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FRANCISCO MEDEIROS BATISTA DAMASCENO
ESTUDO COMPARATIVO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DE DIFERENTES CIMENTOS ENDODÔNTICOS E DO AGREGADO
DE TRIÓXIDO MINERAL
2007
Mestrado em OdontologiaAv. Alfredo Baltazar da Silveira 580 cobertura
22790-710 - Rio de Janeiro, RJTels.: (0xx21) 2199-2200 ramal:2204
FRANCISCO MEDEIROS BATISTA DAMASCENO
ESTUDO COMPARATIVO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DE DIFERENTES CIMENTOS ENDODÔNTICOS E
DO AGREGADO DE TRIÓXIDO MINERAL
Rio de Janeiro 2007
FRANCISCO MEDEIROS BATISTA DAMASCENO
ii
ESTUDO COMPARATIVO IN VITRO DA ATIVIDADE ANTIFÚNGICA DE
DIFERENTES CIMENTOS ENDODÔNTICOS E DO AGREGADO DE
TRIÓXIDO MINERAL
ORIENTADOR:
Prof. Dr. José Freitas Siqueira Junior
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ RIO DE JANEIRO
2007
Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade Estácio de Sá, visando a obtenção do grau de Mestre em Odontologia (Endodontia).
iii
"Não há homens, por mais sábios que sejam, que na sua juventude não
tenham pronunciado palavras ou feito atos cuja memória desejariam ver
apagada ou abolida. Mas não devem eles lamentar esses atos, pois só se
chega ao conhecimento vivendo a experiência de atos agradáveis e
desagradáveis. Na estrada de nossas vidas, não receberemos a sabedoria de
outrem mas por nossas determinações e sacrifícios, pois só assim os
conhecimentos obtidos se tornarão perduráveis e eternos..."
Proust
iv
DEDICATÓRIA
A saudade é um sentimento forte, especialmente muito emocionante.
Apesar de ter a certeza de que, mesmo sem estar fisicamente comigo,
participaram intensamente de cada obstáculo, de cada momento, de cada
realização. Hoje, a presença de vocês me faz falta e gostaria de poder abraçá-
los e dizer muito obrigado, mas apenas pedirei para que continuem olhando por
mim onde quer que estejam. É com muito carinho e saudade que dedico este
trabalho a vocês, meu Pai e minha Mãe, Jai Guru Dev.
v
A Licínia, pela cumplicidade, pela compreensão dos momentos
ausentes, pelo carinho e respeito aos nossos ideais, sempre presente. Em
todos os momentos, você foi a presença, o respeito à minha maneira de ser, o
refúgio que tanto necessitei: sua companhia, seu sorriso e suas palavras serão
sempre lembrados. Dividimos sonhos, emoções, pensamentos e dificuldades.
Seu amor e carinho foram armas importantes para esta conquista.
Dedico este trabalho a você, minha amada esposa,
pelo seu apoio e estímulo ao meu crescimento pessoal.
vi
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. José Freitas Siqueira Júnior, que deixou muito mais que
ensinamentos; sua dedicação, presteza e amizade permitiram transmitir, de
maneira tão singular, que dons, habilidades e conhecimentos são instrumentos
importantes para a construção da sabedoria na ciência. Hoje entendo todas as
exigências e cobranças necessárias para que eu chegasse até aqui. Muito
obrigado pela paciência e disponibilidade.
À Profª. Drª. Isabela Rôças Siqueira, pelo seu profissionalismo,
competência e dedicação. Profissionais como você, que conseguem ver além
do que pode ser visto, nos fazem descobrir o quanto ainda somos pequenos e
temos a aprender. Obrigado pelos ensinamentos, transmitidos com adorável
entusiasmo.
Ao Prof. Dr. Ernani da Costa Abad, por sua atenção, dedicação,
incentivo constantes e tranqüilidade, conduzindo com maestria a arte de
ensinar com o dom da convivência; fizeste do magistério um ideal.
Aos Professores do Curso de Mestrado em Endodontia da Universidade
Estácio de Sá por compartilharem os ensinamentos e posturas, pelo exemplo
de conduta profissional e moral, pois abrem mão de seu tempo com o nobre fim
de instruir e formar profissionais.
vii
Aos colegas da equipe de Endodontia da UNIVERSO, Pablo Sotelo,
Martha Amarante e Fernando Sampaio, pela convivência e tempo dedicado
juntos, pelo incentivo na obtenção deste título, durante essa nossa caminhada.
À secretária do Mestrado de Endodontia da Universidade Estácio de Sá,
Maria Angélica Pedrosa pela valiosa contribuição e atenção dispensada.
Aos meus irmãos Isabel, Damasceno Neto, Eliene, (Pedro e Marilene in
memoriam), companheiros e amigos, que sempre me incentivaram.
Meus agradecimentos a toda equipe dos cursos de especialização em
Endodontia da AOSC e da Faculdade de Odontologia da UNIGRANRIO e em
especial ao Prof. Dr. Edson Jorge Lima Moreira, por sua dedicação e
palavras de estímulo:
“O sucesso depende essencialmente da nossa vontade, da nossa
determinação e paixão pelo que fazemos” (abril/97), pelo incentivo e
consolidação de uma grande amizade. Muito obrigado!
Se eu sou o que eu sei, então, dentro de mim tem uma parte de cada um
que me ensinou.
Finalmente, mas não com menos veemência, agradeço a todos aqueles
que, de alguma forma, contribuíram para esta etapa profissional.
A todos vocês, meu MUITO OBRIGADO!
viii
ÍNDICE
Resumo...............................................................................................................ix
Abstract................................................................................................................x
Lista de Figuras...................................................................................................xi
Lista de Tabelas.................................................................................................xii
Introdução............................................................................................................1
Revisão da Literatura...........................................................................................7
Proposição.........................................................................................................26
Materiais e Métodos...........................................................................................27
Resultados.........................................................................................................31
Discussão..........................................................................................................37
Conclusões........................................................................................................43
Referências Bibliográficas.................................................................................44
ix
RESUMO O objetivo deste estudo in vitro foi avaliar a atividade antifúngica do ProRoot
MTA - Agregado de Trióxido Mineral e dos cimentos endodônticos Roeko Seal
Automix, AH Plus, Sealer 26, Intrafill, Acroseal, Epiphany e Kerr Pulp Canal
Sealer, contra as seguintes espécies: Candida albicans, Candida glabrata,
Candida tropicalis e Saccharomyces cerevisiae. O teste de difusão em ágar foi
o método utilizado. Placas de Petri contendo o meio Tripticase-soja ágar (TSA)
foram inoculadas com cada espécie de fungo testada. Em seqüência, as placas
foram incubadas a 37oC por 7 dias, em ambiente de aerobiose. Os resultados
permitiram classificar os cimentos testados em ordem decrescente de eficácia
antifúngica: Intrafill, AH Plus, Kerr Pulp Canal Sealer, Epiphany, MTA, Sealer
26, Acroseal e Roeko Seal. Nenhum material foi eficaz contra todas as
espécies testadas. Os cimentos Intrafill, AH Plus e Kerr Pulp Canal Sealer
apresentaram atividade inibitória contra três espécies testadas, mas foram
ineficazes contra C. albicans. Os efeitos antifúngicos do MTA, Acroseal e
Sealer 26 foram discretos e apenas observados para duas espécies testadas
(C. tropicalis e S. cerevisiae para MTA e Sealer 26 e C. glabrata e C. tropicalis
para o Acroseal). O cimento Roeko Seal não exibiu atividade antifúngica contra
as espécies testadas.
Palavras-chave: Cimentos endodônticos; atividade antifúngica; teste de
difusão em ágar; Candida spp.; Saccharomyces cerevisiae
x
ABSTRACT
The purpose of this in vitro study was to evaluate the antifungal activity of
ProRoot MTA – Mineral Trioxide Aggregate and the following endodontic
sealers: Roeko Seal Automix, AH Plus, Sealer 26, Intrafill, Acroseal, Epiphany
and Kerr Pulp Canal Sealer, against the following yeast species: Candida
albicans, Candida glabrata, Candida tropicalis and Saccharomyces cerevisiae.
The agar diffusion test was used to assess the antifungal effects of the
materials. Trypticase-soy agar (TSA) plates were inoculated with each yeast
species tested. In sequence, plates were incubated at 37oC for 7 days, in
aerobiosis. Our findings allowed the materials to be ranked in decreasing order
of antifungal efficacy as follows: Intrafill, AH Plus, Kerr Pulp Canal Sealer,
Epiphany, MTA, Sealer 26, Acroseal and Roeko Seal. None of the sealers
tested was effective against all tested species. The sealers Intrafill, AH Plus and
Kerr Pulp Canal Sealer presented antifungal activities against three of the
tested species, but they were ineffective against C. albicans. The inhibitory
effects of MTA, Acroseal and Sealer 26 were discreet and observed for just two
fungal species (C. tropicalis and S. cerevisiae for MTA and Sealer 26, and C.
glabrata and C. tropicalis for Acroseal). Roeko Seal did not exhibit antifungal
activity against any of the tested species.
Key words: Endodontic sealers; antifungal activity; agar diffusion test; Candida
spp.; Saccharomyces cerevisiae
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Teste de difusão em ágar para avaliação da atividade antimicrobiana
de cimentos endodônticos contra Saccharomyces cerevisiae..........32
Figura 2. Teste de difusão em ágar para avaliação da atividade antimicrobiana
de cimentos endodônticos contra cultura mista...........................32
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Componentes dos cimentos utilizados de acordo com as informações
fornecidas pelos respectivos fabricantes..........................................28
Tabela 2. Médias dos halos de inibição de crescimento fúngico produzidos
pelos diferentes cimentos endodônticos (em mm)..........................31
Tabela 3. Média e desvio padrão (em mm) do diâmetro dos halos de inibição
de crescimento antifúngico para o conjunto de microrganismos
empregados em relação aos cimentos endodônticos testados,
ordenados em ordem decrescente...................................................33
Tabela 4. Resultados do teste de comparações múltiplas PSLD de Fischer para
as médias dos halos de inibição de crescimentos dos cimentos
testados.............................................................................................35
Tabela 5. Semelhanças estatísticas entre os cimentos testados.....................36
1
INTRODUÇÃO
O sucesso endodôntico está relacionado com a eliminação e a
prevenção da infecção do canal radicular. A obturação do sistema de canais
radiculares complementa todo o esforço realizado nas demais etapas do
tratamento endodôntico, conduzindo e contribuindo para o êxito deste. O
selamento tridimensional de toda extensão da cavidade endodôntica, desde
sua porção coronária até o seu término apical, é o ideal a ser alcançado com
a obturação.
Entre as finalidades específicas de cada etapa operatória na obtenção
do resultado ideal do tratamento endodôntico, um fator que requer especial
atenção é a adequada impermeabilização dos túbulos dentinários, bem como
o completo preenchimento dos espaços vazios do sistema de canais
radiculares, visando impedir a infecção ou reinfecção do canal.
O cimento endodôntico é usado com o intuito de ocupar os espaços
não preenchidos pela guta-percha e assim promover um selamento
adequado do canal radicular. Desta forma, ajuda a evitar o fluxo de
exsudatos dos tecidos perirradiculares para o interior do canal, dificultando a
sobrevivência de microrganismos resistentes às fases anteriores do
tratamento e impedindo que bactérias ou seus produtos alcancem a região
perirradicular. Nesse sentido, o uso do cimento endodôntico em associação
com os cones de guta-percha torna-se indispensável no selamento do
sistema de canais radiculares, contribuindo para uma melhor qualidade do
tratamento (CARRASCOZA, 2000).
2
Técnicas modernas de obturação procuram lançar mão de maior
quantidade de guta-percha e menor película de cimento. Ainda assim, os
cimentos endodônticos têm importante papel no controle da percolação apical,
escoando para as ramificações e melhorando a adaptação da obturação às
irregularidades da interface dentina-material obturador (KOKKAS et al., 2004).
As patologias pulpares e perirradiculares são usualmente de natureza
inflamatória e de etiologia microbiana. Apesar de fatores químicos e físicos
poderem induzir alterações inflamatórias na polpa e nos tecidos
perirradiculares, microrganismos e seus produtos exercem um papel
significativo na indução e, principalmente, na perpetuação das doenças
pulpares e perirradiculares (SIQUEIRA, 1997; SIQUEIRA, 2001).
O verdadeiro objetivo da terapia endodôntica consiste em prevenir a
infecção do canal radicular em casos de polpa viva com inflamação
irreversível e de controlar a infecção em um quadro de polpa necrosada,
evitando assim o desenvolvimento de uma lesão perirradicular, quando
ausente, ou criando condições propícias para sua reparação, quando
presente. Em outras palavras, a terapia visa ao reparo ou à manutenção da
saúde das estruturas perirradiculares e ao restabelecimento da função
dentária normal (BASRANI et al., 2004; SIQUEIRA et al., 2004; NAIR et al.,
2005; SIQUEIRA, 2005).
A excelência endodôntica envolve o compromisso de favorecer as
defesas do hospedeiro para reagir favoravelmente ao tratamento endodôntico.
Neste sentido, o controle da inflamação e/ou da infecção endodôntica por
meio do tratamento endodôntico é influenciado por vários fatores como o
3
esvaziamento, o alargamento, a desinfecção do sistema de canais
radiculares e o selamento coronário.
O papel dos microrganismos no estabelecimento da inflamação e
infecção representa um grau de extrema importância no tratamento
endodôntico. Este fato valorizou todos os aspectos envolvidos nos processos
de controle microbiano, como as etapas relacionadas com o preparo dos
canais radiculares, as substâncias irrigadoras, as medicações intracanais, a
obturação e o selamento coronário. O canal radicular limpo e bem modelado
favorece um bom selamento endodôntico, cujo valor reflete na qualidade da
técnica de obturação associado ao cimento endodôntico. Vários estudos
sobre os cimentos endodônticos disponíveis no mercado demonstram
informações sobre suas diferentes propriedades físico-químicas e biológicas
(GROSSMAN, 1976; ØRSTAVIK, 1981; HOLLAND & SOUZA, 1985; FIDEL,
1993; ESTRELA et al., 1995; FIDEL et al., 1995; SHIPPER et al., 2004;
SHIPPER et al., 2005).
A resposta biológica perirradicular associada à capacidade de
selamento são importantes aspectos a se considerar durante a seleção do
material obturador. Assim, a literatura apresenta vários estudos que
investigaram diferentes variáveis sobre infiltração coronária ou apical,
microbiana e não-microbiana (SIQUEIRA et al., 1999; SIQUEIRA et al.,
2000b; ARAÚJO et al., 2002; BARBOSA et al., 2003; LOPES-FILHO, 2004).
Os fungos, especialmente a espécie Candida albicans, são
organismos eucariotas comumente encontrados na cavidade oral de
indivíduos saudáveis ou doentes (ADDY, 1977). Tem sido demonstrado que
podem ser detectados em cerca de 30% a 70% dos indivíduos sadios
4
(DARWAZEH et al., 2001). A região mais freqüentemente afetada é o dorso
da língua, podendo também ser encontrados na bochecha, gengiva, palato e
bolsas periodontais. Essas regiões são consideradas importantes portas de
entrada para infecções sistêmicas, portanto a prevenção da colonização oral
merece grande atenção (ADDY, 1977). Apesar de a C. albicans fazer parte
da microbiota normal do trato intestinal, pode se constituir em patógeno
oportunista das regiões mucocutâneas, trato digestivo e genital, além de
envolver pele, unhas e trato respiratório com riscos de desencadear
fungemias (KWON-CHUNG & BENNETT, 1992). Todavia, estabelece um
equilíbrio com o hospedeiro denominado simbiose. Quando este equilíbrio é
rompido devido a alterações nos mecanismos de defesa e no ambiente oral
(quimioterapia e radioterapia, infecção por HIV, etc), estas leveduras podem
causar infecções orais oportunistas, que, uma vez não tratadas, podem se
tornar generalizadas e/ou disseminarem sistemicamente provocando
fungemia (GREENSPAN, 1994).
Fungos podem tomar parte nas infecções endodônticas e assim
participar da etiologia das lesões perirradiculares (BAUMGARTNER et al.,
2000; SIQUEIRA & SEN, 2004). Eles possuem vários atributos de virulência,
incluindo adaptabilidade a uma variedade de condições ambientais, adesão a
diversas superfícies, produção de enzimas hidrolíticas, transição morfológica,
formação de biofilme e evasão e modulação das defesas do hospedeiro, que
podem exercer um papel na patogênese de lesões perirradiculares
(WALTIMO et al., 1997). Embora fungos sejam ocasionalmente encontrados
em infecções endodônticas primárias, eles parecem ser mais freqüentemente
associados ao fracasso da terapia endodôntica (NAIR et al., 1990). A C.
5
albicans é sem dúvida a espécie de fungo mais comumente isolada de canais
infectados, sendo considerada um microrganismo dentinófilo por causa de
sua afinidade de invadir a dentina (SIQUEIRA & SEN, 2004). Sua capacidade
de invadir os túbulos dentinários (SEN et al., 1995; WALTIMO et al., 1997;
SIQUEIRA et al., 2002b) e a resistência a medicamentos intracanais
geralmente usados, como o hidróxido de cálcio (WALTIMO et al., 2004),
podem explicar porque a C. albicans tem sido associada a casos de
infecções secundárias ou persistentes (SIQUEIRA & SEN, 2004).
Embora a guta-percha seja um adequado material preenchedor, não
possui aderência às paredes do canal radicular. Neste ponto, os cimentos
endodônticos são importantes pois, por meio da sua capacidade de
escoamento e vedação, podem obliterar esses espaços. Somando a esse
efeito, alguns cimentos possuem ação antimicrobiana, em função de suas
composições químicas (SIQUEIRA et al., 2000a; AL-NAZHAN & AL-JUDAI,
2003; ÇOBANKARA et al., 2004; SIPERT et al., 2005; ELDENIZ et al., 2006,
MIYAGAK et al., 2006, AL-HEZAIMI et al., 2006, TANOMARU FILHO et al.,
2007). Esta propriedade pode ser de alguma valia na eliminação de
microrganismos residuais, isto é, que permaneceram no canal após o preparo
químico-mecânico (e medicação intracanal, quando usada). Quando forçado
a escoar pela compactação empregada durante a obturação, o cimento pode
penetrar em ramificações e outras irregularidades anatômicas, aumentando
as chances de atingir microrganismos localizados nestas áreas, as quais são
normalmente inacessíveis aos instrumentos e à substância química auxiliar.
Além disso, os efeitos antimicrobianos do cimento podem eliminar
microrganismos presentes em áreas de microinfiltração coronária de saliva,
6
evitando ou pelo menos retardando a recontaminação do canal. Com base
nestas premissas, salienta-se então a importância de um material obturador
ser dotado de eficácia antimicrobiana, cujo espectro de atuação deveria
idealmente abranger também as espécies de fungos mais encontradas em
canais radiculares infectados.
7
REVISÃO DA LITERATURA
Fungos são microrganismos eucariotas que apresentam núcleo,
complexo de Golgi, retículo endoplasmático, vesículas, membrana celular e
parede celular espessa (SAMARANAYAKE, 1996). A parede celular
representa 30% do peso da célula e é composta de carboidratos (80-90%,
incluindo glicanas, manoproteínas e quitina), lipídios (2%) e proteínas (3-6%)
(SAMARANAYAKE & Mac FARLANE, 1990). A parede celular é importante
fator de virulência, pois promove adesão e colonização da célula fúngica,
apresenta componentes antigênicos e secreta hidrolases e toxinas, entre
outros efeitos (SAMARANAYAKE & Mac FARLANE, 1990). São
microrganismos com 3 a 5 µm de diâmetro, capazes de se reproduzir
sexualmente, assexualmente ou parasexualmente. Entretanto, as variedades
patogênicas não se reproduzem sexualmente. Na fase de célula simples, são
chamadas de leveduras e se reproduzem por brotamento, diferentemente das
bactérias, que se reproduzem por fissão binária. Dessa maneira, uma célula
mãe dá origem a uma célula filha, inicialmente de menor tamanho (SEN et at.,
1997).
Fungos crescem em um meio com sais, fontes de carbono, nitrogênio
e fosfato, com temperatura variando de 20 a 40ºC e pH de 2 a 8 (DAHLÉN &
MOLLER, 1992). A morfologia varia sob diferentes condições ambientais,
incluindo leveduras (blastósporos, blastoconídeos), pseudohifas, hifas
verdadeiras e clamidósporos (SAMARANAYAKE & MacFARLANE, 1990). Os
principais mecanismos de patogenicidade dos fungos envolvem adesão pela
parede celular, dimorfismo, interferência com as defesas do hospedeiro
8
(fagocitose, complemento, etc), sinergismo com bactérias e liberação de
fatores moleculares, como hidrolases extracelulares (proteinases, lipases),
anafilatoxinas, toxinas assassinas, nitrosaminas e metabólitos ácidos
(SAMARANAYAKE & MacFARLANE, 1990).
Das espécies fúngicas encontradas na cavidade oral, a C. albicans é a
mais comum. Esta espécie é polimórfica e pode assumir diversas formas
celulares, incluindo a de hifa e a de levedura ou blastósporo. A forma de hifa
tem maior capacidade de invadir os tecidos e maior patogenicidade, por ser
mais hidrofóbica que a forma de blastósporo, facilitando a penetração em
diferentes superfícies e tecidos. Apesar de estar relacionada principalmente
com as lesões refratárias ou resistentes ao tratamento, a participação de
fungos na infecção endodôntica pode ocorrer em casos de infecção primária.
NAIR et al. (1990) observaram por microscopia óptica e eletrônica de
transmissão 31 lesões de dentes extraídos que apresentavam necrose pulpar
e lesão perirradicular. Em casos raros, foram observadas estruturas
parecidas com hifas e suas ramificações, sugestivas da presença de fungos.
A presença desses microrganismos decorreria de invasão oportunista em
canais radiculares infectados.
WALTIMO et al. (1997) estudaram a ocorrência de fungos nos casos
de lesão perirradicular persistente à terapia endodôntica convencional.
Clínicos gerais de várias partes da Finlândia coletaram amostras de canais
que apresentavam infecção endodôntica persistente (n=967). As amostras
foram cultivadas aeróbica e anaerobicamente. Foram encontrados
microrganismos em 692 amostras. Quarenta e oito cepas de fungos foram
isolados de 7% das amostras que exibiram cultura positiva. Todas as
9
espécies de fungos isoladas, exceto uma, pertenciam ao gênero Candida. C.
albicans foi o mais comum. Candida glabrata foi encontrada junto com C.
albicans em uma amostra. Candida guilliermondii, Candida inconspicua e
Geotrichum candidum também foram isolados uma vez. Foram encontrados
fungos em culturas puras em seis amostras e em associação a bactérias em
41 amostras.
PECIULIENE et al. (2001) estudaram a ocorrência e o papel de fungos,
bacilos entéricos Gram-negativos e Enterococcus spp. nos dentes tratados
endodonticamente com lesão perirradicular crônica e também avaliaram o
efeito antimicrobiano da irrigação com iodeto de potássio iodetado. Foram
isolados microrganismos em 33 de 40 dentes da amostra inicial. Fungos
foram isolados de seis dentes e em três dos quais estavam em associação
com Enterococcus faecalis. Bacilos entéricos (Escherichia coli, Klebsiella
pneumoniae e Proteus mirabilis) estavam presentes em três dentes e o E.
faecalis foi encontrado em 21 de 33 casos com culturas positivas. Os autores
concluíram que existe uma alta prevalência de bactérias entéricas e de
fungos em dentes tratados endodonticamente com lesão perirradicular
crônica. Fungos estavam presentes em 6 dentes (18% das culturas positivas)
e foram identificados como C. albicans em todos os casos.
EGAN et al. (2002) determinaram a relativa prevalência e a
diversidade de espécies fúngicas em amostras de saliva e de canais
radiculares de alguns pacientes e também estabeleceram os fatores clínicos
associados à presença dos fungos na saliva e em canais radiculares. Foram
coletadas amostras de 60 canais radiculares de dentes associados a lesão
perirradicular e amostras correspondentes de saliva não estimulada de 55
10
pacientes. C. albicans e Rodotorula mucilaginosa foram os mais prevalentes
nas amostras colhidas de saliva e dos canais radiculares. Os autores
concluíram que os fungos foram pouco freqüentes nos canais radiculares
(10%). A sua presença nos canais estava significantemente associada à sua
presença na saliva.
SIQUEIRA & RÔÇAS (2004) investigaram a ocorrência de 19 espécies
microbianas, pela análise da Polymerase Chain Reaction (PCR), em 22
amostras de canais radiculares de dentes com insucesso do tratamento
endodôntico. Todas as amostras foram positivas para pelo menos uma das
seguintes bactérias Gram-positivas: E. faecalis, Pseudoramibacter
alactolyticus ou Propionibacterium propionicum. E. faecalis foi a espécie mais
prevalente, detectada em 77% dos casos. As outras espécies mais
detectadas foram: Pseudoramibacter alactolyticus (52%), Propionibacterium
propionicum (52%), Dialister pneumosintes (48%) e Filifactor alocis (48%). C.
albicans foi isolada em 9% das amostras.
SIQUEIRA et al. (2002b) estudaram o padrão de colonização da
dentina radicular bovina por C. albicans, C. glabrata, C. guilliermondii,
Candida parapsilosis e Saccharomyces cerevisiae. Os dentes após 14 dias
foram seccionados e fixados em glutaraldeído, após o que as duas metades
foram submetidas ao recobrimento de ouro para análise no microscópio
eletrônico de varredura. Os autores observaram que a C. albicans foi o
microrganismo que apresentou colonização mais intensa da dentina radicular,
ao passo que os outros quatro colonizaram discretamente ou não
colonizaram a dentina. A C. albicans exibiu padrões diferentes de
colonização, algumas vezes colonizando ligeiramente a superfície dentinária
11
não penetrando nos túbulos dentinários e outras penetrando profunda e
completamente nos túbulos dentinários. Os resultados encontrados revelam
que a C. albicans apresenta capacidade de colonização enquanto as outras
espécies testadas não. Além disso, concluíram que estes resultados podem
explicar o fato de a C. albicans ser a espécie fúngica mais freqüentemente
encontrada nas infecções endodônticas.
SIQUEIRA & SEN (2004) revisaram o papel dos fungos nos diferentes
tipos de infecções endodônticas, focando na sua prevalência em tais
infecções e nos seus mecanismos de patogenicidade. Além disso, foi
também avaliada a suscetibilidade dos fungos às substâncias
medicamentosas intracanal. Os autores observaram que os fungos possuem
atributos de virulência que podem desempenhar papel importante na
patogênese das doenças perirradiculares, estes incluem a capacidade de
adaptação a várias condições ambientais, de adesão a diversas superfícies,
de produção de enzimas hidrolíticas, de transição morfológica, de formação
de biofilme e de evasão e imunomodulação das defesas do hospedeiro. Os
fungos são ocasionalmente encontrados nas infecções endodônticas
primárias, mas parecem estar associados ao fracasso do tratamento. A C.
albicans é o fungo mais comumente isolado de canais radiculares infectados,
sendo também conhecido como microrganismo dentinofílico, tendo em vista a
sua afinidade de colonizar e invadir a dentina. Os autores também revelaram
que a C. albicans é resistente aos medicamentos intracanal, como por
exemplo, o hidróxido de cálcio. E dessa forma, pode-se explicar o fato de ela
estar associada aos casos de infecções endodônticas persistentes.
12
WALTIMO et al. (2004) também realizaram uma revisão de literatura
na qual encontraram que C. albicans é a espécie fúngica mais comumente
encontrada em canais radiculares infectados. Ela é tipicamente encontrada
em associação a bactérias Gram-positivas, como os estreptococos, mas
também pode ser isolada em culturas puras, que é uma indicação de sua
patogenicidade. Diversos fatores de virulência possibilitam o microrganismo
aderir e penetrar na dentina. Além disso, C. albicans tolera bem as variações
nas condições ambientais, como por exemplo, a alta alcalinidade. O hidróxido
de cálcio, em estudos in vitro, geralmente não é efetivo contra os fungos orais
- a sua atividade antifúngica in vivo ainda não é conhecida. Já o hipoclorito de
sódio, os compostos iodados e a clorexidina apresentam comprovada ação
antifúngica tanto em condições experimentais como em estudos in vivo, o
que pode oferecer uma possibilidade de tratamento efetivo contra as
infecções endodônticas de natureza fúngica.
Todos estes estudos salientam o papel de fungos em infecções
endodônticas persistentes e enfatizam a necessidade da busca de
substâncias e materiais para uso endodôntico que sejam eficazes contra
estes microrganismos. No que se refere aos cimentos endodônticos,
inúmeros estudos têm testado seus efeitos antimicrobianos contra bactérias,
mas alguns têm incluído fungos, principalmente C. albicans, no painel de
espécies microbianas testadas.
CANALDA & PUMAROLA (1989) avaliaram por meio do método de
difusão radial em ágar a ação antimicrobiana dos cimentos à base de
hidróxido de cálcio (CRCS e Sealapex), à base de óxido de zinco (Tubliseal e
Endométhasone) e resinoso (AH 26). Os microrganismos utilizados foram:
13
Streptococcus haemolyticus, Staphylococcus aureus, E. coli, Veillonella sp.,
Bacteroides fragilis e C. albicans. Os halos de inibição foram medidos após
48 e 96 horas de incubação das placas a 37oC em condições de aerobiose e
anaerobiose. Verificaram que a ação antimicrobiana dos cimentos que
contêm hidróxido de cálcio foi semelhante a dos outros cimentos, com
exceção da Veillonella sp. que não sofreu ação do Sealapex. C. albicans não
foi inibida pelo cimento AH 26. Os autores observaram também que os
maiores halos de inibição ocorreram com o cimento Endométhasone, que
possui paraformaldeído em sua composição.
ESTRELA et al. (1995) avaliaram a ação antimicrobiana dos cimentos
endodônticos Sealapex, Sealer 26 e Apexit empregando o teste de difusão
em ágar. Para tanto, foram utilizadas três culturas puras de bactérias
aeróbias facultativas: E. coli, Pseudomonas aeruginosa e E. faecalis.
Transcorrido o período de incubação de 48 horas a 37ºC, foram realizadas as
leituras das zonas de inibição. Os resultados obtidos mostraram que os
cimentos obturadores analisados não promoveram zonas de inibição de
crescimento para nenhum dos microrganismos, expressando total ausência
de efeito antimicrobiano.
SIQUEIRA & GONÇALVES (1996) compararam a atividade
antibacteriana de três cimentos endodônticos contendo hidróxido de cálcio
com um cimento à base de óxido de zinco e eugenol, contra bactérias
anaeróbias. Os cimentos testados foram o FillCanal, Sealapex, Sealer 26 e
Apexit, sendo todos manipulados de acordo com a especificação dos
fabricantes. Como controle foi utilizada a pasta de hidróxido de cálcio com
solução salina. As bactérias anaeróbias estritas testadas foram
14
Porphyromonas endodontalis, Porphyromonas gingivalis, Actinomyces israelii,
Propionibacterium acnes, Fusobacterium nucleatum e Campylobacter rectus,
além de duas anaeróbias facultativas, o S. aureus e Actinomyces naeslundii.
O teste de difusão em ágar foi o método utilizado. As placas de S. aureus
foram incubadas a 37ºC, em ambiente aeróbio, por 48 horas; as outras
bactérias foram incubadas em ambiente anaeróbio por 7 dias, a 37ºC. Quatro
placas foram utilizadas para cada bactéria testada. Após a incubação, os
diâmetros de inibição foram mensurados em milímetros. O cimento FillCanal
demonstrou os maiores halos de inibição entre os cimentos testados, sendo
que o Sealer 26 foi ineficaz contra P. endodontalis e P. gingivalis. Não houve
diferença significante entre o Sealapex e o hidróxido de cálcio. O Apexit foi
ineficiente contra todas as bactérias testadas.
DUARTE et al. (2001) avaliaram a capacidade antimicrobiana de
alguns cimentos endodônticos. O método empregado também foi o de
difusão do agente de forma radial no ágar. Os microrganismos utilizados
foram: S. aureus, E. faecalis, P. aeruginosa, Bacillus subtilis e C. albicans. Os
materiais testados foram: AH Plus, Sealer 26, Sealapex, Apexit e Sealer Plus.
As misturas foram então levadas às escavações no ágar por meio de
seringas tipo Luer Look, aguardando um período de 2 horas em temperatura
ambiente para o cimento se difundir no meio. As placas foram levadas à
estufa a 37°C por 24 horas, realizando-se então a evidenciação na formação
de halo de inibição. Os resultados mostraram que o AH Plus apresentou a
melhor ação antimicrobiana, inibindo 4 dos microrganismos testados, seguido
pelo Sealapex (inibiu 3 microrganismos) e pelo Sealer 26 (inibição de 2 tipos
15
de microrganismos). O Apexit e o Sealer Plus não inibiram os microrganismos
testados.
Em outro estudo também empregando o método de difusão em ágar,
DUARTE et al. (1997) analisaram a capacidade antimicrobiana de alguns
materiais empregados na rotina endodôntica, bem como verificaram se o
acréscimo de hexametilenotetramina ao pó do cimento Sealer 26 melhoraria
sua capacidade antimicrobiana. Os materiais obturadores analisados nesse
trabalho foram: Endomethasone, AH 26, Sealapex, Sealer 26 e pasta de
hidróxido de cálcio acrescido de solução fisiológica. Quanto ao cimento
Sealer 26, ainda foram preparadas duas outras versões experimentais,
acrescendo 5% de hexametilenotetramina no experimental 1 e 10% no
experimental 2. Os microrganismos utilizados foram: S. aureus, E. faecalis,
Streptococcus mutans, P. aeruginosa, Klebsiella sp. e C. albicans. A leitura e
medição dos halos de inibição foram realizadas após 24 e 48 horas de
incubação a 37oC. O cimento Endomethasone apresentou ação contra todos
os microrganismos testados, obtendo os melhores resultados. O cimento AH
26 foi mais efetivo que o Sealer 26 e a adição de 5 ou 10% de
hexametilenotetramina ao pó do Sealer 26 aumentou seus valores de inibição,
principalmente com 10%. O cimento Sealapex e a pasta de hidróxido de
cálcio não apresentaram halos de inibição contra os microrganismos testados.
KAPLAN et al. (1999) avaliaram a efeito antimicrobiano in vitro de seis
cimentos endodônticos após 2, 20 e 40 dias através do método de difusão
em ágar. Estudaram os cimentos Apexit, Endion, AH Plus, AH 26, Procosol e
Ketac-Endo. Os microrganismos foram: C. albicans, S. aureus, S. mutans e A.
israelii. Furos com a capacidade de 0,1 ml foram confeccionados em placas
16
de ágar e preenchidos com os cimentos. As placas de ágar foram incubadas
por 24 horas a 37oC. As amostras foram então removidas e imersas em 4,5
ml de meio de cultura e divididas em três grupos. As amostras do grupo 1
foram conservadas por 2 dias a 37oC, enquanto as amostras do grupo 2 e do
grupo 3 foram conservadas a 4ºC por 20 e 40 dias, respectivamente. As
amostras foram removidas e descartadas e 0,1 ml do meio de cultura foi
posto nas placas de ágar com o objetivo de realizar a contagem das unidades
formadoras de colônias. Os cimentos Apexit, Endion e AH Plus inibiram S.
mutans e aos 20 dias A. israelii. Nenhum halo de inibição foi observado em
relação a C. albicans e ao S. aureus. O cimento Ketac Endo somente
produziu halo de inibição contra A. israelii de 2 a 40 dias. Os cimentos AH 26
e Procosol mostraram efeito antimicrobiano aos 40 dias sobre a C. albicans e
aos 20 e 40 dias sobre S. mutans e S. aureus. Os autores concluíram que os
cimentos avaliados neste estudo mostraram diferentes efeitos inibitórios em
curto período de tempo. Os cimentos contendo eugenol e formaldeído foram
mais efetivos contra os microrganismos em todos períodos do experimento.
CARRASCOZA (2000) estudou o efeito antimicrobiano dos cimentos
obturadores Sealapex, Sealer 26, Sealer Plus, Endofill e N-Rickert,
empregando o método de difusão em ágar. Os microrganismos indicadores
foram S. aureus, E. faecalis, P. aeruginosa, B. subtilis e C. albicans, assim
como uma mistura desses microrganismos. As placas foram incubadas a
37ºC por 48 horas. As leituras das zonas de inibição-difusão microbiana
foram efetuadas após o período de incubação. Foram coletadas amostras
das zonas de difusão-inibição de cada placa e imersas em 7 ml de caldo BHI.
Após incubação a 37ºC por 48 horas, os resultados mostraram que os
17
cimentos Sealapex, N-Rickert e Endofill evidenciaram apenas zonas de
difusão. Para o cimento Sealer 26, foram observadas zonas de difusão contra
todos os microrganismos e zonas de inibição para P. aeruginosa e C.
albicans. O Sealer Plus mostrou ausência de zonas de difusão para P.
aeruginosa e C. albicans, e presença de zonas de inibição para S. aureus e
para a mistura. A cultura de E. faecalis foi resistente a todos os cimentos.
SIQUEIRA et al. (2000a) investigaram e compararam os efeitos
antimicrobianos e o grau de escoamento de cimentos endodônticos. Os
cimentos endodônticos utilizados no estudo foram: Kerr Pulp Canal Sealer
EWT, FillCanal, ThermaSeal, Sealer 26, AH Plus e Sealer Plus, sendo todos
os cimentos preparados de acordo com as especificações dos fabricantes.
Para a análise antimicrobiana, os microrganismos utilizados foram dois
anaeróbios obrigatórios: Prevotella nigrescens e P. gingivalis, sete aeróbios
ou anaeróbios facultativos: Streptococcus mitis, Streptococcus bovis, E.
faecalis, P. aeruginosa, Lactobacillus casei, E. coli e C. albicans, além de
uma cultura mista (saliva humana natural). Todos os procedimentos foram
feitos em duplicata. As placas contendo bactérias anaeróbias e a cultura
mista foram incubadas em anaerobiose a 37°C por 5 dias, e os meios
contendo os outros microrganismos incubados em aerobiose a 37°C por 24 a
48 horas. Os efeitos antimicrobianos de cada material foram mensurados por
meio das zonas de inibição em milímetros. Todos os cimentos testados
mostraram algum efeito antimicrobiano contra a maioria dos microrganismos,
sendo que uma análise geral não mostrou diferença significante entre os
materiais testados. Em geral, os microrganismos mais resistentes foram P.
aeruginosa, E. faecalis e E. coli.
18
CRUZ et al. (2001) testaram o efeito antimicrobiano dos cimentos
Rickert, N-Rickert e Sealer 26 frente a S. aureus, S. mutans, Streptococcus
salivarius, C. albicans e um pool de microrganismos coletados do sulco
gengival de pacientes com periodontite marginal crônica. Os resultados
demonstraram atividade antimicrobiana para todos os cimentos. O N-Rickert
apresentou maior inibição de crescimento para S. aureus, S. mutans e C.
albicans, enquanto o cimento Sealer 26 inibiu mais o crescimento do pool de
microrganismos e do S. salivarius.
Considerando que o controle da infecção é o objetivo principal do
tratamento endodôntico e que os fungos estão envolvidos em alguns tipos de
infecção, SIQUEIRA et al. (2001) investigaram os efeitos antifúngicos de
vários medicamentos contra C. albicans, C. glabrata, C. guilliermondii, C.
parapsilosis e S. cerevisiae, empregando o método de difusão em ágar. Foi
observado que o sulfato de cálcio e o óxido de zinco em glicerina não
apresentaram efeito antifúngico contra os microrganismos. Já as pastas de
sulfato de cálcio e de hidróxido de cálcio em paramonoclorofenol canforado
foram as que apresentaram efeitos antifúngicos mais pronunciados. O
hidróxido de cálcio associado com glicerina ou com clorexidina e a clorexidina
associada a um detergente também apresentaram atividade antifúngica,
porém muito menor que as anteriores. Os autores concluíram que os efeitos
antifúngicos dos medicamentos podem auxiliar no controle de infecções
endodônticas persistentes ou secundárias decorrentes de fungos.
A atividade antimicrobiana de cimentos endodônticos sobre E. faecalis
foi avaliada por MICKEL et al. (2003). Dezessete placas de Petri contendo
ágar-sangue foram inoculadas com esse microrganismo. Cinco discos foram
19
colocados em cada placa contendo os cimentos Sealapex, Roth 801, Kerr
Pulp Canal Sealer EWT e AH Plus e um disco de ampicilina como controle.
Após incubação por 24 e 48 horas a 37oC, as zonas de inibição foram
medidas. Grandes halos de inibição foram observados para o disco controle
(ampicilina) e para os cimentos Roth 801, Sealapex e Kerr Pulp Canal Sealer
EWT. Nenhuma atividade antimicrobiana foi demonstrado para o cimento AH
Plus.
ÇOBANKARA et al. (2004) avaliaram a atividade antibacteriana de
cinco cimentos endodônticos utilizando E. faecalis como microrganismo teste.
Os métodos para a análise foram: teste de difusão em ágar (ADT) e teste do
contato direto (DCT). Os cimentos utilizados foram: RoekoSeal, Ketac-Endo,
AH Plus, Sealapex e Sultan. Os resultados mostraram que o referencial
antibacteriano dos materiais variou de acordo com o teste realizado. Ketac-
Endo, AH Plus e Sultan foram semelhantes para o teste de DCT, sendo
melhores inibidores do crescimento bacteriano do que o Sealapex e
RoekoSeal. No teste ADT, RoekoSeal não mostrou qualquer efeito
antibacteriano, ao contrário dos outros cimentos.
PIZZO et al. (2006) observaram a atividade antimicrobiana dos
cimentos endodônticos AH Plus, Endomethasone, Kerr Pulp Canal Sealer e
Vcanalare (óxido de zinco e eugenol). Foi feito um teste de contato direto
(DCT) e uma suspensão de 10 µl de E. faecalis foi colocada por 20 minutos,
24 horas e 7 dias em contato com os materiais. O crescimento bacteriano foi
medido com um espectrofotômetro. Todos os cimentos apresentaram inibição
bacteriana após 24 horas, com maior efetividade para o cimento AH Plus.
Após 7 dias, o cimento Vcanalare foi o único que mostrou inibição frente ao
20
crescimento bacteriano. Os autores concluíram que a atividade
antimicrobiana depende do período de contato e que todos os cimentos
mostraram atividade antimicrobiana, mas que no período de 7 dias, somente
o Vcanalare foi eficaz contra o E. faecalis.
KOPPER et al. (2007) avaliaram in vitro a atividade antimicrobiana dos
cimentos endodônticos AH Plus, Endofill e Sealer 26 imediatamente após a
manipulação, em contato com culturas isoladas de E. faecalis, P. aeruginosa,
S. aureus e C. albicans. Após 48 horas de incubação, os halos de inibição de
crescimento microbiano foram mensurados. A média dos halos de inibição
para os cimentos AH Plus, Endofill e Sealer 26 foram, respectivamente, em
milímetros, de: 0,70, 3,13 e 1,79 para E. faecalis; 1,08, 3,40 e 3,01 para P.
aeruginosa; 0,72, 3,16 e 4,03 para S. aureus; 1,32, 2,59 e 1,40 para C.
albicans. Concluíram que todos os cimentos testados apresentaram atividade
antimicrobiana em contato com as culturas estudadas.
GOMES et al. (2004) analisaram as propriedades antimicrobianas de
cinco cimentos endodônticos: Endo Fill, Endomethasone, Endomethasone N,
Sealer 26 e AH-Plus, em diferentes períodos pós-manipulação, i.e.,
imediatamente e após 24 horas, 48 horas e 7 dias, contra os seguintes
microrganismos: C. albicans, S. aureus, E. faecalis, Streptococcus sanguinis
e A. naeslundii. Os métodos usados foram o contato direto através da
observação do crescimento microbiano em meio líquido e o teste de difusão
em ágar. Os resultados, nas duas metodologias usadas, mostraram que: 1)
imediatamente após a manipulação, Endo-Fill e Endomethasone
apresentaram a maior atividade antimicrobiana, sem diferenças
estatisticamente significantes entre eles. O Sealer 26 teve a menor atividade
21
antimicrobiana; 2) nos outros tempos pós-manipulação, não foram
observadas diferenças estatisticamente significantes entre os cimentos
testados. Foi concluído que nenhum dos cimentos inibiu completamente o
crescimento dos microrganismos testados. A atividade antimicrobiana de
cada cimento diminuiu com o tempo e dependeu da suscetibilidade
microbiana a eles.
O agregado de trióxido mineral (MTA) tem sido amplamente utilizado
em Endodontia como material retroobturador, no selamento de perfurações,
no tratamento conservador pulpar, na apicificação e também como possível
material obturador em associação com a guta-percha (TORABINEJAD &
CHIVIAN, 1999; VIZGIRDA et al. 2004). Vários estudos relataram sua eficácia
antifúngica sobre a espécie C. albicans (AL-NAZHAN & AL-JUDAI, 2003;
SIPERT et al., 2005; RIBEIRO et al., 2006; AL-HEZAIMI et al., 2006;
TANOMARU FILHO et al., 2007.
.
TORABINEJAD et al. (1995) compararam os efeitos antibacterianos do
MTA, amálgama, óxido de zinco e eugenol e Super EBA contra nove
bactérias facultativas (E. faecalis, S. mitis, S. mutans, Streptococcus
salivarius, Lactobacillus sp., S. aureus, Staphylococcus epidermidis, B.
subtilis e E. coli) e sete bactérias anaeróbicas estritas (Prevotella buccae, B.
fragilis, Prevotella intermedia, Prevotella melaninogenica, Fusobacterium
necrophorum, F. nucleatum e Peptostreptococcus anaerobius). Discos
saturados com líquido do Super EBA causaram graus variados de inibição de
crescimento para as bactérias anaeróbias facultativas e estritas. O amálgama
não apresentou efeito antibacteriano contra as bactérias testadas neste
22
estudo. O MTA teve efeito antibacteriano contra algumas bactérias
facultativas e nenhum efeito nas bactérias anaeróbias estritas. As pastas de
óxido de zinco e eugenol e de Super EBA tiveram alguma atividade
antibacteriana contra ambos os tipos de bactérias testadas. Baseado nos
resultados deste estudo, nenhum dos materiais testados teve os efeitos
antibacterianos desejados para um material retrobturador.
AL-NAZHAN & AL-JUDAI (2003) avaliaram in vitro o efeito antifúngico
do MTA contra a C. albicans usando o teste de diluição em caldo. O MTA foi
empregado recém-preparado e 24 horas após a manipulação. Os resultados
mostraram que o MTA recém-preparado foi eficaz em eliminar o
microrganismo após um dia de contato, ao passo que o MTA preparado há
24 horas foi eficaz apenas após 3 dias de incubação. Os autores concluíram
que tanto o MTA recém-preparado quanto o com 24 horas de preparado
foram eficazes contra a C. albicans.
RIBEIRO et al. (2006) compararam a ação antimicrobiana do MTA de
duas procedências (MTA-Dentsply e MTA-Angelus), do hidróxido de cálcio e
do cimento de Portland pelo método de difusão em ágar. Placas de Petri
contendo meio de cultura TSA com 5% de sangue de carneiro foram
inoculadas com P. aeruginosa, E. coli, B. fragilis e E. faecalis, e os halos de
inibição do crescimento microbiano foram analisados após 48 horas de
incubação. Hidróxido de cálcio foi eficaz contra P. aeruginosa e B. fragilis,
enquanto o MTA-Dentsply, MTA-Angelus e cimento de Portland
apresentaram halo de inibição somente para P. aeruginosa. Nenhum dos
materiais avaliados apresentou ação inibitória sobre E. coli e E. faecalis.
23
SIPERT et al. (2005) determinaram in vitro a atividade antimicrobiana
dos cimentos Fillcanal, Sealapex, MTA, cimento de Portland e EndoRez,
utilizando o método de difusão em ágar contra os seguintes microrganismos
E. faecalis, E. coli, Micrococcus luteus, S. aureus, Staphylococcus
epidermidis, P. aeruginosa e C. albicans. As placas foram mantidas a
temperatura ambiente por 2 horas para a pré-difusão e então incubadas a 37o
C por 24 horas. Após esse período as zonas de inibição foram medidas. Os
cimentos Fillcanal, Sealapex, MTA e Portland apresentaram atividade
antimicrobiana, enquanto o cimento EndoRez não se mostrou ativo.
MIYAGAK et al. (2006) avaliaram a capacidade antimicrobiana dos
cimentos obturadores de canal: N-Rickert, Sealapex, AH Plus e também do
MTA e cimento de Portland. O método utilizado foi a difusão em ágar, em
placas previamente inoculadas com os seguintes microrganismos: C. albicans,
E. faecalis, E. coli e S. aureus. A leitura do diâmetro do halo de inibição do
crescimento microbiano foi realizada após 24 horas de incubação a 37°C. De
acordo com a metodologia empregada, foi concluído que: somente os
cimentos obturadores AH Plus e N-Rickert apresentaram atividade
antimicrobiana contra C. albicans, S. aureus e E. coli; não foi observada
atividade antimicrobiana para o cimento de Portland, MTA e Sealapex. O
cimento N-Rickert apresentou halos de inibição maiores variando de 8 a
18 mm. E. faecalis foi resistente contra todos os cimentos testados.
AL-HEZAIMI et al. (2006) avaliaram o efeito antifúngico de várias
concentrações do MTA branco e do MTA cinza contra a C. albicans usando o
teste de diluição em tubo. Foi encontrada uma correlação direta entre a
concentração do MTA e a atividade antifúngica contra C. albicans. No
24
período zero ambos os tipos de MTA permitiram o crescimento fúngico a
despeito da sua concentração. Os autores concluíram que tanto o MTA
branco como o MTA cinza em concentrações de 50 mg/ml e 25 mg/ml
apresentam atividade antifúngica contra C. albicans por períodos de até uma
semana. Concentrações mais baixas do MTA cinza podem ainda ser efetivas,
ao passo que em concentrações mais baixas o MTA branco não é eficaz.
ELDENIZ et al. (2006) avaliaram a atividade antibacteriana de vários
cimentos retrobturadores. O teste do contato direto com S. aureus, E. faecalis
e P. aeruginosa foi empregado. Os autores concluíram que o IRM e o MTA
foram os materiais que mais inibiram o crescimento bacteriano.
MOHAMMADI et al. (2006) avaliaram e compararam o efeito
antifúngico do MTA branco e do MTA cinza contra a C. albicans usando o
teste de diluição em caldo. O MTA foi empregado recém-preparado e com 24
horas de preparado. Os resultados mostraram que tanto no MTA recém-
preparado quanto no preparado há 24 horas o crescimento fúngico ocorreu
na primeira hora de incubação. Com o aumento do tempo de incubação
nenhum crescimento fúngico foi observado em 24 e 72 horas. Os autores
concluíram que o MTA recém-preparado e o com 24 horas de preparado
foram eficazes contra a C. albicans.
TANOMARU FILHO et al. (2007) avaliaram a atividade antimicrobiana
do Sealer 26, do Sealapex com óxido de zinco, óxido de zinco e eugenol, o
cimento de Portland branco e cinza, o MTA-Angelus branco e cinza e o Pro
Root MTA contra seis cepas de diferentes microrganismos por meio do teste
de difusão em ágar. Os microrganismos utilizados foram M. luteus, S. aureus,
E. coli, P. aeruginosa, C. albicans e E. faecalis. As placas foram mantidas em
25
temperatura ambiente por 2 horas para pré-difusão e em seguida incubadas
a 37°C por 24 horas, quando então foram medidas as zonas de inibição. Os
resultados mostraram que todos os materiais apresentaram atividade
antimicrobiana contra todos os microrganismos testados. O Sealapex com
óxido de zinco, o óxido de zinco e eugenol e o Sealer 26 geraram maiores
halos de inibição que os materiais à base de MTA e cimento de Portland. Os
autores concluíram que, com base na metodologia empregada, todos os
materiais apresentaram atividade antimicrobiana, particularmente os cimentos
endodônticos.
Apesar de originalmente proposto como material a ser utilizado em
retroobturações ou em perfurações radiculares, o MTA também tem sido
testado como material obturador de canais (VIZGIRDA et al., 2004). Assim, a
comparação de suas propriedades antimicrobianas com a de outros cimentos
endodônticos se faz necessária, uma vez que não há estudos na literatura
fazendo tal avaliação.
Como pode ser atestado pela revisão da literatura pertinente, inúmeros
estudos têm testado os efeitos antibacterianos de cimentos endodônticos,
mas poucos avaliaram os efeitos antifúngicos. Mesmo assim, tais testes
geralmente empregaram a C. albicans. Isto se justifica por ser a espécie
fúngica mais freqüente em canais infectados, mas outras espécies também
podem ser detectadas (WALTIMO et al., 1997) e conseqüentemente estarem
envolvidas com a etiologia das doenças perirradiculares. Assim, torna-se
necessária a avaliação dos efeitos inibitórios sobre outros fungos além da C.
albicans de cimentos endodônticos novos, dos já estabelecidos no mercado e
de materiais com potencial para serem utilizados na obturação.
26
PROPOSIÇÃO
Considerando a literatura pertinente, o objetivo deste estudo in vitro foi
avaliar a atividade antifúngica dos cimentos endodônticos Roeko Seal
Automix, AH Plus, Sealer 26, Pro Root® MTA- Agregado de Trióxido Mineral,
Intrafill, Acroseal, Epiphany e Kerr Pulp Canal Sealer, contra as seguintes
espécies: C. albicans, C. glabrata, C. tropicalis e S. cerevisiae, as quais têm
sido isoladas de canais radiculares infectados.
27
MATERIAIS E MÉTODOS
Os cimentos endodônticos utilizados no presente estudo in vitro foram os
seguintes:
1- Roeko Seal Automix (Roeko GmbH, Langenau - Ulm, Alemanha),
cimento à base de silicone (polidimetilsiloxano);
2- AH Plus (Dentsply Indústria e Comércio Ltda, Petrópolis, RJ), cimento
à base de resina do tipo epóxi-aminas;
3- Sealer 26 (Dentsply Indústria e Comércio Ltda, Petrópolis, RJ),
cimento resinoso contendo hidróxido de cálcio;
4- Pro Root MTA- Agregado de Trióxido Mineral (Dentsply Tulsa Dental,
Tulsa, OK, EUA);
5- Intrafill (S.S.White Artigos dentários Ltda, Rio de Janeiro, RJ), cimento
à base de óxido de zinco e eugenol;
6- Acroseal (Septodont Brasil Ltda, Barueri, SP), cimento resinoso
contendo hidróxido de cálcio;
7- Epiphany (Pentron Clinical Technologies, Wallingford, CT, EUA),
cimento compósito à base de resina com polimerização dual;
8- Kerr Pulp Canal Sealer (Kerr Corporation, Orange, EUA), cimento à
base de óxido de zinco e eugenol.
Os principais componentes dos cimentos testados são apresentados
na Tabela 1.
28
Tabela 1 – Componentes dos cimentos utilizados de acordo com as
informações fornecidas pelos respectivos fabricantes
Cimento Apresentação Fórmula Sealer 26
Lote 716030
Pó
Resina
hidróxido de cálcio trióxido de bismuto hexametileno tetramina dióxido de titânio éter de bisfenol A diglicidil
AH Plus
Lote 0702000599
Pasta Epóxi
Pasta Amina
éter de bisfenol A diglicidil tungsteanato de cálcio óxido de zircônio aerosilóxido de ferro amina adamantada N,N- dibenzil-5-oxanonano-diamina-1,9 TCD-diamina tungsteanato de cálcio óxido de zircônio aerosilóleo de silicone
Acroseal
Lote P2224
Pasta Base
Pasta catalisadora
ácido glicirrético (enoxolona) metenaminasubcarbonato de bismuto colofôniaóleo de parafina óleo de terebintina hidróxido de cálcio éter de bisfenol A diglicidil subcarbonato de bismuto pigmento amarelo 10
Intrafill
Lote 10606
Pó
Líquido
óxido de zinco resina hidrogenada colofôniasubcarbonato de bismuto sulfato de bário borato de sódio anidro eugenolóleo de amêndoas doce ácido acético glacial
Epiphany
Lote 10678
Resina Dual mistura de BisGMA BisGMA etoxilado UDMAmetacrilato hidrofílico carga de hidróxido de cálcio sulfato de bário sílica
Pro Root MTA
Lote 000721
Pó silicato tricálcico silicato dicálcico aluminato tricálcico ferroaluminato tetracálcico óxido de bismuto Sulfato de cálcio diidratado
Roeko Seal
Lote 2008288
Pasta polidimetilsiloxano fluido de silicone óleo à base de parafina ácido hexacloroplatínico (catalisador) dióxido de zircônio
Kerr Pulp Canal Sealer
Lote 72163
Pó
Líquido
óxido de zinco prata precipitada subcarbonato de bismuto sulfato de bárioóleo de cravo bálsamo do Canadá
29
A atividade antifúngica destes cimentos foi avaliada contra quatro
espécies: C. albicans (ATCC 10231), C. glabrata (ATCC 64677), C. tropicalis
(ATCC 1169) e S. cerevisiae (ATCC 4126), as quais podem ser encontradas
em canais radiculares infectados. Estes fungos, inicialmente liofilizados,
foram ativados, cultivados e mantidos em caldo de Tripticase-soja (TSB)
(Difco, Detroit, MI, EUA), sendo que uma cultura de 24 horas foi utilizada
como inóculo. Para padronização do inóculo, este foi preparado em meio
TSB de acordo com a turbidez de 0,5 da escala de McFarland, a qual, para
bactérias, corresponde a aproximadamente 1,5 x 108 unidades formadoras de
colônias/ml.
O teste de difusão em ágar foi o método utilizado. Placas de Petri
contendo o meio Tripticase-soja ágar (TSA) foram inoculadas com cada
espécie de fungo testada por meio de swabs estéreis, esfregados por toda a
superfície do meio. Saliva humana foi coletada de um membro do laboratório
de microbiologia, diluída na concentração de 1 ml de saliva em 4 ml de caldo
TSB e usada como parâmetro de comparação para os testes antifúngicos,
sendo considerada como uma cultura bacteriana mista, embora fungos
também possam estar presentes. Após inoculação da saliva ou das culturas
de cada espécie fúngica sobre a superfície do meio TSA, foram
confeccionados no mesmo e em cada placa, 4 furos com 6 mm de diâmetro e
5 mm de profundidade (ditada pela espessura da camada de ágar) com
auxílio de um furador metálico esterilizado. Todo o experimento foi feito em
duplicata.
Os cimentos foram então manipulados segundo as instruções dos
fabricantes e depositados no interior dos furos. Em seqüência, as placas
30
foram incubadas a 37oC por 7 dias, em ambiente de aerobiose. Decorrido
esse período, foram mensurados os diâmetros dos halos de inibição do
crescimento microbiano em volta dos furos contendo os materiais, sendo que,
dos valores obtidos, subtraiu-se os 6 mm correspondentes ao diâmetro dos
furos.
Análise estatística
Os dados obtidos foram analisados estatisticamente pelo teste de
Kruskal-Wallis e pelo teste de comparações múltiplas (PLSD - diferenças
mínimas significantes) de Fischer, ambos com nível de significância de 5%
( =0,05).
Justifica-se a escolha de um teste não-paramétrico pelo fato de os
desvios padrões terem se mostrado muito diferentes, o que caracteriza a não
homogeneidade das variâncias dos grupos testados, condição que impede a
aplicação de um teste paramétrico.
31
RESULTADOS
As médias dos halos de inibição do crescimento fúngico
proporcionados pelos cimentos endodônticos estão expressas na Tabela 2.
As figuras 1 e 2 são representativas dos resultados obtidos.
Tabela 2. Médias dos halos de inibição de crescimento fúngico produzidos
pelos diferentes cimentos endodônticos (em mm)
Cimento Candida
albicans
Candida
glabrata
Candida
tropicalis
Saccharomyces
cerevisiae
Cultura mista
(saliva humana)
1- Roeko seal 0 0 0 0 0
2- AH Plus 0 5 8 11 6
3- Sealer 26 0 0 3 4,5 0
4- MTA 0 0 4 6,5 0
5- Intrafill 0 5,5 10 13 12
6- Acroseal 0 2 2 0 0
7- Epiphany 0 0 4 7 8,5
8- KPCS 0 4,5 7 9 5
32
Figura 1. Teste de difusão em ágar para avaliação da atividade antimicrobiana
de cimentos endodônticos contra Saccharomyces cerevisiae. A. 1-Roeko Seal,
2- AH Plus, 3- Sealer 26, 4- MTA. B. 5- Intrafill, 6- Acroseal, 7- Epiphany, 8- Kerr
Pulp Canal Sealer.
Figura 2. Teste de difusão em ágar para avaliação da atividade antimicrobiana
de cimentos endodônticos contra cultura mista (saliva). A.1-Roeko Seal, 2- AH
Plus, 3- Sealer 26, 4- MTA. B. 5- Intrafill, 6- Acroseal, 7- Epiphany, 8- Kerr Pulp
Canal Sealer.
A B
A B
33
Para fins de análise estatística, foram considerados os dados obtidos a
partir das medições dos diâmetros em milímetros dos halos de inibição de
crescimento antifúngico para o conjunto de microrganismos empregados em
relação aos cimentos endodônticos testados.
Tendo em vista que cada cimento foi testado em duplicata para cada
uma das quatro espécies de fungos e para a cultura mista da saliva humana,
o valor de N seria igual a 10. No entanto, devido ao descarte de uma das
placas que continha C. tropicalis (devido à contaminação), o valor de N
considerado para análise estatística foi igual a 9.
Tabela 3. Média e desvio padrão (em mm) do diâmetro dos halos de inibição
de crescimento antifúngico para o conjunto de microrganismos empregados
em relação aos cimentos endodônticos testados, ordenados em ordem
decrescente
Cimento N Média Desvio padrão
Intrafill 9 7,89 5,39
AH Plus 9 5,77 4,08
KPCS 9 4,88 3,37
Epiphany 9 3,88 3,98
MTA 9 1,88 2,93
Sealer 26 9 1,33 2,02
Acroseal 9 0,66 1,00
Roeko Seal 9 0,00 0,00
34
O cimento Intrafill apresentou o maior halo médio de inibição, ao passo
que o menor halo foi apresentado pelo cimento Acroseal. O cimento Roeko
Seal não exibiu atividade antifúngica.
É possível observar na Tabela 3 a não homogeneidade das variâncias
dos grupos, uma condição que é considerada requisito essencial para a
aplicação dos testes estatísticos paramétricos. A variância é o quadrado do
desvio padrão. Assim, optou-se pela aplicação do teste de Kruskal-Wallis
com o nível de significância de 5% ( = 0,05) com a finalidade de se comparar
as médias dos diâmetros dos halos de inibição de crescimento antifúngico
para cada cimento testado.
O teste de Kruskal-Wallis revelou que existe pelo menos um cimento
que apresenta média de diâmetro do halo de inibição diferente (P= 0,004).
Dessa forma, foi empregado o teste de comparações múltiplas PSLD de
Fischer no nível de significância de 5% ( = 0,05) para se evidenciar, na
comparação dois a dois, quais são os cimentos que apresentam média de
halo de inibição diferentes. Os resultados deste teste são apresentados na
Tabela 4.
Considerando-se as comparações múltiplas apresentadas na Tabela 3,
podemos ordenar estatisticamente os cimentos testados em ordem
decrescente com relação às diferenças detectadas entre as médias dos
diâmetros dos halos de inibição. Cabe lembrar que as igualdades abaixo
apresentadas têm um significado estatístico e não matemático (Tabela 5).
35
Tabela 4. Resultados do teste de comparações múltiplas PSLD de Fischer
para as médias dos halos de inibição de crescimentos dos cimentos testados
Comparações
Intr
afill
AH
Plu
s
KP
CS
Ep
iph
any
Sea
ler
26
MT
A
Acr
ose
al
Ro
eko
Sea
l
Intrafill - NS NS SIG SIG SIG SIG SIG
AH Plus NS - NS NS SIG SIG SIG SIG
KPCS NS NS - NS SIG NS SIG SIG
Epiphany SIG NS NS - NS NS SIG SIG
Sealer 26 SIG SIG SIG NS - NS NS NS
MTA SIG SIG NS NS NS - NS NS
Acroseal SIG SIG SIG SIG NS NS - NS
Roeko Seal SIG SIG SIG SIG NS NS NS -
SIG – diferença estatisticamente significante (P<0,05)
NS – não houve diferença estatisticamente significante
36
Tabela 5. Semelhanças estatísticas entre os cimentos testados
Cimento Média do
halo (mm)
Cimentos semelhantes
(sem diferença estatística)
Intrafill 7,89 AH Plus e KPCS
AH Plus 5,77 Intrafill, KPCS e Epiphany
KPCS 4,88 Intrafill, AH Plus, Epiphany e MTA
Epiphany 3,88 AH Plus, KPCS, Sealer 26 e MTA
MTA 1,88 KPCS, Epiphany, Sealer 26, Acroseal e Roeko Seal
Sealer 26 1,33 Epiphany, MTA, Acroseal e Roeko Seal
Acroseal 0,66 Sealer 26, MTA e Roeko Seal
Roeko Seal 0,00 Sealer 26, MTA e Acroseal
37
DISCUSSÃO
A infecção intra-radicular persistente, causada por microrganismos que
de alguma forma resistiram aos procedimentos intracanais de desinfecção,
pode levar ao insucesso do tratamento endodôntico (SIQUEIRA, 1997;
SJÖGREN et al., 1997; WALTIMO et al., 1997). Sabe-se que em casos de
necrose pulpar, microrganismos podem permanecer após o preparo químico-
mecânico em cerca de 40 a 60% dos canais (SJÖGREN et al. 1991;
SIQUEIRA et al. 2007a; 2007b; 2007c). Embora uma adequada medicação
intracanal possa reduzir ainda mais o número de canais com cultura positiva,
microrganismos podem permanecer em alguns casos (SJÖGREN et al. 1991;
SIQUEIRA et al. 2007a; 2007b; 2007c). Contudo, salienta-se que o
tratamento endodôntico em sessão única tem crescido em número de
seguidores (SATHORN et al., 2005), o que nos leva à conclusão de que 40 a
60% dos canais são obturados ainda contendo números detectáveis de
microrganismos. Nestes casos, espera-se que a obturação promova um bom
selamento do canal, sepultando microrganismos residuais, e que possua
atividade antimicrobiana para eliminar tais microrganismos sobreviventes ao
preparo químico-mecânico. Baseados nesta premissa e considerando que
fungos têm sido encontrados em infecções endodônticas persistentes ou
secundárias (WALTIMO et al., 1997; SIQUEIRA & SEN, 2004; WALTIMO et
al, 2004), este estudo teve como objetivo comparar a eficácia antifúngica de
cimentos utilizados na obturação do sistema de canais radiculares. Torna-se
importante conhecer a atividade antifúngica dos materiais obturadores, em
especial a dos cimentos endodônticos, uma vez que estes ficam em contato
38
com as paredes dentinárias ou podem ser forçados a escoar para áreas
como istmos e ramificações, todas potencialmente infectadas por colônias de
fungos oriundos da infecção primária ou secundária (NAIR et al., 2005), que
resistiram aos procedimentos do tratamento endodôntico. Conhecendo o
efeito antifúngico dos cimentos endodônticos é possível imaginar que estes
possam eliminar os microrganismos remanescentes, ou pelo menos inibir o
seu crescimento. Este estudo avaliou pela primeira vez a ação antifúngica de
cimentos endodônticos contra as espécies C. glabrata, C. tropicalis e S.
cerevisiae.
De acordo com SIQUEIRA et al. (2000a), vários compostos podem ser
responsáveis pela atividade antimicrobiana dos cimentos endodônticos
testados no presente experimento: o óxido de zinco e o eugenol do Intrafill e
do Kerr Pulp Canal Sealer, a prata do Kerr Pulp Canal Sealer, a hexametileno
tetramina do Sealer 26 e AH Plus, o hidróxido de cálcio do Sealer 26 e do
Acroseal e a resina epóxica do Sealer 26, Acroseal e AH Plus. Os diferentes
níveis de eficácia ou mesmo ausência dela para cada material podem ser
justificados pelos seguintes fatores:
a) pela concentração de cada componente com potencial antimicrobiano;
b) pelo grau de liberação destes componentes da massa do material
antes e depois do endurecimento (o que está relacionado ao
envolvimento na reação de endurecimento e à solubilidade); e
c) quando liberado, da capacidade de difusão no meio contendo ágar.
Mesmo que o material se difunda pelo ágar, ele não deve reagir com
componentes do meio de cultura ou ser neutralizado, além de ter de atingir
concentrações suficientes para exercer efeito inibitório. O hidróxido de cálcio,
39
por exemplo, tem a capacidade de se difundir pelo ágar, mas pode ter seus
efeitos pH-dependentes neutralizados pela capacidade tamponadora dos
meios de cultura (SIQUEIRA & GONÇALVES, 1996). TORABINEJAD et al.
(1995) relataram que a atividade antimicrobiana do MTA é devida ao seu
elevado pH, gerado quando da mistura de óxido de cálcio presente em sua
composição e a água, formando o hidróxido de cálcio.
Da análise dos resultados do presente estudo, observa-se que
nenhum cimento endodôntico testado apresentou ação inibitória contra a
espécie C. albicans, o que também foi evidenciado com o cimento resinoso
AH 26 por CANALDA & PUMAROLA (1989), com o cimento Sealapex por
DUARTE et al. (1997) e MIYAGAK et al. (2006), com os cimentos Apexit,
Endion e AH Plus por KAPLAN et al. (1999), com o cimento Sealer Plus por
CARRASCOZA (2000), com os cimentos Apexit e o Sealer Plus por DUARTE
et al. (2001) e o cimento Roeko Seal por TANOMARU et al. (2006). Embora
tais resultados apontem para uma maior resistência da espécie C. albicans
contra os materiais testados, há que se considerar que os resultados obtidos
em nosso estudo podem estar relacionados ao extenso período de incubação
de 7 dias. É possível que halos de inibição tivessem sido observados em
períodos menores de incubação, uma vez que a liberação de componentes
antimicrobianos dos materiais é mais acentuada antes do endurecimento.
Todavia, o fato de que tal ocorrência não foi observada para as outras cepas
ou mesmo para a saliva sugere que C. albicans possa ser mais resistente
contra os materiais testados do que as outras espécies avaliadas. A
resistência de cepas de C. albicans a medicamentos endodônticos, como o
40
hidróxido de cálcio, já tem sido bastante relatada na literatura (WALTIMO et
al., 1999a; 1999b).
Especificamente, os cimentos Sealer 26, MTA, Epiphany não
apresentaram ação inibitória contra C. glabrata, ao passo que os cimentos
AH Plus, Intrafill, Acroseal e Kerr Pulp Canal Sealer apresentaram. Contra a
espécie C. tropicalis todos os cimentos apresentaram ação antifúngica,
exceto o Roeko Seal. Contra a espécie S. cerevisiae, além do Roeko Seal, o
Acroseal também não apresentou atividade antifúngica. Considerando a
microbiota mista da saliva humana, os cimentos Roeko Seal, Sealer 26, MTA
e Acroseal não apresentaram atividade antimicrobiana.
Salientando a eficácia antifúngica, os cimentos Intrafill, AH Plus e Kerr
Pulp Canal Sealer apresentaram atividade contra todas as espécies testadas,
exceto C. albicans. O cimento Intrafill apresentou a maior média dos halos de
inibição, provavelmente devido ao seu conteúdo de eugenol, cuja atividade
antimicrobiana já foi reconhecida (SIQUEIRA & GONÇALVES, 1996).
O cimento Roeko Seal não apresentou atividade antifúngica contra as
espécies testadas, muito embora existam relatos de que este cimento
apresenta atividade antimicrobiana quando recém-preparado (ÇOBANKARA
et al., 2004). Possivelmente, seus resultados negativos no presente estudo
sejam decorrentes da insolubilidade e não difusão do material no meio de
cultura contendo ágar.
Os efeitos inibitórios do MTA, Acroseal e Sealer 26 foram discretos e
apenas observados para duas espécies fúngicas (C. tropicalis e S. cerevisiae
para MTA e Sealer 26 e C. glabrata e C. tropicalis para o Acroseal). A
discreta ação inibitória ou mesmo ausência de efeitos antimicrobianos já
41
foram relatados para o MTA (TORABINEJAD et al., 1995; ESTRELA et al.,
2000). Os resultados do presente estudo para o MTA podem estar
relacionados à neutralização do elevado pH do material pela capacidade
tampão do meio de cultura. O fato de que outros estudos relataram eficácia
antifúngica do MTA sobre C. albicans (SIPERT et al., 2005; AL-HEZAIMI et
al., 2006, TANOMARU FILHO et al., 2007) também sugere que os resultados
obtidos neste estudo podem estar relacionados ao período de incubação
extendido.
O Acroseal e o Sealer 26 são cimentos resinosos que contém
hidróxido de cálcio na formulação e que apresentaram comportamento
semelhante no presente estudo. O Acroseal é um cimento ainda recente com
poucos estudos avaliando sua eficácia antimicrobiana, o que dificulta
qualquer comparação. Já o Sealer 26 tem sido extensivamente pesquisado,
apesar de ainda ser um cimento exclusivamente nacional. Estudos têm
revelado que o cimento Sealer 26 apresenta acentuada atividade
antibacteriana (SIQUEIRA & GONÇALVES, 1996; SIQUEIRA et al., 2000a;
DUARTE et al., 2001; TANOMARU FILHO et.al., 2007). Apesar da presença
de hidróxido de cálcio na formulação, a eficácia antibacteriana deste cimento
é explicada principalmente pelo fato de que a hexametilenotetramina,
elemento ativador da presa da resina e presente no Sealer 26, se decompõe
em meio aquoso em formaldeído e amônia. O formaldeído possui excelente
atividade antibacteriana (SIQUEIRA & GONÇALVES, 1996). Todavia, no
presente estudo, o Sealer 26 apresentou halos de inibição apenas contra C.
tropicalis e S. cerevisiae, mesmo assim de pequenos diâmetros. É possível
que seus efeitos antifúngicos sejam menos pronunciados do que os
42
antibacterianos. Entretanto, a ausência de resultados inibitórios sobre a
cultura mista (saliva) sugere que o tempo de incubação possa ter exercido
papel decisivo nos efeitos antimicrobianos do Sealer 26. Em outras palavras,
com o tempo, os efeitos inibitórios do cimento são reduzidos, o que é
confirmado pelo fato de que a liberação de formaldeído do cimento ocorre
principalmente durante a reação de endurecimento, sendo praticamente nula
após o mesmo.
De acordo com KOPPER et al. (2007), observa-se que há na literatura
uma série de estudos já realizados em relação à atividade antimicrobiana de
cimentos endodônticos. Entretanto, as inúmeras metodologias empregadas,
os diferentes cimentos endodônticos avaliados, apresentando diferentes
composições, as formas variadas de analisar os resultados e os diversos
microrganismos empregados, tornam essa gama de investigações
insuficientes. Dessa forma, a utilização de cimentos endodônticos que
possuem atividade antimicrobiana e um bom escoamento pelas
complexidades do sistema de canais radiculares pode também auxiliar no
controle microbiano do sistema de canais radiculares.
43
CONCLUSÕES
Pela metodologia empregada e pelos resultados obtidos, torna-se possível
apresentar as seguintes conclusões:
1- Os cimentos testados podem ser classificados em ordem decrescente
de eficácia antifúngica: Intrafill, AH Plus, Kerr Pulp Canal Sealer,
Epiphany, MTA, Sealer 26, Acroseal e Roeko Seal.
2- Nenhum cimento apresentou atividade antifúngica contra todas as
espécies testadas.
3- Os cimentos Intrafill, AH Plus e Kerr Pulp Canal Sealer apresentaram
atividade antifúngica contra três espécies testadas, mas não contra C.
albicans.
4- Os efeitos inibitórios do MTA, Acroseal e Sealer 26 foram discretos e
apenas observados para duas espécies fúngicas (C. tropicalis e S.
cerevisiae para MTA e Sealer 26 e C. glabrata e C. tropicalis para o
Acroseal).
5- O cimento Roeko Seal não exibiu atividade antifúngica contra as
espécies testadas.
44
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