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    GREVE DE MASSAS, PARTIDO E SINDICATOS(1906)

    No fi m de dezembro de 1905, Rosa Luxemburgo,

    na poca jornalista do Vorwrts (rgo central

    do SPD) e tambm membro da direo do Partido

    Social-Democrata da Polnia e Litunia (SDKPiL),

    parte para Varsvia a fi m de acompanhar de perto

    a revoluo russa, que havia comeado em janeiro

    desse ano (Varsvia e uma parte da Polnia inte-

    gravam o Imprio russo). Em maro presa com seu

    companheiro Leo Jogiches. Ameaada de execuo,

    libertada no fi m de junho graas a uma fi ana paga

    pelo SPD. Obrigada pelas autoridades tsaristas a

    fi xar residncia em Kuokkala, pequena cidade fi n-landesa perto de So Petersburgo, onde encontra

    os principais revolucionrios russos, Lenin entre

    eles, Rosa redige Greve de massas, partido e sin-

    dicatos, texto que marca o incio da ruptura com

    a direo da social-democracia alem.

    Que este seja um de seus escritos mais conhecidos

    e mais reeditados, no por acaso. aqui que ao

    analisar um processo poltico concreto, a revolu-o de 1905 na Rssia, Rosa d sua contribuio

    original teoria marxista. Ao fazer o balano da

    revoluo russa (tirando lies para o movimento

    operrio em geral e para a social-democracia alem

    em particular), ela mostra que na greve de massas

    o momento subjetivo, a conscincia de classe, se

    articula com o momento objetivo da histria, com

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    as tendncias do desenvolvimento capitalista. A

    greve de massas seria a perfeita traduo da dia-

    ltica entre organizao e espontaneidade, polticae economia, fi cando o elemento criativo do lado da

    espontaneidade das massas. A experincia revolu-

    cionria direta fortaleceu nela a convico de que

    as grandes transformaes histricas no so fa-

    bricadas pelas organizaes polticas ainda que

    estas tenham um papel relevante a desempenhar e

    de que a conscincia de classe antes criada na

    ao que produzida pela leitura de obras tericas

    marxistas, ou de panfl etos revolucionrios.

    No s Greve de massas, partido e sindicatos,

    como tambm os artigos poloneses dessa poca ex-

    pem claramente a convico de Rosa Luxemburgo

    de que a revoluo s pode ser obra das prprias

    massas, nunca de grupos armados, nem de vanguar-

    das intelectuais que se pem no lugar das massas.

    Contra todos os que querem organizar uma revo-

    luo, evidente para ela que a fabricao da

    revoluo (Revolutionsmacherei) leva substitui-

    o das massas, no s no decorrer da revoluo,

    mas tambm depois.

    Essa ideia, que representa uma parte importante de sua

    fi losofi a poltica, tambm a encontramos em trabalhos pos-

    teriores, entre outros, A Revoluo Russa.11

    Ao voltar para Berlim em setembro de 1906, Rosa

    passa a divulgar incansavelmente sua concepo de

    greve de massas, procurando ao mesmo tempo dar

    11 Feliks Tych, Die Revolution von 1905-1907 Zur Entwick lung der politischenPhilosophie Rosa Luxemburgs, 1995. In: T. Bergmann/J. Rojahn/F. Weber (org.),Die Freiheit der Andersdenkenden Rosa Luxemburg und das Problem der Demokratie,Hamburgo, VSA, 1995, p. 85.

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    novo contedo ao papel que desempenha no SPD: no

    ser apenas crtica, mas tambm direo intelec-

    tual e poltica de uma esquerda revolucionria. quando comea a tomar corpo a formao de uma

    ala esquerda independente, em divergncia com o

    centro do partido, para o qual o marxismo era

    apenas a ideologia legitimadora do reformismo. Em

    setembro participa do Congresso do SPD em Man-

    nheim, onde suas ideias sobre a greve de massas

    so rejeitadas. A partir dessa poca, Rosa passa

    a ser vista como demasiado radical pela maioria

    do partido, cada vez mais afeito s ideias re-

    formistas, e a ter cada vez mais difi culdade para

    publicar seus artigos nos jornais do SPD.

    Apesar desse isolamento poltico, ela convi-

    dada, guisa de compensao, a lecionar economia

    poltica e histria econmica na escola de quadros

    do SPD, um cargo bem remunerado que ocupa, com

    algumas interrupes, at 1914. A partir desses

    cursos, escreve Introduo economia poltica

    (publicada postumamente em 1925) e sua obra te-

    rica mais importante, A acumulao do capital

    (publicada em 1913).

    Greve de massas, partido e sindicatos tem 8 ca-

    ptulos; comeamos com excertos do captulo 2.

    2

    [...] A revoluo russa ensina-nos assim uma coisa: que a grevede massas nem fabricada artificialmente nem decidida oudifundida no ter imaterial e abstrato, to somente um fen-meno histrico resultante, num certo momento, de uma situaosocial a partir de uma necessidade histrica. [...]

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    to difcil propagar a greve de massas como meio abstratode luta, como propagar a revoluo. A revoluo e a greve de

    massas so conceitos que no representam mais do que a formaexterior da luta de classes e s tm sentido e contedo quandoreferidas a situaes polticas bem determinadas.

    Empreender uma propaganda adequada greve como forma deao proletria, querer difundir essa ideia para com ela ganharpouco a pouco a classe operria seria uma ocupao to ociosa,to v e inspida como encetar uma campanha de propaganda emprol da ideia de revoluo ou do combate nas barricadas. Se a grevese transformou agora num vivo centro de interesse para a classeoperria alem e internacional porque ela representa uma novaforma de luta e, como tal, o sintoma correto de transformaesinteriores profundas nas relaes entre as classes e nas condiesda luta de classes. [...]

    3

    [...] as greves de massas se apresentam na Rssia sob formasto variadas que absolutamente impossvel falar de a greve demassas, de uma greve esquemtica, abstrata. No s cada elementoda greve de massas, mas tambm a sua particular caracterstica,segundo as cidades e as regies, e principalmente o seu prpriocarter geral, se modificaram com frequncia no decorrer darevoluo. As greves conheceram na Rssia uma certa evoluohistrica que ainda continua. Assim, quem queira falar de greve

    de massas na Rssia deve, antes de tudo, ter a sua histria diantedos olhos. [...]Desde a primavera de 1905 at o pleno vero, assistiu-se, nesse

    gigantesco Imprio, ao nascimento de uma poderosa luta econ-mica de todo o proletariado contra o capital; a agitao alcana,no topo, as profisses liberais e a pequena burguesia, empregadoscomerciais, bancrios, engenheiros, atores, artistas, e penetrana base, conquistando os empregados domsticos, os agentes

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    subalternos da polcia, e at as camadas do lumpemproletariado,estendendo-se simultaneamente aos campos, batendo mesmo

    porta dos quartis.Eis o painel imenso e variado da batalha geral do trabalho

    contra o capital; vemos refletir-se nele toda a complexidade doorganismo social, da conscincia poltica de cada categoria e decada regio; vemos desenvolver-se toda uma gama de conflitos,desde luta sindical, conduzida em boa e devida forma pelo bemtreinado exrcito de elite do proletariado industrial, at a explosode uma revolta anarquista de um punhado de operrios agrcolase ao levantamento confuso de uma guarnio militar, at a revoltadiscreta e distinta, de punhos de renda e colarinhos altos numamesa de jogo, e aos protestos, tmidos e audaciosos, de policiaisdescontentes, secretamente reunidos num posto enfumaado,escuro e sujo.

    Os partidrios das batalhas ordenadas e disciplinadas con-cebidas segundo um plano e um esquema, os que em particular

    querem sempre saber com antecedncia como ser preciso fazer,consideram que foi um grave erro retalhar a grande ao dagreve poltica geral de janeiro de 1905 numa infinidade de lutaseconmicas, visto que isso conduziu, a seus olhos, a uma para-lisao da ao e sua transformao num fogo de palha. Oprprio partido social-democrata russo que sem dvida participouda revoluo, mas no a faz, e obrigado a aprender as leis darevoluo ao longo do desenvolvimento da prpria revoluo, se

    encontrou desorientado por algum tempo com o refluxo aparente-mente estril da primeira mar de greves gerais. Contudo, a histria,que cometera esse grande erro, conclua assim um gigantescotrabalho revolucionrio to inevitvel quanto incalculvel nas suasconsequncias, sem se preocupar com as lies dos que a si mesmosse instituram como mestres.

    A brusca sublevao geral do proletariado em janeiro, de-sencadeada pelos acontecimentos de S. Petersburgo, era, na sua

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    ao exterior, um ato poltico revolucionrio, uma declarao deguerra ao absolutismo. Mas essa primeira luta geral e direta de

    classes provocou uma reao mais poderosa que a anterior, aoacordar, pela primeira vez, como um choque eltrico, o sentimentoe a conscincia de classe em milhes e milhes de homens. Essedespertar da conscincia de classe imediatamente se manifesta doseguinte modo: uma multido de milhes de proletrios desco-bre de sbito, com um sentimento de acuidade insuportvel, ocarter intolervel da sua existncia social e econmica, do qualera escravo h decnios, sob o jugo do capitalismo. De repente,desencadeia-se uma sublevao geral e espontnea para sacudir esse

    jugo, para quebrar as algemas. Sob mil aspectos, os sofrimentosdo proletariado moderno reavivam a recordao dessas feridassempre sangrentas.

    [...] tudo isso bruscamente despertado pelo relmpago dejaneiro, lembra-se de seus direitos e procura febrilmente recuperar otempo perdido. Na realidade, a luta econmica no constitua uma

    fragmentao, uma disperso da ao, mas uma mudana de frente;a primeira batalha contra o absolutismo transforma-se rpida enaturalmente num ajuste de contas geral com o capitalismo, que,de acordo com sua natureza, assume aformade conflitos parciaisem favor dos salrios. falso dizer-se que a ao poltica de classeem janeiro foi destruda porque a greve geral se fragmentou emgreves econmicas. exatamente o contrrio: uma vez esgotadoo contedo possvel da ao poltica, feito o balano da situao e

    da fase em que a revoluo se encontrava, esta fragmentou-se, ouantes, transformou-se em ao econmica.De fato, que mais podia obter a greve geral de janeiro? pre-

    ciso ser inconsciente para esperar, de uma s vez, o esmagamentodo absolutismo com uma s greve geral prolongada, segundoo modelo anarquista. pelo proletariado que o absolutismo naRssia tem de ser derrubado. Mas para tanto, o proletariado temnecessidade de um alto grau de educao poltica, de conscincia

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    de classe e organizao. No pode aprender todas essas coisasem brochuras ou em panfletos; tal educao ele a adquirir na

    escola poltica viva, na luta e pela luta, no decorrer da revoluoem marcha. Alis, o absolutismo no pode ser derrubado, sejaquando for, com a exclusiva ajuda de uma dose suf iciente deesforos e perseverana. A queda do absolutismo no maisque um sinal exterior da evoluo interior das classes na socie-dade russa. [...]

    O resultado mais precioso, porque permanente, nesse bruscofluxo e refluxo da revoluo seupeso intelectual: o crescimentointermitente do proletariado no plano intelectual e cultural umagarantia absoluta do seu irresistvel progresso futuro, tanto na lutaeconmica, quanto na luta poltica. Mas no tudo: as prpriasrelaes entre operrios e patres sofrem transformaes; aps agreve geral de janeiro e as greves seguintes de 1905, o princpio docapitalista senhor em sua casa praticamente suprimido. Vimosconstituir-se espontaneamente comits operrios, nicas instncias

    que negociam com o patro, nas maiores fbricas de todos os cen-tros industriais mais importantes. E, por fim, algo mais: as grevesaparentemente caticas e a ao revolucionria desorganizadaque sucederam greve geral de janeiro transformam-se no pontode partida de um febril trabalho de organizao. A histria ri dosburocratas apaixonados por esquemas pr-fabricados, guardiesciumentos da felicidade dos sindicatos. As slidas organizaesconcebidas como fortalezas inexpugnveis ecuja existncia tem de

    ser assegurada, antes de eventualmente se pensar na realizao deuma hipottica greve de massas na Alemanha, so, ao contrrio,fruto da prpria greve de massas. E enquanto os ciumentos guar-dies dos sindicatos alemes temem, antes de tudo, ver quebrar emmil pedaos essas organizaes, como uma preciosa porcelana nomeio do turbilho revolucionrio, a revoluo russa apresenta-nosum quadro completamente diferente: o que emerge dos turbilhese da tempestade, das chamas e das brasas das greves de massas,

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    como Afrodite surgindo da espuma dos mares, so... sindicatosnovos e jovens, vigorosos e ardentes.

    4

    [...] A greve de massas, tal como nos apresentada pela re-voluo russa, um fenmeno to mvel que reflete em si todasas fases da luta poltica e econmica, todos os estgios e todos osmomentos da revoluo. O seu campo de aplicao, a sua fora deao, os fatores do seu desencadeamento transformam-se continua-mente. Ela abre repentinamente novas perspectivas revoluono momento em que esta parecia atravessar um impasse e falhano momento em que se pensa poder contar seguramente com ela.Ora a vaga do movimento invade todo o Imprio, ora se divideem uma rede gigantesca de pequenas correntes; ora brota do solocomo uma fonte viva, ora se perde na terra. Greves econmicase polticas, greves de massa, e greves parciais, greves de protestoou de combate, greves gerais abrangendo setores particulares, ou

    cidades inteiras, lutas reivindicativas pacficas ou batalhas de rua,combates de barricadas todas essas formas de luta se cruzam ouse tocam, se interpenetram ou desaguam umas nas outras: ummar de fenmenos eternamente novos e flutuantes. E a lei do mo-vimento desses fenmenos surge claramente: no reside na prpriagreve de massas, nas suas particularidades tcnicas, mas na relaoentre as foras polticas e sociais da revoluo. A greve de massas to somente a forma adquirida pela luta revolucionria e qualquer

    deslocamento na correlao das foras em luta, no desenvolvimentodo partido e na diviso das classes, na posio da contrarrevoluo,influi imediatamente sobre a ao da greve por meio de inmeroscaminhos invisveis e incontrolveis. Entretanto, a prpria ao dagreve de massas no para um s instante. Adquire somente outrasformas, modifica a sua extenso, os seus efeitos. Ela a pulsaoviva da revoluo e ao mesmo tempo o seu motor mais poderoso.Em resumo: a greve de massas, como nos mostra a revoluo russa,

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    no um meio engenhoso inventado para reforar o efeito da lutaproletria, mas o prprio movimento da massa proletria, a formade manifestao da luta proletria na revoluo.

    Partindo da, podemos deduzir alguns pontos de vista geraisque permitem julgar o problema da greve de massas.

    1. absolutamente falso imaginar a greve de massas comoao isolada. A greve de massas antes um termo que designaglobalmente todo um perodo da luta de classes que se estende porvrios anos, s vezes por dcadas. Se considerarmos as inmerase diferentes greves de massa que ocorreram na Rssia h quatroanos, uma nica variante, e esta de importncia secundria, cor-responde definio de greve de massas como ato nico e breve decaractersticas puramente polticas, desencadeado e suspenso arbi-trariamente segundo um plano pr-concebido: trata-se da simplesgreve de protesto. Ao longo de um perodo de cinco anos, vemosna Rssia s algumas greves de protesto, em pequeno nmero e,fato notvel, ordinariamente limitadas a uma cidade. [...]

    2. [...] Porm, o movimento no seu conjunto no se orientaunicamente no sentido de uma passagem do econmico ao poltico,mas orienta-se tambm no sentido inverso. Cada uma das grandesaes polticas de massas se transforma, aps ter atingido o seuapogeu, numa multiplicidade de lutas econmicas. Isso no so-mente vlido para cada uma das grandes greves, tambm o paraa revoluo no seu conjunto. Quando a luta poltica se estende, seclarifica e intensifica, no s a luta reivindicativa continua como

    se estende, se organiza e se intensifica paralelamente. H umacompleta interao entre ambas.Cada novo arranque e cada nova vitria da luta poltica im-

    pulsionam poderosamente a luta econmica, alargando as suaspossibilidades de ao exterior, e do novas foras ao proletariadopara melhorar a sua situao aumentando a sua combatividade.Cada vaga de ao poltica deixa atrs de si um terreno frtil, ondeem breve surgem mil rebentos: as reivindicaes econmicas. E, in-

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    versamente, a incessante guerra econmica que os operrios travamcom o capital mantm alerta a sua energia combativa, mesmo nas

    horas de calma poltica; de certo modo, constitui um reservatriopermanente de energia, no qual a luta poltica busca sempre novasforas. Ao mesmo tempo, o infatigvel trabalho de luta econmicado proletariado provoca, ora aqui ora ali, conflitos agudos a partirdos quais explodem bruscamente os conflitos polticos.

    Em suma, a luta econmica apresenta uma continuidade, ofio que une os diferentes ns polticos; a luta poltica uma fe-cundao peridica que prepara o solo para as lutas econmicas.Causa e efeito sucedem-se, alternam-se incessantemente, e assim osfatores polticos e econmicos, longe de se distinguirem claramenteou de se exclurem reciprocamente como pretende o pretensiosoesquema, constituem no perodo da greve de massas dois aspectoscomplementares da luta da classe proletria russa. precisamentea greve de massas que d forma sua unidade. A sutil teoria dis-seca artificialmente, com a ajuda da lgica, a greve de massas para

    obter uma greve poltica pura: ora, uma tal dissecao comotodas as dissecaes no nos permite observar o fenmeno vivo,entrega-nos um cadver.

    3. Por fim, os acontecimentos da Rssia mostram-nos que agreve de massas inseparvel da revoluo. A histria da greve demassas na Rssia confunde-se com a histria da revoluo. Naverdade, quando os campees do oportunismo ouvem falar darevoluo na Alemanha, pensam imediatamente no sangue verti-

    do, nas batalhas de rua, na plvora e no chumbo, e da deduzemcom toda a lgica que a greve de massas conduz inevitavelmente revoluo, logo ns devemos evit-la. E de fato constatamos naRssia que quase todas as greves levam a um confronto sangrentocom as foras da ordem tsarista; isso verdade tanto para as cha-madas greves polticas, quanto para os conflitos econmicos. Masa revoluo outra coisa, mais que um simples banho de sangue.Com exceo da polcia, que entende a revoluo simplesmente

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    do ponto de vista das batalhas de rua e dos tumultos, quer dizer,do ponto de vista da desordem, o socialismo cientfico v na

    revoluo uma profunda transformao interna nas relaes declasse. Dessa perspectiva h entre a revoluo e a greve de massasna Rssia uma relao bem mais profunda que a estabelecida pelaconstatao trivial, ou seja, a de que a greve de massas termina,geralmente, em um banho de sangue. [...]

    4. Basta resumir o que atrs dissemos, para descobrir a soluopara o problema da direo consciente e da iniciativa da greve demassas. Se a greve de massas no representa um ato isolado, mastodo um perodo da luta de classes, e se esse perodo se confundecom o perodo revolucionrio, claro que no se pode desencadeararbitrariamente a greve de massas, mesmo se a deciso vier de ins-tncias supremas do mais poderoso partido socialista. Tanto noest ao alcance da social-democracia suscitar ou travar revoluesa seu bel-prazer, que o enorme entusiasmo e a enorme impacin-cia das hostes socialistas no conseguiram provocar um perodo

    de greve de massas que fosse um movimento popular poderoso evivo. [...] Mesmo durante a revoluo, as greves no caem do cu. preciso que sejam feitas, de uma maneira ou de outra, pelosoperrios. A resoluo e a deciso da classe operria desempenhamtambm o seu papel, mas necessrio frisar que a iniciativa e adireo de ulteriores operaes naturalmente dizem respeito aosetor mais esclarecido e mais bem organizado do proletariado, social-democracia. Mas essa iniciativa e essa direo s se aplicam

    na execuo de tal ou tal ao isolada, de tal ou tal greve de massas,logo que o perodo revolucionrio esteja em curso, e mais frequen-temente no interior de uma dada cidade. J vimos, por exemplo,a social-democracia, mais de uma vez, dar expressamente, e comsucesso, a palavra de ordem para a realizao de uma greve emBaku, Varsvia, Lodz, S. Petersburgo. Tal iniciativa tem menosprobabilidades de sucesso se for aplicada a movimentos geraisque englobem todo o proletariado. Por outro lado, a iniciativa e

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    a direo das operaes tm os seus limites determinados. Justa-mente durante a revoluo, extremamente difcil a um organismo

    dirigente do movimento operrio prever e calcular a ocasio e osfatores que provoquem ou no o levantamento. Tomar a iniciati-va e a direo das operaes, tambm aqui, no consiste em darordens arbitrariamente, mas sim em adaptar-se situao o maishabilmente possvel, mantendo o mais estreito contato com o moraldas massas. O elemento espontneo desempenha, como vimos,um enorme papel em todas as greves de massas na Rssia, quercomo elemento motor, quer como freio. Esse fato no motivadopor a social-democracia russa ser ainda jovem e fraca, mas porqueem cada ato particular da luta tomam parte uma infinidade defatores econmicos, polticos e sociais, gerais e locais, materiais epsicolgicos, de tal maneira que nenhum deles pode ser definido oucalculado como um exemplo aritmtico. Mesmo se o proletariado,com a social-democracia cabea, desempenhar o papel dirigente,a revoluo no uma manobra do proletariado, mas uma batalha

    que se desenrola enquanto sua volta desmoronam e se deslocamsem cessar todos os alicerces sociais. Se o elemento espontneo de-sempenha um papel to importante na greve de massas na Rssia,no porque o proletariado russo seja deseducado, mas porqueas revolues no se aprendem na escola. [...]

    Mas se a direo da greve de massas, no sentido de comandarseu desencadeamento e de avaliar e cobrir seus custos, cabe aoperodo revolucionrio, em outro sentido, totalmente diferente, a

    direo das greves de massas cabe social-democracia e aos seusrgos diretivos. Em vez de quebrar a cabea com o lado tcnico,com o mecanismo da greve de massas, a social-democracia cha-mada, tambm em pleno perodo revolucionrio, a tomar a suadireopoltica.A tarefa mais importante de direo no perodode greve de massas consiste em dar a palavra de ordem da luta,em orient-la, em dirigir atticada luta poltica de tal modo que,em cada fase e em cada instante do combate, seja realizada e posta

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    em ao a totalidade do poder do proletariado, j comprometidoe lanado na batalha, e que esse poder se exprima pela posio do

    partido na luta; preciso que a ttica da social-democracia, notocante sua energia e rigor, jamais se encontre aqum do nvelda correlao de foras real, mas que, ao contrrio, ultrapasse essenvel; essa a mais importante tarefa da direo no perodo dasgreves de massa. E assim a direo poltica transformar-se- auto-maticamente em certa medida numa direo tcnica. Uma tticasocialista consequente, resoluta, avanada, provoca na massa umsentimento de segurana, de confiana, de combatividade; umattica hesitante, fraca, alicerada na subestimao das foras doproletariado, paralisa e desorienta as massas. No primeiro caso, asgreves de massas explodem espontaneamente e sempre opor-tunamente; no segundo caso, em vo que a direo do partidochama diretamente greve. A revoluo russa oferece-nos exemplossugestivos de ambos os casos. [...]

    6

    Segundo essa perspectiva, o problema da organizao nas suasrelaes com o problema da greve de massas na Alemanha adquireuma fisionomia totalmente diferente. [...]

    A concepo rgida e mecnica da burocracia s admite a lutacomo resultado da organizao que atinja um certo grau de fora.

    Ao contrrio, a evoluo dialtica, viva, faz nascer a organizaocomo produto da luta. Vimos j um exemplo magnfico desse

    fenmeno na Rssia, onde um proletariado quase desorganizadocomeou a criar uma vasta rede de organizaes depois de um anoe meio de lutas revolucionrias tumultuosas. [...]

    O plano que consistiria em desencadear uma importantegreve de massas a ttulo de ao poltica de classe com a exclusivaajuda dos operrios organizados absolutamente ilusrio. Paraque a greve, ou melhor, as greves de massas, a luta de massas sejacoroada de xito, elas tm de transformar-se num verdadeiro mo-

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    vimento popular, quer dizer, tm de arrastar para a batalha as maislargas camadas do proletariado. Mesmo no plano parlamentar, o

    poder da luta das classes proletrias no se apoia num pequenoncleo organizado, mas sim na vasta periferia do proletariadocom simpatias revolucionrias. Se a social-democracia quisesseconduzir a batalha eleitoral com o exclusivo apoio de algumascentenas de milhares de organizados, condenar-se-ia a si mesmaao aniquilamento. E ainda que a social-democracia deseje acolhernas suas organizaes quase todo o contingente dos seus eleitores,a experincia de 30 anos mostra que o eleitorado socialista noaumenta em funo do crescimento do partido mas, ao contrrio,so as camadas operrias recentemente conquistadas no curso dabatalha eleitoral que constituem o terreno que em seguida serfecundado pela organizao. Tambm aqui no s a organizaoque fornece as tropas combatentes, mas tambm a batalha quefornece, numa maior escala, recrutados para a organizao. Isso, evidentemente, muito mais vlido para a ao poltica direta de

    massas que para a luta parlamentar. Ainda que a social-democracia,ncleo organizado da classe operria, esteja na vanguarda de toda amassa de trabalhadores e o movimento operrio busque a sua fora,a sua unidade e conscincia poltica nessa mesma organizao, omovimento operrio nunca deve ser concebido como movimen-to de uma minoria organizada. Toda verdadeira grande luta declasses deve alicerar-se no apoio e na colaborao das mais largasmassas; uma estratgia de luta de classes que no contasse com

    essa colaborao, e no visse mais que os desfiles bem ordenadosda pequena parte do proletariado arregimentada nas suas fileiras,estaria condenada a uma lamentvel derrota.

    Na Alemanha as greves de massas, as lutas polticas de massasno podem ser conduzidas unicamente pelos militantes organi-zados, nem podem ser comandadas por uma direo sada docomit central do partido. Nesse caso, como na Rssia, h menosnecessidade de disciplina, de educao, de uma avaliao to

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    precisa quanto possvel das despesas e subsdios do que de uma aode classe resoluta e verdadeiramente revolucionria, capaz de atingir

    e arrastar as camadas mais extensas das massas proletrias desor-ganizadas, mas revolucionrias por sua disposio e condio.

    A superestimao e a falsa apreciao do papel organizativodo proletariado na luta de classes est ligada geralmente a umasubestimao da massa proletria desorganizada e da sua maturi-dade poltica. S num perodo revolucionrio, na efervescncia dasgrandes lutas de classes tempestuosas se manifesta o papel educadorda rpida evoluo do capitalismo e da influncia socialista nasgrandes camadas populares; em tempo normal, as estatsticas dasorganizaes, ou at as estatsticas eleitorais, no do mais queuma plida ideia dessa influncia. [...]

    No operrio alemo esclarecido, a conscincia de classe in-cutida pela social-democracia uma conscinciaterica, latente:no perodo do domnio parlamentar burgus, geralmente notem ocasio de se manifestar por uma ao direta de massas; o

    resultado ideal das 400 aes paralelas das circunscries durantea luta eleitoral, dos numerosos conflitos econmicos parciais etc.Na revoluo, em que a prpria massa aparece na cena poltica,a conscincia de classe torna-seprtica,ativa.Assim, um ano derevoluo deu ao proletariado russo essa educao que 30 anosde lutas parlamentares e sindicais no podem artificialmente darao proletariado alemo. Por certo, esse vivo e ativo instinto declasse que anima o proletariado decrescer sensivelmente, mesmo

    na Rssia, uma vez acabado o perodo revolucionrio e uma vezinstitudo o regime parlamentar legal burgus, ou pelo menostransformar-se- numa conscincia oculta, latente. [...] Seis mesesde revoluo contribuiro mais para a educao dessas massasatualmente desorganizadas do que dez anos de comcios pblicose de distribuio de panfletos. E quando a situao na Alemanhativer atingido o grau de maturidade necessrio a um tal perodo, ascategorias hoje mais atrasadas e mais desorganizadas constituiro,

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    naturalmente, o elemento mais radical, mais impetuoso e maisativo da luta. Se se produzirem greves de massas na Alemanha

    quase certo que no sero os trabalhadores mais organizados certamente no sero os grficos mas os operrios menos or-ganizados ou completamente desorganizados, como os mineiros,os operrios txteis, ou talvez os camponeses, que desenvolveromaior capacidade de ao. [...]

    A social-democracia a vanguarda mais esclarecida e mais cons-ciente do proletariado. Ela no pode nem deve esperar com fatalismo,de braos cruzados, que se produza uma situao revolucionria,nem que o movimento popular espontneo caia do cu. Ao contrrio,tem o dever como sempre deprecedero curso dos acontecimentos,de procurarprecipit-los. No o conseguir, se entregar a palavrade ordem de greve ao acaso de qualquer momento, oportuno ouno, mas deve fazer com que as camadas mais largas do proletaria-do compreendam que achegadade um tal perodo revolucionrio inevitvel, explicando-lhes as condies sociaisinternas que a isso

    conduzem, assim como as suas consequncias polticas. Para arrastaras camadas mais largas do proletariado a uma ao poltica da social-democracia e, inversamente, para que a social-democracia possaassumir e manter a direo efetiva do movimento de massas, paraque domine todo o movimento no sentido poltico do termo, precisasaber fornecer com toda clareza, coerncia e resoluo atticaeosobjetivosao proletariado alemo para o perodo das lutas futuras.

    7Vimos que na Rssia a greve de massas no o produto arti-ficial de uma ttica imposta pela social-democracia; antes umfenmeno histrico natural gerado no solo da atual revoluo.Ora, quais so os fatores que provocaram a nova forma em que seproduziu a revoluo? [...]

    [Na Rssia] A burguesia no hoje seu [da revoluo] ele-mento motor, como acontecia outrora nas revolues ocidentais,

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    enquanto a massa proletria, afogada no seio da pequena burguesia,servia como massa de manobra da burguesia; ao contrrio, o

    proletariado consciente que constitui o elemento ativo e dirigente,enquanto as camadas da grande burguesia se mostram ou aber-tamente contrarrevolucionrias ou moderadamente liberais; s apequena burguesia rural e aintelligentsiapequeno-burguesa dascidades adotam uma atitude francamente opositora e at revolu-cionria. Mas o proletariado russo, chamado assim a desempenharum papel dirigente na revoluo burguesa, envolve-se na luta nomomento em que perdeu as iluses na democracia burguesa e emque a oposio entre capital e trabalho est fortemente acentuada;em contrapartida, possui uma aguda conscincia dos seus interes-ses especficos de classe. Essa situao contraditria manifesta-se,porque nessa revoluo formalmente burguesa o conflito entre asociedade burguesa e o absolutismo dominado pelo conflito entreo proletariado e a sociedade burguesa; porque o proletariado lutasimultaneamente contra o absolutismo e a explorao capitalista;

    porque a luta revolucionria tem ao mesmo tempo por objetivoa liberdade poltica e a conquista do dia de trabalho de 8h., as-sim como uma existncia material humanamente digna para oproletariado. Esse duplo carter da revoluo russa se manifestana unio e na interao estreitas entre a luta econmica e a lutapoltica que os acontecimentos da Rssia nos deram a conhecer eque se exprimem precisamente na greve de massas.

    Nas anteriores revolues burguesas foram os partidos burgue-

    ses que se encarregaram da educao poltica e da direo da massarevolucionria, e, por outro lado, tratava-se pura e simplesmentede derrubar o antigo governo; ento o combate de barricadas, decurta durao, era a forma mais apropriada de luta revolucion-ria. Hoje, quando a classe operria obrigada a esclarecer-se, aunir-se e a orientar-se a si mesma no decorrer da luta e quandoa revoluo dirigida tanto contra a explorao capitalista comocontra o antigo poder de Estado, a greve de massas aparece como

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    o meio natural de recrutar, revolucionar e organizar as mais am-plas camadas proletrias no momento da ao, sendo ao mesmo

    tempo um meio de minar e derrubar o antigo Estado e de contera explorao capitalista. O proletariado industrial urbano hojea alma da revoluo na Rssia. Mas, para empreender uma aopoltica de massas, preciso primeiro que o proletariado se una emmassa; para isso, preciso que saia das fbricas e das oficinas, dasminas e dos altos fornos, e ultrapasse a disperso e a fragmentaoa que o jugo capitalista o condena. Desse modo, a greve de massas a primeira forma natural e espontnea de qualquer grandiosaao revolucionria do proletariado; quanto mais a indstria setransformar na forma predominante de economia numa socieda-de, tanto mais o proletariado desempenha um papel importantena revoluo, tanto mais a oposio entre trabalho e capital seagua e tanto mais as greves de massas necessariamente adquiremamplitude e importncia. O que era antes a principal forma darevoluo burguesa, o combate nas barricadas, o confronto direto

    com as foras armadas do Estado, s constitui na revoluo atualo ponto culminante, um momento de todo o processo da luta demassas proletria.

    Assim, a nova forma da revoluo permitiu alcanar o estgiocivilizado e atenuado das lutas de classe profetizado pelosoportunistas da social-democracia alem, os Bernstein, os Davide consortes. Na verdade, eles imaginavam essa luta de classesatenuada, civilizada, segundo suas iluses pequeno-burguesas e

    democrticas, pensavam que a luta de classes se limitava exclusi-vamente batalha parlamentar e que a revoluo, no sentido decombate de ruas, seria simplesmente abolida. A histria solucionouo problema a seu modo, que ao mesmo tempo mais profundo emais sutil: fez surgir a greve de massas revolucionria que, eviden-temente, no substitui nem torna suprfluos confrontos diretos ebrutais na rua, mas os reduz a um momento do longo perodo delutas polticas e, ao mesmo tempo, liga a revoluo a um gigan-

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    tesco trabalho civilizador no sentido preciso do termo: a elevaomaterial e intelectual de toda a classe operria, civilizando as

    formas brbaras de explorao capitalista.A greve de massas aparece assim no como um produto espec-

    fico do absolutismo russo, mas como uma forma universal de lutadas classes proletrias, determinada pelo estgio atual do desenvol-vimento capitalista e da correlao de classes. As trs revoluesburguesas, a grande Revoluo Francesa em 1789, a revoluoalem em 1848 e a atual revoluo russa constituem, segundoesse ponto de vista, uma cadeia de evoluo contnua: refletem agrandeza e a decadncia do sculo capitalista. Na grande RevoluoFrancesa, os conflitos internos ainda latentes da sociedade burguesado lugar a um longo perodo de lutas brutais em que as oposies,rapidamente germinadas e amadurecidas no calor da revoluo,rebentam com uma violncia extrema e sem qualquer freio. Meiosculo mais tarde, a revoluo da burguesia alem, explodindo nametade do caminho do desenvolvimento capitalista, interrompida

    pela oposio dos interesses e pelo equilbrio das foras entre capitale trabalho, abafada por um compromisso entre o feudalismo e aburguesia, reduzida a um breve e lastimoso episdio rapidamenteamordaado. Mais meio sculo e a revoluo russa atual explodenum ponto do caminho histrico situado j na outra vertente damontanha, passado o apogeu da sociedade capitalista: a revoluoburguesa j no pode ser sufocada pela oposio entre a burguesiae o proletariado e, ao contrrio, estende-se por um largo perodo

    de conflitos sociais violentos que fazem parecer irrisrios os velhosajustes de contas com o absolutismo, quando comparados aosnovos exigidos pela revoluo. A revoluo realiza hoje, no casoparticular da Rssia absolutista, os resultados do desenvolvimentocapitalista internacional; aparece-nos menos como herdeira dasvelhas revolues do que como precursora de uma nova srie derevolues proletrias no Ocidente. O pas mais atrasado, preci-samente porque agiu com um atraso imperdovel a levar a cabo a

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    sua revoluo burguesa, mostra ao proletariado da Alemanha e dospases capitalistas mais avanados as vias e os mtodos da futura

    luta de classes. [...]