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  • 8/13/2019 Goswami-Deus no est morto

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    DEUS NO EST MORTO

    Amit Goswami

    Traduo

    Marcello Borges

    Evidncias cientcas da existncia divina

    1a reimpresso

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    Copyright Amit Goswami, 2008Copyright Aleph, 2008

    (edio em lngua portuguesa para o Brasil)

    TTULO ORIGINAL: God is not dead CAPA: Thiago Ventura Luiza Franco REVISO TCNICA: Adilson Silva Ramachandra PREPARAO DE TEXTO E REVISO: Ana Cristina Teixeira PROJETO GRFICO: Neide Siqueira COORDENAO EDITORIAL: Dbora Dutra Vieira DIRETOR EDITORIAL: Adriano Fromer Piazzi

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, no todo ou em parte, atravs de quaisquer meios.Publicado mediante acordo comHampton Roads Publishing Co., Inc. Charlottesville, Virginia, USA.

    ALEPH PUBLICAES E ASSESSORIA PEDAGGICA LTDA.Rua Dr. Luiz Migliano, 1.110 Cj. 301

    05711-900 So Paulo SP BrasilTel: [55 11] 3743-3202Fax: [55 11] 3743-3263

    www.editoraaleph.com.br

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Goswami, AmitDeus no est morto : evidncias cientcas da existncia divina / Amit

    Goswami ; traduo Marcello Borges. So Paulo : Aleph, 2008.

    Ttulo original: God is not deadBibliograaISBN 978-85-7657-058-5

    1. Deus Existncia 2. Espiritualidade 3. Religio e cincia 4. Teoria qunticaI. Ttulo.

    08-07251 CDD-215

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Deus : Existncia : Religio e cincia 2151a reimpresso

    2009

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    sumrio

    Prefcio ......................................................................................... 9Prlogo Para cticos .................................................................. 13

    PARTE 1 INTRODUO .................................................................... 25

    1. A redescoberta cientca de Deus ....................................... 272. Os trs fundamentos das religies ....................................... 453. Breve histria das losoas que guiam as

    sociedades humanas ............................................................. 514. Deus e o mundo .................................................................... 62

    PARTE 2 A EVIDNCIA DA CAUSAO DESCENDENTE ....... 73

    5. As assinaturas qunticas do divino ..................................... 776. Causao descendente na psicologia:

    diferena entre inconsciente e consciente ......................... 947. Como Deus cria o universo e a vida que h nele .............. 1058. O desenho, o desenhista e os projetos do desenho ............ 1169. O que essas lacunas fsseis provam? .................................. 125

    PARTE 3 A EVIDNCIA DOS CORPOS SUTIS ........................ 139

    10. O interior da psique .............................................................. 14111. A evidncia do corpo vital de Deus .................................... 150

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    12. Explorando a mente de Deus ................................................... 15813. Evidncia da alma .................................................................... 16514. Evidncia dos sonhos ............................................................... 18315. Reencarnao: algumas das melhores evidncias da

    alma e de Deus ......................................................................... 198

    PARTE 4 CAUSAODESCENDENTE REVISITADA ................... 211

    16. O que a PES prova? .................................................................... 21317. Deus e o ego: co-criadores de nossas

    experincias criativas ............................................................... 21918. O amor uma evidncia resplandecente de Deus ................. 23119. Evidncia para a causao descendente na cura

    da mente-corpo ......................................................................... 241

    PARTE 5 ATIVISMO QUNTICO ................................................ 249

    20. Ativismo quntico: uma introduo......................................... 25121. Para resumir .............................................................................. 261

    Eplogo 1. Abordando Deus e a espiritualidade pelacincia: um apelo aos jovens cientistas ................................... 264

    Eplogo 2. A fsica quntica e os ensinamentos de Jesus:um apelo aos cristos de corao jovial ................................. 271

    Bibliograa ....................................................................................... 283ndice remissivo ............................................................................... 289

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    prefcio

    Ser que a questo de Deus pode ser solucionada por evidnciascientcas? Neste livro, mostro que pode e que j foi, a favor de Deus.Mas a evidncia sutil, e a nova cincia, dentro do primado daconscincia, que proporciona o contexto para a evidncia cientca,baseia-se na idia da fsica quntica que, para muitos, ainda equivalea falar grego, e por isso a mensagem demora para penetrar as cons-cincias cientca e popular. Nestas pginas busca-se acelerar anova aceitao de Deus em nossa sociedade, em nossa cultura.

    Um ponto precisa ser esclarecido desde o incio. Qual o Deusque a cincia est redescobrindo? Todos sabem que at as pessoasreligiosas que muito falam sobre Deus no conseguem chegar a umacordo sobre o que Deus. O que a cincia est redescobrindo? UmDeus cristo, um Deus hindu, um Deus muulmano, um (no) Deusbudista, um Deus judaico ou um Deus de uma dessas religies me-

    nos populares? A resposta decisiva.O que quase ningum sabe que no ncleo esotrico de todasas grandes religies h muito mais concordncia sobre a naturezade Deus. Mesmo no nvel mais popular, a maioria das religies estde acordo sobre trs aspectos fundamentais de Deus. O primeiroaspecto que Deus um agente de causao acima da causaoque provm do nvel terreno e mundano. Segundo, h nveis darealidade mais sutis do que o nvel material. E, terceiro, h qualida-des divinas o Amor uma das mais importantes s quais todasas pessoas deveriam aspirar e que a religio deseja mostrar e ensi-nar. Qual o Deus que a cincia est redescobrindo? Por enquanto,

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    basta dizer que o Deus redescoberto pela cincia tem todos esses trsaspectos im portantes.

    Apresento, aqui, dois tipos de evidncia cientca para a existn-cia de Deus.

    O primeiro tipo de evidncia cientca para a existncia de Deus o que chamo as assinaturas qunticas do divino. A fsica qunticanos oferece novos aspectos da realidade as assinaturas qunticas e, para compreend-las, explic-las e apreci-las, somos obrigadosa introduzir a hiptese de Deus. Um exemplo a no-localidadequntica, a comunicao sem sinal. A comunicao normal umacomunicao local, realizada por meio de sinais que transportamenergia. Mas, em 1982, Alain Aspect e seus colaboradores conrma-

    ram em laboratrio a existncia de comunicaes que no exigemesses sinais.At agora, havia a crena de que esses fenmenos de assinatura

    quntica s aconteciam no mundo submicroscpico da matria e que,por isso, no eram importantes para o mundo macro. Mas, neste livro,discuto e demonstro que essas assinaturas qunticas tambm devemocorrer em nossa dimenso humana, e que, de fato, acontecem e pro-porcionam evidncias indiscutveis para a existncia de Deus. Vriosgrupos experimentais, em conexo com diversos fenmenos diferentes,encontraram estas evidncias em laboratrio.

    O segundo tipo de evidncia cientca para a existncia de Deusenvolve aquilo que as religies chamam domnios sutis da realidade. fcil rotular este tipo de evidncia como algo pertencente a proble-mas impossveis, que exigem solues impossveis (do ponto de vistamaterialista, claro).

    Um exemplo pode esclarecer esta questo: recentemente, temsurgido muita controvrsia sobre teorias criacionistas/desgnio inteli-

    gente versus evolucionismo. Por que toda essa polmica? Porque,mesmo depois de 150 anos de darwinismo, os evolucionistas ainda notm uma teoria prova de falhas. No podem sequer explicar os dadosfsseis, especialmente as lacunas fsseis, e tambm no podem darexplicaes satisfatrias sobre como e porque a vida parece ter sidoprojetada de forma to inteligente. isso que abre espao para a con-trovrsia. Uma avaliao cientca honesta, sem preconceitos, dasteorias e dos dados, seria a seguinte: nem o darwinismo, nem suasntese recente com a gentica e com a biologia populacional, chamadaneodarwinismo, concordam com todos os dados experimentais.

    Assim como propostas, teorias como o criacionismo e o desgniointeligente tm pouco contedo cientco, mas existem dados incon-

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    P R E F C I Otestveis que apoiam as idias fundamentais da evoluo e do desg-

    nio inteligente (mas no do criacionismo baseado na Bblia ).A chave, neste sentido, seria perguntar: Haver uma alternativa

    para ambas essas abordagens que concorde com todos os dados?Minha resposta sim , e vou demonstr-la nesta obra. Porm, a respostaexige a existncia de um Deus com poderes causais e de um corposutil que atua como gabarito da forma biolgica; o materialismo nopermite nenhuma dessas duas entidades. E, assim, problemas impos-sveis requerem solues impossveis!

    Um outro exemplo envolve o processo do signicado. O lsofoJohn Searle e o fsico Roger Penrose demostraram que os computa-dores apenas podem processar smbolos, no o signicado que os

    smbolos podem representar. Precisamos da mente para gerar e pro-cessar signicados. Mas como a mente interage com a matria? Oantigo problema dualista da interao corpo-mente ainda nos assom-bra. por isso que mostro que a hiptese de Deus essencial pararesolver o problema da interao corpo-mente. E, neste novo e im-possvel contexto, nossa capacidade criativa para processar um novosignicado nos oferece muitas evidncias cientcas tangveis daexistncia de Deus.

    Se a boa novidade que esta evidncia de Deus j existe, entoo que devemos fazer a respeito? Bem, primeiro devemos reformularnossa cincia dentro da hiptese quntica de Deus e demonstrar autilidade dessa hiptese fora da fsica quntica. Nas pginas que seseguem, demonstro que essa hiptese resolve todos os mistrios aindano resolvidos da biologia a natureza e a origem da vida, as lacunasfsseis da evoluo, o motivo pelo qual a evoluo procede do simplespara o complexo, pois os seres biolgicos tm sentimentos e, misterio-samente, uma conscincia, apenas mencionando alguns. Tambm

    veremos que, dentro da hiptese quntica de Deus, a psicologia pro-funda de Freud, Jung e Hillman, baseada no inconsciente, ser com-plementar psicologia elevada dos humanistas e transpersonalistasde tempos recentes Rogers, Assagioli, Maslow e Wilber com basena transcendncia ou superconscincia. Hoje, essas duas psicologiasso vistas como caminhos denitivos para a compreenso de Deus emnossas vidas.

    No entanto, h outros aspectos da hiptese quntica de Deus quecada um de ns pode compreender e at fazer fruir. A nova cinciaconfere validade nossa atual preocupao com signicado, emboraa viso materialista de mundo esteja se esforando ao mximo paraprejudic-la. Tambm importante o fato de que uma cincia baseada

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    em Deus coloca a tica e os valores em seu lugar correto no centrode nossas vidas e sociedades.

    Podemos no gostar de alguns aspectos de algumas das antigasreligies que, at aqui, eram as nicas proponentes do conceito deDeus, mas precisamos concordar a respeito de pelo menos uma coisa:todas as religies deram tica e valores (o cultivo da piedade) paranossas sociedades, que foram corrodas pela atual viso materialistade mundo, com resultados devastadores para nossa poltica, economia,negcios e educao. Com a redescoberta cientca de Deus, assimcomo redescobrimos tambm a tica e os valores, ganhamos a opor-tunidade de revitalizar modernos sistemas sociais como a democraciae o capitalismo, que tiveram sucesso durante algum tempo mas que,

    atualmente, parecem ter cado paralisados diante de diculdadesaparentemente intransponveis.A preocupao com signicado, tica e valores importante para

    a evoluo da humanidade. A mensagem nal deste livro o quechamo ativismo quntico a combinao entre o atual ativismo damudana do mundo e os esforos para nos alinharmos com o movimentoevolucionrio do todo. Se esta etapa exige que nos envolvamos com acriatividade e saltos qunticos para processar signicado e valores,enquanto nos dedicamos aos assuntos do mundo, que assim seja. Nomnimo, isso ir proporcionar um novo sentido e valor para nossasvidas; na melhor hiptese, ir abrir caminho para uma nova era deiluminao.

    Tenho profunda gratido por todas as pessoas que contriburampara a redescoberta de Deus, assunto que aqui ser tratado. Os nomesso muitos, e me sinto impedido de cit-los um por um, com a exceode minha esposa Uma, que tambm minha parceira em minha atualprtica espiritual. Agradeo a todos os ativistas qunticos que traba-

    lharam comigo no passado e que esto trabalhando comigo no pre-sente, e tambm queles que iro se dedicar ao ativismo quntico nofuturo. Finalmente, agradeo a meus editores, Bob Friedman e JohnNelson, e equipe da Hampton Roads, pelo belo trabalho de produ-o deste livro.

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    prlogo

    Antes de apresentar este livro para voc, meu caro leitor, pergunteipara mim mesmo: Que reao idia bsica aqui contida teriamtrs grupos de cticos at a raiz o cientista materialista, o telogocristo e, por ltimo, mas no menos importante, o lsofo ocidental?Por isso, decidi fazer um exerccio de imaginao ativa para lidar defrente com o ceticismo desses trs grupos.

    Na minha imaginao, criei meu cientista de palha. um norte-americano branco, com palet e gravata afrouxada perto do colari-nho (para sugerir abertura, como um toque de Richard Feynman).Ele tem aquele ar de despreocupao de quem sabe tudo, um cha-ruto aceso na mo, imitando o clebre fsico dinamarqus Niels Bohr.E, naturalmente, um sorriso impaciente e arrogante no estilo dobilogo James Watson, com a inteno de ocultar a sua eterna inse-gurana. Eu pergunto ao meu cientista: Estou planejando apresen-

    tar um livro que trata da evidncia cientca da existncia de Deus.O que voc acha da idia?No sei, no, responde meu cientista, sem me surpreender

    muito. E prossegue: Sabe, temos tido alguma experincia com essetipo de evidncia cientca. Veja o caso dos criacionistas, por exem-plo. Apesar do barulho que fazem, se voc olhar de perto, ver queas suas evidncias se baseiam nas negativas por ns apresentadas.So espertos, isso tenho de admitir. Fazem algumas colocaesinteressantes sobre os furos na teoria da evoluo de Darwin, nossoantdoto contra sua chamada cincia da criao. Mas temos contra-atacado, mostrando que suas idias no constituem cincia porque

    para cticos

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    no so comprovveis. Ele me lana um olhar desaador e prossegue.Olha, eu sei o que voc quer. Voc quer provar Deus, realandotodas explicaes decientes da cincia materialista. Mas isso nuncavai dar certo.

    Isso no faz parte do meu plano; pelo menos no importante.No entanto, quei curioso: Bem, e por qu?

    Por qu? Seu sorriso agora condescendente. Porque, meuamigo idealista, sempre podemos tratar nossas negativas com promes-sas de futuras descobertas cientcas. As respostas esto soprando novento da cincia futura.

    Eu sei, eu sei, disse, mostrando que tambm posso ser condes-cendente. Karl Popper no censurou essa atitude, chamando-a de

    materialismo promissivo?Seu charuto se apagou e ele se preocupa em reacend-lo. Ele duma longa baforada e solta uma nuvem de fumaa. Agora, me encaracom olhar penetrante, como se estivesse pronto para me dar uma surra,pois eu comprei a briga. O que Deus? pergunta.

    Mas estou pronto para ele. E respondo com tranqila conana:Deus o agente de causao descendente...

    Ah, aquela velha resposta outra vez, ironiza. Achei que vocteria algo melhor. Eliminamos esse Deus faz tempo, porque um dua-lismo. Como um Deus no-material provoca a causao descendenteem objetos materiais? Qualquer interao com o mundo material exigetroca de energia. Mas a energia do mundo material se conserva sem-pre. No h uxo de energia para Deus ou vindo de Deus. Como seriapossvel isso, se Deus estivesse sempre interagindo com o mundo?

    Voc no me deixou terminar...Voc no me deixou terminar, prossegue ele. Veja. No ne-

    gamos que voc sente a presena de um Deus todo-poderoso em seus

    rituais religiosos. Mas temos uma explicao. Deus um fenmenocerebral. Quando voc estimula determinados centros do mesencfalocom seus rituais, provoca experincias de uma fora poderosa. A cau-sao descendente faz sentido, nessa situao. Correto?

    No, no est correto. Tambm aprendi a ser rme. Deus oagente da causao descendente, mas no precisa ser o Deus dualistada Antiguidade. Seu problema que, desde Galileu, vocs tm lutadocontra um Deus de palha o Deus do cristianismo popular que no a divindade real. O problema de verdade o seguinte: o seu modeloda realidade um nvel material de existncia e causao ascendente,a partir do nvel bsico da matria (Figura 1) justica tudo, todos osdados? No consegue. Voc precisa encarar esse fato.

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    P R L O G OOs cristos das antigas tradies tentavam explicar tudo que no

    podiam compreender por meio do princpio explicativo genrico deDeus e Sua causao descendente. uma idia muito limitada. Acincia se desenvolveu combatendo essa idia e descobriu formas maisadequadas de se compreender dados. Hoje, vocs, cientistas materia-listas, esto fazendo a mesma coisa. Qualquer fenmeno inexplicvel negado ou, ento, explicado com um abuso de alguns conceitos ul-trapassados. Qual o uso cientco de se dizer que Deus um epifen-meno emergente do crebro ou que o conceito de Deus umaadaptao til da darwiniana luta pela sobrevivncia? Nunca podere-mos comprovar essas idias.

    Voc est me dando uma palestra, resmunga.

    E da? Voc me deu uma palestra. Fico srio. Este Deus, deque estou falando, a conscincia quntica . Como voc sabe muitobem, na fsica quntica os objetos no so coisas determinadas; so, naverdade, possibilidades entre as quais Deus a conscincia quntica escolhe uma. A escolha de Deus transforma as possibilidades qun-ticas em eventos reais, experimentados por um observador. Sem dvida,voc aceita a idia de que a conscincia quntica cientca.

    Sim, claro. O efeito do observador: objetos qunticos parecemser afetados por observadores conscientes, a conscincia. Ele pareciaum pouco irritado. Depois, sorriu com ar maroto. Vinho novo emgarrafa nova, no ? Tentando fazer com que a idia da conscinciaquntica seja provocadora, dando-lhe o nome de Deus?

    Ele no entendeu o que eu disse. Veja, estou falando srio. Aconscincia quntica , na verdade, aquilo que nossos sbios, os ver-dadeiros conhecedores, os msticos, queriam dizer ao mencionar Deus.Comecei minha exposio provando isso e tambm mostrando queessa uma idia conrmvel.

    Ele me interrompe: mesmo? Olhe, esse negcio do observador apenas uma aparncia. Deve haver uma explicao material paraessa aparncia. muito precipitado postular a conscincia real. Eleparece estar comeando a car irritado.

    Mas logicamente consistente presumir isso. Se zermos deoutro modo, teremos um paradoxo.

    Sim, mas no podemos deixar que alguns paradoxos interramcom nossas convices loscas, diz, com ar maroto.

    Ele no entendeu o que eu disse. Olhe, estou falando srio.Repito, a conscincia quntica aquilo que nossos msticos queriamdizer ao mencionar Deus. Vou repetir tambm que essa uma idiacomprovvel experimentalmente.

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    Desta vez, ele me ouviu, e ficou boquiaberto: mesmo?Como?

    Olhe, desde que o fsico Pierre-Simon Laplace disse ao impera-dor Napoleo, no preciso dessa hiptese [Deus][para minhas teorias],vocs vm usando esse argumento para rejeitar Deus.

    Ah, e com sucesso, interrompe meu cientista.Sim, mas agora posso apresentar a contraprova. Vou mostrar

    paradoxos tericos e dados experimentais para que se veja que preci-samos da hiptese de Deus, no apenas para remover paradoxos lgi-cos de nossas teorias, mas tambm para explicar muitos dadosrecentes. Avele o cinto.

    Meu cientista olha para o vazio. Sei que o atingi. Cientistas respei-

    tam a soluo de paradoxos e, acima de tudo, dados experimentais.Porm, meu cientista se exalta e diz, irnico: Com certeza, vocno espera que deixemos de lado nossas convices apenas por causade alguns paradoxos. Quanto aos novos dados, um pouco especula-tivo dizer que a fsica quntica, idealizada para o mundo micro, tambmfunciona no mundo macro. o que est sugerindo, no ? Imaginoque, depois, voc vai dizer que suas idias j foram comprovadas porexperimentos objetivos no mundo macro.

    Sorrio. exatamente isso que estou dizendo. Quanto aplica-bilidade da fsica quntica ao mundo macro, imagino que voc j co-nhea o SQUID .

    Meu cientista sorri. SQUID ? s vezes, minha mulher prepara lulapara o jantar, mas no posso dizer que aprecie esse prato.

    Balano a cabea. Voc sabe que SQUID a sigla de Supercon-ducting Quantum Interference Devices [Aparelhos Supercondutoresde Interferncia Quntica]. algo tcnico demais para ser tratado aqui,mas esses experimentos mostraram, h muito tempo, que a fsica

    quntica se aplica tambm ao mundo macro, como de fato deveriaacontecer. Alm disso, os experimentos que comprovam Deus, dosquais falarei neste livro, so todos experimentos de nvel macro. Algunsdesses novos dados foram at reproduzidos.

    Meu cientista parece um pouco incomodado. Olhe aqui, nuncairemos aceitar como cincia essas coisas que voc est fazendo. Sabepor qu? Porque a cincia, por denio, procura explicaes naturais.Voc est aceitando nessa hiptese algo sobrenatural, Deus. Nuncapoder ser cincia. Ele parece ser teimoso.

    Se por natureza voc se refere ao mundo de espao-tempo-matria, ento sua cincia no pode sequer abrigar a fsica quntica.Que vergonha. O experimento de Aspect ftons que se afetam mu-

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    P R L O G Otuamente sem sinais pelo espao ou pelo tempo j encerrou a ques-

    to de uma vez por todas.Agora, meu cientista olha novamente para o vazio. De maneira

    conveniente, seu charuto se apagou de novo. Sei que sentiu o golpe.Levanto-me. Cientistas respeitam experimentos objetivos. Um j foi,o cientista materialista; faltam dois.

    Na minha imaginao, crio agora o lsofo ctico: norte-americanobranco, alto, cabea raspada e muito parecido com Ken Wilber. Falo demeu livro sobre evidncias cientcas da existncia de Deus. Falo tam-bm de meu encontro com o cientista ctico. Ele me surpreende comsua pergunta: O que cincia?

    Brinco um pouco com as palavras. Temos idias sobre a existn-

    cia graas nossa experincia com o mundo exterior e o interior, bemcomo nossas intuies. Eles constituem nossa losoa da existnciaque vocs, lsofos, chamam ontologia ou metafsica . Depois, vem aforma como conhecemos a existncia, que vocs lsofos chamamepistemologia , certo? Os cientistas teorizam intuitivamente a existncia,fazem dedues a partir de diversos insights tericos, e depois sub-metem as teorias a uma comprovao experimental por consenso. Acincia uma epistemologia com duas asas: teoria e experimento.

    Espero a aprovao de meu amigo. Ele resmunga: T, t. Masaquilo que voc estuda e descobre com essa cincia diz respeito experincia manifestada e efmera, no ?

    Ele tem razo. Concordo com a cabea.Ento, me diga, como voc pode usar essa cincia dos fenme-

    nos temporais, fenmenos limitados pelo espao, para provar a exis-tncia daquilo que eterno, que est alm de todos os fenmenos, que transcendente? Sua idia pior do que a desses cristos medievaisque tentaram provar a existncia de Deus por meio da razo, em fun-

    o dessa sua pretenso cientca. Voc acha que as pessoas voaceitar sua idia porque voc a reveste de cincia, no mesmo?Este sujeito, alm de arrogante, cnico. Procuro interromper,

    mas no consigo. Ele continua em sua voz staccato : J sei o tipo deprova cientca de Deus que voc quer dar. Voc procura faz-lo noapenas com uma redenio de Deus, mas redenindo o materialismo.Voc holista, no ?

    Na verdade, no sou holista, pelo menos no do tipo comum, queacha que o todo maior do que suas partes ou que novas criaespodem surgir de componentes simples, mas sem poder ser reduzidasa eles. Porm, sua pergunta aguou minha curiosidade. E o que voctem contra os holistas?

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    Ele me olha com desdm. Olhe, como at Descartes compreen-deu, 400 anos atrs, a matria basicamente reducionista, o micro-cosmo constitui o macrocosmo. Sugerir que a matria maior, em virtudede sua complexidade, pode ter novas caractersticas emergentes, ridculo. Voc acha que Deus uma interconexo da matria emergentee que a causao descendente de Deus um princpio causal emergentede matria complexa; mas esse tipo de idia pode ser facilmente con-testada. Ele faz uma pausa, aguardando minha reao. Fico em si-lncio. Ele prossegue.

    Se a idia de holismo emergente fosse sustentvel, ele apare-ceria sempre que crissemos matria complexa a partir da mais simples,como, por exemplo, quando formamos uma molcula a partir de um

    conglomerado de tomos. Quando o hidrognio e o oxignio se mis-turam para formar uma molcula de gua, surge alguma propriedadeque no pode ser prevista a partir da interao de seus elementos?No. E se voc diz que a natureza molhada da gua, algo sensvel, uma propriedade emergente, vou soc-lo. A sensao de molhado dagua vem de nossa interao com a molcula da gua.

    Tento acalm-lo. No disse que algo novo e holstico surgequando o hidrognio e o oxignio se combinam para formar a gua.Na realidade, concordo com voc. Os holistas caminham sobre um gelomuito no.

    Tive a impresso de que no prestou ateno ao que eu disse eprosseguiu. Se Deus fosse apenas uma interconexo emergente damatria, Deus seria limitado ao tempo e ao espao. No haveria trans-cendncia, iluminao repentina, transformao espiritual. Voc podechamar a viso holstica de ecologia profunda, vesti-la com o nomesosticado de ecofeminismo, satisfazendo mentes medocres, mas issono satisfaz quem losocamente inteligente. Isso no me satisfaz.

    Percebo, mais uma vez, sua arrogncia. E, neste caso, claro queele tem razo em seu ponto bsico. Tento ser paciente e exclamo: ,grande lsofo, voc tem razo. O holismo uma abordagem intil dolsofo em cima do muro, que valoriza; porm, Deus no abre mo to-talmente do materialismo. E voc tem razo quando diz que a cincianunca pode encontrar respostas sobre a verdade ltima. A verdade .

    Mas, espere um pouco, por favor. Os materialistas fazem a ar-mativa ontolgica de que a matria a base reducionista de todaexistncia; tudo, mesmo a conscincia, pode ser reduzido a tijolos dematria, as partculas elementares e suas interaes. Eles armam quea conscincia um epifenmeno, um fenmeno secundrio da matria,ou seja, a realidade primria. O que demonstro a necessidade de

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    P R L O G Ovirar a cincia materialista de cabea para baixo. A fsica quntica

    exige que a cincia se baseie no primado da conscincia. Assim sendo,a conscincia a base de toda existncia, uma existncia que os ms-ticos chamam Mente de Deus. Que os materialistas percebam que amatria o epifenmeno, no a conscincia.

    Percebo, diz meu lsofo, sem se abalar. Isso parece muitonobre. Mas voc no foi longe demais para o outro lado? possvelchamar isso de cincia, se voc a baseia no primado da conscincia?

    Em minha opinio, os cientistas podem analisar o lado objetivoda conscincia, o Isso e os Issos, o aspecto da terceira pessoa da cons-cincia, por assim dizer. Os msticos, ou melhor, todos ns, analisamospessoalmente o lado subjetivo, a experin cia na primeira pessoa. O

    lsofo pode fazer at melhor levando em considerao o lado inter-subjetivo, o aspecto do relacionamento da conscincia ou segundapessoa. isso que chamo de 1-2-3, o aspecto da conscincia da pri-meira, da segunda e da terceira pessoa. Se ampliarmos o estudo daconscincia, levando-o do ponto de vista puramente objetivo e cient-co para o que inclua os outros aspectos, obtemos um modelo completo,o modelo de quatro quadrantes (Figura 3.1, p. 57). E, assim, o problemada conscincia est resolvido. No precisamos da fsica quntica e de

    seu novo paradigma de pensamento cientco.Fico um pouco espantado com suas alegaes. Este sujeito durona queda. Contudo, consigo dizer: Isso bom. bom mesmo. Descreveo fenmeno como fenomenologia; isso perfeito. Mas o modelo nointegra os quatro quadrantes.

    Ele d uma resposta atravessada: exatamente isso que estoudizendo, bem como o mstico. Para integrar, voc precisa ir alm dacincia, alm da razo, at estados superiores da conscincia.

    Agora minha vez de parecer intransigente: Essa uma posioelitista e voc sabe disso.Os msticos sempre disseram que, para co-nhecer a realidade, precisamos de estados superiores da conscincia.E dizem para quem quiser ouvir, seja bom. Porque eu vivenciei essesestados superiores e sei o que bom para voc. Mas esse plano che-gou a funcionar?

    At certo ponto, provvel que funcione, porque sermos bonsfaz parte de nossa natureza; da o atrativo das religies. No entanto,as emoes bsicas tambm fazem parte de nossa natureza; e assim omaterialismo tambm nos atrai. E essa discusso entre misticismo ematerialismo prossegue, em pblico e em carter privado.

    E o que voc est propondo?, ele pergunta.

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    A fsica quntica nos permite desenvolver uma integrao di-nmica entre a metafsica espiritual e a cincia do mundo material.Ela guarda o mistrio do misticismo, da realidade suprema. Mas tam-bm permite que a razo penetre a fundo o suciente para compreen-der a integridade de seu 1-2-3 da conscincia, digo com voz solene.

    Agora o lsofo demonstra respeito: E como essa redenio qun-tica da cincia ajuda a estabelecer Deus, para que cientistas e os demaisaceitem a idia e tentem ser bons?, pergunta.

    Lembra-se do dilogo com o cientista de quem lhe falei? Nesteinstante, percebo que tenho sua ateno integral. Deus conscinciaquntica; este um nvel abaixo do nvel absoluto da conscincia comobase de toda a existncia. Testes cientcos, objetivos e experimentais,

    podem ser realizados neste nvel. No digo para testar Deus direta-mente, mas para testar o poder de causao descendente que se ma-nifesta no apenas no mundo material como tambm nos nveis sutis.Alm disso, ns tambm estamos descobrindo dados slidos e objetivossobre a existncia do sutil. Esta conrmao experimental e objetiva que ir convencer a todos e levar a uma mudana de paradigma.Tenho certeza de que voc concorda comigo.

    Certo, certo. Ser interessante ler o que voc tiver a respeito,

    diz, com ar de despedida. Ele precisa ter a ltima palavra. Reconhe-cendo sua necessidade, despeo-me.Dois j foram, falta um: o telogo cristo. Tento cri-lo cuidadosa-

    mente, sem descuidar do traje, que deve ser adequado e tudo o mais.Para minha surpresa, acabo criando uma mulher. O mundo est mu-dando, de fato; ainda h esperanas para Deus.

    Sado minha teloga. Falo do ttulo do livro e de minhas discussescom o cientista ctico e o lsofo. Ela sorri com simpatia. De repente,

    o sorriso desaparece e ela comea a falar em rpido staccato .Voc sabe que simpatizo com sua causa, mas meu ceticismo vemde nossa experincia com os materialistas. No os subestime, pois elespodem com-lo vivo.

    , com certeza nos comem vivos. No consigo resistir provo-cao. Mas voc sabe a razo, no sabe? Vocs no levam a cinciaa srio, por mais materialista que ela seja. O Vaticano demorou 400anos para reconhecer Galileu e outro tempo enorme para reconhecerDarwin. E os fundamentalistas de seu rebanho ainda lutam com unhase dentes contra a idia de evoluo. Mas, ns levamos os materialistasa srio e os respeitamos; damos-lhes o crdito devido. A nova cinciainclui a cincia materialista.

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    P R L O G O verdade.

    Eis o livro. Fala de Deus conscincia quntica , fala de um novoparadigma da cincia baseado no primado da conscincia e de as-sinaturas qunticas do divino, comprovveis cienticamente e que nopodem ser descartadas pela razo. Ele trata, ainda, do signicado epropsito de nossas jornadas espirituais, bem como do signicado epropsito da evoluo.

    Durante milnios, ns, humanos, temos intudo Deus e temosprocurado. O que descobrimos nos inspirou a sermos bons, a sermospacfcos, a sermos amveis. Mas fracassamos principalmente emcorresponder s nossas intuies de como sermos bons, de como amar.Em nossa frustrao, nos tornamos defensivos, nos tornamos crentes

    em Deus, crentes que precisam defender a idia de Deus como desculpapela incapacidade de corresponder a essa idia. Isso nos deu o prose-litismo religioso, o fundamentalismo e, at mesmo o terrorismo, tudoem nome de Deus.

    A cincia moderna surgiu do esforo para nos libertarmos da ti-rania do terrorismo religioso. A verdade, naturalmente, a Verdade,e por isso inevitvel que a cincia tenha redescoberto Deus. Pergunto-me, desse modo, se este fato isolado ir aliviar as diculdades de vi-

    venciar os ideais de Deus.Assim sendo, ser que corremos, mais uma vez, o risco de criarum dogma que teremos de defender por causa da culpa de no con-seguirmos corresponder s suas exigncias? Espero que no.

    Uma vantagem da cincia materialista e sem Deus que atdeterminado ponto ela neutra com relao aos valores, e ningumprecisa corresponder a quaisquer ideais. Com efeito, ela estimula aspessoas a se tornarem existencialistas cnicos e a se dedicarem ao

    consumismo, para no dizer ao hedonismo. Evidentemente, isso tam-bm cria a imensa terra devastada de potenciais humanos insatisfeitos,que, hoje, podemos ver nossa volta.

    A nova cincia da conscincia surge com maior compreenso doserros das religies do passado, dos erros dos antigos sustentculos doconceito de Deus. As assinaturas qunticas do divino nos dizem, semambigidades, o que precisamos fazer para realizar Deus em nossasvidas, porque falhamos, porque ocultamos nossas falhas e nos tornamosativistas fundamentalistas. Se voc respeita as assinaturas qunticasdo divino, a importncia dos saltos qunticos e do conhecimento nolocal, voc tem outra opo. Estou batizando esta opo com o nomeativismo quntico .

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    E S T M O R T O O ativismo normal se baseia na idia de mudar o mundo, mas eu

    no preciso mudar. Em contrapartida, os mestres espirituais dizemsempre que devemos nos concentrar em nossa prpria transformao,deixando o mundo em paz. O ativismo quntico o convida a seguir ocaminho do meio. Voc reconhece a importncia de sua prpria trans-formao, percorre o caminho da transformao com sinceridade,apesar das diculdades dos saltos qunticos e da explorao no local;mas voc no diz, transformao ou esquea. Voc tambm prestaateno no holomovimento da conscincia que se desenvolve no mundo sua volta e o ajuda nisso.

    Assim, nalmente, este livro ainda uma introduo ao ativismoquntico. Nem preciso dizer que sou um ativista quntico, e por isso,

    caro leitor, bem-vindo ao meu mundo.