gazeta russa 11.2011

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SEGUNDA-FEIRA, 28 DE NOVEMBRO DE 2011 Esporte Clube Anji Makhatchkalá quer ser o Real Madrid do Cáucaso. P. 3 Política e Sociedade Marcha Russa nacionalista choca país ao reunir nova ala familiar. P.2 Economia e Mercado Fábrica brasileira de freezer amplia operações na Rússia. P.4 Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), Clarín (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais gazetarussa.com.br PRODUZIDO POR RUSSIA BEYOND THE HEADLINES NOTAS Com a publicação do programa de inves- timentos da Gazprom para 2011, a holding estatal russa de gás e petróleo deve ultra- passar a Petrobras e bater um novo recor- de no setor. Segundo o documento, a companhia pre- tende aplicar em seus projetos de desen- volvimento, juntamente com suas subsidi- árias, cerca de 1,57 trilhão de rublos (aproximadamente R$ 90,2 bilhões). Com isso, a Gazprom poderá se aproximar da posibilidade de estabelecer um novo recorde mundial de investimento no setor, hoje liderado pela Petrobras. O plano de negócios da brasileira anun- ciado em julho deste ano prevê um orça- mento de R$ 389 bilhões entre 2011 e 2015 que contempla 688 projetos, ou seja R$ 77,8 bilhões por ano. pronedra.ru Russa Gazprom quer bater Petrobras em investimentos A satisfação do dia de paga- mento é acompanhada por um bocado de melancolia para boa parte dos brasileiros, que precisam enfrentar longas filas em bancos e casas loté- ricas para pagar as contas co- tidianas: água, luz, telefone, gás, internet, TV a cabo... Nesse mercado nebuloso, uma empresa russa, a MegaPay, tenta se inserir espalhando Foram precisos dois anos desde que uma delegação bra- sileira apresentou o potencial de investimentos do setor de energia em Moscou, mas o acordo entre a TNK-BP (em- presa com 50% de capital da britânica BP e 50% do con- sórcio russo AAR) e a brasi- leira HRT O&G finalmente saiu. A compra foi realizada no dia 31 de outubro, pela sub- sidiária brasileira da TNK. O acordo de US$ 1 bilhão fi- naliza a transação entre a TNK-BP e a Petra Energia - detentora dos direitos de ex- ploração operados pela HRT - sobre a aquisição de 45% do potencial da bacia. A TNK- BP se mostrou mais ágil do que a estatal Gazprom, pri- meira empresa russa a mos- trar interesse pelos recursos energéticos do Brasil. Tecnologia País começa a receber novas máquinas para recarga de celular e pagamentos diversos Investimento Terceira maior da Rússia, petrolífera TNK-BP adquire 45% de concessões à brasileira HRT O&G Tecnologia já está disponível em municípios da Grande São Paulo. Intenção é possibilitar pagamentos de contas, recargas de celular, compra de ingressos, entre outros serviços. Com compra de concessões sobre 21 blocos da Bacia do Solimões, TNK-BP inaugura investimento no setor petrolífero brasileiro. terminais de pagamentos múl- tiplos em locais de grande cir- culação de pessoas na Gran- de São Paulo. Segundo a companhia, serão mil máqui- nas até o ano que vem. O primeiro serviço oferecido pelos terminais no mercado brasileiro é a recarga de cré- ditos em celulares pré-pagos. A empresa já fechou contrato com as operadoras Vivo e Claro e negocia com Tim, Oi e Nextel. As operadoras de TV a cabo Net e Sky são as pró- ximas da fila. O serviço por enquanto está disponível em cerca de 60 máquinas espalhadas por São Paulo, Taboão da Serra, Piraporinha e Diadema. Co- mércios com grande movi- Terminais múltiplos chegam ao Brasil Equipamento seria alternativa a bancos e casas lotéricas, onde longas filas costumam ser a regra Primeira companhia russa a mostrar interesse no Brasil foi a Gazprom, mas TNK-BP inaugurou investimento no setor petrolífero do país Monges participam de cerimônia budista RAPHAEL VELEDA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA VÍKTOR KUZMIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA mento, como supermercados, farmácias e postos de com- bustível, estão na mira da empresa. A MegaPay, que en- trou no negócio em 2004 e já é líder na Rússia e nos paí- ses que formavam a antiga União Soviética, busca uma expansão rápida e oferece vantagens a empresários que abrigarem os terminais, pre- parados para funcionar 24 horas por dia, multiplicando as opções e evitando a for- mação de filas. Para Serguêi Grekov, diretor comercial da empresa, a prin- cipal vantagem para os lojis- tas é oferecer mais serviços e atrair mais clientes aos esta- belecimentos sem causar desconforto. “Com o nosso terminal, o co- merciante tem a vantagem de não gastar e oferecer serviços que agregam valor ao negó- cio”, afirma Grekov, em um português perfeito, aprendi- do no período em que morou em Portugal. CONTINUA NA PÁGINA 5 CONTINUA NA PÁGINA 3 CONTINUA NA PÁGINA 4 ESPECIAL Imóveis Depois de crise, mercado imobiliário volta a ser opção de investimento EM FOCO Guerra e Paz ganha versão brasileira Quase 150 anos depois de primeira publicação, obra é traduzida direto do russo PÁGINA 8 PÁGINA 6 NESTA EDIÇÃO “Em supermercados, por exemplo, a recarga de celular e pagamento de contas são fei- tos diretamente nos caixas. Isso gera filas e não rende quase nada em comissão ao empresário. Muitos recebem contas em só um caixa para minimizar isso. Então não é muito lucrativo”, avalia. Atrás do petróleo amazônico Religião Região da Kalmíkia, ainda pouco desenvolvida, se volta à espiritualidade Um terço de sua população foi exilada durante o terror stalinista, mas enquanto a Kalmíkia reconstrói templos e organiza eventos globais, problema social continua. “Que todos os nossos desejos se tornem realidade, todas as criaturas vivas se libertem do sofrimento, do perigo das do- enças e da tristeza! Que a paz e a felicidade governem sobre a Terra!” Mais de dois mil bu- distas cantam o mantra, ajo- elhando-se sobre esteiras em um templo budista na cidade de Elista, capital da Repúbli- ca da Kalmíkia. No sul da Rússia, a região é uma das três tradicionalmente budistas do país. Eles repetem palavras de ora- ção seguindo o líder budista kalmuk, Telo Tulku Rinpo- tche. Por fim, o grupo entra Budismo renasce em antigo reduto ANNA NEMTSOVA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA em profunda meditação e a praça fica em silêncio. Quando a noite cai, milhares de velas são acesas. Os mon- ges budistas em visita à cida- de vêm do Tibete, da Tailân- dia e dos Estados Unidos, bem como das repúblicas russas budistas da Buriátia e de Tuva. Eles abençoam os fiéis ali reunidos, provenientes de todas as regiões da Kalmíkia e do sul da Rússia. Velas são lançadas ao céus em balões, iluminando a escuri- dão da noite. Uma oferenda de luz para Buda, a cerimônia foi intro- duzida aos budistas russos pela primeira vez como um evento simbólico de abertura do fórum internacional “Bu- dismo: Filosofia da Não Vio- lência e da Compaixão”, rea- lizado no mês passado na capital Elista. REUTERS/VOSTOCK-PHOTO RIA NOVOSTI GETTY IMAGES/FOTOBANK REUTERS/VOSTOCK-PHOTO RIA NOVOSTI ULLSTEIN BILD/VOSTOCK-PHOTO ANNA NEMTSOVA LORI/LEGION MEDIA

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Gazeta Russa

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Page 1: Gazeta Russa 11.2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

esporteClube Anji Makhatchkalá quer ser o Real Madrid do Cáucaso.

P. 3

Política e sociedadeMarcha Russa nacionalista choca país ao reunir nova ala familiar.

P.2

economia e MercadoFábrica brasileira de freezer amplia operações na Rússia.

P.4

Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Folha de S.Paulo (Brasil), The Economic Times (Índia), Clarín (Argentina), Süddeutsche Zeitung (Alemanha), The Yomiuri Shimbun (Japão) e outros grandes diários internacionais

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Com a publicação do programa de inves-timentos da Gazprom para 2011, a holding estatal russa de gás e petróleo deve ultra-passar a Petrobras e bater um novo recor-de no setor.Segundo o documento, a companhia pre-tende aplicar em seus projetos de desen-volvimento, juntamente com suas subsidi-árias, cerca de 1,57 trilhão de rublos (aproximadamente R$ 90,2 bilhões). Com isso, a Gazprom poderá se aproximar da posibilidade de estabelecer um novo recorde mundial de investimento no setor, hoje liderado pela Petrobras.O plano de negócios da brasileira anun-ciado em julho deste ano prevê um orça-mento de R$ 389 bilhões entre 2011 e 2015 que contempla 688 projetos, ou seja R$ 77,8 bilhões por ano.

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russa gazprom quer bater Petrobras em investimentos

A satisfação do dia de paga-mento é acompanhada por um bocado de melancolia para boa parte dos brasileiros, que precisam enfrentar longas filas em bancos e casas loté-ricas para pagar as contas co-tidianas: água, luz, telefone, gás, internet, TV a cabo... Nesse mercado nebuloso, uma empresa russa, a MegaPay, tenta se inserir espalhando

Foram precisos dois anos desde que uma delegação bra-sileira apresentou o potencial de investimentos do setor de energia em Moscou, mas o acordo entre a TNK-BP (em-presa com 50% de capital da britânica BP e 50% do con-sórcio russo AAR) e a brasi-leira HRT O&G finalmente saiu. A compra foi realizada no dia 31 de outubro, pela sub-sidiária brasileira da TNK. O acordo de US$ 1 bilhão fi-naliza a transação entre a TNK-BP e a Petra Energia - detentora dos direitos de ex-ploração operados pela HRT - sobre a aquisição de 45% do potencial da bacia. A TNK-BP se mostrou mais ágil do que a estatal Gazprom, pri-meira empresa russa a mos-trar interesse pelos recursos energéticos do Brasil.

Tecnologia País começa a receber novas máquinas para recarga de celular e pagamentos diversos

investimento Terceira maior da Rússia, petrolífera TNK-BP adquire 45% de concessões à brasileira HRT O&G

Tecnologia já está disponível em municípios da grande são Paulo. intenção é possibilitar pagamentos de contas, recargas de celular, compra de ingressos, entre outros serviços.

Com compra de concessões sobre 21 blocos da Bacia do solimões, TnK-BP inaugura investimento no setor petrolífero brasileiro.

terminais de pagamentos múl-tiplos em locais de grande cir-culação de pessoas na Gran-de São Paulo. Segundo a companhia, serão mil máqui-nas até o ano que vem.O primeiro serviço oferecido pelos terminais no mercado brasileiro é a recarga de cré-ditos em celulares pré-pagos. A empresa já fechou contrato com as operadoras Vivo e Claro e negocia com Tim, Oi e Nextel. As operadoras de TV a cabo Net e Sky são as pró-ximas da fila. O serviço por enquanto está disponível em cerca de 60 máquinas espalhadas por São Paulo, Taboão da Serra, Piraporinha e Diadema. Co-mércios com grande movi-

Terminais múltiplos chegam ao Brasil

equipamento seria alternativa a bancos e casas lotéricas, onde longas filas costumam ser a regra

Primeira companhia russa a mostrar interesse no Brasil foi a gazprom, mas TnK-BP inaugurou investimento no setor petrolífero do país

Monges participam de cerimônia budista

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víKTOr KuzMinesPecial PaRa GazeTa Russa

mento, como supermercados, farmácias e postos de com-bustível, estão na mira da empresa. A MegaPay, que en-trou no negócio em 2004 e já é líder na Rússia e nos paí-ses que formavam a antiga União Soviética, busca uma expansão rápida e oferece vantagens a empresários que abrigarem os terminais, pre-parados para funcionar 24 horas por dia, multiplicando as opções e evitando a for-mação de filas. Para Serguêi Grekov, diretor comercial da empresa, a prin-cipal vantagem para os lojis-tas é oferecer mais serviços e atrair mais clientes aos esta-belecimentos sem causar desconforto.

“Com o nosso terminal, o co-merciante tem a vantagem de não gastar e oferecer serviços que agregam valor ao negó-cio”, afirma Grekov, em um português perfeito, aprendi-do no período em que morou em Portugal.

COnTinua na Página 5

COnTinua na Página 3

COnTinua na Página 4

esPeCiaL

imóveisDepois de crise, mercado imobiliário volta a ser opção de investimento

eM fOCO

guerra e Paz ganha versão brasileiraQuase 150 anos depois de primeira publicação, obra é traduzida direto do russo

Página 8

Página 6

nesta edição

“Em supermercados, por exemplo, a recarga de celular e pagamento de contas são fei-tos diretamente nos caixas. Isso gera filas e não rende quase nada em comissão ao empresário. Muitos recebem contas em só um caixa para minimizar isso. Então não é muito lucrativo”, avalia.

atrás do petróleo amazônico

religião Região da Kalmíkia, ainda pouco desenvolvida, se volta à espiritualidade

um terço de sua população foi exilada durante o terror stalinista, mas enquanto a Kalmíkia reconstrói templos e organiza eventos globais, problema social continua.

“Que todos os nossos desejos se tornem realidade, todas as criaturas vivas se libertem do sofrimento, do perigo das do-enças e da tristeza! Que a paz

e a felicidade governem sobre a Terra!” Mais de dois mil bu-distas cantam o mantra, ajo-elhando-se sobre esteiras em um templo budista na cidade de Elista, capital da Repúbli-ca da Kalmíkia. No sul da Rússia, a região é uma das três tradicionalmente budistas do país. Eles repetem palavras de ora-ção seguindo o líder budista kalmuk, Telo Tulku Rinpo-tche. Por fim, o grupo entra

Budismo renasce em antigo reduto

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em profunda meditação e a praça fica em silêncio. Quando a noite cai, milhares de velas são acesas. Os mon-ges budistas em visita à cida-de vêm do Tibete, da Tailân-dia e dos Estados Unidos, bem como das repúblicas russas budistas da Buriátia e de Tuva. Eles abençoam os fiéis ali reunidos, provenientes de todas as regiões da Kalmíkia e do sul da Rússia. Velas são lançadas ao céus em

balões, iluminando a escuri-dão da noite.Uma oferenda de luz para Buda, a cerimônia foi intro-duzida aos budistas russos pela primeira vez como um evento simbólico de abertura do fórum internacional “Bu-dismo: Filosofia da Não Vio-lência e da Compaixão”, rea-lizado no mês passado na capital Elista.

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Gazeta Russawww.gazetarussa.com.brPolítica e sociedadenotas

O Exército russo não vai se limitar mais a seus 425 mil contratados e planeja substituir seus recrutas por mais terceirizados, infor-mou o chefe do Estado Maior das Forças Armadas russas, general Nikolai Makárov.“Esses 425 mil contratados não são tudo. Pretendemos aumentar o número de sol-dados por contrato para nos tornarmos um Exérci-to completamente profis-sional”, disse Makarov du-rante reunião da Câmara Pública.

Interfax

A espaçonave russa Soiuz-TMA-22 levou, no dia 16 de novembro, à Estação Es-pacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), uma nova tripulação de três pes-soas: os russos Anton Ska-plerov e Anatóli Ivaníchin e o norte-americano Da-niel Burbank.Devido a um acidente com o cargueiro espacial Pro-gress em agosto, o progra-ma de voos tripulados sofreu alterações signifi-cativas, mas deve voltar a funcionar normalmente a partir de 21 de dezembro, após a chegada da próxi-ma expedição. A Soiuz lançada em novem-bro é a última a utilizar sistemas de controle ana-lógicos e será substituída pelas naves da série Soiuz-TMA-M, já utilizada em dois voos espaciais.

Vassíli Krilov

contrato pode acabar com serviço militar

nova tripulação chega à Iss

A subprefeitura da região central da cidade de Mos-cou terá no próximo ano 18 novos hotéis, a maioria dos quais em antigos pré-dios de escritórios refor-mados e convertidos para a nova função. Alguns complexos hoteleiros serão construídos a partir do zero. “A subprefeitura central vai desenvolver a indústria hoteleira em diversos seg-mentos de preços. É um processo natural de trans-formação da cidade em centro financeiro mundial”, assinalou o subprefeito Serguêi Baidakov. “No que se refere à inau-guração do hotel Moskvá, as obras serão entregues em duas etapas, em 2011 e em 2012”, completou.

aleksandr Korolkov

subprefeitura central terá 18 novos hoteis“Vamos devolver a Rússia aos

russos!”, “Chega de alimen-tar o Cáucaso!” e “Liberda-de, Nação, Ordem” foram al-guns dos slogans dos cartazes empunhados por quem des-filava na Marcha Russa, mo-vimento nacionalista que reuniu cerca de 7 mil pesso-as em um subúrbio de Mos-cou no dia 4 de novembro, quando a cidade celebra o Dia da Unidade Nacional. Para os padrões da Rússia moderna, o número de ma-nifestantes é considerável. No sétimo ano de existência da Marcha Russa, seu núcleo foi como sempre constituído por jovens propensos à vio-lência contra imigrantes.Porém, diferentemente das manifestações anteriores, a marcha contou com a parti-cipação de muitas pessoas mais velhas, que se dizem na-cionalistas moderadas. Sem conseguir unificar o mo-vimento, os nacionalistas se dividiram em colunas sepa-radas: os “cabeças rapadas” mascarados, os fundamenta-listas ortodoxos, os aposenta-dos com ícones de santos cris-tãos nas mãos e os pais de família acompanhados pelos filhos. Fecharam o desfile os neonazistas, sob a bandeira da Divisão SS Toten-kopf (em alemão, “Cabeça da Morte). Os manifestantes gritaram diferentes slogans, desde fra-ses de caráter racista contra etnias caucasianas e modi-nhas antissemitas, acompa-nhadas pelo tradicional ins-trumento musical russo

extremismo eslavo Com 7 mil pessoas, evento não está mais restrito a jovens xenófobos e violentos

balalaika, até slogans contra o partido governante Rússia Unida e a suposta islamiza-ção do país. A manifestação foi autorizada pelas autori-dades de Moscou e terminou sem violência.O Centro de Pesquisas de Opinião Pública Sova, espe-cializado em monitorar as tendências xenófobas na Rús-sia, denunciou o caráter ra-cista dos slogans, passível de punição por lei, mas a polí-cia não interveio.

origem na rússiaO diretor do instituto de pes-quisas Centro Levada, Lev Gudkov, afirma que o slogan “Rússia para os russos” en-contra eco junto a cerca de 60% da população russa e que cerca de 50% dos mos-covitas se dizem favoráveis à limitação do fluxo de imi-grantes de origem asiática e caucasiana à capital russa. “O problema é que a socie-dade está perdendo a imuni-dade contra essas manifes-tações xenófobas”, diz o sociólogo. Para o diretor do Centro de Tecnologias Políticas, Ígor Búnin, um dos motivos é a decepção de boa parte da po-pulação com as políticas do atual governo.

Prova disso foi a manifes-tação na Praça Manêjnaia, no centro de Moscou, no ano passado, quando manifes-tantes exigiam a investiga-ção adequada do assassina-to de um torcedor de futebol cometido por um grupo de nativos do Cáucaso. “Naque-la altura, o nacionalismo e o protesto social se uniram pela primeira vez em rea-ção à injustiça”, assinala Lev Gudkov.A segunda razão é a incoe-rente política de imigração do governo. Por um lado, de-vido à diminuição da popu-lação russa e à falta de mão de obra, o governo apoia a entrada de imigrantes das regiões mais pobres do Cáu-caso e da Ásia Central. Por outro, esses processos não são controlados e apresen-tam um elevado nível de cor-rupção. Além disso, há uma busca de identidade russa. No final da década de 1980, o nacionalismo na Rússia era menor do que nas demais re-públicas que formavam a União Soviética. “Os russos possuíam uma mentalidade imperial e não precisavam se identificar etnicamente”, afirma Gu-dkov, do Centro Levada.O processo de independên-cia nas ex-repúblicas sovi-éticas se apoiava, em geral, nos respectivos movimentos de libertação nacional, como o que aconteceu nos países bálticos e caucasianos e na Ucrânia. Não era o caso dos russos. Eles não precisavam lutar por sua libertação na-cional. Mais do que isso, uma opção nacionalista era contraindicada para a Rús-sia, país composto por 140 etnias. “Cada etnia da Rússia, ao contrário, por exemplo, dos

turcos na Alemanha, tem seu território histórico no país, e por isso o naciona-lismo é um caminho para a desagregação dele”, acredi-ta Nikolai Petrov, diretor do C e n t r o C a r n e g i e d e Moscou.

Diferenças da europaMovimentos nacionalistas são proibidos na Rússia. Mas, segundo o advogado e blogueiro Aleksêi Naválni, opositor do Kremlin que participou da Marcha Russa, se organizações nacionalis-tas relativamente grandes da Rússia forem legalizadas, seus líderes começarão a

mudar e acabarão se tornan-do políticos não mais radi-cais que os europeus. “Na Europa existem insti-tuições e movimentos sociais que se opõem a esse fenô-meno e promovem amplos debates na sociedade, neu-tralizando assim o caráter agressivo do nacionalismo. Na Rússia, isso não existe”, diz Gudkov.Além disso, o nacionalismo na Europa visa à restrição de fluxos migratórios. “Em Londres, Lisboa e Paris, ninguém diz que os recém-chegados devem ser expul-sos”, diz o sociólogo. Já em Moscou, de acordo com o

Centro Levada, 40% dos moscovitas exigem a expul-são dos imigrantes.Segundo o diretor do Cen-tro Levada, após as mani-festações na Praça Manêj-naia, o partido Rússia Unida sentiu uma grande ameaça decorrente do nacionalismo e decidiu tomar as rédeas do movimento. “As autoridades procuram não tanto combater as ten-dências nacionalistas e re-solver os problemas em sua origem, mas absorvê-las, como absorveu os protestos sociais”, conclui Gudkov. Dessa forma, os problemas só se agravam.

marcha mostra força do nacionalismo na rússia

menina desfila com o pai na ala familiar da marcha russa, como é chamada a passeata

slogan “rússia para os russos” já atrai 60% da população e xenofobia torna-se popular, defendida por famosos publicamente.

VlaDímIr ruVínsKIgazeta russa

História do nacionalismo russoO aumento do nacionalismo na vida cotidiana da Rússia come-çou em meados dos anos 1990 e se tornou visível depois da crise de 1998, quando o gover-no se declarou inadimplente e muitas pessoas perderam seus empregos, negócios e poupan-ças. “A sociedade então preci-sou de outros estímulos para a

autoafirmação nacional”, expli-ca o sociólogo Lev Gudkov. As tendências nacionalistas atin-giram seu ápice em meados dos anos 2000, com atos de violência massivos contra imi-grantes na cidade de Kondo-poga, na Carélia, noroeste da Rússia, e na região de Stavro-pol, no sul do país.

dos moradores da capital exi-gem a expulsão de imigrantes, de acordo com dados do Cen-tro Levada. Metade dos mosco-vitas são favoráveis à limitação do fluxo de imigrantes de ori-gem asiática e caucasiana.

40%números

“Os russos possuíam mentalidade imperial e não precisavam se identificar etnicamente”

“O nacionalismo é um caminho para a desagregação do território russo”, diz Nikolai Petrov

união de forças Proposta visa não só a mísseis, mas também a asteróides, e pode desfazer impasses na europa

Iniciativa proposta por representante especial da rússia na otan, Dmítri rogózin, vem após lenta aproximação entre os países.

O sistema espacial de des-truição de asteróides peri-gosos para a Terra com a ajuda de mísseis nucleares, em desenvolvimento pelo Centro Nacional de Fogue-tes da Rússia Makeev, já era conhecido desde agosto deste ano.Mas foi com a proposta do diplomata Dmítri Rogózin que veio à tona o projeto de construção de um escudo conjunto não só contra mís-seis, mas também asterói-des, chamado pomposamen-te de Defesa Estratégica da Terra.O nome deve sofrer ajustes, uma vez que o presidente Dmítri Medvedev deixou no documento a palavra “en-

graçado”, e pediu que seus assessores o ajustassem. In-depentende de como o sis-tema for batizado, ele pode representar um grande avanço na questão que se ar-rasta há vários anos.

novela antimíssilApós a retirada dos EUA do Tratado ABM de 1972 e a decisão do presidente Geor-ge W. Bush de acelerar os trabalhos para a instalação de elementos do escudo an-timíssil norte-americano na Europa, nem Rússia nem Es-tados Unidos conseguiram desfazer contrad ições existentes. A nova concepção de escu-do antimíssil europeu foi aprovada pela cúpula da Otan (Organização do Tra-tado do Atlântico Norte) em Lisboa, no ano passado. An-teriormente, os EUA, sob o governo Bush, quiseram ins-talar escudos antimísseis na Polônia e um radar na Re-

tágono, os EUA estão cons-truindo seu sistema em qua-tro etapas. Na primeira, até o final de 2011, devem ser colocados navios no Medi-terrâneo e um radar no sul da Europa. Na segunda, que vai até 2015, o Pentágono quer transferir baterias mó-veis de mísseis intercepto-res SM-3 para a Romênia, segundo acordo firmado entre Washington e Buca-reste em setembro.Na terceira etapa, prevista para 2018, os EUA instala-riam baterias semelhantes na Polônia e, até 2020, subs-tituiriam os atuais mísseis interceptores por armas mais sofisticadas, capazes de proteger todo o territó-rio dos países membros da Otan contra mísseis de c u r t o, mé d io e lon go alcances. No final de outubro, Moscou anunciou que vai instalar os mais recentes mísseis táti-co-operacionais Iskander na

cidade de Luga, na região de São Petersburgo.

Final feliz?Depois da recusa do novo embaixador dos EUA na Rússia, Michael McFaul, em garantir legalmente que a defesa antimíssil europeia não iria atentar contra a Rússia, Moscou anunciou a instalação da primeira bri-gada de Iskanders capazes de transpor tar og ivas nucleares.Os norte-americanos então se comprometeram a conce-der garantias à Rússia e a convidaram a participar de testes dos mísseis intercep-tores destinados à Europa. O convite foi formulado, em meados de outubro, pelo di-retor da Agência de Defesa Antimíssil, general Patrick O’Reilly. Em resposta, a Rússia propôs a construção da defesa anti-asteróide. Falta agora a resposta nor-te-americana.

Rússia convida EUA a fazer escudo

moscou anunciou instalação de mísseis Iskanders

anDrêI KIslIaKoVesPeCial Para gazeta russa

pública Tcheca, o que foi re-cebido por Moscou como ameaça direta a seus arse-nais estratégicos. O atual presidente norte-americano Barack Obama se absteve

dos planos em relação à Po-lônia e à República Tcheca, mas não abdicou das insta-lações no resto da Europa. Agora, segundo a Agência de Defesa Antimíssil do Pen-

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Gazeta Russawww.gazetarussa.com.br Política e sociedadeJogada Bilionário quer fazer de Makhatchkalá, no Daguestão, a capital russa do futebol e aposta em craques consagrados

além da compras milionárias, o anji planeja sete escolinhas de futebol, contratação de treinadores e construção de um novo estádio.

Tarlan Bakhichev, 14, espe-rou seis horas com os amigos para conseguir ingresso para assistir ao time de futebol local, o Anji Makhatchkalá. Os adolescentes transbordam de felicidade enquanto assis-tem ao treino. Em um canto do estádio, de-zenas de fãs fazem sua salá noturna, a oração muçulma-na, e outros milhares aguar-dam a chegada da mais nova estrela, o atacante Samuel Eto’o, ex-Inter de Milão.Neste outono, o clube assinou-um contrato de três anos com o bicampeão da Liga dos Cam-peões da Uefa por um salário estimado em US$ 30 milhões anuais.É cada vez mais comum que um time saia do nada e passe a atrair os melhores jogado-res do futebol europeu em uma questão de instantes. O oli-garca russo Roman Abramo-vitch transformou o inglês Chelsea depois de comprá-lo em 2003; o Manchester City está se aproveitando da for-tuna do Abhu Dhabi United Group e recentemente goleou seu rival, o tradicional Man-chester United. A sede do Anji fica em Makha-tchkalá, capital da República do Daguestão, no Cáucaso do Norte. A região é cenário de uma antiga e intensa batalha entre as autoridades russas e os extremistas islâmicos, e presencia ataques quase diá-rios. No dia em que Eto’o es-teve pela primeira vez por lá, cinco pessoas morreram em uma série de atentados. Nos últimos anos, mais de cem policiais foram assassinados por ano na república, que tem 2,6 milhões de habitantes. Por

isso, jogadores e suas famílias não moram na cidade. Em vez disso, pegam um voo em Mos-cou com destino ao sul do país sempre que há jogo marcado na região. O diretor geral do clube, Guér-man Tchistiakov, insiste que a cidade é segura, e afirma que tinha uma impressão di-ferente da república antes de se mudar para lá. “Pensei que houvesse praticamente uma guerra acontecendo aqui, que as balas voassem ao nosso redor e fosse necessário ras-tejar para se locomover pela cidade”, disse à agência de no-tícias russa Ria Novósti. Quem financia a vinda de Eto’o e de todos os demais jo-gadores é um único homem, Suleiman Kerimov. Dagues-tanês e um dos oligarcas mais reclusos, Kerimov foi mem-

bro da Duma de Estado (Câ-mara Baixa do parlamento russo) e atualmente é senador. “Kerimov não dá entrevistas, ele se comunica com o povo do Daguestão por meio do clube de futebol”, diz Enver Kisriev, chefe da seção cau-casiana de um grupo de dis-cu ssão acadêm ico em Moscou.A revista Forbes estima que Kerimov tenha uma fortuna de apr ox i m ad a me nt e US$ 8 bilhões, acumulada du-rante a década de 1990 por meio de investimentos. Em-bora seja proprietário de uma das maiores produtoras de ouro do país, conseguiu se manter fora dos holofotes da imprensa até que, em 2006, bateu sua Ferrari Enzo em alta velocidade contra uma

árvore em Nice, na França. Ficou seriamente ferido e levou meses para se recupe-rar. Tina Kandelaki, apresen-tadora russa de TV que esta-va com ele no carro, teve mais s o r t e , m a s s o f r e u queimaduras. Julgando pela recepção de Eto’o, o clube não pode fazer feio no Daguestão. Cerca de 8 mil pessoas lotaram o está-dio só para ver o treino e crianças correram para o campo tentando tocar Eto’o.Em determinado momento, um estudante local camaro-nês, que cursa medicina em Makhatchkalá, também cor-reu pelo campo e mergulhou no gramado para beijar os pés do jogador. O Daguestão é uma das re-públicas mais pobres da Rús-sia, e tem uma taxa de de-

semprego de, pelo menos, 40%.Segundo Kisriev, o objetivo de Kerimov é proporcionar aos jovens uma alternativa longe do caminho do extre-mismo. Como parte do proje-to, o clube irá criar sete cen-tros de futebol para os jovens, trazer treinadores qualifica-dos e construir um novo es-tádio no Daguestão. “As pessoas estão rindo, sendo irônicas, mas é preciso enten-der o aspecto social”, explica Kisriev. “Não estou dizendo que isso é uma panaceia e que vai resolver todos os proble-mas do Daguestão, mas vai criar um movimento positi-vo”, completa.Kerimov tentou assumir o con-trole do clube há pelo menos três anos, segundo Kisriev, mas isso só foi possí-vel quando o novo e proativo presiden-te do Daguestão, Ma-gomedsalam Magome-dov, entrou no governo. As relações entre o clube e o presidente permanecem es-treitas - apoiar uma autori-dade de alto escalão ajuda a atenuar os problemas em uma repúbl ica ge ra l mente disfuncional. “Mesmo que não se trate de uma questão propriamente séria, como a venda de água no estádio, ele sempre escuta e tenta ajudar quando os tor-cedores e a polícia não se en-tendem”, disse Tchistiakov sobre Magomedov.No início, poucas pessoas le-varam o clube a sério, mesmo depois de ter comprado o jo-gador brasileiro Roberto Car-los, que foi campeão da Copa do Mundo de 2002. Pelo fato de o jogador ter 38 anos, al-guns assumiram que ele que-ria apenas garantir um últi-mo polpudo salário. Mas a chegada de Eto’o mudou tudo. O camaronês está no

auge da carreira e sua inclu-são no time poderia atrair ou-tros bons jogadores. O clube demitiu o treinador russo e está ligado aos melhores téc-nicos de futebol do mundo, como José Mourinho, do Real Madrid, e aos melhores joga-dores da categoria. “Nunca houve nada igual no futebol russo”, diz Bogdanov, editor da seção de futebol no jornal diário Sport Express. “Tudo é possível se os inves-tidores forem pacientes e apli-carem em infraestrutura”, completa. O clube, que ocupa a oitava posição no campeonato russo, entrou em recesso de inverno no dia 6 de novembro. Quan-do o campeonato retornar para a segunda parte da tem-porada, os torcedores pode-rão ver o quanto é preciso de bola no pé para garantir um lugar na Liga dos Campeões da Uefa.

Futebol no combate ao extremismo

torcedores do anji makhatchkalá vibram em jogo. clube passou a chamar atenção depois de contratar roberto carlos e eto’o

galina masterovagazeta russa

" Seria ótimo assinar com o Cristiano Ronaldo. Nosso objetivo é fazer

com que Anji atinja o mesmo nível do Real Madrid e do Barcelona.”

Frase

roberto CarlosCapitáo e treinaDor interino Do anji

MakhatChkalá

continuação da Página 1

Esteve presente à celebração um grupo de 30 monges tibe-tanos do mosteiro de Gyud-med, nomeados pelo líder Dalai Lama apesar das obje-ções da China – que o acusa de instigar o separatismo do Tibet. Os convidados abenço-aram o principal templo da região e as 17 esculturas de cientistas budistas tibetanos encontradas no santuário.

situação socialAtualmente, a Kalmíkia é a segunda região mais pobre da Rússia, ultrapassada somen-te da Inguchétia. A taxa de desemprego de 15% na área é o d o b r o d a m é d i a nacional.Com população de mais de 300 mil habitantes, a Repú-blica da Kalmíkia optou por restaurar a filosofia e a cul-tura tradicionais do budismo tibetano. A religião foi ado-tada por seus antecessores, as tribos oirates da Mongólia, no século 13, e importada para o Império Russo quando os oirates migraram para a re-gião em 1609.Mas a religião foi violenta-mente reprimida, com relí-quias e templos destruídos du-rante as repressões de Stálin na década de 1930 (veja ao lado). Toda a população indí-gena da Kalmíkia foi exilada por 17 anos na Sibéria. Os olhos de Evdokia Kutsáie-va, 84, se enchem de lágri-mas quando se recorda das deportações da época de Stá-lin. “Numa noite em outubro de 1943, enfiaram toda a po-pulação da república em va-gões de trem sujos e nos man-daram para a Sibéria. Milhares de pessoas morre-ram no caminho. Lembro-me das pilhas de corpos espa-lhadas pelas plataformas”, conta. Até o fim da década de 1980, era perigoso para Kutsáieva

e sua família acenderem velas para Buda, e ainda mais en-viá-las aos céus presas em ba-lões. Para sua alegria, porém, na última década foram cons-truídos na Kalmíquia 30 novos templos e 55 casas de orações budistas. “É tudo que ainda resta para deixar o povo feliz e em paz hoje em dia”, diz o empresá-rio local Aleksandr Nemeiev. Ele aponta para a estátua dou-rada de Buda no templo que construiu para sua vila, Ul-dutchini, dois anos atrás. Nemeiev investiu cerca de R$ 73 mil na empreitada. Em um fim de semana recente, cerca de cem budistas com-pareceram ao local para orar

com os monges tibetanos que visitavam a república.

dedicação religiosaMas nem todos no vilarejo par-ticiparam da cerimônia. “O templo não me dá comida para alimentar meus dois filhos”, diz Khondor, um eletricista viúvo de 47 anos que não quis relevar seu sobrenome. Ele mostra a modesta casa de dois quartos que divide com dois filhos adolescentes e afir-ma ter orgulho de ser uma das duas únicas pessoas que têm emprego de período integral em Uldutchini. “Lidar com as adversidades é nossa tradição”, afirma.Os filhos de Khondor, Ave iach,

Budismo e resgate cultural na Kalmíkia

exilados e perseguidos

14, e Nagaila, 13, dizem que seu sonho é deixar a Kalmíkia para estudar em Moscou ou São Petersburgo. O pai não se incomoda com os planos deles, já que não vê perspectivas na república.Os líderes budistas kalmuks (naturais da Kalmíkia) dizem que seus esforços atualmente não se resumem à reconstru-ção dos templos, ação apoia-da pelo governo, mas também ao renascimento da cultura e da mentalidade budista kal-muk, ao lado de outras carac-terístcas humanas básicas e seculares como compaixão, amor, bondade e perdão. “De certo modo, somos um centro psicológico e espiritu-

al que dá às pessoas esperan-ça, apoio moral e orientação espiritual”, diz o líder budis-ta Telo Tulku Rinpotche. Kirsan Iliumjinov, ex-presi-dente da República da Kal-míkia que deixou o cargo em 2010, esteve nos eventos reli-giosos recentes. O polêmico Iliumjinov disse que os ensi-namentos do budismo apoia-dos por ele durante seu gover-no evitaram que a Kalmíkia se envolvesse nas guerras se-paratistas das repúblicas vi-zinhas do Cáucaso do Norte. “A filosofia de paz e benevo-lência do budismo é a solução para o povo kalmuk em meio ao caos e à cruel realidade em que vivem”, diz.

3 DaDos Do BuDisMo na rússia

1 O budismo é, por tradi-ção, a principal religião nas repúblicas da Buriá-

tia, Kalmíkia, Tuva e Altai, no território de Zabaikálski e na província de Irkutsk (todas na Sibéria, exceto a Kalmíkia). Sua filosofia foi introduzida na Rús-sia no século 17. Em 1764, foi aceita como umas das religiões oficiais do país.

2 Hoje, existem aproxi-madamente 1,4 milhão de budistas na Rússia,

de acordo com o censo mais recente. Eles representam 1% da população do país.

3 Em 1979, o Dalai Lama fez sua primeira visita à União Soviética. A par-

tir de 1994, ele foi recebido com entusiasmo em visitas às três repúblicas budistas da Rússia. Entretanto, com o estreitamen-to das relações comerciais entre Moscou e China, a Rússia pas-sou a impedir a entrada do líder no país desde 2004 por meio da recusa de pedidos de visto.

monges tibetanos na Kalmíkia

Em uma pesquisa com duas mil pessoas realizada pela in-ternet, o número de defenso-res da venda legal de armas de fogo diminuiu de 54% para 42%, em relação a 2003. Quase um terço afirmou que nenhu-ma arma, incluindo as não le-tais, deve ser de domínio pri-vado (em 2003, essa era a opinião de 13%). Do restante, 41% são a favor de armas sem poder de fogo e pistolas de gás, e 29%, de rifles curtos com tiro único.Hoje, na Rússia, é possível comprar legalmente armas de esporte ou de caça a partir dos 18 anos. Para isso, é pre-ciso uma licença oficial, con-cedida por autoridades locais. As armas militares têm venda proibida. Recentemente, a questão do uso pessoal de armas tornou-se fonte de acaloradas discus-sões. Um dos defensores mais ativos da proibição de porte para cidadãos é o senador Aleksandr Torchin. Depois de cada crime que tenha algu-ma repercussão, o senador volta aos holofotes defenden-do o banimento. O aumento dos que são a favor da posse de armas sem poder de fogo, porém, é problemáti-co. O assassinato, no ano pas-sado, do torcedor de futebol Egor Sviridov com uma pis-tola de pressão provocou enor-me revolta dos torcedores na praça Maniêjnaia, em Mos-cou, e foi o caso mais grave de uso de armas sem poder de fogo. Os relatos de cida-dãos que utilizam esse tipo de

armas incidente muda opinião russa

nos últimos 8 anos, cresceu em 14% o número dos que querem a proibição total das armas na rússia. adeptos da legalização diminuíram 12%.

armamento para ferir outros é comum no país.No Ministério dos Assuntos Internos começa-se a falar sobre limitar o uso de armas sem poder de fogo. Aleksan-dr Gurov, deputado da Duma (Câmara dos Deputados na Rússia) e membro do comitê de segurança, já chegou a de-fender sua proibição total.O fato de haver questionamen-tos, mesmo quanto às armas não letais, não significa que não haja defensores das de fogo. O núcleo de defensores da legalização desse tipo de armas organiza-se em torno do site voorujen.ru. Segundo sua líder, Maria Bútina, o mo-vimento lançado há poucos meses reúne adeptos em 16 re-giões da Rússia. A maioria deles é homem, tem renda es-tável e experiência no mane-jo de armas de fogo, com posse de pistolas de pressão ou armas de caça. O principal motivo para a ade-são é ter a possibilidade legal de auto-defesa. Seu argumen-to é que a permissão para ad-quirir e portar armas de fogo reduz o número de crimes vio-lentos. Se criminosos se armam ilegalmente, cidadãos bem preparados devem ter permissão legal para se de-fender, argumentam.O advogado Anatóli Kutche-rena afirma que, por enquan-to, a Rússia não pode falar numa legalização das armas de fogo. “Se permitirmos isso, veremos casos com acidentes fatais drasticamente maiores”, acredita. É sobretudo perigo-so, diz Kutcherena, a legali-zação do porte de armas de fogo em locais públicos. Para ele, o porte deve ser exclusi-vo dos órgãos competentes. Butina e seus pares, no entan-to, se preparam para protes-tar por seus interesses.

Venda de armas perde defensores

svetlana smetáninaespeCial para gazeta russa

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Os budistas da Kalmíkia foram duramente reprimidos na dé-cada de 1930, durante o terror stalinista. Todas as religiões fo-ram perseguidas pelas políticas soviéticas, e o budismo foi pra-ticamente extinto. Até 1941, todos os mosteiros e templos budistas haviam si-do fechados ou destruídos, e os membros mais importantes da religião foram executados ou desapareceram em campos de concentração. Uma segunda onda de repressões se deu em 1943, quando um terço dos ha-bitantes da Kalmíkia foi expul-so de suas casas e enviado para a Sibéria.

Page 4: Gazeta Russa 11.2011

Gazeta Russawww.gazetarussa.com.breconomia e mercado

entrevista Luis Eduardo MorEira Caio

na terra onde o freezer é quentebrasiLEira MEtaLfrio dupLiCa fÁbriCa no país E prova quE

vEndEr gELadEiras a russos podE sEr grandE nEgóCio

marina darmarosgazEta russa

com crescimento de 2,9% na receita líquida no segundo trimestre de 2011 em relação ao mesmo período de 2010 nas operações relativas à rússia e turquia, a marca de freezers metalfrio se prepara para crescer. em busca de expansão de dois dígitos, presidente não teme as instabilidades dos mercados emergentes.

Qual a história da metalfrio na rússia? Estamos no país desde 2006 com a fabricação de freezers para a indústria de sorvete e temos uma posição de lide-rança no mercado russo.

Em 2006, começamos com uma operação muito singela de montagem em Kaliningra-do, que é como uma Zona Franca de Manaus, e evoluí-mos de tal forma com uma planta integrada que neste ano estamos duplicando o tama-nho da fábrica e investindo mais 10 milhoes de euros para expandir nossa linha de pro-dutos. Agora vamos introdu-zir geladeiras de cerveja e refrigerante.

como serão as operações agora?Temos quatro fábricas (na Turquia, no México, no Bra-sil e na Rússia). Então nosso relacionamento com esses clientes é muito próximo a

partir do Brasil, e daí para os outros lugares do mundo. Temos uma produção muito sazonal, já que trabalhamos com produtos de verão, então no pico chegamos a ter 400 funcionários na fábrica de Kaliningrado, enquanto na média temos entre 180 e 200. Com a expansão, vamos do-brar essa média, com mais de 500 funcionários. Todos são russos, à exceção de dois brasileiros: um controller e um em finanças. Também temos um escritório de venda em Moscou, onde tra-balham um turco e duas russas.

como é a abordagem com os russos?Nós aprendemos que nosso modelo de negócios não é para se expatriar para outras re-giões. A gente acredita muito nesse tipo de operação de ter os negócios locais tocados por gente local. Nesse aspecto, somos uma multinacional diferente.

como ocorreu a entrada da metalfrio no mercado russo?Foi por meio da aquisição que fizemos de uma empresa di-namarquesa chamada Cara-vel, que tinha operações na Rússia. Um dos nossos sócios faz parte do projeto desde o

tempo da Caravel, que é um fundo multilateral dinamar-quês criado para investir em países em desenvolvimento, e hoje não abrange mais a Rús-sia. Esse sócio tem 10% do ne-gócio e nos ajudou muito a en-tender como funciona o mercado russo, porque ele tem diversos investimentos e co-nexões na Rússia e conhece bem o país.

Quem são seus clientes?São fundamentalmente com-panhias multinacionais como Coca-Cola, Pepsi Co., Unile-ver sorvete, Nestlé sorvete, as cervejarias AB-InBev, SAB Miller... A maioria tem negó-cios no Brasil, no México, na Dinamarca, na Turquia etc. Então é isso que abre muita porta para a gente fazer ne-gócio no mundo inteiro. É uma indústria que se consolida cada vez mais e esses grandes players se tornam cada vez mais poderosos.

em algum momento houve re-ceio de investir por causa de rumores sobre o empresaria-do e o governo russo?Somos uma indústria que pro-cura o crescimento de dois dí-gitos e isso não existe em mer-cados maduros. É preciso enfrentar riscos em mercados mais complexos para isso, e é

agora para a Ásia. Para a Índia, por exemplo, onde ainda existem estas oportunidades de crescimento.

vocês não têm nenhum parcei-ro atuando na gestão?Não, é 100% a gente mesmo. A empresa tem uma rede de assistência técnica no mundo inteiro, no Cazaquistão, no Uzbequistão, na Ucrânia, na Rússia, enfim, temos parcei-ros locais na prestação de ser-viços. Mas na gestão do negó-cio propriamente dito não temos parceiros.

como são feitas as vendas, qual o modelo?O modelo é muito parecido como em outros lugares do mundo. Como a gente tem um negócio muito sazonal, as ven-das são feitas com o crédito que a gente mesmo dá, na média de 100 dias, no máxi-mo 120. Negócios com prazos

maiores envolvem bancos, mas não é o padrão.

com seguradora internacio-nal?No começo sim, mas hoje a gente só faz seguro com clien-tes de pequeno e médio porte do mercado russo. O negócio de sorvetes, por exemplo, tem muito mais marcas do que no Brasil.

ninguém ri quando você conta que fabrica freezers na rús-sia?Tem gente que fala que nós fazemos freezer para esqui-mó. Mas é engraçado, porque os freezers de lá e as geladei-ras de refrigerantes que ficam na rua, do lado de fora dos quiosques, têm aquecimento. Faz tanto frio que se eles não for aquecido o produto conge-la mais do que deveria, então no inverno a geladeira, no lugar de resfriar, esquenta.

Kaliningrado

relações internacionais “você é um dos políticos mais influentes do mundo”, disse dmítri Medvedev para silvio berlusconi

berlusconi ganha elogios de líderes russos pelo fortalecimento das relações bilaterais. Para Pútin, foi “um dos melhores da europa”.

Enquanto o novo primeiro-ministro italiano, Mario Monti, realizava consultas para transformar o legado po-lítico de Berlusconi, o ex-pre-miê fez uma série de contatos telefônicos com alguns dos principais líderes mundiais, incluindo o presidente ame-ricano Barack Obama, a chan-celer alemã, Angela Merkel, e os primeiros-ministros da Grã-Bretanha, Cameron, e da Rússia, Vladímir Pútin. Por fim, conversou com o presi-dente russo Dmítri Medvedev, que também enviou-lhe uma carta para agradecer sua im-portância no fortalecimento das relações bilaterais, des-crevendo-o como “um dos po-líticos mais experientes e in-fluentes do mundo”.No dia anterior ao pedido de renúncia, Pútin já havia se

pronunciado sobre o amigo pessoal de longa data duran-te um evento na Rússia. Ape-sar dos escândalos protago-nizados por Berlusconi, o premiê russo se referiu a ele como “um dos melhores po-líticos da Europa e um dos úl-timos moicanos da política”. “Medvedev e Pútin são gra-tos a Berlusconi porque ele, entre outros líderes europeus, auxiliou no processo de reco-nhecimento da Federação Russa pela Otan antes mesmo de qualquer decisão formal”, disse à Gazeta Russa Rosario Alessandrello, presidente da Câmara de Comércio Ítalo-Russa e da Fundação Itália- Rússia. Segundo ele, o bom relacionamento entre os dois países durante o governo Ber-lusconi contribuiu para a es-tabilização das relações da Fe-deração Russa com a União Europeia e com os EUA.Na crise desencadeada com a ocupação da Ossétia do Sul pela Geórgia, em 2008, a in-tervenção da Itália, sob Ber-lusconi, ajudou a evitar um possível confronto com os

ficativos nas principais cida-des italianas e russas – como as recentes apresentações da orquestra do teatro milanês La Scala na reinauguração do Teatro Bolshoi, em Moscou.Entretanto, os cidadãos ita-lianos não parecem tão satis-feitos com as condutas de Ber-lusconi. “Uma das figuras políticas mais experientes do mundo?”, brincou Giuseppe Rolando, 38, funcionário de um banco em Turim, norte da Itália. “Diria que é mais um grande empresário usando a carreira política para aumen-tar sua riqueza pessoal.” Em setembro, o tradicional jornal La Repubblica divulgou uma pesquisa realizada pelo Ipr Marketing sobre o nível de confiança da população no então primeiro-ministro na qual apenas 24% dos entre-vistados afirmavam apoiar Berlusconi – 5% a menos do que o índice registrado em junho deste ano e 22% infe-rior a março de 2010. Atualmente o país amarga uma dívida de 120% do valor do PIB. “Ele é responsável

pelo empobrecimento do país, devido à falta de um plano de desenvolvimento adequado que incluísse proteção ao em-prego, educação pública e po-lítica social”, disse Rolando. De acordo com outra pesqui-sa, realizada pelo instituto Piepoli e publicada no jornal La Stampa no dia seguinte à renúncia, 68% dos entrevis-tados concordavam com o pe-dido de demissão. Ainda assim, Berlusconi su-geriu que não tem planos de largar completamente a polí-tica. Em entrevista à impren-sa italiana no último dia 18, seis dias após o anúncio ofi-cial, o ex-primeiro-ministrodeclarou que durante os pró-ximos meses vai trabalhar no Parlamento e em seu partido, Povo da Liberdade (PDL), para preparar a campanha eleitoral de 2013. Ao que tudo indica, diferentemente do filme estrelado por Daniel Day-Lewis e baseado no ro-mance homônimo de JamesFenimore, esse “último moi-cano” ainda promete uma longa sequência.

A despedida de um velho amigo

vladímir Pútin e silvio berlusconi: afagos mútuos

PauLo PaLadinogazEta russa

milhões de reais foi a receita lí-quida da companhia em 2010, um aumento de 21,8% em rela-ção ao ano anterior.

de geladeiras e freezers é a produção anual da Metalfrio. O número deve aumentar quan-do a nova fábrica de 1,2 mil m² entrar em funcionamento.

783,5

1,3 mi

números

justamente esse nosso posicio-namento, a começar pelo pró-prio Brasil, México, Turquia e Rússia. Temos estudos de ir

EUA e Europa. “O Estado ita-liano avalizou a promessa as-sumida pela Rússia de retirar suas tropas das regiões sepa-ratistas”, disse Alessandrello, “sem falar na crise de gás na-tural gerada pela disputa co-mercial entre Rússia e Ucrâ-nia em 2009, quando o governo italiano se comprometeu a dar continuidade ao fornecimen-to de gás ao Ocidente”. A pro-posta da gigante italiana do setor de energia Eni para cria-ção de um consórcio com par-

ticipação russa que financias-se e garantisse a provisão de gás à Europa só não foi adian-te porque o fornecimento de gás à Ucrânia acabou sendo reestabelecido. Embora sejam parceiros an-tigos, a cooperação entre a Itá-lia e a Rússia vinha sendo in-tensificada por numerosas reuniões com seus líderes e acordos estabelecidos entre empresas de ambos os países. A italiana Eni e a companhia de energia russa Gazprom, por

exemplo, assinaram, em se-tembro, um contrato que prevê “a cessão de 50% da partici-pação da Eni (33,3%) a Gaz-prom no consórcio que explo-ra a jazida petrolífera libanesa Elephant”, conforme comuni-cado oficial da Eni. O acordo, estipulado em fevereiro, havia sido temporariamente suspen-so por causa da revolta con-tra o ex-ditador do Líbano, Muammar Gaddafi. Os relatórios do Ministério de Relações Exteriores italiano também indicam que, para-lelamente à sólida parceria no setor energético, nos últimos dois anos foram assinados acordos nas áreas da justiça, agricultura, educação, turis-mo e até no setor espacial.“Tais iniciativas se estendem ainda ao campo da cultura”, completou Annalisa Seoni, se-cretária-geral da Associação Itália-Rússia. O memorando de entendimento de 2009 que definiu 2011 como Ano da Rússia na Itália, bem como Ano da Itália na Rússia, vem estimulando o desenvolvimen-to de eventos culturais signi-

Por ora, a empresa não tem a intenção de vender combus-tível no mercado brasileiro sob a marca internacional TNK. “É provável que a maior parte do petróleo obtido seja comer-cializado com empresas bra-sileiras e substitua as impor-tações atuais da Nigéria e do Oriente Médio”, de acordo com InchcombA empresa deve ainda insta-lar no Brasil escritório pró-prio e elaborar uma política de pessoal.Segundo auditoria realizada pela Degolyer&MacNaughton, o projeto proporcionará à TNK-BP reservas de 789 mi-lhões de barris. O total das reservas da companhia rus-so-britânica equivaliam, em dezembro de 2010, a 8,794 bi-lhões de barris, de acordo com a Comissão de Títulos e Va-lores Mobiliários dos EUA.

Segundo o vice-presidente de projetos internacionais e pros-peção geológica da TNK-BP, Christopher Inchcomb, a HRT permanecerá como operado-ra do projeto. A TNK-BP, por sua vez, terá a possibilidade de participar, em condições de igualdade, na decisão sobre as atividades conjuntas do pro-jeto e colocar seus especialis-tas em cargos de gerência. Dentro de 30 meses, a empre-sa russo-britânica poderá, se-gundo a assessoria russa, au-mentar sua fatia em 10% se houver aprovação das autori-dades reguladoras brasileiras. O valor será determinado por bancos de investimento. Por enquanto, a TNK-BP pa-gará em parcelas o US$ 1 bi-lhão equivalente a 45% das concessões. O analista da com-

panhia de investimentos russa Metropol, Serguêi Vakhra-méiev, disse à Gazeta Russa que o preço não é muito alto, dadas as reservas de gás e pe-tróleo do projeto. “É claro que comprar recursos energéticos russos é mais barato, mas, na Rússia, a carga tributária é muito grande, enquanto, no Brasil, ela é menor”, afirma Vakhraméiev.Para a TNK-BP, entretanto, o valor do negócio é modera-do. Seu fluxo de caixa opera-cional nos nove primeiros meses de 2011 foi de US$ 8 bilhões, enquanto seu fluxo de caixa livre atingiu, no mesmo período, US$ 4,5 bi-lhões. Mesmo com os investi-mentos anuais no projeto (sem contar preço de compra) ava-liados em US$ 700 milhões, os fundos disponíveis serão mais que suficientes para fi-

nanciá-los, afirma o analista do Banco Nacional Trust, Piotr Makarov.“Ambas as empresas irão re-embolsar as despesas de ca-pital de acordo com seu qui-nhão. Por ora, só podemos dizer que as despesas da TNK-BP com o investimento de ca-pital poderão chegar a US$ 4 bilhões”, afirma Christopher Inchcomb. De acordo com Vitáli Kriukov, analista do Fundo de Inves-timento Capital citado pelo diário econômico russo RBK-Daily, se as reservas de recur-sos prospectadas nos blocos forem aprovadas, elas pode-rão garantir à TNK-BP um valor por barril mais alto que na Rússia. O analista supõe que o principal fator que pesou no cálculo do preço da parce-la de 45% da TNK-BP foram as reservas de petróleo. “Ao

mesmo tempo, as reservas de gás, que representam cerca de 70%, sofreram um desconto significativo, já que se man-têm as dúvidas sobre sua via-bilidade comercial e as pers-pectivas de sua venda”, conclui Kriukov. O início da exploração das ja-zidas da Bacia do Solimões está previsto para 2012. O acordo assinado pela TNK-BP se refere às atividades de ex-ploração e produção de petró-leo, e não prevê a construção de quaisquer dutos tubulares nem o processamento de hi-drocarbonetos nas instalações da empresa. Mas Christopher Inchcomb não exclui a possibilidade de a companhia decidir futura-mente pela construção de dutos tubulares, dependendo do potencial exploratório das jazidas de gás.

Investimento no petróleo do Brasil

márcio rocha, diretor da Hrt o&g, cumprimenta alexander dodds, vice da tnK-bP

continuação da Página 1

A participação na companhia brasileira poderia aumentá-las em cerca de 9%. A TNK-BP detém cerca de 16% da produção de petróleo na Rús-sia. Até o ano passado, a em-presa não tinha ativos no ex-terior, mas depois do acidente no Golfo do México, em abril de 2010, recebeu da BP pro-

jetos no Vietnã e na Venezue-la, onde tem quatro joint-ven-tures com a estatal venezuelana PDVSA. “A TNK-BP encara a América Latina e o Sudes-te Asiático como mercados promissores onde pode desen-volver dinamicamente seu ne-g ó c i o ” , a r g u m e n t a Inchcomb.

Luis eduardo, da metalfrio, que amplia operações em Kaliningrado, enclave russo entre Polônia e Lituânia.

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Page 5: Gazeta Russa 11.2011

Economia e MercadoGAZETA RUSSAWWW.RBTH.RU

Infraestrutura Investimento de US$ 3,9 bilhões no Domodêdovo deve levar até dez anos para ser implementado

15 em 15 minutos, e não a cada meia hora, como hoje.“Juntos, esses recursos nos oferecem dinheiro su� ciente para cobrir todos os nossos projetos ao longo dos próxi-mo s de z a no s ,” d i s se Kamenchtchik.Ele a� rmou que, atualmen-te, o aeroporto não tem in-tenção de levantar fundos vendendo suas ações. Kamen-chtchik disse aos repórteres que o terreno onde o Domo-dêdovo realizará a constru-ção é ou estatal ou de pro-priedade de uma empresa incorporada pelo próprio aeroporto. “Não há casas residenciais nessa área, então não vejo problema algum relacionado à realocação”, explicou, afas-tando a possibilidade de ocorrer o mesmo que no ae-roporto estatal de Cheremé-tievo, a norte da capital, onde os planos de construir uma nova pista enfrentaram a oposição de moradores.

Uma nova cidadeOs planos para expandir o Domodêdovo não têm liga-ção direta com as propostas anteriormente anunciadas de ampliar os limites de Mos-cou em direção ao sul e ao leste da cidade.John Kasarda, acadêmico norte-americano que formu-lou o conceito de aeropólis, calculou que o projeto pode-ria gerar até um milhão de empregos, mas não forneceu fontes que sustentassem tal estimativa.O chefe do distrito adminis-trativo do Domodêdovo, Dmí-tri Gurodetski, disse que o aeroporto já é responsável por cerca de 30 mil empre-gos na região. Ele ignorou possíveis impactos desfavo-ráveis à população local e focou em benefícios como empregos, salários e desen-volvimento de negócios.

Ampliação do principal aeroporto de Moscouirá concorrer com o planode expansão da cidadepara o sudoeste.

A East Line, empresa que ad-ministra o único aeroporto privado de Moscou, o Domo-dêdovo, anunciou no mês pas-sado um ambicioso projeto de desenvolvimento cuja im-plantação vai durar dez anos e irá, na prática, resultar no surgimento de uma nova ci-dade na periferia sul da ca-pital russa. Os planos da East Line – que incluem a construção de uma terceira pista, a reforma do pátio de aviões e a amplia-ção das instalações do ter-minal – são baseadas num conceito de desenvolvimento geral no qual a direção do aeroporto começou a traba-lhar ainda no � m da década de 1990. O presidente do conselho de diretores do aeroporto, Dmí-tri Kamenchtchik, disse que o Domodêdovo constitui o centro de uma “conurbação sinérgica” de desenvolvimen-to comercial que poderia se estender a um raio de até 19 quilômetros do próprio aeroporto.Um projeto de nove anos de duração para modernizar a primeira pista do aeroporto, cuja conclusão está prevista para esse ano, já fez com que o Domodêdovo se tornasse o primeiro aeroporto russo cer-ti� cado a receber o Airbus A380, e os trabalhos para construção da terceira pista têm início marcado para o primeiro trimestre de 2012. Também no próximo ano será dado início à reforma do pátio onde as aviões estacionam para carregamento e reabas-tecimento, numa tentativa de aumentar o número de vagas

ROLAND OLIPHANTTHE MOSCOW TIMES

Expansão criará cidade-aeroporto

O aeroporto é o maior da Rússia em número de passageiros, com 51 mil embarques diários. Em abril, atingiu o recorde de decolagem de 425 aviões

Assim como uma metrópole, a aeropólis tem trabalhadores que circulam pelo núcleo cen-tral, mas não vivem lá. Nos en-tornos estão as empresas que dependem do centro – nes-te caso, o aeroporto – para sua subsistência, como hotéis, centros de logística e merca-dos varejistas. Esses geralmen-te provocam engarrafamentos no trânsito, mas uma aeropó-lis planejada pode aliviar esses problemas por meio da cons-trução adequada de transpor-te e áreas de zoneamento para determinados negócios.

O que é uma Aeropólis?Os programas de televisão e a literatura de ficção científica da década de 1960 imagina-vam as pessoas se deslocando de um lugar a outro em carros voadores e vivendo em cápsu-las modulares, mas a ideia de uma “aeropólis”, uma cidade-aeroporto, é um pouco diferen-te. Conceito desenvolvido pe-lo acadêmico norte-americano John Kasarda, aeropólis é de-finida como uma configuração urbana que tem um aeropor-to como seu centro, da mesma forma que uma metrópole tem um núcleo central na cidade.

para aviões. A iniciativa vai demandar o equivalente a US$ 807 milhões, a serem pagos durante um período de cinco anos.“O grandioso plano tem forte apoio do governo, tanto fe-deral quanto regional”, disse Kamenchtchik durante uma coletiva de imprensa. Entre-tanto, o presidente do conse-lho se esquivou de uma per-gunta sobre os detalhes da colaboração com o Estado.A relação do Domodêdovo com as autoridades foi estre-mecida pela interrupção dos serviços durante as tempes-tades de neve em dezembro do ano passado e pela cons-tatação de falhas na segu-rança que permitiram a ocor-

rência de um atentado suicida em janeiro deste ano.Em julho, um comitê inves-tigativo disse ter fracassado na tentativa de estabelecer quem realmente é o proprie-tário do aeroporto.O comitê afirmou que Ka-menchtchik está listado como o proprietário bene� ciário de 100% da empresa, mas se re-cusou a revelar se tinham acontecido quaisquer mudan-ças de propriedade desde que o aeroporto rescindiu sua proposta de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), em maio.O Domodêdovo é operado pelo East Line Group, que, por sua vez, é propriedade da FML Limited, empresa

registrada na Ilha de Man.Entretanto, a administração oficial do aeroporto é apa-rentemente realizada pela DME Limited, companhia listada na tentativa de IPO.

FinanciamentoEnquanto os projetos de ex-pansão do aeroporto devem custar US$ 3,9 bilhões, o de-senvolvimento financiado pelo setor privado, incluindo o hotel e o terminal de carga, vai exigir uma soma de US$ 420,5 milhões.As contribuições do governo federal e regional incluirão um novo acesso para o quar-to anel viário e melhorias na conexão ferroviária existen-te, para que haja trens de

LINHA DO TEMPO

Problemas no aeroporto

4 DE DEZEMBRO DE 2010O voo 372 da Dagestan Airli-nes, partindo de Moscou pa-ra Makhatchkalá, faz um pouso de emergência no Domodêdo-vo, derrapando na pista e dei-xando dois mortos.

25 DE DEZEMBRO DE 2010 Geadas danificam duas linhas de energia em operação no ae-roporto Domodêdovo, causan-do blecaute completo e levan-do ao cancelamento de voos e a longos atrasos.

24 DE JANEIRO DE 2011 Um homem-bomba causa uma explosão no terminal de de-sembarque internacional, ma-tando 36 pessoas e ferindo mais de 130.

O presidente do Conselho de Administração do banco Home Credit, Ivan Svitek, re-clamou recentemente que ape-nas 24% dos russos recorrem a empréstimos e apenas 18% têm depósitos bancários, en-quanto na Europa a maioria da população usa até seis pro-dutos � nanceiros ao mesmo tempo.Ainda de acordo com o pre-sidente do banco, que é um dos líderes no segmento de créditos de varejo da Rússia, nessas circunstâncias é pre-ciso ir a regiões remotas e se tornar mais tecnológicos, como o McDonald’s.Com efeito, segundo o Banco Mundial, a Rússia tem qua-tro vezes menos estabeleci-mentos bancários que a média mundial. Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacio-nal), a dívida das pessoas fí-sicas perante as instituições de crédito é de cerca de 9% do PIB da Rússia contra 85% nos EUA, por exemplo.Além disso, 44% dos russos moram no interior do país, onde os bancos de varejo não estão presentes, limitando suas operações a grandes cidades.Segundo a Agência Nacional de Pesquisas Financeiras, cerca de 92% dos cartões em circulação são contas-salário abertas pelo empregador. Ainda de acordo com a agên-cia, o endividamento total das pessoas físicas com o cartão de crédito em agosto último

Serviços financeiros Cartões e agências tendem a se popularizar

Apenas 18% da população tem depósitos bancários; 44% mora no interior e tem de recorrer a agências em cidades grandes.

foi de 350,2 bilhões de rublos face a uma carteira total de créditos de varejo, segundo o Banco Central, no valor de 4,8 trilhões de rublos (R$ 279 bi-lhões). Com uma população de 140 milhões de habitantes, o número total de cartões de crédito em circulação na Rús-sia não u ltrapassa 11 milhões.

Mercado selvagemO boom de empréstimos de varejo e de cartões de crédito começou em meados dos anos 2000 com o aumento dos ren-dimentos da população e atin-giu seu auge no � m de 2007. Os mais ativos foram os ban-cos privados e as subsidiárias de bancos internacionais. O Rússki Standart tomou a liderança no mercado de car-tões de crédito, que mantém ainda hoje, com uma fatia de mercado de 18,5% (cerca de 32 milhões de cartões de cré-dito), segundo o instituto de pesquisa Frank Research Group. Durante a crise de 2008, os bancos se depararam com o aumento acentuado da inadimplência e mudaram suas táticas, começando a per-doar as dívidas de valores de 10 mil a 40 mil rublos (R$ 575 a R$ 2,3 mil). Isso fez com que, em pouco tempo, os bancos enfrentassem a falta de liqui-dez e a baixa no volume de emissão de novos cartões de créditos e tivessem de endu-recer suas políticas de cobran-ça das dívidas ou vender as dívidas pendentes a agências de cobrança. Essas chegaram a usar métodos ilegais, inclu-sive espancamentos e amea-ças de morte.Isso provocou uma enxurra-da de ações judiciais contra

os bancos credores, que foram acusados de cobrar uma taxa de juros três ou quatro vezes superior à declarada no mo-mento de concessão do crédito.“Temos bancos que, na hora de assinar o contrato com um cliente, declaram taxa de juros de 12% nos cartões, mas cobram na verdade 200%”, diz Mikhail Kozlov, diretor da Anistia dos Créditos, or-ganização social especializa-

Bancos têm espaço para crescer

Cobrança de cartões já foi feita sob ameaça. Hoje, juros caem

Máquina não seria alvo de bandidos, segundo companhia

VLADÍMIR RUVÍNSKIGAZETA RUSSA

11 milhõesde russos têm cartões de crédi-to. Desses, 92% são de contas-salário abertas pelo empregador

10 milhõesde clientes têm dificuldades pa-ra quitar as dívidas do cartão de crédito

NÚMEROS

Atuação de bancos públicos no segmento de varejo forçou as taxas de juros para baixo

Os comerciantes vão receber pelo aluguel de um espaço na loja. “É uma maneira de popularizar o serviço para atingir o nosso objetivo, que é instalar mil terminais até o ano que vem”, afirma Grekov.Também para divulgar o novo serviço, a empresa está investindo em uma equipe de promotoras que � cam perto das máquinas e informam os clientes. Além disso, banners e adesivos são distribuídos nos pontos onde as máqui-nas são instaladas.Por enquanto, os terminais aceitam apenas dinheiro. No início de 2012, porém, pas-sarão a aceitar pagamentos e recargas de celular por meio de cartões de débito e crédi-to das principais bandeiras, segundo o diretor comercial. Leitores de códigos de bar-ras estão previstos no paco-te para 2012, para permitir o pagamento de contas.

Mercado emergentePara o executivo, a aposta no Brasil é natural. “É um dos mercados emergentes que mais cresce. Nossa empresa trabalha no varejo e vemos muitas semelhanças entre o mercado brasileiro e o russo”, a� rma Grekov. “Na telefo-nia móvel, por exemplo, a grande maioria dos usuários, 74%, utiliza o sistema pré-pago e são nossos clientes em potencial”, explica, deixan-do claro que o serviço de re-carga de créditos é o carro-chefe dos terminais.Além do Brasil, a MegaPay está se inserindo nos merca-dos do México, Colômbia e Argentina na América Latina.

Sem explosõesSegundo a companhia, a se-gurança das máquinas não é uma preocupação para a MegaPay. Apesar de o Esta-

do de São Paulo ter registra-do mais de 800 furtos em cai-xas eletrônicos neste ano, a maioria envolvendo a explo-são do equipamento, a em-presa informa que os termi-nais não são atrativos para bandidos.O motivo é que as máquinas não realizam saques e não

armazenam grande quanti-dade de dinheiro. Com isso, não seriam alvos para crimi-nosos, como acontece com caixas eletrônicos, que podem render quantias muito maio-res a ladrões.Morador de Taboão da Serra, o publicitário André Mesqui-ta, 29, a� rma que vai usar o serviço sempre. “Trabalho no centro de São Paulo e saio

tarde. Eu nunca tenho tempo de resolver essas questões bu-rocráticas, como pagar con-tas. E tenho que pedir para minha mãe comprar até cré-dito de celular. É vexatório”, a� rma.“Uma máquina dessas, fun-cionando 24 horas, resolve-ria minha vida. Não ia de-

pender de favores ou de pedir para sair do trabalho para resolver meus problemas. Não uso a internet para pagar contas porque já fui roubado e não con� o”, com-pleta Mesquita, que faz com-pras em um supermercado que acaba de receber o ter-minal. “Vou procurar da próxima vez que for lá. Sem falta.”

Terminais inauguram serviçoCONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

da em defender os direitos dos mutuários. “Em 90% dos casos, os tribunais se mani-festam a favor dos bancos”, completa.

Frente ao mutuárioOs bancos passaram a estu-dar atentamente os históricos de créditos de seus potenciais clientes antes de lhes conce-der empréstimos, em colabo-ração com a recém-criada Agência de Relatório de Cré-ditos. Além disso, no merca-do de cartões de crédito sur-giram bancos públicos que se tornaram protagonistas ati-vos e � zeram os bancos pri-vados recuar. Segundo a Frank Research Group, o Banco de Poupança ficou, neste ano, em segundo lugar neste mercado, com uma por-ção de 13,3%, seguido por outro banco estatal, o VTB-24, com 10,1% do mercado. Como resultado, seus concor-rentes privados diminuíram os juros anuais e anularam pagamentos adicionais. O agravamento da crise da dí-vida pública da zona do euro não permite aos banqueiros olhar para o futuro com oti-mismo, mas o rápido cresci-mento do crédito ao consumo na Rússia não parece ter ne-nhum entrave.

Por enquanto, terminais só aceitam dinheiro, mas cartões estarão disponíveis no ano que vem

“Não uso a internet para pagar contas porque já fui roubado e não confio”

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Page 6: Gazeta Russa 11.2011

Gazeta Russawww.gazetarussa.com.brespecial

O financiamento imobiliário segue crescendo na Rússia, após a queda observada em 2009. De acordo com os re-sultados dos três primeiros bimestres de 2011, os russos receberam empréstimos imo-biliários num valor total de 396,6 bilhões de rublos (R$ 22,8 bilhões), duas vezes mais que o índice registrado durante o mesmo período do ano passado, segundo dados da Agência de Empréstimo e Financiamento Imobiliário (AEFI). De acordo com a pre-visão da agência, até o fim do ano os créditos imobiliá-rios irão atingir a marca de 640 bilhões de rublos (R$ 36,8 bi), chegando perto do nível pré-crise.Não é uma taxa recorde de crescimento: em 2010, o mer-cado hipotecário cresceu 3,6 vezes. De acordo com a Penny Lane Realty, a recuperação do mercado nesse ano foi em-purrada pela moderação dos programas de hipoteca dos bancos e pela redução de suas taxas de juros a um mínimo histórico: em média, 11,9% ao ano em rublos, e 9,6% em dólares americanos. Além disso, a demanda acumula-

Imóveis Empréstimos imobiliários devem alcançar níveis pré-crise até o fim do ano, estimulados por menores taxas de juros

Ígor vIújnIgazEta russa

da também desempenhou papel importante nesse ce-nário, já que durante a crise os russos adiaram grandes aquisições a crédito esperan-do momentos mais estáveis.“O financiamento imobiliá-rio se tornou evidentemente mais acessível”, diz Aleksan-dr Osin, economista-chefe da Finam Management Com-pany. “De 70% a 80% do au-mento foi gerado pelo pro-grama estatal de apoio a empréstimos imobiliários”, completa. Instituído para manter as taxas abaixo dos 11% em rublos e restringir a entrada a não mais que 20%

do valor do imóvel, o progra-ma custou o equivalente a R$ 14,5 bilhões. De acordo com a AEFI, o crescimento dos empréstimos é observado em todas as re-giões do país. Em termos de capital, a maior parcela das transações hipotecárias tra-dicionalmente pertence a Moscou e a sua região, onde os cidadãos possuem os maio-res rendimentos do país e onde está concentrado um terço dos bancos de varejo. Neste ano, a instituição já

concedeu empréstimos imo-biliários num valor total de 80 bilhões de rublos.

Parcelas em dólarKsenia, 28, é diretora de arte em uma agência publicitária e se mudou para Moscou há seis anos. Durante esse tempo, alugou uma casa na capital, mas em maio deci-diu pedir um empréstimo imobiliário. O apartamento de um dormitório, de 20 me-tros quadrados, relativamen-te perto do centro e próximo de seu local de trabalho, cus-tou o equivalente a R$ 213,8 mil. Segundo Ksenia, R$ 175

mil foram emprestados por um banco e o restante ela deu do próprio bolso como entrada. “O empréstimo é concedido em dólares americanos a juros de 9,5% ao ano. É uma taxa baixa – para fazer um empréstimo em rublos, me oferecerem um plano com juros de 12% anuais”, conta. A duração do empréstimo é de 25 anos, com pagamentos mensais equivalentes ao valor de US$ 1 mil por mês, in-cluindo os juros. Durante

esse período, o apartamento permanece sob posse do banco.Ao pegar um empréstimo imobiliário em moeda estran-geira, Ksenia irá pagar um valor mensal menor, mas as-sumiu um grande risco. Du-rante os últimos três anos, o rublo perdeu 30% de seu valor frente ao dólar, e é im-possível prever para onde irá a cotação da moeda ameri-cana nos próximos 25 anos. “O valor a ser pago pelos pró-ximos 25 anos vai encarecer o apartamento em 300% quando comparado ao custo original”, diz Ksenia. Por enquanto ela não tem es-perança de quitar o emprés-timo, mas o valor do paga-mento mensal se adequa às suas condições. “Costumava pagar 25 mil rublos por mês de aluguel. Agora meus gas-tos aumentaram um pouco mas, por outro lado, fazem parte das despesas com o meu apartamento.”

empréstimo no mercadoDe acordo com a AEFI, a par-ticipação do crédito imobili-ário no mercado é, neste ano, de apenas 17,4% em relação a todas as transações imobi-liárias. Os russos fazem a maioria das aquisições imo-biliárias participando de pro-jetos de construção com ca-pital próprio ou investindo em empreendimentos pre-diais ainda na planta. O

preço nessa fase é 30% a 60% mais baixo do que após o tér-mino da construção. Além disso, o comprador pode pagar a maior parte do valor do apartamento por meio de um plano de parcelamento, às vezes até mesmo sem juros, mas apenas até o final da construção. Foi assim que a família Le-vachov comprou um aparta-mento de 40 metros quadra-dos em 2008. Localizado a 7 quilômetros de Moscou, o imóvel custou 3,05 milhões de rublos (R$ 176 mil). “Era uma época de crise, e os ban-cos tinham parado de ceder empréstimos imobiliários”, conta Tatiana Levachov. O casal pagou 60% do total na entrada e o restante foi di-vidido em 18 parcelas equi-valentes a R$ 4 mil por mês, de forma que a taxa de juros ficou em 7%. Levando em con-sideração o aumento do preço de imóveis novos na região – em média 10% ao ano –, eles já lucraram.

Planos para moscouAo longo dos últimos 20 anos, a cidade de Moscou cresceu muito em termos de constru-ção civil, aspecto favorecido pelo rápido aumento dos pre-ços dos imóveis. Em 20 anos, o preço de um apartamento na capital aumentou, em média, 70 vezes, e o metro quadrado passou de R$ 270 a até R$ 12,5 mil, de acordo com

a Incom Corporation. Para-lelamente, a política de pla-nejamento urbano da capital permanece inalterada desde 1984, o que resultou em uma série de problemas de trans-porte. No ranking IBM 2011, por exemplo, a cidade de Mos-cou ocupa o primeiro lugar dentre os europeus na classi-ficação das piores cidades para proprietários de carro.Por isso, o novo prefeito da cidade, Serguêi Sobiânin, de-cidiu reduzir a construção civil na capital, cancelando, segundo a prefeitura, 200 contratos de investimento num valor equivalente a R$2 bilhões.

Demanda acumulada também contribuiu para boom do setor, que cresceu 3,6% em 2010 e deve movimentar r$ 36,8 bilhões.

um prédio de vidro e aço de 47 andares para fins comerciais e residenciais aflora bem ao lado de casas cenográficas do icônico estúdio cinematográfico mosfilm, no sudoeste da capital

A construção massiva de mo-radias também foi restrita a apenas alguns distritos, e so-mente desde que vias de aces-so sejam construídas nessas áreas. Isso deve diminuir a oferta e provocar algumas alterações no mercado imo-biliário da capital. Mas, a longo prazo, o fator que mais pode influenciar o setor é a proposta feita em junho pelo prefeito de dobrar o territó-rio da capital e transferir parte dos centros adminis-trativos para essas novas áreas.

especulaçõesAs decisões do prefeito foram recebidas pelo mercado imo-biliário residencial como um sinal para elevar os preços, que caíram até 30% imedia-tamente após 2008 e ainda não retornaram aos níveis anteriores. Ainda assim, são apenas os novos imóveis econômicos localizados no território que será anexado a Moscou que estão tendo seus preços va-lorizados agora. Em três meses, o preço dos aparta-mentos nessa área aumen-tou até 15%, diz Igor Ladi-tchuk, representante da incorporadora Morton Group of Companies. Segun-do suas previsões, o status da capital irá acrescentar cerca de 30% aos preços ini-ciais dos apartamentos em prédios recém-construídos nos subúrbios. Devido às flutuações cam-biais na Rússia, os investi-dores privados têm aplicado seu dinheiro em metros qua-drados. E os investimentos mais rentáveis são especifi-camente os imóveis de clas-se econômica em edifícios re-cém-construídos nessa região. Sua participação no mercado é de até 80% da de-manda relacionada a mora-dia, afirma Grigóri Kulikov, presidente do Conselho Ad-m i n i s t r at ivo d a M ie l Holding. A diferença entre os preços dos apartamentos em Mos-cou e na região de Moscou é de, pelo menos, duas vezes mais. “As pessoas pratica-mente fazem fila para adqui-rir esses imóveis”, disse a compradora Irina, em visita a uma construtora.

empréstimos imobiliários“O empréstimo em dólares tem juros de 9,5% ao ano. Para fazer em rublos, me cobram 12% anuais”

ao comprar imóveis na planta, cliente paga de 30% a 60% menos do que após o término da obra

alto padrão transformação de antiga área industrial deve custar us$ 300 milhões e criará centro com apartamentos, lojas e restaurantes

reduto de artistas e intelectuais, área abriga bares e fábrica de chocolate outubro vermelho, há anos transformada em galeria.

O primeiro bairro nobre da capital, com um sofisticado complexo de apartamentos, além de restaurantes, lojas e um hotel de luxo, estimado no valor de US$ 300 milhões, pode surgir bem em frente ao Kremlin em um futuro próximo.De acordo com a DB Deve-lopment, a empresa assinou contrato para desenvolver o projeto numa área de 30 mil m² na área central de Moscou.A DB é um empreendimen-to conjunto do Deutsche Bank e da construtora aus-tríaca Strabag e irá desen-volver o plano na margem do rio Moscou, desde a ponte Kâmenni à residência do em-baixador britânico.O projeto, cuja área total co-brirá 86.622 m², inclui um

complexo de apartamentos de 36.549 m², um hotel buti-que de 18.973 m² – ambos ad-ministrados pela rede Four Seasons – e um estaciona-mento subterrâneo para 400 carros. Também irá incorpo-rar diversos prédios históri-cos da região. “Uma área para pedestres será criada à beira do rio, na Sofískaia Naberêjnaia, e será repleta de lojas e restauran-tes”, anuncia comunicado da DB Development.A implementação do projeto deverá proporcionar a Mos-cou seu primeiro “bairro re-almente nobre, com uma at-mosfera própria e centros de lazer tão famosos quanto o Centro Guggenheim, em Nova York, e o Centro Pom-pidou e o Museu d’Orsay, em Paris”, ainda de acordo com o comunicado.“O investimento total chega a US$ 300 milhões”, diz Dmí-tri Garkucha, diretor da DB Development. Sua empresa, que irá garantir o financia-mento, planeja estabelecer negociações com diversos

bancos, incluindo o Alfa Bank, Sberbank e Deutsche Bank, para concessão de em-préstimos, informou Garku-cha. A Strabag será respon-sável pelo desenvolvimento do trabalho. “Considerando que a área da construção está localizada no centro histórico de Moscou – um espaço protegido onde a edificação em larga escala é proibida – a principal bar-reira que o projeto poderia enfrentar seria conseguir um alvará das autoridades da ci-dade”, disse Aleksêi Mogui-la, diretor do departamento comercial da imobiliária Penny Lane Realty. Garkucha promete que a construção, estimada para começar no próximo ano, não irá arruinar a linha do ho-r i zont e do ce nt r o d a capital.A localização em frente ao Kremlin torna o projeto ex-clusivo, segundo Dmítri Kha-lin, sócio da imobiliária de alto padrão Intermark Savills.“Não existe nenhum outro lugar com uma vista

igual para o Kremlin; é a vista mais valiosa de Moscou e assim continuará pela pró-xima década”, disse por telefone.O loteamento do terreno, que os analistas afirmam valer entre US$ 160 milhões e US$ 200 milhões, era antes desen-volvido por duas firmas – Kremlin Sait e Kâmenni Most –, cujo controle acioná-rio foi recentemente adqui-rido pelo Alfa Group.As duas empresas eram con-troladas anteriormente por Achot Eguiazarian - depu-tado da Duma (Câmara dos Deputados na Rússia) que corre risco de ser preso por uma fraude milionária em Moscou, por meio de uma em-presa offshore -, e estavam entre os bens congelados no ano passado depois do início das investigações.Andrêi Kotcherov, porta-voz da unidade de investimento A1 do Alfa Group, confirmou que a empresa havia compra-do os ativos, mas se recusou a fornecer detalhes sobre o acordo.

Diversas fontes próximas in-formaram ao jornal Vedo-mosti que os ativos adquiri-dos pelo grupo tinham sido liberados pelo tribunal. “Entre outras vantagens do projeto estão o tamanho do terreno e o fato de combinar um complexo de apartamen-tos com hotel sofisticado sob uma única administração”, disse Khalin, acrescentando que os apartamentos do com-plexo seriam muito requisi-tados por membros da elite regional ansiosos por exibir seus status.Os preços dos imóveis no complexo poderiam variar de US$ 30 mil a US$ 60 mil por metro quadrado, depen-dendo da arquitetura inter-na do apartamento, disse.Segundo Garkucha, pode de-morar até dez anos para o hotel e o complexo de apar-tamentos se tor narem rentáveis.“O número de contratos men-sais fechados com proprie-dades desse tipo em Moscou raramente chega a sete”, disse Khalin.

Bairro nobre com vista para o Kremlin

vista privilegiada do Kremlin, do outro lado do rio

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Page 7: Gazeta Russa 11.2011

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o recém-publicado anuário do Cacimg (Centro de Análise do Comércio Inter-

nacional de Material de Guer-ra), Estatísticas e Análise do Comércio Mundial de Mate-rial de Guerra entre 2003 e 2010, contém dados sobre as exportações de armas para o Brasil, originárias de 14 paí-ses, nos últimos oito anos. Se-gundo o anuário, as importa-ções brasileiras originárias desses países atingiram US$ 2,677 bilhões.No mesmo período, o Brasil encomendou o equivalente a US$ 14,637 bilhões em armas, principalmente no âmbito dos programas de cooperação a longo prazo com França e Itá-lia. O maior exportador mun-dial de equipamento bélico para o país no período de 2003 a 2010 foi os Estados Unidos, com US$ 632 milhões e 23,6% do mercado, além de encomendas equivalentes a US$ 1 bilhão (6,85% do mer-cado). O segundo lugar no

Só nos últimos anos, quando o Brasil passou a ser gover-nado por líderes não muito obedientes ao grande irmão do norte, surgiram no mer-cado brasileiro empresas francesas, alemãs, espanho-las e israelenses. Como resultado, segundo a revista The Military Balan-ce-2011, dos 267 carros de combate atualmente em ser-viço no Exército brasileiro, só 90 são de origem norte-americana (diversas versões do M-60). Os outros são Le-opards alemães. Mais do que isso, a empresa alemã Krauss-Maffei Weg-mann, fabricante de blinda-dos sob a marca Leopard, ga-n hou u m cont rato de manutenção técnica de seu parque de blindados no Bra-sil para os próximos cinco anos e de fornecimento de equipamentos de treinamen-to para uso dos mesmos. Para esses fins, a empresa pretende abrir representação na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, com a participação de especialis-tas locais. Embora o valor do contrato se mantenha em si-

gilo comercial, sabe-se que o acordo equivale a vários milhões de euros.Segundo o Cacimg, o Brasil tem uma experiência, ainda que pequena, de cooperação com a Rússia, da qual já com-prou sistemas portáteis de de-fesa antiaérea Igla e helicóp-teros militares de carga e de ataque Mi-35. O país preten-de comprar também sistemas de mísseis antiaéreos Tor-M2 para o Exército, para prote-ger seu espaço aéreo durante as Olimpíadas de 2016. Toda-via, a problemática da defesa antiaérea do Brasil e dos avi-ões de combate brasileiros me-recem um tópico à parte.O parque aeronáutico do Bra-

sil é composto principalmen-te por caças norte-america-nos e franceses obsoletos. O país anunciou várias vezes licitações para a compra de um caça moderno e teve, entre outras, propostas pelo caça russo Su-35 de geração 4++. A vitória renderia à em-presa russa Sukhôi cerca de US$ 700 milhões, além de uma cooperação com o Bra-sil na indústria aeronáutica. Mas a concorrência não che-gou a acontecer, entre outras, por razões econômicas. Da última vez que foi anuncia-da, a proposta russa sequer foi admitida na licitação.O Brasil havia sugerido à Rússia uma “troca econômi-

Brasil pode comprar mais armas russas

ca”: se a Sukhôi vencesse a licitação, Moscou compraria do Brasil, em contrapartida, um pacote de aeronaves re-gionais para voos de curta distância da empresa Embra-er e até começaria sua pro-dução licenciada. A Rússia não aceitou a proposta, pois estava prestes a lançar no mercado a aeronave civil Sukhôi SuperJet.No entanto, mais tarde veri-ficou-se que a Aeronaves Civis Sukhôi, assim como suas congêneres nacionais Antonov e Tupolev, não têm no momento condições para satisfazer as necessidades da Rússia em aeronaves regio-nais de curto e médio curso.

Assim, o presidente Dmítri Medvedev anunciou que Mos-cou está disposta a comprar no exterior aeronaves regio-nais. O anúncio abre o mer-cado russo à Embraer e tam-bém à canadense Bombardier, e proporciona aos exporta-dores nacionais de material de guerra a oportunidade de se fixar no mercado de armas brasileiro. Se isso acontecer, uma carteira de pedidos de compra no valor de US$ 270 milhões poderá parecer de-masiadamente pequena para os dois países.

Víktor Litóvkin é editor-chefe da revista Nezavisimoie voiennoie obozrenie

viktor litóvkin

especialista militar

andrêi nechaev

economista

o dilema da rússia para aderir À omc

a Rússia está outra vez à porta da OMC (Or-ganização Mundial do Comércio). Digo

outra vez porque, pelo que me lembre, esta é a terceira ou até a quarta tentativa de en-trar na organização: assim que colocávamos o pé na soleira para entrar, tínhamos sempre a porta fechada na cara, em-bora todos os presidentes nor-te-americanos desde Bill Clin-ton tivessem prometido à Rússia um apoio enérgico no processo de adesão a esse or-ganismo internacional. O delegado nas negociações sobre a adesão da Rússia à OMC, Maksim Medvedkov, havia declarado, já em mea-dos de 2005, que em dezem-bro daquele ano a Rússia se tornaria Estado-membro da OMC. Agora estamos em 2011 esperando outra vez pela to-

no início de novembro, a televisão chinesa transmitiu ao vivo o lançamento da espa-

çonave Shenzhou-8. Segundo informações do Centro de Controle de Voos, ela se desa-coplou com sucesso do veícu-lo lançador, entrou em órbita programada e abriu seus pai-néis solares. Tudo como era esperado.O lançamento tem grande im-portância para Pequim por-que as autoridades espaciais chinesas pretendem acoplar a Shenzhou-8 à nave Tyan-gun-1, lançada no final de se-tembro. Caso a iniciativa tenha êxito, a China terá a primeira atracação bem-su-

cedida de dois objetos em ór-bita na história de seu pro-grama espacial e demonstrará capacidade de instalar no es-paço sua própria estação or-bital, conforme plano de ex-ploração espacial previsto para 2020.Recentemente, a China alcan-çou um marco simbólico na exploração espacial, realizan-do mais de 100 lançamentos para o transporte ao espaço de cargas úteis. Parece que o país não tem pressa, já que levou mais de 40 anos para atingir o resultado, mas é pre-ciso lembrar que metade dos lançamentos citados foi exe-cutada somente na última década.Durante esse tempo, a China criou e lançou vários sistemas de comunicação, reconheci-mento e navegação por saté-

universidades soviéticas.A Rússia vendeu à China suas tecnologias espaciais por meio de um acordo intergoverna-mental de 25 de abril de 1996. Como o documento é secre-to, os diretores das empresas russas envolvidas na coope-ração com a China não reve-lam quaisquer detalhes dos trabalhos conjuntos, embora não escondam o fato de se re-lacionarem com o país na área espacial. Não obstante, sabe-se que a China comprou da Corporação Espacial Russa Enérguia a maquete de um módulo de descida da espa-çonave Soiuz e equipamento de aproximação e atracagem automática. Atualmente, a Rússia e a China estudam possibilidades de desenvolvimento e implan-tação conjunta de uma série

parceria no setor espacial levarÁ china e rússia a marte

de grandes projetos. Até agora, foi bem-sucedido o programa de cooperação bilateral para o período de 2007 a 2012, que se tornou um prosseguimen-to lógico do programa ante-rior de três anos e compreen-de 33 áreas de cooperação.O programa lunar prevê tra-balhos conjuntos no âmbito do projeto Lua-Glob, para 2014. A missão da sonda russa Fobos-Grunt, a ser lançada em 9 de novembro, ajudará a esclarecer a origem dos pla-netas no sistema solar. O ob-

jetivo do projeto é colher e tra-zer à Terra amostras da superfície de Marte. O VLS russo Zenit levará a Marte não só a Fobos-Grunt como tam-bém o chinês Jung-1. O programa autônomo do Jung-1 vai durar um ano. Com a ajuda dele, os cientistas chi-neses esperam compreender como a água desapareceu da superfície marciana.

Andrêi Kisliakov é analista do programa de rádio Voz da Rússia

andrêi kisliakóv

analista

lite, colocou em órbita satéli-tes meteorológicos e uma série de naves espaciais experimen-tais e de pesquisa, ultrapas-sando as potências espaciais mundiais nos indicadores de rendimento por lançamento. Mais que isso, a China foi o terceiro país, após a União So-viética e os Estados Unidos, a enviar um homem em uma missão orbital. Não é segredo que o progra-ma espacial chinês tem raízes russas. A URSS ajudou a China a criar sua indústria ae-roespacial e a formar especia-listas e cientistas. Aliás, o prin-cipal veículo lançador de satélites (VLS) chinês, batiza-do de “Longa Marcha”, é uma versão modernizada do mís-sil balístico soviético UR-200, projetado pelo acadêmico so-viético Vladímir Chelomêi.

Hoje, a China está desenvol-vendo uma frota inteira de ve-ículos lançadores completa-mente novos, de aplicações diferentes e mais potentes, que apresentam um conjunto de elementos encaixáveis com os quais se pode construir um VLS capaz de transportar qualquer tipo de carga, leve ou pesada. Aliás, a mesma tec-nologia foi utilizada na cons-trução dos foguetes russos Angará.Os motores de foguetes chi-neses movidos a combustível líquido foram construídos, em sua maioria, com base na tecnologia russa. No entan-to, muitas outras conquistas no setor de construção de motores para foguetes são mérito de cientistas e espe-cialistas chineses, muitos dos quais se formaram em

cado de fixação da taxa de câmbio de sua moeda nacional. Gostaria de assinalar que os requisitos que foram apresen-tados na fase final das nego-ciações para a adesão não eram tão rígidos. Por exem-plo, o nível de apoio do Esta-do à agricultura permitido pela OMC é maior que o atual. A proteção da propriedade in-telectual (objeto de conflito sério com a OMC) é também de vital importância para nós. Sem ela, todas as declarações sobre a economia da inova-ção, modernização e entrada de nossos produtos de alta tec-nologia nos mercados exter-nos não passarão de meras boas intenções. Aliás, o ganho corrente com a adesão à OMC não é tão grande. A possibilidade de uti-lizar seus mecanismos para fazer frente às restrições im-postas às exportações russas mediante os procedimentos anti-dumping, fixação de

dutos tecnologicamente sofis-ticados se restringem basica-mente a material de guerra para países do terceiro mundo. A adesão à OMC deverá criar, no futuro, condições mais fa-voráveis à entrada russa no mercado global de engenha-ria mecânica e de outros pro-dutos de alta tecnologia.Um outro fator positivo é que a Rússia deverá harmonizar sua legislação nacional com os princípios da OMC (leia-se com os do mundo inteiro).Com efeito, não é à toa que o número de países integrantes da OMC é comparável ao nú-mero de países-membros da ONU e que nenhum país in-tegrante da OMC declarou sua intenção de abandoná-la. Pelo contrário, quase todos os pa-íses do mundo querem se jun-ta r a e s se orga n i smo internacional.

Andrêi Nechaev foi ministro da Economia da Rússia entre 1992 e 1993.

ranking de exportações de armas para o Brasil ficou com a França, com US$ 459 mi-lhões e 17,1% do mercado, se-guida por Israel , com US$ 433 milhões e 16,2% do mercado, A leman ha e Espanha.A Rússia segue atrás de seus concorrentes, com US$ 145 milhões e encomendas no valor de US$ 270 milhões, mas permanece como um dos grandes exportadores de armas para o Brasil.O que podemos dizer além daquilo revelado pelos números?O fato de os EUA liderarem o ranking mundial de expor-tações de armas para o Bra-sil não é surpresa. Os EUA têm sido sempre líderes, para não dizer monopolistas, nas exportações de armas para a América Latina. Poucos países, inclusive oci-dentais, conseguiram “fazer dar samba” com os militares locais. A Boeing, Lockheed Martin, Raytheon e outros pesos-pesados da indústria de guerra norte-americana mantinham seu feudo bem fechado aos estranhos.

mada de decisão sobre nossa adesão à organização para dezembro. A adesão da Rússia à OMC é a questão mais polêmica do país na última década. Os apoiadores do projeto têm sido duramente criticados e até acusados de desejarem des-

truir a economia russa. À luz disso, o presente artigo é uma tentativa de analisar sem emo-ções os pontos fracos e fortes da eventual adesão. Se a Rússia se unir à OMC, teremos de dizer adeus às téc-nicas primitivas da política aduaneira, como impostos proibitivos sobre a importa-ção de carros estrangeiros ou

regulação administrativa di-reta de investimentos estran-geiros e importações. Como sabemos, sua longa vigência, apesar das promessas do go-verno de aplicá-las a curto prazo, não ajudou a proteger o setor automotivo nacional, que se encontra atualmente em estado quase de coma. O clima favorável aos inves-timentos em um país não se cria por restrições artificiais à concorrência, cuja falta pre-judica muito a economia (e a política) russa, mas sim pela garantia dos direitos de pro-priedade (inclusive a proprie-dade intelectual), independên-cia e profissionalismo do poder judiciário, pela admi-nistração tributária em lugar da “extorsão tributária”, pela diminuição substancial da pressão burocrática e admi-nistrativa sobre os empresá-rios e cidadãos, redução da corrupção e outros medidas conhecidas, cuja implantação infelizmente não está previs-

ta para breve na Rússia.Com a entrada da Rússia na OMC, alguns setores da eco-nomia local vão enfrentar uma forte concorrência por parte dos produtos importados. Mas isso fará bem ao consumidor nacional, quer pessoas físicas quer produtores nacionais. Ao mesmo tempo, nossa adesão permitirá melhorar as condi-ções da exportação de produ-tos e investimentos russos para o exterior e da entrada no país de investimentos di-r e t o s , n e c e s s á r i o s à modernização.Como se sabe, as técnicas de regulação e proteção do mer-cado interno não se esgotam com os impostos aduaneiros ou barreiras administrativas. Os países desejosos de defen-der seus mercados internos chegam, em regra, a acordos com a OMC. Um exemplo clás-sico disso é a China, que, ape-sar de ser membro da orga-nização, mantém a prática atípica da economia de mer-

o clima favorável aos investimentos em um país não se cria por restrições artificiais à concorrência

cotas ou a aplicação de outras técnicas proporcionará um be-nefício direto equivalente a apenas alguns bilhões de dó-lares (as estimativas variaram, em diferentes anos, entre US$ 2,5 e US$ 4 bilhões). A julgar pelo volume de nos-sas exportações, esse benefí-

cio é pequeno e favorece prin-cipalmente os metalúrgicos, fabricantes de fertilizantes, exportadores de grãos e alguns outros setores econômicos. De qualquer maneira, vendemos para o mercado externo tanto petróleo e gás quanto os es-trangeiros quiserem comprar e pudermos exportar.Nossas exportações de pro-

com a entrada na omc, alguns setores vão enfrentar forte concorrência de importados

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Page 8: Gazeta Russa 11.2011

Gazeta Russawww.gazetarussa.com.brem Foco

receita

Kharchô: um prato vindo das fronteiras

A clássica cozinha russa não é conhecida por pimentas e sabores exóticos. Mas, ao longo dos séculos, os russos têm incorporado com suces-so tanto os sabores quanto as técnicas de cozinha dos seus vizinhos próximos. O kharchô, uma sopa de car-ne e tomate, é um exemplo perfeito de prato celebrado muito além das fronteiras de seu lugar de origem, a Geórgia. Na Rússia, é um pra-to que pode ser encontrado em qualquer cantina que for-nece alimentos para os tra-balhadores, assim como nos menus de restaurantes sofis-ticados. E pode ainda estar entre os pratos favoritos de uma família. Eu, particular-mente, gosto de prová-lo nos dias frios, por seu poder in-crível de nos aquecer.Para cada cozinheiro, há uma receita de kharchô diferen-te. Não existe muita concor-dância sobre os ingredientes básicos da receita: uns de-fendem o carneiro, outros in-sistem na carne de boi.

A facção do arroz recusa-se a discutir os méritos do mais tradicional trigo ou pão seco amolecido no iogurte. Mas uma coisa é certa: o kharchô tem sua marca registrada num sa-bor agridoce e um quê azedo advindo de frutas secas. Na Rússia, é vendido com uma mistura pegajosa e gros-sa de pele de frutas secas para acompanhamento. Substitutos aceitáveis incluem ameixas se-cas, pêssegos e suco de romã e pele de tamarindo. Eu uso todos os quatro para conseguir o sabor exato.Se você optar pelo trigo (e es-sa é a minha escolha), tente cozinhá-lo separadamente e adicioná-lo na sopa logo antes de servir. Desse modo, o trigo não irá absorver toda a mistu-ra e transformar a sopa em um mingau. Certifique-se de ter bastante coentro fresco, salsi-nha e dill para uma decoração generosa. Finalmente, o khar-chô é um daqueles pratos que ficam melhores no dia seguin-te. Então, vá em frente, e faça um monte!

Jennifer eremeieva

especial para gazeta russa

ingredientes:• 2 litros de caldo de frango ou de carne – ou uma mistura dos dois;• 1 kg de carne bovina ou de carneiro, cortada em cubos de 1,5 cm;• 2 cebolas grandes, cortadas em fatias finas;• 10 tomates bem maduros (frescos ou em lata) sem se-mente, cortados em cubos;• 45 ml de azeite de boa qua-lidade;• 60 g de ameixas secas e pêssegos;• 4 dentes de alho, descasca-dos e amassados;• 15 g (2 colheres de chá) de pele de tamarindo;• 45 g de pasta de tomate;• 1 g (1/4 de colher de chá) de pimenta-caiena;• 1 g (1/4 de colher de chá) de páprica;• 2 g (1/2 colher de chá) de estragão seco;• 1 g (3/4 de colher de chá) de sementes de coentro, es-magadas;• 1 g (1/4 de colher de chá) de sementes de feno-grego, esmagadas;• 60 g (1/4 de xícara) de amendoim amassado;• sal e pimenta a gosto;• 45 ml de suco de limão fresco;• 500 ml (2 xícaras) de suco de romã;• 625 ml (2 xícaras e 1/2) de água quente;• 250 g (1 xícara) de trigo seco;• 15 ml de óleo vegetal ou azeite;• 2 xícaras de ervas mistas para enfeitar: hortelã, salsinha, coentro e dill.

modo de preparo:1. Misture as ameixas secas e os pêssegos em 60 ml (1/4 de xícara) de água quente e re-serve.2. Misture a pele de tamarindo em 60 ml (1/4 de xícara) de água quente e reserve.

3. Aqueça o óleo em uma pa-nela grande de sopa ou em um forno holandês. Enquanto o óleo aquece, seque a mistura de car-nes bovina/carneiro com toalhas de papel e tempere-a com sal e pimenta. 4. Quando o óleo estiver quen-te o suficiente, doure a carne, virando os cubos para garantir que todas as superfícies entrem em contato com o óleo quen-te. Continue até que a carne fi-que dourada (de três a cinco minutos).5. Abaixe o fogo para médio e acrescente as cebolas e o alho. Mexendo com frequência, deixe a cebola murchar até ficar trans-lúcida e dourada.6. Acrescente os tomates e a pasta de tomate e mexa pra misturar os ingredientes.7. Acrescente o caldo, as pimen-tas e o amendoim. Diminua o fogo e deixe ferver.8. Tire toda água, deixando ape-nas 15 ml. Amassando as amei-xas, coloque-as em um proces-sador ajustado com a lâmina de aço e ligue até que elas fiquem com uma consistência de geleia. Adicione à sopa fervente.9. Acrescente a pele do tama-rindo à panela, tampe, abaixe o fogo e deixe ferver por 45 mi-nutos.10. Enquanto a sopa está cozi-nhando, prepare o trigo. Refo-gue o trigo em óleo vegetal ou azeite até ficar brilhante e al-guns grãos “estourarem”. Adicione os 500 ml restantes da água na panela. Tampe e abaixe o fogo até o trigo absorver toda a água (15 a 20 minutos).11. Após a sopa ferver por 45 minutos, coloque o suco de li-mão e o suco de romã. Prove e adicione sal e pimenta se achar necessário.12. Para servir, aqueça pratos fundos de sopa no forno. Co-loque um punhado de trigo no centro do prato e despeje o kharchô por cima. Decore com ervas frescas.Sirva e se delicie!

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calenDário cultura e negócios

tomo suas mãos nas minhasaté 18 de dezembro, sex. e sáb. às 21h, sesc consolação, são pauloPeça baseada nas cartas trocadas entre Anton Tchekhov e a atriz Olga Knipper, que o estimulou a escrever algumas de suas obras primas.

www.sescsp.org.br ›

temPoraDa osesP: tortelier e lamsmade 8 a 10 de dezembro, qui. e sex. às 21, sáb. às 16h30, sala são paulo, são pauloSob regência de Yan Pascal Tortelier, o violinista Simone Lamsma apresenta o concerto n° 1 de Shostakovich e O Quebra Nozes, de Piotr Tchaikovsky.

www.osesp.art.br ›

oFicina: stanisláVskide 5 a 9 de dezebro, seg. a sáb. às 19h, complexo cultural Funarte, são pauloCom 40 horas de palestras e debates, a oficina pretende apresentar as múltiplas faces da herança cultural do ator, diretor, pedagogo e teórico do teatro Konstantin Stanislávski. Vagas limitadas

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Quando Rubens Figueiredo traduziu Anna Kariênina, obra do conde russo Lev Tols-tói (1828-1910, também gra-fado como “Liev” no Brasil) publicada no final de 2005 no Brasil, trilhou um caminho sem volta. “Depois de fazer Anna Kariênina e Ressurrei-ção, o Guerra e Paz se tornou quase uma obrigação”, diz.Publicado pela primeira vez em 1868 na Rússia (veja prin-cipais edições abaixo), o ro-mance épico Guerra e Paz conta a história da invasão napoleônica da Rússia tsa-rista sob o ponto de vista de cinco famílias aristocráticas do país. A obra teve 36 mi-lhões de exemplares vendi-dos somente na União Sovi-ética, segundo dados da revista russa Kompiuart de março de 2000.Apesar das diversas edições em português no Brasil - desde 1958 pela editora Globo, até 1974 pelo Círculo do Livro, e em 2007 pela L&PM -, uma das principais características da publicação de Guerra e Paz pela Cosac Naify neste mês é que a obra ganhou sua primeira tradu-ção direta do russo no país. Até poucos anos atrás, as obras russas eram trazidas para o Brasil já de traduções para outras línguas, como o francês, e ficavam mais su-jeitas a mudanças de sentido e de construção.“O lançamento é um aconte-cimento muito importante para a literatura mundial, já que este romance ocupa o primeiro lugar na literatura universal”, afirma a russa rE-

guerra e Paz obra é traduzida direto para o português quase 150 anos após primeira edição

lena Vássina, professora de letras russas na Universida-de de São Paulo.

tradutor “oficial”Escritor premiado, inclusive com o Portugal Telecom de Literatura 2011 por seu Pas-sageiro do Fim do Dia, Fi-gueiredo tornou-se também uma marca como tradutor de Lev Tolstói no Brasil. “Ele é uma figura muito importan-te, conhecido e premiado como escritor, e tem uma imagem literária muito pe-culiar. É uma sorte da lite-ratura russa tê-lo como tra-dutor”, afirma Vássina.Uma das grandes preocupa-ções de Figueiredo é a de manter o estilo do autor, in-

clusive com recursos despre-zados por alguns editores, como a repetição de palavras, que muitas vezes geram tre-chos totalmente reescritos em suas versões traduzidas.“A principal dificuldade de-correu do esforço de preser-var ao máximo os traços de linguagem relevantes para o significado geral da obra e para as preocupações do es-critor”, diz Figueiredo.Por ser uma obra densa, cheia de personagens históricos, a editora também preparou materiais extras anexados ao título. São cinco mapas, uma lista de personagens históri-cos, militares e outras figu-ras reais que permeiam o ro-m a nc e , a lé m de u m a

uma epopeia na tradução direta dos russos

Principal obra de lev tolstói se soma a outras obras traduzidas diretamente nos anos 2000

editora pretende publicar mais clássicos da literatura russa e tem entre seus projetos coleção de arte modernista e nikolai gógol.

marina Darmarosgazeta russa

Hedra, e Contos Para o Povo, a ser lançado até o final de 2011 pela editora Ateliê.Além disso, o ano foi marca-do pela visita ao Brasil, em setembro, de Vladímir Tols-tói, tataraneto do escritor e diretor do Museu Tolstói de Iásnaia Poliana, a proprieda-de rural do conde. “No semi-nário dedicado a Tolstói com a participação de Vladímir, ele disse que, se o século 20 foi de Dostoiévski, com mui-tas leituras e traduções do autor, o século 21 é de Tols-tói”, conta Vássina.Enquanto isso, Fiódor Dostoi-évski, o escritor russo contem-porâneo de Tolstói, continua a ser um dos sucessos do ca-tálogo da editora 34, que pro-duziu boa parte das traduções de sua obra. Com o avanço da Cosac sobre os títulos de Tols-tói, criou-se uma espécie de contrato subliminar entre as editoras.“Cada editora pegou um autor para trabalhar: a gente sem-pre com Tolstói, e eles com Dostoiévski. Não é um acor-do por escrito, mas é quase um acordo informal de que a gente evitaria entrar no ter-reno do Dostoiévski e eles no do Tolstói”, conta Machado, que tem apenas um título do escritor peterburguense em seu catálogo: Uma Criatura Dócil.Mais que de um escritor ou de outro, o século 21 tem se mostrado o da literatura russa no Brasil. “Mesmo sendo um tipo de tradução que não é o mais comum de se fazer, por-que tem muito mais gente tra-duzindo do inglês, do francês, do italiano etc., a resposta do público à literatura russa é m u i t o b o a”, a f i r m a Machado.

guerra e Paz no brasil

Em edição especial com tira-gem de 7 mil exemplares, pri-meira tradução direta do ro-mance épico de Tolstói sai no Brasil pela editora Cosac Nai-fy. A obra vem em dois tomos em uma caixa e tem tamanho reduzido devido ao uso de pa-pel-bíblia, mais fino, para tor-nar a leitura de suas mais de 2536 páginas mais confortável. Custa R$ 198.

escolha Da esPecialista

edições mais notáveis de guerra e paz na rússia

“A edição de 1983 que saiu pe-la série Monumentos Literários da editora Akademia Nauka é digna de nota por utilizar a primeira redação da obra, que teve algumas variantes (que somam 5 mil páginas de ma-nuscritos armazenadas hoje em Moscou). A preparação é da famosa crítica Evelina Zai-bentshur, já falecida.”

galina aleksêieVa, Diretora Do DePartamento De Pesquisa e Do museu tolstói De iásnaia Poliana , inDica as três PrinciPais eDições Da obra mais Famosa Do escritor russo

“A edição de luxo de 2008, lançada em razão dos 180 anos de Tolstói, saiu pela editora Béli Gorod, na série Monumen-tos da Literatura Mundial. É ilustrada belissimamente com retratos dos heróis da guerra de 1812, com desenhos mara-vilhosos feitos ainda durante a vida de Tolstói para a obra e de artistas contemporâneos.”

“A mais interessante é esta pri-meira edição, que saiu entre 1868 e 1869 pela editora Ris, em Moscou. Inicialmente, o ro-mance saiu na revista “Rúski Vestnik”, e a primeira publica-ção em livro foi esta, que já é uma raridade, e não se encon-tra em qualquer biblioteca rus-sa. Depois, surgiram centenas de edições pelo mundo.”

apresentação do próprio Fi-gueiredo e sugestões de lei-tura para o leitor que se in-teressar em saber mais sobre Tolstói e Guerra e Paz.“A gente fez uma revisão es-pecial e trabalhou com qua-tro pessoas no texto. Contra-tamos um editor-assistente só para este livro, para acom-panhar tudo, e que elaborou, por exemplo, essas listas e mapas”, conta o diretor edi-torial da Cosac, Cassiano Elek Machado. A primeira fornada sairá em uma edição especial de 7 mil exemplares – um número considerado alto para o Bra-sil, onde lançamentos geral-mente têm tiragem inicial de 3 mil. A obra virá em dois tomos numa caixa e, apesar das mais de 2 mil páginas, seu tamanho regular será ga-rantido pelo uso de papel-bí-blia, mais fino e leve.“É um livro que começou a ser criado há mais de quatro anos. Só a tradução durou três anos, e depois teve de seis a sete meses de edição. Então, ao longo desse processo a gente foi recriando o projeto até chegar em um formato menor, com papel mais fino, para a leitura ficar mais con-fortável”, explica Machado.

um século tolstoianoGuerra e Paz é o sexto livro de Tolstói pela editora, e uma realização importante numa longa lista de publicações di-retas do russo ao longo de 2011. Do conde, só neste ano, ainda pode-se conferir os lan-çamentos A Nova Antologia do Conto Russo, da editora 34, Os Últimos Dias de Tolstói (coletânea de cartas, ensaios etc.), da Cia das Letras, Con-tos de Sebastópol, da editora

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