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101 ano9 agosto 2011 Sony, FBI, Fox News , Igreja da Cientologia, governos da Túnisia e do Egito e mais recentemente os sites do governo brasileiro já descobriram o poder que eles têm As prisões em São Paulo jogam contra a ressocialização A Alemanha judaica 70 anos depois Quem são os anonymous n  o 1  0 1 R  $  8  ,  9  0 ISSN 1519-8952

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101ano9agosto 2011

Sony, FBI, Fox News , Igreja da Cientologia,governos da Túnisia e do Egito e maisrecentemente os sites do governo brasileirojá descobriram o poder que eles têm

As prisões em São Paulo

jogam contra a ressocialização

A Alemanha judaica

70 anos depois

Quem são osanonymous

1 01

R $ 8 , 9 0

ISSN 1519-8952

8/4/2019 Forum 101 Issuu

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por sucena shkrada resk

O antropólogo Tião Rocha, há muitos anos, resolveu sairdas salas da universidade para se dedicar às rodas deconversa nos espaços de chão batido, onde o diálogo fazcom que as pessoas redescubram sua autoestima e seu

potencial empreendedor, superando as adversidades do estigmada pobreza. Dessa atitude, nasceu o Centro Popular de Cultura eDesenvolvimento (CPCD), em Belo Horizonte, em 1984.O principal trabalho desenvolvido pelo Centro nesses anostem sido o de fomentar a educação popular, com um resgatedo folclore regional, das brincadeiras e do que Rocha chama de

“pedagogia do abraço”, além do empreendedorismo comunitárioem que se incentiva a implementação de agrolorestas por meioda permacultura e das ações básicas de saúde coletiva. As açõesalcançam comunidades de baixa renda, que enfrentam a seca, comono Vale do Jequitinhonha e do São Francisco, em Minas Gerais; e doMaranhão, com altos índices de morte neonatal.Em um bate-papo com Fórum, durante o IV Fórum Internacionalde Comunicação e Sustentabilidade, realizado em Belo Horizonteno mês de maio, Tião falou sobre sua leitura do papel da educaçãoe os principais conceitos e ações que envolvem os projetos, quetêm o desaio de empoderar a sociedade para garantir a todos umasobrevivência digna. A ilosoia que utiliza é baseada na seguinteescolha: “Ver a metade do copo cheio, em vez de ver a outrametade vazia”.

Fórum – Qual o seu ponto de vista a respeito do projeto do Plano Nacional

de Educação (PNE) – 2011-2020, que tramita no Congresso Nacional?

Tião Rocha – Acho que existem algumas questões e princípios es-senciais. Quando se faz um Plano Decenal de Educação, geralmentese pensa em escolarização num formato mais amplo, mas na práticase age menos, em algo mais localizado. Deveria ser uma questão dehonra que nenhuma criança saísse do ensino fundamental sem saberler e escrever português e fazer bem as quatro operações. Ela precisaaprender os códigos de comunicação, essa é uma condição essencialpara que possa assimilar outras coisas. É isso que deveria acontecerem quatro anos: estabelecer a função social da educação. Outra ques-tão é que toda cidade deveria ter como meta ser uma cidade educativa

alternativa

A educação por meio da

flosofa do “copo cheio”O antropólogo e educador popular Tião Rocha

encontra no empoderamento da sociedade o caminho

para a transformação do ensino e da qualidade de vida

de comunidades no interior do Brasil

e, para isso, um dos indicadores é que as bibliotecas públicas deveriamfuncionar 24 horas, como os hospitais. São pequenos dados marcantes.

Fórum – Um dos aspectos de destaque no texto da proposta do PNE é a

ênfase para o ensino técnico. Qual a sua opinião a respeito?

Rocha – Já vai estar defasado. Daqui a alguns anos, essas proissõestécnicas não existirão mais. É preciso haver a preparação para a ges-tão do conhecimento. Esse caráter formativo proissional está preso auma lógica que temos de romper, é um ranço do nosso sistema. O nos-so modelo educacional se originou na ditadura e a nossa escola foi oaparelho ideológico do Estado. Agora, virou o aparelho ideológico domercado. A pergunta é: Qual mercado? Onde é importante dar certoe ter lucro, sucesso e dinheiro rápido, no qual vale qualquer coisa ejustiica todas as falcatruas que estão aí? Ou um mercado, em que aspessoas querem conviver bem e ser boas cidadãs? Esse é um deini-dor de limite. O sistema é focado em proissões que estão pautadasna lógica do mercado, e que correm o risco de estarem ultrapassadasou de produzirem equívocos, sem produzirem valores, mas somentepreços. Isso é um problema, com o qual se deve ter cuidado.

Fórum – Com relação à educação não formal, o que agrega à aplicação

da sustentabilidade?

Rocha – A não formal parece que não tem forma, mas tem. O gran-de problema é quando deixa as formas e se transforma em caixa, e

O nosso modelo educacional se originou na ditadura e a nossa escolafoi o aparelho ideológico do Estado

   c   a   r   o   l   r   o   l   I   M

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ica fechada em si mesma. Com isso, não se recicla, como se estivesseconservada em formol. Toda a questão do conhecimento é uma cons-trução coletiva. A educação só se dá no plural, precisa, no mínimo,de duas pessoas. Ela é aquilo que se troca, o que não tínhamos antes.Quando se pensa nisso, você pensa que o conhecimento é a somató-ria da vivência, da experiência, sua base de sustentação da vida, da

ética e dos valores. Guimarães Rosa dizia: “Eu quero beber de todasas águas, experimentar de todos os rios, para saber todos os sabo-res.” Então, quanto mais você puder vivenciar, mais poderá construircoisas. Outro pensamento dele é sobre como se constrói o futuro: “Euquero rezar em todas as religiões, se todas garantirem o reino doscéus.” Para mim, hoje, a grande bandeira da sustentabilidade e daCarta da Terra é o mundo ético, que seja bom para todos nós. Todosos modelos falharam até agora. Temos de reconstruir o paradigma.

Fórum – Qual é a experiência com agrooresta que o CPCD desenvolve

na região do semiárido?

Rocha – O trabalho começou a ser desenvolvido no Vale do Jequiti-nhonha, a partir de 2005, e, hoje, alcança cerca de 66 comunidades e

40 mil pessoas. A região é um local onde as pessoas saem de lá, porcausa da seca. Mas é uma questão equivocada, já que cai alguma água,e captá-la é algo fundamental, com a possibilidade de usá-la de formaracional e sustentável. Se conseguir 20 mil litros de água, uma famí-lia com seis pessoas vive por oito meses, abastecida, e ninguém vaimorrer de sede. Caso se construa uma pequena barragem, é possívelcoletar até 30 mil litros de água na época da chuva, e se pode plantar.Então, começamos a recuperar as valas formadas pela erosão do solo,com a incidência das chuvas, que descem os morros. Com isso, houvea recuperação das áreas, criando a condição de produzir uma lorestade alimentos. A nossa experiência atinge uma área degradada de 5hectares que estava abandonada, onde utilizamos a técnica de per-macultura, com a proposta de reaproveitamento e não desperdício.

Dessa forma, produzimos, na época da seca, aproximadamente 800quilos de alimentos por mês. No período das chuvas, sobe para 1,5tonelada. E isso é possível ser replicado na casa de cada um.

Fórum – E qual é o conceito que envolve a permacultura?

Rocha – É a ideia de cultura permanente, ou seja, não agredir a

natureza, não gastar a energia. Tudo tem que manter duas funções,antes de virar lixo. A proposta é reaproveitar o máximo das coisas,com o mínimo de esforço. Com isso, há uma convivência de formaharmônica. Em vez de canteiros compridos, as pessoas fazem can-teiros em formato de mandalas. A água que sai pelas torneiras éreaproveitada para o ciclo de produção da bananeira. Utilizamosa técnica de banheiro seco, para que não haja desperdício da águajogada no esgoto.

Fórum – Um dos mais recentes projetos do CPCD é no Maranhão. Por

favor, fale a respeito.

Rocha – Fomos convidados, há dois anos, a atuar lá, porque o estadotem 38 cidades em que os índices de mortalidade infantil neonatal

são dos mais elevados no Brasil e do mundo. Desse total, começamosa trabalhar em 17 municípios, com o Projeto Cuidando do Futuro.Observamos que as crianças morrem pelas razões mais absurdas. Amãe só faz pré-natal se corre risco de morte. Às vezes, o bebê morreno próprio hospital, por diferentes motivos, devido à ineiciência doatendimento. Também ocorrem muitas mortes na primeira semana,em casa. Muitas vezes, porque alguém resolveu fazer um mingau dededo, ou seja, colocar o dedo na farinha com água e dar à criança, queacaba tendo uma diarreia e morre. Ou, então, o falecimento ocorreantes de um mês de vida porque o recém-nascido foi colocado embai-xo da torneira, em banho de água fria.Sem esse tipo de caso, o índice de mortalidade se torna semelhanteao restante do Brasil. Percebemos que a medicina hospitalar não dá

conta desse quadro e busca-mos proissionais da área dasaúde, cuidadores solidáriosda própria comunidade, queforam identiicando centenasde outros, que chamamos depontos luminosos. Com essemovimento, em um ano foipossível reduzir mais de10% do índice de mortali-dade, com a participação daprópria comunidade. Apren-di em Moçambique a ideiaque levamos para lá. Paraeducar uma criança, precisade uma aldeia. Então, vamosconvocar uma aldeia parasalvá-la da morte. F

Toda a questão do conhecimento é uma construção coletiva

Conheça o trabalho do

Centro Popular de Cultura

e Desenvolvimento no

http://www.cpcd.org.br.

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