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Eixo Temático: 2. Dinâmica da ocupação, usos e repercussões nos domínios morfoclimáticos brasileiros. EVOLUÇÃO DO USO AGROPECUÁRIO NO PERÍODO DE 1975 A 2008 NO MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS – MT Luiz Eduardo Giacomolli Machado¹ ² Diego Botelho Cedro¹ ³ ¹Universidade Federal de Goiás - UFG Caixa Postal 131- 74001-970 - Goiânia - GO, Brasil ²Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento - LAPIG ³Laboratório de Geografia Física - LABOGEF [email protected]; [email protected] Resumo: A região central do Brasil assistiu a partir da década de 1940 uma rápida e vigorosa ocupação do seu solo por meio do grande incremento de atividades agropecuárias, da urbanização, da construção de estradas e de rodovias, o que resultou em mudanças sócio-econômicas e no rápido desencadeamento de danos ambientais. Exemplo pontual dessa dinâmica territorial no Centro Oeste brasileiro é o município de Barra do Garças, localizado na divisa entre os estados de Mato Grosso e Goiás. Devido a sua privilegiada localização geográfica o município serviu, em 1940, como base da expedição Roncador-Xingú, futura Fundação Brasil Central, que visava abrir caminho e realizar o reconhecimento oficial da nova fronteira agropecuária. A partir de 1970, Barra do Garças recebeu grande número de migrantes vindos da região sul do Brasil e grandes incentivos fiscais do governo, através do PROTERRA (“programa de impacto” do governo militar) e do POLOCENTRO (programa da SUDECO), impulsionando o município a alterar significativamente a sua cobertura vegetal nativa para dar lugar a monocultura e a pecuária de corte. Objetiva-se então, a análise dessas mudanças históricas no uso da terra do município de Barra do Garças tendo por base metodológica a comparação de imagens dos satélites LANDSAT (sensores MSS e TM) do ano de 1975 e do ano de 2008. Tais imagens foram georreferenciadas e processadas nas plataformas Envi 4.4 e ArcGis 9.2 de maneira a obter quatro classes de análise: uso agropecuário, remanescentes de vegetação, área urbana e água; e ainda, estabelecer a relação de incremento da agropecuária sobre áreas nativas entre tais anos. Isso revelou uma diminuição equivalente a 37,87% da área de vegetação natural no período em questão, representando uma área de 3261,2 Km², ou seja, 35,70% da área total do município. Conseqüência do avanço da fronteira agropecuária, as áreas mais alteradas concentram-se principalmente na porção norte-nordeste do município. Abstract: The central region of Brazil saw from the decade of 1940s a fast and forceful occupation of their land by the great increase of agricultural activities, the urbanization, construction of roads and highways, which resulted in socio-economic changes and the fast development of environmental damage. Example off this territorial dynamic in Central West Brazilian is the county of Barra do Garças, located on the border between the states of Mato Grosso and Goiás. Due to its privileged geographical location the county served in 1940, as base of expedition Roncador-Xingú, future Foundation Central Brazil, aiming to open way and achieve official recognition of the new agricultural and cattle ranching frontier. From 1970, the Barra do Garças received large number of migrants coming from southern Brazil and major tax incentives from the government, through the PROTERRA (“program of impact” of the military government) and the POLOCENTRO (SUDECO's program), boosting the county to significantly alter its native vegetation cover to make room for monoculture and cattle ranching. The aim is then to analyze the historical changes in land use in the county of Barra do Garças based on methodology of comparison of images of LANDSAT satellite (sensors MSS and TM) in the year 1975 and the year 2008. These images were georeferenced and processed in the softwares Envi 4.4 Arcgis 9.2 to obtain four classes of analysis: agricultural use, remnants of vegetation, urban area and water, and also establish the agriculture and cattle ranching increase on native areas between those years. This showed a decrease equivalent to 37,87% of the area of natural vegetation in the period in question, representing an area of 3261,2 km ², or 35,70% of the total area of the county. Consequence of the advancement of the agricultural and cattle ranching frontier, the most change areas is concentrated mainly in the north-northeast portion of the county. Palavras Chave: Fronteira Agropecuária, Incentivos Governamentais, Desmatamento.

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Page 1: EVOLUÇÃO DO USO AGROPECUÁRIO NO PERÍODO DE 1975 A … › simposio › simposio › ...2. Caracterização da Área de Estudo Foi definido como área de estudo o município de

Eixo Temático: 2. Dinâmica da ocupação, usos e repercussões nos domínios morfoclimáticos brasileiros.

EVOLUÇÃO DO USO AGROPECUÁRIO NO PERÍODO DE 1975 A 2008 NO MUNICÍPIO DE BARRA DO GARÇAS – MT

Luiz Eduardo Giacomolli Machado¹ ²

Diego Botelho Cedro¹ ³

¹Universidade Federal de Goiás - UFG Caixa Postal 131- 74001-970 - Goiânia - GO, Brasil

²Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento - LAPIG ³Laboratório de Geografia Física - LABOGEF

[email protected]; [email protected]

Resumo: A região central do Brasil assistiu a partir da década de 1940 uma rápida e vigorosa ocupação do seu

solo por meio do grande incremento de atividades agropecuárias, da urbanização, da construção de estradas e de rodovias, o que resultou em mudanças sócio-econômicas e no rápido desencadeamento de danos ambientais. Exemplo pontual dessa dinâmica territorial no Centro Oeste brasileiro é o município de Barra do Garças, localizado na divisa entre os estados de Mato Grosso e Goiás. Devido a sua privilegiada localização geográfica o município serviu, em 1940, como base da expedição Roncador-Xingú, futura Fundação Brasil Central, que visava abrir caminho e realizar o reconhecimento oficial da nova fronteira agropecuária. A partir de 1970, Barra do Garças recebeu grande número de migrantes vindos da região sul do Brasil e grandes incentivos fiscais do governo, através do PROTERRA (“programa de impacto” do governo militar) e do POLOCENTRO (programa da SUDECO), impulsionando o município a alterar significativamente a sua cobertura vegetal nativa para dar lugar a monocultura e a pecuária de corte. Objetiva-se então, a análise dessas mudanças históricas no uso da terra do município de Barra do Garças tendo por base metodológica a comparação de imagens dos satélites LANDSAT (sensores MSS e TM) do ano de 1975 e do ano de 2008. Tais imagens foram georreferenciadas e processadas nas plataformas Envi 4.4 e ArcGis 9.2 de maneira a obter quatro classes de análise: uso agropecuário, remanescentes de vegetação, área urbana e água; e ainda, estabelecer a relação de incremento da agropecuária sobre áreas nativas entre tais anos. Isso revelou uma diminuição equivalente a 37,87% da área de vegetação natural no período em questão, representando uma área de 3261,2 Km², ou seja, 35,70% da área total do município. Conseqüência do avanço da fronteira agropecuária, as áreas mais alteradas concentram-se principalmente na porção norte-nordeste do município.

Abstract: The central region of Brazil saw from the decade of 1940s a fast and forceful occupation of their land by the great increase of agricultural activities, the urbanization, construction of roads and highways, which resulted in socio-economic changes and the fast development of environmental damage. Example off this territorial dynamic in Central West Brazilian is the county of Barra do Garças, located on the border between the states of Mato Grosso and Goiás. Due to its privileged geographical location the county served in 1940, as base of expedition Roncador-Xingú, future Foundation Central Brazil, aiming to open way and achieve official recognition of the new agricultural and cattle ranching frontier. From 1970, the Barra do Garças received large number of migrants coming from southern Brazil and major tax incentives from the government, through the PROTERRA (“program of impact” of the military government) and the POLOCENTRO (SUDECO's program), boosting the county to significantly alter its native vegetation cover to make room for monoculture and cattle ranching. The aim is then to analyze the historical changes in land use in the county of Barra do Garças based on methodology of comparison of images of LANDSAT satellite (sensors MSS and TM) in the year 1975 and the year 2008. These images were georeferenced and processed in the softwares Envi 4.4 Arcgis 9.2 to obtain four classes of analysis: agricultural use, remnants of vegetation, urban area and water, and also establish the agriculture and cattle ranching increase on native areas between those years. This showed a decrease equivalent to 37,87% of the area of natural vegetation in the period in question, representing an area of 3261,2 km ², or 35,70% of the total area of the county. Consequence of the advancement of the agricultural and cattle ranching frontier, the most change areas is concentrated mainly in the north-northeast portion of the county. Palavras Chave: Fronteira Agropecuária, Incentivos Governamentais, Desmatamento.

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1. Introdução

A mudança do uso da terra e da cobertura vegetal está ocorrendo mundialmente em um passo

acelerado, principalmente nos trópicos. Estas mudanças nos ecossistemas terrestres estão fortemente

associadas aos processos de desenvolvimento sócio-econômico, a intensificação, degradação e uso

indevido da terra, principalmente em países subdesenvolvidos.

Nesse contexto, a região central do Brasil assistiu a partir da década de 1940 uma rápida e

ocupação de sua terra por meio da urbanização e do grande incremento de atividades agropecuárias, da

construção de estradas e rodovias, provocando desencadeamento de danos ambientais. A expansão da

fronteira agropecuária a partir da década citada rumo ao Cerrado se deu devido entre outros fatores à

escassez de terras desocupadas no Sul e Sudeste do Brasil, a crescente demanda populacional por

alimentos, ao valor baixo das terras “pouco produtivas” do Cerrado, além da forte atuação do Estado

com políticas voltadas à ocupação como o PROTERRA (Programa de Redistribuição de Terras e

Agroindústria do Norte e Nordeste, de 1971), e o POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento dos

Cerrados, instituído em 1975 pela SUDECO, Superintendência para o desenvolvimento do Centro-

Oeste brasileiro).

Hoje, o bioma Cerrado é um dos ‘hotspots’ para a conservação da biodiversidade mundial. Nos

últimos 35 anos mais da metade dos seus 2 milhões de Km² originais foram cultivados com pastagens

plantadas e culturas anuais e apenas 2,2% da sua área se encontra legalmente protegida (Machado et al,

2004). Entre os anos de 1970 e 1975, o desmatamento médio no Cerrado foi de 40.000 km² por ano –

1,8 vezes a taxa de desmatamento da Amazônia durante o período 1978–1988. As taxas atuais de

desmatamento variam entre 22.000 e 30.000 km² por ano (Machado et al, 2004). As transformações

ocorridas no Cerrado também trouxeram grandes danos ambientais como fragmentação de hábitats,

extinção da biodiversidade, invasão de espécies exóticas, erosão dos solos, poluição de aqüíferos,

degradação de ecossistemas, alterações nos regimes de queimadas, desequilíbrios no ciclo do carbono

e possivelmente modificações climáticas regionais.

Nesse sentido, o sensoriamento remoto orbital tornou-se uma importante ferramenta para

monitorar os recursos da terra e por possibilitar a interpretação de dados significativos de grandes

extensões geográficas. A detecção de mudanças através do sensoriamento remoto é baseada no fato de

que distúrbios no meio ambiente, tanto naturais quanto de origem antrópica, produzem variações

detectáveis na resposta espectral do alvo ou do fenômeno estudado. Torna-se possível então interpretar

cenários e criar estimativas de desmatamento em determinado local e por isso essas ferramentas são

aplicadas aqui.

Assim, o propósito deste trabalho é, com auxilio do sensoriamento remoto orbital, estabelecer

reflexões acerca do avanço agropecuário no espaço do município de Barra do Garças tendo em vista

neste município o contexto de ocupação da região e as implicações sócio-econômicas da participação

do estado no desenvolvimento regional do Centro-Oeste.

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2. Caracterização da Área de Estudo Foi definido como área de estudo o município de Barra do Garças, localizado às margens do

Rio Araguaia no estado de Mato Grosso, na divisa com o estado de Goiás (Figura 1). O município está

em uma região de origem sedimentar acidentada com serras e chapadas pertencentes ao Planalto do

Alto Xingú-Araguaia e Planalto do Médio Rio das Mortes, como a Serra das Gerais, Serra do

Roncador e a Serra Azul. As formações geológicas do município são Aquidauana, Ponta Grossa,

Furnas, Bananal e Grupo Cuiabá com predomínio de arenitos ortoquartzíticos, arenitos

conglomeráticos, siltitos, sedimentos arenosos, silticos argilosos e argilitos. O clima regional é

Tropical Continental alternadamente úmido e seco (com temperaturas médias de 24,7°) e em algumas

serras e maciços isolados chega a úmido de altitude. A pluviosidade da região varia entre 1400 e 1800

mm³, caracterizando 6 meses de seca. Os solos são predominantemente Neossolos Quartzarênico e

Litólico em relevos acidentados, como na Serra Azul e Serra do Roncador, além de Latossolos

Vermelho-Amarelo e Argissolos Vermelho-Amarelo em áreas mais planas, como na bacia do Rio

Corrente e bacia do Rio Pindaíba. A altitude em relação ao nível do mar varia entre 247 e 923 metros.

A vegetação predominante no município é o Cerrado (Savana Arborizada), com grande presença de

Campo Cerrado (Savana Parque), fragmentos de Cerradão (Savana Florestada), Matas de Galeria,

Veredas e Florestas Aluviais (Floresta Estacional Semidecidual Aluvial) nas margens das drenagens

como nos rios Corrente e Pindaíba.

A cidade é pólo turístico por apresentar grande número de atrações naturais como trilhas e

cachoeiras, águas termais, parques, grutas e cavernas, além das tribos indígenas Xavante e Bororo.

Possui uma área de 9134,8 Km², e está situado nas coordenadas 15°89'00" Sul 52°25'66" Oeste. Barra

do Garças foi emancipada em 15/09/1948 e possui uma população de 53.243 segundo o Censo de

2007.

Segundo o Zoneamento Sócio-Econômico Ecológico do Estado de Mato Grosso de 2008,

proposto pela Secretaria de Planejamento (SEPLAN) do Governo do Estado, Barra do Garças é

considerada uma unidade de planejamento estratégica por ter uma estrutura produtiva consolidada com

predominância da pecuária moderna. Seu limite municipal em grande parte abarca áreas que

necessitam da readequação dos sistemas de manejo para recuperação e/ou conservação dos recursos

hídricos, como é o caso dos formadores do Rio das Mortes, do Rio das Garças, Rio Pindaíba e Rio

Araguaia. Existem também áreas que necessitam de manejo específico devido ao ambiente com

elevada fragilidade, onde predominam formações savânicas e áreas na borda do Planalto dos

Guimarães com fragilidade acentuada.

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Figura 1. Mapa de localização do município de Barra do Garças, Mato Grosso.

2.1. Histórico do município e fatos importantes

A dinâmica da ocupação territorial de Barra do Garças remonta à época pré-colombiana,

marcada pela presença das tribos Borôros, Carajás, Caiapós, Araés e Xavantes. Segundo Valdon

Varjão (1985), historiador local conhecido, todo o Centro-Oeste, e principalmente a região do Vale do

Araguaia eram densamente ocupada pelos nativos que a partir do avanço da fronteira agropecuária e

econômica foram lentamente deslocados e dizimados pelos colonizadores migrantes. Durante a

segunda metade do século XX várias expedições chegaram à região em busca de ouro e diamantes,

cidades perdidas e tribos indígenas, o que deu origem a várias lendas sobre a região. As duas primeiras

investidas dos bandeirantes rumo aos sertões do oeste brasileiro partiram de Piratininga (hoje São

Paulo) em 1662. Uma delas era chefiada pelo famoso bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva

(Anhanguera) e outra por Manuel de Campos Bicudo, seguido por seu filho Antônio Pires de Campos.

A ocupação pela mineração vigorou e se desenvolveu de forma mais intensa a partir da primeira

metade do século XIX, corresponde ao período de 1920 a 1940, onde um grupo de garimpeiros

liderados por Antonio Cristino Côrtes e Francisco Bispo Dourado instalou-se na região à procura de

diamantes no Rio Araguaia e Rio Garças e edificaram as primeiras casas, ruas e através de propaganda

e da afluência de nordestinos deram início à povoação do lado goiano e matogrossense do Rio

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Araguaia. Cada achado valioso incentivava a vinda de mais gente; outros com certas somas de dinheiro

retornavam as suas origens levando a promoção da região. A navegação tornou-se ainda mais intensa

pelo Araguaia e afluentes, sendo responsável pelo transporte de pessoas, de produtos como o sal e

guaraná e o abastecimento de mercadorias. Nesse período a pecuária rudimentar era praticada por

alguns poucos habitantes regionais, que criavam o gado solto nos cerrados, utilizando as pastagens

nativas.

Depois da mineração, foi a Expedição Roncador-Xingú e Fundação Brasil Central, nos anos de

1940 a 1965, que trouxe fluxos intensos ao município. Em 1940 o então presidente Getúlio Vargas

idealizou a chamada “Marcha para o Oeste”, com o objetivo de desbravar uma parte do Brasil até

então desconhecida e isolada do contexto nacional, e realizar obras de infra-estrutura (como é o

exemplo da construção da BR 158 e BR 070) para permitir sua ocupação por não-índios e integrar

economicamente o Centro-Oeste ao Norte e Sul do país. O ministro da Coordenação de Mobilização

Econômica, ministro João Alberto de Lins e Barros, organizou a Expedição Roncador-Xingú, chefiada

pelo Tenente Coronel Flaviano de Matos Vanique, cuja missão era abrir o caminho e realizar o

reconhecimento oficial das áreas ocupadas pelos povos indígenas, bem como colonizar a região,

fundando núcleos e bases como alicerces de futuras cidades ao longo do eixo de penetração (Varjão,

1985). O nome da expedição foi dado em referência à Serra do Roncador, divisor de águas entre o Rio

das Mortes e o Rio Xingú, no leste do Mato Grosso.

Pelo Decreto Presidencial de n° 5.801, de 8 de setembro de 1943, publicado no Diário Oficial

da União, transformou-se a “Expedição Roncador-Xingú” em Fundação Brasil Central, considerada de

interesse militar, pois o Brasil já se encontrava em guerra contra a Alemanha e era necessário ocupar o

Norte e o Centro Oeste para acabar com interesses estrangeiros na região não explorada do Brasil e

garantir a segurança e soberania nacional. Segundo Oliveira (1976) vários navios brasileiros estavam

sendo torpeados na costa brasileira e, após a vigésima terceira vitima afundada nas profundidades de

Cabo Frio, as autoridades da cúpula, presente o Estado Maior do Exercito, chegaram à conclusão sobre

a vulnerabilidade do Governo Federal no Rio de Janeiro ou em outro qualquer ponto do litoral, e por

isso a necessidade do poder local ter um lugar que oferecesse melhor proteção: o Brasil Central. Pelo

decreto n° 5.878, de 4 de outubro de 1943, do Presidente Getúlio Vargas, a ação da Fundação Brasil

Central é transformada em Programa Integração Nacional (PIN), com finalidades de desbravar sertões

e criar núcleos populacionais na Marcha para o Oeste.

O ponto escolhido para o início dos trabalhos de penetração do desconhecido foi o povoado da

Barra do Rio Garças do lado goiano, hoje o município de Aragarças. Os caminhões e máquinas

embarcavam do sudeste por via férrea com destino à cidade de Uberlândia, e de lá seguiam ate Goiânia

e posteriormente para Aragarças, a sede da expedição. O objetivo inicial era sair de Aragarças até a

Cachoeira da Fumaça, no Rio das Mortes, e de lá alcançar Santarém no Pará, totalizando 3.000 km

(Oliveira, 1976).

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De 1965 a 1975 a colonização da região barra-garcense e do vale do Araguaia foi alimentada

pelos interesses governamentais através do PROTERRA (Programa de Redistribuição de Terras e

Agroindústria do Norte e Nordeste, de 1971), já que a venda de terras a particulares aumentava a

receita dos cofres estaduais. Assim, foram vendidas grandes extensões de terras pertencentes à União a

preços irrisórios, o que transformou a terra em moeda de pagamento de fatores eleitorais e sustentação

de grupos políticos. O governo matogrossense oferecia três tipos de loteamentos para colonização:

lotes de 20 hectares, que eram para ocupação individual destinadas principalmente para os

garimpeiros; lotes de 10.000 hectares, oferecidas aos migrantes “aventureiros” que consigo traziam

suas famílias; e lotes de 200.000 hectares para colonizadoras particulares (Abreu, 2001). “Esse foi um

processo que, na contramão do discurso de ocupação, consolidou a aglutinação de grandes porções de

terras nas mãos de poucos proprietários, já que muitos iam contra a lei e acumularam vários lotes. Isso

fez manter a antiga estrutura agrária nacional de concentração fundiária” (Abreu, 2001, p. 51). Esse

cenário trouxe, de alguma maneira, o progresso, melhorias econômicas e aumento populacional, e

também conseqüências negativas como a concentração de terras e o grande desmatamento do Cerrado.

O processo de colonização em pauta representaria uma válvula de escape, na medida em que

tinha como um dos objetivos absorver os excedentes demográficos das áreas rurais valorizadas do Sul

e Sudeste do país (Abreu, 2001). Em 1971 é realizado o primeiro projeto de colonização no município,

na localidade denominada Vau dos Pioneiros. Devido aos problemas fundiários existentes no sul do

país, produtores da região de Tenente Portela - RS, se organizam sob a liderança de Norberto

Schwantes, através da COPERCOL - Cooperativa de Colonização 31 de Março Ltda, com o intuito de

emigrar em busca de terras baratas para o plantio de arroz, a cultura em evidencia no momento. Como

as terras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná já estavam ocupadas, subiram então por

Dourados e Campo Grande, onde encontraram terra boa e barata (Schwantes, 1989). Mas como o

crédito fundiário do Programa PROTERRA (um dos chamados “programas de impacto” e de

incentivos fiscais do governo federal Médici) atingia somente a região da Amazônia Legal (ou seja,

acima do paralelo 16 e a margem esquerda do Rio Araguaia), só restava a esses produtores a região de

Barra do Garças, que estava relativamente próxima do asfalto (700km) e de um grande centro, que era

Goiânia, a 420 km (Schwantes, 1985). Importante na escolha dessa região para a implantação dos

programas de colonização, além da sua localização geográfica perto de grandes rios navegáveis, era

também a dimensão territorial do município na época, maior que os estados do Rio de Janeiro, Espírito

Santo e Alagoas juntos (nesse momento histórico Mato Grosso e Mato Grosso do Sul eram um único

estado). Somava-se 212.000 Km² de área (Varjão, 1980). Essa imensa configuração territorial de Barra

do Garças durou até meados da década de 1950, quando da área total foram desmembrados os atuais

municípios de Torixoréu, General Carneiro, Nova Xavantina, Água Boa, Canarana, São Felix do

Araguaia, Luciara, Santa Teresinha, Cocalinho, Vila Rica.

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A partir de 1974, Barra do Garças recebeu um grande fluxo migratório principalmente gaúcho e

a implantação da agricultura e pecuária moderna. Em 1967, criada pela Lei n° 5.365 na gestão Costa e

Silva, a SUDECO (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste) veio substituir a Fundação

Brasil Central, atuando mesmo a partir da década de 1970 (Varjão, 1985). Essa superintendência,

calcada no mesmo ideário desenvolvimentista e nacionalista, atuou no sentido de fortalecer os eixos de

penetração na “selva”, voltada para a migração e o escoamento da produção, ligando o Centro Oeste à

região Sudeste. “Por meio de estratégias para a agricultura e a colonização, era objetivo a maior

racionalização dos recursos e da produção e imprimir-se-ia à agricultura e a pecuária uma visão

empresarial, consubstanciada à necessidade de ampliar as relações com as multinacionais através da

introdução de novas técnicas e instrumentos de produção, bem como de ampliar os saldos da balança

comercial, aumentando a exportação” (Abreu, 2001, p. 91). A SUDECO elaborou vários planos

distintos de ação especial e direta para o Centro-Oeste, como o PLADESCO (Plano de

Desenvolvimento Econômico-Social do Centro-Oeste); o POLOCENTRO (Programa de

Desenvolvimento dos Cerrados); o PRODEGRAN (Programa Especial da Região da Grande

Dourados); PRODEPAN (Programa especial de Desenvolvimento do Pantanal) e o POLAMAZONIA

(Programa de pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia - estabelecendo uma parceria entre

SUDECO e a SUDAM). De impacto direto sobre Barra do Garças temos principalmente o

POLOCENTRO.

Criado pelo decreto n° 75.320, de 24 de janeiro de 1975, o POLOCENTRO (Programa de

Desenvolvimento dos Cerrados) foi desenvolvido especialmente para promover a ocupação das áreas

de predominância de Cerrados, que previa a incorporação de 3,7 milhões de hectares a agropecuária e

atividades florestais. As áreas de cerrados, por sua topografia não acidentada, foram consideradas

viáveis e com grande potencial para a expansão da fronteira agrícola brasileira, em função

fundamentalmente do favorecimento ao uso de máquinas e implementos agrícolas. Do ponto de vista

pedológico, os estudos e levantamentos físicos sobre a área, principalmente através da EMBRAPA

(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), classificaram os solos do cerrado como sendo de

intensa lixiviação e de uso inadequado para a produção, nas formas tradicionais de manejo. Em função

disso, concluíram que, com a utilização de insumos modernos, como o calcário, que proporcionasse a

chamada correção do solo, e fertilizantes, agrotóxicos e mecanização, seria possível o aproveitamento

de mais de 50 milhões de há para a produção agropecuária. A SUDECO previa de inicio a

incorporação em todo o centro-oeste de 1,8 milhões de hectares com lavoura comercial, 1,2 milhões de

hectares com pecuária e 700 mil hectares com florestamento (Abreu, 2001).

O censo do IBGE de 1970 indicava que 20% do total de migrantes, em todo o país, se dirigiam

para a região do vale do Araguaia. O censo registrou em 1970 uma população de 612.887 habitantes.

Em 1980 o registro populacional foi de 1.138.691 habitantes; um incremento de 525.804 habitantes

motivado pela política de imigração, de crédito, investimentos e infra-estrutura. Esse fato ratifica o

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papel assumido pela SUDECO como promotora da imigração inter-regional (Abreu, 2001). Em

contrapartida a SUDECO, no inicio dos anos oitenta tem início um processo de ocupação de áreas por

posseiros (CODERMA, 1996). Isto acrescenta ao perfil populacional e fundiário do município, além

dos sulistas, um número maior de nordestinos, goianos, mineiros, envolvidos em pequenas

propriedades irregulares do ponto de vista dos órgãos públicos. Em 1977 uma parte do estado foi

desmembrada e transformada em Mato Grosso do Sul.

Vendo esse cenário, o estado canalizou recursos para a agricultura e pecuária (inclusive em

relação à pesquisa) e incentivou as exportações, fornecendo estímulos aos produtos com preços

elevados no mercado externo, especialmente a soja, substituindo assim a agricultura diversificada e de

subsistência pela agricultura comercial de exportação - a monocultura. A produção agropecuária

impulsionou a implantação das indústrias químicas, de máquinas e implementos agrícolas, acelerou-se

a modernização das indústrias de processamento de alimentos e de transformação de oleaginosas, o

que representa uma mudança na base técnica de produção (Abreu, 2001). Hoje Barra do Garças possui

um PIB de 519.927 mil reais, e PIB per capita de 9.886 mil reais (IBGE, Censo 2006). O município

apresenta 613 estabelecimentos agropecuários, sendo 41 estabelecimentos com lavouras permanentes,

119 estabelecimentos com lavouras temporárias, 503 estabelecimentos com bovinos, somando 419.710

cabeças, e 335 estabelecimentos com produção de leite de vaca. A produção de soja chegou a 47.032

toneladas em 2007, numa área plantada 14.516 hectares, ou seja, 1451,6 Km² (IBGE, Censo 2007).

3. Metodologia

A partir do levantamento dos aspectos sócio-econômicos e históricos de ocupação da área de

estudo e a quantificação das áreas alteradas, torna-se possível a espacialização das regiões atingidas

pelo avanço agropecuário. Para tal, o presente trabalho baseia-se no método comparativo de imagens

LANDSAT MSS (Multispectral Scanner Subsystem) e TM (Thematic Mapper) dos anos de 1975

(RGB/754, de 12 de agosto) e 2008 (RGB/543 de 21 de agosto) com o fim de discriminar o avanço da

agropecuária no espaço barragarcense durante mais de três décadas.

Tais imagens LANDSAT (órbita/ponto 240/70e71 para MSS-1 e órbita/ponto 224/70e71 para

TM-5) foram registradas (RMS 0,5) com base na imagem LANDSAT GeoCover S-22-15_2000, que

vem previamente corrigida e disponibilizada no endereço eletrônico da NASA (Agência Aero-Espacial

estadunidense). Depois dessa etapa, as imagens foram mosaicadas e projetadas para UTM (Projeção

Transversa de Mercator) nas plataformas Envi 4.3 e ArcGis 9.3 para a interpretação e classificação

visual dos alvos paisagísticos, de forma que, através da vetorização desses alvos, obtivemos polígonos

segundo quatro classes: Uso Agropecuário, Remanescentes de Vegetação, Área Urbana e Água. Na

extensão X-Tools do software ArcGis 9.3 os polígonos obtidos receberam cálculo de área em hectares

e Km², possibilitando a comparação entre os anos.

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As técnicas de interpretação, classificação e vetorização de imagens utilizadas nesse trabalho

visam o reconhecimento de objetos, em função de determinado critério de decisão, agrupando em

classes os objetos que representam similaridade em suas respostas espectrais (Florenzano, 2007).

Interpretam-se elementos da imagem como tonalidade/cor, textura (impressão de rugosidade),

tamanho, forma, sombra, altura, padrão (arranjo espacial dos objetos), localização e contexto

(Florenzano, 2007). O conhecimento prévio da área estudada, feito também através de várias visitas de

campo e coleta de fotografias, é indispensável para o processo de interpretação e aumenta ainda mais o

potencial de leitura da imagem.

Vale ressaltar que a vetorização manual dos alvos segundo a resolução espacial de 79 metros

do sensor MSS (RGB 754, de 12 de agosto de 1975) e 30 metros do sensor TM (RGB 543 de 21 de

agosto de 2008) torna-se pouco precisa em certos espaços por se tratar de imagens de média resolução,

principalmente nas imagens de 1975, bastante deterioradas. Temos ainda outros fatores de confusão

como a mistura espectral de cada pixel das imagens, que não são totalmente puros e representam uma

soma integrada das radiâncias dos diferentes materiais que compõem a área imageada (vegetação, solo,

sombra), além da contribuição atmosférica, que interfere na trajetória da radiação (Shimabukuro e

Smith, 1991).

Figura 2. Mapa de uso do solo de Barra do Garças – MT. Agosto de 1975.

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Figura 3. Mapa de uso do solo de Barra do Garças – MT. Agosto de 2008.

Utilizamos também dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) para elaboração do

sombreamento das quebras naturais do relevo, chamado Hillshade. Esse produto, elaborado na

extensão 3D Analyst do software ArcGis 9.3, foi associado aos mapas de uso da terra por meio de

transparência para dar idéia da localização das chapadas, serras e escarpas, enfim, as feições do relevo.

O Hillshade cria um relevo sombreado a partir de uma grade considerando o ângulo de iluminação do

sol e sombras. Esse sombreamento é uma técnica usada para criar uma visão realista de terreno criando

uma superfície tridimensional a partir de uma exibição bidimensional do mesmo.

4. Resultados e Discussões: A partir da vetorização das classes sugeridas, temos como produto final dois mapas temáticos

na escala de 1: 100.000 para a imagem MSS (figura 2) e 1: 50.000 para a imagem TM (figura 3). Tais

mapas apresentam os índices comparativos com relação ao uso da terra em Barra do Garças entre tais

anos, e nos mostra mudanças consideráveis na área de uso agropecuário, uma das quatro classes

geradas. Esta evoluiu de 5062 hectares, ou 506,2 Km² em 1975 para 37366 hectares, ou 3736,6 Km²

em 2008 (tabela 1), o que representa um avanço de 3230,4 Km² ou 32304 hectares da área com esse

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tipo de uso, concentrado principalmente a leste (na região da bacia do Rio Corrente) e norte-nordeste

do município, na região da bacia do Rio Pindaíba.

Tabela 1. Comparação de dados de uso da terra em 1975 e 2008.

Classes 1975 2008 Aumento real (Km²)

Aumento real (%)

Área (Km²)

Área (%)

Área (Km²)

Área (%)

Uso Agropecuário 506,2 5,54 3736,6 40,9 3230,4 638,16 Vegetação Remanescente 8612,2 94,28 5351 58,58 -3261,2 -37,87 Área Urbana 3,9 0,04 22,7 0,27 18,8 482,05 Água 12,5 0,14 24,5 0,25 12 96 Área Total do Município 9134,8 100 9134,8 100

Esse avanço considerável pode ser atribuído ao processo histórico de ocupação do espaço

barragarcense, tomado por programas de desenvolvimento que promoveram a ocupação na região,

introduzindo desta forma, num primeiro momento a agricultura (com o arroz e mais tarde o soja) e

posteriormente a pecuária de corte; alia – se a isso também algumas características físicas da porção

leste – norte - nordeste do município, que está inserida na planície do Vale do Araguaia, região de

relevo plano com altitudes entre 200 e 300 metros, favorável à agricultura mecanizada e que concentra

solos dos tipos Latossolos Vermelho e Latossolos Vermelho-Amarelo, de bom potencial agrícola

mediante correção da acidez. Entretanto, mesmo com solos aptos para produção, esta atividade ainda é

secundária, perdendo para a pecuária bovina de corte, umas das principais atividades econômicas do

município, facilmente observada através das áreas de pastagem identificadas nas imagens analisadas.

A pecuária é responsável também pelo avanço das áreas com massa de água – de 12,5 Km² em 1975

para 24,5 Km² em 2008 -, já que represas são construídas nas áreas de pastagem para colaborar no

processo de nutrição do gado e também do solo, no sentido de mantê-lo favorável ao crescimento de

capim para o gado. Algumas áreas de relevo dissecado significantes, localizadas na porção central do

município, como a chapada ou compartimento de cimeira da Serra do Roncador, também sofreram

alterações na sua cobertura vegetal natural com o objetivo de estabelecer ambientes de pastagens para

a criação de gado e pequenas propriedades com criação de suínos e aves ou cultivos de menor escala

como hortaliças.

Observa-se também um crescimento relevante da área urbana, que possuía uma área e 3,9 Km²

em 1975 e em 2008 possuía 22,7 Km². A necessidade de gerar moradias às pessoas que migraram para

essa região em busca de emprego, a criação de novos setores para a economia local, melhorias na

infra-estrutura, entre outros fatores, acabaram por fazer de Barra do Garças pólo da região do

Araguaia-Tocantins de acordo com o Zoneamento Ecológico-Econômico Ecológico do estado do Mato

Grosso e aumentar seu perímetro urbano.

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Em contrapartida à alteração acentuada da cobertura vegetal em áreas agora destinadas à

produção de carne e grãos, temos grandes faixas de terras conservadas por estarem protegidas por lei,

como é o caso das terras indígenas Merure e São Marcos e a Áreas de Proteção Ambiental Pé da Serra

Azul (tabela 2). Estas somam 2176,3 Km² ou 21763 hectares, dos 3174,7 Km² de vegetação

remanescente e trazem a tona a problemática do papel das áreas indígenas e sua importância na

conservação do meio ambiente.

Tabela 2. Relação de Áreas Preservadas em 2008.

Áreas Preservadas - 2008 Área (Km²)

APA Pé da Serra Azul 110,2 T.I Merure (Bororo) 524 T.I São Marcos (Xavante) 1813 Total de Áreas Preservadas 2176,3 Área de Vegetação Não-Preservada 3174,7 Vegetação Remanescente Total 5351 5. Conclusões:

O estado participou ativamente no desenvolvimento da região de Barra do Garças através de

investimentos em infra-estrutura, incentivos fiscais, programas e pesquisas, que conjugados com o

capital privado nacional e internacional possibilitaram a consolidação da agropecuária moderna.

Entretanto, as estratégias para a modernização da região de Barra do Garças e do Cerrado têm visado

principalmente o aumento da produção não questionando os efeitos ambientais. Esse uso irracional dos

recursos naturais pela modernização agropecuária tem comprometido profundamente o bioma do

Cerrado, causando os mais variados impactos ambientais, como desflorestamento.

Em Barra do Garças, de uma área total de 9143,8 Km², apenas 5351 encontram-se nativas,

tendo em vista que dentro desses cálculos de remanescentes encontram-se ainda áreas indígenas e

áreas de preservação permanente como a APA Pé da Serra Azul, que contabilizam 2176,3 Km².

Apesar disso, muitas áreas que também se incluem na legislação como APP´s, como as margens de

drenagens e nascentes, não estão mais preservadas, cabendo aos órgãos responsáveis maior atuação

para conter o avanço desenfreado do desmatamento e evitar danos ambientes diversos como a

degradação e compactação dos solos, poluição das águas e dos solos e conseqüentemente a perda da

biodiversidade, decorrentes dessas atividades. Carvalho et al., (2006) é categórico ao alertar que o fato

do desnudamento e uso do solo em nível de vertentes somados ao gradiente elevado de chuvas do

Cerrado, à declividade e a forma dessas vertentes, implicam em mudanças do escoamento superficial

da água e aceleração nos processos de fragilização, empobrecimento e de erosão dos solos.

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Este cenário de desmatamento é uma tendência para um futuro próximo no município, pois a

política econômica nacional incentiva cada vez mais a produção agropecuária e Barra do Garças está

inclusa em um tradicional eixo de exportação de carne bovina formado por Minas Gerais, Goiás, Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul.

6. Referências Bibliográficas

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