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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS FACULDADE DE LETRAS FACULDADE DE MEDICINA FACULDADE DE PSICOLOGIA Por que gostamos de música? Um entendimento interdisciplinar para a Hipótese das Expectativas LUANA BRASIL DIAS Dissertação orientada por: Prof. Dr. Luís Correia (FCUL) Prof. Dr. Paulo Ventura (FPUL) Co-orientada por: Prof. Dr. António Manuel Correia de Jesus Lopes (FLUL) MESTRADO EM CIÊNCIA COGNITIVA 2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS

FACULDADE DE LETRAS

FACULDADE DE MEDICINA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Por que gostamos de música?

Um entendimento interdisciplinar

para a Hipótese das Expectativas

LUANA BRASIL DIAS

Dissertação orientada por:

Prof. Dr. Luís Correia (FCUL)

Prof. Dr. Paulo Ventura (FPUL)

Co-orientada por: Prof. Dr. António Manuel Correia de Jesus Lopes (FLUL)

MESTRADO EM CIÊNCIA COGNITIVA

2017

2

Dedicada a todos os músicos e compositores

que inspiraram esta dissertação,

especialmente a

Arvo Pärt,

Steve Gunn,

Mogwai

e John Frusciante.

3

Agradecimentos

Ao Eduardo (como Sancho Pança acompanha Dom Quixote em todos os seus

delírios) por ter acreditado no sonho deste mestrado, agora transformado em

realidade.

Aos meus pais Irineu Dias e Neusa Brasil por todo o apoio, pelo amor incondicional

e principalmente por acreditarem na educação como ferramenta de emancipação

humana.

A Nair Brasil (in memoriam, minha avó querida que sempre ofereceu-me suporte

para os estudos.

A Adriano Lopes de Oliveira e Maria Teresa Fernandes por todo o apoio e cuidado

que tiveram em muitos sentidos.

A Luis Correia pela abertura a um tema tão controverso pela orientação e pela

receptividade.

A Paulo Ventura pela orientação e generosidade.

A António Lopes, meu co-orientador, pelas astutas perspectivas filosóficas que

ofereceu a este trabalho.

Aos meus colegas portugueses que no decorrer deste curso de mestrado se

transformaram em bons e grandes amigos, por tudo: David Souza, Tiago Brito,

Marco Carvalho, Mário Carvalho: my niggas.

A Adriano Augusto: um exímio músico e professor de piano, e excelente

interlocutor quando o assunto é MÚSICA! Obrigada pelas colaborações para esta

tese.

Aos meus amigos que durante a vida me apresentaram o que havia de melhor na

música.

E, finalmente, a todos os músicos e musicistas que me salvaram dos meus abismos,

ativando meu sistema de recompensa, produzindo respostas hedônicas no meu corpo

quando eu mais precisei durante o curso da minha existência. E não foram poucas

vezes.

4

La musique est peut-être l‟exemple unique

de ce qu‟aurait pu être - s‟il n‟y avait pas eu

l‟invention du langage, la formation des mots,

l‟analyse des idées - la communication des âmes.

(Marcel Proust)

5

RESUMO

LUANA, B.D. POR QUE GOSTAMOS DE MÚSICA? Um entendimento

interdisciplinar para a hipótese das expectativas. 2017. Dissertação de Mestrado.

Universidade de Lisboa. Ciência Cognitiva. Lisboa, 2017.

Esta dissertação busca compreender a razão pela qual os humanos apreciam música.

Para tanto, foi desenvolvida uma breve revisão de literatura sobre os estudos experimentais que

abordaram os correlatos neurais da fruição musical. Experimentos com neuroimagem

demonstram que a escuta musical modula fortemente a atividade de estruturas envolvidas no

processamento de recompensas, incluindo o núcleo accumbens e a área tegmental ventral, bem

como o hipotálamo e a ínsula, que se pensa estarem envolvidas na regulação de respostas

autonômicas e fisiológicas a estímulos gratificantes. Curiosamente, não há liberação de

dopamina apenas nos momentos de prazer máximo durante a escuta musical, mas também em

antecipação aos momentos de chill, conforme estudos experimentais que combinaram as

técnicas de Emissão de Pósitrons e Ressonância Magnética. Esses achados permitem uma

revisita à Hipótese das Expectativas, lançada em 1956 pelo o musicólogo Leonard Meyer, um

defensor da ideia de que o prazer sentido com a música pode ser compreendido de acordo com

as expectativas musicais cumpridas ou suspensas. Em Meyer, o desdobramento temporal dos

sons conduz à criação de expectativas e as resoluções em violação, confirmação ou atraso

podem gerar excitação e ativar os mecanismos de gratificação. A formação de expectativas é

considerada uma adaptação biológica, dotada de estruturas fisiológicas especializadas, um

dispositivo da evolução altamente adaptativo.

Ao analisar as características subjacentes ao Sistema Tonal, foi verificado que as

regularidades estatísticas da música ocidental fornecem um rico material para a formação de

previsões pelo sistema nervoso. Elas são elicitadas por meio da memória implícita e da

capacidade do cérebro de extrair as regularidades do meio ambiente ao longo do tempo. Estudos

comportamentais evidenciam que deteção de padrões e a formação de expectativas são

possibilitadas pela exposição incidental a estímulos musicais. Através da exposição sistemática

às propriedades estatísticas melódicas e harmônicas do registro tonal, os ouvintes formam um

modelo mental implícito de tonalidade, adquirido sem acionamento consciente de recursos

atencionais. Experimentos com redes neurais artificiais não-supervisionadas demonstraram que

o conhecimento implícito da estrutura tonal pode ser internalizado através da auto-organização

neural resultante da mera exposição a combinações simultâneas de sequências de tons.

Estes dados habilitam a interpretação do processamento musical de acordo com

modelos probabilísticos de inferência, consoante abordagens bayesianas para o funcionamento

cerebral, sendo o paradigma da Codificação Preditiva a mais recente e robusta delas. Entende-se

que as inferências probabilísticas em relação à música só podem ser feitas porque há duas

gramáticas musicais em interação constante, em estratégias de processamento de informação

bottom-up e top-down: uma gramática interna – individual e subjetiva - construída por

aprendizagem implícita; e outra gramática cultural.

Compreende-se, destarte, a musicalidade como um fenômeno cultural inextricável ao

cérebro humano. Um produto natural e social: natural porque explora estruturas evolutivas

importantes, como a capacidade preditiva, para qual cada indivíduo possui um aparato biológico

que o capacita; social por se manifestar de acordo com as regras culturais pré-existentes, tais

quais o idioma tonal.

Palavras-Chave: fruição musical, hipótese das expectativas, cognição musical.

6

ABSTRACT

LUANA, B.D. WHY DO WE ENJOY MUSIC? An interdisciplinary

understanding for Expectation Hypothesis. 2017. Dissertação de Mestrado.

Universidade de Lisboa. Ciência Cognitiva. Lisboa, 2017.

This thesis seeks to understand the reason why humans appreciate music. For this

purpose, we have developed a brief review of the literature on the experimental studies that

addressed the neural correlates of musical fruition. Neuroimaging experiments demonstrate that

musical listening strongly modulates the activity of structures involved in reward processing,

including the nucleus accumbens and the ventral tegmental area, as well as the hypothalamus

and insula, which are thought to be involved in the regulation of autonomic and physiological

responses to rewarding stimuli. Interestingly, the release of dopamine happens not only in

moments of maximum enjoyment during musical listening, but also in anticipation of chill

moments, according to experimental studies that combined the techniques of Positron Emission

and Magnetic Resonance. These findings allow us to revisit the Expectations Hypothesis,

launched in 1956 by musicologist Leonard Meyer, a supporter of the idea that the pleasure we

feel with music can be understood based on musical expectations fulfilled or suspended.

For Meyer, the temporal unfolding of sounds leads to the creation of expectations, and its

resolutions in violation, confirmation or delay can generate excitement and activate reward

mechanisms. The expectancy is considered a biological adaptation with specialized

physiological structures, a device of highly adaptive evolution.

In analyzing the underlying characteristics of the tonal system, we find that the

statistical regularities of ocidental music provide material for prediction and formation of

expectation by the nervous system through implied memory and the brain's ability to extract

regularities from the environment over time. Behavioral studies evidence that pattern detection

and formation of expectations are made possible by incidental exposure to musical

stimuli. Through the systematic exposure to the melodic and harmonic statistical properties of

the tonal system, the listeners form an implicit mental model of tone, acquired without

conscious activation of attentional resources. Experiments with unsupervised artificial neural

networks (ANNs) have demonstrated that the implicit knowledge of the tonal structure can be

internalized through neural self-organization resulting from mere exposure to simultaneous

combinations of tone sequencing. Thus, musical processing can be interpreted according to

probabilistic models of inference, in consonance with the Bayesian approaches to brain

functioning, the most recent of which is the Predictive Coding paradigm. It is understood that

the probabilistic inferences regarding music can only be made because there are two musical

grammars in constant interaction, in bottom-up and top-down information processing strategies:

an internal grammar - individual and subjective - constructed by implicit learning ; and the

other, a cultural acquired grammar.

Musicality can be understood, therefore, as a cultural phenomenon inextricable to the

human brain. A natural and social product: natural because it explores important evolutionary

structures, such as predictive capacity, for which each individual has a biological structure that

enables it; social because it manifests itself in accordance with pre-existing cultural rules, such

as the tonal language.

KEY-WORDS: music fruition, expectation hypothesis, music cognition.

7

Por que gostamos de

música?

Um entendimento interdisciplinar

para a Hipótese das Expectativas

8

Sumário

Lista de Figuras ...................................................................................................... 11

Introdução Geral ................................................................................................... 12

I - Primeiro Movimento - O que acontece no nosso cérebro quando sentimos

prazer com a música? ........................................................................................................... 16

1. Introdução .................................................................................................... 17

2. Música e Recompensa ................................................................................. 18

a) O Sistema de Recompensa e Reforço no Cérebro Humano ........................... 19

b) Anatomia das Vias Dopaminérgicas ................................................................. 19

c) A Música ativa as Vias Mesolímbicas .............................................................. 20

3. O Ciclo do Prazer ................................................................................................ 21

4. Ativação de Áreas Subcorticais ....................................................................... 22

a) Estudos com PET ............................................................................................ 22

b) Estudos com fMRI .......................................................................................... 24

c) A Dopamina no Prazer Musical ................................................................... 25

5. O Envolvimento de Áreas Corticais ................................................................ 26

a) Córtex Orbitofrontal ....................................................................................... 26

b) Córtex Temporal Superior ............................................................................. 26

c) Córtex Frontal Superior.................................................................................. 27

6. Integração de Regiões Cerebrais na Apreciação Musical ......................... 27

7. Conclusão .............................................................................................................. 28

II- Interlúdio ........................................................................................................................... 30

1. Breves Noções sobre o Sistema Tonal ..................................................................

a) O Sistema Tonal ................................................................................................... 31

b) A Série Harmônica .............................................................................................. 32

c) A Escala Cromática ............................................................................................. 33

d) Os Acordes ........................................................................................................... 34

e) O Tom .................................................................................................................. 35

f) O Ciclo de Quintas .............................................................................................. 36

9

2. Experimento Probe-Tone .................................................................................. 37

III- Segundo Movimento - Qual a razão pela qual sentimos prazer com a música?

1. Introdução .......................................................................................................... 41

2. Neuropsicologia das Expectativas Musicais .................................................... 41

2.1. Música e Efeito Priming ........................................................................................ 41

a) A Memória como Fonte de Expectativas Musicais............................................ 43

b) A Memória e o Conhecimento Explícito da Música .......................................... 43

c) A Memória e o Aprendizado Implícito e Estatístico da Música ...................... 44

d) Experiências de Aprendizagem com Gramáticas Artificiais ............................ 46

2.2. Entropia na Música ................................................................................................ 50

a) Entropia e Agradabilidade ..................................................................................... 51

b) Agradabilidade e Exposição .................................................................................. 52

2.3. Abordagens Bayesianas e Codificação Preditiva ............................................. 53

a) Erros de Predição .................................................................................................... 56

b) Tipos de Erros de Predição Musical .................................................................... 59

2.4. Psicologia das Expectativas .................................................................................... 60

2.5. Biologia do Pessimismo ............................................................................................ 62

3. Intersecção entre Música e Linguagem .................................................................. 65

3.1. Hipótese do Compartilhamento dos Recursos Sintáticos Integrados ...... 66

a) Detecção de Incongruências .................................................................................. 66

3.2. Teoria Gerativa da Música Tonal .................................................................... 68

3.3. Modelos de Expectativa para a Melodia ........................................................ 70

a) Modelo de Narmour .............................................................................................. 71

b) Modelo de Margulis .............................................................................................. 71

c) Modelo Generalista de Huron ............................................................................. 72

3.4. Regularidades Tonais .......................................................................................... 72

4. Música e Conexionismo ............................................................................................. 73

10

4.1 Modelagens da Cognição Musical em Redes Neurais ................................... 74

a) Redes SOM e a Detecção do Centro Tonal ....................................................... 74

b) MUSACT ............................................................................................................... 75

5. Discussão – Enquadramento Filosófico ................................................................ 80

IV - Considerações Finais ..................................................................................................... 82

V - Referências ........................................................................................................................ 85

VI - Apêndice ........................................................................................................................... 94

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema que mostra a difusão das fibras dopaminérgicas.

Figura 2 – Fases do Ciclo do Prazer e suas resoluções no tempo.

Figura 3 – Ilustração das estruturas límbicas e paralímbicas envolvidas na escuta

musical.

Figura 4 – Desenho esquemático dos processos e regiões cerebrais que habilitam a

predição durante a escuta musical.

Figura 5 – Representação da série harmônica por Wisnik (2014)

Figura 6 – Escala cromática ascendente e descendente.

Figura 7 – Ciclo de Quintas representando as distâncias entre tons maiores.

Figura 8 – Resultados encontrados pro Krumhansl.

Figura 9 – Sequenciamento de tons mais aguardados.

Figura 10 – Gramática de estados-finitos utilizada em estudos de aprendizagem

implícita sobre a linguagem.

Figura 11 – Gramática de estados-finitos utilizada em estudos de aprendizagem

implícita musical.

Figura 12 – Exemplos de excertos – extraído de Tillmann (2010).

Figura 13 –. Proposta de entendimento da relação entre exposição e agradabilidade

musical de Vuust (2017).

Figura 14 – Ativação de neurônios dopaminérgicos e sua relação com os erros de

predição (Schultz, 1997).

Figura 15 – Esquema de expectativas proposto por David Huron (2006).

Figura 16 – Esquema para as vias lentas e rápidas de resposta ao medo (traduzido de

Huron, 2006).

Figura 17 – Diagrama da correlação música versus linguagem, segundo a hipótese de

Integração de Recursos Sintáticos Compartilhados (Patel, 2008).

Figura 18 – Diferentes finalizações para fragmentos musicais usados por Besson &

Faïta (1995).

Figura 19 – Ativações bottom-up e top-down reverberadas na rede MUSACT pela

ativação do acorde Dó Maior (Bharucha, 1987).

12

Introdução Geral Os pesquisadores Josh McDermott, do MIT, e Marc Hauser, de Harvard,

consideram que, sob a perspectiva da Ciência Cognitiva, a musicalidade humana é um

dos fenômenos mais bizarros e fascinantes do comportamento da espécie. Encontrada

em todas as culturas do passado e do presente, a música é considerada um traço

universal (Mcdermott & Hauser, 2005). Ela toma para si um estatuto de bastante

destaque em relação a outros comportamentos considerados prazerosos (tais como

comer ou fazer sexo), pois diferentemente desses estímulos, a gratificação musical não

possui uma razão clara para a Ciência. Já em 1871, Darwin interessava-se pelo

entendimento da música através da perspectiva evolucionista.

O comportamento musical pode ser considerado uma adaptação biológica

(Darwin, 1963; Miller, 2000; Huron, 2006) ou apenas uma colateralidade das

propriedades do sistema auditivo que evoluiu para outros propósitos, conforme postula

Steven Pinker em How The Mind Works (1997). Pinker chama a musicalidade de

"cheesecake auditivo": uma sobremesa deliciosa, mas, pelo viés evolutivo, é nada mais

do que um subproduto da linguagem. "Eu suspeito que a música seja um cheesecake

auditivo, uma confecção requintada, criada para agradar os pontos sensíveis de nossas

faculdades mentais", diz. A música afeta nossos cérebros em locais específicos,

estimulando a produção de substâncias únicas que têm um efeito prazeroso em nosso

humor. No entanto, é largamente discutido se a musicalidade humana é uma

característica que sobreviveu à seleção natural, a fim de estimular e desenvolver outras

faculdades mentais (Honning, 2013) - ao invés de um mero subproduto da evolução

(Pinker, 1997).

As possíveis ações adaptativas da música oferecem à Ciência Cognitiva, e a

este trabalho, razão para dedicação ao tema. Tendo em vista este debate, elaborou-se um

trabalho de cunho teórico que se dividiu em duas partes:

Na primeira, buscou-se dar conta da premissa que fundamenta a pergunta

originária desta dissertação: „por que gostamos de música?’, seja a afirmação: a música

gera prazer, entendendo o prazer como um mecanismo biológico de motivação e

reforço comportamental. Desenvolveu-se uma pesquisa de Revisão Sistemática de

Literatura para estudos neurobiológicos e experimentais que relacionaram os conceitos

de prazer, música e cérebro, no intuito de compreender o que acontece no encéfalo

humano quando este é recompensado durante a escuta de estímulos musicais. Os

13

resultados evidenciaram que a música considerada prazerosa ativa uma intensa

participação do sistema dopaminérgico de recompensa, nas vias mesolímbicas,

estruturas evolutivamente muito antigas, atualmente reconhecidas por codificarem as

expectativas e as violações de expectativas, também conhecidas como Erros de Predição

em Resposta à Recompensa (Vuust, 2014).

A segunda parte da dissertação busca interpretar o resultado da Revisão

Sistemática de Literatura, no intuito de oferecer uma resposta à pergunta original: “qual

a razão pela qual nosso cérebro é gratificado pela escuta musical?”, tendo em vista

que não há clareza sobre os benefícios adaptativos desse comportamento. Esta pergunta

suscita elaborações que apenas a interdisciplinaridade do campo da Cognição Musical

pode dar conta, uma vez que o objeto musical possui uma dupla abordagem: uma que

recai sobre o Sistema Tonal ocidental e suas funções contextuais e a outra que diz

respeito às representações mentais de um evento musical, por exemplo: a imagem

mental de um um acorde, de um tom ou de uma nota.

Neste segundo momento, a metodologia aplicada difere da primeira: apesar de

ter sido utilizada uma revisão de literatura, o critério utilizado na seleção do corpus

bibliográfico foi a autoridade epistêmica dos autores que trataram do tema. Entre os

muitos mecanismos postulados para explicar o prazer gerado pela música, uma ideia

envolve a recompensa associada à expectativa e à frustração de predição (Huron, 2006).

Interpretou-se os resultados obtidos nos estudos neurobiológicos na primeira parte à luz

de teorias para a expectativa musical, hipótese sugerida primeiramente por Meyer em

1956. Tal hipótese é frequentemente revista por uma série de pesquisadores

cognitivistas que lançam mão do cabedal de conhecimento científico hodierno para

predições e expectativas a fim de explicar a fruição musical conforme os termos de

Meyer.

O prazer musical é conduzido por uma dinâmica de ação combinada entre as

expectativas e as predições feitas pelo ouvinte consoante as regularidades estatísticas da

estrutura musical, em especial às do idioma tonal que se estabeleceu naturalmente entre

as culturas ocidentais (Meyer, 1956). A isto, o musicólogo Leonard Meyer denominou

Hipótese das Expectativas.

A formação de expectativas é considerada um importante e vantajoso

mecanismo evolutivo, uma adaptação biológica com estruturas fisiológicas

especializadas (Huron, 2006). O envolvimento dos mecanismos de recompensa durante

14

a escuta musical foi entendido conforme O Ciclo do Prazer (Berridge, 2006), que

estabelece três fases distintas para o prazer: o querer (comportamento motivado), o

gostar (resposta hedônica) e o aprender.

Em seguida, foram apresentados estudos comportamentais que evidenciam a

apreensão e formação de expectativas conduzidas pela exposição a estímulos musicais,

sendo elas originadas pela memória de aprendizado implícito e sem acionamento

consciente de recursos atencionais. Através da exposição às propriedades estatísticas

(melódicas e harmônicas), os ouvintes formam um modelo mental implícito de

tonalidade que possibilita as inferências. Evidências para isso foram fornecidas pelo

trabalho seminal de Krumhansl e colegas (Krumhansl, 1979, 2010), empregando o

Paradigma Probe-Tone, em que os ouvintes avaliam o quão bem uma nota se encaixa

em uma sequência musical, tendo como referência o contexto anterior.

Entendemos que as inferências probabilísticas em relação à musica só podem

ser feitas porque o sistema nervoso mantém modelos probabilísticos internos que são

constantemente atualizados pelo processamento de informação sensorial, utilizando

métodos que se aproximam da probabilidade bayesiana. Estudos teóricos questionam

como o cérebro pode implementar algoritmos bayesianos. Friston (2010), Huettel

(2005), Knill e colegas (2004) estão entre os que assumem que a Codificação Preditiva

é um modelo neurobiologicamente plausível para o modo com que o cérebro infere as

causas da entrada sensorial com base na minimização do erro de predição, a fim de

aumentar sua energia livre. Esse paradigma demonstra como os neurônios podem

reconhecer padrões por inferência bayesiana (Friston, 2010).

Tais inferências probabilísticas em relação à música só podem ser feitas

porque há duas gramáticas musicais em interação constante no processamento musical:

uma interna – individual - construída por aprendizado implícito e outra gramática

cultural, correspondente ao idioma tonal. A gramática da música ocidental tonal é

dotada de uma estrutura geométrica formal que determina as relações e distâncias dentro

de um espaço harmônico, o que favorece a sua antecipação e a formação de predições.

Tillmann e Bharucha (2001) demonstraram que o conhecimento implícito da estrutura

tonal pode ser adquirido através da auto-organização neural resultante da mera

exposição a combinações simultâneas de seqüenciais de tons (Ibidem). Experimentos

com redes neurais artificiais não-supervisionadas evidenciaram que a estrutura

correlacional da música tonal pode ser internalizada durante o processo de

aprendizagem perceptual (Ibidem).

15

Assumimos que a apreciação musical pode ser compreendida pela interação de

fatores ascendentes e descendentes, sendo ascendentes as características internas do

estímulo e descendentes a influência de conhecimentos previamente adquiridos pela a

exposição.

Adiante, demonstramos que o prazer sentido durante a escuta musical é oriundo

da violação positiva de predições dos eventos sonoros (Vuust, 2004). Vuust estabelece

que ações gratificantes são aquelas que minimizam a energia livre do cérebro, criando

assim um modelo mais forte e preciso do mundo. Contudo, se sons escolhidos na

composição forem “melhores” do que o esperado pelo ouvinte - porque a composição

tonal possui regras preferenciais que habilitam a sua violação -, e se a escolha da

violação seguir critérios de otimização, haverá um erro positivo de predição, codificado

pelo sistema dopaminérgico, numa equação entre recompensa predita e recompensa

efetivada. Definir como é avaliado se a música é estruturalmente melhor do que a

sequência esperada requer, entretanto, uma melhor definição

A forma com que a música é valorizada está intimamente relacionada à

habilidade de aprender a hierarquia que subjaz o sistema tonal e à habilidade que temos

para predizê-lo (Huron, 2006). As regularidades musicais tonais foram compreendidas a

partir da Teoria Gerativa para a Música Tonal de Lerdahl e Jackendoff, que oferecem

um aporte teórico para a gramática musical, derivada da Psicologia Gestalt e da

Linguística Chomskyana (Lerdahl & Jackendoff, 1996). Buscou-se mostrar alguns dos

diferentes modelos de formação de expectativas melódicas, especialmente o paradigma

criado por David Huron, que em 2006 conduziu um estudo em profundidade para as

expectativas musicais e as regularidades da gramática tonal (Huron, 2006).

A hipótese deste esforço dissertativo é de que o prazer musical surge da aliança

de uma gramática composicional com a gramática do ouvinte, utilizando de forma

completa seus recursos cognitivos. As ligeiras violações dos templates mentais suscitam

os erros de predição. Se a atualização das previsões (mismatch) for melhor do que o

previsto, há um erro de predição positivo que desencadeia reações neurofisiológicas

semelhantes às do medo, mas que dentro de um contexto de apreciação estética se

converte em frisson, riso e reverência (Huron, 2006).

16

I- Primeiro Movimento

O que acontece no nosso cérebro quando

sentimos prazer com música?

17

“Os estudos do cérebro e da música

podem ser mutuamente reveladores.”

(Robert Zatorre)

1. Introdução

O presente capítulo tem por objetivo apresentar a Revisão Sistemática de

Literatura sobre a ativação dos mecanismos de recompensa no cérebro humano durante

a escuta musical. Considerável progresso vem sendo feito em busca do entendimento

dos sistemas cognitivos, afetivos e neurais que subjazem o processamento musical e o

prazer obtido durante a fruição musical. Nos últimos vinte anos, neurocientistas

descobriram na música uma importante ferramenta para investigar os processos de

recompensa e as emoções no cérebro humano.

Esta etapa é necessária, pois fundamenta empiricamente a discussão que se

segue na segunda parte da tese, demonstrando que a música considerada prazerosa ativa

áreas cerebrais relacionadas à recompensa, à motivação, à resposta hedônica e à

aprendizagem.

Revisamos alguns estudos imageológicos e comportamentais relacionados ao

prazer gerado pela música. No que diz respeito ao escopo, o vetor principal estabelecido

foram as estruturas cerebrais relacionadas ao prazer na escuta musical. Esta revisão

sistemática seguiu a Recomendação PRISMA1, quando aplicável. Os mecanismos de

busca utilizados foram PubMed, PubPsych e PsychInfo para estudos publicados em

Inglês.

Os termos de busca na pesquisa foram: (reward OR pleasure) AND (listen*to

music) AND (brain OR neuro). 44 artigos foram encontrados, 25 selecionados em três

rondas com uma semana de intervalo entre elas, durante os dias 17/12/2016 e

06/01/2017.

Os critérios de inclusão estabelecidos foram: ser pesquisa experimental; feita

com humanos; focando na perspectiva do ouvinte. Os critérios de exclusão foram:

artigos de revisão; estudos feitos com animais; estudos que não focavam na perspectiva

1 A recomendação PRISMA consiste em um checklist com 27 ítens e um fluxograma de quatro etapas. O

objetivo do PRISMA é ajudar os autores a melhorarem o relato de revisões sistemáticas e meta-análises.

Para mais, consultar: http://www.prisma-statement.org/

18

do ouvinte; ou não tratavam especificamente do tema abordado. Priorizamos a seleção

de experimentos feitos com pessoas saudáveis, ainda que algum estudo com ouvintes

não regulares tenha sido incluído para questões de comparação.

2. Música e Recompensa

Achados arqueológicos encontrados à beira do rio Danúbio, na Alemanha,

revelam que a musicalidade faz parte do trato cognitivo humano desde a pré-história, no

Paleolítico Superior (Gold et al, 2013). A musicalidade, assim como a linguagem, é um

traço universal que faz parte de todas as sociedades humanas ao longo da história. Em

todas as culturas, desde que se tem registro, as pessoas apreciam e produzem música

(Wang, 2015).

Pesquisadores acreditam que a ubiquidade musical pode ser explicada por sua

propriedade de permitir a expressão e a regulação de emoções, influenciando o humor e

evocando uma forte sensação de recompensa, embora a música permaneça como uma

importante fonte de prazer, sem nenhum valor evidente para a sobrevivência

(Salimpoor, 2011; Zatorre, 2011; Vuust, 2014; Koelsh, 2015).

Do ponto de vista do ouvinte, o processamento musical envolve o rastreamento

de séries de eventos sonoros no decorrer do tempo (Salimpoor, 2009). O fenômeno

musical não se apresenta como unidade, mas como um multi-grupo de representações

mentais. Sua fruição envolve a ação orquestrada de um conjunto de mecanismos

nervosos que representam diferentes tipos de memória, componentes atencionais e

perceptivas, respostas afetivas, dentre outros recursos cognitivos, muitos deles ainda

não bem compreendidos no campo da cognição (Ibidem).

No que tange a recompensa: o disparo bifásico do neurotransmissor dopamina

nas vias mesolímbicas do mesencéfalo pôde ser detectado em ouvintes durante a escuta

musical, num experimento feito por Valorie Salimpoor em 2011 (Salimpoor et al,

2011). Esse feixe de fibras nervosas têm o preciso papel de codificar o valor da

recompensa (Weigmann, 2017), especialmente no núcleo accumbens (Mavridis, 2015).

O fenômeno é associado à ativação da área tegmental ventral e do núcleo accumbens,

localizados no estriado dorsal e estriado ventral, respectivamente.

19

a-) O Sistema de Recompensa e Reforço no Cérebro Humano

Ainda que existam muitos tipos de recompensa, as mais fundamentais parecem

ser aquelas relacionadas à comida e ao sexo. Ambas são absolutamente relevantes para a

preservação da vida e a propagação da espécie. É demonstrado que estes

comportamentos adaptativos são reforçados qualitativamente através da via

dopaminérgica mesoestriatal (Cannon & Bseikri, 2004), circuito compartilhado com

outras espécies.

Na década de 1950, James Olds e Peter Milner (Olds and Milner, 1954), da

Universidade de Montreal, num erro de laboratório, colocaram eletrodos nas fibras

dopaminérgicas de vias próximas ao estriado ventral de ratos, quando tinham como alvo

o sistema reticular ascendente. Eles perceberam que os ratos continuavam voltando ao

lugar em que foram estimulados. Ao notar o comportamento, os pesquisadores

desenvolveram um aparato que possibilitava aos ratos pressionarem uma alavanca para

estimular seus próprios cérebros e observaram que os animais mantiveram esse

comportamento persistentemente até morrerem de inanição. Outros estudos (Fibiger &

Phillips, 1979; Olds, 1956; Routtenberg & Lindy, 1965) observaram que os ratos

mantinham o mesmo padrão de comportamento se fossem estimulados eletricamente

nas regiões do mesencéfalo em direção ao hipotálamo lateral e do estriado ventral ou se

fossem submetidos à administração de substâncias que estimulam a dopamina nestas

regiões. Foi notado ainda que a administração de drogas que bloqueiam a dopamina

cessava esse padrão comportamental.

b-) Anatomia das Vias Dopaminérgicas

As vias dopaminérgicas são formadas por dois clusters densos de corpos de

células neuronais no mesencéfalo: a substância negra e a área tegmental ventral

(Kandel, 2014). Cada lote de fibras que sai do cluster de células dopaminérgicas é

nomeado de acordo com os lugares de origem e o destino:

i-) Trato Nigroestriatal: Origina-se na zona compacta da substância negra e

sobe para regiões dorsais do estriado (núcleo caudado e putâmen dorsal). Esta

via é de grande importância às funções motoras voluntárias e é o primeiro alvo

na Doença de Parkinson.

20

ii-) Via Mesolímbica: Origina-se na área tegmental ventral e estende-se até a

região ventral do estriado, denominada núcleo accumbens. Estas células também

inervam partes do sistema límbico, incluindo a amígdala, o hipocampo, o septo e

o tubérculo olfativo. São as fibras reconhecidas por terem sido estimuladas por

Olds e Milner (1956).

iii-) Via Mesocortical: Origina-se na área tegmental ventral e desloca-se até o

córtex pré-frontal, o cingulado e os córtices perineais.

Figura 1 - Esquema que mostra a difusão das fibras dopaminérgicas

c-) A Música Ativa as Vias Mesolímbicas

Foi verificado que estudos de neuroimagem são principal método utilizado em

investigações para acessar os correlatos neuronais dos efeitos aprazíveis da música.

Experimentos utilizando Imagem por Ressonância Magnética Funcional (fMRI) e

Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) detectaram o acionamento das redes

mesocorticais e mesolímbicas de recompensa durante a escuta de estímulo musical

considerado agradável ou preferido pelos ouvintes. Encontrou-se também experimentos

que medem a atividade eletrodermal (Salimpoor et al, 2009; Bosch et al, 2013; Mueller

et al, 2015) e experimentos com tarefas comportamentais.

Os estudos demonstraram que a música pode modular a atividade cerebral em

uma série de regiões corticais e subcorticais. As regiões subcorticais que mostram

21

padrões de atividade em resposta à música incluem regiões do sistema límbico,

incluindo a amígdala, o hipocampo e o hipotálamo, bem como regiões para-límbicas,

tais como a ínsula e o córtex cingulado anterior. Estas estruturas são tipicamente

associadas à indução ou à experiência da excitação emocional (tradução nossa), ou mais

especificamente no emotional arousal, conforme a literatura.

O núcleo accumbens e a área ventral tegmental (relacionados à recompensa)

também tiveram suas ativações altamente detectadas nos estudos (Blood et al, 2001;

Brown et al, 2004; Menon et al, 2005; Mitterschiffhaler et al, 2007; Salimpooor et al,

2009; Osuch et al, 2009; Trost et al, 2011; Pereira et al, 2011; Salimpoor et al, 2011).

Ainda que os circuitos que medeiam a sensação de recompensa estejam

amplamente distribuídos, o núcleo accumbens é a porção mais importante para o centro

de prazer cerebral, denominado Centro de Recompensa2. Ele pertence aos gânglios da

base no cérebro humano (localizado no estriado ventral) e é conectado ao lobo límbico,

que regula as emoções e os comportamentos sociais e conecta-se também às células

extra-piramidais do sistema motor (Kandel, 2014).

O papel da dopamina encontra-se sob forte debate (Berridge et al., 2009), mas é

reconhecidamente o principal neurotransmissor do Centro de Recompensa (Kandel,

2014). Algumas teorias sugerem que a liberação dopaminérgica é relacionada aos

aspectos hedônicos da recompensa, entretanto, atualmente é mais aceito que este

neurotransmissor relaciona-se com a codificação da recompensa e com motivação para

ela, sendo os opióides endógenos os responsáveis pela resposta hedônica de fato

(Ibidem).

3. O Ciclo do Prazer

Segundo a hipótese do Ciclo do Prazer, este é um processo complexo de busca

por recompensas e avaliação, que pode ser pensado conforme o Modelo de Berridge

(Berridge, 2006), com três etapas vinculadas: o querer, o gostar e o aprender.

Querer – é a motivação para recompensa, modulada pela dopamina que controla

o desejo. É sabido que manipulações de dopamina alteram a quantidade de

comportamento ou esforço motivado (Berridge, 2006).

2 Reward System, na literatura em Inglês.

22

Gostar - É considerada a componente real do prazer. Trata-se do impacto

hedônico da recompensa orquestrado por opióides endógenos (Ibidem).

Aprender – São as associações, representações e previsões sobre recompensas

futuras com base em experiências passadas, reforçadas e codificadas pela dopamina

(Ibidem).

Figura 2 – Fases do Ciclo do Prazer e resoluções no tempo (Berridge, 2009).

Essas três componentes do Ciclo do Prazer trabalham separadamente, mas são

altamente conectadas. A antecipação do prazer, isto é, a expectativa ajuda a iniciar,

sustentar e encerrar as fases do querer, do gostar e do aprender (Berridge, 2006). A

integração da gratificação, do comportamento motivado e do aprendizado é feita pelo

córtex orbitofrontal (Kringelbach, 2005), que funciona como um módulo de controle.

4. A ativação de Áreas Subcorticais

a-) Estudos com Tomografia por Emissão de Pósitrons

O estudo pioneiro em neuroimagem para o prazer na escuta musical foi

conduzido por Blood e Zatorre (2001). Foi utilizada Tomografia por Emissão de

Pósitron (PET), uma técnica de imagem que permite avaliar perfusão sanguínea e a

atividade de diferentes regiões cerebrais. O PET demonstra a função metabólica do

cérebro, enquanto a técnica de fMRI fornece informações anatômicas mais precisas.

Neste estudo, foram detectadas mudanças de rCBF (regional cerebral flow), isto é,

alterações no fluxo sanguíneo no cérebro de 10 participantes músicos, para examinar as

regiões ativadas em resposta à agradabilidade de 6 versões de uma mesma música

escolhida pelos próprios músicos com variados graus de dissonância. Numa tarefa

23

passiva e sem avaliação, os pesquisadores verificaram que as experiências consideradas

prazerosas (que despertavam frissons e chills) elicitadas pela música eram associadas a

um aumento de atividade e de fluxo sanguíneo no estriado ventral, no mesencéfalo, no

tálamo, na ínsula anterior, no cingulado anterior, no córtex orbitofrontal e no córtex pré-

frontal ventral medial, bem como um decréscimo na atividade da amígdala, quando os

resultados eram postos em contraste com o grupo de controle. Os estímulos com

dissonâncias e considerados desagradáveis mostraram um aumento na atividade da

amígdala e em regiões corticais parahipocampais.

Noutro estudo com PET, Brown e seus colegas (Brown et al., 2004) reportaram

respostas espontâneas em áreas límbicas e para-límbicas durante a escuta passiva para

música instrumental grega não-familiar, mas considerada fortemente agradável pelos

ouvintes, quando em contraste com os resultados obtidos pelo grupo de controle. Foram

observadas ativações no giro cingulado subcaloso, no córtex cingulado pré-frontal

anterior, no córtex restrosplenial, no hipocampo, na ínsula anterior e no núcleo

accumbens. Foi detectada uma maior ativação do hemisfério esquerdo em regiões

límbicas e paralímbicas quando os afetos relatados eram positivos.

Figura 3 - Ilustração de Estruturas Límbicas e Paralímbicas envolvidas na escuta musical.

Enquanto o PET ocupa-se com as alterações funcionais do organismo, o fMRI

encarrega-se de trazer dados mais objetivos sobre os correlatos neuronais das funções

cognitivas através da alteração da oxigenação em regiões encefálicas. Dadas as

limitações da PET - que mede apenas as mudanças hemodinâmicas, com pouca

resolução espacial, evidenciando mais uma atividade neuronal generalizada e menos a

atividade de uma via específica de um neurotransmissor - os estudos subsequentes

priorizaram experimentos com a técnica de Imagem por Ressonância Magnética

24

Funcional – fMRI - que detecta fenômenos mais transientes, cujos resultados se

aproximam um pouco mais do tempo real da atividade cerebral.

b-) Estudos com Imagem por Ressonância Magnética Funcional

(fMRI)

Utilizando técnicas de Ressonância Magnética, Menon e Levitin (2005) fizeram

o primeiro estudo funcional de análise e conectividade efetiva (conectividade funcional

refere-se à detecção da associação ou da interdependência na ativação de regiões

cerebrais) para demonstrar que a música modula fortemente as vias mesolímbicas,

envolvidas na recompensa. Eles estudaram as respostas cerebrais durante a escuta

passiva de música clássica em contraste com versões alteradas. Uma forma de

determinar a conectividade funcional é usar correlações temporais entre eventos

neurofisiológicos espacialmente remotos. Eles encontraram uma ativação significante

das redes de estruturas subcorticais, incluindo o núcleo accumbens e a área tegmental

ventral, bem como o hipotálamo, a ínsula, que se postula estarem envolvidos na

regulação autonômica e nas respostas fisiológicas à recompensa e ao estímulo

emocional. Como já foi observado, o núcleo accumbens é costumeiramente reconhecido

como a principal estrutura do estriado ventral, constituindo uma interface límbico-

motora com um papel central nos circuitos de recompensa cerebral. Cumpre funções

emocionais, motivacionais e psicomotoras (Kandel, 2014).

Esses resultados evidenciam pela primeira vez a ativação efetiva do núcleo

accumbens sem a presença de um estímulo explícito à recompensa, utilizando apenas o

estímulo musical. Esta atividade neuronal é similar àquela encontrada no abuso de

substâncias, como a cocaína, e durante o sexo. Além disso, Menon e Levitin sugerem

que as mudanças hemodinâmicas observadas no estriado ventral estão relacionadas à

ativação da área tegmental ventral (VTA) e poderiam refletir a atividade do

neurotransmissor dopamina.

25

c-) A Dopamina no Prazer Musical

Embora os estudos anteriores tenham verificado a participação de estruturas

relacionadas à recompensa, ainda não havia sido confirmada a participação específica

da dopamina, neurotransmissor de que o sistema de recompensa é altamente

dependente. Para certificar-se da participação do sistema dopaminérgico na escuta

musical, Salimpoor e seus colegas (2011) usaram raclopride, um radio-ligando

específico da dopamina, enquanto executavam a técnica de Tomografia por Emissão de

Pósitrons (PET), e exploraram a atividade dopaminérgica, como um circuito anatômico

distinto que se pensa constituir a base específica de fases da resposta a recompensa. Os

pesquisadores reportaram a liberação de dopamina em porções ventrais e dorsais do

estriado enquanto os ouvintes tinham experiências de chill e frisson escutando músicas

consideradas agradáveis, em contraste com as imagens daquelas para quem a

experiência era considerada neutra.

Porque os dados obtidos com o procedimento PET não fornecem informação

sobre a dinâmica temporal, os mesmos participantes foram testados com o mesmo

estímulo usando fMRI, que detectou uma ativação bifásica das estruturas relacionadas à

dopamina. Uma dissociação funcional nas ativações BOLD foi observada entre as

porções ventrais e dorsais. A resposta hemodinâmica BOLD associada à porção dorsal

foi observada anteriormente ao chill, enquanto os ouvintes antecipavam o prazer

máximo. Por conseguinte, a ativação da porção ventral foi encontrada durante os picos,

nos momentos em que o chill era reportado ou medido pelos mecanismos de

mensuração fisiológica. A ativação da porção dorsal é associada à codificação da

expectativa ao chill, enquanto a porção ventral é associada à resolução da expectativa.

Deste experimento, obtemos os indícios de que não há somente liberação de

dopamina durante os picos de prazer na escuta musical, mas também em antecipação a

estes momentos. Esses dados avalizam nossa hipótese de que a antecipação tem um

importante papel na apreciação musical.

26

5. O Envolvimento de Áreas Corticais

O prazer musical é fruto de uma série de habilidades cognitivas de alta

complexidade, numa ação orquestrada de processos corticais integrados com os

sistemas de motivação e recompensa (Zatorre, 2015).

Abaixo, uma síntese desses processos:

a-) Córtex Orbito-Frontal Medial: Processamento e Avaliação

Emocionais

Osuch e seus colegas (2009) detectaram um grande envolvimento do córtex

orbitofrontal medial (COF-m) e do estriado ventral em sujeitos normais quando estes

escutavam suas músicas preferidas, em comparação com os resultados encontrados em

pacientes com depressão. Estas estruturas são relacionadas ao processamento emocional

e avaliação de alto nível para recompensa e punição. O córtex orbito-frontal é também

relacionado à integração sensorial, à criação de expectativas, à tomada de decisão e

experiências hedônicas (Zatorre, et al).

b-) Córtex Temporal Superior: Percepção

De acordo com Salimpoor (2014), o córtex temporal superior, onde estão

sediados os córtices auditivos primário e secundário, envolve-se em uma série de tarefas

auditivas importantes ao processamento musical, incluindo o processamento e detecção

do pitch (altura) e a determinação de relações tonais. Postula-se que esta área retenha

uma série de templates sonoros que são acumulados ao longo dos anos. A informação

auditiva armazenada nesta região é associada ao imaginário e à familiaridade com a

música. A informação armazenada nos templates serve de base à geração de

expectativas durante a escuta de novos padrões (Salimpoor, 2014). É sugerido que

quando entramos em contato com músicas nunca antes ouvidas, os templates guardados

nesta região são acessados, gerando expectativas de como será o desdobramento da

sequência sonora.

Num estudo relacionando a ativação do núcleo accumbens, Salimpoor (2013)

encontrou uma robusta conectividade entre o Córtex Temporal Superior e o núcleo

accumbens. Esta conectividade sugere a existência de um mecanismo pelo qual as

27

expectativas (baseadas nos templates previamente armazenados na memória através da

experiência musical) se conectam ao sistema de recompensa, confirmando ou

sinalizando erros de predição.

c-) Córtex Frontal Inferior: Sequenciamento Temporal de Alto

Nível

O cérebro humano está constantemente prevendo acontecimentos no ambiente

sonoro em que se insere por similaridades de representações sequenciadas. É proposto

que as regularidades simples são extraídas em estações mais baixas do córtex auditivo,

enquanto as mais complexas são extraídas pelo córtex pré-frontal. Para reconhecer a

estrutura subjacente à música, o que habilita a predição, é necessário um

sequenciamento estrutural da informação sonora (Salimpoor, 2015). Esse processo é

continuamente atualizado, refinado e revisado, conforme novas informações vão

chegando aos sentidos. O córtex frontal, mais especificamente sua porção inferior

direita, é a área cerebral tipicamente associada ao processamento de aspectos estruturais

da música, conforme Sammler (2011).

6. Integração de Regiões Cerebrais na Apreciação Musical

Os estudos revistos mostraram uma intensa participação de regiões corticais e

subcorticais no processamento e na apreciação musical. Esses processos parecem ser

dependentes uns dos outros no sentido de proverem feedback e atualização para o

processamento musical (Salimpoor, 2015). Estudos de conectividade funcional e

anatômica oferecem suporte para o modelo integrativo, proposto por Zatorre e

Salimpoor (Ibidem).

a- O córtex orbitofrontal e o córtex pré-frontal ventromedial, áreas envolvidas no

processamento de alto nível e avaliação do estímulo, constituem o principal

input no núcleo accumbens.

b- A amígdala, envolvida no processamento emocional, conecta-se diretamente ao

córtexorbito frontal, ao córtex pré-frontal ventromedial e ao núcleo accumbens.

c- O núcleo accumbens se projeta diretamente nos núcleos da base no encéfalo

frontal, que por sua vez se projeta ao córtex e à amígdala, de modo que

atividades do núcleo accumbens impactam estas regiões.

28

Abaixo, um breve esquema sobre como dividem-se as tarefas cerebrais que

habilitam a predição durante a escuta musical.

Figura 4 - Desenho esquemático dos processos cerebrais que habilitam a predição durante a escuta musical. Autora da

tese.

No apêndice desta tese consta a tabela com todos os trabalhos selecionados na

revisão sistemática de literatura, a metodologia aplicada por cada um, o tipo de

estímulo, a tarefa executada pelos participantes, bem como as ativações encontradas e

resultados mais significativos.

7. Conclusão

As evidências empíricas encontradas na literatura abordada avalizam a premissa

que conduz esta dissertação, uma vez que a escuta musical é um forte modulador da

atividade do sistema mesolímbico, especialmente do núcleo accumbens. Os estudos de

neuroimagem demonstraram a relação causal entre a ativação da via mesolímbica

(fulcral para a experiência da recompensa) e a escuta musical. Ou seja, a via

dopaminérgica é fortemente modulada pela escuta de músicas consideradas agradáveis

pelos ouvintes.

A bibliografia também evidenciou a participação de áreas corticais e subcorticais

no processamento musical, responsáveis pela percepção e armazenamento de templates

(córtex temporal superior), sequenciamento temporal de alto nível (córtex frontal

29

inferior), avaliação do estímulo e processamento emocional (córtex orbitofrontal

medial).

Um dos trabalhos que consideramos de destaque nesta revisão foi o estudo de

Salimpoor (2011), que evidenciou o disparo bifásico de dopamina nas vias

mesolímbicas e na área tegmental ventral, antes e durante o prazer máximo relatado

pelos participantes. Este achado oferece fortes razões para a interpretação do prazer

musical de acordo com o modelo do Ciclo do Prazer (Berridge, 2006), performado pela

apreensão, a geração de expectativas e a resposta hedônica (orquestrada pelo núcleo

accumbens através da liberação de opióides μ) que acaba por conduzir-nos ao modelo

de Codificação Preditiva.

Porque o prazer é um estado positivo, tende a ser reforçado para que o

comportamento bem sucedido seja repetido e conduza a um resultado desejável e

favorável para os organismos, isto é, adaptativo. No reino animal, a via mesolímbica é

filogeneticamente muito antiga e serve para reforçar comportamentos biologicamente

significantes, como o sexo, a alimentação, a interação social e o cuidado parental

(Zatorre, 2011).

Entretanto, a música – bem como outros estímulos estéticos - não é idêntica a

estes estímulos de primeira ordem que são estritamente necessários à sobrevivência ou à

manutenção de um equilíbrio fisiológico (Zatorre, 2015). Então, por que o sistema de

recompensa é ativado e sente-se prazer escutando música?

Será oferecida uma proposta de resposta a tal pergunta nas próximas secções, a

partir da Hipótese das Expectativas de Meyer, segundo a qual o gosto que temos pela

escuta musical advém das expectativas que ela nos permite criar sobre seu desenrolar.

30

II- Interlúdio

Breves Noções sobre o Sistema Tonal

31

1. Breves Noções sobre o Sistema Tonal

a-) O Sistema Tonal

“Som é presença e ausência e está permeado de silêncio”.

José Miguel Wisnik em O Som e o Sentido

Antes de adentramos nos pormenores da formação de expectativas musicais, faz-

se cabalmente necessário esclarecer o recorte acerca do fenômeno musical que

abordamos nesta tese: o tonalismo. Tal forma composicional foi a principal

característica da música ocidental nos últilmos 300 anos. Ainda que venha sofrendo

uma série de abalos e críticas no contexto da música erudita e experimental, é

reconhecidamente hegemônica no âmbito da música popular do século 20 (Valverde,

2017).

No século XX, o século da canção, as estruturas musicais

abandonadas pelas pesquisas de vanguarda migraram da

produção erudita para as formas musicais típicas da cultura

popular urbana, que passou, assim, a ser o último reduto da

tonalidade. Neste contexto, o desenvolvimento de qualquer

fraseado musical obedece a uma dinâmica atrativa, que faz tudo

girar em torno do centro tonal e dá ao ouvinte a sensação de

reconhecer aquele desenho sonoro como uma narrativa musical

e antecipar a conclusão, como repouso e retorno ao ponto de

partida. Além disso, por estar centrada na melodia, a canção

economiza o desenvolvimento e a variação que, nas formas

musicais mais complexas, adiam o repouso que será

proporcionado pelo retorno ao centro tonal. Dessa forma,

tornando o percurso narrativo ainda mais simples e

concentrado, a canção atinge a enorme pregnância que a

caracteriza. (Valverde, M., 2017)

A música tonal, em sentido lato, é aquela que reconhece uma hierarquia de altura

entre notas. Trata-se de um sistema restrito de regularidades com base em um número

limitado de elementos. Este sistema é altamente dependente de uma estrutura

geométrica formal que determina as relações de distância dentro de um espaço

harmônico. Segundo Tillmann (2010), há três níveis de hierarquias que performam a

fonte das regularidades tonais: a nota, o acorde e o tom.

Nesta secção, serão apresentadas algumas noções musicais de suma importância

para o entendimento do idioma tonal como gramática. A natureza do som será tratada de

forma sumária não apenas pelo viés a físico-acústico, mas também pela perspectiva

musical.

32

b-) A Série Harmônica

Em O Som e o Sentido, Wisnik define som como uma onda longitudinal que se

propaga em meios materiais (no caso, o ar) captada pelo tímpano auditivo. Este registra

em seus sensores as oscilações como séries de compressões e descompressões. As

oscilações podem ter velocidades variadas. A altura do som (frequência) é definida pela

velocidade de propagação da onda. Quanto mais rapidamente ela vibrar, mais agudo

será o som. Na mesma ordem, quanto mais lenta for a vibração de uma onda, mais grave

é o som que ela emite. A unidade de medida da frequência de uma onda sonora é o

Hertz, o número de oscilações por segundo. Por exemplo, uma onda sonora cuja

frequência é 32HZ vibra 32 vezes por segundo.

Contudo, uma onda musical natural não é composta apenas por uma frequência.

Ela é uma combinatória da justaposição de outras frequências, cuja fundamental é

aquela que se ouve predominantemente (Wisnik, 1989). Ela é complexa, composta por

frequências de diferentes intensidades que se superpõem, interferem e complementam

entre si: os harmônicos, que não são frequências aleatórias! Existe uma relação

estabelecida a partir da fundamental e que se aplicará a qualquer som harmônico,

independente de qual seja a frequência fundamental.

Série harmônica é a relação constante e progressiva que se dá entre a

frequência fundamental e suas constituintes. Por exemplo: se a frequência fundamental

é F, os harmônicos correspondentes a ela terão frequências 2F, 3F, 4F, 5F e assim por

diante. Vejamos abaixo uma representação gráfica desta relação:

33

Figura 5 - Representação de uma série harmônica – Wisnik, J. M. (2014).

Para exemplificar: se uma nota tem frequência de 16HZ, seu segundo harmônico

possui duas vezes essa frequência: 32HZ. A cada vibração da nota fundamental, o

segundo harmônico vibrará duas vezes. Ambas as notas se chamam Dó, entretanto, a

segunda nota é mais aguda e se encontra uma oitava acima. Harmônicos são a mesma

nota em diferentes alturas. Essa relação se aplicará a qualquer som: todas as frequências

que se relacionem na razão 2:1 (e, por conseguinte, as razões 4:1, 8:1, 16:1, 32:1, etc.)

são percebidas como a mesma nota musical, evidenciando que a percepção musical é

cíclica (Wisnik, 1989).

c-) A Escala Cromática

Na música tonal ocidental, as 12 notas da escala cromática são combinadas de

uma forma muito restrita. Ela é formada pelas notas: C, C#|Db, D, D#|Eb, E, F, F#|Gb,

G, G#|Ab, A, A#| Bb (Dó, Dó Sustenido ou Ré Bemol, Ré, Ré Sustenido ou Mi Bemol,

Mi, Fá, Fá Sustenido ou Sol Bemol, Sol, Sol Sustenido ou Lá Bemol, Lá, Lá Sustenido

ou Si Bemol e Si).

Este conjunto de 12 sons é organizado em subconjuntos de 7, também

conhecidos como Escalas Diatônicas. Dependendo do arranjo de intervalos que separa

as sete notas, a escala diatônica pode ser Maior ou Menor.

Para a escala maior, o padrão de organização das notas é: tom, tom, semitom, tom, tom,

tom, semitom. Para a escala menor: tom, semitom, tom, tom, semitom, tom, tom.

34

Figura 6 - Escala Cromática em sentindo crescente e decrescente de altura.: M. (2013, March 19). Retrieved October

23, 2017, from https://www.youtube.com/watch?v=IbgOcXar9UA

O sistema tonal é dotado de duas propriedades: a horizontalidade e a

verticalidade. Horizontalidade é a sucessão dos sons através do tempo e se relaciona

com a melodia3. Verticalidade é a possibilidade de os sons serem tocados

simultaneamente. Para compreendermos as noções de acordes e de harmonia,

precisamos lançar mão da ideia de verticalidade.

d-) Os Acordes

Acordes formam a segunda ordem de unidade musical (a primeira são as notas).

Eles são a execução de três ou mais notas ao mesmo tempo. Tríades são acordes de três

notas que quando tocadas simultaneamente estabelecem um relacionamento harmônico

específico entre si. Para esta tese, manteremos o foco nas tríades maiores, que servem

de base para os experimentos com redes neurais vistos na sequência, apesar da

existência de variados tipos de acordes: acordes menores, acordes de sétima, acordes

estendidos ou acordes com nota adicionada.

A construção dos acordes é motivada pelas relações acústicas de harmonia entre

as frequências. Tríade Maior: são acordes formados pela tônica, a terça e a quinta da

escala em questão. É considerada a mais natural e mais consonante, pois envolve notas

que estabelecem relações de harmonia entre si. Tríade Menor: são acordes formados

pela tônica, a terça menor e a quinta da escala, um tanto mais dissonante que o acorde

3 Melodia é uma relação horizontal, trata-se da sucessão de notas e acordes em intervalos ritmados.

35

maior. A escolha entre as terças maiores e menores é o que definirá a natureza do

acorde.

e-) O Tom

Tom é a terceira ordem de unidades musicais. Refere-se à nota que define a

sensação de repouso dentro de uma escala. Schöenberg (1975) definiu os ciclos de

tensão e repouso como a base perceptiva do idioma tonal. São eles que conferem ao

sistema as probabilidades estatísticas para a formação expectativas com suas

subsequentes respostas neurofisiológicas orquestradas pelo sistema nervoso (Huron,

2006). De posse desta noção de estabilidade e tensão, é possível compreender o

conceito de tonalidade: uma série de relações hierárquicas entre notas que possibilita a

tensão (a instabilidade, o movimento) e o relaxamento ou repouso, a estabilidade. O

movimento musical é como o movimento do corpo, uma sucessão de instabilidades e

estabilidades. Ao lançarmos a perna para frente, desestabilizamos o corpo. Em seguida,

voltamos a estabilizá-lo com o passo da outra perna. É dentro deste ciclo que o

movimento se processa e o mesmo ocorre na música. A tônica é a nota que devolve a

estabilidade a uma escala. Todas as outras notas têm sua função em relação a ela, de

acordo com o grau de tensão e relaxamento que exercem dentro da escala. É trivial que

notas de maior relaxamento são mais consonantes e as de maior tensão são consideradas

dissonantes. Na escala maior, o primeiro grau é denominado tônica. O segundo, super-

tônica. O terceiro chama-se mediante (porque está entre a tônica e a dominante). O

quarto é chamado de subdominante (posto que precede a dominante). O quinto grau é o

dominante (pois domina a tônica e exerce um papel de extrema tensão, chamando pela

resolução tônica, ele exige por ela). O sexto é superdominante. E o sétimo grau é

chamado sensível, pois conduz até a tônica ascendente. Diz-se que notas “chamam” a

tônica porque formam com ela intervalos de semitom bastante dissonantes, logo, de alta

tensão que demandam uma forte estabilidade.

Pegando como exemplo a escala de Dó Maior (Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si),

temos como tônica o próprio Dó. Ele é o ponto de partida. Todas as outras notas têm

seus intervalos demarcados e nomeados em função da tônica.

36

Tônica: Dó

2º GRAU: Dó-Ré: segunda maior (dois semitons)

3º GRAU: Dó-Mi: terça- maior (quatro semitons)

4º GRAU: Dó – Fá: quarta justa (cinco semitons)

5º GRAU: Dó – Sol: quinta justa (sete semitons)

6º GRAU: Dó – Lá: sexta maior (nove semitons)

7º GRAU: Dó – Si: sétima maior (onze semitons)

Dó – Dó: oitava justa (doze semitons)

f-) O Ciclo de Quintas

Para compreendermos melhor as relações de consonância e dissonância entre as

cromas4, vamos recorrer ao Círculo de Quintas, em que as 12 notas são concebidas

espacialmente num círculo que descreve suas relações de consonância. No Círculo de

Quintas, as notas são dispostas de modo que a relação mantida com a anterior e a

seguinte são de quinta justa. O intervalo de uma quinta justa é significativo, pois é o

intervalo de maior consonância entre duas notas distintas (maior que este apenas entre

oitavas). O número de passos que separa duas notas neste círculo (sem importar a

direção de rotação) define as distâncias harmônicas entre elas. Estas distâncias formam

a base das fortes regularidades das peças musicais da música Ocidental (Bigand, 2000).

Vejamos o Círculo de Quintas:

4 Croma: “a qualidade compartilhada por todos os sons tônicos que se identificam pela oitava e seus

desdobramentos em distintas regiões no âmbito das alturas, e que por isso são denominadas como sendo a

mesma nota, independente se suas frequências são maiores ou menores”. Disponível em: Filho, F. M.

(2004). acústica musical em palavras e sons. Cotia, : teliê.

37

Figura 7- Ciclo de Quintas representando as distâncias entre os tons maiores. Tillmann, B., Bharucha, J. J., &

Bigand, E. (2001)

Estas relações tonais entre as notas de uma escala estabelecem as tensões

musicais e os relaxamentos. Por exemplo: as notas que se encontram em posições

diametralmente opostas no Círculo de Quintas mantêm entre si uma forte relação de

dissonância. Essas relações são responsáveis pela geração de expectativas sobre o

movimento musical (Tillmann & Bharucha, 2010).

2. Experimento Probe-Tone

Carol Krumhansl (1979) desenvolveu um estudo sobre como é estabelecido o

senso de tom, sobre como as notas encaixam-se dentro de um determinado contexto

melódico. Ela queria quantificar a hierarquia das funções tonais dentro do contexto

diatônico, o “quão bem” uma nota encaixa-se numa sequência e qual nota finaliza

melhor uma sequência, isto é, mensurar a expectativa gerada pela audição de uma escala

incompleta de tons sucessivos.

No estudo denominado Probe-Tone dois experimentos foram desenvolvidos. Em

ambos, o contexto era criado usando escalas ascendentes e descendentes de Dó maior.

Os participantes eram divididos em dois grupos de acordo com suas competências

musicais. No primeiro experimento foram utilizados sons sintetizados complexos

(formados por mais de uma frequência). No segundo, sons sinusoidais (formados por

uma só frequência). Em ambos, os participantes ouviam uma escala incompleta de Dó

maior. Esses fragmentos possuíam a omissão da última nota (a nota a ser avaliada),

onde deveriam julgar a adequação da nota que completaria a sequência, oferecendo às

notas valores numéricos entre 1 e 7 (muito ruim a muito bom).

38

No geral, os resultados evidenciaram que notas que geram mais estabilidade são

as mais esperadas. Krumhansl detectou que a experiência musical era um fator

determinante para as expectativas dos participantes. O primeiro intervalo entre notas (de

razão 2:1), mais próximo da frequência fundamental, é o mais consonante de todos e o

mais aguardado. No grupo de maior instrução musical, a tônica foi mais bem avaliada,

não importando a oitava em que se encontrasse e independentemente do contexto

ascendente ou descendente. No grupo com menor instrução, a tônica foi avaliada como

a nota de maior estabilidade, porém com menor incidência em oitavas diferentes.

Figura 8 – Resultados de Krumhansl, C. L., & Cuddy, L. L. (2010). A Theory of Tonal Krumhansl, C. L., & Cuddy,

L. L. (2010).

O segundo intervalo mais consonante (de razão 3:2, Sol) foi também o segundo

mais aguardado. Ele envolve duas notas diferentes - entre o 2° e o 3° harmônicos - de

nome de Quinta Justa (5ªJ). Já o terceiro intervalo mais consonante (de razão 4:3),

formado entre o 3º e o 4º harmônicos, formaliza um intervalo de quarta justa (4ªJ) e foi

a terceira nota aguardada (Mi).

Abaixo, o sequenciamento da consonância entre notas:

Figura 9 - Sequenciamento dos tons mais aguardados

39

Os experimentos de Krumhansl demonstraram a dependência entre a formação

de expectativas melódicas e o grau de treino musicale refletem - entre outros fatores - a

influência quantitativa da exposição ao material sonoro para a modulação da

expectativa.

De posse destas breves ideias de tonalidade e da noção mais basal de expectativa

tonal, faz-se possível a compreensão dos capítulos subsequentes.

40

III - Segundo Movimento

Qual a razão pela qual sentimos prazer com a

música?

41

"Penso que a busca de uma resposta universal para

questões levantadas pela experiência musical nunca

será completamente respondida; Mas sabemos que uma pergunta

suscitada é muitas vezes mais significativa do que a resposta

recebida. Apenas um espírito imprudente, hoje, tentaria

dar uma explicação total para a música, mas qualquer um que

nunca coloque o problema é ainda mais imprudente.”

(Lúcio Deiro)

1. Introdução

Nas secções anteriores, foram investigadas as ativações de níveis basais do

sistema nervoso que conduzem à geração de recompensa na escuta musical. Também

introduzimos breves noções sobre o funcionamento acústico das regularidades do

sistema tonal e comentamos o experimento de Krumhansl a respeito das expectativas

mais elementares geradas sobre este.

Nesta próxima grande secção, vamos lançar luz sobre os recursos cognitivos que

possibilitam o comportamento estatístico do cérebro tornando-o capaz de gerar

expectativas e fazer predições sobre o fenômeno musical, que suportam as asserções

musicológicas de Meyer para sua a fruição.

2. Neuropsicologia das Expectativas Musicais

2.1. Música e Efeito Priming

O efeito priming refere-se às situações em que o processamento de informações

iniciais influenciará processamento de informações subseqüentes. Os estudos do efeito

prime buscam compreender o modo como um estímulo inicial (prime) pode afetar as

respostas a estímulos posteriores, sem que exista consciência sobre tal influência. A

literatura aponta a incidência do efeito em percepções e comportamentos, podendo

implicar em alterações nas motivações, avaliações, julgamentos ou decisões (Laran et

al., 2011).

Prime é um tipo de memória implícita responsável pela melhoria na percepção

de estímulos encontrados em experiências recentes, em que há um aperfeiçoamento na

velocidade ou na eficiência da percepção (Squire & Kandel, 2003), guiados pelo

princípio da parcimônia na natureza aplicado à economia da energia livre do cérebro

(Karl, F., 2012). Por exemplo, ao ler uma lista de palavras, será mais fácil, ou seja, mais

42

rápido, com menor incorrência de erros e com menos gasto de recursos após uma

primeira leitura desta lista.

Os estudos pioneiros sobre o efeito priming demostraram que numa tarefa de

decisão lexical (em que os participantes deveriam indicar o mais rápido possível se uma

seqüência de letras é uma palavra real ou não) os sujeitos respondiam muito mais

rapidamente se a palavra-alvo relacionava-se semanticamente com as outras. A hipótese

dominante para explicar esse efeito é que a memória seja organizada em redes

semânticas associativas. Os estímulos deotados de conexões semânticas serão mais

fortemente associados do que as representações de eventos não relacionados

semanticamente.

Bharucha e colegas foram os primeiros a adaptarem o paradigma do priming

para o campo musical (Bharucha & Stoeckig, 1986, 1987). Eles realizaram um estudo

em que os participantes precisavam decidir sobre um acorde-alvo que seguia um acorde

inicial. Segundo Bharucha (1986), as expectativas podem ser estudadas medindo-se o

tempo para discriminar o acorde-alvo (se bem ou mal adaptado) em relação ao prime.

Este paradigma de tem sido usado para demonstrar que os alvos consonantes são

processados mais rapidamente e são percebidos como mais consoantes do que os alvos

que não se relacionam em tonalidade. Como percebemos no capítulo sobre tonalidade,

um acorde dissonante (instável) demanda acordes consonantes (que devolve a

estabilidade) relacionados a ele.

Em metade dos ensaios, a altura de uma das notas do acorde-alvo foi

ligeiramente reduzida, e os participantes foram solicitados a relatar com precisão - e tão

rápido quanto possível - se o acorde-alvo era consonante ou dissonante ao contexto em

que se inseria. A variável de interesse no estudo era a relação harmônica mantida pelos

dois acordes (prime e alvo), definidos de acordo com a teoria musical. A função

harmônica dos acordes e as relações que mantêm variam de acordo com a escala de tom

em que aparecem. Na condição de consonância, os acordes compartilham o tom,

enquanto a condição de dissonância não estavam no mesmo tom.

Os autores relatam que o tratamento dos acordes-alvo foi melhor e mais rápido

na condição de tom relacionado do que em comparação com a condição menos

conectada. Quando o contexto, ou seja, o acorde que precede o alvo é mantido

constante, o contexto harmônico global influenciará o tratamento desse alvo. Há um

43

tratamento perceptivo facilitado do acorde-alvo que detém relações tonais com o prime,

quando comparado a um acorde não relacionado.

Para entender melhor esse efeito facilitador, Tillmann e colegas (2003)

exploraram o tratamento perceptual das três funções mais importantes da hierarquia

harmônica (I, IV e V). Eles confirmaram que o tempo de resposta dos participantes

refletia a hierarquia: o tratamento do alvo foi o mais rápido para o acorde tônico,

seguido pelo acorde dominante e, finalmente, o subdominante. A comparação com um

contexto de fundo neutro (em que nenhum centro tonal é estabelecido) mostrou

benefício do tratamento da tônica e um custo no tratamento da subdominante. Estes

resultados sugerem que os ouvintes possuem um conhecimento implícito detalhado da

hierarquia harmônica e confirmam o status especial do acorde tônico no final de um

contexto tonal.

a-) A Memória como Fonte das Expectativas Musicais

Do ponto de vista da evolução, a incorporação do aprendizado e do acesso à

memória de eventos tem menos o papel de reviver o passado e mais a função de prever

o futuro, uma vez que o acesso à memória permite a antecipação de eventos já

experenciados (Dennet, 1996).

Segundo Salimpoor (2015), existem duas fontes principais de expectativas para a

experiência musical: o conhecimento explícito e conhecimento implícito, posto que o

aprendizado - bem como sua evocação - podem ou não ser conscientes (Reber, 1967;

Dienes & Berry, 1970).

Esses dois conhecimentos em conjunto fornecem o material cognitivo que

servirá de base para as predições a respeito do desenrolar musical.

b-) Memória e Conhecimento Explícito da Música

A memória explícita caracteriza-se por ser uma lembrança consciente e

voluntária de informações ou eventos passados. O conhecimento explícito no contexto

musical é adquirido através da escuta anterior de determinada peça, e é acessado pela

memória episódica (Salimpoor, 2015). É um conhecimento declarativo (Tillman, 2000)

adquirido sobre uma música familiar e que leva ao conhecimento de como a música se

desenrolará. É relatado que a familiaridade é importante para níveis mais elevados de

44

agradabilidade musical, evidenciando que o conhecimento explícito pode aumentar o

prazer nos ouvintes (Bosch, 2013).

Bosch (2013) conduziu um estudo correlacionando as medidas de condutância

da pele em dois experimentos: um deles medindo a respostas a músicas desconhecidas e

outro depois que os 60 sujeitos do experimento entraram em contato com as peças. Os

pesquisadores descobriram que a resposta ao prazer medida pela condutância da pele foi

maior quando o estímulo foi ouvido pela segunda vez, isto é, quando era mais familiar

para o ouvinte. Noutro estudo, Szpunar et al. (2004) também sublinhou a relação

positiva entre exposição e preferência, utilizando sequências musicais (excertos de

gravações de concertos) e sequências artificiais. Comparando exposições, com foco na

exposição incidental, ele detectou que a agradabilidade era maior nos excertos escutados

previamente.

c-) Memória e Aprendizados Implícito e Estatístico na Música

Apesar de mais de 40 anos de pesquisa, o debate sobre o aprendizado é

permeado por controvérsias a respeito da necessidade do recrutamento de recursos

atencionais para a produção de conhecimento (Neal & Heasketh, 1997).

Uma corrente defende que o aprendizado e a consciência do que foi aprendido

estão perfeitamente e necessariamente correlacionados. Para esta corrente, o

aprendizado só pode ser alcançado por um único mecanismo que gera representações na

memória do aprendiz que está sempre ciente. De acordo com esta proposta, a

aprendizagem implícita não existe (Vokey & Brooks, 1992).

Contudo, em 1955, Gibson faria a primeira elaboração a respeito do aprendizado

implícito, ao qual ele denominou “aprendizado perceptual”, embora sejam atribuidas a

Reber (1967) os primeiros experimentos acerca do tema. Reber advoga que a

experiência consciente forma a base da aprendizagem explícita, porém, a aprendizagem

implícita demonstra a aquisição de conhecimento abstrato sobre as regularidades

estatísticas dentro de um ambiente de aprendizagem que ocorre fora da consciência,

insensível ao controle intencional e ao ato declarativo (Reber, 1989).

Para Dienes e Berry (1997), o aprendizado implícito conduz a um conhecimento

que não é automaticamente representado como conhecimento para o processo de

aprendizagem. Nesses termos, a aprendizagem implícita ocorre quando uma pessoa

aprende sobre um estímulo complexo sem necessariamente pretender fazê-lo, isto é, de

45

tal forma que o conhecimento resultante é difícil de expressar (Rünger, 2003).

Underwood (1996) também defende a ideia de um tipo de processamento de informação

sem a participação de recursos atencionais ou da consciência.

Dienes e Berry (1997) sistematizaram essas colocações, estabelecendo quatro

componentes essenciais à aprendizagem implícita:

Inacessibilidade ao conhecimento por free-recal ou testes de escolha;

Condições incidentais de aprendizagem;

Origina um senso de intuição para aqueles que executam a tarefa;

Mantém-se robusta, apesar da execução de tarefas secundárias, do passar

dos anos e de possíveis transtornos.

Os mecanismos acionados em situações de aprendizagem incidental são de

potencial interesse a muitos campos de pesquisa, incluindo aquisição de idiomas,

formação de conhecimento de objetos e aprendizagem motora. Entretanto, um enfoque

diferente da interpretação de Reber foi oferecido por Saffran (2010) e seus

colaboradores. Chama-se Aprendizado Estatístico e possui muitas interconexões e

conceitos sinônimos com o aprendizado implícito (Perruchet & Pacton, 2006).

De acordo com Romberg & Saffran (2010), os humanos, incluindo os bebês,

são altamente sensíveis à estrutura do ambiente. Tanto o aprendizado implícito quanto o

aprendizado estatístico implicam a descoberta de padrões no input, um processo de

extração dos padrões da estrutura circundante. Este tipo de aprendizado diverge

cabalmente do aprendizado supervisionado encontrado no condicionamento operante (o

aprendizado de que um determinado comportamento leva ao reforço por recompensa ou

à punição).

Os tipos de padrões monitorados por um mecanismo de aprendizado estatístico

podem ser bastante simples, como a contagem de frequência de um estímulo, ou mais

complexos, como a probabilidade condicional (Romberg & Saffran, 2010). Da mesma

forma, os elementos sobre os quais os cálculos são feitos podem variar em

complexidade, como formas e faces geométricas; ou em concretude, como sílabas e

categorias sintáticas (Ibidem).

Vasuki (2017) descobriu que as crianças treinadas musicalmente apresentaram

melhor melodia, melhor ritmo, melhor discriminação de frequência e foram melhores

em tarefas de memória em experimentos de aprendizado estatístico. Dois grupos de 25

crianças de 9 a 11 anos participaram do experimento. Um grupo realizou aulas

46

particulares de música durante pelo menos 18 meses, enquanto o outro não. As

varreduras EEG mostraram que as crianças treinadas musicalmente detectaram padrões

em tarefas auditivas e visuais mais rápido do que aquelas sem treinamento musical.

Conforme Vasuki, as crianças expostas a pelo menos um ano e meio de aulas de música

são mais capazes de detectar padrões no mundo ao seu redor. Os dados sugerem que as

diferenças individuais nas habilidades musicais estão associadas à capacidade de

detectar regularidades.

d-) Experiências de Aprendizagem com Gramáticas Artificiais

Os seres humanos são capazes de aprender através de dois sistemas: o

aprendizado explícito e o aprendizado implícito. O último é possível graças às

propriedades bayesianas do funcionamento cerebral, que será comentado mais adiante.

Parte do trabalho que estuda a aprendizagem explícita usa o paradigma de

aprendizagem de gramáticas artificiais desenvolvido por George Miller (1958). Neste

paradigma, um conjunto de seqüências de letras é gerado usando um conjunto de regras

que governam formação e o comprimento de strings. Esta pesquisa demonstrou que era

mais fácil lembrar uma sequência de gramática estruturada do que de uma sequência

aleatória de letras.

Reber (1969) adotou o paradigma de Miller para estudar a aprendizagem

implícita, apesar de reconhecer que materiais artificiais são muito mais simples que as

sequências de eventos ambientais. Todavia, Reber afirma que alguns princípios básicos

da aprendizagem podem servir de modelo para a compreensão do aprendizado implícito

em ambientes naturais.

Reber expôs os participantes a um conjunto de strings geradas por uma

gramática específica. Para garantir a aprendizagem implícita, os participantes foram

enganados para acreditarem que em algum momento haveria um teste de memória para

essas strings. Ao final do teste foi revelado que os strings seguiam algum conjunto de

regras para a formação e os participantes foram convidados a discriminar entre strings

gramaticais e agramaticais. Após a exposição de dois strings válidos, o desempenho dos

participantes em testes de julgamento de gramática foi acima do esperado. Os

participantes não podiam verbalizar como estavam realizando a distinção, o que levou

Reber a concluir que o conhecimento aprendido sobre a gramática havia sido adquirido

através de um sistema implícito.

47

Atualmente, o cerne das preocupações dos estudos em Aprendizagem com

Gramáticas Artificiais 5 tem sido descobrir quais mecanismos as crianças utilizam para

adquirir a língua nativa. O aprendizado incidental da linguagem é bastante estudado em

laboratório com o uso de material artificial, baseado em regularidades estatísticas.

Diversas gramáticas artificiais foram geradas para compreender a aquisição da

linguagem (Saffran, 2002).

Abaixo, um exemplo de gramática de estado-finito que vem sendo largamente

utilizada nos estudos de aprendizagem implícita. No experimento, os participantes

mostraram-se capazes de captar as regras de formação de strings e distinguir entre

palavras e não palavras pertencentes à gramática de estado-finitos criada sem o

conhecimento deles. Os participantes foram capazes de discriminar os novos excertos e

os excertos agramaticais.

Figura 10- Típica gramática de estados finitos utilizada em experimentos de aprendizagem implícita. Disponível em Perruchet, P., &

Pacton, S. (2006). Implicit learning and statistical learning: one phenomenon, two approaches. Trends in Cognitive Sciences,

A linguagem de estados-finitos acima contém 10 letras (S, H, F, V, R, T, D, X,

M, P) que são regidas por um conjunto de regras de construção de sentença,

constituindo uma gramática que pode ser caracterizada como um processo markoviano6,

na qual a transição de estados produz uma letra. As três setas da esquerda representam

diferentes estados iniciais. As letras são produzidas pelas transições entre os nós e as

5 Artificial Grammar Learning (AGL)

6 Processo Markoviano: é um processo que possibilita fazer previsões para o seu desenvolvimento futuro

com base apenas em seu estado atual, independentemente de sua história. É condicional ao estado atual

do sistema, porém, seus estados futuros e passados são independentes. (via wikipedia:

https://en.wikipedia.org/wiki/Markov_chain, acessado em 19/08/2017).

48

setas indicam os caminhos possíveis para formação de sentenças. A sentença é

finalizada quando alcança alguma das três setas de saída à direita que representam

estados finais aceitáveis para esta gramática. A linguagem desta gramática é constituída

por todas as sentenças que ela pode produzir.

Conforme Ettlinger (2011), as associações entre memória implícita e

aprendizado de linguagem podem ser estendidas à música, por compartilharem uma

série de mecanismos cognitivos e neurais, como veremos mais adiante. Contudo, a

gramática da música tonal é bem mais complexa que uma gramática de estados-finitos

usada em experimentos sobre a aquisição da linguagem. Assim, Barbara Tillmann &

Poullin-Charronnat (2001, 2010) fizeram experimentos com gramáticas musicais

artificiais que podem fornecer indícios sobre o aprendizado incidental e sobre a

aquisição de conhecimento de estruturas subjacentes ao sistema tonal através da mera

exposição.

No estudo de 2010, Barbara Tillmann & Poullin-Charronnat, em vez de

trabalharem com strings de letras, desenvolveram uma gramática artificial baseada em

um conjunto de tons (formando seqüências de tom) de escala temperada, a fim de

investigarem a aprendizagem implícita no contexto musical:

Figura 11 - Gramática de estados-finitos para experimentos sobre aprendizagem implícita no contexto musical

(Tillmann & Charronnat, 2010).

Em uma primeira fase do experimento, os participantes foram expostos a

seqüências de tons (geradas com base na gramática de estados finitos mostrada na figura

acima) e realizaram um experimento de tarefa de memória. Num segundo momento, foi

realizada uma tarefa de detecção de tons “agramaticais”, com notas desafinadas. Os

participantes deveriam fazer julgamentos rápidos sobre a característica perceptual de

49

novas sequências. Isso permitiu testar o conhecimento da estrutura gramatical, sem que

os participantes soubessem de sua existência.

Tillmann conclui que o conhecimento da gramática artificial é adquirido durante

o momento da exposição e que este conhecimento permitiria o desenvolvimento de

expectativas auditivas, diminuindo o tempo de processamento e influenciando o

julgamento de forma indireta (Tillmann, 2010).

Exemplos de excertos gramaticais Exemplos de composições agramaticais

Figura 12 - Extraído de Tilmann (2010)

Tillmann (2010) argumenta que o aprendizado estatístico é uma característica

fundamental para o sistema cognitivo, pois possibilita a incorporação de informações

altamente complexas que não poderiam ser adquiridas de forma explícita. Ele reitera

que o conhecimento implícito do sistema tonal permite que ouvintes sem treino

específico para a música percebam relações entre eventos musicais e desenvolvam

expectativas acerca do material musical.

Esse estudo evidencia que as expectativas referentes à música tonal são

desenvolvidas levando em conta as relações internas do material musical, que são

internalizadas e viabilizam a construção de representações mentais que contêm a

estrutura do material sonoro.

ara Vuust (2014), o “aprendizado estatístico dependente da cultura”7 surge de

acordo com padrões temporais e tonais do som que variam consoante regras e

convenções específicas de gêneros, estilos e culturas específicas, formando no ouvinte

uma gramática musical individual, particular.

7 Statistical learning cultural dependent

50

2.2. Entropia na Música

Assim como a linguagem, a música pode ser considerada um processo

estocástico, que possui inúmeras possibilidades de evolução, um processo

indeterminado, regido probabilisticamente, podendo desenvolver-se em infinitas

direções (Besson, 2001).

Processo estocástico [...] é [...] um processo no qual a

movimentação de um estado para o seguinte é determinada

por uma variável independente do estado inicial e final.

(Rochol, 2011)

Meyer (1967) assume que o significado no contexto musical é diretamente

relacionado a sua entropia, isto é, à incerteza da ocorrência de um determinado evento

musical. Segundo ele, essa incerteza no desenrolar musical engendra uma maior tensão

subjetiva, correlacionada a eventos musicais significativos.

O significado musical surge quando uma situação

antecedente que requer uma estimativa dos modos

prováveis de continuação de padrões produz incerteza em

relação à natureza temporal-tonal do consequente

esperado. (Meyer, 1967)

Um evento pouco provável contém um maior teor de informação, conforme a

Teoria da Informação (TI) criada em 1948 por Shannon, que objetivava resolver

problemas relacionados à comunicação por telégrafos (Shannon, 1948). A comunicação

é modelada a partir dos símbolos que possuem determinadas probabilidades de

ocorrência. Eles pertencem ao vocabulário da fonte abstrata, podendo esta ser uma

sequência numérica, uma língua ou - como é conveniente ao propósito deste trabalho:

uma música.

O cálculo da entropia da fonte leva em conta a probabilidade de ocorrência dos

símbolos, que é diretamente proporcional ao número de símbolos e à similaridade de

suas probabilidades. Quanto maior a equiprobabilidade (símbolos que ocorrem com a

mesma probabilidade), maior a incerteza. Quanto maior a incerteza, maior a entropia.

Meyer sublinha que as probabilidades de ocorrências são determinadas pelo

estilo musical. É evidente que as expectativas são construídas levando em conta as

relações internas do material musical. Meyer assinala os cuidados com o trato da

música de forma estatística. É preciso levar em conta os diferentes graus de hierarquia

51

dos estilos e do contexto em que os dados são avaliados, porque diferentes estereótipos

ocorrem em diferentes níveis de estruturação musical, conduzindo a diferentes

distribuições estatísticas. Em suma: o cálculo de probabilidades é altamente dependente

de contexto. Por exemplo, para Huron (2006) a música tonal é marcada por uma alta

probabilidade de que grandes saltos de intervalos sejam seguidos por pequenos saltos

em direção oposta (logo, há uma baixa probabilidade de que estes sejam seguidos de

saltos grandes na mesma direção). Uma série de outras regularidades tonais têm impacto

direto na distribuição de probabilidades e, por conseguinte, na entropia musical serão

comentadas no subcapítulo intitulado “Regularidades Tonais”.

Embora a maioria dos estudos teóricos sobre informação musical concentrem-se

em propriedades brutas de estilo ou em grandes segmentos musicais, recentemente,

técnicas de modelagem com redes neuronais artificiais tentaram compreender se é

possível correlacionar medidas instantâneas de entropia com respostas afetivas

momentâneas à música. Por exemplo, um autêntico ponto de cadência é um centro de

estabilidade e deve ser correlacionado a um menor grau de entropia. Um clímax

dramático deve ser correlacionado com um alto valor de entropia, pois representa uma

grande quantidade de tensão (Cox, 2010). Gregory Cox desenvolveu uma Rede

Neuronal Recorrente (RNN) com o intuito de investigar até que ponto a entropia pode

ser interpretada como medida de tensão e, por conseguinte, de significado musical. Ele

buscou comparar as medidas de entropia dos estímulos com as análises teóricas da

música tradicional. As análises endossaram a hipótese de que a tensão subjetiva ao

significado musical relaciona-se diretamente com o grau de entropia, isto é, de incerteza

do input.

a-) Entropia e Agradabilidade

Vuust (2014) analisou a relação entre agradabilidade musical e a complexidade

estatística medida a partir da entropia. O pesquisador vem desenvolvendo uma extensa

pesquisa sobre o modo com que os sons musicais tornam-se gratificantes através de

processos preditivos nas redes de prazer do cérebro, incluindo a liberação de dopamina

no mesencéfalo.

A relação encontrada deu-se em uma curva em forma de “U” invertido. Maiores

níveis de agradabilidade foram alcançados em músicas que apresentam níveis

intermediários de entropia. Os pesquisadores notaram que uma batida muito simples,

52

muito previsível, não tem apelo às pessoas, mas adicionando algumas aberrações e

irregularidades ao ritmo sua popularidade é aumentada. Em contrapartida, estímulos

muito aleatórios, desestruturados e sem traços característicos também perdem apelo.

“Quando o ritmo é muito complexo, perdemos o modelo que o constitui, há muita

irregularidade, perdemos a capacidade de fazer previsões e, consequentemente, a

capacidade de sermos recompensados, na incorrência de um erro de predição positivo”,

declara Vuust. Ou seja, um evento pode deixar de ser interessante de duas maneiras:

apresentando uma entropia muito baixa ou muito alta: muita informação pode não ser

bem vinda do ponto de vista musical.

Talvez esse argumento justifique a falta de popularidade do serialismo

dodecafônico, cuja entropia e níveis de informação encontram-se deliberadamente

acima do ideal (Abdallah & Plumbley, 2008). Não é possível estabelecer ligações, não

há experiência e nem formação de modelos estatísticos que permitam a interação e a

antecipação do continuum sonoro, dada a extensa quantidade de informação e entropia

do sistema.

b-) Agradabilidade e Exposição

Vuust (2017) alega que as audições aumentam a agradabilidade musical, pois

a música desconhecida oferece um quadro de previsibilidade muito fraco. Com a

crescente exposição, a música é contextualizada (por exemplo: determinando o tom, o

tempo, a duração, a forma, o gênero) levando a expectativas esquemáticas de maior

certeza. Simultaneamente, expectativas verídicas surgem causando conflitos potenciais

com expectativas esquemáticas (Huron, 2006). Isso atualiza o modelo preditivo do

ouvinte, gerando expectativas mais adequadas.

Com níveis crescentes de exposição (e, em última instância, sobreexposição),

a quantidade de erros de predição diminui gradualmente à medida que as expectativas

verídicas se tornam cada vez mais influenciadas pela entrada sensorial. O aumento da

certeza combinada com a ponderação do erro de predição (devido a uma certeza

preditiva gradualmente maior), com menos instâncias de erro de predição (devido à

tendência à minimização da energia livre) resulta em uma trajetória em forma de U

invertido na apreciação musical, com o aumento da exposição. Isso explica porque ao

escutar uma música demasiadas vezes ela acaba por abalar o seu apelo gratificante.

53

2.3. Abordagens Bayesianas e Codificação Preditiva

Uma das perguntas que mais intriga os cognitivistas é como pode o cérebro lidar

com processos incertos. Como é possível fazer predições sobre a padronização de inputs

sensoriais, dentre os quais a música é um exemplo (Clark, 2013)?

O fluxo de novas informações sobre o sistema nervoso transforma radicalmente

a maneira de interpretá-lo. O cérebro já foi visto como um espelho da realidade externa

e também como um intérprete. Atualmente, ele começa a ser visto como um preditor,

uma máquina de fazer inferências probabilísticas sobre o mundo. Em Kinds of Minds

(1996), Daniel Dennet argumenta que a mente é fundamentalmente um antecipador de

eventos, um gerador de expectativas, uma máquina de antecipação que é mimada com

recompensas sempre que faz previsões corretas. O cérebro elabora hipóteses sobre os

possíveis inputs e compara com os dados sensoriais. As hipóteses favorecidas são

aquelas que minimizam as incertezas e diminuem os erros de previsão entre as apostas e

a experiência.

É frequentemente assumido que o mecanismo subjacente à aprendizagem

estatística do cérebro seja regido por modelos probabilísticos internos que se

Figura 13 – Proposta de entendimento da relação exposição x

agradabilidade musical de Vuust (2017).

54

aproximam das estatísticas bayesianas. Estes modelos levam em consideração as

tendências ou as distribuições prévias de probabilidade que contribuem para o

aprendizado. As abordagens bayesianas das funções cerebrais tentam dar conta da

capacidade neuronal de operar de forma ótima em situações de incerteza. Atualmente,

um largo espectro de estudos interpretam os resultados de experimentos psicofísicos à

luz de modelos bayesianos e questionam como o cérebro pode implementar estes

algoritmos bayesianos (Friston 2002; Shepard, 2001; Tononi, 1998).

Estatística bayesiana é um ramo da Estatística que usa a

probabilidade P como medida condicional de incerteza

associada à ocorrência de um evento E, dada a informação

disponível D. Logo, P(E|D) é uma medida de crença de

ocorrência de um evento E quando ocorrem as condições

resumidas nos dados D. (Paulino et al, 2003)

Um modelo promissor foi proposto por Friston (2005), em que a Codificação

Preditiva é o princípio central da função cerebral. Friston fornece uma descrição de

como o cérebro identifica e categoriza as causas de seus inputs sensoriais, posto que

humanos e animais vivem em um mundo de incertezas. O modelo tenta demonstrar

como os neurônios podem reconhecer padrões sensoriais por inferência bayesiana,

combinando-os com o conhecimento prévio para inferir causas de alto nível aos

estímulos.

A Codificação Preditiva postula uma organização hierárquica, através da qual as

regiões cerebrais de baixo-nível estimam as previsões de estímulos esperados, baseado

em informações contextuais através de conexões de feedback de regiões mais altas

(Friston, 2002). Um evento inesperado contradiz a expectativa, gerando uma

comparação entre previsão e input recebido, e um termo de erro que, se for

suficientemente significativo, forçará uma atualização da expectativa. A memória de

curto prazo também será resetada, abandonando as expectativas anteriores e será

iniciada uma resposta orientada ao novo contexto, permitindo a aquisição de novas

associações explicativas (Gossberg, 1982). Isso gera um processo recursivo que visa

minimizar o erro de predição, ou seja, diminuir a diferença entre input e previsão. É

defendido que o cálculo cerebral que calibra a medida das incertezas e expectativas

opera de acordo com o Teorema de Bayes, expresso forma da seguinte equação:

55

Onde:

H – hipótese afetada pelos dados

E – evidências, dados que não foram utilizados no cálculo de probabilidade

anterior.

P(H)- probabilidade a priori, probabilidade da hipótese antes da análise das

evidências.

P(H|E) - probabilidade a posteriori, isto é, a probabilidade da hipótese após a

análise das evidências.

P(E|H) – probabilidade de se observar as evidências dada a hipótese. Trata-se da

compatibilidade entre as duas.

P(E) – probabilidade marginal, uma constante para todas as hipóteses possíveis.

No modelo bayesiano para expectativas, a inferência probabilística de qualquer

fenômeno é dinâmica e completamente sensível ao contexto. O contexto é fundamental

para entender o processo de detecção de padrões envolvido na aprendizagem implícita

e, portanto, na compreensão dos mecanismos subjacentes à aquisição de regras. A

hipótese bayesiana aquiesce com o que Otto Laske já havia postulado em 1977 acerca

da apreciação do continuum sonoro: “um processo de resolução de quebra-cabeças ou

caminhar por um labirinto, onde o estado atual de processamento musical deve ser

inferido através da somatória de todos os estados de inferência anteriores”. Observamos,

assim, a existência de uma pragmática formal da percepção musical, que funciona por

meio das inferências.

Como vem sendo repetido: a geração e subsequente confirmação ou violação de

expectativas é crítica para a experiência estética e para o significado musical (Meyer,

1956; Wiggins, 2006). Quando se escuta uma peça de música, o envolvimento dinâmico

com o modelo estatístico do ouvinte o habilita a fazer as predições sobre o desenrolar,

lançando mão dos conhecimentos e templates aprendidos em experiências prévias, mas

também de acordo com o contexto imediato da peça em desenvolvimento. As

expectativas musicais são moldadas pela apreensão estatística da ocorrência de eventos

sonoros. Ao passo que a música desenrola-se, há uma revisão do modelo e -

consequentemente - do estado de crença probabilística que sustenta as futuras predições.

56

A frustração de uma expectativa musical é consequência de um evento de baixa

probabilidade acontecer no lugar de um evento provável. Segundo Levitin (2016): “a

música é o som organizado, mas sua organização também envolve o elemento

inesperado, de outro modo seria emocionalmente fraca ou automatizada” (tradução

livre). As predições temporais e qualitativas acerca de notas futuras podem ser

surpreendidas, por exemplo, por uma nota antecipada ou atrasada em relação ao tempo

predito ou mesmo uma nota alterada, o que suscita um erro de predição.

a-) Erros de Predição

Teorias recentes do processamento da recompensa postulam que a resposta

dopaminérgica reflete os erros de predição. Como já foi dito: a manutenção de um

quadro de informações do meio em que o organismo está inserido possibilita uma

melhor leitura do ambiente e com poucos custos energéticos. Tal análise e atualização

de dados do ambiente permite a inferência probabilística de invariações, bem como a

predição de eventos futuros.

Schultz (2010) defende que o termo de erro, isto é, a discrepância entre o evento

ocorrido e o previsto seja codificada pelos neurônios dopaminérgicos, que são

fundamentais para o condicionamento Pavloviano8. Os neurônios dopaminérgicos do

mesencéfalo respondem quando a recompensa é ainda maior do que a prevista, guiando

o aprendizado (Schultz, 2016). Os erros de previsão de recompensa ajustam as forças

sinápticas até que o ambiente possa ser previsto com acuidade. O disparo

dopaminérgico reforça o comportamento para a aprendizagem sobre recompensas e para

a motivação em busca de mais recompensas - um traço evolutivo - uma vez que a

dopamina é reconhecida por reforçar as conexões sinápticas que motivam a realização

de determinado comportamento. Ações gratificantes são aquelas que minimizam a

energia livre do cérebro, criando assim um modelo mais forte e preciso do mundo.

A maioria dos neurônios da dopamina no mesencéfalo de humanos, macacos e

roedores é ativada quando há mais recompensa do que o previsto (erro de previsão

8 Condicionamento Pavloviano: É um tipo de aprendizagem descoberta pelo fisiologista Ivan Pavlov

(1849-1936) que ocorre por associações entre um estímulo ambiental (estímulo neutro) e um estímulo que

ocorre naturalmente (estímulo incondicionado). O Condicionamento Pavloviano envolve a colocação de

um sinal neutro antes de um reflexo que ocorre naturalmente. No experimento clássico de Pavlov com

cães, o sinal neutro era o soar de um sino e o reflexo que ocorrria naturalmente era o salivar em resposta

aos alimentos. Ao emparelhar sucessivas vezes o estímulo neutro com o estímulo ambiental, o som do

sino por si só poderia produzir a resposta de salivação nos cães.

57

positivo). Os neurônios dopaminérgicos permanecem em atividade na linha de base

quando as recompensas são totalmente previstas e mostram atividade deprimida com

recompensas menores do que a prevista (erro de previsão negativo) (Schultz, 2011

Asaad, W. F., & Eskandar, 2011).

Em seguida, veremos os resultados de experimentos feitos por Schultz com ratos

a respeito do tema:

Figura 14 - Schultz (1997) - Ativação dos neurônios

dopaminérgicos e sua relação com erros de predição

No estudo de Schultz (1997), na ausência de estímulo condicionado a resposta

dopaminérgica ocorre logo após a recompensa. Entretanto, havendo um estímulo

condicionado e não havendo recompensa, em função de um erro comportamental,

ocorre uma depressão dopaminérgica que sucede o momento predito da recompensa,

visando inibir o comportamento. No caso da recompensa predita ser igual à recompensa

ocorrida, a resposta dopaminérgica é zero. Se a recompensa predita foi menor do que a

Ao lado, vê-se o disparo

dopaminérgico no mesencéfalo de

macacos. No primeiro gráfico,

notamos o disparo dopaminérgico

quando recebem um suco adocicado,

sem previsão desta recompensa, isto

é, um erro positivo de predição de

recompensa.

Após o aprendizado, o estímulo

condicionado prediz a recompensa e

esta ocorre de acordo com a previsão.

Não há erro na previsão. O neurônio

dopaminérgico não é ativado pela

previsão.

No último caso, o estímulo prediz a

recompensa, mas esta não acontece

por um erro comportamental. A

atividade do neurônio dopaminérgico

é deprimida exatamente no momento

em que a recompensa deveria

acontecer.

58

recompensa ocorrida, a resposta dopaminérgica tem valor positivo, o que é reconhecido

como um Erro de Predição Positivo9 (Schultz, 1997, 2002; Fiorillo, 2003).

Esse comportamento pode ser melhor compreendido de acordo com a seguinte

equação:

Em 1972, Rescorla lançaria um dos primeiros modelos matemáticos para erros de

predição de recompensa, defendendo que a codificação do erro se dá em função da

diferença entre o peso do estímulo e a média dos estímulos passados, conforme a

equação a seguir:

ΔV= αβ(λ-V)

Em que:

V= força de associação entre estímulo e recompensa;

α = constante relativa à relevância do estímulo condicionado;

β = constante relativa à relevância do estímulo não-condicionado;

λ = força máxima de associação.

Quando a força de associação entre estímulo e recompensa é igual à força

máxima de associação, V= λ, o aprendizado é cessado (ΔV= 0).

Esse paradigma pode explicar a razão pela qual gostamos de músicas

ligeiramente mais complexas do que nosso esquema mental, ou nossa gramática musical

subjetiva. Por serem músicas menos previsíveis, com um grau médio de entropia

(Vuust, 2014), possibilitam a emergência de erros de predição positivos.

Por fim, dada a natureza antecipatória da música (e suas respectivas violações em

diferentes aspectos), ela mostra-se como um bom substrato para testar a hipótese de

Friston para a Codificação Preditiva (Vuust, 2017).

9 Positive Prediction Error

Ativação dopaminérgica = Atualização da Recompensa – Previsão da Recompensa

59

b-) Tipos de Erros de Predição Musical

Vuust (2014) faz uma sutil e importante distinção entre dois tipos de "erros de

predição" envolvidos na escuta musical:

i) Recompensa por erro de predição (RPE): referente a expectativas

psicológicas de como uma peça emocionalmente gratificante se

desenvolverá.

ii) Erro de predição (PE): relativo à computação neuronal de entrada sensorial

relacionada às previsões do cérebro sobre a própria música.

Essas diferenças podem ser traduzidas nas questões: "quanto eu vou gostar do

próximo acorde?" (RPE) e "qual é o próximo acorde?" (PE). O autor argumenta que

são apostas distintas e potencialmente ortogonais, com diferentes constituintes

neuronais (Vuust, 2017). Do ponto de vista computacional, o primeiro baseia-se no

aprendizado de reforço, que estabelece princípios computacionais para maximizar o

valor da recompensa, independentemente de especificidades músico-estruturais

(Schultz, 2013). O último aborda as previsões sobre a estrutura musical e foi modelado

utilizando o aprendizado estatístico e a codificação preditiva (Vuust et al., 2009; Hansen

e Pearce, 2014; Vuust e Witek, 2014; Hansen et al., 2016).

Na codificação preditiva, PE, o erro de predição não é nem positivo nem

negativo per se, mas forte ou fraco em um único contínuo (Vuust, 2017).

Uma reivindicação de Salimpoor et al. (2015) já vista anteriormente neste

trabalho, é que quando estamos ouvindo músicas nunca ouvidas antes, modelos

auditivos de som semelhantes são ativados para gerar expectativas de como os novos

sons serão desenvolvidos. Se os novos sons forem melhores do que o esperado (ou seja,

RPE), o PE positivo resultaria. Avaliar se a música é estruturalmente melhor do que a

sequência esperada requer, entretanto, uma mais definição clara e observamos

dificuldades em encontrar estudos que discutam a qualidade ou a valência emocional do

que seria um som melhor, de acordo com a gramática subjetiva dos ouvintes.

60

2.4. Psicologia das Expectativas

O papel da expectativa musical é largamente reconhecido nos dias atuais como

responsável por formar o comportamento afetivo relacionado a respostas fisiológicas e

psicológicas (Salimpoor, 2013; Zatorre, 2015; Vuust, s/d). A surpresa, o riso, o frisson,

a tensão ou o relaxamento causados pela música têm suas raízes nas expectativas

(Huron, 2006). As expectativas implicam uma série de representações mentais que

podem possuir diversas origens: o background cultural, o gênero musical em questão, os

esquemas musicais subjetivos, dentre outras. As representações são constantemente

examinadas e atualizadas através da experiência quotidiana.

A previsão de um evento permite uma preparação correta para a reação

apropriada e aumenta a chance de obter sucesso em tarefas que garantem a

sobrevivência e perpetuação da espécie. Durante o percurso da linhagem humana, foram

adquiridas respostas estereotipadas a vários tipos de estímulos. Por exemplo, ao ouvir

um evento inesperado (como um estrondo), desencadeia-se uma série de respostas

nervosas que tem como resultados comportamentais a resposta motora. Isso aumenta,

por exemplo, a chance de escapar aos predadores se o ataque for antecipado pela

audição (Levitin, 2010).

Em Sweet Antecipation: Music and the Psychology of Expectation, David Huron

(2006) postula a possibilidade de o prazer musical ser oriundo da capacidade preditiva

que gera expectativas. A gratificação sentida durante a escuta musical seria fruto da

adaptação biológica de estruturas fisiológicas especializadas em fazer predições. Se um

ouvinte pode predizer o desenvolvimento de uma música, ele gera as condições para

desenvolver um afeto por ela.

David Huron defende a existência de cinco componentes que ligam expectativas

músicais às recompensas, conhecidas pelo acrônimo ITPRA. Estas incluem respostas

de Imaginação, Tensão, Previsão, Reação e Avaliação.

61

Figura 15 - Esquema sobre as expectativas, proposto por Huron (2006).

As respostas da imaginação referem-se a situações em que completamos a

música em nossa mente (antes de sua conclusão real) e motivam o organismo a

incrementar a probabilidade de resultados futuros positivos. As respostas de tensão

referem-se à preparação pré-resultado (motora e perceptiva) que ocorre em antecipação

ao próximo passo ou resolução da música. Elas preparam o organismo, adequando

atenção e excitação para os níveis de incerteza e importância do evento. As respostas de

previsão provêem reforços positivos e negativos que incentivem expectativas. São

resultados de uma comparação entre a previsão e o resultado real da música: quando a

música é predita com precisão, ela é experimentada como gratificante. As respostas de

reação refletem uma resposta rápida ao resultado real, seja positivo ou negativo.

Finalmente, as respostas de avaliação refletem a determinação consciente do significado

do resultado.

É sugerido que a dopamina seja responsável pela alteração da força sináptica em

circuitos que envolvem os mecanismos de predição, elemento fundamental na

modelagem estatística das respostas. A reação e a avaliação são processos intimamente

relacionados (Huron, 2006). Conforme Huron (2006), o erro de predição, mesmo que

positivo, desencadearia reações e avaliações de forma muito ágil, forçando o organismo

a oferecer respostas estereotipicamente rápidas a falhas nas expectativas, posto que tais

erros preditivos colocam um organismo preditor em risco. Respostas automáticas são de

extrema utilidade na sobrevivência das espécies, ainda que muitas vezes estas respostas

sejam imprecisas.

Para Huron (Ibidem), a reação rápida e automatizada ao erro de predição

fundamenta a experiência estética com a música. Quando as apostas sobre o desenrolar

62

da peça são frustradas por diferentes acontecimentos, elas evocam respostas fisiológicas

semelhantes às do medo. Uma abordagem que o autor chama de Biologia do

Pessimismo.

2.5. Biologia do Pessimismo

Quando o cérebro falha ao prever um evento, esse erro é rapidamente

interpretado por uma via rápida que oferece respostas fisiológicas automatizadas. Em

seguida, essas respostas são reavaliadas por uma via lenta, que processa o

acontecimento no córtex, bloqueando as reações iniciais, sendo elas absolutamente

primitivas: a fuga, a luta ou o congelamento. Esse tipo de resposta preventiva mostra-se

muitas vezes inadequada, porém, é preferível responder erroneamente a um risco

eventual do que não responder. Uma abordagem acurada leva tempo e o tempo muitas

vezes é um fator crucial para a sobrevivência e proteção de um organismo. Uma análise

mais precisa é feita, entretanto, pelos mecanismos de avaliação que podem modular ou

bloquear a reação prévia. A razão para essas características específicas seria a existência

de duas vias anatômicas específicas de avaliação das respostas, conforme o diagrama

abaixo:

Figura 16 - Diagrama para as vias rápidas e lentas de resposta ao medo (traduzido de Huron, 2006).

Estas respostas ao medo (por exemplo, quando escutamos um estrondo na

rua ou um barulho que não se encaixa no contexto em que nos encontramos) são,

segundo David Huron, elementos cruciais ao prazer musical. Uma mudança repentina

no desenrolar de uma peça, um erro de predição positivo, que surpreende e entra em

conflito com nossos templates armazenados, desencadearia respostas fisiológicas

63

específicas ao medo, evocando, por um curto período de tempo, a resposta da via rápida,

desencadeando respostas como o frisson, o riso ou a reverência.

São evolutivamente muito antigos estes mecanismos de resposta ao medo,

possivelmente anteriores à formação da consciência, mas que, possivelmente, devido à

eficácia de suas ações ainda são mantidos (Huron, 2006).

A ação paralela das duas vias seria responsável pelas reações

comportamentais da surpresa. Ao ouvir um estrondo, uma série de reações fisiológicas e

comportamentais são desencadeadas, como o aumento do batimento cardíaco, da

sudorese, o aumento do fluxo sanguíneo. Estas respostas são ativadas pela via rápida,

que responde cerca de 150 ms após o evento. Se o estímulo demonstrar não ser perigoso

ou ameaçador, como é o caso do estímulo musical, o processo de avaliação pondera a

reação através da via lenta, usando o hipocampo e dos córtices sensoriais, o que faz com

que a resposta seja mais precisa.

Dennis Dutton (2005) vem aquiescer com Huron no que diz respeito ao uso de

estruturas muito basais pela a apreciação estética:

“É claro que após o surgimento de uma cultura - que do

ponto de vista biológico pode ser vista, dentro de certos

limites, como uma forma de biologia - é razoável supor

que novas funções viessem a compartilhar os mesmos

mecanismos anteriormente utilizados para funções basais

de sobrevivência e conservação das espécies, embora

extremamente complexas, como comunicação e música”

(Dutton, 2005).

Os padrões de expectativa e surpresa na música são articulados numa rede

complexa de relações entre a informação prévia e as condições em que a escuta musical

se realiza. Da formulação de uma expectativa e sua violação, nasce a surpresa. Sem

expectativa, não pode haver surpresa. A surpresa ocorre, conforme Huron, quando os

dois esquemas de predição e expectativas (bottom-up e top-down) entram em conflito,

apostando em diferentes resultados para um mesmo fenômeno.

“ orque o cérebro nunca abaixa sua guarda, os músicos podem

confiar nos sons para evocar praticamente a mesma resposta

cada vez que a música é ouvida. Se a via rápida não fosse tão

teimosa em sua interpretação pessimista da surpresa, as obras

musicais familiares perderiam rapidamente seu poder para as

64

emoções de evocar frisson, risos e admiração. Claro, a audição

muda com a exposição. Mas a via rápida responde

principalmente com base em expectativas esquemáticas, e as

mudanças de esquema acontecem apenas com exposição

extensa.” (Huron, 2006, página 36).

A iminência do risco causa nos organismos três reações clássicas: a luta, a fuga

ou o congelamento. Quando bloqueadas pela via lenta, essas reações transformam-se em

surpresa. Huron postula, de forma especulativa, que seriam as discrepâncias entre as

vias que dariam origem ao prazer musical.

Huron, curiosamente, relaciona as respostas de luta, fuga e congelamento ao

frisson, ao riso e à reverência, respectivamente.

i) Luta e Frisson – As respostas de luta são agressivas e colocam em uma

postura de enfrentamento. Têm como característica o eriçamento do pêlo,

comum em estados de frisson durante a fruição musical. Indícios suportam a

ideia de que arrepios e calafrios ocorrem em função de violações de

expectativas (Sloboda, 1991), mais especificamente as violações de métrica,

na dinâmica e na harmonia (Huron, 2006).

ii) Fuga e Riso – A resposta de fuga é caracterizada pelo aumento da excitação,

bem como alterações respiratórias, partilhada pelo riso.

iii) Congelamento e Reverência – O congelamento é caracterizado pela

imobilização motora, retenção da respiração, partilhados nos estados de

reverência.

65

3. Intersecção entre Música e Linguagem

Muitas são as linhas de pesquisa que apontam para o compartilhamento de

mecanismos entre música e linguagem. É declarado que ambas valem-se da

manipulação dos diferentes parâmetros do som para sua organização, além de

compartilharem a necessidade de uma organização hierárquica, isto é, sintática que

implica em compreensão semântica (Patel, 2008). Deutsch (2010) descreveu algumas

similitudes entre os aspectos estruturais da linguagem e da música tonal.

"Ambas são governadas por uma gramática, em que os

elementos básicos são organizados hierarquicamente em

seqüências de acordo com as regras estabelecidas. No idioma, as

palavras se combinam para formar frases, que se juntam para

formar frases maiores, que, por sua vez, se combinam para fazer

sentenças. Da mesma forma, na música, as se combinam para

formar frases, que se conectam para formar frases maiores e

assim por diante. Assim, para entender o idioma e a música, os

ouvintes devem inferir a estrutura das passagens que ouvem,

usando regras que eles assimilaram através da experiência”.

(tradução livre 10

- Deutsch, 2010)

atel (2008) define sintaxe como “um conjunto de princípios que governam a

combinação de elementos estruturais discretos em sequência, como as palavras ou as

notas musicais”. Se a música tonal é estruturada a partir da noção de tonalidade, ela

apresenta uma hierarquia entre os tons, sendo a tônica notada como som principal do

sistema, ou da escala, uma espécie de refúgio para onde a dinâmica tonal, ou conjunto

das cadências harmônicas, tende sempre a retornar. De modo não-consciente, uma

descrição estrutural é atribuída aos estímulos acústicos (melodias, harmonias, cadências,

padrões rítmicos).

Embora várias linhas de pesquisa apontem para estes pontos em comum, música

e linguagem diferem em muitos aspectos. Uma grande variação de timbres é utilizada na

fala em um curto espaço de tempo, formando-se vogais e consoantes. Na música, há

maior variação de alturas e a duração de cada som é maior do que na fala. (Patel, 2008)

10

“They are both governed by a grammar, in which basic elements are organized hierarchically into sequences according to established rules. In language, words combine to form phrases, which join to form

larger phrases, which in turn combine to make sentences. Similarly, in music, notres combine to form

phrases, which connect to form larger phrases and so on. Thus, to understand either language and music,

listeners must infer the structure of the passages that they hear, using rules they have assimilated through

experience.” (Deutsch, 2010)

66

Na música, as variações de duração desempenham papel mais importante do que na

fala, tendo que ser realizadas de maneira precisa.

Além disso, a componente sintática é apenas parcialmente compartilhada entre

música e linguagem. As diferenças entre "sintaxe de linguagem" e "sintaxe músical"

podem ser encontradas em vários níveis, tanto do significado transmitido, quanto dos

átomos de combinação, por exemplo.

3.1. Hipótese do Compartilhamento dos Recursos Sintáticos

Integrados

Patel (2008) sugere que o processamento musical e o processamento sintático

linguístico compartilham a mesma área cerebral, apesar de representacionalmente

possuírem módulos distintos. Para tal, ele correlacionou estudos de amusia e a afasia,

encontrando indícios de uma justaposição das estruturas de processamento sintático da

língua e do processamento sintático musical.

Figura 17 - Diagrama de como música e linguagem se correlacionam, segundo a hipótese do recurso de integração

sintática compartilhada (PATEL, 2008).

a-) Detecção de Incongruências

A ativação simultânea de um determinado grupo de neurônios estabelece o

surgimento de pequenas correntes elétricas iônicas. Essas pequenas correntes permitem

o monitoramento o funcionamento desses agrupamentos, pela leitura dinâmica dos

influxos e efluxos iônicos, captadas por eletrodos posicionados na superfície do escalpo.

Esta técnica é denominada EEG – eletroencefalograma.

67

Nos anos 80, os estudos neurolinguísticos foram revolucionados com a

utilização de uma técnica de extração de ERP11

– Potencial Relacionado a Evento, um

método não invasivo de aquisição de sinais eletrofisiológicos obtidos em resposta a

determinados estímulos, por meio do eletroencefalograma. Um tema muito estudado

(Kuttas & Hillyard, 1980) foi o impacto de um de argumento interno incongruente em

relação à seleção semântica do verbo. Vê-se no exemplo:

a-) Maria cortou o bolo.

b-) Maria cortou o pé.

c-) Maria cortou a lua.

Os objetos diretos (a) e (b), bolo e pé, são complementos congruentes ao verbo

cortar, visto que ambos, apesar de seus diferentes significados pertencem à classe de

coisas que podem sofrer a ação do verbo: ser cortado. Diferentemente, o argumento (c)

é incongruente porque não pertence à classe de coisas que podem passar por esta

alteração de estado.

A incongruência semântica foi relacionada a um potencial elétrico negativo de

amplitude elevada e com uma latência de 400 ms após o trigger (palavra-alvo),

conhecido como N400. Verificou-se que a amplitude do pulso varia numa função

inversa à expectativa da palavra esperada para a finalização de sentenças.

Influenciados pelo experimento supracitado, Besson & Faïta (1995) realizaram

um estudo que buscava compreender se incongruências melódicas ou harmônicas, no

contexto tonal, poderiam elicitar um componente N400 – reconhecidamente sensível a

incongruências semânticas na linguagem. Foi realizado um experimento de escuta

passiva entre músicos e não-músicos, que tinham como estímulo fragmentos musicais

familiares e não familiares. A última nota dos fragmentos era manipulada gerando finais

congruentes, diatônicos e não-diatônicos, visando produzir diferentes graus de

incongruência. Vê-se abaixo alguns exemplos utilizados:

11

Event-related potenctials

68

Figura 18 - Diferentes finalizações para os fragmentos usados por Besson & Faïta (1995).

No estudo de Besson & Faïta (1995), diferentemente dos casos de

incongruência semântica na linguagem, as incongruências sintáticas na música tonal

provocaram uma componente positiva P600 que também tem sua amplitude modulada

em função inversa da congruência. No contexto da linguagem, este é um potencial

reconhecidamente relevante na audição ou leitura de erros gramaticais e outras

anomalias sintáticas.

A importância deste experimento reside na evidência empírica da existência de

uma estrutura subjacente que conduz a percepção de frases musicais (Besson & Faïta,

1995), ainda que os autores tenham detectado limitações em seu estudo. É de acordo

com esse pressuposto que vamos introduzir o conceito de Teoria Gerativa da Música

Tonal na seção a seguir.

3.2. Teoria Gerativa da Música Tonal - GTTM

Dentre as inúmeras propostas de analogias mais ou menos diretas entre regras

linguagem e as regras de um sistema musical (Winograd, 1968; Bernstein, 1976) o

tratamento sintático da música foi descrito de modo mais completo e bem-sucedido em

1983 pelos pesquisadores Jackendoff & Lerdahl em Generative Theory of Tonal Music,

ou Teoria Gerativa da Música Tonal (GTTM doravante).

Influenciados pela teoria linguística descritiva de Noam Chomsky para as

línguas naturais (que argumenta a respeito de uma gramática universal subjacente a

69

todas as línguas humanas), Jackendoff & Lerdahl defendem que a música tem uma

estrutura hierárquica análoga às construções linguísticas, com uma sintaxe associada.

Eles apresentam uma descrição da intuição musical de um ouvinte experiente (qualquer

ouvinte com uma certa bagagem de conhecimento implícito que o permita gostar de

música) através de um sistema de regras e princípios, que seriam capazes de gerar todas

as melodias do idioma musical tonal e descartar sequências sonoras que não pertençam

ao idioma, de modo análogo à agramaticalidade de Chomsky.

Para a Teoria Gerativa da Música Tonal, as regras transformacionais que servem

a Linguística permitem intercambiar as próprias funções comunicativas da música e da

linguagem. Lerdahl & Jackendoff, de modo análogo a Chomsky, buscam uma gramática

universal musical geradora de melodias. Eles associam numa mesma aplicação uma

explicação cognitiva e um paradigma composicional da música.

A base comum entre os modelos acaba por evidenciar semelhanças e distinções

entre os processamentos linguístico e musical. A hipótese é de que os mecanismos

utilizados para o processamento linguístico são parcialmente compartilhados no

processamento musical aquiescendo com a hipótese de Patel (2008). Segundo Lerdahl

& Jackendoff (Ibidem) há quatro componentes na gramática tonal, relacionadas

hierarquicamente:

Estrutura de agrupamento: os sons são agrupados em grandes cadeias.

Estrutura métrica: os pulsações da peça são hierarquizados em fracos e fortes.

Redução temporal: A estrutura rítmica é simplificada de forma consecutiva,

desvendando as estruturas mais relevantes de um agrupamento.

Redução prolongacional: A dinâmica de tensões e relaxamentos dos acordes é

percebida, conduzindo assim a direção do movimento tonal.

Por serem hierárquicos, possuem níveis de organização próprios, mas raramente

existem isoladamente na música, posto que há interação entre os diversos componentes

musicais. Além dessas componentes, os autores apresentam dois conjuntos de regras

que estabelecem critérios de coerência para as estruturas.

As leis específicas que regem cada uma das componentes musicais descritas pela

GTTM chamam-se Regras de Boa Formatividade. Entretanto, as Regras de Boa

Formatividade, por serem puramente formais, podem corresponder ou não às intuições

70

musicais efetivas. A percepção musical, assim como a visual, não agrupa eventos de

qualquer modo possível, mas em modos específicos motivados pelo todo das partes.

São as Regras Preferenciais que permitem às Regras de Boa Formatividade

serem burladas, fazendo da música um sistema de regras violáveis.

Assim, a escolha do melhor elemento dentro de um conjunto de alternativas

possíveis pode ser interpretado de acordo com Teoria da Otimalidade (Prince &

Smolensky, n.d.) uma teoria geral sobre como as gramáticas são estruturadas, que

examina as restrições de boa formação linguística, operando com restrições universais,

sendo elas: a violabilidade, a hierarquia, a relevância, a inclusividade e o paralelismo

em busca da seleção do elemento ótimo. A gramática de cada idioma musical é

determinada por diferentes hierarquias de restrições universais, uma vez que estas

restrições podem ser re-ranqueadas.

“A violação de uma restrição não é considerada uma causa

direta da agramaticalidade, assim como a satisfação

absoluta de todas as restrições não é um requisito essencial

para que os outputs sejam considerados ótimos em

determinada circunstância.” (Prince, A., & Smolensky, P.

n.d.).

Seriam, portanto, as escolhas ótimas na composição musical que viabilizariam o

prazer, ao aumentarem a entropia do sistema (as incertezas sobre o desenrolar) burlando

as expectativas tonais do ouvinte, uma vez que o melhor output de uma gramática é a

violação menos custosa do conjunto de restrições hierarquicamente organizadas por

aquela gramática em particular (Smolensky, n/d).

3.3. Modelos de Expectativas para a Melodia

No largo debate acerca dos sistemas cognitivos que envolvem a geração de

expectativas musicais, duas posições entram em disputa: a primeira consiste na

existência de um esquema com número limitado de regras simbólicas, que se pensa

serem inatas (bottom-up) e consistem em princípios da Psicologia Gestalt. A segunda

aborda as influências top-down de conhecimento estilístico adquirido por extensa

71

exposição a estímulos musicais de um determinado gênero que surgem do acesso à

memória episódica (Huron, 2006).

Para exemplificar, um processo top-down começa com o conceito, que se

detalha. Por exemplo, se eu sei que o próximo objeto que vou ver é um carro, a

expectativa vai me guiar para processar os detalhes deste carro. Já os processos bottom-

up começam pelos detalhes: eu vejo alguns elementos, vejo as rodas, os vidros, a

carroceria, então eu percebo que se trata de um carro. Essa analogia serve para nos

conduzir pelos modelos de expectativas melódicas detalhadas a seguir:

a-) Modelo de Narmour - Narmour (1992) introduziu uma teoria da melodia que

distingue dois tipos de situações melódicas. As implicativas, que evocam um forte

sentido de previsibilidade, e as não-implicativas. A teoria busca descrever que tipo de

expectativas os ouvintes desenvolvem em contextos altamente implicativos. Ele propõe

que estas são resultados de processos bottom-up e top-down. Os processos bottom-up

são independentes de um conhecimento a priori e incluem princípios que relacionam o

tamanho e a direção dos processos melódicos. Os processos top-down incorporam a

experiência prévia do ouvinte, bem como a história particular do desenvolvimento da

peça que é ouvida. O modelo de Narmour, juntamente com o modelo de Krumhanls

denominado “Teoria da hierarquia Tonal” protagonizam a base de um grande número de

pesquisas em expectativas melódicas. Esse modelo foi também estendido por Lerdahl

em Tonal Pitch Space Theory (2001), que estabelece fatores de estabilidade e

mobilidade (Aarden, 2003).

b-) Modelo de Margulis – Margulis (2005) modelou uma dinâmica de

expectativas adaptativas baseado em várias fontes de informação de alturas do som. Ele

considera quatro parâmetros principais: a estabilidade, a proximidade, a direção e a

mobilidade, bem como implementa hierarquias entre as classes. Antes das

considerações hierárquicas, os quatro parâmetros são definidos quantitativamente em

tabelas numéricas. Por exemplo: o valor de estabilidade é tomado de uma tabela que

define a força num contexto tonal. A proximidade captura a intuição dos ouvintes na

expectativa de eventos seguintes. A direção é um resultado da descrição de intervalos

melódicos. A mobilidade resulta de repetição. Para todos os parâmetros, “a

quantificação é coletada pela interpretação de resultados de experimentos pré-existentes

72

e pela consulta da intuição na tentativa de traçar a sensação de tensão das expectativas

originais” (Margulis, 2005).

O modelo de Margulis descreve três tipos distintos de reações para os ouvintes,

cada tipo derivado da tensão ouvida. Tensão-Surpresa: inversamente proporcional ao

grau de expectativa, que resulta em intensidade ou dinamismo. Tensão de negação:

proporcional à discrepância entre a expectativa do evento mais esperado e a expectativa

do fato realmente percebido. Resulta em desejo, impulso, vontade. Expectativa-

Tensão: proporcional ao grau de expectativa do evento mais esperado (em outras

palavras, se o ouvinte não tivesse idéia do que esperar, a tensão de expectativa seria

baixa). Resulta em tensão ou anseio.

c-) Modelo Generalista de Huron - Para Huron (2006), as regularidades

estatísticas ocorrem em diferentes dimensões da música tonal (melodia, harmonia,

ritmo, estrutura métrica). Ele defende que as regras perceptuais que são utilizadas para

estabelecer a tonalidade, isto é, quais notas esperar, são formadas por simples exposição

estatística. Sua aquisição se daria ainda no útero da mãe, contudo, seriam masterizadas

entre os cinco e sete anos de idade (Wiggins, 2006). Wiggins detectou a percepção de

mudança de tom em músicas familiares em crianças

3.4. Regularidades Tonais

As regularidades estatísticas do sistema tonal foram sumariamente destacadas por

David Huron. Uma síntese dessas regularidades pode ser conferida a seguir:

i. Proximidade de Altura- Há uma forte tendência ao uso de intervalos pequenos de

altura em melodias.

ii. Passo Descendente- Vos and Troost (1989) investigaram a regularidade melódica

dos padrões da música ocidental. Os resultados mostram que intervalos pequenos

tendem a ser descendentes e, como consequência, intervalos considerados grandes

tendem a ser ascendentes.

iii. Passo Inercial – O termo "step inertia", cunhado por Paul Von Hippel (2000),

73

refere-se à propriedade de organização melódica em intervalos pequenos (1 ou 2

semitons) que tende a ser seguida de alturas que seguem a mesma direção melódica

(seja ascendente ou descendente). Todavia, num estudo estatístico, Hippel

examinou amostras de melodias de um largo espectro de culturas. Ele observou que

apenas os intervalos descendentes tendem a manter a direção melódica.

iv. Regressão Melódica - Os teóricos têm observado que desde o século XVI há

uma tendência a intervalos grandes serem seguidos por uma mudança de direção

melódica. Em 1924, Henry Watt analisou amostras de peças de Schubert e Ojibway,

para confirmar tal hipótese. Os resultados demonstram que a proporção de intervalos

com mudança da direção melódica tende a ser proporcional ao tamanho do intervalo.

4. Música e Conexionismo

“Nenhuma regra precisou ser codificada para que esses

padrões emergissem, eles simplesmente refletem as

distribuições internalizadas de probabilidade através

da exposição prolongada a seqüências individuais”

(Bharucha, 1979).

Nas Ciências Cognitivas, dois paradigmas são propostos para descrever a

cognição humana: a abordagem simbólica e a abordagem conexionista. Ambos

consideram o sistema cognitivo como um sistema de tratamento de informação. O

paradigma simbólico postula a existência de representações mentais através de regras

lógicas e símbolos para explicar a aquisição e a utilização do conhecimento. O

paradigma conexionista parte da premissa de que o processamento cognitivo está

intimamente relacionado à maneira pela qual os neurônios se interconectam no cérebro.

A ideia geral do conexionismo é de que o processamento de informação do

cérebro dá-se por meio de redes neuronais – cujas células nervosas, os neurônios,

comunicam-se umas com as outras através da transmissão de impulsos elétricos (Russel

& Norvig, 2016). No interior deste paradigma, dois objetivos divergentes, mas

complementares, caracterizam o trabalho formulado no âmbito das redes neurais e da

música. Um diz respeito ao desenvolvimento de sistemas musicais inteligentes. O outro

refere-se ao entendimento de um sistema inteligente e musical específico: o cérebro

humano.

74

Os modelos conexionistas têm se mostrado bastante promissores na

compreensão dos processos subjacentes à cognição musical, à apreensão dos padrões

musicais, bem como sobre a representação desse conhecimento (Tillmann, Bharucha &

Bigand, 2001). Esses modelos, denominados Redes Neurais Artificiais (RNA) 12

são

adequados ao entendimento da cognição musical porque podem aprender as

regularidades estruturais de uma cultura musical através da exposição passiva e

formalizar esse conhecimento na conectividade da rede (Bharucha, 2014).

4.1. Modelagens da Cognição Musical em Redes Neurais

Artificiais

a-) Redes SOM e a detecção do centro tonal

É defendido pelos conexionistas que as redes neurais artificiais têm o potencial

de explicar o desenvolvimento dos esquemas cognitivos da música e a subsequente

geração de expectativas musicais baseada em esquemas (Bigand, 2000). Entre os

poucos estudos que modelaram a aquisição do aprendizado perceptual a partir de dados

musicais, a maioria empregou modelos auto-organizados (Chacón, 2017).

As redes do tipo SOM (self-organized maps) são baseadas no modelo de

aprendizagem humano, que não é supervisionado. Elas operam de acordo com modelos

de Aprendizado Competitivo, um algoritmo de aprendizado auto-organizado baseado

em dados. Nenhum tipo de etiqueta é fornecida ao algoritmo, o que faz com que ele

encontre sozinho a solução para o problema. Com este algoritmo, as unidades de rede

neural tornam-se gradualmente sensíveis a diferentes estímulos ou categorias de entrada

(Rumelhart & Zipser, 1985). A especialização ocorre pela competição entre as unidades.

Quando é recebido um input, a unidade que é mais capaz de representá-lo ganha a

competição. A unidade vencedora pode então aprender a representação deste input de

forma ainda melhor. A resposta da unidade será posteriormente mais forte para este

mesmo padrão de entrada e mais fraca para outros estímulos. Da mesma forma, outras

unidades aprendem a se especializar em outros padrões de input (Tillmann, 1999). A

topologia deste tipo de rede é de camada simples e costuma ser uni ou bi dimensional.

12

Artificial neural networks (ANNs)

75

A primeira rede do tipo SOM para detecção de inputs sonoros foi idealizada por

Teuvo Kohonen (1988) e tinha por objetivo identificar padrões vocais da fala humana.

Durante o treinamento, cada grupo de neurônios se especializava em um tipo de som e

assim identificava quando recebia os sinais de entrada. Anos mais tarde, Leman &

Carreras (1995; 1997) atualizaram o modelo de Kohonen para simular o aprendizado

perceptual de centros tonais através da apresentação de acordes de músicas reais. A

apreciação do centro tonal é um processo dinâmico e que varia consideravelmente no

decorrer musical. Primeiramente, o sinal acústico foi processado por um modelo

auditivo. A informação processada pela audição transformou-se no input da SOM,

capaz de extrair as regularidades dos padrões de inputs. Após o treino, a rede fornecia

as ativações em resposta ao estímulo, refletindo a relação harmônica dos acordes com o

estímulo. No experimento de Leman, o sinal de input foi derivado da ativação neural em

resposta a peças de Bach. Com base nas ativações, o centro tonal foi inferido e os

resultados encontrados estavam em conformidade com os estudos em Teoria Musical e

com os dados empíricos colhidos para o experimento.

Sano e Jenkins (1991) e Taylor e Greenhough (1994) também realizaram

experimentos de reconhecimento de tom. Eles formalizam como os processos de

aprendizagem podem ser direcionados por propriedades psicoacústicas de uma maneira

bottom-up (Tillmann, Bharucha & Bigand, 2000). Todavia, estes estudos focaram em

examinar acordes e centros tonais, não dando conta das relações intrínsecas entre tons,

acordes e notas e se mostraram incapazes de demonstrar como a apresentação de uma

nota num determinado contexto gera expectativas referentes aos tons aos quais aquela

nota pertence. (Krumhansl, 1990). Foram necessárias mais investigações sobre como o

conhecimento adquirido a respeito das relações entre tons, notas e acordes podem

influenciar o processamento dos eventos musicais, conduzindo à formação de

expectativas e predições. O mais famoso e expressivo desses modelos chama-se

MUSACT 13

de Bharucha (1987).

13

De “Music ctivation”.

76

b-) MUSACT – Um modelo conexionista de representação do

conhecimento da harmonia tonal

Bharucha (1987) propôs um modelo conexionista de harmonia musical, o

MUSACT, desenvolvido para capturar as intuições e expectativas de harmonia

dependentes de contexto. Para Bharucha, a capacidade de uma rede de aprender

regularidades - alterando os pontos fortes das conexões entre as unidades - permite a

visão parcimoniosa de que a cognição da música é consequência do aprendizado de

princípios gerais operando de acordo com regularidades estruturais do meio ambiente

(Bharucha, 1987).

A arquitetura da rede MUSACT é inspirada nos modelos conexionistas da

representação do conhecimento linguístico, proposto para simular a influência desse

conhecimento sobre o tratamento de palavras escritas ou faladas (Rumelhart &

McClelland, 1982; Elman & McClelland, 1984). A MUSACT é uma rede satisfeita por

restrições para explicar o tratamento da harmonia tonal, onde os estímulos são aplicados

aos neurônios de altura cromática e a resposta da rede é fornecida pela atividade dos

neurônios de acordes e tonalidades. A percepção harmônica é considerada um processo

de satisfação de restrições. Tenta-se explicar como o conhecimento musical pode ser

mentalmente representado e como, uma vez ativado por um determinado contexto

musical, esse conhecimento pode influenciar o processamento mental e as expectativas

tonais.

No MUSACT, as representações mentais de notas, acordes e tons são

organizadas hierarquicamente. A representação de um acorde é determinada tanto pelas

notas que o constituem quanto pela representação de tonalidade do contexto musical em

que se insere. A MUSACT consiste em três camadas de neurônios que representam

respectivamente as 12 alturas cromáticas, os 24 acordes maiores e menores e os 12 tons

principais. A conectividade entre essas camadas reflete as restrições elementares da

harmonia tonal ocidental, ou seja, as relações mantidas entre notas e acordes, por um

lado, e entre acordes e tons, por outro. Assim, cada neurônio de altura cromática está

conectado a todos os acordes aos quais pertence, e esses neurônios de acordes sendo

eles próprios conectados a todos os neurônios que representam os tons aos quais

pertencem.

O fluxo de informações na rede é bidirecional, a ativação é propagada tanto das

camadas mais baixas para as camadas superiores, quanto das camadas superiores para as

77

inferiores. Este mecanismo permite o surgimento de interações ascendentes e

descendentes no tratamento da harmonia.

Apresentando-se um estímulo (input) constituído por uma tríade de notas, este

ativa as células de notas correspondentes, por exemplo, C-E-G, para o acorde de Dó

Maior, conforme a imagem abaixo:

Figura 19 - Ativações bottom-up e top-down reverberadas pelo modelo MUSACT após a representação de um acorde

de Dó maior. (Bharucha, 1987)

Esta atividade propaga-se para os neurônios de acordes, que ativam os neurônios

de tom (setas pretas). O padrão de ativação então reverbera na rede retornando à camada

de acordes e notas (setas cinza) que, por manter relações harmônicas de IV e V grau

com o tom (ver o Ciclo de Quintas) são altamente prováveis de serem ativadas pela

tríade inicial.

78

O nível de ativação dos neurônios da nota (correspondente à camada de entrada

da rede) é determinado pelo estímulo, enquanto a ativação de todas as outras unidades

resulta da propagação da ativação ponderada e do declínio temporal desta.

Na fase de reverberação, desde a ativação inicial até o equilíbrio, os padrões de

ativação mudam consideravelmente. O sistema é dinâmico e seu estado muda

gradualmente, conforme a estimulação contínua. A atividade na rede é propagada de

uma maneira fásica: a ativação transmitida por uma determinada célula é proporcional à

diferença entre seu estado de ativação e os sinais que recebeu na entrada, isto é,

modulada pela mudança de ativação das outras unidades conectadas a ela. Durante cada

ciclo de processamento, a ativação de uma determinada unidade corresponde a sua

ativação durante o ciclo anterior, mais a soma ponderada das ativações fásicas que a

alcançam. A propagação das ativações fásicas continua na rede até atingir um estado de

equilíbrio estável. No estágio de equilíbrio, o estado das ativações da rede incorpora

também influências descendentes.

Este experimento tenta descrever como é possível o cérebro desenvolver uma

hierarquia tonal. Para Tillmann (s/d), o estado da rede reflete as hierarquias teóricas da

gramática musical ocidental. A idéia essencial é de que o contexto musical estabelece

uma hierarquia de tons. Certos tons musicais são mais proeminentes, estáveis e

estruturalmente significativos do que outros. As regras musicais ocidentais não são

armazenadas explicitamente, mas emergem da ativação que reverbera através de

conexões entre tons, acordes e notas. A ativação tende a diminuir com o aumento da

distância harmônica entre os acordes em função do Ciclo de Quintas, que falamos

anteriormente.

O modelo MUSACT aborda a acumulação de expectativas harmônicas ao longo

do tempo. Para seqüências de acordes, a ativação é acumulada. O nível de ativação nas

unidades de acordes é interpretado como a força das expectativas para outros acordes

recebidos - dado o contexto previamente apresentado. (Bigand, 2000).

Uma vez que o modelo tenha atingido o equilíbrio após um evento, o padrão de

ativação começa a decair exponencialmente ao longo do tempo. Se outro evento ocorrer

antes da ativação decair sensivelmente, a ativação fásica deste próximo evento é

adicionada à ativação residual do evento anterior, criando um padrão de ativação que

pode ser influenciado por uma seqüência completa de eventos (Tillmann, s/d).

São reconhecidas as limitações estruturais e funcionais do modelo MUSACT.

Ele, por exemplo, pressupõe a equivalência de oitavas e não pode explicar as diferentes

79

disposições das notas em um acorde, nem as reversões deste. O corpus de treinamento

usado nesses estudos é baseado em um modelo de harmonia clássica que leva em conta

apenas tríades, isto é, acordes de três tons e apenas os tons principais. É difícil conceber

como essa abordagem poderia ser aplicada a estilos musicais com estruturas harmônicas

muito mais complexas, como o jazz. O MUSACT não prevê uma série de fenômenos

relacionados à percepção harmônica, embora ele possa explicar certos aspectos da

hierarquia tonal, como a facilitação relativa ao tratamento tônico em relação ao

dominante e subdominante (IV, V). Além disso, quando essas três funções tonais são

comparadas com suas respectivas linhas de base, o modelo prediz corretamente a

facilidade de tratamento do tônico, mas prevê uma facilitação da inibição da

subdominante em acordes dominantes (Tillmann et al. 2008).

Outros estudos com redes neuronais abordaram o aprendizado de oitava

(Bharucha & Menel, 1996), a classificação de acordes (K. Lee, 2006), a aprendizagem

de sequências melódicas (Todd, 1991). Estudos análogos aos de Bharucha também

simularam em alto grau de complexidade a aprendizagem e percepção musical, tentando

compreender como categorizamos e memorizamos propriedades dos padrões musicais.

Griffiths (1999) também formalizou como as múltiplas relações entre tons, acordes e

notas podem ser representados em um único framework.

80

5. Discussão - Enquadramento Filosófico da Hipótese das

Expectativas: uma interpretação formalista da fruição

musical

Leonard Meyer (1956) entende que as significações expressivas da música

nascem da relação entre as estruturas formais com as expectativas do ouvinte. Esta

abordagem vai ao encontro de Hanslick (1994), para quem a o prazer na escuta musical

não emerge da indução específica de estados de humor ou emoções discretas, mas da

apreciação pura.

Em Do Belo Musical, um marco na musicologia escrito em 1854, o filósofo

austríaco Eduard Hanslick faz uma abordagem estética da beleza musical. Ele critica a

ideia de que o objetivo da música é suscitar sentimentos no ouvinte e de que o conteúdo

da música são os sentimentos. Hanlisck assume uma posição objetivista e advoga que o

conteúdo ou objetivo da música não é a expressão de emoções e esta não esta possui

qualquer significado emocional. O belo musical não depende dos sentimentos que

provoca. Ele constitui uma qualidade do objeto quando absorvido por uma faculdade

contemplativa e racional. Hanslick sublinha a objetividade, apontando para o material

musical como substrato do alicerce estético do significado musical e enfatiza a diferença

entre sensação e sentimento. A fruição do belo musical acontece em puramente função

do ato contemplativo de um ouvir atento. O sentimento é consequência do ato

perceptual que age sobre os processos fisiológicos. Diz ele: “não só para a música, mas

para todas as artes, o efeito do belo sobre o sentimento é secundário”.

O belo musical reside na contemplação pura da forma e não nos sentimentos do

compositor ou do ouvinte, que são eventos secundários. Para Hanslick, a peça sonora é

criada na fantasia do artista e será interpretada também na fantasia do ouvinte. “Diante

do belo, a fantasia não é apenas um contemplar, mas um contemplar com

entendimento”.

Filiamos-nos à perspectiva musicológica formalista e objetivista da música,

capitaneada por Hanslick e atualmente alardeada por Nick Zangwill (Zangwill, 2015), e

mais moderadamente por Peter Kivy, para a interpretação do prazer musical.

Zangwill afirma que, embora a música e a experiência musical possam manter

relações causais com as emoções e com os estados de espírito (um estado emocional ou

o humor de alguém podem fazer com que esta pessoa componha uma música, ou uma

pessoa pode entrar em um estado emocional ou de humor em virtude de ouvir uma

81

música), a experiência imediata da música não é nem uma emoção nem um humor. Isso,

evidentemente, para aquilo que denomina-se música absoluta, desprovida de letra e

referências exteriores à própria música e, por conseguinte, de conteúdo semântico.

Para Zagwill, uma vez que a música é o próprio objeto intencional da

experiência musical, ela fica impossibilitada de satisfazer as condições necessárias para

que um estado mental seja considerado emoção: possuir relações essenciais com crenças

e possuir objetos intencionais. A música não possui nenhum objeto intencional senão

ela mesma, logo não é a representação de uma emoção.

Aquiescemos com esta perspectiva por uma evidência simples: a gratificação

gerada nas vias mesolímbicas é anterior ao processamento e à avaliação emocional do

estímulo pelo córtex órbitofrontal (Kringelbach, 2014). Argumentamos que música

oferece ao ouvinte uma experiência gratificante e prazerosa porque explora a

competência do cérebro para fazer Codificação Preditiva, evoca respostas fisiológicas

semelhantes à do medo quando há um erro positivo de predição e por ele é

recompensado. A emergência de emoções é secundária a este processo.

Apreciamos música porque ela é um sistema complexo que explora a capacidade

do cérebro de ser surpreendido. Neste sentido, devemos reverência a Hanslick: para nós,

o prazer musical se relaciona mais com o desenrolar dos sons do que com as emoções

que suscita.

82

IV. Considerações Finais

O presente trabalho buscou compreender as razões pelas quais os humanos

sentem prazer durante a escuta musical. Foi detectado que a música ativa o sistema

dopaminérgico nas vias mesolímbicas, reconhecidas pelo papel neurobiológico na

sensação de prazer. É sugerido que as vias mesolímbicas geram gratificação sempre que

uma aposta sobre o desenrolar de eventos é confirmada, porém, a gratificação ocorre de

forma mais intensa quando há um erro positivo de predição, com uma resposta

dopaminérgica maior, no intuito de reforçar o comportamento adaptativo.

A aquisição de uma sintaxe musical dá-se pela apreensão das regularidades

estatísticas. As regularidades são internalizadas por aprendizagem implícita desde o

útero materno. Pela exposição à oferta estatística dos padrões musicais, criam-se

modelos mentais para a interpretação do input, desenvolvendo uma gramática subjetiva

da estrutura tonal, codificada nas conexões neuronais. O grau de subjetividade

associado a este processo cognitivo oferece dificuldade epistemológica e metodológica

na descrição de uma gramática individual. Entretanto, experimentos com redes neurais

forneceram-nos um melhor entendimento do que pode ser este processo, em especial o

modelo MUSACT de Bharucha, em que a ativação que se propaga pela rede neural

simula a influência do contexto harmônico para expectativas. As relações de harmonia

emergem da reverberação da rede MUSACT.

O modelo MUSACT integra fatores ascendentes e descendentes (bottom-up e

top-down) das duas grandes classes de estruturas cognitivas postuladas para a

apreciação musical: uma estrutura esquemática, que representa as regularidades

estruturais abstratas da música (reforçadas como gramáticas) e outra correspondente às

regularidades da própria música, das sequências particulares que a representam. O

tratamento ascendente interpreta as influências para as expectativas exercidas pelas

características psicoacústicas do ambiente auditivo e do estímulo. O tratamento

descendente daria conta das influências de conhecimentos anteriores adquiridos por

exposição a uma cultura musical.

A perspectiva integrativa permite a compreensão processamento musical como

interação entre duas gramáticas: uma individual - adquirida implicitamente - e a

gramática do idioma tonal. A gramática individual atualiza-se constantemente conforme

83

exposição, de acordo com as propostas bayesianas para o processamento cerebral,

baseado em incertezas (visto o caráter entrópico e estocástico do estímulo musical),

buscando um modelo mais preciso no processamento dos inputs sensoriais.

Possivelmente o prazer musical emerge da aliança da gramática composicional

com a gramática do ouvinte, que possibilita a expectativa. Uma peça é ouvida como

culturalmente anômala na medida em que as expectativas do ouvinte são

impossibilitadas ou sistematicamente violadas. De fato, as redes neurais demonstram

que as forças de conexão entre as unidades são minimizadas ao longo de exposição com

discrepâncias entre as expectativas geradas e as probabilidades de transição.

David Huron evidenciou algumas regularidades detectadas na composição de

frases musicais. Já Krumhansl demonstrou que quanto maior a consonância entre notas,

maior a expectativa sobre elas. Um compositor pode optar por satisfazer ou violar essas

expectativas em níveis variados, evocando, por exemplo, os diferentes graus de

consonância e dissonância no Ciclo de Quintas. O valor estético desse jogo sutil figurou

em numerosos escritos teóricos sobre composições tonais (George Mandler, 1984;

Leonard Meyer, 1956).

Todavia, porque a composição musical é feita segundo regras violáveis (regras

preferenciais), é possível incluir elementos ótimos na estrutura musical, conforme a

Teoria da Otimalidade. Esses elementos vão suscitar erros positivos de predição,

desencadeando um aumento no disparo dopaminérgico nas estruturas mesolímbicas,

despertando o Ciclo do Prazer e a resposta hedônica subsequente.

A composição que desperta mais prazer nos ouvintes é talvez aquela que recruta

de maneira mais completa seus recursos cognitivos, tais como a memória, a capacidade

de aprendizagem implícita e a realização de predições. A melhor música talvez seja

aquela cujas regras composicionais burlam as expectativas de forma ótima, subvertendo

o esquema mental do ouvinte com melhores soluções do que aquelas previstas por seu

quadro cognitivo, consoante sua gramática individual. Audições pobres e limitadas logo

são absorvidas e deixam de despertar uma maior amplitude das redes neuronais. Por

isso, quanto maior o repertório oferecido aos nossos ouvidos, tanto melhor para a

fruição musical.

84

Compreende-se a musicalidade como um fenômeno cultural inextricável ao

cérebro humano. Um produto natural e social: natural porque explora estruturas

evolutivas importantes (codificação preditiva, sistema de recompensa, aprendizagem,

resposta hedônica, resposta ao medo, estruturas da linguagem) para as quais cada

indivíduo possui uma estrutura biológica que permitem a capacidade musical; social por

se manifestar de acordo com as regras culturais pré-existentes, tais como o idioma tonal.

Ao cabo, esta pesquisa não ofereceu subsídios para concluir a respeito do caráter

adaptativo ou sobre alguma vantagem evolutiva relacionada ao fenômeno musical.

Detectamos que a música contribui para a nossa felicidade em geral, sem custos

biológicos (evolutivos) acrescidos. Se a música é um mero cheesecake auditivo ou não,

não podemos responder com esta dissertação. São necessárias outras pesquisas em

Neuropsicologia e Psicologia Comportamental relacionando, por exemplo, a escuta

musical e o aumento do comportamento cooperativo e/ou empatia entre grupos de

ouvintes, bem como investigações de análises imagiológicas dos correlatos neurais e

neurotransmissores associados a esses comportamentos.

85

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VI. Apêndice

A seguir, os resultados dos principais estudos encontrados na revisão sistemática

de literatura sobre o envolvimento de áreas cerebrais durante a escuta de música

considerada prazerosa:

Ano Autor Tarefa Método Resultados

2001 Blood et. Al Escuta passiva PET chills > controle:

striado ventral,

mesencéfalo,

amigdala, tálamo,

insula anterior,

cingulado anterior,

córtex orbito frontal

córtex e córtex pré-

frontal ventromedial

2004 Brown et al Escuta passiva

de música grega

não familiar,

mas considerada

prazerosa.

PET Agradável>

controle: 1º e 2º

córtices auditivos;

giro cingulado

subcaloso, divisão

afetiva do córtex

anterior, córtex

retrosplenial,

hipocampo, ínsula

anterior and núcleo

accumbens.

2005 Menon and Levitin Escuta passiva

de música

clássica em

contraste com

suas versões

alteradas

fMRI Foi detectada

conectividade entre

o núcleo accumbens,

a área tegmental

ventral e o

hipotálamo durante a

escuta de música

prazerosa.

2007 Miterschiffthaler et al Escuta passiva fMRI Música feliz >

Música Triste:

Giro temporal

superior esquerdo,

estriado ventral e

caudado.

2009 Schmidt and

Hanslmayr

EEG para

predizer o afeto

via estímulos

musicais através

da interpretação

do repouso

assimétrico das

ondas alfa no

córtex frontal

EEG ativações

assimétricas no

córtex pré-frontal

esquerdo e direito

em indivíduos que

relataram satisfação

e prazer na escuta

musical.

2009 Salimpoor et al Escuta passiva

de músicas

Medição de

dados

Correlação entre

prazer e excitação

95

preferidas psicofisiológicos emocional. Emoções

sentidas com grande

excitação poderiam

ser consideradas

gratificantes sem

recompense tangível.

2009 Osuch et. al Escuta passiva

de música

favorita e neutra

fMRI saudável >

deprimido: mOFC

esquerdo, Nac/VS

bilateral, mPFC

esquerdo. Não

prazeroso = Córtex

temporal medial e

globo pálido.

2010 Chapin et al Escuta passiva

de músicas com

variações

fMRI Treino musical> sem

treino: respostas

emocionais em

tempo real com

ativações do sistema

límbico e para-

límbico. A

recompensa e a

excitação dependiam

do treino musical,

bem como

facilitavam a

predição das

mudanças musicais

no tempo.

2011 Montag et al Escuta passiva

de música

favorita e

desagradável

fMRI Agradável>

desagradável:

ativação robusta do

Nacc, estriado

ventral, núcleo

caudado. Detectada

a importância da

antecipação.

Surpreendentemente:

participação da

insula na música

agradável, porque é

usualmente

relacionada ao afeto

negativo.

2011 Trost et al Escuta passiva

de músicas dos

4 últimos

séculos

fMRI Alta excitação de

emoção positiva:

estriado esquerdo e

ínsula / baixa

excitação e nostalgia

estriado direito e

COF/ alta excitação

e alegria: áreas

sensoriais e motoras

/ baixa excitação:

córtex ventromedial.

96

2011 Pereira et al Escuta passiva e

ranqueamento

fMRI Familiar = áreas

límbicas e

paralímbicas e o

sistema de

recompensa

Gostadas = córtex

cingulado e córtex

frontal, córtex motor

área de broca.

Familiaridade:

aumenta o

comprometimento

emocional do

ouvinte.

2011 Salimpoor et al Escuta passiva PET e fMRI Música prazerosa>

controle: pico de

dopamina no núcleo

accumbens.

2013 Bosch et al Escuta passiva 2 experimentos

com atividade

eletrodermal:1

com música não

familiar e outro

após o primeiro

contato.

Música familiar >

Música não familiar:

resposta

eletrodermal à

apreciação e ao

prazer.

2013 Perlovsky et al Escuta de

músicas

agradáveis e

desagradáveis

com tarefa

cognitiva de

questões

teóricas

Tarefa cognitiva

enquanto escuta

música agradável

e desagradável.

Música agradável >

música

desagradável:

valores mais altos

nas notas. Nos

resultados de

avaliação.

2013 Gold et al Tarefa de escuta

e aprendizagem

Tarefa de reforço

de aprendizagem

dependente de

dopamina.

Maior treino

musical: música

neutra para treino e é

melhor testado com

música prazerosa/

menor experiência

musical: treina

melhor com música

prazerosa e testa

melhor com música

neutra.

2014 Mantione et al Nenhum Estudo de Caso Paciente

desenvolveu um

repentino e distinto

gosto musical após a

estimulação do

núcleo accumbens.

2013 Salimpoor et al Escuta, tarefa

comportamental

e fMRI.

Ranquear as

músicas e dizer

fMRI - examinar

as respostas

neuronais a

músicas nunca

escutadas antes.

Músicas muito

desejadas> músicas

não desejadas: Giro

Temporal Superior,

NAcc, Ínsula.

97

quanto $ pagaria

por elas.

Estriado Dorsal,

Cerebelo.

Recompensa com a

música: interações

das vias

mesolímbicas e no

córtex auditivo e no

giro frontal inferior.

2014 Trost et al Tarefa de

atenção durante

a escuta ativa de

peças

consonantes e

dissonantes.

fMRI Música Consonante:

detecção de alvo

facilitada. fMRI:

ativações bilaterais

do núcleo caudado

em batidas fortes/

gânglios da base

detectavam o

processamento do

ritmo e o

processamento

emocional.

2015 Mueller K et al classificar o

estímulo

musical entre 1

e 4 (normal e

dissonante) em

várias versões

da música.

fMRI Fase inicial: estriado

ventral.

Processamento de

diferenças entre a

música para a frente

e para trás: o

hipocampo. Córtex

auditivo: versão

agradável.

2015 Chia-Wei Li et al Escutar 10

músicas

populares

FMRI -

Examinar os

correlatos neurais

nas 3 fases do

processo de

recompensa

Ganho de

recompensa e perda

de recompensa:

ativação do giro

tempoparietal

esquerdo e direito.

Antecipação de

recompensa: giro

tempoparietal

bilateral.

2015 Lawless and Vigeant Escuta passiva

em salas com

diferentes

reverberações.

fMRI Reverberação

moderada: salas

agradáveis acústicas

podem desencadear

recompensas de

antecipação em

indivíduos. 2

ativações positivas

sobre a recompensa

antecipatória.

2015 Trost et al Escuta passiva e

preenchimento

de questionário

fMRI – ISC Alta excitação:

sincronização da

ativação da amígdala

esquerda, ínsula

esquerda e núcleo

caudado direito.

98

Valência positiva:

diminui ativação na

amígdala e no

caudado.

2015 Mueller et al Escuta passiva

de músicas

instrumentais

agradáveis dos

últimos 4

séculos com

partes

manipuladas

fMRI Música prazerosa >

música

desagradável:

envolvimento do

núcleo accumbens,

estriado ventral e

amígdala.

2016 Patynem & LokkiMV Ouvir concertos

em salas

acústicas

distintas

Condução dermal A forma das salas de

concerto e suas

propriedades

acústicas afetam a

resposta emocional à

música e o prazer

sentido pelo ouvinte.

2016 Kantono et al Comer gelado

ao ouvir música

agradável e

desagradável

TDS Música agradável >

música

desagradável: maior

prazer enquanto

come-se gelado.