enredo virtual | ano 1 | cinquenta colunas

73
ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br CINQUENTA COLUNAS ANO 1 // ABRIL 2010 - ABRIL 2011 JONAS GONÇALVES

Upload: jonas-goncalves

Post on 16-Mar-2016

223 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Coletânea da "Enredo Virtual" com as 50 primeiras colunas publicadas no portal "Tele História".

TRANSCRIPT

Page 1: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

CINQUENTA

COLUNAS ANO 1 // ABRIL 2010 - ABRIL 2011

JONAS GONÇALVES

Page 2: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

Enredo Virtual é uma coluna semanal do portal Tele História (www.telehistoria.com.br), publicada às segundas-feiras (podendo, excepcionalmente, ser publicada em outros dias da semana). Idealizada e escrita pelo jornalista Jonas Gonçalves, estreou no dia 12 de abril de 2010. Pouco mais de um ano depois, no dia 18 de abril de 2011, chegou à sua 50ª edição. Nesta compilação, esses cinquenta primeiros textos são reunidos, devidamente revisados. O índice geral de colunas no Tele História pode ser acessado no endereço www.telehistoria.com.br/noticias/index.asp?idSS=116. Sobre o autor Natural de Araraquara (SP), Jonas Gonçalves da Silva, 28 anos, é jornalista (MTb 48.872/SP) formado pela Faculdade Cásper Líbero e possui certificação em Radiojornalismo pelo Senac-SP. Tem experiência em revista semanal, jornalismo online, comunicação corporativa, jornal diário e assessoria de imprensa. Atualmente, é assessor de comunicação na swTH Scuzinet Comunicação & Web, de Ribeirão Preto (SP). Mantém um blog (jonasgoncalves.wordpress.com) desde novembro de 2007.

Page 3: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#1 // 12 de abril de 2010

Dez tramas: os grandes sucessos da TV brasileira A importância do enredo (ou trama) é tanta para o sucesso ou fracasso de uma obra de ficção televisiva que resolvi batizar esta coluna, que vem ao ar pela primeira vez no Tele História, com este termo (o “virtual” é um complemento necessário, referente ao meio de veiculação). Resolvi começar por uma interessante discussão: quais seriam as dez tramas mais influentes da história da teledramaturgia brasileira? Um desafio e tanto para qualquer jornalista e/ou pesquisador. Evidentemente, toda lista é bastante subjetiva, sujeita aos critérios de quem a elabora. E toda escolha pode ser colocada em discussão. Quero estabelecer, com os meus leitores, esse primeiro diálogo. Alguns podem apontar outras que mereceriam estar entre as dez mais. Isso tornaria o debate ainda mais interessante. O propósito principal dessa lista é relembrar os melhores momentos da teledramaturgia e mostrar que, há muito tempo, não se faz mais tramas como antigamente. É importante esclarecer também que todas as informações sobre as novelas podem ser encontradas navegando pelo Tele História. Abaixo, seguem as tramas escolhidas, especialmente pela influência exercida no imaginário popular e no impacto histórico que causaram. Foi escolhida a ordem cronológica para apresentá-las, a fim de que não sejam feitas comparações desnecessárias sobre qual delas teria sido a melhor de todos os tempos. Cabe a cada um decidir a sua favorita. AS DEZ GRANDES TRAMAS - Beto Rockfeller (Tupi – 1968): novela de Bráulio Pedroso, criada em conjunto com Cassiano Gabus Mendes e produzida por Lima Duarte e Wálter Avancini. Modernizou o gênero, com diálogos rápidos e uma história mais dinâmica, rompendo com a hegemonia dos “dramalhões”. Foi a atuação mais marcante da carreira de Luiz Gustavo, que interpretou o protagonista, um malandro de classe média que se faz passar por um milionário. Também foi a primeira a ter merchandising. Em uma cena, por exemplo, o personagem Beto Rockfeller cita o nome do remédio “Engov” onze vezes. - Selva de Pedra (Globo – 1972): escrita por Janete Clair, “Selva de Pedra” atingiu impressionantes índices de audiência, chegando a 100% no último capítulo, índice aferido pelo Ibope. O sucesso do triângulo amoroso vivido pelos personagens Simone (Regina Duarte), Cristiano (Francisco Cuoco) e Fernanda (Dina Sfat) gerou diversas reviravoltas, incluindo o retorno de Simone após um

Page 4: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

acidente automobilístico, preferindo assumir a identidade de sua falecida irmã, Rosana, com mudanças na aparência. Um “remake” da novela foi feito em 1986, com os principais papeis interpretados por Fernanda Torres (Simone), Tony Ramos (Cristiano) e Christiane Torloni (Fernanda). - O Bem Amado (Globo – 1973): Paulo Gracindo encarnou o papel do político mais famoso da ficção no Brasil, o prefeito de Sucupira (pequena cidade do litoral baiano), Odorico Paraguaçú. Com frases como “vamos deixar de lado os entretantos e partir para os finalmentes”, os discursos do prefeito visavam principalmente convencer o povo de que o município precisava de um cemitério. Com a construção do local para enterrar os mortos, só era necessário um falecimento para inaugurá-lo. Como o fato não ocorria naturalmente, Odorico tenta, de todas as formas, causá-lo. A trama também consagrou Lima Duarte, no papel do matador Zeca Diabo. - Escrava Isaura (Globo – 1976): A “escrava branca”, interpretada pela estreante Lucélia Santos, conquistou não apenas o Brasil, mas também vários outros lugares do mundo. A novela foi traduzida para cerca de 80 países, como Dinamarca, Nova Zelândia e Rússia. O autor, Gilberto Braga, se baseou no romance “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães. Um grande destaque da trama foi a atuação de Rubens de Falco como o vilão Leôncio, obcecado pela beleza de Isaura. Na versão feita pela Record em 2004, o ator interpretou o Comendador Almeida. Foi seu último papel na televisão antes de falecer, em 2008, aos 76 anos. - Dancin’ Days (Globo – 1978): Ao som do grupo “As Frenéticas”, a novela “Dancin’ Days” popularizou de vez o gênero discoteca. Sônia Braga, no papel de Júlia Matos, uma ex-presidiária que tenta recomeçar a vida, ditou a moda feminina da época, com coloridas roupas de cetim e meias soquetes de lurex. O sucesso do filme “Os Embalos de Sábado à Noite” (1977), com John Travolta, foi uma das principais fontes de inspiração. - Roque Santeiro (Globo – 1985): A primeira versão de “Roque Santeiro” foi criada em 1975 por Dias Gomes, mas a Censura Federal proibiu a exibição, quando aproximadamente 30 capítulos já estavam prontos. Somente dez anos depois, com o fim do regime militar, a Globo conseguiu exibi-la. Entretanto, a demora não fez com que a trama perdesse qualidade. A versão de 1985 teve um elenco espetacular, com Lima Duarte (Sinhozinho Malta), Regina Duarte (Viúva Porcina) e José Wilker (Roque Santeiro) nos principais papeis. O mote é a trajetória de Luís Roque Duarte, um coroinha que esculpia santos na pequena cidade nordestina de Asa Branca. Desaparecido após uma briga com o bandido Navalhada e sua quadrilha, Roque é dado como morto e é transformado em “santo” pelos poderosos da cidade, liderados pelo Sinhozinho Malta, que via na lenda um forte chamariz para o turismo religioso do município. A armação incluía um casamento fantasioso com Porcina, que se tornou a “viúva” do mártir que defendeu a cidade. Dezessete anos depois de seu suposto falecimento, Roque retorna à Asa Branca disposto a acabar com a farsa. Mas, no final, o mito se mostrou mais forte que a verdade.

Page 5: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

- Roda de Fogo (Globo – 1986): A trama de “Roda de Fogo”, escrita por Lauro César Muniz e Marcílio Moraes, simbolizou um momento importante da história brasileira: o fim do regime militar e a corrupção desenfreada dos tempos da Nova República. O inescrupuloso empresário Renato Villar (Tarcísio Meira) tenta salvar os negócios de seu conglomerado, ameaçados por documentos comprometedores que vão parar nas mãos da juíza Lúcia Brandão (Bruna Lombardi), por quem Villar acaba se apaixonando. Para isso, conta com o apoio de aliados como o advogado Mário Liberato (Cecil Thiré), que depois o trai. Inicialmente um vilão, Renato Villar se torna o “mocinho” na sua luta, mesmo acometido por um tumor cerebral, para provar sua inocência diante de uma série de assassinatos que visava incriminá-lo, orquestrada por Liberato, o polêmico vilão homossexual, que foi um dos grandes destaques da história. - Vale Tudo (Globo – 1988): Um enredo contundente, que expunha os vícios da sociedade brasileira. Além da corrupção, dilemas morais, adultérios e alcoolismo ganharam destaque do autor, Gilberto Braga. Maria de Fátima (Glória Pires) vende a casa em que morava com a mãe, Raquel (Regina Duarte), em Foz do Iguaçu (PR) e foge para o Rio de Janeiro, visando se tornar uma modelo de sucesso e obter uma rápida ascensão social. Para isso, se alia ao gigolô César (Carlos Alberto Riccelli) e tenta conquistar o filho da poderosa empresária Odete Roitman (Beatriz Segall), Afonso (Cássio Gabus Mendes). Um dos traços marcantes de “Vale Tudo” é o fato de que nem todos os vilões tiveram um fim trágico como o de Odete Roitman, que foi assassinada por Leila (Cássia Kiss). Alguns, como Marco Aurélio (Reginaldo Faria), marido de Leila, escaparam de punições. Ele termina dando uma emblemática “banana” para o país ao fugir para o exterior. - Pantanal (Manchete – 1990): O cenário selvagem do pantanal mato-grossense e a beleza de atrizes como Cristiana Oliveira (Juma Marruá, a mulher que virava onça) foram alguns dos principais elementos que fizeram desta novela uma concorrente capaz de desbancar a Globo da liderança de audiência. A Manchete investia forte no segmento de novelas e teve o seu auge com “Pantanal”. Escrita por Benedito Ruy Barbosa, a trama estava engavetada pela Globo, o que se mostrou um grave erro. O então diretor artístico da Manchete, Jayme Monjardim, convenceu Benedito a apresentá-la à emissora, que a exibiu sem cortes. O sucesso foi tão marcante que, mesmo levada ao ar quase 20 anos depois pelo SBT (a Manchete faliu em 1999), teve uma audiência considerável (média de oito pontos no Ibope). - A Próxima Vítima (Globo – 1995): Um suspense inspirado em Alfred Hitchcock (inclusive na trilha sonora). Uma trama de assassinatos em série levada a cabo pelo desejo de vingança. Muitos personagens eram capazes de matar e qualquer um poderia ser a próxima vítima. A trama, escrita por Silvio de Abreu, estimulou até mesmo grandes apostas para se adivinhar quem era o serial killer. Dois finais foram criados: no que foi ao ar em novembro de 1995, o matador era Adalberto (Cecil Thiré). Já em dezembro de 2000, no “Vale a Pena Ver de Novo”, foi exibido o outro desfecho, com Ulisses (Otávio Augusto) sendo o culpado. Grandes atuações marcaram a novela, como as de Aracy Balabanian (Filomena Ferreto) e de Paulo Betti (investigador Olavo).

Page 6: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#2 // 19 de abril de 2010

Temas polêmicos na teledramaturgia O grau de repercussão de novelas, minisséries e seriados no Brasil é tão alto que se tornou rotina explorar temas atuais, que motivem amplas discussões na sociedade. Mas, essa liberdade só foi conquistada de fato após o fim do regime militar e da Censura Federal, na década de 1980. Um exemplo disso ocorreu em 1991, quando a Globo exibiu a minissérie “O Portador”, de José Antônio de Souza e Aziz Bajur. Em oito capítulos, é contada a história do empresário Léo (interpretado por Jayme Periard), que contrai o vírus HIV (causador da Aids) em uma transfusão de sangue, após um acidente aéreo. Na busca por saber quem foi o responsável por sua contaminação, ele sofre as mais diversas formas de discriminação, em um tempo onde a doença era encarada com um misto de pânico e desconhecimento sobre as formas de contágio. A novela “Barriga de Aluguel”, exibida entre agosto de 1990 e junho de 1991, foi a primeira de uma série de tramas da autora Glória Perez que enfocou assuntos considerados “tabus”. O casal formado por Ana (Cássia Kiss) e Zeca (Victor Fasano) tenta, a todo custo, ter um filho. Com a impossibilidade de gerar um herdeiro, Ana resolve procurar outra mulher que possa fazê-lo em troca de uma compensação financeira. É aí que surge Clara (Cláudia Abreu), uma jovem que aceita o desafio, especialmente para sanar a falta crônica de dinheiro. Mesmo com a reprovação da família e do namorado João (Humberto Martins), Clara segue com a gravidez, o que a faz se envolver emocionalmente com a criança gerada. Ela chega ao ponto de disputar a guarda na Justiça com Ana. A dimensão da polêmica fez com que a trama obtivesse um expressivo sucesso. Por sua duração (uma média de seis a oito meses), as novelas possuem mais tempo para expor e desenvolver fatos que podem ser levados a debates em diferentes esferas, ainda que tais acontecimentos com os personagens ocorram no terreno da ficção. O propósito de alguns autores é utilizar a trama como uma oportunidade de colocar um determinado tema na ordem do dia. É algo bastante positivo, haja vista que podem ser feitas campanhas que beneficiem um número considerável de pessoas. Um exemplo ocorreu com “De Corpo e Alma” (1992), a trama seguinte de Glória Perez. A novela representou um incentivo importante para que muitos tomassem a decisão de doar órgãos. Outros exemplos podem ser considerados como referência para a constatação de que um produto televisivo pode ir muito além do entretenimento. A novela “A Viagem” (1994), de Ivani Ribeiro, abordou a doutrina espírita, ultrapassando a fronteira da superficialidade, que a rotula apenas como uma crença de uma parcela da população. Já a minissérie “Decadência” (1995), de Dias Gomes, mostrou em doze capítulos o surgimento e a ascensão de um pastor (Mariel,

Page 7: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

vivido por Edson Celulari) que funda uma igreja evangélica. Pela forma como a história foi contada, igrejas como a Universal do Reino de Deus protestaram. Isso demonstra o quanto a teledramaturgia é valorizada como fator decisivo de influência na formação de conceitos no imaginário popular. Temas como alcoolismo e uso de entorpecentes também já mereceram destaque. Heleninha Roitman (Renata Sorrah), de “Vale Tudo” (1988), e Orestes (Paulo José), de “Por Amor” (1997) sofreram com a bebida, enquanto Guilherme (Marcello Antony), em “Torre de Babel” (1998) e Mel (Débora Falabella), em “O Clone” (2001), mostraram diferentes pontos de vista sobre o uso de drogas como a cocaína. O homossexualismo continua sendo um dos assuntos com maior potencial de marcar um enredo. Casais como Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes), de “A Próxima Vítima” (1995); Leila (Sílvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni), de “Torre de Babel” (1998); e Rafaela (Paula Picarelli) e Clara (Aline Moraes), de “Mulheres Apaixonadas” (2003), cumpriram um importante papel: o de mostrar que, mesmo sendo algo ainda condenado por expressiva parcela da população, a união de pessoas do mesmo sexo deve ser encarada como uma situação cada vez mais presente na realidade cotidiana. Mais informações sobre as tramas e personagens citados acima podem ser encontradas no Tele História.

Page 8: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#3 // 26 de abril de 2010

Minisséries da Globo: os “biscoitos finos” da TV Como é possível contar uma história, com personagens densos e tramas complexas, em poucos capítulos? Na coluna de hoje, o objetivo é fazer considerações a respeito das minisséries, com enfoque sobre as produções da Rede Globo, que seguem uma fórmula invariável visando o sucesso: elenco e direção afinados e de alta qualidade, enredo dinâmico e, principalmente, uma história atrativa. Diferentemente de novelas e seriados, as minisséries são produtos televisivos que exigem maior refinamento e precisão (verdadeiros “biscoitos finos”), sob pena de serem rapidamente descartadas por telespectadores mais exigentes. Por isso, itens técnicos como cenografia, figurino e trilha sonora devem formar um todo coerente e singular. Não há espaço para clichês e cenas tediosas. A Globo iniciou sua incursão por este gênero em 1982, com “Lampião e Maria Bonita”, de Aguinaldo Silva e Doc Comparato; “Avenida Paulista”, de Daniel Más e Leilah Assumpção; e “Quem Ama Não Mata”, de Euclydes Marinho. A curta duração, ainda que pareça ser um facilitador para quem produz, é um fator que aumenta a cobrança e a expectativa em torno da iniciativa. Muitas vezes, a Globo recorreu a grandes obras literárias para elaborar minisséries, como é o caso de “Grande Sertão: Veredas”, de Walter George Durst, baseada no livro homônimo de João Guimarães Rosa; e “O Tempo e o Vento”, de Doc Comparato, fundamentada na primeira parte (denominada “O Continente”) da trilogia de mesmo nome escrita por Érico Veríssimo. Ambas foram exibidas em 1985. Ao longo dos anos 80, outras produções conquistaram sucesso tanto de público como de crítica, a exemplo de “Anos Dourados” (1986), de Gilberto Braga. Esta chamou a atenção de maneira peculiar, pois teve uma produção impecável, que reconstituiu o Rio de Janeiro da década de 50. “O Primo Basílio”, obra do português Eça de Queiroz, foi transformada em uma minissérie de 16 capítulos por Gilberto Braga e Leonor Bassères para ser mais um êxito do gênero, em 1988. Outra reconstituição, de uma época ainda mais longínqua (final do século XIX), a produção mostrou que a capacidade da Globo para tramas de curta duração se tornava cada vez mais apurada. Isso se confirmou nos anos 90, com “Boca do Lixo”, de Silvio de Abreu; “Desejo”, de Glória Perez; “As Noivas de Copacabana”, de Dias Gomes; “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga; “Agosto”, de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil; “Memorial de Maria Moura”, de Jorge Furtado e Carlos Gerbase; entre muitas outras.

Page 9: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

Até o início da década seguinte, devido a grandes sucessos como “Hilda Furacão”, de Glória Perez, e “O Auto da Compadecida”, de Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão, a Globo manteve uma produção regular de até três minisséries por ano. A partir de 2002, com “O Quinto dos Infernos”, de Carlos Lombardi, ocorre uma mudança significativa, com a diminuição da quantidade média anual de produções. Tornou-se rotina que a principal (e, às vezes, única) minissérie do ano seja exibida já em janeiro, como uma forma de atrair a atenção do público e levantar a audiência em um mês tradicionalmente morno por ser um período de férias. A escolha da Globo se mostrou acertada, pois uma menor quantidade não significou perda de qualidade. Pelo contrário, houve até uma reafirmação da excelência das produções, muito em função do advento de novos recursos tecnológicos, que tornaram reconstituições de diferentes épocas verdadeiras obras-primas. “A Casa das Sete Mulheres” (2003), de Maria Adelaide Amaral e Walther Negrão; “JK” (2006), de Maria Adelaide Amaral; “Maysa – Quando Fala O Coração” (2009), de Manoel Carlos; além de “Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor” (2010), de Maria Adelaide Amaral, confirmam a continuidade do investimento pesado nessa vertente da teledramaturgia, que mesmo sendo de curta duração, pode ser tão marcante quanto uma longa novela.

Page 10: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#4 // 4 de maio de 2010

Remakes: vale a pena ver de novo?

Fazer uma nova versão para um grande sucesso pode ser uma alternativa interessante para qualquer emissora, especialmente em períodos de pouca ou nenhuma criatividade. Mas, será mesmo que os chamados “remakes” de novelas (em muitos casos, adaptações de originais feitas por autores diferentes) se restringem a ser meramente saídas estratégicas com um “ar retrô”? Não se pode perder de vista o fato de que algumas produções refeitas tiveram êxito expressivo em termos de audiência e crítica. Um exemplo é a segunda versão de “Mulheres de Areia”, de Ivani Ribeiro (a mesma autora do original), a história das gêmeas Ruth e Raquel, vividas em 1973, na TV Tupi, por Eva Wilma e em 1993 por Glória Pires, na Rede Globo. O outro lado da moeda também é conhecido. O remake de “Pecado Capital”, trama escrita originalmente por Janete Clair em 1975, não teve a mesma repercussão em 1998. Apesar de ser, reconhecidamente, um ator de qualidade, Eduardo Moscovis não conseguiu encarnar o protagonista José Carlos Moreno (o Carlão) na década de 1990 de forma tão marcante quanto Francisco Cuoco 23 anos antes. Ao mesmo tempo, a nova história baseada na original, escrita por Glória Perez, não obteve o mesmo êxito junto ao público. Curiosidade histórica: em 1975, “Pecado Capital” foi feita às pressas por Janete Clair para substituir a censurada primeira versão de “Roque Santeiro”, exibida somente dez anos mais tarde. A interação entre duas versões de diferentes épocas é um recurso utilizado tanto para homenagear os intérpretes originais de papeis destacados quanto para dar mais força ao novo enredo. Francisco Cuoco, que foi o motorista de táxi Carlão em 1975, encarnou o milionário Salviano Lisboa no remake (o personagem foi interpretado na primeira versão por Lima Duarte). Mas não é somente a Globo que já investiu em novas versões de antigos clássicos. O SBT possui um bom histórico, com “As Pupilas do Senhor Reitor” e “Éramos Seis”, ambas de 1994. Enquanto a primeira, de Lauro César Muniz, foi feita primeiramente para a Record em 1970, a segunda foi exibida em 1977 pela Tupi. Mais uma curiosidade: o remake de “Éramos Seis”, adaptação do romance homônimo de Maria José Dupré, foi escrito pelo novelista Silvio de Abreu (historicamente ligado à Globo) e pelo crítico de cinema Rubens Ewald Filho. Em 2010, a clássica “Ti Ti Ti” (de 1985) voltará, em uma nova versão que integra elementos de outra trama consagrada, “Plumas e Paetês” (exibida em 1980). Ambas são do autor Cassiano Gabus Mendes. O remake está previsto para ir ao ar depois de “Tempos Modernos”, de Bosco Brasil, atual novela das 19 horas. O

Page 11: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

resultado da mistura poderá ser interessante, já que o estilo de Cassiano, mais voltado para a vertente cômica, tem grande aceitação junto ao público e retomaria a vocação original do horário das sete.

Page 12: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#5 // 1o de maio de 2010

As Helenas de Manoel Carlos

Com mais uma novela de Manoel Carlos (“Viver a Vida”) chegando ao fim, torna-se interessante fazer uma retrospectiva da personagem mais frequente em suas tramas, a protagonista de nome Helena, uma mulher madura, que busca o ideal de felicidade romântica em meio a vários problemas emocionais que a atormentam. Tudo começou em 1981. Em “Baila Comigo”, a atriz Lílian Lemmertz (falecida em 1986), mãe da também atriz Júlia Lemmertz, encarnou a primeira Helena, a mãe dos gêmeos Quinzinho e João Victor, vividos por Tony Ramos. As características marcantes da personagem de Manoel Carlos, como os conflitos afetivos e os dilemas morais, já apareciam. Helena criou apenas um dos filhos, Quinzinho, ao lado do marido, Plínio (Fernando Torres). Não tendo condições de manter os dois, entregou João Victor para o pai das crianças, Quim (Raul Cortez). Com a separação, um cresceu sem saber da existência do outro. Muitos anos mais tarde, eles se reencontraram, protagonizando uma das cenas mais emocionantes da história da teledramaturgia. Inicialmente, o papel de Helena seria de Fernanda Montenegro. Essa era a ideia de Manoel Carlos, mas a direção da novela preferiu Lílian Lemmertz. Fernanda ficou com outra personagem, Silvia. Após um hiato de dez anos, período em que Maneco, como é conhecido, escreveu mais uma novela para a Globo (“Sol de Verão”), além de três minisséries para a Manchete (“Joana”, “Viver a Vida” – sem ligações com a novela – e “Novo Amor”) e uma para a Bandeirantes (“O Cometa”), a Helena voltou em “Felicidade” (1991), desta vez interpretada por Maitê Proença. A partir daí, a “mocinha” da história passou a ganhar esse nome por uma preferência particular do autor devido ao fato de, segundo ele, ser um sinônimo de mulher forte, como a Helena de Tróia. Com as interpretações em “História de Amor” (1995), “Por Amor” (1997) e “Páginas da Vida” (2006), Regina Duarte se tornou a recordista de Helenas, tendo a imagem diretamente associada ao papel. Tanto que as outras atrizes que a encarnaram, Vera Fischer (“Laços de Família, de 2000), Christiane Torloni (“Mulheres Apaixonadas”, 2003) e Taís Araújo (“Viver a Vida”, 2009) não alcançaram o mesmo êxito junto ao público, mesmo sendo profissionais de qualidade reconhecida por suas atuações. No total, foram oito Helenas. Em comum, todas vivenciaram problemas com filhos, maridos ou amantes. Mas ao receberem o apoio de amigos e familiares,

Page 13: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

reuniram forças para superar todos os obstáculos e conquistar o que mais prezam: a felicidade definitiva ao lado de um grande amor. Curiosidade: o ator que mais se envolveu com a protagonista, seja como namorado, marido ou amante, foi José Mayer. Ele viveu os médicos Carlos em “História de Amor” e César em “Mulheres Apaixonadas”, o rústico criador de cavalos Pedro em “Laços de Família”, além dos empresários mulherengos Greg, de “Páginas da Vida”, e Marcos, de “Viver a Vida”.

Page 14: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#6 // 17 de maio de 2010

Identidades audiovisuais

Produções que marcaram época não entraram para a história somente por seus respectivos enredos e personagens. O trabalho técnico audiovisual, especialmente para a divulgação de um lançamento, é um dos principais fatores que podem alçar qualquer novela ou minissérie ao sucesso e a um lugar privilegiado no imaginário coletivo. Ao longo do tempo, a Globo desenvolveu um padrão de chamada utilizando uma expressiva combinação que envolve a força de seu elenco, o impacto de belas imagens, trilhas sonoras consonantes com as tramas divulgadas e a locução impecável de Dirceu Rabelo, uma das vozes mais conhecidas do Brasil. Tudo planejado para criar um clima de expectativa. Atualmente, a novela “Passione”, de Silvio de Abreu, que irá suceder a “Viver a Vida”, de Manoel Carlos, é um exemplo de que esse recurso ainda é considerado prioritário na busca por chamar a atenção do público e também da crítica especializada. A fim de obter mais referências, é conveniente viajar por alguns instantes no “túnel do tempo”. O ano é 1992 e a novela é “Pedra sobre Pedra”, escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares. As imagens da Chapada Diamantina, no sertão baiano, que abrigava a fictícia cidade de Resplendor, onde se passava a história, compuseram com o elenco encabeçado por Lima Duarte e Renata Sorrah e a música “Entre a Serpente e a Estrela”, de Zé Ramalho, uma das chamadas mais bem elaboradas pela Globo. Curiosidade: o tema musical não era o de abertura (“Pedras que Cantam”, de Fagner), que só foi utilizado na chamada de reprise, exibida no “Vale a Pena Ver de Novo” em 1995. Mais recentemente, para “Senhora do Destino”, de Aguinaldo Silva, exibida em 2004, além de todos os elementos já citados, o uso da fotografia foi um importante diferencial. Na próxima coluna, serão abordadas algumas das melhores aberturas de novelas já criadas. Não percam o próximo capítulo.

Page 15: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#7 // 24 de maio de 2010

A primeira impressão é a que fica Um bom demonstrativo de como será qualquer trama televisiva é a sua abertura, incluindo tema musical, elementos gráficos e tipos que caracterizam a história. Para o público, pode ser o chamariz perfeito a fim de que uma novela se torne atrativa. Selecionei cinco aberturas que, por reunir características como criatividade, beleza e ousadia, podem ser consideradas algumas das obras mais bem elaboradas por profissionais da televisão. A qualidade de uma boa apresentação, em alguns casos, pode se tornar algo até mais interessante do que a própria produção, caso esta não obtenha êxito. Seguindo a ordem cronológica, comecemos por “Marron-Glacé”, de 1979, escrita por Cassiano Gabus Mendes. O uso de borboletas com múltiplas cores, combinado com a música “Marron-Glacé”, de Ronaldo Resedá, compôs uma bela abertura, que marcou época e se tornou um prenúncio do que viria a partir dos anos 80, quando as apresentações passaram a contar com uma gama maior de recursos técnicos. Em seguida, vamos a “O Dono do Mundo”, de 1991, trama assinada por Gilberto Braga. A utilização da famosa sequência do filme “O Grande Ditador”, de Charles Chaplin, na qual o protagonista brinca com um grande globo terrestre, foi acompanhada de uma trilha sonora romântica (“Querida”, de Tom Jobim), enquanto mulheres sensuais apareciam no globo. Um ano depois, o Brasil estava em meio a uma grave crise institucional, que culminou no afastamento do então presidente Fernando Collor. A novela “Deus nos Acuda”, de Silvio de Abreu, captou o momento histórico, catalisando toda a indignação de um povo contra a corrupção. A sensação era a de que o país estava “afundado na lama”. No caso da abertura, era a tinta da caneta que assinava um cheque o elemento que, ironicamente, tragou todos os presentes a uma festa de gala. A música de fundo era “Canta Brasil”, interpretada por Gal Costa. Família e romantismo foram reunidos na abertura de “Por Amor”, de Manoel Carlos, em 1997. Com a música “Falando de Amor”, interpretada por MPB-4 e Quarteto em Cy, fotos das atrizes Regina Duarte e Gabriela Duarte, mãe e filha na vida real e também na ficção (como Helena e Maria Eduarda, respectivamente), fizeram com que a apresentação fosse tão lembrada quanto o enredo, que cativou os telespectadores. Para concluir essa pequena seleção, “Celebridade” (2003), de Gilberto Braga, teve uma introdução marcada por flashes (uma alusão aos “paparazzi” que vivem

Page 16: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

atrás de personalidades), destaques para palavras como “Amor” e “Fama”, imagens dos protagonistas e, é claro, uma música que remete a uma celebração, “Love’s Theme”, executada pela The Love Unlimited Orchestra. Na semana que vem, será abordado um dos programas mais interessantes em termos de possibilidades de enredo da história da televisão, o “Você Decide”, apresentado pela Globo durante a década de 90. Não perca o próximo capítulo de “Enredo Virtual”.

Page 17: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#8 // 31 de maio de 2010

Você escolhe o final No dia 8 de abril de 1992, a Globo lançou o "Você Decide", um programa que convidava os telespectadores a decidir, pelo telefone, o final de uma história envolvendo algum tema polêmico, como desonestidade ou impunidade. A primeira se chamou "Em Nome do Filho" e mostrava um delegado, vivido por Otávio Augusto, que precisava decidir se mandava ou não prender o filho, envolvido na execução de um assalto. A ideia de se ter uma atração desse tipo, derivada do "Caso Especial" (1971-1995), foi do ator e diretor Paulo José, que criou uma forma de o público interagir com produções televisivas muito antes do surgimento da Internet difundida em escala comercial, o que só ocorreria no Brasil a partir de 1995. A apresentação tinha uma trilha sonora envolvente, com características de tramas policiais e de suspense. As duas alternativas possíveis para o telespectador ("Sim" e "Não") formavam o placar eletrônico do cenário. Cada uma delas possuía um número com prefixo 0800 (ligação gratuita), para o qual era necessário ligar a fim de confirmar a preferência. Todo episódio tinha os dois finais possíveis previamente gravados. Somente o desfecho escolhido pela maioria era exibido. O programa teve diversos dias de exibição (terças, quartas, quintas e sábados), além de vários apresentadores. O primeiro foi Antônio Fagundes. Também foram responsáveis por apresentar as histórias ao público os atores Tony Ramos, Lima Duarte, Walmor Chagas, Raul Cortez e Luciano Szafir, além dos jornalistas Celso Freitas e Renata Ceribelli. A atriz Suzana Werner foi incumbida de apresentar os episódios reprisados em julho de 2001 no "Vale a Pena Ver de Novo", em uma desastrada tentativa de exibir algo diferente das novelas nesse horário especial da programação da emissora. Uma ideia adotada nos primeiros quatro anos de exibição foi a de provocar a participação do público por intermédio de repórteres de rua, que perguntavam às pessoas, ao vivo, as respectivas opiniões a respeito de um episódio. Telões eram instalados em cidades escolhidas pela Globo para criar a sensação de que o país "parava" com o objetivo de assistir ao programa. Nas primeiras temporadas, o público se interessava em participar, pois era algo considerado "novo" por muitos. Porém, com a queda na qualidade dos enredos nos últimos anos de trajetória, o "Você Decide" enfrentou um processo de decadência, que culminou em sua extinção. Foram produzidos 323 episódios. O último, intitulado "Um Casamento Aberto", foi ao ar em 17 de agosto de 2000. A Globo utilizou praticamente todos os integrantes de seu elenco, na tentativa de manter bons índices de audiência. O programa teve o seu apogeu em meados da década de 90, quando o interesse pelas polêmicas colocadas em discussão se refletia em milhares de ligações.

Page 18: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

Ao mesmo tempo em que se pode ressaltar a condição privilegiada do "Você Decide" na história da televisão brasileira, por ter sido um programa à frente do próprio tempo, também é possível concluir que esse mesmo pioneirismo foi algo precoce, pois expôs o formato ao desgaste natural de uma exibição contínua por vários anos sem renovações necessárias para aumentar e diversificar o seu público. Com os recursos atuais proporcionados pela Internet, certamente seria um programa diferente, mas com uma interação muito mais profunda e dinâmica. Como legado, a produção deixou descendentes e derivados que resistem ao tempo, como o "Intercine" e o "Big Brother".

Page 19: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#9 // 7 de junho de 2010

Vale a Pena, 30 No último mês de maio, o “Vale a Pena Ver de Novo” (carinhosamente lembrado por seus fãs como “Vale a Pena”), programa da Rede Globo voltado para as reprises de novelas, completou três décadas de existência. Atualmente, a sessão reapresenta “Sinhá Moça” (2006), escrita por Benedito Ruy Barbosa, no horário das 14h30 às 15h30. A primeira novela a ser exibida novamente para o público por meio do programa foi “Dona Xepa” (1977), de Gilberto Braga, de 5 de maio a 14 de novembro de 1980, na faixa das 17h. Antes, a Globo mostrava reprises em sua grade, mas não sob esta denominação, que se tornou uma de suas marcas registradas, conferindo às novelas um caráter atemporal, como grandes sucessos que mereciam uma nova atenção dos telespectadores. O “Vale a Pena” permite que a Globo mostre diferentes versões de aberturas e até de um desfecho, como foi o caso de “A Próxima Vítima”, escrita por Silvio de Abreu. Em 1995, quando foi ao ar pela primeira vez, a história teve Adalberto (Cecil Thiré) como o personagem assassino. Cinco anos depois, na reprise, o culpado pelas seguidas mortes foi Ulisses (Otávio Augusto). Outra curiosidade é o fato de que somente duas novelas mereceram uma segunda chance na sessão vespertina: “A Gata Comeu” (1985) e “A Viagem” (1994), ambas de Ivani Ribeiro. A primeira foi reprisada nos anos de 1989 e 2001, enquanto a segunda ganhou as tardes em 1997 e 2006 (esta última em uma versão compactada de maior duração, 113 capítulos, mais do que os 100 de 97; em 1994, a novela teve 167). A atração possui um conceito interessante, mas enfrenta problemas derivados de suas próprias limitações, impostas pela emissora. Ao não determinar um padrão para a escolha das novelas que serão mostradas, o público nunca sabe quando uma trama de sucesso voltará ao ar, dando uma nova chance especialmente àqueles que não puderam vê-la na época de sua primeira exibição. A escolha das novelas enfrenta um grave problema. No horário atual, é muito difícil inserir sem grandes cortes várias das melhores produções, originalmente exibidas na faixa das 21h, com classificação etária para pessoas acima de 14 anos. À tarde, só são permitidas aquelas com classificações “Livre” e “10 anos”. Porém, o que seria a solução (mudar o horário do “Vale a Pena”) nunca esteve nos planos da Globo. Também é bastante criticada a insistência, mais frequente nos últimos anos, em reprisar produções recentes, como é o caso de “Sinhá Moça”, que foi ao ar há apenas quatro anos. O propósito deveria ser reapresentar tramas mais antigas, de no mínimo dez anos atrás, pois tanto personagens como cenas marcantes

Page 20: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

acabam sendo esquecidas por boa parte do público. A tendência natural é a de descartar uma novela encerrada e prestar atenção na outra trama que se inicia, em um ciclo que se repete há 45 anos. Para realizar um trabalho adequado de preservação da história da teledramaturgia, a emissora deveria evitar cortes sumários no “Vale a Pena”, como o que ocorreu com “Roda de Fogo” (1986), de Lauro César Muniz e Marcílio Moraes. De 179 capítulos, a novela teve somente 35 em 1990, quando passou pelo “Vale a Pena”. Para piorar a situação, em dias de jogos da Copa do Mundo daquele ano, os compactos eram ainda mais encurtados. Uma edição tão radical prejudica o entendimento de qualquer enredo por parte do público. Apesar de todas as dificuldades citadas, o “Vale a Pena” se consolidou nesses 30 anos e ocupa um lugar especial entre os fãs de novelas. A prova disso foi citada na semana passada nesta mesma coluna, quando a Globo tentou exibir episódios do “Você Decide” no lugar de alguma novela em julho de 2001. A insatisfação foi percebida pelos baixos índices de audiência e a alteração acabou sendo cancelada. Ficou provado que o público tem o poder de preservar o melhor da televisão.

Page 21: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#10 // 14 de junho de 2010

Eles venceram o tempo Atores e seus personagens podem chegar ao ponto de extrapolar o limite de uma novela ou série e aparecer em outras tramas, ainda que muitos anos depois, tornando-se verdadeiros clássicos. Alguns novelistas já utilizaram esse recurso mais de uma vez a fim de fazer uma homenagem e utilizar algum tipo de ligação entre um enredo e outro para promover o que se chama de “crossover” (cruzamento entre histórias). Na coluna desta semana, abordarei os casos mais bem sucedidos. Aracy Balabanian, com a sua Dona Armênia, foi a pioneira em novelas, ao lado “dos seus três filhinhas”, Gerson Brenner (Gérson), Marcello Novaes (Gera) e Jandir Ferrari (Gino). Em “Rainha da Sucata” (1990), de Silvio de Abreu, a imigrante cativou a todos com o sotaque carregado e o bordão “eu quero a prédio na chon”, uma referência ao edifício que abrigava os negócios de Maria do Carmo (Regina Duarte), protagonista da trama. Ousado, o autor não hesitou em convocar a família para “Deus nos Acuda” (1992), outro de seus maiores êxitos. Também no ano de 1992, em “Pedra sobre Pedra”, de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, surgiu o político Murilo Pontes (Lima Duarte), que viveu uma memorável relação de amor e ódio com Pilar Batista (Renata Sorrah). Cinco anos depois, aproveitando-se da proximidade geográfica entre cidades fictícias, Silva e Linhares abriram espaço para uma participação especial dele em “A Indomada”, na qual Pontes é convidado para jogar uma partida de pôquer em Greenville. Assim como Resplendor, onde se passava a história de “Pedra sobre Pedra”, o município ficava na Bahia. Outro que seguiu carreira na política, o deputado Pitágoras William Mackenzie (Ary Fontoura) teve uma participação expressiva tanto em “A Indomada” quanto em “Porto dos Milagres” (2001), outra criação de Agnaldo Silva e Ricardo Linhares com história ambientada na região Nordeste, desta vez na cidade (também baiana e fictícia) que dava nome à novela. Os médicos Doutor Molina (Mário Lago) e Miss Penélope Brown (Beatriz Segall) tiveram importantes papeis em “Barriga de Aluguel” (1990) e “O Clone” (2001). Em ambas as tramas, de autoria de Glória Perez, trataram de questões éticas e científicas (relativas à inseminação artificial na primeira e à clonagem humana na segunda). Se for considerada a participação em novelas e seriados, Luiz Gustavo será, a partir deste ano, o detentor de um importante recorde: três oportunidades de viver o mesmo personagem, o folclórico detetive Mário Cury, mais conhecido pela alcunha de “Mário Fofoca”. Tudo começou em 1982, com “Elas por Elas”, de Cassiano Gabus Mendes. O sucesso de suas trapalhadas o credenciou para protagonizar, no ano seguinte, uma série especial que levou o seu nome.

Page 22: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

Mesmo não tendo alcançado a mesma aceitação de público e crítica fora de uma novela, o detetive garantiu o seu lugar na história. Tanto que Luiz Gustavo aceitou o convite de Maria Adelaide Amaral para tirar o chamativo paletó xadrez do armário a fim de ressuscitar Mário Fofoca, desta vez no remake de “Ti Ti Ti”, outra novela de Cassiano Gabus Mendes, exibida de agosto de 1985 a março de 1986. Na nova versão, elementos de outras histórias de Cassiano, como “Plumas e Paetês” (1980), serão aproveitados. A coluna “Enredo Virtual” completa hoje dez semanas de existência. Gostaria de agradecer a todos os leitores que acompanham essa trajetória aqui no Tele História. Não percam os próximos capítulos.

Page 23: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#11 // 21 de junho de 2010

Malhação eterna E “Malhação” tornou-se uma adolescente de 15 anos, com quase 4 mil capítulos. Uma incrível longevidade para uma produção que é difícil de ser classificada. É um seriado? Uma novela com temáticas do mundo “teen”, como namoro, sexo, amizade e conflitos familiares? Uma “escola para jovens atores” da Globo? É tudo isso e mais: seguindo o estilo de produções americanas, não há um prazo para encerrá-la e a cada ano (temporada) ocorre uma reformulação para que o público não se canse, mesmo com a manutenção do nome, que ficou na memória do público. A rigor, “Malhação” recebeu este nome pelo fato de a história ter como cenário uma academia de ginástica. Mas isso durou até 1998, ano em que a produção teve várias cenas externas. A partir de 1999, ocorre uma profunda mudança: o cenário passa a ser uma escola chamada “Múltipla Escolha”. Durante dez anos, a unidade de ensino teve vários professores e diretores, encarnados por atores veteranos que procuravam dar maior densidade ao elenco, como Nuno Leal Maia, José de Abreu, Maitê Proença e Giuseppe Oristanio. Mesmo com várias alterações de elenco, trilha sonora, identidade visual e até de cenários ao longo de sua história, “Malhação” sempre teve algumas utilidades para a Globo. Além de servir como saída para o aproveitamento de integrantes de seu elenco que não foram encaixados em novelas, tornou-se uma espécie de “laboratório” para que jovens aspirantes a ator iniciem suas carreiras. Cláudio Heinrich (Dado), André Marques (Mocotó), Danton Mello (Héricles), Sérgio Hondjakoff (Cabeção), Henri Castelli (Pedro), Fernanda Vasconcellos (Betina), Cauã Reymond (Mau-Mau) e tantos outros se notabilizaram primeiro na “novelinha”, como “Malhação” também é conhecida. Agora como “Malhação Identidade (ID)”, a temática é a busca dos adolescentes pela formação de uma personalidade própria. O cenário é uma nova escola, “Primeira Opção”. Acompanhando as tendências estéticas e culturais dos adolescentes da atualidade, a produção tenta manter seu lugar como uma referência na teledramaturgia jovem, apesar do natural desgaste, que quase a extinguiu em pelo menos duas épocas de baixa audiência. O objetivo é sobreviver aos tormentos da adolescência e chegar à vida adulta.

Page 24: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#12 // 28 de junho de 2010

A “ressurreição” da Manchete No dia 10 de maio de 1999, a Rede Manchete emitiu o seu sinal pela última vez. Em seu lugar, entrou a RedeTV!. Porém, muitos ainda não esqueceram a antiga emissora do Grupo Bloch, que ao longo de 16 anos escreveu uma conturbada e marcante história na televisão brasileira. Atualmente, o principal responsável pela manutenção do legado do canal carioca é o paulistano SBT, que adotou como um de seus trunfos a nostalgia proporcionada pelo resgate da massa falida da Manchete. A TV do empresário Silvio Santos adquiriu os direitos de reprisar novelas que fizeram sucesso nas décadas de 1980 e 1990. A primeira trama levada ao ar foi “Pantanal”, de 9 de junho de 2008 a 13 de janeiro de 2009. Exibida originalmente de 27 de março a 10 de dezembro de 1990, a volta do maior sucesso da história da Manchete, obra de Benedito Ruy Barbosa, surpreendeu aqueles que julgavam ser impossível um enredo televisivo de quase vinte anos atrair o público na atualidade. “Pantanal” (que teve no SBT uma abertura diferente da original) mostrou que uma novela ou qualquer outra produção de qualidade resiste ao tempo. Até mesmo jovens que não puderam assisti-la naquela época ficaram curiosos e apreciaram a ousadia do SBT por resgatar as belezas naturais do Mato Grosso e personagens inesquecíveis como Juma Marruá (Cristiana Oliveira). Obviamente, o maior desafio desse tipo de empreitada é de ordem técnica, pois algumas fitas que contêm os capítulos das novelas ficaram danificadas pela ação do tempo. Mesmo assim, após um minucioso trabalho de restauração, foi possível trazer de volta outro grande sucesso, “Dona Beija”, de Wilson Aguiar Filho, reprisada de 6 de abril a 4 de julho de 2009. Quando foi exibida pela Manchete, de 7 de abril a 11 de julho de 1986, causou frisson pelas cenas de nudez protagonizadas por Maitê Proença, que fazia o papel principal. Mesmo sem tal impacto nos dias atuais, a trama confirmou que possui elementos suficientes para ter reconhecimento, ainda que mais de vinte anos depois. Depois de descobrir e consolidar um filão, o SBT manteve a série de “flashbacks” e desde o dia 7 de junho deste ano reexibe “A História de Ana Raio e Zé Trovão”, de Marcos Caruso e Rita Buzzar. Sucessora de “Pantanal” no horário nobre da Manchete, foi ao ar de 12 de dezembro de 1990 a 13 de outubro de 1991. O fenômeno da música sertaneja e dos rodeios foi captado em seu apogeu, com diversas atuações de artistas expoentes do gênero, incluindo o protagonista Almir Sater (Zé Trovão). Pela famigerada dinâmica imprevisível do SBT, é difícil saber se esse “retorno” da Manchete no século XXI irá continuar. Em caso positivo, outras produções que marcaram época, especialmente por terem sido alternativas de expressão à hegemonia da Globo, podem ter uma nova chance de exibição. Algumas

Page 25: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

candidatas naturais seriam a minissérie “Marquesa de Santos” (1984) e as novelas “Kananga do Japão” (1989) e “Xica da Silva” (1996). Errata: Por uma falha deste colunista, não foram citados casos de reprises anteriores de novelas da Rede Manchete. O leitor Alysson André, de João Pessoa (PB), lembrou que a novela “Xica da Silva” (1996), já foi reprisada pelo SBT (o que ocorreu de 28 de março a 9 de dezembro de 2005). Já “Mandacaru” (1997), foi reexibida pela Band (neste caso, de 9 de janeiro a 10 de dezembro de 2006). (Esta errata foi publicada na coluna posterior, em 5 de julho de 2010. Nesta coletânea, foi colocada logo após o texto ao qual está relacionada como forma de complementar as informações contidas na coluna.)

Page 26: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#13 // 5 de julho de 2010

Experiências alternativas Buscar um novo formato para as telenovelas tem sido uma prática recorrente. As emissoras, atentas aos humores do público, estimulam seus departamentos de criação e autores a descobrir maneiras de reciclar o gênero, buscando novos estilos de enredo (fugindo do “folhetim” tradicional, por exemplo), utilizar cenários alternativos, reduzir o número médio de capítulos ou incorporar elementos de outras vertentes da teledramaturgia, como seriados. Um exemplo de experiência alternativa ocorreu em 1990. Na época, o fenômeno “Pantanal”, que fazia a Manchete liderar a audiência a partir da faixa das 21h30, fez com que a Globo entendesse o recado dos telespectadores: estava na hora de mudar. Quando terminou “Rainha da Sucata” (de Silvio de Abreu), “Araponga” (de Dias Gomes) entrou no ar no mesmo horário e, desde o início, foi mostrada como “um jeito novo de fazer novela”. Contando com a colaboração de Lauro César Muniz e Ferreira Gullar, o autor conseguiu elaborar uma trama com dinâmica de seriado, mostrando Tarcísio Meira no papel de Aristênio Catanduva (codinome Araponga), um detetive da Polícia Federal e ex-agente do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI). Porém, ainda que tenha se apoiado sobre uma faceta cômica (que normalmente encontra boa receptividade), fazendo uma paródia de personagens espiões, como James Bond, “Araponga” não cumpriu a meta de superar “Pantanal”. Não foi encarada pelo público como “novela”, mas sim como uma espécie de “seriado”. Dessa forma, foi possível concluir que seria difícil mudar a cabeça do telespectador, acostumado a determinados clichês que foram utilizados na maioria das novelas e formaram um padrão considerado “ideal” por quem acompanha uma história. Um deles é a duração. Se uma novela se estende por menos de oito meses, a média considerada “normal”, pode encontrar dificuldades para engrenar e ser aceita. Em muitos casos, a história não ganha um lugar na memória coletiva. “Araponga”, que sofreu com esse problema, teve somente 113 capítulos, tendo sido exibida de 15 de outubro de 1990 a 29 de março de 1991. Porém, o caso mais emblemático de redução do gênero envolveu “O Fim do Mundo” (1996), outra obra de Dias Gomes, que teve apenas 35 capítulos (6 de maio a 15 de junho). Concebida inicialmente para ser uma minissérie, tornou-se uma “mininovela” de sucesso apenas relativo no horário nobre, servindo como forma de preencher o espaço entre duas tramas de tamanho convencional: “Explode Coração”, de Glória Perez, e “O Rei do Gado”, de Benedito Ruy Barbosa. Com outras tramas, como “As Filhas da Mãe” (2001), de Silvio de Abreu, e “Bang-Bang” (2005), de Mário Prata, ficou comprovado que tentativas de fazer alterações drásticas no gênero dificilmente surtem o efeito desejado, mesmo em um horário mais adepto a inovações (a faixa das 19h). Ambas tiveram durações encurtadas (125 e 173 capítulos, respectivamente), solução aplicada a produções

Page 27: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

que não obtêm êxito. Mesmo com muitos estudos, permanece difícil encontrar um novo rumo para o que seria “a novela do futuro”.

Page 28: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#14 // 12 de julho de 2010

Tendências para o futuro Na coluna anterior, abordei tentativas de mudar as características fundamentais do gênero telenovela, que acabaram não obtendo êxito por uma rejeição do público que, até certo ponto, nem pode ser considerada surpreendente. Afinal, não é de agora que os parâmetros estabelecidos principalmente pela Rede Globo foram instituídos. Muito pelo contrário. No final da década de 70, o então diretor do departamento de análises e pesquisas da Globo, o panamenho Homero Icaza Sánchez, conhecido como “El Brujo”, chegou à conclusão de que o público que via as telenovelas era formado majoritariamente por mulheres, donas-de-casa, que cuidavam dos filhos e prestavam muita atenção nas tramas dos três horários (18h, 19h e 20h) e também nos comerciais, o que fez a emissora faturar ainda mais com publicidade, dadas as preferências detectadas por anos de levantamentos realizados. Sem tal embasamento científico, teria sido muito difícil para a Globo direcionar corretamente os enredos para que atendessem às preferências do público. Os números do Ibope nos anos seguintes confirmaram que Sánchez estava correto. Porém, com o passar do tempo, algumas mudanças acabaram se tornando necessárias, pois algumas tendências surgem e substituem costumes e modas. Apontar quais são os caminhos que uma emissora deve percorrer foi se tornando cada vez mais difícil. A concorrência que se acirrou a partir do final dos anos 80 e a escassez de novas ideias que cativassem os telespectadores impuseram dificuldades aos núcleos de criação. Atualmente, o quadro não é dos mais animadores. Mesmo com muito dinheiro, elencos qualificados e produções tecnicamente apuradas, a audiência não dá a resposta esperada. Seria um esgotamento? É possível, mas na opinião deste colunista, o princípio para tal impasse é um só: falta de ousadia. Com uma série de restrições impostas aos novelistas, que estão amarrados (em sua maioria) aos folhetins românticos por imposição das emissoras, não é mais possível ver histórias que causem impacto. Características como suspense, enigmas, violência e cenas “fortes” (com grandes conflitos verbais, por exemplo) foram praticamente abolidas. Essa “pasteurização”, até mesmo das novelas das 21h (que já foram das 20h), supostamente atende a preferências do público, baseada em pesquisas qualitativas. Mas, se o Ibope vem sendo quase sempre abaixo do esperado, o que estaria acontecendo? Seria preciso outro Sánchez para responder.

Page 29: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#15 // 19 de julho de 2010

Mestre Cassiano Durante mais de 40 anos, Cassiano Gabus Mendes foi um sinônimo de televisão. Seja como diretor artístico, ator ou novelista (sua faceta mais conhecida), deixou marcas definitivas na história do meio. Paulistano, nascido em 29 de julho de 1929, seu início profissional foi como radialista, mas foi na televisão que encontrou o seu nicho definitivo. Começou na extinta TV Tupi, o primeiro canal brasileiro, em 1950, como diretor artístico. Durante mais de dez anos, foi o responsável pela criação de programas de sucesso, como a série “Alô, Doçura!”, que contava no elenco com John Herbert, Eva Wilma, Luiz Gustavo, entre outros. Em 1967, passou pela TV Excelsior, a principal concorrente da Tupi, mas no ano seguinte retornou à emissora dos Diários Associados. Em 1968, teve a ideia que criou “Beto Rockfeller”, um dos maiores sucessos da história da teledramaturgia brasileira. Inovadora, a novela revolucionou o gênero, com diálogos rápidos e uma trama dinâmica, protagonizada por Luiz Gustavo e desenvolvida em conjunto por Cassiano, Bráulio Pedroso e Lima Duarte. Entretanto, o surgimento do mestre novelista só ocorreu oito anos depois. Em 1976, estreou como autor de fato na Rede Globo, com “Anjo Mau”, um sucesso indiscutível, protagonizado por Susana Vieira. Em 1997, Maria Adelaide Amaral, uma de suas discípulas, fez um “remake” da trama, com Glória Pires no papel principal (Nice). Ela também é a responsável pela nova versão de “Ti Ti Ti” (1985), que estreia hoje. Dali em diante, engatou uma série de êxitos que atravessou a segunda metade dos anos 70 e toda a década de 80: “Locomotivas” (1977), “Te Contei?” (1978), “Marron-Glacé” (1979), “Plumas & Paetês” (1980), “Elas por Elas” (1982), “Champagne” (1983), “Ti Ti Ti” (1985), “Brega & Chique” (1987) e “Que Rei Sou Eu?” (1989). Com exceção de “Champagne” (20h), todas eram da faixa das 19h, sua especialidade, tanto que se tornou a maior referência histórica dessa faixa na Globo. Aliando a crítica social e política mordaz ao cômico, Cassiano conseguiu retratar diferentes universos, como o da moda e o da alta sociedade, sem cansar ou confundir o público. Uma de suas virtudes era o fato de que não trabalhava com elencos enormes, divididos em múltiplos núcleos. Preferia que todos os cerca de 30 personagens, em média, estivessem envolvidos diretamente com a trama central. Dessa forma, nenhuma parte da história ficava desinteressante, o que colocaria qualquer novela em situação de risco perante o crivo dos telespectadores. Infelizmente, Cassiano não teve muito mais tempo de vida para deixar um legado ainda maior. Em 1990, escreveu a sua segunda trama das 20h, “Meu Bem Meu Mal”. Voltou às 19h em 1993 para gerar a sua derradeira obra: “O Mapa da Mina”, que não obteve sucesso. Um enfarte tiraria a sua vida no dia 18 de agosto daquele ano, poucas semanas antes do fim da trama (Cassiano já havia deixado

Page 30: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

todos os capítulos prontos). No dia 4 de setembro, a novela terminou com um depoimento emocionado de Lima Duarte, se despedindo do amigo e companheiro de trabalho. O mestre deixou para a televisão, além de dois filhos atores (Cássio e Tato Gabus Mendes), uma trajetória inigualável.

Page 31: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#16 // 26 de julho de 2010

A Globo acordou Dezesseis DVDs. Cerca de cinquenta horas de duração. Vinte e cinco anos depois de sua estreia, “Roque Santeiro”, de Dias Gomes, poderá ser adquirida e vista na íntegra por milhões de aficionados a partir de agosto, de forma oficial, por R$ 250. A Globo resolveu prestar atenção ao público que, durante anos, reclamava da falta de preocupação da emissora com o fato de que muitos gostariam de rever as novelas clássicas, de preferência em alta resolução. Sem alternativas, só restava aos interessados recorrer a gravações piratas vendidas pela Internet. Agora, tudo muda com esse lançamento em DVD. O trabalho de revitalização das imagens, que foram ao ar de 24 de junho de 1985 a 22 de fevereiro de 1986, em 209 capítulos, é um sinal de que a emissora deseja competir com o mercado paralelo. A próxima a ser lançada deverá ser “Caminho das Índias” (2009), de Glória Perez. Outras produções, como “O Bem Amado” (1973), de Dias Gomes”, e “O Clone” (2001), também de Glória, já foram cotadas para chegar às lojas em caixas oficiais. Um possível motivo para a incursão da Globo no segmento é a expressiva procura em locadoras e lojas especializadas por seriados norte-americanos em DVD. O nicho aberto por “House”, “CSI”, “Lost”, “24 Horas”, entre outros, pode vir a ser explorado. Se parte desse público se sentir atraído já por “Roque Santeiro”, a iniciativa ganhará ainda mais força nos próximos anos. É claro que também seria interessante a recuperação de produções históricas de outras emissoras, como Tupi, Excelsior e Manchete, já extintas. Porém, como o trabalho é caro e demorado, não se pode esperar um volume tão alto de lançamentos. No caso dos seriados norte-americanos, há um número menor de capítulos em relação às novelas brasileiras, na maioria dos casos, o que facilita a produção. Além disso, os DVDs das temporadas dos seriados são lançados regularmente há vários anos, ao passo que somente agora se adota tal estratégia com as novelas. “Roque Santeiro” deixa mais uma marca em sua história de sucesso por ser a primeira telenovela lançada em DVD. Uma trajetória que inclui uma primeira versão censurada em 1975, a formação de um elenco estelar (Lima Duarte, Regina Duarte, José Wilker, Paulo Gracindo e outros), a construção de mitos da teledramaturgia como a Viúva Porcina e o Sinhozinho Malta, a participação decisiva de outro autor para escrever os capítulos (Aguinaldo Silva) e uma retratação fiel e bem humorada do Brasil, por meio de um enredo apoiado no realismo fantástico.

Page 32: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#17 // 2 de agosto de 2010

O peso dos rótulos Poucos atores e atrizes, especialmente os mais bem sucedidos, conseguem escapar de rótulos que os reduzam a um determinado tipo de papel. Aqueles que ao menos uma vez se consagraram como heróis ou vilões acabam sendo sempre escalados de maneiras muito semelhantes em diferentes tramas, pois teriam características que suscitam no público as sensações imaginadas pelos autores de novelas ou séries. Quem poderia imaginar Tony Ramos ou Regina Duarte fazendo personagens de caráter duvidoso, com má índole? Eles podem até desejar um papel assim, mas se ninguém lhes oferecer uma chance de mostrar a versatilidade que seguramente possuem, jamais poderão confirmar tal expectativa. É bem verdade que, nos casos de Regina e Tony, eles já puderam fugir parcialmente de seus rótulos em suas longas carreiras. Mas foram casos raros. No caso de Tony, o seu José Clementino de “Torre de Babel” (1998), que chegou a matar a esposa que o traiu, seria a melhor referência. Quanto a Regina, marcada como a “namoradinha do Brasil” em seu auge, fez a Viúva Porcina em “Roque Santeiro” (1985), extremamente temperamental e que era cúmplice na farsa que mantinha a lenda do herói que morreu pela cidade de Asa Branca. Bem diferente de personagens como as Helenas nas novelas “História de Amor” (1995), “Por Amor” (1997) e “Páginas da Vida” (2006), todas de Manoel Carlos. Ser versátil no mundo das telenovelas brasileiras não é fácil. Afinal, as pessoas costumam ser cativadas quando um ator se destaca no papel de galã, por exemplo. Por meio dos vínculos que acabam criando com atores de sua preferência, não conseguem aceitar o mocinho conquistador como um vilão cruel ou um atrapalhado em diferentes histórias. Tarcísio Meira e Lima Duarte são boas referências quando se quer falar a respeito de variedade ao longo de uma carreira. Mesmo consagrado como galã e herói, a exemplo do que ocorreu em “Irmãos Coragem” (1970), no papel de João Coragem, Tarcísio surpreendeu com o Renato Villar de “Roda de Fogo” (1986) e o Aristênio Catanduva de “Araponga” (1990). Lima já foi o matador Zeca Diabo em “O Bem Amado” (1973), o coronel Sinhozinho Malta em “Roque Santeiro” e o inocente Sassá Mutema de “O Salvador da Pátria” (1989). Ou seja, a versatilidade é possível, desde que os autores confiem na capacidade dos diferentes elencos para os quais escrevem ao longo do tempo.

Page 33: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#18 // 9 de agosto de 2010

Pais e filhos Na teledramaturgia brasileira, casos de pais e filhos que criam “dinastias” no ramo já se tornaram comuns. Lílian e Júlia Lemmertz, Regina e Gabriela Duarte, Glória e Cléo Pires, Tarcísio Meira e Tarcísio Filho, além de Cassiano, Tato e Cássio Gabus Mendes são apenas alguns exemplos. Em contrapartida, não é tão corriqueiro o fato de pais e filhos contracenarem. Regina e Gabriela Duarte já tiveram essa chance, como mãe e filha (Helena e Maria Eduarda, respectivamente) protagonistas da novela “Por Amor” (1997), um dos grandes sucessos de Manoel Carlos. Durante a exibição da trama, foi possível confirmar que o entrosamento entre elas é algo natural e perfeitamente cabível para uma história como aquela, que focava justamente na relação familiar das duas. Há um cuidado todo especial por parte de autores para que as relações familiares não comprometam o enredo nem atrapalhem o andamento natural de uma história. Separar os diferentes papéis não é tão simples quanto parece, pois há uma linha tênue entre as ligações pessoais e profissionais. Os irmãos Tato e Cássio Gabus Mendes estiveram juntos em “O Mapa da Mina” (1993), última novela escrita pelo pai de ambos, Cassiano Gabus Mendes. Em uma entrevista, Tato declarou que o pai não havia pensado anteriormente na atuação dos filhos em uma história dele, mas a decisão acabou sendo a chance de reunir a família para um último trabalho antes do falecimento de Cassiano, ocorrido a poucas semanas do final da exibição da novela. Outros casos conhecidos de “clãs” são os de Lima, Débora e Paloma Duarte; Antonio, Camila e Rocco Pitanga; Antônio e Bruno Fagundes; Celso e André Frateschi; Chico Anysio, Lug de Paula, Nizo Neto e Bruno Mazzeo; Olney, Irving e Ilya São Paulo, entre tantos outros. Existe o fascínio natural que carreiras bem sucedidas de pais provocam nos filhos, influenciando-os a seguir os mesmos passos, até mesmo pelo fato de que as portas naturalmente abertas são atrativas. Entretanto, somente saindo da sombra dos pais é que os filhos terão a chance de mostrar seus verdadeiros valores, independentemente do sobrenome que ostentam.

Page 34: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#19 // 16 de agosto de 2010

A importância do cenário Um dos fatores determinantes de uma trama é o cenário escolhido para abrigá-la. Entenda-se por “cenário” não a estrutura utilizada para simular um determinado local, mas sim a cidade (cenográfica ou não) aonde os personagens vivem e se movimentam, dando a dinâmica necessária para o desenvolvimento do enredo. Há uma predominância histórica de três lugares para a escolha dos autores de novelas no Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia (em especial, o interior do estado). Nos três casos, as amplas possibilidades oferecidas atraem os que precisam de inspiração e referências para construir histórias. Mas alguns podem enxergar nessa hegemonia uma “falta de criatividade”. É claro que houve exceções que fugiram dessa tríade, como a novela “Pantanal” (1990), de Benedito Ruy Barbosa, e a minissérie “A Casa das Sete Mulheres” (2003), de Maria Adelaide Amaral e Wálter Negrão. A primeira se passou no Mato Grosso e a outra no Rio Grande do Sul. Mesmo assim, é comum ouvir que o Brasil é muito mais amplo e poderia ser mais bem explorado, evitando uma “fuga” recorrente para outros países, como Itália (a mais comum) ou Índia. Isso é verdade, mas o argumento que prevalece é o de que São Paulo, Rio e Bahia já são suficientes para representar praticamente todos os traços socioculturais e históricos brasileiros. Seguindo tal raciocínio, seria possível presumir que outras regiões do país nada mais são do que meros “espelhos” dessas três, o que não condiz com a realidade. Ou seja, há um misto de conveniência com falta de ousadia. Se alternativas fossem ao menos contempladas, poderia surgir uma ou outra ideia interessante para, ao menos, complementar uma trama. Nada impediria que uma história se passasse parte em São Paulo, parte em Florianópolis, por exemplo. Indo além, seria possível explorar mais o interior dos estados, aumentando o leque de personagens e a amplitude de uma novela, por exemplo. Essa reflexão deve ser feita, em um primeiro momento, pelos autores. Mas, para obter o devido respaldo, deve repercutir nas direções artísticas das emissoras, a fim de que seja possível fugir dos chamados “lugares-comuns”.

Page 35: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#20 // 23 de agosto de 2010

Grandes rivalidades Discussões, brigas, bate-bocas, arranca-rabos. Seja qual for o conflito, não há dúvida de que, em novelas, a rivalidade entre personagens antagônicos é, em muitos casos, o principal fator que movimenta a história. E não faltam exemplos que servem como referência, alguns cômicos, outros românticos e aqueles que terminam de forma trágica. No momento, o sucesso do remake de “Ti-Ti-Ti”, que mostra as confusões entre Jacques L’Eclair (Alexandre Borges) e Victor Valentin (Murilo Benício), é a demonstração mais clara da força de um conflito, neste caso uma interessante e bem humorada batalha pela hegemonia na “alta costura” paulistana entre dois inimigos de infância. O uso de pseudônimos para emular estilistas chiques, recurso utilizado por André Spina (L’Eclair) e copiado por Ariclenes Martins (Valentin) para afrontar o rival, é apenas um dos traços mais marcantes dessa comédia, escrita originalmente em 1985 por Cassiano Gabus Mendes e que tinha Reginaldo Faria (L’Eclair) e Luiz Gustavo (Valentin) interpretando os protagonistas. A inspiração do autor veio da disputa mantida entre os estilistas Dener Pamplona de Abreu e Clodovil Hernandes na década de 1970. Triângulos amorosos também garantem profundas rivalidades. O mais famoso deles, vivido por Sinhozinho Malta (Lima Duarte), Luís Roque Duarte (José Wilker) e Viúva Porcina (Regina Duarte) em “Roque Santeiro” (1985). No final da obra de Dias Gomes, houve até uma referência ao filme “Casablanca” (1942), clássico dirigido por Michael Curtiz e protagonizado por Humphrey Bogart (Richard Blaine) e Ingrid Bergman (Ilsa Lund), na famosa cena em que a mocinha teve que escolher se ficaria com um ou iria embora com o outro. Os dois finais possíveis foram gravados, mas o que entrou para a história foi a opção de Porcina por permanecer ao lado do coronel sertanejo. Laurinha Albuquerque Figueroa, a falida socialite de “Rainha da Sucata” (1990) vivida por Glória Menezes, entrou em rota de colisão com Maria do Carmo Pereira (Regina Duarte) pelo amor de Edu (Tony Ramos), chegando ao extremo de cometer suicídio jogando-se do alto de um prédio para tentar incriminar a rival. Outro interessante confronto envolveu os paranormais Fred (Nico Puig) e Aleph (Felipe Folgosi) em “Olho no Olho” (1993), de Antônio Calmon. Os olhos vermelhos de Fred e os azuis de Aleph, que simbolizavam o uso de seus poderes na batalha entre o Bem e o Mal, chamaram a atenção pelo uso de efeitos especiais, algo pouco comum na época.

Page 36: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

Qualquer que seja a vertente escolhida, confrontos como esses são sempre utilizados como elementos que podem tornar uma boa trama ainda mais interessante e atrativa.

Page 37: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#21 // 30 de agosto de 2010

Dez momentos esquecíveis É quase automático se lembrar de grandes sucessos quando se fala de telenovelas. Tanto que não é nada difícil estabelecer um ranking das melhores produções, pois muitas delas são constantemente lembradas em retrospectivas, oficiais ou não. E também existem os remakes para que antigos êxitos ganhem uma “roupagem” mais contemporânea e se tornem acessíveis a novas gerações. Mas, e quanto aos fracassos? Histórias que não deram certo também podem gerar um bom debate. Por isso, assim como fiz na primeira edição desta coluna, publico o meu ranking das “10 mais”, com uma diferença: desta vez, será com aquelas novelas que considero terem sido mal sucedidas, seja em relação ao enredo, seja no que tange a outros elementos, como problemas internos das emissoras. Ao mesmo tempo, estimulo os leitores a fazer essa mesma reflexão crítica para concordar ou discordar da lista abaixo. Um fato curioso é o de que, mais uma vez, a Rede Globo é a líder, pois quem mais produz está mais sujeito tanto ao êxito quanto ao insucesso. OS DEZ GRANDES FRACASSOS O Salvador da Pátria (Globo - 1989): A novela de Lauro César Muniz começou muito bem, com ótimas atuações de Luiz Gustavo (como o inescrupuloso radialista Juca Pirama), Tássia Camargo (Marlene) e, é claro, do protagonista Lima Duarte (Sassá Mutema). Porém, a novela perdeu o rumo com as mortes de Pirama e Marlene. Ficou provado que o esteio da trama passava intrinsecamente por eles. Na tentativa de consertar o problema, a situação piorou: posteriormente, Juca Pirama “retorna” por meio de uma rádio-pirata, mas a volta foi apenas por meio de sua voz, o que tornou uma história inicialmente interessante, focada na formação de um político usando a figura de um homem humilde (Sassá Mutema), motivo de chacota. Amazônia (Manchete - 1991): Um dos fatores que provocou a profunda crise responsável pelo afundamento da Rede Manchete anos depois, “Amazônia” foi uma aposta arriscada e dispendiosa. Depois do sucesso de “Pantanal” (1990), a responsabilidade dos autores Denise Bandeira e Jorge Duran era enorme. Com a proposta “Viver em dois tempos ao mesmo tempo... Romper 100 anos em 1 segundo”, uma parte da história se passava em 1899 e a outra no então tempo presente (1991). Dado o desespero pela baixa audiência, a primeira fase teve apenas 43 capítulos. A segunda completou o total de 162, mas não conseguiu reverter a insatisfação do público, que rejeitou a trama protagonizada por Marcos Palmeira (Caio-1899/Lúcio-1991) e Cristiana Oliveira (Camilla-1899/Milla-1991).

Page 38: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

O Mapa da Mina (Globo - 1993): Último trabalho do genial Cassiano Gabus Mendes, “O Mapa da Mina” tinha uma proposta interessante, baseada no roubo de diamantes no valor de dez milhões de dólares, realizado no Uruguai. Em seguida, veio o que se pode chamar de ideia infeliz: um dos integrantes da quadrilha, Ivo Simeoni (Paulo José), levou os diamantes para São Paulo e, depois de escondê-los, tatua o “mapa da mina” próximo às nádegas da menina Elisa (vivida por Carla Marins na idade adulta), que se torna uma noviça. A novela acabou se perdendo no andamento e não emplacou, apesar dos esforços para levantar a audiência, como inclusões no elenco (Fernanda Montenegro e Maurício Mattar) e trocas na direção. Antônio Alves, Taxista (SBT - 1996): Depois de viver personagens bem sucedidos em novelas da Globo, como Roberto Matias em “Roque Santeiro” (1985) e, principalmente, Jorge Tadeu em “Pedra sobre Pedra” (1992), o cantor e ator Fábio Jr. ganhou um papel de protagonista. Porém, a produção e a história foram tão ruins que “Antônio Alves” raramente é lembrado quando se fala de sua carreira. Talvez a ideia central do autor Ronaldo Ciambroni, a de um taxista aspirante a cantor, tenha sido um dos principais fatores que causaram a rejeição do público. Viralata (Globo - 1996): O autor Carlos Lombardi e o diretor Jorge Fernando não se entenderam desde o início e “Viralata” se tornou confusa e com exagerado apelo erótico. Humberto Martins (Lenin), Murilo Benício (Bráulio Vianna/Dráuzio) e Andréa Beltrão (Helena) protagonizaram um triângulo amoroso sem muita “química”, o que tornou o andamento ainda mais problemático, culminando em um resultado pífio. Zazá (Globo - 1997): Mariza Dumont (a Zazá) foi interpretada por Fernanda Montenegro. Contudo, ficou provado que nem mesmo uma atriz de tamanho gabarito é capaz de segurar uma trama sozinha. A falta de outros polos de sustentação, além de um número excessivo de personagens (só Zazá tinha sete filhos, por exemplo) fez com que “Zazá” se tornasse pouco interessante, ainda mais pelo fato de usar como mote um delirante projeto de uma descendente direta de ninguém menos que Santos Dumont: um avião atômico! Brida (Manchete - 1998): Baseada no livro homônimo de Paulo Coelho, “Brida” foi considerada a última cartada da Rede Manchete para evitar a falência, mas o que era uma solução tornou-se o golpe que a derrubou definitivamente. A situação da emissora, que já era caótica, se agravou com gastos acima de suas possibilidades, assim como ocorreu com “Amazônia” (1991). Com audiência baixíssima, não atingiu a meta estipulada de cinco pontos no Ibope e teve patrocínios cortados. Escrita por Jayme Camargo somente até o capítulo 14, foi continuada por Sônia Mota e Angélica Lopes por mais 40 capítulos. Em outubro de 1998, o elenco entrou em greve por falta de pagamento dos salários. No dia 23 daquele mês, “Brida” foi tirada do ar e o final da história foi narrado pelo locutor oficial da Manchete, Eloy De Carlo. Foi, de longe, o desfecho mais patético já registrado na história da teledramaturgia brasileira.

Page 39: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

As Filhas da Mãe (Globo – 2001): O próprio autor, Silvio de Abreu, se mostrou frustrado publicamente com a rejeição do público. Escritor acostumado com o sucesso, não soube assimilar o estranhamento diante de inovações como a utilização da linguagem de cordel, muito popular na região Nordeste, e do rap, a fim de explicar os acontecimentos. Para a Globo, foi uma produção “impecável”. Mas, se a audiência é baixa, não há o que sustente, nem mesmo um elenco estelar, encabeçado por Fernanda Montenegro, Raul Cortez, Tony Ramos e Cláudia Raia. É bem verdade que os atentados de 11 de setembro de 2001 atrapalharam, mas o pior dos danos veio com a falta de uma história central. Esperança (Globo – 2002): O que era para ser pura e simplesmente uma continuação da bem sucedida “Terra Nostra” (1999) se tornou um dos maiores problemas enfrentados pela Globo. O autor, Benedito Ruy Barbosa, não conseguiu utilizar a época da Segunda Guerra Mundial, pois a minissérie “Aquarela do Brasil” se passava no mesmo período. Dessa forma, foi escolhida a Grande Depressão de 1929, com a quebra da Bolsa de Nova Iorque. Mas, a repetição de elementos de “Terra Nostra” transformou “Esperança” em uma sucessão de clichês, tanto que ganhou o apelido de “Semelhança”. E a demora na entrega dos capítulos por parte de Benedito atrapalhou muito o andamento da história, além de fazer com que as pressões aumentassem, a tal ponto que o autor entregou a novela para Walcyr Carrasco a partir do capítulo 149. Os Mutantes (Record – 2008): Continuação da novela “Caminhos do Coração” (2007), a segunda parte da trilogia de Tiago Santiago (que terminou com “Promessas de Amor”, de 2009) é muito lembrada pelos “defeitos” especiais que caracterizavam os poderes dos mutantes, em uma desastrada tentativa de passar para o formato da telenovela brasileira histórias consagradas nos quadrinhos, na televisão e no cinema, como “X-Men”, “Heroes”, entre outras. Uma experiência alternativa que se mostrou infeliz.

Page 40: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#22 // 9 de setembro de 2010

Cenas antológicas Qual é a cena mais importante da história das novelas brasileiras? A escolha é tão difícil que é mais prudente fazer uma divisão básica entre momentos de suspense, dramáticos, românticos e cômicos. Selecionei um de cada tipo para se ter uma espécie de “pontapé inicial” nessa discussão, que rende muitos debates. Começando pelo suspense, temos uma das sequências de maior expectativa que já se viu: o anúncio do assassino de “A Próxima Vítima” na versão original, de 1995. As atuações de Paulo Betti (como o investigador Olavo) e de Cecil Thiré (o serial killer Adalberto Vasconcelos) foram brilhantes. O suspense foi tanto que o capítulo foi gravado no mesmo dia da exibição. Antes de a cena entrar no ar, a vinheta de retorno da novela é executada sem trilha sonora, como é possível notar no início do vídeo acima. Mais expectativa, ainda mais pelo fato de que, enquanto Olavo fala, Marcelo (José Wilker), um dos principais suspeitos, estava em primeiro plano, enquanto Adalberto ficava no fundo, sendo somente focalizado em close pela câmera quando seu nome é anunciado. Para se ter momentos de maior carga emocional, nada como uma briga entre marido e mulher. E a fúria de Leila (Cássia Kiss) ao atirar por engano em Odete Roitman (Beatriz Segall) em “Vale Tudo”, de 1988, fez uma cena forte e avassaladora, um verdadeiro drama. Reginaldo Faria (Marco Aurélio) mantinha um caso com Maria de Fátima (Glória Pires). Leila queria matá-la, mas como não conseguiu ver quem estava atrás da porta, acabou atirando em Odete Roitman. Para os mais românticos, uma das cenas mais importantes foi protagonizada por Regina Duarte (Simone) e Francisco Cuoco (Cristiano) no final de “Selva de Pedra” (1972). A expectativa pelo futuro do casal, à espera de um filho, marca esta cena e está estampada no rosto dos dois. A flor e a trilha sonora complementam a emoção do momento. Para concluir, a cena imbatível em termos de humor. Em “Guerra dos Sexos”, de 1983, Otávio (Paulo Autran) e Charlô (Fernanda Montenegro) não se restringiram a típica discussão verbal que casais travam. Com sarcástica elegância, apelaram para bolos, tortas e tudo o que havia na mesa do café da manhã para demonstrarem o quanto estavam fartos um do outro. Uma briga hilária, com atuações inesquecíveis. O detalhe mais importante é que esta cena foi gravada de uma só vez, sem cortes ou repetições. Estas são algumas cenas que considero antológicas. E você, quais são as suas?

Page 41: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#23 // 16 de setembro de 2010

Um novo fôlego? Com uma novela de Wálter Negrão, “Araguaia”, que irá substituir “Escrito nas Estrelas”, de Elizabeth Jhin, a Globo tentará enfrentar com novos recursos (inclusive a gravação em alta definição - HD) um antigo problema, a baixa audiência da faixa das 18h. O rótulo de ser o horário reservado para as tramas mais leves e românticas pode ser o principal fator que explica a dificuldade da emissora de emplacar uma trama? Sim e não, pois é sabido que boa parte do público ainda aprecia o velho formato do folhetim, que tem como núcleo central amores difíceis de serem concretizados, seja por diferenças étnicas, sociais, culturais ou etárias. Entretanto, o horário não é mais favorável, pois o perfil do público, de forma geral, mudou com o passar do tempo. Como já foi abordado em uma coluna anterior, a concepção de uma grade de novelas em três horários distintos (18h, 19h e 20h) já é uma realidade na Globo há mais de três décadas, fruto de muitas pesquisas. Porém, com as mudanças socioculturais no Brasil, especialmente nos últimos dez anos, o modelo se desgastou. De todas as faixas, a que melhor sobreviveu foi a das 20h, não só por concentrar, teoricamente, as melhores tramas, mas também porque mudou (foi para as 21h, dando mais tempo para que todos pudessem chegar em casa e assistir a TV) e por estar mais presente no imaginário coletivo (até hoje se fala “novela das oito” e não “das nove”; é o primeiro horário que a maioria lembra). No caso das 19h, somente com o remake de “Ti-Ti-Ti”, de Maria Adelaide Amaral, houve uma reação expressiva. O impacto positivo é devido, em grande parte, a um resgate do público que apreciava assistir novelas especialmente nos anos 80 (pela sequência de ótimas produções), mas que, a partir da década de 90, perdeu o hábito por julgar que houve queda na qualidade das histórias. Soma-se a isso a tendência de um “revival oitentista” e uma reprodução bem feita e se terá a fórmula do sucesso. Agora, basta a Globo acertar com “Araguaia” e, pelo menos de forma momentânea, a situação estará devidamente contornada, depois de alguns anos de tentativas frustradas. Ao trazer de volta como cenário a região amazônica, muito pouco explorada (como já foi abordado em coluna anterior), a emissora quer chamar a atenção do público para a beleza dos cenários. O elenco mistura atores e atrizes consagrados (Lima Duarte, Eva Wilma) com algumas caras novas. A região do rio Araguaia (que já foi cenário secundário em “O Rei do Gado”, de Benedito Ruy Barbosa) também mostrará um triângulo amoroso entre Solano (Murilo Rosa), Estela (Cléo Pires) e Manuela (Milena Toscano), temperado com misticismo indígena. Qual será o resultado? Somente nós, telespectadores, poderemos avaliar.

Page 42: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#24 // 20 de setembro de 2010

As “Dianas” da ficção A personagem Diana, interpretada por Carolina Dieckmann em “Passione” (atual novela das 21h), corre o sério risco de ser eliminada da história de uma forma trágica, sendo assassinada. Entretanto, ainda há muito mistério em torno dessa informação. Silvio de Abreu se notabilizou, ao longo de sua carreira, por manter vários enigmas, deixando o público curioso em meio a uma rede de boatos. De qualquer forma, se Diana realmente vier a ser morta, cabe uma análise de fenômenos desse tipo em telenovelas: personagens que não emplacam devem mesmo ser retirados? Quem deve decidir: o público, o autor ou a direção da novela? Pesquisas qualitativas realizadas junto a telespectadores são utilizadas com o intuito de avaliar não apenas o enredo, mas principalmente o desempenho de cada personagem. Essa análise rigorosa faz com que muitos personagens não sobrevivam até o final da trama, sendo tirados por bem (uma viagem para o exterior, por exemplo) ou por mal (morte por qualquer motivo). Os vilões geralmente são marcados pelo próprio autor para serem mal sucedidos, falecendo ou sendo presos, mas apenas no final da história na maioria dos casos. A situação é mais cruel com relação aos de boa conduta. É o caso da personagem Diana, que não agradou tanto a público quanto a crítica, que a classifica como “mal construída desde o início”. Porém, nem sempre os autores são suscetíveis aos humores de quem vê a novela e a avalia. Em “Por Amor” (1997), Manoel Carlos resistiu até o fim aos inúmeros apelos para que a personagem Maria Eduarda (Gabriela Duarte) fosse de alguma forma eliminada. A irritação chegou a tal ponto que até um site (“Eu Odeio a Eduarda”) foi criado como forma de protesto. Ironicamente, Gabriela vive agora uma personagem que agrada, a rica e mimada Jéssica de “Passione”. São as voltas que o mundo da teledramaturgia dá. Movimento contrário teve Carolina Dieckmann, muito bem como a Camila de “Laços de Família” (2000), de Manoel Carlos, e agora vivendo problemas com a Diana de “Passione”. Aos profissionais de TV, só resta continuar trabalhando, pois faz parte da carreira até dos mais consagrados viver uma “Diana”.

Page 43: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#25 // 30 de setembro de 2010

Privilégio de poucos O canal “Viva”, da Globosat, é uma das novidades apresentadas neste ano para assinantes da NET, da Sky e da Via Embratel. Inaugurado em maio, é focado em reprises de programas consagrados da Rede Globo, entre os quais se destacam novelas, minisséries e seriados. Infelizmente, não são todos que têm acesso a esse importante acervo. “Quatro por Quatro” (1994), de Carlos Lombardi, e “Por Amor” (1997), de Manoel Carlos, são dois exemplos de produções reexibidas pelo canal. As primeiras temporadas de “Malhação”, comprovadamente as melhores, também figuram em sua grade. Isso demonstra que uma antiga ideia acalentada por fãs da teledramaturgia tornou-se realidade. Um canal dedicado a clássicos, sem cortes profundos como no “Vale a Pena Ver de Novo”, que estragam a oportunidade daqueles que não puderam assistir na primeira exibição. Entretanto, faltou um estudo mais aprofundado do público potencial. A prova disso é a seguinte: em seus primeiros quatro meses de atividade, o canal atingiu a 16ª colocação entre os mais assistidos da TV paga brasileira, ainda que estivesse disponível em apenas 30% dos domicílios assinantes (de acordo com a base do Ibope). Ou seja, se fosse acessível a um número maior de pessoas, certamente teria uma aceitação ainda mais ampla. Mas, não há o interesse para que isso ocorra. O mais irônico é o fato de que o “Viva” seria uma concorrência forte demais até para a própria Globo. Tanto que as reprises de novelas consagradas no “Viva” não batem de frente com as atuais da “emissora-mãe”. Mais uma vez, os interesses comerciais se sobrepõem aos desejos do público. O “Viva” poderia ser perfeitamente um canal da TV aberta. Ou então uma espécie de grade de programação que ocuparia o sábado da Globo, substituindo a programas enfadonhos como “Zorra Total”. Encastelando-o na torre dos privilégios da TV paga, a Globo demonstra que tem noção exata do poderio de seu acervo e, ao mesmo tempo, da qualidade questionável de muitas de suas produções atuais.

Page 44: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#26 // 13 de outubro de 2010

A volta do “Quem matou...?” Com “A Próxima Vítima” (1995), Silvio de Abreu elevou ao máximo uma das perguntas recorrentes da teledramaturgia brasileira: “quem matou... (nome da vítima)?”. Em outras novelas, uma morte já era suficiente para movimentar toda uma história. De Salomão Hayala em “O Astro” (1977), de Janete Clair, até Odete Roitman em “Vale Tudo” (1988), de Gilberto Braga, muitas discussões foram despertadas por misteriosos assassinos. Agora, com “Passione”, Silvio quer mostrar que o enigma de cunho policial ainda atrai a audiência. No entanto, diferentemente do que se viu em épocas anteriores, várias cenas foram gravadas com o intuito de aumentar o clima de incerteza. Além do assassino, a própria vítima era uma incógnita, pois os personagens de Carolina Dieckmann (Diana), Marcello Antony (Gerson), Reynaldo Gianecchini (Fred), Mayana Moura (Melina) e Werner Schünemann (Saulo) foram escolhidos pelo autor como potenciais eliminados da trama. Saulo foi o primeiro, encontrado morto em uma cama de motel. Outra morte deverá acontecer nos próximos capítulos. A mais cotada era Diana (assunto de uma coluna anterior), mas não há mais qualquer prognóstico certeiro. Ao tornar a identidade do assassinado(a) também algo a ser descoberto, o novelista se inspirou em “A Próxima Vítima”, que teve uma série de execuções, orquestrada na versão original por Adalberto Vasconcelos (Cecil Thiré) e por Ulisses Carvalho (Otávio Augusto) quando a novela foi reexibida no “Vale a Pena Ver de Novo”, em 2000. Esse retorno a uma criação consagrada não é novidade: Gilberto Braga fez o mesmo em “Celebridade” (2003), quando Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana) foi morto por Laura (Cláudia Abreu). Ou seja, Lineu foi a Odete Roitman daquela vez, deixando para os vivos a tarefa de solucionar o mistério de seu trágico fim. Em suma: estamos diante de uma falta de criatividade? Não. Em todas as novelas, é normal haver pelo menos uma morte, seja por doença ou crime (passional ou não). É um recurso legítimo e perfeitamente compreensível, haja vista que toda produção precisa atingir determinados índices de audiência para manter seu curso normal, sem risco de cortes, mudanças drásticas ou improvisações que podem piorar ainda mais uma situação complicada. Ponto para Silvio de Abreu, que mais uma vez conseguiu dar um impulso a uma história (neste caso, uma que já sofria vários questionamentos por parte de público e crítica) utilizando o “Quem matou...?”, mas com uma “novidade” reciclada: quem será a próxima vítima?

Page 45: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#27 // 18 de outubro de 2010

Paródia de Novela: Fogo no Rabo O programa “TV Pirata”, exibido pela Rede Globo de 1988 a 1992, foi um dos marcos do humorismo na televisão, sendo uma das atrações mais lembradas pelos fãs do gênero. Um de seus principais quadros fixos foi a novela “Fogo no Rabo”, uma paródia muito bem humorada de “Roda de Fogo” (1986). Com Luiz Fernando Guimarães (Reginaldo Nascimento), Débora Bloch (Natália), Louise Cardoso (Clotilde), Ney Latorraca (Barbosa), entre outros, a novela se destacava pela irreverência, uma crítica a clichês de folhetim, como romances melosos, vilões exageradamente inescrupulosos, merchandisings descarados e canastrices em geral. Um dos momentos mais engraçados era protagonizado por Reginaldo. Sempre que seu nome era mencionado, tocava a música “O Amor e o Poder”, da cantora Rosana Fiengo, trilha da novela “Mandala” (1987). Esse tipo de paródia é interessante, pois chama a atenção para aspectos que se repetem em quase todas as tramas, tornando a sátira inevitável. Muitas outras versões de grandes sucessos foram feitas ao longo dos anos, inclusive na própria TV Pirata. O Casseta & Planeta Urgente também se especializou nesse tipo de quadro. A novela real, muitas vezes voltada para o drama, se torna uma grande comédia, com o propósito de transformar caricaturas irônicas em símbolos de uma crítica “caseira” a marcas registradas da própria emissora. Sinopse: Reginaldo (Luiz Fernando Guimarães) é um empresário sem escrúpulos que mantem um caso amoroso com a fatal Penélope (Cláudia Raia), mas se aproveita da ingenuidade da apaixonada Natália (Débora Bloch) para explorar a família desta. O pai de Natália, Barbosa (Ney Latorraca), é um velho caquético que só repete a última palavra de tudo que os outros dizem e não consegue comandar a família, para o desespero de sua mulher, Clotilde (Louise Cardoso), a "cabeça" do clã. Amílcar (Diogo Vilela) é o outro filho do casal, um jovem e rebelde estudante que critica a sociedade, o governo, e não aceita a vida "alienada" de Clotilde e Barbosa. O sonho da romântica Natália é casar-se com seu amado Reginaldo e "ter dois filhos lindos: Danielle Aparecida e Cléverson Carlos". Mas ele na realidade a despreza e a usa para seus golpes. Para auxiliá-lo, Reginaldo conta com a prestativa secretária, dona Mariana (Regina Casé), e com seu capanga Agronopoulos (Guilherme Karan), uma criatura bizarra, misto "high-tech" de Corcunda de Notre-Dame e Nosferatu.

Page 46: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#28 // 25 de outubro de 2010

Novelas – O triunfo do politicamente correto Há quanto tempo não se vê transgressões na telinha, na “novela das oito” (hoje, “das nove”)? Entenda-se por “transgressão” aquelas atitudes que fogem do conjunto de regras comportamentais que rege a sociedade, com mãos invisíveis e, ao mesmo tempo, pesadas. Muitas mudanças ocorreram nos últimos anos, com o aumento progressivo da preocupação com o poder de influência das produções televisivas. Indo ao encontro de campanhas que visam diminuir a adesão ao tabagismo, especialmente por parte dos jovens, fumantes foram sumariamente cortados das novelas. Eles ainda são admitidos, ainda que em escala muito reduzida, em produções que não ocupam o horário considerado “nobre” (de maior audiência) como seriados, por exemplo. Afinal, tenta-se evitar o “mau exemplo” ou o que é classificado por alguns como “glamourização” do ato de fumar, o que vai contra o princípio de prevenir o surgimento de problemas de saúde e uma predisposição ao vício. O álcool não chegou a ser extinto. Ainda é possível ver personagens que consomem bebida alcoólica. Porém, isso é cada vez mais raro. Também é crescente a pressão para que não se mostre o consumo de bebidas como algo a ser seguido em termos de estilo. Era notório em várias novelas que o consumo de uísque sinalizava status social, enquanto o de cerveja remetia a uma realidade mais popular, de subúrbio. Os núcleos dos ricos e dos pobres ficavam até mais assinalados. Além disso, outra grande mudança dos tempos recentes foi a eliminação de uma linguagem mais próxima da realidade cotidiana, onde cabiam até mesmo referências a sexo, gírias correntes e uma ou outra palavra de baixo calão. Dessa forma, temos um quadro de “pasteurização” da linguagem da telenovela, que foi se tornando cada vez mais adequada a um padrão considerado “aceitável” por aqueles que defendem a tese da retirada de possíveis maus exemplos. É a vitória do “politicamente correto”. Os vilões foram os mais afetados, pois perderam muito espaço. Os antagonistas foram ajustados a essa nova realidade, adotando um padrão de comportamento mais discreto. Até que ponto tais mudanças foram benéficas ou prejudiciais para o nível de interesse e atratividade das novelas é algo para se analisar de forma mais profunda e científica. Em princípio, acredito que suprimir características inerentes ao ser humano, como tensão, tendência a vícios e comportamentos eticamente questionáveis, não contribui para um dos principais propósitos de produções culturais: entender o comportamento humano de forma abrangente, verificando como podemos lidar com nossas próprias fraquezas.

Page 47: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#29 // 3 de novembro de 2010

Televisão – A terrível “geladeira” O pior temor de qualquer profissional de televisão é passar pela famigerada “geladeira”, ou seja, permanecer um tempo fora do ar, mesmo sendo contratado por alguma emissora. Uma espécie de desemprego disfarçado de período sabático. Em relação a novelas e séries, a verdade é que nem sempre é possível encaixar todos os integrantes de um elenco nas produções em curso. Por isso, o teatro e o cinema são as alternativas mais procuradas por atores e atrizes que não desejam desaparecer da mídia e, portanto, dos olhares do público. A situação atual é diferente de outros tempos, quando a Globo atuava praticamente sozinha na produção de novelas próprias, especialmente após a extinção da Manchete. Mas o SBT e a Record cresceram de forma expressiva nesse segmento nos últimos dez anos, pois passaram a adotar como diretriz a consolidação de um núcleo de teledramaturgia. Isso fez com que o mercado se expandisse. Assim, quem não é aproveitado pela Globo pode mudar de ares e ter a chance de trabalhar. Porém, a atuação em peças teatrais e em filmes foi a solução encontrada por muitos para ampliar os horizontes e as próprias potencialidades, evitando qualquer possibilidade de permanecer na “geladeira”. O ator Selton Mello é uma referência nesse aspecto, pois iniciou sua carreira na televisão em novelas, fez seriados, dublagens e, atualmente, se concentra basicamente em produções cinematográficas, tanto como ator quanto nas funções de produtor e diretor. Antes de protagonizar a série “A Cura” neste ano, na qual interpretou o médico Dimas Bevilláqua, sua última aparição em TV havia sido em 2007, na série “O Sistema”, como o fonoaudiólogo Matias. Já no segmento telenovela, Selton não é visto desde “Força de um Desejo” (1999), de Gilberto Braga e Alcides Nogueira, quando fez o papel de Abelardo Sobral. Essa preferência por produções que levem menos tempo do que uma novela, como é o caso de “A Cura” (série dividida em temporadas), pode se tornar uma tendência cada vez maior, não só pela própria preferência dos profissionais, que teriam mais tempo para se dedicar a outros tipos de trabalho, mas também por decisões das emissoras, que veem nesse tipo de produção uma chance de obter uma audiência qualificada, sem a necessidade de investimentos vultosos.

Page 48: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#30 // 8 de novembro de 2010

Televisão – Preservação da imagem Não ter a imagem desgastada devido a uma sucessão de aparições na telinha é um dos maiores desafios dos profissionais de TV. Atores e atrizes recebem convites com frequência, especialmente se estão vivenciando o sucesso com um determinado personagem. Convém a quem recebe esses convites verificar os próprios limites e conveniências de uma exposição além do razoável de uma novela para outra. É bem verdade que as emissoras detêm, em muitos casos, a última palavra quando se trata de escalações, mas a vontade de quem é convidado deveria prevalecer. O público pode ficar confuso e cansado vendo um mesmo ator interpretar um vilão em uma novela e depois um inocente manipulável em outra. Por essas e outras é que a Globo decidiu manter na “geladeira” (assunto da coluna anterior) atores que voltaram após um período na Record, evitando um estranhamento do público. Gabriel Braga Nunes, Lavínia Vlasak e outros aceitaram sair, pois queriam ter mais espaço. Sem dúvida, se tornaram estrelas de primeira grandeza no elenco da Record, mas acabaram aceitando retornar à antiga casa, talvez em busca de possuir esse status na emissora que antes os tratava como meras opções. Dessa forma, a “geladeira” não seria uma retaliação nem o pior dos mundos. E, como também foi dito na coluna da última semana, existem outras opções no mercado de atuação. Uma renovação dos chamados “protagonistas do primeiro time” está lentamente em curso na Globo, mantendo-se, é claro, muito respeito por aqueles que fizeram a fama das novelas do canal. Afinal, Lima Duarte, Tony Ramos, Regina Duarte e tantos outros não podem ser simplesmente descartados. Aos poucos, outros ocupam seus lugares, mas sem que eles sejam deixados de lado. O apoio deles é importante para a qualidade das cenas e do próprio desenvolvimento da trama. É só assistir a “Araguaia” e ver Lima Duarte como Max Martinez. Não é necessário ser o “galã” para ser importante. Muito pelo contrário.

Page 49: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#31 // 15 de novembro de 2010

Vilões – A redenção é possível? Os vilões são os personagens que mais geram sentimentos no público. A começar pela ojeriza por aqueles que desconsideram qualquer valor ético e se mostram inescrupulosos nos negócios e até mesmo com familiares, amigos e cônjuges. Contudo, nem sempre eles são rejeitados. Em alguns casos, um vilão pode se redimir e, assim, conquistar a simpatia de muitos, que passam a torcer por ele. Como isso é possível? Tudo depende dos rumos pelos quais os autores desejam conduzir suas histórias. O termo “turning point” (“ponto de virada”, em tradução livre) serve como classificação para os momentos em que uma trama sofre uma grande reviravolta, mudando a vida dos personagens. Os vilões não estão alheios a isso. E uma das maiores provas disso se deu em “Roda de Fogo” (1986), de Lauro César Muniz. O empresário Renato Villar, completamente frio e inescrupuloso no início, passou a ser visto de outra forma depois da descoberta de um tumor em seu cérebro, que lhe condenava à morte. Mudando radicalmente de comportamento, passou a ser o alvo de uma conspiração que visava incriminá-lo, planejada por aquele que o substituiu no papel de vilão da história, o advogado Mário Liberato (Cecil Thiré). No caso de “Roda de Fogo”, a alteração surtiu efeito e obteve êxito. Porém, trata-se de um expediente arriscado, pois não é garantido que o público irá aceitar facilmente qualquer tipo de mudança comportamental. É necessário que haja um ou mais fatores de grande impacto que a justifiquem, a exemplo da grave doença que acometeu Renato Villar. Além disso, é fundamental que o ator ou atriz que desempenha o papel tenha a versatilidade necessária para manter a qualidade do personagem. Na vida real, seres humanos podem se arrepender de seus atos e serem perdoados. O limite para isso, no entanto, é bastante restrito em obras de ficção. Como a história tem núcleos de personagens definidos, é muito difícil ter uma razão plausível para escapar das características atribuídas inicialmente, que os rotulam e os colocam em papéis de protagonistas, antagonistas ou coadjuvantes. Muitos personagens recorrem a mudanças temporárias de conduta visando um determinado objetivo (uma conquista amorosa, por exemplo). Depois, pode ou não ocorrer o retorno à canalhice que todos esperam. Gerar essa expectativa pode ser bastante positivo, haja vista que os vilões, sem dúvida, são essenciais para uma boa trama.

Page 50: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#32 // 22 de novembro de 2010

Novelas – O SBT corre perigo Apesar de não ser a principal emissora do Brasil em termos de produções próprias no segmento de novelas, o SBT possui relevância histórica suficiente para que os adeptos da teledramaturgia fiquem preocupados com a atual situação. A crise do Grupo Silvio Santos (do qual o SBT faz parte), provocada por uma fraude bilionária no Banco Panamericano, impõe uma enorme incerteza sobre o futuro da emissora. Historicamente, o SBT vive de lampejos, provocados por um conjunto de fatores favoráveis. Ou seja, sempre faltaram dois elementos fundamentais para o sucesso: planejamento e comprometimento. Nos anos 80, isso era até compreensível, considerando-se o fato de que a então TVS tinha dificuldades estruturais em seus primeiros anos de existência (foi criada em 1981). Os melodramas importados junto a principal emissora do México, a Televisa, eram a principal tábua de salvação, muitas vezes por meio de adaptações de qualidade questionável. A exceção foi “Os Ricos Também Choram”, que foi um grande sucesso em 1982. Essa novela teve uma versão alternativa em 2005, também no SBT, mas o êxito não se repetiu. Somente a partir da década de 90 foi possível realizar investimentos próprios expressivos. As primeiras produções relevantes, de ótima qualidade, foram ao ar em 1994: “Éramos Seis” e “As Pupilas do Senhor Reitor”, remakes de sucessos dos anos 70 da TV Tupi e da Record, respectivamente. Com elas, foi possível pensar que o SBT se tornaria uma alternativa à Globo, ainda mais com o processo de declínio que a Manchete enfrentava. Em 1995, mais um remake obteve êxito: “Sangue do Meu Sangue”, originalmente exibida pela TV Excelsior em 1969. No ano seguinte, o número de produções subiu consideravelmente, com a emissora se arriscando fora do terreno mais seguro das reproduções de sucessos. A novela “Colégio Brasil”, voltada para o público jovem, chegou a rivalizar no Ibope com “Malhação” da Globo. Contudo, outras não tiveram a mesma sorte, como “Antônio Alves, Taxista”, um fracasso. O principal problema é o fato de que, como o SBT não criou uma estrutura própria para as novelas, como a Globo (Projac) e também a Record (Recnov) anos depois, dependia de produtoras terceirizadas. Qualquer desentendimento entre Silvio Santos e alguma dessas contratadas era motivo para encurtamentos e cortes sumários, o que descontinuava projetos inteiros. Foi o caso de “Colégio Brasil”, por exemplo. Para evitar problemas com os índices de audiência, mais um remake foi elaborado: “Os Ossos do Barão”, de 1997. Foi a última novela do ator Thales Pan Chacon, falecido aos 41 anos um mês após o término da produção. No mesmo ano, a argentina “Chiquititas” teve uma versão exibida pelo SBT (coproduzida com a Telefé), que fez sucesso junto ao público infanto-juvenil.

Page 51: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

Nos anos seguintes, voltou-se ao ciclo de adaptações de tramas latinas, como a argentina “Pérola Negra”, levada ao ar em 1999. Ao longo dos anos 2000, o SBT pouco arriscou, preferindo tramas que não exigiam tanto investimento. A parceria com a Televisa voltou com mais força em 2001, quando foi produzida “Pícara Sonhadora”. O termo “pícara” (que quer dizer “travessa”) virou piada dentro e fora da emissora. A novela era ruim tecnicamente, mas obteve boa média de audiência (17 pontos, com picos de 26). “Canavial de Paixões” (2003) bateu de frente com “Celebridade”, da Globo, e não fez feio. Só que a eterna inconstância do SBT (leia-se de Silvio Santos) nunca fez com que um núcleo de teledramaturgia ficasse realmente consolidado. Sempre foi mais cômodo e barato apelar para remakes (de novelas brasileiras ou não) ou para produções do México e da Argentina. O acervo da massa falida da Manchete se tornou outra saída interessante. “Pantanal” foi um bom exemplo, tendo uma boa repercussão em 2008, ao contrário de “Revelação”, escrita pela esposa de Silvio Santos, Íris Abravanel. Foi a primeira produção feita totalmente pelo SBT depois de quase uma década de submissão ao contrato de parceria com a Televisa. Mesmo assim, Íris não desistiu e com “Vende-se um Véu de Noiva” (2009) obteve uma boa reação. Tanto que a agora novelista terá mais uma oportunidade, com “Corações Feridos”, ainda sem data prevista de estreia. O impasse da atual situação faz com que outras eventuais novelas corram sério risco de não serem produzidas, devido a sérias restrições orçamentárias. “Uma Rosa Com Amor” (2010) não teve a aceitação esperada, foi encurtada, mas demonstrou reação em termos de audiência na reta final. Não é um bom sinal, pois os números do Ibope têm muita influência sobre os humores de Silvio Santos. É muito difícil saber qual será o futuro do SBT no setor novelístico, assim como em todos os outros departamentos da emissora. Resta aguardar pelos próximos capítulos dessa intrincada novela.

Page 52: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#33 // 29 de novembro de 2010

SBT – “A Fórmula Boni” José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, um dos mais importantes profissionais da televisão brasileira, pode ir para o SBT. O convite de Silvio Santos lhe daria plenos poderes sobre a programação da emissora, tornando possível uma espécie de retomada na luta pelo segundo lugar em audiência, perdido para a Record. Mas, será mesmo que existe uma “Fórmula Boni” que eliminaria todos os problemas do SBT de uma só vez? É evidente que se trata de uma missão para poucos. Recuperar o SBT, ainda mais na atual conjuntura (assunto da coluna anterior), demandaria tempo e recursos financeiros, humanos e estruturais. Do tripé fundamental, formado por jornalismo, entretenimento e dramaturgia, dois segmentos são historicamente problemáticos na emissora, com apenas alguns lampejos dignos de nota. No jornalismo, o “TJ Brasil” nos tempos de Boris Casoy e o “Aqui Agora”, com o sensacionalismo policialesco, foram os únicos expoentes de expressão. Já no setor de novelas, alguns remakes e produções estrangeiras obtiveram sucesso, a exemplo da mexicana “Carrossel”, ícone infantil de uma geração (que não consta na coluna anterior, pois merece um texto especial como homenagem, a ser publicado na próxima semana). Mesmo assim, a emissora nunca teve um núcleo próprio consolidado na dramaturgia. O grande problema se chama Silvio Santos. Desde a sua fundação, o SBT tem como único alicerce o carisma de seu líder, que sustenta a grade de entretenimento. Esse controle absoluto se estende para outras áreas, mediante os humores do patrão provocados pelos índices de audiência. A instabilidade da programação faz com que tanto anunciantes quanto telespectadores não se sintam incentivados a seguir o SBT. Boni poderia implementar um padrão de qualidade, mas nunca o mesmo que fez na Globo. Afinal, sem Walter Clark, Joe Wallach e outros profissionais de primeira linha que o ajudaram na criação do “Padrão Globo de Qualidade” nos anos 70, não há como fazer mágica. Por isso, é importante ressaltar que, caso Boni realmente aceite ser o diretor geral do SBT, terá que realizar mudanças graduais, evitando possíveis desgastes com quem já está lá. No que se refere a novelas, a situação está atualmente sob o controle da esposa de Silvio Santos, Íris Abravanel, com suas tramas ainda sem muita consistência. Criar e consolidar um núcleo de produção seria apenas o primeiro passo de um longo caminho.

Page 53: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#34 // 6 de dezembro de 2010

História – Embarque nesse Carrossel “Embarque nesse carrossel... onde o mundo faz de conta... a terra é quase o céu”. Quem era criança e assistia televisão no início dos anos 90 certamente se lembra dessa música. E, na maioria dos casos, com muitas saudades dos tempos de infância. Pueril, ingênua, mas ao tempo contundente, “Carrossel”, novela mexicana escrita em 1989 por Valeria Phillips, Lei Quintana e Abel Santa Cruz, foi produzida pela Rede Televisa (a maior emissora do México) e exibida quatro vezes no Brasil pelo SBT. A primeira vez foi no período de 20 de maio de 1991 a 21 de abril de 1992. Posteriormente, a emissora de Silvio Santos a reprisou nos anos de 1993, 1995 e 1996. Com 375 capítulos, foi uma das telenovelas mais longas da História e um verdadeiro ícone de uma geração. Foi uma das poucas produções do México que alcançou sucesso absoluto no Brasil. Misturava temas como a relação afetiva de alunos de Ensino Fundamental com uma professora e dramas pessoais, especialmente familiares. A atriz Gabriela Rivero, que interpretou a professora Helena Fernández, foi o grande destaque, defendendo seus alunos como uma mãe e, ao mesmo tempo, lidando com as atribuições e as responsabilidades de ensiná-los a ler, escrever e, principalmente, a lidar com os problemas da vida. Alguns consideraram “Carrossel”, assim como outras novelas mexicanas, excessivamente melodramática, uma característica de produções daquele país. Isso é perfeitamente compreensível, haja vista que os alunos da Escola Mundial, como Jaime Palillo (Jorge Granillo), Cirilo Rivera (Pedro Javier Viveros), Maria Joaquina Villaseñor (Ludwika Paleta) e Daniel Zapata (Abraham Pons), protagonizavam situações que ressaltavam estereótipos existentes em qualquer escola do planeta: o menino gordo e briguento, o garoto negro vítima de preconceito racial, a menina rica e mimada, a criança aplicada nos estudos e vista com desconfiança por outros, entre tantos outros perfis. Em vários capítulos, o “bullying” (conjunto de atos de violência física ou psicológica praticados de forma sistemática) era mostrado como uma realidade corriqueira e inevitável, ainda que, na época, esse termo não era utilizado para classificar práticas muito comuns entre crianças que estão no Ensino Fundamental. A exemplo do que ocorreu com os seriados mexicanos “Chaves” e “Chapolin”, também exibidos no Brasil pelo SBT, o trabalho dos dubladores, a exemplo de Marlene Costa (voz da professora Helena), foi fundamental para o sucesso. O público infantil se identificou e foi cativado pela trama, comovendo-se em vários momentos, como na morte do zelador Firmino (Augusto Benedito e depois Armando Calvo). As tentativas frustradas do ingênuo Cirilo em conquistar a esnobe Maria Joaquina ou as aventuras da “Patrulha Salvadora” foram alguns dos principais elementos que impulsionaram o enredo.

Page 54: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

A novela procurou deixar lições para as crianças, como alertas sobre oferecimentos de estranhos, relações entre diferentes classes sociais e, como não poderia deixar de ser, a importância do estudo para a formação do ser humano e do cidadão. O sucesso foi tão estrondoso que, além de transformar os atores em verdadeiras celebridades, gerou duas continuações: “Carrossel das Américas” (1992) e “Viva as Crianças! – Carrossel 2” (2002). Estas também foram exibidas no Brasil pelo SBT, obtiveram bons índices de audiência, mas não alcançaram o mesmo sucesso da trama original. Apesar disso, deixaram um importante legado e demonstraram que é possível fazer novelas direcionadas a crianças com temáticas pertinentes, sem perder a ternura necessária a fim de transmitir lições essenciais para a vida. Errata: O leitor Rodolfo Albiero, de Porto Feliz (SP), apontou um equívoco deste jornalista nesta coluna: a dubladora da professora Helena Fernández (interpretada por Gabriela Rivero) foi Marlene Costa, e não Adriana Torres, como estava no texto original. Adriana foi a dubladora da personagem Maria Joaquina Villaseñor (vivida por Ludwika Paleta). (Esta errata foi publicada na coluna posterior, em 13 de dezembro de 2010. Nesta coletânea, foi colocada logo após o texto ao qual está relacionada como forma de ressaltar a correção, que foi feita para esta publicação.)

Page 55: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#35 // 13 de dezembro de 2010

Balanço – Enredo Virtual em 2010 O ano de 2010 foi o primeiro na história da coluna “Enredo Virtual”. Depois de 34 textos, aproveito o ensejo proporcionado pelo fim do ano e faço um breve balanço do que foi colocado neste espaço ao longo da temporada. Logo na primeira coluna, no dia 12 de abril, fiz o meu ranking pessoal das dez melhores novelas da história da TV brasileira, o que teve um contraponto somente na 21ª edição, com os dez grandes fracassos. Ao longo do ano, as produções da Rede Globo receberam grande destaque. Além das novelas, seriados e minisséries também receberam atenção especial. Entretanto, outras emissoras não ficaram sem uma retrospectiva histórica. Novelas do SBT e da Manchete foram bastante comentadas por terem tido relevância, especialmente quando incomodaram a Globo em termos de índices de audiência. Alguns aspectos, como critérios para a escolha de novelas para o “Vale a Pena Ver de Novo”, escalações de elenco, importância dos vilões, entre outros, foram colocados em perspectiva cultural e histórica, o que cumpriu o principal objetivo de “Enredo Virtual”: conceder à teledramaturgia brasileira o status devido.

Page 56: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#36 // 10 de janeiro de 2011

Novela das nove, finalmente! “Enredo Virtual” inicia 2011 falando de uma mudança aparentemente simples, mas que muda um hábito histórico da cultura brasileira. Nas chamadas para a sua próxima novela, “Insensato Coração”, escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares, a Globo finalmente reconheceu, depois de anos mantendo uma tradição caduca, que a faixa mais nobre reservada para novelas está nas 21h, ou como nós costumamos dizer, “às nove da noite”. Mas, será que esta alteração se deve apenas a uma adequação à realidade que já predomina nos últimos anos? Infelizmente para a emissora, não. O principal motivo é o fato de que, em 2010, o “Jornal Nacional” teve a pior audiência em mais de 40 anos de exibição. De acordo com dados do Ibope, o programa jornalístico atingiu média de 29,8 pontos na Grande São Paulo e teve 49,3% de participação no número de televisores ligados (o famoso “share”) na região. Foi a primeira vez que o índice ficou abaixo de 50%. Diante da tendência de queda, a emissora mudou o horário de exibição de seus programas da chamada “faixa nobre” no final do último ano. As atrações que começavam a ser transmitidas às 20h passaram a entrar no ar 15 minutos mais tarde. O próprio "Jornal Nacional" passou a ser exibido às 20h30, enquanto a novela “Passione”, de Silvio de Abreu, às 21h10, tendo capítulos exibidos até as 22h15 ou além. As novelas das 18h (“seis”) e das 19h (“sete”) ainda podem ser chamadas assim, ainda que seus horários também tenham mudado, respectivamente para 18h15 e 19h30 (considerando que os jornais de cada região são exibidos entre uma e outra). Se tais mudanças se refletirão em um resgate da audiência perdida, só o tempo dirá. Mas a tendência cada vez maior é a de que o hábito de ver TV, seja qual for o horário, está sendo deixado de lado, especialmente pelos mais jovens. A “culpada”, para variar, é a internet. DADOS: Segundo a coluna de Keila Jimenez, do jornal “Folha de S.Paulo”, os dados relativos ao “Jornal Nacional” representam uma queda de 24% no índice de audiência comparado a 2000, quando a atração registrou média de 39,2 pontos e 56% de share. Ou seja, de cada quatro telespectadores, um deixou de sintonizar a emissora no horário em que o “JN” foi exibido no período. Em 2004, o “JN” chegou a ter 61,9% em participação de televisores ligados e atingir média de 39,4 pontos de audiência. Outra novidade para 2011 é a criação de um blog e de um Twitter para a coluna. Acesse http://enredovirtual.wordpress.com e siga as atualizações em http://twitter.com/EnredoVirtual. Não perca as cenas dos próximos capítulos, sempre às segundas-feiras. Feliz Ano Novo!

Page 57: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#37 // 17 de janeiro de 2011

O fim de Arósio, a “Furacão” Ana Paula Arósio não é mais atriz da Globo. Doze anos após ter deixado o Brasil estarrecido com sua atuação na minissérie “Hilda Furacão”, a bela paulistana de olhos azuis, hoje com 35 anos, demonstrou estar desgastada com a rotina da televisão. Convidada a ser a protagonista de “Insensato Coração”, novela das nove que estreia hoje na Globo, decidiu recusar, se ausentando das gravações do folhetim de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. A personagem Marina ficou então com Paola Oliveira. Bem sucedida na carreira de modelo, Ana Paula começou sua trajetória como atriz de televisão no SBT, em “Éramos Seis” (1994). Também integrou os elencos de “Razão de Viver” (1996) e “Os Ossos do Barão” (1997). Atuante no teatro, chamou a atenção de Wolf Maya, que lhe fez o convite para ser a polêmica Hilda Furacão, uma prostituta que se apaixona pelo religioso Frei Malthus, vivido por Rodrigo Santoro. Provocante e sensual, fez muito sucesso e se lançou como potencial integrante do primeiro time do elenco da Globo, o qual ainda não integrava por ser contratada do SBT. Um acordo entre as duas emissoras foi o que viabilizou a participação de Ana Paula na trama. O maior prêmio que recebeu foi, logo em seu primeiro papel como atriz da Globo, uma oportunidade como protagonista no horário nobre: a Giuliana de “Terra Nostra” (1999), um grande sucesso de Benedito Ruy Barbosa. Par romântico de Matteo (Thiago Lacerda), Ana Paula ascendeu de vez. Sua beleza com traços clássicos e seu estilo marcante de interpretação a credenciaram para tramas de época, como as das séries “Os Maias” (2001), “Um Só Coração” (2004) e “Mad Maria” (2005). Em “Esperança” (2002), mais uma produção de época, fez uma personagem que obteve raro êxito em uma novela tumultuada, a judia Camille, sua primeira vilã. Somente em 2006, em “Páginas da Vida”, como Olívia Martins de Andrade, viveu uma personagem contemporânea, provocando uma polêmica logo no início ao fazer uma cena de strip-tease em sua lua-de-mel. Entretanto, pareceu ter perdido o brilho que a consagrou. Não houve uma “química” entre o padrão de Manoel Carlos e o estilo de Ana Paula. Em 2008, com “Ciranda de Pedra”, voltou a viver uma dama de um período clássico, desta vez Laura Toledo Silva Prado, durante a década de 50. O seu sucesso junto ao público, interpretando uma mãe de filhas adultas tendo na vida real apenas 32 anos, fez com que evitasse a morte de Laura, programada inicialmente. Ou seja, parecia ter ressurgido mesmo em uma novela que foi considerada um fracasso de audiência (teve a pior média da década no horário das 18h). Um novo desafio para provar que pode se sair bem na pele de mulheres atuais surgiu com o seriado “Na Forma da Lei”, de 2010, quando Ana Paula foi a promotora Ana Beatriz Tavares de Macedo. E ela se saiu muito bem, contribuindo para os bons índices de audiência da série. No entanto, quando

Page 58: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

parecia que novos horizontes iriam se abrir no segmento de novelas, decidiu pedir demissão depois de ser desligada de “Insensato Coração”. Tudo indica que ela deseja iniciar um novo ciclo em sua vida. Seus próximos passos ainda são desconhecidos, mas certamente suas atuações não serão esquecidas, especialmente quando foi Hilda Gualtieri Müller, a “Furacão”.

Page 59: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#38 // 24 de janeiro de 2011

O retorno de Victor Valentim Luis Gustavo conseguiu, em apenas uma cena, garantir de vez o seu lugar na história da teledramaturgia brasileira. No capítulo de “Ti-ti-ti” que foi ao ar no último dia 18, teve a chance de refazer, passados 25 anos, um de seus personagens mais consagrados: o estilista Victor Valentim. Atuar em novelas diferentes com o mesmo personagem não é um fato inédito, ainda que seja raro. O que ocorreu pela primeira vez (salvo engano) foi a interpretação, por parte de um mesmo ator, de um mesmo papel de protagonista, tanto na versão original quanto no remake de uma trama, mesmo que por apenas alguns minutos. A homenagem de Maria Adelaide Amaral a Luis Gustavo também é um tributo à obra de Cassiano Gabus Mendes, o que pode ser comprovado por outros retornos promovidos nesta versão contemporânea de “Ti-ti-ti”: a vedete Kiki Blanche (Eva Todor) de “Locomotivas” (1977), a “Divina” Magda (Vera Zimmermann) de “Meu Bem, Meu Mal” (1990) e, é claro, o detetive Mário Fofoca (o próprio Luis Gustavo) de “Elas por Elas” (1982). Não é fácil encaixar personagens de tantas tramas em uma só, ainda mais considerando que o remake de “Ti-ti-ti” contém vários elementos de “Plumas e Paetês” (1980), como os personagens Renato, Edgar e Marcela. Um exercício interessante é o de verificar as diferenças inevitáveis provocadas pelo novo enredo criado por Maria Adelaide. Totalmente comprometida com a obra daquele que chama de “mestre”, ela usou a criatividade e conseguiu reunir um elenco muito bem escalado, que mescla jovens valores com talentos mais do que consagrados. A “Ti-ti-ti” do biênio 2010-2011 é leve, ágil, cômica e interessante, além de ter resgatado a audiência do horário. Uma novela das sete como há muito tempo não se via. A última que havia reunido tantas qualidades, na opinião deste colunista, foi “Salsa e Merengue” (1996), de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Tal fato demonstra não só a força da obra de Cassiano, falecido há 18 anos, mas também a importância de se valorizar trabalhos que se tornaram verdadeiros clássicos. É a prova definitiva de que o público aprecia o resgate de bons momentos, a fim de que os fãs mais antigos possam ter a chance de relembrar e os mais jovens se sintam atraídos pelo gênero novela, adaptado a uma nova realidade imposta pelas profundas mudanças que o século XXI trouxe. Que Luis Gustavo, com “Don Valentim”, tenha sido somente o primeiro a ter uma nova chance.

Page 60: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#39 // 31 de janeiro de 2011

Problema às 21h Ainda não foi desta vez que uma novela das nove da Globo (pelo menos em seu início) sinaliza uma mudança na tendência de queda do Ibope no horário. “Insensato Coração”, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, manteve praticamente a mesma média da antecessora, “Passione”, de Silvio de Abreu. Quais seriam as possíveis explicações? Em uma primeira análise, é possível detectar uma fraqueza óbvia: a escalação do par romântico principal. Eriberto Leão não transmite, tanto em sua fisionomia quanto na forma de interpretar o piloto de avião Pedro, características de um galã protagonista. Nesse aspecto, Gabriel Braga Nunes, por exemplo, demonstra uma desenvoltura muito maior no papel de Leonardo (irmão de Pedro na trama), um dos vilões da trama. Ao mesmo tempo, Paola Oliveira também tem uma atuação ainda pouco convincente. Talvez por ter sido escalada já com as gravações em andamento, a fim de substituir Ana Paula Arósio (que deixou a emissora), não tenha ainda mostrado o que pode fazer como a apaixonada Marina. Entre os críticos, também foi comentado o fato de que alguns atores e atrizes estão sendo vítimas da síndrome de repetição de tipos: Antônio Fagundes estaria reproduzindo com o Raul de “Insensato Coração” o Leal de “Tempos Modernos” (2009), de Bosco Brasil, antecessora de “Ti Ti Ti” no horário das 19h. Já Deborah Secco, com a sua Natalie, traz de volta a lembrança da Darlene de “Celebridade” (2003), do mesmo Gilberto Braga. A abertura de “Insensato Coração” também não é das melhores já criadas. Apenas a trilha sonora, “Coração em Desalinho”, cantada por Maria Rita, se salva. Mesmo assim, de certa forma, parece também representar “mais do mesmo”. O saldo final é o fato de que a saudosa contundência da obra máxima de Gilberto Braga, “Vale Tudo” (1988), uma das melhores novelas do antigo horário das 20h (hoje das 21h), parece a cada ano mais distante da teledramaturgia não só da Globo, mas também de outras emissoras. Resta aos saudosistas privilegiados sintonizar o canal “Viva”.

Page 61: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#40 // 7 de fevereiro de 2011

O longo caminho para a liderança Em televisão, o planejamento deve preceder o trabalho duro, que não é, de forma alguma, menos importante para se atingir os ambiciosos objetivos comuns nesse meio de comunicação. No Brasil, a liderança da Globo é clara há mais de três décadas. Mas isso não foi construído de um dia para o outro. Nem mesmo de um ano para o outro. Foi necessário percorrer uma longa e sinuosa estrada, repleta de obstáculos que vão muito além da concorrência inerente ao mercado. Nos últimos dez anos, a Record se tornou a única emissora que reúne condições factíveis de alcançar a liderança de audiência no futuro. Esta coluna, que chega hoje à sua quadragésima edição, defende a tese de que a concorrência é mais do que saudável não apenas para o telespectador: é fundamental para a sobrevivência do próprio meio. Quando se pensa que, há alguns anos, a Record conseguiu se estabelecer como um destino alternativo para profissionais consagrados, evitando assim um monopólio do “star system global”, é imperativo concluir que uma alteração significativa do “status quo” ocorreu. Com novelas bem sucedidas como “Prova de Amor” (2005), de Tiago Santiago, a última década foi a de construção e também de consolidação de um núcleo de teledramaturgia, uma verdadeira prova de fogo para a emissora paulista, que em muitos aspectos acabou tendo de emular a sua principal concorrente para ascender. O complexo que abriga suas produções, o RecNov (Record Novelas), que fica no Rio de Janeiro, é o sinal mais claro de que o projeto da Record é real e ambicioso, simbolizado por essa verdadeira contraparte do Projac da Globo. Edificado em 2005, o RecNov teve justamente “Prova de Amor” como primeira empreitada. “Cidadão Brasileiro”, de Lauro César Muniz, e “Vidas Opostas”, de Marcílio Moraes, ambas de 2006, foram outras novelas que demonstraram o acerto do canal em investir nas contratações de atores e atrizes experientes, como Marcelo Serrado, Tuca Andrada e Lavínia Vlasak, todos com passagens pela Globo, além, é claro, de autores consagrados, casos de Muniz e Moraes (autores, em conjunto, do sucesso global “Roda de Fogo”, de 1986). Tramas como as citadas ultrapassaram determinados limites para a ousadia impostos, ironicamente, pela padronização que a Globo tentou impor olhos abaixo dos telespectadores. Os números de audiência mostram que essa estratégia vem se mostrando equivocada. Parafraseando um slogan que utilizou para demonstrar sua competitividade, a Record ainda tem muito a caminhar até a liderança. Mesmo mostrando ser capaz de também fazer uma boa minissérie de início de ano, como foi o caso de “Sansão e Dalila” (2011), de Gustavo Reiz, ainda são necessários

Page 62: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

aprimoramentos, especialmente no que se refere à inserção no imaginário coletivo do público. Quando se fala em “novela” ou “minissérie”, ainda se pensa na Globo, mesmo que nesse antigo e aparentemente sólido monopólio tenham surgido algumas trincas em tempos mais recentes.

Page 63: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#41 // 14 de fevereiro de 2011

O sistema de núcleos na teledramaturgia Uma das discussões mais recorrentes na teledramaturgia é sobre a necessidade da divisão dos elencos em núcleos, quase sempre baseados na situação socioeconômica dos personagens. Os “ricos”, na verdade, nem formam um núcleo propriamente dito, pois cada família tem a sua própria mansão, onde passam a maior parte do tempo. Já os “pobres”, ditos “representantes da realidade brasileira”, demonstram solidariedade em muitos casos, vivendo muito próximos em verdadeiras vilas, simulacros dos bairros de periferia das grandes cidades. Os dois “mundos”, completamente diferentes, acabam se tornando próximos, pois é corriqueira a tendência de aproximação entre eles, por meio do relacionamento criado entre personagens. O caminho mais fácil é o do amor, muitas vezes proibido e/ou contestado, entre pessoas de diferentes classes sociais. A impossibilidade da concretização desse amor acaba sendo um mote para toda uma trama. O que mais preocupa, no entanto, é a repetição de tipos. Enquanto os mais abastados demonstram alguns traços comuns (tédio com a vida sem desafios, interesse por experiências alternativas, apego ao dinheiro, entre outros), os menos privilegiados são mais intensos emocionalmente: brigam de forma barulhenta, choram, amam com paixão e, quase sempre, protagonizam situações cômicas. São os chamados “estereótipos” ou “arquétipos”, ou seja, modelos de pessoas que podem ser chamadas de referências comportamentais de cada grupo social. Obviamente, a complexidade do ser humano faz com que cada indivíduo tenha suas peculiaridades, características próprias que o diferencia dos demais. Porém, em uma novela, traços marcantes ficam reservados para determinados protagonistas e antagonistas, que irão formar o fio condutor de um enredo. Como são dezenas de personagens, é inviável para um autor ser tão detalhista com todos, afinal a história precisa ser entregue em prazo determinado e a linguagem da televisão exige dinamismo. A adoção de modelos acaba se tornando a única alternativa possível. Em minisséries, é muito mais fácil, pois se trabalha com poucos personagens. Histórias de curta duração precisam ter resoluções de conflitos mais rápidas. Portanto, os protagonistas e antagonistas, necessariamente, devem ser relevantes, tornando-se mais importantes até do que a própria trama em si. Basta assistir “As Noivas de Copacabana” (1992), de Dias Gomes, na qual o serial killer Donato Menezes (Miguel Falabella) marcou época.

Page 64: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#42 // 21 de fevereiro de 2011

Novelas que marcaram – “Baila Comigo” (1981) Enredo Virtual inicia hoje uma série especial, sem data para acabar, de novelas que marcaram a vida de leitores desta coluna. A cada semana, uma história. Começamos pela escolhida do jornalista Gustavo Ballestero, “Baila Comigo” (1981). A trama envolvendo os gêmeos Quinzinho e João Victor, vividos de forma magistral por Tony Ramos, chega aos 30 anos como uma das mais instigantes de todos os tempos. A novela de Manoel Carlos foi a primeira do autor a ter uma protagonista chamada Helena, interpretada por Lílian Lemmertz. Com 163 capítulos, foi ao ar de 16 de março a 26 de setembro de 1981. Os irmãos já citados, filhos de Helena com Joaquim Gama, o “Quim” (Raul Cortez), foram separados logo após o nascimento. Eles cresceram vivendo de formas totalmente distintas, o que diminuiu ainda mais a chance de se conhecerem. Enquanto Quinzinho ficou com Helena (que se casou com o médico Plínio Miranda, papel de Fernando Torres), João Victor foi entregue aos cuidados do pai e acabou sendo levado para viver em Portugal. Cresceu em um ambiente de prosperidade, ao contrário do irmão, um simples bancário que vivia com a família em uma realidade suburbana. Com a saúde debilitada, Quim volta para o Brasil ao lado de João Victor. Interessado em conhecer o seu outro filho, ele coloca Helena em uma desagradável situação, pois esse era o seu maior temor. Como explicar para Quim que ele tinha um irmão, ainda mais gêmeo, que jamais teve a chance de conhecer? A história ganha contornos que mesclam comicidade e drama, pois vários contratempos acabam adiando o tão esperado encontro. Mas, ele acontece, em uma das cenas mais antológicas da teledramaturgia nacional. O uso da escuridão para aumentar o mistério foi um dos principais acertos da cena. Porém, o fator decisivo foi a versatilidade mostrada por Tony Ramos. Com desenvoltura, fez duas pessoas com perfis distintos, mas que demonstram uma afeição fraternal, contrariando as expectativas de um encontro que poderia ser frio devido à distância imposta pelos obstáculos da vida. O maior legado de “Baila Comigo” foi mostrar que nem mesmo o tempo e a distância podem impedir que o destino se cumpra. Basta que as pessoas envolvidas tenham um objetivo em comum.

Page 65: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#43 // 28 de fevereiro de 2011

De volta aos anos 80 Faço uma breve pausa na série iniciada na coluna anterior para uma reflexão. Alguns analistas detectaram uma tendência de retorno à década de 80 no campo da teledramaturgia. Um dos motivos seria trazer de volta antigos telespectadores que trocaram as novelas por séries de televisão americanas, exibidas na TV fechada. A prova de que o público realmente migrou para a TV por assinatura se dá com o canal Viva, que exibe produções clássicas da Rede Globo e vem obtendo bons índices de audiência. Com o remake de “Ti-ti-ti”, o flashback se tornou mais escancarado. Mas algumas referências também podem ser encontradas em “Insensato Coração”, por algumas semelhanças com “Vale Tudo” (1988), ambas escritas por Gilberto Braga. Referências como a existência de uma companhia aérea (TCA em “Vale Tudo” e CTA em “Insensato Coração”) e o uso de uma música de protesto (“Brasil”, de Cazuza, na trama de 88, e agora “Que País É Este?”, de Renato Russo), reforçam essa tese. No entanto, algumas considerações se fazem necessárias. O contexto da trama de “Vale Tudo” era totalmente condizente com o uso de uma canção como “Brasil”, já que o enfoque estava sobre a deterioração de valores morais, demonstrada de forma enfática por alguns personagens. Não é o que ocorre em “Insensato Coração”, apesar de personagens como os de Gabriel Braga Nunes (Léo) e José Wilker (Umberto), que desprezam qualquer tipo de ética. O foco da história é outro, mais romântico, voltado para os obstáculos vividos por Marina (Paola Oliveira) e Pedro (Eriberto Leão) para conseguirem ficar juntos. Portanto, o uso de “Que País é Este?” parece ser fora de contexto. Em primeiro lugar, a música foi composta em 1978, quando Renato Russo ainda fazia parte da banda “Aborto Elétrico”. Ou seja, com a ditadura militar ainda em curso, fez um protesto rasgado contra a situação do país. Nos anos 80, pela corrupção que assolou os primeiros tempos pós-ditadura, também seria de uso compreensível na própria “Vale Tudo”, por exemplo. Mas, nos tempos atuais, parece uma forçada tentativa de fazer uma remissão. Os tempos são outros. Se a história se passasse na década de 80, seria perfeito. Não é o caso. É necessário ter muito cuidado com a nostalgia. O uso deve ser feito em doses “homeopáticas”, sob pena de se cair em um indesejado anacronismo.

Page 66: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#44 // 7 de março de 2011

Um pouco de Carnaval nas novelas Hoje, excepcionalmente, Enredo Virtual abre espaço para o Carnaval. A grande festa popular do Brasil naturalmente já foi pano de fundo em diversas novelas, mesmo que nem sempre de forma destacada. Algumas envolveram os personagens de forma direta. Um exemplo ocorreu em "Duas Caras" (2007), de Aguinaldo Silva, com a escola de samba "Nascidos na Portelinha". Oriunda da Favela da Portelinha, formada pelo carismático líder Juvenal Antena (Antônio Fagundes), a agremiação fictícia chegou a desfilar na Marquês de Sapucaí, com o uso de cenas reais do desfile do Carnaval de 2008 da Portela. Aguinaldo Silva também abriu espaço para o Carnaval do Rio de Janeiro em "Senhora do Destino" (2004), criando outra escola, a "Unidos de Vila São Miguel", pertencente ao folclórico bicheiro Giovanni Improta (José Wilker). Apaixonado por Maria do Carmo (Susana Vieira), ele a homenageou com um samba enredo no Carnaval de 2005. O pano de fundo real da vez foi a Acadêmicos do Grande Rio, que se notabilizou ao longo dos anos por ser a "escola oficial" de vários artistas da Globo, como a própria Susana, que desfilou na avenida com a sua personagem. Porém, para os mais antigos, talvez nenhuma outra produção tenha sido tão ligada ao Carnaval (a começar pela abertura) quanto "Partido Alto" (1984), também escrita por Aguinaldo Silva, mas neste caso em parceria com Glória Perez. O dono da fictícia "Acadêmicos dos Encantados", o bicheiro Célio Cruz (Raul Cortez), era o símbolo do financiador que fazia a maravilhosa festa acontecer. Porém, o envolvimento com a escola ia muito além, devido ao seu caso com a passista Jussara (Betty Faria), o qual gerou um filho, Jorginho (Rafael Alvarez). O final da trama se destacou pelos números, com o fechamento da Avenida Rio Branco para um desfile com a participação de mil passistas de seis escolas de samba, além de 20 mil espectadores que acompanharam as doze horas de gravação. Como é possível constatar, as novelas podem ser verdadeiros reflexos da realidade. Como produções culturais relevantes, devem ser analisadas sob uma perspectiva histórica e também sociocultural.

Page 67: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#46 // 21 de março de 2011

O que esperar da Globo em 2011 O ano de 2011 começou movimentado para a Globo no campo novelístico. Enquanto estreava logo no dia 17 de janeiro "Insensato Coração", no horário das nove, tinha duas novelas em pleno curso, "Araguaia" (18h) e "Ti-Ti-Ti" (19h). Agora, com a trama das 21h mais aprumada e com o grande sucesso do remake apresentado na faixa das sete, apresentará suas mais novas criações, completando o ciclo de novidades para a atual temporada. A sucessora de "Ti-Ti-Ti" terá sua estreia hoje. "Morde e Assopra", de Walcyr Carrasco, promete ser inovadora, pois irá abordar temas como paleontologia e robótica por meio de um enredo que alia o romântico e, especialmente, o cômico, o que reitera a consagração definitiva do gênero no horário das sete. Destaque para a reedição de um par romântico formado por Adriana Esteves (a paleontóloga Júlia) e Marcos Pasquim (o fazendeiro Abner), o que também ocorreu em "Kubanacan" (2003), de Carlos Lombardi, quando interpretaram o atrapalhado casal Esteban e Lola. Já no caso do horário das 18h, "Araguaia" ainda está em sua fase decisiva e só termina em 9 de abril. A trama de Wálter Negrão será sucedida por outra empreitada aparentemente ousada da Globo, "Cordel Encantado", escrita a quatro mãos pela dupla Duca Rachid e Thelma Guedes. A estrutura da sinopse está apoiada na união de raízes históricas tanto da nobreza europeia quanto do sertão nordestino sob a perspectiva de uma fábula. A história de amor de Açucena (Bianca Bin) e Jesuíno (Cauã Reymond) será um dos principais pilares. Dessa forma, a Globo espera consolidar um processo de renovação do gênero telenovela que vem sendo desenvolvido ao longo dos últimos anos, ao mesmo tempo em que demonstra ser capaz de reciclar ingredientes clássicos, como os envolvimentos amorosos e as intrigas entre protagonistas e antagonistas. "Insensato Coração", que teve diversos pontos questionados em sua primeira fase, parece ter encontrado um caminho mais condizente com o que se espera de uma novela das 21h, que possui uma responsabilidade maior pelo simples fato de ser considerada como "a novela" a ser assistida pelo que pode ser chamado de "imperativo cultural", não importando se a pessoa é "noveleira" ou não.

Page 68: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#47 // 28 de março de 2011

Remake – “Guerra dos Sexos” ou “Cambalacho”? As novelas “Guerra dos Sexos” (1983) e “Cambalacho” (1986) foram grandes sucessos da faixa das 19h escritos por Silvio de Abreu. Em comum, além do mesmo autor, atraem a atenção da Globo para o próximo remake do horário, previsto para 2012, uma consequência natural do sucesso da nova versão de “Ti-Ti-Ti” (1985), originalmente escrita por Cassiano Gabus Mendes e recriada por Maria Adelaide Amaral com elementos de outras obras do novelista, especialmente “Plumas e Paetês” (1980). A tendência é de que “Cambalacho” seja escolhida. “Guerra dos Sexos” foi cogitada inicialmente, mas a emissora sinaliza a preferência pela primeira. Provavelmente, leva-se em consideração o fato de que a escalação de elenco para a nova versão de “Cambalacho” seria mais fácil, por não ter personagens tão marcantes quanto os de “Guerra dos Sexos”. Exibida de 6 de junho de 1983 a 7 de janeiro de 1984, “Guerra dos Sexos” teve 185 capítulos e foi uma das principais novelas dos anos 80. Eternizada pela antológica cena em que o casal Otávio (o “Bimbo”, interpretado por Paulo Autran) e Charlô (a “Cumbuca”, papel de Fernanda Montenegro) faz uma guerra no café da manhã, no melhor estilo “comédia pastelão”, a trama teve outros grandes momentos, envolvendo o par romântico formado por Filipe (Tarcísio Meira) e Roberta Leoni (Glória Menezes). De acordo com Silvio de Abreu, o principal objetivo da história foi o de ridicularizar posturas radicais tanto do machismo quanto do feminismo. Com a proposta de ser uma comédia escrachada, acabou se tornando um exemplo de que grandes atores e atrizes não precisam ficar restritos a papéis ditos “sérios”. O autor chegou a estipular como meta fazer, ele próprio, o remake em 2012, indicando Tony Ramos para fazer o papel que foi de Paulo Autran há 28 anos. Entretanto, com a ascensão de “Cambalacho” na preferência da Globo, a tendência é a de haver uma revisão sobre quem seria o responsável pela nova versão. No caso de Silvio de Abreu, que é um autor ainda vivo, a tendência é a de que ele mesmo adapte a novela para os tempos atuais. Portanto, seria muito difícil haver uma repetição do que houve com “Ti-Ti-Ti”, pois Maria Adelaide Amaral teve ampla liberdade criativa, criando um novo paradigma para remakes. “Cambalacho” também apostou na comédia escrachada, incluindo uma paródia da cantora Tina Turner personificada pela irreverente Tina Pepper (Regina Casé). De 10 de março a 4 de outubro de 1986, a novela acumulou 173 capítulos e obteve expressivo êxito junto ao público. O termo “cambalacho” caiu no gosto da população, que passou a adotá-lo como sinônimo de trapaça. Para Silvio de

Page 69: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

Abreu, o enredo foi uma forma de mostrar a falta de vergonha na cara que se tornou um traço cultural marcante de uma parcela da população brasileira, acostumada a seguir a famosa “Lei de Gerson”, ou seja, querer sempre levar vantagem em tudo. Seja qual for a escolha da Globo para o próximo ano, há uma garantia de que o público terá a chance de rir e se divertir, assim como ocorreu com “Ti-Ti-Ti”.

Page 70: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#48 // 4 de abril de 2011

Novelas que marcaram – “Locomotivas” (1977) A ditadura militar ainda era uma realidade no Brasil quando “Locomotivas”, de Cassiano Gabus Mendes, foi ao ar. Mesmo em um período de censura, derrubou obstáculos e se tornou um marco na história das novelas brasileiras, especialmente entre as mulheres. A advogada Helenice Cruz citou a produção de 1977 como a sua favorita para a série permanente “Novelas que marcaram”, um espaço aberto pela coluna Enredo Virtual para os seus leitores. Para se ter uma ideia do sucesso de “Locomotivas”, exibida pela Rede Globo de 1º de março a 12 de setembro do ano supracitado, até mesmo uma emissora concorrente, a Tupi, mudou uma novela de horário (nada menos do que a primeira versão de “Éramos Seis”) para que as pessoas não perdessem o folhetim da Globo. Mas foi a própria história que cativou os telespectadores, com um fabuloso elenco e personagens marcantes. A ex-vedete e dona de um salão de beleza Kiki Blanche (Eva Todor), ou Maria Josefina Cabral, foi protagonista ao lado da filha legítima Milena (Aracy Balabanian) e da filha adotiva Fernanda (Lucélia Santos). A personagem de Eva foi especial também por ressurgir no remake de “Ti Ti Ti” (2010), de Maria Adelaide Amaral. Já a personagem de Lucélia (em mais um grande momento, assim como em “Escrava Isaura”, de Gilberto Braga, exibida um ano antes) foi a principal envolvida naquela que é considerada a cena do clímax da novela, quando ela descobre que não é filha de Kiki, mas sim de Milena. Ou seja, a avó a criou como se fosse a mãe. O responsável pela revelação foi Fábio (Walmor Chagas), em um momento de pura tensão emocional, pois Fernanda, assim como Milena, era apaixonada por ele. Para Cassiano Gabus Mendes, “Locomotivas” representou a primeira de uma série de tramas que fizeram a dinastia mais importante da faixa das 19h na história da Globo. O autor atravessou os anos seguintes colecionando êxitos no horário: “Te Contei?” (1978), “Marron-Glacé” (1979), “Plumas & Paetês” (1980), “Elas por Elas” (1982), “Ti Ti Ti” (1985), “Brega & Chique” (1987) e “Que Rei Sou Eu?” (1989). No período, ainda teve um sucesso às 20h, com “Champagne” (1983).

Page 71: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#49 // 11 de abril de 2011

A importância dos vilões Quem acompanha “Insensato Coração” certamente já constatou a importância crescente do personagem de Gabriel Braga Nunes, o inescrupuloso Leonardo Brandão (Léo), na trama das 21h. Com todas as características de um sociopata, como o desprezo por normas sociais e indiferença aos direitos e sentimentos dos outros, sendo altamente manipulador, trata-se de um tipo decisivo para o bom andamento da história escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Isso demonstra o quanto os vilões, também chamados de antagonistas, se contrapõem de uma forma positiva aos ditos “mocinhos”, ou protagonistas. No caso de “Insensato Coração”, estes seriam Pedro (Eriberto Leão) e Marina (Paola Oliveira). Em qualquer novela, um vilão pode chegar até mesmo a ofuscar aquele que deveria ser o personagem principal, devido ao fascínio que pode exercer sobre o público. O assunto “vilões” já foi discutido por esta coluna, mas no que diz respeito à possibilidade de redenção. Entretanto, alguns se mostram incorrigíveis do início ao fim, como parece ser o caso de Léo. Nem mesmo os pais, Raul (Antônio Fagundes) e Wanda (Natália do Valle), e o irmão Pedro escapam de suas mentiras. Apesar de ser rejeitado pelo filho, o pai tentou consertá-lo, dando-lhe uma chance, mas os esforços foram em vão. Incontrolável, roubou e fez com que Norma Pimentel (Glória Pires) fosse para a cadeia, utilizando uma identidade falsa para enganá-la (Armando). Na prisão, ela só pensa em se vingar. Enquanto isso, Léo, agora como Frederico (Fred), tenta roubar R$ 500 mil de Carmem (Nívea Maria), seduzindo-a e propondo-lhe um negócio que lhe daria retorno. Ou seja, tornou-se um golpista profissional. O fim de vilões que não se redimem tende a ser trágico, devido a uma enorme rede de inimigos que eles acabam colecionando. A vingança de Norma será um prato cheio para quem deseja ver Léo pagar por seus crimes e mentiras, que já causaram tanto sofrimento. E esse tipo de repercussão só coroa o trabalho do ator. Gabriel Braga Nunes, que voltou para a Globo depois de alguns trabalhos na Record, demonstra experiência e talento suficientes para ser aproveitado em futuras produções, sejam novelas, minisséries ou seriados.

Page 72: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

#50 // 18 de abril de 2011

A ousadia de “Amor e Revolução” O SBT conseguiu surpreender com a sua atual novela, “Amor e Revolução”, de Tiago Santiago, autor de diversas produções para a Record, como “Prova de Amor” (2005) e “Caminhos do Coração” (2007). Em 2010, Santiago já havia agradado devido ao relativo sucesso de “Uma Rosa com Amor”, sua primeira novela para a emissora de Silvio Santos. Agora, teve a liberdade necessária para criar uma história que se passa nos anos mais duros do regime militar, de 1964 a 1971. Os “anos de chumbo”, como ficaram conhecidos, marcaram a história do Brasil, mas não foram tão explorados pela teledramaturgia como outras épocas. Controverso e polêmico, o período ainda suscita questionamentos, ainda mais pelo fato de que muitos dos acontecimentos ainda não foram totalmente esclarecidos. No último dia 5 de abril, o SBT deu um importante passo nesse sentido, a exemplo da minissérie da Globo “Anos Rebeldes” (1992), de Gilberto Braga. Além disso, ainda que seja uma obra de ficção, “Amor e Revolução” abre espaço para depoimentos de pessoas que viveram a repressão na realidade ao final de seus capítulos. Isso reforça a tese de que uma obra cultural pode (e deve) ser um meio propício para reflexões. O elenco escalado reúne vários nomes conhecidos, que já participaram de diversas novelas de outras emissoras, a exemplo de Cláudio Lins, Licurgo Spínola, Lúcia Veríssimo, Nico Puig, Cláudio Cavalcanti, Luciana Vendramini, Jayme Periard, entre outros. A produção é bastante apurada, pois realiza uma ótima reconstituição da época. O horário de exibição (22h15) é típico de séries, mas isso foi necessário para restringir o público aos maiores de 14 anos. O principal motivo é o fato de que muitas cenas de tortura são exibidas, reconstituindo os famigerados “porões da ditadura”, como o Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Outro fator importante é o de que “Amor e Revolução” sempre começa depois de “Insensato Coração”, evitando uma concorrência direta no Ibope. Nos próximos meses, teremos uma avaliação mais consolidada. Desde já, o que se constata é um ressurgimento do SBT como espaço alternativo para boas sinopses. Tiago Santiago revelou que ofereceu a história primeiramente para a Globo, quando ainda trabalhava na emissora como colaborador, mas não obteve uma oportunidade. Nunca será possível saber como a Globo, com todo o seu aparato técnico e elenco estelar, se sairia com “Amor e Revolução”. Poderia fazer melhor, mas certamente não teria a mesma ousadia.

Page 73: Enredo Virtual | Ano 1 | Cinquenta Colunas

ENREDO VIRTUAL | Jonas Gonçalves http://enredovirtual.wordpress.com

PORTAL TELE HISTÓRIA | www.telehistoria.com.br

© Tele História – 2010/2011 | Desenvolvimento: swTH Scuzinet Comunicação & Web. O Tele História nasceu da iniciativa de Thell de Castro, que desde criança coleciona material sobre televisão. Em 2001, quando ainda era estudante de jornalismo na Unaerp, em Ribeirão Preto (SP), fez o primeiro esboço do Tele História, hospedando o site no HPG. A primeira versão tinha textos sobre "Chaves", a história da TV Excelsior e um panorama da televisão em Portugal. O site cresceu e começou a receber muitos visitantes. Atendendo a demanda e com apoio da pintora holandesa Marleen Felius, que esteve no Brasil em 2003 para pintar quadros na central de inseminação artificial Lagoa da Serra, atual CRV Lagoa, onde Thell presta serviços até hoje como assessor de comunicação, o Tele História migrou para o endereço atual. Desde então, foram produzidas várias versões do portal. Em 2005, quando se formou, Thell decidiu incrementar de vez o conteúdo do site, transformando-o num portal. Dessa forma, surgiu, pela primeira vez, a divisão do site em canais como a que vemos atualmente. A primeira grande reforma gráfica e editorial no site aconteceu em janeiro de 2006, quando os também jornalistas Daniel Smith e Godi Junior, sócios ao lado de Thell na swTH Comunicação, passaram a integrar a equipe. Godi e Thell são sócios até hoje e Daniel Smith deixou a empresa e o TH em 2008. Em outubro de 2006, foi planejada uma nova fase do Tele História, que estreou no dia 04 de janeiro de 2007, com projeto gráfico moderno, incremento e revisão do conteúdo oferecido, crescimento do espaço para interatividade com o internauta e investimento em produção de conteúdo em áudio e vídeo. A nova fase está sendo implantada em etapas. Com o ingresso da analista de sistemas Janaína Scuziatto na equipe do Tele História, em junho de 2007, foi possível implantar diversas ferramentas de interatividade e dar ainda mais dinamismo às atualizações do site. Além disso, foram fechadas importantes parcerias, como com a Revista Eletrônica, que possibilita oferecer ao público a programação de dezenas de canais em tempo real. Essa nova fase estreou experimentalmente em 11 de agosto de 2007 e foi lançada, de forma oficial, no dia 18 de setembro de 2007, quando se comemorou o Dia da Televisão no Brasil. Desde então, é constantemente aperfeiçoada, com o lançamento de novos visuais, canais e seções, além de atualização diária. Em maio de 2010, o Tele História fechou parceria com o R7, do Grupo Record, para levar seu conteúdo aos milhões de visitantes desse portal. Outras novidades serão apresentadas em breve. Esse é o Tele História. De A a Z, tudo sobre TV.