma casa especial para o homem.

Com isto queria mostrar que o homem foi criado para receber dEle bênçãos sobre

bênçãos.

Que o propósito da criação do homem, foi para

que vivesse sem pecado, sendo continuamente

abençoado pelo cuidado de Deus.

Podemos chamar isto de bênção dentro da

bênção.

A terra e tudo o mais que foi criado era uma perfeição e uma bênção para o homem, mas

Deus avançou no seu cuidado em relação ao

homem, dando-lhe um jardim com tudo o que

era agradável à vista e bom para alimento. E mesmo ao homem caído no pecado Deus

revelou até onde vai a extensão do seu amor por

ele, dando o Seu próprio Filho para morrer no

lugar do pecador, de maneira que este agora redimido do pecado, possa receber graça sobre

graça (Jo 1.16), em que está incluída esta

condição de receber bênção sobre bênção.

Quem duvidará da intenção de bondade de Deus

para com o homem, à vista destas coisas?

Page 33: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

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A palavra hebraica Éden, significa prazer,

delícia.

Um jardim fala de alegria, beleza, prazer,

descanso e tudo o mais que é agradável.

E Deus compartilhava isto com o homem antes

da queda no pecado.

Quando Moisés escreve que o jardim estava ao

leste, podemos entender disto que estava ao leste de Israel.

De fato, a descrição relativa à localização do

jardim afirma que havia um rio que regava o

Éden, e que saindo dele se repartia em quatro braços, chamados de Pisom, Giom, Tigre e

Eufrates, sendo, que é dito que o Tigre corria

pelo oriente da Assíria.

A bacia hidrográfica dos rios Tigre e Eufrates,

corre no sentido noroeste a sudeste, desembocando no Golfo Pérsico.

O rio Tigre fica localizado à leste do Eufrates.

A capital da Assíria, Nínive, ficava junto e à leste

do rio Tigre.

A nascente destes rios fica atualmente nos

montes da Armênia, próximo ao Monte Arará.

O dilúvio deve ter alterado em muito o curso

destes rios, bem como as alterações

topográficas havidas ao longo dos anos, uma vez que se afirma que tanto eles quanto os rios

Pisom e Giom, eram quatro braços que se

dividiam a partir do grande rio que cortava o jardim do Éden.

Então, provavelmente, o Éden ficava num

território ao norte das terras de Havilá, rodeada

pelo rio Pisom (Gên 2.11); da terra de Cuxe,

Page 34: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

34

circundada pelo rio Giom (Gên 2.13), e da

Assíria, que era banhada pelo rio Tigre.

O local exato onde estava o jardim não é

relevante, mas o fato de ser um lugar real sobre

a terra conforme as descrições relativas à sua localização, que são feitas na Palavra, e que tinha

dimensões imensas, já que era do rio que o

cortava que procediam estes quatro grandes

rios citados na Palavra de Deus.

Como informações adicionais podemos dizer

que Cuxe era um dos filhos de Cão, filho de Noé, e pai de Ninrode (Gên 10.6-12), que edificou a

cidade de Nínive na Assíria (Gên 10.11).

Havilá, que passou a ser o nome de uma cidade,

rodeada pelo rio Pisom, era também um outro

filho de Cuxe, além de Ninrode (Gên 10.7).

Cuxe era neto de Noé, e Ninrode e Havilá,

bisnetos de Noé, pois ambos eram filhos de Cuxe.

Vemos com isso que o autor de Gênesis usou

nomes de pessoas e de lugares para o jardim do

Éden, numa perspectiva pós-diluviana, pois não

é dito qual era o nome destes rios nos dias de Adão, e devemos considerar que as cidades e

nações que são citadas (Cuxe, Havilá, Assíria),

não existiam, e foram fundadas depois do

dilúvio pelos descendentes de Noé.

A própria Bíblia registra sobre Havilá que era

um dos termos dos ismaelitas, e que ficava ao norte de Sur, cidade fronteiriça ao Egito (Gên

25.18), e que veio a ser ocupada nos dias de Saul

pelos amalequitas (I Sm 15.7).

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35

Como Cuxe e Havilá ocupavam o território da

Arábia, estas cidades estavam portanto

localizadas à sudoeste do Tigre e Eufrates.

Então os rios Giom e Pisom corriam no extremo

oposto ao Tigre e Eufrates, próximo ao território de Canaã, e dirigindo-se em direção ao Egito,

desembocando provavelmente no Mar

Vermelho.

Há uma importante lição que é dada na

revelação de ter Deus formado um jardim para a habitação do homem, porque isto mostra que é

Deus quem designa o local de habitação eterna

do homem.

É Ele quem prepara as muitas moradas onde o

homem deve residir em comunhão com Ele.

A terra toda fora dada ao homem, mas o local

onde o homem deveria habitar foi designado e preparado por Deus.

Isto nos lembra também que somos peregrinos e forasteiros neste mundo, porque ainda não se

manifestou o lugar da nossa habitação eterna.

Mas ele será tanto ou mais magnífico do que o

próprio jardim do Éden.

A perfeição e beleza exterior do Éden, falavam da perfeição e beleza interior de Deus e do seu

caráter, também refinado, sensível, estético,

uma vez que Ele escolheu as espécies de árvores

e minerais mais preciosos e belos para formar o jardim.

Somente o homem poderia reconhecer a grandeza, a majestade, a bondade, a perfeição, o

amor e os demais atributos divinos, e responder

a isto Lhe devolvendo o cuidado e atenção

Page 36: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

36

recebidos na forma de comunhão, gratidão,

amor e louvor.

O Éden passou, e toda glória terrena passará,

mas o Senhor não muda, a Sua glória não

murcha, e o Seu amor e bondade são eternos.

Assim, a criação do homem revela em todos os

sentidos a glória de Deus, quer ao ter recebido

dEle um magnífico jardim como local de habitação, quer pela expressão da Sua graça,

justiça e misericórdia ao salvar pecadores por

meio da oferta que fez para cobrir os pecados: o

corpo do Seu próprio Filho, que foi dado por nós, em Sua morte na cruz.

É por meio de Jesus que aquela condição inicial, antes do pecado, está sendo restaurada.

É Ele quem tira o pecado do homem, para que o homem possa ser reconciliado em santidade

com Deus.

É por isso que havia no meio do jardim duas

árvores especiais e diferentes das demais.

Uma era a árvore da vida (que representava a

vida de Jesus em nos), e a outra árvore era a

chamada árvore do conhecimento do bem e do

mal (que representava a tentativa do homem de viver independentemente de Deus).(Gên 2.9)

O fruto da árvore da vida tinha uma propriedade

sobrenatural de dar vida eterna àquele que o comesse.

Entretanto, o pecado é um impedimento para que se tenha vida eterna, uma vez que o homem

foi expulso do jardim para que não comesse do

fruto da árvore da vida.

Page 37: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

37

Alguns afirmam que se ele o tivesse comido,

ficaria sujeito para sempre ao estado de pecado

eterno, sem possibilidade de salvação, mas

entendemos que a mensagem que nos é passada pela expulsão do homem do Éden para que não

lançasse mão do fruto da árvore da vida, é a de

que pecado e vida eterna são coisas incompatíveis, porque o salário do pecado, isto é

a sua paga, a sua consequência, é a morte, e não

a vida.

Por isso temos recebido a vida eterna em Cristo

Jesus por meio do arrependimento e do lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que

removerá pela santificação, inteiramente o

pecado de nossa natureza, quando estivermos

na glória.

Havia outra árvore especial no jardim, a árvore

do conhecimento do bem e do mal, cujo fruto foi

vedado por Deus ao homem, e do qual tendo este

comido, transgrediu o mandamento do Senhor, e por esta razão a criação ficou sujeitada à

vaidade e à maldição.

Quanto ao fruto da árvore do conhecimento do

bem e do mal devemos dizer que esta árvore era

também uma árvore real, como a árvore da vida, pois o autor bíblico não usou nenhuma

linguagem figurada para se referir à mesma.

Era uma árvore que, como se diz em Gên 3.6 que

a “árvore era boa para se comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar

entendimento”.

Note que era uma árvore bela à vista e cujo fruto

era comestível, e não venenoso.

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38

Até mesmo porque não havia nada em tudo o

que Deus havia criado nos seis dias da criação

que não fosse muito bom, até que o pecado

entrasse no mundo.

Não havia nenhum espinho, nenhuma praga,

nenhum veneno.

Nada poderia fazer mal ao organismo do

homem, porque até então, nenhum ser vivo, fosse planta ou animal, ou mesmo substância

mineral, poderia fazer-lhe qualquer mal.

Estas alterações na constituição de

determinados seres foram introduzidas por Deus depois da queda no pecado, em razão de a

terra, o homem, a mulher, e a serpente terem

sido amaldiçoados.

Assim, aquela árvore era uma prova para o homem. Ela era um teste da sua obediência.

Não que houvesse qualquer coisa na árvore que

fosse tóxica.

A árvore era somente um teste. E se o homem

comesse do seu fruto, o ato de desobediência seria o mal que ele experimentaria.

Deus o amaldiçoaria então por causa daquela

desobediência, e ele morreria.

Antes do pecado, ainda que o homem não fosse um bebê, ele tinha a inocência de um bebê, pois

não conhecia nem o bem, nem o mal.

Mas no dia em que comeu do fruto o homem e

sua mulher perderam a inocência, e passaram a ter uma consciência objetiva do mal a partir do

momento que haviam desobedecido a Deus.

Assim, o desfrutar da comunhão com Deus; a

condição de habitar no maravilhoso jardim do

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39

Éden, onde tudo era perfeito e agradável,

dependeria de o homem vencer as tentações do

diabo, e permanecer em obediência a Deus,

passando pela prova dessa obediência que consistiria em não comer o fruto da árvore do

conhecimento do bem e do mal.

Para o homem que vence o pecado e é obediente

a Deus em tudo, o lugar da sua habitação é eterno e maravilhoso, porque é isto o que Deus

tem planejado para aqueles que O amam, para

que possam se encantar e desfrutar todas as

Suas bênçãos em perfeita comunhão com Ele.

Esta será certamente a condição de todo cristão

na glória, a de perfeita obediência a Deus,

conforme Ele lhes tem prometido.

Bem farão todos aqueles que se esforçarem para

caminharem de modo obediente a Deus, mediante a Sua Palavra, por meio da graça do

Senhor e do poder do Espírito.

Detalhes sobre a Criação da Mulher

(Gênesis 2.18-25)

“18 Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o

homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.

19 Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os

animais do campo e todas as aves do céu, e os

trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser

vivente, isso foi o seu nome.

20 Assim o homem deu nomes a todos os

animais domésticos, às aves do céu e a todos os

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40

animais do campo; mas para o homem não se

achava ajudadora idônea.

21 Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado

sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em

seu lugar;

22 e da costela que o senhor Deus lhe tomara,

formou a mulher e a trouxe ao homem.

23 Então disse o homem: Esta é agora osso dos

meus ossos, e carne da minha carne; ela será

chamada varoa, porquanto do varão foi tomada.

24 Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só

carne.

25 E ambos estavam nus, o homem e sua

mulher; e não se envergonhavam.”

Nós vimos no primeiro capítulo de Gênesis que

Deus criou o homem à Sua imagem, e tendo

feito o gênero humano, homem e mulher,

ordenou-lhes que se multiplicassem e enchessem a terra (1.26-28).

Agora, o segundo capítulo vai descrever o modo

e o propósito da criação da mulher (2.18-25).

Apesar de haver bilhões de pessoas na terra,

todos viemos do relacionamento de um único casal (Adão e Eva), e podemos considerar que

apesar de muitos, somos participantes de uma

mesma família, designada por raça humana.

Deus poderia ter criado todos os homens do mesmo modo que criou os anjos. Todos ao

mesmo tempo, e sem que houvesse necessidade

de se reproduzirem. Mas Ele criou laços de

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41

família para que as pessoas aprendessem a

compartilhar a amizade, o amor, o

relacionamento, o serviço mútuo, no seio

familiar.

Os maridos amariam suas respectivas esposas

como Cristo ama a igreja, e as esposas também

amariam e respeitariam os seus próprios maridos.

Os filhos honrariam e obedeceriam a seus pais.

Assim, dentro na família, se aprenderia o amor,

respeito, honra e obediência que são

principalmente devidos a Deus.

O amor praticado no seio familiar seria estendido em auxílio e cooperação mútua entre

as diversas famílias da terra.

A raça humana seria um só corpo edificado no amor de Deus.

Como o pecado impediu o cumprimento deste

propósito com todas as famílias da terra, porque não são poucos os que resistem à Sua vontade e

ao que planejou para a humanidade, Deus está

formando uma grande família com pessoas de

todas as tribos, povos e nações, na qual cumprirá este Seu propósito eterno (Ef 2.9;

3.15).

Por isso Deus disse depois de ter criado Adão que não era bom que o homem estivesse só, isto

é, solitário.

Ele deveria estar em companhia de outras

pessoas, especialmente de quem lhe fosse íntimo, e não há maior relacionamento de

intimidade do que o que há entre cônjuges,

sendo seguido pelo que há entre pais e filhos.

Page 42: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

42

Deus deu início aos tipos de relacionamentos,

criando o mais íntimo e desinteressado de todos

eles: o que há entre o homem e a mulher dentro

do casamento.

Deus deu uma só esposa para Adão que foi

formada a partir da sua própria costela. Não

criou mais de uma, a partir daquela costela.

Poderia ter feito mais de uma se o quisesse, mas

revelou que o homem deve ser esposo de uma

só mulher, e a mulher, está ligada a um só marido, enquanto ambos viverem.

Os laços do matrimônio são por isso

indissolúveis, enquanto viverem os cônjuges.

Este laço de relacionamento é o fundamento de

todos os deveres mútuos e obrigações do

matrimônio.

Então, enquanto o laço permanecer, ninguém

pode se abster legalmente de levar a cabo os

próprios deveres do matrimônio, nem proibir o

seu desempenho.

A mulher não foi criada porque Deus viu que o

homem estava só. Não. A criação da mulher já

fazia parte do plano original de Deus de trazer as pessoas à existência através do relacionamento

conjugal.

Em Gên 1.27 a palavra “homem” em “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem,”, é também

“Adão”, Adam, no original hebraico, que tem

também o sentido de gênero humano, incluindo

tanto o homem quanto a mulher.

Assim, a mulher seria uma “auxiliadora idônea”

ao homem, porque com ela, associada ao

homem, Deus poderia dar pleno cumprimento

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43

ao Seu propósito de que o homem se

relacionasse com o seu próximo e o amasse, e se

multiplicasse sobre a terra.

Esta auxiliadora ou ajudadora, idônea ou

satisfatória, no hebraico é "êzer keneghdo", e significa um ajudante como ele, ou

correspondente a ele.

Alguém que é um ajuste perfeito para o gênero

humano ser capaz de reproduzir e governar toda

a criação, porque este governo geral foi dado a ambos, tanto ao homem quanto à mulher (Gên

1.27,28).

Entretanto, dentro do casamento, note bem: no

matrimônio, Deus estabeleceu o marido como

cabeça, isto é como líder, em relação à esposa, e

por isso fez a mulher a partir do homem, e não o homem a partir da mulher.

Assim, estando ainda no sexto dia da criação,

depois de ter formado o homem do pó da terra,

Deus iria agora formar a mulher, fazendo a

primeira cirurgia do mundo, anestesiando o homem com um sono profundo para retirar

uma de suas costelas, e tornou a fechar o lugar

com carne (Gên 2.21).

Quando Deus trouxe a mulher ao homem este

entoou a primeira canção de amor quando

disse: “Esta, afinal é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto

do varão foi tomada.” (Gên 2.23).

O homem em sua admiração e emoção foi

levado a compor esta poesia.

Quanta alegria e felicidade lhe trouxeram o

encontro com Eva. E foi Deus quem criou e

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44

aproximou o primeiro casal, e Ele continua

ainda aproximando casais pelo amor,

especialmente quando oram a Ele lhe pedindo

isto.

Então ele lhe dá um nome: “será chamada

varoa", isto é, será chamada mulher, porque no

hebraico, homem é "ish", e mulher é "ishah".

Mas "ishah" não é da mesma raiz hebraica de

"ish".

Note que a palavra homem ish possui a consoante hebraica yodh com som de “i” na

pronúncia, e a palavra mulher não possui este

yodh, pois tem o “i” pronunciado como vogal,

que não aparece portanto no texto, porque o hebraico não possuía vogal no texto escrito.

Além disso, possui em sua raiz, a consoante hê,

sendo assim de raízes completamente distintas.

A palavra "ishah" vem de uma raiz que significa

"suave, macio".

Esta foi a primeira impressão dele sobre a

mulher; ela era suave (Gên 2.23)

Quando Adão procurou uma palavra para definir a mulher, ele a chamou de “suave”.

Isto estava bem de acordo com o desígnio de

Deus para a mulher, especialmente no seu papel

dentro do casamento e mesmo na sociedade.

À vista da satisfação do homem expressada na

declaração que fez para a sua esposa, o Senhor acrescentou o que deve ocorrer portanto com os

filhos em relação ao lar paterno, quando

decidem se casar.

Page 45: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

45

Eles devem deixar pai e mãe e se unirem,

tornando-se uma só carne. Isto é dito em Gên

2.24: “Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une

à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.”.

Isto não significa que abandonarão para sempre

seus pais, que os rejeitarão em sua condição de

pais, ou que deixarão de honrá-los, mas isto

significa que sairão de debaixo da dependência paterna e dirigirão o seu próprio lar, assim como

seus pais edificaram o deles.

Outra coisa importante que se aprende desta

declaração de Deus em Gên 2.24 é que existe

somente uma forma aprovada de

relacionamento sexual perante Ele: a do homem com a mulher dentro do casamento.

Então há um comentário final interessante no

verso 25 de que "o homem e sua mulher,

estavam nus, e não se envergonhavam.”.

Veja que a referência é: “e sua mulher”,

indicando a condição matrimonial entre Adão e

Eva.

Eles estavam nus e não estavam envergonhados porque não conheciam qualquer tipo de malícia.

Eles não sabiam que os desejos sexuais poderiam ser usados para maus propósitos.

Eles não sabiam que o desejo sexual pudesse ser

pervertido e torcido.

Eles não tinham um mínimo pensamento mau

em suas imaginações.

Eles se amavam profundamente, de modo

íntimo mas respeitoso, sem mácula, sem

agressividade, sem dominação.

Page 46: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

46

A vergonha é produzida pela consciência do mal

que possa existir em determinada coisa.

Nós sentimos vergonha em nossas vidas como

pecadores porque nós temos pensamentos maus, porque nós temos desejos maus.

Mas isto não existia antes da queda.

Havia uma beleza maravilhosa naquele

matrimônio sem qualquer mácula. Eles

desfrutaram em plenitude o que se recomenda

em Hb 13.4: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula;

porque Deus julgará os impuros e adúlteros.”.

Deus os uniu, e eles desfrutaram a alegria

completa daquela relação.

Page 47: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

47

Gênesis 3

A Queda do Homem em Razão do Pecado

(Gênesis 3.1-7)

“1 Ora, a serpente era o mais astuto de todos os

animais do campo, que o Senhor Deus tinha

feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?

2 Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,

3 mas do fruto da árvore que está no meio do

jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele

tocareis, para que não morrais.

4 Disse a serpente à mulher: Certamente não

morrereis.

5 Porque Deus sabe que no dia em que comerdes

desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal.

6 Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos e sendo

árvore desejável para dar entendimento, tomou

do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele

também comeu.

7 Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que

coseram folhas de figueira, e fizeram para si

aventais.”

A queda do homem descrita no terceiro capítulo

de Gênesis não é apenas a sua própria queda,

mas de todo o universo, porque mediante a sua

Page 48: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

48

queda toda a criação foi sujeitada à maldição de

Deus.

Tudo envelhece e se corrompe pelo uso, desde

então.

Tudo perdeu o seu caráter eterno.

O pecado do homem influenciou tudo o mais na criação.

Gênesis 3 revela como a criação perfeita, boa, de

Deus, se tornou corrompida e má.

Satanás, que tinha sido expulso do céu por causa

da sua rebelião, tentou Eva valendo-se de uma

serpente.

Ele entrou na serpente e falou através dela.

Não é de se admirar que tenha entrado na serpente, pois vimos Jesus permitindo que

demônios entrassem em porcos conforme lhe

haviam rogado. Sem a permissão de Deus isto

não pode suceder, muito menos o ato de falar por meio dos agentes que possuem, mas o fato é

que isto foi concedido a Satanás, porque de

outra sorte, a obediência da mulher e do homem

não poderia ser provada.

Este é um dos motivos porque Deus não nos livra de todas as tentações.

Ele nos concede poder e graça para resistir e não

cair nas tentações, mas de modo nenhum nos

poupa, porque é exatamente por elas que a

nossa fé, fidelidade, obediência, perseverança, são provadas, e o nosso caráter fortalecido e

confirmado no bem.

Ainda que Deus mesmo a ninguém tente e nem

possa ser tentado.

Page 49: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

49

Mas Satanás em seu ódio a Ele e a tudo o que

criou, acaba servindo ao propósito de Deus de

colocar a nossa fé à prova para que se firme e

cresça, por meio das tentações.

Satanás queria conduzir Eva e Adão ao pecado. Ele queria fazer com que eles desobedecessem a

Deus. Ele queria corromper a criação boa de

Deus.

A estratégia usada por Satanás é a mentira, ou o

engano.

O que Satanás precisa fazer para efetuar o resultado esperado por ele é criar uma mentira

na qual Eva creia.

Ele tem que enganá-la para que ela venha a pecar.

Por isso que Jesus em João 8:44 chama Satanás

de “pai da mentira".

Satanás mente sobre o caráter de Deus, e ele

mente sobre a Palavra de Deus.

É nisso onde o ataque dele se concentra

inevitavelmente.

Satanás que caiu e no momento que caiu levou

um terço dos anjos juntamente com ele volta-se agora para atingir a criação mais alta de Deus no

mundo natural: o homem.

Ele se volta para Eva disfarçado na serpente, como se fosse um "anjo de luz", de acordo com 2º

coríntios 11:14. Ele quer que você acredite que

ele está lhe contando a verdade, e que o Deus da Bíblia é mentiroso.

Essa é a sua estratégia. Se ele pode conseguir

que você creia que o caráter de Deus não pode

Page 50: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

50

ser confiável e, na Palavra de Deus como não

sendo a verdade, e, portanto, não digna de ser

aceita e confiada, mas que nele você pode

confiar, naquilo que está afirmando, então ele alcança a sua meta.

Ele conseguiu que Eva duvidasse do caráter de

Deus, duvidasse da palavra de Deus, e

acreditasse nele, Satanás.

Satanás chega a Eva argumentando que se ela

lhe ouvisse experimentaria alegrias das quais Deus gostaria de privá-la.

Ele se esforça para que Eva rebaixe o conceito de Deus na visão dela, e então viesse a descrer na

palavra de Deus, e a dar crédito não àquilo que

Deus afirmou, mas àquilo que lhe apontava o

seu próprio desejo e sentimentos.

Satanás disse à mulher: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”. Como

a dizer sutilmente: “Reflita sobre o significado

real desta ordem. Ela é razoável? Você tem

liberdade para questionar Deus; você tem liberdade para duvidar de Deus; você tem

liberdade para desconfiar de Deus.”

E isso conduziu Eva à desobediência.

Quando fazemos a suposição de que aquilo que

Deus disse está sujeito ao nosso julgamento, nós

estamos a um passo de pecar, nos tornando

desobedientes e incrédulos.

Toda transgressão da vontade de Deus, todo

pecado, traz em seu bojo esta ideia da relativização dos mandamentos de Deus, do

questionamento ainda que indireto da Sua

vontade soberana.

Page 51: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

51

Assim Eva é deslocada da firme posição de estar

seguramente confiada na soberania de Deus

para a sua provisão pessoal, para a de fazer valer

aquilo que passaria a considerar como seus direitos.

Satanás conseguira o seu intento, fazendo com

que pensasse que a sua liberdade estava sendo

tolhida, que Deus lhe estava impondo restrições.

Colocou um desejo em seu coração e agora

ordena que não o satisfaça. Qual é a lógica que

há nisso?

A da cruz que estava oculta aos olhos de Eva.

A nossa vontade deve ser submetida a Deus.

Importa que seja feita a vontade dele e não a nossa, ainda que seja muito grande o nosso

desejo de ser ou obter algo.

A cruz trata com o eu, e impõe o tom correto aos

nossos desejos, fazendo com que deixemos que

sejam governados pelo Senhor e não pela nossa própria vontade.

O que o Senhor tem dito que é lícito e conveniente faremos, mas o que nos é vedado,

ou mesmo que sendo lícito, seja inconveniente,

isto não faremos, assistidos pela Sua graça que

opera em nós, enquanto sujeitos à Sua santa vontade.

Mas Eva e lembrou que havia uma penalidade

atrelada ao ato da desobediência.

Ela disse para Satanás que não deveria comer ou

tocar no fruto da árvore que estava no meio do

jardim, para que não morresse.

E observando que já havia conseguido o intento

de lançar a dúvida no coração da mulher em

Page 52: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

52

relação à verdade da Palavra de Deus, Satanás foi

ousado e direto contrariando diretamente a

afirmação daquilo que Deus havia dito, dizendo:

“é certo que não morrereis”, e para gerar convicção em Eva apresentou um argumento

para sua afirmação: “Porque Deus sabe que no

dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do

bem e do mal.”. (Gên 3.3,4).

O resultado imediato está relatado no verso 6:

“Vendo a mulher que a árvore era boa para se

comer, agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e

comeu, e deu também ao marido, e ele comeu.”.

O admirável nisto tudo é que apesar de Eva ter

conhecido o caráter de Deus, tendo experiência do Seu amor e bondade, ela deixou que o seu

desejo falasse mais alto e não questionou

Satanás em nada do que ele disse, e não levantou

qualquer suspeita sobre as afirmações que ele estava fazendo; ainda que ela não soubesse que

estava falando com um anjo caído, com o arqui-

Inimigo de Deus.

Seria de se esperar que ela partisse em defesa de

Deus, de Seu caráter, de Sua Palavra, e que permanecesse fiel e obediente à Sua vontade.

Mas não é exatamente isto que se espera

também de nós quando confrontados pela

tentação e pelas cobiças que operam na nossa carne?

Assim, o ponto é este: se o que fazemos não é

completamente, de todo o coração, sem

reservas, confiando na sabedoria e bondade de

Page 53: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

53

Deus, nós estamos em dificuldade. Nós

pecamos.

Eva pecou, não quando ela comeu. Ela pecou quando ela deixou de acreditar que Deus era

bom e somente bom. E que importava ser

obedecido em tudo. Mas se achamos que pode

haver alguma falha no caráter de Deus, é bem provável que não confiemos inteiramente na

Sua Palavra.

Antes do pecado ela poderia ter resistido a tudo pela graça divina que lhe seria concedida caso

obedecesse à Palavra, sem a dificuldade que

todos nós temos depois que o pecado entrou no

mundo, porque, uma vez estando debaixo do seu senhorio, ele é muito mais forte do que a nossa

própria vontade.

O que queremos dizer é que Eva não tinha tanta impulsão para desobedecer no ato da

desobediência original, quanto a que passou a

ter depois que pecou, e juntamente com ela toda

a humanidade, em razão do domínio e habitação do pecado em nossa natureza terrena.

O pecado que reina na carne luta contra a nossa

mente e diz que não é o que Deus quer que importa, mas o que nós queremos.

Todo pecado em nós dá boa acolhida às

mentiras de Satanás: de que há prazer lá fora;

que há satisfação lá fora; que há diversão lá fora; que há alegria lá fora; que o mundo tem tudo o

quanto possa nos satisfazer; e que Deus está

sempre tentando nos restringir.

Page 54: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

54

Nós pecamos quando pensamos que por causa

de Deus estamos perdendo a nossa

possibilidade de sermos livres e felizes.

Temos dado crédito à mentira de Satanás

quando afirma ousadamente que Deus é um

mentiroso ao declarar que o salário do pecado é a morte, e afinal temos pecado e não temos

morrido. Satanás cria a falsa ideia de que não há

e não haverá qualquer julgamento contra o

pecado.

Esquecidos que já estamos naturalmente

julgados e mortos espiritualmente falando, porque não temos real comunhão com Deus, a

menos que Ele nos redima em Jesus Cristo.

Assim Eva não chegou a conhecer o bem e o mal

do modo que ela pensou que conheceria, isto é,

tal como Satanás lhe mentira, dizendo que seria

na exata forma como Deus os conhece.

Deus conhece o bem e o mal, guardadas as

devidas proporções, pois que seu conhecimento é perfeito e onisciente, do modo que um

cirurgião de câncer sabe sobre o câncer que é

muito diferente do modo que um paciente o

conhece.

E como Eva conheceu o mal?

O mal estava no coração de Eva.

Ela não conheceu o mal por algum efeito mágico na fruta, mas conheceu o mal no seu próprio

coração.

Ela tinha desconfiado do caráter de Deus. Ela

tinha impugnado os motivos de Deus, e ela tinha

desobedecido a Palavra de Deus.

Page 55: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

55

Desde então, o homem ainda procura cobrir a

vergonha do estado pecaminoso da sua alma,

não mais com vestes de figueira, mas com

apanágios psicológicos, com sistemas positivistas de pensamento, com sistema de

autoajuda que procurem elevar a sua auto-

estima.

Mas perguntamos, qual é a eficácia destas coisas para limpar um coração corrompido pelo

pecado, e de uma má consciência, que são as

fontes onde residem e de onde brotam de fato,

todos os nossos sentimentos de fraqueza, insucesso e toda sorte de perturbações da alma

e do espírito?

Vestes de figueira não cobrirão a vergonha da

sua nudez diante de um Deus santo e temível.

Esconder-se atrás das árvores, não mais do jardim do Éden, mas de uma má consciência,

para fugir da presença de um Deus amoroso e

fiel que nos busca para nos resgatar da condição

má em que nos encontramos em nossa própria natureza, continua sendo um sentimento

universal, produzido pelo pecado original.

Por isso o caminho de volta para Deus, para o

reino dos céus, desde o Éden e para sempre, deverá ser feito por meio de violência, ou seja,

por esforço deliberado para o exercício de fé e

obediência e sujeição ao Deus que nos procura

para ter comunhão conosco.

Então mais adiante vemos Adão não assumindo a sua culpa de modo responsável, ao contrário

ele lançou a culpa no próprio Deus e não em Eva.

Ele não disse “Essa mulher que me levou a fazer

Page 56: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

56

isto”, mas “a mulher que você me deu”. Em

outras palavras: a culpa é sua por ter criado e me

dado esta mulher.

Não houve o mínimo arrependimento traduzido

em atitude voltada para a mudança e correção do erro, pela aceitação responsável do erro, pelo

reconhecimento sincero da culpa e pela

confissão da maldade.

Mas ao contrário disto vemos vergonha, fuga,

desculpa esfarrapada. E então Deus pronuncia uma maldição neles. Deus os amaldiçoou. E o

universo inteiro sentiu as consequências desta

maldição.

Então ambos foram expulsos do jardim.

Deus deixou uma porta aberta para que o

pecador pudesse entrar por ela na Sua presença.

Cristo é esta porta e não há nenhuma outra para tal propósito.

Deus pode perdoar os pecadores em Cristo. E não é maravilhoso saber isso, que apesar da

realidade de tudo aquilo que somos, que Deus

perdoa os pecadores? Essa é a glória do

evangelho.

Deus colocou nossa iniquidade em Cristo. Grande realidade. Ele carregou nossos pecados

no Seu próprio corpo. Ele foi feito pecado por

nós, e assim Deus O castigou no nosso lugar,

para que possamos ser levantados da queda a que nos sujeitou Adão em razão do pecado.

O homem foi criado em estado perfeito por Deus e foi colocado no topo da criação. Mas o pecado

o derrubou das alturas em que havia sido

colocado por Deus, mas pela Sua exclusiva graça

Page 57: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

57

e misericórdia, Ele tem levantado os pecadores

que creem por intermédio de Cristo, para que

estejam para sempre, em Sua santa presença.

Deus Vem ao Encontro do Homem Caído

(Gênesis 3.8-13)

“8 E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o

homem e sua mulher da presença do Senhor

Deus, entre as árvores do jardim.

9 Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?

10 Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no

jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-

me.

11 Deus perguntou-lhe mais: Quem te mostrou

que estavas nu? Comeste da árvore de que te

ordenei que não comesses?

12 Ao que respondeu o homem: A mulher que

me deste por companheira deu-me a árvore, e

eu comi.

13 Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente

enganou-me, e eu comi.”

Devemos aprender do que Deus fez no Éden logo

depois que o primeiro casal pecou. Aprender do

diálogo que o Senhor teve com o homem e com

a mulher logo depois da queda, e que antecedeu o proferimento da maldição da serpente, da

mulher, do homem e da terra por causa do

pecado.

Page 58: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

58

Quando Deus confrontou Adão e Eva no Éden

depois da queda, e os amaldiçoou, bem como a

serpente e toda a terra, não foi por um pequeno

motivo.

O pecado conturbaria o propósito de Deus para a criação.

A humanidade sujeitada ao pecado e ao diabo

passaria a ser, destrutiva, mentirosa, assassina

das coisas boas e eternas, que Deus havia criado

e especialmente aquelas que estavam sendo cultivadas no espírito do homem, como o amor,

a bondade, a paz, a alegria, o domínio próprio,

enfim, todas as virtudes que fazem parte do caráter do próprio Deus.

Quando Adão e Eva ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia,

esconderam-se da Sua presença entre as

árvores do jardim (Gên 3.8).

Isto representava uma mudança dramática no relacionamento deles com Deus.

O endurecimento produzido pelo pecado se revelou no conteúdo e no modo das respostas

que ambos deram a Deus, quando foram

confrontados por Ele.

Nenhum dos dois mostrou arrependimento ou

lamentou pelo que haviam feito.

Não demonstraram tristeza diante de Deus.

Não assumiram a própria culpa declarando-se culpados, ao contrário, deram respostas

evasivas e com troca de acusações.

O pecado faz com que atribuamos os nossos

fracassos a outros e não a nós mesmos.

Page 59: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

59

Faz com que tentemos nos justificar

condenando a outros.

Foi o que Adão e Eva fizeram quando foram

confrontados por Deus. Eles haviam duvidado

da bondade de Deus, e agora, no estado de pecado não creram, não confiaram na Sua graça

e misericórdia para serem perdoados através do

arrependimento e confissão da sua culpa.

Assim, eles ofenderam duplamente a Deus,

quando fugiram da Sua presença, quando

ouviram a Sua voz no jardim.

Eles o consideraram como alguém mal e disposto a destruí-los, e foi por isso que fugiram.

Eles tiveram medo de Deus porque viram que estavam nus.

Tinham vergonha de estarem nus, porque agora

estavam sendo dominados por maus

pensamentos.

Eles conheciam a santidade e pureza de Deus.

Na verdade, eles queriam evitar Deus, se fosse

possível. Mas o Senhor não os deixou entregues

à própria sorte, e veio confrontá-los e prestar

contas juntamente com eles dos atos que haviam praticado e das coisas que estavam

sentindo.

Eles estavam endurecidos pelo pecado,

conforme demonstraram em suas atitudes e

respostas, e de nada adiantaria Deus argumentar com eles para convencê-los acerca

da Sua graça e misericórdia.

Aquela era a hora das trevas, Satanás havia

triunfado em seu intento de induzir o homem e

a mulher ao pecado, e não restou a Deus senão a

Page 60: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

60

alternativa de punir o pecado, naquele

momento, com a morte espiritual, pela quebra

da comunhão de Adão e Eva com Ele, e pela

punição da falta com o proferimento de maldições, e com a expulsão do homem e da

mulher do jardim.

O pecado manifestou a sua face terrível e o seu poder de manter escravizada a alma humana.

Uma vez debaixo da escravidão do pecado, o

homem fica dependente de que Deus use os meios de graça necessários para conduzi-lo ao

arrependimento, para que possa ser libertado.

Somente o poder da graça de Deus pode libertar o homem da escravidão do pecado.

Somente o Filho Unigênito de Deus pode

libertar aqueles que são escravos por natureza deste inimigo terrível que conduz o homem

tanto à morte física, quanto espiritual e eterna.

O pecado é como um vício terrível ligado à alma humana, e do qual o homem não pode se livrar

por si mesmo.

Ele pode entender que o que tem feito é errado.

Pode sentir vergonha da sua condição em

pecado, tal como Adão e Eva sentiram.

Pode reconhecer que Deus é santo e que não

pode estar em comunhão com Ele enquanto

estiver escravizado ao pecado.

Pode saber que há um julgamento de Deus sobre

o pecado.

Pode sentir a sua consciência culpada.

Pode fazer resoluções de mudar sua vida e

deixar de fazer as coisas erradas que faz, mas

não pode parar de pecar, nem pode se

Page 61: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

61

arrepender honestamente, porque o poder do

pecado é maior do que todos os poderes que

existem na natureza humana.

Somente o poder de Deus pode vencer o pecado.

Para tanto, o homem deve se sujeitar a Deus.

Deve pedir-lhe humildemente que o ajude a se

livrar dessa escravidão que é mais forte do que

tudo o que há no mundo.

Por isso a Bíblia indica ao homem qual é o caminho que ele deve seguir para obter o favor,

a graça de Deus. Ele deve lamentar, chorar as

suas misérias humildemente diante do Senhor, esperando que Ele estenda a Sua mão poderosa,

e o liberte e o abençoe.

Adão e Eva tentaram cobrir a vergonha da sua

nudez com folhas de figueira, mas isto não foi

suficiente, porque a nudez do pecado é sentida no coração, e não pode ser acobertada.

Somente pela fé e pelo arrependimento é que

pode ser coberta pelo sangue de Jesus.

Não há outro modo para se livrar da culpa do pecado, e alcançar uma boa consciência diante

de Deus.

Conseguimos esta boa consciência pela certeza

de que fomos de fato perdoados de todos os nossos pecados e que toda a nossa culpa foi

removida, pelo sacrifício de Jesus, para o ato de

justificação que nos reconciliou para sempre

com Deus.

Aquele foi o pôr de sol mais triste já

testemunhado pela história do mundo.

Pois foi naquele entardecer que a criação foi

amaldiçoada por Deus.

Page 62: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

62

Foi quando a amizade foi rompida e toda a

humanidade passou a estar debaixo da ira de

Deus.

A ira do julgamento do pecado que sujeitou o

homem à morte, tal como havia sido alertado anteriormente.

As trevas do pecado receberam a justa sentença divina, e somente por meio do sangue de Jesus,

o homem poderia voltar a ter paz com Deus.

“O Filho do homem veio buscar e salvar o

perdido.” (Lc 19.10).

O próprio Jesus proferiu estas maravilhosas

palavras quando se referiu à conversão de

Zaqueu, o publicano.

Esta missão de buscar o pecador perdido começou no jardim do Éden, quando o Senhor

Deus veio ao encontro de Adão e Eva depois de

terem caído no pecado.

Como Ele lhes havia alertado que no dia em que

eles O desobedecessem comendo o fruto, que

lhes havia proibido, eles certamente morreriam, é bem provável que ambos tenham

pensado que seriam aniquilados pela ira de

Deus quando Ele os encontrasse, e por isso

fugiram da Sua presença e tentaram se esconder entre as árvores do jardim.

Mas Deus veio buscar o pecador escondido.

E aqui nós achamos a primeira visão da graça, a primeira expressão de misericórdia, a primeira

indicação de que poderia haver uma

possibilidade para a reconciliação.

No verso 9 nós lemos: “E chamou o Senhor Deus

ao homem, e lhe perguntou: Onde estás?”.

Page 63: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

63

Isto não é certamente o que se poderia

imaginar, porque se eles desobedecessem a

Deus, eles iriam morrer, e pensamos em algum

ato imediato de julgamento divino caindo sobre as cabeças deles. Mas ao invés, nós achamos

Deus iniciando uma confrontação que começa

de uma forma muito branda.

Aqui está revelada pela primeira vez a verdade do evangelho: Deus busca o pecador e lhe

pergunta onde ele está.

Há uma sentença de morte sobre o pecador,

mas Deus vem buscá-lo para que possa ser salvo desta condenação.

O homem está morto em seus pecados, mas

Deus vem buscá-lo para que tenha vida, e a

tenha em abundância. E Deus ainda busca os

pecadores.

A nossa própria consciência nos acusa e

condena acerca do fato de sermos pecadores.

Satanás é o grande acusador que nos aponta os

nossos pecados e tenta nos fazer sentir que Deus não tem qualquer misericórdia para pessoas

corrompidas pelo pecado como nós.

Mas neste ato de busca de Adão e Eva, depois de

terem pecado, Deus revelou a grande mentira

do diabo, e o quanto a nossa própria consciência sujeita ao pecado nos engana e é uma má

consciência nos dizendo que não podemos ter

confiança em que Deus possa ser bondoso e

perdoador em relação a nós, um a vez tendo nós lhe ofendido de maneira tão terrível com os

nossos pecados. Seria de se esperar vingança e

ressentimento e não oportunidade e perdão.

Page 64: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

64

Mas a graça superabundou onde abundou o

pecado. A graça se revelou infinitamente rica,

pela primeira vez, por Adão e Eva terem sido

poupados pela longanimidade de Deus, apesar de não terem manifestado qualquer tipo de

arrependimento em relação ao seu pecado.

A graça reteve a destruição deles.

Quando Deus perguntou a Adão onde ele estava, ele não o fez porque não soubesse onde ele havia

se escondido, pois Ele sabe tudo, Ele é

onisciente. Ele sabia onde Adão estava. O que Ele

queria era que Adão reconhecesse a sua condição atual, e que confessasse o seu pecado,

porque é Deus misericordioso, compassivo,

longânimo, perdoador, e estava manifestando

estes seus atributos a Adão de forma que ele pudesse achar lugar para o arrependimento.

A palavra "chamou", “ikrrá”, no mesmo

versículo (3.9), “Chamou o Senhor Deus ao

homem”, significa no hebraico o ato de chamar alguém para uma prestação de contas. É usada

em várias passagens do Velho Testamento

como por exemplo em Gên 12.18; 20.9; 26.9.10. Dt

25.8. Deus chama Adão para responder por seus atos perante Ele, mas é uma aproximação

bastante compassiva.

Antes do pecado, Adão falava somente a verdade

e amava somente a verdade, mas o engano havia

entrado agora no seu coração. Ele não consegue ser inteiramente honesto em dizer em plena

sinceridade a Deus tudo o que estava sentindo e

pensando.

Page 65: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

65

O pecado tem esta característica de levar o

homem a ser indulgente para com as suas faltas,

e ser parcial na justa avaliação delas.

Adão não sentiu repulsa pelo seu pecado. Não

ficou entristecido pelo fato de ter desagradado

Aquele que tanto o amava e que lhe manifestava diretamente este amor todas as vezes que ia ter

com ele no jardim.

Adão não ficou horrorizado com o próprio

pecado, ao contrário ele ficou horrorizado com

Deus porque teve medo de Deus.

Ele teve medo das consequências, mas não teve

nenhum temor em relação ao mal que havia

aprisionado a sua mente e coração.

Depois de ter confrontado Adão, Deus

confrontou Eva: “Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A

serpente me enganou, e eu comi.”. Adão não

tentou proteger Eva. E cabia a ele, no casamento,

a função de proteger a sua esposa.

Ao contrário, ele direcionou a atenção de Deus

para ela, procurando achar alívio na sua própria responsabilidade.

Ele fez, como se costuma dizer popularmente: “tirou o corpo fora” e lançou toda a carga sobre

sua esposa.

Aquela relação maravilhosa que havia antes do pecado foi inteiramente torcida.

Do mesmo modo que fez com Adão, Deus deu à mulher uma oportunidade para

arrependimento quando lhe perguntou o que

ela havia feito.

Page 66: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

66

Mas, tal como o seu marido, a mulher não

assumiu a sua culpa, e a jogou inteiramente

sobre a serpente.

Pensou que poderia ser justificada perante Deus

pelo fato de ter sido enganada pela serpente. “A

culpa é toda do diabo.”.

É o que muitos pensam erroneamente. Há

mesmo cristãos que pensam que tudo o que

fazem de errado não é por causa do seu próprio

pecado, mas que é sempre por causa do diabo.

“Foi o diabo que me fez fazer aquilo. Não fui eu o

culpado. O culpado foi o diabo!”.

É muito comum se ouvir isto. Ainda que não se

possa inocentar o maligno que veio realmente

roubar, matar e destruir, sendo ele o pai da

mentira, nem por isso, não podemos transferir a responsabilidade

pelos nossos maus pensamentos e atos

inteiramente para a conta de Satanás.

Como afirma Tiago: “Cada um é tentado pela

sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.”

(Tg 1.15).

O homem é inteiramente responsável por todos

os seus atos. A cura está portanto em

exatamente reconhecer esta responsabilidade e confessá-la a Deus. Porque isto é a verdade

quanto à nossa condição em relação ao pecado.

E é portanto somente confessando a própria

culpa que se pode achar o favor e graça de Deus.

Page 67: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

67

A Maldição da Serpente (Gênesis 3.14,15)

“14 Então o Senhor Deus disse à serpente:

Porquanto fizeste isso, maldita serás tu dentre

todos os animais domésticos, e dentre todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e

pó comerás todos os dias da tua vida.

15 Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a

tua descendência e a sua descendência; esta te

ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”

Satanás conseguiu se prover de filhos espirituais através do êxito do seu propósito em

tentar a mulher a pecar, e ao conseguir com que

esta também convencesse o seu marido a comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do

mal.

O descendente da mulher que ferirá a cabeça do diabo é sem qualquer sombra de dúvida o

Senhor Jesus, que sendo Deus, foi concebido no

ventre de Maria para vir a este mundo destruir as obras do diabo, esmagando a sua cabeça.

Este ato de esmagar a cabeça da serpente, seria

feito através de um ferimento “do calcanhar” do Senhor pelo diabo, a saber a humilhação,

perseguição que foi permitido que o diabo lhe

fizesse, e que culminou com a Sua morte na

cruz; e não somente isto, esta ferida que é produzida no calcanhar pelo diabo, na

descendência bendita da mulher, é também

feita naqueles que são de Cristo.

Satanás se proveu de uma descendência em

toda a humanidade, por meio do pecado, mas

Page 68: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

68

Deus prometeu levantar desta descendência

muitos que seriam inimigos do diabo, e não

seriam mais seus descendentes, porque viria

Aquele que lhe esmagaria a cabeça, e lhe despojaria do seu poder sobre todos os homens,

de maneira que aqueles que se unissem ao

Redentor, seriam livrados do seu senhorio maligno.

Por isso, há uma maldição sobre os animais, e

especialmente sobre a serpente, como consequência do pecado do homem, e há

também uma maldição específica sobre

Satanás, por ter a sua cabeça esmagada pelo

descendente da mulher, que é Cristo.

Nós temos a partir destes versículos de Gênesis,

o começo da maldição divina. Nós temos a

maldição que Ele proferiu sobre a serpente; que é sobretudo a maldição de Satanás.

É importante verificar que Satanás foi lançado juntamente com muitos demônios à terra,

depois que eles se rebelaram no céu, e muitos

demônios foram colocados em cadeias num

lugar que a Bíblia chama de abismo. E eles ainda permanecem lá.

No tempo do fim, no período da Grande

Tribulação, um grande número deles será libertado para afligir os homens que estiverem

vivendo sobre a terra. É possível que Satanás e os

demônios que atuam na terra também

estivessem no abismo, antes de o Senhor criar os céus e a terra, e foi permitido a estes saírem

do abismo para cumprirem pelo menos dois

grandes propósitos de Deus: O primeiro de

Page 69: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

69

trazer um julgamento sobre eles, através do

agravamento do pecado deles, por ter Satanás

tentado o primeiro casal a pecar contra Deus,

fazendo com que a criação ficasse sujeita à vaidade, e também por toda a sorte de males que

eles praticam sobre a terra, especialmente em

relação aos homens, e por terem também atuado para levar Jesus à cruz.

Isto tudo agravou sobremaneira o juízo deles,

pois Deus propiciou com que ficasse exposta à

vista de todos os seres celestiais e dos homens, a

excessiva malignidade de Satanás e de todos os anjos caídos.

Foi portanto, pela morte de Jesus na cruz, que

eles não somente ficaram despojados do

domínio completo sobre aqueles pelos quais o Senhor morreu, e que nEle creem, como

também ficaram sujeitos ao desprezo pela

vitória de Jesus na cruz (Col 2.14,15).

O segundo propósito é o de que Satanás e os

demônios que estão na terra, operam como agentes de provação da obediência dos homens,

e são também os executores de juízos sobre os

desobedientes que lhes são entregues para

destruição da carne.

Deus não pode ser tentado pelo mal, e a

ninguém também pode tentar, porque é

absolutamente puro e santo, e desta forma,

Satanás e os demônios atendem bem ao propósito de provar a fidelidade do coração dos

homens, por tentar seduzi-los à prática do mal.

Evidentemente, isto não esgota tudo o que Deus

intentou em Sua sabedoria e soberania, quando

Page 70: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

70

fez com que os homens sobre a terra tivessem

que ter a companhia de Satanás e de demônios,

que mesmo sendo indesejável para aqueles que

amam e temem ao Senhor, acabam cooperando indiretamente para o aperfeiçoamento do seu

caráter, nas lutas que têm que empreender

contra os poderes das trevas.

Satanás, certamente, tanto quanto o próprio

homem a quem tentou, não sabia, não conhecia

tudo o que estaria implicado naquele ato de tentação do primeiro casal. Ele jamais

imaginaria tudo o que seria colocado em curso

por Deus para cumprir os Seus eternos

propósitos tanto no que se refere à redenção do homem, quanto à manifestação da glória da Sua

graça, quanto aos juízos que Ele traria sobre o

próprio diabo.

Satanás pensou que poderia estragar

completamente a criação de Deus, levando o

primeiro casal a cair no pecado. Mas Ele não

sabia que tudo já estava previsto nos conselhos eternos de Deus, e que Ele tinha um plano

maravilhoso para ser colocado em prática.

É interessante observar que na palavra mesma

de maldição que Deus proferiu sobre a serpente

estava embutida a promessa do Salvador.

A maldição distintiva da serpente teve também

o propósito de que ela se tornasse um símbolo,

uma lembrança constante para o homem, da

queda e da condição amaldiçoada do próprio Satanás, que se identificou com a serpente, e

que é por isso chamado na Bíblia por este nome,

como em Apo 12.9; 20.2; II Cor 11.3, por exemplo.

Page 71: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

71

Satanás disse em seu coração: “Eu subirei ao

céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu

trono, e no monte da congregação me

assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante

ao Altíssimo.” (Is 14.13,14). Entretanto, Deus que

tudo sabe, conhecendo-lhe estes pensamentos íntimos proferiu a seguinte sentença sobre ele:

“Contudo serás precipitado para o reino dos

mortos, no mais profundo do abismo,” (Is 14.15).

Satanás será de fato lançado no abismo por

ocasião da volta de Jesus (Apo 20.1-3), e será

lançado no lago do fogo e enxofre, no final do

milênio (Apo 20.10).

Satanás jamais considerou, quando pensou que

teria estragado para sempre, o plano de Deus de

ter muitos filhos como Jesus Cristo, com a sua tentação de Eva, porque sabia que havia uma

sentença de morte para o caso de desobediência

ao mandamento de Deus, caso comesse do fruto

proibido, que daquela sentença de morte, Deus traria ainda vida, e vida em abundância ao

homem morto espiritualmente em seus delitos

e pecados.

Jamais o diabo cogitaria que o próprio Deus

pagaria na pessoa de Seu Filho, o preço exigido

para a redenção do pecado e a remoção da morte do mundo.

A morte seria vencida pelo autor da vida, com a

Sua própria morte, e como Satanás poderia cogitar um tal plano de redenção em que o

próprio Deus se disporia a morrer por amor ao

homem, e ainda por cima, de um homem agora

Page 72: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

72

corrompido pelo pecado, e transgressor dos

mandamentos de Deus?

O diabo não podia pensar que um Deus tão

elevado, poderoso, glorioso e majestoso, se

humilhasse e se dispusesse a tal ponto de assumir a forma de homem e de servo, para

morrer em tal condição, em favor de míseros

pecadores.

Satanás estava cheio de ódio contra Deus por ter

sido expulso para sempre do céu, e por ter recebido uma sentença de morte espiritual

eterna. E jamais poderia imaginar que Deus

pudesse perdoar transgressores da Sua vontade

tal como ele, a saber, o diabo.

Então, ao atacar a criação perfeita na pessoa de

Eva, ele tencionava atacar o próprio Deus.

Ele já havia enganado e arrastado a muitos anjos juntamente com ele, enquanto ainda se

encontrava no céu. E agora procuraria produzir

estragos na criação de Deus na terra.

Na verdade, ele continua operando

incansavelmente neste seu trabalho,

procurando produzir tudo o que está ao seu alcance para trazer miséria, destruição e

corrupção ao mundo e a tudo o que ele contém.

Com isto ele está agravando e em muito a

sentença de condenação contra ele, e ele sabe

muito bem disto.

Até o momento do proferimento da maldição

não havia nenhuma luta entre o homem e o diabo. Adão e Eva tinham seguido a Satanás. Não

havia nenhuma hostilidade entre eles. Não

havia nenhuma inimizade lá. E não é dito que

Page 73: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

73

eles fugiram da serpente depois da queda

procurando se esconder do diabo. Ao contrário

é dito que fugiram da presença de Deus

tentando se esconder entre as árvores do jardim. E o diabo deve ter se regozijado

antecipadamente num triunfo pleno que ele de

fato não chegaria a ter, pois não imaginava que Deus se proveria de muitos filhos, incontáveis

como as estrelas do céu, dentre os pecadores

caídos.

Na maldição proferida por Deus contra Satanás,

há uma possível profecia indicando a futura conversão de Eva. O diabo pensou que teria Eva

do seu lado para sempre, mas quando Deus lhe

disse que Ele colocaria uma profunda inimizade

entre a mulher e o diabo, pode estar também incluída aqui a conversão de Eva.

Ela, por um momento, havia se tornado inimiga

de Deus por causa do pecado, mas ela poderia,

pela misericórdia e graça de Deus vir a se converter e assim voltar a ter comunhão com

Deus, e consequentemente ser inimiga do

diabo.

Temos nas palavras de Eva proferidas em Gên 4.1, em que tributou glória a Deus no

nascimento do seu filho primogênito, Caim,

uma indicação desta sua possível conversão:

“adquiri um varão com o auxílio do Senhor.”.

Depois de Caim ter assassinado Abel, a mesma Eva viria a declarar em relação a nascimento de

sete: “Deus me concedeu outro descendente em

lugar de Abel, que Caim matou.” (Gên 4.25).

Page 74: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

74

Há nestas palavras algum indício de inimizade

contra Deus?

Ao contrário, parecem ser palavras de quem

tinha o temor do Senhor.

Estas foram palavras proferidas por Eva depois

da maldição da serpente.

Que duro golpe não seria para Satanás a

conversão de Eva, e quão duro golpe é para ele a

conversão de todos aqueles que ele consegue

enganar por algum tempo mantendo debaixo da sua influência na condição de inimigos de Deus.

É possível que até o próprio Adão tenha se convertido a Deus, porque vemos Abel sendo

temente a Deus e agindo de acordo com as

ordens de Deus, e provavelmente todos os

primeiros descendentes de Adão e Eva aprenderam acerca da bondade e do amor de

Deus através do relato de seus pais.

A Maldição da Mulher (Gênesis 3.16)

“E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os

sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores

darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu

marido, e ele te governará.” (Gên 3.16).

Deus estava projetando originalmente que as

mulheres teriam filhos e que esses filhos

trariam às mulheres tristeza e dor física, tristeza na hora do nascimento, e então tristeza

assistindo a luta daquele pequeno ser, contra

todas as ameaças que vêm contra a sua vida e

Page 75: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

75

todas as coisas que podem afligir e quebrar o

coração de uma mãe.

O desígnio original de Deus era isso? Não. Tudo

isso é parte da maldição. Isso é o que Gên 3.16

está dizendo. Isso faz parte da maldição; isso não faz parte do desígnio original de Deus.

A mulher foi amaldiçoada na esfera do seu trabalho, na esfera da sua vida; na relação com

os filhos e o seu marido.

As dificuldades com os filhos e as dores que

se sofre nesta área, a dor física e emocional e às

vezes uma dor espiritual profunda, e a luta com o marido, não fazia parte do que Deus pretendeu

no princípio.

Isso é um resultado do pecado, e da maldição

que Deus fez a Eva.

Isto lhe viria como consequência do pecado.

A primeira parte da maldição é em relação aos

filhos. A segunda parte está relacionada ao

marido. Nesta primeira parte, é dito

literalmente: "'Em dor você terá os seus filhos”. E na segunda parte: “o teu desejo será para o teu

marido, e ele te governará.”.

Assim, as mulheres foram amaldiçoadas para

sofrerem nas duas relações mais significativas

da maioria delas, a saber, relacionamento com os filhos e relacionamento com os maridos.

Esses realmente são os dois reinos nos quais as mulheres geralmente acham a sua vida, porque

a maioria delas está vocacionada por Deus para

ser esposa e mãe.

Deus criou Adão e Eva, originalmente no jardim

em perfeição e sem pecado.

Page 76: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

76

Deus falou com a mulher com a maldição que foi

destinada a ela para servir como uma

lembrança constante do seu pecado.

É em princípio uma lembrança para todas as

mulheres do horror do pecado, não para acusação, mas para reconhecimento da

condição de pecado, para que haja confissão,

arrependimento e salvação, porque sem o

convencimento do pecado, não se pode receber a graça que liberta do pecado.

Podemos dizer então que a maldição no caso da mulher e do homem, não foi para o mal, mas

para uma boa finalidade, a saber, a da redenção

da humanidade.

A mulher quer ter paz, alegria, amor e harmonia

no relacionamento com seu marido e filhos, mas para tê-lo, depois do pecado, deverá buscar

tudo isso vivendo para Cristo.

Se ele não edificar o lar, em vão será todo o seu

trabalho e esforço em tal sentido, porque

somente Cristo pode libertar do poder e

escravidão do pecado, que impede um viver abençoado em plenitude.

Isto quer dizer que a vida da mulher que está

vencendo os efeitos da maldição que há no

mundo é marcada por fé em Deus, por amor

sincero a Deus, por santificação, pureza de vida e domínio próprio.

Esta é a marca com que uma mulher piedosa produzirá filhos piedosos. E com isso a sua dor

será grandemente reduzida, pela bênção de

Deus em sua vida, neste mundo de trevas.

Page 77: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

77

Entretanto, como já dissemos, nem toda dor,

sofrimento, decepção, serão retirados, pois não

há quem não peque e que não necessite da

disciplina e da instrução do Senhor.

Como aprenderemos humildade e paciência se não formos contraditados, injustiçados,

perseguidos, desamparados?

Como experimentaríamos a realidade do

cuidado de Deus se não tivéssemos em que ser

socorridos?

Em quê perceberíamos a necessidade de

mudarmos nosso comportamento, e mais do que o comportamento exterior, as atitudes

internas do nosso coração, se não

percebêssemos, pela graça do Senhor, no que

temos errado em relação à edificação da vida de nosso cônjuge e filhos?

Por isso, os problemas em família são também

oportunidades para mudança e crescimento

espiritual, pelo aprendizado e prática das

virtudes que estão na própria pessoa de Cristo.

E assim, Deus faz com que tudo coopere para o

bem daqueles que Lhe ama, sejam circunstâncias favoráveis ou adversas, porque

estarão sempre produzindo um fruto pacífico de

justiça e de refinamento de caráter e de fé.

Agora, vejamos a segunda parte da maldição

que se refere à relação da mulher com o seu marido: “o teu desejo será para o teu marido, e

ele te governará.”.

"O teu desejo será para o teu marido.". Isto

significa que o desejo dela vai ser algo negativo,

algo que reflete separação e alienação.

Page 78: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

78

Até este ponto foi posta inimizade entre a

serpente e a mulher. Foi posta inimizade entre o

homem e a terra. E é posta inimizade entre a

esposa e o seu marido.

Ela não pode fazer o que ela deseja. Ela não vai viver a própria vida dela totalmente

independente, porque o marido dela rege sobre

ela.

Tudo que ela deseja está sujeito à vontade dele.

Ela nem sempre adquirirá o que ela quer.

Ela vai ter que suportar a tristeza da insatisfação.

Lembre, antes de prosseguirmos, que isso será experimentado, sempre que não estiver debaixo

do governo de Cristo.

Somente o Senhor pode modificar este quadro,

colocando satisfação no coração em toda e

qualquer circunstância.

Olhemos agora para as particularidades do idioma que expressa o conflito. "'Seu desejo será

para o seu marido.". Agora, falemos sobre a

palavra "desejo". Significa “busca de controle”.

Literalmente, poderia ser lido: “você buscará ter o controle de tudo”.

O pecado produziria isto naquela submissão

voluntária da mulher antes da queda.

Em vez dela, haveria naturalmente na mulher,

em sua natureza terrena, esta inclinação para

governar o marido, invertendo assim o que fora planejado por Deus desde o princípio.

Você desejará fazer prevalecer sua vontade. Isso

é um sinal da maldição do pecado que está no

mundo desde a queda.

Page 79: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

79

Somente em Cristo, este desejo pode ser

revertido em sincera submissão.

Este comportamento seria uma consequência do próprio pecado na mulher, e não

propriamente da maldição proferida por Deus.

Você desejará estar no controle, dominar. E então, a consequência disto é que seu marido

reagirá com domínio, governo, em vez de

liderança amorosa.

A Maldição do Homem (Gênesis 3.17-19)

“17 E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos

à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que

te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela

todos os dias da tua vida.

18 Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e

comerás das ervas do campo.

19 Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado;

porquanto és pó, e ao pó tornarás.”

Na maldição da mulher relativa a seus filhos e

marido, temos a indicação indireta de que o

reino da mulher casada é o seu lar. E nos versos 17 a 19 nós vemos qual é o reino do homem, pois

foi designado a ele a atribuição de obter o

sustento da sua família lavrando a terra.

O homem passaria também a ter dificuldades no

trabalho que deveria fazer para obter o sustento

de sua família, porque a terra produziria cardos

Page 80: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

80

e abrolhos, que é uma referência a ervas

daninhas e espinhos.

A causa da maldição do homem é declarada por

Deus: “Visto que atendeste à voz de tua mulher,

e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: maldita é a terra por tua causa...”.

Houve uma razão para o efeito especial que foi

projetado para ser um castigo particular

colocado no homem como uma lembrança da severidade do pecado. A razão porque ele fez isto

foi porque ele escutou a voz da sua esposa, em

lugar da voz de Deus.

Ele decidiu fazer o que ela queria que ele fizesse,

em lugar do que Deus lhe ordenou que fizesse. É bom conhecer os desejos da esposa; é bom

satisfazer os pedidos da esposa. Mas não quando

ela está pedindo que o marido desobedeça a

Deus.

Ela sabia o que Deus tinha dito. Mas ela queria

que ele comesse. Ela tinha feito isto debaixo da ilusão que ela conheceria o bem e o mal agora;

que ela seria como Deus. Este era um ato de

autoexaltação. Ela queria que ele fizesse isto. E

ele escutou a voz dela, em lugar do mandamento de Deus. Ele fez o que a sua esposa queria que ele

fizesse. E foi como se Deus dissesse: "'Porque

você escutou a voz de sua esposa no lugar da voz

de Deus. Porque em lugar de regê-la, você deixou que ela o regesse. Em lugar de mostrar a

ela através do exemplo o que era certo,

obedecendo a Deus, você seguiu o exemplo

Page 81: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

81

dela de desobediência a Deus. Em lugar de

honrar a Deus, você honrou sua esposa, que, em

vez de honrar a Deus, honrou a serpente.”.

A consequência disso é que a terra permanece

sob maldição, e não há outro modo de se obter

boas safras agrícolas a não ser mediante muito trabalho e esforço.

Por isso Deus disse a Adão: “maldita é a terra por tua causa: em fadigas obterás dela o sustento

durante os dias de tua vida. Ela produzirá

também cardos e abrolhos, e tu, comerás a erva

do campo. No suor do rosto comerás o teu pão”.

Assim, somente o trabalho honesto num mundo

de pecado se torna uma bênção. E as dificuldades para o homem vencer em seu

trabalho são um duplo reforço de bênção já que

estamos num mundo de pecado e sujeitos ao

pecado.

O trabalho mantém a mente e as mãos ocupadas

naquilo que é útil e não pecaminoso.

O coração fica fortalecido e Deus derrama a sua

bênção sobre aquele que trabalha.

Mas o ocioso pode facilmente se dispor para a

prática do mal, e a ocupar o seu pensamento com o que é vão e pecaminoso.

Assim, essa maldição específica, num mundo

pecado, é uma proteção para o homem com seu coração pecaminoso, e não algo para

atormentá-lo e levá-lo à ruína.

O ideal seria que não houvesse fadiga, esforço,

tristeza em seu trabalho, mas isto somente seria

adequado num mundo sem pecado.

Page 82: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

82

Certamente as mãos que não estiverem

ocupadas no que é útil, poderão mais facilmente

ocupar-se de cousas com as quais não deveriam

se envolver.

Isto se aplica tanto ao pão material, quanto ao espiritual, porque sem diligência, trabalho,

especialmente para viver dentro do padrão

estabelecido por Deus em Sua Palavra, a graça

que está disponível em Jesus, de pouco ou nada nos beneficiará, porque o Senhor tem amarrado

à Sua bênção à quebra da maldição, pelo esforço

em diligência.

A Promessa da Redenção

(Gênesis 3.20-24) “20 Chamou Adão à sua mulher Eva, porque era

a mãe de todos os viventes.

21 E o Senhor Deus fez túnicas de peles para

Adão e sua mulher, e os vestiu.

22 Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem

se tem tornado como um de nós, conhecendo o

bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua

mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente.

23 O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden para lavrar a terra, de que fora tomado.

24 E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma

espada flamejante que se volvia por todos os

lados, para guardar o caminho da árvore da

vida.”

Page 83: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

83

O jardim do Éden simbolizava o céu na terra; e

assim, em razão do pecado, o homem não

poderia permanecer no Éden, porque ninguém

pode permanecer em pecado no céu.

Isto é claramente ensinado aqui, em figura.

Então o homem foi expulso do Éden, e

querubins, que são guardiões da santidade de

Deus foram colocados à entrada do jardim, para que o homem soubesse que ele não pode estar

no local da habitação de Deus, enquanto estiver

sob o pecado.

Mas a redenção, que é segundo a fé, e com base na misericórdia e graça de Deus, pode dar ao

homem caído a oportunidade de ser restaurado,

e habilitado a retornar ao paraíso, isto é, ao local

da habitação do homem, que é também a morada de Deus. E o modo de se ter isto, está

ensinado de forma compactada em Gên 3.20,21.

Jesus prometeu ao ladrão na cruz, que havia se

arrependido, que o conduziria ao paraíso.

Aqui nesta passagem de Gênesis é provável e quase certo que nós tenhamos a primeira

revelação da promessa do evangelho em ação,

salvando pela fé a Adão, que recebeu, depois

deste posicionamento de fé, uma cobertura adequada para a sua nudez física, preparada não

por ele e nem por Eva, mas pelo próprio Deus,

que fez túnicas de peles para ambos, que exigiu

o sacrifício de animais, e consequentemente derramamento de sangue.

Um ato de fé em Deus fez com que fossem

cobertos com a justiça de Cristo, que seria a

única vestimenta apropriada para cobrir de

Page 84: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

84

justiça a todos os que nele creem, desde que o

pecado entrou no mundo.

Nós temos no versículo 20, anterior ao que fala

da cobertura com as túnicas de peles (v.21), uma

possível evidência do porque ter Deus preparado uma tal vestimenta que, diga-se de

passagem, foi aceita por Adão e por Eva, pois, se

estivessem do lado da serpente, lhe dando

crédito na mentira que havia proferido, eles se apresentariam em rebelião contra Deus.

Eles estavam debaixo do pecado, sentindo as consequências e influências do pecado, como

qualquer pessoa depois deles, mas haviam

provavelmente se reconciliado com Deus, pela

fé, como se dá com todos os que nEle creem.

Como dissemos, há uma forte evidência para a conversão de Adão, logo posteriormente à

queda, uma vez que ele deve ter presenciado e

ouvido a maldição contra a serpente, a qual

conforme já estudamos antes, afirma que haveria inimizade entre a mulher e a serpente, e

entre a descendência da mulher e a da serpente,

e que o descendente da mulher lhe esmagaria a

cabeça.

Ora, isto, trouxe provavelmente a Adão a fé que

salva.

Ele demonstrou ter crido nesta promessa de Deus, e por conseguinte, no próprio Deus, uma

vez, que, ato contínuo, deu, o próprio Adão, o

nome de Eva à sua mulher.

Até aquele momento ela não tinha um nome

próprio específico.

Page 85: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

85

Adão se sentiu inspirado a lhe dar o nome

naquela hora, que é para nós uma forte e

provável evidência da sua fé, pois este nome, no

hebraico, como está no original, significa “vida”.

Ele creu que haveria vida, porque Deus, apesar

de terem sido amaldiçoados, manteve a ordem de que ele e sua esposa fossem fecundos e se

multiplicassem; e o melhor de tudo, haveria

uma grande oportunidade para eles, de serem

inimigos da serpente, e gerar Aquele que viria depois deles, como descendente de Eva, para

esmagar a cabeça da serpente.

Isto é maravilhoso, não é verdade?

Adão que tinha amizade com Deus no Éden, antes da queda, não tinha, no entanto, fé em

Deus, tanto que não deu crédito a Deus e confiou

nas palavras da serpente.

Mas, agora, apesar de pecador, tendo quebrado

aquela perfeição de comunhão, por causa do

pecado, ele expressa fé em Deus, e naquilo que ainda não era visível e concretizado.

Ele creu na promessa de Deus, e colocou o nome de “Vida” em sua esposa.

Ele não era pai de ninguém, e nem Eva era mãe de ninguém, até aquele momento, e Adão creu

em Deus e na Sua palavra.

A fé é por isso, o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se

veem (Hb 11.1), e quanto à importância da fé,

Jesus disse diante da incredulidade de Tomé que felizes são os que não viram e creram.

Por isso sem fé é impossível agradar a Deus.

Page 86: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

86

É também por isso que se declara que é por meio

da fé que vive o justo.

A vida eterna é por fé, porque é somente por ela

que podemos expressar a nossa confiança em

Deus.

Confiança plena no Seu caráter, naquilo que Ele

é.

Plena certeza na Sua fidelidade, especialmente para cumprir Suas promessas.

Neste texto de Gênesis 3.20-24 estão resumidos os componentes necessários para a salvação.

Aqui é apresentada a teologia da redenção, tanto

pelo lado do homem, quanto pelo lado de Deus.

Do lado do homem, são apresentados fé e

arrependimento.

Do lado de Deus é apresentada substituição.

O homem crê com um coração penitente, e

Deus provê substituição para o pecador crer na eternidade.

A salvação dos pecadores, a libertação deles do pecado, sempre foi por fé e arrependimento; e

por substituição e pelo poder de Deus para nos

justificar e nos afiançar a vida eterna.

A substituição aqui referida é a de que Deus

provê um substituto para cobrir o nosso pecado.

Os animais que foram sacrificados para cobrir a

nudez de Adão e Eva, tipificavam o sacrifício de Jesus que foi sacrificado para cobrir o nosso

pecado.

Assim, a salvação do lado do homem requer fé.

Mas do lado de Deus, requer substituição para

satisfação da Sua justiça e santidade.

Page 87: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

87

O versículo 21 diz que Deus fez túnicas de peles

para Adão e Eva e os vestiu com elas. Antes de

qualquer outro comentário queremos deixar

destacado o fato de que a Bíblia diz que foi Deus mesmo quem os vestiu.

Ele não somente fez as túnicas como também os

vestiu.

O que eles fizeram foi somente aceitar aquilo

que Deus tinha preparado para eles.

Deus já preparou para nós uma vestimenta de

justiça apropriada para cobrir o nosso pecado: a

justificação que é por meio da fé em Jesus.

Adão e Eva não tiveram que pagar pela veste que

Deus fez para cobri-los.

De igual modo a justiça de Jesus para todo pecador que nEle creia é também pela graça de

Deus.

O pecador não tem nada que fazer senão

somente aceitar a justiça que lhe está sendo

oferecida gratuitamente por Deus.

Será o próprio Deus, pelo Seu poder, que

justificará e salvará o pecador. Este, tão somente

deve aceitar aquilo que Deus já preparou para ele.

Aqui nós temos então novamente a iniciativa

soberana de Deus, dantes buscando o homem

perdido no jardim, e agora preparando uma

vestimenta de peles para Adão e Eva, e os vestindo.

Eles não haviam pedido isto, e nem sequer sabiam que era possível fazer uma vestimenta

mais apropriada com peles de animais do que

com folhas de figueira.

Page 88: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

88

Eles não participaram disto.

Deus fez tudo sozinho. Assim são os meios de

salvação.

Jesus consumou a Sua obra sozinho, sem

qualquer participação do homem, quanto aos meios que são necessários para livrá-lo do

pecado e torná-lo um filho de Deus. Ele agiu em

graça para com o pecador.

Page 89: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

89

Gênesis 4

A História de Caim (Gênesis 4:1-16)

“1 Conheceu Adão a Eva, sua mulher; ela

concebeu e, tendo dado à luz a Caim, disse:

Alcancei do Senhor um varão.

2 Tornou a dar à luz a um filho -a seu irmão Abel. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da

terra.

3 Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da terra

uma oferta ao Senhor.

4 Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou o

Senhor para Abel e para a sua oferta,

5 mas para Caim e para a sua oferta não atentou.

Pelo que irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe

o semblante.

6 Então o Senhor perguntou a Caim: Por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante?

7 Porventura se procederes bem, não se há de

levantar o teu semblante? e se não procederes

bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.

8 Falou Caim com o seu irmão Abel. E, estando

eles no campo, Caim se levantou contra o seu

irmão Abel, e o matou.

9 Perguntou, pois, o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? Respondeu ele: Não sei; sou eu

o guarda do meu irmão?

10 E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue de

teu irmão está clamando a mim desde a terra.

Page 90: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

90

11 Agora maldito és tu desde a terra, que abriu a

sua boca para da tua mão receber o sangue de

teu irmão.

12 Quando lavrares a terra, não te dará mais a

sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra.

13 Então disse Caim ao Senhor: É maior a minha

punição do que a que eu possa suportar.

14 Eis que hoje me lanças da face da terra; também da tua presença ficarei escondido;

serei fugitivo e vagabundo na terra; e qualquer

que me encontrar matar-me-á.

15 O Senhor, porém, lhe disse: Portanto quem

matar a Caim, sete vezes sobre ele cairá a

vingança. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse quem quer que o

encontrasse.

16 Então saiu Caim da presença do Senhor, e

habitou na terra de Node, ao oriente do Éden.”

Adão foi criado diretamente por Deus, e Eva foi

criada a partir de uma costela de Adão. Caim foi

a primeira pessoa que nasceu no mundo como

fruto da união do homem com a sua mulher. Com o nascimento de Abel foram ambos, os

primeiros irmãos no mundo.

Nós temos na história de Caim o primeiro crime

do mundo.

O principal propósito da revelação com a

história de Caim é nos apresentar o primeiro

homem que permaneceu como amigo da serpente, o diabo, sendo contado na sua

descendência, por sua semelhança moral com

ele, dando-se assim início ao cumprimento da

Page 91: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

91

maldição que Deus proferiu contra Satanás, que

ele teria também uma descendência que se

oporia e seria inimiga daqueles que seriam

contados como descendência daquele que descenderia da mulher no futuro e que

esmagaria a cabeça do diabo, a saber, nosso

Senhor Jesus Cristo.

A história de Caim é a história de um réprobo, a

história de um homem impenitente. É a história daqueles que rejeitam a salvação graciosa de

Deus, por meio da qual são tornados seus

amigos.

Caim se tornou o modelo, o protótipo de todos aqueles que permanecem como inimigos de

Deus para sempre, como lemos na epístola de

Judas, verso 11: “Ai deles! Porque prosseguiram

pelo caminho de Caim...”

E em I João 3.12:

"Caim que era do maligno e assassinou a seu irmão; e porque assassinou? Porque as suas

obras eram más, e as de seu irmão, justas.”

Não levou muito tempo, aparentemente, para o

caráter de Caim ser revelado, assim como o de

Abel.

Esta revelação foi manifestada numa ocasião de

adoração.

A Bíblia distingue aqueles que amam o pecado daqueles que o detestam.

Aqueles que são amigos do diabo, daqueles que

são seus inimigos.

Aqueles que amam as trevas, daqueles que

amam a luz.

Page 92: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

92

Na verdade, de um modo geral, senão total, a

humanidade se encontra naturalmente em

inimizade contra Deus, e é resgatada desta

condição devida ao pecado original, pela graça e misericórdia do Senhor, na conversão.

Assim, apesar da inimizade contra Deus ser

transitória naqueles que a Ele se convertem, ela

permanece intacta e eterna naqueles que seguem obstinadamente nas mesmas pegadas

de Caim.

É bem provável que o maior motivo da rejeição

da oferta de Caim por Deus esteja relacionado ao fato de não ter obedecido à ordem de Deus de

que trouxesse um sacrifício de animal ao altar,

para o propósito de que ficasse ensinado em

figura que a cobertura do pecado seria através do derramamento do sangue de uma vítima

inocente, apontando-se assim para o sacrifício

vicário (substitutivo) de Jesus.

Tendo trazido frutos da terra no lugar de um

animal, Caim estava frustrando o propósito de Deus, e não poderiam, portanto, ser aceitos

tanto ele, quanto a sua oferta.

Agora, é importante destacar que assim mesmo

ele foi alvo da graça e da longanimidade do Senhor, pois que Deus arrazoou com ele quanto

ao fato de ter ficado irado em razão da rejeição

da oferta, dizendo que não era justificável

aquele comportamento, uma vez que ele seria também seguramente aceito caso procedesse

corretamente.

Está aqui a razão de não serem aniquilados todos

aqueles que não servem a Deus pelo modo que

Page 93: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

93

Ele tem determinado nas Escrituras. É porque o

Senhor é longânimo e lhes dá oportunidade

para arrependimento, e isto, na maior parte dos

casos, através de longos e longos anos de vida.

Tal qual, Deus colocou uma marca em Caim,

depois que matou Abel, para que não fosse

assassinado.

Parece um paradoxo, mas não é, pois a ele seria

demonstrada toda a longanimidade do Senhor, para que ficasse patenteado tanto aos homens

quanto aos anjos, que o próprio Caim seria o

único responsável direto pela sua condenação.

Vivendo na impiedade e na desobediência enquanto a graça que conduz ao

arrependimento estava ao seu alcance, ele

demonstraria que os filhos da perdição, como

Judas, não se converterão jamais, ainda que lhes seja dado participar da mesma mesa do Senhor,

e de desfrutar de todo o Seu amor e cuidado,

conforme ficou bem patenteado no caso de

Judas em relação a Jesus.

A referência à gordura das primícias do rebanho

oferecido por Abel, indica que Ele trouxe à

presença de Deus o que havia de melhor no seu

rebanho, pois trouxe o mais gordo que aparentemente era o mais saudável, e não o

fraco e doente. Com isto dava testemunho que

Deus é digno de receber o melhor.

Isto fala de generosidade, de gratidão, de

reconhecimento, e por isso se diz na Bíblia que através da sua oferta, Abel alcançou

testemunho de que era justo, porque o próprio

Deus deu testemunho da qualidade da sua

Page 94: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

94

oferta, que comprovava a genuinidade da sua fé

(Hb 11.4).

Fé de que dependia do sangue daquele sacrifício

para ser aceito por Deus. E que dependia e necessitava da cobertura do sacrifício (o de

Cristo, do qual aquele era figura) para ser

livrado do pecado e da morte que é consequente

do pecado.

Por isso está escrito que Deus se agradou não somente da oferta de Abel, mas também do

próprio Abel, em razão da sua obediência e

reconhecimento que dependia dos meios de graça estabelecidos pelo próprio Deus para ser

aceito por Ele.

A sua fé, a confiança no que Deus havia

determinado para tal aceitação, foi de fato o

motivo de ter agido em obediência, fazendo estritamente o que lhe foi ordenado.

A sua aprovação não foi resultante tanto da

simples apresentação do sacrifício certo e

exigido, quanto foi do seu espírito voluntário e de obediência.

Isto é uma grande verdade, pois não raro Deus

repreendeu a nação de Israel através dos

profetas, apesar de estarem apresentando os

sacrifícios exigidos e prescritos na lei, mas não da forma correta, a saber, com espírito

voluntário e contrito, no caso de oferta pelo

pecado, e com espírito alegre e também

voluntário no caso das ofertas pacíficas. Em resumo: para Deus não vale apenas a ação, pois

também pesa principalmente a intenção e o

espírito com que agimos.

Page 95: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

95

Por isso Deus não se agradou apenas da oferta de

Caim, mas do próprio Caim, que não somente

deixou de apresentar o que foi requerido, como

também o fez por motivos e com o espírito errado.

João diz que as obras de Caim eram más porque

ele era do maligno.

Quando Deus perguntou a Caim no verso 6:

“Por que te iraste e por que está descaído o teu semblante?”

Ele não estava procurando ser informado,

porque Ele nunca precisa de qualquer

informação, pois tudo sabe e conhece, até o

mais recôndito dos nossos pensamentos. Com a pergunta feita Ele queria simplesmente incitar

Caim ao diálogo. Ele veio a Caim para que Ele

avaliasse as motivações do seu coração, e ponderasse acerca da sua ira contra Deus e seu

irmão. Deus lhe revelou que apesar de toda

aquela ira injustificada havia esperança de cura

para os seus sentimentos. Havia aquela fonte de graça para ser apropriada pela fé, a saber, a

cobertura do sangue de Jesus, tipificado naquela

oferta que Caim se recusava a apresentar, e que

apontava para o único meio que pode reconciliar qualquer pecador com Deus.

Aqui, no exemplo deixado na história de Caim,

Deus está revelando que a oportunidade de

salvação está aberta para todos os pecadores, e

por isso ninguém poderá desculpar-se do fato de não ter se arrependido e crido, porque a Palavra

da fé que pregamos não está distante que não se

possa alcançar, mas está perto do pecador, junto

Page 96: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

96

de sua boca e do seu coração, esperando tão

somente que ele atenda ao convite de Deus que

o convoca ao arrependimento e à conversão.

É por isso que se ordena da parte de Deus que se pregue o evangelho a toda criatura debaixo do

céu. O evangelho ordena a todos e em toda parte

que se arrependam e creiam em Cristo para a

remissão dos pecados.

Ao afirmar que qualquer que matasse Caim

seria vingado sete vezes, Deus quis indicar que

faria com que a morte de Caim fosse vingada

perfeitamente caso alguém o matasse. Com isto Ele demonstra o quanto é contra o crime de

assassinato e que todo o que matar pela espada

(violência) pela espada será morto.

Isto e um princípio de justiça em Deus, a quem

pertence a vingança.

Nem com isso Caim se arrependeu do seu crime

de assassinato, e ainda por cima este foi

agravado, por ter sido contra um justo que era o

seu próprio irmão.

Com isto, Deus não estava instituindo um

privilégio para o assassino, como se estivesse

abençoando e protegendo Caim, mas para

mostrar um princípio pelo qual tinha em vista especialmente preservar a raça humana da

destruição pela violência, de forma que pelo

temor do juízo e da maldição de Deus, os

homens evitassem praticar o mal contra o seu próximo. Afinal, está claramente revelado por

Ele na Sua Palavra o modo como amaldiçoou

Caim em razão do seu crime de assassinato.

Page 97: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

97

A Família de Caim (Gênesis 4.16-24)

“16 Então saiu Caim da presença do Senhor, e

habitou na terra de Node, ao oriente do Éden.

17 Conheceu Caim a sua mulher, a qual

concebeu, e deu à luz a Enoque. Caim edificou

uma cidade, e lhe deu o nome do filho, Enoque.

18 A Enoque nasceu Irade, e Irade gerou a

Meujael, e Meujael gerou a Metusael, e

Metusael gerou a Lameque.

19 Lameque tomou para si duas mulheres: o

nome duma era Ada, e o nome da outra Zila.

20 E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que

habitam em tendas e possuem gado.

21 O nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai

de todos os que tocam harpa e flauta.

22 A Zila também nasceu um filho, Tubal-Caim,

fabricante de todo instrumento cortante de

cobre e de ferro; e a irmã de Tubal-Caim foi Naamá.

23 Disse Lameque a suas mulheres: Ada e Zila, ouvi a minha voz; escutai, mulheres de

Lameque, as minhas palavras; pois matei um

homem por me ferir, e um mancebo por me

pisar.

24 Se Caim há de ser vingado sete vezes, com

certeza Lameque o será setenta e sete vezes.”

Nós temos aqui um relato adicional sobre Caim,

e o que aconteceu depois que ele foi rejeitado

por Deus.

No verso 16 nós lemos que Caim saiu da

presença do Senhor, isto é, ele renunciou a Deus

Page 98: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

98

voluntariamente e contente em não ter que

viver debaixo dos seus preceitos.

Ele rejeitou o temor de Deus e dos seus

mandamentos, e nunca mais veio a estar na companhia dos justos, pois o seu prazer estava

exatamente no oposto daquilo que diz o Salmo

primeiro em relação ao homem que é bem-

aventurado.

Caim se empenhou para confrontar aquela

parte da maldição pela qual ele foi feito um

fugitivo e errante, porque ele escolheu a sua

terra (Node) a leste do Éden, em algum lugar distante onde Adão e sua família piedosa

residiam, fazendo assim com que a sua

descendência estivesse distante do

acampamento dos santos e daqueles que temiam a Deus.

Isto é bem verdadeiro que não agrada àqueles

que odeiam a Deus, estar na companhia

daqueles que O amam, ainda que veja nestes,

somente a intenção de lhes fazer o bem.

O temor a Deus e o testemunho de uma vida

santa são uma ofensa para o homem perverso,

porque ele não quer ter nenhum governo de

Deus e não quer fazer qualquer outra vontade senão a sua própria vontade.

Era justamente a leste do Éden que estavam os

querubins e a espada flamejante (3.24) e foi

exatamente lá que Caim escolheu a sua morada, como que para desafiar e afrontar os terrores de

Deus.

Mas a tentativa dele de superar a maldição que

lhe foi imposta por Deus foi vã, porque assim

Page 99: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

99

como a palavra Node significa exílio, tremor,

assim como a inquietude e intranquilidade

ininterruptas do seu espírito.

Repare que aqueles que saem da presença de

Deus não podem achar mais descanso em

qualquer lugar que seja. Depois que Caim saiu da presença do Senhor, ele nunca descansou.

Aqueles que fecharam para si mesmos as portas

do céu terão um tremor perpétuo.

No verso 17 nós lemos que Caim construiu uma

cidade para sua habitação. Ele estava

construindo uma cidade, com uma maldição

sobre ele de que seria errante sobre a face da terra.

Se ele tivesse se arrependido e tivesse se humilhado, esta maldição poderia ter se

transformado numa bênção, como a da tribo de

Levi, de que eles deveriam ser divididos em Jacó

e deveriam ser espalhados em Israel; mas o coração impenitente dele caminhando ao

contrário do de Deus, e decidindo fixar-se num

lugar, contra aquilo que Deus havia

determinado para ele, fez com que a possibilidade da bênção fosse definitivamente

afastada e consolidada numa maldição.

Para sufocar os clamores de uma consciência culpada, e para desviar os seus pensamentos da

consideração da sua miséria, Caim se entregou

aos afazeres da construção de uma cidade. O

barulho de martelos e de tudo o mais que há numa construção seria buscado para tal

propósito. Ainda que inconscientemente esta é

a razão de muito ativismo entre aqueles que se

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100

afastam da presença de Deus e que não têm paz

em suas almas. Eles geralmente prosperam

materialmente em razão do modo como

procuram se refugiar no trabalho.

A prosperidade material, desta forma, muitas

vezes não é uma indicação segura da bênção de

Deus sobre a vida. Ao contrário, pode ser

exatamente o resultado de se buscar muitas ocupações pela falta de paz no coração. Tal foi o

caso da família de Caim. Gênesis dá conta de

sete gerações a partir dele. O filho de Caim tinha

o mesmo nome, mas não o mesmo caráter daquele homem santo que andou com Deus e foi

arrebatado, a saber, Enoque. (v.22).

Enoque gerou a Irade, que gerou Meujael, que

gerou a Metusael, que gerou a Lameque. Este Lameque tomou para si duas mulheres: o nome

duma era Ada, e o nome da outra Zila. De Ada

nasceu Jabal; que foi o pai dos que habitam em

tendas e possuem gado. Ada gerou também a Jubal; que foi o pai de todos os que tocam harpa

e flauta. E da segunda mulher de Lameque, Zila

nasceu Tubal-Caim, fabricante de todo

instrumento cortante de cobre e de ferro; e a irmã de Tubal-Caim chamava-se Naamá.

Nós temos aqui alguns particulares relativos a

Lameque, o sétimo descendente de Adão na

genealogia de Caim.

Observamos que foi este Lameque o primeiro a transgredir a lei original do matrimônio de que

marido e mulher deveriam ser uma só carne.

Até aqui um homem tinha somente uma esposa

de cada vez; mas Lameque teve duas.

Page 101: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

101

Desde o princípio não era assim. Mal. 2.15; Mat.

19.5. Aqui nós vemos que aqueles que

abandonam a igreja e os mandamentos de

Deus ficam abertos a toda forma de tentação, e quando um costume ruim é começado por

homens ruins, até mesmo homens de caráter

melhor são induzidos a seguir o seu mau exemplo, como foi o caso de Jacó, Davi, e outros,

que apesar de serem homens justos ficaram

enlaçados neste pecado que Lameque havia

iniciado.

Agora, o que reparamos no breve relato que Deus ordenou a Moisés para registrar acerca

dos descendentes de Caim até a família de

Lameque, destaca-se apenas a industriosidade

material e habilidades terrenas daqueles cabeças de família, e o pecado daquele com o

qual a narrativa sobre Caim e sua descendência

é fechada.

Não há ali uma só nota referindo-se à santidade,

obediência, fé, boas obras, enfim de qualquer valor espiritual, celestial e eterno,

relativamente a eles.

O autor sagrado se fixa em detalhar as

habilidades daqueles que descenderam deste

homem perverso chamado Lameque, e não de nenhum dos que são citados anteriormente, e

disto deduzimos o possível propósito de Deus

em querer demonstrar que a sua bondade é

demonstrada mesmo ao injusto e à sua descendência, como no caso de Lameque e seus

filhos, mas em vez deles tirarem proveito desta

bondade manifestada a eles, ao contrário

Page 102: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

102

somente fizeram agravar a pena dos seus

pecados em face do seu não arrependimento,

por colocarem a sua confiança não no Senhor,

mas na instabilidade das riquezas e dos dons terrenos (I Tim 6.17-19).

Veja que é apenas nas coisas mundanas a única coisa que as pessoas que não amam a Deus, que

não O amam e servem, fixam seus corações.

Jesus alertou e ensinou abundantemente sobre isto. Assim se deu com a parentela do

amaldiçoado Caim. Eles seguiram, ao que

parece, os passos do seu pai. Eles estavam

dispostos a serem hábeis nas artes e em seus ofícios, mas nada em ensinar e viver o

conhecimento do bom Deus.

Eles estavam dispostos a serem ricos,

poderosos, felizes segundo o mundo, mas nada

de Deus e do temor devido a Ele.

Calvino destaca, comentando a respeito das

habilidades de Jabal, filho de Lameque, no

manejo de Gado (v.20); das de Jubal, seu irmão,

nas artes, e especificamente na música instrumental de harpa e flauta; e também as de

outro filho de Lameque com sua segunda

esposa, chamado Tubalcaim, que era artífice de

instrumentos cortantes de ferro e bronze; que Moisés destacou com os males que procederam

da família de Caim, algum bem misturado a todo

aquele mal, porque a invenção de artes e de

outras coisas que servem ao uso comum e à conveniência da vida, é dom de Deus, que de

nenhuma maneira deve ser menosprezado, e

uma faculdade merecedora de louvor.

Page 103: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

103

É verdadeiramente maravilhoso, que esta raça

que tinha caído profundamente da integridade

pudesse desenvolver dons raros.

Porém, a Bíblia deixa claro ao se referir aos dons

distribuídos à família de Caim que ele não foi totalmente amaldiçoado por Deus e que alguns

dons ainda seriam distribuídos à sua família.

Por princípio o Senhor também revela nisto que

os filhos não levam sobre si a iniquidade de seus

pais, ainda que Deus, em Sua sabedoria, para propósitos santos e elevados, possa em perfeito

exercício de juízo, em perfeita justiça, visitar a

iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e

quarta geração, nos casos em que julgar e determinar fazê-lo.

Nos versos 23 e 24 vemos Lameque dizendo o seguinte às suas duas esposas:

“ouvi a minha voz; escutai, mulheres de

Lameque, as minhas palavras; pois matei um

homem por me ferir, e um mancebo por me

pisar. Se Caim há de ser vingado sete vezes, com certeza Lameque o será setenta e sete vezes.”

Veja quão prepotentemente ele fala com suas esposas, esperando da parte delas uma grande

consideração e elogio.

Ele se vangloria do fato de ter cometido dois

assassinatos por motivos banais, por se

imaginar elevado demais para que pudesse ser ofendido por aqueles que certamente ele não

considerava como seus semelhantes, por se

julgar muito superior a eles.

Ele já havia demonstrado isto com sua

disposição em quebrar a lei divina do

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104

matrimônio, por achar que merecia mais do que

uma esposa.

”Matei um homem porque me feriu e um rapaz

porque me pisou.” Estas são as palavras vangloriosas de Lameque para se referir aos

crimes que cometeu. Mas, para ele não era um

crime. Ele se considerava acima de tudo uma

vítima, porque aqueles homens que matara não haviam percebido a sua excelência intocável.

Ele conhecia a forma como Deus havia marcado

Caim, seu ancestral, para que ninguém o

matasse, vingando a morte de Abel.

Certamente, Lameque entendeu erroneamente

daí, que havia uma proteção especial sobre a

descendência de Caim para que pudesse matar

livremente, sem correr o risco de alguém vingar a morte da vítima deles, porque Deus não o

permitiria.

Este deveria ser certamente o pensamento

deste homem perverso, pois considerava que

tinha uma cobertura muito maior do que a que Caim havia recebido, para praticar o mal.

O fato é que, como já comentamos

anteriormente, Deus não havia dado a Caim um

salvo conduto para o crime que havia praticado e nem mesmo para continuar na prática do

mal.

Em Fp 3.19 Paulo se refere ao tipo de pessoas que

se gloriam exatamente na sua própria infâmia, naquilo que é vergonhoso, e este era o caso de

Lameque.

Parece que ele falou daquele modo às suas

esposas, porque conhecendo elas a sua

Page 105: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

105

inclinação para o mal, e a sua facilidade em se

ressentir com qualquer tipo de provocação,

deviam temer que a qualquer momento ele

acabaria sendo morto por algum oponente, e por isso ele lhes disse que não temessem por ele

porque assim como Caim seria vingado sete

vezes, ele seria muito mais, isto é, setenta vezes sete, segundo o seu dizer.

Praticamos o mal e não morremos. Praticamos o

mal e não fomos enfermados. Saímos com isso

da presença de Deus, tal como se deu com Caim. Mas para muitos vem o perverso pensamento:

“Mas o que importa, já que Deus nos tem

preservado em vida?”

Mas graças a Deus que por meio de nosso Senhor Jesus Cristo veio nos revelar a natureza

celestial que devemos cultivar em nossos

corações, porque em vez de abrigarmos

ressentimentos devemos estar dispostos, não para que Deus nos vingue setenta vezes sete dos

males que nos fazem os nossos inimigos, mas

para que nos conceda, pela Sua graça a estarmos numa atitude mansa e compassiva de quem está

disposto a perdoar setenta vezes sete (Mt 18.2).

O Nascimento de Sete (Gênesis 4.25,26)

“25 Tornou Adão a conhecer sua mulher, e ela

deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete;

porque, disse ela, Deus me deu outro filho em lugar de Abel; porquanto Caim o matou.

26 A Sete também nasceu um filho, a quem pôs

o nome de Enos. Foi nesse tempo, que os

Page 106: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

106

homens começaram a invocar o nome do

Senhor.”

Adão e Eva estavam colhendo o fruto amargo do

pecado que haviam cometido no Éden e pelo qual sujeitaram toda a raça à ruína. Eles

perderam dois filhos num só dia, um que foi

assassinado, e o outro que foi sujeitado a

vaguear pela terra, deixando o lar de seus pais para sempre. Quando os pais são afligidos pelo

pecado que veem em seus filhos, eles deveriam

achar ocasião para lamentar aquela corrupção que é derivada da natureza deles, como uma raiz

de amargura.

Mas nós achamos aqui nestes dois versículos

um consolo para Adão e Eva em sua aflição,

porque o Senhor tornou a reconstruir a família deles, dando-lhes um filho que se tornaria justo

pela fé nEle, tal qual Abel, e assim seria o

exemplo de fé e obediência deste filho, a quem

eles deram o nome de Sete, seria seguido pelo filho que seria gerado por ele, Enos, e de tal

modo, que em seus dias e certamente pela

forma consagrada que servia a Deus, houve um

avivamento do Espírito entre eles, e naquela geração os homens buscavam a face de Deus

para fazer a Sua vontade.

O nome de Deus era invocado, isto significa que

eles oravam e buscavam ter comunhão com Ele.

Esta geração certamente haveria de deixar a sua marca nas gerações seguintes, de modo que de

Enos, descenderam homens como Enoque, que

foi arrebatado, e o próprio Noé.

Page 107: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

107

É por isso que o galardão do justo é contado

mesmo depois da sua morte, porque até

gerações depois deles são abençoadas pelo seu

exemplo de vida.

Não era somente a reconstrução da família de Adão e Eva, pelos interesses privativos deles,

que se encontrava em jogo, mas pelo interesse

supremo de Deus de conduzir adiante o plano de

salvação do pecador perdido.

A história da redenção não seria através de

Caim, mas de Sete.

O descendente da mulher que esmagaria a cabeça da serpente viria ao mundo através da

descendência de pessoas de fé, e por isso; justas

diante de Deus, porque o homem é justificado

unicamente pela fé.

É particularmente isso que a revelação dada a

Moisés e que está registrada em Gênesis, particularmente nas genealogias, quer marcar.

Veja que a genealogia que segue até Jesus é

marcada nos descendentes que amaram e

temeram a Deus, e não naqueles que O

desprezaram.

Veja o caso de Esaú e Jacó, filhos de Isaque.

Não foi Esaú, que era o primogênito, o que foi

eleito por Deus, mas Jacó, porque Esaú desprezou a sua primogenitura e não era um

homem de fé, tal como Jacó.

O caminho para Cristo é um caminho de vida e

não de morte.

A vida é mediante a fé, que crê em tudo o que

Deus disse ou diz, e que se dispõe a pô-lo em

prática.

Page 108: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

108

Assim, Deus escolheu para incluir na

genealogia de Seu Filho, não pessoas poderosas,

sábias segundo o mundo, mas pessoas como

Raabe, que antes de ser escolhida era uma prostituta, e que se tornou uma mulher de

grande fé no Senhor, como que para marcar que

Cristo é para todo aquele que se arrepender dos seus pecados e crer no evangelho, que mostra

que o homem deve se converter e viver para

Deus, em santidade de vida.

Assim, deveria se contar a partir de Sete, nesta

semente de fé, dada a Adão e Eva, que a igreja do Deus vivo deveria ser construída e perpetuada,

pela sucessão de confessores e mártires.

A descendência da serpente pode levar ao

martírio aqueles que são da descendência de Cristo.

Todos os que têm matado os servos de Deus, por

inspiração do diabo, ao longo de toda história da

humanidade sobre a face da terra, esperam com

isto afastar os santos do Altíssimo, sem saberem que nem mesmo a morte pode mais separar do

amor de Deus que está em Cristo Jesus - todos

aqueles que amam a Deus.

Este foi o engano de Caim quando matou Abel. Pensou que seu irmão deixaria de existir e assim

interromperia a comunhão que havia entre ele

e Deus.

Mas Abel vive e viverá para sempre ao lado do Seu amado Senhor.

De igual modo se enganam todos aqueles que

pensam também que deterão a obra de Deus

matando um justo, porque Deus é poderoso para

Page 109: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

109

levantar outro em seu lugar, para dar

continuidade à Sua obra, como se vê no caso de

Sete que foi dado a Eva para estar no lugar de

Abel, em quem, provavelmente poderia estar marcada a descendência de Cristo, caso não

tivesse sido assassinado por Caim.

Sete não poderia ser removido da face da terra,

ainda que pelo esforço de todo o inferno contra ele, porque havia sido determinado pelo Todo-

Poderoso que seria fixada nele a genealogia do

nosso Salvador e Senhor.

Por isso recebeu o nome profético Seth, que significa, fixo, colocado, determinado, porque

na sua descendência, através de Cristo, os que

se convertem a Deus viverão por toda a

eternidade.

Enquanto Caim, o cabeça da apostasia, é feito um errante, Sete, de quem a verdadeira igreja

viria, é fixado.

Cristo e a Sua igreja são o único e verdadeiro

edifício que permanece para sempre, que tem alicerce e colunas que jamais poderão ser

abalados.

Como dissemos, a partir de Enos, filho de Sete,

houve um reavivamento da fé, isto é, os homens que descenderam de Enos, em face da

impiedade vista em Caim e seus descendentes,

especialmente em Lameque, apegaram-se mais

firmemente ao Senhor e aos Seus mandamentos.

Deus faz com que o justo se apegue ainda mais à

verdade à vista da maldade que vê na vida dos

ímpios.

Page 110: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

110

Isto é, portanto, sabedoria que procede do

Senhor, em fazer com que os santos habitem

com os ímpios na face da terra.

Caim e aqueles que tinham abandonado a fé tinham construído uma cidade, e começado a

declarar a impiedade e falta de temor ao Senhor,

mas aqueles que na descendência de Sete, se

voltaram para Deus, começaram a invocar o seu nome.

Page 111: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

111

Gênesis 5

Genealogia de Adão a Noé (Gênesis 5)

“1 Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus

o fez.

2 Homem e mulher os criou; e os abençoou, e os

chamou pelo nome de homem, no dia em que foram criados.

3 Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um

filho à sua semelhança, conforme a sua

imagem, e pôs-lhe o nome de Sete.

4 E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos; e gerou filhos e filhas.

5 Todos os dias que Adão viveu foram

novecentos e trinta anos; e morreu.

6 Sete viveu cento e cinco anos, e gerou a Enos.

7 Viveu Sete, depois que gerou a Enos,

oitocentos e sete anos; e gerou filhos e filhas.

8 Todos os dias de Sete foram novecentos e doze

anos; e morreu.

9 Enos viveu noventa anos, e gerou a Quenã.

10 viveu Enos, depois que gerou a Quenã,

oitocentos e quinze anos; e gerou filhos e filhas.

11 Todos os dias de Enos foram novecentos e

cinco anos; e morreu.

12 Quenã viveu setenta anos, e gerou a Maalalel.

13 Viveu Quenã, depois que gerou a Maalalel,

oitocentos e quarenta anos, e gerou filhos e

filhas.

Page 112: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

112

14 Todos os dias de Quenã foram novecentos e

dez anos; e morreu.

15 Maalalel viveu sessenta e cinco anos, e gerou

a Jarede.

16 Viveu Maalalel, depois que gerou a Jarede,

oitocentos e trinta anos; e gerou filhos e filhas.

17 Todos os dias de Maalalel foram oitocentos e noventa e cinco anos; e morreu.

18 Jarede viveu cento e sessenta e dois anos, e gerou a Enoque.

19 Viveu Jarede, depois que gerou a Enoque, oitocentos anos; e gerou filhos e filhas.

20 Todos os dias de Jarede foram novecentos e

sessenta e dois anos; e morreu.

21 Enoque viveu sessenta e cinco anos, e gerou a

Matusalém.

22 Andou Enoque com Deus, depois que gerou a

Matusalém, trezentos anos; e gerou filhos e filhas.

23 Todos os dias de Enoque foram trezentos e

sessenta e cinco anos;

24 Enoque andou com Deus; e não apareceu

mais, porquanto Deus o tomou.

25 Matusalém viveu cento e oitenta e sete anos,

e gerou a Lameque.

26 Viveu Matusalém, depois que gerou a

Lameque, setecentos e oitenta e dois anos; e

gerou filhos e filhas.

27 Todos os dias de Matusalém foram

novecentos e sessenta e nove anos; e morreu.

28 Lameque viveu cento e oitenta e dois anos, e

gerou um filho,

Page 113: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

113

29 a quem chamou Noé, dizendo: Este nos

consolará acerca de nossas obras e do trabalho

de nossas mãos, os quais provêm da terra que o

Senhor amaldiçoou.

30 Viveu Lameque, depois que gerou a Noé,

quinhentos e noventa e cinco anos; e gerou

filhos e filhas.

31 Todos os dias de Lameque foram setecentos e

setenta e sete anos; e morreu.

32 E era Noé da idade de quinhentos anos; e

gerou Noé a Sem, Cão e Jafé.”

A genealogia aqui registrada está inserida na

genealogia de nosso Salvador (Lc 3.36-38), e tem

o propósito de revelar que Cristo é a "semente da

mulher" que foi prometida.

Quando Adão morreu, seu filho Sete tinha

oitocentos anos, porque ele gerou Sete quando

tinha cento e trinta anos, e morreu com novecentos e trinta anos.

O propósito da narrativa destas genealogias não

é o de destacar todos os descendentes de Adão,

mas de apontar a linha de descendência de onde tinha provindo Noé, o homem que foi

preservado com sua família da destruição geral

que Deus trouxe sobre a terra no dilúvio, e com os quais a terra seria repovoada e do qual

descenderia obrigatoriamente o Messias,

através da linhagem de um dos três filhos de

Noé, chamado Sem.

O texto bíblico afirma que Adão gerou um filho

à sua imagem, conforme à sua semelhança, e

certamente isto não indica que se tratava da

Page 114: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

114

condição de estar sem pecado como era a

condição de Adão no Éden, antes da queda, pois

que desde que ele pecou toda a sua

descendência é concebida em pecado, conforme se afirma no Sl 51.5.

Sete era, portanto um pecador tanto quanto o

seu pai. Tendo perdido aquela santidade

original, Adão ficou impedido de transmiti-la à sua descendência.

A graça não é transmitida de forma natural e

assim um pecador gera um pecador.

Assim, Sete não é incluído na genealogia de Noé,

e, por conseguinte, de Cristo, não porque fosse perfeitamente santo, mas porque era um

daqueles que são justificados pela fé e passam a

ter paz com Deus, por serem reconciliados com

Ele, através do sacrifício de Jesus Cristo.

Relativamente aos quatro patriarcas na

sucessão direta da genealogia de Sete (Enos,

Quenã, Maalalel e Jarede); inclusive ao próprio

Sete, o texto bíblico não faz qualquer menção especial, entretanto nós podemos supor que

eles eram homens eminentes e devotados a

Deus, pois que foi Jarede que gerou Enoque,

aquele que foi arrebatado por Deus, e que certamente aprendeu o modo de se servir a

Deus através do testemunho de seus ancestrais,

que por viverem muitos anos, eram

contemporâneos uns dos outros em várias gerações.

Além disso, o registro sequencial das

genealogias nos ajuda a fixar a cronologia desde

a criação do primeiro homem, de modo que

Page 115: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

115

podemos entender que a criação é jovem e não

muito antiga conforme afirmam os

evolucionistas.

De todos os que são citados na genealogia é dito

o tempo que eles viveram e que morreram, à exceção de Enoque, do qual se diz que andou

com Deus e já não era porque Deus o tomou para

Si.

Deus fez com Enoque o mesmo que fez com

Elias. Com o arrebatamento de Enoque Deus

quis sem dúvida marcar o ensino de que há uma imortalidade em comunhão eterna com Ele

reservada para aqueles que andam em Sua

presença fazendo a Sua vontade, e isto serviria

de consolo e encorajamento para viverem na prática da justiça todos aqueles santos que

voltavam ao pó, na morte, de modo a saberem

que poderoso é o Senhor para ressuscitar os

corpos dos justos, e de que há uma vida melhor reservada para eles do que esta que eles vivem

neste mundo.

Enoque gerou Matusalém e lhe deu um nome

profético, porque a raiz deste nome, em

hebraico, significa morrer.

Foi exatamente Matusalém o homem que viveu

mais anos na terra (969).

Qual pois a razão deste nome? Isto pode ser

entendido no fato de que ele morreu

exatamente no ano do dilúvio, quando toda a carne, com exceção de Noé e aqueles que

estavam com ele, foi destruída pelas águas do

dilúvio.

Page 116: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

116

Deus pode ter designado este nome para

Matusalém como um sinal indicativo de que

quando aquele homem morresse, a morte

visitaria toda a humanidade, porque o nome profético deste homem significa morrer.

Enoque teria facilmente discernido o propósito

de Deus com este nome profético para o seu

filho Matusalém, porque Enoque andava com Deus, e o que é a piedade senão um caminhar

com Deus?

A comunhão exige acordo espiritual. Por isso

Deus declara através do profeta Amós como pode ser possível dois andarem juntos se não

houver acordo entre eles?

Enoque andava com Deus porque estava de

acordo com a vontade de Deus. Caminhar com

Deus é fixar sempre Deus diante de nós, e agir como aqueles que sempre estão debaixo do Seu

olhar. É fazer da Palavra de Deus a nossa regra e

a Sua glória, conforme Ele exige e ordena na Sua

própria Palavra.

Enoque caminhou com Deus. Enquanto outros

viveram para si mesmos e para o mundo,

Enoque viveu para Deus. O Senhor era a sua

alegria e sustento. A comunhão com Deus era melhor do que a vida para ele, tal como Paulo

que disse que para ele o viver era Cristo (Fp 1.21).

Não foi logo depois que gerou Matusalém aos 65

anos de idade que ele foi arrebatado, mas

trezentos anos depois, e isto pode indicar que a sua fé e devoção aumentaram com o passar do

tempo, porque viveu mais trezentos anos sobre

a terra, sendo arrebatado aos trezentos e

Page 117: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

117

sessenta e cinco anos. Grandes santos chegam à

sua eminência através de graus. Os pecadores

são transformados pelo fortalecimento da sua fé

de glória em glória, através do crescimento na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus

Cristo.

Um verdadeiro santo perseverará até o fim, e

caminhará com Deus enquanto ele viver, com a

esperança de que estará para sempre com ele,

pois o Espírito Santo incentiva todo crente autêntico à perseverança.

Como Enoque não viveu como os demais, ele não morreu como eles (v. 24): Ele já não era,

porque Deus o levou; quer dizer, como está

explicado em Hb 11. 5, ele foi trasladado para não

ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara, pois obteve testemunho de ter

agradado a Deus por causa da sua fé.

Aqueles cujo testemunho no mundo é de

santidade e cuja conversação é santa, terão uma

trasladação feliz, ainda que na morte, porque o

Senhor tem feito a promessa de que aqueles que são dele, ainda que morram, viverão, e não terão

do que se lamentar todos aqueles que procuram

viver de modo que Lhe seja verdadeiramente

agradável.

Lameque, filho de Matusalém, neto de Enoque,

gerou Noé aos cento e oitenta e dois anos e lhe deu o nome de Noé, que no hebraico significa

consolo, descanso, e daí ter dito quando lhe deu

este nome:

Page 118: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

118

“Este nos consolará dos nossos trabalhos, e das

fadigas de nossas mãos, nesta terra que o

Senhor amaldiçoou.”

Aqui está a reclamação de Lameque quanto ao

estado calamitoso da vida humana. Pela entrada de pecado, e o vínculo da maldição com o

pecado, nossa condição ficou muito miserável:

nossa vida inteira é gasta em canseiras e

trabalhos.

Lameque vê no nascimento de Noé uma

esperança de alívio para não somente para a sua casa, mas até mesmo para a raça humana.

Não no sentido de que aqueles homens ímpios

teriam algum tipo de lucro com o nascimento de

Noé, mas que é provável que tenha havido

profecias relativas ao nascimento de Noé, indicando que nele haveria uma renovada

esperança para o homem em seu estado

pecaminoso.

Certamente isto apontava para o repovoamento

da terra, através da semente de Noé, e pela

influência do seu testemunho sobre os seus descendentes, especialmente na linhagem de

Sem, de modo que pudesse ser preservada a

raça humana, no sentido geral, até a chegada do

Messias prometido que esmagaria a cabeça da serpente.

Se Cristo é nosso o céu é nosso.

Isto seria possível porque o Senhor proveu para Si este homem de fé e que andava em retidão,

chamado Noé, com o qual reiniciaria a história

da humanidade no mundo, reassinalando a

Page 119: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

119

esperança de salvação para os pecadores que

viessem a se arrepender e a crerem em Deus.

Page 120: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

120

Gênesis 6

O Dilúvio

“1 Sucedeu que, quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram

filhas,

2 viram os filhos de Deus que as filhas dos

homens eram formosas; e tomaram para si

mulheres de todas as que escolheram.

3 Então disse o Senhor: O meu Espírito não permanecerá para sempre no homem,

porquanto ele é carne, mas os seus dias serão

cento e vinte anos.

4 Naqueles dias estavam os néfilins na terra, e

também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes

deram filhos. Esses néfilins eram os valentes, os

homens de renome, que houve na antiguidade.

5 Viu o Senhor que era grande a maldade do

homem na terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má

continuamente.

6 Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o

homem na terra, e isso lhe pesou no coração

7 E disse o Senhor: Destruirei da face da terra o

homem que criei, tanto o homem como o animal, os répteis e as aves do céu; porque me

arrependo de os haver feito.

8 Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor.

9 Estas são as gerações de Noé. Era homem justo

e perfeito em suas gerações, e andava com Deus.

Page 121: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

121

10 Gerou Noé três filhos: Sem, Cão e Jafé.

11 A terra, porém, estava corrompida diante de

Deus, e cheia de violência.

12 Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu

caminho sobre a terra.

13 Então disse Deus a Noé: O fim de toda carne é

chegado perante mim; porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os destruirei

juntamente com a terra.

14 Faze para ti uma arca de madeira de gófer:

farás compartimentos na arca, e a revestirás de betume por dentro e por fora.

15 Desta maneira a farás: o comprimento da arca

será de trezentos côvados, a sua largura de

cinquenta e a sua altura de trinta.

16 Farás na arca uma janela e lhe darás um côvado de altura; e a porta da arca porás no seu

lado; fá-la-ás com andares, baixo, segundo e

terceiro.

17 Porque eis que eu trago o dilúvio sobre a terra, para destruir, de debaixo do céu, toda a carne

em que há espírito de vida; tudo o que há na terra

expirará.

18 Mas contigo estabelecerei o meu pacto; entrarás na arca, tu e contigo teus filhos, tua

mulher e as mulheres de teus filhos.

19 De tudo o que vive, de toda a carne, dois de

cada espécie, farás entrar na arca, para os conservares vivos contigo; macho e fêmea

serão.

20 Das aves segundo as suas espécies, do gado

segundo as suas espécies, de todo réptil da terra

Page 122: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

122

segundo as suas espécies, dois de cada espécie

virão a ti, para os conservares em vida.

21 Leva contigo de tudo o que se come, e ajunta-

o para ti; e te será para alimento, a ti e a eles.

22 Assim fez Noé; segundo tudo o que Deus lhe

mandou, assim o fez.”

Tudo relativo ao mundo antigo foi escrito para

nossa advertência, que participamos do novo mundo que seria formado a partir de Noé,

depois do dilúvio. Assim, o dilúvio é o maior

alerta dado por Deus a toda a humanidade de que a terra que hoje existe será destruída pelo

fogo por causa do pecado.

O mundo sempre esteve maduro para ser

submetido ao juízo de Deus por causa do pecado.

O mundo novo não é melhor do que o mundo antigo.

É somente por causa da longanimidade de Deus

que o juízo é retardado.

A mesma multiplicação da iniquidade, tal como ocorreu nos dias de Noé, há de trazer o juízo de

Deus sobre a terra, no momento oportuno

fixado por Ele, tal como fizera nos dias de Noé.

Assim farão bem todos os que se arrependerem

de seus pecados e crerem em Cristo para que possam escapar do grande juízo de Deus para o

qual somos alertados principalmente pelo juízo

que Ele trouxe sobre o mundo de pecado nos dias de Noé.

O Senhor o fez no passado para advertência de

todos os homens, depois de Noé, quanto ao que

haverá de ocorrer no futuro.

Page 123: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

123

Entretanto devemos lembrar que no mundo

novo opera a longanimidade, graça e

misericórdia de Deus, conforme promessa feita

a Noé, no capítulo oitavo.

Como o mundo velho foi arruinado para ser um monumento de justiça, assim este mundo novo,

depois de Noé, permanece até este dia, como

um monumento de misericórdia, de acordo

com o juramento de Deus, que as águas de Noé não devem mais retornar para cobrir a terra.

Por isso o Senhor declara o que lemos em Is 54.9,10:

“Porque isto é para mim como as águas de Noé;

pois jurei que as águas de Noé não mais

inundariam a terra, e assim jurei que não mais

me iraria contra ti, nem te repreenderia. Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão

removidos; mas a minha misericórdia não se

apartará de ti, e a aliança da minha paz não será

removida, diz o Senhor que se compadece de ti.”

São descritas aqui as coisas que ocasionaram a

maldade do mundo antigo:

O aumento do gênero humano. Os homens começaram a se multiplicar na face da terra.

Este era o efeito da bênção (Gên 1.28), mas a

corrupção do homem abusou e perverteu esta

bênção que foi se transformando numa maldição.

Assim o pecado pode achar ocasião na misericórdia e longanimidade de Deus, para

tornar os homens mais pecadores ainda, pelo

abuso desta longanimidade e misericórdia.

Page 124: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

124

O pecador geralmente confunde a bênção geral

de Deus que faz nascer o sol sobre justos e

injustos, como um ato de aprovação do pecado,

pois seria de se esperar somente juízos em face do pecado, e nenhuma bênção.

Mas o homem se esquece da longanimidade de

Deus, que o leva a abreviar ou retardar o juízo,

mas nunca suspendê-lo, pois todos darão contas

de todos os seus atos no futuro Tribunal de Deus.

Casamentos mistos (6.2) foram uma das

principais causas da corrupção do gênero

humano nos dias que antecederam o dilúvio.

Os filhos de Deus, quer dizer, os líderes da

verdadeira adoração, que eram chamados pelo

nome do Senhor, se casaram com as filhas dos homens, isto é, aqueles que eram profanos,

estranhos a Deus e à vida de piedade.

Diz-se filhas dos homens, porque seguiam nos

passos de seus pais, que não seguiam os

caminhos de Deus.

Eles faziam o que era da vontade do homem, da

sua própria vontade corrompida, e não o que era da vontade de Deus.

Eles não seguiram o exemplo da posteridade

santa de Sete, o exemplo de Enos, de Enoque, de

Matusalém, de Lameque, e do próprio Noé, mas

seguiram nos passos da descendência degenerada de Caim.

Quando os que temiam a Deus começaram a se casar com pessoas que não eram do Senhor e

não amavam o Senhor, tanto eles quanto seus

filhos ficaram debaixo de uma má influência

Page 125: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

125

que acabou por corromper toda a humanidade

sobre a face da terra.

O que estava errado nestes matrimônios? Eles

escolheram somente pela vista. Eles seguiram a escolha dos seus próprios afetos corrompidos.

Eles não buscaram conselho nem a direção de

Deus. Assim se colocaram no jugo desigual (II

Cor 6.14).

Por isso na lei que Deus deu a Israel, tais

casamentos mistos foram proibidos (Dt 7.3,4). e

foi exatamente isto, tais casamentos mistos, a

causa da apostasia de Salomão (I Rs 11.1-4).

Aqueles que professam serem amigos de Deus não devem se casar com aqueles que são Seus

inimigos.

Quando lemos que Deus sujeitou à destruição

aqueles homens gigantes de renome, porque se corromperam casando-se com mulheres

ímpias, há aqui uma lição que devemos

ponderar, que todo o bem que Ele deseja fazer

aos homens encontra respaldo quando o homem lhe dá a resposta devida de uma vida

santa, assim como Ele preparou um jardim

maravilhoso para Adão no Éden, enquanto este

vivia sem pecado, e que de lá foi expulso quando pecou.

Esta é, portanto, uma mensagem muito clara da

parte de Deus para nós, que podemos esperar

desfrutar boas coisas da parte dEle e contar com a Sua bênção, quando vivemos de fato em

santidade de vida.

Por causa da maldade do homem que havia se

multiplicado na terra (6.5,6), Deus afirmou que

Page 126: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

126

Seu Espírito não agiria para sempre no homem,

e fixou um prazo de 120 anos para trazer o Seu

juízo de destruição sobre toda a carne (6.7,13).

O amor ao pecado sujeita a alma a uma condição extremamente perigosa, conforme a que é

citada em Romanos de ser entregue por Deus à

imundícia (1.24); às paixões infames (1.26); a uma

disposição mental reprovável que conduz a prática de coisas inconvenientes (1.28); por não

receber graça e a influência do Espírito Santo

para ser conduzido ao arrependimento.

Por isso a raiz do verbo usado no hebraico para o verbo da expressão que afirma que o Espírito

“não agirá para sempre no homem” tem o

significado do ato de se colocar a espada na

bainha.

A ideia é a seguinte: se é o Espírito que usa a Palavra de Deus para dividir junta e medula,

alma e espírito, Ele não faria mais este trabalho

até a vinda do dilúvio, e os homens ficariam

entregues à sua própria maldade, porque a figura usada é a de que o Espírito estaria fora de

atuação, assim como uma espada que está

embainhada.

Quando o Espírito Santo deixa de atuar entre o seu povo, todo esforço religioso será inútil. Uma

igreja sem o mover do Espírito é um organismo

sem vida.

O Espírito atuou quando Noé estava pregando (I Pe 3.19,20), mas foi em vão, como se vê no verso

20, porque eles foram desobedientes.

O Espírito Santo age no sentido de conduzir os

pecadores ao arrependimento, por meio de

Page 127: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

127

convencimento do pecado, da justiça e do juízo,

advertindo a consciência, para converter o

homem do pecado, para a obediência a Deus.

Mas se o Espírito é resistido, por muito tempo,

Ele é extinto, isto é, a sua atuação cessará, e os pecadores permanecerão endurecidos em seus

pecados por lhe terem resistido.

A razão da resolução de o Espírito parar de agir

no homem é declarada logo em seguida em 6.3:

“o homem é carnal”, isto é, incuravelmente

corrompido, sensual, inclinado para as coisas da carne e não às coisas do Espírito.

O pendor da carne dá para a morte, como se

afirma em Rom 8.6, e aquela morte física, em

razão de ser o homem carnal, seria uma figura

expressiva da morte espiritual e eterna, a que estão sujeitos todos aqueles que não têm o

pendor do Espírito, que dá para a vida e paz,

conforme se afirma no mesmo versículo de

Romanos.

É a natureza terrena corrompida pelo pecado, a

inclinação da alma para a carne que se opõe à operação do Espírito e a torna ineficaz.

Gênesis 6.4 nos dá conta que aqueles

casamentos mistos deram como resultado

homens valentes, varões de renome na

antiguidade.

É interessante observar que em vez disso

contribuir para algum bem, ao contrário, contribuiu para a multiplicação da maldade, e

há uma explicação para isto, pois é muito

comum que quando o poder do homem

Page 128: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

128

aumenta, ele fica sob a forte tentação de ser um

opressor violento e arrogante.

Foi exatamente isto o que ocorreu com aqueles

homens.

Eles eram gigantes e filhos de gigantes, e assim deixaram de reconhecer os direitos dos seus

vizinhos e os pisotearam bem como tudo o que

era sagrado e ordenado por Deus.

O bom nome dos pais deles foi arruinado porque

eles se inclinaram à influência das suas esposas ímpias e às famílias delas, que não tinham o

temor do Senhor.

Assim a maldade de certas pessoas realmente é

grande quando os pecadores mais notórios

forem os homens de renome entre eles.

As coisas se tornam piores quando os homens ruins não somente são honrados, bem como a

maldade deles, e os homens mais vis são

exaltados.

A maldade então aumenta quando os grandes

homens são ímpios.

A influência da maldade deles atingirá um grande número de pessoas, em razão da

grandeza deles.

Mas como Deus não olha para a aparência e a

grandeza dos homens, determinou trazer um

juízo sobre aqueles homens.

O Grande Juiz os julgaria de modo a pôr fim à maldade deles.

Ele viu que o desígnio dos seus corações era

continuamente mau, e isso era uma tristeza

para o coração santo, justo e amoroso de Deus.

Page 129: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

129

Eles não praticavam o mal por descuido ou

ignorância, mas deliberadamente e

imaginavam formas para aumentar a sua

prática perversa.

Assim, em Gên 6.6 está declarada a tristeza e a

ira de Deus em relação à maldade do homem.

Ele não viu isto como um espectador

desinteressado, mas como quem foi prejudicado e afrontado por isto.

Deus viu todas estas coisas como um pai terreno

vê a loucura e teimosia de um filho rebelde e

desobediente que o aflige, e o faz desejar que

seria melhor não ter tido filhos.

O fato de Deus ter se arrependido de ter criado o

homem, não significa que Ele tivesse feito

algum planejamento incorreto na deliberação

de ter criado a humanidade, tanto que sabemos que tudo corre exatamente como Ele havia

planejado nos Seus decretos eternos, mas é

usada uma expressão humana para descrever a

tristeza de Deus, no sentido de mostrar que a deliberação do homem viver em pecado, e de

não se arrepender e se converter à prática da

justiça pela fé no Senhor, é algo que não

corresponde ao Seu propósito relativo à criação do homem.

Deus criou o homem perfeito, sem pecado, com

faculdades e poderes nobres, e o homem estava

fazendo exatamente o oposto daquilo que se esperava dele, por um mau uso de tais

faculdades e poderes.

A razão, a mente, a vontade, que lhes foram

dados por Deus, principalmente para escolher e

Page 130: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

130

praticar o bem, estavam sendo usados para

imaginar o mal e praticá-lo.

Fazendo contraste com tudo isto, nós vemos a Palavra da revelação afirmando que Noé achou

graça diante do Senhor.

Isto é muito significativo, porque apesar de se afirmar no verso seguinte (6.9) que ele era um

homem justo e íntegro entre os seus

contemporâneos, e que andava com Deus, a

citação que achou graça diante do Senhor, indica que ele foi poupado não em razão da sua

própria justiça e integridade, mas por causa da

graça do Senhor, que pelo Espírito, forjou em

Noé tal justiça e integridade.

Foi a justiça que é pela fé, que o tornou agradável

a Deus, como lemos em Hebreus 11.7.

A este respeito, especialmente o Novo Testamento, revela muitas verdades sobre o

fato de que a justiça própria do homem é uma

grande ofensa para Deus, porque desde que

Adão pecou, não há mais no homem nenhuma justiça que possa produzir nele, no seu espírito,

a condição e o estado de piedade e santidade que

podem ser somente forjados pelo Espírito Santo.

Então, o conceito de bem segundo o homem,

não corresponde necessariamente ao conceito

de bem conforme ele é na verdade e conforme

se revela nas Escrituras, que é sempre o resultado de uma comunhão íntima e real em

obediência prática do homem com o Seu criador

divino.

Page 131: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

131

Noé não resistia ao Espírito de Deus,

diferentemente dos seus contemporâneos, e

por isso foi poupado.

Enquanto toda a humanidade rejeitava a misericórdia de Deus, Noé mergulhou

inteiramente nela e encontrou graça para ter

poder espiritual para viver na prática da justiça.

Enquanto todo o gênero humano havia se tornado objeto da ira de Deus, Noé era objeto do

Seu favor.

Provavelmente Noé não achou favor aos olhos

dos homens; eles o odiaram e o perseguiram, porque tanto pela sua vida quanto pela sua

pregação ele havia condenado o mundo.

Deus disse a Noé que faria perecer toda carne

debaixo dos céus, mas que faria com Noé a sua

aliança, no sentido de que o conservaria vivo juntamente com sua esposa, filhos e as esposas

de seus filhos, bem como com todos os animais

que estivessem na arca.

Para manter e preservar a vida Deus se interpõe com uma aliança, tal como agora, é na arca que

é Cristo, que estamos seguros da destruição

eterna, porque o Pai estabeleceu uma aliança

com o Filho de preservar em vida todos aqueles que estivessem unidos a Ele.

Somos assim, salvos porque permanecemos em

Cristo, juntamente ligados a Cristo, com quem o

Pai fez uma aliança eterna de salvar a todos aqueles que estivessem unidos a Ele.

É importante destacar que o trabalho de Deus

deve seguir as instruções que Ele nos dá. Veja

que no caso de Noé, as dimensões, os três

Page 132: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

132

andares e os compartimentos da arca foram

determinados pelo próprio Deus, e Noé fez

consoante a tudo que Deus lhe ordenara (6.22)

nos mínimos detalhes.

A obra do Senhor deve ser realizada de acordo com as medidas estabelecidas por Deus, as quais

devemos cuidadosamente observar.

É Ele quem estabelece as medidas e os limites e

não nós. Este é o segredo do sucesso de todo e

qualquer ministério: seguir estritamente a direção dada pelo Senhor.

Page 133: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

133

Gênesis 7

O Dilúvio

“1 Depois disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu

e toda a tua casa, porque tenho visto que és justo

diante de mim nesta geração.

2 De todos os animais limpos levarás contigo

sete e sete, o macho e sua fêmea; mas dos

animais que não são limpos, dois, o macho e sua fêmea;

3 também das aves do céu sete e sete, macho e

fêmea, para se conservar em vida sua espécie sobre a face de toda a terra.

4 Porque, passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites, e

exterminarei da face da terra todas as criaturas

que fiz.

5 E Noé fez segundo tudo o que o Senhor lhe

ordenara.

6 Tinha Noé seiscentos anos de idade, quando o dilúvio veio sobre a terra.

7 Noé entrou na arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos, por causa

das águas do dilúvio.

8 Dos animais limpos e dos que não são limpos, das aves, e de todo réptil sobre a terra,

9 entraram dois a dois para junto de Noé na arca,

macho e fêmea, como Deus ordenara a Noé.

10 Passados os sete dias, vieram sobre a terra as

águas do dilúvio.

Page 134: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

134

11 No ano seiscentos da vida de Noé, no mês

segundo, aos dezessete dias do mês, romperam-

se todas as fontes do grande abismo, e as janelas

do céu se abriram,

12 e caiu chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites.

13 Nesse mesmo dia entrou Noé na arca, e

juntamente com ele seus filhos Sem, Cão e Jafé,

como também sua mulher e as três mulheres de

seus filhos,

14 e com eles todo animal segundo a sua espécie, todo o gado segundo a sua espécie, todo

réptil que se arrasta sobre a terra segundo a sua

espécie e toda ave segundo a sua espécie,

pássaros de toda qualidade.

15 Entraram para junto de Noé na arca, dois a dois de toda a carne em que havia espírito de

vida.

16 E os que entraram eram macho e fêmea de

toda a carne, como Deus lhe tinha ordenado; e o

Senhor o fechou dentro.

17 Veio o dilúvio sobre a terra durante quarenta dias; e as águas cresceram e levantaram a arca,

e ela se elevou por cima da terra.

18 Prevaleceram as águas e cresceram

grandemente sobre a terra; e a arca vagava

sobre as águas.

19 As águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que havia

debaixo do céu foram cobertos.

20 Quinze côvados acima deles prevaleceram as

águas; e assim foram cobertos.

Page 135: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

135

21 Pereceu toda a carne que se movia sobre a

terra, tanto ave como gado, animais selvagens,

todo réptil que se arrasta sobre a terra, e todo

homem.

22 Tudo o que tinha fôlego do espírito de vida em suas narinas, tudo o que havia na terra seca,

morreu.

23 Assim foram exterminadas todas as criaturas

que havia sobre a face da terra, tanto o homem

como o gado, o réptil, e as aves do céu; todos

foram exterminados da terra; ficou somente Noé, e os que com ele estavam na arca.

24 E prevaleceram as águas sobre a terra cento e

cinquenta dias.”

Noé não trabalhou duramente na construção da

arca durante aqueles 120 anos, em busca de

prazeres presentes ou futuros, mas senão em

ser obediente a Deus e buscar somente a Sua glória divina.

Do mesmo modo fica para nós a pergunta: O que estamos buscando em nosso serviço a Deus?

Prazeres?

Acharmos a felicidade para nós mesmos?

Ou, como Noé estamos, sobretudo interessados

em vivermos para que Deus seja glorificado em

tudo que vivermos e fizermos?

Deus disse a Noé que reconhecia que ele era

justo diante dEle no meio daquela geração

perversa. O próprio Deus deu testemunho da honra e integridade de Noé. Assim Deus não

deixou que se perdesse aquele único grão de

trigo no meio de um grande monte de palha.

Page 136: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

136

O Senhor conhece os que são seus e os preserva.

Aqueles que se mantêm puros em tempos de

iniquidade terão a Deus como o seu castelo forte

na hora da calamidade.

Quando se cumpriram os 120 anos em que a

longanimidade de Deus aguardava para trazer o

dilúvio sobre a terra, Ele avisou Noé que em sete

dias começaria a chover, e Noé deveria, neste prazo de sete dias, começar a receber os animais

na arca, e depois de tê-los abrigado, o próprio

Deus fechou a arca quando se cumpriu o prazo

por Ele determinado.

Noé entrou na arca e Deus a fechou, e do mesmo

modo, quando Ele traz uma alma a Cristo, ele

assegura a sua salvação, e a porta que Deus

fecha ninguém pode abrir.

No dia 17 do segundo mês do ano em que Noé contava com a idade de 600 anos, a chuva

começou a cair sobre a terra e se diz que

inclusive as fontes subterrâneas de água

afloraram sobre face da terra.

As águas foram derramadas e afloraram à

superfície da terra por quarenta dias.

A tentativa de fugir subindo os altos montes foi

em vão porque as águas cobriram o cume dos montes.

Tentar fugir em cavernas que fossem

hermeticamente fechadas seria também em

vão, porque as águas prevaleceram sobre a terra

por cerca de um ano, e logo acabaria o suprimento de oxigênio, bem como não haveria

provisões suficientes para sustentar a vida em

tão longo período.

Page 137: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

137

Acrescente-se a isto que os ímpios foram

apanhados de surpresa quando começou o

dilúvio, porque eles não creram na pregação de

Noé sobre o juízo de Deus, e não se prepararam para escapar dele.

Jesus ensinou que ocorrerá a mesma coisa em

relação à sua segunda vinda para julgar o

mundo, porque muitos não creem que haverá um juízo sobre o pecado, e assim não se

preparam para escapar dele pelo

arrependimento e fé.

Tentar fugir em cavernas, em altos montes será em vão, porque o juízo é sobre o pecado, e

condenará todo aquele que não tiver sido

justificado e lavado dos seus pecados pelo

sangue de Cristo, por meio do arrependimento e da fé.

Não há nenhum lugar na terra tão alto e seguro

que esteja fora do alcance dos julgamentos de

Deus (Jer 49.16; Ob 3,4) pois a mão do Senhor descobrirá todos os seus inimigos (Sl 21.8).

Page 138: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

138

Gênesis 8

O fim do dilúvio

“1 Deus lembrou-se de Noé, de todos os animais

e de todo o gado, que estavam com ele na arca; e

Deus fez passar um vento sobre a terra, e as águas começaram a diminuir.

2 Cerraram-se as fontes do abismo e as janelas

do céu, e a chuva do céu se deteve;

3 as águas se foram retirando de sobre a terra;

no fim de cento e cinquenta dias começaram a

minguar.

4 No sétimo mês, no dia dezessete do mês,

repousou a arca sobre os montes de Arará.

5 E as águas foram minguando até o décimo

mês; no décimo mês, no primeiro dia do mês,

apareceram os cumes dos montes.

6 Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela

que havia feito na arca;

7 soltou um corvo que, saindo, ia e voltava até

que as águas se secaram de sobre a terra.

8 Depois soltou uma pomba, para ver se as águas

tinham minguado de sobre a face da terra;

9 mas a pomba não achou onde pousar a planta do pé, e voltou a ele para a arca; porque as águas

ainda estavam sobre a face de toda a terra; e Noé,

estendendo a mão, tomou-a e a recolheu

consigo na arca.

10 Esperou ainda outros sete dias, e tornou a

soltar a pomba fora da arca.

Page 139: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

139

11 À tardinha a pomba voltou para ele, e eis no

seu bico uma folha verde de oliveira; assim

soube Noé que as águas tinham minguado de

sobre a terra.

12 Então esperou ainda outros sete dias, e soltou

a pomba; e esta não tornou mais a ele.

13 No ano seiscentos e um, no mês primeiro, no

primeiro dia do mês, secaram-se as águas de sobre a terra. Então Noé tirou a cobertura da

arca: e olhou, e eis que a face a terra estava

enxuta.

14 No segundo mês, aos vinte e sete dias do mês, a terra estava seca.

15 Então falou Deus a Noé, dizendo:

16 Sai da arca, tu, e juntamente contigo tua

mulher, teus filhos e as mulheres de teus filhos.

17 Todos os animais que estão contigo, de toda a carne, tanto aves como gado e todo réptil que se

arrasta sobre a terra, traze-os para fora contigo;

para que se reproduzam abundantemente na

terra, frutifiquem e se multipliquem sobre a terra.

18 Então saiu Noé, e com ele seus filhos, sua

mulher e as mulheres de seus filhos;

19 todo animal, todo réptil e toda ave, tudo o que se move sobre a terra, segundo as suas famílias,

saiu da arca.

20 Edificou Noé um altar ao Senhor; e tomou de

todo animal limpo e de toda ave limpa, e ofereceu holocaustos sobre o altar.

21 Sentiu o Senhor o suave cheiro e disse em seu

coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra

por causa do homem; porque a imaginação do

Page 140: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

140

coração do homem é má desde a sua meninice;

nem tornarei mais a ferir todo vivente, como

acabo de fazer.

22 Enquanto a terra durar, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno,

dia e noite.”

Cinco meses exatos depois do início do dilúvio, a arca pousou sobre o monte Arará, onde fica

atualmente a Armênia, no dia 17 do sétimo mês.

Foi somente 40 dias após o primeiro dia do

décimo mês, que Noé soltou um corvo, por algum tempo, para verificar se havia terra seca

na base e ao redor do monte Arará.

Depois soltou uma pomba por alguns dias, e

num determinado dia, depois de ter esperado

sete dias, soltou a pomba e ela retornou com um ramo de oliveira no bico.

Noé ainda esperou outros sete dias e soltou a

pomba, e ela não mais retornou.

Assim, somente no dia primeiro do primeiro ano do ano 601, que as águas secaram sobre a

terra.

Mas foi somente no dia 27 do segundo mês, que

a terra estava seca, e foi quando Deus ordenou a Noé para sair da arca, isto é, um ano e 10 dias

depois, desde que havia começado o dilúvio no

dia 17 do segundo mês do ano 600.

Que admirável prova de paciência e de fé na tribulação que nos foi deixado por Noé.

Apesar de todas as dificuldades, do longo tempo

de prova e trabalhos sob circunstâncias difíceis

dentro da arca com todos aqueles animais, Noé

Page 141: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

141

não foi desapontado em sua esperança de

salvação divinamente prometida a ele.

O mesmo se dá com a esperança de salvação de

todos os que andam obedientemente a Cristo.

Eles guardam os mandamentos de Cristo e com

isto provam a si mesmos que O amam de fato e

que estão unidos a Ele, e assim, têm a certeza de

que não serão frustrados em sua esperança de salvação.

Quando Noé saiu da arca, ele edificou um altar

ao Senhor, e como havia sete pares de animais

limpos na arca, ele ofereceu de todo animal

limpo e de toda ave limpa holocaustos em sacrifício sobre aquele altar.

Tendo o sacrifício agradado ao Senhor, Ele fez a

promessa de não tornar a amaldiçoar a terra por

causa do homem, por causa da imaginação do coração do homem que é continuamente má, e

nem tornaria mais a ferir todo vivente, como

tinha feito, pois enquanto durasse a terra, não

deixaria de existir, sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.

Em primeiro lugar cabe destacar a importância

que o sacrifício tem na revelação feita por Deus

ao homem desde o princípio.

Ainda que fossem os sacrifícios de animais, uma figura do sacrifício de Jesus, estes foram usados

abundantemente nos dias do Antigo

Testamento, mesmo antes da lei de Moisés,

como uma ilustração que sem o derramamento do sangue de Jesus não haveria qualquer

remissão de pecadores, e nem estes poderiam

jamais ser agradáveis a Deus.

Page 142: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

142

O sacrifício cruento é central na reconciliação

do pecador com Deus, para a sua aproximação e

plena aceitação.

Sem esta justificação, purificação, remissão,

substituição, expiação, que são exclusivamente

mediante o sacrifício de Cristo, não haveria qualquer salvação e possibilidade de vida com

Deus por parte dos pecadores.

Tão importante era o sacrifício, que mesmo em face da escassez de espécimes para garantir a

continuidade da multiplicação de animais sobre

a terra, Noé entendeu que deveria oferecer por

fé, crendo que Deus era poderoso para preservar e multiplicar os animais que

restassem, toda a sorte de animais limpos e de

aves sobre o altar que construíra para

apresentar os sacrifícios exigidos por Deus, para que os homens soubessem até que Cristo viesse,

que necessitam do sacrifício expiatório e

vicário, para que sejam aceitos por Deus.

E, o ter oferecido Noé somente animais limpos

no altar, segundo o mandado de Deus, é muito

instrutivo quanto ao fato de que a cobertura do pecado seria feita por alguém inteiramente

santo, o que estava ilustrado na exigência da

parte de Deus que fossem sacrificados somente

aqueles animais que Ele havia designado como limpos, dentre aqueles que considerou

imundos.

Quando prometeu que nunca mais destruiria o mundo pelas águas do dilúvio, Deus

demonstrou que não havia se arrependido de

ter criado o homem, bem como não havia se

Page 143: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

143

arrependido de ter destruído toda a carne

debaixo do céu, e também não afirmou que

removeria as maldições proferidas por ocasião

do pecado original de Adão e Eva, mas que não acrescentaria nenhuma maldição adicional

àquela maldição, em razão dos pecados dos

contemporâneos de Noé que o levou a destruí-los com o dilúvio.

Ao fazer a promessa maravilhosa que temos no

final do capítulo oitavo de preservar a raça

humana, nós temos diante de nós, uma

afirmação da misericórdia e bondade divina, que está alegando que proveria uma graça

abundante de tal forma em Cristo, e agora

sabemos isto, pelo progresso da revelação, que

não viria jamais a exterminar a humanidade em sua totalidade.

A promessa de misericórdia feita a Noé em

relação à humanidade pecadora foi marcada por

Deus com um sinal visível (o arco-íris),

conforme veremos no capítulo seguinte (9), como lembrança perpétua da aliança que ele fez

com toda a humanidade através de Noé. Quão

maravilhosa e profunda é a revelação do caráter

bondoso e misericordioso do nosso Deus!

Ele quis mostrar que apesar de todos no mundo serem dignos da destruição imediata, por serem

pecadores diante de um Deus inteiramente

santo e justo, e como de fato são, pois o

demonstrou de forma bem clara no dilúvio, no entanto, por ser também amor, misericórdia e

longanimidade, partes essenciais do Seu caráter

divino, Ele suporta os pecadores com infinita

Page 144: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

144

paciência, dando-lhes a oportunidade de se

arrependerem; ainda que não possa

desconsiderar o pecado, inocentar o culpado;

em razão da Sua santidade e justiça.

Deus tem firmado a promessa de usar de

misericórdia em relação aos pecadores, por

saber que o pecado é algo ligado à natureza

humana e que não pode ser destruído mediante juízos, e a não ser pelo derramar da graça nos

corações que voluntariamente se consagram à

sua atuação, regenerando o pecador, através do

derramar do amor de Deus em seus corações pelo Espírito Santo.

A manifestação desta bondade, desta

disponibilidade de graça salvadora, seria

demonstrada ao despertar de cada manhã, trazendo a lembrança da promessa feita por

Deus a Noé de que “enquanto a terra durar, não

deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor,

verão e inverno, dia e noite.”

Page 145: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

145

Gênesis 9

“1 Abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-

lhes: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra.

2 Terão medo e pavor de vós todo animal da terra, toda ave do céu, tudo o que se move sobre

a terra e todos os peixes do mar; nas vossas mãos

são entregues.

3 Tudo quanto se move e vive vos servirá de

mantimento, bem como a erva verde; tudo vos

tenho dado.

4 A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu

sangue, não comereis.

5 Certamente requererei o vosso sangue, o

sangue das vossas vidas; de todo animal o

requererei; como também do homem, sim, da mão do irmão de cada um requererei a vida do

homem.

6 Quem derramar sangue de homem, pelo

homem terá o seu sangue derramado; porque

Deus fez o homem à sua imagem.

7 Mas vós frutificai, e multiplicai-vos; povoai

abundantemente a terra, e multiplicai-vos nela.

8 Disse também Deus a Noé, e a seus filhos com

ele:

9 Eis que eu estabeleço o meu pacto convosco e

com a vossa descendência depois de vós,

10 e com todo ser vivente que convosco está: com as aves, com o gado e com todo animal da

terra; com todos os que saíram da arca, sim, com

todo animal da terra.

Page 146: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

146

11 Sim, estabeleço o meu pacto convosco; não

será mais destruída toda a carne pelas águas do

dilúvio; e não haverá mais dilúvio, para destruir

a terra.

12 E disse Deus: Este é o sinal do pacto que firmo entre mim e vós e todo ser vivente que está

convosco, por gerações perpétuas:

13 O meu arco tenho posto nas nuvens, e ele será

por sinal de haver um pacto entre mim e a terra.

14 E acontecerá que, quando eu trouxer nuvens

sobre a terra, e aparecer o arco nas nuvens,

15 então me lembrarei do meu pacto, que está

entre mim e vós e todo ser vivente de toda a

carne; e as águas não se tornarão mais em dilúvio para destruir toda a carne.

16 O arco estará nas nuvens, e olharei para ele a

fim de me lembrar do pacto perpétuo entre

Deus e todo ser vivente de toda a carne que está

sobre a terra.

17 Disse Deus a Noé ainda: Esse é o sinal do pacto

que tenho estabelecido entre mim e toda a carne que está sobre a terra.

18 Ora, os filhos de Noé, que saíram da arca,

foram Sem, Cão e Jafé; e Cão é o pai de Canaã.

19 Estes três foram os filhos de Noé; e destes foi

povoada toda a terra.

20 E começou Noé a cultivar a terra e plantou

uma vinha.

21 Bebeu do vinho, e embriagou-se; e achava-se

nu dentro da sua tenda.

22 E Cão, pai de Canaã, viu a nudez de seu pai, e

o contou a seus dois irmãos que estavam fora.

Page 147: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

147

23 Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e

puseram-na sobre os seus ombros, e andando

virados para trás, cobriram a nudez de seu pai,

tendo os rostos virados, de maneira que não viram a nudez de seu pai.

24 Despertado que foi Noé do seu vinho, soube o

que seu filho mais moço lhe fizera;

25 e disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos será de seus irmãos.

26 Disse mais: Bendito seja o Senhor, o Deus de

Sem; e seja-lhe Canaã por servo.

27 Alargue Deus a Jafé, e habite Jafé nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo.

28 Viveu Noé, depois do dilúvio, trezentos e

cinquenta anos.

29 E foram todos os dias de Noé novecentos e

cinquenta anos; e morreu.”

Deus abençoou a Noé e a seus filhos (v 1), isto é,

Ele lhes assegurou de fazer o bem a eles, de

protegê-los, de guardá-los em segurança. É

exatamente isto que o Senhor faz em relação a todos os crentes que estão em Cristo Jesus.

Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e

os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas,

mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males (I Pe 3.12).

Vemos este cuidado de Deus para com os justos,

isto é, para aqueles que foram justificados pela

fé em Seu Filho, e que praticam obras de justiça, dignas de arrependimento, declarado nas

palavras de Jesus em Jo 17.11,12:

“Pai santo, guarda-os em teu nome... Quando eu

estava com eles, guardava-os no teu nome que

Page 148: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

148

me deste, e protegi-os, e nenhum deles se

perdeu, exceto o filho da perdição, para que se

cumprisse a Escritura.”

É do mesmo modo que abençoa a todos os que

creem em Cristo, que Deus abençoou a Noé e a seus filhos.

Abençoar significa: fazer e trazer o bem a; e a bênção de Deus para os seus filhos é especial,

porque inclui o cuidado e proteção a que nos

referimos anteriormente.

Assim, tendo Deus feito as prescrições deste

capítulo em favor da manutenção da vida, naquele novo mundo que seria reconstruído a

partir de Noé e seus filhos, Ele fez uma aliança

com eles e com todos os que descenderiam

deles, isto é, uma aliança com a humanidade em geral, em todas as gerações, de não mais

destruir toda a carne pelas águas do dilúvio; e de

que não haveria mais dilúvio, para destruir a

terra.

Esta promessa significa em síntese, que haveria um grande aumento da população mundial,

pelo desígnio de Deus; e que embora o mundo

não seja um paraíso, no entanto, é ainda melhor

do que nós merecemos.

Abençoado seja Deus, pois não é o inferno.

A aliança feita pelo Senhor para com os que

habitam na terra, garante que por mais que se multiplique a iniquidade, a terra não seja como

é o inferno.

Embora a morte não devesse reinar, o Senhor

ainda seria conhecido pelos Seus julgamentos,

contudo a terra nunca deveria ser novamente

Page 149: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

149

despovoada como foi no dilúvio, mas seria cheia

tanto de homens quanto de animais (At 17.24-

26).

Provavelmente depois de ter construído uma casa para si e sua família, Noé plantou uma

vinha, e talvez fosse este o seu ofício, antes de ter

que paralisá-lo para se dedicar à construção da

arca, como um carpinteiro.

Assim, depois do dilúvio, ele retornou às suas atividades normais e rotineiras, e não viveria de

modo nenhum uma vida inativa, pois estava

bem inteirado por Deus que a Sua bênção está associada ao trabalho para o qual se está

vocacionado por Ele segundo os dons e talentos

dele recebidos (I Cor 7.24).

Noé expôs o descuidado e não vigilante Cão, seu

filho, a pecar, pois quando o viu nu e embriagado no interior da tenda, zombou do

seu pai junto aos seus irmãos Sem e Jafé, que na

ocasião agiram corretamente, guardando-se de

não praticarem o mesmo pecado, e tomaram a iniciativa de cobrir a nudez do pai, para que não

ficasse exposto à vergonha, e o fizeram com tal

reverência, que tomaram uma capa e a

colocaram sobre seus próprios ombros e andaram de costas, desviando o rosto, de modo

a não verem a nudez do pai.

O que fez Deus através de Noé, depois que este

despertou e se recuperou do seu vinho, e soube o que havia feito o seu filho mais moço?

Proferiu uma maldição sobre Canaã, um dos

filhos de Cão, sujeitando-o à servidão de Sem e

Jafé.

Page 150: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

150

Os filhos de Cão foram Cuxe, Misraim, Pute e

Canaã (10.6).

De Misraim descenderiam os egípcios, e todos

sabemos o que sucedeu aos cananeus, descendentes de Canaã, que foram habitar

exatamente na terra que Deus prometeu aos

descendentes de Abraão, descendente de Sem,

dando-se assim cumprimento à maldição proferida por Noé, quando foram de lá expulsos

ou sujeitados a trabalhos forçados pelos

israelitas, quando a terra foi conquistada nos

dias de Josué.

Agora, o pecado do próprio Noé nos ensina que

quando a Bíblia diz que ele era justo e íntegro

entre os seus contemporâneos (Gên 6.9) isto se

refere à sua sinceridade diante de Deus e não a uma perfeição sem pecado.

No maior dos santos sempre se achará alguma

falta.

Ninguém pode ser perfeitamente sem pecado

neste mundo, porque o pecado é algo ligado à natureza terrena, e deve ser continuamente

mortificado, pois de outro modo sempre

prevalecerá.

Todos aqueles que têm tido a resolução de vigiar, e que pela graça de Deus têm mantido a

sua integridade em meio às tentações, às vezes,

por descuido e negligência da graça de Deus, são

surpreendidos em pecado, mesmo depois de ter cessado o tempo da sua provação, e de tudo

terem vencido com o auxílio da graça de Cristo.

Por isso se ordena aos cristãos que estejam

sempre vigilantes e vestidos da armadura de

Page 151: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

151

Deus, para que possam resistir no dia mau, e,

depois de terem vencido tudo, permanecerem

inabaláveis (Ef 6.13). E para isto, “orando em todo

tempo no Espírito”, vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos (Ef

6.18).

Um aspecto importante a destacar na maldição

de Canaã por causa do pecado de Cão, seu pai, é

que ela se cumpriu somente cerca de oitocentos anos depois de ter sido proferida, quando os

israelitas conquistaram a terra de Canaã.

O povo de Canaã foi amaldiçoado porque era tão

ímpio quanto foram os seus ancestrais.

Deus jamais proferiria aquela maldição sobre

um povo piedoso.

Cabe destacar que há uma precisão maravilhosa na profecia de Noé em relação a seus filhos,

como não poderia deixar de ser, pois foram

proferidas pelo próprio Deus. Em Gên 9.27 lemos:

“Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo.”

Esta profecia se aplica especialmente aos gregos

e romanos que eram descendentes de Jafé.

As nações orientais são particularmente

descendentes de Sem, e daí serem chamadas de

semitas.

As nações ocidentais, particularmente da Europa, e Ásia, de Jafé.

Esta profecia aponta maravilhosamente para a

conversão dos gentios (jafetistas) através da

salvação que viria a partir dos judeus (semitas),

Page 152: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

152

e daí se dizer que eles habitariam nas tendas de

Sem.

As tendas de Sem foram depositárias da

revelação de Deus desde os dias de Abraão até os dias de Jesus e dos apóstolos, e foi nestas tendas

que os gentios acharam a salvação.

Jafé seria engrandecido, e isto indica domínio e

prosperidade material, como de fato foi o caso

dos gregos e dos romanos que habitaram nas tendas de Sem, também sendo os dominadores

dos judeus, que foram tributários deles.

Mas não é esta a verdadeira e duradoura

bênção, e por isso a bênção de Jafé não é tanto a de ser engrandecido por Deus para exercer

domínio, mas a de estar unido como gentio aos

judeus, pelo evangelho de Cristo, no qual é

derrubada a barreira de separação que havia entre ambos (Ef 2.14,15).

E, mais maravilhoso ainda é o fato de que

aqueles que viriam a se abrigar nas tendas de

Sem seriam verdadeiramente grandes no sentido de que seriam mais numerosos como

povo de Deus do que os próprios judeus, porque

não padece dúvida que ao longo de toda a

história da igreja, ela tem sido composta em muito maior parte por gentios do que por

judeus.

Jafé seria aumentado por Deus, mas o

sacerdócio seria dado a Sem, porque Deus

decidiu e escolheu habitar nas tendas de Sem. Seria pela descendência de Sem que traria ao

mundo Aquele que esmaga a cabeça da

serpente.

Page 153: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

153

Será no Monte Sião, em Jerusalém, que Jesus

estabelecerá a sede do Seu governo sobre a terra

no milênio, e será também na mesma posição

ocupada atualmente por Jerusalém, que a Nova Jerusalém descerá sobre a nova terra que Deus

criará depois do milênio.

Assim, é na tenda de Sem que Jafé habitará. Isto

não é maravilhoso?

É interessante observar que a profecia deixa

Canaã, um dos filhos de Cão, totalmente

descartado desta habitação nas tendas de Sem,

que foi concedida a Jafé.

Dele se diz apenas que seria servo tanto de Sem

quanto de Jafé.

De fato, os cananeus foram praticamente

exterminados da face da terra porque eles não tinham parte no Senhor. Por isso se diz que bem-

aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor.

Por isso estaremos mais contentes se nós

tivermos Deus habitando em nossas tendas, do que possuir todo o ouro e toda a prata do mundo.

É melhor morar em tendas com Deus do que em

palácios sem Ele.

Page 154: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

154

Gênesis 10

Repovoamento da Terra depois do

Dilúvio

“1 Estas, pois, são as gerações dos filhos de Noé:

Sem, Cão e Jafé, aos quais nasceram filhos

depois do dilúvio.

2 Os filhos de Jafé: Gomer, Magogue, Madai,

Javã, Tubal, Meseque e Tiras.

3 Os filhos de Gomer: Asquenaz, Rifate e Togarma.

4 Os filhos de Javã: Elisá, Társis, Quitim e

Dodanim.

5 Por estes foram repartidas as ilhas das nações

nas suas terras, cada qual segundo a sua língua, segundo as suas famílias, entre as suas nações.

6 Os filhos de Cão: Cuche, Mizraim, Pute e

Canaã.

7 Os filhos de Cuche: Seba, Havilá, Sabtá, Raamá

e Sabtecá; e os filhos de Raamá são Sebá e Dedã.

8 Cuche também gerou a Ninrode, o qual foi o

primeiro a ser poderoso na terra.

9 Ele era poderoso caçador diante do Senhor; pelo que se diz: Como Ninrode, poderoso

caçador diante do Senhor.

10 O princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar.

11 Desta mesma terra saiu ele para a Assíria e

edificou Nínive, Reobote-Ir, Calá,

12 e Résem entre Nínive e Calá (esta é a grande

cidade).

Page 155: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

155

13 Mizraim gerou a Ludim, Anamim, Leabim,

Naftuim,

14 Patrusim, Casluim (donde saíram os filisteus) e Caftorim.

15 Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e

Hete,

16 e ao jebuseu, o amorreu, o girgaseu,

17 o heveu, o arqueu, o sineu,

18 o arvadeu, o zemareu e o hamateu. Depois se

espalharam as famílias dos cananeus.

19 Foi o termo dos cananeus desde Sidom, em

direção a Gerar, até Gaza; e daí em direção a

Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa.

20 São esses os filhos de Cão segundo as suas

famílias, segundo as suas línguas, em suas

terras, em suas nações.

21 A Sem, que foi o pai de todos os filhos de Eber

e irmão mais velho de Jafé, a ele também

nasceram filhos.

22 Os filhos de Sem foram: Elão, Assur,

Arfaxade, Lude e Arão.

23 Os filhos de Arão: Uz, Hul, Geter e Más.

24 Arfaxade gerou a Selá; e Selá gerou a Eber.

25 A Eber nasceram dois filhos: o nome de um foi Pelegue, porque nos seus dias foi dividida a

terra; e o nome de seu irmão foi Joctã.

26 Joctã gerou a Almodá, Selefe, Hazarmavé, Jerá,

27 Hadorão, Usal, Dicla,

28 Obal, Abimael, Sebá,

29 Ofir, Havilá e Jobabe: todos esses foram filhos

de Joctã.

Page 156: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

156

30 E foi a sua habitação desde Messa até Sefar,

montanha do oriente.

31 Esses são os filhos de Sem segundo as suas

famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, segundo as suas nações.

32 Essas são as famílias dos filhos de Noé

segundo as suas gerações, em suas nações; e

delas foram disseminadas as nações na terra

depois do dilúvio.”

Este é o único registro correto sobre a existência e origem das primeiras nações, depois do

dilúvio.

São apresentadas setenta cabeças de famílias

dos quais procederam as nações. Todos eles descenderam dos três filhos de Noé, Sem, Cão e

Jafé.

Moisés começa com a família de Jafé,

provavelmente porque ele era o primogênito, e

apresenta posteriormente a descendência de Cão, que era formada em boa parte pelos

inimigos de Israel, especialmente no que se

refere aos povos formados a partir de Canaã, e

finalmente registra a descendência de Sem que foi o antepassado de Israel.

No capítulo décimo primeiro é apresentada uma

genealogia mais detalhada de Arfaxade, um dos

filhos de Sem, porque seria nele que seria

chamada a descendência de Abraão, que foi chamado por Deus para a formação da nação de

Israel, e a quem foi feita a promessa da Nova

Aliança.

Page 157: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

157

É feito um destaque especial a Heber, que era

Neto de Sem, pois era filho de Selá, que era filho

de Arfaxade, filho de Sem.

Este Heber é um personagem importante na

história dos israelitas, pois a palavra hebreu, incluindo aí a língua falada primitivamente

pelos israelitas, é originado de Heber.

Assim é dado um destaque especial a ele

dizendo-se que Sem foi o pai de todos os filhos

de Heber.

Além de Canaã, Cão, filho de Noé, gerou a

Mizraim, Pute e Cuche.

Este Cuche gerou além de outros filhos, a

Ninrode, que foi o fundador da cidade de Nínive, capital da Assíria, e que havia principiado o seu

reino em Babel, a cidade onde Deus confundiu

as línguas dos homens, agilizando e

precipitando com isto, a formação das nações.

Diz-se de Ninrode que foi poderoso na terra, e observe que ele é filho de Cão, mas não na

linhagem de Canaã, que foi amaldiçoado.

Ele é filho de Cuche, outro dos quatro filhos de

Cão.

Deste Ninrode se diz que começou o seu reino

em Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de

Sinar. Observe que são quatro cidades sobre as quais ele reinou no princípio.

Ele expandiu os termos do seu reinado partindo para a Assíria, onde edificou Nínive, Reobote-Ir,

Calá, e Résem que foi uma grande cidade que

ficava entre Nínive e Calá.

São citadas assim oito cidades sobre as quais ele

governou.

Page 158: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

158

Tendo iniciado, como vimos antes, o seu

reinado entre aqueles que estavam em Babel, e

que tinham por propósito permanecer na região

que teria o topo da torre que estavam edificando como referencial, para não se espalharem pela

terra, e com isto estariam frustrando o plano de

Deus de que toda a terra fosse habitada pelo homem.

Naquela ocasião isto era facilitado pelo fato de

todos falarem a mesma língua.

Se havia mais de uma língua na terra antes do

dilúvio, a partir deste, é bem provável que a língua que passou a ser falada em toda a terra

era a mesma que era falada pela família de Noé.

Era Ninrode, como vimos, quem fundou Babel e

governava sobre eles quando Deus, por ato

miraculoso e extraordinário fez com que grupos e grupos falassem um idioma diferente, de

modo que não podiam mais se comunicar

mutuamente, e todos já não podiam mais

entender e por conseguinte acatar as ordens do governador.

É bem provável que tenha sido este o motivo de

Ninrode ter se dirigido para outras terras para

fundar novos reinos com aqueles que passaram a falar o mesmo e novo idioma que ele começou

a falar.

Isto indica que Deus é poderoso para dar a quem

quer, ou que lhe peça, uma facilidade especial para pensar e falar outras línguas, além da sua

língua materna.

Dos filisteus, se diz que eram descendentes de

Casluim, um dos filhos de Mizraim, também

Page 159: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

159

filho de Cão, do qual procederam também os

egípcios, a partir de um outro de seus filhos.

São citados todos os povos cananeus, que

descenderam de Canaã, citando-se inclusive os sidôneos, e os habitantes de Sodoma e Gomorra

entre eles, como os termos da sua habitação.

Assim é citado que de Canaã foram formados os

sidôneos, os heteus, os jebuseus, os amorreus, os girgaseus, os heveus, os arqueus, os sineus,

os arvadeus, os zemareus e os hamateus.

Todas estas nações seriam subjugadas por

Israel, em razão do crescente aumento da

iniquidade delas desde os dias de Abraão, conforme o Senhor havia declarado que ainda

não estava completa a medida da iniquidade dos

amorreus nos dias de Abraão.

E, que a nação de Israel permaneceria no cativeiro no Egito até que fosse completada tal

medida, e isto se deu nos dias de Moisés.

A terra dos cananeus, de contaminada pelo

pecado que era, viria a ser a terra santa, a terra de Emanuel (Deus conosco) pois foi lá que o

Senhor Jesus viveu e realizou o seu ministério e

obra, conforme predito pelos profetas.

Estas genealogias comprovam a certeza

histórica do dilúvio, pois que dão conta que de fato foi a partir dos três filhos de Noé que se

formaram todas as nações da terra, e o Senhor

Deus que tudo sabe e conhece, até o número de

fios de cabelos das cabeças de seus filhos, deu o relato fiel da origem das nações a partir dos

filhos de Noé para ficar registrado,

principalmente como testemunho de que ele

Page 160: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

160

havia destruído o mundo antigo, e repovoado a

terra a partir daqueles três filhos de Noé.

É principalmente isto que a revelação sobre a

formação destes povos tem em vista.

Page 161: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

161

Gênesis 11

“1 Ora, toda a terra tinha uma só língua e um só

idioma.

2 E deslocando-se os homens para o oriente,

acharam um vale na terra de Sinar; e ali habitaram.

3 Disseram uns aos outros: Eia pois, façamos

tijolos, e queimemo-los bem. Os tijolos lhes serviram de pedras e o betume de argamassa.

4 Disseram mais: Eia, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e

façamo-nos um nome, para que não sejamos

espalhados sobre a face de toda a terra.

5 Então desceu o Senhor para ver a cidade e a

torre que os filhos dos homens edificavam;

6 e disse: Eis que o povo é um e todos têm uma

só língua; e isto é o que começam a fazer; agora

não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.

7 Eia, desçamos, e confundamos ali a sua

linguagem, para que não entenda um a língua do outro.

8 Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.

9 Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a linguagem

de toda a terra, e dali o Senhor os espalhou sobre

a face de toda a terra.

10 Estas são as gerações de Sem. Tinha ele cem

anos, quando gerou a Arfaxade, dois anos depois

do dilúvio.

Page 162: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

162

11 E viveu Sem, depois que gerou a Arfaxade,

quinhentos anos; e gerou filhos e filhas.

12 Arfaxade viveu trinta e cinco anos, e gerou a Selá.

13 Viveu Arfaxade, depois que gerou a Selá,

quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas.

14 Selá viveu trinta anos, e gerou a Eber.

15 Viveu Selá, depois que gerou a Eber, quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas.

16 Eber viveu trinta e quatro anos, e gerou a

Pelegue.

17 Viveu Eber, depois que gerou a Pelegue,

quatrocentos e trinta anos; e gerou filhos e

filhas.

18 Pelegue viveu trinta anos, e gerou a Reú.

19 Viveu Pelegue, depois que gerou a Reú,

duzentos e nove anos; e gerou filhos e filhas.

20 Reú viveu trinta e dois anos, e gerou a

Serugue.

21 Viveu Reú, depois que gerou a Serugue,

duzentos e sete anos; e gerou filhos e filhas.

22 Serugue viveu trinta anos, e gerou a Naor.

23 Viveu Serugue, depois que gerou a Naor,

duzentos anos; e gerou filhos e filhas.

24 Naor viveu vinte e nove anos, e gerou a Tera.

25 Viveu Naor, depois que gerou a Tera, cento e

dezenove anos; e gerou filhos e filhas.

26 Tera viveu setenta anos, e gerou a Abrão, a

Naor e a Harã.

27 Estas são as gerações de Tera: Tera gerou a Abrão, a Naor e a Harã; e Harã gerou a Ló.

28 Harã morreu antes de seu pai Tera, na terra

do seu nascimento, em Ur dos Caldeus.

Page 163: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

163

29 Abrão e Naor tomaram mulheres para si: o

nome da mulher de Abrão era Sarai, e o nome da

mulher do Naor era Milca, filha de Harã, que foi

pai de Milca e de Iscá.

30 Sarai era estéril; não tinha filhos.

31 Tomou Tera a Abrão seu filho, e a Ló filho de

Harã, filho de seu filho, e a Sarai sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur

dos Caldeus, a fim de ir para a terra de Canaã; e

vieram até Harã, e ali habitaram.

32 Foram os dias de Tera duzentos e cinco anos;

e morreu Tera em Harã.”

No texto que relata o modo como Deus espalhou

os primeiros descendentes dos filhos de Noé, por toda a terra se destaca que o fato de falarem

uma só língua contribuía para que todos

ficassem debaixo do mesmo governo, e pelo que

vimos anteriormente, este governo não estava debaixo de uma pessoa piedosa e temente ao

Senhor, pois se fizera poderoso na terra pela

ambição de ampliar o seu governo, tendo

chegado a fundar e governar oito cidades; este Ninrode que era neto de Cão, o filho de Noé que

não trazia consigo a promessa da bênção de

Deus.

Aquele primeiro grupo da humanidade que

havia se formado depois do dilúvio caminhou para o Oriente em busca de um local amplo para

abrigar a todos eles, e onde pudessem se fixar

permanentemente.

Eles acharam um lugar espaçoso muito

conveniente para se instalarem (v. 2), uma

Page 164: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

164

planície na terra de Sinear, uma planície

espaçosa, que ficava num vale que era capaz de

abrigar a todos, provavelmente com uma terra

fértil e frutífera. A ordem de Deus para Noé e seus filhos era:

“Sede fecundos, multiplicai-vos, e enchei a

terra.” (9.1)

Este “enchei a terra” era uma ordem para que se espalhassem pela superfície do globo, e não que

intentassem se fixar numa determinada região.

Esta era uma medida preventiva para que não

ocorresse toda a corrupção do gênero humano,

por estarem todos debaixo da mesma influência, tal como ocorreu antes do dilúvio,

quando os homens de Deus começaram a fazer

casamentos mistos com mulheres de famílias

ímpias, e o temor a Deus e a obediência aos Seus mandamentos foram perdidos.

Então o Senhor agiu preventivamente

ordenando que eles se espalhassem, de modo a

se garantir que houvesse sempre na terra existência de um testemunho fiel ao longo das

sucessivas gerações.

É importante saber que o Velho Testamento não

está escrito em rigorosa ordem cronológica, e assim temos no capítulo 10 o registro de coisas

que são posteriores ao episódio de Babel

narrado no capítulo 11.

Veja que é dito em 10.5,20, 31, em relação aos

descendentes de Jafé, Cão e Sem, como uma nota comum, que eram segundo suas famílias,

segundo as suas línguas, em suas terras, em

suas nações.

Page 165: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

165

Isto ocorreu obviamente depois do episódio de

Babel, pois até então se falava uma única língua

em toda a terra.

Havia uma promessa de graça da parte do Senhor, de não mais destruir toda a

humanidade, e assim, Ele estava intervindo,

para poder garantir o cumprimento de tal

promessa.

Aquela era então uma medida de julgamento,

mas ao mesmo tempo de proteção da

humanidade e da garantia da sua perpetuação

sobre a face da terra.

Aqui encerramos o nosso comentário sobre a

primeira parte de Gên 11 que se refere ao

episódio de Babel. Veremos agora, brevemente,

a segunda parte deste capítulo que trata da genealogia de Sem até Abraão (11.10-32).

Antes de tudo, observe como houve uma

diminuição gradual nos anos de vida dos

homens a partir do dilúvio:

Sem - viveu 600 anos

Arfaxade – 438

Selá - 433

Heber - 464

Pelegue - 239

Réu - 239

Serugue - 230

Naor - 148

Terá - 205

Abraão - 175 (Gên 25.7)

Quando a população da terra começou a

aumentar, os anos de vida dos homens foram

encurtados. Parece que aqueles muitos anos de

Page 166: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

166

vida dos primeiros homens tinham em vista

garantir a perpetuidade da humanidade.

Agora, com um grande aumento populacional, a

garantia da preservação da raça não dependeria

mais de se manter um período tão extenso de anos de vida num mundo sujeito ao pecado.

A vida seria marcada para eles, especialmente para os que não tinham o temor de Deus, como

puro enfado e canseira.

Foi, portanto a misericórdia do Senhor que

abreviou o número de anos de vida sobre a terra.

Com isto nos ensina também que há também

uma morada infinita melhor para aqueles que O

amam, do que a terra em que vivemos.

A longevidade na terra é apontada por Deus como um sinal da sua bênção, mas Ele, em sua

sabedoria, põe limites a esta longevidade, de

modo que aquilo que está destinado a ser uma

bênção não se transforme, ainda que não numa maldição, mas num grande fardo para ser

carregado.

É em Gên 11 que começa a história de Abraão,

cujo nome é famoso em ambos os Testamentos,

e que é uma pessoa importante na revelação

bíblica.

Ele era habitante de Ur dos Caldeus (11.31), que havia se tornado numa nação idólatra, apesar de

serem descendentes de Heber.

Eles haviam se corrompido em seus caminhos.

O próprio pai de Abraão, Terá, havia servido a

outros deuses (Josué 24.2).

Gên 11.26 diz que Terá tinha 75 anos quando

gerou Abraão, Naor e Harã.

Page 167: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

167

Pelo contexto bíblico, sabemos que não eram

trigêmeos.

Assim, a citação de 75 anos se refere

provavelmente à idade com que começou a

gerar seus filhos.

Tudo indica que Abraão não era o mais velho

deles, pois quando foi chamado pelo Senhor tinha também 75 anos quando partiu de Harã

(Gên 12.4), local onde havia morrido seu pai Terá

(11.32) depois de ter partido de Ur para lá, com

Abraão, Ló, e Sarai, esposa de Abraão (11.31).

É provável que Terá tenha se enfraquecido e ficado enfermo com a longa viagem até Harã, e

ter sido impedido, em face da sua idade

avançada, de prosseguir a viagem rumo a Canaã.

Muitos admitem a hipótese de que ele havia se

convertido ao Senhor, quando partiu de Ur, e

sob a ordem de Deus para ir para Canaã, mas isto não passa de uma possibilidade, porque nada se

diz no texto bíblico quanto a isto.

Harã, um dos irmãos de Abraão, que era pai de

Ló, morreu em Ur dos caldeus, sua terra natal,

enquanto seu pai Terá ainda vivia (At 11.28).

Foi na família de Naor, outro irmão de Abraão,

que Isaque e Jacó, filho e neto de Abraão, respectivamente, se proveriam de esposas no

futuro.

Estes descendentes de Naor habitavam em

Pada-Arã (Gên 31.18), na Mesopotâmia (Gên

24.10), região entre os rios Tigre e Eufrates, ao Norte da cidade de Ur dos caldeus

Page 168: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

168

Gênesis 12

A Chamada de Abraão

“1 Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para

a terra que eu te mostrarei.

2 Eu farei de ti uma grande nação; abençoar-te-

ei, e engrandecerei o teu nome; e tu, sê uma

bênção.

3 Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te amaldiçoar; e em ti

serão benditas todas as famílias da terra.

4 Partiu, pois Abrão, como o Senhor lhe

ordenara, e Ló foi com ele. Tinha Abrão setenta

e cinco anos quando saiu de Harã.

5 Abrão levou consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que

haviam adquirido, e as almas que lhes

acresceram em Harã; e saíram a fim de irem à

terra de Canaã; e à terra de Canaã chegaram.

6 Passou Abrão pela terra até o lugar de Siquém, até o carvalho de Moré. Nesse tempo estavam os

cananeus na terra.

7 Apareceu, porém, o Senhor a Abrão, e disse: À

tua semente darei esta terra. Abrão, pois,

edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera.

8 Então passou dali para o monte ao oriente de

Betel, e armou a sua tenda, ficando-lhe Betel ao

ocidente, e Ai ao oriente; também ali edificou

Page 169: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

169

um altar ao Senhor, e invocou o nome do

Senhor.

9 Depois continuou Abrão o seu caminho,

seguindo ainda para o sul.

10 Ora, havia fome naquela terra; Abrão, pois,

desceu ao Egito, para peregrinar ali, porquanto

era grande a fome na terra.

11 Quando ele estava prestes a entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és

mulher formosa à vista;

12 e acontecerá que, quando os egípcios te

virem, dirão: Esta é mulher dele. E me matarão a

mim, mas a ti te guardarão em vida.

13 Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me

vá bem por tua causa, e que viva a minha alma

em atenção a ti.

14 E aconteceu que, entrando Abrão no Egito, viram os egípcios que a mulher era mui

formosa.

15 Até os príncipes de Faraó a viram e gabaram-

na diante dele; e foi levada a mulher para a casa

de Faraó.

16 E ele tratou bem a Abrão por causa dela; e este

veio a ter ovelhas, bois e jumentos, servos e servas, jumentas e camelos.

17 Feriu, porém, o Senhor a Faraó e a sua casa com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher

de Abrão.

18 Então chamou Faraó a Abrão, e disse: Que é

isto que me fizeste? Por que não me disseste que

ela era tua mulher?

Page 170: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

170

19 Por que disseste: E minha irmã? de maneira

que a tomei para ser minha mulher. Agora, pois,

eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te.

20 E Faraó deu ordens aos seus guardas a

respeito dele, os quais o despediram a ele, e a sua mulher, e a tudo o que tinha.”

Abraão foi constituído por Deus pai de numerosas nações, portanto não somente de

Israel, mas inclusive de nações estrangeiras,

porque todos os que são nascidos de novo pela

sua fé em Cristo, são considerados por Deus como filhos de Abraão, a quem ele fez a

promessa da Nova Aliança, e pelo fato de Jesus

ter descendido de Abraão, conforme planejado

por Deus; através desta Nova Aliança pessoas de todas as nações seriam abençoadas por

estarem unidas

ao descendente de Abraão, segundo a carne,

que é Cristo (Gên 17.4,5; Rom 4.16,17).

Com a chamada de Abraão, Deus vai usar a

estratégia de formar a sua própria nação entre

as nações.

Uma nação para viver segundo a Sua vontade, separada das demais nações da terra, de modo

que pudesse se revelar através desta nação, até

que Jesus viesse, e o Espírito fosse derramado

em todas as nações, provendo-se assim o Senhor de um povo exclusivamente seu; zeloso

de boas obras, em todas as nações da terra.

Abraão não é somente um exemplo de homem

de fé, mas também um testemunho de boas

obras, e isto foi registrado pelo apóstolo Tiago

Page 171: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

171

em sua epístola (Tg 2.22), e o próprio Senhor

Jesus ensinou que os verdadeiros filhos de

Abraão são aqueles que fazem as obras de

Abraão (Jo 8.39).

Ele é pois dado a nós não somente como

exemplo de fé, mas também como exemplo de

quem praticou as boas obras que Deus preparou

de antemão para serem praticadas por todos os seus filhos (Ef 2.10).

Nós vimos nos últimos versículos do décimo

primeiro capítulo de Gênesis que o pai de

Abraão, Terá, havia saído juntamente com ele, Sara e Ló, de Ur dos caldeus, em direção à terra

de Canaã, e tendo ficado em Harã, Terá veio a

falecer naquela terra, e quando a narrativa é

reiniciada no décimo segundo capítulo, logo no primeiro versículo nós lemos: o seguinte: “Ora,

disse o Senhor a Abraão: Sai da tua terra, da tua

parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra

que te mostrarei;”

Nos versículo seguintes (v. 2 e 3) é declarado por Deus, o propósito desta chamada:

“de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e

te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção:

abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti

serão benditas todas as famílias da terra.”

Quando Deus disse a Abraão: “Sê tu uma

bênção”, Ele estava incentivando o patriarca a

corresponder ao nível da sua chamada, porque a graça do Senhor se estenderia para além da sua

pessoa e abençoaria a muitos sobre a face da

terra, em todas as gerações depois dele, e

Page 172: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

172

especialmente depois que se manifestasse o Seu

descendente (Jesus) no qual seriam abençoadas

todas as nações da terra.

Assim, todos aqueles que abençoassem a

Abraão, isto é, que reconhecessem nele o

significado da sua vocação e a bênção que foi

trazida a eles por meio dele, porque seria dele que descenderia o Cristo, e a nação de Israel

através da qual Deus revelou a Sua vontade e os

Seus mandamentos ao mundo, seriam também

abençoados com a mesma bênção que o Senhor o abençoou, a saber, a bênção da justificação

que traz a salvação eterna.

De igual modo seriam amaldiçoados por Deus todos aqueles que amaldiçoassem Abraão,

porque é somente no descendente dele que está

a bênção, e assim, quem amaldiçoasse a Abraão

estaria amaldiçoando o Deus de Abraão, por conseguinte rejeitando a Sua bênção, ficando

sujeito à maldição eternamente.

Assim é o próprio Deus, o próprio Cristo, o Espírito Santo, quem abençoa e não

propriamente Abraão.

Em Gên 12.7 lemos que Deus apareceu a Abraão quando chegou a Canaã, e lhe fez a promessa de

dar aquela terra à sua descendência.

Isto é de grande importância para vermos o

amor e a obediência de Abraão a Deus, porque, não tendo filhos, recebeu a promessa de que

aquela terra seria dada à sua descendência, e

não a ele mesmo.

Page 173: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

173

Abraão não estava buscando, portanto o que era

da sua própria vontade, mas o que era da

vontade de Deus.

Abraão revelou a Sua obediência a Deus desde o princípio, quando obedeceu ao Seu

mandamento de deixar a sua parentela e a terra

dos seus pais, e ir para uma terra que lhe seria

mostrada pelo Senhor.

Ele sabia que teria o encargo de ordenar não apenas a própria vida, mas toda a sua casa, tanto

descendentes quanto servos, de modo que

vivessem segundo os preceitos de Deus (Gên

18.17-19).

Ao atravessar a terra de Siquém, chegando ao carvalho de More, em Canaã (12.6), depois que o

Senhor fez a promessa de dar aquela terra à sua

descendência, a primeira coisa que Abraão fez

foi edificar um altar ao Senhor.

Prosseguindo sua jornada edificou outro altar

ao oriente de Betel, e ali invocou o nome do

Senhor (Gên 12.8).

Aonde quer que Abraão ia, ele sempre mantinha

a adoração a Deus em sua família.

Ele havia enriquecido e tinha muitos servos, mas a sua confiança não estava nos seus bens e

no braço de carne, mas no Deus que lhe havia

chamado e lhe fizera a promessa de lhe

engrandecer o nome e de abençoar a muitos por causa da sua obediência.

Nisto Abraão é um tipo de Cristo; de quem por

causa da sua obediência perfeita a Deus e à sua

lei, somos justificados (Rom 5.19).

Page 174: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

174

Ninguém pode ser verdadeiramente uma

bênção para outras pessoas se não viver de

modo obediente à vontade de Deus, tornando-se

assim um exemplo vivo para ser seguido.

No caso de nosso Senhor Jesus Cristo, não temos

apenas o legado do exemplo deixado por Sua

obediência, mas os benefícios decorrentes dela,

porque é exclusivamente por meio da Sua perfeita obediência que somos justificados pela

graça, mediante a fé. Pois Aquele que não

conheceu pecado foi feito pecado por nós.

Quando Abraão se dirigia em direção ao Neguebe houve grande fome na terra, e por isso

Abraão se dirigiu ao Egito (12.9,10).

Ele fez um ajuste com Sara para que dissesse

quando chegassem ao Egito, que era sua irmã e

omitisse que era sua esposa, de modo a ter sua vida poupada caso fosse cobiçada pelo faraó,

uma vez que a lei antiga entre eles permitia que

a mulher de alguém fosse dada a um homem

poderoso, desde que fosse morto o marido, de modo que este não vivesse corroído pelo ciúme.

Aquela grande fome que estava havendo na

terra, provavelmente em razão da visitação da

iniquidade dos cananitas, estava colocando duramente à prova a fé de Abraão.

Outro, em seu lugar teria pensado e se deixado

dominar pelo seguinte pensamento: “Deus me

tirou da minha terra para me matar de fome neste lugar estranho?”.

Somente alguém com uma fé forte como a de

Abraão, prosseguiria adiante, confiando em

Deus, sem duvidar de Suas promessas, e tendo

Page 175: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

175

bons pensamentos acerca de Deus, debaixo de

uma prova como aquela.

A terra em que Abraão deveria peregrinar não

era o Egito, mas como ocorre ainda hoje, muitas

vezes a nossa missão sofre interrupções em razão das dificuldades que enfrentamos neste

mundo, e que têm em vista, no propósito geral

de Deus em relação a nós, provar nossa fé e

fortalecê-la de modo a nos preparar para obras maiores e melhores.

É possível estar a serviço do Senhor, e ainda assim estar debaixo de grandes dificuldades e

aflições.

Na promessa feita através de Noé que enquanto

durar a terra não deixará de haver sementeira e

ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite

(Gên 8.22), é prometida a alegria da ceifa, mas esta será antecedida pelas lágrimas da

semeadura; haverá o calor do zelo e fervor na

obra de Deus e dos grandes progressos e

sucessos que a acompanharão, mas haverá também o frio e o inverno que muitas vezes

surgem com desânimos, desapontamentos,

lutas, tristezas e perseguições.

Tudo isto está misturado na vida daqueles que

servem ao Senhor. Não há de se ver aquela

alegria pura e permanente com a qual tanto sonhamos, porque os espinhos na carne estão

cooperando para nos manter humildes diante

do Senhor, e a refinar a nossa fé e caráter.

Entretanto, nunca somos desamparados pelo

Senhor (II Cor 4.8,9), de modo que somos

Page 176: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

176

consolados e assistidos por Ele em nossas

aflições.

Ele sempre preparará para nós um lugar de

refúgio, de escape, conforme a Sua infinita

sabedoria, provisão e poder.

Ele provê para nós outra condição, enquanto

aquela em que deveríamos estar não possa nos suprir, assim como o Egito estava para Abraão

em relação a Canaã.

O fato de ter estado Abraão no Egito deu ao

Senhor a oportunidade de manifestar naquela

terra o Seu poder, trazendo juízos sob a forma de grandes pragas, sobre faraó e sua casa, em razão

de ter tomado a Sara para si para ser sua mulher.

Por causa de Sara, antes de Deus ter-lhe enviado

pragas, faraó tratou bem a Abraão que

enriqueceu ainda mais no Egito, vindo a ter ovelhas, bois, jumentos, escravos e escravas,

jumentas e camelos.

Indo para o Egito Abraão mostrou qual era a sua

maturidade e a qualidade da sua dependência

de Deus, pois não esperou por milagres

desnecessários para ser provido em Canaã, sabendo que havia provisões suficientes no

Egito, e logo levantou acampamento e se dirigiu

para lá.

Mas, vemos que mesmo no Egito Abraão

dependeu da intervenção sobrenatural do Senhor para livrar Sara de faraó, que a havia

tomado para ser sua mulher.

Quanto ao fato de ter abençoado e cuidado de

Abraão, Deus não estava honrando a omissão

dele em não ter dito toda a verdade a faraó, mas

Page 177: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

177

agindo com base na Sua pura graça e

misericórdia, cuidando daquele que estava a

Seu serviço.

Sara era de fato meio irmã de Abraão, filha de Terá com outra mulher, que não era a mãe de

Abraão (Gên 20.12).

Page 178: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

178

Gênesis 13

“1 Subiu, pois, Abrão do Egito para o Negebe,

levando sua mulher e tudo o que tinha, e Ló o

acompanhava.

2 Abrão era muito rico em gado, em prata e em ouro.

3 Nas suas jornadas subiu do Negebe para Betel,

até o lugar onde outrora estivera a sua tenda,

entre Betel e Ai,

4 até o lugar do altar, que dantes ali fizera; e ali invocou Abrão o nome do Senhor.

5 E também Ló, que ia com Abrão, tinha

rebanhos, gado e tendas.

6 Ora, a terra não podia sustentá-los, para eles

habitarem juntos; porque os seus bens eram

muitos; de modo que não podiam habitar juntos.

7 Pelo que houve contenda entre os pastores do

gado de Abrão, e os pastores do gado de Ló. E

nesse tempo os cananeus e os perizeus

habitavam na terra.

8 Disse, pois, Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti, e entre os meus pastores e os

teus pastores, porque somos irmãos.

9 Porventura não está toda a terra diante de ti?

Rogo-te que te apartes de mim. Se tu escolheres

a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, irei eu para a esquerda.

10 Então Ló levantou os olhos, e viu toda a

planície do Jordão, que era toda bem regada

(antes de haver o Senhor destruído Sodoma e

Page 179: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

179

Gomorra), e era como o jardim do Senhor, como

a terra do Egito, até chegar a Zoar.

11 E Ló escolheu para si toda a planície do Jordão,

e partiu para o oriente; assim se apartaram um

do outro.

12 Habitou Abrão na terra de Canaã, e Ló

habitou nas cidades da planície, e foi armando as suas tendas até chegar a Sodoma.

13 Ora, os homens de Sodoma eram maus e

grandes pecadores contra o Senhor.

14 E disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se

apartou dele: Levanta agora os olhos, e olha

desde o lugar onde estás, para o norte, para o sul,

para o oriente e para o oriente;

15 porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre.

16 E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se puder ser contado o pó da

terra, então também poderá ser contada a tua

descendência.

17 Levanta-te, percorre esta terra, no seu

comprimento e na sua largura; porque a darei a ti.

18 Então mudou Abrão as suas tendas, e foi habitar junto dos carvalhos de Manre, em

Hebrom; e ali edificou um altar ao Senhor.”

Neste capítulo é relatado o retorno de Abraão do

Egito para Canaã.

Abraão era muito rico em bens deste mundo,

mas era muito mais rico para com Deus, através

da sua grande fé e obediência.

Page 180: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

180

Por isso, ao retornar se dirigiu para o local entre

Ai e Betel, onde havia erigido um altar ao Senhor

antes de ir para o Egito, e ali ele invocou o nome

do Senhor.

Certamente ele veio para o lugar do altar, para

reavivar a recordação da doce comunhão que

ele tinha tido com Deus naquele lugar.

Foi nesta ocasião que Ló se separou de Abraão.

Aqueles dois grandes homens que eram amigos

inseparáveis, tiveram que seguir caminhos diferentes em razão de não poderem habitar na

mesma região, em razão de ter aumentado

muito os seus rebanhos, e estava havendo

discussão entre os seus pastores, provavelmente em razão do uso do pasto para a

alimentação do gado.

Assim os seus próprios servos foram os pivôs da

separação deles, no intuito de agradarem aos seus respectivos senhores procurando as

melhores áreas de pasto.

É melhor preservar a paz do que quebrá-la; e

Abraão tomou a iniciativa de extinguir o fogo

das desavenças propondo a Ló que escolhesse o lugar em que pretendia se fixar, para que ele,

Abraão, se dirigisse na direção contrária.

Abraão, ao se esforçar pela paz, estava agindo

dentro da vontade de Deus, que nos determina

no que depender de nós que tenhamos paz com todos os homens, e que nos empenhemos em

alcançar a paz.

Por isso Jesus diz que os pacificadores são bem-

aventurados.

Page 181: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

181

Não é agradável ao Senhor que os seus servos

vivam a contender (Lc 22.26; I Cor 11.16).

Embora Deus tivesse prometido a Abraão dar-

lhe toda aquela terra à sua descendência, e não

tivesse falado nada em relação a fazer qualquer partilha mesmo com o justo Ló, Abraão não

argumentou ao nível de fazer prevalecer os seus

direitos, para não sacrificar a paz que lhe era

muito preciosa.

Ló escolheu o melhor lugar para o seu gado, pois era uma planície verdejante que ia dar em

Sodoma, e foi mudando de lugar,

provavelmente, à medida que o pasto ia se

esgotando, até que chegou à cidade de Sodoma.

Assim, aquilo que era bom para o gado, não era

o melhor para uma família, pois Ló seria o único justo que viria a habitar naquela cidade.

A Palavra destaca que os habitantes de Sodoma

eram homens maus e grandes pecadores contra

o Senhor.

Abraão não escolheu segundo a vista, mas

segundo a obediência ao Senhor, pois

permaneceu na terra de Canaã, onde Deus lhe ordenara a ficar.

É possível que os pastos não fossem tão

verdejantes como os de Sodoma, mas era o

melhor lugar para ele e para sua família, pois

não fora escolhido pelo homem, e pelos critérios do homem, mas por Deus e pelos

critérios de Deus.

Assim o Senhor apareceu a Abraão e confirmou

a promessa de dar à sua descendência toda

aquela terra, e por isso lhe ordenou que a

Page 182: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

182

percorresse em toda a sua extensão, tanto no

sentido norte-sul, quanto no sentido leste-

oeste.

Abraão reiniciou suas peregrinações na terra,

chegando junto a Hebrom, onde levantou um

altar ao Senhor.

Quanto à escolha de Ló é importante frisar ainda

que a Palavra destaca em Gên 14.11,12 que os

seus bens haviam sido tomados pelos reis que guerrearam contra Sodoma, e ficamos também

a imaginar quanto do seu rebanho Ló pôde levar

consigo quanto teve que deixar a cidade às

pressas para não ser destruído juntamente com os seus moradores quando o Senhor a

incendiou.

Se ele tinha a ideia de se fazer ainda mais

próspero quando fez aquela sua escolha, sem

consultar ao Senhor, pensando que estava

fazendo um grande negócio quando escolheu o melhor pasto para o seu rebanho, o tempo viria

a revelar que aquela tinha sido uma péssima

escolha, e há aí um grande ensinamento para

todos os filhos de Deus, e eu penso que é exatamente isto que a Palavra quer destacar

quando registrou propositalmente que os bens

de Ló haviam sido capturados, e que ele era

ainda um dos habitantes da cidade ao tempo que o Senhor decidiu trazer a destruição sobre ela.

Cabe destacar que a escolha de Abraão o tornou

ainda mais próspero, pois chegou a reunir trezentos e dezoito homens dentre os mais

capazes nascidos em sua casa, que lhe serviam,

e aliando-se a Manre, Escol e Aner, deram

Page 183: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

183

contra as forças coligadas que haviam vencido a

Sodoma, e a tudo resgataram de volta, inclusive

a Ló e seus bens.

A bondade de Deus permitiu que Ló fosse

resgatado por seu tio, apesar de o próprio Ló ter dado ensejo àquela situação quando decidiu

morar com aqueles que eram grandes

pecadores contra o Senhor, considerando que

isto era um fato pouco relevante, à face de toda a prosperidade material que poderia obter junto

deles.

É melhor ser pobre e habitar junto aos santos, do

que ser rico e morar nas tendas da

perversidade.

É importante destacar as palavras proferidas

pelo Senhor a respeito de Sodoma, em Ezequiel 16.49,50:

“Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua

irmã: soberba, fartura de pão e próspera

tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca

amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de

mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali.”

Entretanto Ló conseguiu manter-se íntegro

entre eles, mas viveu em constante aflição em

sua alma em face de toda aquela maldade que o

rodeava.

Disto, Pedro dá testemunho em sua segunda epístola:

“e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-

as posto como exemplo a quantos venham a

viver impiamente; e livrou o justo Ló, afligido

Page 184: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

184

pelo procedimento libertino daqueles

insubordinados (porque este justo, pelo que via,

e ouvia quando habitava entre eles,

atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles), é porque o

Senhor sabe livrar da provação os piedosos, e

reservar, sob castigo, os injustos para o dia de juízo,” (II Pe 2.6-9).

Page 185: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

185

Gênesis 14

“1 Aconteceu nos dias de Anrafel, rei de Sinar,

Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de

Elão, e Tidal, rei de Goiim,

2 que estes fizeram guerra a Bera, rei de Sodoma, a Birsa, rei de Gomorra, a Sinabe, rei de

Admá, a Semeber, rei de Zeboim, e ao rei de Belá

(esta é Zoar).

3 Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o Mar Salgado).

4 Doze anos haviam servido a Quedorlaomer,

mas ao décimo terceiro ano rebelaram-se.

5 Por isso, ao décimo quarto ano veio

Quedorlaomer, e os reis que estavam com ele, e

feriram aos refains em Asterote-Carnaim, aos zuzins em Hão, aos emins em Savé-Quiriataim,

6 e aos horeus no seu monte Seir, até El-Parã,

que está junto ao deserto.

7 Depois voltaram e vieram a En-Mispate (que é

Cades), e feriram toda a terra dos amalequitas, e também dos amorreus, que habitavam em

Hazazom-Tamar.

8 Então saíram os reis de Sodoma, de Gomorra,

de Admá, de Zeboim e de Belá (esta é Zoar), e

ordenaram batalha contra eles no vale de Sidim,

9 contra Quedorlaomer, rei de Elão, Tidal, rei de Goiim, Anrafel, rei de Sinar, e Arioque, rei de

Elasar; quatro reis contra cinco.

10 Ora, o vale de Sidim estava cheio de poços de

betume; e fugiram os reis de Sodoma e de

Page 186: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

186

Gomorra, e caíram ali; e os restantes fugiram

para o monte.

11 Tomaram, então, todos os bens de Sodoma e

de Gomorra com todo o seu mantimento, e se foram.

12 Tomaram também a Ló, filho do irmão de

Abrão, que habitava em Sodoma, e os bens dele,

e partiram.

13 Então veio um que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu. Ora, este habitava junto dos

carvalhos de Manre, o amorreu, irmão de Escol

e de Aner; estes eram aliados de Abrão.

14 Ouvindo, pois, Abrão que seu irmão estava preso, levou os seus homens treinados,

nascidos em sua casa, em número de trezentos

e dezoito, e perseguiu os reis até Dã.

15 Dividiu-se contra eles de noite, ele e os seus

servos, e os feriu, perseguindo-os até Hobá, que fica à esquerda de Damasco.

16 Assim tornou a trazer todos os bens, e tornou

a trazer também a Ló, seu irmão, e os bens dele,

e também as mulheres e o povo.

17 Depois que Abrão voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele,

saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma, no vale de

Savé (que é o vale do rei).

18 Ora, Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; pois era sacerdote do Deus Altíssimo;

19 e abençoou a Abrão, dizendo: bendito seja

Abrão pelo Deus Altíssimo, o Criador dos céus e

da terra!

Page 187: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

187

20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou

os teus inimigos nas tuas mãos! E Abrão deu-lhe

o dízimo de tudo.

21 Então o rei de Sodoma disse a Abrão: Dá-me a

mim as pessoas; e os bens toma-os para ti.

22 Abrão, porém, respondeu ao rei de Sodoma:

Levanto minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Criador dos céus e da terra,

23 jurando que não tomarei coisa alguma de

tudo o que é teu, nem um fio, nem uma correia

de sapato, para que não digas: Eu enriqueci a

Abrão;

24 salvo tão somente o que os mancebos

comeram, e a parte que toca aos homens Aner, Escol e Manre, que foram comigo; que estes

tomem a sua parte.” (Gên 14.1-24)

Nós temos aqui um relato da primeira guerra da

qual nos dá notícia a Escritura.

Os invasores eram quatro reis, dois deles nada

menos do que os reis de Sinear e Elão (quer

dizer, Caldeia (Sinear), onde ficava a cidade de

Ur de Abraão, e Pérsia (Elão), que ficava ao oriente da Caldeia, sendo os outros dois reinos,

os de Elasar e Goim.

Os invadidos eram reis de cinco cidades que se

situavam junto à planície do Jordão, isto é,

Sodoma, Gomorra, Admah, Zeboim, e Zoar.

O motivo desta guerra foi devido ao fato de

Querdorlaomer, rei do Elão ter feito seus tributários os reis destas cinco cidades,

inclusive de Sodoma e Gomorra, por doze anos,

e eles se recusaram continuar lhe pagando

Page 188: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

188

tributos no décimo terceiro ano, e assim o rei do

Elão coligado às três outras cidades estado

citadas, veio sobre eles no décimo quarto ano,

isto é, dois anos depois de terem decidido não mais lhe pagar tributos.

Veja que os sodomitas eram descendentes de

Canaã, que havia sido amaldiçoado por Noé no

sentido de que seria servo dos descendentes de Sem e de Jafé.

Assim, a profecia começou a ter cumprimento,

porque aqueles dos quais foram tributários

eram semitas. Elão era o filho primogênito de Sem (Gên 10.22).

Mas, por causa de Ló, a bondade de Abraão se

estendeu àqueles pecadores de Sodoma, que

foram resgatados juntamente com Ló, e tendo

vindo ao encontro de Abraão o rei de Sodoma, prestar-lhe a devida honra e homenagem, veio

também Melquisedeque, rei e sacerdote de

Salém, que o abençoou, reconhecendo que a

vitória que tivera naquela guerra foi-lhe dada da parte do Deus Altíssimo.

Cabe destacar a atitude de Abraão em ter

rejeitado o oferecimento do rei de Sodoma de

que ficasse com todos os bens que havia resgatado.

Abraão fez o que se costuma chamar de corte

direto, pois rejeitou a oferta que lhe fora feita,

pois não queria estabelecer qualquer tipo de

laço e aliança com o rei de Sodoma, e muito menos lhe conceder a oportunidade de desviar

a glória do feito da pessoa de Deus para si

mesmo, pois certamente viria a divulgar que

Page 189: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

189

havia enriquecido a Abraão, ou então que ele

agira por motivos mercenários, em troca dos

bens que viria a receber caso fosse bem

sucedido na guerra.

Em todo o caso, o que Abraão não queria de fato era vincular o nome santo do Deus a quem

servia, com aquela nação ímpia.

Assim ele agiu no sentido de deixar uma

distinção bem marcada entre aqueles que

amam e servem a Deus e aqueles que não o amam e não o servem.

Abraão negou receber algo sobre o que ele tinha um direito natural já que havia lutado na guerra

e se exposto com os seus ao perigo, mas ele não

impõe o rigor que impôs a si mesmo, a Manre,

Escol e Aner, que haviam lutado ao seu lado, e disse ao rei de Sodoma que deveria ser-lhes

dada a parte do despojo que lhes tocava, e

quanto aos homens que haviam lutado, seria

justo que fossem compensados com a reposição da comida que haviam consumido durante os

dias de batalha.

Isto, certamente não daria qualquer glória ao rei

de Sodoma.

Quando somos rígidos quanto à nossa própria

liberdade, não devemos impor estas restrições à

liberdade de outros.

Nós não devemos fazer de nós mesmos o padrão da medida com que outros devem ser medidos.

Não havia a mesma razão para que Aner, Escol e Manre, que não eram servos de Deus, seguirem

a recusa da oferta do rei de Sodoma, assim como

Abraão fizera.

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190

Agora, sem nos estendermos em tentar

descobrir quem era Melquisedeque, o grande

fato é que Deus o incluiu na revelação e

demonstrou que o próprio Abraão que viria a ser designado por Ele como o pai de numerosas

nações, sendo-lhe dada uma honra

elevadíssima entre todos os homens, se submeteu a Melquisedeque, e com isto, a

cabeça da igreja não seria Abraão, pois há outro

que é mais elevado do que ele.

Isto foi gravado de modo muito claro por Deus

com esta breve passagem em que se destaca que o maior abençoou o menor, porque

Melquisedeque abençoou Abraão, e este lhe

deu o dízimo de tudo.

E, se diz depois que Jesus é sacerdote não segundo a ordem de Levi, mas de

Melquisedeque, cujo sacerdócio, dura para

sempre.

Então, Deus quis marcar desde o princípio que a honra de ser a cabeça da igreja não é de Abraão,

mas de Cristo, que de fato e de verdade é o único

cabeça da igreja, a qual lhe foi dada, conforme o

propósito eterno de Deus.

Propositalmente, para ser um tipo perfeito de Cristo, nenhuma informação adicional foi dada

a respeito de Melquisedeque por Deus nas

Escrituras, pois não se diz sobre a sua

ascendência nem descendência, nem como veio a ser rei e sacerdote em Salém, para que

fosse um tipo perfeito de Cristo, que não tem

princípio nem fim de existência, porque é Deus

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191

sempiterno, e por isso, o seu sacerdócio é para

sempre (Sl 110.4).

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192

Gênesis 15

“1 Depois destas coisas veio a palavra do Senhor

a Abrão numa visão, dizendo: Não temas, Abrão; eu sou o teu escudo, o teu galardão será

grandíssimo.

2 Então disse Abrão: Ó Senhor Deus, que me

darás, visto que morro sem filhos, e o herdeiro

de minha casa é o damasceno Eliézer?

3 Disse mais Abrão: A mim não me tens dado

filhos; eis que um nascido na minha casa será o

meu herdeiro.

4 Ao que lhe veio a palavra do Senhor, dizendo:

Este não será o teu herdeiro; mas aquele que sair

das tuas entranhas, esse será o teu herdeiro.

5 Então o levou para fora, e disse: Olha agora

para o céu, e conta as estrelas, se as podes contar; e acrescentou-lhe: Assim será a tua

descendência.

6 E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-

lhe isto como justiça.

7 Disse-lhe mais: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus, para te dar esta terra em

herança.

8 Ao que lhe perguntou Abrão: Ó Senhor Deus,

como saberei que hei de herdá-la?

9 Respondeu-lhe: Toma-me uma novilha de três

anos, uma cabra de três anos, um carneiro de

três anos, uma rola e um pombinho.

10 Ele, pois, lhe trouxe todos estes animais,

partiu-os pelo meio, e pôs cada parte deles em

frente da outra; mas as aves não partiu.

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11 E as aves de rapina desciam sobre os

cadáveres; Abrão, porém, as enxotava.

12 Ora, ao pôr do sol, caiu um profundo sono

sobre Abrão; e eis que lhe sobrevieram grande

pavor e densas trevas.

13 Então disse o Senhor a Abrão: Sabe com

certeza que a tua descendência será peregrina

em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e

será afligida por quatrocentos anos;

14 sabe também que eu julgarei a nação a qual

ela tem de servir; e depois sairá com muitos

bens.

15 Tu, porém, irás em paz para teus pais; em boa

velhice serás sepultado.

16 Na quarta geração, porém, voltarão para cá;

porque a medida da iniquidade dos amorreus

não está ainda cheia.

17 Quando o sol já estava posto, e era escuro, eis

um fogo fumegante e uma tocha de fogo, que

passaram por entre aquelas metades.

18 Naquele mesmo dia fez o Senhor um pacto

com Abrão, dizendo: À tua descendência tenho

dado esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio Eufrates;

19 e o queneu, o quenizeu, o cadmoneu,

20 o heteu, o perizeu, os refains,

21 o amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebuseu.”

Depois do encontro com Melquisedeque Abraão

teve uma visão na qual lhe veio a palavra do

Senhor lhe dizendo que não temesse porque Ele

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194

era o seu escudo, isto é a sua proteção, e que o

seu galardão seria grandíssimo.

Abraão não contestou esta afirmação do

Senhor, mas alegou que não tinha filhos

naturais, e lhe parecia que morreria sem filhos, pois os seus anos de vida avançavam, e a

possibilidade de ter uma descendência

numerosíssima ia ficando cada vez mais

distante.

Em face desta argumentação, o Senhor,

reafirmou a promessa feita anteriormente, trazendo Abraão para fora de sua tenda e lhe

mostrando as estrelas do céu e lhe disse que as

contasse caso pudesse, e afirmou que a sua

descendência seria numerosa como aquelas estrelas, e de um herdeiro que seria gerado pelo

próprio Abraão.

E, contra qualquer tipo de evidência que lhe

fosse favorável, Abraão deu crédito às palavras

do Senhor, e creu inteiramente no que Ele disse,

apesar de nada ter diante de si, senão apenas a promessa que lhe fora feita.

A Escritura registra que a fé de Abraão lhe foi imputada como justiça.

A pronta concordância de Abraão com o fato de que a promessa era verdadeira, prova que ele

não esmoreceu na fé (Rom 4.19) que havia

demonstrado desde a primeira vez que o Senhor

lhe fizera a promessa de lhe dar uma numerosa descendência, apesar de saber que sua mulher

era estéril e que estavam ficando avançados em

idade.

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195

A fé de Abraão é, portanto, uma fé que descansa

nas promessas e no poder de Deus, e não nas

evidências e na própria capacidade pessoal, e é

este tipo de fé, que se manifesta na perseverança nesta confiança fazendo aquilo

que lhe é agradável, é exatamente o tipo de fé

viva que salva e justifica, e por isso se diz, que isto foi imputado a Abraão como justiça.

Daí se dizer que o justo viverá pela fé; que a

salvação é pela graça mediante a fé.

Mas observe que não é um tipo de fé qualquer

que justifica, mas a mesma qualidade de fé que teve Abraão, cuja autenticidade era evidenciada

pelas suas obras.

Assim o que justificou a Abraão não foi a sua

justiça própria, mas o próprio Deus, com base na

fé de Abraão que permaneceu firme em confiar nEle e em suas promessas, apesar de não ter

nada além para crer senão na própria promessa.

Assim todos os que creem em Cristo, são salvos

por crerem na promessa que Deus tem feito a Abraão de abençoar a todos os que estiverem

unidos pela fé ao seu descendente que é Cristo.

Eles são justificados não porque lhes seja dada

alguma evidência visível da sua justificação, mas porque eles simplesmente confiam de que

Deus fará exatamente como tem prometido em

Sua Palavra em relação aos que cressem em Seu

filho.

Abraão foi justificado pela sua fé, assim como o são todos os verdadeiros cristãos, e é por isso

que já não há nenhuma condenação para eles,

como se lê em Rom 8.1, e conforme foi predito

Page 196: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

196

pelo salmista no Sl 34.22: “O Senhor resgata a

alma dos seus servos, e dos que nele confiam,

nenhum será condenado.”.

Deus em sua misericórdia, para manter o

espírito de Abraão devidamente esclarecido quanto ao propósito de lhe dar uma

descendência numerosa, lhe revelou que a

promessa da herança da terra não se cumpriria

logo, conforme Abraão poderia estar pensando, mas o povo que seria formado a partir dele

ficaria encerrado numa terra estranha (o Egito)

por quatrocentos anos, e que a terra prometida

seria tomada com luta através de juízos sobre a iniquidade dos habitantes de Canaã, depois que

o próprio povo que descenderia de Abraão fosse

libertado da escravidão no Egito.

Deus revela assim de modo maravilhoso e

assombroso, o Seu conhecimento e controle

total sobre o futuro das coisas que tem determinado de acordo com o conselho da Sua

santa vontade.

O que estava em realce não era, portanto o

simples desejo de Abraão de ter uma

descendência conforme lhe fora prometido,

mas de Deus cumprir os seus elevados propósitos para fins determinados através dele.

Uma nação santa seria formada para habitar em Canaã.

É a redenção da humanidade que está em jogo, e não somente o fato de dar uma terra como

promessa para ser habitada pela descendência

de Abraão.

Page 197: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

197

Mas cumpre destacar que Abraão teve que se

esforçar e obedecer estritamente dentro das

instruções que lhes foram dadas por Deus para

que a revelação pudesse lhe chegar.

Com isto a sua fé foi colocada à prova, tanto na apresentação dos sacrifícios na forma

estabelecida por Deus, como no tempo de

espera, e na vigilância e diligência em afugentar

as aves de rapina que vinham sobre os animais sacrificados na tentativa de arrebatá-los.

Com isto Abraão provou o seu interesse e fé na resposta que Deus lhe daria, e se tornou um

grande exemplo para nós quanto à forma como

devemos zelar sobre os nossos sacrifícios

espirituais de fé, louvor, adoração, enquanto aguardamos as respostas que esperamos da

parte do Senhor.

Devemos afugentar os pensamentos ou

insinuações demoníacas que vêm sobre nós,

tentando roubar a nossa devoção, vigilância, fé e

oração, e continuarmos firmes na expectativa de que Deus trará a Sua revelação até nós,

conforme aquilo que nos tem prometido.

A revelação foi feita diretamente ao espírito de

Abraão, porque lhe veio da parte de Deus um

sono profundo, para que a alma não interferisse

em nada na revelação por uma possível distração com as coisas deste mundo.

Deus tem os seus meios sobrenaturais para se revelar a nós de forma que não tenhamos

qualquer dúvida sobre a maneira da revelação,

de sorte que saibamos que esta não nos veio por

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198

meio da carne nem do sangue, mas do Senhor

que está no céu.

É importante observar que antes da alegria

santa da revelação veio um profundo temor

sobre a alma de Abraão, e houve densas trevas.

Isto traz um santo temor do Senhor e prepara a

alma para as coisas elevadas do Espírito.

Deus geralmente primeiro fere e depois cura, de modo que a cura traz grande alegria, e lhe

damos grande valor; geralmente primeiro

humilha e abate e depois exalta, de modo que a

nossa alegria e regozijo estejam nEle mesmo e no Seu poder, e nunca em nós mesmos e na

nossa própria capacidade.

Logo, a alegria da descendência de Abraão em

ocupar a terra prometida, seria antecedida por

um período de escravidão numa terra estranha.

Assim as coisas que Abraão experimentou sob a

forma de temores e densa escuridão, estavam de acordo com a revelação das coisas que

também ocorreriam à sua descendência:

primeiro experimentariam a cruz, e depois a

coroa.

Assim, os herdeiros do céu são primeiro estranhos e peregrinos na terra, numa terra que

não é deles. Eles podem até mesmo

experimentar servidão aos poderes deste

mundo, mas numa servidão diferente dos cananitas, porque estes servem debaixo da

maldição, mas os israelitas debaixo da bênção.

Por isso o que lhes está reservado não é

condenação, como no caso dos cananitas, mas

libertação e bênçãos.

Page 199: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

199

Daí terem sido prometidas também as

consolações que se seguiriam à tribulação no

cativeiro no Egito, conforme Deus disse a

Abraão:

“Sabe com certeza que a tua descendência será

peregrina em terra alheia, e será reduzida à

escravidão, e será afligida por quatrocentos

anos; sabe também que eu julgarei a nação a qual ela tem de servir; e depois sairá com muitos

bens.”

A nação opressora seria julgada pelo Senhor, e

efetivamente foi, com tudo o que lemos no livro de Êxodo, especialmente em relação à dez

pragas, e morte do exército de faraó no Mar

Vermelho, e os israelitas sairiam com muitos

bens, como forma de compensação da exploração e opressão que haviam sofrido.

Abraão não veria o cumprimento destas coisas,

mas Deus lhe prometeu que ele morreria em

ditosa velhice e seria juntado aos seus pais em

paz.

Mas fez uma aliança com ele de que certamente

a sua descendência habitaria a terra de Canaã

desde os termos do Egito até ao rio Eufrates.

A longanimidade de Deus aguardaria para julgar a impiedade dos cananitas por mais de

quatrocentos anos, e isto porque há uma medida

de iniquidade que faz com que os seus juízos

sejam precipitados.

Nos dias de Abraão, eles não tinham atingido um nível de impiedade que demandasse a

destruição deles, tal como o Senhor faria pouco

tempo depois em Sodoma e Gomorra.

Page 200: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

200

Disto, aprendemos que o passar dos séculos,

quando não se tem o temor do Senhor e o devido

apreço pela Sua Palavra, a tendência natural é

que aqueles que são injustos se tornarão mais injustos ainda, nas gerações subsequentes.

É exatamente isto que tem ocorrido no mundo em que vivemos atualmente. O que temos visto

é que o mundo está pronto, está amadurecido

para o julgamento que o Senhor trará sobre toda

a terra em razão do aumento crescente da iniquidade.

Assim como fez com Abraão, Ele já tem fixado o tempo em que Jesus voltará, e julgará a

impiedade do mundo. Ele sabe exatamente o

ano, o mês, o dia em que tal sucederá.

Page 201: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

201

Gênesis 16

“1 Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava

filhos. Tinha ela uma serva egípcia, que se

chamava Agar.

2 Disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de ter filhos; toma, pois, a minha

serva; porventura terei filhos por meio dela. E

ouviu Abrão a voz de Sarai.

3 Assim Sarai, mulher de Abrão, tomou a Agar a egípcia, sua serva, e a deu por mulher a Abrão

seu marido, depois de Abrão ter habitado dez

anos na terra de Canaã.

4 E ele conheceu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que concebera, foi sua senhora desprezada

aos seus olhos.

5 Então disse Sarai a Abrão: Sobre ti seja a

afronta que me é dirigida a mim; pus a minha serva em teu regaço; vendo ela agora que

concebeu, sou desprezada aos seus olhos; o

Senhor julgue entre mim e ti.

6 Ao que disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está nas tuas mãos; faze-lhe como bem te

parecer. E Sarai maltratou-a, e ela fugiu de sua

face.

7 Então o anjo do Senhor, achando-a junto a uma fonte no deserto, a fonte que está no caminho de

Sur,

8 perguntou-lhe: Agar, serva de Sarai, donde

vieste, e para onde vais? Respondeu ela: Da presença de Sarai, minha senhora, vou fugindo.

9 Disse-lhe o anjo do Senhor: Torna-te para tua

senhora, e humilha-te debaixo das suas mãos.

Page 202: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

202

10 Disse-lhe mais o anjo do Senhor:

Multiplicarei sobremaneira a tua descendência,

de modo que não será contada, por numerosa

que será.

11 Disse-lhe ainda o anjo do Senhor: Eis que

concebeste, e terás um filho, a quem chamarás

Ismael; porquanto o Senhor ouviu a tua aflição.

12 Ele será como um jumento selvagem entre os homens; a sua mão será contra todos, e a mão de

todos contra ele; e habitará diante da face de

todos os seus irmãos.

13 E ela chamou, o nome do Senhor, que com ela falava, El-Rói; pois disse: Não tenho eu também

olhado neste lugar para aquele que me vê?

14 Pelo que se chamou aquele poço Beer-Laai-

Rói; ele está entre Cades e Berede.

15 E Agar deu um filho a Abrão; e Abrão pôs o nome de Ismael no seu filho que tivera de Agar.

16 Ora, tinha Abrão oitenta e seis anos, quando

Agar lhe deu Ismael.”

Dez anos haviam se passado desde que Abraão

havia saído de Harã, rumo a Canaã, pelo

mandado de Deus, tendo recebido a promessa

de que a sua descendência receberia aquela terra por herança.

Abraão contava agora com oitenta e cinco anos

de idade e Deus não havia ainda lhe dado filhos.

Sara, impaciente com a demora do

cumprimento da promessa feita por Deus, instou com Abraão para que coabitasse com

uma serva egípcia chamada Hagar, para que se

provesse de filhos através dela.

Page 203: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

203

A lei antiga prescrevia que, os filhos nascidos do

relacionamento de um senhor com uma

escrava, dava o direito legal de maternidade à

esposa do senhor e não à escrava.

Foi pensando neste arranjo que Sara fez a proposta a Abraão para que coabitasse com

Hagar.

O pecado de Sara lhe trouxe dificuldades,

porque tendo Hagar concebido de Abraão,

passou a desprezá-la.

Isto a deixou extremamente ferida e irada a

ponto de proferir um juízo sobre o próprio marido dizendo que aquilo que ela estava

recebendo da parte de Hagar na forma de

afronta, que viesse a recair sobre Abraão por

uma aplicação da justiça de Deus na avaliação do caso.

Esta não era de fato uma avaliação justa porque

ela mesma havia se precipitado dando ocasião a

que tudo aquilo acontecesse.

Abraão certamente errou ao dar ouvidos à sua

mulher, para satisfazer o seu desejo, em vez de

buscar orientação em Deus, ou agir de acordo com a promessa que o Senhor lhe fizera.

Ele poderia e deveria ter dito a Sara: “Não

devemos fazer isto porque Deus nos tem feito a

promessa de nos dar um filho que será gerado

por nós mesmos.”

Tal era a pressão da situação que Abraão expôs

Hagar à livre ação de Sara, lembrando-lhe que ela tinha autoridade sobre a escrava, pois era

sua senhora, e estava em suas mãos tomar a

decisão que bem lhe parecesse.

Page 204: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

204

Sara a humilhou, de modo que ela teve que

fugir, estando grávida.

Foi o desejo de vingança de Sara contra Hagar que a levou a proferiu aquela palavra de

imprecação sobre Abraão, porque no seu

entendimento ele se recusava a punir Hagar.

Esta vingança foi cumprida quando Sara a

humilhou.

Certamente a aprovação de Deus não estava em nada disso porque Ele proíbe claramente a

vingança e a ira injustificada.

Um pecado conduz a outro pecado, e por isso o

mal deve ser cortado pela raiz, para que não se espalhe e contamine a muitos.

O fato de sermos humilhados não nos dá o

direito da parte de Deus, de pagarmos na mesma moeda.

Ao contrário, Ele nos ordena que abençoemos

os que nos maldizem, que amemos os nossos inimigos, que oremos pelo bem dos que nos

perseguem.

Além disso, foi a própria Sara a culpada por tudo

o que estava ocorrendo; e como no dizer do apóstolo, aqueles que sofrem por causa das suas

próprias faltas, devem suportar os seus

sofrimentos pacientemente, uma vez que foram eles próprios que lhe deram causa (I Pe 2.20).

Mas o propósito principal desta revelação das

Escrituras está contido nas palavras do anjo do

Senhor a Hagar quando ela se encontrava no deserto, quanto ao futuro da descendência

daquele filho que ela conceberia: “Ele será,

entre os homens, como um jumento selvagem;

Page 205: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

205

a sua mão será contra todos, e a mão de todos

contra ele; e habitará fronteiro a todos os seus

irmãos.”

Esta profecia é de um alcance que tem

cumprimento ainda em nossos dias e terá até

que Jesus volte, porque os descendentes de

Ismael são os árabes, e de fato, eles têm, na história da humanidade, especialmente da

cristandade, sido um povo à parte, neste aspecto

de serem contra todos, e todos serem contra

eles, o que se vê nos constantes conflitos que ocorrem há séculos naquela região,

particularmente em razão da inimizade

histórica com Israel, que é descendente de Isaque, o filho de Abraão com Sara.

A atitude inconsequente e precipitada de Sara e

Abraão deixaria este duro legado para a

humanidade.

Assim, para que o menino que seria gerado

fosse preservado e se desenvolvesse em

segurança sob a influência de Abraão, o anjo ordenou a Hagar que se desculpasse com Sara,

humilhando-se perante ela, de modo que fosse

recebida de novo no seio da família da qual ela

havia fugido.

Page 206: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

206

Gênesis 17

“1 Quando Abrão tinha noventa e nove anos,

apareceu-lhe o Senhor e lhe disse: Eu sou o Deus

Todo-Poderoso; anda em minha presença, e sê perfeito;

2 e firmarei o meu pacto contigo, e

sobremaneira te multiplicarei.

3 Ao que Abrão se prostrou com o rosto em

terra, e Deus falou-lhe, dizendo:

4 Quanto a mim, eis que o meu pacto é contigo, e serás pai de muitas nações;

5 não mais serás chamado Abrão, mas Abraão

será o teu nome; pois por pai de muitas nações

te hei posto;

6 far-te-ei frutificar sobremaneira, e de ti farei

nações, e reis sairão de ti;

7 estabelecerei o meu pacto contigo e com a tua

descendência depois de ti em suas gerações,

como pacto perpétuo, para te ser por Deus a ti e

à tua descendência depois de ti.

8 Dar-te-ei a ti e à tua descendência depois de ti a terra de tuas peregrinações, toda a terra de

Canaã, em perpétua possessão; e serei o seu

Deus.

9 Disse mais Deus a Abraão: Ora, quanto a ti,

guardarás o meu pacto, tu e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações.

10 Este é o meu pacto, que guardareis entre mim

e vós, e a tua descendência: todo macho entre

vós será circuncidado.

Page 207: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

207

11 Circuncidar-vos-eis na carne do prepúcio; e

isto será por sinal de pacto entre mim e vós.

12 À idade de oito dias, todo varão dentre vós

será circuncidado, por todas as vossas gerações,

tanto o nascido em casa como o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da

tua linhagem.

13 Com efeito será circuncidado o nascido em

tua casa, e o comprado por teu dinheiro; assim

estará o meu pacto na vossa carne como pacto

perpétuo.

14 Mas o incircunciso, que não se circuncidar na carne do prepúcio, essa alma será extirpada do

seu povo; violou o meu pacto.

15 Disse Deus a Abraão: Quanto a Sarai, tua,

mulher, não lhe chamarás mais Sarai, porem

Sara será o seu nome.

16 Abençoá-la-ei, e também dela te darei um

filho; sim, abençoá-la-ei, e ela será mãe de nações; reis de povos sairão dela.

17 Ao que se prostrou Abraão com o rosto em terra, e riu-se, e disse no seu coração: A um

homem de cem anos há de nascer um filho?

Dará à luz Sara, que tem noventa anos?

18 Depois disse Abraão a Deus: Oxalá que viva

Ismael diante de ti!

19 E Deus lhe respondeu: Na verdade, Sara, tua

mulher, te dará à luz um filho, e lhe chamarás Isaque; com ele estabelecerei o meu pacto como

pacto perpétuo para a sua descendência depois

dele.

20 E quanto a Ismael, também te tenho ouvido;

eis que o tenho abençoado, e fá-lo-ei frutificar, e

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208

multiplicá-lo-ei grandissimamente; doze

príncipes gerará, e dele farei uma grande nação.

21 O meu pacto, porém, estabelecerei com

Isaque, que Sara te dará à luz neste tempo

determinado, no ano vindouro.

22 Ao acabar de falar com Abraão, subiu Deus

diante dele.

23 Logo tomou Abraão a seu filho Ismael, e a

todos os nascidos na sua casa e a todos os

comprados por seu dinheiro, todo varão entre os da casa de Abraão, e lhes circuncidou a carne do

prepúcio, naquele mesmo dia, como Deus lhe

ordenara.

24 Abraão tinha noventa e nove anos, quando

lhe foi circuncidada a carne do prepúcio;

25 E Ismael, seu filho, tinha treze anos, quando lhe foi circuncidada a carne do prepúcio.

26 No mesmo dia foram circuncidados Abraão e

seu filho Ismael.

27 E todos os homens da sua casa, assim os

nascidos em casa, como os comprados por

dinheiro ao estrangeiro, foram circuncidados com ele.”

Entre a narrativa do capítulo dezesseis de

Gênesis e a do capítulo dezessete, há um espaço

de treze anos. Este capítulo começa com a

afirmação de que o Senhor apareceu a Abraão quando ele tinha noventa e nove anos de idade.

Deus reafirmou a aliança que havia feito com ele

de lhe fazer pai de numerosas nações, e mudou-

lhe o nome de Abrão, que significa no hebraico,

Page 209: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

209

“pai exaltado”; para Abraão, que significa “pai

de multidão”

(Gên 17.5), e o de Sarai, que significa “minha

princesa”; para Sara, que significa “a princesa” (Gên 17.15).

A renovação da promessa teve que aguardar

pelo menos mais treze anos depois do

nascimento de Ismael, como que aquele ato

precipitado de Sara e Abraão, em vez de apressar o cumprimento da promessa, contribui

possivelmente para retardá-lo, pois somente

vinte e cinco anos, depois de Abraão ter deixado Harã, que Isaque nasceria, dando-se

cumprimento à primeira parte da promessa, a

saber, que Abraão teria um filho com Sara.

Quando Deus apareceu a Abraão quanto

contava com noventa e nove anos de idade, disse-lhe ser o Deus Todo-Poderoso, isto é, El-

Shaddai, e antes de renovar a aliança com ele,

lhe disse que andasse na Sua presença e fosse

perfeito (17.1).

Em atitude de reverência e temor, Abraão

prostrou-se com o rosto em terra, e assim Deus

lhe falou que ele seria pai de numerosas nações,

mudou-lhe o nome de Abrão, para Abraão, e disse que o faria fecundo extraordinariamente,

e que dele faria nações, e que reis procederiam

dele, e a aliança que faria com ele e a sua

descendência seria uma aliança perpétua no decurso de todas as suas gerações, aliança de

ser o Deus da sua descendência para sempre.

Sem qualquer dúvida, esta parte da promessa

extrapola a nação de Israel segundo a carne,

Page 210: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

210

pela descendência de Abraão, e aplica-se,

sobretudo ao Israel espiritual que seria formado

com todos aqueles que nascessem de novo pela

mesma fé que havia justificado a Abraão, pois é este o verdadeiro Israel de Deus que estará

aliançado perpetuamente com Ele.

A promessa feita a Abraão incluía também a

posse perpétua da terra de Canaã em que

Abraão estava peregrinando.

Como sinal desta aliança, o Senhor instituiu a

circuncisão para ser feita em todas as pessoas do sexo masculino que estivessem debaixo da

autoridade de Abraão, e a todos os que

nascessem da sua descendência no decurso de

todas as gerações, quando tivessem oito dias de nascidos.

Mas não era exatamente nisto que consistiria o

verdadeiro sinal da aliança com Deus, pois a

circuncisão que nos liga a Ele não é a do

prepúcio, mas a do coração.

Daí ter ordenado a Abraão que andasse na Sua

presença e fosse perfeito.

Esta é a condição exigida de todos os que estão aliançados com Deus na Nova Aliança por meio

de Cristo, porque esta é uma aliança eterna, e

por isso devem ser diligentes em andar na

presença de Deus e serem perfeitos assim como Ele é perfeito, uma vez que por meio de Cristo

obtiveram a cidadania do céu, onde tudo é

perfeito e santo.

Os que são de Cristo formam um só espírito com

ele, e devem andar assim como Ele andou.

Page 211: Interpretação do monumental livro de gênesis   parte 1

211

Esta perfeição aponta para maturidade

espiritual em devoção ao Senhor, e não à

perfeição moral sem qualquer defeito. É, como

podemos dizer, uma perfeição evangélica, ou seja, decorrente da nossa fé no evangelho.

Abraão pensou que a descendência da qual o

Senhor falara, provavelmente se referia a

Ismael, e até riu enquanto estava prostrado com

o rosto em terra, pensando na situação bizarra que seria ele um homem de cem anos, e Sara

com os seus noventa, gerando um filho.

Mas Deus disse-lhe que a aliança não seria

firmada em Ismael, a quem Ele abençoaria

fazendo dele uma grande nação, mas seria

firmada em Isaque (que significa “riso” em hebraico), ao qual Sara daria à luz um ano

depois, conforme estava lhe prometendo.

As bênçãos do pacto não poderiam ser

cumpridas em Ismael, porque não seria dele

que descenderia o Messias, mas de Isaque, a quem Sara ainda daria à luz.

Assim, os muitos filhos de Deus que nasceriam pela fé em Cristo, seriam irmãos na fé de Isaque,

que foi também justificado pela fé.

Seriam filhos desta promessa tal como Isaque,

de serem abençoados juntamente com o crente

Abraão, porque este é o único caminho da salvação que foi estabelecido e determinado por

Deus no Seu conselho eterno.

A salvação vem portanto dos judeus conforme

afirmou Jesus, e por meio do próprio Jesus que é

o único caminho para tal salvação.

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Tendo o Senhor se elevado, retirando-se da

presença de Abraão, depois de lhe ter falado

todas estas palavras, ele se dispôs a obedecer ao

mandamento de Deus, tendo circuncidado a todos os da sua casa.

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