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8/6/2019 ET-032 Telma Maria Sousa Dos Santos
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URBANIZAO TURSTICA E A PRODUO DO ESPAO NOS
CENTROS DO LAZER: UM ESTUDO SOBRE PRAIA DO FORTE BAHIA
Telma Maria Sousa dos Santos
Prof(a). Dra. Universidade Estadual de Feira de Santana - Bahia - Brasil
A urbanizao turstica se apresenta como um fenmeno novo, capaz de
produzir caractersticas particulares na paisagem urbana. Neste contexto, os
centros tursticos apresentam uma nova forma de arranjo espacial, onde
predomina o consumo em atividades de lazer e entretenimento, na medida em
que so organizados espaos para atender as necessidades dos visitantes.
Praia do Forte um exemplo concreto do que vem ocorrendo no
territrio brasileiro, devido expanso da atividade turstica no litoral. Esta
simples localidade praiana, localizada dentro dos limites da Fazenda Praia do
Forte, transformou-se ao longo das ltimas duas dcadas, em um importante
destino turstico nacional e internacional.
Os rumos dessa comunidade de pescadores e agricultores comearam a
mudar no ano de 1970, quando as fazendas Praia do Forte, Camurujipe, Covo e
Passagem Grande num total de 5.600 hectares e 12 quilmetros de praia foram
vendidas pelos filhos do coronel Otaclio Nunes de Souza para o engenheiro
paulista descendente de alemes Klaus Peters, empresrio do ramo de materiais
eltricos para iluminao pblica e industrial.
Reconhecendo o potencial de Praia do Forte para o turismo, por suas
belezas naturais, riqueza em fauna e flora e ainda contar com relquias
histricas e culturais, Klaus Peters procurou transformar a localidade num plo
de turismo ecolgico e histrico-cultural nacional e principalmente internacional
a mdio e longo prazo, ao investir grande soma de recursos financeiros numamplo empreendimento turstico-hoteleiro e imobilirio.
Ao empregar pioneiramente na Bahia o conceito de turismo sustentvel,
ou seja, aquele que enfatiza a satisfao das necessidades dos turistas, ao
mesmo tempo que procura preservar as regies de destino (OMT apud
SILVEIRA, 2001), Klaus Peters utilizou intensivamente o discurso da
sustentabilidade ecolgica e como estratgia de marketing a preservao
ambiental. Nesse contexto, o slogan amplamente disseminado pelos annciospublicitrios sobre Praia do Forte Preservar para usufruir.
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Em muitos lugares onde o turismo controlado por agentes externos e no
h a participao efetiva da comunidade local, o discurso da sustentabilidade
ambiental pouco tem contribudo para a manuteno das condies ambientais,
na prtica, as aes de agresso ao meio ambiente continuam sendo criadas
apesar do discurso preservacionista. Em virtude disso, nesses lugares, o discurso
da sustentabilidade ambiental tem representado mais uma maneira eficaz de
utilizar os recursos naturais para viabilizar a explorao econmica, na medida em
que como qualquer outro produto, a natureza concebida como mercadoria a ser
consumida (RODRIGUES, A. M., 1997).
Para concretizar a idia de transformar a localidade de pescadores em
destino turstico ecolgico nacional e internacional, o empresrio Klaus Peters
contratou no final dos anos 70 o arquiteto paulista de projeo internacional
Wilson Reis Netto, com a finalidade de planejar o mega empreendimento
imobilirio e turstico-hoteleiro.
Coube ento ao arquiteto criar um amplo planejamento territorial
denominado Master Plan, que contempla aspectos ambientais e urbansticos,
visando intervir tanto na rea de maior concentrao residencial, ou seja, no
ncleo central e arredores, bem como nos demais espaos que compem a
fazenda Praia do Forte.
1. MASTER PLAN - PLANEJAMENTO TERRITORIAL E URBANSTICO DE
PRAIA DO FORTE
O Master Plan teve como principal objetivo ordenar o territrio da
fazenda Praia do Forte para a implantao de hotis, resorts, pousadas,
grandes condomnios, residncias e demais equipamentos tursticos.
Praia do Forte desencadeou seu processo de urbanizao turstica apartir da interferncia do grande capital imobilirio. Atravs do planejamento
privado, houve uma mudana na estrutura espacial do lugar, substituindo as
antigas formas e usos por elementos novos que vo atender as necessidades
da atividade turstica.
Para gerenciar o Master Plan foi criado por Klaus Peters em 1981 a
Fundao Garcia Dvila [...] com o objetivo de administrar a rea, executar os
projetos e os empreendimentos tursticos, hoteleiros e imobilirios, tornando-seo principal agente transformador deste espao(GOMES SOBRINHO, 1998,
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p.61). Para coordenar a venda de lotes em Praia do Forte, a Fundao Garcia
Dvila criou a empresa Landco Empreendimentos Imobilirios.
No Master Plan (PORTAL PRAIA DO FORTE IMVEIS, 2006) foram
definidas grandes reas ao norte e ao sul, ao longo da faixa costeira de Praia
do Forte para a implantao dos mega-projetos imobilirios e turstico-
hoteleiros. Os projetos devero ser executados em duas fases, de acordo com
as demandas e a consolidao do mercado, segundo estudos desenvolvidos
por empresas de consultorias especialmente contratadas pela Landco,
Na primeira fase do projeto foram definidas reas nas pores norte e
oeste de Praia do Forte para a instalao de 10 hotis, parques, reas
residenciais, dois campos de golfe, vila de apoio, um Sea Aquarium, um mini
shopping e uma base para barcos no rio Pojuca, alm de outros equipamentos
complementares.
Na segunda fase foram reservadas reas na poro sul de Praia do
Forte para a implantao de trs hotis: um beach resort com 250
apartamentos, um golf resort com 200 apartamentos e um convention
conference resortcom300apartamentos, alm de um campo de golfe de 18
buracos, um beach club, um ecolodge, um hotel com 25 sutes tipo relais
chateauxcom um restaurante gourmet, um Spa e uma academia de esportes e
ginstica. Esta proposta est expressa no mapa do Plano Diretor da fazenda
Praia do Forte (figura 1), que delibera sobre o uso do solo na localidade.
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Figura 1 Plano Diretor da Fazenda Praia do Forte
Fonte: URPLAN Urbanizao, Planejamento e Arquitetura, 1992-94.
No mapa acima pode-se observar que grande parte das terras ao norte e
ao sul da fazenda Paia do Forte foram reservadas principalmente para a
instalao de resorts e grandes hotis, assim como para a implantao de uma
ampla estrutura de lazer e entretenimento. Pode-se observar tambm, na rea
de expanso urbana nas proximidades do ncleo de Praia do Forte, espaos
reservados para a construo de loteamentos residenciais, condomnios
fechados como so encontrados hoje na paisagem urbana da localidade.
Segundo declarao feita pelo corretor de imveis da Landco, a
construo de loteamentos residenciais prximo ao ncleo antigo, teve como
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objetivo no deixar a localidade crescer desordenadamente, para manter suas
caractersticas de pequena comunidade de pescadores.
Esse processo demonstra a estratgia do empreendedor para evitar que a
localidade no crescesse horizontalmente, fazendo com que os lotes no se
desvalorizem no mercado, criando assim um mecanismo de controle do uso do
solo em Praia do Forte.
No entanto essa estratgia no conteve o crescimento vertical, pois
percebe-se na paisagem urbana, um grande adensamento habitacional, fruto
do movimento da populao local para resolver a questo habitacional no
ncleo antigo. Esse processo faz com que nessas reas, (devido falta de
espao para as construes da comunidade tradicional), a paisagem tenha
uma feio semelhante encontrada na periferia dos grandes centros urbanos.
Como foi definido no Master Plan e no Plano Diretor de Praia do Forte, a
rea norte recebeu recentemente um grande empreendimento hoteleiro com
2.000.000 m2 o ResortIberostarBahia Golf & Spa, de investidores espanhis.
O resortpossui uma estrutura gigantesca dividida em trs etapas: a 1
etapa, j em funcionamento, composta por hotis cinco estrelas com 400
unidades, reas de esporte e lazer e campo de golfe com 180 buracos, a 2
etapa ir compreender mais 400 unidades, centro de convenes e Spa a beira
mar e a 3 etapa ir contar com um condomnio de casas com 208 residncias,
(BELM, 2005b). Ainda segundo informaes das agncias de turismo de
Salvador, o grupo Iberostar ir manter quatro vos charters da Europa para
Salvador toda a semana, de onde os turistas se deslocaro de nibus para o
empreendimento.
No Zoneamento Ecolgico-Econmico da APA Litoral Norte, O Resort
Iberostaresta localizado em rea definida como Zona de Proteo Rigorosa,com uso permitido apenas para a contemplao, pesquisa cientfica e trilhas
ecolgicas controladas, ficando expressamente proibidas as atividades
antrpicas que importem em alteraes da flora e fauna, ou dos atributos que
lhe conferem especificidade (CONDER, 2001).
Assim conforme consta no Plano de Manejo da APA Litoral Norte, esta
rea no deveria ser ocupada por nenhum tipo de empreendimento turstico-
hoteleiro e imobilirio, pois contm formao dunares, lagoas, brejos,
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manguezais e condes litorneos, portanto uma rea de grande fragilidade
ecolgica e ambiental.
Esse processo altamente impactante ao meio ambiente coloca em
contradio o discurso de proteo ambiental e de integrao harmoniosa do
homem com a natureza em Praia do Forte. Para a concretizao dessa
imagem muito contribuiu o padro urbanstico criado pelo empreendedor, o que
colaborou para a consolidao do modelo turstico proposto para a localidade.
1.2 O plano Eco Urbanstico de Praia do Forte
Segundo a Landco (PORTAL PRAIA DO FORTE IMVEIS, 2006), o
plano urbanstico de Praia do Forte teve como objetivo preservar ascaractersticas originais do lugar, na perspectiva de harmonizar a ocupao
humana paisagem local, bem como, conservar as reas verdes existentes.
As construes erguidas nos loteamentos sejam casas, pousadas,
hotis e demais edificaes devem seguir o padro construtivo j existente em
Praia do Forte, na tentativa de fundir as novas construes com as moradias
tradicionais.
Neste sentido o plano urbanstico de Praia do Forte se enquadra aomodelo ambientalista proposto, ao valorizar a tpica paisagem natural e buscar
adequar as novas edificaes s construes tradicionais j existentes na
localidade.
Foram priorizadas na maior parte das terras do loteamento Praia do
Forte o uso residencial, em seguida foram selecionadas reas verdes e ruas e
por fim as reas destinadas ao lazer e ao turismo em geral, como sintetiza a
tabela 1.
Tabela 1 Distribuio das terras no loteamento Praia do Forte
Fonte: Prefeitura Municipal de Mata de So Joo, 1979.
Distribuio das terras rea por hectare %Residencial 867.19 48,46reas verdes e ruas 536.82 30,00Lazer e turismo 248.64 13,90
rea do Parque Garcia Dvila 69,80 3,90
reas institucionais 43.35 2,42
rea comercial 23.57 1,32
rea total 1.789,37 100
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Analisando o uso e ocupao do solo no loteamento Praia do Forte pode-
se observar que as reas destinadas ao uso residencial foram reservadas
principalmente para a construo de segundas residncias, em condomnios de
luxo de alto padro construtivo, direcionadas aos veranistas nacionais da classe
alta e mdia alta predominantemente de Salvador. Esse processo est
diretamente relacionado proximidade de Praia do Forte com Salvador, visto que,
em geral, as residncias secundrias tm um uso freqente, bem como a
metrpole possui demanda com condies financeiras capazes de assumir os
gastos com o imvel de lazer como destaca Cruz (2000, p.24):
As segundas-residncias localizam-se, em geral, em reas
relativamente prximas s residncias primrias de seusproprietrios porque se destinam a um uso freqente. Almdisso, somente podem acontecer com expressividade ondehouver demandas solvveis, capazes de arcar com os custosde um segundo imvel.
Esse processo demonstra a importncia da Regio Metropolitana de
Salvador como plo emissor, capaz de induzir a constituio de reas em Praia
do Forte destinadas a residncias secundrias e voltadas para atender a
clientela que habita essa regio.
As reas de lazer e turismo foram reservadas essencialmente
instalao do conjunto turstico-hoteleiro, para a construo de hotis e
pousadas sofisticadas tambm destinadas ao pblico de grande poder
aquisitivo nacional e estrangeiro.
Sobre a implementao da infra-estrutura bsica no loteamento, ela foi
executada em parte, pois no foi realizado pela Landco o calamento e o
sistema de esgotamento de guas pluviais, apesar de serem condiesprevistas para a liberao do loteamento na prefeitura de Mata de So Joo.
Para a administrao municipal este fato foi resultado da falta de
fiscalizao junto imobiliria, pois a Prefeitura na poca (ligada politicamente
ao empreendedor) no exigiu da mesma o cumprimento de suas obrigaes
legais, bem como, a no aplicao de sanes previstas, ou seja, a absoro
pelo municpio da rea em questo, caso no fosse cumprido esta clusula do
acordo.
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Segundo o arquiteto Pablo Sandiano, assistente de Wilson Reis Netto na
elaborao do Master Plan, os lotes da 1 e 2 etapas do loteamento Praia do
Forte esto localizados junto ao ncleo central de Praia do Forte e possuem
um tamanho menor, aproximadamente entre 350m2 a 400m2. Estes lotesforam
distribudos em duas reas residenciais denominadas condomnio Aldeia do
Pescadores e condomnio Porto das Baleias. Na 3 etapa do loteamento, os
lotes so maiores, possuem entre 800m2 a 1000m2 e esto localizados na rea
mais afastada do ncleo central, concentrados no condomnio residencial
Etapa das Piscinas.
Segundo Sandiano, os lotes apresentam tamanho cada vez maior,
medida que se afastam do ncleo central de Praia do Forte. Esta lgica, na
perspectiva do empreendedor, visa criar uma harmonizao na paisagem
evitando o contraste visual, ou seja, a presena de casas simples prximo a
manses, o que iria de encontro idia de integrao entre as construes
antigas e as novas.
Ao analisar o plano urbanstico pode-se considerar que a proposta de
afastar as residncias maiores e mais sofisticadas do ncleo antigo uma
forma de segregar espacialmente os veranistas de elevado poder aquisitivo,
dos moradores tradicionais, a partir da criao de espaos especialmente
selecionados para a clientela de maior poder aquisitivo em Praia do Forte.
Esse processo uma forma de auto-segregao (SOUZA, 2000), ou
seja, resultado do confinamento de grupos sociais abastados em
condomnios residenciais fechados, na perspectiva de obter exclusividade
social, para se afastar das camadas sociais de menor poder aquisitivo, do seu
padro esttico e da violncia urbana, criando territrios privados e exclusivos.
A seletividade social em Praia do Forte teve incio a partir do controlesobre aqueles que desejavam adquirir lotes na localidade, para serem includos
na chamada comunidade ecoturstica, por isso, foi criada uma triagem dos
compradores relacionada a critrios econmicos e culturais.
No que se refere ao critrio econmico o candidato deve possuir uma
elevada renda salarial para comprar terras em Praia do Forte, uma vez que os
lotes residenciais localizados a 300 ou 400 metros distantes da praia custam
em torno de 200 reais o metro quadrado, os lotes a beira-mar 600 reais o metroquadrado e os lotes comerciais (os menores) em torno de 300 reais o metro
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quadrado. Segundo o corretor da Landco no existem mais espaos
disponveis para serem comercializados no ncleo antigo.
Pelos dados apresentados, para adquirir um lote, seja residencial ou
comercial em Praia do Forte, deve-se ter uma renda compatvel aos padres
da classe mdia alta, visto que os terrenos apresentam um valor extremamente
alto no mercado devido a forte especulao imobiliria local, o que caracteriza
a localidade como um espao elitizado voltado para esse estrato social.
No que diz respeito aos critrios culturais, segundo Sandiano, est
relacionado ao comprador ter como filosofia de vida a proposta ambientalista e
as idias de preservao e conservao ambiental, para que assim possa se
adequar ao modelo ecolgico proposto para a localidade.
Nessa perspectiva muitos turistas de grande poder aquisitivo que
visitaram o lugar passaram a adquirir lotes tornando-se veranistas e assduos
freqentadores de Praia do Forte. Assim as reas vazias dentro e fora da rea
central de Praia do Forte foram ocupadas por flats, villages e apartamentos
para temporada. Recentemente esse processo vem se expandindo
consideravelmente, com a construo de novos empreendimentos imobilirios,
alguns em construo e outros ainda em fase de licenciamento na prefeitura de
Mata de So Joo.
Assim Praia do Forte vem apresentando nos ltimos anos um grande
nmero de condomnios e novas construes, impulsionadas pelo acelerado
processo de urbanizao turstica. Este processo tem resultado em um grande
adensamento habitacional nos arredores e no ncleo central, o que tem gerado
problemas segundo a populao local, na capacidade de suporte da infra-
estrutura bsica como no abastecimento de gua e no escoamento dos
efluentes sanitrios.A urbanizao turstica tambm criou uma feio mais moderna a
paisagem urbana de Praia do Forte, onde predominam construes sofisticadas
de alto padro construtivo, tpica de espaos tursticos onde o consumidor
possu grande poder aquisitivo.
Para ordenar e padronizar as antigas e novas construes em Praia do
Forte foram criadas pelo empreendedor restries urbansticas, que seguem o
modelo turstico proposto para a localidade.
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De acordo com a Landco, as restries visam assegurar o padro de
qualidade urbanstica nas reas residenciais e nos empreendimentos
hoteleiros, evitando a poluio ambiental, sonora e visual, bem como, a
descaracterizao do ambiente natural.
1.3 As restries urbansticas e a construo da paisagem urbana de
Praia do Forte
As restries urbansticas correspondem a um conjunto de normas a
serem cumpridas e respeitadas em contrato por aqueles que adquirem terras
no loteamento Praia do Forte. Segundo a Landco, elas tm como base o
cdigo de obras da prefeitura municipal de Mata de So Joo e o ZoneamentoEcolgico-Econmico da APA Litoral Norte, como pode ser visto nos itens
abaixo:
No contrato de compra e venda tambm so definidos os materiais de
construo a serem utilizados pelo proprietrio do imvel, que, segundo a
Fundao Garcia Dvila e a Landco, devem ser condizentes com a tcnica de
construo popular que caracteriza a construo na regio, a saber:
1. Telhas tipo colonial de barro ou cobertura de palha;
2. paredes e colunas de alvenaria, caiadas ou colunas de madeira;
3. estruturas, esquadrias, colunas, vigas e tesouras aparentes demadeira, com tratamento rstico e cor natural;
4. portas e janelas devem ser de cores integradas;
5. pisos cermica rstica, pedras, tijolos, tabuas polidas, cimento.
Segundo a Landco, em caso do no cumprimento das normas o
comprador sofria sanes com base no Cdigo Tributrio Municipal de Mata deSo Joo na forma de embargo, multa, demolio e em caso de reincidncia,
ser cancelado o contrato, com perdas e danos a serem apurados em ao
prpria. Em caso de infrao cometida, o infrator pagar a Landco uma multa
correspondente a 1% (um por cento) do valor da venda, independentemente do
quanto foi previsto no item anterior.
Analisando a restries urbansticas criadas pela Landco para Praia do
Forte, o que se observa um forte controle por parte do empreendedor-loteantejunto ao comprador, pela imposio de normas que devero ser seguidas nas
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edificaes e no espao construdo, ao definir em contrato o que poder ser
utilizado nas edificaes e como poder ser construdo dentro de cada lote e nas
reas em comum em Praia do Forte.
Alm das transformaes desencadeadas pela insero do turismo em
Praia do Forte, a paisagem urbana local sofreu profundas modificaes a partir
da concluso em 2001 das obras promovidas pela Companhia de
Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) atravs do projeto de
urbanizao e recuperao paisagstica elaborado para a localidade, em
parceria com a Fundao Garcia Dvila.
Como Praia do Forte um destino-ancra prioritrio para o estado, o
projeto de urbanizao estava contido nos planos do PRODETUR - Ba, de
onde foram utilizados recursos financeiros provenientes do programa de infra-
estrutura, que contemplava investimentos nas reas de saneamento, energia,
transporte, patrimnio histrico, meio ambiente e desenvolvimento urbano.
Como a localidade foi classificada no zoneamento do PRODETUR como
centro turstico, as obras tinham, segundo as diretrizes do projeto, como
finalidade transform-la em vila turstica, ou seja, [...] oportunidades de
consumo, divertimento, contato scio-cultural diversificado, bem como opo
populao local para desenvolver empreendimentos que requeiram menor
capital, como bares, restaurantes, pequenas pousadas e lojas de artesanato
(BAHIA, [s.d.]).
O novo espao gerado no ncleo central de Praia do Forte
essencialmente direcionado ao consumo de massa. Nesta rea, principalmente
na Alameda do Sol, h uma forte concentrao de atividades urbanas como
meios de hospedagem, casas comerciais, banco 24 horas, agncias de
viagens, equipamentos de restaurao, ou seja, bares, restaurantes elanchonetes, alm de mini-shoppings e servios em geral. Este fato revela que
este espao se caracteriza pela especializao funcional em servios tursticos
e de apoio voltados para atender aos desejos de consumo dos turistas,
veranistas e demais visitantes. Vale ressaltar ainda que os servios
implantados so sofisticados e somente encontrados nas grandes e mdias
cidades do pas, como cyber caf, galerias de arte, joalherias e lojas de
antiguidades.
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Os meios de hospedagem como os hotis e pousadas, as unidades
residenciais e os condomnios fechados esto em sua maioria localizados na
rua da Aurora e na Alameda da Lua, apresentando uma disposio locacional
condizente com a proposta contida no planejamento realizado pelo
empreendedor nos arredores do ncleo central.
Sobre a produo dos espaos urbanos voltados para o consumo
Amendola (2000, p.131) afirma que a cidade na contemporaneidade baseada
[...] en una economa simblica, en la gestin y en el intercambio est
orientada hacia el exterior. Ella debe, antes que nada, gustar para atraer
personas y capitales y para estimular o consumo1. Na perspectiva do autor a
cidade na atualidade produzida dando nfase s atividades voltadas para o
consumo de bens e servios ligados a satisfao e distino social, onde os
espaos criados esto diretamente ligados ao exterior, ou seja, para uma
demanda externa, devendo ser esteticamente belos para atrair e seduzir novos
investimentos e visitantes.
CONSIDERAES FINAIS
Neste sentido os centros tursticos como Praia do Forte so lugares
representativos dessa nova forma de organizao do espao urbano, pois
nestes predominam a produo de espaos voltados para o prazer e a
satisfao pessoal, a partir da insero de atividades e servios voltados para
atender as necessidades de turistas e visitantes. Esse processo se difere dos
centros urbanos industriais, onde a organizao do espao est assentada na
produo e nos smbolos e signos representativos desta atividade econmica.
Apesar de apresentar uma nova estrutura organizacional, o ncleourbano de Praia do Forte ainda vem sendo comercializado nos folhetos
publicitrios divulgados pelas agencias de turismo como a vila de pescadores
com estilo de vida simples e original, lugar representativo da remanescente
comunidade de pescadores, pouco alterada em relao as suas caractersticas
originais, enquanto tpica comunidade litornea, o que hoje no condiz com a
realidade vivida em Praia do Forte.
1 Uma economia simblica, na gesto e o intercmbio esta orientado para o exterior, Ela deve
antes de mais nada, agradar para atrair pessoas, capitais e estimular o consumo (traduo nossa).
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O ncleo central de Praia do Forte tornou-se apenas um simulacro do
antigo comunidade de pescadores, pois a paisagem criada apenas representa
uma idia do que supostamente foi o lugar e que em nada lembra a
comunidade que era habitada por simples pescadores e agricultores. Este
processo a transformou em um centro do espetculo, onde o que importa
tornar tudo belo e sedutor para atrair novos visitantes.
Com a urbanizao Praia do Forte perdeu sua autenticidade, enquanto
tpica comunidade de pescadores, pois na tentativa de recriar o passado
distante pela construo de paisagens naturais e artificiais, o que se constituiu
foi a espetacularizao dos espaos. Na realidade os cenrios gerados nem
representam a realidade que existiu, so apenas uma verso criada por
aqueles que o inventaram a partir de um modelo idealizado e estilizado de
comunidade de pescadores. No entanto so cenrios que permitem ao
observador o turista imaginar que est em um mundo perfeito, onde tudo
festa, como idealizao de um lugar paradisaco.
A espetacularizao dos centros tursticos uma estratgia utilizada
pelo Estado e iniciativa privada para torn-los atraentes e sedutores, para
estimular nos visitantes o consumo do espao. Assim, a urbanizao de Praia
do Forte est diretamente articulada as diretrizes da poltica de turismo para o
estado da Bahia, que privilegia com investimentos diretos os destinos tursticos
de maior destaque no territrio baiano.
A interveno do governo do Estado na montagem da infra-estrutura
urbana demonstra que o Estado brasileiro, seja na instncia federal, estadual
ou municipal, tem papel fundamental como investidor ao deslocar recursos
para a montagem da infra-estrutura necessria para promover o
desenvolvimento do turismo no territrio nacional. Esse processo inverso aoque observou Mullins (1991) para o caso da urbanizao turstica empreendida
nas cidades litorneas do Sul da Austrlia, onde o Estado tem apenas
participao indireta como simples incentivador, deixando a cargo do capital
privado os investimentos diretos na rea turstica.
Fica claro tambm que a interveno urbana realizada pela CONDER
seguiu os princpios do plano urbanstico contido no Master Plan, ao conservar
os elementos da arquitetura regional, a partir do emprego de materiais
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semelhantes aos utilizados tradicionalmente no lugar, como o uso da telha
cermica e artefatos de madeira.
Isso se deve a grande influncia do ento proprietrio da fazenda junto
ao governo estadual e a participao a Fundao Garcia Dvila na realizao
das obras, a partir do uso do seu corpo tcnico atravs de arquitetos na
construo de projetos como o terminal de nibus e o centro de apoio ao
turista, assim como de topgrafos na medio de ruas. Esses profissionais
auxiliaram na definio de algumas questes prticas como tamanho e
localizao de canteiros, rea do calamento entre outros.
Em contraposio a comunidade local, no teve nenhuma participao
na elaborao do projeto, pois no foi ouvida sobre os problemas urbanos que
afligiam a localidade para o conhecimento das suas reais necessidades.
Nesse sentido os lugares tursticos como Praia do Forte vm criando
cada vez mais simulacros, representaes da realidade, como cenrios, que
resultam na estruturao de um grande espetculo a cu aberto, para fomentar
o consumo do espao em equipamentos tursticos e em atividades de lazer e
entretenimento.
Assim os centros tursticos na atualidade expressam uma faceta da
sociedade atual, pois representam a espetacularizao dos espaos pela
nfase na produo de lugares, onde se prima pela aparncia e a artificialidade
para atrair turistas e visitantes na perspectiva de viabilizar o consumo, uma
caracterstica da sociedade do espetculo, onde tudo objetivado em imagens
e signos consumveis (Debord,1997).
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