faixa brasília setor estrutural e arcabouço tectônico.pdf

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  • Revista Brasileira de Geocincias 25(4):267-278, dezembro de 1995

    FAIXA BRASLIA SETOR SETENTRIONAL: ESTILOS ESTRUTURAIS EARCABOUO TECTNICO

    MARCO A. FONSECA*, MARCEL A. DARDENNE** & ALEXANDRE UHLEIN***

    ABSTRACT THE NORTHERN SECTOR OF THE BRASLIA FOLD BELT: STRUCTURAL STYLESAND TECTONIC FRAMEWORK The Brasilia fold-and-thrust-belt is a major tectonic unit of the Tocan-tins Province in central Brazil. The general vergence of folds and thrust faults is towards the So FranciscoCraton, a stable area that behaved as a foreland for many other Brasiliano fold belts. In the northern segmentof the belt, two main structural zones with a north-south distribution have been recognized: the foreland-fold-and-thrust-belt and the metamorphic core. The outer foreland includes the So Francisco cratonic cover andthe Mesoproterozoic Parano Group. Shortening of such cover is almost always balanced by cover-basementdetachments and also by NE trending wrench faults north of parallel 14. The inner foreland consists of thePaleo- and Mesoproterozoic Arai, Canastra and Parano metasedimentary rocks. In the northern portion of theouter foreland, shortening is accomodated by basement-involved reverse faults and extensive transcurrent andoblique fault systems. In the southern portion, two hypotheses can be proposed to balance the shortening ofthe cover. The outer metamorphic core comprises basement terrains and medium to high grade metamorphicrocks of the Serra da Mesa Group. Two regional fault systems form a complex dextral-lateral transpressivezone. Shortening of the cover is achieved by assymetric to isoclinal folds and ductile faults. Basement rocksare entirely involved in various thrust slices and deformation is polyphasic. Different from the describedtranspressive systems in the literature, the transpressive zone in the outer metamorphic core affects basementand medium grade metamorphic units and the main faults are not vertical. The observed strain partitioningindicates the Brasilia Belt to be a transpressive belt, with its root zone in its outer metamorphic core.

    Keywords: Proterozoic fold-and- fault belts , structural geology, tectonics, Brasilia Fold Belt

    RESUMO A anlise estrutural conduzida nas seqncias metassedimentares e em parte do embasamentoda Faixa Brasilia em seu segmento setentrional permitiu a individualizao de dois grandes compart imen t os:o cinturo de dobras e falhas de antepas e o ncleo metamrfico. O cinturo de dobras e falhas de antepasainda pde ser dividido em antepases externo e interno. O antepas externo engloba coberturas cratnicas(Grupo Bambu) alm das seqncias metassedimentares da faixa, afetadas por uma tectnica epidrmica. Estasrochas se deformam atravs de dobramentos flexurais e falhas rpteis com vergncia para leste. O antepasinterno pde ser compartimentado em dois setores: sul e norte. Ao norte esto envolvidas seqnciasmetassedimentares e terrenos do embasamento, deformados por uma tectnica thick-skinned. A cobertura sedeforma atravs de amplas dobras regionais flexurais. A nvel do embasamento, a deformao tambm acomodada por grandes sistemas de falhas frontais e transcorrentes. No setor sul dominam as seqncias doGrupo Parano, que se deformam atravs de amplos dobramentos em kink com vergncia para leste. Duashipteses so postuladas para balancear a deformao da cobertura em profundidade. O ncleo metamrficoexterno compreende terrenos do embasamento s.s. bem como diversos tipos de materiais a ele agregados. Estaporo da faixa balizada por duas grandes descontinuidades que se constituem em falhas de borda deimportante sistema transpressivo, que opera no mbito do lineamento Transbrasiliano. A partio da defor-mao caracterizada perpendicularmente ao eixo do orgeno, bem como em seu segmento sul, permiteenquadrar a faixa Braslia como um cinturo transpressivo, com sua raiz exposta no ncleo metamrfico.

    Palavras-chave: faixas mveis proterozicas, geologia estrutural, tectnica, Faixa Braslia

    INTRODUO A Faixa de Dobramentos Braslia(Almeida 1967), edifcada no bordo oeste do Crton do SoFrancisco, estende-se por mais de 1.000 km na direo norte-sul, atravs dos Estados de Minas Gerais, Gois, DistritoFederal e Tocantins. Polarizada e vergente em direo essaentidade cratnica, a faixa exibe diversos compartimentostectnicos, caracterizados pela diversidade de material en-volvido, grau de metamorfismo e estilo estrutural.

    Diversas compartimentaes da Faixa Braslia, tendo porbase os parmetros acima relacionados, tm sido propostasdesde o trabalho pioneiro de Costa & Angeiras (1971), pas-sando pelos trabalhos de Dardenne (1978) e Fuck (1994). Maisdo que simples sistematizao do arcabouo das faixas dedobramento, delinear tais compartimentos procedimento

    fundamental com vistas a caraterizar os processos deforma-cionais, metamrficos e metalogenticos, dentre outros, nocontexto da faixa dobrada propriamente, bem como em suaszonas mais internas e em seu antepas.

    Na Faixa Braslia, a sua compartimentao envolve ques-tes de maior monta, pois dentre as faixas que marginam oCrton do So Francisco, talvez seja ela a que carea de melhordefinio. Em primeiro lugar, problemas residem no enqua-dramento tectnico da zona interna da faixa. Esta zona, que em grande parte ocupada por rochas dos Grupos Arax e Serrada Mesa, mostra todas as caractersticas dos cintures inte-riores Neoproterozicos (ver sntese em Neves & Cordani1991). Entretanto, na concepo de diversos autores, ela cor-responde denominada Faixa Uruauana que teria evoludo

    * Departamento de Geologia, Escola de Minas, UFOP, Campus Universitrio, Morro do Cruzeiro - 35400-000, Ouro Preto MG, Brasil e-mail:marco @ degeo.ufop.br

    ** Instituto de Geocincias, Unb, Campus Universitrio Asa Norte, 70910-900 Braslia, DF, Brasil*** Instituto de Geocincias, UFMG, Av. Antnio Carlos, 6627, 31270-901 Belo Horizonte, MG, Brasil

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    durante o MesoProterozico e agregada Faixa Braslia du-rante o Neoproterozico (Almeida 1968, Marini et al. 1981,Fuck & Marini 1981). Segundo esta concepo, a Faixa Bra-slia ficaria limitada, em alguns pontos, a uma faixa com cercade 70 Km de largura, o que praticamente inviabilizaria umaproposta de compartimentao.

    Em oposio hiptese de evoluo policclica, algunsautores advogam uma evoluo monocclica. Dentre estes,destacam-se Costa & Angeiras (1971), Dardenne (1978) eFuck (l994).

    Por outro lado, ainda em relao s faixas de dobramentosadjacentes ao Crton do So Francisco, a Faixa Braslia apre-senta a mpar e peculiar Megaflexura dos Pirineus. Esta estru-tura uma sintaxe na altura do paralelo 16 e desempenhapapel fundamental na estruturao da faixa, visto que a se-ciona em dois segmentos distintos, com cinemtica geralprpria. A geometria e a cinemtica interna desta importanteestrutura so ainda vagamente conhecidas, em virtude daausncia de cartografia estrutural de detalhe.

    Neste artigo proposta uma compartimentao do seg-mento setentrional da Faixa Braslia, fundamentada nas carac-tersticas dos diferentes estilos estruturais. Diversas sees,realizadas desde a zona pericratnica at os limites do Maciode Gois permitiram reconhecer a passagem gradual entre umatectnica dominantemente epidrmica a leste, e zonas decisalhamento dcteis, com envolvimento do embasamento nolimite oeste. Os dados confirmam que, ao contrrio de umatectnica com regime de encurtamento frontal, o segmentosetentrional da faixa foi submetido, durante a inverso, a umatectnica transpressiva dextral.

    QUADRO GEOLGICO REGIONAL A ProvnciaEstrutural do Tocantins (Almeida et al 1977) (Fig. 1) com-preende todos os terrenos situados entre os crtons Amaznicoe do So Francisco. Situada na poro oriental desta provncia,a Faixa Braslia limita-se a leste com o Crton do So Fran-cisco, a sul interfere-se com a Faixa Alto Rio Grande, asudoeste recoberta pelas rochas sedimentares da Bacia doParan e a oeste limita-se com o Macio de Gois.

    A Faixa Braslia se relaciona geocronologicamente ao l-timo elemento geotectnico, mas em termos estruturais etectnicos esta relao , ainda, pouco conhecida. O Maciode Gois, numa concepo mais moderna (Fuck et al. 1994) um fragmento crustal complexo. Foi envolvido pela orog-nese brasiliana e contm, alm de terrenos granito-greenstonearqueanos, ortognaisses neoproterozicos. O arco magmticodo oeste de Gois (Pimentel & Fuck 1992) constitui umacrosta juvenil neoproterozica e consiste de terrenos comortognaisses e seqncias vulcanossedimentares. Recentesdados isotpicos permitiram caracterizar rochas de afinidadesemelhante, integradas na Seqncia Mara Rosa (Pimentel etal. 1996), situada no nordeste goiano. Da mesma forma, arelao tectnica entre o Macio de Gois e o Arco Magmticoainda pouco conhecida.

    Alm dos terrenos de infra-estrutura, a faixa Braslia constituda por rochas supracrustais do Meso- e Neoprote-rozico, cuja deformao e metamorfismo ocorreram duranteo Ciclo Brasiliano. A marcante polaridade estrutural e meta-mrfica exibida pela faixa reconhecida de longa data. Costa& Angeiras (1971) propuseram a sete compartimentos, desdea zona cratnica, a leste, at o que denominaram de emba-samento antigo, o qual corresponde ao ncleo metamrficointerno da faixa, em parte representado pelo Macio de Gois.

    Figura 1 - Esboo geotectnico do Brasil central. Modificadoa partir de Schobbenhaus Filho (1993) e Fuck (1994).Figure l - Geotectonic sketch map of Central Brazil. After SchobbenhausFilho (1993) and Fuck (1994).

    Mais recentemente, Fuck (1994) distinguiu na Faixa Bra-slia os seguintes compartimentos:1 zona cratnica: representada por algumas exposies do

    embasamento e por coberturas fanerozicas e precambria-nas, cuja deformao, quando existente, de carter epidr-mico;

    1 zona externa: que compreende as unidades metassedimen-tares dos grupos Parano, Bambu, Canastra e Ibi, e daFormao Vazante, todos estruturados em um cinturo dedobras e falhas de antepas;

    1 zona interna: representada pelas rochas dos grupos Arai,Serra da Mesa e Arax, e pores do embasamento situadasentre as faixas de rochas metavulcnicas e metassedimen-tares.O segmento setentrional da Faixa Braslia estende-se do

    norte do Distrito Federal (paralelo 16) at o Estado de To-cantins (aproximadamente paralelo 11), ao longo de umaextenso superior a 500 Km.

    COMPARTIMENTAO TECTNICA A subdi-viso tectnica do segmento setentrional da Faixa Braslia

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    aqui apresentada enfoca, basicamente, os diferentes estilosestruturais. Esta diviso aponta para um modelo de evoluomonocclica, uma vez que as estruturas-chaves da faixa, car-tografadas continuamente desde as zonas mais externas at asinternas, mostram uma passagem gradual morfolgica, geo-mtrica e de estilo.

    Em termos genricos, o principal elemento de comparti-mentao tectnica de um cinturo de dobramentos o quemarca o limite entre o cinturo de dobras e falhas de antepase o ncleo metamrfico.

    A nomenclatura aqui proposta baseia-se em Hatcher Jr. &Williams (1986), os quais apresentam a arquitetura de umorgeno idealizado, acompanhada da curva Bouguer corres-pondente. Em funo dos dados da literatura, o limite marcado a partir de vrios critrios, dentre os quais citam-sea passagem da fcies xisto verde baixo para xisto verde mdio,0 envolvimento do embasamento na deformao e a formacomo foi envolvido, estilos estruturais de dobras e falhas, aexistncia e grau de penetratividade da trama e o carter dadeformao, se monofsica ou polifsica.

    Para englobar a maior parte dos parmetros listados, olimite entre o cinturo de dobras e falhas de antepas e o ncleometamrfico da Faixa Braslia deve ser posicionado junto aoSistema de Falhas Rio Maranho (Fig. 2). Inicialmente des-crito nos Mapas do Projeto Braslia (Barbosa et al. 1969), essesistema a principal descontinuidade geolgica de toda a faixae pode ser traado desde a regio de Padre Bernardo, at aconfluncia dos rios Tocantins e Parana, ao longo de mais de300 Km. Esta proposta se justifica nos seguintes argumentos:1 a oeste do sistema, onde predominam rochas do Grupo

    Serra da Mesa, a deformao polifsica, tpica de zonasinternas de faixas mveis. A leste, uma segunda fase apenas local e decorre da interferncia de sistemas transcor-rentes com sistemas frontais;

    1 a leste do sistema Rio Maranho, as rochas esto na fciesxisto verde (Marini & Fuck 1981) e, a oeste, na fciesanfibolito e a passagem balizada pelo rio Tocantins (Fuck& Marini 1981);

    1 a leste, o padro de dobras flexural e, a oeste, no ncleometamrfico, foi preferencialmente passivo.O cinturo de dobras e falhas de antepas admite, com baseprincipalmente no material envolvido, uma segunda compar-timentao: antepas externo e antepas interno. No antepasexterno predominam as coberturas do Grupo Bambu. Umasntese dos principais compartimentos apresentada na figu-ra 3.

    Na figura 4 esto representadas, de forma esquemtica, asprincipais estruturas regionais do segmento norte da FaixaBraslia. Essas estruturas marcam os limites entre Os diversoscompartimentos tectnicos e compreendem, de leste paraoeste, o Sistema So Domingos (SSD), o front do Arai (F Ar),o Sistema Parana (SP), o Sistema Rio Maranho (SRM) e oSistema Santa Teresa (SST). estes sistemas se associamoutros, oblquos/ transcorrentes de menor expresso, mas degrande importncia, na medida em que acomodam grandeparte da deformao e que compreendem os sistemas PadreBernardo-Cocalzinho (SPBC), So Jorge-Alto Paraso-Cormari (SSAC), Cavalcante-Terezina (SCT) e Arraias-Campos Belos (SACB).

    Antepas externo O antepas externo da Faixa Bra-slia corresponde zona de Januria (Dardenne 1978) ou zona cratnica de Fuck (1994). O material envolvido consiste

    principalmente das coberturas do Grupo Bambu, represen-tadas por metassiltitos, mrmores e ardsias e, de formasubsidiria, rochas atribudas ao Grupo Parano (quartzitos) edo embasamento. Seus limites so, a oeste, o Sistema Paranae o front do Arai (figura 4) e, a leste, o antepas externo, emparte coberto por rochas sedimentares do Cretceo.

    A arquitetura do sistema dominada por falhas de empur-ro imbricadas e conectadas a descolamentos subhorizontaisinterestratais. Os dobramentos sempre envolveram o acama-mento sedimentar e so, em geral, flexurais de deslizamento,com dobras normais ou assimtricas, nas mais variadas esca-las. A vergncia para leste. A deformao pode ser moni-torada at o limite do recobrimento das rochas do GrupoBambu pela cobertura cretcea. Amplas flexuras monoclinaispodem ser observadas na sada leste da cidade de Posse.

    A foliao metamrfica, quando presente, uma clivagemardosiana ou uma clivagem espaada, somente visvel junto azonas de maior deformao.

    Na figura 5, esto representados os dados estruturais obti-dos ao longo de trs sees no antepas externo. Nas trssees, realizadas entre as cidades de Taguatinga (TO) eDianpolis, Campos Belos e Divinpolis de Gois e entreNova Roma e Posse, a disperso do acamamento se d sempreem torno de eixos norte-sul, com pequenas disperses para NEe NW. Entretanto, prximo cidade de Aurora do Norte (TO),as charneiras esto rotacionadas e podem se orientar segundoleste-oeste.

    A questo mais relevante sobre a estruturao do antepasexterno diz respeito s alternativas geomtricas para o balan-ceamento da deformao da cobertura. Na sada leste dacidade de Nova Roma ocorrem falhas imbricadas, vergentespara leste que se conectam assintoticamente uma superfciede descolamento horizontal nos mrmores do Grupo Bambu. essas falhas se associam dobras inversas flexurais de desli-zamento. Embora no tenha sido possvel comprovar, umapossibilidade para balancear o encurtamento da coberturaseria conectar o descolamento a uma estrutura semelhante demaior ordem, instalada na interface embasamento/cobertura.Neste sentido, o Sistema So Domingos poderia representar aemergncia deste descolamento que balancearia toda a seodeformada indicada na seo C da figura 5 e para o sul. Umdado que pode corroborar esta hiptese o da modelagemgravimtrica da falha de So Domingos, para a qual Maran-goni (1994), caracterizou uma geometria lstrica com mer-gulho de 11. Contudo, esta tectnica tipicamente epidrmicano pode ser estendida para norte, onde diversas falhas trans-correntes NE, subsidiariamente NW, situadas no embasa-mento resultam em um quadro estrutural, a norte do paraleloda cidade de So Domingos, extremamente confuso. Destaforma, mesmo no antepas externo, parte do embasamentoestaria envolvido de forma a balancear parte da deformaoda cobertura.

    Antepas interno O antepas interno da Faixa Brasliacorresponde s zonas ispicas de Vazante e Paracatu(Dardenne 1978) e zona externa de Fuck (l 994). Seus limitescompreendem (Fig. 4), a leste, o Sistema Parana desde For-mosa at o seu truncamento pelo Sistema So Jorge-AltoParaso-Cormari, na altura do paralelo da cidade de AltoParaso. A partir da, transferido para leste, continuando paranorte ao longo do front do Ara, at a regio de Campos Belos.No rumo norte, o limite o contato Arai/embasamento e,eventualmente, a discordncia Bambu/embasamento. A oes-

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    Figura 2 - Mapa Geolgico da poro norte da Faixa Braslia. Modificado a partir do Mapa Geolgico do Estado de Gois(DNPM 1987). Cidades: L Paran; 2. Arraias; 3. Campos Belos; 4.Taguatinga; 5. So Domingos; 6. Nova Roma; 7. Posse; 8.Alto Paraso; 9. Cavalcante; 10. So Joo da Aliana. 11. P. Bernardo; 12. Barro Alto; 13. Niquelndia; 14. Colinas; 15.Minau; 16. Formoso; 17. Pau Terra; 18. Campinau; 19. Mata Azul; 20. Palmeirpolis; 21. So Salvador.Figure 2 - Geological Map of the northern Braslia Belt. Modified after the Geologic Map of the State of Goi s (DNPM 1987). Cities:

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    Figura 3 - Os principais compartimentos tectnicos do segmento setentrional da Faixa Braslia e materiais envolvidos. 1: GrupoCanastra; 2: Grupo Parano; 3:Grupo Bambu; 4: Grupo Serra da Mesa; 5: Seqncias de Arco; 6: Cobertura Cretcea; 7:Embasamento remobilizado; 8: Seqncias Vulcano-sedimentares; 9: Embasamento no-envolvido; 10: Formao Ticunzal;11: Complexos mfico-ultramficos; 12: Grupo Ara.Figure 3 - Main tectonic domains of the northern Brasilia Belt and involved material.

    te, o antepas interno inteiramente limitado pelo sistema RioMaranho.

    Com base no material envolvido e nos estilos estruturaisapresentados, o antepas externo pde ser dividido em doisdomnios (Fonseca & Dardenne 1995): Parano, a sul, e Arai,a norte, ambos limitados pelo Sistema transcorrente SoJorge-Alto Paraso-Cormari (Fig. 4). O domnio Arai, a norte,envolve o embasamento, quartzitos e metaconglomerados doGrupo Arai e granitides da sub-provncia Pa-ran. A sul, odomnio Parano contm metapelitos, metamargas e metare-nitos do grupo homnimo.

    Mais do que simples variao no material envolvido, osestilos estruturais de ambos domnios so diferenciados. Aonorte, domina uma tectnica thick-skinned com embasamentoenvolvido, tanto em sistemas transcorrentes quanto frontais.

    Os principais sistemas transcorrentes compreendem:Sistema So Jorge-Alto Paraso-Cormari (Fig. 4, diagramaL) que um sistema de falhas ENE de alto ngulo demergulho. O sistema trunca rochas dos grupos Arai, Para-no e Bambu e pode ser traado com preciso desdeCormari, uma pequena vila ao sul da cidade de Nova Roma,passando pelo vale do rio So Bartolomeu at as imediaesde Alto Paraso seguindo no rumo SSW em direo a vilade So Jorge (Fig. 4). A largura do sistema oscila entre 2 e3 Km e marcado por uma foliao vertical, geralmente naforma de uma clivagem espaada. Lineaes minerais eoutros marcadores esto orientados segundo a direo dafoliao. Diversos indicadores cinemticos mesoscpicos emegascpicos, como a rotao de fronts de empurro echarneiras de dobras, indicam que o sistema tem cinemticadextral;

    Sistema Cavalcante-Terezina (Fig. 4, diagrama J) umsistema de falhas transcorrentes verticais que afeta o emba-samento e rochas do Grupo Arai. traado desde Terezina,para S W, em direo a Cavalcante, porm sua extenso paraSW , ainda, desconhecida. Sua largura pode atingir 5 kme seus maiores efeitos se mostram na interface embasa-mento-Grupo Arai. Este sistema marcado por uma pro-eminente xistosidade e lineaes subhorizontais. Diversosindicadores cinemticos mesoscpicos indicam movimen-tao sistematicamente dextral. Nesta interface embasa-mento/cobertura houve a participao conjunta de defor-mao, metassomatismo e metamorfismo, conduzindo formao de uma rocha quartzosa com matriz de sericita(quartzo xistos), cuja anlise detalhada mostrou ser deri-vada de transformaes do embasamento (Evangelista &Fonseca 1995). Estas rochas encaixam a mineralizaoaurfera em Cavalcante, a qual est intimamente relacio-nada com a formao de mega tension gashes situadas emzonas de extenso do sistema (Massucato & Hippert 1996);Sistema Arraias-Campos Belos, situado mais a norte, umexemplo tpico de sistema reverso, oblquo. O sistemajustape o embasamento a seqncias epimetamrficas doGrupo Arai. As falhas possuem direo NW (Fig. 4, dia-grama I), dentre as quais, a mais oriental se estende desdeArraias por pelo menos 40 Km (Fig. 4). Indicadores cine-mticos sugerem movimentao sinistrai.Os sistemas Arraias-Campos Belos e Cavalcante-Tere-zinase articulam, respectivamente a sul e ao norte, com o SistemaTerezina-Nova Roma, de falhas reversas frontais com direonorte-sul. Em sua poro mais oriental, o sistema se estendede Terezina de Gois at Campos Belos.

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    Figura 4 - Arcabouo Tectnico do segmento norte da Faixa Braslia com indicao das principais descontinuidas. Diagramasbeach-ball, com quadrante negro indicando rea em compresso. Valor modal da lineao mineral indicado no plano modal dafoliao correspondente.Figure 4 - Tectonic setting of the northern segment of the Brasilia Belt, with the main fault systems. Beach ball diagrams (gray quandrants under compression).Modal value of the mineral lineation on the maximum cleavage plane indicated.

    Na figura 6, esto representadas as principais estruturas dosistema. As falhas truncam terrenos do embasamento e rochasdo Grupo Arai. A sul de Campos Belos, rochas da FormaoTicunzal tambm so envolvidas. Na seo regional indicada,as lineaes minerais se posicionam segundo o mergulho da

    xistosidade e diversos indicadores, alm da vergncia geraldas dobras, so consistentes com movimentos reversos paraleste.

    Um aspecto importante da tectnica de embasamento en-volvido que a deformao se concentra em zonas adjacentes

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    s estruturas descontnuas. Fora destas, a cobertura se deformaapenas por meio de amplas dobras regionais flexurais, decharneiras norte-sul, em acordo com o padro de dispersodos plos de So mostrado na figura 6.

    O desenvolvimento de trama metamrfica incipiente eest localmente ausente. Mais para oeste, em direo aosistema Rio Maranho, o grau de metamorfismo cresce e as

    dobras passam a mostrar uma assimetria mais acentuada evergncia mais consistente para leste.

    O domnio sul, ou Parano, do antepas interno contm, emsua maior parte, rochas do Grupo Parano, embora mais aosul, ocorram ainda rochas dos Grupos Arax e Canastra.Limita-se a leste com o Sistema Paran, a sul com o SistemaPadre Bernardo-Cocalzinho e, a oeste, com o Sistema RioMaranho (figura 2).

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    A leste, o Sistema Parana (Fig.4, diagrama N) uma falhade empurro que sobrepe rochas do Grupo Parano s doGrupo Bambu, acomodando movimentos essencialmentefrontais. Ele se estende desde a regio de Formosa, para norte,at a regio de Alto Paraso, onde bruscamente truncado pelosistema So Jorge-Alto Paraso-Cormari. Para sul, na regiode Padre Bernardo (Fig. 4, Diagrama F), as coberturas soafetadas por falhas transcorrentes dextrais NE e dobras enechelon com charneiras SSW subhorizontais.

    A extensa seo do Grupo Parano mais ao norte sedeforma por dobras flexurais de fluxo, assimtricas, comvergncia para leste. Essas dobras possuem as mais variadasdimenses, desde mesoscpicas, mais comum a oeste junto aosistema Rio Maranho, e instaladas em rochas metassedimen-tares j na fcies xisto verde, at amplas do bras regionaisflexurais de deslizamento, a leste, junto ao sistema Parana, aafetando rochas sedimentares, algumas epimetamrficas. Ascharneiras mostram ampla disperso em torno de norte-sul,interpretada como produto da interferncia com sistemastranscorrentes, tanto a sul quanto norte. Neste setor, a formacomo o embasamento compensa a deformao da cobertura problemtica, pois a cobertura do Grupo Parano bastanteespessa, obscurecendo possveis evidncias. Por outro lado,no h, ao nvel de eroso atual, exposies de lascas doembasamento envolvidas em falhas reversas. Assim, duashipteses podem ser postuladas: (i) embasamento envolvidocom empurres cegos e (ii) ou tectnica epidrmica, comdescolamento na interface embasamento/cobertura e queemergiria a leste, junto ao Sistema Parana.

    Ncleo metamrfico externo O ncleo metamr-fico externo corresponde zona ispica de Arax (Dardenne1978) ou, em parte, zona interna de Fuck (1994). Limita-sea leste com o cinturo de dobras e falhas de antepas peloSistema Rio Maranho. A oeste, seu limite com o ncleometamrfico interno no foi examinado, mas pode arbitrariae preliminarmente ser traado junto ao Sistema Santa Tereza,o qual marca o desaparecimento do Grupo Serra da Mesa.

    Em termos de material envolvido, esse setor contm diver-sas unidades, dentre elas o embasamento s.s., os complexosmfico-ultramficos de Barro Alto, Niquelndia e Canabrava,as seqncias vulcano-sedimentares de Indaianpolis (Coi-tezeiro), Juscelndia e Palmeirpolis, granitides da Sub-provncia Tocantins, terrenos de arco (Pimentel et al. 1996) e,na maior parte, rochas do Grupo Serra da Mesa (Fig. 2).

    Os dois sistemas de falhas limtrofes, Rio Maranho e SantaTeresa, possuem geometria e cinemtica complexas. O Sis-tema Rio Maranho, a leste (Fig. 4), possui geometria de falhareversa a leste do Complexo de Canabrava, onde terrenos doembasamento cavalgam as rochas do Grupo Parano (Dia-grama H), a leste do batlito grantico de Serra da Mesa, ondeo Grupo Serra da Mesa cavalga o Grupo Parano (diagramasB e C) e, ainda, a leste do Complexo de Niquelndia, oembasamento novamente se superpe a rochas do GrupoParano (diagrama M). Essas falhas nem sempre mostramgeometria frontal, mas movimentos oblquos, como indica ocaimento da lineao de interseo do plano modal de falhacom o plano auxiliar. A sudeste dos complexos de Canabravae Niquelndia, a geometria do sistema intepretada como

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    normal (diagramas G e E). No complexo de Canabrava, to-mando-se a estrada de Minau para a Usina Hidreltrica deSerra da Mesa, indicadores de movimentao normal socomuns. Ao contrrio, a sudeste de Niquelndia, essa cinem-tica inferida. De qualquer forma, a sugesto de movimen-tao normal nesses dois segmentos do sistema razovel, emvista de uma resposta satisfatria ao desaparecimento doembasamento nestes locais. O Sistema Santa Teresa, mais aoeste, acomoda movimento reverso, mas sensivelmente obl-quo (Diagrama A).

    Duas fases de deformao definem a estruturao do ncleometamrfico externo. A primeira, Fl, marcada por umaxistosidade que, localmente e junto s principais descontinui-dades, evolui para uma foliao milontica. Essas foliaesso envoltrias de importantes falhas de empurro, que inver-tem a polaridade metamrfica da faixa, atravs, por exemplo,da justaposio de terrenos com rochas da fcies granulito doscomplexos de Canabrava e Barro Alto, a rochas da fciesanfibolito. A estas falhas de empurro se associam dobraspassivas assimtricas a isoclinais e toda a deformao dacobertura absorvida ao nvel do embasamento, como indicao seu envolvimento generalizado em escamas de empurro.

    Dois dados adicionais e importantes podem ser obtidos nafigura 7. Primeiro, a posio da lineao mineral, a qual variadesde segundo o mergulho at a direo da foliao e comu-mente indica movimentos oblquos. Segundo, o dobramentoda foliao S1, o qual, em termos regionais, indica umasegunda fase que responsvel pela estruturao regional emgrandes dobras F2. Esta fase ocorreu em um nvel crustal raso,como sugerido pelo padro flexural das dobras F2 e tramaassociada, a qual, quando presente, se limita a uma clivagemespaada que, localmente, pode evoluir para uma segundaxistosidade.

    A fase F2 marca o carter polifsico tpico das zonas maisinternas de cintures mveis, mas seu significado cinemtico, ainda, obscuro. A fase pode representar padres de inter-ferncia locais, fruto da nucleao diacrnica de estruturasvariadas ou, ainda, resultar de reativao regional do linea-mento Transbrasiliano, no qual o ncleo metamrfico seinsere.A feio de maior destaque no ncleo metamrfico externo a ocorrncia generalizada de movimentos laterais a oblquose o variado acervo estrutural, representado por falhas de borda(Sistemas Rio Maranho e Santa Teresa) com movimentosreversos, mas com significativa componente oblqua, assimcomo falhas reversas e normais, retro-empurres no bordoocidental dos complexos de Canabrava e Niquelndia, e trendsregionais de dobras oblquas s principais falhas (ver Fig. 2).Um modelo cinemtico fundamentado em uma nica di-reo de encurtamento que explicasse a diversidade desseacervo encontraria dificuldades de toda ordem, tais como:o carter dbio das lineaes minerais que ora indicammovimentos frontais, ora laterais e, na maioria, oblquos;um sistema puramente frontal deveria acomodar movimen-tos oblquos e/ou laterais e explicar as zonas curvas dosistema Rio Maranho;acomodar a geometria do variado acervo estrutural medi-ante nucleao durante uma nica fase de constrio.Assim, o modelo cinemtico proposto para a estruturaodo ncleo metamrfico externo considera um sistema trans-pressivo, com embasamento envolvido, e cinemtica dextral(Fig. 8A). O modelo admite uma direo de encurtamentomximo leste-oeste, envolvendo descontinuidades orientadas

    nordeste. A decomposio da direo de encurtamento prin-cipal (VC) produz uma de cisalhamento (VI) e uma de cons-trio (V2).

    O campo transpressional assim instalado foi responsvelpelas dobras Fl, de charneiras N-S e NNE, das sees entreFormoso e Campinau e entre Palmeirpolis e Mata Azul (Fig.7). Essas dobras seriam nucleadas com charneiras aproxi-madamente normais ao campo resultante da adio de duasdirees de encurtamento, isto , a componente compressionalde VI com a componente normal de VI (V2).

    Junto s falhas mestras, todo o conjunto tambm foi sub-metido movimento reverso (V2), com translao para leste,responsvel pela inverso estratigrfica ao longo das princi-pais falhas.

    A importante curvatura do Sistema Rio Maranho deve,agora, ser considerada e duas hipteses podem ser admitidaspara a mesma. Uma deve considerar que a falha mestra j haviase nucleado em forma de canoa por coliso com um obstculo.Outra, bastante sugestiva por ser evidente a forte curvaturasintaxial desenvolvida justamente a oeste do batlito granticode Serra da Mesa, apoia-se na intruso do mesmo durante oMesoproterozico e na sua posio como ponto de refernciafixo em relao ao antepas, quebrando a heterogeneidade dadeformao medida que o transporte tectnico ocorreu paraleste.

    Assim, devido translao para leste, iniciou-se a formaode uma curvatura sintaxial entre os complexos de Niquelndiae Canabrava (Fig. 8B). Ao mesmo tempo, as dobras F1, jnucleadas, relacionaram no sentido horrio, ocupando a posi-o NNE.

    Os empurres a oeste dos complexos e com vergnciacontrria ao Crton do So Francisco seriam tambm uma

    Figura 8 - Modelo cinemtico para o ncleo metamrficoexterno. Para explicao ver texto.Figure 8 - Kinematic model for the outer metamorphic core.

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    resposta ao problema de espao e atuariam como um levanta-mento compensatrio.

    Nas figuras 8C e D acentuam-se as curvaturas antitaxial esintaxial. Zonas de restraining bend a norte e nordeste doscomplexos, desenvolveram-se produzindo um terceiro campocompressivo (V3). As estruturas decorrentes situam-se a nortede Uruau (Fig. 4, diagrama D). Estas no podem ser atri-budas ao primeiro campo secundrio. Isso porque, no modelotranspressional com descontinuidades N25 E (trend do linea-mento Transbrasiliano) e movimento dextral, as dobras seriamnucleadas com charneiras NS e tenderiam a rotacionar nosentido horrio, no ocupando, portanto, a posio N 45W.A acentuao dos empurres a norte e nordeste dos complexosdeve ter a ocorrido, resultando em significativo aumento dorejeito vertical.

    Ao final da evoluo, com a mxima acentuao das cur-vaturas do Sistema Rio Maranho, zonas de realeasing bendforam nucleadas, com falhas normais equilibrando a questode espao e explicando a ausncia de embasamento a sul esudeste dos complexos (Figs. 8C e D).

    Da forma como apresentado, o modelo carece de refina-mento e est, ainda, limitado pela carncia de dados estru-turais. No entanto, o regime transpressivo proposto parece sero nico que integra, de forma coerente, a assemblia estruturalexistente.

    O campo de tenses da segunda fase de deformao noest indicado pois varia consideravelmente. Ele atua sobre oquadro final de deformao descrito (figura 8D) e imprime aobloco uma complexidade estrutural ainda maior.

    Os modelos geotectnicos que enquadram esse tipo deestruturao so, de certo modo, bem conhecidos na literatura(Sylvester & Smith 1976, Sanderson & Marchini 1984) epossuem dois membros finais tpicos: a transpresso comembasamento envolvido e escape lateral e a transpresso comembasamento envolvido e escape vertical. No primeiro caso,o escape lateral seria substancial e sincrnico com a fase deencurtamento mximo ou ulteriores. No segundo caso, oescape seria dominantemente vertical, com extruso de mate-rial ao longo das principais descontinuidades, resultando naelevao do bloco central, sob efeito da convergncia oblquade dois blocos adjacentes.

    O caso apresentado mostra acentuadas variaes em re-lao aos modelos descritos na literatura. Uma das maissignificativas est talvez no mergulho das falhas que balizamos sistemas transpressivos. A maioria das falhas so de altongulo e afetam pores crustais superiores nos domniosrptil, no mximo rptil - dctil.

    Nos sistemas Santa Teresa e Rio Maranho, as falhas sode ngulos mdios a baixos e, juntamente com as falhassubsidirias, afetam pores crustais inferiores com granuli-tos. Os ngulos diferentes de 90 trazem um problema adi-cional que reside na decomposio de V2, a qual produziruma componente normal e uma extra de cisalhamento quedeve ser adicionada a V1. O vetor decorrente acentua omovimento oblquo ao longo das falhas. Este tipo de estru-turao, embora descrito geomtricamente, ainda carece demodelagem cinemtica. Assim, conclui-se que o modelo apre-sentado simplista em relao ao modelo real.

    Outra questo importante se relaciona ao problema dajustaposio de terrenos granulticos a terrenos com fciesmais baixas, como, por exemplo, o das seqncias vulcano-sedimentares. O balanceamento apenas por meio de falhas deempurro requer encurtamentos considerveis para esta con-figurao.

    A sugesto de um sistema transpressional com falhas nor-mais tardias , nesse sentido, significativa. Durante a extenso,fraes da crosta inferior tenderiam a um movimento ascen-dente, como que completando o mesmo efeito, decorrente dosmovimentos de inverso iniciais. Geomtricamente, combi-nando a inverso com a extenso, aproxima-se de um quadromecanicamente mais vivel.

    DISCUSSO As caractersticas dos diversos compar-timentos esto resumidas na Tabela 1. Duas caractersticasimportantes devem ser destacadas. Primeiro, mesmo no ante-pas externo, o embasamento no foi inteiramente poupadopela deformao, pois, como visto, foi, mesmo parcialmente,envolvido em sistemas transcorrentes. Por si s, isto implicaque o critrio de embasamento envolvido deve ser utilizadocom ressalvas. Segundo, o carter oblquo da deformao mais facilmente verificado junto ao ncleo metamrfico ex-terno, demonstrando a existncia de uma clara partio dadeformao perpendicularmente direo do cinturo, ou

    Tabela l - Caractersticas estruturais dos compartimentos da Faixa Braslia, setor setentrional. Dados de metamorfismo segundoFuck & Marini (J981).Table l - Structural features of the main zones of the northern segment of the Brasilia Belt. Metamorphism data according to Fuck & Marini (1981).

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    seja, movimentos dominantemente frontais que deram lugar amovimentos oblquos ou mesmo laterais, com cinemticadextral, junto s zonas mais internas.

    O carter oblquo pode ser tambm verificado no mesmocompartimento da faixa, mas em seu segmento meridional. Aosul da Megainflexo dos Pirineus, a cinemtica das principaisestruturas mostra sentido oposto. Importante sistema de falhastranscorrentes afeta rochas do Grupo Arax por mais de 50km no rumo SE nas regies de Anpolis e Abadinia. Striederet al. (1994) mostram que a cinemtica destas falhas sinistrai.Mais a sul, Lacerda Filho & Oliveira (1994) tambm mostramque o Grupo Arax foi afetado por uma tectnica tangencial,associada a uma tectnica transcorrente sinistrai.

    Entre Piracanjuba e Ipameri, os xistos do Grupo Serra daMesa comumente possuem uma lineao mineral no plano daxistosidade, a qual est orientada segundo NNE e tem um rakeentre 70-80N.

    Movimentos reversos oblquos no ncleo metamrfico deambos segmentos da faixa e falhas transcorrentes com cine-mtica oposta a partir da Megaflexura dos Pirineus permitemenquadrar a Faixa Braslia como um cinturo tipicamentetranspressivo, cuja raiz est exposta no ncleo metamrfico.

    O variado acervo estrutural descrito foi edificado a partirda superposio de duas fases de deformao. A fase Fl foimais expressiva, pois a ela se associam as principais estruturasregionais. Sistemas frontais e transcorrentes foram nucleadosnesta fase, embora as estruturas transcorrentes tenham sidoconstrudas tardiamente. Este diacronismo pode ser demons-trado na regio de Colinas (Fig. 2) onde relao de cruzamentomostra a superposio das estruturas dos sistema So Jorge-Alto Paraso-Cormari s estruturas frontais. Nas imediaesde Alto Paraso, esse sistema trunca o sistema frontal doParana e rotaciona os traos axiais de dobras Fl em rochas doGrupo Bambu. Desta forma, as estruturas transcorrentes de-veriam ser integradas a uma fase transcorrente que, pelasrelaes de cruzamento, podem ser consideradas como asltimas manifestaes estruturais ocorridas durante a inversobrasiliana.

    A fase F2 se restringe ao ncleo metamrfico externo.Possui cinemtica obscura, por vezes coaxial fase Fl, porvezes no. Os dados cartogrficos disponveis no permitemrelacion-la a algum evento significativo, devendo representarfeies locais de reativao ou mesmo um evento regional dereativao do Lineamento Transbrasiliano.

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    MANUSCRITO A865Recebido em 31 de agosto de 1996

    Reviso dos autores em 30 de novembro de 1996Reviso aceita em 15 de janeiro de 1997