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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicao

    XXXIV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Recife, PE 2 a 6 desetembro de 2011

    TRNSITOS E CONECTIVIDADES NA WEB: UMA ECOLOGIA

    AUDIOVISUAL1

    Sonia MONTAO2

    Suzana KILPP3

    Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, RS

    Resumo

    O artigo ensaia uma ecologia do audiovisual da web atravs da desconstruo de panoramas daplataforma Justin TV. O uso da metodologia das molduras para tais objetivos mostra como oaudiovisual construdo pela sobreposio de molduras discretas que se tornam ambincias nointerior das quais se do a ver as montagens, os enquadramentos e os efeitos de sentido. Otempo ao vivo, como um fluxo marcado por trnsitos e conectividades diversos um dos

    principais sentidos oferecidos ao vdeo contemporneo nos confins da plataforma Justin TV,tensionando e ao mesmo tempo reciclando outros sentidos dados TV nos modos tradicionais.

    Palavras-chave

    Audiovisual; web; ecologia

    IntroduoA imagem audiovisual se dispersa na cultura contempornea. Mesmo quando se

    concentra em determinada rea para fins especficos, os usos e apropriaes que dela se

    fazem socialmente transbordam as fronteiras do habituado na rea, permitindo conexo

    de pessoas, tecnologias e imagens. O fenmeno pode ser bem observado nas

    plataformas de compartilhamento de vdeos, nas quais ela aparece ao lado de outras,

    tornadas afins segundo os mais diferentes critrios de afinidade imaginada pelos

    usurios, colecionadores ou no.

    De um lado, observamos a expanso funcional da imagem fora das mdias (para um

    fim) e sua apropriao por elas (para outro fim), como o caso daquela captada por

    cmeras de segurana que comparece no fluxo de um telejornal. Tambm podemos

    pensar nos testes das neurocincias com macacos e braos robticos, por exemplo, que

    1 Trabalho apresentado no GP Cibercultura, XI Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicao, eventocomponente do XXXIV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao.

    2 Doutoranda no Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade do Vale do Rio dos Sinos -UNISINOS, email:[email protected] Professora e pesquisadora do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da Universidade do Vale do Rio dos

    Sinos - UNISINOS, email: [email protected]

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    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    so experimentos mediados por vdeo; ou nos usos da cmera no esporte profissional,

    para captar detalhes dos jogos; ou ainda na medicina nuclear, que usa micro-cmeras

    instaladas em nossos corpos para registrar processos orgnicos. Em algum momento,restos de tais imagens a princpio restritas a uma rea se inscrevem no fluxo de alguma

    mdia chamada de massa (cinema, TV, Internet) ou no das chamadas mdias mveis,

    locativas (telefone celular e aparelhos similares), instaurando um verdadeiro curto-

    circuito em nosso referencial imagtico.

    De outro lado, observamos que a imagem audiovisual das mdias contagia-se cada vez

    mais por essas imagens (virais, em certo sentido), tornando-se mais grficas, por

    exemplo; e contaminada por outras de natureza mais similar, produzidas com

    finalidades prximas s das mdias (de comunicao), tornando-se esteticamente mais

    improvisadas e eticamente mais testemunhais, por exemplo.

    O acesso a ferramentas (hardware e software) para produo de vdeo tem se tornado

    cada vez mais comum. Os equipamentos de gravao de som e imagem esto se

    tornando ubquos, seja por diminuio de custos seja pela incorporao de mecanismos

    de gravao em equipamentos cujo fim original era outro (como cmeras fotogrficas,

    celulares e computadores mveis). A popularizao da conexo de banda larga e as

    diversas plataformas online gratuitas para publicao, por sua vez, tornaram o acesso a

    arquivos de contedo audiovisual mais simples, barato e veloz que na poca da internet

    discada.

    Por estas e outras razes podemos falar de uma generalizao do audiovisual, como

    aponta Machado (2007). Ele destaca a presena do vdeo em novas modalidades: o

    vdeo-streaming na internet, o vdeo baixado no celular, as live images e os vdeo

    jockeys da cena noturna. Alm da videoarte que se transforma em artigo de luxo e passa

    a ser vendida a colecionadores em galeria de arte, ele lembra tambm a exploso da

    produo amadora e a ampliao dos meios de distribuio e de canais de difuso

    exclusiva de vdeo na televiso. Para Machado, a caracterstica da imagem eletrnica

    sua extraordinria capacidade de metamorfose: pode-se nela intervir infinitamente,

    subverter seus valores cromticos, inverter a relao figura e fundo, tornar transparentes

    os seres representados.

    Eis por que falar de imagem e som eletrnicos significa colocar-se fora dequalquer territrio institucionalizado. Trata-se de enfrentar o desafio e aresistncia de um objeto hbrido, em expanso, fundamentalmente impuro, de

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    identidades mltiplas, que tende a se dissolver camaleonicamente em outrosobjetos ou a incorporar seus modos de constituio. (MACHADO, 2007, p. 36).

    Mais especificamente sobre o audiovisual da web, Kilpp e Fischer (2010), propem que

    no atual estgio da tcnica o audiovisual espalhou-se de tal modo pelas mdias que seus

    usos e apropriaes por profissionais e amadores saram do controle exclusivo das

    grandes empresas de comunicao. Criaram-se importantes nichos que vm sendo

    disputados acirradamente por diferentes setores relacionados produo, distribuio e

    disposio de recursos para consumo e realizao audiovisual. Alertam, porm, que

    neles ainda perduram as referncias tradicionais, analgicas, e as narrativas textuais

    anteriores ao hipertexto. Para os autores,

    O estudo das audiovisualidades decorre de um conjunto de aes articuladas earticuladoras de pesquisadores em torno de uma problemtica emergente nasmdias e na pesquisa em Comunicao, que se relaciona ao audiovisual latu

    sensu como dispositivo central do atual momento do processo de globalizaodas culturas (Ib., p.40).

    Ainda Kilpp (2010, p. 20), falando das imagens na web, se refere a uma

    audiovisualizao da cultura:

    Porque resultam de conexes e promovem outras, elas respondem a uma dasurgncias do dispositivo contemporneo, ensaiando vinculaes del (etreas)necessrias local-globalizao. Por conta dos usos e apropriaes que sefazem hoje do arquivo imagtico, que qualquer um rouba para comunicar-se, eque qualquer um incrementa com mais uma imagem qualquer, assistimos hoje auma audiovisualizao da cultura sem precedentes. O que isso? Qual anatureza imagtica desse audiovisual e dessa cultura?

    Para responder a essas perguntas analisaremos aqui um recorte feito numa plataforma

    especfica de vdeo, o Justin TV,site para transmisso de vdeos ao vivo. Discutiremos

    como nele se enuncia o audiovisual da web, e o faremos a partir da metodologia das

    molduras, um procedimento de anlise que possibilita uma ecologia do audiovisual e da

    mdia.

    Metodologia: molduras e ecologia audiovisual

    A metodologia das molduras (KILPP, 2010a) implica inicialmente trs eixos conceituais

    propostos pela autora (molduras, ethicidades e imaginrios) que so atravessados pelos

    quatro conceitos basilares da obra de Bergson (1999) como intuio, lan vital, durao

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    e memria, e pelos conceitos de imagicidade e cinematismo propostos por Eisenstein

    (1990), escopo a partir do qual a metodologia visa autenticar as audiovisualidades

    atualizadas em cada mdia e que, entretanto, permanecem em devir. Em suaprocessualidade, parte da dissecao de molduras discretas que so prprias de cada

    mdia, que quando se do a ver as montagens, os enquadramentos e os efeitos de

    sentido.

    Nas molduras autenticadas percebe-se os quadros e territrios de experincia e

    significao de construtos miditicos (as ethicidades), cujo sentido ltimo agenciado

    por conta dos imaginrios minimamente compartilhados entre todos os partcipes de

    processos comunicacionais. No imbricamento desses agenciamentos tecnoculturais

    encontram-se, contagiam-se reciprocamente e atravessam-se ambientes miditicos e

    ambincias socioculturais que os produzem; por isso, a metodologia autentica e age sob

    e sobre uma ecologia audiovisual.

    No caso de audiovisuais na web, as molduras mais slidas so aquelas que permanecem

    (ou duram - so as molduras durantes) na tela do computador (fixo ou mvel)

    conectado: o navegador, o link, a interface, o sistema operacional, as barras de

    navegao, os menus, entre outras. nesse ambiente enunciativo que se produzem os

    sentidos agenciados para as ethicidades4, isto , para as pessoas, fatos, acontecimentos,

    duraes e objetos que a web mostra como tais, mas que so de fato conceitos ou cenas

    do mundo.

    A ecologia audiovisual a que nos referimos segue a esteira introduzida nos estudos da

    comunicao por Marshall McLuhan. Para ele, os meios tm como efeitos a criao de

    ambientes que so entendidos como processos em construo e dificilmente percebidos

    por seus contemporneos. J as molduras so aqui consideradas ambientes atualizados

    que produzem um territrio e ao mesmo tempo resultam de outro maior, uma ambincia

    ou poca scio-cultural, a moldura primeira dessas imagens tecnoaudiovisuais.

    Tal perspectiva intenta superar uma viso antropocntrica falida, j que no considera o

    meio uma ferramenta ou instrumento de que podemos simplesmente fazer um bom ou

    mau uso, perspectiva contra a qual McLuhan (1999, p. 25) se debateu, insistindo em que

    qualquer tecnologia pode fazer tudo, menos somar-se, ou dobrar-se ao que j somos.

    A perspectiva est em sintonia com a chamada ecologia profunda de Arne Naess (1970),

    4 Frisamos que as ethicidades tm sentidos identitrios fluidos, justamente por conta do compsito de molduras emque so significadas.

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    ramo do pensamento ecolgico surgido mais ou menos na mesma poca das reflexes

    de McLuhan sobre o meio. A ecologia profunda se diferenciou da ecologia superficial

    ou rasa ao pensar que nenhuma forma de vida tem um valor instrumental. Como explicaCapra

    a ecologia rasa antropocntrica, ou centralizada no ser humano. Ela v osseres humanos como situados acima ou fora da natureza, como a fonte de todosos valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de uso, natureza. Aecologia profunda no separa seres humanos ou qualquer outra coisa domeio ambiente natural. Ela v o mundo no como uma coleo de objetosisolados, mas como uma rede de fenmenos que esto fundamentalmenteinterconectados e so interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valorintrnseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um

    fio particular na teia da vida (CAPRA, 1998, p. 25-26).

    Na metodologia das molduras o olhar do pesquisador necessariamente ecolgico no

    sentido de que est desprovido de uma hierarquia prvia, quando, por exemplo, e ao

    contrrio, se privilegia o teor conteudstico na anlise de um meio, e h um olhar que

    hierarquiza e que no percebe como direcionado para tanto pelo prprio meio. Um

    olhar enceguecido. A percepo das molduras, ethicidades e imaginrios presentes nas

    imagens desnaturaliza o olhar e permite observar como todos os elementos numa

    determinada moldura so relacionados entre si de forma tecnicamente discretajustamente para no ser percebida sua hierarquizao e os sentidos assim privilegiados.

    Na cartografia de molduras do audiovisual na web, particularmente no Justin TV,

    autenticamos construtos como o vdeo ao vivo, o canal, o usurio, a publicidade, o

    prprio Justin, a TV, as mdias, o global e o local, o cidado e o estrangeiro. Sentidos

    de trnsito e conectividade tm sido reverberados na enunciao dessas e de outras

    ethicidades, o que nos leva necessidade de especificar algumas prticas habituadas no

    site.

    Trnsito e conectividades no Justin TV

    O Justin TV 5 uma plataforma de transmisso e exibio de vdeos ao vivo que est no

    ar desde 2007. Replica parte do nome de seu criador e apresenta-se ao usurio na home

    (no linksobre ns) como um servio que nasceu da experincia de web broadcast24

    horas por dia, de um homem chamado Justin Kan, que tinha sempre um chapu com

    uma webcam, filosofia que se reflete na manuteno do princpio de vrias pequenas5 Disponvel emhttp://www.justin.tv/justinkan.

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    http://www.justin.tv/justinkanhttp://www.justin.tv/justinkanhttp://www.justin.tv/justinkanhttp://www.justin.tv/justinkan
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    comunidades conectadas grande comunidade Justin TV, sempre sob a moldura

    canais. Sua pragmtica contribuiu para a instaurao de um gnero chamado de

    lifecasting (transmisso de vida), que pratica veicular ao vivo vdeos produzidos portelefone celular com aplicativos especficos para Android e Iphone; ou ento transmitir

    ao vivo imagens-registro das 24 horas dirias de atividade de gatos, cachorros, galinhas,

    etc, protagonistas diante dos quais se deixa uma cmera ligada, e que pode ser inclusive

    uma cmera web.

    Embora o site tenha agregado sua plataforma tambm canais profissionais de TV

    (aberta e fechada) de diversas partes do mundo, a transmisso ao vivo da vida

    desenrolando-se continua central no sentido que o Justin se atribui, e essa experincia

    inaugural opera como importante moldura de todos os sentidos conferidos aos vdeos

    que veicula.

    A experincia audiovisual no Justin TV (e em outras plataformas de compartilhamento

    de vdeo, com ou sem transmisso ao vivo) deve ser pensada em sua moldura primeira:

    o contexto scio-cultural do qual ela emerge. Se adotarmos a perspectiva ecolgica de

    McLuhan (1999, 1967), que v os distintos meio ambientes tecnolgicos no como

    meros realizadores ou veiculadores de produtos aos quais as pessoas se conformam, e

    sim como extenses de processos ativos de comunicao, podemos tentar compreender

    o ambiente que emerge dos novos meios6, principalmente a partir de suas qualidades de

    ubiquidade e pervasividade. Um dos modos como elas so pensadas na informtica a

    ubiqidade como qualidade de estar ao mesmo tempo em toda parte e a pervasividade

    como a qualidade de se espalhar, de se difundir por toda parte por meio de diversos

    canais, tecnologias, sistemas, dispositivos etc. Tambm podemos pensar a primeira

    como um tipo de conectividade de tempos e espaos e a segunda como um tipo de

    trnsito.

    Entre os autores que analisam a contemporaneidade, Bauman (2004) pontua que com as

    redes e as tecnologias mveis, telefone celular e GPS, a conectividade passa a ocupar o

    centro de uma cultura marcada por compras online, cursos de ensino a distncia,

    namoro pela internet, mensagens instantneas etc. Ela permite uma experincia

    6 Estamos usando aqui a expresso novos meios conforme proposio de Manovich (2005; 2006). O autor diferenciadois campos de pesquisa diferentes sobre realidades semelhantes: o que se chamou de cibercultura e o que ele chamade novas mdias. A primeira, como o estudo de vrios fenmenos sociais associados internet e outras formas decomunicao em rede. O estudo das novas mdias se ocuparia, entretanto, segundo o autor, de objetos e paradigmas

    culturais capacitados por todas as formas de computao, e no apenas pela rede. Ele resume dizendo que acibercultura concentra-se no social e na rede; as novas mdias concentram-se no cultural e na computao(MANOVICH, 2005, p. 27).

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    ininterrupta, possvel e desejvel de trnsito, e para isso esto nossos telefones celulares

    com baterias devidamente carregadas e com reas de cobertura cada vez maiores. Como

    enfatiza o autor (Ib. 2004, p. 78), voc no iria a nenhum lugarsem o celular (nenhumlugar , afinal, o espao sem um celular, com o celular fora de rea, ou sem bateria).

    Estando com o seu celular, voc nunca estfora ou longe. Encontra-se sempre dentro

    mas jamais trancado em um lugar.

    Para o autor (2004, p. 52), essa lgica da conectividade d tambm o tom aos laos

    humanos, que passaram de relacionamentos a conexes, e de parceiros a redes;

    diferentemente de parentescos, parcerias e relaes similares que ressaltam o

    engajamento mtuo, ao mesmo tempo que disfaram o fato de no haver compromisso

    com os outros , uma rede serve de matriz tanto para conectar quanto para

    desconectar; no possvel imagin-la sem as duas possibilidades. Na rede, elas so

    escolhas igualmente legtimas, gozam do mesmo status e tm importncia idntica. o

    caso dos chats em que pertencemos ao fluxo das mensagens, das palavras truncadas e

    abreviadas para acelerar a circulao porque pertencemos conversa, no quilo sobre o

    que se conversa. A nica questo manter o chat funcionando. O silncio equivale

    excluso (BAUMAN, 2004, p. 52). A nosso ver, esse fluxo no qual a grande rede

    parece nos inserir tem uma forte qualidade audiovisual.

    Em outro texto o autor destaca tambm a mobilidade como caracterstica da

    globalizao, ainda que revelia dos sujeitos. Bauman sugere que estamos em

    movimento mesmo que fisicamente nos parea estarmos imveis, e que a imobilidade

    no uma opo estrategicamente realista num mundo em permanente mudana. O

    autor lembra que a histria moderna foi marcada pelo progresso constante dos meios de

    transporte, e que os transportes (e as viagens) foram campos nos quais a perspectiva

    tornou-se rpida e radicalmente outra; o progresso a no resultou apenas na

    multiplicao de diligncias necessrias ao transporte, mas implicou a inveno e

    produo de meios de transporte inteiramente novos, de massa, como trens e avies. No

    que mais nos interessa sobre o transporte, o autor frisa que

    Dentre todos os fatores tcnicos da mobilidade, um papel particularmenteimportante foi desempenhado pelo transporte da informao o tipo decomunicao que no envolve o movimento de corpos fsicos ou s o faz

    secundria e marginalmente. Desenvolveram-se de forma consistente meiostcnicos que tambm permitiram informao viajar independente dos seus

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    portadores fsicos e independente tambm dos objetos sobre os quaisinformava: meios que libertaram os significantes do controle dossignificados (BAUMAN, 1999, p. 21).

    A defasagem entre a acelerao dos movimentos dos meios de transporte da informaoe a dos movimentos dos sujeitos da informao gerou uma crise de paradigma: pela

    primeira vez na histria o transporte da informao adquiriu mais velocidade que o dos

    corpos; depois da TV via satlite, a rede mundial de computadores terminou invertendo

    a noo que se tinha de viagem e de distncia a ser percorrida: a informao hoje

    instantaneamente disponvel em todo o planeta, enquanto que os sujeitos da informao,

    embora mais rapidamente moventes pelos modernos meios de transporte de corpos,

    ainda so mais lerdos do que a informao.O movimento da informao e principalmente das redes conectadas gera, ento, um tipo

    de trnsito diferente daquele do transporte. um tipo de movimento ps-territorial, que

    no mais geogrfico, mas puro fluxo, como explica Di Felice (2009). O autor fez uma

    tipologia das relaes entre sujeito e territrio engendrada pelo meio: a escrita, por

    exemplo, cria um tipo de viagem que expande as cidades, como foi no colonialismo,

    quando entre o sujeito e a paisagem havia um projeto, um texto; j atravs da

    eletricidade a paisagem da cidade se transforma numa forma duplicada e mvel como apaisagem desfocada que tem algum que olha pela janela do nibus ou do elevador,

    tratando-se de uma forma de deslocamento sem movimento: o sujeito movido

    mecanicamente, e a paisagem se movimenta mecanicamente na cidade. Mas tambm no

    cinema, que surge nessa poca. Com os novos meios, a sociedade apresenta-se em

    fluxos comunicativos. Di Felice pensa, por exemplo, no movimento que temos emsites

    como o Second Life ou numgame;mas tambm no movimento de um motorista que se

    orienta na cidade pelo GPS, ou no do pedestre que acessa dados em seu telefone celular

    diversas vezes enquanto anda.

    Nesses casos o trnsito um falso movimento, e assemelha-se mais a um contexto de

    imerso. A paisagem deixa de ser algo pontualmente geogrfico e fsico dos sujeitos e

    se expande na forma de teia tramada instante a instante apesar dos sujeitos (rede de

    informaes). Esta experincia produz um movimento que no est ligado a uma ao

    no espao. No mais uma movimentao em que algo passa de um lugar para outro:

    uma forma de trnsito, de passagem de um lugar para o mesmo lugar, qual o autor

    chama de atpica, e que est em constante transformao. Sinergia entre sujeito,

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    Figura 1-canal do Justin TV com molduras de canais relacionados e compartilhamento comredes sociais

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    territorialidade e tecnologia informativa, transitar entrar no fluxo informativo,

    movimento que no mais nem o do nmade nem o do sedentrio, mas uma terceira

    forma levantada por Deleuze e Guattari (2000) no exemplo do arteso que fica imersono fluxo da madeira.

    Alm da arquitetura e a geografia, o habitar atpico no mais ligado nascoordenadas topogrficas nem a um genius loci, mas a fluxos informativos e auma espacialidade mutante, nem externa nem interna, um habitar nemsedentrio nem nmade que por meio da tecnologia wireless e da computaomvel, faz do corpo o suporte da informao aglomerando a biomassa com ainfomassa numa inter-relao fluida (DI FELICE, 2009, p. 226).

    Ou seja, dessa nova forma de movimento emerge tambm uma nova forma de habitar,

    na qual no h territrio para atravessar, nem tampouco geografias em que residir.

    Quando vemos o modo, bastante praticado nossites de compartilhamento de vdeos, de

    rodear um player principal com vdeos relacionados ou canais relacionados (no

    caso do Justin, onde o

    canal mais

    importante que o

    vdeo), e as molduras

    que convidam a

    compartilhar ou a

    direcionar esse vdeo

    para outras redes

    sociais nas que o

    usurio est tambm

    devidamente

    conectado ( figura 1), pensamos ser essa

    uma das formas de tais plataformas sugerirem trnsitos (uma ethicidade, lembramos!);

    um convite a realizar um movimento ps-territorial: entrar no fluxo.

    Nesse novo contexto, trnsito e conectividade comparecem na web como um construto,

    como duas realidades inseparveis. A conectividade sobretudo uma promessa de

    trnsito, de poder andar solto em todas as direes, sem fronteiras, deslizar no mundo

    global. Por sua vez, o trnsito uma promessa de conectividades de diversas naturezas(humanas, tecnolgicas, imagticas) a cada passo dado.

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    Este cenrio ou ambiente, a moldura primeira, produz uma srie de mudanas nas

    molduras segundas. A ambincia (web) onde o Justin TV (e as plataformas de vdeo em

    geral) est sitiado e acessado no a mesma da TV tradicional. Se bem que a TV podeser assistida em lugares pblicos como estaes, bares, consultrios, sua principal

    ambincia a casa. na prpria casa que se assiste a mais tempo de TV e a casa que

    moldura as grades de programao de TV, importantssima moldura da televiso, pois a

    programao das emissoras dirigida a um pblico que imaginariamente seria o que

    est em casa em tal momento: dona de casa = programas de culinria; crianas =

    desenhos animados; famlia = jornal. A ambincia do Justin (TV!) pode, no entanto, ser

    pensada como o prprio trnsito atravessando espaos que estavam antes to

    delimitados - mais no imaginrio do que na vida vivida, bem verdade, assim como os

    espaos da casa e da rua nos modos como DaMatta (1999) os aborda.

    por isso que o novo ambiente recicla os velhos e instaura os novos espaos sociais,

    demandando inclusive novos imaginrios. Telefones celulares, micro e nano

    computadores so responsveis pela possibilidade da continuidade ininterrupta de

    diversas conexes, e o movimento de imerso no fluxo se torna a ambincia primeira,

    ainda que coexistente com os outros modos de trnsito referidos por Di Felice (2009).

    Assim, o trnsito e a conectividade possibilitados pela tecnologia (web) caracterizam

    tanto o contexto contemporneo quanto a ambincia na qual assistimos ao vdeo. A

    ambincia da TV tradicional j nos possibilitava uma srie de conectividades que o

    cinema no permitia: como constataram Barbero e Rey (2001, p. 33), o fluxo televisivo

    constituiu a metfora mais real do fim dos grandes relatos pela equivalncia de todos os

    discursos, pela interpenetrabilidade de todos os gneros e pela transformao do

    efmero em chave de produo e em proposta de gozo esttico. A nova experincia

    trazida pela TV remetia aos novos modos de estar juntos na cidade. Segundo os autores,

    Ao mesmo tempo em que desagrega a experincia coletiva, impossibilitando o

    encontro e dissolvendo o indivduo no mais opaco dos anonimatos, [a TV] introduz uma

    nova continuidade: a das redes e dos circuitos, a dos conectados. Contudo, o tipo de

    conectividade referida passa muito mais pela experincia da recepo que indivduos ou

    pequenos grupos tm em comum em meio ao caos urbano e na solido de cada

    apartamento. J a conectividade construda pelo Justin e pela transmisso ao vivo do

    audiovisual da web de outra natureza ainda.

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    Figura 2- uma das marcas visuais do Justin TV

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    XXXIV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Recife, PE 2 a 6 desetembro de 2011

    O vdeo ao vivo como trnsito e conectividade no Justin TV

    O lema do Justin (a plataforma) em 2009 era live video and chat for everyone (vdeo ao

    vivo e bate-papo para todos); atualmente streaming live video broadcasts for everyone(transmisso de vdeo ao vivo para todos). Isso visvel na barra de navegao superior,

    que embora varie conforme o navegador usado, em todos os casos uma importante

    moldura da ethicidade Justin TV que, por sua vez, moldura toda a plataforma. O vdeo

    ao vivo assistido ou explorado, a transmisso, o todos e, talvez num segundo

    plano, o bate-papo (que sempre ao vivo) so centrais na produo de sentidos sobre a

    plataforma.

    Uma das marcas visuais (figura 2) com as letras JTV brancas sobre fundo azul e um

    pequeno crculo vermelho no lado superior direito, um dos construtos que mostra a

    centralidade que tem o vdeo ao vivo na plataforma. Esse crculo vermelho aparece

    tambm na primeira pgina do Justin (figura 3A), nas chamadas de vdeos. Essa pgina

    funciona quase como uma ante-sala, onde o visitante que ainda no faz parte da

    comunidade a acessa ao digitar o url, ou que chega a ela por um site de busca. Nessa

    pgina (figuras 3 A e 3 B), ele convidado a cadastrar-se ou, se j

    cadastrado e no salvou sua senha no hardware por onde est

    acessando, convidado a fazer login7. Na pgina inicial, ento, h

    uma chamada para assistir aos vdeos ao vivo, que aparece num

    conjunto em que h um player (que roda um vdeo) e 4 quadros,

    direita do player, onde esto sobrepostas uma imagem, o nome do

    canal (canal e usurio so a mesma coisa no Justin), e

    novamente o crculo vermelho que aparece na marca visual como sinal do ao vivo. O

    vdeo que roda no player mostra o boto vermelho somente quando o mouse apoiado

    no player, neste caso, ento, a marca do tempo ao vivo se mostra quando o usurio

    interage.

    Contudo, o crculo vermelho no canto superior direito a marca da cmera quando

    estamos filmando, seja gravando ou transmitindo ao vivo; no um sinal para quem

    assiste e sim para quem est olhando pelo olho da cmera. H aqui uma construo que

    d transmisso em tempo real sentidos mais largos de tempo, como se fosse um tempo

    produzido tanto por quem transmite quanto por quem assiste: um tempo que conecta.

    7 Termo ingls que significa conectar-se a algo, mas j est generalizado seu uso em portugus como mostra a figura2 fazer login.

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    Figura 3B: pgina inicial do Justin TV (parte inferior)

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    A associao entre o olho que observa pela cmera e o que v o vdeo no player sugere

    sentidos de mo dupla, reforados nas pginas dos canais pelo chat. O ao vivo do Justin

    anunciado como um tempo conectivo onde o usurio transmite e ao mesmo tempo vo que est sendo transmitido e onde quem assiste se comunica ao vivo com quem est

    transmitindo, interferindo permanentemente na programao do canal, como podemos

    ver principalmente nos gneros lifecastinge a interao com os participantes do chatda

    plataforma.

    H no Justin, portanto, fortes enunciaes sobre ndices que eram e so complexos na

    televiso tradicional, como o canal, o lugar do espectador na programao, a prpria

    transmisso e os autorizados a transmitir. Sentidos que esto condensados numa

    temporalidade que est sendo chamada de ao vivo e apresentada como um tempo

    conectivo, j no como aqueles conectados referidos por Barbero e Rey, mais

    relacionados experincia de assistir, por exemplo, a uma copa do mundo ou a um

    captulo final de novela. um tipo de conexo que atravessa (transita por) experincias

    diversas como assistir, transmitir a prpria vida e ser assistido; interferir no que est

    sendo transmitido e formar comunidade.

    Na ante-sala do JTV (figura 3A) h dois

    destaques na barra superior de cor preta que

    apontam para a construo do ao vivo como uma

    constelao em movimento, densa em

    conectividades. Podemos ver na moldura preta

    superior o Justin tv e ao lado o canais ao

    vivo, sendo ambos links para o contedo

    audiovisual dosite: o primeiro acessa a lista de

    canais (todos) e o segundo privilegia a remisso

    a um em especial (o das transmisses em

    direto). o tom do universo Justin, um

    universo em que produtores e mvel

    ocupam as primeiras posies de leitura e,

    talvez, de acesso, e o gnero

    lifecasting atravessa diversas categorias (figura 3C). No extremo direito, em fique ao

    vivo, em fundo vermelho (que parece ser a cor do ao vivo) est o link para o canal dousurio, que necessrio acessar para comear a transmitir.

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    Figura 3A: pgina inicial do Justin TV (parte superior)

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    Figura 3C: pgina inicial do Justin TV com mouse overde canais ao vivo

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    Abaixo, a maior parte da pgina est moldurada com fundo branco. H um player no

    qual um vdeo est se

    desenrolando e, do seulado, quatro quadros com

    outros vdeos disponveis

    para rolagem; acima de

    todos, em letras brancas

    com fundo azul, a palavra

    explore (que um link)

    remete ao conjunto de

    vdeos do Justin. Esse

    conjunto de vdeos acessveis

    enunciado pela palavra explore instaura outra moldura com, as frases Assista o que

    est acontecendo e navegue por todos os 2.686 canais ao vivo, que recorta do

    conjunto um sub-conjunto, enunciado assim hierarquicamente superior: o dos vdeos ao

    vivo. Mas esses termos assim dispostos tambm conferem experincia do usurio

    sentidos imperativos de explorao, de aventura, de ao continuada e de fluxo. O

    tom imperativo perpassa os convites a transmitir, reforando que se trata de uma mesma

    durao, um tempo ao vivo de uma ao contnua, um trnsito nico, um fluxo no qual

    se entra seja para transmitir ou assistir e participar do chat necessariamente!

    Se na parte superior da pgina enuncia-se fundamentalmente a experincia de assistir o

    audiovisual da plataforma, na parte inferior (figura 3B), o acento est na transmisso.

    esquerda lemos transmita que voc est fazendo (sic), Comece agora a conhecer

    novos amigos e divirta-se. Duas frases que relacionam a transmisso com a

    cotidianidade e com um tipo de sociabilidade, de conexo. O conjunto que convida a

    transmitir se compe, alm dessas duas frases com o desenho de uma cmera e uma

    moldura amarela que sugere um postite (papel adesivo para mensagens rpidas), com

    trs passos escritos. H aqui sentidos de simplicidade e cotidianidade que so oferecidos

    ao ato de transmitir e, por tanto, plataforma. A cmera aparece na forma de um

    desenho minimalista de cmera tosca (inclusive, uma parte dela est oculta pelo

    postite): diz-se, assim, que no preciso uma cmera profissional ou sofisticada; no h

    destaque para os atributos da cmera, portanto pode-se usar qualquer uma. Tais sentidosconferidos cmera reforam o carter funcional desejado: o que importa que ela

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    funcione para nos conectar audiovisualmente em tempo real. No postite h um passo-a-

    passo, um como fazer sem se perder: assim, impossvel errar; ou seja, o que importa

    mesmo a conexo fcil em tempo real.Arlindo Machado (2000, p.126) j apontava o ao vivo e a transmisso em direto como a

    principal novidade introduzida pela televiso dentro do campo das imagens tcnicas.

    Para ele, as condies ao vivo parecem contaminar o restante da programao televisual

    e imprimir nela as suas marcas de atualidade. O excesso e a incompletude do tempo

    real, segundo o autor, ope-se ao tratamento que a indstria cultural d a esse mesmo

    tempo, impondo-lhe uma espcie de controle de qualidade por assepsia, uma purificao

    do produto de todas as suas marcas de trabalho.

    J dizia McLuhan (1999, p. 359) que o ao vivo, o mostrar as coisas (factuais) enquanto

    elas esto acontecendo o que faz a televiso mais veicular processos do que produtos.

    Para o autor, a imagem de TV gera formas de inter-relao do tipo faa voc mesmo

    em um tempo que conectivo, que convida o espectador antes de tudo a entrar em

    fluxos. De alguma forma esse imaginrio do ao vivo processual e incompleto, no qual,

    instrumentalmente, se pode e quase que se deve interferir a todo e qualquer momento,

    comparece enunciado na plataforma do Justin, ainda que ressignificado no horizonte de

    um novo broadcaster, que o do chamado proprietrio do canal, na forma em que ele

    aparece no chate em outros momentos da navegao pela plataforma.

    Ainda na pgina inicial, na metade inferior direita (figura 3B) est a moldura que

    transforma um passante qualquer em usurio, em cidado do Justin, uma vez que ele

    informa os dados ali pedidos (usurio, senha, aniversrio e email) e faz um

    clique na moldura registrar-se. O passante adquire a um login, passa a integrar a

    comunidade Justin TV e se torna proprietrio de um canal no qual pode transmitir e

    guardar transmisses passadas.

    Um usurio do Justin s tal se est conectado internet e conectado ao Justin. Nesse

    sentido, algum que se registra, embora tenha as mesmas possibilidades de assistir de

    quem no se registra, moldurado de forma diferente: ele o que dispara, no Justin,

    nem tanto pelo vdeo que produz e veicula, mas mais pelas conexes que promove e

    pelos trnsitos que realiza, uma ecologia audiovisual, nos limites ecolgicos do

    ambiente que o inventa, significa e autoriza a agir. Ater-se ou no a esses limites passa

    por questes que no foram pautadas nesse texto.

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