fugas

40
cdbaa59d-afdd-45fd-9598-3c7027a7389a A Páscoa que se come MANUEL ROBERTO ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 8389 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 HelsínquiaFilipaLealDuecitâniaTaberna1300MercedesCLA

Upload: lelo-demoncorvo

Post on 31-Mar-2016

237 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Há quem lhe chame o diamante de Trás-os-Montes pelos muitos bicos e a aparência de jóia valiosa, mas a sua origem tem que ser procurada na rica tradição da doçaria conventual. Como todas as outras, as amêndoas cobertas de Moncorvo são essencialmente associadas aos rituais da Páscoa, mas neste concelho do Douro Superior eram também um costume ligado aos casamentos.

TRANSCRIPT

Page 1: fugas

cdbaa59d-afdd-45fd-9598-3c7027a7389a

A Páscoa que se come

MA

NU

EL R

OB

ERTO

EST

E SU

PLEM

ENTO

FA

Z PA

RTE

INTE

GRA

NTE

DA

ED

IÇÃO

8389

DO

BLIC

O, E

NÃO

PO

DE

SER

VEN

DID

O S

EPA

RAD

AM

ENTE

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

Helsínquia Filipa Leal Duecitânia Taberna 1300 Mercedes CLA

Page 2: fugas

Li

mita

do a

o st

ock

exis

tent

e. A

com

pra

do p

rodu

to im

plic

a a

aqui

siçã

o do

jorn

al.

Um chefe demasiado by the book?

Aprenda a lidar com chefi as inadaptadase reconheça as mentes realmente criativas.Fique a conhecer as novas tendências globais de gestão e marketing para os anos 2013-2015, escritas numa linguagem prática e acessível a todos.

Segunda, 8 de Abril, em exclusivo com o Público por +8,95€.

TOP 5Livro técnico

mais vendido 2013

Apoio:

Page 3: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 3

Na ponta da línguaMiguel Esteves Cardoso

Este ano os

espargos apareceram cedo, logo

no primeiro dia da Primavera. A

época é tão curta que é quase um

ano inteiro de saudades. A época

é o tempo que leva, à justa, a

matar todas as que tínhamos.

Comemos os espargos numas

migas deliciosas e depois com

uns ovos mexidos. Outros

restaurantes há que só os servem

salteados.

Felizmente temos um agricultor

amigo que nos arranja espargos

perfeitos. A melhor maneira de

comê-los, apreciando as variações

de textura e de sabor, é cozidos

durante cinco minutos. São

muito bons sozinhos — sem azeite

ou manteiga. Nisso, são como

os grelos: experimente-os sem

azeite e vinagre e verá como são

sumarentos.

Se forem cozidos em água sem

sal, fi cam esplêndidos com umas

gotas de azeite e uns cristais de

fl or de sal. Também é bom fazer

uma pocinha de azeite e um

montinho de fl or de sal em locais

estratégicos do prato e depois

levar lá os troços de espargos

que quiser temperar. Assim pode

comer alguns só com sal e outros

com azeite também.

Ando um bocadinho zangado

com a mania portuguesa de

“saltear” tudo em azeite e alho:

porquê fritar e encharcar de alho

espinafres, grelos e espargos

cozidos que não precisam de mais

nada?

Ou será que só se salteiam as

hortaliças quando elas já foram

cozidas há algum tempo e a

urgência está mais em aproveitá-

los do que empertigá-los?

Muitas vezes as verduras

salteadas sabem a velho, alho

chinês e azeite que não é virgem.

O hábito de usar um azeite

inferior para cozinhar e outro

para servir à mesa está enraizado

mas dá péssimos resultados.

É por isso que, nos restaurantes,

se devem pedir as verduras

só cozidas. Se não estiverem

impecáveis, pode devolvê-las

à cozinha e pedir que sejam

salteadas com azeite de mesa e um

alho acabado de descascar e picar.

Quando vier o Verão acontecerá

o mesmo com as maçarocas de

milho. Acabadas de apanhar são

óptimas cozidas em água pouco

salgada e depois comidas à mão,

sem manteiga nem nada: basta

uma linha de sal no prato, no caso

de precisar.

Toda a vida temperei (com

azeite ou manteiga) grelos,

espargos e maçarocas. Foi só

no ano passado que descobri

que, quando são apetitosas, não

precisam de mais nada.

Ainda esta semana comi, pela

primeira vez na vida, polvo

cozido sem azeite. Foi a Maria

João que me convenceu, levando-

me a pensar no polvo como um

marisco. Soube-me muito bem. Só

a polvo. Não precisava de saber

também a azeite.

Acontece o mesmo com a

grande maioria dos peixes,

cozidos e grelhados: quando são

mesmo gordos e frescos, não

precisam de azeite ou manteiga.

Quem gosta de peixe não suporta

peixe grelhado com manteiga

mas há muitos peixes cozidos

(ou assados no sal) que se devem

provar antes de temperar. Ficará

espantado com o número de vezes

em que o peixe está melhor tal

como está.

Nós, os portugueses, puxamos,

por automatismo, do azeite e do

vinagre. Temperamos como quem

está a completar uma refeição de

peixe. Se gostamos do sabor do

azeite, porque não guardá-lo para

o bacalhau, o único que passa mal

sem ele?

A mania de pôr azeite nas

sardinhas nasce do facto de as

comermos cedo de mais (em

Junho e Julho) quando ainda não

têm gordura própria. Mas quando

elas se põem gordas, lá para

meados de Agosto, e “pingam

no pão”, é um crime misturar a

gordura delas com a gordura da

azeitona.

Acontece o mesmo com o

sashimi e o molho de soja, para

nem falar do wasabi: quando os

peixes são muito bons, frescos

e bem cortados, as fatias devem

comer-se sem soja.

Temos em Portugal tantos

bons azeites, de tantos estilos

Temos um agricultor amigo que nos arranja espargos perfeitos. A melhor maneira de comê-los, apreciando as variações de textura e de sabor, é cozidos durante cinco minutos. São muito bons sozinhos — sem azeite ou manteiga

FICHA TÉCNICA Di rec ção Bárbara Reis Edição Sandra Silva Costa e Luís J. Santos (Online) Edição fotográfica Miguel Madeira e Manuel Roberto (adjunto) Design Mark Porter, Simon Esterson Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro e José Alves Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Praça Coronel Pacheco, 2, 4050-453 Porto. Tel.: 226151000. E-mail: fugas@pu bli co.pt . fugas.publico.pt Fugas n.º 671

Há coisas tão boas que já vêm temperadas pela natureza

L A

NC

HEL

ES/J

OH

NÉR

IMAG

ES/C

ORB

IS

— não sendo os mais caros

necessariamente os melhores —

que são irresistíveis. Mas merecem

maior realce. Molhar o pãozinho

no azeite é enjoativo passada uma

vez ou duas.

Para fazer saltar bem as

qualidades de um azeite não há

nada como umas boas batatas

cozidas. Só para concentrar

a nossa atenção. Senão

continuaremos a misturar as

coisas todas: não só peixes bons

com maus azeites como, quase

tão desastrosamente, peixes bons

com azeites bons, quando uns e

outros mereciam ser apreciados

separadamente.

É assim que havemos de comer

os primeiros molhos de espargos

do ano: acompanhados apenas

por outros espargos. Os azeites

virão depois.

Page 4: fugas

4 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

A Páscoa doce (ou talvez não) de Norte a Sul do paísHaverá certamente outros ícones, mas Páscoa que é Páscoa tem folar, pão-de-ló e amêndoas. Cada região do país preserva as suas tradições e certamente não faltará quem diga ao vizinho “o meu pão-de-ló é melhor que o teu”. Margaride ou Alfeizerão? Tire a prova dos nove numa mesa perto de si.

CapaGastronomia

Os folares

Valpaços: é alto e leva muitos ovosRima com festa e nobreza de cos-

tumes e em Valpaços foi até recen-

temente adoptado como símbolo

concelhio. O folar transmontano

é a iguaria por excelência do pe-

ríodo pascal, mas marca também

presença na generalidade das

festas do calendário religioso por

toda a região.

É na Páscoa, no entanto, que a

sua confecção e consumo se gene-

ralizam, remetendo ainda hoje para

épocas passadas em que a pobreza

era um denominador comum às

gentes da montanha. “O folar de

Páscoa assume profundo signifi -

cado simbólico nas comunidades

transmontanas, outrora as famí-

lias atacadas pela pobreza faziam

grandes esforços no sentido de o

apresentarem sobre a mesa quan-

do o pároco visitava as suas casas

para serem benzidas”, descreve Ar-

mando Fernandes no livro Comeres

Bragançanos e Transmontanos. “Os

folares podiam ser dominados pela

avareza no emprego de carnes e

ovos, no entanto, a tradição não era

transgredida”, assegura o autor.

É nesta vinculação a ocasiões de

cerimónia ou celebração que os au-

tores encontram a explicação para a

tradição de um bolo de trigo em ter-

ras dominadas pelo cultivo e uso do

centeio na confecção do pão. Além

de mais fi na, só as gentes de maiores

posses tinham acesso à farinha de

trigo, que usavam para momentos

ou celebrações de especial signifi -

cado. Era um luxo.

“A bola e ou o folar, como quise-

rem, acima do Marão festeja o santo

padroeiro de toda e qualquer aldeia,

mas é na Páscoa que atinge carácter

obrigatório em todo o território”,

diz Maria de Lourdes Modesto. Ao

contrário do que acontece no resto

do país, onde o folar é um bolo doce,

acima do Douro leva recheio de car-

nes, mas entre bola e folar nem sem-

pre a distinção é clara, dizendo-se

que se levar ovos até fi car amarelo,

então é porque é folar.

Presunto, linguiças e carne de

porco salgada não se dispensam,

mas podem ter também galinha,

coelho ou até pedacinhos de vitela,

dependendo dos costumes locais

que igualmente infl uenciam as for-

mas. Há-os redondos ou rectangu-

lares, uns mais altos outros baixos.

Modesto não tem dúvidas: “O meu

preferido é alto e leva muitos ovos,

é o folar de Valpaços.”

É feito em formas de barro, cada

um na sua, que lhe concentram a

untuosidade e conferem cheiro e

sabor muito específi cos. Leva oito

ovos por cada quilo de massa, que

passa por uma dupla levedação. A

primeira na masseira e uma segun-

da, já com as carnes, no tabuleiro

antes de ir ao forno. “Este é o folar

tradicional”, explica José Doutel

Coroado, responsável da autarquia

pela Feira do Folar que decorreu no

passado fi m-de-semana.

Produto artesanalNo concelho há cerca de duas deze-

nas de produtores artesanais, mas

o folar é ainda um ritual de cada

família, sendo rara a casa onde não

existe forno para o efeito. Foi com

o intuito de o divulgar que o técnico

da autarquia colocou no YouTube

Alexandra Prado Coelho e José Augusto Moreira

um vídeo (“Dona Josefa faz o folar”),

que gravou com a sua mãe e é um do-

cumento vivo sobre a tradição local.

A receita é comum, mas cada folar

é um só. Nenhum é igual ao outro,

dependendo do forno, das mãos que

compõem a massa ou das rezas para

cada um. Uma arte que passa de ge-

ração para geração, normalmente

entre mulheres.

Entre as novas artesãs, está Ce-

saltina Caseiro, uma jovem enfer-

meira a quem o fecho do hospital

local atirou para o desemprego e se

ocupa agora com a tradição do folar.

Na aldeia de Ervões há uma longa

herança de padeiros e Titina, assim

a tratam, não foge à regra, sendo

neta de padeira.

O forno está instalado nos fundos

da moradia de família, em aposen-

tos preparados para o efeito, com

lareira e mesa comprida, recriando

o ambiente de uma antiga cozinha

tradicional. Ao lado, numa saleta

dominada pela barriga do forno,

está a masseira onde foi preparada a

massa, que agora leveda à espera de

se lhe juntarem as carnes. Um traba-

lho em conjunto com a sogra Célia

e a tia-avó Estela, exemplifi cando a

passagem do saber de geração para

geração. O ambiente não está ainda

sufi cientemente aquecido e há que

esperar. “A massa é que manda”, diz

Célia, enquanto ajusta um cobertor

aquecido por cima da massa para

acelerar o trabalho das leveduras.

A preparação exige trabalho de

braços. À farinha, junta-se um pou-

co de fermento e sal e vai-se batendo

enquanto se junta água. Ganhando

consistência, cava-se um buraco a

meio onde são depositados os ovos

previamente batidos e envolve-se a

massa até fi car de novo consistente.

MA

NU

EL R

OBE

RTO

Page 5: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 5

O mesmo processo para se juntar o

azeite, manteiga e banha, aquecidos

e bem batidos mas sem deixar ferver.

Benzido e brunidoDepois de levedar parte-se a mas-

sa em pedaços, que vão preencher

cada um dos tabuleiros. A massa é

estendida e sobre ela distribuídas

as carnes (em pedacinhos) e depois

enrolada e colocada nas assadeiras

de barro rectangulares, onde volta

a fermentar.

É altura da benzedura e encomen-

dação: “São Vicente te acrescente/

São Mamede te levede/ São João te

faça pão/ Em louvor da virgem Maria/

Que Deus nos dê pão para cada dia.”

“Cada uns têm a sua, esta é a nossa”,

justifi ca Célia, explicando também

que “não se deve lavar as mãos logo

depois de amassar para não levar o

sabor com a água”. A nora apressa-se

a meter lenha para acelerar o aqueci-

mento do forno. “Tanto podem ser

sarmentos, como giesta ou urze. Nós

usamos sempre a giesta.”

A temperatura subiu, a massa

cresceu já para além das assadeiras

e está na altura de a levar ao forno.

Antes, porém, um último retoque de

embelezamento. Batem-se mais uns

ovos e os folares são “brunidos” à

mão com toda a delicadeza. Não era

melhor um pincel? “Tem que ser à

mão para que não fi quem marcas”,

riposta Estela.

As brasas são concentradas à porta

do forno, cujo interior é cuidadosa-

mente varrido com uma vassoura de

giestas. Uma a uma, as duas dezenas

de assadeiras são arrumadas no fun-

do do forno com a ajuda de uma pá

em ferro e longo cabo de madeira

habilmente manejada com um ritual

de gestos rápidos e seguros. A mes-

ma mestria na colocação das folhas

de papel que vão cobrir cada um

dos folares, que Titina diz ser “para

que não tostem demasiado e fi quem

bonitos”.

A cozedura dura cerca de uma

hora, de porta aberta para não atingir

temperaturas demasiado elevadas.

Só na parte fi nal é que é colocada a

porta no forno, com alguma brasa

dentro, para dar o tostado fi nal e já

sem a cobertura dos papéis.

Só quando é retirada a porta e

os folares luzem como barras de

ouro no fundo do forno é que Ti-

tina respira de alívio. O aspecto

é realmente arrebatador, mas os

aromas, quentes e doces, que se

desprendem à medida que são cui-

dadosamente retirados das assadei-

ras, parecem ainda mais cativantes.

Como por encanto, há fami-

liares que começam a chegar, o

patriarca abre uma garrafa de

champanhe que acabara de trazer

de França e percebe-se o ritual.

Além das cores e aromas, também

o sabor é único. São fofos, crocan-

tes e de paladar macio e aman-

teigado. José Augusto Moreira

Alentejo: com erva doce e canelaFaltam ainda algumas semanas

para a Páscoa mas na Herdade da

Malhadinha, no Alentejo, já Vitalina

Santos amassa os folares e coloca os

ovos cozidos para os levar a cozer no

forno de lenha. A massa é doce, com

o sabor muito característico a erva-

doce e canela. Vitalina separa-a em

bolas, que esborracha ligeiramente,

para colocar o ovo cozido que depois

cobre com tiras da mesma massa.

Esta é a receita de folar mais tra-

dicional no Sul do país. Enquanto o

Norte faz os folares salgados, com

carnes (também chamados bola),

no Sul encontra-se mais este bolo de

massa seca (farinha de trigo, ovos,

leite, azeite, banha ou pingue, açú-

car e fermento, canela e erva-doce),

com os ovos cozidos a espreitar en-

tre a massa.

“No Alentejo, particularmente

na zona fronteiriça de Elvas, os fo-

lares apresentam formas de animais

— borregos, lagartos, pintainhos,

pombos, ao sabor da criatividade

e jeito de quem os faz”, escrevem

Maria de Lourdes Modesto e Afonso

Praça em Festas e Comeres do Povo

Português. E referem os de Castelo

de Vide por causa do feito particu-

lar: um duplo coração e um lagarto

de coleira de seda encarnada. São

estes folares que os padrinhos e ma-

drinhas oferecem aos afi lhados no

domingo de Páscoa.

Na Pastelaria Alcôa, em Alcobaça,

mesmo em frente ao mosteiro, en-

contramos várias versões do folar

tradicional (aqui a massa leva tam-

bém fl or de anis) — há em forma de

coelho, de lagarto, há com ovos e

sem ovos. Paula Alves, a proprietá-

ria, diz que os clientes “estão a pedir

muito o folar sem ovos”. A explica-

ção é simples: muita gente não come

o ovo, acabando por o pôr de lado, e

considera isso um desperdício.

Por outro lado, a tradição pede

ovos, e por isso a Alcôa continua

também a fazer folares com um,

dois, três ovos, chegando, em bo-

los maiores, a pôr quatro ou cinco.

Entretanto, Paula foi introduzindo

algumas inovações. Usando sempre

a massa tradicional como base, hoje

vende folar com gila, com amêndoa

e ovos, outro com doce de ovos, e

até um com maçã e canela.

De onde vem a tradição é difícil di-

zer. Maria de Lourdes Modesto pro-

cura pistas na etimologia, mas não é

fácil — a palavra folar poderia vir “do

latim fl oralis, se calhar do germânico

fl ado (bolo de mel), eventualmente

do francês poularde”. A verdade é

que ninguém sabe exactamente.

O que não oferece dúvidas é que,

escrevem ainda Maria de Lourdes

Modesto e Afonso Praça, esta é uma

tradição “que assenta num ritual de

dádiva, solidariedade e convívio en-

raizado na sociedade portuguesa”.

Alexandra Prado Coelho

MA

NU

EL R

OBE

RTO

RUI G

AU

DÊN

CIO

Cesaltina Caseiro, enfermeira desempregada, é uma das jovens artesãs que, na aldeia de Ervões, dá continuidade à tradição do folar. Em baixo, o folar da pastelaria Alcôa, em Alcobaça

Page 6: fugas

6 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

CapaGastronomia

As amêndoas

doa da região de ligação entre a Bei-

ra Alta e Trás-os-Montes foi sempre

apreciada e procurada para vários

fi ns. As referências conhecidas apon-

tam para uma tradição de as cobrir

com açúcar branco que remonta

há mais de dois séculos. Um uso de

praticamente todas as casas, que as

utilizavam para os actos mais solenes

e cerimoniosos.

Métodos que são agora seguidos

na Arte Sabor & Douro, que adquire

amêndoa junto dos produtores lo-

cais. Depois de “britada” (com maço

de ferro sobre paralelepípedo de gra-

nito) para extrair o miolo, a amêndoa

é escaldada para que lhe seja retirada

a pele. Uma vez pelada, tem que se-

car à sombra durante alguns dias, an-

tes de se separar a amêndoa partida,

que é aproveitada para a confecção

de maçapão e outra pastelaria. Vai

depois ao forno a torrar, ates de ser

entregue ao trabalho das cobrideiras,

as mulheres que paciente e delica-

A Alcôa, em Alcobaça, é das poucas pastelarias que ainda mantém fabrico próprio de amêndoas. Em baixo, as de Moncorvo, feitas na Arte Sabor & Douro

MA

NU

EL R

OBE

RTO

RUI G

AU

DÊN

CIO

Moncorvo: um diamante que se molda sozinho nas mãos das cobrideiras

Há quem lhe chame o diamante de

Trás-os-Montes pelos muitos bicos

e a aparência de jóia valiosa, mas a

sua origem tem que ser procurada na

rica tradição da doçaria conventual.

Como todas as outras, as amêndo-

as cobertas de Moncorvo são essen-

cialmente associadas aos rituais da

Páscoa, mas neste concelho do Dou-

ro Superior eram também um costu-

me ligado aos casamentos. Ditava a

praxe que se colocassem amêndoas

cobertas nas mesas dos convidados,

sendo igualmente oferecidas à noiva,

mas a tradição parece ter caído à me-

dida que começou também a escas-

sear a confecção tradicional que se

fazia em praticamente todas as casas

da região. O processo é moroso e cus-

toso, mas embora continue a haver

amêndoa em todas as propriedades

os tempos já não se compadecem

com os rituais da confecção.

“Confeccionadas e vendidas du-

rante todo o ano, principalmente

na Páscoa, obedecem a um fabrico

artesanal e moroso”, explica Sole-

dad Martinho Costa no livro Festas e

Tradições Portuguesas, adiantando

que “hoje as confeiteiras ou cobri-

deiras raramente as fazem devido à

morosidade da sua elaboração: basta

dizer que cinco quilos de amêndoa

coberta representam um mês de tra-

balho com a duração de sete a oito

horas por dia”.

Depois de a tradição ter quase caí-

do em desuso, há agora uma casa co-

mercial que desde há uns anos se de-

dica à confecção do produto, sendo a

única licenciada para a produção de

amêndoa coberta de Moncorvo pelo

método artesanal. Chama-se Arte Sa-

bor & Douro (www.artesaboredouro.

com) e está instalada no centro da

cidade, mesmo ao lado da catedral.

Além da venda, é também possível

degustar e assistir à confecção.

Dos três tipos de amêndoa coberta

de Moncorvo, a mais famosa e apre-

ciada é a bicuda branca, que resulta

de um tão simples quanto moroso

processo de confecção.

De sabor e textura únicos, a amên-

Page 7: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 7

damente se ocupam do trabalho de

cobertura com açúcar.

São elas que se debruçam sobre a

larga “bacia” de cobre com um metro

de diâmetro que é colocada sobre o

“caco”. Trata-se de um jarro de barro

com a mesma abertura que é coloca-

do de encontro ao ventre da cobri-

deira e onde tradicionalmente eram

colocadas as brasas para manter a

“bacia” permanentemente aquecida.

Hoje recorre-se a uma mais cómoda

e regulável resistência eléctrica.

Com uma calda de açúcar em pon-

to de fi o (será este o segredo da con-

fecção), as mulheres vão lentamente

cobrindo as amêndoas que mexem

em permanência com as mãos em

movimentos regulares e sincopados,

de sentido ora ascendente ora des-

cendente.

Movimentos que se repetem du-

rante oito horas ao dia e no mínimo

de uma semana até que o revestimen-

to de açúcar da amêndoa adquira a

forma de “carapinha branca”, os

tradicionais bicos que dão o nome

à amêndoa bicuda branca.

Para não se queimarem, as cobri-

deiras usam quatro dedais de costura

em cada mão (excepto os polegares),

sendo que há quem diga ser este o

segredo da formação dos bicos de

açúcar das amêndoas. “É o nosso

diamante. Molda-se sozinho nas

mãos das cobrideiras”, simplifi ca

Dina Morais

Para além das bicudas, há também

as de chocolate, que levam um co-

bertura fi nal com calda de chocolate.

De confecção mais simples e rápida,

há ainda as de canela, que mantêm a

pele e vão ao tacho com uma calda

de açúcar e canela. J.A.M.

Alcobaça: mergulho com açúcar numa panela de cobreNa cozinha da pastelaria Alcôa, em

Alcobaça, especializada sobretudo

em doçaria conventual, dois pas-

teleiros estão agarrados a grandes

panelas de cobre das quais sai um

calor intenso. A primeira tem só água

e açúcar, que é preciso ir mexendo

para atingir o ponto certo da calda

de açúcar. Na segunda já se vêem as

amêndoas mergulhadas no açúcar, e

também aqui é preciso uma atenção

constante, e ir mexendo sempre para

as envolver. Numa terceira panela o

processo já vai mais adiantado, e o

açúcar começou a formar cristais,

envolvendo as amêndoas.

Já não é muito fácil encontrar

amêndoas fabricadas artesanalmen-

te, como acontece aqui. Numa das

lojas mais conhecidas pela imensa

variedade de amêndoas que vende

pela Páscoa, a Manuel Tavares, na

Baixa lisboeta, a montra está cheia

de amêndoas de diferentes formas

e feitios, mas lá dentro as etiquetas

nos recipientes indicam que quase

todas são importadas.

Apesar de ser um processo muito

trabalhoso, na Alcôa a proprietária

Paula Alves não abdica de, na altura

da Páscoa, fazer as amêndoas pelo

método artesanal: à mão e em tachos

de cobre, com muita força de braços

e muito trabalho ao lume. Têm onze

variedades. A que mais se vende é

a torrada, que é também a menos

doce. “Só tem 10% de açúcar, e

não tem corantes”, sublinha Paula.

Vende-se também muito bem a ca-

ramelizada.

Mas, para além destas, estendem-se

em tabuleiros na cozinha amêndoas

de várias cores e sabores: café, fram-

boesa, canela, citrinos, baunilhada,

cacau, chocolate branco, chocolate

com coco, chocolate negro, licor de

ginja. Tudo feito apenas com amên-

doa nacional, garante a proprietária.

“A minha preferida é a de Foz Côa”,

confessa, “mas também utilizamos

a amêndoa do Algarve.” O Douro e

o Algarve são as principais regiões

produtoras, sendo que é de Trás-os-

Montes (Terra Quente e Alto Douro)

que vem 86% da produção, e foi a

amêndoa do Douro que conquistou

a Denominação de Origem Protegida.

Regressamos uma vez mais ao

livro de Maria de Lourdes Modes-

to e Afonso Praça sobre as Festas a

Comeres do Povo Português, onde se

explica como se fazem as chamadas

amêndoas de sobremesa, também

conhecidas como enxovalhadas:

“Num tacho, de preferência de co-

bre, deitam-se as amêndoas, o açú-

car e a água e deixa-se repousar uns

15 minutos para amolecer o açúcar.

Depois, leva-se o tacho a lume muito

forte para levantar fervura rapida-

mente. Reduz-se imediatamente o

calor para o mínimo, agitando o ta-

cho de vez em quando até o açúcar

fazer ponto de areia, isto é, até que

solidifi que e se agarre às amêndoas e

às paredes do tacho. Nessa altura vol-

ta a intensifi car-se o calor e, mexendo

vigorosamente com uma colher de

pau forte, separam-se as amêndoas

tanto quanto possível, deixando-as

caramelizar muito ligeiramente. De-

pois de frias, separam-se.”

Estas amêndoas artesanais têm

formas toscas, incertas, em que

cada uma é diferente da outra. Isso

distingue-as claramente da amêndoa

industrial, que é a que mais se en-

contra à venda. As mais comuns são

as revestidas de açúcar duro e com

cores, geralmente o azul ou o rosa —

essas são as chamadas “amêndoas

francesas”. Na Alcôa — que vende

também no El Corte Inglés, em Lis-

boa (e estreou-se nesta Páscoa num

El Corte Inglés em Madrid) — o quilo

de amêndoa artesanal custa 29 eu-

ros. A.P.C.

Dos três tipos de amêndoa coberta de Moncorvo, a mais famosa e apreciada é a bicuda branca

MA

NU

EL R

OBE

RTO

19.º festival

5 a 7 abril

S. Gonçalo, Qta. do AnjoPALMELA

2013

Page 8: fugas

8 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

CapaGastronomia

Pão-de-ló

doçaria portuguesa, escreve no seu

site que se trata possivelmente de

uma receita acidental do século

XIX: “Consta que por erros de co-

zedura uma freira terá antecipado

a saída do forno, e daí ter fi cado

cremoso, o que faz as delícias dos

seus apreciadores.” A freira seria

do Convento de Cós, próximo de

Alcobaça, e a atrapalhação, reza a

lenda (que tanto atribui o “erro” à

freira como a senhoras da terra, que

teriam aprendido a receita com as

freiras), teria sido provocada por

uma visita do rei D. Carlos — o ner-

voso fez com que o bolo saísse do

forno antes do tempo, e isso acabou

por o tornar único.

Agora, Sílvia vigia para que o

tempo de cozedura seja o sufi ciente

para provocar o mesmo efeito. Mas,

aconselha Helena, o melhor é sem-

pre comer o Pão-de-Ló de Alfeize-

rão no dia seguinte, e não acabado

de sair do forno. E, de facto, quando

vemos os bolos a serem desenfor-

mados — e o processo tem que ser

feito com rapidez e precisão — não

reconhecemos o típico pão-de-ló. O

que sai das formas de cobre é um

bolo alto e fofo, que só depois de

ser colocado nas caixas abate e, a

pouco e pouco, começa a largar o

interior cremoso.

A Casa do Pão-de-Ló (do outro

lado da estrada encontra-se o Café

Ferreira-Fábrica do Pão-de-Ló, o

outro fabricante do bolo de acor-

do com a receita tradicional) recebe

visitantes para provar o pão-de-ló

e conhecer o método de fabrico às

quartas-feiras de manhã. E, segundo

Helena, já têm recebido até grupos

de japoneses, que vêm conhecer o

bolo que os portugueses levaram

até ao Japão no século XVII e que lá

fi cou conhecido como Castella.

O Pão-de-Ló de Alfeizerão pode

ser comprado em três tamanhos:

o mais pequeno tem meio quilo e

custa 7 euros; o médio, com 750 gra-

mas, custa 11,50 euros; e o grande

tem cerca de um quilo e custa 14

euros. A.P.C.

Na cozinha, Sílvia, a pasteleira, acompanha com atenção as reviravoltas da massa para ver o momento em que deve adicionar farinha ao açúcar e aos ovos

Alfeizerão: o mais delicioso dos errosChegamos a Alfeizerão um pouco

depois das 10h. O Largo do Pão-

de-Ló está mergulhado na pacatez,

com a Casa do Pão-de-Ló no sítio

de sempre, ao lado da bomba de

gasolina, o mesmo ar de casinha

de brincar, os tijolos vermelhos,

as cortinas brancas nas janelas,

os dois bonecos pretos de ma-

deira a receberem-nos à porta.

Helena Monteiro de Castro e o

marido, Luís, são hoje os proprie-

tários desta casa fundada em 1925

pelo padre João Matos Vieira e a

irmã, Adília. E continuam a fazer,

de forma artesanal e tradicional,

aquele que é um dos pães-de-ló

mais emblemáticos do país.

Na cozinha, Sílvia, a pasteleira,

acompanha com atenção as revira-

voltas da massa na batedeira eléc-

trica (que vem dos anos 1940, altu-

ra em que foi construído o actual

edifício e se introduziram algumas

inovações, como os fornos eléctri-

cos) para ver o momento em que

deve adicionar farinha ao açúcar e

aos ovos. O processo é muito rápi-

do. Assim que a massa está pronta,

despeja-a em tigelas altas de cobre

que vão ao forno.

A cozedura é feita em altas tem-

peraturas e, em menos de nada,

enquanto Helena nos conta a his-

tória da casa, já Sílvia está a abrir as

portas dos fornos, a tirar as tigelas

e, com gestos rápidos, a tocar na

crosta do bolo para avaliar se neces-

sita ou não de mais alguns minutos

de forno.

“O padre João tinha vindo do

Alentejo”, explica Helena. “Duran-

te anos foram ele e as duas sobri-

nhas, Ema e Elisa, a imagem desta

casa.” Ligada à casa esteve sempre

também a bomba de gasolina, en-

tão da Sacor, que era um ponto de

paragem para quem ia de Lisboa

ao Porto. Numa das salas da Casa

do Pão-de-Ló há na parede foto-

grafi as antigas do tempo em que

Ema e Elisa presidiam ao fabrico

do pão-de-ló.

Diz-se que a receita deste pão-de-

ló húmido terá sido resultado de um

acaso. Virgílio Gomes, estudioso da

Page 9: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 9

De Margaride ao bolinhol de VizelaHá muitos, mas o pão-de-ló de Mar-

garide é o que ganhou maior fama.

É assim chamado por ter sido nesta

freguesia de Felgueiras que Leonor

Rosa da Silva começou, no início do

século XVIII, a fabricar este bolo com

farinha, ovos, açúcar, cascas de limão

e sal. Foi tanta a fama e a procura

que, mais de um século depois, os

herdeiros veriam ser atribuída à casa

a distinção como Fornecedor da Casa

Real Portuguesa. A empresa continua

ainda hoje a fabricar pão-de-ló e as

instalações que mantém desde 1900

no centro da cidade são um autênti-

co museu vivo da pastelaria, mas a

receita difundiu-se por toda a região,

funcionando até como uma espécie

de emblema gastronómico no espaço

alargado do Entre-Douro-e-Minho.

Segundo a receita, o autêntico pão-

de-ló de Margaride tem que ser cozi-

do em forno de lenha e em formas de

barro não vidrado. Estas constam de

três tigelas, duas iguais e uma bastan-

te mais pequena, que é colocada in-

vertida no centro de uma das outras,

forrada com papel grosso em quadra-

dos sobrepostos. Nela se verte a mas-

sa, sendo as pontas do papel volta-

das para dentro, depois tapada com

a outra tigela de iguais dimensões.

Terá sido a partir da receita tradi-

cional que em Vizela, a escassa dis-

tância de Margaride, e pouco tempo

depois, uma outra mulher empre-

endedora concebeu uma espécie de

sucedâneo que se tornou igualmente

famoso e é hoje muito consumido

na Páscoa. Um pequeno bolo com

massa de pão-de-ló e coberto com

uma capa branca de açúcar que o

torna mais húmido e suculento, que

Joaquina Ferreira da Silva começou

a levar para feiras e mercados por

alturas de 1880 e rapidamente se tor-

nou famoso e procurado. Ia embru-

lhado em “linhol” (pano grosseiro

com fi os de linho) e daí a designação

de bolinhol por que é ainda hoje co-

nhecido, estando documentada a sua

participação na Exposição Industrial

do Concelho de Guimarães, que teve

lugar no ano de 1884.

O bolinhol de Vizela é produzido

actualmente em três pastelarias da

cidade, mas dá origem a uma curiosa

disputa pela originalidade da receita

protagonizada por bisnetas de Joaqui-

na Silva. No negócio, sucedeu-lhe a

fi lha Albina, que, em conjunto com o

marido, viria a fundar em 1921 a casa

Delícia. A marca Delícia Pão de Ló

Coberto de Vizela foi registada ainda

nesse ano, ao que se seguiu o registo

do formato rectangular do bolo, tal

como é actualmente fabricado.

A questão é que o negócio da fa-

mília não dava para toda a prole e

uma das fi lhas de Albina acabou por

emigrar para o Brasil, onde decidiu

aplicar a receita, ao que parece com

grande sucesso. Regressada a Vizela

nos anos 60 do século passado, abre

a casa Kibom, nome que homena-

geia os clientes brasileiros que sem-

pre exclamavam “qui bom!” sempre

que provavam o bolo. O negócio é

actualmente comandado por uma

das fi lhas (bisneta de Joaquina) que

reivindica para a mãe o respeito pela

originalidade da receita quando a le-

vou para o Brasil.

Da casa Delícia respondem serem

os detentores do registo da marca e

da forma rectangular do bolo, o que

obriga a que o produto da Kibom te-

nha os cantos arredondados. Estes

argumentam que as principais dife-

renças estão na textura da massa e

que é necessário recriar para melho-

rar o produto.

Para além da forma, quadrada ou

arredondada, dos cantos, a questão

parece dilui-se na mera semântica.

Ambos são bons e muitos procura-

dos, principalmente por estes dias

de celebração pascal. J.A.M.

Em Alfeizerão continua a fazer-se, de forma artesanal e tradicional, aquele que é um dos pães-de-ló mais emblemáticos do país; à direita, o pão-de-ló de Margaride, fabricado desde o século XVIII

RUI G

AU

DÊN

CIO

NEL

SON

GA

RRID

O

Feira de Viagens 2013

6 e 7 AbrilPav. 1 Fil - Lisboa

+ 84 lojas abertasNorte a Sul de Portugal

Açores e Madeira

Entrada Gratuita

desconto

Até

60%

DESDE

€ 198POR PESSOA EM DUPLO

SÃO MIGUEL

Partidas de Lisboa até 31 dez.’ 13Inclui: avião + 3 noites + Hotel 3 estrelas | APA + transfers + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€60) + Seguro Multiviagens

País convidado:

Page 10: fugas

10 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

ViagemFinlândia

Paixão em Helsínquia — por Cristo, bruxinhas e trollsChegada a Semana Santa, Helsínquia divide-se entre comemorações luteranas e pagãs. Muitas das famílias que acompanham a reencenação erudita da Via Crucis pelas ruas da cidade também mascaram as suas crianças e levam-nas a admirar enormes fogueiras que os fi nlandeses acendem há séculos para afugentar os maus espíritos. Marco C. Pereira (texto) e Marco C. Pereira e Sara Wong ( fotos)

Contempla-

mos o casario semicolorido de Por-

voo a partir da margem oposta do rio

Porvoonjoki. Estamos em Março, faz

um frio de rachar e a neve que cai de

quando em quando retoca o cenário

coberto de branco. Num ou outro fo-

gacho inesperado, o sol espreita en-

vergonhado entre as nuvens velozes.

Aquece os tons da povoação ribei-

rinha mas mal nos massaja as faces

avermelhadas. Tuula Lukic não se

queixa, muito pelo contrário: “O rio

descongela a olhos vistos. Não tarda

temos aí a Primavera”, afi ança-nos.

Comentários deste tipo são fre-

quentes na Finlândia, às vezes de-

baixo de muitos graus negativos.

Esforçamo-nos por ter em conta a

latitude mas, ainda assim, retemos

algum espanto. Tuula percebe-o e ri-

se com cortesia. “Bom... tenho um

grupo à espera junto à catedral. Se

não se importam, vou subindo. Já

nos voltamos a encontrar.”

Ficamos entregues à paisagem e

ao vento frígido com que os corvos

se debatem para pousarem em se-

gurança sobre o telhado em A do

templo. Pouco depois, cruzamos a

ponte estreita, subimos várias ruelas

e calçadas escorregadias e voltamos

a dar com a guia, ocupada com ex-

plicações históricas sobre a vila que

os grasnares infernais das aves, logo

ali por acima, atrapalham. Tuula

gesticula que esperemos e prosse-

gue. Aproveitamos para contornar

o edifício e acabamos por descobrir

um ensaio teatral da crucifi cação de

Cristo. Actores que fazem de Messias

e de ladrões sobem a um palanque

com as cruzes ao ombro e posicio-

nam-nas, lado a lado, sobre o chão.

Então, os que desempenham pa-

Page 11: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 11

As cenas da Paixão de Cristo são habituais em Helsínquia e percorrem vários locais da cidade

Page 12: fugas

12 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

péis de soldados romanos simulam

que os pregam às cruzes e suscitam

esgares e gritos de dor que uma en-

cenadora que beberica um grande

copo de café ajuíza e corrige. Alguns

dos brados desiludem-na. Justificam

prolongadas intervenções e exem-

plificações enérgicas que o dialecto

finlandês contribui para dramatizar.

A nós, faz-nos confusão, acima de

tudo, ver as personagens nos seus

trajes invernais do dia-a-dia: gorros,

casacos, calças e botas de neve vo-

lumosos em vez da mera coroa de

espinhos e do pano dobrado em que

Jesus terá sido vitimado.

a ensaiar isto agora. A Semana San-

ta faz-nos sempre sofrer um pouco.

Eu até sou sueco mas este ano vou

participar aqui em Porvoo. Já fiz de

Cristo antes, no Inverno e em tronco

nu. Posso-vos dizer que foi um sofri-

mento atroz. Este ano, vamos estar

de túnica mas descalços. Mesmo

assim, acaba por ser bastante dolo-

roso. Se ainda estiverem por Porvoo

logo à noite, venham assistir!”

Entretanto Tuula volta a entrar

em cena. “Vejo que estiveram en-

tretidos.” Gabamos a beleza da cate-

dral luterana (a primeira da Finlân-

dia) e Tuula conta-nos que tinha sido

Não há, no entanto, volta a dar-

lhe. Estão -7º e a representação é

exaustiva e demorada. Martelada

atrás de martelada, grito atrás de gri-

to, passa-se meia hora. Quando nos

parece que o suplício está a chegar

ao fim, é a vez de a personagem de

Maria se estrear. Os seus prantos e

lamentos aos pés do redentor inspi-

ram novos reparos na directora.

O actor de Jesus livra-se finalmen-

te da mãe a fingir e da tarefa. Curioso

face ao prolongado interesse destes

únicos espectadores, decide averi-

guar: “Vêm de Portugal? A sério?

Bom, não me importava de lá estar

recentemente recuperada da sua

própria tragédia humana. “Foi uma

desgraça! Em 2006, um jovem em-

briagado resolveu brincar com fogo

no interior, sem saber que estavam

a fazer reparações com alcatrão.

Causou um incêndio que destruiu

o telhado e não só. As autoridades

não estiveram para misericórdias.

Até lhe encurtaram a pena mas foi

condenado a pagar 4,3 milhões de

euros, coitado.”

Via Crucis erudita Deixamos Porvoo ainda a meio da

tarde, em direcção a Helsínquia.

No dia seguinte, a capital amanhe-

ce cinzenta e nevosa. Exploramo-la

horas a fio sob uma meteorologia

inclemente até que, mais próximo

do anoitecer, as nuvens debandam

e se instala uma bonança recompen-

sadora.

Instalamo-nos numa saliência

estrutural sobre o Mar Báltico, ao

lado da doca de ferries internacio-

nais. Dali, observamos o longo pôr

do sol boreal e a iluminação artificial

a destacar a catedral de Helsínquia

sobre o casario histórico submisso.

Assim que o céu enegrece, cami-

nhamos para o interior da cidade à

ViagemFinlândia

Page 13: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 13

procura da estação inicial da sua 17.ª

representação da Via Crucis, prestes

a ser levada a cabo pela Congrega-

ção Catedral de Helsínquia e pela

Ristin Tien Tuki ry, uma associação

ecuménica encarregada de assegu-

rar o evento.

Encontramo-lo numa encosta

limítrofe do Parque Kaisaniemen

despida de folhagem, coberta de

uma boa altura de neve e invadi-

da por um público agasalhado e

entusiasta. A multidão disputa os

melhores lugares para acompanhar

as provações de Cristo entre um

extenso elenco de cidadãos de

Assistir ao pôr do sol boreal é um espectá-culo a não per-der. Fazêmo-lo antes de nos embrenhar-mos na cida-de, em busca das estações da Via Crucis

Page 14: fugas

14 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

uma Jerusalém fi no-romana hostil

às suas crenças e pregações, e mais

frígida que nunca. Jesus é detido

por um pequeno esquadrão de

centuriões e conduzido à presença

de Pôncio Pilatos, seguido por um

cortejo de fi gurantes históricos que

avança pelas avenidas Unionkatu e

Yrjö-Koskisen katu à luz de velas.

A representação continua, elegan-

te e grandiosa, no cimo da escadaria

da Säätytalo (A Casa dos Estados),

adaptada a palácio do governador

romano, onde o povo judeu acaba

chos de cânticos líricos combinados

com violinos e outros instrumentos,

Cristo e os ladrões encontram o Cal-

vário em frente à fachada altiva do

templo. Após a morte, o Redentor

desce da cruz pelo seu próprio pé,

a escadaria entra na penumbra e é

subida por dezenas de actores e fi -

gurantes que seguram velas e tochas

num derradeiro momento multis-

sensorial de espectáculo religioso. O

público parece agradado mas, à boa

maneira fi nlandesa, não recompensa

os participantes e encenadores por

por optar pela libertação do prisio-

neiro insurgente Barrabás, conde-

nando, assim, Cristo à crucifi cação.

A procissão de actores, fi gurantes

e o público muda-se, então, para as

imediações da catedral, onde mui-

tos mais espectadores aguardam a

acção. Ali, Cristo vence uma nova es-

cadaria, desta vez com a sua pesada

cruz ao ombro, numa subida penosa

que um foco redondo acompanha e

evidencia.

Entre as falas e os gritos dramá-

ticos das personagens bíblicas, tre-

aí além. Retira-se para os seus domi-

cílios ou para os inúmeros refúgios

profanos e nocturnos de Helsínquia.

Em termos de calendário, entre-

tanto, a Semana Santa deu lugar à

Páscoa. Estava na hora de descobrir-

mos o lado pagão da época.

As fogueiras de SeurasaariNa Finlândia, a Sexta-Feira Santa

e a segunda a seguir à Páscoa até

são feriados públicos mas a última

é considerada uma festa secular. A

maior parte dos fi nlandeses cristãos

ViagemFinlândia

No dia seguinte é domingo. Algumas famílias fi nlandesas cristãs reúnem-se à mesa para um jantar de Páscoa

Tyra (em baixo) é uma das muitas crianças finlandesas que participam, na segunda-feira a seguir à Páscoa, nas actividades organizadas pela fundação Seurasaari

Page 15: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 15

são membros da igreja luterana, a

igreja nacional. Só 1% se identifi ca

com a ortodoxa e, como em quase

todos os países europeus, os fi nlan-

deses preservam outras crenças e

costumes ancestrais.

Desde 1982 que a fundação Seura-

saari acende enormes fogueiras na

ilha homónima e convoca a popula-

ção de Helsínquia para a sua come-

moração vernacular. Metemo-nos no

autocarro 24, afastamo-nos do cen-

tro da cidade ao longo de um litoral

enregelado e marcamos presença.

adereço do seu disfarce e brincamos

com ela. Acabamos a falar com o avô

da criança: “Nós vimos cá todos os

anos. Ela adora estar com outros

miúdos mascarados e delira com

as fogueiras. A verdade é que todos

gostamos de nos aquecer ao pé de

um bom fogo e isso, aqui, tem ainda

mais signifi cado. Sabem que, antes,

as pessoas acreditavam nestas coi-

sas: que os maus espíritos, as bruxas

e os trullis voavam mesmo sobre as

quintas e os campos, agrediam o

gado e faziam com que as vacas e

as ovelhas deixassem de dar leite.”

A tarda avança, o frio aumenta de

hora para hora e azula a paisagem.

Forma-se uma fi la ordeira de clien-

tes em frente a um bar improvisado

numa cabana pitoresca e que ven-

de bolos, café, chá e outras bebidas

revigorantes. Logo ao lado, há um

posto de churrasco comunitário. Re-

únem-se, em redor, almas esfomea-

das munidas de salsichas que espe-

tam em galhos desfolhados e assam

com grande paciência e dedicação.

Enquanto isso, as fogueiras a sério

atingem o auge. Numa bancada por

trás, tem lugar um recital de poesia

e cantigas em que participam várias

crianças e também Marita Nordman,

uma anciã de 80 anos que veste

trajes típicos e carrega uma cesta

com tricotados, bordados e outros

adereços de uma época bem menos

tecnológica da Finlândia.

Findo o festival dos pequenos

cantores, os lumes imponentes co-

meçam a extinguir-se e o mesmo

acontece à visão do sol naquela co-

ordenada terrestre.

O céu acima de Seurasaari tinge-se

de rosa e laranja e indicia um ocaso

ainda mais garrido. Abandonamos a

clareira do evento e metemo-nos por

trilhos que esperamos nos levem à

orla da fl oresta, seguidos por grupos

de adolescentes fi nlandeses com o

mesmo plano. Contornamos as últi-

mas linhas de coníferas e a ausência

de vegetação desvenda a luz termi-

nal do grande astro a espraiar-se a

partir do outro lado de uma enseada

congelada do Mar Báltico.

No dia seguinte é domingo. Al-

gumas famílias fi nlandesas cristãs

reúnem-se à mesa para um jantar

de Páscoa. Em vez de salsichas, irão

partilhar cordeiro e, por infl uência

da tradição religiosa ortodoxa, vá-

rias outras especialidades gastronó-

micas do Leste.

Várias famílias percorrem o mes-

mo caminho sombrio que se interna

pela ilha. Tomam conta de crianças

endiabradas que vão mascaradas e

pintadas de pequenas bruxas ou

espíritos (trullis em fi nlandês) e se

reúnem entre as árvores, moinhos e

celeiros seculares e sobre um grande

monte de neve a ver o fogo reforçar-

se e aumentar, segundo a tradição

para os afastar.

Achamos piada à chaleira verme-

lha e ao raminho de galhos silvestres

que Tyra carrega com cuidado como

Guia prático

RÚSSIA

NORUEGA

SUÉCIA

FINLÂNDIA

PorvooHelsínquia

COMO IR

Mais viagens emfugas.publico.pt/

A TAP (flytap.com) é a única companhia aérea a voar directamente de Lisboa para Helsínquia. Tem cinco voos directos/semanais para a capital finlandesa, de 6 de Junho a Setembro. Mais informações ou reservas através do telefone 707 205 700.

QUANDO IR

No início da Semana Santa, se quiser acompanhar as comemorações luteranas e pagãs realizadas na capital finlandesa. A meteorologia ainda se mantém algo agreste para quem chega do Sul da Europa, com as temperaturas a rondar os 0 graus, queda de neve frequente e forte possibilidade de tempo nublado. Este tipo de clima contribui, no entanto, para reforçar o exotismo e o encanto nórdico de Helsínquia.

ONDE DORMIR

Palace HotelUm dos poucos hotéis mais requintados de Helsínquia que oferece vista marítima. Os quartos com vista para o Mar Báltico custam um pouco mais mas permitem-lhe acompanhar, em grande conforto, as manobras dos ferries de entrada e saída no porto. Quarto duplo a partir de 240€ por noite.www.palace.fi

ONDE COMER

Ravintola GeorgeRestaurante com uma estrela Michelin que serve um marisco fabuloso num local tranquilo de Helsínquia. Pratos entre os 27 e os 40 euros. Kalevankatu 17Tel.: 010-270 17 02

DINHEIRO E LOGÍSTICA

A Finlândia usa o euro. Existem inúmeras máquinas ATM em Helsínquia e Porvoo mas não em Seurasaari. Quase todos os estabelecimentos da capital finlandesa têm terminais para pagamentos com cartões. A Finlândia é um país relativamente dispendioso. Não tanto como as vizinhas Noruega e Suécia mas, ainda assim, caro.

Page 16: fugas

16 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

Perfi l

Tem dez anos de carreira literária, muitos mais de palavras ditas, lidas, escritas. São a obsessão desta portuense que leva o Porto no que é, no que escreve. “O Porto será sempre a minha cidade, como o Douro será sempre o meu rio — conforta-me a proximidade da outra margem.” Périplo entre uma cidade líquida e uma cidade das palavras. Andreia Marques Pereira (texto) e Fernando Veludo/NFactos ( fotos)

Filipa Leal e o Porto

Se estamos diante

do Atlântico não é um acaso.

“Vir ao Porto é ver imediatamente

o mar.”

“O mar faz-me muita falta”, e não

é, sublinha Filipa Leal, uma “neces-

sidade poética”, antes a “necessida-

de física de quem nasce e vive junto

dele.” E ela nasceu, cresceu, viveu

no Porto — agora, gosta de imaginar

que está com um pé aqui e outro

em Lisboa. Em Londres, continua,

sentia muito a sua falta, em Lisboa,

nos primeiros tempos, quando vivia

e trabalhava na Baixa, ia ao Cais das

Colunas só para ver o rio — como se

fosse o mar. Assim, com o mar como

pano de fundo, Filipa Leal, jornalista

e poetisa a cumprir dez anos de car-

reira literária, desenha o seu “triân-

gulo amoroso” geográfi co, no qual o

Porto ocupa o epicentro em tor-

Page 17: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 17

Page 18: fugas

18 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

Perfi l

no do qual gravitam as duas capitais,

uma onde viveu, a inglesa, outra

onde vive, a portuguesa. Uma rela-

ção resolvida (e, isto, sim, é poesia):

“O Porto é o meu marido, Londres

a ex-mulher, Lisboa a amante.”

E se estamos na Praia dos Ingleses

também não é por acaso, já vimos.

Filipa gosta do simbolismo, como

se Londres, onde estudou jornalis-

mo, vivesse um pouco neste canto

da Foz portuense. Além do mais, é

presença regular neste pedaço “in-

glês”, sobretudo desde que o seu

outro triângulo, desta vez inteira-

mente portuense, se fechou quando

a família se mudou para esta zona

do Porto-a-ver-o-mar. Nesta tarde de

Inverno invulgarmente ensolarada,

as palavras de José Gomes Ferreira

que Filipa conjura parecem desa-

justadas: “Porto – cidade de luz de

granito”, mas o contexto é outro;

agora, o Porto manifesta-se solar

diante da vastidão do mar.

“Há dias em que me constrange

[o mar]. A vastidão também me per-

turba. Procuro e rejeito.”

Quando rejeita, há mais “cidade lí-

quida” (título de um dos seus livros)

como refúgio-alternativa de Filipa

Leal. Não passámos, fi sicamente,

pelo rio neste périplo pela cidade

— fi camo-nos mais pela geografi a das

palavras, o que não surpreende: “É

na linguagem que se instala a minha

geografi a e às vezes é muito cansa-

tivo” —, mas é este o outro rosto

líquido desta sua cidade. “O rio de

onde se pode ver a outra margem.”

Há um conforto inerente em poder

vê-la, confessa.

“O Douro, no Porto, tem tamanho

de rio. Estranhei o Tejo, tem tama-

nho de oceano.”

Nos “grandes passeios pelas margi-

nais” portuenses, Filipa está consigo.

A pessoa que é, que foi, quem sabe,

que será. O seu Porto sempre passou

por estas margens, desde o tempo

de juventude, quando se iniciou nas

saídas com amigos.

“A maior parte da adolescência

passei-a nestas praias, as minhas

primas viviam aqui.”

Não esquece os jantares na Praia

do Molhe (“está igual”), as primei-

ras sangrias e cervejas entre esta e a

Praia do Homem do Leme.

“Mais tarde, tive a fase da Ribeira,

todos iam para lá.” E “há imagens

que não passam”, como as tardes

entre fi nos e tremoços na “praça do

cubo”. Ou outras mais específi cas,

como a jukebox numa das esplanadas

defronte do rio naquele fi m de tarde

“extraordinário”, de “música inima-

ginável”; ou, mais recentemente, o

almoço dos 30 anos com a família,

seguido da surpresa das amigas que a

levaram, pela primeira vez, a passear

no Douro de barco rabelo.

Se a “cidade líquida” de Filipa

Leal se começou a revelar na adoles-

cência, a sua “cidade das palavras”

revelou-se um pouco mais tarde e,

desde então, passou a mover-se entre

ambas. As suas origens, porém, vêm

de trás, da sua infância, com a mãe

a recitar, a ela e aos irmãos, poesia,

“sonetos de Camões, Pessoa...”. “Foi

ela que criou o hábito de eu ouvir po-

esia, comecei a ouvir poesia antes de

a ler.” Se calhar nem a mãe esperava

o efeito que essas leituras tiveram:

aos 11 anos chegou a casa para anun-

ciar à mãe que queria ser escritora.

“A minha mãe, muito sabiamente,

disse que achava lindamente”, recor-

da, “mas que em Portugal era difícil

ser só escritora, tinha que ter outra

profi ssão.” “Há 23 anos, os poetas

já estavam em crise”, brinca. Pouco

depois tinha encontrado a “profi s-

são”.

“O jornalismo foi a escolha que fi z

como alternativa possível à literatu-

ra. Se não podia ser escritora, como

jornalista podia, pelo menos, escre-

ver todos os dias.” A poesia=escolha

intuitiva; o jornalismo=escolha ce-

rebral.

A “cidade das palavras” de Filipa

Leal começou a desenhar-se há mais

ou menos 15 anos entre o Pinguim e o

Púcaros, dois bares portuenses onde

a poesia corria solta e que se torna-

ram os seus “sagrados pontos de fuga

permanentes”. Às segundas-feiras

era na cave do Pinguim que saciava

a sua fome de palavras ditas (ainda

hoje se pode fazer); às quartas-feiras,

no Púcaros. Numa primeira fase, li-

mitava-se a ouvir; depois começou

a dizer.

“Durante muitos anos só dizia em

público poesia dos outros. Passava

parte da semana a escolher o que ia

dizer.”

Actores frustradosPassava também no café Luso,

“quando era sítio de beatas no

chão e muito sujo”: “um sítio es-

Page 19: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 19

pecial” onde conheceu o poeta

Ulisses, que vendia poemas avul-

so. “Foi a primeira pessoa que vi

fazê-lo. Cheguei a comprar-lhe um

poema.” Nessa altura, considera,

o Porto tinha grande investimento

na poesia. E foi nessa altura que se

lhe abriram as portas das “Quintas

de Leitura” do Teatro Campo Ale-

gre, hoje uma instituição da cidade,

quando conheceu Pedro Lamares,

no Pinguim.

Foi para as “Quintas” e para a

Caixa Geral de Despojos, uma tru-

pe poética para a qual a palavra é

uma ponte para outras formas de

expressão artística. Inclusive para o

teatro, com o qual Filipa também se

envolveu: esteve um ano no centro

de formação do Balleteatro e, antes,

no liceu Garcia de Orta, o 12.º ano

fez-se com uma ofi cina de teatro

às sextas à tarde — já em Londres,

tentou o mesmo mas entendeu que

o seu inglês não estava à altura de

dizer Shakespeare. Foi uma “deci-

são tardia”, esta do teatro, mas o

fascínio sempre esteve lá.

“Acho que o escritor é um actor

frustrado. No fundo gostava de en-

trar em cena; no fundo é isso que

faz quando se senta a escrever.”

Ao mesmo tempo, da parte de

Filipa “havia uma vontade de ul-

trapassar limites” e ela achava que

“em palco a palavra se tornava em

algo mais palpável”. Nas “Quintas

de Leitura”, encontrou uma casa

feliz: “estar em palco a dizer poesia,

a unir os dois lados”.

“A palavra é a minha grande ob-

sessão: dita, lida, escrita.”

O Campo Alegre é, aliás, a zona

do Porto onde as suas raízes emo-

cionais chegam mais fundo: antes

de realizar o sonho nas “Quintas de

Leitura”, houve o Colégio de Nossa

Senhora de Lourdes, que havia sido

a casa dos seus bisavós. “Brinquei,

nos meus primeiros anos de escola,

no jardim onde o meu pai e os meus

tios o haviam feito.” E, coincidên-

cia, os avós maternos viviam nessa

rua, eram eles que a iam buscar.

Também viveu aqui e, mais tarde,

na Faculdade de Letras, fez o mes-

trado em Literatura Portuguesa e

Brasileira.

“Acho que é um Campo Alegre

mesmo.”

Porém, o seu Porto é novamen-

te um triângulo, que tem os ou-

tros vértices na Foz, já vimos, e

na Baixa, onde nasceu e viveu os

primeiros anos. E onde por estes

dias descobre uma nova geografi a

de “lazer”. Já era por aqui, contu-

do, que percorria alguns caminhos

das palavras, com paragens obri-

gatórias na Livraria Leitura, onde

encontrou mais o que procurava,

sobretudo quando “descobriu” a

literatura brasileira, e, mais tarde,

na Poetria, feita de teatro e poe-

sia. Agora tem um outro caminho

de palavras, desta vez suas, neste

Porto: a Casa do Conto inscreveu-

as no tecto de uma das suas suites,

que leva o seu nome. “Não era bem

voar/era pelo menos/poder fi car/

suspenso/num ponto alto.”

A poesia de Filipa Leal inscrita

no Porto que ela sente como po-

esia, “no sentido da síntese, da

contenção, da refl exão”. A com-

paração com Lisboa, onde vive há

quatro anos, é inevitável: “Lisboa

é prosa, é torrencial, é uma cida-

de de parágrafos mais longos.” O

Porto permite-lhe, dá-lhe solidão;

é introspectivo, de maior silêncio.

Filipa tem uma relação de grande

proximidade com ele e, por isso,

também se sente mais perto de si,

mesmo que para tal tenha de atra-

vessar “a zona de nevoeiro” que

a cidade pode parecer ter até se

conseguir iluminar e ao que aqui

está.

“Dá mais espaço ao confronto.”

“Porque não tenho o trabalho de

o descobrir posso descobrir-me.”

Na sua obra (seis livros, cinco de

poesia) não há muitas referências

directas ao Porto. Uma das raras

excepções está n’ O Problema de Ser

Norte. Uma página, um verso: “Por-

to. 20h. Ninguém canta.” Mas como

Filipa Leal não se importava de ter

sido detective, vai deixando pistas,

nem sempre geográfi cas, nos seus

livros. “Muitas vezes são recados

a mim mesma.” No mesmo livro,

por exemplo, fala de um café que

Al Berto chegou a frequentar, na

Batalha — não por acaso, o poema

chama-se O Medo; não por acaso,

termina com a palavra granito.

“Como o Porto, também eu te-

nho um lado enevoado, silencioso,

contido, franco. Tenho muita difi -

culdade em disfarçar o que sinto.

Tenho o coração à mostra. É quase

tudo verdade.”

Ao desvendar o Porto, a cidade

incitou-a a procurar os seus poetas,

os que aqui nasceram, os que aqui

escolheram viver.

“Sophia, Eugénio de Andrade,

Jorge de Sousa Braga, Ana Luísa

Amaral, Manuel António Pina, Da-

niel Maia-Pinto Rodrigues, Rosa

Alice Branco, José Miguel Silva, e

tantos outros...”

“O Porto é uma cidade muito

bem frequentada.” (risos)

Ainda que trate mal quem a quer

bem. Filipa Leal viu-se obrigada a ir

para Lisboa quando o jornal onde

trabalhava despediu a redacção e

nenhuma outra porta se abriu no

Porto. Diz que a grande tragédia do

Porto é essa mesma, não dar traba-

lho; se não, podia ser uma cidade

quase perfeita.

“Tem mar, tem rio.”

Voltamos ao estado líquido. Nos

próximos dias, Filipa Leal estará ro-

deada de água por todos os lados

— vai passar pelo Funchal, como

convidada do Festival Literário da

Madeira (de 1 a 6 de Abril). Se a vas-

tidão do mar a constranger, sabe

que tem um lugar-refúgio.

“A cidade onde nasci e vivi a

maior parte destes 34 anos está

sempre em mim — no que sou, no

que escrevo. O Porto será sempre a

minha cidade, como o Douro será

sempre o meu rio — conforta-me

a proximidade da outra margem.”

Se a “cidade líquida” de Filipa Leal se começou a revelar na adolescência, a sua “cidade das palavras” revelou-se um pouco mais tarde e, desde então, passou a mover-se entre ambas

Page 20: fugas

20 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

DormirDuecitânia Design Hotel

Estes romanos não estão nada loucos

É um hotel temático que nasceu nas margens do rio Dueça, em Penela, para homenagear a antiguidade clássica. Foi o sonho de uma família que quer agora atrair outras famílias e levá-las a saber mais sobre a infl uência da civilização romana na região. Veni, vidi, vivi. Sandra Silva Costa (texto) e Nelson Garrido (textos)

Ninguém diria ao

que vamos. Chegamos debaixo de

chuva forte e de um céu de chumbo

que pinta um quadro austero. O rio

Dueça, aqui mesmo em frente, corre

cheio e barrento, e meia dúzia de

cabras empoleiram-se na encosta

do outro lado da rua, indiferentes

à quase intempérie.

Corremos sobre o deck de madei-

ra sem prestar a atenção devida ao

enquadramento e, agora sim, perce-

bemos ao que viemos. Empurramos

uma porta de vidro e damos de caras

com isto: “Veni, vidi, vivi.” Estamos

conversados: viemos para ver e vi-

ver. Tens a certeza que os romanos

estavam loucos, Astérix?

Acabámos de entrar no mundo

encantado do Duecitânia Design Ho-

tel, um quatro estrelas inaugurado

em Dezembro de 2012 em Penela,

mas não é de banda desenhada que

vamos falar. Tudo neste hotel fami-

liar (em duplo sentido: foi o sonho

de uma família e pisca claramente

o olho às famílias) foi pensado ao

pormenor para homenagear a civi-

lização romana.

Patrícia Maduro, a fi lha dos pro-

prietários, recebe-nos com um sor-

riso no lobby, onde temos já uma

amostra do que há-de vir. Num

grande painel em tons de dourado,

a contrastar com o preto de algu-

mas paredes, o nome e o logótipo

remetem-nos logo para o conceito de

hotel temático que a família Maduro

aqui procurou recriar. “Duecitânia

seria como os romanos chamariam

às terras do rio Dueça. Para símbolo

do nosso hotel, escolhemos Pégaso,

o cavalo alado, exemplo da imagina-

ção criadora”, sintetiza Patrícia.

É ela quem, durante uma visita

guiada pelos quatro pisos do hotel,

nos explica os contornos da sua his-

tória. O edifício onde estamos foi

uma antiga fábrica de papel, que a

família comprou em hasta pública

à Câmara Municipal de Penela. O

projecto de reconversão em unidade

hoteleira durou três anos, durante os

quais os Maduro foram aprumando

o objectivo de nela homenagearem

a antiguidade clássica. “Sendo esta

uma zona de forte presença dos

romanos, e sendo o meu pai um

apaixonado pela cultura clássica,

achámos que fazia todo o sentido”,

recorda Patrícia, sublinhando que

a família não queria fazer apenas

“mais um hotel”.

Encontrado o conceito, houve que

materializá-lo. Nos três pisos supe-

riores (no rés-do-chão encontra-se

o restaurante Gustatio, a piscina

interior aquecida e as salas do spa)

instalam-se quartos de três tipolo-

gias (duplos superior, duplos deluxe

e suites deluxe) e em cada andar é

abordado um período específi co do

Império Romano: a fundação, a con-

solidação e o declínio. Voz a Patrícia

Maduro: “Estes períodos do império

refl ectem-se também no jogo de co-

res que escolhemos para cada um

dos andares.” Assim, se no primeiro

piso a decoração é em tons de borde-

aux, passa a cinzento no segundo e

torna-se verde no terceiro. Denomi-

nador comum a todos os andares é

a linguagem fi gurativa do chão e das

paredes, com representações histó-

ricas e mitológicas correspondentes

a cada um dos períodos do império.

Detalhe importante: o número de

cada um dos XLII quartos está es-

crito em numeração romana, claro

(embora também haja a “tradução”

para o sistema decimal).

Calhou-nos em sorte o quarto CC-

CIII. Abrimos a porta e estamos, de

facto, em território verde. É ele que

impera na parede que temos à nos-

sa esquerda (e onde encontramos a

Page 21: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 21

frase “Cito Maturum, cito petridum”,

que é como quem diz, “O que cedo

amadurece, cedo apodrece”; Patrícia

já nos explicou que em cada quarto

há um “provérbio romano”), na al-

catifa, nas mantas e almofadas que

jazem nas camas, no painel da gene-

rosa casa de banho — de onde se tem,

aliás, uma óptima vista. (Nesta mes-

ma casa de banho, saúda-se o seca-

dor de cabelo “a sério” e a qualidade

dos atoalhados, mas lamenta-se que

os produtos de higiene sejam reduzi-

dos a um mínimo demasiado básico.)

De volta ao quarto, o que domina

são mesmo as janelas, duas, que se

levantam quase até ao tecto — e, es-

tando nós no último andar do hotel,

o pé direito é bem pronunciado. O

resultado é o que se sabe: muita luz

natural, que se agradece, ainda mais

num dia como este. Corremos os es-

tores e o que vemos lá fora é gratifi -

cante: um ambiente bucólico, fruto

da chuva, sim, e do rio que corre tur-

vo, mas também das oliveiras que se

espalham pelos 13 hectares da quinta

onde está instalado o Duecitânia. É

fácil imaginarmo-nos aqui num dia

de Primavera, com céu azul, água

límpida e pastos verdes em redor.

Não é o que temos agora, por isso

voltamo-nos para dentro e concluí-

mos a inspecção ao quarto. Duas ca-

mas, área de trabalho junto a uma

das janelas, TV de ecrã plano, um

cadeirão de acrílico — uma decora-

ção “leve e contemporânea”, como

já tínhamos lido no site do hotel. O

roupeiro é aberto, o que signifi ca que

se trata apenas de um varão na pare-

de, e preferíamos que não estivesse

localizado imediatamente por cima

do minibar, mas, no nosso caso, o

contratempo não é de monta.

Antes que anoiteça, ainda para-

mos no bar, o Tabernae. Apesar

do mau tempo, há um casal que

aproveita uma trégua e se aventura

na esplanada com vista para o jar-

dim que, apostamos, será uma das

grandes mais-valias em dias de calor.

Não hão-de fi car muito tempo, que

a chuva voltará a fazer das suas em

breve.

Lá fora já é o dilúvio. Estamos ago-

ra no restaurante, com vinho tinto

no copo e, para inícios de conversa,

um crepe de cogumelos e farinheira

no prato. Defi nitivamente, estes ro-

manos estão tudo menos loucos.

A Fugas esteve alojada a convite do

Duecitânia Design Hotel

Guia prático

COMO IR

Do Porto e de Lisboa, seguir pela A1 e sair em direcção a Condeixa. Tomar depois a A13 e sair em direcção a Penela. O hotel, e as indicações para ele, aparecem logo a seguir.

ONDE COMER

O restaurante do Duecitânia, o Gustatio, será sempre uma opção, até porque, para hotel, tem preços simpáticos. Quem quiser pode inclusive experimentar o menu romano preparado pelo chef Helder Caetano. Em Penela, costumam aconselhar o D. Sesnando, mas esse a Fugas não testou. Experimentou, sim, o Varanda do Casal, na aldeia de xisto de Casal de São Simão, a uns 20 minutos de Penela, e recomenda.

O QUE FAZER

Em Penela, obrigatória a visita ao castelo, declarado monumento nacional já em 1910 e de onde se tem uma vista privilegiadíssima sobre as serranias da zona. De resto, os vestígios romanos no concelho são uma das mais-valias de Penela e é proibido abandonar a região sem uma visita ao Rabaçal. Primeiro ao museu, na freguesia homónima, onde se tem uma visão geral da implantação e legado dos romanos, através da exposição Villa Romana do Rabaçal: era uma vez… Feitas as apresentações no espaço museológico, parte-se para a estação arqueológica (a Villa Romana propriamente dita, datada do século IV d.C.), que inclui a residência senhorial, o balneário, a área rústica e os sistemas elevatórios de

água. O circuito completa-se com a subida à Chanca, com belveder sobre o povoamento e a paisagem. Ainda no capítulo romanos, diga-se que o Rabaçal fica a 12 quilómetros de Conímbriga.

Visitar as aldeias do xisto é também um programa mais do que recomendável. No concelho de Penela há uma, Ferraria de São João, mas, sinceridade acima de tudo, Casal de São Simão, no município de Figueiró dos Vinhos, tem outro encanto.

O QUE COMPRAR

Haverá certamente outras coisas, mas não pode sair de Penela sem levar na bagagem pelo menos um queijo Rabaçal. Vendem-se em vários locais da freguesia.

INFORMAÇÕES

Duecitânia Design HotelPonte do Espinhal3230-292 PenelaTel.: 239 700 740; 939 499 559. Fax: 239 700 741Email: [email protected]ços: Diferem consoante o alojamento seja de domingo a quinta-feira ou nas noites de sexta e sábado. Assim, em jeito de promoção de abertura, os quartos duplos superior custam ou 68 ou 88€; os duplos deluxe 88 ou 108€; e as suites deluxe 148 ou 165€.

Ao lado, o bar Tabernae, cuja esplanada se arrisca a ser um sucesso em dias de sol; em baixo, à esquerda, o edifício principal do hotel, onde já funcionou uma fábrica de papel, e, à direita, uma das suites do Duecitânia

Page 22: fugas

22 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

GastronomiaReceitas

MERENGUE COM MORANGOS

Ingredientes5 claras (200 g de claras)200g de açúcarSumo de 1/2 limão200g de açúcar em pó4 dl de natas500 g de morangosAçúcar em pó q.b.

Ingredientes5 claras (200 g de claras)200 g de açúcar150 g de açúcar em pó50 g de amêndoa em póAmêndoa laminada q.b.Caramelo q.b.

a Deite o preparado num saco

pasteleiro com um bico canelado

e num tabuleiro de forno

forrado com papel vegetal forme

suspiros. Polvilhe com a amêndoa

laminada.

a Leve ao forno pré aquecido

a 110ºC durante cerca de 1h30.

Retire e deixe arrefecer. Regue

com um fi o de caramelo fraco

e sirva.

MERENGUE DE AMÊNDOA

A Páscoa combina bem com merengues

Preparaçãoa Bata as claras em castelo com

as 200 g de açúcar. Quando

estiverem formadas adicione,

envolvendo cuidadosamente, a

amêndoa misturada com o açúcar

em pó.

Preparaçãoa Bata as claras em castelo

com os 200g de açúcar. Quando

estiverem formadas adicione

o sumo de limão e de seguida

peneire o açúcar em pó e

envolva-o cuidadosamente.

a Deite o preparado num saco

pasteleiro com um bico canelado

e num tabuleiro de forno forrado

com papel vegetal forme cestos

redondos afastados entre si.

a Leve ao forno pré-aquecido

a 110ºC durante cerca de 1h30.

Retire e deixe arrefecer.

a Bata as natas e recheie os

cestos. Disponha morangos

por cima, cortados ou inteiros,

dependendo do seu tamanho e

polvilhe com açúcar em pó.

Nota: Como a receita base do

merengue já tem bastante açúcar,

recomendamos bater as natas sem

açúcar.

Page 23: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 23

MERENGUE COM MIRTILHOS

Ingredientes5 claras (200 g de claras)200g de açúcar200g de açúcar em pó500g de mirtilhos1 vagem de baunilha25g de açúcar1 1/2 dl de água

Hugo [email protected]ção e fotografi a:

Preparaçãoa Bata as claras em castelo

com os 200g de açúcar. Quando

estiverem formadas peneire

o açúcar em pó e envolva-o

cuidadosamente.

a Deite o preparado num saco

pasteleiro com um bico canelado

e num tabuleiro de forno forrado

com papel vegetal forme línguas.

a Leve ao forno pré-aquecido

a 110ºC durante cerca de 1h30.

Retire e deixe arrefecer.

a Ferva a água com o açúcar e a

vagem de baunilha previamente

aberta no seu comprimento

durante cerca de oito minutos.

Junte os mirtilhos, ferva por mais

três minutos, escorra e reduza a

calda um pouco mais.

a Sirva os merengues juntamente

com os mirtilhos e a calda.

Page 24: fugas

24 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

RestauranteTaberna 1300

Uma taberna que arrisca e onde bem se petiscaA febre de chamar “taberna”, “tasca” ou “tasquinha” a restaurantes com pretensões ou apenas pretensiosos parece ter pegado de estaca. Na Taberna 1300 o nome é curto para um local onde se cozinha a sério. Fortunato da Câmara (texto) e Rui Gaudêncio ( fotos)

Depois do surto

“gourmet” ter surgido em cada es-

quina, instalou-se a onda do suposto

castiço e informal, mas onde o preço

é quem mais ordena e por isso, no

fi m de contas, o nome é só retórica.

O importante é saber-se ao que se

vai, pois neste jogo de designações

também há exemplos em que o no-

me não faz a devida justiça ao que

por lá se encontra.

É o caso desta Taberna 1300. A

mesma equipa já tinha aberto em

2007, em Oeiras, sob a égide do có-

digo postal local a sua primeira “ta-

berna”. Desde o início que o nome foi

assumido como uma ironia comple-

mentar ao humorístico menu de de-

gustação, criado à medida do espaço

diminuto, mas com o desejo sério de

mostrar horizontes alargados. Foi o

que veio a acontecer em 2011, quan-

do surgiu uma nova “taberna” com

o código alcantarense 1300, onde se

situa a LX Factory.

Esta antiga zona industrial de Lis-

boa foi salva da sina da decadência

para se transformar num espaço

irreverente e multicultural. É caso

para dizer que estava escrito nas nu-

vens que só podia ser aqui a morada

de um projecto como o do Taberna

1300. Um armazém amplo decorado

com exuberância e detalhes irónicos

à mistura, como seria de esperar, on-

de caberia meia dúzia de “taberni-

nhas” 2780. Relógios gigantes a ilus-

trarem o fundo da sala, lustres em

cascata sobre as mesas e uma boa

iluminação natural são destaques

da sala — diria antes salão, para ser

mais realista.

Num almoço surgiu o “caldo ver-

de taberneiro” (3,50 euros), em que

a batata vinha num caldo cremoso,

encimado por fi os de couve frita,

espuma de batata e uns pozinhos

de chouriço. Um conjunto agradá-

vel, que podia estar mais quente,

e que fazia uma leitura diferente

deste clássico tradicional, sem lhe

desvirtuar em demasia o fácies e o

sabor. Copiosa de elementos era a

“tábua mista de enchidos e queijos

de origem portuguesa” (12 euros). À

parte um deslocado salame italia-

no, lá vinham algumas rodelas de

painho e chouriço de carne e uns

troços grelhados de boa morcela e

de uma farinheira banal. Do outro

lado da barricada bons queijos, um

da Quinta do Anjo (a lembrar o de

Azeitão), um de ovelha oriundo do

Douro (sem mais especifi cações) e

uns cubinhos de queijo ilha de pouca

cura. A guarnecer a generosa tábua

vinham alguns bagos de uva, um be-

líssimo doce de abóbora e outro de

pêra avinhado, uns equilibrados e in-

comuns pastéis de massa tenra com

alheira e ainda frutos secos tostados,

a saber: amendoins, pistáchios ver-

des e amêndoas.

Das opções do dia provou-se o “ca-

chaço de vitela mirandesa, puré de

aipo, raiz de salsa e cogumelos” (18

euros). O corte naturalmente fi broso

do cachaço vinha a fi letar de tenro,

regado por um molho de carne. O

jugoso naco vinha sobre um delica-

do puré de aipo e na companhia de

tomates cereja e cogumelos nameko

salteados. O “peixe mais fresco do

dia com arroz de sapateira” (12 euros)

era uma opulenta tranche de garou-

pa a lascar, guarnecida com um bem

engendrado arrozinho cremoso, on-

de um toque de tomate lhe acentuou

os aromas gulosos graças à junção do

interior da sapateira.

Cozinha a sérioA ementa de almoços é francamente

diferente da dos jantares, havendo

no entanto uma ou outra sugestão

em comum cujo preço desce da noite

para o dia, literalmente. Daí que por

vezes exista alguma discrepância de

preços entre o que está anunciado

na carta e o que vem na conta, com

a diferença de valores a pecar tanto

por excesso como por defeito. Nada

como verifi car antes do pagamento.

Um elemento transversal é o “cesto

de pão da casa” (3,50 euros) que tra-

zia um portentoso pão “breu” (com

melaço e cerveja preta Guinness) que

se bastava a si mesmo, um de azeite

que ligava bem com a manteiga de

ervas e um outro de tomate que pe-

dia a personalidade forte do “azeite

do mercado”, feito em exclusivo pa-

ra a casa. Ainda assim, sentiu-se em

cada visita a falta de um pão neutro

de trigo ou mistura que funcionasse

como uma “tela em branco” para

a manteiga de enchidos de um dos

de fritura leve e sem mácula, a fazer

lembrar uma tempura, repousava

sobre um “ninho” formado por al-

gas e legumes cortados numa juliana

fi níssima. Foi fi nalizado ao momen-

to com o molho do crustáceo a ser

derramado em redor dos restantes

elementos e a revelar-se aveludado,

intenso e sublime.

De entre os pratos principais, dois

deles tinham direito a página própria.

A emblemática “perdiz à Convento

de Alcântara” (20 euros) era sugerida

com a ajuda de um texto explicativo

acerca do prato, pena que a versão

apresentada fosse algo pífi a. Um pei-

dias, onde sobressaíam os sabores a

chouriço e farinheira.

As propostas nocturnas são, po-

rém, mais ambiciosas e ao mesmo

tempo arriscadas. De entrada, a “rou-

pa velha” (9 euros), tal como já havia

acontecido com o caldo verde, surgiu

sob o signo da desconstrução. Uma

“telha” (crocante) de alheira, uma

panqueca de enchidos, um ovo a bai-

xa temperatura e grelos salteados.

Tudo agregado, mas não misturado,

a compor com razoável equilíbrio

uma orquestração dispersa mas sa-

borosa. O “caranguejo de casca mole,

algas e caldo de lavagante” (9 euros)

Page 25: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 25

Apesar de asso-

ciarmos a região alentejana à pla-

nura sem fi m, há vários Alentejos,

não apenas o interior e o costeiro.

Nos azeites, por exemplo, há três

denominações de origem protegi-

da: Moura, Alentejo Interior e Norte

Alentejo. Atribuirmos uma marca

comum ao azeite alentejano é, por

isso, redutor. Mesmo no interior de

cada denominação os azeites po-

dem ser bastante diferentes.

O que determina a tipicidade de

um azeite é, sobretudo, a varieda-

de de azeitona utilizada, o clima

e o solo. No caso do Alentejo, as

águas do Guadiana estabelecem

uma diferenciação assinalável. Na

margem esquerda, a região de Mou-

ra, onde predominam as cultivares

Cordovil de Serpa, Galega Vulgar

e Verdeal Alentejana, produz um

azeite mais fi no mas também mais

frutado, amargo e picante. Na mar-

gem direita do rio, na DOP Alente-

jo Interior, o olival desenvolve-se

melhor, é mais produtivo e o azeite

resulta mais suave e doce. No Norte

Alentejo, onde coabitam a Galega

Vulgar, a Carrasquenha e a Redon-

dil, os azeites são um pouco mais

espessos e frescos de aroma.

O azeite desta semana, o Conde

da Vidigueira Virgem Extra, vem do

Alentejo Interior. É uma marca que

a Cooperativa Agrícola da Vidiguei-

ra comercializa em exclusivo para

o Clube de Produtores a Sonae (o

grupo proprietário do PÚBLICO).

Esta garrafa de 0,75 cl foi compra-

da num hipermercado Continen-

te e custou 3,99 euros. O que nos

despertou a atenção e motivou a

compra foi precisamente o preço.

Num ano em que os preços do azei-

te a granel estão em alta, devido

à acentuada quebra da produção

AzeiteProva

Do Alentejo Interior vem um azeite com um leve toque picante indicado para iniciados. Pedro Garcias

Bom e barato (de mais)

registada na última colheita, em

particular em Espanha, o princi-

pal produtor mundial, é quase um

mistério haver azeites virgem ex-

tra tão baratos. Os consumidores

agradecem, mas devia haver limi-

tes para o esmagamento dos preços

na grande distribuição. A granel, o

quilo de azeite anda por volta dos

três euros. Se uma garrafa de 0,75

cl custa 3,99, dá para perceber que,

somando os custos com a garrafa,

o rótulo, a cápsula, a caixa e o en-

garrafamento e embalamento, a

margem de lucro da Cooperativa

Agrícola da Vidigueira deve ser

mínima. E estamos a falar de um

azeite virgem extra (o melhor) com

selo DOP (Denomi-

nação de Origem

Protegida).

Nem vale a pena,

pois, questionar se o

azeite vale o preço.

Vale e muito, ape-

sar de não es-

tarmos peran-

te um virgem

extra de cortar

a respiração.

É um azeite

bastante doce,

com um leve

toque picante,

e aromatica-

mente singelo.

Cumpre bem

vários papéis

na cozinha e é

indicado para

iniciados, que

costumam fa-

zer cara feia a

azeites mais in-

tensos, amargos

e picantes.

a Mau mmmmm Razoável

mmmmm Bom mmmmm Bom Mais

mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente

CONDE DA VIDIGUEIRA VIRGEM EXTRA

mmmmm

Produtor: Cooperativa Agrícola da VidigueiraVariedades: Galega, Cobrançosa

e outras

Região: Alentejo InteriorPreço: 3,99€

tinho da ave recheado com cogume-

los e trufa, de sabor discreto, à parte

um escalope de foie gras salteado de

qualidade regular e uma espécie de

bolinha feita com perdiz desfi ada,

que passou sobre frutos secos antes

de ir a fritar. A guarnição era mas-

sa fresca (spätzle) salteada com co-

gumelos shimeji, que ao destilarem

água durante a confecção deixaram o

conjunto como se fosse uma espécie

de sopa asiática de massa grossa, o

que não valorizou o prato.

O outro prato principal foi pedido

com o coração, pois ao ler “bacalhau

à Conde da Guarda em homenagem

ao chefe João Ribeiro” (18 euros) não

hesitei um segundo, passando-me ao

lado a descrição do prato que estava

enunciada na ementa. Quando che-

gou à mesa tive a mesma sensação

de alguém que assina um contrato

sem ler as letras pequeninas. Louva-

se desde já a lembrança do grande

mestre da cozinha em Portugal que

foi João Ribeiro. O busílis é evocar

a sua receita mais famosa em jeito

de homenagem e depois servir dois

cubos de bacalhau de meia cura con-

fi tados, um tubo feito com rodelas de

batata, recheado com uma mistura

de puré com bacalhau, e ao lado um

crocante de queijo parmesão tipo bo-

lacha. Enfi m, uma composição tra-

balhosa, mas que nem por sombras

remete para a receita original. A mis-

tura de puré de batata com bacalhau

e alhos pisados no almofariz, uma

dose generosa de natas a envolver e

queijo ralado no topo para gratinar

está nos antípodas desta versão fan-

tasiosa, onde até cabia um piso de

azeitonas, ovas de bacalhau passadas

num coador e tingidas com uma pas-

ta vermelha (lembrou-me harissa) a

mimetizar a aparência de caviar, e

microbolinhos de bacalhau. O sim-

ples facto de uma “francesinha” e

uma “grelhada mista” terem vários

ingredientes em comum não quer di-

zer que sejam a mesma coisa. Quem

não souber como é um bBacalhau à

Conde de Guarda”, com esta versão

nunca vai saber. O que é pena, pois

o arriscado exercício de “descons-

truir” receitas tradicionais até tinha

resultado antes.

Boa carta de vinhos, gizada com a

consultadoria do sommelier Rodolfo

Tristão, variada de escolhas e preços,

com propostas menos óbvias e orga-

nizada pelo perfi l de cada néctar. Es-

tá, no entanto, assegurada de forma

abrangente a representatividade das

principais regiões e alguns rótulos

internacionais. Outra aposta sólida

é a do vinho a copo, com um bom

leque de sugestões. Outro ponto po-

sitivo é o set de cinco referências para

acompanhar o menu de degustação

ser proposto a 16,50 euros, um preço

competitivo em relação ao que é ha-

bitual e que já inclui um vinho de so-

bremesa. Nada a apontar em relação

às temperaturas e aos copos — não

pode passar é o facto de uma garrafa

de tinto ter chegado à mesa já aberta,

falha de correcção elementar.

Nas sobremesas, o “toucinho-do-

céu, sorbet de Porto com amoras e gel

de erva-príncipe” (6,50 euros) cum-

priu, com destaque para o agradável

gelado de vinho do Porto. O “folhado

quente de pêra rocha do Oeste” (4,50

euros) era uma trouxa de massa fi lo

a fazer de embrulho aos cubos estu-

fados do fruto, sem grande história

que o fi zesse sobressair. Muito bom

estava o “crème brûllée com gelado”

(4,50 euros), com o preparado à base

de natas e gemas a ser aromatizado

de forma equilibrada com vagem de

baunilha, acompanhado por uma

bola de gelado de chocolate feito na

casa.

Embora o ambiente seja descon-

traído e o espaço seja daqueles que

está habitualmente na berra, nes-

ta “taberna” cozinha-se a sério. As

apostas do chef Nuno Barros são de

enaltecer, pois só erra quem arris-

ca. Excluindo os fl ops que foram a

perdiz e o bacalhau, tudo o resto se

petisca.

TABERNA 1300 – LX FACTORY

O restaurante funciona num amplo armazém decorado com exuberância e detalhes irónicos à mistura

Rua Rodrigues Faria, 1031300-501 LisboaTel.: 213 649 170www.1300taberna.comDe terça a sábado, das 12h30 às 15h e das 20h à 1hEncerra domingos e segundasPreço médio: 25€ (almoço) 40€ (jantar)Cartões de débito e créditoNão fumadorEstacionamento fácilPouco prático para crianças

Page 26: fugas

26 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

Vinhos que contam históriasRui Falcão

Os tempos que

vivemos são pouco propensos

para gastos supérfl uos, para

aventuras fi nanceiras, para

devaneios e impulsos. A crise que

nos assola, esta crise fi nanceira

que já se tornou endémica e

que nos persegue sem piedade,

aconselha à prudência e a

gastos comedidos, à modéstia e

à parcimónia. Se num passado

ainda recente muitos de nós

nos julgávamos ricos e com

capacidade para fi nanciar alguns

caprichos, acordámos agora para

a dura realidade das provações e

do cuidado nas despesas.

O vinho, longe de poder ser

considerado um bem essencial à

vida, sofre com o intensifi car desta

nova realidade económica que

nos atropela com rendimentos

cada vez menores e menos certos.

Talvez por isso o consumo de

vinho tenha diminuído de forma

tão signifi cativa em Portugal e

na Europa, sobretudo quando

tomado fora de casa. E talvez por

isso tantos se tenham habituado a

procurar por vinhos mais baratos,

mais comedidos na ambição e

no preço, usufruindo amiúde

de propostas comerciais que

prometem uma quantidade maior

pelo mesmo preço de poucas

unidades, o famoso ditame do

“leve seis pelo preço de cinco” ou

outra forma qualquer de resgatar

a tesouraria, promovendo em

simultâneo o escoamento dos

muitos stocks acumulados.

Quem compra seis garrafas

ou uma dúzia de garrafas de

uma só vez cria, no entanto, um

problema potencial, o seguimento

e inventariação do que guardou

em casa. A menos que tenha

sido bafejado com uma memória

prodigiosa e privilegiada, a melhor

forma de manter actualizado o

registo dos seus vinhos é recorrer

a um livro de adega. Poderá

até parecer um absurdo para a

maioria ou, quem sabe, talvez

mesmo um pretensiosismo, mas

rapidamente se aperceberá da

utilidade de um apontamento das

suas existências.

Claro que se a sua garrafeira

particular se resume no total a

uma ou duas dezenas de garrafas

então talvez este seja um tema

dispensável. Porém, para quem

se dá ao trabalho de guardar mais

de duas dezenas de garrafas,

o livro de adega será uma

ferramenta barata e de extrema

utilidade. Quem armazenar mais

de cinquenta garrafas em casa

precisa quase impreterivelmente

de anotar as existências num livro

de adega que poderá ser mantido

de forma simples.

Os enófi los são frequentemente

proclamados como coleccionistas,

demonstrando uma tendência

natural para acumular garrafas

para além do razoável, uma

propensão coleccionista que em

alguns casos chega a ser levada

a extremos. Comprar colheitas

antigas ou modernas dos vinhos

pessoalmente mais valorizados

é uma tentação a que poucos

enófi los parecem conseguir

resistir. Encontrar aquele vinho

tão procurado, desbravar novas

regiões, novas castas, novos

países, faz parte da condição

natural do enófi lo. E no mundo

do vinho há sempre tanto para

descobrir! Acumular garrafas

poderá ser simultaneamente o

maior triunfo e o maior pesadelo

de cada enófi lo.

O livro de adega é, pois,

uma ferramenta essencial para

organizar a sua garrafeira, para

manter a ordem e disciplina na

sua adega pessoal. Só mesmo o

livro de adega permite manter

registos das existências em

garrafeira, anotadas de forma

clara e legível que permitam uma

identifi cação e inventariação

do stock. Que dados devem ser

contemplados? Defi nitivamente o

nome do vinho, a data de colheita,

o nome do produtor, o tipo de

vinho, a região, o número de

garrafas, bem como o número

de garrafas remanescentes,

actualizadas à medida que forem

consumidas.

Poderão ainda constar

informações complementares de

maior ou menor utilidade, como

o lugar de aquisição, a data de

aquisição, o preço de compra,

datas de consumo, localização

e um espaço para os seus

comentários. Bem entendido, o

livro de adega só fará sentido se

a sua actualização for regular e

metódica. Um livro desactualizado

terá muito pouco utilidade.

Existem livros no mercado

com estas características,

normalmente de edições

estrangeiras, com encadernações

pesadas, aspecto pomposo e

cerimonial, apropriados para

encenações teatrais. É uma

opção válida para quem prezar

o estilo, embora a maioria seja

pouco prática e algo presunçosa.

Qualquer livro ou caderno em

branco pode ser adaptado à

função. A imaginação é o limite,

como em tantos outros aspectos

da vida.

Não pense, no entanto, que o

livro de adega tem de ter uma

realidade física. A informática

pode transformar-se num aliado

generoso do enófi lo, permitindo-

lhe guardar informação relevante

sobre as suas preciosas garrafas.

Existem diversos programas

no mercado que cumprem

estas funcionalidades de forma

efi caz e por vezes educativa.

Inevitavelmente, a maioria está

disponível apenas em inglês,

mas existem igualmente algumas

versões portuguesas. Como de

costume, o Google é o melhor

amigo do homem…

Existem versões gratuitas,

versões shareware onde é

solicitada uma pequena

“gratifi cação” ao autor da

aplicação, bem como versões

pagas e em muitos casos editadas

por publicações ligadas ao vinho.

Algumas aplicações dispõem de

extras, como mapas das principais

regiões, notas de prova para um

número considerável de vinhos,

dados pré-formatados sobre

as principais regiões e castas

do mundo. Bem entendido, a

realidade portuguesa, as nossas

regiões e castas, costumam

estar apartadas deste tipo de

publicação. A geração de gráfi cos

é outra vantagem, onde poderá

descobrir, de forma lúdica, as

suas preferências por região, país,

casta, ano de colheita, etc. Enfi m,

nada que não possa realizar com

uma simples folha de uma folha

de cálculo, que é outra das formas

expeditas de resolver a equação.

Claro que se a sua garrafeira particular se resume no total a uma ou duas dezenas de garrafas então talvez este seja um tema dispensável. Porém, para quem se dá ao trabalho de guardar mais de duas dezenas de garrafas, o livro de adega será uma ferramenta barata e de extrema utilidade

Livro de adega

ENRI

C V

IVES

-RU

BIO

Page 27: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 27

Vinhos

A moda das edições especiais

Está a virar moda:

nos últimos anos têm chegado ao

mercado inúmeras edições espe-

ciais de vinhos, umas para celebrar

efemérides relacionadas com a pró-

pria marca ou o produtor, outras,

mais ou menos esotéricas, para re-

forçar a notoriedade de uma marca

ou simplesmente para gerar algu-

mas receitas adicionais. Em tempos

de crise, quando o vinho, sobretu-

do o da gama média/alta, é um dos

primeiros bens não essenciais a ser

afectado, o marketing pode ser pro-

videncial.

O fenómeno é mais visível nos

vinhos do Porto velhos. Algumas

casas históricas deitaram mãos

a relíquias guardadas na região

e, depois de as embrulharem em

embalagens de luxo e narrativas

emocionantes, colocaram o vinho

a preços nunca vistos. O primeiro

a entrar neste negócio foi a casa

Andressen, que, em 2010, lançou

um extraordinário Porto Colheita

de 1910 ao preço de dois mil euros

a garrafa de 75 cl, para celebrar o

centenário da República. Seguiram-

se a Taylor’s, com o Scion (2500

euros a garrafa), um vinho com

155 anos que David Guimaraens, o

enólogo da empresa, descobriu em

2008 na aldeia de Presegueda (Ré-

gua); a Agri-Roncão, com o Roncão

“Vinho do Porto Muito Velho” (1250

euros), comprado a um produtor da

aldeia de Covelinhas (concelho da

Régua) a 100 euros o litro; e, mais

recentemente, a Quinta do Valla-

do, que lançou o Adelaide Tributa

Old Porto (2950 euros), a partir do

mesmo vinho que a Agri-Roncão

adquiriu em Covelinhas.

Se houver compradores para es-

tes vinhos raros — e parece que há

—, estamos perante negócios que

geram receitas milionárias para os

vendedores e que, ao mesmo tem-

po, contribuem para a promoção

do vinho do Porto.

Nos vinhos tranquilos, uma das

edições especiais mais curiosas dos

últimos tempos foi protagonizada

pela Adega Mayor, da família Nabei-

ro, que em 2010 iniciou uma trilo-

gia de vinhos inspirada em motivos

distintos. O primeiro, denominado

7, inspirou-se nas 7 maravilhas do

mundo, o segundo, o 8, pretendeu

evocar o espírito olímpico da cria-

ção, e o último, o 9, lançado no fi nal

de 2012, é uma homenagem ao nú-

mero do céu e da humanidade (ver

nota de prova na página seguinte).

O vinho vem acompanhado de um

mapa astronómico e de um globo

(totalmente feito à mão) que bri-

lham no

escuro e

custa 69

euros.

As Caves

São João, na

Bairrada, foram

ainda mais longe.

A empresa celebra o

seu centenário em 2020,

mas já começou a comemorar em

2010, com o lançamento do primei-

ro de 11

vinhos

que vai

p r o d u -

zir até lá. Ca-

da um dos vinhos é

alusivo a uma das 10 dé-

cadas que medeiam a funda-

ção da empresa e o seu centenário.

O primeiro, designado 90 Anos de

História, foi um tinto alusivo ao pri-

meiro fi lme sonoro, The Jazz Singer

(1928); o segundo, 91 Anos de Histó-

ria, foi um espumante e versou so-

bre a emissão radiofónica de Orson

Welles sobre uma fi ctícia invasão

marciana (1938). No ano passado, as

Caves São João lançaram o 92 Anos

de História, um tinto que pretende

evocar as décadas de 40-50 através

da Carta das Nações Unidas (1945).

O preço de cada garrafa é comedido

(25 euros) e o vinho é mesmo bom.

Pedro Garcias

PUBLICIDADE

Page 28: fugas

28 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

É uma variedade nova que pode

originar um vinho branco muito

interessante, distinto e inimitável.

Na colheita de 2012, o produtor Fer-

nando Faria, de Sonim, fez uma pri-

meira experiência que promete (o

vinho está um pouco graduado de

mais, mas a expressão aromática e

a frescura são belíssimas). Fernan-

do já plantou uma parcela nova de

Bastardo Russo, juntamente com

Daniel Pérez, irmão do mais pre-

miado enólogo de Espanha, Raúl

Pérez. Empresário agrícola, Daniel

apaixonou-se por Valpaços e, com

o apoio do irmão (interessado no

Bastardo local), tem vindo a fazer

alguns vinhos com Fernando Faria.

Um deles foi um branco (da colhei-

ta de 2009 de vinhas velhas) que

fermentou e passou três anos em

barrica sobre as borras. Vai ser co-

locado agora à venda (a 15 euros) e

é um vinho magnífi co, gordo, com-

plexo e muito fresco. Os vinhos de

Fernando Faria refl ectem bem o

grande potencial da região de Val-

paços. Os Bastardo e Tinta Amarela

que tem em cuba são muito bons,

mas o mais impressionante é o tinto

Casal Faria Reserva Superior 2010,

feito só com Touriga Nacional. Um

vinho estupendo, muito estrutura-

do, intenso e cheio de garra.

Foi o vinho que mais sobressaiu

numa prova de tintos realizada no

passado fi m-de-semana e que jun-

tou outros produtores do concelho.

Terras do Salvante, Quinta das Cor-

riças (bastante interessante o tinto

2009), Encostas do Rabaçal, Per-

sistente (muito Douro e moderno),

Encostas de Sonim (excelente rela-

ção qualidade/preço o tinto Cansa-

lobos), Quinta de Sobreiró de Cima,

Edyma (um bom Roriz), Encostas

de Vassal, Fonte do Sapo (um

tinto sem madeira muito perfu-

mado e fresco) e Terra Quente

(muito bem feito e saboroso o

2011) foram algumas das marcas

testadas. Todas elas merecem

ser seguidas com atenção. Nu-

ma ou noutra, é notório ainda

algum excesso de álcool, mas a

maioria distingue-se pelo equi-

líbrio e frescura e, sobretudo,

pela aposta em castas com tra-

dição local e provenientes de

vinhas antigas — o elemento

verdadeiramente diferenciador

de Valpaços e de toda a região

transmontana.

a inclusão de Valpaços na região

do Douro. A ideia não vingou e a

vizinhança da região duriense, com

o seu peso e prestígio, foi passan-

do factura aos vinhos produzidos

nas encostas do rio Rabaçal. Actu-

almente, a situação é mais favorá-

vel. A padronização crescente do

vinho abriu novas oportunidades

a regiões menos conhecidas

e originais e as alterações

climáticas estão a elevar

a cultura da vinha para

cotas mais altas e frescas.

Castas como a Tinta Roriz,

que no Douro produz fra-

cos resultados nos vinhos

tranquilos, podem origi-

nar vinhos magnífi cos

em Trás-os-Montes, ti-

rando partido da maior

altitude.

No caso de Valpaços,

além da Roriz, as cas-

tas com mais tradição

são o Bastardo, a Tinta

amarela (nos tintos), o

Gouveio, a Códega do

Larinho e a Malvasia

Fina (nos brancos). Nas

vinhas novas, começa a

ganhar relevo a Touriga

Nacional (com grandes

resultados) e a Touriga

Franca (a par de uma

Vinhos

A nova vida dos vinhos de Valpaços

Inúmeras vinhas velhas que pareciam condenadas ao abandono estão hoje na base do renascimento dos vinhos de Valpaços, famosos desde o tempo do império romano. Naquele concelho, como em toda a região transmontana, o arcaísmo vitícola transformou-se no seu principal trunfo. Pedro Garcias

Quando se chega

à aldeia de Pussacos, no concelho

de Valpaços, é impossível não repa-

rar na traça belíssima de algumas

casas antigas e na “cortinha do Ben-

tinho Samuel”, com as suas videi-

ras que mais parecem árvores de

vinho, grossas e retorcidas, como

se fossem esculturas vivas de um

museu vitícola. Os habitantes mais

antigos da povoação dizem que as

videiras já eram centenárias quan-

do eles ainda eram crianças.

A imagem daquela cortinha cau-

sa assombro, mas não é a única. A

caminho das aldeias de Santa Valha

e Sonim vão desfi lando inúmeras vi-

nhas velhas, umas atrás das outras,

algumas quase contemporâneas da

de Pussacos, que provocam o mes-

mo deslumbramento. É um cenário

rústico e fascinante, revelador de

um arcaísmo vitícola que é hoje

um dos grandes trunfos daquele

concelho.

Os vinhos de Valpaços, na região

de Trás-os-Montes, andam há muito

tempo arredados do panorama me-

diático (na década de 1980, o vinho

Terra Quente, da cooperativa local,

chegou a ser uma referência, mas

foi perdendo fulgor). Seguiram o

mesmo declínio do interior do pa-

ís, fossilizando-se pouco a pouco.

Nunca deixaram de ser produzidos,

mas a base de consumo foi-se es-

treitando e confi nando-se pratica-

mente ao mercado local e regional;

e, no entanto, estamos a falar de

vinhos com mais de dois mil anos

de história, muito apreciados no

tempo do império romano, exis-

tindo até a tese de que o nome de

Valpaços estará relacionado com o

vinho “passum”, o vinho doce pelo

qual os romanos nutriam especial

predilecção. Desse tempo, ainda

subsistem no concelho alguns la-

gares esculpidos na rocha, naquela

que é uma das maiores colecções

de lagares romanos do mundo.

Hoje já ninguém faz vinho na

pedra. Nos últimos anos, num mo-

vimento extensivo a outras zonas

de Trás-os-Montes, vários produto-

res passaram a olhar mais longe e

a produzir vinho de forma moder-

na. Recuperaram lagares antigos,

construíram um ou outro de raiz e

passaram a engarrafar o vinho com

marca própria. Ainda são pouco co-

nhecidos, mas alguns deles vão dar

que falar, se conseguirem ser per-

severantes e não desperdiçarem o

melhor que têm: vinhas centená-

rias, castas bem adaptadas ao lugar,

solos ideais para a cultura da vinha

e cotas que garantem vinhos madu-

ros mas ao mesmo tempo frescos.

As condições naturais do con-

celho são tão boas que no fi nal da

monarquia ainda foi equacionada

A “cortinha do Bentinho Samuel” é uma das que mais impressiona pela antiguidade das suas vinhas

ou outra casta estrangeira, como a

Syrah). Na zona de Sonim, existem

também algumas videiras de Bas-

tardo Russo, uma uva rosada que

nasceu certamente de uma muta-

ção genética do Bastardo.

Page 29: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 29

VinhosProvas

PATO D’OIRO 2010

Luís Pato e José Bento dos SantosCastas: Baga, Tinta Roriz e SyrahGraduação: 14% volPreço: 30€ (na loja virtual www.luispato.com)

mmmmm

A Baga de visita a Lisboa

Quando se prova

um vinho com a assinatura de José

Bento dos Santos e de Luís Pato, sur-

gem logo como padrão de compara-

ção os magnífi cos vinhos que cada

um criou. Os tintos bairradinos de

Luís Pato, que combinam as caracte-

rísticas da casta Baga com uma inter-

pretação moderna e muito própria

do autor, são uma referência nacio-

nal; os Syrah de Bento dos Santos

estão entre as melhores abordagens

que se fazem em Portugal à natureza

desta casta — sem esquecer outras

aventuras deste produtor da região

de Lisboa, entre as quais vale a pena

destacar o Têmpera.

Luís Pato e Bento dos Santos foram

colegas no Instituto Superior Técni-

co. Ambos se revelariam mais tarde

não pelos dotes de engenharia mas

pelos seus projectos no vinho e, no

caso de Bento dos Santos, no culto

pela alta gastronomia. Juntaram-se

agora para produzir um vinho que

agrupasse o que de melhor há na

Baga que Pato colheu na sua Vinha

Barrossa e na Tinta Roriz e Syrah da

Quinta do Monte D’Oiro. O lote é do-

minado pela Baga e pela Roriz (45%)

cada, fi cando reservado um papel

de refi namento à elegância da Syrah.

Um vinho com este desvelo e com

esta história afectiva difi cilmente po-

deria ser um vinho desalmado.

Desenganem-se os que procuram

comparações com os melhores vi-

nhos destes autores. O Pato D’Oiro é

um vinho distinto, com carácter pró-

prio. Corpo médio, aromas de amo-

ra, sugestões de fumo da barrica, des-

taca-se por um conjunto equilibrado

e elegante. Na boca afi rma-se pelos

seus taninos macios, que têm nervo

para contrastar com a qualidade da

fruta, como se a Baga servisse de pa-

no de fundo sobre a qual a profundi-

dade da Roriz e a subtileza da Syrah

se expandem até um fi nal de boca

muito interessante. Vocacionado pa-

ra a mesa, falta-lhe no entanto algu-

ma complexidade e profundidade.

Prove-se e espere-se por outras edi-

ções, que a estreia valeu a pena. M.C.

Proposta da semana

a Mau mmmmm Razoável

mmmmm Bom mmmmm Bom Mais

mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente

QUINTA DOS CASTELARES 2011

mmmmm

MJC Agricultura e Turismo, Freixo de Espada à CintaCastas: Códega do Larinho, Rabigato, VerdelhoGraduação: 13,5% volRegião: DouroPreço: 5€

ALENTO RESERVA 2010

mmmmm

Monte Branco, EstremozCastas: Aragonez, Alicante Bouschet (80%), Touriga Nacional e SyrahGraduação: 14,5% volRegião: AlentejoPreço: 11€

TELHAS 2010

mmmmm

Terras de Alter, FronteiraCastas: ViognierGraduação: 14% volRegião: AlentejoPreço: 22€

ADEGA MAYOR 9 TINTO 2008

mmmmm

Campo MaiorCastas: Alicante Bouschet, Trincadeira e AragonezGraduação: 14,5% volRegião: AlentejoPreço: 69€

Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada: Fugas - Vinhos em Prova, Praça Coronel Pacheco, n.º 2, 3.º 4050-453 Porto

Um branco de frescura atlântica produzido na região semiárida do Douro Superior. Aromas contidos de fruta de polpa branca, bom volume de boca, intensidade e, principalmente, uma boa acidez, surpreendente para um branco desta geografia. Proveniente de vinhas a 600 metros de altitude, é um vinho bem proporcionado, um branco que reclama o calor do Verão, ideal para acompanhar bem mariscos e peixes grelhados. Criado por Rui Madeira, consegue o mais difícil (uma frescura vigorosa). Resta-lhe lutar por um pouco mais de complexidade para se tornar num caso sério. M.C.

Impenetrável no aspecto visual, aromas quentes de fruta madura bem envolvidos em notas doces de madeira, num estilo sofisticado e atraente. Na boca impõe-se pela firmeza de taninos, que lhe dão garra e carácter. É um tinto alentejano que, no primeiro impacto, prima pela sobriedade (rudeza, dirão alguns), até que depois se afirma num belo final marcado pela fruta e notas balsâmicas. Um bom vinho, para agora ou para aguardar mais um par de anos. M.C.

Bela cor com tonalidades douradas, este branco revela-se na primeira impressão olfactiva pela presença de carvalho onde fermentou e iniciou a sua fase de crescimento nos primeiros onze meses de vida. Na boca começa por apresentar uma secura muito interessante, quase extrema, logo balanceada com sugestões de fruta (pêssego muito maduro) e notas apimentadas às quais sucede, no final de boca, uma doçura resinosa, contida e distinta que lhe determina a sua natureza. É um branco que procura assumidamente emular um certo perfil de Côtes du Rhone. Embora seja enganoso estabelecer diferenças ou similitudes, a verdade é que este branco de Peter Bright é um vinho muito interessante que vai ganhar com mais um par de anos na garrafa. M.C.

“Às 09:09 da manhã do dia 09/09/09, 9 pessoas enchiam 2009 garrafas baptizadas com o número universal.” É assim que começa a narrativa criada em torno do vinho 9, uma edição especial lançada pela Adega Mayor no Ano Internacional da Astronomia. A embalagem, bonita e poética, coloca-nos perante um objecto que é muito mais do que um vinho. Mas o vinho está à altura da embalagem. É um tinto de grande porte, maduro, concentrado e suculento. Ressuma a fruta preta, chocolate e a outras notas quentes incorporadas pela madeira. Com o corpo que tem, um pouco mais de frescura não lhe fazia mal, apesar de a acidez ser boa. Mas os taninos são tão vigorosos que o vinho mostra grande vivacidade na boca, tornando a degustação muito atractiva. É pena ser tão caro. P.G.

Page 30: fugas

30 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

Bar abertoBar Tolo Meu

Tolo, mas só de nome

Há uma mesa

posta cá fora, dois pratos, copos, ta-

lheres, um livro de banda desenhada

e duas cadeiras onde não se sentará

ninguém. Pelo menos por enquanto;

enquanto não houver licença aprova-

da. Por estes dias é apenas um cha-

mariz, um convite à entrada na casa

da esquina onde a Rua da Senhora da

Luz e a Rua de São Bartolomeu se en-

contram. A fachada azul-céu, cortada

nesse gaveto, com uma porta branca

envidraçada de entrada que se duplica

no andar superior mas afagada por

uma varanda de ferro forjado, ostenta

a placa: Bar Tolo Meu.

Não era para ser provisória, mas as

circunstâncias (no caso, um nome se-

melhante e com precedência tempo-

ral) assim a obrigam: depois de quatro

meses de funcionamento, o Bar Tolo

Meu (desconstrução óbvia do nome

da rua que é também do santo que a

24 de Agosto leva a gente a banhos na

Foz como cura e prevenção dos males)

prepara-se para deixar cair o “meu”

e ganhar independência. Ou seja, vai

passar a ser de quem o quiser, tal co-

mo é, um Bar Tolo.

Tão “tolo”, brinca Miguel Plácido,

um dos sócios (com Carlos Leitão),

que abriu num contexto de crise e

longe do centro da cidade. A verda-

de é que, pelo menos neste caso, a

ousadia tem sido recompensada. Por

um lado, o Bar Tolo Meu tem estado

“constantemente cheio”, por outro,

tem revitalizado a zona. “Estamos a

funcionar como âncora”, nota, enu-

merando uma série de novos negócios

que foram abrindo portas nos últimos

meses na zona que Miguel, tal como o

sócio nascido e criado na Foz, consi-

dera “a [rua] Santa Catarina da Foz”.

Nesta zona, os “turistas dão de fren-

te” com o Bar Tolo Meu e caem em

tentação — “temos tido gente de to-

do o lado”. Temos essa experiência,

quando entramos e somos envolvidos

por uma cacofonia em inglês, vinda

de uma mesa feminina. Na verdade,

até estão em minoria, neste rés-do-

chão pequeno e acolhedor que no

projecto inicial seria o bar. Voltemos

a esse início: “O nosso sonho era ter

um restaurante, petisqueira, wine

bar… Algo muito nacional.” Dito por

outras palavras, o desejo era ter um

bar que não fosse só bar, petisqueira

que não fosse apenas isso, restaurante

que tão-pouco se reduzisse a tal e emi-

nentemente português nos produtos.

Neste edifício que tem acompanha-

do a vida da Foz há muitas décadas

(já foi a Leitaria Suil, uma funerária,

uma loja de brinquedos) encontraram

dois pisos para concretizar essa ideia:

o rés-do-chão far-se-ia informal — bar-

petisqueira; o primeiro piso, sala de

refeições (mais) formal — e no topo ins-

talar-se-ia uma esplanada em terraço.

Aqui está a esplanada, ventosa hoje,

a pairar entre os telhados da Foz Velha

e a espreitar o mar e o rio — mobili-

ário de madeira, vintage misturado

com moderno, um visual que é o ar

de família do Bar Tolo Meu. Porém, no

interior, a ordem desordenou-se, as

fronteiras que se pensaram estanques

diluíram-se. “[As pessoas] Chegavam

e almoçavam lá em baixo, vinham a

qualquer hora.” Foram os clientes que

transformaram o Bar Tolo Meu no que

é: em “algo sem conceito”. Pode ser

“restaurante, café, bar, pub, salão de

chá”, “adapta-se muito bem” ao que

cada um deseja. Pode ser “um gin ao

fi m da tarde ou um 5 o’clock tea, uma

sobremesa a seguir ao jantar ou petis-

cos até à meia-noite”.

É muito maleável este Bar Tolo Meu

que, também já vimos, de tolo tem

pouco. É, também, bastante acolhe-

dor, ou como Miguel Plácido prefere

dizer, “cosy”. A decoração é um misto

onde o ferro e a madeira reclamam o

palco principal, já que foram a base

da recuperação do edifício. Entre eles,

desenvolvem-se então os dois ambien-

tes principais, com uma atmosfera cla-

ramente vintage, onde muito é impro-

visado, confessa Miguel. Outras são

uma fi losofi a, como a sharing table,

alta como todo o mobiliário do rés-

do-chão, que ocupa um dos lados e Andreia Marques Pereira

Mais bares emfugas.publico.pt

BAR TOLO MEU

promove o convívio entre desconhe-

cidos — o espaço que é tutelado pelo

pequeno balcão onde cadeiras altas

proporcionam conforto até para refei-

ções tem ainda lugar para duas mesas

e louceiros onde se avistam objectos

retro como uma máquina Singer. No

primeiro andar, as mesas de tampos

de madeira e pé de ferro são ladeadas

de cadeiras estofadas com sacos de ca-

fé — os mesmos que forram os cande-

eiros. Nas paredes, quadros coloridos,

badalos em caixas de vidro e letras e

números de madeira de cores varia-

das fazem o contraste devido com o

branco “sujo” das paredes.

Se se deparar com livros do Astérix

ou do Gaston, não estranhe. É uma

manifestação do improviso do Bar

Tolo Meu. “Mandámos fazer invólu-

cros para as ementas e atrasaram-se”,

conta Miguel Plácido, “então o meu

sócio chegou com um livro do Astérix.

Todos adoraram e nós mantivemos”:

Astérix para a comida — “o Obélix é

um comilão”; Gaston para os vinhos

(“é mais bebedolas”). Para todos,

música ambiente que vai mudando

com o ambiente — o mesmo que di-

zer que acompanha as horas do dia.

E, fi nalmente, Miguel Plácido defi ne

o Bar Tolo Meu — em breve Bar Tolo:

“Uma tasca moderna, com laivos de

vintage.”

HORAS FELIZES

Rua da Senhora da Luz, 185 PortoTel.: 224 938 987http://bar-tolo-meu.comHorário: Aberto todos os dias. De domingo a quarta das 12h30 às 24h; de quinta a sábado das 12h30 às 2h.Preços: fino a 1,25€; cerveja de garrafa a 1,50€; vinho a copo desde 2€ (garrafa desde 8€); sangria a copo a 3€ (caneca de tinto a 12€; de espumante a 16€), vinho do Porto desde 2,50 (copo); licores entre 2,5€ e 4€; bebidas brancas desde 4€; caipirinhas e mojitos a 5€; cidra a 2€; água a 1€; sumo de laranja natural a 2,20€; café a 0,90€; chás e tisanas a 1,90€.

DE PETISCOS E OUTRAS REFEIÇÕESDe petiscos se faz a maior porção da ementa. Dos prosaicos moletes com presunto (3,50€) ou minifrancesinhas (4,50€), aos carpaccios (de vitela, 6€, ou língua, 5,50€), ao escabeche de perdiz (10€) — e aos “favoritos” dos clientes: os ovos rotos com espargos, setas e trufas (5,50€), os folhados de alheira (5€), as açordas (de bacalhau, 6€, e camarão, 7€). Nos pratos principais, o destaque vai para o naco barrosão DOP (14€) e o arroz de lavagante (17€) e nas sobremesas para as canilhas. Os pratos do dia são sempre dois e custam 10€, com sopa, bebida e café.

De segunda a sexta-feira, entre as 17h e as 19h30, há happy hour no Bar Tolo Meu. Os petiscos, sempre diferentes e ausentes da carta (coisas como pica-pau, salada de queijo de cabra com nozes, calamares…), custam 3€; as bebidas sofrem uma redução — finos a 1€, sangria a 2€, copo de vinho a 1,50€…

É muito maleável este Bar Tolo Meu que, também já vimos, de tolo tem pouco. É, também, bastante acolhedor, ou como Miguel Plácido prefere dizer, cosy

FOTO

S: P

AU

LO P

IMEN

TA

Page 31: fugas

www.publico.pt

Sobre Paolo Sorrentino muito se tem dito. Por exemplo: que, a haver um filho dilecto de Stanley Kubrick,

Martin Scorsese e Federico Fellini, seria ele. Sorrentino combina com aparente facilidade o estilo exuberante

e a estética apurada com profundidades psicológicas pouco usuais na sua geração. Com “As Consequências

do Amor” Sorrentino integrou a Selecção Oficial do Festival de Cannes, em 2004.

Col

ecçã

o de

10 D

VD. P

reço

uni

tári

o: 1,

99€.

Pre

ço t

otal

Por

tuga

l Con

tine

ntal

19,9

0€.

De

8 de

Mar

ço a

10 d

e M

aio.

Dia

da

sem

ana,

sex

ta-f

eira

. Lim

itad

o ao

sto

ck e

xist

ente

. A

com

pra

do p

rodu

to o

brig

a à

com

pra

do jo

rnal

.Um filme sobrea mudança, capaz de

mudar pelo menosuma coisa: o cinema.

Sexta, 5 de Abril, 5.º DVD,“As Consequências do Amor”, de Paolo Sorrentino

Page 32: fugas

32 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

Zoom

Lisboa é o segundo melhor destino da Europa, Istambul, o primeiro

A capital portu-

guesa arrecadou o segundo lugar

na competição Melhores Destinos

Europeus 2013 promovida pela Eu-

ropean Consumers Choice. A pri-

meira posição foi para Istambul,

com 12,4% dos votos.

Lisboa, que conquistou o pódio

em 2010, seguiu logo atrás, com

12,2% das escolhas dos partici-

pantes nesta eleição promovida

pela European Consumers Choice

(ECC), uma “organização sem fi ns

lucrativos de consumidores e espe-

cialistas” com sede em Bruxelas e

que se dedica a “avaliar produtos

e serviços”. As razões prendem-se

com “o bom tempo e os dias lon-

gos que constituem um convite

irresistível a descobrir e a viver a

cidade”. Pontos a não perder: “os

miradouros da Graça, Senhora do

Monte, Santa Luzia, do Castelo de

São Jorge ou de São Pedro de Al-

cântara”.

No top 10, votado online de 1 a 22

de Março e para o qual competiam

20 cidades pré-seleccionados por

um júri de entre “as mais visitadas

do continente”, seguem-se Viena

(Áustria), Barcelona (Espanha),

Amesterdão (Holanda), Madrid

(Espanha), Valeta (Malta), Nice

(França), Milão (Itália) e Estocol-

mo (Suécia).

A competição anual foi lançada

em 2010 e, logo à primeira, Lisboa

foi a vencedora. Em 2011, foi eleita

a cidade de Copenhaga e, no ano

passado, Portugal voltou a vencer,

graças à eleição do Porto (que este

ano fi cou de fora dos dez destinos

mais votados). Este ano, entre mais

224 mil votos recebidos, a votação

foi renhida entre os primeiros clas-

sifi cados. Istambul recebeu exac-

tamente 27.794 votos e Lisboa

27.345 (o 3.º posto de Viena já foi

conseguido com maior diferença: a

capital austríaca conquistou 21.293

votos, o que representa 9,5%).

A competição voltará a ser lan-

çada em Janeiro de 2014, informa

a organização, adiantando que irão

ser também avançadas em breve

outras votações online — casos do

melhor evento cultural, melhor

destino gastronómico ou das me-

lhores praias europeias. C.B.R.www.europeanconsumerschoice.org

Norwegian prepara Breakaway para Maio

Hop! descola amanhã com trajectos desde 55€

Nova Zelândia com cinco novas reservas marinhas

Peixe em Lisboa 2013 com Sangue na Guelra

Esta semana na Fugas online

Viver Nova Iorque em mar alto. Será essa a proposta do novel Breakaway, da Norwegian, que sai dos estaleiros alemães de Meyer Werft a 25 de Abril. O navio, de 146 mil toneladas, apresenta-se com 18 decks e capacidade para 4000 passageiros. Entre as atracções, um passeio ao ar livre, de 400m, com lojas, bares e restaurantes; um bar a -8,5°C; e um espectáculo com o selo Broadway. O Breakaway faz a travessia transatlântica em Maio, passando a ter como portos de abrigo Nova Iorque, Bermudas e Bahamas. Para aproveitar enquanto está na Europa, há escapada de uma noite, a 28 de Abril, de Roterdão a Southampton (desde 115€).www.breakaway.ncl.com

Os primeiros voos da linha aérea regional de baixo-custo do grupo Air-France-KLM descolam amanhã, com tarifas desde 55€ (nível Basic; há ainda Basic Plus ou Maxi Flex), embora se consiga encontrar viagens mais baratas (caso de uma ida de Bordéus para Lyon a 45,90€). A Hop! passa a assegurar 530 voos diários entre 136 destinos — Portugal fica de fora, assim como Espanha, excepção feita a Barcelona —, sendo que as reservas online para os destinos italianos só abrem após 15 de Abril. No mapa de rotas europeias, Budapeste (Hungria), Gotemburgo (Suécia), Praga (República Checa) ou Viena (Áustria).www.hop.fr

Cinco novas reservas marinhas, que se estendem por 17.500 hectares (mais de metade da região do Alentejo), foram aprovadas no início de Março pelo ministro neozelandês da Conservação, Nick Smith. As futuras zonas protegidas situam-se na costa Oeste da ilha Sul, em Kahurangi, Punakaiki, Okarito, Tauparikaka e Hautai. “Somos uma nação com uma das mais espectaculares e únicas costas [marítimas] do mundo e precisamos de reconhecer a importância e valor não só dos locais em terra mas também dos nossos habitats marinhos”, explicou o governante citado em comunicado divulgado em Breaking Travel News.www.newzealand.com

O Peixe em Lisboa volta a instalar-se no Pátio da Galé, em Lisboa, para, entre 4 e 14 de Abril, apresentar um programa com Sangue na Guelra, ao longo do qual não faltam chefs nacionais (Alexandre Silva, Bertílio Gomes, Fausto Airoldi, José Avillez, Leonel Pereira, Marlene Vieira, Miguel Castro Silva, Nuno Diniz, Nuno Barros, Tomoaki Kanazawa e Vítor Sobral) nem internacionais (Adrien Trouilloud, Bella Masano, Mauro Uliassi e Virgílio Martinez). Além da presença dos chefs, estarão em destaque os subchefs. Diariamente das 12h às 24h (excepto no dia de abertura, inicia às 18h, e de encerramento, fecha às 16h). Entrada a 15€, com degustação e bebida.www.peixemlisboa.com

Vídeo: o mundo a óleoRita e Leandro vão viajar pela sustentabilidade: serão uns 50 países, com tempo para voluntariado em quintas orgânicas. O detalhe: a viagem é numa carrinha movida a óleo alimentar usado. Conheça a história e veja o vídeo.

Fotogaleria: na MicronésiaPasseio por Guam, a maior ilha da Micronésia, dito reino de algumas das melhores praias do mundo, onde o Verão parece eterno. Fotogaleria de Nuno Lobito.

Entre os pontos a não perder em Lisboa, os vários miradouros

CA

RLA

RO

SAD

O

Page 33: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 33

mais, muito mais!

As Cataratas de Iguazú têm o

seu ponto alto (haverá pontos

baixos?!) na “Garganta del

Diablo”. Quando o azul do céu

e o verde do arvoredo quase

deixam de se ver, devido a

uma queda de água que liberta

gente que passa. Também aqui se

sentaram Lord Byron, Stendhal e

Goethe. Veriam a mesma gente a

As fugas dos leitores

Os textos, acompanhados preferencialmente por uma foto, devem ser enviados para [email protected]. Os relatos devem ter cerca de 2500 caracteres e as dicas de viagem cerca de 1000. A Fugas reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os textos, bem como adaptá-los às suas regras estilísticas. Os melhores textos, publicados nesta página, são premiados. Esta semana com um exemplar da colecção Cadernos do Vinho, editada pela Fugas. Mais informações em fugas.publico.pt

Cataratas de Iguazú, que diabo!

Roma, uma viagem no tempo

Se escrever é um prazer, então

escrever sobre viagens é um

prazer redobrado!

Cataratas de Iguazú, Dezembro

de 2009, fronteira Brasil/

Argentina/Paraguai. Tendo

começado por uma caminhada

de mais de 1200m no Parque

Brasileiro, atravessa-se, de carro,

a fronteira para a Argentina.

Na parte brasileira caminha-se

em redor das cataratas, em solo

argentino direi que se entra pelas

cataratas dentro.

Num Parque Nacional rico

em fauna e fl ora, observa-se

uma criança de seis, sete anos,

sentada, a brincar com dezenas

e dezenas (sem exagero) de

borboletas que a rodeiam! Mas há

Todos os caminhos vão dar a

Roma e ela viaja desde o coração

da história. Atravessar a cidade

é perder-me por entre ruelas e

ruínas, fontes e jardins, igrejas

e palácios. Deambular por ruas

feitas de casas cor-de-laranja,

praças, becos, obeliscos, colunas.

A cada esquina, a cada passo, há

sempre uma história para contar.

Pedras empilhadas sobre

pedras, sedimentações de épocas

gravadas na memória das coisas

por vir. O grande enigma da

passagem do tempo. Desde os

etruscos aos romanos, da capela

Sistina até ao Maxxi, também

a arte desfi la. Que caminho irá

seguir?

Sento-me no café Greco a ler

os Contos romanos do Alberto

Morávia, olho pela janela a ver a

um vapor impressionante!

Senti-me num ambiente incrível,

maravilhosamente incrível, mas

acho que não fui só eu!… Recordo

as muitas pessoas de mãos na

cabeça (literalmente) com o

espectáculo natural a que estavam

a assistir, parecendo não acreditar

no que viam!

Desde 1984 consideradas

Património Mundial da

Humanidade pela UNESCO,

as Cataratas de Iguazú foram

eleitas, a 11 de Novembro de 2011,

uma das 7 Novas Maravilhas da

Natureza, pela New7Wonders

Foundation.

Quem viajar pela América do

Sul, não deixe de as visitar!

João Pontífi ce Gaspar

passar? O que é o tempo e o que

somos nós nessa viagem?

A Piazza Navona fervilha

de gente. Provo um tartufo e

sinto La Dolce Vita correr mas

quando ouço um Fiat buzinar

e os sinos a tocar apresso-me a

subir à Basílica para avistar, do

alto, a cidade inteira. Já foi aqui a

Cabeça do Mundo,2700 anos de

história, a perder de vista. Sinto

o perfume do amoR no ar e desço

à ponte para ver o entardecer

alongar as sombras sobre o Tibre

e ao entrar no Panteão... magia, a

cidade enche-se de luz!

Margarida Ramos

Mais viagens emfugas.publico.pt

As 5 coisas

Nova Iorque

1

Emília Estrela, gestora de seguros, vive há 40 anos em Nova Iorque.

de que eu mais gosto...

...em

GA

RY H

ERSH

ORN

/REU

TERS

Comida para cada diaNova Iorque tem um restaurante de praticamente cada país do mundo. Bairros como Little Italy, Chinatown e Lower East Side para restaurantes mais em conta e com um ambiente mais jovem, e da parte alta da cidade para coisas mais formais. Eu gosto particularmente de descobrir novos restaurantes com chefs portugueses. E de partilhar a minha herança portuguesa com os amigos. A minha mais recente descoberta foi o Robert Restaurant, em Columbus Circle, 2: Luísa Fernandes não uma excelente chef, já premiada pela Food Network. Para brunch com amigos, normalmente ao domingo, sugiro o Bubby’s, em Tribeca, e o Bagatelle, no Meatpacking District.

2Rooftop barsÉ um óptimo programa de fim de tarde de Verão: amigos, um aperitivo e boa música. Alguns dos meus favoritos: The Press Lounge, no topo do Ink48 Hotel; Salon de Ling, no Penninsula, em Midtown; The Haven, no Standard Hotel. O Conrad Hotel Downtown é o meu mais recente favorito.

3Compras Time Warner Mall, em Columbus Circle; a Quinta Avenida e Madison Avenue para quem procure alta-costura; Soho e Chelsea para lojas trendy e retro-chic.

4Diversidade culturalA diversidade da cidade é fabulosa. Adoro andar pelas ruas e ouvir línguas diferentes. Há tantos brasileiros que posso secretamente ouvir as conversas e soltar uns sorrisos. Às vezes até surpreendo alguns com um “olá, tudo bom?).

5Os parquesSão um oásis em Manhattan: para relaxar, sentir o cheiro das flores e desfrutar do cenário. Madison Park para comer um hambúrguer, Bryant Park para fazer uma pausa e ler um livro, Central Park para desporto, patinar no gelo no Inverno ou assistir a um concerto.

Page 34: fugas

34 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

Motores

Estilizado, refi nado e atrevido. O novo Fiesta promete não desapontar o sucesso de vendas dos seus predecessores e surge com um refrescado fôlego garantido pelos motores Ecoboost de três cilindros, no caso ensaiado, de 100 cv. Carla B. Ribeiro (texto) e Rui Gaudêncio ( fotos)

Primeiríssima impressão:

é nervoso e sensível, respondendo

a qualquer pé ligeiramente mais pe-

sado de uma forma que surpreen-

de. E mais silencioso do que seria

de esperar. São três cilindros, num

motor de 999cc, com uma potência

de 100cv que, nos primeiros me-

tros, se mostram cheios de vontade

de cavalgar — até porque o biná-

rio, de 170 Nm, é disponibilizado a

partir das 1400 rotações e o torque

pode ser aproveitado até às 4000.

Mas, calma. Não sairá a galopar

sem controlo e, ao fi m de apenas

umas voltas, domina-se bem as

sensibilidades tanto do acelera-

dor como do travão. Se primeiro

(quase) assustam, depois as suas

respostas assertivas tornam-se re-

confortantes, sobretudo para fugir

a algum obstáculo ou para estancar

o carro num qualquer caótico pára-

arranca urbano. Cuidado, porém,

com as ultrapassagens: bem vistas

as coisas, não é assim tão célere,

acelera dos 0 aos 100 km/h em mais

de 11s.

Em auto-estrada, com uma velo-

cidade máxima, dizem os números

ofi ciais, de 180 km/h, não desapon-

ta, mas parece “bailar” demasiado.

Já em estrada, enfrentando curva e

contracurva, transmite segurança

e aponta o focinho de forma pre-

cisa.

Pondo os elementos na balança, é

provável que os traços apresentados

garantam que o Fiesta continue a

atrair o seu público-alvo preferido,

constituído sobretudo por jovens.

E, sabendo a marca que atrás de

um cliente Fiesta há, muitas vezes,

a carteira de um progenitor, a Ford

lança a funcionalidade MyKey que

restringe velocidade ou controla o

volume áudio.

O tricilíndrico chega ainda com

ambições ecológicas — com um re-

gisto apreciável de 99 g/km de CO2

— e económicas, avançando com

um consumo médio de 4,3 l/100

km. E é aqui que resvala e defrauda

todas as expectativas. Circulámos

cem quilómetros certinhos antes

de voltar a atestar — cerca de 50%

em cidade, 30% em auto-estrada,

20% em estrada. Total consumido:

8,7 litros, o que dá uma média pou-

co simpática de cerca de 15€ por

100 km.

Simpatias à parte, o Fiesta, neste

upgrade da sexta geração, tornou-

se um carro bonito de se exibir.

Foi alongado, enaltecendo um

sentimento dinâmico graças tam-

bém à linha que se desenha desde

o guarda-lamas dianteiro até ao

farolim traseiro; conquistou uma

grelha cromada de cinco fi leiras

que compõem uma “boca” agres-

siva q.b.; e incorporou faróis mais

magros e delineados a LED, o que

lhe permite parecer maior e mais

largo do que é na realidade (mede

172,2cm de largura e 149,5cm de

altura), ilusão à qual também não

são indiferentes as linhas que pa-

O atrevimento pouco económico dos três cilindros

passar uma sensação de conforto

em alguns detalhes (como o volan-

te em pele), assim como abraçar

uma vertente tecnológica (inclui

Rádio CD MP3 com sistema Blue-

tooth, Voice to Control e entradas

Ford Fiesta 1.0 Ecoboost First Edition

recem trepar pelo capot acima.

No interior, a ergonomia foi me-

lhorada, com alguns reposiciona-

mentos (casos dos comandos dos

vidros eléctricos ou dos puxado-

res), e nota-se algum esforço para

USB e AUX). O esforço sai recom-

pensado em vários detalhes, como

na brilhante moldura superior do

painel que percorre o tablier, e cujo

material também se encontra nos

painéis das portas. Mas persiste em

ser prejudicado pela presença de

vários materiais duros e de baixo

custo.

Para o condutor a posição que

lhe está reservada é confortável,

tendo sido conquistado um apoio

para o braço. Ainda assim, a visi-

bilidade traseira não é a melhor:

especialmente quando o banco de

trás exibe o 3.º encosto de cabeça

(um opcional que custa 40€).

É, aliás, dos dois bancos diantei-

ros para trás que o Fiesta marca me-

nos pontos: os ocupantes traseiros

têm de encaixar joelhos mediante a

altura de quem segue à frente. Por

isso, caso seja necessário esgotar a

lotação, é bom que os passageiros

se preparem para apertos.

Page 35: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 35

s Agilidade, precisão da direcção, função MyKey,

respostas rápidas

t Consumos médios apurados, persistência

de alguns plásticos duros, visibilidade traseira

BARÓMETRO

Não é fácil. Primeiro, porque o vidro traseiro é estreito e pequeno. Depois, porque os encostos de cabeça do banco de trás tapam os cantos do mesmo. Fazer manobras para trás torna-se assim uma dor de cabeça e convém redobrar cuidados. Ou então considerar a inclusão de câmara de visão traseira (200€) ou os sensores de estacionamento à frente e atrás, incluídos nos Pack Easy Driver 2 e 3 (350 e 400€, respectivamente).

CILINDRADA VS POTÊNCIA

FICHA TÉCNICA

EQUIPAMENTO

O PODER DOS PAIS

É cada vez maior a tendência para diminuir o tamanho dos motores e o número de cilindros, o que na teoria permite conseguir menores marcas na emissão de poluentes e também mais baixos consumos. Porém, ninguém parece disposto a perder performance para poupar o ambiente. E então enfiam-se cavalos que permitam imprimir genica, no caso, a um bloco de 999cc e três cilindros. O resultado revela um consumo bem acima do anunciado, com os cavalos a exigirem alimento correspondente às capacidades de que dispõem.

Um mimo para progenitores que queiram presentear o jovem filho com um carro. A tecnologia MyKey da Ford permite colocar uma série de restrições de segurança: definir um limite de velocidade máxima e volume máximo de sistema de áudio (pode até desactivá-lo por completo) ou impedir que o condutor desactive as tecnologias de segurança, tais como Controlo Electrónico de Estabilidade e a Travagem Activa em Cidade. Mas não é só aos pais que a Ford pisca o olho: aos gestores de frotas sublinham o facto de a limitação de velocidade poder trazer consumos mais reduzidos.

FRENTE MODO MONDEO

Este facelift do Ford Fiesta adopta o estilo da frente do futuro Modeo, marcada por uma grelha trapezoidal (com cinco lâminas cromadas) e enquadrada com faróis com luzes de circulação diurna que utilizam a tecnologia LED. Face ao design anterior, estas novas linhas ganham em agressividade, sobretudo quando em rolamento. Mas não se pode dizer que seja um ás da estética automóvel e estacionado passa praticamente despercebido.

MARCHA-ATRÁS EM CUIDADOS

SegurançaABS: Sim (com distribuição electrónica da força de travagem)Controlo electrónico de estabilidade: SimAirbags dianteiros: Sim (com desactivação do airbag do passageiro)Airbags laterais: SimAirbags de cortina: SimAirbag de joelhos para o condutor: SimSistema de fixação Isofix: SimAviso de colocação do cinto de segurança: SimVida a bordoVidros eléctricos: Sim (à frente; atrás como opção de 150€)Fecho central: SimComando à distância: SimAuxílio ao arranque em subida: SimEspelhos retrovisores com regulação eléctrica e aquecidos: SimVolante regulável: SimVolante multifunções: SimVolante em pele: SimComandos de rádio e telefone no volante: SimAr condicionado: Sim (Automático)Porta-luvas iluminado: SimPorta-luvas refrigerado: NãoBancos dianteiros ajustáveis em altura: SimBancos traseiros rebatíveis: SimCruise control: Opção (180€)Função Start/Stop: SimComputador de bordo: SimBluetooth: SimConexões AUX-IN e USB: SimFaróis de Nevoeiro: SimJantes em liga leve: Sim (15”)Alarme: Não (Opção, 250€)

MecânicaCilindrada: 999ccPotência: 100cv às 6000 rpmBinário: 170 Nm entre as 1400 e 4000 rpmCilindros: 3Válvulas: 12Alimentação: Gasolina de injecção directa com turboTracção: DianteiraCaixa: Manual, 5 velocidadesPneus: 195/55 R15Suspensão: Dianteira, independente, do tipo McPherson, com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora; traseira, semi-independente por

eixo de torção, molas helicoidais e amortecedores hidráulicosDirecção: Pinhão e cremalheira, com assistência eléctricaTravões: Discos, à frente; tambor atrásDimensõesComprimento: 396,9cmLargura: 172,2cmAltura: 149,5cmPeso: 1122 kgCapac. mala: 290 litrosCapac. Depósito: 42 litrosPrestações*Velocidade máxima: 180 km/hAceleração 0-100 km/h: 11,2sConsumo misto: 4,3 l/100 kmEmissões CO2: 99 g/kmPreço15.510€ * Dados do construtor

Page 36: fugas

36 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

MotoresNovidades

O “carocha” volta a ser descapotávelUm dos carros que marcou a história da indústria automóvel foi o Volkswagen Beetle original, tanto na versão fechada como na descapotável. Na linha dessa tradição, surge agora uma variante Cabrio do moderno “carocha”. João Palma

A 3.ª geração do

Volkswagen Beetle tem a partir de

agora uma versão descapotável. O

novo Beetle Cabrio está disponível

em dois níveis de equipamento, De-

sign e Sport, com três motores a ga-

solina (105cv, 140cv e 200cv) e dois

a gasóleo (105cv e 140cv). Os preços

iniciam-se nos 26.935€ do Beetle

Cabrio 1.2 TSI de 105cv a gasoli-

na. Em homenagem ao “carocha”

original, por mais 2575€, há uma

edição especial em três variantes:

50’s, 60’s e 70’s Edition.

O Beetle, mais conhecido em Por-

tugal como “carocha”, confunde-

se com a história da Volkswagen.

Mantendo as linhas originais, com

várias evoluções durante a sua vida,

resistiu de 1938 a 2003. Ao longo da

sua longa história, teve duas ver-

sões descapotáveis: a primeira en-

tre 1949 e 1952 e a segunda de 1972 a

1980. O novo Beetle nasceu em 1998

e durante cinco anos foi fabricado

em simultâneo com o “carocha”

original em Puebla (México). Essa

2.ª geração do Beetle, que não ob-

teve o sucesso de outras modernas

versões de clássicos, como o Mini

ou o Fiat 500, teve uma variante

descapotável a partir de 2003.

O Beetle III, também produzido

no México, procurou recuperar

parte do ADN do primeiro “caro-

cha”. O descapotável segue-lhe as

pisadas, juntando-lhe o condimen-

to de um visual desportivo, graças

ao spoiler, às ópticas traseiras e

à sua silhueta: é mais comprido

(4278mm), mais largo (1808mm) e

mais baixo que o Beetle Cabrio de

2003. A capota têxtil, em preto ou

bege, é composta por três camadas

de tecido impermeável, sendo a in-

termédia acusticamente isolante.

Tem accionamento eléctrico, abrin-

do ou fechando em 9,5 segundos

e sete relações (1.2 TSI, 1.4 TSI e 1.6

TDI) ou de seis relações (2.0 TSI e

2.0 TDI). As prestações proporcio-

nadas pela caixa DSG são muito

similares (nuns casos superiores,

noutros inferiores) às da caixa ma-

nual.

Este descapotável de três portas

e quatro lugares tem dois níveis de

equipamento: o Design inclui air-

bags frontais e de cortina à frente,

apoios de cabeça, sistema activo de

protecção a capotamento, fi xações

Isofi x, controlo de estabilidade com

sistema de diferencial electrónico e

de antipatinagem, ar condicionado,

ajuda ao arranque em subida, cruise

control, sensores de chuva e de es-

tacionamento dianteiro e traseiro,

faróis de nevoeiro com iluminação

em curva, indicador da pressão dos

pneus, jantes de liga leve de 16’’,

rádio/CD MP3 com entrada Aux-In

e comandos no volante. O Sport

acrescenta jantes de 17’’, climati-

zador, bloqueio electrónico do dife-

rencial, três manómetros adicionais

(temperatura do óleo, cronómetro

e pressão do turbo), ponteiras de

escape e bancos desportivos, pe-

dais em metal.

Sendo o Beetle Cabrio um mo-

delo que apela à emoção e a um

espírito revivalista enquadrado

num design actual, a Volkswagen

criou uma edição especial em três

variantes: a estilista 50’ Edition, de

linhas clássicas, em preto com ca-

pota e jantes de 17’’ da mesma cor

e inserções cromadas e prateadas; a

cool 60’ Edition, em azul brilhante

ou branco, bancos de pele em dois

tons, logótipos e instrumentação

tipo anos 1960, jantes de 18’’ e

capota preta; e a elegante 70’ Edi-

tion, em castanho toff ee com capota

bege, bancos desportivos em pele

bege e jantes de 18’’.

FICHA TÉCNICA

Motorizações Veloc. Máx. Consumo Médio Emissões CO2 Preço Gasolina1.2 TSI (105cv) 178 km/h 6,1/5,9 l/100km 142/139 g/km 26.935€/28.027€*1.4 TSI (160cv) 206/205 km/h 6,8/6,4 l/100km 158/148 g/km 30.926€/31.628€*2.0 TSI (200cv) 223/221 km/h 7,5/7,8 l/100km 174/180 g/km 39.475€/41.407€**Gasóleo1.6 TDI (105cv) 178/176 km/h 4,7/4,9 l/100km 124/128 g/km 32.187€/34.121€*2.0 TDI (140cv) 196/193 km/h 5,1/5,6 l/100km 134/145 g/km 37.442€/40.356€*

* Valores para nível de equipamento Design com caixa manual/caixa automática DSG. ** Valores para nível de equipamento Sport com caixa manual/caixa automática DSG

Este Beetle tem dois níveis de equipamento: o Design e o Sport

mesmo em movimento até 50 km/h

e recolhe-se num compartimento

especial, pelo que a capacidade da

mala, 225 litros, não se altera.

O novo Beetle Cabrio pode ter

três motores a gasolina (1.2 TSI, 1.4

TSI e 2.0 TSI) e dois a gasóleo (1.6

TDI e 2.0 TDI), acoplados a uma

caixa manual de seis ou de cinco

velocidades (esta última no caso do

1.6 TDI). Em alternativa pode trazer

a caixa DSG de dupla embraiagem

Page 37: fugas

FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013 | 37

A democratização dos coupés da Mercedes

As expectativas

eram muitas, alimentadas pela re-

cente aparição no Salão de Genebra,

mas o Mercedes-Benz CLA, uma ber-

lina de quatro portas e cinco lugares

em formato de coupé, nas primeiras

impressões, colhidas na apresenta-

ção dinâmica, não as defraudou. O

CLA é ainda mais bonito ao vivo do

que nas fotos e preenche um espa-

ço novo na gama da Mercedes. Pelas

suas linhas, é basicamente um CLS

em formato reduzido, mas que custa

metade do preço: estará à venda em

Abril desde 36.550€ (CLA 200 1.6 a

gasolina com 156cv).

De momento, esta é a versão mais

acessível, mas em Junho/Julho serão

lançadas duas variantes do bloco 1.6

a gasolina com 122cv, que, previsivel-

mente terão um preço inferior: 180

e 180 BlueEFFICIENCY Edition. Esta

última terá médias de 5,0 l/100km de

consumos e 118 g/km de emissões de

CO2, para o que contribui o seu co-

efi ciente aerodinâmico muito baixo

— Cd 0,22. Mas mesmo as outras ver-

sões do CLA, com um Cd de 0,23, dão

cartas em termos de aerodinâmica.

No lançamento, além do CLA 200,

estarão disponíveis o 250 com mo-

tor a gasolina de 1595cc e 156cv e o

220 CDI com propulsor a gasóleo de

2143cc e 170cv. Mas será apenas em

Setembro que vai ser lançada a ver-

são que irá constituir o grosso das

vendas do CLA em Portugal, dadas

as especifi cidades do mercado: o

CLA 200 CDI, com motor a gasóleo

de 1796cc e 136cv, que se estima que

venha a custar cerca de 38.000€.

Para a mesma data, está previsto o

CLA mais potente: o 45 AMG, uma

criação do departamento desportivo

da Mercedes dotado de motor a gaso-

lina turbo de dois litros, com 360cv

e 450 Nm, acelerando dos 0 aos 100

km/h em 4,6s e com uma velocidade

máxima limitada a 250 km/h.

O CLA tem de série efi cientes e

bem escalonadas caixa manual de

seis velocidades ou automática de

sete relações (no 250 e no 220 CDI)

e é o primeiro modelo de quatro

portas da Mercedes com tracção

dianteira (pode ser integral 4Matic

no CLA 250). Todas as versões vêm

dotadas com sistema Start & Stop,

de paragem e arranque automáticos

do motor, e, na caixa manual, indi-

cador de mudança de velocidade. A

suspensão pode ser a conforto de sé-

rie ou, em opção, a desportiva, com

rebaixamento da carroçaria 15mm à

frente e 10mm atrás.

Com 463cm de comprimento,

177,7cm de largura e 143,2cm de altu-

ra, o CLA, por fora, é uma réplica em

menores dimensões (e, para alguns,

melhorada) e mais acessível do CLS.

As suas linhas conjugam um estilo

elegante e desportivo com efi ciência

aerodinâmica. Derivado do classe A,

tem uma mala de 470 litros e trans-

porta com conforto quatro pessoas

— o lugar do quinto ocupante, ao

meio e atrás, é mais estreito e o tú-

nel central da transmissão difi culta

a colocação dos pés. O formato mer-

gulhante do tejadilho faz com que

quem tenha mais de 1,80m de altura

e se sente nos bancos traseiros roce

com a cabeça no tecto. Já à frente

o espaço é amplo e o condutor, in-

dependentemente do seu tamanho,

encontra facilmente uma posição

confortável com boa visibilidade. Os

materiais e os acabamentos honram

os pergaminhos da marca alemã. A

instrumentação é completa e de lei-

tura fácil e enquadra-se no tablier de

linhas elegantes, a condizer com a

sensação de qualidade do habitáculo.

No que se refere à segurança, o

Mercedes-Benz CLA ainda não foi

submetido aos testes do Euro NCAP.

No entanto, está bem equipado, ten-

do de série airbags frontais, laterais e

de cortina à frente, além de joelhos

para o condutor. No pacote chegam

ainda sistemas de alerta de colisão

e de fadiga do condutor, programa

electrónico de estabilidade com con-

trolo de tracção e auxílio à travagem

de emergência, travões de disco às

quatro rodas, travão de estaciona-

mento eléctrico, monitorização da

pressão dos pneus, fi xações Isofi x e

capot de motor activo para protecção

de peões.

Em termos de conforto e vida a

bordo, o CLA cumpre com o exigido

Em termos de conforto e vida a bordo, o CLA cumpre com o exigido para um veículo da sua categoria

para um veículo da sua categoria, mas

é susceptível de personalização por

meio de duas linhas de design, Urban

e AMG Sport, e de uma extensa lista

de itens e pacotes de equipamento

opcionais. No lançamento, e por um

período de 12 meses, é proposta por

6150€ (6650€ no caso do CLA 200)

uma série especial Edition 1, que

inclui jantes especiais AMG de 18’’,

aventais traseiro e dianteiro e saias

laterais AMG, suspensão rebaixada

e discos de travão dianteiros perfu-

rados, grelha frontal com visual dia-

mante, faróis bixénon, escape duplo

com ponteiras em inox, bancos em

pele, pedais em aço inoxidável, etc.

O novo coupé de quatro portas da Mercedes pareceu confi rmar as expectativas num primeiro contacto. A versão em ponto pequeno do CLS oferece qualidade e design a metade do preço do irmão maior – uma aposta para conquistar novos clientes. João Palma

FICHA TÉCNICA

Motorizações Veloc. Máx. Consumo Médio Emissões CO2 PreçoGasolina180 1.6 (122cv) 210 km/h 5,4 l/100km 126 g/km a definir*180 BlueEff . 1.6 (122cv) 190 km/h 5,0 l/100km 118 g/km a definir*200 1.6 (156cv) 230 km/h 5,5 l/100km 127 g/km 36.550€250 2.0 (211cv) 240 km/h 6,1 l/100km 142 g/km 47.900€Gasóleo200 CDI 1.8 (136cv) 220 km/h n. d. n. d. 38.000€**220 CDI 2.2 (170cv) 230 km/h 4,2 l/100km 109 g/km 44.750€*Disponível em Julho. ** Disponível em Setembro; preço estimado

Page 38: fugas

38 | FUGAS | Público | Sábado 30 Março 2013

Plano de viagem

À descoberta da Inglaterra da primeira metade do século XX, percorrendo os lugares mais representativos da obra da escritora Virginia Woolf. Preço: desde 2500€/pessoa em quarto duplo. Voo, taxas, seis noites, pensão completa, entradas em monumentos e museus, visitas com conferencista especializada e guia a Londres, Brigthon e Cornualha. De 7 a 13 Maio. Touch Travel Viajar com arte. Tel.: 217817590; Centro Nacional de Cultura.www.cnc.pt

Ar livre

Cá dentro

Lá fora

Pastores na serra da Estrela

Passeio de bicicleta em Estarreja

Marrocos

Preço: desde 235€/ pessoa em quarto duplo. Conheça as tradições dos pastores da Serra da Estrela, percorra alguns dos seus trilhos e saboreie as iguarias das Beiras, nesta escapada de dois dias. Inclui estadia de uma noite em regime de pensão completa, transporte à partida de Lisboa em autocarro de turismo e guia. De 8 a 9 de Junho.www.cistertour.pt

Palheiros do Castelo

Preços/casa/noite: 50€, 75€, 80€ e 85€ (capacidade para quatro pessoas). Estadia nos Palheiros do Castelo, quatro casas de campo situadas dentro das muralhas do Castelo do Sabugal, que convidam ao descanso e ao lazer.www.mundo-rural.pt

Estarreja comemora o Dia Nacional dos Moinhos, que se assinala no dia 7 de Abril, com um passeio de bicicleta pelos moinhos de Avanca, que envolve o moinho de Meias, Zangarinheira e Arcã. Inscrição 5€ e 10€ com almoço. Das 9h30 às 16h. Telefone: 917642697; [email protected]. Durante este fim-de-semana, um pouco por todo o país, estarão a funcionar e abertos ao público, para visitas gratuitas, várias dezenas de moinhos de todos os tipos.

Caminhada na serra de Grândola

No dia 6 de Abril parta à descoberta da serra de Grândola, percorra olivais seculares e montes cobertos de belos montados de sobro e observe variadíssimas espécies de flora e fauna local. O local de encontro está marcado para as 10h, junto ao coreto, perto da Câmara Municipal de Grândola. Gratuito.www.clubenatura.net

Cruzeiro

Preço: desde 2170€ por pessoa em quarto duplo. Com a duração de 11 dias, o programa “Marrocos Português” mostra-nos a influência e os testemunhos da cultura portuguesa neste país. Passagem aérea, taxas, alojamento em hotéis e uma noite em auberge ou acampamento, pensão completa e visitas com guia a Casablanca, Azamour, Jadida, Safi, Essaouira (na foto), Marraquexe, Ouarzazate, Tinghir, Erfoud, Merzouga, Fez, Meknès e Rabat.www.arvorecoop.pt

Preço: desde 569€/pessoa em camarote duplo. Doze dias a bordo de cruzeiro em regime de pensão completa, com partida no dia 6 de Abril de Civitavecchia (Itália) e portos de escala em Alanya (Turquia), Limassol (Chipre), Haifa e Ashdood (Israel), Port Said e Alexandria (Egipto, na foto em cima). Não inclui o voo.www.abreu.pt

AD

RIA

NO

MIR

AN

DA

MIG

UEL

MA

DEI

RA

NU

NO

FER

REIR

A S

AN

TOS

Page 39: fugas

Passatempocom o apoio:

VVVVVVVoooooooolllllluuuuuummmmmmmeeeeeee 11111111111,,,, qqqqquuuuuuiiiiiinnnnnttttttaaaaaa-----fffffffeeeeeeiiiiiiirrrrrraaaaa,,,,,, ddddddiiiiiiaaaaaaa 444444 ddddddeeeeee AAAAAAbbbbbbbrrrrrrrriiiiiilllllll pppppppoooooorrrrr ++++++ 6666666666,,,,99999555555llllll €€€€€55555 cccccccooommmm oooo PPPPúúúbbbbllliicccoo€€€

Marcele Saunier, conhecida como Catherine Sauvage, relegou para segundo plano o piano e as artes dramaturgas

para se concentrar no canto, inspirada pelo seu ídolo Léo Ferré. Mais do que um ídolo, Ferré foi também uma espécie

de tutor de Catherine, tendo composto o seu primeiro grande êxito Paris Canaille, bem como L'Homme, outro dos seus êxitos.

A sua vida e obra estão presentes no CD e livro desta semana, com ilustração de Tiago Albuquerque.

Participe ainda no passatempo e ganhe viagens a Paris. Reserve já.

Saiba mais em www.publico.pt

Cole

cção

15 liv

ros+

CD

. Per

iodic

idad

e se

man

al. PV

P v

ol. 1

: 3,9

5€. PV

P r

esta

nte

s: 6

,95€. Pre

ço t

ota

l da

cole

cção

: 101,2

5€. Entr

e 24 d

e Ja

nei

ro e

1 d

e M

aio. Ediç

ão lim

itad

a ao

sto

ck e

xis

tente

. A c

om

pra

do p

roduto

im

plica

a com

pra

do jorn

al.

AAAAA mmmmmeeeellllhhhhhooooorrrr ffffffeeeeesssssttttaaaaa ppppppaaaaaarrrrraaaaa CCCCCCaaaattttthhhhheeeeeerrrriiiinnnnneeee?????? HHHHHHooooorrrraaaaassss eeee hhhhoooooorrrraaaaaassssss ddddddeeeee FFFFFFeeeeeerrrrrrrréééé....AA

UUUUUUmmmmmmmaaa aaaaaffffffttttteeeeeerrrr--hhhhhhoooouuuurrrrrssss pppppppaaaaarrrrrrtttttyyyy eeeeemmmmm 11111199999666666444444

Saiba como ganhar viagens a Paris com esta colecçãoem http://static.publico.pt/coleccoes/chansonfrancaise

www.publico.pt

quinta,dia 4Abril

Page 40: fugas

Quem assinatem maisPúblico.

Agora, tem ainda mais vantagens em assinar o Público. Ao aderir à nova assinatura semestral, além de ter acesso à versão digital, todos os dias da semana, passa a poder receber também a versão em papel ao fim-de-semana.

E o melhor é que ainda ganha um mês extra de assinatura grátis.

Saiba mais em http://www.publico.pt/assinaturas/papeldigital/

67€ entrega em morada

NOVA ASSINATURA SEMESTRAL

Para mais informações, ligue para o 808 200 095 ou envie um email para [email protected]. Campanha não acumulável com outras promoções e válida apenas para subscrições semestrais.

+ =PAPELFIM-DE-SEMANA

DIGITALTODOS OS DIAS

1 MÊS ASSINATURAGRÁTIS