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FICHA TÉCNICA Título original: Half a Creature from the Sea Autor: David Almond Introdução e introdução aos contos © 2014 David Almond (UK) Ltd. Slog’s Dad © 2006 David Almond (Edição original publicada em So,What Kept You?) May Malone © 2008 David Almond (Edição original publicada em The Children’s Hours) When God Came to Cathleen’s Garden © 2009, 2010 David Almond (Edição original publicada em Sideshow: Ten Original Tales of Freaks, Illusionists and Other Matters Odd and Magical) The Missing Link © 2008, 2014 David Almond (Edição original publicada em The Times) Harry Miller’s Run © 2008 David Almond (Edição original publicada juntamente com The Great North Run Culture) Half a Creature from the Sea © 2007 David Almond (Edição original publicada em The Click) Joe Quinn’s Poltergeist © 2014 David Almond Klaus Vogel and the Bad Lads © 2009 David Almond (Edição original publicada em Free? Stories Celebrating Human Rights) Ilustrações © 2014 Eleanor Taylor Edição portuguesa publicada por acordo com Walker Books Limited, London SE11 5HJ Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sob qualquer forma ou meio, eletrónico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou armazenamento de informação, sem o consentimento prévio, por escrito, do proprietário. Tradução © Editorial Presença, Lisboa, 2015 Tradução: Marta Mendonça Composição, impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda. Depósito legal n.º 397 811/15 1.ª edição, Lisboa, outubro, 2015 Reservados todos os direitos para Portugal à EDITORIAL PRESENÇA Estrada das Palmeiras, 59 Queluz de Baixo 2730-132 Barcarena [email protected] www.presenca.pt

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FICHA TÉCNICA

Título original: Half a Creature from the Sea

Autor: David Almond

Introdução e introdução aos contos © 2014 David Almond (UK) Ltd.

Slog’s Dad © 2006 David Almond (Edição original publicada em So, What Kept You?)

May Malone © 2008 David Almond (Edição original publicada em The Children’s Hours)

When God Came to Cathleen’s Garden © 2009, 2010 David Almond (Edição original publicada

em Sideshow: Ten Original Tales of Freaks, Illusionists and Other Matters Odd and Magical)

The Missing Link © 2008, 2014 David Almond (Edição original publicada em The Times)

Harry Miller’s Run © 2008 David Almond (Edição original publicada juntamente com

The Great North Run Culture)

Half a Creature from the Sea © 2007 David Almond (Edição original publicada em The Click)

Joe Quinn’s Poltergeist © 2014 David Almond

Klaus Vogel and the Bad Lads © 2009 David Almond (Edição original publicada em Free?

Stories Celebrating Human Rights)

Ilustrações © 2014 Eleanor Taylor

Edição portuguesa publicada por acordo com Walker Books Limited, London SE11 5HJ

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sob

qualquer forma ou meio, eletrónico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou

armazenamento de informação, sem o consentimento prévio, por escrito, do proprietário.

Tradução © Editorial Presença, Lisboa, 2015

Tradução: Marta Mendonça

Composição, impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráfi cas, Lda.

Depósito legal n.º 397 811/15

1.ª edição, Lisboa, outubro, 2015

Reservados todos os direitos

para Portugal à

EDITORIAL PRESENÇA

Estrada das Palmeiras, 59

Queluz de Baixo

2730-132 Barcarena

[email protected]

www.presenca.pt

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Í N D I C E

Introdução 11

O Pai do Slog 21

A May Malone 41

Quando Deus Apareceu no Jardim da Cathleen 59

O Elo Perdido 82

A Corrida do Harry Miller 105

Uma Criatura Feita de Mar 137

O Poltergeist do Joe Quinn 167

O Klaus Vogel e os Maus Rapazes 207

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das quais mal

me lembro,

coisas que me

contaram,

coisas que são como

fragmentos de um sonho.

“começar

com coisas

ouV

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DAVID ALMOND

Cresci numa cidade chamada Felling-on-Tyne. O meu pri-

meiro lar foi um apartamento no piso superior em White’s

Buildings, um conjunto de casas situadas junto à principal

praça da cidade. Tinha umas paredes brancas altas e umas

portas escuras muito largas, e uma cozinha pequena com o

lava-louça montado em cima de uma estrutura de madeira.

Um lavatório de estanho estava suspenso numa parede da

cozinha. Uns degraus íngremes e muito gastos conduziam a

um pequeno pátio nas traseiras e à retrete exterior. A minha

mãe costumava dizer que, antes de abrir a porta de qualquer

divisão, primeiro batia nela para se certificar de que os ratos

fugiam para os seus buracos nos rodapés e no chão. Havia cen-

tenas deles, contou-me ela. Milhares! Recordo-me do cheiro

a humidade, da retrete no exterior. O pó caía em cascata pe-

las faixas de luz que entravam por entre as janelas estreitas

da cozinha. Moscas mortas amontoavam-se em fitas de papel

mata-moscas dependuradas. Buzinas bradavam das fábricas

junto ao rio, sirenes de nevoeiro ecoavam do mar distante.

Éramos quatro, nessa altura: a minha mãe, o meu pai, o meu

irmão Colin e eu.

A minha mãe contou-me que eu tinha apenas meses

quando me levou a visitar o meu tio Amos pela primeira vez.

Empurrava-me no meu carrinho praça fora, passando pelo

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INTRODUÇÃO

pub Jubilee, pelo café Dragone e pela charcutaria do Myers.

Descia até à High Street1 íngreme e sinuosa, onde havia um ta-

lho, uma mercearia, um alfaiate e pubs. Uma cabeça de porco

cor-de-rosa espreitava sorridente na montra do Myers. Viam-se

caixas de fruta colorida empilhadas à porta do Bamling. Havia

sempre um bacalhau enorme, maior do que um rapaz, esten-

dido sobre a laje de mármore à porta da peixaria. Sentia-se

o cheiro a fish and chips2 do Foster, a cerveja através das

janelas abertas da Halfway House, a óleo e a ferrugem pro-

venientes do outro lado da porta de vaivém do ferro-velho

caótico do Howie. Passávamos pelos rostos e pernas pálidos

e rachados dos manequins dos grandes armazéns Shepherd.

A minha mãe ia o caminho todo a cumprimentar familiares e vi-

zinhos. Eles baixavam-se para me sorrir e meterem-se comigo,

às vezes para enfiar uma moeda na minha mão pequena. Como

sempre, acima da altura dos telhados, o campanário esguio da

nossa igreja, a St. Patrick, apontava para o azul.

A meio da rua, a minha mãe virava para um beco estreito

e levava-me até à tipografia do Amos. Tinham existido vá-

1 High Street é a rua principal de uma cidade pequena onde se concentra a maior parte

do comércio, também conhecida por «rua das montras». (NT)2 Fish and chips, que significa literalmente «peixe e batatas fritas», é um prato britânico

vendido tradicionalmente embrulhado em folhas de jornal. É um prato típico do Reino

Unido. (NT)

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DAVID ALMOND

rias gerações de tipógrafos na nossa família e o Amos era o

mais recente. Imprimia o jornal local naquele sítio escuro e

pequeno, em duas impressoras antigas. Se me lembro disso?

Gosto de pensar que sim, mas acho que no fundo apenas

recordo as palavras da minha mãe. Ela contou-me uma his-

tória sobre um dia em que estava na loja, comigo deitado

nos braços, e o Amos puxou uma alavanca e as impressoras

começaram a fazer barulho e a rodar, e as páginas do jornal

começaram a fluir delas, e eu comecei a mexer-me e a que-

rer saltar do colo dela, a rir-me e a apontar para as páginas.

Da mesma forma que os olhos de um bebé captam luzes

brilhantes ou pássaros a voar, os meus olhos captaram a impres-

são – e eu ficaria eternamente apaixonado por ela. Talvez te-

nha começado a ser escritor nesse dia na pequena tipografia,

um tempo de que não tenho memória, quando ainda tinha

apenas uns meses.

Para além de tipógrafo, o Amos era também escritor.

Escrevia poemas, histórias, romances e peças de teatro. Nas

festas de família, depois de uns copos, retirava uma folha de

papel do bolso e lia-nos um poema. Algumas pessoas revi-

ravam os olhos e riam-se, mas eu adorava-o por fazer aquilo.

Tinha um tio escritor; eu podia vir a ser o mesmo. Nenhum dos

textos dele tinha sido publicado ou levado à cena, mas ele não

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INTRODUÇÃO

se importava com isso. Continuava a escrever porque gostava

de o fazer, e pela família e amigos. Eu era ainda um rapazinho

quando lhe revelei timidamente as minhas próprias ambições.

«Sim», respondeu-me ele, «faz isso!» Disse-me também: «Não

deixes que a tua escrita te separe das pessoas e dos lugares

que amas.»

White’s Buildings acabou por ser classificado como um

bairro degradado e foi demolido. Mudámo-nos para um bairro

social novinho em folha, The Grange, mesmo ao lado do no-

víssimo anel rodoviário situado na ponta oriental da cidade.

Frequentei a escola primária St. John Catholic School, um

edifício sombrio feito de pedra junto ao rio. O Amos fechou

a tipografia e mudou-se, mas o letreiro por cima do beco per-

maneceu lá durante muitos anos:

TIPOGRAFIA ALMONDPassei por baixo dele milhares de vezes durante o meu cres-

cimento.

Brinquei com os meus amigos nos campos situados por

cima da cidade. Fui mais além, às colinas para lá dos cam-

pos, onde havia minas de carvão abandonadas e aterros,

cercados cobertos de tufos de erva com póneis lá dentro,

charcos com tritões, estábulos em ruínas. Lá de cima via-se

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DAVID ALMOND

a cidade inteira em escarpa: as ruas que conduziam à praça,

as fábricas mais abaixo, o rio cheio de estaleiros, a cidade de

Newcastle com as suas pontes, torres e campanários. A norte,

os longínquos montes Cheviot perdidos na neblina. A oeste,

as colinas do condado de Durham, as aberturas e o material

de extração das minas. A sul, mais campos, estradas, sebes de

pilriteiros e depois Sunderland, e mais à frente as cidades

de Teesside no horizonte distante. A este, o escuro mar do

Norte. Parecia que uma grande parte do mundo, em toda a sua

variedade, era visível desse pequeno lugar.

Comecei a escrevinhar as minhas próprias histórias. Lia

livros da biblioteca local. Sonhava um dia regressar a essa

mesma biblioteca e encontrar livros com o meu próprio nome

arrumados nas prateleiras. Uma ou duas vezes atrevi-me a

admitir a outras pessoas que queria ser escritor. Lembro-me

de um dia ter recebido a resposta: «Mas tu não passas de um

miúdo vulgar. E vens da pequena e vulgar cidade de Felling.

Sobre que raio irás tu escrever?»

À medida que o tempo foi passando, dei por mim a es-

crever cada vez mais sobre esse pequeno lugar. Muitas das

minhas histórias têm origem lá. Utilizam a sua paisagem, a

sua linguagem e a sua gente e transformam tudo isso em fic-

ção – meio imaginárias, meio reais. Todas as histórias deste

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INTRODUÇÃO

livro estão, de certa forma, ligadas a esse sítio «vulgar». Tento

fazer o que muitos escritores fizeram antes de mim: mostrar

que os sítios vulgares podem ser bastante invulgares.

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“A história d’O Pai do Slog tem lugar mesmo

no centro da cidade, na Felling Square.

Tratava-se de uma zona pequena cercada

por um muro baixo, com uma fonte de água antiga no

meio. Havia bancos onde as pessoas se sentavam a ver

passar os dias, a descansar após subirem a íngreme High

Street ou à espera de que o Black Bull ou o Jubilee

abrissem. De um lado da praça ficava a barbearia do

Ray Lough, com a montra em vidro laminado e uma

pequena fila de cadeiras. O Ray recusava-se a fazer

cortes modernos. A rapaziada podia entrar e pedir-lhe

um penteado ao estilo do James Dean ou dos Beatles,

mas acabavam todos com o mesmo corte: curto atrás

e dos lados, com um pouco de gel para rematar; do

tipo que ficava muito rijo assim que apanhava o ar da

rua. Na porta imediatamente ao lado ficava a agência

de apostas do meu avô. O nome na montra – Barbearia

John Foster – levava alguns homens a entrar à procura

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DAVID ALMOND

de um corte de cabelo, mas em vez disso deparavam-

-se com o meu avô a dar baforadas no cachimbo atrás

do balcão, homens espalhados pela sala a lerem aten-

tamente o Sporting Life e os resultados das corridas de

cavalos emitidas pela rádio e a crepitarem através das

colunas da rádio afixadas nas paredes. A praça e a High

Street, assim como muitas lojas e pubs, ainda existem.

Exceto a do Lough e a agência de apostas. O meu tio

Maurice ficou com ela quando o meu avô se reformou,

mas depois abriu uma agência Ladbrokes na praça e o

Maurice mudou a loja para Hebburn, a uns quilómetros

de distância, para tentar apanhar a clientela dos ope-

rários dos estaleiros. Mas a construção naval começou

a diminuir até que cessou rapidamente e a agência de

apostas foi um dos muitos negócios que desaparece-

ram com ela.

A charcutaria do Myers vendia as melhores empadas de

porco, as melhores sandes de porco e as melhores saveloy

dips da região. A saveloy é uma variedade de salsicha. Para

mim e para os meus amigos eram o suprassumo do sabor, em

especial dentro de um pãozinho macio com recheio, cebola e

mostarda e depois mergulhadas num tabuleiro raso do molho

especial do Myers. Uma saveloy dip com tudo: um manjar dos

deuses!

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O PAI DO SLOG

Eu era católico, tal como muitos dos meus amigos.

Ensinaram-nos a acreditar que, quando as pessoas boas

morriam, iam para junto de Deus. (As más, claro, iam para

o Inferno, onde ardiam para toda a eternidade.) Às vezes,

quando o Sol brilhava, o céu estava azul e o rio cintilava lá

em baixo, e as cotovias cantavam nas colinas, o Paraíso não

parecia muito distante. E éramos constantemente recor-

dados dos seus habitantes também. Havia estátuas de Jesus

e da sua mãe, assim como de santos e de anjos na Igreja de

St. Patrick. Todos tínhamos livros de orações, terços, esta-

tuetas e imagens religiosas nas nossas casas.

Padres bem-dispostos eram figuras familiares nas ruas da ci-

dade – a caminho de visitarem os enfermos, de confortarem os

enlutados ou de irem beber um copo de uísque com um paro-

quiano. Também se viam vagabundos com alguma frequência.

Havia um em particular que morava, dizia-se, algures nas coli-

nas por cima da cidade. Ninguém sabia o nome dele, nem de

onde vinha. Era um homem calado e de passo apressado, com o

cabelo louro. Parecia descontraído, imperturbado pelo mundo

que o rodeava, e era uma figura romântica para rapazes como

eu. Viver uma vida de liberdade a céu aberto! Quem é que não

gostaria de uma vida assim? Às vezes via-o sentado sozinho num

banco da praça, tal como o pai do Slog na história. Ansiava ten-

tar falar com ele, mas nunca o fiz.

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DAVID ALMOND

Esta história surgiu de um fragmento do caderno de apon-

tamentos do grande escritor de contos Raymond Carver, que

utilizei como inspiração para um conto meu. Uma frase cap-

tou a minha atenção: «Quanto tempo é que ainda me resta?»

Assim que a apontei no meu caderno, O Pai do Slog ganhou

vida. Liguei o computador e comecei a escrever. Havia um

rapaz chamado Davie, a atravessar a praça com o seu amigo

Slog. Havia um tipo sentado no banco. Havia a charcutaria do

Myers com as suas deliciosas saveloys…

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A primavera tinha chegado. Eu tinha passado o dia inteiro

de um lado para o outro com o Slog e estávamos esfo-

meados. Estávamos a atravessar a praça em direção à char-

cutaria do Myers. O Slog parou de repente.

– O que é que foi? – perguntei-lhe.

Ele apontou com a cabeça para o outro lado da praça.

– Olha ali – disse.

– O que é?

– É o meu pai – sussurrou ele.

– O teu pai?

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UMA CRIATURA FEITA DE MAR

– Exato.

Limitei-me a olhar para ele.

– Aquele tipo ali – disse o Slog.

– Qual tipo, onde?

– Aquele, sentado no banco. Com a boina. O do pau.

Protegi os olhos do sol com a mão e tentei ver. O tipo

tinha as mãos pousadas na extremidade superior do pau.

Tinha o queixo apoiado em cima das mãos. O cabelo dele

era comprido e desgrenhado e a roupa estava gasta e em

farrapos, como se fosse pobre ou tivesse feito uma longa

viagem. O rosto estava escondido pela sombra da boina,

mas percebia-se que estava a sorrir.

– Ó Slog – disse eu. – O teu pai já morreu.

– Eu sei, Davie. Mas é ele. Regressou, tal como disse

que faria. Na primavera.

Ergueu a mão no ar e acenou.

– Pai! – gritou. – Pai!

O tipo acenou-lhe também.

– Estás a ver? – disse o Slog. – ’Bora lá.

Puxou-me pelo braço.

– Não – sussurrei-lhe. – Não!

Libertei-me e entrei na charcutaria do Myers, e o Slog

correu na direção do pai.

* * *

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O PAI DO SLOG

O pai do Slog tinha sido um homem do lixo, um tipo

magro com o rosto cheio de rugas e com uma boina gor-

durenta. Estava sempre a fumar cigarros Woodbine. Ia

pendurado na parte de trás do carro do lixo enquanto da-

vam a volta ao bairro, saltava para o chão e depois voltava

a saltar para o carro, punha os caixotes do lixo ao ombro e

despejava a porcaria na parte de trás. Estava sempre a can-

tar hinos – Faith of Our Fathers, Hail Glorious Saint Patrick e

coisas do género.

– Lá vem ele outra vez – dizia a minha mãe, enquanto ele

sacudia os caixotes do lixo e cantava Oh, Sacred Heart a ple-

nos pulmões, às oito horas de uma quinta-feira de manhã.

Mas dizia-o a sorrir, porque toda a gente gostava do pai

do Slog, o Joe Mickley, uma alminha brincalhona e esperta.

O primeiro sinal da doença dele foi um ligeiro coxear:

depois um dia o Slog apareceu na escola e disse:

– O meu pai tem uma mancha preta no dedo grande

do pé.

– Como n’A Ilha do Tesouro? – repliquei.

– O que é que quererá dizer? – perguntou ele.

Eu ia responder «morte e tragédia», mas optei antes por

dizer:

– Ele podia perguntar ao médico.

– Ele já perguntou ao médico.

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UMA CRIATURA FEITA DE MAR

O Slog baixou o olhar. Ele cheirava ao pai, um odor a lixo

em decomposição que não o largava. Eles moravam ao fundo da

nossa rua e a casa inteira cheirava ao mesmo, por muito que a Sra.

Mickley lavasse e esfregasse. O pai do Slog sabia-o. Dizia que

era o cheiro da terra. Dizia que não haveria nada assim no Céu.

– O médico disse que na’ era nada – disse o Slog. – Mas

hoje ele vai ficar de cama e amanhã vai para o hospital.

O que é que quererá dizer, Davie?

– Como é que eu hei de saber? – respondi.

Encolhi os ombros.

– É só uma mancha, Slog, pá! – disse eu.

Depois disso aconteceu tudo muito depressa. Cortaram-

-lhe o dedo grande, depois o pé e mais tarde a perna, até

metade da coxa. O Slog disse que a mãe estava convencida

de que o pai dele tinha apanhado uma infeção nos caixotes

do lixo. A minha mãe dizia que era dos Woodbines que ele

fumava. Fosse o que fosse, pareceram conseguir tratá-lo.

Puseram-lhe uma perna de lata e mandaram-no para casa.

E foi o fim dos caixotes do lixo, claro.

Ele passou a sentar-se no pequeno muro de jardim em

frente à sua casa. A Sra. Mickley sentava-se muitas vezes

com ele e ambos cheiravam as rosas, tagarelavam, sorriam,

bebiam chá e fumavam cigarros Woodbine. Ele costumava

mostrar a perna nova a quem passava.

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O PAI DO SLOG

– Recebo a perna antiga quando chegar ao Céu – dizia ele.

Quando alguém lhe perguntava se andava à procura de

trabalho, ele ria-se.

– Trabalho? Mas se eu mal consigo andar.

E começava a cantar Faith of Our Fathers e toda a gente

sorria.

Depois apareceu-lhe outra mancha preta no dedo grande

do outro pé e eles levaram-no de novo, e começaram a

cortar-lhe a outra perna, e o Slog disse que era como viver

num filme de terror.

Quando o pai do Slog tornou a voltar para casa, passava

os dias sentado numa cadeira de rodas, no jardim. Nem se

dava ao trabalho de usar as pernas de lata: apenas umas cal-

ças de pijama com as pernas dobradas por cima dos cotos.

Andava mais reservado do que antes. Ficava sentado ao sol

dia após dia, entre as suas rosas, a fitar as paredes revestidas

a brita, os telhados vermelhos e o céu limpo. Os Woodbines

pendiam-lhe dos dedos. Oh, Sacred Heart brotava-lhe leve-

mente dos lábios. A Sra. Mickley levava-lhe chávenas de

chá, copos de cerveja, Woodbines. Uma vez estive com a

minha mãe à janela e vi a Sra. Mickley afagar o cabelo do

marido e beijá-lo ao de leve na face.

– Ela está a dizer-lhe que ele vai melhorar – disse a mi-

nha mãe.

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UMA CRIATURA FEITA DE MAR

Vimos um sorriso assomar ao rosto do Joe Mickley.

– Aquilo é amor – disse a minha mãe. – Amor verdadeiro.

O pai do Slog continuava a brincar e a meter-se com as

pessoas que passavam.

– Andar? – dizia ele. – Nem sequer consigo saltar ao

pé-coxinho! Podem cortar-nos o corpo em mil pedaços –

dizia ele –, mas não nos podem cortar a alma.

Vimo-lo a definhar. O Slog contou-me que tinha ouvido

a mãe comentar em voz baixa algo sobre os dedos do pai

dele terem de ser cortados. Contou-me que a Sra. Mickley

levantava o pai dele da cadeira todas as noites, deitava-o em

cima da cama e sussurrava-lhe as boas-noites, como se ele

fosse uma criança. O Slog disse-me que nas noites em que

sentia mais medo enfiava-se na cama dos pais.

– Mas só piora as coisas – disse ele. Chorou. – Sou maior

do que o meu pai, Davie. Sou maior do qu’o raio do meu pai!

E pôs os braços à minha volta, deitou a cabeça no meu

ombro e chorou.

– Então, Slog? – disse-lhe eu, libertando-me dele.

– Deixa-te lá disso, Slog, pá!

Um dia, em finais de agosto, o pai do Slog apanhou-me

a olhar. Fez-me sinal com a mão para que me aproximasse.

Acerquei-me devagar. Ele piscou-me o olho.

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O PAI DO SLOG

– Na’ há problema – sussurrou ele. – Eu sei que na’ que-

rias chegar-te demasiado.

Baixou o olhar para o sítio onde deviam estar as pernas.

– Dizem que mas devolvem assim que chegar ao Céu –

disse ele. – O qu’é qu’achas, Davie?

Encolhi os ombros.

– Não faço ideia, senhor Mickley – respondi-lhe.

– Achas que vou conseguir regressar pelo meu próprio

pé se mas devolverem?

– Não faço ideia, senhor Mickley.

Comecei a afastar-me.

– Vou sair daqueles portões perlados pelo meu próprio

pé – disse ele. Depois deu uma gargalhada. – Vou seguir os

cheiros. No Céu não cheira a nada. Vou seguir o raio dos

cheiros até regressar aqui à bela terra.

Olhou para mim.

– O qu’é qu’achas disso? – perguntou-me ele.

Uma semana mais tarde, o jardim estava vazio. Vimos o

Dr. Molly entrar, depois o padre O’Mahoney e assim que

começou a escurecer apareceu o Sr. Blenkinsop, o agente

funerário.

Na semana a seguir ao funeral, estava eu a sair do bairro

com o Slog, em direção à escola, quando ele disse:

– O meu pai disse-me que ia voltar.

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UMA CRIATURA FEITA DE MAR

– Ó Slog… – respondi-lhe.

– Foi a última coisa que me disse. «Hás de ver-me na

primavera», disse-me ele.

– Ó Slog, pá. Isso foi só porque…

– Porquê?

Cerrei os dentes.

– Porque ele estava a morrer, pá!

Não era minha intenção gritar com ele, mas o trânsito

passava a toda a velocidade no anel rodoviário. Agarrei-lhe

o braço e parámos.

– A morrer, raios – disse eu, numa voz mais calma.

– A minha mãe também diz isso – respondeu o Slog.

– Diz que vamos ter de esperar. Mas eu não aguento es-

perar até chegar ao Céu, Davie. Quero vê-lo aqui, uma

última vez.

Em seguida, ergueu o olhar para o céu.

– Pai – disse ele, num sussurro. – Pai!

Entrei na charcutaria do Myers e havia salsichas e bacon

e morcela e carne assada e empadas expostas em pilhas

impecáveis na montra. Uma cabeça de porco cor-de-rosa,

com os pelos chamuscados e um sorriso estampado no

focinho, olhava f ixamente para a praça. No chão via-se

um balde com ossos para cães e outro balde com sangue.

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O PAI DO SLOG

As bancadas de mármore, assim como o rosto do Billy

Myers, reluziam.

– Olá, Davie – cumprimentou-me ele.

– Olá – murmurei.

– É uma saveloy, não é? Com tudo?

– Exato.

Olhei lá para fora, por cima da cabeça de porco. O Slog

estava com o tipo, a olhá-lo de cima e a falar com ele. Vi-o

inclinar-se para tocar no tipo.

– Com molho? – perguntou-me o Billy.

– Exato – repliquei.

Ele mergulhou a sandes numa bacia com molho.

– Que espetáculo – disse ele. – Apesar de eu ser suspeito.

Um xelim, por ser para si, cavalheiro.

Paguei-lhe, mas não fui capaz de sair porta fora. A san-

des estava quente. O molho pingava-me para os pés.

O Billy riu-se.

– No que é que estás para aí a matutar? – indagou ele.

Vi o Slog sentar-se no banco ao lado do tipo.

– Acredita na vida depois da morte? – perguntei-lhe.

Billy deu uma gargalhada.

– Ora aí está uma bela pergunta para se fazer a um ta-

lhante! – exclamou ele.

Uma mulher magra entrou e passou por mim.

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